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J. Basílio Simões Vice-Chairman e Fundador da Cleanwatts

Comunidadesde Energia Renovável são um caminho do futuro sustentável

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Aos desafios lançados pelas alterações climáticas vem, agora, juntar-se a guerra na Ucrânia. À necessidade de descarbonizar acrescentamos, agora, a necessidade de garantir fornecimento seguro com custos que não ponham em causa o desenvolvimento económico dos países. É, por isso, urgente ter uma maior independência energética, mais energia de fonte renovável e maior eficiência energética. Urge a necessidade de independência, através de soluções alternativas, como o autoconsumo coletivo e as Comunidades de Energia Renovável (CER), com produção local de energia limpa a preços baixos. É este o caminho do futuro e do desenvolvimento económico sustentável.

O ditado diz que “o sol quando nasce é para todos” e nós defendemos que o uso que fazemos deste recurso natural pode (e deve) ser aproveitado por mais pessoas. As razões são diversas: a eletricidade obtida a partir do sol, utilizando painéis fotovoltaicos, apresenta o valor mais baixo em termos de custo de produção; quando aproximamos a fonte de geração do consumidor, é utilizada uma parte mais pequena da rede elétrica (por vezes, um ou dois quilómetros, ao contrário da energia que nos chega de grandes centrais ou barragens), reduzindo-se as perdas e os custos de manutenção; e, ao injetar eletricidade próxima dos pontos de consumo, estamos a contribuir para um maior equilíbrio da rede numa era em que assistimos a uma, cada vez maior, eletrificação da economia e das nossas vidas.

As CER possibilitam que cidadãos, empresas, agentes locais, entidades públicas, entre outras, se agrupem, em comunidade, para produzir, consumir, armazenar, comprar e vender energia, a partir de fontes renováveis, com os seus membros ou com terceiros, bem como partilhar e comercializar, entre os membros da comunidade, a energia renovável produzida localmente. As CER abrem, ainda, a possibilidade de aceder aos mercados de energia, por exemplo, para fornecer serviços de flexibilidade.

Para além de promover uma participação ativa do cidadão no sistema elétrico, as CER têm benefícios económicos, ambientais e sociais para os membros e são um poderoso instrumento no combate à pobreza energética. O futuro e a transição energética pedem abordagens inovadoras, financeiramente mais sustentáveis, que possibilitem uma efetiva transição energética, sem deixar ninguém para trás, envolvendo as famílias economicamente vulneráveis, salvaguardando a coesão social e territorial e o bem-estar e saúde dos agregados familiares em situação de pobreza energética, assegurando-lhes uma maior acessibilidade a alternativas energéticas a baixo custo, sem emissões locais. Portugal tem já bons exemplos de CERs, no terreno, que comprovam a eficácia deste modelo como forma de democratizar e descarbonizar o setor energético. A Cleanwatts é a empresa pioneira em Comunidades de Energia em Portugal, tendo criado a primeira em agosto de 2021, em Miranda do Douro, e estando, atualmente, a gerir

várias CER, em Portugal e internacionalmente. As CER são o caminho seguro para acelerar a descarbonização e a transição energética. Um caminho que – se for feito de forma simplificada, acelerada e desburocratizada – servirá para aumentar a competitividade, posicionar as empresas no caminho do futuro e possibilitar mais rendimento disponível nas famílias através da redução da fatura energética, contribuindo, assim, para combater a pobreza energética de forma efetiva e eficaz. Este é o caminho para o desenvolvimento económico sustentável: o caminho do futuro.

Urge a necessidade de independência, através de soluções alternativas, como o autoconsumo coletivo e as Comunidades de Energia Renovável (CER), com produção local de energia limpa a preços baixos. É este o caminho do futuro e do desenvolvimento económico sustentável

Adriano Silveira Membro da Comissão Executiva da The Navigator Company Rumo à neutralidade carbónica

Ocompromisso com o desenvolvimento sustentável é parte integrante do propósito corporativo da The Navigator Company. No desafio coletivo de uma nova economia, apostamos na inovação e na valorização da floresta como pilares fundamentais da necessária descarbonização e transição energética.

