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Recife, 16 de agosto de 2014 N º 228
FERNANDO ZAMORA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
VELÓRIO HOJE, ENTERRO AMANHÃ
A liberação dos restos mortais dos sete integrantes da aeronave onde estava Eduardo Campos deverá acontecer entre o meio-dia e as 14h de hoje. A previsão é que os corpos comecem a ser trasladadosno fim da tarde. O velório deve começar ainda hoje à noite para a família e amanhã para o público. Confira os detalhes das cerimônias.
A difícil missão de enterrar o avô e o neto Nove anos após sepultarem Miguel Arraes, os coveiros Marco Aurélio dos Santos e Inaldo José da Silva vão enterrar Eduardo Campos. PODER B4
ruas Estado ainda em choque com a tragédia
ROBERTO RAMOS/DP/D.A PRESS
Aos poucos, a perplexidade vai dando lugar às homenagens a Eduardo Campos. Ontem, um grupo de estudantes de jornalismo (foto) fez questão de expressar o pesar e o luto. PODER B3
caixa-preta Gravação não corresponde ao voo de Campos
TV GLOBO/REPRODUCAO
O Cenipa enviou uma nota informando que os dados do gravador de voz da caixa-preta não são os do voo realizado na quarta-feira. O PSB cobra explicações. PODER B5
NANDO CHIAPPETTA/DP/D.A PRESS
RAPHA OLIVEIRA/ESP. DP/D.A PRESS
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Socialistas querem que Marina abrace PSB A cúpula do partido praticamente definiu o nome de Marina Silva como cabeça de chapa na corrida presidencial. Mas os socialistas pressionam para que a candidata da Rede Sustentabilidade mantenha os acordos regionais e os palanques políticos acertados por Eduardo Campos. PODER B6
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Recife, SÁB - 16/08/2014
1965 - 2014
Restos mortais liberados ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS
Famílias autorizaram que, se novos fragmentos das vítimas forem achados após os enterros, esses sejam recolhidos e incinerados JULIANA COLARES Enviada especial
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ão Paulo - Os restos mortais das sete pessoas que estavam na aeronave que caiu na última quarta-feira em Santos devem ser liberados pelo Instituto de Medicina Legal de São Paulo no início da tarde de hoje, entre meiodia e 14h. Ainda que o IML não tenha se pronunciado em relação a prazos, a informação foi divulgada ontem pelo deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), e pelo governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB). Eles estão acompanhando de perto o trabalho dos peritos e os preparativos para o traslado dos corpos, além de manterem conversas constantes com a cúpula do governo de São Paulo, incluindo o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que está acompanhando todo o trabalho da polícia científica pessoalmente. Do IML, os corpos seguem para uma funerária. Um tabelião de Santos vem a São Paulo participar dos trâmites. Os serviços cartoriais serão feitos no 10º tabelião de notas da capital de São Paulo. A previsão é de que os corpos comecem a ser trasladados entre o fim da tarde e o início da noite de hoje, segundo a primeira-dama de Pernambuco, Leila Queiroz. A liberação dos restos mortais de todas as vítimas será feita ao mesmo tempo, atendendo a um pedido da viúva de Eduardo Campos, Renata Campos. Segundo informações repassadas por políticos que estão acompanhando o trabalho em São Paulo, as famílias dos dois pilotos e dos cinco passageiros assinaram documentos autorizando que, caso sejam encontrados novos restos mortais após os sepultamentos, os
fragmentos sejam recolhidos e incinerados. O transporte dos caixões será feito em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Ontem, o coordenador da agenda de campanha de Eduardo Campos, Lauro Gusmão, estava de posse de uma cópia da procuração assinada por Renata Campos permitindo a retirada dos restos mortais do marido. Segundo ele, Maurício Rands viajou ontem a São Paulo com o documento original, que será levado ao cartório. Emerson Valadares está na cidade para a liberação dos restos mortais do irmão, o assessor de campanha e exdeputado federal morto no acidente, Pedro Valadares. A rapidez com que o trabalho de identificação dos mortos nesse acidente tem sido feito é resultado de forte pressão política. Alckmin está participando pessoalmente de todo o processo, indo, inclusive, tarde da noite ao IML. Ontem, o secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo, Fernando Grella Vieira, esteve no instituto, mas deixou o local sem falar com a imprensa.
Praça da República e Palácio do Campo das Princesas estão com estruturas sendo montadas para receber cerimônias fúnebres
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Os restos mortais vão ser liberados por volta do meio-dia de amanhã (sábado)” João Lyra Neto (PSB), governador do estado
Deslocamento Base Aérea do Recife ao Palácio do Campo das Princesas
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Organização em detalhes ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS
CLÁUDIA FERREIRA Especial para o Diario
Com a chegada prevista dos restos mortais do ex-governador Eduardo Campos e de seus três assessores ao Recife no início da noite de hoje, os preparativos para o adeus do ex-presidenciável estão a todo vapor. Numa reunião realizada com representantes de entidades nas áreas de saúde e segurança, foram decididos alguns detalhes da realização do velório, no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, e do sepultamento, no Cemitério de Santo Amaro. Na Praça da República, em frente ao palácio, está sendo montada a estrutura onde será celebrada, amanhã, a missa campal, pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernado Saburido, e outros 10 arcebispos de dioceses do interior. De acordo com o secretário de Imprensa do estado, Ivan Maurício, os caixões com os restos
Jazigo da família Arraes, em Santo Amaro, é reformado mortais de Eduardo Campos, do fotógrafo Alexandre Severo, do cinegrafista Marcelo Lyra e do assessor de imprensa Carlos Percol ficarão do lado de fora do palácio, isolados por gradis de ferro. “Todos que quiserem vir serão recebidos. O público formará uma fila indiana para poder passar em frente aos caixões“, informou o secretário. A segurança contará com a
colaboração dos efetivos das polícias Militar e Civil, do Corpo de Bombeiros e da Guarda Municipal. A CTTU fará o controle do tráfego. Eduardo será enterrado no jazigo onde seu avô, o ex-governador Miguel Arraes, foi sepultado. Todo o quarteirão será isolado por gradis em torno da lápide. Dentro do perímetro, apenas familiares, autoridades e amigos.
Deslocamento Palácio do Campo das Princesas ao Cemitério de Santo Amaro
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13 1-Base Aérea; 2-Rua Maria Irene; 3-retorno pelo túnel; 4-Av. Mascarenhas de Morais; 5-Viaduto Tancredo Neves; 6-Rua Ernesto de Paula Santos; 7-Av. Boa Viagem; 8-Av. Antônio de Góes; 9-Ponte Paulo Guerra; 10-Cais José Estelita; 11-Viaduto das Cinco Pontas, 12-Cais de Santa Rita; 13-Rua Alfredo Lisboa; 14- Rua Marquês de Olinda; 15-Rua Martins de Barros; 16-Praça da República.
1-Ponte Princesa Isabel; 2-Rua da Aurora; 3-Av. Mário Melo; 4-Rua Treze de Maio; 5-Entrada principal do Cemitério de Santo Amaro.
