´ Diplomatica Nº12 Dezembro/Fevereiro 2012 4 (Cont.)
business & diplomacy
Dossier
Mohammed VI
O Rei Diplomática 12 • Dezembro 2011 / fevereiro 2012
de Marrocos Mais um passo na democracia
Portugal: dos E.U.A. ao Magreb Especial
´ Africa +
Entrevistas: Pres. Cabo Verde
Passos Coelho
em Angola Pres. Moçambique em Lisboa
Jorge Carlos Fonseca Pres. Caixa Crédito Agrícola
João Costa Pinto Embaixadora
Karima Benyaich
Festa Nacionais: Alemanha, Brasil, Espanha, China, Ucrânia, Áustria e Coreia
With English & French Texts
1 • Diplomática - Junho/Julho 2008
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Nota do Editor
Editor's note
Destino
Da alma de Portugal, feita de música e requebros mouros que fizeram encher as tascas dos antigos bairros de Alfama e da Mouraria em Lisboa, nasceu a canção. O fado ou destino das nossas mulheres que iam ficando sós, sujeitas a tentações e sem protecção, vendo os seus homens partirem pelos mares na procura de outros mundos, pertence agora não só a nós, portugueses como também aos mundos que eles foram encontrando. E o Fado agora considerado Património Imaterial da Humanidade foi cantado por Carlos do Carmo na Assembleia da República Portuguesa.
■
mariabraganca@gabinete1.pt
From the soul of Portugal , made of music and the wooings mours that fill the taverns of the old quarters of Alfama anda Mouraria, in Lisbon, the song was born. The fate or destiny of our women, who were staying alone, subject to temptations and unprotected, seeing their men leave to the seas, in search of others worlds, now belongs not only to us, Portuguese, but the also to the worlds they have encountering. And Fado has just now been considered Intangible Heritage of Humanity, was sang by Carlos do Carmo at the Portuguese Parlement! De l’âme du Portugal, construit sur la musique et chants maures, qui ont fait remplir les tavernes des vieux quartiers d’Alfama e Mouraria à Lisbonne, la chanson este née. Le Fado ou le destin de notre femmes, que restaient seules, soumis à des tentations et sans protection, en voyant ses hommes quitter vers les mers à la recherche d’autres mondes, appartient, maintenaint, non seulement à nous, portugais, mais aussi aux mondes qu’ils rencontraient. Et le Fado vient d’être consideré comme Patrimoine Immatériel de l’Humanité, a ète chanté por Carlos do Cramo au Parlement Portugais!
fevereiro 2012 - Diplomática • 3
Assuntos Summary
Carta ao leitor. Letter to the reader.
3
Dossier. Marrocos. King Mohammed VII, um sinal de esperança. Dossier. Maroc.Mohammed VII, a sign of hope.
6
Recepção na Embaixada de Marrocos. Reception in the Embassy of Maroc.
9
Embaixadora de Marrocos em entrevista. Ambassador of Maroc in interview – the strenght and competence.
10
Presidente da República na ONU defende a língua portuguesa e os direitos humanos. Portuguese president in ONU in defense of Portuguese language and Human Rights.
18
Cimeira Ibero Americana no Paraguai. Ibero-American Summit in Paraguay.
20
Pedro Passos Coelho nos EUA. Portuguese prime-minister in ONU Security Council.
22
Paulo Portas diplomacia em alta nos EUA e no Magreb. Paulo Portas diplomacy in the EUA and Magreb.
23
Jean-Claude Juncker convidado das Grandes Conferências 2011 na Gulbenkian. Jean-Claude Juncker invited for the cicle of Great Conferences 2011 in Gulbenkian Foundation.
26
Entrevista a Jorge Costa Pinto, presidente da Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo. Interview to Jorge Costa Pinto, chairman of the Central Mutual Agricultural Credit.
28
Patrick Ziegler, um olhar sobre a Europa. Patrick Ziegler: Europe – where do we go from here?
32
Suécia, pátria de marcas de excelência. Sweden, land of marks of excelence.
36
Embaixador da Coreia fala da Nova Era para a União Europeia e Coreia. Korea Ambassador speaks of a New Era for EU and Korea.
38
Embaixador da Federação da Rússia, Embaixador da Alemanha, Embaixador do Luxemburgo, Embaixador da República da Moldávia, Embaixador da República da Albânia e Embaixador da República Dominicana. Ambassador of Russian Federation, German Embassador, Luxembourg Ambassador, Ambassador of the Moldova Republic,Ambassador of the Republic of Albania and Ambassador of the Dominican Republic.
41
Polónia em Exposição. Poland in Exhibition.
54
Apresentação dos novos embaixadores em Belém. New ambassadors deliver new credentials in Belém.
58
África +. Africa +.
59
Entrevista a Jorge Carlos Fonseca, novo presidente da República de Cabo Verde. Interview to the new elected president of Republic of Cape Verde.
60
Primeiro-ministro Passos Coelho visita oficialmente Angola. Prime-minister Passos Coelho visits officialy Angola.
68
Palmira Tjipilica. Cultura e História Palmira Tjipilica. Culture and History
70
Cavaco Silva e Armando Guebuza. Dois estadistas em Belém preparam cimeira bilateral de dois dias. Cavaco Silva e Armando Guebuza. Two statesmen in Belém prepare a two-day bilateral summit.
72
CPLP tem nova sede no Palácio do Conde de Penafiel. CPLP has ist new headquarters in the Palace of the Count of Penafiel.
76
Xanana em Lisboa – emoções como pano de fundo. Xanana Gusmão in Lisboa – emotions as a backdrop.
78
Vista do primeiro-ministro da Sérvia a Portugal. Prime-minister of Serbia visits Portugal.
80
Dia da Unidade Alemã 2011. Day of de German Uni 2011.
81
Festa do 189º aniversário da independência do Brasil. Reception of the 189º anniversary of the brazilian independence.
83
Festa na Embaixada de Espanha. Reception on the Spanish Embassy.
85
Recepção do Dia Nacional da China. Reception of the National Day of China.
87
Dia Nacional da Áustria. Reception of the National Day of Austria.
90
Dia Nacional da Coreia. Reception of the National Day of Korea.
91
IX Mostra Portuguesa em Espanha. IX Portuguese Exhibition in Spain.
92
11 de Setembro – 10 anos depois. September 11th – tem years after.
94
Traduções. Translations.
96
DIRECTOR: Maria da Luz de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Av. Engº Duarte Pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 Lisboa. Marketing & Publicidade: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79 IMPRESSÃO: Madeira & Madeira, S.A. DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395
4 • Diplomática - fevereiro 2012
Capa
Mohammed VI Um sinal de esperança O Rei conseguiu alinhar o País pelo trilho das reformas democráticas, rompendo com o passado da monarquia autocrática, colocando Marrocos na senda de um Estado de Direito moderno e de uma monarquia constitucional.
No trono desde 1999, ano em que seu
Em 1988, com o fim de completar a ins-
pai, Hassan II, faleceu, Mohammed VI
trução académica e adquirir experiência,
distanciou-se de algum modo das polí-
passa alguns meses na Comissão Eu-
ticas que vinham sendo seguidas pelo
ropeia, em Bruxelas, trabalhando direc-
antecessor, mostrando maior abertura e
tamente com Jacques Delors, o então
jogo de cintura, dando um novo alento à
presidente da comissão.
esperança de um povo que ansiava por
São conhecidos poucos detalhes de sua
mudanças.
vida privada, mas sabe-se que, aos pou-
Nasceu em 21 de Agosto de 1963, em
cos, o pai o teria encarregado de dis-
Rabat, a capital do país, e é o segundo
cretas missões diplomáticas, tendo sido
dos cinco filhos de Hassan, primogénito
seu emissário por várias vezes. Aliás,
dos varões. A mãe, Latifa Hammou, foi
a sua habilidade para a diplomacia não
a segunda das esposas do rei, descen-
teria passado despercebida a Hassan II,
dente de uma importante família. Porém,
que viu nele as condições necessárias
a mãe de Mohammed nunca teve direito
para as reformas que o velho rei não
à dignidade do título de rainha, reser-
tinha condições para empreender…
vado por tradição à primeira mulher de
Enquanto príncipe, procurou conhecer
Hassan II.
o seu país, manifestando então alguma
O jovem Mohammed, como também
sensibilidade pelas questões sociais
é de tradição, aprendeu as primeiras
e a problemática religiosa. Mas a sua
letras no palácio e, em 1969, frequentou
atenção virou-se, também, desde muito
estudos secundários no Colégio Real de
cedo, para as novas tecnologias, ferra-
Rabat. Em Junho de 1985 licenciou-se
mentas que considera decisivas para
em Direito pela Faculdade de Ciências
o desenvolvimento de Marrocos e as
Jurídicas, Económicas e Sociais de sua
necessidades da modernidade.
cidade natal, tendo, dois anos depois,
Com a morte do pai, em 1999, o jovem
obtido uma pós-graduação em Ciências
Mohammed, passa a ser o Chefe de
Políticas.
Estado, tornando-se no 18º monarca da
Corria o ano de 1984 quando Hassan
Dinastia Alauí (fundada em 1664), sob o
II nomeia o primeiro filho varão como
nome de Mohammed VI.
herdeiro do trono, embora nunca tenha
O entusiasmo popular rodeou a sua
emitido decreto real firmando a nomea-
chegada ao trono, abrindo espaço à
ção. Prevaleceu a sua vontade, mesmo
esperança de profundas transformações
assim, sem que tal tenha gerado qual-
políticas e sociais. E, nos seus primeiros
quer oposição.
discursos, o novo rei garantiu o interes-
Apesar do curso de Direito, é nas For-
se em consolidar a monarquia constitu-
ças Armadas que Mohammed empre-
cional, libertar a economia e aprofundar
ende a sua vida profissional. Em Abril
o Estado de Direito, dando sinais claros
de 1985, o ano em que se licenciou, foi
da seriedade de suas intenções ao de-
nomeado coordenador de serviços do
terminar a indemnização das vítimas da
Estado-maior General das Forças Ar-
repressão, incentivando o regresso de
madas Reais, tendo nove anos depois
refugiados e exilados, bem como per-
(1994) ascendido à patente de General
correndo as zonas mais pobres do país,
de Divisão.
visitando hospitais, orfanatos e centros
6 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
fevereiro 2012 - Diplomรกtica โ ข 7
Mohammed VI
Enquanto príncipe, procurou conhecer o seu país, manifestando então alguma sensibilidade pelas questões sociais e a problemática religiosa. Mas a sua atenção virou-se, também, desde muito cedo, para as novas tecnologias, ferramentas que considera decisivas para o desenvolvimento de Marrocos e as necessidades da modernidade
➤
de internamento de pessoas com defici-
chamar-se Presidente do Governo.
ência.
“É conveniente, de acordo com a filo-
Mais recentemente, confrontado com
sofia constitucional, que o primeiro-mi-
os protestos populares que abalaram o
nistro se torne chefe do governo e que
norte de África e alguns países árabes,
o poder executivo proceda do partido
Mohammed VI promoveu um projecto
político que ganhar maioritariamente as
de revisão constitucional, sufragado por
eleições legislativas, na sequência do
voto popular, transferindo competências
voto directo”, afirmou o rei em declara-
para o Primeiro-ministro, que passou a
ção televisiva proferida meses atrás.
8 • Diplomática - fevereiro 2012
n
Dossier Marrocos
Recepção na residência da Embaixadora de Marrocos Para comemorar o 12º aniversário da
dr. Fernando Santos), e múltiplas
Naturalmente, estiveram, entre os
subida ao trono de Sua Alteza Real,
personalidades, entre elas SAR o
convidados nesta recepção, os mem-
o rei de Marrocos, realizou-se, na
Duque de Bragança, a duquesa de
bros da comunidade marroquina,
residência oficial dos embaixadores
Cadaval, Maria Barroso Soares, o
radicados no nosso País, que assim
representantes daquele país em Lis-
presidente do Círculo de Amizade
prestaram homenagem e compro-
boa, uma requintada recepção, que
Portugal-Marrocos, Manuel Pechir-
misso ao Glorioso Trono Alawite.
contou com mais de 300 convidados.
ra, e o presidente da Fundação
Durante toda a recepção, a músi-
Entre os presentes, contavam-se
Luso-Americana, Charles Bucha-
ca da orquestra El Hilal Tetouan
representantes do corpo diplomá-
nan. Estiveram também presentes
animou a festa, enquanto eram
tico acreditado em Portugal, altas
figuras destacadas, ligadas às áreas
servidas as mais diversas e delicio-
patentes militares e políticas (caso
da economia e finanças, cultura e
sas especialidades gastronómicas
do secretário de Estado da Justiça,
media.
marroquinas.
■
fevereiro 2012 - Diplomática • 9
Dossier Marrocos
Karima Benyaich A força e a competência de uma Mulher na embaixada do Reino de Marrocos em Portugal “Portugal e Marrocos têm uma história comum, de vários séculos, extraordinária, com influências excepcionais” Karima Benyaich está pela primeira vez a desempenhar as funções de Embaixadora, apesar de ter já um extenso curriculum na área das relações externas do seu país. A Embaixadora do Reino de Marrocos em Portugal não poderia ser a pessoa mais indicada para desempenhar tal desafio, visto que tem um conhecimento bastante profundo do país – realizou a tese sobre “O Impacto da Integração da Espanha e de Portugal na Comunidade Europeia – em 1986 – na Economia Marroquina”. A Alta Representante do Reino de Marrocos está em Lisboa desde Dezembro de 2008, com as suas duas filhas de 15 e 17 anos, e recomenda que os marroquinos visitem o nosso país, assim como os portugueses visitem Marrocos, “duas sociedades com uma longa história em comum”. ➤
10 • Diplomática - fevereiro 2012
Vamos começar por falar no
É curioso, Marrocos antes da
direitos humanos e da mulher
seu percurso. Como chegou
integração de Espanha e Por-
árabe e muçulmana.
até Portugal, o que se passou?
tugal na CEE tinha vantagens
Eu posso ser muito sincera con-
Nasci na vila de Tétouan (Tân-
muito mais importantes na Eu-
vosco. Trabalhei sempre num
ger), no Norte de Marrocos, onde
ropa do que do que Espanha e
mundo onde havia homens e mu-
passei alguns anos com os meus
Portugal, e teve que se adaptar
lheres e sinto-me à vontade tanto
pais. Depois acompanhei-os para
a todas essas mudanças.
com os homens como com as
Rabat, passei aí grande parte da
Tínhamos um protocolo de acor-
mulheres. Sobretudo lutei pelos
minha infância e fiz os meus es-
do com a França, por termos sido
direitos da criança porque acre-
tudos superiores: o “bacalaureat”
um país sub-protectorado francês
dito muito na cultura e, eviden-
em Letras Modernas. Posterior-
até 1955, quando Marrocos con-
temente, como mulher que sou,
mente fui para Paris.
seguiu a sua independência.
defendo os direitos da mulher.
Estudei um ano na Universidade
O que pensa da União dos paí-
Pertenço, entre outras, à Asso-
Americana de Paris, antes de
ses mediterrânicos? Portugal,
ciação “Voz de Mulheres” que
partir para o Canadá para fazer
Marrocos, Espanha, França,
organiza um festival na minha
os meus estudos em Economia,
Itália, entre outros. Trabalhou
cidade natal – Tétouan. Criado
na Universidade de Montréal, e
sobre isso?
há três anos tem como temáti-
um Master em Finanças e Co-
Na cooperação cultural e científi-
ca o lado artístico da mulher de
mércio Internacional, defendendo
ca alguma coisa passou por mim.
Tétouan e marroquina em geral.
a tese: “O Impacto da Integra-
De resto, Sarkozy anunciou em
É o canto, é a música, é a arte
ção da Espanha e de Portugal
Marrocos esta União para o Me-
a valorizar o património e toda a
na Comunidade Europeia – em
diterrâneo quando visitou Tânger.
dimensão feminina ao longo dos
1986 – na Economia Marroqui-
Marrocos está de acordo, gosta
tempos.
na”. Quando terminei os estudos
de contribuir para a aproximação
Como se encontra o papel da
no Canadá voltei a Marrocos
dos povos de modo a conseguir
mulher marroquina na socieda-
para, em 1989, começar a traba-
soluções económicas, sociais e
de?
lhar no Ministério dos Negócios
artísticas no espaço mediterrâ-
Posso dizer-vos que Marrocos é
Estrangeiros, no departamento
nico. Sabemos que este espaço
um país moderno, aberto, demo-
de relações com a CEE, hoje
é muito, muito importante a nível
crático, mas encontra-se enraiza-
➤
União Europeia. Fui também
geoestratégico, histórico, econó-
do nas suas tradições e valores
Chefe de Divisão das Relações
mico e ao nível dos seus diferen-
defensores da sua identidade na-
de Marrocos com a América La-
tes povos que têm uma história
cional. O lugar que hoje a mulher
tina. Trabalhei ainda no Quadro
comum pelos muitos encontros
marroquina ocupa é graças a um
do Comité Averróis, um grande
ao longo dos tempos. Portanto,
combate de numerosas mulheres
filósofo andaluz que se debruçou
sempre que existe uma iniciativa
que ao longo dos tempos têm de-
sobre os valores de promoção do
em que Marrocos possa contri-
fendido os direitos e a consagra-
diálogo e do entendimento entre
buir eficazmente, fazemo-lo. Sim,
ção destes direitos da mulher. A
os povos. Averróis nasceu na An-
somos pela União.
nível de direitos devemos render
daluzia (Córdova ) na época de
Tem-se falado pouco sobre
homenagem ao Rei Mohammed
influência árabe/marroquina na
isso. Estará a ideia estagnada?
VI, que é graças a ele, à sua von-
Ibéria e morreu em Marraquexe.
Não me parece. Ultimamente
tade e às directrizes que criou,
Este Comité promovia as rela-
têm havido alguns encontros.
que hoje temos todos os direitos.
ções entre Marrocos e Espanha
O Secretário-Geral foi recente-
Em 2004, Sua Majestade instituiu
a nível da aproximação das duas
mente nomeado e é marroquino,
o Código da Família, aprovado
sociedades civis, para melhorar e
senhor Youssef Amrani, grande
no Parlamento, feito no quadro
fomentar as boas relações. Tam-
diplomata marroquino e homem
de Conselho de Juristas e de
bém fui nomeada Directora
de visão. Todas as novas ideias
homens e mulheres da sociedade
de Cooperação Cultural e Cien-
têm que ter o seu tempo para se
civil, para encontrar uma solução
tífica no Ministério dos Negócios
concretizarem.
que não fosse em contradição
Estrangeiros e representante do
É dito que a Senhora Embai-
com o Islão. Antes de 2004, a
meu país para a “Francofonia”.
xadora é uma defensora dos
mulher era menor em
➤
fevereiro 2012 - Diplomática • 11
Karima Benyaich
➤
relação a alguns direitos.
Estava sob tutela do pai, do filho ou do marido. Agora, depois de 2004, há uma coresponsabilidade, entre homem e mulher, no quadro da família. Onde os direitos da mulher são respeitados, os do homem também, e depois os direitos da criança. Estará mais feliz com os novos direitos, que implicam também mais obrigações? Não sei se será mais feliz, mas está certamente confortada com os seus direitos. Tem exactamente os mesmos direitos que o homem. Até 2004, uma mulher marroquina casada com um estrangeiro não podia transmitir a sua nacionalidade aos filhos. Hoje, ela já pode dar a sua nacionalidade aos filhos. Aqui em Portugal, até há relativamente pouco tempo, uma mulher também não podia viajar para o estrangeiro sem autorização do marido… É isso, Marrocos e Portugal tinham e têm muito em comum. A Senhora Embaixadora é certamente uma mais-valia para o seu país em estar aqui. Não terá sido ao acaso a Sua escolha. Os seus estudos e especializações traduzem isso. Qual a importância da Embaixada de Marrocos em Portugal. O meu primeiro posto como Embaixadora é em Portugal, aqui em Lisboa. Para nós Portugal é um país muito importante. É um país estratégico de grande importância. Somos países vizinhos. Estou muito honrada com a minha missão aqui, de ser Embaixadora e ter o privilégio
não tem outros vizinhos para
apenas, 14 quilómetros separam
de representar Sua Majestade, o
além de Marrocos e Espanha. A
Marrocos de Espanha e da Euro-
Rei. Felicitamo-nos com a quali-
Capital mais próxima de Rabat
pa. Segundo, temos uma história
dade das relações com Portugal.
é Lisboa e de Lisboa é Rabat.
comum, de vários séculos,
Primeiro, não esqueçamos que
A nível geográfico, nós estamos
extraordinária, com influências
somos países vizinhos. Portugal
muito próximos de Portugal e,
excepcionais: a influência
12 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
Gostamos muito de Portugal e
potencial extraordinário. Estamos
tica e a influência árabe/marro-
dos portugueses. Os marroquinos
próximos e isso traduz-se em
quina em Portugal. Uma história
são muito, muito bem acolhidos
tudo: no modo de vida, ou mesmo
comum que não gerou conflitos.
em Portugal, não existem este-
através da língua. Há em Portugal
Os portugueses são muito bem-
reótipos nem imagens negativas
mais de mil palavras de origem
vindos em Marrocos.
sobre Marrocos, isso resulta num
árabe, também em Marrocos
➤
p o r tuguesa sobre a costa atlân-
➤
fevereiro 2012 - Diplomática • 13
Karima Benyaich
há muita influência do modo de
reconciliar os marroquinos com
esta obra de desenvolvimento
vida português e muitos vestígios
a sua história, fazendo o balanço
económico, de reformas aos
de origem portuguesa. No ano
de todas as violações dos direitos
níveis da fronteira, da bolsa, da
passado, em Jadid, um dos vestí-
do homem desde a independên-
banca e da legislação são para
gios portugueses foi premiado.
cia (1955 – 1999). Todos os iden-
favorecer a promoção da nossa
Vê Portugal como uma porta
tificados que sofreram a violação
indústria e da nossa economia,
de entrada para o comércio e
dos direitos foram recompensa-
não só para encorajar as empre-
melhores relações económicas
dos a nível financeiro e moral.
sas a investir como também para
com a Europa?
Fomos pioneiros a tomar esta
facilitar o investimento estrangei-
Marrocos sempre teve uma re-
atitude, mesmo alguns países eu-
ro.
lação estreita e importante com
ropeus ainda não o fizeram. Nós
No que diz respeito às impor-
➤
a Europa e depois da criação da
queremos ficar reconciliados com
tações e exportações entre os
CEE fizemos, em 1969, acordos
o nosso passado. Há reformas
dois países, como se encontra
e parcerias particulares, tendo
a nível do campo religioso, no
a situação?
hoje um status avançado com a
universo da justiça, ou da demo-
É mais ou menos deficitária para
Europa, que foi reforçado duran-
cratização. Marrocos conheceu
Marrocos. Importamos mais de
te a presidência de Portugal na
avanços muito importantes.
Portugal. O que é interessante
União Europeia. É o único país
Que tipo de acordos e parce-
para Marrocos é que mesmo sem
do Sul que obteve um estado tão
rias tem o Reino de Marrocos?
petróleo e sem gás (todos os
avançado com União Europeia.
Temos acordos com muitos paí-
países vizinhos o têm) consegui-
Então as relações políticas,
ses: acordo de livre intercâmbio
mos manter um desenvolvimento
económicas e comerciais entre
com a UE, com os EUA, com a
sustentável. Apesar da crise,
os dois países são boas!?
Turquia, com países árabes e da
Marrocos foi preservado. No ano
As relações entre Portugal e
América Latina, entre outros. Te-
passado tivemos cinco por cento
Marrocos são excelentes tanto ao
mos mais de 55 acordos de inter-
de crescimento com todas essas
nível institucional como a nível
câmbio, daí sermos também uma
obras.
económico, social e cultural.
plataforma para Portugal por-
Sua Majestade o Rei não es-
Devido à sua aproximação geo-
que Marrocos tem também uma
quece o Ser Humano: em 2008,
gráfica e às relações históricas
política muito solidária em África
lançou a Iniciativa Nacional para
comuns, os nossos governantes,
e partilhamos avanços importan-
o Desenvolvimento Humano
seja Sua Majestade, seja o Presi-
tes nos domínios da agricultura
que foi lançada justamente para
dente ou o governo de Portugal,
e electrificação. Por exemplo,
combater a pobreza e diminuir
estão ambiciosos com as nossas
em 1993 tínhamos 19 por cento
as disparidades entre as regiões
relações. Tanto Portugal é uma
de electrificação e agora temos
mais pobres de Marrocos e os
plataforma para Marrocos como
93 por cento em todo o território
bairros mais pobres das grandes
Marrocos é uma plataforma para
marroquino. Repartimos todos
cidades. Desde 2005 até hoje,
Portugal, tendo em vista África,
estes avanços com os nossos
mais de 19 mil projectos foram
o mundo árabe e muçulmano.
irmãos países africanos. A nível
lançados, onde o Ser Humano
Estamos na porta de África e so-
da formação e educação, Mar-
está no centro de decisão.
mos um país que conhece refor-
rocos é uma autêntica estância
As reuniãos de alto nível entre
mas em todos os níveis: ao nível
aberta a todos os níveis. Quanto
Portugal e Marrocos traduzem
dos direitos do homem, ao nível
às infra-estruturas, em 1910, tí-
a intensidade e a qualidade das
económico, cultural ou social. Se
nhamos 40 quilómetros de cons-
relações bilaterais. Fale-nos
se debruçarem sobre Marrocos
trução de auto-estradas por ano,
dessa intensidade de relações
verão, que sobre a condução de
actualmente estamos a fazer 160
diplomáticas.
Sua Majestade o Rei Mohammed
quilómetros por ano. A nível por-
Voltando à última reunião de alto-
VI, Marrocos teve, nestes últimos
tuário, em Tânger, dispomos dos
nível luso-marroquina realizada
anos, um avanço incrível a nível
maiores portos do mediterrâneo.
em Junho de 2010 em Marraque-
de democratização. Fomos dos
Está ligado a mais de 71 portos
xe, o ex-primeiro Ministro José
primeiros países a criar a instân-
internacionais e nele trabalham
Sócrates qualificou a visita como
cia da reconciliação (2004) para
mais de 25 companhias. Toda
muito positiva e importante. Veio
14 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
Embaixadora de Marrocos Karima Benyaich
fevereiro 2012 - Diplomรกtica โ ข 15
Karima Benyaich
➤
reconfirmar a importância das
Como funcionam as relações
Saraui que deveria fazer parte
nossas relações. A visita foi à re-
entre Marrocos e a união Euro-
do Reino de Marrocos. Vou dar-
gião do Magreb, prioritária para a
peia? Fale-me da Cimeira União
vos um apontamento do que se
política externa portuguesa, mas
Europeia – Marrocos (Março em
passou: Marrocos esteve sobre
Marrocos tem com Portugal rela-
Granada).
protectorado em três fases da
ções ancestrais. Temos um trata-
Foi a primeira com um país do
colonização. Em 1944, Espanha
do de amizade e cooperação de
Sul. Isso demonstra a importân-
ocupou a região Sul de Marrocos,
boa vizinhança desde 1994, que
cia de Marrocos como plataforma
a região do Sahara. Em 1912,
instituiu reuniões ao mais alto
para a Europa. Se conseguimos
o Centro tornou-se protectora-
nível alternadamente nos dois
este avanço foi porque o mere-
do dos franceses e a Espanha
países. Nós desejamos partilhar
cíamos. Haverá razões para a
tomou o Norte, Tânger, a cidade
conhecimento e experiências por-
Cimeira União Europeia – Marro-
internacional. A nossa indepen-
tuguesas em diferentes domínios.
cos.
dência fez-se progressivamente.
