´ Diplomatica Nº13 Abril/Junho 2012 €4 (Cont.)
business & diplomacy
China
Ilumina Portugal Entrevista exclusiva Diplomática 13 • abril/junho 2012
Zhang Beisan Em Destaque: Paul Schmit Luxemburgo
Bernarda Gradišnik Eslovénia
Bouza Serrano Portugal
Dossier
África Memória
25 Abril
Textos dos Embaixadores: Alemanha, Bélgica, Chipre, França, Itália, Kuwait, Malta, Reino Unido, Rússia e Turquia
With English & French Texts
1 • Diplomática - Junho/Julho 2008
Assuntos Summary
Espaço Diplomático – convidados, os embaixadores da Alemanha, Bélgica, Chipre, França, Itália, Malta, Reino Unido, Russia, Turquia e Kuwait fizeram questão de evidenciar, através dos seus textos, a importância da evolução da política mundial. Diplomatic Area – invited, the ambassadors of Germany, Belgium, Cyprus, France, Italy, Malta, UK, Russia, Turkey and Kuwait made a point of showing, through their texts, the importance of the evolution of world politics
5
Presidente da República na Finlândia – Construindo novas pontes President of Portugal in Finland – Building new bridges
26
Embaixador da China em Portugal – China pode ser o portal privilegiado da expansão de Portugal na Ásia Ambassador of China in Portugal – China may be the privileged site of the expansion of Portugal in Asia
28
Durão Barroso – Doutor Honoris Causa pela UTL Durão Barroso – Doctor Honoris Causa by UTL
34
Economia -Patrick Siegler-Lathrop – Inverno ou Primavera? Economy -Patrick Siegler-Lathrop – Winter or spring?
37
Mariano Rajoy e Pedro Passos Coelho – Portugal e Espanha analisam combate à crise Mariano Rajoy, and Pedro Passos Coelho – Portugal and Spain analyze combat to the crisis
40
Embaixador José de Bouza Serrano – O guardião dos embaixadores acreditados em Portugal Ambassador José Bouza Serrano – The guardian of the ambassadors accredited in Portugal
42
Embaixadores de Portugal apresentam cumprimentos ao Presidente da República Ambassadors of Portugal presented greetings to the President of Portugal
48
Embaixador do Luxemburgo – Representante de um país com uma história muito rica e antiga Ambassador of Luxembourg – Representative of a country with a rich and ancient history
50
Embaixadora da Eslovénia – Fala-nos de si, do mundo e de Maribor, Capital Europeia da Cultura Ambassador of Slovenia – Speaks abaut herself, the world and Maribor
56
Presidente Cavaco recebe credenciais de novos embaixadores Cavaco President receives credentials of new ambassadors
62
Nelson Mandela, aos 93 anos, continua a irradiar uma surprendente vitalidade Nelson Mandela, age 93, continues to irradiate a surprising vitality
64
A sede permanente da CPLP – Uma aposta para o futuro The permanent headquarters of the CPLP – A bet for the future
67
Passos Coelho em Moçambique – Em foco Cahora Bassa Passos Coelho in Moçambique – Focus Cahora Bassa
70
Lusofonia – Palmira Tjipilica - Um resgate afirmativo da mundialização das identidades Lusofonia – Palmira Tjipilica - A positive rescue of the globalization of identities
72
IPDAL comemora VI Aniversário IPDAL celebrates VI anniversary
74
Le Palais de Santos na embaixada de França Le Palais de Santos in the french embassy
78
Made in Portugal -Tapeçarias Ferreira de Sá Made in Portugal -Tapestries Ferreira de Sá
80
Dia Nacional -Emiratos Árabes Unidos – 40 anos a caminho da união National day -United Arab Emirates – 40 years on the road to union
84
Gastronomia -Carlos Medeiros – Os segredos do Aura Gastronomy -Carlos Medeiros – The secrets of AURA
86
Os portugueses na Orquestra de Jovens da União Europeia The Portuguese in the Youth Orchestra of the European Union
88
Memória: A arte do 25 de Abril Memory: The art at the 25th of April
90
Traduções Translation
93
DIRECTOR: Maria da Luz de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Av. Engº Duarte Pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 Lisboa. Marketing & Publicidade: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79 IMPRESSÃO: Madeira & Madeira, S.A. DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395
4 • Diplomática - abril/junho 2012
2011 Odisseia no Mundo
Russia Reino Unido Alemanhã Bélgica França
It
á
li
a Turquia Malta
Chipre
Kuwait
Convidados a pronunciarem-se sobre os acontecimentos de 2011 e possíveis previsões para o corrente ano, os Embaixadores da Alemanha, Bélgica, Chipre, França, Itália, Malta, Reino Unido, Russia, Turquia e Kuwait fizeram questão de evidenciar, através dos seus depoimentos, a importância da evolução da política, em textos que são, indubitavelmente, de leitura indispensável, para entendermos, de modo claro, a politica social e económica dos seus respectivos países.
➤
Invited to comment on the events of 2011 and possible forecasts for the current year, the Ambassadors of Germany, Belgium, Cyprus, France, Italy, Malta, UK, Russia,Turkey and Kuwait explained through their statements the important policy developments of the year. The texts are undoubtedly essential reading in order to understand clearly the social and economic policy of their respective countries.
➤
Abril/junho 2012 - Diplomática • 5
Espaço Diplomático
Helmut Elfenkämper - Embaixador da Alemanha
Os acontecimentos mais marcantes 2011
Mesmo para os tempos atribulados que vivemos, 2011 foi um ano invulgar, que exigiu muito da política externa e definiu algumas direções novas na política interna. Foi um ano de alterações profundas também para nós na Europa. Crises agudas e situações de risco em diversas regiões do mundo colocaram a diplomacia perante missões particulares. Um acontecimento
O desfecho deste processo histórico ainda está
que, para além disso, também teve consequên-
em aberto. A Europa procura dar o seu con-
cias políticas no meu país – a República Fede-
tributo, de forma a que as oportunidades que
ral da Alemanha – foi o terrível acidente com o
advêm deste levantamento sejam positivamente
reator de Fukushima. Na sua sequência, o go-
aproveitadas. Temos um interesse próprio e
verno federal anunciou o fim da energia atómi-
elementar em que existam sociedades abertas
ca na Alemanha até ao ano 2022. A Alemanha
e prósperas a Sul do Mediterrâneo. O governo
pretende, assim, abandonar a energia nuclear
federal fez ofertas atraentes para apoiar estas
mais rapidamente do que estava planeado.
sociedades, através de parcerias de transfor-
A revolta no mundo árabe - e, assim, na nos-
mação abrangentes. Para o nosso empenho
sa vizinhança imediata - constitui uma enorme
nestes países, necessitaremos de muita persis-
oportunidade, mas também um enorme desafio.
tência.
6 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
➤
Desde o início do ano 2011 que a Alemanha
tem, em conjunto com Portugal, responsabilidades particulares, na qualidade de membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, nomeadamente em questões tão importantes como a independência do Sul do Sudão, nos esforços para a obtenção de estabilidade e segurança no novo Estado e na região, ou no âmbito do desarmamento e da
A nossa estratégia não se esgota na
não-proliferação, temas que a Alemanha tem
austeridade, mas aposta em impulsos
acompanhado de forma particularmente ativa.
inteligentes para um crescimento susten-
Atualmente concentramos todas as nossas for-
tado, o que inclui, em primeira linha, o
ças, juntamente com Portugal, para demover o
alargamento do mercado interno a novos
regime sírio de persistir na impiedosa opressão
campos, a criação de um fundo de cres-
do seu próprio povo.
cimento europeu e a celebração de mais
Contudo, especialmente marcante para um
acordos de comércio livre
Embaixador alemão em Lisboa em 2011 foram os desenvolvimentos no âmbito da crise da dívida na Europa. O governo federal contribuiu significativamente, durante todo o ano, não apenas para superar a crise aguda, como ainda para elaborar uma perspetiva para a Europa do futuro, um caminho para uma união de estabili-
sentido de tornar Portugal mais competitivo
dade. Este será um trabalho para continuar. O
e solucionar a sua crise da dívida. Temos um
trabalho que se faz de uma cimeira para a outra
grande respeito pelos esforços envidados. Isto
constitui um esforço contínuo, de perseverança,
tem sido constantemente sublinhado por políti-
com vista a construir as novas bases para uma
cos alemães nas suas visitas a Portugal no ano
Europa da competitividade, da solidez e da so-
passado, contribuindo para encorajar o país
lidariedade. Para a Alemanha, na qualidade de
a prosseguir este caminho. Não pretendemos
maior economia da Europa, isto significa uma
com isto exigir aos nossos parceiros condições
responsabilidade particular, que o país assume.
demasiado rigorosas para aumentar a discipli-
Para mim, como Embaixador alemão em Lisboa,
na orçamental, nem negligenciar a questão do
isto também significa uma comunicação contí-
crescimento. A nossa estratégia não se esgota
nua e uma mediação ininterrupta das nossas
na austeridade, mas aposta em impulsos inteli-
posições, face a uma opinião pública, em parte,
gentes para um crescimento sustentado, o que
também crítica. Não existem soluções simples
inclui, em primeira linha, o alargamento do mer-
e rápidas para problemas que foram criados ao
cado interno a novos campos, a criação de um
longo de muitos anos, apesar de estas serem
fundo de crescimento europeu e a celebração
frequentemente exigidas. A Alemanha também
de mais acordos de comércio livre.
se tem mostrado solidária para com a Europa –
A mensagem que, na minha opinião, mais im-
só para o programa de apoio a Portugal, con-
portou transmitir no ano 2011, assim como nos
tribui com 17,4 mil milhões de euros – e assim
próximos anos, é que não poderá haver um bom
continuará no futuro. Contudo, a solidariedade,
futuro para o meu país sem a integração euro-
por um lado, tem de ser acompanhada pelos
peia. Não queremos uma Europa alemã, mas
esforços de consolidação pelo outro.
sim uma Alemanha europeia. A Europa tem de
O governo português partilha das nossas opi-
continuar a consolidar-se na crise, e continuará,
niões de base e deu passos corajosos, no
e no fim sairá desta crise fortalecida.
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 7
Espaço Diplomático
Ali Kaya Savut - Embaixador da Turquia
A União Europeia e a Turquia: Um futuro comum
Há certos momentos em que as pessoas decidem tomar as rédeas do destino nas suas próprias mãos e deixar a sua marca na história. 2011, um ano já por si agitado, pode ser facilmente rotula-
esperança para a democracia na região. Inspirada
do como um ano assinalável, simplesmente pela
pelo lema de Kemal Atatürk "paz em casa, paz
perceção do quanto foram profundas as ondas de
no mundo", a Turquia acredita que, para servir de
mudança que afetaram o Médio Oriente e o Norte
fonte de inspiração ás pessoas da região, tem de
de África. Ainda que os protestos do povo, nas
manter, dentro das suas fronteiras, uma democra-
ruas e praças das cidades, já tenha redesenhado
cia estável, um estado de direito forte, o respeito
o mapa político da região, a Transformação Arabe
pelos direitos humanos e uma economia de mer-
continua a ser um trabalho em progresso em prol
cado que funcione bem.
da democracia e espera-se que dê os seus frutos
Nesse sentido, em 2011, a Turquia organizou elei-
a longo prazo, independentemente do quanto a
ções legislativas, nas quais votaram mais de 43
situação pareça ser caótica neste momento.
milhões de pessoas. As reformas continuaram a
Neste momento de conjuntura crítica da história,
ser implementadas num vasto espectro de áreas,
a Turquia, situada numa geografia peculiar, onde
incluindo o sistema judicial, direitos das minorias
a brisa das ondas de mudança também foi real-
e direitos humanos.
mente sentida, esforçou-se para fazer eco da
A Turquia também mostrou uma performance eco-
voz do povo nas ruas, e manter a mensagem de
nómica muito forte em 2011. Após um
8 • Diplomática - Abril/junho 2012
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crescimento de 8,9% em 2010, estima-se que
a economia Turca apresente de novo um crescimento significativo de 7,5%, en 2011. Este crescimento também reduziu a taxa de desemprego de 11,4% para 9,2%, criando mais de 1 milhão de novos empregos. As exportações da Turquia atingiram o seu nível mais alto, 134 mil milhões de euros, apesar da retração do principal mercado de destino de exportação da Turquia, nomeadamente a Europa. Toda esta expansão foi atingida com uma rigorosa disciplina fiscal, mantendo um défice orçamental de 1,5% e uma dívida pública de 40%. Apesar de todos estes desenvolvimentos positivos, existe uma área na qual a Turquia não conseguiu fazer qualquer progresso significativo em 2011, foi no seu processo de adesão à UE. Até 2011, a Turquia conseguiu abrir 14 capítulos de negociação e só fechou um único capítulo. No ano passado, nenhum novo capítulo foi acrescentado a essa lista durante as presidências húngara e polaca da UE.
Neste momento de conjuntura crítica da história, a Turquia, situada numa geografia peculiar, onde a brisa das ondas de mudança também foi realmente sentida, esforçou-se para fazer eco da voz do povo nas ruas, e manter a mensagem de esperança para a democracia na região.
A questão não resolvida de Chipre, continuou a ser usada como pretexto para bloquear vários capítulos, apesar do forte estímulo e apoio da Turquia para que as negociações em curso pudessem alcançar uma solução justa e duradoura na ilha. Mais importante ainda, derivado às preocupações políticas de curto prazo, alguns grandes Estados-Membros continuaram a sua resistência ao processo de adesão da Turquia. A Europa, confusa face ao agravamento da sua própria crise financeira, não tem sido capaz de mostrar uma
viar a crise económica actual.
visão política suficiente, nem vontade para lidar
Para além disso, a adesão da Turquia à UE, seria
com a adesão da Turquia.
uma resposta significativa para o aumento preo-
Na verdade, se o problema fosse tratado com uma
cupante da xenofobia, do racismo, dos preconcei-
perspetiva de visão de longo prazo, a situação
tos contra outras culturas e religiões na Europa.
seria diferente. Ter-se-ia percebido que o grande
Como membro, a Turquia, com o seu valioso pa-
e crescente mercado doméstico da Turquia, a
trimónio histórico e cultural, aproximaria a União
maturidade e a dinâmica do setor privado, o am-
Europeia do Cáucaso, da Ásia Central e do Médio
biente de investimento liberal e seguro, a oferta
Oriente e seria um importante contributo para
de alta qualidade e o custo efetivo da força de
a promoção dos valores da UE nessas regiões,
trabalho, assim como a infraestrutura desenvol-
onde presenciamos uma grande transformação
vida, negam todas as preocupações de que uma
neste momento.
eventual adesão turca, seria um fardo para a UE.
Em 2012, esperamos que, uma atmosfera cres-
Também ajudaria a UE a alcançar uma vantagem
cente de confiança prevaleça entre os dois lados
competitiva, em relação a mercados emergentes
e que novos passos visionários serão feitos para
na Ásia e América, que seria benéfica para ali-
tornar a integração uma realidade.
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 9
Espaço Diplomático
Simon Pullicino – Embaixador de Malta
Malta and the new Libya On 23rd January 2012, the Maltese Prime Minister,
authorities denounced the atrocities committed by the
the Hon. Lawrence Gonzi, in a short but significant
Gaddafi regime, made it clear that Gaddafi’s departu-
ceremony, formally returned two Libyan Air Force
re was inevitable and were among the first to recog-
Mirage jets to the Chief of the Libyan Armed Forces,
nise the NTC as the sole and legitimate interlocutor
Brigadier Sager Adam Al Giroshi. Eleven months
of the Libyan people and eventually as the ad hoc
earlier, on 21st February 2011, just four days after
government of Libya.
the start of the revolution, the pilots of these jets had
In the same spirit, Malta took all necessary action to
defied orders by the regime to bomb protestors and
ensure the effective application of the no-fly zone on
instead flew low to avoid radar detection and defected
Libya as imposed by the United Nations Security Cou-
to Malta. This incident made world news because it
ncil without joining in the military operations and parti-
confirmed, beyond any doubt, that the Gaddafi regime
cipated actively in the International Contact Group on
was targeting innocent civilians indiscriminately. Even
Libya, which was set up to provide leadership and an
though at that time the UN sanctions had not yet been
overall political direction to international efforts to find
approved and the international community had not yet
lasting solutions to the then-evolving crisis in Libya.
intervened, Malta felt morally bound by its traditional
Undoubtedly, the biggest impact of the Libyan uprising
friendship to the Libyan people and resisted persistent
was on the humanitarian side. It started with a mass
pressure from the Libyan regime to return the planes.
exodus of the terrified migrant population and conti-
This incident, which fortified the aspirations of the
nued with a protracted armed struggle with substantial
Libyan people, encapsulates the position taken by
casualties. The Maltese Government acted swiftly and
Malta from the very start of the crisis. The Maltese
effectively by providing humanitarian aid and assis-
10 • Diplomática - Abril/junho 2012
tance. With the crisis at its very early stages, Malta assisted 100 of the 193 UN countries evacuating over 21,000 foreigners from Libya through Malta. It also authorised a semi-military operation in transporting Libyan refugees and injured from Tunisia to Misrata and Benghazi. As the struggle intensified, Malta transformed itself into a hub of humanitarian activity, evacuating the wounded, providing urgent medical assistance, ferrying people and critical supplies and serving as a base for several international humanitarian agencies to deliver aid to the Libyan people. In spite of its limited resources, but living up to its re-
The Maltese Government acted swiftly and effectively by providing humanitarian aid and assistance. With the crisis at its very early stages, Malta assisted 100 of the 193 UN countries evacuating over 21,000 foreigners from Libya through Malta. It also authorised a semi-military operation in transporting Libyan refugees and injured from Tunisia to Misrata and Benghazi
putation of being a truly hospitable nation at the cross roads of the Mediterranean, Malta treated numerable cases of wounded people but some cases stand out, such as the case of Shwejga Mullah, an Ethiopian
nments, whose nationals were evacuated through
nanny, who was discovered weak and alone in the
Malta, expressed their appreciation.
home abandoned by Muammar Gaddafi’s son Han-
The US Secretary of State, Hilary Clinton, in a letter
nibal. Many newspapers claimed that Hannibal’s wife
to Malta’s Foreign Minister acknowledged Malta’s
threw boiling water on her, causing horrific scalds and
“significant and generous contribution” and continued
burns, when she did not manage to stop Hannibal’s
that “Malta’s steadfast commitment to the protection
daughter from crying and eventually refused to beat
of human rights, the Libyan people, and the Mediter-
the child. The Maltese Government brought her to
ranean region is laudable”.
Malta, gave her all the treatment and attention she
Maltese attitude to the crisis is best summed up by
required at hospital and also offered her asylum.
remarks made by the Deputy Prime Minister and Mi-
Malta’s stance earned the appreciation of the most
nister of Foreign Affairs, the Hon. Tonio Borg: Our atti-
prominent NTC representatives who visited Malta on a
tude to our neighbouring country at the dawn of a new
number of occasions. Besides providing medical and
era should not be inward-looking, searching for what
humanitarian assistance, the Maltese authorities also
advantages can be gleaned from this situation, but
offered an assistance package to the new Libyan ad-
must be directed by a genuine attempt at assisting our
ministration consisting mainly of a number of scholar-
neighbours with the necessary tool-kit for constructing
ships. Malta was also one of the very first countries to
a democratic state; as the nearest EU member state,
have a fully operational Embassy in Tripoli, apart from
this should be our natural vocation and mission not
the Office in Beghazi, as a further gesture of support
in any condescending or patronising way, but our of
to a free Libya. In November, Prime Minister Lawren-
sincere wish to help Libya to help itself.
ce Gonzi became the first Prime Minister to hold talks
2011 will remain forever linked with the Arab Spring.
with the then-newly appointed interim Prime Minister
The prevailing vulnerability to the long-standing dic-
El Keib during which it was agreed the Maltese-Libyan
tatorships in Tunisia, Egypt and Libya was abruptly
Joint Commission will be reconvened soon to tackle a
and unexpectedly overpowered by the unwavering
number of priority areas including stability and secu-
determination of the masses to defend their legitimate
rity in Libya, the setting up of democratic institutions,
ambitions for a better future. The same countries are
economic affairs and illegal immigration.
now faced with new realities and enormous challen-
With this crisis, Malta’s reputation as the Nurse of
ges as they begin to address the complex and sensi-
the Mediterranean, (earned at the height of the First
tive task of rebuilding their countries. No stone should
World War, when it was transformed into a hospital to
be left unturned to ensure that in 2012 their genuine
treat some 80,000 wounded soldiers from the Gallipoli
aspirations of peace, democracy and prosperity beco-
campaign) was reaffirmed and many foreign gover-
me reality.
Abril/junho 2012 - Diplomática • 11
Espaço Diplomático
Pavel Petrovskiy – Embaixador da Rússia
Resultados da política externa da Rússia em 2011
No plano internacional o ano de 2011 foi rico em acontecimentos, incluindo os de carácter ambíguo, e em alguns casos mesmo dramáticos. Basta mencionar o aprofundamento da crise económico-financeira global, queda de regime de Muammar
dos que estamos no início duma etapa qualitativa-
Kaddafi, agravamento da situação em torno da
mente nova da integração da Rússia no sistema
Síria e Irão, avaria na central atómica japonês
económico mundial.
“Fukushima”. Todavia, na minha opinião, em
Um êxito muito importante para a Rússia foi o
geral o ano de 2011 não foi mal. O nosso país vai
avanço dos processos de integração no espa-
lembrá-lo por causa duma série de êxitos na esfe-
ço da Comunidade dos Estados Independentes
ra da política externa. Venho enumerar só alguns
(CEI). Em particular, na base da União Aduaneira
deles.
formou-se o Espaço Económico Uno (EEU) de
Foi muito significante a adesão da Rússia à Orga-
Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão.
nização Mundial de Comércio. Estamos convenci-
É de destacar positivamente a consolidação das
12 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
➤
posições dos países do grupo BRICS (Brasil,
Rússia, Índia, China, África do Sul). Uma associação, que no início teve um carácter informal observando somente os assuntos económicos e financeiros, agora BRICS está a adquirir um caráter muito mais diversificado passando a discutir as questões da política atual. No campo das relações russo-americanas conseguimos fazer bastante: entraram em vigor o Tratado sobre a redução das armas estratégicas e o Acordo sobre a cooperação na esfera da energia atómica. A Comissão Presidencial Bilateral Russo-Americana, o papel importante de coordenação da qual desempenham Serguey Lavrov e Hillary Clinton, tem trabalhado intensamente.
É de destacar positivamente a consolidação
Devemos destacar o progresso na matéria de
das posições dos países do grupo BRICS
transição gradual ao regime sem vistos entre
(Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul).
a Rússia e a União Europeia. Durante a cimei-
Uma associação, que no início teve um
ra Rússia-UE realizada 14-15 de Dezembro de
carácter informal observando somente os
2011 em Bruxelas foi dada a luz verde para a
assuntos económicos e financeiros, agora
realização duma série dos passos conjuntos, a
BRICS está a adquirir um caráter muito mais
implementação dos quais dará a possibilidade de
diversificado passando a discutir as ques-
começar a elaboração do Acordo sobre o regime
tões da política atual.
sem vistos. Lamentamos o facto que uma séria de problemas internacionais, nos quais a Rússia está diretamente envolvida, foram deixados para o ano 2012. Antes de mais nada é o tema da defesa antimíssil na Europa. Não conseguiremos nos livrar deste problema caso não chegarmos ao acordo com os EUA (para já é a situação de impasse por causa da falta da vontade de Washington tomar em consideração os nossos interesses nacionais), ou realizarmos um conjunto de meios de carácter técnico-militar anunciados pelo Presidente Dmitriy Medvedev no dia 23 de Novembro de 2011. Estamos preocupados cada vez mais com o que está a acontecer em torno do programa nuclear iraniano. Achamos que tanto Teerão como a AIEA
veis, independentes e prósperos. Infelizmente, os
precisam de envidar esforços conjuntos para e
acontecimentos na região de Médio Oriente, em
muito mais para livrar-se de todos os problemas
particular, na Síria e no Egito, adquirem o caráter
não resolvidos. No entanto, o caminho de pressão
cada vez mais imprevisível e perigoso.
dura e sanções ao Irão, na nossa opinião, leva ao
Deixe-me sugerir com uma certa parte de otimis-
impasse.
mo que no 2012 vai aumentar significativamente
Quanto à “Primavera Árabe”, olhamos com a
o número de acontecimentos positivos e animado-
compreensão a expressão de vontade dos povos
res tanto para a Rússia como para a Comunidade
árabes, queremos ver os Estados da região está-
Mundial em geral.
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 13
Espaço Diplomático
Jean-Michel Veranneman de Watervliet – Embaixador de Bélgica
2011, Ano da Formação de um novo Governo na Bélgica
A Revista Diplomática propôs-me escolher um tema
quase igual: os Flamengos que representam cerca de
que marcou o ano de 2011. A meu ver, no plano
60% da população e os Valões 40%. Existe também
mundial, o ano transato foi marcado pelas revoluções
uma pequena comunidade de língua alemã. Os Fla-
no mundo árabe, a queda de vários tiranos ou Presi-
mengos, que vivem no norte do país, falam a mesma
dentes autoritários, que esperemos, tenha continuida-
língua (o Neerlandês) que os Holandeses, embora
de no decorrer do ano de 2012, no sentido de serem
com um sotaque diferente (como os Portugueses e
substituídos por democracias eleitas e tolerantes para
os Brasileiros) e os Valões, do sul, o françês, a língua
com as minorias religiosas e outras.
valã tendo praticamente desaparecido. As duas
Mas como já existem muitos comentários acerca
grandes comunidades opõem-se por razões económi-
deste assunto, permitam-me pronunciar sobre o meu
cas, culturais e históricas quase desde que a Bélgica
país. Formações de novos governos verificam-se no
conquistou a sua independência dos Holandeses, em
mundo quase todas as semanas mas, no caso da
1830. Portanto, a independência da Bélgica apenas
Bélgica, tem sido um pouco diferente. Muitos amigos
consagrou um estado de fato: os Belgas, já desde a
têm-me colocado a mesma questão: como é que um
Idade Média, viviam juntos, dependentes de reis ou
país ocidental pode funcionar, durante esta interminá-
imperadores longínquos: espanhóis, austríacos, fran-
vel crise, 544 dias sem governo? E sem violência...
ceses ou holandeses.
É do conhecimento de todos que a Bélgica é com-
A Bélgica foi o único país da Europa a ser ocupado
posta por duas comunidades linguísticas de tamanho
duas vezes pela Alemanha durante as duas Guerras
14 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
➤
Mundiais, o que contribuiu ainda mais para o agra-
vamento das relações entre as duas comunidades
Outro fator de estabilidade, mesmo na
dado que a perceção em relação a estes trágicos
ausência de um governo formalmente
acontecimentos foi diferente.
instalado com plenos poderes, foi o fato
O Estado Belga, criado em 1830, era unitário e cen-
do novo Parlamento, eleito em 2010, ter
tralizador, tendo como único idioma oficial o francês.
prestado juramento, assumindo, de ime-
No entanto, a partir do final do Século XIX, o Neerlan-
diato, o controlo democrático dos assun-
dês fez um impressionante come back na Flandres,
tos correntes do governo federal.
tendo-se tornado a língua oficial nessa região. Desde os anos 70 do Século XX, a Flandres e a Valónia conquistaram paulatinamente uma autonomia políti-
res, foi o fato do novo Parlamento, eleito em 2010, ter
ca e económica. É possível estabelecer um grau de
prestado juramento, assumindo, de imediato, o con-
comparação entre esta autonomia e a dos Estados
trolo democrático dos assuntos correntes do governo
americanos relativamente ao governo federal. Ou
federal. Este, sob pressão dos acontecimentos, teve
seja, abrange quase todos os aspetos da vida em
que asumir a Presidência rotativa da UE, que foi um
comum, como a educação (inclusive a universitária),
sucesso, e foi levado a tomar determinadas decisões
a cultura, os transportes, a promoção das exporta-
importantes, tais como o envio de aviões de combate
ções e determinados poderes fiscais e económicos.
F16, os quais contribuíram para o bloqueio das forças
A competência do governo federal belga é limitada
aéreas de Kadafi em conformidade com a Resolução
às finanças, à justiça, à defesa, às relações exterio-
relevante do Conselho de Segurança da ONU.
res e a uma parte das competências económicas. As
O governo federal que se instalou (finalmente) em
restantes pastas são da competência das regiões da
Novembro tem duas tarefas: cumprir as medidas
Flandres, da Valónia ou de Bruxelas. Como a capital
drásticas impostas a todos pela crise do Euro e
tem uma grande maioria de francófonos, existe uma
alargar ainda mais o leque de competências a se-
autoridade competente para a educação e para a cul-
rem exercidas pelas regiões, tais como, os assuntos
tura de toda a população francófona da Bélgica, seja
sociais.
de Bruxelas ou da Valónia.
Desta feita, o maior fator de estabilidade é o prag-
A crise política que estalou após as eleições de Ju-
matismo e o espírito pacífico dos Belgas que, apesar
nho de 2010 e que se alastrou até aos últimos dias de
de conflitos eternos entre francófonos e flamengos,
2011 foi, de fato, um record, mesmo para a Bélgica,
sempre resolveram os seus problemas sem violência,
país que assistiu, no passado, a outras crises demo-
com soluções políticas e “creatividade constitucional”,
radas na formação do governo (federal). No entanto,
soluções que causam, eventualmente, estranheza
o fato de ser limitado ao governo central, não se
nos observadores estrangeiros. No entanto, ao con-
estendendo, por isso, às comunidades flamenga ou
trário do que se verificou, infelizmente, no país basco,
valã, as quais têm os seus próprios governos, parla-
na Irlanda do Norte ou na ex-Yugoslávia – limitando
mentos, orçamentos e eleições - que não coincidem
os casos apenas ao espaço europeu –, a Bélgica
com as eleições federais – explica, em parte, a razão
nunca assistiu a atos de terrorismo, assassinatos ou
da Bélgica ter continuado a funcionar relativamente
violência política.
bem.