Entre as exigências associadas à sustentabilidade no futuro próximo está, claramente, a evolução para um mundo assente numa economia descarbonizada. Um desafio que a Navigator assumiu há muito, reflexo da sua estratégia de gestão responsável do negócio, que visa aumentar a contribuição para a criação de valor e crescimento sustentável num mundo em mudança.

Adotámos um papel ativo na procura de soluções para o desafio climático, tendo definido, em 2019, um caminho claro com o Roteiro para a Neutralidade Carbónica. Com este roteiro tornámo-nos na primeira empresa portuguesa, e uma das primeiras a nível mundial, a antecipar em 15 anos as metas de descarbonização nacionais e internacionais. Em 2035 teremos todos os nossos complexos industriais neutros em carbono, o que implica uma redução de mais de 667 mil toneladas de emissões diretas de CO2, ou seja 86%, face a 2018. O investimento de mais de 200 M€ alocado a este objetivo inclui tecnologias que recorrem a fontes de energia renovável, como a biomassa florestal e a energia solar. Destaco aqui a entrada em funcionamento da nova caldeira de biomassa na fábrica Figueira da Foz, tornando-a na primeira fábrica integrada de pasta e papel do Grupo que produz eletricidade totalmente a partir de fontes renováveis. Este investimento permitiu obter, em 2021, uma redução global de 57% das emissões de CO2 desta unidade industrial, face ao ano anterior. Foi um projeto de mais de 55 M€ realizado nos dois anos seguintes à apresentação do nosso Roteiro para a Neutralidade Carbónica e reflete a importância que a descarbonização e a transição energética representam para a The Navigator Company. A geração de energia térmica e elétrica com base em turbinas e caldeiras a gás natural foi substituída por biomassa, traduzindo-se numa redução de mais de 200 mil toneladas de emissões diretas de CO2, face a 2018.

Ainda no âmbito das ações previstas no Roteiro para a Neutralidade Carbónica, concluímos já este ano a instalação de uma nova caldeira no Complexo Industrial de Setúbal na qual será possível a combustão mista de hidrogénio e gás natural. Esta instalação representa um investimento de 8 M€ e substituiu duas caldeiras a fuelóleo, reduzindo 1.193 toneladas de emissões diretas de CO2.

Em 2021, 66% da energia elétrica produzida pela Navigator nos seus quatro complexos industriais teve origem na biomassa, representando cerca de 35% do total produzido no país a partir deste combustível ecológico e não fóssil.

Mas queremos ir mais longe e pretendemos que, em 2030, 80% da energia primária que consumirmos seja de origem renovável.

Além da biomassa, temos investido na energia solar, uma vertente importante da nossa estratégia de descarbonização. Em 2021, instalámos duas novas centrais solares fotovoltaicas para autoconsumo: uma no complexo da Figueira da Foz que permite produzir anualmente cerca de 3.500 MWh de energia elétrica renovável e evitar a emissão de 1.296 toneladas de CO2 e outra na fábrica de pasta do complexo de Setúbal, com produção anual de 3.200 MWh e 1.187 toneladas de emissões de CO2 evitadas por ano. Com a concretização destes projetos, a capacidade instalada nas agora cinco centrais solares da Navigator ascende a aproximadamente 7MW, o que equivale a mais de 21.000 painéis solares instalados.

Este ano foram já adjudicadas e estão em implementação quatro novas centrais solares fotovoltaicas: uma de 1,9 MW no complexo de Aveiro, duas de 2,7MW e de 16,1 MW no complexo da Figueira da Foz e uma 4,1 MW na fábrica de Vila Velha de Rodão. No total as novas centrais terão uma potência instalada de 24,8 MW. Estima-se que produzam 37.000 MWh e permitirão evitar a emissões de 11.163 toneladas de CO2.

