Folha Diocesana - 277

Page 1


Editorial

Nesta Edição 03 04 06

C

onsiderando os acontecimentos destes últimos meses no mundo inteiro, com a chegada da pandemia do Coronavírus, o coordenador nacional da Pastoral da Comunicação da CNBB, Marcus Tullio, reflete sobre os novos desafios que os comunicadores encontrarão de agora em diante: “Tivemos que nos reinventar bruscamente e em muito pouco tempo, sem planejamento adequado para responder a necessidades urgentes, aprendemos com a crise. Fizemos com a crise. Crescemos com a crise. Estamos nos transformando com a crise”. Para Marcus Tullio, o Papa Francisco na sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano nos convida a refletir sobre duas importantes realidades: a memória e a história. E para contar histórias e produzir memória, o Papa “em nenhum momento utilizou expressões relacionadas à tecnologia, mas três vezes utilizou o verbo “tecer”: tecer implica habilidade, tempo desprendido, afe-

02

to”, disse o Coordenador. “A mensagem do Papa é providencial e provocativa, pois na escolha do tema e sua posterior difusão, nenhum de nós imaginaria passar esta data imerso em uma pandemia - continuou Tullio - fomos forçados a parar e, “nesta pausa restauradora a caminho do céu”, a celebração do 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais lança muitas luzes de esperança”. “A Pastoral da Comunicação deve ser a voz que grita no deserto e proclama a Boa Nova que está acontecendo nas comunidades, paróquias e dioceses de todo o Brasil. Devemos nos unir e fazer ressoar a mensagem na mídia de inspiração católica e também na mídia leiga. A narrativa é algo inerente à missão dos comunicadores. Devemos tecer histórias e não pode ser uma história qualquer”, acrescentou Tullio. O Coordenador Pastoral enfatiza que o avanço do Coronavirus levou de uma vez por todas a Igreja para o ambiente digital e que ela não

Folha Diocesana de Guarulhos

poderá renunciar quando tudo isso acabar: “Quando nossas igrejas forem reabertas e nossas celebrações com a presença do povo retomarem, não poderemos esquecer os fiéis que, de sua igreja de origem, permanecerão ligados a ela”. Caminharemos de mãos dadas com o Magistério da Igreja, com reflexões teológicas e tecnológicas para valorizar ainda mais a nossa presença neste ambiente. É preciso que as pessoas que nos seguem de casa continuem a sentir a presença da Igreja”, concluiu. Fonte: www.vaticannews.va/pt/

igreja/news/2020-05/dia-mun-

dial-comunicacoes-sociais-papa-francisco.html

07 08 14

Voz do Pastor

Iluminados por Cristo e pela Igreja

Testemunho

Experiência de Dor, Caos e luta pela Vida

Vida Presbiteral

Religiosidade Popular: a fé simples do povo!

Reflexão

A nossa vida é uma peregrinação

Igreja em Missão Coronavírus e Corona Guerra

Mensagem do Papa Rezemos pela libertação de todas as pandemias

Expediente Jornalista Responsável PE. MARCOS V. CLEMENTINO MTB 82732

Orientação Pastoral PE. MARCELO DIAS SOARES Editoração Eletrônica LUIZ MARCELO GONÇALVES Tiragem: ON-LINE CÚRIA DIOCESANA DE GUARULHOS Av. Gilberto Dini, 519 - Bom Clima, Guarulhos CEP: 07122-210 | 11 2408-0403

www.diocesedeguarulhos.org.br folhadiocesana@diocesedeguarulhos.org.br

Junho de 2020


Voz do Pastor

+Edmilson Amador Caetano, O.Cist. Bispo diocesano

Iluminados por Cristo e pela Igreja

A pandemia, com seu consequente isolamento social, torna a reflexão ainda mais forte.

N

ossas comunidades eclesiais missionárias, na fidelidade a Cristo e à Igreja, iluminadas por Cristo e pela Igreja, são chamadas a evangelizar o mundo urbano, que não é somente uma região geográfica. “Nosso mundo vai se torando uma grande cidade, onde o viver se manifesta fortemente interligado e o estilo de vida das metrópoles é capaz de influenciar outras cidades e até mesmo o mais distante ponto do planeta, principalmente em decorrência do influxo atual dos meios de comunicação.” (DAGE 46) Iluminados por Cristo e pela Igreja, percebemos a dificuldade de transmitir a fé no mundo urbano que sofre rápidas e profundas transformações (mudança de época) com crise ética e relativização do sentido do pecado, corroboradas por tantas formas de sofrimento, pobreza e miséria. É verdade que a redescoberta da individualidade e emancipação do sujeito, coloca em relevo a dignidade da pessoa, irrenunciável e insubstituível. Isso é conforme o projeto de Deus. Entretanto, na maioria das situações, a individualidade se degenera em individualismo. O motor que propaga e fortalece este individualismo é a ideologia consumista. O individualismo consumista cria a lógica do indivíduo isolado, a lógica do “salve-se quem puder”. O mundo urbano mascara o individualismo com o ideal da individualidade. Dá vontade de cantar com o Gilberto Gil: “Vamos fugir deste lugar!”. Entretanto, animados pela fidelidade a Cristo e `a Igreja, as comunidades eclesiais missionárias conseguem ver e ter uma luz que não permite a predominância das sombras. As comunidades eclesiais missionárias na força do evangelho, sabem resistir e ser resilientes. Aquilo que degrada, não tem poder de vencer. O Evangelho e a prática de Jesus sempre dá à comunidade ousadia e criatividade para reinventar caminhos para reconstruir. Tantas atividades de nossas comunidades mostram que é possível valorizar mais as pessoas que o consumo. Abrem-se, inspirados nos valores do Reino de Deus, espaços novos na cidade de solidariedade e encontro. Temos em nossas comunidades eclesiais missionárias agentes de pastoral possuidores de um abnegado heroísmo, testemunhas da força do amor de Deus, que se lançam, não confiando em suas forças, mas na graça do Senhor, que tudo pode, e eles tudo podem naquele que os fortalece. Não precisamos fugir deste lugar. Deus habita esta cidade. Ele está no meio de nós! As DGAE, citando a Evangelii Nuntiandi (de 1975 !), dizem: “Quando a Igreja fala em evangelização da cultura urbana, tem clareza de que não se trata de pregar o Evangelho em espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa, mas de chegar a atingir e como que modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam

Junho de 2020

em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação.” (DGAE 31) Aqui está um pouco delineada a vocação das nossas comunidades eclesiais missionárias. Entre o pensar e o fazer, temos no meio um imenso oceano. Não intransponível, certamente. Precisamos construir uma ponte entre o pensar e o fazer. Nossas comunidades eclesiais missionárias precisam estar sustentadas pelos pilares da Palavra, do Pão, da Caridade e da Ação missionária, como nos indicam as DGAE. O texto acima foi escrito antes da declaração da pandemia. A pandemia, com seu consequente isolamento social, torna a reflexão ainda mais forte. A missão da Igreja não pode ser vivida através de comunidades virtuais e nem de reuniões virtuais. Isso atualmente é uma necessidade. No entanto, temos que pensar no pós pandemia. Aqui quero fazer algumas reflexões que julgo importantes para os agentes de pastoral e os padres. Em nosso mundo urbano metropolitano, seguramente, estamos tendo o aumento do sofrimento e da miséria. Nossas paróquias estão se desdobrando, enquanto podem, para amenizar as situações de sofrimento. O sofrimento e a miséria não podem ser justificativas para relaxar o sentido de pecado, a ética e a moralidade. A Igreja antes, durante e depois da pandemia é guardiã do “Evangelho da Vida”. A caminhada pastoral de nossas paróquias e comunidades terá que ter um olhar atento para o que realmente mudou. Teremos que aproveitar todo espírito de solidariedade e partilha surgido durante a pandemia, para que o individualismo egoísta seja superado e o que foi implantado num tempo difícil se torne permanente. Será preciso também trabalhar para amolecer o que se tornou mais duro com o sofrimento e o isolamento. O anúncio do evangelho terá que vencer o medo que pode ter feito as pessoas sentirem-se “seguras” quanto mais isoladas. Neste sentido, os CPPs, os COMIPAS, as equipes de articulação pastoral das paróquias terão que refletir à luz do Evangelho quais inovações deverão ser realizadas. Acredito que não será um simples “vamos recomeçar de onde paramos”. Nossa pastoral terá que reforçar, em todos os níveis, a catequese da vida de comunhão em comunidade. Penso que cada paróquia deverá trabalhar na reconstrução e restauração das bases de cada comunidade, de cada comunidade de base que, na realidade, são as bases da paróquia. Antes de pensar nas estruturas paroquiais ou diocesanas, será preciso restaurar o grupo de rua, o grupo de reflexão que foi interrompido bem na metade da quaresma. Terá que ser dada atenção especial e individualizada a cada pastoral e movimento para que possa retomar suas atividades evangelizadoras.

O isolamento social – importante para a saúde – pode trazer consigo a relativização da assembleia litúrgica, pois a participação nas Eucaristias pelos meios de comunicação e o ensino da possibilidade e a força da comunhão espiritual, podem dar a falsa impressão que a necessidade da presença física nas assembleias litúrgicas tornou-se relativa. A validade e a força dos Sacramentos exigem fé, presença física, matéria e forma. A comunhão eucarística espiritual é inferior à comunhão presencial, física, do Corpo e Sangue de Cristo. Rudemente falando, Jesus não instituiu a Eucaristia para participarmos dela espiritualmente ou somente para adoração. Ele disse: “Tomai e comei”; “tomai e bebei”; “fazei isto em memória de mim.” Aqueles que tiveram a oportunidade de comungar o corpo do Senhor fisicamente neste tempo, poderão entender melhor o que estou dizendo. Não foi simplesmente por questões sentimentais, que após um mês de isolamento social, sem a comunhão fisicamente, que autorizei às paróquias organizarem momentos para a comunhão fora da celebração da Eucaristia. Aliás, costume que não é estranho à Igreja e que teve uma forma extraordinária nesta situação. Estranhamente, alguns teólogos de gabinete e, talvez, sem vida comunitária, andaram escrevendo que a comunhão e adoração eucarística acabam se tornando “fetiche” neste tempo de pandemia. A assembleia litúrgica eucarística é ponto de chegada e de partida para a ação da Igreja. Ela forma a comunidade cristã e lhe dá uma identidade. Identidade de ser o corpo místico de Cristo que não tem resquício algum de individualismo. É ponto de chegada, pois celebramos a vitória de Cristo em nossas vidas, nas lutas de cada uma das nossas comunidades para a vivência e anúncio do Evangelho. É ponto de partida, pois é na força do mistério pascal, celebrado em cada Eucaristia, que restauramos nossas forças para a continuidade da missão. Talvez não retornaremos ao normal de uma vez em nossas assembleias litúrgicas. Nos países onde estão voltando, estão respeitando um protocolo de segurança sanitária. Isso acontece também em alguns lugares do Brasil. Sem dúvida isso nos ensinará, não somente a importância das nossas assembleias, mas fará de nossas assembleias mais atenciosas para com o outro. Oxalá com tudo isso aprendamos a olhar para o outro de forma diferente em nossas comunidades. Quando falamos de assembleias litúrgicas e dos Sacramentos estamos falando de um pilar fundamental da comunidade eclesial missionária que é o pilar do pão. A restauração de nossas atividades evangelizadoras pós pandemia, não será somente com o pilar do pão, mas com todos os outros pilares. No entanto, não que vou me alongar aqui. Não dá para dizer quando poderemos começar a colocar em prática esta restauração. No próximo artigo pretendo continuar falando desta restauração pós pandemia e espero mesmo já estarmos vivendo outra realidade.

Folha Diocesana de Guarulhos

03


Testemunho

Experiência de dor, caos e luta pela vida Testemunho do Padre Lauro

D

OR: Desde os dias 20 a 25 de março, pelas dores no corpo todo, dor de cabeça, costas, momentos febris (dores indizíveis), creio que o COVID -19 já estava em mim. Como não tive dor de garganta, nem tosse e nem coriza, eu mesmo (primeiro erro) não me imaginava com o coronavírus. Continuei os serviços na paróquia, redobrei os cuidados pessoais, procurei manter com seriedade a distância, a higienização, uso do álcool gel, lavava as mãos constantemente etc., embora as dores. Tornei-me até intransigente com o povo da paróquia. Por cinco vezes passei nos Drive Thru, porém sempre: não é vírus, ia embora e as dores aumentando. CAOS e VIA CRUCIS: Quinta Feira Santa, não me sentia bem. Por dever de caridade e consciência, como iria participar da Missa do Crisma, quis certificar-me, para de repente não ser eu a transmitir o vírus aos irmãos padres. Passei pela terceira vez no hospital de campanha no Cecap e ouvi aquilo que já tinha ouvido: o senhor não está com o vírus, a única recomendação o senhor está com a frequência baixa, deveria estar com 75-80 e o senhor só está com 35-40, deves procurar um cardiologista.

