REVISTA DO revista do
Março - Abril- junho - Maio // 2007 2007 abril - maio
O caminho das pedras para salvar o planeta
E mais:
Entrevista com José Goldemberg Baleias I-Go: Greenpeace A força da internet 1
A
melhor forma de resolver um problema é, em primeiro lugar, reconhecê-lo. Após a divulgação nos últimos seis meses de dois
diário de bordo
contundentes relatórios – o Stern britânico e IPCC internacional -, o mundo finalmente acordou para a urgência do aquecimento global e das mudanças climáticas. Nós do Greenpeace, que estamos nessa batalha desde 1986, acreditamos que o momento não é para pânico, muito menos para o discurso bonito – e vazio. É hora de arregaçar as mangas e trabalhar.
Nossa capa: Painéis solares instalados no escritório do Greenpeace em São Paulo.
No Brasil, o grande desafio é criar o Plano Nacional
Imagem: © Greenpeace/ Rodrigo Baleia
de frente nossa principal contribuição ao problema: o
de Combate às Mudanças Climáticas e com ele atacar desmatamento da Amazônia, responsável por 70% de nossas emissões de gases na atmosfera.
O Greenpeace é uma organização independente que faz campanhas
O caminho das pedras está claro: precisamos de políticas sérias de investimento em fontes renováveis de
utilizando confrontos
energia, tão negligenciadas quanto necessárias para
não-violentos para expor
o desenvolvimento sustentável. Nunca é tarde demais
os problemas ambientais globais e alcançar soluções
para salvar o planeta.
que são essenciais a um
07 Clima Para ver, sentir e entender as mudanças climáticas 08 Entrevista 09 Institucional 10
Transgênicos Milho: na linha de frente da contaminação genética
12
Amazônia O desafio de crescer sem destruir
14
Baleias I-Go: Greenpeace A força da Internet
© Greenpeace / Rodrigo Baleia
04 Energia O caminho das pedras para salvar o planeta
© Greenpeace / Philip Reynaers
futuro verde e pacífico.
Frank Guggenheim Diretor executivo Greenpeace Brasil
Cartas / expediente
3
ener gi a
O caminho das pedras para salvar o planeta
N
os momentos mais difíceis, sempre soubemos dar a volta por cima. O instinto de sobrevivência tem, desde os tempos das cavernas, prevalecido. É, digamos assim, uma das qualidades do ser humano. Pois estamos mais uma vez sendo desafiados. E desta vez é pra valer. Dois importantes relatórios divulgados nos últimos seis meses atestaram o que grupos ambientalistas vêm dizendo há décadas: estamos abusando de nossa relação com o planeta Terra. Estamos tirando mais do que ele pode oferecer e com isso alterando perigosamente seu equilíbrio, colocando em risco nossa existência. Em outubro de 2006, o economista Richard Stern dirigiu um estudo encomendado pelo governo britânico sobre os possíveis efeitos das alterações climáticas na economia mundial nos próximos 50 anos. Conclui-se que o investimento de 1% do atual PIB mundial (que gira hoje em torno de US$ 50 trilhões) no combate ao aquecimento global pode evitar um prejuízo de 20% desse mesmo PIB mundial, caso nada seja feito. O alerta mais impactante foi dado em Paris meses depois, em fevereiro de 2007, com o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças 4
Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) na ONU, elaborado com a colaboração de mais de 2 mil cientistas de todo o mundo. O texto confirmou sermos nós os principais responsáveis pelo aquecimento global e pintou com tintas fortes as conseqüências a médio e longo prazos. O diagnóstico do IPCC: o planeta está esquentando de forma acentuada e isso poderá nos causar muita dor de cabeça ainda neste século, com secas e tempestades mais intensas, derretimento das calotas polares, elevação do nível dos oceanos, falta de água para boa parte da população, entre outros prejuízos, como já alertava o Greenpeace no relatório Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas, lançado em 2006. O remédio: É hora de agir, de criar condições sustentáveis para o desenvolvimento humano. Não dá mais para retirar recursos naturais do planeta sem medir as conseqüências desses atos. Percebendo a gravidade da situação, vários governos já começaram a se mexer para evitar o pior. No início de março, os líderes europeus fecharam acordo para fazer com que 20% da energia consumida pelos 27 países da União Européia em 2020 venha de fontes renováveis. O biocombustível (no caso, o etanol) parece ter conquistado de vez os ame-
