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Revista
Muito alĂŠm dos 20 centavos
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© Alexandre Cappi/BrStock/AE Manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, no dia 20 de junho.
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Cadê o Plano de Mobilidade? Muitas conquistas, O sol brilha no morro Dezesseis jovens, milhões de vozes Corações aquecidos Florestas em jogo Assalto aos direitos indígenas Uma mensagem dos Awá para o mundo A luta dos índios Munduruku pelo futuro do rio Tapajós Latas velhas à vista
© Greenpeace
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Muito além dos 20 centavos
carta aos colaboradores
capa
Caro colaborador,
C
omo já foi anunciado a vocês, Marcelo Furtado deixa o Greenpeace, após 23 anos de trabalho dedicados à organização – cinco deles como diretor-executivo do escritório brasileiro.
A decisão de Marcelo de deixar o Greenpeace é estritamente pessoal e motivada pelo desejo de buscar novos desafios profissionais. A troca da diretoria-executiva do escritório brasileiro é também um compromisso da organização com a renovação de ideias e lideranças. Em seu lugar, a partir de julho, assume Fernando Rossetti, antropólogo e jornalista, especialista da área de educação e dos direitos humanos. Nas páginas a seguir, você poderá conferir uma matéria para relembrar a trajetória e as conquistas de Marcelo ao longo de sua carreira no Greenpeace. Também trazemos uma entrevista com Fernando para que você possa conhecer melhor seu trabalho e suas ideias. Queremos deixar claro que este não é um momento de transição, mas de consolidação. Estamos conscientes de que os desafios ambientais do Brasil serão cada vez mais difíceis e complexos. Mas também temos certeza de que o Greenpeace está em boas mãos, com uma equipe de alto nível preparada para enfrentar tais desafios. O que nos leva a ter essa certeza é o apoio e a confiança que você, colaborador, deposita em nosso trabalho. É você que inspira e motiva nosso desejo de continuar promovendo um país mais limpo e sustentável para esta e as futuras gerações.
Entrevista: Repensar a pauta, sem mudar a essência
Espero que apreciem a leitura.
Plástico à deriva
Um abraço,
Sabedoria chinesa Greenpeace pelo mundo Foto oportunidade Marcelo Furtado
Fernando Rossetti
O Greenpeace é uma organização global e independente que promove campanhas para defender o meio ambiente e a paz, inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos. Nós investigamos, expomos e confrontamos os responsáveis por danos ambientais. Também defendemos soluções ambientalmente seguras e socialmente justas, que ofereçam esperança para esta e para as futuras gerações e inspiramos pessoas a se tornarem responsáveis pelo planeta. O Greenpeace não aceita dinheiro de governos, partidos ou empresas. Ele existe graças às contribuições de milhões de colaboradores em todo o mundo. São eles que garantem a nossa independência. |3
mobilidade © Greenpeace / Alexandre Cappi
Cadê o Plano de Mobilidade? Danielle Bambace
Após onda de protestos contra o aumento da tarifa do transporte público, os
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olítico nenhum podia imaginar que R$ 0,20 poderiam custar tão caro. O aumento das tarifas do transporte público foi o estopim para uma série de protestos que se espalhou por todo o país em junho, sobretudo após a forte repressão policial contra os primeiros manifestantes. Entre tantas pautas de insatisfação, uma delas ficou clara: a questão da mobilidade nos principais 4
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centros urbanos é urgente em um país que, por décadas, ofereceu generosos incentivos ao automóvel. O resultado está aí: trânsito colapsado, transporte público caro e ineficiente, péssima qualidade do ar nas grandes metrópoles e altos níveis de emissão de CO2. Agora que a maioria dos prefeitos e governadores voltou atrás e decidiu suspender o aumento das tarifas, fica a pergunta: como dar
um salto de qualidade no transporte público e melhorar o ir e vir das pessoas nas grandes cidades brasileiras? Foi para alimentar esse debate que o Greenpeace, em abril, foi às ruas cobrar dos governos municipais a elaboração dos Planos de Mobilidade Urbana. “Cadê o corredor de ônibus que deveria estar aqui?” era a mensagem da faixa de 10 metros estendida no viaduto Guadalajara, que
Mobilidade em números Em média, os paulistanos levam cerca de
43 minutos por dia no percurso casa-trabalho.
São 13 dias por ano gastos no trânsito Nas cidades com mais de 100 mil habitantes, apenas
39% da população avaliam o transporte coletivo como muito bom ou bom, e 61% dizem não conseguir ser atendidas pelo transporte coletivo quando necessitam A população brasileira cresceu 12,3% em dez anos. Já a frota de veículos © Greenpeace / Otávio Almeida
no país cresceu 122%. Ou seja, para cada bebê nascido, dois novos veículos passam a andar pelas ruas do Brasil Em março de 2013, a cidade de São Paulo bateu
público deve ser priorizado, assim como os meios não motorizados – como bicicletas e a caminhada. “O plano deve ter metas a curto e longo prazo capazes de aumentar a mobilidade urbana, promover a diversificação e integração dos meios de transporte, além de controlar a poluição e as emissões de gases do efeito estufa do setor de transportes”, explica Bárbara Rubim, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace. “De forma geral, um bom plano deve conter projetos capazes de promover melhorias sociais, ambientais, econômicas e de saúde”. Em 2006, os automóveis representavam 39% das emissões nacionais de CO2 de todo o setor de transportes. Já os ônibus contribuíram com apenas 7% das emissões.
Em 2011, uma média de
3,5 milhões de pessoas usavam o metrô de SP por dia: mais do que a atual população de Belo Horizonte.
