Diรกrio de Bordo
Inverno 2003
DENI: A CONQUISTA DE UM POVO POR SEUS DIREITOS
Esses três meses, desde o último número do Diário de Bordo, foram de muito trabalho no Greenpeace Brasil. Sem dúvida alguma, as atividades da Semana do Meio Ambiente foram o ponto alto. Nesse período, as nossas quatro campanhas desenvolveram uma série de iniciativas em diversas cidades brasileiras. Mas vale ressaltar que a defesa do meio ambiente não se resume a um trabalho realizado durante uma semana apenas, quando recebemos uma atenção especial dos veículos de comunicação. Afinal de contas, as agressões ao planeta ocorrem todos os dias e, muitas vezes, na surdina. Foi o que percebemos com a Medida Provisória 113, transformada em lei, que liberou a comercialização da soja transgênica no país. Uma lei definida sem qualquer debate com a sociedade civil. Outro exemplo é o caso do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética). O maior crítico da energia nuclear dentro do organismo, o físico José Goldemberg (Secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo), foi excluído de sua composição sem maiores explicações. O Greenpeace, você pode ter certeza disso, sempre se posicionará contrariamente a esses e a outros episódios que, além de danosos ao meio ambiente, tenham uma face pouco democrática e pouco transparente. Por outro lado, uma vitória que podemos comemorar em agosto é a conclusão da
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Amazônia.......................................................... 03
demarcação das terras dos índios Deni, no Amazonas, que conta há vários anos com o apoio do Greenpeace. O programa Cidades Amigas da Amazônia também está com a bola toda. Convença o prefeito de sua cidade a participar! Por fim gostaria de chamar sua atenção para uma campanha de aumento das contribuições dos nossos sócios. Como todos sabem, ano após ano a inflação no Brasil tem atingido índices mais altos do que 10%, o que tem causado um forte impacto sobre nossos custos. Sabemos da difícil situação econômica por que todos passam. Mas aqueles sócios que possam permitir-se um aumento de contribuição, poderiam nos dar um grande impulso, para que continuemos obtendo vitórias como estas da Amazônia, aqui relatadas. Desde já, muito obrigado! Um abraço,
Frank Guggenheim Diretor-Executivo
Greenpeace / A. Kishimoto
editorial
Caros Sócios,
Amazônia / Deni .......04
Transgênicos .................................................... 10 Tóxicos............................................................... 12 Energia .............................................................. 14 Espaço do Sócio .............................................. 16 2
Semana do Meio Ambiente..........06
Amazônia
Bauru quer ser amiga da mata Os municípios de Ribeirão Preto e Fale com o seu prefeito ou vereador para entrar Pirajú estão interessados em participar da em contato com o Greenpeace pelo endereço elecampanha, a sua cidade pode ser a próxima. trônico cidadesamigas@greenpeace.org.br. Entre Para ser uma Cidade Amiga da Amazônia é no site e conheça a nova área da campanha. DB preciso que a prefeitura, ao comprar produtos madeireiros, dê preferência àqueles que são certificados pelo FSC (sigla em inglês para Conselho de Manejo Florestal), exija na licitação pública provas da origem sustentável do produto florestal, reduza o uso de madeira descartável na construção civil, e proíba a compra do mogno, que é uma espécie ameaçada O prefeito de Bauru, Nilson Costa (PTB-SP), recebe o campaigner Gustavo Vieira em compromisso público com o Cidades Amigas da Amazônia de extinção. Greenpeace / R. Baleia
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s municípios de Sorocaba e Bauru, no interior de São Paulo, consomem juntos 470 mil m3 de madeira amazônica em tora a cada ano. A região de Campinas sozinha consome ainda mais: 474 mil metros cúbicos por ano. Com a campanha Cidades Amigas da Amazônia, lançada em Bauru durante a Semana do Meio Ambiente, o Greenpeace já conseguiu convencer as prefeituras destas três capitais regionais a não comprar mais madeira retirada da Amazônia de forma ilegal. A primeira cidade a entrar para a campanha foi Sorocaba. Assim, os municípios devem desenvolver Projetos de Lei comprometendo-se a adotar critérios responsáveis na compra de produtos madeireiros. O objetivo da campanha é também conscientizar a população dessas cidades sobre a importância de não se comprar madeira ilegal. Em Bauru, o Greenpeace distribuiu adesivos e folhetos explicativos para quase 500 crianças.
Mogno é protegido pelo governo Lula De acordo com decreto presidencial, exploração da madeira terá de garantir preservação
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presidente Lula anunciou no Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) a primeira grande medida de seu governo na área ambiental. Ele assinou decreto que determina que a exploração do mogno, suspensa desde outubro de 2001, seja baseada em Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) adequados ao Anexo 2 da Cites, Convenção da ONU que regulamenta o comércio internacional de espécies ameaçadas de extinção. O Anexo 2 determina que o mogno só seja explorado de forma a não ameaçar a sobrevivência da espécie, o que deverá ser atestado por uma autoridade científica. O decreto de Lula também proíbe por cinco anos o corte de mogno em áreas de desmatamento. A estratégia do governo é impedir que a madeira com essa origem seja usada para “legalizar” a madeira ilegal, ou que exista um duplo padrão – um controlado pela Cites, para exportação, e outro destinado ao mercado interno, de origem predatória. Lula também assinou um termo de doação de mogno ilegal apreendido pelo Ibama e afirmou que, de agora em diante, todo carregamento ilegal da espécie será destinado a organizações sociais e ambientais das áreas afetadas pela exploração predatória. Os recursos da venda da madeira deverão ser destinados,
em parte, a um fundo para financiar projetos sociais e de manejo sustentável. A outra parte deverá ser destinada ao Ibama. Em julho, a FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional) recebeu, em Altamira (PA), a primeira doação de mogno ilegal. Cerca de 6 mil toras de madeira, avaliadas em R$ 7,5 milhões, serão serradas pela madeireira certificada Cikel.
