Eduardo Campos - 18/08/2014

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SEGUNDA-FEIRA

Recife, 18 de agosto de 2014 N º 230

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A dor da família de Eduardo Campos representa a de todos os pernambucanos. O adeus ao ex-governador uniu a população. Autoridades, anônimos, opositores políticos, correligionários. Ninguém deixou de se comover. Hoje, a vida segue. Diferente, é verdade, mas com as marcas do dia 13 de agosto. ESPECIAL B1 a B10

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DIARIO d e P E R N A M B U C O

especial ■ ■ ■

Recife, SEG - 18/08/2014

18h37 HEITOR CUNHA/DP/D.A PRESS

1965 - 2014

RAPHA OLIVEIRA/ESP DP/D.A PRESS

Imagem de Eduardo circulou pelas ruas da capital pernambucana

“queremos justiça”. Foram 18 minutos de fogos antes de a terra começar noite já havia caído. A hora marcava a ser jogada no caixão. A viú18h37 quando o cai- va, Renata, abraçava os fixão do ex-governador e pre- lhos, quatro deles, uma vez sidenciável Eduardo Cam- que o mais novinho, de sete pos (PSB) desceu à terra, meses (Miguel), não estava destino final de todos. Cedo presente. Ficaram abraçados demais para Eduardo, esse o tempo inteiro, enquanto o horário do fim, mas aconte- público entoava hinos reliceu, ainda sob os olhares giosos e, por duas vezes seperplexos dos que acompa- guidas, a música Madeira que nhavam sua trajetória. Foi cupim não rói, marca de enterrado ao lado do avô, campanha do ex-governador. Os familiares estavam de Miguel Arraes, num túmulo camisas brancas, com a face simples. Só grama verde e uma lápide de mármore com do ex-governador e a frase o nome dele, a data de nas- que marcou sua última encimento e de partida. Ao re- trevista, Não vamos desistir dor, algumas flores e dois do Brasil. Renata e os filhos tichapéus de palha que eram nham semblantes abatidos, símbolo de Arraes e virou seu mas serenos, sem lágrimas. Choraram demais desde a últambém. tima quarta-feira, quando A cerimônia foi acompasouberam nhada de perque Eduarto pela família SOCIALISTA FOI do havia do ex-gover- ENTERRADO ÀS morrido de nador e seus 18H37 DE ONTEM NO um acidenprincipais te aéreo em aliados, mas CEMITÉRIO DE Santos, rodeada de SANTO AMARO após o jatirostos desconhecidos, gente de todos os nho em que voava arremeter lugares que veio dar o seu e cair. Somente José, de 9 adeus, muitos carregando anos, não conseguiu conter fotos que tiraram com as lágrimas. Justamente ele, Eduardo. Gente que contava que deitou o rostinho no caihistórias da convivência com xão durante o velório e no eno socialista, conhecido por terro para se despedir do pai. A mãe de Eduardo, Ana Archamar as pessoas pelo nome, tanto caciques como as raes, estava tão abalada, que ficou mais distante. Sentoumais simples. O público presente entoa- se ao lado de dona Madaleva gritos de guerra a todo na Arraes que estava em choinstante, entre eles um se- que. Ana chegou ao lado de melhante ao que foi cantado Marina Silva ao cemitério, fino enterro de Arraes, sendo cou quase muda. Permanecom o nome de Eduardo. ceu sozinha e de cabeça bai“Eduardo, guerreiro, do po- xa por uns dez minutos. O vo brasileiro”, falavam popu- candidato do PSB ao goverlares que subiram em túmu- no do estado, Paulo Câmalos e árvores para não perder ra, também procurou ser disa cena. Também houve coro creto. Estava com os olhos coletivo de “fora, Dilma” e vermelhos de chorar. ALINE MOURA alinemoura.pe@dabr.com.br

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HEITOR CUNHA/DP/D.A PRESS

Quatro dias após o acidente que vitimou o ex-governador Eduardo Campos, seus restos mortais foram enterrados sob forte comoção popular

RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS

O ÚLTIMO DOS MINUTOS Só vi algo assim nas mortes de Getúlio e Tancredo Neves” Cristovam Buarque (PDT-DF) - senador

Só me lembro de uma comoção assim no enterro de Ayrton Senna” Márcio França (PSB-SP) - deputado federal

Filho José debruçou-se sobre o caixão, enquanto Dona Madalena consolou a viúva Renata

JULIO JACOBINA/DP/D.A PRESS

Irmão João Campos e mãe Ana Arraes chegaram ao lado de Marina Silva ao enterro


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especial

Recife, SEG - 18/08/2014

16h50

1965 - 2014 Da frente do Palácio do Campo das Princesas até o cemitério, o cortejo que levou os restos mortais de Eduardo Campos demorou duas horas

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TRÊS QUILÔMETROS DE SENTIMENTO

HEITOR CUNHA/DP/D.A PRESS

ROSÁLIA RANGEL rosaliarangel.pe@dabr.com.br

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caixão com o corpo do ex-governador Eduardo Campos (PSB) deixou o Palácio do Campo das Princesas no final da tarde. Na saída, a multidão que esperava para acompanhar o cortejo, concentrada na Praça da República, entoou junto aos familiares, amigos e aliados o grito de guerra “Eduardo, guerreiro do povo brasileiro” e cantando o hino de Pernambuco. Uma referência que até então servia para embalar homenagens ao exgovernador Miguel Arraes, avô de Campos, em eventos políticos do PSB. Um carro de bombeiros, estacionado ao lado do Teatro de Santa Isabel, transportou os restos mortais de Eduardo Campos. Ao lado do caixão foram acomodados a esposa dele, Renata Campos, os filhos João, Eduarda, Pedro e José. A ex-senadora Marina Silva, que deve ser confirmada como candidata à Presidência da República na coligação Unidos pelo Brasil, o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB) e o candidato ao governo do estado Paulo Câmara (PSB) também estavam ao lado da família. O veículo partiu para o cemitério de Santo Amaro por volta das 16h50. A quantidade de pessoas que seguiu o cortejo dificultou o deslocamento da caminhão dos Bombeiros, que percorreu quase três quilômetros. A Polícia Militar calcula que 160 mil pes-