O Greenpeace colocou no ar um site com um panorama de como estão sendo construídos os Planos de Mobilidade Urbana nas capitais. Há também um guia prático de como participar ativamente e cobrar ações efetivas. Quer saber mais? Acesse: www.greenpeace.org.br/ cade
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FONTES: IBGE E IPEA
corta a avenida Alcântara Machado – uma das principais vias de acesso à zona leste de São Paulo. Ao mesmo tempo, ‘homens-placas’ se espalharam pela avenida Paulista e na Praça da Sé, pedindo mais ciclovias, mais bicicletários, transporte público eficiente e calçadas sem buracos. De acordo com a lei federal, todos os municípios com mais de 20 mil habitantes devem elaborar seus planos de mobilidade urbana até 2015. Apesar do prazo ser curto, apenas nove capitais brasileiras fizeram o trabalho até agora. Um plano de mobilidade serve para orientar e regulamentar o transporte e a mobilidade em uma cidade, garantindo a universalização e a acessibilidade dos serviços. Por esses planos, o transporte
o recorde de 258 km de congestionamento. Ou seja, mais que a distância entre as cidades de São Paulo e Sorocaba (190 km)
institucional © Greenpeace
Marcelo confecciona catavento com crianças durante o Tour de Energia em 2004. © Greenpeace / Rodrigo Baleia
Muitas conquistas, um novo desafio Marina Yamaoka
Marcelo Furtado, diretor-executivo do Greenpeace Brasil há 5 anos, deixa o cargo e a organização em 2013
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uscar novos desafios. Este é um lema que Marcelo Furtado sempre seguiu. E é o que ele pretende continuar fazendo agora que deixou o Greenpeace. Furtado trabalhou por 23 anos na organização – os últimos cinco como diretor-executivo do escritório brasileiro. “Sempre fui uma pessoa comprometida com o processo de transformação, inovação e construção de um mundo mais sustentável e justo”, afirma. “Deixo o Greenpeace para seguir com meu trabalho e também permitir que a organização se renove.” Seu primeiro trabalho no Greenpeace foi como captador de recursos do escritório dos Estados Unidos. A falta de fluência no inglês, na época, lhe rendeu uma demissão no primeiro dia. Mas seu chefe resolveu lhe dar uma nova oportunidade, que mudou sua vida.
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Sob seu comando, campanhas contra a poluição industrial na Ásia e na América Latina foram ampliadas. Seu trabalho também ajudou o Greenpeace a uma conquista histórica: a proibição do comércio internacional de lixo tóxico para países em desenvolvimento. Em solo brasileiro, dirigiu o time de campanhas antes de assumir a direção-executiva da organização, em 2008. E já neste primeiro ano, comemorou uma conquista histórica da campanha de Transgênicos: após muita pressão e debates, pela primeira vez os alimentos geneticamente modificados passaram a ser rotulados no país. Em sua gestão, o Greenpeace acompanhou de perto a longa discussão do Código Florestal no Congresso, denunciou a devastação e violência no campo e lançou uma ousada iniciativa: a aliança pelo
Desmatamento Zero, um projeto de lei de iniciativa popular que pretende dar fim à destruição das florestas brasileiras. A promoção das energias limpas também ficou marcada em sua gestão. Em 2010, foi lançada a segunda edição do [R]evolução Energética, estudo elaborado em parceria com especialistas do setor. Esta projeção do cenário energético brasileiro até 2050 mostra que nossa matriz poderia ser muito mais limpa do que prevê o governo. “Foram mais de duas décadas lutando por um Brasil e um planeta melhor. Deixei minha digital na promoção da energia renovável no Brasil e no mundo, na luta contra o aquecimento global e na proteção das florestas. E devo esta jornada, da qual me sinto orgulhoso, a muita gente que me apoiou, liderou ou seguiu”, conclui.
energia limpa © Greenpeace / Otávio Almeida
O sol brilha no morro Alan Azevedo
Voluntários do Greenpeace se unem a jovens de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, para instalar placas solares em centro comunitário do Morro dos Macacos
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os últimos meses, voluntários do Greenpeace subiram o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, Rio de Janeiro, para ajudar a pôr de pé o projeto Juventude Solar. Com a mobilização – e o suor – dos jovens moradores, a partir de agora, o Centro Comunitário Lídia dos Santos vai funcionar com energia solar produzida ali mesmo, de graça e de modo sustentável. “Esse projeto do Greenpeace traz educação, que é o que mais a gente precisa aqui. E mostra que na prática, também podemos ser responsáveis com nosso planeta”, disse Anna Marcondes Faria, 76 anos, uma das idealizadoras do Centro Comunitário fundado há 55 anos por
ela e pela associação de moradores. O local, que há tanto tempo promove cursos para a comunidade – da alfabetização à capacitação profissional – começou em abril uma nova aula: de capacitação solar. Não levou mais de dois meses para que as placas solares já estivessem instaladas nos telhados do centro, pelas mãos dos próprios moradores. Como diz o nome do projeto – Juventude Solar – são os jovens que lideram essa mudança, que não se limita ao campo técnico-científico, mas agrega valores culturais também. “Se queremos promover mudanças, precisamos trabalhar com educação e com jovens. São eles que poderão passar esse conhecimento
adiante e tornar o mundo um lugar melhor”, afirmou a voluntária Vânia Stolze, que coordenou o projeto. Em 2012, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) aprovou uma normativa que estimula os brasileiros a gerarem energia em casa. O excedente de eletricidade produzida por uma placa solar, por exemplo, é transferido ao sistema e pode render descontos na conta de luz. Os painéis fotovoltaicos instalados no Centro Comunitário Lídia dos Santos deverá suprir até 60% da demanda do prédio. Quer saber mais sobre o projeto Juventude Solar? Acesse: http://bit.ly/14Ug0ob
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salve o ártico
Cápsula confeccionada especialmente para levar a mensagem de preservação do Ártico às futuras gerações.
