"Sede pastores do rebanho de Deus, confiado a vós; cuidai dele com dedicação... não como dominadores absolutos sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelo do vosso rebanho" (1Pd. 5, 2-3)
Carta de Dom Bernardino Marchió à Diocese de Caruaru 15 de setembro de 2014: encerramento da Visita Pastoral 2011/2014
Caríssimos Irmãos e Irmãs: Celebrando hoje a festa de Nossa Senhora das Dores, Padroeira da Diocese de Caruaru, nos reunimos, com Maria para renovar a nossa fé em Jesus Cristo e fortalecer o compromisso de sermos uma Igreja missionária que leva a todos a alegria, a esperança, o amor, a misericórdia e a consolação do nosso Deus.
"Depois Jesus disse ao discípulo: Eis aí a tua Mãe"(Jo, 19, 27)
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Maria, aos pés da cruz, é a expressão mais alta, em uma criatura humana, da heroicidade de todas as virtudes. Ela é a mulher serena por excelência, a dócil, a pobre, desapegada a tal ponto que perdeu o seu Filho Deus. Maria, na sua desolação, ensina-nos os caminhos da humildade e da paciência, da prudência e da perseverança, da simplicidade e de silêncio, para que na nossa própria noite, do humano que existe em nós, brilhe no mundo a luz de Deus que habita em nós. Nossa Senhora das Dores é um monumento de santidade que os discípulos missionários devem contemplar e imitar para alcançar a santidade que Jesus propõe a todos no Calvário. Nós o sabemos: em João, Jesus confiava a Maria todos nós cristãos, sobretudo os sacerdotes. Jesus com Maria, eis o sacerdócio real em todas as suas dimensões, eis o Povo de Deus em atitude de diálogo e de serviço nas periferias da humanidade. É evidente que, ao escrever o Evangelho, João podia contemplar o Verbo junto de Deus porque a Mãe de Deus morava com ele. E esta extraordinária convivência abriulhes os olhos: ele viu a Igreja, o seu futuro, as suas lutas, o seu triunfo, porque o modelo da Igreja estava diante dele. Somos chamados a edificar a Igreja vivendo em comunhão com Maria, a Mãe da Unidade.
Depois da Ressurreição os discípulos de Emaús, voltando para sua aldeia, conversavam com tristeza sobre a morte de Jesus. E de repente é o próprio Mestre que caminha com eles e explica tudo. A Igreja me confiou a missão de caminhar com o povo da Diocese de Caruaru. No dia 06 de novembro de 2002, o Papa São João Paulo II me nomeou Bispo desta Igreja e eu aceitei "alegre na esperança": a partir de 12 de janeiro de 2003, festa do Batismo do Senhor, quando aqui iniciei a minha missão, experimentei como é bom e agradável caminhar com este povo do Agreste pernambucano. Eu sei que o êxito da evangelização depende de Deus, mas o trabalho é nosso. Começaram assim as minhas peregrinações e viagens missionárias: festas de Padroeiros, Celebrações Eucarísticas, Crismas, encontros com doentes, pobres e desiludidos da vida, presença nos Conselhos Diocesanos, Paroquiais e Comunitários, animação das Pastorais e Comunidades, conversas com o povo... longas andanças e poucas horas de sono, mas sempre na alegria por ser acolhido com carinho pelos padres juntos com o seu povo! Sempre tive a certeza de que estava fazendo, com as minhas capacidades e os meus limites, a vontade de Deus: por isso mergulhei na cultura e nos desafios dos homens e mulheres que formam a Diocese de Caruaru. Pelas estatísticas do IBGE, as 19 Cidades da Diocese hoje contam com uma população de 907.829 habitantes, num território de 5.852 Km². E já se passaram mais de 11 anos de caminhada!
"Conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido" (Lc. 24, 14)
"O bom pastor dá a vida por suas ovelhas" (Jo. 10, 11)
Papa Francisco, num discurso aos bispos recém-ordenados (19.09.2013), assim resume toda a missão do Pastor: Acolher, caminhar, permanecer! 1. Acolher com magnanimidade. Quero que o vosso coração seja tão grande a ponto de saber acolher todos os homens e mulheres que encontrardes ao 02
longo dos vossos dias e que fordes procurar, pondo-vos a caminho nas vossas paróquias e em cada comunidade. Perguntai-vos desde já: aqueles que vierem bater à porta da minha casa, como a encontrarão? Se a encontrarem aberta, através da vossa bondade e disponibilidade, experimentarão a paternidade de Deus e compreenderão que a Igreja é uma boa mãe que acolhe e ama sempre. 2. Caminhar com o rebanho: acolher todos para caminhar com todos. O bispo está a caminho com o seu rebanho. Isso significa pôr-se a caminho com os próprios fiéis e com todos aqueles que vos procurarem, compartilhando as suas alegrias e esperanças, dificuldades e sofrimentos, como irmãos e amigos, mais ainda como pais, capazes de ouvir, compreender, ajudar e orientar: caminhar juntos exige amor, e o nosso serviço é de amor, dizia Santo Agostinho! 3. Permanecer com o rebanho: não podemos conhecer verdadeiramente o nosso rebanho como pastores, caminhar à frente, no meio e atrás dele, cuidar dele com o ensinamento e a administração dos Sacramentos se não estamos na Diocese... Sede Pastores acolhedores, a caminho com o vosso povo, com carinho, misericórdia, docilidade no tratamento e firmeza paterna, com humildade e discrição, capazes de ter em consideração também os vossos limites, com uma boa dose de humor...! É claro que não sempre consegui viver este programa de vida que o Papa propõe aos bispos, e por isso peço perdão aos diocesanos! E, se a graça de Deus vai me conceder ainda alguns anos de serviço nesta Igreja, espero corresponder com mais fidelidade a este chamado. 03
"Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem" (Jo. 10, 14)
Uma das responsabilidades do Bispo Diocesano é a VISITA PASTORAL que deve ser realizada, oficialmente, a cada 05 anos: depois os Bispos do mundo inteiro levam ao Bispo de Roma, aquele que simboliza a unidade da Igreja, o relatório da vida de sua Diocese. É a assim chamada "VISITA AD LIMINA". O último encontro oficial dos Bispos do Brasil aconteceu com Bento XVI nos anos 2009/2010. Com o Papa Francisco a CNBB já teve momentos extraordinários de comunhão e partilha no Rio de Janeiro por ocasião da JMJ: possivelmente em 2015 ou 2016 deverá acontecer em Roma um novo encontro, quando estaremos no limiar ("ad limina") ou ao lado do Sucessor do Apóstolo Pedro para partilhar com Ele avanços, desafios e projetos evangelizadores da Diocese. Pensando neste próximo encontro realizei a minha terceira Visita Pastoral às Paróquias, Áreas Pastorais e Comunidades da Diocese: nesta carta quero partilhar algumas impressões sobre estas visitas que iniciei em 2011, e, que hoje, na festa da Padroeira, estamos encerrando com a presença de todas as Paróquias da Diocese. São pensamentos simples que não esgotam a riqueza da vida cristã das nossas comunidades, mas que podem ser um estímulo para avançar mais... avançar para águas mais profundas... como sempre tentamos fazer! Em 2011 vivemos a etapa preparatória, com o objetivo de planejar os encontros e celebrações previstos para os três anos seguintes. Ÿ Em 2012, exatamente no dia 03 de março, iniciei, na Matriz de Sant´Ana em Gravatá, as visitas que me levaram ao encontro com as Pastorais, Movimentos e Comunidades que formam a Diocese de Caruaru. Estive em todas as Paróquias da Região Pastoral (RP) Sul (Gravatá, Bezerros, Chã Grande, Sairé, Camocim de São Félix, Barra de Guabiraba, Bonito, São Joaquim do Monte, Riacho das Almas). Ÿ