Entre os domínios que nos inte-
O secretário-geral do ministé-
Em 1955 declarou-se a inde-
ressam particularmente estão as
rio dos Negócios Estrangeiros
pendência do Centro. Em 1958
Energias Renováveis. Marrocos
e Cooperação do Reino de Mar-
recuperámos a região do Norte e,
lançou um plano solar de Ener-
rocos classificou que a Cimeira
mais tarde, quando recuperamos
gias Renováveis, em que Portu-
teve uma “dinâmica ascenden-
a região Sul, foi criado um mo-
gal tem uma grande experiência,
te”.
vimento de separatistas que foi
e desejamos trabalhar juntos.
Isso quer dizer que as empresas
para Tinduf.
Há inúmeras oportunidades para
europeias (portuguesas, espa-
Actualmente, este problema está
trabalharmos juntos, seja nesse
nholas, ou dinamarquesas, ou
ao nível das Nações Unidas.
domínio seja noutros, como por
seja, as empresas da UE) po-
Gostaríamos de uma solução jus-
exemplo: na construção. Grandes
derão vir a Marrocos onde irão
ta e durável nesta região. Pensa-
empresas portuguesas trabalham
encontrar praticamente o mesmo
mos que no quadro da soberania
hoje em Marrocos. Construímos
sistema, as mesmas normas que
europeia, a melhor solução seria
100 mil habitações por ano. Uma
têm na Europa. Não estarão em
oferecer a autonomia às regiões
política de Sua Majestade para
perigo. Há um potencial muito
do Sul. Em Janeiro deste ano,
que cada cidadão marroquino
grande e muitas oportunidades
Sua Majestade
possa ter a sua dignidade, conse-
para as empresas europeias.
insistiu na regionalização.
guindo uma habitação própria em
E o relacionamento de Marro-
Senhora Embaixadora, da nos-
condições. A nível do Turismo,
cos com o continente America-
sa parte é tudo. Quer acrescen-
Portugal é prioritário. Há um ano
no?
tar mais alguma coisa?
e meio tínhamos dois a três voos
Estamos muito bem. Somos uma
Marrocos é um país tolerante e
por semana, hoje temos três voos
zona de livre intercâmbio com os
aberto ao diálogo. Entre o nosso
por dia Casablanca - Lisboa.
Estados Unidos da América que
país e Portugal existem muitas
Vamos dar mais visibilidade às
demonstra a abertura da econo-
sinergias e podemos desenvolver
nossas relações pelo Turismo e
mia marroquina com o resto do
ainda mais as nossas relações
Cultura. A nossa sociedade civil
mundo.
ao nível do Mediterrâneo e do
deve conhecerse melhor não só
Marrocos é o único país do
Atlântico. Há imensos desafios
através da cultura como também
continente africano que não faz
que nos esperam e devemos
da economia. Hoje, mais de 150
parte da União Africana. Por-
trabalhar neles conjuntamente.
empresas portuguesas trabalham
quê? Pelo conflito com o Saha-
O Reino de Marrocos tem uma
em Marrocos.
ra Ocidental (dura há 35 anos)?
grande diversidade cultural. Um
E empresas marroquinas em
Fala-me do Sahara marroquino.
país muito bonito, convidamos
Portugal?
Temos excelentes relações com
os portugueses a visitar-nos. E,
Os empresários marroquinos
a maioria dos países africanos.
claro, os marroquinos devem
estão a começar. Há vários en-
A Royal Air Maroc tem a partir de
também visitar este belo país que
contros de empresários e cimei-
Casablanca 20 voos para África.
é Portugal, com pessoas fantás-
ras tanto em Portugal como em
Retirámo-nos porque foi reco-
ticas. Pelo que temos em comum
Marrocos.
nhecida na U.A. a República de
devemos conhecer-nos melhor.
16 • Diplomática - fevereiro 2012
n
MARROCOS O Pais que viaja em si
www.visitmorocco.com
travel for real
Viagens de estado
Cavaco em defesa da língua portuguesa O português e os direitos humanos foram o pano de fundo da intervenção do Presidente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Na deslocação aos EUA, Aníbal Cavaco Silva foi, ainda, recebido por Obama
No início de Novembro (9), o presidente Cavaco Silva teve ocasião de presidir ao debate Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova Iorque, intervindo sob o pano de fundo de veemente defesa da língua portuguesa. O debate aberto que ali ocorreu durante o mês de Novembro – o primeiro da presidência portuguesa naquele órgão da ONU -, revestiu-se de particular importância, dando um sinal claro nesse sentido da diplomacia nacional pela presença do Chefe de Estado. Enfatizando que o Conselho de Segurança tem, actualmente, a presença de dois países de língua portuguesa (Brasil e Portugal), Cavaco considerou ser esse um “sinal expressivo do seu compromisso inequívoco com a promoção dos valores da paz, da segurança e do respeito pelos direitos inalienáveis de todos os seres humanos”, porquanto a língua portuguesa é “um dos idiomas em maior expansão no mundo, sendo a terceira língua europeia, em número global de falantes, e a sexta a nível mundial”. Aliás, o presidente vem, desde há anos, defendendo que o português deveria ser acolhido nas Nações Unidas como língua oficial.
Intervenções sob critérios “humanitários” Em matéria de intervenções nos conflitos bélicos que assolam várias regiões do globo, Cavaco
18 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
➤
Silva defendeu que estas devem estar condicionadas ao primado dos critérios humanitários,
deixando claro que “Portugal condena da forma mais veemente possível todos os ataques que tiveram e têm os civis como alvo”, numa referência às situações vivenciadas na Líbia, Afeganistão, Iraque e Síria, entre outras, porque segundo ele “vítimas não são somente aqueles que são parte no conflito, que são mortos, mutilados ou feridos por integrarem um exército regular ou um grupo de combatentes, são de facto os civis que continuam a sofrer, em larga escala, os efeitos directos das guerras”, rematando ser necessário aprofundar a responsabilidade por violações dos Direitos Humanos”, prevenindo situações futuras e agilizando os procedimentos do Tribunal Penal Internacional (TPI). O debate organizado pela presidência portuguesa teve ainda a presença – e contou com intervenções – de Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU; de Navanethen Pillay, alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos; bem como de Philip Spoerri, do Comité Internacional da Cruz Vermelha. Na sua deslocação aos Estados Unidos da América (EUA), Cavaco Silva teve ainda ocasião de se encontrar com o presidente Barak Obama, a quem garantiu que Portugal irá cumprir as orientações da Troika e saldar os seus compromissos financeiros.
■
fevereiro 2012 - Diplomática • 19
Viagens de Estado
XXI Cimeira Iberoamericana
Foi na cidade de Assunção, no Paraguai, que se realizou a XXI Cimeira anual Ibero-Americana. Portugal esteve representado pelo Presidente Cavaco Silva, pelo primeiroministro Passos Coelho e ainda pelo ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas. Embora a ausência do Brasil, da Venezuela e da Argentina tenha sido notada, esta cimeira manteve-se como um evento de grande importância para os países latinoamericanos. Constituindo-se como a maior economia da América Latina representada na cimeira, com taxas de crescimento bastante elevadas, o presidente português destacou o México como o quarto país economicamente mais significativo para Portugal fora da União Europeia, logo precedido
20 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
➤
pelo Brasil, pelos Estados Unidos da América e Angola.
Embora o tema central da reunião fosse a “transformação social e desenvolvimento”, a crise global tornou-se a protagonista fulcral da cimeira. Numa altura em que a maioria dos presidentes necessita repensar estratégias e salvaguardar o património nacional, a cimeira foi dominada pelo actual panorama económico global, ao qual todos os países necessitam de se adaptar. A cimeira Ibero-Americana manteve assim a ligação visível que tem vindo a construir ao longo dos anos, designando a Espanha como o país organizador da próxima cimeira que se realizará, no próximo ano, na cidade de Cádiz.
n
fevereiro 2012 - Diplomática • 21
Viagens de Estado
Passos Coelho No Conselho de Segurança da ONU Nesta sua intervenção neste importante fórum da diplomacia e política internacional, o primeiro-ministro português afirmou a intenção de Portugal “promover” uma visão integrada que espelhe os vários desafios que enfrentamos no século XXI”.
Foi francamente importante a intervenção
o primeiro-ministro português defendeu
proferida por Passos Coelho antes de Por-
que “também hoje, a segurança tem a
tugal ter a presidencia do Conselho de Se-
ver com o desenvolvimento sustentável,
guraça da ONU, até por ter sido a primeira,
o clima, a energia, as epidemias, o aces-
que reuniu recentemente em Nova Iorque.
so a alimentos, água e matérias primas”,
O primeiro-ministro português aproveitou,
sendo por isso intenção do nosso governo
nomeadamente, parfa anunciar a iniciati-
a implementação de uma visão integrada
va da presidência portuguesa do CS, de
que cubra todos os desafios que o século
promover, ainda em Novembro, uma “visão
XXI enfrenta.
integrada” das ameaças à paz, que asso-
Nesta primeira intervenção de Passos
lam o nosso mundo, integrando factores
Coelho na ONU, de que Portugal faz parte
como o clima, a energia e a água.
até finais de 2012, o primeiro-ministro
Usando sempre a lingua portuguesa,
esteve acompanhado pelo MNE, Paulo
Passos Coelho interveio, activamente, no
Portas,e pelo embaixador de Portugal na
debate aberto do Conselho de Segurança,
ONU, Moraes Cabral. Aproveitou tam-
cujo tema versou, desta vez, a “manuten-
bém a ocasião para levar até este palco
ção da paz e segurança – prevenção de
da diplomacia internacional o relato dos
conflitos”. Tema, de resto, escolhido, pela
esforços levados a cabo pela Comunidade
presidência do Líbano e que contou com
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)
a presença de Ban Ki-Moon, o secretário-
no apoio aos seus membros “que estão em
geral da ONU.
situação mais fragilizada”, tudo isto no âm-
Na sua intervenção, centrada nas novas
bito de uma lógica preventiva e consistente
ameaças que se põe à paz internacional,
de evitar conflitos.
22 • Diplomática - fevereiro 2012
n➤
Viagens de Estado
Diplomacia portuguesa em alta O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, tem vindo a promover os traços de uma diplomacia de influência, procurando intervir em vários cenários e desdobrando-se em viagens de Estado, para importantes encontros com os seus homólogos dos vários continentes.
Encontro com William Hague e palestra na London School of Economics
de empresários portugueses e britânicos. De Londres para Washington foi um passo que Paulo Portas tinha marcado em agenda e onde teve
Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros,
oportunidade de se encontrar com a secretária de
não tem perdido tempo para conseguir o seu objec-
Estado norte-americana Hillary Clinton, cujas decla-
tivo principal, que é o de promover os traços de uma
rações em relação a Portugal foram extremamente
diplomacia de influência. Neste contexto inseriu-se o
simpáticas, ao realçar que “Portugal está no bom
encontro que manteve com o seu homólogo britâni-
caminho para resolver a crise da dívida”, aludindo
co William Hague, com quem passou em revista os
assim à medidas já tomadas pelo Governo presidido
principais temas da agenda internacional e a quem
por Passos Coelho. O encontro entre os responsá-
teve a oportunidade de explicar a determinação do
veis pelas diplomacias americana e portuguesa tive-
Governo de Lisboa em cumprir com os acompromis-
rem lugar no Departamento de Estado, onde aborda-
sos assumidos com a troika, sobretudo no que diz
ram também diversos temas, como por exemplo, o
respeito às condicionantes para a ajuda financeira,
processo de transição na Líbia e a situação (sempre)
tendo dando destaque aos elogios que, a esse pro-
conturbado no Médio Oriente.
pósito, o nosso País tem vindo a receber da comuni-
Mas Paulo Portas não se limitou a este importante
dade internacional.
encontro, pois ainda arranjou tempo para se avistar
O Ministro Paulo Portas aproveitou o facto de estar
com outros membros da administração americana,
em Londres para proferir uma palestra na prestigia-
congressistas e senadores, com quem quem fez
da London School of Economics, onde sublinhou as
questão de partilhar o esforço que Portugal está a
“razões pelas quais o caso português não pode se
levar a cabo para ultrapassar os efeitos saldados
confundido com outros Estados”, numa óbvia alusão
pela crise internacional, ao mesmo tempo que reali-
ao caso da Grécia. Nesse mesmo dia, Paulo Portu-
za um esforço tremendo para honrar os compromis-
gues reuniu-se, ao jantar, com mais de uma centena
sos assumidos com a troika.
n➤
fevereiro 2012 - Diplomática • 23
Viagens de estado
Paulo Portas visitou Magreb com a Líbia como pano de fundo A viagem do MNE português, que antecedeu a queda de Khadafi na Líbia, centrou-se na diplomacia de negócios e na consolidação da influência geoestratégica de Portugal na região
"Mudam-se oa tempos, mudam-se as vontades..."
Em meados do passado mês de
primeiro-ministro Abbas el Fassi, o
Novembro, antecedendo a queda
presidente da Câmara de Represen-
definitiva de Muammar Khadafi – e a
tantes, Abdelwahed Radi, o presi-
sua morte trágica – na Líbia, Paulo
dente da Câmara de Conselheiros,
Portas efectuou um périplo por três
Mohamed Cheikh Biadillah, e o seu
países do Magreb, nomeadamente,
homólogo Taieb Fassi Fihri, serviu
Argélia, Marrocos e Tunísia.
para consolidar velhas relações de
Rabat foi a primeira capital visitada,
amizade entre os dois países e de-
num país em que a contestação po-
bater a complicada situação política
pular tem contornos completamente
no Magreb.
diferentes daquela que apressou a
Na Tunísia, o ministro dos Negócios
queda dos regimes de Tunis e de
Estrangeiros teve ocasião de “tomar
Tripoli. O rei, Mohammed VI, desde
o pulso” aos novos rumos seguidos
que assumiu o trono, tem empreen-
desde a abertura democrática e
dido um conjunto de reformas demo-
constatar que, apesar de algum des-
cráticas que reduziram a oposição
contentamento popular pela timidez
ao regime e têm vindo, cada vez
de algumas reformas, o novo regime
mais, a colocar o País na senda dos
consolida o seu prestígio junto da
Estados de Direito democrático.
população, fazendo antever-se a
Os encontros de Portas com o
consolidação dos fundamentos de
24 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
➤
uma sociedade democrática.
Na Argélia, onde o crescendo de oposição ao regime assume sinais preocupantes para a estabilidade da região, Portas cumpriu a agenda não se retendo em grandes declarações públicas, parecendo antever os ventos de mudança que, como um vulcão, parecem
Nos três destinos, naturalmente,
incendiar a antiga colónia francesa.
Portas não deixou de ter em cima
Nos três destinos, naturalmente, Por-
da mesa a diplomacia económica
tas não deixou de ter em cima da mesa
que elegeu como uma das com-
a diplomacia económica que elegeu
ponente essenciais da sua acção
como uma das componente essenciais
enquanto responsável da pasta dos
da sua acção enquanto responsável da
Negócios Estrangeiros, abrindo
pasta dos Negócios Estrangeiros, abrin-
espaço às empresas portuguesas,
do espaço às empresas portuguesas,
perscrutando oportunidades de ne-
perscrutando oportunidades de negócio
gócio e afirmando a influência geo-
e afirmando a influência geoestratégica
estratégica de Portugal na região
de Portugal na região.
A queda de um mito Durante anos símbolo dos movimentos de libertação do continente africano e dirigente de um país com níveis de desenvolvimento notáveis, Khadafi parece não ter entendido que os ventos
de África; o ensino era gratuito até à
da História já não são compatíveis com
universidade; 10 por cento da popu-
regimes paternalistas e autocráticos,
lação universitária estudantil cursava
e essa foi a sua sentença de morte.
na Europa e nos EUA, com tudo pago
Soubesse o coronel ter empreendido as
pelo Estado; aos casais, logo no início
reformas exigidas na rua e retirar-se a
do matrimónio, eram entregues a fun-
tempo, seria talvez hoje uma referên-
do perdido 50 mil dólares para adquirir
cia da unidade líbia e uma reserva do
bens; o sistema de saúde era gratuito e
orgulho nacional.
beneficiando de equipamentos da mais
A sua queda e a afirmação do novo
avançada tecnologia; e os empréstimos
poder de Tripoli levanta, no entanto,
concedidos pela banca estatal eram a
algumas preocupações. À liberdade
juro zero, entre outras regalias à dispo-
conquistada, o novo regime terá de
sição da população.
juntar os elevados padrões de vida a
A liberdade, naturalmente, não tem pre-
que Khadafi habituou os líbios durante
ço, mas o novo regime, para se conso-
décadas. Por exemplo, um relatório das
lidar, terá de manter a fasquia alta que
Nações Unidas, datado de 2007, cons-
Khadafi colocava ao serviço dos líbios
tatava que o País registava o maior
para calar vozes mais críticas e ousa-
Índice de Desenvolvimento Humano
dias comprometedoras…
n
fevereiro 2012 - Diplomática • 25
Economia & Finanças
Jean-Claude Juncker Primeiro-Ministro do Luxemburgo e Presidente do Eurogrupo
Como convidado do ciclo Grandes Conferências 2011, Jean-Claude Juncker esteve em Portugal. No âmbito da visita oficial, o primeiroministro do Luxemburgo encontrou-se com o seu homólogo português, Pedro Passos Coelho, e ainda com o ministro das Finanças, Vítor Gaspar. Em debate, para além das relações bilaterais, esteve a actualidade política europeia, com destaque para a questão da liderança económica da Zona Euro. Com Vítor Gaspar, o encontro esteve especialmente focado na crise da dívida pública na zona euro e a situação financeira e do budget de Portugal. Jean-Claude Juncker encontrou-se também com os ex-presidentes da República, Mário Soares e Jorge Sampaio, a ainda com a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves.
26 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
➤
Na conferência, Juncker enfatizou a sua convicção no futuro risonho
do euro, contrariando o cepticismo geral sobre o destino da moeda única. Para os cépticos e os arrependidos das virtualidades da moeda da união, o primeiro-ministro luxemburguês foi muito claro: “É verdade que, ao contrário de uma concepção ecuménica, que atravessa o continente europeu, é verdade que o euro não está em crise. Coro de raiva todas as vezes que ouço que o euro está em crise”, para logo a seguir concluir que “enfrentamos uma crise de dívida pública em alguns Estadosmembros da zona euro, um em particular que todos vós conheceis bem… Mas o euro, a moeda única não está em crise. O valor externo do euro não está ameaçado, apesar do facto de estar, neste momento, a ser corrigido em baixa, a um nível de 1,36 relativamente ao dólar”.
n
fevereiro 2012 - Diplomática • 27
Gestores Internacionais
Prof. Costa Pinto,
Presidente da Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo:
“Proximidade com as comunidades locais é uma das razões de sucesso da instituição”
O Crédito Agrícola (CA), a instituição que o Prof. Costa Pinto lidera, comemora os cem anos de existência, motivos que justificam esta entrevista sobre a vida de uma instituição que assume particular relevância nas comunidades locais do interior do país e que se assume como um dos mais pujantes grupos financeiros nacionais.
28 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
Há quem diga que o Crédito
estão longe dos grandes centros
locais, vão fortalecer a sua situa-
Agrícola é um banco regional.
urbanos.
ção patrimonial e vão dar margem
Qual o segredo da sua longevi-
A construção de novas vias
acrescida para continuar a apoiar
dade, numa altura em que co-
rápidas alterou um pouco esse
o desenvolvimento económico e
memora este ano cem anos de
panorama…
social nas diversas localidades.
existência?
Alterou-se um pouco a facilidade
Sendo organizações cooperati-
São 85 bancos regionais organi-
de acessibilidade a zonas impor-
vas, o lucro não é o seu objectivo
zados num único grupo financeiro
tantes. Mas o CA, não só tem uma
primordial. O CA integra-se na
nacional. É a única instituição
representação muito grande ao
chamada economia social dada a
financeira, em linha com outros
longo da faixa costeira (o que é
sua base de cooperativas.
bancos que surgiram na Europa
normal face à importância dessa
Um pouco à imagem do que
na mesma altura, que, em vez de
zona no contexto da actividade
aconteceu na Europa nos anos
ter saído de uma decisão central,
económica geral), mas também
noventa…
foi criada mercê das decisões de
tem uma representação bastante
Exactamente. Surgiram inicial-
comunidades locais. Estas orga-
densa no resto do país, mesmo
mente para apoiar as zonas mais
nizaram-se em pequenos bancos
nas zonas menos urbanas e mais
rurais. Por uma razão histórica: a
locais, denominados cooperativas
rurais. Se analisarmos o que as
banca tradicional aparece funda-
de crédito, criando uma realidade
restantes instituições financeiras e
mentalmente nos centros urbanos
nacional. Tem uma origem mui-
grupos financeiros fazem, ou seja,
para apoiar as classes médias
to particular que faz com que o
normalmente captam as poupan-
ligadas às actividades comerciais
Crédito Agrícola assuma as carac-
ças geradas no interior canalizan-
e industriais, em particular, o de-
terísticas de ser uma organização
do-as para as faixas costeiras ou
senvolvimento industrial nascente
cooperativa - das poucas com su-
os grandes centros urbanos, as
e menos para apoiar as zonas
➤
cesso em Portugal… – de carácter
caixas, como têm a sua área de
rurais e as actividades agrícolas.
privado.
acção nas comunidades onde ope-
Por isso, nos diferentes países a
Quem são os titulares do capi-
ram, é para elas que destinam as
resposta destes últimos sectores
tal?
poupanças que lá são geradas. Ou
foi fazer surgir estes movimentos
São meio milhão de associados
seja, o CA dá um contributo ímpar
cooperativos, destinados ao apoio
que têm participações no capital
ao desenvolvimento económico e
ao desenvolvimento económico e
das várias caixas, as quais, por
social do País.
social, das zonas rurais.
sua vez, controlam esta organiza-
Neste contexto de crise, qual
Uma situação que se alterou na
ção central em termos de capital.
será o papel do CA?
actualidade?
Praticam aquilo que é conhecido
É um papel muito importante. Por
Hoje o Crédito Agrícola desen-
em toda a Europa como banca de
um lado, o CA não se debate com
volve a sua actividade em todos
proximidade. Portanto, vivem mui-
muitos dos problemas que afectam
os sectores de actividade, não se
to do relacionamento com os seus
a restante banca. Tem liquidez,
confina ao sector primário: abran-
clientes, os seus associados, têm
apresenta uma situação de grande
ge pequenos e médios comercian-
conhecimento das suas necessi-
equilíbrio – posso dizer-lhe que no
tes e actividades industriais, em
dades, do tipo de apoio e serviços
primeiro semestre deste ano os
particular os pequenos e mé-
que necessitam. Portanto, essa
resultados atingiram os 30 milhões
dios negócios. Mas hoje em dia,
proximidade com os seus poten-
de euros de lucros, o que corres-
através da Caixa Central, opera
ciais clientes é uma das razões de
pondem a uma subida de mais de
também com os grandes grupos
sucesso do CA.
50 por cento dos números alcan-
económicos. Ou seja, tem uma
Até se diz que tem tido um papel
çados no período homólogo do
actividade transversal ao próprio
fulcral para impedir a desertifi-
ano passado. Portanto, é a única
tecido económico e social sem no
cação do país, principalmente
instituição bancária cujos resul-
entanto perder a sua génese.
dos meios rurais do interior?
tados estão a crescer, reflectindo
O logótipo do CA é uma árvore
É verdade. Um dos contributos do
essa realidade muito especial de
estilizada cujas raízes apontam
CA que eu considero mais assina-
que há pouco falei. Ao contrário
para o céu. Qual poderá ser o
láveis é esse combate à desertifi-
dos outros bancos, estes lucros
futuro da instituição? Há novas
cação de várias zonas do país que
ficam nas próprias instituições
áreas de intervenção?
➤
fevereiro 2012 - Diplomática • 29
Costa Pinto
“O CA integra-se na chamada economia social dada a sua base de cooperativas”
Perfil
O prof. João Costa Pinto, 65 anos de idade, é licenciado em Economia pela Faculdade de Economia do Porto, Professor convidado do ISEG, ISCTE e Universidade Católica. Foi vice-governador do Banco de Portugal e consultor da Administração, Presidente do CA do Banco Nacional Ultramarino, do BCI e é actualmente membro do CA da Associação Empresarial de Portugal e membro da Direcção da CIP (Confederação Empresarial de Portugal). Foi membro do Comité Monetário da Comunidade Europeia em Bruxelas e integrou o Comité de Alternates do Comité de Governadores dos Bancos Centrais Europeus. Condecorado pelo Presidente da República com a Medalha de Grande Oficial da Ordem do Infante, na sequência das funções que exerceu como Secretário de Estado Adjunto para a Economia e Finanças do Governo de Macau.
30 • Diplomática - fevereiro 2012
n
Essa questão do logótipo é inte-
actual crise financeira aconselha
uma extraordinária importância.
ressante. Se formos ver a sua evo-
prudência.
Como vê a actual situação eco-
lução desde as origens do CA, vai
E no que respeita à presença
nómica do país? A crise vai pas-
reflectindo a imagem das novas
do banco junto das comunida-
sar daqui a poucos anos, como
etapas e desafios com que a ins-
des portuguesas espalhadas
prevê o actual primeiro ministro
tituição se tem confrontado, sem
pelo Mundo, particularmente na
Passos Coelho?
perder a sua ligação às origens.
Europa?
Eu sou um optimista por natureza.