© Christian Aslund/Greenpeace
Dezesseis jovens, milhões de vozes Rumo ao extremo norte do planeta, grupo de jovens leva uma mensagem de esperança para as futuras gerações
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quipe Aurora. Esse era o nome do grupo formado por 16 ativistas do Greenpeace que, no dia 8 de abril, partiu em direção ao extremo norte do planeta. Nas mãos, eles levaram um símbolo de esperança – uma cápsula do tempo com os nomes de 2,7 milhões de pessoas de todo o mundo que querem a proteção do Ártico, e a “Bandeira do Futuro”, que simboliza paz, esperança e comunidade global. Enfrentando temperaturas de até 25°C negativos e quilômetros de caminhada sob um sol que nunca se põe, os jovens tinham como objetivo pedir à comunidade internacional uma declaração e reconhecimento da região do Ártico como um santuário global. Como gesto simbólico, o grupo mergulhou a cápsula do tempo abaixo do gelo ártico juntamente com a bandeira, que foi desenhada por uma adolescente de 13 anos da Malásia, após concurso internacional (veja o box ao lado). O grupo também levou sua mensagem ao Conselho do Ártico – or8
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ganização política regional composta por líderes de oito países – em uma reunião sobre o impacto da exploração de petróleo na região. Na ocasião, foram entregues exemplares do livro “I Love Arctic”, com fotos de ações no mundo todo em prol da preservação da região. “Estou acompanhada de jovens de várias partes do mundo e todos têm conexões com o Ártico. É uma grande honra poder entregar a nossa mensagem para o Conselho no lugar exato que todos nós desejamos proteger para as gerações futuras”, celebrou a sueca Josefina Skerk, uma das expedicionistas. Josefina integrou o grupo como representante da etnia Sami, único povo indígena do extremo norte da Europa reconhecido e protegido sob as convenções internacionais dos povos indígenas. Além dela, estava no grupo o ator norte-americano Ezra Miller. Quer ajudar a salvar o Ártico? Assine a petição: www.salveoartico.org.br
© Vicki Couchman / Greenpeace
Alan Azevedo
A bandeira da juventude Mil e quatrocentos jovens de 43 países participaram do concurso “Bandeira do Futuro”, promovido pelo Greenpeace Internacional e pela Associação Mundial de Bandeirantes e Escoteiras para escolher a imagem que melhor represente a juventude do mundo. Uma bandeira pela paz, esperança e comunidade global. A adolescente Sarah Batrisyia Binit da Malásia de apenas 13 anos, foi a vitoriosa. Sua bandeira foi selecionada pela estilista Vivienne Westwood, jurada do concurso. A bandeira foi levada ao Ártico e colocada no fundo do mar juntamente com os nomes de 2,7 milhões de pessoas que assinaram a petição para transformar o extremo norte do planeta em um santuário global. (AA)
© Greenpeace / Ivo Gonzalez
Corações aquecidos Marina Yamaoka
Milhares de pessoas em todo o mundo se reuniram para mostrar seu amor pelo Ártico e para pedir proteção a um dos mais frágeis ecossistemas do planeta
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ia 20 de abril de 2013 ficou marcado como o dia em que milhares de pessoas em 280 cidades diferentes se reuniram para declarar seu amor pelo Ártico. Ativistas de mais de 30 países escreveram mensagens com seus próprios corpos das formas mais variadas e criativas possíveis, deixando claro que este importante e frágil ecossistema deve ser protegido da exploração petrolífera e da pesca predatória. O Brasil não ficou de fora e, no Rio de Janeiro, um coração foi desenhado na areia da praia de Botafogo,
diante do icônico Pão de Açúcar. A campanha do Greenpeace em proteção ao Ártico foi lançada em junho de 2012, durante a Rio+20. A organização defende a criação de um santuário mundial na área em torno do polo norte, que seria dedicado exclusivamente à pesquisa. A pesca intensiva em lugares antes congelados prejudica comunidades nativas da região que sobrevivem dessa atividade, além de causar desequilíbrios ao ecossistema marítimo. Além disso, a exploração de petróleo em um local inóspito e frio como o Ártico torna a operação al-
tamente arriscada. Um vazamento de óleo ali teria efeitos devastadores e irreversíveis. “O Ártico está derretendo a um ritmo nunca antes visto e seu desaparecimento vai acelerar ainda mais o aquecimento global e as mudanças climáticas”, disse Cristine Rosa, coordenadora da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil. “Por isso, proteger o Ártico é proteger a todos nós”, concluiu. Assista ao making off da foto no Rio de Janeiro: http://bit.ly/156dRpl
Prestando contas Já está disponível o Relatório Anual 2012 do Greenpeace Brasil com um resumo das atividades realizadas no último ano. Isso inclui a passagem do navio Rainbow Warrior pelo Brasil, nossa participação na Rio+20 e um denso trabalho de rua voltado para a coleta de assinaturas pela lei de iniciativa popular do Desmatamento Zero. As campanhas pelas energias renováveis – e todo trabalho político desenvolvido em paralelo – também estão no
Confira: bit.ly/12NDS9O
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amazônia
Florestas em jogo Nathália Clark