Das janelas dos prédios, bandeiras do Brasil e de Pernambuco, tecidos pretos e bolas brancas demonstravam a sensação de perda soas se despediram de Eduardo ao longo de todo dia de ontem. “Cheguei às 9h. Não consegui chegar perto do local onde está o caixão, a fila está muita grande, mas joguei as fflor lores que trouxe no caminhão”, contou emocionada Juraci Maria da Costa, 61 anos. A cada trecho do percurso, as homenagens se multiplicavam. Das janelas dos prédios residenciais e públicos, bandeiras do Brasil e de Pernambuco, tecidos pretos e bo-

las brancas mostravam o tamanho do sentimento dos pernambucanos por Eduardo. Nos rostos, a marca da dor. As lágrimas diziam tudo. Não precisava de palavras. Muita gente clamava por justiça e pedia investigação rigosa para explicar o acidente aéreo, que na última quarta-feira matou o socialista, assessores dele e pilotos. O cortejo, de quase duas horas, também abriu espaço para manifestações políticas.

JULIANA COLARES/DP/D.A.PRESS

Em vários cruzamentos das avenidas Mário Melo e Cruz Cabugá carros de som tocam jingles das campanhas de 2006 e 2010 (quando Eduardo disputou o governo do estado) e da eleição de 2014. Adesivos de Eduardo e Marina e de Paulo Câmara foram distribuídos ao longo do caminho. As homenagens nas ruas terminaram na entrada principal do cemitério, de onde Renata e filhos seguiram a pé até o túmulo no qual Eduardo foi sepultado.

O adeus aos “garotos” Fez-se silêncio quando o caixão de Carlos Percol chegou ao cemitério de Santo Amaro, no começo da tarde de ontem. Alguns amigos vestiam camisetas com a foto do jornalista, outros camisas do Sport, time do assessor de Eduardo Campos, com o nome Percol. O caixão foi enterrado tão logo chegou ao local do jazigo, sob o “cazá, cazá” rubro-negro, gritos de “vai,

garoto” e assobios. Na lápide, uma frase que ele postou em uma rede social. “Eu sempre dizia que ele estava testemunhando algo que podia contar para um filho nosso. Aí, ele postou ‘eu só tenho a agradecer a chance de poder testemunhar tudo isso de perto’”, disse a viúva, Cecília Ramos. Os restos mortais das duas outras vítimas pernambucanas do acidente aéreo, o fotó-

grafo Alexandre Severo e o cinegrafista Marcelo Lyra, foram levados para o cemitério Morada da Paz, no fim da tarde e início da noite. Velados em salas vizinhas, ambos também fizeram com que parentes e os muitos amigos em comum compartilhassem a tristeza e a saudade. Lyra foi sepultado por volta das 17h enquanto a cremação de Severo estava marcada para as 19h.

PEDRO DE PAULA/FUTURA PRESS

Amigos de Carlos Percol homenagearam assessor de imprensa de Eduardo Campos de várias maneiras

Quem chegava ao velório era recebido por música. O fotógrafo Helder Tavares destacou o perfil agregador e generoso de Lyra. Sobre Alexandre Severo, afirmou que era uma pessoa extremamente dedicada à arte. “Ambos aproveitaram o tempo que viveram”. “Lyra era só diversão, vivia como queria. Já Severo era só amor e mágica”, disse o fotógrafo Beto Figueiroa. JULIO JACOBINA/DP/D.A PRESS

Os restos mortais do fotógrafo Alexandre Severo foram cremados na noite de ontem, no Morada da Paz

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Aliança volta para Cecília No enterro, a viúva de Percol usava duas alianças. A dela, no dedo. A dele, no pescoço, presa a uma delicada corrente de ouro. “Destruiu tudo, mas não destruiu a nossa aliança”, disse Cecília Ramos ao final da cerimônia, segurando o anel do casamento. A aliança foi encontrada no local do acidente aéreo, em Santos.

Além da de Percol, também foi localizada a de Geraldo Magela, piloto do jatinho. Cecília chegou ao cemitério segurando um porta-retrato com uma foto do marido sorrindo. E disse que é assim que Percol merece ser lembrado. Ela estava acompanhada por Alzira, mãe do assessor de Eduardo, e pelas três cunhadas. JULIO JACOBINA/DP/D.A PRESS

O cinegrafista Marcelo Lyra foi sepultado também em Paulista, em cerimônia reservada à família


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Recife, SEG - 18/08/2014

16h23

1965 - 2014

CELEBRAÇÃO EM PROSA E VERSO Em um momento de grande emoção, artistas cantaram músicas que remetiam à trajetória do socialista ROSÁLIA RANGEL rosaliarangel.pe@dabr.com.br

