Suplemento Especial / São Paulo, 23 de fevereiro de 2006 Luiz Prado/LUZ
ZONA LESTE
Um mundo de luxos e tragédias Celso Júnior/AE
A Zona Leste de São Paulo seria a terceira maior cidade do País com seus mais de quatro milhões de habitantes. Mas perderia em qualidade de vida: dois milhões e meio de pessoas moram em áreas de pobreza e convivem com ocupação desordenada do solo, enchentes e alagamentos em razão da falta de infra-estrutura. O número de favelas é imenso. Do outro lado, a Zona Leste tem seus luxos, como o Jardim Anália Franco; a prestação de serviços supera o pequeno comércio no Tatuapé e os shoppings da região são exuberantes, dão um show de crescimento, assim como o mercado imobiliário: neste quesito, só perde para a Zona Sul. Zona Leste é o quinto e último caderno desta série em homenagem ao aniversário da cidade.
SÃO PAULO, 452 ANOS
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Um francês e sua imagem. Começa assim a saga do leste Reza a história que uma imagem de Nossa Senhora, de um viajante francês, decidiu plantar moradia na Penha. Vieram religiosos, curiosos, o comércio. Hoje a Zona Leste é uma metrópole de quatro milhões de habitantes Fernando Vieira
JJ.Leister/AE
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is uma metrópole, uma das maiores do País. Afinal, são mais de quatro milhões de habitantes, espalhados numa área de 326,8 quilômetros quadrados. Onze subprefeituras, subdivididas em 33 distritos, são responsáveis por sua administração e tentam resolver problemas também gigantescos. Mas esse perfil grandioso e independente do que poderia ser a terceira maior cidade do País corresponde na verdade à descrição de apenas uma parte de São Paulo: a Zona Leste. A história dessa região - a mais populosa da Capital - foi construída à base de todos os ingredientes de um enredo rico, permeado de pitadas de fé, conquistas, progresso, decadência, dramas e riquezas. Os rios Tietê e Aricanduva e seus afluentes, que ao longo dos últimos anos se tornaram sinônimo de enchentes e tragédias para os moradores, um problema dramático na região, tinham em um passado remoto um significado bem diferente - representavam segurança. Para evitar violentos ataques indígenas que sofriam os grupos de desbravadores que se aventuravam rumo ao leste pelo caminho por terra, as expedições bandeirantes passaram a utilizar os rios como o meio principal para chegar à região. Isso permitiu o avanço no território com mais facilidade e o início de seu povoamento em áreas distantes do centro, como Tatuapé, Penha e São Miguel. Dali se formou, com o passar dos anos, um caminho ainda mais longo, ligando a São Paulo ao Rio de Janeiro. E é justamente no percorrer deste caminho que tem origem o bairro da Penha, um dos mais
O viajante francês perdeu a imagem da santa duas vezes e entendeu que ela queria ficar aqui na Penha
tradicionais. Uma passagem marcada por um acontecimento sobrenatural e religioso, segundo a lenda. Conta-se que um viajante francês - cujo nome ficou perdido no tempo - seguia para o Rio de Janeiro e pernoitou pelo local onde é o bairro. Trazia amarrada ao cavalo uma imagem de Nossa Senhora. No dia seguinte, já adiante na viagem, notou o desaparecimento da imagem. Voltou e encontrou a santa no mesmo lugar onde havia dormido. Guardou-a novamente e continuou sua jornada. Quando anoiteceu, parou para dormir. Ao raiar do dia, deu pela falta da imagem novamente. Voltou pela segunda vez e lá estava ela, no mesmo lugar. Sem hesitar, o francês entendeu que a santa havia escolhido aquele local para ficar e ali ele construiu uma capela para abrigá-la. A fé nessa crença trouxe o crescimento. Vilas foram se formando ao redor da igreja construída para moradia da imagem. As peregrinações no
local fomentaram o comércio. Embora a religiosidade tenha perdido a antiga força, a vocação comercial permaneceu e evoluiu, mantendo-se como uma característica local forte. Apesar de ter apenas dois anos a menos do que a própria cidade de São Paulo, fundada em 1556, a Mooca, possivelmente o bairro apontado como o mais paulistano por quem é de fora do Estado, praticamente deixou as páginas de sua história em branco por cerca de 300 anos, época de predomínio de chácaras. Passou a ser escrita novamente com a chegada dos imigrantes, que, em grande número, mudaram a cara do bairro por volta de 1870. Empreendimentos começaram a ganhar vida na região, especialmente o Clube Paulista de Corrida de Cavalo, que se tornou um centro de lazer dos paulistanos. A procura pela atração motivou a criação da linha de bonde centro-Mooca, de tração animal, depois substituída por uma linha férrea.
Embora relevante, as corridas foram apenas um detalhe diante de um outro fato fundamental para a região e para São Paulo: a industrialização. As fábricas, principalmente de alimentos e tecidos, começaram a dominar toda a área. A população explodiu e as linhas de trens se espalharam pelo leste. A concentração industrial deixou ainda a marca da primeira greve-geral, em 1917, justamente na Mooca, com início na fábrica do Cotonifício Crespi. O reflexo da industrialização se deu também sobre as demais áreas da região, com o surgimento de diversos bairros de característica operária, cada vez mais distantes do centro da Capital. A decadência do furor da indústria deixou marcas. Sem sua principal fonte de renda, sem muitos empregos, a Zona Leste ainda tenta se readaptar e enfrentar os inúmeros problemas de uma região que cresceu à base de uma expectativa de sucesso industrial que não perdurou na mesma magnitude.