Apesar de ter sido um país que foi palco de eternas e
Do meu ponto de vista, funcionou muito bem, na ver-
sangrentas guerras entre os seus vizinhos europeus
dade, tendo em conta que na ausência de um orça-
(sendo possível ainda hoje visitar campos de batalha
mento, as despesas eram limitadas às do orçamento
como Waterloo, Ypres e Bastogne), é, para o povo
de 2010, não sendo possível, por isso, fazer ajustes
belga, um motivo de orgulho viver num país pacífico
inflacionários, o que obrigou a limitar as despesas
e tolerante que acolhe a sede das principais insti-
públicas.
tuições europeias, fruto da integração europeia, a
Outro fator de estabilidade, mesmo na ausência de
grande realização da segunda metade do século XX,
um governo formalmente instalado com plenos pode-
para a qual os Belgas contribuiram muito.
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 15
Espaço Diplomático
Jill Gallard – Embaixadora do Reino Unido
Um ano de oportunidades e desafios para o Reino Unido Como Embaixadora Britânica em Portugal agradeço
em Portugal guardarão certamente as suas memórias
a oportunidade que a Revista Diplomática me dá para
pessoais das duas visitas que a Rainha realizou a
através deste artigo falar aos portugueses sobre o
Portugal em 1957 e em 1985.
que faz do Reino Unido um ótimo lugar para se viver,
Depois a cidade de Londres irá acolher os Jogos
trabalhar, estudar ou simplesmente para visitar duran-
Olímpicos e Paralímpicos de 2012, a 27 de Julho e a
te o ano de 2012.
29 de Agosto. É um orgulho para nós que esta seja a
Este é um ano marcado por acontecimentos excecio-
terceira vez que Londres acolhe as Olimpíadas (de-
nais que são verdadeiramente históricos para o Reino
pois de 1908 e 1948), um espetáculo maravilhoso que
Unido. Em primeiro lugar porque comemoramos os 60
ajuda a promover a proximidade entre os povos numa
anos do reinado de Sua Majestade a Rainha Isabel
altura em que esta se torna cada vez mais necessária
II. O Jubileu de Diamante da Rainha será uma opor-
para que consigamos ultrapassar os conflitos que nos
tunidade para expressarmos a nossa gratidão pelo
dividem. Os Jogos de Londres 2012 serão os mais
extraordinário serviço que a Rainha tem prestado ao
ecológicos de sempre (por ex: novos métodos de re-
nosso país durante o seu longo reinado, tendo sido
ciclagem e construção que reduzem a pegada de car-
um fator de estabilidade em tempos de verdadeira
bono), e deixarão um legado importante em termos
mudança. O seu reinado já abrangeu 12 Primeiros
de regeneração urbana (por ex: o Parque Olímpico
Ministros diferentes – incluindo Winston Churchill -,
será transformado num dos maiores parques urbanos
sendo o segundo mais longo a seguir à Rainha Vitória
da Europa). A construção está a decorrer dentro dos
(que reinou durante 63 anos). Muitas pessoas aqui
prazos e orçamento previstos. A minha Embaixada
16 • Diplomática - Abril/junho 2012
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➤
tem mantido um estreito contato com os Comités
Olímpico e Paralímpico de Portugal no âmbito dos
Considero que mais importante do que o pas-
seus esforços para garantir uma boa representação
sado será projetarmos no futuro uma colabora-
portuguesa nas Olimpíadas de Londres e assegurar a
ção melhor adaptada aos desafios dos tempos
maxima visibilidade possível para Londres 2012 entre
atuais – não apenas unindo esforços em prol
a população portuguesa.
do crescimento económico na União Europeia,
Será também uma ocasião para festejar a riqueza e a
mas também estabelecendo parcerias em ou-
diversidade da nossa cultura no contexto do “London
tras zonas do mundo para além da Europa,
Festival 2012” que irá assinalar o final das Olimpíadas Culturais; e para prestar homenagem a duas das nossas maiores figuras literárias, William Shakespe-
e bem estar para um numero de pessoas cada vez
are e Charles Dickens, cujas obras têm estabelecido
maior.
laços entre as pessoas por esse mundo fora e têm
Ouvimos muito falar da velha aliança que há séculos
sido amplamente traduzidas para Português.
tem constituído um elo de ligação entre Portugal e
Penso que estes são motivos suficientes para que os
o Reino Unido. Porém, considero que mais impor-
portugueses aproveitem esta oportunidade para co-
tante do que o passado será projetarmos no futuro
nhecer melhor o Reino Unido e os aspectos que têm
uma colaboração melhor adaptada aos desafios dos
contribuido para que o nosso país tenha hoje-em-dia
tempos atuais – não apenas unindo esforços em prol
centros de pesquisa de excelência que nos ajudaram
do crescimento económico na União Europeia, mas
a ganhar mais de 80 Prémios Nobel; grandes atletas
também estabelecendo parcerias em outras zonas
que têm ganho medalhas de ouro; uma cultura, músi-
do mundo para além da Europa, nomeadamente em
ca e televisão que são famosas no mundo inteiro; um
África e na América Latina.
ambiente propício aos negócios que é considerado o
Dezembro de 2012 o Reino Unido e Portugal mantêm
mais favorável na Europa; e ainda algumas das me-
um relacionamento particularmente próximo no âm-
lhores universidades do mundo que foram frequenta-
bito do Conselho de Segurança das Nações Unidas,
das por 2.745 estudantes portugueses durante o ano
onde Portugal cumpre um mandato de 2 anos como
de 2009-2010.
membro não permanente.
Porém, não posso deixar de reconhecer que muitos
Entre os nossos dois países existe efetivamente
dos nossos leitores se sentirão apreensivos pelas ad-
um bom entendimento a todos os níveis.
versidades que também teremos de enfrentar ao lon-
-lo estão as cerca de 400 empresas britânicas com
go deste ano. Tenho plena consciência de que este
atividade em Portugal e 100 investidores portugueses
será um ano muito difícil para todos nós, não só em
no Reino Unido; aproximadamente 1,6 milhões de
Portugal, mas também no Reino Unido. O custo de
britânicos que visitam Portugal todos os anos – uma
vida está a aumentar; o desemprego também; e esta-
tendência que se prevê que volte a aumentar este
mos a chegar à conclusão de que muitas das regalias
ano; e os cerca de 80.000 britânicos que aqui re-
a que nos habituámos não são sustentáveis. Senti-
sidem. Pode dizer-se que Portugal é tão popular
mos na pele o impacto das medidas de austeridade
entre os diplomatas britânicos que aqui procuram ser
que os nossos Governos têm tido que implementar
colocados, como entre os turistas e as famílias que
para consolidar as suas finanças públicas e encetar
procuram Portugal para um estilo de vida mais calmo
as reformas estruturais com vista a criar as condições
e com mais sol.
necessárias para que as nossas economias voltem
Tudo isto me leva a concluir que este período de
a crescer. O mundo mudou muito e nós na Europa
grandes acontecimentos e desafios serão para o
temos que nos esforçar cada vez mais para enfrentar
Reino Unido um enorme incentivo para olharmos
os desafios da globalização.
em frente com coragem e determinação decididos a
É uma tarefa dificil mas
Entre Janeiro de 2011 e
A prová-
estou convencida de que com o esforço e empenha-
retomar um bom ritmo de crescimento económico e a
mento de todos conseguiremos alcançar os nossos
continuar a desempenhar um papel efetivo na procura
objetivos, voltando a criar oportunidades profissionais
de um mundo melhor, mais justo e mais próspero.
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 17
Espaço Diplomático
Sulaiman Ibrahim Sulaiman Almurjan – Embaixador Estado do Kuwait
Cinco décadas de vida Constitucional Fiquei muito honrado com o vosso convite e com a
termos políticos, sociais e económicos. Isto aplica-se
iniciativa da vossa revista Diplomática de me dar a
às manifestações e revoluções que nasceram na Tu-
oportunidade de me dirigir diretamente aos vossos
nísia e que se propagaram ao Egito, Líbia e Iémen, e
estimados leitores, sem rodeios e com muita es-
às manifestações contínuas levadas a cabo pelo povo
pontaneidade, longe da linguagem da diplomacia,
sírio. São revoluções que estabeleceram um novo
considerada como língua de cortesia e até de meias
lema de liberdade, justiça e de participação ativa na
verdades!
governação através da mudança.
Assim, e antes de mais, quero agradecer e manifestar
Na verdade, as revoluções árabes tiveram e têm uma
a minha consideração e estima à revista Diplomá-
caraterística que assenta na perseverança, conse-
tica e aos seus colaboradores pelo fato de nela me
guindo surpreender muitos observadores atentos ao
concederem um espaço neste mês de festividades
mundo árabe, incluindo os serviços de informação.
e celebração do Estado do Kuwait, por ocasião dos
Só que, no meu entender, era inevitável que elas
cinquenta e um anos da sua independência e do
viessem a acontecer, porque esses regimes árabes
vigésimo primeiro aniversário da sua libertação, que
não se aperceberam nem assimilaram que o mundo
tiveram lugar nos dias 25 e 26 do mês de Fevereiro.
de hoje vive uma mudança profunda influenciada pe-
E por falar em grandes acontecimentos, comecemos
los meios de comunicação social, e que nós fazemos
pelos ocorridos na região árabe durante o passa-
parte deste tecido homogéneo do mundo que partilha
do ano de 2011. A denominada “Primavera Árabe”
o mesmo pensamento e ambição, assente em mais
permitiu a muitos países árabes inaugurarem uma
liberdade, mais justiça e numa vida digna.
nova etapa de transição no seu percurso evolutivo em
Gostaria muito que esses regimes tivessem tido uma
18 • Diplomática - Abril/junho 2012
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visão proativa ou antecipadora dos acontecimentos,
e tivessem tomado a iniciativa de reformar as suas
Na verdade, as revoluções árabes tiveram
respetivas Constituições, permitindo assim a partici-
e têm uma caraterística que assenta na
pação dos cidadãos de uma forma ordeira e pacífica,
perseverança, conseguindo surpreender
sem recorrer à violência e ao confronto armado, que
muitos observadores atentos ao mundo
custou a vida a milhares de pessoas no caso da Lí-
árabe, incluindo os serviços de informação.
bia. Ou, pelo menos, que os responsáveis por esses regimes se tivessem retirado da cena política, como aconteceu na Tunísia.
antecipadas. Neste momento, foi nomeado o novo
Contudo, apesar da magnitude dos sacrifícios e das
primeiro-ministro que formou um novo governo que
perdas, vemos hoje nesses países uma nova era da
irá interagir com o parlamento recém-eleito.
vida política, assente em Constituições que protegem
Podemos dizer que, desde a elaboração da Cons-
as liberdades e garantem a Justiça, e permitem aos
tituição em 1962, que salvaguardou as liberdades,
povos manifestarem as suas vontades e elegerem os
a vida política no Kuwait vive uma dinâmica política
seus representantes com mais liberdade, longe de
permanente entre o parlamento e o governo. A co-
pressões. Quero frisar aqui que, independentemen-
municação social tem sido também um protagonista
te dos resultados das eleições nos países árabes,
de primeira linha, desempenhando ao longo de todos
devemos aceitar a vontade dos povos, desde que o
estes anos o seu papel de criticar construtivamente a
processo seja livre e transparente e que as liberdades
vida política. Além disso, foram criados vários meios
estejam protegidas, e a alternância no poder também
de informação que, por sua vez, permitem enriquecer
assegurada pelos mecanismos democráticos. Sabe-
o diálogo político.
mos que o modelo democrático que estudamos é o
Por várias vezes no passado, o sistema político do
modelo menos mau de todos os sistemas políticos,
Estado do Kuwait foi alvo de duras críticas de alguns
por isso, para poder resolver os problemas da demo-
regimes políticos árabes, devido ao espaço dado às
cracia é preciso mais democracia.
liberdades e ao papel de destaque que a Assembleia
Sei que muitos se questionam sobre o meu país,
Geral tem na vida política.
o Kuwait, e onde se situa nesta “Primavera Árabe”.
No entanto, a “Primavera Árabe” vivida por alguns
Responderei com objetividade que o Kuwait vive uma
países árabes no ano passado fez com que esses
“Primavera Kuwaitiana” permanente desde há cinco
países e outros entendessem melhor a visão dos
décadas, quando foi eleito o conselho para redigir a
líderes do Kuwait ao optarem pela concretização da
Constituição em 1961 e estabelecida a Constituição
vida parlamentar e ao insistirem nessa via logo após
em 1962, que alterou o regime político, adotando dois
a independência, isto apesar das dificuldades e das
sistemas: o presidencial e o parlamentar. Esse novo
crises que o país atravessou.
sistema permitiu organizar as primeiras eleições em
Por último, quero mencionar que o Kuwait teve duas
1963, as quais deram ao parlamento amplos poderes
experiências parlamentares, ainda antes da sua in-
legislativos, e permite a existência de uma oposição
dependência. A primeira aconteceu em 1921, quando
responsável.
foi constituído o conselho consultivo, e a segunda
Desde então, o parlamento do Kuwait, a “Assembleia
em 1938, quando foram realizadas eleições para a
Nacional”, tem conseguido exercer os seus poderes
constituição do conselho legislativo, a fim de ajudar o
constitucionais, convocando os ministros para os ple-
governador do Kuwait a gerir os assuntos do país. No
nários, e também o primeiro-ministro para o debate
entanto, este último conselho durou apenas 6 meses,
político, de forma muito exigente. O parlamento do
devido às pressões exercidas pelo protetorado.
Kuwait é considerado único no Médio Oriente, devido
Por esta razão, digo que foi natural, depois de acabar
aos poderes que lhe estão atribuídos, sobretudo a
com o acordo do protetorado em 1899, e após o país
nível legislativo.
ter conseguido a independência em 1961, o Estado
Realizaram-se eleições parlamentares no passado
do Kuwait ter-se dotado de uma Constituição e ter
dia 2 de Fevereiro, depois de o anterior governo ter
inaugurado uma nova vida parlamentar baseada na
sido obrigado a apresentar a sua demissão por não
Constituição de 1962. Esta Lei fundamental é consi-
conseguir colaborar com o parlamento. Sua Alte-
derada das mais avançadas da região, na medida em
za, o Príncipe, exerceu o seu poder constitucional,
que confere ao povo amplo espaço para participar na
dissolvendo o governo e convocando novas eleições
gestão dos assuntos do país.
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 19
Espaço Diplomático
Pascal Teixeira da Silva – Embaixador de França
O ano de 2011 O ano de 2011 ficou marcado por dois proces-
nacional, os países cuja situação financeira (do
sos de uma grande importância: a continuação
Estado, das empresas e das famílias) e económi-
da crise das dívidas soberanas na zona euro e
ca (em termos de crescimento, de produtividade,
as “primaveras árabes”. Eles não estão de modo
de competitividade e de contas externas) era mais
algum relacionadas mas tanto um como o outro,
frágil resistiram menos bem e, por vezes, tiveram
irão modificar profundamente o futuro – o que é
de pagar caro – três dos quais foram obrigados a
especialmente o caso dos países do sul da Euro-
recorrer à ajuda europeia e internacional; a nível
pa, como a França e Portugal, membros da UE e
europeu, esta crise mostrou a insuficiência do
da zona euro, geograficamente e historicamente
pilar económico da União económica e monetária
próximos do mundo árabe.
(o que aumentou as divergências no seio da zona
A crise das dívidas soberanas na zona euro é
euro) e a inexistência de mecanismos de gestão
uma consequência indirecta da crise financeira
de crise.
que eclodiu em 2007-2008 nos Estados Unidos.
Face a esta tormenta, foi necessário agir a dois
Foi pelo facto de os nossos Estados terem de
níveis: tratar dos casos especiais e dos proble-
intervir em massa para salvar os bancos (como
mas sistémicos; intervir em situação de urgência
na Irlanda) ou para limitar a recessão injetando
e criar instituições, mecanismos e meios para o
dinheiro público na economia, que os déficit e as
futuro. Em 2011, Portugal foi o terceiro país da
dívidas públicas desapareceram. Mas este mesmo
zona euro a beneficiar de um plano de ajuda que
choque incidiu de maneira diferente sobre os paí-
tem como contrapartida um ajustamento orçamen-
ses e foi revelador de um duplo problema: a nível
tal e reformas estruturais. No plano geral, a zona
20 • Diplomática - Abril/junho 2012
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euro foi consolidada e assenta desde então em
quatro pilares: solidariedade (com a criação do Mecanismo europeu de estabilidade que pereniza o Fundo europeu de estabilidade financeira), disciplina (com o “semestre europeu”, o “six-pack”, e o Tratado sobre a estabilidade, a coordenação
A Europa pode ter parecido hesitante,
e a governança adotado em Janeiro passado
lenta e dividida. Mas trata-se de 27 Esta-
mas cujas bases foram lançadas em Dezembro
dos nações (17 na zona euro) soberanos.
de 2011), governança (com a realização de uma
Cada Estado-membro tem a sua história,
cimeira regular da zona euro) e crescimento ( com
as suas caraterísticas e é uma democra-
o Pacto euro mais e a declaração do Conselho
cia com as suas tradições e as suas difi-
europeu sobre o crescimento e o emprego). Os
culdades. Contrariamente ao que se diz,
fundamentos estão, portanto, ao dispor para refor-
muito foi feito, e muito mais do que se
çar a convergência das nossas economias e as
podia imaginar quando a crise rebentou.
tornar mais fortes num mundo globalizado e competitivo, marcado pelo desenvolvimento rápido de potências emergentes. A Europa pode ter parecido hesitante, lenta e dividida. Mas trata-se de 27 Estados nações (17 na zona euro) soberanos. Cada Estado-membro
pria vida. A intervenção na Líbia, de apoio a uma
tem a sua história, as suas caraterísticas e é uma
população entregue à pior sorte, foi a ocasião
democracia com as suas tradições e as suas
para que a coligação que uniu Europeus, Árabes
dificuldades. Contrariamente ao que se diz, muito
e Americanos pusesse em prática o princípio da
foi feito, e muito mais do que se podia imaginar
“responsabilidade de proteger”. Quem poderá di-
quando a crise rebentou. Se se comparar com o
zer que esta ação, limitada quanto ao seu propó-
processo de decisão no caso de outras entidades
sito e ao tempo, não salvou vidas e não esteve ao
políticas, a União Europeia, que é uma constru-
serviço do povo Líbio?
ção sui generis, menos do que uma federação
Logo que os regimes opressores sejam derrota-
mas bem mais do que uma organização regional,
dos, é necessário construir a democracia. Os Eu-
conseguiu agir e inovar.
ropeus estão bem colocados para saber o que é
Nem tudo está resolvido porque, para além da
um processo exigente e longo. Os povos recupe-
ação em caso de urgência, os nossos países
raram o seu direito a decidir sobre o seu destino,
devem adaptar a sua economia à nova partilha
não serão os outros a dizer em seu nome o que
mundial e os seus sistemas sociais a esta última
lhes convém ou não. Os povos árabes não se in-
assim como às evoluções demográficas. O exem-
surgiram para substituir uma opressão por outra.
plo de Portugal mostra que é necessário agir em
Tenhamos confiança neles para que o pluralismo,
várias frentes, com determinação e espírito de
a tolerância, os direitos das minorias e os direitos
sacrifício, para o bem das gerações futuras.
fundamentais do indivíduo sejam respeitados.
Na margem sul do Mediterrâneo, 2011 foi um ano
No que diz respeito às relações entre as duas
de transformações formidáveis. As revoluções
margens do Mediterrâneo, abre-se um novo
árabes mostraram ao mesmo tempo a universali-
capítulo de cooperação cuja parceria proposta
dade das aspirações à liberdade, à dignidade, à
em Deauville, na primavera de 2011, lançou as
justiça e à democracia e o poder espantoso das
suas bases. Os campos de ação são numerosos:
redes sociais e dos meios de comunicação que
comércio, ambiente, mobilidade, educação. As jo-
foram os seus vectores. Certas revoluções foram
vens democracias firmar-se-ão na medida em que
rápidas e relativamente pouco violentas e outras,
elas souberem responder às aspirações da popu-
pelo contrário, provocaram – e ainda provocam,
lação, em especial da juventude. É da sua res-
como na Síria – repressões ferozes e confrontos
ponsabilidade, mas também do nosso interesse.
mortíferos. Tem de se prestar homenagem à cora-
2011 foi um ano tumultuoso e perigoso, que ter-
gem desses povos que defendem e reclamam os
minou com perspetivas encorajantes que o ano de
seus direitos, muitas vezes, com o risco da pró-
2012 deverá prosseguir e aprofundar.
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 21
Espaço Diplomático
Renato Varriale – Embaixador de Itália
sastre económico que, dadas as dimensões da nossa economia, nenhum plano de salvação teria podido evitar. Além do mais, com o risco de que, num mecanismo em cadeia, a queda financeira italiana pudesse arrastar consigo a Espanha e toda a zona euro. O próprio processo de integração europeia parecia já estar em risco. Os desenvolvimentos do quadro político sofreram por sua vez uma viragem brusca. Já não havia tempo para enfrentar a crise com novas eleições, nem existiam no Parlamento os números para alcançar uma nova maioria. A única solução era um “Governo técnico” que, apoiado por uma coligação de união nacional, lançasse imediatamente um pacote de reformas muito vastas. E assim foi. O Presidente da República Napolitano confiou a difícil missão ao Senador Mario Monti, economista de longa experiência e de grande prestígio na cena europeia. Já transcorreram alguns meses, a crise ainda não passou e há ainda muito a fazer, mas a Itália retomou o controlo da sua situação. Os italianos recomeçaram a ter confiança em si próprios e acreditam que os seus sacrifícios não só salvarão o seu País, mas darão um 2011 foi um ano que os italianos recordarão por muito
contributo fundamental para o relançamento de toda a
tempo. Iniciou-se como o 150º aniversário da Unidade
economia europeia.
da Itália. Um ano de comemorações, debates e refle-
O que é que foi feito?
xões sobre o passado e sobre o futuro do País. Sobre
A ação do Governo italiano desenvolveu-se em três
a sua histórica identidade nacional e sobre a sua nova
pilares: a consolidação orçamental; o crescimento e a
identidade europeia. Ninguém teria imaginado que se
equidade social.
tornaria o ano da maior emergência económica expe-
O processo de consolidação fiscal, já levado a cabo
rimentada pelo País na sua história recente bem como
pelo Governo Berlusconi, foi confirmado e mesmo
do início do maior processo de reforma que a Repúbli-
intensificado. Forte por um superavit primário de 5,5%
ca já viveu.
do PNB, a Itália antecipará para 2013 o objectivo do
Os primeiros sinais da chamada crise da dívida
equilíbrio orçamental, inicialmente programado para
tinham-se manifestado durante o Verão. O Governo
2015. A tal fim, a reforma do sistema pensionístico
no poder, presidido por Silvio Berlusconi e apoiado por
revestiu-se de uma particular importância. A introdu-
uma maioria de centro-direita, tinha começado a tomar
ção imediata de um método de cálculo das pensões
as primeiras medidas. Era preciso convencer os mer-
baseado nos descontos que cada trabalhador fez ao
cados que, apesar do alto nível da sua dívida pública,
longo da sua vida laboral em vez do último ordenado
a Itália tinha uma economia sólida e estava bem deter-
recebido, tornarão logo o sistema pensionístico italiano
minada para pôr em ordem as suas finanças levando
mais sustentável. O mesmo sucedeu com a medida
também a cabo as necessárias reformas estruturais.
paralela do aumento da idade de reforma. É agora
A crise porém tornou-se repentinamente mais aguda
possível dizer que a Itália tem um dos modelos pensio-
e os acontecimentos aceleraram-se de tal forma que a
nísticos mais avançados da Europa.
resposta do Governo foi insuficiente para reconquistar
Depois, existem as medidas decisivas para favorecer o
a confiança dos mercados. Começou a prospectar-se
crescimento e a criação de postos de trabalho. A ideia
o fantasma de um default financeiro italiano. Um de-
de fundo foi a de identificar e remover sem atrasos os
22 • Diplomática - Abril/junho 2012
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➤
nós e os obstáculos que por mais de dez anos atra-
convergência sobre os temas substanciais da política,
saram o desenvolvimento do País e causaram a perda
numa visão mais estratégica e menos táctica do que
de competitividade dos seus produtos. Uma tarefa
o que tinha acontecido nos últimos anos. A “gover-
difícil a realizar também porque se choca com os in-
nance” do sistema está a ser cada vez mais o centro
teresses de determinados grupos sociais e categorias
do debate, independentemente do problema de quem
profissionais.
virá a receber a herança do Governo-Monti no final da
Trata-se portanto de medidas destinadas a melhorar
Legislatura em 2013.
o clima produtivo, reforçar os investimentos em infra-
E como reagiu a Europa?
estruturas e garantir a protecção dos consumidores
A Europa felizmente começou a sentir a Itália já não
através de processos de liberalização e desregula-
como “um problema, mas como parte da solução”. É
mentação dos mercados. A par disto, existem tam-
o que o Primeiro Ministro Monti gosta justamente de
bém novas normas destinadas a simplificar de forma
repetir. A Itália demonstrou humildade e consciência
radical os processos administrativos, a fim de que a
das próprias fraquezas. E não exitou em arregaçar
Administração Pública deixe de pesar na eficiência do
as mangas para finalmente remediar a situação. Se
sistema produtivo. O próximo passo será a reforma do
a dívida pública é um problema e sê-lo-à ainda por
mercado de trabalho com o objectivo de lhe reduzir a
alguns anos, existem já todas as premissas para que
segmentação e favorecer os que, sobretudo entre os
essa, finalmente refreada, deixe de crescer e antes
jovens e as mulheres, têm mais dificuldade a inserir-se
diminua. Entretanto, as reformas deverão reconquis-
num mundo produtivo, onde são muitas as garantias
tar a confiança dos mercados e voltar a dar compe-
para quem já está empregado, mas bem menores são
titividade ao Sistema-Itália. A Nação pode de fato
as facilidades para quem procura o primeiro emprego.
contar com alguns pontos fortes que não o deixaram
Por outras palavras, um sistema que saiba encontrar a
de ser mesmo durante a crise: um defict baixo e já
justa medida de equilíbrio entre a segurança do posto
com tendência para zero; uma dívida pública alta
de trabalho típica do modelo social democrata e a
mas que em mais de 52% está nas mãos dos bancos
mobilidade e flexibilidade típicas dos modelos liberal
e das famílias italianas; uma dívida privada entre as
democratas.
mais baixas dos países industrializados; uma rique-
O terceiro pilar é o da equidade. Os sacrifícios devem
za acumulada (net wealth) per-capita segunda no
ser distribuidos equitativamente entre a população. De
mundo; uma indústria em plena actividade e capaz
outro modo a credibilidade de todo o sistema reformis-
de inovar e exportar (se se excluirem as importações
ta e as medidas de austeridade são recebidas como
energéticas, a balança comercial italiana está habitu-
injustas e desnecessárias. Neste campo, o Governo
almente em superavit).
está cada vez mais empenhado numa dura luta contra
Em conclusão, a crise que por ironia da História se
a evasão fiscal, uma praga que retira ao Estado enor-
instalou precisamente no 150º aniversário da Unidade
mes recursos e que gera fortes desiquílibrios sociais.
do País, foi o motor de arranque para dar início a uma
Todo este conjunto de medidas foi aprovado por dois
renovação radical, que será não só económica, mas
decretos, designados de forma emblemática “Decreto
também política, social e cultural. A Itália quer sair da
Salva-Itália” e “Decreto Cresce-Itália”. Uma linguagem
crise mais moderna, mais produtiva, mais justa e mais
simples e clara que quis explicitamente recordar aos
europeia.
italianos que a salvação do País só podia assentar
Que me seja permitido escrever ainda mais algumas
em dois factores entre eles indissolúveis: o rigor e o
linhas sobre a Europa. O Governo italiano está con-
crescimento.
vencido de que a fórmula vencedora para ultrapassar
Tal mensagem foi plenamente recebida pela opinião
a crise é composta por diversos factores: rigor finan-
pública e pode-se dizer que em Itália já persiste larga-
ceiro, mas também crescimento; crescimento, mas
mente a consciência da necessidade da totalidade do
na equidade social; equidade social, mas de modo
dito “pacote” de reformas. A grande parte das forças
sustentável. Também são necessários solidariedade
políticas presentes no Parlamento acolheu por sua vez
e verdadeiro espírito de integração. Reafirmação do
este modo de sentir dos eleitores que aliás contribuiu
método comunitário, como único método de formação
para que o Governo Monti recebesse o indispensável
de um consenso convicto, sólido e duradouro entre os
crisma democrático do apoio parlamentar. Um apoio
povos da Europa. E por último: não percamos o desejo
feito através de um diálogo contínuo com o “Gover-
de sonhar de que no fim do caminho esteja uma Euro-
no técnico” e virado para uma procura contínua da
pa verdadeiramente unida.