Homenagem de compositores pernambucanos marcou parte da cerimônia

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epois da emoção que marcou a missa celebrada no velório de Eduardo Campos, do jornalista Carlos Percol e do fotógrafo Alexandre Severo, artistas que conviveram muito de perto com o ex-governador prestaram uma homenagem ao líder socialista. Eles contaram nas letras das músicas que costumavam cantar em eventos políticos, reuniões de amigos e festas na casa de Eduardo um pouco da vida, do legado e da mensagem deixada por ele. Um momento para manter o povo estimulado e com disposição para seguir em frente, movido principalmente pela frase “Não vamos desistir do Brasil”, dita por Eduardo, na terça-feira passada, no Jornal Nacional. As músicas escolhidas ressaltavam a figura do amigo, do homem que gostava de dançar forró e de transformar as letras em bandeira de luta, a exemplo de Madeira que o cupim não rói, de Capiba, que

embalava os eventos políticos do PSB e que ontem foi cantada com emoção por todos que acompanharam o velório. A homenagem foi prestada pelos compositores e cantores Alceu Valença, Maciel Melo, Petrúcio Amorim e Edilza Aires. O público também ficou bastante emocionado quando os artistas cantaram Caboclo sonhador, de Flávio José. A canção foi acompanhada pela viúva de Eduardo, Renata Campos, e os filhos do casal (Eduarda, João e Pedro), que dançaram embalados pela canção. Atendendo um pedido dela, os artistas homenagearam o ex-governador com Tocando em Frente, de Renato Teixeira. Edilza Aires cantou Faz um milagre em mim, uma das preferidas de Eduardo, que o filho Pedro, citou no vídeo produzido por ele e os irmãos para o pai no dia 10 deste mês para comemorar o Dia dos Pais e o aniversário de 49 do ex-governador. Não esqueceu também de Ai que

saudade D’ocê, que Eduardo gostava que cantasse para Renata.

Poema

Figura presente em muitas solenidades administrativas e políticas do PSB, o poeta Antonio Marinho foi responsável por um dos momentos de maior emoção. Leu um poema e citou o nome do filho mais novo de Eduardo, Miguel, a quem chamou “Miguezinho”, afirmando que o garoto chegou “para iluminar a todos”. No poema disse em um dos trechos: “Todo povo brasileiro, o seu legado assumiu vamos estar firmes na luta, seguindo que nos uniu”. O artista, muito emocionado, também cantou a música Amigo, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, acompanhado pela multidão. Logo depois, o corpo do socialista seguiu para o cemitério de Santo Amaro sob aplausos e gritos de “Pernambuco imortal, imortal” e “Eduardo imortal, imortal”.

Os versos de Antonio Marinho Vamos plantar Eduardo e adubar este plantio de sonhos pelo que é justo do bem diante do hostil Nosso guerreiro tombou mas sua alma subiu no céu brilhante da histótria uma astro novo surgiu guiando todos os olhos do rebanho que pariu e hoje se sente órfão pelo farol que partiu Mas partiu para brilhar mais no firmamento de anil Será luz na caminhada Deus consola quem feriu Nós seguiremos unidos pois ele nos reuniu vamos pegar no serviço como ele sempre pediu pra levantar a bandeira que a meio mastro caiu pois Eduardo ta vivo em tudo que construiu

NANDO CHIAPPETTA/DP/D.A PRESS

Todo o povo brasileiro o seu legado assumiu Vamo ta firme na luta seguindo quem nos uniu Eduardo, todos nós seguiremos tua voz sem temer nenhum algoz sem desistir do Brasil Antonio Marinho é poeta e colaborador das campanhas da Frente Popular NANDO CHIAPPETTA/DP/D.A PRESS

NANDO CHIAPPETTA/DP/D.A PRESS

NANDO CHIAPPETTA/DP/D.A PRESS

Antonio Marinho do Nascimento nasceu em São José do Egito, em 1987. Poeta, declamador e estudante de direito. É filho dos músicos e poetas Zeto e Bia Marinho, neto do poeta Lourival Batista, bisneto do poeta Antonio Marinho

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10h27

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BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS

Sete bispos e arcebispos de Pernambuco e da Paraíba celebraram missa campal. Dom Fernando Saburido falou sobre justiça JAILSON DA PAZ jailsonpaz.pe@ddabr.com.br

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comoção moveu milhares de pessoas que assistiram ontem à missa de corpo presente do exgovernador Eduardo Campos, do fotógrafo Alexandre Severo e do jornalista Carlos Percol, vítimas de acidente aéreo na última quarta-feira, em Santos (SP). A cerimônia campal, em frente ao Palácio do Campo das Princesas, Santo Antônio, foi celebrada por sete bispos e arcebispos de Pernambuco e da Paraíba. “Está morto o homem cujas ideias estão vivas”, disse o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, que presidiu a missa. O arcebispo salientou que a morte não é o fim, mas um meio. “Esses nossos irmãos estão vivos. Mas não vivem só na lembrança. Vivem porque estão em Deus, na vida definitiva”, pregou. A celebração, iniciada às 10h27, durou quase uma hora e meia. Nesse tempo, cânticos religiosos e músicas clássicas executadas pelo Grupo Êxodo e pelo Coro de Câma-

A MORTE NÃO DÁ FIM ÀS IDEIAS

Dom Fernando Saburido comandou celebração e, em sua homilia, destacou união da família

NANDO CHIAPPETTA/DP/D.A PRESS

CERIMÔNIA LONGA TEVE PARTICIPAÇÃO ATIVA DA MULTIDÃO

REDES SOCIAIS

Crítica às selfies ao lado do caixão Antes e depois da missa, muitas das pessoas que passaram pelo velório fizeram fotos de si mesmas, as chamadas selfies, com o caixão ao fundo. A atitude motivou intenso debate nas redes sociais. Uma das fotos mostrava uma mulher sorrindo para o celular segurado com o braço estendido tendo o caixão de Campos ao fundo “Selfie em velório é no mínimo abominável. Sorrindo então, torna a pessoa imbecil”, comentou uma internauta no Twitter.

