Diplomática n.º6

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´ Diplomatica Nº6 Dezembro 2009/Janeiro 2010 E4 (Cont.)

Kadhafi

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Diplomática 6 • dezembro 2009/janeiro 2010

nos anos da Revolução

Mundo Financeiro Entrevistas com os Banqueiros Faria de Oliveira e Mira Amaral

With English & French Texts


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LUANDA


Assuntos Summary

Kadhafi nos 40 anos da Revolução.

8

Kadhafi 40 years after the Revolution. Foto da capa: Ricardo Oliveira

“A guerra e a reconciliação” – Katarzyna Skórzynska.

24

“War and reconciliation” – Katarzyna Skórzynska. Alexander Ellis. Embaixador do Reino Unido em Portugal.

30

Alexander Ellis. Ambassador of the United Kingdom in Portugal. Gabriel Gafita. Embaixador da Roménia em Portugal.

34

Gabriel Gafita. Ambassador of Romania in Portugal. Despedida do Embaixador da Roménia.

38

Farewell of Ambassador of Romania. Irina Bokova. Primeira mulher a liderar a UNESCO.

40

Irina Bokova. Woman elected as head of UNESCO. Natália Carrascalão. Embaixadora de Timor-Leste em Portugal.

44

Natália Carrascalão. Ambassadress of East Timor in Portugal. Aga Khan. Imamat Ismaili abre representação Diplomática em Lisboa.

52

Aga Khan. Ismaili Imamat open diplomatic mission in Lisbon. Fernando Faria de Oliveira. Presidente da Caixa Geral de Depósitos.

54

Fernando Faria de Oliveira. President of Caixa Geral de Depósitos. Mira Amaral. Presidente do Banco BIC.

62

Mira Amaral. President of BIC Bank. 60º Aniversário da República Popular da China.

68

60th Anniversary of the People’s Republic of China. Dia Nacional da Hungria.

74

National Day of Hungary. Dia Nacional da Áustria e despedida do Embaixador.

76

Austrian National Day and Farewell reception in honour of the Ambassador. Dia Nacional da Turquia.

80

National Day of Turkey. 84

Vasco Bobone. Guerra Peninsular em Portugal. Vasco Bobone. Peninsular War in Portugal. “Espiões nas Descobertas”. 1º Volume da trilogia de Maria Cristina Malhão Pereira.

86

"Spies in the Discoveries". First volume of the trilogy by Maria Cristina Malhão Pereira. 90

Alfarrábios. Second-hands books

92

Traduções. English & French texts.

DIRECTOR: Maria da Luz de Bragança CHEFE DE REDACÇÃO: José Manuel Teixeira SUB-CHEFE REDACÇÃO: Altino Pinto PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Rua Ramalho Ortigão, 43 A – 1070-228 Lisboa. Marketing & Publicidade: Anabela Pelicano - e-mail:rp@gabinete1.pt Tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79 IMPRESSÃO: Projecção S.A. DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395

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Nota do Editor

"Porreiro, pá" E agora? Com muita pompa e alguma circunstância, foi finalmente ratificado o Tratado de Lisboa – o tal que deu o mote do “Porreiro, pá!” dito por José Sócrates a José Durão Barroso, aquando da nossa Presidência da União Europeia. Mas perguntamos nós: “E agora?” Apesar de uma moeda única, de fronteiras consolidadas, de um nível de vida elevado na maioria dos Estados (Portugal é um das excepções) e de um forte potencial tecnológico, a Europa permanece ainda algemada por um esquema político marcado por imperativos independentistas e de soberania, justificados em razões tradicionais e históricas, culturais e de civilizações tão diversas, algumas delas, como a portuguesa, com muitos séculos de existência. A promessa de uma discutível política externa comum, que deveria reforçar a adopção do Tratado de Lisboa, e o desejo de pôr em prática uma defesa europeia conjunta (ainda muito embrionária) marcam o difícil e imenso caminho que falta percorrer para que esta potência económica (30,42 % do PNB mundial em 2008) e demográfica (cerca de 500 milhões de habitantes) possa seriamente defender os seus interesses e assumir um papel de relevo face aos Estados Unidos da América e a países emergentes com grande peso a nível global. A independência política, cultural, económica, tecnológica e energética da Europa – corolário de um controle pleno da sua soberania – constitui um desafio para o futuro deste continente cuja história está marcada por múltiplas e devastadoras guerras ao longo dos séculos. Ora, teoricamente, para evitar essa quase permanente discórdia inter-povos, a velha Europa – com base num já quase remoto acordo comercial entre seis países – tenta tomar em mãos o seu próprio destino, para fazer frente a outros grandes blocos político-económicos. E, assim, a partir sobretudo dos anos 90 do século passado, criou-se entre muitos europeus o sentimento de que isso poderia vir a ser uma realidade. O Tratado de Maastricht, a criação de uma União Europeia (que substituiu a CEE), as referências constantes a uma cidadania europeia, o reforço desse sentimento de união através da adopção de símbolos comuns, uma moeda única na maioria dos Estados membros da União, a proposta de uma política europeia de segurança e defesa... Ora, essa caminhada pressupõe a definição de uma política estrangeira comum. Implica que se comece a pensar num Europa federativa, se aceite um governo federal, um exército federal, uma polícia federal. E será isso viável? Cremos que muitas das nações aderentes à UE desejam antes de mais uma Europa económica e não a perda das suas identidades. A ver vamos.

n

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abril/maio 2009 - Diplomรกtica โ ข 1


nota diplomática

Capacidade de resposta dos escritórios consulares Existindo legalmente a possibilidade de criar vice-consulados e agências consulares, estruturas dotadas de personalidade jurídica própria, não se entende porque razão se persiste em não recorrer à oferta diversificada de possibilidades aberta pela legislação internacional e nacional. Vem-se pretendendo, através de escritórios consulares, que não são postos consulares, dar resposta a necessidades que obrigam a competências próprias, que os escritórios legalmente não têm, nem podem ter. Ao criar escritórios como estruturas de substituição de postos consulares, sejam eles consulados-gerais ou consulados, está a pretender fazer-se a quadratura do círculo, já que os escritórios apenas podem ser balcões de apoio/recepção/entrega de documentos, dependendo, em tudo e para tudo, do posto de que emanam. O escritório consular em Osnabrück tem vindo, de facto, a funcionar como um posto consular, ao arrepio da Lei, problema que parece não preocupar os responsáveis, já que até vêm mantendo, em Windhoek, uma estrutura clandestina, visto não ter aí sido criado nem posto de carreira, nem honorário, nem escritório. E não se vê qual o problema, financeiro nomeadamente, que pudesse resultar de em Osnabrück existir um posto com o nome de Agência Consular ou na Córsega um outro com o nome de Vice-Consulado, sendo obviamente imprescindível legalizar Windhoek.

n

Jorge Veludo Secretário Geral do Sindicato dos Trabalhadores Consulares e das Missões Diplomáticas

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abril/maio 2009 - Diplomรกtica โ ข 1


KADHAFI – nos 40 ANOS da revolução

Mais de setenta países presentes nas comemorações do 40º aniversário da Revolução na Líbia Festeja-se em 2009 o 40º aniversário da Revo-

almente da confusão e da instabilidade no regime

lução na Líbia. Uma Revolução de jovens que

capitalista.

ocorreu na sequência da guerra israelo-árabe de

Essas ideias nasceram com a Revolução. A tercei-

1967 e que teve todo o apoio da nação árabe.

ra teoria universal não é um sistema económico

Uma Revolução que ambicionava resolver pro-

do povo líbio, mas uma oferta para o mundo em

blemas que o mundo árabe enfrentava na altura

geral. É difícil para os países grandes aceitarem

e apoiar movimentos de libertação em África, na

uma teoria saída de um país pequeno como a

Ásia e na Europa. O apoio a esses movimentos de

Líbia e de um revolucionário como o Coronel Mu-

libertação não é terrorismo, embora alguns países

ammar Kadhafi. Mas o que está a acontecer agora

ocidentais tenham acusado a Líbia de terrorismo

a nível mundial, seja político ou económico, prova

por causa disso. Registe-se que mais tarde todos

que essa teoria está correcta.

os líderes desses países do mundo inteiro que

Divide-se em três partes: política, económica e

lutaram pela sua independência foram recebidos

social. É um regime e uma política das massas

na Europa com tapete vermelho e já não eram

e do poder do povo. Aliás, e a confirmá-lo, em

considerados terroristas. Aliás, depois da Revolu-

1977 foi proclamado o Poder Popular. É certo que

ção na Líbia em 1969 houve 25 Estados africanos

essa marcha ao longo de 40 anos não é nada em

que conseguiram a sua independência e vemos

relação à idade dos Estados e dos Povos. Tam-

nesses movimentos de libertação as ideias lança-

bém não há dúvida que a Revolução Francesa é

das pelo Líder Muammar Kadhafi, um militar que

a mãe de todas as revoluções nos regimes repu-

chegou ao poder.

blicamos, mas a Terceira Teoria Universal na sua

Quando era estudante já liderava as manifesta-

visão concede o poder ao povo e a ninguém em

ções e tinha ideais de libertação. Criou células

sua representação.

civis e depois integrou o exército, que usou para

Os 40 anos da Revolução na Líbia foram come-

concretizar as ambições do povo. Trata-se de

morados com celebrações que se realizaram

uma Revolução e não de um golpe de estado. É

durante seis dias de festejos. Abriram com um

aí que está o segredo, na continuação da Revo-

desfile de oitenta aeronaves militares que sobre-

lução e da sua base sólida durante todos estes

voaram Tripoli e com um espectáculo na antiga

anos.

base norte-americana de Maatiga, a seis quilóme-

A Revolução não era dirigida contra um regime

tros da capital, que contou com a participação de

monárquico. Correspondia sim à necessidade de

centenas de artistas, numa encenação da História

haver uma mudança de que o mundo árabe preci-

da Líbia e uma retrospectiva em teatro e música

sava. Na Líbia havia a maior base americana fora

dos 40 anos de liderança de Kadhafi, que compa-

dos Estados Unidos e também cinco outras bases

receu nas cerimónias fardado de General. Du-

aéreas para apoio das esquadras e submarinos

rante a parada militar a sua cadeira estava muito

americanos que controlavam toda aquela região

próxima da do Presidente venezuelano, Hugo

do Médio Oriente. Ainda em território da Líbia

Chávez.

existiam três bases britânicas. Era difícil alguém

A Força Aérea Portuguesa participou no desfile

fazer ali uma revolução. Mas a verdade é que a

aéreo que integrou aeronaves de vários países do

Revolução na Líbia teve um forte apoio do povo e

Magrebe, África Subsahariana e Europa. Foram

transformou-se numa Revolução mundial.

mais de meia centena de Chefes de Estado afri-

A Revolução na Líbia veio provar que existe uma

canos e árabes que participaram nas comemora-

terceira teoria mundial, que considera o que há de

ções, além dos Presidentes Hugo Chávez e Lula

bom no conteúdo da teoria marxista e o que há de

da Silva e dirigentes políticos ocidentais, num con-

bom na teoria capitalista.

junto de setenta países presentes. O Ministro dos

O que prova o sucesso desta terceira teoria mun-

Negócios Estrangeiros, Luís Amado, representou

dial do Líder Kadhafi é a queda do regime comu-

oficialmente o Governo Português nas comemora-

nista e, por outro lado, o que nos distingue actu-

ções dos 40 anos no poder de Kadhafi.

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1

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6

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1. Desfile de aeronaves militares, com a participação da Força Aérea Portuguesa, juntamente com muitos outros países, do Magrebe, de África Subsahariana e da Europa 2. 3. e 4. Parada militar 5. Hugo Chávez, um dos Presidentes presentes na comemorações 6. Kadhafi com a farda de General das Forças Armadas Líbias

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KADHAFI – nos 40 ANOS da revolução

Kadhafi, brandindo a Carta das Nações Unidas, proferiu um notável discurso onde analisa as contradições entre o Preâmbulo e os artigos da carta que regem a ONU

O Líder da Revolução na Líbia fez um discurso histórico na assembleia geral da ONU Neste ano em que se comemoram os 40 de Revo-

imoralidade.

lução na Líbia, o Líder Muammar Kadhafi fez, no

Como se sabe, as Nações Unidas foram planeadas

passado dia 23 de Setembro, na Assembleia Geral

por três ou quatro países contra a Alemanha, na

da ONU, um discurso notável, transmitindo ideias e

Segunda Guerra Mundial. Esses países criaram um

sugestões que chegaram a todo o Mundo.

corpo chamado Conselho de Segurança, que impôs

Começou a sua intervenção, dizendo: “Em nome

os seus membros como permanentes e garantiu-

da União Africana, tenho muito prazer em me dirigir

lhes o poder de veto. As Nações Unidas foram mol-

aos membros da Assembleia Geral das Nações Uni-

dadas de acordo com estes países, que desejavam

das e espero que este encontro fique entre os mais

que nós nos submetêssemos à sua vontade. Esta é

históricos. Em nome da Assembleia Geral nesta 74ª

a verdadeira essência da ONU quando foi fundada

sessão presidida pela Líbia, da União Africana, de

há mais de 60 anos. Isto aconteceu na ausência de

uma centena de reinos tradicionais africanos e no

165 países num rating de 1 para 8, o que quer dizer

meu próprio nome, gostaria de aproveitar esta opor-

que em cada um que estava presente oito estavam

tunidade como presidente da União Africana para

ausentes. Eles criaram a Carta das Nações Unidas,

felicitar o nosso filho Obama”.

mas se a lermos descobrimos que o Preâmbulo da

Salientou que esta sessão nas Nações Unidas teve

Carta não está de acordo com os artigos seguintes.

lugar numa altura de muitos problemas e que “todo

Mas como é que isso aconteceu? Todos os que

o mundo deve estar unido para derrotar os desa-

estiveram na Conferência de 1945 participaram na

fios que são o nosso principal inimigo comum – os

criação deste Preâmbulo mas deixaram os artigos e

responsáveis pela mudança de clima, pela crise

as regras de procedimento internos para os espe-

internacional, tal como o declínio do capitalismo

cialistas e países interessados e foram eles que

económico, a fome e a falta de água, a desertifi-

estabeleceram o Conselho de Segurança.

cação, o terrorismo, a imigração, a pirataria, as

O Preâmbulo é muito apelativo e convincente, e

epidemias naturais e as provocadas pelo homem e

ninguém o põe em causa, mas as cláusulas seguin-

a proliferação nuclear. Talvez a gripe H1N1 tenha

tes são completamente contraditórias ao Preâm-

sido um vírus criado em laboratório, originariamente

bulo. Nós rejeitamos essas condições e nunca as

pensado como arma militar. Estes desafios também

apoiaremos – elas acabaram na Segunda Guerra

incluem hipocrisia, pobreza, medo, materialismo e

Mundial. O Preâmbulo diz que todas as nações

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Assembleia Geral da ONU: o areópago onde Muammar Kadhafi pediu a reforma das Nações Unidas

pequenas ou grandes são iguais. Somos nós

dependência dos povos, utilizam forças agressivas,

iguais quando se trata de lugares permanentes?

em vez de trabalharem para a paz e segurança do

Não. Nós não somos iguais. Temos nós o direito

Mundo e proteger os povos.

de veto? Não. Então, o veto contradiz a Carta. Os

O princípio de não interferência nos Estados está

lugares permanentes contradizem a Carta. E nós

inscrito na Carta das Nações Unidas. Nenhum Esta-

também não aceitamos ou reconhecemos o veto.

do tem o direito de interferir nos assuntos internos

O Preâmbulo da Carta afirma que a Força Armada

de qualquer governo de outro país, seja ele demo-

não será usada, salvo quando houver interesse co-

crático ou ditatorial, socialista ou capitalista, reac-

mum de todas as nações. Este é o Preâmbulo com

cionário ou progressista. Isso é da responsabilidade

que nós concordámos em assinar e queríamos que

de cada sociedade, é para ser resolvido pelo povo

a Carta reflectisse esse espírito. Mas o que é que

de cada país. Os senadores de Roma escolheram o

aconteceu desde então? Houve 65 guerras desde

seu líder Júlio César como ditador, porque era bom

a formação das Nações Unidas e do Conselho de

para Roma, mas ninguém pode dizer que Roma deu

Segurança. 65 guerras com mais milhões de víti-

o direito de veto a César.

mas do que na Segunda Guerra Mundial. São estas

“Nós aderimos às Nações Unidas porque pensáva-

guerras, e a agressão e força usadas, do comum in-

mos que éramos iguais, viemos a descobrir que um

teresse de todos nós? Não. Elas foram do interesse

só país pode objectar todas as decisões que tomá-

do máximo de quatro países, mas não do interesse

mos. Quem deu aos membros permanentes esse

de todas as nações. Isto contradiz flagrantemente a

status no Conselho de Segurança? Quatro países

Carta das Nações Unidas que nós assinámos”.

garantiram esse status a si-próprios. O único país

Criticando o funcionamento da ONU, o Líder Muam-

que foi eleito pela Assembleia Geral como membro

mar Kadhafi afirmou, no seu discurso histórico, que

permanente do Conselho de Segurança foi a China.

65 guerras agressivas ocorreram nos últimos anos

Isso foi feito democraticamente, os outros lugares

sem que as Nações Unidas as evitassem. Guer-

foram impostos através de um processo ditatorial”.

ras violentas que somam milhões de vítimas foram

Segundo o Coronel Kadhafi, “a reforma do Con-

empreendidas por Estados membros que gozam

selho de Segurança que necessitamos não é um

do poder de veto. Esses países que nos querem

aumento do número de membros, o que só tornaria

convencer que procuram manter a soberania e a in-

as coisas ainda piores. Para usar ume expressão

Dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 11


O Líder da Revolução na Líbia fez um discurso histórico na assembleia geral da ONU

Kadhafi no pulpito da Assembleia Geral da ONU e à chegada a Nova Iorque

comum, se juntarmos mais água, teremos mais

os Estados membros e os poderes e mandatos do

lama”.