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 23
Espaço Diplomático
Thalia Petrides, Embaixadora de Chipre
utilização de combustíveis fósseis e às regras mais rígidas impostas às centrais baseadas neste tipo de energia). Como W. J. Nuttall referiu no seu genial livro 'Nuclear Renaissance' (2005), o percurso da energia nuclear está repleto de histórias sobre custos descontrolados, atrasos de construção, riscos de segurança e acidentes ocasionais. Há alguns anos atrás, visitei a central nuclear de Olkiluoto, na Finlândia, bem como o colossal local de construção da fase três do projeto. Ainda tenho uma sensação avassaladora provocada pela paisagem rural finlandesa, calma e serena, dominada por uma beleza industrial silenciosa de dimensões surreais; sem dúvida uma obra de arte surrealista. Foi-me então revelado o grande desafio de gerir o combustível gasto e os outros resíduos radioativos. Infelizmente,
Acontecimentos mais marcantes durante o ano 2011
como foi novamente comprovado pelo desastre no Japão, a energia nuclear está longe de ser segura ou limpa. Porém, ao nível nacional e ainda no âmbito da ener-
Dos inúmeros eventos que marcaram o ano passado
gia, posso salientar uma evolução otimista ao longo
à escala mundial, o mais alarmante foi a catástrofe
do ano passado. A preocupação com a segurança
nuclear no Japão. No rescaldo do terramoto e do
energética e vários anos de planeamento cuidadoso
tsunami ocorridos a 11 de Março de 2011, o derreti-
proporcionaram os primeiros resultados promisso-
mento que teve lugar na central nuclear Fukushima
res em Dezembro de 2011, quando uma unidade de
Daiichi foi considerado o pior acidente nuclear desde
perfuração de exploração ao largo de Chipre con-
a explosão em Chernobyl em 1986. Vinte e cinco
firmou a descoberta de 7 triliões de pés cúbicos de
anos depois de Chernobyl e dos seus efeitos trágicos
gás natural. A descoberta foi anunciada pela "Noble
e devastadores, as consequências a longo prazo para
Energy", uma das maiores empresas norte-america-
o ambiente e para a vida humana ainda se encontram
nas de exploração de gás e petróleo, que realizou a
sob avaliação, numa altura em que o estudo do im-
perfuração no Bloco 12 na zona económica exclusiva
pato de Fukushima Daiichi revela diariamente o lado
de Chipre. É um resultado importante para o futuro
mais sinistro da energia nuclear.
do nosso crescimento e desenvolvimento económico,
Juntamente à contínua incapacidade de aprender
aliado aos nossos esforços redobrados no sentido de
com os erros e de reduzir significativamente a pos-
expandirmos a utilização das fontes de energia reno-
sibilidade de ocorrerem acidentes nucleares que
váveis, sobretudo a energia solar.
carateriza a comunidade industrial, o desastre de
Para concluir a minha reflexão sobre as questões
Fukushima Daiichi constituiu um sério golpe para o
energéticas e os eventos do ano passado, quero elo-
renascimento nuclear. (Esta expressão foi criada na
giar as conquistas portuguesas no uso das fontes de
década de 90, quando o interesse na energia nucle-
energia renovável. O facto de 52% do total da eletri-
ar ressurgiu na Europa e nos EUA, na sequência do
cidade é produzida por este tipo de energias, é sem
aumento das preocupações ambientais devidas à
dúvida um exemplo a seguir.
24 • Diplomática - Abril/junho 2012
n
VIAGENS DE ESTADO
Presidente da República na Finlândia Construindo novas pontes
Anibal Cavaco Silva visitou a Finlândia, concretamente, a cidade de Helsínquia, onde teve uma agenda intensa, pois para além de participar na reunião do Grupo de Arraiolos (que reuniu 9 Chefes de Estado da União Europeia sem funções executivas), antecipou a viagem para uma visita bilateral, cujo objetivo se centrou na nanotecnologia, na economia do mar, estabelecer alianças e atrair investidores. Neste âmbito, Cavaco Silva visitou uma série de empresas e instituições, nomeadamente a Nokia Siemens e a própria Nokia, que já emprega, em Portugal, mais de 2000 pessoas, a Finpro, a congénere finlandesa da AICEP, o laboratório Micronova e a Universidade de Aalto. Cavaco Silva visitou também a empresa
26 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
➤
Picosun, onde se fazem aplicações de nanotecnologia.
O Presidente da República destacou “ser esta uma boa oportunidade para mostrar a estas empresas que o nosso País é um lugar de investimentos sofisticados”. Cavaco Silva destacou que as relações políticas entre os dois países são excelentes e que há um potencial a preservar a aproveitar no campo da cooperação. Quanto à tradicional reunião anual do “Grupo de Arraiolos”, foi naturalmente debatida a situação na União Europeia, mas também a tolerância e a luta contra a discriminação e a situação nos países na margem sul do Mediterrâneo. Tema este apresentado pelo próprio Cavaco Silva.
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 27
Diplomacia na 1ª pessoa
Zhang Beisan,
Embaixador da China em Portugal, por Maria Bragança e José Leite
China pode ser o portal privilegiado da expansão de Portugal na Ásia
O embaixador da China em Portugal, Zhang Beisan, um diplomata que fala português e com uma carreira ligada a questões lusófonas, foi antigo embaixador em Angola, esteve colocado em Cabo Verde e fez parte do grupo de ligação – Conjunto Luso-Chinês – orgão que acompanhou o processo de transição de Macau para a administração chinesa.
28 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
Como se traduz a entrada de
a apoiar a parte portuguesa para
condições para estas se expan-
capital da China Three Gorges
a promoção da cooperação sino-
direm no mercado internacional.
Corporation na EDP, no que
-portuguesa nas áreas política,
Esperamos e encorajamos as
respeita, ao desenvolvimento
económico-comercial, científico-
empresas dos dois países a rea-
das relações entre a China e
-tecnológica e cultural.
lizarem mais cooperações desta
Portugal?
Acha possível que mais com-
natureza.
A China e Portugal tiveram uma
panhias chinesas possam
Qual o ponto de situação da
relação diplomática de 33 anos
investir em Portugal? Em que
balança comercial entre a Chi-
sem sobresaltos. Em 1999, os
setores considera isso ser
na e Portugal? Produtos que
dois países resolveram a ques-
possível e se esse facto pode-
são mais exportados e impor-
tão de Macau através de uma
rá ser benéfico, especialmente
tados entre os dois países,
negociação amistosa, o que
nos mercados internacionais?
pode revelar-nos alguns núme-
constituiu um sólido alicerce
Na época de globalização em
ros?
para o avanço do nosso relacio-
que vivemos, empresas de
Há uma pequena diferença entre
namento no Século 21. Em 2005,
diferentes países fazem investi-
os números chineses e os nú-
durante a visita do Primeiro-Mi-
mentos mútuos e se fundem uns
meros portugueses, mas ambos
nistro da China, Sr. Wen Jiabao,
com os outros. Acompanhando o
demonstram um bom desenvol-
foi estabelecida uma Parceria
desenvolvimento económico da
vimento do comércio bilateral,
Estratégica Global Sino-Portu-
China, e em especial com o for-
e que a exportação portuguesa
guesa, que marcou a entrada
talecimento das suas empresas,
para a China vem apresentando
duma nova fase da nossa coo-
será cada vez mais frequente
um rápido crescimento apesar da
peração amistosa. Como uma
e normal ver empresas chine-
crise da dívida soberana euro-
parte importante desta Parceria,
sas com peso a ampliar o seu
peia. De acordo com os números
a cooperação económico-co-
investimento no exterior. Para
recentemente publicados pelo
mercial tem demostrado um bom
todos os potenciais investidores,
INE, o comércio de produtos
crescimento nos últimos anos. O
incluindo os chineses, uma eco-
entre a China e Portugal chegou
comércio bilateral tem mantido
nomia avançada e um mercado
a um valor de 1,99 mil milhões
um rápido crescimento apesar
maduro como o de Portugal são
de euros em 2011, obtendo um
das dificuldades da crise das
naturalmente atraentes. Tenho
crescimento de 4,6%. A expor-
dívidas soberanas na Europa,
confiança, de que desde que
tação chinesa para Portugal foi
em que a exportação de Portugal
Portugal mantenha um desenvol-
1.49 mil milhões, uma redução
para a China cresceu 68% no
vimento económico e uma aber-
de 4,9%, enquanto a exporta-
ano passado, um desempenho
tura do seu mercado, vai haver
ção portuguesa para a China
de destaque tanto no comércio
cada vez mais empresas chine-
foi 395 milhões de euros, um
entre a China e os países da
sas interessadas em investir em
impressionante crescimento de
União Europeia, como na ex-
Portugal.
67,9%. As primeiras categorias
portação portuguesa em geral.
Para falar dos benefícios das
de produtos chineses importados
Portanto, a cooperação entre a
cooperações sino-portuguesas
por Portugal são: maquinaria e
CTG e a EDP, da mesma forma
no mercado internacional, basta
equipamento elétrico (22,94%),
como a cooperação entre a State
olhar para o caso CTG-EDP. Am-
maquinaria mecânica (10,13%)
Grid e a REN, são frutos naturais
bas as empresas têm importan-
e aço e ferro (7,05%), enquanto
do amadurecimento deste rela-
tes influências no setor de ener-
na exportação para a China são
cionamento económico-comercial
gia limpa, mas cada uma possui
sal mineral e pedras (15,2%),
e uma prova da Parceria Estra-
vantagens diferentes em pesqui-
maquinaria e equipamento elé-
tégica no domínio económico.
sas tecnológicas, administração
trico (13,31%) e pasta de papel
A China sempre atribui muita
interna e ocupação no mercado.
(13,09%). Fora destes produtos,
importância às suas relações
Isso torna a sua cooperação
nota-se na exportação portugue-
com Portugal e está contente
uma fórmula de “1+1>2”, que
sa um significativo crescimento
com os êxitos já alcançados na
é certamente benéfico para o
de produtos de cortiça, vinho tin-
cooperação económico-comer-
crescimento conjunto das duas
to e azeite. Gostariamos de ver
cial bilateral. Estamos dispostos
empresas, criando melhores
cada vez mais empresários
➤
➤
Abril/junho 2012 - Diplomática • 29
Zhang Beisan
de apoio à internacionalização
ção das empresas é uma exi-
investirem no mercado chinês.
para as empresas chinesas?
gência e consequência natural
A entrada de capitais chineses
Primeiro quero lembrar que, a
do processo da globalização
na banca será o próximo pas-
compra de ativos da EDP pela
económica. O desenvolvimento
so, especialmente no Banco
China Three Gorges foi uma
económico fez com que as liga-
Comercial Português(BCP) e
operação comercial como outras
ções entre a China e o Mundo
no Banco Espírito Santo(BES)?
operações normais. O Governo
ficassem cada vez mais estrei-
Nos últimos anos, com o apro-
português colocou as suas con-
tas. Com o Governo português, o
fundamento das relações
dições para a venda dos respeti-
Governo chinês sempre encoraja
económico-comerciais sino-por-
vos ativos de uma maneira trans-
e apoia empresas chinesas com
tuguesas em geral, e o estrei-
parente e imparcial. A empresa
potencialidade para investir no
tamento de cooperações entre
chinesa, bem como empresas de
exterior, explorando o mercado
as suas empresas, há cada vez
outros países, participaram nes-
internacional. Na China, des-
mais contactos e intercâmbios
te concurso de forma transparen-
crevemos a internacionalização
na área financeira. Em alguns
te e imparcial, e a empresa chi-
das empresas com a palavra
casos já há projetos concretos.
nesa acabou sendo a vencedora.
“saída”. Mas questões como em
➤
portugueses a exportarem e a
Desde o início da crise da dívida soberana, alguns bancos portugue-
Acho que não
que forma sair, com quais em-
devemos atribuir
presas estrangeiras cooperar e
tem mantio um rápide
a esta operação
em que área investir são deci-
O
comércio bilateral
crescimento, apesar das
um significado que
sões independentes e da total
ses apostaram
dificuldades da crise das
não lhe cabe. Por
responsabilidade das empresas,
no investimento
dívidas soberanas na
outro lado, tanto a
como ditam as regras vigentes
estrangeiro como
Europa, em que a expor-
CTG e a EDP são
no mercado internacional. O que
forma de fortale-
tação de Portugal para
grandes empresas
determina o sucesso ou fracasso
cer a solidez do
a China cresceu 68% no
com muita influ-
da estratégia de internacionali-
capital e amenizar
ano passado
ência nos seus
zação das empresas chinesas é
respetivos países,
a sua própria decisão e imple-
a falta de liquidez. Neste contexto, alguns respon-
e têm empresas fornecedoras
mentação.
sáveis das instituições financei-
de produtos e serviços, que são
A China pode ser o portal pri-
ras chinesas visitaram Portugal a
sobretudo pequenas e médias
vilegiado da expansão comer-
convite de instituições e bancos
empresas. Neste sentido, acredi-
cial de Portugal na Ásia?
portugueses para conhecerem
to que a operação entre a CTG e
Como eu acabei de dizer, o
melhor o mercado e fazerem
a EDP ajudará ao estreitamento
mercado chinês tem estado
intercâmbios. Com um melhor
da cooperação entre pequenas e
sempre aberto aos produtos
conhecimento e intercâmbio
médias empresas dos dois paí-
portugueses. Vemos com bons
mútuo, especialmente conheci-
ses, criando oportunidades para
olhos e apoiamos as empresas
mentos sobre as condições do
empresas portuguesas entrarem
portuguesas a virem competir
mercado e das políticas e regu-
no mercado chinês. Além disso,
no mercado chinês ou até asiá-
lamentos financeiros em cada
a futura cooperação entre a CTG
tico com produtos e serviços de
país, a potencialidade de coope-
e a EDP servirá também como
excelente qualidade. Nos últimos
ração financeira entre a China e
exemplos e estímulos às PMEs.
dois anos, a exportação portu-
Portugal será explorada.
A China é membro da OMC. O
guesa para a China tem crescido
Em contrapartida, este acordo
mercado chinês é aberto, mas
a um ritmo bastante acelerado, o
entre a China Three Gorges
também é muito disputado. Es-
que para nós é motivo de satis-
Corporation e o Governo de
pero que as empresas portugue-
fação. Ainda há muito espaço
Passos Coelho pode poten-
sas possam ganhar a sua parte
para este crescimento, mas isso
ciar a internacionalização de
neste mercado com produtos e
exige um esforço acrescido dos
empresas portuguesas para
serviços de excelente qualida-
empresários dos dois países,
o mercado chinês, especial-
de.
especialmente dos empresários
mente das Pequenas e Médias
Respondendo à segunda parte
portugueses.
Empresas? Há alguma forma
da pergunta, a internacionaliza-
O que levou a segunda maior
30 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
economia do mundo, atual-
americanos. Os dois países
possível o estabelecimento
mente em grande expansão a
assinaram, ao longo dos anos,
destas parcerias económicas
interessar-se por um pequeno
28,4 mil milhões de dólares em
entre os dois países?
país com uma economia perifé-
contratos de empreitadas. Há
Queria corrigir um erro na sua
rica e fragilizada localizada no
mais de 80 empresas chinesas
pergunta. Macau sempre foi
extremo da Europa? A possibi-
a operarem em Angola, totali-
território chinês durante toda a
lidade de servir como platafor-
zando um investimento de 350
história. Esteve sob administra-
ma para outros mercados onde
milhões de dólares. A China é
ção do Governo português, mas
Portugal tem tradição, como o
hoje o maior parceiro comercial
a sua soberania nunca foi trans-
é, o caso dos mercados africa-
do Brasil no mundo. Em 2010,
ferida.
no e brasileiro?
o comércio entre os dois países
Admito que a solução pacífica da
As empresas chinesas não
chegou a 62,6 mil milhões de
questão de Macau foi, de fato,
são as únicas a interessar-se
dólares. Empresas chinesas in-
um grande acontecimento na
por Portugal. Sei que, grandes
vestiram 860 milhões de dólares
história das relações sino-por-
empresas internacionais, como
no Brasil, e empresas brasileiras
tuguesas. Ofereceu uma base
Volkswagen, a Siemens da
390 milhões na China. Os dois
sólida não apenas para a suces-
Alemanha, a PSA, Danone da
países ainda celebraram acor-
so da transição e posteriormente
França, Canon do Japão, entre
dos de cooperação financeira no
ao desenvolvimento de Macau,
outras, já têm investimentos em
valor de cerca de 10 mil milhões
mas também para o avanço das
Portugal. Não acho o investimen-
de dólares. É verdade que as
relações entre a China e Portu-
to chinês em Portugal um fato a
últimas cooperações entre a
gal no novo século. Depois da
estranhar, mas antes uma fato
CTG e EDP, entre a State Grid e
transição, Macau tem mantido
natural. Aliás, a existência de
REN contêm projetos de traba-
uma conjuntura política estável,
tantos investimentos estrangei-
lhar em conjunto nos mercados
uma economia próspera, o povo
ros monstrou que estes inves-
africano e sul-americano, que
satisfeito com a sua vida, o que
tidores, incluindo os chineses,
considero decisões naturais que
comprovou que as políticas de
acreditam no futuro do mercado
vão favorecer os seus próprios
“um país, dois sistemas” e “Ma-
português a longo prazo. Portu-
interesses. Mas os números que
cau administrado pelo povo de
gal é um país com uma história
referi aqui já falaram por si, pois
macau” estão corretas. O gover-
e cultura gloriosas, é membro da
antes destas últimas coopera-
no central da China e o próprio
União Europeia e da Zona Euro.
ções entre empresas chinesas
governo da Região Administra-
É um país que hoje conta com
e portuguesas, já havia canais
tiva Especial de Macau também
uma população com um nível de
fluídos de investimento e uma
atribuiram atenção à exploração
educação avançado. Tudo isso
base bastante sólida de coopera-
da vantagem de Macau ter liga-
são uma base importante para
ção entre empresas
um desenvolvimento económico
da China e empre-
T
próspero. Sempre acredito que,
sas de Angola, e do
que desde Portugal
nos. Em 2003, foi
as dificuldades que Portugal
Brasil. Conclusão: a
mantenha um desen-
fundada em Macau
enfrenta são temporárias. Espe-
África e o Brasil não
volvimento económico
o Fórum de Coope-
ro que Portugal saia o mais cedo
foram os principais
e uma abertura do seu
ração Económico-
possível da crise e que a sua
motivos de investi-
mercado, vai haver
-Comercial entre a
economia volte ao caminho do
mentos chineses em
cada vez mais empre-
China e os países
desenvolvimento.
Portugal.
sas chinesas interes-
da Língua Portu-
Para responder à segunda
O Sr. Embaixador
sadas em Portugal"
guesa, uma plata-
parte da pergunta, vou recor-
esteve como di-
rer a alguns números. Angola
plomata em Macau e acompa-
para as relações económico-
hoje em dia é o segundo maior
nhou o processo de transição
-comerciais entre a China e os
parceiro comercial da China na
do antigo território português
países lusófonos. Em 2011, o
África. Em 2010, o comércio
para a China. Na sua opinião,
comércio entre a China e os
bilateral entre a China e Angola
a forma muito positiva como
países lusófonos já ultrapassou
foi 24,8 mil milhões de dólares
esse processo evoluiu tornou
100 mil
➤
ções estreitas com
enho confiança, de
os países lusófo-
forma importante
➤
Abril/junho 2012 - Diplomática • 31
Zhang Beisan
antigo governador de Macau,
Para mim nunca houve quais-
o investimento mútuo também
General Rocha Vieira, para o
quer milagres . O êxito que a
está em rápido crescimento. A
Conselho de Supervisão da
China obteve nos últimos anos
China vai continuar a aproveitar
EDP?
deve-se ao trabalho duro da toda
as ligações linguístico-culturais
O General Rocha Vieira é meu
a nação chinesa sob a liderança
e legislativas entre Macau e os
amigo pessoal, mas julgo que
correta do Governo. A China é
países lusófonos para promover
não é minha função nem a minha
uma país em desenvolvimento
uma cooperação de maior esca-
vontade comentar uma nomea-
com uma grande população mas
la, maior abrangência e melhor
ção da EDP, uma empresa de
uma base económica bastante
nível.
funcionamento independente.
fragil, que tem que satisfazer a
A propósito, o que pensa o
A que se deve o “milagre eco-
crescente demanda material e
Sr. Embaixador da escolha do
nómico” chinês?
espiritual da sua população que
➤
milhões de dólares americanos,
32 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
representa 20% da população
O intercâmbio cultural é uma par-
-se, os chineses conhecem muito
mundial com apenas 7,9% de
te importante do relacionamento
melhor sobre o ocidente do que
terra lavrável e 6,5% da água
entre os países. Como referi,
os ocidentais sobre a China. Cla-
doce da planeta. Este ambiente
existem tradições seculares
ro, isso não impede que a China
deu ao povo chinês uma virtu-
de intercâmbio cultural entre a
melhore os seus esforços de
de de trabalhar duro, poupar a
China e Portugal, o que desem-
divulgar a sua imagem ao exte-
riqueza e depender antes de
penhou um papel de relevância
rior, para que o mundo conheça
tudo da sua própria força. A
para promover o conhecimento
melhor a realidade da China.
história recente da China depois
mútuo e aprofundar a amizade
Historicamente, Portugal sempre
da Guerra de Ópio entre a China
entre os nossos povos. A Embai-
foi um pioneiro entre potências
e a Grã-Bretanha era uma histó-
xada da China em Portugal sem-
marítimas ocidentais em enten-
ria repleta de guerra, derrota e
pre atribui muita importância aos
der outras culturas e em integrar-
pobreza. Por isso o povo chinês
assuntos culturais, tem realizado
-se na sociedade local. Espero
sabe valorizar a estabilidade
nos últimos anos exposições de
que Portugal possa explorar bem
conseguida depois da formação
carácteres chineses, pintura,
esta tradição histórica, e tornar-
da Nova China, especialmen-
instrumentos musicais, entre ou-
-se outra vez pioneiro na grande
te durante as três décadas de
tras. A Embaixada também tem
integração cultural do mundo
reforma e abertura. O que o
organizado actividades culturais
neste novo século.
Governo precisa fazer é defen-
centralizadas em festivais de
Uma pergunta de caráter mais
der esta estabilidade política
importância tradicional, como o
pessoal: qual a impressão que
e harmonia social, criando um
Festival da Primavera, incluindo
o Sr. Embaixador tem de Por-
ambiente favorável ao desen-
o convite de grupos artísticos
tugal e dos portugueses? O
volvimento económico para que
chineses a visitarem Portugal.
que mais aprecia?
o povo possa trabalhar em paz
Estas atividades tiveram grandes
Estou em Portugal há um ano e
e tranquilidade. Actualmente, o
repercurssões no público por-
meio. Portugal é um país lindís-
desenvolvimento da China ainda
tuguês. Como se sabe, hoje em
simo e o povo português mos-
enfrenta desafios como o dese-
dia em Portugal está na moda
tra sempre muita hospitalidade,
quilíbio regional e urbano-rural,
aprender a língua chinesa, mas
o que tornou este período de
fraca capacidade de inovação
poucas pessoas sabem que
trabalho e vida muito agradá-
tecnológica, um sistema de se-
aprender a língua portuguesa,
veis. Tive oportunidade de viajar
gurança social imperfeito, etc..
também está na moda na China.
para muitos lugares de Portugal,
A economia chinesa, que já é
Mais de 20 universidades chine-
impressionaram-me a tradição e
considerada a segunda maior do
sas já oferecem cursos de por-
a cultura de Lisboa e do Porto,
mundo, ainda tem um PIB per
tuguês, e o público chinês está
os traços históricos do Minho, a
capita de 4400 dólares, muito
cada vez mais interessado em
vinicultura do Douro, a beleza
inferior aos países desenvolvi-
conhecer a cultura e a história de
natural de Trás os Montes, a
dos incluindo Portugal. Hoje, o
Portugal. São condições favo-
riqueza agrícola do Alentejo, o
Governo e o povo chinês estão
ráveis aos futuros intercâmbios
sol e as praias do Algarve e a
a concentrar-se confiantemente
culturais. Uma base importante
paisagem insular da Madeira e
no caminho do desenvolvimento
para qualquer intercâmbio cultu-
dos Açores. Portugal é em geral
sustentável que beneficie toda a
ral é o respeito mútuo, não impor
um país de clima agradável e
sua população, acelerando a for-
os valores de um lado ao outro.
com excelentes condições para
mação de uma economia amiga
A China tem uma cultura e tradi-
agricultura e turismo. O povo
do meio ambiente, fazendo uma
ção única, e um sistema de valo-
português foi o povo que iniciou
maior contribuição à paz e ao
res milenar. Analisar os assuntos
a Grande Navegação e os Des-
desenvolvimento do mundo.
da China com visão ocidental
cobrimentos, uma página impor-
O que falta fazer em termos de
sem levar em consideração esta
tantíssima na história de toda a
um relacionamento mais profí-
tradição, pode causar muitos
humanidade. Apesar das dificul-
cuo no relacionamento cultural
preconceitos e maus-entendi-
dades temporárias, tenho plena
entre Portugal e a China, onde
mentos. Hoje, com a reforma e
confiança no futuro do vosso
existem tradições seculares?
abertura na China a aprofundar-
país.
➤
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 33
Homenagem
Durão Barroso Doutor Honoris Causa pela UTL
nebra que obteve o grau de mestre em Ciência Politica, com o tema “Le système politique portugais face à l’intégration européenne”. A sua carreira académica deixou marcas em várias universidades do mundo. Em 1979, fundou a Associação Universitária de Estudos Europeus. Enriqueceu o seu curriculum académico com vários estudos e cursos realizados nas Universidades Americanas: na Universidade de Columbia, de Nova Iorque e na Universidade de Georgetown, em Washington. Já no continente europeu frequentou o Instituto Universitário Internacional do Luxemburgo e o Instituto Universitário Europeu de Florença. Em Portugal, foi assistente na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde se licenciou. Para além das fronteiras académicas nacionais, foi assistente assíduo no Departamento de Ciência Politica da Universidade de Genebra. Entre 1996 e 1998, foi professor convidado no Centro de Estudos Germânicos e Europeus da Universidade de Georgetown, em Washington. Durante 4 anos, desempeNo âmbito da cerimónia solene de encerra-
nhou ainda o cargo de Diretor do Departamen-
mento das Comemorações dos 80 Anos da
to de Relações Internacionais da Universidade
UTL, no Instituto de Ciências Sociais e Po-
Lusíada, em Lisboa, para o qual foi nomeado
líticas, o Presidente da Comissão Europeia,
em 1995.
José Manuel Durão Barroso, foi homenageado
No início dos anos 1980, Durão Barroso
com a atribuição do Grau de Doutor Honoris
começa a sua carreira política com a adesão
Causa. O Doutoramento Honoris Causa foi,
ao Partido Social Democrata (PSD). Em 1999,
na verdade, o reconhecimento da contribuição
foi eleito presidente do Partido, sendo ree-
dada por Durão Barroso à investigação cientí-
leito nos três mandatos seguintes. Foi nesta
fica no quadro europeu, que reforçou o papel
altura nomeado vice-presidente do Partido
que este desempenha enquanto Presidente da
Popular Europeu. Na qualidade de Secretário
UE.
de Estado dos Negócios Estrangeiros e da
José Manuel Durão Barroso nasceu em Lis-
Cooperação distinguiu-se no papel de me-
boa, no dia 23 de Março de 1956. Em termos
diador dos Acordos de Paz para Angola, que
da sua formação académica, após a conclu-
foram assinados em Bicesse (Estoril), no início
são da licenciatura em Direito, na Universida-
dos anos 90 (1991). Já Ministro dos Negócios
de de Lisboa, continuou o seu percurso aca-
Estrangeiros, entre 1992 e 1995, levou a cabo
démico na Suíça. Foi diplomado com distinção
o processo de autodeterminação de Timor-
em Estudos Europeus, no Instituto Universitá-
-Leste.
rio de Estudos Europeus da Universidade de
A política de Durão Barroso trouxe ao PSD a
Genebra. Na mesma instituição universitária
vitória nas eleições legislativas e, em Abril de
e, também com distinção, foi no Departamento
2002, foi nomeado Primeiro-Ministro de Portu-
de Ciência Política da Faculdade de Ciências
gal. Desempenhou o cargo durante dois anos,
Económicas e Sociais da Universidade de Ge-
até que, em 2004, foi nomeado e
34 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
➤
assumiu as funções de presidente da Comis-
confiança de que, através de um caminho lon-
são Europeia. Por unanimidade, em Setembro
go e complexo, vamos conseguir ultrapassar
de 2009, ganhou o segundo mandato da presi-
esta crise”. Durão Barroso finalizou que para
dência europeia, o que lhe conferiu ainda mais
a Europa sair mais forte da crise “ é neces-
projeção na agenda política internacional e na
sária a iniciativa política e a vontade política.
agenda do desenvolvimento científico.
Não basta as instituições, não basta a decisão
Foram estes alguns dos pontos referidos no
económica. É necessário que haja um com-
dia da condecoração Honoris Causa, realiza-
promisso político”- argumentou o Presidente
da no Instituto Superior de Ciências Sociais e
da UE.
Politicas da Universidade Técnica de Lisboa,
A crise é um tema que preocupa todos os
perante uma plateia que contou com a pre-
governos da zona euro. Em todos eles existe
sença de várias personalidades, entre elas, o
a “consciência da dificuldade da situação e
professor Adriano Moreira, o primeiro-ministro
a vontade de lhe dar uma resposta. Existe a
Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e outros
consciência da interdependência em que esta-
membros do Governo e do corpo diplomáti-
mos no quadro da União Europeia” – finalizou
co. Entre os convidados, palavras de elogio
Durão Barroso. Mas, para o caso português,
foram feitas por Adriano Moreira, que afirmou
em particular, afirmou que um dos fatores
que “é na conjuntura do presente que o saber
responsáveis pelo atraso da economia portu-
das relações internacionais e o saber fazer,
guesa se prende com os setores fechados e
nos estadistas, se enquadra a intervenção
os privilégios: “em alguns setores da econo-
do Presidente da CE, que chamou o apreço
mia há interesses instalados, há interesses
desta Universidade Técnica pela sua Reitoria,
que resistem à mudança, que beneficiam de
através dos seus discursos que remetem para
um acesso especial ao Estado, de garantias
um futuro solidário dos cidadãos europeus”.
que lhes são dadas por uma legislação de
Na sua intervenção de agradecimento, Durão
proteção. Assim, quando há setores fechados,
Barroso discursou sobre a situação atual da
quando há privilégios, quando há interesses
União Europeia. Falou na crise económica
que vivem à sombra do Estado, isso impede
e na necessidade de partilhar a soberania.
a inovação, impede uma concorrência mais
Concluiu que “quando se cede soberania,
leal e uma modernização” – confessou Durão
pode ganhar-se também com a soberania dos
Barroso aos jornalistas, à margem da cerimó-
outros” e argumentou que a Europa precisa da
nia de condecoração.
“Europa a trabalhar com determinação para
Com um curriculum académico e político
defender o euro e para defender a estabilida-
vastos, Durão Barroso, além do presen-
de financeira”.
te título, foram-lhe concedidos mais títulos
Relativamente à situação do Euro, o Presi-
honoris causa. Entre estes destacam-se o da
dente da União Europeia mostrou-se otimista.