ricanos, tanto que se tornou tema central das conversas entre George W. Bush e Lula durante a visita do presidente americano ao Brasil, também em março. Mas ainda é pouco. Combater o aquecimento global e as mudanças climáticas exige mais. Requer redefinição de políticas energéticas, combate ao desmatamento e profundas alterações nas atitudes de governos e empresas e no modo de vida dos cidadãos. O caminho das pedras foi dado pelo Greenpeace com o relatório [R]evolução Energética, um detalhado estudo que mostra como podemos mudar a matriz energética do mundo até 2050, abandonando os combustíveis fósseis e adotando fontes renováveis de energia, sem alterar as taxas previstas de crescimento econômico e do consumo de energia da população. O estudo também foi feito no Brasil, mostrando que podemos crescer impulsionados por fontes renováveis de energia e eliminar as fontes sujas – petróleo, carvão e nuclear. Para isso, é preciso uma estruturação do setor em torno da conservação de energia e políticas públicas de apoio a energias renováveis. “Temos inúmeras fontes limpas de energia no Brasil, e boa parte delas são viáveis economicamente. Para isso é
© Greenpeace / Pierre Gleizes
© Greenpeace / Rodrigo Baleia
preciso investimento público e vontade política, como acontece em países europeus e até na China, que contam com fartos recursos governamentais para investir em fontes renováveis”, afirma Rebeca Lerer, coordenadora da campanha de clima e energia do Greenpeace Brasil. “Esse setor cresceu 26% entre 2005 e 2006 no mundo e pode crescer muito mais. Vamos nos engajar para mostrar que o Brasil pode dar um salto de qualidade.” O exemplo tem que começar em casa. Assim o Greenpeace instalou 40 painéis solares fotovoltáicos na sede da organização em São Paulo, que captam a luz do sol e podem gerar até 2.800 watts. O sistema foi conectado à rede pública de energia e repassará o excedente de energia gerado – o que ainda não é permitido por lei. O ato de desobediência civil é como um ‘gato’ ao contrário: em vez de roubar energia do
Faixa simulando termômetro é instalada na Torre Eiffel, em Paris.
sistema público, a ONG está devolvendo energia à rede. A instalação deve suprir até 50% da demanda diária de eletricidade do escritório do Greenpeace. Iniciativas como essa, aliada a outras como programas de eficiência energética, comprovam serem desnecessários investimentos em projetos ultrapassados como a usina nuclear de Angra 3, fantasma que volta e meia cisma em rondar a alta cúpula governamental brasileira. “Os governos precisam abrir os olhos e atacar a causa do problema - reduzir as emissões provenientes da queima
de combustíveis fósseis e, no caso do Brasil, do desmatamento e do uso do solo. Somos aos mesmo tempo vítima e vilão do aquecimento global porque temos a quarta maior emissão de CO2 na atmosfera justamente por conta das queimadas em florestas, principalmente na Amazônia”, afirma Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace Brasil. O planeta tem dado sinais de que está no seu limite. É tempo de refletirmos os valores da sociedade e mudarmos nossa relação com o meio ambiente. Idéias e ferramentas para tanto não faltam. 5
O que cada
um de nós pode fazer contra o aquecimento global • Informe-se, procure entender as causas das mudanças climáticas, suas conseqüências para o planeta, para nosso país e para você. Divulgue o tema na sua comunidade e na sua região. Promova debates sobre o que precisa ser feito.
solução importante para as comunidades.
• Economize energia. Tornese um consumidor eficiente no uso de energia. Troque as lâmpadas incadescentes de sua casa por lâmpadas fluorescentes. Apague as luzes em locais que não estão sendo usados e desligue os aparelhos que não estiverem sendo usados.