De forma a complementar a transição energética consideramos também essencial a redução do consumo de energia. Assim desenvolvemos um programa transversal de eficiência energética do qual faz parte a implementação de diversas iniciativas que, ano após ano, permitem reduzir o nosso consumo específico de energia térmica e elétrica.

Nesta busca pela descarbonização, não podemos esquecer o contributo positivo do nosso património florestal, não só pela sua capacidade para sequestrar e armazenar carbono mas também como a base de um

novo modelo de bioeconomia circular, com os produtos de base florestal a substituírem outros de proveniência fóssil. A floresta gerida pela Navigator tem um stock de carbono, excluindo o do solo, equivalente a 5,9 milhões de toneladas de CO2.

Só assim será possível assegurar a transição para uma economia positiva para a natureza e neutra para o clima.

98468 Adotámos um papel ativo na procura de soluções para o desafio climático, tendo definido, em 2019, um caminho claro com o Roteiro para a Neutralidade Carbónica. Com este roteiro tornámo-nos na primeira empresa portuguesa, e uma das primeiras a nível mundial, a antecipar em 15 anos as metas de descarbonização nacionais e internacionais.

Mário Velindro Presidente do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra

Desenvolvimento económico sustentável é um conceito precioso

Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desen-Avolvimento foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e presidida por Gro Harlem Brundtland, criada com os seguintes principais objetivos: reexaminar as questões críticas relativas ao meio ambiente e reformular propostas realísticas para abordá-las; propor novas formas de cooperação internacional nesse campo de modo a orientar as políticas e ações no sentido de fazer as mudanças necessárias, e dar a indivíduos, organizações voluntárias, empresas, institutos e governos uma maior compreensão dos problemas existentes, auxiliando-os e incentivando-os para uma atuação mais firme.

Em 1987, a Comissão recomendou a criação de uma nova declaração universal sobre a proteção ambiental e o Desenvolvimento Sustentável - o Relatório Brundtland. Foi publicado com o título “O Nosso Futuro Comum”. Este documento apresentou a proposta de integrar a questão ambiental no desenvolvimento económico, surgindo não apenas um novo termo, mas uma nova forma de progredir. Para isso, os governos deverão adaptar as seguintes medidas: limitar o crescimento populacional; garantir alimentação a longo prazo; preservar da biodiversidade dos ecossistemas; diminuir o consumo de energia e promover o desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis; aumentar a produção industrial nos países não-industrializados à base de tecnologias ecologicamente adaptadas; controlar a urbanização selvagem e integração entre campo e cidades menores. Ao nível internacional os requisitos propostos pelo relatório sugerem que as organizações devem adaptar uma estratégia de desenvolvimento sustentável, a comunidade internacional deve proteger os ecosistemas supranacionais como a Antártica, os oceanos, o espaço, as guerras devem ser banidas e que a ONU deve implantar um programa de Desenvolvimento Sustentável.

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada por todos os Estados-Membros das Nações Unidas em 2015, define as prioridades e aspirações do desenvolvimento sustentável global para 2030 e procura mobilizar esforços globais à volta de um conjunto de objetivos e metas comuns.

Se analisarmos cada um dos objetivos concluímos que os países têm uma tarefa árdua pela frente. Apesar de existirem países que avançaram mais do que outros, a nossa dependência energética, por exemplo, relativamente aos combustíveis fósseis ainda é enorme. Têm sido feito esforços, todos têm consciência da gravidade do problema, sobre isto ninguém pode ter dúvidas. É fácil opinar, ainda mais fácil é criticar, mas o estado de degradação que o planeta apresenta, por erros cometidos ao longo das últimas décadas, arrastou-nos para uma situação muito complicada. Obviamente que temos de agir, neste caso reagir, mas que não é fácil, isso não é.