04

Folha Diocesana de Guarulhos

Preocupei-me e liguei para meu cardiologista e ele estava no interior. Marcamos consulta para a segunda feira após a Páscoa. Fui à missa no seminário, com cuidado, usando máscara, como estava usando desde o dia 02/04. Outro erro: como ninguém estava de máscara, me senti envergonhado e a tirei. Peso de consciência: no hospital me perguntava: será que não contaminei alguém? Graças a Deus não soube que seminaristas ou algum padre tenha se contaminado pelo vírus. Que alívio! Afinal o que é esta tal de frequência? Hoje sei que é a cardíaca, ou os batimentos do coração por minuto. Sexta Feira Santa: as dores se agravam. Pela manhã fui até o Thru no Pacaembu e ouvi que era apenas um resfriado. Celebrei à tarde e comentei com uma ministra da Eucaristia: se houvesse procissão hoje eu não teria condições de participar. Domingo de Páscoa: Celebrei ao vivo, pelo Facebook, a missa de Páscoa, mais na fé e no pulso do que pelas condições físicas. Fui novamente para o Cecap, ardia em febre e quase não aguentava de dor e febre. Passando no THRU, me encaminharam para o médico. Fui atendido por uma médica muito gentil e atenciosa, irmã de um padre meu amigo de Taubaté, concluiu que estava com dengue. Constrangimento: a médica começou chorar e isto, já me fez sentir na pele que não só quem procura a saúde pública sofre, mas como o profissional de saúde sofre, pois além de dois aparelhos: o de auscultar os pulmões e frequência cardíaca e não mais que o de auferir a pressão não tinha acesso a teste, remédio, ET.c, mais nada. Pedido: procurar o posto de saúde para que me encaminha-se ao UPA. O desabafo e choro dela foram comoventes.

Segunda-feira, 6hs em jejum, cardiologista. Solicitação de muitos exames urgentes. Desespero: em Guarulhos todos os laboratórios fechados. O A+ do grupo Fleury aqui em Guarulhos aberto, que alívio! Nada! Não atendia pelo convênio. Encaminharam-me para Tatuapé, fui até lá e fechado. Opa, um aviso procurar no Brás Leme, zona norte, fui, e fechado. Um compadre, médico oftalmologista, pediu para ir direto até o Fleury, atrás do Hospital Santa Catarina, novamente fiquei sem saber para onde ir, pois não atendia pelo convênio. Orientado por uma atendente que liberou um manobrista, pois quase não me suportava em pé, levou-me até à Brigadeiro Luis Antonio e pelas 11hs coletaram sangue para 23 exames, etc., porem não podiam marcar presencialmente os outros exames: tomografia do tórax, Raio X, ecocardiograma colorido etc., que também eram urgentes. Só era possível marcar pelo Watzap. Outra queda, segunda feira, dia 13/04 só consegui marcar para 24/04. Em 30 horas obtive o resultado de 23 exames. Não era dengue e pelo hemograma não conseguiam detectar nada. O próprio cardiologista começou a se preocupar porque as dores eram mais intensas e a febre também. Pediu e ajudou-me a encontrar uma infectologista e conseguimos no Nipo Brasileiro. Fui atendido na quinta feira e ela detectou pneumonia aguda com comprometimento no pulmão direito. Pediu os mesmos exames do cardiologista e acrescentou outros dois com urgência. Novo problema com o convênio, agora exames só para dia 25/04, acrescido da diferença de um exame para o outro de até 4hs. Pensei acionar o procon. Anjos na vida. Meus compadres médicos, sito o nome pela gratidão e porque graças a Deus e a eles estou vivo: Dr. Marcelo Mastromonico Lui e a drª Márcia Beltrami Lui, muito Junho de 2020


Testemunho preocupados comigo me ligaram pedindo para enviar a foto do cartão do convênio e imediatamente me dirigir ao Hospital Carlos Chagas que haveria uma equipe médica me esperando. Chegando ao hospital fui prontamente atendido, posto no oxigênio e internado para exames. Passei a noite no isolamento e pela madrugada UTI. Confirmado o exame do covid-19 deu positivo. Na UTI nova dor, dor auricular e uma alergia de enlouquecer. AMOR: preocupação do cardiologista que uma ou duas vezes por dia procura saber como eu estou. Através da fotografia de uma igreja que ele me enviou afirmando que procurou alguma igreja aberta em S. Paulo, pois precisava entrar e rezar por mim. Senti o quando era séria e grave minha enfermidade. Dr. Marcelo e Drª. Márcia, compreendi as vossas preocupações e como sou grato a vocês, bem como a minha irmã pelos cuidados. Afirmei e reafirmo, está gravado no Facebook na mensagem pedida pelos agentes de saúde e funcionários no momento da alta na recepção do hospital: a) gratidão a Deus por me devolver a vida, me dar uma segunda chance; b) Gratidão a N.Senhora, experiência indizível . Como sentia a presença dela principalmente nos momentos mais difíceis e complicados vividos na UTI e total isolamento no hospital. c) A força da oração e o apoio dos familiares, pa-

Junho de 2020

roquianos, amigos, crianças, muitas pessoas anônimas, tantas orações e apoio que não consigo quantizar. Ah, pude compreender melhor o Evangelho (Mt 25,36): “ estive doente e cuidastes de mim”. Quanta angústia, preocupações, cuidados dos profissionais da saúde com os comedidos pelo covid-19. Dor, tristeza e insegurança diante das perdas (óbitos) e, quando colegas de serviço e turno eram afastados por terem adquirido o vírus. Mesmo assim a necessidade e o dever profissional de cuidar dos enfermos. Percebi a necessidade urgente de ser nestas horas alguém que pudesse ajudar espiritualmente. Deus me privilegiou de poder, apesar da saúde debilitada exercer meu sacerdócio a alguns destes abnegados e dedicados profissionais. Preocupações e às vezes irritações diante daquilo que via pela televisão, mesmo do que alguns médicos, infectologistas, secretários de saúde, presidente, alguns jornalistas afirmavam pelas redes sociais, cujo lugar devia ser: estar na linha de frente nos hospitais, falar menos e viver o drama tanto dos comedidos pelo vírus, bem como dos profissionais da saúde que sabiam que cada minuto era importante para a vida dos doentes e de não se contaminarem. Angústias, dramas pessoais... Como pensei e rezei pelos pobres! Se eu, com bom convívio, conhecimento pessoal de muitos médicos, amigos, convêenio... deparei-me com tantas dificuldades. Ficava a imaginar: e os que de fato só dependem do SUS?! Quantas angústias, sofrimento, de profissionais de saúde, pais e filhos que vivem na pobreza e dependem da saúde pública tão suca-

teada... Quantos sonhos, esperanças, vidas ceifadas e interrompidas pelo descaso de muitas autoridades, corrupção inescrupulosa na aquisição dos meios necessários para a saúde nas políticas públicas. Viver diante do covid-19, cada dia novas manifestações de dor. Mal começa superar uma, nova esperança e logo outra surpresa, nova situação, algo assim desolador quando se percebe esvaírem-se as forças, a coragem, o esforço, sentimento de perda e de chegado o fim da carreira (vida). Até o pegar no sono se torna preocupante. Vou dormir e...! Tudo se torna relativo e nesta hora o que valia era poder sobreviver, viver pela fé e se entregar a Deus. Não sei se quando for publicado isto o covid-19 estará combatido (destruído), não tenho essa certeza, mas fica minha conclusão: não subestimemos o coronavírus, todos os que usaram e usam a máscara, fizeram e fazem a quarentena, devem sentir que seus sacrifícios, renúncias valeram, porque com certeza, muito cooperaram para salvar vidas, os demais que subestimaram, não acataram as ordens da organização mundial da saúde, embora não adquiriram o vírus, que Deus tenha misericórdia deles, embora eles não tenham sido misericordiosos consigo, com sua família e nem com os outros. PAZ E BEM A TODOS COM MUITA GRATIDÃO. Folha Diocesana de Guarulhos

