´ Diplomatica
Nº11 AGOSTO/OUTUBRO 2011 4 (Cont.)
business & diplomacy
Dossier
Lusofonia
Um mundo económico, cultural e político Diplomática 11 • Agosto a outubro 2011
Em destaque Embaixadores Brasil e Moçambique CPLP e UCCLA Festas nacionais: E.U.A., Rússia, França, Itália, Luxemburgo, Israel e Eslovénia
With English & French Texts
4 • Diplomática - Junho/Julho 2008
um estilo de vida!
Vilas, Suites & Quartos O complexo dispõe no hotel de 201 quartos com uma decoração moderna – incluindo 21 suites, divididas em 17 júnior suites, 3 suites de luxo, uma magnífica suite presidencial e 20 vilas, com lodo o luxo e conforto necessários para tornar a sua estadia inesquecível. Todos os quartos dispõem das tecnologias mais avançadas de climatização, segurança e comunicação, telefone e internet (2 ligações com 4Mbps cada), mesa de trabalho. TV Cabo com 48 canais, TV LCD, serviço de quartos 24hrs, limpeza e serviço de turndown diários, cofre e secador de cabelo. O luxo atinge o seu expoente máximo com distintas e elegantes Vilas, todas com 3 quartos que poderão ser perfeitas para estadias curtas bem como para estadias mais prolongadas. Mais do que um Hotel, o HCTA é um espaço refrescante, sensual e incomparável para recuperar os seus sentidos, onde a tradição foi capturada e transformada em elementos únicos e sofisticados com o objectivo de criar uma ligação culural com os hóspedes.
capacidade das Salas
Banquetes e Conferências
Nota do Editor
Editor's note
Tempos terríveis
Hoje, impressionada, recordo a recepção na Embaixada do Egipto, com a fotografia de Mubarak na sala por onde passávamos até chegar ao jardim, que se ia enchendo de convidados, do gentilíssimo e muito culto Embaixador, onde se serviam as especialidades gastronómicas do seu país. Há 30 anos a dirigir o Egipto, Hosni Mubarak era tido, de acordo com as tradições, como um faraó. Com a coragem e a dignidade de um grande senhor, Mubarak demitiu-se ao ver as manifestações, para si injustas, contra a sua forma de liderar e, evitando posições de força e uma guerra civil, o “faraó” foi hoje a julgamento carregando a “cruz” de ter sido poderoso e amado por muitos. Metido numa jaula como um animal feroz, assistia ao julgamento das suas atitudes e decisões, que outros julgavam erradas. Isto de enjaularem o senhor fez-me francamente muita impressão. Será que os novos governantes que, no século XXI permitem este achincalhamento e humilhação ao seu ex-líder, serão mais justos e civilizados do que ele? Do Oriente ao Ocidente, o terrorismo político que se tem manifestado ultimamente e que será o oposto da verdadeira diplomacia, deixa-me a mim, como a qualquer outra pessoa de bem, atormentada levando-me a enviar os meus profundos sentimentos à Embaixadora da Noruega, ao seu Rei e ao seu povo, pela horrível acção de um louco que assassinou dezenas de conterrâneos, muitos deles muito jovens, porque assim pensava defender a sua civilização. Civilização onde se está também a desenvolver o terrorismo económico, atacando multidões no mundo dito civilizado e provocando, por exemplo, em Portugal, centenas de suicídios e mortes por acidentes cardio-vasculares como não há memória. Mais recentemente, é impossível não referir as violentas manifestações, tanto em diversas cidades inglesas, como em Madrid, na véspera da chegada do Papa Bento XVI. Tudo isto fez-me pensar no que poderá mudar este caminhar da humanidade e cheguei à ideia de que a educação poderá ser um remédio. Não as boas maneiras ou a dita cultura do conhecimento. O remédio talvez esteja numa reformulação da educação, com cadeiras desde o início da escolaridade e acompanhamento das novas gerações, para que estas possam transmitir regras de conduta e o verdadeiro exemplo de dignidade e princípios éticos que afinal iremos encontrar em todos os mandamentos e religiões. O necessário é ensinar a cumpri-las mesmo.
■
mariabraganca@gabinete1.pt Horrible Times Today, rather impressed, I remembered the reception at the Embassy of Egypt, with the photograph of Mubarak in the room, while going towards the garden, which was by then filled with guests invited by the most kind and well bred Ambassador, and where food specialties from his country were being served. At the helm of Egypt for 30 years, Hosni Mubarak was held, according to the tradition, as a pharaoh. With the courage and dignity of a great gentleman, Mubarak, ended up resigning when faced with all the demonstrations, understood by him as unjust, that took place. These demonstrations were against the way he governed his country. He, however, avoided, taking a stand that could have lead to a civil war. The “Pharaoh” was on trial today, carrying with him the “cross” of his powerful rulings – hated by many but still loved by others. Stuck in a cage while on trial like a wild beast, he witnessed his actions and decisions – now preceived as wrong – being judged. The caging of this man impressed me strongly. Are these new rulers, the same that in the 21st century allow this kind of humiliation to their former leader to take place, more just and civilized than him? From East to West the political terrorism that has manifested itself lately, and that is the very opposite of true diplomacy, leaves me, like any other well bred, flabbergasted obliging me to send my deepest feelings to the Ambassador of Norway in Portugal, the King of Norway and his people, given the horrible actions of a madman who murdered dozens of his own people, many of them so very young, under the belief that he was defending his civilization. A civilization that is also developing an economic terrorism attacking many people in the so-called civilized world, in Portugal, for example, hundreds of suicides and the greatest number of deaths from cardio-vascular accidents that one can recall. All this made me wonder about what could be made to change this journey of humanity and I came to the conclusion that education could be the best remedy. Not good manners or the so-called culture of knowledge. The solution may well be a reinstatement of education and a stronger guidance for younger generations that may pass on rules of conduct and a true example of dignity, and the ethical principles those that ultimately we find in the commandments of all religions. What is necessary is to make sure that they take those teachings with these principles to heart. ■
4 • Diplomática - OUTUBRO 2011
Assuntos Summary
Carta ao leitor. Letter to the reader.
4
Dossier. Lusofonia Dossier. Lusophony
7
As Pérolas da Lusofonia The Pearls of Lusophony
8
XVI Reunião da Comunidade Países de Língua Portuguesa XVI Meeting of the Community of Portuguese-Speaking Countries
10
Texto de Mira Amaral:”Portugal, Europa, Mundo Emergente” Text by Mira Amaral: “Portugal, Europe, Emerging World”
12
Texto de Maria de Belém: “Lusofonia, uma Alma Grande” Text of Maria de Belém, “Lusofonia, a Large Soul”
14
Entrevista a Anacoreta Correia, secretário -geral da UCCLA Interview with Anacoreta Correia, Secretary-General of UCCLA
16
Maria Lúcia Torres Lepecki, memória da vida e obra de uma grande defensora da cultura portuguesa Maria Lúcia Torres Lepecki, memory of the Life and Work of a Great Defender of Portuguese Culture
22
Entrevista a Mário Vilalva, Embaixador do Brasil Interview with Mário Vilalva, Ambassador of Brazil
24
Brasil, uma viagem de sonho Brazil, a Dream Trip
30
Entrevista a Miguel Costa Mikaima, Embaixador de Moçambique Interview with Miguel Costa Mikaima, Ambassador of Mozambique
34
As independências e os intelectuais negros, por Palmira Tjpilica The independences and the black intellectuals, by Palmira Tjpilica
38
O Governo de Passos Coelho The Government of Passos Coelho
40
Opiniões: Embaixador da Grécia, Embaixadora da Eslovénia, Embaixador dos EUA Opinion: Ambassador of Greece, Ambassador of Slovenia, Ambassador of USA
49
Dia de Portugal e das Comunidades Day of Portugal and the Communities
57
Mala Diplomática. Dia Nacional da França Diplomatic bag. National Day of France
60
Mala Diplomática. Dia da Independência dos Estados Unidos da América Diplomatic bag. Independence Day of the United States of America
66
Mala Diplomática. Dia Nacional da Rússia Diplomatic bag. National Day of Russia
68
Mala Diplomática. Festa Nacional do Luxemburgo Diplomatic bag. Luxemburg’s National Holliday
70
Mala Diplomática. Embaixada do Reino Unido celebra aniversário de Isabel II Diplomatic bag. The Embassy of the United Kingdom celebrates the anniversary of Queen Elizabeth II
73
Mala Diplomática. Dia Nacional da Itália Diplomatic bag. National Day of Italy
76
Mala Diplomática. Festa da Independência de Israel Diplomatic bag. Israel’s Independence Day Party
78
Mala Diplomática. 20º Aniversário da República da Eslovénia Diplomatic Bag. 2oth Anniversary of the Republic of Slovenia
80
Economia e Finanças. O Euro dilema de Portugal, por Patrick Siegler-Lathrop Economy and Finances. The Euro-Dilemma of Portugal by Patrick Siegler-Lathrop
81
Instituto Camões preside à EUNIC Instituto Camões presides EUNIC
87
Homenagem a Malangatana Tribute to Malangatana
89
Arte e Cultura. Artistas de Angola na Galeria de Arte do Casino Estoril Art and Culture. Artists of Angola in the Art Gallery of the Casino Estoril
92
Parabéns Helena Daget Congratulations Helena Daget
94
English & French texts
95
DIRECTOR: Maria da Luz de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Av. Engº Duarte Pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 Lisboa. Marketing & Publicidade: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79 IMPRESSÃO: Madeira & Madeira, S.A. DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395
6 • Diplomática - OUTUBRO 2011
Dossier Lusofonia
Há vinte anos dificilmente Angola, Cabo Verde e Moçambique seriam recomendáveis para efeitos de confiança e investimento externo. Hoje, com democracias em processo de aprofundamento, as ex-colónias africanas concitam o elogio dos observadores e alimentam ventos de esperança nos seus povos. E, noutro continente, emerge segura a nova potência mundial: um Brasil de progresso e desenvolvimento.
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 7
Dossier
As pérolas da lusofonia
Quatro países despontam no univer-
Angola tem vindo a afirmar-se como
so da lusofonia. Em África, depois
emergente potência económica da
dos dramas que se seguiram às
lusofonia e de África.
independências, Angola, Cabo Verde
A extensão territorial, aliada a uma
e Moçambique seguem o seu cami-
população de 18 milhões de habi-
nho, construindo democracias ainda
tantes, abre enormes perspectivas
débeis mas irreversíveis. E procuram
de desenvolvimento, permitindo a
encontrar espaço no intrincado pu-
prazo, de momento que subsista
zzle da economia mundial, empreen-
uma estratégia económica de desen-
dendo projectos de desenvolvimen-
volvimento sustentado, aumentar o
to, encontrando as suas áreas de
seu precário PIB per capita de 4792
negócio específicas e optimizando a
euros.
ajuda internacional que, nos últimos
Mas uma economia dependente do
anos, tem vindo a implementar pro-
petróleo comporta, necessariamente,
jectos e a acalentar o sonho.
cautelas acrescidas. A mais-valia do
O Brasil, um gigante emergente que
ouro negro está dependente da con-
começa a afirmar-se como grande
juntura internacional e dos jogos de
potência económica da lusofonia,
interesses de quem domina a econo-
constitui a locomotiva dos países
mia. No entanto, Angola está cres-
que falam português e têm laços
cer noutras áreas. Há uma grande
culturais e afectivos que os unem à
pujança e dinamismo na construção
ex-potência colonial em estado de
civil, na agricultura e no sector de
depressão e crise profunda.
serviços. E a recente ajuda do FMI,
Ao país do Carnaval, paulatinamen-
através de um empréstimo 1.4 mil
te, vem-se juntando Angola, país de
milhões de dólares está a equilibrar
destino de milhares de portugueses
a balança corrente e a afirmar o país
à procura de uma vida melhor e de
na senda do desenvolvimento.
oportunidades de negócio. É a impadecadência dos impérios transpor-
Brasil A nova potência mundial
ta sempre a emergência de novas
É o grande país da lusofonia, des-
nações prenhes da sua afirmação no
de logo pelos seus 194 milhões
mundo.
de habitantes, e um caso raro de
rável roda da História: a inexorável
criatividade e abertura de ideias no
Angola O despertar do gigante
que respeita à organização social e
africano
radicou bolsas endémicas de pobre-
Consolidando aos poucos a vida
za e projectou o país, naquele que
democrática, resgatada de guerra
parece ser um irreversível caminho
civil prolongada e contradições, à
de progresso e desenvolvimento.
época, aparentemente insuperáveis,
Os seus 7500 euros de PIB per
8 • Diplomática - OUTUBRO 2011
económica. O plano “Fome Zero” er-
➤
➤
capita, contudo, indicam que ainda
habitantes. A agricultura, as pescas
há muito por fazer, mas os sinais
e a actividade industrial são ainda
são francamente positivos. Mes-
muito incipientes.
mo em época de recessão e crise
As dificuldades apontadas, lenta-
mundial, o Brasil conseguiu baixar
mente vêm a ser superadas, quer
consideravelmente os níveis do de-
através da ajuda internacional, quer
semprego, fazendo crescer a econo-
pela captação de investimento es-
mia, estando muito próximo do limite
trangeiro directo, o que coloca Cabo
“sistémico” de 5 por cento.
Verde na invejável posição de ser
A conjuntura internacional, porém,
o país africano do espaço lusófono
fustiga a economia brasileira que,
com melhores possibilidades de de-
resultante da guerra cambial entre
senvolvimento da economia, apesar
os EUA e a China, se ressentiu,
da crise e da conjuntura internacio-
perturbando as suas exportações,
nal desfavorável.
podendo comprometer o crescimento do Brasil. Mas, apesar do florescer
Moçambique
económico traduzido em elevada
Estranhamente, pese embora a re-
procura interna, a inflação não deixa
cessão que prejudica as economias
de preocupar os economistas.
mundiais, Moçambique dá sinais de
Cabo Verde
elevado crescimento, alicerçado em
Dependência externa inibe desenvol-
mega-projectos de aproveitamento
vimento
dos seus recursos minerais.
A dependência das importações de
Apostado nas exportações, sedi-
energia e de alimentos – sectores
mentadas na diversificação secto-
onde se regista colossal défice entre
rial da economia, o país tem vindo
a produção e o consumo – é o maior
a registar um grande dinamismo,
entrave ao desenvolvimento do
aumentando exponencialmente as
país. A origem do problema está nas
oportunidades de desenvolvimento
características dos solos, que são
de negócios e de crescimento.
muito pobres, bem como na precária
A exploração agrícola, de igual
capacidade de produção energética.
modo, adquiriu novo fulgor na última
Mas outra das causas está no carác-
década, despontando vários inves-
ter terciário da economia, cujo sector
timentos, principalmente de origem
do turismo – sujeito a flutuações
sul-africana. E as possibilidades
constantes - constitui mais de 70 por
de extracção de petróleo, a serem
cento do PIB. Outra das principais
testadas por empresas exploradoras,
fontes de receitas são as remessas
abre outro sinal de esperança para
dos emigrantes, que constituem a
uma democracia ainda jovem, mas já
grande maioria dos cabo-verdianos,
num processo de consolidação que
cuja população residente no arqui-
tem ajudado ao ganho de confiança
pélago não chega a meio milhão de
dos mercados.
■
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 9
DOSSIER
XVI Reunião da CPLP destacou estratégia fulcral Promoção e defesa da língua de Camões A Reunião ordinária do Conselho de Ministros da CPLP, que teve lugar no final de Julho, em Luanda, sob o tema geral “A CPLP, as Nações Unidas e a Língua portuguesa”, tomou decisões importantes de âmbito político, económico e reforço da percepção do português no Mundo. A língua vai ser um dos vectores fundamentais da estratégia definida nessa reunião, de onde saiu uma CPLP reforçada e motivada no objectivo comum de tornar o português mais universalista.
A promoção, defesa, enriquecimento e difusão da
de Rendimento Médio. No que concerne a Timor, foi
Língua Portuguesa como veículo de cultura, educa-
igualmente registada a tendência positiva da situação
ção, informação e acesso ao conhecimento científico
política e social no país, numa altura em que se pers-
e tecnológico e de utilização em fóruns internacionais,
pectiva a abertura da representação da CPLP em Díli.
foi uma das decisões fundamentais da XVI reunião de
Já quanto à Guiné-Bissau, foi feito um apelo a Presidên-
países da CPLP, que contou com a presença do minis-
cia da CPLP para, em conjunto com o governo daquele
tro português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas,
país e o secretariado executivo da CEDEAO, encetarem
na sua primeira saída oficial ao estrangeiro desde que
diligências visando a realização de uma Conferência
tomou posse do cargo.
Internacional de Parceiros de Desenvolvimento da
Num espaço global afectado presentemente por uma
Guiné-Bissau para a mobilização adicional de recursos
crise sem precedentes, importa sublinhar os propósitos
financeiros.
anunciados nesta reunião magna da CPLP de apoiar
Foi igualmente reiterada a importância da concertação
medidas que facilitem e fomentem o relacionamento
político-diplomática para o reforço da actuação interna-
económico e comercial intracomunitário, promovendo o
cional da CPLP, tendo-se congratulado com a eleição
crescimento e desenvolvimento dos Estados membros
de Portugal para o Conselho de Segurança da Organi-
mais vulneráveis.
zação das Nações Unidas para o biénio de 2011-2012.
Um outro factor importante a assinalar foi o realce dado ao Plano de Acção de Brasília para a Promoção, a
Processos de adesão de novos membros
Difusão e a Projecção da Língua Portuguesa (Plano de
Os ministros da CPLP reafirmaram a necessidade de
Acção de Brasília) no que diz respeito à consolidação
prosseguir a aproximação à Ilha Maurício e ao Senegal,
do português como língua oficial ou de trabalho nas
Observadores Associados da CPLP, privilegiando a
Organizações Internacionais, nomeadamente naquelas
difusão e o ensino da Língua Portuguesa nesses países
onde está representada a CPLP.
e a promoção de um relacionamento bilateral, económi-
A CPLP quer alargar o seu âmbito de acção, não ad-
co e comercial, traduzindo a vontade política de reforço
mirando, por isso, que uma das medidas a executar no
das relações entre estes dois países e a CPLP.
futuro respeite ao relacionamento com a ONU, reiteran-
Tomaram nota do desenvolvimento do processo de
do os estados-membros a necessidade de reformar o
candidatura da Ucrânia a Observador Associado, apre-
Sistema das Nações Unidas, em particular, o Conselho
sentado por ocasião da VIII Conferência de Chefes de
de Segurança, de modo a torná-lo mais eficaz e repre-
Estado e Governo da CPLP e das reuniões técnicas en-
sentativo da realidade internacional contemporânea.
tre o grupo de trabalho do Secretariado Executivo e os representantes da Ucrânia, no quadro das disposições
Reforço da democracia no espaço da CPLP
previstas no Regulamento de Observadores Associa-
Num mundo africano caracterizado pela instauração de
dos.
regimes autocráticos, o espaço formado pelos países
Registaram, com satisfação, a constituição da União
daquele continente afectos à CPLP foi caracterizado
Internacional de Juízes de Língua Portuguesa, na Ilha
pelos membros presentes nesta reunião como de con-
do Sal, em Cabo Verde, a 12 de Novembro de 2010,
solidação da Democracia e do Estado de Direito e com
assim como a constituição da Reunião das Instituições
a promoção e respeito dos Direitos Humanos. Neste
Públicas de Assistência Jurídica dos Países de Língua
âmbito, registaram os avanços obtidos por Cabo Verde
Portuguesa – RIPAJ, em Brasília, a 7 de Abril de 2011.
na consolidação do processo de transição para País
Instaram, igualmente, os Estados membros, que não o
10 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
1. O Secretário Executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira, deu as boas vindas na abertura desta XVI Reunião de Ministros da CPLP 2. O Ministro dos Negócios Estrangeiros junto dos membros da CPLP 3. A expansão portuguesa foi um tema em foco nos trabalhos
fizeram ainda, a ratificar o Acordo Ortográfico, incitan-
Exteriores de Angola, Dr. Georges Chikoti, contaram
do os Estados membros, que já o ratificaram, a adoptar
com a participação do Ministro dos Negócios Estran-
➤
as medidas para a sua implementação.
geiros português, Paulo Portas, do Brasil, Cabo Verde,
Os ministros da CPLP aprovaram ainda efectuar uma
Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, do
homenagem póstuma ao presidente Itamar Franco.
Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste
Os trabalhos, presididos pelo Ministro das Relações
e do Secretário Executivo da CPLP.
n
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 11
dossier
Portugal, Europa, Mundo Emergente por Luís Mira Amaral
Na economia global, despontam também grandes países emergentes no espaço lusófono, como é o caso do Brasil e Angola.
geo-estratégica do espaço lusófono, através dos recursos energéticos e petrolíferos existentes no Brasil, S. Tomé, Angola, Moçambique e Timor-Leste. Portugal, pequeno país europeu e que deu novos mundos ao mundo, expressão hoje corporizada no espaço Portugal enfrenta uma situação economico-financeira
lusófono da CPLP, terá que jogar cada vez mais entre
extremamente difícil, sendo apanhado em cheio pela
a vertente europeia e a dimensão lusófona. Será crucial
chamada crise das dívidas soberanas dos países peri-
mantermos a ligação à Europa e a permanência no
féricos da Zona Euro.
euro, pois só assim teremos o encore cambial e a cre-
A nível mundial estamos a ter um crescente dualismo
dibilidade e estabilidade financeiras que são condição
no crescimento económico mundial, com taxas de
necessária, mas não suficiente, para o desenvolvimento
crescimento mais expressivas nos países emergentes,
económico. Mas precisamos de ter consciência de que
designadamente nos BRIC’s (Brasil, Rússia, Índia e
num contexto de crescimento económico mais lento e
Chile) e mais modestos no tradicional mundo desenvol-
de saturação dos mercados europeus, a economia por-
vido da OCDE, designadamente Europa e EUA.
tuguesa vai precisar de jogar no dinamismo dos merca-
A geografia económica mundial do século XXI é dife-
dos emergentes para ter crescimentos significativos.
rente da que vigorou no século XX, onde tivemos a
Naturalmente aqui avultou Angola, que já ultrapassou
hegemonia do Mundo Ocidental.
os EUA como mercado para as exportações portugue-
Temos neste século a China e a Índia a ultrapassarem
sas, e o Brasil, cujo dinamismo económico deverá ser
os EUA como primeiras potências económicas mun-
aproveitado pelos empresários portugueses. Também
diais.
há que não esquecer a Índia e a China, onde podemos
Na economia global, despontam também grandes paí-
e devemos também jogar com as ligações históricas e
ses emergentes no espaço lusófono, como é o caso do
culturais.
Brasil e Angola. O Brasil é uma estrela em ascenção
A afirmação económica portuguesa nestes mercados
e nível mundial e Angola afirmar-se-á cada vez mais
emergentes exige um grande entrosamento e coope-
como potência regional a nível económico e militar no
ração estratégica entre o poder político e os empresá-
Sul de África onde até agora havia hegemonia incon-
rios portugueses através daquilo a que se começou a
testada da República da África do Sul.
chamar a diplomacia económica.
Num contexto em que o petróleo, a energia dominante, se tornará mais escasso, avulta também a importância
12 • Diplomática - OUTUBRO 2011
n
L.M.A. Presidente Executivo do Banco Bic Português
Dossier
Lusofonia Uma alma grande, por Maria de Belém Roseira
Fomos os primeiros construtores da globalização. Exportamos a nossa cultura, importamos a cultura de outros e miscigenámo-nos.
A fabulosa História de Portugal, constru-
dor que é a nossa língua comum, produto
ída com o sangue suor e lágrimas do seu
de tantas influências e tantas vivências di-
povo, permitiu-nos que fossemos bem
ferentes que a fazem tão rica, tão expres-
maiores que a nossa configuração geo-
siva, tão viva e tão mutável e adaptável ao
gráfica. E valeu bem a pena, porque se
mundo que vivemos hoje e àquele em que
alcançou uma “alma” grande, na perspecti-
se viverá.
va pessoana.
Esta riqueza pode bem ser mais vivida. É
Povo de muitos e variados destinos, fomos
sempre isso que eu sinto quando penso na
deixando muito de nós, um pouco por
Lusofonia, que deve ser vista, não apenas
todo o Mundo, ao longo de muitos sécu-
como um instrumento riquíssimo do ponto
los. Mas também trouxemos, e imenso.
de vista cultural, mas também como um
Outras culturas, outras gentes, outras
instrumento de valor incalculável do ponto
religiões, outras formas de ver e de estar.
de vista político e do ponto de vista econó-
Enfim, temos o seu mundo também cá
mico.
dentro do nosso território e dentro de nós.
Razão pela qual faz todo o sentido que
Sim, dentro de nós, nos nossos genes, no
ele seja aproveitado como objectivo de
nosso sangue, naquilo que de mais intimo
afirmação que busca novos desenhos geo-
e mais de dentro nos marca e também no
estratégicos, para além daqueles que mais
ambiente onde crescemos e amadurece-
nos têm marcado nas últimas dezenas de
mos, que nos permite actuar e amadurecer
anos.
no espaço de desenvolvimento da nossa
Na verdade, Portugal assumiu, e bem,
personalidade.
como objectivo estratégico a integração no
E tudo isso se vive e se transmite através
espaço europeu. Décadas de regime políti-
de um extraordinário instrumento agrega-
co opressivo e uma relação transatlântica,
14 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
➤
insuficientemente explorada, pôs-nos de
determinação.
costas voltadas para a Europa continental
Fomos os primeiros construtores da glo-
e para um modelo de progresso e de de-
balização. Exportamos a nossa cultura,
senvolvimento que estávamos muito longe
importamos a cultura de outros e miscige-
de acompanhar. Os indicadores sociais e
námo-nos. Porventura mais do que qual-
económicos mostravam-no bem.
quer outro povo.
A integração europeia permitiu-nos dar
Conhecemo-nos todos bem, nos nos-
um salto extraordinário no bom sentido,
sos defeitos e nas nossas qualidades.
salto esse, no entanto, que não permitiu
Entendemo-nos muitas vezes e também
ultrapassar todas as nossas debilidades
nos desentendemos. Somos irmãos de
estruturais, hoje bem patentes num Mundo
sangue, de percurso histórico secular e
fortemente abalado pela crise económica,
falamos a mesma língua. Somos família!
financeira e social que deflagrou a partir
Não há melhor base e melhor ponto de
de 2008.
partida para que possamos construir em
As ondas de choque que ele tem provo-
conjunto um espaço próprio no Mundo de
cado, estão longe de ser conhecidas em
hoje, em que nos possamos impor através
todas as suas dimensões. No entanto, há
da nossa especificidade, da nossa riqueza
reflexos que são claramente identificados,
humana, em suma, de uma identidade que
sobretudo no domínio económico e social
é só nossa.
e que reclamam de nós uma nova postura,
Esta é uma visão partilhada num espa-
que nos faça transpor as fronteiras que,
ço político-ideológico abrangente. Tem,
tantas vezes, ao longo da nossa História,
pois, suporte político. Para se concre-
nos amarraram e, ao fazerem-no, nos en-
tizar, necessita, apenas, de políticas.
fraqueceram de forma dramática.
Políticas competentes, integradas, que
Num contexto em que o projecto de cons-
partam do que já se fez e que lhes
trução de uma Europa unida em torno de
acrescentem visão, ambição e afectivi-
princípios e valores comuns está profun-
dade. Às políticas económicas, acres-
damente abalado e faz recear pelo seu
centar políticas sociais. Estabelecer a
futuro em coerência, faz todo o sentido
relação entre o económico e o social que
que Portugal reganhe uma dinâmica que
tanto tem faltado no governo dos povos,
o transporte para além da Europa, numa
atirando-os para o desemprego e o de-
ligação que renove e alimente a sua diáspora
sespero. Políticas que verdadeiramente
e que o faça relançar-se de corpo inteiro
invistam no desenvolvimento humano
no espaço da sua lusofonia, onde se sente
que cruza o investimento no saber, com
bem, porque se sente entre os seus.
o acesso ao trabalho e a disponibilida-
A língua é um fortíssimo instrumento de
de de meios financeiros que afastam a
relação. Não o olhar como um activo es-
privação do essencial.
tratégico, num mundo que buscará o seu
Temos toda a capacidade e a competên-
futuro na incorporação de conhecimento,
cia para o fazer. Assim tenhamos todos a
é uma miopia inaceitável. Há, pois, que o
vontade e, essa, parece não faltar. Ape-
contrariar e desenhar politicas activas que
nas teremos que falar uns com os outros,
acrescentem a nós e que acrescentem
entendermo-nos uns com os outros e, para
aos países que falam português, numa
isso, é que falamos todos a mesma língua.
relação “win – win”, que sirva os respec-
Ao trabalho, pois!
tivos povos, com afinco, com visão e com
n
Maria de Belém Roseira
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 15
Dossier
Engº Anacoreta Correia
por José Leite, fotos Ligia Correia
secretário-geral da UCCLA “Lisboa continua a ser uma grande referência para o Mundo Lusófono” Foi Conselheiro de Estado, antigo governante na área dos Transportes, deputado europeu e é o rosto mais visível da UCCLA ( União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa),uma organização que, nos seus 25 anos de existência, tem pugnado por aproximar os povos das várias cidades localizadas nos cinco continentes onde se fala o português, desenvolvendo uma vasta acção cultural, sócio-económica e geo-estratégica, sobretudo de expansão e defesa da língua de Camões e das empresas nacionais num quadro cada vez mais competitivo resultante da globalização. O engº Anacoreta Correia fala com entusiasmo dos objectivos e iniciativas em curso da associação de que é responsável, tecendo ainda comentários sobre o momento actual da política portuguesa.