Dois milhões e meio de pessoas nas áreas mais pobres
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specialistas e técnicos em urb a n i s m o c o ncordam: a Zona Leste paga o preço por sempre ter sido marcada pelo descaso e considerada uma cidade dentro da metrópole. As áreas mais pobres, onde habitam dois milhões e meio de pessoas, convivem com o isolamento não só em relação à cidade, mas dentro da própria região. “A Zona Leste é pouca provida de avenidas perimetrais e espaços públicos. Parte da população que não pôde acompanhar a melhoria dos espaços mais qualificados da região, foi expulsa para a periferia. Isso causa uma cidade de péssima qualidade”, analisa o arquiteto Renato Cymbalista, coordenador da área de urbanismo do Instituto Pólis, que promove estudos e presta consultoria em políticas sociais. Na visão do arquiteto, a consolidação das áreas mais nobres da Zona Leste, c o m o Ta t u a p é , A n á l i a Franco e Parque da Vila Formosa e os bairros que chama de “cinturão intermediário”, como Vila Maria, Matilde e Itaquera, se deu em razão da possibilidade de adesão dos habitantes aos projetos locais de desenvolvimento: “Os que não queriam sair de lá abriram oportunidades para a indústria imobiliária”. Cymbalista acredita que a Zona Leste tem várias vocações, como a de estrategicamente permitir a ligação entre o porto de Santos, a região do ABC e o aeroporto de Guarulhos: “Isso signifi-
ca oportunidades para indústrias e serviços de logística”. Segundo ele, a parte esvaziada da Zona Leste necessita da intervenção de políticas públicas, como em habitação de interesse social: “A presença da USP na Zona Leste deve representar investimentos voltados para a região, com a oferta de equipamentos de apoio à comunidade”. Sistema viário A necessidade de modernização e adequação do sistema viário da região também foi identificada pela Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla). Cláudio Gaiarsa, assessor técnico do órgão, considera a Zona Leste um centro geográfico da metrópole: “Ela tem vocação para se comunicar com toda região metropolitana. Daí a presença lá de vários postos de distribuição que atendem ao Vale do Paraíba. Mas é preciso adequar a infra-estrutura viária”. Gaiarsa reforça: a Prefeitura já está preparando a ligação entre as principais avenidas da região, como Radial Leste, Marechal Tito, Anhaia Melo e Sapopemba. Lembra também que a legislação de incentivo fiscal da Zona Leste, aprovada na gestão passada, deverá ser aprimorada para ganhar foco setorial: “A lei é boa, mas precisa de alguns ajustes. O incentivo fiscal serve para empresas que, de outra forma, não iriam para lá. Há demanda nesse sentido na Zona Leste. Não faltam opções de logística e mão-de-obra disponível a custo menor”. Antônio Augusto
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SÃO PAULO, 452 ANOS Maristela Orlowski
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marcante traço industrial da Zona Leste de São Paulo, com quarteirões compactos, edificações sem quintais e chaminés de todos os tipos e tamanhos, está se apagando de seu cenário. Fábricas e armazéns antigos cedem espaço para novos e diversificados empreendimentos imobiliários. Não é à toa que a Zona Leste se tornou a menina dos olhos de incorporadoras e construtoras nos últimos anos. Os grandes terrenos são ideais para a construção de condomínios verticais, que contemplam o conceito de clube e oferecem toda comodidade de lazer e infra-estrutura. De acordo com o Departamento de Economia e Estatística do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP) e a Empresa Brasileira de Estud o s d e P a t r i m ô n i o ( E mbraesp), nos últimos dois anos 146 empreendimentos residenciais foram lançados na região leste da Capital. Só no ano passado foram 44 novos imóveis, contra 102 no ano anterior. Em 2004, a região leste ficou atrás apenas da sul, que registrou 170 lançamentos residenciais. Tatuapé, Penha, Mooca e Itaquera foram os campeões do segmento, com 82 novos empreendimentos nos dois últimos anos. A demanda por novos empreendimentos na região surpreende os incorporadores, sempre atentos às oportunidades. O presidente da Incorporadora e Construtora Setin, Antônio Setin, conta que os imóveis ainda possuem preços acessíveis, embora os terrenos já tenham valorizado bastante. O preço do metro q u a d r a d o d o e m p re e n d imento La Dolce Vita Nuova Mooca, construído no lugar de um galpão desativado das Indústrias Matarazzo, por exemplo, passou de R$ 2.300, em 2004, ano de seu lançamento, para R$ 2.400 hoje: "Há empreendimentos na região com preços perto de R$ 3 mil o metro quadrado". De acordo com o diretor de I n c o r p o r a ç õ e s d a C y re l a , Ubirajara de Freitas, a empresa está adquirindo mais um terreno no coração da Zona
Surgem os condomínios e se apagam as chaminés A Zona Leste, em especial a Mooca e o Tatuapé, recebe pesados investimentos do mercado imobiliário. Tudo se valoriza ao longo da linha do metrô Fotos: Luiz Prado/LUZ
comercial e de serviços de apoio para atender a nova população. Esse é um processo que elevará a qualidade de vida, o valor da matéria-prima, ou seja, do terreno, e de todos os seus produtos". Pompéia diz ainda que áreas compreendidas entre a rodovia Ayrton Senna e a avenida Radial Leste possuem grande potencial de desenvolvimento. O lado esquerdo da rodovia não tem muitas chances de valorização. Mas os locais próximos às estações do metrô tendem a valorizar a região de interferência, principalmente no setor comercial. Na avaliação do especialista, cidades próximas, como Guarulhos, Itaquaquecetuba e Poá, acabarão se tornando pólos de demanda para a USP. Valorização
Os prédios mudam o cenário do Jardim Anália Franco. Numa favela da Vila Prudente, o mercado é outro: barracos à venda
Leste: "Faremos mais um lançamento de porte pesado a partir de junho. Atualmente estamos em fase de finalização e aprovação do projeto". Segundo Freitas, a Cyrela também lançou empreendimentos em locais antes ocupados por antigas fábricas - o Grand Garden, na Vila Avelino, e o Portale della Mooca: "Ambos foram muito bem aceitos. Hoje estão 100% e 80% comercializados, respectivamente". Freitas comenta também que muitos dos compradores são famílias de classe média e média alta que moram no Grande ABC, trabalham em São Paulo e querem morar na Zona Leste.
USP - Leste
A chegada da Universidade de São Paulo à Zona Leste da Capital promete valorizar a
Diretor-Presidente Guilherme Afif Domingos Diretor de Redação Moisés Rabinovici Editor Chefe José Guilherme Rodrigues Ferreira Editor Luciano Ornelas
região e elevar a qualidade de vida. Os especialistas do mercado imobiliário acreditam que, no primeiro momento, a
Sérgio Leopoldo Rodrigues Repórteres Antônio Augusto Clarice Chiquetto Fernando Vieira Maristela Orlowski Vanessa Rosal Diagramação Lino Fernandes
Edição de Fotos Massao Goto Alex Ribeiro
Gerente Comercial Arthur Gebara Jr.
Chefe de Reportagem Arthur Rosa
Impressão Diário de S.Paulo
presença da universidade vai desencadear especulação e, com o tempo, consolidar a valorização real dos imóveis, que pode chegar a 25% entre cinco e dez anos e até triplicar em duas décadas. Para o analista de mercado e diretor da Embraesp, Luiz Paulo Pompéia, o aumento da demanda residencial na região em torno da universidade, que engloba até dez quilômetros de distância, elevará a liquidez das unidades residenciais e, conseqüentemente, trará outros tipos de ocupação, como bares, restaurantes, papelarias, livrarias e supermercados: "Será desenvolvida uma infra-estrutura
Segundo o diretor de Lançamentos da vice-presidência de Comercialização e Marketing do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Fábio Rossi Filho, os dois bairros mais importantes da região e que oferecem preços mais convidativos ao bolso de investidores e incorporador a s s ã o M o o c a e Ta t u a p é . Quando o assunto é locação e venda de imóveis de terceiros, as opiniões são convergentes. Para Roseli Hernandes, gerente de Locação e Vendas da Lello Intermediadora de Negócios, o mercado imobiliário nesses dois distritos está em franca expansão. "Nos últimos dois anos, o preço do metro quadrado na Mooca e no Tatuapé, por exemplo, valorizou cerca de 20%. Há muita procura para locação ou venda de imóveis localizados perto do metrô". A gerente da Lello comenta também que dois grandes empreendimentos comerciais a serem entregues em 2006 prometem agitar e valorizar ainda mais o mercado imobiliário da Zona Leste. A Mooca receberá um novo shopping, o Capital, que deverá valorizar a região da avenida Paes de Barros: "Quem tiver disponibilidade de investir agora, certamente, ganhará bons resultados depois". Outro caso é o Shopping Tatuapé 2, que será erguido em frente ao atual, mas do outro lado da linha do trem que passa pela avenida Radial Leste.
