Revista RENI 06

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vol. 3, n. 6 semestre2

2018 ISSN 2448-3664

EDITORIAL......................................................................................................... 3 JOSÉ HENRIQUE BASSI SOUZA SPERANCINI

ARTIGOS REDES, CIÊNCIA E TECNOLOGIA: REDES UNIVERSIDADE-EMPRESAS DE UM PONTO DE VISTA TEÓRICO.................................................................................................. 4 RAFAEL GALVÃO DE ALMEIDA

AS CONTRIBUIÇÕES DE UMA FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA PARA A COOPERAÇÃO UNIVERSIDADE-INDÚSTRIA............................................................ 13 EDUARDO AVANCCI DIONISIO E ROBERTO ANDRÉ POLEZI

EMPREENDEDORISMO TECNOLÓGICO: INVESTIMENTOS DE RISCO EM STARTUPS NO BRASIL............................................................................................................. 21

CLEIDE ANE BARBOSA DA CRUZ, VALÉRIA MELO MENDONÇA, PAULO ROBERTO DOS SANTOS, ANA ELEONORA ALMEIDA PAIXÃO E IRACEMA MACHADO DE ARAGÃO GOMES

ANÁLISE DO POTENCIAL EMPREENDEDOR EM GRADUANDOS DE CURSOS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DE MATO GROSSO............................................................................. 33

PAULO AUGUSTO RAMALHO DE SOUZA, ANNA KAROLINA MACHADO CAMPOS E MARIA DO CARMO ROMEIRO

NÃO SEI MAS QUERO SABER: UM ESTUDO SOBRE O CONHECIMENTO DE ESTUDANTES DE ENSINO TÉCNICO SOBRE PROPRIEDADE INTELECTUAL .................................... 46 JEAN MENDES NASCIMENTO E ADALTON MASALU OZAKI

O APRENDIZADO DO PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO BASEADO EM PROBLEMAS..................................................................................................... 59 MARCOS RICARDO ROSA GEORGES

http://publicacoes.ufabc.edu.br/reni/


Equipe Editorial Editor Chefe

José Henrique Bassi Souza Sperancini - Doutor em Política Científica e Tecnológica pela UNICAMP. Tem experiência em ensino e pesquisa nas áreas de economia da saúde, evolucionismo, economia do turismo e avaliação de políticas públicas com ênfase nos temas da inovação tecnológica e do desenvolvimento econômico.

Conselho Editorial

Alberto Sanyuan Suen - Doutor em Administração pela FEA-USP. Tem experiência nas áreas de Economia, Administração e Direito, com ênfase em Economia Financeira, Administração de Empresas e Direito Comercial Alexandre Ottoni Teatini Salles - Doutor em Economia pela University of Hertfordshire. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Institucional, Economia Pós-Keynesiana, economia monetária e financeira, história econômica e desenvolvimento econômico. Ana Claudia Polato e Fava - PhD pela Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, mestrado e graduação pela Universidade de São Paulo. Tem experiência em Microeconomia, Econometria, Desenvolvimento Econômico, Economia da Família e Finanças Pessoais. Anapatrícia de Oliveira Morales Vilha - Doutora em Política Científica e Tecnológica pela UNICAMP. Tem experiência na área de Estratégia competitiva e de inovação; Gestão de tecnologia e inovação; Gestão de inovação em economias emergentes; Tecnologia, inovação e desenvolvimento sustentável; Economia da inovação tecnológica; Estratégias empresariais; Políticas de ciência, tecnologia e inovação e Empreendedorismo. Hernàn Thomas (UNQ) - Doutor em Ciência e Tecnologia Política pela UNICAMP. Pós-doutorado no Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências (UNICAMP). Pesquisador do CONICET (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas) e professor da Universidade Nacional de Quilmes. Pesquisador (categoria 1) do programa de incentivo do Ministério da Educação. Ivan Filipe de Almeida Lopes Fernandes. Ivan Fernandes é Bacharel em Relações Internacionais (2007) e Mestre e Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (2010). Foi Pesquisador Visitante com Bolsa de Doutorado Sanduíche na Universidade de Illinois em Urbana Champaign (2012). Tem experiência nas seguintes áreas de Ciência Política: tomada de decisão, política comercial, política burocrática, mudança institucional, voto econômico e a relação entre democracia e desigualdade social. http://lattes.cnpq.br/9951591696185495. Josmar Cappa - Doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Economia, atuando principalmente nos seguintes temas: economia urbana e regional, políticas públicas contemporâneas, políticas públicas, transporte aéreo e aeroportos e economia do bem-estar social. Marta Cristina Marjotta - Mestrado e Doutorado em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Agrária, atuando principalmente nos seguintes temas: agronegócio, logística, marketing e setor sucroenergético. Mônica Yukie Kuwahara - Mestre e doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de microeconomia e economia do meio ambiente. Realiza pesquisas sobre qualidade de vida, desigualdade, desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental, com ênfase maior em seus indicadores e análises de políticas públicas. Octavio Augusto Camargo Conceição - Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Flutuações Cíclicas e Projeções Econômicas, atuando principalmente nos seguintes temas: instituições, abordagens institucionalistas, economia brasileira, desenvolvimento econômico e crescimento econômico. Ricardo Luiz Silveira da Costa - Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense. Tem experiência na área de Filosofia Medieval e História Medieval.

Pareceristas

Alberto Sanyuan Suen (UFABC) Alexandre Ottoni Teatini Salles (UFF) Ana Claudia Polato e Fava (UFABC) Anapatrícia Morales Vilha (UFABC) José Henrique B. Souza Sperancini (UFABC) Josmar Cappa (PUC-Campinas) Marta Cristina Marjotta-Maistro (UFSCar) Márcia Carvalho de Azevedo (Unifesp) Mônica Yukie Kuwahara (UFABC) Octavio Augusto Camargo Conceição (UFRGS) Ricardo Luiz Silveira da Costa (UFES) Amilcar Davyt Garcia (UR) Caroline Rodrigues Vaz (UFSC) Prof. Dr. Raul Otto Laux (UNIFEBE) Marcos Ricardo Rosa Georges (PUC -Campinas) Takeshy Tachizawa (FACCAMP) Hamilton Pozo (FACCAMP)

Editoração

Ma. Kelly Cristina Silva Firmino Sandra Felix Santos


EDITORIAL O sexto número da “Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação” (RENI) divulga mais seis trabalhos de diferentes instituições de pesquisa e ensino. Rafael Galvão de Almeida (UFMG), com uma abordagem de sociologia econômica, trata da interação universidadeempresa sob a perspectiva do modelo de Nelson e Winter. Argumenta que tal interação é fundamental para permitir um intercâmbio de informação essencial para cooperação no processo de inovação. Na mesma temática, Eduardo Avancci Dionisio. (Unicamp) e Roberto André Polezi (Unisal) analisam se as pesquisas apoiadas pela FAPESP têm contribuído para a cooperação universidade-empresa. Os resultados desse estudo exploratório descritivo indicam a presença de lacunas referentes a relações informais e ao empreendedorismo acadêmico. Cleide Ane B. da Cruz, Amanda Luiza S. Silva, Valéria M. Mendonça, Paulo R. dos Santos, Ana Eleonora A. Paixão e Iracema M. de Aragão Gomes (UFS) abordam o investimento de risco em startups. O trabalho estuda organizações e associações de equity crowdfunding, investimento anjo, private equity e venture capital que apoiam o empreendedorismo tecnológico brasileiro. Ligados ao tema do empreendedorismo universitário temos três artigos. Paulo Augusto R. de Souza (UFMT), Anna Karolina M. Campos (UFMT) e Maria do C. Romeiro (USCS) ressaltam a importância dos jovens empreendedores no fortalecimento do agronegócio brasileiro. O estudo identifica as características/indicadores presentes nos graduandos de cursos de agrárias no Estado de Mato Grosso. Jean M. Nascimento, pesquisador junto ao Laboratório de Robótica e Reabilitação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP - Labore) e Adalton M. Ozaki, diretor do Núcleo de Inovação Tecnológica do IFSP analisam o conhecimento de estudantes de ensino técnico sobre o tema da propriedade intelectual. Baseados em metodologia aplicada no Reino Unido os pesquisadores observaram um alto grau de desconhecimento dos estudantes, sobre questões básicas relacionadas a propriedade intelectual. Por fim, Marcos Ricardo R. Georges (Puc de Campinas) apresenta uma proposta para a adoção da metodologia Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) para o ensino de Planejamento dos Recursos da Manufatura. Os resultados observados nos últimos anos evidenciam um aumento significativo do envolvimento, assiduidade e interesse dos alunos.

Editor Científico José Henrique Bassi Souza Sperancini http://lattes.cnpq.br/4308301332725560 Editores executivos Anapatrícia Morales Vilha http://lattes.cnpq.br/9529188963395388 Alberto Sanyuan Suen http://lattes.cnpq.br/6463536571997908 Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

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Redes, ciência e tecnologia: redes universidade-empresas de um ponto de vista teórico

REVISTA DE EMPREENDEDORISMO, NEGÓCIOS E INOVAÇÃO ISSN 2448-3664

REDES, CIÊNCIA E TECNOLOGIA: REDES UNIVERSIDADE-EMPRESAS DE UM PONTO DE VISTA TEÓRICO NETWORKS, SCIENCE AND TECHNOLOGY: UNIVERSITY-BUSINESS NETWORKS FROM A THEORETICAL POINT OF VIEW

Rafael Galvão de Almeida Mestre em economia pela Universidade Federal de São Carlos em Sorocaba (UFSCar/ Sorocaba), doutorando em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

RESUMO Este artigo tem por objetivo introduzir a abordagem de sociologia econômica e de redes, com a aplicação na interação universidade-empresa (IUE) e sob a perspectiva dos modelos usuais de economia da ciência e tecnologia, como o modelo de rotinas de Nelson e Winter. Argumentamos que a IUE tem influência fundamental em fechar buracos estruturais e permitir um intercâmbio de informação e conhecimento importante para os atores envolvidos, especialmente as universidades e as empresas, e que é uma abordagem com grande potencial de desenvolvimento de cooperação e que os economistas não podem ignorar o potencial de análise desta abordagem. Palavras-chave: inovação, sociologia econômica, redes, rotinas

ABSTRACT UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC AVENIDA DOS ESTADOS, 5001 BAIRRO BANGU, SANTO ANDRÉ - SP. CEP 09210-580 E-MAIL:RENI@UFABC.EDU.BR COORDENAÇÃO AGÊNCIA DE INOVAÇÃO INOVAUFABC

Abstract: This article has as its objective to introduce the economic and network sociology approach applied to the university-business interaction (UBI) and to the perspective of usual economics of science and technology models, such as the Nelson and Winter’s routine model. We argue that UBI has a fundamental influence in closing structural holes and allow interchange of important information and knowledge between the actors involved, especially universities and business, and it is an approach with great potential of development and cooperation that economists cannot ignore its potential. Keywords: innovation, economic sociology, networks, routines.

JEL Classification: O31, Z13 4

Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Rafael Galvão de Almeida

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INTRODUÇÃO

Como a universidade é um ambiente no qual a produção de conhecimento é uma de suas principais funções, o setor privado não pode ignorar o potencial criativo dentro do circuito universitário. E este conhecimento se difunde para as outras partes da sociedade em grandes efeitos de escala. A interação universidade-empresa (IUE) tem crescido nos últimos anos. Isto aconteceu por vários motivos, entre eles: as reformas neoliberais escassearam os recursos destinados à pesquisa em universidades em vários países que as adotaram e o crescimento da globalização e do nível tecnológico geral fizeram com que a velocidade de mudanças sociais aumentasse muito e havia um potencial tácito na universidade que não havia sido aproveitado pelas empresas. Lundvall (2002) argumenta que estamos vivendo em uma nova fase tecnológica da civilização, a “economia do aprendizado” (em contraposição ao termo mais utilizado, “economia do conhecimento”). Essa nova fase é caracterizada pela demolição do modo tradicional de divisões rígidas e isoladas da sociedade, dando lugar a uma em que os intercâmbios transdisciplinares encontram primazia. Com um mundo cada vez mais conectado, as distâncias entre as pessoas e os centros de produção diminuem. À medida que profissões antigas vão se tornando obsoletas e desaparecem, novas profissões surgem para ocupar novos nichos na economia, e essas novas profissões exigem um leque de conhecimentos ao qual se demora um tempo para se adaptar. Logo, aqueles que possuem maior facilidade de aprendizado têm uma vantagem no mercado. A universidade deve acompanhar as mudanças da economia do aprendizado. Durante muito tempo, a pesquisa universitária foi vista como pouco afinada com o mercado, uma “torre de marfim”, onde pesquisas arcanas ocorriam sem um fim prático ou sem “preocupação” direta do setor produtivo (MOWERY; SAMPAT, 2005). Embora a pesquisa universitária fosse Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

reconhecida como essencial para a inovação em certos países, como os da América Latina (SUTZ, 2000), este estereótipo prevalecia, independente da área. O insulamento universitário não produziu resultados bons, pelo contrário: “Os programas de pesquisa que contribuíram efetivamente ao catching up [com os países desenvolvidos] não operaram dentro de ‘torres de marfim’. Ao invés disso, em todos os casos eles foram orientados para um uso prático ou potencial da comunidade de usuários” (MAZZOLENI; NELSON, 2007, p. 1525). Com a expansão do conceito de “universidade empreendedora”, o ensino superior está se desvencilhando desse estereótipo. Demonstrou-se que era capaz de criar inovações importantes, relevantes e economicamente eficientes para as comunidades em que elas estavam inseridas. Para isso, as ideias de Incubadoras e Parques Tecnológicos começaram a ganhar força, sendo aplicadas em diferentes setores de atividade, inclusive para cooperativas populares (e.g. ETZKOWITZ; DE MELLO; ALMEIDA, 2005; LECA; GOND; CRUZ, 2014). E um dos pontos que estão pouco estudados na nova economia do conhecimento/ economia do aprendizado são as redes de relacionamento criadas pelo intercâmbio entre os diferentes atores do processo de inovação. A literatura de sociologia econômica enfatiza que os processos econômicos estão imbricados (embedded) num sistema social maior (CALLON; LATOUR, 1981; GRANOVETTER, 1985; BURT, 1992; BECKERT, 1996). A análise do processo de inovação com base em uma sociologia econômica é, portanto, um terreno pouco explorado pelos economistas do campo. Para tanto, escolhemos nos focar na interação universidade-empresa, já que a necessidade de redes é importante para haver cooperação produtiva entre esses dois lados. Este artigo está dividido em três seções, além desta introdução: a primeira seção se foca literatura de sociologia econômica e de redes e sua relação com a ciência econômica; a segunda seção faz uma síntese entre estas 5


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os ecossistemas, as diversas escolas podem fornecer duas abordagens se apropriando do conceito boas respostas e insights para problemas muito de rotinas de Nelson e Winter (2005 [1982]); diferentes.” (FERNÁNDEZ, 2011, p. 149). a terceira conclui reafirmando a importância Os assuntos pesquisados em sociologia da construção de elos para a inovação e econômica podem render insights aos desenvolvimento. economistas pela virtude de que eles pesquisam coisas diferentes que podem ou 2. SOCIOLOGIA ECONÔMICA E não influenciar os processos econômicos, ECONOMIA porque pode se argumentar que “a sociologia O que os economistas da área de ciência, econômica é a parte da sociologia que lida tecnologia e inovação sempre chamaram com os objetos da economia, ao invés dos a atenção foi que o processo de inovação objetos econômicos” (FOURCADE, 2007, p. é não linear e envolve firmas (DOSI; 1017). Logo, há uma tensão, mas também ORSENIGO; SYLOS LABINI, 2005), o oportunidades de cooperação. Gibbons (2005) cita pelo menos Estado (MAZZUCATO, 2012) e o terceiro duas importantes contribuições para o setor (TONDOLO, 2013). E, desde a década de 1970, muitas pesquisas que investigam economista: o seu foco em organizações o papel das redes de relacionamento entre auxilia na identificação de variáveis novas os variados agentes têm lançado luz sobre para o economista trabalhar e examinar o papel que os elos têm sobre as relações relações de causalidade e o foco em micro entre pessoas e sobre a troca de informações (indivíduos) e macro (organizações) ajuda a entre eles. Deste ponto, surgiu a sociologia entender ação individual e ação coletiva. Fourcade (2007) sintetiza o pensamento econômica, que é uma disciplina que é uma síntese entre sociologia, antropologia e de sociologia econômica em três principais economia, que combina a análise de interesses abordagens: 1) a abordagem de análise de econômicos com relações sociais (SMELSER; redes, que se foca nas redes de relacionamento entre os agentes, e consequente formação SWEDBERG, 2005, p. 7). Fourcade (2007) argumenta que a sociologia de estruturas, padrões e hierarquias (White, econômica foi a resposta da sociologia em Granovetter, Burt, Podolny); 2) a abordagem relação ao imperialismo da teoria econômica de campos, que estuda o conjunto de forças neoclássica, quando Gary Becker introduziu que afetam os objetos dentro do campo a metodologia do homo oeconomicus em social (Bordieu); 3) a performatividade, que campos diferentes da economia, desde as estuda as implicações das relações entre relações familiares ao crime. Fine e Milonakis sujeitos e objetos do campo social (no caso escrevem que a “sociologia econômica passou da economia, a economia como disciplina e 1 por mudanças impressionantes nestes a economia como objeto ), e determina como últimos 25 anos. De uma crítica simultânea cada um influencia de forma simultânea e complementar à teoria neoclássica, ela se o outro (Callon, MacKenzie). Para os fins tornou em um campo autossustentável” do presente artigo, focaremos na análise de redes. (2009, p. 90). Porém Fourcade lembra que não há Apesar do conflito subtextual entre sociologia e economia, é proveitoso aos consenso sobre “o que as redes fazem” (p. economistas (incluindo os economistas que 1020), cada um dos quatro autores citados se estudam ciência e tecnologia) ver a economia foca em um aspecto da análise de redes que eles do ponto de vista do programa de pesquisa consideraram mais relevante. White (1981) se foca nas redes como uma criação que permite da sociologia econômica: “Nessa perspectiva, as escolas (ou programas uma sinalização de posições de mercado entre de pesquisa) são vistas como diferentes espécies que concorrem entre si, mas cada uma das quais tem um nicho ecológico diferente. E assim como não há uma espécie que seja a melhor para todos

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1  A razão para essa distinção é que, em inglês, há uma diferença entre economics e economy, a economia como disciplina e a economia como objeto. Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


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os participantes. Cada nicho de mercado tem seu próprio clique, “mercados são definidos por cliques de firmas que se reproduzem independentemente e não o contrário”. Ao resgatar o modelo de competição imperfeita2, White procura demonstrar que redes são o que permitem estabilizar o mercado e demarcar as possibilidades de crescimento e prever o grau de sucesso de uma inovação. O estudo de redes ganhou impulso a partir da pesquisa de Mark Granovetter sobre “elos fracos” (GRANOVETTER, 1973; ver GRANOVETTER, 1985 para uma expansão do argumento). Neste artigo, ele argumentou que a teoria sociológica de então não conseguia relacionar aspectos macros com aspectos micro de forma satisfatória. A análise de difusão se focava demais nos elos fortes, nos elos mais próximos entre as pessoas entrevistadas. O que Granovetter fez foi demonstrar que os elos fracos (do tipo em que os entrevistados tinham um conhecimento apenas superficial de outra pessoa) têm uma importância fundamental na construção de redes. Ele demonstrou que a maioria das contratações de empregos do tipo colarinho branco ocorriam por causa desses eles fracos. Ele também analisou a força dos elos fracos na adoção de inovações. Inovações são inicialmente adotadas por grupos “marginais” na rede, e a taxa de propagação das inovações depende da quantidade de elos fracos, pois são eles que vão formar pontes locais3. Em outras palavras, os elos fracos irão difundir a inovação de forma indireta e informal, a fim de que na próxima iteração, as inovações possam sair da marginalidade e se tornarem centrais, mainstream. Valente (1996) avançou nesse aspecto e argumenta que as redes, tanto no nível pessoal quanto no organizacional, são compostas 2  Dos autores citados, Harrison White é o autor que mais se aproxima do paradigma neoclássico de agente econômico racional. 3  Aboulafia (1998), ao estudar o mercado financeiro, argumenta que mercados também são ambientes culturais, com seus próprios costumes e que o papel do empreendedor, do inovador, é uma identidade. Logo, para que sua inovação seja aceita, ele tem que incutir essa identidade no seu potencial mercado consumidor, ou pelo menos torna-la mais acessível. Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

de agentes que têm diferentes limiares de adoção de inovações, que variam de muito baixo (usam a inovação independente de existir uma rede de usuários) até muito alto (apenas com uma rede bem desenvolvida podem se unir à inovação). As características das redes importam muito. Citando um estudo sobre a adoção de milho híbrido no Brasil, o autor nota que levou 20 anos para haver uma difusão dessa tecnologia – apenas fazendeiros mais próximos dos centros urbanos adotaram milho híbrido no início e não puderam agir como “líderes de opinião”, isto é, mesmo que tivessem a centralidade na rede, não conseguiram convencer outros a adotarem essa inovação. Logo, como concluiu Deroïan (2002), é impossível ignorar a compatibilidade dos valores e experiências da rede e a facilidade de adoção de uma inovação. Já Burt (1992) se foca nas redes como estruturas de relações sociais, que cria oportunidades de mercado e relações de dependência. O agente tem três tipos de capitais: financeiro, humano e social. Destes, o social “é o árbitro do processo competitivo” (p. 9). A importância que Burt dá ao capital social se justifica no fato de que, para ele, o capital social é algo que o agente não possui individualmente. Ele é compartilhado com todos os agentes de sua rede e rege sua posição no mercado e a posição de seu produto neste. Isto é, para Burt a escolha de inovações ocorre a priori, dependendo da capacidade do empreendedor de organizar o mercado para que ele receba o produto de forma bem-sucedida (por exemplo). E como o capital social flui pelas redes, quanto maior uma rede, maior a quantidade de informação que pode circular dentro de si. Porém, quanto maior a rede, maior a probabilidade de esta conter contatos redundantes, que ligam as mesmas pessoas e não geram aumento de informação na rede. Com isso, se houver excesso de contatos redundantes, a rede se torna ineficiente. Assim, a adição de contatos não redundantes é fundamental para fortalecer a rede. O espaço entre a rede e os contatos não redundantes é chamado de “buraco 7


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estrutural” por Burt. Fechar esses buracos estruturais deve ser uma preocupação de cada agente que queira aumentar seu capital social e maximizar suas chances de sobrevivência no mercado. Já para Podolny (1992), o foco é a reprodução de hierarquias de prestígio e sistemas de classificação social. Podolny argumenta que o status dos agentes é fundamental no processo de competição econômica, pois o status de um produto (que é diferente do status do produtor) depende do status dos produtos concorrentes. Devido ao intervalo de tempo entre mudanças na qualidade do produto e nas preferências do consumidor, a relação entre status e qualidade real é “frouxa”, ou seja, os agentes sozinhos não conseguem reconhecer mudanças graduais na qualidade. Por isso, os elos que formam as redes são importantes. Com o conhecimento compartilhado das redes, os agentes podem ter acesso pontual aos “rankings de status”. Como status é considerada uma proxy para qualidade, os agentes podem determinar quais produtos têm qualidade melhor (e determinar quais deles são posicionais, que aumentam o status dos consumidores). A vantagem do status é que quanto maior este, menores serão os custos de produção e venda de um bem, o que gera um feedback positivo que fortalece os elos. Porém, um custo para esse processo pode ser a geração de desigualdade. Por outro lado, a concentração de mercado que seria gerada por esse processo é evitada porque o processo é também instável: cada produtor tem a preocupação de aumentar seu status e, como novas tecnologias estão sempre surgindo, as definições de status estão sempre em movimento. Estas são as principais dissensões sobre o papel das redes na disciplina4. Cada abordagem tem sua própria ênfase, mas elas têm em comum o fato de que adotam 4  Deve se lembrar que economistas estão começando a explorar as possibilidades da análise de rede de um ponto de vista principalmente econômico (de forma semelhante ao ponto de vista principalmente sociológico dos autores citados nessa seção). E.g. Matthew Jackson tem feito avanços nessa área, em construir uma “economia de redes” genuína (ver JACKSON, 2007; 2009; 2014).

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um modelo de sociedade que segue uma teoria geral de estrutura social, de analisar as variáveis debaixo da superfície de interações sociais concretas (FOURCADE, 2007, p. 1020). Para os fins desse artigo, analisamos a estrutura IUE como elos que formam uma rede. Na próxima seção, dissertaremos como os autores chegaram a tocar nesse assunto e como as abordagens de rede citadas nesta seção podem auxiliar a compreender IUEs e como elas podem ser melhoradas.