Essa árvore estilizada aponta para
O Crédito Agrícola está presen-
Portugal já enfrentou outro tipo de
a modernização, para a respos-
te junto das mesmas. Tem uma
dificuldades muito grandes, que
ta às necessidades das novas
equipa de representantes a traba-
sempre soube ultrapassar. A gran-
gerações. Se não fosse assim, o
lhar permanentemente junto das
de questão deste momento é que
Crédito Agrícola arriscava-se a
Comunidades Portuguesas com
a resolução de uma parte substan-
perder o seu nicho de mercado, a
presença forte em países euro-
cial das dificuldades que enfrenta-
➤
sua ligação à sociedade. O grande
peus, como acontece na França e
mos não depende só de nós. Há
desafio da instituição nos dias de
no Luxemburgo. Exactamente por-
muito tempo que o país vivia na
hoje é o mesmo de há trinta anos
que lhes atribuímos grande impor-
grande ilusão de que era possível
atrás: modernizar-se, reorganizar-
tância. Os emigrantes sabem que
atingir níveis de bem estar pró-
se, adaptar-se às novas gerações
existem dependências da institui-
ximos da média europeia. Não
e aos seus anseios, sem perder
ção nas suas terras de origem em
somos nós os únicos culpados,
essa ligação às comunidades onde
Portugal e o CA surge assim como
induziram-nos a isso pelas pró-
teve a sua origem. Dou-lhe um
um veículo natural que utilizam
prias condições em que a Europa
exemplo: o CA está agora a apos-
com regularidade para os seus
e a Zona Euro foram criadas. Va-
tar nas novas tecnologias. Como
contactos.E se formos a olhar
mos ter de corrigir hábitos, haverá
é que podemos implementar essa
para a evolução das remessas dos
sacrifícios a fazer. Por outro lado,
estratégia sem pôr em causa a tal
emigrantes nos últimos anos, que
uma parte das dificuldades que
banca de proximidade que é uma
decresceram substancialmente na
enfrentamos decorre de problemas
das suas marcas de origem? Não
última década, no CA elas mantêm
enfrentados pela Europa como um
é fácil e essa questão tem motiva-
uma grande regularidade.
todo. Só podemos desejar que os
do várias discussões internas, pois
Precisamente, há que saber
líderes dos principais países euro-
o que deve prevalecer deve ser
aproveitar esse grande potencial
peus tenham a visão e a capacida-
essa característica ímpar que nos
das comunidades portuguesas
de de encontrar saídas de forma a
deve diferenciar dos outros bancos
espalhadas pelo Mundo…
preservar este grande projecto da
– banca de proximidade.
Concordo. Essa Diáspora portu-
integração europeia.
A internacionalização, ou seja, a
guesa nunca foi suficientemente
Há quem defenda que devemos
procura de mercados externos,
aproveitada. Houve algumas tenta-
sair do Euro…
não se enquadra nos futuros
tivas ténues…
A saída de Portugal do Euro teria
objectivos da instituição?
A diplomacia económica deve
consequências tão graves que
O CA tem sido até aqui uma
ser intensificada?
nem se deve de facto colocar.
organização doméstica. É um
É crucial. Num país como Portu-
Devemos tentar resolver os nos-
dos principais grupos financeiros
gal, que não tem veleidades em
sos problemas integrados neste
portugueses e, de facto, começa
ser uma potencia político – militar,
grande clube que é a União Mone-
a olhar para o exterior. Desenvol-
a diplomacia pode dar um contri-
tária Europeia. A Europa tem de
vemos alguns contactos nesse
buto inigualável no contacto entre
encontrar soluções para a crise,
sentido, privilegiando os países
os empresários portugueses e os
criando novas formas de organi-
de expressão portuguesa. Temos
interesses económicos dos países
zação institucional e até políticas,
uma representação em Cabo Ver-
onde prestam serviço. Há nações
agindo como um todo, em áreas
de, uma participação no capital de
que têm tirado muito mais partido
que têm de ser coordenadas,
um grupo espanhol, e começamos
dessa diplomacia económica do
como é o caso da Área Fiscal. Se
a olhar para o Brasil. Olhamos
que nós. Cada vez mais, a procura
não o fizer, esse grande projecto
para outros mercados do exte-
de oportunidades para um país
europeu pode correr o risco de se
rior, tendo sempre presente que a
com a dimensão portuguesa é de
desagregar.
n
fevereiro 2012 - Diplomática • 31
Economia & Finanças
Patrick Siegler-Lathrop is a French-American consultant living in Portugal, with a more than 30-year career as a Wall Street investment banker, entrepreneur, industrialist and professor, having taught at INSEAD and Paris University, Dauphine. He is a founding member of the international NGO Action Contre la Faim.
(* The opinions expressed herein are those of the author, and do not necessarily represent those of DIPLOMATICA) (* As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor e não representam necessariamente as da Diplomática.)
Europe Where do we go from here?
Europe appears today as a wounded continent,
creation of a common currency. In parallel,
reeling under excessive debt, burdened by
an institutional and bureaucratic framework
stagnant economies on the brink of recession,
was created: the European Commission, the
suffering from high unemployment expected to
European Parliament, the Court of Justice and
go only higher, risking a possible break-up of the
the European Central Bank.
Eurozone, becoming increasingly trivial in the
I have always suspected that the original
world, its leaders seemingly unable to put forth a
founders knew very well that they had created
credible plan to get us out of this mess.
a contradiction, that it was impossible to arrive
Is Europe going to be able to survive? Do we
at industrial, economic, financial and monetary
have any grounds for optimism?
union without a large degree of political union,
Let us briefly review recent history: to end
and that they understood that such a truth
forever the possibility of another devastating
could not be openly admitted. They expected
European war, the remarkable generation of
and hoped that the process they had put into
founding leaders: Monnet, Schuman, de Gasperi,
play, and the idealistic underpinnings they had
Spaak, Adenauer, put forward the concept of a
given it, would bring about a gradual shift in
European Union. But of course it was impossible
sovereignty from each independent nation to the
to expect French, Germans, Italians, and others,
federation, the logical outcome of which would
to suddenly accept a shift of allegiance from their
one day be true political union.
individual Nations States to that of a politically
To a large degree, their gamble worked. Over
unified Europe.
the past 60 years, Europe has become more
So while planting the ideal of political union,
integrated, with occasional, idealistically-driven
they moved forward with smaller - although
large leaps forward, but more typically, smaller
still very bold - concrete steps, first with the
steps contributing to a growing integration and a
integration of the coal and steel industries, both
gradual shift in certain powers from each national
critical to any war effort, evolving to a common
capital to the central bureaucracy. Meantime, the
market of goods and people, and then to the
idealistic beacon of a United Europe attracted
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➤
more and more countries, which if they met
creation was one of the boldest political steps
certain criteria were not refused entry, to bring the
in recent history, much more than a monetary
current membership to an unwieldy 27 countries.
project, a huge step forward in the integration of
But the process itself contained the seeds of
the economies of 16 Eurozone countries, a clear
its own weakness - the unresolved conflict
precursor to political integration. But at the time
between national interest and the interests of the
of its creation, and we return to the fundamental
Community. Such tension is natural in federal
contradiction, certain basic elements of
structures, but in the case of Europe, the official
economics were ignored.
message was that power remained totally with
As now appears clear with 20-20 hindsight, for a
independent national governments, while the
monetary union to work, you must have a central
reality of building a union required transferring
bank with the power to monitor the banking
power to the center.
system and to provide liquidity when required, and
In addition, the indirect approach to European
- in a region with such disparate economies as
integration generated a bureaucratic, bottom-up
the Eurozone - internal adjustment mechanisms
system, with the central bureaucracy, defenders
to compensate for radically different economic
of a common objective, proposing new steps
performance from one region to the other.
forward, often entering into conflict with individual
Putting into place such mechanisms at the
governments, each seeking to defend its own
creation of the Euro in 1999 would have
interests.
represented an unacceptable transfer of
Such a process led to repeated crises, the
sovereignty to a central authority, and it was
more so when additional countries joined, but
inconsistent with the grand bargain entered into
the idealistic drive was strong enough for the
with Germany. To overcome German reluctance
politicians to overcome most crises, so Europe
to abandoning the rock-solid Deutschemark,
advanced when major political steps forward
Germany insisted that the European Central
were taken, while in parallel it moved gradually
Bank (“ECB”) be exactly mirrored after the
towards integration through the bureaucracy.
Bundesbank, operating independently of any
But the people of Europe were left out of the
political influence, with an overriding objective to
process. I believe European leaders made a
control inflation - reflecting Germany’s excessive
huge marketing mistake, not to have much more
fear of inflation borne of its experience between
actively “sold” the benefits of the union to their
the two World Wars - without providing for
electorate, not to have sufficiently invested
unifying mechanisms to provide liquidity and
in the political idea of Europe. One need only
adjustment procedures.
attend soccer matches between national teams
Up until recently, the Euro has been a
to note that decades of European Union have
resounding success, perceived by markets as
done nothing to lessen fierce nationalism. Most
virtually as solid as the Deutschemark, with all
Europeans do not understand the contribution
Eurozone countries able to borrow in Euros at
European integration has made to their
attractive, low interest rates, and the currency
wellbeing, they feel estranged from the European
has grown in value relative to the dollar since
bureaucracy, uninterested in the process,
early 2002. Germany benefitted from the strong
attached to their national identity and less and
Euro, but many other countries of Europe saw
less willing to sacrifice national interests for the
their international competiveness decline.
common good.
The subprime crisis in 2008, bringing increased
The ideal of European Union appears to have
vulnerability and volatility in financial markets,
lost much of its luster, and as always in times of
revealed the weakness of certain European
hardship, such as we are currently experiencing,
countries, leading to the Greek crisis, a maelstrom
ideals become even less relevant.
of market turbulence and contagious spreading
So where does this leave us with the Euro? Its
initially to Portugal and Ireland, and more recently
➤
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Europe Where do we go from here?
➤
to Italy, Spain and France, jeopardizing the very
is general consensus among commentators that
existence of the Euro and threatening the whole
what is needed is a combination of:
extraordinary European experiment.
Debt relief for the small number of countries
Because of the German-inspired constraints
which are not solvent, including Greece,
imposed since the creation of the Euro and an
Financing for countries which are clearly solvent
unwillingness to recognize the extent of the
but temporarily unable to obtain market funding
problems, Europe, and particularly the ECB,
at acceptable rates (Italy, Spain, perhaps
has not had the tools - or has not been willing to
France) or alternatively a funding mechanism
utilized them - to deal adequately with the crisis.
to purchase country debt to insure that interest
Is the Euro really worth saving? Some argue that
rates remain reasonable,
Greece and Portugal would be better off with
A common banking supervisory system, support
their own currencies, they could then devalue,
for, and higher capital levels, for banks, especially
providing a difficult but not impossible path to
those fragilized by sovereign debt holdings,
regaining international competitiveness. Others
A credible path to adjust long-term imbalances,
defend the idea that Germany would also be
meaning concrete steps to:
better off outside the Euro, no longer having to
Reduce or eliminate Government deficits,
support the burden of weaker Euro countries.
Improve international competitiveness for so-
The situation, in early November, 2011, appears
called weaker economies, including reducing unit
dire: there is no mechanism for a country to leave
labor costs,
the Euro, yet markets may make it impossible
Provide a system, by the creation of a regulatory
for countries to finance themselves, leading
authority, to impose fiscal solidarity and
to the fear that the Eurozone will break up in
discipline.
chaos, with negative repercussions on the entire
This will require sacrifices from everyone, not just
international banking and financing system,
the so-called weaker countries, as adjustment is
possibly triggering a worldwide depression.
not a one-way street: if Portugal is to sell more
What is clear is that markets will not accept
outside its borders, someone, no doubt including,
that the Eurozone remain where it is: either it
Germany has to buy more Portuguese exports.
must create a mechanism to permit countries to
Governments have to spend less, providing lower
leave the Euro, at considerable risk of chaos,
levels of social benefits. Banks, which have
or provide the support to allow all Eurozone
taken on too much risk, must share the pain.
members to go forward together, requiring huge
The ECB must have a less tight monetary policy.
sacrifices by all parties. The choice is between
New investments must be made where they are
two unattractive alternatives.
most needed. And everyone must accept deeper
I am convinced that in the current mess, we
financial integration, and a larger transfer of
should go forward, to save the Euro. Why? To
sovereignty to Europe, than originally envisioned.
stave off likely chaotic consequences to the
Recent success has made Germany more
world economy would be reason enough, but an
confident, at the risk of feeling superior and
even more important reasons is to avoid, with the
condemning higher deficit countries of Europe.
break-up of the Eurozone, a huge step backward
Exactly the opposite is required. The Euro, and
in the process of European integration, which
the European experience, needs strong and wise
could lead to unwinding much of what has been
leadership at this time, particularly from Germany.
accomplished to date. This could jeopardize
Once the immediate crisis is passed, Europe
Europe’s prosperity, and possibly encourage
needs leaders willing to embrace again the ideal
even more dangerous political consequences,
of a European Community, to revitalize their
such as the rise in Europe of nationalistic,
electorate away from narrow nationalism to the
populist regimes, echoing the history of Europe
larger Europe, regaining its vigor and influence.
between the two World Wars.
Do Eurozone leaders and their Governments have
The decisions we face today clearly go beyond
the ability and political will to make the sacrifices
the survival of the Euro. At issue is the future
necessary to save the Euro, and to revitalize
course of Europe.
Europe?
The tools are there to save the Euro, and there
I certainly hope so.
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n
Trades
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2
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6
7
1. Embaixador da Suecia, Bengt Lundborg 2. Embaixatriz de Lituania, Janina Rimkunniené e Embaixador da Estonia 3. Lénia Godinho Lopes e Hans Jurgen Nissen 4. Sophia Reutenberg, Christina Gillies and Maria da Luz de Bragança 5. Ulla Elfenkaemper e Nadine Schmit-Konsbruck 6. Embaixadores do Iraque e dos Emiratos Arabes Unidos 7. Embaixadores dos Paises Baixos Hendrik e da Dinamarca
Suécia pátria de marcas de excelência O Hotel Altis Belém & SPA de Lisboa
Com a beleza do Tejo como cenário,
que banham a capital lisboeta. Em
foi o local escolhido pelo embaixador
e numa altura em que a Suécia volta
seguida falou um pouco das princi-
da Suécia Bengt Lundborg para dar
a estar sob as luzes da ribalta devido
pais marcas suecas com implantação
a conhecer melhor a todos os seus
à entrega dos Prémios Nobel, o
e sucesso em Portugal, a saber, a
convidados algumas marcas que
embaixador dirigiu-se aos presentes
Volvo e o Grupo Auto Sueco, a Sony
tanto na Suécia quanto a nível inter-
anunciando que em Maio do próximo
Ericsson e a Oriflame.
nacional são líderes nas respectivas
ano as equipas da Volvo Race Team
A Auto Sueco, instalada há 70 anos
áreas.
cruzarão nos seus veleiros as águas
no nosso país é o maior cliente da
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➤
9
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10
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12
8. Maria Luz de Bragança, Hans Jurgen Nissen, Christina Gillies e Benn Lehse 9. Embaixador da Alemanha com o Embaixador Bernhard Wrabetz 10. Embaixador da Moldávia com seu filho 11. Embaixador da Argentina, Jorge Farie com Maria Luz de Bragança 12. Ilona Stael Thykier, Christina Gillies e a Embaixatriz Jane Lundborg
➤ marca
Volvo, sendo que é a partir de
mais de 35 000 vendedoras.
em particular face à referência das
Portugal que muitos outros mercados
Por último, o realce recaiu sobre
medalhas no certame Bocuse d’Or
recepcionam os seus veículos Volvo.
um importante número: os 55 000
arrebatados, respectivamente, pela
Já no âmbito das telecomunicações a
funcionários a que as companhias
Dinamarca, ouro, Suécia, prata e
Sony Ericcson, com uma história de
suecas dão trabalho em Portugal. Já
Noruega, bronze. O evento terminou
mais de 100 anos é incontornável, tal
no tocante à gastronomia, o sucesso
com os acepipes preparados pelo
como os cosméticos Oriflame que são
de chefs e restaurantes nórdicos não
chef Magnus Viksten e ao som da
distribuídos apenas no nosso país por
deixou também de ser mencionado
jovem estrela sueca Anna Ihlis.
n
Fotos: Roman Buzutt
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Trades
New Era for EU and Korea The EU-Korea FTA in force as of 1 July 2011 by Kang Dae-hyun, Ambassador of the Republic of Korea
In 1487, a Portuguese expedition, led by Bartolomeu Dias, had sailed far south when a violent storm drove it well away from the coast. When he sighted land again, he found it ran east, not south - at last, a Portuguese navigator had circled the southern cape of the vast African continent. This way lay the long-sought sea route to the Indies (in Portugal - a Companion History written by José Hermano Saraiva). It has been 5 months since the EU’s Free Trade Agreement (FTA) with the Republic of Korea took effect on 1 July this year. This agreement is the most comprehensive and ambitious trade deal the EU and Korea have ever made, and it is praised as an agreement that will generate mutual economic benefits and offer enormous business opportunities to both the EU and Korea. New Opportunities for Growth and Development The benefits of the EU-Korea FTA come first from the elimination of tariffs, as nearly all tariffs will be eliminated on both sides in 7 years and already more than 90% of tariffs were immediately removed when the FTA came into force on July 1st this year. Above all, the EU-Korea FTA is unique because it removes not only tariffs but also non-tariff trade barriers such as standards or rules that have created obstacles for companies on both sides to fully develop their business opportunities in each others’ markets. According to a press release by the Swedish Trade Council in April, a study indicated that Swedish exports to Korea have the potential to increase by 60-80%. Of course, European consumers can have access to a bigger choice of cheaper goods and services through this FTA. The European Commission also released the 10 Benefits for the EU through this FTA such as protection of intellectual property rights, strong competition rules and so on. Now, it is indisputable that with this FTA, the distance between the two markets - EU and Korea - will be drastically shortened, and thus contribute greatly to common prosperity. It is time to see Korea as an attractive and critical market in Asia Anyone in the EU might raise the question - Can we get real results from a FTA with Korea, such a small country in the Far East? It is true that Korea is a small country in terms of territory. However, when it comes to its status in the world economy, it is a different story. Korea is the 11th largest economy in the world, with an annual GDP of about USD 1 trillion in 2010. Korea’s dynamic economy recorded an average annual growth rate of 3.5% between 2007 and 2010. In the whirl of the global recession, Korea was one of the three members of the OECD that marked a positive growth in 2009. Moreover, Korea’s GDP expanded to 0.2% in 2009 and 6.1% in 2010, proving its resilient economy.
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Korea’s strategic location can be used as a springboard to larger markets in its
neighbourhood; there are 43 cities with a population of over 1 million people in North-East Asia, within a flying distance of 3 hours or less from Seoul. In addition, Korea has its own market of 50 million consumers, acknowledged as one of the best test markets in the world. Regarding trade volume, Korea is the EU’s 4th largest trading partner, and the EU is Korea’s 2nd largest trading partner only after China, with a two-way trade volume that reached almost USD 100 billion in 2008. But also, the EU is the number one foreign investor in Korea with an accumulative stock valued at USD 59.7 billion in 2010. This is why the EU invited Korea to be the first-ever Asian country to conclude a FTA.
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New Era for EU and Korea
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EU-Korea FTA - a milestone on the way towards a better future
By lowering tariffs, harmonizing regulatory rules, and enhancing IPR protection, the EU-Korea FTA will create substantial export opportunities for the manufacturers, service providers, investors and farmers of the EU. Considering that Korea’s average tariff level reached 12.2% in 2008, this FTA will relieve EU exporters of a substantial portion of the customs duties paid annually, thereby strengthening their competitive positions in the Korean Market. The EU-Korea FTA also establishes firm principles on non-tariff measures in sectors of EU’s interest, where international and European standards will be recognized as equivalent to Korean domestic standards. As non-tariff measures are not fully covered by the multilateral trade regime, having addressed them in the EU-Korea FTA is expected to bring significant value to EU business, especially to EU’s SMEs doing business with Korea.
The EU-Korea FTA is a new beginning for the future. Well begun is only half done, and the first half was shaping, embodying and putting in place this Agreement. Now, the remaining half to lead us to a new future should be completed not only by the governments but also by the business circles of the EU and Korea. In order to utilise this FTA to its fullest extent, all of us should carry out a continuous quest in search of ways to benefit even more from this Agreement. Almost 500 years ago, as a great Portuguese navigator found the way to the East in a violent storm, it is sincerely hoped that Portugal and the other EU member countries will make a breakthrough and emerge from recession by taking advantage of the EU-Korea FTA. And last but not least, the Korean Embassy in Lisbon will always remain a true friend to the people who wish to have a business opportunity with Korea and make the best use of the Embassy as a gateway to Korea.
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Espaço Diplomático
Pavel Petrovskiy - Embaixador da Federação da Rússia
O que segue a “Primavera Árabe”?
Durante últimos anos na comunidade mundial de
nó nos países árabes foram os regimes monárqui-
especialistas prediziam um “desgelo árabe” como
cos (Jordânia, Marrocos, Arábia Saudita), embora o
“transformações democráticas doseadas” que se
“despertar primaveril” também se note lá.
impuseram nos países da África do Norte com os
A juventude árabe desempenha um papel activo nas
regimes autoritários. Porém, ninguém podia predizer
grandes manifestações de rua. Isto não acontece
uma “Primavera Árabe” tão tempestuosa no início
por acaso, pois durante muitos anos ela estava de
de 2011. A “Primavera” chegou impetuosamente,
facto privada da expressão livre de vontade e do
lembrando em algo cheias primaveris dos rios nos
acesso aos meios de comunicação social dissiden-
países do norte quando, por causa de neve se der-
tes, afastada de processos políticos, em particular
reter depressa, as correntes fortes de água saem do
não tinha uma possibilidade real de eleger os seus
leito do rio, varrendo tudo a caminho. Como resulta-
dirigentes. A geração inteira de jovens em Líbia,
do, tanto no Oriente árabe, como no Norte da África
Egipto, Iémen, Tunísia não conheciam outro líder
criou-se uma situação geopolítica absolutamente
além de Muammar Kadhafi, Hosni Mubarak, Ali
nova. A olhos vistos começou a ser destruída a tese
Abdullah Saleh, Zine El Abidine Ben Ali. É mesmo
antiga segundo a qual os árabes são politicamente
a este material humano “explosivo” que na altura
passivos e não têm capacidade para a democracia.
apontaram os especialistas, profetizando as mudan-
Poucos especialistas podiam prever uma “cheia”
ças. Nisto a análise da situação deles viu-se certa.
de grandes proporções que afectou toda a região e
Assim, a “Primavera Árabe” não é o resultado duma
antes de mais os Estados com os regimes autoritá-
“conspiração externa” ou de “intrigas de forças
rios “de cimento armado” – Tunísia, Egipto e Líbia.
clandestinas”, mas sim um despertar espontâneo da
Os seus líderes, não tendo conseguido opor nada
sociedade que ficou cansada da estagnação política
às manifestações de rua, viram-se um após outro
e das ideias do carácter arcaico.
levados pela onda da ira do povo. Vou sublinhar um
Ultimamente a atenção principal da comunidade interna-
facto paradoxal: menos sensíveis ao efeito de domi-
cional tem sido focada em dois países – Líbia e Síria. ➤
fevereiro 2012 - Diplomática • 41
Pavel Petrovskiy
➤
Em relação à Líbia a posição da Rússia foi e per-
manece praticamente inalterada. Apoiamos o princípio de inadmissibilidade da violência e a necessidade de garantir a segurança da população civil neste país e respeitar os direitos humanos. Infelizmente, como foi repetidamente salientado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia Sergey Lavrov, o que está a acontecer neste país, não nos pode satisfazer. A tarefa principal proclamada pelo Conselho da Segurança da ONU reside na protecção da população civil, porem as pessoas continuam a morrer, e os combates também continuam. O Conselho Nacional de Transição deve aprender as lições positivas da história. Se desejarem, os seus líderes poderiam seguir o exemplo da Revolução dos Cravos de 1974 em Portugal quando o
O Conselho Nacional de Transição deve aprender as lições positivas da história. Se desejarem, os seus líderes poderiam seguir o exemplo da Revolução dos Cravos de 1974 em Portugal
regime autoritário foi substituído e chegaram as pessoas que tinham por objectivo a tarefa de reconciliar e unir a sociedade portuguesa, e não dividi-la em “democratas” e “retrógrados”, em “vencedores” e “perdedores”. É importante os novos líderes da Líbia, que chegaram ao poder na crista da onda democrática, não cederem à tentação de atribuir à vingança pelas ofensas do passado a categoria da política nacional a longo prazo. Neste contexto acredito que as forças políticas e étnicas, as tribos
gosa. Ainda em 22-23 de Agosto do ano em curso
que representaram o ex-líderes da Líbia não devem
no decorrer da sessão especial do Conselho da
ser submetidas ao ostracismo total. Eles fazem par-
ONU para os direitos humanos a delegação russa
te do povo líbio e podem pretender ao direito de ser
manifestou a sua preocupação séria em relação
uma parte do processo da reconciliação nacional.
a violação dos direitos humanos neste país – a
Nós colaboramos cada vez mais activamente com
morte dos civis, militares e funcionários dos ór-
as novas autoridades líbias. O nosso país estabele-
gãos policiais - apelando acelerar a implementação
ceu e mantém as relações diplomáticas com a Líbia
das transformações politicas e económico-sociais
desde 4 de Setembro de 1955 e nunca as interrom-
amadurecidas. Ao mesmo tempo representantes
peu independentemente daquilo que governo estava
da Rússia pronunciaram-se firmemente a favor da
no poder em Trípoli. A Federação da Rússia reco-
solução da situação na Síria pelo próprios sírios na
nheceu o Conselho Nacional de Transição como
base do dialogo nacional sem qualquer ingerência
o poder actual e deu o devido valor ao programa
externa. A delegação da Rússia reafirmou a sua po-
anunciado de reformas. Há pouco os representan-
sição principal - contra a utilização dos mecanismos
tes do Conselho Nacional de Transição visitaram
da defesa dos direitos humanos a fim de intervir nos
Moscovo. No decorrer das conversações mantidas
assuntos internos do país e alcançar os objectivos
com a parte líbia foi revelado o interesse em esta-
políticos o que é incompatível com as normas do
belecer a colaboração comercial mutuamente van-
direito internacional.
tajosa, inclusive na área energética. E nós partimos
Ao falar da Síria, todos, antes de mais, devem par-
do princípio que os acordos assinados antes entre
tir dos interesses do povo sírio. É exatamente este
a Rússia e a Líbia e outras obrigações recíprocas
princípio que o Presidente da Rússia Dmitriy Med-
das partes continuam a estar em vigor nas relações
vedev tem destacado nas entrevistas aos meios de
entre os dois Estados e serão cumpridos conscien-
comunicação social russos e estrangeiros. Os civis
ciosamente.
não se devem tornar vítimas inocentes. A comuni-
No que respeita a Síria, a situação em redor deste
dade internacional deve exigir de todas as partes do
país-chave da região está a aquecer e torna-se peri-
conflito respeitar os direitos humanos e o direito
42 • Diplomática - fevereiro 2012
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De facto hoje a questão principal que preocupa a todos, inclusive à Rússia, é o que se seguirá a “Primavera Árabe”. Infelizmente, não há uma resposta simples. È possível prever apenas uma coisa – os fundamentos democráticos do mundo árabe não serão criados de noite para o dia. A democracia deve amadurecer. Como diz a sabedoria oriental: mesmo juntando nove mulheres grávidas, a criança não nascerá em um mês. Obviamente o período de transição do regime autoritário à democracia será Para garantir o sucesso no Egipto, na Líbia
bastante longo e talvez complicado.
e noutros países é preciso criar, além de
Para garantir o sucesso no Egipto, na Líbia e nou-
mais, as leis que funcionam, as instituições
tros países é preciso criar, além de mais, as leis
democráticas, os partidos, a imprensa livre,
que funcionam, as instituições democráticas, os
bem como as eleições livres de quaisquer
partidos, a imprensa livre, bem como as eleições
constrangimentos
livres de quaisquer constrangimentos. Mas estes são apenas os instrumentos de transformação e não o objectivo final. A minha experiencia de trabalho na África sugere que há mais uma coisa importante - mudar gradualmente a mentalidade do povo de acordo com as imposições do tempo. Pois, as boas tradições e experiencias seculares acumuladas, as particularidades do modo económico, crenças religiosas e a identidade étnica e muitas outras coisas começam a agir de modo frutífero só quando as
➤
humanitário internacional. A maior exigência a
pessoas livremente das pressões externas pude-
todas as partes envolvidas é começar imediata-
rem fazer a sua opção – confiar ou não no sistema
mente o diálogo. Induzimos activamente o Pre-
politico, participar ou não nele, consentir nos seus
sidente Assad que seja mais atento e sensível
slogans ou rejeita-los.
