Eduardo Campos - 14/08/2014

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HELDER TAVARES/DP/D.A PRESS

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especial Recife, QUI - 14/08/2014

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www.diariodepernambuco.com.br/especiais

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Recife, SEG - xx/xx/2014

O Brasil como um sonho possível Assim como Miguel Arraes, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos tinha o dom de conquistar aliados e de ser respeitado pelos adversários. Queria chegar onde o seu avô não havia conseguido antes e depois da ditadura: governar o país. Nove anos depois de se despedir do seu ídolo, o socialista morre de forma trágica, em um mesmo 13 de agosto. Deixa um legado de defesa da democracia.

expediente

Diretora de Redação: Vera Ogando Editores executivos: Paula Losada e Paulo Goethe Edição: Andrea Pinheiro, Bruno Vasconcelos, Fábio Guibu, Gabriel Trigueiro, Glauce Gouveia, Leianne Correia, Kauê Diniz e Tatiana Nascimento Edição de fotografia: Heitor Cunha e Gil Vicente Edição de arte: Christiano Mascaro Diagramação: Antônio Carlos, Armando Johnson, Erandi Moreira, Flávio Valdevino, Kaio Leon, Ricardo Garcia e Ziane Torres Concepção e edição de infográfico: Ed Wanderley

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FOTOS? DELAMONICA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO

1965 - 2014

Destroços do avião que transportava Eduardo Campos (PSB) e assessores atingiram um raio de 500 metros e seis pessoas ficaram feridas, mas não correm risco de morte

Nove anos depois de enterrar o avô, Miguel Arraes, o ex-governador Eduardo Campos morre em desastre aéreo em Santos ALINE MOURA alinemoura.pe@dabr.com.br

Q

uem poderia imaginar. Nove anos depois de enterrar o avô Miguel Arraes – líder que inspirou sua trajetória política – o ex-governador de Pernambuco por quase oito anos e presidenciável do PSB, Eduardo Campos, morreu, ontem, num acidente aéreo em São Paulo. Faleceu por volta das 10h, em Santos, pouco depois de sua aeronave tentar pousar, arremeter e cair. Eduardo saiu de cena num dos melhores momentos de sua carreira política. Deixou a esposa, Renata Campos, e cinco filhos. Havia completado 49 anos no domingo passado e, segundo amigos, estava feliz com o desempenho eleitoral nos últimos dias. Eduardo tinha quase a metade da idade de Miguel Arraes, com quem andou no interior desde a adolescência e deu os primeiros passos na vida pública. O primeiro a receber a notícia da morte de Eduardo foi o deputado federal Márcio França, candidato a vice do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e um dos principais escudeiros do presidenciável do PSB. França estava no aeroporto do Guarujá à espera de Eduardo, quando viu o ja-

tinho sobrevoar o local. No momento, chovia bastante na região. O piloto informou que não tinha visibilidade para pousar, arremeteu a aeronave por volta das 9h50 e logo depois perdeu o contato com o tráfego aéreo. O áudio ficou registrado em gravações. Pouco depois de arremeter, moradores viram a aeronave Cessna 560XL, que tinha capacidade para nove pessoas e carregava sete, pegar fogo no ar. O jatinho caiu minutos depois e 13 residências do bairro de Boqueirão, em Santos, foram atingidas pelos destroços, mas nenhum dos moradores se feriu gravemente. Segundo informações obtidas

ACIDENTE ACONTECEU APÓS AVIÃO ABORTAR ATERRISSAGEM EM GUARUJÁ pela FAB, o avião de pequeno porte teria se chocado com um prédio. Ao lado de Eduardo, morreram mais seis pessoas, entre elas, o assessor de imprensa Carlos Augusto Leal Filho, conhecido como Carlos Percol, que trabalhava ao lado do socialista desde 2006, antes de ele se eleger governador. Estavam no mesmo jatinho Pedro Valadares Neto, um dos coordenadores da campanha, Alexandre Severo, fotógrafo, Marcelo Lira, cinegrafista e fotógrafo. Os dois pilotos do Cessna, Geraldo da Cunha e Marcos Martins, também não sobreviveram. O avião caiu num bairro re-

HIPÓTESES

Causas serão investigadas pelo Cenipa JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO

A tragédia do dia 13 de agosto

JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO

sidencial e seis pessoas ficaram feridas, entre elas, duas crianças. Todos foram levados para a Santa Casa de Santos, mas não correm risco de morte. Testemunhas relataram ter visto a aeronave sobrevoar em baixa altitude desde a Praça Mauá, no centro de Santos, no litoral paulista. Os moradores da região ouviram barulho de motores acelerando antes da explosão que quebrou vidros em um raio de 500 metros. A Polícia Federal enviou ontem mesmo 11 peritos para investigar as causas do acidente, que também serão apuradas pela Aeronáutica e pela Polícia Civil. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave estava com o certificado de aeronavegabilidade e inspeção anual de manutenção em dia. Eduardo estava indo para o Guarujá cumprir agendas de campanha. Ele saiu do Rio de Janeiro às 9h21, do aeroporto Santos Dumond. A viagem aparentemente era segura. Aparentemente.

A aeronave em que Eduardo Campos (PSB) viajava era considerada uma das mais seguras de sua categoria. Falhas mecânicas associadas a erros humanos são uma das causas apontadas para o acidente. As outras hipóteses são de que uma ave tenha entrado em uma das turbinas ou de que o avião tenha colidido com algum objeto. As investigações ficarão com o Centro Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.

GRAVADOR DE VOZ

Os últimos 30 minutos

O gravador de voz do Cessna 560XL foi localizado por volta das 12h. O equipamento traz os 30 últimos minutos de conversa na cabine, assim como as conversas com o funcionário de terra da base aérea.

assista

VISIBILIDADE

Procedimento no limite

Confira reportagem sobre acidente que vitimou Eduardo Fotografe o QR Code ao lado com o software leitor do seu celular

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Destroços do avião, como a turbina, serão periciados. Moradores viram a aeronave pegar fogo antes de ela cair e provocar uma grande explosão. As polícias Federal e Civil vão ajudar nas investigações

Os pilotos do Cessna prefixo PR-AFA decidiram pousar no limite da visibilidade operacional determinado pelas normas da Aeronáutica para Guarujá, a 800 pés (cerca de 260 metros).


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> O acidente

Rio de Janeiro

9h21 - Decolou do Aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro, em direção à Base Aérea de Santos, no Guarujá

Santos

10h 1 - Sem visibilidade, avião tentou pousar na pista do Guarujá e arremeteu, voltando ao ar Pista do Guarujá 2 - Mudando de sentido, em direção a Boqueirão, o piloto Geraldo da Cunha tentou encontrar novo local de pouso

Distância aeroportolocal da queda - 6 km

Bas ase e aére aér ea de Santo antoss

Santo antoss

São Vic icente ente

3 - Informações de testemunhas afirmam que avião pegou fogo no ar e passou entre dois prédios, destruindo vidraças

Distância local da queda - Praia do Mercado - 10 km

Av. Gen.

Francisco Glicé rio

Seis pe pesssoas feridas feridas for foram am atendidas at endidas na Santa Santa Casa. Casa.

LOC OCAL AL DA QUEDA QUED A

4 - Avião atingiu academia de ginástica, antes de bater em outros nove imóveis, entre as Ruas Alexandre Herculano e Vahia de Freitas

Luiz Av. Dr. Washingt on

Rua Alex exandre Herc rcu ula lan no o

Rua Vahia de Abr Abreu eu

5 - Partes da aeronave e dos corpos foram localizados em cômodos dos imóveis. O motor foi encontrado numa piscina residencial. Uma das turbinas, numa sala de estar.

Os sete sete tripulantees morrer tripulant morreram. am.

10h30 - Estava marcada, no Praia do Mercado, agenda de campanha para discutir a ampliação do Porto de Santos

> As vítimas

A área do acidente, com 500 metros de raio, foi interditada pela Defesa Civil

Eduardo Campos

Alexandre Severo

Carlos Percol

Pedro Valadares

Marcelo Lyra

49 anos

36 anos

36 anos

48 anos

37 anos

Candidato à presidência pelo PSB

Fotógrafo

Assessor de comunicação

Assessor político

Cinegrafista

Pernambucano, o profissional, formado pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), atuou no Diario e no Jornal do Commercio, em carreira que teve início em 2002. Recebeu menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog

Jornalista pernambucano, formado pela Unicap, foi secretário de imprensa do Recife e gerente de relações com a imprensa do governo do estado. Deixa a esposa, Cecília Ramos, editora do Diario, com quem era recémcasado.

Advogado e ex-deputado federal por Sergipe. Deixa três filhos e a esposa, Simone Valadares, promotora de Justiça do Maranhão.

Originalmente administrador de empresas, o profissional também trabalhava na área do Cinema. Deixa a esposa, uma filha adolescente e um filho recém-nascido.

Geraldo da Cunha

Marcos Martins

45 anos

42 anos

Piloto

Copiloto

Com mais de 20 anos de experiência e 4 mil horas de voo acumuladas, se juntou à campanha de Eduardo em junho. Deixa a esposa, Joseline da Cunha, grávida de sete meses e um filho de três anos.

Paranaense com 15 anos de experiência, vivia em São Paulo com a esposa Flávia Martins. Deixa dois filhos, de sete e dois anos.

Economista formado pela UFPE, era presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), pai de cinco filhos e filho da ministra do TCU Ana Arraes e do escritor (falecido) Maximiniano Campos

> O Cessna 560XL Tamanho

Distância de decolagem: 3560 pés (1.085 metros) Autonomia de trajeto:

17,1 ,17m 7m de asa asa a outra outra

45 mil pés (13,7 mil metros)) em 29 minutos

16m do bico bico à cauda cauda

Capacidade útil: 3.420 kg Capacidade: Transporta até 9 pessoas Velocidade de cruzeiro: 817 km/h (Recife-Fortaleza em 1h) Alcance: 3.441 km (Recife-Uruguai)

5,23m 3m de altura altura

Manutenção Laudo verificado pelo Cenipa indica que última manutenção foi realizada no dia 14 de fevereiro deste ano, tornando a aeronave apta para voar até o início de 2015

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Cenipa investiga se a aeronave, de prefixo PR-AFA, foi a mesma que apresentou problemas durante decolagem, há 40 dias, em Curitiba (PR)

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Outros políticos que morreram em acidentes aéreos

1) Nereu Ramos 16/06/1958 - São José dos Pinhais, Paraná Presidente do Brasil entre 1955 e 1956 Avião caiu durante pouso, matando também o governador de SC, Jorge Lacerda

2) Roberto Silveira 28/02/1961 - Petrópolis, Rio de Janeiro governador do RJ Helicóptero colidiu com uma palmeira durante decolagem. Morreu oito dias depois, no hospital

3) Humberto Castelo Branco 19/07/1967 - Fortaleza, Ceará presidente do Brasil entre 1964 e 1967 Caça da FAB atingiu a traseira do avião Piper Aztec PA23 em que se encontrava

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4) Marcos Freire 08/09/1987 - Pará Ministro e senador de Pernambuco Avião caiu durante viagem oficial, no sul do Pará. Freire era ministro da Reforma Agrária, no Governo José Sarney, Na época, despontava como um dos principais líderes do PMDB pernambucano, ao lado de Miguel Arraes (então governador do estado) e Jarbas Vasconcelos (então prefeito do Recife).