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BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS
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Estendida sobre uma janela do Recife Plaza Hotel, na Rua da Aurora, uma grande faixa de tecido preto se impunha como símbolo do luto da capital pernambucana
Uma dor que chega a ser familiar Ainda em fase de elaboração do luto de Eduardo Campos, pernambucanos tratam a perda como se fosse a de um parente querido SILVIA BESSA silviabessa.pe@dabr.com.br
O
luto sofrido por Pernambuco é uma espécie de luto familiar. Nas ruas da capital Recife ou no Sertão do município de Petrolina, a frase comum ouvida para traduzir a dor do momento é esta: "Parece que foi um parente meu". A morte do ex-governador Eduardo Campos tem sido vivenciada com intensidade por cidadãos que só o viam pelas televisões e pelos jornais. A perda aquebrantou gente de todas as classes sociais, econômicas e etárias. Pessoas relevam sintomas de insônia, desânimo para o trabalho, angústia, tristeza. "É uma dor igual à que senti quando perdi minha filha Etiene em um acidente de carro, no dia 4 de setembro de 1985, quando ela tinha 22 anos de idade", confidenciou o capitão reformado do Exército Edvaldo Pereira de Oliveira, 80 anos. "É como se eu tivesse revivendo aquele momento", comparou. São muitos os que fazem confidências íntimas e que dão justificativas para os mais próximos sobre o turbilhão de pensamentos que lhes tomam desde a quartafeira, dia do desastre do avião que explodiu e vitimou Eduardo Campos e outras seis pessoas. “A figura paterna para mim é uma lacuna. Eduardo não poderia ser
meu pai pela idade que ele tinha. Mas eu enxergava ele como um irmão mais velho”, disse a secretária Patrícia Montenegro, 41 anos, que traz consigo o exemplo da “coragem” de Eduardo. “O que ouço hoje na cidade é um silêncio de doer os ouvidos”, afirmou Patrícia, que trabalha na Compesa (Companhia de Abastecimento). Patrícia fala como esposa e mãe e conta que a todo momento pensa na família que ele deixou - a mulher Renata e seus cinco filhos. Mal dormiu nas últimas noites. Matheus Alves, um estudante universitário de 18 anos, se põe no lugar dos filhos: “Não tive um pai presente, então entendo como
POPULAÇÃO DE PERNAMBUCO TEM SINTOMAS DA PRIMEIRA FASE DO LUTO: A NEGAÇÃO será difícil. Será dolorido. Fiquei comovido mais por isso, pelo fato de ele ser pai de cinco filhos e deixar a mulher sozinha para cuidar deles”, argumentou Matheus, que junto a outras duas dezenas de amigos vestiu preto ontem em homenagem a Eduardo, “o homem, o ser humano” - como classificou. Matheus, que tem cinco irmãos, não sentiu vontade de fazer qualquer postagem ou homenagem virtual desde a tragédia, mas atendeu ao chamado do colega Vítor Nascimento. Vítor pediu, por meio de um grupo de amigos que conversa pelo celular, que todos vestissem preto ou branco, como preferissem, para ir às aulas na turma do 1º período do curso de jor-
nalismo da Unicap e deixar público o sentimento de luto pela morte do ex-governador. Aula de ontem foi no cinema da Fundaj, no Derby. O capitão Edvaldo, pai que comparou a dor da morte de Eduardo à morte da filha Etiene, também ajustou sua rotina nos últimos dias. Mandou cancelar festividades familiares e passou a dormir tarde (“Quando consegue”) para acompanhar o noticiário sobre a tragédia do avião de Eduardo Campos. “Me arrasei”, contou ele, que caiu aos prantos na sala de televisão da Associação dos Militares da Reserva, Reformados e Pensionistas (Asmir).”Não importa se o governador me conhece ou não me conhece. Acho ele um grande homem. Tem meu respeito”, declarou, sem perceber que estava usando o verbo no presente - como se Eduardo ainda estivesse vivo. “Não está fácil sentir essa dor”. A fase do luto coletivo vivido no estado gerido por Eduardo Campos por sete anos e quatro meses e do qual ele pretendia alçar a Presidência da República é a da negação. No elevador do Edifício Orion, no bairro da Jaqueira, uma senhora de cabelos brancos conversava com uma adolescente: “Ainda não acredito”. Diante de uma bandeira preta, estendida num hotel da Rua Aurora, outra mulher dizia o mesmo. Em vácuos de diálogos, havia quem se perguntasse se a notícia reverberada no Brasil (e fora dele) era verdadeira. Pernambuco ainda está no início da elaboração do luto de Eduardo, cujos restos mortais devem chegar neste sábado no Palácio do Campo das Princesas.
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BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS
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Admirava ele pela coragem e o enxergava como um irmão mais velho. Queria que tivesse sido meu irmão mais velho Abatida pela tristeza, Patrícia mal tem dormido BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS
Patrícia Montenegro Secretária
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Me arrasei. Cai no pranto diante de amigos. Não importa se ele me conhece ou não. Está sendo muito difícil para mim Edvaldo Pereira Capitão reformado do Exército
Edvaldo Pereira sentiu dor semelhante à perda da filha ROBERTO RAMOS/DP/D.A PRESS
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Não tive um pai presente, então entendo como será difícil. Como será dolorido para os filhos e para a mulher Matheus Alves estudante
Estudantes Eduardo e Matheus vestiram preto ontem
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Recife, SÁB - 16/08/2014
diario político p
1965 - 2014 RAPHA OLIVEIRA/ESP DP/D.A PRESS
por marisa gibson
marisagibson.pe@dabr.com.br diariodepernambuco.com.br
À beira do abismo A ex-ministra Marina Silva está sentada à beira do abismo. Consta que ela já deu aval à cúpula do PSB para que consulte dirigentes dos partidos que integram a coligação sobre sua candidatura. É um indício portanto de que poderá aceitar o desafio de substituir o ex-governador Eduardo Campos na cabeça da chapa. Se for esta sua decisão, Marina vai assumir como suas as alianças regionais fechadas por Eduardo e que provocaram discordâncias profundas entre ela e uma boa parte dos socialistas, sobretudo em São Paulo. Será, então, uma negação de seus princípios políticos, o que deve ferí-la profundamente. Caso resista a tais acordos, ficará sem palanque em muitos estados. De outro lado, Marina pode até não concorrer à eleição, mas estará dando as costas a um projeto político, no qual apostou o seu prestígio, levando-a a se filiar ao PSB. Antes da decisão de Marina, claro, será escolhido o vice -presidente, e qualquer nome poderá ser uma faca de dois gumes. Embora o PSB tenha afirmado que só começará discutirá a nova chapa na próxima quarta-feira, o que não faltam são especulações a respeito de nomes para a vice, começando por Renata Campos, que evidentemente não falou sobre a questão. Os rumores também chegaram ao irmão do ex-governador, o advogado Antônio Campos, o primeiro a defender, de público, o nome de Marina para substituir Eduardo. É evidente Se aceitar que o PSB estadual gostaria de um vice disputar a pernambucano, e a Presidência da questão emocional poderia levaria para República, posto à viúva do exMarina terá que governador, o que obviamente não seria assumir como uma garantia de suas as alianças sucesso eleitoral, em nome de uma nova fechadas por fase na política. Agora, se a chapa Eduardo e que Eduardo e Marina provocaram ainda não tinha sensibilizado o divergências eleitorado nacional, o entre ela e o PSB que dizer de uma chapa Marina e Antônio Campos? A ex-ministra, cujo abatimento físico e emocional diante da morte do seu companheiro de chapa é assustador, terá que reunir forças que talvez nem tenha neste momento, para enfrentar mais esse dilema de sua vida. Em uma única tarde, além de dois pernambucanos, um gaucho, o deputado federal Beto Albuquerque, líder do PSB na Câmara dos Deputados, também apareceu na lista de possível vice de Marina, mostrando como a formação dessa nova chapa será problemática. Os pernambucanos vão abrir mão de um lugar na chapa? Bem em 2010, Marina refletiu muito até deixar o PT para se filiar ao PV e disputar a eleição. No segundo turno, negou-se a optar entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) escolhendo a neutralidade como arma, deixando soltos os 20 milhões de eleitores que conquistara no primeiro turno. Essa escolha custou caro à imagem da ex-ministra que, no entanto, não desistiu do sonho majoritário. Saiu do PV e tentou criar um partido para chamar de seu – a Rede . Sem conseguir seu objetivo, juntou-se a Eduardo numa aliança que abalou o país mas que não vinha rendendo os votos que se esperava. Agora, Marina está diante de um gigantesco desafio e sem tempo para demoradas reflexões.