16 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
Que balanço faz do trabalho
cas. Neste momento, está a funcio-
ciários foram os agentes turísticos
desenvolvido pela UCCLA numa
nar uma rede sobre Protecção Civil
com o estabelecimento de várias
altura em que completou 25 anos
e uma outra sobre a Conservação
parcerias com empresários. Cer-
➤
de actividade?
dos Centros Históricos.
ca de uma dezena de cidades da
O balanço é positivo. A UCCLA tem
Num segundo pilar, que eu chama-
UCCLA apresentaram os seus
sabido adaptar-se às mutações
ria de projectos de cooperação e
projectos, abrindo muitas perspecti-
do mundo exterior e à realidade
cultura, procuramos satisfazer os
vas sobre o que podem fazer nesse
autárquica. Trata-se de uma orga-
objectivos do milénio. Por exemplo,
campo.
nização internacional de cidades,
combater a pobreza principalmente
O Turismo tem sido um dos
não tem carácter governamental,
nas cidades mais necessitadas.
grandes pólos de desenvolvi-
é intermunicipal. Surgiu como uma
Não se admirará, por isso, de ver
mento das cidades que integram
afirmação lusófona, tendo contado
a UCCLA a tratar dos resíduos
a UCCLA?
com dois grandes precursores: o
sólidos na cidade de Bissau. Ainda
Naturalmente que sim, nos seus
engº Nuno Krus Abecasis, que ini-
recentemente, com apoio da União
múltiplos aspectos. Desde a cria-
cialmente a criou, com duas cidades
Europeia, assinámos um protocolo
ção de mão-de-obra à auto estima
a funcionar em rede, numa altura
na cidade da Praia para abasteci-
das cidades. Mas deixe-me referir o
em que as relações diplomáticas
mento de água potável a cerca de
papel fulcral da UCCLA como apre-
não eram as mesmas que são hoje
1500 famílias.
sentadora das empresas portugue-
– actualmente, é fácil ter um dis-
Ainda respeitante ao combate
sas às municipalidades. O objectivo
curso lusófono, fazem-se colóquios
contra a pobreza, criámos um vasto
é pôr a trabalhar as empresas cuja
sobre a lusofonia, mas, naquele
projecto de Cuidados de Saúde Pri-
actividade está directamente ligada
tempo, a UCCLA foi uma grande
mários – em Moçambique, estamos
aos municípios. Há todo um mundo
novidade, criando um movimento
na luta contra a Sida. Tudo isto
que não tem sido trabalhado con-
de solidariedade ao lado dos gover-
complementado com uma intensa
venientemente: desde empresas
nos de vários países, permitindo a
acção cultural, em nichos espe-
especializadas em espaços verdes,
entrada nos mesmos de empre-
cíficos. Ainda recentemente, em
que fazem animação cultural, água,
sários; outro dos criadores foi o
Lisboa, organizámos uma home-
saneamento, esgotos, regulação
embaixador brasileiro José Apare-
nagem a Malangatana num espec-
de tráfego, etc. Nós queremos
cido de Oliveira. Pode-se dizer que
táculo a que compareceu o Presi-
que essas empresas e as cidades
nós contribuímos para a formação
dente da República, bem como a
trabalhem em conjunto, pois nor-
do código genético da CPLP.
publicação de uma brochura que
malmente os municípios são muito
Como foi a evolução da UCCLA
irá ser distribuídas nas escolas mo-
conservadores no que respeita
nas várias vertentes?
çambicanas e um colóquio sobre a
à sua política de contratação de
Nos dois primeiros anos, as cida-
vida e obra desse artista.
fornecedores. Estamos muito
des funcionavam em bloco e evoluí-
Num terceiro pilar, procurámos dar
empenhados em organizar fóruns
mos para a situação actual em que
um novo sentido às relações das
de empresas que operam para os
temos três pilares de funcionamen-
cidades com as suas empresas.
municípios e, com essa finalidade,
to: um deles é o institucional, em
E nesse âmbito, é justo prestar
está a ser planeada uma reunião
que nós queremos que as cidades
uma palavra de homenagem ao dr.
de empresas no próximo ano em
trabalhem em rede, assumindo
Ernâni Lopes e ao seu colaborador
Salvador.
posições comuns – ainda recente-
mais directo, o dr. Poças Esteves.
O sr. engº focou num aspecto
mente, em Luanda, apoiámos, em
A eles se deve a magnífica expo-
interessante: num quadro de
conjunto, a candidatura do fado
sição apresentada em Salvador
crescente competitividade exigi-
a património material da humani-
da Baía chamando a atenção que
da ao país para debelar a crise,
dade; o mesmo aconteceu com a
competitividade é fundamental, não
qual o papel que a UCCLA pode
candidatura da Ribeira Grande de
só entre países, mas nas cidades.
desempenhar nesse âmbito?
Santiago, Cabo Verde, a Patrimó-
Em que sectores é fundamental
É o de fomentar a entrada de em-
nio Mundial da Humanidade. Esta-
essa competitividade?
presas nesses mercados emergen-
mos a promover transferências de
Principalmente, no Turismo. Aca-
tes – nesse reunião de que falei há
conhecimentos de tecnologias das
bámos de realizar em Luanda um
pouco que teve lugar em Angola,
cidades através de redes temáti-
Fórum, em que os grandes benefi-
expliquei aos empresários que o
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 17
Anacoreta Correia
“A crise económica afecta a nossa actividade. Estão a faltar alguns meios em áreas essenciais, como seja o incremento do ensino do português”
país não é só Luanda. Há outras
em atraso, não tem empréstimos
muitos estrangeiros que nos visi-
cidades cheias de potencialida-
à banca e tem dinheiro em caixa.
tam vindos desses territórios e vejo
des – existem relatórios de peritos
Isso é fruto de uma gestão conser-
o carinho e a emoção que Lisboa
que o atestam – como é o caso de
vadora ( sou conservador da cabe-
lhes provoca. Os portugueses é
Namibe e Kuando Kubango. Ob-
ça aos pés…) e de muito rigor.
que estão com uma crise de auto-
viamente que, nessa nossa função,
Tem sido positiva a rotatividade
estima! Os políticos é que têm de
não nos podemos substituir a ou-
na presidência da UCCLA?
resolver isso. As cambalhotas da
tros organismos oficiais com meios
Actualmente a presidência cabe ao
política também não ajudam a for-
➤
mais poderosos do que os nossos.
Governador de Luanda. Este siste-
talecer a auto-estima. Mas há boas
Mas, através dos nossos parcos
ma tem sido positivo, dado terem
razões para acreditar no futuro:
meios, acho que estamos a ganhar
sido utilizadas fórmulas de muito
e chamo-lhe a atenção para uma
a aposta. A UCCLA não tem qual-
bom senso. Durante 24 anos, a
entrevista que o ex-ministro dos
quer comparação com o que era
presidência da UCCLA era inerente
Negócios Estrangeiros deu à SIC,
há dois ou três anos atrás…Não
a Lisboa.
onde referiu que a acção diplomá-
dispomos de grandes meios finan-
O Império ainda a mandar…
tica de Portugal era muito facilitada
ceiros mas temos muitos amigos…
Era um bom Império…O certo é
pelo prestígio que o País tem no
E, actualmente, é uma das raras
que Lisboa continua a ser uma
Mundo. Tive a sorte de trabalhar
instituições do país que não deve
grande referência para todo este
durante dez anos na Comissão
a fornecedores, não há salários
mundo lusófono. Contacto com
Europeia como responsável
18 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
das Relações Externas ( África e
Saúde tendo atingido cerca de 110
atravessa Portugal pode afectar
mil pessoas – estarei em Agosto
a actividade desenvolvida pela
nenhumas em afirmar que bene-
em Timor para me reunir com o
UCCLA?
ficiei muito desse prestígio. Mas
Primeiro-Ministro, Xanana Gusmão,
Claro que afecta. Estão a faltar
devo dizer-lhe que a passagem da
com a finalidade de discutir se esta
alguns meios em áreas essenciais,
presidência de Salvador da Baía
medida deve ou não ser alargada
como seja o incremento do ensino
➤
América Latina),não tenho dúvidas
para Luanda foi muito positiva.
a outros distritos ou se deve uni-
do português. Por exemplo, várias
Hoje, a capital angolana, tem cerca
camente ser aprofundada em Dili.
cidades têm recorrido à UCCLA no
de oito milhões de habitantes e é
Uma acção que se deverá alargar a
sentido de gerir outras ajudas que
ali que ocorre 60 por cento de toda
Maputo através de negociações em
não são provenientes de Portugal,
a actividade económica de Angola.
curso com responsáveis pelo sec-
o que mostra o grau de confiança
Que projectos tem a UCCLA em
tor da Saúde daquele país. Repito:
que têm em nós.
curso?
temos hoje em dia uma boa rede
Há razões para temer que o ensi-
Depois da visita do governador
de amigos.
no de português e a expansão da
de Luanda, estamos a trabalhar
Como profundo conhecedor do
nossa língua esteja em risco?
na toponímia da capital angolana,
mundo africano lusófono, o sr.
Tenho verificado algumas posições
mas também já nos pediram para
engº acha que os regimes auto-
muito pessimistas e ignorantes
dar um apoio na rede de esgotos,
cráticos que têm caracterizado
a esse respeito. Convido esses
na criação de espaços verdes. O
esses países estão em declínio?
críticos a apurar o que é hoje a
primeiro passo a dar é pôr a fun-
A democratização está em mar-
expansão do português em Angola
cionar o que já existe, recorrer ao
cha em África?
comparativamente à que era há
que já existe, e não aplicar novas
Sim, creio que África caminha para
30 anos atrás. Incomparavelmente
estruturas, necessariamente mais
a democratização. Peço desculpa,
maior e de muito boa qualidade!
caras. Angola também já mani-
sou um pouco critico da actuação
Um inquérito apurou que 30 por
festou interesse em que façamos
dos nossos media…acontece que
cento dos angolanos declaram o
qualquer coisa no âmbito da Acção
estive em Luanda nos dias que
português como língua materna.
Preventiva de Cuidados de Saúde
antecederam o anúncio das gran-
Penso que alguns dos nossos
Primários e, nesse aspecto, foi
des manifestações contra o regime
pivots dos canais de TV até já
importante a nossa experiência em
angolano e o que verifiquei é que
terão de aprender algo com os
Cabo Verde, onde nos envolvemos
esses movimentos aglutinaram es-
seus congéneres angolanos…O
na campanha contra a erradicação
cassas dezenas de pessoas. Quero
mesmo se passa em Moçambique.
do dengue. Na altura em que nos
dizer-lhe o seguinte: a forma como
Para esse facto, muito contribuiu a
pediram para actuar, estavam a
foi resolvido um conflito armado
atitude de Samora Machel ao dizer
registar-se cerca de 700 casos de
terrível em Moçambique e em
que o crescimento da unidade em
dengue por dia. Foi magnífico o tra-
Angola, sem haver condenações
Moçambique deveria fazer-se atra-
balho desenvolvido por uma equi-
à morte ou fuzilamentos, contrasta
vés da língua portuguesa. Portanto,
pa médica do IPPAD de Coimbra
com o resto de África. Claro, nem
temos de relevar mais os aspectos
que se deslocou ao Arquipélago e
tudo foi exemplar. Mas, Djalakama
positivos do que os negativos.
pela magnifica atitude da Câmara
circula livremente em Moçambique,
Não acha que há que ter cuida-
da Praia ao efectuar uma série de
a UNITA tem expressão parlamen-
do com a China que está cada
demolições em zonas que eram
tar e diz o que discorda. Acho que
vez mais penetrante no mercado
autênticas incubadoras de mosqui-
o caso mais espantoso é o da Gui-
africano lusófono…
tos. Não quer dizer que fomos nós
né Bissau, um território um pouco
Isso significa que dentro de dez
que acabámos com essa praga,
maior que o Alentejo, com cerca de
anos vai haver mais chineses a
mas o trabalho foi árduo e profí-
30 etnias, com golpes de Estado
falar português…Foi o que acon-
cuo, nomeadamente, na atitude
sangrentos, mas onde, ao contrário
teceu em Moçambique. Na Beira,
preventiva da população, que é, ao
do que se verificou na Libéria ou na
há uma colónia chinesa completa-
fim e ao cabo, o melhor combate
Serra Leoa, há actualmente algu-
mente inserida na vida portuguesa.
contra as epidemias. Depois disso,
ma contenção. Isso é uma herança
A IURD ( Igreja Universal do Reino
formámos agentes em Dili especia-
lusófona.
de Deus) fez em Moçambique a
listas nos Cuidados Primários de
O clima económico difícil que
sua base de penetração na África
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 19
Anacoreta Correia
➤
do Sul. Portanto, há uma realida-
acho que sim. É preferível fazer
pena, pois sentia que os lusófonos
de insofismável: o português está
as mutações de forma gradual. É
tinham ali uma voz amiga. Conti-
em expansão no mundo lusófono.
importante para a sua permanên-
nuo a manter com Cavaco Silva
Eu estive na fronteira da Lunda
cia, sobretudo numa altura em que
relações extraordinárias. O facto de
com o Congo e pude aperceber-
a língua vai ser completamente
ter vindo à Gala de homenagem a
me que os congoleses falam agora
diferente daqui a uns trinta ou
Malangatana no dia a seguir às úl-
muito mais português do que o
quarenta anos. É preciso ter uma
timas eleições, numa altura em que
francês, porque mandam os filhos
atitude aberta.
as solicitações ao sr. Presidente da
estudar em Angola, porque ali o
O Brasil continua a ser importan-
República eram múltiplas, é a pro-
ensino é melhor. Esta é a realidade
te na estratégia da UCCLA?
va disso. Os meus colaboradores
de alguns portugueses que não
Queria que a UCCLA tivesse uma
sabem que, em cada um dos meus
se apercebem destas realidades,
presença mais activa no Brasil.
actos, existe a preocupação de ter
porque passam a vida a frequentar
Temos sete cidades associadas,
pronta a renovação em qualquer
cocktails…É preciso falar com o
mas gostaria de consolidar a nossa
altura.
povo…
presença no Nordeste, onde está
As eleições em Portugal clarifi-
Há quem diga que o sr. engº
a acontecer uma verdadeira revo-
caram a situação política?
dava um bom ministro dos Negó-
lução económica, muito em parte,
Está clarificada, vamos a ver se
cios Estrangeiros…
graças aos portugueses, princi-
está melhor. Não gostei da falhada
Acho que a pasta dos Negócios Es-
palmente nos sectores ligados ao
tentativa de eleger Fernando Nobre
trangeiros está muito bem entregue
Turismo e à Agricultura. Temos um
para Presidente da Assembleia da
ao dr. Paulo Portas. Há muito tem-
plano de contactos e vamos execu-
República. Foi a crónica anuncia-
po que ele se preparou para essa
tá-lo em Novembro e Dezembro.
da desse episódio. Creio que o dr.
pasta. A passagem pela Defesa foi
A Índia ainda está demasiado
Passos Coelho, ao escolher quatro
útil. Por isso, acho que Portas vai
longe?
independentes de uma outra faixa
ser um bom ministro. Nós não an-
Não, não está. Seguimos com
etária, demonstrou uma aposta
damos à procura de oportunidades,
atenção o dossier de Goa e es-
renovadora, que não há cargos
mas se for preciso alguma con-
tamos preparados para termos
políticos vitalícios. No entanto, no
tribuição da UCCLA para “ler” as
boas notícias a esse respeito. É a
Governo, apesar de um dos par-
questões da Lusofonia, cá estare-
primeira vez que o digo, mas antes
tidos ter uma maior expressão de
mos para as dar. Julgo que temos
de terminar o meu mandato, gos-
votos, tem que haver partilha do
uma leitura muito profunda sobre
taria de ter Goa dentro da nossa
poder. Confrontar e partilhar são
as cidades ligadas a esse mundo.
constelação de capitais de língua
próprias da negociação. Falta-nos
Há muito a fazer no campo da
portuguesa. Não nos podemos
alguma cultura de negociação em
Diplomacia?
esquecer que no grupo de países
Portugal e de governação. Prefe-
Acho que foi uma grande vitória
emergentes - Rússa, China, Índia
rimos criar de novo, reinvestir, em
portuguesa a eleição para um lugar
e Brasil - este é o único que é uma
vez de aproveitarmos o que existe.
no Conselho de Segurança. Os
democracia perfeita e pratica os
Tempos de banir esta mentalidade
adversários eram de peso. Repare
valores ocidentais. E é onde se fala
de novo riquismo. Cito um episódio
que a maioria dos países europeus
português. Está a abrir-se para o
que tem a ver com a minha cam-
não votaram por Portugal. Quem o
Mundo o que nos enche a todos de
panha de candidatura a deputado
fez foram os latino-americanos, os
um certo orgulho lusófono.
europeu: em Viseu, gelei a assis-
africanos e os asiáticos. O que nos
Porque decidiu deixar o cargo de
tência ao felicitar a cidade por não
falta é termos uma política activa
Conselheiro de Estado?
ter um estádio para o Euro. Hoje,
de defesa da língua. Estou conven-
Não me afastei nem fui afastado.
as pessoas felicitam-me por aquilo
cido que esta é uma língua de afec-
Respeito a decisão do sr. Presiden-
que disse. Houve uma política in-
tos e isso facilita a aproximação.
te da República de renovar o Con-
discriminada de crédito, criaram-se
Acha que o Acordo Ortográfico
selho de Estado. Um determinado
auto-estradas em regiões onde não
defende a língua portuguesa a
número de pessoas entendeu que,
eram necessárias, inauguraram-
sua expansão no Mundo ?
neste momento, o dr. Bagão Félix
se hospitais a uma curta distância
O que vou dizer vai escandalizar
correspondia melhor ao perfil para
uns dos outros, e agora estamos a
os meios conservadores, mas
o cargo e respeito a decisão.Com
pagar a factura desse desvario.
20 • Diplomática - OUTUBRO 2011
n
VISTA ALEGRE PRESTA HOMENAGEM A MALANGATANA. A Vista Alegre vai lançar em breve uma peça de edição numerada e limitada a 500 exemplares, para assinalar o trabalho que o Mestre Malangatana estava a desenvolver com a marca. Para mais informações e pré-reservas, contactar: rita.mor@vaa.pt ou +351 262 540 259
www.vistaalegreatlantis.com
Dossier
Desaprender com a Vida por Maria Lúcia Lepecki
Maria Lúcia Torres Lepecki, a grande defensora da cultura portuguesa, nasceu no Brasil em 1940, tendo-se notabilizado como professora universitária de literatura portuguesa, ensaísta e crítica literária. Especialista nas áreas de Literatura Portuguesa dos séculos XIX e XX, foi professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde lecionou entre 1970 e 2008. Mas abrangeu a sua actividade de professora e conferencista a inúmeras universidades europeias, brasileiras e africanas. Enquanto crítica literária colaborou em várias revistas, jornais portugueses e estrangeiros e foi agraciada com vários prémios e honrarias dos quais se destaca o grau de comendadora da Ordem de Sant’Iago da Espada, recebido em 2000. Deixou-nos em 24 de Julho de 2011, aos 72 anos de idade, Relembremos o seu estilo fino, argúcia de pensamento, e ideias ainda actuais, no texto publicado em 1994 num dos números Especiais da revista Manchete, editada por este nosso Grupo Gabinete1.
Levam-nos a crer que a experiência en-
contudo me pacifica na hora de fazer
sina. Ledo engano, penso eu, ao come-
esse texto: parece-me, de facto, que a
çar este depoimento. Nascida no Brasil
experiência – tornada princípio perverso
e lá tendo vivido trinta anos, estando em
-, só serve ao meu desconcerto e de-
Portugal desde 1970, tendo trabalhado
sorientação. Tentarei, contudo, depor
durante quatro anos num país africano
sobre aquilo que mais de perto me diz
de Língua Portuguesa, eu deveria ser,
respeito e que melhor procuro ir conhe-
se o que me levaram a acreditar vales-
cendo: a questão cultural.
se, uma pessoa particularmente apta
Com evidentes e importantíssimas im-
a discorrer sobre o tema que hoje me
plicações políticas e económicas para
apresentam.
o próximo milénio, deveria ser pouco
Experimentei muitos percalços da vida
problemática, no plano cultural, a cons-
política e económica brasileira e portu-
tituição de uma Comunidade de Países
guesa e não me posso acusar, em sã
como os de Língua Portuguesa. Com
consciência, de me ter desesforçado
efeito, eles partilharam séculos de His-
por os compreender e administrar – nos
tória comum e partilham ainda a mesma
planos pessoal e doméstico, que eram
Língua, em estatuto de “Nacional” ou de
os que me competiam – do modo que
“Oficial” em convívio com outras Línguas
me parecia mais correcto e, já agora
maternas.
saudável. Não desacompanhei também
Junto com a Língua guardamos, todos
por completo a vida sócio-política e
os lusófonos, onde quer que nos encon-
económica do país africano onde estive.
tremos, traços culturais que nos unem.
E nem sequer direi que saí dele desco-
Eles podem ir desde a religião (ou religi-
nhecendo-o em excesso. Nada disso,
ões: penso nos cultos afro-negros no
22 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
➤
Brasil) até à arquitectura (ou arqui-
bato, por Francisco Martins ou por Maria
tecturas: penso nas casa dos “brasi-
Clara Machado, como não se percebe
leiros” do Minho ou no tipo tradicional
por que as crianças brasileiras não po-
da casa de fazenda em Minas Gerais);
derão deliciar-se com os livros de Alice
eles tocam necessariamente pequenís-
Vieira, de Natércia Rocha e de tantos
simos pormenores do quotidiano que,
outros. E não me digam que as diferen-
passando-nos quase sempre desperce-
ças ortográficas, mesmo sem qualquer
bidos permitem, quando observados e
acordo, são impedimento: sempre li,
cotejados, evidenciar a comunidade das
em pequena, livros em ortografia portu-
origens que a todos nos unem.
guesa, e nunca na escola primária me
Partilhamos, sem dúvida, muito de
escapou um “facto” em lugar de “fato”.
cultural, e isso deveria ser garante de
Já em outro campo, lembro-me de que
tranquilidade para quem – no caso os
quando fiz o Conservatório de piano, no
Estados envolvidos – agora se abalança
Rio, entre meados dos anos 50 e 60,
ao empreendimento que os tempos não
era obrigatória uma peça portuguesa por
permitem adiar mais.
ano, e, se não erro, para o exame final.
Deveria ser garante digo eu – e se assim
Ignoro se isso se passa aqui, mas era
digo é porque ainda assim não é, pelo
importante tratar do assunto.
menos na medida em que esperaríamos
De muitos jeitos e em muitas áreas,
que fosse. Falta qualquer coisa e ela é,
torna-se urgente aproximar de facto as
muito simplesmente, o real e profundo
culturas lusófonas – e a Universidade,
conhecimento mútuo entre os povos que
em termos de docência e de investiga-
se expressam, em qualquer estatuto que
ção, deveria ser a locomotiva a condu-
seja, em Língua Portuguesa.
zir o processo: porque não instalar um
Para um real conhecimento mútuo, para
programa de trocas de docentes entre
aquela “irmandade na aceitação das
países de Língua Portuguesa, um pouco
diferenças”, garante único e imprescindí-
nos moldes do que a Comunidade Euro-
vel de vitalidade para uma Comunidade
peia faz nos Erasmus?
com real força política, capacidade e
No meu entender, só um empreendimen-
força de intervenção duradouras, torna-
to cultural ambicioso (sem ambição não
se necessária uma política cultural que
vale a pena começar), sério e ponde-
sustente, em bases sólidas, o nosso
rado, um empreendimento onde todos
saber e entendimento uns dos outros.
entremos sem veleidades de liderança
É essa política que ainda não existe, e
ou, vamos lá, de “direitos maiores”, só
ela que se torna necessário imediata-
isso poderá, realmente, sustentar uma
mente instalar. Não se pode adiar mais a
comunidade viva e actuante. Fora desse
nossa presença sistemática, em termos
quadro, que iluminará nossas diferenças
de criações do espírito, nos países que
e sedimentará nossas semelhanças, que
partilham connosco a mesma Língua.
nos dará conhecimento de nós mesmos
É possível, e não difícil, estarmos perto
e dos nossos mais próximos no concerto
uns dos outros de modo sistemático, or-
das nações, fora desse quadro, que nos
ganizado e produtivo. Comecemos, que
permitirá diálogo, partilha e mútuo enri-
já é hora, pelo privilegiado espaço das
quecimento, receio bem que a constru-
escolas. Não parece justificar-se, por
ção de uma casa política para a Língua
exemplo, que as crianças portuguesas
Portuguesa peque, muito simplesmente,
conheçam as histórias contadas por Lo-
por debilidade de alicerces.
n
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 23
Dossier
Mário Vilalva, embaixador do Brasil em Portugal por Maria da Luz de Bragança e José Leite, fotos Lígia Correia
“Portugal deve aproveitar esta fase de crescimento económico do Brasil”
24 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
Mário Vilalva, 58 anos, ocu-
portuguesa. Deu-se conta que
mos económicos, até se falou
pa desde Novembro de 2010 o
havia uma outra realidade que
na compra de parte da dívida
cargo de embaixador do Brasil. Já
comprometia, e muito, o nosso
lusa…
tinha estado nesta representação
espaço lusófono no Mundo. De-
Não gosto do termo ajudar. Eu
diplomática, há vinte anos atrás,
pois de um período de crise entre
acho que o Brasil não será a
como conselheiro para assuntos
Portugal e a sua relação com o
solução, mas pode e deve colabo-
económicos e comerciais e, em
Brasil e os Palop’s, José Apareci-
rar com Portugal neste momento
2000, foi director-geral do Depar-
do Oliveira empenhou-se em criar
de dificuldades. Nesse sentido,
tamento Comercial do Ministério
um espaço lusófono. Inicialmente,
estamos a dar um sentido de
das Relações Exteriores e esteve
pensou numa Comunidade dos
urgência a todos os mecanismos
no Ministério do Planeamento no
Povos de Língua Portuguesa, en-
necessários para esse efeito, com
sector da cooperação financeira.
volvendo não só os Estados, mas
a finalidade de fazer sair Portugal
Não admira que assuma que um
que englobasse todas as comuni-
o mais rapidamente dessa cri-
dos seus actuais objectivos é o
dades que falam o português. O
se. Quanto à compra da dívida,
reforço das relações comerciais
objectivo também foi o de iniciar
que é uma questão específica, o
entre os dois países, privilegiando
uma cooperação entre os vários
grande problema que nós temos
a diplomacia económica, fazendo
sectores, afirmando e consolidan-
é que o Banco Central do Brasil é
questão de relevar o papel de-
do, ao mesmo tempo, a nossa
independente e só pode comprar
terminante que Portugal deve ter
língua, criando riqueza, gerando
papéis no exterior, ou investir as
num quadro de globalização, em
novos empregos, expandindo
suas reservas, se os mesmos
que o mundo lusófono pode as-
culturas comuns. Por via disso, o
forem classificados pelas agên-
sumir uma posição determinante,
Brasil tem um compromisso muito
cias de rating como sendo do tipo
passando das letras aos negócios.
forte com a Lusofonia, através
AAA.O que significa dizer que, por
Nesse sentido, anuncia a criação
da criação e manutenção desse
mais que houvesse uma vontade
da chamada Inteligência Comer-
espaço, no que concerne à língua,
política de comprar a dívida portu-
cial, com a finalidade de ajudar
cultura e exploração dos merca-
guesa, a lei proíbe-o. Actualmen-
as empresas nacionais a exportar
dos. Quem sabe se, no futuro, não
te, os actos de gestão pública no
para o Brasil, identificando os
possamos aprofundar mais essa
Brasil são muito vigiados, depois
problemas, ao mesmo tempo que
cooperação, como acontece já
da lei criada pelo Congresso Na-
assume ser crucial um acordo en-
com vários blocos económicos?
cional – designada Lei da Respon-
tre o Mercosul e a UE.O diplomata
A lusofonia terá agora uma ver-
sabilidade Fiscal – ao tempo do
tem uma filha nascida em Portu-
tente mais económica, devido à
presidente Fernando Henriques
gal, um país, que, como sublinha,
crise global?
Cardoso.