Mogno devolvido No dia 4 de julho, o Ibama apreendeu no Porto de Paranaguá (PR) mais de 45 mil m2 de mogno ilegal laminado, avaliado em R$ 290 mil. É a primeira vez que um carregamento de mogno ilegal foi devolvido ao país. A empresa Laminort, de Curitiba (PR), que havia exportado a madeira para os EUA, foi multada em mais de R$ 16 mil por venda e exportação sem autorização do Ibama. A exportação do mogno havia sido amparada por uma liminar judicial no ano passado. Porém, foi apreendido no porto de Norfolk (Estado da Virgínia) a pedido das autoridades brasileiras. Os importadores travaram uma batalha judicial em Washington pela liberação da carga, mas em abril a Justiça dos EUA determinou a devolução do mogno ao Brasil. DB
Floresta abaixo
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taxa anual de desmatamento na Amazônia Legal estimada para agosto de 2001 a agosto de 2002 atingiu o inaceitável índice de 25,5 mil km2 — o equivalente a 5,1 milhões de campos de futebol. De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o número é o segundo maior da história, e representa um aumento de 40% em relação ao período anterior. Parte da explicação para esse crescimento está no boom do gado, da soja e do arroz, que se expandem em direção ao coração da Amazônia. A competitividade da madeira ilegal, a falta de crédito para manejo sustentável dos recursos florestais e a crônica incapacidade de atuação de órgãos governamentais, como o Ibama, também pesam nessa conta. Um quarto do desmatamento total da Amazônia foi levado a cabo durante o governo FHC. Os mais de 157 mil km2 de floresta destruídos nos últimos oito anos são um triste legado para a gestão de Lula, que só poderá avaliar o tamanho do estrago quando computar os dados de desmatamento no segundo semestre de 2002 – época em que são feitas as queimadas e o preparo do solo para a agricultura e pastagem. O governo Lula deve adotar um plano nacional de combate ao desmatamento e optar definitivamente pela sustentabilidade econômico-ambiental. DB
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Amazônia
Entrevista: Nilo D’Avila
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esde 1999, Nilo D’Avila faz parte do time do Greenpeace que luta pela proteção da Amazônia. Há mais de quatro anos, coordena o projeto de apoio à demarcação da Terra Indígena (TI) Deni — trabalho desenvolvido em conjunto com o Cimi (Conselho Indígena Mi s s i o n á r i o ) e a O p a n ( O p e r a ç ã o Amazônia Nativa). Em agosto, concluída a demarcação, os Deni realizaram uma cerimônia para comemorar a proteção de seu território. A terra Deni compreende uma área de 1,530 milhão de hectares no sudoeste do estado do Amazonas, a cerca de 8 a 10 dias de barco de Manaus. Os Deni definem como seu habitat tradicional uma área situada entres os rios Purus e Juruá, ambos afluentes do Solimões. Vivem em oito aldeias próximas às margens dos rios Cuniuá (afluente do Purus) e Xeruã (afluente do Juruá), em uma região coberta por uma floresta densa, rica em espécies como muiratinga, copaíba, jacarandá, pau-rosa, cedro, jatobá, samaúma e virola. O Greenpeace apóia a demarcação de todas as Terras Indígenas brasileiras. “Se todas estivessem demarcadas, cerca de 20% da Amazônia brasileira teria algum tipo de proteção legal. No entanto, aproximadamente metade delas ainda não passou por todo o trâmite burocrático para ser reconhecida como Terra Indígena pelo Estado. Sem essa garantia de proteção, povos e culturas indígenas continuam ameaçadas”, afirma D’Avila.
Fotos da matéria: Greenpeace / F. Cannalonga
Coordenador da demarcação dos Deni afirma que se todas as Terras Indígenas fossem demarcadas, 20% da Amazônia brasileira teria proteção
Nilo (ao centro) analisa mapas junto com os Deni, durante a preparação para a demarcação em maio de 2003
O objetivo do Greenpeace na Amazônia, assim como em outras áreas de Florestas Antigas do planeta, é promover o uso ecologicamente sustentável e socialmente responsável da terra, incluindo redes de áreas protegidas. O zoneamento ecológico e econômico deve ser baseado na adoção do planejamento participativo para o uso da terra. As Florestas Antigas são as últimas matas do mundo que sofreram pouco ou nenhum impacto das ações humanas, e guardam dois terços das espécies de plantas e animais terrestres do planeta.
Os Deni Família lingüística: Arawa População Total: 736 pessoas (Censo 2001/IBGE), distribuídos em 116 residências em oito aldeias nos rios Cuiuá e Xeruã, afluentes dos rios Purus e Juruá respectivamente. Em 1953, o povo Deni era estimado em 1.000 pessoas. Desde então, esse número sofreu uma redução de 25%. Área a ser demarcada: 1,530 milhão de hectares Localização: Sudoeste do Amazonas, municípios de Tapauá e Itamarati Dieta: peixes e outros animais, como porco-do-mato, galinhas e patos domésticos; cultura de mandioca, batata, cará, banana e mamão; e coleta de frutas, como açaí e patauá (palmito). Artefatos: O artesanato não é uma atividade econômica para os Deni, mas eles fa-
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bricam colares, redes, cestos, pulseiras, anéis e esculturas em madeira, brinquedos, arcos e flechas, e outros itens para seu próprio uso ou para comércio limitado. Economia: A extração do óleo de copaíba é sua principal atividade comercial. O “regatão” (o barqueiro que vende sal, combustível e outros produtos importados para os Deni) paga R$ 1,50 por litro de óleo de copaíba, enquanto em Manaus ele é vendido por mais de R$ 8. O óleo de copaíba é usado pelas indústrias de cosméticos, pintura e farmacêuticas. Medicina Tradicional: Coleta de muitas espécies de plantas e uso de veneno para pescar e caçar, além do látex para aliviar dores e curar doenças. Também é comum o uso do rapé, alucinógeno suave feito de folhas de tabaco e do pó do tronco da árvore pupui.