Pesquisas e pesquisas Está sendo aguardado para esta segunda-feira pesquisa do Datafolha em que questiona os entrevistados sobre o que o PSB deve fazer: lançar Marina Silva na cabeça da chapa, não lançar candidato nenhum ou apoiar algum dos dez outros presidenciáveis. Setores do PSB já defendem abertamente a candidatura da ex-ministra. Já no plano estadual, a pesquisa do Datafolha com Armando Neto (PTB) com 47% e Paulo Câmara (PSB) com 13% é reconfortante para a coligação Pernambuco Vai Mais Longe, mas após a morte do ex-governador Eduardo Campos (PSB) o cenário já é outro.
Dupla de coveiros Inaldo José da Silva e Marco Aurélio Felício dos Santos vive mais uma triste coincidência
A honra que eles não queriam ter Os mesmos profissionais que sepultaram Miguel Arraes, há nove anos, vão trabalhar no enterro de Eduardo Campos ED WANDERLEY politica.df@dabr.com.br
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esma veia política, mesmo dia de morte e mesmos sepultadores. Os profissionais que viram um jovem Eduardo Campos, ainda político em ascensão, chorando a perda do avô, o ex-governador Miguel Arraes, há nove anos, num
corredor do Cemitério de Santo Amaro, no Recife, serão aqueles que, agora o enterrarão. Inaldo José da Silva, 59, e Marco Aurélio dos Santos, 51, têm muito em comum: trabalham há 27 anos no local, votaram no avô e no neto para os cargos majoritários que ocuparam e não almoçaram na quarta-feira, após receber a notícia do falecimento do presidenciável. De rosto cansado, Inaldo desvia o olhar, fita o céu e diz que o serviço da vez é ruim porque é do “homem que seria presidente”. É “doído”, como diz. “A gente sente também, sabe? Não gosto de enterrar ninguém. Faço porque
é o jeito”, conta. A fatídica semana de agosto de 2005, os dois lembram em detalhes. “Era gente do interior. Gente humilde. Cheios de chapéus, como naquele programa do avô desse de agora”, diz Inaldo sobre a mais marcante imagem que recordam: um chapéu de palha em cima do caixão, antes de ser coberto. “Era um caixão que a gente chama ‘tipo champahne’, de gente ‘importante’, cercado por trinta mil pessoas”, diz Marco Aurélio. Eduardo era o candidato escolhido por ambos, este ano. E escolha foi o que ambos dizem ter faltado ao serem escalados para sepultá-
lo. “Preferiria assistir ao enterro do que enterrar”, completa, com pesar. O único envolvido no enterro de Arraes que estará de fora do último adeus ao neto dele é Edmilson Silva, de plantão neste sábado. Com farda nova, de prontidão e muito pesar, os dois homens realizarão apenas mais um trabalho. No automático. Como é feito, de 15 a 20 vezes por dia nos 14 hectares de jazigos e área verde. Mas conhecer - e admirar quem ali colocarão faz diferença. Trabalho “doído”, ao qual não estão acostumados. Sem querer, farão parte da história que prefeririam não precisar contar… IVAN MELO/ ESP. DP/ D.A.PRESS
A fortaleza Renata Campos LARISSA RODRIGUES larissarodrigues.pe@dabr.com.br
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Eduardo era um estadista que contaminava todo mundo e um pai à moda antiga. A gente ainda está sob efeito do impacto, é tudo muito difícil” Leda Alves, secretária de Cultura do Recife
“Fique tranquilo, meu amor, porque os nossos filhos eu assumo e vou dar conta”. Essa frase tem sido dita mentalmente pela viúva do ex-governador Eduardo Campos, Renata Campos. O relato foi feito, ontem, pela secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, na frente da casa da família Campos, em Dois Irmãos. De acordo com a secretária, Renata está tranquila e apoiando os cinco filhos – Maria Eduarda, João, Pedro, José e Miguel. “Ela está sempre com Miguel nos braços, brincando com ele. Entre uma brincadeira e outra chora um pouco, mas está firme e os filhos estão agarrados nela.”
Leda Alves visitou a residência da família ontem Leda Alves também falou sobre a mãe de Eduardo Campos. Abatida, a ministra do TCU Ana Arraes afirmou: “meu filho, tão amado por todos, porque ele e não eu, que já cumpri minha missão?”
Violência
Sete jornalistas que trabalhavam em frente à residência da família Campos no Re-
cife foram assaltados, ontem, por volta das 14h. Cinco caminhavam em direção a um restaurante, e os outros dois retornavam do almoço, fazendo o caminho inverso. No momento em que o grupo se encontrou, um carro preto com dois homens armados abordou os jornalistas, ordenando que entregassem os celulares.
Necessidade de investimento em Saúde Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Consultórios, C. de Saúde e Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas do Estado de Pernambuco
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ffiil etário da população No Brasil, as transformações aceleradas no perfi geram grandes impactos para o país e obrigam a pensar em novas possibilidades possibili lidades i de cuidados à saúde. De acordo com IBGE, existem atualmente no Brasil 20,6 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que representa 10,8% da população total do país. Em 2060, a expectativa é de que sejam 58,4% milhões de pessoas idosas, ou 26,7% dos brasileiros.
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R ecife, ecif e, SÁB - 16/08/ 16/ 08/2014 2014 Recife, 16/08/2014
brasília DF
1965 - 2014
por denise rothenburg
deniserothenburg.df@dabr.com.br
Presença de Renata Embora todos preservem a viúva de Eduardo Campos, dona Renata, nesse momento em que ela surge como a fortaleza da família diante da tragédia, a escolha do futuro candidato a vice na chapa do PSB passará por sua casa. Em torno dela é que familiares e amigos têm se reunido nos últimos dias, enquanto seu partido, dividido, não consegue chegar a um consenso sobre o nome do vice. Diante dessa constatação, há quem considere natural que ela, a guardiã do legado e da mensagem de seu marido, seja ao menos, consultada. Afinal, era assim que Eduardo sempre decidia. Dona Renata, invariavelmente, repete que “a mensagem dele ficou”. Logo, caberá a quem o conheceu mais de perto e viveu a trajetória política de Eduardo chamar os socialistas ao consenso. Nesse caso, ninguém melhor que ela.
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Mais perguntas que respostas
Veja o que se sabe e o que falta ser apurado sobre o acidente O que se sabe
O que falta descobrir Condições climáticas
Trajetória do voo
Havia um pouco de neblina, fazia 9ºC e a visibilidade era de 3 mil metros com nuvens a 250 metros, altitude quase limite para o pouso, mas ainda dentro dos padrões de segurança. A avaliação é que, apesar do clima ruim, não havia riscos para o voo. Para atrapalhar a aeronavegabilidade, por exemplo, é preciso ventos de mais de 30km/h, no local eram de 12km/h. Entretanto, os ventos estavam na mesma direção da aeronave, o que dificultaria um pouco o pouso.