• Informe-se sobre habitações ecológicas que aproveitam a água da chuva, usam energia solar para iluminação e aquecimento e oferecem climatização natural.
Confira o relatório [R]evolução Energética em nosso site: www.greenpeace. org.br/energia/pdf/cenario brasileiro.pdf Mais detalhes sobre o documento: www.energyblueprint. info/home.0.html
6
• Deixe o carro na garagem. Utilize o transporte coletivo e a bicicleta. Dê preferência aos combustíveis de transição como o álcool e o biodiesel. • Evite o desperdício de água. Em áreas sujeitas a secas, armazene água. O uso de cisternas é uma
• Apóie e participe de iniciativas, atividades e ações que promovam o combate ao desmatamento da Amazônia, que pressionem os governos e as empresas a adotarem políticas de combate ao desmatamento e à substituição de energias sujas por energia positiva. • Só compre móveis feitos com madeira certificada e pressione a prefeitura do seu município a aderir ao programa Cidade Amiga da Amazônia, do Greenpeace. • Participe de nossas campanhas, torne-se um ciberativista, junte-se a nós nessa campanha por uma mudança global. Filie-se ao Greenpeace.
© Greenpeace / Rodrigo Baleia
• Compre aparelhos mais eficientes no uso de energia. Eletrodomésticos apresentam hoje uma classificação de eficiência energética. Compre para sua casa apenas os mais eficientes (classificação A).
• Exija da sua prefeitura sistemas eficientes de drenagem urbana, de coleta e tratamento de esgotos, além de um manejo adequado dos resíduos sólidos.
“N
a saída do túnel sensorial do Greenpeace dedicado ao aquecimento global e às mudanças climáticas, que percorreu diversas cidades brasileiras em 2006, cada visitante parafraseava ao seu modo a célebre frase do general romano Júlio César: “Vim, vi e... aprendi.” A experiência, vivida por mais de 50 mil pessoas entre agosto do ano passado e início deste, impressionou a todos e gerou muitas promessas de mudanças de hábitos e ajuda para combater o problema. Além da simulação da emissão de gases na atmosfe-
ra, das bruscas alterações das temperaturas, de queimadas e fenômenos naturais como tempestades e furacões, o público pôde conferir uma exposição fotográfica e assistir a trechos do documentário Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas. Durante os meses de agosto e outubro de 2006, o túnel percorreu 10 cidades de norte a sul do país: Brasília, São Paulo, Florianópolis, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Belém e Manaus, no coração da floresta amazônica. Em 2007, o túnel voltou a São Paulo, com paradas na capital paulista e cidades do
Grande ABC (Santo André e São Bernardo do Campo). O documentário Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas apresenta testemunhos de vítimas do aquecimento global na Amazônia, no Nordeste, no Sul e no litoral brasileiro. Pessoas que tiveram suas casas destruídas por causa de ventanias ou inundações, que perderam suas lavouras e seus animais por causa de secas extremas ou foram afetadas por catástrofes climáticas antes desconhecidas dos brasileiros, como furacões. O documentário está sendo distribuído gratuitamente para fins educacionais para organizações não-governamentais, escolas, fundações, instituições de pesquisa e universidades em todo o Brasil. Pessoas físicas podem adquiri-lo a preço de custo. Os interessados podem obter o filme no endereço: www.greenpeace. org.br/clima/filme. O Greenpeace também produziu um relatório sobre o tema, que pode ser baixado pela internet: www.greenpeace.org/brasil/ greenpeace-brasilclima/relatorio. © Greenpeace / Rodrigo Baleia
cl i m a
Para ver, sentir e entender as mudanças climáticas
7
entrevista
Arquivo
Entrevista com José Goldemberg A matriz energética do Brasil é uma das mais limpas que existem no mundo. Apesar disso, o país está adotando as piores soluções possíveis, investindo em energia a carvão para reduzir seu déficit energético. A opinião é do professor José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, um dos maiores especialistas brasileiros em energia. Leia abaixo entrevista concedida à Revista do Greenpeace.