05


Vida Presbiteral D

Padre Cristiano Aparecido de Souza Representante dos Presbíteros

Religiosidade Popular: a fé simples do povo!

as orações de cada dia, às rezas na agonia. Das excelências cantadas na morte, à romaria à Aparecida do Norte. Da peregrinação nesta terra, enfim, à pátria mãe que nos aguarda. Com louvores e benditos, saudamos o Santos queridos. Valei-me, São Pedro chaveiro, São João seu companheiro, Santo Antônio casamenteiro. Talvez as expressões acima, para muitos, não revelem a grandeza e a beleza de uma religiosidade chamada popular. Reza simples de gente fervorosa, que entendeu que, para se aproximar de Deus, não carece discursos eloquentes. Carece sim, corações quentes, simples e confiantes. No Santo Evangelho, Jesus nos revelou que Deus, aos sábios e doutores, os mistérios ocultou. Resolveu revelar aos pequeninos pois deles recebeu abertura. O grande Papa Bento XVI, em Aparecida

revelou: “esta religiosidade se expressa também na devoção aos Santos com suas festas patronais, no amor ao Papa e aos demais pastores, no amor à Igreja universal como a grande Família de Deus.” Engana-se quem acha que os simples não sabem rezar! Muitas destas orações sustentam a fé destes fiéis devotos que, impossibilitados de participar da Santa Missa, não deixam de prestar o seu culto de louvor a Deus. Estes atos de fé traduzem o desejo e, ao mesmo tempo, o senso de pertença à Igreja. Busquemos valorizar sempre esta fé pura e simples das liturgias da vida deste povo. Aprenderam a amar Deus e a temer o inferno. Se existe alguma coisa a ser purificada, não se pode lançar fora toda a grandeza e a beleza desta religiosidade. A liturgia da Igreja é carregada de uma beleza única. A teologia, por trás de cada rito celebrado, é um abismo de grandeza. A religiosidade popular une-se a esta liturgia para revelar, no dizer

Falando da Vida

de Papa Bento: “O precioso tesouro da Igreja Católica”. Uma pena perceber que as nossas grandes cidades sequestraram a religiosidade popular do convívio social. Em muitas cidades, esta religiosidade está somente na lembrança daqueles que não esquecem de suas origens.

Romildo R. Almeida Psicólogo Clínico

Viu, teve compaixão e cuidou dele Antes de julgar e agir é preciso ver.

N

o lema da Campanha da fraternidade de 2020, extraído da parábola do bom Samaritano pode-se facilmente perceber as três etapas do método ver, julgar e agir que orienta a maioria dos documentos da igreja católica especialmente aqueles que foram produzidos pelo Papa Francisco. Creio que essa metodologia é importante, pois ajuda a direcionar nossas ações independentemente do nosso objetivo. Por esse método podemos perceber que a compaixão é precedida de uma postura aberta e consciente diante dos fatos, sem a qual agimos às cegas e os objetivos ficam comprometidos. É preciso ver: é impossível fechar os olhos para o que está acontecendo. As pessoas mais abastadas que têm condições de viajar trouxeram o vírus do exterior, adoeceram, mas puderam se tratar em hospitais de qualidade. O mesmo não aconteceu com as pessoas pobres que contraíram

06

Folha Diocesana de Guarulhos

o vírus e habitam as favelas. Elas não viajaram ao exterior e estão morrendo por falta de leitos e de condições dignas. Segundo dados do Ministério da Saúde, a letalidade da COVID 19 é maior entre negros do que entre brancos. Logicamente que esse fenômeno não se explica pelas diferenças raciais e sim pelas socioeconômicas. É preciso julgar: sem dúvida, é bonito ver entidades se organizando para recolher donativos, pessoas se unindo para ajudar, mas será que estamos julgando de maneira sensata? Quem são aqueles que mais precisam da nossa ajuda? Certamente são muitos, mas dentre os pobres, existem aqueles que são mais pobres e são para essas pessoas que a nossa ajuda tem que chegar. Muitas boas ações perdem a sua finalidade exatamente porque são feitas de maneira impulsiva, sem o devido cuidado em averiguar a real necessidade daqueles que buscam ajuda.

É preciso agir: não podemos ficar parados e ignorar o que está ocorrendo. Nossa quarentena não pode se resumir a ficar em casa com acesso a internet, Netflix e uma geladeira cheia. O nosso coração não pode ficar em isolamento. Entretanto, até para ajudar é preciso ter prudência. Existem aproveitadores que se beneficiam da boa fé do povo em proveito próprio. A providência divina é sagrada e ela não pode ser desperdiçada ou gerenciada com displicência. Afinal a maior caridade é o amor ao próximo e o bem que fazemos ao outro, em última instância, fazemos a nós mesmos.

Junho de 2020


Reflexão C

A nossa vida é uma peregrinação

aros irmãos de nossa Diocese de Guarulhos... Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! A afirmação que escolhi como título deste texto e, que se encontra em todas as versões da Oração Eucarística VI para diversas circunstancias, nos foi escrita pelo grande Santo Agostinho, o qual a completa: e como tal ela está cheia de tentações. É justamente esta a inspiração que me é dada ao coração pelo Divino Espírito diante desta circunstância adversa, inusitada, complexa e incerta em que vivemos todos nós. Porém, antes de concluir esta inspiração, vos escrevo de Roma, Cidade Eterna, que assistiu a história da construção de nossa civilização ocidental, que presenciou grandes guerras, grandes disputas filosóficas, jurídicas e políticas, mas que presenciou especialmente o derramamento do sangue dos apóstolos e mártires que se tornou adubo para fecundar a terra semeada com o broto do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo regada pelo Dom do Espírito, vindo a se tornar o coração do Cristianismo, e local que até nossos dias abriga a pessoa do Santo Padre – o doce Cristo na terra – hoje, papa Francisco. Roma é capital da Itália, o primeiro país a experimentar duramente na própria pele a desgraça da pandemia depois da própria China. Onde se tem até o momento o registro de mais de 30.000 mortos e mais de 200.000 casos confirmados da doença. De início, não nos preocupávamos, pois, quando os jornais acenavam a respeito de um novo vírus surgido na China, ninguém esperava que pudesse chegar até nós. Porém, tudo mudou quando os primeiros casos começaram a surgir no norte da Itália, e, em questão de dias já se tratava de uma situação de saúde pública nacional. Casos e óbitos aumentavam a cada dia, o que fez o governo estabelecer a ‘quarentena’, e assim, comércios foram fechados, as aulas foram suspensas e principalmente, as igrejas que não podiam mais celebrar Missas com a presença dos fiéis. Exatamente como vem acontecendo no Brasil.