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SÃO PAULO, 452 ANOS Leonardo Rodrigues/Hype
Do Aricanduva ao Tatuapé, os shoppings só crescem A região é muito bem servida pelos centros de compra, desde o maior da América Latina, o Aricanduva, aos que se instalam ao longo da linha do metrô, como o Tatuapé. Fora o charme do Anália Franco
Vanessa Rosal
N
uma área dens a m e n t e p ovoada, mas com baixíssima oferta de emprego, há um setor que se destaca e atenua o problema. Com aproximadamente 320 km² e mais de quatro milhões de habitantes, a Zona Leste de São Paulo ainda está longe de ser uma potência: registra a pior renda média familiar e a menor concentração de atividade econômica. Responde por apenas 6% da geração de riqueza do município. No entanto, a região abriga o maior shopping da América Latina. Implantado num terreno de um milhão de metros quadrados, o Centro Comercial Leste Aricanduva é incorporado pelo Shopping Leste Aricanduva, pelo Shopping Interlar Aricanduva e ainda pelo Auto Shopping de São Paulo. Segundo o superintendente do complexo, Marcos Sérgio de Oliveira Novaes, por trás das ações desenvolvidas pelo empreendimento há um conceito inovador: "Nosso objetivo é virar um power center, lembrando a região central das pequenas cidades antigamente. As pessoas encontravam todos os tipos de produtos e serviços em um único lugar". Carros - A média de consum i d o re s q u e c i rc u l a p e l o
complexo é de 4,5 milhões por mês. No final do ano, esse número aumenta para 5,5 milhões. "Nosso diferencial é oferecer três hipermercados e onze concessionárias de veículos nacionais e importados", diz Novaes. Segundo ele, uma pesquisa do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) revelou que 47% de todos os veículos da cidade estão concentrados na Zona Leste: "Aproveitamos o gancho e construímos a primeira pista exclusiva de test-drive do Brasil". Com 3,5 km de extensão, ela é diferenciada por oferecer segurança, ao contrário das ruas da cidade, por exemplo: "Nossa pista é indicada também para motoristas que apresentem algum tipo de deficiência física ou motora". Lazer - Das pessoas que visitam o complexo, 52% pertencem à classe B e 25% à classe C. E 70% dos consumidores que entram em um dos shoppings, entram também nos outros. "Em 2005, tivemos 8% de aumento na freqüência do shopping", diz Novaes. Um dos motivos desse crescimento pode estar ligado à área de lazer. O shopping oferece 16 pistas de boliche, 14 salas de cinema, bingo, centro cultural e pista de kart para os mais aventureiros: "Investimos forte em entretenimento para atrair os jovens". As vendas aumentaram 6%
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alimentação com 30 opções. A presença de um posto avançado da Subprefeitura da Mooca e o único posto para emissão de passaportes da Z o n a L e s t e f azem da área de serviços outro destaque. "Essa diversidade atrai público de toda a cidade", diz Voso. Expansão - Os negócios no Shopping Metrô Tatuapé são tão re pre s e nt a t iv o s que já está sendo construída uma segunda parte do empreendimento, o Shopping Metrô Tatuapé 2, na outra saída do metrô. Contará com uma praça de alimentação panorâmica, complexo de cinemas e um teatro. "A expectativa é aumentar em até 40% o fluxo de pessoas", prevê Voso. Em 2005 as vendas do S h o p p i n g M etrô Tatuapé somaram R$ 300 milhões. A idéia é de que, junto Patrícia Cruz/LUZ com o novo complexo, esses O primeiro Shopping Tatuapé deu tão certo que logo virá o segundo. E o Auto Shopping faz parte do complexo Aricanduva v a l o re s a l c a nno ano passado. Segundo o su- pras e lazer da Zona Leste de Zeca Baleiro, Vanessa da Matta cem R$ 745 milhões por ano. Novos - Outro empreendie Toquinho, dentre outros. perintendente, a expectativa é São Paulo. De metrô - Cerca de 70 mil mento já está em obras num Voltado para as classes A e B, manter o crescimento em 2006. A área de abrangência primá- possui um mix de lojas variado pessoas visitam o Shopping terreno de 120 mil m² na Zona ria do Centro Comercial Leste e uma programação periódica Metrô Tatuapé por dia. O ge- Leste, interligado à estação ItaAricanduva é de sete milhões de shows e eventos infantis. rente de marketing do empre- quera do metrô. Com inaugude pessoas da Zona Leste de Ao todo, conta com 240 lojas endimento, Cláudio Voso, tem ração prevista para outubro de São Paulo e das cidades de São distribuídas em quatro pisos. uma explicação para isso: "O 2007, o Shopping Metrô ItaCaetano do Sul, Santo André, O shopping emprega direta- fato de sermos diretamente li- quera segue a fórmula de suMauá, Guarulhos, Atibaia e mente 3.364 pessoas e recebe, gados ao metrô já garante uma cesso do Metrô Tatuapé e preBragança Paulista. Sua locali- em média, dois milhões de excelente média de público. tende contar com o alto fluxo de passageiros paNos sábados, esse número salzação é de fácil acesso pelas consumidores por mês. ra sustentar as vendas e se conUm dos motivos de tanto su- ta para 100 mil". avenidas Aricanduva, MargiO shopping se tornou um solidar no mercado. nal Tietê e Radial Leste, com cesso de público foi a parceria A Mooca também ganhará firmada com uma tradicional importante pólo de lazer e culeficiente transporte urbano. Shows - Inaugurado em rádio de São Paulo para a rea- tura para o bairro do Tatuapé. um novo empreendimento: o 1999, o Shopping Anália Fran- lização do projeto "Grandes Uma movimentada praça de Shopping Capital, construção co realizou uma pesquisa com Encontros". Trata-se de apre- eventos abriga diversas atra- vertical a ser inaugurada em seus consumidores e desco- sentações aos domingos de re- ções para toda a família. São oi- meados deste ano e que deverá briu que é considerado uma nomados artistas da música to salas de cinema, área de jo- valorizar os edifícios da avenidas melhores opções de com- brasileira como Alceu Valença, gos eletrônicos e um setor de da Paes de Barros.
