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Voz do Pastor
Iluminados por Cristo e pela Igreja
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Nossas comunidades eclesiais missionárias, na fidelidade a Cristo e à Igreja, iluminadas por Cristo e pela Igreja, são chamadas a evangelizar o mundo urbano, que não é somente uma região geográfica. “Nosso mundo vai se torando uma grande cidade, onde o viver se manifesta fortemente interligado e o estilo de vida das metrópoles é capaz de influenciar outras cidades e até mesmo o mais distante ponto do planeta, principalmente em decorrência do influxo atual dos meios de comunicação.” (DAGE 46) Iluminados por Cristo e pela Igreja, percebemos a dificuldade de transmitir a fé no mundo urbano que sofre rápidas e profundas transformações (mudança de época) com crise ética e relativização do sentido do pecado, corroboradas por tantas formas de sofrimento, pobreza e miséria. É verdade que a redescoberta da individu alidade e emancipação do sujeito, coloca em relevo a dignidade da pessoa, irrenunciável e insubstituível. Isso é conforme o projeto de Deus. Entretanto, na maioria das situações, a individualidade se degene ra em individualismo. O motor que propaga e fortalece este individualismo é a ideologia consumista. O individualismo consumista cria a lógica do indivíduo isolado, a lógica do “salve-se quem puder”. O mundo urbano mascara o individualismo com o ideal da indi vidualidade. Dá vontade de cantar com o Gilberto Gil: “Va mos fugir deste lugar!”. Entretanto, animados pela fidelidade a Cristo e `a Igreja, as comunidades eclesiais missionárias conseguem ver e ter uma luz que não permite a predominância das sombras. As comunidades eclesiais missionárias na força do evangelho, sabem resistir e ser resilientes. Aquilo que degrada, não tem poder de vencer. O Evangelho e a prática de Jesus sempre dá à comunidade ousadia e criatividade para reinventar caminhos para reconstruir. Tantas atividades de nossas comunidades mostram que é possível valorizar mais as pessoas que o consumo. Abrem-se, inspirados nos valores do Reino de Deus, espaços novos na cidade de solidariedade e encontro. Temos em nossas comunidades eclesiais missionárias agentes de pastoral possuidores de um abnegado heroísmo, testemunhas da força do amor de Deus, que se lançam, não confiando em suas forças, mas na graça do Senhor, que tudo pode, e eles tudo podem naquele que os fortalece. Não precisamos fugir deste lugar. Deus habita esta cidade. Ele está no meio de nós! As DGAE, citando a Evangelii Nuntiandi (de 1975 !), dizem: “Quando a Igreja fala em evangelização da cultura urbana, tem clareza de que não se trata de pregar o Evangelho em espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa, mas de chegar a atingir e como que modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam
em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação.” (DGAE 31) Aqui está um pouco delineada a vocação das nossas comunidades eclesiais missionárias. Entre o pensar e o fazer, temos no meio um imenso oceano. Não intransponível, certamente. Precisamos construir uma ponte entre o pensar e o fazer. Nossas comuni dades eclesiais missionárias precisam estar sustentadas pelos pilares da Palavra, do Pão, da Caridade e da Ação missionária, como nos indicam as DGAE.