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Em 2013 estive com os paroquianos da RP Oeste (São Caetano, Tacaimbó, Cachoeirinha, Ibirajuba, Altinho, Agrestina) e RP Norte (Toritama, Santa Cruz do Capibaribe, Taquaritinga do Norte e Pão de Açúcar). Ÿ Em 2014 dediquei as visitas à Cidade de Caruaru (RP Centro) com o objetivo de descobrir novos métodos de evangelização no dinamismo de uma cidade que tem um dos maiores índices de crescimento do Brasil. Ÿ
Foram quatro anos de profundas emoções por tudo que pude perceber: a fé genuína do nosso povo, a acolhida fraterna dos padres e das comunidades, o diálogo com as Autoridades, a surpresa das belezas naturais da nossa região (poderia esquecer as cachoeiras de Bonito ou frio de Taquaritinga do Norte?), o desenvolvimento do comércio nas Sulancas da região, o crescimento das indústrias locais, o sofrimento causado pela seca, os sonhos dos jovens, os desafios das periferias urbanas, a indiferença religiosa e as grandes perguntas sobre o futuro da humanidade... Nestes anos surgiram novas Paróquias e Áreas Pastorais: muitas pequenas comunidades se constituíram seja nas áreas urbanas como na zona rural; melhorou a organização das Regiões Pastorais (RPs). Sempre contei com a disponibilidade dos Padres e dos paroquianos que entenderam as transferências como uma oportunidade para p crescimento e a renovação. Este período foi marcado, também, por grandes eventos eclesiais e sociais: Ÿ O Ano da Fé, por ocasião dos 50 anos do Concilio Vaticano II (outubro 2012 a novembro 2013) Ÿ A renuncia inesperada de Papa Bento XVI (2013) Ÿ A surpresa da eleição de Francisco, o primeiro Papa latino-americano (2013) 05
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Rio de Janeiro (2013) Os protestos nas ruas das maiores Cidades do Brasil (2013) O avanço dos processos da comunicação e das redes sociais Revoluções e conflitos no mundo muçulmano, guerras e violências sem fim no Oriente Médio, na Síria, no Iraque, na Faixa de Gaza e Israel (2014) Ÿ A Copa do Mundo de futebol no Brasil e as suas decepções (2014) Ÿ Ÿ Ÿ Ÿ
"Quem pratica a verdade, se aproxima da luz"
Jesus catequiza os discípulos de Emaús: para sermos fiéis à nossa vocação também nós precisamos de orientações claras. A fonte de inspiração e lâmpada para os nossos passos é a Palavra de Deus: por isso, realizamos, a partir do documento n. 97 da CNBB, "Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na missão da Igreja", um projeto de formação bíblica. É claro que teve avanços, mas ainda não podemos dizer que alcançamos o objetivo. Não conseguimos encantar e apaixonar os nossos católicos na leitura, no estudo e na vivência da Palavra de Deus. A partir de 2007 já tínhamos começado a aprofundar o "Documento de Aparecida": nele os bispos da América Latina nos convidavam para renovar toda ação evangelizadora. Nestes últimos anos, a Igreja, nos inspirou e motivou com documentos de extrema atualidade que vão orientar a nossa ação pastoral. Destacamos: Ÿ A Exortação Apostólica "A Alegria do Evangelho" (EG) do Papa Francisco (2013) Ÿ Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (CNBB-2011/2015). (Obs.: as Diretrizes serão reformuladas na Assembleia da CNBB em 2015) Ÿ Comunidade de Comunidades: uma nova Paróquia - A conversão pastoral da Paróquia (Documento n. 100 da CNBB - 2014)
(Jo. 3, 21)
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"Os seus olhos se abriram e eles O reconheceram..."
