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O TEMPO NÃO
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Hoje faz um ano que a queda de um avião em Santos (SP) causou a morte de Eduardo Campos (PSB), integrantes da equipe de sua campanha à Presidência da República e dois pilotos. Apesar da perplexidade e dor que causou, o acidente não desfez o que todos eles construíram em vida. Neste caderno, depoimentos provam isso, e reforçam o que o Diario publicou em homenagem aos 50 anos do líder socialista, na segunda-feira.
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PAULO PAIVA/DP/D.A PRESS
O difícil xadrez da vida
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O ex-governador Eduardo Campos (PSB)) estava no auge de sua carreira política, feliz, quando sofreu um acidente de avião, naquele le fatídico 13 de agosto de 2014, que tirou sua vida e interrompeu o sonho de se tornarr presidente da República ALINE MOURA | alinemoura.pe@dabr.com.br
acesse:
diariode.pe/ eduardo50anos Veja entrevistas, reportagens, imagens e a linha do tempo da vida de Eduardo Campos
E X P E D I E N T E diretora de redação: Vera Ogando editores executivos: Paula Losada e Paulo Goethe edição: Glauce Gouveia e Kauê Diniz edição de fotografia: Teresa Maia e Annaclarice Almeida fotos: Rafael Martins, Arquivo DP e Arquivo Pessoal edição de arte e multimídia: Jaíne Cintra projeto gráfico: Jaíne Cintra e Zianne Torres arte: Greg e Silvino VÍDEO: imagens: Teresa Maia edição de imagens: Rafael Marinho finalização: Jaíne Cintra WEB desenvolvimento: Bosco e Keziah Costa REPORTAGEM Aline Moura, Rosália Rangel, Thiago Neuenschwander
vida joga joga xadr xadrez. ez. O ex-go exgovver ernador nador EduarEduardo Campos (PSB) sabia. Era Era acostumado acostumado a se anantecipar à jogada jogada dos adversá adversá-rios, a fazer fazer combinações de rei, bispos e cavalos para che he-gar ao xeque-mate, mas não conseguiu pre prever er,, em espeespecial, o final final dessa partida. partida. Em 133 de agosto agos de 2014, nove anos depois da morte do seu avô, Miguel Arraes, Eduardo saiu do jogo à revelia. Até aquele dia, entretanto, mexeu peças com uma leveza e uma disciplina incomuns. Deu passos ousados na disputa, causou surpresas, ódios e paixões. “Não vamos desistir do Brasil”, disse ao final de sua última entrevista, ao Jornal Nacional, às vésperas de ter o jogo interrompido. Eduardo Campos saiu de cena no auge. E com a ciência do que acontecia na jogada mais importante da sua vida, a eleição presidencial. Quando se resgata a última entrevista do ex-governador, no dia 12 de agosto do ano passado, tem-se a impressão de que ele fala no presente, ao enumerar as dificuldades da presidente Dilma Rousseff, dizendo que ela “guardava na gaveta o aumento da energia e do combustível”. “Se a gente quer chegar a um lugar novo, não pode ir pelos mesmos caminhos”, explicou Eduardo ao telespectador, reforçando um discurso que construiu até estar “pronto para aquele momento”, como contou o vicegovernador de São Paulo, Márcio França (PSB). Amigo de Eduardo há mais de 20 anos, França relata bem como o ex-governador entendia a importância de ser político e, ao mesmo tempo, estudar e se preparar. De encontrar uma fórmula para falar economês e falar a língua do povo, sabendo que não se consegue nada sem juntar o capital e o trabalho. “Eu dizia para ele: ‘Você só não vai ser presiden-
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Assim como o temperamento forte, a alegria era uma marca registrada de Eduardo te se morrer’”, disse França, frisando não ter a mínima ideia do que aconteceria. Segundo o vice-governador, que dividiu o apartamento com Eduardo por um tempo em São Paulo, um retrato nítido do amigo foi batido, enquanto ele estudava para a entrevista da Globo e o filho, José, jogava bola no apartamento. “Estava ele e o Zé, o filho… Me lembro do Zé chutando uma bola na parede o tempo todo. Eu falei: ‘Não sei como você consegue estudar com esse menino chutando a bola’. Mas ele queria chutar a bola com o Zé. Enfim, estava tentando ali fazer as duas coisas ao mesmo tempo”. Eduardo, afinal, estava feliz. “Quando ele fez o programa (da Globo) era oito da noite. Ele me respondeu uma mensagem e depois falou: ‘Eu arrebentei’”, contou Márcio, referindo-se ao tamanho do orgulho que o socialista es-
tava sentindo dessa fase da vida. Uma fase construída em vários capítulos, sendo três bem definidos. A conquista da reeleição para o governo do estado, em 2010, a eleição do prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB) - o que deu início ao processo de rompimento com Lula -, e a entrega dos cargos ao governo Dilma. Nada aconteceu de forma simples, como um passo de mágica, conforme contam os que conviviam com o socialista. Ele tinha estudado e andado pelo Brasil, sabia identificar lideranças políticas, como o avô, tinha opiniões formadas, porém fazia questão de ouvir os aliados antes de tomar decisões, sendo cuidadoso com as equipes com as quais trabalhava. Ainda assim, entre julho e agosto de 2013, mesmo sendo convocado pelo partido para concorrer à presidência, “Eduardo estava nervoso”. Só sentiu
confiança e “um calor no final da coluna”, de acordo com França, com a decisão de filiação de Marina Silva ao PSB. “Ela seria sua vice”. Segundo o motorista José Carlos Trindade, que trabalhava com o ex-governador desde 2008 e o levou para o aeroporto Santos Dummont, no Rio de Janeiro, no dia 13, Eduardo estava tão feliz que já brincava ao falar do seu objetivo, ou seja, subir a rampa do Planalto. “Naquele dia, ele sentou do meu lado, e eu sabia que toda vez que ele sentava ele estava descontraído, e queria bater papo… Eu falei: ‘Tenho que dirigir na sua posse’, e ele respondeu, sorrindo: ‘Rapaz, não tem coisa mais fácil para me pedir não?’, contou Zé Carlos, lembrando da imprevisibilidade da vida, a única que pode mudar totalmente os rumos de um jogo que avança. Seja em direção à derrota ou à vitória.
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A dúvida, a angústia, a fa fatali talida dad de...
TERESA MAIA/DP/D.A PRESS
Festa estava montada para receber Eduardo Campos em Santos, mas o acidente interrompeu a programação prevista para aquele dia ROSÁLIA RANGEL rosaliarangel.pe@dabr.com.br
N A loja onde seria o ponto de encontro com os militantes era a Rainha do Norte TERESA MAIA/DP/D.A PRESS
Marcos Barbato disse que havia uma grande expectativa para a chegada do candidato
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Seria uma oportunidade para a gente conhecê-lo pessoalmente” Marcos Francisco Barbato, proprietário da Rainha do Norte
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o dia 13 de agosto de 2014, a agenda da campanha do presidenciável Eduardo Campos (PSB) estava fechada. O socialista embarcaria para Santos pela manhã. Ele era aguardado para uma série de entrevistas e também participaria da 12ª edição do Santos Export, um fórum internacional para discutir a expansão do porto da cidade. No dia anterior, a abertura do seminário contou com a presença do vicepresidente da República, Michel Temer (PMDB), e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Eduardo iria desembarcar na Base Aérea do Guarujá por volta das 10h30. Para recepcioná-lo, a militância se concentrou na comunidade de Vicente Carvalho. O ponto de encontro foi na Rainha do Norte, uma mercearia especializada na venda de produtos nordestinos. “Tinha mais de cem pessoas. Nunca vi tanta gente por aqui”, comentou Marcos Francisco Barbato, proprietário da loja. Segundo ele, a preparação para o evento de boas-vindas para o presidenciável começou duas semanas antes. “Os assessores dele estiveram aqui para saber se eu permitiria que a festa fosse realizada na mercearia. Havia toda uma expec-
tativa para a chegada do candidato. Seria uma oportunidade para a gente conhecê-lo pessoalmente”, afirmou o comerciante. A vendedora da loja Carmozita Dias dos Santos, 56 anos, lembrou que os militantes estavam bastante animados, mas que uma hora depois do horário previsto para o desembarque a preocupação começou a tomar conta do ambiente. “Foram momentos de muito nervosismo. Quando começou a aparecer na televisão a notícia sobre a queda de um
MILITÂNCIA ACOMPANHOU NOTÍCIA PELA TV DE UMA LOJA EM SANTOS avião, todo mundo correu para a frente da TV”, contou ela. Entre os participantes do grupo estava o vice-governador de São Paulo e presidente estadual do PSB/SP, Márcio França, um dos principais articuladores da campanha de Eduardo em São Paulo. “Meus companheiros estavam lá no aeroporto esperando ele chegar. Perto das 10h, me ligou um secretário (do governo), que é meu amigo, e disse que o avião havia confirmado o pouso. E nós ali esperando. O tempo estava chuvoso. Alguns minutos de-
pois, liguei novamente para saber do pouso. Ele me falou que a aeronave havia arremetido e perdido o contato”, relatou o socialista. O vice-governador lembrou que se passaram de 10 a 15 minutos e começou o zumzum-zum na Rainha do Norte. “Os jornalistas que estavam conosco falavam da queda de um helicóptero em Santos. Chegaram até a dizer que havia uma pessoa conhecida no voo. Foi uma angústia da hora entre a queda e a descoberta exata do que tinha acontecido”, afirmou. Márcio França contou, ainda, que estava fazendo a travessia do Guarujá para Santos quando recebeu um telefonema do prefeito da cidade, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), que lhe perguntou sobre uma carteira de identidade encontrada no local do acidente. “Ele queria saber se eu conhecia o dono do documento. O nome era do piloto que voava com a gente. Era o piloto de Eduardo”. No Guarujá, segundo França, Eduardo também gravaria imagens para o programa eleitoral da campanha. As cenas seriam captadas tendo ao fundo a favela onde o ex-presidente Lula (PT) morou. No texto, o presidenciável iria anunciar a proposta de acabar com a taxa de marinha, que é cobrada em várias cidades do país.
