Diplomática n.º11

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´ Diplomatica

Nº11 AGOSTO/OUTUBRO 2011 4 (Cont.)

business & diplomacy

Dossier

Lusofonia

Um mundo económico, cultural e político Diplomática 11 • Agosto a outubro 2011

Em destaque Embaixadores Brasil e Moçambique CPLP e UCCLA Festas nacionais: E.U.A., Rússia, França, Itália, Luxemburgo, Israel e Eslovénia

With English & French Texts

4 • Diplomática - Junho/Julho 2008


um estilo de vida!

Vilas, Suites & Quartos O complexo dispõe no hotel de 201 quartos com uma decoração moderna – incluindo 21 suites, divididas em 17 júnior suites, 3 suites de luxo, uma magnífica suite presidencial e 20 vilas, com lodo o luxo e conforto necessários para tornar a sua estadia inesquecível. Todos os quartos dispõem das tecnologias mais avançadas de climatização, segurança e comunicação, telefone e internet (2 ligações com 4Mbps cada), mesa de trabalho. TV Cabo com 48 canais, TV LCD, serviço de quartos 24hrs, limpeza e serviço de turndown diários, cofre e secador de cabelo. O luxo atinge o seu expoente máximo com distintas e elegantes Vilas, todas com 3 quartos que poderão ser perfeitas para estadias curtas bem como para estadias mais prolongadas. Mais do que um Hotel, o HCTA é um espaço refrescante, sensual e incomparável para recuperar os seus sentidos, onde a tradição foi capturada e transformada em elementos únicos e sofisticados com o objectivo de criar uma ligação culural com os hóspedes.

capacidade das Salas

Banquetes e Conferências



Nota do Editor

Editor's note

Tempos terríveis

Hoje, impressionada, recordo a recepção na Embaixada do Egipto, com a fotografia de Mubarak na sala por onde passávamos até chegar ao jardim, que se ia enchendo de convidados, do gentilíssimo e muito culto Embaixador, onde se serviam as especialidades gastronómicas do seu país. Há 30 anos a dirigir o Egipto, Hosni Mubarak era tido, de acordo com as tradições, como um faraó. Com a coragem e a dignidade de um grande senhor, Mubarak demitiu-se ao ver as manifestações, para si injustas, contra a sua forma de liderar e, evitando posições de força e uma guerra civil, o “faraó” foi hoje a julgamento carregando a “cruz” de ter sido poderoso e amado por muitos. Metido numa jaula como um animal feroz, assistia ao julgamento das suas atitudes e decisões, que outros julgavam erradas. Isto de enjaularem o senhor fez-me francamente muita impressão. Será que os novos governantes que, no século XXI permitem este achincalhamento e humilhação ao seu ex-líder, serão mais justos e civilizados do que ele? Do Oriente ao Ocidente, o terrorismo político que se tem manifestado ultimamente e que será o oposto da verdadeira diplomacia, deixa-me a mim, como a qualquer outra pessoa de bem, atormentada levando-me a enviar os meus profundos sentimentos à Embaixadora da Noruega, ao seu Rei e ao seu povo, pela horrível acção de um louco que assassinou dezenas de conterrâneos, muitos deles muito jovens, porque assim pensava defender a sua civilização. Civilização onde se está também a desenvolver o terrorismo económico, atacando multidões no mundo dito civilizado e provocando, por exemplo, em Portugal, centenas de suicídios e mortes por acidentes cardio-vasculares como não há memória. Mais recentemente, é impossível não referir as violentas manifestações, tanto em diversas cidades inglesas, como em Madrid, na véspera da chegada do Papa Bento XVI. Tudo isto fez-me pensar no que poderá mudar este caminhar da humanidade e cheguei à ideia de que a educação poderá ser um remédio. Não as boas maneiras ou a dita cultura do conhecimento. O remédio talvez esteja numa reformulação da educação, com cadeiras desde o início da escolaridade e acompanhamento das novas gerações, para que estas possam transmitir regras de conduta e o verdadeiro exemplo de dignidade e princípios éticos que afinal iremos encontrar em todos os mandamentos e religiões. O necessário é ensinar a cumpri-las mesmo.

mariabraganca@gabinete1.pt Horrible Times Today, rather impressed, I remembered the reception at the Embassy of Egypt, with the photograph of Mubarak in the room, while going towards the garden, which was by then filled with guests invited by the most kind and well bred Ambassador, and where food specialties from his country were being served. At the helm of Egypt for 30 years, Hosni Mubarak was held, according to the tradition, as a pharaoh. With the courage and dignity of a great gentleman, Mubarak, ended up resigning when faced with all the demonstrations, understood by him as unjust, that took place. These demonstrations were against the way he governed his country. He, however, avoided, taking a stand that could have lead to a civil war. The “Pharaoh” was on trial today, carrying with him the “cross” of his powerful rulings – hated by many but still loved by others. Stuck in a cage while on trial like a wild beast, he witnessed his actions and decisions – now preceived as wrong – being judged. The caging of this man impressed me strongly. Are these new rulers, the same that in the 21st century allow this kind of humiliation to their former leader to take place, more just and civilized than him? From East to West the political terrorism that has manifested itself lately, and that is the very opposite of true diplomacy, leaves me, like any other well bred, flabbergasted obliging me to send my deepest feelings to the Ambassador of Norway in Portugal, the King of Norway and his people, given the horrible actions of a madman who murdered dozens of his own people, many of them so very young, under the belief that he was defending his civilization. A civilization that is also developing an economic terrorism attacking many people in the so-called civilized world, in Portugal, for example, hundreds of suicides and the greatest number of deaths from cardio-vascular accidents that one can recall. All this made ​​me wonder about what could be made to change this journey of humanity and I came to the conclusion that education could be the best remedy. Not good manners or the so-called culture of knowledge. The solution may well be a reinstatement of education and a stronger guidance for younger generations that may pass on rules of conduct and a true example of dignity, and the ethical principles those that ultimately we find in the commandments of all religions. What is necessary is to make sure that they take those teachings with these principles to heart. ■

4 • Diplomática - OUTUBRO 2011



Assuntos Summary

Carta ao leitor. Letter to the reader.

4

Dossier. Lusofonia Dossier. Lusophony

7

As Pérolas da Lusofonia The Pearls of Lusophony

8

XVI Reunião da Comunidade Países de Língua Portuguesa XVI Meeting of the Community of Portuguese-Speaking Countries

10

Texto de Mira Amaral:”Portugal, Europa, Mundo Emergente” Text by Mira Amaral: “Portugal, Europe, Emerging World”

12

Texto de Maria de Belém: “Lusofonia, uma Alma Grande” Text of Maria de Belém, “Lusofonia, a Large Soul”

14

Entrevista a Anacoreta Correia, secretário -geral da UCCLA Interview with Anacoreta Correia, Secretary-General of UCCLA

16

Maria Lúcia Torres Lepecki, memória da vida e obra de uma grande defensora da cultura portuguesa Maria Lúcia Torres Lepecki, memory of the Life and Work of a Great Defender of Portuguese Culture

22

Entrevista a Mário Vilalva, Embaixador do Brasil Interview with Mário Vilalva, Ambassador of Brazil

24

Brasil, uma viagem de sonho Brazil, a Dream Trip

30

Entrevista a Miguel Costa Mikaima, Embaixador de Moçambique Interview with Miguel Costa Mikaima, Ambassador of Mozambique

34

As independências e os intelectuais negros, por Palmira Tjpilica The independences and the black intellectuals, by Palmira Tjpilica

38

O Governo de Passos Coelho The Government of Passos Coelho

40

Opiniões: Embaixador da Grécia, Embaixadora da Eslovénia, Embaixador dos EUA Opinion: Ambassador of Greece, Ambassador of Slovenia, Ambassador of USA

49

Dia de Portugal e das Comunidades Day of Portugal and the Communities

57

Mala Diplomática. Dia Nacional da França Diplomatic bag. National Day of France

60

Mala Diplomática. Dia da Independência dos Estados Unidos da América Diplomatic bag. Independence Day of the United States of America

66

Mala Diplomática. Dia Nacional da Rússia Diplomatic bag. National Day of Russia

68

Mala Diplomática. Festa Nacional do Luxemburgo Diplomatic bag. Luxemburg’s National Holliday

70

Mala Diplomática. Embaixada do Reino Unido celebra aniversário de Isabel II Diplomatic bag. The Embassy of the United Kingdom celebrates the anniversary of Queen Elizabeth II

73

Mala Diplomática. Dia Nacional da Itália Diplomatic bag. National Day of Italy

76

Mala Diplomática. Festa da Independência de Israel Diplomatic bag. Israel’s Independence Day Party

78

Mala Diplomática. 20º Aniversário da República da Eslovénia Diplomatic Bag. 2oth Anniversary of the Republic of Slovenia

80

Economia e Finanças. O Euro dilema de Portugal, por Patrick Siegler-Lathrop Economy and Finances. The Euro-Dilemma of Portugal by Patrick Siegler-Lathrop

81

Instituto Camões preside à EUNIC Instituto Camões presides EUNIC

87

Homenagem a Malangatana Tribute to Malangatana

89

Arte e Cultura. Artistas de Angola na Galeria de Arte do Casino Estoril Art and Culture. Artists of Angola in the Art Gallery of the Casino Estoril

92

Parabéns Helena Daget Congratulations Helena Daget

94

English & French texts

95

DIRECTOR: Maria da Luz de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Av. Engº Duarte Pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 Lisboa. Marketing & Publicidade: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79 IMPRESSÃO: Madeira & Madeira, S.A. DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395

6 • Diplomática - OUTUBRO 2011


Dossier Lusofonia

Há vinte anos dificilmente Angola, Cabo Verde e Moçambique seriam recomendáveis para efeitos de confiança e investimento externo. Hoje, com democracias em processo de aprofundamento, as ex-colónias africanas concitam o elogio dos observadores e alimentam ventos de esperança nos seus povos. E, noutro continente, emerge segura a nova potência mundial: um Brasil de progresso e desenvolvimento.

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 7


Dossier

As pérolas da lusofonia

Quatro países despontam no univer-

Angola tem vindo a afirmar-se como

so da lusofonia. Em África, depois

emergente potência económica da

dos dramas que se seguiram às

lusofonia e de África.

independências, Angola, Cabo Verde

A extensão territorial, aliada a uma

e Moçambique seguem o seu cami-

população de 18 milhões de habi-

nho, construindo democracias ainda

tantes, abre enormes perspectivas

débeis mas irreversíveis. E procuram

de desenvolvimento, permitindo a

encontrar espaço no intrincado pu-

prazo, de momento que subsista

zzle da economia mundial, empreen-

uma estratégia económica de desen-

dendo projectos de desenvolvimen-

volvimento sustentado, aumentar o

to, encontrando as suas áreas de

seu precário PIB per capita de 4792

negócio específicas e optimizando a

euros.

ajuda internacional que, nos últimos

Mas uma economia dependente do

anos, tem vindo a implementar pro-

petróleo comporta, necessariamente,

jectos e a acalentar o sonho.

cautelas acrescidas. A mais-valia do

O Brasil, um gigante emergente que

ouro negro está dependente da con-

começa a afirmar-se como grande

juntura internacional e dos jogos de

potência económica da lusofonia,

interesses de quem domina a econo-

constitui a locomotiva dos países

mia. No entanto, Angola está cres-

que falam português e têm laços

cer noutras áreas. Há uma grande

culturais e afectivos que os unem à

pujança e dinamismo na construção

ex-potência colonial em estado de

civil, na agricultura e no sector de

depressão e crise profunda.

serviços. E a recente ajuda do FMI,

Ao país do Carnaval, paulatinamen-

através de um empréstimo 1.4 mil

te, vem-se juntando Angola, país de

milhões de dólares está a equilibrar

destino de milhares de portugueses

a balança corrente e a afirmar o país

à procura de uma vida melhor e de

na senda do desenvolvimento.

oportunidades de negócio. É a impadecadência dos impérios transpor-

Brasil A nova potência mundial

ta sempre a emergência de novas

É o grande país da lusofonia, des-

nações prenhes da sua afirmação no

de logo pelos seus 194 milhões

mundo.

de habitantes, e um caso raro de

rável roda da História: a inexorável

criatividade e abertura de ideias no

Angola O despertar do gigante

que respeita à organização social e

africano

radicou bolsas endémicas de pobre-

Consolidando aos poucos a vida

za e projectou o país, naquele que

democrática, resgatada de guerra

parece ser um irreversível caminho

civil prolongada e contradições, à

de progresso e desenvolvimento.

época, aparentemente insuperáveis,

Os seus 7500 euros de PIB per

8 • Diplomática - OUTUBRO 2011

económica. O plano “Fome Zero” er-


capita, contudo, indicam que ainda

habitantes. A agricultura, as pescas

há muito por fazer, mas os sinais

e a actividade industrial são ainda

são francamente positivos. Mes-

muito incipientes.

mo em época de recessão e crise

As dificuldades apontadas, lenta-

mundial, o Brasil conseguiu baixar

mente vêm a ser superadas, quer

consideravelmente os níveis do de-

através da ajuda internacional, quer

semprego, fazendo crescer a econo-

pela captação de investimento es-

mia, estando muito próximo do limite

trangeiro directo, o que coloca Cabo

“sistémico” de 5 por cento.

Verde na invejável posição de ser

A conjuntura internacional, porém,

o país africano do espaço lusófono

fustiga a economia brasileira que,

com melhores possibilidades de de-

resultante da guerra cambial entre

senvolvimento da economia, apesar

os EUA e a China, se ressentiu,

da crise e da conjuntura internacio-

perturbando as suas exportações,

nal desfavorável.

podendo comprometer o crescimento do Brasil. Mas, apesar do florescer

Moçambique

económico traduzido em elevada

Estranhamente, pese embora a re-

procura interna, a inflação não deixa

cessão que prejudica as economias

de preocupar os economistas.

mundiais, Moçambique dá sinais de

Cabo Verde

elevado crescimento, alicerçado em

Dependência externa inibe desenvol-

mega-projectos de aproveitamento

vimento

dos seus recursos minerais.

A dependência das importações de

Apostado nas exportações, sedi-

energia e de alimentos – sectores

mentadas na diversificação secto-

onde se regista colossal défice entre

rial da economia, o país tem vindo

a produção e o consumo – é o maior

a registar um grande dinamismo,

entrave ao desenvolvimento do

aumentando exponencialmente as

país. A origem do problema está nas

oportunidades de desenvolvimento

características dos solos, que são

de negócios e de crescimento.

muito pobres, bem como na precária

A exploração agrícola, de igual

capacidade de produção energética.

modo, adquiriu novo fulgor na última

Mas outra das causas está no carác-

década, despontando vários inves-

ter terciário da economia, cujo sector

timentos, principalmente de origem

do turismo – sujeito a flutuações

sul-africana. E as possibilidades

constantes - constitui mais de 70 por

de extracção de petróleo, a serem

cento do PIB. Outra das principais

testadas por empresas exploradoras,

fontes de receitas são as remessas

abre outro sinal de esperança para

dos emigrantes, que constituem a

uma democracia ainda jovem, mas já

grande maioria dos cabo-verdianos,

num processo de consolidação que

cuja população residente no arqui-

tem ajudado ao ganho de confiança

pélago não chega a meio milhão de

dos mercados.

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 9


DOSSIER

XVI Reunião da CPLP destacou estratégia fulcral Promoção e defesa da língua de Camões A Reunião ordinária do Conselho de Ministros da CPLP, que teve lugar no final de Julho, em Luanda, sob o tema geral “A CPLP, as Nações Unidas e a Língua portuguesa”, tomou decisões importantes de âmbito político, económico e reforço da percepção do português no Mundo. A língua vai ser um dos vectores fundamentais da estratégia definida nessa reunião, de onde saiu uma CPLP reforçada e motivada no objectivo comum de tornar o português mais universalista.

A promoção, defesa, enriquecimento e difusão da

de Rendimento Médio. No que concerne a Timor, foi

Língua Portuguesa como veículo de cultura, educa-

igualmente registada a tendência positiva da situação

ção, informação e acesso ao conhecimento científico

política e social no país, numa altura em que se pers-

e tecnológico e de utilização em fóruns internacionais,

pectiva a abertura da representação da CPLP em Díli.

foi uma das decisões fundamentais da XVI reunião de

Já quanto à Guiné-Bissau, foi feito um apelo a Presidên-

países da CPLP, que contou com a presença do minis-

cia da CPLP para, em conjunto com o governo daquele

tro português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas,

país e o secretariado executivo da CEDEAO, encetarem

na sua primeira saída oficial ao estrangeiro desde que

diligências visando a realização de uma Conferência

tomou posse do cargo.

Internacional de Parceiros de Desenvolvimento da

Num espaço global afectado presentemente por uma

Guiné-Bissau para a mobilização adicional de recursos

crise sem precedentes, importa sublinhar os propósitos

financeiros.

anunciados nesta reunião magna da CPLP de apoiar

Foi igualmente reiterada a importância da concertação

medidas que facilitem e fomentem o relacionamento

político-diplomática para o reforço da actuação interna-

económico e comercial intracomunitário, promovendo o

cional da CPLP, tendo-se congratulado com a eleição

crescimento e desenvolvimento dos Estados membros

de Portugal para o Conselho de Segurança da Organi-

mais vulneráveis.

zação das Nações Unidas para o biénio de 2011-2012.

Um outro factor importante a assinalar foi o realce dado ao Plano de Acção de Brasília para a Promoção, a

Processos de adesão de novos membros

Difusão e a Projecção da Língua Portuguesa (Plano de

Os ministros da CPLP reafirmaram a necessidade de

Acção de Brasília) no que diz respeito à consolidação

prosseguir a aproximação à Ilha Maurício e ao Senegal,

do português como língua oficial ou de trabalho nas

Observadores Associados da CPLP, privilegiando a

Organizações Internacionais, nomeadamente naquelas

difusão e o ensino da Língua Portuguesa nesses países

onde está representada a CPLP.

e a promoção de um relacionamento bilateral, económi-

A CPLP quer alargar o seu âmbito de acção, não ad-

co e comercial, traduzindo a vontade política de reforço

mirando, por isso, que uma das medidas a executar no

das relações entre estes dois países e a CPLP.

futuro respeite ao relacionamento com a ONU, reiteran-

Tomaram nota do desenvolvimento do processo de

do os estados-membros a necessidade de reformar o

candidatura da Ucrânia a Observador Associado, apre-

Sistema das Nações Unidas, em particular, o Conselho

sentado por ocasião da VIII Conferência de Chefes de

de Segurança, de modo a torná-lo mais eficaz e repre-

Estado e Governo da CPLP e das reuniões técnicas en-

sentativo da realidade internacional contemporânea.

tre o grupo de trabalho do Secretariado Executivo e os representantes da Ucrânia, no quadro das disposições

Reforço da democracia no espaço da CPLP

previstas no Regulamento de Observadores Associa-

Num mundo africano caracterizado pela instauração de

dos.

regimes autocráticos, o espaço formado pelos países

Registaram, com satisfação, a constituição da União

daquele continente afectos à CPLP foi caracterizado

Internacional de Juízes de Língua Portuguesa, na Ilha

pelos membros presentes nesta reunião como de con-

do Sal, em Cabo Verde, a 12 de Novembro de 2010,

solidação da Democracia e do Estado de Direito e com

assim como a constituição da Reunião das Instituições

a promoção e respeito dos Direitos Humanos. Neste

Públicas de Assistência Jurídica dos Países de Língua

âmbito, registaram os avanços obtidos por Cabo Verde

Portuguesa – RIPAJ, em Brasília, a 7 de Abril de 2011.

na consolidação do processo de transição para País

Instaram, igualmente, os Estados membros, que não o

10 • Diplomática - OUTUBRO 2011


1. O Secretário Executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira, deu as boas vindas na abertura desta XVI Reunião de Ministros da CPLP 2. O Ministro dos Negócios Estrangeiros junto dos membros da CPLP 3. A expansão portuguesa foi um tema em foco nos trabalhos

fizeram ainda, a ratificar o Acordo Ortográfico, incitan-

Exteriores de Angola, Dr. Georges Chikoti, contaram

do os Estados membros, que já o ratificaram, a adoptar

com a participação do Ministro dos Negócios Estran-

as medidas para a sua implementação.

geiros português, Paulo Portas, do Brasil, Cabo Verde,

Os ministros da CPLP aprovaram ainda efectuar uma

Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, do

homenagem póstuma ao presidente Itamar Franco.

Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste

Os trabalhos, presididos pelo Ministro das Relações

e do Secretário Executivo da CPLP.

n

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 11


dossier

Portugal, Europa, Mundo Emergente por Luís Mira Amaral

Na economia global, despontam também grandes países emergentes no espaço lusófono, como é o caso do Brasil e Angola.

geo-estratégica do espaço lusófono, através dos recursos energéticos e petrolíferos existentes no Brasil, S. Tomé, Angola, Moçambique e Timor-Leste. Portugal, pequeno país europeu e que deu novos mundos ao mundo, expressão hoje corporizada no espaço Portugal enfrenta uma situação economico-financeira

lusófono da CPLP, terá que jogar cada vez mais entre

extremamente difícil, sendo apanhado em cheio pela

a vertente europeia e a dimensão lusófona. Será crucial

chamada crise das dívidas soberanas dos países peri-

mantermos a ligação à Europa e a permanência no

féricos da Zona Euro.

euro, pois só assim teremos o encore cambial e a cre-

A nível mundial estamos a ter um crescente dualismo

dibilidade e estabilidade financeiras que são condição

no crescimento económico mundial, com taxas de

necessária, mas não suficiente, para o desenvolvimento

crescimento mais expressivas nos países emergentes,

económico. Mas precisamos de ter consciência de que

designadamente nos BRIC’s (Brasil, Rússia, Índia e

num contexto de crescimento económico mais lento e

Chile) e mais modestos no tradicional mundo desenvol-

de saturação dos mercados europeus, a economia por-

vido da OCDE, designadamente Europa e EUA.

tuguesa vai precisar de jogar no dinamismo dos merca-

A geografia económica mundial do século XXI é dife-

dos emergentes para ter crescimentos significativos.

rente da que vigorou no século XX, onde tivemos a

Naturalmente aqui avultou Angola, que já ultrapassou

hegemonia do Mundo Ocidental.

os EUA como mercado para as exportações portugue-

Temos neste século a China e a Índia a ultrapassarem

sas, e o Brasil, cujo dinamismo económico deverá ser

os EUA como primeiras potências económicas mun-

aproveitado pelos empresários portugueses. Também

diais.

há que não esquecer a Índia e a China, onde podemos

Na economia global, despontam também grandes paí-

e devemos também jogar com as ligações históricas e

ses emergentes no espaço lusófono, como é o caso do

culturais.

Brasil e Angola. O Brasil é uma estrela em ascenção

A afirmação económica portuguesa nestes mercados

e nível mundial e Angola afirmar-se-á cada vez mais

emergentes exige um grande entrosamento e coope-

como potência regional a nível económico e militar no

ração estratégica entre o poder político e os empresá-

Sul de África onde até agora havia hegemonia incon-

rios portugueses através daquilo a que se começou a

testada da República da África do Sul.

chamar a diplomacia económica.

Num contexto em que o petróleo, a energia dominante, se tornará mais escasso, avulta também a importância

12 • Diplomática - OUTUBRO 2011

n

L.M.A. Presidente Executivo do Banco Bic Português



Dossier

Lusofonia Uma alma grande, por Maria de Belém Roseira

Fomos os primeiros construtores da globalização. Exportamos a nossa cultura, importamos a cultura de outros e miscigenámo-nos.

A fabulosa História de Portugal, constru-

dor que é a nossa língua comum, produto

ída com o sangue suor e lágrimas do seu

de tantas influências e tantas vivências di-

povo, permitiu-nos que fossemos bem

ferentes que a fazem tão rica, tão expres-

maiores que a nossa configuração geo-

siva, tão viva e tão mutável e adaptável ao

gráfica. E valeu bem a pena, porque se

mundo que vivemos hoje e àquele em que

alcançou uma “alma” grande, na perspecti-

se viverá.

va pessoana.

Esta riqueza pode bem ser mais vivida. É

Povo de muitos e variados destinos, fomos

sempre isso que eu sinto quando penso na

deixando muito de nós, um pouco por

Lusofonia, que deve ser vista, não apenas

todo o Mundo, ao longo de muitos sécu-

como um instrumento riquíssimo do ponto

los. Mas também trouxemos, e imenso.

de vista cultural, mas também como um

Outras culturas, outras gentes, outras

instrumento de valor incalculável do ponto

religiões, outras formas de ver e de estar.

de vista político e do ponto de vista econó-

Enfim, temos o seu mundo também cá

mico.

dentro do nosso território e dentro de nós.

Razão pela qual faz todo o sentido que

Sim, dentro de nós, nos nossos genes, no

ele seja aproveitado como objectivo de

nosso sangue, naquilo que de mais intimo

afirmação que busca novos desenhos geo-

e mais de dentro nos marca e também no

estratégicos, para além daqueles que mais

ambiente onde crescemos e amadurece-

nos têm marcado nas últimas dezenas de

mos, que nos permite actuar e amadurecer

anos.

no espaço de desenvolvimento da nossa

Na verdade, Portugal assumiu, e bem,

personalidade.

como objectivo estratégico a integração no

E tudo isso se vive e se transmite através

espaço europeu. Décadas de regime políti-

de um extraordinário instrumento agrega-

co opressivo e uma relação transatlântica,

14 • Diplomática - OUTUBRO 2011


insuficientemente explorada, pôs-nos de

determinação.

costas voltadas para a Europa continental

Fomos os primeiros construtores da glo-

e para um modelo de progresso e de de-

balização. Exportamos a nossa cultura,

senvolvimento que estávamos muito longe

importamos a cultura de outros e miscige-

de acompanhar. Os indicadores sociais e

námo-nos. Porventura mais do que qual-

económicos mostravam-no bem.

quer outro povo.

A integração europeia permitiu-nos dar

Conhecemo-nos todos bem, nos nos-

um salto extraordinário no bom sentido,

sos defeitos e nas nossas qualidades.

salto esse, no entanto, que não permitiu

Entendemo-nos muitas vezes e também

ultrapassar todas as nossas debilidades

nos desentendemos. Somos irmãos de

estruturais, hoje bem patentes num Mundo

sangue, de percurso histórico secular e

fortemente abalado pela crise económica,

falamos a mesma língua. Somos família!

financeira e social que deflagrou a partir

Não há melhor base e melhor ponto de

de 2008.

partida para que possamos construir em

As ondas de choque que ele tem provo-

conjunto um espaço próprio no Mundo de

cado, estão longe de ser conhecidas em

hoje, em que nos possamos impor através

todas as suas dimensões. No entanto, há

da nossa especificidade, da nossa riqueza

reflexos que são claramente identificados,

humana, em suma, de uma identidade que

sobretudo no domínio económico e social

é só nossa.

e que reclamam de nós uma nova postura,

Esta é uma visão partilhada num espa-

que nos faça transpor as fronteiras que,

ço político-ideológico abrangente. Tem,

tantas vezes, ao longo da nossa História,

pois, suporte político. Para se concre-

nos amarraram e, ao fazerem-no, nos en-

tizar, necessita, apenas, de políticas.

fraqueceram de forma dramática.

Políticas competentes, integradas, que

Num contexto em que o projecto de cons-

partam do que já se fez e que lhes

trução de uma Europa unida em torno de

acrescentem visão, ambição e afectivi-

princípios e valores comuns está profun-

dade. Às políticas económicas, acres-

damente abalado e faz recear pelo seu

centar políticas sociais. Estabelecer a

futuro em coerência, faz todo o sentido

relação entre o económico e o social que

que Portugal reganhe uma dinâmica que

tanto tem faltado no governo dos povos,

o transporte para além da Europa, numa

atirando-os para o desemprego e o de-

ligação que renove e alimente a sua diáspora

sespero. Políticas que verdadeiramente

e que o faça relançar-se de corpo inteiro

invistam no desenvolvimento humano

no espaço da sua lusofonia, onde se sente

que cruza o investimento no saber, com

bem, porque se sente entre os seus.

o acesso ao trabalho e a disponibilida-

A língua é um fortíssimo instrumento de

de de meios financeiros que afastam a

relação. Não o olhar como um activo es-

privação do essencial.

tratégico, num mundo que buscará o seu

Temos toda a capacidade e a competên-

futuro na incorporação de conhecimento,

cia para o fazer. Assim tenhamos todos a

é uma miopia inaceitável. Há, pois, que o

vontade e, essa, parece não faltar. Ape-

contrariar e desenhar politicas activas que

nas teremos que falar uns com os outros,

acrescentem a nós e que acrescentem

entendermo-nos uns com os outros e, para

aos países que falam português, numa

isso, é que falamos todos a mesma língua.

relação “win – win”, que sirva os respec-

Ao trabalho, pois!

tivos povos, com afinco, com visão e com

n

Maria de Belém Roseira

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 15


Dossier

Engº Anacoreta Correia

por José Leite, fotos Ligia Correia

secretário-geral da UCCLA “Lisboa continua a ser uma grande referência para o Mundo Lusófono” Foi Conselheiro de Estado, antigo governante na área dos Transportes, deputado europeu e é o rosto mais visível da UCCLA ( União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa),uma organização que, nos seus 25 anos de existência, tem pugnado por aproximar os povos das várias cidades localizadas nos cinco continentes onde se fala o português, desenvolvendo uma vasta acção cultural, sócio-económica e geo-estratégica, sobretudo de expansão e defesa da língua de Camões e das empresas nacionais num quadro cada vez mais competitivo resultante da globalização. O engº Anacoreta Correia fala com entusiasmo dos objectivos e iniciativas em curso da associação de que é responsável, tecendo ainda comentários sobre o momento actual da política portuguesa.