ra do Conservatório Pernambucano de Música levaram centenas de pessoas ao choro. “Fica difícil controlar as lágrimas quando a gente pensa como eles morreram”, argumentou a estudante Nane Alexandre, 19 anos. João, 20, e Pedro,17, filhos do ex-governador, somente se afastaram do caixão do pai para fazerem as duas primeiras leituras biblícas da missa. No restante do tempo, eles ficaram juntos da mãe, Renata Campos, e dos irmãos, Eduarda, José e Miguel. Bem perto estava a mãe de Eduardo Campos, Ana Arraes. NANDO CHIAPPETTA/DP/D.A PRESS

BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS

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Terços foram colocados em foto de Eduardo sobre caixão. Cartazes e orações demonstraram a reverência dos pernambucanos

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10h15

1965 - 2014

Dilma, que chegou ao lado de Lula, foi vaiada por parte do público presente. Gesto foi encerrado após familiares puxarem palmas para a presidente

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ENTRE VAIAS E ACOLHIDAS

FOTOS: LARISSA RODRIGUES/DP/D.A PRESS

ANA LUIZA MACHADO anamachado.pe@dabr.com.br

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momento era de comoção. O cenário era de dor dos familiares e da multidão de pernambucanos presente em frente ao Palácio do Campo das Princesas para participar da missa em memória ao ex-governador Eduardo Campos e assessores. No entanto, quando a presidente Dilma Rousseff chegou acompanhada do ex-presidente Lula, as vaias surgiram. A rivalidade eleitoral foi interrompida por palmas puxadas pela família de Eduardo, em uma demonstração da desaprovação ao gesto e de que não era hora para isso. Blindado das críticas de campanha por Eduardo, Lula chorou, durante toda a missa, a morte do amigo. Abraçou e beijou com carinho Ana Arraes, mãe de Eduardo, Renata Campos e cada um dos filhos. Disse palavras de conforto a Rodrigo Molina, sobrinho de Renata, que não seguiu no jatinho para Santos por um pedido do próprio Eduardo. Dilma, mais contida, fez o mesmo. Na hora da comunhão, Lula recebeu a hóstia, mas Dilma não. A quantidade de políticos ao redor era grande para os sete bispos e arcebispos. Ao fim da missa, os dois líderes petistas foram embora sem alarde.

NANDO CHIAPPETTA/DP/D.A PRESS

BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS

Maurício Rands (ao lado) consola a filha de Eduardo, enquanto tucanos José Serra e Aécio Neves acompanhavam o velório

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Concentração de políticos e emoções O ex-presidenciável do PSB, ro, Lindemberg Farias (PT) conhecido pelo seu poder de sussuravam a incredulidade articulação, teve em seu fune- sobre a tragédia. ral lideranças de todo o país. Já o candidato ao Senado Muitos adversários, ontem, Beto Albuquerque (PSB-RS), dividiam o mesmo lado do com o olhar fixo, parecia tencaixão de Eduardo. O presi- tar dimensionar o abalo do denciável Aécio Neves (PSDB) partido. assistiu à missa a alguns pasO prefeito do Recife Geralsos de Dilma e Lula. O tuca- do Julio, que desde quartano cumprimentou a presi- feira (13) teve a missão de ser dente com porta-voz da um beijo e, PRESIDENTE família, desaconsolou afe- DILMA ENGOLIA O bou aos prantuosamente tos de mãos João e Pedro CHORO AO OLHAR dadas com a Campos, fi- FAMÍLIA DO EXesposa, Crislhos de Eduar- GOVERNADOR tina, durante do. Os polítium louvor. O cos, de uma forma geral, não escolhido por Eduardo para escondiam suas emoções. sucedê-lo, Paulo Câmara Dilma, ao olhar a família (PSB), mal conseguia se mando ex-aliado, engolia o cho- ter de pé tamanho o abalo ro. O governador de São Pau- emocional. Por muitas vezes, lo, Geraldo Alckmin, apesar respirava profundamente, de triste, parecia aliviado em tentando manter o equilíter conseguido ajudar na li- brio. O deputado federal Inoberação dos restos mortais. cêncio Oliveira (PR) teve uma Os senadores Randolfe Rodri- crise nervosa dentro do palágues (PSol) e José Agripino cio, chorando de urrar quanMaia (DEM-RN) e o candida- do a imagem do caixão do to ao governo do Rio de Janei- aliado passava na televisão.


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Recife, SEG - 18/08/2014

6h às 18h

SILVIA BESSA silviabessa.pe@dabr.com.br

Juan A pedido dele, que tem 3 anos, a dona de casa Rosimary de Sousa, 39, saiu do Cabo de Santo Agostinho para o velório. “Juan disse que queria ver o governador, pois o avião tinha caído do céu” RAPHA OLIVEIRA/ESP DP/D.A PRESS

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Severino da Silva O vendedor, de 44 anos, viajou de Ribeirão a Recife com o filho Luiz Felipe para acompanhar o funeral. “Ele era como um pai para nós todos. Vim para cá com muito orgulho”, disse.

Manoel Francisco

MARINA SIMOES/DP/D.A. PRESS

Quando o caixão chegou ao Palácio das Princesas, seu Manoel, 71 anos, já estava à espera dos restos mortais de Eduardo. “Ele era tudo na vida. Estou muito triste”. Às 4 da manhã, sentiu-se mal. Dormiu pouco e voltou. JULIA SCHIAFFARINO/DP/D.A PRESS

Maria do Desterro

RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS

“Nunca tive o prazer de conhecê-lo. Mas meu coração pediu para prestar essa homenagem. O futuro de nossa nação foi embora. Só desejo muita força e fé para Renata e os filhos”.