3. A INTERAÇÃO UNIVERSIDADEEMPRESA COMO PARTE DE UMA REDE DE ROTINAS O estudo de IUEs tem recebido a atenção devida (MEYER-KRAHMER; SCHMOCH, 1998; MOWEY; SAMPAT, 2005), assim como o estudo das redes no processo de inovação (POWELL; GRODAL, 2005). Devido ao fato de que o conhecimento está disperso nas redes, há muito do que se aproveitar desse conhecimento socialmente construído. Desde que Michael Polanyi enunciou o conceito de conhecimento tácito (POLANYI, 1966), torna-se necessário entender que os agentes têm mais conhecimento do que estão cientes, por isso eles devem ser incentivados a criar um ambiente ao qual possam compartilhar esse conhecimento tácito. Com isso, é de esperar que os cientistas que trabalham em determinado tópico criem redes formais e informais de contatos. Às redes informais se dá o nome de “colégio invisível”. Os participantes desse colégio invisível são pesquisadores que mantêm contato com outros da sua mesma pesquisa e que podem circular entre pesquisadores de diversos países, e podem até ter controle sobre os recursos das pesquisas (DE SOLLA PRICE; BEAVER, 1966, p. 10115). Embora os autores que propuseram 5  Os autores mencionam que o termo “colégio invisível” (ou “universidade invisível” para uma tradução mais acurada, porém menos estética) surgiu com o grupo de pesquisadores que deu origem à Royal Society of London. Até mesmo nos dias atuais, quando uma disciplina alcança um número de pesquisadores suficientemente grande, eles formam associações. Porém, é necessário notar que instituições formais e informais ainda continuam existindo. Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


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os colégios invisíveis tenham se focado principalmente no setor acadêmico, a literatura de IUE recente tem enfatizado que as linhas de pesquisa em outros setores, como o empresarial e o público, também são fontes importantes de produção científica. De qualquer forma, os colégios invisíveis se tornam um repositório valioso de compartilhamento de informação, onde é possível tanto a competição quanto a cooperação entre os cientistas. Tal processo é passível de análise por meio das abordagens de redes apresentadas na seção anterior. Powell e Grodal (2005) argumentam que a rede “pode se tornar o lócus de inovação, à medida que a criação de conhecimento é crucial para melhoria da posição competitiva” (p. 59). Citando Burt (1992), um dos principais problemas que podem prejudicar o desenvolvimento de novas tecnologias é a presença de buracos estruturais na rede. Isso ocorre devido aos custos de oportunidade: um empreendedor pode estar perdendo uma oportunidade de aumentar seus lucros se ele não se ligar a um contato fora da rede que estaria disposto a cooperar. E este é um cenário ao qual estudiosos das IUEs estão familiarizados. Como explicamos na introdução, o estereótipo da torre de marfim ainda está presente quando se fala em IUEs. Um estudo que interessa ao nosso trabalho é o de Lemos e Carió (2015). Neste estudo, os autores acompanharam o processo de inovação em empresas da região de Santa Catarina e como se dá a IUE neste estado, com base em quatro dimensões: • Na dimensão individual, é fundamental armar os primeiros contatos de pesquisa e o esforço em manter esses contatos “saudáveis” é um dos principais fatores que determinam a manutenção de parcerias; para a IUE, o respaldo institucional também é fundamental, pois muitos dos entrevistados reclamaram de falta de apoio da universidade e que a maior parte dos custos do projeto caiu sobre o pesquisador; • Na dimensão coletiva ocorre a interação entre pessoas e instituições; elas Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

podem facilitar e muito a cooperação, porém com regulações excessivas pode se tornar um impedimento; devido à path depedence, instituições são também importantes para determinar a tendência (que, conforme um dos entrevistados, torna o Brasil “complicado”); no caso catarinense, as universidades são inseridas em associações compromissadas com o desenvolvimento tecnológico, embora os entrevistas considerem que haja espaço para um maior engajamento destas; • Na dimensão de infraestrutura física, a importância é grande: mais de 70% dos grupos de pesquisa estão solidificados neste aspecto, de aquisição e uso de instrumentos e equipamentos de laboratório; financiamentos externos são inexequíveis; são o foco dos convênios entre universidades e laboratórios; • A dimensão de tecnologias sociais envolve facilitar networking, a fim de que haja trocas de experiências e competências; nesses espaços pode se compartilhar conhecimento, especialmente conhecimento local, que pode ser usado em pesquisas que beneficiem a área geográfica em questão; a criação e estabelecimento de rotinas (NELSON; WINTER, 2005) está envolvida aqui, e se utilizam as tecnologias sociais a fim de melhorar as rotinas; há também divisão do trabalho e especialização, que variam de acordo com a universidade. Rotinas são padrões repetitivos dentro das organizações e, portanto, unitárias. Nelson e Winter (2005 [1982]) argumentam que essas rotinas são a memória da organização, ou seja, o que determina o que cada membro da organização deve fazer. É algo extremamente informal, pois envolve o conhecimento tácito acumulado na organização; uma parte deste pode até ser formalizado em manuais, porém é algo que pertence à organização, e por ser tácito é também específico para cada organização. 9


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Novamente, como as rotinas são a memória social da organização, as pessoas podem criar redes de acordo com suas rotinas. Essas organizações pertencem a redes maiores, em que seria interessante trabalhar para fechar os buracos estruturais (BURT, 1992). E para as IUEs é interessante realizar tal análise. Tudo indica que a análise da introdução argumentaria que existem buracos estruturais. É importante lembrar que a maioria das pesquisas acadêmicas pertence àquilo que Kuhn chamou de ciência normal (KUHN, 1996), resolução de quebra-cabeças aplicados e “corriqueiros”, por assim dizer, cujos efeitos são relegados à história após alguns anos (cf. MACKIE, 1998). Porém, por mais “corriqueiros” que esses problemas possam parecer, há uma preocupação dos muitos atores sociais sobre estes, incluindo as empresas. Como consequência, universidades raramente produzem protótipos comerciais e sim se focam em técnicas para serem aproveitadas pelo setor privado (MOWERY; SAMPAT, 2005).

4.

CONCLUSÃO

O estudo das redes no processo de inovação econômica pelos economistas é ainda incipiente, mas não é ignorado (ver POWELL; GRODAL, 2005 para uma revisão de literatura). Os modelos de inovação tecnológica têm se preocupado em analisar como ocorre a interação de um ponto de vista evolucionário, a fim de justificar investimentos e dar apoio teórico a uma teoria da inovação que, por sua vez, dá apoio a uma teoria do desenvolvimento. A incorporação de modelos baseados em análise de redes tem sido lenta devido a vários motivos, entre eles o fato de ter sido desenvolvida na sociologia, uma disciplina fora do escopo da economia e que adotou uma abordagem pouco similar à abordagem neoclássica6. A abordagem da sociologia 6  A abordagem é a “substantivista”, que supõe que o estudo das sociedades deve começar com a sociedade e as instituições que derivam dela. Ela se contrapõe ao formalismo, que argumenta que o estudo deve começar no indivíduo. Tal distinção se assemelha com a economia política clássica e economia (ver

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econômica se ocupa com outras questões e, por isso, a análise de redes tem se envolvido pouco com as questões de economia da inovação e do desenvolvimento. Porém, dos autores estudados, Granovetter (1973) e Burt (1992) têm o maior potencial de aplicações práticas, como atestam Powell e Grodal (2005). O exemplo das IUEs em Santa Catarina demonstra que as redes são fundamentais para o processo de produção e inovação, pois providenciam benefícios mútuos às universidades e empresas. Não só isso, mas também demonstra que a abordagem de redes é compatível com uma abordagem de economia evolucionária. Embora não fosse o objetivo deste artigo introdutório, pesquisas empíricas futuras podem avaliar como redes7, incluindo redes de IUE, podem facilitar o progresso inovador e até econômico.

5.

BIBLIOGRAFIA

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Rafael Galvão de Almeida

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Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Eduardo Avancci Dionisio e Roberto André Polezi

REVISTA DE EMPREENDEDORISMO, NEGÓCIOS E INOVAÇÃO ISSN 2448-3664

AS CONTRIBUIÇÕES DE UMA FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA PARA A COOPERAÇÃO UNIVERSIDADEINDÚSTRIA THE CONTRIBUTIONS OF A RESEARCH OUNDATION FOR THE UNIVERSITYINDUSTRY COOPERATION

Eduardo Avancci Dionisio Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Roberto André Polezi Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL)

RESUMO O presente trabalho buscou analisar se as pesquisas apoiadas pela FAPESP têm contribuído para a cooperação universidade-empresa. Trata-se de um estudo de caráter exploratório descritivo. Os resultados indicam que a maioria dos projetos fomentados pela FAPESP são originários de universidades públicas e em sua maioria são auxílios à pesquisa, focalizados na transferência de tecnologia sob a perspectiva dos benefícios da cooperação universidade-empresa gerados para as empresas. Contudo, algumas lacunas foram identificadas, tais como sobre as relações informais entre universidades e empresas e sobre o empreendedorismo acadêmico e científico, resultante de oportunidades dos intercâmbios de conhecimento entre universidades e empresas. Palavras-chave: Hélice-tripla. Empreendedorismo.

Transferência

de

tecnologia.

Inovação.

ABSTRACT UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC AVENIDA DOS ESTADOS, 5001 BAIRRO BANGU, SANTO ANDRÉ - SP. CEP 09210-580 E-MAIL: RENI@UFABC.EDU.BR COORDENAÇÃO AGÊNCIA DE INOVAÇÃO INOVAUFABC

This paper sought to understand how research supported by FAPESP has contributed to university-industry cooperation. It is an exploratory-descriptive study. The results indicate that most of the projects supported by FAPESP originate from public universities and the mostly are research grants, focused on the transfer of technology from the perspective of the benefits of university-industry cooperation generated for companies. However, some gaps have been identified, such as on informal relations between universities and companies and on academic and scientific entrepreneurship, resulting from opportunities for knowledge exchanges between universities and companies. Key-words: Triple-helix. Technology Transfer. Innovation. Entrepreneurship

JEL Classification: H81 e I23 Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

13


As contribuições de uma fundação de amparo à pesquisa para a cooperação universidade-indústria

1.

INTRODUÇÃO

As economias em desenvolvimento se caracterizam por pequenas e médias empresas (PMEs) sem capacidade interna de pesquisa e desenvolvimento (P&D), resultando em interferências negativas na capacidade dessas empresas de gerar inovações em produtos/ serviços, inovações organizacionais e/ou em processos. Para minimizar essas dificuldades, as empresas procuram as universidades, as quais são vistas como fontes de conhecimento (BENEDETTI; TORKOMIAN, 2010). No entanto, o mundo acadêmico e o empresarial são vistos como esferas distintas, com suas diferentes configurações e missões. Essas diferenças podem resultar em conflitos entre as partes interessadas e em dificuldades no desenvolvimento de pesquisas em direção a inovação ou resolução de problemas (BENEDETTI; TORKOMIAN, 2010). Dessa maneira, os trabalhos conduzidos em universidades podem ser pouco interessantes para as demandas industriais, podendo ser inadequadas as expectativas das empresas ou muito complexas. Em outros casos, as empresas podem estar desinteressadas em estabelecer parcerias com as universidades buscando a inovação (SUZIGAN; ALBUQUERQUE, 2011). De acordo com Prochnik (1988) os estudos sobre a cooperação universidade-empresa buscam elaborar tipologias sobre as interações entre esses dois elementos. Nesse sentido, este trabalho inova ao se concentrar no entendimento de como uma agência de fomento à pesquisa pode impulsionar a geração de conhecimento, sobretudo para a compreensão dos benefícios e impactos gerados pela relação universidade-empresa. Dessa maneira, essa pesquisa pode ser resumida na seguinte pergunta: Como a pesquisa fomentada pela FAPESP pode contribuir para a colaboração entre universidades e empresas? O objetivo da presente pesquisa consiste em compreender de que forma as pesquisas apoiadas pela FAPESP têm contribuído para a compreensão da cooperação universidadeempresa, mais especificadamente em termos do estado de São Paulo, considerando as dimensões do modelo da Hélice Tripla. 14

Dentro deste enfoque, cabe ressaltar dois objetivos específicos: (1) elencar o conteúdo dos projetos por tipologia, tipo de auxílio, área do conhecimento e município; (2) identificar as áreas de pesquisa não cobertas que possam contribuir para reforçar a compreensão da cooperação universidade-empresa no estado de São Paulo. Para atingir esses objetivos, esta pesquisa está estruturada em mais 4 seções, excluindo-se essa introdução. A seção 2 trata da fundamentação teórica sobre a cooperação universidade-empresa pelo viés do modelo hélice tripla. A seção 3 aborda os passos metodológicos utilizados nessa pesquisa. A seção 4 apresenta os principais resultados. A seção 5 trata das principais conclusões deste estudo.

2. COOPERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA Para a compreensão da cooperação entre universidades e empresas, assim como o papel do governo na articulação, incentivo e regulamentação dessa cooperação, o modelo mais utilizado é o da Hélice Tripla proposto por Etzkowitz e Leydesdorff (2000), o qual enfatiza as relações trilaterais entre o Estado, indústrias e universidades/laboratórios/ centros de pesquisa. O estreitamento da relação entre esses atores econômicos, assim como seus fluxos constantes de intercâmbio de conhecimentos são essenciais para o desenvolvimento de inovações tecnológicas, aumento da produtividade, desenvolvimento de inovações tecnológicas, criação de spinoffs universitárias e outras empresas baseadas no conhecimento, além de possibilitar a manutenção da prosperidade econômica. Figura 1 - Modelo Hélice Tripla

Fonte: Audy e Piqué (2016) Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Eduardo Avancci Dionisio e Roberto André Polezi

Conforme apresentado na Figura 1, a aproximação e interações trilaterais resultam em ambientes inovadores híbridos, regulados por objetivos comuns, como cooperação entre empresas e universidades, tendo em vista a captação pelas empresas, dos benefícios em termos de pesquisa gerados pelas universidades, assim como por meio da atuação do governo na regulamentação dessas relações e na facilitação do acesso a recursos chaves para incentivar a inovação em empresas estabelecidas e impulsionar a criação de empresas de base tecnológica (ETZKOWITZ, 2003). Os trabalhos derivados da pesquisa que propôs o modelo da Hélice Tripla (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000) enfatizam o papel das universidades como um ator institucional fundamental para o desenvolvimento de inovações (ETZKOWITZ, 2002, 2003, 2007; LEYDESDORFF; MEYER, 2003). De acordo com Inzelt (2004), Roberts e Eesley (2011), Siegel, Waldman e Link (2003) as universidades são essenciais para o desenvolvimento socioeconômico por meio do desenvolvimento de soluções e de empresas que impactem positivamente em seu contexto regional. Conforme Etzkowitz (2004) e Etzkowitz e Klofsten (2005) a compreensão do papel dos governos, universidades e indústrias para a inovação e desenvolvimento socioeconômico em nível

regional e/ou nacional foi fundamental para a evolução do papel da universidade fornecedora de recursos humanos e geradora de conhecimentos para uma universidade empreendedora, a qual, estabelece redes de cooperação com a indústria, por meio da prestação de serviços ou escritórios de transferência de tecnologia, apoio em pesquisa e desenvolvimento para empresas estabelecidas, assim como na geração de novas empresas. De acordo com Keane-Shaw e Allison (1999) as universidades, por meio da transferência de tecnologia, contribuem de três formas para o desenvolvimento regional, são elas: (1) Benefícios decorrentes da presença de universidades (crescimento populacional, criação de empregos, ampliação das despesas nas regiões em que as universidades estão instaladas, criação de spin-offs, entre outros); (2) benefícios resultantes do crescimento econômico baseado no conhecimento; (3) benefícios decorrentes da atuação da universidade por meio da oferta e atendimento das demandas por soluções inovadoras derivadas da economia do conhecimento em constante transformação. No que se refere a cooperação universidade-governo e universidadeempresa, Sbragia em 2006 (apud IPIRANGA; FREITAS; PAIVA, 2010) listou seis formas de cooperação, são elas:

Tabela 1 - Contexto e formas de cooperação universidade-governo-empresa CONTEXTOS E FORMAS DE COOPERAÇÃO Relações pessoais informais nas quais a universidade não é envolvida: consultoria; workshops para troca de informações; “spin-offs” acadêmicos nos quais empresas são criadas para oferecer produtos/serviços resultantes de pesquisas realizadas; publicações de resultados de pesquisas; Relações pessoais formais nas quais são elaborados convênios entre universidade, governo e a empresa: bolsas de estudo públicas e privadas de apoio à pós-graduação; estágios de estudantes e cursos sanduíche; períodos sabáticos para professores; intercâmbio de pesquisadores; editais das agências de fomento; Envolvimento de uma instituição de intermediação: “liaison offices” – escritórios de transferência de tecnologia; associações industriais; institutos de pesquisa aplicada; escritórios de colocação de estagiários e trainees nas empresas e em instituições públicas; consultoria institucional; agências de fomento; Convênios formais sem objetivo definido: convênios guarda-chuvas; patrocínio industrial ou governamental de P&D em departamentos da universidade; doações e auxílios para pesquisa (pesquisa pública e privada); Convênios formais com objetivos definidos: pesquisa contratada; serviços contratados como desenvolvimento de protótipos, testes, etc; treinamento de funcionários das empresas; treinamento “on-the-job” para estudantes; projetos ou programas de pesquisa cooperativa; editais das agências de fomento; Criação de estruturas especiais: contratos de associação; consórcios de pesquisa Universidade-Empresa (ou centros de pesquisa cooperativa); incubadoras de empresas; parques tecnológicos; fusões (mergers); agências de desenvolvimento e Sistemas de Inovação. Fonte: Sbragia (apud IPIRANGA; FREITAS; PAIVA, 2010) Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

15


As contribuições de uma fundação de amparo à pesquisa para a cooperação universidade-indústria

Na abordagem holística, a inovação é decorrente de um processo estocástico associado a cursos históricos, configurações institucionais e estruturas de especialização econômica, inerentes a um contexto espacial e temporal específico (AUTIO et al., 2014). A configuração institucional desses contextos é composta por diversas organizações de apoio, como as universidades, laboratórios de pesquisa e desenvolvimento (P&D), empresas de consultoria e prestadoras de serviços especializados, agências de fomento e de regulação, entre outras (IPIRANGA; FREITAS; PAIVA, 2010). Dessa maneira, o Estado promove, regula, articula e financia a ciência e o desenvolvimento tecnológico, por meio de programas governamentais de fomento à cooperação entre universidades e indústrias, permitindo o desenvolvimento de soluções aplicáveis para empresas, transformação do conhecimento em inovações, entre outros (IPIRANGA; FREITAS; PAIVA, 2010). Dentre esses programas, cabe ressaltar o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), sob a responsabilidade do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), sendo composto por 15 fundos setoriais. Além do FNDCT, mecanismos de incentivo como o Inovar, Progex, Prêmio Finep de Inovação Tecnológica e, as agências de fomento como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPq), a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPS) representam as principais ações do governo para promover a inovação, bem como a cooperação universidade-empresa (MOREIRA et al., 2007). No contexto das FAPs, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) representa uma das agências mais relevantes de fomento à pesquisa cientifica, desenvolvimento tecnológico e inovação no país (BORGES, 2010).

intervenção do governo estadual por meio da FAPESP pode influenciar o desenvolvimento de pesquisas nas universidades que podem resultar na oferta e atendimento das demandas das empresas por soluções inovadoras. Para atingir ao objetivo proposto, este trabalho foi dividido em duas etapas. A primeira trata da coleta de dados: foi realizado um levantamento de projetos junto à biblioteca virtual da FAPESP (http://www. bv.fapesp.br/pt/) com o termo “cooperação universidade-empresa” em maio de 2017. Com esses dados, foi estruturado um banco de dados considerando 5 variáveis (tipo de auxílio, histórico de fomento, área do conhecimento, distribuição dos projetos por área do conhecimento e instituição solicitante). Nessa primeira etapa, foi possível alcançar o primeiro objetivo específico: elencar o conteúdo dos projetos por tipologia, tipo de auxílio, área do conhecimento e município. A segunda, trata da análise dos projetos: Por meio da base de dados, foi possível analisar os projetos (bolsas e auxílios à pesquisa) com maior profundidade, considerando sua relação com a cooperação universidade-empresa e seu enquadramento no modelo hélice tripla. Foram identificados 21 projetos, considerando todas as áreas de conhecimento e linhas de fomento. Por fim, uma análise descritiva desses projetos é apresentada na seção dos resultados. Assim, o segundo objetivo específico (identificar as áreas de pesquisa não cobertas que possam contribuir para reforçar a compreensão da cooperação universidade-empresa no estado de São Paulo) é atingido.

4.

RESULTADOS

A busca efetuada em maio de 2017 na biblioteca virtual da FAPESP no tópico “cooperação universidade-empresa” apresentou 21 processos que de alguma forma 3. METODOLOGIA estavam correlacionados com esse termo. Na operacionalização desta pesquisa de Conforme apresentado na Tabela 1, dos natureza exploratória descritiva, utilizou-se 21 processos identificados, mais da metade dados secundários para identificar como a (67%) são auxílios à pesquisa, dentro deste 16

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universo, tanto auxílios temáticos e auxílios a participação em reunião científica e/ou tecnológica no exterior apresentam dois processos. Quanto as bolsas de pesquisas, estas, representam 33% do total de auxílios fornecidos pela FAPESP, sendo 2 bolsas de

iniciação científica e 5 de mestrado. Observase que essa área apresenta apenas pesquisas iniciais (iniciação cientifica e mestrado) em comparação à bolsas de maior qualificação de pesquisadores, como doutorado, pósdoutorado e pesquisas no exterior.

Tabela 2 - Distribuição dos projetos por tipo de auxílio TIPOS DE PROJETOS

TOTAL

%

Auxílios à pesquisa

14

100%

-Auxílios regulares

8

57%

-Auxílios temáticos

2

14%

-Auxílios a políticas públicas

1

7%

-Participação em reunião científica e/ou tecnológica - Brasil

1

7%

-Participação em reunião científica e/ou tecnológica - Exterior

2

14%

Participação dos auxílios à pesquisa no total de auxílios Bolsas

67% 7

100%

-Iniciação Científica

2

29%

-Mestrado

5

71%

21

100%

Participação das bolsas no total de auxílios Total - todos os auxílios

33%

Fonte: Elaboração própria

A Figura 2 apresenta o histórico de fomento para as pesquisas classificadas na temática “cooperação universidade-empresa” por ano de início. Podemos notar que embora o número de auxílios (auxílios à pesquisas e bolsas) por ano seja relativamente baixa (no máximo 3), estes, vêm ganhando maior continuidade a partir do final da década de 2000. Contudo ainda necessitam de ampliação, afim de que todos os aspectos relacionados a essa temática possam ser trabalhados. Figura 2 - Histórico de fomento por ano de início

Em relação as áreas do conhecimento, foram identificados projetos nas áreas de ciências agrárias, ciências sociais aplicadas, engenharias e interdisciplinar. Conforme a Tabela 3, podese observar que as áreas de Administração, Economia e Comunicação totalizam 81% dos projetos, entre bolsas e auxílios à pesquisa. Tabela 3 - Distribuição dos projetos por área do conhecimento Área do conhecimento N° de projetos % -Agronomia 1 5% -Administração 8 38% -Comunicação 3 14% -Economia 6 29% -Engenharia elétrica 1 5% -Engenharia de produção 1 5% -Interdisciplinar 1 5% Total 21 100%

Fonte: Elaboração própria

Fonte: Elaboração própria Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

Em relação aos municípios de origem da solicitação de recursos (auxílios e/ou bolsas), observa-se uma concentração maior entre Campinas e São Paulo, sendo a primeira, caracterizada pelo equilíbrio entre auxílios e bolsas, e a capital do estado, caracterizada apenas pela solicitação de auxílios à pesquisa, conforme apresentado na Tabela 4. Observase, porém, um pequeno número de cidades (9) em que as solicitações foram originadas, concentradas no eixo Ribeirão Preto-São Paulo. 17


As contribuições de uma fundação de amparo à pesquisa para a cooperação universidade-indústria

Tabela 4 - Distribuição dos auxílios por cidades paulistas Cidade Campinas São Paulo Ribeirão Preto Araraquara Osasco Limeira São Carlos Piracicaba São Carlos Total

Auxílios 3 5 1 3 0 0 0 1 1 14

Bolsas 2 0 2 0 1 1 1 0 0 7

Total 5 5 3 3 1 1 1 1 1 21

Fonte: Elaboração própria

Dos 21 projetos apoiados pela FAPESP, aproximadamente 85% foram solicitados pelas universidades estaduais (USP, UNICAMP, UNESP) e cerca de 10% por universidades federais. Apenas um projeto

foi realizado em uma instituição de ensino privada. Dentre as instituições com maior número de solicitações, destaca-se a USP, com 9 projetos, a UNICAMP com 6 e UNESP com 3, conforme apresentado na Tabela 5.