às expectativas da população. E apesar de não
Podemos também prever que a vida de jovens
ser tão célere como desejaríamos, Assad está
democracias árabes seria saturada de rivalidades
a propor passos concretos virados à solução de
entre tribos, clãs e agrupamentos envolvidos na
antigos problemas do país: introdução de multi-
luta pelo poder e pela influência sobre a sociedade.
partidarismo, liberdade de imprensa, preparação
Se não regular tais rivalidades, seriam inevitáveis
de nova constituição e nova lei eleitoral. Se as
os conflitos agudos e confrontos internos. É neces-
forças de oposição na Síria não concordarem com
sário acalmar agitação de paixões e interesses e
o conteúdo de algumas reformas sugeridas pelo
para este fim servem as eleições, o poder da lei e
Presidente Assad, devem discutir isto à mesa de
também a sociedade civil com uma forte e efectiva
negociações em vez de rejeitar infundadamente
ligação recíproca entre o povo e os novos dirigen-
o teor e a agenda das transformações traçadas.
tes. Durante muito tempo tal ligação em Egipto,
É pouco provável que a substituição do regime à
Iémen, Líbia e nos outros países estava obstruída
força possa levar aos avanços significativos na
ou mesmo ausente.
área humanitária, económica ou social naquele
Resumindo acima referido quero sublinhar que
país. Não se deve excluir neste caso o aumento
hoje em dia o mundo árabe encontra-se nas águas
de desilusão e insatisfação da população, o que
turbulentas engendradas pela “Primavera Árabe”.
pode ser bem aproveitado por forças extremistas.
Agora como disse duma maneira metafórica há
Nas condições de desintegração das estruturas
pouco tempo atras Presidente Dmitriy Medvedev,
tradicionais do poder, a chegada ao poder de fun-
apelando aos participantes das transformações
damentalistas religiosos não é uma ameaça fútil,
democráticas na África de Norte: “Vocês acabaram
sendo as suas consequências negativas óbvias a
de entrar no rio encapelado. Não percam de vista a
todos.
costa oposta”.
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fevereiro 2012 - Diplomática • 43
Espaço Diplomático
Helmut Elfenkämper - Embaixador da Alemanhã
Europa, África, América Latina: parceiros de confiança, novas condições, valores e interesses comuns
Os actuais desenvolvimentos no Norte de África, a crise financeira na Europa e o crescente peso económico e político da América Latina demonstram, acima de tudo, que o mundo de hoje se apresenta em mudança permanente. Estas mudanças exigem, por um lado, esforços laboriosos, mas, por outro, oferecem grandes oportunidades. Isto também vale para as relações da Alemanha com os países de África e da América Latina. A Alemanha pretende tirar partido destas oportunidades e enfrentar estes desafios, através de uma
são apenas características próprias dos Estados
política de parceria, que também se insere sem-
„ocidentais“. Um número crescente de Estados
pre nas relações da Europa com os respectivos
africanos é conduzido por governos conscien-
países.
tes das suas responsabilidades, após eleições
A nossa política, tanto em relação a África como
democráticas e uma mudança de governo pacífi-
à América Latina, assenta sobre novas bases
ca, e controlado por uma sociedade civil activa.
conceptuais, apresentadas pelo nosso Ministro
Também na América Latina, o compromisso com
dos Negócios Estrangeiros ao público alemão
os valores referidos e a aspiração a uma ordem
nos dois últimos anos. O ponto de partida foi, em
mundial segura, orientada de forma multilateral,
ambos os casos, a ideia de valores comuns. Os
é um pilar fundamental da política largamente
acontecimentos da mais recente história africa-
reconhecido.
na provaram, de forma imponente, que o desejo
A Alemanha vê a África como um continente
de democracia, da existência de um Estado de
repleto de oportunidades. No entanto, a taxa de
Direito e do respeito pelos direitos humanos não
crescimento da economia africana - cerca de 6%
44 • Diplomática - fevereiro 2012
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ao ano desde a viragem do milénio - não deve
dar origem a equívocos, dado que nenhum outro continente se encontra perante desafios tão grandes como a África. A Alemanha aspira a uma pareceria em pé de igualdade, através da qual também possa cumprir com a sua responsabilidade em relação ao continente. No seu conceito para África, o governo federal aponta os valores e interesses da sua política africana em áreaschave como a paz e segurança, boa governação, Estado de Direito, democracia e direitos humanos, economia, clima e ambiente, energia e matérias primas, assim como desenvolvimento, educação e investigação. Em todas estas áreas deverão
Os acontecimentos da mais recente
ser fortalecidas a responsabilidade e competên-
história africana provaram, de forma
cia própria para a resolução de problemas dos
imponente, que o desejo de democracia,
Estados e das organizações regionais africanas.
da existência de um Estado de Direito e
O potencial do desenvolvimento africano deverá
do respeito pelos direitos humanos não
tornar-se visível e tangível, nomeadamente atra-
são apenas características próprias dos
vés do aprofundamento do trabalho de formação,
Estados „ocidentais“
com o objectivo de tornar desnecessária a actual cooperação para o desenvolvimento e converte-la numa cooperação económica. A Alemanha prossegue o seu conceito para a América Latina, de forma não menos empenhada e igualmente com uma abordagem de forte incidência na parceria, através do qual pretende reagir à crescente importância económica e política dos Estados do subcontinente, dando forma às relações para o futuro. Um dos pontos principais é o alargamento das relações económicas. A economia alemã está presente na região há mais de um século e goza de uma excelente reputação. A Alemanha é, a seguir à Espanha e aos EUA, o terceiro maior investi-
europeias com o subcontinente. Um símbolo da
dor na América Latina. É importante continuar a
nossa vontade de aprofundar estas relações é a
desenvolver esta história de sucesso.
nova Fundação União Europeia-América Latina e
A Alemanha conta igualmente com os parceiros
Caraíbas, com sede em Hamburgo, cuja criação
latino-americanos para a resolução dos proble-
foi decidida pelo Conselho de Altos Funcionários
mas globais. Do seu novo peso económico e
da UE e dos Estados da América Latina em Janei-
político resulta a responsabilidade de enfrentar
ro de 2011. A Fundação deverá conferir uma nova
em conjunto as dificuldades que a globalização
dinâmica à cooperação entre a UE e os Estados
nos apresenta. A Alemanha pretende, assim,
latino-americanos e intensificar a parceria entre
coordenar-se estreitamente com os parceiros
a Europa e a América Latina a todos os níveis.
latino-americanos e desenvolver iniciativas co-
Deverá, nomeadamente promover processos de
muns relativamente aos desafios globais como a
investigação e apoiar as redes entre as socieda-
protecção do ambiente e do clima, a luta contra
des civis dos dois continentes.
a criminalidade organizada e as drogas ou as
É assim enviado de Hamburgo – historicamente
necessárias reformas da arquitectura financeira
uma porta importante para este subcontinente –
global. O desenvolvimento das nossas relações
um novo e importante sinal para a cooperação
com a América Latina insere-se nas relações
Europa-América Latina.
n
fevereiro 2012 - Diplomática • 45
Espaço Diplomático
Paul Schmit - Embaixador do Luxemburgo
O papel da diplomacia - vector para a paz e desenvolvimento económico e social
Le Premier Ministre luxembourgeois, Jean-Claude
aussi son de approfondissement notamment par
Juncker, devant le Parlement européen, a un jour
la mise en place du marché intérieur et de la mon-
posé la question: « Au fait, quel est le prix d une
naie unique ou l’Euro. Depuis l’entrée en vigueur
heure de paix ? » Il est difficile d’y répondre.
du Traité de Lisbonne, dont l’une des innovations
La diplomatie étant l’art d’éviter les conflits armés
les plus tangibles a été la mise en place du Service
voire d’y mettre fin, les grands projets diplomatiques
européen pour l’action extérieure et l’extension des
du XX siècle auxquels le Luxembourg a participé,
prérogatives du Haut Représentant, les procédures
que ce soit l’ONU, l’OTAN ou la Communauté Eco-
améliorées permettent aux Etats membres de l’UE
nomique européenne (ci-devant CECA) devenue
d’agréer leurs positions nationales, renforçant ainsi
plus tard l’Union Européenne, ont tous pour objectif
leur impact et leur portée. Même si l’Europe traver-
de voir les Etats se rapprocher afin d’éviter la guer-
se des crises, il y a toujours lieu de garder à l’esprit
re. Si, d’après le théoricien prussien Carl von Clau-
quelles seraient, dans un monde globalisé et soumis
sewitz (1780-1831) : « la guerre est le prolongement
à l’instantanéité des informations, les marges de
de la politique par d’autres moyens », la diplomatie
manœuvre et les moyens d’action des uns et des au-
est un vecteur de paix pour le développement à la
tres. Malgré certaines adaptations des dispositions
fois économique et social.
et des mécanismes, un retour en arrière ne peut être
C’est dans cet esprit que le Luxembourg s’est en-
envisagé.
gagé en tant que membre fondateur dans la cons-
Après la Seconde Guerre mondiale, les Etats, qui
truction européenne, qui représente le plus grand
ont créé l’ONU, dont le Grand-Duché de Luxem-
projet de paix dans l’histoire de l’Europe. Cet effort
bourg, ont souhaité développer par la coopération
a mené à la fois en direction de son élargissement
et la diplomatie des stratégies de préparation et de
qui, finalement, est aussi une garantie de paix, mais
maintien de la paix. C’est aussi afin de renforcer
46 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
➤
cette approche que le Luxembourg a présenté sa
candidature pour un siège de membre non-permanent du Conseil de Sécurité en 2012 -2013. C’est aussi cette intention qui motive la coopération luxembourgeoise au développement qui se place résolument au service de l’éradication de la pauvreté, notamment dans les pays les moins avancés. Ses actions se conçoivent dans l’esprit du développement durable compris dans ses aspects sociaux, économiques et environnementaux - avec l’homme,
Depuis l’entrée en vigueur du Traité de
la femme et l’enfant en son centre.
Lisbonne... les procédures améliorées per-
D’un point de vue géographique, la Coopération
mettent aux Etats membres de l’UE d’agréer
luxembourgeoise poursuit, par souci d’efficacité et
leurs positions nationales, renforçant ainsi
d’impact, une politique d’intervention ciblée dans un
leur impact et leur portée.
nombre restreint de pays partenaires. Six des dix pays partenaires de la Coopération luxembourgeoise dont le choix est primordialement orienté par l’indice composite sur le développement humain du PNUD, se situent en Afrique subsaharienne. La coopération avec ces pays se distingue par un sens aigu du partenariat avec les autorités et les collectivités. Cet esprit de partenariat, complété par le souci de l’appropriation des programmes et projets par les bénéficiaires, préside à la mise au point de program-
comprend par ailleurs un important volet d’action
mes pluriannuels de coopération, les PIC (program-
humanitaire qui permet de répondre primordialement
mes indicatifs de coopération). La concentration
sous forme d’aide d’urgence en cas de catastrophes
géographique de la Coopération luxembourgeoise
humanitaires, catastrophes naturelles ou conflits vio-
prend en compte l’indice du développement humain
lents. L’action humanitaire comprend également un
du PNUD ainsi que des considérations relatives à
volet « prévention » des catastrophes humanitaires
l’approche régionale et aux situations de fragilité.
ainsi qu’un volet « transition », entre une catastrophe
En termes d’aide publique au développement (APD),
humanitaire, la reconstruction et la reprise des activi-
la Coopération luxembourgeoise se place depuis l’an
tés de développement.
2000 dans le groupe des cinq pays industrialisés qui
La politique du Luxembourg en matière de coopéra-
consacrent plus de 0,7 % de leur revenu national
tion au développement ou d’action humanitaire se
brut à la coopération au développement.
caractérise par un effort constant et progressif, tant
En 2010, l’aide publique au développement (APD)
en quantité qu’en qualité, au bénéfice des popula-
luxembourgeoise a pour la première fois dépassé
tions les plus démunies. Elle est l’expression d’une
le seuil des 300 millions d’euros, pour s’établir à
solidarité internationale affirmée et confirmée et
304.031.901 euros.
constitue en tant que telle un important vecteur de
Exprimée en pourcentage du revenu national brut
l’action extérieure du gouvernement du Grand-Duché
(RNB), l’APD s’est élevée à 1,046% en 2010, alors
de Luxembourg.
qu’en 2009 elle était de 1,11%.
Le développement, qu’il soit économique ou so-
L’APD est mise en œuvre par les instruments de la
cial, permet de contribuer à davantage de paix et
coopération bilatérale, de la coopération multilatéra-
d’harmonie à travers le monde. La diplomatie luxem-
le, de l’appui aux programmes et de la coopération
bourgeoise est consciente qu’elle est appelée à y
avec les ONG de développement.
contribuer à hauteur des moyens et des réalisations
L’aide publique au développement du Luxembourg
du pays.
n
fevereiro 2012 - Diplomática • 47
Espaço Diplomático
Valeriu Turea - Embaixador da República da Moldávia
A diáspora moldava: ponte entre as duas extremidades latinas da Europa
Para cada Embaixador, a apresentação das car-
resposta unívoca a essa pergunta. Em Moldova, em
tas credenciais é um acontecimento especial. Para
tais situações diz-se: “Cada nuvem tem um forro de
mim, não obstante, a alegria foi dupla, já que o ano
prata”. Desde a perspectiva, concretamente huma-
passado, no marco da cerimónia no Palácio Presi-
na, a parte má do fenómeno da imigração é que
dencial, o Sr. Presidente Aníbal Cavaco Silva achou
não com pouca frequência, a saída de um membro
apropriado falar elogiosamente sobre os moldavos
da família para o estrangeiro levou ao desmorona-
estabelecidos em Portugal…
mento da mesma. Qual triste não seria a realidade,
Foi, indiscutivelmente, um momento agradável e um
a verdade é que na Moldova existem dezenas de
bom-tom para o inicio da actividade. Ulteriormente,
famílias, nas quais as crianças ficaram sob o cuida-
convenci-me de que os mais de 20 mil compatriotas
do dos avós, sobrecarregados pelos anos e pelas
que se encontram em Portugal representam um po-
preocupações diárias, e ainda não se sabe se existe
tencial humano muito importante, que não pode ser
perspectiva de reintegração…
negligenciado na consolidação das relações entre a
Por outro lado, as remessas que os moldavos que
Moldova e Portugal. Ao contrário, constitui um factor
se encontram no exterior enviam para casa ajudam
que, utilizado com inteligência, tem a capacidade de
o país a suportar com mais facilidade as conse-
pôr em valor alguns elementos essenciais.
quências da crise económica global, sem falar do
Mas a pergunta hamletiana, no que respeita aos
apoio concreto que se oferece aos pais, crianças,
imigrantes moldavos, fica categórica na mesma: Ser
irmãos e irmãs. As autoridades do nosso país
ou não ser? Em outras palavras, é o fenómeno da
desenvolveram um amplo programa em apoio ao
migração, um fenómeno positivo ou, ao contrário,
regresso dos moldavos a casa, o qual já dá resulta-
tem conotações negativas – imediatas e duradou-
dos positivos.
ras? Tenho que reconhecer que não posso dar uma
Visto, no entanto, por uma óptica mais global, o
48 • Diplomática - fevereiro 2012
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problema tem que ver, e não no último lugar, tam-
bém com um dos direitos fundamentais do homem – à livre circulação, com todas as complicações que devem superar os cidadãos de um país ou outro. Cada país com o seu específico – na Moldova, por exemplo, a ligação com a terra, a casa e a família, leva um carácter mais emocional, mais patriarcal, daí que também a separação é mais sensível, mais dolorosa. Mas esta é a realidade! Partimos de uma situação que temos que tomar em conta e, neste caso, é mais saudável ver a metade cheia do copo do que lamentar-nos do destino. A vantagem dos estrangeiros estabelecidos em Portugal é a atitude atenta, compreensível e cuidadosa para com eles por parte das autoridades. Portugal não é agressivo com outras etnias e não tem a ambição de assumi-las. Ao contrário, sabe apreciar o valor específico de cada uma delas, tentando
Mais Moldova em Portugal e Mais Portugal na Moldova – este seria, creio, o lema do dia para as duas extremidades latinas da Europa,
destacar o irrepetível. Por sua vez, “os moldavos portugueses” (por pouco não escrevi estrangeiros, mas que tipo de estrangeiros são os que falam o português tão bem como a sua língua materna, enquanto nas instituições de ensino já não é possível distinguir um português nativo e um moldavo “de adopção” afectiva) sabem apreciar o País que os compreendeu e apoiou nos momentos difíceis. Poucos dias atrás, assistia a um maravilhoso serão organizado pelas nossas associações culturais e fiquei muito surpreendido ao ouvir uma das canções moldavas mais belas interpretada… em português! Aprendi que os rapazes têm um repertório completo de canções traduzidas por eles mesmos, que fazem uma raiva real entre o português. Importante é que
letras portuguesas como é a Dra. Ana Paula Labou-
os nossos compatriotas “exportam” também para a
rinho, presidente do Instituto Camões de Lisboa.
Moldova este amor para com a cultura, a língua e a
Também, junto com o Sr. José Manuel Mendes,
espiritualidade portuguesas. 10-15 anos atrás, por
presidente da Associação Portuguesa dos Escri-
exemplo, era uma raridade encontrar um livro de au-
tores, concordamos em identificar possibilidades
tores portugueses em Chisinau, inclusive traduzido.
para editar uma antologia bilingue das páginas mais
Hoje em dia, em todas as nossas grandes livrarias,
belas da literatura para crianças de Portugal e da
o compartimento do livro português é cada vez mais
República da Moldova e, mais tarde, de uma anto-
imponente, enquanto na Universidade de Estado da
logia de poesia moderna pertencente aos poetas da
Moldova os cursos facultativos do português têm
vanguarda de ambos os países.
todas as chances de adquirir o mesmo estatuto que
Mais Moldova em Portugal e Mais Portugal na Mol-
outras línguas estrangeiras com o estudo em pro-
dova – este seria, creio, o lema do dia para as duas
fundidade. Tenho a certeza de que tais perspectivas
extremidades latinas da Europa, para o qual subs-
não levam um futuro muito distante e isso é devido,
crevem como mensageiros convencidos também “os
não no último lugar, a um cavaleiro distinguido das
moldavos portugueses”.
n
fevereiro 2012 - Diplomática • 49
Espaço Diplomático
Edmond Trako – Embaxaidor de República da Albania
que se juntaram à NATO. Deste modo, o continente europeu está a reunir-se pacificamente e os seus países estão a trabalhar em conjunto na luta contra a criminalidade internacional, o tráfico de seres humanos, a imigração clandestina e o branqueamento de capitais. A política económica e comercial da Europa está estreitamente ligada à política de desenvolvimento, e é uma política económica e comercial aberta ao mundo. Mediante a UE, Europa exerce maior influência na cena mundial, quando fala a uma só voz em questões internacionais. A integração económica é o princípio da soberania nacional dos países membros. Este acesso preferencial ao mercado da UE pretende dinamizar o crescimento económico dos países menos desenvolvidos e, ao mesmo tempo, garantir, de uma determinada maneira, a sua soberania nacional.
“Que é soberania para a Europa no contexto económico, político, diplomático e segurança (defesa)”?
Mas a crise financeira, que se iniciou no Verão de 2007, provocou a redução da liquidez no mercado financeiro, tornando o acesso ao crédito mais caro. A confrontar com sucesso esta situação, Europa, através das suas instituições financeiras, protegeu-se
A noção de soberanía engloba a ideia de igualdade
indirectamente, e não se pôs em risco a soberania
entre os Estados, da sua liberdade e a ideia da sua
dos estados membros. Por isso, não se disse em vão,
independência. O actual processo de globalização, ou
em termos económicos, comerciais e monetários,
integração económica de mercados, desloca frontei-
que a União Europeia já atingiu o estatuto de grande
ras, despedaça a força política dos Estados Europeus
potência mundial.
e põe em causa o tradicional princípio da soberania
Acerca da soberania da Europa no contexto diplomá-
nacional. A Europa não pode concentrarse apenas no
tico, vale a pena recordar o facto que um dos objec-
seu próprio desenvolvimento, tem também de partici-
tivos fundamentais do Tratado de Lisboa é reforçar a
par activamente na globalização.
diplomacia europeia no mundo e, entre as medidas
A Europa, essencialmente, é representada pela União
para a sua concretização, destacam-se:
Europeia, que por si só, é um pacto entre nações
- Atribuição de personalidade jurídica à União Euro-
soberanas, decididas a partilhar um destino comum
peia - passa a poder celebrar contratos, ser parte em
e a exercer em conjunto uma parte crescente da sua
convenções internacionais ou membro de organiza-
soberania, que incide sobre os 6 valores europeus
ções internacionais;
primordiais, mais profundamente enraizados nos
- Criação da figura do Alto Representante da União
povos da Europa: a paz, o bemestar físico e económi-
para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segu-
co, a segurança, a democracia participativa, a justiça
rança passa a ser este a conduzi-la no que toca à
e a solidariedade. A soberania para a Europa pode
política externa e de defesa comum.
ser concebida mediante diferentes critérios: políticos,
- Relativamente à Política Europeia de Segurança e
económicos, diplomáticos, segurança, (defesa), etc.
Defesa, o Tratado prevê disposições especiais para
Terminou mais de meio século de Guerra Fria - a
a tomada de decisão e prepara o caminho para uma
Rússia tem uma nova orientação e os antigos países
cooperação reforçada. O Tratado permitirá à UE falar
comunistas juntaram se à NATO e à UE quase em
a uma só voz sobre assuntos internacionais.
simultâneo. Croacia e Albania eram os últimos países
Na área da defesa, cada país europeu,
50 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
➤
independentemente de ser membro da NATO ou
de ter um estatuto de neutralidade, mantém plena soberania. No entanto, os Estados-Membros estão a
A soberania para a Europa pode ser
desenvolver uma cooperação militar em missões de
concebida mediante diferentes critérios:
manutenção de paz. As últimas cinco décadas de in-
políticos, económicos, diplomáticos,
tegração comunitária reforçaram a asserção de que a
segurança, (defesa), etc.
segurança permaneceu como um dos últimos redutos executivos da soberania nacional, ao se observar que, enquanto a segurança “ideológica” e estratégica da Europa foi assegurada por Washington e pela NATO,
ímpetos de violência extremista política, desprovidos
já a segurança física e rotineira dos cidadãos euro-
da fidelidade ideológica e organizacional percep-
peus permaneceu entre os escopos de responsabili-
cionada no passado. Este é um desafio imediato,
dade do Estado individual. Hoje em dia, as principais
ao qual a UE e os seus Estados-membros terão de
ameaças à Segurança Europea são: o Terrorismo, os
responder de forma afirmativa, porque indirectamente
Extremismos políticos e a Criminalidade organizada.
estes acontecimentos punham em risco a soberania
-Entre os actuais players na lista dos factores de risco
do país.
à segurança comum, a proeminência deverá ser con-
- A criminalidade organizada, nos formatos de crimi-
cedida indubitavelmente ao terrorismo de inspiração
nalidade económica e tráficos ilegais de substâncias,
islamista. O islamismo e os seus agentes ideológicos,
ou de seres humanos, são constantes vectores de
financiadores, facilitadores de logística, ou perpetra-
risco para a Europa que, embora não colhendo a
dores de atentados, actuam de forma determinada
atenção mediática do terrorismo ou da violência urba-
para a destruição de toda a ordem política, moral,
na, têm vindo a crescer em número de vítimas e em
económica, religiosa e social que não se enquadre na
progressão territorial.
sua percepção distorcida da fé islâmica. Hoje, o ter-
Seja como for, a verdade é que, a Europa têm ainda
rorismo islamista é um elemento da rotina europeia.
um longo caminho a percorrer, em termos diplomáti-
Muito da original celeridade na integração e coorde-
cos, políticos, económicos e da segurança, antes de
nação europeia em matéria de segurança deveu-se à
poderem falar a uma só voz em questões importan-
imperiosidade de uma resposta comum ao terrorismo
tes, tal como é a soberania do país. A preservação da
islamista. A sucessão de ataques, desde o 11 de
soberania nacional deve ser vista como um eficiente
Setembro, até aos atentados de Madrid e de Londres,
mecanismo capaz de assegurar vantagens competiti-
imprimiram um cunho de urgência à construção de
vas no âmbito internacional, pois garante a diferença
uma arquitectura técnica e política de coordenação e
entre os povos e entre os mercados. Assim, a sobera-
execução do esforço contraterrorista europeu.
nia deve orientar a busca pela realização dos fins do
A sucessão de operações contra-terroristas europeias
Estado (desenvolvimento nacional) e dos fins de toda
para a supressão de canais de radicalização, recru-
e qualquer actividade económica (existência digna
tamento, financiamento e apoio logístico, permitem
do ser humano). Mais do que isso, a pedra angular
concluir que a recente actividade comunitária em
da soberania nacional, designadamente os sistemas
face do terrorismo islamista tem sido marcada pelo
de defesa militar, mantém se nas mãos dos governos
sucesso. Este sucesso da UE e dos seus Estados-
nacionais, associados entre si apenas no quadro de
membros retém também uma assinalável carga
alianças, como a NATO.
moral, pois comprova que é possível empreender
«Virá um dia em que todas as nações do continen-
uma intensa resposta táctica e política ao terrorismo
te, sem perderem a sua qualidade distintiva e a sua
islamista, sem se questionar ou sonegar os princípios
gloriosa individualidade, se fundirão estreitamente
morais que fundamentam a democracia liberal, como
numa unidade superior e constituirão a fraternidade
o respeito pelos Direitos Humanos, ou o primado do
europeia. Virá um dia em que não haverá outros cam-
Direito, ou a soberania em si mesma.
pos de batalha, para além dos mercados abrindose
- A última década permitiu observar a emergência de
às ideias. Virá um dia em que as balas e as bombas
novos fenómenos de violência ideológica, caracteri-
serão substituídas pelos votos». Victor Hugo proferiu
zados pela sua informalidade, desagregação hierár-
estas proféticas palavras em 1849, mas foi preciso
quica ou natureza transnacional. Hoje, em ambos os
mais de um século para que as suas premonições
extremos do espectro ideológico, nascem e crescem
utópicas começassem a tornarse realidade.
n
fevereiro 2012 - Diplomática • 51
Espaço Diplomático
Jaime Duran Hernando – Embaxaidor da República Dominicana
É com grande honra que recebo o seu convite para escrever um artigo na prestigiada revista Diplomática sobre a relação entre Europa, África e América. Juntamente com a Ásia, a Oceânia e a Antártida, estes continentes cobrem mais de 30% da superfície do planeta, sendo o restante 70% coberto de água, de cujo volume apenas 3% é de água doce, constituído por rios, lagos e outras formações hídricas.
no Egito, concentrada ao largo do curso inferior
Os três continentes abrangidos pela análise pro-
do rio Nilo.
posta cobrem 62% da superfície terrestre total e
A pré-história do Egito – no Paleolítico ou Idade
32% da população mundial.
da Pedra – cobre o longo período que vai desde
O desenvolvimento humano foi muito desigual na
há 2,5 milhões de anos até ao ano 1000 A.C.