Depois de arremeter, o avião deveria ter atingido altitude de cerca de 1.200 metros. É preciso saber qual foi a trajetória e em que nível estava a aeronave. Especula-se que a curva feita pelo piloto pode ter sido muito inclinada, o que teria levado a uma perda de estabilidade.
Falha mecânica Apesar de a aeronave estar em dia, é possível que tenha havido alguma falha mecânica. A hipótese ganha corpo especialmente pelos relatos de testemunhas sobre um fogo saindo do jato. Os dados de voz, que captariam os comentários dos pilotos durante o voo, poderiam ajudar nessa apuração.
Desistência do pouso Os procedimentos feitos pelo piloto, conforme análise preliminar e o aúdio do controle em terra, foram padrões. Ele fez a descida por instrumentos, também denominada Echo 1 naquele terminal, no jargão aeronáutico. Sem visibilidade, arremeteu à esquerda. Até aqui, de acordo com os dados disponíveis, tudo indicava normalidade.
O motivo A pressão mais forte no sentido de acelerar o reconhecimento dos restos mortais das vítimas do jato executivo que caiu em Santos vem dos amigos da família.Eles não querem ver Renata Campos obrigada a enterrar o marido no dia do aniversário dela, na segunda-feira.
Colisão no ar Como a estrutura do avião se desintegrou, será difícil verificar avarias ou outras marcas deixadas na aeronave por algum obstáculo inesperado, como uma ave, um drone ou até um morro. Há montanhas que ficam na altura do avião no momento da arremetida. Nada é descartado pela perícia.
Um visita, outro observa de longe Fora da disputa eleitoral, o senador Humberto Costa (PT-PE) fez questão de ir à casa de Eduardo Campos prestar solidariedade à família.Os petistas ligados à campanha de João Paulo Lima ao Senado, entretanto, não acreditam que o candidato Paulo Câmara reverta o favoritismo de Armando Monteiro, que detém 47% das intenções de voto. Esquecem, porém que, ali, Renata Campos, se chamada a participar da campanha e aceitar, terá tudo para fazer um estrago nas hostes do PT.
Aeronave e tripulação Segundo informações da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a documentação do Cessna 560 XL estava em dia, bem como a manutenção. As certificações dos pilotos também eram regulares. Ambos tinham carreira em outras companhias, inclusive dirigindo aviões de grande porte.
Desorientação espacial Uma das linhas de investigação averigua se o piloto, depois de arremeter, perdeu a capacidade de compreender a que altura estava. Esse fenômeno não é incomum na aviação e pode ser favorecido com a fadiga da tripulação. Um dos pilotos postou em uma rede social, dias antes, que estava cansado.
Escondidinho eleitoral Os dados em Minas Gerais foram os que mais surpreenderam os parlamentares.Afinal, 31% não sabem em quem votar. O percentual é maior do que a intenção de voto em favor do petista Fernando Pimentel, que tem 29%.
Noves fora... Ao analisar a última pesquisa do Datafolha sobre intenção de voto no Rio de Janeiro, os parlamentares do PMDB comemoraram. Ali, Anthony Garotinho, do PR, subiu um ponto; Marcelo Crivella, do PRB, caiu seis; Luiz Fernando Pezão, do PMDB subiu dois; e Lindbergh Farias, do PT, ficou onde estava. Logo, nesse ritmo, o governador-candidato, Pezão, entra o horário eleitoral na linha de dois para um em relação ao primeiro colocado.
Curtidas Estressou/ Os passageiros do voo 3722, da TAM, que saiu de São Paulo para Brasília às 16h54 da quarta-feira ficaram de olhos arregalados diante de um bate-boca no corredor, em frente ao assento 22C. “Ei! Esse lugar é meu”, dizia um homem a um senhor sentado. “Não, é meu, olha aqui”, respondeu o senhor, mostrando o canhoto do cartão de embarque. A discussão prosseguiu em alto e bom som até que o comissário pediu ao senhor de pé que ocupasse o assento 24D. O senhor de pé era João Santana, marqueteiro da campanha de Dilma. ...Brigou e.../ A história não acabou ali. João Santana só foi para o assento 24D quando o comissário fez mil apelos,dizendo que era um corredor,assim como o 22C. No fim da viagem, o senhor do 22C, na faixa de seus 70 anos, ainda tentou pedir desculpas. Santana foi direto: “Não aceito suas desculpas”. ...“Causou”/ A pelo menos um passageiro atento à cena política e que conhece o publicitário e jornalista ficou a impressão de que a morte de Eduardo Campos, não só mexeu com a cena política nacional, como tirou o humor do marqueteiro petista. Enquanto isso, no Recife.../ Cada dia é mais forte entre os políticos a sensação de que Eduardo Campos era tão leve no convívio, que só depois de sua morte é que muitos começam a compreender o seu peso político.
Investigação truncada Levantamento mostra que o jato tinha erro de projeto e foi chamado para um recall, o que acende a chance de falha mecânica. Além disso, a ausência de gravação do voo na gr caixa-preta torna a apuração mais complexa
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Pela temperatura de Santos, o equipamento poderia ter voltado ao estado normal durante a aproximação da pista” Marcelo Barros Camargo, aviador e pesquisador
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ÉTORE MEDEIROS e FELIPE SEFFRIN politica.df@dabr.com.br
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rasília e São Paulo – Apesar de aclamado como um dos jatos mais seguros do mundo, a aeronave em que voava Eduardo Campos foi alvo de uma espécie de recall em 2011. O Cessna modelo 560 XLS+, assim como o XL, teve de se adaptar a um erro de projeto que não previa a drenagem da água acumulada em uma parte da cauda do avião. A consequência do problema era o congelamento em equipamentos responsáveis por manter a altitude estável e alinhar o avião no eixo da pista. Com o anúncio feito ontem pela Aeronáutica, de que os registros de aúdio da caixa-preta não correspondem ao voo em que estava Campos, a investigação se torna mais difícil. Nada está descartado, especialmente, uma falha mecânica, já que a aeronave teve uma pane elétrica recentemente. Em um vídeo divulgado ontem, Campos comentou em tom de brincadeira sobre o incidente que teria impedido o jato de decolar em 16 de junho, no Paraná. Levantamento obtido pelo Correio Braziliense/ Diario mostra que em cinco dos 17 registros relacionados ao mo-
delo de Cessna no National Transportation Safety Board (NTSB) – órgão que investiga acidentes nos EUA –, o congelamento levou a aeronave a apontar o nariz para o solo. Em todos os episódios, os jatos conseguiram pousar em segurança. O defeito levou a Cessna a convocar aeronaves dos modelos XL e XLS+, inclusive a que caiu na quarta-feira, para corrigir os defeitos, segundo Marcelo de Barros Camargo. O aviador e pesquisador de desastres aéreos é o
SEM O ÁUDIO DA GRAVAÇÃO, AERONÁUTICA VAI ANALISAR OUTROS TIPOS DE DADOS autor do levantamento. Para Camargo, “é difícil afirmar” se um possível congelamento pode ter contribuído para o acidente, já que os registros do problema se deram em altitudes elevadas. “Pela temperatura de Santos no momento, caso congelado, o equipamento poderia ter voltado ao estado normal durante a aproximação da pista”, pondera o especialista, para quem “só o Cenipa vai saber explicar” o que aconteceu. A Cessna se limi-
tou a dizer que colabora com as investigações.