A engenharia tem dado contributos enormes, mas sabemos que não são suficientes. Os maiores e melhores centros de investigação do mundo trabalham arduamente no sentido de ajudar a minimizar a utilização de energia não renovável. Contudo, a guerra na Ucrânia tem-nos mostrado a dependência colossal que ainda existe relativamente aos combustíveis fósseis. Bastou o Kremlin anunciar cortes num gasoduto e a Europa tremeu e continua a tremer. Porquê?

O desenvolvimento económico sustentável é um conceito precioso. Sugere, de facto, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem. É isso que vemos acontecer? De acordo com dados oficiais (countryeconomy.com), as exportações da China entre 1999 e 2021 aumentaram 15 vezes.Só este indicador dá-nos a conhecer que estamos longe da necessária economia circular. Continuamos a produzir, muito. E o que é preocupante, é que os que mais falam em desenvolvimento sustentável são os que mais produzem.

O desenvolvimento económico sustentável é um conceito precioso. Sugere, de facto, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem. É isso que vemos acontecer? De acordo com dados oficiais (countryeconomy.com), as exportações da China entre 1999 e 2021 aumentaram 15 vezes.

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Sérgio Louro Engenheiro, gerente da Lortek

Apostar nas fontes de energias renováveis

Estávamos em 2005 quando me apercebi que o gás e outros combustíveis de origem fóssil tinham os dias contados, e foi então que me coloquei ao caminho e desenvolvi uma nova indústria para o fabrico de equipamentos capazes de usar as energias renováveis ao nosso dispor, sendo que o nosso principal produto actual são bombas de calor Ar-Água. www.lortek.eu

Sendo que Portugal não tem recursos de energia fóssil conhecidos, têm que importar esta energia, o que desequilibra a nossa balança comercial e nos leva, enquanto País, como um todo, a ficarmos cada vez mais pobres.

Felizmente somos uns afortunados em termos de recursos de energia natural e renovável, temos um elevado número de horas de sol e uma extensa costa, onde podemos implementar parques eólicos para extrairmos a energia do vento e podemos ainda extrair a energia das ondas ou energia das marés.

Portanto o caminho para o nosso “desenvolvimento económico sustentável” passa pelo investimento em massa nestes equipamentos para explorarmos estas fontes de energia renovável e, assim, deixarmos de comprar energia no exterior e passarmos a vender energia ao exterior.

O que fazer com os eventuais excedentes de energia?

Como todas as pessoas vão observando, os verões são cada vez mais quentes e com falta de água, mas se tivermos energia natural e em excesso podemos dessanilizar a água do mar e produzir água doce a nosso belo gosto.

Alternativamente com o excesso de energia renovável, poderemos converter a mesma em Hidrogénio cuja procura irá aumentar muito nos próximos anos com a introdução de carros e camiões a hidrogénio.

Nas nossas casas, nos nossos equipamentos (serviços/industriais), como escolas, piscinas, pavilhões, indústrias, etc., o que podemos fazer para manter o nosso conforto e poluirmos menos o nosso ambiente?

Podemos e devemos substituir as nossas placas a gás para cozinharmos por placas de indução, substituir os nossos esquentadores, caldeiras a gás/gasóleo ou caldeiras a biomassa, por bombas de calor para aquecermos água e climatizarmos os espaços, isto sem qualquer emissão de gases de efeito de estufa, e ainda possibilitando a instalação de sistemas fotovoltaicos, e assim sermos autónomos e amigos do nosso Planeta.

Quais os impactos da pressão inflacionista e disrupção das cadeias de abastecimento nos seguros?

Apandemia de Covid-19 causou grandes perturbações nas cadeias logísticas a nível mundial, uma situação que pode demorar alguns anos até ser normalizada. Tal fenómeno, conjugado com o aumento dos custos da energia, das matérias-primas, dos bens alimentares e com a eclosão da guerra na Ucrânia, leva a que se registem níveis de inflação historicamente elevados que ainda não tinham sido verificados neste século.

Esta expressiva escalada dos preços impacta toda a economia e o setor dos seguros não foge, obviamente, à regra.