Europa, África e América. Em África terão apare-
Nesta época foram construídos os primeiros ins-
cido os primeiros seres humanos – o homo erec-
trumentos de caça feitos de madeira, osso e pe-
tus – há cerca de dois milhões de anos. A Europa
dra lascada. Dominaram o uso do fogo, do vento
terá sido povoada milhares de anos mais tarde, e
e da vela, domesticaram animais que liberaram o
a América ainda muito mais tarde. O homo sa-
músculo do Homem e plantas que estimularam a
piens terá aparecido há apenas uns 50 mil anos,
vida sedentária e a produção de mais e melhores
também em África.
alimentos. Inventaram a roda, que levaria à cons-
A primeira civilização histórica que utilizou a es-
trução de carroças, e estradas que permitiriam
crita para o registo dos acontecimentos surgiu na
aldeamentos cada vez mais distantes e que pos-
parte oriental do norte de África, nomeadamente
teriormente dariam origem aos centros urbanos.
52 • Diplomática - fevereiro 2012
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A astronomia, e com ela a medição do tempo
e das terras, recebeu o seu primeiro e grande impulso histórico. A segunda civilização a alcançar feitos similares desenvolveu-se pouco mais tarde na Ásia, nomeadamente na Suméria, Acádia e Babilónia, no território que é hoje o Iraque. A cultura, a ciência, a tecnologia, a arte e a filosofia experimentaram na Grécia Antiga - de 1000 a 146 A.C. - a alta expressão que nos permite considerá-la o berço da civilização ocidental. Durante os últimos anos da sua existência, e República Romana retomou e difundiu os aspetos principais da cultura grega. No entanto, foi o Império Romano do Ocidente que realizou essa tarefa, até à sua queda no ano 475 D.C., desde a Península Itálica até quase toda a Europa, norte de África e boa parte da Ásia. Em meados do século XVI, Portugal, que se tinha declarado o primeiro estado monárquico da Europa no ano de 1139, reconhecida em 1143, iniciou
A Europa foi o grande continente colonizador, África e América os colonizados. Uma diferença fundamental entre colonizadores e colonizados foi o aspeto cultural e o tecnológico, o conhecimento e o uso da pólvora e dos metais, principalmente o ferro, que permitiu aos colonizadores empregar canhões para fazer face às flechas de madeira e osso.
o período dos Descobrimentos portugueses em 1415 com a conquista de Ceuta, e pouco depois o da colonização, começando pela costa ocidental africana chegando até à Índia em 1498, com a chegada de Vasco da Gama a Calcutá, precisamente no ano em que Cristóvão Colombo, no processo de colonização e conquista da América, fundando a cidade de Santo Domingo, chamava por desconhecimento e confusão índios aos au-
da população mundial, incluindo a Índia.
tóctones.
O Império Francês estabeleceu-se em África
Espanha foi o segundo grande descobridor e
(1624) no Senegal, Argélia e Tunísia. No conti-
colonizador da época, sendo o continente ameri-
nente americano, também no Canadá e nas Ca-
cano, como se viria a chamar mais tarde, o objeto
raíbas (por exemplo no Haiti), e estendeu as suas
principal desses eventos. Segundo o Tratado de
colónias até a Ásia e Oceânia.
Tordesilhas de 1494, Portugal adquiria na Amé-
A Europa foi o grande continente colonizador,
rica a sua mais extensa e importante colónia de
África e América os colonizados. Uma diferença
todos os tempos: o Brasil.
fundamental entre colonizadores e colonizados foi
A Espanha manteve-se como o principal império
o aspeto cultural e o tecnológico, o conhecimento
colonial e quase o único no continente, desde fins
e o uso da pólvora e dos metais, principalmente
de 1492 até 1910 quando começou o seu declínio.
o ferro, que permitiu aos colonizadores empregar
As independências dos Estados Unidos (1776) e a
canhões para fazer face às flechas de madeira e
do Haiti (1804) não foram feitas à custa da Espa-
osso.
nha, mas sim da Inglaterra e da França, respeti-
Todas as colónias alcançaram algum grau de
vamente.
independência, liberdade e soberania, mas o peso
O terceiro grande império colonial, mas o primeiro
dos colonizadores não desapareceu por completo.
em extensão e importância, foi o Império Britâni-
Mais ainda, há indícios que nos levam a crer na
co, que começou em 1607 com uma das 13 coló-
existência de um interesse e desejo renovados
nias que se viriam a transformar mais tarde nos
em impor um neocolonialismo, que é reforçado
Estados Unidos da América. Este império chegou
com métodos e atores novos e originais, para
a deter 25% de toda a superfície terrestre e 25%
além dos de sempre.
n
fevereiro 2012 - Diplomática • 53
Memória
Polónia em Exposição Exilados, Políticos e Diplomatas em Tempos Difíceis
Numa parceria entre a Embaixada da Repúbli-
Desde 1940, Portugal esteve também na rota
ca da Polónia e a Câmara Municipal de Cas-
de evacuação de oficiais e soldados, princi-
cais, o Espaço Memória dos Exílios inaugurou
palmente polacos, que não conseguiam sair
no dia 29 de Setembro a exposição Exilados,
directamente da França derrotada para conti-
Políticos e Diplomatas em Tempos Difíceis,
nuar a lutar na Grã-Bretanha».
que retrata a passagem de várias personalida-
O Ministro Jan Stanisław Ciechanowski refe-
des estrangeiras pelo Estoril durante a Segun-
riu no seu discurso que: «Após a inesperada
da Guerra Mundial. Preparada pelo Gabinete
capitulação da França, no Verão de 1940,
dos Assuntos dos Combatentes e Vítimas da
Portugal, um país neutro, tornou-se um dos
Repressão da Polónia, e com a colaboração
pontos importantes no cruzamento das linhas
das Embaixadas da República Francesa e do
de comunicação e dos interesses das partes
Grão-Ducado do Luxemburgo, a exposição dá
em luta, assim como uma porta aberta para
especial atenção aos cidadãos polacos, que
a Europa e América para os cidadãos dos
passaram por Portugal durante esse período.
países da aliança anti-nazi. Assim, Lisboa,
A inauguração contou com as presenças da
Cascais, Estoril e outras localidades portu-
Embaixadora da Polónia em Portugal, Katarzyna
guesas tornaram-se lugares importantíssimos
Skórzyska, do Presidente da Câmara Muni-
na procura do abrigo seguro. Em Portugal,
cipal de Cascais, Carlos Carreiras, Chefe do
um país hospitaleiro, encontraram refúgio os
Gabinete dos Assuntos dos Combatentes e Ví-
polacos que fugiam dos nazis, cujo propósito
timas da Repressão da Polónia, Ministro Jan
era exterminarem a elite da nação polaca.
Stanisław Ciechanowski, do representante do
Maior perigo espreitava os cidadãos polacos,
Ministério da Cultura e do Partimónio Nacional
de nacionalidade judaica ou ainda os polacos
Polaco, Director do Departamento do Patri-
de origem judaica. Muitos posteriormente,
mónio Cultural Jacek Miler, do Embaixador do
após imensas dificuldades na obtenção de
Grão-Ducado do Luxemburgo, Paul Schmit, do
vistos, seguiram viagem para ficar mais longe
Primeiro Conselheiro da Embaixada de Fran-
do perigo na Europa».
ça, Didier Gonzalez e do neto do irmão gémeo
Na exposição fez-se também referência às
de Aristides de Sousa Mendes, António de
relações históricas entre os dois países,
Moncada Sousa Mendes, que interveio ex-
pois, ao longo dos séculos, as relações entre
plicando não apenas o papel desempenhado
a Polónia e Portugal não foram frequentes,
pelo tio-avô, mas também o do seu avô César
sobretudo devido à distância que os separa.
de Sousa Mendes, que durante a guerra exer-
Contudo, sempre se caracterizaram por uma
ceu funções de Embaixador de Portugal em
cordialidade recíproca. Depois da guerra sur-
Varsóvia, manifestando-se, tal como o irmão,
giram vários relatos por parte dos refugiados
contrário às orientações do regime.
polacos, que passaram por Portugal. Muitos
«Vale a pena mencionar» – ressalvou na
dos polacos que partiram daqui para prosse-
inauguração a Embaixadora da Polónia,
guir viagem, já não regressaram à pátria.
Katarzyna Skórzyska – «que, nesse período,
Entre todos os países neutros, durante a Se-
a neutralidade colocou Portugal numa extraor-
gunda Guerra Mundial, precisamente aqui, em
dinária posição geoestratégica. Num cenário
Portugal, os polacos depararam-se, no dia-a-
de guerra europeia, o país assumiu um papel
dia, com provas de amizade e compreensão
de acolhimento para milhares de deslocados,
nos contactos com os portugueses.
na maioria cidadãos polacos, belgas, france-
O Ministro Ciechanowski acrescentou que
ses e holandeses. Sabemos que nos anos de
«ainda não sabemos tudo sobre a matéria dos
1940-1945, Portugal recebeu cerca de sete
refugiados em Portugal durante a Segunda
mil refugiados civis de nacionalidade polaca.
Guerra Mundial. Tal como o trabalho para esta
54 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
fevereiro 2012 - Diplomรกtica โ ข 55
Polónia em Exposição
➤
exposição o demonstrou, existe ainda muita
da Foz e em Lisboa, e o general Józef Haller,
matéria que fica para os historiadores inves-
herói das lutas pela restauração da indepen-
tigarem. Todavia, já hoje podemos afirmar
dência da Polónia, ministro sem pasta, que
que a recepção afável dos representantes
viveu na Ericeira. Na sua viagem de França
das nações dos países ocupados por parte
para o Brasil, passou por Portugal a actriz po-
dos portugueses durante a Segunda Guerra
laca, Irena Eichlerówna. Em Janeiro de 1942,
Mundial foi um importante acto humanitário.
chegou a Lisboa Edward Raczyski, na altura
Numa situação trágica para muitas nações
chefe do Ministério dos Negócios Estrangeiros
europeias, Portugal prestou auxílio sem olhar
polaco. No mesmo ano estiveram em Lisboa o
à raça, à nacionalidade e à confissão religiosa
membro do Conselho Nacional da República
dos refugiados».
da Polónia, Szmul Zygelbojm, assim como o
De facto, durante a Guerra, foram muitas as
bispo da diocese Chełmno, Stanisław Wojciech
personalidades polacas que estiveram em
Okoniewski.
Portugal. Figuras como o estadista e compo-
A exposição destaca também a passagem de
sitor Ignacy Jan Paderewski, que permane-
outras personalidades como S. A. R. a Grã-
ceu no Hotel Palácio do Estoril entre 8 e 27
Duquesa do Luxemburgo Charlotte e o escritor
de Outubro de 1940, a caminho do exílio nos
francês Antoine de Saint-Exupéry. Em 1940,
Estados Unidos da América, dois membros do
estas duas importantes figuras residiram em
Governo da República da Polónia no exílio:
Cascais e no Estoril respectivamente.
ministro Marian Seyda que residiu na Figueira
Entre o diversificado conjunto documental
56 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
1
2
3
1. Carlos Carreiras, Presidente da CM de Cascais; Katarzyna Skórzyska, Embaixadora da Polónia; Francisco Corrêa de Barros, Director do Hotel Palácio Estoril e Jacek Miler, Director do Departamento do Património Cultural do Ministério da Cultura e do Património Polaco 2. Embaixadora Katarzyna Skórzyska com Embaixador do Luxemburgo Paul Schmit e sua Mulher 3. Embaixadora Katarzyna Skórzyska com o Ministro Jan Stanisław Ciechanowski, Chefe do Gabinete dos Assuntos dos Combatentes e Vítimas da Repressão da Polónia
➤
proveniente de arquivos internacionais:
dustriais, banqueiros, comerciantes, actores,
polacos, portugueses, franceses e luxembur-
escritores, músicos, etc., alguns em escala
gueses, bem como de colecções fotográficas
para diferentes destinos, outros desenvolven-
privadas, que faz parte da exposição, são de
do as suas actividades especificamente em
realçar os Boletins de Alojamento de Estran-
Portugal.
geiros registados em hotéis, pensões e casas
A figura de Ignacy Jan Paderewski, compo-
particulares do Estoril, Monte Estoril, Cascais,
sitor e estadista polaco, cujos 150 anos de
Carcavelos e Parede, entre 1930 e 1952, que
nascimento foram comemorados em 2010,
hoje se encontram depositados no Arquivo
foi homenageado no mesmo dia da inaugura-
Histórico Municipal de Cascais (AHMC), e cujo
ção da exposição através do descerramento
preenchimento era obrigatório na época, por
de uma placa no Hotel Palácio: «Estadista,
imposição da PVDE (Polícia de Vigilância e
Chefe do primeiro governo da Polónia sobe-
Defesa do Estado), como forma de controlar
rana, grande pianista e compositor, residiu
as deslocações dos estrangeiros em Portugal.
neste hotel, em Outubro de 1940». Na altura
Sobretudo no Estoril, observou-se a presença
foi também lançado, por iniciativa da Câmara
de um núcleo significativo de estrangeiros que
de Cascais e da Embaixada da Polónia, um
se registaram como funcionários diplomáticos
postal comemorativo, dedicado a este “feiticei-
e consulares – profissões que frequentemen-
ro do teclado”, dando conta do seu percurso
te funcionavam como cobertura de outras
de vida e dos acontecimentos que o trouxeram
funções: políticos, militares, aviadores, in-
a Portugal.
n
fevereiro 2012 - Diplomática • 57
Diplomacia
Apresentação dos novos Embaixadores Entrega das credenciais
1
2
3
4
5
6
1. Heidi Kutz, Embaixadora do Canadá 2. Humaira Hasan, Embaixadora do Paquistão 3. Ove Thorsheim, Embaixador da Noruega 4. Renato Varriale, Embaixador de Itália 5. Vasile Gheorghe Popovic,i Embaixador da Roménia 6. Youssef Louzir, Embaixado da Tunísia
O Presidente da República, Cavaco Silva, recebeu, no Palácio de Belém, com a tradicional solenidade, os novos embaixadores em Portugal Entregaram as suas cartas credenciais os embaixadores do Canadá, Hedi Kutz, da Tunísia, Youssef Louzir, do Paquistão, Humaira Hasan, da Roménia, Vasile Gheorghe Popovici, da Noruega, Obe Thorsheim e da Itália, Renato Varriale. Os novos diplomatas, agora acreditados, irão cumprir a sua missão diplomática de representação dos seus respectivos países em Portugal, nas suas múltiplas áreas.
58 • Diplomática - fevereiro 2012
■
´Africa + Como bem afirmou a Ministra da Economia Francesa e recente Presidente do FMI, Christine Lagarde, «África é a nova economia emergente». No novo panorama político, económico e diplomático África pode – e deve – tornar-se numa nova força no xadrez internacional. A revista DIPLOMÁTICA, sempre atenta às mudanças, vectores e conjunturas mundiais – decidiu apoiar esta investida criando um novo dossier: África+. O Mundo precisa de mais África e África está pronta a dar mais ao Mundo. No presente número, concentramo-nos em três países: Cabo Verde, Moçambique e Angola. A escolha, se bem que pautada pelos acontecimentos políticos dos últimos meses, não foi de todo inocente. Quisémos dar destaque aos países desse Continente mágico que estão ainda ligados ao nosso país: pela língua, pelas tradições, pela memória.
➤
fevereiro 2012 - Diplomática • 59
Entrevista
Jorge Carlos Fonseca
por António Alte Pinho*, fotos Inês Ramos
O recém-eleito Presidente da República de Cabo Verde «CPLP deve caminhar para uma comunidade de povos» Em entrevista exclusiva à Diplomática, o Presidente da República de Cabo Verde aborda as grandes questões nacionais e fala-nos do seu percurso de vida enquanto cidadão e militante de causas
O discreto prédio de classe média,
civil, de forma que, conhecendo
ção que passou pela militância no
na Achada de Santo António (cida-
os problemas – e no âmbito dos
PAIGC até 1979, e que se mate-
de da Praia), não denuncia que ali
poderes que tem -, possa ajudar
rializou, após a independência em
reside o Presidente da República.
a resolvê-los. Se não conhecer os
1975, numa pequena contribuição
Apenas o Mercedes, de modelo já
problemas dos jovens, como eles
como director-geral da Emigração
antigo e com matrícula do Estado,
vêem o País, se não conhecer as
e Serviços Consulares e, posterior-
poderá dar luz sobre a existência de
preocupações dos empresários, os
mente, secretário-geral do Ministério
ilustre locatário.
problemas do Ensino, as dificulda-
dos Negócios Estrangeiros. E, de-
Poucos dias depois da tomada de
des dos trabalhadores, se não ouvir
pois de 79, foi, em rigor, um trabalho
posse, que ocorreu a 9 de Setem-
os sindicatos, se não auscultar os
subversivo. Trabalhei com vários
bro, é ele que nos abre a porta de
empresários, não pode ter a base e
grupos contra o regime de partido
casa, com um sorriso rasgado e
o fundamento para que, em diálogo
único, estive ligado a uma coisa
trajando informalmente. Na sala
com o Governo e os poderes pú-
chamada GRIS – que teve existên-
familiar onde impera o bom gosto
blicos, possa dar uma contribuição
cia efémera -, integrei os Círculos
e o conforto, não há, porém, nada
para resolver os problemas. Sejam
pela Democracia e, quando era
de ostensivo, nenhum sinal de luxo
eles da Economia, dos impostos, da
assistente da Faculdade de Direito
dispensável. A informalidade é
juventude, do ensino, da segurança,
de Lisboa, trabalhei com jovens es-
circunstância natural deste homem
da Justiça… O Presidente da Repú-
tudantes cabo-verdianos que tinham
de 60 anos, que revela uma surpre-
blica, tem de estar ao pé dos inte-
estado, também, neste processo de
endente juventude. Na intimidade de
ressados, conhecer os problemas,
contestação ao partido único: o Eu-
sua casa, Jorge Carlos Fonseca não
os anseios, fazer o diagnóstico e
rico Monteiro, o José Manuel Pinto
destoa da imagem de simpatia e
ter opinião que seja uma mais-valia
Monteiro, o Mário Silva, o Arnaldo
simplicidade que passou na cam-
para a governação.
Silva – que é hoje o bastonário dos
panha. É um produto genuíno, não
O senhor Presidente tem o raro
advogados -, o ex Procurador-Geral,
é nenhuma invenção do marketing
privilégio de ter estado ligado aos
Henrique Monteiro, o Gustavo Araú-
político. E encara este desafio com
dois grandes desígnios da nação
jo – que está em Portugal. E, portan-
a mesma determinação e voluntaris-
cabo-verdiana, nomeadamente,
to, era um grupo que eu dirigia mas
mo com que se envolveu noutros: a
a luta contra o colonialismo e
que tinha ligação com Cabo Verde,
luta contra o colonialismo, o com-
pela independência, e a luta pela
sobretudo na Praia e no Mindelo. Tí-
bate pela liberdade e democracia, a
liberdade e a democracia. Tomou
nhamos algumas pontes com figuras
sua vida académica e o seu percur-
posse numa altura em que o gran-
como Manuel Faustino.
so de intelectual, poeta e passageiro
de debate se coloca em torno das
E, na altura, criamos também a
de utopias…
questões do desenvolvimento e
Liga Cabo-verdiana dos Direitos
O seu slogan eleitoral, “Um Presi-
do progresso social. E isso é mui-
do Homem, que era uma estrutura
dente junto das pessoas, de que
to relevante, na medida em que
composta por personalidades, como
forma é que o pensa materializar?
pode, também, fazer a ponte entre
o advogado Caldeira Marques, que
A minha ideia é, para que valha a
estes três momentos históricos.
hoje também está em Portugal, mas
pena ser Presidente da República
Creio que é uma oportunidade boa.
esteve aqui como juiz do Supremo;
– mesmo no nosso sistema -, que o
Estive ligado à luta pela indepen-
o José Tomás Veiga; o Eugénio
PR seja uma pessoa que ouça os ci-
dência, que terá sido muito modesta
Inocêncio; o Daniel Lobo; o Gustavo
dadãos, que conheça os problemas,
– era um jovem de 17 anos -, mas
Araújo… Entretanto, fui para Macau,
ausculte as iniciativas da sociedade
de qualquer modo uma contribui-
como professor universitário e
60 • Diplomática - fevereiro 2012
´ Africa +
➤
A luta pela libertação e independência, a batalha pelo Estado de Direito democrático - JCF foi sempre protagonista activo dos grandes desígnios cabo-verdianos
“A União Europeia é um espaço chave da nossa política externa. O impacto da crise financeira internacional complica um pouco a cooperação e os investimentos, e daí nós devermos diversificar as nossas relações com países emergentes como a Índia, o Brasil, Angola, China”
´ Africa +
fevereiro 2012 - Diplomática • 61
Jorge Carlos Fonseca
director da Faculdade de Direito e,
um salto. Cabo Verde fez coisas
primeira vez em 10 anos não há
pouco depois, dá-se aqui a abertura
no período pós-independência,
casos à volta… há uma vitória
política. Vim para cá, estive na ori-
promoveu também muitas coisas
clara.
gem do MpD, pertenci à sua primei-
bonitas no período pós-democracia,
É muito bom para mim o facto de
ra comissão política, que na altura
mas o País tem de ter um clique.
ter tido uma vitória clara. O facto de,
se chamava Comissão Executiva
Naturalmente que isso passa pelos
também, em relação à minha can-
Nacional, ganhamos as eleições, es-
Governos, mas também passa pela
didatura não haver nenhuma sus-
tive no Governo como ministro dos
sociedade, pelos cabo-verdianos
peição de favorecimento do Estado.
Negócios Estrangeiros. Aconteceu
em geral, e também cabe um pouco
E o facto de ter sido uma vitória de
tudo muito rápido, essa ligação à
ao Presidente da República. E, por
âmbito nacional. Porque, à excep-
independência e à democracia.
exemplo, se nos compararmos com
ção do Fogo, ganhei nas outras oito
Mas, voltando à sua pergunta,
as Maurícias ou com as Seychelles,
ilhas, ganhei na Europa e Resto
no que respeita às questões
mesmo depois da democracia, nós
do Mundo… E, mesmo no Fogo, o
do desenvolvimento, eu venho
temos crescido muito menos. E, em
resultado satisfez-me muito. Mas te-
trabalhando nesse sentido desde
vez de nos aproximarmos, estamos
nho, se me permite, outra vantagem:
a independência. Mas percebo
a afastar-nos, mesmo se compara-
o facto de ser independente dá-me
a sua ideia quanto ao desígnio
dos com outros países emergentes.
mais à-vontade para pôr as pessoas
do país arrancar definitivamente
Portanto, os dois grandes desafios
a dialogar, e também por ser uma
nesse sentido. Deixar de fazer só
neste momento, em Cabo Verde,
pessoa amiga da Constituição, não
coisas bonitas e fazer com que o
são consolidar a democracia, afir-
me coloca problemas em trabalhar
País dê o salto qualitativo…
má-la, alargá-la, ser uma democra-
para que se avance com o Tribunal
Às vezes, “saltar de pára-quedas”
cia mais moderna e mais avançada,
Constitucional e o Provedor de Justi-
num país tem as suas vantagens,
que comporta mais desenvolvimen-
ça, que acho serem fundamentais
porque se fica com uma ideia mais
to, mais bem-estar para a maioria
para a qualidade da democracia.
objectiva. E a ideia que tenho, em
dos cabo-verdianos.
A música cabo-verdiana é um
termos de desenvolvimento, é que
E o Presidente da República pode
dos maiores patrimónios do país,
há uma espécie de cortina de fumo
ser o catalisador?
bem como a cultura de uma forma
que não corresponde a uma situa-
Pode ser referência, pode ser cata-
geral. Vê-se como uma espécie de
ção real.
lisador, pode ser potenciador. Sem
seu embaixador?