Ednilson Lucena (e) e Júlio Antão Ambos de 50 anos e cadeirantes, enfrentaram uma jornada para se despedir de Eduardo. Às 7h, foram do Espinheiro ao Palácio com velas nas mãos, com ajuda de dois amigos. Depois, ao enterro

Germana Caldas

RAPHA OLIVEIRA/ESP DP/D.A PRESS

EDVALDO RODRIGUES/DP/D.A PRESS

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almas, fogos, marchinha de carnaval e discursos antigos de um líder político morto misturavam-se. Pessoas nas sacadas de residências e dos estabelecimentos comerciais acenando ao vento, saudosamente. Abraços fraternos de grupos que se confortavam enquanto terceiros - em respeito - mudavam a vista. Helicópteros sobrevoavam as principais ruas da Boa Vista e de Santo Amaro, no Recife. Tinha a sirene do carro do Corpo de Bombeiros. E o pranto de alguns na Praça da República, Ponte Princesa Isabel, Rua da Aurora, defronte e dentro do Cemitério de Santo Amaro. De longe, lembrou dia de eleição, pelas bandeiras e carros de som. Um acontecimento familiar, dada a presença das crianças; ou um domingo de festa, pela multidão e repetição do frevo Madeira que cupim não rói. De perto, seu Luciano Souza, de 74 anos definiu: “Foi um Galo da Madrugada da tristeza”. Via-se uma massa melancólica. Comovida desde o velório, que seguiu a pé no cortejo fúnebre e cercou a cerimônia de enterro. A dona de casa Tânia Matias, de 52 anos, levou três netas, Alice (8 anos), Liana (9) e Letícia (11): “É um momento histórico”. Seu José Heleno, de 81 anos, camisa e calça brancas, estava sozinho e com traje especial. “É uma homenagem”, afirmou o eleitor de Eduardo desde sempre. Um homem gritava solitário na Aurora “Viva Eduardo”. Desconhecidos respondiam: “Viva”. Uma sirene se espalhou. O carro de bombeiros deixou o Palácio com o caixão. No chão, segurando a lataria do veículo, o empresário Daniel Arlindo levava de forma solene uma rosa vermelha e enxugava as lágrimas. “Prometi que levaria uma rosa pra ele na posse como presidente”, desabafou. O refrão de Madeira que cupim não rói estava espalhado. O cortejo cruzou a Cruz Cabugá; o sol se pôs. Na entrada do cemitério, Vitória Evangelista, 14, falava para uma amiga: “Lógico que vai entrar pela frente. Ele diria que queria entrar pela frente”. Às 18h25, o caixão chegou ao local do enterro. O povo cantou a Oração da Família e o Hino Nacional. Era a hora indesejada por seu Manoel Francisco dos Santos, 71. Seu Manoel, conhecido como “Manoel do bumba-meu-boi”, recolheu a fflaut lauta surrada que tocou a Ave Maria ao longo desse domingo. O dia todo confidenciou: “Meu coração está doendo muito”.

RAPHA OLIVEIRA/ESP DP/D.A PRESS

UM CARNAVAL DE TRISTEZA

JULIO JACOBINA/DP/D.A PRESS

1965 - 2014 Muita gente, distribuição de material de campanha, cortejo, frevo-canção.... Mas, ao contrário do que parecia, não era festa

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Após passar 40 minutos na fila para se despedir do governador Eduardo Campos, Germana encontrou ânimo para entrar na fila de novo. Acompanhou Maria Luiza Teixeira, 86 anos, que estava sozinha e não enxergava direito

Tânia Matias

Gabriel Travassos

Pegou três netas pela mão e as levou para acompanhar as últimas homenagens a Eduardo. “Elas precisavam acompanhar esse momento histórico”, justificou, vestida de preto e muito emotiva

Aos 5 anos, o estudante foi o último dos cinco filhos de Leciene Travassos, que teve ligação de trompas intermediada por Eduardo. Levou o menino ao velório para agradecer