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As marc marcas do tempo
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Um ano depois, os sinais do acidente aéreo aos poucos desaparecem. Mas as lembranças pouc continuam bem vivas nos moradores da região ROSÁLIA RANGEL rosaliarangel.pe@dabr.com.br
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m ano depois do acidente com o avião de Eduardo Campos, pouca coisa faz lembrar o dia 13 de agosto de 2014. No bairro do Boqueirão, no município de Santos, local da tragédia, as pessoas seguem a rotina de quem vive em uma cidade do litoral paulista. As marcas físicas foram desaparecendo com o tempo, mas as recordações estão gravadas na mente dos moradores, principalmente dos que tiveram imóveis atingidos naquela manhã de quartafeira pela queda do jato, modelo Cessna 560XL, prefixo PR-AFA, que transportava o candidato do PSB à Presidência da República e seus assessores de campanha. Entre as famílias que residem próximas ao local do acidente o sentimento é ainda de revolta. Alguns proprietários só conseguiram reconstruir total ou parcialmente seus imóveis porque contaram com a ajuda do seguro predial ou de amigos. Até agora, eles aguardam uma resposta que possa ajudá-los a reparar os danos e ajude a identificar os verdadeiros proprietários do avião, que caiu entre as ruas Alexandre Herculano e Vahia de Abreu, em um ter-
reno desocupado ao lado da Academia Mahatma Exercícios. Uma área estritamente residencial da cidade. A funcionária pública Edna da Silva estava no trabalho na hora da tragédia. Quando retornava para casa foi surpreendida com a notícia de que seu apartamento, o de número 8 de um bloco de 10 unidades, foi o mais atingido no acidente. “A turbina do avião entrou pela área de serviço, ultrapassou a parede da sala e
MORADORES ESPERAM POR INDENIZAÇÃO PARA RECUPERAR OS DANOS pegou fogo, atingindo a rede elétrica”, relatou. No imóvel estavam uma neta e dois filhos de Edna. Todos sofrerem queimaduras e ainda estão em recuperação. “Se eu estivesse em casa, teria morrido, porque, provalvemente, estaria na cozinha e ou na área de serviço. O que aconteceu aqui foi um milagre”, desabafa.
Academia
No acidente, 11 pessoas ficaram levemente feridas e 13 imóveis foram interditados
pelo Corpo de Bombeiros, dois com risco de desabamento. “O local ficou interditado por mais de uma semana”, recorda Juarez Câmara, dono da academia Mahatma. “Perdemos duas piscinas grandes, e a pequena também ficou bastante danificada. A parte de trás da academia ficou toda destelhada. A viga de cima arrebentou e tivemos que refazer três colunas”, afirma Juarez. “Estou reconstruindo minha academia com a ajuda de amigos que estão doando material de construção. Outros cederam locais para dar aulas de natação, por exemplo. Isso me ajuda a não ficar parado, porque do acidente para cá fiquei sem qualquer tipo de assistência”. Juarez lembrou, inclusive, a ida do irmão de Eduardo, Antônio Campos, a Santos para prestar solidariedade às famílias atingidas pelos destroços do acidente. “Mas foi só isso e ponto. O partido poderia dar uma satisfação. Dizer de quem era o avião e apontar um caminho a seguir. Um partido que se propõe a ter um candidato a presidente da República e que, provavelmente teria chegado a um bom final, mostra total irresponsabilidade e falta de ética”, desabafa Juarez.
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Juarez Câmara, da academia Mahatma, e a funcionária pública Edna da Silva, que escaparam com vida mas tiveram prejuízos materiais
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THIAGO NEUENSCHWANDER thiagocavalcante.pe@dabr.com.br
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) mantém o silêncio sobre o que causou a queda do Cessna 560-XL. O último posicionamento oficial aconteceu em janeiro, quando os investigadores deixaram no ar indícios de falha humana. Afirmaram que os pilotos não tinham o treinamento formal exigido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar aquele tipo de aeronave. Também constataram que o avião fez um trajeto diferente do que estava previsto no plano de voo para pouso e arremetida. Evitaram, contudo, cravar qualquer tese para apontar as reais causas do acidente. Na última semana, o Cenipa divulgou em sua página oficial que a investigação está na fase final de análise de dados. “Em um ano, a equipe de investigação realizou estudos e testes de performance e sistemas da aeronave, e verificou habilitações e treinamento dos pilotos, meteorologia, regulamentos existentes na aviação brasileira e manutenção”, diz a nota oficial. “De acordo com as normas internacionais, só podemos divulgar as conclusões consolidadas, uma vez que especulações podem prejudicar o andamento dos trabalhos e imJOAO CRUZ/AGENCIA BRASIL
Em janeiro o Cenipa apresentou seu posicionamento indicando falha humana
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Investigações em andamento
WALTER MELLO/EM/D.A PRESS
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pedir a colaboração de fontes voluntárias”, disse, no texto, o chefe do Cenipa, Brigadeiro do Ar Dilton José Schuck. Algumas hipóteses já haviam sido descartadas, como colisão com aves, drones ou aeronaves. De acordo com o Cenipa, o avião não estava voando invertido antes da queda e os motores estavam funcionando no momento do impacto com o solo. Ainda não há data para a apresentação dos dados da investigação. No último mês de julho, Flávia Martins, viúva de Marcos Martins, piloto morto no acidente, enviou um relatório ao Cenipa insinuando que uma falha mecânica teria causado o acidente. Flávia teria sido auxiliada por consultores que alegam que as aeronaves da família Cessna 560 Citation Excel (XL, XLS, XLS +) apresentam falha de previsão no projeto (nos estabilizadores horizontais). O documento vai contra o argumento de falha humana. Por esse relatório, a falha teria ensejado a inclinação do nariz da aeronave para baixo, erro que poderia ter ocorrido se a aeronave estivesse acima de 400km/h e com os fflaps laps recolhidos. A carta foi endereçada ao brigadeiro do ar Dilton José Schuck, mas o Cenipa não se pronunciou oficialmente sobre o tema. TERESA MAIA/DP/D.A PRESS
O local do acidente, um ano depois da queda do avião
Impasse sobre de quem é o avião Enquanto a Justiça não bate o martelo sobre quem responderá pelo Cessna PR-AFA que vitimou Eduardo Campos e outras seis pessoas, as ações se acumulam no Tribunal de Justiça de São Paulo. Juntos, os pedidos de indenização dos donos dos imóveis atingidos ultrapassam R$ 10 milhões. Três são os principais citados como responsáveis nas ações. A AF Andrade, empresa que originalmente era a operadora do avião; o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o empresário João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, amigo
de Eduardo, que manifestou interesse em adquirir o avião. O acidente atingiu pelo menos cinco imóveis e dois condomínios, onde viviam mais de 30 famílias. Somente o escritório Malatesta Pereira e Arruda Sampaio Advogados, com sede na capital paulista, representa 25 proprietários e já deu entrada em 16 pedidos de indenizações, sobretudo contra o empresário João Carlos Lyra, com valores totais acima de R$ 6,5 milhões. O imbróglio em torno da aeronave é complexo. A Cessna Finance Export Corpora-
tion arrendou a aeronave ao grupo AF Andrade. Em dificuldades, a empresa precisava encontrar quem pagasse as parcelas em atraso e o restante do financiamento. Lyra demonstrou interesse, pagou a parte em atraso e pediu um mês para conseguir o restante do dinheiro com investidores. Depois solicitaria a transferência da aeronave à Cessna, que precisava aprovar o negócio. Antes disso, o acidente acabou frustrando o negócio. Começou um jogo de empurra. A AF Andrade argumenta que já havia pedido à Cess-
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na a transferência de arrendatário, mas à época do acidente a negociação ainda não havia sido aprovada. O advogado Carlos Gonçalves Júnior, que defende Lyra, explica que ele nunca foi proprietário. “A empresa ia perder a aeronave, então João fez o acordo. Era um negócio excelente, já que ele tinha interesse de abrir uma empresa de táxi aéreo. A compra da aeronave, no entanto, dependia dos parceiros que ele ia contactar. Ele não tinha esse dinheiro e iria buscar esses parceiros.” Apesar de dizer que não é