Como o Greenpeace se envolveu com a demarcação da Terra Indígena Deni? Em 1999, descobrimos que a WTK, madeireira da Malásia, havia adquirido terras sobrepostas ao território Deni. Por causa do envolvimento da WTK na destruição de florestas em outras partes do mundo, resolvemos investigar. Foi quando fizemos o primeiro contato com os índios Deni e contamos que parte de suas terras haviam sido vendidas para uma madeireira. Eles ficaram assustadíssimos e pediram nossa ajuda para proteger seu território. Entramos em contato com o Cimi e a Opan para formular um projeto que capacitasse os próprios Deni a reconhecer os limites tradicionais de sua terra. Durante seis meses, entre 2000 e 2001, uma equipe multidisciplinar – com antropólogo, especialista em assuntos indígenas, sociólogo e engenheiro agrônomo – trabalhou diretamente com líderes de todas as oito aldeias Deni, ensinando-os a manusear instrumentos de medição. Eles adquiriram uma idéia muito clara das fronteiras de sua terra e estavam prontos para assumir a demarcação de seu território. Em setembro de 2001, iniciaram a autodemarcação, com a ajuda de um time de especialistas brasileiros e de voluntários do Greenpeace. Um mês depois, o então Ministro da Justiça, José Gregori, assinou a Portaria Demarcatória, garantindo reconhecimento constitucional dos direitos Deni sobre sua terra. Depois de mais de quatro anos de trabalho e persistência
para vencer a burocracia, o caso Deni se transformou em um exemplo claro de que é possível reverter a tendência de destruição do patrimônio natural por meio do trabalho com as comunidades tradicionais e do cumprimento da legislação. O que aconteceu com a WTK? Em 2000, fizemos uma forte campanha junto ao mercado consumidor da WTK. Partimos para ações diretas em três países, denunciando os riscos que um projeto como o da WTK representava para os povos indígenas da Amazônia. O mercado inglês, principal consumidor de madeira amazônica da empresa, cancelou uma série de contratos de compra de compensados, e a WTK declarou publicamente que não iria explorar a área sobreposta ao território Deni. Até hoje, a companhia não conseguiu provar a posse legal das terras, e sua subsidiária em Manaus, a Amaplac, permanece fechada. Quantos povos indígenas existem hoje na Amazônia? Os dados mais recentes, de 2000, indicam que há aproximadamente 350 mil índios de pelo menos 217 etnias diferentes no Brasil. Desse total, 113.391 vivem no Estado do Amazonas. No entanto, estes números não são definitivos. Segundo o ISA (Instituto Socioambiental), por exemplo, há pelo menos 53 referências a povos indígenas “isolados”, que não constam das listas oficiais porque ainda não foram contatados pela Funai. Por que a demarcação é tão importante para os povos indígenas? A demarcação de TIs é um mero reconhecimento do governo federal do que é, foi e sempre será domínio dos índios. Também é um instrumento legal para ser usado pelas populações indígenas para proteger seu território. Só na Constituição Federal de 1988, o direito de ser e permanecer indígena foi reconhecido. A Carta Magna assegurou aos povos indígenas o respeito a sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e reconheceu seu direito sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Qual é o status atual da demarcação das Terras Indígenas (TIs) no país? A Constituição estabeleceu 1993 como o ano-limite para a demarcação de todas as terras indígenas no Brasil. De acordo com a Funai, apenas metade das TIs brasileiras foi demarcada até 2002, e cerca de 1/5 nem começou o processo. Como é feita a demarcação? A demarcação oficial é um processo longo e burocrático. O primeiro passo é enviar um antropólogo para a TI, que é responsável por elaborar um relatório detalhando o uso do território pelos índios, com dados sociológicos
Ribamar, assistente de coordenação de logística do Greenpeace, prepara uma tenda na floresta durante a expedição à terra Deni em fevereiro de 2001
e cartográficos. Com a ajuda de geógrafos e engenheiros, a informação sobre o uso da terra é transformada em delimitações cartográficas, que são usadas para desenhar um mapa mais detalhado do território. O resumo do relatório é publicado no Diário Oficial da União, e um período de 90 dias, conhecido como “contraditório”, é aberto para que pessoas interessadas na questão possam recorrer da proposta e reivindicar compensações por eventuais perdas causadas pela demarcação. Depois desse período, a Funai envia o relatório e documentação adicional para o Ministério da Justiça, responsável pela aprovação do projeto para a demarcação física. Uma vez aprovado, a terra estará finalmente pronta para ser demarcada. Um processo de licitação é aberto pela Funai para escolher a companhia responsável pela demarcação física. Após sua conclusão, o Presidente da República assina um decreto criando oficialmente a Terra Indígena. O decreto registra a terra como propriedade federal com a concessão de uso para os índios. Depois de demarcada, a terra se torna propriedade dos índios? Não. Terras Indígenas são bens da União, reconhecidos aos índios a posse permanente
e o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. O Estatuto dos Povos Indígenas – que define as formas de uso dos produtos a serem explorados pelos povos indígenas – tramita na Câmara dos Deputados desde 1994. A proposta regulamenta a exploração dos recursos naturais existentes nas terras indígenas e aborda temas como os direitos de propriedade intelectual, proteção ao meio ambiente e acesso aos recursos genéticos. A não aprovação do Estatuto abriu espaço para complexos debates sobre os direitos indígenas, que supõem a interpretação de leis vigentes e em elaboração. As únicas exceções ao direito de “usufruto exclusivo” da terra indígena estão previstas na própria Constituição: o aproveitamento de recursos hídricos e a mineração por terceiros (que devem ser definidos pelo estatuto). Em ambas, as comunidades indígenas devem ser ouvidas, e deve ser assegurada sua participação nos frutos da lavra. DB
Saiba mais sobre os Deni no hotsite www.greenpeace.org.br/deni, em que você pode obter informações sobre o modo de vida da comunidade, ver fotos e vídeos, e acompanhar o diário dos voluntários que participaram da expedição de demarcação.
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Greenpeace / J. Pratginestós
Semana do Meio Ambiente
Dez ativistas são detidos após tentativa de escalar cúpula do Congresso, em Brasília
Angra 3 não! Energia renovável já! Na Semana do Meio Ambiente, o Greenpeace protestou contra a energia nuclear e defendeu as fontes limpas e renováveis, com coleta de assinaturas e um tour solar
A
opção por energias limpas e renováveis e a oposição à construção da usina nuclear de Angra 3 foram os destaques do Greenpeace durante a Semana Nacional do Meio Ambiente deste ano. Ativistas fizeram ações diante do Congresso Nacional e do Palácio da Alvorada, em Brasília, e promoveram demonstrações sobre a utilização da energia solar em diversos locais públicos da Grande São Paulo. Além da capital paulista, foram realizadas atividades em Manaus (AM), Porto Alegre (RS) e Salvador (BA). Houve coleta de assinaturas contra Angra 3 e a proposta que limita em 50% a área de cada Estado brasileiro passível de ser transformada em área protegida, seminários sobre organismos geneticamente modificados (OGMs), e o lançamento da segunda edição do guia de produtos transgênicos, entre outras atividades (veja box na página ao lado). Em Bauru (SP), foi anunciada a adesão do município ao programa Cidades Amigas da Amazônia, de acordo com o qual a prefeitura se com6
promete a não adquirir madeira ilegal (veja página 3). No dia 4 de junho, véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente, 15 ativistas tentaram escalar a cúpula do Congresso Nacional com o objetivo de estender ali uma faixa de protesto contra a construção da usina nuclear de Angra 3. De acordo com o artigo 21 da Constituição Brasileira, o Congresso é responsável por acompanhar e fiscalizar o programa nuclear brasileiro. Embora fosse uma ação pacífica, 10 deles acabaram detidos no dia. No dia seguinte, voluntários levaram três pôsteres gigantes ao Palácio da Alvorada, com imagens de fetos e crianças atingidas pela radioatividade do acidente na usina de Chernobyl (Ucrânia), em 1986. “Presidente Lula, será este o seu legado?” era a mensagem escrita abaixo de cada uma das fotos. Com ela, o Greenpeace quis alertar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre os perigos das usinas atômicas e exigir que o governo brasileiro desista do projeto de
construção de uma terceira usina atômica em Angra dos Reis (RJ). A organização acredita que a energia nuclear, além de perigosa, é um recurso dispensável por já existirem alternativas como as fontes limpas, que têm grande potencial de desenvolvimento. “Mais de 20 milhões de brasileiros não têm acesso à eletricidade, e a construção de Angra 3 não trará benefícios a essas pessoas”, afirmou Sérgio Dialetachi, coordenador da Campanha de Energia. No lançamento das atividades da Semana, em 31 de maio, uma equipe do Diálogo Direto, grupo que atua na divulgação do trabalho do Greenpeace, fez demonstrações sobre a viabilidade da produção de energia solar no edifício do cursinho da Poli, em São Paulo — utilizando uma TV, um vídeo-cassete, um laptop e uma lanterna, ligados a um painel solar fotovoltaico de 1 m2. No tour solar realizado durante toda a semana, o aparato foi levado a faculdades, cursinhos, feiras e parques públicos de São Paulo e municípios vizinhos, com o objetivo
Manaus (AM) Na capital do Amazonas, o enfoque foi a campanha contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 38/99, que limita em 50% a área de cada Estado brasileiro que pode vir a ser transformada em Unidade de Conservação (UC) ou Terra Indígena (TI). Nos dias 6 e 7 de junho, voluntários coletaram mais de mil assinaturas contra a proposta, durante o Festival Universitário de Música (FUM), realizado no estacionamento da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). A PEC, de autoria do senador Mozarildo Cavalcanti (PPS-RR), restringe as possibilidades de os Estados protegerem seus recursos naturais e dá sinal verde para que metade da Amazônia seja destruída. A proposta, que seria votada em primeiro turno pelo Senado no dia 11 de junho, foi adiada e é possível que volte à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) a pedido do próprio senador.