GP: Como o senhor vê a questão energética brasileira atual? José Goldemberg: O governo está se orientando para opções que eu considero piores. Uma delas é o uso de carvão. O governo Lula criou um sistema de leilões, no qual privilegia o que é mais barato. Ora, a construção de uma usina termelétrica a carvão pode ser a opção mais barata, mas isso não significa que é uma boa opção. Se essas usinas não se viabilizarem, por motivos ambientais, o governo vai retomar a construção de usinas nucleares.
Energia: o barato
QUE SAI CARO GP: Quais os riscos dessa opção nuclear? José Goldemberg: A longo prazo ela não tem nada de limpa. E produz lixo radioativo, que nos Estados Unidos está se tornando um problema de grandes proporções. Eles têm 70 toneladas de lixo altamente radioativo e o governo não sabe o que fazer com isso. Há também o problema da proliferação nuclear. GP: O que o senhor acha da retomada da construção de Angra 3? José Goldemberg: Para acabar Angra 3, vamos precisar de mais US$ 1,8 bilhão. Com
esse dinheiro, poderíamos acabar vários empreendimentos hidrelétricos que ainda não foram concluídos. Vai ser um dinheiro mal gasto.
GP: O que o senhor acha do uso de fontes de energia renováveis? José Goldemberg: Acho que algumas das energias renováveis têm muito potencial. Uma das fontes mais negligenciadas é a eficiência energética. Apesar de a população brasileira ter necessidade de mais energia, existem setores da sociedade que usam energia de uma maneira tão ineficiente quanto nos países industrializados.
institucional
alma
© Greenpeace / Rodrigo Baleia
A cara de nossa
A história do Greenpeace já foi contada por muita gente, de várias formas, em diversas línguas. Agora é a vez das pessoas que fazem a organização acontecer darem seu depoimento do que é e como funciona essa que é uma das mais atuantes ONGs ambientalistas do mundo. Diretores e colaboradores do Greenpeace no Brasil testemunharam sobre o que significa fazer parte do grupo num filme de 15 minutos, narrado pelo apresentador Serginho Groissman. O filme será veiculado em diversos canais de TV no Brasil ainda este ano. Os trabalhos da produção do filme começaram em dezembro, com um convite
enviado a colaboradores da Grande São Paulo.O número de candidatos que se prontificou a gravar chegou a 400, obrigando a equipe de produção a fazer uma pequena seleção. Sessenta colaboradores foram entrevistados e 30 selecionados para as gravações. “Adorei conhecer os outros participantes. Eram pessoas de idades e profissões bem diferentes, mas todas tinham algo em comum e queriam contribuir na medida do possível”, conta a analista contábil Cinthia Teixeira de Oliveira Siqueira, 26, que participou da gravação. “Me senti fazendo alguma coisa importante. Esse tipo de trabalho aproxima mais as pessoas do Greenpeace”,
conta Cinthia. O professor de história Ricardo Barros, 39, se interessou pelo projeto porque viu nele uma oportunidade para ajudar a conscientizar as pessoas. “Acho que a questão ambiental é um problema gravíssimo, e o que eu posso fazer no meu micro-universo é ajudar a sensibilizar as pessoas para o tema”, conta. O Greenpeace não existiria sem seus colaboradores e por isso o testemunho deles é muito importante para a organização. Se você conhece outras pessoas que compartilham do mesmo sonho, passe adiante a ficha de filiação que está nesta revista. Leve adiante esta mensagem. 9
da contaminação genética
O
facilita o cruzamento e surgimento de novas espécies. Mas é justamente essa facilidade que coloca o milho na linha de frente de uma grande ameaça: a contaminação genética. O problema é real e em 2006 explodiu. Segundo o relatório Registros de Contamição Transgênica lançado pelo Greenpeace e pela ONG britânica GeneWatch, o ano passado registrou um recorde de acidentes de contaminação genética em todo o mundo. Foram 24 casos, que comprovam a total falta de controle que existe atualmente sobre a tecnologia da engenharia genética aplicada a alimentos. Nos 10 anos de cultivo comercial de transgênicos (1996 a 2006), foram registrados 142 acidentes em diversos países, gerando prejuízos a agricultores e comerciantes, e também muita preocupação aos governos, cientistas e ambientalistas sobre as ameaças que a transgenia representa aos sistemas agrícolas, à biodiversidade dos cultivos, ao meio ambiente e à saúde humana. Mais de um terço dos casos de contaminação genética apontados pelo relatório do Greenpeace e da GeneWatch ocorreu em plantações de milho. © Greenpeace / André Lavenère