O impacto da pressão inflacionista e da disrupção das cadeias de abastecimento é muito severo e, se não for devidamente acautelado, pode ter consequências graves, especialmente em ambientes económicos difíceis.

Na realidade, no âmbito dos seguros e na perspetiva dos segurados, as repercussões da pressão inflacionista são diversas e relevantes, desde logo, nos capitais seguros; e, se não forem devidamente acautelados, podem ter graves consequências graves num cenário de sinistro, podendo, inclusivamente, colocar em causa a sustentabilidade e a continuidade dos negócios.

Seguros Patrimoniais - o risco de subseguro ou infrasseguro

A correta determinação do capital seguro é a base essencial para uma boa regularização do sinistro, e uma responsabilidade do tomador do seguro, não só no início do contrato, mas também durante toda a sua vigência. Este aspeto é de vital importância, especialmente em conjunturas económicas difíceis e voláteis como aquela em que atualmente vivemos, com um aumento generalizado dos preços, nomeadamente de materiais e mão-de-obra.

Como determinar corretamente o capital seguro

No seguro de danos os critérios de determinação do capital seguro relativamente a cada tipo de objeto seguro constam do contrato de seguro. Tipicamente correspondem: • Imóveis - ao custo de reconstrução do imóvel, tendo em conta o tipo de construção e outros fatores que possam influenciar esse custo, à exceção dos terrenos. Em relação aos imóveis em regime de propriedade horizontal, inclui o valor proporcional das partes comuns. • Mercadorias - estas deverão ser valoradas ao preço corrente de aquisição para o segurado ou, no caso de se tratar de produtos por ele fabricados, ao valor atual dos materiais transformados e/ou incorporados, acrescido de todos os custos de fabrico. • Máquinas e equipamentos - o capital seguro deverá corresponder ao custo em novo do equipamento, deduzido da depreciação inerente ao seu uso e estado. Se tiver sido contratada a cobertura de Valor de Substituição, deverá corresponder ao seu valor de substituição, à data do acidente, por um equipamento novo, de idênticas características e rendimento, acrescido de despesas de frete, montagem e direitos alfandegários. • Mobiliário e recheio - o capital seguro deverá corresponder ao custo de substituição dos bens objeto do contrato, pelo seu valor em novo.

É no momento do sinistro que o segurador confirma se o capital seguro foi corretamente determinado. É importante sublinhar que, antes deste momento, não existem diligências prévias por parte dos seguradores para validação dos montantes declarados pelo segurado.

Como funciona a regra proporcional

Num contexto inflacionista existe um maior risco de se verificar uma situação de subseguro (ou infrasseguro) no momento do sinistro, ou seja, do capital seguro se revelar inferior àquele que na realidade está em risco. Nesta hipótese a seguradora só é obrigada, por força do contrato e da lei, a assumir os prejuízos na proporção entre o capital seguro e o seu valor real (regra proporcional).

De acordo com esta regra, o segurador só paga uma parte dos prejuízos, isto é, o valor da indemnização não corresponderá ao valor total dos danos sofridos mas apenas a uma percentagem, correspondente à proporção entre o valor seguro e o valor em risco (determinado de acordo com a regra proporcional). Por exemplo, se um edifício cujo custo de reconstrução é de 1.000.000 € estiver seguro por 750.000 €, e tiver sofrido danos parciais no valor de 200.000 € o segurador será responsável apenas por 150.000 €, ou seja, 75% dos prejuízos apurados aquando da peritagem, ficando os restantes 50.000 € ( 25% dos prejuízos) a cargo do segurado.

A importância da atualização de capitais

Para que não se verifiquem situações de subseguro ou infrasseguro é necessário que os segurados realizem diligências de revisão e atualização dos capitais seguros tendo por base os preços praticados, nesse período, pelo mercado.

As apólices de Patrimoniais podem incluir cláusulas que visam acomodar flutuações de capitais em risco relativamente aos capitais seguros, tais como a cláusula de atualização automática do capital seguro no caso de apólices de habitação/condomínio, ou a cláusula de atualização convencionada de capitais, no caso de apólices de patrimoniais de outra tipologia.