Universidade de Georgetown, Washington,
Como o próprio admitiu, “o euro não é apenas
D.C. em 2006; o da Universidade de Génova,
uma forma de pagamento, como tem sido
Itália no mesmo ano; o da Universidade de
dito por muitos - nomeadamente a Chanceler
Kobe (2006); o da Universidade de Edimburgo
Merkel que, ainda recentemente, o disse no
(2006); o da Universidade Sapienza de Roma
parlamento alemão. O euro é também um
em 2007; o da Universidade de Varsóvia
símbolo da própria construção europeia, mas
(2007); o da Pontifícia Universidade Católica
um símbolo não apenas abstrato, um símbolo
de S. Paulo em 2008; o da Universidade de
concreto que tem a ver com a vida concreta
Nice Sophia Antipolis (2008), o da Universida-
dos cidadãos em toda a nossa Europa, por
de de Chemnitz em 2009; o da Universidade
isso eu, contra o pessimismo dominante, que-
de Genebra em 2010 e o da Universidade de
ro aqui hoje, mais uma vez reafirmar a minha
Ghent em 2011.
n➤
Reportagem: Roman Buzut
Abril/junho 2012 - Diplomática • 35
Durão Barroso
1
2
3
4
5
6
7
8
1. O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso e Adriano Moreira 2. Reitora Helena Pereira a homenagear Durão Barroso 3. Professores e convidados a irem para a cerimónia 4. Passos Coelho a cumprimentar o secretário-geral António Almeida Ribeiro 5. Embaixador Helmut Elfenkämper e António Almeida Ribeiro 6. Heitor Romana e António Sousa Lara 7. António Santana Carlos e João Cruz 8. Francisco Treichler Knopfli e João Pereira Neto
36 • Diplomática - Abril/junho 2012
Economia & Finanças
Patrick Siegler-Lathrop is a wealth manager and consultant living in Portugal, with a more than 35-year career as a Wall Street investment banker, entrepreneur, industrialist and professor, having taught at INSEAD and Paris University, Dauphine. He is a founding member of the international NGO Action Contre la Faim. He can be contacted at psieglerlathrop@gmail.com.
(* The opinions expressed herein are those of the author, and do not necessarily represent those of DIPLOMATICA) (* As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor e não representam necessariamente as da Diplomática.)
Europe: Winter, or spring?
As we approach Easter, 2012, the euro-zone
(EFSF), with guarantees of €780 billion, not
still exists, with the same 17 members, and
quite the €1 trillion markets hoped for, but
although everyone agrees the euro-crisis has
nevertheless substantial resources to provide
not left us, newspapers are less filled every
for needy European Governments.
day with gloom and doom predictions of the
Secondly, most individual countries in Europe,
demise of the euro.
and much of the rest of the world, have come
What has happened to calm the storm?
to accept the German recipe: that Austerity is
First, a number of positive financial decisions
the answer to resolve the crisis. If we apply
and measures have been taken at the
enough austerity, rapidly and dramatically
European level:
reducing Government deficits, markets will
- The European Central Bank (“ECB”)
reward such action by offering lower interest
offered more than €1 trillion in cheap three-
rates, confidence will return, and we will all
year loans to banks, averting a major credit
return to healthy equilibrium.
crunch and providing liquidity which the
It was difficult to counter German insistence
banks can use to:
that massive austerity was the only approach
• purchase sovereign debt, lowering the
- the vulnerable French didn’t have a choice, if
cost of borrowing for most European
they disagreed, they risked market sanctions,
Governments,
so the “Merkozy” approach, imposing radical
• continue to finance business, and
fiscal adjustment, was promoted aggressively
• generate profits to strengthen their
by Germany, with France somewhat reluctantly
balance sheets,
following.
- European Union leaders and private lenders
Countries across Southern Europe have
agreed to restructure Greek debt and provide
applied the recipe, become “good” students,
Greece with new funding,
drastically increasing Government taxes and
- European Governments agreed to put into
reducing expenditures. For example, in its
place the European Financial Safety Facility
agreement with the troika 1 to provide €78
➤
Abril/junho 2012 - Diplomática • 37
Europe: Winter, or spring?
➤
billion in financing in May, 2011, Portugal
people have of ever being able to find fulfilling
committed to reduce its Government fiscal
work? How can we countenance a system
deficit from a rate of around 10% of GDP in
where even the Prime Minister of Portugal is
2009-2010, to 5.9% in 2011, 4.5% in 2012 and
led to encourage young, talented Portuguese
3% in 2013.
to leave the country to seek employment in
Southern European countries have applied the
healthier economies such as Brazil or Angola.
medicine rigorously, and are to be commended
And what is the current German-inspired
for the steps they have taken to put their house
answer to this situation? More of the same
in order. Portugal accomplished a structural
medicine, more austerity, with calls for
adjustment of 4% of GDP in its government
another round of deficit reduction, under the
budget in 2011, a remarkable achievement in
watchful eye of financial markets and austerity
a single year. But in spite of such encouraging
watchdogs, prolonging recession and bringing
progress, markets remain very nervous, and
certain, even higher unemployment.
countries such as Portugal, Spain and Italy,
I am dismayed by the indifference of our
continue to be viewed as extremely vulnerable.
political leaders to the consequences of such
Is the auterity recipe going to work? You
massive joblessness. It is easy to see how the
do not have to be a Keynesian to know that
electorate in Greece, Portugal, Spain, Italy,
increasing taxes and lowering government
and others, could become attracted to radical
expenditures, particularly in European
politicians, who will rightly claim that austerity
countries where the share of government
measures are unjust and unfair.
contribution to GDP is high, triggers a decline
Why should the governments of Portugal,
in economic activity, which in turn leads to
Spain or Italy want to subject their citizens to
lower government tax receipts, higher payouts
endless depression? And witness an ever-
in unemployment benefits, and an increase in
widening difference between their struggling
government deficits. The Nobel laureate and
Southern European nations and healthier
professor at Columbia University in New York
Northern ones? I am afraid that continued
Joseph E. Stiglitz states the case succinctly:
application of current policies has a high risk of
“It is clear that austerity alone is a recipe for
leading to such a depressing scenario.
stagnation and decline. The likelihood that
Is there an alternative? Of course there is.
things would work out well is extraordinarily
In fact, this is a moment of great opportunity,
small.’’
for Europe, a moment when we can move
In other words, “austerity alone” just doesn’t
forward, following the path set out for us by
work. We are witnessing this situation today
the founders of the European ideal. How? By
in Spain, and will see it repeated in other
pushing for a change of priorities, by insisting
countries, where deficit targets are unlikely to
that our principal concern must shift to creating
be met.
jobs, particularly for the young, by putting
But there is even greater risk. In my view
forward solidarity within Europe as a path back
the cost of current policies outweighs the
to good health.
advantages, and that cost has one name:
I am not suggesting that we should relinquish
MASSIVE UNEMPLOYMENT.
measures to reduce excessive Government
Already there are 16.9 million unemployed
debt, nor that we abandon basic structural
in the 17-country euro-zone and 24.3 million
reforms. Measures that are being implemented
in the European Union. Staggering figures,
in Portugal, Greece, Italy and Spain to
bearing witness to enormous human suffering
render labor market more open and flexible,
and providing fertile ground for dangerous
to improve legal systems, to privatize
political drift towards extremism.
Government-owned companies and open the
The effect is particularly devastating for young
economy to more balanced competition, are
people. What answer can we provide to the
an essential part of the process, and are to
49.6% of people under 25 who are unemployed
be encouraged. But structural reform plus
in Spain, the 46.6% in Greece, or the 35.1%
austerity will not be enough.
in Portugal? What hope do so many young
We need to launch a major investment
38 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
➤
program, to promote employment in Southern
Europeans.” 2 But the long-term sustainability
European countries, perhaps financed by
of the euro, and of the European project,
the proposed financial transactions tax
requires that the gap between North and South
in the euro-zone. Such a program should
be narrowed.
focus on investing in research, promoting
Tim Geithner, the U.S. Secretary of Treasury,
entrepreneurship, boosting exports, and
may have enraged European counterparts last
investing in new technologies, for example
fall by telling them “you need stimulus”, but he
inspired by newly elaborated concepts of
was right.
sustainable development. The European
If positive momentum can be generated in
Union, and such institutions as the European
the economies of Southern Europe, that will
Investment Bank and in the European Bank
do more to re-establish confidence, providing
for Reconstruction and Development, where
hope both to markets and to Europeans
considerable know-how exists, should be
suffering through the current downturn.
essential partners to define an investment
The key to such any such new investment
program to create employment and bridge the
program lies with Germany, the current
difference between North and South. European
uncontested leader of the European Union and
bureaucracy is viewed as complacent and
the euro-zone. Germany has been the euro’s
callous, unconcerned with the wellbeing of
greatest beneficiary, its exports to EU partners
people? Let them promote creative ideas to
are up 9% per year since the euro was
generate jobs, helping change our perception
introduced, as compared to 3% beforehand,
of their contribution, bringing to bear their
and its exports to the 10 countries that joined
expertise in this major new initiative, which
the EU after 2004 have increased by €80
can be another important step in the gradual
billion. The EU customs union has permitted
political integration of Europe.
Germans to have the jobs less competitive
Such a major investment program will require
Southerners lack. A major new initiative in
that Germany and other Northern European
Southern Europe will help promote growth
countries accept that we postpone deficit
throughout Europe.
reduction, permitting selective Government
During this transition phase, Germany must
job-creating stimulus programs in the most
overcome its reticence to allow the ECB to
vulnerable countries, accepting that deficit
become the “lender of last resort”, operating
reduction, which remains essential, is to be
in the same manner as the U.S. Federal
reached gradually and over the medium term,
Reserve and the Bank of England, to maintain
rather than immediately. Even the IMF, the
the banking system and give time for fiscal
flag-bearer of orthodoxy, has argued that
adjustments to be made.
high public debt and high government deficits
Angela Merkel has clearly indicated that she
should be reduced through a steady, gradual
thinks the solution to the euro crisis will come
process.
from “more Europe, not less”. If she is to be
“Look after the unemployment, and the budget
“more European”, she will have to show that
will look after itself”, stated John Maynard
her country embraces solidarity within the
Keynes in 1933.
union. Hopefully, she will have the strength
“It is time for European leaders to save the
and the foresight to overcome resistance in
historic European project by telling the truth:
her own party and her country, go against their
that the European Union and the euro are
conventional thinking, to lead Europe on a
as essential as ever to the well-being of
new, more optimistic path.
n
1 The European Union (EU), the European Central Bank (ECB) and the International Monetary Fund (IMF) 2 This quote, and certain figures and concepts in this article, are inspired by an article in Options Politiques, February 2012, by my good friend Jeremy Kinsman, who served as Canada’s ambassador to the European Union, Russia, the UK, and 12 other countries or organizations.
Abril/junho 2012 - Diplomática • 39
vISITAS DE eSTADO
Mariano Rajoy e Pedro Passos Coelho Portugal e Espanha analisam combate à crise
Mariano Rajoy esteve em Lisboa, em visita oficial,
tos recessivos” que as medidas de combate ao défice
onde a situação económica e a preparação do próximo
possam vir a ter, tendo trocando impressões quanto à
Conselho Europeu dominaram a agenda do encontro
forma de sair da crise.
entre os dois líderes, o primeiro-ministro português e o
Já em Lisboa, e depois do encontro Passos Coelho/Ra-
presidente do Governo espanhol.
joy, durante a conferência conjunta, o primeiro-ministro
Esta visita surge na sequência da recente viagem a
português reiterou que o País “não pedirá a renego-
Madrid de Passos Coelho, em que os dois estadistas
ciação do programa que está a executar”, sublinhando
analisaram a situação de ambos os países ibéricos, no-
ainda que não será pedido nem “mais tempo, nem mais
meadamente na área económica, e nas formas de sair
dinheiro” à troika e que “o acordo está a ser cumprido
da crise que assola a Europa e quais as possibilidades
dentro das suas metas”.
de “concertar visões” para o futuro.O primeiro-ministro
Apesar de admitir que os resultados destas políticas
português, no final do encontro, que durou cerca de
de austeridade demorarão algum tempo a manifestar-
uma hora, fez questão de esclarecer que trocara im-
-se, o primeiro-ministro português considera que, sem
pressões alargadas com Mariano Rajoy sobre a situa-
elas, não será possível voltar a ganhar a confiança dos
ção que se vive, hoje em dia, tanto em Portugal como
mercados e dos investidores. Recordando os casos de
em Espanha. Uma situação que, infelizmente ambos os
Portugal e da Irlanda (países ao abrigo de um pro-
países partilham em muitos aspetos, como ambos os
grama de ajustamento), manifestou a sua confiança
estadistas concluíram.
de que, desde que as metas sejam cumpridas, “não
Passos Coelho foi ainda mais assumido, ao referir que
deixarão de ter o auxílio da EU e do FMI se, por razões
Portugal e Espanha estão a viver uma das mais graves
externas não conseguissem regressar aos mercados”.
crises de que há memória. E foi neste contexto que
Adiantou ainda que “o nosso programa não pode falhar
os dois responsáveis políticos analisaram os “aspe-
por razões internas e, é isso que me interessa como
40 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
➤
chefe de Estado”.
Recorde-se que, ainda em Madrid, Pedro Passos
No encontro com Mariano Rajoy ficou definido o re-
Coelho afirmou que “Portugal e Espanha têm muitas
tomar dos encontros bilaterais entre os dois países,
afinidades e boas condições para concertar algumas
devendo o próximo decorrer já na primavera. O objetivo
visões sobre o que pode ter interesse para os dois
é que, tal como sucedeu nesta última reunião, Portugal
países”. Temas como o caso da operação de comparti-
e Espanha concertem posições para levar aos encon-
cipação da PT na Vivo e os projetos de infraestruturas,
tros comunitários.
como o TGV, foram também debatidos. Pedro Passos
As estratégias, tanto políticas como económicas, entre
Coelho e Mariano Rajoy já se tinham encontrado, uma
os dois países foram os pontos mais destacados pelos
primeira vez, em Bruxelas, dando indicações de grande
dois políticos. Mariano Rajoy adiantou mesmo que,
sintonia entre os dois. Pedro Passos Coelho reafirmou
em Espanha, será feito “algo parecido com o que tem
o interesse dos dois países em manter um contacto
sido feito em Portugal”. Recordamos que a Espanha
próximo, sobretudo porque “há um nível de integra-
se prepara para aprovar a nova lei laboral e a lei do fi-
ção económica muito grande entre os dois países
nanciamento bancário e está disposta a fazer os cortes
ibéricos e a situação de fraco crescimento económico
necessários para cumprir o défice de 4,4% este ano.
coloca problemas para os empresários portugueses e
O primeiro-ministro espanhol, falando aos jornalistas,
espanhóis”.A terminar, o primeiro-ministro português
comentou as previsões do FMI de que a Espanha irá
sublinhou que “tudo o que possa ser feito em termos
sofrer uma forte recessão este ano e que a sua econo-
de reformas estruturais nos dois países, para ajudar a
mia irá continuar a contração em 2013, considerando
recuperação do emprego e ao crescimento económico,
que essas projecções “são um estímulo para continuar
é decisivo para os dois países, que têm, nesta altura,
a trabalhar” e acrescentou que o país vai cumprir o
entre outros problemas graves, uma taxa de desempre-
objetivo de défice de 4,4% para este ano.
go muito elevada”.
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 41
Diplomacia na 1ª Pessoa
Embaixador José de Bouza Serrano,
por Maria da Luz de Bragança, fotos Roman Buzut
O Guardião dos Embaixadores acreditados em Portugal Após uma carreira importante, a representar Portugal, o Embaixador José de Bouza Serrano voltou há três anos ao seu país, como Chefe do Protocolo do Estado, donde vai partir em breve para Embaixador na Holanda.
42 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
Agraciado com o oficialato da
ses. Só depois entram para o
dade dos diplomatas estrangei-
Ordem do Infante Dom Henri-
Palácio de Belém e são acom-
ros, assim como os do pessoal
que e a Grã-Cruz da Ordem de
panhados para a audiência com
administrativo ou doméstico das
Mérito e dezenas de distin-
o Senhor Presidente, que os
embaixadas passam por nós.
ções estrangeiras pelo mundo
recebe juntamente com outras
Somos nós que os emitimos,
fora, tais como a Grã Cruz da
entidades, como por exemplo
juntamente com o Serviço de
Ordem de São Gregório Mag-
o Senhor Ministro de Estado
Estrangeiros e Fronteiras.
no, da Santa Sé, a Grã-Cruz da
e dos Negócios Estrangeiros,
Por tudo isso pode ver-se
Real Ordem do Dannenborg, da
o Secretário Geral do Ministé-
como todos os Embaixadores
Dinamarca, Grã-Cruz de Graça
rio, o Assessor Diplomático do
o conhecem bem e a enorme
e Devoção da Ordem Soberana
Senhor Presidente da Repú-
estima que têm por si…
e Militar de Malta entre muitas
blica e, eu próprio, o Chefe do
O que acontece é isso…nós
outras, apresentou recente-
Protocolo.
somos as primeiras pessoas
mente um completíssimo livro
Após esta audiência, onde são
que eles conhecem e a quem
de ensinamentos sobre os
igualmente apresentados aos
recorrem. Depois, quando têm
preceitos, práticas e rituais do
Chefes das Casas Civil e Militar
dúvidas ou necessitam de au-
protocolo oficial de Estado e do
e ao Secretário –Geral da Pre-
torizações para fazerem obras
protocolo social.: “ O Livro do
sidência da República, os Che-
nos edifícios das Embaixadas,
Protocolo”, de leitura e saber
fes de Missão passam a estar
das matrículas dos carros, ou
imprescindível.
em funções e quando saíem do
das licenças de importação…
Palácio de Belém, já ostentam
somos nós que agenciamos os
Senhor Embaixador, não vim
a bandeirinha do seu país no
contactos ou as emitimos. Tam-
falar consigo só pelo livro, re-
automóvel.
bém assuntos de justiça, que
centemente apresentado, mas
Eu ia perguntar-lhe o que era
podem ocorrer, sejam assuntos
também pela estima e impor-
o Protocolo de Estado e quais
laborais, acidentes de viação
tância que tem junto de todas
as suas funções…mas por
etc., quando há problemas com
as embaixadas.
favor continue…
a justiça eles não são direta-
Eu não, minha querida amiga,
Para além de servir o Senhor
mente interpelados pelo tribu-
quem tem importância é o ser-
Presidente da República, o
nal, os expedientes vêm para
viço do Protocolo do Estado .
Senhor Primeiro-Ministro, o
nós, que fazemos de mail-box
Nós, no fundo, somos os “Anjos
Ministro dos Negócios Estran-
e de mediadores entre a imuni-
da Guarda” do Corpo Diplomá-
geiros e os outros Membros
dade diplomática que têm e o
tico acreditado em Portugal.
do Governo e organizar as
sistema judicial português.
É o Chefe do Protocolo que
cerimónias relativas à posse do
Temos também obrigação de
recebe os novos Embaixadores
Senhor Presidente e do Gover-
estar presentes (representan-
que chegam e vêm entregar
no, outras celebrações nacio-
do o MNE)em todas as festas
as cópias das cartas, antes de
nais, como por exemplo o 10 de
nacionais, para as quais sou
fazerem a entrega solene dos
Junho, são organizadas aqui no
normalmente convidado, o
originais ao Senhor Presidente
Protocolo de Estado.´
que muitas vezes acaba por
da República e sou eu que, nor-
Também tratam da posse do
ser trabalho, porque vêm falar
malmente, explico a cada um
Senhor Presidente da Repú-
comigo com pequenos proble-
deles como será a cerimónia, o
blica?
mas para resolver, enchendo
traje e como tudo se vai passar.
A posse é dada na Assembleia
os meus bolsos com recados,
Temos uma pequena diferença
da República, pelo Presidente
ou porque necessitam de uma
entre os Embaixadores resi-
da Assembleia, e nós tratamos
carta de condução que ainda
dentes e os não residentes. Os
das cerimónias em conjunto.
não foi enviada, ou há um erro
Embaixadores residentes têm
Para além disso, temos todo
no nome de um dos filhos ou de
uma guarda de honra a cavalo
o expediente relativo aos
alguém, no cartão de identidade
da GNR mas todos, ao serem
membros de todas as missões
ou precisam de um esclareci-
recebidos no Pátio, escutam
diplomáticas acreditadas em
mento ou duma diligência espe-
os hinos de cada um dos paí-
Portugal. Os cartões de identi-
cial…Tudo isso somos nós
➤
Abril/junho 2012 - Diplomática • 43
José de Bouza Serrano
que tratamos. Nós fomos o pri-
pela comemoração dos 500
brações, como por exemplo: há
meiro impacto e somos os anjos
anos das relações diplomáti-
dois anos que, nos cumprimen-
tutelares do Corpo Diplomático.
cas, inaugurar o Templo que
tos ao senhor Presidente da
É tão simples quanto isso...
ofereceu e que foi construído
Republica, cancelámos o ban-
É a Chefia do Protocolo de
junto ao rio Tejo. Tratámos em
quete em honra do Corpo Diplo-
Estado…
conjunto com a Câmara Mu-
mático no Palácio da Ajuda, e o
É uma Direção Geral. Eu sou
nicipal de todas as licenças
concerto. Este ano a recepção
equiparado a Diretor Geral; a
para implantação do Templo,
fez-se igualmente em Queluz.
Sub-Chefe de Protocolo é Sub-
assim como com as Finanças
Foi servido um Porto de Honra
-Diretora Geral, temos também
da importação dos materiais
muito simples, mantendo-se a
uma Direção de Serviços de
para construção que, como
cerimónia institucional com mui-
Cerimonial, que agora também
eram oferta, vieram sem passar
ta dignidade, em que o Núncio
engloba a antiga Divisão dos
pela alfândega. Essa é uma das
Apostólico fez um discurso e o
privilégios das imunidades.
principais funções do Protoco-
senhor Presidente respondeu-
Tudo isso para os diplomatas
lo; depois temos toda a parte
-lhe em Português. A seguir,
estrangeiros e para os diploma-
cerimonial da organização das
começando exactamente por
tas portugueses, para os mem-
visitas de Estado do Presidente
Monsenhor Don Rino Passiga-
bros do governo e para todos
da República ao estrangeiro ou
to, iniciámos os cumprimentos,
os cidadãos nacionais que têm
do Primeiro Ministro, e também
seguido do Embaixador de San
direito a passaporte diplomá-
organizamos e preparamos
Marino ( decano não residente)
tico, somos nós que também
todas as visitas dos Chefes do
e pelo Embaixador da Argenti-
emitimos esse documento aqui
Estado e de Governo estrangei-
na, que é o Embaixador que há
neste Serviço.
ros a Portugal.
mais tempo está aqui acredita-
Quem e como se tem direito a
O que pensa das futuras gera-
do. Depois passaram todos os
passaporte diplomático?
ções e da prevalência das tra-
Chefes de Missão e Encarrega-
Vem na lei. O senhor Presiden-
dições diplomáticas? Haverá
dos de Negócios e colaborado-
te da República, naturalmente,
continuidade ou tendência
res a cumprimentar.
tem direito, o Presidente da
para se apagarem?
O Núncio Apostólico
Assembleia da Republica, o
Apesar das dificuldades econó-
está sempre presente?
Primeiro-Ministro, os membros
micas que o nosso país atra-
Nos cumprimentos ao Corpo
do governo, os deputados…
vessa, e não são as primeiras
Diplomático, e está nas prin-
Perdem direito se deixam de
quando entrei na carreira há 32
cipais cerimónias do Estado e
ser membros do governo?
anos também havia algumas
em muitas visitas de Chefes de
Perdem sim. A não ser que
dificuldades e nós fomos su-
estado estrangeiros ao nosso
tenham sido Presidentes da Re-
perando e, mais tarde, tivemos
país.. Sendo nós um país tra-
pública, Primeiros-Ministros ou
um período de esplendor. Pes-
dicionalmente católico, o Nún-
Presidentes da Assembleia da
soalmente estou convencido e
cio assiste como o Decano do
República. Os outros perdem
tenho esperança que o nosso
Corpo Diplomático e há sempre,
o privilégio, mas para tudo há
país possa voltar a ter uma voz
antes de entrarem, uma cerimó-
uma burocracia. Por exemplo:
ativa e respeitada no mundo e
nia protocolar: Eu recebo o Se-
os diplomatas podem importar
na União Europeia.
nhor Núncio Apostólico, levo-o
bens isentos de impostos, mas
O Protocolo tem uma vanta-
à Guarda de Honra, ouvimos os
têm que ter franquias que são
gem: pode encurtar ou expandir
hinos da Santa Sé e de Portu-
passadas pelo Serviço de Pro-
os recursos disponíveis. Quer
gal e depois passa revista ao
tocolo de Estado. Por vezes,
dizer, podemos manter a dig-
pelotão da Guarda Nacional
vêm centenas de produtos para
nidade, que o que interessa é
Republicana, acompanhado por
venda a favor de ONGs por-
manter a dignidade do Estado,
mim...
tuguesas, como para a venda
podemos reduzir as cerimónias,
No mundo inteiro haverá paí-
do “Bazar dos Diplomatas”, ou
mas sempre mantendo a sua
ses onde não existe o Proto-
agora, no caso da Princesa da
elevação e o seu brilho. Corta-
colo de Estado?
Tailândia, que veio a Portugal,
mos um certo número de cele-
Não. Não porque é difícil
➤
44 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
viver sem ele. Pode é haver,
primeiro posto foi como Secre-
bre tudo através do Protocolo
em certos países, quando têm
tário da Embaixada em Madrid
do Estado. É difícil um Esta-
Côrte, dois ou três Protocolos.
e aí havia o Protocolo do Rei, o
do, uma Nação, não ter um
Normalmente, os Monarcas têm
Protocolo do Presidente do Go-
Protocolo, porque é a forma de
o seu próprio Protocolo que
verno e o Protocolo do Ministé-
coagular, concentrar e manter
se distancia do Protocolo do
rio dos Negócios Estrangeiros.
as tradições.
governo. Por exemplo, o meu
Nós somos um país que co-
Todos então têm, de certo
➤
➤
Abril/junho 2012 - Diplomática • 45
José de Bouza Serrano
não havia a Lei das Precedências, mas uma lista indicativa, que se ia aplicando casuisticamente. Mas agora, pela primeira vez, temos uma Lei das Precedências, feita na Assembleia da República, com valor de lei e aplicável a todo o território nacional e a todas as nossas embaixadas no estrangeiro, para que todos sejam ordenados pela ordem protocolar que lhes corresponde, sendo isso uma grande vantagem de que nós dispomos e que foi um dos motivos que me levou até a escrever o livro sob essa perspectiva nova. Qual foi o país onde gostou mais de estar? Durante a minha carreira, estive sempre na Europa e penso que tive a sorte de estar nos países certos na idade certa. Quando tinha os filhos pequenos, estávamos em Madrid e era óptimo. Depois fui para Bruxelas e foi estupendo, se bem que estivesse colocado legalmente na embaixada bilateral, mas acreUm livro que reúne tudo o que se deve saber sobre os
ditado e a trabalhar na União
preceitos, práticas e rituais do protocolo oficial de Estado
Europeia. Em Madrid estive
e do protocolo social
cinco anos e meio, em Bruxelas três anos e meio, alternando
modo, mantido as tradi-
Eanes, que a entrega das cre-
com cargos aqui em Portugal.
ções?
denciais passasse a ser de tra-
Depois cinco anos no Vaticano,
De uma maneira geral, sim.
je de cerimónia, já não usando
e adorei. Vinha dum problema
Quando há golpes de estado
a casaca porque tinha havido
de saúde que já tinha supera-
ou revoluções, a tendência é
a revolução, mas o fraque. E
do e foi uma fase importante e
para as pessoas prescindirem
nós, desde o tempo dele, que
um momento espiritual forte na
de um certo cerimonial mas o
continuamos a usar o fraque
minha vida.
Protocolo, pela sua caraterísti-
com colete preto, quando os
Quer falar-me do seu percur-
ca de organização e disciplina,
Embaixadores vão a Belém
so? O que fazia quando ini-
tem resistência própria e é o
apresentar as credenciais ao
ciou até chegar a Chefe do
último a desaparecer. Recordo
senhor Presidente da Repúbli-
Protocolo de Estado?
um dos meus primeiros Che-
ca. Passou-se pelo fato escuro,
A nossa carreira é uma escada
fes: esta sala era o gabinete
e por várias outras modalida-
onde vamos subindo os vários
dele, o Embaixador Mendonça
des, mas ele conseguiu que o
degraus com a passagem do
e Cunha. Depois da Revolução,
“rio voltasse ao seu leito” de
tempo (e a ajuda de Deus!).
conseguiu restabelecer, duran-
tradição.
Comecei como Secretário da
te a Presidência do General
Quando eu entrei no Ministério
Embaixada em Madrid, como
➤
46 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
disse; em Bruxelas já era
apontamentos e dossiers, para
todo mundo. A forma como tra-
Conselheiro, em Roma, no
quando os nossos governan-
balham essa informação é mes-
Vaticano, fui Conselheiro e
tes vão participar em reuniões
mo uma escola de diplomacia.
Ministro Conselheiro; quando
internacionais ou recebem os
Eu gostei muito do Vaticano
regressei fui Vice Presidente do
seus homólogos em Portugal.
também por isso mesmo. Por-
Instituto Camões, que era o bra-
Também tem que saber se
que é uma escola de diploma-
ço cultural do Ministério, depois
gostará mais de diplomacia
cia em que a síntese é feita na
fui como Embaixador para a Di-
multilateral, em que pode estar
perfeição e com relativamente
namarca, onde estive três anos
na ONU em Nova Yorque, ou
poucos meios.
e meio e donde voltei para ser
em Genebra, no Conselho da
E também as cerimónias que
Chefe do Protocolo. Agora, se
Europa, em Estrasburgo, ou na
envolvem o Santo Padre, se
Deus quiser, parto como Embai-
União Europeia, em Bruxelas,
bem que, hoje em dia, diga-
xador para a Holanda.
ou se prefere a Diplomacia tra-
mos que o protocolo está muito
Está contente por ir para a
dicional bilateral, em que está
simplificado, são sempre mag-
Holanda? Vamos ter todos
num país e desenvolve prefe-
níficas. Os espaços históricos
muitas saudades suas…
rencialmente as relações com
deslumbrantes, todos aqueles
Estou contente por ir. Estou
esse país e não com todos os
palácios esplendorosos, as
muito satisfeito. Daqui a uns
países que fazem parte da Or-
Igrejas, as Basílicas onde se
três anos e tal (aos 65) estarei
ganização onde são colocados.
desenrolam as cerimónias e
já reformado e voltarei se Deus
Eu, ao fim de 32 anos, acho
a forma como se organizam e
quiser para o meu País, de que
que não saberia fazer outra
recebem o Corpo Diplomático,
gosto muito. Tenho cá os meus
coisa. Fiz o concurso ao Minis-
são notáveis. O Vaticano foi ex-
filhos, os meus netos e muitos
tério quando já tinha 28 anos, o
traordinário. Aprende-se muito,
amigos.
que não me impediu de chegar
como referi.