o proprietário da aeronave, Lyra procurou os moradores para negociar indenizações extrajudicialmente. “Quando a AF Andrade se recusou a negociar, João, comovido com a situação das pessoas, começou a negociar as indenizações extrajudicialmente, desde que tivéssemos condições de sermos ressarcidos posteriormente pela Bradesco Seguros, responsável pelo seguro da aeronave (no valor de R$ 50 milhões)”, explicou o advogado. A reportagem contactou o PSB e AF Andrade, mas não obteve retorno. (TN)
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João, comovido com a situação das pessoas, começou a negociar as indenizações” Carlos Gonçalves Júnior, advogado de João Carlos Lyra
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A agonia da es esper peraa Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi fundamental para funda ajudar na liberação dos restos mortais
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A gente via o entusiasmo dele, o seu amor pelo Brasil, pelas pessoas. A capacidade de cativar pelas suas ideias” Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo
querque (PSB/RS). Na manhã da tragédia, Alrimeiro, o impacto da ckmin estava em um evenqueda do avião. De- to no Centro de Convenções pois, a difícil missão do Anhembi. “A Casa Militar de acompanhar a identifica- me passou um bilhete de ção dos corpos no Instituto que havia ocorrido um acide Medicina Legal (IML) de dente aéreo em Santos. DeSão Paulo. Os restos mortais pois passaram outro bilhete do ex-governador Eduardo dizendo que havia a suspeiCampos, de quatros assesso- ta de que poderia ser o da res dele e dois pilotos come- comitiva de Eduardo Camçaram a chegar ao IML na pos. Eu saí imediatamente noite da quarta-feira, horas do Anhembi e fui para Sandepois do acidente, onde tos”, contou o governador. Antes de chegar ao local, amigos e aliados já aguardavam. Eles permaneceram no ele disse ter conversado por local até o final da tarde do telefone com o presidente sábado, quando começou o do PSB/SP, o vice-governador de São Pautraslado dos lo, Márcio corpos para França, que o Recife e ci- COMITIVA estava no dades onde PERNAMBUCANA Guarujá à esresidiam as ACOMPANHOU DIA pera de demais víti- E NOITE O Eduardo, mas. TRABALHO NO IML mas que, naEnquanto quele modurou o trabalho de identificação, o em- mento, ainda havia muitas penho do governador de São dúvidas sobre o que realPaulo, Geraldo Alckmin (PS- mente havia acontecido. “Me lembro que também DB), foi fundamental para agilizar o processo que po- liguei para minha casa e faderia levar meses para ser lei com meu filho Thomaz concluído. Ele foi à sede do (piloto falecido) sobre a traIML todas as noites para gédia, e ele disse: ‘Olha paacompanhar o trabalho dos pai, eu acho que não é (a aeperitos e dar força aos com- ronave de Campos), porque, panheiros de vida e partido pela imagem que vi na telede Eduardo. Entre eles, o pre- visão, é um helicóptero, e feito do Recife, Geraldo Julio não um avião’. Ele, na ver(PSB), o governador Paulo Câ- dade, tinha visto uma imamara (PSB), o ex-governador gem errada na TV, que deJoão Lyra Neto (PSB) e o ex- pois foi corrigida”. Em seu deputado federal Beto Albu- gabinete, no Palácio dos Ban-
OSLAIM BRITO/CORTESIA
ROSÁLIA RANGEL rosaliarangel.pe@dabr.com.br
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deirantes, Geraldo Alckmin mostrou um porta-retrato com a foto do filho, mas não entrou em detalhes sobre a morte dele. Thomaz Alckmin, de 31 anos, morreu em 2 de abril, na queda de um helicóptero, em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Entre as muitas conversas que tiveram enquanto durou a longa espera no IML, o governador lembrou de uma informação que Renata Campos, viúva de Eduardo, passou para Geraldo Julio. “Ela disse que o marido carregava algumas imagens junto a um cordão que usava. Então, pedi ao prefeito de Santos (Paulo Barbosa, do PSDB) que vasculhasse o local. As pequenas imagens foram encontradas e levei no dia do enterro para Renata. Ela me disse: ‘Vou dar uma para cada filho de lembrança do
Eduardo’, recordou. Geraldo Alckmin conheceu Eduardo quando ele era ministro da Ciência e Tecnologia. Mas se aproximaram quando foram eleitos governadores. “Tive uma grande identidade com Eduardo, que sempre defendeu a justiça social, os mais pobres, o desenvolvimento, o crescimento do país. Foi um exemplo. E temos seus bons exemplos cotidianamente para nos orientar”. A última vez que o governador esteve com Eduardo foi na casa de um amigo em comum. “Foi um encontro de campanha. A gente via o entusiasmo dele, o seu amor pelo Brasil, pelas pessoas; a capacidade de cativar pelas suas ideias, pelas suas propostas. Foi uma perda enorme para a política brasileira”, definiu o governador.
Geraldo Julio, Geraldo Alckmin e João Lyra: dias de angústia no IML de São Paulo e muito trabalho para liberar o mais rapidamente os restos mortais das vítimas do acidente aéreo
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José Henrique garante que distrito de Bem-tevi sempre guardará na lembrança benfeitorias de ben Eduardo no local ROSÁLIA RANGEL rosaliarangel.pe@dabr.com.br
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o distrito de Bem-tevi vivem 4,2 mil pessoas. O povoado faz parte do município de Bonito, no Agreste do estado. Mas ao contrário da “cidade-mãe”, conhecida pela beleza de suas cachoeiras, a comunidade é humilde e tem infraestrutura precária. A primeira intervenção do poder público só aconteceu nos anos 1990, quando o então governador Miguel Arraes mandou asfaltar a estrada de acesso ao local. A benfeitoria acabou servindo de elo entre o aposentado José Henrique da Silva, 75 anos, morador de Bem-tevi há mais de 50 anos, e Eduardo Campos. A história de vida dele se mistura com as lembranças que guarda do tempo de convivência com o socialista, a quem chama de “amigo e irmão” do povo de Bem-te-vi. Burrego, como é chamado na comunidade, construiu esse conceito porque, segundo ele, enquanto governador, Eduardo nunca esqueceu o distrito. “Ele sempre olhou a nossa pobreza. Aprendeu com o avô”. Lembrou também que quando Arraes era governador visitou o povoado cinco vezes. “Ninguém nem sabia o que era governo. Falavam em doutor Arraes, mas visita em Bem-te-vi nunca havia acontecido. Uma tarde, ele chegou aqui. Ninguém esperava. Foi aquela festa medonha. Todo mundo abraçando ele”, contou o aposentado, que até hoje tem exposta na parede um foto ao lado do exgovernador. José Henrique contou que Eduardo sempre acompanhava a comitiva do avô. “Era
OBRAS FEITAS POR EDUARDO NO DISTRITO SÃO LEMBRADAS ATÉ HOJE
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Eterna gratidão va pela minha pessoa. Uma vez, na inauguração da escola técnica da cidade, mandou me chamar para almoçar com toda a equipe”, disse, com um sorriso nos lábios. Para Burrego será difícil aparecer um político com o carisma do ex-governador. “Pode
até acontecer, porque tem o filho dele, João. Estão dizendo que vai seguir os passos do pai, mas por hora não vejo ninguém”, confessou o senhor, que reside em uma casa simples com a esposa, Maria Rita da Silva, 73 anos. A última visita de Eduardo
ao povoado foi no dia 2 de maio de 2013. A ida dele não estava programada. Na verdade, o socialista foi a Palmares inspecionar as obras da Barragem de Serro Azul. Depois, fez questão de passar por Bem-te-vi antes de seguir para outros municípios. “Ele
veio na minha casa com toda a equipe. Ninguém esperava”, recordou o aposentado. A emoção ficou mais forte quando foi preciso falar do acidente que vitimou o exgovernador. “Estava viajando. Quando cheguei, passou uma mulher gritando:
‘Eduardo morreu’, e falei: ‘tão inventando isso’. Mas quando entrei em casa soube da verdade. Queria muito ter ido ao sepultamento dele. Minha família não deixou por conta da minha saúde. Até hoje fico emocionado quando falo dele”.