Greenpeace apresenta a nova versão do Liga das Florestas, website que conta a história da Amazônia e convoca novos heróis pelo desmatamento zero
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té poucas décadas atrás, toda a Amazônia era uma paisagem plena de fartura e beleza. Aos poucos, ela foi sendo invadida por personagens que a transformaram radicalmente. Avançaram sobre a floresta o gado, a soja, os madeireiros. Atividades muitas vezes ilegais, elas trouxeram a reboque mazelas como o trabalho escravo, a invasão de Terras Indígenas e a violência. Essas são algumas das histórias que a nova versão do desafio online Liga das Florestas pretende contar. Ao navegar pelo site, o participante embarca numa viagem virtual pela Amazônia, podendo observar a evolução da ocupação da floresta ao longo dos anos e a urgência em protegê-la. O jogo foi dividido em oito fa-
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ses. Para avançar, o participante precisa responder a um quiz com perguntas relacionadas aos problemas da região e suas possíveis soluções. Paralelamente, algumas tarefas têm que ser realizadas, como chamar amigos para participar da disputa ou ajudar a divulgar a campanha pela lei de iniciativa popular do Desmatamento Zero pela internet. Quanto mais for feito, mais pontos são acumulados, podendo render recompensas. “Proteger as florestas é mais do que uma responsabilidade dos cidadãos, é um direito. Ao assinar a petição no site, estimulamos as pessoas a protegerem um dos nossos maiores patrimônios ambientais”, explica Elcio Figueiredo, coordenador de web do Greenpeace. “Por
meio da disputa online, tentamos promover o exercício da cidadania de forma lúdica e informativa”. O projeto de lei de iniciativa popular pelo desmatamento zero foi lançado em maio de 2012, fruto de uma parceria entre o Greenpeace e outras organizações da sociedade civil. Em pouco mais de um ano, mais de 800 mil pessoas já aderiram à campanha em prol das florestas brasileiras. Mas para que o projeto seja votado pelo Congresso Nacional e possa se tornar lei, precisamos de mais heróis. Quer se tornar um herói da floresta você também? Entre no site e participe: www.ligadasflorestas.com.br
indígenas ©Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Assalto aos direitos indígenas Nathália Clark
Em meio a ataques a seus direitos constitucionais, indígenas de todo o país marcharam a Brasília pelo direito a suas terras e à sobrevivência de suas culturas
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dia 19 de abril foi há muito cunhado, pelo homem branco, como o Dia do Índio. Mas o que se vê atualmente é que os povos nativos brasileiros não têm tido nenhum dia que seja de fato deles. Até mesmo o que lhes pertence hoje por direito adquirido na Constituição está correndo risco de ser perdido. Além das ameaças no campo, uma série de projetos de lei e portarias estão em curso na esfera política para destituir os povos indígenas de seus territórios e suas culturas, correndo risco de não sobreviverem junto com as florestas que eles ajudam a proteger. Sempre nesta data, os indígenas comparecem a Brasília para uma série de eventos em homenagem a esses povos tradicionais. Neste ano, um dos mais críticos em termos de ameaças a seus direitos, eles não tinham nada a comemorar. Em um protesto histórico contra a PEC-215, que visa transferir a demarcação de suas terras para o poder Legislativo,
centenas de indígenas de diferentes povos e regiões do Brasil ocuparam o plenário principal da Câmara dos Deputados. Sua vinda foi definida por eles como “um grito de socorro”, um pedido de ajuda para defender suas populações “daqueles que querem saquear o país”. Eles reivindicam apenas o devido respeito e reconhecimento pela sua importância na preservação da maior riqueza do país: a floresta e seus habitantes. “O modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil é retrógrado e representa uma visão de mundo há muito superada. Os povos indígenas têm um papel de destaque no processo de manutenção dos recursos naturais e sua atuação precisa ser reconhecida e promovida como um bem para a humanidade. Mas ao contrário disso, o prêmio que recebem por preservar a natureza é a expropriação de suas terras”, afirma Marcio Astrini, da campanha
Amazônia do Greenpeace. As Terras Indígenas, que protegem 13% de todo o remanescente florestal do país, estão sob forte ameaça no Congresso Nacional. Segundo levantamento do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), tramitam hoje 452 projetos para empreendimentos, muitos deles previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que impactam diretamente 201 territórios indígenas Brasil afora. Para os povos tradicionais, o que está em jogo é a própria vida e a herança que o Brasil vai deixar para as futuras gerações. “Estamos sendo covardemente atacados por propostas que querem dizimar os indígenas da História do Brasil. Estão permitindo que a Constituição seja rasgada, como foi rasgado o Código Florestal. Enquanto existir um indígena em pé, existirá luta para defender as florestas em pé”, bradou no Dia do Índio o cacique Ninawá, do povo Huni Kui, do Acre.