16 • Diplomática - OUTUBRO 2011


Que balanço faz do trabalho

cas. Neste momento, está a funcio-

ciários foram os agentes turísticos

desenvolvido pela UCCLA numa

nar uma rede sobre Protecção Civil

com o estabelecimento de várias

altura em que completou 25 anos

e uma outra sobre a Conservação

parcerias com empresários. Cer-

de actividade?

dos Centros Históricos.

ca de uma dezena de cidades da

O balanço é positivo. A UCCLA tem

Num segundo pilar, que eu chama-

UCCLA apresentaram os seus

sabido adaptar-se às mutações

ria de projectos de cooperação e

projectos, abrindo muitas perspecti-

do mundo exterior e à realidade

cultura, procuramos satisfazer os

vas sobre o que podem fazer nesse

autárquica. Trata-se de uma orga-

objectivos do milénio. Por exemplo,

campo.

nização internacional de cidades,

combater a pobreza principalmente

O Turismo tem sido um dos

não tem carácter governamental,

nas cidades mais necessitadas.

grandes pólos de desenvolvi-

é intermunicipal. Surgiu como uma

Não se admirará, por isso, de ver

mento das cidades que integram

afirmação lusófona, tendo contado

a UCCLA a tratar dos resíduos

a UCCLA?

com dois grandes precursores: o

sólidos na cidade de Bissau. Ainda

Naturalmente que sim, nos seus

engº Nuno Krus Abecasis, que ini-

recentemente, com apoio da União

múltiplos aspectos. Desde a cria-

cialmente a criou, com duas cidades

Europeia, assinámos um protocolo

ção de mão-de-obra à auto estima

a funcionar em rede, numa altura

na cidade da Praia para abasteci-

das cidades. Mas deixe-me referir o

em que as relações diplomáticas

mento de água potável a cerca de

papel fulcral da UCCLA como apre-

não eram as mesmas que são hoje

1500 famílias.

sentadora das empresas portugue-

– actualmente, é fácil ter um dis-

Ainda respeitante ao combate

sas às municipalidades. O objectivo

curso lusófono, fazem-se colóquios

contra a pobreza, criámos um vasto

é pôr a trabalhar as empresas cuja

sobre a lusofonia, mas, naquele

projecto de Cuidados de Saúde Pri-

actividade está directamente ligada

tempo, a UCCLA foi uma grande

mários – em Moçambique, estamos

aos municípios. Há todo um mundo

novidade, criando um movimento

na luta contra a Sida. Tudo isto

que não tem sido trabalhado con-

de solidariedade ao lado dos gover-

complementado com uma intensa

venientemente: desde empresas

nos de vários países, permitindo a

acção cultural, em nichos espe-

especializadas em espaços verdes,

entrada nos mesmos de empre-

cíficos. Ainda recentemente, em

que fazem animação cultural, água,

sários; outro dos criadores foi o

Lisboa, organizámos uma home-

saneamento, esgotos, regulação

embaixador brasileiro José Apare-

nagem a Malangatana num espec-

de tráfego, etc. Nós queremos

cido de Oliveira. Pode-se dizer que

táculo a que compareceu o Presi-

que essas empresas e as cidades

nós contribuímos para a formação

dente da República, bem como a

trabalhem em conjunto, pois nor-

do código genético da CPLP.

publicação de uma brochura que

malmente os municípios são muito

Como foi a evolução da UCCLA

irá ser distribuídas nas escolas mo-

conservadores no que respeita

nas várias vertentes?

çambicanas e um colóquio sobre a

à sua política de contratação de

Nos dois primeiros anos, as cida-

vida e obra desse artista.

fornecedores. Estamos muito

des funcionavam em bloco e evoluí-

Num terceiro pilar, procurámos dar

empenhados em organizar fóruns

mos para a situação actual em que

um novo sentido às relações das

de empresas que operam para os

temos três pilares de funcionamen-

cidades com as suas empresas.

municípios e, com essa finalidade,

to: um deles é o institucional, em

E nesse âmbito, é justo prestar

está a ser planeada uma reunião

que nós queremos que as cidades

uma palavra de homenagem ao dr.

de empresas no próximo ano em

trabalhem em rede, assumindo

Ernâni Lopes e ao seu colaborador

Salvador.

posições comuns – ainda recente-

mais directo, o dr. Poças Esteves.

O sr. engº focou num aspecto

mente, em Luanda, apoiámos, em

A eles se deve a magnífica expo-

interessante: num quadro de

conjunto, a candidatura do fado

sição apresentada em Salvador

crescente competitividade exigi-

a património material da humani-

da Baía chamando a atenção que

da ao país para debelar a crise,

dade; o mesmo aconteceu com a

competitividade é fundamental, não

qual o papel que a UCCLA pode

candidatura da Ribeira Grande de

só entre países, mas nas cidades.

desempenhar nesse âmbito?

Santiago, Cabo Verde, a Patrimó-

Em que sectores é fundamental

É o de fomentar a entrada de em-

nio Mundial da Humanidade. Esta-

essa competitividade?

presas nesses mercados emergen-

mos a promover transferências de

Principalmente, no Turismo. Aca-

tes – nesse reunião de que falei há

conhecimentos de tecnologias das

bámos de realizar em Luanda um

pouco que teve lugar em Angola,

cidades através de redes temáti-

Fórum, em que os grandes benefi-

expliquei aos empresários que o

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 17


Anacoreta Correia

“A crise económica afecta a nossa actividade. Estão a faltar alguns meios em áreas essenciais, como seja o incremento do ensino do português”

país não é só Luanda. Há outras

em atraso, não tem empréstimos

muitos estrangeiros que nos visi-

cidades cheias de potencialida-

à banca e tem dinheiro em caixa.

tam vindos desses territórios e vejo

des – existem relatórios de peritos

Isso é fruto de uma gestão conser-

o carinho e a emoção que Lisboa

que o atestam – como é o caso de

vadora ( sou conservador da cabe-

lhes provoca. Os portugueses é

Namibe e Kuando Kubango. Ob-

ça aos pés…) e de muito rigor.

que estão com uma crise de auto-

viamente que, nessa nossa função,

Tem sido positiva a rotatividade

estima! Os políticos é que têm de

não nos podemos substituir a ou-

na presidência da UCCLA?

resolver isso. As cambalhotas da

tros organismos oficiais com meios

Actualmente a presidência cabe ao

política também não ajudam a for-

mais poderosos do que os nossos.

Governador de Luanda. Este siste-

talecer a auto-estima. Mas há boas

Mas, através dos nossos parcos

ma tem sido positivo, dado terem

razões para acreditar no futuro:

meios, acho que estamos a ganhar

sido utilizadas fórmulas de muito

e chamo-lhe a atenção para uma

a aposta. A UCCLA não tem qual-

bom senso. Durante 24 anos, a

entrevista que o ex-ministro dos

quer comparação com o que era

presidência da UCCLA era inerente

Negócios Estrangeiros deu à SIC,

há dois ou três anos atrás…Não

a Lisboa.

onde referiu que a acção diplomá-

dispomos de grandes meios finan-

O Império ainda a mandar…

tica de Portugal era muito facilitada

ceiros mas temos muitos amigos…

Era um bom Império…O certo é

pelo prestígio que o País tem no

E, actualmente, é uma das raras

que Lisboa continua a ser uma

Mundo. Tive a sorte de trabalhar

instituições do país que não deve

grande referência para todo este

durante dez anos na Comissão

a fornecedores, não há salários

mundo lusófono. Contacto com

Europeia como responsável

18 • Diplomática - OUTUBRO 2011


das Relações Externas ( África e

Saúde tendo atingido cerca de 110

atravessa Portugal pode afectar

mil pessoas – estarei em Agosto

a actividade desenvolvida pela

nenhumas em afirmar que bene-

em Timor para me reunir com o

UCCLA?

ficiei muito desse prestígio. Mas

Primeiro-Ministro, Xanana Gusmão,

Claro que afecta. Estão a faltar

devo dizer-lhe que a passagem da

com a finalidade de discutir se esta

alguns meios em áreas essenciais,

presidência de Salvador da Baía

medida deve ou não ser alargada

como seja o incremento do ensino

América Latina),não tenho dúvidas

para Luanda foi muito positiva.

a outros distritos ou se deve uni-

do português. Por exemplo, várias

Hoje, a capital angolana, tem cerca

camente ser aprofundada em Dili.

cidades têm recorrido à UCCLA no

de oito milhões de habitantes e é

Uma acção que se deverá alargar a

sentido de gerir outras ajudas que

ali que ocorre 60 por cento de toda

Maputo através de negociações em

não são provenientes de Portugal,

a actividade económica de Angola.

curso com responsáveis pelo sec-

o que mostra o grau de confiança

Que projectos tem a UCCLA em

tor da Saúde daquele país. Repito:

que têm em nós.

curso?

temos hoje em dia uma boa rede

Há razões para temer que o ensi-

Depois da visita do governador

de amigos.

no de português e a expansão da

de Luanda, estamos a trabalhar

Como profundo conhecedor do

nossa língua esteja em risco?

na toponímia da capital angolana,

mundo africano lusófono, o sr.

Tenho verificado algumas posições

mas também já nos pediram para

engº acha que os regimes auto-

muito pessimistas e ignorantes

dar um apoio na rede de esgotos,

cráticos que têm caracterizado

a esse respeito. Convido esses

na criação de espaços verdes. O

esses países estão em declínio?

críticos a apurar o que é hoje a

primeiro passo a dar é pôr a fun-

A democratização está em mar-

expansão do português em Angola

cionar o que já existe, recorrer ao

cha em África?

comparativamente à que era há

que já existe, e não aplicar novas

Sim, creio que África caminha para

30 anos atrás. Incomparavelmente

estruturas, necessariamente mais

a democratização. Peço desculpa,

maior e de muito boa qualidade!

caras. Angola também já mani-

sou um pouco critico da actuação

Um inquérito apurou que 30 por

festou interesse em que façamos

dos nossos media…acontece que

cento dos angolanos declaram o

qualquer coisa no âmbito da Acção

estive em Luanda nos dias que

português como língua materna.

Preventiva de Cuidados de Saúde

antecederam o anúncio das gran-

Penso que alguns dos nossos

Primários e, nesse aspecto, foi

des manifestações contra o regime

pivots dos canais de TV até já

importante a nossa experiência em

angolano e o que verifiquei é que

terão de aprender algo com os

Cabo Verde, onde nos envolvemos

esses movimentos aglutinaram es-

seus congéneres angolanos…O

na campanha contra a erradicação

cassas dezenas de pessoas. Quero

mesmo se passa em Moçambique.

do dengue. Na altura em que nos

dizer-lhe o seguinte: a forma como

Para esse facto, muito contribuiu a

pediram para actuar, estavam a

foi resolvido um conflito armado

atitude de Samora Machel ao dizer

registar-se cerca de 700 casos de

terrível em Moçambique e em

que o crescimento da unidade em

dengue por dia. Foi magnífico o tra-

Angola, sem haver condenações

Moçambique deveria fazer-se atra-

balho desenvolvido por uma equi-

à morte ou fuzilamentos, contrasta

vés da língua portuguesa. Portanto,

pa médica do IPPAD de Coimbra

com o resto de África. Claro, nem

temos de relevar mais os aspectos

que se deslocou ao Arquipélago e

tudo foi exemplar. Mas, Djalakama

positivos do que os negativos.

pela magnifica atitude da Câmara

circula livremente em Moçambique,

Não acha que há que ter cuida-

da Praia ao efectuar uma série de

a UNITA tem expressão parlamen-

do com a China que está cada

demolições em zonas que eram

tar e diz o que discorda. Acho que

vez mais penetrante no mercado

autênticas incubadoras de mosqui-

o caso mais espantoso é o da Gui-

africano lusófono…

tos. Não quer dizer que fomos nós

né Bissau, um território um pouco

Isso significa que dentro de dez

que acabámos com essa praga,

maior que o Alentejo, com cerca de

anos vai haver mais chineses a

mas o trabalho foi árduo e profí-

30 etnias, com golpes de Estado

falar português…Foi o que acon-

cuo, nomeadamente, na atitude

sangrentos, mas onde, ao contrário

teceu em Moçambique. Na Beira,

preventiva da população, que é, ao

do que se verificou na Libéria ou na

há uma colónia chinesa completa-

fim e ao cabo, o melhor combate

Serra Leoa, há actualmente algu-

mente inserida na vida portuguesa.

contra as epidemias. Depois disso,

ma contenção. Isso é uma herança

A IURD ( Igreja Universal do Reino

formámos agentes em Dili especia-

lusófona.

de Deus) fez em Moçambique a

listas nos Cuidados Primários de

O clima económico difícil que

sua base de penetração na África

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 19


Anacoreta Correia

do Sul. Portanto, há uma realida-

acho que sim. É preferível fazer

pena, pois sentia que os lusófonos

de insofismável: o português está

as mutações de forma gradual. É

tinham ali uma voz amiga. Conti-

em expansão no mundo lusófono.

importante para a sua permanên-

nuo a manter com Cavaco Silva

Eu estive na fronteira da Lunda

cia, sobretudo numa altura em que

relações extraordinárias. O facto de

com o Congo e pude aperceber-

a língua vai ser completamente

ter vindo à Gala de homenagem a

me que os congoleses falam agora

diferente daqui a uns trinta ou

Malangatana no dia a seguir às úl-

muito mais português do que o

quarenta anos. É preciso ter uma

timas eleições, numa altura em que

francês, porque mandam os filhos

atitude aberta.

as solicitações ao sr. Presidente da

estudar em Angola, porque ali o

O Brasil continua a ser importan-

República eram múltiplas, é a pro-

ensino é melhor. Esta é a realidade

te na estratégia da UCCLA?

va disso. Os meus colaboradores

de alguns portugueses que não

Queria que a UCCLA tivesse uma

sabem que, em cada um dos meus

se apercebem destas realidades,

presença mais activa no Brasil.

actos, existe a preocupação de ter

porque passam a vida a frequentar

Temos sete cidades associadas,

pronta a renovação em qualquer

cocktails…É preciso falar com o

mas gostaria de consolidar a nossa

altura.

povo…

presença no Nordeste, onde está

As eleições em Portugal clarifi-

Há quem diga que o sr. engº

a acontecer uma verdadeira revo-

caram a situação política?

dava um bom ministro dos Negó-

lução económica, muito em parte,

Está clarificada, vamos a ver se

cios Estrangeiros…

graças aos portugueses, princi-

está melhor. Não gostei da falhada

Acho que a pasta dos Negócios Es-

palmente nos sectores ligados ao

tentativa de eleger Fernando Nobre

trangeiros está muito bem entregue

Turismo e à Agricultura. Temos um

para Presidente da Assembleia da

ao dr. Paulo Portas. Há muito tem-

plano de contactos e vamos execu-

República. Foi a crónica anuncia-

po que ele se preparou para essa

tá-lo em Novembro e Dezembro.

da desse episódio. Creio que o dr.

pasta. A passagem pela Defesa foi

A Índia ainda está demasiado

Passos Coelho, ao escolher quatro

útil. Por isso, acho que Portas vai

longe?

independentes de uma outra faixa

ser um bom ministro. Nós não an-

Não, não está. Seguimos com

etária, demonstrou uma aposta

damos à procura de oportunidades,

atenção o dossier de Goa e es-

renovadora, que não há cargos

mas se for preciso alguma con-

tamos preparados para termos

políticos vitalícios. No entanto, no

tribuição da UCCLA para “ler” as

boas notícias a esse respeito. É a

Governo, apesar de um dos par-

questões da Lusofonia, cá estare-

primeira vez que o digo, mas antes

tidos ter uma maior expressão de

mos para as dar. Julgo que temos

de terminar o meu mandato, gos-

votos, tem que haver partilha do

uma leitura muito profunda sobre

taria de ter Goa dentro da nossa

poder. Confrontar e partilhar são

as cidades ligadas a esse mundo.

constelação de capitais de língua

próprias da negociação. Falta-nos

Há muito a fazer no campo da

portuguesa. Não nos podemos

alguma cultura de negociação em

Diplomacia?

esquecer que no grupo de países

Portugal e de governação. Prefe-

Acho que foi uma grande vitória

emergentes - Rússa, China, Índia

rimos criar de novo, reinvestir, em

portuguesa a eleição para um lugar

e Brasil - este é o único que é uma

vez de aproveitarmos o que existe.

no Conselho de Segurança. Os

democracia perfeita e pratica os

Tempos de banir esta mentalidade

adversários eram de peso. Repare

valores ocidentais. E é onde se fala

de novo riquismo. Cito um episódio

que a maioria dos países europeus

português. Está a abrir-se para o

que tem a ver com a minha cam-

não votaram por Portugal. Quem o

Mundo o que nos enche a todos de

panha de candidatura a deputado

fez foram os latino-americanos, os

um certo orgulho lusófono.

europeu: em Viseu, gelei a assis-

africanos e os asiáticos. O que nos

Porque decidiu deixar o cargo de

tência ao felicitar a cidade por não

falta é termos uma política activa

Conselheiro de Estado?

ter um estádio para o Euro. Hoje,

de defesa da língua. Estou conven-

Não me afastei nem fui afastado.

as pessoas felicitam-me por aquilo

cido que esta é uma língua de afec-

Respeito a decisão do sr. Presiden-

que disse. Houve uma política in-

tos e isso facilita a aproximação.

te da República de renovar o Con-

discriminada de crédito, criaram-se

Acha que o Acordo Ortográfico

selho de Estado. Um determinado

auto-estradas em regiões onde não

defende a língua portuguesa a

número de pessoas entendeu que,

eram necessárias, inauguraram-

sua expansão no Mundo ?

neste momento, o dr. Bagão Félix

se hospitais a uma curta distância

O que vou dizer vai escandalizar

correspondia melhor ao perfil para

uns dos outros, e agora estamos a

os meios conservadores, mas

o cargo e respeito a decisão.Com

pagar a factura desse desvario.

20 • Diplomática - OUTUBRO 2011

n


VISTA ALEGRE PRESTA HOMENAGEM A MALANGATANA. A Vista Alegre vai lançar em breve uma peça de edição numerada e limitada a 500 exemplares, para assinalar o trabalho que o Mestre Malangatana estava a desenvolver com a marca. Para mais informações e pré-reservas, contactar: rita.mor@vaa.pt ou +351 262 540 259

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Dossier

Desaprender com a Vida por Maria Lúcia Lepecki

Maria Lúcia Torres Lepecki, a grande defensora da cultura portuguesa, nasceu no Brasil em 1940, tendo-se notabilizado como professora universitária de literatura portuguesa, ensaísta e crítica literária. Especialista nas áreas de Literatura Portuguesa dos séculos XIX e XX, foi professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde lecionou entre 1970 e 2008. Mas abrangeu a sua actividade de professora e conferencista a inúmeras universidades europeias, brasileiras e africanas. Enquanto crítica literária colaborou em várias revistas, jornais portugueses e estrangeiros e foi agraciada com vários prémios e honrarias dos quais se destaca o grau de comendadora da Ordem de Sant’Iago da Espada, recebido em 2000. Deixou-nos em 24 de Julho de 2011, aos 72 anos de idade, Relembremos o seu estilo fino, argúcia de pensamento, e ideias ainda actuais, no texto publicado em 1994 num dos números Especiais da revista Manchete, editada por este nosso Grupo Gabinete1.

Levam-nos a crer que a experiência en-

contudo me pacifica na hora de fazer

sina. Ledo engano, penso eu, ao come-

esse texto: parece-me, de facto, que a

çar este depoimento. Nascida no Brasil

experiência – tornada princípio perverso

e lá tendo vivido trinta anos, estando em

-, só serve ao meu desconcerto e de-

Portugal desde 1970, tendo trabalhado

sorientação. Tentarei, contudo, depor

durante quatro anos num país africano

sobre aquilo que mais de perto me diz

de Língua Portuguesa, eu deveria ser,

respeito e que melhor procuro ir conhe-

se o que me levaram a acreditar vales-

cendo: a questão cultural.

se, uma pessoa particularmente apta

Com evidentes e importantíssimas im-

a discorrer sobre o tema que hoje me

plicações políticas e económicas para

apresentam.

o próximo milénio, deveria ser pouco

Experimentei muitos percalços da vida

problemática, no plano cultural, a cons-

política e económica brasileira e portu-

tituição de uma Comunidade de Países

guesa e não me posso acusar, em sã

como os de Língua Portuguesa. Com

consciência, de me ter desesforçado

efeito, eles partilharam séculos de His-

por os compreender e administrar – nos

tória comum e partilham ainda a mesma

planos pessoal e doméstico, que eram

Língua, em estatuto de “Nacional” ou de

os que me competiam – do modo que

“Oficial” em convívio com outras Línguas

me parecia mais correcto e, já agora

maternas.

saudável. Não desacompanhei também

Junto com a Língua guardamos, todos

por completo a vida sócio-política e

os lusófonos, onde quer que nos encon-

económica do país africano onde estive.

tremos, traços culturais que nos unem.

E nem sequer direi que saí dele desco-

Eles podem ir desde a religião (ou religi-

nhecendo-o em excesso. Nada disso,

ões: penso nos cultos afro-negros no

22 • Diplomática - OUTUBRO 2011


Brasil) até à arquitectura (ou arqui-

bato, por Francisco Martins ou por Maria

tecturas: penso nas casa dos “brasi-

Clara Machado, como não se percebe

leiros” do Minho ou no tipo tradicional

por que as crianças brasileiras não po-

da casa de fazenda em Minas Gerais);

derão deliciar-se com os livros de Alice

eles tocam necessariamente pequenís-

Vieira, de Natércia Rocha e de tantos

simos pormenores do quotidiano que,

outros. E não me digam que as diferen-

passando-nos quase sempre desperce-

ças ortográficas, mesmo sem qualquer

bidos permitem, quando observados e

acordo, são impedimento: sempre li,

cotejados, evidenciar a comunidade das

em pequena, livros em ortografia portu-

origens que a todos nos unem.

guesa, e nunca na escola primária me

Partilhamos, sem dúvida, muito de

escapou um “facto” em lugar de “fato”.

cultural, e isso deveria ser garante de

Já em outro campo, lembro-me de que

tranquilidade para quem – no caso os

quando fiz o Conservatório de piano, no

Estados envolvidos – agora se abalança

Rio, entre meados dos anos 50 e 60,

ao empreendimento que os tempos não

era obrigatória uma peça portuguesa por

permitem adiar mais.

ano, e, se não erro, para o exame final.

Deveria ser garante digo eu – e se assim

Ignoro se isso se passa aqui, mas era

digo é porque ainda assim não é, pelo

importante tratar do assunto.

menos na medida em que esperaríamos

De muitos jeitos e em muitas áreas,

que fosse. Falta qualquer coisa e ela é,

torna-se urgente aproximar de facto as

muito simplesmente, o real e profundo

culturas lusófonas – e a Universidade,

conhecimento mútuo entre os povos que

em termos de docência e de investiga-

se expressam, em qualquer estatuto que

ção, deveria ser a locomotiva a condu-

seja, em Língua Portuguesa.

zir o processo: porque não instalar um

Para um real conhecimento mútuo, para

programa de trocas de docentes entre

aquela “irmandade na aceitação das

países de Língua Portuguesa, um pouco

diferenças”, garante único e imprescindí-

nos moldes do que a Comunidade Euro-

vel de vitalidade para uma Comunidade

peia faz nos Erasmus?

com real força política, capacidade e

No meu entender, só um empreendimen-

força de intervenção duradouras, torna-

to cultural ambicioso (sem ambição não

se necessária uma política cultural que

vale a pena começar), sério e ponde-

sustente, em bases sólidas, o nosso

rado, um empreendimento onde todos

saber e entendimento uns dos outros.

entremos sem veleidades de liderança

É essa política que ainda não existe, e

ou, vamos lá, de “direitos maiores”, só

ela que se torna necessário imediata-

isso poderá, realmente, sustentar uma

mente instalar. Não se pode adiar mais a

comunidade viva e actuante. Fora desse

nossa presença sistemática, em termos

quadro, que iluminará nossas diferenças

de criações do espírito, nos países que

e sedimentará nossas semelhanças, que

partilham connosco a mesma Língua.

nos dará conhecimento de nós mesmos

É possível, e não difícil, estarmos perto

e dos nossos mais próximos no concerto

uns dos outros de modo sistemático, or-

das nações, fora desse quadro, que nos

ganizado e produtivo. Comecemos, que

permitirá diálogo, partilha e mútuo enri-

já é hora, pelo privilegiado espaço das

quecimento, receio bem que a constru-

escolas. Não parece justificar-se, por

ção de uma casa política para a Língua

exemplo, que as crianças portuguesas

Portuguesa peque, muito simplesmente,

conheçam as histórias contadas por Lo-

por debilidade de alicerces.

n

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 23


Dossier

Mário Vilalva, embaixador do Brasil em Portugal por Maria da Luz de Bragança e José Leite, fotos Lígia Correia

“Portugal deve aproveitar esta fase de crescimento económico do Brasil”

24 • Diplomática - OUTUBRO 2011


Mário Vilalva, 58 anos, ocu-

portuguesa. Deu-se conta que

mos económicos, até se falou

pa desde Novembro de 2010 o

havia uma outra realidade que

na compra de parte da dívida

cargo de embaixador do Brasil. Já

comprometia, e muito, o nosso

lusa…

tinha estado nesta representação

espaço lusófono no Mundo. De-

Não gosto do termo ajudar. Eu

diplomática, há vinte anos atrás,

pois de um período de crise entre

acho que o Brasil não será a

como conselheiro para assuntos

Portugal e a sua relação com o

solução, mas pode e deve colabo-

económicos e comerciais e, em

Brasil e os Palop’s, José Apareci-

rar com Portugal neste momento

2000, foi director-geral do Depar-

do Oliveira empenhou-se em criar

de dificuldades. Nesse sentido,

tamento Comercial do Ministério

um espaço lusófono. Inicialmente,

estamos a dar um sentido de

das Relações Exteriores e esteve

pensou numa Comunidade dos

urgência a todos os mecanismos

no Ministério do Planeamento no

Povos de Língua Portuguesa, en-

necessários para esse efeito, com

sector da cooperação financeira.

volvendo não só os Estados, mas

a finalidade de fazer sair Portugal

Não admira que assuma que um

que englobasse todas as comuni-

o mais rapidamente dessa cri-

dos seus actuais objectivos é o

dades que falam o português. O

se. Quanto à compra da dívida,

reforço das relações comerciais

objectivo também foi o de iniciar

que é uma questão específica, o

entre os dois países, privilegiando

uma cooperação entre os vários

grande problema que nós temos

a diplomacia económica, fazendo

sectores, afirmando e consolidan-

é que o Banco Central do Brasil é

questão de relevar o papel de-

do, ao mesmo tempo, a nossa

independente e só pode comprar

terminante que Portugal deve ter

língua, criando riqueza, gerando

papéis no exterior, ou investir as

num quadro de globalização, em

novos empregos, expandindo

suas reservas, se os mesmos

que o mundo lusófono pode as-

culturas comuns. Por via disso, o

forem classificados pelas agên-

sumir uma posição determinante,

Brasil tem um compromisso muito

cias de rating como sendo do tipo

passando das letras aos negócios.

forte com a Lusofonia, através

AAA.O que significa dizer que, por

Nesse sentido, anuncia a criação

da criação e manutenção desse

mais que houvesse uma vontade

da chamada Inteligência Comer-

espaço, no que concerne à língua,

política de comprar a dívida portu-

cial, com a finalidade de ajudar

cultura e exploração dos merca-

guesa, a lei proíbe-o. Actualmen-

as empresas nacionais a exportar

dos. Quem sabe se, no futuro, não

te, os actos de gestão pública no

para o Brasil, identificando os

possamos aprofundar mais essa

Brasil são muito vigiados, depois

problemas, ao mesmo tempo que

cooperação, como acontece já

da lei criada pelo Congresso Na-

assume ser crucial um acordo en-

com vários blocos económicos?

cional – designada Lei da Respon-

tre o Mercosul e a UE.O diplomata

A lusofonia terá agora uma ver-

sabilidade Fiscal – ao tempo do

tem uma filha nascida em Portu-

tente mais económica, devido à

presidente Fernando Henriques

gal, um país, que, como sublinha,

crise global?

Cardoso.