Junho de 2020

Padre Leonardo Henrique Mestrando em Ciências Patrísticas em Roma

Para muitos a Igreja se calou, o que não representa a verdade, pois em primeiro lugar, o Santo Padre tem nos animado na fé e na esperança através de suas homilias e discursos, e ficará para a história a noite do dia 27 de março quando o mundo parou para ouvir as palavras do Pontífice, adorar o Santíssimo e receber a Benção Urbi et Orbi. E também são dignas de nota as ações da Igreja italiana, como o auxílio que já chega a quase 225 milhões de euros que foi repassado pela Conferência Episcopal às Caritas diocesanas e outras instituições para ajudar os mais pobres defronte a situação emergencial do Covid-19. Nós, sacerdotes do Colégio Pio Brasileiro – residência oficial dos sacerdotes brasileiros estudantes em Roma – nos recolhemos em nossos estudos e orações, permanecendo reclusos por quase três meses. Além de continuarmos nossas vidas e nossos estudos online, vivenciamos cada dia na Eucaristia a penitência quaresmal e a Páscoa do Senhor Ressuscitado celebrando por cada irmão na fé e por cada pessoa humana em suas aflições, medos e necessidades; confesso que em cada Missa pensei em todos os nossos diocesanos, principalmente diante desta situação em que os fiéis na sua grande maioria não podem participar presencialmente do Santo Sacrifício Eucarístico: rezo cada Missa como se fosse a primeira, a última e a única, e tenho certeza que as graças alcançarão a todos mesmo distantes do Altar do Senhor, pois Deus não rejeitou o seu povo (Rm 11,2). Graças a Deus os números de óbitos e contagiados por aqui apresentam uma diminuição. Novas fases estabelecidas pelo governo começam a entrar em vigor. Tanto as pessoas já podem circular pelas ruas tomadas as devidas precauções e prudências, como as Missas já podem ser celebradas com a presença de fiéis. Mas tudo é feito com calma, paciência e respeito às normas. Também nós aqui no Colégio zelamos pela prudência e pelo cuidado mútuo. E assim, continuamos nosso caminho, nossa peregrinação.

Escrevendo-vos estas palavras, tenho total consciência da difícil situação que ainda, nestes dias, se vive em nosso querido Brasil. Não pretendo aqui me perder em palavras sobre os detalhes dos números no país, sobre a dificuldade do isolamento social, e acima de tudo, sobre a ‘politização’ que sabemos estar havendo; mas quero lhes dizer o quanto rezo por nosso país (principalmente por aqueles mais necessitados, desempregados, sofredores de modo geral, pessoas vítimas do descaso, etc.) e assim concluir o pensamento com o qual comecei este texto: a nossa vida é uma peregrinação, e como tal ela está cheia de tentações. Não tenho dúvidas que muitos se pegam questionando tudo isso: “Por que Senhor?” Em matéria de fé, acredito que não seja esta a pergunta que deve ser feita, mas sim: “Para que Senhor?” “Para que passamos por isso?” “O que o Senhor nos ensina com essas adversidades?” E é justamente aí que entendemos a afirmação de Santo Agostinho: seguimos nossa peregrinação, a qual está cheia de tentações, porém nossa maturidade se forja nas tentações e ninguém conhece a si mesmo se não é tentado; Bastou o menor e mais informe elemento da natureza, um vírus, para nos recordar que somos mortais, afirmou Fr. Raniero Cantalamessa na Sexta-Feira Santa deste ano: ou seja, nos desnudou; nos fez enxergar nossas fraquezas e inseguranças; nos fez perceber o quanto somos fracos, amedrontados e fiéis de pouca fé. Por isso meus irmãos, nestes tempos de pandemia, sejamos cuidadosos, prudentes e respeitosos, e mais: nos apeguemos a Cruz, à Palavra e ao testemunho dos santos para vencermos este sofrimento, e depois desses dias que esperamos que não se prolonguem, ressuscitemos e saiamos dos túmulos de nossas casas, não para uma vida como vivíamos antes, mas para um vida nova. E que, Maria, saúde do seu povo, interceda por nós, para que um dia, vitoriosos e gratos a Deus por tudo que nos ensina, até mesmo na dor, possamos dizer como o poeta romano Virgílio: talvez algum dia nos seja agradável recordar estas coisas.

Folha Diocesana de Guarulhos

07


Igreja em Missão “Coronavírus e Corona Guerra”

Igreja Católica de Cabo Delgado geme e chora o sangue inocente do seu povo!

N

este momento ímpar da história, em que muitos de nós estamos a fazer parte, pela primeira vez, nos deparamos com uma experiência tão forte, de modo que nos perguntemos: o que está a acontecer no mundo, neste momento? Os acontecimentos globais, como a pandemia podem nos convencer que o universo está ferido; podemos até mesmo,estar assombrados em alguns lugares neste momento. Para o crente, a fé que a Igreja nos ensina, é nossa companheira em qualquer lugar e circunstância, que nos conduz para o Alto e nunca para as forças cósmicas. Com as palavras do salmista, as façamos nossa oração também neste momento em que todos nós, nos sentimos “impotentes” diante do mal; é o que nos resta; aproximar-nos do Senhor com nossas mãos abertas, de modo que nossos corações sejam acalentados ao proclamarmos: “Ilumina meus olhos com vossa luz, para eu não adormecer na morte; eu que confiei em vossa misericórdia” (Sal 12, 5-6). Neste momento, a serenidade e a prudência devem tornar-se parte de nossas orações, pois toda a tentação que coloca

08

Folha Diocesana de Guarulhos

em perigo a ausência dessas duas dimensões de nossos corações, pode nos fazer perder o justo equilíbrio da verdadeira harmonia, que são essenciais em nosso modo de procedermos, ainda mais em tempos como esses. Todos nós estamos aprendendo, neste momento, a melhor nos recolher em Deus, a começar por nós, ministros do Senhor; a nos voltar com tudo o que somos para o essencial, para Aquele que, absolutamente significa e resignifica as nossas vidas nos santos Mistérios que agora podemos melhor saboreá-los no grande silêncio. Essa pandemia nos desafia a todos, a adquirirmos novos hábitos de uma nova maneira de nos relacionar uns com os outros; desafia sobretudo, as grandes potências mundiais. O mundo inteiro parece chorar diante dos sofrimentos e rumos incertos, em que a vida humana se encontra. Porém, em nenhum momento o nosso choro , a nossa dor, podem ser maior do que a fé do nosso coração, que ardentemente está voltado e conectado com os Coração de Jesus e com o Coração de Maria Santíssima! Justamente a fé, alimentada na oração pessoal, que conserva o brilho da Luz de