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muito jovem, muito novo, mas muito carinhoso e amoroso com as pessoas. Por isso ficou no coração do povo daqui. O povo não esquece disso”. Anos depois, já no comando do estado, Eduardo concluiu a obra iniciada por Arraes. Em retribuição, José Henrique garante que o povo de Bem-te-vi nunca votou contra a família Arraes. “Até porque ninguém conhece aqui qualquer ação feita por outro governo”. Com certo orgulho, o aposentado falou da consideração que Eduardo tinha por ele. “Toda vez que o governador vinha a Bonito, procura-
Quando cheguei, passou uma mulher gritando: ‘Eduardo morreu’ , e falei: ‘tão inventando isso’ CMYK
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Amizade com “um matuto” Walter Borges lembra com alegria e saudade do dia em que Eduardo passou a tarde na sua casa, em Casinhas, Agreste, depois do batizado da filha atenderia o convite. “Nunca imaginei receber o governaoi a única vez na dor na minha casa. No dohistória desse esta- mingo, no entanto, por volta do que um gover- das 12h30, o telefone tocou. nador saiu do Palácio, com to- Era ele, junto com Danilo Cado o seu aparato, para vir a bral, dizendo: ‘Olha, a gente um batizado no interior, e está indo comer a galinha na principalmente organizado tua casa agora’. Chegaram às por um peão, um matuto”. A 12h50, saíram às 17h. Passahistória contada com um mis- ram a tarde aqui, acompanhato de saudosismo e bom hu- ram o batismo na igreja, almor por Walter Borges, 44, moçaram na minha casa. Foi funcionário da Prefeitura de uma tarde onde demos muiCasinhas, no Agreste, e ex-ve- tas risadas e ele atendeu todo reador do município, é a lem- mundo por aqui”. Com o tempo, Walter pasbrança de uma amizade improvável, surgida durante as sou a ser uma espécie de andanças do ex-governador membro da família. “Sempre Eduardo Campos pelo interior que vinha aqui na região, lidurante sua trajetória política. gava para mim e dizia: ‘Olha, Em 3 de julho de 2011, safado, a gente está indo faEduardo Campos deixou de zer comício em Caruaru, Sancomparecer às homenagens ta Maria, você vai?’. Eu semao ex-presidente Itamar Fran- pre dizia: ‘Claro, estou denco, que morrera um dia an- tro’. Pegava o carro e me tes, vítima de leucemia, para mandava. Além deles, tenho ir de helicóptero até o Agres- uma amizade muito grande te. O motivo era nobre. Havia com dona Ana (Arraes, mãe prometido meses antes com- de Eduardo) e com Ariano Suassuna, parecer ao baque também tizado da pevirou meu quena Joana amigo pesSofia, hoje soal”, conta com três Walter. Ele, anos, filha de Quando Eduardo que foi vereaWalter. “O Pa- foi candidato a dor de Casilácio só veio deputado federal, nhas pelo informar que PSD, conta ele vinha fal- eu ia a todos os uma passatando meia hora. Duran- eventos na região, gem engraçacom o exte a semana e isso acabou nos da governador. eu endoidei. “Quando muMandaram aproximando” dei de partiuma equipe Walter Borges, do por desade policiais funcionário público venças muniaqui, olharam o campo de futebol onde cipais, Eduardo me chamou o helicóptero ia pousar, mas no canto e disse: ‘Walter, não diziam se ele vinha”, re- quem vai resolver o seu problema não sou eu, não é milembra Walter. Antes de chegar a esse ní- nha mãe. Quem vai resolver vel de intimidade com o ex-go- seu problema é Ariano Suasvernador, Walter conta que se suna. Vou dizer a ele que voaproximou da família por in- cê vai votar contra a gente, satermédio do avô de Eduardo, fado’”, recorda aos risos. O humor de Walter só muo ex-governador Miguel Arraes. “Conheci doutor Arraes da um pouco quando relemdurante a campanha para o bra o fatídico dia 13 de agosgoverno em 1986. O pai de Da- to de 2014, data em que o sonilo Cabral (secretário de Pla- cialista morreu. “Pegou todo nejamento) que é daqui de Su- mundo de surpresa. Muitos rubim (município limítrofe a aqui no interior ainda acham Casinhas) sempre me levava que Eduardo não morreu. para os comícios. Eduardo era Acham que é conversa. Pormuito novo, mas sempre esta- que é o seguinte: como ele va lá. Quando Eduardo foi can- era novo, ainda não tinha chedidato a deputado federal, eu gado a ser um mito como o ia a todos os eventos na re- avô. Mas se Eduardo chegasse gião, e isso acabou nos apro- à idade dele, seria como um Frei Damião ou um Padre Cíximando”, revela. Foi justamente durante es- cero. Para a gente, a ficha ainsas passagens que a amizade da não caiu. Ele convivee com se consolidou. No dia da fes- a gente com aquele jeito deta para a pequena Joana Sofia, le. Isso tudo é quase como Walter não sabia se Eduardo uma ficção”, sentencia. THIAGO NEUENSCHWANDER thiagocavalcante.pe@dabr.com.br
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Walter, fã de Eduardo e Arraes, diz que, em Casinhas, muita gente ainda pensa que Eduardo não morreu
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Admiração mútua REPRODUÇÃO FACEBOOK
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Encontro entre o socialista e a professora Judite em São José do Egito
Port Portadora de deficiência física, Judite Ferreira pôde compartilhar com Eduardo suas vitórias na vida, que serviram para o socialista pa apresentar como exemplo para outras pessoas ROSÁLIA RANGEL rosaliarangel.pe@dabr.com.br
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udite Ferreira da Silva, 33 anos, voltava da cidade de Belo Jardim. Ela havia ido ao município com a sua turma do curso de matemática para participar do primeiro encontro de estudantes do Programa Universidade para Todos (Proupe). Era noite de sábado, dia 29 de março de 2014. Uma mensagem no celular, enviada pela amiga Patrícia Tavares, lhe passou a seguinte informação: “Eduardo Campos tá falando de tu (kkk). Que chique! Ele disse que vai ter uma aula contigo”. Naquela ocasião, o socialista participava, em São José do Egito, da inauguração da Escola Técnica Professora Célia Siqueira. No discurso, o ex-governador usou o exemplo de Judite para reforçar a tese de que o estudo é o melhor caminho para mudar a vida das pessoas. Judite, que é portadora de deficiência física, superou todos os obstáculos para estudar. Em fe-
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vereiro de 2012, foi aprovada no curso de matemática na Faculdade de Formação de Professores de Afogados da Ingazeira (Fafopai), distante 42 quilômetros do Sítio Macambira, onde mora, no distrito Riacho do Meio, na zona rural de São José do Egito. Na verdade, havia entre Eduardo e Judite uma admiração mútua. Além do curso superior, a sertaneja também conquistou, em 2007, sua primeira medalha de bronze na Olímpiada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), criada por Eduardo Campos quando ministro de Ciência e Tecnologia. Dois anos depois, Judite ouviu em uma rádio local uma entrevista do ex-governador, que estava na região para a festa do centenário de São José do Egito, em 9 de março de 2009. Ela decidiu, então, ir até a cidade para conhecer Eduardo. “Quase desisti. Tinha muita gente. Já ia voltar desapontada para casa, mas resolvi ir até a Escola Oliveira Lima. Queria mostrar a Danilo Cabral, na época secretário de Educação, minha medalha da Olímpíada de Matemátia. Por força do destino, Eduardo e sua comitiva chegaram à escola. Ele e a esposa, Renata Campos, vieram até mim. Eduardo me convidou para ir, no outro dia, a Quixaba, conhecer um outro medalhista”.