5) Ulysses Guimarães 12/10/1992 - Angra dos Reis, Rio de Janeiro presidente da Câmara dos Deputados e candidato à Presidência Helicóptero caiu no mar e corpo nunca foi encontrado

6) José Carlos Martinez 04/10/2003 - Guaratuba, Paraná Deputado e candidato ao governo do PR Monomotor caiu no trajeto Curitiba - Navegantes


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TABA BENEDICTO/FUTURA PRESS

Força-tarefa para identificação lo Câmara (PSB), a vice, Raul Henry (PMDB) e ao Senado, Fernando Bezerra Coelho (PSB), também há um especialista da Polícia Científica de Pernambuco, que levou amostras de sangue de familiares de Eduardo para também ajudar no reconhecimento. Amostras dos outros JULIANA COLARES pernambucanos envolvidos ENVIADA ESPECIAL no acidente também estão THIAGO NEUECHWANDER politica.pe@dabr.com.br sendo providenciadas e serão mandadas hoje para a capidentista Fernando tal paulista. Cavalcanti, que há 25 A Secretaria de Segurança anos cuidava do pre- Pública de São Paulo emitiu sidenciável Eduardo Campos nota informando que o tra(PSB), morto em acidente aé- balho de identificação dos reo ontem na cidade de San- corpos havia começado na tos, levou a São Paulo radio- noite de ontem. Mas, segungrafias dentárias do socialis- do o deputado federal Júlio ta para ajudar na identifica- Delgado (PSB), que esteve onção do corpo. O especialista tem no IML Central de São acompanhou a comitiva en- Paulo para acompanhar todo viada pelo PSB para agilizar o processo, a autorização paos trâmites de liberação dos ra o início restos mortais dessa identido candidato, SERÁ PRECISO ficação terque se encon- FAZER EXAME DNA minou não tram no Insti- PARA IDENTIFICAR chegando. A tuto de Mediprevisão era CORPOS DAS cina Legal de que o de(IML) de São SETE VÍTIMAS legado resPaulo. ponsável peSegundo o dentista, as ima- la investigação do acidente gens são suficientes para fa- autorizasse o começo do trazer a identificação. “Qualquer balho da perícia ainda na mafragmento dentário de Eduar- drugada de hoje. do possibilitará fazer esta conO deputado informou, ainfirmação. O problema é que, da, que um caminhão-frigoríaté o momento, a arcada den- fico chegou ontem ao IML, tária não foi encontrada”, ex- por volta das 19h45, com parplicou Fernando Cavalcanti. tes dos corpos das vítimas. No grupo enviado a São Pau- Um outro veículo semelhanlo, que conta com o candida- te deveria chegar ao local duto ao governo do estado Pau- rante a madrugada com no-

Políticos do estado chegaram a São Paulo acompanhados do dentista de Eduardo Campos para tentar identificar restos mortais do socialista

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vas amostras. O governador de São Paulo, Geraldo Alckimin (PSDB), também esteve no instituto e ordenou que uma nova busca fosse realizada para possibilitar o recolhimento de mais material para análise dos restos mortais das vítimas. Pelo menos 30 profissionais de perícia e quatro peritos da Polícia Federal estão apoiando os trabalhos. Os exames de DNA ficarão sob responsabilidade de dez peritos criminais do Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo, especialistas em genética forense.

Trabalho de legistas paulistas começou durante a madrugada JULIANA COLARES/DP/ D.A.PRESS

Qualquer fragmento dentário de Eduardo possibilitará fazer esta confirmação. O problema é que, até o momento, a arcada dentária não foi encontrada” Fernando Cavalcanti, dentista

Governador Geraldo Alckmin esteve na sede do IML na noite de ontem

artigo >> Marisa Gibson

Luto e resistência Assim como a vida, a polí- aliados e adversários, às véstica não tem um traçado ló- peras de uma eleição presigico. Os fios que sustentam dencial. todas expectativas humanas Visto como símbolo da resão frágeis e traiçoeiros e, novação política no Brasil, dentro dessa imprevisibilida- Eduardo foi o único governade tão devastadora, o Brasil dor da geração de 2006 que hoje está diante de uma no- não saiu de cena desde o priva realidade meiro dia do difícil de ser UMA NOVA seu mandato aceita e com- REALIDADE JÁ e que movipreendida. A mentava a morte do ex- MOVIMENTA sucessão preOS BASTIDORES governador sidencial Eduardo com a pregaDA POLÍTICA Campos (PSB) ção da mué uma tragédia com um im- dança. Essa era a tônica da pacto político de tal magni- campanha, dentro da tese tude que é preciso um tem- que todas as eleições têm onpo para que as ideias se rees- das que as definem. Agora, a tabeleçam. Só a dor é imedia- partir do desaparecimento ta – essa dor que machuca os de Eduardo, a questão emofamiliares, entristece os bra- cional vai se impor e Marina sileiros, emudece os pernam- Silva tem a obrigação de ser bucanos, e que estabelece um a candidata do PSB à Presivácuo de liderança e uma in- dência da República. Há, no terrogação sobre o futuro de entanto, de se dar uma tré-

gua para que a ex-ministra tenha condições de aceitar essa fatalidade política, lembrando também que, por ser a candidata a vice-presidente ela não assume automaticamente a cabeça da chapa. Em São Paulo, centro nervoso das discussões nacionais, lideranças políticas e do mundo financeiro e econômico já arriscavam prognósticos sobre a sucessão presidencial com a morte do exgovernador pernambucano. As maiores apostas convergiam para uma possível vitória da presidente Dilma Rousseff (PT), a qual num gesto de delicadeza e sensibilidade suspendeu as atividades de sua campanha por três dias.

Em segundo lugar, manifestou-se uma expectativa a favor do candidato Aécio Neves (PSDB), tão fragilizado ao falar sobre o amigo morto. Por fim, uma torcida por Marina, que lembrou aos brasileiros que o desaparecimento do seu companheiro de chapa exige luto e resistência – sem dúvida, o melhor recado político em um dia de tanto pesar. Neto de Miguel Arraes, Eduardo seguiu à risca os passos do avô e, por uma dessas coincidências inexplicáveis, morreu no mesmo dia do exgovernador. Eduardo era a face renovada de Arraes. Tinha um olhar direcionado para as periferias, para os pobres,

para os necessitados e, à sua maneira, também sabia instigar os adversários. Construiu sua carreira sempre no PSB e se colocava como a alternativa para quebrar a polarização PT e PSDB. Tão logo sua morte foi anunciada pelas emissoras de televisão esta colunista recebeu telefonemas de pessoas que, de uma maneira ou de outra, foram beneficiadas por ações do seu governo. Testemunhos dessa natureza podem redirecionar a sucessão estadual, beneficiando Paulo Câmara (PSB), candidato a governador pela Frente Popular, cujos índices de intenção de voto não são animadores. Em meio ao luto, esses

foram temas analisados em voz baixa. Ontem, ninguém se sentiu à vontade para grandes previsões, embora todos estivessem conscientes de que uma nova realidade já está imposta e que poderá afetar também a trajetória do adversário Armando Monteiro Neto (PTB). Até nós, jornalistas, trabalhamos quase em silêncio. Mas tínhamos que entrevistar, conter a emoção, registrar e escrever, assim como fariam nossos colegas de profissão Carlos Percol, Marcelo Lyra e Alexandre Severo, que estavam com o ex-governador Eduardo Henrique Accioly Campos. O outro lado do luto é a resistência.

Lixo versus Saúde Pública

Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Consultórios, C. de Saúde e Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas do Estado de Pernambuco

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É necessário a erradicação dos lixões a céu aberto e a implantação do aterro sanitário em Pernambuco. Poderá ser de forma individual, compartilhado ou consorciado, mas terá que ser resolvido, pois trata-se de grave problema de saúde públi pública. lica. i Das 184 cidades pernambucanas, 160 descartam os resíduos sóli sólidos lidos i em depósitos a céu aberto. Caracteriza-se evidente crime ambiental, de responsabili responsabilidades lidades i dos municípios.


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GLOBO/JOAO COTTA

As últimas 24 horas Entre entrevistas, reuniões e conversas telefônicas, o último dia do presidenciável foi marcado pela empolgação dele com a disputa eleitoral JÚLIA SCHIAFFARINO juliaschiaffarino.pe@dabr.com.br

C

ompromissos, metas, prazos e a necessidade de fazer o máximo sempre em um ritmo muito intenso. O ex-governador Eduardo Campos era conhecido pelo perfil dinâmico e ágil que exigia resultados de si e de quem estava ao seu redor. Para ele, o tempo urgia e assim viveu suas últimas 24 horas. A terça-feira era importante. À noite concederia uma entrevista ao Jornal Nacional e, para isso, passou horas estudando. Treinou o discurso, revisou promessas, atualizouse das notícias correntes. Em nota os entrevistadores

Willian Bonner e Patrícia Poeta comentaram a passagem dele pelos estúdios da emissora. Era a primeira vez que conversavam pessoalmente com o candidato. Contaram que o clima nos bastidores foi tranquilo e que Campos sorria muito. Marina Silva, que acompanhava a agenda, chegou a brincar: “O media training dele foi com o Miguel”, o filho caçula do socialista. Ao se despedir, o socialista disse que os encontrava no “segundo turno”. A esposa, Renata Campos e filho Miguel estiveram com Eduardo durante toda a terçafeira. A única atividade pública dele no Rio de Janeiro era um encontro com o arcebispo Dom Orani Tempesta, às 14h, na Arquidiocese da capital al ffluminense. luminense. Na volta para o hotel, cumprimentou funcionários sempre sorridente. A um dos manobristas, deu um santinho com a foto dele ao lado da vice. À tarde, Campos recebeu li-

gações de lideranças políticas. Entre as pessoas com quem falou, o amigo e aliado Beto Albuquerque (PSB-RS). “Conversamos pouco antes da entrevista. Falamos sobre campanha e definimos a agenda para a quinta. Era a inauguração do comitê central, em Brasília. Ele estava muito animado com tudo.” Eduardo Campos concedeu outra entrevista naquela noite, para a Globo News. Voltou tarde para o hotel e dormiu ainda mais tarde. Ontem, o ex-governador acordou cedo e às 7h40 saiu apressado do Hotel Sofitel, no Posto 6 da Praia de Copacabana, Zona Sul do Rio, com destino ao aeroporto Santos Dumont. Antes, ligou para o irmão Antônio Campos. Despediu-se da esposa e do filho mais novo e embarcou, 9 minutos antes do previsto, às 9h21, rumo ao Guarujá. O avião modelo Cessna 560XL, prefixo PR-AFA, caiu às 10h. A morte foi confirmada às 12h30.