Caixa-preta
De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), as duas horas de áudio, capacidade máxima de gravação da caixa-preta do voo do presidenciável, referem-se a algum outro trajeto realizado antes de 13 de agosto, data da tragédia. O órgão não informou, porém, quando o som foi captado nem deu detalhes sobre o tipo de caixa-preta da aeronave. Considerado fundamental para a apuração de um desastre aéreo, o equipamento é obrigatório, segundo a Agência Nacional da Aviação Civil. O avião de Campos não poderia ter decolado sem que o piloto checasse o funcionamento do gravador – que em alguns casos pode ser automático. Sem o áudio, a Aeronáutica passa a explorar outros dados, como a comunicação entre os pilotos com os controle em terra, as condições da aeronave e o clima na hora do acidente. Uma reconstituição do trajeto do avião será realizada pela Polícia Federal em até 10 dias. Os trabalhos começaram ontem, em Santos. (Colaboraram Julia Chaib e Renata Mariz)
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Recife, SÁB - 16/08/2014
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Pressão por lealdade ao PSB FELIPE RAU//ESTADÃO CONTEÚDO
Integrantes do PSB querem apoiar o nome de Marina para a cabeça de chapa, mas exigem o compromisso de que ela “abrace” o partido JULIANA COLARES Enviada Especial
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ão Paulo - A cúpula do PSB praticamente definiu o nome de Marina Silva como cabeça de chapa na corrida presidencial. Mas quer garantir que a ex-ministra de Meio Ambiente, além de manter os acordos regionais e os palanques políticos acertados por Eduardo, “abrace o PSB” neste momento. O deputado federal Beto Albuquerque (RS), nome forte na disputa da vaga de vice da chapa, colocou o posicionamento dos socialistas de forma clara, em visita, na última quinta-feira, à ex-senadora. “Eu disse a ela que, neste momento, ela precisa abraçar o PSB, um partido ferido com a perda de Eduardo Campos”, afirmou. Marina ainda está muito abalada com a morte do ex-governador de Pernambuco, mas não teria se oposto à orientação. O governador de Pernambuco, João Lyra Neto, no entanto, afirmou que Marina garantiu, ontem mesmo, que irá criar a Rede. Ao Diario de Pernambuco/Correio, um aliado do exgovernador disse que há a ideia é fazer uma espécie de carta aberta ao povo brasileiro, na qual Marina se comprometeria com o PSB e com o conteúdo programático acertado pela coligação. Não se colocou a Marina um impedimento à criação da Rede, mas os socialistas entendem que não é o momento de tratar do assunto.
A carta funcionaria, guardadas as devidas proporções, como a Carta ao Povo Brasileiro elaborada pelo PT e por Lula em 2002, assegurando que não romperia os contratos firmados nem provocaria alterações na política econômica. Agora, a carta de Marina daria tranqulidade aos aliados e eleitores de Campos de que os rumos traçados anteriormente serão mantidos. A ideia é buscar uma forma suave de anunciar esse “abraço”ao PSB, sem deixar nem Marina nem os socialistas em uma saia-justa. O recado do PSB foi claro e remete a um texto assinado pela direção da Rede Sustentabilidade dois dias antes da convenção nacional que ho-
mologou a candidatura de Eduardo Campos e Marina Silva, em 28 de julho. Naquela ocasião, os sonháticos diziam que a ideia de criação do novo partido estava mantida e que, tão logo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedesse o registro à legenda, a migração para o novo partido seria imediata. Na quinta-feira, o porta-voz da Rede Sustentabilidade, Walter Feldmann (SP), afirmou que, para eles, nada muda nesse momento. Orientados por Marina Silva, o grupo político decidiu que esse é um “momento de luto e de silêncio”, em torno da tragédia. Mas adiantou que, a princípio, nada muda nos planos futuros. “O sonho de criação
Uma opinião de peso JÚLIA SCHIAFFARINO juliaschiaffarino.pe@dabr.com.br
Na decisão sobre o futuro candidato do PSB para a Presidência da República, a opinião da viúva, Renata Campos poderá ter peso decisivo. “Sem dúvida ela será ouvida e a palavra dela tem todo o peso que você puder imaginar”, assegurou, ontem, em reserva, um dos caciques do PSB. Em Pernambuco, os integrantes da sigla têm demonstrando uma maior simpatia pela ascensão de Marina Silva à cabeça de chapa. “Não há como criar um outro nome agora. O nome dela é o nome natural. É ela. Se fosse o oposto, Eduardo assumiria”, completou. Se eleita pelo PSB, Marina Silva ficaria impedida de mudar de legenda, mantendo-se no partido. É de esperar, tam-
bém, que ela fortaleça aqueles que defenderam o nome dela, no caso, “conterrâneos” de Campos. O PSB concentrava poder em Eduardo Campos e, consequentemente, em Pernambuco, de onde emanavam todas as maiores decisões. Uma vez que no Sul e Sudeste os socialistas buscam alternativas mais próximas a eles, integrantes do partido no estado reforçam o coro pela ex-verde, de maneira a garanti-la como aliada. Outro ponto levantado é a tentativa de viabilizar um vice nordestino. Dentro desse cenário, Renata Campos foi cogitada por muitos como uma possibilidade desejável. Ninguém, porém, arriscou-se a tocar diretamente no assunto com ela. Há de se considerar, porém, os efeitos de uma
da nova legenda não foi nem se será abandonado”.
Homenagens
Após o encontro de ontem, Feldmann reiterou que a conversa foi extremamente respeitosa e versou, na maior parte do tempo, em torno das homenagens que serão prestadas a Eduardo na próxima semana, que incluem uma missa na Catedral de Brasília e sessões solenes no Congresso. “Também discutimos a reunião da Executiva do PSB, marcada para a quarta-feira, na qual será decidido o futuro da legenda”. Aliados de Marina defendem que ela esteja na sede do partido, em Brasília, no dia do encontro, mas que não
participe diretamente da reunião. “Ela ficará em uma sala ao lado. Esta decisão precisa ser tomada pelo PSB, não pela Rede”, disse um aliado da ex-ministra, resvalando no discurso de separação dos partidos que será difícil de ser sepultado. Se o discurso interno começa a ser afinado, externamente algumas arestas vão sendo aparadas. Pelo menos duas entidades ligadas ao agronegócio deram ontem um voto de confiança à Marina para que ela tenha tranquilidade ao substituir Eduardo. Uma postura bem diferente de uma semana atrás, quando o próprio socialista teve que defendê-la das críticas dos produtures rurais.
Cúpula socialista esteve reunida ontem na capital paulista para definir futuro do partido
ANNACLARICE ALMEIDA/DP/D.A PRESS
chapa formada por duas mulheres, bem como o fato de ela recusar a ideia. Renata é conhecida por uma forte atuação nos bastidores, mas sempre evitou a linha de frente e, no momento, passa por um momento delicado.
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Reunião
Quarta-feira, o PSB se reúne em Brasília para definir o futuro da campanha. O presidente da legenda em Pernambuco, Sileno Guedes, vai participar do encontro. Especulou-se a possibilidade de Renata ir, mas isso não foi confirmado. Os programas eleitorais em rádio e TV têm início terça-feira e o esperado é que o primeiro programa do PSB seja dedicado a homenagens ao ex-governador pernambucano.
