DIÁRIO DA MANHÃ - PASSO FUNDO E CARAZINHO, SEXTA, SÁBADO E DOMINGO, 8, 9 E 10 DE ABRIL DE 2022
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PISCICULTURA
Diferença de preços entre carne vermelha e branca pode abrir espaço para o peixe Por Rafael Bonatto rafaelbonatto@diariodamanha.com
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Sexta-feira Santa deste ano cai no dia 15 de abril e depois de dois anos de protocolos de segurança impostos pelas emergência da pandemia de Covid-19, será a primeira Páscoa sem adaptações ou distanciamentos. A Feira do Produtor vai começar a disponibilizar a partir da próxima terça (12) até a sexta, carpa-capim viva na Feira do Parque da GARE. Afinal, além da venda de chocolate, os criadores de peixes se beneficiam com o período. Estimasse que cerca de 25% da produção desse alimento acontece apenas por causa da Sexta-feira Santa, segundo dados da EMATER. O estado conta com mais de 50 mil produtores, sendo 78% da produção destinada à subsistência e apenas 22% para a comercialização. Essas informações da Associação Brasileira de Piscicultura demonstram o papel do peixe na segurança alimentar da população gaúcha, assim defende Vilmar Wruch Leitzke, Extensionista Rural da Emater. O engenheiro agrônomo destaca, que o peixe tem potencial para se desenvolver, mas esbarra hoje em questões culturais, logísticas e econômicas. CONSUMIR CARNE DE PEIXE É HÁBITO Um ponto positivo é o preço, com o aumento do valor do quilo da carne de gado, o peixe chega a custar metade do preço por quilo. “Essa diferença acaba sendo um fator importante na tomada de decisão”, define Vilmar. Ele aponta, porém, para questões culturais que podem afastar o consumidor. Na linha sucessória, o peixe talvez seja um dos produtos com menor aceitabilidade, mas isso é uma questão cultural” cita o profissional. O extensionista sugere que essa realidade pode ser mudada com o peixe sendo introduzido desde a fase da infância. Apesar do churrasco ser forte aqui no Rio Grande do Sul, muitas espécies são criadas, sobretudo as tilápias, carpas, traíras e os jundiás. A questão cultural da carne vermelha é “uma disputa a ser trabalhada” reflete Vilmar. CUIDADOS COM O FRIO O manejo exigido para todas as espécies é muito parecido, o que muda são os sistemas de criação das espécies, define Vilmar. O sistema pode ser extensivo ou confinado. O primeiro depende da qualidade da água, para o peixe se alimentar melhor, e o segundo, mais intensivo, utiliza um nível tecnológico maior. O frio das próximas estações em si não é responsável pela morte dos peixes na visão do extensionista da EMATER, mas o manejo adotado no período deve ser observado. “Erros no manejo e, principalmente, no dimensionamento da profundidade dos açudes é que acabam causando mortalidade. Quando começam a ocorrer as primeiras frentes frias, a recomendação é que o produtor reduza a alimentação dos peixes. A crença popular é de que quanto maior ou mais profunda a água, melhor para a piscicultura. Na verdade, essa concepção acaba sendo equivocada, porque fica mais difícil de manejar a qualidade da água e a quantidade disponível para esses peixes”, esclarece Vilmar.