é o único, na sua vida de 36 anos

A Lusofonia nasceu essencial-

Quais são esses mecanismos

como diplomata, em que não se

mente com uma particularidade

que falou de ajuda a Portugal?

sente estrangeiro.

política e cultural, numa altura em

Em primeiro lugar, nós queremos

Qual o papel do Brasil na ex-

que o Brasil não estava bem do

aumentar o comércio entre o Bra-

pansão e reforço da Lusofonia

ponto de vista económico, aliás,

sil e Portugal. Achamos que é um

no Mundo?

como acontecia com os países de

comércio muito pequeno. Estamos

O Brasil foi membro fundador –

língua portuguesa em África. A

a promover alguns estudos para

eu diria, o líder – da criação da

ideia de estreitar os laços econó-

encontrar nichos de mercado, que

CPLP. Eu próprio participei nesse

micos surgiu depois. Actualmente,

não estão a ser aproveitados, para

momento, que considero histó-

o Brasil e Portugal têm um capital

procurar incrementar a compra de

rico, dado que, nessa altura, eu

político e económico fantástico.

produtos portugueses através de

era conselheiro na Embaixada em

Agora, é preciso aproveitá-lo de

um instrumento que nós designa-

Portugal, responsável pela área

forma a dar mais substância eco-

mos como Inteligência Comercial.

económica Na altura, era embai-

nómica.

Ou seja, procuramos identificar os

xador José Aparecido Oliveira,

E agora, após a recente visita

motivos pelos quais determinado

que tinha como uma das suas

de Dilma Roussef a Portugal,

produto não está a ser exportado

preocupações dar mais substância

surgiu a hipótese de o Brasil

para o Brasil, quando o importa de

ao instituto internacional da língua

poder ajudar Portugal em ter-

outros países. Vamos procurar

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 25


Mário Vilalva

tirar a “radiografia”: Será por que

ração, dedicada exclusivamente

chegar ao Brasil, eu diria, até de

é um mau vendedor? Existem pro-

aos produtos portugueses e será

forma exagerada… tanto é que

blemas logísticos? É um problema

distribuída a cada um dos dez mil

a nossa moeda está a ser valori-

de financiamento? De marketing?

importadores brasileiros. Por tudo

zada em detrimento à dos países

De marca? O que é? E depois

isto, acho que nós temos um forte

exportadores. Hoje, o real vale

facultamos essa “radiografia” ao

capital político, social e cultural,

um dólar e meio. Isso é uma coisa

exportador, apontando as razões

mas chegou o momento de trans-

surpreendente – a igualdade entre

prováveis pelas quais não está a

formar tudo isso em números.

as duas moedas! Isso acontece

fazer essa exportação para o Bra-

Portugal tem de se dar conta que

porque o Brasil continua a gerar

sil. Não podemos ir contra as nor-

o seu destino não é só a Europa,

saldos na sua balança comercial e

mas da Organização Mundial de

que é preciso diversificar os mer-

porque está a entrar muito investi-

Comércio privilegiando as impor-

cados, aproveitando esta fase de

mento estrangeiro.

tações de um determinado país.

crescimento do Brasil. Há muitas

Isso acontece também com An-

Podíamos ser punidos por estar-

empresas portuguesas de qua-

gola, que também está tornar-se

mos a praticar o chamado Desvio

lidade mundial e que têm de ter

um mercado apetecível, tanto

de Comércio. Mas ao efectuarmos

escala no mercado brasileiro. Mas

para os exportadores lusos

esse estudo, mostrando as oportu-

há um outro aspecto que eu con-

como na entrada de capitais

nidades de comércio com o Brasil

sidero mais importante: na minha

angolanos em Portugal… e é um

e os erros que cometem os expor-

gestão vou tentar dar prioridade

mercado igualmente procurado

tadores de um determinado país,

aos investimentos bilaterais (nesta

pelo Brasil!

não estamos a praticar esse tipo

altura, o embaixador mostra-nos

Isso é o que falei. O espaço lusó-

de infracção.

um livro de Mário Ferreira, conten-

fono está a transformar-se num

Já há resultados desse estudo?

do um investimento que o conhe-

mercado, está a gerar riqueza e

Não, começou há pouco tempo.

cido empresário português preten-

emprego. Este é, aliás, o último

Estamos a promover esse estudo

de levar a efeito no Amazonas: a

objectivo…o de que a economia

em estreita cooperação com a

de um luxuoso barco de turismo,

funcione em pleno, que as pesso-

AICEP, incrementando-o desde a

idêntico aos que navegam no rio

as possam ter o seu emprego, que

época em que o Dr. Basílio Horta

Douro).Estamos a ajudá-lo nesse

possam viver bem. O maior cré-

presidia a esse organismo. Mas

investimento, inclusive, na procu-

dito que o Brasil tem no exterior

vamos continuar nessa linha que,

ra de financiamento. Portanto, os

é com Angola. Nós concedemos

aliás, foi enfatizada pelo primeiro-

investimentos são uma meta que

a esse país um crédito que ultra-

ministro, Dr. Passos Coelho.

eu tenho a certeza que vai dar um

passa um bilião de dólares. Mui-

Agora, nós sabemos que vamos

outro contorno às relações dos

tas empresas brasileiras estão a

enfrentar alguns limitantes – em-

dois países.

trabalhar lá, e eles pagam no dia.

prego este termo de forma delibe-

O Brasil não está a ser um país

Funciona como um “relógio” esse

rada, porque a palavra limitações

caro para os empresários portu-

crédito. E o mesmo estamos a

parece que ter uma conotação ne-

gueses que nele queiram inves-

procurar fazer com outros países

gativa. O que são? Nós sabemos

tir?

de expressão portuguesa, como é

que a oferta limitada de Portugal

Repare, à medida que o país se

o caso de Moçambique.

tem os seus limites. Mas isso não

desenvolve, é natural que o custo

Acha que a Europa ganharia

nos vai impedir de explorar ao má-

de vida também aumente. Isso

alguma coisa ao estabelecer

ximo esses nichos de mercado. In-

aconteceu com todos os países

um acordo com os países que

clusive, vamos fazer uma promo-

que se desenvolveram, como foi

integram o Mercosul?

ção desses produtos directamente

o caso da Alemanha, Japão, num

É crucial esse acordo. Um dos

junto aos importadores brasileiros.

dado momento com os Esta-

aspectos limitantes de que falei é

Vamos abrir os olhos destes para

dos Unidos. Depois desse salto,

o facto de os produtos brasileiros,

os produtos que Portugal pode

surgem, em seguida, as acomo-

quando entram na Europa, paga-

exportar, com qualidade e com-

dações e a coisa se equilibra.

rem tarifas elevadas. O mesmo

petitividade. Vamos também criar

Mas nada disso tem dificultado a

acontece com a taxação em vigor

uma revista como um dos elemen-

entrada de empresas estrangeiras

no Brasil a esses produtos euro-

tos fundamentais dessa coope-

no Brasil. O dinheiro continua a

peus. Portanto, é necessário

26 • Diplomática - OUTUBRO 2011


“Não gosto do termo ajudar. Eu acho que o Brasil não será a solução, mas pode e deve colaborar com Portugal neste momento de dificuldades”

eliminar essas tarifas, e isso só

à troca de lista de bens. Ou seja,

do, vão criar riqueza e emprego.

se consegue através de um acor-

o escalonamento de bens até

O Atlântico será resgatado como

do comercial entre o Mercosul e

chegar à taxa zero. E lembro que

a grande via para esse comércio,

a União Europeia. Felizmente, as

o comércio do Mercosul é mais da

com a vantagem dos europeus de

negociações foram retomadas há

metade do PIB da América Latina.

terem acesso ao maior mercado

cerca de um ano e estamos numa

Estamos a falar da união de dois

da América do Sul, que é o Bra-

fase denominada normativa para

blocos económicos fortes, com

sil, grande exportador de carne,

depois entrarmos no chamado

espaços geográficos aceitáveis e

soja, milho, petróleo, entre outros

acesso a mercados que respeita

que, uma vez assinado esse acor-

produtos.

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 27


Mário Vilalva

E Portugal pode desempenhar

bol, os Jogos Olímpicos…

das pessoas nos anos oitenta. Há

um papel importante no estabe-

Não são os únicos, mas são even-

quem diga que o dinheiro que veio

lecimento desse acordo?

tos importantes. O que há é essa

da UE foi mal gasto. Eu não acho

Portugal sempre foi muito afirma-

demanda de mão-de-obra quali-

isso, depois de ter visto o vosso

tivo no estabelecimento desse

ficada que é paga com salários

país nessa minha primeira estadia

acordo. Seria, provavelmente,

mais elevados do que aqui. In-

aqui. Hoje há um Estado Social

o país mais beneficiado do lado

clusive, de cidadãos portugueses

que não havia, estruturas fantásti-

europeu, por uma simples razão:

– no ano passado, concedemos

cas para receber os turistas, está

estrategicamente, Sines será um

800 autorizações de residência a

perfeitamente integrado no conti-

porto ideal. Há um trecho ferrovi-

compatriotas vossos e este ano

nente europeu, podendo agora di-

ário que é preciso melhorar para

esse número já aumentou em 30

versificar as suas relações, inclu-

que fique mais competitivo. Che-

por cento em relação ao primei-

sive, fora da Europa, que possam

guei a dizer ao então primeiro-

ro trimestre. Por outro lado, os

acrescentar valor. Recordo uma

ministro Sócrates que era viável

ordenados da mão-de-obra não

frase do anterior ministro dos Ne-

a instalação de um entreposto co-

qualificada são maiores em Portu-

gócios Estrangeiros, Luís Amado,

mercial com empresas brasileiras,

gal do que no Brasil e a tendência

ao ser questionado sobre qual se-

mas estas iriam sempre sofrer os

deste é permanecer em Portugal

ria o futuro de Portugal na Europa.

efeitos de uma taxação elevada.

desde que o mercado local permi-

Ele respondeu que o futuro será

…elevadas taxações que impe-

ta. Se isso não acontecer, aí sim,

aquilo que o país possa ser fora

diram a formação da APEX, que

ela regressa. Já não há barreiras

dela. Portugal foi dono do Mundo,

seria o primeiro entreposto co-

no fluxo de trabalhadores entre os

tem uma vantagem em relação

mercial brasileiro em Portugal?

dois países.

aos restantes países europeus de

Sim, foi uma utopia. Mas voltando

Vinte anos depois de ter estado

saber ver o mundo, não a partir do

ao acordo da EU/Mercosul, Portu-

na embaixada brasileira, pode

seu próprio umbigo, mas segundo

gal é um país privilegiado e só te-

fazer um retrato do Portugal

várias perspectivas: da Índia, de

ria a lucrar: tem um óptimo clima,

actual?

África, da China, do Brasil. Portu-

as empresas têm espaço para se

A primeira vez que vim a Portugal

gal tem talento. Por isso, sempre

instalarem e, por isso, eu digo que

foi em 1980, para uma reunião

advoguei que o vosso país deveria

só teria a lucrar.

de trabalho, estava eu na repre-

ter um papel de articulador entre

Contrariando a progressiva

sentação diplomática brasileira

esses vários mundos.

entrada de empresas brasileiras

em Washington. Encontrei então

O que é que o Sr. Embaixador

no mercado português, tem-se

um país deprimido, empobrecido,

aprecia mais em Portugal?

assistido, ao invés, a um retor-

sem um rumo, ainda não havia por

São várias as características que

no de emigrantes brasileiros ao

parte dos responsáveis políticos

aprecio: o conhecimento em pri-

país de origem, como conse-

uma certeza sobre qual o caminho

meiro lugar; aprendi a conhecer a

quência da crise que Portugal

a seguir. Voltei em 1991 e deparei

história do meu país vivendo aqui.

atravessa. O sr. Embaixador tem

com uma transformação radical

Nutro um carinho muito grande

certamente consciência desse

daquilo que havia visto dez anos

pelas pessoas – adoro percorrer

facto?

antes. Vi um Portugal com destino

o país, conhecer os lugares e

Sim, está a haver um retorno ao

definido, com história renovada,

as suas gentes. Sabe, uma filha

Brasil em função de dois aspec-

já com ânimo na população, havia

minha nasceu aqui e esse facto

tos: há uma demanda de mão-de-

emprego e a Europa era a grande

levou-me a que esses sentimen-

obra muito grande no Brasil. Se a

solução depois de consumada

tos se tenham tornado ainda

mesma é qualificada, fatalmente

a adesão à UE. Passados vinte

mais fortes. De vez em quando,

voltará à origem.

anos, devo dizer que encontrei

perguntam-me qual dos países

Afluxo naturalmente relaciona-

um Portugal muito mais bonito.

em que estive colocado aquele

do com os grandes aconteci-

Com auto-estradas maravilho-

que mais gostei. E eu respondo: a

mentos dos quais o Brasil vai

sas, infra-estruturas perfeitas, as

gente só repete aquilo que gos-

ser palco, que requerem muita

cidades estão limpas em qualquer

ta. Sou diplomata há 36 anos e é

mão-de-obra

lugar que a gente vá. E há alegria,

o único país onde não me sinto

qualificada: o Mundial de Fute-

coisa que eu não via no semblante

estrangeiro.

28 • Diplomática - OUTUBRO 2011

n


mês/mês 2011 - Diplomática • 1


Viagens & Lazer

1

1. Praia do Forte, São Salvador da Bahia

Brasil, uma Viagem de Sonho Desde o momento em que os Portugueses descobriram

é caso do Pão de Açúcar, do Cristo Redentor (uma

as belezas do Brasil, que este país entrou no nosso

das sete maravilhas do mundo moderno), as praias

imaginário. Raros serão aqueles, portanto, que não

de Copacabana e Ipanema, o estádio Maracanã, o

ambicionam mais tarde ou mais cedo rumar ao outro

Parque Nacional de Tijuca (o maior bosque urbano do

lado do Atlântico e, por regra, o ponto de partida desta

mundo), e o fantástico “calçadão”, passeio à beira-mar

viagem por terras do Brasil tem início na Cidade Mara-

trabalhado por calceteiros enviados propositadamente

vilhosa – o belíssimo Rio de Janeiro, a capital do país,

de Portugal. Claro que para os mais festeiros, a época

até à inauguração da magnificente Brasília de Óscar

ideal para rumar ao Rio é por excelência o Carnaval,

Niemeyer.

pela sua alegria, criatividade, plasticidade, cores, sons

Uma vez chegados ao aeroporto internacional de

e muita fantasia. É, aliás, a maior manifestação popular

António Carlos Jobim, tradicionalmente conhecido por

do mundo. Mas como viajar e barriga vazia não combi-

Galeão, e logo após ter visto do ar a beleza da cidade

nam, a gastronomia carioca também merece referência

carioca, é hora de rumar ao centro e de se deslumbrar

e a peculiaridade que esta cozinha tem de baptizar

perante as maravilhas do berço da bossa nova, como

pratos com nomes de embaixadores. Os dois exemplos ➤

30 • Diplomática - OUTUBRO 2011


2

5

3

4

2. A colorida cidade de São Salvador da Bahia 3. A gastronomia baiana é das mais ricas do Brasil 4. Praia Lauro de Freitas 5. As tradicionais baianas

➤ mais

eloquentes são o filé à Osvaldo Aranha e sopa

cidade é mundialmente conhecida e exerce significativa

Leão Veloso. Adaptação da “bouillabaisse” marselhesa,

influência nacional e até internacional, seja do ponto de

a sopa com efeito revigorante e própria para ser con-

vista cultural, económico ou político. Conta com impor-

sumida em dias frios, foi criada pelo embaixador Leão

tantes monumentos, parques e museus e é também

Veloso no restaurante Rio Minho, um dos mais antigos

nacionalmente conhecida como a “capital nacional do

em funcionamento na cidade (desde 1884).

boteco”, por existirem mais bares per capita do que em

Mas o Brasil não é só Rio, e como tal, rumámos a Sal-

qualquer outra grande cidade do Brasil.

vador da Bahia, outro ícone de beleza e tradição deste

Uma vez chegados a Salvador da Bahia, as escolhas

imenso país. Para tal, fazemos a estrada Rio-Bahia,

são inúmeras: das praias belíssimas, como é o caso

que permite, ao atravessar diversos estados ao longo

da Barra de Jacuípe, Lauro de Freitas, a trajectos que

dos mais de 1200 quilómetros, ver de tudo um pouco

fazem redescobrir o passado, como aquele que passa

do interior. Um pouco antes de meio da viagem vale a

pelo histórico Mercado Modelo e pelo Porto da Barra.

pena fazer um pequeno desvio para ficar a conhecer

Salvador, a capital do Estado da Bahia, e Património

Belo Horizonte, a capital do Estado de Minas Gerais. A

Cultural da Humanidade, sobrevive principalmente do

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 31


Brasil, uma Viagem de Sonho

6

6. O Farol da Barra em São Salvador da Bahia

➤ turismo

e do comércio e é conhecida como centro da

são indispensáveis. Em caso de dúvida é só procurar

cultura afro-brasileira. A miscigenação resultou também

o restaurante Da Dádá! Todavia, também os doces,

na mescla de culturas, crenças e rituais, que tornaram

muitos deles feitos à base de coco e jaca, e comum-

o Brasil ainda mais rico, através de uma pluralidade

mente vendidos pelas ruas por baianas, são de comer

que o fez singular. O sincretismo religioso é exemplo

e chorar por mais.

da efervescência cultural da cidade, sendo que a Igreja

De volta ao Rio de Janeiro empreende-se de seguida

do Senhor do Bonfim é um dos maiores símbolos reli-

a segunda parte desta viagem, rumo mais ao sul do

giosos da Bahia. Situada na Sagrada Colina, a igreja

Brasil. Pelo caminho, e de facto incontornável, a ma-

representa elementos do Candomblé. Os visitantes

ravilhosa Angra dos Reis, bem digna do nome que lhe

podem presenciar a fusão de religiões principalmente

foi atribuído, onde para além de praias a que é difícil

em Janeiro, na cerimónia de Lavagem do Senhor do

dizer adeus se encontra também o melhor peixe fresco

Bonfim, quando as baianas percorrem as ruas da cida-

cozinhado mesmo em cima do mar num restaurante

de em cortejo até a igreja, para lavar a escadaria com

pertencente a um conterrâneo português.

água de cheiro.

Assim, e antes de tornar a terras lusas, faz todo o sen-

Num tom algo mais profano é imperativo sublinhar o

tido rumar à Nova Iorque da América do Sul – a cidade

facto de que na Bahia come-se maravilhosamente,

de São Paulo. São Paulo é uma síntese cultural do país

sendo que as moquecas, de carne, peixe ou marisco,

e é também a cidade que abriga a maior diversidade

os vatapás bem picantes, e o acarajé, trazido de África,

étnica. São Paulo tem a melhor e mais completa

32 • Diplomática - OUTUBRO 2011


7

8

9

7. A Catedral Metropolitana de São Paulo 8. A beleza tradicional de Belo Horizonte 9. Ilhabela, Estado de São Paulo

➤ oferta

cultural da América Latina: museus; programa-

desfiles que valorizam tanto as marcas quanto os esti-

ção cultural diversificada com “shows”, teatro, mostras

listas deste imenso país.

e exposições artísticas, opções de entretenimento e

Para acabar em beleza umas férias maravilhosas, e

lazer, a maior rede de restaurantes qualificados do país

antes de regressar à Europa, é indispensável conhe-

com variedade gastronómica, chefs conceituados e

cer Ilhabela. Localizada no litoral norte do estado de

capacidade de renovação permanente. No que toca à

São Paulo, Ilhabela é o único município-arquipélago

museologia, por exemplo, existe um museu para quase

marinho do Brasil. Com uma geografia montanhosa,

tudo nesta magnífica cidade: das ciências naturais aos

com relevos acidentados que mergulham no mar sob a

presépios, das raízes etnológicas dos imigrantes prove-

forma de belíssimas praias de areia branca, tornam a

nientes do Japão à microbiologia, do Museu da Língua

paisagem da ilha particular e deslumbrante. Em cerca

Portuguesa ao de Arte Sacra, passando por muitos

de quatrocentos quilómetros, encontram-se para deleite

outros de igual relevo e interesse.

dos visitantes mais de 30 fantásticas cachoeiras e as

Mas São Paulo não é apenas cultura. É também uma

pequenas ilhas Vitória, São Sebastião, Búzios e dos

cidade vibrante de negócios, feiras, congressos e

Pescadores. Nesta paisagem paradisíaca pode dar-se

convenções. É também a cidade da São Paulo Fashion

por terminada esta primeira aventura por terras de

Week: o maior evento de moda do país e um dos mais

Vera Cruz, mas fica, sem sombra de dúvida, a vontade

importantes do mundo. Realizado em duas edições

de regressar e conhecer o tanto que ainda ficou por

anuais, ilumina toda a cadeia produtiva e concentra

explorar…

n

Isabel Prates

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 33


Dossier

Embaixador de Moçambique, Miguel Costa Mikaima, destaca as relações cada vez mais fortes dos dois países e sublinha : por Maria da Luz de Bragança e José Lucas Fernandes, fotos Ligia Correia “Atrair investimentos portugueses tem sido um dos meus objectivos fundamentais” Miguel Costa Mikaima, o representante diplomático de Moçambique em Portugal, não é um embaixador de carreira mas a sua escolha para o cargo deve-se, sobretudo, ao mérito e qualidades pessoais e experiência politica, a que não será alheio o facto de ter sido ministro da Cultura num mandato de cinco anos. À Diplomática, fala sobre as relações bilaterais, cada vez mais profícuas, do seu país com Portugal e de como o combate à fome e pobreza se tornou numa questão primordial na governação da antiga colónia portuguesa, numa altura em que comemora os 35 anos de independência. Casado, com quatro filhos, todos a residir em Portugal, Miguel Mikaima aprecia a simpatia inigualável dos portugueses, a diversificada gastronomia, destacando a posta mirandesa e, claro, o vinho do Porto.

34 • Diplomática - OUTUBRO 2011


Como antigo ministro da Cultu-

moçambicanos. Ele foi um verda-

nada, como é compreensível

ra, pensa que o povo moçambica-

deiro embaixador da nossa cultura

Mas há já organismos criados em

no atingiu já um nível de maturida-

pelo Mundo, fazia amizades com

Portugal de apoio aos emigran-

de cívica e educacional ou ainda

franqueza e abertura, expunha-se

tes, principalmente aqueles pro-

há muito a fazer nesse campo?

totalmente perante as pessoas…

venientes de países lusófonos?

Culturalmente, os moçambicanos

tinha sempre a preocupação de as

Visitei na semana passada a ACID,

são já um povo muito maduro. Uma

transformar em bons amigos. As

reuni com a Comissária responsável

maturidade adquirida ao longo da

suas obras exprimem o carácter

desse organismo. Foi um encontro

experiência de vida, quer no pro-

cultural dos moçambicanos, ou seja,

muito positivo, tendo ficado total-

cesso da luta de libertação nacional

uma junção entre o tradicional e o

mente a par da forma, igualmente

para contrariar aquilo que ocorreu

moderno.

empenhada, como têm sido desen-

no passado colonial, quer na pro-

Tem havido uma cooperação cul-

volvidos esforços para a integração

gressiva conquista da sua liberdade

tural entre os dois países ou esse

de cidadãos estrangeiros. E mais

e valorização desses valores cultu-

aspecto ainda se poderia desen-

agradavelmente surpreendido

rais. Recordo que 2011 foi procla-

volver mais?

fiquei quando essa responsável

mado o ano de Samora Machel pelo

Temos assistido a um fluxo cultural

me informou que, de acordo com

governo moçambicano. Há uma

muito grande entre os dois países.

informações a que teve acesso, os

frase do antigo presidente e que

Em Portugal, por exemplo, não

moçambicanos são a comunidade

ele usou, com frequência, dirigida a

passam seis meses sem que tenha

melhor integrada na sociedade por-

todo o Mundo que eu cito: ” A luta

lugar uma exposição de um artista

tuguesa. Portanto, apraz-me regis-

de libertação de Moçambique não

moçambicano, ou mostras colecti-

tar que não tem havido problemas

era contra o povo português, mas

vas, havendo um salutar convívio

com os moçambicanos em Portugal

sim, contra o regime português». É

dos artistas de ambos os países.

que possam afectar gravemente

uma frase muito avançada, com um

Isto tem sido uma marca moçambi-

essa convivência. Pelo contrário, o

grande nível cultural que exprimia o

cana em Portugal, que ultrapassa

que há é uma profunda harmonia e

que era a vida prática e quotidiana

as artes plásticas e abrange outros

concertação de interesses.

dos moçambicanos, um estado de

sectores, interagindo entre si. Por

Os desenvolvimentos da crise

espírito que se mantém até aos dias

exemplo, em Maio decorreu a Bie-

portuguesa podem potenciar a

de hoje. Durante os anos em que

nal de Cultura em Odivelas na qual

emigração de portugueses para

fui ministro da Cultura, entre 2000

Moçambique teve uma presença

Moçambique ?

e 2004, pude aperceber-me disso,

muito significativa. Aqui, na em-

Temos assistido nos últimos tempos

dessa maturidade cultural do povo

baixada, organizamos uma sessão

a um grande afluxo de portugue-

moçambicano, que sabia interpre-

de ópera com Stella Mendonça. A

ses para Moçambique, à procura

tar as dificuldades que enfrentava,

princípio houve uma certa retracção

de oportunidades de investimento,

com uma visão clara do seu futuro.

ou desconfiança do público, mas, no

mas há muitos que se deslocam por

E agora que estou em Portugal, é

final, todos se renderam ao profis-

questões de emprego.

impressionante ver a forma simples

sionalismo e qualidade do reportório

Há uma grande abertura por parte

e aberta como decorrem as relações

da intérprete.

do governo moçambicano a quem

entre moçambicanos e portugueses.

Portugal tem apoiado a emigra-

queira investir no país? Existem

Por falar em cultura moçambica-

ção moçambicana? Ou há ainda

apoios?

na, há uma grande figura moçam-

algo por fazer no apoio a quem

A embaixada criou há três anos

bicana, o pintor Malangantana,

chega a Portugal para trabalhar?

uma nova estrutura, a de conselhei-

recentemente desaparecida.

Há dois aspectos a considerar: aquilo

ro comercial, da qual é responsá-

Guarda memórias do convívio

que Portugal pode efectivamente fa-

vel a Dra. Filomena Malalane (?),

com esse artista que marcou de

zer e aquilo que não pode face à actu-

precisamente porque o governo de

forma significativa a cultura mo-

al conjuntura económica – por exem-

Moçambique verificou que Portugal

çambicana?

plo, muitos moçambicanos recorrem

era um país potencialmente inves-

à embaixada pedindo para que eu

tidor, com muitas possibilidades de

impressionantes. Malangantana

interceda junto do governo português

os empresários desenvolveram os

é a síntese daquilo que disse há

para lhes arranjar empregos. Quanto

seus negócios. Atrair investimentos

pouco, da maturidade cultural dos

a esse aspecto eu não posso fazer

portugueses tem sido uma das

Guardo memórias muito profundas,

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 35


Miguel Costa Mikaima

“Os moçambicanos são a comunidade melhor integrada na sociedade portuguesa”

E no sector bancário?

vez mais premente, situando-se no

xada, isto numa altura em que Mo-

No período de um ano ( 2010/11)

primeiro nível das nossas priorida-

çambique se tornou uma referência

abriram três novos bancos com uma

des, quer do governo, assim como

mundial em termos de crescimento

forte participação portuguesa – aliás,

da sociedade moçambicana. O povo

económico e desenvolvimento

todos os grandes bancos moçam-

é chamado a participar com qual-

actividades prioritárias da embai-

social. Tem havido da nossa parte

bicanos têm uma participação de

quer coisa na luta contra a pobreza.

muita abertura, sobretudo, para as

capital luso, com destaque para

Neste campo, há um aspecto muito

pequenas e médias empresas. Isto

a Caixa Geral de Depósitos, BPI,

importante: o resgate da auto-

porque as grandes empresas, no-

BCP,BES.

estima dos moçambicanos. O que

meadamente, as que estão ligadas

A luta contra a pobreza, a ex-

significa que devemos acreditar nas

ao sector bancário ou da constru-

ploração de novas tecnologias

nossas capacidades de poder trans-

ção, essas sabem encontrar os

na Agricultura e dos recursos

formar Moçambique, muito em parte

seus canais próprios para entrar em

naturais, como o carvão, são

devido aos recursos que dispomos.

Moçambique.

áreas que estão a ser objecto

Estes devem estar disponíveis para

Há áreas prioritárias?

de particular atenção por parte

sustentar o combate à pobreza. Há

As grandes empresas portuguesas

do governo moçambicano. O sr.

áreas no decurso da história mo-

de construção estão em Moçam-

Embaixador pode falar-nos sobre

çambicana que foram subestimadas

bique. Estamos agora a criar uma

este aspecto?

em termos de acção produtiva. Cito,

nova rede viária em termos de

A comemoração dos 35 anos da

por exemplo, o sector da agricultura,

funcionalidade e sustentabilidade,

Independência de Moçambique, que

que, tradicionalmente, nunca foi ca-

de forma a ultrapassar uma situação

teve lugar no ano passado, aconte-

paz de ter um papel preponderante

que vinha do passado em termos de

ceu numa altura em que o combate

na sustentabilidade da nossa econo-

insegurança rodoviária.

contra a pobreza se tornou cada

mia, mas sim, caracterizou-se

36 • Diplomática - OUTUBRO 2011


por ser de subsistência. Temos de

olhando para as suas antigas coló-

daí, os acordos têm sido feitos com

chegar a um novo modelo, que, por

nias como um mercado emergente.

muita segurança e maior credibilida-

um lado, sirva para combater a fome

Ou seja, toda a CPLP.

de. Neste momento, não há ques-

e, por outro, de fonte de exportações.