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Recife, SEG - 18/08/2014

diario político

1965 - 2014

por marisa gibson

LARISSA RODRIGUES/DP/D.A. PRESS

marisagibson.pe@dabr.com.br diariodepernambuco.com.br

3h06

O dia seguinte Hoje, recolhe-se a dor. Um dia após o sepultamento de Eduardo Campos, embora ainda ecoem brados enaltecendo as qualidades do ex-governador, todos os candidatos a presidente da República se debruçam sobre as estratégias que passarão a adotar nessa fase da campanha. Não há tempo a perder. Sobretudo no PSB, onde o protagonismo já foi assumido pela viúva Renata Campos, que hoje, ao lado da ex-ministra Marina Silva, se reúne com cúpula socialista. À noite, na aguardada entrevista ao Jornal Nacional, a presidente Dilma Rousseff (PT) adotará um outro tom. A nova adversária do PT carrega agora a comoção da morte do líder socialista junto com a bandeira defraudada por ele Não vamos desistir do Brasil, já considerada o melhor slogan desta campanha. Isso obriga Dilma a rever seu discurso, assim como o tucano Aécio Neves (PSDB) que, com o desaparecimento de Eduardo, perdeu o possível parceiro para o segundo turno. Chegando para a disputa na onda da última convocação de Eduardo, Marina estará bem mais confortável do que quando tinha que endossar a pregação da nova política, com acordos que ela não concordava. Bem, se o Pernambuco fosse a medida para o resto do Brasil, poderia se dizer que Marina já estaria eleita tamanha sua aceitação e desenvoltura entre os eleitores no estado. Só que a medida é outra: se Dilma e Aécio correm agora maiores riscos com a entrada de Marina, cuja candidatura deve ser anunciada na quarta-feira, a socialista também pode ser abatida em pleno voo, pelo confronto entre seus antigos e novos posicionamentos. Para chegar ao segundo turno, ainda que tenha a seu favor um eleitorado que a vê como garantia de mudanças saudáveis, Marina terá que fazer muitas concessões bem mais pragmáticas do que programáticas. E para ganhar a eleição, aí sim, terá que aceitar como acordos do bem, o que até pouco tempo era inaceitável para ela. Num eventual segundo turno com Dilma, a socialista terá que procurar os tucanos em todo o país; caso enfrente Aécio na disputa final, precisará do PT e de Dilma, que ela menospreza tanto. Em meio a tantas incertezas, ainda há a escolha do vice da nova chapa socialista que, claro, passará pelo crivo de Renata Campos. Aliás, a temperança, a sensibilidade política e o aguçado senso do eleitoral, fazem da ex-primeira dama peça fundamental para a campanha de Paulo Câmara, ao governo do estado. Aliás já está escrito: sem ela, a Frente Popular pode naufragar.

Logo cedo, maracatus davam as boas-vindas aos pernambucanos

CONEXÃO SÃO PAULO/RECIFE

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Antônio Campos, irmão do ex-governador Eduardo Campos, que sempre esteve atrás do palco, assumiu o papel de porta-voz político da família, com pontuações significativas. O advogado, que já teve seu nome cogitado para concorrer a mandato de deputado federal, passará a ser visto com outros olhos.

IVAN MELO/ ESP. DP/ D.A.PRESS

Abrindo a cortina

Comparação João Lyra Neto, governador de Pernambuco, é o socialista que ocupa o cargo mais importante do estado, porém um pedaço do PSB não vai dar vez a ele não. Para esse bloco de socialistas, Lyra tem apenas um mandato tampão. O palco, como vinha sendo delineado, antes da morte do Eduardo, seria do prefeito do Recife Geraldo Julio, “cujo mandato foi outorgado pelo povo”.

Da mesma forma que a exministra Marina Silva foi reentronada na cena nacional como forte protagonista desta sucessão presidencial, o ex-governador e senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), ganhou também uma nova dimensão, como o desaparecimento de Eduardo Campos, dentro da Frente Popular.

JULIO JACOBINA/DP/D.A PRESS

Ressurgindo

despedida a Eduardo Campos começou no fim da tarde do sábado, em São Paulo, quando uma comitiva formada por políticos e parte da equipe de campanha foi à unidade central do Instituto de Medicina Legal (IML) da cidade buscar os restos mortais do socialista. Seguiram em comboio até a base aérea de Guarulhos, onde três aeronaves de carga Hércules estavam à espera dos caixões. Ali, enquanto os restos mortais de Eduardo eram colocados em um dos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), tinha início o adeus ao ex-governador. “Será o nosso momento de despedida”, disse um integrante do staff da campanha, pouco antes de embarcar para uma viagem de quatro horas e meia até o Recife ao redor de cinco caixões - os dos quatro pernambucanos e o do assessor político Pedro Valadares, que seguiu para Sergipe. Dentro da aeronave, momentos de silêncio e de riso. Despedidas não são feitas só de lágrimas e não faltaram histórias engraçadas envol-

As pessoas tomara as ruas para acompanhar o cortejo ROBERTO RAMOS/DP/D.A PRESS

ED WANDERLEY, JULIANA COLARES E LARISSA RODRIGUES politica.pe@dabr.com.br

vendo Eduardo. Uns contaram causos, outros imitaram seu jeito. Todos tinham alguma recordação para compartilhar. A mãe do fotógrafo Alexandre Severo, Rita Regina da Silva, que estava na comitiva, seguiu para o Recife em um jatinho da FAB. O mesmo que transportou o prefeito do Recife, Geraldo Julio, que, bastante abatido, chorou muito antes do embarque. Ao pousar no Recife, a comitiva e os caixões foram recepcionados por mais de duzentas pessoas, incluindo a família de Campos e Marina Silva, sua vice. Os restos mortais do cinegrafista e fotógrafo Marcelo Lyra seguiram direto para o Cemitério Morada da Paz, em Paulista. Os caixões do ex-governador, do assessor Carlos Percol e do fotógrafo Alexandre Severo foram para o Campo das Princesas.

Carreata

O ritual virou carreata. Não faltaram faixas, bandeiras e banquinhos colocados nas esquinas das casas para esperar passar o comboio. Expostos ao público, receberam, por volta das 3h, os primeiros cumprimentos. Agremiações chegaram às 6h e, por causa da chuva, começaram a tocar às 8h30. As imagens de ontem correram o Brasil e o mundo. E ficarão na lembrança de muitos para sempre. “O cortejo foi muito bonito. Depois dos batedores, havia muitas motos. Os faróis acesos faziam parecer que o viaduto estava cheio de velas”, disse uma pernambucana que assistiu tudo de casa, emocionada.