A catequese de Jesus se pode resumir em três aspectos: o anúncio do Reino, o diálogo com o Pai, a vida nova do amor recíproco. São estas as três dimensões da ação pastoral da Diocese e das paróquias: 1. Anúncio da Palavra: é a preocupação de levar o núcleo da fé cristã, o "querigma", a todas as pessoas, de todas as idades, em todas as situações sociais. Cristo veio para ser luz do mundo e sal da terra: que não conhece Jesus não tem a plenitude da realização humana. A missão de anunciar esta boa nova é um dever de todos os batizados Casa da Palavra: A comunidade cristã é a casa da Palavra, na qual o discípulo escuta, acolhe e pratica a Palavra. A Igreja se define pelo acolhimento do Verbo de Deus que, encarnando-se, armou a sua tenda entre nós... A liturgia é o lugar privilegiado para a Igreja escutar a voz do Senhor... Cada cristão precisa encontrar-se pessoalmente com Jesus Cristo e fazer um ato de adesão total ao Senhor. A comunidade é a casa da iniciação à vida cristã. Igualmente, os Círculos Bíblicos e a prática da Leitura Orante da Palavra, na perspectiva da animação bíblica da pastoral, muito podem oferecer para que este encontro se realize (CNBB Doc. 100 - n. 179/180). 2. Liturgia: é a celebração do amor de Deus em nossa vida. É ação de graças de todos os filhos de Deus através da vivência sacramental, sobretudo na Eucaristia e nos sacramentos da iniciação cristã. Casa do Pão: a comunidade cristã vive da Eucaristia... É o momento principal da vida comunitária. Ela é o encontro de Deus com a comunidade, da comunidade com Deus e dos membros da comunidade entre si... Na Eucaristia se estabelecem as novas relações que o Evangelho propõe. É a fonte inesgotável da vocação cristã e do impulso missionário (CNBB - Doc. 100 - n. 181/182)
(Lc. 24, 31)
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3.
Caridade: é a fé que produz obras de caridade e de serviço em favor dos mais pobres, através das pastorais sociais.É a Igreja que assume as atitudes do Bom Samaritano e se reveste de misericórdia para dar esperança aos que a sociedade materialista exclui do progresso. Ainda existem na Diocese muitas situações de sofrimento, de abandono e de extrema miséria. São as periferias geográficas e existenciais que ainda não atingimos. Casa da caridade: na Palavra e na Eucaristia, o cristão, nova criatura pelo Batismo, vive a relação com Deus e com o próximo: a dimensão do amor como ágape. A amizade torna-se o centro da caridade cristã. Essa amizade se traduz em compaixão pelos que sofrem, os membros da comunidade vivem o compromisso social, especialmente promovendo a justiça e os direitos humanos, numa evangélica opção pelos pobres e na prática da ética do cuidado com todos os necessitados da sociedade... É preciso que haja uma presença pública da Igreja na sociedade.. Sendo missionária, a comunidade cristã anuncia Jesus Cristo com gestos concretos de promoção e de defesa da vida e trabalhando para que a paz seja fruto da justiça (CNBB - Doc. 100 - n. 183/184)
Depois destes anos de encontros posso afirmar com convicção que existe nas Paróquias muita generosidade, muito esforço, trabalho e ações bonitas que fazem da nossa Diocese uma Igreja dinâmica, jovem e missionária seja na ação dos seus leigos e leigas como também das pessoas consagradas. Nem sempre, porém, estas ações são conhecidas pela comunidade eclesial e pelos meios de comunicação social. Quero, portanto, parabenizar a todos os anônimos missionários e missionárias que vivem o seu batismo! Quando, às vezes, afirmo que a nossa é a melhor Diocese do mundo, não é brincadeira, mas é a convicção da ação evangelizadora que avança! Existem defeitos e limites, mas há sobretudo uma vontade comum de melhorar e de não parar nunca perante o pessimismo de alguém que não acredita na ação do Espírito de Deus. "Uma das tentações mais sérias que sufocam o fervor e a ousadia é a sensação de derrota que nos transforma em
"Não estava ardendo o nosso coração quando Ele nos falava?" (Lc. 24, 32)