Conselho de Segurança deverão ser transferidos

Juntando simplesmente mais países grandes àque-

para a Assembleia Geral. Os membros devem ser

les que já são membros do Conselho de Segurança,

eleitos por uniões de países e não por Estados:

isso iria perpetuar a proliferação dos superpoderes,

“Aumentar o número de Estados dará os mesmos

o que seria muito perigoso, porque os superpode-

direitos a todos os países, de acordo com o espí-

res esmagariam os povos pequenos vulneráveis

rito do Preâmbulo da Carta das Nações Unidas.

do Terceiro Mundo, que estão a caminhar juntos no

Nenhum país poderá negar um lugar no Conselho

que está a ser chamado de Grupo dos Cem – cem

à Itália, por exemplo, se for dado um lugar à Ale-

pequenos países juntos num Fórum dos Pequenos

manha. Como argumento, a Itália poderá dizer que

Estados: “Nós rejeitamos isso, forte e categori-

a Alemanha foi um país agressivo e derrotado na

camente. Juntando mais lugares no Conselho de

Segunda Guerra Mundial. Se dermos um lugar à

Segurança isso iria aumentar a injustiça e a tensão

Índia, o Paquistão dirá que também é um país nu-

a nível mundial e uma grande competição entre

clear e merece um lugar, e estes dois países estão

certos países, tais como a Itália, a Alemanha, a In-

em guerra. Seria uma situação perigosa. Se dermos

donésia, a Índia, o Paquistão, as Filipinas, o Japão,

um lugar ao Japão, teríamos de dar outro à Indo-

o Brasil, a Nigéria, a Argentina, a Argélia, a Líbia, o

nésia, o maior país muçulmano do Mundo. Então,

Egipto, a República Democrática do Congo, a África

a Turquia e o Irão poderiam exigir o mesmo. O que

do Sul, a Tanzânia, a Turquia, o Irão, a Grécia, a

poderemos dizer da Argentina e do Brasil? A Líbia

Ucrânia... Todos estes países procurariam um as-

merece um lugar pelos seus esforços ao serviço da

sento no Conselho de Segurança, tornando os seus

segurança mundial, desfazendo-se das suas armas

membros quase tão extensos como a Assembleia

de destruição maciça. Então, a África do Sul, a Tan-

Geral, resultando daí uma competição impraticável”.

zânia e a Ucrânia? Todos estes países são impor-

Que solução haverá? Membros através de uniões

tantes. A porta de entrada para membros do Conse-

e transferência de mandatos deverão sobrepor-se

lho de Segurança devia ser fechada. Nós queremos

a outras propostas. Deverá haver igualdade entre

reformar as Nações Unidas. Trazer mais

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É urgente uma compensação aos países que foram colonizados, pela usurpação dos seus direitos e a pilhagem de que foram vítimas

superpotências não é o caminho”.

prioritário. Quem pode negar isto? É urgente uma

O Conselho de Segurança deve fazer o que a As-

compensação aos países que foram colonizados,

sembleia Geral decidir. 192 países são controlados

pela usurpação dos seus direitos e a pilhagem de

por apenas cinco. Os assentos no Conselho de

que foram vítimas. Os colonizadores roubaram os

Segurança devem ser atribuídos a uniões e grupos

recursos de África, da Ásia e da América Latina.

de países: os 27 da União Europeia deveriam ter

Roubaram o petróleo, os minerais, o urânio, o ouro,

um lugar permanente no Conselho. A União Africa-

os diamantes, os frutos e as próprias pessoas fo-

na também tem direito a um lugar permanente; o

ram usadas”.

mesmo critério para a o grupo de países da Amé-

Actualmente, as novas gerações estão a reclamar

rica Latina e para os asiáticos; para os 22 estados

conforme têm esse direito e exigem 7.77 triliões

da Liga Árabe; os 57 da Conferência Islâmica; e os

de dólares como compensação aos países que os

118 Não-Alinhados. Os países não incluídos nes-

colonizaram.

tes grupos ou uniões teriam lugar no Conselho de

Depois de recordar a compensação que a Itália pa-

Segurança por rotação.

gou à Líbia, pelas mesmas razões, Kadhafi confes-

Seria uma solução se a Assembleia Geral votasse

sou: “Nós, africanos, estamos felizes e orgulhosos

a favor uma proposta no sentido de haver um lugar

que um filho de África seja agora Presidente dos

permanente no Conselho de Segurança para todas

Estados Unidos da América”.

as uniões ou grupos de países.

No seu discurso Kadhafi falou também da Agência

Muammar Kadhafi lembrou no seu discurso que “até

Internacional de Energia Atómica, um organismo

agora fomos colonizados, mas já somos indepen-

muito importante dentro das Nações Unidas, mas

dentes. África deverá ter um assento permanente

em que os países poderosos não estão sujeitos à

no Conselho de Segurança. África foi colonizada,

sua jurisdição: “Descobrimos que a sua acção é

isolada e perseguida e os seus direitos usurpados.

usada somente contra nós. Dizem-nos que é uma

O seu povo foi escravizado e os africanos foram

organização internacional, mas nesse caso todos

tratados como animais. Os países da União Africa-

os países deveriam estar sob a sua jurisdição, o

na merecem um lugar permanente. É um assunto

que não acontece”.

n

Dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 13


KADHAFI – nos 40 ANOS da revolução

Líbia e Portugal, dois países Que apostam na cooperação e solidariedade

As relações entre a Líbia e Portugal têm

Lisboa e nessa altura o Líder da Revolu-

tido nos últimos anos um desenvolvimen-

ção Líbia fez uma visita oficial a Portu-

to notável, o que prova a amizade entre

gal.

os dois países e o alto grau de coopera-

Durante a sua estadia, teve encontros

ção. A nível diplomático, essas relações

com responsáveis portugueses da vida

começaram em 1976 com a criação da

política, empresarial, financeira e cultu-

Embaixada da Líbia em Lisboa e, desde

ral. Visitou a Universidade Clássica de

essa altura, têm tido um carácter privi-

Lisboa, onde proferiu uma conferência

legiado, essencialmente, e com grande

no Salão Nobre da Reitoria subordinada

ênfase, nos últimos quatro anos.

ao tema “Problemas da Sociedade Con-

Esse desenvolvimento coincidiu com a

temporânea”. A conferência foi organi-

abertura da representação diplomáti-

zada pelo Centro de História da Univer-

ca portuguesa em Tripoli, no segundo

sidade e durante a cerimónia o Instituto

semestre de 2006. Desde então, tem

Luso-Árabe para a Cooperação entregou

havido uma relação próxima e profunda,

ao Chefe de Estado líbio a Medalha de

baseada na cooperação entre as duas

Honra com Insígnia de Ouro. Teve ainda

representações diplomáticas e a concre-

uma reunião com a União de Associa-

tização de visitas de ambos países com

ções de Mulheres Africanas e Portugue-

delegações a alto nível. Nesse sentido,

sas e um encontro com a comunidade

o Primeiro-Ministro de Portugal visitou

africana radicada em Portugal.

a Líbia em Outubro de 2005, chefiando

Foram assinados dois acordos de coope-

uma importante delegação, tendo sido

ração a nível bilateral – um na área dos

assinados vários acordos bilaterais.

cimentos e outro no sector petrolífero

José Sócrates convidou o Primeiro-

com a GALP – e pedida abertura das

Ministro da Líbia a visitar Portugal em

autoridades líbias na ajuda e na conces-

Janeiro de 2006. As visitas oficiais têm

são de apoios a empresas portuguesas,

sido frequentes – dos Ministros de Ne-

no sentido de poderem participar na

gócios Estrangeiros, da Economia e da

política de desenvolvimento que está a

Defesa.

ser implantada na Líbia. Foi dada essa

De registar a eficaz coordenação quando

oportunidade a vários empresários para

da realização da Cimeira Europa-África,

visitarem a Líbia, a fim de estabelecerem

que se realizou em Portugal em Dezem-

contactos, sobretudo nos sectores da

bro de 2007. Houve um notável e reco-

construção civil e obras públicas, como

nhecido empenho do Líder da Revolução

estradas, aeroportos, etc.

da Líbia, Muammar Kadhafi, dado o seu

Conforme disse à Diplomática o Embai-

papel e a sua influência na União Africa-

xador da Líbia em Lisboa, Ali Emdored,

na. Como se sabe, Kadhafi é reconhe-

“continuamos a apoiar essas iniciativas,

cido como mentor da concretização da

mas constatámos que algumas empresas

União Africana, de que é um dos funda-

estão receosas, por não conhecerem o

dores e seu actual Presidente.

mercado líbio. Isso levou a que algumas

O Presidente da República Cavaco Silva,

delas não avançassem. O nosso papel

o Primeiro-Ministro José Sócrates e o

como representação diplomática aqui em

Ministro dos Negócios Estrangeiros Luís

Portugal, bem como o da representação

Amado elogiam o papel desempenhado

portuguesa em Tripoli, é reduzir esses

por Muammar Kadhafi para a concretiza-

receios e explicar às pessoas que é um

ção dessa Cimeira.

mercado muito importante e que tem

A Cimeira Europa-África realizou-se em

oportunidades que eles não conhecem.

14 • Diplomática - Dezembro 2009/Janeiro 2010


Kadhafi

Dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomรกtica โ ข 15


Líbia e Portugal, dois países Que apostam na cooperação e solidariedade

Foto: Catarino

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Foto: Ricardo Oliveira

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16 • Diplomática - Dezembro 2009/Janeiro 2010

3

1. O Presidente Cavaco Silva recebe Muammar Kadhafi no Palácio de Belém 2. O Líder líbio com o Primeiro-Ministro José Sócrates 3. O Ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado numa recepção oficial com o Coronel Kadhafi


A nossa missão é ajudar os empresá-

petroquímicas. Mas essas conversações

rios e demonstrar-lhes que não há razão

coincidiram com a crise financeira mun-

para tais receios. No início do ano que

dial e, devido a isso, as propostas não

vem, na primeira ou segunda semana de

se concretizaram mais profundamente.

Fevereiro, vai haver uma feira em Tripoli

Entretanto, o Primeiro-Ministro português

para as indústrias portuguesas. O ob-

reuniu-se com Muammar Kadhafi em Tri-

jectivo dessa feira é dar, ao cidadão e ao

poli, em Julho do ano passado, congra-

consumidor líbio, oportunidade de conhe-

tulando-se com os progressos registados

cer quais são os produtos e os materiais

nas relações entre os dois países e ex-

que se fabricam em Portugal. A feira terá

pressando a vontade de Portugal refor-

a colaboração do AICEP – Agência para

çar a cooperação existente. José Sócra-

o Investimento e Comércio Externo, de

tes fez-se acompanhar pelos Ministros

associações de comércio e indústria e do

dos Negócios Estrangeiros e da Econo-

Ministério da Economia e estará aberta à

mia e por responsáveis de importantes

presença de homens de negócios de to-

empresas, tais como a GALP Energia,

dos os sectores de actividade. Estamos

a EDP, a Caixa Geral de Depósitos, o

a empenhar-nos fortemente para o su-

Banco Espírito Santo, a Euroatlântica e a

cesso dessa iniciativa. Nós esperamos,

Prológica. Durante a audiência saudou o

desejamos e vamos dar oportunidade de

papel do Líder líbio no sucesso da cimei-

estreita colaboração com as empresas

ra África-Europa ocorrida em Lisboa em

portuguesas. São essas, aliás, as indica-

Dezembro de 2007.

ções que recebemos”.

Os dois Estados assinaram um acordo

Ainda no que respeita às relações entre

nos domínios da prospecção, perfuração,

os dois países, o Embaixador Ali Emdo-

distribuição, refinação e abastecimen-

red, em entrevista à Diplomática, afirma:

to de petróleo e gás, tendo em vista a

“Temos relações históricas de amizade e

promoção da exportação de produtos e

cooperação e, dada a proximidade com o

serviços para um aumento do volume

Norte de África, pretendemos um reforço

das trocas comerciais.

nessa aliança. Há um bom relacionamen-

O documento formula a disposição por

to com os 5 + 5 (os países do norte e do

parte da Líbia de acolher a participação

sul do Mediterrâneo Ocidental). Existe

de empresas portuguesas na execução

uma excelente relação entre Portugal

de projectos de desenvolvimento em

e os países do Maghreb Árabe (Líbia,

matéria de infra-estruturas básicas, habi-

Tunísia, Argélia, Marrocos e Mauritânia).

tação, energia renovável, purificação da

Temos a nível bilateral um acordo na

água, saneamento e turismo. O mesmo

área da manutenção aeronáutica, que

texto apela à promoção de investimen-

tem corrido na perfeição, com a cola-

tos líbios em Portugal nos domínios do

boração da OGMA, e que contempla a

turismo, fundiário e da energia, bem

abertura de uma oficina de aeronáutica

como o incentivo para criar parques de

para a Airbus, na Líbia. Esse projecto vai

pequenas e médias unidades industriais

dar cobertura a todos os países do Norte

na Líbia.

de África e poderá aproveitar a experi-

As duas partes acordaram igualmente na

ência portuguesa nesse sector. Temos

consolidação da parceria entre as suas

outros projectos de cooperação, nomea-

instituições, em particular as de inves-

damente na área da informática”.

timento e ajuda humanitária, com vista

Além da Cimeira União Europeia - África

a promover projectos comuns no conti-

e da vinda de Muammar Kadhafi, houve

nente africano. O acordo prevê a coo-

outra visita de alto nível, em Junho de

peração entre instituições financeiras,

2008, do filho do Líder da Revolução.

em particular através do investimento de

Foram estabelecidos contactos nos

fundos líbios no nosso país e da colabo-

sectores da energia, do turismo e das

ração bancária entre os dois Estados.

n

Dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 17


KADHAFI – nos 40 ANOS da revolução

1

2

3

4

A Líbia celebra em Lisboa

1. Recebendo os convidados. Ao lado da

O aniversário da Revolução

Embaixatriz o Ministro Conselheiro Dr. Omran 2. Maria Barroso Soares, entre individu-

O Embaixador da Líbia no nosso

anos de Muammar Kadhafi no

alidades presentes na recepção, não

país ofereceu uma recepção num

poder. Foram muitas as indi-

quis faltar às celebrações em Lisboa

hotel de Lisboa, para celebrar o

vidualidades portuguesas que

Dia Nacional do seu país, este

corresponderam ao convite para

ano uma data mais significativa,

festejarem a passagem do 40º

dado que se comemoram os 40

aniversário da Revolução na

18 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010

dos 40 anos da Revolução na Líbia 3. Embaixadora da Palestina e Ângelo Correia 4. Embaixadora da Índia e Embaixador do Irão


dos enviaram voluntários para o

Depois de se referir novamente

A revista Diplomática aproveitou

Afeganistão. Depois de ter termi-

ao importante discurso de Muam-

esta data para uma entrevista

nado essa guerra e o comunismo

mar kadhafi na ONU e de criticar

com o Embaixador Ali Emdored,

ter acabado na região, a esses

o direito de veto, o Embaixador

que nos reafirmou a importância

voluntários fizeram-lhes uma

da Líbia acentuou que “o Tratado

destas comemorações, salien-

lavagem ao cérebro e manda-

das Nações Unidas, assinado

tando as ideias e sugestões des-

ram-nos para os seus países de

em 24 de Outubro de 1945, em

tinadas ao Mundo inteiro base-

origem: Marrocos, Argélia, Líbia,

São Francisco, deve ser revisto,

adas no discurso de Kadhafi na

Arábia Saudita, Irão, Iémen...

se se quiser reformar o Mundo

Assembleia Geral das Nações

Sendo assim, o Afeganistão não

e combater o comunismo e o

Unidas no passado dia 23 de

pode ser atacado como justifica-

terrorismo. As Nações Unidas

Setembro, em que o Líder diri-

ção do combate ao terrorismo.

não são a América. Após 65

giu críticas à direcção da ONU,

Nós fomos contra o enforca-

anos nos Estados Unidos, a sede

que deveria ser o Parlamento do

mento de Saddam Hussein. Ele

da ONU deve ser mudada para

Mundo.

era um prisioneiro de guerra e,

Viena de Áustria ou Genebra ou

Afirmou – como referimos nou-

segundo a lei internacional, não

outro local, na Ásia por exemplo.

tro local desta edição – que são

se mata um prisioneiro de guer-

As Nações Unidas não são como

os cinco membros permanentes

ra. Saddam devia ser entregue

o Estado do Vaticano ou Meca,

do Conselho de Segurança que

ao Tribunal Internacional de

que têm de ser locais fixos.

decidem sobre o futuro do Mun-

Justiça. As pessoas que o mata-

Nós fomos um país que sofreu

do: “Os problemas que surgiram

ram tinham as caras tapadas e

um embargo injusto decretado

Líbia.

após a Segunda Guerra Mundial

até se disse que o Bush era um

pelo Conselho de Segurança.

são 65 guerras e isso deve-se

dos estava com a cabeça tapada.

Essa causa não era uma ameaça

ao fracasso da Assembleia Geral

Mais: foi assassinado no dia de

para a paz e segurança mundial

da ONU, pois, a execução das

sacrifício do carneiro na religião

e podia ter sido resolvida no Tri-

resoluções aprovadas, se forem

islâmica. É a mesma coisa que

bunal Internacional de Haia, mas

contra países do Terceiro Mun-

no Ocidente praticar um crime no

foi alterada, dadas as pressões

do, é posta em prática imediata-

dia de Natal da religião católica.

dos Estados Unidos, da Grã-Bre-

mente com guerra.