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©Greenpeace / Eliza Capai
indígenas
Uma mensagem dos Awá para o mundo Nathália Clark
Um dos povos indígenas mais ameaçados do país e do mundo, os Awá-Guajá
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urante a semana em que se comemora o Dia do Índio, o Greenpeace esteve na Terra Indígena Caru, no Maranhão, para documentar o modo de vida de um dos povos mais ameaçados do mundo, os Awá-Guajá. Ali vivem os cerca de 400 indivíduos que ainda resistem em uma das últimas áreas de floresta que ficaram de pé numa área da Amazônia já devastada pela motosserra. Não é à toa que uma das palavras que mais se ouve no local é Wiramixixarokara – ou ‘madeireiro’, na língua awá. Historicamente, o povo tem a sua subsistência baseada na caça e na coleta de alimentos tirados diretamente da floresta. Para os Awá, o desmatamento é sinônimo de tragé12
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dia. Quem vê a situação hoje, pensa que deve ter levados anos para que o povo chegasse a esse estado. Mas não foi bem assim. Há apenas seis décadas que a vida dos Awá se tornou uma encruzilhada. As primeiras fazendas começaram a chegar à região nos idos dos anos 50 e 60. E com elas, estradas e a ferrovia do projeto Grande Carajás – encabeçado pela Vale. Num processo aceleradíssimo, o verde da floresta foi dando lugar ao negro das carvoarias e das queimadas. A população dos Awá caiu quase pela metade e as pressões nunca mais cessaram. Sob forte disputa fundiária e política, os Awá ficaram encurralados em seu próprio território e hoje são uma das populações mais reduzidas
do Brasil. Na Terra Indígena Caru, aproximadamente 11% da floresta já foi devastada, e mais de 30% da mata foi para o chão na vizinha Terra Indígena Awá. Parece piada de mal gosto, mas desde 2002, caminha a passos lentos na Justiça uma ação do MPF (Ministério Público Federal) que pede a retirada dos não-índios da terra Awá. Fazendeiros e madeireiros resistem, e o município de Zé Doca – que abriga uma parte do território indígena – entrou com recurso judicial contra a ação do MPF. Em 2010, o prefeito da cidade chegou a declarar publicamente que os Awá não existem. Eles revidaram: acamparam em frente à prefeitura da cidade e foram a Brasília dizer: “Nós existimos”.
Nathália Clark
Um dos povos indígenas mais ameaçados do país e do mundo, os Awá-Guajá
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urante a semana em que se comemora o Dia do Índio, o Greenpeace esteve na Terra Indígena Caru, no Maranhão, para documentar o modo de vida de um dos povos mais ameaçados do mundo, os Awá-Guajá. Ali vivem os cerca de 400 indivíduos que ainda resistem em uma das últimas áreas de floresta que ficaram de pé numa área da Amazônia já devastada pela motosserra. Não é à toa que uma das palavras que mais se ouve no local é Wiramixixarokara – ou ‘madeireiro’, na língua awá. Historicamente, o povo tem a sua subsistência baseada na caça e na coleta de alimentos tirados diretamente da floresta. Para os Awá, o desmatamento é sinônimo de tragé12
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© Greenpeace / Eliza Capai
©Greenpeace / Eliza Capai
indígenas
Uma mensagem dos Awá para o mundo
A luta dos índios Munduruku pelo futuro do rio Tapajós Nathália Clark
dia. Quem vê a situação hoje, pensa que deve ter levados anos para que o povo chegasse a esse estado. Mas não foi bem assim. Há apenas seis décadas que a vida dos Awá se tornou uma encruzilhada. As primeiras fazendas começaram a chegar à região nos idos dos anos 50 e 60. E com elas, estradas e a ferrovia do projeto Grande Carajás – encabeçado pela Vale. Num processo aceleradíssimo, o verde da floresta foi dando lugar ao negro das carvoarias e das queimadas. A população dos Awá caiu quase pela metade e as pressões nunca mais cessaram. Sob forte disputa fundiária e política, os Awá ficaram encurralados em seu próprio território e hoje são uma das populações mais reduzidas
do Brasil. Na Terra Indígena Caru, aproximadamente 11% da floresta já foi devastada, e mais de 30% da mata foi para o chão na vizinha Terra Indígena Awá. Parece piada de mal gosto, mas desde 2002, caminha a passos lentos na Justiça uma ação do MPF (Ministério Público Federal) que pede a retirada dos não-índios da terra Awá. Fazendeiros e madeireiros resistem, e o município de Zé Doca – que abriga uma parte do território indígena – entrou com recurso judicial contra a ação do MPF. Em 2010, o prefeito da cidade chegou a declarar publicamente que os Awá não existem. Eles revidaram: acamparam em frente à prefeitura da cidade e foram a Brasília dizer: “Nós existimos”.
Fonte de subsistência e parte indissociável da cultura Munduruku, rio Tapajós está na mira dos planos hidrelétricos do governo
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radicionalmente um povo aguerrido, os Munduruku se uniram dessa vez não para o conflito, mas para o diálogo. O governo fugiu de sua responsabilidade e tem os deixado sem uma resposta. Sua mensagem é clara: “Não queremos barragem, queremos o Tapajós livre”. Esse mesmo rio é hoje uma das últimas grandes frentes de expansão – e também de
resistência – do projeto energético planejado para a Amazônia, que prevê a construção de pelo menos sete novas usinas hidrelétricas na região. Seja na aldeia Sai Cinza, onde caciques de várias comunidades estiveram reunidos esperando uma conversa com representantes da Casa Civil, seja no canteiro de obras da usina de Belo Monte, ocupa-
Em abril, o Greenpeace esteve na aldeia Sai Cinza, no Pará, para noticiar o encontro dos Munduruku que pretendia discutir os planos do governo de construir hidrelétricas na bacia do Tapajós.
do por cerca de 150 lideranças do Brasil, os indígenas reivindicam um mínimo de atenção e respeito por parte dos governantes. Enquanto o governo vê o Tapajós apenas como uma via de execução para seus empreendimentos pouco sustentáveis, povos tradicionais como os Munduruku têm nele a sua fonte de subsistência e parte indissociável da sua cultura.