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pessimistas lamurientos e desencantados com cara azeda... O triunfo cristão é sempre na cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal. O mau espírito da derrota é irmão da tentação de separar prematuramente o trigo do joio, resultado de uma desconfiança ansiosa e egocêntrica" (EG n. 85). É verdade que possam aparecer, às vezes, atitudes de cansaço e de desânimo perante os desafios que a modernidade e a sociedade de consumo apresentam: talvez falte um pouco de criatividade e de ousadia pastoral, talvez alguém se acomodou no "sempre se fez assim" sem perceber os sinais dos tempos que exigem novos métodos, novas expressões e nova confiança no Espírito Santo que continua sustentando a Igreja e propondo novos caminhos. Papa Francisco afirmou recentemente (05 de setembro) que o Evangelho é novidade e que não se deve ter medo das mudanças na Igreja. "Convido a todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades" (EG n. 33)
"Mãe das Dores, mostra-nos o caminho do serviço e do encontro"
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Terminando agora todas as Visitas Pastorais posso lançar o olhar para alguns aspectos da evangelização diocesana: não é tudo, mas é o essencial que poderá orientar a nossa Diocese, inclusive na XXI Assembleia Diocesana de Pastoral. Ÿ Conselhos Pastorais: são fundamentais para fazer da paróquia "a casa e escola de comunhão". Foram criados e funcionam em muitas paróquias. Existem os Conselhos Comunitários nos bairros, nas Capelas e nos sítios. Há lideranças que sabem valorizar os diferentes carismas e serviços que constroem a comunhão fraterna. Não estranhem, porém, se afirmo que existem também Conselhos fictícios ou bem maquiados por ocasião da visita do bispo. É uma realidade que não pode ser escondida: ainda devemos aprender a trabalhar em conjunto. O nosso poder estará sempre no serviço humilde e na comunhão.
Domingo, dia do Senhor: quero refletir sobre este aspecto, seja do ponto de vista social, como religioso. Na nossa Diocese o povo depende, em grande parte, do comércio e das feiras. Outras fontes de renda são as pequenas indústrias, a agricultura e a pecuária (prejudicadas pela seca) e o turismo. Muitas famílias deixam a zona rural. Cresce a migração em direção às maiores cidades da Diocese: Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Gravatá. Aumenta também a tendência de fazer do domingo apenas um dia de comércio e de lazer: como cristãos somos chamados a valorizar o domingo como dia de festa, de caridade e de encontro com Deus e com os irmãos. Se a vida se reduz apenas ao consumismo e ao lucro acima de todos os valores da convivência, corremos o risco de enfraquecer a vida comunitária, o repouso, a família, a fé e a liberdade com graves consequências para as novas gerações. De minha parte farei sempre o possível para que o domingo seja respeitado conforme a lei divina do repouso semanal para todos. Ÿ Religiosidade popular: é uma característica da nossa região. Deve ser valorizada. As procissões, o amor à Nossa Senhora e aos Santos, as rezas e as Novenas nas casas, as Romarias ao Juazeiro do Norte e as missões de Frei Damião etc. sempre ajudaram os nordestinos a enfrentar as dificuldades da vida sem perder a confiança em Deus. Cabe a nós iluminar e purificar esta fé com uma sólida formação cristocêntrica. Acredito que, como Diocese, devemos dar mais atenção aos lugares da fé popular e instituir a Pastoral dos Santuários. Ÿ Evangelização e Comunicação: há muitas iniciativas nas Paróquias. As Novas Comunidades (Restauração, Manaim, Canção Nova, Kairós etc.) investiram em rádio e internet. As redes sociais podem prestar um ótimo serviço na difusão do Evangelho e das atividades da Igreja. As TVs católicas tem uma grande penetração nas nossas casas. Padres e Leigos sabem usar bem das emissoras de rádio presentes em quase todas as cidades, através de Missas dominicais e programas de formação. Hoje todos temos consciência de que é impossível renovar a evangelização sem uma adequada Pastoral da Comunicação: Ÿ
