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Testemunho

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Igreja em Missão

Igreja em Missão

Experiência de dor, caos e luta pela vida Testemunho do Padre Lauro

DOR: Desde os dias 20 a 25 de março, pelas dores no corpo todo, dor de cabeça, costas, momentos febris (dores indizíveis), creio que o COVID -19 já estava em mim. Como não tive dor de garganta, nem tosse e nem coriza, eu mesmo (primeiro erro) não me imaginava com o coronavírus. Continuei os serviços na paróquia, redobrei os cuidados pessoais, procurei manter com seriedade a distância, a higienização, uso do álcool gel, lavava as mãos constantemente etc., embora as dores. Tornei-me até intransigente com o povo da paróquia. Por cinco vezes passei nos Drive Thru, porém sempre: não é vírus, ia embora e as dores aumentando.

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CAOS e VIA CRUCIS: Quinta Feira Santa, não me sentia bem. Por dever de caridade e consciência, como iria participar da Missa do Crisma, quis certificar-me, para de repente não ser eu a transmitir o vírus aos irmãos padres. Passei pela terceira vez no hospital de campanha no Cecap e ouvi aquilo que já tinha ouvido: o senhor não está com o vírus, a única recomendação o senhor está com a frequência baixa, deveria estar com 75-80 e o senhor só está com 35-40, deves procurar um cardiologista.

Preocupei-me e liguei para meu cardiologista e ele estava no interior. Marcamos consulta para a segunda feira após a Páscoa. Fui à missa no seminário, com cuidado, usando máscara, como estava usando desde o dia 02/04. Outro erro: como ninguém estava de máscara, me senti envergonhado e a tirei. Peso de consciência: no hospital me perguntava: será que não contaminei alguém? Graças a Deus não soube que seminaristas ou algum padre tenha se contaminado pelo vírus. Que alívio! Afinal o que é esta tal de frequência? Hoje sei que é a cardíaca, ou os batimentos do coração por minuto.

Sexta Feira Santa: as dores se agravam. Pela manhã fui até o Thru no Pacaembu e ouvi que era apenas um resfriado. Celebrei à tarde e comentei com uma ministra da Eucaristia: se houvesse procissão hoje eu não teria condições de participar.

Domingo de Páscoa: Celebrei ao vivo, pelo Facebook, a missa de Páscoa, mais na fé e no pulso do que pelas condições físicas. Fui novamente para o Cecap, ardia em febre e quase não aguentava de dor e febre. Passando no THRU, me encaminharam para o médico. Fui atendido por uma médica muito gentil e atenciosa, irmã de um padre meu amigo de Taubaté, concluiu que estava com dengue. Constrangimento: a médica começou chorar e isto, já me fez sentir na pele que não só quem procura a saúde pública sofre, mas como o profissional de saúde sofre, pois além de dois aparelhos: o de auscultar os pulmões e frequência cardíaca e não mais que o de auferir a pressão não tinha acesso a teste, remédio, ET.c, mais nada. Pedido: procurar o posto de saúde para que me encaminha-se ao UPA. O desabafo e choro dela foram comoventes.

Segunda-feira, 6hs em jejum, cardiologista. Solicitação de muitos exames urgentes. Desespero: em Guarulhos todos os laboratórios fechados. O A+ do grupo Fleury aqui em Guarulhos aberto, que alívio! Nada! Não atendia pelo convênio. Encaminharam- -me para Tatuapé, fui até lá e fechado. Opa, um aviso procurar no Brás Leme, zona norte, fui, e fechado. Um compadre, médico oftalmologista, pediu para ir direto até o Fleury, atrás do Hospital Santa Catarina, novamente fiquei sem saber para onde ir, pois não atendia pelo convênio. Orientado por uma atendente que liberou um manobrista, pois quase não me suportava em pé, levou-me até à Brigadeiro Luis Antonio e pelas 11hs coletaram sangue para 23 exames, etc., porem não podiam marcar presencialmente os outros exames: tomografia do tórax, Raio X, ecocardiograma colorido etc., que também eram urgentes. Só era possível marcar pelo Watzap. Outra queda, segunda feira, dia 13/04 só consegui marcar para 24/04. Em 30 horas obtive o resultado de 23 exames. Não era dengue e pelo hemograma não conseguiam detectar nada. O próprio cardiologista começou a se preocupar porque as dores eram mais intensas e a febre também. Pediu e ajudou-me a encontrar uma infectologista e conseguimos no Nipo Brasileiro. Fui atendido na quinta feira e ela detectou pneumonia aguda com comprometimento no pulmão direito. Pediu os mesmos exames do cardiologista e acrescentou outros dois com urgência. Novo problema com o convênio, agora exames só para dia 25/04, acrescido da diferença de um exame para o outro de até 4hs. Pensei acionar o procon. Anjos na vida. Meus compadres médicos, sito o nome pela gratidão e porque graças a Deus e a eles estou vivo: Dr. Marcelo Mastromonico Lui e a drª Márcia Beltrami Lui, muito