Greenpeace / J. Pratginestós
A Semana pelo Brasil
Porto Alegre (RS)
O Greenpeace quer que o Congresso Nacional impeça a aprovação de uma nova usina nuclear no país
Greenpeace / J. Pratginestós
Na terra do chimarrão, voluntários coletaram assinaturas contra a construção de Angra 3 e realizaram atividades com crianças (pernas de pau, malabarismo, pintura e confecção de uma faixa) em parques públicos (Parcão e Brique da Redenção), entre 31 de maio e 6 de junho. Além disso, ministraram palestras sobre produtos transgênicos em escolas (Colégio Presidente Castelo Branco e Colégio Rosário). Uma exposição de fotos da Amazônia foi realizada no Centro Universitário La Salle.
Salvador (BA) Pelo segundo ano consecutivo, o shopping Aeroclube Plaza Show, localizado na praia Armação, hospedou um estande do Greenpeace durante a Semana do Meio Ambiente. De 4 a 17 de junho, foram realizadas palestras sobre a organização e a Campanha de Energia, além do lançamento local da segunda edição do Guia do Consumidor de produtos transgênicos. Uma exposição de fotos, a exibição de vídeos, e a coleta de assinaturas contra a usina de Angra também fizeram parte da programação.
Ação diante do Palácio da Alvorada visou alertar Lula sobre perigos nucleares 7
Greenpeace / R. Baleia
Semana do Meio Ambiente
Com equipamentos movidos a energia solar, voluntários divulgaram os benefícios das fontes limpas
A história do 5 de junho O Dia Mundial do Meio Ambiente foi instituído em 1972 pela ONU (Organização das Nações Unidas), com o intuito de marcar a abertura da Conferência de Estocolmo (Suécia). A reunião foi o primeiro grande encontro oficial a tratar de Ecologia no âmbito internacional. Concentrando as mais diferentes formas de manifestação, protestos contra crimes ambientais e plantios de mudas, aquele dia dedicado às reflexões, debates e ações sobre o meio ambiente passou a ganhar cada vez mais importância e destaque. Às passeatas e denúncias contra os “inimigos” do meio ambiente, somaram-se atividades educativas realizadas nas escolas e nas comunidades. Crianças, jovens e adultos passaram a entender que os problemas ambientais ultrapassam fronteiras e afetam as condições de vida em diferentes partes do planeta. Assim, começaram a compreender a importância de suas ações. Foi quando cunhou-se a frase “Pensar globalmente e agir localmente”. A mídia passou a dedicar mais espaço aos eventos programados para a data. Os governos foram gradativamente
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compelidos a apresentar propostas para a solução dos problemas denunciados por jornalistas e ambientalistas. E o empresariado passou a divulgar investimentos em projetos ambientais (fossem eles reais ou não). Em meio a toda essa história, a pergunta que não quer calar: há motivos para comemorações em 5 de junho? Os pessimistas dirão que nunca a sobrevivência da vida na Terra esteve tão ameaçada. Do outro lado da balança, contra-argumentarão que nunca houve tanto destaque para o meio ambiente, tanta informação circulando a respeito do assunto, e tantas pessoas envolvidas na busca por soluções para os problemas ambientais. Para o Greenpeace, a crença na capacidade humana de superação de dificuldades é o que motiva a busca por um mundo melhor. Se compartilhasse da visão negativa, não teria porque lutar. Os obstáculos à sobrevivência da humanidade são verdadeiros e sérios, e é urgente a necessidade de reverter a destruição provocada pelo Homem. O planeta precisa de uma chance para recuperar-se!
de estimular o debate sobre o futuro da política energética brasileira. “O que nós queremos é dar um recado muito claro ao governo Lula de que a energia solar já é uma realidade viável e que nós, brasileiros, não precisamos dos perigos e dos altos custos de uma nova usina nuclear”, disse Dialetachi. As células fotovoltaicas são capazes de gerar energia elétrica a partir da luz do sol. Essa eletricidade é armazenada em uma bateria de carro comum (de 12 volts), cuja tensão depois é transformada em 110 volts por um pequeno conversor, encontrado em qualquer loja de material eletrônico. O Greenpeace elegeu a Campanha de Energia como base das ações da Semana do Meio Ambiente na tentativa de suspender o projeto da construção de Angra 3, que deve ser decidido pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Acreditamos que o CNPE deveria ser democratizado, tornando-se transparente e abrindo espaço para a participação da comunidade em suas decisões. “Atualmente, há três representantes da sociedade civil no CNPE, enquanto há sete membros do governo no Conselho. Esses três representantes não contemplam todas as camadas e setores da sociedade civil brasileira”, afirmou o coordenador da campanha. “Precisamos saber o que pensam os moradores de Angra dos Reis e de todos os municípios que estejam localizados num raio de 100 quilômetros da cidade, que poderiam ser atingidos no caso de um acidente. Isso significaria ouvir, inclusive, moradores e representantes de cidades em Minas Gerais e em São Paulo”.