é o único, na sua vida de 36 anos
A Lusofonia nasceu essencial-
Quais são esses mecanismos
como diplomata, em que não se
mente com uma particularidade
que falou de ajuda a Portugal?
sente estrangeiro.
política e cultural, numa altura em
Em primeiro lugar, nós queremos
Qual o papel do Brasil na ex-
que o Brasil não estava bem do
aumentar o comércio entre o Bra-
pansão e reforço da Lusofonia
ponto de vista económico, aliás,
sil e Portugal. Achamos que é um
no Mundo?
como acontecia com os países de
comércio muito pequeno. Estamos
O Brasil foi membro fundador –
língua portuguesa em África. A
a promover alguns estudos para
eu diria, o líder – da criação da
ideia de estreitar os laços econó-
encontrar nichos de mercado, que
CPLP. Eu próprio participei nesse
micos surgiu depois. Actualmente,
não estão a ser aproveitados, para
momento, que considero histó-
o Brasil e Portugal têm um capital
procurar incrementar a compra de
rico, dado que, nessa altura, eu
político e económico fantástico.
produtos portugueses através de
era conselheiro na Embaixada em
Agora, é preciso aproveitá-lo de
um instrumento que nós designa-
Portugal, responsável pela área
forma a dar mais substância eco-
mos como Inteligência Comercial.
económica Na altura, era embai-
nómica.
Ou seja, procuramos identificar os
xador José Aparecido Oliveira,
E agora, após a recente visita
motivos pelos quais determinado
que tinha como uma das suas
de Dilma Roussef a Portugal,
produto não está a ser exportado
preocupações dar mais substância
surgiu a hipótese de o Brasil
para o Brasil, quando o importa de
ao instituto internacional da língua
poder ajudar Portugal em ter-
outros países. Vamos procurar
➤
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 25
Mário Vilalva
tirar a “radiografia”: Será por que
ração, dedicada exclusivamente
chegar ao Brasil, eu diria, até de
é um mau vendedor? Existem pro-
aos produtos portugueses e será
forma exagerada… tanto é que
blemas logísticos? É um problema
distribuída a cada um dos dez mil
a nossa moeda está a ser valori-
de financiamento? De marketing?
importadores brasileiros. Por tudo
zada em detrimento à dos países
De marca? O que é? E depois
isto, acho que nós temos um forte
exportadores. Hoje, o real vale
facultamos essa “radiografia” ao
capital político, social e cultural,
um dólar e meio. Isso é uma coisa
exportador, apontando as razões
mas chegou o momento de trans-
surpreendente – a igualdade entre
prováveis pelas quais não está a
formar tudo isso em números.
as duas moedas! Isso acontece
fazer essa exportação para o Bra-
Portugal tem de se dar conta que
porque o Brasil continua a gerar
sil. Não podemos ir contra as nor-
o seu destino não é só a Europa,
saldos na sua balança comercial e
mas da Organização Mundial de
que é preciso diversificar os mer-
porque está a entrar muito investi-
Comércio privilegiando as impor-
cados, aproveitando esta fase de
mento estrangeiro.
tações de um determinado país.
crescimento do Brasil. Há muitas
Isso acontece também com An-
Podíamos ser punidos por estar-
empresas portuguesas de qua-
gola, que também está tornar-se
mos a praticar o chamado Desvio
lidade mundial e que têm de ter
um mercado apetecível, tanto
de Comércio. Mas ao efectuarmos
escala no mercado brasileiro. Mas
para os exportadores lusos
esse estudo, mostrando as oportu-
há um outro aspecto que eu con-
como na entrada de capitais
nidades de comércio com o Brasil
sidero mais importante: na minha
angolanos em Portugal… e é um
e os erros que cometem os expor-
gestão vou tentar dar prioridade
mercado igualmente procurado
tadores de um determinado país,
aos investimentos bilaterais (nesta
pelo Brasil!
não estamos a praticar esse tipo
altura, o embaixador mostra-nos
Isso é o que falei. O espaço lusó-
de infracção.
um livro de Mário Ferreira, conten-
fono está a transformar-se num
Já há resultados desse estudo?
do um investimento que o conhe-
mercado, está a gerar riqueza e
Não, começou há pouco tempo.
cido empresário português preten-
emprego. Este é, aliás, o último
Estamos a promover esse estudo
de levar a efeito no Amazonas: a
objectivo…o de que a economia
➤
em estreita cooperação com a
de um luxuoso barco de turismo,
funcione em pleno, que as pesso-
AICEP, incrementando-o desde a
idêntico aos que navegam no rio
as possam ter o seu emprego, que
época em que o Dr. Basílio Horta
Douro).Estamos a ajudá-lo nesse
possam viver bem. O maior cré-
presidia a esse organismo. Mas
investimento, inclusive, na procu-
dito que o Brasil tem no exterior
vamos continuar nessa linha que,
ra de financiamento. Portanto, os
é com Angola. Nós concedemos
aliás, foi enfatizada pelo primeiro-
investimentos são uma meta que
a esse país um crédito que ultra-
ministro, Dr. Passos Coelho.
eu tenho a certeza que vai dar um
passa um bilião de dólares. Mui-
Agora, nós sabemos que vamos
outro contorno às relações dos
tas empresas brasileiras estão a
enfrentar alguns limitantes – em-
dois países.
trabalhar lá, e eles pagam no dia.
prego este termo de forma delibe-
O Brasil não está a ser um país
Funciona como um “relógio” esse
rada, porque a palavra limitações
caro para os empresários portu-
crédito. E o mesmo estamos a
parece que ter uma conotação ne-
gueses que nele queiram inves-
procurar fazer com outros países
gativa. O que são? Nós sabemos
tir?
de expressão portuguesa, como é
que a oferta limitada de Portugal
Repare, à medida que o país se
o caso de Moçambique.
tem os seus limites. Mas isso não
desenvolve, é natural que o custo
Acha que a Europa ganharia
nos vai impedir de explorar ao má-
de vida também aumente. Isso
alguma coisa ao estabelecer
ximo esses nichos de mercado. In-
aconteceu com todos os países
um acordo com os países que
clusive, vamos fazer uma promo-
que se desenvolveram, como foi
integram o Mercosul?
ção desses produtos directamente
o caso da Alemanha, Japão, num
É crucial esse acordo. Um dos
junto aos importadores brasileiros.
dado momento com os Esta-
aspectos limitantes de que falei é
Vamos abrir os olhos destes para
dos Unidos. Depois desse salto,
o facto de os produtos brasileiros,
os produtos que Portugal pode
surgem, em seguida, as acomo-
quando entram na Europa, paga-
exportar, com qualidade e com-
dações e a coisa se equilibra.
rem tarifas elevadas. O mesmo
petitividade. Vamos também criar
Mas nada disso tem dificultado a
acontece com a taxação em vigor
uma revista como um dos elemen-
entrada de empresas estrangeiras
no Brasil a esses produtos euro-
tos fundamentais dessa coope-
no Brasil. O dinheiro continua a
peus. Portanto, é necessário
26 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
“Não gosto do termo ajudar. Eu acho que o Brasil não será a solução, mas pode e deve colaborar com Portugal neste momento de dificuldades”
eliminar essas tarifas, e isso só
à troca de lista de bens. Ou seja,
do, vão criar riqueza e emprego.
se consegue através de um acor-
o escalonamento de bens até
O Atlântico será resgatado como
do comercial entre o Mercosul e
chegar à taxa zero. E lembro que
a grande via para esse comércio,
a União Europeia. Felizmente, as
o comércio do Mercosul é mais da
com a vantagem dos europeus de
negociações foram retomadas há
metade do PIB da América Latina.
terem acesso ao maior mercado
cerca de um ano e estamos numa
Estamos a falar da união de dois
da América do Sul, que é o Bra-
fase denominada normativa para
blocos económicos fortes, com
sil, grande exportador de carne,
depois entrarmos no chamado
espaços geográficos aceitáveis e
soja, milho, petróleo, entre outros
acesso a mercados que respeita
que, uma vez assinado esse acor-
produtos.
➤
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 27
Mário Vilalva
E Portugal pode desempenhar
bol, os Jogos Olímpicos…
das pessoas nos anos oitenta. Há
um papel importante no estabe-
Não são os únicos, mas são even-
quem diga que o dinheiro que veio
lecimento desse acordo?
tos importantes. O que há é essa
da UE foi mal gasto. Eu não acho
Portugal sempre foi muito afirma-
demanda de mão-de-obra quali-
isso, depois de ter visto o vosso
tivo no estabelecimento desse
ficada que é paga com salários
país nessa minha primeira estadia
acordo. Seria, provavelmente,
mais elevados do que aqui. In-
aqui. Hoje há um Estado Social
o país mais beneficiado do lado
clusive, de cidadãos portugueses
que não havia, estruturas fantásti-
europeu, por uma simples razão:
– no ano passado, concedemos
cas para receber os turistas, está
estrategicamente, Sines será um
800 autorizações de residência a
perfeitamente integrado no conti-
porto ideal. Há um trecho ferrovi-
compatriotas vossos e este ano
nente europeu, podendo agora di-
ário que é preciso melhorar para
esse número já aumentou em 30
versificar as suas relações, inclu-
que fique mais competitivo. Che-
por cento em relação ao primei-
sive, fora da Europa, que possam
guei a dizer ao então primeiro-
ro trimestre. Por outro lado, os
acrescentar valor. Recordo uma
ministro Sócrates que era viável
ordenados da mão-de-obra não
frase do anterior ministro dos Ne-
a instalação de um entreposto co-
qualificada são maiores em Portu-
gócios Estrangeiros, Luís Amado,
mercial com empresas brasileiras,
gal do que no Brasil e a tendência
ao ser questionado sobre qual se-
mas estas iriam sempre sofrer os
deste é permanecer em Portugal
ria o futuro de Portugal na Europa.
efeitos de uma taxação elevada.
desde que o mercado local permi-
Ele respondeu que o futuro será
…elevadas taxações que impe-
ta. Se isso não acontecer, aí sim,
aquilo que o país possa ser fora
diram a formação da APEX, que
ela regressa. Já não há barreiras
dela. Portugal foi dono do Mundo,
seria o primeiro entreposto co-
no fluxo de trabalhadores entre os
tem uma vantagem em relação
mercial brasileiro em Portugal?
dois países.
aos restantes países europeus de
Sim, foi uma utopia. Mas voltando
Vinte anos depois de ter estado
saber ver o mundo, não a partir do
ao acordo da EU/Mercosul, Portu-
na embaixada brasileira, pode
seu próprio umbigo, mas segundo
gal é um país privilegiado e só te-
fazer um retrato do Portugal
várias perspectivas: da Índia, de
ria a lucrar: tem um óptimo clima,
actual?
África, da China, do Brasil. Portu-
as empresas têm espaço para se
A primeira vez que vim a Portugal
gal tem talento. Por isso, sempre
instalarem e, por isso, eu digo que
foi em 1980, para uma reunião
advoguei que o vosso país deveria
só teria a lucrar.
de trabalho, estava eu na repre-
ter um papel de articulador entre
Contrariando a progressiva
sentação diplomática brasileira
esses vários mundos.
entrada de empresas brasileiras
em Washington. Encontrei então
O que é que o Sr. Embaixador
no mercado português, tem-se
um país deprimido, empobrecido,
aprecia mais em Portugal?
assistido, ao invés, a um retor-
sem um rumo, ainda não havia por
São várias as características que
no de emigrantes brasileiros ao
parte dos responsáveis políticos
aprecio: o conhecimento em pri-
país de origem, como conse-
uma certeza sobre qual o caminho
meiro lugar; aprendi a conhecer a
quência da crise que Portugal
a seguir. Voltei em 1991 e deparei
história do meu país vivendo aqui.
atravessa. O sr. Embaixador tem
com uma transformação radical
Nutro um carinho muito grande
certamente consciência desse
daquilo que havia visto dez anos
pelas pessoas – adoro percorrer
facto?
antes. Vi um Portugal com destino
o país, conhecer os lugares e
Sim, está a haver um retorno ao
definido, com história renovada,
as suas gentes. Sabe, uma filha
Brasil em função de dois aspec-
já com ânimo na população, havia
minha nasceu aqui e esse facto
tos: há uma demanda de mão-de-
emprego e a Europa era a grande
levou-me a que esses sentimen-
obra muito grande no Brasil. Se a
solução depois de consumada
tos se tenham tornado ainda
mesma é qualificada, fatalmente
a adesão à UE. Passados vinte
mais fortes. De vez em quando,
voltará à origem.
anos, devo dizer que encontrei
perguntam-me qual dos países
Afluxo naturalmente relaciona-
um Portugal muito mais bonito.
em que estive colocado aquele
do com os grandes aconteci-
Com auto-estradas maravilho-
que mais gostei. E eu respondo: a
mentos dos quais o Brasil vai
sas, infra-estruturas perfeitas, as
gente só repete aquilo que gos-
ser palco, que requerem muita
cidades estão limpas em qualquer
ta. Sou diplomata há 36 anos e é
mão-de-obra
lugar que a gente vá. E há alegria,
o único país onde não me sinto
qualificada: o Mundial de Fute-
coisa que eu não via no semblante
estrangeiro.
➤
28 • Diplomática - OUTUBRO 2011
n
mês/mês 2011 - Diplomática • 1
Viagens & Lazer
1
1. Praia do Forte, São Salvador da Bahia
Brasil, uma Viagem de Sonho Desde o momento em que os Portugueses descobriram
é caso do Pão de Açúcar, do Cristo Redentor (uma
as belezas do Brasil, que este país entrou no nosso
das sete maravilhas do mundo moderno), as praias
imaginário. Raros serão aqueles, portanto, que não
de Copacabana e Ipanema, o estádio Maracanã, o
ambicionam mais tarde ou mais cedo rumar ao outro
Parque Nacional de Tijuca (o maior bosque urbano do
lado do Atlântico e, por regra, o ponto de partida desta
mundo), e o fantástico “calçadão”, passeio à beira-mar
viagem por terras do Brasil tem início na Cidade Mara-
trabalhado por calceteiros enviados propositadamente
vilhosa – o belíssimo Rio de Janeiro, a capital do país,
de Portugal. Claro que para os mais festeiros, a época
até à inauguração da magnificente Brasília de Óscar
ideal para rumar ao Rio é por excelência o Carnaval,
Niemeyer.
pela sua alegria, criatividade, plasticidade, cores, sons
Uma vez chegados ao aeroporto internacional de
e muita fantasia. É, aliás, a maior manifestação popular
António Carlos Jobim, tradicionalmente conhecido por
do mundo. Mas como viajar e barriga vazia não combi-
Galeão, e logo após ter visto do ar a beleza da cidade
nam, a gastronomia carioca também merece referência
carioca, é hora de rumar ao centro e de se deslumbrar
e a peculiaridade que esta cozinha tem de baptizar
perante as maravilhas do berço da bossa nova, como
pratos com nomes de embaixadores. Os dois exemplos ➤
30 • Diplomática - OUTUBRO 2011
2
5
3
4
2. A colorida cidade de São Salvador da Bahia 3. A gastronomia baiana é das mais ricas do Brasil 4. Praia Lauro de Freitas 5. As tradicionais baianas
➤ mais
eloquentes são o filé à Osvaldo Aranha e sopa
cidade é mundialmente conhecida e exerce significativa
Leão Veloso. Adaptação da “bouillabaisse” marselhesa,
influência nacional e até internacional, seja do ponto de
a sopa com efeito revigorante e própria para ser con-
vista cultural, económico ou político. Conta com impor-
sumida em dias frios, foi criada pelo embaixador Leão
tantes monumentos, parques e museus e é também
Veloso no restaurante Rio Minho, um dos mais antigos
nacionalmente conhecida como a “capital nacional do
em funcionamento na cidade (desde 1884).
boteco”, por existirem mais bares per capita do que em
Mas o Brasil não é só Rio, e como tal, rumámos a Sal-
qualquer outra grande cidade do Brasil.
vador da Bahia, outro ícone de beleza e tradição deste
Uma vez chegados a Salvador da Bahia, as escolhas
imenso país. Para tal, fazemos a estrada Rio-Bahia,
são inúmeras: das praias belíssimas, como é o caso
que permite, ao atravessar diversos estados ao longo
da Barra de Jacuípe, Lauro de Freitas, a trajectos que
dos mais de 1200 quilómetros, ver de tudo um pouco
fazem redescobrir o passado, como aquele que passa
do interior. Um pouco antes de meio da viagem vale a
pelo histórico Mercado Modelo e pelo Porto da Barra.
pena fazer um pequeno desvio para ficar a conhecer
Salvador, a capital do Estado da Bahia, e Património
Belo Horizonte, a capital do Estado de Minas Gerais. A
Cultural da Humanidade, sobrevive principalmente do
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 31
Brasil, uma Viagem de Sonho
6
6. O Farol da Barra em São Salvador da Bahia
➤ turismo
e do comércio e é conhecida como centro da
são indispensáveis. Em caso de dúvida é só procurar
cultura afro-brasileira. A miscigenação resultou também
o restaurante Da Dádá! Todavia, também os doces,
na mescla de culturas, crenças e rituais, que tornaram
muitos deles feitos à base de coco e jaca, e comum-
o Brasil ainda mais rico, através de uma pluralidade
mente vendidos pelas ruas por baianas, são de comer
que o fez singular. O sincretismo religioso é exemplo
e chorar por mais.
da efervescência cultural da cidade, sendo que a Igreja
De volta ao Rio de Janeiro empreende-se de seguida
do Senhor do Bonfim é um dos maiores símbolos reli-
a segunda parte desta viagem, rumo mais ao sul do
giosos da Bahia. Situada na Sagrada Colina, a igreja
Brasil. Pelo caminho, e de facto incontornável, a ma-
representa elementos do Candomblé. Os visitantes
ravilhosa Angra dos Reis, bem digna do nome que lhe
podem presenciar a fusão de religiões principalmente
foi atribuído, onde para além de praias a que é difícil
em Janeiro, na cerimónia de Lavagem do Senhor do
dizer adeus se encontra também o melhor peixe fresco
Bonfim, quando as baianas percorrem as ruas da cida-
cozinhado mesmo em cima do mar num restaurante
de em cortejo até a igreja, para lavar a escadaria com
pertencente a um conterrâneo português.
água de cheiro.
Assim, e antes de tornar a terras lusas, faz todo o sen-
Num tom algo mais profano é imperativo sublinhar o
tido rumar à Nova Iorque da América do Sul – a cidade
facto de que na Bahia come-se maravilhosamente,
de São Paulo. São Paulo é uma síntese cultural do país
sendo que as moquecas, de carne, peixe ou marisco,
e é também a cidade que abriga a maior diversidade
os vatapás bem picantes, e o acarajé, trazido de África,
étnica. São Paulo tem a melhor e mais completa
32 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
7
8
9
7. A Catedral Metropolitana de São Paulo 8. A beleza tradicional de Belo Horizonte 9. Ilhabela, Estado de São Paulo
➤ oferta
cultural da América Latina: museus; programa-
desfiles que valorizam tanto as marcas quanto os esti-
ção cultural diversificada com “shows”, teatro, mostras
listas deste imenso país.
e exposições artísticas, opções de entretenimento e
Para acabar em beleza umas férias maravilhosas, e
lazer, a maior rede de restaurantes qualificados do país
antes de regressar à Europa, é indispensável conhe-
com variedade gastronómica, chefs conceituados e
cer Ilhabela. Localizada no litoral norte do estado de
capacidade de renovação permanente. No que toca à
São Paulo, Ilhabela é o único município-arquipélago
museologia, por exemplo, existe um museu para quase
marinho do Brasil. Com uma geografia montanhosa,
tudo nesta magnífica cidade: das ciências naturais aos
com relevos acidentados que mergulham no mar sob a
presépios, das raízes etnológicas dos imigrantes prove-
forma de belíssimas praias de areia branca, tornam a
nientes do Japão à microbiologia, do Museu da Língua
paisagem da ilha particular e deslumbrante. Em cerca
Portuguesa ao de Arte Sacra, passando por muitos
de quatrocentos quilómetros, encontram-se para deleite
outros de igual relevo e interesse.
dos visitantes mais de 30 fantásticas cachoeiras e as
Mas São Paulo não é apenas cultura. É também uma
pequenas ilhas Vitória, São Sebastião, Búzios e dos
cidade vibrante de negócios, feiras, congressos e
Pescadores. Nesta paisagem paradisíaca pode dar-se
convenções. É também a cidade da São Paulo Fashion
por terminada esta primeira aventura por terras de
Week: o maior evento de moda do país e um dos mais
Vera Cruz, mas fica, sem sombra de dúvida, a vontade
importantes do mundo. Realizado em duas edições
de regressar e conhecer o tanto que ainda ficou por
anuais, ilumina toda a cadeia produtiva e concentra
explorar…
n
Isabel Prates
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 33
Dossier
Embaixador de Moçambique, Miguel Costa Mikaima, destaca as relações cada vez mais fortes dos dois países e sublinha : por Maria da Luz de Bragança e José Lucas Fernandes, fotos Ligia Correia “Atrair investimentos portugueses tem sido um dos meus objectivos fundamentais” Miguel Costa Mikaima, o representante diplomático de Moçambique em Portugal, não é um embaixador de carreira mas a sua escolha para o cargo deve-se, sobretudo, ao mérito e qualidades pessoais e experiência politica, a que não será alheio o facto de ter sido ministro da Cultura num mandato de cinco anos. À Diplomática, fala sobre as relações bilaterais, cada vez mais profícuas, do seu país com Portugal e de como o combate à fome e pobreza se tornou numa questão primordial na governação da antiga colónia portuguesa, numa altura em que comemora os 35 anos de independência. Casado, com quatro filhos, todos a residir em Portugal, Miguel Mikaima aprecia a simpatia inigualável dos portugueses, a diversificada gastronomia, destacando a posta mirandesa e, claro, o vinho do Porto.
34 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
Como antigo ministro da Cultu-
moçambicanos. Ele foi um verda-
nada, como é compreensível
ra, pensa que o povo moçambica-
deiro embaixador da nossa cultura
Mas há já organismos criados em
no atingiu já um nível de maturida-
pelo Mundo, fazia amizades com
Portugal de apoio aos emigran-
de cívica e educacional ou ainda
franqueza e abertura, expunha-se
tes, principalmente aqueles pro-
há muito a fazer nesse campo?
totalmente perante as pessoas…
venientes de países lusófonos?
Culturalmente, os moçambicanos
tinha sempre a preocupação de as
Visitei na semana passada a ACID,
são já um povo muito maduro. Uma
transformar em bons amigos. As
reuni com a Comissária responsável
maturidade adquirida ao longo da
suas obras exprimem o carácter
desse organismo. Foi um encontro
experiência de vida, quer no pro-
cultural dos moçambicanos, ou seja,
muito positivo, tendo ficado total-
cesso da luta de libertação nacional
uma junção entre o tradicional e o
mente a par da forma, igualmente
para contrariar aquilo que ocorreu
moderno.
empenhada, como têm sido desen-
no passado colonial, quer na pro-
Tem havido uma cooperação cul-
volvidos esforços para a integração
gressiva conquista da sua liberdade
tural entre os dois países ou esse
de cidadãos estrangeiros. E mais
e valorização desses valores cultu-
aspecto ainda se poderia desen-
agradavelmente surpreendido
rais. Recordo que 2011 foi procla-
volver mais?
fiquei quando essa responsável
mado o ano de Samora Machel pelo
Temos assistido a um fluxo cultural
me informou que, de acordo com
governo moçambicano. Há uma
muito grande entre os dois países.
informações a que teve acesso, os
frase do antigo presidente e que
Em Portugal, por exemplo, não
moçambicanos são a comunidade
ele usou, com frequência, dirigida a
passam seis meses sem que tenha
melhor integrada na sociedade por-
➤
todo o Mundo que eu cito: ” A luta
lugar uma exposição de um artista
tuguesa. Portanto, apraz-me regis-
de libertação de Moçambique não
moçambicano, ou mostras colecti-
tar que não tem havido problemas
era contra o povo português, mas
vas, havendo um salutar convívio
com os moçambicanos em Portugal
sim, contra o regime português». É
dos artistas de ambos os países.
que possam afectar gravemente
uma frase muito avançada, com um
Isto tem sido uma marca moçambi-
essa convivência. Pelo contrário, o
grande nível cultural que exprimia o
cana em Portugal, que ultrapassa
que há é uma profunda harmonia e
que era a vida prática e quotidiana
as artes plásticas e abrange outros
concertação de interesses.
dos moçambicanos, um estado de
sectores, interagindo entre si. Por
Os desenvolvimentos da crise
espírito que se mantém até aos dias
exemplo, em Maio decorreu a Bie-
portuguesa podem potenciar a
de hoje. Durante os anos em que
nal de Cultura em Odivelas na qual
emigração de portugueses para
fui ministro da Cultura, entre 2000
Moçambique teve uma presença
Moçambique ?
e 2004, pude aperceber-me disso,
muito significativa. Aqui, na em-
Temos assistido nos últimos tempos
dessa maturidade cultural do povo
baixada, organizamos uma sessão
a um grande afluxo de portugue-
moçambicano, que sabia interpre-
de ópera com Stella Mendonça. A
ses para Moçambique, à procura
tar as dificuldades que enfrentava,
princípio houve uma certa retracção
de oportunidades de investimento,
com uma visão clara do seu futuro.
ou desconfiança do público, mas, no
mas há muitos que se deslocam por
E agora que estou em Portugal, é
final, todos se renderam ao profis-
questões de emprego.
impressionante ver a forma simples
sionalismo e qualidade do reportório
Há uma grande abertura por parte
e aberta como decorrem as relações
da intérprete.
do governo moçambicano a quem
entre moçambicanos e portugueses.
Portugal tem apoiado a emigra-
queira investir no país? Existem
Por falar em cultura moçambica-
ção moçambicana? Ou há ainda
apoios?
na, há uma grande figura moçam-
algo por fazer no apoio a quem
A embaixada criou há três anos
bicana, o pintor Malangantana,
chega a Portugal para trabalhar?
uma nova estrutura, a de conselhei-
recentemente desaparecida.
Há dois aspectos a considerar: aquilo
ro comercial, da qual é responsá-
Guarda memórias do convívio
que Portugal pode efectivamente fa-
vel a Dra. Filomena Malalane (?),
com esse artista que marcou de
zer e aquilo que não pode face à actu-
precisamente porque o governo de
forma significativa a cultura mo-
al conjuntura económica – por exem-
Moçambique verificou que Portugal
çambicana?
plo, muitos moçambicanos recorrem
era um país potencialmente inves-
à embaixada pedindo para que eu
tidor, com muitas possibilidades de
impressionantes. Malangantana
interceda junto do governo português
os empresários desenvolveram os
é a síntese daquilo que disse há
para lhes arranjar empregos. Quanto
seus negócios. Atrair investimentos
pouco, da maturidade cultural dos
a esse aspecto eu não posso fazer
portugueses tem sido uma das
Guardo memórias muito profundas,
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 35
Miguel Costa Mikaima
“Os moçambicanos são a comunidade melhor integrada na sociedade portuguesa”
E no sector bancário?
vez mais premente, situando-se no
xada, isto numa altura em que Mo-
No período de um ano ( 2010/11)
primeiro nível das nossas priorida-
çambique se tornou uma referência
abriram três novos bancos com uma
des, quer do governo, assim como
mundial em termos de crescimento
forte participação portuguesa – aliás,
da sociedade moçambicana. O povo
económico e desenvolvimento
todos os grandes bancos moçam-
é chamado a participar com qual-
➤
actividades prioritárias da embai-
social. Tem havido da nossa parte
bicanos têm uma participação de
quer coisa na luta contra a pobreza.
muita abertura, sobretudo, para as
capital luso, com destaque para
Neste campo, há um aspecto muito
pequenas e médias empresas. Isto
a Caixa Geral de Depósitos, BPI,
importante: o resgate da auto-
porque as grandes empresas, no-
BCP,BES.
estima dos moçambicanos. O que
meadamente, as que estão ligadas
A luta contra a pobreza, a ex-
significa que devemos acreditar nas
ao sector bancário ou da constru-
ploração de novas tecnologias
nossas capacidades de poder trans-
ção, essas sabem encontrar os
na Agricultura e dos recursos
formar Moçambique, muito em parte
seus canais próprios para entrar em
naturais, como o carvão, são
devido aos recursos que dispomos.
Moçambique.
áreas que estão a ser objecto
Estes devem estar disponíveis para
Há áreas prioritárias?
de particular atenção por parte
sustentar o combate à pobreza. Há
As grandes empresas portuguesas
do governo moçambicano. O sr.
áreas no decurso da história mo-
de construção estão em Moçam-
Embaixador pode falar-nos sobre
çambicana que foram subestimadas
bique. Estamos agora a criar uma
este aspecto?
em termos de acção produtiva. Cito,
nova rede viária em termos de
A comemoração dos 35 anos da
por exemplo, o sector da agricultura,
funcionalidade e sustentabilidade,
Independência de Moçambique, que
que, tradicionalmente, nunca foi ca-
de forma a ultrapassar uma situação
teve lugar no ano passado, aconte-
paz de ter um papel preponderante
que vinha do passado em termos de
ceu numa altura em que o combate
na sustentabilidade da nossa econo-
insegurança rodoviária.
contra a pobreza se tornou cada
mia, mas sim, caracterizou-se
36 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
por ser de subsistência. Temos de
olhando para as suas antigas coló-
daí, os acordos têm sido feitos com
chegar a um novo modelo, que, por
nias como um mercado emergente.
muita segurança e maior credibilida-
um lado, sirva para combater a fome
Ou seja, toda a CPLP.
de. Neste momento, não há ques-
e, por outro, de fonte de exportações.
