1 SALMO DO RANCOR

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salmo do rancor De Michelotto [quando mudei meu rosto]

Tenho envelhecido, Senhor, no meio de inimigos... Como o pó. Que sejam como o pó e que o vento os espalhe de cima da face da terra. Sejam governados com vara de ferro e quebrados como um vaso de oleiro. Firamos a todos e quebremo-lhes os dentes. Iníquos ,sanguinários, dolosos, sua garganta seja um sepulcro aberto pois suas línguas só urdem enganos. Sejam confundidos, em extremo conturbados, cobertos de ignomínia. Na tua ira debilitados sejam e pereçam diante de nós. Apaga para sempre o nome deles, pelos séculos dos séculos pereça sua memória como um ruído, que seus pés fiquem presos nos laços que armaram, seja sua boca maledicência, amargura e dolo pois sob sua língua está o trabalho e a dor. Quebra-lhes os braços, pescoço e volta contra eles suas próprias setas ; chova tu, Senhor, armadilhas sobre eles : dá-lhes fogo, enxofre, tempestades como a parte que lhes toca. Que meu inimigo não diga nunca mais, com veneno de áspide debaixo de seus lábios: "prevaleci sobre ele ! " Que seus pés, ligeiros para derramar sangue, não conheçam o caminho da paz, mas aflição e calamidade sejam os caminhos deles. E tremam de medo mesmo onde não haja o que temer. Multiplica, Senhor, suas enfermidades; seus nomes sejam impronunciáveis. Não permitas que fujam: enfraqueça-os, mata-os, devora-os como a um pedaço de pão, desagrega seus conventículos sanguinários, guarda-me, como menina do olho, dos que resistem a tua fúria, decepa-os com tua espada, abra-lhes o ventre em que escondem seus filhos. Sopra-lhes , Senhor, o vento impetuoso de tua ira desbarata-os com relâmpagos mostra-lhes


os mananciais das águas e os fundamentos da terra. Aterra-os. Serás perverso com os perversos, humilharás os olhos dos soberbos, perseguirás meus inimigos e não pararemos até que eles se acabem e lhes quebraremos as forcas e não poderão se ter em pé e cairão debaixo de meus pés, ó Senhor! E, enfurecidos, os desfaremos como o pó que o vento espalha e desaparecerão como a lama das ruas, pois nossa mão cairá sobre os que nos aborrecem e os poremos em um forno aceso ao mostrar-lhes nosso rosto. E que o fogo os devore. Sejam também exterminadas da face da terra seu fruto e sua descendência e suas carroças, seus filhos e filhas, seu trigo e seu pão, sangue e nome ; e de merda, in reliquis tuis, de tua merda senhor, sejam feitos seus rostos. E sejam esquecidos. Sejam como bichos, não homens, abjeção da plebe; se derramem como água todos seus ossos, se desconjuntem, derretam como cera, suas línguas grudem em suas faces. Rodeia-os de cães,trespassa-lhes as mãos cheias de subornos, a esses danados. Voz do Senhor, descubra as espessuras, quebra os cedros e que tremam os desertos de Cades.. Conturbados sejam seus olhos, almas, entranhas, em dor e anos de gemidos.. Se lhes quebrem a espinha e se lhes inundem de muitas águas e se lhes apertem a queixada com freios de mulas e sejam galopados por nosso Anjo de Rancor. Nosso Anjo de Rancor. Péssima seja, então, a sua morte. Cubra-os de vergonha e faze-os pó ante nossa face de vento. Que ranjam seus dentes. Porque na verdade me falavam com demonstrações de paz e alargavam sobre mim suas bocas e diziam: "Bem, bem, tem visto os nossos olhos... " Pois agora sequem velozmente, Senhor,como ofeno; murchem rápido como verdura de ervas e se desvaneçam com a fumaça. Fui jovem e já sou velho. Não vi ajusto amparado, nem herdar a terra, nem morar sobre ela por todos os séculos, tomei-me miserável e meus lombos ficaram cheios de ilusões. Diante de ti, Senhor, está todo meu desejo; diante demim, toda a minha dor..


Na cabeceira do Livro está escrito de mim: " um abismo chama outro abismo." Na cabeceira do Livro está escrito de mim um abismo chama outro abismo. Pois então, Senhor, que se percam logo ao saírem do ventre de suas mães, que se lhes quebrem os dentes na sua boca, reduzam-se ao nada como água que corre e que nos banhemos em seu sangue, zombemos deles como um nada, como feras de canavial; escureçamos seus olhos, curvemos seus espinhaços, viremos suas mesas derramando sobre eles nossa ira e que o furor de nossa ira sempre os alcance até que deserta fique sua morada e não haja mais quem a habite. Ajuntemo-lhes, Senhor, maldade sobre maldade; e, finalmente, que sejam riscados por mim, por mim e por Ti, ó Senhor, do Livro dos viventes pelos séculos dos séculos e séculos.... Amen. [De David, quando mudou seu rosto ]


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