Leia mais em nosso site: http://bit.ly/ZTMKta
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petróleo
Latas velhas à vista Marina Yamaoka
Greenpeace lança site que reúne informações sobre os acidentes envolvendo plataformas de petróleo com mais de 30 anos
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a moda desde que foi descoberto, o petróleo do pré-sal é imaginado por muitos como a grande oportunidade de transformar o Brasil em potência energética. Mas extrair óleo de uma profundidade de sete quilômetros abaixo do nível do mar não é tarefa fácil. Não bastassem as dificuldades naturais, o governo brasileiro ainda opta por entrar com tecnologia defasada nessa árdua empreitada. Aproximadamente uma de cada três plataformas que estão em operação no Brasil foi construída há 30 anos ou mais, e representam maior probabilidade de vazamentos: dos 102 acidentes registrados desde o
ano 2000 na exploração offshore, 62% aconteceram nas plataformas mais velhas. As informações estão no site “Lataria”, lançado em maio pelo Greenpeace. A página é um observatório que mapeia os dados e o histórico de acidentes das velhas plataformas que operam na região do pré-sal. As informações que mostram como o Brasil está na contramão da segurança chegam também do próprio setor: uma das maiores empresas de serviços de perfuração marítima do mundo, a Transocean estima que a vida útil das plataformas é de 18 a 35 anos. Mesmo assim, uma de suas plataformas que operavam no
pré-sal, a Sedco 706, já completou 37 anos. Aliás, essa é a mesma plataforma que, operada pela Chevron, protagonizou em 2011 o maior vazamento de petróleo no mar brasileiro, na costa do Estado do Rio. “O acidente com a Sedco 706 expôs o óbvio: o Brasil deu largada à corrida maluca pelo pré-sal sem tecnologia adequada e sem capacidade de controlar um vazamento de grandes proporções”, critica Ricardo Baitelo, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace. Conheça o projeto Lataria: www.greenpeace.org.br/lataria
O Greenpeace mapeou as plataformas antigas da região do pré-sal e apresenta seus dados e histórico de acidentes
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© Greenpeace
entrevista
Repensar a pauta, sem mudar a essência Leonardo Medeiros De criança, se exilou com a família no Reino Unido por causa da ditadura. Adolescente, acompanhou com entusiasmo a redemocratização do Brasil. Com tanto estímulo político, as Ciências Sociais foram sua escolha natural. E o jornalismo, uma forma de colocar seus conhecimentos em prática. Repórter de educação da Folha de S.Paulo por dez anos, co-fundador da ONG Aprendiz, Fernando Rossetti, 51, decidiu encarar o movimento ambiental e assumir a direção-executiva do Greenpeace Brasil.
Revista do Greenpeace Quais Greenpeace Brasil? Fernando Rossetti Vejo dois desafios principais. Em primeiro lugar, o movimento ambiental está em transição. As questões ambientais são globais. O que afeta o Brasil, afeta a todo o mundo. Então é preciso rever o movimento ambiental por essa perspectiva e por como isso se relaciona com a economia. A segunda questão ficou clara nos recentes movimentos de rua: as pessoas não se sentem representadas pelas organizações, seja pelo poder executivo ou legislativo, pelos partidos políticos, pelos sindicatos, mas também pelas organizações da sociedade civil. Qual é nosso papel nisso? Temos o desafio de repensar as organizações dentro de um cenário em que os jovens estão conectados por redes sociais, onde a sociabilidade acontece de maneira diferente e os espaços são ocupados de maneiras diferentes. Teremos que repensar todas as organizações, inclusive as ONGs. Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace Internacional
veio do movimento anti-apartheid da África do Sul. Não é uma pessoa com uma história no movimento ambiental. Você também tem uma experiência de trabalho mais ligada à educação. Seriam esses dois indicativos de que a organização busca novos caminhos e tenta ampliar sua pauta? Qual é a pauta ambiental e como reposicionar essa pauta? E como repensar as organizações? Sou um gestor de organizações sociais e, como tal, minha função é repensar isso tudo. Me sinto muito desafiado e animado para, junto de outras organizações, construir um mundo mais sustentável e dialogar com movimentos como os que estamos vendo no Brasil, na Turquia... Quero dizer que a juventude está indo às ruas e não se sente representada pelas organizações da sociedade. Acho que existe uma oportunidade de fazer o Greenpeace crescer e se integrar melhor com outros movimentos. Isso pode representar uma mudança de pauta para o Greenpeace? Não vejo uma mudança, mas uma atualização da agenda para um
contexto novo, em que todos ainda estamos aprendendo. O mundo mudou e, talvez, estejamos precisando de uma reflexão de base para atualizar a organização. De qualquer maneira, continuamos sendo Greenpeace. Nossa forma de atuação não muda. Como você analisa o debate atual sobre meio ambiente? A questão ambiental é emergencial e as pessoas começam a entender isso. Mesmo países mais resistentes, como os Estados Unidos, estão começando a mudar de direção. Por outro lado, é aquela comparação entre o copo meio cheio ou meio vazio. Algumas coisas avançaram, outras não. No Brasil, o desmatamento diminuiu, mas tivemos a derrota do Código Florestal, o que gera certo desânimo. Mais uma vez, houve um descolamento entre a tomada de consciência da sociedade e a representação política, que foi no sentido oposto. Avançamos em uma série de questões, mas os desafios ainda são enormes. Leia a íntegra da entrevista em nosso site: bit.ly/18fVofX
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© Fabiano Viana/Comunicação Sefras
mundo green
Plástico à deriva Brunno Marchetti
Na Austrália, empresas como Coca-Cola lutam contra política de reciclagem de embalagens. Já o Brasil tem uma legislação sobre o assunto. Só falta tirar do papel.