Ultrapassado o acordo estabele-
tões pendentes que possam minar
As comemorações dos 35 anos
cido com Portugal, a barragem
a nossa relação. Neste momento, a
de independência caracterizaram-
de Cahora Bassa começou a criar
balanço é negativo para Moçambi-
se pela assumpção desta visão.
riqueza para o país?
que, porque importamos mais, dado
Moçambique tem outros recursos
Em 2009 e 2010 produziu lucros
estarmos numa fase de relança-
naturais importantes, como é o caso
que nunca foram alcançados e tudo
mento das economia com grandes
do carvão. O ano passado, a área do
indica que Cahora Bassa vai ser um
investimentos.
sector mineral foi objecto de pesqui-
sustentáculo fulcral na economia
Aliás, foi estabelecida a realiza-
sas aprofundadas, foram identifica-
nacional. A área de produção e dis-
ção de encontros anuais de repre-
das todas as riquezas existentes.
tribuição de energia eléctrica é uma
sentantes dos dois países para
Como é o caso do carvão que come-
área fundamental de sustentabili-
discussão desses assuntos…
ça já, em Julho, a ser exportado.
dade económica para Moçambique.
Ia ter lugar em Maio um desses en-
Uma empresa brasileira investiu
Os problemas do passado foram
contros, mas acabou por ser adiado
cerca de um milhão e meio de
ultrapassados e não nos lembramos
devido aos problemas políticos que
euros nessa exploração...
mais deles. Cahora Bassa é uma
surgiram em Portugal. Da nossa
É um facto que o Brasil tem o maior
empresa moçambicana bem orga-
parte, temos os dossiers preparados
investimento neste sector, mas
nizada e está no topo do ranking
e as equipas formadas.
também há empresas australianas e
das melhores do país apresentando
Acha que a crise política e a
indianas. Não podemos esquecer o
lucros de forma sustentada.
consequente entrada do FMI em
Turismo, que tem sido bastante en-
Portugal tem dado cartas no cam-
Portugal poderá prejudicar as re-
corajado. Notamos, com satisfação,
po das energias renováveis, um
lações económicas entre Portugal
o número crescente de turistas por-
sector que também poderá inte-
e Moçambique?
tugueses que vão a Moçambique,
ressar a Moçambique ?
Quero dizer-lhe que nós tivemos o
encontrando o mínimo de condições
Nós concordamos com essa políti-
FMI em Moçambique. Importante
para os acolher, usufruindo de uma
ca. Para se desenvolver, Moçam-
nesse relacionamento foi o posi-
hotelaria e restauração com qualida-
bique precisa de levar a energia a
cionamento de Moçambique, que
de, de excelentes praias e parques
todos aqueles que precisam dela
sempre se mostrou disponível para
naturais e de um riquíssimo patrimó-
e também para a melhoria de vida
a negociação e diálogo. Esse tem
nio cultural.
das pessoas. E só podemos levá-
sido um dos nossos pontos fortes,
O sr. Embaixador acha que
la aos locais mais recônditos se
ou seja, o de sabermos dialogar
Portugal pode perder um pa-
recorrermos às energias renováveis,
com transparência e rigor. O FMI é
pel dominante de intervenção
até porque não podemos distribuir a
nosso parceiro e com ele temos tra-
económica em Moçambique em
energia produzida em Cahora Bassa
tado os problemas mais candentes
detrimento de outros países que
a todo o país. As energias renová-
da nossa economia, tendo efectua-
estão a apoiar o desenvolvimento
veis são uma solução alternativa de
do um acompanhamento permanen-
do país, como é o caso da China,
imediato que precisamos de imple-
te da evolução da nossa economia
Índia e Brasil? Há esse risco?
mentar de imediacto.
O que aprecia mais em Portugal?
Acho que Portugal nos últimos anos
Pode traçar o ponto da situação
A simpatia das pessoas, a boa
trabalhou bastante bem, conseguiu
respeitante à balança comercial
comida e os excelentes vinhos.
explorar de uma forma firme a sua
entre Moçambique e Portugal?
Portugal é um país aparentemen-
presença em regiões em desenvol-
Durante a visita que o então pri-
te pequeno mas com uma grande
vimento económico, na África, Ásia
meiro-ministro, José Sócrates fez a
diversidade gastronómica. Vamos
e América Latina, e isso faz com
Moçambique, foram estabelecidos
a Bragança e saboreamos aquele
que o valor da cultura portuguesa
entendimentos comerciais bastante
naco …como se chama…ah, sim,
cresça cada vez mais. Creio, sobre-
fortes e significativos. Uma parte
a posta mirandesa; vamos para o
tudo, que a actual visão empresa-
dos mesmos respeitante à dívida
Alentejo e deparamos com aquelas
rial de Portugal assente cada vez
moçambicana para com Portugal e
entradas de enchidos, não esque-
mais na potenciação com o Mundo,
também na parte financeira. A partir
cendo o afamado vinho do Porto.
➤
n
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 37
Dossier
As independências e os intelectuais negros
Retomo o conceito “intelectual negro”, para estar consonante com a elaboração sociológica desenvolvida nos Estados Unidos da América do Norte, desde Dubois, Martin Luther King, tendo chegado ao nosso tempo com Barack Obama, (yes we can), actual negro americano tornado líder do país mais mediático do mundo. Esta designação nada tem a ver com a história do racismo e, sobre essas teses, já correu muita tinta. Não é simples entender a cultura que se desenvolveu entre os americanos depois da sua independência, em pleno séc 18, a de “melhores cabeças” que não deixou os escravos de fora nas exigências de uma super-potência mundial assessorada pelas Nações Unidas desde Outubro de 1945, após a 2ª guerra mundial. Com a Conferência de Berlim de 1885, engendrou-se uma nova abordagem em relação ao desenvolvimento das colónias e dos autóctones,sob a ocupação dos europeus. A teoria de identidades apaixonou os emancipalistas negros e europeus e a partir daí nada mais foi igual. Vejamos que já no séc. XVII, destaca-se o francês e o filósofo René Descartes com a célebre frase:“cogito ergo sum” je pense, donc je suis, penso, logo existo. A liberdade de pensamento, com base na existência, foi a grande arma dos intelectuais negros, que abraçaram princípios humanistas para subverter um dos fundamentos do esclavagismo declarado, em pleno séc. XVII (dezassete). Da ocupação efectiva e administração das colónias, juntou-se o quebra cabeças do fim obrigatório de determinadas hegemonias, proeza iniciada pelos EUA em 1776. A Independência dos Estados Unidos de América e a revolução francesa de 1789 tinham criado o homem novo voltado para os valores da liberdade, igualdade e fraternidade. A classe burguesa letrada ganhara a batalha da inteligência e do conhecimento científico, contra a burguesia iletrada, baseada apenas nos grandes latifúndios, ou seja na exploração de grandes terras, enriquecidos pela força do trabalho humano gratuíto ou barato. Foi neste ambiente que forjaram certas mudanças no Ocidente que influenciaram grandemente as revoluções e as indendências mais significativo a partir dos anos 50, do séc. XX Esses pressupostos criaram choques socias, muitas vezes traduzidos em conflitos abertos em que o maior ganhador foi sempre quem viveu amarrado à terra do senhor na condição de “servo da gleba” “escravo” ou colonizado.
As independências Pois bem, é exactamente na época da grande expansão colonial eurocentrista e cristianocentrista que os africanos das África Negra passam a ser considerados, teoricamente, do terceiro mundo e sem história, vivendo de parasitismo em relação ao desenvolvimento histórico mundial. A primeira metade do século XX lançou ideias de fim de exploração do”homem pelo homem” e o marxismo-leninisno fez-se presente, criando diferentes aproximações entre humanos em determinados países, com base na exploração dos bens de produção. Período reivindicativo que culminou com o fortalecimento das ideias independentistas dos territórios sob o domínio dos
38 • Diplomática - OUTUBRO 2011
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inquilinos europeus, facilitados séculos a fio, pela generosidade e aco-
lhimento dos vencidos, através da capacidade de submissão e cruzamento das raças. No entanto, à medida que os 500 anos de subjugação nos aproximavam dos anos 50, a abertura das escolas, o redimensionamento das redes viárias e a consolidadação da admistração pública centrada nos meios urbanos, facilitaram o surgimento dos primeiros intelectuais negros africanos, homens e mulheres capazes de levar por diante, com a ajuda de países africanos e não africanos, a consciência da “noção de pertença” e do “resgate” da identidade.É munidos dessas ferramentas que os mesmos resolveram não se apresentar de mãos vazias no encontro e reencontro com a história.
Falar a mesma línguagem Não poderia ser de outra maneira senão agindo, pensando e actuando na base dos conhecimentos retóricos da filosofia aristotélica platónica, hegeliana ou kantiana, dialética de que precisavam para se confrontar com os irmãos europeus na arena do debate político, cultural, de acordo com os cânones do pensamento da europa clássica e moderna, a partir dos quais foram forjados os seus conhecimentos e a língua. De toda a maneira, era preciso uma redefinição africana e, de acordo com o historiador e sociólogo inglês das Caraíbas Paul Gilroy, impunha-se recuperar a memória sobre as importantes e inigualáveis contribuições do “atlântico negro”, que se forjou noutras dimensões que vão além dos contra-valores da escravatura, sobretudo na intercomunicação através da música, dança, saberes, identidades e histórias.Do mesmo modo, mulheres há que se tornaram militantes do saber endógeno, ou seja de si próprios, recuperando os bons hábitos e costumes.É assim que intelectuais negros buscaram a história do Egipto, para se estabelecer o tão procurado fio condutor da história africana, desde os tempos pré-históricos, relacionando as civilizações da Núbia, Ghana, Chade e demais com história, como justificações da memória. O mérito dos “intelectuais negros” centrou-se também nas teses sobre o africanismo, que obrigaram os estudiosos europeus a uma leitura mais atenta dos referidos fundamentos, no que tange a forma como o negro e o não-negro se colocam perante o objecto do conhecimento. Com o devir histórico, imparável na marcha dos tempos, os angolanos chegaram à independência proclamada há 35 anos que, de forma irreversivel, nos levou ao concerto das nações grandes e pequenas, a partir de cada 11 de Novembro que celebrámos, como corolário de conquistas arrancadas com determinação inteligência e trabalho, a partir dos quais criámos os nossos mitos e heróis, como acontece com todos que, como nós, são donos das memórias que particularizam, universalizam e engrandecem na arena da solidariedade social, desenvolvimento sustentado e democracias do séc. XXI.
n
Palmira Tjipilica Professora Universitária
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 39
eSTADO
Passos do Destino Provável consequência das múltiplas vivências africanas do actual primeiro-ministro, Passos Coelho acredita no papel fundamental de Portugal como placa giratória da Lusofonia Africana para a Europa.
Um liberal reformista, resoluto, teimoso,
António Passos Coelho abandonou a
um resistente na luta partidária, estas
direcção do sanatório do Caramulo e foi
são as características principais de
para Angola, levando com ele a família:
Pedro Passos Coelho, actual primeiro
a mulher e os filhos, Teresa, Paulino e
ministro de Portugal, líder do governo
Pedro. “Em África fui sempre um miú-
de coligação PSD/CDS-PP que tomou
do à solta”, conta Passos no seu livro
posse a 21 de Junho de 2011.
Mudar. Pedro saía de manhã, almoçava
“É zero materialista”, resume o tempe-
numa cubata, brincava com os meninos
ramento do actual primeiro ministro um
tuberculosos, lanchava noutra cubata e
dos chamados “barões” do PSD e antigo
ia brincando, até outra família lhe dar
ministro, Ângelo Correia, considerado
jantar numa outra cubata. Assim, com
uma espécie de guia espiritual de Pas-
seis anos, aparecia em casa pelas nove
sos Coelho . “Tem ar de lisboeta, mas
da noite. Já nessa altura Pedro Passos
alma de transmontano. Não é dado a
aparentava não ter medo e moldava o
luxos, não liga nada a isso”, garante o
seu espírito nesse convívio multirracial
patrão da Fomentinvest, a empresa que
que se mantém até aos dias de hoje,
Passos Coelho deixou para derrubar o então líder do PS, José Sócrates, nas
Brincar nas cubatas
eleições do passado dia 5 de Junho. Ti-
Talvez resquícios desse período da
rar Portugal do sufoco financeiro através
sua juventude, África continua a ser
de um programa ambicioso de conten-
marcante na sua vida. Logo na noite
ção dos gastos públicos – “O Estado
das eleições, no rescaldo da vitória nas
deve dar esse exemplo de rigor e con-
urnas, Pedro Passos Coelho lembrou
tenção para que haja recursos para os
o papel que Portugal pode desempe-
que mais necessitam e o Governo será o
nhar como placa giratória da Lusofonia
líder desse exemplo…”, sublinhou Pas-
Africana para a Europa. Aliás, chegou
sos Coelho no discurso de tomada de
mesmo a casar há sete anos, em segun-
posse – é sintomático dessa vontade e
das núpcias, com a guineense Laura,
espírito inquebrantáveis, moldadas nas
fisioterapeuta, natural de Bissau, com
várias latitudes geográficas que nortea-
quem teve a sua terceira filha, Júlia,
ram o destino de vida e que contribuíram
agora com três anos. Fisioterapeuta,
para moldar o seu temperamento.
Laura está habituada a passar por cabo-
Pedro Manuel Mamede Passos Coelho
verdiana porque “as pessoas pensam
nasceu em Coimbra em 24 de Julho de
que todos os guineenses são pretos
1964. Os pais eram de Trás-os-Montes,
retintos”, sublinha bem humorada. Do
família de pequenos industriais de ma-
seu anterior casamento, com Fátima
deira. O seu pai, António Passos Coe-
Padinha - a Fá das Doce, actual quadro
lho, 84 anos, é médico pneumologista e
da REN - Passos Coelho tinha já duas
foi dirigente do PSD em Vila Real. As-
filhas, Joana (nascida em 1988) e Cata-
cendeu aos órgãos nacionais do partido
rina (em 1993)
no tempo de Sá Carneiro.
Passos Coelho viveu ainda as vicissitu-
Passos Coelho cresceu com a irmã
des da chamada “descolonização exem-
Maria Teresa e o irmão entre Silva Porto
plar” que marcou os finais dos anos
e Luanda, onde o pai exercia medicina
setenta e que culminou na debandada
40 • Diplomática - OUTUBRO 2011
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OUTUBRO 2011 - Diplomรกtica โ ข 41
Passos do Destino
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dos portugueses de África. Regressou
candidato às eleições directas de Março
a Portugal, tendo ido viver com a famí-
desse mesmo ano. Eleito presidente do
lia para Vale de Nogueiras, concelho
PSD a 26 de Março de 2010, foi o líder
de Vila Real, donde o pai é originário.
do maior partido da oposição, viabili-
Concluiu o ensino secundário na Escola
zando no parlamento três alterações
Secundária Camilo Castelo Branco, no
ao Programa de Estabilidade e Cres-
mesmo concelho.
cimento (PEC). A recusa de um quarto
É licenciado em Economia pela Univer-
PEC, em sintonia com toda a oposição
sidade Lusíada de Lisboa. Iniciou a sua
parlamentar ao Partido Socialista, e a
actividade de consultor na Tecnoforma,
necessidade de Portugal recorrer à aju-
em 2000. No ano seguinte, tornou-se co-
da externa (FMI, Banco Central Europeu
laborador da LDN Consultores, até 2004.
e União Europeia) face à incapacidade
Dirigiu o Departamento de Formação da
autónoma de travar o défice das con-
URBE - Núcleos Urbanos de Pesquisa e
tas públicas portuguesas levaram o
Intervenção, entre 2003 e 2004. Durante
primeiro-ministro socialista José Sócra-
este ano, recebeu o convite de Ângelo
tes a demitir-se do cargo e obrigaram o
Correia para ingressar no Grupo Fomen-
presidente da República, Cavaco Silva,
tinvest, onde será director financeiro, até
a convocar eleições antecipadas para 5
2006, e administrador executivo, entre
de Junho de 2011. Foi a oportunidade
2007 e 2009. Foi também presidente do
esperada por Passos Coelho de assumir
Conselho de Administração das partici-
a liderança política do País.
padas Ribtejo e da HLC Tejo, e até 2010 leccionou no Instituto Superior de Ciên-
Cortar a direito
cias Educativas.
Contra ventos e marés, os costumados
A política motivou Passos Coelho a vir
«Velhos do Restelo» e… as agências
para Lisboa. O objectivo era o estudo
internacionais de “rating”, Coelho lá
da Matemática. Mas a JSD tomava-lhe
vai dando passos firmes, impondo as
todo o tempo. Foi secretário-geral desta
suas propostas e ideais. Dentro e fora
estrutura do partido aos 20, e presidente
do PSD: “Corta a direito no partido, às
aos 26. Eleito deputado em 1991, viria
vezes parece um elefante numa loja
a integrar a Comissão Política Nacional
de porcelanas a limpar rente o que lhe
(CPN) do PSD de Cavaco Silva. Muitos
soe a carreirismo, vícios de aparelho”,
se lembram de o jovem Pedro ter fei-
sublinham os correligionários políticos,
to frente a Cavaco Silva, por causa da
vendo nessa atitude uma virtude.
política de Educação – vivia-se então a
Por outro lado, alguns comentadores
revolta estudantil motivada pelo aumen-
políticos sustentam que há muito que
to das propinas universitárias. Era então
Portugal precisava de um safanão polí-
ministra Manuela Ferreira Leite. Pas-
tico, de gente nova, de corajosas refor-
sos Coelho teve como secretário-geral
mas que o tire do marasmo e do cliente-
Miguel Relvas, que ainda hoje é o seu
lismo em que vive atolado há décadas.
braço direito e integra o elenco governa-
As tarefas do novo Governo foram bem
mental.
delineadas no discurso de posse de
Em Maio de 2008 candidatou-se, pela
Passos Coelho: estabilizar as finanças,
primeira vez, à presidência do PSD,
socorrer os mais necessitados e fazer
propondo uma revisão programática de
crescer a economia e o emprego. Tudo
orientação neoliberal. Derrotado por
à custa de draconianas medidas de aus-
Manuela Ferreira Leite, fundou com um
teridade que afectam todos os estratos
conjunto de apoiantes um círculo de
sociais, medidas encaradas pela “troika”
reflexão política denominado “ Construir
do FMI e EU como um sinal positivo que
Ideias”. Já em Janeiro de 2010 lançou
Portugal está no caminho certo da recu-
o livro "Mudar" e assumiu-se, de novo,
peração económica.
42 • Diplomática - OUTUBRO 2011
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Quem é quem no actual elenco governativo Uma coligação PSD/CDS e independentes constitui o elenco de onze titulares do XIX Governo Constitucional, empossado no passado dia 13 de Junho pelo Presidente da República, Cavaco Silva.
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 43
Passos do Destino
Após o juramento do primeiro-ministro, Pedro
oportunidade de mostrar a “habilidade diplomá-
Passos Coelho, assinaram o auto de posse, por
tica” que lhe apontam colaboradores próximos,
esta ordem hierárquica, o ministro de Estado e das
numa pasta que tinha sido recusada ao CDS-PP
Finanças, Vítor Gaspar, e o ministro de Estado e
em 2002. O líder do CDS/PP já tinha desempe-
dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, finalizan-
nhado em anteriores Executivos os cargos de
do com o secretário de Estado Adjunto do primeiro-
ministro de Estado e da Defesa Nacional (nos
ministro, Carlos Moedas. A redução de ministérios
governos liderados por Durão Barroso e Pedro
pretendida pelo novo Governo, tendo em atenção
Santana Lopes).
uma medida preconizada no plano apresentado ao
Portas aderiu ao CDS-PP em 1995, depois de
País de contenção de custos, implicou que alguns
ter sido um dos principais conselheiros do antigo
ministros ficassem responsáveis por mais que uma
presidente do partido Manuel Monteiro, que viria
➤
pasta. Miguel Relvas será um desses casos e terá
a substituir, no congresso de Braga, em 1998,
a seu cargo um superministério.
depois de ter sido um dos fundadores e director do
Relevamos algumas notas biográficas de cada um
polémico semanário “o Independente”, entretanto,
dos actuais membros do Governo
encerrado. Foi presidente do partido durante sete anos, levan-
Paulo Portas, o ministro dos Negócios Estran-
do o CDS-PP ao poder em 2002 e demitiu-se em
geiros, regressa
2005, na sequência das legislativas de Fevereiro
ao Governo, tendo assim
44 • Diplomática - OUTUBRO 2011
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desse ano, nas quais os populares obtiveram
ministério das Finanças. Entre 1998 e 2004 foi
um resultado abaixo das expectativas.
director do Centro de Estudos do Banco Central
Voltou à liderança do CDS-PP, em 2007, quando
Europeu. No currículo lê-se ainda que foi con-
derrotou o ex-líder Ribeiro e Castro. Foi reeleito
selheiro e director do Departamento de Estudos
por duas vezes, em 2009 e em 2011, com mais de
Económicos do Banco de Portugal. Gaspar foi
95 por cento dos votos e sem qualquer adversário,
o representante do ministro das Finanças de
em eleições directas. Exceptuando as intercalares
Cavaco Silva, Braga de Macedo, na Conferência
de Lisboa em 2007, nas quais sofreu uma pesada
Intergovernamental que negociou o Tratado de
derrota, o CDS-PP conseguiu manter ou reforçar
Maastricht, em 1992.Terá a difícil tarefa de pôr
os resultados eleitorais nas regionais, europeias e
as finanças do País em ordem de acordo com as
legislativas.
medidas propostas pela troika do FMI, EU e Ban-
Católico praticante e amante de cinema, Portas
co Central Europeu.Para já, na primeira reunião
começou na política na JSD, da qual se afastou
do Eurogrupo em que participou, num discurso
com a morte de Francisco Sá Carneiro.
de 180 segundos, impressionou os seus pares pela forma clara como apresentou as reformas
Vítor Gaspar, transitou do cargo director do
em curso para controlar o défice público e estabi-
Gabinete de Conselheiros da União Europeia
lizar a situação financeira, evitando os riscos de
(BEPA), que ocupava desde 2007, para o
contágio à Zona Euro.
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OUTUBRO 2011 - Diplomática • 45
Passos do Destino
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Miguel Relvas, ex-secretário-geral do PSD, é o
depois do mestrado em Métodos Matemáticos
ministro dos Assuntos Parlamentares do Gover-
para Gestão de Empresas (1987), na capital por-
no de Pedro Passos Coelho, mas terá também
tuguesa.Foi também em Lisboa que se licenciou
outras responsabilidades, abarcando aquilo que se
em Economia (1980/81), no Instituto Superior de
poderá chamar um superministério. Além dos As-
Economia.
suntos Parlamentares, Miguel Relvas ainda terá a
É autor de um vasto conjunto de publicações,
responsabilidade da Reforma Administrativa e de
entre artigos em revistas científicas e livros que
tutelar a pasta da Juventude e Desporto. É um dos
tornaram a matemática acessível a todos e o po-
homens de confiança de Pedro Passos Coelho,
pularizaram entre os mais jovens.
seu amigo pessoal de longa data, desde a estru-
Para essa popularidade contribuiu também o
tura da Juventude Social Democrata onde ambos
cargo de presidente da Sociedade Portuguesa de
começaram a sua ascensão política. Relvas ficará
Matemática (SPM), que ocupou desde 2004 e que
assim, não apenas com a responsabilidade da
deixou para Miguel Abreu, nas últimas eleições,
coordenação política entre o Governo e os parti-
após assumir funções de administrador do Tagus-
dos com assento parlamentar, mas também com
park, no ano passado.
um dos principais desafios dos próximos anos:
Em 2008, foi condecorado pelo Presidente da
a reforma administrativa, que passa pela reorga-
República com a Comenda da Ordem do Infante
nização política do aparelho do Estado central e
Dom Henrique.
local, com destaque para o mapa autárquico e a
A União Europeia atribuiu-lhe, no mesmo ano, um
fusão e extinção de municípios prevista no memo-
prémio de comunicador científico do ano.
rando assinado com a troika. Foi secretário-geral
Crítico da educação em Portugal, defendeu nas
da Juventude Social Democrata, de 1987 a 1989,
várias entrevistas que deu a necessidade de medi-
deputado à Assembleia da República, entre 1991
das urgentes no ensino da matemática, sugerindo
e 2009, presidente da Assembleia Municipal de
alterações na estrutura do Ministério da Educação,
Tomar, entre 1997 e 2009, presidente da Região
como a extinção do gabinete responsável pelos
de Turismo dos Templários, entre 2001 e 2002,
exames e pelas estatísticas, que quer ver entre-
secretário de Estado da Administração Local de
gues a uma entidade independente.
Durão Barroso. Miguel Macedo, ministro da Administração Alvaro Santos Pereira veio do Canadá para
Interna, tem 52 anos e liderou no Parlamento,
ocupar a pasta da Economia e Obras Públicas do
durante o último ano, a oposição ao Governo do
governo de Passos Coelho. É docente na Simon
PS. Nasceu em Braga no dia 6 de Maio de 1959, é
Fraser University e professor visitante na Univer-
licenciado em Direito e advogado.
sity of British Columbia. Entre 2004 e 2007, foi
Depois de Pedro Passos Coelho ter sido eleito
docente no departamento de Economia da Univer-
presidente dos sociais-democratas, em Março de
sidade de York, onde leccionou Economia Euro-
2010, Miguel Macedo foi escolhido para presidir
peia e Desenvolvimento Económico. Entre 2000
ao grupo parlamentar do PSD e nas legislativas
e 2004, ensinou no departamento de Economia
de 5 de Junho encabeçou a lista do partido no
da University of British Columbia. Licenciou-se em
círculo de Braga. Nessa qualidade, foi o deputado
economia pela Universidade de Coimbra. Douto-
social democrata que justificou no Parlamento o
rou-se em Economia pela Simon Fraser University,
chumbo do PSD ao Programa de Estabilidade e
em Vancouver.
Crescimento (PEC), que levaria à demissão do primeiro-ministro, José Sócrates, e à realização de
Nuno Crato, o matemático de 52 anos que deu
eleições antecipadas, sustentando a necessidade
protagonismo à ciência exacta e se distinguiu pela
de “uma clarificação política” para “o país poder
sua divulgação, é o novo ministro da Educação.
vir a contar com um Governo de maioria alargada”
Professor catedrático e pró-reitor da Universidade
e “repor o respeito e a credibilidade abaladas de
Técnica de Lisboa (UTL), começou por dar aulas
um primeiro-ministro que comprometeu o país em
no ensino secundário. Viveu em Lisboa, nos Aço-
Bruxelas” com medidas de austeridade “sem res-
res e nos Estados Unidos da América, onde fez
peitar o Presidente da República e sem consultar
o doutoramento em Matemática Aplicada (1992),
a Assembleia da República”.
46 • Diplomática - OUTUBRO 2011
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Antes de ser líder parlamentar do PSD, Miguel
bra. Conta com um extenso percurso político no
Macedo fez parte da direcção social-democrata de
PSD, que iniciou na JSD na década de 70.Chega
Marques Mendes, ocupando o cargo de secretá-
ao Governo de Passos Coelho depois da corrida
rio-geral, e teve três experiências governativas.
às legislativas de 5 de Junho como cabeça de lista
Militante social-democrata desde jovem, Miguel
pelo Porto – pela terceira vez consecutiva, depois
Macedo foi dirigente da JSD e a sua primeira
das eleições de 2005 e de 2009 – nas quais o
experiência governativa aconteceu no primeiro
PSD venceu também no distrito, com a eleição
Governo de maioria absoluta de Cavaco Silva,
de 17 deputados, com 39,14 por cento dos votos,
como secretário de Estado da Juventude do minis-
contra os 12 de 2009 (onde os sociais democra-
tro Couto dos Santos, entre 1990 e 1991.Integrou
tas ficaram atrás do PS e conseguiram 29,14 por
depois, entre 2002 e 2005, os governos de coliga-
cento dos votos).
ção PSD/CDS-PP de Durão Barroso e de Pedro
Casado e com cinco filhos, o então líder da ban-
Santana Lopes, como secretário de Estado da
cada parlamentar do PSD – apoiante de Manuela
Justiça, trabalhando nessas funções com os minis-
Ferreira Leite, assumiu o cargo na sequência da
tros Celeste Cardona e José Pedro Aguiar-Branco,
vitória, em 2008, da ex-líder do partido nas elei-
seu antecessor na liderança parlamentar do PSD.