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por isso a Diocese organizou a Pascom Diocesana que está prestando grandes serviços através do seu site (www.diocesedecaruaru.com.br) e da grande penetração do Jornal "Coração Eucarístico". Agradeço a todos os serviços prestados e recomendo que continuemos neste caminho: se não sabemos utilizar bem esta "ferramenta" de evangelização, lembremo-nos que jovens e até crianças podem nos ajudar! Ÿ Evangelização da Juventude: a organização do Setor Diocesano da Juventude e a Jornada Mundial da Juventude estão revitalizando a Pastoral Juvenil das Paróquias. Quando temos a impressão de que hoje é difícil a ação pastoral no meio dos jovens não esqueçamos que entre eles ainda há muito entusiasmo, sonhos e ideais: se soubermos valorizar mais a juventude garanto que teremos muitas surpresas agradáveis! Tem vocações generosas que brotam na idade da adolescência: talvez seja necessária uma atenção maior para com os nossos adolescentes. Ÿ Infância e Adolescência Missionária: foi uma das prioridades da Diocese para estes últimos três anos. Talvez ainda não foi possível dinamizar como sonhávamos, mesmo assim estamos avançando, porque tem padres e membros da Infância Missionária que colocam as suas capacidades pastorais e o seu tempo a serviço das crianças e do seu potencial evangelizador. Ÿ Evangelização da Família: não há como negar que a família continua a ser a célula mais importante da sociedade e da Igreja. Os próximos Sínodos da Igreja (outubro de 2014 e de 2015) convocados pelo Papa Francisco tem como tema: "Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização" e tem como objetivo responder às grandes interrogações e dúvidas que surgem sobre a vida, o matrimônio, a responsabilidade da educação integral. A nossa Diocese sempre se preocupou com a Pastoral Familiar: temos cursos de preparação ao casamento, encontros de casais, pastoral dos casais de segunda união. Colaboram na ação evangelizadora da família alguns movimentos como ECC, ENS, Família Novas. Sabemos que a família constitui um recurso 11
inesgotável e uma fonte de vida para a pastoral da Igreja: por isso devemos nos empenhar no anúncio da beleza da vocação para o amor, grande potencial também para a sociedade e enfrentar com coragem a formação dos jovens para o matrimônio. Ÿ Ecumenismo: desejo falar sobre este assunto porque acredito que faz parte da nossa missão de católicos. Na Visita Pastoral não tive a oportunidade de encontrar irmãos de outras denominações cristãs, a não ser casos isolados: e, justamente por isso, quero convocar os agentes pastorais para estarmos mais atentos aos sinais positivos de diálogo que existem nas nossas comunidades. Ÿ Leigos e Leigas, Associações, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades: na ação evangelizadora devemos valorizar todas as vocações, carismas e serviço. Um diálogo fraterno entre leigos, consagrados e Ministros ordenados é uma necessidade da nossa pastoral. Existem realidades promissoras nas nossas Paróquias, Áreas Pastorais, Regiões Pastorais e Coordenações das diferentes pastorais. A Legião de Maria, o Apostolado da Oração, o Cursilho de Cristandade, os Vicentinos, o Movimentos dos Focolares, o Terço dos Homens, a Renovação Carismática Católica, o Cenáculo da Graça, o Movimento Mãe Rainha, as CEBs e outras realidades eclesiais ligados às Ordens e Congregações religiosas continuam a ser um válido instrumento de evangelização. E devemos estar atentos ao "novo" que está surgindo: as Novas Comunidades. Além de Canção Nova e Obra de Maria que tem origem e alcance internacional são muitas as comunidades que surgiram na Diocese. São novas realidades presentes nas Paróquias: devem ser acompanhadas para que possam se sentir Igreja e protagonistas de uma nova evangelização. Ÿ Relacionamento com as Autoridades: no respeito das respectivas funções é importante ter um bom dialogo com aqueles que representam as Instituições públicas. Posso afirmar que em todas as cidades da Diocese tivemos encontros fraternos: sempre fui bem acolhido e juntos conversamos das necessidades do nosso povo. É um diálogo construtivo que pode crescer ainda mais. 12