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USP-Leste, pela qualidade de vida
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s bairros do extremo da Zona Leste esperam uma t r a n s f or m a ç ã o radical num prazo máximo de cinco anos: a instalação da USP-Leste já está provocando melhorias, o que só deve aumentar. Bares, restaurantes e novos empreendimentos já estão sendo construídos nas redondezas do novo campus da Universidade de São Paulo. Pensada para ser a faculdade dos jovens da Zona Leste - uma pesquisa foi feita com a população da região para saber quais cursos interessavam aos moradores - a USP-Leste é vista com entusiasmo pelo superintendente da Distrital São Miguel da ACSP, José Parziale Rodrigues, um dos bairros mais pró-
ximos da nova universidade: “A USP, aliada ao término da avenida Jacu-Pêssego, que vai interligar estes bairros à rodovia Ayrton Senna, fará com que em quatro anos tenhamos uma nova região aqui, completamente mudada, com acesso mais tranqüilo, novos comércios e indústrias. Além disso, surgirá agitada vida noturna ao redor da faculdade”. O superintendente da distrital Mooca, Antônio Viotto Netto, também aposta no desenvolvimento geral da infra-estrutura da região, hoje muito fraca:
“Facilitar o acesso, com a JacuPêssego, é bom, mas é preciso também melhorar a qualidade de vida no entorno da universidade e isso deve começar a ocorrer em breve”. Marco Antônio Jorge, superintendente da Distrital Penha, ressalta ainda que, num futuro próximo, toda a Zona Leste deve ser favorecida. Ele conta, por exemplo, que está prevista a construção de uma estação de trem no centro da Penha para ligar o bairro à universidade. Um boom imobiliário também deve ocorrer na opinião
de Parziale Rodrigues. Ele usa como base o campus São Miguel da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), instalado na região há cerca de vinte anos: “Hoje, toda a região ao redor da faculdade é comercialmente ativa e tem vida noturna agitada. Antes não existia praticamente nada”. Especialistas do mercado imobiliário concordam com os superintendentes. O diretor da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), Luiz Paulo Pompéia, diz que o reflexo positivo no mercado
imobiliário deve aparecer em dois anos, o período mínimo para novos empreendimentos, e abranger até dez quilômetros de distância: “Haverá liquidez das unidades residenciais e, conseqüentemente, outros tipos de ocupação vão chegar, como bares, papelarias, livrarias e supermercados. Deve ser desenvolvida uma infra-estrutura comercial e de serviços de apoio para atender à nova população, elevando a qualidade de vida". Segundo ele, em um primeiro momento a presença da universidade vai desenca-
Luiz Prado/LUZ
Clarice Chiquetto
Um passeio pelo céu no Planetário do Carmo
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lhar estrelas no céu de São Paulo não é tarefa fácil, especialmente porque luzes artificiais e poluição não permitem. Mas existe um lugar nos recônditos da Zona Leste paulistana onde isso é possível: o Planetário do Carmo, dentro do Parque do Carmo, em Itaquera. Lá, os admiradores de corpos celestes podem embarcar numa viagem
dear especulação e, com o tempo, consolidar a valorização real dos imóveis, que pode chegar a 25% entre cinco e dez anos e até mesmo triplicar em duas décadas. Viotto Netto também aposta que a USP vai contribuir no incremento geral da cultura na região leste: “O lado cultural daqui é muito fraco. Em alguns centros de bairros até existe um ou outro espetáculo, mas geralmente há pouca divulgação e falta de público. A USP vai provocar fortes mudanças, abrir oportunidades de trabalho e incentivar a cultura”. Ele destaca que a unidade Leste da Fatec, ali há quase quatro anos, será uma importante parceira da USP nessas mudanças.
No Planetário do Carmo dá para visitar os anéis de Saturno, acompanhar o anoitecer, as primeiras estrelas e vislumbrar 88 constelações
cósmica e visitar planetas, cometas e galáxias distantes, embalados ao som de Carmina Burana e Richard Strauss. Segundo o planetarista André Luiz da Silva, cerca de
duas mil pessoas transitam pelo lugar nos fins de semana: "Temos quatro sessões por dia, duas infantis e duas clássicas, que duram até 40 minutos, e todas lotam. Vêm pes-
soas de tudo quanto é lugar. Tem gente de outras cidades e até de outros Estados". No planetário, crianças, jovens e adultos podem acompanhar o anoitecer e o surgimento
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lo sistema solar, o modelo Universarium VIII, da empresa alemã Carl Zeiss, é um dos mais modernos do mundo e comparável ao de Nova York, conforme explica Silva: "Ele projeta mais de nove mil estrelas no céu e possui centenas de lentes. Em termos de verossimilhança, é o que fornece o melhor céu que a tecnologia pode produzir hoje". O planetarista conta também que o aparelho calcula diariamente o aspecto do céu, ou seja, a posição e o movimento dos astros no cosmo. Além do Universarium VIII, outros 60 projetores periféricos de efeitos especiais, produzidos pela americana Sky-Skan, contribuem para levar os espectadores até os mais longínquos cenários estelares. Informações: (11) 6522-8555 Maristela Orlowski
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Zona Leste é a segunda maior área geográfica da cidade, com 326,8 km². Perde apenas para a Zona Sul, com seus 723,8 km². No entanto, ganha no quesito densidade populacional: nenhuma outra região concentra número tão grande de habitantes. Segundo estimativa da Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla), vivem hoje na Zona Leste cerca de 4.040.000 pessoas, ou 37% da população da Capital, de 10.995.000. Isso significa que de cada dez paulistanos, praticamente quatro habitam aquela área. Tal proporção acarreta problemas equivalentes quando o assunto é aplicação de políticas públicas. Das onze Subprefeituras da Zona Leste, responsáveis pela implantação dessas políticas, a maioria se depara com problemas semelhantes, sobretudo nas áreas mais periféricas: ocupação desordenada do solo, loteamentos irregulares, enchentes e alagamentos em razão da inexistência de infra-estrutura urbana. Mas há bairros na Zona Leste em que os padrões de qualidade de vida e a presença de infra-estrutura se assemelham aos bons locais da cidade. Nessa categoria estão bairros como Mooca, Penha e Tatuapé. Aí, de acordo com as Subprefeituras, as dificuldades são de outra ordem: oferta insuficiente de serviços de saúde e educação, presença de camelôs e complicações de tráfego em vias urbanas. Ocupação ilegal