Ultrapassado o acordo estabele-

tões pendentes que possam minar

As comemorações dos 35 anos

cido com Portugal, a barragem

a nossa relação. Neste momento, a

de independência caracterizaram-

de Cahora Bassa começou a criar

balanço é negativo para Moçambi-

se pela assumpção desta visão.

riqueza para o país?

que, porque importamos mais, dado

Moçambique tem outros recursos

Em 2009 e 2010 produziu lucros

estarmos numa fase de relança-

naturais importantes, como é o caso

que nunca foram alcançados e tudo

mento das economia com grandes

do carvão. O ano passado, a área do

indica que Cahora Bassa vai ser um

investimentos.

sector mineral foi objecto de pesqui-

sustentáculo fulcral na economia

Aliás, foi estabelecida a realiza-

sas aprofundadas, foram identifica-

nacional. A área de produção e dis-

ção de encontros anuais de repre-

das todas as riquezas existentes.

tribuição de energia eléctrica é uma

sentantes dos dois países para

Como é o caso do carvão que come-

área fundamental de sustentabili-

discussão desses assuntos…

ça já, em Julho, a ser exportado.

dade económica para Moçambique.

Ia ter lugar em Maio um desses en-

Uma empresa brasileira investiu

Os problemas do passado foram

contros, mas acabou por ser adiado

cerca de um milhão e meio de

ultrapassados e não nos lembramos

devido aos problemas políticos que

euros nessa exploração...

mais deles. Cahora Bassa é uma

surgiram em Portugal. Da nossa

É um facto que o Brasil tem o maior

empresa moçambicana bem orga-

parte, temos os dossiers preparados

investimento neste sector, mas

nizada e está no topo do ranking

e as equipas formadas.

também há empresas australianas e

das melhores do país apresentando

Acha que a crise política e a

indianas. Não podemos esquecer o

lucros de forma sustentada.

consequente entrada do FMI em

Turismo, que tem sido bastante en-

Portugal tem dado cartas no cam-

Portugal poderá prejudicar as re-

corajado. Notamos, com satisfação,

po das energias renováveis, um

lações económicas entre Portugal

o número crescente de turistas por-

sector que também poderá inte-

e Moçambique?

tugueses que vão a Moçambique,

ressar a Moçambique ?

Quero dizer-lhe que nós tivemos o

encontrando o mínimo de condições

Nós concordamos com essa políti-

FMI em Moçambique. Importante

para os acolher, usufruindo de uma

ca. Para se desenvolver, Moçam-

nesse relacionamento foi o posi-

hotelaria e restauração com qualida-

bique precisa de levar a energia a

cionamento de Moçambique, que

de, de excelentes praias e parques

todos aqueles que precisam dela

sempre se mostrou disponível para

naturais e de um riquíssimo patrimó-

e também para a melhoria de vida

a negociação e diálogo. Esse tem

nio cultural.

das pessoas. E só podemos levá-

sido um dos nossos pontos fortes,

O sr. Embaixador acha que

la aos locais mais recônditos se

ou seja, o de sabermos dialogar

Portugal pode perder um pa-

recorrermos às energias renováveis,

com transparência e rigor. O FMI é

pel dominante de intervenção

até porque não podemos distribuir a

nosso parceiro e com ele temos tra-

económica em Moçambique em

energia produzida em Cahora Bassa

tado os problemas mais candentes

detrimento de outros países que

a todo o país. As energias renová-

da nossa economia, tendo efectua-

estão a apoiar o desenvolvimento

veis são uma solução alternativa de

do um acompanhamento permanen-

do país, como é o caso da China,

imediato que precisamos de imple-

te da evolução da nossa economia

Índia e Brasil? Há esse risco?

mentar de imediacto.

O que aprecia mais em Portugal?

Acho que Portugal nos últimos anos

Pode traçar o ponto da situação

A simpatia das pessoas, a boa

trabalhou bastante bem, conseguiu

respeitante à balança comercial

comida e os excelentes vinhos.

explorar de uma forma firme a sua

entre Moçambique e Portugal?

Portugal é um país aparentemen-

presença em regiões em desenvol-

Durante a visita que o então pri-

te pequeno mas com uma grande

vimento económico, na África, Ásia

meiro-ministro, José Sócrates fez a

diversidade gastronómica. Vamos

e América Latina, e isso faz com

Moçambique, foram estabelecidos

a Bragança e saboreamos aquele

que o valor da cultura portuguesa

entendimentos comerciais bastante

naco …como se chama…ah, sim,

cresça cada vez mais. Creio, sobre-

fortes e significativos. Uma parte

a posta mirandesa; vamos para o

tudo, que a actual visão empresa-

dos mesmos respeitante à dívida

Alentejo e deparamos com aquelas

rial de Portugal assente cada vez

moçambicana para com Portugal e

entradas de enchidos, não esque-

mais na potenciação com o Mundo,

também na parte financeira. A partir

cendo o afamado vinho do Porto.

n

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 37


Dossier

As independências e os intelectuais negros

Retomo o conceito “intelectual negro”, para estar consonante com a elaboração sociológica desenvolvida nos Estados Unidos da América do Norte, desde Dubois, Martin Luther King, tendo chegado ao nosso tempo com Barack Obama, (yes we can), actual negro americano tornado líder do país mais mediático do mundo. Esta designação nada tem a ver com a história do racismo e, sobre essas teses, já correu muita tinta. Não é simples entender a cultura que se desenvolveu entre os americanos depois da sua independência, em pleno séc 18, a de “melhores cabeças” que não deixou os escravos de fora nas exigências de uma super-potência mundial assessorada pelas Nações Unidas desde Outubro de 1945, após a 2ª guerra mundial. Com a Conferência de Berlim de 1885, engendrou-se uma nova abordagem em relação ao desenvolvimento das colónias e dos autóctones,sob a ocupação dos europeus. A teoria de identidades apaixonou os emancipalistas negros e europeus e a partir daí nada mais foi igual. Vejamos que já no séc. XVII, destaca-se o francês e o filósofo René Descartes com a célebre frase:“cogito ergo sum” je pense, donc je suis, penso, logo existo. A liberdade de pensamento, com base na existência, foi a grande arma dos intelectuais negros, que abraçaram princípios humanistas para subverter um dos fundamentos do esclavagismo declarado, em pleno séc. XVII (dezassete). Da ocupação efectiva e administração das colónias, juntou-se o quebra cabeças do fim obrigatório de determinadas hegemonias, proeza iniciada pelos EUA em 1776. A Independência dos Estados Unidos de América e a revolução francesa de 1789 tinham criado o homem novo voltado para os valores da liberdade, igualdade e fraternidade. A classe burguesa letrada ganhara a batalha da inteligência e do conhecimento científico, contra a burguesia iletrada, baseada apenas nos grandes latifúndios, ou seja na exploração de grandes terras, enriquecidos pela força do trabalho humano gratuíto ou barato. Foi neste ambiente que forjaram certas mudanças no Ocidente que influenciaram grandemente as revoluções e as indendências mais significativo a partir dos anos 50, do séc. XX Esses pressupostos criaram choques socias, muitas vezes traduzidos em conflitos abertos em que o maior ganhador foi sempre quem viveu amarrado à terra do senhor na condição de “servo da gleba” “escravo” ou colonizado.

As independências Pois bem, é exactamente na época da grande expansão colonial eurocentrista e cristianocentrista que os africanos das África Negra passam a ser considerados, teoricamente, do terceiro mundo e sem história, vivendo de parasitismo em relação ao desenvolvimento histórico mundial. A primeira metade do século XX lançou ideias de fim de exploração do”homem pelo homem” e o marxismo-leninisno fez-se presente, criando diferentes aproximações entre humanos em determinados países, com base na exploração dos bens de produção. Período reivindicativo que culminou com o fortalecimento das ideias independentistas dos territórios sob o domínio dos

38 • Diplomática - OUTUBRO 2011


inquilinos europeus, facilitados séculos a fio, pela generosidade e aco-

lhimento dos vencidos, através da capacidade de submissão e cruzamento das raças. No entanto, à medida que os 500 anos de subjugação nos aproximavam dos anos 50, a abertura das escolas, o redimensionamento das redes viárias e a consolidadação da admistração pública centrada nos meios urbanos, facilitaram o surgimento dos primeiros intelectuais negros africanos, homens e mulheres capazes de levar por diante, com a ajuda de países africanos e não africanos, a consciência da “noção de pertença” e do “resgate” da identidade.É munidos dessas ferramentas que os mesmos resolveram não se apresentar de mãos vazias no encontro e reencontro com a história.

Falar a mesma línguagem Não poderia ser de outra maneira senão agindo, pensando e actuando na base dos conhecimentos retóricos da filosofia aristotélica platónica, hegeliana ou kantiana, dialética de que precisavam para se confrontar com os irmãos europeus na arena do debate político, cultural, de acordo com os cânones do pensamento da europa clássica e moderna, a partir dos quais foram forjados os seus conhecimentos e a língua. De toda a maneira, era preciso uma redefinição africana e, de acordo com o historiador e sociólogo inglês das Caraíbas Paul Gilroy, impunha-se recuperar a memória sobre as importantes e inigualáveis contribuições do “atlântico negro”, que se forjou noutras dimensões que vão além dos contra-valores da escravatura, sobretudo na intercomunicação através da música, dança, saberes, identidades e histórias.Do mesmo modo, mulheres há que se tornaram militantes do saber endógeno, ou seja de si próprios, recuperando os bons hábitos e costumes.É assim que intelectuais negros buscaram a história do Egipto, para se estabelecer o tão procurado fio condutor da história africana, desde os tempos pré-históricos, relacionando as civilizações da Núbia, Ghana, Chade e demais com história, como justificações da memória. O mérito dos “intelectuais negros” centrou-se também nas teses sobre o africanismo, que obrigaram os estudiosos europeus a uma leitura mais atenta dos referidos fundamentos, no que tange a forma como o negro e o não-negro se colocam perante o objecto do conhecimento. Com o devir histórico, imparável na marcha dos tempos, os angolanos chegaram à independência proclamada há 35 anos que, de forma irreversivel, nos levou ao concerto das nações grandes e pequenas, a partir de cada 11 de Novembro que celebrámos, como corolário de conquistas arrancadas com determinação inteligência e trabalho, a partir dos quais criámos os nossos mitos e heróis, como acontece com todos que, como nós, são donos das memórias que particularizam, universalizam e engrandecem na arena da solidariedade social, desenvolvimento sustentado e democracias do séc. XXI.

n

Palmira Tjipilica Professora Universitária

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 39


eSTADO

Passos do Destino Provável consequência das múltiplas vivências africanas do actual primeiro-ministro, Passos Coelho acredita no papel fundamental de Portugal como placa giratória da Lusofonia Africana para a Europa.

Um liberal reformista, resoluto, teimoso,

António Passos Coelho abandonou a

um resistente na luta partidária, estas

direcção do sanatório do Caramulo e foi

são as características principais de

para Angola, levando com ele a família:

Pedro Passos Coelho, actual primeiro

a mulher e os filhos, Teresa, Paulino e

ministro de Portugal, líder do governo

Pedro. “Em África fui sempre um miú-

de coligação PSD/CDS-PP que tomou

do à solta”, conta Passos no seu livro

posse a 21 de Junho de 2011.

Mudar. Pedro saía de manhã, almoçava

“É zero materialista”, resume o tempe-

numa cubata, brincava com os meninos

ramento do actual primeiro ministro um

tuberculosos, lanchava noutra cubata e

dos chamados “barões” do PSD e antigo

ia brincando, até outra família lhe dar

ministro, Ângelo Correia, considerado

jantar numa outra cubata. Assim, com

uma espécie de guia espiritual de Pas-

seis anos, aparecia em casa pelas nove

sos Coelho . “Tem ar de lisboeta, mas

da noite. Já nessa altura Pedro Passos

alma de transmontano. Não é dado a

aparentava não ter medo e moldava o

luxos, não liga nada a isso”, garante o

seu espírito nesse convívio multirracial

patrão da Fomentinvest, a empresa que

que se mantém até aos dias de hoje,

Passos Coelho deixou para derrubar o então líder do PS, José Sócrates, nas

Brincar nas cubatas

eleições do passado dia 5 de Junho. Ti-

Talvez resquícios desse período da

rar Portugal do sufoco financeiro através

sua juventude, África continua a ser

de um programa ambicioso de conten-

marcante na sua vida. Logo na noite

ção dos gastos públicos – “O Estado

das eleições, no rescaldo da vitória nas

deve dar esse exemplo de rigor e con-

urnas, Pedro Passos Coelho lembrou

tenção para que haja recursos para os

o papel que Portugal pode desempe-

que mais necessitam e o Governo será o

nhar como placa giratória da Lusofonia

líder desse exemplo…”, sublinhou Pas-

Africana para a Europa. Aliás, chegou

sos Coelho no discurso de tomada de

mesmo a casar há sete anos, em segun-

posse – é sintomático dessa vontade e

das núpcias, com a guineense Laura,

espírito inquebrantáveis, moldadas nas

fisioterapeuta, natural de Bissau, com

várias latitudes geográficas que nortea-

quem teve a sua terceira filha, Júlia,

ram o destino de vida e que contribuíram

agora com três anos. Fisioterapeuta,

para moldar o seu temperamento.

Laura está habituada a passar por cabo-

Pedro Manuel Mamede Passos Coelho

verdiana porque “as pessoas pensam

nasceu em Coimbra em 24 de Julho de

que todos os guineenses são pretos

1964. Os pais eram de Trás-os-Montes,

retintos”, sublinha bem humorada. Do

família de pequenos industriais de ma-

seu anterior casamento, com Fátima

deira. O seu pai, António Passos Coe-

Padinha - a Fá das Doce, actual quadro

lho, 84 anos, é médico pneumologista e

da REN - Passos Coelho tinha já duas

foi dirigente do PSD em Vila Real. As-

filhas, Joana (nascida em 1988) e Cata-

cendeu aos órgãos nacionais do partido

rina (em 1993)

no tempo de Sá Carneiro.

Passos Coelho viveu ainda as vicissitu-

Passos Coelho cresceu com a irmã

des da chamada “descolonização exem-

Maria Teresa e o irmão entre Silva Porto

plar” que marcou os finais dos anos

e Luanda, onde o pai exercia medicina

setenta e que culminou na debandada

40 • Diplomática - OUTUBRO 2011


OUTUBRO 2011 - Diplomรกtica โ ข 41


Passos do Destino

dos portugueses de África. Regressou

candidato às eleições directas de Março

a Portugal, tendo ido viver com a famí-

desse mesmo ano. Eleito presidente do

lia para Vale de Nogueiras, concelho

PSD a 26 de Março de 2010, foi o líder

de Vila Real, donde o pai é originário.

do maior partido da oposição, viabili-

Concluiu o ensino secundário na Escola

zando no parlamento três alterações

Secundária Camilo Castelo Branco, no

ao Programa de Estabilidade e Cres-

mesmo concelho.

cimento (PEC). A recusa de um quarto

É licenciado em Economia pela Univer-

PEC, em sintonia com toda a oposição

sidade Lusíada de Lisboa. Iniciou a sua

parlamentar ao Partido Socialista, e a

actividade de consultor na Tecnoforma,

necessidade de Portugal recorrer à aju-

em 2000. No ano seguinte, tornou-se co-

da externa (FMI, Banco Central Europeu

laborador da LDN Consultores, até 2004.

e União Europeia) face à incapacidade

Dirigiu o Departamento de Formação da

autónoma de travar o défice das con-

URBE - Núcleos Urbanos de Pesquisa e

tas públicas portuguesas levaram o

Intervenção, entre 2003 e 2004. Durante

primeiro-ministro socialista José Sócra-

este ano, recebeu o convite de Ângelo

tes a demitir-se do cargo e obrigaram o

Correia para ingressar no Grupo Fomen-

presidente da República, Cavaco Silva,

tinvest, onde será director financeiro, até

a convocar eleições antecipadas para 5

2006, e administrador executivo, entre

de Junho de 2011. Foi a oportunidade

2007 e 2009. Foi também presidente do

esperada por Passos Coelho de assumir

Conselho de Administração das partici-

a liderança política do País.

padas Ribtejo e da HLC Tejo, e até 2010 leccionou no Instituto Superior de Ciên-

Cortar a direito

cias Educativas.

Contra ventos e marés, os costumados

A política motivou Passos Coelho a vir

«Velhos do Restelo» e… as agências

para Lisboa. O objectivo era o estudo

internacionais de “rating”, Coelho lá

da Matemática. Mas a JSD tomava-lhe

vai dando passos firmes, impondo as

todo o tempo. Foi secretário-geral desta

suas propostas e ideais. Dentro e fora

estrutura do partido aos 20, e presidente

do PSD: “Corta a direito no partido, às

aos 26. Eleito deputado em 1991, viria

vezes parece um elefante numa loja

a integrar a Comissão Política Nacional

de porcelanas a limpar rente o que lhe

(CPN) do PSD de Cavaco Silva. Muitos

soe a carreirismo, vícios de aparelho”,

se lembram de o jovem Pedro ter fei-

sublinham os correligionários políticos,

to frente a Cavaco Silva, por causa da

vendo nessa atitude uma virtude.

política de Educação – vivia-se então a

Por outro lado, alguns comentadores

revolta estudantil motivada pelo aumen-

políticos sustentam que há muito que

to das propinas universitárias. Era então

Portugal precisava de um safanão polí-

ministra Manuela Ferreira Leite. Pas-

tico, de gente nova, de corajosas refor-

sos Coelho teve como secretário-geral

mas que o tire do marasmo e do cliente-

Miguel Relvas, que ainda hoje é o seu

lismo em que vive atolado há décadas.

braço direito e integra o elenco governa-

As tarefas do novo Governo foram bem

mental.

delineadas no discurso de posse de

Em Maio de 2008 candidatou-se, pela

Passos Coelho: estabilizar as finanças,

primeira vez, à presidência do PSD,

socorrer os mais necessitados e fazer

propondo uma revisão programática de

crescer a economia e o emprego. Tudo

orientação neoliberal. Derrotado por

à custa de draconianas medidas de aus-

Manuela Ferreira Leite, fundou com um

teridade que afectam todos os estratos

conjunto de apoiantes um círculo de

sociais, medidas encaradas pela “troika”

reflexão política denominado “ Construir

do FMI e EU como um sinal positivo que

Ideias”. Já em Janeiro de 2010 lançou

Portugal está no caminho certo da recu-

o livro "Mudar" e assumiu-se, de novo,

peração económica.

42 • Diplomática - OUTUBRO 2011


Quem é quem no actual elenco governativo Uma coligação PSD/CDS e independentes constitui o elenco de onze titulares do XIX Governo Constitucional, empossado no passado dia 13 de Junho pelo Presidente da República, Cavaco Silva.

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 43


Passos do Destino

Após o juramento do primeiro-ministro, Pedro

oportunidade de mostrar a “habilidade diplomá-

Passos Coelho, assinaram o auto de posse, por

tica” que lhe apontam colaboradores próximos,

esta ordem hierárquica, o ministro de Estado e das

numa pasta que tinha sido recusada ao CDS-PP

Finanças, Vítor Gaspar, e o ministro de Estado e

em 2002. O líder do CDS/PP já tinha desempe-

dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, finalizan-

nhado em anteriores Executivos os cargos de

do com o secretário de Estado Adjunto do primeiro-

ministro de Estado e da Defesa Nacional (nos

ministro, Carlos Moedas. A redução de ministérios

governos liderados por Durão Barroso e Pedro

pretendida pelo novo Governo, tendo em atenção

Santana Lopes).

uma medida preconizada no plano apresentado ao

Portas aderiu ao CDS-PP em 1995, depois de

País de contenção de custos, implicou que alguns

ter sido um dos principais conselheiros do antigo

ministros ficassem responsáveis por mais que uma

presidente do partido Manuel Monteiro, que viria

pasta. Miguel Relvas será um desses casos e terá

a substituir, no congresso de Braga, em 1998,

a seu cargo um superministério.

depois de ter sido um dos fundadores e director do

Relevamos algumas notas biográficas de cada um

polémico semanário “o Independente”, entretanto,

dos actuais membros do Governo

encerrado. Foi presidente do partido durante sete anos, levan-

Paulo Portas, o ministro dos Negócios Estran-

do o CDS-PP ao poder em 2002 e demitiu-se em

geiros, regressa

2005, na sequência das legislativas de Fevereiro

ao Governo, tendo assim

44 • Diplomática - OUTUBRO 2011


desse ano, nas quais os populares obtiveram

ministério das Finanças. Entre 1998 e 2004 foi

um resultado abaixo das expectativas.

director do Centro de Estudos do Banco Central

Voltou à liderança do CDS-PP, em 2007, quando

Europeu. No currículo lê-se ainda que foi con-

derrotou o ex-líder Ribeiro e Castro. Foi reeleito

selheiro e director do Departamento de Estudos

por duas vezes, em 2009 e em 2011, com mais de

Económicos do Banco de Portugal. Gaspar foi

95 por cento dos votos e sem qualquer adversário,

o representante do ministro das Finanças de

em eleições directas. Exceptuando as intercalares

Cavaco Silva, Braga de Macedo, na Conferência

de Lisboa em 2007, nas quais sofreu uma pesada

Intergovernamental que negociou o Tratado de

derrota, o CDS-PP conseguiu manter ou reforçar

Maastricht, em 1992.Terá a difícil tarefa de pôr

os resultados eleitorais nas regionais, europeias e

as finanças do País em ordem de acordo com as

legislativas.

medidas propostas pela troika do FMI, EU e Ban-

Católico praticante e amante de cinema, Portas

co Central Europeu.Para já, na primeira reunião

começou na política na JSD, da qual se afastou

do Eurogrupo em que participou, num discurso

com a morte de Francisco Sá Carneiro.

de 180 segundos, impressionou os seus pares pela forma clara como apresentou as reformas

Vítor Gaspar, transitou do cargo director do

em curso para controlar o défice público e estabi-

Gabinete de Conselheiros da União Europeia

lizar a situação financeira, evitando os riscos de

(BEPA), que ocupava desde 2007, para o

contágio à Zona Euro.

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 45


Passos do Destino

Miguel Relvas, ex-secretário-geral do PSD, é o

depois do mestrado em Métodos Matemáticos

ministro dos Assuntos Parlamentares do Gover-

para Gestão de Empresas (1987), na capital por-

no de Pedro Passos Coelho, mas terá também

tuguesa.Foi também em Lisboa que se licenciou

outras responsabilidades, abarcando aquilo que se

em Economia (1980/81), no Instituto Superior de

poderá chamar um superministério. Além dos As-

Economia.

suntos Parlamentares, Miguel Relvas ainda terá a

É autor de um vasto conjunto de publicações,

responsabilidade da Reforma Administrativa e de

entre artigos em revistas científicas e livros que

tutelar a pasta da Juventude e Desporto. É um dos

tornaram a matemática acessível a todos e o po-

homens de confiança de Pedro Passos Coelho,

pularizaram entre os mais jovens.

seu amigo pessoal de longa data, desde a estru-

Para essa popularidade contribuiu também o

tura da Juventude Social Democrata onde ambos

cargo de presidente da Sociedade Portuguesa de

começaram a sua ascensão política. Relvas ficará

Matemática (SPM), que ocupou desde 2004 e que

assim, não apenas com a responsabilidade da

deixou para Miguel Abreu, nas últimas eleições,

coordenação política entre o Governo e os parti-

após assumir funções de administrador do Tagus-

dos com assento parlamentar, mas também com

park, no ano passado.

um dos principais desafios dos próximos anos:

Em 2008, foi condecorado pelo Presidente da

a reforma administrativa, que passa pela reorga-

República com a Comenda da Ordem do Infante

nização política do aparelho do Estado central e

Dom Henrique.

local, com destaque para o mapa autárquico e a

A União Europeia atribuiu-lhe, no mesmo ano, um

fusão e extinção de municípios prevista no memo-

prémio de comunicador científico do ano.

rando assinado com a troika. Foi secretário-geral

Crítico da educação em Portugal, defendeu nas

da Juventude Social Democrata, de 1987 a 1989,

várias entrevistas que deu a necessidade de medi-

deputado à Assembleia da República, entre 1991

das urgentes no ensino da matemática, sugerindo

e 2009, presidente da Assembleia Municipal de

alterações na estrutura do Ministério da Educação,

Tomar, entre 1997 e 2009, presidente da Região

como a extinção do gabinete responsável pelos

de Turismo dos Templários, entre 2001 e 2002,

exames e pelas estatísticas, que quer ver entre-

secretário de Estado da Administração Local de

gues a uma entidade independente.

Durão Barroso. Miguel Macedo, ministro da Administração Alvaro Santos Pereira veio do Canadá para

Interna, tem 52 anos e liderou no Parlamento,

ocupar a pasta da Economia e Obras Públicas do

durante o último ano, a oposição ao Governo do

governo de Passos Coelho. É docente na Simon

PS. Nasceu em Braga no dia 6 de Maio de 1959, é

Fraser University e professor visitante na Univer-

licenciado em Direito e advogado.

sity of British Columbia. Entre 2004 e 2007, foi

Depois de Pedro Passos Coelho ter sido eleito

docente no departamento de Economia da Univer-

presidente dos sociais-democratas, em Março de

sidade de York, onde leccionou Economia Euro-

2010, Miguel Macedo foi escolhido para presidir

peia e Desenvolvimento Económico. Entre 2000

ao grupo parlamentar do PSD e nas legislativas

e 2004, ensinou no departamento de Economia

de 5 de Junho encabeçou a lista do partido no

da University of British Columbia. Licenciou-se em

círculo de Braga. Nessa qualidade, foi o deputado

economia pela Universidade de Coimbra. Douto-

social democrata que justificou no Parlamento o

rou-se em Economia pela Simon Fraser University,

chumbo do PSD ao Programa de Estabilidade e

em Vancouver.

Crescimento (PEC), que levaria à demissão do primeiro-ministro, José Sócrates, e à realização de

Nuno Crato, o matemático de 52 anos que deu

eleições antecipadas, sustentando a necessidade

protagonismo à ciência exacta e se distinguiu pela

de “uma clarificação política” para “o país poder

sua divulgação, é o novo ministro da Educação.

vir a contar com um Governo de maioria alargada”

Professor catedrático e pró-reitor da Universidade

e “repor o respeito e a credibilidade abaladas de

Técnica de Lisboa (UTL), começou por dar aulas

um primeiro-ministro que comprometeu o país em

no ensino secundário. Viveu em Lisboa, nos Aço-

Bruxelas” com medidas de austeridade “sem res-

res e nos Estados Unidos da América, onde fez

peitar o Presidente da República e sem consultar

o doutoramento em Matemática Aplicada (1992),

a Assembleia da República”.

46 • Diplomática - OUTUBRO 2011


Antes de ser líder parlamentar do PSD, Miguel

bra. Conta com um extenso percurso político no

Macedo fez parte da direcção social-democrata de

PSD, que iniciou na JSD na década de 70.Chega

Marques Mendes, ocupando o cargo de secretá-

ao Governo de Passos Coelho depois da corrida

rio-geral, e teve três experiências governativas.

às legislativas de 5 de Junho como cabeça de lista

Militante social-democrata desde jovem, Miguel

pelo Porto – pela terceira vez consecutiva, depois

Macedo foi dirigente da JSD e a sua primeira

das eleições de 2005 e de 2009 – nas quais o

experiência governativa aconteceu no primeiro

PSD venceu também no distrito, com a eleição

Governo de maioria absoluta de Cavaco Silva,

de 17 deputados, com 39,14 por cento dos votos,

como secretário de Estado da Juventude do minis-

contra os 12 de 2009 (onde os sociais democra-

tro Couto dos Santos, entre 1990 e 1991.Integrou

tas ficaram atrás do PS e conseguiram 29,14 por

depois, entre 2002 e 2005, os governos de coliga-

cento dos votos).

ção PSD/CDS-PP de Durão Barroso e de Pedro

Casado e com cinco filhos, o então líder da ban-

Santana Lopes, como secretário de Estado da

cada parlamentar do PSD – apoiante de Manuela

Justiça, trabalhando nessas funções com os minis-

Ferreira Leite, assumiu o cargo na sequência da

tros Celeste Cardona e José Pedro Aguiar-Branco,

vitória, em 2008, da ex-líder do partido nas elei-

seu antecessor na liderança parlamentar do PSD.