ções internas – apresentou formalmente a sua
Aguiar Branco regressa ao Governo, agora na
candidatura à liderança laranja a 19 de fevereiro
pasta da Defesa, seis anos depois de ter sido
de 2010.Apresentando-se então como o candidato
ministro da Justiça no governo de Pedro Santana
a presidente da Comissão Política Nacional do
Lopes. Nascido no Porto a 18 de julho de 1957, é
PSD, que se propunha a “unir” no pós-eleições, o
licenciado em Direito pela Universidade de Coim-
advogado do Porto manteve o sentimento em
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 47
Passos do Destino
➤
torno de Passos Coelho, tendo abandonado a
sua pequena Piaggio Vespa conduzindo-a até ao
liderança da bancada parlamentar – para no seu
local onde tomou posse do cargo. Pós-graduado
lugar se sentar Miguel Macedo – mantendo as
em Direito do Trabalho e assistente universitário
suas funções de deputado.
na Faculdade de Direito da Universidade Lusófo-
Aguiar-Branco foi então convidado por Passos
na de Humanidades e Tecnologias, desempenhou
Coelho para coordenar a comissão de revisão do
também dois mandatos à frente da juventude
Programa do PSD – o GENEPSD.
partidária dos populares entre 1996 e 1999.Entre
Aguiar Branco integrou o Conselho Nacional
2002 e 2005 foi eleito para o cargo de secretário-
social-democrata entre 1982 e 1984 e entre 1988
geral do CDS-PP, já depois de ter começado
e 1990 ,e as comissões de honra das candidatu-
a vida parlamentar, na VIII Legislatura, entre
ras de Cavaco Silva à Presidência da República
1999-2002.Nas suas passagens por São Bento,
(1995) e de Rui Rio à Câmara do Porto (2001).
contabilizando ainda o período entre 2005 e 2011, Mota Soares participou nos trabalhos de diversas
Maria da Assunção Cristas é a responsável pela
das comissões parlamentares em variadas áreas
pasta da Agricultura, Pescas e Ambiente. Nas-
como a Saúde e Toxicodependência ou o Tra-
ceu em Luanda em 1974 e é jurista e professora
balho e Segurança Social..A Comissão Eventual
tendo-se licenciado em Direito, na Faculdade
de Revisão Constitucional e o Grupo de Trabalho
de Direito da Universidade de Lisboa, em 1997.
da Reforma do Parlamento também contaram
Admitida na Ordem dos Advogados, em 1999, foi
ao longo da última década com o contributo de
assessora da Ministra da Justiça do XV Governo
Mota Soares.O actual vice-presidente do CDS-PP
Constitucional, em 2002, e assumiu a direcção do
coordenou igualmente a Comissão do Trabalho,
Gabinete de Política Legislativa e Planeamento,
Segurança Social e Administração Pública e foi
até 2005. Em 2004 tornou-se professora convida-
vice-presidente da Comissão de Ética, Sociedade
da na Faculdade de Direito da Universidade Nova
e Cultura.
de Lisboa.Militante do CDS, foi eleita deputada à Assembleia da República, pelo Círculo de Leiria,
Paulo Macedo, antigo Director-Geral dos Impos-
em 2009.
tos e ex-administrador da Medis, é novo ministro da Saúde. Licenciado em Organização e Gestão
Paula Teixeira da Cruz, ministra da Justiça,
de Empresas e pós-graduado em Gestão Fiscal,
nasceu em Luanda em 1960 e é advogada. Es-
foi pela mão de Manuela Ferreira Leite que che-
tudou no Liceu Padre António Vieira, em Lisboa
gou à Direcção Geral dos Impostos (DGCI) em
e licenciou-se em Direito, na Universidade Livre
2004. Pelo seu trabalho neste organismo, onde
de Lisboa, em 1983. Militante do Partido Social
se manteve até 2007, é apontando como um
Democrata, desde 1995, exerceu funções na
dos maiores responsáveis pela modernização e
Câmara Municipal de Lisboa, como vereadora
informatização da máquina fiscal.Natural de Lis-
(1998-2002) e presidente da Assembleia Munici-
boa, onde nasceu a 14 de Julho de 1963, Paulo
pal (2005-2009). É vice-presidente da Comissão
Macedo é actualmente vice-presidente do con-
Política Nacional do PSD, na direcção de Pedro
selho de administração executivo do Millennium
Passos Coelho, desde 2010, e exerceu as mes-
BCP. Fora do grupo ocupa o cargo de vogal do
mas funções na direcção de Luís Marques Men-
Supervisory Board da Euronext, NV, é vice-presi-
des (2005-2006).
dente da comissão executiva do agrupamento de Alumni da AESE - Associação de Estudos Supe-
Pedro Mota Soares, advogado de 37 anos, é o
riores de Empresa e ainda membro do conselho
actual ministro da Solidariedade e da Segurança
da escola do Instituto Superior de Economia e
Social. Foi um dos jovens ‘quadros’ democratas-
Gestão.Entre 2001 e 2004 foi administrador da
cristãos oriundos da Juventude Centrista/Gera-
Companhia Portuguesa de Seguros de Saúde,
ções Populares, contando já com cerca de 10
S.A. (Médis). Ao longo da sua vida profissional
anos na Assembleia da República como depu-
passou ainda pelo Banco Comercial Português
tado. Nascido pouco mais de um mês depois do
(entre 1993 a 1998 e mais recentemente entre
25 de Abril (29 de Maio de 1974), Mota Soares é
2007 e 2008, altura em que ocupou o lugar de
casado e pai de dois filhos, mas não abdicou da
director-geral desta instituição).
48 • Diplomática - OUTUBRO 2011
n
Espaço diplomático
Vassilios Costis - Embaixador da Grécia
protecção dos direitos humanos, a coesão e a paz são considerados dados adquiridos. É, também, óbvio que a diplomacia económica, através não só das relações bilaterais mas também da tentativa de aplicação de uma política económica, visa resolver os perigos de natureza financeira de todos os países, melhorar a competitividade internacional das suas empresas e criar um novo âmbito de competitividade referente à modernização das infra-estruturas estatais, à expansão do comércio e do investimento em todo o mundo, bem como à reformulação dos serviços internacionais. Portanto, é óbvio que a colaboração entre os vários países, no âmbito de uma concorrência saudável com a organização, ainda mais, de conselhos económicos internacionais, reforça a extroversão e o poder económico dos países. Além disso, com a constituição de Organismos e Comissões internacionais ou associações supranacionais e a assinatura das respectivas convenções, está a ser
Aplicação de uma política económica
planeada e aplicada uma política social com vista ao
A Diplomacia, sendo a «arte da gestão das relações
protecção civil e da justiça, especialmente nos países
externas», caracteriza-se pela evolução intemporal e a
em desenvolvimento ou nos do Terceiro Mundo. Fi-
contribuição decisiva no que diz respeito à formação da
nalmente, a diplomacia deve desempenhar um papel
realidade contemporânea. Seu objectivo principal é o
dinâmico na expansão adicional das relações interna-
desenvolvimento económico e social, bem como a con-
cionais em assuntos que dizem respeito à investigação,
solidação e preservação da paz a nível mundial. Conse-
educação, saúde, ambiente e tecnologia para que estes
quentemente, a Diplomacia visa a colaboração entre os
melhorem em termos qualitativos. Por exemplo, é parti-
países, o combate conjunto dos problemas mundiais, a
cularmente importante para a comunidade internacional
promoção da cultura e o percurso criativo das nações.
a promoção do crescimento verde, visto uma das suas
Portanto, neste contexto, deveria salientar-se a necessi-
vantagens, para além da protecção do ambiente, ser
dade do exercício da Diplomacia preventiva e a tomada
a criação de novos postos de trabalho, a produção de
de iniciativas para que as divergências nacionais não
matérias-primas energéticas e a troca do “know-how”
melhoramento das condições de vida, à concessão de ajuda humanitária e ao cumprimento dos princípios da
resultem em crises sérias ou até mesmo incidentes
entre os países.
graves. Nomeadamente, uma Diplomacia militar activa
Por conseguinte, o sistema diplomático universal é
pode contribuir para a consolidação do respeito para
chamado a desempenhar vários papéis complicados,
com os princípios da segurança política e nacional e
com o objectivo mais longínquo de assegurar a paz e o
as convenções internacionais e, consequentemente, a
crescimento económico e social de todos os países. A
estabilidade, bem como a democracia. Além disso, de-
recolha, a avaliação e a valorização correcta da informa-
sempenha um papel importante na política de prevenção
ção, as negociações, a consistência, o diálogo e a acção
para a redução das armas de destruição massiva, sem
imediata constituem os elementos de uma administração
desvalorizar a eficácia das Forças Armadas dos países.
eficaz da política de diplomacia, que pode mudar radical-
Assim, cria-se um espírito de solidariedade colectiva
mente a vida das pessoas, eliminar os pontos fracos do
e de autonomia sem que os interesses nacionais dos
mundo tradicional e moderno e constituir o suporte para
países sejam esquecidos. Logo, sob estas condições, a
a evolução das comunidades internacionais.
■
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 49
Espaço diplomático
Bernarda Gradišnik - Embaixadora da Eslovénia
try to do our share in fields of disarmament and de-mining, of conflict-prevention, of protection of civilians and of human rights. We fully support the work of Peacebuilding Commission. So far more than 5000 Slovenes have participated in peacekeeping operations and missions all over the world, from Afghanistan, Middle East, Somalia, Chad to the neighboring Kosovo and BiH. We believe that recent history-in-making in Northern Africa and Middle East has been transforming the political situation and represents an opportunity to start creating prosperous societies based on respect of human rights, democracy and cultural traditions. That’s why we have joined the international efforts to alleviate the humanitarian crisis in Libya through the allocation of funds and delivery of medicines. We are also chipping in to concepts and solutions of sustainable development. We are committed to a timely realization of the Millennium Development Goals, convinced that the right to development is a fundamental
A Toast to Slovenia for its Coming of Age
right of all humans and countries. Here, let me mention
Republic Slovenia ceased to be a teenager on June the 25th, 2011.
United Arab Emirates in their efforts to promote environmental themes within international relations (underlining
Twenty years might not seem a long period to some,
the important link between climate change and water as
but in this precariously shifting world of today two deca-
well as promoting improved water management).
des are what a century used to be in a kingdom of old.
We believe that contemporary foreign policy cannot be
So many thing s happened to Slovenians after 1991:
anything but a global one, for all the challenges we are
we joined all the major international organizations and
facing are global ones. The globalness has been amply
finally, in 2004, the EU and NATO.
demonstrated by the butterfly effect that, in the era of
We also presided different organizations (OSCE, EU,
social networks, an individual initiative can set forth. A
CE), starting with the Security Council in 1999.
man gets humiliated by a police officer in one country
In 2007 we joined the Eurozone.
and decides he has had enough, another man in ano-
And last year Slovenia has become a member of the
ther country loves Facebook and decides to use it for
OECD.
spreading his political views; this two decisions have set
Maybe we Slovenians as a nation are not old enough to
off the avalanche of political change in the Middle East,
reach the wisdom of the old age, but we are thankfully
for instance.
small enough to stay away from hubris of global politics.
Right now, our most important foreign policy priority is
We know we aren’t big enough to be everywhere and to
our candidacy for the non-permanent seat in the Securi-
reach everyone. (G.K. Chesterton once said that it was
ty Council for the years 2012/2013. We honestly believe
smallness and not greatness of one’s nation that a true
that the importance of such positions is shifting from
patriot should be proud of, and we Slovenians agree.)
the titular to the factual. The way itself of getting there
That’s why Slovenia has been trying to define niches
is becoming more and more important. But on this way
where we can be of use.
into the global world we mustn’t by any means forget
In matters of peace and security Slovenia emphasizes
our origins, our courtyard, our neighbors.
the role of preventive diplomacy and peace building. We
There is a speech in Brothers Karamazov that goes like
50 • Diplomática - OUTUBRO 2011
the Green Group, initiated by Slovenia, that has united Capo Verde, Costa Rica, Iceland, Singapore, and the
➤
➤
this: »In my dreams, I often make plans for the service
Portugal.
of humanity, and perhaps I might actually face crucifi-
The ties between the two countries that didn’t use to
xion if it were suddenly necessary. Yet I am incapable
have much in common have lately started to get stron-
of living in the vicinity of anyone for two days together«.
ger, specially due to their successive presidencies of
Sometimes big concepts and words are not so impor-
the EU a few years ago.
tant as small but concrete steps that we have to take in
My primary concern here is about economic coopera-
our small corner of the world.
tion.
How do we cope with »men in our vicinity« – or, to put it
Slovenia has been represented in Portugal by three
more precisely, with our neighbors across the border –
companies – not much but a solid starting point.
Italy, Austria, Hungary, Croatia?
One is Krka, a generic pharmaceutical firm.
I think I may state that we have pretty much overcome
The other one is Hidria, dealing in state-of-the-art air-
the impulses described by Dostoyevsky. We are active-
conditioning technology.
ly seeking to resolve the problems with our neighbors
The third one is Bridge Partner established privately
that arise from our joint past history within the cauldron
but with exclusive intent to bridge the gap between the
of the Balkans. If there are still some problems we try
nations.
to resolve them, or, if they cannot be resolved due to
Hopefully in the future there will be more companies
differing points of view, make them unobtrusive in view
present on the Portuguese market as well as Portu-
of other, wider common interests and joint ventures
guese companies on the Slovenian one. This aim is to
being taken.
be my basic preoccupation in the next three and a half
I may say that our relations with our neighbors have
years.
never been so peaceful and fruitful as today. It is espe-
Also, the cultural cooperation has been getting stronger
cially helpful to have in our Constitution safety-catches
as well.
providing that citizens of Slovenia belonging to some
We are looking forward into 2012 when the Slovenian
neighboring ethnic groups have guaranteed special ri-
city of Maribor is going to be, together with Portuguese
ghts, (such as, for instance, the right to use their native
Guimarães, the cultural capital of Europe.
language in cases of speakers of Hungarian or Italian)
***
officially within their respective regions.
Times are not easy, not for anyone. On and on, every
Based on Slovenia’s experiences in the Western
European nation have been receiving wake-up calls – in
Balkans (our imminent neighborhood), we can see that
economy, in conservation of Nature, in political realities.
humanitarian efforts like demining (carried out by the
But we shouldn’t allow our worries to make us forget
ITF; International Trust Fund for Demining and Mine
what nations of Europe were dreaming about when they
Victims Assistance, established by the Government of
were young and full of hope and promise.
the Republic of Slovenia in March 1998 with the aim of
Let’s raise our glasses to toast the fledgling Slovenia.
helping Bosnia and Herzegovina in its mine clearance
Let’s summon the spirit of our national anthem the lyrics
and mine victim assistance efforts. Since its establish-
for which were (in a shape of a cup) written by our na-
ment, ITF has expanded its activities throughout the
tional poet France Prešeren in 1844.
n
region of South Eastern Europe.) can offer the politically and ethnically alienated and divided partners a
My friends, this is the hour
technical platform for a dialogue which can significantly
Of sweet new wine that once again
contribute to future cooperation. By knitting, in form of such initiatives, a net and friendly neighborly relations as well as of international partnerships we are helping create a globalized commonwealth
Makes eyes bright, hearts recover, Puts fire in a feeble vein, And everywhere Drowns dull despair With hopes weren’t used to be just care.
where even the smallest members can participate actively and with honors. Hopefully, this net would prove
God blessings to every nation
to be able and willing to cope with global problems of,
Who strives and long for a happy day
predominantly, pollution, sustainability of resources,
When wars will be past ancient,
and peace.
Forgotten, gone away – Who yearns to see
A special part of this network that I personally have to
All peoples free
work on pertains to cooperation between Slovenia and
And foes no more, just neighborly.
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 51
Espaço diplomático
Allan J. Katz - Embaixador dos EUA
Um dos importantes instrumentos de colaboração entre as nossas duas nações é o Acordo de Cooperação e Defesa, que os nossos governos assinaram em 1995.
Nova Jérsia, Nova Iorque e Rhode Island, assim como na Califórnia e no Havai, trouxeram com eles, não apenas o som da língua portuguesa, mas também o gosto do pastel de nata e do bacalhau. A comida e a cultura
EUA e Portugal: Uma Aliança Diplomática Duradoura
de Portugal fazem parte da diversidade dos Estados Unidos. Como Embaixador americano, estou empenhado em fortalecer a nossa relação assegurando que trabalhamos juntos em temas comuns e que, nas raras ocasi-
A relação entre os Estados Unidos e Portugal data de
ões em que discordamos, nos ouvimos mutuamente
há mais de 200 anos um número que pode parecer
como amigos que somos, tentando sempre encontrar
apenas o tempo de um piscar de olhos para europeus,
um meio-termo.
mas que engloba, quase na totalidade, a história da
Um dos importantes instrumentos de colaboração
nossa ainda jovem nação.
entre as nossas duas nações é o Acordo de Coopera-
Após a Revolução Americana, Portugal foi um dos
ção e Defesa, que os nossos governos assinaram em
primeiros países a reconhecer a independência dos
1995. Esse acordo estabeleceu a Comissão Bilateral
Estados Unidos. O nosso primeiro Presidente, George
Permanente EUA-Portugal, que reúne oficiais ameri-
Washington, estabeleceu relações diplomáticas for-
canos e portugueses duas vezes por ano para discutir
mais com Portugal ao nomear David Humphreys como
formas de melhorar a nossa colaboração.
o nosso primeiro Embaixador.
Quando, em Julho de 2010, participei na minha primei-
Muitos outros homens – e uma mulher – represen-
ra reunião da Comissão Bilateral, constatei que tínha-
taram os Estados Unidos em Portugal ao longo dos
mos obtido vários sucessos através desta comissão,
últimos dois séculos, uma lista à qual tive o privilégio
incluindo a resolução de assuntos relacionados com
de me juntar, em Abril de 2010, quando cheguei à Em-
a presença da Força Aérea americana na Base das
baixada em Lisboa. Enquanto chefe de missão, tenho
Lajes e na ilha Terceira, nos Açores.
também sob a minha alçada o consulado americano
Tendo em conta esses sucessos, decidimos reestru-
nos Açores, que é o mais antigo consulado americano
turar a Comissão Bilateral de modo a torná-la mais
em funções no mundo e que representa os nossos
relevante e a ampliar o alcance dos assuntos que
interesses desde 1795.
abordará. A reunião do passado Maio em Washington
Mas não são apenas os laços diplomáticos que unem
foi o primeiro passo neste sentido e a nossa reunião,
os nossos dois países. Quase dois milhões de luso-
este Outono, em Lisboa irá, mais uma vez, permitir aos
americanos fazem parte da sociedade americana.
nossos países abordar questões ligadas à cooperação
Imigrantes que se estabeleceram em Massachusetts,
bilateral em áreas como segurança e pesquisa
52 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
➤
ambiental; comércio e promoção de investimento; e
como membros da NATO, as nossas tropas trabalham
justiça.
lado a lado para garantir a segurança e apoiar o de-
Um dos problemas mais importantes que enfrentamos
senvolvimento. Não obstante, a cooperação internacio-
hoje em dia, é, obviamente, o abrandamento económi-
nal para a segurança vai muito além do Afeganistão e
co global e os desafios que esse fenómeno acarreta
abrange áreas igualmente criticas para a protecção de
para as nossas economias. Os portugueses, tal como
cidadãos americanos e portugueses.
os americanos, estão a enfrentar tempos difíceis. Pais
O mundo enfrenta hoje ameaças transnacionais que
dos dois lados do Atlântico estão preocupados com a
são transversais a diversos países e sistemas legais.
possibilidade de perderem os seus empregos, enquan-
A ameaça do terrorismo internacional compele-nos a
to os seus filhos se perguntam se as suas esperanças
estarmos vigilantes. Temos que cooperar a todos os
e sonhos se irão evaporar.
níveis. Já testemunhámos como terroristas e crimino-
Um raio de sol que atravessa esta nuvem negra é a
sos de um país podem estabelecer-se noutro país para
inovação, um conceito muito familiar para portugueses
operar num terceiro país. O crime transnacional é um
e americanos, e que irá ajudar-nos a garantir um futuro
facto incontornável nos dias de hoje.
melhor.
Este ano assinalamos o 10º aniversário dos ataques
Nos Estados Unidos, o Presidente Obama está a ten-
de 11 de Setembro, um evento que mudou irreversivel-
tar encorajar a inovação ao aumentar o financiamento
mente o modo como vemos o mundo e que nos levou
em áreas como pesquisa biomédica, tecnologias de
a implementar medidas para garantir que a tragédia
informação e energia limpa. E Portugal, através do seu
não se repetirá. Muitos foram os resultados alcançados
investimento em educação, pesquisa e desenvolvi-
ao longo da última década e há razões para estarmos
mento apoiado pela Fundação para a Ciência e Tecno-
optimistas com os acontecimentos recentes no Egip-
logia, está a fazer um percurso semelhante.
to, na Tunísia e noutros países da região que podem
Os aerogeradores que avistamos no topo de incon-
sinalizar o início de um novo capítulo, mais positivo, na
táveis colinas em Portugal são um símbolo omnipre-
história mundial. Mas não podemos fechar os olhos às
sente de como a inovação numa área específica – as
ameaças reais que pendem sobre os Estados Unidos e
energias renováveis – já está a dar frutos. O papel
a Europa.
de liderança que Portugal assumiu neste sector pode
Os Estados Unidos e os seus aliados europeus, entre
servir de exemplo aos americanos.
os quais Portugal, têm trabalho em conjunto para esta-
Nos Estados Unidos, um dos maiores desafios que
belecer mecanismos formais de partilha de informação
enfrentamos é tentar reverter a nossa dependência de
que podem ser cruciais para prevenir o terrorismo e
petróleo importado. Como parte desse esforço, o Pre-
outros crimes graves. Ao fazê-lo, é fundamental res-
sidente Obama estabeleceu o objectivo de colocar um
peitar a privacidade e os direitos dos nossos cidadãos.
milhão de carros eléctricos nas estradas até 2015.
A natureza elementar da privacidade está imbuída na
É com orgulho que digo que a indústria automóvel
Constituição americana e é protegida por inúmeras
americana criou o carro eléctrico mais desenvolvido do
leis e regulamentos. Tendo em conta as ameaças
mundo. Esta inovação começa agora a ser exportada
que o mundo hoje enfrenta, trabalharmos juntos para
para o resto do mundo. Portugal, por seu lado, deu
partilhar a informação necessária é fundamental, mas
passos significativos para encorajar a utilização de
iremos fazê-lo de forma a conseguir um equilíbrio entre
carros eléctricos, ao desenvolver uma rede nacional
proteger vidas e proteger a privacidade.
de carregamento de veículos eléctricos. O governo
O respeito pelos direitos dos indivíduos é apenas um
açoriano lançou também o seu próprio programa para
dos muitos valores partilhados pelos povos dos Esta-
promover a utilização de carros eléctricos e estamos a
dos Unidos e de Portugal. Estes valores constituem
trabalhar estreitamente com as instituições locais para
a base da nossa longa história de cooperação em
encorajar o uso de tecnologia americana.
inúmeras áreas. Somos parceiros na NATO há mais de
Para além de colaborarmos em áreas como a ciência
60 anos e somos amigos há muito mais tempo.
e a tecnologia, continuamos a colaborar com os nos-
O futuro da relação transatlântica é luminoso, não só
sos parceiros, inclusivamente com Portugal, na área
pelas ideias e projectos em que estamos a trabalhar
da segurança nacional para assegurar que os nossos
hoje, mas porque há diplomatas disponíveis e capazes
princípios e modo de vida não são postos em causa.
nos Estados Unidos e em Portugal para fortalecer a
O ponto mais óbvio de cooperação para a segurança
nossa relação a partir da fundação que foi estabelecida
entre os nossos dois países é o Afeganistão onde,
há mais de 200 anos.
n
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 53
Espaço diplomático
Giorgi Gorgiladze - Embaixador da Georgia
Returning to our european Roots As the first Ambassador of Georgia in the Portu-
Saint Ketevan, on the traditional Portuguese tiles
guese Republic, I am greatly honored to extend my
currently kept in Lisbon’s Igreja da Graca. Unfortu-
warmest greetings to the Government and People of
nately, a tragic chain of historic events temporarily
Portugal, as well as to the Diplomatic Corps accre-
distanced my ancient country of the Colchis civiliza-
dited in the country. It is truly a pleasure to serve
tion and Golden Fleece from the European realm,
in one of the oldest and most beautiful European
where it rightfully belongs. However, today we are
states with very hospitable people, eye-catching
going back to our European roots, restoring our
nature, and impressive history.
European ties and close historic and cultural bonds,
Located on the Black Sea shore, serving as the
and rediscovering Europe and specifically Portugal.
trade route and the crossroads of Europe and Asia,
Our two countries currently enjoy friendly and cons-
and linking both with the Middle East, Georgia had
tructive relations through the productive and cons-
always been a significant commerce hub and a
tantly enhancing cooperation both in bilateral and
center of great economic and cultural exchange be-
multilateral formats. We strongly believe that there
tween various great civilizations. As one of the first
always is an opportunity to strengthen and deepen
Christian nations and centers of science and edu-
relations of Georgia with Portugal through a pletho-
cation, some consider Georgia to be the inception
ra of significant initiatives in all spheres of mutual
point of the grand European Renaissance, which
collaboration, and especially in boosting our cultural
has commenced in my country back in the 12th cen-
and economic ties.
tury A.D. As a nation of culture and trade, Georgia
As you are aware, with the advent of the Rose
had maintained for centuries very close relations
Revolution of 2003 in Georgia, our Government has
with Europe, Asia and the Middle East regions.
commenced the process of successful reformation.
It is widely known that Georgia and Portugal have
Positive transformations in governance and eco-
enjoyed close historical ties throughout the centu-
nomy made Georgia a very attractive country for fo-
ries. Thereby it is not surprising to find the martyr-
reign investors. As a result, various world renowned
dom scene of one of the greatest Georgian Queens,
international agencies have ranked Georgia
54 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
➤
among the world’s leaders in various fields. For
example, Doing Business 2011 report placed Georgia the 12th in terms of Ease of Doing Business, and named my country the top reformer among 174 nations over the last 5 years. Moreover, among the other accredited international watchdogs, Transparency International named Georgia the top country in the post-Soviet space - except for Baltic States as the top fighter with corruption. Furthermore, the
As you are aware, with the advent of
Global Corruption Barometer 2010, ranked Georgia
the Rose Revolution of 2003 in Georgia,
the 1st in the world in terms of reducing the level of
our Government has commenced the
corruption in the country, while placing my country
process of successful reformation.
the 5th in the world for the low level of corruption in the police. We have concentrated not only on democratic transformation, but also on the advancement of economy. We have also enhanced our trade relations with the EU and other parts of the world, and currently enjoy either visa-free or simplified-visa regimes with most of the countries, including the EU member states. We have substantially improved our transport infrastructure, and established free industrial zones in the port-city of Poti, as well as free tourist zones
CNG and LNG projects. Furthermore, Georgia is a
in Kobuleti and Anaklia-Zugdidi. We have bolste-
part of a high capacity Baku-Tbilisi-Kars regional
red our touristic potential with more than 2 million
railway project, which improves safety of transpor-
international travelers visiting Georgia in 2010, and
tation.
this year we expect a higher number of tourists to
By virtue of active transformation through reforma-
visit Georgia’s beautiful azure seaside, stunning
tion, Georgia economic standing had been impro-
mountainous resorts, as well as ancient historic
ving on an annual basis. Despite the harsh global
and cultural sites.
financial crisis coupled with the brutal Russian
Largely due to its lucrative geopolitical and geo-
military aggression in August 2008 and subsequent
strategic location as the shortest route linking Euro-
ethnic cleansing - which left 20% of the country’s
pean and Asian markets, Georgia has always stood
territory occupied and hundreds of thousands of
ready to partake in various energy and transport
Georgian IDPs homeless and fleeing for their lives
projects of all magnitudes. Currently, my country is
- Georgia had remarkably managed to maintain a
actively involved in several very successful projects
substantial economic profile. As a result, in 2010
linked to the South Caucasus energy corridor, such
the GDP of the country rose to $11.7 billion, and
as the Baku-Tbilisi-Supsa oil pipeline, Baku-Tbilisi-
the real GDP growth accounted to 6.4%.
Ceyhan oil pipeline, Baku-Tbilisi-Erzurum gas
Currently, I believe we have a historic opportuni-
pipeline. Moreover, Georgia is an integral part of all
ty to enhance our economic cooperation with the
transit projects to be implemented within the fra-
Portuguese Republic. Certainly, the opening of the
mes of the Southern Corridor, such as NABUCCO,
Georgian Embassy in the friendly Portugal in 2010
the Azerbaijan-Georgia-Romania-Hungary (AGRI)
serves as a vivid example of our willingness and
Interconnector, Trans Black Sea Links, the Euro-
interest to boost cooperation with the Portuguese
Asian Oil Transportation Corridor, as well as the
State and the Portuguese-speaking world in
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 55
Espaço diplomático
Region of Geogia and it's capital Tbilisi
➤
general. Popularizing our culture in Portugal and
As one of the most ancient European nations, ours
vice versa is one of our priorities. In this respect,
is not the attempt to become European. We strive
we plan in the near future to open a center of Portu-
to get back to where we belong. And while we tread
guese language and culture in Georgia. And cer-
this difficult road leading to Europe, we certainly
tainly, we are very interested in cooperating closely
rely on the strong and active support of Portugal.
with the member states of the Community of Portu-
I believe that the plea of the greatest Portuguese
guese Language Countries.
poet of the 16th century, Luis Vaz de Camoes, utte-
While domestically reorganizing our domestic ins-
red in his magnum opus “Os Lusiadas” and addres-
titutions and pushing for more democracy, gover-
sed to the European leaders of his time to assist
nment responsibility, and economic liberalization,
the suppressed European nations, and Georgia in
Georgia has become highly determined to accede
particular, has not lost its power even today.
to the European and Euro-Atlantic community, as
I am strongly convinced that it is high time for the
we strongly believe that, sharing common values,
Georgian and Portuguese nations to rediscover
we belong in the realm of democracy and freedom.
each other, and to never let go of each other again.