milho é um dos alimentos mais populares do mundo e, no Brasil, é consumido das mais diversas maneiras. Está presente no mingau das crianças, no angú ou polenta do almoço, na pipoca do cinema, nas broas e bolos das padarias. É plantado há milhares de anos nas Américas e tem uma rica biodiversidade, com centenas de tipos de milho diferentes, graças a sua delicada característica de polinização, que
10
© Greenpeace / André Lavenère
t r ansgêni cos
Milho: na linha de frente
“O fato é que a biotecnologia está completamente fora de controle. Nem as empresas e nem os governos estão preparados para colocar em prática medidas que garantam a nossa biossegurança”, afirma Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de engenharia genética do Greenpeace. “A contaminação genética no caso do milho é muito grave. A variedade transgênica pode aparecer nos locais mais inesperados e indesejados possíveis. O milho geneticamente modificado é um ser vivo e será impossível controlar sua dispersão, além de outros impactos importantes, como perda da biodiversidade, aumento no uso de agrotóxicos e controle corporativo sobre as sementes.” Grandes empresas multinacionais de biotecnologia estão tentando aprovar na Comissão Técnica Nacional de Biossegu-
Voluntários 2007
sumir alimentos geneticamente modificados. Deputados e senadores também foram alvo de protestos, mas o lobby das empresas de biotecnologia e da bancada ruralista foi mais forte e o Congresso aprovou uma Medida Provisória (a 327) que, entre outras coisas, autoriza o uso do algodão plantado irregularmente no país e diminui o número de votos necessários na CTNBio para a aprovação de pedidos de liberações comerciais. Vamos continuar pressionando a comunidade científica, parlamentares e até o presidente da República para que não arrisquem nossa biossegurança em favor dos anseios financeiros de meia dúzia de empresas. O Brasil não merece. Veja o que você pode fazer no endereço: www.greenpeace.org.br/consumidores/ guiaconsumidor.php.
© Greenpeace / Rodrigo Baleia
rança (CTNBio) a liberação comercial de sete tipos de milhos transgênicos. Gabriela lembra que além de ser um dos três cereais mais consumidos no país, o milho é a segunda cultura do Brasil, com produção anual de mais de 40 milhões de toneladas. Somos um centro de diversidade de milho, com inúmeras variedades crioulas que foram aprimoradas e adaptadas pelos agricultores ao longo de muitos anos de cultivo. Nas últimas semanas, o Greenpeace promoveu em diversas cidades do Brasil manifestações para conscientizar a população sobre o que o risco que a biossegurança do país está correndo. Ações diretas do Greenpeace em Brasília pressionaram os membros da CTNBio para que eles respeitem a vontade de mais de 70% da população brasileira, que não quer con-
Para estimular a participação nas atividades propostas, o Greenpeace vai reestruturar este ano os grupos de voluntários de todo o Brasil. Para apresentar o projeto, Maria Cláudia Kohler, nova coordenadora dos voluntários da organização, vai visitar cada grupo ao longo do ano. “A participação dos voluntários é fundamental para nosso sucesso. Eles são o corpo e alma do Greenpeace.” Claudia chegou, Emílio Pompeo partiu. Em outubro do ano passado, nosso querido amigo e então coordenador dos voluntários, faleceu de complicações pulmonares. Em seis anos de Greenpeace, Emílio ajudou a formar a base de voluntários da organização e participou de diversas campanhas e ações diretas. Saudades, companheiro!