Primeiros alertas das redes sociais

Um dos últimos compromissos do socialista foi uma entrevista para o Jornal Nacional

INSTAGRAN/REPRODUCAO DA INTERNET

ALLAN TORRES

REPRODUCAO DA INTERNET

FRED FIGUEIROA fredfigueiroa.pe@dabr.com.br

Sérgio Teixeira Filho tinha apenas seis seguidores no Twitter. Por volta das 10h30 de ontem, ele escreveu em seu perfil: “Empresários de Santos preocupados pois o candidato Eduardo Campos está sendo esperado para um evento regional”. Segundos depois, completou a informação: “Os empresários não estão conseguindo contato com a aeronave do candidato”. Estes registros foram os primeiros nas redes sociais que ligavam o acidente aéreo em Santos ao nome do ex-governador. Logo seriam milhares e os seis seguidores de Sérgio transformariam-se em milhões de pessoas. A Folha de São Paulo publicou um infográfico mostrando a multiplicação da notícia a cada minuto no Twitter - utilizado por 10,3 milhões de brasileiros. Às 11h26, o nome Eduardo Campos foi citado cinco vezes. Às 11h30, eram 44 citações na rede social. Entre 12h e 12h01, foram 626 registros do nome de Eduardo escritos por minuto no Twitter. Às 12h20, o número de citações ultrapassou a marca de mil. O ápice da repercussão da notícia aconteceu às 13h30, com 2.999 citações por minuto. De acordo com dados do Twitter, até o início

População parou para acompanhar o noticiário sobre o acidente aéreo que vitimou Eduardo e mais seis pessoas

LUTO OFICIAL

Em virtude do falecimento do ex-governador Eduardo

+ saibamais Facebook do Diario

Até as 22h de ontem foram 32 postagens sobre a morte do ex-governador

da noite, o número total de mensagens sobre a morte de Eduardo ultrapassou 350 mil. No Facebook - rede utilizada por mais de 75 milhões de brasileiros - não existem números consolidados. Mas a repercussão dos posts dos principais jornais e sites do país dimensiona o impacto da notícia. O post com maior al-

cance da rede social no país foi publicado às 14h na fan page do Diario de Pernambuco e trazia a frase dita por Eduardo um dia antes: “Não vamos desistir do Brasil”. A publicação foi vista por mais de 3,2 milhões de pessoas gerando mais de 48 mil compartilhamentos e mais de 57,5 mil curtidas.

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Curtidas

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Campos,

homem

público

de

inestimável serviços prestados ao povo pernambucano e brasileiro, a Prefeitura do Recife decretou luto oficial de oito dias. Neste momento de comoção e dor, que se abateu sobre a cidade, em particular sobre parentes e amigos das vítimas do trágico acidente, solidarizamo-nos com cada um deles, pelas irreparáveis perdas, na certeza de que está aqui representado um sentimento que é de todos os recifenses.


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ROBERTO STUCKERT FILHO/PR

A dor de aliados e adversários Dilma Rousseff e João Lyra decretaram luto por três e sete dias no país e no estado, respectivamente. Ela também suspendeu a campanha JOSUÉ NOGUEIRA jota.nogueira@dpnet.com.br

A

morte do ex-governador Eduardo Campos paralisou agendas de campanha, provocou lamentos de aliados e adversários e ef lexões sobre a finiimpôs reflexões tude humana. A presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou, em entrevista coletiva, que o Brasil perdeu uma jovem liderança, com um futuro promissor, apto a galgar os mais altos postos. “Hoje o país está de luto e muito sentido. A morte de um jovem político, neto de um grande democrata, um lutador da minha geração, Miguel Arraes”, disse. Dilma decretou três dias de luto e anunciou que iria suspender a campanha pela reeleição. O mesmo informou o presidenciável do PSDB, Aécio Neves. O tucano, que cumpria compromissos em Natal (RN), lembrou que conheceu Eduardo há mais de 20 anos e que os dois mantinham uma relação de amizade e admiração. “Apesar de estarmos em partidos diferentes sempre conversávamos sobre os destinos da política do Brasil. Eduardo era um homem valoroso e um grande amigo”, disse. Os dois se encontraram pe-

lo menos duas vezes no Recife este ano. Aécio lembrou que foi de Eduardo a primeira mensagem que recebeu no último domingo, parabenizando-o pelo Dia dos Pais e pela saída do filho Bernardo do hospital. Em Pernambuco, o governador João Lyra Neto (PSB) dominou a emoção para falar aos pernambucanos sobre falecimento de Eduardo. Cercado de secretários, deputados aliados e funcionários do Palácio do Campos das Princesas visivelmente abalados, Lyra afirmou que aquele era um dos momentos mais difíceis da sua vida. “Perdi um amigo e um líder. A vida de Eduardo Campos é um exemplo de coragem e de compromisso com Pernambuco e principalmente com os mais pobres. Acima de tudo, Eduardo Campos lutou em defesa do povo brasileiro e de Pernambuco, principalmente os mais necessitados”, afirmou. Ao longo da tarde, a sede do governo de Pernambuco, o clima era de comoção. Alguns tentavam entender a tragédia, outros se consolavam. Eleitores também se concentraram na porta do Palácio em busca de informações sobre o velório. Eram orientados a acompanhar o noticiário pela imprensa. Hoje, o Diário Oficial publica decreto determinando sete dias de luto oficial no estado. No Recife, serão oitos dias, segundo informa a prefeitura. Vários municípios também decretaram luto oficial.

BERNARDO DANTAS/DP/D.A PRESS

Emocionada, a presidente Dilma Rousseff concedeu uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto, quando lamentou a morte do ex-aliado e, agora, concorrente na disputa presidencial. Já o governador João Lyra Neto falou aos pernambucanos no Palácio do Campo das Princesas e disse que era um dos dias mais difíceis da vida dele

JÚNIOR SANTOS/TRIBUNA DO NORTE NATAL

Tucano Aécio Neves cancelou compromissos em Natal, onde estava na manhã de ontem

Amizade além da relação política O ex-presidente Lula e Eduardo Campos fizeram uma das parcerias mais bem-sucedidas na política. Líderes de partidos diferentes, eram aliados fervorosos, daqueles que não escondiam a admiração mútua. Ao comentar a morte de Eduardo, ontem, Lula disse que como todos os brasileiros estavam profundamente entristecidos. “Era um grande amigo e companheiro”. Eduardo foi ministro da Ciência e Tecnologia do primeiro governo Lula e venceu em 2006 com apoio do ex-presidente. “O país perde um homem público de rara e extraordinária qualidade. Tive a alegria de contar com sua inteligência e dedicação nos anos em que foi nosso ministro de Ciência e Tecnologia”, publicou o ex-presidente no Facebook. Afastados por questões elei-

torais na disputa deste ano, os dois vinham mantendo um pacto de não agressão. Em abril deste ano, em coletiva a blogueiros, Lula disse não entender a posição de Eduardo, mas fez questão de afirmar que tinha uma “amizade belíssima” com o socialista. “Adoraria a continuidade da aliança PSB/PT”, salientou. Na opinião de alguns petistas, Eduardo deveria aguardar 2018 para concorrer à Presidência com apoio de Lula. Em 2010, a pedido do ex-presidente, o socialista retirou de cena a candidatura do exministro Ciro Gomes (então no PSB) ao Planalto, abrindo caminho para o fortalecimento da candidatura de Dilma. Neste ano, o próprio Eduardo entrou no jogo. Buscava, justamente, a cadeira da mulher que ajudou a eleger. (J.N.)

CARLOS VIEIRA/CB/D.A PRESS

O ex-presidente Lula prestou homenagem ao amigo de longa data em sua página no Facebook assista

Veja V eja o pronunciamento pronunciamento da pre presidente pr esident sidentee Dilma Rous Rousseff R oussseff ontem ontem

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Pausa forçada das campanhas A disputa de votos cedeu lugar ao silêncio triste e as agendas políticas estão suspensas, em luto à morte do ex-governador ANA LUIZA MACHADO anamachado.pe@dabr.com.br

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ecidos pretos cobrem todo o muro do comitê de Paulo Câmara (PSB), candidato escolhido pelo ex-governador Eduardo Campos para sucedê-lo no comando do estado. O luto também foi representado com o cancelamentos das agendas política dos socialistas e do principal adversário na disputa estadual, Armando Monteiro (PTB) e do candidato ao Senado pelo PT, João Paulo. No plano nacional, a campanha também parou. A presidente Dilma Rousseff (PT) e o tucano Aécio Neves também suspenderam seus atos de campanha e deram seus depoimentos de pesar. A cidade parecia estar reco-

lhida com a infeliz notícia. Os que estavam nas ruas declaravam não acreditar. Os comitês de aliados e adversários sem movimentação. Políticos chorosos. O símbolo do luto exibido em perfis das redes sociais dos candidatos. Compromissos de campanha suspensos e alguns por tempo indeterminado. As divergências políticas foram declaradas “pequenas demais”

CANDIDATOS ALIADOS E OPOSITORES SUSPENDERAM SUAS ATIVIDADES diante do acidente. A solidariedade à família do ex-governador foi unânime nos discursos e notas dos adversários políticos de Eduardo Campos. Dentro do comitê de Paulo Câmara tudo estava parado. Os carros de som estacionados e sem previsão de voltar a tocar os jingles que incluem o presidenciável. As bandeiras e cavaletes sendo recolhi-

dos das ruas. O veículo aberto, que o carregou na carreata em Garanhuns na última sexta-feira, já estava pronto para ser usado novamente sábado. Eduardo e sua comitiva teriam compromissos nas cidades de Petrolina, Cabrobó e Santa Maria da Boa Vista. No domingo, ele ficaria no Recife onde estava prevista uma reunião com a equipe de Paulo Câmara. Essas agendas ainda não tinham sido divulgadas à imprensa. Um dia antes da tragédia à noite, chegaram ao comitê do Recife os materiais de campanha de Eduardo Campos. São banners, bandeiras, adesivos, santinhos com a imagem dele ao lado de Marina, de Paulo Câmara e com o candidato ao Senado pelo PSB, Fernando Bezerra Coelho. Funcionários do comitê contaram à reportagem que João Campos, filho de Eduardo, esteve ontem pela manhã no QG socialista para organizar os materiais antes da distribuição. Mas agora eles se avolumam junto dos demais e perderam o sentido.