Nós, de facto, aparecemos muito
sair da esfera das suas funções,
Sim. E tentarei ser uma espécie de
bem posicionados em listas, rankin-
sem querer ser Governo, sem pre-
agente dos agentes culturais. Antes
gs, mesmo em termos de liberdade
tender ser oposição. Mas o Presi-
tinha as minhas dúvidas em relação
de imprensa, taxas de crescimen-
dente tem de dialogar com o Gover-
a essa ideia da cultura enquanto in-
to, taxas de mortalidade infantil,
no, mas também com a oposição,
dústria. E, enquanto poeta, não me
de equidade do género…Mas não
porque está em condições de lidar
estava a ver a exportar poesia, mas
devemos ficar muito satisfeitos por
com uns e com outros, mas sobre-
cheguei à conclusão que realmente
sermos os primeiros confrontados
tudo dialogar com a sociedade, com
– e concretamente com a música –
com países que estão mal, quan-
o território que não está nos parti-
a economia do país pode ganhar,
do comparados com outros países
dos e que não está no Estado. E
pode desenvolver-se, pode expan-
➤
africanos. Isso é pouco, acho que
sempre que for necessário fazer as
dir-se tendo como objecto o produto
Cabo Verde deve ter condições
pontes, como vai ser preciso no que
musical. Nós somos um país de mú-
para ser mais ambicioso. E, em
respeita ao Tribunal Constitucional
sica… O meu irmão, Mário Fonseca,
vez de nos compararmos a países
e ao Provedor de Justiça, à Comis-
disse num livro que “o meu país é
africanos que têm muitos proble-
são Nacional de Eleições… pugnar
uma música”. E o Presidente, em
mas, devemos comparar-nos com
por eleições justas e transparentes.
sintonia com os objectivos da Eco-
países desenvolvidos. Creio que o
Para isso tudo o Presidente tem que
nomia, pode envolver-se nisso, não
grande desígnio é este. E, para isso,
fazer um esforço de aproximação da
sendo um agente directo mas sendo
gostaria de, quando terminar o meu
oposição e do Governo.
um agente dos agentes culturais.
mandato como Presidente – seja um
O presidente Jorge Carlos Fon-
Promover o mérito, sempre que sair
ou dois -, ter a consciência de haver
seca está numa situação particu-
levar uma embaixada com gente da
contribuído para que o País desse
larmente favorável, porque pela
cultura, tentar abrir portas,
62 • Diplomática - fevereiro 2012
´ Africa +
➤
acarinhar internamente, tentar
com as massas. Isso pegou e ficou,
permite-me ter um contacto muito
junto do Governo facilitar a promo-
mesmo com a mudança nos anos
grande com jovens. E acho que me
ção da cultura através de produção
90. O que leva a que os intelectuais
sinto jovem, porque também ando
legislativa. Tentar usar aquilo que
sejam quase clandestinos. Os que
sempre com gente muito jovem e
parece ser um grande trunfo do
são escritores escrevem, os que não
isso dá-me a facilidade de dialogar
➤
país.
são acho que têm medo ou receio
e compreender. Dialogar não em
Mas creio que não é só a música,
de se afirmar como tal e assumirem
termos partidários - PAICV e MpD -,
embora esta seja mais visível. Lem-
a condição de intelectuais.
mas de discutir a política, a cultura,
bro-me de há uns anos ir à Turquia,
O presidente Jorge Carlos Fonse-
a literatura, a ciência, a universi-
a uma conferência de Direito Penal,
ca, quando se levanta de manhã e
dade. Isso dá-me, também, uma
em que estava gente académica de
olha para o espelho, o que sente
abertura à sociedade que ultrapassa
vários países, e haver lá um pro-
ao ver reproduzido o poeta Jorge
um pouco os partidos políticos.
fessor turco que não conhecia bem
Carlos Fonseca?
Ainda bem que se referiu aos
Cabo Verde, mas tinha ouvido falar
Não tenho esse problema, porque
partidos, porque era para aí que
em Cesária Évora. E perguntava-me
ainda não interiorizei que sou Presi-
eu ia, para os “anos de fogo”.
o que era Cabo Verde. E eu: olhe, é
dente [risos]. Não tive tempo ainda.
Refiro-me aos tempos do partido
um país pequeno, com umas ilhas,
A minha envolvência na política foi
único e aos traumas daí decorren-
tem uma grande música, tem praias
sempre por causas, por impulsos.
tes. Em função do seu percurso,
bonitas e tem uma literatura razoável
Sempre fui uma pessoa libertária, a
pensa que pode funcionar como
[risos]. Creio que de uma maneira
liberdade teve sempre um grande
o grande agregador da unidade
talvez redutora, o país vendável é
valor, desde miúdo, desde os 17
nacional, da reconciliação?
este.
anos. E isso explica, por exemplo,
Creio que sim, para já do ponto de
Como vê o papel dos intelectuais
o meu traço de independência, mas
vista pragmático. Há coisas que têm
na sociedade?
também estive ligado a grupos mais
de ser resolvidas e rapidamente,
Até este momento, os intelectuais
radicais de esquerda e, também, do
importa que haja consenso entre os
cabo-verdianos têm tido um pa-
ponto de vista estético, estive ligado
partidos. É um péssimo sinal para
pel muito menos relevante do que
ao surrealismo, ao cinema da nou-
Cabo Verde termos, desde 99, con-
poderiam ter. Às vezes, enquanto
velle vague, sempre estive nesses
templado um Tribunal Constitucional
cronista, dizia que parece terem os
grupos. Fui expulso da Universidade
e não o termos, ou mesmo o Prove-
cabo-verdianos vergonha de serem
de Coimbra por razões políticas,
dor de Justiça. E não existem porque
intelectuais, porque pouco intervêm
com 22 anos, e também a crítica
não há consenso entre os partidos.
do ponto de vista cívico, do ponto
ao partido único, foi sempre em
E o Presidente tem obrigação de
de vista cultural e, até, do ponto de
nome da liberdade. O meu percurso
fazer a ponte. Mas, também, o facto
vista político. Há uma espécie de
político, que é sinuoso, tem sem-
de ser um Presidente que tem expe-
vergonha em ser intelectual. Porque
pre presente a ideia da liberdade
riência de partidos políticos, e uma
em Cabo Verde entende-se que ser
e da justiça social – foram sempre
experiência fora deles com uma mi-
intelectual é uma espécie de defeito.
valores que atravessaram a minha
litância cívica e cultural, pode ajudar
E tenho sido um pouco vítima disso,
vida da adolescência até hoje. E
a temperar as paixões partidárias.
porquanto muitas vezes… e recordo
tenho ido atrás disso, não tenho ido
Porque a visão do mundo cabo-ver-
que quando concorri em 2001, havia
atrás de projectos, de ser Primeiro-
diano é uma coisa dividida a meio,
pessoas que diziam “você é muito
ministro… ou de ter sido ministro, ou
o PAICV ou o MpD. Mas tem a ver
intelectual”, como se isso fosse um
agora de ser Presidente da Repúbli-
com a identificação colectiva, creio
defeito, uma falha. Mas percebe-se
ca. Nunca nada esteve programado,
que o país quase todo ou vai para o
que isso ocorra em Cabo Verde, e
apesar de ter concorrido em 2001.
PAICV, que é o país da independên-
tem a ver um pouco com o período
O seu percurso académico dá-lhe
cia, de Cabral, da mãe África… ou
pós-independência. Na altura havia
outra sensibilidade e abertura
vai para o país do MpD, que significa
uma série de preconceitos, nome-
para perceber as novas gerações,
a libertação do partido único, a de-
adamente em relação aos intelec-
como pensam…
mocracia. E estes partidos dividem o
tuais, às pessoas que pensam.
Sim, sim, E acho que felizmente.
país quase a meio. Isso quase que
Havia todo um discurso populista
Mas ainda não na medida do dese-
não é ideológico, aparece quase
exaltando que o importante era estar
jável. Mas a actividade universitária
como um hábito cultural.
´ Africa +
➤
fevereiro 2012 - Diplomática • 63
Jorge Carlos Fonseca
“Os dois grandes desafios neste momento, em Cabo Verde, são consolidar a democracia, afirmá-la, alargá-la, ser uma democracia mais moderna e mais avançada, que comporta mais desenvolvimento, mais bem-estar para a maioria dos cabo-verdianos”
Estou convencido que a arruma-
se calhar, teria de haver alguém
era impensável acontecer: o partido
ção dos partidos em Cabo Verde
que ajudasse a esclarecer este
indicar um candidato e aparecer
não é – em todo o rigor – ideológica,
período, que sentasse as pessoas
outro. É um factor político novo que
nem é saudável. O PAICV diz que
à mesa. Até para as jovens gera-
demonstra algum avanço, creio eu.
é do socialismo democrático, mas
ções perceberem porque é que
Mas também os apoios eleitorais, a
conheço gente do partido que não
aquilo aconteceu…
votação que tive, provam que as coi-
tem nada a ver com essa ideia do
É preciso conhecer a História de
sas podem estar a mudar um pouco.
➤
socialismo, mas está lá porque o
uma forma desapaixonada, de forma
Uma coisa é clara, o presidente
PAICV representa uma construção
objectiva. Isto é, que as pessoas
Jorge Carlos Fonseca foi eleito
simbólica que os leva ali por razões
percebam o que foi aquilo a que se
“indo beber a todas as fontes”…
familiares, por tradição… E há gente
chamou o fraccionismo e o trotskis-
Tive o apoio do MpD, que foi muito
que está no MpD que pode não ter
mo, em 79… Houve repressões,
importante, e os apoios que tive
a ver nada com a IDC (Internacional
houve torturas, houve processos
deram muito trabalho para os conse-
dos Democratas do Centro), que
esquisitíssimos. Eu próprio estive
guir, não foi de bandeja. Eu candida-
pode até ser mais de esquerda do
21 dias detido na Brava e, até hoje,
tei-me, de forma clara, ainda antes
que alguma gente que está no PAI-
não sei porque o estive. Mas creio
de ter o apoio institucional do MpD,
CV. A arrumação não é ideológica,
que a minha eleição e, de certo
e anunciei a candidatura antes das
apanha de tudo.
modo, o fenómeno Aristides Lima no
legislativas. Mas creio que, também
O período de partido único acar-
PAICV, representam talvez alguns
tive apoios muito diversos: de gente
retou as suas dificuldades para o
sinais encorajadores de que as
da UCID, de pessoas ligadas ao
povo de Cabo Verde, mas também
coisas estão a mudar um pouco. O
PAICV – não digo dirigentes, mas
parece ser hiper dramatizado. E,
que se passou no PAICV, até aqui
militantes e simpatizantes deste
64 • Diplomática - fevereiro 2012
´ Africa +
➤
➤
partido –, de muita gente sem par-
tivemos ganhos. E só não tivemos
ideia fantástica, uma ideia bonita, já
tido, de quadros, de jovens. Creio
mais porque não houve prossecução
se fez alguma coisa mas creio que
que os meus votos foram buscados
da política externa por aquela via, por
tem de se fazer muito mais. Às ve-
um pouco para além do MpD.
razões que tiveram a ver com a crise
zes dá a impressão que mesmo os
Do seu ponto de vista, qual deve
no seio do MpD. Agora, devemos ter
Estados que estão na CPLP, estão
ser a atitude de Cabo Verde nas
uma política africana aberta, frontal,
lá mas não representa para esses
suas relações com África, com a
e devemos estar numa relação com
Estados algo de muito relevante na
Europa e, de igual modo, com a
os países africanos, com os valores
constelação das suas relações ex-
CPLP?
históricos, políticos e culturais que
ternas. Há ali uma ideia meio difusa,
Claro que o Governo decide e exe-
nós temos. Os valores da democra-
não se sabe se é uma comunidade
cuta a política externa do país, como
cia, do Estado de Direito, do Esta-
da língua, se é Cultura, se é História
também decide a política interna,
do constitucional e, portanto, nas
ou se são outras coisas. E, portanto,
Mas, em matéria de política externa,
relações com África, não devemos
é preciso clarificar. E há países que
enquanto mais alto representante
ter preconceitos. Somos africanos,
lá estão, que não se sabe se estão
do Estado, o Presidente tem que ter
mas com as nossas características
ou não estão. E, sobretudo, se per-
alguns poderes que traduzam essa
e os nossos valores. Ou seja, não
guntar aos cidadãos portugueses,
referência constitucional. Portanto,
devemos esquecer que somos um
aos brasileiros, aos angolanos, aos
tem que ter uma intervenção no
país que defende a democracia, os
cabo-verdianos… se eles conhecem
plano das comunidades emigradas,
direitos humanos e o Estado de Di-
a CPLP, se sabem o que é e se
deve representar a unidade nacional
reito – e devemos trabalhar para que
sentem membros daquilo a que se
das ilhas com a diáspora, mas tam-
os países africanos sejam democra-
chama uma comunidade, creio que
bém tem competências concretas
cias, respeitem os direitos humanos,
a maioria não se sente.
na nomeação de embaixadores e,
respeitem os seus cidadãos e levem
E não se sente porquê? Porque
do ponto de vista da política exter-
a eles o desenvolvimento. Não pode
nós só nos sentimos membros de
na, deve ter um papel relevante.
haver preconceitos… “que temos de
qualquer coisa com que temos al-
Desse ponto de vista – e nesse âm-
respeitar as suas opções, que não se
guma afinidade, quando estamos
bito -, sempre defendi – aliás, desde
pode falar dos golpes de Estado, dos
com à-vontade, e isso tem a ver
o tempo em que fui ministro dos
massacres e dos regimes militares”.
com a circulação das pessoas. Eu
Negócios Estrangeiros - que Cabo
Devemos defender uma África de
não vejo uma comunidade supra-
Verde deve ter uma política externa
futuro, moderna, avançada, com a
nacional sem a livre circulação.
que traduza, de algum modo, a sua
marca da democracia e que respeite
Agora, entendo que seja compli-
forma de estar no mundo, que tem
os direitos humanos. Não podemos
cado. Era eu ainda ministro dos
a ver com o processo histórico e
estar ali com um pé dentro e outro
Negócios Estrangeiros, criamos o
cultural da sua formação.
fora.
estatuto de cidadão lusófono, po-
Nós somos um país moldado por per-
Mas a União Europeia também é um
liticamente foi um sinal, mas foi
muta de valores, por uma miscige-
espaço chave da nossa política ex-
um sinal político ingénuo porque
nação cultural, e isso talvez se deva
terna. Os principais parceiros, neste
ninguém pegou nisso.
traduzir até nas nossas relações com
momento, da nossa Economia, são
Os países como Portugal, o Brasil e
os outros Estados. Isto é, devemos
as economias europeias. Neste mo-
Angola têm de se empenhar mais,
ter relações externas abertas, plurais
mento elas estão sob o impacto da
e entendo devermos caminhar para
com todos os mundos. Com a África,
crise financeira internacional, o que
uma comunidade de povos. Porque
com a Europa e com a América.
complica um pouco a cooperação e
há coisas um pouco ridículas, por
Porque, no fundo, somos um pouco
os investimentos, e daí nós dever-
exemplo, quando vamos a Portugal
da África, da Europa e da América. É
mos diversificar as nossas relações
temos um balcão de entrada de cida-
claro que o pragmatismo ter que ser
com países emergentes como a
dãos da CPLP, mas tenho visto pes-
fundamental na política externa, que
Índia, o Brasil, Angola, China… mas
soas a sair daquela fila e vão para a
tem de ser mais ousada e mais atre-
também países como as Seicheles,
geral porque é mais fácil entrar. Até
vida. Quando fomos por aí, sempre
Maurícias. Temos que ousar diver-
dá ideia que, ser da CPLP, ao con-
tivemos ganhos. Por exemplo, quan-
sificar as relações. Bom, e temos as
trário de facilitar, só complica.
do em 92 estivemos no Conselho
relações com os Estados Unidos.
de Segurança das Nações Unidas,
Quanto à CPLP, creio que é uma
´ Africa +
n
*com José Leite (Lisboa) Exclusivo Liberal | Diplomática
fevereiro 2012 - Diplomática • 65
Angola e Portugal,
por José Damásio dos Santos
Por um futuro em comum
1. e 2. Kilamba Kiaxi 3. Reconstrução do Huambo
Respondendo a um desafio e no seguimento da
cia, Angola é hoje em dia uma das economias
criação de um grupo que hoje grassa nas nos-
mais pujantes do mundo, enquanto país emer-
sas redes sociais com este mesmo titulo, resolvi
gente e enquanto potência económica, política e
na forma escrita e editada dar um contributo
diplomática no Continente Africano e no mundo.
para este objectivo e ganhar coragem e começar
Quando falamos de Angola , falamos de um país
a escrever umas linhas sobre a minha experiên-
cuja história permite chamar-lhe país irmão e é
cia muito recente e intensa em Angola
assim que a maioria dos angolanos nos sentem
Ao contrário da muita desinformação ou da
a nós, “portugueses”. Claro que há excepções
informação corrente nos diários e semanários
em ambos os lados, mas é mais o que nos apro-
daquele país , que se pensa que é controlada ou
xima do que aquilo que nos faz divergir.
subvertida , situação que ainda hoje se conti-
Olhar para uma Luanda de há 4 anos e olhar
nua a passar na nossa tão avançada democra-
para a mesma cidade agora é um grande
66 • Diplomática - fevereiro 2012
´ Africa +
➤
➤
exercício de memória que eu faço. Encontrei
seu caminho.
uma cidade menos confusa, mas ainda assim
Aqui tudo está recessivo, estamos reféns de
confusa. Não serão assim todas as capitais do
erros de muitas decádas, de maus e bons polí-
mundo?! Com a divergência e o tamanho dos
ticos, de maus e bons empresários, da alta e da
seus problemas, com a sua altura, tamanho e
baixa produtividade dos empregados e principal-
dimensão.
mente da passividade e da pouca pro-actividade
Encontrei uma Luanda, num país que, depois de
de nós, portugueses, pelo interesse na política,
sensivelmente uma década, sai da instabilidade
nos temas da governação, o que deixou, durante
de uma guerra, de um sofrimento entre irmãos
muitos anos e por culpa de todos , chegar ao
e famílias. “Uma Criança”. A olhos vistos, esta
estado em que estamos .
Luanda e este país querem crescer, querem
Já é suficiente mau dedicar um parágrafo a isto.
aprender , querem fazer melhor.
E o Futuro?!
Desde as cidades satélites , Kilamba Kiaxi , Zango
Os nossos governantes, os nossos empresários,
, Camama , Sambizanga , reconstrução do Huam-
os nossos trabalhadores (aqueles que neste
bo, aeroportos a serem revitalizados e postos em
momento estão a passar por dificuldades e nem
funcionamento, milhares de quilómetros de estra-
emprego têm), têm que olhar para esta Angola
das executadas e em execução em todo o país,
, numa perspectiva de um Novo começo para o
milhares de quilómetros de rede de caminhos de
nosso país em colaboração e sinergia com os
ferro em restabelecimento e já a funcionar.
Angolanos.
Desde o recente lançamento da empreitada do
Não há espaço nesta Angola para “Os Novos
mega porto no Dande, que se ambiciona venha
Colonos”. Os que pensarem assim, nem tentem
a ser um dos maiores de África, aos constantes
entrar neste mercado. Estarão condenados ao
esforços de formação, apoio às camadas mais
insucesso.
desprotegidas, passando pelo investimento nes-
Temos que falar de igual para igual, com al-
te país das maiores corporações do mundo das
guma humildade que nós portugueses temos
grandes potências mundiais, tudo se vê crescer,
bastante, mas que até agora pouco aplicámos
tudo são oportunidades (não para “oportunis-
nas relações politicas com este país; temos que
tas”, que também os há) de poder singrar como
negociar e “angolanizar” as nossas empresas,
país e para nós portugueses, na nossa relação
procurar parcerias estáveis e consequentes de
de centenas de anos com este povo, podermos
construção de uma empresa e de um país e não
encontrar mais um motivo , um local , um povo
o negócio do “golpe de sorte”.
que nos quer ajudar e quer nos deixar crescer ,
A educação e crescimento desta “Criança” faz-
trabalhar, viver, casar e ter filhos nesse país, a
se acompanhando a sua “infância”, investindo
nossa aproximação nunca fez tanto sentido...
de raiz e colocando sementes, acompanhando a
São já muitos os casos de sucesso neste país,
sua “juventude”, fazendo crescer esses mesmos
desde algumas das nossas maiores empresas,
investimento e assim também o país. E che-
ao objectivo , que já foi um dia constante do
gando à sua idade “adulta” com esses mesmos
nosso país dos “self-made man”, dos nossos pe-
investimentos transformados em grupos empre-
quenos e médios empresários que conseguem
sariais de sucesso, sólidos , sustentáveis , que
construir riqueza em Angola, fazendo-o com o
cresceram e ajudaram a crescer esse país, que
seu esforço e de muitos outros Portugueses,
tanto nos quer, nos mantém as portas abertas
contribuindo diariamente para a construção des-
como povo irmão que somos.
ta Nova Angola que quer aprender com o que de
Deixemo-nos do fútil e passemos ao útil, do
bom e melhor foi feito noutros países e evoluir
abstracto ao concreto, do irrealizável ao práctico,
e melhorar nos erros que foram cometidos por
para todos nós Portugueses e Angolanos, pois
esses outros , pois este país é dos Angolanos e
só assim poderemos construir Um Futuro em
são eles que devem fazer sempre a escolha do
Comum.
´ Africa +
n
fevereiro 2012 - Diplomática • 67
Viagens de Estado
Pedro Passos Coelho em Angola
O primeiro-ministro português es-
Chikoti, visitou também a Assem-
teve em Angola, numa breve visita
bleia Nacional, onde foi recebido
oficial de 48 horas. Visita a que
por Paulo Kassoma. O último ponto
atribuiu uma grande importância,
da agenda do primeiro-ministro por-
“por ser uma oportunidade única
tuguês foi um encontro com o líder
para prepara as bases de uma re-
da UNITA, Isaías Samakuva.
lação de excelência e mais proxi-
Passos Coelho fez questão de
midade entre os cidadãos dos dois
frisar que Portugal tem uma rela-
países, as empresas e também os
ção muito próxima com o estado
Estados”.
angolano, que tem permanecido
Para além do encontro com o pre-
como prioridade da política externa
sidente José Eduardo dos Santos,
portuguesa. No âmbito da visita, o
que não conhecia (ainda que o pre-
primeiro-ministro português par-
sidente angolano já o tivesse convi-
ticipou num encontro empresarial
dado a visitar Angola) e com quem
Portugal-Angola, no Centro Cultural
teve uma audiência de 40 minutos,
Português. No final, Passos Coelho
seguida de almoço, Passos Coe-
assinalou que, neste momento, em
lho, que foi recebido, à chegada ao
que Portugal vive esta grave crise
aeroporto de Luanda, pelo ministro
económica, Angola não só exerce
das Relações Exteriores, Georges
um poder de atracção à continuação
68 • Diplomática - fevereiro 2012
´ Africa +
➤
➤
dos investimentos portugueses,
em Portugal, “não há ainda empre-
mas transformou-se, muito recente-
sas angolanas a participar”.
mente, numa oportunidade para a
Portugal e Angola têm relações
diversificação da aplicação de ca-
muito próximas, até porque a comu-
pitais angolanos e, sobretudo, uma
nidade angolana é muito relevante
porta de saída para a realização
em Portugal, disse Passos Coelho,
profissional e pessoal de um cada
realçando que Angola tem vindo a
vez maior número de portugueses.
crescer, nos últimos anos, a um rit-
Daí que o primeiro-ministro tenha
mo elevado. “Portugal aposta cada
tentado, nesta viagem, sensibili-
vez mais na internacionalização da
zar as autoridades angolanas para
sua economia e na captação de in-
reforçar a capitalização de empre-
vestimento externo. Estes factores
sas públicas portuguesas. Passos
fazem dos nossos dois países alia-
Coelho, numa entrevista que deu à
dos estratégicos muito relevantes”,
Rádio Nacional de Angola, admitiu
indicou ainda o primeiro-ministro
que Angola pode ser “uma alavanca
português.
para a retoma económica em Por-
Sabe-se entretanto que ficou mar-
tugal”. Mas, em declarações poste-
cada, nesta visita, uma cimeira
riores, o primeiro-ministro admitiu
bilateral, já em 2012, com agenda
que, nesta fase de privatizações
já acordada.
´ Africa +
■
fevereiro 2012 - Diplomática • 69
Crónica
Cultura e História Um resgate afirmativo da mundialização das identidades A Cultura em Novembro excedeu as expectativas de
calismo, que invoca o passado numa outra perspectiva:
uma repetição subjectiva e anacrónica em Angola. O
a do equilíbrio das forças, através da expressão cultural
“Atllantico” traçado pelo sociólogo Paul Gilroy, na sua
renovada e aprimorada, fortemente mesclada pelo ribom-
perspectiva antiessencialista e afirmativa, sente-se em
bar do batuque e pelos instrumentos da música sinfónica,
nós e leva-nos ainda mais longe. Diria mesmo até à
na tentativa de transfronteiricidade, contra o eurocentris-
“Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freire do séc. 20,
mo da modernidadade europeia. Nada mais permanece
tendo-se catapultado para o que é hoje uma cultura glo-
igual, numa corrida em que a componente a não perder
bal e globalizante que, deste lado do Atltântico, se eleva
é o constante resgaste das identidades entre africanos
do exótico e expressivo batuque aos instrumentos musi-
e europeus, para atingir os equilíbrios desejados. Para
cais mais sofisticados, no âmbito da filosofia e dimensão
que isso seja factível ao longo das próximas gerações,
africana. Da literatura, à dança e à música, as fronteiras
precisamos de “utopias”, isto é: não parar de sonhar,
esbatem-se, a partir do momento em que, as orquestras
contra os arrastamentos da estagnação.
de música sinfónica entram em cena e, neste caso par-
A globalização geográfica existe desde que grupos hu-
ticular, em Angola, num diálogo ainda em embrião com
manos se superaram a si próprios e descobriram outros
o semba, o kuduro e outras formas de expressão corpo-
mundos, vencendo os medos dos distanciamentos. Só
ral, outrora reconhecidas como sinais do subjectivismo
os grupos humanos organizados têm como saber dar e
inconsciente e repetido do gesto e da palavra.
apropriar-se do melhor dos outros, sem o esvasiamento
Contudo, das pinturas murais ou rupestres das cavernas
e a anulação de si mesmos. É assim que eu vejo o luso-
à expressão escrita, os povos distanciaram-se de acordo
tropicalismo deste século. Isso exige o que os sociólogos
com a força da diáspora dos primeiros habitantes deste
chamam de “coesão social”, através da educação, instru-
planeta. Tal como o Egipto se sagrou como uma socie-
ção e do apropriamento da história particular e geral. É
dade da primeira civilização e cultura brilhante avançada
aqui que a comunicação social exerce um papel pre-
em milénios antes de Cristo, também houve distancia-
ponderante e inexcedível.
mentos entre o Atlântico norte e o Atlântico sul, em ter-
A cultura africana, na perspectiva activa essêncialista e
mos do domínio técnico e científico, provavelmente para
afirmativa das geografias contemporâneas, apresenta-se
os do norte, encorajados pelo clima frio e durezas inver-
com nova roupagem no ser, agir e olhar, resultado das
nais. No entanto, as vivências do tropicalismo africano
diversas experiências em viagens e buscas, entre Áfri-
da diáspora da idade moderna e da herança racializada
ca, América e a Europa, em que o “essencial” de hoje
espalhada pelo “Atlântico negro”, apresentam-se como
é transpôr as barreiras do conhecimento e do saber,
conquista, a partir das experiências de diferentes cultu-
como processo de constante movimento e mediação,
ras e saberes. Dir-se-ia que, de uma ou de outra manei-
imbricada e distinta, na abordagem do Atlântico quatro-
ra, a doutrina das idéias platónicas, onde o objecto do
centista e quinhentista, como unidade de valores históri-
conhecimento se distingue das coisas naturais, colocam
cos de múltiplas interconexões, na construção da aldeia
o humano de hoje no patamar da sabedoria, que se
comum”, para este milénio, que se pretende civilizada,
traduz na filosofia das belíssimas obras de arte, quer na
igualitária e mais humana.
n
arquitectura, quer noutras manifestações da vida social, cultural e política, em que as boas obras inacabadas são eternizadas pela memória daqueles que as completam, quer em termos materiais e imateriais, em que o domínio da escrita, é uma opção obrigatória. Quanto a Africa, o canto e a dança fizeram as delicias dos primeiros admiradores e apaixonados pelo “exotismo”, que continua na tradição africana como marca cultural. Chegados ao séc. 21, a globalização geográfica e as práticas migratórias, a ser bem geridas e controladas, não só enriquecem as nações, como também colocam os humanos num constante diálogo técnico e científico. E porque assim é, em Angola desenha-se um luso-tropiPalmira Tjipilica Professora Universitária
70 • Diplomática - FEVEREIRO 2012
´ Africa +
Afinal, o melhor Banco Comercial é daqui. No passado dia 27 de Junho, a prestigiada revista internacional ‘World Finance’ distinguiu o BCI com o Prémio “O melhor Banco Comercial em Moçambique”. Este Prémio destaca as empresas líderes, com as melhores práticas no mundo financeiro e é atribuído anualmente pela inovação, flexibilidade, soluções e apoio ao Cliente, variedade de produtos e serviços, estratégia e resultados obtidos. Ganhar esta distinção só foi possível porque cada vez mais moçambicanos depositam a sua confiança no BCI e dizem com orgulho: “Eu sou daqui. E o meu Banco também”.