Greenpeace no SP Boat Show O Greenpeace marcou presença em outubro passado num dos maiores eventos náuticos da América Latina, o SP Boat Show, com o objetivo de apresentar ao público alguns problemas que colocam em risco a vida marinha do planeta. “Tivemos cerca de 400 visitantes em nosso estande, entre eles o velejador Lars Grael. Nossa estratégia foi levar a esse público os problemas ambientais dos oceanos”, afirmou Luciana Castro, coordenadora do programa de colaboradores especiais.
am azôni a
O desafio de
crescer sem destruir
A
principal estratégia de desenvolvimento do governo Lula para seu segundo mandato até agora foi o anúncio do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que mais parece um projeto de obras e infra-estrutura do que um programa nacional para o desenvolvimento sustentável do país. No caso da Amazônia, o PAC vê a região como um grande depósito de recursos naturais a serviço do crescimento do Brasil. O plano inclui projetos de infra-estrutura na região norte, como a construção de hidrelétricas e rodovias para o escoamento da produção agrícola, dois grandes vetores de destruição da floresta. Fora o uso dos nossos recursos naturais, o PAC não faz nenhuma outra menção ao meio ambiente, ignorando solenemente a transversalidade – necessidade dos ministérios trabalharem com uma visão integrada de desenvolvimento e meio ambiente, tão defendida pela ministra Marina Silva durante o primeiro mandato do governo Lula. No sistema de transportes, os investimentos para a Amazônia serão de R$ 6,2 bilhões. O destaque continua a ser a pavimentação da rodovia BR-163, que liga Santarém no Pará à Cuiabá no Mato Grosso. Considerada pelo governo Lula 12
como importante saída para a exportação da produção agrícola do norte do Mato Grosso, o anúncio da pavimentação da BR-163 em 2002 gerou a migração de milhares de brasileiros ávidos por um pedaço de terra ou melhoria de vida, aumentando a pressão sobre a floresta. Apesar dos esforços de governo para minimizar os possíveis impactos (os planos BR-163 Sustentável e de Prevenção e Combate ao Desmatamento, além da criação de um mosaico de áreas protegidas na região), a implementação das medidas sempre foi o calcanhar de Aquiles do governo. O desafio de proteger a Amazônia torna-se ainda maior – e mais urgente – quando somamos à equação a ameaça do aquecimento global. No caso do Brasil, o desmatamento e as queimadas são responsáveis por quase 70% das emissões dos gases causadores do efeito estufa, sendo que a grande maioria é proveniente da destruição da floresta amazônica. O país é hoje o quarto maior poluidor do mundo.
Para “mudar o clima”, a agroenergia vem sendo apresentada – e saudada – como a saída de emergência mais próxima e possível para transpor o maior desafio da humanidade atualmente. Recentemente, o presidente Lula ressaltou a liderança já conquistada na área de biocombustíveis e a importância de se aliar biotecnologia com a agroenergia. Para ele, além de combater o efeito estufa, “plantar combustível” também pode colher justiça social. Sobre o risco de aumentar o desmatamento na Amazônia, no cerrado e em outras florestas, já que novas áreas de plantio terão que surgir, nem uma linha. É preciso cautela, pois nem todo biocombustível é bom para o meio ambiente.
Tensão em Prainha (PA) Comunitários da região do rio Uruará, em Prainha, município às margens do rio Amazonas, no Pará, vivem dias tensos desde o final de 2006. Sem apoio dos governos, a população está enfrentando mais de 12 empresas madeireiras que invadiram ilegalmente a área e estão dilapidando o patrimônio natural da região. Sem alternativas, para chamar a atenção do Ibama, os comunitários atearam fogo em uma das balsas que carregavam madeira ilegal em novembro. Desde 2003, o governo federal adia a criação de uma reserva extrativista na área.