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ALLAN TORRES ESP DP/D.A PRESS

Comitê do candidato Paulo Câmara “vestiu-se” de luto, em respeito à dor da perda


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1965 - 2014

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PSB/DIVULGAÇÃO

As cortinas se fecharam

era treinado em leitura labial. Enquanto conversava com uns, lia nos lábios dos outros o que diziam – ou tramavam. Atento a tudo e a todos, comandava com pulso forte – e rédeas bem curtas – o seu grupo político. Neto e único herdeiro político do também ex-governador socialista Miguel Arraes, Eduardo buscava seguir o avô quando se tratava de política social, apesar das di-

1981

1984-1985

1987

1990

1992

Aos 16 anos de idade, Eduardo decide entrar para a política, seguindo os passos do avô, o ex-governador Miguel Arraes

Participa, ao lado de Arraes, da campanha das Diretas Já. Conheceu e começou uma amizade com o candidato a presidente pelo PSDB, Aécio Neves

Aos 22 anos, Eduardo assume a chefia de gabinete de Arraes, eleito governador pela segunda vez

É eleito deputado estadual, quando fez ferrenha oposição ao então governador Joaquim Francisco, hoje socialista e integrante do grupo político de Eduardo

Eduardo perde a disputa pela Prefeitura do Recife com o seu então maior adversário político Jarbas Vasconcelos (PMDB), de quem ficou afastado por quase vinte anos. Jarbas passaria a ser

GLAUCE GOUVEIA glaucegouveia.pe@dabr.com.br

“E

m um caderno, guardado no escritório montado em casa, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, anota tudo o que pretende fazer dia após dia...” Assim começava o texto que foi publicado pelo Diario de Pernambuco em 28 de outubro de 2012, pouco depois da vitória em primeiro turno do atual prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB). Assim era a rotina do ex-governador, excandidato a presidente da República e ex-líder socialista. Uma rotina que foi encerrada ontem com a queda do jatinho que o levava do Rio (RJ) a Santos (SP) para uma agenda de campanha. O acidente, entretanto, não pôs fim apenas à rotina do presidente nacional do partido. Mas à

existência de um dos maiores estrategistas da política nacional. O planejamento era a principal arma de Eduardo antes de alçar novos voos. Ele arquitetava seus planos, ouvia opiniões, observava comportamentos, estudava, aprendia a terminava conquistando apoios e adesões. Guardava, inclusive, um segredo que foi ontem revelado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchoa (PDT):

EX-GOVERNADOR PERNAMBUCANO COMANDAVA O PSB COM PULSO FORTE E RÉDEAS CURTAS

Entre seus maiores conselheiros políticos estava a esposa, Renata Campos, que, com o caçula Miguel, o acompanhava em agendas de campanha

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Socialista buscava seguir os passos do avô, o ex-governador Miguel Arraes

ALUISIO MOREIRA/SEI/DIVULGAÇÃO

A família era a maior aliada

ferenças de interpretação e pensamento que vinham do intervalo de quatro gerações entre ambos. Construiu, portanto, como marca própria a capacidade de fazer parcerias com partidos, governos e correntes ideológicas de esquerda, direita e de centro. Antes de optar pela candidatura à Presidência, era aliado dos petistas - que têm como candidata a presidente Dilma Rousseff - e dos tucanos - que apresentam Aécio Neves para a disputa. Na mesma edição do Diario de 28 de outubro de 2012, um arraesista chegou a afirmar, em reserva: “Eduardo tem certeza de que tudo o que ele vive hoje, de bom ou de ruim, vai acabar...”. Eduardo tinha razão. “Apesar de ouvir, é ele quem, numa analogia ao teatro, escreve, dirige e protagoniza suas peças, e é ele também quem define, com o afiado senso de oportunidade que tem, a hora certa de colocálas em cartaz”, publicou o Diario. Mas ontem, o trágico acidente antecipou o final da história que ele ainda escrevia. E as cortinas prematuramente se fecharam. Definitivamente.

Maior liderança do PSB nacional, Eduardo Campos não vai mais escrever, dirigir e protagonizar cenas da política pernambucana

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sado com Renata Campos, com quem começou a namorar ainda na adolescência, pai de cinco filhos e católico, Eduardo Campos era declaradamente contra o aborto. O tema, polêmico, levava sempre o socialista a frisar como achava importante o fortalecimento das famílias. Especialmente da sua. Os laços eram tão estreitos que Renata, bem mais que esposa, amiga e primeira-dama, era tida por ele e alguns correligionários como sua principal conselheira política. A ligação com a família era tão forte que Eduardo chegou a dizer ao segundo fflho lho mais velho, João - que vinha sendo pressionado pelos socialistas a se candidatar a uma vaga na Câmara dos Deputados -, que

preferia que ele terminasse o curso (de Engenharia). “Eu disse a ele: Meu filho, você é quem decide. Mas se quiser saber, minha opinião é a de que você deveria terminar antes seu curso”, afirmou ao Diario no começo deste ano, numa conversa informal. Depois do nascimento do quinto filho, Miguel, com quase sete meses, Eduardo decidiu que não ficaria muito tempo afastado da família nem mesmo durante a campanha. O caçula, que nasceu em 28 de janeiro, estava ao lado da mãe em muitos dos eventos deste ano. A declaração que postou em seu perfil no Facebook após o nascimento dele uniu ainda mais o núcleo familiar: “Hoje, os médicos confirmaram o que já estava pré-diagnosticado há algum tempo. Miguel, entre outras características que o fazem muito especial, chegou com a Síndrome de Down. Seja bem-vindo, querido Miguel.”

Na política

Três dias depois de completar 49 anos de idade, Eduar-

A família era o maior patrimônio de Eduardo que, mesmo em campanha, não se afastava por muito tempo dela do Henrique Accioly Campos também completava 33 anos na política. Foi aos 16 anos de idade que ele decidiu quais seriam seus passos. Com o sangue Arraes correndo nas veias, escolheu que seguiria o avô. Foi deputado federal e governador de Pernambuco, ministro e decidiu dar um salto mais alto e disputar a Presidência. Eduardo cursou Economia, participou do movimento estudantil, e, na campanha da Diretas Já (1984 e 1985), foi

várias vezes a Brasília. Sempre ao lado de Arraes. Foi nessa época que conheceu o atual candidato a presidente pelo PSDB, Aécio Neves, neto do ex-presidente Tancredo Neves, com quem iniciou uma amizade que duraria até ontem, apesar de estarem adversários nesta campanha. Em 1987, com 22 anos, Eduardo trocou a chance de fazer pós-graduação nos Estados Unidos para ser chefe de gabinete de Arraes, eleito governador pela segunda vez.

Em 1992, em meio ao racha entre Arraes e Jarbas Vasconcelos (PMDB), Eduardo saiu, por determinação de Arraes, candidato a prefeito contra Jarbas Vasconcelos (PMDB), mas perdeu a eleição. Dois anos mais tarde, foi eleito pela primeira vez deputado federal. Em 1998, quando Jarbas foi eleito para o comando do estado, Eduardo foi reeleito deputado federal. Teve a ajuda de Aécio para se ambientar, uma vez que Arraes ainda era a estre-

la do PSB nacional, e Eduardo, apenas o neto do mito socialista. Só teve luz própria em 2002, quando foi eleito para terceiro mandato. Em 2004 foi ministro da Ciência e Tecnologia (MCT) do Governo Lula. Em 2006 foi eleito governador e reeleito em 2010 no primeiro turno com mais de 80% dos votos válidos. Em 2012, elegeu Geraldo Julio prefeito do Recife e começou a pavimentar sua estrada rumo ao Palácio do Planalto. (GG)

> linha do tempo 1994

também, com o tempo, um inimigo pessoal. A briga entre os dois se estendeu aos demais filiados ao PSB, que em 2012 tiveram que aceitar a reaproximação entre os dois políticos. Jarbas apoiou o candidato de Eduardo à Prefeitura do Recife, Geraldo Julio.

Foi eleito deputado federal, mas não cumpriu o mandato porque se licenciou para assumir a Secretaria da Fazenda do terceiro governo Arraes ROBERTO PEREIRA/DIVULGAÇÃO

ARQUIVO/DP/D.A PRESS

2004

2002

1998

1995

Assume o comando do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) no Governo Lula, surpreendendo a comunidade científica pela desenvoltura em assuntos que nunca havia dominado

É eleito para terceiro mandato na Câmara dos Deputados e virou líder do PSB, ficando entre os cem mais influentes do Congresso, segundo pesquisa do Diap

Eduardo foi reeleito deputado federal como o mais votado de Pernambuco. Foi aí que estreou, de fato, nos corredores da Câmara dos Deputados

Assumiu a Secretaria da Fazenda do terceiro governo Arraes

2006

2010

2011

2012

2014

Sai candidato a governador contra muitas crenças, visto que passou por uma forte crise por causa do Escândalo dos Precatórios, do qual foi inocentado em 2003

O socialista é reeleito com mais de 80% dos votos válidos, derrotando seu grande adversário, o ex-governador e hoje senador e candidato a deputado federal Jarbas Vasconcelos

Toma posse em seu segundo governo e começa a pavimentar a candidatura de um jovem socialista à Prefeitura do Recife: Geraldo Julio

Rompe com o PT estadual e lança Geraldo Julio candidato a prefeito contra o ex-aliado Humberto Costa (PT)

Estava candidato a presidente da República contra o amigo pessoal Aécio Neves (PSDB) e a ex-aliada Dilma Rousseff (PT).

RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS

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MARCELO LYRA/DIVULGAÇÃO

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TERESA MAIA/DP/D.A PRESS

JOSE ROBERTO/PE-SIMP/DIVULGACAO

ALEXANDRE GONDIM/DP/D.A PRESS

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BERNARDO DANTAS/DP/D.A PRESS

1965 - 2014

Ana Arraes teve a confirmação da morte do filho pelo presidente do TCU, Augusto Nardes

A maior perda de todas as mães Ministra do TCU, Ana Arraes passou mal antes de saber da morte do filho, Eduardo Campos. Teve que receber atendimento médico

assista

Veja vídeo onde Marina fala com emoção sobre Eduardo Fotografe o QR Code ao lado com o software leitor do seu celular

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mãe do presiden- que Ana Arraes pedira que ciável Eduardo ele fosse a Santos pessoalCampos, Ana Ar- mente verificar a situação. raes, soube do O presidente do tribunal acidente que matou seu fi- cancelou a sessão plenária. lho no início da tarde de on- Nardes contou que Ana Artem. Pela manhã, a ministra raes é uma mulher “muito participara, sorridente, da forte” e, emocionado, narsolenidade de posse do novo rou a dificuldade em contar ministro do Tribunal de Con- para uma mãe sobre a mortas da União (TCU), Bruno te do filho. Dantas. Ao fim do evento, Já a mulher de Eduardo por volta das 12h, subiu ao Campos, Renata Campos, laseu gabinete e foi informa- mentou a morte do marido, da dos rumores envolvendo ao receber amigos, familiares a queda do avião. e políticos em sua casa pela Mesmo sem a confirmação manhã. “Não estava no da morte do filho, a mãe de script”, comentava ela ao Eduardo passou mal após re- abraçar as pessoas que a viceber a notícia e precisou ser sitavam, muitas vezes choacompanhada pelo presiden- rando. Com cada um ela conte da Corte versava e de Contas, compartilhaAugusto Nar- ANA CHEGOU va a alegria des, até o AO RECIFE de Campos ambulatório ACOMPANHADA com a sua do tribunal. PELO MINISTRO DO performance Foi Nardes na entrevista TCU JOSÉ MÚCIO quem deu à da bancada ministra a do Jornal Natriste confirmação da morte cional na noite de terça-feira, do filho. 12. “Fui lá e fiz um gol”, disCom a pressão alta, a mãe se ele à mulher, depois da sado político precisou receber batina. atendimento médico no loRenata recebeu a todos, de cal. Ana Arraes só deixou o pé, e se revezava com os ouambulatório do tribunal por tros filhos nos cuidados com volta das 14h30, pela gara- o caçula Miguel, de sete megem, direto para embarque ses de idade. Ela e Campos em um avião da Força Aérea se conheceram ainda crianBrasileira. A ministra partiu ças e começaram a namorar de Brasília direto para o Re- na adolescência. cife, acompanhada do colega “Ela está firme como uma do TCU, ministro José Múcio. rocha”, resumiu o ex-secreAntes de deixar o TCU, a tário estadual de Imprensa mãe de Campos recebeu a vi- de Campos, Evaldo Costa, ansita do deputado Julio Delga- tigo colaborador e amigo pesdo (PSB-MG). Muito próximo soal de Eduardo, ao falar soao candidato, Delgado saiu bre a postura de Renata diando atendimento médico com te da tragédia que se abateu lágrimas nos olhos e contou sobre a família.

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Dilma Rousseff, presidente da República

Marina Silva, candidata a vice-presidente pelo PSB

Aécio Neves, senador e candidato a presidente pelo PSDB

O Brasil inteiro está de luto. Perdemos um grande brasileiro, um grande companheiro. Neto de Miguel Arraes, exemplo de democrata... Estivemos juntos, pela última vez, no enterro do nosso querido Ariano Suassuna. Estou tristíssima”

Não há palavras para descrever a tragédia que se abateu sobre a política brasileira. Eduardo era um político de princípios e valores herdados de sua família e levados com dignidade e honra por toda sua trajetória no Parlamento e no Executivo”

Michel Temer, vice-presidente da República

Durante os dez meses de campanha, aprendi a respeitá-lo, a admirá-lo e a confiar nas atitudes e ideais de vida dele. Nós tínhamos começado a alinhar a esperança de um mundo melhor. Ele acreditava nesses ideais até os últimos segundos de vida”

Estou chocado e surpreso. O país sofre a dor coletiva da perda de uma das mais promissoras lideranças da política brasileira”

Renan Calheiros, presidente do Congresso

É com imensa tristeza que recebi a notícia do acidente que vitimou o exgovernador e meu amigo. O Brasil perde um dos seus mais talentosos políticos, que sempre lutou com idealismo pelo que acreditava. A perda é irreparável e incompreensível”

O país perde um homem público de rara e extraordinária qualidade. Tive a alegria de contar com sua inteligência e dedicação quando foi ministro da Ciência e Tecnologia. Toda sua vida, lutou para tornar o Brasil um país mais justo e digno”

Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República


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João Lyra Neto, vice-governador

Geraldo Julio, prefeito do Recife

Renildo Calheiros (PCdoB), prefeito de Olinda.

Carlos Siqueira, secretário geral do PSB

Luciano Coutinho, presidente do BNDES

Humberto Costa (PT), senador

Paulo Rubem (PDT), deputado federal e candidato ao vice-governador.

Mendonça Filho, Deputado federal e líder do DEM

Antônio Campos, irmão de Eduardo Campos

Armando Monteiro, candidato ao governo do estado pelo PTB

Paulo Câmara, candidato ao governo do estado pelo PSB

Blog de José Dirceu (o posicionamento foi redigido em terceira pessoa)

Dom Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, em nota

É um dos momentos mais difíceis da minha vida. Perdi um amigo e um líder... É um momento de muita tristeza... A vida de Eduardo Campos é um exemplo de coragem e de compromisso com Pernambuco e principalmente com os mais pobres”

Foi uma perda grande porque ele era um líder jovem, que abria esperança para o Brasil. Ganhasse ou não as eleições, ele teria uma presença marcante para o futuro de nosso país”

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil

O ex-ministro, ao lado dos sentimentos de tristeza e luto que transmite à família, manifesta convicção de que Eduardo Campos será lembrado por sua história de esquerda, o papel na construção do governo popular que dirige o país desde 2003...”

O Brasil perdeu um grande político. Peço que os recifenses e os pernambucanos mantenham a paz e tragam fé e orações para a família dele. É uma perda irreparável. É um dia de muita dor. Uma dor que não tem como expressar nem medir”

Convivi com ele em várias oportunidades, como deputado estadual, secretário de estado, ministro, governador de Pernambuco, sempre testemunhando seu empenho pelo diálogo, um permanente bom humor e disposição para a luta política”

Vim prestar minha solidariedade à família cristã de Eduardo. Eram muito solidários com a Igreja; fiz a crisma de todos os filhos de Eduardo e admirava a forma como ele e Renata conduziam a família”

Era uma das grandes promessas da política brasileira, e nós todos estamos passados. É como se isso fosse um sonho e que depois nós vamos acordar. É um prejuízo para o Brasil e para a política, porque ele era, seguramente, o mais talentoso desssa nova geração”

Era um político jovem, que tinha muito a contribuir com o fortalecimento da democracia do nosso país. É muito triste, ainda, a coincidência da morte de Eduardo ocorrer na mesma data do falecimento de seu avô, Miguel Arraes (…)”

Campos foi um grande amigo do MST e apoiador da luta pela terra e pela reforma agrária, fato que o fez ganhar notável confiança dos trabalhadores rurais de Pernambuco. Em muitos momentos, agiu com ousadia e coragem a favor dos sem-terra”

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Hoje interrompeu-se o caminho de um homem que acreditava na renovação brasileira por meio da força do povo. A Coligação Unidos Pelo Brasil acredita que a perda encerrou a sua vida, mas não seus ideais. O momento é de muita tristeza”

Eduardo morreu no dia em que meu avô (Miguel Arraes) morreu. Eduardo morreu lutando pelo que acreditava, e deixa como legado essa luta para melhorar o Brasil. Que o Brasil faça uma reflexão sobre esse país”

Recebi com profundo pesar e tristeza a notícia do trágico falecimento de Eduardo Campos. Por sua coragem, competência e retidão no exercício da política, deixa uma enorme lacuna. O Brasil perdeu uma liderança de primeira grandeza”

Ao longo da minha vida pública, o meu caminhar em vários momentos se cruzou com o dele, e em que pese as divergências ocasionais, naturais da política, eu sempre tive a compreensão dos seus atributos e qualidades indiscutíveis como homem público”

Apesar das atuais divergências políticas, militei muito ao lado dele. É um momento difícil para todos nós. Além de Campos, perdi dois amigos queridos que estavam na aeronave. Pernambuco vai viver momentos de comoção como há muito não conhecia”

Pernambuco perdeu seu maior líder. Eu perdi um amigo, um irmão. Durante 20 anos, fui testemunha da dedicação dele à vida pública e àqueles que mais precisam. Com ele, aprendi que a política é o caminho por onde se transforma a vida das pessoas”


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1965 - 2014 JB NETO/AE

> deu no...

CLARÍN

Na Argentina, o diário Clarín exibiu imagens e vídeos do acidente, além de um perfil que retratava Eduardo Campos como “o postulante mais jovem ao Planalto”.

EL PAÍS

O jornal espanhol El País apresentou infográficos para explicar a queda do avião e considerou que a morte do candidato “provoca um solavanco” na disputa presidencial.

FINANCIAL TIMES

O jornal britânico Financial Times avalia que a morte do presidenciável do PSB “altera a dinâmica” da campanha no Brasil, a menos de dois meses da votação.

THE GUARDIAN

O jornal The Guardian lembra a escolha de Marina Silva como vice na chapa socialista e avalia que o cenário eleitoral passa a ser de “incerteza”.