ções internas – apresentou formalmente a sua

Aguiar Branco regressa ao Governo, agora na

candidatura à liderança laranja a 19 de fevereiro

pasta da Defesa, seis anos depois de ter sido

de 2010.Apresentando-se então como o candidato

ministro da Justiça no governo de Pedro Santana

a presidente da Comissão Política Nacional do

Lopes. Nascido no Porto a 18 de julho de 1957, é

PSD, que se propunha a “unir” no pós-eleições, o

licenciado em Direito pela Universidade de Coim-

advogado do Porto manteve o sentimento em

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 47


Passos do Destino

torno de Passos Coelho, tendo abandonado a

sua pequena Piaggio Vespa conduzindo-a até ao

liderança da bancada parlamentar – para no seu

local onde tomou posse do cargo. Pós-graduado

lugar se sentar Miguel Macedo – mantendo as

em Direito do Trabalho e assistente universitário

suas funções de deputado.

na Faculdade de Direito da Universidade Lusófo-

Aguiar-Branco foi então convidado por Passos

na de Humanidades e Tecnologias, desempenhou

Coelho para coordenar a comissão de revisão do

também dois mandatos à frente da juventude

Programa do PSD – o GENEPSD.

partidária dos populares entre 1996 e 1999.Entre

Aguiar Branco integrou o Conselho Nacional

2002 e 2005 foi eleito para o cargo de secretário-

social-democrata entre 1982 e 1984 e entre 1988

geral do CDS-PP, já depois de ter começado

e 1990 ,e as comissões de honra das candidatu-

a vida parlamentar, na VIII Legislatura, entre

ras de Cavaco Silva à Presidência da República

1999-2002.Nas suas passagens por São Bento,

(1995) e de Rui Rio à Câmara do Porto (2001).

contabilizando ainda o período entre 2005 e 2011, Mota Soares participou nos trabalhos de diversas

Maria da Assunção Cristas é a responsável pela

das comissões parlamentares em variadas áreas

pasta da Agricultura, Pescas e Ambiente. Nas-

como a Saúde e Toxicodependência ou o Tra-

ceu em Luanda em 1974 e é jurista e professora

balho e Segurança Social..A Comissão Eventual

tendo-se licenciado em Direito, na Faculdade

de Revisão Constitucional e o Grupo de Trabalho

de Direito da Universidade de Lisboa, em 1997.

da Reforma do Parlamento também contaram

Admitida na Ordem dos Advogados, em 1999, foi

ao longo da última década com o contributo de

assessora da Ministra da Justiça do XV Governo

Mota Soares.O actual vice-presidente do CDS-PP

Constitucional, em 2002, e assumiu a direcção do

coordenou igualmente a Comissão do Trabalho,

Gabinete de Política Legislativa e Planeamento,

Segurança Social e Administração Pública e foi

até 2005. Em 2004 tornou-se professora convida-

vice-presidente da Comissão de Ética, Sociedade

da na Faculdade de Direito da Universidade Nova

e Cultura.

de Lisboa.Militante do CDS, foi eleita deputada à Assembleia da República, pelo Círculo de Leiria,

Paulo Macedo, antigo Director-Geral dos Impos-

em 2009.

tos e ex-administrador da Medis, é novo ministro da Saúde. Licenciado em Organização e Gestão

Paula Teixeira da Cruz, ministra da Justiça,

de Empresas e pós-graduado em Gestão Fiscal,

nasceu em Luanda em 1960 e é advogada. Es-

foi pela mão de Manuela Ferreira Leite que che-

tudou no Liceu Padre António Vieira, em Lisboa

gou à Direcção Geral dos Impostos (DGCI) em

e licenciou-se em Direito, na Universidade Livre

2004. Pelo seu trabalho neste organismo, onde

de Lisboa, em 1983. Militante do Partido Social

se manteve até 2007, é apontando como um

Democrata, desde 1995, exerceu funções na

dos maiores responsáveis pela modernização e

Câmara Municipal de Lisboa, como vereadora

informatização da máquina fiscal.Natural de Lis-

(1998-2002) e presidente da Assembleia Munici-

boa, onde nasceu a 14 de Julho de 1963, Paulo

pal (2005-2009). É vice-presidente da Comissão

Macedo é actualmente vice-presidente do con-

Política Nacional do PSD, na direcção de Pedro

selho de administração executivo do Millennium

Passos Coelho, desde 2010, e exerceu as mes-

BCP. Fora do grupo ocupa o cargo de vogal do

mas funções na direcção de Luís Marques Men-

Supervisory Board da Euronext, NV, é vice-presi-

des (2005-2006).

dente da comissão executiva do agrupamento de Alumni da AESE - Associação de Estudos Supe-

Pedro Mota Soares, advogado de 37 anos, é o

riores de Empresa e ainda membro do conselho

actual ministro da Solidariedade e da Segurança

da escola do Instituto Superior de Economia e

Social. Foi um dos jovens ‘quadros’ democratas-

Gestão.Entre 2001 e 2004 foi administrador da

cristãos oriundos da Juventude Centrista/Gera-

Companhia Portuguesa de Seguros de Saúde,

ções Populares, contando já com cerca de 10

S.A. (Médis). Ao longo da sua vida profissional

anos na Assembleia da República como depu-

passou ainda pelo Banco Comercial Português

tado. Nascido pouco mais de um mês depois do

(entre 1993 a 1998 e mais recentemente entre

25 de Abril (29 de Maio de 1974), Mota Soares é

2007 e 2008, altura em que ocupou o lugar de

casado e pai de dois filhos, mas não abdicou da

director-geral desta instituição).

48 • Diplomática - OUTUBRO 2011

n


Espaço diplomático

Vassilios Costis - Embaixador da Grécia

protecção dos direitos humanos, a coesão e a paz são considerados dados adquiridos. É, também, óbvio que a diplomacia económica, através não só das relações bilaterais mas também da tentativa de aplicação de uma política económica, visa resolver os perigos de natureza financeira de todos os países, melhorar a competitividade internacional das suas empresas e criar um novo âmbito de competitividade referente à modernização das infra-estruturas estatais, à expansão do comércio e do investimento em todo o mundo, bem como à reformulação dos serviços internacionais. Portanto, é óbvio que a colaboração entre os vários países, no âmbito de uma concorrência saudável com a organização, ainda mais, de conselhos económicos internacionais, reforça a extroversão e o poder económico dos países. Além disso, com a constituição de Organismos e Comissões internacionais ou associações supranacionais e a assinatura das respectivas convenções, está a ser

Aplicação de uma política económica

planeada e aplicada uma política social com vista ao

A Diplomacia, sendo a «arte da gestão das relações

protecção civil e da justiça, especialmente nos países

externas», caracteriza-se pela evolução intemporal e a

em desenvolvimento ou nos do Terceiro Mundo. Fi-

contribuição decisiva no que diz respeito à formação da

nalmente, a diplomacia deve desempenhar um papel

realidade contemporânea. Seu objectivo principal é o

dinâmico na expansão adicional das relações interna-

desenvolvimento económico e social, bem como a con-

cionais em assuntos que dizem respeito à investigação,

solidação e preservação da paz a nível mundial. Conse-

educação, saúde, ambiente e tecnologia para que estes

quentemente, a Diplomacia visa a colaboração entre os

melhorem em termos qualitativos. Por exemplo, é parti-

países, o combate conjunto dos problemas mundiais, a

cularmente importante para a comunidade internacional

promoção da cultura e o percurso criativo das nações.

a promoção do crescimento verde, visto uma das suas

Portanto, neste contexto, deveria salientar-se a necessi-

vantagens, para além da protecção do ambiente, ser

dade do exercício da Diplomacia preventiva e a tomada

a criação de novos postos de trabalho, a produção de

de iniciativas para que as divergências nacionais não

matérias-primas energéticas e a troca do “know-how”

melhoramento das condições de vida, à concessão de ajuda humanitária e ao cumprimento dos princípios da

resultem em crises sérias ou até mesmo incidentes

entre os países.

graves. Nomeadamente, uma Diplomacia militar activa

Por conseguinte, o sistema diplomático universal é

pode contribuir para a consolidação do respeito para

chamado a desempenhar vários papéis complicados,

com os princípios da segurança política e nacional e

com o objectivo mais longínquo de assegurar a paz e o

as convenções internacionais e, consequentemente, a

crescimento económico e social de todos os países. A

estabilidade, bem como a democracia. Além disso, de-

recolha, a avaliação e a valorização correcta da informa-

sempenha um papel importante na política de prevenção

ção, as negociações, a consistência, o diálogo e a acção

para a redução das armas de destruição massiva, sem

imediata constituem os elementos de uma administração

desvalorizar a eficácia das Forças Armadas dos países.

eficaz da política de diplomacia, que pode mudar radical-

Assim, cria-se um espírito de solidariedade colectiva

mente a vida das pessoas, eliminar os pontos fracos do

e de autonomia sem que os interesses nacionais dos

mundo tradicional e moderno e constituir o suporte para

países sejam esquecidos. Logo, sob estas condições, a

a evolução das comunidades internacionais.

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 49


Espaço diplomático

Bernarda Gradišnik - Embaixadora da Eslovénia

try to do our share in fields of disarmament and de-mining, of conflict-prevention, of protection of civilians and of human rights. We fully support the work of Peacebuilding Commission. So far more than 5000 Slovenes have participated in peacekeeping operations and missions all over the world, from Afghanistan, Middle East, Somalia, Chad to the neighboring Kosovo and BiH. We believe that recent history-in-making in Northern Africa and Middle East has been transforming the political situation and represents an opportunity to start creating prosperous societies based on respect of human rights, democracy and cultural traditions. That’s why we have joined the international efforts to alleviate the humanitarian crisis in Libya through the allocation of funds and delivery of medicines. We are also chipping in to concepts and solutions of sustainable development. We are committed to a timely realization of the Millennium Development Goals, convinced that the right to development is a fundamental

A Toast to Slovenia for its Coming of Age

right of all humans and countries. Here, let me mention

Republic Slovenia ceased to be a teenager on June the 25th, 2011.

United Arab Emirates in their efforts to promote environmental themes within international relations (underlining

Twenty years might not seem a long period to some,

the important link between climate change and water as

but in this precariously shifting world of today two deca-

well as promoting improved water management).

des are what a century used to be in a kingdom of old.

We believe that contemporary foreign policy cannot be

So many thing s happened to Slovenians after 1991:

anything but a global one, for all the challenges we are

we joined all the major international organizations and

facing are global ones. The globalness has been amply

finally, in 2004, the EU and NATO.

demonstrated by the butterfly effect that, in the era of

We also presided different organizations (OSCE, EU,

social networks, an individual initiative can set forth. A

CE), starting with the Security Council in 1999.

man gets humiliated by a police officer in one country

In 2007 we joined the Eurozone.

and decides he has had enough, another man in ano-

And last year Slovenia has become a member of the

ther country loves Facebook and decides to use it for

OECD.

spreading his political views; this two decisions have set

Maybe we Slovenians as a nation are not old enough to

off the avalanche of political change in the Middle East,

reach the wisdom of the old age, but we are thankfully

for instance.

small enough to stay away from hubris of global politics.

Right now, our most important foreign policy priority is

We know we aren’t big enough to be everywhere and to

our candidacy for the non-permanent seat in the Securi-

reach everyone. (G.K. Chesterton once said that it was

ty Council for the years 2012/2013. We honestly believe

smallness and not greatness of one’s nation that a true

that the importance of such positions is shifting from

patriot should be proud of, and we Slovenians agree.)

the titular to the factual. The way itself of getting there

That’s why Slovenia has been trying to define niches

is becoming more and more important. But on this way

where we can be of use.

into the global world we mustn’t by any means forget

In matters of peace and security Slovenia emphasizes

our origins, our courtyard, our neighbors.

the role of preventive diplomacy and peace building. We

There is a speech in Brothers Karamazov that goes like

50 • Diplomática - OUTUBRO 2011

the Green Group, initiated by Slovenia, that has united Capo Verde, Costa Rica, Iceland, Singapore, and the


this: »In my dreams, I often make plans for the service

Portugal.

of humanity, and perhaps I might actually face crucifi-

The ties between the two countries that didn’t use to

xion if it were suddenly necessary. Yet I am incapable

have much in common have lately started to get stron-

of living in the vicinity of anyone for two days together«.

ger, specially due to their successive presidencies of

Sometimes big concepts and words are not so impor-

the EU a few years ago.

tant as small but concrete steps that we have to take in

My primary concern here is about economic coopera-

our small corner of the world.

tion.

How do we cope with »men in our vicinity« – or, to put it

Slovenia has been represented in Portugal by three

more precisely, with our neighbors across the border –

companies – not much but a solid starting point.

Italy, Austria, Hungary, Croatia?

One is Krka, a generic pharmaceutical firm.

I think I may state that we have pretty much overcome

The other one is Hidria, dealing in state-of-the-art air-

the impulses described by Dostoyevsky. We are active-

conditioning technology.

ly seeking to resolve the problems with our neighbors

The third one is Bridge Partner established privately

that arise from our joint past history within the cauldron

but with exclusive intent to bridge the gap between the

of the Balkans. If there are still some problems we try

nations.

to resolve them, or, if they cannot be resolved due to

Hopefully in the future there will be more companies

differing points of view, make them unobtrusive in view

present on the Portuguese market as well as Portu-

of other, wider common interests and joint ventures

guese companies on the Slovenian one. This aim is to

being taken.

be my basic preoccupation in the next three and a half

I may say that our relations with our neighbors have

years.

never been so peaceful and fruitful as today. It is espe-

Also, the cultural cooperation has been getting stronger

cially helpful to have in our Constitution safety-catches

as well.

providing that citizens of Slovenia belonging to some

We are looking forward into 2012 when the Slovenian

neighboring ethnic groups have guaranteed special ri-

city of Maribor is going to be, together with Portuguese

ghts, (such as, for instance, the right to use their native

Guimarães, the cultural capital of Europe.

language in cases of speakers of Hungarian or Italian)

***

officially within their respective regions.

Times are not easy, not for anyone. On and on, every

Based on Slovenia’s experiences in the Western

European nation have been receiving wake-up calls – in

Balkans (our imminent neighborhood), we can see that

economy, in conservation of Nature, in political realities.

humanitarian efforts like demining (carried out by the

But we shouldn’t allow our worries to make us forget

ITF; International Trust Fund for Demining and Mine

what nations of Europe were dreaming about when they

Victims Assistance, established by the Government of

were young and full of hope and promise.

the Republic of Slovenia in March 1998 with the aim of

Let’s raise our glasses to toast the fledgling Slovenia.

helping Bosnia and Herzegovina in its mine clearance

Let’s summon the spirit of our national anthem the lyrics

and mine victim assistance efforts. Since its establish-

for which were (in a shape of a cup) written by our na-

ment, ITF has expanded its activities throughout the

tional poet France Prešeren in 1844.

n

region of South Eastern Europe.) can offer the politically and ethnically alienated and divided partners a

My friends, this is the hour

technical platform for a dialogue which can significantly

Of sweet new wine that once again

contribute to future cooperation. By knitting, in form of such initiatives, a net and friendly neighborly relations as well as of international partnerships we are helping create a globalized commonwealth

Makes eyes bright, hearts recover, Puts fire in a feeble vein, And everywhere Drowns dull despair With hopes weren’t used to be just care.

where even the smallest members can participate actively and with honors. Hopefully, this net would prove

God blessings to every nation

to be able and willing to cope with global problems of,

Who strives and long for a happy day

predominantly, pollution, sustainability of resources,

When wars will be past ancient,

and peace.

Forgotten, gone away – Who yearns to see

A special part of this network that I personally have to

All peoples free

work on pertains to cooperation between Slovenia and

And foes no more, just neighborly.

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 51


Espaço diplomático

Allan J. Katz - Embaixador dos EUA

Um dos importantes instrumentos de colaboração entre as nossas duas nações é o Acordo de Cooperação e Defesa, que os nossos governos assinaram em 1995.

Nova Jérsia, Nova Iorque e Rhode Island, assim como na Califórnia e no Havai, trouxeram com eles, não apenas o som da língua portuguesa, mas também o gosto do pastel de nata e do bacalhau. A comida e a cultura

EUA e Portugal: Uma Aliança Diplomática Duradoura

de Portugal fazem parte da diversidade dos Estados Unidos. Como Embaixador americano, estou empenhado em fortalecer a nossa relação assegurando que trabalhamos juntos em temas comuns e que, nas raras ocasi-

A relação entre os Estados Unidos e Portugal data de

ões em que discordamos, nos ouvimos mutuamente

há mais de 200 anos um número que pode parecer

como amigos que somos, tentando sempre encontrar

apenas o tempo de um piscar de olhos para europeus,

um meio-termo.

mas que engloba, quase na totalidade, a história da

Um dos importantes instrumentos de colaboração

nossa ainda jovem nação.

entre as nossas duas nações é o Acordo de Coopera-

Após a Revolução Americana, Portugal foi um dos

ção e Defesa, que os nossos governos assinaram em

primeiros países a reconhecer a independência dos

1995. Esse acordo estabeleceu a Comissão Bilateral

Estados Unidos. O nosso primeiro Presidente, George

Permanente EUA-Portugal, que reúne oficiais ameri-

Washington, estabeleceu relações diplomáticas for-

canos e portugueses duas vezes por ano para discutir

mais com Portugal ao nomear David Humphreys como

formas de melhorar a nossa colaboração.

o nosso primeiro Embaixador.

Quando, em Julho de 2010, participei na minha primei-

Muitos outros homens – e uma mulher – represen-

ra reunião da Comissão Bilateral, constatei que tínha-

taram os Estados Unidos em Portugal ao longo dos

mos obtido vários sucessos através desta comissão,

últimos dois séculos, uma lista à qual tive o privilégio

incluindo a resolução de assuntos relacionados com

de me juntar, em Abril de 2010, quando cheguei à Em-

a presença da Força Aérea americana na Base das

baixada em Lisboa. Enquanto chefe de missão, tenho

Lajes e na ilha Terceira, nos Açores.

também sob a minha alçada o consulado americano

Tendo em conta esses sucessos, decidimos reestru-

nos Açores, que é o mais antigo consulado americano

turar a Comissão Bilateral de modo a torná-la mais

em funções no mundo e que representa os nossos

relevante e a ampliar o alcance dos assuntos que

interesses desde 1795.

abordará. A reunião do passado Maio em Washington

Mas não são apenas os laços diplomáticos que unem

foi o primeiro passo neste sentido e a nossa reunião,

os nossos dois países. Quase dois milhões de luso-

este Outono, em Lisboa irá, mais uma vez, permitir aos

americanos fazem parte da sociedade americana.

nossos países abordar questões ligadas à cooperação

Imigrantes que se estabeleceram em Massachusetts,

bilateral em áreas como segurança e pesquisa

52 • Diplomática - OUTUBRO 2011


ambiental; comércio e promoção de investimento; e

como membros da NATO, as nossas tropas trabalham

justiça.

lado a lado para garantir a segurança e apoiar o de-

Um dos problemas mais importantes que enfrentamos

senvolvimento. Não obstante, a cooperação internacio-

hoje em dia, é, obviamente, o abrandamento económi-

nal para a segurança vai muito além do Afeganistão e

co global e os desafios que esse fenómeno acarreta

abrange áreas igualmente criticas para a protecção de

para as nossas economias. Os portugueses, tal como

cidadãos americanos e portugueses.

os americanos, estão a enfrentar tempos difíceis. Pais

O mundo enfrenta hoje ameaças transnacionais que

dos dois lados do Atlântico estão preocupados com a

são transversais a diversos países e sistemas legais.

possibilidade de perderem os seus empregos, enquan-

A ameaça do terrorismo internacional compele-nos a

to os seus filhos se perguntam se as suas esperanças

estarmos vigilantes. Temos que cooperar a todos os

e sonhos se irão evaporar.

níveis. Já testemunhámos como terroristas e crimino-

Um raio de sol que atravessa esta nuvem negra é a

sos de um país podem estabelecer-se noutro país para

inovação, um conceito muito familiar para portugueses

operar num terceiro país. O crime transnacional é um

e americanos, e que irá ajudar-nos a garantir um futuro

facto incontornável nos dias de hoje.

melhor.

Este ano assinalamos o 10º aniversário dos ataques

Nos Estados Unidos, o Presidente Obama está a ten-

de 11 de Setembro, um evento que mudou irreversivel-

tar encorajar a inovação ao aumentar o financiamento

mente o modo como vemos o mundo e que nos levou

em áreas como pesquisa biomédica, tecnologias de

a implementar medidas para garantir que a tragédia

informação e energia limpa. E Portugal, através do seu

não se repetirá. Muitos foram os resultados alcançados

investimento em educação, pesquisa e desenvolvi-

ao longo da última década e há razões para estarmos

mento apoiado pela Fundação para a Ciência e Tecno-

optimistas com os acontecimentos recentes no Egip-

logia, está a fazer um percurso semelhante.

to, na Tunísia e noutros países da região que podem

Os aerogeradores que avistamos no topo de incon-

sinalizar o início de um novo capítulo, mais positivo, na

táveis colinas em Portugal são um símbolo omnipre-

história mundial. Mas não podemos fechar os olhos às

sente de como a inovação numa área específica – as

ameaças reais que pendem sobre os Estados Unidos e

energias renováveis – já está a dar frutos. O papel

a Europa.

de liderança que Portugal assumiu neste sector pode

Os Estados Unidos e os seus aliados europeus, entre

servir de exemplo aos americanos.

os quais Portugal, têm trabalho em conjunto para esta-

Nos Estados Unidos, um dos maiores desafios que

belecer mecanismos formais de partilha de informação

enfrentamos é tentar reverter a nossa dependência de

que podem ser cruciais para prevenir o terrorismo e

petróleo importado. Como parte desse esforço, o Pre-

outros crimes graves. Ao fazê-lo, é fundamental res-

sidente Obama estabeleceu o objectivo de colocar um

peitar a privacidade e os direitos dos nossos cidadãos.

milhão de carros eléctricos nas estradas até 2015.

A natureza elementar da privacidade está imbuída na

É com orgulho que digo que a indústria automóvel

Constituição americana e é protegida por inúmeras

americana criou o carro eléctrico mais desenvolvido do

leis e regulamentos. Tendo em conta as ameaças

mundo. Esta inovação começa agora a ser exportada

que o mundo hoje enfrenta, trabalharmos juntos para

para o resto do mundo. Portugal, por seu lado, deu

partilhar a informação necessária é fundamental, mas

passos significativos para encorajar a utilização de

iremos fazê-lo de forma a conseguir um equilíbrio entre

carros eléctricos, ao desenvolver uma rede nacional

proteger vidas e proteger a privacidade.

de carregamento de veículos eléctricos. O governo

O respeito pelos direitos dos indivíduos é apenas um

açoriano lançou também o seu próprio programa para

dos muitos valores partilhados pelos povos dos Esta-

promover a utilização de carros eléctricos e estamos a

dos Unidos e de Portugal. Estes valores constituem

trabalhar estreitamente com as instituições locais para

a base da nossa longa história de cooperação em

encorajar o uso de tecnologia americana.

inúmeras áreas. Somos parceiros na NATO há mais de

Para além de colaborarmos em áreas como a ciência

60 anos e somos amigos há muito mais tempo.

e a tecnologia, continuamos a colaborar com os nos-

O futuro da relação transatlântica é luminoso, não só

sos parceiros, inclusivamente com Portugal, na área

pelas ideias e projectos em que estamos a trabalhar

da segurança nacional para assegurar que os nossos

hoje, mas porque há diplomatas disponíveis e capazes

princípios e modo de vida não são postos em causa.

nos Estados Unidos e em Portugal para fortalecer a

O ponto mais óbvio de cooperação para a segurança

nossa relação a partir da fundação que foi estabelecida

entre os nossos dois países é o Afeganistão onde,

há mais de 200 anos.

n

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 53


Espaço diplomático

Giorgi Gorgiladze - Embaixador da Georgia

Returning to our european Roots As the first Ambassador of Georgia in the Portu-

Saint Ketevan, on the traditional Portuguese tiles

guese Republic, I am greatly honored to extend my

currently kept in Lisbon’s Igreja da Graca. Unfortu-

warmest greetings to the Government and People of

nately, a tragic chain of historic events temporarily

Portugal, as well as to the Diplomatic Corps accre-

distanced my ancient country of the Colchis civiliza-

dited in the country. It is truly a pleasure to serve

tion and Golden Fleece from the European realm,

in one of the oldest and most beautiful European

where it rightfully belongs. However, today we are

states with very hospitable people, eye-catching

going back to our European roots, restoring our

nature, and impressive history.

European ties and close historic and cultural bonds,

Located on the Black Sea shore, serving as the

and rediscovering Europe and specifically Portugal.

trade route and the crossroads of Europe and Asia,

Our two countries currently enjoy friendly and cons-

and linking both with the Middle East, Georgia had

tructive relations through the productive and cons-

always been a significant commerce hub and a

tantly enhancing cooperation both in bilateral and

center of great economic and cultural exchange be-

multilateral formats. We strongly believe that there

tween various great civilizations. As one of the first

always is an opportunity to strengthen and deepen

Christian nations and centers of science and edu-

relations of Georgia with Portugal through a pletho-

cation, some consider Georgia to be the inception

ra of significant initiatives in all spheres of mutual

point of the grand European Renaissance, which

collaboration, and especially in boosting our cultural

has commenced in my country back in the 12th cen-

and economic ties.

tury A.D. As a nation of culture and trade, Georgia

As you are aware, with the advent of the Rose

had maintained for centuries very close relations

Revolution of 2003 in Georgia, our Government has

with Europe, Asia and the Middle East regions.

commenced the process of successful reformation.

It is widely known that Georgia and Portugal have

Positive transformations in governance and eco-

enjoyed close historical ties throughout the centu-

nomy made Georgia a very attractive country for fo-

ries. Thereby it is not surprising to find the martyr-

reign investors. As a result, various world renowned

dom scene of one of the greatest Georgian Queens,

international agencies have ranked Georgia

54 • Diplomática - OUTUBRO 2011


among the world’s leaders in various fields. For

example, Doing Business 2011 report placed Georgia the 12th in terms of Ease of Doing Business, and named my country the top reformer among 174 nations over the last 5 years. Moreover, among the other accredited international watchdogs, Transparency International named Georgia the top country in the post-Soviet space - except for Baltic States as the top fighter with corruption. Furthermore, the

As you are aware, with the advent of

Global Corruption Barometer 2010, ranked Georgia

the Rose Revolution of 2003 in Georgia,

the 1st in the world in terms of reducing the level of

our Government has commenced the

corruption in the country, while placing my country

process of successful reformation.

the 5th in the world for the low level of corruption in the police. We have concentrated not only on democratic transformation, but also on the advancement of economy. We have also enhanced our trade relations with the EU and other parts of the world, and currently enjoy either visa-free or simplified-visa regimes with most of the countries, including the EU member states. We have substantially improved our transport infrastructure, and established free industrial zones in the port-city of Poti, as well as free tourist zones

CNG and LNG projects. Furthermore, Georgia is a

in Kobuleti and Anaklia-Zugdidi. We have bolste-

part of a high capacity Baku-Tbilisi-Kars regional

red our touristic potential with more than 2 million

railway project, which improves safety of transpor-

international travelers visiting Georgia in 2010, and

tation.

this year we expect a higher number of tourists to

By virtue of active transformation through reforma-

visit Georgia’s beautiful azure seaside, stunning

tion, Georgia economic standing had been impro-

mountainous resorts, as well as ancient historic

ving on an annual basis. Despite the harsh global

and cultural sites.

financial crisis coupled with the brutal Russian

Largely due to its lucrative geopolitical and geo-

military aggression in August 2008 and subsequent

strategic location as the shortest route linking Euro-

ethnic cleansing - which left 20% of the country’s

pean and Asian markets, Georgia has always stood

territory occupied and hundreds of thousands of

ready to partake in various energy and transport

Georgian IDPs homeless and fleeing for their lives

projects of all magnitudes. Currently, my country is

- Georgia had remarkably managed to maintain a

actively involved in several very successful projects

substantial economic profile. As a result, in 2010

linked to the South Caucasus energy corridor, such

the GDP of the country rose to $11.7 billion, and

as the Baku-Tbilisi-Supsa oil pipeline, Baku-Tbilisi-

the real GDP growth accounted to 6.4%.

Ceyhan oil pipeline, Baku-Tbilisi-Erzurum gas

Currently, I believe we have a historic opportuni-

pipeline. Moreover, Georgia is an integral part of all

ty to enhance our economic cooperation with the

transit projects to be implemented within the fra-

Portuguese Republic. Certainly, the opening of the

mes of the Southern Corridor, such as NABUCCO,

Georgian Embassy in the friendly Portugal in 2010

the Azerbaijan-Georgia-Romania-Hungary (AGRI)

serves as a vivid example of our willingness and

Interconnector, Trans Black Sea Links, the Euro-

interest to boost cooperation with the Portuguese

Asian Oil Transportation Corridor, as well as the

State and the Portuguese-speaking world in

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 55


Espaço diplomático

Region of Geogia and it's capital Tbilisi

general. Popularizing our culture in Portugal and

As one of the most ancient European nations, ours

vice versa is one of our priorities. In this respect,

is not the attempt to become European. We strive

we plan in the near future to open a center of Portu-

to get back to where we belong. And while we tread

guese language and culture in Georgia. And cer-

this difficult road leading to Europe, we certainly

tainly, we are very interested in cooperating closely

rely on the strong and active support of Portugal.

with the member states of the Community of Portu-

I believe that the plea of the greatest Portuguese

guese Language Countries.

poet of the 16th century, Luis Vaz de Camoes, utte-

While domestically reorganizing our domestic ins-

red in his magnum opus “Os Lusiadas” and addres-

titutions and pushing for more democracy, gover-

sed to the European leaders of his time to assist

nment responsibility, and economic liberalization,

the suppressed European nations, and Georgia in

Georgia has become highly determined to accede

particular, has not lost its power even today.

to the European and Euro-Atlantic community, as

I am strongly convinced that it is high time for the

we strongly believe that, sharing common values,

Georgian and Portuguese nations to rediscover

we belong in the realm of democracy and freedom.

each other, and to never let go of each other again.