A partir daí, teve início uma relação de amizade entre eles. “Foi uma convivência com atenção dedicada, onde meu objetivo era de apresentar-me com o meu jeito de ser, com minhas origens, sem copiar ninguém. Sentia-me honrada por ele acompanhar meus estudos, que progrediu do Ensino Fundamental à minha chegada à faculdade”. O último encontro entre os dois foi na cidade de Santa Terezinha, em 2012. “Eduardo desceu do carro e falaram para ele que eu estava ali. Quando me viu, agachou-se na praça, conversamos, e ele me fez um convite para tomar um café no Palácio do Governo”. O encontro, entretanto, não chegou a ser concretizado. “O palácio entrou em reforma, os compromissos na agenda dele foram aumentando e o depois veio aquela triste tragédia”, lamenta Judite. No dia do acidente, ela falava no Facebook com uma amiga sobre o vídeo que estava produzindo com o depoimento de Eduardo a seu respeito. “Minha irmã ouviu a notícia no rádio da queda de um avião e que supostamente seria da campanha de Eduardo Campos. Ligamos a TV e vimos aqueles oços. Me deu uma afli af lidestroços. ção. Pedi a Deus para não ser verdade. Quando veio a confirmação, bateu uma angústia inexplicável. Saí da sala em lágrimas. Perdi o apetite por alguns dias”.
Ligamos a TV e vi aqueles destroços. Pedi a Deus para não ser verdade
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José Carlos trabalhava com Eduardo há seis anos e o atendia no Rio. Foi ele quem o levou para o aeroporto Santos Dumont na manhã do dia 13 de agosto de 2014
Os amigos que lá deixou Ao partir para morar em São Paulo, exgovernador conheceu go pessoas que não pe esquecem da amizade daquele tempo ROSÁLIA RANGEL rosaliarangel.pe@dabr.com.br
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uando decidiu ser candidato à Presidência da República, Eduardo Campos foi convencido por aliados a residir em São Paulo. Optou por morar em um f lat no bairro de Moema. O apartamento (141 A) se transformou no “quartel-general” do socialista que, de lá, deslocava-se para cumprir as agendas nos municípios da região. Essa mudança de endereço deu a ele a chance de conviver com velhos e novos amigos, incluindo pessoas que lhe prestavam serviço e outros que sequer o conheciam, mas que passaram a vê-lo como um promissor concorrente à Presidência da República. O motorista José Carlos Trindade de Almeida, 55 anos, atendia Eduardo no Rio de Janeiro. Foi ele que, na manhã do dia 13 de agosto de 2014, conduziu o socialista até o Aeroporto Santos Dumont, onde embarcou para Santos (SP). “Levei o senhor Eduardo para o aeroporto às 8h20. O avião dele decolou às 9h20. Fiquei no local por mais meia hora. Trinta minutos depois cheguei em casa. O acidente já tinha acontecido”. Eduardo chegou no Rio na noite de segunda-feira, 11 de
agosto. “No dia seguinte, ele e dona Marina (Marina Silva) visitaram o cardeal do Rio de Janeiro. Depois ele voltou para o hotel, em Copacabana, onde se concentrou para entrevista da Globo”. À noite, após o Jornal Nacional, o socialista ainda passou na casa de amigos, na Lagoa Rodrigo de Freitas, para participar de uma conversa com internautas. De lá, voltou ao hotel para jantar com a esposa. “Foi no hotel, por volta das 2h,
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Não perdi um cliente. Perdi um amigo. Quando cheguei lá (Recife), parecia que toda cidade estava chorando” Zé Carlos, motorista que atendia Eduardo no Rio de Janeiro
que soube que dona Renata e Marina Silva não iriam com ele para Santos”, contou o motorista. Zé Carlos dirigiu para Eduardo nos últimos seis anos. Tempo suficiente para construir uma relação de amizade. No dia do enterro ele veio ao Recife para dar o último adeus ao ex-governador. “Não perdi um cliente. Perdi um amigo. Quando cheguei lá, parecia que toda a cidade estava chorando”. O motorista diz guardar na memória o
modo de viver de Eduardo. “Sua alegria, a felicidade e o bem-estar com a vida. Você não vê isso em político nenhum”, frisou. Entre as muitas recordações, ele guarda a carta que a filha, Gisele Trindade de Almeida, 11 anos, escreveu dois dias depois da morte do socialista. “Ela percebeu a dor que estava sentindo e transformou tudo em palavras”, frisou. Em São Paulo, a missão de conduzir o socialista era de Cyriaco Rodrigues, 52 anos. A última vez que dirigiu para o presidenciável foi na noite do dia 11 de agosto, quando Eduardo viajou para o Rio de Janeiro. No dia do acidente, Rodrigues estava na Base Aérea do Guarujá para cumprir mais uma agenda de trabalho com o socialista. “Cheguei a ver o avião, mas ele não aterrissou. Arremeteu. O tempo passou. Fiquei preocupado. Aí veio a notícia da queda. Corri para o local. Já estava aquela confusão”, ressaltou. O motorista diz que tudo faz lembrar Eduardo. “Do respeito com as pessoas. Pela educação que tinha. Uma última lembrança foi de quando fomos a Aparecida (SP). Lá, ele foi até um shopping com dona Renata e um senhor queria cumprimentá-lo. O segurança falou que não poderia ser naquele momento porque o candidato estava ocupado. Aí eu disse: ‘chefe... chamava ele de chefe... tem um senhor aí querendo lhe cumprimentar. Ele já estava no carro. Desceu e atendeu o pedido”.
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Cyriaco estava na base aérea do Guarujá esperando o ex-governador. Ficou preocupado quando soube que o avião não aterrissou
A filha de José Carlos, Gisele Trindade, que hoje tem 11 anos, escreveu uma carta para o pai dois dias depois da morte do socialista
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Ravioli de cordeiro estreitou laços restaurante. “Ele sempre me contava do filho (Miguel, o Admirador de massas, mais novo dos cinco filhos) e Eduardo Campos costumava da esposa. Algumas vezes esfrequentar, em São Paulo, o teve aqui acompanhado da restaurante Marina di Vietri, família”, disse Vicenzo. Ele lembrou que Eduardo do italiano Vicenzo Vitale, 65 anos, no bairro de Itaim Bibi. começou a frequentar o resChegava sempre no horário taurante quatro meses antes perto da cantina fechar, meia- de falecer. Foi apresentado à noite, mas o proprietário não casa pelo vice-governador de tinha problema em aguardá- São Paulo, Márcio França lo, inclusive quando só podia (PSB). “Quando soube do acichegar depois desse desse ho- dente, não acreditei. Foi um choque muirário. to grande. “Uma noite O PERNAMBUCANO Até chorei. esperei até SÓ CHEGAVA AO Foi uma permeia-noite. RESTAURANTE da grande. Foi a primeira ITALIANO PERTO Ele era uma vez que ele espessoa nova teve no meu DA MEIA-NOITE e poderia restaurante”, melhorar o país se ganhasse contou Vicenzo, que mora há mais de 40 anos no Brasil e é a eleição. Mas não deu temcasado com a pernambucana po. O tempo foi pouco”, laLuiza Jovina dos Santos Vitale. mentou o italiano. Das histórias que guarda na Para o dono da cantina e os garçons que atendiam lembrança, Vicenzo fez quesEduardo, ele era “um cliente tão de falar da atenção que muito bom, uma pessoa agra- recebeu de Eduardo quando dável, simples e carismática”. precisou operar o quadril. “EsO prato preferido dele era tava em casa me recuperancostela de cordeiro com ra- do, no dia 7 de julho, e ele violi de cordeiro. Tinha tam- mandou um abraço por mibém o costume de sentar na nha filha. Achei muito elemesma mesa quando ia ao gante da parte dele”.
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No restaurante, apesar do pouco tempo de convivência, os garçons já conheciam o estilo de Eduardo. “Cheguei a atendê-lo por cinco vezes. Era uma pessoa tranquila. Vinha sempre acompanhado da esposa, dos filhos e de assessores. Me aproximava, atendia o pedido e depois me afastava para não incomodar, mas ele era sempre muito simpático”, contou João Batista Pessoa, 45 anos. Foi ele quem atendeu o
presidenciável na última vez que o socialista esteve no estabelecimento. João Batista contou que sabia que ele era político e candidato a presidente. “Comecei a prestar mais atenção depois que o senhor Eduardo passou a frequentar o restaurante. O acidente interrompeu tudo”, resumiu. Para todos eles, ficou a expectativa de conhecer melhor o homem que saiu do Recife para tentar chegar ao Palácio do Planalto.