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são dificilmente será efetivada dentro do prazo estipulado, já que além das metas relativas ao ciclo de produção e reaproveitamento, o Brasil ainda possui 2.906 lixões que devem ser fechados até 2015, segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Com o fim dos lixões, a reciclagem pode ganhar mais espaço. Dados de 2011 da Abipet (Associação Brasileira da Indústria do PET) mostram que 57,1% de todo PET produzido no Brasil foram reciclados. Mas para aumentar esse número, é preciso aperfeiçoar a coleta seletiva e dar atenção a cooperativas e ações como as do Recifran (Serviço Franciscano de Apoio a Reciclagem), que promovem a reciclagem e trabalham com a reinserção social de população em situação de rua. “O PET que passa pela instituição pode virar desde outra embalagem, até uma camiseta, telha ou mesa”, diz Vanessa Silva, porta-voz da Recifran. Um copo ou uma garrafa de plástico levam cerca de cem anos para se decompor. “Ter mais plástico do que fauna nos rios e mares é um dos danos, o tempo de decomposição é outro, aliado ao fato de que esses materiais podem entupir bueiros e saídas de água”.
A produção de PET no Brasil
572 mil toneladas/ano 294 mil toneladas é reciclado
(apenas 57%)
Quem mais recicla garrafas PET INDÚSTRIA TÊXTIL APLICAÇÕES QUÍMICAS EMBALAGENS LAMINADOS E CHAPAS FITAS DE ARQUEAR TUBOS
1,9% 6,7%
7,9%
40%
18% 18,7%
Assista ao vídeo do Greenpeace Austrália: youtu.be/Q7Uxaw6YoRw
FONTE: ABIPET/2011
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ovens bonitos saboreiam uma Coca-Cola diante da praia. Tudo ao som de uma alegre canção. Até que o inesperado acontece: pássaros mortos caem do céu. Parece roteiro de Hitchcock, mas se trata de um vídeo produzido pelo Greenpeace Austrália parodiando uma propaganda da gigante norte-americana de bebidas. Na Austrália, tartarugas, baleias e cerca de dois terços das aves marinhas são afetadas por embalagens plásticas que vão parar em suas barrigas. Aproximadamente 25% desse material vem da indústria de bebidas. Mesmo assim, a Coca-Cola está fazendo forte pressão contra uma política de reciclagem de embalagens naquele país. No Brasil, pelo menos no papel, estamos adiantados: desde 2010 está em processo de implementação a Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada pela lei nº 12.305, que prevê o fim dos lixões e a responsabilidade compartilhada por poder público, empresas, sociedade civil organizada e consumidores no descarte de resíduos. As mudanças que a lei prevê entram em vigor até 2014. O retorno das embalagens para o fabricante passa a ser um dos mecanismos obrigatórios. Pelo andar da carruagem, a mis-
© Greenpeace
Sabedoria chinesa Alan Azevedo
Há três décadas no Brasil e há dez anos apoiando o Greenpeace, o chinês Chung Lang acredita que a educação pode amenizar problemas ambientais nos dois países
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olhar do estrangeiro às vezes nos ajuda a entender melhor nosso próprio país. Chung Lhei Lang, 54, consegue analisar muito bem os problemas ambientais do Brasil e fazer uma comparação com seu país natal, a China. Natural de Taiwan e profissional do ramo de comércio exterior, há 30 anos Chung arrumou as malas e se mudou para o Brasil. Tempo suficiente para desenvolver um olhar crítico da situação ambiental que enfrentamos. Há 10 anos, ele resolveu se tornar um dos colaboradores do Greenpeace. “Sempre vi notícias do Greenpeace em revistas e telejornais. Como eu concordo com a proposta da instituição, mas não consigo participar diretamente de nenhuma ação, tento ajudar da maneira que eu posso”, explica Chung, que é casado e tem três filhos. Para ele, as mudanças partem da atitude de cada um, “que um dia pode vir a ser exemplo para outros”.
Chung acha que pouca coisa mudou nessas três décadas de Brasil. E o motivo, em sua opinião, é claro: “Ainda falta educação à população. Precisa educar, como a Coreia do Sul e o Japão pós-guerra, que investiram fortemente nisso”, observa. Sem nunca ter estudado português, mas hoje com domínio do idioma, o chinês veio para cá com a cara e a coragem: “Li um único livro de português para estrangeiros e vim trabalhar”, conta. Ele traça paralelos entre seu país nativo e o Brasil. Para Chung, ao mesmo tempo em que são economias emergentes, com grande potencial para figurarem entre os líderes do mercado mundial, ambos também carregam largos passivos ambientais e têm o desafio de crescer de maneira sustentável. A China, por exemplo, já é a nação que mais emite gases do efeito estufa de todo o mundo e suas principais metrópoles sofrem com níveis graves de poluição do ar. Mas o país tenta medidas para reverter o cenário.
“Os chineses já estão num processo de recuperação a longo prazo. Como se trata de um país muito grande, de terreno montanhoso, apenas 25% do seu território é aproveitado. Isso faz com que se perca um pouco o controle da poluição, mas o processo de recuperação virou prioridade”, diz. Por essas e outras, ele continua na sua missão individual. “Colaboro para poder chamar atenção da população, melhorar o Brasil e o mundo. Faço a minha parte, o que está ao meu alcance para incentivar os jovens a fazer algo mais útil, como educar a população e preservar o meio ambiente.”