Familiares foram em cima do caminhão dos Bombeiros ROBERTO RAMOS/DP/D.A PRESS

“Cortejo” com restos mortais de Eduardo saiu da capital paulista, na tarde de sábado, e parou somente no Palácio do Campo das Princesas na manhã de domingo

Filhos e amigos carregaram o caixão com Eduardo

O plano de saúde é o benefício mais valorizado dentro das empresas

Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Consultórios, C. de Saúde e Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas do Estado de Pernambuco

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O plano de saúde é o benefício mais valorizado dentro das empresas. É o que diz pesquisa da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Riio de Janeiro (ABRH R (ABRH-RJ). RH-RJ). H Na pesquisa, profi ffiissionais foram convocados a assinalar os benefícios mais importantes, no topo da lista lii estão os planos de saúde (83%), vale-refeição (74,3%) e bolsas de estudo (66,4%). Previdência privada ffiicou em quinto (45%).


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especial

Recife, SEG - 18/08/2014

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FOTOS: NANDO CHIAPPETTA/DP/D.A PRESS

1965 - 2014

O NOVO PAPEL DE RENATA Viúva de Eduardo toma a frente do processo eleitoral e comanda hoje a primeira reunião do partido após o sepultamento

ANA LUIZA MACHADO e JÚLIA SCHIAFFARINO politica.pe@dabr.com.br

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onhecida pela forte atuação de bastidores ao lado de Eduardo Campos, a viúva Renata, que faz aniversário hoje, assume agora novo papel. Na reordenação de forças do PSB, ela chama para si a responsabilidade e toma a frente do processo eleitoral. Um dia após o enterro do marido, comanda a primeira reunião onde o partido falará abertamente sobre política. O objetivo é dar uma injeção de ânimo na campanha estadual, onde o candidato Paulo Câmara (PSB) se encontra atrás do adversário Armando Monteiro (PTB). “Estamos sem o nosso líder. Agora

o pelotão precisa avançar porque aumentou a nossa responsabilidade”, disse o socialista Tadeu Alencar. Entretanto, do encontro também deverá sair definições para a chapa nacional, que já confirmou extraoficialmente o nome de Marina Silva, mas segue com a vaga de vice em aberto. Socialistas pernambucanos tentam emplacar um nome local, para manter a força da legenda concentrada no estado. Renata Campos deverá assumir uma posição na coordenação da campanha. No plano nacional, mesmo não estando na coordenção central, a viúva poderá ser uma peça fundamental para adequar a imagem da ex-verde ao eleitorado socialista.

Medalhas Uma lembrança para cada filho Renata Campos viveu um momento de alegria pouco antes do início da missa, quando o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), lhe entregou, em um saquinho plástico, cinco das medalhas que Eduardo Campos usava numa corrente. Elas foram encontradas depois de uma procura minuciosa na área do acidente. “É uma mensagem de Deus”, disse Alckmin. Do “cacho” de medalhas, cinco foram encontradas. Ela vai dar uma a cada um dos filhos.

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Aliados querem fortalecer a unidade da Frente Popular para a campanha estadual

HERDEIRO

Aposta para o futuro Quem olha para família do ex-governador Eduardo Campos, se pergunta de onde vem tanta força. João Campos, 20 anos, segundo dos cinco filhos do ex-presidenciável, tem chamado a atenção. No cortejo ao lado dos irmãos Pedro, 18, e Maria Eduarda, 21, puxava gritos de homenagem ao pai. Na celebração da missa, ontem, tomou a frente e leu a liturgia inicial, mesmo com toda a emoção do momento. Depois ficou por horas com as mãos no caixão do pai. E após a missa, por diversas vezes levou a multidão a repetir “Eduardo, guerreiro do povo brasileiro”, uma adaptação ao grito de guerra do bisavô Miguel Arraes. João estava ajudando na coordenação da campanha

RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS

do pai no estado. Horas antes do acidente foi ao comitê central e organizou todo o material de Eduardo que havia chegado para ser distribuído. Correligionários já percebem nele as características da articulação e firmeza do pai. A frase“Não vamos desistir do Brasil”, dita por Eduardo Campos no Jornal Nacional um dia antes da sua morte, virou lema para a família e ao que pare-

ce João não vai abrir mão de ser um dos primeiros a levar essa “bandeira”. Depois do acidente, o candidato a presidente pelo PSOL, Randolfe Rodrigues contou a reportagem que falou com o jovem por telefone e se impressionou com seu jeito.“Não tenho dúvidas que daqui a pouco tempo aquele menino estará no Congresso”, apostou o presidenciável. (A.L.M)


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DIARIO d e P E R N A M B U C O

especial ■ ■ ■

Recife, SEG - 18/08/2014

1965 - 2014

IMAGEM E SEMELHANÇA

Será um programa mais plástico, emocional, com imagens bonitas, seleção de frases marcantes” Roberto Amaral, presidente do PSB, sobre Eduardo no guia eleitoral

NELSON ALMEIDA/AFP

ALINE MOURA, JULIA SCHAFFARINO e JULIANA COLARES politica.pe@dabr.com.br

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erminada a missa campal, as conversas sobre eleição foram retomadas dentro do Palácio do Campo das Princesas, enquanto o velório ainda ocorria do lado de fora. Vai ser assim até quarta-feira, quando o partido anuncia a composição da nova chapa. O nome de Marina Silva está definido como cabeça de chapa à Presidência da República e as alianças nos estados estão garantidas, mas o partido segue inseguro quanto à nova candidatura. “Uma coisa é ser simpática. Agora é preciso saber se acham que essa pessoa é a mais capacitada. Para isso, ela (Marina) precisa dar demonstrações”, disse o deputado federal Márcio França (PSB-SP). “A junção de Marina com Eduardo era perfeita porque unia o lado bonito que ela tem de servir como se fosse uma fala de consciência para a gente, de não achar que vale a pena só ganhar. Ela tem que estar junto com alguém que possa pensar em ganhar.