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Ele poderia melhorar o país se ganhasse a eleição CMYK
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O apartamento onde Eduardo passou a morar quando decidiu ser candidato a presidente, em 2014
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Aproximação de Apro Geraldo Ger aldo com com Eduar Eduardo do ocorr oc orreu eu a partir partir da década déc ada de 1980, 1980, na campanha de Arrae Arraess
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dia era de celebração em dose dupla. Afinal, naquele 10 de agosto de 2014, um domingo, o ex-governador Eduardo Campos estava festejando o seu aniversário de 49 anos, que coincidiu com as comemorações do Dia dos Pais. Mas a candidatura à Presidência da República, que naquela época começava a ga-
Geraldo Julio recorda da empolgação e da confiança que Eduardo estava com os rumos da campanha eleitoral à Presidência P da República
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O último diálogo
+ saibamais Relatos dos companheiros de partido TERESA MAIA/DP/D.A PRESS
nhar força, era o principal motivo da empolgação do socialista, conforme lembrou o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), sobre os últimos diálogos com o aliado político. “A gente teve a oportunidade de ter algumas conversas, e em todas elas ele estava muito focado no projeto da candidatura. Eduardo estava convicto de que a mensagem dele seria percebida pelo povo brasileiro e de que ganharia as eleições”. Como uma das pessoas que tinha maior proximidade com o ex-governador (tanto no campo político quanto no pessoal), Geraldo Julio destacou que a candidatura ao Planalto era assunto recorrente. “Eduardo tinha essa convicção e transmitia ela para todos nós. Ele estava convicto de que governaria o Brasil e transformaria esse país”, afirmou o prefeito, acrescentando que, diante do momento que o país vivia no ano passado, todos “tinham a convicção de que Eduardo sairia vitorioso e faria uma gestão importante”. Os primeiros contatos de Geraldo Julio com Eduardo Campos aconteceram durante a campanha de Miguel Arraes, avô de Eduardo, na década de 1980, mas a relação dos dois se fortaleceu durante a terceira passagem de Arraes pelo governo estadual, entre os anos de 1995 e 1998. Na época, eles trabalharam juntos nas secretarias de Governo e da Fazenda, das quais Campos foi titular durante a gestão do avô. Entre os anos de 2003 e 2006, voltaram a trabalhar juntos, desta vez no Ministério da Ciência e Tecnologia. Posteriormente, durante os dois mandatos de Eduardo à frente do governo estadual, Geraldo Julio foi titular das secretarias de Planejamento e Gestão e de Desenvolvimento Econômico. A convivência dos dois, no entanto, ia além do ambiente político. “Minha esposa (Cristina Melo) é muito amiga de Renata Campos. Nossos filhos também são amigos, principalmente aqueles que têm idades parecidas”, contou o prefeito. Geraldo disse que Eduardo conseguia perceber nas pessoas o que elas estavam sentindo, o que elas queriam dizer e, muitas vezes, não sabiam. “Mas ele sempre sa-
MÁRCIO FRANÇA (vice-governador de São Paulo) bia.” O prefeito também lembrou a capacidade que ele tinha de ouvir várias opiniões antes de tomar uma decisão. “Ele gostava de pesar os sentimentos antes de
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Como amigo, naturalmente sinto muita saudade. No campo político, ele faz falta no debate nacional” Geraldo Julio, prefeito do Recife
se decidir.” No dia do acidente em Santos, o prefeito estava participando de uma solenidade no Tribunal de Justiça do Estado. “Foi um dos dias mais di-
fíceis da minha vida. Durante o evento, começamos a receber telefonemas e mensagens. Então me desloquei para o Palácio do Campo das Princesas e recebi a notícia oficialmente pela televisão.” Nos cinco dias que antecederam o velório, o socialista foi a São Paulo para agilizar a liberação dos corpos e depois passou boa parte do tempo na casa de Renata Campos, onde atendeu a imprensa. “Foram as entrevistas de maior audiência e sobre o pior tema que eu poderia falar”, lembrou o prefeito. Um ano após a tragédia, a falta que Eduardo Campos faz ainda é muito grande, segundo o prefeito. “Como amigo, naturalmente sinto muita saudade. No campo político, ele faz falta no debate nacional e como liderança.” Segundo o prefeito, o maior legado deixado pelo aliado foi o compromisso com o povo.
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Presidência
Dia do acidente
Relação política
Um ano depois
Talvez eu tenha sido a pessoa que mais incentivou Eduardo a dispu tar a presidência. Tenho convic ção que se ele tivesse disputado teria ganhado. Disse muitas ve zes: ‘Você só não vai ser presi dente se morrer antes. Claro que jamais iria supor uma situação como essa. Eduardo não tinha essa ideia, mas foi estressando a relação com Dilma. Ele alertava, ela não entendia. Chegaram a conversar sobre os ministérios. Até que um dia estivemos aqui (no Recife) eu, Beto (Albuquer que), Carlos Siqueira, doutor (Roberto) Amaral, e dissemos: ‘Olha, Eduardo, chegou a hora.’ Sempre foi uma característica dele ser corajoso, e aí ele topou.
Quando Dilma se elegeu, tive mos um diálogo com a direção do partido. Ele havia indicado meu nome para ministro, junto com Fernando (Bezerra Coelho). Dilma recusou. Eu senti no olhar dele que essa relação não ia dar certo. Ela não tinha a noção de quem era Eduardo. Lula tinha.
Ficamos quase uma hora sem comunicação. Ninguém sabia nada, só que o avião estava sem comunicação. Foram ins tantes muito angustiantes. Quando foi embarcar, eu soube depois, Marina estava junto. Ela não veio no mesmo avião por que sabia que o evento era co migo (Márcio e Marina têm di vergências políticas). Ela, na verdade, não faleceu por conta disso. Nós íamos gravar com ele anunciando a proposta do fim das áreas de marinha. Ele gravaria essa cena com o fundo onde Lula morou. Lula morava em uma favela do Guarujá que até hoje está lá. Então, ficou lá o barquinho para fazer isso.
Tinha uma expressão que ele usava muito: ‘A gente pode ter saudade do futuro.’ Parece uma frase meio inconcludente. Parece que não encaixa, mas ficou claro na sensação que as pessoas tive ram. E a gente mediu no dia do fa lecimento que foi uma comoção semelhante ao de Ayrton Senna.
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O desafio do sucessor Paulo Câmara vem carregando a responsabilidade de tocar o estado sem ter por perto aquele que lhe confiou a missão de sucedê-lo
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BETO ALBUQUERQUE (candidato a vice de Marina Silva) Convivência
Nós erámos militantes da juven tude socialista. Muito de parâ metro para todos nós, particu larmente para mim. Eduardo era um grande líder. Um líder não é só aquele que pega o problema e resolve. Um líder inspira ou tros a seguirem o seu caminho e foi assim a nossa convivência.
gente que estava indo embora. Foi o pior dia da minha vida, que só se equipara ao dia da perda do meu filho há seis anos, com 19 anos, que morreu de leucemina. A morte de Eduardo teve igual in tensidade. O que eu vi esse cara se construir, se preparar, sempre com alegria, nunca vi ele carran cudo. Até hoje eu não entendo.
Acidente
Um ano sem Eduardo
Tinha um almoço na Federação do Comércio do Rio Grande do Sul e aquele dia era do José Ivo Sartori (então candidato ao go verno do estado). Eu, como can didato ao Senado, estava junto. Nós estávamos em plena entre vista coletiva quando alguém veio soprar que tinha havido um aci dente em Santos, e eu sabia que ele estava indo para a cidade. Eu nunca chorei tanto na minha vida. Aquilo me dilacerou. Acabamos a coletiva. Acabamos o almoço que seria para 600 pessoas. Acaba mos tudo. Perdemos um pouco do chão quando chegou a confir mação que de fato era o avião do Eduardo. Aquelas imagens nas televisões... Era um pedaço da
RENATO CASAGRANDE (presidente da Fundação Mangabeira) Amizade e política
Fui deputado federal e ele tam bém. Ele se elegeu governador, eu me elegi senador. Depois me elegi governador, e ele se reelegeu governador. Trabalha mos permanentemente juntos e aí começamos a criar uma relação de amizade. Amizade de família. Passei a conhecer a Renata (Campos) e ele minha esposa e meus filhos.
Há aquele ditado que diz ‘as pa lavras elas comovem, mas é só o exemplo que arrasta’. Eduardo arrastava as pessoas.
Acidente
Estava na minha campanha de governador. Aí comecei a rece ber informação meio desco nectadas. Liguei para o Carlos Siqueira que confirmou o aci dente. Ele confirmou não que rendo aceitar que Eduardo es tava naquele avião.
Futuro do PSB
Eu tenho dito por onde ando: não deixemos apagar a chama que esse cara acendeu. Ele concor reu a presidente e esse partido tem que chegar lá em 2018 com candidato a presidente. E aí me perguntaram quem pode ser. Olha, cara, Renata Campos pode ser. A Renata ficou doida comigo, e disse que não. Por que não Re nata Campos? Até lá o Miguelzi nho (filho mais novo do casal) já vai estar grande, né? Quem sabe a gente vai seguir em frente.