Tabela 5 - Distribuição dos auxílios por instituições solicitantes Instituição solicitante Universidade de São Paulo (USP) Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Universidade Estadual Paulista (UNESP) Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (UniFMU) Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Total

N° de auxílios 9 6 3 1 1 1 21

% 43% 29% 14% 5% 5% 5% 100%

Instituições públicas Instituições estaduais Instituições federais

20 18 2

95% 85% 10%

Fonte: Elaboração própria

Os projetos financiados pela FAPESP, focalizaram principalmente na temática transferência de tecnologia. Dentre os processos relacionados com a hélice das empresas, foram identificados projetos que se concentram na gestão da inovação em pequenas e médias empresas, assim como os efeitos da aglomeração no intercâmbio de conhecimentos e transferências de tecnologias entre universidades e empresas com capacidade de P&D, tendo em vista, as inovações tecnológicas geradas a partir dessas cooperações. Contudo, apenas um projeto trata da cooperação entre universidades/ institutos de pesquisa e indústrias, partindo do ponto de vista das empresas inovadoras com P&D contínuo sobre seus vínculos com universidades e/ou institutos de pesquisa. Nessa mesma hélice um dos projetos avalia 18

o impacto das políticas públicas e fatores sistêmicos na capacidade inovativa das empresas. No que se refere a hélice universidade, apenas um projeto tem o empreendedorismo de base tecnológica como objeto de estudo, focalizando no papel das incubadoras de empresas universitárias e das tecnologias desenvolvidas em universidades públicas paulistas na criação das condições necessárias para o desenvolvimento de empresas de base tecnológica. Um dos auxílios se refere a criação de um espaço comum à empresas, empreendedores e pesquisadores, por meio da implementação de um laboratório de pesquisa e criação de negócios farmacêuticoscosmético em uma universidade paulista. Nessa mesma hélice um dos projetos trata de um estudo comparativo entre as estratégias e mecanismos adotados por universidades Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


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paulistas para dinamizar a relação com empresas. Outro projeto avalia as perspectivas de cooperação entre uma universidade paulista com uma empresa pública. No que se refere a hélice governo, os projetos focalizaram na cooperação universidadeempresa tendo em vista a geração de insights que possam contribuir para a formulação e/ ou melhoria de políticas públicas (industrial, comercial, de ciência e tecnologia). Cabe ressaltar que apenas dois projetos se concentraram em identificar os impactos de programas governamentais de fomento à inovação tecnológica nas relações entre universidades e empresas em termos de desenvolvimento de novos produtos e/ou serviços. Ao analisar detalhadamente os projetos fornecidos pela FAPESP, algumas lacunas foram identificadas: (1) os projetos não analisam as relações informais entre universidades e empresas, assim como o impacto da cooperação no desenvolvimento de spin-offs acadêmicas criadas para fornecer produtos e/ou serviços resultantes de pesquisas; (2) os projetos não têm enfoque no empreendedorismo científico, resultante das lacunas ou conhecimentos gerados do intercâmbio de conhecimentos entre universidades e empresas; (3) por fim, pouca ênfase foi dada a hélice governo, poucos projetos se concentram no impacto de programas de apoio à cooperação universidade-empresa. Contudo, nenhum projeto analisa o impacto da legislação nas pesquisas, inovações e na relação entre esses atores institucionais; Como já mencionado, que os projeto que obtiveram financiamento tratam-se de bolsas de iniciação científica e mestrado, os quais resultaram em esforços para a compreensão da cooperação universidade-empresa, enquanto os auxílios a pesquisa, sobretudo aquele que trata da implementação de um laboratório de pesquisa e de criação de negócios, possa potencializar o retorno dos investimentos de fomento da FAPESP.

que forma as pesquisas apoiadas pela FAPESP contribuíram para a compreensão da cooperação universidade-empresa. Para tanto, foram utilizados dados secundários disponibilizados pela biblioteca virtual da FAPESP, os quais foram divididos por tipos de auxílio, áreas científicas, instituições e municípios de origem das solicitações de fomento. Foi possível identificar que maioria dos fomentos são destinados à auxílios à pesquisa em relação as bolsas, as quais se concentram em pesquisas com menor qualificação dos pesquisadores, tal como iniciação científica e mestrado. Observou-se que as universidades públicas são as principais beneficiadas pelos apoios concedidos pela FAPESP, uma vez que são responsáveis pelos maiores volumes de solicitações. Outro aspecto observado, se refere a participação de apenas uma instituição de ensino superior privada como solicitante, dessa maneira, é possível concluir que embora os cursos de stricto sensu tenham se disseminado pela rede privada de ensino, existe pouco interesse na realização de pesquisas sobre a cooperação universidadeempresa por parte dessas instituições. As pesquisas fomentadas pela FAPESP têm contribuído para a compreensão dos efeitos da transferência de tecnologia para o setor industrial, sob a perspectiva das empresas, fato que explica a concentração da maioria dos projetos na hélice das empresas, os processos enquadrados nessa dimensão analisaram os efeitos da cooperação universidadeempresa sob a perspectiva dos benefícios gerados para as empresas. Contudo, ainda existe espaço para o desenvolvimento de pesquisas que tratem das relações entre os atores da hélice tripla, especificadamente as relações informais universidade-empresa, assim como nas inovações que ocorrem nos espaços híbridos dessas hélices, isto é, desenvolvimento de spin-offs acadêmicas e do empreendedorismo científico, ambos resultantes de lacunas ou oportunidades identificadas da cooperação universidade5. CONSIDERAÇÕES FINAIS empresa. Observa-se, porém, que nenhum dos 21 projetos analisa o impacto da legislação Este trabalho buscou compreender de nas pesquisas, inovações e na relação entre os Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

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As contribuições de uma fundação de amparo à pesquisa para a cooperação universidade-indústria

atores institucionais do modelo hélice tripla. No Brasil : Os Avanços No Marco Regulatório E a

6.

REFERÊNCIAS

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Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Cleide A. B. da Cruz, Amanda L. S. Silva, Valéria M. Mendonça, Paulo R. dos Santos, Ana E. A. Paixão e Iracema M. A. Gomes

REVISTA DE EMPREENDEDORISMO, NEGÓCIOS E INOVAÇÃO ISSN 2448-3664

EMPREENDEDORISMO TECNOLÓGICO: INVESTIMENTOS DE RISCO EM STARTUPS NO BRASIL

Cleide Ane Barbosa da Cruz Doutoranda em Ciência da Propriedade Intelectual pela UFS (2016).

TECHNOLOGICAL ENTREPRENEURSHIP: RISK INVESTMENTS IN STARTUPS IN BRAZIL

Amanda Luiza Soares Silva Mestre em Ciência da Propriedade Intelectual pela UFS com bolsa da FAPITEC/SE.

Valéria Melo Mendonça Doutoranda em Ciência da Propriedade Intelectual na Universidade Federal de Sergipe.

Paulo Roberto dos Santos Pós-graduação em Direito de Trabalho pela Universidade Tiradentes.

Ana Eleonora Almeida Paixão

RESUMO As startups necessitam de investimento de risco para se tornarem viáveis economicamente. Este artigo tem como objetivo descrever o investimento em startups no Brasil por meio da descrição de organizações e associações que fomentam esses investimentos. A metodologia consistiu num estudo qualitativo descritivo, no qual se utilizou a pesquisa documental, levantando informações dos sites de associações e organizações de equity crowdfunding, investimento anjo, private equity e venture capital. Os resultados destacaram que existem organizações de equity crowdfunding que conectam investidores a startups inovadoras, que selecionam as empresas por meio de investidores âncoras, ou seja, o investidor pode participar dos resultados da empresa investida. Das oito instituições de investidores anjos analisadas, verifica-se que todas buscam apoiar o empreendedorismo tecnológico brasileiro, através do fomento de investimento anjo. O private equity e o venture capital tem sua indústria formada por bancos, fundos de pensão, agências de desenvolvimento regional e fundos de inovação que são essências para o financiamento das startups. Palavras-chave: Empreendedorismo Tecnológico, Equity Crowdfunding, Investidores Anjos, Private Equity e Venture Capital.

Doutora em Engenharia Química pela Unicamp.

Iracema Machado de Aragão Gomes Mestre e doutora em Administração pela USP (2005). UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC AVENIDA DOS ESTADOS, 5001 BAIRRO BANGU, SANTO ANDRÉ - SP. CEP 09210-580 E-MAIL: RENI@UFABC.EDU.BR COORDENAÇÃO AGÊNCIA DE INOVAÇÃO INOVAUFABC

ABSTRACT Startups need a risky investment to become economically viable. This article aims to describe the investment in startups in Brazil by describing organizations and associations that promote these investments. The methodology consisted of a descriptive qualitative study, in which documentary research was used, gathering information from the websites of associations and organizations of equity crowdfunding, angel investment, private equity and venture capital. The results highlighted that there are equity crowdfunding organizations that connect investors to innovative startups, which select companies by means of anchor investors, that is, the investor can participate in the results of the invested company. Of the eight angels investors institutions analyzed, it is verified that all seek to support Brazilian technological entrepreneurship, through the promotion of angel investment. Private equity and venture capital have their industry comprised of banks, pension funds, regional development agencies and innovation funds that are essential for financing startups. Keywords — Technology Entrepreneurship, Equity Crowdfunding, Investors Angels, Private Equity and Venture Capital.

JEL Classification: M13, G21, G23, G28 Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

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Empreendedorismo tecnológico: investimentos de risco em startups no brasil

1.

INTRODUÇÃO

O processo empreendedor explica como novas ideias de negócios se tornam oportunidades empreendedoras e é constituído pelas seguintes fases: 1) Identificação de uma oportunidade: o empreendedor tem a ideia, reconhece a oportunidade, analisa a viabilidade de um novo produto ou serviço e faz uma pesquisa de mercado para entender o que os clientes querem; 2) Desenvolvimento do conceito: o empreendedor planeja a startup (empresa temporária projetada com o objetivo de viabilizar um modelo de negócio repetitivo e escalável,) e desenvolve um plano de negócios (finanças, marketing, propriedade intelectual, entre outros); 3) Captação de recursos financeiros, humanos e materiais; 4) Atualização: o empreendedor estabelece metas para alcançar seus objetivos e utiliza seus recursos disponíveis de maneira eficaz; e 5) Resultado: o empreendedor decide se continua ou não com a ideia de negócio (ALZOUBI, 2016; SPENDER et al., 2017). Para que uma startup se torne economicamente sustentável e desenvolva seus processos de inovação, é necessária a captação de recursos financeiros com investidores de riscos que buscam além do investimento financeiro, estar próximos aos negócios inovadores e apoiar os empreendedores através de sua experiência pessoal (PERONI; OLIVEIRA, 2015; SPENDER et al., 2017). No Quadro 1 verificase o valor e o tipo de investimento por estágios de captação de investimento da startup.

De acordo com Cox, Lortie e Stewart (2017) e Li (2017), os investidores anjos e de equity crowdfunding têm contribuído para o desenvolvimento de startups e representam um fenômeno econômico importante. As organizações de private equity e venture capital formam portfólios de startups e as ajudam a inovarem mais e a se recuperarem mais rápido e eficientemente dos problemas econômicos (FACCIO; HSU, 2017; DROVER et. al., 2017). Por isso, este estudo teve como objetivo descrever o investimento em startups no Brasil (equity crowdfunding, investidores anjos, private equity e venture capital), por meio da descrição de organizações e associações que fomentam esses investimentos.

2.

REFERENCIAL TEÓRICO

Essa seção apresenta a fundamentação teórica acerca de investimento de risco em startups (equity crowdfunding, investidores anjos, private equity e venture capital). 2.1. INVESTIMENTOS DE RISCO EM STARTUPS - Equity Crowdfunding O crowdfunding acontece através de plataformas on-line e tem como objetivo trasformar o capital social (redes sociais) em capital financeiro para realização de ideias e projetos, sendo o equity crowdfunding (ou crowdinvesting ou financiamento coletivo por valores mobiliários) uma variação que oferece capital de risco para start-ups (POTENZA;

Quadro 1: Tipo e Valor do Investimento por Estágios da Startup

Estágios de Captação de Investimento da Start-up

Tipo de Investimento

Valor do Investimento

Pré-semente

Investimento anjo, aceleradora e equity crowdfunding

Até R$1.000.000,00

Capital Semente

Investimento anjo, equity crowdfunding e fundos de investimento

Até R$5.000.000,00

Venture Capital

Fundos de investimento

Até R$30.000.000,00

Private Equity

Fundos de investimento

Mais de R$30.000.000,00

Fonte: Adaptado de Peroni e Oliveira (2015).

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Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Cleide A. B. da Cruz, Amanda L. S. Silva, Valéria M. Mendonça, Paulo R. dos Santos, Ana E. A. Paixão e Iracema M. A. Gomes

OLIVEIRA, 2016; IZZO, 2017). De acordo com Li (2017), o equity crowdfunding é um tipo de financiamento, no qual os investidores obtêm renda quando as start-ups fazem ofertas públicas de ações ou são vendidas para outras empresas. - Investimento Anjo Os investidores anjos são pessoas físicas que possuem experiência profissional e capital financeiro suficiente para investir em startups em troca de participação societária nas etapas iniciais do negócio (BILAU; SARKAR, 2016; MINEIRO et al., 2016). Esses investidores fornecem conhecimentos estratégicos e operacionais para os novos empreendimentos, emprestam conexões, mentoria e networking para os jovens empreendedores, sendo importantes para estimular a atividade empreendedora e o crescimento econômico (BILAU; SARKAR, 2016; MINEIRO et al., 2016; WOLLHERIM; NUCCIO, 2016). A maioria se considera parceira dos empreendedores; busca outros objetivos além da maximização do valor investido, tais como satisfação pessoal, geração de empregos e oportunidade para influenciar o desenvolvimento de uma startup. O relacionamento investidor anjo/ empreendedor é o principal meio para que investidores agreguem valor a seu portfólio (COLLEWAERT; MANIGART, 2016). De acordo com Rodriguez (2016), na última década, muitos anjos se organizaram em grupos ou portais de anjos para combinar seu capital de investimento, compartilhar a diligência, cruzar informações entre diversos conhecimentos comerciais para potenciais oportunidades de investimento e lidar com a execução. Esse tipo de investidor ganhou força em períodos recentes, juntamente com o avanço da globalização, da internet e do estímulo aos jovens idealizadores e fundadores de startups que são potenciais para o mercado (WOLLHERIM; NUCCIO, 2016).

especialmente, por compromissos para novos fundos de capital que são executados por 10 anos ou mais, durante o qual seu capital está comprometido com o fundo (BARBER; YASUDA, 2017). O venture capital é uma das formas de financiamento de capital mais conhecida, apesar de financiar somente uma pequena fração de startups e as organizações de venture capital levantam fundos por meio de doações universitárias e fundos de pensão, oferecendo investimentos em portfólios de empresas jovens e inovadoras (startups) em retorno a esses investidores (DROVER et al., 2017). Hain e Jurowetski (2017) denomina os investidores de venture capital como intermediários financeiros que combinam competências financeiras e tecnológicas para ofertar apoio financeiro e de gestão aos empreendedores de negócios inovadores.

3.

METODOLOGIA

Este estudo foi classificado como descritivo com abordagem qualitativa, pois buscou descrever o investimento em start-ups no Brasil. Para Babbie (2014), os estudos descritivos objetivam a descrição de certos aspectos de um fenômeno. Em relação ao método, a pesquisa é documental porque considera os documentos como fonte secundária de dados numéricos ou textuais (SAUNDERS; LEWIS; THORNHILL, 2016). E, nessa pesquisa levantou-se as informações dos sites de associações e organizações de: a. Equity Crowdfunding, Associação Brasileira de Equity Crowdfunding – ABEC, Broota, Eqseed, Startup Me Up e Urbe.me; b. Investidores Anjos, Anjos do Brasil, Anjos da Amazônia, Curitiba Angels, Gávea Angels, Mulheres Investidoras Anjos – MIA, Rede de Investidores Anjos de Santa Catarina – RIA/SC, TI Angels e Vitória Investidores Anjos; c. Private Equity e Venture Capital, Associação Brasileira de Private Equity - Private Equity e Venture Capital e Venture Capital – ABVCAP e o Comitê Os investidores participam do private equity, Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

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Empreendedorismo tecnológico: investimentos de risco em startups no brasil

Executivo de Investidores Institucionais – CEII.

4.

RESULTADOS

4.1. EQUITY CROWDFUNDING Nesta seção destaca-se as organizações e associações de equity crowdfuding, que disponibilizam capital de risco para startups, permitindo o financiamento por valores mobiliários (POTENZA; OLIVEIRA, 2016; IZZO, 2017). A ABEC (2017) foi fundada em 2014, com o objetivo de disseminar o equity crowdfunding, como novo modelo de investimento para viabilização e geração de startups. Em particular, sendo o equity crowdfunding a oferta dos chamados valores mobiliários (títulos que representam o capital ou dívida da startup ofertante) e essa operação obedece um conjunto de regras do órgão regulador, no caso brasileiro, a Comissão de Valores Mobiliários – CVM. No Brasil, não existe uma legislação específica para oferta pública de títulos de dívida através de plataformas on-line e as empresas de equity crowdfunding apoiam-se na Instrução da CVM nº 400/03 que discorre sobre alguns limites para a realização desse investimento, tais como: os valores mobiliários que podem ser emitidos por empresas de pequeno porte e microempresas; as startups estão limitadas a captar R$ 2.400.000,00 em cada período de 12 (doze) meses; e, as empresas ofertam valores mobiliários que podem ser convertidos em participação acionária e/ou societária (CVM, 2003). As principais plataformas on-line de equity crowdfunding do Brasil são: a. A Broota (2017) fez sua primeira campanha em 2014 para financiar sua própria empresa. Foi fundada por Frederico Rizzo e tem o objetivo de conectar investidores a startups inovadoras. Essa plataforma seleciona as empresas por meio de investidores âncoras (investidores anjos, aceleradoras, fundos de capital semente ou venture 24

capital) e formulário de inscrição; as captações podem ser públicas (vísivel a todos os usuários e visitantes da plataforma) ou privadas (oculta, apenas os investidores selecionados podem ver que a empresa está aberta à captação). O valor cobrado inicialmente do empreendedor é de R$3.500,00 a fim de custear a estruturação da oferta e se a captação for um sucesso, 100% do valor à empresa; as empresas utilizam títulos de dívida conversíveis em ações para levantar recursos pelo Broota e o investidor retorna seu investimento quando: a startup é vendida para outra empresa ou para um grupo de investidores, a empresa distribui lucro através do pagamento de dividendos anuais e abre capital em mercados como o BovespaMais. Nas rodadas de capital semente e não semente, as empresas disponibilizam 10% a 25% do capital social; os investidores rateiam o custo fixo e único de estruturação da captação, entre 2% e 9% da rodada on-line e esse custo de transação é reembolsado ao investidor como desconto da taxa de performance de 5% cobrada pelo Broota, caso haja lucro com o investimento num período de 10 anos; atualizações, as empresas são obrigadas a comunicar alguns indicadores de progresso (aqueles informados no momento da oferta) a cada período de 4 (quatro) meses. A plataforma conta com 837 investidores e 37 startups investidas; o montante total investido foi de R$13.098.000,00, o valor médio captado por startup é de R$354.000,00, o período médio de captação está entre 30 e 60 dias e o investimento médio de R$8.702,00 (BROOTA, 2017); b. A Eqseed (2017) foi fundada em 2014 por Greg Kelly e Brian Begnoche e é uma plataforma on-line de investimento em empresas brasileiras com alto potencial de crescimento. Ela possui um rígido processo de seleção (mais de 900 empresas analisadas e menos de 1% aprovadas); já teve 4 (quatro) Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Cleide A. B. da Cruz, Amanda L. S. Silva, Valéria M. Mendonça, Paulo R. dos Santos, Ana E. A. Paixão e Iracema M. A. Gomes

rodadas de investimentos concluídas que duram em média 60-90 dias, a participação societária oferecida pela startup entre 5%-20% e nessas rodadas existe uma página de perguntas e respostas para esclarecer dúvidas dos investidores diretamente com a startup; a base de investidores é constituída por fundos, venture capital, investidores profissionais, empreendedores e executivos bem sucedidos (smart money) e investidores anjos; overfunding de uma rodada (sobre financiamento), se a empresa aceitar mais investimento terá que ofertar mais participação acionária; a plataforma cobra uma taxa única da empresa sobre os valores captados com êxito e os investidores pagam uma taxa de sucesso (um percentual do lucro quando sair do investimento); os investidores podem se envolver com as empresas investidas através de aconselhamento contínuo (mentoring), conselhos gerais ou específicos sobre um setor de atuação do investidor; e os valores mínimo e máximo de investimento variam conforme a rodada de captação; por exemplo, na rodada 2017.2, o investimento em startups é de R$250.000,00-R$500.000,00; para empresas em operação é de R$400.000,00-R$2.000.000,00 e para as empresas em expansão R$1.000.000,00-R$2.400.000,00 (EQSEED, 2017). A plataforma não se responsabiliza pelos riscos de investimento: perda de capital e necessidade de diversificação de investimentos; falta de liquidez; falta de dividendos pago ao investidor; diluição; limitação da responsabilidade; e outros riscos relacionados ao negócio, tais como, instabilidade da taxa de câmbio e desvalorização do Real, instabilidade de preços, políticas fiscais e regimes tributários; c. A Startup Me Up (2017) foi fundada por Diego Perez, Fábio Silva, Rodrigo dos Santos, Fernado Patucci e diferente de outras plataformas de equity Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

crowdfunding, o título emitido pelas empresas em captação é denominado Contrato de Investimento Coletivo, que permite ao investidor participar dos resultados da empresa investida, mesmo antes da conversão; cobra um percentual que equivalerá a 7,5% do total captado. As empresas são selecionadas por um processo constituído pelos seguintes critérios: mercado com potencial de crescimento, produto e modelo de negócios atrativos, posição competitiva favorável, qualidade do time e oportunidades de saída para o investidor; preferência de negócios Business to Business - B2B que já possuam receita e dos seguintes setores de atuação: Marketplace, Internet of Things, Fintech, Smart Cities, Blockchain, Biotech, Agrotech, Medtech e Mobilidade Urbana; d. A Urbe.me é uma plataforma on-line do segmento imobiliário, na qual, os investidores recebem um título de participação no valor geral de vendas do empreendimento imobiliário e os investimentos são a partir de R$1.000,00 (URBE.ME, 2017). Esse tipo de investimento possui vantagens, tais como, praticidade (investimento totalmente on-line e confirmado por meio da transferência eletrônica disponível bancária), segurança (o investidor vira credor de um título de dívida e se houver insolvência pode requerer o valor investido) e rentabilidade. 4.2. INVESTIDORES ANJO Esta seção destaca algumas organizações que apoiam empreendedores através dos investidores anjos, que possuem capital financeiro suficiente para realizar investimentos em startups, bem como estes oferecem conhecimentos estratégicos e operacionais para auxiliar os empreendedores em seus empreendimentos (BILAU; SARKAR, 2016). A Anjos do Brasil (2017) é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 2011 por Cassio Spina, objetivando o 25


Empreendedorismo tecnológico: investimentos de risco em startups no brasil

fomento de investimento anjo para apoiar o empreendedorismo inovador brasileiro, por meio de reuniões periódicas com a rede de investidores para eventos, palestras e apresentações de startups; curso on-line para investidor anjo; disponibilização de materiais de referência; apresentação de anjos e associações para a troca de experiências e conhecimentos; o selo ‘Sou Investidor Anjo’ na Anjos do Brasil significa que esta pessoa é um membro investidor na rede da Anjos do Brasil, passou pelos critérios de seleção desta rede e comprometeu-se com seu código de ética. O Prêmio Anjos do Brasil 2017 vai premiar 3 investidores anjos e 3 empresas investidas, os finalistas serão definidos pelos membros do Conselho da Anjos do Brasil a partir de critérios como a atuação no Brasil como investidor anjo (pertencente ou não a qualquer rede de investidores), quantidade e valor de investimento, divulgação dos investimentos efetuados, indicação de novos membros para a rede na qual participa e apoio ao ecossistema. A organização tem em São Paulo, a matriz da Anjos do Brasil e possui 14 núcleos regionais de investidores anjos: ABC – São Paulo; Amazonas; Bahia; Distrito Federal; Goiás; Mato Grosso do Sul; Belo Horizonte – Minas Gerais; Sul de Minas Gerais; Curitiba – Paraná; Rio de Janeiro; Rio Grande do Norte; Rio Grande do Sul; Santa Catarina; e, São José dos Campos – São Paulo. A Anjos da Amazônia (2017) foi fundada em 2014 por Marcos Antônio da Silva e é um projeto que objetiva o fomento do desenvolvimento da região da Amazônia através de investimento anjo, tendo como principais ações: a criação de redes de investidores nos estados que formam a região da Amazônia, inicialmente, serão criados o grupo bronze (até 20 investidores, com cota individual de R$5.000,00) e o grupo prata (até 25 investidores, com cota mínima de R$20.000,00), além dos grupos ouro e diamante; disseminação do conhecimento e a cultura de investidor anjo e empreendedorismo inovador; realização de palestras e eventos com grandes investidores brasileiros; divulgação de assuntos de interesse sobre investidor anjo e 26

empreendedorismo; organização de rodadas de encontros entre eles e empreendedores. O grupo Curitiba Angels (2017) foi fundado por Allan Costa e Leonardo Jianoti e tem por objetivo apoiar empreendedores de alto potencial através: da identificação de empreendedores com um perfil inovador; da avaliação de projetos e empresas por meio de métricas e indicadores de desempenho padrão do mercado; do aporte de investimentos anjos para o desenvolvimento do negócio; e, do acompanhamento, monitoramento, orientação e acesso a uma rede de relacionamentos de grande valor para a aceleração do negócio. O grupo Gávea Angels (2017) foi fundado em 2002 como uma associação privada, sem fins lucrativos, constituída por um número limitado de associados, pessoas físicas e jurídicas, para o desenvolvimento de startups, já realizou 18 investimentos (mais de 15 milhões de reais investidos), organizou 38 fóruns para investidores e stakeholders nacionais e internacionais, tem 55 investidores qualificados, avaliou mais de 700 startups e pretende investir até 2018 mais de 14 milhões de reais. O MIA (2017) foi fundado em 2013 por Ana Fontes (Rede Mulher Empreendedora), Camila Farani (Lab22) e Maria Rita Spina Bueno (Anjos do Brasil) e é um movimento para fomentar o investimento anjo feminino no apoio a empreendedores de alto impacto, principalmente, mulheres empreendedoras. Esse movimento busca investidoras anjos que tenham capital para investimento, experiência empreendedora ou corporativa, ética e interesse em apoiar startups. A RIA/SC é uma parceria entre a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia – ACATE (com a função de promover uma rede de relacionamentos no Estado e tem mais de 750 empresas associadas) e a Anjos do Brasil (apoia com a disseminação de informações aos investidores) e busca atrair e conectar investidores anjo e empreendedores de base tecnológica. É uma iniciativa que visa atrair e conectar investidores anjo de Santa Catarina e aproximá-los de empreendedores que buscam apoio para seus projetos de base Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Cleide A. B. da Cruz, Amanda L. S. Silva, Valéria M. Mendonça, Paulo R. dos Santos, Ana E. A. Paixão e Iracema M. A. Gomes

tecnológica (ACATE, 2017). capital e private equity através da ABVCAP O grupo TI Angels é um grupo de (2017), sendo formado pelas seguintes investidores associados à Associação das instituições: Empresas Brasileiras de Tecnologia da a. Agência de Desenvolvimento Paulista Informação do Rio de Janeiro – ASSESPRO/ - DESENVOLVE SP (2017), instituição RJ, foi fundado em 2012 e no primeiro ano de financeira do Governo de São funcionamento recebeu mais de 300 projetos Paulo - SP que oferece as melhores e participou de diversos eventos do setor, opções de financiamento como: Juro como Geeks on Beer e Startup Met Up e tem Empreendedor Zero, o programa é uma como objetivo estimular e capacitar o maior parceira do Estado de SP e o Serviço número possível de associados investidores Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas para atuarem como anjos em programas de Empresas - SEBRAE-SP que oferece geração de empresas, aumentando a oferta juro zero aos Microempreendedores de recursos financeiros para aceleradoras Individuais – MEI paulistas que e aproximar os investidores de novas concluíram o Programa Super MEI tecnologias (ASSESPRO/RJ, 2017). e não têm restrições de cadastro no A Vitória Investidores Anjos (2017) Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica é uma associação privada, sem fins CNPJ e Cadastro de Pessoa Física - CPF; lucrativos, formada por empreendedores e o crédito digital, modalidade de crédito profissionais com experiências diversas para rápido (com aprovação em dois dias o desenvolvimento de startups localizadas úteis) e online (utiliza a certificação no Espírito Santo e tem como atividades, digital E-CNPJ) com objetivo de organização de palestras e ações educacionais desburocratizar o acesso de pequenas sobre empreendedorismo e investimento anjo, empresas ao financiamento de capital de análise de oportunidades de investimento por giro; São Paulo Inova, apoia empresas de meio de fóruns periódicos para a apresentação base tecnológica e inovadoras por meio de projetos, representação dos interesses do Fundo Estadual de Desenvolvimento dos associados junto aos órgãos do governo Científico e Tecnológico – FUNCET e e outras entidades, avaliação de planos um Fundo de Investimento voltado para de negócios por profissionais experientes startups e empresas inovadoras que tem (mentoring e coaching) e facilitação do acesso faturamento entre R$3,6 milhões e R$18 dessas empresas aos capitais financeiro e milhões; Programa de Apoio ao Setor humano dos quais necessitam em sua fase Avícola - PROAVI, apoia as empresas inicial de crescimento. desse setor com operações de crédito para capital de giro e com garantia 4.3. PRIVATE EQUITY E VENTURE dos créditos acumulados no Imposto CAPITAL sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS; e, Fundos Especiais de A ABVCAP (2017) foi fundada em 2000, Financiamento e Desenvolvimento de entidade sem fins lucrativos que tem por SP para melhoria de qualidade de vida objetivo o desenvolvimento de atividades de da população do Estado; investimento de longo prazo (private equity, b. Associação Brasileira das Entidades venture capital e fundo semente), networking, Fechadas de Previdência Complementar estudos e pesquisas, educação, promoção - ABRAPP (2017), entidade sem fins de boas práticas e interação com entidades lucrativos que representa os interesses similares. comuns de Entidades Fechadas de O Comitê Executivo de Investidores Previdência Complementar, mais de 39 Institucionais – CEII objetiva a aproximação anos de existência e tem como objetivos: entre as demandas desses investidores e as dos representar o setor junto ao governo demais participantes da indústria de venture e a sociedade em geral, compartilhar Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