Não respeitaram esse sentimento

tanha e da França. Uma causa

O que aconteceu no Iraque

nem a religião”.

não pode ser discutida ao

ultrapassou a ONU e o próprio Conselho de Segurança. No Afeganistão a guerra também foi levada a cabo no âmbito das Nações Unidas. Nós somos contra o terrorismo – o terrorismo não tem religião nem fronteiras. Todos os povos do Mundo devem cooperar contra o terrorismo. Aliás, não foi o Afeganistão que atacou Nova Iorque. Bin Laden também não é afegão e foi Bin Laden e a Al-Qaeda que atacaram Nova Iorque. E, então, porque é que temos nós de ir atacar o Afeganistão?” “Quando a guerra no Afeganistão era contra a União Soviética, concretamente contra o comunismo, a Arábia Saudita, a Líbia, o Egipto, os países do Golfo, to-

O Embaixador da Líbia proferindo o seu discurso na recepção em Lisboa e partindo o bolo de aniversário dos 40 anos de Kadhafi no poder

dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 19


A Líbia celebra em Lisboa O aniversário da Revolução

5

6

7

8

9

5. Maria da Luz de Bragança e ➤

mesmo tempo por dois ór-

das individualidades presentes,

Saoud Eltayari, Conselheiro da

gãos das Nações Unidas, então

confirma-nos a importância das

tiraram-na do Tribunal de Haia

boas relações entre os nossos

6. Embaixador Ali Emdored rodeado

mandaram-na para o Conselho

dois países e o relevo dado ao

da família, junto a um retrato de

de Segurança e emitiram san-

papel desempenhado por Muam-

ções que castigaram o povo líbio

mar Kadhafi na actual política

durante doze anos”.

global e como “Rei dos Reis” na

8. Maria de Belém Roseira

A recepção da Embaixada da Lí-

União Africana, de que é Presi-

9. A presença do Núncio Apostólico

bia, dado o número e a projecção

dente.

20 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010

n

Embaixada da Líbia

Muammar Kadhafi 7. Diplomatas da Embaixada da Líbia em Lisboa

em Lisboa


KADHAFI – nos 40 ANOS da revolução

Grande Rio Artificial Revolução Líbia constrói o maior aqueduto do Mundo com 5 metros de diâmetro e 3500 quilómetros de extensão

Um trabalho impressionante que é a prova da capacidade de um povo que determina o seu próprio destino. Uma grande conquista da Revolução liderada por Muammar Kadhafi

O Governo líbio transformou o deserto num local fértil promovendo o acesso à água da população das cidades, da indústria e da agricultura. O projecto Grande Rio Artificial, um gigantesco aqueduto subterrâneo, revolucionou o acesso à água da população, das municipalidades, da indústria e agricultura do país. Este empreendimento, que já foi considerado a 8ª Maravilha do Mundo, abre possibilidades económicas inimagináveis. Uma revolução no mais profundo significado da palavra e que muda a economia do país e representa um salto de séculos em frente realizado em pouco tempo. Prova a capacidade de um povo que determina o seu próprio destino e uma grande conquista da Revolução liderada pelo Líder Muammar Kadhafi. A água é bombeada dos aquíferos sob o Sahara na parte sul da Líbia, onde os recursos hídricos subterrâneos se estendem para o Egipto e Sudão. Então, a água é transportada por um pipeline com destino ao norte do país. Esta grandiosa obra de engenharia envolve a colecta de água de 270 poços no leste da Líbia central, transportando-a através de cerca de dois mil quilómetros. O Grande Rio Artificial reúne dois milhões de metros cúbicos de água por dia. O sistema envolve quatro mil quilómetros de tubos e dois aquedutos de cerca de mil quilómetros. Como mais de 95 por cento do território da Líbia é deserto, as novas fontes de água proporcionam milhares de hectares de terras irrigadas. Graças a esta gigantesca obra, estão a ser irrigados 135 mil hectares de terreno e produzidas plantações que já atingiram 270 mil toneladas de cereais por ano e 760 mil toneladas de forragem para alimentação animal, além de frutas, legumes e verduras em abundância. Além disso, o Grande Rio Artificial tem como objectivo chegar a todas as aldeias e comunidades do país. Para a concretização deste projecto foram abertos mil e trezentos poços, alguns com profundidade que chega a 500 metros. Com isso conseguiu-se um fluxo de 6,5 milhões de metros cúbicos de água por dia. Para se ter uma ideia do salto de qualidade no acesso à água, isso significa uma disponibilidade média diária de mil litros de água para cada cidadão líbio.

n

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 21




Memória diplomatica

1

A guerra e a reconciliação por Katarzyna Skórzynskza embaixadora da Polónia em Portugal

Entre todas as nações que partici-

23 de Agosto de 1939, que previa

param na Segunda Guerra Mun-

a divisão da Polónia entre a Ale-

dial, a Polónia é aquela que sofreu

manha e a União Soviética, bem

as ocupações alemã e soviética

como a influência soviética sobre

durante o mais longo período de

os países bálticos, a Finlândia, e,

tempo. A ocupação alemã come-

parcialmente, sobre a Roménia.

çou com o ataque do cruzador

Lutando com grande heroísmo

Schleswig - Holstein às fortifi-

contra as esmagadoras forças

cações polacas de Westerplatte

nazis em Setembro de 1939, a Po-

no dia 1 de Setembro de 1939.

lónia tinha sido condenada. No dia

Nem os líderes, nem os cidadãos

17 de Setembro, as tropas soviéti-

comuns tinham conhecimento do

cas entraram pelo lado leste como

protocolo secreto ao pacto Rib-

agressoras e começou a dupla

bentrop-Molotov, assinado no dia

ocupação do país. Nesse

24 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


3

2

1. Setembro de 1939. Divisão ale-

dia, a Polónia foi “apunhalada

tras nacionalidades nos campos

mã de panzers entra na Polónia.

nas costas.“ Estávamos ainda a

de concentração nazis, a destrui-

Fot. FORUM

lutar contra os nazis, mas com o

ção quase total de cidades como

ataque soviético perdemos qual-

Varsóvia, deportações em massa

quer esperança de vencer. Os

da população polaca para o interior

polacos foram as primeiras vítimas

da União Soviética onde muitos

2. Setembro de 1939. Acampamento militar polaco destruído durante a batalha do rio Bzura. Fot. Narodowe Archiwum Cyfrowe

dos dois totalitarismos.

morreriam... As pessoas não ima-

Ponte dinamitada pelos pola-

Todavia, em 1939, no início da

ginavam ainda o que significavam

cos. Fot. Narodowe Archiwum

guerra, ninguém, nem na Polónia,

os totalitarismos. O que eu consi-

nem no mundo, imaginava todas

dero muito significativo é o facto

as crueldades e brutalidades que

de ambos os agressores utilizarem

aconteceriam de seguida tais

métodos semelhantes. Ambos

como: o extermínio dos judeus,

quiseram eliminar a elite polaca o

dos polacos e de vítimas de ou-

mais rapidamente possível,

3. Wyszków, Setembro de 1939.

Cyfrowe

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 25


A guerra e a reconciliação

4

5

6

tendo esta sido o primeiro alvo da

çaram também as execuções em

4. Brzesc sobre o Bug, Setembro de

agressão. Em Novembro de 1939,

massa. O exemplo mais drástico

1939. Encontro entre os solda-

os professores da Universidade

deste tipo de execução foi o crime

dos da Wehrmacht e do Exército

Jagiellonski de Cracóvia foram pre-

de Katyn, quando os soviéticos

Vermelho. Fot. FORUM/SV-Bilder-

sos e deportados para um campo

assassinaram a sangue frio mais

dienst 5. Varsóvia destruída. Fot. Narodowe

de concentração alemão, onde

de 20 000 oficiais e altos funcio-

muitos morreram. Os soviéticos

nários polacos, que tinham sido

deportavam as pessoas em condi-

feitos prisioneiros de guerra. Os

1939. Crianças observam um bom-

ções insuportáveis e desumanas

russos negaram o crime até 1989,

bardeamento alemão. Fot. Instytut

para as regiões mais remotas da

acusando os alemães. A Polónia

Polski i Muzeum im. generała Sikor-

União Soviética. Muitos prisionei-

perdeu, durante a guerra, quase

skiego w Londynie

ros morriam durante o transporte e

seis milhões dos seus cidadãos, ou

à chegada. A partir de 1940, come-

seja 18 por cento da população.

26 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010

Archiwum Cyfrowe 6. Varsóvia, início de Setembro de


7

9

8

7. Gdansk, Setembro. Remoção

Grande parte da sua elite e da

tre os cidadãos, mas levou tempo.

das caixas de correio polacas.

população jovem desapareceu.

O discurso de Angela Merkel –

Fot. EAST NEWS/AKG Images

O processo de reconciliação e de

proferido durante as comemora-

reconhecimento das culpas e erros

ções do septuagésimo aniversário

de Varsóvia. Fot. Narodowe

leva tempo. Nós começámos o

da Segunda Guerra Mundial em

Archiwum Cyfrowe

nosso processo de reconciliação

Gdansk na Polónia – simples,

com a Alemanha em 1965, com

digno e comovente é mais uma

tura de trincheiras. Fot. Naro-

a carta dos bispos polacos aos

prova disto. Com a Rússia, nós

dowe Archiwum Cyfrowe

bispos alemães na qual foram

começámos este processo apenas

escritas as palavras: "Perdoamos

em 1989, com o início da democra-

e pedimos perdão“. A reconciliação

tização e libertação do comunismo.

com a Alemanha é hoje um facto,

Estamos a fazê-lo passo a passo e

tanto entre os governos como en-

com certeza que as cerimónias

8. Setembro de 1939. Negociações para a capitulação

9. Varsóvia, Agosto 1939. Aber-

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 27


A guerra e a reconciliação

10

12

11

do dia 1 de Setembro e a par-

livre. É um grande privilégio. Acho

ticipação de Vladimir Putin são

que o grande apoio dos polacos à

um passo numa boa direcção. Eu

nossa integração na União Euro-

10. Sopot, 1 de Setembro 1939. Violação da fronteira polaca. Fot. Narodowe Archiwum Cyfrowe 11. Moscovo, 23 de Agosto 1939.

considero muito importante que o

peia e na Aliança Atlântica está

Parlamento Europeu tenha apro-

relacionado com as nossas ex-

vado uma resolução que coloca ao

periências passadas. Os polacos

à esquerda Joachim von Ribben-

mesmo nível os dois totalitarismos:

percebem que é muito importante

trop, à direita Viaczeslav Molotov.

o comunismo e o fascismo. A expe-

fazer parte de uma organização

riência polaca e das outras nações

de segurança comum, como é o

da nossa região mostra que os dois

caso da Aliança Atlântica e de uma

tiveram muita coisa em comum e

organização que traz estabilida-

mataram milhões de pessoas.

de política e económica, como a

Represento a primeira geração

União Europeia, para poder viver

após a dos meus avós e dos meus

em paz e trabalhar para assegurar

pais que pôde levar uma vida nor-

a nossa prosperidade económica e

mal numa Polónia democrática e

a dos nossos filhos.

28 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010

n

Assinatura do Pacto Ribbentrop – Molotov. No meio Josef Estaline,

Fot. CORBIS 12. 17 de Setembro de 1939. Soldados soviéticos destroem fortificações fronteiriças polacas. Fot. zbiory Osrodka KARTA


abril/maio 2009 - Diplomรกtica โ ข 1


Diplomacia na 1ª Pessoa

Alexander Ellis Embaixador do Reino Unido em Portugal,

por José Manuel Teixeira e Altino Pinto

Alexander Wykeham Ellis é o Embaixador do Reino Unido em Lisboa desde 2007, altura em que deixou a comissão como assessor do Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, em Bruxelas. Os laços com o nosso país não se prendem apenas com a diplomacia. Alexander é casado com a portuguesa Maria Teresa Adegas, da qual tem um filho. Aos 42 anos apresenta um significativo curriculum de cargos relevantes, sempre ligados ao seu Governo. À Diplomática, Alexander Ellis elogiou o povo português e não deixou de comentar assuntos como o Tratado de Lisboa e as relações bilaterais entre os dois países.

30 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


Já tem alguns anos de experiên-

de Lisboa?

te, nós temos um link que actualiza-

cia nas relações diplomáticas com

Nisso o líder dos conservadores

mos permanentemente que é o travel

Portugal e também afectivas…

sabe explicar-se melhor do que eu.

advice – conselhos para as pessoas

O meu primeiro posto no estrangeiro

Nunca ouvi qualquer sugestão da

que vão viajar para o estrangeiro– fi-

foi aqui. Entretanto, conheci a minha

oposição no Reino Unido contra Du-

zemos umas ligeiras mudanças, no

mulher, que também é diplomata, e

rão Barroso. Antes pelo contrário, no

final de Agosto, por causa de termos

casámos. No tempo em que ocupei

Parlamento Europeu, os conservado-

visto algum aumento do crime sexual

outros cargos, em Londres e Bruxe-

res britânicos apoiaram-no.

no Algarve e de uma certa forma

las, voltava sempre aqui no Verão.

Portugal e a Grã-Bretanha têm

de crime em Lisboa que tinha a ver

Quando surgiu a oportunidade de

uma longa tradição nas relações

com o roubo de carros alugados.

voltar, outra vez, a trabalhar em

bilaterais e nos Tratados, com

No entanto, nós consideramos que

Portugal foi com grande prazer que

altos e baixos. Concretamente,

Portugal é um país relativamente se-

aceitei essa possibilidade.

neste momento, qual é a importân-

guro porque isso não tem mudado, o

Tenho 42 anos, e comecei como em-

cia da Embaixada do Reino Unido

que tem mudado são apenas essas

baixador aos 40, e isso é cada vez

em Portugal?

duas matizes por razões objectivas.

mais vulgar no meu Ministério. Está

Temos muitas actividades, dentro

No momento em que essas razões

a tornar-se cada vez mais vulgar.

desta casa fazemos de facto muita

objectivas deixarem de existir mu-

Isso reflecte também a realidade no

coisa. Desde o trabalho político, falar

damos outra vez o travel advice. É

sector privado no Reino Unido. É o

com o Governo português nas áreas

uma coisa constante que estamos a

reflexo de uma certa mudança na

em que temos causas comuns, tal

reavaliar.

maneira de fazer as coisas. Além do

como as alterações climáticas, sobre

Há algum consulado do Reino

mais, já tenho uma certa experiência.

as quais vamos ter uma cimeira no

Unido no Algarve?

Estive em Portugal, em Espanha, em

fim do ano; em África também temos

Sim, há. Há um consulado de cinco

Bruxelas duas vezes e em Londres,

trabalhado muito em conjunto, assim

pessoas em Portimão, que de Maio

por isso, esta altura é óptima para

como na Guiné-Bissau, Cabo Verde,

até fim de Setembro está sempre

ocupar um cargo em Portugal.

áreas que são sensíveis não só para

sobrecarregado de trabalho.

Em Bruxelas trabalhou com Durão

Portugal mas também para a Europa

Mas este ano, mesmo aqui em

Barroso.

em geral; no sector da Defesa, no

Lisboa, sente-se que houve uma

Exactamente. É um grande presiden-

combate ao terrorismo com o envio

redução do turista britânico. Será

te. Aprendi muita coisa e gostei muito

de tropas para o Afeganistão, onde

por causa da crise? Neste momen-

de trabalhar com ele. É um chefe

já temos nove mil soldados e pre-

to são mais espanhóis e italianos

muito exigente, muito determinado e

cisamos da ajuda de outros povos,

que visitam a capital.

muito capaz. Sempre tive uma boa

como Portugal o sector comercial é

Isso não sei, mas ao olharmos

relação e foi fácil trabalhar com ele.

muito importante para os dois paí-

para os números objectivamente

Portanto está plenamente de

ses; e o investimento, trabalho muito

verificamos que a principal fonte de

acordo pela sua recondução a um

com empresas que estão a pensar,

turistas em Portugal são de Espanha

novo mandato!?

ou que já estão a investir, no Reino

e depois o Reino Unido. Não vi os

Sim, e foi a posição do Governo

Unido; a parte consular não pára e

números deste Verão, por isso não

Britânico que foi um dos primeiros a

até cresce, no ano passado cerca de

posso falar, mas imagino que tenha

apoiar a recandidatura de José Ma-

2,5 milhões de turistas britânicos visi-

havido uma ligeira queda. Eu acho

nuel Durão Barroso à Presidência da

taram Portugal, a maioria o Algarve,

que isso terá mais a ver com a Libra

Comissão Europeia. Pessoalmente

e trabalhamos muito com as autori-

do que com a crise. No último ano

estou muito contente porque apa-

dades portuguesas nesse sentido, e

a Libra tem descido bastante face

receu a pessoa certa no momento

também com os turistas na emissão

ao Euro. Acho que isso explica um

certo para desempenhar aquele tra-

de passaportes, etc.

pouco essa ligeira queda do turismo

balho e o Reino Unido também tem

De qualquer maneira, nos últimos

britânico em Portugal. Mas, como

apoiado muito Durão Barroso desde

tempos, houve uma espécie de de-

disse, ainda não vi os números para

que foi eleito em 2004.

saconselhamento das autoridades

confirmar se, de facto, é assim.

Então e como é que explica que no

britânicas de turismo para Portu-

Em relação à política externa britâ-

Reino Unido o candidato da opo-

gal devido à falta de segurança…

nica e portuguesa existem diver-

sição não queira assinar o Tratado

Não. Se se consultar o nosso websi-

gências ou há uma conciliação?

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 31


Alexander Ellis

Eu acho que a nossa política

Europeia, segundo, o Alto Represen-

não fictícia. Também, os ministros

externa tem muita coisa em comum.

tante da ONU para os Refugiados

britânicos consideram saudável o re-

Trabalhamos em conjunto na União

e, em terceiro, ter Jorge Sampaio

lacionamento de várias civilizações.