56 • Diplomática - OUTUBRO 2011
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Mala diplomática
Dia de Portugal Cavaco Silva apelou ao retorno ao interior desertificado, não esquecendo a crise
"É nestas alturas que se vê a alma do povo"
Num dia de grande calor, as comemorações do 10 de Junho. Dia de Portugal e de Camões, o grande poeta luso, em Castelo Branco, juntaram mais de sete mil pessoas e ficaram marcadas pelo discurso presidencial de apelo à corrida ao interior do País e pela intervenção de António Barreto, sugerindo uma nova Constituição que permita pôr termo à permanente ameaça de governos minoritários e de Parlamentos instáveis.
Agricultura e Interior foram os temas em foco no
situação. No seu discurso, Cavaco Silva apontou o
discurso do Presidente da República nas comemo-
progressivo envelhecimento da população agrícola,
rações do 10 de Junho, que tiveram lugar em Cas-
exigindo a criação de estímulos, para que os jovens
telo Branco. Cavaco Silva considerou impensável
regressem aos campos e ajudem, também, a inver-
que o País seja auto-suficiente em matéria alimen-
ter a actual desertificação do interior, não só para o
tar, sublinhando que os actuais níveis de produção
litoral, mas também para as cidades mais próximas,
e os seis mil milhões de euros gastos na importa-
como é o caso de Castelo Branco, palco das come-
ção de bens agrícolas, em contraponto aos três mil
morações, que registaram este ano a presença de
milhões registados nas exportações, são insusten-
mais de sete mil pessoas, entre as quais, os líderes
táveis e exigem dos poderes políticos uma actua-
das principais forças partidárias.
ção determinante para se conseguir inverter esta
A escolha desta cidade para a realização do Dia
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 57
Dia de Portugal
Todo o corpo diplomático creditado em Portugal apresentou cumprimentos ao Presidente de Portugal
➤
de Portugal foi justificada pelo Presidente da
cios e de grandes responsabilidades. Não podemos
República por a mesma ser um exemplo a seguir,
falhar. É nestas alturas que se vê a alma do Povo”,
tendo elogiado a construção de infra-estruturas que
frisou Cavaco Silva no final do seu discurso.
permitiram a quebra do isolamento. Alertou também
A intervenção de António Barreto, presidente da
para alguns caminhos de combate à desertificação
Comissão organizadora das Comemorações do 10
que não passam de ilusões e que não resolvem o
de Junho, marcou também a cerimónia. Sem peias,
problema.
como é seu hábito, traçou um diagnóstico, a régua
Cavaco referiu-se ainda às gentes do interior, no-
e esquadro, de um Portugal a duas velocidades.
meadamente a sua frugalidade, o seu sacrifício e
Se, por um lado, nada é novo, porque esta não é a
a sua capacidade de resistência.”Aqui, em Castelo
primeira crise que vivemos, por outro, tudo é novo,
Branco, poderemos buscar no exemplo dos portu-
porque há a globalização, o euro, uma situação
gueses do interior a inspiração do que precisamos
económica e social que apanhou Portugal de sur-
para, uma vez mais, fazer das fraquezas forças e
presa.
transformar as adversidades em oportunidades”,
«Há momentos, na história de um país, em que se
sublinhou o Presidente. Numa clara alusão às
exige uma especial relação política e afectiva entre
dificuldades generalizadas que atravessa o País,
o povo e os seus dirigentes. Em que é indispensá-
consubstancializadas no acordo estabelecido com a
vel uma particular sintonia entre os cidadãos e os
troika e a crise, cada vez mais latente. O Presidente
seus governantes. Em que é fundamental que haja
da República apelou para que Portugal inteiro se
um entendimento de princípio entre trabalhadores e
erga nesta “hora decisiva, num tempo de sacrifí-
patrões. Sem esta comunidade de cooperação e
58 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
Mais de sete mil pessoas compareceram no Dia de Portugal em Castelo Branco, tendo assistido ao espectáculo, nos Jardins do Palácio Episcopal, em que actuartam Luis Represas e Teresa Salgueiro
➤
sem esta consciência do interesse comum nada é
ma da Justiça portuguesa, que é actualmente uma
possível, nem sequer a liberdade», disse o soció-
das fontes de perigos maiores para a democracia. A
logo. Por isso mesmo, António Barreto considerou
liberdade necessita de Justiça, tanto quanto de elei-
ser crucial existir uma “cultura de compromisso,
ções», acentuou António Barreto, naquele que foi
de diálogo, de consenso, entre forças, instituições
considerado o discurso mais importante deste Dia
e políticos, num momento de extrema dificuldade,
de Portugal. Uma cerimónia que ficou ainda mar-
propondo a revisão da Constituição, considerando-a
cada pela frieza de relacionamento entre Passos
“anacrónica, barroca e excessivamente programáti-
Coelho e José Sócrates, os quais se chegaram a
ca”.
cruzar, sem se cumprimentar, à saída do Cineteatro
“Uma Constituição renovada, implica um novo siste-
Avenida, onde tiveram lugar os discursos oficiais.
ma eleitoral, com o qual se estabeleçam condições
Uma atitude que deu razão a uma parte do discurso
de confiança, de lealdade e de responsabilidade,
de António Barreto, ao referir-se aos políticos que
hoje pouco frequentes na nossa vida política. Uma
não deram o exemplo do sacrifício que impõem aos
nova Constituição implica um reexame das relações
cidadãos.
entre os grandes órgãos de soberania, actualmente
“A indisponibilidade para falarem uns com os ou-
de muito confusa configuração. Uma Constituição
tros, para dialogar, para encontrar denominadores
renovada permitirá pôr termo à permanente ameaça
comuns e chegar a compromissos, contrasta com
de governos minoritários e de Parlamentos instá-
a facilidade e o oportunismo com que pedem aos
veis. Uma Constituição renovada será ainda, final-
cidadãos esforços excepcionais e renúncias, a que
mente, o ponto de partida para uma profunda refor-
muitos se recusam”. Nem a propósito…
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mala diplomática
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1. Embaixador Pascal Teixeira da Silva a fazer discurso 2. Maria do Carmo Vieira da Fonseca, Miguel Morais Leitão e Luís Ferreira dos Santos 3. Directora da revista Diplomática cumprimenta o Embaixador de França 4. Embaixadores de França, Christophe Bergey, Claire Monné e Sophie Laszlo
Dia Nacional da França celebrado em Portugal Tal como sucede usualmente a
vam muitos embaixadores, distintas
Embaixada de França abriu uma vez
figuras da cultura, economia e política
mais as portas do Palácio de Santos
bem como da sociedade civil quer
para celebrar o 14 de Julho. Pas-
portuguesa quer francesa.
cal Teixeira da Silva, o embaixador
Depois de agradecer a presença de
acreditado em Portugal, recebeu, em
todos e também a gentileza das mar-
companhia de sua mulher, Pascale
cas que colaboraram na organização
Teixeira da Silva, os seus inúmeros
da festa, o embaixador francês fez
convidados, entre os quais se conta-
uma referência à razão de ser
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➤
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5. Convidados a ouvir o discurso do Embaixador 6. Embaixador Marcello Mathias e José Blanco, Presidente da Associação “Légion Honneur” em Portugal 7. Embaixadores da Polónia, Professor Eduardo Lourenço e José António Pinto Ribeiro
➤
desta celebração referindo que,
os partidos da França e de todos os
“o 14 de Julho é, há mais de cento e
cidadãos franceses, na liberdade e
trinta anos, a festa nacional francesa.
na igualdade’”. Esta alusão foi não
Comemora, não a tomada da Basti-
apenas interessante mas inovadora
lha mas a Festa da Federação, que
para muitas das pessoas que ouviam
teve lugar um ano mais tarde, a 14
Pascal Teixeira da Silva, pois quase
de Julho de 1790. Esta Festa, para
sempre que chega o dia 14 de Julho
utilizar as palavras ditas em 1880, era
este é usualmente designado como o
o ‘símbolo da união fraterna de todos
dia da celebração da Tomada da
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OUTUBRO 2011 - Diplomática • 61
Dia Nacional da França
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9. Maria de Bragança e Maria do Carmo Vieira da Fonseca 10. Embaixadora da Noruega com o Embaixador da Ordem de Malta 11. Chef Chakall deliciou os presentes com as suas receitas 12. Fernando Santos e Henrique Polignac de Barros, Consul do Principado do Mónaco 13. Jacques de Bretagnol 14. Embaixatriz Ana Rocha Paris e Maria da Luz de Bragança 15. Maria de Belém Roseira
➤
Bastilha.
feriu também o desafio que os países
No seu discurso prosseguiu falando
europeus ora enfrentam e da neces-
dos três ideais liberdade, igualdade,
sidade que todos os seres humanos
fraternidade que “são partilhados e
têm de viver numa sociedade fraterna.
amados pela França e por Portugal,
Pascal Teixeira da Silva terminou re-
que há um século eram (com a Suíça)
ferindo que, “a França e Portugal são
as únicas repúblicas na Europa.” Elo-
duas velhas nações que enfrentam
giando a atitude que os povos árabes
os problemas e os desafios do início
tiveram há perto de seis meses, em
do século XXI. Todos juntos devemos
busca da liberdade e democracia, re-
enfrentá-los e superá-los.
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16. Inês Mendonça, Fátima Airey e Maria de Bragança 17. Duquesa de Cadaval e Anne-Marie Mathias 18. Patrick e Pia Ziegler 19. Cantores líricos, Francisco Ricardo e acompanhante 20. Embaixadora da Eslovénia 21. Embaixadora do Senegal 22. Fermando Mendes, director da Legrand com a nossa directora
➤
(…) Deverá ser nosso o apelo
do ao piano, seguiu-se um cocktail
lançado há cerca de 160 anos por
que se estendeu até ao início da noite
Alexandre Herculano, grande escritor
e no qual muitas iguarias francesas
e historiador português: ‘Que somos
foram servidas acompanhadas pelos
nós hoje? Uma nação que tende a
excelentes vinhos franceses. Já os
regenerar-se: diremos mais: que se
champanhes da mesma proveniência
regenera’”.
serviram aos brindes feitos a ambas
Cantados primorosamente o hino
as nações e promoveram ainda mais
francês e o português pelo contra
o convívio e a boa disposição de to-
tenor Francisco Ricardo, acompanha-
dos os presentes.
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Dia Nacional da França
Baile popular assinalou 14 de Julho 23
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➤
Por ocasião das celebrações do
27
Dia de França, o conhecido arquitecto Jacques Bretagnolle e o reputado pintor Mateus de Sousa Camacho, com o apoio do Embaixador Teixeira da Silva e das associações francesas sediadas em Lisboa, organizaram um baile popular no adro da igreja de Santos-o-Velho, mesmo ao lado da 29
embaixada de França. Nessa noite de Verão, a música popular portuguesa e a francesa foram rainhas. A animação foi constante, e nem os embaixadores franceses resistiram a associar-se à festa, dando um pé de
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dança. Um simpático bar, a temperatura amena e o ambiente descontraído fizeram com que o Baile Popular do 14 de Julho tenha sido um retumbante sucesso – cujos lucros foram entregues na íntegra à paróquia de Santos-O-Velho.
23. Michel animou a noite 24 e 25. Eram muitos amigos 26. Os embaixadores vien
ram visitar o baile 27. Uma animação constante 28. As crianças felizes 29. Sofie Laslo e Jacques Bretagnole
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Mala Diplomática
Dia da Independência dos Estados Unidos da América
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1. Discurso do Embaixador Allan Katz 2. Embaixador dos Estados Unidos da América a ouvir o Hino acompanhado da guarda americana
Para celebrar o 235º aniversário da
a sua satisfação por todos os con-
da Marinha, “Topside”, que viera de
Declaração de Independência dos
vidados terem aceite participar num
Nápoles para estar de propósito nesta
Estados Unidos, o Embaixador Allan
evento comemorativo de tão impor-
recepção.
Katz e sua mulher, a Embaixatriz
tante data da história do seu país.
Allan Katz lembrou que chegou ao
Nancy Katz abriram as portas da em-
O embaixador referiu-se ainda ao
nosso País há pouco mais de um
baixada aos seus muitos convidados,
mote desse dia de festa – “o espírito
ano e confessou que tem sido uma
para comemorar mais este aniversá-
da música”, frisando que a música
aventura fantástica, pois viajou, ele
rio do seu país, com uma recepção
americana é tão diversa quanto o
e a mulher, por todo o Portugal, um
muito requintada.
próprio país, desde ao rock & roll ao
país notável, como especiais são os
O Embaixador Allan Katz, no seu
jazz, da Broadway ao Blue Grass.
portugueses, que conheceram e que
discurso de boas vindas, manifestou
E não deixou de se referir à banda
sempre os receberam de braços ➤
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3. Abigail Dressel 4. Christina Gillies, Maria da Luz de Bragança e Embaixatriz dos E.U.A. 5. Embaixatrizes de França e Luxemburgo 6. Embaixadora de Marrocos 7. Embaixadores de Itália e da Rússia com o Chefe de Protocolo de Estado, Bouza Serrano 8. Rodrigo Costa, Luísa Costa, Anabela Mata Ribeiro e António Pinto Ribeiro 9. Maria da Luz de Bragança com o Embaixador dos Emirados Árabes 10. Embaixadores da Coreia 11. Embaixadora do Senegal ➤ abertos,
com simpatia e generosidade.
americanos, com vista ao desenvolvi-
tico creditado no nosso País e per-
Os convidados espalharam-se pelos
mento de parcerias da África Lusófo-
sonalidades das mais diversas áreas
jardins da embaixada, num ambiente
na. Mas referiu-se igualmente à área
da vida nacional. Allan Katz afirmou
de grande descontracção e boa dis-
da Educação, dizendo-se impressio-
também que os Estados Unidos e
posição, tanto mais que até o tempo
nado com o dinamismo das novas
Portugal vão continuar ligados por
ajudou, de tão ameno que estava.
relações entre universidades portu-
fortes laços de amizade e valores
Allan Katz lembrou, na sua alocução,
guesas e americanas para a criação
comuns agradecendo aos convidados
que no campo do empreendedorismo
de mais oportunidades de intercâmbio.
presentes por celebrarem o Dia da
e enquanto representante dos EUA,
A terminar o seu discurso de boas-
Independência dos EUA e por parti-
tem continuado a fazer esforços para
vindas aos muitos convidados, entre
lharem desta velha amizade que une
juntar empresários portugueses e
eles representantes do corpo diplomá-
os dois países. n
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 67
Mala Diplomática
Dia Nacional da Rússia celebrado em Lisboa 2
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Festejava-se o Dia Nacional da
O embaixador Pavel Petrovskiy
Rússia nos jardins do Pestana
dirigiu um breve discurso de boas-
Embaixadores da Rússia 2. Embaixador da Argentina e Embaixa-
Palace. Os embaixadores Pavel
vindas aos seus convidados,
e Irina Petrovskiy receberam os
recordando a data de 12 de Junho,
muitos convidados - corpo diplomá-
que abriu caminho para o desenvol-
tico creditado no nosso País, lado
vimento democrático do seu país.
a lado com figuras destacadas das
Como resultado, no espaço da
dores de Cuba 3. Embaixatriz da Ordem de Malta e Pedro Ferreira de Carvalho 4. Embaixador do Irão com o Embaixador do Iraque
diversas áreas da vida nacional,
antiga URSS e de toda a Europa de
do meio empresarial, à política e à
Leste, aconteceram grandes mu-
cultura, que encheram os jardins,
danças, que levaram a que fossem
onde foi servido um requintado
corrigidas as regras do jogo políti-
cocktail.
co. O embaixador russo frisou
68 • Diplomática - OUTUBRO 2011
1. Maria da Luz de Bragança com os
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5. Embaixadora da Polónia, Embaixador da Hungria e Embaixador da Letónia 6. Embaixadores da Moldava
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7. Embaixador da Áustria, Adrian Wessedi e Embaixadora da Noruega 8. José Bouza Serrano, Embaixador de Cuba, Embaixador da Turquia 9. Embaixador da Palestina com a filha Leen Shami 10. Embaixador da Argentina e a Directora da revista Diplomática 11. Embaixador da Suíça, Embaixador de Espanha e Embaixador da Ordem de Malta 12. Embaixador da Suécia, Núncio Apostólico e José Bouza Serrano
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➤
a sua satisfação pelo desenvolvi-
nas entidades governamentais.
mento progressivo da cooperação
Num tom divertido, o embaixador
russo-portuguesa, que exerce uma
virou-se para um campo inespera-
influência positiva num plano bas-
do – o futebol, área com que a Rús-
tante abrangente.
sia, disse o Emb. Petrovskiy, está a
O Emb. Pavel Petrovskiy fez saber
adquirir uma experiência preciosa.
que, no seu país, se avalia de
"Cada vez mais se desenvolvem
forma muito positiva, os êxitos
os contactos entre as pessoas e
alcançados por Portugal ao nível do
se ampliam os laços culturais, o
desenvolvimento das novas tecno-
que é muito positivo", disse ainda o
logias, energia verde e implemen-
embaixador russo, que brindou, por
tação de plataformas electrónicas
fim, à amizade entre os dois povos.
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Mala Diplomática
Festa Nacional do Luxemburgo
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No seu discurso de boas-vindas, Paul Schmit lembrou aos convidados como começou o Luxemburgo,
Os embaixadores do Luxemburgo
não só aos seus compatriotas,
celebraram, em Lisboa, o aniver-
como também outros convidados
sário de Sua Alteza Real, o Grão-
das várias áreas da vida nacio-
Duque do Luxemburgo, e dia da
nal (empresários, economistas,
Festa Nacional do seu país.
personalidades ligadas à cultura),
Uma data que, no Luxemburgo,
celebrando, assim, o aniversário
se celebra durante dois dias.
do Grão-Duque do Luxemburgo.
Os embaixadores Paul e Nadine
No seu discurso de boas-vindas,
Schmit ofereceram uma recepção,
o embaixador lembrou aos
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➤
1. O Embaixador Paul Schmit no seu discurso 2. Embaixador da Sérvia, Embaixador da Grécia, Embaixador de Cuba e Embaixador da Hungria 3 . Embaixador de Cuba, Embaixadora da Eslovénia e Embaixador da Turquia 4. Maria José Tormenta e Embaixatriz do Luxemburgo
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convidados como começou o
10
gico. No século XIX e depois de
5. Embaixadores da Letónia
Luxemburgo, na Idade Média,
séculos de conquistas e gover-
6. Duque de Loulé, Inês Figueiredo e
com a construção do Castelo do
nado por estados estrangeiros, o
Luxemburgo. E foi em torno desta
Luxemburgo acabou por se tornar
fortaleza que se desenvolveu,
numa nação independente e neu-
gradualmente, uma cidade, que
tra. Uma neutralidade que viria
➤
Carmen Távora 7. Maria da Luz de Bragança e Inês Mendonça 8. Embaixador da Rússia e Embaixador da Suiça 9. João Proença
viria a transformar-se no centro
a abandonar depois da Segunda
de uma pequena, mas importante,
Guerra Mundial, quando se tornou
do, Rita Bustorff de Sousa Tavares e
nação com grande valor estraté-
um dos membros fundadores da
Embaixador do Luxemburgo
10 Ricardo Espírito Santo Bastos Salga-
➤
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Festa Nacional do Luxemburgo
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NATO, das Nações Unidas e da
seu país, contribuindo para o seu
União Europeia.
progresso.
O embaixador Paul Schmit lem-
Foram ouvidos os hinos na-
brou a visita dos Grão-Duques do
cionais dos dois países e, já a
Luxemburgo a Portugal, a convite
terminar, Paul Schmit convidou
do Presidente da República, para
os presentes para que levantas-
lembrar as relações de amizade
sem as taças para um brinde de
existentes entre os dois países,
felicidades a Sua Alteza Real,
enriquecidas pela forte presença
o Grão-Duque Henri, à família
e contribuição dadas pela comu-
Grã-Ducal, ao Luxemburgo e a
nidade lusa, que lançou raízes no
Portugal.
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11. Marion Krüse, Susana Capela, Mateus Camacho, Ana Paula Taborda e Maria da Luz de Bragança 12. Isabel Monteiro e Maria de Jesus Barroso 13. Embaixador da Ucrânia e Embaixador da Lituânia 14. Christine Gillies e Embaixador dos Países Baixos 15. Directora da revista Diplomática com o Embaixador do Luxemburgo
Mala diplomática
Embaixada da Grã-Bretanha Celebra aniversário de Isabel II A rainha de Inglaterra celebrou 85 anos ficando apenas a um ano de distância do jubileu de diamante, um marco celebrado apenas pela rainha Vitória, em 1987. Os seus súbditos continuam a dedicar-lhe o maior carinho e devoção. Uma devoção que remonta aos tempos da guerra, em que a então jovem Isabel constatou o quanto era amada pelos súbditos que, apesar da dureza da situação, não hesitaram em dar os seus cartões de racionamento, para que a sua princesa tivesse um vestido de noiva a preceito. Casou com Duque de Edimburgo, de quem tem quatro filhos – Carlos, Ana, André e Eduardo. Toda a Grã-Bretanha celebrou com júbilo o 85º aniversário da sua Rainha.
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Embaixada da Grã-Bretanha
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1. Banda da Marinha inglesa 2. Joanne Kuenssberg, DHM 3. Embaixadores da Coreia e Embaixador da Indonésia 4. Directora da revista Diplomática e Embaixador da Russia
➤
Londres celebrou e, em Portu-
O ambiente era, decididamente,
gal, a embaixada da Grã-Breta-
de festa, nesse fim de tarde. O
nha recebeu imensos convida-
aniversário da rainha Isabel II
dos, para evocar a efeméride,
brindado pelos convidados com
com um requintado cocktail, ser-
champanhe, tornou-se, também,
vido nos jardins da embaixada.
no nosso País e, nessa tarde em
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5. Um brinde à Rainha 6. Jordana e Bernardo Campos Pereira 7. Embaixador do Luxemburgo, Joanne Kuenssberg e Embaixador da Áustria 8. Peter Mottek e Robert S. Levitt 9. Embaixador da Hungria, Embaixadores de Espanha, Embaixador da Rússia e Mercedes Mottek 10. Teresa Syrungli e Embaixadora da Noruega
➤
especial, um evento destacado
des presentes, para além de
na sociedade portuguesa, uma
representantes do corpo diplo-
vez que estamos ligados, desde
mático creditado em Portugal,
há muito, à Grã-Bretanha, por
esteve também Maria da Luz de
laços políticos e de amizade.
Bragança, directora da revista
Entre as muitas personalida-
Diplomática.
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Mala diplomática
Dia Nacional da Itália 1
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1. Início da festa 2. Maria de Bragança com Embaixador de Itália 3. Clara Nunes Santos, José Bouza Serrano e Embaixadores da Georgia 4. Ana Salazar 5. Renée Gomes, Maria Barroso e a Embaixadora das Filipinas 6. Embaixadora da Índia
Foi na Embaixada de Itália, em
de boas vindas, recordou que se es-
mundo".
Lisboa, que teve lugar a recepção do
tava a comemorar, não só os 65 anos
O embaixador recordou ainda que,
Dia Naccional daquele país, que con-
da República Italiana, mas também
há 150 anos, a 17 de Março de 1861,
tou com a participação de mais de
os 150 anos da Unidade Nacional.
nasceu o Reino da Itália, graças ao
1000 convidados, entre eles o corpo
Daí, ser-lhe muito grata a oportuni-
processo político, diplomático e mi-
diplomático creditado em Portugal
dade de receber na embaixada, para
litar, conhecido como Risorgimento.
e individualidades ligadas ao sector
celebrarem juntos, não só as autori-
Um processo fundamentado nos va-
empresarial, político e da cultura.
dades portuguesas, como também
lores, ideais e na coragem, que levou
Este ano, o evento esteve associa-
os colegas e amigos diplomatas e
à unificação da Itália, anteriormente
do às celebrações dos 150 anos da
a comunidade italiana, que trabalha
dividida em 7 estados de pequena
unificação da Itália.
"neste magnífico País, que é Portu-
dimensão. Com afirmação do princí-
O embaixador da Itália, Luca del
gal, contribuindo para manter bem
pio da nacionalidade, disse ainda o
Bazo di Presenzano, no seu discurso
alto o nome e o prestígio da Itália no
embaixador, os cidadãos do Norte e ➤
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7. Embaixadora da Noruega e Manuel Enes 8. Embaixador Ali Kaya Savut, Embaixadores da Sérvia, Embaixadora Bernarda Gradishik 9. Embaixadora de Marrocos e directora da Diplomática 10. Embaixadora do Senegal 11. Embaixador da Suíça e Maria de Bragança 12. Helena e Manuel Pinto Barbosa 13. Isabel Rilvas ➤ Sul
da península tornaram-se italia-
Bandeiras (Sbandieratori) da munici-
xador de Itália fez questão de recor-
nos sem, claro está, renegarem o seu
palidade italiana de Città Della Pieve
dar que, nesta recepção, se estava a
passado, mas antes integrando-o na
(cuja vinda tão especial e original,
celebrar a identidade de uma nação
nova Itália, acabada de nascer.
o embaixador fez questão de agra-
que se sente orgulhosa da sua histó-
Sucessivamente, há precisamente 65
decer na pessoa do presidente da
ria e cumprimentou, de modo espe-
anos, o povo italiano, através de um
Câmara daquela cidade, Ricardo
cial, todos os italianos presentes, em
referendo constitucional, sancionou
Manganello, ali presente) e que ofe-
particular todos aqueles que residem
o fim da Monarquia e nascia então a
receu aos convidados um espectá-
e vivem longe da pátria, à qual se en-
República, frisou ainda o embaixador
culo evocativo das antigas tradições
contram ligados por profundos laços
Luca del Balzo.
italianas. Um espectáculo que se
afectivos. E terminou, agradecendo
O evento teve também uma caracte-
repetiria, dias depois, no Castelo de
a presença de todos os convidados,
rística especial, graças à participação
S. Jorge.
desejando uma boa continuação da
da Companhia dos Agitadores de
A terminar o seu discurso, o Embai-
festa, com amizade e muita alegria.
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OUTUBRO 2011 - Diplomática • 77
Mala Diplomática
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Festa da independencia de Israel A Embaixada de Israel assinalou os 63 anos da Independência do Estado de Israel numa cerimónia no Hotel Sheraton, no passado dia 10
1. Embaixadores de Israel a brindar
de Maio, em Lisboa.
2. Embaixador de Israel e Lior Keinan e a mulher Sarit Keinan
Presentes estiveram muitos amigos de Israel, nomeadamente membros do Parlamento, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, do Corpo Diplomático, da
➤
78 • Diplomática - OUTUBRO 2011
3. Embaixador da Sérvia e a mulher 4. Miguel Polignac de Barros
6
5
8
9
7
11
10
➤
Comunidade Judaica e muitas
outras personalidades do Mundo Económico e dos Meios de Comu5. Pia Ziegler e Rodi Bachmann
nicação Social, que vieram feste-
6. Jack Saifer, Raul Capela e João Proença
gar esta ocasião tão feliz. No final
7. Marinho Pinto
do seu discurso, os Embaixadores
8. Ana de Brito e António Alvim 9. Carla Fontes e Conceição Ribeiro, Directora do Hotel Tiara 10. Núncio Apostólico e Eduardo Fortunato de Almeida 11. Milton Moniz
de Israel, Ehud e Sharon Gol brindaram aos fortes laços de amizade entre Portugal e Israel. n
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 79
mala diplomática
20º Aniversário da República da Eslovénia
1
2
5
3
6
4
1. Embaixadora da Eslovénia 2. Vassilios Costis, Embaixador da Grécia, Embaixador da Itália e Alan Cummins 3. Embaixador do Chile, Embaixadora da Noruega, Inga Magistad, Embaixador da Áustria 4. Embaixador da Itália, Embaixadora da Eslovénia, Núncio Apostólico e António de Macedo 5. Embaixador da Rússia, Embaixadora da Índia e Gassan El Aouar 6. Ali Kaya Savut, Embaixador da Turquia
Foi por ocasião da celebração
da Eslovénia organizou, em Lisboa,
lovénia a um lugar não-permanente
dos 20 anos da independência da
no Restaurante Estufa Real, no
no Conselho de Segurança da ONU
República da Eslovénia e do Dia Na-
Jardim Botânico da Ajuda. Presentes
e saudou as boas relações entre
cional, que teve lugar uma recepção
estiveram também representantes
Portugal e a Eslovénia.
na Estufa Real, no Jardim Botânico
de empresas eslovenas e eslovenos
Uma das seis repúblicas que forma-
da Ajuda.
residentes em Portugal.
vam a ex-Jugoslávia, a Eslovénia (si-
Foram mais de 100 convidados, das
No discurso com que recebeu os
tuada na confluência de quatro gran-
mais diversas áreas da sociedade
seus convidados, a Embaixadora
des zonas geográficas europeias)
portuguesa, da política à economia,
Bernarda Gradisnik enfatizou os
tornou-se independente em 1991,
passando pela cultura e o jornalismo,
sucessos alcançados pela Eslovénia,
com a desintegração da Jugoslávia.
que estiveram presentes na recep-
nos 20 anos decorridos desde a sua
O país faz fronteira com a Itália, a
ção que a Embaixada da República
independência, a candidatura da Es-
Áustria, a Hungria e a Croácia.