A Apple é famosa por, de tempos em tempos, revolucionar o mercado de produtos eletrônicos com lançamentos que enchem os olhos dos consumidores, como o iPod e o iMac. O mais novo queridinho do portfólio da empresa é o iPhone, que promete revolucionar o telefone celular. Mas todos os esforços da empresa de Steve Jobs em conquistar corações e mentes com suas novidades esbarra num problema grave que contribui para a poluição do planeta. A Apple continua ignorando os apelos de milhares de consumidores para que elimine substâncias tóxicas de seus produtos e adote políticas sérias de reciclagem.
© Greenpeace / Will Rose
© Greenpeace / Daniel Beltrá
O risco de um efeito colateral é igualmente proporcional à onda de otimismo de que os biocombustíveis são a salvação da lavoura – ou do clima. Não são. A crescente demanda pelo ‘combustível verde’ e sua conseqüente produção em larga-escala poderá implicar no avanço sobre terras e lavouras destinadas originalmente à produção de alimentos, resultando em mais desmatamento. Como conter a destruição de novas áreas de florestas e, ao mesmo tempo, aumentar o plantio para a produção de biocombustíveis usando áreas degradadas? Por mais que se desenvolvam tecnologias que aumentem a produtividade da terra e a eficiência das máquinas, dificilmente esse crescimento da produção ocorrerá sem expansão da área plantada e sem aumento da irrigação, colocando um novo elemento nessa complicada equação: a escassez de água. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), dentro de 20 anos 60% da população
mundial deverá enfrentar problemas com falta d’água. Além do desmatamento, que implica em perda de biodiversidade e agravamento do efeito estufa, o foco exacerbado na produção de biocombustíveis acirra os conflitos fundiários. Dentre o ranking das cidades com maior índice de mortes violentas per capita no Brasil, publicado recentemente pela Organização dos Estados Íbero-Americanos (OEI), as duas primeiras são Colniza e Juruena, ambas no norte do Mato Grosso, fronteira com o Amazonas. Na primeira se disputa madeira e posse de terra para gado; na segunda, ouro. Para piorar, o governo federal está repassando cada vez mais aos estados amazônicos a gestão dos recursos florestais. Isso significa que cada estado pode agora autorizar desmatamento e manejo florestal e controlar o fluxo da produção de madeira, sem no entanto estarem preparados para cumprir esta responsabilidade. É urgente que o governo federal adote medidas para melhorar a política ambiental brasileira, contratando mais fiscais e técnicos, aumentando o efetivo das polícias ambientais e federal e aplicando mais dinheiro no uso responsável dos recursos naturais. É preciso também investir em justiça social, educação, capacitação e assistência técnica para pequenos produtores rurais, além de manejo florestal. A proteção da Amazônia só acontecerá e será consistente quando for um programa de todo o governo e não ações isoladas de um ou outro segmento.
Queremos o Ipod verde!
Não à toa teve um péssimo desempenho no Guia de Eletrônicos Verdes do Greenpeace, ficando em último lugar entre as 14 empresas avaliadas – confira no endereço www.grenpeace.org.br/toxicos?conteudo_ id=3050&subcampanha=0. O Greenpeace está desafiando a empresa a se tornar uma opção verde no universo de consumo de eletrônicos e convidando fãs da marca a contribuírem com idéias e sugestões para tornar a Apple ambientalmente responsável (ver www.greenpeace. org/apple/). O lixo eletrônico é a fonte de lixo tóxico que mais cresce no mundo hoje. Boa parte dele acaba nas mãos de crianças em lixões na Índia e em outros países em desenvolvimento.