Europeia e na NATO, dois órgãos

como Representante Especial para

A União Europeia não é apenas um

multilaterais, dos quais ambos faze-

a Tuberculose, que está a fazer um

“clube” de cristãos, é mais do que

mos parte. Temos também posições

grande trabalho. Se olharmos nesse

isso, é um “clube” de valores ecumé-

comuns em relação a África, ao Irão

sentido, vemos que os portugueses

nicos partilhados, sobre os quais há

e ao Afeganistão. É uma vantagem

têm uma grande facilidade para ocu-

uma grande divergência de opiniões

ser Embaixador num país em que

par altos cargos de responsabilidade.

na Europa. Há aqueles que defen-

olha para o mundo de forma bastante

Acho notável um país como Portugal

dem que a UE tem de ser composta

parecida com a nossa.

conseguir ter tantos líderes a nível

apenas por cristãos. Contudo, eu

As posições da Defesa e do

mundial. Até, às vezes, penso que

acho que deve ser uma organização

Comércio e Investimento são

os próprios portugueses não reco-

mais aberta. Depois porque a Tur-

importantes nas relações entre os

nhecem o que eles têm conseguido

quia nos dá escala. As grandes tare-

dois países? Quais os contornos

fazer. Ter o Presidente da Comissão

fas da União Europeia no futuro vão

dessas relações nesses sectores?

Europeia é muito importante, pois,

para além dos níveis internos, com

Sim, são importantes. No investimen-

ajuda imenso na promoção dos in-

a internacionalização com outros

to o Reino Unido é o segundo maior

teresses do país. Vocês conseguem

países. Tem-se vindo a verificar o au-

investidor em Portugal. Continua a

ter muitos bons altos cargos.

mento do interesse de países tercei-

haver aqui novos investimentos de

Alguns são simbólicos, mas estes

ros devido ao alargamento da União

algumas empresas britânicas. O

não são...

Europeia. Países como a China e a

Barclays está a investir e a crescer

Sim, mas estes não são. São con-

Índia vêem o mercado europeu como

rapidamente. Estou a falar com ou-

cretos. Eu acho que os portugueses

o maior do Mundo. A Turquia dá-

tras grandes empresas que querem

são bons na conciliação de vários

nos ainda mais escala, dá-nos uma

investir cá e que mantêm um grande

interesses distintos e em gerir essas

contribuição importante em termos

interesse comercial neste país. Tam-

diferenças.

de Defesa. Há aqui uma componente

bém falo muito com empresas por-

Como é o relacionamento com o

que tem de se desenvolver dentro

tuguesas que querem, ou já estão,

Ministro dos Negócios Estrangei-

da União Europeia. Apesar de nos

investir no Reino Unido. Algumas já

ros?

trazer fronteiras complicadas, estas

são antigas, por exemplo: a Sonae

Temos uma óptima relação com o

dão-nos um conhecimento duma

tem investimentos em várias áreas

ministério e trabalhamos em muitas

parte do mundo que é cada vez mais

na Grã-Bretanha; também há algu-

áreas conjuntas, seja em questões

importante para a UE, que é o Médio

mas novas, nomeadamente na área

europeias, da NATO, do Afeganistão

Oriente. Da mesma maneira que

da tecnologia – a Alert Life Sciences

ou Irão. Temos uma relação muita

outros países têm trazido conheci-

Computing, a Critical Software. E

aberta e directa.

mento de outras partes do Mundo.

noutras áreas também – a Logoplas-

O Reino Unido é um dos países

Por exemplo, Portugal trouxe o

te é outro grande investidor no Reino

que defende a entrada da Turquia

conhecimento dos países lusófonos,

Unido que está a apostar no tecido

na União Europeia. Porquê?

a Espanha os da América Latina, isto

industrial do país. Nós somos um dos

Nós apoiamos fortemente a entrada

é bom para a Europa.

países mais abertos ao capital es-

da Turquia na União Europeia por

Mas há impressão que se está

trangeiro e este tipo de investimento

várias razões: primeiro, achamos que

a marcar passo. A Turquia está

é bem-vindo. A realização dos Jogos

a UE tem uma influência benéfica no

agora a virar-se para Leste. Ain-

Olímpicos de 2012, em Londres,

apoio a uma transição de qualquer

da agora assinaram o Tratado de

pode também trazer grandes oportu-

país. Por exemplo, no caso de Portu-

Paz com a Arménia. Pode ser uma

nidades às empresas portuguesas.

gal na passagem para a Democracia,

viragem.

Como encara a posição da política

ou a adopção do mercado aberto.

A Europa tem de olhar para além das

esterna de Portugal na Europa e

Na Turquia pode suceder o mesmo.

suas fronteiras. Olhar para fora e não

no Mundo?

Os seus líderes estão a proceder a

para o seu próprio umbigo, como se

Portugal está bem representado no

uma grande transformação do país

calhar tem acontecido nos últimos

plano internacional. É notável ter,

e a perspectiva de vir a ser membro

anos. Por isso temos apoiado com

primeiro, o Presidente da Comissão

da UE ajuda. A perspectiva real e

grande consistência a Turquia

32 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


O Embaixador Alexander Ellis faz diariamente de bicicleta o percurso, entre a sua residência oficial, na Lapa, e a embaixada, na Rua de São Bernardo

Euro. O Reino Unido não está a

Estado-membro da União Europeia.

que temos de evitar uma escolha

cem por cento na UE porque tem

Temos relações bilaterais com os

falsa. Há quem diga: ou vocês são

uma espécie de antena dos EUA

Estados Unidos. Claro que, os EUA

europeus, ou são muçulmanos. Isso

na Europa?

quando olham para o Reino Unido

para mim é uma escolha comple-

Eu acho que isso também é falso.

é como país, mas também pelo seu

tamente falsa. Uma pessoa pode

Ninguém diz que Portugal não é eu-

papel dentro da UE. A Europa tem

perfeitamente ser muçulmana e euro-

ropeu por ter boas relações e muitas

de manter esta visão internacional.

peia. Há milhões de pessoas nessa

cooperações com Angola e Brasil.

Se pensarmos nos grandes desafios

situação. Por exemplo, o Presidente

Ninguém diz: vocês têm boas rela-

globais, sejam as alterações climá-

da Comunidade Muçulmana em Por-

ções com o Brasil, então não podem

ticas, a guerra no Afeganistão, ou o

tugal. Ele é europeu e muçulmano.

ser europeus. Isso é ridículo. É uma

relacionamento das civilizações, a

O Reino Unido está na União Eu-

escolha completamente falsa. Então,

Europa não tem capacidade de resol-

ropeia, mas é considerado muitas

a escolha entre os EUA e a Europa

ver isso sozinha. Temos de trabalhar

vezes como uma espécie de plata-

não faz sentido nenhum. De facto tra-

em conjunto. É uma mais-valia para

forma de ligação com os Estados

balhamos com os dois. Não somos

a Europa o Reino Unido manter uma

Unidos, tanto que não aderiu ao

um Estado dos EUA, mas sim um

boa relação com os EUA.

dentro da União Europeia. Acho

n

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 33


Diplomacia na 1ª pessoa

Gabriel Gafita Embaixador da Roménia em Portugal

Novembro de 2009 assinalou quatro anos de presença do Embaixador romeno em Lisboa, que agora cessou. Gabriel Gafita nasceu na capital romena, Bucareste, há 57 anos, é casado e tem um filho. Cumpriu a sua formação e graduou-se em Línguas Estrangeiras (Inglês e Francês) pela Universidade de Bucareste. No ano de 1975 opta pelo jornalismo como freelancer, colaborando com a Rádio Roménia e com diversas revistas literárias. Foi também, durante treze anos, editor da publicação Kriterion, da Casa das Minorias Nacionais da Roménia. Num plano mais individual lançou uma colecção de histórias que foram traduzidas e publicadas em vários países. Gafita inicia funções no Governo romeno no início da década de 90 como especialista em questões de minorias nacionais, na Unidade de Planeamento da Política do Governo da Roménia. Em 1991 ingressa no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Entre outros cargos relevantes, começou a sua carreira como Embaixador no Canadá (1998). À Diplomática, o Embaixador fez-nos um balanço destes anos no nosso país e falou-nos das relações económicas e comerciais entre os dois Estados.

34 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


Balanço dos anos em que foi

protecção dos menores.

nidade alemã de Banat, uma

Embaixador em Lisboa

No plano da cooperação comer-

região do Oeste da Roménia, no

A minha missão oficial em Por-

cial, com o apoio dos Consula-

ano 1953. Os jovens escritores

tugal começou a 30 de Novem-

dos Honorários da Roménia no

alemães desta parte da Romé-

bro de 2005, quando apresentei

Estoril e no Porto, foram criadas

nia reuniram-se, nos anos 70 e

as cartas credenciais ao antigo

as Câmaras de Comércio Romé-

80, na cidade de Timisoara, num

presidente da República, Jorge

nia-Portugal em Bucareste e a

grupo literário chamado na altura

Sampaio.

Câmara de Comércio Portugal-

”Aktionsgruppe Banat”, no qual a

Neste compasso de tempo tive-

Roménia no Porto.

Senhora Müller era a única mu-

ram lugar a nível europeu alguns

Com o apoio do Consulado Ho-

lher e única prosadora. Ela é de

eventos importantes, em que Por-

norário da Roménia no Algarve

facto o mais conhecido membro

tugal teve um papel central, e de

e das autoridades locais, civis

do grupo, depois de se ter lança-

entre os quais gostaria de realçar

e religiosas, conseguimos ob-

do nos anos 80 na Roménia com

a Presidência Portuguesa do

ter, em Faro, umas instalações

um volume de contos em língua

Conselho Europeu, em 2007, e a

para a igreja destinada a servir

alemã intitulado “Niederungen”

assinatura do Tratado de Lisboa,

a comunidade romena que vive

(Depressões), com o qual ganhou

momento de referência a nível

no sul de Portugal. Um patrocí-

uma certa notoriedade no espaço

da União Europeia, no qual tive

nio franco-português conseguido

europeu de língua alemã.

a honra de participar, junto da

pela Embaixada da Roménia em

Deixou a Roménia em 1987, aos

delegação da Roménia. Em plano

Lisboa teve como resultado a pu-

34 anos, com o seu marido Ri-

europeu mas também bilateral,

blicação, em 2009, dum volume

chard Wagner, mudando-se para

gostava destacar a ratificação do

de poemas de Fernando Pessoa

Berlim Ocidental.

Tratado de Adesão da Roménia

na Roménia. São vários os livros

Foi então que Herta Müller co-

e da Bulgária pela Assembleia da

pertencentes a autores romenos

nheceu a sua consagração no

República, em Março de 2006;

que, nos últimos quatro anos,

espaço literário alemão com

a entrada do meu país na União

foram publicados nas suas tradu-

volumes de prosa inspirados por

Europeia, a 1 de Janeiro de 2007

ções em português.

um lado pela história da comuni-

(a Presidência portuguesa foi

Acabei, no final do mês de No-

dade alemã do Oeste da Romé-

a segunda após a adesão da

vembro a minha missão em

nia e, por outro lado, pela sua

Roménia); a designação do co-

Portugal com a satisfação de

própria experiência sob o regime

missário europeu romeno para o

quem deixa atrás uma Embaixa-

ditatorial de Nicolae Ceausescu.

multilinguismo por parte do Pre-

da renovada no interior e exterior

As suas escritas, traduzidas em

sidente da Comissão Europeia,

no ano de 2006 e de quem criou

vários países, entre os quais Por-

José Manuel Durão Barroso, no

uma instituição romena em solo

tugal, transmite a força épica pró-

mês de Novembro de 2006, em

português: o Instituto Cultural

pria dos escritores originários do

Lisboa; a liberalização do merca-

Romeno de Lisboa, inaugurado

Leste da Europa, e cujas vidas

do de trabalho em Portugal para

em 2007 e que divide as mesmas

foram marcadas pelo trauma dos

os cidadãos romenos e búlgaros,

instalações com o Instituto Fran-

confrontos com o regime totali-

a 1 de Janeiro de 2009; a visita

co-Português.

tário comunista, um tema obses-

oficial do Primeiro-Ministro rome-

Os marcos enumerados cons-

sivo que volta em todos os livros

no a Lisboa, no mês de Julho de

tituem uma enorme satisfação

de Herta Müller. Como escritora

2007. Queria também mencionar

para mim, tendo em vista as

representativa do mundo germâ-

a assinatura de vários acordos

excelentes relações existentes

nico do leste europeu, a Alema-

importantes romeno-portugueses

entre a Roménia e Portugal em

nha apoiou-a constantemente

na área social (respeitantes à

todos os planos.

para o Prémio Nobel desde 1999.

transferência dos benefícios

A escritora romena Herta Mül-

O facto de ter sido eleita em

sociais entre os dois países, aos

ler foi distinguida este ano com

2009 para ser galardoada com

critérios relativos à protecção do

o Nobel da Literatura, o que

o prestigiado prémio tem, com

trabalho) e ao início das conver-

tem a dizer sobre o assunto?

certeza, para além do seu valor

sações com vista à celebração

Herta Müller é uma escritora de

literário incontestável, também

de um acordo bilateral para a

língua alemã nascida na comu-

um significado político que se

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 35


Gabriel Gafita Embaixador da Roménia em Portugal

"Acabei, no final do mês de Novembro a minha missão em Portugal com a satisfação de quem deixa atrás uma Embaixada renovada no interior e exterior no ano de 2006 e de quem criou uma instituição romena em solo português: o Instituto Cultural Romeno de Lisboa, inaugurado em 2007 e que divide as mesmas instalações com o Instituto Franco-Português."

36 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


prende com a comemoração

produtos romenos em Portugal

viaja frequentemente de avião, e

dos 20 anos da queda do Muro de

têm continuado a crescer, mesmo

quem está habituado, especial-

Berlim e dos regimes comunistas

que num ritmo mais reduzido. O

mente nos últimos tempos, a ver

na Europa Central e de Leste.

resultado é que neste momento

os voos muito mais vazios. Há

De que forma tem sido feito o

a balança das trocas comerciais

também muitos portugueses que

investimento da Roménia em

entre os dois países é favorável à

viajam para a Roménia, para ne-

Portugal?

Roménia.

gócios, para turismo, ou juntando

Actualmente, os investimentos

A 31 de Julho de 2009, o valor

as duas coisas. Em 2007, por

romenos em Portugal são prati-

das exportações portuguesas

exemplo, viajaram para a Romé-

camente insignificantes; foram

para a Roménia era de 71 mi-

nia mais de quinze mil portugue-

realizados por cidadãos romenos

lhões de euros, a descer com

ses, e o número de entradas dos

que chegaram inicialmente a

25% em relação ao mesmo

cidadãos portugueses na Romé-

Portugal à procura de emprego,

período de 2008, e o valor das

nia está a aumentar num ritmo de

antes ou depois da entrada da

exportações romenas para Portu-

trinta por cento por ano.

Roménia na União Europeia.

gal era de 92 milhões de euros,

Nos primeiros anos após a

Posteriormente, alguns deles,

a crescer quase cem por cento

Segunda Guerra Mundial, a

na medida em que conseguiram

comparado ao mesmo período do

Legação da Roménia em Lis-

juntar algum dinheiro, montaram

ano precedente.

boa funcionou na Avenida dos

um negócio. Trata-se de peque-

No plano dos investimentos,

Defensores de Chaves. Um

nas empresas, a grande maioria

quero realçar que a Roménia

dos mais conhecidos Chefes

na área da construção, reparação

foi um destino de interesse para

da Legação foi o grande poeta

auto, restauração e outros servi-

as empresas portuguesas nos

e filósofo romeno Lucian Bla-

ços.

anos 2000, mais de 300 empre-

ga (1938-39), e o adido cultu-

O Estado português concede

sas estabelecendo interesses

ral e de imprensa foi depois o

alguns tipos de apoio às em-

de negócios na Roménia. Foram

conhecido filósofo das religi-

presas romenas?

atraídas pelo tamanho do merca-

ões Mircea Eliade (1941-44).

Uma vez registadas em Portugal,

do romeno – o segundo do Leste

O local já não existe, pois a

as empresas detidas por cida-

da Europa, a seguir a Polónia –,

respectiva zona foi derrubada

dãos romenos gozam do mesmo

o ambiente de negócios amigá-

nos anos 50.

estatuto que as empresas por-

vel e a facilidade em comunicar.

As relações diplomáticas entre a

tuguesas; de facto, de ponto de

É esta a razão pela qual estão

Roménia e Portugal foram inter-

vista técnico, estas são empresas

concentradas na Roménia mais

rompidas em 1948. Em 30 de De-

portuguesas.

empresas portuguesas do que no

zembro de 1947 o Rei da Romé-

Em que situação se encontra

resto da Europa de Leste.

nia Mihai I, filho de Carol II, que

a balança comercial entre os

E o turismo entre os dois paí-

faleceu no Estoril em 1953, foi

dois países?

ses?

forçado a abdicar, dando lugar ao

O nível das trocas comerciais

Portugal é um importante des-

regime totalitário comunista. In-

entre os nossos países não é

tino turístico para os cidadãos

teressante é o facto que Portugal

muito elevado, contudo nos úl-

romenos. Para além dos objec-

foi quem impôs a interrupção das

timos anos tem vindo a crescer

tivos turísticos propriamente

relações diplomáticas, em 1948.

num ritmo bastante sustentado.

ditos, os romenos gostam de

O pretexto invocado por Salazar

De uma maneira tradicional, a

estar em Portugal, pois têm uma

foi o facto de não ter a Roménia

balança comercial estava favo-

comunicação fácil com um povo

notificado a Portugal a mudança

rável a Portugal, ou seja Portu-

pertencente à família latina. Há

da sua forma de Estado, de Rei-

gal vendia mais produtos para a

dois voos directos semanais,

no para República. As relações

Roménia do que comprava. Com

operados pela companhia rome-

diplomáticas foram restabeleci-

a instalação da crise económica

na low cost Blue Air, entre Lisboa

das em 1974, após a Revolução

mundial, assistimos a uma redu-

e Bucareste, e até chegam a ser

dos Cravos, quando a Roménia

ção importante das exportações

três no período de verão. Sem

comprou a actual sede da Embai-

portuguesas para a Roménia.

excepção, estes voos estão sem-

xada na Rua São Caetano 5, no

Ao mesmo tempo, as vendas de

pre cheios, surpreendendo quem

alto da colina da Lapa.

n

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 37


Vida Diplomática

Cocktail de despedida do Embaixador da Roménia

2

3

1

5

4

6

7

O Embaixador da República da Roménia e a Senhora de Gabriel Gafita ofereceram na sua residência, na Lapa, um cocktail para se

1. Os anfitriões com o Embaixador do Reino Unido 2. Embaixadores da Eslovénia 3. Embaixadores da Roménia com José Manuel Teixeira

despedirem no fim da sua missão

4. Os cumprimentos do Embaixador da Ucrânia 5. Embaixador do Luxem-

em Portugal, a que não faltaram

burgo, Embaixador da República da Roménia, Embaixatriz do Luxemburgo,

membros do Corpo Diplomático

Embaixatriz da Roménia e Embaixadores da China 6. Embaixadores da

acreditado no nosso país e muitos

38 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010

Polónia e da Turquia 7. Embaixadores do Luxemburgo e da Rússia


8

9

10

11

12

13

cidadãos romenos aqui residentes.