Visitas de Estado
Cavaco Silva e Armando Guebuza Dois estadistas em Belém preparam cimeira bilateral de dois dias
Num momento em que Portugal, entre
das delegações oficiais de ambos os
muitos outros países europeus, atra-
países. Foi assim dado o início oficial
vessa uma gravíssima crise financeira,
da cimeira bilateral entre Portugal e
os nossos estadistas, a começar pelo
Moçambique, durante a qual foi feito
Presidente da República, têm vindo a
o balanço do intercâmbio económico,
dedicar uma particular atenção com os
relativo aos últimos 12 meses e se
Países de Expressão Oficial Portugue-
programou as acções para os próxi-
sa, nomeadamente, Moçambique.
mos 12 meses.
Foi neste âmbito que se inseriu a
Ficou patente, face aos discursos de
visita ao nosso País do presidente
Cavaco Silva e Armando Guebuza,
moçambicano Armando Guebuza,
ser este momento entendido como um
com quem Cavaco Silva manteve uma
desafio para para ambos os países
longo encontro a sós, seguido do ha-
tirarem vantagens mútuas a favor da
bitual jantar oficial, já com a presença
cooperação. Nas suas intervenções,
72 • Diplomática - FEVEREIRO 2012
´ Africa +
➤
Guebuza na Cimeira Luso-Moçambicana
➤
ambos fizeram questão de reafirmar
para dar uma entrevista a um OCS
a determinação de ambos os países
português, em que declarou que terá
em dar continuidade aos projectos já
ficado assegurado, quando se avistou
encetados e em programar novos pro-
em Nova Iorque com Pedro Passos
jectos cuja viabilização financeira seja
Coelho, que se chegaria a um des-
considerada verdadeiramente realista.
fecho final sobre com quem deverão
Ambos os presidentes defenderam a
ficar os restantes 15% de Cahora
manutenção da cooperação, porque
Bassa, de momento ainda na posse do
“entendem que Portugal e Moçambi-
Estado português, depois de ter cedi-
que são como as duas mãos que, para
do os 85% a Moçambique. Ainda que
que cada uma delas esteja limpa, têm
não tenha sido confirmado, esses 15%
de se lavar mutuamente”.
restantes poderão vir a ser repartidos
Durante a sua visita oficial a Portugal,
por duas empresas – uma portuguesa
Armando Guebuza ainda teve tempo
(a Rede Eléctrica de Energia de
´ Africa +
➤
FEVEREIRO 2012 - Diplomática • 73
Guebuza na Cimeira Luso-Moçambicana
➤
Portugal), outra moçambicana (a
esquecer a TAP.
CEZA). A concretizar-se este projecto,
O certo é que o presidente Guebuza já
a REN poderia ser uma das parceiras,
havia dito que estava optimista quanto
com o Estado moçambicano, na cons-
ao sucesso da cooperação bilateral
trução da linha de condução de ener-
com Lisboa, porque via “na crise que
gia eléctrica que irá ligar Tete a Mapu-
abala Portugal apenas um obstácu-
to (construção, de resto, já anunciada
lo para se transpor, tal como muitos
há semanas na capital moçambicana).
outros que foram já ultrapassados no
Não é de esquecer que, apesar da cri-
passado”. Aqui em Portugal, Guebuza
se, há já uma longa lista de empresas
fez questão de afirmar aos jornalistas
portuguesas que continuam a asse-
que “esta cimeira bilateral é a prova
gurar o seu empenho em investir em
de que estamos mais que determina-
Moçambique, entre elas, a Portucel,
dos a continuar com a nossa coopera-
a Visabeira, o Grupo Pestana, sem
ção”.
74 • Diplomática - FEVEREIRO 2012
´ Africa +
n
Trades
Tornar a Lusofonia um espaço de negócios Ministro da Economia aponta linhas mestras em encontro com empresários
O governante apontou a necessidade de desburocratizar o aparelho de Estado e dar melhores condições à iniciativa empresarial
A importância do mundo da Lusofonia como um
renciais.
espaço privilegiado de negócios, criando grupos lu-
O ministro enfatizou ainda o papel das exportações
sófonos muito fortes, foi um dos aspectos destaca-
como um “desígnio nacional” num mundo cada vez
dos pelo ministro da Economia e Emprego, Álvaro
mais global, sublinhando que as mesmas têm cres-
Santos Pereira, num almoço-debate promovido
cido à média dos 7 ou 8 por cento ao ano, em con-
pela Associação Comercial de Lisboa.
tra - ciclo com um consumo em grande retracção.”A
O governante sublinhou que este tempo de crise
internacionalização deve ser vista como etapa de
é uma oportunidade única para o País mudar de
vida no ciclo de desenvolvimento das empresas”,
estilo de vida, de se tornar um país mais exigente,
disse, acrescentando que o Estado deve criar os in-
produtivo, empreendedor, eficaz e, por isso, credí-
centivos necessários para alcançar esse objectivo.
vel. Em suma, para o titular da pasta da Economia
O lançamento de uma via rápida para o investi-
trata-se de um novo modelo de desenvolvimen-
mento, que desburocratize os projectos que estão
to económico, que “tornará Portugal um país de
estagnados nos vários organismos públicos, a
sucesso”. Qual o caminho então a seguir? Perante
revisão da lei da concorrência, a aposta estratégica
uma plateia constituída na sua maioria por empre-
no projecto Alqueva potenciando novas vias para o
sários, Álvaro Santos Pereira apontou a urgência
turismo e a canalização de verbas para a reabilita-
de aumentar a liquidez com enfoque nas ajudas
ção urbana foram outras medidas apontadas pelo
à recapitalização das empresas, quer ao nível de
Ministro da Economia que deixou uma ,mensagem
capital de risco, da reestruturação empresarial e
de esperança aos empresários de que o governo
novos instrumento financeiros relacionados com
está firme nos seus propósitos de dar uma nova
as exportações. Tudo acompanhado por uma nova
visão à economia portuguesa, tornando-a mais
politica de transportes, obras públicas, ou seja a
produtiva. E no final fez um apelo aos empresá-
adopção de políticas que tornem o “Estado menos
rios para “considerarem sempre aberta a porta do
consumidor”, levando a cabo um “ambicioso pro-
ministério da Economia, pois temos todo o interes-
grama de privatizações”, gerando recursos para as
se em os ouvir”.Um novo estilo certamente, faltam
actividades económicas, tornando-as mais concor-
ainda os resultados palpáveis.
´ Africa +
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fevereiro 2012 - Diplomática • 75
Globalização
Palácio do Conde de Penafiel A nova Sede da CPLP
Ministro das Relações Exteriores de Angola, Presidente do Conselho de Ministros da CPLP, Georges Chicoti; Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Portas e Diretor Geral, Secretariado Executivo Da CPLP, Hélder Vaz Lopes
No dia 16 de Setembro de 2011 foi assinado publica-
Na cerimónia da assinatura deste protocolo esti-
mente o protocolo de cedência e aceitação do Palá-
veram presentes o Director-Geral do Secretariado
cio do Conde de Penafiel para a instalação perma-
Executivo da CPLP, Dr. Hélder Vaz Lopes; o Ministro
nente da sede da Comunidade dos Países de Língua
de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal,
Portuguesa – CPLP.
Dr. Paulo Portas e o Ministro das Relações Exterio-
O palácio do Conde de Penafiel faz parte da histó-
res de Angola e Presidente do Conselho de Ministros
ria de Portugal e a sua construção data do primeiro
da CPLP, Dr. Georges Chicoti, entre outras persona-
quartel do século XVIII. Durante muito tempo o seu
lidades.
núcleo primitivo serviu como instalação do “correio-
O acto da cedência do espaço, propriamente dito, foi
mor” – posteriormente chamado Correio Geral do
celebrado entre o Ministério dos Negócios Estran-
Reino – e durante quase uma década foi o centro da
geiros de Portugal, representado por Paulo Portas,
vida faustosa e aristocrática de Lisboa. Hoje, em ple-
e CPLP. Segundo o directior-geral da CPLP, Hélder
no século XXI, o edifício está à disposição da CPLP
Vaz Lopes, no âmbito da reestruturação do secreta-
para a instalação da sua Sede, cuja mudança definiti-
riado executivo, o tema da nova sede na agenda do
va está marcada para Novembro deste ano.
CCP e do Conselho de Ministros tem vindo a ser
76 • Diplomática - fevereiro 2012
´ Africa +
➤
➤
analisado desde 2007. Também para o ministro
mico, quer do ponto de vista cultural e também do
dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, a nova
ponto de vista diplomático, estimando-se que, dentro
sede da CPLP é um assunto que já está a ser deba-
de poucas décadas, cerca de 350 milhões de pesso-
tido há alguns anos. Perante esta situação o Ministro
as falem português. Desta forma, e juntamente com a
Paulo Portas fez questão de acentuar que “quer do
CPLP, Portugal tem todas as condições para vencer
ponto de vista internacional, Portugal cumpriu a sua
na globalização”,concluiu Paulo Portas.
palavra;, quer do ponto de vista da operacionalidade
Ainda de acordo com o Director Geral da CPLP, pre-
da CPLP, Portugal contribuiu para o crescimento da
tende-se que a nova Sede vá dar um novo impulso à
organização, sendo que,do ponto de vista financeiro,
vida daquela organização. Para” Hélder Vaz Lopes,
apesar de estarmos em austeridade, a solução foi
o “Palácio Penafiel permitirá não apenas o reforço
rápida”.
das capacidades técnicas do Secretariado Executivo,
“Se hoje a língua portuguesa representa 250 milhões
mas também a abertura da CPLP à sociedade civil
de pessoas em quatro continentes, onde se fala o
dos Estados membros, parte do que alguém baptizou
português, é uma comunidade prioritária quer para
como a passagem duma “comunidade de governos a
o interesse nacional, quer do ponto de vista econó-
uma comunidade de povos”.
n
Texto e Fotos: Roman Buzutt
´ Africa +
fevereiro 2012 - Diplomática • 77
Visitas de Estado
Xanana em Lisboa Emoções e cumplicidade Cada regresso à pátria que já foi sua é um ritual fantástico de emoções e cumplicidades. O guerrilheiro é sempre recebido em Portugal como amigo íntimo, como irmão…
A visita efectuada por Xanana Gusmão, primeiro-
pé em que ficou a promessa e o tipo de recepção que
ministro de Timor-Leste a Portugal, no passado mês
terá tido pelas autoridades portuguesas, pena foi que se
de Setembro, para além da sua componente política,
tivesse descartado a possibilidade, na medida em que,
destapou e fez reaparecer a velhas cumplicidades que
na altura, Timor-Leste tinha quatro mil milhões de euros
remontam a um período negro da vida desse país. Por-
para investir do seu Fundo de Petróleo.
tugal e Timor-Leste, por razão da sua história comum
É que, independentemente da natureza solidária da
e dos tempos de fogo da invasão indonésia, estarão
promessa, o negócio teria sido bom para Timor-Leste,
sempre ligados por laços para além dos arranjos e das
pois, como referiu ainda Ramos Horta na mesma
conveniências políticas.
entrevista, o investimento «em empresas públicas ou
Já assim havia sido em Novembro de 2010 quando,
semi-públicas portuguesas com grande sucesso porque
inesperadamente, o presidente timorense, Ramos
a diversificação do nosso Fundo do Petróleo deve ser
Horta, também de visita a Portugal, havia colocado o
feita com inteligência, em investimentos seguros e que
seu pequeno Estado – e uma das nações mais pobres
dão proveitos razoáveis» …
do mundo – à disposição da ex-potência colonial para a ajudar a sair da crise económica em que se encontra.
Resultados da vista pouco conhecidos
«Eu não vejo dificuldades em Timor-Leste comprar tam-
Mas, no que respeita à recente visita de Xanana Gus-
bém notas promissoras portuguesas. O próprio governo
mão a Portugal, os seus resultados são pouco conheci-
timorense já fez a decisão de diversificar a aplicação do
dos, na medida em que só passou para a comunicação
Fundo do Petróleo, comprando outras notas promisso-
social informação sobre os actos mais públicos, não
ras», disse então o presidente maubere em entrevista
havendo nenhuma alusão à natureza das conversas
a um canal de televisão. E, embora não se sabendo o
que terá tido com as autoridades portuguesas.
78 • Diplomática - fevereiro 2012
➤
São reconhecidas por todos – apoiantes e opositores – as suas extraordinárias capacidades de organização e o quanto foi essencial o seu empenhamento na reorganização da guerrilha timorense na década de 80, como também elogiadas as suas inatas capacidades de diplomata
➤
De qualquer modo, a deslocação ao nosso país de
como também elogiadas as suas inatas capacidades
José Alexandre (Kay Rala Xanana) Gusmão, veio,
de diplomata com que, na década seguinte, sabiamen-
como já se disse, destapar a afectividade que para
te soube utilizar a comunicação social de todo o mundo
sempre estreitará as relações entre os dois povos, de
para alertar a Humanidade do massacre que as forças
que Xanana é, sem dúvida, a personagem mais rele-
indonésias de ocupação estavam perpetrar contra o
vante.
seu povo, tendo corrido mundo as imagens dos assas-
Efectivamente, Gusmão, nascido em Manatuto – na
sinatos de indefesos no cemitério de Santa Cruz (Díli),
então “província ultramarina de Timor” – em 1946, e
a 12 de Novembro de 1991.
que durante anos foi o rosto mais conhecido da re-
A sua prisão, em Novembro de 1992, que parecia ser
sistência armada ao ocupante indonésio, apesar de
um duro golpe na resistência timorense, transformou-
rumores sobre o seu alegado autoritarismo – a que não
se num crescendo de solidariedade internacional e de
será alheio o processo pouco explicado do afastamen-
isolamento da Indonésia no quadro das nações.
to do então primeiro ministro Mari Alkatiri, por muitos
Com a liberdade da pátria, Xanana assume a Presidên-
entendido como um “golpe de Estado” –, continua a ser
cia da República, cargo que ocupa por dois mandatos
a grande referência da resistência e do novo país que,
e, posteriormente, com a eleição de Ramos Horta como
aos poucos, vai construindo os alicerces de um Estado
presidente, assume as funções de primeiro-ministro
de Direito democrático.
depois de sufragado pelo voto popular.
São reconhecidas por todos – apoiantes e opositores
Como todos os nomes grandes da caminhada dos po-
– as suas extraordinárias capacidades de organiza-
vos, “Kay Rala Xanana” Gusmão gera amores e ódios
ção e o quanto foi essencial o seu empenhamento na
próprios de uma figura apaixonante e apaixonada. A
reorganização da guerrilha timorense na década de 80,
História o julgará!
n
fevereiro 2012 - Diplomática • 79
VISITAS DE ESTADO
Mirko Cvetkovic Primeiro-ministro da Sérvia
Foi no Palácio de Belém que o Presidente Cavaco Silva recebeu o primeiro-ministro da Sérvia, Mirko Cvetkovic, que esteve em visita oficial ao nosso País. Dadas as boas relações políticas e económicas entre os dois países, o político sérvio aproveitou, durante o encontro, para reforçar a abertura que o seu país continua a apresentar, em termos de investimento, a Portugal. Recorde-se que a entrada de Mirko Cvetkovic na política se deu em Janeiro de 2001, ao tomar posse do cargo de ministro da Economia. Cargo que, sete anos depois, viria a acumular com o lugar de primeiro-ministro da Sérvia, até aos dias de hoje. A Sérvia é um dos países culturalmente mais diversificados da Europa, registando já, em termos económicos, um mercado emergente e bastante diferenciado. O acordo de protecção recíproca, no âmbito dos investimentos, assinado entre Portugal e a Sérvia em 2009, visou, objectivamente, intensificar e criar as condições mais favoráveis à cooperação económica entre os dois países, no que toca à concretização dos investimentos. O encontro entre Cavaco Silva e Mirko Cvetkovic serviu, não só para reforçar e enriquecer as relações bilaterais, mas também para delinear novos métodos e formas de combater a crise económica vigente. No final da audiência, ficou, no entanto, claro que, no meio da insegurança económica mundial e do rumo mais eficaz a tomar para combater a crise, Portugal e Sérvia vão continuar a apoiar-se mutuamente, tanto no que se refere aos seus interesses como às suas necessidades mais prementes.
80 • Diplomática - fevereiro 2012
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Mala Diplomática
Dia da Unidade Alemã 2011
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1. Embaixador Helmut Elfenkämper transmite a mensagem de boas-vindas, acompanhado pela Orchestra Juvenil da Renânia do Norte Vestefália 2. Ministro Conselheiro da Embaixada da Alemanha, Robert Weber e Antje Weber 3. Embaixador de França, Franz Schöps, Embaixador da Suíça e o Embaixador Helmut Elfenkämper
Na noite de 29 de Setembro, teve
a Embaixada congratulou-se por
da unidade Alemã, momento em
lugar na Residência doEmbaixador
tantos convidados terem aceite o
que os alemães são recordados
Alemão, Helmut Elfenkämper, a
convite que lhes foi endereçado.
de que a divisão do seu país e do
recepção por ocasião do Dia da
Na sua mensagem de boas-vin-
continente europeu foi ultrapassa-
Unidade Alemã. Com um excelente
das, o Embaixador Elfenkämper
da em conjunto com os parceiros
tempo e temperaturas de Verão,
sublinhou o significado do Dia
europeus; que hoje é importante
➤
fevereiro 2012 - Diplomática • 81
Dia da Unidade Alemã 2011
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4. Embaixador Helmut Elfenkämper e sua Mulher com Ministro Conselheiro Robert Weber e sua Mulher recebem os convidados 5. Embaixador da Alemanha a discursar 6. Embaixador da República da Áustria com Luís Miguel Ehlert e sua Mulher 7. Embaixador da Confederação Suíça, Bruno W. Lehmann com Sérgio Magnani e sua mulher 8. Edith Förster
fios da globalização.
Bona até Lisboa, para participar
a desenvolver o que construímos
O Embaixador Elfenkämper sau-
nas comemorações. A cidade de
a partir desta situação histórica
dou em particular o „Embaixador
Bona, anterior sede do governo
única. Segundo o Embaixador, a
Extraordinário de Bona“, Franz
federal, foi este ano responsável
União Europeia continua a ser a
Schöps, que fez um percurso em
pelos festejos do Dia da Unidade
nossa resposta comum aos desa-
bicicleta de mais de 2800 km, de
Alemã na Alemanha.
➤
garantir, defender e continuar
82 • Diplomática - fevereiro 2012
n
Mala Diplomática
Festa do 189º aniversário da independência do Brasil Lula da Silva foi convidado de honra e recebeu medalha do I.S. Técnico
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1. Discurso do Embaixador acompanhado por Lula da Silva 2. Embaixadores do Brasil e Pedro Passos Coelho 3. Lula da Silva e António José Seguro 4. Embaixador da Russia e Embaixador da Bulgária 5. Embaixador da Ucrania e Salvador Correia de Sá
Para assinalar os 189 anos da in-
No discurso alusivo à efeméride,
Segundo o diplomata, o grande
dependência do Brasil, o embaixa-
o embaixador do Brasil, Mário
passo será dado no dia em que
dor Mário Vilalva deu uma recep-
Vilalva, considerou uma honra a
forem definitivamente eliminadas
ção na sua residência no Restelo
presença de Lula da Silva, agora
as barreiras que ainda limitam o
em Setembro passado. Convida-
investido numa nova função de ser
comércio entre o Mercosul e a
dos de honra foram o ex-presiden-
embaixador itinerante do Brasil no
União Europeia, através do «esta-
te Lula da Silva, o primeiro ministro
que concerne à diplomacia eco-
belecimento daquele que será um
Passos Coelho, o ministro dos
nómica, estabelecendo contactos
dos maiores acordos comerciais
Assuntos Parlamentares, Miguel
empresariais e comerciais com os
do planeta».
Relvas, Maria Barroso entre as
várias países.Mário Vilalva reafir-
«Quando chegar esse dia, estare-
centenas de pessoas presentes
mou a disposição de incentivar as
mos a criar riqueza e mais empre-
ligadas às mais diversas áreas da
relações comerciais entre os dois
go, tornando o Atlântico como a
sociedade portuguesa, desde a
países irmãos, sublinhando que
grande via do comércio no Mun-
diplomacia, politica à economia,
o Brasil «está agora a descobrir
do», acrescentou Mário Vilalva,
além de representantes de empre-
Portugal através dos investimen-
acentuando, logo em seguida, o
sas portuguesas e brasileiras.
tos feitos por grandes empresas».
papel determinante que Portugal
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fevereiro 2012 - Diplomática • 83
Festa do 189º aniversário da independência do Brasil
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6. José Pestana e Ana Palmeira 7. Embaixadores E.U.A e António Pinto Ribeiro 8. Paula Bobone e Jorge Braga de Macedo 9. António Burtorff acompanhado da mulher e Manual Ferreia Enes 10. Embaixadores de França e António Pinto Ribeiro 11. Embaixadores da Coreia
A Banda da Armada portuguesa
foi a frase proferida por D. Pedro
são da Lusofonia, «pois aprendeu
executou os hinos dos dois países,
a 7 de Setembro de 1822, procla-
a ver o Mundo a partir da China,
tendo também animado a recepção
mando a independência do Bra-
da África, do Brasil, da Ásia, da
que se prolongou durante a noite
sil. Exteriorizava o sentir de uma
Europa, enquanto muitos países
a banda do navio-escola de guerra
revolta, em parte resultante de um
da Europa só vêem o Mundo atra-
do Brasil executando algumas das
crescente mal-estar na antiga co-
vés do seu umbigo».
mais conhecidas canções brasilei-
lónia face ao monopólio comercial
Durante a recepção, Lula da Silva
ras.Isto enquanto mulheres trajando
português e o excesso de impostos
recebeu das mãos de Manuela
os típicos trajes brancos de baianas
numa época de livre no mercado e
Vieira, vice-presidente do Institu-
iam servindo um acarajé que fazia
circulação de mercadorias. Curio-
to Superior Técnico, a medalha
as delícias dos convidados.
samente, dois séculos depois, os
“Leonardo da Vinci” como forma
“Viva a independência e a separa-
dois países querem unir-se, apos-
de agradecimento pelo trabalho a
ção do Brasil. Pelo meu sangue,
tando numa forte união económica,
nível mundial que o ex-presidente
pela minha honra, pelo meu Deus,
com o Atlântico a servir de espaço
brasileiro tem desenvolvido em
juro promover a liberdade do Bra-
privilegiado nesse nova estratégia
prol da engenharia.
sil. Independência ou Morte!”.Esta
de relacionamento.
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pode vir a ter na defesa e expan-
84 • Diplomática - fevereiro 2012
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Mala Diplomática
Festa na Embaixada de Espanha
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1. Embaixador de Espanha, Francisco Zillar com Maria da Luz de Bragança 2. Embaixadores do Luxemburgo com Embaixatriz da Roménia, Nicolata Popovici e Embaixadora de Marrocos 3. Javier Gallego com Marta Gallego e o Presidente da Camara de Espanã, Guillermo de Llera. 4. Pedro Lourtie com o Embaixador do Brasil, Mario Vilalva e o Embaixador da Ucrânia, Oleksandr M. Nykonenko 5. Anne-Marie Mathias com Marcelo Mathias 6. Anna Luisa Pignatelli e os Embaixadores da Suécia Bengt Lundborg e Jane Lundborg 7. Milton Moniz com os Embaixadores da Correia
Por ocasião do dia Nacional do
sos meios sociais, diplomáticos,
nalidade e uma forte identidade
seu país, os Embaixadores de
económicos e políticos.
própria.
Espanha, Francisco Villar e a
Portugal e Espanha são duas
Este ano a comemoração é es-
sua mulher Isabel Villar, convi-
velhas nações europeias, com
pecial, pois é o vigésimo quinto
daram para a sua recepção, que
uma notável projecção histórica
aniversário da adesão simultâ-
teve lugar no Palácio da Palavã,
e cultural no mundo e possui-
nea de Portugal e Espanha às
personalidades dos mais diver-
doras de uma singular perso-
Comunidades Europeias. Hoje a
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fevereiro 2012 - Diplomática • 85
Festa na Embaixada de Espanha
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8. Maria da Luz de Bragança com Margarida Ruas 9. Maria Luísa Pacheco com António e Antónia de Almeida e Luís Mira Amaral 10. Embaixatriz da Polónia Katarzyna Skórzynskza e Maria da Luz de Bragança 11. Embaixadores da Noruega 12. Embaixatriz da Suiça, Almy Schaller e o Embaixador de França, Pascal Teixeira da Silva 13. O Embaixador da Ucrânia e o Embaixador da Rússia 14. Embaixatriz de Senegal e o Embaixador dos Emirados 15. Nuno Lima de Carvalho, Maria da Luz de Bragança e Ramon Font 16. Ana Vidal e Bernardino Gomes 17. Embaixadores da Turquia
União Europeia, facto de
impressionante incremento e
latitudes atravessam uma gravís-
grande relevância, porque con-
reforço que experimentaram as
sima crise financeira, económica
tribuiu de maneira importante
relações bilaterais entre os nos-
e social. Esta crise, no entanto,
para a consolidação dos nossos
sos dois países ao longo deste
ainda que tenha travado algum
processos democráticos e para
último quarto de século.
projecto concreto, não desatou
a modernização das nossas
Hoje, Espanha, Portugal e mui-
os laços cada vez mais fortes
economias, e também para o
tos países europeus e de outras
entre os dois países ibéricos.