Deus que habita em nossas almas, de modo que sem este alimento, o nosso interior há de contaminar-se e, aos poucos, irá se turvando com os males que nos rodeiam, a ponto de perdermos definitivamente Cristo - Luz. De tal forma que podemos ser convencidos de que, o Cristo Rei deste Universo, pode se apresentar a nós neste contexto “enfermo”, impotente também, juntamente conosco. Sem Jesus em nossos corações, o dia é noite e a noite, se torna trevas perigosas em que a nossa humanidade, não será capaz de suportar a ausência Luz da luz do Céu. No contexto da pandemia do coronavírus, desde o início de Abril até o momento, o governo moçambicano, declarou “Estado de emergência” e confinamento social; as autoridades temem um alastramento descontrolado desta doença em nosso país, uma vez que já somos vítimas contínuas de tantas outras doenças como, por exemplo, a malária que é a maior causa de morte no país, além da cólera, aids, tuberculose, desnutrição e outras. A Igreja Diocesana de Pemba, através do seu bispo, sacerdotes, religiosos, religiosas e comunidades cristãs, têm se esforçado e criado condições para reforçar a conscientização da população, de modo que percebam que a situação é muito séria. O maior desafio consiste na dificuldade em que as paróquias tm neste tempo, de não poderem encontrar seus fiéis, porque a maioria das paróquias e do povo, não têm acesso a internet, a TV ou a rádio. Os lugares são recônditos. Na cidade de Pemba e em alguns Distritos, o senhor Bispo, Dom Luiz Fernando Lisboa, tem pedido a essas paróquias pra conversarem com as autoridades locais, para que as Missas sejam transmitidas ao menos pelas rádios comunitárias. Assim, vamos aprendendo nesse tempo de pandemia, ser missão e sermos pastores, em tempos de isolamento social; que Deus nos livre de um isolamento pastoral, isso nunca! Vamos aprendendo como outrora a Igreja nascente colocar os joelhos no chão e pedir o Espírito Santo, o discernimento e a sabedoria necessárias,

Junho de 2020


Igreja em Missão para ser Presença amorosa de Deus em tempos difíceis. Dentro da minha experiência pessoal, como é dentro da aldeia e não é Distrito, rezo a Missa na intenção das pessoas, pois não há outra maneira de que elas possam participar; na intenção do meu coração de pastor, posso lhes dizer que tenho mergulhado ainda mais na Eucaristia, com o desejo de que todos os meus paroquianos estejam ali, sobre aquele santo altar. Através de cartas, dirigimos orientações às nossas comunidades, em suas línguas locais, como também, programas de rádios em línguas nativas, para que o máximo de pessoas possam ser orientadas. A Diocese tem se empenhado muito, na confecção de máscaras e distribuído voluntariamente às pessoas, pois muita gente não tem condições de comprar, e outras nem mesmo de fazer. Nosso bispo é incansável, sempre na rádio da Diocese orientando o povo e pedindo que o povo leve a sério as orientações do Ministério da Saúde. Outro vírus que tem abalado, matado e roubado a paz da população, talvez, até mais do que o corona: é o vírus da guerra! Desde Outubro de 2017 que numa das regiões da província (Norte) iniciaram os ataques dos “insurgentes” contra a população, matando pessoas, quimando casas, destruindo prédios públicos; as autoridades repetiam o refrão de que “tudo estava controlado”; isso foi ganhando proporção de modo que, desde o início deste ano de 2020 essa guerra insana já provocou o êxodo de mais de duzentos mil pessoas de suas Aldeias e Distritos, procando uma verdadeira crise humanitária em nossa Província de Cabo Delgado. Os que não conseguem deslocar-se , passam a noite dentro das matas com suas crianças e seus velhos, muitos desses até doentes, têm que ser carregados para dentro das matas, sendo picados por mosquitos, cobras e outros. Recentemente, estes grupos armados invadiram e tomaram três distritos da província; e ameaçaram tomar toda a província se identificando num vídeo como grupos islâmicos radicais. Até numa mis-

Junho de 2020

são das mais antigas, eles entraram e queimaram bancos e imagens. Os missionários de toda aquela região que são muitos, por orientação do senhor bispo evacuaram, porque a situação não estava e ainda não está bem. Vivemos momentos de “instabilidade em todo país, e, sobretudo em Cabo Delegado”. O silêncio do governo parece matar mais, do que o sangue derramado das muitas vítimas que se perguntam: estamos a morrer por quê? Por que nos matam? Até agora o próprio governo não responde. A Igreja tem sido uma voz firme e presente, através do nosso bispo Diocesano, que tem encorajado ao povo: “Deus não se esqueceu de nós, Ele Morre com aqueles que inocentemente morrem, ele sofre com aqueles que sofrem”. As dúvidas, incertezas e temor continuam até o fechamento deste artigo. Recentemente na Quinta Feira Santa, esses terroristas, mataram de uma única vez, 52 jovens dentro duma aldeia, porque queriam levá-los, para que estes, pudessem ser treinados e se integrarem ao grupo deles, porém, todos foram unânimes e disseram “não”; muitos desses eram cristãos. Eles costumam viver e atacar por dentro das matas até chegar aos vilarejos. Há muitas especulações sobre quem está por trás e patrocinando essa guerra; O pior de tudo, segundo Nosso bispo de Pemba em entrevista é o “cinismo”, o silêncio perante os acontecimentos que ferem os direitos humanos, onde até jornalistas já foram presos outros desaparecidos e outros, proibidos de fazer cobertura. Dentro do País, sabemos menos do que está acontecendo do que a imprensa internacional sobre nossa própria Província. O bispo disse na Missa que rezou por eles: “Esses 52 jovens mortos, que preferiram morrer a sujar as mãos de sangue com a guerra, são verdadeiros mártires da paz”. Preferiram morrer a tirar vidas. O senhor bispo conclamou toda Diocese para que enquanto perdura esse tempo de Guerra, todos os dias às 16hs, estejam toda a Diocese de joelhos rezan-

Folha Diocesana de Guarulhos

09


Igreja em Missão

do o terço pela paz, aqui entre nós. Confiamos na força de Deus! O povo dormindo nas matas, sendo picado pelos bichos e passando dificuldades de todos os tipos, inclusive fome, não consegue pensar outra coisa senão tentar salvar-se. Neste momento, tudo é muito incerto aqui; não se pode dizer que exista uma normalidade especificamente nesta região, aonde acontece esses fatos. Mas que o objetivo desses já declarados, é dominar toda província. Assim, o que se tem percebido, ao menos ao entorno desta região, é a preocupação da população mais com esta guerra, do que com o Covid 19. Muitíssimas famílias deslocadas sem nada ou quase nada; os poucos bens que tinham foram queimados juntamente com suas palhotas. A Diocese por meio da Cáritas e com a ajuda de algumas organizações, tem acompanhado e atuado nos Distritos e na capital da Província na distribuição de alimentos, roupas, material de higiene, como cloro e sabão para tentar proteger-se da pandemia. Todos esses esforços são frágeis, comparando o tamanho de toda a situação multiplicada em que as pessoas se encontram neste momento. A única voz que o povo tem é a Diocese, através do bispo que tem feito com que a situação seja conhecida vez que, parece-nos que há interesse proposital de se esconder tal gravidade. Recentemente o Santo padre o Papa Francisco, no Domingo de Páscoa, na