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ideias e experiências, oferecer soluções em gestão das entidades fechadas e qualificação dos dirigentes e técnicos; O Banco de Desarrollo de América Latina - CAF (2017) foi fundado em 1970 por 19 países (17 da América Latina e Caribe e 2 da Europa: Espanha e Portugal) e 13 bancos privados dessa região da América e possui um modelo de desenvolvimento sustentável por meio de operações de crédito, recursos não reembolsáveis e assistência técnica em financeira de projetos públicos e privados da região; O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais - BDMG (2017) promove o desenvolvimento econômico e sustentável de Minas Gerais, com geração de mais e melhores empregos e redução de desigualdades e oferece Crédito para Projeto de Inovação; O Banco do Brasil de Investimentos S.A. - BB Investimentos é uma subsidiária integral do BB e especializada no mercado de capitais doméstico com atuação e distribuição de títulos e valores mobiliários no mercado primário e secundário, atuando desde de 2004 como investidor dos setores de private equity e venture capital e a partir de 2007 como assessoria econômica e financeira dos Fundos de Investimento (VALOR ECONÔMICO, 2014); O Banco do Nordeste do Brasil S.A. BNB (2017) promove o desenvolvimento econômico da região Nordeste do Brasil e desde 1971 por meio do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNDECI apoiou com recursos no valor de R$700 milhões mais de 5 mil projetos para a pesquisa científica e a difusão de tecnologia; O Banco Interamericano de Desenvolvimento/Fundo Multilateral de Investimento - BID/FUMIN (2017) fornece assistência técnica para o setor privado de 26 países membros mutuários do Grupo BID da América Latina e Caribe, investe em micro finanças e fundo de capital de risco

para pequenas empresas, tem o Programa Empreendedorismo Social, financiamento e/ou cooperação técnica voltada a aumentar o acesso de comunidades rurais marginalizadas e oferece subsídios, empréstimos, garantias, capital, quase-capital e serviços de consultoria; h. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES (2017) foi fundado em 1952 e é a principal ferramenta do Governo Federal para o financiamento de longo prazo e investimento em todos os setores econômicos brasileiros. E, o BNDES Participações - BNDESPAR é uma subsidiária integral que apoia empresas brasileiras por meio de instrumentos de renda variável complementando seus produtos de financiamento; i. O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDE (2017) foi criado em 1961 pelos Estados do Sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) com objetivo de prosperidade econômica e por meio do BRDE Inova busca o fortalecimento da região Sul, mediante financiamentos de longo prazo para empresas e projetos inovadores (Inovacred – projetos inovadores em produto, processo ou modelo de negócio, MPME Inovadora - projetos de empresas com histórico inovador Criatec3 – empresas inovadoras em estágio inicial); j. Em março de 2017, a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo - BM&FBOVESPA (2017) uniu-se a Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos - CETIP formando a Brasil, Bolsa e Balcão B3, companhia de infraestrutura de mercado financeiro de classe mundial, sendo as seguintes empresas parte do grupo: Banco BM&FBOVESPA de Serviços de Liquidação e Custódia S.A. foi fundado em 2004 como subsidiária integral da BM&F com o objetivo de facilitar a compensação e liquidação financeira das operações realizadas em Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Cleide A. B. da Cruz, Amanda L. S. Silva, Valéria M. Mendonça, Paulo R. dos Santos, Ana E. A. Paixão e Iracema M. A. Gomes

seus ambientes de negociação; BM&F (USA) Inc. é uma subsidiária integral localizada em Nova Iorque e também um escritório de representação em Shangai com o objetivo de representar a BM&F no exterior e prospectar novos clientes; BM&FBOVESPA (UK) Ltd. é uma subsidiária integral fundada em 2009 e localizada em Londres com o objetivo de oferecer os produtos e serviços da BM&F para investidores da Europa, África e Oriente Médio - EMEA; Bolsa de Valores do Rio de Janeiro – BVRJ é uma bolsa de valores inativas da qual a BM&F possui 99% de títulos patrimoniais e 86,09% de patrimônio social; Instituto BM&FBOVESPA foi fundado em 2007 e coordena os projetos de investimento social da Bolsa; BM&FBOVESPA Supervisão de Mercados – BSM tem por objetivo fiscalizar a atuação da própria BM&F e de seus participantes por meio da Instrução CVM 461/07; k. Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil – PREVI (2017) foi fundada em 1904 e é considerado um dos maiores fundos de pensão da América Latina, tendo como missão a garantia do pagamento de benefícios aos associados de maneira segura, eficiente e sustentável; l. A Fundação das Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A. - CELESC de Seguridade Social – CELOS (2017) foi criada em 1969 e objetiva a assistência dos empregados e dependentes da CELESC e do Sindicato dos Eletricitários; m. A Fundação Companhia Energética de São Paulo - CESP – FUNCESP (2017) foi fundada em 1969 e é o maior fundo de pensão de capital privado do país com um total de mais de 110 mil clientes e cerca de R$26,5 bilhões de patrimônio administrado; n. A Fundação Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - CHESF de Assistência e Seguridade Social – FACHESF (2017) foi criado em 1972 e oferece diversos serviços (planos de previdência, plano de saúde, seguro de vida e empréstimos) Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

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para os empregados e aposentados da CHESF e FACHESF, tendo mais 50 mil associados; A Fundação de Assistência e Previdência Social do BNDES – FAPES (2017) foi fundada em 1975 pelo BNDES com o objetivo de gerenciar e executar planos previdenciário; A Fundação de Inovação e Pesquisa – FINEP (2017) foi criada em 1967 com o objetivo de financiar à Ciência, Tecnologia e Inovação – C,T&I brasileira e já apoiou cerca de 30 mil projetos inovadores; A Fundação de Previdência e Assistência Social – REAL GRANDEZA foi fundada em 1971 como entidade de previdência complementar fechada atendendo a 13 mil pessoas entre participantes ativos e aposentados e também opera planos de saúde com um total de 40 mil planos; A Fundação de Seguridade Social – CERES foi criada em 1971 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA e a extinta Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMBRATER objetivando gerenciar os planos de previdência da EMBRAPA, Empresa Brasileira de Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais - EMATER-MG, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - EPAMIG, Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - EPAGRI, Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina - CIDASC, Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial - ABDI, EMATER Distrito Federal - DF e da própria CERES; A Fundação dos Economiários Federais – FUNCEF foi criada baseada na Lei nº 6.435, de 15 de julho de 1977, objetivando gerenciar o plano de previdência complementar dos empregados da CAIXA e com patrimônio ativo total de R$58 bilhões e cerca de 137 mil participantes; A Fundação Eletrobrás de Seguridade Social – ELETROS (2017) foi fundada em 1971 e tem por objetivo investir 29


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recursos originados de contribuições e das patrocinadoras, garantindo o pagamento de benefícios de aposentadoria de empregados da ELETROBRAS, do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica - CEPEL, da Empresa de Pesquisa Energética - EPE, do Operador Nacional de Sistema Elétrico - ONS, da ELETROBRAS Distribuição Rondônia e da própria ELETROS; u. A Fundação Eletrosul de Previdência e Assistência Social – ELOS (2017) foi criada em 1973 com o objetivo de oferecer a seus funcionários benefícios de uma previdência complementar e possibilitar a criação de poupança previdenciária, tendo 3 planos ofertados (2 de benefícios e 1 de contribuição) e um total de 4.581 participantes (1.583 ativos, 2.983 assistidos e 15 em benefício proporcional diferido); v. A Fundação Itaipu Brasil de Previdência e Assistência Social – FIBRA teve seu funcionamento autorizado pela Portaria Ministerial MPAS nº 4.367, de 30 de novembro de 1988, objetivando a previdência complementar dos empregados do lado brasileiro de Itaipu e de seus próprios empregados; w. A Fundação Petróleo Brasileiro S.A. Petrobras de Seguridade Social – PETROS (2017) foi criada em 1970 atendem cerca de 150 mil pessoas (86 mil ativas e 64 mil aposentadas e pensionistas) por meio do Plano PETROS do Sistema PETROBRAS e o Plano PETROS-2; x. A Fundação Vale do Rio Doce de Seguridade Social – VALIA (2017) foi fundada há mais de 40 anos e tem por objetivo assegurar aos funcionários um benefício financeiro adicional no momento da aposentadoria, possuindo 120 mil participantes; y. O Instituto de Seguridade Social – ECONOMUS (2017) foi criado em 1977 como política de recursos humanos do antigo Banco Nossa Caixa S.A. e adquirido em 2009 pelo Banco do Brasil e oferece previdência complementar 30

para os funcionários do Banco do Brasil e do próprio ECONOMUS.

5.

CONCLUSÃO

A pesquisa destacou que organizações de equity crowdfuding buscam impulsionar um novo meio para obter investimentos para viabilizar e gerar startups. No Brasil, as plataformas on-line de equity crowdfunding são a Broota, Eqseed, Startup Me Up e Urbe. me que procuram conectar investidores a startups inovadoras, investir em empresas brasileiras com alto potencial de crescimento e possibilitam que investidores recebam um título de participação. Sobre os investidores anjo, comprovouse que as oito organizações analisadas, estas buscam apoiar o empreendedorismo inovador brasileiro, desenvolver regiões como é o caso da Anjos da Amazônia, apoiar empreendedores de alto potencial e fomentar o investimento anjo feminino. Os bancos, as fundações de previdência complementar, a bolsa de valores, as organizações do governo que buscam desenvolvimento regional e a FINEP como participantes da indústria de private equity e venture capital são também uma fonte de financiamento para startups. Porém, todas essas formas de financiamento de curto, médio e longo prazo (equity crowdfunding, investidores anjos, private equity e venture capital) presentes no Brasil, precisam impulsionar a expansão do empreendedorismo tecnológico e o incentivo à inovação no Brasil, buscando a melhoria dos investimentos que auxiliam na geração de startups. AGRADECIMENTOS Agradecimento à FAPITEC pelo apoio à pesquisa.

6.

REFERÊNCIAS

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Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Paulo Augusto Ramalho de Souza, Anna Karolina Machado Campos e Maria do Carmo Romeiro

REVISTA DE EMPREENDEDORISMO, NEGÓCIOS E INOVAÇÃO ISSN 2448-3664

Paulo Augusto Ramalho de Souza Doutor em Administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e Professor do Mestrado em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) - email: pauloramalho@ufmt.br

Anna Karolina Machado Campos Graduada em Administração pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e-mail: annakarolinamachado@gmail.com

Maria do Carmo Romeiro Doutora em Administração pela Universidade de São Paulo (USP) e Professora do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e-mail: mromeiro@uscs.edu.br UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC AVENIDA DOS ESTADOS, 5001 BAIRRO BANGU, SANTO ANDRÉ - SP. CEP 09210-580 E-MAIL: RENI@UFABC.EDU.BR COORDENAÇÃO AGÊNCIA DE INOVAÇÃO INOVAUFABC

ANÁLISE DO POTENCIAL EMPREENDEDOR EM GRADUANDOS DE CURSOS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DE MATO GROSSO ANALYSIS OF THE ENTREPRENEURIAL POTENTIAL IN GRADUATES OF AGRICULTURAL SCIENCES IN MATO GROSSO RESUMO O Agronegócio brasileiro possui uma relevante participação no Produto Interno Bruto (PIB), uma parcela de 21,46% em 2015, segundo dados do CEPEA (2015). No cenário atual do mercado brasileiro, é de suma importância ressaltar o crescimento do empreendedorismo ligado aos jovens-jovens e aos jovens adultos. Assim, aborda-se a utilização do empreendedorismo como forma de fortalecimento do Agronegócio brasileiro. Dessa forma, o trabalho foi realizado a partir do estudo exploratório de Kawai (2016), utilizando um modelo conceitual teórico criado por Santos, Caetano e Curral (2010) em Portugal, para medir o Potencial Empreendedor de estudantes dos cursos de Agronomia, Engenharia Florestal, Medicina Veterinária e Zootecnia. Desse modo, o objetivo geral da pesquisa foi identificar quais as características/indicadores, acerca do potencial empreendedor, estão presentes nos graduandos de cursos de agrárias no Estado de Mato Grosso. Para atingir o objetivo da pesquisa, estabeleceuse uma metodologia quantitativa, na qual foi feita uma análise estatística dos dados obtidos via questionário para confirmar ou refutar a presença dos fatores ligados à quatro diferentes dimensões, sendo elas as Competências Sociais, as Competências Psicológicas, as Competências de Gestão e as Motivações Empreendedoras. O principal resultado encontrado comprovou a presença de dez das onze características analisadas, além de confirmar três das quatro hipóteses propostas. Palavras-chave: Potencial Empreendedor; Empreendedorismo; Agronegócio

ABSTRACT Brazilian agribusiness has a significant share of Gross Domestic Product (GDP), a share of 21.46% in 2015, according to data from CEPEA (2015). In the current scenario of the Brazilian market, it is extremely important to highlight the growth of entrepreneurship linked to young people and young adults. Thus, the use of entrepreneurship as a way of strengthening Brazilian Agribusiness is addressed. Thus, the work was carried out from the exploratory study of Kawai (2016), using a theoretical conceptual model created by Santos, Caetano and Curral (2010) in Portugal, to measure the Entrepreneurial Potential of students of the courses of Agronomy, Forest Engineering, Veterinary Medicine and Animal Science. In this way, the general objective of the research was to identify which characteristics / indicators, about the entrepreneurial potential, are present in the graduates of agrarian courses in the State of Mato Grosso. To reach the research objective, a quantitative methodology was established, in which a statistical analysis of the data obtained through a questionnaire was carried out to confirm or refute the presence of the factors related to four different dimensions, such as Social Competences, Psychological Competences, the Management Skills and the Entrepreneurial Motivations. The main result found was the presence of ten of the eleven characteristics analyzed, besides confirming three of the four hypotheses proposed. Keywords: Potential Entrepreneurship; Entrepreneurship; Agribusiness.

JEL Classification: L26 Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

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Análise do potencial empreendedor em graduandos de cursos de ciências agrárias de mato grosso

1.

INTRODUÇÃO

O Agronegócio brasileiro possui grande destaque na economia e é um setor essencial para o crescimento do país, já que tem relevante participação no Produto Interno Bruto (PIB), uma parcela de 21,46% em 2015, segundo dados do CEPEA (2015). Assim, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que em 2015, apesar de o PIB total nacional apresentar uma retração de 3,8% em 2015, o do agronegócio, em contrapartida, cresceu 1,8%, representando um aumento de 0,4% de 2014 para 2015. Já em 2016, segundo o CEPEA (2016), de janeiro a outubro, o PIB brasileiro do agronegócio apresentou um crescimento de 4,28%, não só no ramo agrícola como também no pecuário. Devido à importância do Agronegócio para o desenvolvimento do país, segundo o MAPA (2016), o governo federal brasileiro destinou R$ 185 bilhões de crédito aos produtores rurais pelo Plano Agricultura e Pecuário 2016/2017, para arcar com os custos e comercialização do Agronegócio. Além disso, houve a destinação de cerca de R$ 34 bilhões para os programas de investimento voltados para a Agricultura e a Pecuária nos anos de 2016 e 2017. Ainda segundo o MAPA (2016), a previsão para a safra 2017/2018 é que o Brasil colha mais de 200 milhões de toneladas de grãos, sendo importante ressaltar que as cotações das commodities no mercado estão em alta e a tendência é de bom crescimento para o setor. Nesse sentido, considerando a economia brasileira, destaca-se a abordagem do Empreendedorismo no país, o qual de acordo com o Global Entrepreneurship Monitor (2015) teve uma taxa de empreendedorismo total de 39,3% em 2015. Em outras palavras, esse valor corresponde a aproximadamente 52 milhões de brasileiros, entre 18 e 64 anos, que se envolveram na criação ou manutenção de algum negócio em 2015, seja como empreendedor iniciante ou como empreendedor já estabelecido. O GEM (2015) aponta ainda que o aumento dessa taxa total (de 35,5% em 2014 para 39,3% em 2015) se deu pelo aumento significativo da taxa de 34

empreendedores em estágio inicial, que foi de 17,2% em 2014 e de 21% em 2015. Sendo assim, no cenário atual do mercado brasileiro, é de suma importância ressaltar o crescimento do empreendedorismo ligado aos jovens-jovens e aos jovens adultos, ou seja, jovens entre 18 e 29 anos que empreendem em um novo negócio. Assim como, ressaltase a utilização do empreendedorismo como forma de fortalecimento do Agronegócio brasileiro. Nesse contexto, identifica-se a possível ausência do ensino do Empreendedorismo nos cursos de ciências agrárias, enxerga-se, então, uma oportunidade para analisar a presença do comportamento empreendedor em estudantes dos referidos cursos. Dessa forma, o trabalho foi realizado a partir do estudo exploratório de KAWAI (2016), que buscou, no curso de Agronomia da Universidade Federal de Mato Grosso, identificar a propensão dos estudantes à sucessão familiar e a existência ou não das características do comportamento empreendedor. Assim, o projeto tem como enfoque o Perfil Empreendedor de estudantes. A delimitação do assunto é feita quando se faz um estudo sobre o perfil empreendedor dos universitários de cursos de ciências agrárias de Mato Grosso. A problemática diante da importância do Empreendedorismo e o Agronegócio para o crescimento econômico brasileiro despertou o interesse em desenvolver o tema buscando identificar nos graduandos de ciências agrárias as características e o comportamento empreendedor. Um número relevante de estudantes, ao se graduarem nas áreas citadas, buscam seguir suas profissões na carreira agropecuária (campo ou cidade), trabalhar com a família ou abrir seu próprio negócio, é nesse sentido que se pretende observar principalmente a tendência para o último tópico, identificando se há nos estudantes o comportamento e potencial para empreender. No decorrer do trabalho tem-se como objetivo compreender o perfil empreendedor dos graduandos de cursos de agrárias no Estado de Mato Grosso. Atualmente, o agronegócio exerce influência Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


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no PIB de Mato Grosso e é essencial para toda a economia do país, desse modo, é da mesma forma que o Empreendedorismo, outro fatorchave para o contínuo crescimento econômico brasileiro, sendo importante que se incentive o empreendedorismo entre os universitários. O trabalho justifica-se pela importância de identificar a tendência dos graduandos dos cursos relacionados ao agronegócio (Engenharia Agronômica, Medicina Veterinária e Zootecnia) a empreender, ou seja, verificar se existe ou não a presença do comportamento empreendedor nesses estudantes e quais são essas características. O estudo é viável devido ao crescente aumento do número de empreendedores iniciais no Brasil e a importância estratégica do Agronegócio para o país e o Estado de Mato Grosso. Além disso, destaca-se a escassez de estudos voltados ao perfil empreendedor de alunos das ciências agrárias. Desse modo, cita-se alguns dos estudos já realizados, são eles o de Kawai (2016) com foco em uma parcela dos estudantes do curso de Agronomia da Universidade Federal de Mato Grosso; Santos, Caetano e Curral (2010) focam no modelo de potencial empreendedor aplicado aos universitários dos cursos de Ciências Sociais, da Saúde, de Gestão e das Tecnologias; Júnior e Gimenez (2007) analisaram o potencial empreendedor de alunos da graduação e pósgraduação em Administração do Paraná. Sendo o contexto do Empreendedorismo muito abrangente, pode-se, portanto, delimitar o tema a partir do entendimento da relação do empreendedorismo com o agronegócio. Considerando que o agronegócio é um setor com grande influência na economia brasileira e o empreendedorismo um fator essencial para o contínuo crescimento econômico do país, compreende-se a importância de explorar a presença do perfil empreendedor em jovens relacionados às ciências agrárias, com destaque aos estudantes mato-grossenses. Nessa perspectiva, busca-se resposta para a seguinte questão de pesquisa: quais as características/fatores estão presentes no perfil empreendedor dos graduandos de Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

cursos de agrárias no Estado de Mato Grosso? Desse modo, o objetivo geral da pesquisa foi identificar quais as características/ indicadores, acerca do potencial empreendedor, estão presentes nos graduandos de cursos de agrárias no Estado de Mato Grosso. Enquanto os objetivos específicos foram confirmar um construto para mensuração do potencial empreendedor em universitários; identificar, a presença do potencial empreendedor e suas dimensões no perfil dos estudantes; e discutir se o perfil dos respondentes apresenta alguma variação quanto ao estudo-base de Kawai (2016). Além desta introdução, o trabalho apresenta o referencial teórico, os procedimentos metodológicos, análise e discussão dos resultados e as considerações finais.

2.

REFERENCIAL TEÓRICO

A revisão teórica realizada para o presente trabalho buscou abordas o empreendedorismo e o agronegócio, seus conceitos básicos e essenciais para o entendimento da pesquisa. 2.1. EMPREENDEDORISMO E EMPREENDEDORISMO RURAL Inicia-se o tópico com o conceito de Empreendedorismo, que segundo o dicionário Aurélio, o termo “empreender” significa propor-se, tentar (ação, empresa laboriosa e difícil; pôr em execução). Em outras palavras “é o envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam à transformação de ideias em oportunidades. E a perfeita implementação destas oportunidades leva à criação de negócios de sucesso” (DORNELAS, 2008, p. 22). Dornelas (2008, p. 66) aponta ainda que tanto Schumpeter quanto Kirzner compartilham a ideia de que o empreendedor é um excelente identificador de oportunidades, já que é um indivíduo curioso e atento a informações, pois sabe que suas chances e oportunidades se ampliam quando seu conhecimento se aprimora. Então, o empreendedor é quem percebe uma chance, a qual aparece geralmente sem avisoprévio e cria um negócio que traga lucro para 35


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ele, arriscando entrar no mercado. Nota-se nas definições expostas anteriormente, que basicamente se tem três características para esse tipo de profissional. São elas a idealização de um negócio a partir de certa oportunidade e a iniciativa para implementação, além de alterar positivamente o ambiente em que está inserido e assumir a possibilidade de fracassar. Sendo assim, é importante ressaltar que esse contexto caracteriza o processo empreendedor.

O processo empreendedor envolve todas as funções, atividades e ações associadas com a criação de novas empresas. Em primeiro lugar, o empreendedorismo envolve o processo de criação de algo novo, de valor. Em segundo, requer a devoção, o comprometimento de tempo e o esforço necessário para fazer a empresa crescer. E em terceiro, que riscos calculados sejam assumidos e decisões críticas tomadas; é preciso ousadia e ânimo apesar de falhas e erros (DORNELAS, 2008, p. 23).