Nas mesas de operação, o clima era de incerteza, com os analistas de bancos e corretoras se perguntando como ficará o quadro político

Em estado de choque Bovespa inverteu a tendência de alta e fechou em baixa de 1,53%. As principais lideranças do mundo empresarial ficaram consternadas

Era um símbolo de líder jovem com competência. Era a esperança para o futuro” Jorge Gerdau, Empresário

LE MONDE

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interrupção da carreira política de Eduardo Campos foi lamentada pelas principais lideranças empresariais do país. Também causou um princípio de pânico no mercado financeiro. Tão logo surgiram as primeiras notícias sobre o desastre, a Bolsa de Valores de São Paulo inverteu a tendência de alta que seguia durante a manhã e passou a operar no vermelho. Nas mesas de operação, o clima era de incerteza, com os analistas de bancos e corretoras se perguntando como ficará o quadro político, a dois meses das eleições. Por volta do meio-dia, o Ibovespa, índice que acompanha as principais ações negociadas no pregão, passou a apresentar uma forte queda, de mais de 2%. Menos de uma hora depois, a informação de que Marina Silva não estava entre os

No jornal francês Campos é apresentadocomo“umhomem de esquerda, mas favorável à economia de mercado”, além de“um dos principais desafiantes” de Dilma Rousseff.

assista

Confira a repercussão internacional do acidente Fotografe o QR Code ao lado com o software leitor do seu celular

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mortos, que chegaram a sete, vaivém da bolsa.” Reconhecido como líder de trouxe certa calma aos negócios. Mas não a ponto de re- uma nova geração de polítiverter a tendência de perda da cos, Eduardo Campos tinha bolsa, que fechou em queda bom diálogo e o respeito dos de 1,53%. Para analistas, a vo- empresários. A Confederação latilidade continuará ditando Nacional da Indústria (CNI) o rumo do pregão até o PSB reconheceu a capacidade de definir o sucessor de Eduardo gestão e a habilidade de artiCampos na campanha. “Até culação dele, que o colocaram entre os prinque fique claro cipais presise Marina vai CNI RECONHECEU denciáveis: “A ou não entrar A CAPACIDADE perda premana disputa, o DE GESTÃO E A tura desse jomercado ficavem líder enrá volátil”, dis- HABILIDADE DE tristece a tose a economis- ARTICULAÇÃO dos e empota-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. Pa- brece a política brasileira. Nesra ela, a tensão que se viu on- te momento de pesar, nossos tem “faz partee do jogo”, e se dede- pensamentos se voltam para ve, principalmente, à indefi- os familiares das vítimas desnição sobre se haverá ou não se trágico acidente.” um segundo turno nas eleições. “O mercado tem seus exa- Diplomacia geros, e a incerteza do quadro A morte de Campos ganhou político apenas alimenta esse destaque no noticiário inter-

nacional e foi lamentada por representantes de governos e por diplomatas. Nos Estados Unidos, uma nota oficial da Casa Branca manifestou “profunda tristeza” pela perda do presidenciável e da equipe que o acompanhava. “Estendemos nossas profundas condolências à família e a outros entes queridos do falecido e ao povo do Brasil. Os pensamentos e as orações dos americanos estão com o Brasil nessa trágica ocasião”, diz o texto, assinado por Caitlin Hayden, porta-voz da Casa Branca. O embaixador do Reino Unido em Brasília, Alex Ellis, reagiu à notícia em sua conta no Twitter. “Chocado com as notícias sobre Eduardo Campos. Com a reabertura de nosso consulado em Recife, criamos um ótimo relacionamento com o governo de Pernambuco”, escreveu o diplomata.


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1965 - 2014 VLADEMIR SILVA/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Dúvidas ao redor de Marina Integrantes do PSB avaliam quem será o substituto na disputa presidencial. A atual vice precisa superar as divergências para unificar o partido

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arina Silva pode ser, aparentemente, a sucessora natural de Eduardo Campos na disputa pelo Palácio do Planalto. Não só por ter se resignado ao papel de coadjuvante ao aceitar a vice - tendo um perfil de protagonista - como por ter se disciplinado e mantido em reserva críticas que em outros tempos teria feito publicamente. Mas não será fácil para Marina abrir os caminhos dentro da legenda socialista, que, afinal, não é a sua, como ela sempre fez questão de frisar. Embora te-

nha recebido internamente apoio de familiares de Eduardo, como Antônio Campos, irmão do ex-governador, outros correligionários do expresidenciável não estão acostumados ao estilo de Marina. Um dos principais articuladores da campanha presidencial do PSB, o deputado federal Júlio Delgado (MG) ouviu as palavras do irmão de Campos, mas acha que ninguém no partido tem a frieza necessária para tomar qualquer decisão no momento. “Marina pode aparecer como candidata natural porque é a vice. Mas precisamos de um nome que mantenha vivo o legado de Eduardo. E o PSB não tem esse nome”, resumiu Delgado. “Ele era insubstituível”, completou, aos prantos. Especialistas ouvidos pelo Correio/Diario também lembram que, mesmo filiada ao PSB, Marina ainda precisa

conquistar espaço e costurar apoio entre os socialistas. “O PSB não perdeu apenas o seu candidato a presidente da República. Perdeu também alguém que unificou o partido, que costurou alianças e que consertava, interna e externamente, os contenciosos que Marina criava”, ponderou o cientista político do Insper, Carlos Mello, lembrando as divergências regionais entre socialistas e a Rede. Em São Paulo, por exemplo, ela é

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radicalmente contra a aliança com o PSDB de Geraldo Alckmin, mas o PSB indicou o deputado Márcio França como vice na chapa tucana. Marina não estava no avião de Campos, que caiu em Santos, porque o presidenciável do PSB cumpriria uma agenda de campanha ao lado do governador de São Paulo e candidato à reeleição pelo PSDB, Geraldo Alckmin. O Correio/Diario apurou, no início da noite de ontem, que uma

das exigências de setores do PSB para aceitar que Marina substitua Campos é que ela respeite os acordos regionais firmados pela legenda. Para o cientista político Rui Tavares, o PSB não deve deixar vago o espaço deixado por Campos, sob pena de cometer um suicídio político. “Todo o partido que pretende crescer a bancada de deputados e o número de governadores necessita de um candidato forte ao Executivo Federal.”

Nome de Marina ainda não unifica o PSB, mas ela já recebeu apoio de familiares do ex-presidenciável


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Reviravolta nas campanhas ALEXANDRE SEVERO/ARQUIVO

Tragédia com Eduardo Campos altera cenário eleitoral no país e em Pernambuco e pode influenciar resultados VANDECK SANTIAGO vandecksantiago.pe@dabr.com.br

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cenário eleitoral muda radicalmente com a morte do candidato Eduardo Campos. Primeiro, e principalmente, pela comoção que acompanha a tragédia; segundo, porque ele deve ser substituído pela vice em sua chapa, Marina Silva. A coligação liderada pelo PSB tem 10 dias para escolher o substituto. Conversei ontem com integrantes do partido e, embora todos evitem falar do assunto de público, por entender que seria um desrespeito à memória de Eduardo tratar neste momento do seu substituto, o fato é que Marina só não será candidata se não quiser. O partido e a coligação têm candidatos a deputado estadual, deputado federal, senador e governador em todo o país – e todos precisam de um palanque presidencial forte para suas aspirações de vitória. Até agora a eleição presidencial não tivera um “fato novo” – e, quando não há fato novo vira uma eleição sem surpresa, sem reviravoltas. O desastre ocorrido ontem é uma reviravolta de alta voltagem. Em condições normais, Marina já era um nome eleitoralmente mais forte do que Eduardo Campos. A estagnação de todos os candidatos nas últimas pesquisas gerou análises de que Dilma Rousseff poderia até vencer no primeiro turno. Com a entrada em cena de Marina, o segundo turno vira praticamente uma certeza, me disseram parlamentares de partidos diversos com quem conversei ontem. Acrescente-se à possível candidatura dela também a possibi-

A comoção pela morte de Eduardo pode influenciar as eleições no país e no estado, onde o candidato escolhido por ele está em segundo lugar lidade de a vice ser ocupada por alguém estreitamente ligado a Eduardo – como Ana Arraes, sua mãe, hoje ministra do Tribunal de Contas da União (TCU). Um nome diretamente ligado a Eduardo na vice teria rebatimento importante também para a campanha em Pernambuco, onde o candidato da coligação liderada pelo PSB, Paulo Câmara, está em segundo lugar nas pesquisas, distante do primeiro, ArmanEULER JUNIOR/EM/D.A PRESS

Primeira candidatura do PSB a presidente foi de Ciro Gomes

do Monteiro Neto (PTB). Há dois efeitos que se pode levar em consideração no caso da eleição estadual: 1) a comoção pela morte de Eduardo pode ter um efeito agregador na campanha do PSB, capaz de mobilizar militância, atrair simpatia do eleitorado e atenuar deficiências; 2) a campanha estadual da coligação liderada pelo PSB fica órfã do seu principal líder aquele a quem todos recorriam para definir rumos e re-

solver problemas. Qual dos dois lados vai pesar mais no curso da campanha estadual é uma incógnita que só o tempo poderá responder. Há que se levar em conta também a possível influência que a disputa nacional terá na estadual de Pernambuco, no caso de a candidata ser mesmo Marina e ter como vice alguém diretamente ligado a Eduardo. Se a tragédia tivesse ocorrido faltando pouco tempo

para a eleição, o resultado seria devastador tanto na eleição presidencial quanto estadual, dado o sentimento que um acontecimento desses gera. Como teremos ainda dois meses até o pleito, pode ser que esta comoção seja atenuada, mesmo considerando que as gravações feitas por Eduardo devem ser utilizadas no horário eleitoral gratuito nacional e estadual e na propaganda dos candidatos. A menos de 24 horas do aci-

dente, é impossível saber qual a profundidade exata da tragédia no imaginário do eleitor. Não sabemos também se o eleitorado está maduro o suficiente para ficar imune à emoção de uma tragédia como essa. Uma coisa é certa, porém: esqueçam o cenário eleitoral que tínhamos até agora. Novas variáveis foram abertas, uma outra dinâmica deve ser criada, e só no futuro saberemos até onde uma e outra vão nos levar.

Pernambuco sem o seu maior líder A morte de Eduardo Campos representa uma perda irreparável para a política brasileira e em particular para a pernambucana. Ele foi o primeiro político com carreira construída no estado a conseguir chegar à disputa presidencial figurando entre os principais candidatos. Conseguia assim algo que antes só seu avô, Miguel Arraes, tivera chances de conseguir, nos anos 1960 (foi impedido pelo golpe militar de 1964). Sem ele Pernambuco fica sem o seu principal líder e sem herdeiros que possam ocupar o lugar nos próximos anos. Isso acontece ao fim de um ciclo em que antigas lideranças saíram de cena (co-

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mo Marco Maciel) e as novas sidente da República. Mas era que estão chegando ainda um nome que, independentenão se consolidaram. Temos mente do resultado de 2014, nomes importantes na polí- criava condições para disputica, mas nenhum com as ca- tas posteriores. Fazia parte da racterísticas da liderança nova geração de políticos naconstruída por Eduardo. cionais - fora do PT e PSDB, A morte era o mais joprematura vem deles. TiESTADO VIVE dele faz tam- ENTRESSAFRA DE nha o controbém com le de um parque a políti- LIDERANÇAS E tido – o PSB ca nacional SOCIALISTA NÃO –, fizera carperca um dos DEIXA HERDEIROS reira pela esseus quadros querda e tenmais promissores. Aos olhos tava tornar-se opção para quede hoje, levando-se em consi- brar a polarização entre petisderação as pesquisas e análi- tas e tucanos. se de sua penetração nos deFazia parte da nova geração mais estados, tudo indicava de políticos nacionais – fora que eram muito reduzidas do PT e PSDB, era o mais josuas chances de eleger-se pre- vem deles. No rumo que ado-

tara, era pouco provável que em um eventual segundo turno entre os dois partidos, ele voltasse a apoiar o PT (ainda que estejamos aqui no terreno das cogitações, é pouco provável que ele também apoiasse o PSDB). Ele vinha trilhando um caminho que apontava para a construção de uma alternativa à margem desses dois partidos. Para isso era fundamental evitar trilhas percorridas por outras lideranças regionais que vieram antes dele, disputaram a Presidência, opuseram-se ao PT e não foram bem-sucedidos no pós-eleições, como Ciro Gomes (CE) e Anthony Garotinho (RJ) - os dois, hoje, aliados do PT. (V.S.)