Que recado poderá deixar a
a Embaixador e ter tido postos
Mais conselhos… será desfrutar
quem inicía a careira diplo-
ótimos e realmente uma vida
o mais possível desta profissão
mática?
muito interessante, ao serviço
que é tão original e gratificante.
Recados…É difícil dar recados.
do meu país, em que aprendi
Um desfrute do mundo, mas
Conselhos serão, sem preten-
muito sobre as pessoas e os
sempre com a convição de que
são, os seguintes: Se entrarem,
países onde estive colocado
somos portugueses, que temos
interessa muito que criem um
e vivi grande parte da minha
um País muito antigo com uma
amor especial a esta carreira,
existência. Até no protocolo
grande história e uma grande
porque ela é diferente de tudo
pude aprofundar os meus co-
tradição e que, apesar destes
o resto que existe na Função
nhecimentos, porque vivendo e
avatares da economia e das
Pública e nas saídas profissio-
trabalhando em monarquias o
dificuldades que temos quoti-
nais. Mas, que para quem gos-
protocolo é diferente e apren-
dianamente, algumas que po-
ta, está cheia de oportunidades
de-se imenso. O protocolo do
dem ser estruturais, devemos
e é fascinante. Fascinante, não
Vaticano é uma perfeição, eles
ter sempre presente este peso
só para quem gosta de viajar,
têm uma diplomacia extraor-
da cultura, da história e duma
apreciar a cultura de outros
dinária devido à sua forma de
língua que é falada por mais de
países e aprender facilmente
informação; desde o padre
duzentos milhões de pessoas,
outras línguas, mas sobretudo
no Burundi, a um na Austrá-
o que é um grande trunfo na
para representar bem o nosso
lia, toda essa informação, das
vida de uma Nação e no seu
País podendo intervir, dum cer-
dioceses e das paróquias, vai
futuro.
to modo, no desenvolvimento
para Roma e é sintetizada por
Senhor Embaixador, dese-
das relações de Portugal com
um pequeno grupo de pessoas.
ja acrescentar mais alguma
outros Estados e poder ajudar
É das carreiras diplomáticas
coisa?
quem nos governa, com a in-
mais bem informadas do que
Posso unicamente concluir que
formação que recolhemos , nos
se passa internacionalmente,
estou muito satisfeito e realiza-
documentos que elaboramos,
porque têm essas antenas da
do por ter escolhido esta profis-
no preparar duma série de
Igreja Católica espalhadas por
são.
➤
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 47
Mala Diplomática
Embaixadores de Portugal apresentam cumprimentos ao Presidente da República No âmbito do Seminário Diplomá-
cio de Belém, onde apresentaram
tico, que decorreu, recentemente
cumprimentos ao Presidente da
em Lisboa, os Embaixadores de
República.
Portugal acreditados junto de
Durante a recepção, em que esti-
vários Estados e organizações
veram também presentes o Minis-
internacionais, estiveram no Palá-
tro de Estado e dos
48 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
➤
Negócios Estrangeiros, Paulo
tário-Geral do MNE.
Portas, os Secretários de Es-
O ministro Paulo Portas apresen-
tado dos Assuntos Europeus,
tou os desejos de um Bom Ano
dos Negócios Estrangeiros e da
Novo ao Presidente, que encerrou
Cooperação e das Comunidades
a cerimónia com uma breve inter-
portugueses, bem como o Secre-
venção de agradecimento.
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 49
Diplomacia na 1ª Pessoa
Embaixador Paul Schmit
por Maria de Bragança, fotos de Roman Buzut
Na Rua das Janelas Verdes, onde habitou Eça de Queiroz, encontra-se o acolhedor palacete da Embaixada do Grão Ducado do Luxemburgo, com salões e jardim debruçados sobre o Tejo, onde fomos recebidos pelo Embaixador Paul Schmit, que sublinhou durante a entrevista a importância que tem para o Grão Ducado as relações com Portugal.
50 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
➤
Paul Schmit, 45 anos, casado com
A partir dai, o Luxemburgo viveu suces-
Nadine Schmit-Konsbruck e pai de
sivamente sob soberania borgonha, fran-
três filhos, licenciou-se em Direito pela
cesa, espanhola, austriaca e holandesa.
Universidade Robert Schuman de Es-
Após a derrota de Napoleão, no Con-
trasburgo e posteriormente em Ciências
gresso de Viena de 1815, o Luxemburgo
Políticas pela Universidade de Paris II.
foi aceite e ratificado como Grão Duca-
Chegou a Portugal em Setembro de
do. Mas só no 1º tratado de Londres, em
2010, tendo apresentado as Cartas
1839,foi reduzido o território e ficaram
Credênciais ao Presidente da República
definidas as fronteiras tal como são até
portuguesa em 15 de Outubro do mesmo
aos dias de hoje, tendo sido festejado o
ano. Da sua carreira podemos ainda as-
centenário em 1939 e tendo-se feito a
sinalar que, entre 1991 e 1992, foi Adido
comemoração solene do 150º aniversá-
do seu Governo no Ministério da “Force
rio da sua independência, em 1989.
Publique” no Luxemburgo; em 1995,
O Luxemburgo é realmente um país an-
foi Secretário de Legação nos Serviços
tigo pela sua influência na Europa, mas
do Secretário Geral do Ministério dos
também é um país jovem na configura-
Negócios Estrangeiros; de 1995 a 2000
ção actual de 1839.
foi representante permanente adjunto
Aconselho a leitura do livro do histo-
na representação do Luxemburgo junto
riador Gilbert Trausch - “A História do
da NATO, em Bruxelas; de Março 2000
Luxemburgo”- já traduzido em português
a Dezembro 2001, “détaché” na repre-
para a comunidade lusófona que repre-
sentação permanente do Luxemburgo
senta hoje quase 20% da população do
junto da União Europeia, encarregue dos
Luxemburgo.
dossiers de política estrangeira da U.E.;
Um dos marcos a assinalar na história
de 2002 a 2007 foi chefe de missão ad-
do Luxemburgo, e que também marca
junto da Embaixada do Luxemburgo nos
a sua ligação com Portugal, é a relação
Estados Unidos, com co-acreditações
entre as suas casas reais. Até 1890,
para o Canadá e para o México e, de
o rei dos Paises Baixos era também
Setembro de 2007 a 2010 foi Diretor
Grão-Duque do Luxemburgo, mas a lei
dos Assuntos Jurídicos e Culturais no
sálica obrigou à mudança da dinastia
Ministério dos Negócios Estrangeiros do
dos Orange-Nassau para a dos Nassau-
Luxemburgo.
-Weilbourg, que levou mais tarde ao
➤
Senhor Embaixador, estando o Luxemburgo no ponto de encontro entre a Europa Românica e a Europa Germânica, e integrando ambas tradições, gostaria que nos falasse um pouco da história do Luxemburgo… Obrigado pela ocasião de poder apresentar o meu país, que tem uma história muito rica e muito antiga. A Fundação da cidade do Luxemburgo remonta a 963, com a conquista de Lucilinburhuc (hoje Castelo do Luxemburgo) por Siegfried , Conde de Ardenas .Em torno desta fortaleza, foi crescendo um Estado de grande importância, valor estratégico e influência na Europa, uma vez que 4 membros da dinastia da Casa do Luxemburgo reinaram, tendo sido Imperadores do Sacro-Império-Romano.
Abril/junho 2012 - Diplomática • 51
Embaixador Paul Schmit
➤
trono o Grão-Duque herdeiro
Guilherme IV. Este foi casado com Maria Ana de Portugal, a filha de D.Miguel I, princesa de Bragança e Infanta de Portugal que, após a morte do Grão-Duque foi regente do Grão-Ducado, até entregar o trono a sua filha Maria Adelaide, que em 1919 o entregou a sua irmã, a Grã-Duquesa Carlota. Em 1940, a Grã-Duquesa e a sua família foram acolhidos em Portugal, juntamente com vários membros do seu governo, após o Luxemburgo ter sido invadido e ocupado pela Alemanha nazi. O Luxemburgo, abandonando de facto a sua política de neutralidade, juntou-se aos Aliados na luta contra a Alemanha e o seu governo, exilado em Portugal e em Londres, criou um pequeno grupo de voluntários que participaram na invasão da Normandia. De notar que após a guerra e a resistência contra a ocupação nazi, o Luxemburgo foi, em 1945, membro fundador da Organização das Nações Unidas; tornou-se membro da NATO em 1949 e, em 1957, um dos 6 países fundadores da CEE, mais tarde União Europeia, tendo adoptado o Euro em 1999. Sendo o Luxemburgo um dos países com um dos maiores PIB per capita do mundo e tendo o senhor Embaixador dito que a comunidade lusófona representa 20% da população local, gostaria muito que me falasse do fenómeno da emigração para o seu país. O fenómeno da emigração teve início na década de 60, o que quer dizer que os portugueses já estarão na 3ª e 4ª gerações. Vieram ajudar a construir o país e, principalmente, trabalhar na contrução e na siderurgia. Entre 1960/70 tivemos necessidade
➤
52 • Diplomática - Abril/junho 2012
Abril/junho 2012 - Diplomรกtica โ ข 53
Embaixador Paul Schmit
➤
de mão de obra, ao ponto de acolher-
de Justiça, o Banco Europeu de Inves-
mos 85.000 portugueses!
timento ou o Tribunal Europeu de Con-
Hoje, a população do Luxemburgo conta
tas. Temos também a Escola Europeia
com 43% de estrangeiros, sendo 20%
e, nessa escola europeia, existe uma
lusófonos e 17% Portugueses.
secção portuguesa onde muitos jovens
O Luxemburgo tem recebido muitos
portugueses são escolarizados, temos
emigrantes do Montenegro, da Sérvia,
igualmente uma escola internacional e
da Bosnia-Herzegovina e do Kosovo.
uma escola francesa, mas a maior parte
Anualmente, milhares de novos emigran-
dos filhos dos emigrantes portugueses
tes chegam ao Luxemburgo.
adotam o sistema escolar luxemburguês
No entanto, é necessário dizer que o
que é, provavelmente, a melhor maneira
Luxemburgo não é hoje um “El Dorado”.
de se integrarem no nosso país, apren-
Muitos pensam que o Luxemburgo está
dendo desde jovens os 3 idiomas admi-
fora da crise, o que não é o caso. So-
nistrativos do Luxemburgo: o luxembur-
mos um país solidário, convencidos do
guês, o alemão, o francês e mais tarde
ideal comunitário e pela ideia europeia,
o Inglês; caso desejem podem sempre
mas somos também um país que conhe-
estudar o Português nos cursos parale-
ce o aumento do desemprego, onde o
los ou integrados. Em alternativa, alguns
rendimento por habitante é muito eleva-
podem estudar na secção portuguesa da
do, mas é necessário não esquecer os
Escola Europeia.
140.000 "frontaliers" franceses, belgas
Falando de Escola Europeia…Como é
e alemães que vêm todos os dias traba-
que o senhor Embaixador vê o papel
lhar no Luxemburgo, mas que não estão
de Portugal nas relações económi-
refletidos nas estatísticas do rendimento
cas, no âmbito do contexto europeu?
"per capita".
Portugal é um país muito rico sob o
É necessário fazer compreender a situa-
ponto de vista histórico, cultural e eco-
ção real do nosso País a Portugal e aos
nómico. É um país que hoje conhece
portugueses que hoje, em consequência
algumas dificuldades, mas que já de-
da crise que se vive no País, desejam
monstrou, na sua história, que sabe
emigrar para o Luxemburgo.
ultrapassar os desafios, como o fez
Existe no Luxemburgo um ministério
quando o Brasil se tornou independente
que se ocupa da emigração?
e, em várias outras ocasiões, tendo sido
Temos um Ministério do Trabalho, cujo
sempre capaz de se levantar, vencen-
Ministro se ocupa do desemprego e da
do problemas e desafios. Portugal é
Administração para o emprego. Relati-
um país com um enorme potencial, se
vamente à Imigração, a sua tutela cabe
pensarmos na sua abertura ao mundo,
ao Ministério dos Negócios Estrangeiros
em especial na sua ligação aos países
luxemburguês. Com a ideia de que o
lusófonos como o Brasil, Angola, Mo-
Luxemburgo é muito próspero, estamos
çambique ou mesmo Cabo Verde, este
a ter agora muitos emigrantes vindos
último onde tenho a honra de ser tam-
nomeadamente de Portugal, havendo
bém Embaixador acreditado.
também muitos desempregados na co-
Acreditando na sua capacidade e na
munidade Portuguesa no Luxemburgo.
solidariedade europeia, estou certo que
Tendo em consideração a enorme
Portugal irá cumprir e ultrapassar as difi-
quantidade de emigrantes portugue-
culdades que se lhe estão a apresentar
ses, há alguma escola portuguesa no
Portugal virado para o Atlântico? Ou
Luxemburgo?
virado para a Europa?
Não, não existe uma escola só portu-
Esse problema não se poderá colocar.
guesa. O Luxemburgo é sede de várias
Não se deve escolher. A Europa é impor-
instituições e organismos da União
tante para Portugal e Portugal é importan-
Europeia, tal como o Tribunal Europeu
te para a Europa e para o mundo.
54 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
➤
Como é que o senhor Embaixador
definiria o Luxemburgo?
Nadine e Paul
O Luxemburgo é um país que teve muita
Encantados com Portugal
sorte. Um país que foi ocupado e sofreu as consequências das guerras entre os
A senhora Embaixatriz, Nadine Schmit, está em Por-
seus vizinhos europeus em quase todas
tugal há pouco mais de um ano. Se tivesse que nos
as gerações, mas que tirou um enorme
deixar amanhã, que recordações levaria consigo?
partido da construção europeia, tendo
Levaria comigo a recordação da gentileza dos portugue-
beneficiado muitíssimo dessa constru-
ses, muito abertos, expansivos e calorosos…a beleza e a
ção. Conheceu a sua prosperidade com
luminosidade de Lisboa… Um país onde é bom viver, de
o setor siderúrgico e mais tarde o sector
fácil adaptação, onde há oportunidade de conhecer pes-
bancário, mas também graças a empre-
soas muito simpáticas e interessantes em todos os meios,
sas igualmente prósperas, tais como a
um país com uma história e uma cultura muito ricas e
Cargolux e a Luxair ou ainda a Société
extremamente interessantes.
Européenne des Satélites. Na União
Os meus filhos de 10, 14 e 16 anos, que estão no liceu
Europeia conseguimos trabalhar em paz,
Charles Lepierre em Lisboa, estão muito felizes e adoram
prosperar em paz, fazer mercado no
Portugal…Se fosse amanhã, creio que teria mesmo sauda-
quadro da União Europeia e não só, ten-
des deste país!
do conseguido construir uma economia
Pensou alguma vez que casaria com um Diplomata?
diversificada, que vai desde o comércio
Antes de casar, sabia que ele iria lançar-se na carreira
eletrónico ao ramo químico e da borra-
diplomática, portanto... Algumas de nós, mulheres de
cha. O crescimento no setor financeiro
diplomatas, renunciamos às nossas carreiras quando os
corresponde aproximadamente a 22% do
acompanhamos. Ocupamo-nos entre outras coisas da
PIB.
organização da Residência e do seu pessoal, de modo a
Quanto à Balança Comercial entre o Lu-
que todas as atividades que aí têm lugar corram da melhor
xemburgo e Portugal, ela não reflete as
forma possível. Também podemos apoiar obras caritativas,
estreitas relações entre os dois países,
bazares por boas causas e Fundações. Estudamos idio-
sendo Portugal o 24º parceiro em termos
mas, recebemos convidados, etc…
de exportação e o 19º, em termos de
Muitas vezes deixamos a nossa profissão mas, por outro
importação. Depois de 2009, a balança
lado, é enriquecedor. Não estou nada arrependida, porque
comercial está ligeiramente a favor de
é uma experiência formidável.
Portugal, mas na realidade deveremos
E o senhor Embaixador, o que mais gosta particular-
melhorar a balança de trocas comer-
mente em Portugal?
ciais, que apenas constituiu 0,27% das
Portugal é um país que nos é muito próximo, com o qual
importações em 2010.
temos laços muito fortes, sejam históricos, sejam laços
Entre Portugal e o Luxemburgo ,
via emigração, havendo todos os dias qualquer coisa de
quais os aspetos que julga fundamen-
muito concreto no domínio consular, do domínio social ao
tais de desenvolver?
económico. Gosto mesmo da franqueza e do contato direto
Por um lado, melhorar as relações
com os portugueses. No Luxemburgo, temos muitos por-
económicas, cujas trocas comerciais
tugueses, mas nem sempre temos lá os laços que poderí-
poderão ser realmente mais elevadas;
amos ter (talvez seja recíproco), talvez não nos conheça-
por outro lado (que levo muito a peito) é
mos suficientemente bem. Aqui descobri um Portugal que
dar a conhecer uma imagem mais rea-
não é aquele que tinha descoberto através dos portugue-
lísta do Luxemburgo, que não é um "El
ses que vivem no Luxemburgo. Aqui descobri um Portugal
Dorado", e onde o desemprego também
muito diversificado e muito mais rico do que eu imaginava,
aumentou. Neste momento, a taxa de
histórica, económica e culturalmente falando. Tenho um
desemprego dos imigrantes portugueses
enorme interesse pela História e acho que a cultura de
é bastante mais elevada em percenta-
Portugal é muito rica. A cultura, os monumentos, os pa-
gem do que a sua presença em termos
lácios… gosto de ir descobrindo diversos locais extrema-
reais.
mente interessantes.
n
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 55
Diplomacia na 1ª pessoa
Bernarda Gradišnik, Embaixadora da Eslovénia Fala-nos de si, do mundo e de Maribor, Capital Europeia da Cultura por Maria Dulce Varela, fotos Roman Buzut Vive em Portugal há pouco mais de um ano e tem uma carreira política notória. Nascida em Liubliana, casada e mãe de gémeos, tem conseguido conciliar, de forma exemplar, estas três funções. Registamos a conversa que manteve com a Diplomática.
56 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
Embaixadora Gradišnik, é um
e agora – Embaixadora em Portu-
para prevenir virar à esquerda, têm
prazer tê-la aqui em Portugal. É a
gal. Consegue descrever-nos as
que se construir ainda mais saídas
primeira vez que veio a Portugal,
diferenças e pontos em comum
desnecessárias à direita, e ramos de
desde que iniciou a sua carreira
entre todos estes sectores?
ligação, e autoestradas com porta-
política?
Apenas o primeiro é verdadeira-
gens e túneis.
Muito obrigada, o prazer é todo
mente diferente. Todos os outros
Mas, mesmo perdendo-me algu-
meu. Comecei a minha carreira no
se desenvolveram sob os auspícios
mas vezes, existem portugueses de
Ministério dos Negócios Estrangei-
do Ministério dos Negócios Estran-
quem posso depender. As pessoas
ros em 1991, durante o período em
geiros, onde estava gradualmente a
são extremamente amáveis e estão
que a Eslovénia estava a conquistar
construir a minha carreira profissio-
sempre prontas a ajudar. E ficam
a sua independência. Gostaria de
nal. Ao Longo de todos estes anos,
muito felizes (e orgulhosas) quando
sublinhar que não sou uma nomea-
e já estamos a falar de vinte anos,
ouvem um estrangeiro falar, ou ao
da política, nem tão pouco membro
tenho estado a adquirir conhecimen-
menos, tentar falar português. É
de qualquer partido político. Cheguei
to e experiência, a par e passo, até
por isso que tenho feito um enorme
aqui em Novembro de 2010. Tinha
me tornar finalmente embaixadora.
esforço de aprendizagem. Gosto
visitado Portugal antes, em Agosto
E devo dizer que estou muito feliz
imenso da língua, mas é difícil de
de 2010, tentando obter uma perce-
pelo meu primeiro posto como em-
aprender. Vocês falam tão rápido e
ção do país.
baixadora ser aqui, no seu país.
“comem” metade de cada palavra. E
Sabemos que nasceu em Liublia-
Teve tempo suficiente para formar
o meu marido está a tentar encon-
na, é casada e mãe de gémeos.
uma opinião sobre o nosso país,
trar um editor na Eslovénia interes-
É difícil conciliar estas três ativi-
o nosso povo, a nossa forma de
sado em publicar Os Lusíadas. Ele
dades – ser esposa, mãe e profis-
vida?
é um tradutor de renome em poesia
sional?
Estou aqui há 14 meses, por isso
em rima, entre outras coisas. Espe-
Onde está o coração, é onde fica
diria que é tempo suficiente para
remos que alguém se interesse.
a nossa casa. Somos muito unidos
formar uma opinião geral. Claro
Como Embaixadora, como está a
enquanto família. Sou também muito
que não levei assim tanto tempo
enfrentar esta terrível crise na
devota ao meu trabalho. Felizmente,
para compreender como Portugal é
Europa?
tenho um marido que ajuda imenso.
bonito em termos de natureza, as
A minha prioridade como Embaixa-
Ele é um escritor e tradutor free-lan-
suas brisas oceânicas e surf, o seu
dora é agir positivamente no campo
cer, por isso pode decidir quando
clima generoso, os seus deliciosos
da diplomacia económica. Esta tem
trabalhar. Ainda assim, de vez em
produtos alimentares, a sua exce-
sido a nossa (eslovena) prioridade
quando, o meu marido e os géme-
lente cozinha e os seus cidadãos
já há algum tempo. Tento encora-
os ficam zangados comigo, porque
delicados e prestáveis. E eu sou
jar empresas eslovenas a virem a
assim que chego a casa, recomeço
uma juíza implacável, tendo vindo
Portugal – tarefa nada fácil. Nas
a trabalhar de novo – especialmente
eu própria de um belo país.
mentes dos eslovenos, Portugal fica
os papéis para os quais não exis-
A única coisa que me perturba en-
muito distante, para além de não
te tempo suficiente durante o dia.
quanto recém-chegada é a abun-
conhecerem a língua e a situação
Existem ainda os eventos ao fim do
dância, na minha opinião, de muitas
em que Portugal se encontra neste
dia que me impedem de estar mais
e desnecessárias estradas. Após
momento, também não ajuda. Ao
com a minha família. Mas os géme-
um ano ainda me posso encontrar
mesmo tempo promovo a Eslovénia,
os têm agora 15 anos, por isso creio
completamente perdida em Lisboa,
o mercado esloveno, procurando
que serei progressivamente menos
e o meu GPS (Nüvi) perde-se com
aumentar o interesse em empre-
necessária.
igual rapidez.
sas portuguesas. Vejo futuro para
Tem uma longa experiência em di-
E, para se poder virar à esquerda
os nossos países, trabalhando em
ferentes setores. Desde 1990 até
praticamente em todo o lado em
conjunto, conseguindo assim pene-
hoje: uma editora literária, depois
Lisboa, tem que se contornar uma
trar em países terceiros, onde cada
o Ministério dos Negócios Estran-
rotunda ou virar três vezes à direi-
um de nós tem melhores relações.
geiros, trabalhar num grupo para
ta. É por isto que cada carro anda
Posto isto, devo dizer que a cultura,
Política Externa e de Segurança
às voltas e permanece muito mais
e outras áreas de promoção, são
Comum, Relações Económicas,
tempo em circulação. O tráfego fica
também importantes para nós. A
Embaixadora Adjunta em Zagreb,
congestionado por causa disto. E
Eslovénia ainda não é
➤
➤
Abril/junho 2012 - Diplomática • 57
Bernarda Gradišnik
suficientemente reconhecida, as
conhecem e recordam como jogador
não lhes ter sido permitido regressar
pessoas aqui tendem a confundi-la
de futebol do Porto e do Benfica! E,
até 1861, ninguém tocou na sinago-
com a Eslováquia e mesmo a Estó-
sabem que mais?! Ele iniciou a sua
ga durante aquele tempo.
nia. Maribor, a nossa segunda maior
carreira em Guimarães!
Um pouco mais de história: Maribor
cidade, é este ano, em conjunto com
Poderia descrever Maribor? Ou-
recebeu privilégios de cidade em
Guimarães, Capital Europeia da Cul-
vimos dizer que possui lindos edi-
meados do século XIII, por isso é
tura. Espero que isto ajude.
fícios históricos, sinagogas, etc.,
considerada uma velha cidade de
Sim, falemos um pouco sobre Ma-
perto do rio Drava. Por detrás da
acordo, pelo menos, com os pa-
ribor, escolhida para ser Capital
torre da catedral, pode-se ver o
drões eslovenos. Até 1918 conti-
Europeia da Cultura. Porquê esta
que resta do castelo que deu o
nuou sob a monarquia dos Habsbur-
escolha? Porquê Maribor e não
nome antigo a Maribor – Marburg
gos. Em 1918, 80% da população
outra cidade eslovena? Pensa
no drau…
declarava-se austríaca, mas como
que é importante para redefinir a
Eu gosto muito de Maribor, se não
toda a envolvente era de eslovenos,
imagem da cidade, uma vez que
pelo resto, por razões pessoais. A
foi mais tarde atribuída à Eslovénia,
era industrial e não tanto o centro
família alargada original do meu ma-
naquela época parte do Reino dos
cultural da Eslovénia?
rido ainda hoje vive em Maribor, de
Sérvios, Croatas e Eslovenos. Após
Maribor é a segunda maior cida-
onde o seu pai veio para Liubliana
a Segunda Grande Guerra encon-
de da Eslovénia. A sua economia
após a Segunda Guerra Mundial.
trávamo-nos sob Tito e os seus
baseia-se na indústria pesada, uma
É uma cidade muito verde e eu diria
seguidores “Tito após Tito” até 1991
herança da Jugoslávia, a perda dos
que é isso que, predominantemen-
quando nos erguemos, agarrando o
anteriores mercados jugoslavos,
te, a torna tão bela. Rodeada de
muro de Berlim aproveitando a opor-
tornou muito tensa a economia da
colinas e vinhedos sobretudo para
tunidade para sair da Jugoslávia e
cidade, resultando em níveis record
Norte e flanqueada pelas magnificas
da era comunista.
de desemprego. A situação me-
montanhas ondulantes Pohorje (com
Pensa que após duas décadas de
lhorou desde meados dos 90 com
cerca de mil metros de altitude, com
Independência, e a meio de uma
o desenvolvimento de pequenas e
florestas verdes muito densas), tem
crise, a escolha de Maribor como
médias empresas e indústria, mas
também um rio, Drava, que é sem-
Capital Europeia da Cultura che-
ultimamente tem vindo novamente a
pre bom uma cidade possuir, com
gou no momento certo?
piorar devido à recessão.
muitos espaços recreativos. Por
Certamente! A resposta para a
Maribor enfrenta uma crise, tensão
isso, eu enquanto visitante, não iria
crise não é um fecho total, mas um
social a aumentar, e as pessoas têm
tanto pela arquitetura e artes – mas
esforço para relançar as empresas
menos visão. O projeto de Capital
quem é que vai mesmo? – preferiria
da cidade. A Capital Europeia da
Europeia da Cultura pode ajudar
aproveitar um passeio dentro dos
Cultura tem que ser vista como
a ganhar um novo amor-próprio e
eventos culturais especiais des-
uma oportunidade para restaurar
uma nova identidade aos olhos dos
te ano. Quanto aos monumentos
e manter uma identidade comum.
outros. Maribor 2012 tem todo o
históricos, temos que recordar que
Só com a revitalização da cidade,
potencial para se posicionar como
os aliados bombardearam a cidade
como um organismo com diversas
uma Capital Europeia da Cultura
durante a Segunda Guerra Mundial,
funções, poderá haver crescimento
reconhecida, com a imposição de
por isso mais de metade dos edifí-
económico. Os benefícios diretos do
elevados padrões, com ambição, ao
cios foram arrasados. Do que so-
turismo e outras indústrias de servi-
mesmo tempo que abrange toda a
brou, os comunistas apropriaram-se,
ços, postos de trabalho expectáveis,
sociedade através da criatividade.
arruinando à sua maneira, através
novos investimentos são todos as-
Não é que Maribor fosse isenta de
da negligência dos tesouros burgue-
petos muito importantes da Capital
cultura, sabe? Existem vários pro-
ses. Mas temos a sinagoga que é
Europeia da Cultura, especialmente
jetos válidos, como o Lent Festival
uma das mais antigas da Europa e
nestes tempos difíceis. Uma das
(Lent é a parte antiga da cidade e
que merece a pena mencionar como
mais influentes páginas de turismo
o festival realiza-se em finais de
memória dos brandos costumes
na internet, TripAdvisor, já declarou
Junho), e o mais conhecido escri-
eslovenos. Apesar dos judeus terem
Maribor como uma vencedora na
tor esloveno, Drago Jančar, é um
sido expulsos por Maximiliano (o pri-
captação da atenção dos turistas –
nativo de Maribor. Tal como Zlatko
meiro dos Habsburgos) através de
existem agora 6 vezes mais turistas
Zahovic, quem todos sem dúvida
um edital em finais do século XV e
a visitar que há um ano.
➤
58 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
Maribor, Capital Europeia da Cultura 2012
Para este ano especial, sabemos
criatividade local. The Keys of the
estender a um contexto europeu
que Maribor tem programados mais
city que mantém o diálogo entre o
mais alargado.
de 500 eventos, entre eles, óperas,
dialogo entre a cidade e a arte. The
Ouvimos dizer que os eslovenos
a criação de novos edifícios e jar-
urban crases que trabalham nas
são chamados “Uma nação de
dins para os mais idosos…
margens da sociedade, através de
poetas”?