Nesse sentido, ressalta-se a abordagem de Lopes e Nantes (2006) que afirmam que o produtor rural está menos disposto a correr riscos e aceitar novos desafios, devido ao seu espírito mais tradicional e ser mais apegado as suas raízes. Sendo assim, características como a abertura do empreendimento para a inovação e a criatividade são pouco habituais entre os produtores rurais. Segundo Rosso e Guedes (2012), é importante ressaltar que a situação anterior se justifica pelo fato de que as empresas familiares ligadas ao agronegócio possuem algumas características particulares advindas da sociedade patriarcal, na qual observavase a predominância do sexo masculino na

chefia dos negócios e da família. Assim, entre os principais desafios enfrentados ainda está a descentralização da tomada de decisão por parte dos chefes do negócio, sendo eles geralmente pais, tios e/ou avós. Conforme Dornelas (2007 apud Kawai, 2016) o empreendedor não é somente aquele que inicia um novo negócio, há o empreendedor herdeiro, que recebe a missão de levar adiante o legado da família desde cedo e, sendo mais jovem, tem a possibilidade de inovar nos empreendimentos já existentes. Dessa forma, baseando-se nos exemplos da família, o herdeiro tem a possibilidade de desenvolver um perfil mais inovador ou conservador. Entretanto, atualmente, os próprios herdeiros têm procurado por apoio externo, não só por meio de cursos de graduação, especializações, MBA1, mas também de capacitações voltadas para empresas familiares, com o objetivo de adquirir experiências diferenciadas para que a tomada de decisão não seja guiada apenas pelo histórico de sucesso das demais gerações. 2.2. PERFIL E COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR O comportamento empreendedor e seu perfil tem como base as suas características básicas. Assim, é imprescindível abordar algumas das propostas por Dornelas (2008) que são apresentadas no Quadro 1: 1  Master in Business Administration, em português: Mestre em Administração de Negócios.

Quadro 1 – Características dos empreendedores de sucesso

Ser visionário;

Saber tomar decisões;

Fazem a diferença

Saber explorar ao máximo as oportunidades;

Ser determinado e dinâmico;

Ser dedicado;

Ser otimista e apaixonado pelo que fazem;

Ser líder e formador de equipes;

Ser bem relacionado (networking);

Ser organizado;

Ser um bom planejador;

Possuir conhecimento;

Assumir riscos calculados;

O desejo de criar valor para a sociedade.

Fonte: adaptado de Dornelas (2008).

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Filion (1999) reuniu em um de seus estudos as principais características frequentemente atribuídas aos empreendedores (Quadro 2), as quais foram definidas por diversos comportamentalistas no decorrer do século

Baron e Katz (2007 apud Santos, Caetano e Curral, 2010). Neste sentido, Santos, Caetano e Curral (2010) expõem que o potencial empreendedor se baseia em quatro principais dimensões,

Quadro 2 – Características dos Empreendedores

Inovação

Otimismo

Tolerância à ambiguidade e à incerteza

Liderança

Orientação para resultados

Iniciativa

Riscos moderados

Flexibilidade

Capacidade de aprendizagem

Independência

Habilidade para conduzir situações

Habilidade na utilização de recursos

Criatividade

Necessidade de realização

Sensibilidade a outros

Energia

Autoconsciência

Agressividade

Tenacidade

Autoconfiança

Tendência a confiar nas pessoas

Originalidade

Envolvimento a longo prazo

Dinheiro como medida de desempenho

Fonte: Filion (1999).

XX, como Hornaday (1982); Meredith, Nelson e Neck (1982) e Timmons (1978). Além disso, Filion ressaltou as três necessidades motivacionais identificadas por McClelland (1967), que serviram de fundamento para os demais comportamentalistas em seus próprios estudos, são elas a necessidade de realização, baseado no fato das pessoas sempre estarem em busca de realizar algo, sendo considerado por ele a responsável pelo desenvolvimento econômico; a necessidade de afiliação, que se refere a necessidade do empreendedor de se relacionar com as pessoas, pertencer a um determinado grupo de pessoas e adquirir confiança nelas, e, por fim, a necessidade de poder, referente a detenção de conhecimento, capacidade de controle e de liderança. A presença de tais características, ou algumas delas em uma pessoa, pode evidenciar claramente o seu potencial para empreender. 2.3. POTENCIAL EMPREENDEDOR O processo empreendedor está diretamente ligado às características do indivíduo, já que este é o principal agente da tomada de decisão para implementar iniciativas empreendedoras, além de ser o responsável primário pelo desenvolvimento das tarefas decorrentes deste processo Baum, Frese, Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

são elas as motivações empreendedoras, as competências psicológicas, as competências sociais, e as competências de gestão, de acordo com o modelo conceitual teórico, exposto na Figura 1. As motivações empreendedoras são identificadas como uma das principais determinantes do sucesso de novos negócios (Baum, Locke e Smith, 2001 apud Santos, Caetano e Curral, 2010) e mostram a energia e o esforço das ações direcionadas para a atividade empreendedora (Locke e Baum, 2007 apud Santos, Caetano e Curral, 2010). Nesse âmbito surgem como principais características diversificadoras do potencial empreendedor a motivação econômica o desejo do indivíduo por independência. Santos, Caetano e Curral (2010) ressaltam que no contexto das competências psicológicas, foram identificadas a capacidade de inovação, a inteligência emocional e a resiliência como características diferenciadoras dos empreendedores. As competências sociais exprimem a capacidade do indivíduo para interagir com eficácia com os outros (e.g., Baron, 2000 apud Santos, Caetano e Curral, 2010). Assim, a capacidade de comunicação, que são a persuasão e a capacidade para desenvolver rede social, foram identificadas como as duas características mais importantes no âmbito das competências sociais. 37


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As competências de gestão exprimem as capacidades básicas e enviesadas de gestão dos negócios (e.g., Baum, Locke e Smith, 2001 apud Santos, Caetano e Curral, 2010) e incluem quatro características diferenciadoras do potencial empreendedor: a visão, a capacidade para mobilizar recursos, a capacidade para liderar e a auto eficácia empreendedora. A visão, do ponto de vista de Santos, Caetano e Curral (2010) pode ser definida como a capacidade para visualizar e prever objetivos, metas e realizações futuras e tem sido evidenciada como determinante do crescimento de empresas empreendedoras. A capacidade para mobilizar recursos também foi identificada como uma determinante importante do sucesso empreendedor (e.g., Ramachandran e Ray, 2006 apud Santos, Caetano e Curral, 2010). Assim como a capacidade para liderar, que é definida como a aptidão para mobilizar e gerir os outros, tendo em vista o crescimento e sustentabilidade do negócio (Chell, 2008; Vecchio, 2003 apud Santos, Caetano e Curral, 2010). Por fim, Santos, Caetano e Curral (2010) afirmam que a auto eficácia empreendedora é definida como a crença individual na própria capacidade para atingir com sucesso um objetivo. Essa característica nos empreendedores é essencial, uma vez que estes devem ter confiança nas suas capacidades para desempenhar diferentes tarefas e antecipar situações. Figura 1: Modelo inicial das dimensões da pesquisa

Fonte: Santos, Caetano e Curral (2010).

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2.4. O MODELO CONCEITUAL DO POTENCIAL EMPREENDEDOR E SUA UTILIZAÇÃO O modelo escolhido foi utilizado por diversos autores para medir o potencial empreendedor, nos mais diversos contextos. A exemplo de Fayolle, Kyrö, Liñán (2015), que utilizaram o modelo no contexto de uma competição de risco entre empresários de diversos países. Os autores europeus reproduziram uma versão reduzida de Santos et. al. (2010) e mediu o desejo de independência, motivação econômica, capacidade de inovação, resiliência; autoeficácia empreendedor; capacidade de comunicação e persuasão; capacidade de liderança; capacidade de mobilização de recursos e visão (nota-se a exceção quanto ao indicador de inteligência emocional). Para tanto, Fayolle, Kyrö, Liñán (2015, p. 105) ressaltam o embasamento de seu estudo:

Estudos anteriores (por exemplo, Santos et al., 2010, Santos et al., 2014) testaram a construção do potencial empreendedor no nível individual através de um inventário - um inventário de avaliação do potencial empreendedor (EPAI). Este inventário de avaliação inclui as características específicas que a investigação provou desempenhar um papel nas iniciativas empreendedoras bem-sucedidas. Através de seus resultados, foi possível analisar se um indivíduo tem um potencial baixo, médio ou alto para se tornar um empreendedor. Em geral, os resultados mostraram que os empreendedores exibem altos níveis em todas as dimensões que compreendem o potencial empreendedor, ou seja, motivação empresarial, competências psicológicas, competências sociais e competências de gestão.

A sustentação teórica desta pesquisa tem por base um arcabouço teórico inicial, construído por Santos, Caetano e Curral (2010) e operacionalizado por diversos autores. Nesse sentido, a tabela abaixo aborda alguns autores que utilizaram o citado modelo para medir o potencial empreendedor e quais dimensões foram utilizadas por cada um. Com base na sustentação teórica apresentada no Quadro 3, além do modelo conceitual inicial de Santos et. al. (2010) foram estabelecidas quatro hipóteses para este estudo, visando identificar o potencial empreendedor nos estudantes de ciências Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


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Quadro 3 - Sustentação teórica da pesquisa

Autor/ano Fayolle, Kyrö, Liñán (2015)

Cabral (2012)

Campos (2013)

Contexto

Dimensões

Localidade dos respondentes

Motivações empreendedoras Competências sociais Competências psiCompetição de risco entre Rússia, Brasil, Portugal, cológicas empresários Irã e Itália. Competências de gestão Motivações empreendedoras ComUniversitários de Direito, petências sociais Competências psiArtes, Biotecnologia, Ecocológicas nomia e Gestão, Psicologia e Saúde Competências de gestão Motivações empreendedoras Universidades e Institutos politécnicos Competências de gestão

Portugal.

Portugal.

Fonte: Elaborado pelos autores com base em Fayolle, Kyrö, Liñán (2015), Cabral (2012) e Campos (2013).

agrárias e alcançar os objetivos propostos. H¹: A Motivação Empreendedora é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor. H²: A Competência de Gestão é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor. H³: A Competência Social é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor. H4: A Competência Psicológica é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor. No capítulo a seguir foi abordado os procedimentos metodológicos utilizados para a realização da pesquisa.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O estudo foi realizado com base na pesquisa exploratória realizada por Kawai (2016) que teve como objetivo identificar a propensão à sucessão familiar em empreendimentos rurais e a (in) existência de características comportamentais empreendedoras entre jovens universitários estudantes de agronomia da Universidade Federal de Mato Grosso, do campus de Cuiabá-MT. Quanto ao método e a forma de abordar o problema, a pesquisa enquadra-se como quantitativa, que segundo Richardson (1999), a pesquisa quantitativa é caracterizada pelo emprego da quantificação, tanto nas modalidades de coleta de informações quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas. Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

Quanto ao objetivo, caracteriza-se como descritiva, já que “tem como a descrição das características de determinada população. Podem ser elaboradas também com a finalidade de identificar possíveis relações entre variáveis” (GIL, 2010, p. 27). Quanto aos procedimentos adotados na coleta de dados, classifica-se como pesquisa bibliográfica, a qual segundo Marconi e Lakatos (2010, p. 166) inclui “toda a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses [...]”. Além disso as autoras elucidam que esse tipo de pesquisa “propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”. Para a coleta de dados em campo, optou-se pelo questionário, o qual é definido como um “instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de pergunta, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador” (MARCONI E LAKATOS, 2010, p. 184). Destaca-se que os questionários foram aplicados via Google Forms. A análise dos dados coletados foi realizada por meio de tabulação das respostas para serem, então, analisadas estatisticamente no software SmartPLS 3.0, por meio de análise fatorial. Assim, com relação ao uso do SmartPLS para realizar a estimativa das relações dos constructos, destaca-se que Bagozzi, Yi e Singh (1991) afiram que o PLS é um método utilizado para modelagem de equações 39


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estruturais recomendado para estimativas com amostras inferiores a 100, o que possibilita uma análise confiável para a amostra desta pesquisa, de 63 respondentes. Além disso, de acordo com Hair et al. (2005, p. 388):

A análise fatorial é uma técnica estatística multivariada que pode sintetizar as informações de um grande número de variáveis em um número muito menor de variáveis ou fatores. Identificando relações latentes (não facilmente identificáveis) e combinando variáveis em alguns fatores, a análise fatorial simplifica nossa compreensão dos dados.

A avaliação da qualidade dos resultados obtidos para cada constructo foi baseada nas recomendações de Chin (1998), o qual estabelece como parâmetro que o tratamento aplicado para melhora dos resultados do modelo estrutural estimado, pautou-se na exclusão de indicadores com carga fatorial abaixo de 0,70, para confiabilidade da construção de variáveis latentes para modelos estruturais. Ademais, foi utilizado o modelo teórico do potencial empreendedor voltado para as atitudes dos estudantes universitários face ao empreendedorismo, construído por SANTOS, CAETANO E CURRAL (2010).

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Esta parte do estudo apresenta os resultados da coleta de dados realizada com base em questionários aplicados via Google Forms, os quais foram formulados com base no modelo conceitual de Potencial Empreendedor de Santos, Caetano e Curral (2010). Primeiro, apresenta-se a caracterização dos respondentes da pesquisa, realizando uma comparação com o perfil dos estudantes da pesquisa de Kawai (2016), utilizada como base para a presente pesquisa. Em segundo lugar, são expostos os resultados gerais, de acordo com a análise estatística feita por meio do software SmartPLS 3.0.

e Engenharia Florestal, de três diferentes universidades de Mato Grosso. A amostra foi de 63 (sessenta e três) alunos, sendo predominante entre estes o gênero masculino, com 41 (quarenta e um) respondentes e apenas 22 (vinte e dois) do gênero feminino. Em comparação com a pesquisa base para este estudo, observou-se que Kawai (2016) obteve uma parcela de 83% dos respondentes do sexo masculino e apenas 17% do sexo feminino, sendo de suma importância ressaltar a diferença significativa da presença do gênero feminino dentre os respondentes desta pesquisa (34,92%). Em relação à idade dos respondentes, foi possível observar a predominância de jovens (96,78%), sendo 17 e 22 anos (66,13%) e de 23 e 28 (30,65%). Os resultados obtidos se aproximam dos dados anteriormente obtidos por Kawai (2016), já que na pesquisa citada os respondentes eram jovens com idade entre 17 e 22 anos (73%) e 23 e 28 anos (27%). Quanto aos cursos de graduação dos estudantes pesquisados, a maioria predominante foi do curso de Agronomia, compreendendo 87,10% do total de respondentes. Em contrapartida, o estudobase foi realizado 100% com estudantes de Agronomia. 4.2. VALIDAÇÃO DO MODELO CONCEITUAL DE SANTOS, CAETANO E CURRAL (2010)

Esta etapa se refere à confirmação das relações entre os indicadores e suas respectivas dimensões/constructos (Motivação Empreendedora, Competências de Gestão, Competências Sociais e Competências Psicológicas), feita por meio de análise fatorial. Sendo assim, esse método teve como principal objetivo servir como orientação para a confirmação ou refutação da estrutura de indicadores do modelo escolhido para análise. Com este objetivo, elaborou-se um 4.1. PERFIL DOS RESPONDENTES modelo estrutural (Figura 2) através do SmartPLS, a fim de identificar se as O questionário foi aplicado para os dimensões se confirmaram na pesquisa estudantes de ciências agrárias, nos cursos de e quais indicadores se apresentaram nos Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia 40

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estudantes, permanecendo na estrutura de suas respectivas dimensões, confirmando os objetivos e hipóteses previamente propostos. Como resultado principal e essencial, conforme parâmetro de avaliação da qualidade dos dados de Chin (2008) que estabelece um coeficiente mínimo de 0,70 para validação dos dados, obtiveram-se a confirmação de dez dos onze indicadores escolhidos para a avaliação do Potencial Empreendedor dos estudantes de Ciências Agrárias. Ressaltando que este modelo não havia sido antes testado para alunos de tais cursos. Nota-se que o Indicador com maior peso para a pesquisa foi referente às Competências Sociais, sendo ele a Capacidade de Desenvolver as Redes Sociais, que obteve um excelente coeficiente de 0,956, seguido pela Capacidade de Comunicação e Persuasão, com valor de 0,938. Em seguida tem-se a Motivação Econômica, com coeficiente de 0,920, na dimensão das Motivações Empreendedoras. Torna-se importante observar que, no entanto, o outro Indicador das Motivações Empreendedoras, referente ao Desejo de Independência, obteve a menor carga fatorial, 0,635 e não foi possível confirmar a sua validade no contexto dos estudantes de Ciências Agrárias. Quanto às Competências de Gestão identificou-se que todos os quatro indicadores obtiveram carga fatorial relevante e equilibrado, com 0, 872; 0,868; 0,825; 0,847, referentes à Capacidade de Mobilizar Recursos, Capacidade para Liderar, Visão e a Auto eficácia Empreendedora, respectivamente, sendo que a Visão, um fator de valiosa importância para o Empreendedor, foi o indicador com menor coeficiente.

Por fim, o Indicador com o quarto maior coeficiente, foi Inteligência Emocional (0,873), evidenciando a presença das Competências Psicológicas dos universitários, que também foram confirmadas pelos fatores Resiliência (0,769) e Capacidade de Inovação (0,797), estando estas duas últimas fortemente interligadas no meio rural. Figura 2: Modelo estrutural

Fonte: Elaborada pelos autores.

Ressalta-se que de acordo com Santos, Caetano e Curral (2010, p. 09) as competências psicológicas e as competências sociais são “dois pilares” indispensáveis e complementares para as iniciativas empreendedoras”. Sendo assim, foi possível identificar que os universitários estudados possuem altos coeficientes relacionados aos coeficientes dessas duas dimensões. Pode-se inferir, assim, que os graduandos possuem as características essencial da iniciativa e do potencial empreendedor. Em complemento aos dados apresentados neste tópico, foi elaborada a Tabela 1, para atestar a confiabilidade dos dados da presente

Tabela 1 – Indicadores de precisão utilizados na Pesquisa

Competências de Gestão

Competências Psicológicas

Competências Sociais

Motivações Empreendedoras

Cronbach’s Alpha1

0,876

0,744

0,886

0,438

Composite Reliability2

0,915

0,854

0,946

0,763

Average Variance Extracted - AVE3

0,728

0,662

0,877

0,624

Fonte: Elaborada pelos autores. Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

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pesquisa. A partir da tabela 1 infere-se que o modelo estrutural da pesquisa apresenta Alfas de Cronbach entre 0,74 e 0,886 para as dimensões validadas nesta pesquisa, enquanto apenas a dimensão das Motivações Empreendedoras, não confirmada para a presente pesquisa, apresenta um índice de 0,43. Para Cortina (1993) este Alfa é um índice utilizado para medir a confiabilidade de uma escala, ou seja, avalia em que magnitude os itens de um modelo estão correlacionados. O valor mínimo aceitável para o alfa é 0,70, já que abaixo desse valor a consistência da escala utilizada é considerada baixa (STREINER, 2003). Quando à Confiabilidade Composta, recomenda-se níveis acima de 0,70, de acordo com Fornell e Larcker (1981), já que este índice está relacionado à consistência interna de indicadores que medem um mesmo fator. Nesse sentido, a pesquisa apresentou índices entre 0,76 e 0,94. Por fim, a Variância Média Extraída, que se refere a validade convergente ideal, segundo Fornell e Larcker (1981), os valores acima de 0,50 indicam a validade adequada. Obteve-se um resultado aceitável, estando os índices obtidos entre 0,62 e 0,84. 4.3. CONSOLIDAÇÃO DAS HIPÓTESES PROPOSTAS Utilizando como base o modelo estrutural obtido ao final da pesquisa (Figura 2), testouse a consolidação das hipóteses inicialmente estruturadas, o que pode ser observado na

Tabela 2. Assim, foi possível entender que o modelo teórico estrutural testado refuta a hipótese H¹ (A Motivação Empreendedora é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor), já que o indicador Desejo de Independência apresenta coeficiente de 0,635, valor menor que o aceitável, conforme Chin (2008). Além disso, os parâmetros obtidos para as outras hipóteses, sendo elas a H² (A Competência de Gestão é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor), H³ A Competência Social é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor e H4 (A Competência Psicológica é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor) são válidas, pois todos os indicadores apresentaram coeficientes superiores a 0,70. 4.4. ANÁLISE DESCRITIVA DOS RESULTADOS DAS DIMENSÕES Neste tópico foi apresentada a Tabela 3, elaborada após a aplicação da análise fatorial, que apresenta os resultados das estatísticas descritivas, com base na média de cada indicador e pontuações mínimas e máximas, estabeleceu-se uma média geral para o modelo do Potencial Empreendedor, evidenciando quais indicadores estão mais ou menos presentes e favoráveis ao modelo. Assim, foi possível identificar na Tabela abaixo que os indicadores mais presentes no modelo do Potencial Empreendedor, com médias acima de 6 pontos, são o Desejo de Independência (6,3), Visão (6,1) referente à capacidade de visualizar e projetar o

Tabela 2 – Consolidação das hipóteses propostas

Hipóteses

Resultados

H¹: A Motivação Empreendedora é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor.

Não confirmada.

H²: A Competência de Gestão é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor.

Confirmada.

H³: A Competência Social é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor.

Confirmada.

H4: A Competência Psicológica é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor.

Confirmada.

Fonte: Elaborada pelos autores.

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Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Paulo Augusto Ramalho de Souza, Anna Karolina Machado Campos e Maria do Carmo Romeiro

futuro e a Resiliência (6,1), relacionada com 5,4 pontos, CG2 (Capacidade para Liderar) a capacidade de adaptação às mudanças com 5,9 pontos, CG3 (Visão) com 6,1 pontos cotidianas. e CG4 (Auto eficácia Empreendedora), com Tabela 3 - Descrição dos Resultados das Dimensões do Potencial Empreendedor da Pesquisa

INDICADORES

Média

Mínimo

Máximo

CG1 Capacidade de Mobilizar Recursos

5,4

2

7

CG2 Capacidade para Liderar

5,9

1

7

CG3 Visão

6,1

4

7

CG4 Auto-eficácia Empreendedora

5,4

2

7

Média CG

5,5

-

-

ME1 Desejo de Independência

6,3

3

7

ME2 Motivação Econômica

6

3

7

Média ME

6,1

-

-

CP1 Inteligência Emocional

5,7

3

7

CP2 Resiliência

6,1

3

7

CP3 Capacidade de Inovação

5,6

2

7

Média CP

5,8

-

-

CS1 Capacidade para Desenvolver a Rede Social

5,6

2

7

CS2 Capacidade de Comunicação e Persuasão

5,6

2

7

Média CS

5,6

-

-

POTENCIAL EMPREENDEDOR

5,8

-

-

Fonte: Elaborada pelos autores.

Além disso, afirma-se que a dimensão Motivação Empreendedora está mais presente no modelo conceitual testado, com uma média de 6,1, considerando um intervalo mínimo entre 3 e máximo 7 para a média de cada indicador, que foram a M1 (Desejo de Independência) com 6,3 e a M2 (Motivação Econômica) com média 6. A segunda dimensão mais presente é a Competência Pessoal, que apresentou média de 5,8, com os indicadores CP1 (Inteligência Emocional), CP2 (Resiliência) e CP3 (Capacidade de Inovação), que obtiveram os valores de 5,7; 6,1 e 5,6, respectivamente. A terceira foi a dimensão Competência Social, com 5,6 de média, na qual os seus indicadores CS1 (Capacidade para Desenvolver a Rede Social) e CS2 (Capacidade de Comunicação e Persuasão) obtiveram exatamente a mesma média (5,6). Por fim, a dimensão menos presente no modelo foi a Competência de Gestão, com média 5,5, sendo que seus indicadores e suas médias foram CG1 (Capacidade de Mobilizar Recursos) com Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

5,4 pontos. É importante ressaltar que todas as dimensões obtiveram médias aceitáveis, além de valores bastante próximos, totalizando uma média geral de 5,8 para o modelo inicialmente escolhido, o Potencial Empreendedor.

5.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo objetivou identificar quais as características/indicadores, acerca do potencial empreendedor, estão presentes nos graduandos de cursos de agrárias no Estado de Mato Grosso. Buscou-se com esse objetivo, observar quais fatores estão presentes nesses estudantes, utilizando um modelo teórico já existente, mas ainda não aplicado para este fim. A avaliação dos os fatores presentes no ambiente da pesquisa. Quanto ao objetivo geral, foi possível confirmar três das quatro hipóteses propostas para esta pesquisa, a H²: A Competência de Gestão é uma dimensão 43


Análise do potencial empreendedor em graduandos de cursos de ciências agrárias de mato grosso

do constructo do Potencial Empreendedor, H³: A Competência Social é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor e H4: A Competência Psicológica é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor. Sendo que apenas a H¹ (A Motivação Empreendedora é uma dimensão do constructo do Potencial Empreendedor) obteve um de seus indicadores com um coeficiente abaixo do aceitável para o estudo e não pôde ser confirmada. De acordo com os dados evidenciados na pesquisa, por meio da análise descritiva, os principais fatores presentes no Modelo Conceitual escolhido, sendo eles o Desejo de Independência, a Visão e a Resiliência. É importante ressaltar que o comportamento empreendedor está presente na amostra dos estudantes de Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia e Engenharia Florestal da pesquisa e que os perfis dos respondentes foram bastante próximos aos de Kawai (2016), obtendo-se apenas uma diferença quanto ao gênero dos respondentes, que apontou a presença maior da população feminina nesta amostra, em relação ao estudo anteriormente realizado. Com o presente estudo não se tem a pretensão de concluir as discussões sobre o tema abordado, mas sim tem o intuito de complementar os trabalhos já desenvolvidos que abordam o perfil e capacidade empreendedora dos universitários voltados às Ciências Agrárias. Sendo assim, abre-se espaço para aprofundamento do assunto por meio de novas pesquisas, principalmente devido ao fato de que o crescimento do Agronegócio é um tema que está em constante evidência, porém é pouco abordado quanto à sua importante e essencial ligação ao Empreendedorismo. A existência de empreendedores atuando no campo ou mesmo em favor do agronegócio garantirá o contínuo crescimento e desenvolvimento deste ramo tão importante para a economia brasileira.