Participação O Greenpeace também coletou milhares de assinaturas contra a construção de Angra 3, provenientes de várias partes do país, as quais deverão ser entregues ao presidente Lula. Promovemos também uma ciberação no nosso site, reivindicando que o CNPE não aprove a construção da terceira usina nuclear brasileira. Na internet, também foi possível participar dos bate-papos online com os coordenadores das campanhas e o diretor do Greenpeace, Frank Guggenheim. O objetivo dos chats foi esclarecer dúvidas e informar os internautas sobre as conquistas e os projetos do Greenpeace para o futuro. A exposição “Resgatando Nosso Futuro”, organizada pela Fundação Mokiti Okada de 24 de maio a 28 de junho, apresentou os produtos com ou sem transgênicos incluídos na segunda edição do Guia do Consumidor do Greenpeace. O evento foi realizado na sede da Fundação, em São Paulo, onde ativistas divulgaram informações sobre produtos compostos por OGMs, e distribuíram cópias gratuitas da publicação. DB
A Amazônia precisa de você
não madeireiras. Nós estamos trabalhando muito para evitar a destruição da Floresta Amazônica, investigando operações madeireiras ilegais e destrutivas, coletando documentação e denunciando publicamente os responsáveis pela degradação da qualidade de vida no planeta. Nos próximos meses, continuaremos lutando para garantir a criação de reservas extrativistas e áreas de preservação na Amazônia brasileira. Este é um grande desafio e, para vencer esta guerra, precisamos de todo o apoio possível, em especial de nossos sócios. Utilize o folheto encartado nesta edição do Diário de Bordo e aumente a sua contribuição. Você pode enviar o cupom por fax, pelo número (11) 3817-4600, ou ligar para (11) 30351151. Se preferir, acesse nosso site seguro em www.greenpeace.org.br/amazonia2003. A luta do Greenpeace em defesa do meio ambiente só é possível graças ao seu apoio! A Amazônia agradece! Um abraço,
Greenpeace / I. Rouvillois
e culturas tradicionais, o desmatamento da Amazônia afeta o ciclo das águas e adiciona, segundo o Ipam (Instituto de Pesquisa da Amazônia), 200 milhões de toneladas de carbono à atmosfera anualmente, transformando o Brasil num dos 10 maiores vilões responsáveis pelo aquecimento global. O objetivo do Greenpeace na Amazônia, assim como em outras áreas de Florestas Antigas do planeta, é promover o uso ecologicamente sustentável e socialmente responsável da terra, incluindo uma rede de áreas protegidas, tanto para atividades madeireiras quanto Greenpeace / D. Beltra
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os últimos anos, a extração predatória e o comércio ilegal de madeira da Amazônia, especialmente o mogno, foram usados pelo Greenpeace para demonstrar um problema muito mais profundo e real: há uma guerra contra a floresta e contra os povos da floresta. Muitas vezes, esta guerra é promovida por empresários corruptos, beneficiados pela ausência do Estado na região e aliados a consumidores insuspeitos que, mesmo sem querer, consomem produtos florestais de origem ilegal, predatória e destrutiva. Graças ao apoio de pessoas como você, temos conseguido vitórias importantes, como a moratória que proibiu a exploração do mogno no Brasil e a inclusão da espécie no Anexo 2 da Cites. Mas ainda há muito a ser feito. Em junho deste ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou dados revelando que a taxa anual de desmatamento na Amazônia Legal estimada para o período agosto/2001- agosto/2002 foi de alarmantes 25.500 km2, a segunda maior da história. A área destruída na floresta em apenas um ano equivale a 5,1 milhões de campos de futebol! Esta taxa está bem acima da média anual (21.130 km2) da época mais trágica da Amazônia – os anos 70 e 80, conhecidos como “décadas da devastação”. É necessário barrar o processo de ocupação descontrolada e não planejada da maior floresta tropical do mundo e substituí-lo por outro, antes que a Amazônia vire uma nova Mata Atlântica, hoje reduzida a apenas 7% de sua dimensão original. Além da imensa perda de biodiversidade e da ameaça a povos
Greenpeace / R. Baleia
O Greenpeace está lutando para barrar a destruição irracional da Amazônia e você pode nos ajudar!
Paulo Adário Coordenador da Campanha da Amazônia Greenpeace
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Greenpeace / L. Castello
Transgênicos
Consumidor não sabe o que come — é com essa mensagem que o Greenpeace divulga o guia de produtos com OGMs
Batavo livre de transgênicos Empresa decide garantir produtos isentos de organismos geneticamente modificados; guia de transgênicos é divulgado no interior de São Paulo
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segunda edição do “Guia do Consumidor” já teve a sua primeira vitória. Após sua publicação em maio, a Batavo decidiu comprometer-se a não utilizar matéria-prima ou derivados de transgênicos em seus produtos. No ano passado, a Perdigão, proprietária da empresa, já havia oferecido a garantia aos produtos de sua marca própria. Agora, por meio de uma carta ao Greenpeace, estendeu o compromisso aos produtos da Batavo. Como resultado da pressão dos consumidores, 26 empresas já figuram na lista verde do Greenpeace, entre grandes, médias e pequenas. Continue participando desta campanha: ao fazer suas compras, utilize o guia do consumidor e proteste, utilizando o serviço de atendimento das empresas da lista vermelha. O número está disponível na embalagem dos produtos.
Divulgação do Guia A campanha de Engenharia Genética iniciou em Santos, em 10 de junho, um tour pelas principais cidades do Estado de São Paulo para a divulgação do “Guia do Consumidor – lista de produtos com ou sem transgênicos”. São Paulo foi escolhido por apresentar o maior consumo de produtos alimentícios industrializados do país. 10
A programação inclui Santos, São José do Rio Preto e Bauru — que já foram visitadas — e também Sorocaba, Campinas e mais um município a ser definido. Em cada um, é escolhido um local público, como uma praça, um shopping ou uma universidade, onde é realizada a exposição de alguns dos 640 produtos listados, a distribuição gratuita do guia e o esclarecimento de dúvidas por ativistas e por uma especialista.
Depois de Santos, o tour esteve em São José do Rio Preto, no dia 25 de junho, e Bauru, no dia 10 de julho. Em todas as cidades visitadas até o momento, o interesse da população foi muito grande. Cerca de 1.200 cópias do guia foram distribuídas em cada local. Campinas e Sorocaba devem receber a equipe da campanha em agosto. Fotos dos eventos estão disponíveis no site (www.greenpeace.org/transgenicos/ consumidores/guia2003/fotos). DB
Atenção: indústrias mentem ao consumidor
Muitas empresas da lista vermelha, ao serem contatadas pelos consumidores, declaram não utilizar ingredientes transgênicos. É o caso da Nestlé. A empresa continua negando o resultado de seis testes, encomendados pelo Greenpeace ao laboratório Genescan, de São Paulo, que comprovam a utilização de transgênicos em seus produtos. Devido aos plantios ilegais de soja geneticamente modificada no país e das importações de milho transgênico da Argentina, as indústrias de alimentos podem garantir produtos livres de OGMs quando adotam um controle na aquisição de matéria-prima e derivados de soja ou milho.