Com 45 km² e 382 mil habitantes, conforme o censo 2000 do IBGE (cálculos da Subprefeitura estimam hoje 500 mil), São Matheus padece principalmente dos males da ocupação desordenada e irregular do solo. Quase metade da população local habita ilegalmente esses espaços, onde a taxa de infraestrutura é próxima de zero. “Temos mais ou menos 170 loteamentos irregulares, onde moram 200 mil pessoas. São áreas consideradas rurais, não urbanizadas. É um problema grave”, revela o subprefeito Clóvis Luiz Chaves. A solução, diz ele, está na operação conjunta com a Secretaria
Marcas da tragédia neste depósito de pessoas inundadas Carências são muitas. Como define o subprefeito de Cidade Tiradentes: “Temos um depósito de pessoas. Faltam opções de educação, saúde e áreas de lazer. Há bairros aqui com pessoas que nunca foram ao cinema” Cesar Diniz/AE
O retrato da maior parte da Zona Leste: ocupação desordenada do solo, enchentes, alagamentos e quase nenhuma infra-estrutura
de Habitação e o Ministério Público: “A Secretaria já prometeu regularizar ao menos parte dos loteamentos.” Enquanto isso não ocorre, a Subprefeitura tem executado obras de melhoria Patrícia Cruz/LUZ
Xavier, de Cidade Tiradentes
das estradas e vias de acesso aos loteamentos. Outro problema de São Matheus são as enchentes em áreas de risco perto dos 40 córregos da região. Para atenuar, segundo
Chaves, é feita a limpeza cotidiana dos seis piscinões já construídos na região: “Não estamos fazendo grandes obras”. Na vizinha Itaquera, ao norte, a Subprefeitura se defronta com questões parecidas. Com cerca de 500 mil habitantes, parte de seus 54,3 km² é formada por áreas de risco, em razão da ocupação irregular de terrenos às margens dos córregos. Para a Subprefeitura, a solução definitiva está na criação de uma política de habitação em escala nacional, de maneira a beneficiar regiões problemáticas como aquela. O sistema viário da Zona Leste tem merecido atenção especial do poder público. Em março agora deverá estar pronto o túnel da Radial Leste, interligando as radiais antiga e nova. Também foram retomadas as obras do complexo Jacu-Pêssego, que na primeira fase ligará São Miguel a Guarulhos. No futuro, fará a conexão da rodovia Ayrton Senna com São Paulo. Outra obra destacada pela Subprefeitura é a construção da ponte a partir da estação Corinthians/Itaquera rumo a avenida Águia de Haia. Com a ponte, estará feita a ligação da avenida Carvalho Pinto com a marginal Tietê. Carências radicais
Na também vizinha Cidade Tiradentes, com 15 km² e cerca de 280 mil habitantes, o subprefeito Arthur Xavier faz uma diagnóstico radical para as dificuldades de infra-estrutura, além da carência de serviços de educação e saúde: “Temos um depósito de pessoas. Faltam opções de educação, saúde e áreas de lazer. Há bairros aqui com pessoas que nunca foram
ao cinema”, afirma Xavier, que assegura estar tentando resolver parte dessas carências. Obras de pavimentação, conservação de vias públicas, canalização e iluminação também Patrícia Cruz/LUZ
Evangelista, de Vila Prudente
servem como solução parcial. Mas o subprefeito ganha mais ânimo quando menciona outras duas obras: a entrega do hospital Cidade Tiradentes prevista para agosto deste ano, e a chegada, em 2008, do Expresso Cidade Tiradentes, um corredor exclusivo de ônibus com 32 km de extensão, ligando o parque Dom Pedro à região. Ainda no mapa da Zona Leste, as vizinhas Guaianases e Itaim Paulista somam 41 km² e abrigam juntas cerca de 780 mil habitantes. Ambas compartilham de problemas idênticos: áreas de risco, enchentes e alagamentos. O subprefeito de Guaianases, Estevam Galvão de Oliveira, diz que esses problemas, os mais graves, estão sendo enfrentados: “Eles necessitam de investimentos em obras nas encostas, rios, córregos e vales. Em algumas áreas há iminência de deslizamentos. Estamos realizando obras de canalização e pavimentação. Em um mandato muita coisa será feita e mudará a fotografia de Guaianases”.
No Itaim Paulista, para resolver parte da questão da ocupação irregular nas áreas de entorno dos córregos, a Subprefeitura adotou o Projeto Fluir, elaborado pela arquiteta Rosane Segatin Kekpe, funcionária municipal de carreira. O plano permite a substituição das construções irregulares por áreas de lazer e praças, e a transferência das famílias de renda insuficiente para casas construídas, a preços accessíveis, em áreas verdes disponíveis nos conjuntos da CDHU das proximidades. Em São Miguel, com área de 24,3 km² e mais de 378 mil habitantes, segundo a Subprefeitura, a falta de médicos nos serviços municipais de saúde, o principal problema, será solucionado através da lei 318, já aprovada, que permite a contratação de profissionais junto às organizações sociais, sem a necessidade de concurso público. Na Subprefeitura de Ermelino Matarazzo estão sendo feitos investimentos nas áreas de educação e saúde, com a construção e reforma de escolas e postos de atendimento. Na infra-estrutura, há estudos para a canalização e assoreamento de córregos, como o de Mongaguá e Ponte Rasa. Outra obra definida como urgente é a construção de galerias de águas pluviais. Na vizinha Penha, a Subprefeitura se considera numa área privilegiada e com problemas ocasionais, como enchentes e áreas de risco, combatidos com “vigilância constante”. Em Vila Prudente, com 33,3 km² e cerca de 525 mil habitantes, segundo a Subprefeitura, a retomada das obras da avenida Jacu-Pêssego servirá para reduzir o problema do trânsito pesado de caminhões nas ave-
nidas Salim Farah Maluf e viaduto Grande São Paulo. No distrito de Sapopemba, as áreas de risco estão sendo mapeadas para posterior execução de obras habitacionais, em Nílton Fukuda/AE
Estevam Galvão, de Guaianases
conjunto com a CDHU. Na Subprefeitura de Aricanduva, com 23 km² e 350 mil moradores, o principal problema apontado são as enchentes em pontos isolados do córrego Aricanduva. Além dos serviços rotineiros de limpeza, a Subprefeitura estuda um projeto de desapropriação das áreas inundáveis da bacia do córrego. Em grande parte, as soluções para os problemas mais graves da Zona Leste só virão a médio e longo prazo. É necessário um amplo programa de investimentos em obras de infra-estrutura e serviços urbanos, conseqüente e sem interrupções provocadas por interesses políticos de momento. Ou como observa Clóvis Luiz Chaves, subprefeito de São Matheus: “Temos duas realidades diferentes aqui. Uma área com comércio forte e vida estruturada e outra com gente vivendo em condições subumanas. A curto prazo, só podemos atenuar a situação. A solução exigirá muitos investimentos. Esse é o maior desafio da atual administração”.