6.

REFERÊNCIAS

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Tradução: Confiabilidade Composta

3

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45


Não sei mas quero saber: um estudo sobre o conhecimento de estudantes de ensino técnico sobre propriedade intelectual

REVISTA DE EMPREENDEDORISMO, NEGÓCIOS E INOVAÇÃO ISSN 2448-3664

Jean Mendes Nascimento Mestre em Automação e Controle de Processos pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), com graduação em Mecatrônica Industrial pela mesma instituição. Atualmente é professor do Centro Estadual de Educação e Tecnologia Paula Souza e atua como pesquisador junto ao Laboratório de Robótica e Reabilitação do IFSP (Labore).

Adalton Masalu Ozaki Doutor em Administração pela FEA-USP, sendo mestre e bacharel em Administração pela mesma instituição. Atualmente é professor e pesquisador no IFSP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo), onde também é diretor do Núcleo de Inovação Tecnológica.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC AVENIDA DOS ESTADOS, 5001 BAIRRO BANGU, SANTO ANDRÉ - SP. CEP 09210-580 E-MAIL:RENI@UFABC.EDU.BR COORDENAÇÃO AGÊNCIA DE INOVAÇÃO INOVAUFABC

NÃO SEI MAS QUERO SABER: UM ESTUDO SOBRE O CONHECIMENTO DE ESTUDANTES DE ENSINO TÉCNICO SOBRE PROPRIEDADE INTELECTUAL I DO NOT KNOW BUT I WANT TO KNOW: A STUDY ABOUT THE KNOWLEDGE OF STUDENTS IN TECHNICAL EDUCATION ABOUT INTELLECTUAL PROPERTY RESUMO No Brasil, grande parte dos depósitos para registro de patente são oriundos de universidades. Contudo, no nível técnico, os alunos também são envolvidos com projetos e pesquisas, e o conhecimento sobre propriedade intelectual neste nível de ensino também é importante. Este estudo tem por objetivo analisar o conhecimento de estudantes de ensino técnico sobre propriedade intelectual. A revisão bibliográfica aborda conceitos de propriedade intelectual, o ensino técnico no Brasil e o ensino sobre propriedade intelectual. Como base metodológica foi adotado o questionário já aplicado no Reino Unido na pesquisa “Atitudes dos Estudantes Em Relação à Propriedade Intelectual”, aplicado pela União Nacional dos Estudantes e pelo Escritório de Propriedade Intelectual. Foi elaborado um questionário autorespondido pela Internet, e solicitado a alunos de duas conceituadas instituições de ensino técnico do Estado de São Paulo que respondessem a pesquisa. Foram obtidas 215 respostas válidas. Surpreendentemente, o estudo mostra um alto grau de desconhecimento dos estudantes, mesmo sobre questões muito básicas relacionadas a propriedade intelectual. Contudo, mostra um grande interesse sobre o tema, o que evidencia uma grande oportunidade para mudanças curriculares que possam abordar este assunto junto aos estudantes. Palavras-chave: Inovação, Propriedade Intelectual, Gestão da Inovação, Ensino Técnico, Patentes;

ABSTRACT In Brazil, most of the deposits for patent registration come from universities. However, at the technical level, students are also involved in projects and research, and the knowledge about intellectual property at this level of education is also important. This study aims to analyze the knowledge of technical education students about intellectual property. The theoretical basis addresses concepts of intellectual property, technical education in Brazil and teaching on intellectual property. As a methodological basis was adopted the questionnaire already applied in the United Kingdom in the research “Attitudes of Students in Relation to Intellectual Property”, applied by the National Union of Students and the Office of Intellectual Property. An Internet questionnaire was developed, and students from two renowned technical education institutions of the State of São Paulo were asked to respond to the research. 215 valid answers were obtained. Surprisingly, the study shows a high degree of student ignorance, even on very basic issues related to intellectual property. However, it shows a great interest in the subject, which shows a great opportunity for curricular changes that can approach this subject with the students. Keywords: Innovation, Intellectual Property, Innovation Management, Technical Education, Patents;

JEL Classification: O30 46

Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Jean Mendes Nascimento e Adalton Masalu Ozaki

1.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, pôde-se observar que o tema inovação vem atraindo crescente interesse de acadêmicos, pesquisadores, empresários e executivos. A adoção de inovações, seja em produtos, processos ou em nível organizacional, vem sendo reconhecida como um fator importante para se obter vantagem competitiva em diversos campos de atuação. Para Fresneda, Gonçalves, Papa e Fonseca (2009) gestão do conhecimento não significa apenas gerir o conhecimento das pessoas, mas sim, facilitar os processos pelos quais esses conhecimentos são criados, compartilhados e utilizados na organização, para que assim possam trazer novos ativos intelectuais para a organização. Rezende (2002) trata a gestão do conhecimento como o ponto onde as empresas deixam de se importar somente com o “quanto”, e passam a valorizar também o “como” nos meios de produção, para reduzir os custos e obter também vantagem competitiva. Segundo Buainain, Carvalho, Paulino e Yamamura (2004), a vantagem competitiva é decorrente da capacidade de produzir e controlar os ativos intangíveis. Assim, destaca-se a importância da propriedade intelectual como meio necessário para proteger e facilitar a valorização econômica dos ativos intangíveis. De acordo com Latres e Ferraz (1999) como citado por Buainain et al. (2004), a propriedade intelectual possibilita transformar o conhecimento em um bem privado, representando um elo de ligação entre o conhecimento e o mercado num mundo globalizado. Segundo Amorim-Borher, Avila, Castro, Chamas e Paulino (2007) no mundo globalizado em que hoje vivemos as inovações tecnológicas ocupam papel central na dinâmica de competitividade dos países, tornando assim a propriedade intelectual elemento de suma importância para que países desenvolvidos se destaquem em termos de competitividade e desenvolvimento socioeconômico. No entanto, apesar do reconhecimento da importância da propriedade intelectual no atual cenário competitivo, ainda existem poucos estudos Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

sobre a formação e capacitação de recursos humanos em propriedade intelectual, nos diferentes níveis do saber (Amorim-Borher et al., 2007). O presente artigo busca analisar o conhecimento de estudantes de ensino técnico sobre a propriedade intelectual, e contribuir para o entendimento da relevância da tratativa do assunto em tal nível de ensino. Foi utilizado um questionário não identificado e autorrespondido pela Internet, e solicitado a estudantes de duas instituições de ensino localizadas na cidade de São Paulo para que respondessem às questões. Foram obtidas 215 respostas válidas. De forma surpreendente, os dados revelam um grande desconhecimento dos estudantes sobre o tema propriedade intelectual. Contudo, há um grande interesse pelo assunto. Este conhecimento é fundamental, ainda mais em um país como o Brasil, em que as instituições de ensino respondem por grande parte dos registros de propriedade depositados junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Segundo Lima e Oliveira (2001), dados de um estudo de viabilidade técnica e econômica realizado pelo então Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo (MICT), apontou que de 1988 a 1996, um total de 58.185 pedidos de patentes foram realizados no Brasil, sendo 229 destes oriundos de Universidades e outros 352 de Centros de Pesquisa. Já Pereira e Mello (2015) apontam, em sua pesquisa realizada recentemente, que avaliando-se o período de 1979 à 2011 encontrou-se um total de 4.309 pedidos relacionados às universidades, sendo deste total, 4;208 processos ligados diretamente às universidades, e 101 processos com ligação a fundações de apoio. Não foi possível encontrar dados específicos sobre pedidos de patentes oriundos de escolas técnicas, mas tendo em vista a formação voltada para a inserção do egresso em áreas de atuações técnicas, é importante que a temática de propriedade intelectual esteja inserida nos cursos. No ensino técnico, os estudantes entram em contato muito cedo com o desenvolvimento de projetos. Em alguns cursos, inclusive, 47


Não sei mas quero saber: um estudo sobre o conhecimento de estudantes de ensino técnico sobre propriedade intelectual

têm-se a obrigatoriedade de se produzir um projeto para sua conclusão, o chamado Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Pode-se perceber que é nesse cenário que o estudante tem, muitas vezes, o seu primeiro contato com a ideia de inovação tecnológica. Em um mundo em que inovações/ transformações tecnológicas são cada vez mais exigidas, proteger adequadamente uma produção intelectual pode abrir muitas oportunidades para o futuro profissional do estudante. Assim, é importante que esses estudantes, mesmo que em um nível médio de ensino, sejam capazes de conhecer os direitos e recursos cabíveis sobre suas ideias, ou seja, ter conhecimento sobre a propriedade intelectual e suas vertentes, como as patentes, as marcas, os direitos do autor e etc. Desta forma, este estudo traz contribuições inéditas ao identificar lacunas no ensino técnico que poderão motivar mudanças curriculares ou na abordagem das disciplinas, de modo a conscientizar os alunos sobre os aspectos legais e estratégicos da proteção intelectual.

2. O QUE É PROPRIEDADE INTELECTUAL? A propriedade intelectual é definida pela OMPI, Organização Mundial da Propriedade Intelectual, como sendo a soma dos direitos relativos às obras literárias, artísticas e científicas, às interpretações dos artistas intérpretes e às execuções dos artistas executantes, aos fonogramas e às emissões de radiodifusão, às invenções em todos os domínios da atividade humana, às descobertas científicas, aos desenhos e modelos industriais, às marcas industriais, comerciais e de serviço, bem como às firmas comerciais e denominações comerciais, à proteção contra a concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à atividade intelectual nos domínios industrial, científico, literário e artístico. No Brasil, o órgão responsável pelos registros de marcas, desenhos industriais, indicações geográficas, programas de computador e topografias de circuitos, bem como pelas concessões 48

de patentes é o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O INPI divide a propriedade intelectual em três principais categorias: direito autoral, propriedade industrial e proteção (sui generis). No Brasil, a Propriedade Industrial é regulada pela Lei nº 9.279 de 14 de maio de 1996, é essa referida lei que rege a proteção das marcas, patentes, desenhos industriais, indicações geográficas, e traz dispositivos de proteção contra concorrência desleal e repressão às falsas indicações geográficas (Brasil, 1996). Já o Direito Autoral, no Brasil é regulado pela Lei 9.610 datada 20 de fevereiro de 1998 (Brasil, 1998). Segundo Barbosa (2010) o Brasil está entre as quatro primeiras nações do mundo a vigorar uma legislação sobre o tema, isso porque D. João VI fez valer como lei de patentes um alvará em 28 de abril de 1809, esse alvará foi também possivelmente o nosso primeiro Plano de Desenvolvimento Econômico. Um pouco mais tarde segundo o mesmo autor, começou a vigorar no país a primeira Lei que rege direitos do autor, essa lei é datada de 11 de agosto de 1827. De acordo com França (1997) a propriedade intelectual engloba todos os processos criativos humanos, em todos os campos de atividade, regendo também o direito sobre divulgação dos mesmos. A propriedade industrial é uma das principais categorias em que se divide a propriedade intelectual, somando-se a ela temos também o direito autoral e a proteção sui generis. Buainain et al. (2004) diz que a propriedade industrial cobre um conjunto de atividades relacionadas às invenções com aplicações industriais, desenhos industriais, marcas comerciais e de serviços, indicações geográficas e designações de origem, concorrência desleal e os segredos de negócios. Em geral, a propriedade industrial é regida em cada Estado por legislações específicas e são administradas por órgãos competentes. No Brasil, esse órgão é o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), portanto, o direito à proteção depende da cessão ou registro no INPI. Segundo Jungmann e Bonetti (2010) a propriedade industrial tem foco maior Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Jean Mendes Nascimento e Adalton Masalu Ozaki

na atividade empresarial. No âmbito da propriedade industrial são consideradas as formas de proteção mais usadas pelas empresas: a marca, a patente e o segredo industrial. Sendo a patente o instrumento mais utilizado no processo de inovação tecnológica, pois, esse direito uma vez concedido pelo Estado, gera ao titular do título da patente um direito de exclusividade temporário para obter retorno financeiro sobre seu investimento aplicado na criação. Ferreira, Guimarães e Contador (2009) trata a patente como sendo um ativo de muito valor e um importante recurso competitivo à disposição das organizações. Isso, tendo em vista o direito da exploração monopolística de determinado produto ou processo produtivo, privilégio esse dado pela patente, é capaz de criar ou adicionar valor à riqueza das empresas e seus sócios. A marca, de acordo com França (1997), é o primeiro e mais antigo instrumento referente à propriedade industrial no mundo, ela também é conhecida como marca registrada, ou por um símbolo que tem a função de associar determinado produto a respectiva empresa, garantindo a qualidade do produto e também o veiculando indiretamente uma imagem de seriedade e responsabilidade nos processos de fabricação de determinada empresa. Segundo Jungmann e Bonetti (2010), a marca para ser registrada precisa ser distintiva, ou seja, ser diferente o suficiente de outras marcas para que possa ser identificados sem ambiguidades os produtos ou serviços de outros semelhantes. Dentro das categorias em que se divide a propriedade intelectual, outro importante tema, além da propriedade industrial é o Direito Autoral. Seguindo definições de Jungmann e Bonetti (2010) o direito autoral trata do direito que decorre basicamente da autoria de obras intelectuais no campo literário, artístico e científico. Dentro dele podemos destacar algumas categorias de direitos, como: o direito do autor, o direito de conexo e também proteção para programa de computadores. Ainda de acordo com Jungmann e Bonetti (2010) é importante ter o esclarecimento que Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

o direito autoral não protege as ideias de forma isolada, mas sim a forma de expressão da obra intelectual como um todo. Por exemplo, a forma de um trabalho literário ou um artigo científico é o texto escrito; da obra oral, a palavra; da obra musical, o som; da obra de arte figurativa, o desenho, as cores, as formas etc. Portanto, a obra objeto do direito autoral tem que possuir, necessariamente, um suporte material.

3. O ENSINO TÉCNICO NO BRASIL O ensino técnico é um sistema de ensino enquadrado no nível médio do sistema educacional brasileiro. Segundo Censo da Educação Básica realizada pelo INEP/MEC (2014), existem no Brasil 1.374.569 estudantes matriculados em cursos técnicos por todo o país, e, somam-se a eles 328.525 estudantes que estão matriculados em cursos técnicos que são realizados concomitantemente junto com o ensino médio convencional. No ensino técnico o estudante é preparado para se tornar um profissional da área, conhecer e se preparar para o mercado de trabalho da área que for escolhida por ele. É no ensino técnico que o estudante geralmente tem o seu primeiro contato com o desenvolvimento de projetos voltados para as áreas profissionais do mercado de trabalho, grande parte desses cursos, inclusive, torna como obrigatório ao estudante a apresentação de um projeto ao final do período de curso, para obter o grau de titulação de Técnico. Segundo Costin (2015) relatórios do Banco Mundial mostram que o Brasil tem apresentado avanços no ensino técnico e profissional, em especial na ampliação do acesso a essa modalidade de educação e em melhorias na qualidade desse ensino. Isso pode ser atestado na recente vitória do país na WorldSkills, competição de nível técnico e profissional reconhecida internacionalmente. De acordo com Cardoso (2012), a rede federal de ensino técnico e profissional cresceu 114% no país no período entre 2002 e 2010. Apesar da notória expansão nessa 49


Não sei mas quero saber: um estudo sobre o conhecimento de estudantes de ensino técnico sobre propriedade intelectual

modalidade de educação e o crescente aumento de interesse apontar que estamos no caminho certo, ainda faz-se pouco por aqui em relação a outros países. A União Europeia, em 2010, tinha em média 49,9% dos estudantes do ensino secundário, também matriculados na educação profissional. Na Áustria, por exemplo, que possui esse índice mais alto, chega a 76,8%, seguido por Finlândia com 69,7%, e a Alemanha, com 51,5% dos estudantes do ensino secundário matriculados no ensino técnico. No Brasil, apesar das expansões das vagas esse índice alcançou apenas 7,8% em 2013. Isso, mesmo com o número de matrículas tendo crescido 88% no país desde 2008 (Costin, 2015). Sabe-se que pouco conteúdo referente ao tema da propriedade intelectual é informado aos jovens que estão cursando faculdades de engenharia e cursos de tecnologias no Brasil. Logo, pressupõe-se que esse tipo de informação chega em ainda menor escala para jovens que cursam o ensino técnico de nível médio (Santos & Rossi, 2002 como citado em Lamana & Francisco, 2014). Observa-se que no país existe um número considerável de profissionais trabalhando em áreas referente a propriedade intelectual, capacitados a executar tarefas em suas áreas específicas de atuação, como, por exemplo, advogados, economistas, etc. No entanto, quando o foco são os profissionais técnicos para se trabalhar com determinados temas, como patentes, por exemplo, esse número é bem menor, e muito aquém do que se observa em outros países (Lamana & Francisco, 2014). Sendo a propriedade intelectual instrumento tão importante para o desenvolvimento econômico, jurídico e social, por que é tão pouco usado? Segundo Lima e Oliveira (2001), a resposta é simples: infelizmente, os empresários, industriais, e principalmente, os estudantes (em especial os de engenharia e outras áreas técnicas) simplesmente não conhecem, ou reconhecem, tal instrumento. Caberia, então, às universidades, escolas técnicas e até mesmo profissionalizantes, a inserção do conhecimento de base que os futuros profissionais das áreas deverão 50

adquirir sobre os preceitos técnico-jurídicos da propriedade intelectual, auxiliandoos, inclusive na sua interação com o setor industrial (Lima & Oliveira, 2001).

4. ENSINO EM PROPRIEDADE INTELECTUAL Nas últimas décadas, as empresas vêm passando por expressivas transformações na área de gestão de negócios. Isso, principalmente pelo grande avanço da automação industrial e dos processos de manufatura, fazendo com que o uso da tecnologia da informação se transforme em passaporte inicial para um mundo de mercados globalizados. A propriedade intelectual passa a ser elemento de crescente importância para o desenvolvimento socioeconômico à medida que a inovação tecnológica ocupa lugar central na competitividade entre países que atuam em um cenário globalizado (AmorimBorher et al., 2007). Para adentrar esse novo cenário de mercado globalizado, o conhecimento da propriedade intelectual se apresenta como requisito necessário. Segundo Buainain e Carvalho (2000) a gestão do conhecimento da propriedade intelectual ganha cada vez mais força e não pode ser confundida apenas e tão somente com registro. “A melhor proteção é uma gestão eficiente dos ativos”. O meio empresarial encontra-se sempre em uma dinâmica de inovação permanente, e a gestão estratégica do capital intelectual é fundamental para alcançar a vantagem competitiva. Sendo assim, buscam e investem cada vez mais em formação profissional, o que ressalta a valorização da capacidade intelectual dos seus funcionários como forma de se obter vantagem competitiva. Já que uma das grandes lacunas referentes à matéria de propriedade intelectual refere-se à formação e capacitação de recursos humanos em diferentes níveis de complexidade de conteúdos distintos (Matos & Lopes, 2008; Amorim-Borher et al., 2007). A Universidade é responsável por grande parte de toda a criação e inovação tecnológica Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


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de um país. Cabem às universidades exercer um papel estratégico no incremento da propriedade intelectual na cultura de uma nação. Afinal, é dela que saem pesquisadores, pensadores e dirigentes que norteiam toda uma sociedade, direta ou indiretamente (Lima & Oliveira, 2001). De modo geral, as oportunidades de ensino da propriedade intelectual em universidades encontram-se abrigadas em faculdades de Direito, uma vez que até recentemente, o tema atraía o interesse especialmente de advogados. Nos Estados Unidos, por exemplo, essa é a realidade. Muito embora sejam admitidos estudantes com diversos tipos de bacharelados, a base do ensino é predominantemente jurídica (AmorimBorher et al., 2007). Países desenvolvidos, em parcerias com suas universidades, investem em programas de incentivo dedicados exclusivamente ao tratamento da propriedade intelectual. Amorim-Borher et al. (2007) destaca dois programas internacionais de capacitação em propriedade intelectual. O primeiro é o Franklin Pierce Law Center, sediado nos Estados Unidos. O segundo é uma iniciativa construída no âmbito do Munich Intellectual Property Law Center, um instituto europeu de grande prestígio acadêmico localizado em Munique, na Alemanha. Além dos escritórios dedicados a propriedade intelectual, voltados para treinamentos e capacitações de gestores dos setores público e privado, também presentes nos Estados Unidos, Taiwan, Coréia do Sul, entre outros. No Brasil, o aumento da consciência sobre a necessidade de transferir à sociedade os resultados da pesquisa financiada com recursos públicos não tem sido acompanhado por ações que viabilizem essa transferência (Fujino & Stal, 2007). No setor industrial brasileiro não existe uma cultura de Pesquisa e Desenvolvimento tão significativa como se comparado ao de outros países, isso, principalmente pelo alto custo laboratorial e de pessoas capacitadas para o mesmo. Resta então, que as universidades como formadoras de conhecimento e geradores de tecnologia elevem o número de Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

inovações, para que as mesmas traduzam o enorme potencial de nosso país, mas para isso, são necessários incentivos e adoção de políticas mais agressivas para favorecer as criações e a propriedade intelectual (Lima & Oliveira, 2001). Segundo Amorim-Borher et al. (2007), a experiência brasileira voltada ao incentivo a capacitação em propriedade intelectual é dividida em duas vertentes: as capacitações de curto prazo e as de pós-graduação. A primeira resume-se em eventos que disseminam o tema da propriedade intelectual, sendo esses, encontros, seminários, palestras, desafios que incentivam a inovação, workshops, entre outros. Já as capacitações em pósgraduação tiveram início em 2001, em uma parceria do INPI com o CEFET-RJ, por meio da criação de uma especialização em propriedade intelectual. Em 2004 foi criado também em uma parceria do INPI com a UFRJ o Laboratório de Ensino e Pesquisa em Inovação e Gestão da Propriedade Intelectual, também oferecendo curso de pós-graduação lato sensu sobre o tema. Em 2006 o INPI criou a Academia de Propriedade Intelectual e Inovação, oferecendo então, programas de curta duração, Mestrado Profissional em Inovação e Propriedade Intelectual, e programas de ensino à distância, hoje a Academia que agora atende por Academia de Propriedade Intelectual, Inovação e Desenvolvimento oferece cursos, inclusive, de doutorado. É clara a importância de se discutir, seriamente, o ensino e a pesquisa, voltada ao tema da propriedade intelectual. Nesse contexto, a criação da Academia voltada a esse campo, tendo como objetivo articular as várias iniciativas e modalidades de capacitação em propriedade intelectual para empresas, universidades, entidades de fomento e regulação e outros organismos governamentais e não-governamentais, no Brasil, e na América Latina, pôde ser vista como uma efetiva alavanca de apoio ao desenvolvimento econômico e industrial (Amorim-Borher et al., 2007). Não encontramos em nossa revisão de literatura estudos sobre o ensino de 51


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propriedade intelectual no nível médio. Dada a importância do ensino técnico no Brasil, conforme já discutido, esta pesquisa contribui ao analisar o nível de conhecimento dos estudantes deste nível de ensino sobre o tema.

5.

METODOLOGIA DA PESQUISA

Esta pesquisa adotou como base o estudo “Student Attitudes Towards Intelectual Property”, realizado pela National Union of Students (NUS), em parceria com o Intellectual Property Office (IPO) e o Intellectual Property Awareness Network (IPAN), todas elas do Reino Unido. O objetivo do estudo original foi investigar “atitudes to, awareness of, and aspirations for, intelectual property (IP)...”, tendo como população alvo estudantes de nível técnico e superior. O levantamento de dados quantitativos foi realizado através de um questionário online, em que o estudante pôde responder as questões sobre o tema da propriedade intelectual. O questionário foi aplicado a estudantes matriculados ou formados há no máximo um ano em cursos de duas instituições de ensino público que oferecem a modalidade de curso técnico de nível médio. Foram descartados os questionários parcialmente preenchidos. No total pôde-se contar com 215 respostas válidas efetuadas pelos estudantes, para se concluir a pesquisa. Os estudantes foram selecionados para responder a pesquisa de acordo com o módulo, ou ano, que frequentam em seus respectivos cursos. Foi levada em consideração a vivência do estudante na instituição, por esse motivo, optou-se pela seleção de estudantes que cursam o último ou o penúltimo período do curso, ou então, ex-alunos formados até o ano anterior à realização da pesquisa. Aliás, é geralmente nesses dois últimos períodos onde começam as aulas de orientação para planejamento e desenvolvimento de projetos em cada área, sendo esse, então, outro fator relevante para seleção dos estudantes. Também houve respondentes na condição de estudantes já formados em cursos técnicos dentro das 52

instituições citadas, dentre esses, também foi mantido o cuidado de se selecionar respondentes apenas recém-formados, com no máximo um ano de conclusão do curso. Outro fator de seleção buscado nos respondentes era a diversidade nos cursos em que cursavam, para assim, obter-se um resultado mais amplo, englobandose várias áreas do conhecimento. Dos 215 respondentes total, 32,6% (70 estudantes) estão matriculados no curso Técnico em Eletrotécnica, 19,5% (42) são do curso Técnico em Eletroeletrônica, 17,2% (37) Técnico em Administração, 16,7% (36) Técnico em Logística, 13% (28) Técnico em Informática, e 1% (2) responderam ser de outros cursos técnicos, no caso, 1 Técnico em Química, e 1 Técnico em Secretariado.

Figura 1. Curso técnico cursado pelos respondentes.

Por fim, a média de idade dos estudantes respondentes é de 17 anos.

6.