Durante velório no Recife, Marina Silva mostrou respeito a Eduardo Campos e espera defender suas ideias Para não ficar só aquela coisa lúdica, só no ‘ah, que bacana que seria se fosse’”, enfatizou França. Marina ainda precisa se inteirar das negociações que dão base à campanha, inclusive financeiramente. O PSB também quer quebrar a imagem

meramente ecológica e religiosa e apresentá-la aos eleitores e aos empresários como uma candidata completa, que sabe dialogar com os setores e tem capacidade de gestão. Nesse sentido, a escolha do vice terá papel fundamental. Além de colocar um nome for-

te do PSB dentro da chapa, o partido quer alguém que tenha características semelhantes às de Eduardo Campos para ajudar a dar peso à imagem de Marina. O nome mais cotado é o do deputado federal Beto Albuquerque (RS), filiado ao partido desde 1986 (antes

A suposição que se depreende desse quadro, então, é que Marina entra disputando os votos da oposição e dos indecisos. O fator emocional pode trazer para dentro da campanha parcelas do eleitorado que ainda não demonstravam interesse pela eleição. O cenário recém-criado traz uma característica histórica. A emoção era um item que sempre acompanhava o PT nas eleições. Por vários motivos: pelas bandeiras que defendia, pela

trajetória de muitos dos seus líderes, pela postura em relação aos pobres e trabalhadores. A emoção, agora, dá sinais de que estará em outro palanque. Nos próximos dias e semanas, já sob o efeito do horário eleitoral e da candidatura de Marina, a situação deve ganhar mais nitidez. Neste momento, o que dá para divisar é que a terra está em transe. Esse estado de coisas é a primeira ameaça séria à reeleição de Dilma Rousseff.

mesmo de Eduardo Campos, que virou pessebista em 1990) e amigo há 24 anos do ex-governador de Pernambuco morto no acidente aéreo. O deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) também é cotado e ainda há chances de o vice sair de Pernambuco.

BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS

Escolha de possível vice de Marina Silva para a disputa presidencial precisa ser de nome forte do PSB com perfil igual ao do ex-governador

Terra em transe VANDECK SANTIAGO vandecksantiago.pe@dabr.com.br

O velório de Eduardo Campos mostrou uma tendência emocionalmente explosiva ganhando corpo nas ruas. Gritos de “Justiça! Justiça! Justiça!” foram entoados na madrugada e repetidos durante o dia. É o tipo de manifestação na qual cabem tanto a teoria da conspiração de que o jatinho foi sabotado quanto a convocatória para dar apoio àqueles a quem Eduardo eleitoralmente apoiava. Se o grito for replicado Brasil afora, pode tornarse um daqueles slogans que não precisam de explicação para ser entendido por todos. Depois, na cerimônia em frente ao Palácio do Governo, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula foram vaiados por uma parte da multidão - a vaia só não tomou maiores proporções porque a viúva Renata Campos e outros integrantes do PSB estadual intervieram e pediram, com gestos, para parar.

Em vários momentos durante o velório e sepultamento, houve apupos contra o PT. Mesmo se não levarmos esses fatos em consideração, todos vemos que no momento a eleição está entrando em uma vertiginosa espiral de emoções. O quanto vai perdurar, ninguém sabe. De todo modo, parece estar claro que a campanha que está começando agora é completamente diversa da que vínhamos tendo até então. Agora teremos algo que nem remotamente dava as caras na campanha de antes: o fator emocional. Quem acompanha política sabe que este é o terreno mais movediço que existe numa eleição. Quem entra na campanha de braços dados com o fator emocional é Marina Silva, que retorna a um protagonismo do qual se apartara ao não conseguir viabilizar o seu partido, Rede Sustentabilidade. Além de possuidora de um peso eleitoral maior do que o de Eduardo, Marina - com o seu tom

messiânico e sua trajetória de vida - tem o perfil fil ideal para ser ungida numa substituição provocada por uma tragédia. Sua entrada na disputa modifica de imediato o cenário. Ela teve cerca de 20% dos votos na eleição de 2010. Nas pesquisas feitas em 2013 manteve sempre um percentual competitivo - numa delas, em agosto daquele ano, do Datafolha, obteve 26%. A dúvida é: e onde ela vai arrebanhar seus votos? No quadro de hoje, não é plausível esperar que seja no terreno da candidata Dilma Rousseff. As intenções de votos obtidas pela presidente têm-se mantido na faixa dos 35% e 40%, indicando um perfil do eleitorado que não deseja mudar o governo. É importante também não subestimar o PT, que vem de três vitórias presidenciais consecutivas e tem um cartel de realizações - sobretudo na área social - capaz de fazer frente a qualquer comparação com os adversários.

assista EXPEDIENTE Diretora de Redação: Vera Ogando Editores executivos: Humberto Santos, Paulo Goethe e Paula Losada Edição: Glauce Gouveia, Kauê Diniz e Taciana Góes Edição de fotografia: Heitor Cunha e Inês Campelo Edição de arte: Christiano Mascaro Diagramação: Jaíne Cintra, Kaio Leon, Erandi Moreira, Antônio Carlos e Moacyr Campelo Edição de multimídia: Jaíne Cintra Edição de imagens: Aline Ramos, Eduardo Travassos, Gabriela Travaglia e Rafael Marinho

Um dos filhos de Eduardo Campos debruça-se sobre o caixão dele, com Lula ao lado

Vídeo do adeus a Eduardo Campos Fotografe o QR Code ao lado com o software leitor de código de barras do seu celular

acesse >> diariode.pe/eduardocampos

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