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Sem dúvida ela será ouvida e a palavra dela tem todo o peso que você puder imaginar” Renata será ouvida mesmo passando por fase difícil
cacique socialista,
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Dois nomes entre os mais cotados Beto Albuquerque e Júlio Delgado estão nas apostas para a vaga de vice, aberta caso Marina seja mesmo candidata a presidente JULIANA COLARES Enviada especial PAULO DE TARSO LYRA AMANDA ALMEIDA Politica.df@dabr.com.br
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ão Paulo e Brasília Praticamente definido o nome de Marina Silva como cabeça de chapa na corrida presidencial, o PSB se concentra agora no debate sobre quem será o vice. Embora façam pressão para que a ex-senadora “abrace o PSB” como seu partido, os socialistas querem reforçar na vice a identidade da legenda. Assim, procuram um nome para acompanhar a sonhática que tenha tradição no PSB e perfil político semelhante ao de Eduardo Campos. Com base nesses parâmetros, os nomes mais fortes são os dos deputados federais Beto Albuquerque (RS) e Júlio Delgado (MG). Alguns dos principais caciques da legenda têm apontado como o nome mais forte até o momento o de Albuquerque. Ontem, as principais li-
deranças pessebistas se reuniram, às 20h, no hotel Green Place, na Vila Mariana, em São Paulo. Na reunião, o presidente do PSB, Roberto Amaral, repassou o teor da conversa que teve à tarde com Marina Silva, em São Paulo, na companhia do secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira. A escolha do vice e os rumos da campanha também foram discutidos. Líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque está no partido desde 1986, antes mesmo de Eduardo Campos, que entrou para os quadros da legenda em 1990. Além disso, ele era bastante próximo do ex-governador Eduardo Campos e defende as ideias do pernambucano. “Não estou reivindicando nada. Meu papel, como irmão de Eduardo há 24 anos, é garantir o processo para que o legado dele seja mantido por inteiro. Estive muito intensamente com ele”. Uma das principais lideranças do partido disse ao Diario de Pernambuco/Correio que Beto Albuquerque vem fazendo campanha para que seu nome seja escolhido para vice de Marina. Perguntado se aceitaria a posição de vice de Marina caso essa seja a decisão da legenda, respondeu: “Não tenho dificuldades de cumprir tarefas
GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS
O deputado federal mineiro Júlio Delgado foi escolhido no ano passado por Eduardo para dirigir o PSB em Minas definidas pelo partido. O vice tem que ser uma pessoa integrada ao PSB e 100% afinada com o discurso de Eduardo”, disse, citando as duas principais premissas defendidas pelas principais lideranças do PSB na escolha do vice. Também entre os favoritos está o deputado Júlio Delgado, que foi escolhido diretamente por Eduardo, no ano passado, presidente do PSB em Minas, com objetivo de minar a ala lulista do partido no estado. Relator do processo de cassação do ex-ministro José Dirceu (PT) na Câmara, depois do escândalo do mensalão, e
OSWALDO REIS/ESP. CB/D.A PRESS
PT e PSDB não querem adiamento ra na queda de um avião em Santos (SP). As transmissões No que depender de PT e PS- vão coincidir com a missa de DB, a propaganda eleitoral gra- sétimo dia prevista para terça, tuita na tevê e no rádio não na Praça da República, no Reserá adiada. Os dois principais cife, em frente ao Palácio do partidos rivais ao PSB na cor- Campo das Princesas, sede do rida presidencial afirmaram governo de Pernambuco. não ter discutido a alteração As homenagens dos dois no calendário eleitoral. Em res- principais concorrentes na disposta ao pedido do PV, o pre- puta ao Planalto vão frisar a sidente do Tribunal Superior amizade com Eduardo. Na inEleitoral (TSE), ministro Dias serção da candidata à reeleiToffoli havia decidido que só ção, Dilma Rousseff (PT), é posum consenso sível que a entre as le- SEGUNDO O TSE, menção seja gendas altera- ALTERAÇÃO DA gravada pelo ria o início da ex-presidente DATA DEPENDE DE campanha na Luiz Inácio LuCONSENSO ENTRE televisão. la da Silva. Em Sem acordo, AS LEGENDAS entrevista, Lunão haverá la afirmou mudanças. Especialistas reba- “ser mais que político amigo, tem que nem um acordo dos ser companheiro” do socialispartidos modificaria a data. ta. O candidato pelo PSDB e Os coordenadores das cam- senador, Aécio Neves (MG), panhas trabalham para levar também pretende mencionar a propaganda ao ar na terça-fei- a amizade que manteve com ra, como determinam as re- Eduardo Campos. gras da Justiça Eleitoral. TanCoordenador da campanha to nas gravações do PT quan- de Aécio, o senador José Agrito nas do PSDB, são cogitadas pino Maia (DEM) afirmou que homenagens a Eduardo Cam- a legenda “vai seguir o script”, pos, que morreu na quarta-fei- descartando qualquer altera-
atualmente da análise sobre o mandato de André Vargas, ele agrada parte do partido por manter o discurso de Eduardo de “Combate à corrupção e à velha política”. Júlio Delgado espera ser o escolhido, mas disse que não fará campanha para isso. Uma reunião do diretório do PSB foi marcada para a próxima quarta-feira. Na ocasião, a composição da chapa será divulgada oficialmente, mas a decisão já estará tomada antes disso. O PSB está tentando ser discreto nas discussões, uma vez que o sepultamento ainda não ocorreu.
+ quem é quem Confira os candidatos que concorrem à vaga de vice na chapa do PSB Os favoritos
Beto Albuquerque Líder do PSB na Câmara e ex-secretário de Infraestrutura e Logística do governo Tarso Genro (PT) no Rio Grande do Sul, Albuquerque se elegeu deputado federal pela primeira vez em 1998. No primeiro mandato, licenciou-se para ser secretário do Transporte do governo Olívio Dutra, no mesmo estado. É advogado e tem 51 anos.
Júlio Delgado Presidente do partido em Minas Gerais, elegeu-se deputado federal pela primeira vez em 1998. Está na legenda desde 2005. Foi relator do processo de cassação do ex-ministro José Dirceu e atualmente relata pedido de cassação de André Vargas. Concorreu à Presidência da Câmara em 2013. Delgado é filho de político – Tarcísio Delgado, candidato do PSB ao governo mineiro. É advogado e tem 52 anos. Prós
Prós ■
NAIRA TRINDADE politica.df@dabr.com.br
Quadro orgânico do PSB, no qual tem bom relacionamento com diferentes alas do partido
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Tem bom trânsito na Região Sul
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Era muito próximo a Eduardo Campos
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Era muito próximo de Eduardo Campos
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Foi escolhido presidente da legenda em Minas Gerais diretamente pelo pernambucano para conter a ala lulista do PSB no estado
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Chegou ao partido com os irmãos Cid e Ciro Gomes, mas descolou-se deles para seguir a liderança de Eduardo
Outros nomes cotados
Presidente do TSE diz que não há como postergar ção no calendário eleitoral. Em reunião com aliados ontem, em São Paulo, o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) voltou a dizer que o programa gravado por Eduardo e Marina deverá “ser o mesmo, mas com algumas adaptações”. Já os petistas disseram que a possibilidade de adiar o programa “sequer foi discutida”. Na quinta, o ministro Dias Toffoli decidiu que “não há como postergar o início da propaganda gratuita, pois a matéria é estabelecida em legislação eleitoral e não por ato de vontade da Justiça Eleitoral”.