56 • Diplomática - OUTUBRO 2011

n


Mala diplomática

Dia de Portugal Cavaco Silva apelou ao retorno ao interior desertificado, não esquecendo a crise

"É nestas alturas que se vê a alma do povo"

Num dia de grande calor, as comemorações do 10 de Junho. Dia de Portugal e de Camões, o grande poeta luso, em Castelo Branco, juntaram mais de sete mil pessoas e ficaram marcadas pelo discurso presidencial de apelo à corrida ao interior do País e pela intervenção de António Barreto, sugerindo uma nova Constituição que permita pôr termo à permanente ameaça de governos minoritários e de Parlamentos instáveis.

Agricultura e Interior foram os temas em foco no

situação. No seu discurso, Cavaco Silva apontou o

discurso do Presidente da República nas comemo-

progressivo envelhecimento da população agrícola,

rações do 10 de Junho, que tiveram lugar em Cas-

exigindo a criação de estímulos, para que os jovens

telo Branco. Cavaco Silva considerou impensável

regressem aos campos e ajudem, também, a inver-

que o País seja auto-suficiente em matéria alimen-

ter a actual desertificação do interior, não só para o

tar, sublinhando que os actuais níveis de produção

litoral, mas também para as cidades mais próximas,

e os seis mil milhões de euros gastos na importa-

como é o caso de Castelo Branco, palco das come-

ção de bens agrícolas, em contraponto aos três mil

morações, que registaram este ano a presença de

milhões registados nas exportações, são insusten-

mais de sete mil pessoas, entre as quais, os líderes

táveis e exigem dos poderes políticos uma actua-

das principais forças partidárias.

ção determinante para se conseguir inverter esta

A escolha desta cidade para a realização do Dia

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 57


Dia de Portugal

Todo o corpo diplomático creditado em Portugal apresentou cumprimentos ao Presidente de Portugal

de Portugal foi justificada pelo Presidente da

cios e de grandes responsabilidades. Não podemos

República por a mesma ser um exemplo a seguir,

falhar. É nestas alturas que se vê a alma do Povo”,

tendo elogiado a construção de infra-estruturas que

frisou Cavaco Silva no final do seu discurso.

permitiram a quebra do isolamento. Alertou também

A intervenção de António Barreto, presidente da

para alguns caminhos de combate à desertificação

Comissão organizadora das Comemorações do 10

que não passam de ilusões e que não resolvem o

de Junho, marcou também a cerimónia. Sem peias,

problema.

como é seu hábito, traçou um diagnóstico, a régua

Cavaco referiu-se ainda às gentes do interior, no-

e esquadro, de um Portugal a duas velocidades.

meadamente a sua frugalidade, o seu sacrifício e

Se, por um lado, nada é novo, porque esta não é a

a sua capacidade de resistência.”Aqui, em Castelo

primeira crise que vivemos, por outro, tudo é novo,

Branco, poderemos buscar no exemplo dos portu-

porque há a globalização, o euro, uma situação

gueses do interior a inspiração do que precisamos

económica e social que apanhou Portugal de sur-

para, uma vez mais, fazer das fraquezas forças e

presa.

transformar as adversidades em oportunidades”,

«Há momentos, na história de um país, em que se

sublinhou o Presidente. Numa clara alusão às

exige uma especial relação política e afectiva entre

dificuldades generalizadas que atravessa o País,

o povo e os seus dirigentes. Em que é indispensá-

consubstancializadas no acordo estabelecido com a

vel uma particular sintonia entre os cidadãos e os

troika e a crise, cada vez mais latente. O Presidente

seus governantes. Em que é fundamental que haja

da República apelou para que Portugal inteiro se

um entendimento de princípio entre trabalhadores e

erga nesta “hora decisiva, num tempo de sacrifí-

patrões. Sem esta comunidade de cooperação e

58 • Diplomática - OUTUBRO 2011


Mais de sete mil pessoas compareceram no Dia de Portugal em Castelo Branco, tendo assistido ao espectáculo, nos Jardins do Palácio Episcopal, em que actuartam Luis Represas e Teresa Salgueiro

sem esta consciência do interesse comum nada é

ma da Justiça portuguesa, que é actualmente uma

possível, nem sequer a liberdade», disse o soció-

das fontes de perigos maiores para a democracia. A

logo. Por isso mesmo, António Barreto considerou

liberdade necessita de Justiça, tanto quanto de elei-

ser crucial existir uma “cultura de compromisso,

ções», acentuou António Barreto, naquele que foi

de diálogo, de consenso, entre forças, instituições

considerado o discurso mais importante deste Dia

e políticos, num momento de extrema dificuldade,

de Portugal. Uma cerimónia que ficou ainda mar-

propondo a revisão da Constituição, considerando-a

cada pela frieza de relacionamento entre Passos

“anacrónica, barroca e excessivamente programáti-

Coelho e José Sócrates, os quais se chegaram a

ca”.

cruzar, sem se cumprimentar, à saída do Cineteatro

“Uma Constituição renovada, implica um novo siste-

Avenida, onde tiveram lugar os discursos oficiais.

ma eleitoral, com o qual se estabeleçam condições

Uma atitude que deu razão a uma parte do discurso

de confiança, de lealdade e de responsabilidade,

de António Barreto, ao referir-se aos políticos que

hoje pouco frequentes na nossa vida política. Uma

não deram o exemplo do sacrifício que impõem aos

nova Constituição implica um reexame das relações

cidadãos.

entre os grandes órgãos de soberania, actualmente

“A indisponibilidade para falarem uns com os ou-

de muito confusa configuração. Uma Constituição

tros, para dialogar, para encontrar denominadores

renovada permitirá pôr termo à permanente ameaça

comuns e chegar a compromissos, contrasta com

de governos minoritários e de Parlamentos instá-

a facilidade e o oportunismo com que pedem aos

veis. Uma Constituição renovada será ainda, final-

cidadãos esforços excepcionais e renúncias, a que

mente, o ponto de partida para uma profunda refor-

muitos se recusam”. Nem a propósito…

n

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 59


mala diplomática

2

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4

1. Embaixador Pascal Teixeira da Silva a fazer discurso 2. Maria do Carmo Vieira da Fonseca, Miguel Morais Leitão e Luís Ferreira dos Santos 3. Directora da revista Diplomática cumprimenta o Embaixador de França 4. Embaixadores de França, Christophe Bergey, Claire Monné e Sophie Laszlo

Dia Nacional da França celebrado em Portugal Tal como sucede usualmente a

vam muitos embaixadores, distintas

Embaixada de França abriu uma vez

figuras da cultura, economia e política

mais as portas do Palácio de Santos

bem como da sociedade civil quer

para celebrar o 14 de Julho. Pas-

portuguesa quer francesa.

cal Teixeira da Silva, o embaixador

Depois de agradecer a presença de

acreditado em Portugal, recebeu, em

todos e também a gentileza das mar-

companhia de sua mulher, Pascale

cas que colaboraram na organização

Teixeira da Silva, os seus inúmeros

da festa, o embaixador francês fez

convidados, entre os quais se conta-

uma referência à razão de ser

60 • Diplomática - OUTUBRO 2011


5

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8

5. Convidados a ouvir o discurso do Embaixador 6. Embaixador Marcello Mathias e José Blanco, Presidente da Associação “Légion Honneur” em Portugal 7. Embaixadores da Polónia, Professor Eduardo Lourenço e José António Pinto Ribeiro

desta celebração referindo que,

os partidos da França e de todos os

“o 14 de Julho é, há mais de cento e

cidadãos franceses, na liberdade e

trinta anos, a festa nacional francesa.

na igualdade’”. Esta alusão foi não

Comemora, não a tomada da Basti-

apenas interessante mas inovadora

lha mas a Festa da Federação, que

para muitas das pessoas que ouviam

teve lugar um ano mais tarde, a 14

Pascal Teixeira da Silva, pois quase

de Julho de 1790. Esta Festa, para

sempre que chega o dia 14 de Julho

utilizar as palavras ditas em 1880, era

este é usualmente designado como o

o ‘símbolo da união fraterna de todos

dia da celebração da Tomada da

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 61


Dia Nacional da França

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9. Maria de Bragança e Maria do Carmo Vieira da Fonseca 10. Embaixadora da Noruega com o Embaixador da Ordem de Malta 11. Chef Chakall deliciou os presentes com as suas receitas 12. Fernando Santos e Henrique Polignac de Barros, Consul do Principado do Mónaco 13. Jacques de Bretagnol 14. Embaixatriz Ana Rocha Paris e Maria da Luz de Bragança 15. Maria de Belém Roseira

Bastilha.

feriu também o desafio que os países

No seu discurso prosseguiu falando

europeus ora enfrentam e da neces-

dos três ideais liberdade, igualdade,

sidade que todos os seres humanos

fraternidade que “são partilhados e

têm de viver numa sociedade fraterna.

amados pela França e por Portugal,

Pascal Teixeira da Silva terminou re-

que há um século eram (com a Suíça)

ferindo que, “a França e Portugal são

as únicas repúblicas na Europa.” Elo-

duas velhas nações que enfrentam

giando a atitude que os povos árabes

os problemas e os desafios do início

tiveram há perto de seis meses, em

do século XXI. Todos juntos devemos

busca da liberdade e democracia, re-

enfrentá-los e superá-los.

62 • Diplomática - OUTUBRO 2011


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16. Inês Mendonça, Fátima Airey e Maria de Bragança 17. Duquesa de Cadaval e Anne-Marie Mathias 18. Patrick e Pia Ziegler 19. Cantores líricos, Francisco Ricardo e acompanhante 20. Embaixadora da Eslovénia 21. Embaixadora do Senegal 22. Fermando Mendes, director da Legrand com a nossa directora

(…) Deverá ser nosso o apelo

do ao piano, seguiu-se um cocktail

lançado há cerca de 160 anos por

que se estendeu até ao início da noite

Alexandre Herculano, grande escritor

e no qual muitas iguarias francesas

e historiador português: ‘Que somos

foram servidas acompanhadas pelos

nós hoje? Uma nação que tende a

excelentes vinhos franceses. Já os

regenerar-se: diremos mais: que se

champanhes da mesma proveniência

regenera’”.

serviram aos brindes feitos a ambas

Cantados primorosamente o hino

as nações e promoveram ainda mais

francês e o português pelo contra

o convívio e a boa disposição de to-

tenor Francisco Ricardo, acompanha-

dos os presentes.

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 63



Dia Nacional da França

Baile popular assinalou 14 de Julho 23

24

26

25

Por ocasião das celebrações do

27

Dia de França, o conhecido arquitecto Jacques Bretagnolle e o reputado pintor Mateus de Sousa Camacho, com o apoio do Embaixador Teixeira da Silva e das associações francesas sediadas em Lisboa, organizaram um baile popular no adro da igreja de Santos-o-Velho, mesmo ao lado da 29

embaixada de França. Nessa noite de Verão, a música popular portuguesa e a francesa foram rainhas. A animação foi constante, e nem os embaixadores franceses resistiram a associar-se à festa, dando um pé de

28

dança. Um simpático bar, a temperatura amena e o ambiente descontraído fizeram com que o Baile Popular do 14 de Julho tenha sido um retumbante sucesso – cujos lucros foram entregues na íntegra à paróquia de Santos-O-Velho.

23. Michel animou a noite 24 e 25. Eram muitos amigos 26. Os embaixadores vien

ram visitar o baile 27. Uma animação constante 28. As crianças felizes 29. Sofie Laslo e Jacques Bretagnole

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 65


Mala Diplomática

Dia da Independência dos Estados Unidos da América

2

1

1. Discurso do Embaixador Allan Katz 2. Embaixador dos Estados Unidos da América a ouvir o Hino acompanhado da guarda americana

Para celebrar o 235º aniversário da

a sua satisfação por todos os con-

da Marinha, “Topside”, que viera de

Declaração de Independência dos

vidados terem aceite participar num

Nápoles para estar de propósito nesta

Estados Unidos, o Embaixador Allan

evento comemorativo de tão impor-

recepção.

Katz e sua mulher, a Embaixatriz

tante data da história do seu país.

Allan Katz lembrou que chegou ao

Nancy Katz abriram as portas da em-

O embaixador referiu-se ainda ao

nosso País há pouco mais de um

baixada aos seus muitos convidados,

mote desse dia de festa – “o espírito

ano e confessou que tem sido uma

para comemorar mais este aniversá-

da música”, frisando que a música

aventura fantástica, pois viajou, ele

rio do seu país, com uma recepção

americana é tão diversa quanto o

e a mulher, por todo o Portugal, um

muito requintada.

próprio país, desde ao rock & roll ao

país notável, como especiais são os

O Embaixador Allan Katz, no seu

jazz, da Broadway ao Blue Grass.

portugueses, que conheceram e que

discurso de boas vindas, manifestou

E não deixou de se referir à banda

sempre os receberam de braços ➤

66 • Diplomática - OUTUBRO 2011


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3. Abigail Dressel 4. Christina Gillies, Maria da Luz de Bragança e Embaixatriz dos E.U.A. 5. Embaixatrizes de França e Luxemburgo 6. Embaixadora de Marrocos 7. Embaixadores de Itália e da Rússia com o Chefe de Protocolo de Estado, Bouza Serrano 8. Rodrigo Costa, Luísa Costa, Anabela Mata Ribeiro e António Pinto Ribeiro 9. Maria da Luz de Bragança com o Embaixador dos Emirados Árabes 10. Embaixadores da Coreia 11. Embaixadora do Senegal ➤ abertos,

com simpatia e generosidade.

americanos, com vista ao desenvolvi-

tico creditado no nosso País e per-

Os convidados espalharam-se pelos

mento de parcerias da África Lusófo-

sonalidades das mais diversas áreas

jardins da embaixada, num ambiente

na. Mas referiu-se igualmente à área

da vida nacional. Allan Katz afirmou

de grande descontracção e boa dis-

da Educação, dizendo-se impressio-

também que os Estados Unidos e

posição, tanto mais que até o tempo

nado com o dinamismo das novas

Portugal vão continuar ligados por

ajudou, de tão ameno que estava.

relações entre universidades portu-

fortes laços de amizade e valores

Allan Katz lembrou, na sua alocução,

guesas e americanas para a criação

comuns agradecendo aos convidados

que no campo do empreendedorismo

de mais oportunidades de intercâmbio.

presentes por celebrarem o Dia da

e enquanto representante dos EUA,

A terminar o seu discurso de boas-

Independência dos EUA e por parti-

tem continuado a fazer esforços para

vindas aos muitos convidados, entre

lharem desta velha amizade que une

juntar empresários portugueses e

eles representantes do corpo diplomá-

os dois países. n

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 67


Mala Diplomática

Dia Nacional da Rússia celebrado em Lisboa 2

1

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Festejava-se o Dia Nacional da

O embaixador Pavel Petrovskiy

Rússia nos jardins do Pestana

dirigiu um breve discurso de boas-

Embaixadores da Rússia 2. Embaixador da Argentina e Embaixa-

Palace. Os embaixadores Pavel

vindas aos seus convidados,

e Irina Petrovskiy receberam os

recordando a data de 12 de Junho,

muitos convidados - corpo diplomá-

que abriu caminho para o desenvol-

tico creditado no nosso País, lado

vimento democrático do seu país.

a lado com figuras destacadas das

Como resultado, no espaço da

dores de Cuba 3. Embaixatriz da Ordem de Malta e Pedro Ferreira de Carvalho 4. Embaixador do Irão com o Embaixador do Iraque

diversas áreas da vida nacional,

antiga URSS e de toda a Europa de

do meio empresarial, à política e à

Leste, aconteceram grandes mu-

cultura, que encheram os jardins,

danças, que levaram a que fossem

onde foi servido um requintado

corrigidas as regras do jogo políti-

cocktail.

co. O embaixador russo frisou

68 • Diplomática - OUTUBRO 2011

1. Maria da Luz de Bragança com os

5. Embaixadora da Polónia, Embaixador da Hungria e Embaixador da Letónia 6. Embaixadores da Moldava


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7. Embaixador da Áustria, Adrian Wessedi e Embaixadora da Noruega 8. José Bouza Serrano, Embaixador de Cuba, Embaixador da Turquia 9. Embaixador da Palestina com a filha Leen Shami 10. Embaixador da Argentina e a Directora da revista Diplomática 11. Embaixador da Suíça, Embaixador de Espanha e Embaixador da Ordem de Malta 12. Embaixador da Suécia, Núncio Apostólico e José Bouza Serrano

9

12

a sua satisfação pelo desenvolvi-

nas entidades governamentais.

mento progressivo da cooperação

Num tom divertido, o embaixador

russo-portuguesa, que exerce uma

virou-se para um campo inespera-

influência positiva num plano bas-

do – o futebol, área com que a Rús-

tante abrangente.

sia, disse o Emb. Petrovskiy, está a

O Emb. Pavel Petrovskiy fez saber

adquirir uma experiência preciosa.

que, no seu país, se avalia de

"Cada vez mais se desenvolvem

forma muito positiva, os êxitos

os contactos entre as pessoas e

alcançados por Portugal ao nível do

se ampliam os laços culturais, o

desenvolvimento das novas tecno-

que é muito positivo", disse ainda o

logias, energia verde e implemen-

embaixador russo, que brindou, por

tação de plataformas electrónicas

fim, à amizade entre os dois povos.

n

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 69


Mala Diplomática

Festa Nacional do Luxemburgo

1

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4

No seu discurso de boas-vindas, Paul Schmit lembrou aos convidados como começou o Luxemburgo,

Os embaixadores do Luxemburgo

não só aos seus compatriotas,

celebraram, em Lisboa, o aniver-

como também outros convidados

sário de Sua Alteza Real, o Grão-

das várias áreas da vida nacio-

Duque do Luxemburgo, e dia da

nal (empresários, economistas,

Festa Nacional do seu país.

personalidades ligadas à cultura),

Uma data que, no Luxemburgo,

celebrando, assim, o aniversário

se celebra durante dois dias.

do Grão-Duque do Luxemburgo.

Os embaixadores Paul e Nadine

No seu discurso de boas-vindas,

Schmit ofereceram uma recepção,

o embaixador lembrou aos

70 • Diplomática - OUTUBRO 2011

1. O Embaixador Paul Schmit no seu discurso 2. Embaixador da Sérvia, Embaixador da Grécia, Embaixador de Cuba e Embaixador da Hungria 3 . Embaixador de Cuba, Embaixadora da Eslovénia e Embaixador da Turquia 4. Maria José Tormenta e Embaixatriz do Luxemburgo


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6

9

convidados como começou o

10

gico. No século XIX e depois de

5. Embaixadores da Letónia

Luxemburgo, na Idade Média,

séculos de conquistas e gover-

6. Duque de Loulé, Inês Figueiredo e

com a construção do Castelo do

nado por estados estrangeiros, o

Luxemburgo. E foi em torno desta

Luxemburgo acabou por se tornar

fortaleza que se desenvolveu,

numa nação independente e neu-

gradualmente, uma cidade, que

tra. Uma neutralidade que viria

Carmen Távora 7. Maria da Luz de Bragança e Inês Mendonça 8. Embaixador da Rússia e Embaixador da Suiça 9. João Proença

viria a transformar-se no centro

a abandonar depois da Segunda

de uma pequena, mas importante,

Guerra Mundial, quando se tornou

do, Rita Bustorff de Sousa Tavares e

nação com grande valor estraté-

um dos membros fundadores da

Embaixador do Luxemburgo

10 Ricardo Espírito Santo Bastos Salga-

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 71


Festa Nacional do Luxemburgo

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14

NATO, das Nações Unidas e da

seu país, contribuindo para o seu

União Europeia.

progresso.

O embaixador Paul Schmit lem-

Foram ouvidos os hinos na-

brou a visita dos Grão-Duques do

cionais dos dois países e, já a

Luxemburgo a Portugal, a convite

terminar, Paul Schmit convidou

do Presidente da República, para

os presentes para que levantas-

lembrar as relações de amizade

sem as taças para um brinde de

existentes entre os dois países,

felicidades a Sua Alteza Real,

enriquecidas pela forte presença

o Grão-Duque Henri, à família

e contribuição dadas pela comu-

Grã-Ducal, ao Luxemburgo e a

nidade lusa, que lançou raízes no

Portugal.

72 • Diplomática - OUTUBRO 2011

n

11. Marion Krüse, Susana Capela, Mateus Camacho, Ana Paula Taborda e Maria da Luz de Bragança 12. Isabel Monteiro e Maria de Jesus Barroso 13. Embaixador da Ucrânia e Embaixador da Lituânia 14. Christine Gillies e Embaixador dos Países Baixos 15. Directora da revista Diplomática com o Embaixador do Luxemburgo


Mala diplomática

Embaixada da Grã-Bretanha Celebra aniversário de Isabel II A rainha de Inglaterra celebrou 85 anos ficando apenas a um ano de distância do jubileu de diamante, um marco celebrado apenas pela rainha Vitória, em 1987. Os seus súbditos continuam a dedicar-lhe o maior carinho e devoção. Uma devoção que remonta aos tempos da guerra, em que a então jovem Isabel constatou o quanto era amada pelos súbditos que, apesar da dureza da situação, não hesitaram em dar os seus cartões de racionamento, para que a sua princesa tivesse um vestido de noiva a preceito. Casou com Duque de Edimburgo, de quem tem quatro filhos – Carlos, Ana, André e Eduardo. Toda a Grã-Bretanha celebrou com júbilo o 85º aniversário da sua Rainha.

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 73


Embaixada da Grã-Bretanha

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1. Banda da Marinha inglesa 2. Joanne Kuenssberg, DHM 3. Embaixadores da Coreia e Embaixador da Indonésia 4. Directora da revista Diplomática e Embaixador da Russia

Londres celebrou e, em Portu-

O ambiente era, decididamente,

gal, a embaixada da Grã-Breta-

de festa, nesse fim de tarde. O

nha recebeu imensos convida-

aniversário da rainha Isabel II

dos, para evocar a efeméride,

brindado pelos convidados com

com um requintado cocktail, ser-

champanhe, tornou-se, também,

vido nos jardins da embaixada.

no nosso País e, nessa tarde em

74 • Diplomática - OUTUBRO 2011


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5. Um brinde à Rainha 6. Jordana e Bernardo Campos Pereira 7. Embaixador do Luxemburgo, Joanne Kuenssberg e Embaixador da Áustria 8. Peter Mottek e Robert S. Levitt 9. Embaixador da Hungria, Embaixadores de Espanha, Embaixador da Rússia e Mercedes Mottek 10. Teresa Syrungli e Embaixadora da Noruega

especial, um evento destacado

des presentes, para além de

na sociedade portuguesa, uma

representantes do corpo diplo-

vez que estamos ligados, desde

mático creditado em Portugal,

há muito, à Grã-Bretanha, por

esteve também Maria da Luz de

laços políticos e de amizade.

Bragança, directora da revista

Entre as muitas personalida-

Diplomática.

n

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 75


Mala diplomática

Dia Nacional da Itália 1

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1. Início da festa 2. Maria de Bragança com Embaixador de Itália 3. Clara Nunes Santos, José Bouza Serrano e Embaixadores da Georgia 4. Ana Salazar 5. Renée Gomes, Maria Barroso e a Embaixadora das Filipinas 6. Embaixadora da Índia

Foi na Embaixada de Itália, em

de boas vindas, recordou que se es-

mundo".

Lisboa, que teve lugar a recepção do

tava a comemorar, não só os 65 anos

O embaixador recordou ainda que,

Dia Naccional daquele país, que con-

da República Italiana, mas também

há 150 anos, a 17 de Março de 1861,

tou com a participação de mais de

os 150 anos da Unidade Nacional.

nasceu o Reino da Itália, graças ao

1000 convidados, entre eles o corpo

Daí, ser-lhe muito grata a oportuni-

processo político, diplomático e mi-

diplomático creditado em Portugal

dade de receber na embaixada, para

litar, conhecido como Risorgimento.

e individualidades ligadas ao sector

celebrarem juntos, não só as autori-

Um processo fundamentado nos va-

empresarial, político e da cultura.

dades portuguesas, como também

lores, ideais e na coragem, que levou

Este ano, o evento esteve associa-

os colegas e amigos diplomatas e

à unificação da Itália, anteriormente

do às celebrações dos 150 anos da

a comunidade italiana, que trabalha

dividida em 7 estados de pequena

unificação da Itália.

"neste magnífico País, que é Portu-

dimensão. Com afirmação do princí-

O embaixador da Itália, Luca del

gal, contribuindo para manter bem

pio da nacionalidade, disse ainda o

Bazo di Presenzano, no seu discurso

alto o nome e o prestígio da Itália no

embaixador, os cidadãos do Norte e ➤

76 • Diplomática - OUTUBRO 2011


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7. Embaixadora da Noruega e Manuel Enes 8. Embaixador Ali Kaya Savut, Embaixadores da Sérvia, Embaixadora Bernarda Gradishik 9. Embaixadora de Marrocos e directora da Diplomática 10. Embaixadora do Senegal 11. Embaixador da Suíça e Maria de Bragança 12. Helena e Manuel Pinto Barbosa 13. Isabel Rilvas ➤ Sul

da península tornaram-se italia-

Bandeiras (Sbandieratori) da munici-

xador de Itália fez questão de recor-

nos sem, claro está, renegarem o seu

palidade italiana de Città Della Pieve

dar que, nesta recepção, se estava a

passado, mas antes integrando-o na

(cuja vinda tão especial e original,

celebrar a identidade de uma nação

nova Itália, acabada de nascer.

o embaixador fez questão de agra-

que se sente orgulhosa da sua histó-

Sucessivamente, há precisamente 65

decer na pessoa do presidente da

ria e cumprimentou, de modo espe-

anos, o povo italiano, através de um

Câmara daquela cidade, Ricardo

cial, todos os italianos presentes, em

referendo constitucional, sancionou

Manganello, ali presente) e que ofe-

particular todos aqueles que residem

o fim da Monarquia e nascia então a

receu aos convidados um espectá-

e vivem longe da pátria, à qual se en-

República, frisou ainda o embaixador

culo evocativo das antigas tradições

contram ligados por profundos laços

Luca del Balzo.

italianas. Um espectáculo que se

afectivos. E terminou, agradecendo

O evento teve também uma caracte-

repetiria, dias depois, no Castelo de

a presença de todos os convidados,

rística especial, graças à participação

S. Jorge.

desejando uma boa continuação da

da Companhia dos Agitadores de

A terminar o seu discurso, o Embai-

festa, com amizade e muita alegria.

n

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 77


Mala Diplomática

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4

Festa da independencia de Israel A Embaixada de Israel assinalou os 63 anos da Independência do Estado de Israel numa cerimónia no Hotel Sheraton, no passado dia 10

1. Embaixadores de Israel a brindar

de Maio, em Lisboa.

2. Embaixador de Israel e Lior Keinan e a mulher Sarit Keinan

Presentes estiveram muitos amigos de Israel, nomeadamente membros do Parlamento, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, do Corpo Diplomático, da

78 • Diplomática - OUTUBRO 2011

3. Embaixador da Sérvia e a mulher 4. Miguel Polignac de Barros


6

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10

Comunidade Judaica e muitas

outras personalidades do Mundo Económico e dos Meios de Comu5. Pia Ziegler e Rodi Bachmann

nicação Social, que vieram feste-

6. Jack Saifer, Raul Capela e João Proença

gar esta ocasião tão feliz. No final

7. Marinho Pinto

do seu discurso, os Embaixadores

8. Ana de Brito e António Alvim 9. Carla Fontes e Conceição Ribeiro, Directora do Hotel Tiara 10. Núncio Apostólico e Eduardo Fortunato de Almeida 11. Milton Moniz

de Israel, Ehud e Sharon Gol brindaram aos fortes laços de amizade entre Portugal e Israel. n

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 79


mala diplomática

20º Aniversário da República da Eslovénia

1

2

5

3

6

4

1. Embaixadora da Eslovénia 2. Vassilios Costis, Embaixador da Grécia, Embaixador da Itália e Alan Cummins 3. Embaixador do Chile, Embaixadora da Noruega, Inga Magistad, Embaixador da Áustria 4. Embaixador da Itália, Embaixadora da Eslovénia, Núncio Apostólico e António de Macedo 5. Embaixador da Rússia, Embaixadora da Índia e Gassan El Aouar 6. Ali Kaya Savut, Embaixador da Turquia

Foi por ocasião da celebração

da Eslovénia organizou, em Lisboa,

lovénia a um lugar não-permanente

dos 20 anos da independência da

no Restaurante Estufa Real, no

no Conselho de Segurança da ONU

República da Eslovénia e do Dia Na-

Jardim Botânico da Ajuda. Presentes

e saudou as boas relações entre

cional, que teve lugar uma recepção

estiveram também representantes

Portugal e a Eslovénia.

na Estufa Real, no Jardim Botânico

de empresas eslovenas e eslovenos

Uma das seis repúblicas que forma-

da Ajuda.

residentes em Portugal.

vam a ex-Jugoslávia, a Eslovénia (si-

Foram mais de 100 convidados, das

No discurso com que recebeu os

tuada na confluência de quatro gran-

mais diversas áreas da sociedade

seus convidados, a Embaixadora

des zonas geográficas europeias)

portuguesa, da política à economia,

Bernarda Gradisnik enfatizou os

tornou-se independente em 1991,

passando pela cultura e o jornalismo,

sucessos alcançados pela Eslovénia,

com a desintegração da Jugoslávia.

que estiveram presentes na recep-

nos 20 anos decorridos desde a sua

O país faz fronteira com a Itália, a

ção que a Embaixada da República

independência, a candidatura da Es-

Áustria, a Hungria e a Croácia.