Bem, de acordo com o programa da
uma busca activa de tópicos sociais
Bem, hoje em dia os jovens prefe-
Capital Europeia da Cultura – Ma-
e ecológicos que estabelecem a
rem as máquinas de jogos ou nave-
ribor 2012, existem 412 projetos e
importância da coexistência e res-
gar na internet, ou... Para os seus 5
muitos mais eventos e processos.
saltam formas práticas de conseguir
minutos de fama através de reality
Tudo se desenrola à volta de 4 pila-
uma sociedade criativa e tolerante.
shows ou Youtube ou redes sociais,
res programáticos:
Lifetouch que representa um lugar
por isso penso que o velho ditado já
Terminal 12 que nos traz arte de
multimédia de reflexão, através de
não é válido. Mas uma vez que era
qualidade de topo, com especial
eventos da Capital Europeia da
apenas a língua e as suas formas
ênfase nas novas abordagens e na
Cultura na cidade e região até se
culturais que nos mantinham como
➤
➤
Abril/junho 2012 - Diplomática • 59
Bernarda Gradišnik
uma entidade étnica viva durante
transformou em hino nacional (mas
Drowns dull despair
os tempos de pressões nacionalis-
uma vez que o cantamos em eslove-
(torna velado o desespero)
tas dos nossos vizinhos – nomina
no, ninguém aprecia devidamente a
With hope where there was care.
sunt odiosa – ainda pensamos, de
mensagem de Prešeren). Também
forma enlevada, sobre a cultura e,
penso que mostra um Prešeren, tal
inclusivamente, temos um dia sem
como alguém que vocês conhecem,
trabalho, feriado nacional, da cultura.
que continha em si próprio “todos os
(que luta para ver o dia mais brilhante)
Estranhamente, decidimos celebrá-lo
sonhos do mundo”.
When wars will all be ancient,
➤
(com esperança onde antes havia preocupação) Let God bless every nation (Que Deus abençoe cada nação) Who strive to see the brightest day
na data em que o nosso mais famo-
My friends, this is the hour
(quando todas as guerras forem anciãs)
so poeta, France Prešeren, morreu
(meu amigo esta é a hora)
long past and gone away;
em 1848. Provavelmente porque
of sweet new wine that once again
(Há muito passadas e afastadas)
(de doce novo vinho uma vez mais)
Who yearn to see
Makes eyes bright, hearts recover,
(que deseja ver)
(faz os olhos brilhantes, corações recuperar)
Peoples all free,
Puts fire into every vein,
(todos os povos em liberdade)
efectivamente era. Deixe-me só citar
(faz fervilhar cada veia)
No foes, just neighbourly.
duas estrofes do seu famoso poema
And everywhere
“Canção do Brinde” que o meu país
(e por todo lado)
“nemo propheta in sua pátria” – ele teve que morrer para ser devidamente reconhecido pelo génio que
60 • Diplomática - Abril/junho 2012
(Não inimigos, apenas vizinhos amigáveis)
Sim, a Eslovénia é também um
➤
reconhecido produtor de excelen-
parece-me que têm bons informado-
viasse o problema de financiamento.
tes vinhos. A beber uma gota oca-
res. Sim, existe rivalidade entre as
Tudo estará decidido até ao final de
sional do nosso pinot ou teran, nem
duas cidades. Em tempos antigos,
Fevereiro.
Prešeren era adverso à ideia.
os habitantes de Maribor tinham
Voltemos ao tema das relações
A mensagem de Prešeren parece
o direito de ressentir a falta de
entre a Eslovénia e Portugal.
espantosa, tendo em consideração
compaixão em dirigir e explorar da
Disseram-me que existem alguns
que foi escrita numa época em que,
capital, sem que com isso recebes-
projectos culturais em comum
historicamente, não existiam muito
sem muito de volta. Mas penso que
a ser desenvolvidos, nomeada-
boas relações de vizinhança. Tal-
hoje em dia a situação está muito
mente entre Maribor e Guimarães.
vez a relação Guimarães-Maribor
melhor. Existem muitas instituições
Pode elucidar-nos?
seja uma herança dele, digamos de
governamentais em Maribor. A cida-
Estou satisfeita com a oportunidade
orientação UE?
de tem a sua própria universidade.
que as duas cidades têm de ganhar
Posso falar-vos de pelo menos dois
A rivalidade permanece claro, mas
visibilidade. Ambas vão cooperar em
projetos que serão levados a cabo
é muito similar à rivalidade entre o
diversos campos, nomeadamente
nas duas cidades gémeas. Jovens
Porto e Lisboa, ou entre o Porto e o
da arte, criatividade, participação do
de Portugal irão visitar a Eslovénia
Benfica. Tudo o resto são “incorrec-
público, “forma de pensar” e cultura
e vice-versa, de modo a familiari-
ções políticas”, que são muito mais
popular. Para além dos dois projec-
zarem-se com ambas as culturas,
suaves do que por exemplo, nos
tos antes mencionados, dedicados
trabalhando em conjunto em diferen-
Estados Unidos. Na realidade, na
à juventude, existem ainda projectos
tes projectos, bem como diferentes
Eslovénia, ninguém se importa com
comuns no campo musical, dança,
workshops que serão organizados.
um comentário num jogo de futebol
teatro e artes visuais. A ideia é tam-
Um dos projectos é chamado Cartas
ou numa anedota. Espero since-
bém apresentar o poder e criativida-
do Mundo. A ideia é ligar jovens,
ramente que não só os habitantes
de da poesia (e trocar antologias) e
e até mesmo crianças, através da
de Liubliana, mas também pessoas
a riqueza da cultura popular. Será
expressão da sua criatividade na
do mundo inteiro visitem Maribor
ainda estabelecida cooperação en-
escrita de cartas. As dez melhores
e participem e aproveitem os seus
tre ONG’s e as duas universidades.
cartas serão premiadas e os seus
eventos culturais. E obviamente,
As cidades de Maribor e Guima-
autores terão a oportunidade de
muitos portugueses!
rães estão ligadas através do
viajar e conhecer o mundo.
Suponho que a crise económica
futebol e esta também será uma
Ouvimos também falar do musical
europeia tenha afectado o orça-
área de cooperação. O Zlatko
Carmina Slovenica. Pode falar-nos
mento para o programa cultural
Zahovic, que iniciou a sua carrei-
mais sobre este espectáculo, com
em Maribor este ano…
ra em Guimarães, foi nomeado
jovens, tanto quanto sabemos…?
A sua suposição está obviamente
pela Fundação Cidade de Guima-
Críticos muito respeitáveis têm este
correcta mas, independentemente,
rães como Embaixador da Capital
coro em elevada consideração.
Maribor fará o seu melhor com os
Europeia da Cultura.
Carmina Slovenica estão a intro-
recursos disponíveis, esta é uma
A nossa embaixada também está a
duzir um teatro vocal coreografado
grande oportunidade. No entanto,
fazer a sua parte. No dia 8 de
e estou com algumas dificuldades
existe uma nuvem ameaçadora a
Fevereiro organizou-se um evento,
em explicar o significado de “coreo-
pairar sobre o próximo projecto de
o antes mencionado dia da cultura,
grafado”, mas sei que consiste em
Maribor – a 16ª edição da Univer-
que ao mesmo tempo foi dedicado
juntar num mesmo palco, música,
síada de Inverno, competição para
às Capitais Europeias da Cultura.
voz, movimento, actuação e outras
estudantes universitários de 2013.
Nesta ocasião, representantes de
artes performativas. Eles estão à
Existem sérios entraves, porque a
Maribor e Guimarães foram convi-
frente na sua área.
cidade não pode “por dinheiro onde
dados para promover a sua progra-
Está à espera que muitos es-
a boca estava”. Talvez esta seja a
mação, por isso terá oportunidade
lovenos vão a Maribor durante
altura ideal para provar que existe
de ouvir mais sobre este tema.
este ano? Existe um fato que nos
solidariedade entre cidades eslo-
Convido-os desde já – e não me re-
deixa curiosos. É verdade que os
venas, uma vez que a organização
firo só à Diplomática, mas os leitores
habitantes de Liubliana ainda não
internacional aceitaria que o evento
também – a juntarem-se a nós nesta
gostam dos de Maribor?
fosse financiado e deslocalizado por
ocasião. Muito obrigada
Não sei quem vos disse isto – mas
toda a Eslovénia se esta medida ob-
Muito obrigada nós, Excelência.
➤
n
Abril/junho 2012 - Diplomática • 61
Diplomacia
Presidente Cavaco Silva recebe credenciais de novos Embaixadores
No início do ano, o Presidente da República recebeu, no Palácio de Belém, as cartas credenciais dos novos embaixadores em Portugal: o Embaixador de Moçambique, Jacon Jeremias Nyambir, Embaixador do Perú, Nestor Francisco Popolizio Barales, o Embaixador do Qatar, Adel Ali Mohamed Al Khal, e da Embaixadora de Cabo Verde, Maria Madalena Brito Neves. Na mesma cerimónia apresentaram as credencias ao Presidente da República os Embaixadores não-residentes: o Embaixador da Tanzânia, Begum Karim-Taj, Embaixador de S. Vicente e Grenadinas, Celnio Elwin Lewis, o Embaixador das Seychelles Claude Morel, a Embaixadora Maria Ubach Font, de Andorra, Embaixador Agron Budjaku, da antiga República Jugoslava da Macedónia e o embaixador do Vietname, Duong Chi Dung.
62 • Diplomática - Abril/junho 2012
n
Dossier
´ Africa No rescaldo de golpes e conflitos, debaixo de fogo, a Guiné-Bissau procura o seu espaço, num continente africano marcado por feridas abertas… A Guiné-Bissau é a maior “dor de cabeça” da CPLP. Vivendo permanente instabilidade, com exceção do curto período de liderança de Luís Cabral, o primeiro Presidente da República, e uma “normalidade” forçada pelo punho firme do primeiro consulado de Nino Vieira, a pátria de Amílcar Cabral parece marcada pelo selo de tragédia da morte violenta do seu inspirador e pai da independência. Golpe atrás de golpe, os militares guineenses têm marcado a agenda política do país, transformando a sociedade civil em mera espetadora dos desmandos de uma tropa prenhe de autoritarismo antidemocrático e das perigosas forças do tráfico de estupefacientes. A Guiné-Bissau, aparentemente, parece ingovernável, a não ser que fosse possível inventar uma nova instituição militar nos destroços desta e reinventar-se um conceito de democracia que correspondesse com mais equidade à multiplicidade étnica e cultural de que enforma o país: uma manta de retalhos criada pela ocupação colonial e desenhada a régua e esquadro numa lógica de partilha do continente africano pelas potências europeias. Os problemas da Guiné-Bissau, para além das dores domésticas desse povo sofrido, são feridas profundas gravadas a escopro na má consciência daqueles que procuram receitas iguais para coisas diferentes. Ou seja, o concerto das nações só é possível se gizado sobre as diferenças que fazem deste nosso mundo uma manta de multiculturalidades. As receitas do ocidente “civilizado” e “democrático”, às tantas, não farão muito sentido num continente que tem de reinventar novos conceitos e novas formas de organização política e social. A “chapa 5” dos regimes democráticos da Europa e do continente americano já provou não servir nem ajudar uma África que, de tanto ser “ajudada”, só tem vindo a atrasar o seu desenvolvimento e o progresso social dos seus povos.
➤
Abril/junho 2012 - Diplomática • 63
Grandes Figuras
Nelson Mandela, aos 93 anos continua a irradiar uma surpreendente vitalidade
“Se o mundo pudesse ter apenas um pai, nós escolheríamos Nelson Mandela”… disse um dia Peter Gabriel. E tem razão: Madiba faz-nos acreditar no que de melhor a Humanidade transporta no seu seio
A 21 de Fevereiro passaram 22 anos sobre a liberta-
plexo prisional de Victor Verster.
ção de Nelson Mandela, sem dúvida a personalidade
Estava traçado o fim da segregação racial e aberto o
ainda viva com mais prestígio internacional, tendo
caminho da liberdade. Ao contrário do que seria su-
até um dia mundial assinalado em sua homenagem,
posto, pese embora os longos anos de cárcere, Nelson
o Mandela Day, comemorado anualmente na data do
Mandela, ao invés de querer vingança ou instigar ao
seu aniversário, a 18 de Julho.
ódio, apelou à reconciliação, democracia e igualdade.
Corria o ano de 1990 quando Frederik de Klerk, o
Na tomada de posse como primeiro presidente negro
então presidente do regime do apartheid, pôs termo a
da África do Sul, Madiga enfatizou a mensagem que
mais de 27 anos de prisão do líder sul-africano. A 11
norteou toda a sua vida: “justiça, paz, trabalho, pão,
de Fevereiro desse ano, de mão dada com Winnie, na
água e sal, para todos”.
altura sua mulher, Madiba – como é carinhosamente
Mandela uniu gente de todas as cores.
tratado pelo seu povo – transpôs os portões do com-
Este ano, a Cidade do Cabo foi escolhida para as
64 • Diplomática - Abril/junho 2012
´ Africa +
➤
Mandela luta e ascenção
➤
comemorações nacionais que assinalaram o fim de
parte da sua pena na prisão de Robben Island, ao
um cativeiro de 27 anos, imposto pelo regime racista
largo da cidade do Cabo e, posteriormente, na prisão
da minoria branca, com direito a um ato oficial na casa
de Pollsmor. No entanto, à data da sua libertação,
parlamentar e com a presença de Mandela que, aos
Nelson Mandela, estava detido numa casa de campo,
91 anos e apesar de se encontrar bastante debilitado,
no complexo da prisão de Victor Verster, uma zona
pareceu readquirir um surpreendente vigor, ao ser
rural a cerca de 50 quilómetros da cidade do Cabo.
efusivamente aclamado pela esmagadora maioria dos
Actualmente o complexo é conhecido como prisão
deputados.
de Drakenstein, erguendo-se no local uma estátua
O discurso oficial coube ao atual presidente, Jacob
de homenagem ao líder africano, de punho erguido,
Zuma, defendendo que a África do Sul continua a
assinalando a luta de toda uma vida pela libertação do
inspirar-se na visão, na inteligência e na sensibilida-
povo sul-africano.
de do seu primeiro líder negro, que cumpriu a maior
Aliás, o local foi, nesse dia, palco de uma
´ Africa +
➤
Abril/junho 2012 - Diplomática • 65
Nelson Mandela
Na tomada de posse como primeiro presidente negro da África do Sul, Madiba enfatizou a mensagem que norteou toda a sua vida: “justiça, paz, trabalho, pão, água e sal, para todos”
reconstituição da “marcha da libertação”, o dia em
celebrava ontem um “dia para assinalar um momento
que Mandela transpôs os portões do complexo prisio-
divisor de águas” que mudou por completo a África do
nal, a 11 de Fevereiro de 1990, mas na qual o velho
Sul e que Mandela uniu o país na construção de um
líder, por razões de saúde, não participou. Mas a sua
Estado “não sexista e não racista”.
ausência não impediu que milhares de pessoas partici-
Madiba recebeu mais de 250 prémios, entre eles o No-
passem neste ato simbólico. Poppy Shabalala, resi-
bel da Paz. A sua tenacidade, a sua força de vontade e,
dente a poucos metros da prisão, disse aos jornalistas
fundamentalmente, a sua intrínseca bondade têm feito
que Nelson Mandela “fez o impensável, uniu negros e
mudar o mundo e transmitir uma mensagem de espe-
brancos e terminou com o apartheid”, adiantando estar
rança a toda a Humanidade. Como, certo dia, disse o
ali para manifestar a sua gratidão.
músico Peter Gabriel: “se o mundo pudesse ter apenas
No parlamento, o presidente Zuma referiu que se
um pai, nós escolheríamos Nelson Mandela”…
➤
66 • Diplomática - Abril/junho 2012
´ Africa +
n
Lusofonia
Inauguração da CPLP
A sede permanente da CPLP Uma aposta partilhada e ambiciosa para o futuro
Passaram poucos meses desde a assinatura
dos Países de Língua Portuguesa. A defesa
pública do protocolo de cedência e aceitação
da liberdade, da democracia, dos Direitos
do Palácio do Conde de Penafiel, em Setem-
Humanos, do desenvolvimento económico e
bro de 2011, para a instalação permanente da
social dos povos, os fatores que integram a
sede da Comunidade dos Países de Língua
comunidade, o envolvimento da sociedade
Portuguesa. Institucionalizada em 1996, a
civil de cada um dos países membros - foram
Comunidade concluiu em 2011 o processo de
alguns dos objetivos da CPLP realçados pelo
negociação que incentivou a sua fundação.
presidente português.
A primeira ideia de criação da CPLP surgiu
O evento de inauguração foi assinalado na
no final dos anos 1980, com a primeira reu-
presença de várias personalidades dos 8
nião dos Chefes de Estado e de Governo dos
países membros da Comunidade e outros
países de Língua Portuguesa; Angola, Brasil,
convidados especiais. Destacou-se a presen-
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,
ça dos antigos Presidentes: Jorge Sampaio e
Portugal e São Tomé e Príncipe, em São Luís
Mário Soares (Portugal), Joaquim Chissano
do Maranhão a convite do então presidente
(Moçambique), Pedro Pires e António Masca-
brasileiro: José Sarney.
renhas Monteiro (Cabo Verde); o atual presi-
A 6 de Fevereiro de 2011 Lisboa passou a
dente da República Portuguesa, Aníbal Ca-
acolher a sede permanente da CPLP situada
vaco Silva e o Vice – Presidente de Angola,
no Palácio do Conde de Penafiel. Lisboa é a
Fernando da Piedade Dias dos Santos - em
única capital onde existem Embaixadas de
representação do Chefe do Estado Angolano;
todos os países que integram a Comunidade
o Secretário Executivo da CPLP, Domingues
´ Africa +
➤
Abril/junho 2012 - Diplomática • 67
CPLP
Presidente da Republica Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva; Vice-Presidente da República de Angola, Fernando da Piedade dos Santos; e Secretário executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira
➤
Simões Pereira; o Primeiro-Ministro de Por-
central da política externa dos Estados que a
tugal: Pedro Passos Coelho; o Ministro dos
integram, o que permite a valorização do papel
Negócios Estrangeiros, Paulo Portas e os Mi-
de cada um dos seus membros no contexto
nistros dos Países membros da Comunidade.
regional e internacional em que se inserem.
Em Fevereiro de 2012 O Chefe do Estado Por-
No seu discurso, na Sessão Solene de inaugu-
tuguês e o Vice - Presidente de Angola tiveram
ração da Sede, o Chefe do Estado Português
a honra de cortar a fita e descerrar a placa
destacou ainda a importância da Lusofonia no
da inauguração que marcou a cerimónia de
mundo. Referiu-se à língua portuguesa como
abertura da nova casa da CPLP. Na cerimónia
a sexta mais falada do mundo, e como um dos
foi destacado o percurso evolutivo que a CPLP
idiomas em maior expansão. Na opinião de
fez nos seus 15 anos de vida. O Presidente
Cavaco Silva a lusofonia traz consigo uma re-
da República Portuguesa apreciou o empenho
alidade que constitui um ativo estratégico, em
e o contributo da Presidência Angolana que
termos políticos e económicos, o que faz com
atualmente preside a CPLP. Fez referência ao
que seja indispensável apostar na educação e
processo de cooperação que tornou possível
na formação em língua portuguesa, apresen-
a escolha da capital portuguesa para albergar
tando-se a CPLP como uma aposta partilhada
a Casa Comum dos Países de Língua Portu-
e ambiciosa para o futuro.
guesa. Cavaco Silva afirmou que a despeito da
No dia da inauguração da sede da Comunida-
sua juventude a Comunidade é hoje um eixo
de, realizada na semana comemorativa dos
68 • Diplomática - Abril/junho 2012
´ Africa +
➤
1
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2
5 4
1. Vice Presidente da República de Angola, Fernando da Piedade dos Santos e Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho 2. Vice-Presidente da República de Angola, Fernando da Piedade dos Santos 3. Secretário executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira 4. Jorge Sampaio e o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas. 5. Vice Presidente da República de Angola, Fernando da Piedade dos Santos; Presidente da Republica Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva; Primeiro-Ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho; e Secretário executivos da CPLP, Domingos Simões Pereira
➤
15 anos de existência da CPLP teve lugar
dos avanços registados na implementação do
a VII Reunião Extraordinária do Conselho de
Programa de Adesão da Guiné-Equatorial à
Ministros da CPLP. Os oito representantes dos
CPLP; a proposta de Orçamento de funciona-
países membros reuniram-se para se pronun-
mento do Secretariado Executivo para 2012;
ciarem sobre a agenda a cumprir em 2012. Na
a criação do Conselho Económico e Social da
reunião do Conselho, presidido por S. Excelên-
CPLP; e a aceitação do Centro Internacional
cia o Ministro das Relações Exteriores de An-
de Investigação Climática e Aplicações para os
gola, Dr. Georges Chicoti, oito pontos importan-
Países de Língua Portuguesa e África (CIICLA)
tes foram referidos como temas de destaque: a
por Cabo Verde como Centro da CPLP através
elaboração dos Vocabulários Ortográficos Na-
de um projecto de resolução para aprovação ad
cionais e do Vocabulário Ortográfico Comum;
referendum no Conselho de Ministros a realizar
o reforço da Cooperação Económica e Empre-
em Julho, em Maputo.
sarial na CPLP; a apresentação da Estratégia
O ministro Georges Chicoti associou a nova
Regional de Segurança Alimentar e Nutricional
sede da CPLP no Palácio de Penafiel à Casa
da CPLP; o apoio ao processo de estabiliza-
da Lusofonia com a sua vocação de fórum
ção política da Guiné-Bissau; realizar até Maio
multilateral para o aprofundamento da amiza-
um Conselho de Ministros Extraordinário para
de mútua, da concertação político-diplomática
uma avaliação dos progressos alcançados e
e da cooperação entre os seus membros.
elaboração de um relatório exaustivo no quadro
n
Reportagem: Roman Buzut
´ Africa +
Abril/junho 2012 - Diplomática • 69
Viagens de Estado
Passos Coelho em Moçambique Acordo sobre Cahora Bassa
A hidroeletrica de Cahora Bassa
“relações entre os dois países”
(HCB), o maior e o mais poderoso
face a Cahora Bassa. As expeta-
produtor de eletricidade em Mo-
tivas assentaram na transferência
çambique, voltou a destacar-se
do capital português da Hidroe-
no mapa político-económico inter-
létrica de Cahora Bassa para as
nacional. Acompanhado pelo mi-
mãos dos moçambicanos. Até ao
nistro dos Negócios Estrangeiros,
fim de Abril de 2012, o Estado
Paulo Portas e pelo ministro da
português detinha 15% na Hidro-
Economia, Álvaro Santos Pereira,
elétrica de Cahora Bassa (HCB).
o primeiro–ministro português,
Recorda-se, que, até 2006, na
Pedro Passos Coelho, deslocou-
posse de Portugal estavam 82%
-se à capital de Moçambique,
de ações, mas que a partir de
Maputo, para chegar a um acor-
2007, após negociações entre os
do sobre a alienação do capital
dois governos, foram reduzidas
português na HCB. Nas palavras
para 15%.
do ministro dos Negócios Estran-
Na sua visita de dois dias a Mapu-
geiros moçambicano, Henrique
to, o primeiro-ministro português,
Banze, no seguimento desta
Passos Coelho, e o presidente de
visita espera-se um reforço das
Moçambique, Armando Guebuza,
70 • Diplomática - Abril/junho 2012
´ Africa +
➤
chegaram a um acordo. Portu-
os maiores, destaca-se o Proje-
gal transferiu o capital que detinha
to de Desenvolvimento Regional
na HCB. A empresa portuguesa
de Transporte de Energia entre
Parpública, detentora do empreen-
o Centro e o Sul de Moçambique
dimento, vendeu os 15% por cerca
(Cesul). Num valor superior aos
de 97 milhões de dólares: 7,5%
2 milhões de dólares, o projeto,
foram para a empresa pública
constituído por duas redes de alta
moçambicana CEZA, cujo capital
tensão entre Matola e Tete, tem
é detido pela EDM, e 7,5% para a
como objetivo escoar energia na
empresa portuguesa Rede Elétrica
região do vale do Zambeze.
Nacional (REN). Com a assinatu-
Após várias negociações, Mo-
ra deste acordo, a REN reforçou
çambique passou a deter 92.5%
a sua política energética sobre o
do capital da HCB. Nas palavras
mercado moçambicano. A empre-
do primeiro-ministro português,
sa portuguesa aposta no transpor-
tratou-se da resolução de um pro-
te de energia no continente africa-
blema do passado, que hoje abriu
no. Alcançou mesmo um conjunto
caminho para “novas oportunida-
de garantias de participação em
des no campo da energia”.
➤
vários projetos energéticos. Entre
n
Roman Buzut
´ Africa +
Abril/junho 2012 - Diplomática • 71
Crónica
Lusofonia Um resgate afirmativo da mundialização das identidades instituições de resgate, do que deveria ter sido melhor,nos tempos que passaram à história, mas que enquadrados no devido momento e época, não poderam ser diferentes, em termos de mentalidades e práticas. Milénios antes de Cristo, também houve distanciamentos entre o atlântico norte e o atlântico sul, em termos do domínio técnico e científico, favoráveis para os do norte, que encorajados pelo clima frio e durezas invernais, avançaram para as etapas do desenvolvimento económico e industrial, hoje ameaçados de ressessão financeira. A lusofonia dos nossos dias, remete-nos para a recuparação das vivências do tropicalismo africano da diáspora da idade moderna e, da herança racializada expalhada pelo “atlântico negro”, como conquista a partir das
Palmira Tjipilica Professora Universitária - Luanda, Angola
experiências de diferentes formas de sentir e de saberes. Dir-se-ia que, de uma ou de outra maneira, a doutrina das idéias
A Cultura excedeu as espetativas de uma repetição subjeti-
platónicas, onde o objeto do conhecimento se distingue das
va e anacrónica cada vez mais comunicante e comunicativa.
coisas naturais, colocam o humano de hoje, no patamar da
O “Atllântico” outrora berço dos navegantes europeus em
sabedoria que se traduz na filosofia das belíssimas obras de
busca de outras paragens, é traçado pelo sociólogo Paul
arte, quer na arquitetura, quer noutros manifestações da vida
Gilroy, na sua perspetiva antiessencialista e afirmativa, que
social, cultural e política em que, as boas obras inacabadas,
nos leva ainda mais longe: diria mesmo, até à “Casa Grande
são eternizadas pela memória daqueles que a completam,
e Senzala” de Gilberto Freire do séc. 20, tendo-se catapulta-
quer em termos materiais e imateriais em que o domínio da
do para o que é atualmente uma cultura global e globalizante,
escrita, é uma opção obrigatória. A partir das independências
que deste lado do atltântico, se eleva do exótico e expressivo
dos países de língua oficial portuguesa, as experiências daí
batuque à instrumentos musicais mais sofisticados, dentro
decorrentes e as relações internacionais daí resultantes,
da filosofia e dimensão africana. Da literatura, à dança e à
guidaram os novos países para o desenvolvimento humano,
música, as fronteiras esbatem-se, a partir do momento em
mais maduro e as antigas potências coloniais, para uma
que, as orquestras de música sinfónica entram em cena,
revisão das relações entre estados, com o objetivo de maior
num diálogo apressado, cada vez mais conseguido, em que
coesão e sustentabilidade das nações e países que falam a
os desaires de uns são a tristeza de outros e as vitórias são
mesma língua.
celebradas como de uma só identidade se tratasse.
Chegados ao séc. 21, as práticas migratórias bem controla-
Contudo, os povos distanciaram-se de acordo com suas
das, não só enriquecem as nações, como também colocam
realidades geográficas e linguísticas, quer pela força da
os humanos num constante diálogo económico, técnico e
diferença, quer pela força do que nos é comum como hu-
científico. E porque assim é, nos estados outrora subjuga-
manos, na corrida de um mundo melhor e mais conseguido
dos, desenha-se um luso-tropicalismo que invoca o passado
em que a transfronteiricidade tem regras. Tal como o Egito
numa perspetiva mais avançada de respeito pela história de
se sagrou como uma sociedade da primeira civilização e a
cada um à medida que as reaproximações ganham sentido.
Europa como o berço do iluminismo, chegados ao sec. XXI,
Nada mais permanece igual, numa corrida em que a com-
a tendência é esbater as diferenças e os ressentimentos
ponente a não perder é o constante resgaste das identidades
das emancipações e independências, pelas aproximações
entre africanos e europeus, para os equilíbrios desejados,
culturais e económicas de outros paradigmas e propósitos,
com base na filosofia civilizacional. Para que isso seja factível
consubstanciados no equilíbrio de forças: força política,
ao longo das próximas gerações, precisamos de “utopias” ou
económica e cultural, o que pressupõe o desenvolvimento
ideias avançadas contra os arrastamentos da estagnação e
acelerado do diálogo Norte-Sul, que sem ambiguidades,
estgmatização.
devem privilegiar a livre circulação de pessoas e bens das
Assim sendo, só os grupos humanos organizados, têm como
populações baptizadas pela lusofonia.
saber dar e apropriar-se do melhor dos outros, sem o esva-
Nada mais pode ser tão brilhante, senão o avanço da intelec-
siamento e a anulação de si mesmos. É assim que eu vejo o
tualidade através da técnica e da ciência, através da criação
luso-tropicalismo, ou seja a lusofonia deste século, em que a
de mais universidades e institutos de formação profissio-
comunicação social pode exercer um papel preponderante
nal aprimorada, no sentido de melhor funcionamento das
inescedível. n
72 • Diplomática - Abril/junho 2012
´ Africa +
Guiné-Bissau e o signo da maldição e do pecado mortal A alma de um povo, para quem acredita que ela exis-
Cabral certamente “seria tudo”.
te, deve ser entendida como um conceito integrador,
Quem sabe!
sem o qual os seres se desunem da própria existência
Ou seja, a impressão que fica é que no dia em que
humana.
os militares guineenses o assassinaram em plena
Da mesma forma que um ramo arrancado brusca-
Luta de Libertação Nacional, a própria alma da Guiné-
mente de um pé de eucalipto ou de uma outra árvore
-Bissau foi como que assassinada também. Tal qual
qualquer está esconjurado a morrer aos poucos, por
sucedeu com a Grécia a partir do dia em que delibe-
ter perdido a ligação à sua fonte de sustento, um povo
rou envenenar Sócrates.
que assassina a sua alma, sujeita-se a ser castigado
A partir dessa data, nunca mais a Guiné-Bissau teve
ao infortúnio e à desgraça imutável por ter abjurado a
paz, concórdia e felicidade. O seu dia-a-dia passou a
sua fonte de (inspiração) alimentação.
ser marcado por sangue, equívocos e mal-entendidos
Quem sabe!
entre os guineenses - militares - “discípulos” de Amíl-
Na verdade, esvoaça no ar a sensação e o marasmo
car Lopes Cabral, há data de hoje.
de que o povo da Guiné-Bissau vive o seu dia-a-dia
Como se não bastasse, passados trinta e nove anos sobre a data do seu assassinato, nenhum outro gui-
N
neense atingiu, na Guiné-Bissau, a mesma honra, a mesma luz, o mesmo entendimento, a mesma respon-
a verdade, esvoaça no ar a sensação e o
marasmo de que o povo da Guiné-Bissau
sabilidade e o mesmo sentido do dever para com a
vive o seu dia-a-dia sob o signo da maldição
Guiné-Bissau.
e do pecado mortal, desde o dia 20 de Janei-
Isto é, o assassinato de Amilcar Lopes Cabral foi
ro de 1973, data do desumano assassinato
como que o azar da Guiné-Bissau. Aliás, verdade de
daquele que foi a sua “alma, luz e guia”,
muito fácil confirmação. Basta ver o semblante dos
ou seja, o seu espírito luz de nome Amílcar
guineenses face a cada ato de bestialidade perpetua-
Lopes Cabral
do pelos militares guineenses contra a Guiné-Bissau, sua gente e suas Instituições legitimamente constituídas. Ora bem, se os militares da Guiné-Bissau tivessem
sob o signo da maldição e do pecado mortal, desde o
ouvido Amilcar Lopes Cabral em vez de o matarem,
dia 20 de Janeiro de 1973, data do desumano assassi-
hoje a Guiné-Bissau não estaria… seguramente na
nato daquele que foi a sua “alma, luz e guia”, ou seja,
situação difícil em que se encontra, ou seja, vivendo
o seu espírito luz de nome Amílcar Lopes Cabral.
sob o espectro da maldição e do pecado mortal que
Aquele que deixou tudo de material para se dedicar
pesam sobre os ombros dos membros da Direcção
única e exclusivamente à libertação do seu povo, o
das suas FARP.
povo da Guiné-Bissau, do colonialismo e do obscuran-
Quem sabe!
tismo, como fez Cristo em relação ao Povo de Israel.