10

Folha Diocesana de Guarulhos

bênção Urbi et Orbi rezou pela Província de Cabo Delgado e pediu, para que a paz volte a reinar e os conflitos cessem. A Igreja tem estado presente espiritualmente e concretamente na vida das pessoas, mais precisamente em meio a essas realidades, como por exemplo, no Ciclone Kenneth ocorrido no ano passado, e nesses ataques terroristas e Corona Vírus. A Diocese de Pemba é das mais pobres de todas em todo o País moçambicano; sempre se esforçando para encontrar ajudas para socorrer tantas famílias assoladas por tantas situações e por essa pandemia. Mas como nos diz o apóstolo São Paulo, patrono desta Diocese de Pemba: “Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude Daquele que nos amou” (Rm 8,37). Que diante dessas provações todas, em níveis internacionais e comuns a todos, como de modo local, não venhamos nós regredir o nosso coração para com Deus, mas,permite-nos ser alimentados e vivificados com as palavras da carta do apóstolo são Judas, não o iscariotes: “Mas vós, caríssimos, edificai-vos mutuamente sobre o fundamento da vossa santíssima fé. Orai, no Espirito Santo. Conservai-vos no amor de Deus, aguardando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo”. (Judas 1,20). Nossa Senhora, Mãe da Integridade e da harmonia, conceda a todos nós o que nos for necessário para permanecermos todos nós dentro de Deus, e Deus dentro de nós. Assim, como missionário, sentimo-nos que essa é a hora da Igreja, sentir e confiar ao Senhor,

o sangue e as lágrimas de seus irmãos derramados e misturados na terra empoeirada. Como missionários muitas vezes, nossos corações parecem não “suportar” a intensidade do sofrimento em que a vida aqui é submetida, porém, como certa vez na época do Ciclone Kenethi, nosso bispo em uma entrevista a rádio católica da Diocese afirmou: “Nesse momento de dor, queremos nos solidarizar com as famílias, mas é urgente nos unir e ajudar a socorrer as vítimas, não há tempo para chorar”, afirmara ele naquela ocasião; é uma verdade diária que se repete com outros acontecimentos, como missionários não podemos ficar só olhando e chorando, mas, com prudência e dentro das possibilidades que forem possíveis, abrir nossos braços concretamente, mesmo que sejam para acolher os desesperados que perderam tudo, na guerra. Quero terminar com o refrão de um belo cântico muito conhecido por todos nós, que esses dias, têm perdurado dentro de minha cabeça: “Jesus Cristo De Nazaré\ Nosso Libertador\ Vem nos ajudar\ vem nos Libertar\ Jesus de Nazaré\ Nosso Libertador”. Deus esteja conosco e com toda Igreja no mundo inteiro, dando-lhe o seu Santo Espírito de fortaleza, para que, quando estivermos na hora da grande prova, possamos ser de Deus e não de nós próprios.

Nossa Senhora da África, rogai por Nós!

Missionário Pe. Salvador Maria Rodrigues de Brito

Junho de 2020


Aconteceu Atividade Pastoral em tempos de Pandemia

C

om a pandemia grave que estamos vivenciando, e as atividades pastorais interrompidas até segunda ordem, o grupo de base da Pastoral Afro Brasileira, Herdeiros de Nhá Chica, da Capela Nossa Senhora do Carmo, pertencente

a Paróquia São Judas Tadeu – Jardim Alice (Forania Fátima), por meio do GEACRI – Grupo de Estudos Afro Cristão (Antigo GEAFRO), realizou, por meio das plataformas de vídeo, uma formação a distância por meio da internet. Com a reza do terço, e uma exegese bíbli-

Ação Social - Maio 2020

A

Ação Social ocorreu no dia 03 de Maio de 2020 ao lado da catedral das 08h ao 12h – Guarulhos Vendo as dificuldades dos nossos irmãos de rua devido todo o comércio estar fechado, não tendo acesso a água, alimento e banheiro, a pastoral do povo de rua tem realizado mini ações sociais para dar um mínimo de dignidade a eles, através do café, banho e corte de cabelo.

Junho de 2020

Neste dia tivemos : Foram servidos 115 café, foram tomados 54 banhos e foram cortados 46 cabelos masculinos e 5 femininos. Além do kit banho, foi entregue 100 kits higiênicos na saída, contendo desodorante, sabonete, prestobarba, creme dental, escova de dentes e absorvente no caso dos kits femininos. Foi gratificantes ver os irmãos saindo com a dignidade restaurada depois de tomar seu banho.

ca de trechos com negros na caminhada do povo de Deus, a coordenação, os agentes de pastoral, e o acessor diocesano presentes, deram continuidade as atividades do calendário prevista para maio, e mesmo sem o “axé” por meio do caloroso abraço dos encontros, a atividade foi realizada, nos lembrando o Santo Evangelho: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18, 20). O grupo pretende dar continuidade as atividades programadas de forma virtual, e no dia 14/06, data da beata negra Nhá Chica, uma missa inculturada será realizada na forma de live, respeitando todas as normas de segurança para a realização das celebrações da palavra online. Axe! Por Orlando Junior Grupo Herdeiros de Nhá Chica PAB Pimentas

25 anos de Ordenação do Padre Alci Vilas Boas

N

o dia 21 de maio de 2020, nosso querido padre Alci Vilas Boas completou 25 anos de Ordenação Presbiteral. Comemoramos essa data com um bolo e orações, pedindo que Deus o abençõe sempre em sua entrega vocacional para a evangelização de todos nós.

Os paroquianos mandam felicitações pela data e ficam todos aguardando o retorno da quarentena, para juntos comemorarmos o sacerdócio do Padre Alci e as graças e bençãos que o Senhor derramará sobre todos nós. Parabéns Padre Alci!

Folha Diocesana de Guarulhos

11


Aconteceu Missa Diocesana das Comunicações Sociais

N

o dia 24 de maio, festa da Ascensão do Senhor, Dom Edmilson Amador Caetano, presidiu a missa diocesana por ocasião do 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais na Paróquia Sta Teresinha e N.Sra das Angústias, paróquia do assessor diocesano da Pascom, Pe Marcos Vinícius, e devido a situação de isolamento social, participaram apenas alguns agentes, re-

12

presentando todas as equipes paroquiais da pastoral da comunicação. O tradicional selo de participação entregue pelo bispo, foi dedicado à equipe da Paróquia N.Sra de Fátima (Vila Fátima) e apresentado apenas virtualmente. Dom Edmilson agradeceu a todos os envolvidos neste tempo de transmissão virtual e pediu a intercessão de Nossa Senhora da Comunicação encerrando a santa missa.