RESULTADOS DA PESQUISA

6.1. ATITUDES E CONHECIMENTO SOBRE PROPRIEDADE INTELECTUAL A primeira etapa do levantamento de dados do questionário de pesquisa teve por objetivo identificar atitudes e conhecimento dos estudantes sobre o tema da propriedade intelectual. Na primeira questão, perguntou-se “O que você entende pelo termo ‘Propriedade Intelectual’?”, permitindo que os estudantes escolhessem várias opções. De acordo com a legislação vigente, todos os termos poderiam ser aplicados. Porém, é possível perceber um Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


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grande desconhecimento dos estudantes sobre o tema. As opções com maior número de respostas estavam relacionadas a “Propriedade de Ideias”, termo assinalado por 83,3% (179) dos respondentes, seguido de “Concepções de Ideias e Criações” assinalado por 74,4% (160), “Originalidade” - 53% (114), e “Direitos” - 32,1% (69). Uma possível explicação para estes termos serem os mais apontados pode ser o processo de elaboração do trabalho de conclusão de curso, que envolve a necessidade de se realizar uma revisão bibliográfica, preservando as citações e evitando o plágio. Há ainda outros aspectos interessantes revelados por esta questão. Patentes figurou na pesquisa apenas como o sexto item, com apenas 27,4% das respostas. A pesquisa também evidencia o grande desconhecimento dos estudantes sobre “Segredo Comercial” - 8,8%, “Marcas” – 11,2%, e “Desenhos Industriais” – 13,5%, que foram os termos menos assinalados.

Também com o intuito de diagnosticar o conhecimento dos estudantes sobre o tema da propriedade intelectual, foi aplicada uma questão solicitando aos respondentes para assinalarem todas as alternativas relevantes para a propriedade intelectual. O tópico reconhecido como mais relevante foi “Assegurar que eu tenha reconhecimento pelas minhas ideias”, escolhido por 68,4% (147) dos respondentes, seguido por “Permitir que eu explore minhas ideias comercialmente” - 47% (101), “Conhecer as implicações de restrições de direito autoral” - 42,8% (92), “Assegurar que todos recebam conhecimento pelo trabalho colaborativo” 40,5% (87), “Acessar e usar trabalho de outras pessoas apropriadamente em meus estudos” - 38,6% (83). Já os menos escolhidos pelos estudantes foram “Entender as implicações de revelação e confidencialidade” - 27% (58) e “Trabalhar efetivamente em um time” 17,7% (38).

Tabela 1 Entendimento dos Estudantes sobre Propriedade Intelectual

Termos

Total de Respostas

%

Propriedade de Ideias

179

83,3%

Concepções de Ideias e Criações

160

74,4%

Originalidade

114

53,0%

Direito Autoral

87

40,5%

Direitos

69

32,1%

Patentes

59

27,4%

Direito de ser Referenciado

58

27,0%

Termos Legais

57

26,5%

Registro

49

22,8%

Valor

45

20,9%

Licenciamento

44

20,5%

Prevenir Reproduções sem Permissão

43

20,0%

Publicação ou Tornar Público

36

16,7%

Proteção

31

14,4%

Direito Sobre Desenhos Industriais

29

13,5%

Marcas

24

11,2%

Segredo Comercial

19

8,8%

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Tabela 2 Entendimento sobre itens relevantes para a Proteção Intelectual

Tópicos

Total de Respostas

%

Assegurar que eu tenha reconhecimento pelas minhas ideias

147

68,4%

Permitir que eu explore minhas ideias comercialmente

101

47,0%

Conhecer as implicações de restrições de direito autoral

92

42,8%

Assegurar que todos recebam reconhecimento pelo trabalho colaborativo

87

40,5%

Acessar e usar trabalho de outras pessoas apropriadamente em meus estudos

83

38,6%

Entender as implicações de revelação e confidencialidade

58

27,0%

Trabalhar efetivamente em um time

38

17,7%

Foram apresentados aos estudantes dois cenários com problemáticas relativas à propriedade intelectual, com situações que possivelmente eles possam se deparar em algum momento de suas vidas. Cabialhes responder como agiriam em cada determinada situação, apontando uma maneira que lhes parecesse mais correta. O primeiro cenário apresentado foi: “Imagine que você criou uma importante invenção na sua área de estudo, e quer publicar um artigo sobre o que acaba de inventar. Como você considera que deva agir primeiramente?”. Nesta situação, 73% (157) dos respondentes acham que o que se deve ser feito primeiramente é certificar-se que a patente da invenção lhe foi concedida e só depois, então, publicar o artigo. Esta resposta revela o grande desconhecimento dos estudantes sobre o processo de patenteamento, que consiste primeiramente no depósito, seguindo-se a publicação que ocorre após 18 meses, para somente depois ser realizado o exame técnico e a concessão da patente, o que demora em média 11 anos no Brasil (Alves, 2015). Apenas 24,7% (53) dos respondentes acreditam que devam se certificar que o pedido de requerimento de patente foi feito, e assim, publicar o artigo. E os outros 2,3% (5) acreditam que devam publicar sobre a invenção primeiramente, e só depois entrar com o pedido da patente. As respostas revelam que a ampla maioria dos estudantes tem a consciência da necessidade de proteger sua invenção com a patente, porém, não conhecem o funcionamento e o processo para se fazer isso. 54

Figura 2. Cenário 1 - Patente

O segundo cenário foi apresentado por meio da seguinte questão: “Imagine que você criou uma letra para uma canção, e quer enviá-la para gravadora. Como você considera que deva agir primeiramente?”. Nessa situação, 47,4% (102) responderam que a primeira atitude a ser tomada é gravar a canção e enviá-la para gravadora em um CD. Outros 34% (73) consideram que devam primeiramente gravar a canção, depois gravar em um CD pessoalmente, e guardálo em um lugar seguro. O restante dos 18,6% (40) consideram como primeira atitude gravar a canção e publicá-la no YouTube. Novamente, as respostas revelam um grande desconhecimento sobre Propriedade Intelectual, e mais especificamente sobre Direitos Autorais. Figura 3. Cenário 2 – Direito do Autor

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6.2. ASPIRAÇÕES SOBRE PROPRIEDADE INTELECTUAL Os estudantes foram perguntados sobre a abordagem para ensino sobre propriedade intelectual, ou mesmo se o tema é abordado no curso. Nessa questão os estudantes poderiam escolher todos os tópicos que se aplicassem. Um número expressivo, correspondente a 109 respondentes, ou seja, 50,7%, assinalaram que não se lembram de tópicos relativos a propriedade intelectual terem sido abordados em seu curso. Seguidamente, 29,3% (63) dos respondentes assinalaram que os tópicos da propriedade intelectual são abordados inclusos em outras disciplinas, 24,7% (53) apontaram que o tema é abordado com algumas instruções antes de algum projeto de pesquisa, 22,3% (48) que as questões são integradas ao longo de seu curso, 13,5% (29) que em forma de algumas palestras/workshops ao longo do curso.

Também foi perguntado aos estudantes quais tópicos referentes à propriedade intelectual eles gostariam que fossem incluídos na grade curricular dos cursos. Assim, 76,3% (164) dos respondentes gostariam que fosse incluído uma visão global sobre a propriedade intelectual para a sua área em específico. Posteriormente vem os direitos autorais com 58,1% (125), e patentes com 50,7% (109). Outros termos mais específicos da propriedade intelectual, como marcas comerciais e direito sobre desenhos, novamente foram os menos assinalados pelos respondentes, marcas com 24,7% (53) e desenho com 21,9% (47). Isso mostra a falta de conhecimento dos estudantes sobre esses temas mais específicos, ou seja, dificuldade de assimilá-los com a propriedade intelectual. Os estudantes também foram questionados sobre a importância do conhecimento sobre propriedade intelectual. Foram questionados por meio de uma escala, onde a menor opção

Tabela 3 Como questões da propriedade intelectual são ensinadas nos cursos

Questões

Total de Respostas

%

Não me lembro de terem sido ensinadas no meu curso

109

50,7%

Abordada dentro de outra disciplina

63

29,3%

Algumas instruções antes do projeto de pesquisa

53

24,7%

As questões são integradas ao longo do meu curso

48

22,3%

Algumas palestras/workshops em alguns pontos do curso

29

13,5%

Com uma disciplina sobre a propriedade intelectual

21

9,8%

Outras formas de abordagem

6

2,8%

Tabela 4 Quais tópicos referentes a propriedade intelectual gostariam que fossem incluídos na grade curricular do seu curso

Tópicos

Total de Respostas

%

Uma visão global sobre a PI para sua área em específico

164

76,3%

Direitos Autorais

125

58,1%

Patentes

109

50,7%

Publicações e Propriedade Intelectual

107

49,8%

Orientações com assuntos sobre a PI

99

46,0%

Questões nacionais e internacionais sobre a PI

90

41,9%

Plágio

89

41,4%

Direito de realização

77

35,8%

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Confidencialidade e Negociações Secretas

66

30,7%

Licenças Open Souce (Código aberto)

56

26,0%

Marcas Comerciais

53

24,7%

Direito sobre desenhos

47

21,9%

Outro

0

0,0%

Tabela 5 Importância do Conhecimento sobre Propriedade Intelectual

Média

Desvio Padrão

Importância em se conhecer Propriedade Intelectual enquanto aluno

4,20

0,80

Importância do conhecimento sobre PI para futura carreira

4,46

0,77

Meu conhecimento atual é suficiente para suportar minha futura carreira

2,97

1,23

era “1”, onde significava “sem nenhuma importância” e a maior opção da escala era “5”, onde queriam dizer que era “muito importante”. Quando questionados sobre a importância de se obter conhecimento sobre propriedade intelectual enquanto alunos, a nota média foi de 4,2, sendo que 172 respondentes (80%) consideram importante ou muito importante obter esse conhecimento enquanto alunos. Apenas 1,4% (3) dos respondentes consideram sem nenhuma importância ou pouco importante obter o conhecimento sobre a propriedade intelectual enquanto aluno. Os estudantes também responderam o quanto consideram importante obter conhecimento sobre propriedade intelectual para que possam utilizar tal conhecimento em uma futura carreira profissional. Utilizado a mesma escala, a nota média foi de 4,46, sendo que 88,8% (191) dos respondentes consideram importante ou muito importante obter conhecimento sobre a propriedade intelectual para uma carreira futura. Em contrapartida, 2,4% (5) dos respondentes acham essa questão sem nenhuma importância ou pouco importante para futura sua carreira profissional. Os estudantes também foram solicitados a auto avaliar o seu conhecimento sobre propriedade intelectual e se esse conhecimento era o suficiente para lhe dar suporte em uma futura carreira. De acordo com uma escala de 1 a 5 onde se o estudante optasse pela opção 1 estaria dizendo que discorda totalmente da 56

afirmação, 2, que discordava levemente, 3, que nem concordava e nem discordava, 4, que concordava levemente, e 5, que concordava totalmente. Diferentemente das outras duas questões anteriores, a nota média foi 2,97. Este resultado revela que os estudantes não consideram seus conhecimentos suficientes para suportar uma carreira.

7.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo procuramos analisar o conhecimento de estudantes de ensino médio sobre o tema propriedade intelectual. A pesquisa realizada com 215 estudantes de ensino técnico de nível médio de duas renomadas instituições de ensino do Estado de São Paulo traz resultados inéditos e importantes tanto para a academia quanto para praticantes. Em primeiro lugar, evidencia um grande desconhecimento dos estudantes sobre o tema, bem como um grande interesse sobre o assunto. Em sua grande maioria, os estudantes consideram muito importante o aprendizado da propriedade intelectual, não só na educação (80%), mas também para auxiliá-los em uma futura carreira (88,8%), porém, analisando os resultados pode-se concluir que a grande maioria dos estudantes não conhecem bem o tema da propriedade intelectual. Evidências desse desconhecimento podem ser observadas nas questões sobre o conhecimento da propriedade intelectual, em que poucos assinalaram alternativas de termos específicos Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


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do assunto, como marcas e desenhos industriais, e até mesmo termos mais conhecidos como patentes e direitos autorais aparecem em segundo plano. Ao contrário, foram assinalados termos gerais que foram optados pela maioria como “propriedade de ideias” e “concepções de ideias”. Aliás, fica evidente o relacionamento que os estudantes fizeram da palavra “intelecto” com a palavra “ideia”, relacionando assim a “propriedade intelectual” com todos os termos que tinham relação com as ideias. Ressaltando ainda mais a falta de embasamento teórico sobre o tema por conta dos respondentes. Porém, esse comportamento não se restringe aos resultados encontrados apenas com os estudantes brasileiros, pelo contrário, chama atenção a proximidade dos resultados do artigo aqui em questão, com o artigo britânico que foi tomado como base para este estudo, o “Student Attitudes Towards Intelectual Property”. Pode-se tomar como exemplo a questão aplicada que questionava: “O que você entende sobre o termo ‘Propriedade Intelectual’?”. A alternativa mais optada pelos respondentes de ambas as pesquisas foi “Propriedade de Ideias” (ownership of ideas). Já o termo “Concepções de ideias e Criações” (concepts, ideas and creations) foi segundo mais optado por aqui, e o terceiro mais lembrado pelos estudantes do Reino Unido. Logo, considerando os seis termos mais optados em ambas as pesquisas, cinco deles são os mesmos, sendo que desses seis termos, apenas dois são termos específicos referentes à propriedade intelectual, ou seja, a falta de conhecimento específico do tema é semelhante tanto aqui, quanto lá. Com exceção dos termos “Direito Autoral” e “Patentes”, os outros termos específicos referentes ao tema, foram pouco lembrados. Os resultados da pesquisa também são úteis para diretores, coordenadores de curso e docentes em geral. A direção e os coordenadores de curso podem, a partir das evidências desta pesquisa, planejar melhor a abordagem sobre o tema propriedade intelectual em suas instituições e cursos. Os docentes podem se preparar melhor para trabalharem com projetos nesses cursos, e Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

poder incentivar a inovação e a proteção intelectual, direcionando aos estudantes as informações mais adequadas de cada tópico dentre a propriedade intelectual. Como por exemplo, em um Trabalho de Conclusão de Curso a grande maioria tem a intenção de inovar, e dentro desse tema, surgem vários trabalhos práticos com potencial de se transformarem em produtos comerciais. Contudo, falta, por exemplo, conhecimento sobre como proteger os resultados destes projetos. Este estudo também abre possibilidade para novas pesquisas. Ampliar o estudo para outras instituições, ou mesmo para o nível superior, podem ampliar a compreensão sobre este tema. Outros cruzamentos podem ser realizados, procurando correlacionar, por exemplo, o nível de conhecimento sobre o tema propriedade intelectual com o número de registro de patentes ou de geração de novos empreendimentos dos exalunos da instituição.

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Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Marcos Ricardo Rosa Georges

REVISTA DE EMPREENDEDORISMO, NEGÓCIOS E INOVAÇÃO ISSN 2448-3664

O APRENDIZADO DO PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO BASEADO EM PROBLEMAS THE PRODUCTION PLANNING AND CONTROL PROBLEMS BASED LEARNING RESUMO

Marcos Ricardo Rosa Georges Professor e pesquisador do Centro de Economia e Administração da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Bacharel em Matemática Aplicada e Computacional, Mestre e Doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas. http://lattes.cnpq. br/3209476953629191

Este artigo apresenta uma proposta para a adoção da metodologia Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) para a disciplina de Planejamento e Controle da Produção, mais especificamente para o ensino e aprendizagem do Planejamento dos Recursos da Manufatura (MRPII). A proposta consiste na apresentação de nove problemas que percorrerão todas as etapas do método MRPII a partir de um simples, porém familiar, produto que será demandado em um volume grande o suficiente para sair da escala artesanal e atingir uma escala industrial. Ao percorrer todos os problemas sugeridos na proposta conforme o aluno percorrerá todas as fases necessárias ao planejamento e controle da produção segundo o MRPII e, ao fazer este percurso através da metodologia PBL, os resultados evidenciam um aumento significativo do envolvimento, assiduidade e interesse dos alunos. Por fim, uma breve revisão sobre o Aprendizado Baseado em Problema (PBL) e Planejamento dos Recursos da Manufatura (MRPII) completam o artigo. Palavras-chave: Planejamento e Controle da Produção; Planejamento dos Recursos da Manufatura; Aprendizado Baseado em Problemas; Ensino e Pesquisa em Administração

ABSTRACT

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC AVENIDA DOS ESTADOS, 5001 BAIRRO BANGU, SANTO ANDRÉ - SP. CEP 09210-580 E-MAIL: RENI@UFABC.EDU.BR COORDENAÇÃO AGÊNCIA DE INOVAÇÃO INOVAUFABC

This paper presents a proposal for the adoption of the Problem Based Learning (PBL) methodology for the Production Planning and Control discipline, specifically for Manufacturing Resource Planning (MRPII) teaching and learning. The proposal consists in the presentation of nine problems that will cover all the steps of the MRPII method from a simple but familiar product that will be demanded in a volume large enough to leave the artisanal scale and reach an industrial scale. In addressing all of the problems suggested in the proposal as the student will go through all the phases necessary for planning and controlling the production according to the MRPII, and in doing this course through the PBL methodology, the results show a significant increase in student involvement, attendance and interest . Finally, a brief review of Problem Based Learning (PBL) and Manufacturing Resource Planning (MRPII) completes the paper. Keywords: Production Planning and Control; Manufacturing Resource Planning; Problem Based Learning; Management Education.

JEL Classification: I22 Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

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1.

INTRODUÇÃO

A gestão de operações é um campo do conhecimento presente em diversos cursos de graduação, sobretudo na engenharia de produção e administração. Nestes cursos, as disciplinas que abordam os assuntos deste campo são frequentemente intituladas com os termos produção, materiais, qualidade, logística e suprimentos. No caso específico da produção, as disciplinas frequentemente se apresentam como Administração da Produção ou Planejamento e Controle da Produção, este último possui acrônimo – PCP – bem conhecido pela comunidade da administração e da engenharia de produção. No entanto, indiferentemente do curso ou disciplina, o ensino do PCP se coloca num contexto de profundas transformações que exigem novas abordagens de ensino e aprendizagem. Escrivão Filho e Ribeiro (2008) apontam várias dimensões desta transformação, entre elas o crescimento extraordinário do volume de conhecimento simultaneamente com sua rápida obsolescência que exige o desenvolvimento da autonomia de aprendizagem e as transformações no mercado de trabalho que exige não só a aquisição do conteúdo mas também o desenvolvimento de habilidades e atitudes para atuar profissionalmente em um ambiente extremamente complexo e dinâmico. Borochovicius e Tortella (2014) também citam as transformações que vêm ocorrendo na sociedade brasileira e, consequentemente, na relação ensino-aprendizagem e que exigem mudanças que permitam trazer respostas rápidas e eficazes às demandas dos discentes que vivem em um ambiente cada vez mais concorrido, imprevisível e intensivamente tecnológico. Diante desta transformação, surge a metodologia de ensino aprendizagem chamada de Aprendizado Baseado em Problema como uma alternativa ao secular modelo educacional baseado em aulas expositivas e que se mostra limitado para responder as novas demandas. 60

2. APRENDIZADO BASEADO EM PROBLEMAS O Aprendizado Baseado em Problemas, também conhecido pelo acrônimo PBL de Problem Based Learning, é uma metodologia de ensino aprendizagem que assim se chama por apresentar um problema antes de desenvolver o conteúdo programático e coloca o aluno diante do desafio de formular hipóteses, pesquisar e aprender conteúdos, propor e apresentar a solução para o problema. Ribeiro (2008) afirma que o PBL é uma metodologia de ensino e aprendizagem que utiliza problemas relacionados a futura profissão para iniciar, enfocar e motivar a aprendizagem dos conhecimentos, procedimentos e atitudes desejados. Soares et al.(2001) afirmam que o PBL consiste num enfoque educacional desenvolvido inicialmente na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de McMaster, no Canadá, como tentativa de superar dificuldades identificadas no ensino de graduação dos estudantes de medicina. Dentre estas, destacavam-se a dificuldade de retenção e aplicação dos conhecimentos adquiridos no período de estudo das ciências básicas e sua aplicação na prática clínica. Conforme Sakai e Lima apud Berbel (1998) fazem a seguinte apresentação sobre o Aprendizado Baseado em Problema: O PBL é o eixo principal do aprendizado teórico do currículo de algumas escolas de Medicina, cuja filosofia pedagógica é o aprendizado centrado no aluno. É baseado no estudo de problemas propostos com a finalidade de fazer com que o aluno estude determinados conteúdos. Embora não constitua a única prática pedagógica, predomina para o aprendizado de conteúdos cognitivos e integração de disciplinas. Esta metodologia é formativa à medida que estimula uma atitude ativa do aluno em busca do conhecimento e não meramente informativa como é o caso da prática pedagógica tradicional.

Segundo Anacleto (2007)

O Aprendizado Baseado em Problemas destaca o uso de uma situação contextualizada e aplicada para o aprendizado, promove o desenvolvimento da habilidade de trabalhar em grupo, e também estimula o estudo individual, de acordo com os interesses e o ritmo de cada estudante. O

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aprendizado passa a ser centrado no aluno, que sai do papel de receptor passivo, para o de agente e principal responsável pelo seu aprendizado.

Nota-se claramente nos dois parágrafos anteriores a mudança na posição do aluno frente ao aprendizado, saindo da posição de receptor passivo para ser o principal agente do seu aprendizado. Esta ruptura no paradigma pedagógico fornecerá estímulos e desafios que dificultarão a manutenção da postura apática e indiferente dos alunos em sala de aula. Neste sentido, o conteúdo da disciplina – PCP – foi planejado e desenvolvido em torno da apresentação de problemas em um ambiente produtivo. O planejamento da disciplina e a sua operação são feitos a partir da criação de um cenário – uma fábrica – projetada a partir de um produto escolhido pelos alunos e dimensionada para atender uma demanda dada pelo professor. Apresentando problemas sobre este cenário que se desenvolve o ensino do PCP.

3.

PCP

O PCP é acrônimo de Planejamento e Controle da Produção. É, essencialmente, um conjunto de metodologias destinadas ao gerenciamento de todo o fluxo de transformação em uma empresa. Manipulando dados, tempo, capacidade, volume, e sendo capaz de planejar e operar o sistema de modo eficiente. São duas as correntes mais conhecidas de sistemas de PCP, a chamada ‘produção empurrada’ e ‘produção puxada’. A produção empurrada é assim dita por ser orientada a previsão, onde se produz antes da demanda real ocorrer, sendo então empurrada. A produção puxada é assim dita pelo fato de somente após a demanda real ocorrer é que se inicia a produção, sendo então puxada pela demanda. Os sistemas de produção puxada são baseados nas técnicas industriais japonesas, em especial o Sistema Toyota de Produção e, mais recentemente, a Manufatura Enxuta. Os sistemas de produção empurrada são baseados nos sistemas MRPII. A abordagem adotada no desenvolvimento do PBL na Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

disciplina de Administração da Produção é o MRPII. O MRPII deriva das letras iniciais de Manufacturing Resource Planning, cuja tradução é dada por Planejamento dos Recursos da Manufatura. O II do MRPII denota a segunda geração de um método, cuja primeira geração, o MRP (Material Requirement Planning) que em português é chamado de Planejamento da Requisição de Materiais. O MRP é um método que se destina a planejar, ao longo do tempo, a quantidade e momento que deverá ser efetuadas compras (ou a produção) de todos os itens utilizados para produzir um produto em função da demanda deste produto ao longo de um período futuro de tempo. Em oposição aos métodos usados na época de seu surgimento, o MRP, se mostrava mais adequado para o planejamento da reposição de estoques, como Orlicky (1975) apud Laurindo e Mesquita (2000) (...) os sistemas tradicionais de reposição de estoques, baseados na classificação de Pareto e nos conceitos do lote econômico e ponto de reposição, são inadequados para a administração de estoques no ambiente industrial. A principal razão desta inadequação está na premissa subjacente aos modelos clássicos de demanda estável e constante. Na realidade, a demanda de materiais e componentes na produção intermitente tende a ser bastante irregular por conta da irregularidade do plano mestre de produção e da política de formação de lotes. O modelo MRP, apresentado por Orlicky e outros, permitiria o cálculo das necessidades destes materiais ao longo do tempo e, em decorrência, a redução dos níveis de estoque.

O MRP se tornou conhecido após a publicação da obra literária homônima, em 1975, com o apoio da American Production and Inventory Control Society – APICS, seu autor é J. A. Orlicky, e então difundiu-se mundialmente nas indústrias e na academia. As informações que o MRP necessita para operar são as estruturas dos produtos (o BOM – Bill of Material), a quantidade disponível em estoque de cada um dos itens e o planejamento mestre da produção. A essência do MRP é determinar a quantidade a ser comprada e produzida e momento que deve iniciar a compra ou a produção de todos os itens necessários para atender uma demanda do produto final. 61


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O demanda líquida do produto final em um dia é dada pela demanda bruta do dia subtraído o estoque disponível projetado deste produto para este mesmo dia. O cálculo da demanda líquida dos demais itens é feito através da explosão da demanda na estrutura do produto, onde a demanda líquida de um item acima determina a demanda bruta dos itens abaixo. Com a demanda líquida de um item determinase a demanda bruta dos itens abaixo (itens filhos) através da multiplicação da demanda do item acima (pai) com o número de itens filho necessários para produzir uma unidade do item pai. Este cálculo da necessidade líquida se repete neste nível e novamente se desdobra o cálculo da necessidade bruta dos itens do nível abaixo. Repete-se o procedimento até que se chegue ao último nível. A figura 1 ilustra este conceito de explosão da demanda para o cálculo das quantidades de todos os itens de um produto. Embora na sua época se mostrasse melhor do que os métodos existentes, o MRP possui diversas limitações para gerar seus planos de produção. As limitações do MRP não são poucas. Na

verdade o MRP se restringe ao cálculo da quantidade e do momento que deverão ser feitos os pedidos de compra, ou de produção, dos diversos itens que compõe os produtos em uma empresa. O MRP não considera, em nenhum momento, a capacidade produtiva da empresa, também não fornece nenhuma orientação para a programação que, efetivamente, deverá ser feita sobre os postos de trabalho, assim como não fornece nenhuma orientação na realização do Planejamento Mestre de Produção. Em decorrência destas limitações, em 1981 Oliver Wight publica o livro Manufacturing Resources Planning, MRPII, no qual apresenta a nova geração dos MRP’s. O MRPII é um método mais abrangente que o MRP. Incorpora a capacidade produtiva e amplia o escopo de aplicação para o nível tático e para a programação no chão de fábrica. Além de ser mais abrangente, amplia também seu escopo, pois antes o MRP destinava-se aos cálculos das quantidades e momentos de produção e compra, e agora o MRPII também determina os recursos da produção necessários para atender a demanda. A figura 2 mostra o MRPII como um sistema derivado do MRP a partir da

Figura 1 - Conceito de explosão da demanda. Fonte: adaptado de Slack et. al.(2002).