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Discurso de posse em 2007

Discurso o de Eduardo E na transmissão são de cargo car a João Lyra a Neto abr./2014 abr

Fui, ui, em todos esses anos, como omo meu pai p Maximiano Camposs me ensinou, servo do ideal al e do sonho. s Os mesmos ideais e oss mesmos me sonhos que agoraa impulsionam a caminhada c iniciada hoje, hoje com os pés no chão e os olhoss no futuro” futur

Queremos sepultar no passado as guerras fiscais entre os estados nordestinos, em que isenções, subsídios e incentivos se transformaram em armas nas batalhas pela atração de empreendimentos públicos e privados”

Assumimos a tarefa de escrever com serenidade uma nova história… O mais importante agora não é construir estradas, mas sim construir a cidadania”

Entrevista de balanço de mandato em dez./2013

Discur curso de Eduardo na transmis ansmissão de cargo a João Lyra L Neto abr./2014

Entrevista de balanço de mandato em dez./2013

Entrevista à revista Forbes Brasil 2014

Temos que centralizar os serviços de média complexidade e foi daí, exatamente, que veio a ideia da UPA-E (Especialidade)”

Discurso de Eduardo na transmissão de cargo a João Lyra Neto abr./2014

Hoje, o que deve nos unir é a busca pelo desenvolvimento da economia com qualidade. Preocupação com a inclusão social e sustentabilidade”

Discurso de posse em 2007

Há uma exigência da sociedade brasileira de mudar o pacto político que está aí porque ele não tem condições, ao nosso ver, de produzir nada de inovador à vida pública brasileira, e pode, ao contrário, colocar em risco as conquistas que tivemos no passado”

É prioritário superar a velha política do clientelismo, do abuso do poder econômico e das disputas personalistas que obstruem o diálogo e o reconhecimento dos pontos de vista dos adversários”

Levo comigo antigas e sábias lições, transmitidas pelo meu avô, a Miguel Arraes. Dele aprendi endi o eessencial para a vida pública: a defesa da democracia, públic da soberania nacional, a crença na organiz anização popular e o compr ompromisso com os excluídos”

Eu acho que a gente derrotou uma ditadura, a gente derrotou uma hiperinflação, colocamos o tema social na mesa do Brasil, é preciso colocar o tema de melhorar a política. Ou melhora a política, ou não melhora nada nesse país”

Hoje depois de dois Hoje, mandatos, mandat deixo o Palácio alácio do Campo das Princesas P pela mesma sma porta da frente, fr rumo a novvas lutas a que me levam compr ompromissos sociais, históricoss e políticos” polític

É necessário fundar um novo pacto social e político, baseado na nova polític realidade alidade do Br Brasil” Discur curso de Eduardo na transmis ansmissão de cargo a João Lyra L Neto abr./2014

Discurso o de Eduardo E na transmissão são de cargo car a João Lyra a Neto abr./2014 abr

FLICKR/DIVULGAÇÃO

Eduardo Campos

Uma luz que nunca vai se apagar.

Uma homenagem a um grande pernambucano.

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Entrevista à Folha de S. Paulo em 1/05/2014

Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde nós vamos criar nossos filhos, é aqui onde nós temos que criar uma sociedade mais justa. Para isso, é preciso ter a coragem de mudar, de fazer diferente” Entrevista ao Jornal Nacional 12/08/2014


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1965 - 2014 GUILHERME VERISSIMO/ESP DP/DA PRESS

GUILHERME VERISSIMO/ESP DP/DA PRESS

GUILHERME VERISSIMO/ESP DP/DA PRESS

Governanta da área residencial do palácio, Vitória Maria acha que teve uma premonição. Para Gilson, Eduardo não era um patrão, mas um amigo. E Daniel foi um dos primeiros à chegar à Praça da República

O pesadelo de dona Vitória Morte de Eduardo Campos causa perplexidade e comoção entre os que trabalham no Palácio do Campo das Princesas e entre todos os pernambucanos

O dia de amanhã ninguém sabe. Foi muito triste a morte dele. Quem o assistiu ontem no Jornal Nacional ficou ainda mais triste.”

Darcy Ribeiro, aposentada

cou mais livre; o clima era de pesar. Era uma unanimidade incrédula. Milhares de anônimos, simpatizantes ou não, passaram o restante do dia chocados e solidários às famílias de Eduardo Campos e dos assessores dele mortos com a explosão da aeronave. À tarde, dona Vitória Maria da Silva, governanta da área residencial do Palácio do Campo das Princesas há 35 anos, parecia fora de si. “É um pesadelo. Não sou muito de chorar, mas choro por dentro. E esse, minha filha, é o sentimento mais forte”, confidenciava, depois de pedir para ser entrevistada numa sala mais reservada, a sua preferida, a Sala da Imperatriz. “Eu tenho saudades. Ele foi o mais humano que já passou por aqui”, disse ela. Além de expor sua dor, dona Vitória se dizia intrigada. Ela crê que teve uma premonição ontem por volta das 10h.

SILVIA BESSA silviabessa.pe@dabr.com.br

P

ernambuco está enlutado desde as 13h de ontem. A perplexidade com a tragédia do ex-governador Eduardo Campos tomou as ruas do Recife. Médicos e pacientes espremiam as mãos sobre os rostos na recepção do Hospital particular Santa Joana diante da notícia na TV sobre a queda do avião em que estava o presidenciável. Minutos depois, quando a morte de Eduardo foi confirmada, o silêncio calou a praça de alimentação do Shopping Boa Vista. Clientes choravam a perda da autoridade mais onipresente do estado. Nos bares da Rua Oliveira Lima, no fiteiro da Rua Fernandes Vieira ou nas academias de Boa Viagem, a consternação corria de boca em boca. Por onde se andava, tinha alguém com telefone no ouvido. O trânsito fi-

Fiquei surpreso de como isso aconteceu. Ele era meu candidato, já tinha votado nele outras vezes. Vi materiais sendo recolhidos das ruas e já fico pensando em quem votarei? Se for Marina não voto.”

“Nunca escrevi versos, mas senti vontade de escrever e não sabia de nada do governador, que vi menino aqui com o avô. Sentei num banco deste corredor e escrevi isto (mostra o bilhete que guardava no bolso do fardamento bege)”, narra. Era um texto sem destinatário. No topo da mensagem, dia, mês e hora.

ANÔNIMOS, SIMPÁTICOS OU NÃO AO POLÍTICO, PASSARAM O DIA CHOCADOS Eram 13 linhas, dois parágrafos, cujas linhas dizem assim: “A vida é uma corrida/ correcorre e vai correndo sem parar até alcançar seus objetivos. Vai subindo degraus/ ladeiras, precipícios, não importa as dificuldades/ ele só faz vencer e vai subindo pelos barrancos/ até no mais alto

monte/ até dar seu último grito de liberdade conseguir/ ou dar seu último suspiro.” Evangélica, respeitada entre os colegas, dona Vitória, de 72 anos, prefere não fazer comentários maiores, mas diz que guardará a inspiração como lembrança de Eduardo. No Palácio, entre os populares, inconsolável estava Gilson Higino da Silva, 47 anos, conhecido por se referir a Eduardo como “pai” e por adorar exibir a foto do ex-chefe na tela principal do seu celular. O orgulho de Gilson é ter sido a primeira pessoa nomeada por Eduardo Campos. “Ele não era um patrão, era um amigo meu.” Falava entrecortando frases. Emocionado, resumiu o sentimento que lhe toma: “Foi a maior tristeza da minha vida.” Gilson trabalhava como ajudante do maitre e, nas festas pessoais de Eduardo, atendia à família do presidenciável. Do-

Robson Wagner,

Socorro Matias,

Lais Vasconcelos,

estudante

Ele tinha posições que eu questionava, mas hoje Pernambuco está de luto. O que aconteceu foi uma tragédia humana e o momento é de pesar.”

professor

Acidentes acontecem, mas eu estou passada. Vou votar em quem agora? Está todo mundo abalado, quem chega no posto, comenta. Uma tristeza só.”

frentista

Ele não era meu candidato, mas era uma pessoa boa, tinha boas propostas e, acima de tudo, ele fez muito por Pernambuco. Muito triste essa notícia.”

estudante

Independente da política e dos posicionamentos foi uma perda de um ser humano, referência para o nosso estado.” Gisele Torres,

mingo passado, dia do aniversário do ex-governador, esteve na casa dele. Gilson soube da morte de Eduardo na sala de casa e caiu no pranto. Não o verá mais pedindo macarrão com molho Alfredo e cartola como sobremesa. Do lado de fora do Palácio, Daniel Ferreira estava arrasado. Foi um dos primeiros na vigília na Praça da República. Levava uma bandeira gigante da campanha de Eduardo. “Vim com a roupa do couro”, disse Daniel, de Rio Doce, Olinda. “Devo minha vida a Deus e a Eduardo”, afirmou o aposentado de 42 anos, ex-motoqueiro. O ex-governador teria atendido ao pedido de um amigo e lhe ajudado quando ele ficou sob risco de vida. “Ninguém merece se acabar desse jeito. A questão não é só a morte. É a forma da morte dele também. É uma perda irreparável para nós pernambucanos.”