O texto acima foi escrito antes da declaração da pandemia. A pandemia, com seu consequente iso lamento social, torna a reflexão ainda mais forte. A missão da Igreja não pode ser vivida atra vés de comunidades virtuais e nem de reuniões virtuais. Isso atualmente é uma necessidade. No entanto, temos que pensar no pós pandemia. Aqui quero fa zer algumas reflexões que julgo importantes para os agentes de pastoral e os padres. Em nosso mundo urbano metropolitano, se guramente, estamos tendo o aumento do sofrimento e da miséria. Nossas paróquias estão se desdobrando, enquanto podem, para amenizar as situações de sofrimento. O sofrimento e a miséria não podem ser justificativas para relaxar o sentido de pecado, a ética e a moralidade. A Igreja antes, durante e depois da pandemia é guardiã do “Evangelho da Vida”. A caminhada pastoral de nossas paróquias e comunidades terá que ter um olhar atento para o que realmente mudou. Teremos que aproveitar todo espírito de solidariedade e partilha surgido durante a pandemia, para que o individualismo egoísta seja su perado e o que foi implantado num tempo difícil se torne permanente. Será preciso também trabalhar para amolecer o que se tornou mais duro com o sofrimento e o isolamento. O anúncio do evangelho terá que vencer o medo que pode ter feito as pessoas sentirem-se “seguras” quanto mais isoladas. Neste sentido, os CPPs, os COMIPAS, as equipes de articulação pastoral das paróquias terão que refletir à luz do Evangelho quais inovações deverão ser realizadas. Acredito que não será um simples “vamos recomeçar de onde paramos”. Nossa pastoral terá que reforçar, em todos os níveis, a catequese da vida de comunhão em co munidade. Penso que cada paróquia deverá trabalhar na reconstrução e restauração das bases de cada comunidade, de cada comunidade de base que, na realidade, são as bases da paróquia. Antes de pensar nas estruturas paroquiais ou diocesanas, será preciso restaurar o grupo de rua, o grupo de reflexão que foi interrompido bem na metade da quaresma. Terá que ser dada atenção especial e individualizada a cada pastoral e movimento para que possa retomar suas atividades evangelizadoras. O isolamento social – importante para a saú de – pode trazer consigo a relativização da assembleia litúrgica, pois a participação nas Eucaristias pelos meios de comunicação e o ensino da possibilidade e a força da comunhão espiritual, podem dar a falsa impressão que a necessidade da presença física nas assembleias litúrgicas tornou-se relativa. A validade e a força dos Sacramentos exigem fé, presença física, matéria e forma. A comunhão eucarística espiritual é inferior à comunhão presencial, física, do Corpo e San gue de Cristo. Rudemente falando, Jesus não instituiu a Eucaristia para participarmos dela espiritualmente ou somente para adoração. Ele disse: “Tomai e comei”; “tomai e bebei”; “fazei isto em memória de mim.” Aqueles que tiveram a oportunidade de comungar o corpo do Senhor fisicamente neste tempo, poderão entender melhor o que estou dizendo. Não foi simples mente por questões sentimentais, que após um mês de isolamento social, sem a comunhão fisicamente, que autorizei às paróquias organizarem momentos para a comunhão fora da celebração da Eucaristia. Aliás, costume que não é estranho à Igreja e que teve uma forma extraordinária nesta situação. Estranha mente, alguns teólogos de gabinete e, talvez, sem vida comunitária, andaram escrevendo que a comunhão e adoração eucarística acabam se tornando “fetiche” neste tempo de pandemia. A assembleia litúrgica eucarística é ponto de chegada e de partida para a ação da Igreja. Ela forma a comunidade cristã e lhe dá uma identidade. Identidade de ser o corpo místico de Cristo que não tem resquício algum de individualismo. É ponto de chegada, pois celebramos a vitória de Cristo em nossas vidas, nas lutas de cada uma das nossas comunidades para a vivência e anúncio do Evangelho. É ponto de partida, pois é na força do mistério pascal, celebrado em cada Eucaristia, que restauramos nossas forças para a continuidade da missão. Talvez não retornaremos ao normal de uma vez em nossas assembleias litúrgicas. Nos países onde estão voltando, estão respeitando um protocolo de segurança sanitária. Isso acontece também em alguns lugares do Brasil. Sem dúvida isso nos ensinará, não somente a importância das nossas assembleias, mas fará de nossas assembleias mais atenciosas para com o outro. Oxalá com tudo isso aprendamos a olhar para o outro de forma diferente em nossas comunidades. Quando falamos de assembleias litúrgicas e dos Sacramentos estamos falando de um pilar fundamental da comunidade eclesial missionária que é o pilar do pão. A restauração de nossas atividades evangelizadoras pós pandemia, não será somente com o pilar do pão, mas com todos os outros pilares. No entanto, não que vou me alongar aqui. Não dá para dizer quando poderemos começar a colocar em prática esta restauração. No próximo artigo pretendo continuar falando desta restauração pós pandemia e espero mesmo já estarmos vivendo outra realidade.