80 • Diplomática - OUTUBRO 2011


Economia & Finanças

Patrick Siegler-Lathrop is a French-American consultant living in Portugal, with a more than 30-year career as a Wall Street investment banker, entrepreneur, industrialist and professor, having taught at INSEAD and Paris University, Dauphine. He is a founding member of the international NGO Action Contre la Faim.

(* The opinions expressed herein are those of the author, and do not necessarily represent those of DIPLOMATICA) (* As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor e não representam necessariamente as da Diplomática.)

Portugal’s Eurodilemma

O Euro Dilema de Portugal

Portugal’s current financial and economic

No tratamento dos seus membros mais fracos da Zona

situation poses serious questions about the

Euro, a União Europeia (“UE”), o Banco Central Europeu

country’s membership in the Eurozone, and

(“BCE”) e o Fundo Monetário Internacional (“FMI”), referido

the conditions it is obliged to accept to obtain

como a “troika”, pode muito bem-estar a colocar em risco

funds to service its debts.

não só o futuro do Euro, mas de igual modo a prejudicar

The country’s structural weaknesses - high go-

todo o movimento de integração europeia.

vernment deficit, low past and current growth,

Pese embora todos concordem que Portugal não tem sido

low international competitiveness reflected in

tão perdulário quanto a Irlanda e a Grécia, as debilidades

persistent balance of trade deficits, a fragile

estruturais do país - um alto nível de défice orçamental, o

banking system - have led international finan-

baixo crescimento passado e corrente, uma ausência de

cial markets to put Portugal in the same cate-

competitividade internacional reflectida no saldo persistente

gory as the weakest members of the Eurozone,

do deficit comercial e um sistema bancário frágil - levaram

closing off access to private financing for the

os mercados financeiros internacionais a colocar Portugal

country.

na mesma categoria dos membros mais fracos da zona

To avoid impending default, Portugal was

euro, fechando o acesso ao financiamento privado para o

obliged in May of this year to negotiate a $78

país.

billion loan from the International Monetary

Para evitar a incumprimento iminente, Portugal foi obri-

Fund (“IMF”), the European Union (“EU”), and

gado, em Maio deste ano a negociar um empréstimo de

the European Central Bank (“ECB”), referred

78.000 milhões dólares americanos do Fundo Monetário In-

to as the “troika”. Behind the troika’s apparent

ternacional (“FMI”), da União Europeia (“UE”), e do Banco

willingness to help Portugal (and Greece and

Central Europeu (“BCE”), referido como a “troika”. Atrás

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 81


The Financial Crisis A Crise Finaceira

Ireland) is a fear that a default by a European

da aparente disposição da troika para ajudar Portugal (e

country could seriously weaken the banking

a Grécia e Irlanda) está o medo de que a falha de cumpri-

system and possibly lead to a systemic failure

mento de um país europeu poderia enfraquecer seriamente

of the entire European financial structure (Ger-

o sistema bancário (os bancos alemães e franceses pos-

man and French banks alone hold about $1.4

suem 1,4 biliões de dólares americanos da dívida soberana

trillion worth of the sovereign debt of Portugal,

de Portugal, Irlanda, Grécia, Itália e Espanha) e possivel-

Ireland, Greece, Italy, and Spain).

mente levar a uma falha sistemática de toda a estrutura

What were the conditions Portugal had to

financeira europeia.

accept for such a loan? The troika espoused

Quais foram as condições que Portugal teve de aceitar

exactly the same “politically correct” view as

para um empréstimo deste tipo? A troika expôs exacta-

financial markets and rating agencies: Portugal

mente a mesma visão “politicamente correcta” dos merca-

(like Greece and Ireland) committed to dras-

dos financeiros e das agências de rating, que têm o poder

tically reduce government expenditures and

de julgar o “valor” da dívida de um país: Portugal (como

increase taxes, as well as to put into place a

a Grécia e Irlanda) assumiu o compromisso de reduzir

number of structural reforms.

drasticamente os gastos do governo e aumentar os impos-

There is no doubt that some of the structural

tos, bem como o de pôr em prática uma série de reformas

reforms imposed by the troika are necessary,

estruturais.

and the crisis that Portugal is experiencing is

Não há dúvida de que algumas das reformas estruturais

an excellent opportunity to force changes that

impostas pela troika são necessárias, e a crise pela qual

would have been politically impossible otherwi-

Portugal está a passar é uma excelente oportunidade para

se.

forçar mudanças que seriam politicamente impossíveis de

But basic economics teaches us that a mas-

outra forma.

sive reduction in government expenditures

Mas a economia ensina-nos que uma redução drástica dos

simultaneously with large tax increases, un-

gastos do governo em simultâneo com grandes aumentos

less counterbalanced by contrary forces, will

de impostos - a não ser que contrabalançados por forças

immediately send the economy into a tailspin,

contrárias - irá colocar imediatamente a economia numa

greatly reducing output and increasing both

espiral descendente, reduzindo a produção e aumentando

unemployment and poverty. The entire country

tanto o desemprego como a pobreza. O país inteiro irá

will suffer, but as always, the poorest segment

sofrer, mas como sempre, o segmento mais pobre será o

will suffer the most.

mais afectado.

Although lip service is given to noble employ-

Apesar de o discurso oficial se focar no emprego e no cres-

ment and growth objectives in the text agreed

cimento económico, o texto do acordo com a troika, visto

to with the troika, concrete measures to protect

justamente de uma perspectiva de geração de emprego e

employment and promote growth are painfully

crescimento, revela medidas que são inteiramente negati-

absent.

vas.

What is Portugal getting in exchange for ac-

E o que recebe Portugal em troca ao aceitar estes sacri-

cepting the troika-imposed pain? Short-term

fícios impostos pela troica? De facto obtém liquidez a curto-

liquidity to pay its current deficits, yes, but also

prazo para pagar os seus deficits correntes mas a expen-

the certainty of a prolonged, government-indu-

sas de uma recessão prolongada induzida por imperativos

ced recession.

governamentais.

What is particularly troubling about the ap-

O que eu acho particularmente preocupante sobre a

proach of rating agencies, the IMF, the ECB

abordagem das agências de rating, o FMI, o BCE e a UE,

and the EU, is that there is no clear evidence

é que não há evidências claras de que este medicamento

that this excessively monetarist medicine will

excessivamente monetarista vá funcionar. Pelo contrário,

work. On the contrary, the recession will lead

a recessão vai levar a receitas de Estado muito menores,

to much lower government receipts, virtually

praticamente garantindo que os ambiciosos objectivos para

guaranteeing that the ambitious deficit targets

o défice que foram estabelecidos não serão cumpridos.

will not be met.

Pagar um alto custo pode ser considerado aceitável, se

Paying a high cost can be considered accep-

houver luz no fim do túnel, ou seja, uma prospecção razo-

table, if there is light at the end of the tunnel,

ável de desenvolvimento saudável num futuro não muito

reasonable prospect of healthy development in

distante. Mas tal garantia não nos é dada - não há

82 • Diplomática - OUTUBRO 2011


the not-too-distant future. But no such pros-

praticamente nada no pacote que possa fazer gerar cres-

pect is offered - there is virtually nothing in

cimento - muitos acreditam que o plano troika tem poucas

the package that will generate growth - many

hipóteses de sucesso; irá apenas adiar uma necessária re-

believe the troika plan has little chance of

estruturação da dívida portuguesa para uma data posterior.

success, and will merely postpone a necessa-

O recente "downgrade" da dívida de Portugal pela agência

ry restructuring of Portuguese debt to a later

de rating Moody ao nível de “junk”, mostra que a própria

date.

Moody não acredita que o seu remédio excessivamente

The recent severally criticized downgrade of

monetarista vá funcionar, pelo menos não suficientemente

Portugal’s debt by Moody’s rating agency to

bem para evitar a provável renegociação da dívida.

the level of “junk” says Moody’s doesn’t belie-

Nesta situação, se Portugal não fosse um membro da

ve their own excessively monetarist medicine

zona euro iria fazer uma desvalorização substancial da

will work, at least not well enough to avoid

sua moeda, que provocaria uma melhoria imediata da sua

likely renegotiation of the debt.

competitividade internacional e colocaria em prática uma

In this situation, if Portugal were not a member

série de medidas paralelas: reformas estruturais para tirar

of the Eurozone, it would no doubt envisage a

proveito da redução dos custos a fim de gerar crescimento

substantial devaluation of its currency, imme-

liderado pelas exportações, grande redução dos défices or-

diately improving its international competiti-

çamentais, gestão das taxas de juro e a política monetária

veness, and put into place a series of parallel

prever um nível moderado de inflação para ajudar a reduzir

measures: structural reforms to take advantage

a dívida, etc. Tal abordagem não seria indolor - um dos re-

of lower costs to generate export-led growth,

sultados seria um aumento imediato em dívida em moeda

major reduction in government deficits, mana-

estrangeira - mas mostrou-se eficaz no passado, e se bem

gement of interest rates and monetary policy to

gerido, quase certamente proporcionaria uma solução posi-

provide for a moderate level of inflation to help

tiva para a posição muito difícil que tem hoje Portugal.

reduce debt, etc. Such an approach would not

Mas Portugal não pode desvalorizar: é um membro da

be painless - one result would be an immediate

zona Euro, sem controlo sobre o valor da sua moeda,

increase in foreign-currency debt - but it has

sobre as suas políticas monetárias nem sobre o nível das

proven effective in the past, and if well mana-

suas taxas de juro. Tudo isto é determinado pelo Banco

ged, would almost certainly provide a positive

Central Europeu, estabelecido para responder às neces-

solution to the very difficult position Portugal is

sidades de um país, a Alemanha, copiando o modelo do

in today.

Banco Central Alemão, estabelecido para responder às

But Portugal cannot devalue: it is a member of

necessidades de um país, com uma forte orientação para a

the Eurozone, with no control over the value of

exportação industrial e com um particular foco no controlo

its currency, nor its monetary policy and level

da inflação, de um tempo em que a Europa beneficiaria de

of interest rates. These are set by the Europe-

uma taxa de inflação moderada.

an Central Bank, copied after the German Cen-

Penso que o mundo tornou-se excessivamente dominado

tral Bank, established to respond to the needs

por uma abordagem monetária, com ênfase excessiva na

of a country, Germany, with a strong export-

protecção de bancos e banqueiros, e pouca atenção dada

oriented industrial base which can accept a

ao desemprego. Tal aproximação revela-se curta de vistas,

strong currency and with a singular focus on

potenciadora de sentimentos anti-europeus em vários

controlling inflation, at a time when much of

países e arrisca por em causa as fundações do sucesso

Europe would benefit from a moderate level of

europeu.

inflation.

O Euro, e as políticas do Banco Central Europeu, clara-

I think the world has become excessively do-

mente não respondem às necessidades actuais de Portu-

minated by a monetary approach, with exces-

gal (ou a Grécia ou a Irlanda, e alguns outros).

sive emphasis given to protecting banks and

Assim, deve considerar Portugal deixar o Euro? Em Bruxe-

bankers, and too little attention given to taking

las e nos gabinetes de Governo em Lisboa, tal alternativa

care of the unemployed. Such an approach is

continua a ser impensável.

short-sighted, will strengthen anti-European

É evidente que os riscos económicos e de mercado e os

sentiment in many countries and risks threate-

custos a curto prazo de deixar o Euro seriam muito eleva-

ning the very foundation of European success.

dos, mas é muito menos claro se os custos de longo prazo

The Euro, and the policies of the European

seriam maiores do que o que Portugal tem agora de

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 83


The Financial Crisis A Crise Finaceira

Central Bank, clearly do not respond to the

enfrentar. Eu acho que seria do interesse do Governo

current needs of Portugal (or Greece, or Ire-

Português reunir uma equipa pequena e discreta para ana-

land, and certain others).

lisar em que condições seria possível deixar o Euro.

So should Portugal consider leaving the Euro?

Que tal passo não é mesmo considerado é preocupante.

In Brussels and in Government offices in Lis-

Sempre que conhecimento convencional, é tão dominante

bon, such an alternative remains unthinkable.

que as alternativas não são sequer examinadas, tal dog-

It is evident that the economic and market risks

matismo pode levar a erros graves.

and the short-term costs of leaving the Euro

Mas, claro, o euro é mais do que apenas uma moeda, é

would be very high, but it is much less clear

uma declaração política, um marco importante burocracia

that the long-term costs would be higher than

que na construção de uma Europa unida e democrática.

what Portugal is now facing. I think it would

Tanto a burocracia da UE como a do BCE temem que se

be in the interest of the Portuguese Govern-

um membro da zona euro deixar o Euro, todo o sistema

ment to bring together a small, discreet team

poderia se revelar, colocando um forte travão no movimen-

to examine under what conditions it might be

to de integração europeia.

possible to leave the Euro.

Os Português estão bem conscientes de que têm benefi-

That such a step is not even considered is

ciado enormemente adesão à União Europeia, e Portugal

troubling. Whenever conventional wisdom is

tem sempre desempenhou um papel importante e positivo

so dominant that alternatives are not even

na sua evolução. Como resultado, nenhum Governo Por-

examined, such dogmatism can lead to serious

tuguês iria encontrar a vontade política de deixar o Euro,

mistakes.

dando um passo que poderia ir tão radicalmente contra o

But of course, we must recognize that the Euro

movimento de integração europeia.

is more than just a currency, it is a political

O mesmo acontece com Portugal só tem a opção de ser

statement, a major milestone in the construc-

um “bom aluno”, preso na camisa de força do euro, subser-

tion of a united and democratic Europe. Both

viente à ortodoxia monetarista dominante da troika, sofren-

the EU and ECB bureaucracy fear that if a

do através de anos de recessão com poucas perspectivas

Eurozone member were to leave the Euro, the

de melhora significativa?

whole system might unravel, putting a serious

Acho que não. Uma vez que os problemas que Portugal

brake on the European integration movement.

enfrenta reflectem um problema europeu, as soluções de-

The Portuguese are well aware that they have

vem ser desenvolvidas num contexto europeu.

enormously benefited from membership in the

O Governo Português pode e deve tomar a iniciativa, de

EU, and Portugal has consistently played an

propor à UE que coloque em prática, em paralelo com as

important and positive role in its evolution. As

medidas existentes que sabemos que terão um impacto

a result, no Portuguese Government would

negativo sobre o crescimento, as soluções positivas que

find the political will to leave the Euro, taking

irão gerar crescimento e emprego. Estas medidas reque-

a step that would so radically go against the

rem imaginação e dinheiro, mas vão garantir que o proces-

movement of European integration.

so de volta à boa saúde financeira e económica funcione,

So does Portugal only have the choice of being

em benefício de interno. Portugal, do Euro e da UE.

a “good student”, stuck in the straight-jacket of

Portugal precisa de atrair investimento estrangeiro e

the Euro, subservient to the dominant moneta-

precisa de gerar um ambiente interno mais empreende-

rist orthodoxy of the troika, suffering through

dor. Encontrou-se 78 milhões de dólares para os credores

years of recession with little prospect of signifi-

Portugueses; Não podem 1-2 Mil Milhões ser encontrados

cant improvement?

para gerar uma dinâmica positiva? Esse dinheiro poderia

I think not. Just as the problems facing Portu-

ser usado para colocar em cena novas iniciativas, como

gal reflect a European problem, so the so-

por exemplo:

lutions should be developed on a European

– Incentivos fiscais - por que não permitir uma taxa de

stage.

imposto muito mais baixa para qualquer actividade empre-

The Portuguese Government can and should

sarial recém-criada, por um período temporário de 5 anos,

seize the initiative, to propose to the EU

com a plena aprovação e acompanhamento cuidadoso por

that it put into place, in parallel with existing

parte da UE?

measures which we know will have a negative

– Portugal tem relações privilegiadas com o Brasil, com

impact on growth, positive solutions which

Angola e noutros países - por que não criar um ou mais

84 • Diplomática - OUTUBRO 2011


will generate growth and employment. Such

bancos de investimento / desenvolvimento, com os accio-

measures will require imagination, and mo-

nistas da UE e destes países, para promover o investimen-

ney, but they will ensure that the process of

to e a exploração em comum?

returning to financial and economic good he-

– Pergunte-se a qualquer empresário francês que tenha

alth will work, to the benefit of Portugal, the

trabalhadores portugueses e ele dir-lhe-á que estes são os

Euro and the EU.

melhores trabalhadores que tem. E há um grande núme-

To generate growth and employment, Portugal

ro de Português expatriados que se tornaram líderes em

needs to attract foreign investment and needs

Londres, Paris, Nova York, Pequim e São Paulo, e que,

to generate a more entrepreneurial domestic

sem dúvida, estarão motivados a contribuir para o desen-

environment. Many ideas could be explored:

volvimento de Portugal. Não será possível serem explora-

Fiscal incentives - why not permit a much

das medidas para atrai-los a regressar a Portugal, ou para

lower corporate tax rate for any newly created

explorar o recurso da comunidade de expatriados de Portu-

activity, for a temporary period of 5 years, with

gal para contribuir para o desenvolvimento de Portugal no

the full approval and careful monitoring by the

estrangeiro, em parte para compensar a perda do espírito

EU?

empreendedor dos 100.000 portugueses que deixam Por-

Portugal has privileged relationships with

tugal em cada ano, por falta de empregos e oportunidades

Brazil, with Angola and certain other coun-

de carreira?

tries - why not create one or more investment/

– Poucas pessoas estão conscientes que muitas grandes

development bank located in Portugal, with

empresas europeias consideram as suas operações indus-

shareholders from the EU and from these

triais em Portugal como das mais produtivas no Mundo,

countries, to promote investment and joint

competindo com custos muito competitivos para mercados

business?

de nicho. Muito mais poderia ser feito, com a ajuda de

Ask any French industrialist who has Portu-

companhias com investimentos já existentes, e a EU, para

guese workers and he will tell you they are the

explorar a atractividade do país, possivelmente através

best workers he has. Yet the Portuguese in

de uma entidade com base na EU especificamente criada

Portugal do not have such a reputation. Could

para ajudar a trazer investimento para o país.

not measures be explored to attract Portugue-

– O sector do turismo representa um potencial imenso de

se to return to Portugal, in part to counteract

desenvolvimento, contudo o acordo da troika quase não

the loss of the entrepreneurial spirit of the

menciona o assunto. Um estudo feito pela EU para exami-

100,000 Portuguese who leave Portugal each

nar os correntes impedimentos ao desenvolvimento turís-

year, for want of jobs and career opportuni-

tico, seguido de um fundo para a promoção de projectos

ties?

turísticos, é claramente uma outra via a ter em conta.

There are a number of large European com-

– Da mesma forma, o potencial agrícola de Portugal para

panies which have highly productive industrial

a exportação e para a substituição da importação é larga-

operations in Portugal, producing for niche

mente subdesenvolvido, e necessita de estudos e fundos

markets. Why not regroup them, with large

para promover o lançamento de numerosos projectos.

companies from elsewhere, into a EU funded

– Portugal necessita de mais formação em empreendedo-

structure, which will specifically assist in brin-

rismo e deveria encorajar as suas universidades e escolas

ging investment into the country?

de gestão e economia a desenvolver parcerias com univer-

The tourism sector represents enormous

sidades estrangeiras que tenham elaborado activamente

potential for development, yet the troika agre-

planos de empreendedorismo.

ement hardly mentions the subject. A EU

A família da EU tem um know-how considerável na promo-

inspired study to examine the impediments to

ção do desenvolvimento: O Banco Europeu para a Recons-

tourism development, followed by funding for

trução e Desenvolvimento, que desenvolveu um know-how

the promotion of tourism projects, is clearly

significativo com o seu trabalho na Europa de Leste, o

another avenue to examine

Banco de Investimentos Europeu, ou uma nova entidade

Similarly, Portugal’s agricultural potential for

fundada pelos membros da zona Euro, poderiam servir de

export markets is grossly under-developed,

veículos à reunião de know-how existente a fim de catalisar

and needs studies and funding to promote the

e fundar projectos dos países periféricos da zona euro.

launch of numerous projects

Poder-se-ia começar pela organização de uma mesa re-

Portugal needs more entrepreneurship

donda, patrocinada pela EU e Governo português,

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 85


The Financial Crisis A Crise Finaceira

education, and should encourage its univer-

convidando à participação de líderes governamentais

sities and business schools to develop part-

e da indústria e comércio, incluindo os portugueses da

nerships with universities elsewhere that have

diáspora, e elementos representativos de potenciais inves-

elaborated extensive entrepreneurship activity.

tidores, para identificar objectivos específicos e propostas

The European Bank for Reconstruction and

concretas para o desenvolvimento do país.

Development, which has developed considera-

Portugal é um mercado pequeno onde a União Europeia

ble knowhow from its work in Eastern Europe,

pode testar as suas novas ideias com um risco muito

the European Investment Bank, or a new entity

reduzido e aplicar as de sucesso de forma mais vasta aos

funded by Eurozone members, could serve as

outros países periféricos.

vehicles to catalyze and fund projects for peri-

Preocupa-me a ideia de que os burocratas em Bruxelas,

pheral countries in the Eurozone.

Frankfurt, Washington

Portugal is a small market, and the European

sam estar a viver num mundo fechado e não tenham sido

Union can test new ideas there, at minimal

treinados para perceber o impacto das suas decisões na

risk, and apply the successful ones more broa-

vida das pessoas comuns.

dly to other peripheral European countries.

Talvez seja demasiado arriscado sair do Euro, mas Portu-

One could start by organizing a broad round-

gal precisa de dizer à União Europeia para acordar para o

table discussion, sponsored by the EU and the

facto de ao não estar a fazer nada de positivo está também

Portuguese Government, inviting the participa-

a pôr em risco toda a estrutura europeia reforçando as

tion of Portuguese business and Government

posições dos partidos anti-europeus e contribuindo para

e ministérios governamentais pos-

leaders, including expatriate Portuguese who

prováveis manifestações da «Primavera Europeia» que

have become leaders in London, Paris, New

poderão se espraiar para além das ruas da Grécia. Se

York, Beijing and Sao Paolo, and who would

os Europeus começarem a fazer realmente a sua voz ser

no doubt be motivated to contribute to the de-

ouvida, a impopularidade da burocracia da EU arrisca-se a

velopment of Portugal.

tornar-se numa torrente. A EU não fez um bom trabalho na

Financial rigor, imposed by the rating agen-

sua auto-promoção, pelo contrário, a visão populista está

cies, the IMF, the EU and the ECB, will not be

na ordem do dia.

enough to save the Euro. On the contrary, the

Se a EU e o BCE estão com tanto medo das consequên-

policies being applied, if pursued alone, may

cias de uma eventual saída do Euro, então deveriam provi-

well lead to the destruction of the Euro and

denciar medidas para o crescimento do empreendedorismo

much of the success of the EU.

e da criação de empregos, para salvar tanto o Euro como

Portugal’s situation is a case in point. Unless

uma continuada evolução para uma União Europeia verda-

some positive impetus is added to the agree-

deiramente democrática e popular.

ments Portugal has signed with the troika, the

Não é impossível impor rigor ao mesmo tempo que se

likelihood of continued economic decline, with

acrescenta níveis de crescimento e criação de empre-

serious political repercussions, is high. If the EU

go. Mas é necessário um ímpeto positivo e imaginação,

and the ECB are so afraid of the consequences

algo muito contrário à visão convencional e asfixiante dos

of an eventual departure from the Euro, then

monetaristas – pese embora, politicamente correcta - de

they should provide for new, entrepreneurial

«devemos proteger os bancos a todo o custo», «deficits

growth and employment opportunities, to save

são sempre maus» e «a mãe de todos os problemas é a

both the Euro and the continued evolution to-

inflação». As medidas de vistas curtas ou básicas revelam-

wards democratic and popular European union.

se inapropriadas para tempos como estes em que esta-

Just as Portugal’s peaceful and impressive

mos.

evolution from a long dictatorship to a healthy

Tal como a impressionante evolução pacífica de Portu-

democracy after the 1974 revolution served as

gal de uma longa ditadura até uma saudável democracia

an example for newly created democracies of

pós-25 de Abril serviu de exemplo para as recentemente

Eastern Europe, can Portugal not once again

criadas democracias da Europa de Leste, não poderá ago-

be on the forefront of new initiatives which can

ra Portugal estar de novo na vanguarda de novas iniciati-

provide a permanent, long-term solution to

vas que possam providenciar soluções permanentes e de

the multiple crises which Europe and the Euro

longo termo para as múltiplas crises que a Europa e o Euro

appear likely to face?

parecem ter que vir a enfrentar?

n

86 • Diplomática - OUTUBRO 2011

n


Cultura

Instituto Camões preside à EUNIC Plenário de Lisboa provoca salto qualitativo

A ideia inicial de «construção conjunta de projetos» evoluiu entretanto no sentido de levar a EUNIC a agir também na «formação e capacitação dos agentes culturais», indica Ana Paula Laborinho, que insere nessa vertente as chamadas «academias de verão» para jovens gestores culturais dos institutos. Antecedendo a reunião de Lisboa, realizou-se na capital portuguesa, organizada pela primeira vez inteiramente por portugueses, através do Instituto Camões (IC), a 4ª edição da «academia de verão» dedicada às indústrias criativas e culturais, cumprindo três objetivos da organização: «partilha, aprendizagem, construção».

Novo modelo e nova fase Com a assinatura dos estatutos, que acontecerá em breve, em Bruxelas, e de acordo com a legislação belga, a EUNIC passa a ser «uma assoA presidência da EUNIC – Institu-

escritório em Bruxelas.

ciação com personalidade jurídica»,

tos Nacionais de Cultura da União

Criada em 2006, a EUNIC é uma

refere a presidente do IC, que revela

Europeia – pelo Instituto Camões,

rede de institutos responsáveis pe-

ainda estar em elaboração «um

que se iniciou a 8 de junho, com a

las relações culturais externas dos

regulamento não só em relação

reunião de dois dias em Lisboa do

Estados membros da UE, congre-

ao funcionamento do escritório em

plenário semestral dos dirigentes

gando presentemente 30 institui-

Bruxelas, mas também em relação

das instituições que a integram, vai

ções de 26 países. O seu objetivo

ao funcionamento dos clusters, ou

coincidir com um «salto qualitati-

principal é promover a cooperação

seja, como é que estes se relacio-

vo» no funcionamento desta rede

cultural, mediante parcerias entre

nam com a equipa da presidência da

europeia.

os profissionais dos setores cultu-

EUNIC e como é que representam,

A reunião de Lisboa marcou o

ral, educativo e da juventude, «ten-

de alguma forma, a EUNIC».

arranque prático de uma série de

do em vista um maior entendimento

«Este será também um momento

transformações na EUNIC, que «já

da diversidade cultural e linguística

em que, ao contrário do que acon-

vinham sendo discutidas há algum

europeia».

tecia – em que o projeto era su-

tempo», segundo a Presidente do

Mas a sua peculiaridade maior

portado financeiramente sobretudo

Instituto Camões, Ana Paula Labo-

é o facto de as antenas desses

pelo Goethe Institut e pelo British

rinho, e na penúltima reunião dos

institutos espalhadas pelo mun-

Council – os institutos parceiros

seus dirigentes, realizada em Bru-

do se agruparem localmente em

deste projeto vão todos eles contri-

xelas, em dezembro de 2010, «foi

núcleos (os clusters, na linguagem

buir, na medida da sua dimensão,

decidido criar um estatuto jurídico

da organização), que desenvolvem

para o orçamento geral da EUNIC»,

para a EUNIC», que lhe dá «perso-

iniciativas conjuntas com a marca

afirma a presidente da EUNIC,

nalidade jurídica», e dotá-la de um

cultural europeia.

terão assim «um maior envolvimento ➤

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 87


Instituto Camões preside à EUNIC

seu plano de atividades».

belecimento de parcerias através

Projetos com envolvimento da EUNIC

Do novo modelo da EUNIC fazem

da EUNIC, que vai ser desenvolvido

– A EUNIC preside à Plataforma

ainda parte as reuniões regionais,

e prosseguido, e a mesma coisa

da Sociedade Civil da UE sobre

«em que a Presidência se junta

acontece com as Américas, conti-

o Multilinguismo. Com um sig-

com os clusters de uma grande

nente que foi objeto de uma reunião

nificativo financiamento da UE,

região para debater questões não

regional dos clusters, em maio pas-

o projeto destina-se à criar um

só de organização, mas também

sado, em São Paulo, no Brasil».