Aproveitando o significado des8. Embaixatriz da Roménia ladeada por Maria Carlota Machado Mendes e

ta cerimónia de despedida, ao

Maria do Carmo Silvestre 9. Ana de Brito e António Alvim 10. Embaixadora

fim de quatro anos de missão,

da Polónia com Embaixador e Embaixatriz da Hungria 11. Embaixadores

a Diplomática aproveitou para

da Roménia e da Argentina 12. Embaixadores da Suíça 13. Manuel Carmo

entrevistar o Embaixador Gabriel

e Margarida Ruas com os Embaixadores que se despedem da sua missão

Gafita, que publicamos nas pági-

diplomática em Lisboa

nas seguintes.

n

dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 39


nações unidas

Irina Bokova É Embaixadora da Bulgária em França e no Mónaco e, desde 2005, da UNESCO também. Tem 57 anos. Licenciou-se em Relações Internacionais em Moscovo, Rússia, e mais tarde estudou nos Estados Unidos. Fundadora do Fórum de Política Europeia, uma ONG búlgara que visa promover os valores europeus na vida pública. Foi a presidente entre 1997 e 2005. É casada e tem dois filhos.

Irina Bokova é a primeira mulher a liderar a UNESCO A diplomata búlgara derrotou o egípcio Farouk Hosny Foi uma eleição renhida. Apenas à quinta

a artistas egípcios e de ter declarado, em

e última ronda de votações foi apurado o

2008, no Parlamento egípcio, que “queima-

novo Director-Geral da UNESCO (Orga-

ria ele próprio” os livros em hebraico que

nização das Nações Unidas para a Edu-

encontrasse nas bibliotecas do país.

cação, Ciência e Cultura). Irina Bokova

Polémicas essas que desencadearam

torna-se na primeira mulher a assumir o

também controvérsias e algum mal-estar

cargo. A ex-ministra búlgara dos Negócios

no seio da diplomacia portuguesa no apoio

Estrangeiros, que na quarta ronda havia

a um candidato para o lugar de Director-

obtido o mesmo número de votos que

Geral da UNESCO. O Ministério dos

Farouk Hosny, 29 cada, acabou por vencer

Negócios Estrangeiros, que em primeira

na derradeira jornada o ministro da Cultura

instância apoiava a candidatura da austrí-

egípcio, com 31 votos contra 27.

aca Benita Ferrero – Waldner, foi depois

Bokova, considerada uma solução da paz

peremptório no apoio ao político egípcio.

na UNESCO, faz parte do Partido Socialis-

Ao que tudo indica em troca de outros

ta da Bulgária (ex-comunista) e é um dos

apoios políticos – um voto do Egipto a

rostos mais populares. Assim que conhe-

favor da entrada de Portugal no Con-

ceu os resultados das votações, a diploma-

selho de Segurança da ONU, em 2011-

ta fez logo uma declaração de entendimen-

2012. Quanto ao embaixador português

to com o Egipto, anunciando à delegação

na UNESCO, Manuel Maria Carrilho,

egípcia que “esperava” que estivessem

recusou-se a votar no candidato egípcio,

“juntos”, porque nunca acreditou “na ideia

invocando razões de consciência.

do choque das civilizações”.

Fonte do MNE referiu que “não há qual-

No sentido oposto, Hosni nunca reuniu con-

quer comentário a fazer” relativamente

senso entre os membros do conselho exe-

ao desentendimento entre o Governo e o

cutivo da UNESCO e foi perdendo o estatuto

embaixador português na UNESCO. Foi

de favorito ao longo das sucessivas vota-

a escolha do Governo, que desde o início

ções. O ministro da Cultura do Egipto há 22

apoiou uma candidatura europeia e como

anos viu-se associado a várias polémicas,

segunda opção era a do Egipto. Houve

sendo mesmo acusado de ter comportamen-

aqui um apoio a Estados e não a individu-

tos anti-semita, de censura, de perseguição

alidades".

40 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010


O Embaixador da República da Bulgária em Lisboa, Ivan Petrov, nasceu em 31 de Julho de 1953 em Sófia. Casado, tem duas filhas e um filho. Entre 1967 e 1972 frequentou o Liceu Francês de Sófia; de 1974 a 1978 - Filologia Espanhola na Universidade de Sófia Sveti Kliment Ohridski (mestrado); e de 1980 a 1982 esteve na Academia Diplomática de Moscovo; em Dezembro de 1999 realizou o Curso de Integração Europeia do Ministério da Economia do Reino de Espanha. Quanto à sua carreira profissional no Ministério dos Negócios Estrangeiros, salientamos: ao serviço do Ministério desde 1979. Trabalhou em vários departamentos, sendo diplomata encarregado das relações bilaterais com países da América Latina, África e Europa, depois chefe de secção e chefe do Departamento da Europa II (Europa Meridional); de Dezembro de 2007 até Junho de 2009 foi Secretário-Geral Administrativo do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Sobre a sua carreira diplomática, destacamos: em 1979/1980, Adido na Embaixada da República da Bulgária

da República da Bulgária em Paris e entre 2005-06 braço

em Lisboa; de 1982 a 1985, Terceiro Secretário na Embai-

direito de Irina Bokova. E Embaixador Extraordinário e Ple-

xada da República da Bulgária em Brasília; de 1990 a 1992,

nipotenciário da República da Bulgária em Portugal desde

Primeiro Secretário e Encarregado de Negócios na Embai-

15 de Setembro de 2009 e tem a categoria diplomática de

xada da República da Bulgária em Luanda; de 1995 a 1998,

Embaixador desde Dezembro de 2007.

Conselheiro na Embaixada da República da Bulgária em

Domina o Português, o Francês, o Espanhol e o Russo e é

Madrid; de 2002 a 2006, Ministro-Conselheiro na Embaixada

fluente em Inglês.

n

A propósito da eleição da embaixadora Irina Bokova para o cargo de director-geral da UNESCO, ouvimos o Embaixador da República da Bulgária em Portugal, Ivan Petrov, que nos esclareceu sobre a personalidade da diplomata designada para ocupar tão prestigiado cargo a nível da política mundial.

"A indigitação da candidata búlga-

em prol da sua candidatura.

ra para o cargo de director-geral da

O currículo da Embaixadora Bokova

UNESCO, na quinta ronda da conten-

é notável: formou-se no Liceu Inglês

da, fez desta eleição a mais disputada

de Sófia e fez licenciatura e mestrado

e a mais mediática, desde a criação

em Relações Internacionais; em 1976

da organização, em 1945. Por 31 a

ingressou na carreira diplomática,

27 votos, a Embaixadora Irina Bokova

tendo posteriormente obtido bolsas de

impôs-se ao seu principal concorrente,

estudo para cursos em universidades

Farouk Hosny, Ministro da Cultura do

norte-americanas; em 1982 prestou

Egipto.

serviço na Representação Permanente

Será a primeira vez que um repre-

da Bulgária na ONU, em Nova Iorque;

sentante da Bulgária e, em geral, do

no período de 1995 a 1996 foi

Sudeste da Europa, ocupa um cargo

Vice-Ministra dos Negócios Estrangei-

de tanto prestígio e responsabilida-

ros. Em paralelo, foi a coordenadora

de numa organização internacional.

responsável pelas relações entre a

Será ainda a primeira mulher a estar à

Bulgária e a União Europeia; em 1996

frente da UNESCO. Para a sua eleição

foi candidata a vice-presidente; de

contribuíram dois factores fundamen-

1996 a 1997 foi Ministra dos Negócios

tais: as aptidões pessoais e profissio-

Estrangeiros; de 2000 a 2005 foi depu-

nais que lhe são características e a

tada no Parlamento búlgaro; em 2005

intensa actividade do Estado búlgaro

ocupou o posto de embaixadora

dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 41


Unesco

da República da Bulgária em Fran-

ganização. Os países árabes também

ça, sendo em simultâneo represen-

devem assumir a sua quota no finan-

tante permanente na UNESCO e

ciamento, principalmente os grandes

representante pessoal do Chefe de

produtores e exportadores de petró-

Estado na Organização Internacional

leo. Neste sentido, a Embaixadora

da Francofonia; a partir de 2007 inte-

Bokova já estabeleceu contactos com

grou o Comité Executivo da UNESCO.

ministros e embaixadores destes paí-

É também vice-presidente do grupo

ses, procurando em conjunto reforçar

dos embaixadores nesta organização.

a participação dos Estados árabes

Irina Bokova é uma pessoa erudita e

nos projectos da UNESCO. Lembrou

enérgica, autora de várias publica-

ainda que tenciona trabalhar com to-

ções sobre os problemas étnicos nos

dos os grupos regionais da UNESCO,

Balcãs e de múltiplos relatórios sobre

encarando o mundo como uma estru-

o alargamento da União Europeia e a

tura multipolar.

adesão da Bulgária às Comunidades.

Nesse sentido, a Embaixadora Boko-

Como ela própria salienta, pertence a

va opõe-se categoricamente à teoria

uma geração liminar, que antes viveu

do confronto das civilizações e enten-

nos anos da Guerra Fria e da Europa

de que no mundo domina uma única

dividida. Domina perfeitamente as

civilização, a civilização humana que

quatro línguas básicas da UNESCO:

engloba múltiplas culturas, em per-

inglês, francês, espanhol e russo.

manente intercâmbio e influência mú-

Não há dúvida que a Embaixadora

tua. Por isso, ela formula como uma

Bokova exerce uma intensa activida-

das tarefas básicas da UNESCO a

de e irá ocupar condignamente este

preservação da diversidade cultural.

novo posto. Durante a campanha

Isso exige uma nova atitude, definida

visitou cerca de 45 países, tendo-se

como a mensagem mais importante

encontrado com centenas de entida-

do seu programa, intitulado O Novo

des oficiais e gente dos meios acadé-

Humanismo do Século XXI.

micos, culturais e cívicos. Digno de

Tudo o que acabei de enumerar per-

respeito é o seu comportamento de-

mite-me considerar que na pessoa da

pois de conhecidos os resultados que

Embaixadora Irina Bokova a UNESCO

levaram à indigitação. A Embaixadora

terá não só um director-geral enérgi-

Bokova deu provas de tolerância e

co e competente, mas também uma

declarou a sua disponibilidade para

personalidade que abraça a diversi-

trabalhar com todos os que se batem

dade cultural e os valores universais

pelo progresso cultural e espiritual

da humanidade.

do mundo. Sublinhou ainda que todos

Como búlgaros, sentimo-nos particu-

os candidatos ao cargo propuseram

larmente orgulhosos pela eleição da

excelentes ideias e que as porá em

nossa compatriota para este alto car-

prática no seu futuro trabalho. Oriun-

go. A avaliação unânime do Ministério

da de uma região da Bulgária onde

dos Negócios Estrangeiros e de todas

vive também população muçulmana,

as instituições estatais búlgaras é

afirmou o seu respeito por todas as

de que a indigitação da Embaixadora

religiões e grupos étnicos e tenciona

Irina Bokova para o cargo de

prová-lo no futuro.

director-geral da UNESCO e a sua

Irina Bokova tem ideias para melho-

eleição constituem um enorme re-

rar a situação financeira da UNESCO

conhecimento para a Bulgária e um

e exortou as instituições financeiras

êxito da diplomacia búlgara.

mundiais, como o Banco Mundial e

Para assegurar apoios à sua candida-

o Fundo Monetário Internacional, a

tura envidaram esforços dois gover-

participarem nas actividades da Or-

nos búlgaros, todas as instituições

42 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010


A UNESCO é a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Foi criada em 1945, com a adopção do Acto Constitutivo a 16 de Novembro. O seu principal objectivo é o de contribuir para a paz, desenvolvimento humano e segurança no mundo, promovendo o pluralismo, reconhecendo e conservando a diversidade, promovendo a autonomia e a participação na sociedade do conhecimento. Tem sede em Paris e dispõe de escritórios regionais e nacionais em vários países. Tratando-se de uma agência especializada da ONU, as suas línguas oficiais são o inglês, o francês, o espanhol, o russo, o árabe e o chinês e conta com 191 Estados-membros e 6 Estados associados.

nacionais, destacados intelectuais

n

Chefe de Estado búlgaro considera-a

e cientistas, tal como a sociedade

mais do que natural, pelo facto de a

civil, que a apoiaram desde o início

Dra. Bokova, enquanto búlgara, ter

da campanha, a fim de obter o mais

em si a marca congénita da tolerân-

amplo apoio internacional. Este facto

cia para com as diferentes etnias,

é revelador de que existe continui-

religiões e culturas, característica da

dade no plano da política externa e

Bulgária e do povo búlgaro.

capacidade das instituições búlgaras

A ex-ministra da Cultura Francesa,

de coordenarem as suas acções, em

Simone Veil, declarou que a UNESCO

nome de uma causa comum.

precisa de unir os povos e as cultu-

A ministra búlgara dos Negócios

ras, de trabalhar num clima de tole-

Estrangeiros, Dra. Rumiana Jeleva,

rância e de concordância, de estar

avaliou a eleição da Embaixadora

acima das divergências, pelo que

Bokova como o culminar da sua notá-

a Embaixadora Bokova é a pessoa

vel carreira profissional e a afirmação

certa para estar à frente da UNESCO

do prestígio da República da Bulgária

nos próximos anos.

no mundo. Esta eleição tornou ainda

Faço questão de sublinhar que o

maior a confiança na política externa

papel activo e construtivo da Bulgária

búlgara. A campanha da embaixadora

na UNESCO não se esgotará com a

Bokova foi aberta, coerente e bem in-

eleição da Embaixadora Bokova para

tencionada. Daí que tenha obtido um

o cargo de director-geral. Na sua

amplo apoio e tenha testemunhado

alocução em nome da Bulgária, na

aos 193 membros da Organização o

35ª sessão da Conferência Geral da

seu profissionalismo e a capacidade

UNESCO, o Vice-Ministro dos Ne-

de fazer convergir diversas opiniões,

gócios Estrangeiros, Marin Raykov,

de propor soluções adequadas e de

chamou a atenção para o tema das

trabalhar no sentido da afirmação

consequências da crise económica

da paz, da educação e da unidade

global e para o reflexo que ela tem

no mundo, o que é afinal o objectivo

nas políticas nacionais na esfera

estratégico da UNESCO.

da educação e da cultura. Salientou

Este facto foi alvo de uma aprecia-

ainda a necessidade de que, preci-

ção altamente positiva por parte do

samente agora, a Organização das

Presidente da Bulgária, para quem a

Nações Unidas para a Educação, a

eleição da Embaixadora Bokova é um

Ciência e a Cultura contribua activa-

reconhecimento do papel e do contri-

mente para a realização de projectos

buto do país para o desenvolvimento

na área da cultura e de campanhas

e para os trabalhos da UNESCO já

de preservação e divulgação do patri-

há mais de meio século. Algo mais, o

mónio cultural mundial."

n

dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 43


Diplomacia na 1º pessoa

Entrevista a Natália Carrascalão Embaixadora de Timor-Leste em Portugal, por Altino Pinto Maria Natália Guterres Viegas Carrascalão da Conceição Antunes, filha de mãe timorense e de pai português, um algarvio deportado para Timor pelo regime do Estado Novo, tem 56 anos e orgulha-se das raízes e da formação luso-timorense que desde sempre marcaram a sua vida. Nasceu nas montanhas de Liquiçá – Fazenda Algarve – a nova representante do Estado timorense chegou a frequentar o Curso de Direito na Universidade Ásia Oriental em Macau, foi desportista assídua, internacional de basquetebol e amante de desportos motorizados e radicais. Tem um filho, gosta muito de ler, da arte da fotografia, e dá muita importância à cultura geral.

44 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


Fale-nos um pouco do seu per-

sado com um militar do Exército

forma diferente da que os timo-

curso.

