3 minute read
Vida Presbiteral
Religiosidade Popular: a fé simples do povo!
Das orações de cada dia, às rezas na agonia. Das excelências cantadas na morte, à romaria à Aparecida do Norte. Da peregrinação nesta terra, enfim, à pátria mãe que nos aguarda. Com louvores e benditos, saudamos o Santos queridos. Valei-me, São Pedro chaveiro, São João seu companheiro, Santo Antônio casamenteiro. Talvez as expressões acima, para muitos, não revelem a grandeza e a beleza de uma religiosidade chamada popular. Reza simples de gente fervorosa, que entendeu que, para se aproximar de Deus, não carece discursos eloquentes. Carece sim, corações quentes, simples e confiantes. No Santo Evangelho, Jesus nos revelou que Deus, aos sábios e doutores, os mistérios ocultou. Resolveu revelar aos pequeninos pois deles recebeu abertura. O grande Papa Bento XVI, em Aparecida
Advertisement
revelou: “esta religiosidade se expressa também na devoção aos Santos com suas festas patronais, no amor ao Papa e aos demais pastores, no amor à Igreja universal como a grande Família de Deus.” Engana-se quem acha que os simples não sabem rezar! Muitas destas orações sustentam a fé destes fiéis devotos que, impossibilitados de participar da Santa Missa, não deixam de prestar o seu culto de louvor a Deus. Estes atos de fé traduzem o desejo e, ao mesmo tempo, o senso de pertença à Igreja. Busquemos valorizar sempre esta fé pura e simples das liturgias da vida deste povo. Aprenderam a amar Deus e a temer o inferno. Se existe alguma coisa a ser purificada, não se pode lançar fora toda a grandeza e a beleza desta religiosidade. A liturgia da Igreja é carregada de uma beleza única. A teologia, por trás de cada rito celebrado, é um abismo de grandeza. A religiosidade popular une-se a esta liturgia para revelar, no dizer
de Papa Bento: “O precioso tesouro da Igreja Católica”. Uma pena perceber que as nossas grandes cidades sequestraram a religiosidade popular do convívio social. Em muitas cidades, esta religiosidade está somente na lembrança daqueles que não esquecem de suas origens.
Falando da Vida
Viu, teve compaixão e cuidou dele
Antes de julgar e agir é preciso ver.
No lema da Campanha da fraternidade de 2020, extraído da parábola do bom Samaritano pode-se facilmente perceber as três etapas do método ver, julgar e agir que orienta a maioria dos documentos da igreja católica especialmente aqueles que foram produzidos pelo Papa Francisco. Creio que essa metodologia é importante, pois ajuda a direcionar nossas ações independentemente do nosso objetivo. Por esse método podemos perceber que a compaixão é precedida de uma postura aberta e consciente diante dos fatos, sem a qual agimos às cegas e os objetivos ficam comprometidos. É preciso ver: é impossível fechar os olhos para o que está acontecendo. As pessoas mais abastadas que têm condições de viajar trouxeram o vírus do exterior, adoeceram, mas puderam se tratar em hospitais de qualidade. O mesmo não aconteceu com as pessoas pobres que contraíram o vírus e habitam as favelas. Elas não viajaram ao exterior e estão morrendo por falta de leitos e de condições dignas. Segundo dados do Ministério da Saúde, a letalidade da COVID 19 é maior entre negros do que entre brancos. Logicamente que esse fenômeno não se explica pelas diferenças raciais e sim pelas socioeconômicas. É preciso julgar: sem dúvida, é bonito ver entidades se organizando para recolher donativos, pessoas se unindo para ajudar, mas será que estamos julgando de maneira sensata? Quem são aqueles que mais precisam da nossa ajuda? Certamente são muitos, mas dentre os pobres, existem aqueles que são mais pobres e são para essas pessoas que a nossa ajuda tem que chegar. Muitas boas ações perdem a sua finalidade exatamente porque são feitas de maneira impulsiva, sem o devido cuidado em averiguar a real necessidade daqueles que buscam ajuda.
Romildo R. Almeida
Psicólogo Clínico
É preciso agir: não podemos ficar parados e ignorar o que está ocorrendo. Nossa quarentena não pode se resumir a ficar em casa com acesso a internet, Netflix e uma geladeira cheia. O nosso coração não pode ficar em isolamento. Entretanto, até para ajudar é preciso ter prudência. Existem aproveitadores que se beneficiam da boa fé do povo em proveito próprio. A providência divina é sagrada e ela não pode ser desperdiçada ou gerenciada com displicência. Afinal a maior caridade é o amor ao próximo e o bem que fazemos ao outro, em última instância, fazemos a nós mesmos.