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agregação de outros módulos que abordam verificada. No início esta verificação e o reos problemas não tratados no MRP. planejamento eram feitos por tentativa e erro, e só depois que surgiram os métodos capazes Figura 2 - O MRPII como evolução do MRP. Fonte: adaptado de de gerar um plano de produção e verificar a Gianesi e Correa (2002) capacidade simultaneamente. De posse dos planos gerados pelo MRP inicia-se o processo de Compras e o SFC (Shop Floor Control). O SFC se destina a gerenciar o fluxo das operações nos centros de trabalho definindo prioridades e programando as ordens de produção segundo algum critério predefinido. Também se destina ao controle das ordens programadas para verificar seu andamento e agir caso haja divergências entre o programado e o efetivamente executado. Assim, o desenvolvimento do PCP na disciplina será feito utilizando o MRPII, tal como ilustrado na figura 2, onde a seqüência dos problemas e abordagem da teoria se dará de acordo com a seqüência dos módulos do sistema MRPII aplicados no Os módulos S&OP (Sales and Operation sistema produtivo construído pelos alunos Planning) e Previsão de Vendas são destinados (os cenários). a Gestão da Demanda. A Previsão de Vendas é A partir desta breve exposição do MRPII e de constituído de métodos estatísticos (em geral cada um de seus módulos é possível perceber séries temporais) para gerar uma demanda que se trata de um método abrangente e futura baseando-se no histórico de vendas e o complexo, e que traz muitas dificuldades de S&OP é destinado ao gerenciamento do ciclo entendimento, mas se bem aprendido pelo de vida do produto, incluindo promoções, aluno, este terá condições para atuar na área substituições e até mesmo o momento de sua de produção, seja como analista, coordenador retirada do mercado. e até gerente de PCP ou de Produção. Os módulos MPS (Master Production Schedule) e RCCP (Rought-Cut Capacity 4. PREPARANDO OS CENÁRIOS Planning) são destinados a gerar um plano Neste item será detalhado o processo de de produção para os próximos meses para cada família de produto. São planos mais construção dos cenários dos alunos. A sala de agregados e de médio prazo, mas que são aula é divida em grupos de, no máximo, cinco revisados semanalmente. O RCCP trata de alunos e cada grupo elaborará um cenário modo grosseiro a capacidade instalada e detalhado o suficiente para se defrontarem o MPS gera os planos agregados para os com os problemas a serem resolvidos. O cenário consiste na especificação próximos meses. dos recursos necessários a um sistema O planejamento diário da produção de cada item só é então realizado pelo MRP onde, produtivo para atender uma demanda depois, se verifica a capacidade no módulo mensal dada pelo professor. Os recursos são máquinas, equipamentos e mão-de-obra e CRP (Capacity Resources Planning). Os módulos RCCP e CRP são destinados são especificados a partir do processo de a verificar a capacidade instalada, de forma fabricação de um produto e dimensionados agregada e detalhada, e quando a capacidade para produzir em grande escala. A construção do cenário começa pela é excedida, seja no RCCP ou no CRP, é feito um escolha do produto. São dadas algumas re-planejamento e a capacidade é novamente Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

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sugestões, mas nada impede a escolha de outro produto, ao contrário, é encorajado a fazê-lo, desde que o produto tenha algumas características para constituir o cenário mínimo. A lista de produtos é organizada por segmentos tradicionais da indústria, mas são produtos bem mais simples que os

de itens ou componentes, e que não seja necessário à desmontagem completa do produto para obter este resultado. Não é aconselhável a desmontagem de motores elétricos, de placas de circuito interno e de engrenagens mais internas de um dispositivo mecânico. Organizados em grupos e de posse de

Tabela 1 - Sugestão de produtos a serem escolhidos

Segmento Industrial

Produtos Sugeridos

Automobilística

Skate, Patins, Patinete, Carrinho Rolimã.

Têxtil

Bolsa, Sandália, Boné.

Eletrodoméstico

Cafeteira, batedeira, liquidificador, garrafa térmica.

Moveleira

Criado mudo, cadeira, mesa telefone.

Alimentícia

Lasanha, bolo, marmitas.

Eletrônico

Relógio parede, lanterna, abajur.

Bebidas

Limonada suíça, milk shake

frequentemente associados aos segmentos citados. Por exemplo, na indústria automobilística, cujo produto símbolo é o automóvel, as opções de produtos oferecidos são: skate, patinete, patins, carrinho de rolimã. Esta organização permite uma analogia com a produção de seus produtos emblemáticos, enriquecendo a discussão e, ao mesmo tempo, motivandoos para a questão. Os produtos sugeridos estão apresentados na tabela 1. O critério para a sugestão dos produtos é a familiaridade dos alunos com o produto e com as etapas da sua fabricação. É importante que o produto escolhido seja amplamente conhecido por todos os alunos ou que possa ser trazido em aula para discutir detalhes do processo de fabricação para que todos visualizem com clareza a construção da sua estrutura de produto. É desejável que a estrutura do produto tenha, pelo menos, cinco níveis e uma dúzia 64

um produto o passo seguinte é construir a estrutura do produto e, a partir da estrutura do produto, é feito o roteiro de fabricação, especificando as etapas do processo de fabricação, como: máquinas, tempo, ferramentas e mão-de-obra. Com a estrutura do produto e o roteiro de fabricação é dada uma demanda mensal e finaliza-se a construção do cenário com o dimensionado destes recursos para atender a demanda dada. Para orientar os alunos na construção de seus cenários são desenvolvidos dois exemplos: uma caipirinha e um brigadeiro. Divididos e organizados em grupos, cada grupo é encarregado na elaboração da descrição do modo de preparo, da lista dos ingredientes e dos instrumentos necessários. Esta tarefa sempre se mostrou de fácil execução pelos alunos. A partir do modo de preparo e da lista de ingredientes é desenvolvida a estrutura do produto, associando os ingredientes às etapas Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


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a partir da narração do modo de preparo. A partir da lista de instrumentos e encenando o modo de preparo é elaborado o roteiro de fabricação, associando as etapas aos níveis da estrutura do produto e definindo tempo, máquina e mão-de-obra. A descrição do modo de preparo, a lista dos ingredientes e instrumentos está apresentada na figura 3.

Figura 4 - Estrutura do Produto do brigadeiro

Figura 3 - O exemplo do brigadeiro

A estrutura do produto está apresentada na figura 4. O objetivo principal é identificar as diferentes etapas do processo de fabricação e associá-los às mudanças de nível da estrutura do produto. A especificação da quantidade não é relevante neste momento, visto que já se sabe as quantidades em função da lista de ingredientes. O foco está nas etapas de fabricação, para então, fazer o roteiro de fabricação.

O roteiro de fabricação é feito a partir da estrutura de produto, identificando cada etapa como sendo uma mudança no nível da estrutura e, para cada etapa, especificar a máquina e equipamento, o tempo e a quantidade de mão-de-obra. O roteiro de fabricação gerado para o caso do brigadeiro está exposto na figura 5. De posse do roteiro de fabricação, do modo de preparo e da estrutura do produto passase a última etapa da elaboração do cenário: a produção em escala industrial. É dado o desafio aos alunos para produzirem 4.000 unidades diárias de brigadeiro tendo como referência o ambiente doméstico. Ou seja, com o que se tem em casa é possível atender a demanda, pergunta-se aos alunos. É muito interessante como a fabricação de

Figura 5 - Roteiro de Fabricação do Brigadeiro

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um produto doméstico pode sair da produção artesanal e ganhar escala industrial. A partir do roteiro de fabricação esta pergunta é respondida, e mais além, são especificados os recursos necessários para atender esta demanda dada. Alguns cálculos simples são feitos de maneira aproximada e sem maiores detalhes fornece os seguintes valores, mostrados na tabela 2, para o dimensionamento dos recursos para uma produção diária de 4.000 unidades (ou 100 receitas por dia).

não fixos são aqueles se acomodam o produto a ser processado na etapa seguinte, como os refratários que levam o brigadeiro quente até refrigerador e depois para enrolar e por fim para enformar. O dimensionamento dos refratários não fixos é dado pela tabela acima, e é calculado sobre o tempo que o refratário permanece ocupado ao longo das etapas de fabricação (que são 01h20min.), o que exige 17 refratários não fixos. No entanto, o número definitivo da mão-de-obra, dos refratários e dos demais

Tabela 2 - Dimensionamento do sistema produtivo

Por exemplo, um funcionário trabalhando 8 horas/dia é capaz de produzir 13,33 receitas por dia, logo, são necessários oito funcionários para produzir 100 receitas por dia. No caso do fogão cada boca faz uma receita em 15 minutos, como as bocas trabalham em paralelo, o fogão faz 16 receitas por hora, ou 128 receitas por dia. A geladeira tem capacidade para resfriar 8 receitas simultaneamente, como cada receita demora uma hora para resfriar, a geladeira resfria 64 receitas por dia, logo, para produzir 100 receitas são necessárias duas geladeiras. E assim se segue, dimensionando os recursos, mas sem detalhes. O dimensionamento dos refratários é mais complexo, e para efetuar este cálculo dividiram-se os refratários em fixos e não fixos. Os fixos são aqueles que sempre estarão junto a um posto de trabalho, como nas bancadas de enrolar, que sempre haverá um refratário para colocar os brigadeiros enrolados, e nas bancadas de enformar, que sempre haverá dois refratários fixos, um para o granulado e outro para o brigadeiro enformado. Logo, são necessários 8 refratários fixos. Os refratários 66

recursos dependerá do leiaute adotado e do nivelamento da linha de produção, sendo freqüente a aumento dos recursos necessários em relação ao cálculo anterior. Para a definição do leiaute é sugerida a utilização da própria estrutura do produto, fazendo uma analogia com o desenho da árvore como primeira aproximação para o leiaute a ser projetado. É interessante notar a passagem da escala artesanal para a escala industrial, pois à medida que a demanda aumenta deixa de ser vantajoso a realização de todas as etapas por um único operador em um único posto de trabalho, passando a ser natural ao alunos, a visualizarão de uma linha de produção, com postos de trabalhos especializados realizando uma única etapa dispostos em serie, tal como ilustra a figura 6. A figura 7 expõe um pequeno leiaute do processo produtivo feito a partir da sugestão da figura 6. A especificação de um leiaute torna evidente muitas das simplificações assumidas, como a não consideração dos tempos de movimentação interna, da necessidade de lavar os refratários e as panelas Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


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e da inexistência de perdas nas 8 horas de trabalho diário dos funcionários. Após a definição do leiaute é feito alguns ajustes no número de funcionários e nas máquinas e equipamentos. Figura 6 - Sugestão de leiaute em função da estrutura do produto

demorado para ser fabricado e o roteiro de fabricação for detalhado, então se pede uma demanda da ordem de dezenas de unidades por dia, e para os casos intermediários a demanda é da ordem de centenas de unidades por dia. Com os cenários prontos inicia-se o desenvolvimento da disciplina através da abordagem baseada e problemas.

5. A DINÂMICA DA DISCIPLINA BASEADA EM PROBLEMAS A dinâmica da disciplina baseada em problemas é dada pela seqüência: apresentação do problema, fundamentação teórica e obtenção da solução. Sempre se inicia um conteúdo programático com a apresentação do problema a ser resolvido, esta é a essência desta abordagem baseada em problema, e acredita-se que conhecer o Figura 7 - Leiaute do sistema produtivo problema antes de conhecer a ferramenta motiva o aluno para o aprendizado da própria ferramenta. Os problemas apresentados são aqueles que frequentemente assolam as gerências de produção das indústrias, mas que na sala de aula são transportados para a gerência do sistema produtivo de cada grupo. Ou seja, cada grupo é o responsável pelo PCP da sua fábrica. Os problemas expostos são extraídos da própria utilização do MRPII, ou seja, Por fim a elaboração do cenário exemplo divide-se o exercício do MRPII em diversos está terminada, dimensionando os recursos pequenos problemas que vão dando ritmo necessários para se produzir uma demanda a disciplina à medida que são apresentados dada de um produto escolhido. Agora os e conduzem a sua fundamentação teórica e alunos seguem este exemplo e cada grupo posterior solução. deve desenvolver o cenário para o produto A fundamentação teórica é feita a partir que escolheram. do livro texto e de algumas literaturas É importante ressaltar que a demanda dada complementares informadas no início do para cada grupo é diferente e depende do tipo semestre letivo, mas é premiado o grupo que de produto escolhido, em geral, a demanda busca fontes de informações externa, seja na é dada de modo a atingir um volume que o biblioteca ou internet. aluno saia da dimensão doméstica, exigindo Após a fundamentação teórica parte-se a contratação de funcionários e a aquisição para a resolução do problema. Em geral, a de máquinas e equipamentos. Em geral, se resolução é feita por analogia, a partir de um o tempo para a produção de uma unidade exercício resolvido em sala ou então utilizando for muito pequeno e o roteiro de fabricação um exemplo do livro, mas, em alguns casos, for simples, como no caso dos brigadeiros, a resolução ocorre sem a necessidade de pede-se uma demanda da ordem de milhares explicação por parte do professor, os alunos unidades por dia, mas se o produto for Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

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se mostram capazes de ler e entender o tópico e reproduzir o conhecimento adquirido na gestão da sua fábrica, mas estes casos não são freqüentes, sendo que, na maioria das vezes, é o professor que explica o conteúdo. É importante acompanhar o andamento de cada grupo, pois, para que a disciplina possa passar ao próximo problema é necessário que todos os grupos tenham terminado a resolução do problema anterior. A seqüência dos problemas que são apresentados é obtida a partir do MRPII, tal como ilustra a figura 2. A tabela 3 a seguir apresenta esta seqüência com uma pequena descrição do desafio que os alunos deverão resolver no cenário que elaboraram, assim como a tabela apresenta o tópico a ser abordado na fundamentação teórica e o caminho para a resolução do problema. O primeiro problema apresentado é a escolha do produto e a posterior confecção

da estrutura do produto e do roteiro de fabricação, depois o segundo problema é o dimensionamento do sistema produtivo para uma dada demanda, tal como apresentados no item anterior. O terceiro problema apresentado aos alunos enfrentam é a necessidade de se fazer previsões para planejar os meses futuros. Para cada grupo é fornecido um histórico de vendas com valores próximos ao da demanda padrão usada para construir o cenário, mas este histórico de vendas possui elementos de tendência e sazonalidade além da aleatoriedade comumente encontrada e os alunos são encorajados a resolverem o problema pesquisando as técnicas estatísticas de séries temporais. Feita a projeção da demanda futura, o quarto problema é escolher a melhor maneira de acompanhar a demanda de modo a minimizar os custos. Aqui os alunos são desafiados a

Tabela 3 - Seqüência dos problemas apresentados

Duração

Problema

Teoria

Resolução

1 sem.

Como representar o produto de maneira a explicitar os estágios de fabricação e as quantidades necessárias

Conceito de Árvore de Produto e roteiro de fabricação

Fazer a árvore do produto e o roteiro de fabricação para o produto escolhido

2 sem.

Constituir o cenário do ambiente produtivo onde se fabrica o produto escolhido pelo grupo

Leiaute, estudo de capacidade, dimensionamento de recursos

Definir número de máquinas e operadores em função das operações de fabricação do produto

1 sem.

Gerar uma demanda futura para os próximos meses

Previsão de Vendas (séries temporais)

Gerar uma previsão para os próximos seis meses com base nos métodos de previsão e S&OP

2 sem.

Planejar os recursos (mãode-obra e máquina) para os próximos meses

Políticas de acompanhamento da demanda e cálculo da capacidade

Fazer o MPS e RCCP em função da previsão e da capacidade instalada.

2 sem.

Planejar a quantidade e o momento de produção/compra de cada item do meu produto

MRP, conceito de explosão da demanda, programação para traz e gráfico de Gantt

Fazer o MRP para duas semanas do produto

1 sem.

Alterações bruscas na demanda (forçar a capacidade)

MRP ciclo fechado e capacidade finita e infinita

Verificar o estouro da capacidade mediante inclusão de pedidos

2 sem.

Como determinar a seqüência das operações

Programação, Análise do Fluxo da Fabrica, Teoria das Restrições

Fazer a programação das operações para dois dias de produção

2 sem.

Como determinar as quantidades e os momentos de fazer compras de itens

Sistema de revisão contínua e periódica, lote econômico, estoque de segurança

Projetar um sistema de controle de estoque para um item (definir os parâmetros do sistema)

1 sem.

O que é mais importante para a competitividade e como a produção é afetada

Critérios de desempenho na manufatura e estratégia de operações

Fazer uma análise competitiva do produto

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optarem por uma entre quatro possibilidade de decisões de acompanhamento da demanda: contratar e demitir, pagar horas extras, subcontratação ou fazer estoque. Para este problema são fornecidos custos de contratação, de demissão, de estocagem, da hora extra, da subcontratação e de outros elementos de custo de modo que a decisão seja feita baseada em critérios quantitativos. O quinto problema é determinar as quantidades de matéria-prima e o momento de iniciar cada etapa do processo de fabricação em função do plano de produção gerado no problema anterior. Aqui é feito efetivamente o MRP, determinando o início de cada etapa e calculando as quantidades compradas ou produzidas de cada item, mas sem considerar as restrições de capacidade. O sexto problema apresentado surge a partir de alterações bruscas na demanda que provocarão a revisão dos os planos em razão do limite da capacidade produtiva. O sétimo problema é destinado a trabalhar as questões de sequenciamento da produção, fornecendo elementos para a programação de n tarefas em m máquinas e também para desenvolver a habilidade de identificar o fluxo de material em transformação dentro do sistema produtivo. Elementos de controle também são trabalhados aqui, como a definição de registros, formulários e ordens de produção. O oitavo problema é relativo aos sistemas de controle de estoque, em particular o sistema de revisão contínua e revisão periódica, fornecendo elementos para a definição dos parâmetros de funcionamento de cada um destes sistemas, tais como: estoque de segurança, ponto de pedido, tamanho do lote, intervalo entre pedidos. E por fim, o nono e último problema é para fazer o aluno revisar os critérios de desempenho em manufatura, identificando os fatores de competitividade que são relevantes para cada produto e como, através das escolhas de arranjo físico, grau de automação e tecnologia de processo, desenvolver um sistema produtivo capaz de responder as exigências de mercado. A figura 8 a seguir ilustra a seqüência dos Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

problemas apresenta segundo a metodologia MRPII. Observa-se claramente a aderência dos problemas apresentados com os módulos a serem executados na metodologia MRPII. Figura 8 - Seqüência de problemas segundo o MRPII

No item a seguir serão apresentados os resultados da aplicação desta nova abordagem de aprendizado – o PBL – aplicado a uma disciplina de administração de empresas, utilizando a metodologia de construção do cenário e a seqüência de problemas descrita.

6.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foram vários os resultados observados na adoção da metodologia do PBL no ensino do PCP, mas também vários outros desafios ficaram evidentes e necessitam ser superados para se atingir ganhos maiores e efetivos aos alunos. O primeiro grande resultado observado foi a mudança na postura do aluno, reduzindo significativamente o número de alunos que chegam atrasados ou que deixam a aula antes do término, embora não se tenha observado uma redução no número de ausentes. Foi observado um aumento na participação do aluno, através de questionamentos e das sugestões para se resolver os problemas propostos. É interessante notar que o aluno, de um modo geral, tem uma boa intuição para propor soluções, mas que, na maioria absoluta das vezes, não sabem por onde começar e não tem a habilidade manipular 69


O aprendizado do planejamento e controle da produção baseado em problemas

os dados para se chegar a uma solução. Alguns grupos se mostraram muito entusiasmados, fato revelado pelo grande detalhamento do cenário construído, indo muito além do exigido para a disciplina. Nos anos anteriores já foi observados cenários extremamente detalhados e alguns reais para produtos como: sistema de transmissão, uniforme escolar, rótulos e etiquetas, notebooks, pizzas congeladas e refrigerantes. Outros grupos demonstram seu entusiasmo com o primor na resolução dos problemas, desenvolvendo planilhas extremamente organizadas, precisas, com fórmulas elaboradas e com o uso de macros, de fato planilhas muito além do esperado para um aluno de graduação. Também se observou um aumento no uso dos recursos da biblioteca, utilizando outros serviços além do empréstimo de livro como a pesquisa em base de dados digitais, em periódicos eletrônicos e em acervo de teses, mas ainda em pequeno número. Uma observação interessante foi o grande número de visitas técnicas que os próprios alunos organizavam para conhecer indústrias do segmento que escolheram para compor o cenário. De um modo geral, se observou uma melhoria na postura profissional do aluno. A exigência na resolução de problemas no prazo de uma ou duas semanas confere um clima de pressão e cobrança constante, muito parecido com o ambiente empresarial, tornando o comportamento do aluno em sala mais parecido com o comportamento no trabalho. No entanto, toda inovação traz consigo desafios a serem superados. Um dos grandes desafios que o professor se depara é garantir que todos os grupos andem juntos no desenvolvimento dos trabalhos, exigindo um acompanhamento atencioso e semanal. Este acompanhamento semanal traz uma carga adicional de trabalho que exige um esforço adicional do professor, visto que não se faz nenhuma modulação da sala em função da adoção da prática do PBL. Nos cursos de medicina, a modulação chega a 15 alunos por professor, enquanto que a realidade no curso 70

de administração onde se deu a experiência é, em média, 70 alunos por sala. A preparação dos problemas exigiu muito tempo nos dois primeiros anos que esta experiência de desenvolveu, mas que agora já não exige tanto, mas a correção dos trabalhos é sempre desgastante e exige muito tempo do docente. Outras dificuldades dizem respeito a própria infra-estrutura da sala de aula, que dificulta a formação de grupos de trabalho quanto estão com 70 alunos, e também não permitem uma encenação do processo de fabricação (o que já foi tentado) para o melhor dimensionamento dos recursos e definição do leiaute. Seria muito interessante desenvolver espaços para a realização de atividades mais lúdicas, como uma fabrica modelo, onde o aluno poderia observar o fluxo de material em transformação e visualizar a quantidade de material, os tempos de operação e a capacidade das máquinas. Embora o aspecto lúdico não possa ser usado em toda a sua plenitude, ele é bem explorado quando os diversos grupos fazem a apresentação de seus produtos e demonstram perante a sala a estrutura do produto e o roteiro de fabricação. Alguns grupos chegaram a imprimir o leiaute em banners com mais de um metro quadrado e traziam para a aula e o usavam como um grande tabuleiro para discutir os problemas de dimensionamento e sequenciamento da produção. De fato, tem sido muito gratificante poder experimentar uma nova metodologia de ensino. Os resultados obtidos até o momento reforçam o interesse e entusiasmo do presente autor em destinar mais esforço no aperfeiçoamento desta nova abordagem como uma alternativa para contornar as dificuldades enfrentadas no exercício da profissão do docente nos dias de hoje.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANACLETO, J. C. Aprendizado Baseado em Problemas, disponível em: http://www.dc.ufscar. br/~junia/index-pbl.htm. Acesso em: 25 jan. 2007. BERBEL, N. A. N. – A Problematização e a Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação


Marcos Ricardo Rosa Georges

Aprendizagem Baseada em Problemas: diferentes termos ou diferentes caminhos? Interface – Comunicação, Saúde, Educação, v.2, nº 2, 1998. Borochovicius, Eli; Tortella, Jussara C. B. Aprendizagem Baseada em Problemas: um método de ensino-aprendizagem e suas práticas educativas. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.22, n. 83, p. 263-294, abr./jun. 2014 ESCRIVÃO FILHO, E; RIBEIRO, L.R.C. Inovando no Ensino de Administração: uma experiência com a aprendizagem baseada problemas (PBL). Cadernos EBAPE.BR, São Paulo, número especial, agosto, 2008. GIANESI, Irineu G. N.; CORRÊA, Henrique Luiz. Administração estratégica de serviços: operações para a satisfação do cliente. São Paulo: Atlas, 2002. LAURINDO, F. J. B.; MESQUITA, M. A. Material Requirements Planning: 25 anos de história: uma revisão do passado e prospecção do futuro. Gestão e Produção, São Carlos, v. 7, n. 3, 2000. ORLICKY, J. Material Requirements Planning: the new way of life in Production and Inventory Management. Cidade: McGraw-Hill, 1975. RIBEIRO, Luis Roberto De Camargo. Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) na Educação em Engenharia. Revista de Ensino de Engenharia, v. 27, n. 2, p. 23-32, 2008. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da Produção, 2ª edição, editora Atlas, São Paulo, 2002. SOARES, S. M. S.; SERAPIONI, M.; CAPRARA, A. A Aprendizagem Baseada em Problema PósGraduação – a experiência do curso de gestores de sistemas locais de saúde do Ceará. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 25, nº 1, jan/ abr de 2001.

Revista de Empreendedorismo, Negócios e Inovação

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