Foto: Divulgação
Consumo de peixe enfrenta barreiras culturais, mas neste ano é uma opção mais barata comparada à carne de gado
Ele resume que a forma de produção deve ser adaptada as características e objetivos de cada propriedade. “O que nós precisamos, independente da espécie, é adotar o manejo de forma coerente, e utilizar a tecnologia dentro da realidade que o produtor tem. E essas tecnologias existem e estão ao alcance para alcançar excelentes resultados. Além disso, também é necessário uma cadeia produtiva estruturada, que é você ter uma logística de distribuição e de abate sincronizada, aos moldes de outras cadeias da proteína animal”, explica o engenheiro agrônomo. MOMENTO DE RETOMADA A expectativa para a Sexta-feira Santa é positiva. “Nos últimos dois anos nós tivemos a comercialização prejudicada porque não conseguíamos fazer feiras”, conta Vilmar. Isso abrange tanto feiras livres quanto pontos de venda. As medidas de isolamento social, hoje suspensas, que impediram reuniões nos feriados passados, também foram agravantes. Dois momentos importantes para o setor da piscicultura na região foram a Lei nº 15.647, de 1º de Junho de 2021, que institui a Política Estadual de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura no Estado do Rio Grande do Sul e a Carta de Intenções de Piscicultura para o Planalto Médio, de agosto de 2021. Nas palavras de Vilmar, toda política que se estabeleça para o setor é importante. “ Eu diria que é apenas o primeiro passo para o processo. A previsão é de que mais eventos aumentem a oferta de peixe para o consumidor, se houver demanda. Mas ela só será conquistada com visibilidade, abrangência e captação de recursos” comenta o agrônomo . PEIXE GRANDE O casal Alex e Ketny Drey são os responsáveis pelo Pesque e Pague do Cantares, há um quilômetro de Carazinho, no sentido de Não-Me-Toque. No empreendimento eles possuem algumas
das espécies citadas por Vilmar, como tilápias, jundiás e carpas. Eles estão apostando na retomada econômica durante a celebração da Páscoa, com reunião de amigos e parentes para aquecer as vendas. Além da experiência da pesca em um espaço de relaxamento, onde é proibido música alta, eles oferecem refeições e a venda da carne para o consumidor preparar em casa. Alguns dos peixes do restaurante são preparados com os pescados do local. Como não possuem frigorífico, outros vêm de fornecedores externos, como o de tilápia, que também é vendido fresco. Ketny comenta que desde o final de março a procura disparou o que, na avaliação dela, pode ser um reflexo do aumento do preço da carne de gado. “A procura está bem grande por peixes maiores de 5 e 6kg, coisa que no ano passado não acontecia”, conta o casal. Em 2021 a saída maior era de peixes de 2 a 3 kg. Outra característica que pode explicar a busca por peixes de porte maior é a atenuação da pandemia, pois duas famílias podem se reunir com mais segurança para comprar um peixe e dividir em dois com o afrouxamento das medidas de distanciamento. BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE A nutricionista Patrícia Folle, lembra que o peixe é um excelente alimento para o desenvolvimento escolar de crianças e adolescentes e deve estar também na alimentação dos idosos, já que diminui o risco de demência e cansaço mental. Existem algumas dietas que tem o peixe como fonte central de proteína animal, como a Mediterrânea. Patrícia explica que ela é abundante em grãos, frutas, verduras, legumes, vinho tinto , azeite de oliva e proteínas magras como peixe e frango, onde o incluir carne vermelha aparece muito de vez em quando, apenas para dar sabor a um prato. “ É mais do que uma dieta, é um estilo de vida”, pois existe comprovação clínica de que essa dieta melhora a saúde do coração e reduz os fatores de risco para ataques cardíacos, derrames, diabetes, colesterol alto, demência, perda de memória, depressão e câncer de mama” comenta a nutricionista. O peixe também pode reduzir processos inflamatórios no corpo humano, em comparação com a carne de gado. “As carnes brancas, especialmente os peixes, são melhores para a saúde do que as carnes vermelhas porque, em geral, possuem menos gordura e colesterol, sendo também mais fáceis de digerir”, defende Patrícia. “O ômega-3 presente nos peixes são especialmente benéficos, pois já contém o ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosahexaenoico (DHA) pré-formados, ou seja, não necessitam ser convertidos pelo nosso organismo”, avalia a nutricionista. Essa seria a diferença de uma dieta focada nas chamadas gorduras anti-inflamatórias. Patrícia lembra que o é importante equilibrar as proteínas, pois todas as fontes possuem nutrientes essenciais para o funcionamento do organismo, mesmo que o recomendado seja consumir carne de peixe mais de três vezes na semana para atingir os benefícios citados. Sem esquecer de combinar uma boa dose de legumes, boas fontes de vitaminas e fibras e alimentos saciantes.