Construções de edifícios para o culto: o crescimento da nossa região, sobretudo das áreas urbanas, está exigindo um esforço enorme a fim de angariar fundos para construções de Igrejas, centros pastorais e casas paroquiais. Temos pelo menos 06 futuras Matrizes em construção e um número muito maior de Capelas e Igrejas que o povo está erguendo para os momentos de oração e de encontro. Estas construções favorecem a vida e a organização das comunidades. Tem alguns padres que tem um verdadeiro "dom" para atender a estas necessidades. Estão surgindo muitos novos conjuntos habitacionais: devemos estar atentos para conseguir logo os terrenos, que por sinal são previstos pelo Acordo entre a Santa Sé e o Brasil. Ÿ Cultura urbana: a cidade que oferece serviços e vantagens para o povo lança também novos desafios à ação da Igreja! São realidades que encontrei nas minhas visitas e que precisam mais atenção: a mobilidade urbana e o superamento dos limites paroquiais territoriais; a exigência de novas formas de comunidades ambientais (Ex.: Hospitais, Universidades e Colégios, Empresários e Artistas etc.); os condomínios fechados e a pastoral dos prédios; o aumento dos moradores de rua e a favelização das periferias; o turismo e lazer. Ÿ Administração dos bens: Uma realidade desafiadora e que hoje está ocupando um tempo relevante na administração da Diocese e das Paróquias são os bens materiais. Além da responsabilidade de prestar conta ao nosso povo por tudo aquilo que a Igreja possui, seja como patrimônio adquirido ao longo dos séculos, seja como ofertas, dízimos e outras campanhas, existem leis do Estado e práticas modernas de contabilidade que devem ser observadas. Não quero aprofundar aqui estes assuntos, porque já foram tratados nas visitas à Paróquias e em outras reuniões da Diocese. Sinto, porém, o dever de reafirmar a importância dos Conselhos Econômicos (obrigatórios para todas as Paróquias), o acompanhamento da Consultoria L. Caldas, o processo de informatização da Diocese e das Paróquias com a Theós Informática e o contrato com a Imobiliária Wallas Oliveira e o Setor Jurídico que cuidam da Administração do Patrimônio e dos Imóveis. Para estas finalidades são de extrema importância a Ÿ
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profissionalização das Secretárias/os paroquiais. Cabe-me agora confirmar tudo o que iniciamos nestas áreas depois de muitas reflexões e debates consultando assessores especializados. E estaremos atentos às novidades que se apresentarem para sermos sempre fiéis ao nosso povo que colabora com a Igreja e sempre disponíveis com as necessidades dos mais pobres.
Fica conosco Senhor (Lc. 24, 29)
Não pretendo, a partir da Visita Pastoral, fazer um plano de Pastoral Diocesano. Quero apenas destacar alguns aspectos que deverão acompanhar e orientar a ação evangelizadora: Ÿ XXI Assembleia Diocesana de Pastoral: tem por objetivo mostrar pistas para os anos 2015/2017, em comunhão com o Papa Francisco, a CNBB e o Regional Nordeste II. Na Assembleia serão definidas e aprofundadas as dimensões e as prioridades pastorais, os processos de formação permanente, as diretrizes para os Sacramentos. A ação evangelizadora da Diocese tem boas perspectivas e pode contar também com as Comissões Pastorais Diocesanas e os encontros das Regiões Pastorais (Rps). Ÿ Grandes Eventos: realizamos, há poucas semanas atrás, o II Rios de Água viva, evento que juntou no Pátio de Eventos de Caruaru, talvez mais de 100 mil pessoas. Recebi muitas apreciações positivas. O próprio Conselho Diocesano de Pastoral reafirmou a necessidade de dar continuidade em todos os anos. Eu, também, acredito que são importantes para o nosso povo, sobretudo para as pessoas mais simples. É uma maneira de se sentir igreja viva junto com muitos irmãos e irmãs que professam a mesma fé. Ÿ Seminário Nossa Senhora das Dores e o cuidado com as vocações: deixei para o final a minha reflexão sobre as vocações que garantem a caminhada da Igreja nos nossos dias. Não haverá uma nova evangelização sem agentes pastorais conscientes da sua vocação. Para isso é fundamental investir 14