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Um consenso infringiria o tempo legal da propaganda eleitoral na TV” Alexandre Fidalgo, advogado eleitoral
Maurício Rands Coordenador do programa de governo de Eduardo Campos, entrou no partido em 2102 após o PT impedir que ele fosse candidato à prefeitura do Recife. É considerado “cristão novo” no PSB, o que lhe tira força nas disputas internas.
Rodrigo Rollemberg Líder do PSB no Senado, ajudou a costurar a aliança entre o PSB e a Rede no plano nacional. Rollemberg é candidato ao Governo do Distrito Federal. Está em terceiro nas pesquisas, em empate técnico com o segundo colocado, o governador Agnelo Queiroz (PT). Aposta na eleição para o GDF.
Luiza Erundina A deputada federal está no partido desde 1997, após o desgaste de ter sido suspensa pelo PT por ter aceitado o cargo de ministra-chefe da Secretaria de Administração Federal do governo Itamar Franco. Quadro histórico da esquerda, mas é nome que enfrenta rejeição de parte do eleitorado.
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Eduardo e os jornalistas A morte trágica do ex-governador Eduardo Campos (PSB) silenciou a barulhenta redação do Diario na última quarta-feira, especialmente a editoria de Política, que conviveu mais de perto com o socialista desde que ele era deputado federal. Dois dias depois, ainda em perplexidade, cada um começou a lembrar a relação que teve com Eduardo nesse período que ele governou o estado por quase oito anos e foi lançado como candidato à Presidência. Conseguimos rir algumas vezes ouvindo relatos de Rosália Rangel, chamada carinhosamente como “chefe das setoristas”, e decidimos contar os “causos”, como ele gostava de dizer. O ex-governador entendia a importância da relação com a imprensa. Era ele o principal porta-voz do partido, tanto para se defender das críticas adversárias como para vender a própria imagem.
JAQUELINE MAIA/DP/D.A PRESS
Marisa é colunista de política do Diario de Pernambuco
MARISA GIBSON
A surpresa de uma ligação inesperada Ao retornar de um exame médico, na manhã de 28 de janeiro, havia três ligações do governador Eduardo Campos em meu celular. Fiquei imaginando o que teria acontecido e, antes de retornar, tive o cuidado de ver o que eu havia escrito na coluna Diario Político. Enviei então uma mensagem
explicando que não havia atendido as ligações porque estava no hospital. Ele respondeu: “Agora, quem está no hospital sou eu. Dona Marisa, chegou a hora de Miguel nascer”. Ficamos então conversando sobre a vinda de seu filho caçula e, quando era obrigado a interromper as ligações, ele RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS
ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS
Entre microfones e câmeras, Eduardo Campos se sentia à vontade para defender suas ideias e fazer amizades
pedia “não desligue, não”. Até que direcionou o assunto para a sucessão presidencial, quando falou bastante sobre o seu relacionamento com Lula, explicando os motivos pelos quais jamais iria criticar o ex-presidente. Depois falou sobre a eleição estadual, e que planejava anunciar os candidatos após o carnaval se bem que o ideal seria o mês de junho, para que a “chapa não envelhecesse antes da convenção”. A conversa, bastante informativa, me rendeu muitos comentários, como sempre acontecia em nossso encontros. A propósito, minhas entrevistas com Eduardo eram mais longas conversas, ocasiões em que me fazia revelações interessantes. Havia um grau de confiança nessas “entrevistas”, sobretudo porque, da velha geração, tive uma convivência com o ex-governador Miguel Arraes, época em que fui editora de Política do Diario, quando também o entrevistava como chefe de gabinete do avô. Por conta disso, no início do seu primeiro mandato, quando ele achava que eu o criticava por algum motivo na coluna, afirmava para quem estivesse ao seu lado: “ela gostava mais do meu avô”.
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Convivi com meu avô por mais de 20 anos. Ele me ensinou o essencial para a vida pública” 01.01.2007 Posse em 2007
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ZULEIKA DE SOUZA/CB/D.A PRESS
Denise é colunista de Política do Correio Braziliense
DENISE ROTHEMBURG
A confiança entre jornalista e fonte Tive o privilégio de acompanhar a carreira de Eduardo Campos desde 1998, quando passei a trabalhar nos Diários Associados, grupo com presença forte em Pernambuco. A confiança que rege a relação fonte-jornalista e viceversa se consolidaria a partir de 2003, quando o neto de Mi-
guel Arraes, que a maioria dos coleguinhas distantes de Pernambuco desconhecia, virou líder do PSB. O contato com ele sempre foi fácil e fraterno. Atendia o próprio telefone e não escondia nenhum dos números, por meio dos quais podia ser localizado. Inclusive o de doNANDO CHIAPPETTA/DP/D.A PRESS
na Renata, sua parceira de toda uma vida. Sempre mantinha contato com o grupo que mais gostava. Certa vez, ele estava de carona com o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, para quem eu telefonei para falar de uma pauta tucana. Eduardo pediu a Cássio que lhe passasse o telefone: “Rothenburg! É assim, é? Não fala mais com os pobres de Pernambuco? Peguei!” As conversas para trocar ideias sobre o cenário político eram em off, para que ele não precisasse medir as palavras, algo que os políticos só fazem com quem confiam. (E que os jornalistas só publicam quando também têm a mesma confiança na fonte). Mas quando ele negociou a ida de Marina para o PSB, numa sexta-feira à noite, ele me diria no dia seguinte: “Ainda bem que você não ligou, nem pra mim, nem para Renata. Desta vez, eu teria que tirar você da notícia. A história não podia vazar ontem. Agora, já posso contar”. É difícil de acreditar que estou aqui para seus funerais e não para mais uma conversa sobre cenários políticos, recheada de bom humor na varanda de sua casa.
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Sei que Pernambuco novamente vai ajudar o Brasil a encontrar novos caminhos” 04.04.2014 Desincompatibilização em 2014
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1965 - 2014 CECILIA DE SA PEREIRA/DP/D.A PRESS
ROSÁLIA RANGEL
O chamado sempre vinha
Falar da minha convivência com Eduardo Campos seria uma tarefa fácil se em outra circunstância. Começo esse texto dizendo isso porque ver Eduardo nas ruas em contato com o povo ou em solenidades administrativas me permitiu colecionar muitas histórias. Momentos que vão além das apurações para as incontáveis reportagens que fiz com o candidato nas eleições de 2006 e 2010 e governador de Pernambuco por dois mandatos. Episódios pitorescos, engraçados que não combinam
com o atual momento que vivemos, mas merecem ser contados para que conheçam um pouco de Eduardo nos bastidores. Um político atento para não deixar escapar do olhar da imprensa casos que ele considerava relevantes, principalmente quando se tratava de pessoas que conseguiram vencer as adversidades, apesar das dificuldades. Não foram poucos as vezes que me chamou para presenciar suas conversas com um morador de um município que tinha esse perfil. “Chama Rosália aí”, dizia para os
assessores, quando percebia que a história era interessante. Certa vez, em Quixaba, sempre seguido por uma grande número de pessoas, entrou numa pequena sala de um prédio público. O espaço era pequeno. Resolvi esperar do lado de fora. Não passou muito tempo para o chamado chegar. Ao entrar na sala, disse de pronto: “Venha ver o sucesso desse menino”, disse, com um largo sorriso e o braço por cima do ombro de um jovem aluno da escola municipal premiando na Olimpíada Brasileira de Matemática.
