Folha Diocesana - 277

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Testemunho

Experiência de dor, caos e luta pela vida Testemunho do Padre Lauro

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OR: Desde os dias 20 a 25 de março, pelas dores no corpo todo, dor de cabeça, costas, momentos febris (dores indizíveis), creio que o COVID -19 já estava em mim. Como não tive dor de garganta, nem tosse e nem coriza, eu mesmo (primeiro erro) não me imaginava com o coronavírus. Continuei os serviços na paróquia, redobrei os cuidados pessoais, procurei manter com seriedade a distância, a higienização, uso do álcool gel, lavava as mãos constantemente etc., embora as dores. Tornei-me até intransigente com o povo da paróquia. Por cinco vezes passei nos Drive Thru, porém sempre: não é vírus, ia embora e as dores aumentando. CAOS e VIA CRUCIS: Quinta Feira Santa, não me sentia bem. Por dever de caridade e consciência, como iria participar da Missa do Crisma, quis certificar-me, para de repente não ser eu a transmitir o vírus aos irmãos padres. Passei pela terceira vez no hospital de campanha no Cecap e ouvi aquilo que já tinha ouvido: o senhor não está com o vírus, a única recomendação o senhor está com a frequência baixa, deveria estar com 75-80 e o senhor só está com 35-40, deves procurar um cardiologista.

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Folha Diocesana de Guarulhos

Preocupei-me e liguei para meu cardiologista e ele estava no interior. Marcamos consulta para a segunda feira após a Páscoa. Fui à missa no seminário, com cuidado, usando máscara, como estava usando desde o dia 02/04. Outro erro: como ninguém estava de máscara, me senti envergonhado e a tirei. Peso de consciência: no hospital me perguntava: será que não contaminei alguém? Graças a Deus não soube que seminaristas ou algum padre tenha se contaminado pelo vírus. Que alívio! Afinal o que é esta tal de frequência? Hoje sei que é a cardíaca, ou os batimentos do coração por minuto. Sexta Feira Santa: as dores se agravam. Pela manhã fui até o Thru no Pacaembu e ouvi que era apenas um resfriado. Celebrei à tarde e comentei com uma ministra da Eucaristia: se houvesse procissão hoje eu não teria condições de participar. Domingo de Páscoa: Celebrei ao vivo, pelo Facebook, a missa de Páscoa, mais na fé e no pulso do que pelas condições físicas. Fui novamente para o Cecap, ardia em febre e quase não aguentava de dor e febre. Passando no THRU, me encaminharam para o médico. Fui atendido por uma médica muito gentil e atenciosa, irmã de um padre meu amigo de Taubaté, concluiu que estava com dengue. Constrangimento: a médica começou chorar e isto, já me fez sentir na pele que não só quem procura a saúde pública sofre, mas como o profissional de saúde sofre, pois além de dois aparelhos: o de auscultar os pulmões e frequência cardíaca e não mais que o de auferir a pressão não tinha acesso a teste, remédio, ET.c, mais nada. Pedido: procurar o posto de saúde para que me encaminha-se ao UPA. O desabafo e choro dela foram comoventes.

Segunda-feira, 6hs em jejum, cardiologista. Solicitação de muitos exames urgentes. Desespero: em Guarulhos todos os laboratórios fechados. O A+ do grupo Fleury aqui em Guarulhos aberto, que alívio! Nada! Não atendia pelo convênio. Encaminharam-me para Tatuapé, fui até lá e fechado. Opa, um aviso procurar no Brás Leme, zona norte, fui, e fechado. Um compadre, médico oftalmologista, pediu para ir direto até o Fleury, atrás do Hospital Santa Catarina, novamente fiquei sem saber para onde ir, pois não atendia pelo convênio. Orientado por uma atendente que liberou um manobrista, pois quase não me suportava em pé, levou-me até à Brigadeiro Luis Antonio e pelas 11hs coletaram sangue para 23 exames, etc., porem não podiam marcar presencialmente os outros exames: tomografia do tórax, Raio X, ecocardiograma colorido etc., que também eram urgentes. Só era possível marcar pelo Watzap. Outra queda, segunda feira, dia 13/04 só consegui marcar para 24/04. Em 30 horas obtive o resultado de 23 exames. Não era dengue e pelo hemograma não conseguiam detectar nada. O próprio cardiologista começou a se preocupar porque as dores eram mais intensas e a febre também. Pediu e ajudou-me a encontrar uma infectologista e conseguimos no Nipo Brasileiro. Fui atendido na quinta feira e ela detectou pneumonia aguda com comprometimento no pulmão direito. Pediu os mesmos exames do cardiologista e acrescentou outros dois com urgência. Novo problema com o convênio, agora exames só para dia 25/04, acrescido da diferença de um exame para o outro de até 4hs. Pensei acionar o procon. Anjos na vida. Meus compadres médicos, sito o nome pela gratidão e porque graças a Deus e a eles estou vivo: Dr. Marcelo Mastromonico Lui e a drª Márcia Beltrami Lui, muito Junho de 2020


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