"A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu" (Jo 19, 27)
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no seminário, na equipe dos formadores e nas estruturas físicas do seminário. E o fato que outras Dioceses nos procuram para enviar os seus seminaristas nos obriga a redobrar o cuidado com a organização do Seminário Nossa Senhora das Dores. Há alguns anos começou-se uma grande reforma com ampliação para acolher os que são chamados para a consagração no sacerdócio. É um investimento alto, mas estou convencido de sua necessidade, levando em conta que todo o projeto tem por objetivo reformar também o Centro Pastoral para que seja um local de formação para todas as vocações, sobretudo leigas. Até hoje não faltou a Providência divina para este empreendimento e Deus vai nos ajudar para continuar! O discípulo João acolheu Maria na sua história, na sua casa: e com Ela entendeu melhor as palavras de Jesus. Com a Mãe das Dores também nós podemos dar à nossa Diocese um estilo mais mariano, mais humano, mais fraterno: o Papa Francisco resume em poucas palavras o que significa adotar o estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja: «Sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto. Nela, vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam maltratar os outros para se sentir importantes. Maria sabe reconhecer os vestígios do Espírito de Deus nos grandes acontecimentos como naqueles que parecem imperceptíveis. É contemplativa do mistério de Deus no mundo, na história e da vida diária de cada um e de todos. É mulher que ora e trabalha em Nazaré, mas é também Nossa Senhora da prontidão, que sai às pressas da sua povoação para ir ajudar os outros. Essa dinâmica de justiça e ternura, de contemplação e de caminho para os outros faz dEla um modelo eclesial para a evangelização" Este é o perfil mariano e missionário que já encontro nas comunidades quando me deparo com o imenso trabalho evangelizador das mulheres! Não poderia terminar esta carta sem expressar a minha gratidão pela presença discreta e marcante das mulheres na catequese, na liturgia, no serviço da caridade.
A Diocese de Caruaru, com gratidão, hoje olha para a Cruz onde Maria esta presente e a invoca para que possamos, com Ela, realizar o projeto de Deus. Eu também devo agradecer. Foi uma experiência extraordinária estar com o povo que gosta de receber o Bispo! Senti isso em todas as Paróquias, mas o mérito não é meu, é fruto de uma catequese de muitos anos sobre a missão confiada por Jesus aos Apóstolos. O Povo de Deus sabe que as palavras de Jesus não passam: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja"! E os Pastores (Bispo e Padres) que tem o "cheiro das ovelhas" sabem que podem contar com pessoas disponíveis para continuar a missão de Jesus. Ao Clero, às Religiosas, aos Leigos e Leigos engajados nas mais diferentes atividades pastorais, paróquias, comunidades e movimentos, ao Seminário Nossa Senhora das Dores, à Fafica e ao Colégio Diocesano o obrigado sincero de quem partilhou, ao longo das Visitas Pastorais, as alegrias e as esperanças, as dores e sofrimentos do Povo de Deus! Que a Mãe das Dores, com a sua oração e o seu exemplo, ajude as nossas comunidades a se tornarem "a casa e a escola de comunhão" para todos. E que Cristo Ressuscitado, pela força do Espírito Santo, nos confirme na certeza de que, com Ele, somos chamados a transformar o mundo: "Eis que faço novas todas as coisas" (At. 2, 5). Com Maria, avancemos confiantes para essa promessa!
"A minha alma engrandece ao Senhor... (Lc. 1, 47)".
Caruaru, 15 de setembro de 2014 Festa de Nossa Senhora das Dores, Padroeira da Diocese Dom Bernardino Marchió Bispo Diocesano de Caruaru 16
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