Um ano depois
Visitando dias desses a Fe nearte (em 2 de julho), estáva mos lá vendo os vídeos das edições anteriores, fotografias e a impressão da gente foi de que a presença dele é tão forte que parece que ele não fale ceu, que não morreu. É difícil.
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Histórias
São muitas histórias. Eduardo era uma pessoa muito engra çada, um espírito muito alegre. Ele sabia como ninguém con tar casos, contar piada, imitar outras pessoas. Nas viagens que fazia pelo Brasil afora nas campanhas dos nossos ami gos, dos nossos companhei ros, as reuniões em Brasília, eram sempre reuniões ale gres, engraçadas, espirituosas e, ao mesmo tempo, sérias dos assuntos que a gente estava dialogando no dia a dia.
As ideias
Quando Miguel Arraes faleceu, a Georgina (sindicalista do movimento dos trabalhadores rurais de Pernambuco) disse que ele não seria enterrado. Seria plantado e que ele daria muitos frutos. Do mesmo jei to nós falamos de Eduardo. O vice governador (de São Pau lo) Márcio França fala e a gen te repete essa mesma mani festação da Georgina. O Eduardo Campos não foi se pultado, foi plantado...
om a morte de Eduardo Campos naquele 13 de agosto, em plena campanha eleitoral, o governador Paulo Câmara (PSB), então candidato ao governo do estado, precisou lidar com a perda de um amigo próximo e de seu mentor político, responsável por alçá-lo aos palanques eleitorais. Escolhido pelo próprio Campos para sucedê-lo na gestão do estado após dois mandatos, o socialista, que saiu dos bastidores e foi eleito com 68,08% dos votos válidos (maior percentual do país), lembrou que não foi fácil prosseguir com a campanha a partir daquele momento, e admitiu que houve um aumento da “curiosidade” dos eleitores pernambucanos pela sua candidatura após o acidente em Santos (SP). “Foi muito difícil prosseguir, porque Eduardo era o líder maior e quem nós seguíamos. Ele era a pessoa cujo trabalho os pernambucanos queriam que nós continuássemos. Nas ruas, nas cidades que a gente visitava, o povo mostrou que valia a pena continuar e que confiava na gente”, destacou. A campanha não recomeçou do zero depois da tragédia. Um ano após a tragédia, o governador Paulo Câmara afirma que, apesar da ausência física, os ideais de Eduardo Campos permanecem presentes. “Tudo aquilo que ele nos ensinou está presente na minha vida, na nossa equipe, nas pessoas que conviveram com ele.” A convivência política e pessoal com Eduardo Campos teve início no começo dos anos 1990, graças a alguns amigos em comum. Em 1992, Paulo participou da campanha de Campos à Prefeitura do Recife. Entre 2007 e 2014, nos mandatos de Eduardo, foi titular das secretarias de Administração, Turismo e da Fazenda. “Foi uma relação forte, com a qual eu aprendi muito”, destacou o governador. Para ele, uma relação importante para que desenvolvesse as habilidades necessárias a um governador. No dia do acidente em Santos, Paulo Câmara estava em sua residência, preparando-se para um debate político que seria realizado durante a tarde. “Fiquei desnorteado. Foi um choque muito grande. Jamais esperava aquilo. Eduardo estava numa rotina como candidato, como eu. De uma hora para outra ver que ele e o grupo de companheiros que estava no avião não iam mais estar com a gente foi forte. Uma pancada na cabeça”. Um ano após a tragédia, a ausência do amigo e do mentor político ainda é grande. “Ele era uma voz a ser ouvida por todos nós. Aqueles que conviveram na sua intimidade e socialmente sabem que ele dava muita esperança e conforto. Era um amigo querido”, disse Paulo Câmara, acrescentando que Eduardo estaria “fazendo a diferença” no cenário político. “Estaria governando o Brasil em favor daqueles que mais precisam, não deixando que essa crise persistisse. Ou então estaria atuando como a liderança política que ele sempre foi, buscando no diálogo, na transparência e na união dar sugestões para enfrentar os atuais desafios”. Em seu primeiro ano de mandato, o afilhado político de Campos enfrenta um cenário econômico e político adverso no país que ef lexos no estado. “Caso estivesse vivo, tem reflex Eduardo gostaria de ver o que estou fazendo, que é ir às ruas, aos municípios, ouvir as pessoas e mostrar o que realmente está acontecendo. Dizer a verdade pode criar momentos de irritação na população, mas as pessoas não gostam de ser enganadas”.
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Uma falta imensurável Todos os dias, dona Alzira, mãe de Carlos Percol, acende uma vela e reza para o filho, uma das vítimas fi daquele acidente ROSÁLIA RANGEL E SÁVIO GABRIEL politica.pe@dabr.com.br
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uando dona Alzira Braga ouviu a palavra imensurável pela primeira vez, o momento era de alegria. Seu filho, o jornalista Carlos Augusto Leal Filho (Percol para os amigos), utilizou a expressão para descrever o que estava sentindo: ele acabara
de deixar a Secretaria de Imprensa da Prefeitura do Recife e se preparava para uma maratona que iria durar seis meses. Havia sido escolhido pelo ex-governador Eduardo Campos para ser seu assessor de imprensa durante a campanha presidencial. A viagem, no entanto, foi drasticamente interrompida na manhã do dia 13 de agosto, em Santos (SP). Desde então, imensurável ganhou outra conotação na vida da aposentada, que tem lutado diariamente para lidar com a ausência do filho. Lembrar dos momentos de Percol não é fácil. Ainda assim, a firmeza e a serenidade
são algumas das características que chamam a atenção em dona Alzira. A voz, em tom suave e nostálgico, reforça um amor que a morte não conseguiu destruir. “Ele era muito alegre, otimista, e desde criança sempre foi participativo. Levou isso para a vida profissional.” A intensidade com que viveu cada fase da vida foi uma das principais características de Carlos Percol. Da infância, em Setúbal, Zona Sul, época em que era conhecido por ser um garoto levado, até a rotina profissional como homem de confiança de um dos maiores líderes políticos pernambu-
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canos. “Às vezes, já durante a campanha, ele me telefonava ou mandava mensagem pelo computador. Eu dizia: ‘Filho, você deve estar cansado com essas viagens todas.’ E ele sempre respondia que não, que estava tudo ‘na santa paz’”. Todos os dias, dona Alzira ia para o corredor do apartamento onde mora, ficava na frente de um quadro com a imagem de Jesus, rezava pelo filho e por todos os membros da equipe de campanha. “Mas sabe aquela coisa da fé? Você acha que não vai acontecer”. Para a família de Percol, a proximidade com Eduardo ao longo dos últimos oito anos
foi muito além de uma relação profissional. “Eduardo era o chefe. Existia o respeito e o cuidado de estar lidando com algumas coisas, mas existia uma consideração quase de pai para filho”, comenta a jornalista Ana Braga, irmã de Percol. Sentimento que a família do próprio Eduardo também tinha. “O filho mais velho (João Campos) me disse uma vez que Percol era o irmão mais velho deles”, lembra dona Alzira. No dia do acidente em Santos, ela estava comemorando o aniversário de uma amiga em Olinda. Soube da tragédia pela televisão e demorou a as-
similar. “No fundo, sempre há uma esperança. Às vezes, escapa um ou dois, né?”, observa, com um tom de voz de quem ainda não acredita no que aconteceu. “A dor é muito grande. Não estou revoltada, mas até hoje não aceito.” Desde aquele fatídico 13 de agosto, dona Alzira acende uma vela todos os dias, às 18h, e reza pelo filho. “Eu peço que, por tudo o que ele foi aqui, e já que ele está em um lugar bom, ele continue ajudando a mim e à irmã, nos dando força. E eu acredito que ele esteja fazendo isso. Percol era um ser iluminado”.
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Ele me escolheu e eu o escolhi. É difícil aceitar. Meu coração está arranhado”
Foi um cara que se tornou braço direito do governador e que sempre manteve a humildade”
Cecília Ramos, viúva de Percol
Renato Rissato, amigo de Percol
Projeto a dois adiado e interrompido Faltava pouco mais de um mês para o jornalista Carlos Augusto Percol retomar a vida de recém-casado com a também jornalista Cecília Ramos. Eles aguardavam am o fim fim da campanha a presidente de Eduardo Campos para iniciarem o projeto de vida a dois que incluía o sonho de terem um filho. Percol e Cecília se casaram
no dia 5 de abril de 2014. Fizeram uma viagem de lua de mel de pouco mais de 10 dias e, assim que retornaram, ele seguiu o maior desafio da sua vida profissional, se mudando para São Paulo com o ex-governador. Morar na capital paulista foi a maneira de vencer a distância e a saudade do marido.