Paz ao povo da Guiné-Bissau.
➤
Entretanto, assim como sucedeu a Este, desgraçadamente, aquele que foi a “alma, luz e guia” do povo da Guiné-Bissau, ou seja, Amílcar Lopes Cabral, foi assassinado no solo pátrio guineense por aqueles a favor dos quais tudo consentiu à nobre causa da sua libertação e emancipação como homem. É como que dizer: quando não somos os únicos responsáveis do nosso destino, cada ato que praticamos é, por si só, uma punição ou compensação. Assim sendo, independentemente do método que se utilizar para se apurar a verdade: ciência ou religião,
Adriano Pires
é inquestionável hoje que sem Amilcar Lopes Cabral, a Guiné-Bissau “nada tem sido”, e com Amilcar Lopes
´ Africa +
Major (na reserva) das Forças Armadas de Cabo Verde
Abril/junho 2012 - Diplomática • 73
Nossos parabéns
IPDAL Comemora VI Aniversário
1
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3
5
4
1. Maria da Luz Bragança e Paulo Neves 2. Iwan e Jeunesse Brunner 3. Jorge Costa e Miguel Guedes 4. José Luis Machado do Vale, Paulo Ramos, Ribau Esteves, Jorge Costa, Filipe Domingues e Alexandre Barata 5. Luis Miguel Henrique a receber o prémio
O Instituto para a Promoção e De-
vidados acederam ao convite do
de Estado, deputados, empresá-
senvolvimento da América Latina
IPDAL, destacando-se a presença
rios, académicos e políticos.
ofereceu uma recepção, no Grémio
do Secretário de Estado da Agri-
Durante a cerimónia, decorreu ain-
Literário de Lisboa, por ocasião do
cultura, José Diogo Albuquerque.
da a entrega dos Prémios IPDAL-
seu sexto aniversário. No passado
Estiveram presentes vários amigos
-Vista Alegre. Na terceira edição
dia 27 de Janeiro, cerca de 70 con-
do IPDAL e membros do Protocolo
desta homenagem, o Instituto
74 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
6
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7
9
10
6. Embaixador do Perú, Paulo Pisco, António Galamba, Jorge Abrantes e José Luis Machado do Vale 7. Maria da Luz de Bragança, Embaixador da Moldávia e Ilona Thykier 8. José Diogo Albuquerque, Secretario de Estado da agricultura; Paulo Neves com o Embaixador da República Dominicana a receber o prémio 9. Pedro Machado, Ribau Esteves e Manuel Correia de Jesus 10. Gonçalo Rebelo de Almeida e Jorge Abrantes
distinguiu, o LIDE-Portugal e a
cado na aproximação de Portugal
(IPDAL) é uma instituição privada,
antiga embaixadora da República
e da América Latina, bem como
pluralista e independente de gover-
Dominicana, Ana Silvia Reynoso. O
instituições que tenham colaborado
nos e partidos políticos. Surgiu na
prémio IPDAL-Vista Alegre preten-
de forma estreita com o IPDAL.
sequência de um projeto iniciado
de homenagear personalidades e
O Instituto para a Promoção e De-
pelo jornalista e professor universi-
instituições que se tenham desta-
senvolvimento da América Latina
tário Paulo Neves, em 2004.
➤
➤
Abril/junho 2012 - Diplomática • 75
IPDAL - Comemora VI Aniversário
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11. Embaixadores da Venezuela com o Embaixador da República Dominicana 12. Maria da Luz de Bragança e o Embaixador do Brasil 13. João Novais Paula e José Honorato Ferreira 14. Alexandre Barata e Carlos Rito 15. Luis Ferreira Santos e Luis Miguel Henrique 16. Filomena Oliveira e Nuno Fernandes Tomás 17. Carlos Mamede e Antonio Monteiro
Com o apoio dos Embaixadores
e posto em prática. É um Instituto
se fala em diplomacia é importante
do Chile, do Brasil, da Argentina,
que inclui as representações diplo-
referir a importância da diplomacia
do Panamá, de Cuba, do Peru, da
máticas latino-americanas em Por-
económica como fator essencial
Venezuela e do Encarregado de
tugal; universidades, empresas e
nas trocas comerciais entre os dois
Negócios do Paraguai, o projeto
outras organizações cujo interesse
polos. O seu financiamento é ga-
foi apresentado no final de 2004
assenta na América Latina. Quando
rantido pelas iniciativas que
➤
76 • Diplomática - Abril/junho 2012
➤
18
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18. Embaixadores da Venezuela, Colombia e Panamá com Embaixatriz do Panama 19. Paulo Pisco, António Galamba e o Embaixador do Peru 20. Embaixadores do Brasil 21. Maria Carlota Machado Mendes e Caetano Pestana 22. Rosa Canning Clode e Assis Correia 23. Embaixatrizes do Panamá e Venezuela 24. José Diogo Albuquerque, Jeunesse Brunner, Embaixador do Peru e Paulo Pisco 25. Marzio Tartini e sua Mulher com Maria Renee Gomes 26. Clotilde Camara Pestana, Elida Paredes e Berta Ribeiro 27. Embaixador da Argentina
organiza e cujo objetivo é conso-
mento da América Latina. Trata-se
ção de contatos e interesses latino-
lidar as relações entre Portugal e a
de objetivos possíveis mediante o
-americanos entre todas as partes
América Latina. Dois anos mais tar-
desenvolvimento de “atividades de
envolventes, oferecendo serviços
de, no dia 12 de Janeiro de 2006,
assessoria e lóbi, cursos, confe-
de apoio e iniciativas em movimen-
foi efetuado o registo legal do Insti-
rências, viagens e mesas redondas
tos de aproximação.
tuto para a Promoção e Desenvolvi-
sobre a América Latina, a media-
➤
n
Fotos: Roman
Abril/junho 2012 - Diplomática • 77
Cultura
Le Palais de Santos
Por ocasião do lançamento do livro “Le
1
2
Palais de Santos” e da inauguração da nova iluminação da capela e da sacristia do Palácio de Santos, sede da embaixada francesa, o Embaixador de França organizou uma recepção solene, em que estiveram presentes representantes de várias instituições. No seu discurso, o Embaixador Pascal Teixeira da Silva reconheceu o contributo dado pelas empresas portuguesas e estrangeiras e pelas pessoas que fizeram parte do projeto. O Embaixador agradeceu ao autor, Jean Pierre Samoyault – Conservador do Património e ex-diretor do castelo de Fontainebleau e ex-administrador do mobiliário nacional, a Kenton Tatcher –responsável pelas fotografias; ao editor Alain Finet e à tradutora, Patricia Roman. Relativamente às empresas, o embaixador de França destacou a
4
3
importância do Banco Espírito Santo e da Caixa Geral de Depósitos e referiu ainda as empresas francesas: Air France, Alcatel, Axa, Citroën, Essilor, GDF Suez, Gefco, Macif, Pernod-Ricard, Peugeot, Sanofi-Aventis, Saint-Gobain,Thalès. Por fim salientou o contributo pessoal de Guérand-Hermès. O livro, da autoria de Jean Pierre Samoyault, conta a história do Palácio. Começa por fazer referência à época romana, para depois contar a história da ilustre família Lencastre e a luta pela posse do edifício. Faz referência à realeza e à corte da classe monárquica portuguesa que habitou no palácio. Entre as muitas curiosidades relatadas no livro destaca-se, como
1. Mercedes Balsemão, Pascale Teixeira da Silva, Maria da Luz de Bragança
muitos a chamam, a última Ceia de D.
2. António Gaivão, Didier Gonzalez 3. Nuno Rogeiro e sua Mulher, Daniela
Sebastião antes de partir para Lagos, de onde saiu para Marrocos para
Bokor com Samuel Richard 4. Jean-Pierre Courtiat e sua Mulher, Cordula Courtiat com Custódia Domingues
travar a batalha de Alcácer Quibir. O
xada de França, em Portugal
das muitas personalidades
edifício que, há 142 anos atrás, em
foi comprado pelo estado fran-
que estiveram presentes no
1948, passou a ser a sede da embai-
cês em 1909. Veja algumas
evento.
n ➤
Reportagem:Roman Buzut
78 • Diplomática - abril/junho 2012
6
5
7
7
8 9
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12
5. Ricardo Salgado, Francisco Balsemão e Rui Vilar 6. Ana Godinho e José Gil 7. Paul Schmit e Nadine Schmit com Custódia Domingues e Catherine Astorg Gonzalez. 8. Isabel Cruz de Almeida e Rui Vilar 9. Pierre Guibert e Isabel Silveira Godinho. 10. Ricardo Salgado e Maria da Luz de Bragança 11. Fernando Faria de Oliveira e Rui Vilar 12. Os Embaixadores de França com Alain Finet (Editor do livro)
Made in Portugal
Tapeçarias Ferreira de Sá Sendo uma das empresas portugue-
ponto português, Beiriz, é a empresa
sas mais antigas a produzir tapeçarias
portuguesa de referência, em qualida-
tradicionais de qualidade e de luxo, a
de, inovação e recuperação de técni-
Tapeçarias Ferreira de Sá, que de-
cas tradicionais.
tém o espólio original de desenhos do
Após diversos projetos desenvolvidos
80 • Diplomática - abril/junho 2012
➤
Álvaro Siza - Colecção “Hand-Tufted”
Hotel Sheraton
➤
entre as Tapeçarias Ferreira de Sá e
coleção de tapetes, lançada em Tai-
o arquiteto Álvaro Siza, de referir, por
pei, numa exposição de Siza Vieira, ,
exemplo, o “Pacific Amore” na Coreia
intitulada “The Beauty of Function”, que
, e o Teatro “Auditorium Revellin”, em
estará patente, no Xue Xue Institute,
Ceuta, eis que surgiu a tão aguardada
até finais de Abril deste ano.
➤
abril/junho 2012 - Diplomática • 81
Tapeçarias Ferreira de Sá
Vidago Palace Hotel
➤
A coleção de Álvaro Siza é composta
Silvade, concelho de Espinho), no que
por nove tapetes em “Hand-Tufted” e
se refere a instalação em lojas. Para
um em “Portuguese Hand-Knotted”,
além da Península Ibérica (o Vidago
que recriam, com expressão, o de-
Palace Hotel, Grupo Sheraton, Altis,
senho e a intensidade de cada traço.
CS e Intercontinental), as Tapeçarias
Uma seleção que resulta na escolha de
Ferreira de Sá está também presente
duas pinturas (uma das quais tratando-
o hotel Alfonso XIII, em Sevilha, as-
-se de um tríptico) e seis desenhos de
sim como também em hotéis de luxo
traço, recriadas em tapeçarias. Hoje,
no Dubai, em Moscovo como o Swis-
com quase 100 trablhadores, a pro-
sôtel, edifícios empresariais, como a
dução em nó manual (Hand-knotted),
Sonangol, em Angola, e museus como
tecelagem manual (Hand-woven) e
o Amsterdam Historisch Museu, na Ho-
tufado manual (Hand-tuffed), conferem
landa, The Mercedes-Benz Museum ou
à Ferreira de Sá um enorme prestígio
o Vitra Design Museu na Alemanha.
nacional e internacional.
Diversos decoradores, designers e
Lojas como Dior, Louis Vuitton e
arquitetos, como Álvaro Siza Vieira,
Nespresso fazem parte da carteira de
escolhem-na no momento de mobiliar
clientes da Ferreira de Sá (cuja fábrica
os seus interiores, desenvolver uma
e o showroom estão localizados em
colecão, desenhar um tapete original
82 • Diplomática - abril/junho 2012
➤
Vidago Palace Hotel
➤
ou substituir uma antiga tapeçaria.
Willet Holthuysen Museum - Holanda
tapeçaria Ferreira de Sá. Tratando-
A Tapeçarias Ferreira de Sá esteve
-se de um tapete em “Hand-woven”
presente, recentemente, no evento
(tecelagem manual) em lã, que cobre
internacional EXPORT HOME 2012,
a estrutura ondulada, formando um
onde apresentou, pela primeira vez,
banco, já apresentado em Janeiro, na
ao País, a conceituada Álvaro Siza
“Maison&Object, em Paris.
Collection, tendo vencido o Prémio
A Orbi Collection é a mais recente co-
Design Export Home 2012, na cate-
leção de tapetes daTapeçarias Fereira
goria dos têxteis-lar, com o aplauso
de Sá, lançada, em Janeiro passado,
unânime do júri. De destacar o tapete
na “Maison & Object. E oferece uma
em “Portuguese Hand-Knotted, chama-
imensa diversidade de técnica, mate-
do “Reine”, assim como o tapete em
riais, desenhos, cores, dimensões, vo-
3d “Tufted”, chamado “Braids!, ambos
lumetria e e formas para o seu tapete,
da Orbi Collection. Foram também
uma proposta da conceituada designer
apresentados ao júri diversas peças de
da Ferreira de Sá, Carlota Verde.
n
mobiliário, produzidas a partir de tapetes de “Hand-woven” e “Portuguese
www.tfs-sa.com • info@tfs-sa.com
Hand-Knotted”. Igualmente de destacar
Rua Ferreira de Sá, 50 - Silvalde - Espinho
o “Bench”, um ergonómico banco com
Telf.: 227 333 070
abril/junho 2012 - Diplomática • 83
Mala Diplomática
Os Emirados Árabes Unidos 40 anos a caminho da união
No dia 2 de Dezembro de 2011, os Emi-
do fato dos EAU como país que iria atrair
rados Árabes Unidos celebram quatro
muitas nacionalidades, é o dever ser um
décadas desde a criação do Estado em
país onde o espírito de tolerância entre as
1971. Não é por isso de surpreender que
pessoas de diferentes comunidades e cre-
a ocasião esteja a ser marcada por cele-
dos deveria permanecer, princípio em que
brações em todos os sete emirados, Abu
a sua própria cultura e herança deveria
Dhabi, Dubai, Sharjah, Ras Al Khaimah,
ser acarinhada e protegida.
Ajman, Um al-Qaiwain e Fujairah. Os sete
Há um esforço do Governo na melhoria
emirados foram conhecidos como “Esta-
continuada dos serviços sociais e na
dos da Trégua”, tendo-se relacionado com
expansão desses serviços da economia
a Grã-Bretanha através de uma série de
que representarão a maior contribuição
tratados durante mais de 150 anos. Em
para a criação de emprego para os jovens
1971, os governantes dos Emirados, lide-
emiradenses, tanto homens como mulhe-
rados pelo seu fundador, o Xeque Zayed
res. Hoje, as mulheres representam cerca
bin Sultan Al Nahyan, decidiram formar
de 70% de todas as licenciaturas universi-
uma federação para trabalharem juntos
tárias do país e ocupam cerca de dois ter-
no caminho da prosperidade e do desen-
ços das funções governamentais, sendo
volvimento para o seu Povo. Apoiados
4 membros do Gabinete, Embaixadoras e
pela visão de S. A. o Xeque Zayed, que
até pilotos da força aérea, uma prova do
acreditava que as receitas provenientes
êxito do país em dar poder às mulheres.
dos recursos de petróleo e do gás do seu
O trabalho continuou a ser realizado em
próprio emirado, Abu Dhabi, deveriam ser
planos para desenvolver o Museu Nacio-
colocadas ao serviço dos habitantes de
nal do Xeque Zayed. Estão a ser planea-
todo o país, os EAU emergiram conse-
dos vários dos museus mais importantes,
quentemente como um dos países mais
incluindo Louvre e Guggenheim, de modo
estáveis e com desenvolvimento mais
a formar o centro de um novo complexo
rápido da região.
cultural. Também tem sido dada atenção
Os princípios-guia que distinguem o
à proteção ao ambiente dos EAU, a par
êxito do Estado, originalmente iniciado
do património cultural, que são conside-
há quarenta anos, continuam a ser os
radas as componentes importantes da
elementos fundamentais nas políticas
identidade nacional.
governamentais dos EAU. Primeiro, os
Na linha com a sua política tradicional de
recursos originados do petróleo e do gás
procurar, através de uma ação coletiva,
de Abu Dhabi devem ser partilhados por
oferecer apoio aos povos de países que
todo o país no desenvolvimento das suas
sofrem com os conflitos, os Emirados de-
infra-estruturas. Segundo, tal como S.A.
sempenharam um papel ativo na campa-
o Xeque Zayed asseverou, “a verdadeira
nha aérea aprovada pela ONU no sentido
riqueza do país está no seu Povo” e, por
de proteger os civis na Líbia do impacto
isso deve ser feito um esforço particular
do conflito no país, bem como fornecer
para garantir que o Povo possa beneficiar
assistência humanitária substancial aos
do melhor acesso à educação, saúde e
que foram afetados. Sempre fieis ao seu
serviços sociais, de forma a proporcionar,
empenho na paz, estabilidade e seguran-
tanto aos homens como às mulheres, a
ça da região, os Emirados Árabes Unidos
possibilidade de fazerem parte do cresci-
procuram resolver os conflitos por meios
mento do país.
pacíficos e através da mediação interna-
Um terceiro princípio, no reconhecimento
cional.
84 • Diplomática - abril/junho 2012
n
1
2
3
4
5
6
7
8
1. Saqer Nasser AlRaisi, Embaixador dos Emirados Árabes Unidos com a Embaixadora de Argélia 2. Saqer Nasser AlRaisi e Allan Katz, Embaixador dos E.U.A. 3. Saqer Nasser AlRaisi e Monsenhor Rino Passigato 4. Saqer Nasser AlRaisi com Nuno Crato, Ministro da Educação e das Ciências 5. Saqer Nasser AlRaisi e Nuno Rogeiro 6. Saqer Nasser AlRaisi; Sultan Al Merjan, Embaixador do Kuwait e Hisham Alqahtani, Embaixador do Reino da Arabia Saudita 7 e 8. Nuno Crato, Embaixador dos Emirados Árabes Unidos e Paulo Portas, Ministro Negócios Estrangeiros
abril/junho 2012 - Diplomática • 85
Gastronomia
Carlos Medeiros revela alguns dos trunfos e segredos do restaurante Aura “Em menos de um ano, o Aura já se tornou um espaço de referência da gastronomia lisboeta” Naquele que, durante muitos anos, foi um espaço cinzento dedicado apenas a Ministérios que, mais ou menos discretamente, o utilizavam, existe agora uma vida renovada com restaurantes, belíssimas esplanadas e a vista de um Tejo que encanta e fascina. Bem no centro de Lisboa, a magnífica Praça do Comércio é agora um local, não apenas de passagem rápida, mas antes de eleição, tanto para estrangeiros quanto para portugueses, e transformou-se, num curto espaço de tempo, num dos locais mais apetecíveis da Europa. Imbuídos da vontade de ajudar na mudança para esta nova realidade, Carlos Medeiros e os seus sócios tiveram a felicidade de ser os vencedores do concurso público que lhes atribuiu o local que viria a ser, de há menos de um ano a esta parte, o multifacetado Aura – restaurante, esplanada e lounge.
86 • Diplomática - abril/junho 2012
➤
Foi certamente um momento
que estamos situados num local de
De todo. Trabalhamos para mercados
muito especial saber que iria ser
excelência, numa ala do palácio de
diferentes e preparámo-nos para as
um dos responsáveis por esta fan-
D. José, e sem desejarmos desvirtuar
diversas áreas de negócio ao longo
tástica criação gastronómica…
essa realidade. Sem irmos diretos ao
do ano. Estamos a trabalhar para o
Foi muito especial, mas também o
barroco, mas também sem sentirmos
turismo profissional, depois para os
constatar de uma grande responsa-
que estávamos num espaço excessi-
congressos, seguem-se os eventos
bilidade, pois não é em vão que se
vamente despojado. E, verdade seja
“corporate” das empresas e, depois,
é atribuída a transformação de um
dita, o melhor de tudo é que temos
as festas de Natal. Entre Janeiro e
espaço nobre numa praça, que é, por
clientes que já nos confessaram
Fevereiro é possível que o negócio
certo, uma das mais emblemáticas
que, para além de adorar a comida,
esteja um pouco mais calmo, mas
de toda a Europa, uma praça capaz
gostam de vir ao Aura porque, graças
também é altura de arrumar a casa
de fazer frente à de São Marcos ou
ao seu ambiente e sua decoração,
e de repensar as cartas e tudo isto,
qualquer outra por esse mundo fora.
cada vez que cá chegam, se “sentem
deve dizer-se, que acresce ao movi-
Claro está que, associado a este
de férias, quase como se estivessem
mento regular de todos os dias das
privilégio, surgiram muitas questões
em Paris, Monte Carlo ou Miami”. Ou
pessoas de Lisboa e arredores que
e, como é inerente, muito trabalho.
seja, antes de mais pretendíamos
vêm cá almoçar ou jantar. Estamos
No entanto é muito bom saber que
requalificar este espaço e esta zona
a trabalhar de forma específica para
em menos de um ano, o Aura já se
nobre da cidade e creio que o conse-
nunca sofrer do síndroma da época
tornou um espaço de referência da
guimos de uma forma bastante positi-
baixa. Por exemplo, enquanto es-
gastronomia lisboeta.
va tornando-o cosmopolita e possível
tiver bom tempo, a esplanada está
Uma das coisas que mais vezes
de agradar a qualquer cliente nacio-
colocada na rua, mas assim que o
é realçada quando se conhece o
nal ou internacional.
frio chegar será montada no claustro
Aura é o ecletismo originalidade
Foi fácil avançar com este negócio
interior do Páteo da Galé, coberto e
da decoração. Como surgiu esta
em plena altura de crise no país e a
com aquecedores e assim a espla-
escolha?
nível mundial?
nada continua cosy e apetecível no
Ao contrário do que se possa pensar,
Sempre que se decide montar um
Inverno.
nada neste espaço foi deixado ao
negócio tem de se ter muita certeza
Por último gostaria de saber a sua
acaso. Tanto eu quanto o Fabrice
do que se vai fazer e planear, ao
opinião relativamente ao abrir de
Marescaux, um dos sócios e com
mínimo pormenor, tudo o que se faz.
um novo negócio, na área da res-
quem trabalho mais diretamente,
Uma vez aberto o espaço, há que
tauração ou outra, neste momento.
fomos à procura de cada peça,
ter em conta que um restaurante
Acredito que o mais importante é
dedicámo-nos a cada recanto, tendo
não é uma loja como outra qual-
saber-se muito bem o que se está
em mente algo de muito específico, a
quer das 9 às 5. São muitas horas
fazer e decidir fazer tudo com muita
saber, podermos apresentar ao públi-
diárias, sete dias por semana, e
qualidade. Tal como já referi, no
co um espaço agradável, multifaceta-
temos de estar sempre presentes se
caso do Aura, estamos a falar de
do e capaz de ser utilizado de acordo
queremos ser bem sucedidos. Claro
quase um milhão de euros, o que
com as necessidades específicas de
está que as experiências de traba-
implica disponibilidade financeira e
cada dia. Assim, para além de peças
lho anteriores, mormente os meus
de tempo, pois não se recupera este
únicas que tanto foram adquiridas
quase 30 anos de restauração em
tipo de investimento de um dia para
em feiras internacionais, quanto em
particular com a Cateri, a minha em-
o outro. A palavra-chave a reter é
antiquários portugueses ou chegaram
presa de catering e serviços, foram
profissionalismo: em tudo, em todas
dos nossos próprios acervos, conse-
primordiais para me dar a “estaleca”
as áreas de atuação e sempre – do
guimos apresentar ao público um es-
necessária para um projeto deste
mínimo pormenor às questões mais
paço de restauração em que podem
cariz. Todavia, há que dizer que o
abrangentes. E, claro está, rodear-
ser concebidos espaços para os mais
que está aqui em questão é uma
mo-nos sempre dos melhores cola-
diversos eventos: de discretos almo-
verba de um milhão de euros. Para
boradores, disponibilizarmos sempre
ços de business a festas de apresen-
sermos bem sucedidos é também
formação e jamais dormir à sombra
tação de produtos para 200 ou mais
essencial que este espaço tenha al-
dos louros. Um negócio é como um
pessoas, ou até mesmo festas de
gum mediatismo, por forma a poder
organismo vivo e necessita de uma
aniversário com dancing pós-festa.
recuperar este investimento.
atenção constante para sobreviver e
Tudo isto, procurando ter em mente
E este espaço sofre de sazonalidade?
ser frutuoso.
➤
n
abril/junho 2012 - Diplomática • 87
Cultura
Os portugueses na Orquestra de Jovens da União Europeia
À esquerda violoncelista António Novais Foto: Tomasz Ogrodowczyk
Foto Tiago Santos Euyo crop
O número de músicos portugueses na
digressão pelos Estados Unidos, tocan-
Orquestra de Jovens da União Europa
do com alguns dos mais conceituados
(OJUE), por onde já terá passado mais
solistas de música erudita da atualidade.
de uma centena, desde 1986, nunca foi
«A OJUE é considerada, pela crítica
tão elevado. À data em que este artigo
internacional, uma das melhores do
é redigido ainda não são conhecidos os
mundo, pelo seu nível artístico, pelos
resultados [divulgados no final de abril]
maestros e solistas com quem trabalha
das audições de seleção para integrar,
e, evidentemente, pelos palcos que pisa.
na temporada de 2012/2013, o elenco
Era e continua a ser o sonho de qual-
da mais importante orquestra juvenil
quer jovem músico poder um dia fazer
europeia, que esteve recentemente em
parte deste grupo», afirma Abel
88 • Diplomática - abril/junho 2012
➤
Pereira (n. 1978), que desde 2001 faz
selecionados tocarem na orquestra 4/5
parte do júri português das audições de
anos, a posição tem de ser "defendida"
pré-seleção e que foi membro da or-
todos os anos. E os jovens músicos
questra entre 94 e 2000.
portugueses, embora prestem provas a
Abel Pereira sublinha que «a participa-
nível nacional, concorrem de fato com
ção dos jovens músicos portugueses
executantes de 26 outros países.
numa orquestra deste género é da maior
Mais de metade dos jovens portugue-
importância». E explica: «a estrutura
ses que se candidatam à orquestra são
OJUE funciona ao mais alto nível, com
alunos de nível superior de escolas do
maestros e solistas que todos nós esta-
norte do país. Mas há também jovens
mos habituados a ver e ouvir somente
oriundos da Escola Superior de Artes
nos cds e dvds» e o contato com estas
Aplicadas (ESARTE) de Castelo Branco
individualidades, «para além da apren-
e de várias pequenas academias, conso-
dizagem técnica/interpretativa e riqueza
ante os instrumentos tocados, diz Dulce
cultural, pode ser uma grande mais-valia
Brito.
na abertura de portas no futuro, tanto
O que possibilitou o maior sucesso das
a nível académico como profissional»,
candidaturas portuguesas à OJUE nos
uma vez que, «por razões geográficas e
últimos anos foram alterações no perfil
culturais, Portugal está bastante afas-
dos candidatos, na explicação da técnica
tado do centro da Europa», onde «a
da DG Artes. A seleção para a orquestra
convivência com os mais conceituados
está muito condicionada pelo instrumen-
músicos, maestros e orquestras é per-
to que se toca. Os instrumentistas de
manente». Na orquestra «é dada a opor-
cordas entram mais do que os outros.
tunidade aos jovens de poderem usufruir
Ora, no passado, muitos dos jovens
desse mundo durante algumas semanas
músicos portugueses começavam a sua
por ano».
aprendizagem pelas bandas e filarmó-
Num universo de 100/140 músicos,
nicas, onde predominam os metais.
Portugal tem tido em média, nos últimos
Hoje em dia, para além de haver mais
anos, 5/6 participantes efetivos e mais
jovens a aprender a tocar um instrumen-
entre 8 e 13 como reservas na OJUE, ao
to, muitos já começam a sua formação
nível de países de maiores tradições mu-
em escolas de música, podendo optar
sicais como Áustria, Holanda, Hungria,
por outros instrumentos. Em paralelo,
Dinamarca ou Bélgica. E os candidatos
o investimento feito na contratação de
portugueses à OJUE, que no passado
professores de música do leste europeu,
se contavam pelos dedos da mão, são
nomeadamente russos e ucranianos, au-
agora «centenas», refere Dulce Brito, da
mentou o nível técnico dos executantes.