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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006
ESPECIAL - 7
SÃO PAULO, 452 ANOS Clarice Chiquetto
O pequeno comércio prevalece. Menos no Tatuapé A maior parte da Zona Leste está estagnada, segundo os distritais da ACSP. A exceção é o Tatuapé, que mudou de perfil: 70% dos associados são prestadores de serviço Miltom Mansilla/LUZ
Patrícia Cruz/LUZ
Miltom Mansilla/LUZ
Luiz Prado/LUZ
Miltom Mansilla/LUZ
A
o contrário de outras regiões da cidade, como a Zona Oeste, em que a prestação de serviços já é a principal atividade econômica, a Leste ainda é dominada pelos pequenos comerciantes. Com exceção do Tatuapé, bairro em franco crescimento e cuja economia já é baseada no setor de serviços, o comércio ainda é a atividade central dos pequenos empresários. Segundo o diretor superintendente da Distrital Penha da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marco Antônio Jorge, cerca de 60% de seus 1,2 mil associados são do comércio, 35% estão ligados aos serviços e o restante à indústria. A Penha, aliás, é um bom exemplo da atual situação de boa parte da Zona Leste. O bairro, o mais antigo de São Paulo ao lado de Santo Amaro, está estagnado há vários anos, sem dar mostra de crescimento ou mudanças em um curto período de tempo. “Nossa região está estabelecida, não sofre transformações radicais há um bom tempo. A última foi o Shopping Penha, há 14 anos”, informa Jorge. Embora agrade a muitos moradores, por manter o clima interiorano, a estagnação é um problema para quem quer e precisa do desenvolvimento da região. “Temos alguns projetos para reativar. O turismo religioso da Penha é um exemplo. Há pouco menos de vinte anos era muito forte e hoje praticamente acabou”, conta Jorge. A idéia é fazer com que as comemorações da Nossa Senhora da Penha, padroeira “informal” da cidade de São Paulo, em setembro, sejam lembradas como a festa da Nossa Senhora Achiropita, no Bixiga, e atraiam visitantes de toda a cidade. A Mooca apresenta situação muito parecida, com a diferença de que o setor de serviços já teve um bom crescimento e divide com o comércio o primeiro lugar na atividade econômica dos 2,1 mil associados da Distrital - o setor industrial fica com apenas 5%, todas localizadas nos bairros do Brás e do Belenzinho, também abrangidos por esta distrital. Apesar disso, a Mooca também é considerada um bairro estabilizado, que começa a crescer verticalmente, mas de forma gradual. “Não podemos dizer que há um boom imobiliário aqui. O que ocorre é que quem mora na Mooca gosta muito da qualidade de vida do bairro, que tem um dos menores índices de violência da cidade, por exemplo, e não quer sair. Então, uma hora, precisava haver esse
Luiz Prado/LUZ
Viotto (Mooca), Jorge (Penha), Teixeira (Tatuapé) e Parziale (São Miguel Paulista): domínio de pequenos comerciantes na Zona Leste
crescimento vertical, pois não há mais espaço para casas”, explica o superintendente da Distrital, Antônio Viotto Netto Esta ausência de locais para a construção de novas moradias está diretamente ligada ao principal problema da região, segundo o superintendente: a falta de áreas verdes. Do alto de um prédio de dez andares, na frente da distrital, de onde se enxerga o bairro todo, é possível
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comprovar: árvore, apenas onde está a subprefeitura da Mooca. No restante, só concreto - especialmente casas térreas e uns poucos prédios em construção. Em São Miguel, no extremo da cidade, a predominância do comércio é ainda maior. Aproximadamente 80% da economia são movimentados por comerciantes que, essencialmente, abastecem a população local. Os prestadores de serviço,
em geral atrelados ao comércio, são apenas 15% - as indústrias, os outros 5%. Mas o superintendente da distrital do bairro, José Parziale Rodrigues, acredita que São Miguel vai sofrer mudanças positivas em um curto período de tempo (cerca de quatro anos), em virtude da instalação da USP-Leste nas redondezas do bairro. As aulas da faculdade começam este ano e o efeito de
sua instalação já começou a ser sentido com o surgimento de bares e novos empreendimentos em seu contorno. O bairro do Tatuapé é o único que foge à regra da falta de mudanças e do predomínio do comércio. Lá, os prestadores de serviço já são 70% dos 1,7 mil associados da distrital da ACSP e a região está em franco crescimento há cerca de cinco anos - a porcentagem de indús-
trias também é maior, 10%. Um exemplo desse desenvolvimento é o Jardim Anália Franco, de alto padrão, considerado o Morumbi da Zona Leste. Os vários shoppings instalados na região, como o Metrô Tatuapé, o Anália Franco e o Sílvio Romero, também contribuíram com esse quadro. “Antes da chegada do Metrô Tatuapé, os comerciantes de rua estavam temerosos com o que poderia acontecer, acreditavam que suas vendas seriam drasticamente reduzidas e teriam de fechar as portas. Mas ocorreu o contrário. O shopping trouxe consumidores de toda a cidade para cá, que aproveitam para comprar nas ruas ao redor do metrô”, diz o superintendente da distrital, Antônio Sampaio Teixeira. Também nessa região, assim como em outros centros comerciais da cidade, os ambulantes representam um grande problema para os comerciantes. “Já entregamos para o subprefeito nosso pedido para que os camelôs sejam removidos e a rua Tuiuti restaurada”, conta Teixeira. Outro motivo para o crescimento, segundo o superintendente, é o fato de a região do Tatuapé ainda ter muitos espaços para a construção de novos empreendimentos: “Tivemos sorte de nossos espaços vazios não serem tomados por favelas ou outras ocupações irregulares. No máximo, eram lixões, que há uns quinze anos começaram a se transformar em condomínios de luxo de casas e apartamentos”. Com exceção do Tatuapé, considerado pelo superintende muito bem servido, os bairros da Zona Leste sofrem com a falta de transporte e infra-estrutura em geral. Todos os superintendentes citaram que falta metrô, trem e linhas de ônibus para abastecer a população da região, a maior da cidade.