Observatório da Língua em linha

➤ na

sua gestão e na elaboração do

de diálogo com a China e de esta-

substantivas». Na génese destas

até dezembro de 2012, destinado

reuniões regionais esteve a realiza-

O que é a EUNIC?

a captar as boas práticas e rea-

ção anual de uma reunião de todos

– A EUNIC é uma rede constituída

lizar investigação nas seguintes

os clusters para partilharem expe-

pelos institutos nacionais de cultura

áreas: recursos locais e regionais

riências, discutirem problemas e

da União Europeia.

de aprendizagem de línguas por

articularem estratégias de atuação.

– Foi fundada em 2006 e, presen-

adultos; política linguística e prá-

Com o crescimento do número de

temente, congrega 30 membros de

tica dos serviços públicos; apren-

clusters, e na constatação de que

26 países.

dizagem precoce de línguas.

estes partilhavam regionalmente

– O seu órgão máximo é a reunião

– O projeto Poliglotti4.eu utiliza

maior identidade na ação e nos

dos diretores dos institutos parti-

a arte, a cultura e os media para

obstáculos com que se defronta-

cipantes, que decorre de seis em

promover o multilinguismo, vi-

vam, pensou-se na organização

seis meses. Além disso existe uma

sando quatro grupos principais:

de reuniões regionais de clusters

«equipa presidencial» de 3 mem-

atores nos sistemas de educa-

com a equipa da Presidência. Em

bros, escolhida por eleição, consti-

ção não-formais e nos serviços

2010, teve lugar a primeira reunião

tuída por um Presidente (desde 8 de

sociais, decisores políticos e

regional, na Europa e, em 2011, já

Junho, o Instituto Camões) e dois

organizações de base da socie-

se realizaram reuniões na África

Vice-Presidentes (Institut Français

dade civil. A fim de aumentar a

subsariana e nas Américas. Ainda

e Wallonie-Bruxelles Internacional),

perceção sobre a importância

este ano, haverá reuniões na África

que vão mudando de funções. O 2º

do multilinguismo na sociedade

do Norte e na Europa de Leste.

Vice-presidente passa a 1º Vice-

em geral, o projeto Poliglotti4.eu

Outro elemento do novo modelo é

presidente e o 1º Vice-presidente

também constituirá uma rede de

o «grupo estratégico». Atendendo

passa depois a Presidente.

embaixadores que são conhecidos

a que «são muitos países, que são

– Atua através de núcleos –os

e multilingues, ou que são parti-

muitas as identidades», o grupo es-

chamados clusters – nos vários

cularmente reconhecidos e ativos

tratégico, com uma «representação

países do mundo, núcleos esses

no domínio do multilinguismo na

alargada», destina-se «de alguma

que congregam as representações

sociedade civil.

forma a pensar o que pode ser

locais dos institutos nacionais de

– Language Rich Europe. Este

a ação conjunta, não apenas em

cultura da UE. Neste momento

projeto, liderado pelo British

termos de organização, mas a ação

existem quase 70 núcleos, desde a

Council reúne parceiros em 16

substantiva da EUNIC».

China, passando por vários países

países, incluindo Goethe Insti-

A função da Presidência da EU-

da Ásia, até às Américas, África e

tut, Instituto Camões, Instituto

NIC pelo IC, que se vai prolongar

Europa (estes em maior número),

Cervantes e Instituto Cultural da

durante um ano, será assim de

que articulam a sua ação com a

Dinamarca. Pretende criar uma

«consolidação desta nova fase» na

Presidência da EUNIC.

ferramenta de medição inovadora

vida da rede dos institutos culturais

– Em setembro, a EUNIC deverá

e interativa, o chamado “Índice

europeus. Mas não apenas. Ana

abrir um escritório em Bruxelas,

de Práticas e Políticas Multilin-

Paula Laborinho refere que «um

com dois funcionários permanentes.

guísticas na Europa”, que permiti-

dos aspetos que tem sido sublinha-

– Anualmente, promove a realiza-

rá visualizar o papel e o apoio ao

do como positivo na presidência

ção de uma Academia de Verão

multilinguismo nos países euro-

portuguesa – cuja primeira vice-pre-

para formação de jovens quadros

peus participantes e destacar as

sidência é francesa – são as nossas

dos membros da EUNIC.

boas práticas. O lançamento será

relações, quer com a Ásia quer com

– A língua de trabalho da EUNIC é

no final de 2011.

o Brasil. Está em curso um projeto

o inglês.

88 • Diplomática - OUTUBRO 2011

n

IC. IP.


Cultura

Homenagem a Malangatana A fim de honrar o grande pintor moçambica-

da Fundação Malangatana).

no Malangatana, falecido recentemente, a

Foi focada quer a faceta artística, quer a

UCCLA, com o apoio da Câmara de Lisboa e

política de um homem que soube lutar pelos

do Conselho Municipal de Maputo organizou

seus ideais universalistas e humanistas e pela

no São Luiz Teatro Municipal um conjunto de

auto-determinação do seu país. Malangatana

eventos que englobou um colóquio e um gran-

entendia Moçambique como uma nação plura-

de espectáculo multidisciplinar coordenado

lista com uma grande multiplicidade cultural e

pelo Arq. João Laplaine Guimarães.

étnica que deveria ser respeitada.

No colóquio “Malangatana: o Homem e as

As suas posições políticas valeram-lhe vários

suas Obras” pudemos ouvir as doutas opi-

dissabores sendo, nos anos de 1960, indi-

niões de um painel ilustre onde se contava

ciado como membro da FRELIMO e encar-

Alfredo Caldeira (da Fundação Mário Soares),

cerado. Este envolvimento profundo com as

António Loja Neves (moderador), Marcelo Re-

questões políticas não poderia deixar de se

belo de Sousa, Maria João Seixas e Mutxhimi

reflectir na sua arte. Esse engajamento há-de

Ngwenya Malangatana (filho e administrador

valer-lhe uma nova prisão, em 1971, pelo

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 89


Homenagem a Malangatana

simbolismo crítico da obra 25 de Setembro,

Artista pluridisciplinar vai abarcar, ao longo

que não deixou de expor, mesmo sabendo

da sua vida as mais variadas formas de arte:

que estava a pôr em risco a sua partida para

da pintura à poesia, da tapeçaria à cerâmica.

Portugal garantida por uma bolsa da Funda-

No seu todo porém, a sua arte está sempre

ção Gulbenkian.

ligada aos acontecimentos políticos e históri-

Menino pobre, sempre trabalhou para con-

cos de Moçambique; primeiro centrando-se na

seguir o mínimo para sobreviver. Para a

questão colonial e mais tarde, com a Indepen-

arte dependeu de mecenas que viram nele

dência do país, no tema da guerra civil.

a promessa de um grande artista. Quando,

Com a maturidade a obra vai evoluindo para

em 1958, ingressa no Núcleo de Artes esse

temas mais amplos e universais até chegar, a

apoio passa, de imediato, a ser dado pelo

partir dos anos 80, a um universo sensualista

Mestre Zé Júlio. Acontece a primeira exposi-

e erótico.

ção colectiva e recebe o apoio do arquitecto

Para que se soubesse um pouco mais deste

português Pancho Guedes. Quatro anos

grande homem e da sua arte, a organização

depois, e com apenas 25 anos de idade, tem

distribuiu á entrada do espectáculo, a bro-

a sua primeira exposição individual no Banco

chura “Malangatana o Homem e as Obras”

Nacional Ultramarino.

resultado do trabalho de coordenação do

90 • Diplomática - OUTUBRO 2011


1

2

4

3

5

1. O Presidente Cavaco Silva e sua Mulher estiveram presentes 2. Embaixador de Moçambique, Maria da Luz de Bragança e Lívio Morais 3. Presidente do Conselho Municipal de Maputo com o Presidente Cavaco Silva 4. Nuno Vaz de Moura 5. Elsa de Noronha com a nossa Directora

Dr. Rui Lourido em parceria com a Funda-

o grupo coral Alma de Coimbra que encerrou

ção Mário Soares e a Fundação Malangatana.

com chave de ouro.

Nesta pequena obra, profusamente ilustrada,

Enquanto iam sendo projectadas imagens de

pode ler-se igualmente os testemunhos de

várias obras de Malangatana, os artistas iam

diversas personalidades.

sendo apresentados por Margarida Pinto Cor-

O espectáculo Luso-Moçambicano, que de-

reia que não se deixou intimidar pela excelsa

correu na Sala Principal do Teatro Municipal

plateia de honra onde se incluía Sua Exce-

de S. Luiz, apresentou um conjunto de artis-

lência o Presidente da República de Portugal,

tas de várias formações e origens. Iniciou-se

Sua Excelência o Embaixador de Moçambi-

com uma récita arrebatadora de poesia por

que em Lisboa, Miguel Costa Mkaima, Pre-

Elsa de Noronha que, de imediato prendeu

sidente da Câmara Municipal de Lisboa, o

a atenção do público. Seguiram-se um vasto

Presidente do Conselho Municipal do Maputo,

número de artistas, ora cantando, ora dan-

o Governador da Província de Luanda e a

çando. Do fado de Mafalda Arnauth às dan-

Directora da Revista Diplomática – Negócios

ças guerreiras do grupo Xispane-Pane, duas

e Diplomacia.

horas passaram velozes na companhia de

Um serão memorável para homenagear um

Camané, André Colaço, Maria João, Mingas e

homem inolvidável.

n

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 91


Cultura

Artistas de Angola na Galeria de Arte do Casino Estoril

Júlio Quaresma

Albano Neves e Sousa

A Galeria de Arte do Casino Estoril foi palco da exposição Artistas de Angola, em que participaram os artistas: Albano Neves e Sousa, Abílio Victor, Adão Marcelino, Amílcar Vaz de Carvalho, António Magina, Dília Fraguito Samarth, Domingos Laurindo, Dora-Iva Rita, Edgardo Xavier, Filomena Coquenão, Grácia Ferreira, João Inglês, José Zan Andrade, Júlio Quaresma, Viteix e Vítor Ramalho. A Galeria do Casino Estoril tem tido sempre as suas portas abertas aos artistas dos países de expressão portuguesa aí nascidos ou que aí viveram longos anos e privilegiaram, na sua temática, motivos desses países. A presente exposição insere-se nesta linha de pensamento. Contou com a presença de 17 artistas, na sua maioria nascidos em Angola, mas residentes em Portugal, na sua quase totalidade em Lisboa, e já inseridos no mundo das nossas artes plásticas. Foi objectivo desta exposição facultar aos artistas angolanos um espaço privilegiado para mostrar os seus trabalhos a um público qualificado, na sua maioria estrangeiros que, nesta época do ano, visitam o Estoril, mas também proporcionar uma visibilidade, sem dúvida útil, ao conjunto de artistas participantes, muitos dos quais são titulares de currículos artísticos significativos. É o caso de Júlio Quaresma, Neves e Sousa, ZAN, Dília Fraguito, Viteix, Dora-Iva Rita, João Inglês e outros mais. De referir também o nome de Abílio Victor, um engenheiro químico, nascido em Lucala, desconhecido do grande público e que se especializou na pintura de animais (principalmente aves) e outros temas da natureza, sem esquecer as pessoas que ai vivem, sempre com inegável qualidade artística. A exposição integrou também uma homenagem ao pintor Albano Neves e Sousa, grande pintor angolano, que realizou na galeria do Casino exposições individuais e participou em dezenas de colectivas. Sem dúvida um dos pintores que mais e melhor pintou as terras e as gentes de Angola.

92 • Diplomática - OUTUBRO 2011

n



Parabéns a Helena Daget

A revista Eles & Elas completou 30 anos e a festa, que teve lugar no Restaurante Aura, em Lisboa, foi de arromba. Numa belíssima noite de Verão foram imensos os amigos, bem como as figuras conhecidas das mais variadas áreas, que fizeram questão de prestigiar tanto a revista, que completou três décadas, como a sua directora, Maria da Luz de Bragança. Cumprindo a tradição, a Estátua da Verdade, uma peça concebida em bronze pelo escultor Francisco Simões, foi de novo entregue durante o evento. Aliás, desde o primeiro ano da sua existência que a Eles & Elas homenageia as figuras mais relevantes da sociedade portuguesa nas mais diversas áreas. Este ano a Estátua da Verdade foi entregue à consagrada empresária Helena Daget, uma mulher que triunfou num universo de extrema concorrência e é a presidente da empresa Techdrill, sedeada nos Estados Unidos, uma companhia que dá cartas no universo da perfuração petrolífera. Aquando da entrega do prémio, Helena Daget, claramente emocionada, agradeceu a honra que lhe havia sido concedida, afirmando que embora já tenha sido a recipiente, noutras ocasiões, de prémios relativos ao seu trabalho, esta foi a primeira vez que tal sucedeu no seu país de origem, algo que a deixou extraordinariamente grata. Amante confessa da sua terra natal e das belezas lusas, Helena Daget é bem o exemplo do melhor que a pequena grande nação portuguesa tem dado ao longo dos séculos ao mundo. De parabéns estão, assim, o universo empresarial, tanto nacional quanto internacional mas também a revista Eles & Elas.

94 • Diplomática - OUTUBRO 2011


English & French texts

7. The pearls of Lusophony Four countries are leaving a strong mark in the universe of Lusophony. Brazil, an emerging giant and a leader in the affirmation of Lusophony are strengthening their bonds and assistance to its former ex-colonial country, now clearly going through a steep depressive crisis. Overcoming the last remnants of a dramatic independence, Angola has become the country of destiny for many new work and business opportunities for thousand of Portuguese individuals. Mozambique is also given signs of a strong growth, built upon huge projects that make the best of its natural resources, aided by all the investments made around the oil franchise, thus given signs of new hope for the consolidation of a still young democracy. At the same time, Cape Verde’s is searching in international aid and in the search for foreign investment all the necessary help to overcome the factors that have so far stopped its sustainable development.

7. Les Perles de la Lusophonie Quatre pays se distinguent dans le monde lusophone. Brésil, un géant émergent et un leader dans la déclaration Lusophones renforce les liens et les aides à l'ancienne puissance coloniale,traverse actuellement une phase dépressive. Dépassé les restes d'une indépendance dramatique, l'Angola est devenu un pays de destination pour le travail et de nouvelles opportunitées de milliers de Portugais.Le Mozambique a également des signes positifs de croissance élevé, basé sur des méga-projets pour l'exploitationde ses ressources naturelles,et a obtenu un nouvel éclat avec les investissements réalisés dans le domaine de l'exploration pétrolière, tous les signes encourageants de consolidation de la démocratie encore jeune.Alors que la demande au Cap-Vert et l'aide internationale pour attirer les aides directes aux investissements étrangers nécessaires pour surmonter les facteurs inhibant son développement durable.

10. XVI Meeting of CPLP revealed core strategy The promotion, protection, enhancement and dissemination of the Portuguese language as a vehicle of culture, education, information and access to scientific and technological knowledge and use in international forums, was one of the fundamental decisions of the sixteenth meeting of the CPLP countries, which had the presence of the Portuguese Minister of Foreign Affairs, Paulo Portas, in what was his first official visit abroad since taking the job. In a global space affected at present by an unprecedented crisis, it is important to note the purposes announced at this particularly important meeting of the CPLP, mainly the supporting of measures that will, namely, point to the promotion of the growth and development of the member states that are at their most vulnerable. Another important factor to note was the emphasis placed on the Plan of Action for the Promotion of Brasília for the Broadcast and Projection of the Portuguese Language, in regard to the consolidation of Portuguese as official and working language in international organizations, particularly those in which the CPLP is represented. When trying to extend its scope of action, one of the measures to be implemented in the near future, regards the relationship with the UN and, in particular, with its Security Council.

10. XVI e Réunion de la stratégie de la CPLP a révélé coeur La promotion, la protection et l'amélioration et la diffusion de la langue portugaise comme véhicule de la culture, l'éducation,l'information et l'accès aux connaissances scientifiques et technologiques et l'utilisation dans les forums internationaux, a été l'une des décisions fondamentales de la seizième réunion des pays de la CPLP, qui avait la présence du ministre portugais des Affaires Étrangères, Paulo Portas, depuis sa prise de l'emploi. Dans un espace global actuellement touchés par une crise sans précédent, il est noté dans le but de la réunion l' annonce, lors de la réunion de la CPLP, des mesures pour soutenir, qui pointent à la promotion de la croissance et le développement des Etats membres les plus vulnérables. Un autre facteur important a été l'accent mis sur le Plan d'Action pour la Promotion de Brasilia, la diffusion et de projection de la langue portugaise, en termes de la consolidation,en tant que langue officielle et de travail dans les organisations internationales, en particulier lorsque la CPLP est représentée. Une des mesures à mettre en ?uvre dans un proche avenir, concerne les relations avec l'ONU et, en particulier, le Conseil de Sécurité.

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 95


English & French texts

12. Portugal, Europe, Emerging World The current chief executive of the Portuguese BIC Bank, Luís Mira Amaral says that Portugal faces an extremely difficult economic and financial situation, being caught in the so-called full sovereign debt crisis of the peripheral countries of the Eurozone. Recalling that the global economical geography of the 21st century has changed much from what it was in the 20th century, Mira Amaral stated that we now have China and India overtaking the U.S. as the major world economic powers, recalling, on the other side, that in global economy, major emerging countries also stand out in Lusophony space, as is the case of Brazil (a rising star at world level) and Angola, as a regional economic and military in southern Africa, where the hegemony was detained until now by South Africa. Finally, he states that Portugal will have to engage itself more and more, between the EU side and its Lusophony dimension, which requires a great rapport and strategic cooperation between the political power and the Portuguese entrepreneurs.

12. Portugal, Europe, Monde émergents Actuel Directeur Général du BIC Banco portugais, Luís Mira Amaral affirme que le Portugal fait face à une situation économique et financière extrêmement difficile, d'être pris dans la soi-disant crise de la dette totale souveraine des payspériphériques de la zone euro. Rappelant que la géographie économique du XXI siécle a beaucoup changé a ce qui concerne à la situation au cours du siècle.XX, Mira Amaral a affirmé que nous avons maintenant la Chine et l'Inde à dépasser lesEtats-Unis, comme les pouvoirs du premier monde économique,rappelant, de l'autre côté, l'économie mondiale, les grandes économies émergentes qui se distinguent également dans l'espace lusophone, comme c'est le cas du Brésil (une étoile montante et le niveau monde) et en Angola,en tant que puissance économique et militaire regionalen Afrique australe, où l'hégémonie a été détenu jusqu'à présent par l'Afrique du Sud. Pour conclure, en affirmant que le Portugal aura à jouer, à chaque fois, entre le côté de l'UE et la dimension lusophone, qui demande un bon rapport, et de la coopération stratégique entre les politiques et les entrepreneurs portugais.

14. Lusophony, a Large Soul Maria de Belém, the current bench leader of the Socialist Party in Parliament, addresses the question of how the portuguese language has become an instrument of aggregation within the portuguese speaking world, the result of different influences and experiences that have made it rich and expressive, alive, and adaptable to both the world of today and of tomorrow. A wealth that can be more experienced, when looking at Lusophony as a rich tool, not only from a cultural point of view, but emphasizing its value as incalculable in terms of politics and economics. That is why it makes sense tfor it to be tapped as the aim of assertion, and in the search for new geostrategic designs. In a Europe in crisis, both in terms of values ​​a nd economics, Maria de Belém argues that Portugal must acquire a new dynamic that carries it beyond the European area, a link that may renew and nourish its diaspora and revive the entire body of the world of Lusophony, in order to make it feel good, “because it feels amongst his own kind”.

14. Lusofonia, une Grande Âme Actuel leader du groupe parlementaire du Parti Socialiste, Maria de Belem aborde la question de savoir comment la langue portugaise est devenue un instrument agrégateur du monde de la lusofonie, un produit d'influences et diferents expériences, ce qui fait sa richesse et expressif, vif, adaptable à l'univers du present et de l'avenir. Une richesse qui peut être plus vif, face à la Lusofonia, non seulement du point de vue culturel, mais en soulignant le valeur inestimable en termes politique et économique. C'est pourquoi il est logique qu'il soit exploité que dans le but d'affirmation, de trouver de nouveaux désirs géostratégiques. Dans une Europe en crise, les valeurs et l'économie, affirme Maria de Belem que le Portugal doit acquérir une nouvelle dynamique, que le transport au-delà de l'espace européen, un lien de renouveler et nourrir notre diáspore et que le fait se lancer, de tout le corps, dans le monde lusophone, où il se sent bien, “parce qu'il se sent parmi les siens."

96 • Diplomática - OUTUBRO 2011


16. Eng. Anacoreta Correia, secretary-general of UCCLA He has worked as a state councillor, a former minister, European Deputy and is the most visible face of UCCLA (Union of the Portuguese-speaking Capitals), an organization that fights to bring together people from the various cities, located in five continents, where Portuguese is spoken, developing a wide cultural, socioeconomic and geo-strategic activity, particularly in the expansion and defense of the language of Camões and national companies. Anacoreta Correia states that in a situation of global competitivity one should promote the entry of domestic companies in the emerging Portuguese speaking nations, advocating a more active presence in Brazil’s UCCLA.

16. Eng Anacoreta Correia, secrétaire général de l'UCCLA Il a été consillier d'Etat, ancien ministre, député européen, est la face la plus visible de l'UCLA (Union des Capitales de La Langue Portugaise), une organisation qui se bat pour rapprocher les peuples des villes situées sur les cinq continents où le portugais est parlé, pour développer une action globale culturel, socioéconomiques et géostratégiques, en particulier l'expansion et la défense de la langue de Camões et des sociétés nationales. Anacoreta Correia soutient que dans un contexte de concurrence mondiale croissante, nous devrions encourager l'entrée des entreprises nationales dans les marchés émergents, parlant, luttant pour une presence plus actif de l'UCCLA au Brésil.

24. Mário Vilalva, Ambassador of Brazil in Portugal Adept of the so-called economical diplomacy, the Ambassador of Brazil in Portugal highlights how, after twenty years elapsed before his return to Lisbon, he found a different country, a more modern one, and states that one of his main objectives is the strenghtening of trade relations between Brazil and Portugal. Mario Vilalva announces the creation of a new economical instrument for cooperation, named Business Intelligence, that aims to help companies to export to its brother country, identifying existing obstacles and stressing how crucial it is to establish an agreement between Mercosul and the European Union.

24. Mário Vilalva, Ambassadeur du Brésil au Portugal Adepte de la diplomatie économique appelée, l' Ambassadeur du Brésil au Portugal met en évidence comment, après vingt ans se sont écoulés après son retour à Lisbonne, il a trouvé un pays différent, plus moderne, affirmant que l'un de ses principaux objectifs c'est le renforcement des relations commerciales entre le Brésil et le Portugal. Mário Vilalva annonce la création d'un nouvel instrument de coopération économique, appelé Business Intelligence, avec le but d'aider les entreprises portugaises à exporter vers le pays frère , l'identificant des obstacles créés, il insiste, soulignant qu'il est crucial d'établir un accord entre le Mercosur et l'Union Européenne.

34. Miguel Costa Mikaima, ambassador of Mozambique The Mozambican diplomatic representative in Lisbon talks of bilateral relations, that are getting increasingly profitable, between Portugal and Mozambique, noting that to attract Portuguese investment has been one of its objectives, having with that in mind, created a specific sector for that effect in the embassy. Fighting problems such as hunger and poverty in his country has become a key issue in governance, at a time when the former colony celebrates its 25 years of post-independence by contributing to what he calls “the recovery of self-esteem of the Mozambican people”. Married and with four children, Michael Mikaima appreciates the hospitality of the Portuguese, emphasizing the full integration into society of his countrymen.

34. Miguel Costa Mikaima, Ambassadeur de Mozambique Le représentant du Mozambique à Lisbonne parle sur les relations bilatérelles,en plus rentable,entre le Portugal et le Mozambique, en soulignant que d'attirer les investements portugaises a été l'un de ses objectifs, créant même un departement spécifique dans ce sujet dans l'ambassade. Il afirme que le combat contre la faim et la pauvreté dans son pays est devenu une question clé en matière de gouvernance, à une époque où l'ancienne colonie célèbre ses 25 ans dans la post-indépendance, ce qui contribue à ce qu'il appelle «la récupération de l'estime de soi du peuple mozambicaine». Marié, avec quatre enfants, Michael Mikaima apprécie l'hospitalité des portugais, en insistant sur la pleine intégration, dans la société, de ses compatriotes.

OUTUBRO 2011 - Diplomática • 97


English & French texts

57. Day of Portugal and Camões More than seven thousand people attended the celebrations of Day of Portugal and Camões, the great poet who perpetuates in his work the Lusíadas the story of the Portuguese Discoveries. This year the ceremonies took place in the city of Castelo Branco and the focus in the speech of the President was on the call for the people to go back to the countryside and to working in agriculture, an area that has been terribly neglected in recent years, and also appealing to the political powers for more determinant action in this sector. The entire credited diplomatic corps in Portugal was present for the usual greetings ceremony to Cavaco Silva, and the official ceremonies were followed by a show in the Gardens of the Palácio Episcopal, starring Luís Represas and Teresa Salgueiro.

57. Le Portugal et la Journée de Camões Plus de sept mille personnes ont assisté à la célébration de la Journée du Portugal et de Camões, le grand poète qui perpétue dans les Lusíadas, la geste des Découvertes portugaises. Les cérémonies ont eu lieu cette année dans la ville de Castelo Branco et l'accent mis dans le discours du Président de la République abouti à l'appel à la ruée vers la campagne et l'agriculture, qui a été tellement négligée ces dernières années, faisant appel aux pouvoirs politiques à une action décisive dans le secteur. Tout le corps diplomatique credité au Portugal a eté présent dans l'habituelle cérémonie de compliments devant Cavaco Silva, suivie d'un spectacle dans les jardins du Palais de l'Evêché, où ont chanté Luis Represas et Teresa Salgueiro.

40. Passos Coelho, a “portrait” of the new Prime Minister A liberal reformer, feisty, stubborn, tough fight insofar as the party is concerned, the African continent has been branded in his life, having spent there his youth, and shaped his experience in a multiracial spirit that remains until today. On the very night he was elected, Passos Coelho recalled the role that Portugal can play in establishing this “bridge”, perhaps crucial for the survival of the country, between the portuguese-speaking Africa and Europe. The tasks of the new Executive were outlined right at the inauguration speech: to stabilize the finances, help the needy and make sure that the economy and employment were to grow. All at the expense of the austerity measures imposed by the “troika”, measures that he intends to comply with as strictly as possible, in order to give a positive sign that Portugal is on track to its economic recovery.

40. Passos Coelho, un «portrait» du nouveau Premier Ministre Un réformateur libéral, fougueux, opiniâtre, dur dans le combat au parti, le continent africain a marqué, dans sa vie, où il a passé sa jeunesse, le façonnage de leur expérience dans l' esprit multiraciale, qui reste aujourd'hui. Dans la nuit même où il a été élu, Passos Coelho a rappelé le rôle que le Portugal peut jouer dans l'établissement de ce «pont», peut-être crucial pour la survie du pays, entre le monde africaine lusophone e l' Europe. Les tâches du nouvel exécutif, il les a énoncés à droite au discours d'investiture: stabiliser les finances, aider les nécessiteux et la croissance de l'économie et l'emploi. Le tout aux frais des mesures d'austérité imposées par la «troïka» et qu'il entend se conformer strictement, afin de donner un signe positif que le Portugal est sur la bonne voie du redressement économique.

87. Instituto Camões presides EUNIC The presidency of the Instituto Camões EUNIC will coincide with “a qualitative leap in the functioning of this European network responsible for the external relations of the EU member states, currently bringing together 30 institutions in 26 countries, and whose objective is to promote cultural cooperation by partnerships between professionals of the cultural, educational and youth sectors”. As Ana Paula Laborinho, the president of the IC, revealed, according to the signature of the new statutes, EUNIC becomes an “association with legal personality.”

87. Instituto Camões chaises EUNIC La présidence de l'EUNIC par l'Instituto Camões coincidera avec «un saut qualitatif dans le fonctionnement de ce réseau européen”, responsable pour les relations extérieures des Etats membres de l'Union Européene, réunissant actuellement 30 établissements dans 26 pays, et dont l'objectif est de promouvoir la coopération culturel, grâce à des partenariats entre les professionnels des secteurs culturels, éducatifs et de la jeunesse. "En tant que président de l'IC a révélé, Ana Paula Laborinho, selon la signature des nouveaux statuts, EUNIC devient "une association ayant la personnalité juridique."

98 • Diplomática - OUTUBRO 2011




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