Português e quando ele acabou a

renses na generalidade estavam,

Considero-me uma mulher simples

comissão viemos para Portugal.

normalmente pertencendo a um ou

como muitas que existem pelo

Dada a altura, o meu marido e eu,

outro partido de Timor – mantendo-

mundo fora, talvez com algumas

ainda dois jovens, tivemos que ir

me só em Portugal continental em

pequenas diferenças, visto vir de

trabalhar. Fizemos “part-times”

actividades político-partidárias. De-

um país pequenino em dimensão,

na Feira Popular e ao fim de uns

pois de Abril de 1974, começaram

como é Timor-Leste, onde todas

tempos acabámos por ir para a

a surgir em Timor partidos políticos

as mulheres e todos os homens de

Austrália. Em Sidney, – talvez por

e na minha qualidade de mulher de

boa vontade devem e têm de ser

ter estado em Timor numa escola

um oficial do Exército Português

aproveitados. Tive um percurso de

técnica e comercial ganhando al-

era-me vedada qualquer activida-

vida um tanto ou quanto atribulado

guma especialização e prática – foi

de político-partidária no Território.

porque saí de Timor praticamente

aberto um concurso para formado-

Acabei por nunca fazer parte de

aos vinte anos, antes da guerra

res de dactilografia e caligrafia, que

nenhum partido político timorense.

civil de 1975, e vi-me em Portugal

eram disciplinas que se davam na

Só que ao sair de Timor, já tinha o

naquela fase difícil, em que tinha

escola técnica, e eu concorri. Como

“bichinho da política”, que no meu

acontecido o 25 de Abril. Vinha

sempre fui muito lutadora, não me

caso penso ser genético, levou-me

habituada a uma família em que

custou nada candidatar-me, pois

a querer ter uma vida politicamente

felizmente nada faltava e de re-

já dominava a língua inglesa e fui

activa e lutar pelos meus ideais de

pente dei por mim, longe de tudo

à luta. Consegui ser formadora da

Social-Democracia e fi-lo através

e de todos, num meio em que até

Escola Técnica de Liverpool e na

do PPD/PSD de Portugal. Ajudei

ter um trabalho, não um emprego,

qualidade de uma imigrante acaba-

a criar a Secção do PPD/PSD

era muito difícil de conseguir. O Pai

da de chegar. Depois candidatei-

Macau, e também um núcleo na

era um homem algarvio chegado a

me para outra escola, a Wetheril

Austrália. Depois, voltei a Portugal,

Timor como deportado político, que

Technical College onde também

onde fui convidada para os órgãos

mais tarde se tornou num planta-

trabalhei, mas ao fim de pouco

nacionais e directivos do partido e

dor de café. Em 1974, vinha com

mais de um ano parti da Austrália.

fui eleita deputada. Durante esse

uma ânsia de conhecer aquele país

O meu marido candidatou-se então

tempo, que foi também um dos

que com a revolução dos cravos,

a um lugar em Macau e decidimos

momentos mais visíveis da causa

fez com que, pela primeira vez na

ir para o Território, e lá acabámos

de Timor-Leste, quando as pesso-

minha vida, visse o Pai tão alegre

por ficar quase uma década mas

as me perguntavam: está cá agora

que até cantou. Isso tinha mexido

em momentos diferentes. Em Ma-

como deputada e no dia em que Ti-

muito comigo e queria perceber o

cau servi na Administração Pública

mor for independente como é? Eu

porquê. Mas ao chegar a Portugal,

do Território, mas passados três

respondia: no dia em que Timor for

o país do Pai e que sempre sonhei

anos tive de regressar à Austrália

independente regressarei a Timor-

conhecer, tive um choque enor-

ou perdia o visto que me tinham

Leste, a meu ver não deveremos

me. Primeiro, porque imaginava

concedido. Ingressei no Departa-

levantar bandeiras sem depois as

“um jardim à beira mar plantado”,

mento de Imigração e era também

cumprirmos.

e encontrei uma Lisboa cheia de

uma forma de estar próxima das

Em 2006, resolvi ir mesmo para

manifestações, suja de cartazes

pessoas que chegavam de Timor

Timor-Leste. No entanto, achei que

e de escritos nas paredes. Só ao

e de outros países. Para além de

não devia aderir a partido nenhum,

fim de alguns dias é que me aper-

tradutora-intérprete, fazia a recep-

nem trabalhar para qualquer insti-

cebi porque é que essas coisas

ção dos novos imigrantes e dava-

tuição, por não considerar justo ir

estavam a acontecer. Portugal é

lhes toda a informação sobre o país

competir com os timorenses que

realmente “um jardim à beira mar

e a forma de vida. Ao fim de alguns

nunca tiveram as mesmas oportuni-

plantado”, mas só nessa altura é

anos regressámos a Macau e em

dades. Havia uma enorme diferen-

que tomei consciência de que as

1998, devido às circunstâncias

ça na forma de estar dos timoren-

pessoas tinham necessidade de

históricas, retornámos a Portugal.

ses que estudaram na Indonésia,

exteriorizar tudo aquilo que sentiam

Por todos estes lugares por onde

que naturalmente tinham alguma

com a conquista da democracia-

passei, fui estando sempre ligada

dificuldade em falar português, di-

liberal. Entretanto, tinha-me ca-

de algum modo a Timor – de uma

ferentemente dos timorenses que

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 45


Natália Carrascalão

vinham de Portugal. Considerei

uma mais-valia para Timor-Leste.

Como têm sido estes primeiros

que deveria continuar a manter

Para mais, já tinha decidido radi-

tempos, em Portugal, como Em-

isenção político-partidária em

car-me em Díli, tendo a vida toda

baixadora?

Timor-Leste, dado que em Portu-

reorganizada e acompanhada por

Vou ser muito sincera. É uma

gal tinha experienciado toda uma

toda a família. Ponderei também

agenda muitíssimo intensa e desa-

vida profissional e política. Enve-

qual o interesse e a necessidade.

fiadora. Não gosto de falar neste

redei pela vida empresarial, tendo

Cheguei à conclusão que o interes-

assunto porque já troquei impres-

aberto dois restaurantes, uma loja

se só poderia ser o de: fortalecer,

sões com várias pessoas ligadas

de artesanato e outra de presen-

cada vez mais, os laços de amiza-

ao meio diplomático e sempre me

tes, e para tal foi remodelado um

de entre Timor-Leste e Portugal,

fizeram crer que as agendas só

edifício para abrir umas galerias, as

para além da defesa e promoção

ocasionalmente têm essa carga tão

galerias “STOP”. Passados alguns

dos superiores interesses nacio-

intensa como a minha. Em tom de

meses, o Presidente da República

nais da República Democrática de

brincadeira, costumo dizer que os

convidou-me para colaborar com

Timor-Leste. Foi concerteza um

funcionários da Embaixada que-

a Presidência e tive de equacionar

orgulho e uma honra enorme para

rem, logo à primeira, massacrar-me

o contributo que poderia dar ao

mim poder servir desta forma o

com o trabalho. Nesta experiên-

Serviço Público com o que estava

meu País.

cia, o meu dia-a-dia tem sido o

a dar à sociedade civil pela via em-

E, para isso, nada melhor do que

de servir em pleno o meu País, é

presarial, com a criação de postos

colocar cá uma pessoa que co-

um desafio muito intenso e ainda

de emprego para alguns timoren-

nheça as duas realidades, como

continuo a ter que esforçar-me para

ses. Hoje permanece o grupo de jo-

a Senhora Embaixadora…

conciliar toda a minha actividade

vens que está a dar seguimento ao

Exactamente. Por ser uma pessoa

diurna com a diferença horária

projecto empresarial, entraram para

que conhece as instituições, as

com Timor-Leste, que são de mais

lá praticamente sem saber fazer

pessoas, que consegue contactar

oito horas. O posto assim o exige:

nada, nem falar português, e hoje

com os mais variados interlocuto-

apoiar os estudantes bolseiros

são bons funcionários e já falam a

res, não esquecendo que a ques-

timorenses e acompanhá-los no

Língua. Entretanto, aceitei servir

tão de Timor, em Portugal, é uma

seu percurso académico, contactar

com muita honra o posto de Chefe

questão transversal. Não há privilé-

com instituições e organizações

da Casa Civil que durou mais de

gios sectários, nem para um lado,

públicas, privadas e público-priva-

dois anos, onde tive oportunidade

nem para o outro, porque a maioria

das; conceder audiências e parti-

natural de aprender com o Senhor

do povo português, quase todo e

cipar em reuniões com empresas

Presidente da República, Dr. José

qualquer cidadão português, inde-

portuguesas que necessitem de

Ramos-Horta – Prémio Nobel da

pendentemente de considerar ou

informações sobre Timor-Leste,

Paz, ex-Primeiro-Ministro, ex-

não importante a causa timorense

acompanhar e estar atenta ao

Ministro dos Negócios Estrangei-

de 1999, todos estiveram sempre

desenvolvimento dos processos

ros, o rosto histórico da diplomacia

ao lado dos timorenses. Toda essa

de cooperação; consultar as insti-

timorense – os conhecimentos de

ponderação levou-me ao entendi-

tuições quando nos surgem dúvi-

diplomacia e suas aplicações práti-

mento que ainda podia contribuir

das, e procurar captar de Portugal

cas, até à hora que surgiu a oportu-

para o Bem Comum da Nação, do

novas sinergias de cooperação que

nidade de desempenhar o posto de

País que represento, fortalecen-

nos permitam colmatar carências

Embaixadora de Timor-Leste em

do ainda mais as relações entre

sectoriais a nível do “know-how”.

Portugal. O que considero que foi

Timor-Leste e Portugal. Tal como

Nós ainda somos um País recente,

um enorme privilégio.

frisei: ao estar trinta e tal anos a

nem todas pessoas estão comple-

Qual a razão de deixar o cargo

servir Portugal, nesta hora, não

tamente formadas para trabalharem

de Chefe de Gabinete do Presi-

será nunca demais servir Timor-

em determinadas áreas, e o apoio

dente da República de Timor-

Leste, a terra que me viu nascer.

de outros países e neste caso parti-

Leste para vir dirigir os destinos

Até por ser Embaixadora de nome-

cular de Portugal – ainda por cima

diplomáticos da Embaixada

ação política, sinto a responsabili-

por partilharmos um Património

timorense em Lisboa?

dade acrescida de tudo fazer para

que vem de uma mesma História e

Ponderei bastante quando mo pro-

que não sejam goradas as expecta-

Língua – é decisivo.

puseram, principalmente, se seria

tivas de quem me escolheu.

É uma aposta da política

46 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


A Embaixadora de Timor-Leste em Portugal mostra-nos o livro "Os Presidentes do Parlamento" oferecido por Jaime Gama aquando da visita da Embaixadora à Assembleia da República.

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 47


Natália Carrascalão

internacional de Timor-Leste in-

numa plataforma para os países

a ver Timor-Leste a avançar por

tensificar as relações com Portu-

de Língua Portuguesa, incluindo

um caminho que nos leve a che-

gal? Como define essa política?

Portugal e não só, podendo deste

gar, quem sabe, a uma altura em

Portugal foi um país que esteve

modo, terem acesso ao espaço

que possamos inverter as posições

sempre, sempre, sempre na linha

económico e cultural privilegiado

e ajudar todos aqueles que nos

da frente de apoio a Timor-Leste

que é o da ASEAN. A reter, são

apoiaram. Não sabemos quando

e na altura em que Timor procu-

cerca de quinhentos milhões de

poderá vir a acontecer, mas eu

rava obter a sua independência.

consumidores asiáticos de que Por-

desejo e prevejo que sim.

Os timorenses não são ingratos e

tugal pode beneficiar e a vantagem

E a nível dos recursos humanos?

olham sempre para Portugal como

que representa para Timor-Leste

Neste momento há perto de cente-

o país que sempre nos ajudou,

poder cultivar uma relação mais es-

na e meia de professores enviados

que sempre recebeu os refugiados

treita com os Estados-membros da

por Portugal e é capaz de ser pro-

dentro das suas possibilidades.

União Europeia. Este é o potencial

vável um aumento desse número,

Os refugiados timorenses vieram

demonstrado das sinergias criadas

porque Timor-Leste está decidido

para Portugal numa altura muito

da sobreposição das plataformas

a intensificar o ensino da Língua e

difícil. Sei o que é o Vale do Jamor.

regionais onde cada Estado-mem-

a abrir mais quatro Escolas Por-

Tenho familiares que viveram lá,

bro da CPLP está inserido. Todos

tuguesas nos distritos do interior

inclusivé uma irmã que acabou

estes vectores estratégicos fazem

do país com os meios e condições

por falecer lá, e sei que receberam

parte da nossa Política Externa.

idênticos aos da escola portuguesa

sempre os timorenses como iguais

Saliento que a questão da Lín-

em Díli.

dentro das suas limitações da

gua Portuguesa é um conceito de

No momento existe apenas uma

altura. Existe, portanto, uma neces-

diferencialidade fundamental para

Escola Portuguesa em Díli.

sidade muito forte de mostrarmos

Timor-Leste e tanto que é nossa

Sim, mas a Escola Portuguesa que

a nossa gratidão a Portugal e aos

como vossa.

existe em Díli não pertence ao Go-

portugueses. E a nossa gratidão

Nessa parte da cooperação entre

verno timorense. Essa Escola é um

não é estarmos com complexos de

os dois países, para além da

programa da Cooperação Portu-

inferioridade a dizer constantemen-

entrada na ASEAN e da Língua,

guesa, e é Portugal que suporta as

te “obrigado, obrigado”. A nossa

quais são os outros pontos? Na

despesas, à semelhança do que se

gratidão é entendermo-nos de igual

Educação, por exemplo, em que

passa na Guiné-Bissau, Moçambi-

para igual e afirmar: “nós temos

é que o Governo português pode

que ou em Macau.

possibilidade de fazer isto e isto,

ser útil?

Da rede de ensino em Língua

meus senhores estão interessa-

A nível da educação a cooperação

Portuguesa, regulada pelo Governo

dos em cooperar nesta ou naquela

é óptima e está-se a alargar cada

timorense, contam-se no total com

área? Querem investir em Timor-

vez mais, só que precisamos ter

mais de mil escolas públicas e pri-

Leste?” É conseguirmos mostrar

em consideração que Timor-Leste,

vadas do básico ao secundário.

a Portugal e a toda a comunidade

no que respeita às áreas da Edu-

E essas cerca de duas centenas

internacional que nós somos um

cação, já está numa fase diferente

de professores estão colocados

país viável, pró-activo e de futuro,

daquela em que se encontrava em

aonde?

que se está a desenvolver a par

e, como tal, as políticas de coo-

Não estão todos na Escola Por-

e passo, e mesmo estando Portu-

peração terão talvez de ser rea-

tuguesa. Estão distribuídos pelos

gal geograficamente distanciado

valiadas. Felizmente, para Timor-

distritos e têm por missão dar for-

- o que já não é tão problemático

Leste e para os timorenses, o País

mação aos professores e formado-

numa era onde as tecnologias de

começa a ter alguma capacidade

res timorenses e também dar aulas

comunicação, informação e trans-

económica e orçamental, o que nos

específicas de português noutras

portes estão tão evoluídas – é sem-

possibilita pedir o apoio de Portugal

instituições de ensino e nos diver-

pre bem-vindo o seu investimento

para a formação do capital humano

sos ministérios, quando solicitados

num país de grande futuro. Timor-

e transferência de tecnologia, o

para isso, ensinando português aos

Leste está apostado a entrar na

“know how”, para a gestão de al-

funcionários desses organismos.

ASEAN – Associação das Nações

guns programas, sendo que já será

O que é que se passou no arran-

do Sudeste-Asiático – como mem-

Timor-Leste a suportar os encar-

que deste ano lectivo, com o atra-

bro de pleno direito, tornando-se

gos. A pouco e pouco começamos

so na abertura do ano escolar?

48 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


A Escola Portuguesa já está em

é um dado adquirido que o tipo de

da melhor estética e material das

pleno funcionamento pelo que tive

Constituição e de Direito influen-

condecorações, preocupações não

conhecimento. Houve um atraso do

ciam sempre o modus operandi nas

só do Presidente da República mas

dia 20 de Setembro ao dia 8 ou 9

práticas de investigação policial.

também de um dos seus assesso-

de Outubro.

Neste momento quantos agentes

res, uma pessoa altamente enten-

Veio a público que esse atraso

de autoridade se encontram em

dida na matéria. Peça para ver a

foi devido a um suplemento pago

Timor?

condecoração dos agentes da GNR

aos professores…

Estão presentes um sub-agrupa-

que são agraciados em Timor-

Quem já viveu em muitos países

mento da GNR, composto por mais

Leste e repare na qualidade e na

pelo mundo fora sabe que isto

de uma centena de militares, da

fineza do desenho. É o melhor que

pode acontecer. Eu presumo que

PSP estão cerca de meia centena

nós podemos fazer. As nossas con-

deve ter sido algo relacionado com

de agentes, chefes e oficiais, das

decorações não são banalizadas

a logística, ou por não ter sido

Forças Armadas Portuguesas estão

como já ouvi comentar, são lindas

possível enviar professores naque-

vários formadores nas FALINTIL -

e pesadas de profundo sentido e

la altura, ou até suponho que tenha

Forças de Defesa de Timor-Leste –

reconhecimento meritório, para-

sido devido ao número reduzido de

F-FDTL e ainda vários assessores

fraseando Luís Vaz de Camões,

viagens que existem para a Ásia

de membros do Governo, entre os

“Mais razão há que queira eterna

em época alta. Sinceramente não

quais, junto do Secretário de Es-

glória, quem faz obras tão dignas

faço qualquer crítica a isso. Deve

tado da Defesa, das F-FDTL. Na

de memória”. Tenho a opinião que

ter sido por razões meramente

Componente Naval, contamos com

a pessoa que seja distinguida,

técnicas. A única coisa de que eu

a contribuição de formadores da

de certeza absoluta, sentir-se-á

tenho a certeza absoluta é que a

Marinha Portuguesa, e mais ainda,

orgulhosa de a ostentar em dias

Escola Portuguesa de Díli já está

temos alguns elementos das F-

muito especiais. Assim como ouvi

a funcionar em pleno desde inícios

FDTL em formação noutros países.

de tantos outros militares de outros

de Outubro.

A Portugal vieram vários militares

países que também foram agracia-

E em termos da Defesa e Segu-

timorenses para darem seguimen-

dos.

rança. Qual a importância da

to às suas especializações, tanto

Ainda relativamente à entrada de

presença das forças militares

em formação como em estágios.

Timor-Leste na ASEAN e à as-

portuguesas em Timor-Leste?

Temos oficiais a serem formados

sinatura do acordo ortográfico.

A importância é muito grande

na Escola de Fuzileiros, no Vale de

Qual a importância destes dois

sobretudo na área de formação da

Zebro, na Unidade dos Comandos,

aspectos?

doutrina das forças e das práti-

na Carregueira e ainda na Acade-

Vou comparar a entrada de Timor-

cas dos agentes. Sobretudo pela

mia Militar portuguesa.

Leste na ASEAN com a entrada de

experiência que Portugal tem, por

E em Timor-Leste também re-

Portugal na União Europeia. Por-

conhecer bem os problemas dos

cetemente foram distinguidos

tugal conseguiria viver isolado da

antigos territórios ultramarinos,

alguns militares.