Folha Diocesana de Guarulhos

Junho de 2020


Aconteceu Missa de apresentação do Pe. Francisco Veloso Jr.

como Administrador da Paróquia Santo Antônio de Pádua – Vila Augusta

F

oi celebrada em 22.05.2020 missa on-line de apresentação do padre Francisco Veloso como novo Administrador Paroquial da Paróquia Santo Antônio de Pádua – Vila Augusta. O bispo Dom Edmilson presidiu a cerimônia acompanhado do vigário da paróquia, padre René. Seguindo as orientações das autoridades e do próprio bispo, a celebração foi feita com um número mínimo de pessoas presentes. A cerimônia iniciou com a leitura do decreto de nomeação do padre Veloso como administrador paroquial, lido pelo seminarista Francisco Lucas. Em seu discurso, padre Veloso declara que, apesar de não ter “nascido” na paróquia, já se sente um filho da paróquia e convida todo o povo da paróquia a ser participante da missão de Cristo: “Não tenhais medo!”, destacou. Padre Francisco Veloso assumiu o cargo em 19.05.2020 e terá o auxílio do seminarista Francisco Dias, que após ser ordenado diácono, em 06.06.2020, virá servir a nossa paroquia.

Vai Acontecer

Junho de 2020

Folha Diocesana de Guarulhos

13


Mensagem do Papa

Rezemos juntos como irmãos pela libertação de todas as pandemias

N

a Missa na Casa Marta, no Vaticano, o Papa recordou o Dia Mundial de Oração, esta quinta-feira (14/05), promovido pelo Alto Comitê para a Fraternidade Humana para pedir ao Senhor o fim da pandemia da Covid-19. Na homilia, recordou que existem outras pandemias que causam milhões de mortos, como a pandemia da fome, a pandemia da guerra e das crianças que não têm acesso à instrução, e convidou a pedir a Deus que nos abençoe e tenha piedade de nós.

Homilia do Papa Francisco

Na primeira Leitura ouvimos a história de Jonas, num estilo da época. Como havia “alguma pandemia”, não sabemos, na cidade de Nínive, talvez uma “pandemia moral”, (a cidade) estava para ser destruída (conf. Jn 3,1-10). E Deus manda Jonas pregar: oração e penitência, oração e jejum (conf. vers. 7-8). Diante daquela pandemia, Jonas se assustou e fugiu (conf. Jn 1,1-3). Depois o Senhor o chamou pela segunda vez e ele aceitou ir pregar isso (conf. Jn 3,1-2). E hoje todos nós, irmãos e irmãs de todas as tradições religiosas, rezamos: dia de oração e de jejum, de penitência, convocado pelo Alto Comitê para a Fraternidade Humana. Cada um de nós reza, as comunidades rezam, as confissões religiosas rezam, rezam a Deus: todos irmãos, unidos na fraternidade que nos une neste momento de dor e de tragédia. Nós não esperávamos esta pandemia, veio sem que nós a esperássemos, mas agora está aí. E muitas pessoas morrem. E muitas pessoas morrem sozinhas e muita gente morre sem

14

Folha Diocesana de Guarulhos

poder fazer nada. Muitas vezes se pode pensar: “Não me diz respeito, graças a Deus me salvei”. Mas pense nos outros! Pense na tragédia e também nas consequências econômicas, nas consequências sobre a educação, as consequências… naquilo que virá depois. E por isso hoje, todos, irmãos e irmãs, de toda e qualquer confissão religiosa, rezemos a Deus. Talvez alguém possa dizer: “Isso é relativismo religioso e não se pode fazer”. Como não se pode fazer, rezar ao Pai de todos? Cada um reza como sabe, como pode, como recebeu da própria cultura. Nós não estamos rezando um contra o outro, esta tradição religiosa contra aquela, não! Estamos todos unidos como seres humanos, como irmãos, rezando a Deus, segundo a própria cultura, segundo a própria tradição, segundo os próprios credos, mas irmãos rezando a Deus, isso é importante! Irmãos, fazendo jejum, pedindo perdão a Deus pelos nossos pecados, para que o Senhor tenha misericórdia de nós, para que o Senhor nos perdoe, para que o Senhor detenha esta pandemia. Hoje é um dia de fraternidade, olhando para o único Pai, irmãos e paternidade. Dia de oração. Nós, no ano passado, aliás, em novembro do ano passado, não sabíamos o que era uma pandemia: veio como um dilúvio, veio abruptamente. Agora estamos nos acordando um pouco. Mas existem tantas outras pandemias que fazem as pessoas morrer e não nos damos conta disso, olhamos para outro lado. Somos um pouco inconscientes diante das tragédias que se verificam no mundo neste momento. Gostaria simplesmente de citar a vocês uma estatística oficial dos primeiros quatro meses deste ano, que não fala da pandemia do coronavírus, fala de outra. Nos primeiros quatro meses deste ano morreram de fome 3 milhões e 700 mil pessoas. Existe a pandemia da fome. Em quatro meses, quase 4 milhões de pessoas. Esta oração de hoje para pedir que o Senhor detenha esta pandemia nos deve levar a pensar nas outras pandemias do mundo. Há muitas pandemias! A pandemia das guerras, da fome e muitas outras. Mas o importante é que, hoje – juntos e graças à coragem que o Alto Comitê para a Fraternidade Humana teve, juntos fomos convidados a rezar cada um segundo a própria tradição e a fazer um dia de penitência de jejum e também de caridade, de ajuda aos outros. Isso é importante.

No livro de Jonas ouvimos que o Senhor, quando viu como o povo tinha reagido – que tinha se convertido –, o Senhor cessou, desistiu daquilo que Ele queria fazer. Que Deus detenha esta tragédia, que detenha esta pandemia. Que Deus tenha piedade de nós e que cesse também as outras pandemias tão ruins: a da fome, a da guerra, a das crianças sem instrução. E peçamos isso como irmãos, todos juntos. Que Deus nos abençoe a todos e tenha piedade de nós.

O Papa convidou a fazer a Comunhão Espiritual com a seguinte oração: “Meu Jesus, eu creio que estais realmente presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!” Francisco terminou a celebração com adoração e a bênção eucarística. No final da Missa, o Papa agradeceu a Tommaso Pallottino, o técnico de som do Dicastério para a Comunicação que o acompanhou nestas transmissões ao vivo e hoje era seu último dia de trabalho antes da aposentadoria: “Que o Senhor – pediu o Santo Padre – o abençoe e o acompanhe na nova etapa da vida”. Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo, foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal: Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia! Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia! Ressuscitou como disse. Aleluia! Rogai por nós a Deus. Aleluia! D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia! C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!

Junho de 2020


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.