Lamento bastante. É uma perda grande para Pernambuco. Minhas divergências com ele eram no campo das ideias. O povo pernambucano está transtornado.” José Pereira,

dono de banca de revista

Alan Clebson, taxista

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AWAGNER OLIVEIRA wagneroliveira.pe@dabr.com.br

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dia ontem foi para confortar a família de Eduardo Campos. Após a confirmação das mortes, a casa de Campos, em Dois Irmãos, na Zona Norte do Recife, não parou de receber visitantes. Por lá, passaram muitos amigos, parentes, políticos e autoridades. Do lado de fora, parecendo entender o que acontecia lá dentro, uma cadela se deitou na entrada do imóvel. De acordo com seguranças da ca-

sa do ex-governador, quando saía a pé, Eduardo brincava com os cães que costumavam passar o dia na frente da residência. “Ele gostava muito de brincar com ela”, disse um funcionário. Até a noite, foi intensa a movimentação em frente ao endereço do ex-governador, onde estavam a esposa, Renata Campos, e os cinco filhos de Eduardo. O portão de entrada do imóvel passou o dia fechado. Era aberto apenas para conhecidos e amigos da família. Pelos cobogós do muro, era possível ver o que acontecia na área externa da casa. Os filhos mais velhos de Eduardo se revezavam com a mãe no cuidado com o irmão caçula, Miguel, de sete meses. Segundo os amigos, Renata se manteve firme durante todo o dia. Nenhum familiar do socia-

WAGNER OLIVEIRA/DP/D.A PRESS

Casa de Eduardo Campos recebeu parentes, amigos, e políticos que foram levar solidariedade à família. Movimento varou a noite

IVAN MELO/ ESP. DP/ D.A.PRESS

Endereço do apoio e da tristeza

IVAN MELO/ ESP. DP/ D.A.PRESS

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Pelos cobogós, era possível ver movimentação na casa, onde cadela fazia vigilia. Avó Magdalena chegou amparada lista viajou para São Paulo para cuidar da liberação do corpo. Essa tarefa coube aos amigos de campanha. Após visitar cunhada e sobrinhos, o único irmão de Eduardo, Antônio Campos, disse que o corpo será sepultado junto ao do avô Miguel Arraes, no Cemitério de Santo Amaro. “Perdi um irmão muito amado, que foi muito amigo. Eduardo morreu no mesmo dia em que meu avô morreu, há no-

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ve anos, mas morreu por seus ideais. Morreu tentando melhorar o Brasil. Eduardo deixa esse legado de luta”, afirmou Antônio. No final da tarde, o tio de Eduardo Campos, Pedro Arraes, chegou à casa do ex-governador com sua mãe, a viúva de Miguel Arraes, dona Magdalena Arraes. A mãe do socialista, a ministra Ana Arraes, chegou no início da noite. Entre os políticos que fo-

ram prestar condolências à família estavam o governador do estado, João Lyra Neto, o prefeito do Recife, Geraldo Julio, o candidato ao senado Fernando Bezerra Coelho, o candidato ao governo do estado Paulo Câmara, o candidato a vice Raul Henry, entre outros políticos. O arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido também foi levar os cumprimentos aos familiares.

assista

Confira o video sobre a movimento casa de Campos Fotografe o QR Code ao lado com o software leitor do seu celular


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Um legado para Pernambuco Em sete anos e três meses de gestão, Eduardo Campos deixou como marca a transformação econômica e social do estado ROSÁLIA RANGEL rosaliarangel.pe@dabr.com.br

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uando decidiu disputar a Presidência da República, Eduardo Campos apostou na credibilidade do PSB, fortalecido com os resultados alcançados na eleição de 2012, mas sonhou em chegar ao Palácio do Planalto respaldado principalmente pelo trabalho realizado em Pernambuco. Um legado construído em sete anos e

três meses de gestão. Um governo aprovado por mais de 80% da população. As conquistas implementadas em seu estado natal foram incorporadas ao discurso de campanha e usadas como trunfo para mostrar que: se tais ações eram possíveis em um estado pobre do Nordeste, porque não seriam na nação? Assim Eduardo foi desafiando os obstáculos. Nas andanças pelo país, fez várias promessas sempre lembrando os resultados do seu estado. Foi assim com a questão tributária, por exemplo. “Eu quero ser o primeiro presidente que não vai aumentar tributos e falo isso à vontade, porque fui governador de um estado e nunca aumentei um tributo e baixei vários, multipli-

cando por quatro o investimento no estado. Então, quem está falando não é um teórico, é alguém que fez”, disse em uma das muitas entrevistas que concedeu. Sobre a proposta de implementar as escolas em tempo integral no ensino médio, caso eleito presidente, costumava lembrar que durante a sua gestão constituiu a “maior rede escolar do ensino médio em tempo integral do país, sendo mais que São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais juntos”. Outra medida seria o benefício do passe livre para os estudantes das escolas públicas. Campos pretendia criar um fundo nacional para o financiar o projeto. Os recursos seriam oriundos de repasses

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TERESA MAIA/DP/D.A.PRESS

Fontes: Condepe-Fidem, IBGE, FMI

Números de Eduardo Campos à frente de Pernambuco Saúde

Educação

Segurança pública

327 escolas

3 novos hospitais

em tempo integral e semi-integral tem o estado, das quais 300 são escolas de referência em ensino médio e 27 são escolas técnicas

foram construídos: Miguel Arraes (Paulista), Dom Helder (Cabo) e Pelópidas da Silveira (Recife). A rede estadual de saúde passou de 27 para 30 unidades

15 unidades

27 escolas técnicas existem em Pernambuco. Em 2007, esse número era de cinco unidades

de pronto atendimento (Upas) e nove Upas especialidades foram construídas

No período de 2001 a 2011, de acordo com os critérios usados no Mapa da Violência de 2013, Pernambuco conseguiu uma redução de 33,4% em números de CVLI.

O Pacto pela Vida

foi selecionado em junho de 2013 na categoria Melhoria na Entrega de Serviços Públicos do United Nations Public Services Forum Day and Awards, que premia boas práticas administrativas desenvolvidas em todo o mundo.

Dados econômicos Evolução do Produto Interno Bruto (PIB) % 9,9

da União (70%), dos estados (20%) e municípios (10%). Mais uma vez, o ex-governador recorreu ao legado deixado no seu estado, destacando ter melhorado nos municípios pernambucanos as condições do transporte para os alunos da rede municipal. O Pacto pela Vida também

passou a ilustrar o discurso de Eduardo. Quando falava de medidas que poderiam ajudar a reduzir os indices de criminalidade no país, ressaltava que o Recife deixou de figurar entre as capitais mais violentas do Brasil por conta do programa de combate à violência implantado em Per-

nambuco. Daí surgiu mais uma promessa: a criação do Pacto Nacional pela Vida. O ex-governador deixou como legado conquistas na área da saúde e do modelo de gestão que implantou em 2007 que recebeu , em 2012, o Prêmio das Nações Unidas de Serviço Público (UNPSA).

Ações do Pacto pela Vida foram incorporadas como bandeira do socialista na corrida presidencial

5,3

5,1

5,2

7,5

5,1

4,2

4,5 3,5

3,8 2,7

2,9 2006

2007

Volume de investimentos em infraestrutura (R$ em bilhão )

Pernambuco Brasil

2008

2009 - 0,3

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2010

2011

2,3 0,9 ,9 2012

2003-2006

2,08

2007-2010

6,02

2011-2014*

12,97

2,3 2013

*Atualizado pelo IGP-DI dez/2013


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Arelaçãoespecial comaIlhadeDeus Moradores do primeiro lugar visitado por Eduardo na campanha de 2006 acompanharam com consternação as notícias do acidente ANAMARIA NASCIMENTO anamarianascimento.pe@dabr.com.br

O

s televisores das casas da Ilha de Deus, na Imbiribeira, Zona Sul do Recife, permaneceram ligados ontem durante todo o dia. Os olhares incrédulos dos moradores revelavam a relação que tinham com Eduardo Campos. Nos noticiários, a informação de que o político que mudou a face da comunidade havia morrido era acompanhada com consternação. Quando a morte foi confirmada, muitos deixaram suas casas, gritando a

triste notícia. Minutos depois, ela foi anunciada por uma voz embargada na rádio comunitária, a Boca da Ilha. Quem deu o aviso foi o comunicador social Edson Fly, um dos mais antigos moradores. Vive na Ilha de Deus desde que nasceu, há 40 anos. “Eduardo nos respeitou como seres humanos. Há uma ferida aberta no peito de cada um”, desabafou. A Ilha de Deus foi o primeiro lugar visitado por Eduardo Campos, em 2006, durante campanha ao governo do estado. Sem panflet panf letos ou palanque, o então candidato visitou a comunidade a pé. Prometeu que, se eleito, voltaria para transformar a infraestrutura da área. A promessa foi cumprida. Após ser empossado para o primeiro mandato como governador de Pernambuco, voltou à Ilha de Deus, desta vez com os secretários, e come-

çou a tirar os compromissos do papel. O pontapé inicial da urbanização foi a construção da Ponte Vitória das Mulheres, em parceria com a Prefeitura do Recife. Até então, a comunidade era isolada do resto da cidade e só se ligava com a Imbiribeira por uma precária ponte de madeira. “As pessoas só podiam ser socorridas em carros de mão, pois não chegava ambulância ou carro. A ponte trouxe dignidade para os moradores”, contou a líder comunitária Josenilda Pedro da Silva, a Nalvinha da Ilha. A ONG Centro Educacional Popular Saber Viver, que já existia na comunidade, passou a ser apoiada e a abrigar cursos profissionalizantes. O grupo de artesãs também recebeu suporte do estado. Quase 500 casas foram construídas, tirando os moradores das palafitas. As ruas foram

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calçadas. Água na torneira, sonho antigo dos moradores, chegou em 2007. Também foram reconstruídas as sedes do centro de cultura Caranguejo Uçá e da Igreja Aprisco de Jesus. Posto de saúde, praças, escola municipal e creche foram erguidas. O projeto contemplou ainda iluminação pú-

blica, pavimentação e paisagismo. “Desde que ele decidiu transformar nossas vidas, tudo mudou”, disse Edson Fly. As atividades no Caranguejo Uçá e no Centro Educacional Popular Saber Viver foram canceladas ontem. Foi decretado luto de três dias na comunidade.

Comunidade era isolada do resto da cidade até passar por processo de urbanização. Moradores como Nalvinha da Ilha dizem que as obras trouxeram dignidade. Crianças preparam homenagens ao ex-governador


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2 mil moradores

a Ilha de Deus em números

480 famílias

Fonte: Associação de Moradores da Ilha de Deus

474

casas foram construídas na comunidade

5

tipos de casas, com até 3 quartos, adaptadas a necessidades especiais

1

unidade de saúde da família reformada

1

escola municipal e 1 creche construídas

1

ponte erguida em parceria com a Prefeitura do Recife

3

rios cercam a Ilha de Deus: o Beberibe, o Tejipió e o Jordão

br4.cgn

+ saibamais

RAPHA OLIVEIRA/ESP. DP/D.A PRESS

Descanse em paz, Eduardo Campos Com a triste notícia do ocorrido com o ex-governador de Pernambuco, prestamos, aqui, nossos sentimentos aos familiares, amigos e conterrâneos do então candidato à Presidência do Brasil. Um dos nomes políticos mais atuantes do cenário nacional, Campos era sinônimo de renovação, ousadia e integridade. Como legado, ele deixa uma história de compromisso e respeito aos brasileiros, especialmente, ao povo pernambucano, do qual era ídolo e amigo. No futuro, poderemos, sempre, olhar para trás e ter a certeza de que convivemos com um homem íntegro, fiel aos seus princípios e que muito contribuiu para o desenvolvimento do país com boas ideias e ações inestimáveis.

Obrigado, Eduardo!

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