preocupados comigo me ligaram pedindo para enviar a foto do cartão do convênio e imediatamente me dirigir ao Hospital Carlos Chagas que haveria uma equipe médica me esperando. Chegando ao hospital fui prontamente atendido, posto no oxigênio e internado para exames. Passei a noite no isolamento e pela madrugada UTI. Confirmado o exame do covid-19 deu positivo. Na UTI nova dor, dor auricular e uma alergia de enlouquecer.

AMOR: preocupação do cardiologista que uma ou duas vezes por dia procura saber como eu estou. Através da fotografia de uma igreja que ele me enviou afirmando que procurou alguma igreja aberta em S. Paulo, pois precisava entrar e rezar por mim. Senti o quando era séria e grave minha enfermidade. Dr. Marcelo e Drª. Márcia, compreendi as vossas preocupações e como sou grato a vocês, bem como a minha irmã pelos cuidados. Afirmei e reafirmo, está gravado no Facebook na mensagem pedida pelos agentes de saúde e funcionários no momento da alta na recepção do hospital: a) gratidão a Deus por me devolver a vida, me dar uma segunda chance; b) Gratidão a N.Senhora, experiência indizível . Como sentia a presença dela principalmente nos momentos mais difíceis e complicados vividos na UTI e total isolamento no hospital. c) A força da oração e o apoio dos familiares, pa

roquianos, amigos, crianças, muitas pessoas anônimas, tantas orações e apoio que não consigo quantizar. Ah, pude compreender melhor o Evangelho (Mt 25,36): “ estive doente e cuidastes de mim”. Quanta angústia, preocupações, cuidados dos profissionais da saúde com os comedidos pelo covid-19. Dor, tristeza e insegurança diante das perdas (óbitos) e, quando colegas de serviço e turno eram afastados por terem adquirido o vírus. Mesmo assim a necessidade e o dever profissional de cuidar dos enfermos. Percebi a necessidade urgente de ser nestas horas alguém que pudesse ajudar espiritualmente. Deus me privilegiou de poder, apesar da saúde debilitada exercer meu sacerdócio a alguns destes abnegados e dedicados profissionais. Preocupações e às vezes irritações diante daquilo que via pela televisão, mesmo do que alguns médicos, infectologistas, secretários de saúde, presidente, alguns jornalistas afirmavam pelas redes sociais, cujo lugar devia ser: estar na linha de frente nos hospitais, falar menos e viver o drama tanto dos comedidos pelo vírus, bem como dos profissionais da saúde que sabiam que cada minuto era importante para a vida dos doentes e de não se contaminarem. Angústias, dramas pessoais... Como pensei e rezei pelos pobres! Se eu, com bom convívio, conhecimento pessoal de muitos médicos, amigos, convêenio... deparei-me com tantas dificuldades. Ficava a imaginar: e os que de fato só dependem do SUS?! Quantas angústias, sofrimento, de profissionais de saúde, pais e filhos que vivem na pobreza e dependem da saúde pública tão suca

teada... Quantos sonhos, esperanças, vidas ceifadas e interrompidas pelo descaso de muitas autoridades, corrupção inescrupulosa na aquisição dos meios necessários para a saúde nas políticas públicas. Viver diante do covid-19, cada dia novas manifestações de dor. Mal começa superar uma, nova esperança e logo outra surpresa, nova situação, algo assim desolador quando se percebe esvaírem-se as forças, a coragem, o esforço, sentimento de perda e de chegado o fim da carreira (vida). Até o pegar no sono se torna preocupante. Vou dormir e...! Tudo se torna relativo e nesta hora o que valia era poder sobreviver, viver pela fé e se entregar a Deus. Não sei se quando for publicado isto o covid-19 estará combatido (destruído), não tenho essa certeza, mas fica minha conclusão: não subestimemos o coronavírus, todos os que usaram e usam a máscara, fizeram e fazem a quarentena, devem sentir que seus sacrifícios, renúncias valeram, porque com certeza, muito cooperaram para salvar vidas, os demais que subestimaram, não acataram as ordens da organização mundial da saúde, embora não adquiriram o vírus, que Deus tenha misericórdia deles, embora eles não tenham sido misericordiosos consigo, com sua família e nem com os outros.

PAZ E BEM A TODOS COM MUITA GRATIDÃO.

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