80 • Diplomática - OUTUBRO 2011
■
Economia & Finanças
Patrick Siegler-Lathrop is a French-American consultant living in Portugal, with a more than 30-year career as a Wall Street investment banker, entrepreneur, industrialist and professor, having taught at INSEAD and Paris University, Dauphine. He is a founding member of the international NGO Action Contre la Faim.
(* The opinions expressed herein are those of the author, and do not necessarily represent those of DIPLOMATICA) (* As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor e não representam necessariamente as da Diplomática.)
Portugal’s Eurodilemma
O Euro Dilema de Portugal
Portugal’s current financial and economic
No tratamento dos seus membros mais fracos da Zona
situation poses serious questions about the
Euro, a União Europeia (“UE”), o Banco Central Europeu
country’s membership in the Eurozone, and
(“BCE”) e o Fundo Monetário Internacional (“FMI”), referido
the conditions it is obliged to accept to obtain
como a “troika”, pode muito bem-estar a colocar em risco
funds to service its debts.
não só o futuro do Euro, mas de igual modo a prejudicar
The country’s structural weaknesses - high go-
todo o movimento de integração europeia.
vernment deficit, low past and current growth,
Pese embora todos concordem que Portugal não tem sido
low international competitiveness reflected in
tão perdulário quanto a Irlanda e a Grécia, as debilidades
persistent balance of trade deficits, a fragile
estruturais do país - um alto nível de défice orçamental, o
banking system - have led international finan-
baixo crescimento passado e corrente, uma ausência de
cial markets to put Portugal in the same cate-
competitividade internacional reflectida no saldo persistente
gory as the weakest members of the Eurozone,
do deficit comercial e um sistema bancário frágil - levaram
closing off access to private financing for the
os mercados financeiros internacionais a colocar Portugal
country.
na mesma categoria dos membros mais fracos da zona
To avoid impending default, Portugal was
euro, fechando o acesso ao financiamento privado para o
obliged in May of this year to negotiate a $78
país.
billion loan from the International Monetary
Para evitar a incumprimento iminente, Portugal foi obri-
Fund (“IMF”), the European Union (“EU”), and
gado, em Maio deste ano a negociar um empréstimo de
the European Central Bank (“ECB”), referred
78.000 milhões dólares americanos do Fundo Monetário In-
to as the “troika”. Behind the troika’s apparent
ternacional (“FMI”), da União Europeia (“UE”), e do Banco
willingness to help Portugal (and Greece and
Central Europeu (“BCE”), referido como a “troika”. Atrás
➤
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 81
The Financial Crisis A Crise Finaceira
➤
Ireland) is a fear that a default by a European
➤
da aparente disposição da troika para ajudar Portugal (e
country could seriously weaken the banking
a Grécia e Irlanda) está o medo de que a falha de cumpri-
system and possibly lead to a systemic failure
mento de um país europeu poderia enfraquecer seriamente
of the entire European financial structure (Ger-
o sistema bancário (os bancos alemães e franceses pos-
man and French banks alone hold about $1.4
suem 1,4 biliões de dólares americanos da dívida soberana
trillion worth of the sovereign debt of Portugal,
de Portugal, Irlanda, Grécia, Itália e Espanha) e possivel-
Ireland, Greece, Italy, and Spain).
mente levar a uma falha sistemática de toda a estrutura
What were the conditions Portugal had to
financeira europeia.
accept for such a loan? The troika espoused
Quais foram as condições que Portugal teve de aceitar
exactly the same “politically correct” view as
para um empréstimo deste tipo? A troika expôs exacta-
financial markets and rating agencies: Portugal
mente a mesma visão “politicamente correcta” dos merca-
(like Greece and Ireland) committed to dras-
dos financeiros e das agências de rating, que têm o poder
tically reduce government expenditures and
de julgar o “valor” da dívida de um país: Portugal (como
increase taxes, as well as to put into place a
a Grécia e Irlanda) assumiu o compromisso de reduzir
number of structural reforms.
drasticamente os gastos do governo e aumentar os impos-
There is no doubt that some of the structural
tos, bem como o de pôr em prática uma série de reformas
reforms imposed by the troika are necessary,
estruturais.
and the crisis that Portugal is experiencing is
Não há dúvida de que algumas das reformas estruturais
an excellent opportunity to force changes that
impostas pela troika são necessárias, e a crise pela qual
would have been politically impossible otherwi-
Portugal está a passar é uma excelente oportunidade para
se.
forçar mudanças que seriam politicamente impossíveis de
But basic economics teaches us that a mas-
outra forma.
sive reduction in government expenditures
Mas a economia ensina-nos que uma redução drástica dos
simultaneously with large tax increases, un-
gastos do governo em simultâneo com grandes aumentos
less counterbalanced by contrary forces, will
de impostos - a não ser que contrabalançados por forças
immediately send the economy into a tailspin,
contrárias - irá colocar imediatamente a economia numa
greatly reducing output and increasing both
espiral descendente, reduzindo a produção e aumentando
unemployment and poverty. The entire country
tanto o desemprego como a pobreza. O país inteiro irá
will suffer, but as always, the poorest segment
sofrer, mas como sempre, o segmento mais pobre será o
will suffer the most.
mais afectado.
Although lip service is given to noble employ-
Apesar de o discurso oficial se focar no emprego e no cres-
ment and growth objectives in the text agreed
cimento económico, o texto do acordo com a troika, visto
to with the troika, concrete measures to protect
justamente de uma perspectiva de geração de emprego e
employment and promote growth are painfully
crescimento, revela medidas que são inteiramente negati-
absent.
vas.
What is Portugal getting in exchange for ac-
E o que recebe Portugal em troca ao aceitar estes sacri-
cepting the troika-imposed pain? Short-term
fícios impostos pela troica? De facto obtém liquidez a curto-
liquidity to pay its current deficits, yes, but also
prazo para pagar os seus deficits correntes mas a expen-
the certainty of a prolonged, government-indu-
sas de uma recessão prolongada induzida por imperativos
ced recession.
governamentais.
What is particularly troubling about the ap-
O que eu acho particularmente preocupante sobre a
proach of rating agencies, the IMF, the ECB
abordagem das agências de rating, o FMI, o BCE e a UE,
and the EU, is that there is no clear evidence
é que não há evidências claras de que este medicamento
that this excessively monetarist medicine will
excessivamente monetarista vá funcionar. Pelo contrário,
work. On the contrary, the recession will lead
a recessão vai levar a receitas de Estado muito menores,
to much lower government receipts, virtually
praticamente garantindo que os ambiciosos objectivos para
guaranteeing that the ambitious deficit targets
o défice que foram estabelecidos não serão cumpridos.
will not be met.
Pagar um alto custo pode ser considerado aceitável, se
Paying a high cost can be considered accep-
houver luz no fim do túnel, ou seja, uma prospecção razo-
table, if there is light at the end of the tunnel,
ável de desenvolvimento saudável num futuro não muito
reasonable prospect of healthy development in
distante. Mas tal garantia não nos é dada - não há
82 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
➤
➤
the not-too-distant future. But no such pros-
➤
praticamente nada no pacote que possa fazer gerar cres-
pect is offered - there is virtually nothing in
cimento - muitos acreditam que o plano troika tem poucas
the package that will generate growth - many
hipóteses de sucesso; irá apenas adiar uma necessária re-
believe the troika plan has little chance of
estruturação da dívida portuguesa para uma data posterior.
success, and will merely postpone a necessa-
O recente "downgrade" da dívida de Portugal pela agência
ry restructuring of Portuguese debt to a later
de rating Moody ao nível de “junk”, mostra que a própria
date.
Moody não acredita que o seu remédio excessivamente
The recent severally criticized downgrade of
monetarista vá funcionar, pelo menos não suficientemente
Portugal’s debt by Moody’s rating agency to
bem para evitar a provável renegociação da dívida.
the level of “junk” says Moody’s doesn’t belie-
Nesta situação, se Portugal não fosse um membro da
ve their own excessively monetarist medicine
zona euro iria fazer uma desvalorização substancial da
will work, at least not well enough to avoid
sua moeda, que provocaria uma melhoria imediata da sua
likely renegotiation of the debt.
competitividade internacional e colocaria em prática uma
In this situation, if Portugal were not a member
série de medidas paralelas: reformas estruturais para tirar
of the Eurozone, it would no doubt envisage a
proveito da redução dos custos a fim de gerar crescimento
substantial devaluation of its currency, imme-
liderado pelas exportações, grande redução dos défices or-
diately improving its international competiti-
çamentais, gestão das taxas de juro e a política monetária
veness, and put into place a series of parallel
prever um nível moderado de inflação para ajudar a reduzir
measures: structural reforms to take advantage
a dívida, etc. Tal abordagem não seria indolor - um dos re-
of lower costs to generate export-led growth,
sultados seria um aumento imediato em dívida em moeda
major reduction in government deficits, mana-
estrangeira - mas mostrou-se eficaz no passado, e se bem
gement of interest rates and monetary policy to
gerido, quase certamente proporcionaria uma solução posi-
provide for a moderate level of inflation to help
tiva para a posição muito difícil que tem hoje Portugal.
reduce debt, etc. Such an approach would not
Mas Portugal não pode desvalorizar: é um membro da
be painless - one result would be an immediate
zona Euro, sem controlo sobre o valor da sua moeda,
increase in foreign-currency debt - but it has
sobre as suas políticas monetárias nem sobre o nível das
proven effective in the past, and if well mana-
suas taxas de juro. Tudo isto é determinado pelo Banco
ged, would almost certainly provide a positive
Central Europeu, estabelecido para responder às neces-
solution to the very difficult position Portugal is
sidades de um país, a Alemanha, copiando o modelo do
in today.
Banco Central Alemão, estabelecido para responder às
But Portugal cannot devalue: it is a member of
necessidades de um país, com uma forte orientação para a
the Eurozone, with no control over the value of
exportação industrial e com um particular foco no controlo
its currency, nor its monetary policy and level
da inflação, de um tempo em que a Europa beneficiaria de
of interest rates. These are set by the Europe-
uma taxa de inflação moderada.
an Central Bank, copied after the German Cen-
Penso que o mundo tornou-se excessivamente dominado
tral Bank, established to respond to the needs
por uma abordagem monetária, com ênfase excessiva na
of a country, Germany, with a strong export-
protecção de bancos e banqueiros, e pouca atenção dada
oriented industrial base which can accept a
ao desemprego. Tal aproximação revela-se curta de vistas,
strong currency and with a singular focus on
potenciadora de sentimentos anti-europeus em vários
controlling inflation, at a time when much of
países e arrisca por em causa as fundações do sucesso
Europe would benefit from a moderate level of
europeu.
inflation.
O Euro, e as políticas do Banco Central Europeu, clara-
I think the world has become excessively do-
mente não respondem às necessidades actuais de Portu-
minated by a monetary approach, with exces-
gal (ou a Grécia ou a Irlanda, e alguns outros).
sive emphasis given to protecting banks and
Assim, deve considerar Portugal deixar o Euro? Em Bruxe-
bankers, and too little attention given to taking
las e nos gabinetes de Governo em Lisboa, tal alternativa
care of the unemployed. Such an approach is
continua a ser impensável.
short-sighted, will strengthen anti-European
É evidente que os riscos económicos e de mercado e os
sentiment in many countries and risks threate-
custos a curto prazo de deixar o Euro seriam muito eleva-
ning the very foundation of European success.
dos, mas é muito menos claro se os custos de longo prazo
The Euro, and the policies of the European
seriam maiores do que o que Portugal tem agora de
➤
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 83
The Financial Crisis A Crise Finaceira
➤
Central Bank, clearly do not respond to the
➤
enfrentar. Eu acho que seria do interesse do Governo
current needs of Portugal (or Greece, or Ire-
Português reunir uma equipa pequena e discreta para ana-
land, and certain others).
lisar em que condições seria possível deixar o Euro.
So should Portugal consider leaving the Euro?
Que tal passo não é mesmo considerado é preocupante.
In Brussels and in Government offices in Lis-
Sempre que conhecimento convencional, é tão dominante
bon, such an alternative remains unthinkable.
que as alternativas não são sequer examinadas, tal dog-
It is evident that the economic and market risks
matismo pode levar a erros graves.
and the short-term costs of leaving the Euro
Mas, claro, o euro é mais do que apenas uma moeda, é
would be very high, but it is much less clear
uma declaração política, um marco importante burocracia
that the long-term costs would be higher than
que na construção de uma Europa unida e democrática.
what Portugal is now facing. I think it would
Tanto a burocracia da UE como a do BCE temem que se
be in the interest of the Portuguese Govern-
um membro da zona euro deixar o Euro, todo o sistema
ment to bring together a small, discreet team
poderia se revelar, colocando um forte travão no movimen-
to examine under what conditions it might be
to de integração europeia.
possible to leave the Euro.
Os Português estão bem conscientes de que têm benefi-
That such a step is not even considered is
ciado enormemente adesão à União Europeia, e Portugal
troubling. Whenever conventional wisdom is
tem sempre desempenhou um papel importante e positivo
so dominant that alternatives are not even
na sua evolução. Como resultado, nenhum Governo Por-
examined, such dogmatism can lead to serious
tuguês iria encontrar a vontade política de deixar o Euro,
mistakes.
dando um passo que poderia ir tão radicalmente contra o
But of course, we must recognize that the Euro
movimento de integração europeia.
is more than just a currency, it is a political
O mesmo acontece com Portugal só tem a opção de ser
statement, a major milestone in the construc-
um “bom aluno”, preso na camisa de força do euro, subser-
tion of a united and democratic Europe. Both
viente à ortodoxia monetarista dominante da troika, sofren-
the EU and ECB bureaucracy fear that if a
do através de anos de recessão com poucas perspectivas
Eurozone member were to leave the Euro, the
de melhora significativa?
whole system might unravel, putting a serious
Acho que não. Uma vez que os problemas que Portugal
brake on the European integration movement.
enfrenta reflectem um problema europeu, as soluções de-
The Portuguese are well aware that they have
vem ser desenvolvidas num contexto europeu.
enormously benefited from membership in the
O Governo Português pode e deve tomar a iniciativa, de
EU, and Portugal has consistently played an
propor à UE que coloque em prática, em paralelo com as
important and positive role in its evolution. As
medidas existentes que sabemos que terão um impacto
a result, no Portuguese Government would
negativo sobre o crescimento, as soluções positivas que
find the political will to leave the Euro, taking
irão gerar crescimento e emprego. Estas medidas reque-
a step that would so radically go against the
rem imaginação e dinheiro, mas vão garantir que o proces-
movement of European integration.
so de volta à boa saúde financeira e económica funcione,
So does Portugal only have the choice of being
em benefício de interno. Portugal, do Euro e da UE.
a “good student”, stuck in the straight-jacket of
Portugal precisa de atrair investimento estrangeiro e
the Euro, subservient to the dominant moneta-
precisa de gerar um ambiente interno mais empreende-
rist orthodoxy of the troika, suffering through
dor. Encontrou-se 78 milhões de dólares para os credores
years of recession with little prospect of signifi-
Portugueses; Não podem 1-2 Mil Milhões ser encontrados
cant improvement?
para gerar uma dinâmica positiva? Esse dinheiro poderia
I think not. Just as the problems facing Portu-
ser usado para colocar em cena novas iniciativas, como
gal reflect a European problem, so the so-
por exemplo:
lutions should be developed on a European
– Incentivos fiscais - por que não permitir uma taxa de
stage.
imposto muito mais baixa para qualquer actividade empre-
The Portuguese Government can and should
sarial recém-criada, por um período temporário de 5 anos,
seize the initiative, to propose to the EU
com a plena aprovação e acompanhamento cuidadoso por
that it put into place, in parallel with existing
parte da UE?
measures which we know will have a negative
– Portugal tem relações privilegiadas com o Brasil, com
impact on growth, positive solutions which
Angola e noutros países - por que não criar um ou mais
84 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
➤
➤
will generate growth and employment. Such
➤
bancos de investimento / desenvolvimento, com os accio-
measures will require imagination, and mo-
nistas da UE e destes países, para promover o investimen-
ney, but they will ensure that the process of
to e a exploração em comum?
returning to financial and economic good he-
– Pergunte-se a qualquer empresário francês que tenha
alth will work, to the benefit of Portugal, the
trabalhadores portugueses e ele dir-lhe-á que estes são os
Euro and the EU.
melhores trabalhadores que tem. E há um grande núme-
To generate growth and employment, Portugal
ro de Português expatriados que se tornaram líderes em
needs to attract foreign investment and needs
Londres, Paris, Nova York, Pequim e São Paulo, e que,
to generate a more entrepreneurial domestic
sem dúvida, estarão motivados a contribuir para o desen-
environment. Many ideas could be explored:
volvimento de Portugal. Não será possível serem explora-
Fiscal incentives - why not permit a much
das medidas para atrai-los a regressar a Portugal, ou para
lower corporate tax rate for any newly created
explorar o recurso da comunidade de expatriados de Portu-
activity, for a temporary period of 5 years, with
gal para contribuir para o desenvolvimento de Portugal no
the full approval and careful monitoring by the
estrangeiro, em parte para compensar a perda do espírito
EU?
empreendedor dos 100.000 portugueses que deixam Por-
Portugal has privileged relationships with
tugal em cada ano, por falta de empregos e oportunidades
Brazil, with Angola and certain other coun-
de carreira?
tries - why not create one or more investment/
– Poucas pessoas estão conscientes que muitas grandes
development bank located in Portugal, with
empresas europeias consideram as suas operações indus-
shareholders from the EU and from these
triais em Portugal como das mais produtivas no Mundo,
countries, to promote investment and joint
competindo com custos muito competitivos para mercados
business?
de nicho. Muito mais poderia ser feito, com a ajuda de
Ask any French industrialist who has Portu-
companhias com investimentos já existentes, e a EU, para
guese workers and he will tell you they are the
explorar a atractividade do país, possivelmente através
best workers he has. Yet the Portuguese in
de uma entidade com base na EU especificamente criada
Portugal do not have such a reputation. Could
para ajudar a trazer investimento para o país.
not measures be explored to attract Portugue-
– O sector do turismo representa um potencial imenso de
se to return to Portugal, in part to counteract
desenvolvimento, contudo o acordo da troika quase não
the loss of the entrepreneurial spirit of the
menciona o assunto. Um estudo feito pela EU para exami-
100,000 Portuguese who leave Portugal each
nar os correntes impedimentos ao desenvolvimento turís-
year, for want of jobs and career opportuni-
tico, seguido de um fundo para a promoção de projectos
ties?
turísticos, é claramente uma outra via a ter em conta.
There are a number of large European com-
– Da mesma forma, o potencial agrícola de Portugal para
panies which have highly productive industrial
a exportação e para a substituição da importação é larga-
operations in Portugal, producing for niche
mente subdesenvolvido, e necessita de estudos e fundos
markets. Why not regroup them, with large
para promover o lançamento de numerosos projectos.
companies from elsewhere, into a EU funded
– Portugal necessita de mais formação em empreendedo-
structure, which will specifically assist in brin-
rismo e deveria encorajar as suas universidades e escolas
ging investment into the country?
de gestão e economia a desenvolver parcerias com univer-
The tourism sector represents enormous
sidades estrangeiras que tenham elaborado activamente
potential for development, yet the troika agre-
planos de empreendedorismo.
ement hardly mentions the subject. A EU
A família da EU tem um know-how considerável na promo-
inspired study to examine the impediments to
ção do desenvolvimento: O Banco Europeu para a Recons-
tourism development, followed by funding for
trução e Desenvolvimento, que desenvolveu um know-how
the promotion of tourism projects, is clearly
significativo com o seu trabalho na Europa de Leste, o
another avenue to examine
Banco de Investimentos Europeu, ou uma nova entidade
Similarly, Portugal’s agricultural potential for
fundada pelos membros da zona Euro, poderiam servir de
export markets is grossly under-developed,
veículos à reunião de know-how existente a fim de catalisar
and needs studies and funding to promote the
e fundar projectos dos países periféricos da zona euro.
launch of numerous projects
Poder-se-ia começar pela organização de uma mesa re-
Portugal needs more entrepreneurship
➤
donda, patrocinada pela EU e Governo português,
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 85
The Financial Crisis A Crise Finaceira
➤
education, and should encourage its univer-
➤
convidando à participação de líderes governamentais
sities and business schools to develop part-
e da indústria e comércio, incluindo os portugueses da
nerships with universities elsewhere that have
diáspora, e elementos representativos de potenciais inves-
elaborated extensive entrepreneurship activity.
tidores, para identificar objectivos específicos e propostas
The European Bank for Reconstruction and
concretas para o desenvolvimento do país.
Development, which has developed considera-
Portugal é um mercado pequeno onde a União Europeia
ble knowhow from its work in Eastern Europe,
pode testar as suas novas ideias com um risco muito
the European Investment Bank, or a new entity
reduzido e aplicar as de sucesso de forma mais vasta aos
funded by Eurozone members, could serve as
outros países periféricos.
vehicles to catalyze and fund projects for peri-
Preocupa-me a ideia de que os burocratas em Bruxelas,
pheral countries in the Eurozone.
Frankfurt, Washington
Portugal is a small market, and the European
sam estar a viver num mundo fechado e não tenham sido
Union can test new ideas there, at minimal
treinados para perceber o impacto das suas decisões na
risk, and apply the successful ones more broa-
vida das pessoas comuns.
dly to other peripheral European countries.
Talvez seja demasiado arriscado sair do Euro, mas Portu-
One could start by organizing a broad round-
gal precisa de dizer à União Europeia para acordar para o
table discussion, sponsored by the EU and the
facto de ao não estar a fazer nada de positivo está também
Portuguese Government, inviting the participa-
a pôr em risco toda a estrutura europeia reforçando as
tion of Portuguese business and Government
posições dos partidos anti-europeus e contribuindo para
e ministérios governamentais pos-
leaders, including expatriate Portuguese who
prováveis manifestações da «Primavera Europeia» que
have become leaders in London, Paris, New
poderão se espraiar para além das ruas da Grécia. Se
York, Beijing and Sao Paolo, and who would
os Europeus começarem a fazer realmente a sua voz ser
no doubt be motivated to contribute to the de-
ouvida, a impopularidade da burocracia da EU arrisca-se a
velopment of Portugal.
tornar-se numa torrente. A EU não fez um bom trabalho na
Financial rigor, imposed by the rating agen-
sua auto-promoção, pelo contrário, a visão populista está
cies, the IMF, the EU and the ECB, will not be
na ordem do dia.
enough to save the Euro. On the contrary, the
Se a EU e o BCE estão com tanto medo das consequên-
policies being applied, if pursued alone, may
cias de uma eventual saída do Euro, então deveriam provi-
well lead to the destruction of the Euro and
denciar medidas para o crescimento do empreendedorismo
much of the success of the EU.
e da criação de empregos, para salvar tanto o Euro como
Portugal’s situation is a case in point. Unless
uma continuada evolução para uma União Europeia verda-
some positive impetus is added to the agree-
deiramente democrática e popular.
ments Portugal has signed with the troika, the
Não é impossível impor rigor ao mesmo tempo que se
likelihood of continued economic decline, with
acrescenta níveis de crescimento e criação de empre-
serious political repercussions, is high. If the EU
go. Mas é necessário um ímpeto positivo e imaginação,
and the ECB are so afraid of the consequences
algo muito contrário à visão convencional e asfixiante dos
of an eventual departure from the Euro, then
monetaristas – pese embora, politicamente correcta - de
they should provide for new, entrepreneurial
«devemos proteger os bancos a todo o custo», «deficits
growth and employment opportunities, to save
são sempre maus» e «a mãe de todos os problemas é a
both the Euro and the continued evolution to-
inflação». As medidas de vistas curtas ou básicas revelam-
wards democratic and popular European union.
se inapropriadas para tempos como estes em que esta-
Just as Portugal’s peaceful and impressive
mos.
evolution from a long dictatorship to a healthy
Tal como a impressionante evolução pacífica de Portu-
democracy after the 1974 revolution served as
gal de uma longa ditadura até uma saudável democracia
an example for newly created democracies of
pós-25 de Abril serviu de exemplo para as recentemente
Eastern Europe, can Portugal not once again
criadas democracias da Europa de Leste, não poderá ago-
be on the forefront of new initiatives which can
ra Portugal estar de novo na vanguarda de novas iniciati-
provide a permanent, long-term solution to
vas que possam providenciar soluções permanentes e de
the multiple crises which Europe and the Euro
longo termo para as múltiplas crises que a Europa e o Euro
appear likely to face?
parecem ter que vir a enfrentar?
n
86 • Diplomática - OUTUBRO 2011
n
Cultura
Instituto Camões preside à EUNIC Plenário de Lisboa provoca salto qualitativo
A ideia inicial de «construção conjunta de projetos» evoluiu entretanto no sentido de levar a EUNIC a agir também na «formação e capacitação dos agentes culturais», indica Ana Paula Laborinho, que insere nessa vertente as chamadas «academias de verão» para jovens gestores culturais dos institutos. Antecedendo a reunião de Lisboa, realizou-se na capital portuguesa, organizada pela primeira vez inteiramente por portugueses, através do Instituto Camões (IC), a 4ª edição da «academia de verão» dedicada às indústrias criativas e culturais, cumprindo três objetivos da organização: «partilha, aprendizagem, construção».
Novo modelo e nova fase Com a assinatura dos estatutos, que acontecerá em breve, em Bruxelas, e de acordo com a legislação belga, a EUNIC passa a ser «uma assoA presidência da EUNIC – Institu-
escritório em Bruxelas.
ciação com personalidade jurídica»,
tos Nacionais de Cultura da União
Criada em 2006, a EUNIC é uma
refere a presidente do IC, que revela
Europeia – pelo Instituto Camões,
rede de institutos responsáveis pe-
ainda estar em elaboração «um
que se iniciou a 8 de junho, com a
las relações culturais externas dos
regulamento não só em relação
reunião de dois dias em Lisboa do
Estados membros da UE, congre-
ao funcionamento do escritório em
plenário semestral dos dirigentes
gando presentemente 30 institui-
Bruxelas, mas também em relação
das instituições que a integram, vai
ções de 26 países. O seu objetivo
ao funcionamento dos clusters, ou
coincidir com um «salto qualitati-
principal é promover a cooperação
seja, como é que estes se relacio-
vo» no funcionamento desta rede
cultural, mediante parcerias entre
nam com a equipa da presidência da
europeia.
os profissionais dos setores cultu-
EUNIC e como é que representam,
A reunião de Lisboa marcou o
ral, educativo e da juventude, «ten-
de alguma forma, a EUNIC».
arranque prático de uma série de
do em vista um maior entendimento
«Este será também um momento
transformações na EUNIC, que «já
da diversidade cultural e linguística
em que, ao contrário do que acon-
vinham sendo discutidas há algum
europeia».
tecia – em que o projeto era su-
tempo», segundo a Presidente do
Mas a sua peculiaridade maior
portado financeiramente sobretudo
Instituto Camões, Ana Paula Labo-
é o facto de as antenas desses
pelo Goethe Institut e pelo British
rinho, e na penúltima reunião dos
institutos espalhadas pelo mun-
Council – os institutos parceiros
seus dirigentes, realizada em Bru-
do se agruparem localmente em
deste projeto vão todos eles contri-
xelas, em dezembro de 2010, «foi
núcleos (os clusters, na linguagem
buir, na medida da sua dimensão,
decidido criar um estatuto jurídico
da organização), que desenvolvem
para o orçamento geral da EUNIC»,
para a EUNIC», que lhe dá «perso-
iniciativas conjuntas com a marca
afirma a presidente da EUNIC,
nalidade jurídica», e dotá-la de um
cultural europeia.
terão assim «um maior envolvimento ➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 87
Instituto Camões preside à EUNIC
seu plano de atividades».
belecimento de parcerias através
Projetos com envolvimento da EUNIC
Do novo modelo da EUNIC fazem
da EUNIC, que vai ser desenvolvido
– A EUNIC preside à Plataforma
ainda parte as reuniões regionais,
e prosseguido, e a mesma coisa
da Sociedade Civil da UE sobre
«em que a Presidência se junta
acontece com as Américas, conti-
o Multilinguismo. Com um sig-
com os clusters de uma grande
nente que foi objeto de uma reunião
nificativo financiamento da UE,
região para debater questões não
regional dos clusters, em maio pas-
o projeto destina-se à criar um
só de organização, mas também
sado, em São Paulo, no Brasil».