UE? Não, e Timor-Leste também

pela facilidade de comunicação,

Desde 1999, presumo que não

não consegue viver isolado, quer

por partilharmos a mesma Língua

tenha havido nenhum militar por-

em termos de segurança, quer em

e História, pela experiência dos

tuguês em Timor-Leste que não

termos de toda a legislação sobre

últimos anos que as forças arma-

tivesse sido distinguido. Os timo-

várias matérias, quer em termos

das e de segurança portuguesas

renses têm a gratidão como um

económicos e de desenvolvimento,

têm adquirido do trabalho desem-

dos seus valores identitários, muito

ou da facilitação das exportações e

penhado no terreno. Por outro lado,

comum aos povos asiáticos. E as

abertura de novos mercados. Nós

seria pertinente realçar que faz

instituições quando resolvem dar

ainda estamos na fase de prepara-

todo o sentido que a doutrina seja

esse reconhecimento é com um de-

ção. Temos de ter em atenção que

semelhante à dos países de Língua

sejo muito forte de dar. Eu já assisti

Timor-Leste só é independente há

Portuguesa, pois, existem regu-

a diversas cerimónias de agracia-

relativamente poucos anos. Es-

larmente os exercícios militares

ção e lembro-me das palavras mui-

tamos a tentar que em 2012 seja

conjuntos – FELINO, fará sentido

to sentidas do nosso Presidente da

possível entrar para a ASEAN, mas

privilegiar-se a cooperação neste

República ao concedê-las. Tenho

para acedermos temos de estar de-

sector por exemplo com Portugal e

bem presente o cuidado na escolha

vidamente preparados, tal como

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 49


Natália Carrascalão

Natália Carrascalão acreditada como membro do Corpo Diplomático em Portugal pelo Presidente Cavaco Silva

Portugal teve de se preparar

Temos de pensar em termos da

a concertação político-diplomática

durante anos para entrar na UE. Se

região geográfica em que nos

entre os Estados-membros da

não reunirmos as condições neces-

inserimos, até por razões geoeco-

CPLP e na projecção da Língua

sárias também a Organização nos

nómicas, geopolíticas e geoestraté-

Portuguesa como ferramenta de

poderá dizer: “Nós não queremos

gicas. Mas tudo será decidido num

trabalho nas Organizações Inter-

um fardo, mas sim um país que

futuro que esperemos para breve e

nacionais. Agora, pessoalmente

possa contribuir para a Associa-

coroado de sucessos.

confesso que será difícil alterar o

ção”. Ora, se na ASEAN fazem

E o acordo ortográfico é impor-

meu hábito de escrever, de manei-

parte os Estados-membros, como o

tante para Timor-Leste?

ra que sou capaz de ficar confundi-

Brunei, Cambodja, Filipinas, Indo-

O acordo ortográfico é importante

da. Mas, o objectivo é o de facilitar

nésia, Laos, Malásia, Myanmar,

para todos aqueles que discutiram

a divulgação e o uso da Língua por

Singapura, Tailândia, Vietname,

essa matéria, o assinaram e con-

uma Comunidade de mais de 240

faz todo o sentido que Timor-Leste

cordaram, considerando um meio

milhões de pessoas, e em Timor-

também acesse à Organização.

de aprofundar e tornar mais eficaz

Leste que temos uma população

50 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


estimada em um milhão, temos

realidade, lidar com o que “é” e não

lítica de Negócios Estrangeiros

consciência que umas centenas de

com o que “deve ser” ou a agradar

de Timor-Leste o Governo portu-

milhar estão precisamente numa

a outros intervenientes externos,

guês ter sido reeleito?

fase de reaprendizagem da Língua,

muito embora, sempre respeitando

Para Timor-Leste ser reeleito este

pelo que todas as simplificações

a Constituição.

Governo, ou ter sido eleito outro

podem vir a ajudar.

O que ainda poderá ser feito

de outra cor política, não levanta

A Língua Portuguesa é um Patri-

quanto aos poderes executivo,

qualquer tipo de objecção, pelo

mónio comum dos seus falantes, é

legislativo e judiciário?

princípio de não ingerência nos

tanto nossa timorense como vossa

É preciso consolidar as estruturas

assuntos internos de um Estado. O

portuguesa e, cada vez mais, todos

e publicar alguma legislação ainda

facto de continuar o mesmo Mi-

os seus falantes têm uma palavra

em falta. Nós sabemos que, por

nistro dos Negócios Estrangeiros

a dizer.

exemplo, no poder judiciário muitos

poderá facilitar o diálogo porque

Falando mais internamente de

dos juízes que temos são ainda

já conhece os dossiers. Timor-

Timor-Leste. Qual o balanço da

“importados” dos países da CPLP,

Leste sabe que a política externa

realidade timorense passados

que têm o mesmo tipo de Direito.

portuguesa é consensual entre

dez anos do referendo que ditou

Mas temos de preparar e melhorar

os partidos políticos do arco da

a independência do país?

as nossas próprias estruturas para

governação, principalmente no que

O país está a ser construído, a

que possam responder às neces-

toca aos PALOP ou à CPLP são

desenvolver-se e a aprender.

sidades. Na área legislativa, existe

sempre idênticas. Os vectores da

Recomenda-se, está estável e

ainda legislação em falta, embora

política externa de qualquer Esta-

não existe criminalidade, como se

possamos sempre recorrer à Lei

do obedecem às suas constantes e

verifica em outros grandes centros

Portuguesa, ou excepcionalmente

linhas de força, independentemen-

urbanos.

quando esta não se aplicar con-

te do partido político que venha a

Quais têm sido as principais difi-

sultamos a Lei Indonésia. Estamos

ganhar as eleições.

culdades para garantir os valo-

pois a consolidar todos esses

Como já esteve ligada ao PSD, já

res de um Estado Democrático e

poderes.

conhecia o Presidente da Repú-

de um Estado de Direito?

E a política de boa vizinhança

blica, Aníbal Cavaco Silva? Que

Quer melhor resposta do que o

praticada por Timor?

tipo de relação estabelecem?

resultado das eleições para Chefe

As pessoas, às vezes, esquecem-

Existe claro a relação institucional

de Suco e das aldeias? Não houve

se que nós somos um país geogra-

e a simpatia decorrente de ter sido

problemas registados. Quer melhor

ficamente pequenino e que temos

líder e militante do PSD, tal como

resposta do que a livre expressão

de um lado a Austrália e do outro a

eu pertenci, e por ser oriundo da

dos deputados no Parlamento?

Indonésia. Independentemente de

mesma região que o meu Pai.

Timor-Leste vive em pleno siste-

eles terem um grande peso, nós te-

Existe apenas essa simpatia e essa

ma de democracia liberal, multi-

mos praticado uma política de boa

ligação algarvia.

partidário, segundo o princípio da

vizinhança tanto com a Indonésia,

A Diplomacia é essencial na

separação dos poderes executivo,

como com a Austrália, e não tem

política internacional de um país.

legislativo e judicial, muito embora,

havido problemas de maior. Apenas

Como está a Diplomacia timoren-

às vezes, algumas pessoas fiquem

alguns incidentes fronteiriços, nada

se?

chocadas com tomadas de posição

de maior. O povo indonésio não

Como tenho vindo a afirmar, es-

de alguns dos nossos líderes, rela-

tem nada a ver com as atrocida-

tamos em fase de crescimento e

tivamente a determinadas matérias,

des que o sistema e o Governo da

de desenvolvimento. Temos diplo-

mas que normalmente passam

altura cometeram em Timor-Leste.

matas de carreira e diplomatas de

a aceitar passado algum tempo,

Quanto à Austrália, foi um país

nomeação política por serem consi-

depois de ouvirem as explicações

extremamente simpático porque

derados os ideais para representar

dessas tomadas de posição. Timor-

acolheu todos os timorenses que

e defender os superiores interesses

Leste é um país com uma cultura

quisessem ir para lá e, ainda hoje,

da Nação. Acredito que dentro de

muito própria, asiática e diferente

temos lá uma comunidade muito

poucos anos, talvez uns cinco,

das habituais culturas de outros

grande.

possamos já ter mais diplomatas de

países mais longínquos a Ocidente.

Entramos na fase final da nossa

grande experiência a representar

Nós temos de gerir a nossa própria

entrevista. É relevante para a po-

Timor-Leste.

n

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 51


AGA KHAN

Imamat Ismaili abre Representação Diplomática em Lisboa

A Rede Aga Khan para o Desenvolvimento levou a cabo uma recepção em comemoração do 52º aniversário da acessão de Sua Alteza o Aga Khan ao Imamat Ismaili, em Lisboa, na rua S. Domingos à Lapa, naquela que é a primeira Representação Diplomática do Imamat Ismaili na Europa e a segunda no Mundo Ocidental. Desde Dezembro de 2005 que o compromisso do Imamat Ismaili para com Portugal está exposto no Protocolo de Cooperação assinado com o Governo português, que estabeleceu as bases do trabalho conjunto do Estado português e da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento – uma organização não-confessional, privada, internacional, presente em mais de 30 países, que actua em prol da melhoria da qualidade da vida humana, sem olhar a género, etnicidade, religião ou culturas em áreas como a erradicação da pobreza, a educação, a cultura, o pluralismo e o desenvolvimento económico. Em Portugal, a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento conta com um historial de quase três décadas de vasta colaboração com sucessivos Governos, nas esferas nacional e internacional, e com vários parceiros da sociedade civil. A breve prazo, e na sequência da abertura desta Representação Diplomática, serão lançadas novas iniciativas noutras áreas do desenvolvimento humano, como explica Nazim Ahmad, seu representante em Portugal: “vamos abrir um Banco não-lucrativo de Microfinanças; criar uma Academia Aga Khan, escola de excelência do pré-escolar ao pré-universitário, que terá como base de acesso o mérito e não os recursos financeiros dos candidatos; firmar diversas parcerias académicas entre as universidades portuguesas e as universidades da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento; apoiar a reabilitação do património cultural e a criação de emprego; e o desenvolvimento económico sustentável”. De entre o trabalho já desenvolvido destaca-se o Programa de Desenvolvimento Comunitário Urbano K’Cidade lançado pela Fundação Aga Khan em 2004, em parceria com diversas instituições, entre as quais o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e o Patriarcado de Lisboa. Este programa procura endereçar os desafios que se colocam às comunidades urbanas pobres e socialmente excluídas, em particular imigrantes e minorias étnicas. Em 2009, o programa beneficiará cerca de 25 mil pessoas na zona da Grande Lisboa. Mais recentemente, a Fundação Aga Khan tomou a seu cargo a gestão do Centro Infantil dos Olivais Sul, em parceria com o Instituto da Segurança Social, procurando torná-lo num centro público de boas práticas e de excelência ao nível da educação de infância, com a criação de cinquenta novos postos de trabalho e uma abrangência de 240 crianças até aos cinco anos. Depois da Delegação aberta no Canadá, Portugal é pioneiro a nível Europeu na criação de uma Representação Diplomática do Imamat Ismaili, uma instituição de liderança espiritual e temporal que se reporta aos tempos do Profeta Maomé e à qual acederam os 49 Imams Ismailis escolhidos por designação sucessória e directa ao longo dos últimos catorze séculos de História. Em Julho de 2008, o Governo português convidou Sua Alteza o Aga Khan para marcar aqui, em Lisboa, o seu Jubileu de Ouro, os cinquenta anos de intensa actividade institucional levada a cabo pelo Imamat Ismaili e pela Rede Aga Khan para o Desenvolvimento.

n ➤

52 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010


1

2

4

3

5

6

8

7

9

1. Nazim Ahmad e sua Mulher recebem os convidados 2. Rui Vilar e Isabel Alçada 3. Maria da Luz de Bragança e Embaixadora da Polónia, Katarzyna Skórzy´nskza 4. Embaixadores do Reino Unido e da Suíça 5. Embaixadora da República Dominicana e seu marido 6. Vitalino Canas e o Embaixador do Luxemburgo

10

11

7. Abdool Vakil e Maria da Luz de Bragança 8. Diogo e Maria José Freitas do Amaral, Maria Barroso Soares e Padre Vítor Melícias 9. Carlos Monjardino, Maria Rita Sampaio, Teresa Caeiro e José Lamego 10. Maria da Luz de Bragança, Padre Vítor Melícias e Murteira Nabo

dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 53


Empressário. Político. Banqueiro

Fernando Faria de Oliveira Presidente da Caixa Geral de Depósitos,

entrevista de José Manuel Teixeira

Membro do Governo durante cerca de dez anos, deputado, administrador de grandes grupos empresariais privados e estatais, banqueiro de sucesso e com um currículo invejável como político e gestor, o Engenheiro Fernando Faria de Oliveira é actualmente Presidente da Caixa Geral de Depósitos.

54 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


O senhor engenheiro é um

experiência importante na minha

com prejuízo para um banco ope-

político e um gestor do Estado.

vida, de tal maneira que eu, com

racional, eficaz, com resultados

Foi por opção ou coincidência?

interrupções para fazer parte de

positivos. Talvez por isso o Minis-

Eu era iminentemente um gestor

Governos, estive vinte anos liga-

tro das Finanças fez-me o convite

empresarial. Comecei a minha

do ao IPE. Nessa altura tive uma

para vir para a Caixa Geral de

actividade na Sorefame como en-

segunda experiência governativa,

Depósitos, onde entrei em Janei-

genheiro do gabinete de estudos.

como Secretário de Estado Ad-

ro de 2008, já no período de crise

Durante quatro anos exerci a

junto do Vice-Primeiro-Ministro,

económica, mas ainda numa fase

profissão de engenharia do ponto

Dr. Rui Machete. Durou apenas

inicial.

de vista técnico. Depois transi-

um ano porque esse Governo

Como explica ter feito sempre

tei para a área comercial, onde

caiu no final de 1985. Voltei ao

uma carreira ligada ao PPD/

passei a chefiar o departamento

IPE e, em 1988, o Prof. Cavaco

PSD e seja o PS a convidá-lo

de exportação da empresa, que

Silva insistiu muito para que eu

para presidir à Caixa Geral de

teve um enorme sucesso nesse

integrasse o seu Governo para

Depósitos?

período, e, em função disso, fui

iniciar o processo das privatiza-

É uma pergunta que terá de ser

convidado para integrar o Con-

ções e reestruturar o sector públi-

dirigida ao Governo e não a mim.

selho de Administração da Side-

co empresarial. Fui Secretário de

Mas há uma tradição na Caixa

rurgia Nacional. Quando estava

Estado das Finanças e do Tesou-

em que o Presidente, de um

na Siderurgia tive o primeiro

ro e Secretário de Estado Adjunto

modo geral, não pertence ao par-

convite para integrar o Governo

e das Finanças no ministério do

tido que está no poder. Isso vale

do Dr. Francisco Balsemão, como

Dr. Miguel Cadilhe, até 1990, al-

o que vale, mas durante muitos

Secretário de Estado da Expor-

tura em que passei para Ministro

anos aconteceu assim. Além

tação. Muito em função da minha

do Comércio e do Turismo, com

disso, as missões empresariais

experiência profissional na Sore-

uma breve interrupção em que

devem ser, e eu sempre procurei

fame. Foi um período difícil em

fui Administrador do Banco de

fazê-lo, exercidas com grande

que as exportações portuguesas

Fomento.

independência em relação às

estavam num crescimento ne-

Ser Ministro do Comércio e Tu-

posições partidárias. Foi assim

gativo e desencadeou-se, nessa

rismo foi uma experiência longa,

que aconteceu no IPE durante os

altura, uma política muito activa

de quase seis anos, que terminou

muitos anos em que lá estive e é

de dinamização das exportações

no final de 1995. Tornei a voltar

seguramente o que acontece na

com vários instrumentos extrema-

ao IPE até ser extinto. Depois fui

CGD.

mente importantes, em que, para

convidado pelo então Presiden-

A Caixa Geral de Depósitos

além da política cambial, orça-

te da Caixa Geral de Depósitos,

é uma instituição do Estado e

mental e fiscal, se utilizaram ins-

Prof. António de Sousa, para dar

obviamente é o accionista que

trumentos mobilizadores bastante

uma colaboração na definição da

define as orientações. Elas estão

fortes, como a carta do exporta-

estratégia do grupo empresarial

definidas e constam do nosso

dor, os contratos à exportação e

de saúde da CGD, mas acabei

plano estratégico. Confere-nos

uma grande campanha em 1982

por ser convidado pelo Dr. Vi-

autonomia de gestão e não deve

– Ano da Exportação. Quando saí

tor Martins para ir para Madrid

haver questões partidárias em

do Governo em 1983, Portugal

presidir ao Banco da Caixa em

cima da mesa.

registava o maior crescimento

Espanha - o Banco Simeón, que

Como é que a sua formação

de sempre das exportações em

estava numa situação complica-

de engenheiro o levou a uma

termos reais. Voltei à Siderurgia

da. Era preciso dar-lhe um novo

carreira de economista e ban-

Nacional, mas por pouco tempo

impulso, modernizá-lo e fazê-lo

queiro?

porque entretanto fui convidado

crescer. Estive aí mais de dois

A parte técnica do meu curso,

para vice-presidente do IPE –

anos e meio e, na realidade, foi

Engenharia Mecânica, exerci-a

Investimentos e Participações

um período bastante positivo,

durante quatro anos. A partir daí

Empresariais.

quer pessoalmente, quer na evo-

transitei para uma função co-

O IPE era uma holding detida

lução do banco, porque se trans-

mercial e de gestão ligada mais

pelo Estado, um grande grupo

formou muito num curto espaço

à parte comercial, económica

empresarial público. Foi uma

de tempo e passou de um banco

e financeira. Isto tem a ver

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 55


Faria de Oliveira

com a sua primeira pergunta

nosso accionista Estado, através

do crédito foi mais limitado. Mes-

sobre a minha carreira política e

do senhor Ministro das Finanças,

mo assim, a CGD tem um cresci-

empresarial. Eu sou um homem

definiu-nos uma ambição concre-

mento do crédito, em relação ao

de empresa que exerceu fun-

ta, a de incrementarmos a nossa

ano anterior, de nove por cento

ções políticas, mas exactamente

actividade e a nossa presença

para as PME's e de 6,1 por cento

porque a experiência empresarial

junto das PME s.

para o conjunto do sector empre-

se coadunava com o exercício

Por tradição, a Caixa é um banco

sarial. Isto é um grande esforço

das funções que, ao longo do

de particulares. Era um banco

e implica um enorme trabalho de

tempo, fui exercendo na política.

receptor de depósitos, de pou-

capacidade de resposta às solici-

Creio que foi o facto de ter dado

panças e, ao mesmo tempo, o

tações das empresas num con-

um bom contributo na altura em

grande banco da concessão do

texto onde a avaliação do risco é

que estive na Sorefame, que se

crédito à habitação e imobiliário e

extremamente importante, porque

tornou no terceiro exportador

também de concessão de crédi-

nós temos sempre presente que,

mundial de equipamentos hidro-

to às instituições e às grandes

em primeiro lugar, a nossa mis-

mecânicos, que eventualmen-

empresas. Mas foi um banco que

são é salvaguardar os interesses

te chamou à atenção. Depois,

nunca esteve muito virado para

dos depositantes, dos accionistas

quando fui Secretário de Estado,

as Pequenas e Médias Empre-

e dos trabalhadores. E garantir a

o ter trazido essa parte da mi-

sas. Com a absorção do Banco

rentabilidade da CGD, que é uma

nha experiência profissional com

Nacional Ultramarino, que esse

das empresas mais rentáveis do

a exportação, traduzindo-a em

sim tinha uma clara vocação de

nosso país.

acções concretas que também

apoio às PME s, isso foi-se alte-

A média até ao ano de 2008, dos

foram bem sucedidas. E, obvia-

rando e, entretanto, não apenas

últimos dez anos em termos de

mente, a sorte ajudou – é preciso

a cultura da Caixa mudou como

Return On Investment, é da or-

saber aproveitá-la e fazer o me-

se preparou intensamente para

dem dos dezassete por cento. A

lhor para conseguir objectivos.

poder hoje responder aos proble-

Caixa distribuiu importantíssimas

Desde que é Presidente da Cai-

mas das PME s, criando gabine-

verbas dos seus resultados para

xa, que modificações já sofreu

tes de empresa e reforçando a

o Estado. Ora bem, neste con-

a instituição?