Este é um espaço para conhecer você, que contribui
para o Greenpeace e acredita em nosso trabalho. Se você tem alguma história ligada à nossa organização ou à defesa do meio ambiente, escreva para a gente: relacionamento@greenpeace.org
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cartas
internacional
Greenpeace pelo mundo
Sobre o projeto Juventude Solar, recebemos a mensagem: “Quero parabenizar a equipe pelo trabalho [Juventude Solar, realizado em Vila Isabel, no Rio (veja página 7)], ensinando jovens a fazer algo e a fazer a diferença positiva. Parabéns!”
Brunno Marchetti
Lavoura arcaica
Franziska Martincic Kienitz Colaboradora - Barra do Piraí/RJ
Investigação do Greenpeace China revelou o descaso da indústria e das autoridades do país com relação ao descarte indevido de fertilizantes. Algumas províncias do interior estão sendo diretamente afetadas pelos rejeitos da produção de fertilizantes à base de fosfato, substância tóxica que contamina o meio ambiente e a saúde das pessoas. Uma das amostras mais gritantes do descaso é a montanha de material tóxico encontrada ao lado da vila de Tingjiang, localizada na província de Sichuan.
Você também pode mandar seu comentário, dúvida ou sugestão. REVISTA DO GREENPEACE Rua Alvarenga, 2331 Cep: 05509 006 - São Paulo SP
Salve as abelhas Nos últimos anos, o número de colônias de abelhas na Europa e nos Estados Unidos tem decaído vertiginosamente. O motivo? Pesticidas produzidos por indústrias como Bayer e Syngenta. Contra essa situação, a campanha “Save the bees”, do Greenpeace Internacional, luta pela abolição dos pesticidas que têm dizimado as colônias de abelhas. Alguns protestos foram realizados em países como Alemanha, Suíça e Áustria. A União Europeia já deu o primeiro passo rumo ao salvamento dessas pequenas criaturas, produtoras de mel e um dos principais agentes polinizadores naturais. Três pesticidas que comprovadamente estavam matando as abelhas foram banidos da região.
ASSOCIAÇÃO CIVIL GREENPEACE Conselho diretor Presidente Conselheiros
Diretor-executivo Diretora de programa Diretor de políticas públicas Diretora de mobilização e comunicação Diretor de marketing e captação de recursos Diretora do organizacional
Ursos na cadeia No mês de abril, três ursos polares foram parar atrás das grades na Rússia. Na verdade, eles eram três ativistas do Greenpeace, que protestavam contra as ameaças da empresa Statoil aos animais. É que a companhia, petrolífera norueguesa, pretende aproveitar o recuo da cobertura de gelo do mar russo para explorar a região, habitat de ursos polares. Diferentemente da Noruega e dos Estados Unidos, a Rússia não tem uma legislação que proteja áreas marítimas cobertas de gelo ou que restrinja essa exploração em seu país.
Rachel Biderman Laura Valente Leda Machado Marcelo Estraviz Marcos Nisti Oskar Metsavaht Marcelo Furtado Annette Cotter Sérgio Leitão Lisa Gunn André Bogsan Karla Battistella
REVISTA DO GREENPEACE É uma publicação trimestral do Greenpeace Editor
Redatores
Leonardo Medeiros (MTb 39511) Danielle Bambace Alan Azevedo Bernardo Camara Brunno Marchetti Danielle Bambace Leonardo Medeiros Marina Yamaoka Nathália Clark Karen Francis W5 Criação e Design
Prepress e impressão Este periódico foi impresso em papel reciclado em processo livre de cloro. Tiragem: 32 mil exemplares.
© Denis Sinyakov / Greenpeace
www.greenpeace.org.br
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O selo FSC® garante que este produto foi impresso em papel feito com maciais, ambientais e econômicos estabelecidos pela organização internacional FSC® (FOREST STEWARDSHIP COUNCIL® / Conselho de Manejo Florestal).
Nas alturas
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© David Sandison / Greenpeace
No início de julho, um grupo de ativistas do Greenpeace escalou o maior edifício da Europa ocidental, o Shard, de Londres, em um apelo pela proteção do Ártico. O Shard abriga um importante escritório da Shell, empresa que insiste em seus arriscados planos de explorar petróleo nesse frágil e inóspito ecossistema. No topo do edifício, a 310 metros de altura, o grupo estendeu um banner gigante com a mensagem “Salve o Ártico”.
Para acompanhar o paradeiro dos navios em imagens ao vivo acesse: www.greenpeace.org/international/en/multimedia/ship-webcams
ARCTIC SUNRISE
RAINBOW WARRIOR
ESPERANZA
Arctic Sunrise
Em dois meses de expedição pelo oceano Índico, o navio está investigando pesqueiros que operam ilegalmente ou que manejam de forma incorreta os rejeitos produzidos pela atividade. A campanha contra a pesca predatória segue com o apoio de comunidades de pescadores locais.
Navegando pela costa do Reino Unido, o Arctic Sunrise segue rumo a uma jornada pela pesca sustentável nas águas geladas do Mar do Norte, trabalhando em apoio aos pescadores que atuam de forma equilibrada na região. A união de forças entre Greenpeace e essas comunidades está na vanguarda das negociações pela reforma de um marco regulatório da pesca na Europa.
© Jiri Rezac / Greenpeace
© Markel Redondo / Greenpeace
Esperanza
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Rainbow Warrior O Guerreiro do Arco-íris está documentando a vida marinha do Mar de Java, na Indonésia, um dos ecossistemas mais ricos e também mais ameaçados do mundo. O objetivo da expedição é conscientizar a população e apoiar o compromisso do governo do país
© Ardiles Rante / Greenpeace