Observatório da Língua em linha
➤ na
sua gestão e na elaboração do
de diálogo com a China e de esta-
substantivas». Na génese destas
até dezembro de 2012, destinado
reuniões regionais esteve a realiza-
O que é a EUNIC?
a captar as boas práticas e rea-
ção anual de uma reunião de todos
– A EUNIC é uma rede constituída
lizar investigação nas seguintes
os clusters para partilharem expe-
pelos institutos nacionais de cultura
áreas: recursos locais e regionais
riências, discutirem problemas e
da União Europeia.
de aprendizagem de línguas por
articularem estratégias de atuação.
– Foi fundada em 2006 e, presen-
adultos; política linguística e prá-
Com o crescimento do número de
temente, congrega 30 membros de
tica dos serviços públicos; apren-
clusters, e na constatação de que
26 países.
dizagem precoce de línguas.
estes partilhavam regionalmente
– O seu órgão máximo é a reunião
– O projeto Poliglotti4.eu utiliza
maior identidade na ação e nos
dos diretores dos institutos parti-
a arte, a cultura e os media para
obstáculos com que se defronta-
cipantes, que decorre de seis em
promover o multilinguismo, vi-
vam, pensou-se na organização
seis meses. Além disso existe uma
sando quatro grupos principais:
de reuniões regionais de clusters
«equipa presidencial» de 3 mem-
atores nos sistemas de educa-
com a equipa da Presidência. Em
bros, escolhida por eleição, consti-
ção não-formais e nos serviços
2010, teve lugar a primeira reunião
tuída por um Presidente (desde 8 de
sociais, decisores políticos e
regional, na Europa e, em 2011, já
Junho, o Instituto Camões) e dois
organizações de base da socie-
se realizaram reuniões na África
Vice-Presidentes (Institut Français
dade civil. A fim de aumentar a
subsariana e nas Américas. Ainda
e Wallonie-Bruxelles Internacional),
perceção sobre a importância
este ano, haverá reuniões na África
que vão mudando de funções. O 2º
do multilinguismo na sociedade
do Norte e na Europa de Leste.
Vice-presidente passa a 1º Vice-
em geral, o projeto Poliglotti4.eu
Outro elemento do novo modelo é
presidente e o 1º Vice-presidente
também constituirá uma rede de
o «grupo estratégico». Atendendo
passa depois a Presidente.
embaixadores que são conhecidos
a que «são muitos países, que são
– Atua através de núcleos –os
e multilingues, ou que são parti-
muitas as identidades», o grupo es-
chamados clusters – nos vários
cularmente reconhecidos e ativos
tratégico, com uma «representação
países do mundo, núcleos esses
no domínio do multilinguismo na
alargada», destina-se «de alguma
que congregam as representações
sociedade civil.
forma a pensar o que pode ser
locais dos institutos nacionais de
– Language Rich Europe. Este
a ação conjunta, não apenas em
cultura da UE. Neste momento
projeto, liderado pelo British
termos de organização, mas a ação
existem quase 70 núcleos, desde a
Council reúne parceiros em 16
substantiva da EUNIC».
China, passando por vários países
países, incluindo Goethe Insti-
A função da Presidência da EU-
da Ásia, até às Américas, África e
tut, Instituto Camões, Instituto
NIC pelo IC, que se vai prolongar
Europa (estes em maior número),
Cervantes e Instituto Cultural da
durante um ano, será assim de
que articulam a sua ação com a
Dinamarca. Pretende criar uma
«consolidação desta nova fase» na
Presidência da EUNIC.
ferramenta de medição inovadora
vida da rede dos institutos culturais
– Em setembro, a EUNIC deverá
e interativa, o chamado “Índice
europeus. Mas não apenas. Ana
abrir um escritório em Bruxelas,
de Práticas e Políticas Multilin-
Paula Laborinho refere que «um
com dois funcionários permanentes.
guísticas na Europa”, que permiti-
dos aspetos que tem sido sublinha-
– Anualmente, promove a realiza-
rá visualizar o papel e o apoio ao
do como positivo na presidência
ção de uma Academia de Verão
multilinguismo nos países euro-
portuguesa – cuja primeira vice-pre-
para formação de jovens quadros
peus participantes e destacar as
sidência é francesa – são as nossas
dos membros da EUNIC.
boas práticas. O lançamento será
relações, quer com a Ásia quer com
– A língua de trabalho da EUNIC é
no final de 2011.
o Brasil. Está em curso um projeto
o inglês.
88 • Diplomática - OUTUBRO 2011
n
IC. IP.
Cultura
Homenagem a Malangatana A fim de honrar o grande pintor moçambica-
da Fundação Malangatana).
no Malangatana, falecido recentemente, a
Foi focada quer a faceta artística, quer a
UCCLA, com o apoio da Câmara de Lisboa e
política de um homem que soube lutar pelos
do Conselho Municipal de Maputo organizou
seus ideais universalistas e humanistas e pela
no São Luiz Teatro Municipal um conjunto de
auto-determinação do seu país. Malangatana
eventos que englobou um colóquio e um gran-
entendia Moçambique como uma nação plura-
de espectáculo multidisciplinar coordenado
lista com uma grande multiplicidade cultural e
pelo Arq. João Laplaine Guimarães.
étnica que deveria ser respeitada.
No colóquio “Malangatana: o Homem e as
As suas posições políticas valeram-lhe vários
suas Obras” pudemos ouvir as doutas opi-
dissabores sendo, nos anos de 1960, indi-
niões de um painel ilustre onde se contava
ciado como membro da FRELIMO e encar-
Alfredo Caldeira (da Fundação Mário Soares),
cerado. Este envolvimento profundo com as
António Loja Neves (moderador), Marcelo Re-
questões políticas não poderia deixar de se
belo de Sousa, Maria João Seixas e Mutxhimi
reflectir na sua arte. Esse engajamento há-de
Ngwenya Malangatana (filho e administrador
valer-lhe uma nova prisão, em 1971, pelo
➤
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 89
Homenagem a Malangatana
➤
simbolismo crítico da obra 25 de Setembro,
Artista pluridisciplinar vai abarcar, ao longo
que não deixou de expor, mesmo sabendo
da sua vida as mais variadas formas de arte:
que estava a pôr em risco a sua partida para
da pintura à poesia, da tapeçaria à cerâmica.
Portugal garantida por uma bolsa da Funda-
No seu todo porém, a sua arte está sempre
ção Gulbenkian.
ligada aos acontecimentos políticos e históri-
Menino pobre, sempre trabalhou para con-
cos de Moçambique; primeiro centrando-se na
seguir o mínimo para sobreviver. Para a
questão colonial e mais tarde, com a Indepen-
arte dependeu de mecenas que viram nele
dência do país, no tema da guerra civil.
a promessa de um grande artista. Quando,
Com a maturidade a obra vai evoluindo para
em 1958, ingressa no Núcleo de Artes esse
temas mais amplos e universais até chegar, a
apoio passa, de imediato, a ser dado pelo
partir dos anos 80, a um universo sensualista
Mestre Zé Júlio. Acontece a primeira exposi-
e erótico.
ção colectiva e recebe o apoio do arquitecto
Para que se soubesse um pouco mais deste
português Pancho Guedes. Quatro anos
grande homem e da sua arte, a organização
depois, e com apenas 25 anos de idade, tem
distribuiu á entrada do espectáculo, a bro-
a sua primeira exposição individual no Banco
chura “Malangatana o Homem e as Obras”
Nacional Ultramarino.
resultado do trabalho de coordenação do
90 • Diplomática - OUTUBRO 2011
➤
1
2
4
3
5
1. O Presidente Cavaco Silva e sua Mulher estiveram presentes 2. Embaixador de Moçambique, Maria da Luz de Bragança e Lívio Morais 3. Presidente do Conselho Municipal de Maputo com o Presidente Cavaco Silva 4. Nuno Vaz de Moura 5. Elsa de Noronha com a nossa Directora
➤
Dr. Rui Lourido em parceria com a Funda-
o grupo coral Alma de Coimbra que encerrou
ção Mário Soares e a Fundação Malangatana.
com chave de ouro.
Nesta pequena obra, profusamente ilustrada,
Enquanto iam sendo projectadas imagens de
pode ler-se igualmente os testemunhos de
várias obras de Malangatana, os artistas iam
diversas personalidades.
sendo apresentados por Margarida Pinto Cor-
O espectáculo Luso-Moçambicano, que de-
reia que não se deixou intimidar pela excelsa
correu na Sala Principal do Teatro Municipal
plateia de honra onde se incluía Sua Exce-
de S. Luiz, apresentou um conjunto de artis-
lência o Presidente da República de Portugal,
tas de várias formações e origens. Iniciou-se
Sua Excelência o Embaixador de Moçambi-
com uma récita arrebatadora de poesia por
que em Lisboa, Miguel Costa Mkaima, Pre-
Elsa de Noronha que, de imediato prendeu
sidente da Câmara Municipal de Lisboa, o
a atenção do público. Seguiram-se um vasto
Presidente do Conselho Municipal do Maputo,
número de artistas, ora cantando, ora dan-
o Governador da Província de Luanda e a
çando. Do fado de Mafalda Arnauth às dan-
Directora da Revista Diplomática – Negócios
ças guerreiras do grupo Xispane-Pane, duas
e Diplomacia.
horas passaram velozes na companhia de
Um serão memorável para homenagear um
Camané, André Colaço, Maria João, Mingas e
homem inolvidável.
n
OUTUBRO 2011 - Diplomática • 91
Cultura
Artistas de Angola na Galeria de Arte do Casino Estoril
Júlio Quaresma
Albano Neves e Sousa
A Galeria de Arte do Casino Estoril foi palco da exposição Artistas de Angola, em que participaram os artistas: Albano Neves e Sousa, Abílio Victor, Adão Marcelino, Amílcar Vaz de Carvalho, António Magina, Dília Fraguito Samarth, Domingos Laurindo, Dora-Iva Rita, Edgardo Xavier, Filomena Coquenão, Grácia Ferreira, João Inglês, José Zan Andrade, Júlio Quaresma, Viteix e Vítor Ramalho. A Galeria do Casino Estoril tem tido sempre as suas portas abertas aos artistas dos países de expressão portuguesa aí nascidos ou que aí viveram longos anos e privilegiaram, na sua temática, motivos desses países. A presente exposição insere-se nesta linha de pensamento. Contou com a presença de 17 artistas, na sua maioria nascidos em Angola, mas residentes em Portugal, na sua quase totalidade em Lisboa, e já inseridos no mundo das nossas artes plásticas. Foi objectivo desta exposição facultar aos artistas angolanos um espaço privilegiado para mostrar os seus trabalhos a um público qualificado, na sua maioria estrangeiros que, nesta época do ano, visitam o Estoril, mas também proporcionar uma visibilidade, sem dúvida útil, ao conjunto de artistas participantes, muitos dos quais são titulares de currículos artísticos significativos. É o caso de Júlio Quaresma, Neves e Sousa, ZAN, Dília Fraguito, Viteix, Dora-Iva Rita, João Inglês e outros mais. De referir também o nome de Abílio Victor, um engenheiro químico, nascido em Lucala, desconhecido do grande público e que se especializou na pintura de animais (principalmente aves) e outros temas da natureza, sem esquecer as pessoas que ai vivem, sempre com inegável qualidade artística. A exposição integrou também uma homenagem ao pintor Albano Neves e Sousa, grande pintor angolano, que realizou na galeria do Casino exposições individuais e participou em dezenas de colectivas. Sem dúvida um dos pintores que mais e melhor pintou as terras e as gentes de Angola.
92 • Diplomática - OUTUBRO 2011
n
Parabéns a Helena Daget
A revista Eles & Elas completou 30 anos e a festa, que teve lugar no Restaurante Aura, em Lisboa, foi de arromba. Numa belíssima noite de Verão foram imensos os amigos, bem como as figuras conhecidas das mais variadas áreas, que fizeram questão de prestigiar tanto a revista, que completou três décadas, como a sua directora, Maria da Luz de Bragança. Cumprindo a tradição, a Estátua da Verdade, uma peça concebida em bronze pelo escultor Francisco Simões, foi de novo entregue durante o evento. Aliás, desde o primeiro ano da sua existência que a Eles & Elas homenageia as figuras mais relevantes da sociedade portuguesa nas mais diversas áreas. Este ano a Estátua da Verdade foi entregue à consagrada empresária Helena Daget, uma mulher que triunfou num universo de extrema concorrência e é a presidente da empresa Techdrill, sedeada nos Estados Unidos, uma companhia que dá cartas no universo da perfuração petrolífera. Aquando da entrega do prémio, Helena Daget, claramente emocionada, agradeceu a honra que lhe havia sido concedida, afirmando que embora já tenha sido a recipiente, noutras ocasiões, de prémios relativos ao seu trabalho, esta foi a primeira vez que tal sucedeu no seu país de origem, algo que a deixou extraordinariamente grata. Amante confessa da sua terra natal e das belezas lusas, Helena Daget é bem o exemplo do melhor que a pequena grande nação portuguesa tem dado ao longo dos séculos ao mundo. De parabéns estão, assim, o universo empresarial, tanto nacional quanto internacional mas também a revista Eles & Elas.
94 • Diplomática - OUTUBRO 2011
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English & French texts
7. The pearls of Lusophony Four countries are leaving a strong mark in the universe of Lusophony. Brazil, an emerging giant and a leader in the affirmation of Lusophony are strengthening their bonds and assistance to its former ex-colonial country, now clearly going through a steep depressive crisis. Overcoming the last remnants of a dramatic independence, Angola has become the country of destiny for many new work and business opportunities for thousand of Portuguese individuals. Mozambique is also given signs of a strong growth, built upon huge projects that make the best of its natural resources, aided by all the investments made around the oil franchise, thus given signs of new hope for the consolidation of a still young democracy. At the same time, Cape Verde’s is searching in international aid and in the search for foreign investment all the necessary help to overcome the factors that have so far stopped its sustainable development.
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7. Les Perles de la Lusophonie Quatre pays se distinguent dans le monde lusophone. Brésil, un géant émergent et un leader dans la déclaration Lusophones renforce les liens et les aides à l'ancienne puissance coloniale,traverse actuellement une phase dépressive. Dépassé les restes d'une indépendance dramatique, l'Angola est devenu un pays de destination pour le travail et de nouvelles opportunitées de milliers de Portugais.Le Mozambique a également des signes positifs de croissance élevé, basé sur des méga-projets pour l'exploitationde ses ressources naturelles,et a obtenu un nouvel éclat avec les investissements réalisés dans le domaine de l'exploration pétrolière, tous les signes encourageants de consolidation de la démocratie encore jeune.Alors que la demande au Cap-Vert et l'aide internationale pour attirer les aides directes aux investissements étrangers nécessaires pour surmonter les facteurs inhibant son développement durable.
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10. XVI Meeting of CPLP revealed core strategy The promotion, protection, enhancement and dissemination of the Portuguese language as a vehicle of culture, education, information and access to scientific and technological knowledge and use in international forums, was one of the fundamental decisions of the sixteenth meeting of the CPLP countries, which had the presence of the Portuguese Minister of Foreign Affairs, Paulo Portas, in what was his first official visit abroad since taking the job. In a global space affected at present by an unprecedented crisis, it is important to note the purposes announced at this particularly important meeting of the CPLP, mainly the supporting of measures that will, namely, point to the promotion of the growth and development of the member states that are at their most vulnerable. Another important factor to note was the emphasis placed on the Plan of Action for the Promotion of Brasília for the Broadcast and Projection of the Portuguese Language, in regard to the consolidation of Portuguese as official and working language in international organizations, particularly those in which the CPLP is represented. When trying to extend its scope of action, one of the measures to be implemented in the near future, regards the relationship with the UN and, in particular, with its Security Council.
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10. XVI e Réunion de la stratégie de la CPLP a révélé coeur La promotion, la protection et l'amélioration et la diffusion de la langue portugaise comme véhicule de la culture, l'éducation,l'information et l'accès aux connaissances scientifiques et technologiques et l'utilisation dans les forums internationaux, a été l'une des décisions fondamentales de la seizième réunion des pays de la CPLP, qui avait la présence du ministre portugais des Affaires Étrangères, Paulo Portas, depuis sa prise de l'emploi. Dans un espace global actuellement touchés par une crise sans précédent, il est noté dans le but de la réunion l' annonce, lors de la réunion de la CPLP, des mesures pour soutenir, qui pointent à la promotion de la croissance et le développement des Etats membres les plus vulnérables. Un autre facteur important a été l'accent mis sur le Plan d'Action pour la Promotion de Brasilia, la diffusion et de projection de la langue portugaise, en termes de la consolidation,en tant que langue officielle et de travail dans les organisations internationales, en particulier lorsque la CPLP est représentée. Une des mesures à mettre en ?uvre dans un proche avenir, concerne les relations avec l'ONU et, en particulier, le Conseil de Sécurité.
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OUTUBRO 2011 - Diplomática • 95
English & French texts
12. Portugal, Europe, Emerging World The current chief executive of the Portuguese BIC Bank, Luís Mira Amaral says that Portugal faces an extremely difficult economic and financial situation, being caught in the so-called full sovereign debt crisis of the peripheral countries of the Eurozone. Recalling that the global economical geography of the 21st century has changed much from what it was in the 20th century, Mira Amaral stated that we now have China and India overtaking the U.S. as the major world economic powers, recalling, on the other side, that in global economy, major emerging countries also stand out in Lusophony space, as is the case of Brazil (a rising star at world level) and Angola, as a regional economic and military in southern Africa, where the hegemony was detained until now by South Africa. Finally, he states that Portugal will have to engage itself more and more, between the EU side and its Lusophony dimension, which requires a great rapport and strategic cooperation between the political power and the Portuguese entrepreneurs.
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12. Portugal, Europe, Monde émergents Actuel Directeur Général du BIC Banco portugais, Luís Mira Amaral affirme que le Portugal fait face à une situation économique et financière extrêmement difficile, d'être pris dans la soi-disant crise de la dette totale souveraine des payspériphériques de la zone euro. Rappelant que la géographie économique du XXI siécle a beaucoup changé a ce qui concerne à la situation au cours du siècle.XX, Mira Amaral a affirmé que nous avons maintenant la Chine et l'Inde à dépasser lesEtats-Unis, comme les pouvoirs du premier monde économique,rappelant, de l'autre côté, l'économie mondiale, les grandes économies émergentes qui se distinguent également dans l'espace lusophone, comme c'est le cas du Brésil (une étoile montante et le niveau monde) et en Angola,en tant que puissance économique et militaire regionalen Afrique australe, où l'hégémonie a été détenu jusqu'à présent par l'Afrique du Sud. Pour conclure, en affirmant que le Portugal aura à jouer, à chaque fois, entre le côté de l'UE et la dimension lusophone, qui demande un bon rapport, et de la coopération stratégique entre les politiques et les entrepreneurs portugais.
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14. Lusophony, a Large Soul Maria de Belém, the current bench leader of the Socialist Party in Parliament, addresses the question of how the portuguese language has become an instrument of aggregation within the portuguese speaking world, the result of different influences and experiences that have made it rich and expressive, alive, and adaptable to both the world of today and of tomorrow. A wealth that can be more experienced, when looking at Lusophony as a rich tool, not only from a cultural point of view, but emphasizing its value as incalculable in terms of politics and economics. That is why it makes sense tfor it to be tapped as the aim of assertion, and in the search for new geostrategic designs. In a Europe in crisis, both in terms of values a nd economics, Maria de Belém argues that Portugal must acquire a new dynamic that carries it beyond the European area, a link that may renew and nourish its diaspora and revive the entire body of the world of Lusophony, in order to make it feel good, “because it feels amongst his own kind”.
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14. Lusofonia, une Grande Âme Actuel leader du groupe parlementaire du Parti Socialiste, Maria de Belem aborde la question de savoir comment la langue portugaise est devenue un instrument agrégateur du monde de la lusofonie, un produit d'influences et diferents expériences, ce qui fait sa richesse et expressif, vif, adaptable à l'univers du present et de l'avenir. Une richesse qui peut être plus vif, face à la Lusofonia, non seulement du point de vue culturel, mais en soulignant le valeur inestimable en termes politique et économique. C'est pourquoi il est logique qu'il soit exploité que dans le but d'affirmation, de trouver de nouveaux désirs géostratégiques. Dans une Europe en crise, les valeurs et l'économie, affirme Maria de Belem que le Portugal doit acquérir une nouvelle dynamique, que le transport au-delà de l'espace européen, un lien de renouveler et nourrir notre diáspore et que le fait se lancer, de tout le corps, dans le monde lusophone, où il se sent bien, “parce qu'il se sent parmi les siens."
96 • Diplomática - OUTUBRO 2011
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16. Eng. Anacoreta Correia, secretary-general of UCCLA He has worked as a state councillor, a former minister, European Deputy and is the most visible face of UCCLA (Union of the Portuguese-speaking Capitals), an organization that fights to bring together people from the various cities, located in five continents, where Portuguese is spoken, developing a wide cultural, socioeconomic and geo-strategic activity, particularly in the expansion and defense of the language of Camões and national companies. Anacoreta Correia states that in a situation of global competitivity one should promote the entry of domestic companies in the emerging Portuguese speaking nations, advocating a more active presence in Brazil’s UCCLA.
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16. Eng Anacoreta Correia, secrétaire général de l'UCCLA Il a été consillier d'Etat, ancien ministre, député européen, est la face la plus visible de l'UCLA (Union des Capitales de La Langue Portugaise), une organisation qui se bat pour rapprocher les peuples des villes situées sur les cinq continents où le portugais est parlé, pour développer une action globale culturel, socioéconomiques et géostratégiques, en particulier l'expansion et la défense de la langue de Camões et des sociétés nationales. Anacoreta Correia soutient que dans un contexte de concurrence mondiale croissante, nous devrions encourager l'entrée des entreprises nationales dans les marchés émergents, parlant, luttant pour une presence plus actif de l'UCCLA au Brésil.
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24. Mário Vilalva, Ambassador of Brazil in Portugal Adept of the so-called economical diplomacy, the Ambassador of Brazil in Portugal highlights how, after twenty years elapsed before his return to Lisbon, he found a different country, a more modern one, and states that one of his main objectives is the strenghtening of trade relations between Brazil and Portugal. Mario Vilalva announces the creation of a new economical instrument for cooperation, named Business Intelligence, that aims to help companies to export to its brother country, identifying existing obstacles and stressing how crucial it is to establish an agreement between Mercosul and the European Union.
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24. Mário Vilalva, Ambassadeur du Brésil au Portugal Adepte de la diplomatie économique appelée, l' Ambassadeur du Brésil au Portugal met en évidence comment, après vingt ans se sont écoulés après son retour à Lisbonne, il a trouvé un pays différent, plus moderne, affirmant que l'un de ses principaux objectifs c'est le renforcement des relations commerciales entre le Brésil et le Portugal. Mário Vilalva annonce la création d'un nouvel instrument de coopération économique, appelé Business Intelligence, avec le but d'aider les entreprises portugaises à exporter vers le pays frère , l'identificant des obstacles créés, il insiste, soulignant qu'il est crucial d'établir un accord entre le Mercosur et l'Union Européenne.
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34. Miguel Costa Mikaima, ambassador of Mozambique The Mozambican diplomatic representative in Lisbon talks of bilateral relations, that are getting increasingly profitable, between Portugal and Mozambique, noting that to attract Portuguese investment has been one of its objectives, having with that in mind, created a specific sector for that effect in the embassy. Fighting problems such as hunger and poverty in his country has become a key issue in governance, at a time when the former colony celebrates its 25 years of post-independence by contributing to what he calls “the recovery of self-esteem of the Mozambican people”. Married and with four children, Michael Mikaima appreciates the hospitality of the Portuguese, emphasizing the full integration into society of his countrymen.
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34. Miguel Costa Mikaima, Ambassadeur de Mozambique Le représentant du Mozambique à Lisbonne parle sur les relations bilatérelles,en plus rentable,entre le Portugal et le Mozambique, en soulignant que d'attirer les investements portugaises a été l'un de ses objectifs, créant même un departement spécifique dans ce sujet dans l'ambassade. Il afirme que le combat contre la faim et la pauvreté dans son pays est devenu une question clé en matière de gouvernance, à une époque où l'ancienne colonie célèbre ses 25 ans dans la post-indépendance, ce qui contribue à ce qu'il appelle «la récupération de l'estime de soi du peuple mozambicaine». Marié, avec quatre enfants, Michael Mikaima apprécie l'hospitalité des portugais, en insistant sur la pleine intégration, dans la société, de ses compatriotes.
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OUTUBRO 2011 - Diplomática • 97
English & French texts
57. Day of Portugal and Camões More than seven thousand people attended the celebrations of Day of Portugal and Camões, the great poet who perpetuates in his work the Lusíadas the story of the Portuguese Discoveries. This year the ceremonies took place in the city of Castelo Branco and the focus in the speech of the President was on the call for the people to go back to the countryside and to working in agriculture, an area that has been terribly neglected in recent years, and also appealing to the political powers for more determinant action in this sector. The entire credited diplomatic corps in Portugal was present for the usual greetings ceremony to Cavaco Silva, and the official ceremonies were followed by a show in the Gardens of the Palácio Episcopal, starring Luís Represas and Teresa Salgueiro.
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57. Le Portugal et la Journée de Camões Plus de sept mille personnes ont assisté à la célébration de la Journée du Portugal et de Camões, le grand poète qui perpétue dans les Lusíadas, la geste des Découvertes portugaises. Les cérémonies ont eu lieu cette année dans la ville de Castelo Branco et l'accent mis dans le discours du Président de la République abouti à l'appel à la ruée vers la campagne et l'agriculture, qui a été tellement négligée ces dernières années, faisant appel aux pouvoirs politiques à une action décisive dans le secteur. Tout le corps diplomatique credité au Portugal a eté présent dans l'habituelle cérémonie de compliments devant Cavaco Silva, suivie d'un spectacle dans les jardins du Palais de l'Evêché, où ont chanté Luis Represas et Teresa Salgueiro.
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40. Passos Coelho, a “portrait” of the new Prime Minister A liberal reformer, feisty, stubborn, tough fight insofar as the party is concerned, the African continent has been branded in his life, having spent there his youth, and shaped his experience in a multiracial spirit that remains until today. On the very night he was elected, Passos Coelho recalled the role that Portugal can play in establishing this “bridge”, perhaps crucial for the survival of the country, between the portuguese-speaking Africa and Europe. The tasks of the new Executive were outlined right at the inauguration speech: to stabilize the finances, help the needy and make sure that the economy and employment were to grow. All at the expense of the austerity measures imposed by the “troika”, measures that he intends to comply with as strictly as possible, in order to give a positive sign that Portugal is on track to its economic recovery.
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40. Passos Coelho, un «portrait» du nouveau Premier Ministre Un réformateur libéral, fougueux, opiniâtre, dur dans le combat au parti, le continent africain a marqué, dans sa vie, où il a passé sa jeunesse, le façonnage de leur expérience dans l' esprit multiraciale, qui reste aujourd'hui. Dans la nuit même où il a été élu, Passos Coelho a rappelé le rôle que le Portugal peut jouer dans l'établissement de ce «pont», peut-être crucial pour la survie du pays, entre le monde africaine lusophone e l' Europe. Les tâches du nouvel exécutif, il les a énoncés à droite au discours d'investiture: stabiliser les finances, aider les nécessiteux et la croissance de l'économie et l'emploi. Le tout aux frais des mesures d'austérité imposées par la «troïka» et qu'il entend se conformer strictement, afin de donner un signe positif que le Portugal est sur la bonne voie du redressement économique.
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87. Instituto Camões presides EUNIC The presidency of the Instituto Camões EUNIC will coincide with “a qualitative leap in the functioning of this European network responsible for the external relations of the EU member states, currently bringing together 30 institutions in 26 countries, and whose objective is to promote cultural cooperation by partnerships between professionals of the cultural, educational and youth sectors”. As Ana Paula Laborinho, the president of the IC, revealed, according to the signature of the new statutes, EUNIC becomes an “association with legal personality.”
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87. Instituto Camões chaises EUNIC La présidence de l'EUNIC par l'Instituto Camões coincidera avec «un saut qualitatif dans le fonctionnement de ce réseau européen”, responsable pour les relations extérieures des Etats membres de l'Union Européene, réunissant actuellement 30 établissements dans 26 pays, et dont l'objectif est de promouvoir la coopération culturel, grâce à des partenariats entre les professionnels des secteurs culturels, éducatifs et de la jeunesse. "En tant que président de l'IC a révélé, Ana Paula Laborinho, selon la signature des nouveaux statuts, EUNIC devient "une association ayant la personnalité juridique."
98 • Diplomática - OUTUBRO 2011
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