Para que uma empresa conste da lista verde, além de se comprometer a não utilizar transgênicos, ela deve declarar as medidas de controle adotadas. As indústrias que continuam na lista vermelha embora declarem não utilizar transgênicos, são aquelas que se negam a anunciar formalmente o tipo de controle realizado. Se a companhia realmente realiza esse controle, por que omiti-lo do consumidor? Se alguma empresa da lista vermelha declarar a você que não utiliza transgênicos, pergunte como é feito seu controle. Se houver resposta, peça a ela um documento por escrito (fax, carta, email) e envie-o ao Greenpeace. Assim, entraremos em contato com ela.
Greenpeace protesta contra liberação de safra transgênica Medida aprovada em maio pelo Congresso beneficia Monsanto, desrespeitando consumidores, Justiça e legislação ambiental brasileira; produto não passou por qualquer avaliação
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“A MP 113 beneficia a Monsanto por colocar no mercado interno um produto da empresa que não passou por qualquer tipo de avaliação. Além disso, a medida desrespeita uma sentença judicial que determina o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) e de saúde humana, normas de rotulagem plena e rastreabilidade, antes da liberação comercial de qualquer transgênico”, afirma Mariana Paoli, coordenadora da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace. O texto da MP foi aprovado com algumas alterações, mas não a ponto de liberar os transgênicos no Brasil de forma geral. Para garantir a aprovação do texto, o governo havia negociado com a bancada ruralista a apresentação de um novo Projeto de Lei sobre o tema, com o objetivo de definir a questão no país. Segundo as negociações, o PL deverá ser apresentado em breve. Mais uma vez a sociedade poderá não ser ouvida. Em conjunto com a rede de ONGs “Por um Brasil Livre de Transgênicos”, o Greenpeace exige que o debate sobre transgênicos seja franco, aberto e democrático. Acreditamos que há seis pontos mínimos que as leis brasileiras devem garantir :
• Estudo de Impacto Ambiental (EIA) previamente à liberação de qualquer espécie transgênica no meio ambiente; • Avaliação de riscos à saúde pela Anvisa/ Ministério da Saúde; • Reformulação da composição da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio, do Ministério de C&T), na qual constem cientistas de áreas variadas, como toxicologia e ética, além de representantes de outros segmentos da sociedade excluídos da atual Comissão (agricultura familiar e ambiental), e um representante do Ministério da Justiça; • Esclarecimento quanto à natureza do parecer técnico da Comissão que, a nosso ver deve ser opinativo e não deliberativo. Assim, não poderá impedir ou limitar, sob qualquer hipótese, as competências técnicas e legais de outros órgãos da administração pública (Anvisa, Ibama etc); • Rotulagem plena de qualquer produto que seja transgênico ou que contenha OGMs, independentemente do percentual; • Responsabilização daquele que decidir plantar espécie geneticamente modificada pela contaminação das propriedades vizinhas. DB
Greenpeace / M. Pena
o dia 6 de maio, uma semana antes da votação da Medida Provisória 113 no Congresso Nacional, ativistas do Greenpeace fizeram em Brasília uma manifestação pacífica contra sua aprovação. Um trator representando a Monsanto, principal beneficiada pela MP, passou por cima de diversas placas que simbolizavam o meio ambiente, a opinião pública, a exportação agrícola, a segurança alimentar, a legislação brasileira, os pequenos agricultores e o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar). Ao final, o veículo foi barrado por um grupo de ativistas que carregavam uma faixa com os dizeres “Congresso Nacional: não deixe a Monsanto passar por cima do Brasil”. Com a MP 113, o governo federal liberou a comercialização da safra de soja transgênica plantada ilegalmente no país em 2002, inclusive para o consumo humano. A soja transgênica da Monsanto (Roundup Ready) entrou no Rio Grande do Sul pela Argentina, onde não há restrições a OGMs. Como se não bastasse sua liberação no mercado interno, a multinacional ainda quer cobrar royalties dos exportadores do produto.
A multinacional, além disso, tenta cobrar royalties pela exportação da soja geneticamente modificada 11
Tóxicos
Empresas driblam responsabilidade corporativa Indústrias poluidoras investem mais em publicidade do que em soluções ambientais; contrariando estudo, Solvay declara não ter opções para descontaminação
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seria necessária a utilização de duas ou mais tecnologias combinadas. O Termo de Ajuste de Conduta (TAC) ou Termo de Acordo Procedimental, assinado em dezembro de 1999 pelo Ministério Público, a Cetesb, a Solvay (poluidora) e o Greenpeace (denunciante), obriga a empresa a utilizar apenas tecnologias já testadas. Assim, a Solvay vem erroneamente sustentando que testar a combinação de duas tecnologias, mesmo que elas já tenham sido testadas separadamente, seria o mesmo que testar uma nova. Para o Greenpeace, a empresa está utilizando o artifício para não ter que resolver o
problema de fato. Exigimos que as substâncias tóxicas sejam eliminadas do local, de forma que não representem um perigo para as futuras gerações. Diga-se de passagem, a área está colada ao Rio Grande, efluente da represa Billings — uma das principais fornecedoras de água para a população da Grande São Paulo. Fique atento e não permita à empresa considerar que os investimentos de milhões em maquiagem verde valham a pena. Demonstre e lute conosco para que ela efetivamente solucione os problemas que ela mesma causou. DB
Greenpeace / R. Petterson
enhum dos 17 crimes ambientais no Brasil relatados pelo Greenpeace em junho de 2002 foi resolvido adequadamente até hoje. Nossa batalha tem sido árdua mas continuamos lutando para que empresas como Solvay, Shell, Rhodia e muitas outras sejam efetivamente responsabilizadas pelos danos que causaram e continuam causando ao meio ambiente e à saúde humana. Muitas são as razões pelas quais as corporações continuam agindo impune e irresponsavelmente. Em geral, o sistema judiciário brasileiro é moroso, permitindo ao poluidor ou criminoso “empurrar com a barriga” as suas responsabilidades. Os órgãos ambientais de monitoramento e fiscalização, além de alguns procuradores do Ministério Público (MP), têm ainda posturas pouco enérgicas ou eficientes. Ao mesmo tempo, devemos estar atentos para não sermos ludibriados pela “maquiagem verde” promovida por muitas empresas. Elas por vezes investem alguns recursos em novos sistemas de gestão ambiental e programas de responsabilidade social, e muitos milhões em propaganda para vender uma pretensa imagem positiva. O caso de contaminação da Solvay Indupa do Brasil é um exemplo de irresponsabilidade e maquiagem verde. A empresa, como já anunciamos várias vezes, possui uma enorme área contaminada por substâncias altamente tóxicas ao lado da sua planta industrial, em Santo André (SP). O máximo a que se dispõe a fazer, entretanto, é isolar a sua cal contaminada por meio de uma obra de engenharia chamada confinamento geotécnico e barreiras hidráulicas — em vez de descontaminar a área. Quando anuncia publicamente que, segundo estudos realizados por uma empresa de consultoria contratada pela própria Solvay, não existe nenhuma tecnologia alternativa para a descontaminação do solo — e assegura que o sistema de confinamento é adequado para proteger o meio ambiente — a empresa está maquiando o problema. Apresentado em fevereiro deste ano, o estudo, na verdade, sugere que o confinamento não é eficiente a longo prazo. Segundo suas conclusões, há pelo menos duas tecnologias para a descontaminação da área que poderiam ser viáveis e seguras. Porém, devido às peculiaridades da contaminação (como a mistura de diversos contaminantes),
Na fábrica de Santo André (SP), Solvay resiste em descontaminar área com dejetos químicos
Sócios em ação • Saiba mais sobre os casos de contaminação no Brasil acessando o documento “Crimes Ambientais Corporativos no Brasil” (http://www.greenpeace.org.br/ toxicos/pdf/corporate_crimes_port.pdf), e lendo as notícias referentes aos casos em nosso site. Participe das nossas atividades e manifestações para que os poluidores sejam responsabilizados.