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8 -.ESPECIAL
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006
SÃO PAULO, 452 ANOS Fernando Vieira
H
á pouco mais de 17 anos Juliana de Souza Gonçalves se mudou para a região onde Aílton Zampirolli Catharino vive desde que nasceu, a Zona Leste. Não se conhecem, mas acalentam um sentimento comum: a paixão por esta região da Capital. Dizem com a mesma convicção que sequer pensam na possibilidade de se mudar para outra região de São Paulo. Mas as semelhanças entre os dois paulistanos ficam nisso. No mais, predominam as diferenças, realidades bem opostas dentro da mesma Zona Leste paulistana. Aílton, de 42 anos, é solteiro e formado em administração de empresas, com cursos de extensão em economia e análise de sistemas. Trabalha desde a adolescência na empresa da família, com sede há mais de 40 anos na Zona Leste, ocupando hoje o cargo de gerente administrativo. Ao mesmo tempo exerce a profissão de ator, no grupo Arquivo Temporário. Em cena usa o nome artístico de Ito Cathz. O negócio de fabricação de materiais para obras e escritórios, iniciado por seu pai, prosperou ao longo dos anos. E a situação familiar também foi melhorando consideravelmente seguindo o ritmo empresarial. Na infância, ele morava no bairro Aricanduva em uma casa simples. Depois, no bairro da Penha, numa residência bem mais confortável. E, desde 1996, reside com os pais e duas irmãs num apartamento de alto luxo no Tatuapé, na região do Jardim Anália Franco, uma das mais valorizadas nos últimos anos na Capital. Ainda que a ascensão financeira tenha sido significativa, não representou motivo para que Aílton e sua família buscassem outra área nobre para viver em São Paulo, como Moema, na Zona Sul, ou Morumbi e Jardins, na Zona Oeste. Ao contrário, o prédio escolhido para nova residência à época da terceira mudança encontrava-se próximo de onde sempre moraram e trabalharam. Um edifício imponente, com apartamentos de cerca de 350 metros quadrados: quatro quartos, biblioteca, salas de jantar, estar e TV, dois quartos de
Av. São São Miguel, Miguel, 4.278 4.278 Av. Ponte Rasa Rasa -- SP SP Ponte
A paixão pelo leste, do Anália Franco ao Jardim Pantanal O administrador de empresas e ator vive num prédio de luxo no Jardim Anália Franco. A professora, numa casa modesta do Jardim Planalto, aquele sempre alagado. Amam seus bairros, são felizes ali Fotos: Patrícia Cruz/LUZ
O administrador e ator Aílton Catharino mora no Jardim Anália Franco. No Jardim Planalto vive a professora Juliana Gonçalves. Dois mundos distintos, o mesmo amor pela Zona Leste
empregada e seis vagas na garagem, estilo característico de um apartamento por andar. No entanto, fator decisivo para a saída da antiga casa e escolha do apartamento não foi o conforto, mas os sete assaltos sofridos, cinco deles praticamente seguidos - e quatro sob ameaça de armas de fogo. A família buscou então no condomínio a segurança que já não sentia em uma casa, como vigilância 24 horas, porteiro, monitoramento eletrônico, etc. É comum ver ainda em outros edifícios desse padrão na região até mais rigor, inclusive revistas dos veículos antes da entrada para a garagem. Os moradores se submetem ao constrangimento da inspeção na porta de seus lares em troca da sensação de segurança. “Temos muito medo da violência. Mas não
Tel.: 11 11 6148-6543 6148-6543 Tel.: 9255-7701 9255-7701
acho que seja um problema diferente do resto da cidade, o mesmo que se vê na Zona Sul”, diz, em defesa de sua região. Para ele, não faltam argumentos positivos para viver na Zona Leste. Fala com entusiasmo das vantagens sobre alguns dos considerados bairros bons como as linhas de metrô, as vias de acesso - “por exemplo, a Radial Leste, apesar do trânsito carregado em alguns momentos, é uma reta por onde praticamente se vai até onde quiser em São Paulo” -, os shoppings centers Metrô Tatuapé, Anália Franco, Silvio Romero Plaza e Chic - “quatro apenas aqui no bairro” - e os supermercados: “E geralmente quem mora aqui e possui uma renda mais alta é porque tem sua empresa ou comércio na região ou trabalha em uma das empresas locais. É
a comodidade de estar perto de casa”. O administrador-ator brinca com o fato de haver um preconceito contra a região, predominantemente de média-baixa renda, que rendeu o apelido de “ZL” à área e aos seus moradores: “Por que sair daqui e ir morar na Zona Sul? Lá vou ser apenas mais um. Enquanto aqui me diferencio como um morador da ZL. Digo em tom de brincadeira, mas isso ocorre de verdade, é uma vaidade natural dos moradores daqui, que se conhecem há anos e reconhecem as histórias de luta e sucesso”. Um dado chama a atenção na Zona Leste: são 359 favelas maior número entre as demais regiões da Capital - frente a exuberância da região expandida do Jardim Anália Franco. Contudo, o relacionamento
de vizinhança é o grande destaque entre as demais qualidades, na opinião de Aílton: “Somos muito próximos. Todos acabam se conhecendo, independentemente do nível social e da disparidade de renda. Acho que este é um fator que acaba nos aproximando porque não há o isolamento, a convivência se torna mais constante. Por essa relação de vizinhança costumo dizer que o Interior de São Paulo começa aqui, na Zona Leste”. Talvez o aspecto de cidade de interior pudesse ser mais uma semelhança em relação ao ambiente onde vive Juliana, de 28 anos, no bairro Unidos de Vila Nova, na região do Jardim Pantanal, em São Miguel. No entanto, a característica interiorana, nesse caso, assume outro significado, especialmente de carência de infra-estrutura. Muitas
ruas ainda não foram pavimentadas, tratores circulam em meio a obras iniciadas recentemente pela Prefeitura para tentar melhorar a condição local. É comum ver charretes puxadas a cavalo, para espanto de quem imagina São Paulo apenas como a metrópole. Juliana mora ali desde os 11 anos, sempre na mesma região. Concluiu há pouco tempo o magistério. É casada e mãe de dois filhos. O primeiro Maydson, de 10 anos, veio “de surpresa”, uma gravidez aos 17 anos. O segundo, João Paulo, de 3 anos, é fruto do casamento de cinco anos. A casa em que vive foi construída aos poucos, um cômodo depois outro. Hoje “está boa para a família” e mais uma irmã que mora junto: tem dois quartos, uma cozinha e um banheiro. Deve ganhar mais espaço porque a mãe que morava nos fundos, em dois outros cômodos, se mudou: “Em breve iremos juntá-los. Aí vou ter uma sala! Antes a visita ficava na cozinha”. Juliana fala sempre com um sorriso nos lábios. É professora em uma escolinha e creche, mantida pela Associação Meninos de São Miguel. As mães de 27 alunos dão uma ajuda de custo, “o quanto podem”, em média R$ 10 por mês. Esse dinheiro, única renda de Juliana, é dividido ainda com outra professora: “Aproveito para comprar o material para a escolinha, como lápis de cor e giz. Acabo não levando pra casa”, conta. No fim, a renda familiar vem do salário do marido, quase R$ 500. A professora faz planos para cursar faculdade de pedagogia. Sonha em passar no concurso público para lecionar ou em conseguir “qualquer trabalho com criança”, com um salário de R$ 700 por mês. Sonha com a melhoria das condições de infra-estrutura e conseqüentemente da vida da vizinhança: “Nós podemos ser melhores e felizes no lugar onde crescemos e vivemos, não importa onde seja. Por isso, eu tenho vontade de crescer aqui, na minha região, quero participar desse crescimento”. E Juliana tem outro motivo para ser feliz ali: sua casa não inunda, como ainda ocorre às margens do Tietê e córregos que cortam o bairro. Pois enchente é a marca do Jardim Planalto.