Rosália é repórter de Política do Diario Também costumava chamar a atenção quando chegava muito cedo na agenda e a repórter aqui com alguns minutinhos de atraso.
Com o olhar de raio laser
A primeira pergunta respondida com gargalhadas, de um governador eleito pela primeira vez, a gente nunca esquece. Esse foi o meu primeiro contato com Eduardo Campos após ele ganhar a eleição de 2006. Não pude participar da coletiva que ele concedeu ao Diario após aquela vitória histórica, mas entreguei uma listinha de perguntas à minha amiga Rosália Rangel e ela não se furtou em perguntar uma delas: “Em que momento o senhor deixou de ser X para virar Y, governador?”. Rosália me contou que ele deu uma risada tão alta ao escutar que encurvou o corpo para trás. Eu tam-
bém ri muito. Tive que explicar depois o que queria dizer. Precisava saber em que momento a vida dele tinha dado uma guinada que tinha virado a página para sempre. Era “aquele momento”, afinal. O que me encantava em Eduardo era sua forma de comunicação, de passar cerca de uma hora conversando com jornalistas para formar opinião e se defender, incansável. Quando discursava para um público mais simples, falava como um pastor. Às vezes, eu ficava até com os olhos marejados, precisa disfarçar, mas ele via, por ser extremamente observador. Era o tipo de pessoa que fa-
lava com detalhes de todos os assuntos, porque se dedicava a estudar, estudava muito. Isso era admirável e inspirador. “A vida é como esta fábrica, cada peça precisa se encaixar para funcionar”, disse na inauguração de uma unidade fabril. Quando eu apontava contradições do seu discurso e ele se chateava, chegava tão perto, com os olhos de raio laser, que eu precisava recuar alguns passos. E eu arregalava os olhos, também. Dava medo, porque ele tinha poder e argumentos na ponta da língua. Minha relação com ele, portanto, sempre foi no limite do encantamento e do medo.
Aline é editora assistente de Política do Diario Mas o que prevalecia era o respeito de ambas as partes. Ele já elogiou matérias minhas e eu retribuía do mesmo jeito ao ver algo no estado funcionando em benefício das pessoas. Fazia parte da nossa “fábrica”. NANDO CHIAPPETTA/DP/D.A PRESS
GLAUCE GOUVEIA
E o telefone ficou mudo Eu não sei exatamente em que momento Eduardo Campos deixou de ser deputado federal pelo PSB para se tornar uma das melhores fontes que tive nos meus 26 anos de jornalismo. Digo uma das melhores porque, enquanto deputado federal, ministro da Ciência e Tecnologia, candidato a governador, governador e recentemente candidato a presidente, sempre atendeu seu celular em muitas das vezes que liguei (assim como acontecia com outros colegas de profissão) e falava tudo o que achava e que sabia poder falar. Ora em on,
ora em off, ora em out (quando ele dizia coisas que não nos permitia publicar). Nesses casos, muitas vezes era necessário negociar para que a notícia fosse publicada. Como profissional, o que mais me encantava naquele político-fonte era o fato de saber que ele estava ali, do outro lado da linha, para me atender. Estava ali para tirar minhas dúvidas e muitas vezes me dar um norte quando esse faltava na hora de começar alguma reportagem que envolvia os bastidores do PSB ou da Frente Popular (grupo político ao qual per-
BRUNO PERES/CB/D.A PRESS
tencia). Era seguro saber que, numa sinuca de bico como a que vivi com a colega Rosália Rangel em 2013 em Fortaleza, ele estaria com o celular em mãos para nos “socorrer”. Na capital cearense, o governador Cid Gomes, então PSB, foi o porta-voz de todos os chefes de estado do Nordeste após reunião com a presidente Dilma Rousseff (PT). Eduardo já era pré-candidato não oficial. Cid queria apoiar Dilma. O racha existia. Mandei uma mensagem: “Cid vai mesmo falar em seu nome?”. Não deu dois minutos e o telefone tocou.
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O Brasil quer uma liderança que construa um diálogo com o Brasil, que respeite os diferentes...” 14.04.2014 Lançamento da candidatura
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BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS
Sem pressa na feira de Peixinhos
RAPHA OLIVEIRA/ESP DP/D.A PRESS
ALINE MOURA
JOSUÉ NOGUEIRA
Glauce é editora assistente de Política do Diario Depois de sua morte e do luto que é de todos nós, não paro de olhar para meu celular e pensar que ele estará para sempre “mudo de Eduardo”.
De plantão numa manhã de sábado em 2006 fui pautado para cobrir uma caminhada de Eduardo Campos na feira de Peixinhos, em Olinda. Em campanha para o governo do estado, o socialista priorizava atividades de rua. Disputava contra o governador Mendonça Filho (DEM) e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT). Eduardo estava em terceiro nas pesquisas. Mas se lhe faltavam estrutura, percentuais de intenção de voto e máquina estatal, lhe sobrava disposição para o corpo a corpo. Ele dedicou mais de três horas entre as barracas. Cuidava de ser anunciado como o neto de Arraes, cartão de visitas que lhe garantia as boas-vindas. E conversava demoradamente com quem queria lhe ouvir. Aquela ausência de pressa me espantou. Setorista da candidatura oficial, estava habituado a caminhadas de dez a 15 minutos, tempo máximo
SÍLVIA BESSA
Josué Nogueira é blogueiro do Diario que Jarbas Vasconcelos costumava destinar a eventos.Comentei com Rosália Rangel sobre a diferença entre os formatos das campanhas. “É todo dia assim”, observou. Era tudo verdade e era só o começo. Dali em diante, vimos o candidato subir num caixote, crescer nas pesquisas, chegar ao 2º turno e vencer a eleição. Curiosamente, o estilo que ele manteve ao longo de dois mandatos, sempre destinando tempo ao contato com eleitor, era o oposto do frenesi que pautou a gestão, a busca por mais poder, a sede de vitórias. Apenas mais uma das contradições de Eduardo Campos. BRUNA MONTEIRO DP/D.A PRESS
Estrategista até com os repórteres Ir para uma entrevista com Eduardo Campos exigia preparo, se o sujeito-repórter estivesse disposto a trazer para a redação uma notícia que merecesse chamada no alto da página do jornal. Eduardo tinha uma inteligência e uma perspicácia fora da média e, se o jornalista não tivesse cuidado, dentro de dois tempos ele mudava a rota da entrevista, fazia perguntas e conduzia as falas para onde bem queria. Sempre sabia o que queria. Repetia uma, duas, três vezes aquilo que deseja que anotássemos no caderno com destaque. Chegava a ser sedutor como fonte porque gostava de conversar e tinha frases fortes, dessas que a gente procura em entrevistas, e invariavelmente parecia seguro do que dizia - ainda que não estivesse seguro. Podia ser intimidador com o olhar de reprovação a um questionamento
Sílvia Bessa é repórter especial do Diario mais contundente ou infundado. Nos esnobava quando exibia flashes f lashes de sua memória. Fui repórter da editoria de Política durante anos e lembro de quando viajava na década de 1990 pelas estradas do Sertão acompanhando Arraes, o avô. Eduardo já era o Eduardo que víamos em 2014: gentil, didático e excelente fonte. Fazia questão de tratar cada um de nós com certa individualidade. Em ocasiões, deixava escapar que havia lido o tinha sido escrito. Era excepcional como estrategista. Usava dessa sua característica para construir as suas relações com jornalistas.
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Não vamos desistir do Brasil” 12.08.2014 Última entrevista