• Aprenda mais sobre a incineração com o novo texto informativo sobre o tema: “Incineração não é a solução!” (http: //www.greenpeace.org.br/toxicos/pdf/ factsheet_incineracao.pdf ). • Informe-se sobre a nova legislação européia contra produtos químicos perigosos no nosso site (www.greenpeace.org.br/noticias ou www.greenpeace.org.br/toxicos).
Incineração não é a solução
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As emissões tóxicas, liberadas mesmo pelos incineradores mais modernos (nenhum processo de incineração tem 100% de eficácia), são constituídas por três tipos de poluentes perigosos para o ambiente e para a saúde humana: os metais pesados, os produtos de combustão incompleta e as substâncias químicas novas, formadas durante o processo de incineração.
O Greenpeace trabalha em conjunto com outras entidades para que os incineradores sejam banidos no país, por meio do próprio Projeto de Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, ou por leis específicas que proíbam a incineração. A organização trabalha também pela produção limpa e pelos sistemas de gestão de resíduos limpos e sustentáveis. DB
Greenpeace / Ugur
entenas de organizações ambientais, entre as quais o Greenpeace, participaram no dia 14 de julho da segunda edição do Dia Internacional Contra a Incineração. O objetivo das manifestações era exigir que os governos coloquem um sinal vermelho para essa tecnologia poluidora, e ao mesmo tempo promovam sistemas de gerenciamento de resíduos (lixo) que sejam sustentáveis. As manifestações coincidiram com o início da sétima reunião do CIN (Comitê Intergovernamental de Negociações) sobre a Convenção de Estocolmo, que trata dos Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), realizada em Genebra, Suíça. Assinado por 151 países (inclusive o Brasil), o tratado determina o fim da fabricação e utilização de 12 substâncias tóxicas, os chamados “Doze Sujos”. Entre elas, estão as dioxinas e os furanos, substâncias potencialmente cancerígenas. A Convenção classifica os incineradores de resíduos e os fornos de cimento para cogeração de energia por meio da queima de resíduos, como sendo uma das principais fontes de dioxinas e furanos liberadas na atmosfera. Por isso, recomenda o uso de tecnologias alternativas. O governo brasileiro também deve fazer sua parte, não permitindo que sistemas de incineração sejam implantados no país, e ratificando a Convenção de Estocolmo.
Os incineradores de resíduos tóxicos são as principais fontes de dioxinas e furanos, substâncias potencialmente cancerígenas
Europeus querem lei rígida consumidor sobre as substâncias químicas presentes nos produtos; e a exigência de que os artigos importados pela União Européia
atenda aos mesmos padrões de segurança estabelecidos para os que são produzidos no continente. DB
Greenpeace / Richard
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ma coalizão européia de ambientalistas e de grupos ligados à saúde e ao consumidor, da qual o Greenpeace faz parte, entregou à Comissão Européia no dia 8 de julho uma declaração pública em que pede que a nova legislação do continente contra produtos químicos perigosos seja mais rigorosa, e proteja a saúde e o meio ambiente. A legislação européia sobre o tema, que está sendo rediscutida, foi submetida a uma consulta pública pela internet. E poderá vir a ser a mais rígida até hoje. O Greenpeace participou da consulta, promovendo uma ciberação para que os brasileiros também pudessem se manifestar. A Europa sempre esteve na vanguarda da proteção ambiental e, assim, poderá servir como modelo para a legislação sobre produtos químicos perigosos do Brasil e de outros países. A declaração pública pede a garantia de que alguns princípios importantes sejam incluídos na nova legislação, como a substituição das substâncias tóxicas por alternativas não tóxicas; o direito à informação do
Ativistas tentam bloquear descarga de poluentes químicos industriais no mar da Irlanda 13
Energia
De vento em popa Energia eólica ganha espaço e reduz custos, impulsionada principalmente pela necessidade de se frear as alterações do clima no planeta
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combater as mudanças climáticas globais, já reconhecidas pela maioria dos chefes de Estado. Além da vantagem de evitar as emissões de dióxido de carbono, principal gás causador do efeito estufa, a energia eólica está livre também de poluentes produzidos por usinas nucleares e pela queima de combustíveis fósseis. Em adição à proteção ambiental, a energia eólica contribui para o desenvolvimento econômico, e diversifica o fornecimento energético, pois com ela a região abastecida poderá não depender apenas de um recurso. Além disso, proporciona inovação e transferência de tecnologia. As turbinas de energia eólica também são de rápida instalação, e têm capacidade de geração de eletricidade em escala comercial, o que possibilita sua conexão à rede de distribuição. Acima de tudo isso, quando comparada a outras opções, seu “combustível” é abundante, gratuito e inesgotável. À medida que o mercado de energia eólica ganha espaço, seus custos de instalação e produção têm diminuído consideravelmente. Nos últimos cinco anos, o custo de produção do kWh abaixou cerca de 20%. Atualmente, ele já é comparável (ou até menor, em alguns
Greenpeace / M. Zakora
chegada a vez da energia eólica, a fonte energética que mais rapidamente cresce no mundo, símbolo de eletricidade sustentável e não-poluente. Com uma taxa de crescimento de cerca de 30% ao ano, a capacidade mundial de gerar eletricidade a partir da força dos ventos já atingiu os 32 mil MW, suficientes para suprir as necessidades de aproximadamente 40 milhões de pessoas com padrões de consumo iguais aos dos europeus. Nos últimos anos, o número de novos empreendimentos para geração de energia eólica tem superado o de novas usinas nucleares. Muito embora boa parte das 55 mil turbinas em operação no mundo ainda esteja concentrada na Europa (74% da potência total instalada), já há mais de 50 países trabalhando com esse tipo de energia. Isso nos permite estimar que há entre 90 mil e 100 mil pessoas trabalhando nessa indústria de 7 bilhões de euros. Mantido esse ritmo de crescimento, mesmo em um planeta onde o consumo de eletricidade dobra a cada 20 anos, a energia eólica será capaz de atender a 12% das necessidades mundiais até 2020. A mola propulsora dessa expansão da energia eólica é a necessidade urgente de se
Instalar as turbinas no mar possibilita novos horizontes à exploração da tecnologia 14
casos) ao custo da energia térmica a carvão ou a gás. A potência individual das turbinas eólicas já alcança cerca de 2,5 mil kW, e há protótipos com potências superiores a 4 mil kW em fase de testes. Alemanha, Espanha, Dinamarca, EUA e Índia são importantes exemplos de países em que a energia eólica está em franco desenvolvimento. Além disso, a possibilidade de instalação de turbinas eólicas sobre os mares oferece novas perspectivas à tecnologia. Estima-se em 20 mil MW, por exemplo, a capacidade de geração das unidades planejadas para as águas ao norte da Europa.