Perdas totais e a importância da cláusula de substituição de valor em novo

Importa referir que o acréscimo dos custos de substituição ou reparação de equipamentos e máquinas também tem outras consequências, nomeadamente amplia o risco de situações de, em caso de sinistro, a reparação ou substituição não ser economicamente justificável por exceder o valor de mercado dos mesmos e, decorrente disso, verificarem-se situações de perda total. Nestes casos, por via de regra, o valor da indemnização de um bem considerado como perda total corresponderá ao valor da sua substituição em novo, deduzido da sua depreciação por uso e desgaste, ou seja, o valor da indemnização não permitirá suportar o custo de aquisição de um novo. Para ultrapassar tal limitação pode ser subscrita uma Cláusula de Substituição de Valor em Novo.

Tempos de reposição e os seguros de perdas de exploração

Para além das consequências nos preços dos bens e serviços verificam-se outros danos colaterais como sejam os atrasos significativos na produção, distribuição e entrega de materiais e equipamentos,na reconstrução de edifícios, na substituição, reparação e montagens de máquinas e equipamentos.

Em caso de sinistro, estes atrasos podem traduzirse em paralisações de atividade e materializar-se em perdas e/ou diminuição de vendas.

Este difícil contexto logístico reforça mais do que nunca a importância da contratação de coberturas de seguros de perdas de exploração.

Neste âmbito, é de elevada importância optar-se pela inclusão da cláusula Leeway clause relativa a eventuais flutuações e divergências de capitais em riscos versus capitais seguros, o que permitirá ajustar o capital seguro na apólice à dinâmica do exercício económico da organização e, particularmente, ao ambiente macroeconómico em que esta compete (incluindo as atuais dificuldades ao nível das cadeias logísticas).

Esta cláusula, que deve ser perspetivada como um complemento à revisão dos capitais seguros em perdas de exploração, possibilitará, até ao limite percentual contratado, o ajustamento do capital seguro, de forma a não existir uma situação de infrasseguro e ser aplicada a regra proporcional em caso de sinistro.

É, também, recomendável uma revisão cautelosa por parte do segurado, dos períodos de indemnização garantidos via apólice de seguro, de modo a que seja assegurado o período necessário para reconstruir, reparar ou substituir os bens sinistrados, tendo em conta os atrasos decorrentes das atuais dificuldades nas cadeias logísticas. O mesmo se aplica aos respetivos capitais seguros.

Seguros de Responsabilidade Civil – aumento dos custos de reparação dos danos

No âmbito das apólices de Responsabilidade Civil estamos a assistir a um aumento dos custos de sinistros em resultado do incremento dos valores de indemnização dos danos a terceiros, explicados pela escalada dos preços de reparação.

Face a este clima inflacionista, conjugado com o aumento da litigância, do alargamento do âmbito da responsabilidade civil, e a tendência de atribuição de valores de indemnização mais elevados, é aconselhável a revisão e adequação dos capitais contratados, de forma a que sejam adequados à exposição do risco de responsabilidade. De realçar que o capital constitui o valor máximo a indemnizar. Se os prejuízos/danos excederem este valor, a responsabilidade pelo excedente ficará a cargo do segurado.

Em suma, mais importante do que resolver os problemas é antecipá-los. Se tiver em atenção os aspetos críticos mencionados, estarão criadas as condições para que o sinistro tenha uma resolução rápida e eficiente, não defraudando as expectativas e os direitos dos clientes, ao mesmo tempo que se materializa o papel fundamental do seguro como instrumento essencial para o desenvolvimento e sustentabilidade das sociedades.

Na MDS estamos ao seu lado na proteção do seu mundo, com soluções que o protegem a si, aos seus bens e negócios.

Pedro Pinhal, Diretor Técnico e de Sinistros e Nuno Rodrigues, Diretor de Riscos Patrimoniais e Engenharias da MDS Portugal

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