Direção-geral das Artes, entidade que,
«Tem sido realmente enriquecedor poder
juntamente com o Instituto Camões, con-
admirar de uma forma geral a evolução
tribui para a orquestra com uma quota
artística dos participantes e o súbito
anual.
acréscimo de novos estudantes de mú-
O aumento das entradas «mostra que
sica que se fez sentir nos últimos anos»,
realmente o nosso nível está a melhorar
afirma Abel Pereira. Mas estas mudan-
bastante», acrescenta a técnica da DG
ças não bastariam, provavelmente, se
Artes, que sublinha o nível de exigência
não fosse o empenho direto de muitos
no acesso e na manutenção na orques-
professores e, obviamente dos próprios
tra. Pese o fato de muitos dos jovens
jovens.
➤
n
I.C. I.P.
abril/junho 2012 - Diplomática • 89
Memória
A arte do 25 de Abril Trinta e oito anos passaram sobre o 25 de Abril de
Foram eles: a Aliança Operária Camponesa (AOC), o
1974. Tantos, que muitos esqueceram pormenores im-
Centro Democrático Social (CDS), a Frente Socialis-
portantes, tais como os partidos concorrentes às primei-
ta Popular (FSP), a Liga Comunista Internacionalista
ras eleições, a seguir à revolução e queda do Governo
(LCI), o Movimento de Esquerda Socialista (MES), o
de Marcelo Caetano.
Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado
90 • Diplomática - abril/junho 2012
➤
➤
(MRPP), o Partido Comunista Português (PCP), o Par-
cionário dos Trabalhadores (PRT), o Partido Socialista
tido Comunista de Português (marxista-leninista, PCP
(PS) e, finalmente a União Democrática Popular (UDP).
(m-l), o Partido da Democracia Cristã (PDC), o Partido
Imagens revolucionárias enchiam os muros e as casas
Popular Democrático (PPD), que viria a ser o PPD-PSD,
de Portugal.
o Partido Popular Monárquico (PPM), o Partido Revolu-
E Portugal mudou!
n
abril/junho 2012 - Diplomática • 91
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English & French texts
6. Elfenkämpfer Helmut - German ambassador Even in the troubled times we have ived in 2011 this was an unusual year, which required a focus on foreign policy and which set some new directions in domestic policy. It was a year of major changes for us in Europe. Acute crises put diplomacy before special missions. .An event that had political consequences in my country was the terrible accident with the reactor of kushima. Following this, the federal government announced the end of atomic energy in Germany until 2022. The revolt in the Arab world is a challenge, whose outcome is still open. Since 2011 Germany has, together with Portugal, particular responsibilities, acting as non-permanent member of the Security Council of the United Nations on such important issues as the independence of South Sudan. Actually, we concentrate all our forces together with Portugal, to dissuade the Syrian regime to persist in the ruthless oppression of his own people. However, especially remarkable for a German ambassador in Lisbon in 2011 were the developments in the debt crisis in Europe. The federal government contributed throughout the year, not only to overcome the acute crisis but also to developp a vision for the future Europe, a union of a path to stability. For Germany, as Europe’s biggest economy, this means a particular responsibility, which the country takes. The Portuguese government shares our basic opinions and has made bold steps to make Portugal more competitive. Our strategy is not limited to austerity, but to sustained growth, which includes widening the internal market to new fields, the creation of a European growth fund and the signing of more free trade, agreements. The message for 2011, and in the coming years, is that there cannot be a good future for my country without European integration. Europe must continue to consolidate during the crisis and this will continue. And in the end, will come out strengthened from this crisis.
n
6. Elfenkämpfer Helmut - Ambassadeur d’Allemagne Même pour les périodes troublées que nous vivons,2011 était une année inhabituelle, qui a exigé beaucoup de la politique étrangère et a defini de nouvelles orientations à CE qui concerne à politique intérieure. C’était une année de changements majeurs pour nous en Europe. Les crises aiguës mettre la diplomatie avant les missions spéciales. Un événement qui a eu des conséquences politiques dans mon pays était un terrible accident avec le réacteur de Fukushima.Suite à cela, le gouvernement fédéral a annoncé la fin de l'énergie atomique en Allemagne jusqu'en 2022. La révolte dans le monde arabe est une énorme opportunité, mais aussi un défi dont l'issue est encore ouverte. Depuis 2011 que l'Allemagne a, avec le Portugal, des responsabilités particulières, agissant comme membre non permanent du Conseil de Sécurité de l'Organisation des Nations Unies sur les questions importantes telles que l'indépendance du Sud-Soudan. Cependant, d'autant plus remarquable pour un ambassadeur d'Allemagne à Lisbonne en 2011 étaient l'évolution de la crise de la dette en Europe.Le gouvernement fédéral a contribué, tout au long de l'année, non seulement pour surmonter la crise aiguë, mais aussi de développer une vision pour l'avenir de l'Europe, l'union d'un chemin vers la stabilité. Pour l'Allemagne, comme la plus grande économie d'Europe, cela signifie une responsabilité particulière, dont le pays prend. Le gouvenement portugais est d’accord avec nos opinions basiques et a donné des mesures audacieuses pour faire le Portugal plus compétitif. Notre stratégie ne se limite pas à l'austérité, mais dans inteligents impulsions vers une croissance soutenue, ce qui comprend l'élargissement du marché intérieur à de nouveaux domaines, la création d'un fond de croissance européenne et la signature de plusieurs accords commerciaux libres.Le message qui a importé, plus en avant, en 2011, et dans les années futures, c'est qu'il ne peut pas avoirun bon avenir pour mon pays, sans l'intégration européenne. L'Europe doit continuer à se consolider dans la crise et va poursuivre. Et, à la fin, sortira en force de cette crise.
n
8. Ambassador of Turkey - The European Union and Turkey Despite all the positive developments, particularly in the field of democracy, there is still an area where Turkey has failed to make any meaningful progress. That is the process of EU accession. The Cyprus issue has continued to be used as a pretext to block several chapters. Despite the strong encouragement of Turkey to move forward on the negotiations they could achieve a just and lasting settlement on the island.
n
8. Ambassadeur de la Turquie - L’Union européenne et la Turquie Malgré tous les développements positifs, notamment dans le domaine de la démocratie, il est encore un domaine où la Turquie n’a pas réussi à faire des progrès significatifs, qui était dans le processus d’adhésion de l’UE. La question de Chypre a continué à être utilisé comme un prétexte pour bloquer plusieurs chapitres, en dépit de la forte incitation de la Turquie à guérir les négociations pour arriver à un règlement juste et durable sur l’île.
n
10. Simon Pullicino - Ambassadeur de Malte – Malte et la Libye nouvelle Sans aucune doute, le plus grand impact de l’insurrection libyenne a eu lieu dans le domaine humanitaire. Tout a commencé avec un exode massif de la population migrante, complète de la peur, et s’est poursuivie avec une lutte prolongée armé avec des conséquences importantes. Le gouvernement maltais a agi rapide et efficacement, en fournissant l’aide humanitaire et d’assistance. Avec la crise dans un stade initiel, Malte a soutenu 100 des 139 membres de l’ONU, en évacuant plus de 21.000 étrangers de la Libye via Malte.
n
abril/junho 2012 - Diplomática • 93
English & French texts
12. Pavel Petrovskiy - Russian Ambassador - Results of Russia’s foreign policy in 2011 He regretted the fact that a number of international problems, in which Russia is directly involved, were left for 2012. First and foremost is the issue of missile defense in Europe. We cannot resolve this problem, if we do not reach agreement with the U.S. or accomplish a set of technical means of military announced by President Medvedev at the end of last year. As for the “Arab Spring”, we understand the expression of the will of the Arab people. We want to see a stable, independent and prosperous region.
n
12. Petrovskiy Pavel - Ambassadeur de Russie Résultats de la politique étrangère de la Russie en 2011 Désolé, le fait qu›un certain nombre de problèmes internationaux, dans lequel la Russie est directement impliqué, ont été laissés pour cette année. D’abord et avant tout, c’est la question de la défense antimissile en Europe. Nous ne pouvons pas nous délivrer de ce problème, si on arrivent pas a un accord avec les États-Unis, ou de faire remplir un ensemble de moyens techniques militaires, annoncées par le président Medvedev à la fin de l’année dernière. Quant à la «Arab Printemps», nous regardons avec compréhension l’expression de la volonté des peuples arabes, que nous voulons voir stables, indépendants et prospères.
n
14. Ambassador of Belgium - 2011, the year of formation of a new government in Belgium At the global level, the year 2011 was marked by revolutions in the Arab world, the downfall of many tyrants or authoritarian presidents. This is something we hope to have continued this year with their replacement by elected democracies tolerant of religious minorities. Nationally, the federal government, which finally took office in Belgium in November last year, after much instability, has two tasks: to fulfill. It hasto deal with the drastic measures imposed by the crisis of the Euro and further extend the range of powers to be exercised by the regions, especially in social affairs.
n
14. Ambassadeur de Belgique 2011, l’année de la formation d’un nouveau gouvernement en Belgique Partout dans le monde, l’année 2011 a été marquée par les révolutions dans le monde arábe, la chute des tyrans et de nombreux présidents autoritaires, quelque chose que nous espérons voir continué cette année, pour être remplacé par les démocraties élus et tolérant des minorités religieuses et d’autres . À l’échelle nationale, je dois mentionner le fact du gouvernement fédéral, qui se a installé définitivement en Belgique en Novembre l’année dernière, après beaucoup d’instabilité, et que a deux missions: répondre à toutes les mesures draconiennes imposées par la crise de l’euro et élargir encore plus la gamme de compétences a être exercé par les régions, tels que les affaires sociales.
n
16. Jill Gallard - Ambassador of the United Kingdom - A year of opportunities and challenges This is a year marked by natural events, that are truly historic for the United Kingdom. Firstly, because we celebrate 60 years of the reign of Her Majesty Elizabeth II. The city of London will host the Olympic and Paralympic Games, which will be more ecological than ever and which will help to promote closeness between peoples, in a time when it is increasingly necessary to overcome the conflicts that opposes us.
n
16. Jill Gallard - Ambassadeur du Royaume-Uni - Une année de défis et opportunités Il s’agit d’une année marquée par des événements naturels, qui sont véritablement historique pour le Royaume-Uni. Tout d’abord, parce que nous célébrons 60 ans de règne de Sa Majesté Elizabeth II. Puis la ville de Londres accueillera les Jeux Olympiques et les Jeux Paralympiques, qui seront plus vert que jamais et qui aideront à promouvoir un rapprochement entre les peuples, dans un moment où il est, de plus en plus, nécessaire pour surmonter les conflits qui nous opposent.
n
18. Suliaman Ibrahim Almurjan - Ambassador of the State of Kuwait Five decades of constitutional life Honored by the invitation, the Ambassador of Kuwait spoke about the “Arab spring”, which enabled many Arab countries to start a new transition in its evolutionary path in political, social and economic development. In fact, the Arab revolutions had, and have, one characteristic, which is based on perseverance, which surprised many observers aware of what is happening in the Arab world. The “Arab Spring”, experienced by some Arab countries has made these countries and others understand better the vision of the leaders of Kuwait that opt for a parliamentary system, despite the difficulties the country went through.
n
18. Suliaman Ibrahim Almurjan - Ambassadeur de l’Etat du Koweït Cinq décennies de la vie constitutionnelle Honoré par l’invitation, l’ambassadeur du Koweït a commencé à parler de certains “printemps arabe, qui a permis à de nombreux pays arabes inaugurer une étape de transition dans sa nouvelle voie d’évolution dans les domaines politique, social et économique. En fait, les révolutions arabes ont eu une caractéristique, qui est basé sur la persévérance, e a surpris nombreux observateurs au courant de ce qui se passe dans le monde arabe. Le «printemps arabe», vécue par certains pays
94 • Diplomática - abril/junho 2012
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arabes, a fait ces pays et d’autres, de mieux comprendre la vision des dirigeants du Koweït à opter pour la vie parlementaire,
malgré les difficultés qui se sont passés au pays.
n
20. Ambassador of France - Pascal Teixeira da Silva The year 2011 The year 2011 was marked by two processes of great importance: the pursuit of sovereign debt crisis in the euro area and the “Arab spring”. They are in no way related and yet they will, the one as the other, profoundly change the future - and this is particularly true for countries of southern Europe such as France and Portugal, Members EU and the Euro area and geographically and historically close to the Arab world. The sovereign debt crisis in the Euro area is an indirect consequence of the financial crisis that erupted in 2007-2008 in the United States. This is because our governments have intervened massively to save the banks (as in Ireland) or to limit the recession by injecting public money into the economy and deficits and public debts have soared. But that same shock hit countries differently and it was the developer of a dual problem: at the national level, countries whose financial situation (state, enterprises and households) and economic situation (in terms of growth, productivity, competitiveness and external accounts) were the most fragile are less resilient and sometimes had to pay a high price - three of them having to resort to European and international aid; at European level, this crisis has shown the inadequacy of the economic pillar of the economic and monetary union (which was allowed to increase the divergences within the Euro area) and the lack of mechanisms for crisis management.
n
22. Ambassador of Italy, Renato Varriale “The debt crisis in Italy: a difficult moment, but also an opportunity for major reforms” 2011 was a year that the Italians will remember for a long time. It began as the 150th anniversary of the Unity of Italy. A year of celebrations, debates and reflections about the past and the future of the country. Nobody would have imagined what would become the year of greatest economic emergency experienced by the country in recent history and the onset of major reform process that the Republic has ever lived. The first signs of so-called debt crisis had manifested itself during the summer, it was urgent to convince the markets that, despite the high level of public debt, Italy had a strong economy and was very determined to put their finances in order taking also the necessary structural reforms. But suddenly, the crisis became more acute and events speeded up so that the Government’s response was insufficient to regain market confidence. The very process of European integration seemed to be already in risk. The only solution was a “technical government” which, supported by a coalition of national unity, immediately launch a far-reaching package of reforms. And so it happens. The President Napolitano entrusted the difficult mission to Senator Mario Monti, an economist with long experience and high prestige in the European scene, and Italy begins to regain control of the situation and accept the need for structural reform plans and the fight against tax evasion.
n
22. Ambassadeur de l’Italie, Renato Varriale “La crise de la dette en Italie: un moment difficile, mais aussi une opportunité pour des réformes majeures” 2011 était une année que les Italiens se souviendront pendant longtemps. Il a commencé avec le 150e anniversaire de l’Unité d’Italie. L’ année de célébrations, de débats et de réflexions sur le passé et l’avenir du pays. Personne n’aurait jamais imaginé ce qui allait devenir l’année plus urgent en ce qui concerne l’économie que le pays a connu dans l’histoire récente, bien comme l’apparition de processus de réforme majeure que la République ait jamais vécu. Les premiers signes de crise de la dette se sont manifestée au cours de l’été. Il faut convaincre les marchés que, malgré le niveau élevé de la dette publique, l’Italie avait une économie forte et a été très déterminés à mettre leurs finances en ordre, en prenant également les réformes structurelles nécessaires. Mais, soudainement, la crise devenu plus aigu et a accéléré les événements de telle sorte que la réponse du gouvernement était insuffisante pour regagner la confiance du marché. Même le processus d’intégration européenne semble déjà être en risque. La seule solution était un “gouvernement technique” qui, soutenu par une coalition d’unité nationale, a lancer immédiatement une ensemble de mesures ambitieuses de réformes. Et, ainsi, de suite. le President Napolitano a confié la difficile mission au sénateur Mario Monti, un économiste ayant une longue expérience et d’un grand prestige sur la scène européenne. L’Italie commence déjà à reprendre le contrôle de la situation et a accepter la nécessité de plans de réformes structurelles et la lutte contre l’évasion fiscale.
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24. Thalia Petrides, Ambassador of Cyprus Of the various events that marked the past year on a global scale, the most alarming was the nuclear disaster in Japan. Twentyfive years after Chernobyl and its tragic and devastating effects, the consequences in the long run on the environment and human life are still being evaluated. However, nationally and in the field of energy, one can point out optimistic trends over the last year. Concerns about energy security and several years of careful planning have provided the first promising results in late 2011, when 7 trillion cubic feet of natural gas was discovered off the coast of Cyprus.
n
abril/junho 2012 - Diplomática • 95
English & French texts
24. Thalia Petrides, Ambassadeur de Chypre Parmi les différents événements qui ont marqué le dernier année à l’échelle mondiale, la plus alarmante a été la catastrophe nucléaire au Japon. Vingt-cinq ans après Tchernobyl et ses effets tragiques et dévastateurs, les conséquences, à long terme, pour l’environnement et la vie humaine , sont encore en cours d’évaluation. Cependant, à l’échelle nationale et dans l’énergie, on peut souligner les tendances optimistes au cours de l’année dernière. Les préoccupations concernant la sécurité énergétique et de plusieurs années de planification minutieuses ont fourni des premiers résultats prometteurs à la fin 2011, lorsqu’il aura été confirmé, au large des côtes de Chypre, la découverte de 7 billions de Cf du gaz naturel.
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28. Beisan Zhang, China’s ambassador to Portugal, debated the new framework of relations between the two countries: “China has always given great importance to its relations with Portugal Zhang Beisan, has been for a year and a half head of the diplomatic mission of China to Portugal. He believes that for potential investors, including Chinese, an advanced economy and a mature market like ours, are naturally attractive,. He emphasized his conviction that, if our country is able to maintain economic development and the opening of its market, there will be more and more Chinese companies interested in investing in Portugal. Recently, we have noted the importance of China’s investments in Portugal, specifically in companies related to electricity, such as EDP, among others.
n
28. Zhang Beisan, l’ambassadeur de Chine au Portugal, débate le nouveau cadre des relations entre les deux pays: "La Chine a toujours donnée beaucoup d’importance à ses relations avec PORTUGAL" Un an et demi en tant que chef de la mission diplomatique au Portugal, Zhang Beisan estime que pour les investisseurs potentiels, y compris les chinois, une économie avancée et un marché mature comme le notre, sont naturellement attractif, mettant l’accent sur sa conviction qui se notre pays reussi à mantenir une développement économique et l’ouverture de son marché, il y aura de plus en plus d’entreprises chinoises intéressées à investir au Portugal. Récemment, nous avons noté l’importance des investissements de la Chine au Portugal, plus précisément, les entreprises liées à l’électricité, entre autres.
n
34. Durão Barroso, Doctor Honoris Causa by UTL During the solemn closing ceremony of the celebration of 80 Years of UTL (Universidade Técnica de Lisboa ), at the Institute of Social and Political Sciences, the President of the European Commission, José Manuel Barroso, was honored with the award of the Degree of Doctor Honoris Causa. The Honorary Doctorate was in fact the recognition of his contribution to the scientific research in the European framework, which strengthened the role he plays as EU President. With a full academic and political curriculum, in his speech of thanks, Barroso refered to the actual situation of the European Union. He spoke on the economic crisis and the need to share sovereignty. He concluded that “when a country is sharing its sovereignty, can also win with the sovereignty of others” and argued that Europe needs “to work with determination to defend the Euro and to advocate its financial stability”. Although the crisis is an issue that concerns many governments, he was optimistic towards the subject. On the sidelines of the conference, the President of the European Commission was making a particular reference about Portugal. He said that one of the factors responsible for the delay of the Portuguese economy is related to the closed sectors and privileges that resist changes.
n
34. Barroso: Docteur Honoris Causa par l’UTL (Université Technique de Lisbonne) En vertu de la cérémonie de clôture solennelle de la célébration de 80 ans de l’UTL (Institut des sciences sociales et politiques), le président de la Commission Européenne, Jose Manuel Barroso, a été honoré avec le prix du degré de Docteur Honoris Causa, que fut, en fait, la reconnaissance de la contribution apportée par M. Barroso pour la recherche scientifique dans le cadre européen, qui a renforcé le rôle qu’il joue en tant que président de l’UE. Avec un fond académique et politiqye exceptonnel, M. Barroso, dans son discours de remerciement, a parlé de la situation actuelle de l’Union européenne. Il a parlé de la crise économique et la nécessité de partager la souveraineté. Il a conclu que «quand il donne la souveraineté, peut aussi gagner avec la souveraineté des autres” et a fait valoir que «l’Europe doit travailler avec détermination pour défendre l’euro et pour defendre la stabilité financière» et s’avait dit optimiste sur la situation, même si la crise est une question qui concerne de nombreux gouvernements. En marge de la conférence, il a appelé au Portugal, en particulier, indiquant que l’un des facteurs responsables du retard de l’économie portugaise est liée à des secteurs fermés et les privilèges dans certains secteurs d’intérêts acquis de l’économie et car il ya des intérêts qui résistent au changement qui bénéficient d’un accès privilégié à l’État et des les garanties qui sont données par la législation de protection.
n
40. Mariano Rajoy, and Pedro Passos Coelho Portugal and Spain analyzes combat the crisis Mariano Rajoy who was in Lisbon, on an official visit, where the economic situation and preparations for the forthcoming European Council dominated the agenda of the meeting between the two leaders, Rajoy and Passos Coelho. The visit tokk
96 • Diplomática - abril/junho 2012
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place after the recent visit to Madrid of Passos Coelho. The two statesmen discussed the situation of both Iberian countries,
particularly the economic situation, the ways out of crisis in Europe and the possibilities of forming a vision for the future. Passos Coelho said that even though Portugal and Spain are experiencing one of the most serious crises one can remember, it was in this context that the two politicians discussed the political aspects that the measures to combat the deficit may have In Lisbon. In the joint press conference with Rajoy, Passos Coelho said the agreements with the troika were being implemented within their targets.
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40. Mariano Rajoy et Pedro Passos Coelho Portugal et l’Espagne analyse la crise de combat Mariano Rajoy a été à Lisbonne, en visite officielle, où la situation économique et les préparatifs pour le prochain Conseil européen ont dominé l’ordre du jour de la réunion entre les deux dirigeants, Mariano Rajoy e Passos Coelho. Une visite dans lla suite de la récente visite à Madrid de Passos Coelho, dans lequel les deux politiques ont examiné la situation des deux pays ibériques, en particulier dans le domaine économique, les moyens de sortir de la crise en Europe et les possibilités de fixer des visions pour le future. Passos Coelho a dit même que le Portugal et l’Espagne connaissent une des crises les plus graves qu’on se souvient et fut dans ce contexte que les deux ont discuté des aspects politiques que ses mesures récessives pour lutter contre le déficit peut avoir. A Lisbonne, et à la conférence conjointe avec Rajoy, Passos Coelho dit que l’accord avec la troïka est respectée au sein de leurs objectifs.
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42. Ambassador José Bouza Serrano Guardian of Ambassadors accredited in Portugal After a distinguished career, representing Portugal, Ambassador José Bouza Serrano returned to Portugal three years ago, as Chief of Protocol. He will soon be posted as Ambassador to the Netherlands. Having recently published , the very complete “Book of Protocol,” in an interview with Diplomatic, he said that what matters is the State Protocol, since he believes that the members of the State Protocol are the “Guardian Angels” of the Diplomatic Corps accreditions to Portugal. He explains that is the Chief of Protocol that receives the letters from the new ambassadors, before making the formal delivery to the President. Ambassador Bouza Serrano says his close relationship with all the Ambassadors is because they are the first persons they know and who help them to assist any questions or help in dealing with problems, for instances, with the law. José Bouza Serrano believes that, despite the economic difficulties we are experiencing, he is hopeful that our country may return to an active and respected voice in the world and the European Union.
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42. Ambassadeur José Serrano Bouza Gardien de ambassadeurs accrédités au Portugal Après une grande carrière, représentant le Portugal, l’ambassadeur José Serrano Bouza, retourné, il ya trois ans, à son pays, en tant que chef du protocole, mais ill sera, bientôt, l’ambassadeur du Portugal aux Pays-Bas. Ayant publié, récemment, le très complet “Livre du Protocole,” dans une interview avec diplomatique, il dit que ce qui importe est le Protocole d’État, car il estime que, en définitive, sont le «Guardian Angels» du Corps Diplomatique accrédité au Portugal. Il explique que c’est le chef du protocole qui reçoit les nouveaux ambassadeurs, reçois les lettres de creditation, ayant d’être presenté officiellement au Président. Ambassadeur Bouza Serrano parle de sa relation étroite avec tous les ambassadeurs parce que « nous sommes les premières personnes qu’ils connaissent et qui utilisent quand ils ont des questions ou besoin d’aide pour faire face aux problèmes avec la loi. José Serrano Bouza estime qui, malgré les difficultés économiques que nous connaissons, a l´espoir que notre Pays peut recupere une voix active et respectée dans le monde et l’Union Européenne.
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50. Ambassador Paul Schmit The diplomatic representative of the Grand Duke of Luxembourg, in an interview to the Diplomatica, talked about the importance of Luxembourg relations with Portugal. Ambassador Paul Schmit indicated which aspects he judges are fundamental to develop between Portugal and Luxembourg; first of all, to improve economic relations whose trade may actually be higher and, moreover, is to present a true picture of Luxembourg, which is no longer the El Dorado of other times, with a negative unemployment negative. Currently, the unemployment rate of Portuguese immigrants is much higher as a percentage of their presence in real terms.
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50. Ambassadeur Paul Schmit Le représentant diplomatique du Grand-Duché du Luxembourg, dans l’interview pour la Diplomatique, a souligné l’importance des les relations du Luxembourg avec le Portugal. Ambassadeur Paul Schmit a indiqué quels sont les aspects jugés comme essentiels a développer entre le Portugal et le Luxembourg, D’une part, améliorer les relations économiques, dont le commerce pourrait être plus élevé et, par ailleurs, donner à connaisser une image fidèle du Luxembourg, qui n’est
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abril/junho 2012 - Diplomática • 97
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plus l’El Dorado d’autres temps, en atteindre un taux de chômage très inconfortable. Actuellement, le taux de chômage
des immigrants portugais est beaucoup plus élevé en pourcentage de leur présence en termes réels.
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56. Bernarda Gradisnik, Ambassador of Slovenia Bernarda Gradisnik, Ambassador of Slovenia, has lived in Portugal for 14 months. She began her political career in the Ministry of Foreign Affairs in 1991, when Slovenia gained its independence, It was not not a political appointment and she said that she does not belong to any political party. She said that she is very happy that her first post is as ambassador is in Portugal, where people are extremely friendly and ready to help. She sees her priority as Ambassador,is to act positively in the field of economic diplomacy and she has tried to encourage Slovenian.
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56. Bernarda Gradisnik, ambassadeur de la Slovénie Bernarda Gradisnik, ambassadeur de la Slovénie, est au Portugal il ya 14 mois et a commencé sa carrière politique au sein du ministère des Affaires étrangères en 1991, lorsque la Slovénie a été indepente en 1991, mais ce n’est pas une nomination politique car elle assure qui ne fait part d’un parti politique . Elle s’afirme très heureux que son premier poste en tant qu’ambassadeur être ici au Portugal, où les gens sont extrêmement chaleureux et prêt à aider. Voit sa priorité en tant qu’ambassadeur, agissant positivement dans le domaine de la diplomatie économique et a essayé d’encourager les entreprises slovènes à venir au Portugal. L’ambassadeur est optimiste et voit un avenir pour nos pays, de travailler ensemble. Cette année, Maribor, deuxième plus grande ville de la Slovénie, a été choisie pour être Capitale européenne de la Culture. Un choix qui est venu au bon moment, parce que ce doit être vu comme une occasion de rétablir et de maintenir une identité commune.
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67. The permanent headquarters of the CPLP It was this year that Lisbon hosted the permanent seat of the CPLP, located in the Palace of the Count of Penafiel. Lisbon is the only capital where there are embassies of all countries belonging to the Community of Portuguese Language Countries. The President of Portugal and the vice-President of Angola had the honor to inaugurate the headquarters and unveil the commemorative plaque. President Cavaco Silva emphasized the importance of the Lusophone language in the world and it brings a reality that constitutes a strategic asset in political and economic terms, which makes it essential to invest in education and training in the Portuguese language, presenting the CPLP as a shared commitment and ambition for the future.
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67. Le siège permanent de la CPLP Il a été cette année que Lisbonne a accuuelli le siège permanent de la CPLP, situé dans le Palais du Comte de Penafiel. Lisbonne est la seule capitale où il ya des ambassades de tous les pays appartenant à la Communauté des pays de langue portugaise. Le Président Cavaco Silva et le vice-président de l’Angola ont eu l’honneur d’inaugurer le siège et desserer une plaque commémorative. Cavaco Silva a souligné l’importance du monde lusophone et qu’elle apporte une réalité qui constitue une connexion stratégique en termes politiques et économiques, ce qui fait essentiel d’investir dans l’éducation et la formation dans la langue portugaise, en présentant la CPLP comme engagement commun et ambitieux pour l’avenir.
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86. Carlos Medeiros presented AURA Carlos Medeiros, owner of the restaurant AURA, believes that, in less than a year, the site is already a point of reference for the gastronomy of Lisbon. He confesses that this was a risk of great responsibility, as the restaurant is located in one of the most emblematic squares in Europe. Nothing was left to chance in this space, whose objective is to provide a pleasant, multifaceted restaurant, where the cuisine is exquisite and frankly original. The result of previous experiences, such as Cateri, says Medeiros, were vital for giving him the strength needed for a project of this magnitude. In this new season, Medeiros and his partners will present innovative gastronomic dishes.
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86 Carlos Medeiros a présenté son projet AURA Carlos Medeiros, propriétaire de l’AURA Restaurant, estime que, autant d’un an, le place est déjà une zone de référence de la gastronomie de Lisbonne. Il avoue que ce fut un act de courage de grande responsabilité, car le restaurant est situé dans l’une des places les plus emblématiques de l’Europe. Rien n’a été laissé au hasard dans cet espace, dont l’objectif est de fournir au public un cadre agréable, à multiples facettes, où la cuisine est franchement raffinée et originale. Le résultat des expériences précédentes, telles que Cateri, étaient vitales pour lui donner la force nécessaire pour un projet de cette amplitude. Dans cette nouvelle saison, Medeiros et ses partenaires présenteront des propositions gastronomiques diversifées.
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98 • Diplomática - abril/junho 2012