Análise dos ventos A avaliação do potencial eólico de uma região requer uma série de análises sobre a intensidade, constância e direção dos ventos. Diversos levantamentos confirmam que esse potencial é bastante grande e bem-distribuído por quase todas as regiões e países do mundo. Estima-se que a capacidade bruta de geração de energia eólica no planeta seja de cerca de 500 bilhões de MWh por ano, o que supriria em mais de 30 vezes as atuais necessidades mundiais de eletricidade. No entan-
Eólico Nacional”, elaborado recentemente pelo Centro de Referência para Energia Solar e Eólica – Cresesb, do Rio de Janeiro, indica um potencial brasileiro de aproximadamente 140 mil MW. No início dos anos 90, sensores e equipamentos especiais instalados em Fernando de Noronha e no Ceará permitiram determinar onde as primeiras turbinas eólicas brasileiras seriam construídas. Em 2002, o Centro Brasileiro de Energia Eólica - CBEE, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), publicou o “Atlas Eólico Brasileiro”, que demonstrou que as regiões com melhores potenciais para geração de energia a partir do vento estão no litoral das regiões Nordeste e Norte, no vale
do rio São Francisco, no sudoeste do Paraná e no litoral do Rio Grande do Sul. Enquanto na Dinamarca a energia eólica já representa 13% de toda a eletricidade gerada (com a meta de aumentar esse índice para 50% até 2030), no Brasil a utilização dessa fonte renovável é praticamente desprezível. Há somente nove empreendimentos funcionando, que geram algo em torno de 22 MW, ou 0,03% da eletricidade produzida no país. Por outro lado, existe grande interesse por esse tipo de energia no Brasil. Hoje, há mais de 80 projetos de usinas eólicas autorizados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), os quais acrescentarão cerca de 6 mil MW ao sistema elétrico nacional. DB
Greenpeace
to, devido a restrições sociais e ambientais — áreas densamente povoadas ou regiões montanhosas, por exemplo, dificultam ou até impedem a instalação das turbinas — somente 53 bilhões de MWh são considerados “tecnicamente aproveitáveis”. Ainda assim, a produção de energia eólica poderia atender a quatro vezes as presentes demandas mundiais de eletricidade. Embora haja divergências sobre a estimativa do potencial eólico brasileiro, a maioria dos estudos mais recentes indica uma capacidade no país de cerca de 60 mil MW. No entanto, essas estimativas podem variar muito, de acordo com os conceitos sob os quais são feitas. Como um exemplo, o “Atlas
O Greenpeace quer “energia limpa já” em todo o mundo 15
Espaço do sócio Olá. Meu nome é Tatiana, sou engenheira agrônoma, formada pela ESALQ/USP. Há um ano e meio estou no Greenpeace, atuando na Campanha de Engenharia Genética. O objetivo do meu trabalho é levar informação ao consumidor, e conseguir que as indústrias de alimentos parem de utilizar transgênicos na fabricação de seus produtos. Além de atuar profissionalmente na preservação do meio ambiente, eu procuro incorporar no meu dia-a-dia práticas que também contribuam para este ideal, como reciclar o lixo, evitar o desperdício de água, boicotar indústrias poluentes etc. Não adianta só falar, temos que agir!
Guia de transgênicos
Novo endereço
O Greenpeace está de casa nova, desde junho. Com mais espaço, há uma integração maior entre as pessoas que trabalham na organização. Assim, podemos atender melhor aos diversos públicos que se relacionam conosco, como sócios e voluntários.
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Greenpeace / A. Kishimoto
Conheça...
Edvaldo José Sant’Anna, professor universitário, é sócio do Greenpeace desde 2000. Aqui, ele conta como foi participar da distribuição do guia de produtos transgênicos em Bauru, no dia 10 de julho.
Greenpeace / L. Castello
“Assumir nossa posição ativa frente ao mundo é mais que um privilégio, é uma honra. Quando já somos conscientes de algo, temos o dever de assumir nosso papel na sociedade, e esta foi a oportunidade de participar ativamente da manifestação de conscientização do consumidor sobre os trangênicos e distribuir o Guia. Foi muito legal conhecer pessoalmente outros ativistas e poder ter contato com o público. Em especial, por estar em minha própria cidade (que não é tão grande assim, com cerca de 350 mil habitantes), a repercussão na mídia ainda está me rendendo a oportunidade de falar mais sobre os trangênicos, e elucidar as pessoas sobre o trabalho de nossa ONG. Não percam a oportunidade de participar das atividades em suas cidades. Com certeza, vocês só têm a ganhar. Foi muito bom!”
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Associação Civil Greenpeace - Conselho Diretor: Fernando Furriela - Presidente, Hugo Rosa, João Lara Mesquita, Pedro Jacobi, Regina Scharf Diretor-Executivo: Frank Guggenheim - Diretor de comunicação: Reinaldo Canto - Diretor Financeiro: Wilson Mosca Diário de Bordo: Inverno 2003 - Editora: Elisa Almeida França - Arte: André Kishimoto - Jornalista Responsável: Reinaldo Canto (Mtb 14.791) Capa: Greenpeace / F. Cannalonga - Projeto Gráfico: Idéia Digital - Gráfica: Ipsis Rua Alvarenga, 2331- CEP: 05509-006 - São Paulo - SP - Tels.: (11) 3035-1155 - 0300 789-2510 - Fax: (11) 3817-4600 - www.greenpeace.org.br Este Diário de Bordo foi impresso em papel reciclado em processo livre de cloro.
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