“No meu primeiro final de semana morando lá, ele estava no Recife. Me ligou no Dia dos Pais dizendo que queria ser pai de todo jeito, que não ia adiar mais, que eu não ia enrolar mais ele. Aí aconteceu aquele acidente inacreditável e tudo mudou”, contou Cecília, emocionada. A vida na capital paulista
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estava sendo organizada por Percol. col. O aluguel de um fflat lat e o trabalho que ela passaria a exercer no comitê da campanha estavam entre as providências que ele estava tomando. “Antes de ele seguir para Santos, me falou: “Já resolvi sua vida”. Hoje, Cecília diz que o tempo não será suficiente para apagar uma his-
tória que foi construída sem tempo para terminar. “Ele me escolheu e eu o escolhi. É difícil aceitar. Meu coração está arranhado”. Para os amigos de Percol desde a época de colégio, ele era motivo de orgulho. “Foi um cara que viveu muita coisa com a gente, que se tornou secretário de Imprensa do Reci-
fe, braço direito do governador e que sempre manteve a humildade”, disse o advogado Renato Rissato. Percol sempre dava um jeito de encontrar os amigos. “Se ele ia para São Paulo e tivesse um tempo livre, mesmo que curto, marcava com quem estivesse na cidade”, disse o representante comercial Fernando Macena. (RR)
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Mãe do fotógrafo Alexandre Severo vive rodeada de imagens do filho, que fazia parte da equipe de Eduardo Campos
O retrato da saudade SÁVIO GABRIEL saviogabriel.pe@dabr.com.br
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ra uma quinta-feira, 11 de agosto de 1977. Grávida do primeiro filho, a então funcionária pública Rita Regina da Silva sentiu os primeiros chutes em seu ventre. “Foi uma felicidade grande que eu nunca vou esquecer. Maior até do que durante o parto”. Exatos 37 anos e dois dias mais tarde, o mesmo mês de agosto que lhe trouxe um dos momentos mais felizes da vida ficou marcado também por uma dor difícil de superar. E uma saudade que vai acompanhá-la para sempre. No dia 13 de agosto de 2014, Rita perdeu seu filho, o fotógrafo Alexandre Severo, uma das vítimas do acidente aéreo. As fotos com o filho, espalhadas pelos cômodos do apartamento onde mora, no bairro de Casa Amarela, servem como alento na tentativa de amenizar as dores causadas pela tragédia. “Eu nunca vou deixar de ser a mãe dele”, conta dona Rita, com olhos marejados e voz embargada. Na intimidade do convívio familiar, Severo era o “Axis” para a mãe, ou simplesmente o “tio Xanxo” para seus dois sobrinhos. O início da vida profissional de Severo foi bem distante das câmeras e dos estúdios. Aos 16 anos, iniciou o curso de Direi-
to. “Era o sonho do pai. Mas no último ano, de tanto ‘levar pau’, chamaram ele e disseram que seria jubilado”, comenta dona Rita, aos risos. Com o falecimento do pai, em 2000, Severo largou a graduação e entrou no curso de Publicidade e Propaganda, onde iria encontrar a sua verdadeira vocação. “Ele também largou o curso no último ano, mas tinha uma cadeira de fotografia. Gostou e foi fazer cursinhos.” Apesar da escolha não ter sido a que a dona Rita imaginava para o filho, o apoio foi
RITA RECORDA SONHOS DO FILHO E OS PROJETOS QUE ELE TINHA PARA O FUTURO incondicional. “Falei pra ele: filho, queria que você fosse doutor, mas você quis ser doutor em fotografia. Então, faça o melhor que você sabe fazer”. O reconhecimento profissional de Severo, que passou pelas redações do Diario de Pernambuco, Jornal do Commercio e Folha de Pernambuco antes de se mudar para São Paulo, onde morava desde 2012, orgulhava a mãe e toda a família. Ela lembra, ainda, que o sobrenome do filho foi escolhido após uma matéria publica-
da pelo Diario, em meados de 1978, sobre o imperador romano de mesmo nome. “Saiu uma matéria no caderno Viver, de página inteira. Por conta dessa história, o pai incluiu o sobrenome”, conta dona Rita, que guardou a página do jornal por muito tempo. “Ele pegou para mostrar a alguém e não me devolveu”. Severo estava animado em fazer parte da equipe de Eduardo Campos. “Disse: ‘Mãe, reza que vai aparecer um negócio bom pra mim’. Eu sempre dizia que se fosse para o bem dele, que acontecesse. E aconteceu. Alexandre estava muito feliz.” Severo planejava fazer um curso de fotografia em Nova York após a campanha.
Acidente
No fatídico 13 de agosto, dona Rita tinha acabado de chegar da academia quando recebeu os primeiros telefonemas da filha. “Ela me pedia para ligar para ele, porque tinha visto na televisão que o avião de Eduardo Campos havia caído”. Quando ligou a TV, deparou-se com o inimaginável: macas carregando feridos e ambulâncias, que já estavam no local da queueda. “Eu tinha a fé de que aquelas pessoas que estavam sendo carregadas eram os ocupantes da aeronave. Mas não. Era o pessoal que estava em ter-
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ARQUIVO PESSOAL
ra”. Ouvir a confirmação da morte do filho foi como “levar um tiro na cabeça”. “O primeiro nome que falaram foi o dele. Até hoje não entendo como sobrevivi”. No dia seguinte, dona Rita foi a São Paulo com o cunhado agilizar a liberação dos restos mortais. Trouxe objetos pessoais do filho, que estavam no apartamento onde ele vivia: livros sobre fotografia, objetos de trabalho (câmeras fotográficas, icas, fflashes lashes etc), incluindo filmes que ainda não foram revelados. Todos estão cuidadosamente guardados no apartamento, numa forma de manter viva a lembrança de Severo. Um ano após a tragédia, a união da família e a fé têm ajudado a manter as forças. “Quando as pessoas perguntam como eu estou, digo que estou em paz”.
Severo pretendia fazer um curso de fotografia nos Estados Unidos
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O primeiro nome que falaram (entre os mortos no acidente) foi o dele. Até hoje não entendo como sobrevivi” Rita Regina da Silva, mãe de Alexandre Severo
Ilusão para esconder a dor O dia 13 de agosto de 2014 não existe no calendário da advogada Andréa Valadares. Na data, ela perdeu o irmão, Pedro Valadares, assessor de Eduardo. “Prefiro acreditar que ele continua viajando para não enlouquecer”, disse. Emocionada, ela lembrou que o irmão era um grande exemplo e diz que a rotina da família tem sido difícil. “Minha ligação com ele é muito forte”, disse, por telefone, sem conter o choro. “Perdi um irmão. Um pai. Um amigo”. Dele herdou o eclético gosto por artistas como Roberto Carlos, Reginaldo Rossi, Andrea Bocelli, entre outros. Há um ano evita ouvir qualquer canção deles. “Se tivesse a oportunidade de falar com ele de novo, diria: como é grande o meu amor por você.” Marcelo Lyra, cinegrafista oficial da campanha e uma das vítimas, nasceu em Olinda, trabalhava como fotógrafo e cinegrafista profissional desde o ano 2000. Era casado e tinha dois filhos. Morreram também os dois pilotos da aeronave, Geraldo Magela e Marcos Martins. Procuradas pelo Diario, as famílias de Marcelo e Martins afirmaram que ainda é difícil falar. Os familiares de Magela não foram localizados.
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NÃO APAGOU
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Um dia depois do outro, um dia comum. Treze de agosto de 2014 tinha toda a cara de ser assim. Não foi. Por voltaa das das 10h, surgia a notícia de que um helicóptero havia caído em Santos. Milhares de quilômetros longe de Pernambuco. Uma distância que foi se encurtando quando, aos poucos, os boatos foram se transformando em uma verdade. Realmente, era o jatinho de Eduardo Campos. A angústia passou. Ficou a perplexidade. Atônitos, muitos ainda estavam incrédulos. Quatro dias se passaram até o enterro. O reencontro foi também o momento da despedida. Milhares de pernambucanos nos de várias várias partes do estado acompanharam o cortejo dos restos mortais do ex-governador e as cerimônias fúnebres dele e de outros dois membros de sua equipe: o jornalista Carlos Percol e o fotógrafo Alexandre Severo. Do povo simples às autoridades máximas do país. Um ano depois, até parece que foi ontem. No celular, quando se busca o número de Eduardo, lá está marcado no WhatsApp: último dia visto: 13 de agosto de 2014.
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REENCONTRO E DESPEDIDA
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Recif ecife, e, QUI - 13/08/2015 13/08/2015