DIÁRIO DO COMÉRCIO
12 -.CIDADES & ENTIDADES
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006
Fotos de Luiz Prado/Luz
Começa restauração na capela mais antiga da cidade Arqueólogos esperam achar até ossadas sob o piso de igreja em São Miguel Rejane Tamoto
E
rguido há 384 anos, o segundo templo religioso mais antigo de São Paulo – a Capela de São Miguel Arcanjo –, em São Miguel Paulista, na zona leste, começa a ser restaurado. O aspecto de abandono da igreja pouco a pouco cede lugar ao ritmo das obras iniciadas dia 1º e que devem durar 12 meses. Ao custo de R$ 3,1 milhões, o projeto está sendo patrocinado pelas empresas Votorantim, Petrobrás e Banco Itaú, via lei de incentivo à cultura Rouanet. Rosana Delellis, diretora da Formarte, empresa responsável pela captação de recursos, disse que estão envolvidas na obra cerca de 100 pessoas, entre arquitetos, engenheiros, restauradores, arqueólogos e historiadores. "Essa revitalização é uma antiga reivindicação da comunidade", destacou. Praça – O projeto, disse a diretora, também incluiu uma sugestão à Prefeitura: revitalizar a praça Padre Aleixo Monteiro Mafra – popularmente conhecida como Praça do Forró – onde a capela está inserida. A idéia é integrar o visual da nova capela à praça. Segundo informações da Subprefeitura de São Miguel Paulista, a praça também será restaurada. No próximo dia 15, o prefeito José Serra deve liberar R$ 2 milhões para o projeto e execução da re-
Reforma da capela deve durar um ano. O segundo templo mais antigo de São Paulo data de 1622.
A família de Carmem Miragaia, de 84 anos, chegou à região em 1919
vitalização, que deve ocorrer em paralelo às obras na igreja. Com essa série de melhorias, os comerciantes locais esperam um grande crescimento nas vendas. Segundo o superintendente da Distrital São Miguel da Associação Comer-
cial de São Paulo, José Parziale Rodrigues, isso deve ocorrer principalmente porque a região receberá mais gente, se tornando também um pólo turístico. "Grandes lojas, como a Kalunga, se instalaram na região e, com as revitalizações, o
comércio local deverá investir também", afirmou. Restauração - Segundo o arquiteto da Concrejato, Alessandro Pompei, na primeira fase de restauração da Capela de São Miguel Arcanjo foram inseridos os tapumes de proteção e está em andamento a construção de um canteiro de obras. O local, que é patrimônio histórico tombado, passa por um projeto de detalhamento e mobilização. "O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) acompanha os trabalhos, os processos de conservação, antes mesmo do início da prospecção arqueológica", disse. Pompei afirmou que antes de iniciar as escavações deve ser feito um preparo, com medidas preventivas, para evitar danos à capela. "Existe a expectativa de se encontrar ossadas no sítio arqueológico. Moradores relatam que haviam sepultamentos no solo da capela, o que era comum na época em que foi construída". Outra suposição, de acordo com as informações da comunidade, é a de que no entorno da igreja exista um cemitério indígena. Por enquanto, estas informações são apenas hipóteses que deverão ser confirmadas ou não nos próximos três meses de reformas. Após as escavações, deverão ser realizadas a troca, recomposição, limpeza e impermeabilização dos telhados, além da descupinização de todas as dependências da capela. As paredes, em taipa, passarão por uma recuperação e tratamento de trincas. As portas, esquadrias, janelas e piso receberão pintura e proteção. A última fase da restauração será a dos ornatos em madeira e dos elementos móveis da igreja, tais como a pia batismal, cômodas e elementos artísticos. Com tudo isso, a Capela de São Miguel não sofrerá intervenções na estrutura física. Segundo o arquiteto, a única mudança neste sentido será a transferência de dois banheiros da igreja para um anexo.
Imagens serão recuperadas
Há relatos de sepultamentos no solo da capela, o que era comum na época da construção, e também de um cemitério indígena Alessandro Pompei, arquiteto "Vamos construir um anexo semi-enterrado, para não comprometer a estrutura, e nele os banheiros", afirmou. Museu - No anexo, segundo Pompei, também será instalado um museu com o material colhido do solo da capela. Enquanto o acervo está sendo garimpado, a monitoria começa a ser treinada e recrutada no próximo mês. "Selecionaremos 40 jovens da comunidade, com idade entre 14 e 17 anos, para participar de oficinas e workshops de grafite e restauros de madeira e taipa", disse Rosana Delellis. A idéia, segundo a diretora da Formarte, é que o tema das oficinas seja a história do bairro. As aulas teóricas e práticas serão ministradas por profissionais envolvidos na restauração, paralelamente à obra. "No entanto, os alunos não devem aplicar os conhecimentos no patrimônio histórico. Al-
guns deles serão selecionados para serem os guias turísticos do museu", anunciou. História – Além de patrimônio histórico e artístico, a capela de São Miguel Arcanjo é a primeira fundação do bairro de São Miguel Paulista. Ela foi construída em 1622, com exceção de pequenas partes já levantadas de forma rudimentar em 1560, com a chegada do padre José de Anchieta. Parte da história da Capela foi acompanhada pela família Miragaia. Uma das moradoras mais antigas da região, Carmem Morales Miragaia de Souza, conta que a família foi morar nos arredores da praça Padre Aleixo Monteiro Mafra em 1919. Com 84 anos de idade, Carmem – conhecida por todos como Tage – vê com bons olhos a revitalização da capela, onde foi batizada, crismada, e cujas missas de sábado frequentou até o início das obras. "Sou católica e lembro que antes da região progredir havia festas maravilhosas de São Miguel na praça. Em frente à capela havia um cruzeiro, no qual acendíamos velas todas as segundas-feiras. Eram comuns os rituais e o clima de interior", conta. Carmem ainda conta que a família participou ativamente do progresso da região, por meio do comércio. "Meu pai tinha uma mercearia, depois teve um posto de gasolina quando a atual avenida Marechal Tito ainda era uma estrada que ligava Rio de Janeiro a São Paulo. Quando a Nitro Química Votorantim passou a funcionar no bairro, minha casa se tornou um restaurante, onde os engenheiros vinham almoçar", disse. A moradora pioneira da região foi homenageada em setembro de 2005 pela Subprefeitura de São Miguel por serviços prestados à comunidade. "Só tenho a agradecer por ter constituído família em São Miguel. Aqui trabalhamos e, com o comércio, construímos nosso patrimônio. Posso dizer que sou muito feliz aqui".