13
bal ei as 14
I-Go Greenpeace: A força da internet
A
tripulação do navio Esperanza contou com uma ajuda de peso na última etapa de sua expedição Defendendo Nossos Oceanos: a força criativa de milhares de internautas. Com o site da campanha I-Go (whales.greenpeace.org/br), que foi ao ar em novembro de 2006, milhares de pessoas do mundo inteiro puderam contribuir com idéias para protestar contra a caça no Santuário de Baleias na Antártica. O Esperanza partiu em janeiro da Nova Zelândia para evitar que baleeiros da Agência Pesqueira do Japão matasse 945 baleias – 935 da espécie minke e 10 da espécie finn. Foi a última viagem do navio do Greenpeace dentro da campanha Defendendo Nossos Oceanos, campanha iniciada em 2005. Um acidente com uma das embarcações da frota japonesa pôs fim de forma trágica à temporada de caça às baleias este ano. O naviofábrica Nisshin Maru pegou fogo próximo à Antártica e, por carregar mais de mil toneladas de óleo, pôs em risco a maior colônia de pinguins do mundo. Felizmente o navio não afundou e saiu da região, escoltado pelo Esperanza. A campanha de 14 meses do Greenpeace conseguiu forçar, com ações diretas pacíficas, a desistência de algumas corporações do negócio baleeiro, mas o governo
japonês insistiu este ano com a caça, sob o pretexto de realizar pesquisas científicas. Durante a expedição Defendendo Nossos Oceanos, o Esperanza se confrontou com pescadores piratas nas costas da África ocidental, promoveu reservas marinhas, denunciou a destruição de ecossistemas marinhos costeiros no Mar Vermelho e nos oceanos Índico e Atlântico, e atacou a pesca predatória de atum no Mediterrâneo e no Pacífico. A expedição terminou, mas o site I-Go permanece no ar, recebendo depoimentos e idéias para campanhas a serem usadas contra a caça às baleias. Em maio, temos mais uma batalha, desta vez na próxima reunião da Comissão Internacional de Caça à Baleia (IWC, na sigla em inglês). Querem flexibilizar as regras e tornar secretas as votações para facilitar a caça. Contamos com sua participação no I-Go para que isso não aconteça. Visite o site e deixe a sua sugestão para evitar a matança.
cartas & e-mails Sempre quis participar do Greenpeace por achar ser uma intituição de suma relevância na conservação do meio ambiente, e como uma forma de valorizar também o ser humano, porque quem preserva o meio ambiente, preserva o homem e sua família de todos os males insanos provocados pelo próprio homem. Por isso pretendo me engajar nessa luta maravilhosa de todos os membros do Greenpeace e quero aprender junto a todos, obtendo informações diárias dos trabalhos. No mais muito obrigado a todos os companheiros de luta diária. Abraço. Wander Araújo, Salvador (BA)
Você também pode mandar seu comentário, dúvida ou sugestão. Participe! Para nos contatar: REVISTA DO GREENPEACE Rua Alvarenga, 2331 Cep: 05509 006 São Paulo SP ASSOCIAÇÃO CIVIL GREENPEACE
Conselho diretor Presidente Marcelo Sodré Conselheiros Eduardo M. Ehlers Marcelo Takaoka Pedro Leitão Raquel Biderman Furriela Samyra Crespo Diretor executivo Frank Guggenheim Diretor de campanhas Marcelo Furtado Diretor de campanha da Amazônia Paulo Adário Diretora de comunicação Gladis Éboli Diretora de marketing e captação de recursos Clélia Maury Diretor de políticas públicas Sérgio Leitão REVISTA DO GREENPEACE
É uma publicação trimestral do Greenpeace
Editor Redatores Designer gráfico Editor de imagens Impressão
Jorge Henrique Cordeiro (mtb 15251/97) Tica Minami Gabriela Michelotti Carol Patitucci Caroline Donatti Litokromia
Esse periódico foi impresso em papel reciclado em processo livre de cloro. Tiragem: 27.000
www.greenpeace.org.br
ATENDIMENTO
telefone 11 3035 1151 e-mail relacionamento @br. greenpeace .org
Uma arca gigante estacionada no centro de Bruxelas deu o recado na abertura da 2a. reunião do IPCC este ano: é preciso agir logo para evitar que o aquecimento global provoque danos irreversíveis no planeta. Com uma exposição multimídia sobre as causas e conseqüências das mudanças climáticas, além de apresentar soluções, a arca do Greenpeace ficou aberta à visitação pública durante o evento na capital belga.