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Fotos: Roman Buzutt
86 • Diplomática - fevereiro 2012
Mala Diplomática
Recepção do Dia Nacional da China
O Embaixador Zhang Beisan, proferindo o seu discurso
No dia em que a República Popu-
tos em desenvolvimento, trazendo
de, aprofundando os laços de
lar da China celebrou o seu Dia
novas mudanças à vida do seu
cooperacção nas áreas política,
Nacional, o embaixador chinês
povo.
económico-comercial, cultural,
acreditado no nosso País, ofere-
O diplomata chinês realçou ainda
cientifico-tecnológica, militar, en-
ceu uma recepção, em que fez
que a República Popular da China
tre outras.
questão de felicitar, de forma es-
está comprometida o seu cami-
O embaixador chinês fez ques-
pecial, todos os residentes e em-
nho de desenvolvimento pacífico,
tão de relembrar a resolução da
presas chinesas sediadas em Por-
garantindo a manutenção e con-
questão de Macau através de
tugal e agradecer a todos os que
tribuindo para a paz mundial e,
negociações amigáveis e o esta-
têm vindo a acompanhar o desen-
dedicando-se em conjunto com
belecimento de uma Parceiria Es-
volvimento da China e fomentar a
a comunidade internacional na
tratégica Global. Lembrou também
amizade sino-portuguesa.
construção de um mundo harmo-
o êxito da visita presidente chinês,
Ao longo dos 62 anos desde a sua
nioso de paz duradoura e prospe-
Hu Jintao, que veio dar um grande
fundação, frisou o Embaixador,
ridade comum.
impulso às relações bilterais.A re-
que a República Popular da Chi-
A China e Portugal, assim como
cepão terminou com um brinde à
na, passou por reformas amplas e
os seus povos, têm uma longa
China e a Portugal e ao bem-estar
profundas e obteve notáveis êxi-
história de intercâmbio e amiza-
dos dois povos.
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fevereiro 2012 - Diplomática • 87
Mala Diplomática
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1. Quarteto de cordas “Amabile” 2. Igor Snedkov, acordeonista ucraniano 3. Trio de Banduras “Kupava” 4. Convidados a assistir ao concerto
Dia Nacional da Ucrânia Por ocasião do Dia Nacional da
ucranianos e estrangeiros, inclusive
selecção de melodias magníficas,
Ucrânia, o Embaixador Oleksander
portugueses, interpretados tanto
entre as quais: “Valsa de Kharkiv”
Nykonenko, ofereceu uma recepção
com instrumentos musicais tradi-
de Azat Chilutian; “Ave Maria” de
no Mosteiro dos Jerónimos. Quem
cionais, como antigos instrumentos
Giullio Caccini e “Traz outro amigo
esteve presente pode apreciar um
ucranianos. A interpretação musical
também” de José Afonso. Seguin-
belo espectáculo com músicos
esteve a cargo do Trio de Banduras
do-se de um cocktail com sabores
clássicos ucranianos, que inter-
“Kupava”, o Quarteto de Cordas
ucranianos e portugueses que muito
pretaram obras de compositores
“Amabile” e Igor Snedkov. Com uma
agradaram os convidados.
88 • Diplomática - fevereiro 2012
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5. Miguel Horta e Costa, Embaixador Oleksander Nikonenko e Embaixador da Rússia 6. Aline Gallasch Hall, Primeiro Secretário Yuri Demidenko, Vice-cônsul Inna Pylypchuk, Ludmilla Gallasch Hall e Maria da Luz Bragança 7. Isabel Duarte e Fernando Catarino Narciso 8. Embaixadores da Moldávia 9. Embaixadora do Canadá e o Embaixador da Hungria 10. Presidente da Câmara de Faro e Lília Bispo Martins 11. Ivan Hudz , coordenador da capelania da igreja greco-católica em Portugal com Maria da Luz Bragança 12. Embaixador dos Emiratos Árabes Unidos com o Trio de Banduras “Kupava” 13. Ludmilla Gallasch Hall, Maria da Luz Bragança, Ivan Onyschchuk
Este ano, a Ucrânia, marca o 20º
ocupando um dos primeiros lugares
realização prática do curso estra-
aniversário da sua independência.
entre os países do continente pelo
tégico de integração europeia, que
Durante este período o país, sem
tamanho do seu território e o quinto
facilitará a introdução pelo governo
dúvida, conseguiu provar que é um
lugar pela população.
ucraniano das reformas políticas,
membro importante da comunidade
Em 2011, a estabilidade políti-
económicas e de segurança, a me-
internacional,
ca, os valores democráticos e a
lhoria dos climas de investimento,
A Ucrânia é potencialmente um
disposição pragmática dos dirigen-
de cooperação empresarial e muito
parceiro importante para a Europa,
tes ucranianos assegurarão uma
mais.
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fevereiro 2012 - Diplomática • 89
Mala Diplomática
Dia Nacional da Áustria 1
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1. Maria da Luz de Bragança e o Embaixador da Áustria, Bernhard Wrabetz 2. Ediz e Gassan El Aquar 3. Embaixatriz da Áustria e Maria da Luz de Bragança 4. Embaixador da Suécia, Embaixatriz do Luxemburgo, Embaixatriz da França e Fabrizio Pignatelli 5. Miguel Polignac de Barros, Francisco de Calheiros, Dzigger Gottlieb, Maria do Céu Neves Cardoso 6. Embaixador de Luxemburgo e o Embaixador da Suécia 7. Fabrizio Pignatelli e José de Bouza Serrano 8. Barão de Beck e Maria da Luz de Bragança 9. Marlies Fenke Freifrau von Dornberg e o embaixador da Áustria
Por ocasião do Dia Nacional do seu
Maio de 1955 em Viena. O tratado
Áustria tornou-se num Estado sobe-
país, os embaixadores da Áustria em
foi assinado entre as quatro forças
rano, livre e democrático que segue
Portugal, Bernhard Wrabetz e Joana
aliadas que dominavam o território
uma posição política neutra perante
Daniel Wrabetz, foram os anfitriões
austríaco: o Reino Unido, os Estados
o mundo. A partir deste momento
de uma recepção na sua residência
Unidos da América, França e a União
histórico, a celebração do dia nacio-
oficial. Na recepção estiveram pre-
Soviética.
nal da Áustria decorre todos os anos
sentes varias personalidades portu-
Após a assinatura do tratado os
no 26 de Outubro. Neste dia faz parte
guesas e estrangeiras.
quatro países aliados retiraram as
da tradição os austríacos passarem
É uma data marcante e relaciona-
suas tropas e no dia 26 de Outubro
muito tempo ao ar livre, conviverem
da com a assinatura do Tratado de
de 1955 o parlamento proclamou a lei
e visitarem os museus e o edifício
Independência da Áustria no 15 de
da neutralidade perpétua da Áustria.
parlamentar abertos ao público.
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Texto e Fotos: Roman Buzutt
90 • Diplomática - fevereiro 2012
Mala Diplomática
Dia Nacional da Coreia 1
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1. Embaixadores da Coreia 2. Embaixador da Hungria com a Embaixadora do Canadá 3. Embaixador Kang Dae-hyun a discursar 4. Embaixadores da Moldávia 5. Carlos Bonjardino e José Ribeiro e Castro 6. Embaixadora da Índia 7. Embaixador do Luxemburgo
Por ocasião do Dia Nacional da Coreia,
nómica pelos sabores coreanos ao
vez mais fortes. Neste ano de 2011
os Embaixadores da Coreia oferece-
som de música tradicional coreana e
celebrar-se os 50 anos de relações
ram uma magnífica recepção, com a
portuguesa.
diplomáticas entre os dois países.
presença das mais representativas
O dia 3 de Outubro é o Dia da Fun-
“Através desta ocasião muito espe-
individualidades do mundo político, em-
dação do Povo Coreano. Um dia que
cial, acredito que as relações entre a
presarial, diplomático e do desporto.
simboliza a venerável história de cinco
Coreia e Portugal vão prosperar ainda
A celebração teve lugar na residência
mil anos, desde a sua criação em 2333
mais no futuro. Vamos todos desejar
oficial dos Embaixadores da Coreia,
antes de Cristo.
o progresso das relações entre os
onde os presentes tiveram a oportu-
As relações de amizade e cooperação
dois países”. Discursou o Embaixador
nidade de fazer uma viagem gastro-
entre a Coreia e Portugal estão cada
Kang Dae-hyun. n
fevereiro 2012 - Diplomática • 91
Cultura
IX Mostra Portuguesa em Espanha
A Mostra Portuguesa em Espanha, que já vai na
Paradigma, que exibe 89 obras de 62 artistas plás-
sua IX edição, continua a decorrer, com espetácu-
ticos, portugueses e de muitas outras nacionalida-
los, exposições e cinema, que tiveram o seu auge
des, revisitando no Museo de Arte Contemporáneo
em novembro, quando Rodrigo Leão e a sua banda
de Castilla y León (MUSAC), na cidade de Léon,
tocaram em Madrid e em Sevilha, Mafalda Arnauth
as artes plásticas dos anos 60 e 70 do século XX a
cantou em Oviedo, no âmbito do II ciclo Noites de
partir da coleção de Serralves, a «principal coleção
Fado – Divas, Luísa Sobral, a muito jovem dona
portuguesa de arte contemporânea».
de uma voz que tem popularizado um pop/jazz de
Na sua edição de 2011, a Mostra Portuguesa em
produção própria, apresentou-se em Barcelona
Espanha teve como palcos as cidades de Madrid,
e Madrid, Pedro Moutinho mostrou o seu fado no
Barcelona (em coordenação com o Consulado-Geral
Círculo de Bellas Artes e Lula Pena cantou na Sala
de Portugal), Sevilha, Saragoça, Oviedo, León e
Clamores, em ambos os casos em Madrid.
Badajoz, nesta última cidade por via de uma original
Enquanto isso, até 8 de janeiro, o público espanhol
exposição de grafittis no âmbito da Fehispor (Feira
pode continuar a apreciar a exposição Mudança de
Multissetorial Hispano-Portuguesa), tendo como
92 • Diplomática - fevereiro 2012
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➤
ponto de partida os símbolos do galo de Barcelos
O cinema manifestou-se na Mostra por dois tipos
e o touro dos montados da Extremadura espanhola.
de realizações: o I Seminário de Cinema Português
As propostas culturais portuguesas oferecidas ao
Contemporâneo, que decorreu no Pavilhão de Por-
público espanhol «são sempre diferentes de um ano
tugal em Sevilha e em que a questão inicial - «exis-
para o outro», mas o evento de 2011 manteve «as
te o cinema português?» - deu o mote à série de
mesmas características, as mesmas linhas de pro-
conferências e projeções, e o habitual ciclo promo-
gramação, a mesma identidade gráfica e a mesma
vido pelas filmotecas de Espanha, em Madrid, e de
equipa», garantiu Luís Chaby Vaz, conselheiro cultu-
Saragoça, que exibiram seis longas-metragens da
ral da Embaixada de Portugal em Madrid e respon-
mais recente produção de autores portugueses – 48
sável principal da organização da Mostra, que tem
(2009), de Susana de Sousa Dias, Cisne (2011), de
ainda como diretores, desde há anos, os espanhóis
Teresa Villaverde, Filme do Desassossego (2010),
Concha Hernández e Luis Martín.
de João Botelho, Linha Vermelha (2011), de José Fi-
Além da música e das exposições, o cinema, o
lipe Costa, Sangue do Meu Sangue (2011), de João
teatro, os acontecimentos literários e a gastrono-
Canijo, e Mistérios de Lisboa (2010), do chileno Raúl
mia – num total de uma vintena de eventos, que se
Ruiz.
têm vindo a suceder desde setembro – constituíram,
A gastronomia esteve na Mostra a cargo do cozi-
como em edições anteriores, o cerne da programa-
nheiro Luís Baena, enquanto a literatura foi repre-
ção da Mostra, que visa dar a conhecer e difundir
sentada pelo escritor Mário de Carvalho, que fez o
«o pulsar artístico e humano de Portugal e o seu
lançamento da edição espanhola do seu romance
enriquecedor encontro com a cultura espanhola».
Fantasia para dois coronéis e uma piscina (Prémio Pen Club de Portugal de 2003 para a melhor obra
Vanguardismo
de ficção) e, «de novo e sempre, [por] José Saramago, nesta ocasião graças ao retrato íntimo do Nobel
Para o embaixador de Portugal em Madrid, Álvaro
que realizou o também escritor Armando Baptista-
Mendonça e Moura, «a Mostra Portuguesa é um
Bastos», lançado em livro em Espanha em novem-
evento único, com um prestígio evidente e um dos
bro.
maiores sucessos na promoção da imagem de Por-
Tal como em anos anteriores, a Mostra, que em
tugal como país único, diversificado e culturalmente
financiamento direto custa 100 mil euros, contou
vanguardista».
com os apoios do Instituto Camões, do Ministério da
Entre os protagonistas de 2011, estiveram, para
Cultura de Espanha, do Ayuntamento (município) de
além dos cantores e instituições já referidos, os
Madrid e de outras entidades, com destaque, segun-
artistas plásticos João Onofre e Vasco Araújo, que
do os seus organizadores, para a TAP.
apresentaram separadamente em Barcelona as
Às instituições espanholas que habitualmente co-
suas obras a públicos interessados.
laboram com a Mostra – como o Círculo de Bellas
A banda Acerte, criada há 35 anos em Olivença,
Artes, o Instituto Cervantes, a Filmoteca de Espa-
trouxe a Madrid a música folclórica espanhola e
nha e de Saragoça, o Festival de Fado de Oviedo,
portuguesa raiana, com os seus fados, corridinhos e
juntaram-se o Festival da revista literária Eñe, o
verde-gaios, ou seja, espelhando o espírito da Mos-
Festival de Jazz de Barcelona, o MUSAC (Museu de
tra Portuguesa em Espanha – o cruzamento cultural
Arte Contemporânea de León), o Festival de Cinema
entre os dois países.
Europeu de Sevilha e a Universidade de Sevilha.
A companhia de teatro Corcada, de Barcelona,
Segundo o embaixador Mendonça e Moura, a manu-
levou à cena a peça O que o turista deve ver, uma
tenção da Mostra Portuguesa em Espanha no «atual
dramatização do livro de Fernando Pessoa Lisboa:
contexto político e económico», «é um sinal de que
o que o turista deve ver, um guia em inglês, inédito,
o país continua desperto, brilhante e capaz de apre-
completo, datilografado e pronto para ser publicado,
sentar projetos, obras e criadores capazes de fazer
provavelmente de 1925.
a diferença».
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I.C. I.P.
fevereiro 2012 - Diplomática • 93
Memória
11 de Setembro
Álvaro Lapa
Joaquim Bravo
Joel Shapiro
José Pedro Croft.
10 Anos depois
Apesar de terem já passados 10
creditado no nosso País, personali-
anos, a memória não apagou a
dades nacionais das mais diversas
em Frente”, patente no Museu da
terrível catástrofe do 11 de Setem-
áreas, desde a politica à empresa-
Fundação Arpad Zenes -Vieira
bro nos Estados Unidos. E foi assim
rial, entre muitos outros convidados.
da Silva. O objectivo desta mostra
que, por todo o mundo, as pessoas
Em destaque estiveram os discursos
foi o de propôr uma reflexão sobre
se juntaram para prestar homena-
proferidos pelo Ministro de Estado
o “modus vivendi” , que assenta nas
gem às vítimas dos ataques terroris-
e dos Negócios Estrangeiros, Paulo
mudanças da sociedade pós-11 de
tas, a 11 de Setembro de 2001.
Portas, e de Maria de Lurdes Rodri-
Setembro.
Portugal não foi excepção e o local
gues, presidente da FLAD (Funda-
Segundo as palavras do embaixador
escolhido para a cerimónia foi a
ção Luso-Americana).
Allan J. Katz, “ enquanto nunca es-
Fundação Arpad Szenes - Vieira
A homenagem do 10º aniversário
quecermos aqueles que perdemos,
da Silva, em Lisboa. Aí se juntaram
do 11 de Setembro foi também
devemos fazer mais do que simples-
os membros do corpo diplomático
marcada pela exposição “Transi-
mente lembrarmo-nos deles. É
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ções - Honrar o Passado, Seguir
➤
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1. Embaixadores dos E.U.A., Allan Katz 2. Maria de Belém Roseira, Maria de Jesus Barroso Soares e Maria de Lourdes Rodrigues 3. António Pinto Ribeiro e Maria de Belém Roseira 4. Maria de Lourdes Rodrigues, Presidente da FLAD, Embaixador dos E.U.A. e o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Portas
da pessoas que amam a paz”. E
o resto do mundo, devem continuar
exposição indica, que vamos Honrar
acrescentou ainda que “hoje, mais
a fortalecer-se para combater o
o Passado e Seguir em Frente”.
do que nunca, os países de todo
terrível pesadelo em que se tornou
➤ em
honra deles, tal como o título da
O embaixador dos Estados Unidos
o mundo, que consagram a liber-
o terrorismo. Seguir em frente e
em Portugal relembrou também
dade, tornam-se mais fortes ao
lutar pela segurança dos Estados é
que, “no dia 11 de Seembro de
agirem em conjunto”.
o objectivo principal e vital. Um ob-
2001, cada pessoa, no mundo, se
No dia 11 de Setembro de 2001
jectivo que foi realçado nas obras
sentiu um norte-americano”, porque
perderam a vida, de uma forma
expostas nesta exposição, na Fun-
independentemente do locais onde
aterradora, cerca de 3 mil pessoas.
dação, em que participaram quatro
os ataques terroristas acontecem
Dez anos passados, a data conti-
autores portugueses – Joaquim
- Washington, Nova Iorque, Lon-
nua a ser um dia marcante e emo-
Bravo, Fernando Calhau, José
dres, Madrid, Mumbai ou Bali – “há
cionante para o povo americano.
Pedro Croft, Álvaro Lapa e ainda o
um lamento colectivo por parte
Mas os norte-americanos, tal como
norte-americano Joel Shapiro.
n
Texto e Fotos: Roman Buzutt
fevereiro 2012 - Diplomática • 95
English & French texts
6 - Dossier Morocco - King Mohammed VI The new king of Morocco has lined up the country by rail democratic reforms, breaking with the past of the autocratic monarchy, so putting Morocco on the road to a modern rule of law and a traditional monarchy.
6. Dossier Maroc - SM le Roi Mohammed VI Le nouveau Roi du Maroc a reussi aligner son pays dans la ligne des réformes démocratiques,en rupture avec le passé de la monarchie autocratique, plaçant le Maroc sur la route d’un État de Droit moderne et une monarchie traditionnelle.
10. Ambassador of Morocco Karima Benyaich is the example of female strength and power ahead of a diplomatic representation, in this case, Morocco. In his first experience in diplomatic functions, the ambassador has a deep understanding of our country and affirms that “Portugal and Morocco have a common history of many centuries, an extraordinary one, with exceptional influences.”
10. Ambassador de Maroc Karima Benyaich c’est l’exemple de la puissance et compétence femenine d’avance de une representation diplomatique, dans ce cas, Maroc. Dans sa première experience dans les functions diplomatiques, l’ambassadeur, qui a une profonde connaisance sur notre Pays, nous a dit que “Portugal et Maroc ont une histoire commune, de plusiers siècles, extraordinaire, avec des influences exceptionnelles”.
20. Ibero-american Summit in Paraguay With the presence of Anibal Cavaco Silva, the portuguese president, Passos Coelho and Paulo Portas. A major event to all latin-american countries.
20. Sommet ibéro-américaine in Paraguay Avec la presence de Cavaco Silva, Passos Coelho et Paulo Portas. Un evenement très important pour tous les pays de l’Amérique latine.
18. President of the Republic at the UN The portuguese language and Human Rights were the background for the intervention of President Cavaco Silva in the Security Council of the United Nations. His visit to EUA included, of course, a meeting with president Barack Obama. The debate – the first of the portuguese presidency of this organization – gave a clear signal that the course of national diplomacy continues the same, with the portuguese President emphasizing that the presence of Portugal, and also Brazil, is a "sign of its expressive unequivocal commitment to promoting the values of peace, security and respect for the inalienable rights of all human beings".
18. Président de la République à l’ONU Le portugais et les Droits de l’Homme ont été la toile de fond l’intervention du président Cavaco Silva au Conseil de Sécurité des Nations Unies.Dans sa visite aux États Unis a consisté, bien sûr, une rencontre avec le président Barack Obama. Le débat – le premier de la présidence portugaise de cet organisme de l’ONU – a donné un signal clair du sens que la diplomatie nationale pursuive, avec le chef de l’Etat soulignant comme la présence du Portugal, et aussi du Brézil, est un signe "de son expressive engagement à la promotion des valeurs de paix, de sécurité et le respect des droits inaliénables de tous les êtres humains".
22. Portuguese Prime-Minister in ONU Security Council assures that Portugal is going to assume the challenge to win the crises.
22. Le Premier Ministre du Portugal dans l’ONU A dit que Portugal est prêt pour le defi de surmonter la crisis dans l’Europe.
23. Minister Paulo Portas Diplomacy in the EUA and Magreb.
23. Ministre Paulo Portas La diplomacie se developpe entre les Etáts Unies e le Magreb.
26. Jean-Claude Juncker in Portugal It was at the Calouste Gulbenkian Foundation that the Prime Minister of Luxembourg and president of the Eurogroup gave a lecture under the theme "What should be the model for economic government to adopt a monetary union? Lessons of a crisis."
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26. Jean-Claude Juncker au Portugal C’était à la Fondation Calouste Gulbenkian que le premier ministre luxembourgeois et président de l’Eurogroupe a donné une conférence sous le thème « Quel devrait être le modèle de gouvernement économique à adopter pour une union monétaire? Leçons d’une crise. «
28. Professor João Costa Pinto In an interview for Diplomática magazine, Professor.Costa Pinto, who heads the Agricultural Credit, now celebrating 100 years of existence, says that the CA is part of the so-called social economy, given its base of cooperatives. In another context, states that the output of Portugal from the Euro would have such serious consequences, that can not ever be considered.
28. Professeur João Costa Pinto Dans une interview accordée à la revue Diplomática, le professeur João Costa Pinto, qui dirige le Crédit Agricole, qui célèbre 100 ans d’existence, affirme que le CA fait partie de l’économie dite sociale, étant donné sa base de coopératives. Dans un autre contexte, Costa Pinto déclare que la sortie de Portugal de l’Euro aurait telles graves conséquences, que, en fait, cette hyphotèse ne se devrait jamais poser.
32. Patrick Ziegler Les mots justes pour une Europe en crise et la révolution.
32. Patrick Ziegler The right words for a Europe in crisis and revolution.
36. Sweden – land of brands of excelence. Presented by the Ambassedor Bengt Lundborg.
36. Suéde – pays des marques d’excellence. Presenté por lÁmbassador Bengt Lundborg.
38. Ambassador of Korea Learn about the discovery of the New Age for the United States and Korea.
38. Ambassadeur de Corée Renseignez-vous sur la découverte du New Age pour les Etats-Unis et la Corée.
54. Exhibition in Poland In a partnership between the Embassy of the Republic of Poland and the City Hall of Cascais, the Memory Space of the Exiles opened the temporary exhibition “Exiles, Politcs and Diplomats in Tough Times”, depicting the passage of numerous foreign dignitaries at Estoril ,during the Second World War.
54. Exposition en Pologne Dans un partenariat entre l’ambassade de la République de Pologne et de la municipalité de Cascais, l’Espace Mémoire des Exilés a ouvert l’exposition temporaire «Exilés, Politiques et Diplomates en Temps Difficiles», illustrant le passage de nombreux dignitaires étrangers à Estoril, pendant la Seconde Guerre mondiale.
58. President receives credentials in the Palace It was at Belém Palace that President CavacoSilva received the credentials of the new ambassadors accredited in our country, among them, Tunisia, Pakistan, Romania, Norway and Italy.
58. Le président Cavaco Silva reçoit des diplomates au Palais Le Président de la République Cavaco Silva a reçu les lettres de créance de nouveaux ambassadeurs accrédités dans notre pays, parmi eux, la Tunisie, le Pakistan, la Roumanie, la Norvège et l’Italie.
60. Jorge Carlos Fonseca, President of the Republic of Cape Verde Newly elected, the new President of the Republic of Cape Verde, told to det Diplomática magazine, that the CPLP “must go towards a community.
60. Jorge Carlos Fonseca, Président de La République du Cap Vert Nouvellement élu, le nouveau président de la République du Cap-Vert, a déclaré à la revue Diplomática que la CPLP “doit suivre vers une communauté de peuples ». Jorge Carlos Fonseca aborde également les grandes questions nationales et nous parle de son cours de vie, en tant que citoyen et militant des causes.
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English & French texts
68. Pedro Passos Coelho Was in Angola for a short visit to assure the bilateral ties.
68. Pedro Passos Coelho A visité officiellemente Angola pour rassurer les relations bilatérales.
70. Palmira Tjipilica Culture and history, so a rescue of the globalization of identities.
70. Palmira Tjipilica Culture et histoire, donc une opération de secours de la mondialisation des identités.
72. President of Mozambique In Portugal believes that Portugal is going to win the crisis.
72. Le Président du Mozamique Armando Gebuza, est sûr que le Portugal va vaincre la crise dans l’Europe.
75. Jose Damasio Holy Conception Angola and Portugal for a common future - an experience written in the first person.
75. Jose Antonio Damasio Saint Conception L’Angola et le Portugal pour un avenir commun- une expérience écrite à la première personne.
76. CPLP has new headquarters The Palace of the Count of Penafiel was the place choosen for the signing of the protocol of transfer and acceptance of the Palace of the Conde dePenafiel to install permanent headquarters of the Community of Portuguese Speaking Countries. Paulo Portas, Minister of Foreign Affairs, represented Portugal at the ceremony.
76. CPLP a un nouveau siège Le palais du Comte de Penafiel a été le lieu de la signature du protocole de transfert et d’acceptation du Palais de le Comte de Penafiel pour installer le siège permanent de la Communauté des pays de langue portugaise. Paulo Portas, ministre des Affaires étrangères, a représenté le Portugal dans la cérémonie.
78. Xanana Gusmão Reassures that East Timor will always be linked to Portugal.
78. Xanana Gusmão A Lisbonne reçu par le Président Cavaco Silva comme un frère.
80. Prime-Minister of Serbia in Lisbon Reinforces the opening of his country to help Portugal.
80. Premier Ministre de la Serbie au Portugal Renforce l'ouverture de san pays à aider le Portugal.
92. IX Portuguese Exhibition in Spain Havinh the cities of Madrid, Sevilhe and Leon as stages of shows and arts.
92. IX Exibition portugaise en Espagne Avoir comme scène des spectades et des arts des villes de Madrid, Séville et Leon.
94. Memory Ten years have passed, but the memory did not erase the terrible catastrophe that was the 11 September in New York. Throughout the world, people gathered to pay tribute to victims of the terrorist attacks of 2001. Portugal was no exception and it was in the Foundation Arpad Szenes-Vieira da Silva that the most diverse personalities from all areas of national life and diplomats paid their homage.
94. Mémoire Dix ans ont passé, mais la mémoire n’a pas effacé la terrible catastrophe qui a fait l’Septembre 11 à New York. Partout dans le monde, les gens se sont rassemblés pour rendre hommage aux victimes des attentats terroristes de 2001. Le Portugal n’était pas exception et a fait son hommage dans la fondation Arpad Szenes-Vieira da Silva, où personnalités des plus diverses domaines de la vie nationale et de la diplomacie ont eté presentes.
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