área especializada, através dos

texto e considerando que a Caixa

A CGD, neste período e em

seus balcões, para atender às

tem que crescer, e sendo já líder

primeiro lugar, esteve muito

pequenas e médias empresas.

no mercado nacional, esse inves-

concentrada na superação das

Além disso, preparou técnicos

timento passa muito pelo exte-

dificuldades. Passámos um pe-

para essa matéria, responsáveis

rior. Considerando também que

ríodo de grandes problemas de

pela concessão de crédito às

a Caixa se modernizou enorme-

liquidez a nível mundial e a Caixa

PME s.

mente nos últimos anos, mérito

Geral de Depósitos conseguiu

Hoje, a Caixa é já muito forte

das administrações anteriores, e

sempre, devido à sua reputação

neste domínio e aumentou clara-

exerce uma política de respon-

(a Caixa é o 34º Banco mais

mente a sua quota de mercado

sabilidade social, provavelmente

seguro do mundo de acordo com

junto das pequenas e médias

como ninguém mais neste país,

o Global Finance), superar esse

empresas. Por outro lado, foi o

nas áreas cultural, do apoio e

problema, ainda que em mol-

banco que em todo este perío-

assistência social, a CGD tem

des diferentes de uma situação

do mais cresceu no crédito às

programas muito intensos nesse

normal. A liquidez foi resolvida

PME s e às empresas em geral.

sentido, procurando adoptar as

com soluções muitas vezes de

No ano de 2008, que foi um ano

melhores práticas de gestão com

curto prazo. Havia necessidade

difícil, então a partir de Setem-

a máxima transparência e res-

de cumprir os objectivos funda-

bro foi dificílimo, nós tivemos um

ponsabilidade. No nosso relatório

mentais definidos pelo Governo,

crescimento do crédito às em-

e contas, inclusivamente.

e que eram assegurar o financia-

presas de dezasseis por cento.

Neste contexto, temos vindo a

mento da economia e contribuir

Numa situação de crise crescer já

cumprir essa primeira missão de

para a estabilidade e solidez do

é muito bom, crescer dezasseis

assegurar o financiamento da

sistema financeiro português.

por cento mostra bem o esforço

economia, mas também no perío-

Em relação ao primeiro ponto, o

que foi feito. Em 2009 o aumento

do mais difícil da crise

56 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


financeira, a Caixa cumpriu a

foi nacionalizado e passou a ser

da gestão da CGD. Em primei-

segunda missão, que era contri-

uma empresa do Estado, onde no

ro lugar, um reforço na área do

buir para a estabilidade do siste-

Conselho de Administração estão

risco e do ajustamento do preço

ma financeiro, através do finan-

pessoas indicadas pela CGD.

ao risco; em segundo lugar, a

ciamento concedido a algumas

Essa tem sido uma acção que

criação de vários tipos de produ-

instituições e, principalmente,

nos absorveu muitíssimo. Mas

tos financeiros e complementares

através da nomeação de ges-

isso não invalidou que não se

ajustados às novas necessidades

tores da CGD para o Conselho

tivesse promovido uma alteração

da economia e dos particulares.

de Administração do BPN, que

muito grande em vários domínios

O que é que isso significa?

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 57


Faria de Oliveira

Primeiro, uma maior segmenta-

ção – criar produtos para vários segmentos de mercado de acordo com as suas necessidades. Isso significa ajustar os produtos às conjunturas. Entre Setembro de 2008 e Março de 2009 foi o período em que a crise esteve profundíssima e nós imediatamente traçámos alternativas para satisfazer, por exemplo, os problemas do crédito à habitação. Concedemos períodos de dilatação do pagamento das prestações, criámos um novo produto completamente inovador, que era a possibilidade de comprar as habitações aos próprios que passaram a ser inquilinos, mas com uma opção de recompra ao fim de um determinado período. Ajustámo-nos às necessidades. Entretanto, a dimensão da crise melhorou, os juros caíram e os problemas inicialmente criados foram mino-

Fevereiro deste ano instalou-se

das comunicações, na rede

rados. Acima de tudo, a Euribor

no Brasil. Inaugurámos o nos-

industrial... É muito importante

caiu brutalmente e, portanto, as

so banco Caixa Geral Brasil. E,

procurar recuperar o aparelho

rendas mensais das pessoas até

finalmente, estamos em Angola

produtivo angolano, na área edu-

passaram a ser menores do que

através duma participação no

cacional, na da saúde, etc. Será

eram antigamente.

Banco Totta Angola, em parceria

um banco que vai cumprir uma

Em relação às PME's, por um

com o Santander, com a Sonan-

missão semelhante ao nosso an-

lado, inserimo-nos nas linhas que

gol e com empresários angola-

tigo Banco de Fomento. Tudo isto

o Estado criou mas criámos com-

nos, mas a gestão compete à

é um trabalho que, por um lado,

plementos a essas linhas; e, por

CGD. Negociámos com os res-

requer capital e absorve a nossa

outro lado, reforçámos as linhas

pectivos Governos a criação de

capacidade de acção.

de crédito à exportação de uma

dois bancos de investimento em

Queremos um banco no topo da

maneira muito intensa, criámos

Angola e Moçambique. Em Ango-

modernidade. Por exemplo, te-

novos fundos de capital de risco

la em parceria com a Sonangol e

mos vindo a melhorar claramente

para apoiar as empresas que se

em Moçambique com a Direcção

no domínio da informática. Hoje

querem recapitalizar adoptando

Nacional do Tesouro.

em dia, a CGD pode considerar-

o capital de risco, criámos linhas

O início da sua actividade está

se líder de um mercado específi-

para o empreendedorismo e para

marcado para 2010, segundo

co, através da Caixa Directa e do

apoiar a inovação da economia

cremos...

e-banking, portanto, da possibi-

portuguesa. Tudo isto foi um tra-

O banco ainda está em consti-

lidade de utilizarmos via compu-

balho realizado num curtíssimo

tuição. Este segundo banco que

tador as nossas necessidades de

espaço de tempo. Procurámos

vamos criar em Angola tem um

transferências, facilitando a vida

expandir-nos em termos interna-

capital de mil milhões de dólares.

aos consumidores. A Caixa não é

cionais. A Caixa não estava em

Tem já uma considerável dimen-

apenas o maior banco, quer ser

dois mercados, Angola e Brasil,

são e vai apoiar investimentos

o melhor banco. Modernizou-se

que são essenciais. A CGD em

prioritários para Angola na rede

muito e tem continuado a

58 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


modernizar-se. No entanto,

Sim, estamos a financiar o BPN

Essa é uma estratégia empresa-

existem problemas, como não

mas este significativo financia-

rial pura. Mas tem uma segunda

podia deixar de ser. Nós já deve-

mento tem a garantia do Estado,

componente, que é muito mais

mos ter passado o fim da crise,

é financiamento sem risco.

importante, que é estar presente

mas a crise ainda não se pode

Aliás, a Caixa é uma espécie de

onde estão os nossos clientes. E

considerar terminada. Vamos ter

fundo soberano do Estado...

quem são, no domínio da inter-

uma recuperação da economia

Não. A Caixa é um banco, e é

nacionalização, os clientes da

provavelmente fraca e lenta. Ain-

um banco rentável. Muitas vezes

Caixa? Desde logo, os emigran-

da vão subsistir alguns proble-

ouvem-se frases relativamente

tes. E foi por isso que o processo

mas e temos de estar preparados

bombásticas, mas a CGD não é

de internacionalização da CGD

para continuar a cumprir a nossa

de todo um ónus para os contri-

começou ainda no final do século

missão, e encontrar o equilíbrio

buintes, pelo contrário. A Caixa

XIX no Brasil. Em 1902 esta-

entre a rentabilidade necessária

é das melhores aplicações finan-

beleceu-se em Macau. Depois

para pagar dividendos importan-

ceiras que o Estado pode ter. Se

foi-se estabelecendo onde havia

tes para o accionista, permitir

há aumento de capital da Caixa

grandes comunidades portugue-

que a Caixa continue a crescer e

é só para cumprir objectivos que

sas. Este foi o primeiro passo

apoiar a economia num momento

o Estado nos determina. A ex-

da internacionalização. Veio o

difícil, e não repercutir integral-

pansão no exterior necessita de

segundo passo, quando as em-

mente nos clientes o aumento de

investimento e há ainda algumas

presas portuguesas começaram

custos do funding e o do risco,

situações pontuais de tomada

a ter mercados preferenciais de

não aumentando os spreads na

de posição em empresas. Cum-

destino das suas exportações

mesma medida, prejudicando

primos missões que nos são

e, mais tarde, quando do seu

ligeiramente a rentabilidade. Mas

cometidas. Obviamente que isso

investimento no exterior, a CGD

contamos, mesmo assim, apre-

requer capital e, por isso mesmo,

passou também a localizar-se

sentar um razoável resultado no

houve alguns aumentos de capi-

onde estavam os seus clientes

final deste ano.

tal nos últimos tempos. Por outro

para os apoiar. Por isso, a Cai-

Com a crise nas PME's, e mui-

lado, a Caixa tem importantíssi-

xa está hoje em 23 países e é

tas delas estão a falir, há com

mas participações em empresas

uma das maiores multinacionais

certeza uma percentagem gran-

fundamentais para a economia

portuguesas. Há mercados que

de de crédito malparado!?

portuguesa. No ano passado

são absolutamente essenciais,

O crédito malparado tem vindo

registámos perdas significativas

como por exemplo a Espanha.

a ter algum crescimento. Mas a

devido à desvalorização das

Por isso, o Dr. Rui Vilar quando

nível global é maior do que na

acções dessas empresas. Isso

foi Presidente da Caixa comprou

Caixa, e isso porque a CGD, há

repercute-se nos resultados mas,

três pequenos bancos em Espa-

uns anos atrás, tomou a decisão,

graças a Deus, a situação está

nha (o Banco Siméon, na Galiza,

penso que foi no tempo do Dr.

este ano a melhorar. Hoje, apre-

o da Estremadura e o Chase

António de Sousa, de criar uma

sentamos rácios de solvabilidade

Manhattan), que acabaram por

direcção de recuperação de cré-

e de capital muito confortáveis.

dar origem ao Banco Geral-Espa-

dito, que é uma área de negócio

A Caixa neste momento está

nha, mas trata-se de um banco

que procura antecipar e acompa-

com 12,9 por cento de rácio de

ainda de pequena dimensão e

nhar as situações de dificuldade.

solvabilidade, quando o mínimo

por isso nós continuamos a ter

Isso obviamente repercute-se

exigido era de oito por cento.

como objectivo tentar adquirir um

numa diminuição do crédito mal-

Portanto, estamos numa posição

outro banco em Espanha para

parado.

de grande solidez.

responder melhor às necessida-

E o problema do BPN?

Tenho estado a falar na moder-

des de um mercado que é, cada

O problema maior que surge

nização da CGD e não queria

vez mais, o mercado interno das

do BPN na Caixa é a absorção

deixar de referir a questão da

empresas portuguesas. Tem de

do tempo, designadamente dos

internacionalização, que resulta

haver a ideia base de que o mer-

meus colegas que fazem parte da

basicamente de dois factores.

cado das empresas portuguesas

administração.

Por um lado, a necessidade de

é todo o mercado ibérico.

E a absorção também de capitais...

qualquer instituição crescer.

Entretanto, vão aparecendo

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 59


Faria de Oliveira

novas necessidades a que

PME s, que passa pela conces-

Primeiro, é um banco com bas-

procuramos responder. Temos

são de crédito, pela possibilidade

tante importância porque é um

uma presença muito forte no sul

de utilização do capital de risco,

banco emissor. Depois, é um

do continente africano. Há um tri-

pelas actividades da banca de

banco muito prestigiado que foi

ângulo importante entre Moçam-

investimento, pela divulgação das

criado em 1902. Tem participa-

bique, África do Sul e Angola e

linhas de crédito existentes e do

do em grandes investimentos

para apoiar a presença portugue-

apoio à exportação, pela divulga-

em Macau. É uma janela de

sa em toda aquela área, a nossa

ção da presença da Caixa noutros

oportunidade para apoiarmos os

acção deve ser reforçada. Mas,

mercados e daquilo que pode

empresários portugueses que

agora, também o Norte de África

oferecer a essas empresas, pela

queiram trabalhar na China, seja

nos merece uma atenção espe-

criação de instrumentos completa-

na exportação, seja em eventual

cial. Estamos a prestar serviço

mente novos, como o Passaporte

investimento nesse país. Criou

de consultoria ao Banco Nacional

Ibérico nas estratégias empresa-

um escritório de representação

da Algérie, que é o maior banco

riais a Ibéria deve ser considerado

em Xangai e outro em Zwai para

da Argélia, e apoiamos o seu

um mercado doméstico e não ape-

complementar a sua acção. A

processo de modernização. Já

nas Portugal. Nós devemos actuar

China está com um crescimento

estabelecemos um acordo para

como a Catalunha actua para todo

notável na sua economia, oito

poder satisfazer as necessida-

o espaço ibérico, ou como a Ga-

por cento este ano, 8,9 por cento

des das empresas nacionais que

liza, ou qualquer outra província

previstos para 2010 e provavel-

queiram trabalhar na Argélia e,

autónoma.

mente será maior. Começou a

se se justificar, abriremos aí um

Já existe o caso do financia-

criar um mercado interno signifi-

escritório de representação ou

mento da La Seda.

cativo. Enquanto a economia dos

uma sucursal. Ao mesmo tempo

O financiamento à La Seda foi

Estados Unidos da América vive

vamos criando linhas de crédito

uma decisão tomada também

em 75 por cento do seu merca-

para a Líbia, Tunísia, Argélia,

pelos meus antecessores, mas

do doméstico, a China ainda só

Marrocos, Venezuela, enfim, para

visava assegurar o investimento

representa trinta por cento des-

todos os mercados mais impor-

em Sines e investir numa grande

se mercado, sendo tudo o resto

tantes, a Caixa ou é um instru-

empresa espanhola.

exportação. À medida que se vai

mento do Estado para gerir essas

Agora tiveram de financiar

criando uma classe média maior,

linhas de crédito, ou ela própria

mais…

que vai tendo mais importância

criou essas linhas de crédito.

A La Seda é um problema difícil,

no seu mercado doméstico, maio-

Curiosamente, sendo de longe o

um problema de reestruturação

res vão ser as nossas oportuni-

banco que tem o maior número

financeira total, em que a Caixa

dades de exportação. É verdade

de linhas de crédito disponíveis

tem dado todo o apoio, designa-

que é um mercado que está

para os empresários portugue-

damente na concepção de uma

muito longe. Como se costuma

ses, em matéria de apoio às ope-

solução de futuro e na nego-

dizer: amar o próximo como a ti

rações concretas de exportação

ciação para reestruturação dos

mesmo começa por aqueles que

ainda há um caminho a percorrer

créditos, e também já assumiu o

nos estão mais próximos. Isto no

e temos de modernizar os nossos

compromisso de participar no au-

domínio da economia é um quase

serviços nesse domínio.

mento de capital. Estamos a pro-

igual, mas a verdade é que temos

O exportador sente realmente

curar uma solução eventualmente

de estar atentos às oportunida-

que a Caixa o pode ajudar?

diferente para Sines, tornando

des onde elas existam. Assim,

Bom, pelo menos, as linhas de

a La Seda como um accionista

esse nosso banco de Macau tem

crédito são divulgadas. Nós

minoritário e com um acordo de

uma missão de ajudar, sem dúvi-

ultimamente até no campo publi-

compra da produção. Tudo isto

da importante, e vai cumprindo-a

citário temos vindo a procurar ser

são processos importantes para

bem.

muito mais agressivos e estamos

a economia nacional e, por isso,

E há empresários portugueses

a desenvolver um conjunto de

fazemos um grande esforço para

na China?

acções por todo o país para sen-

encontrar soluções.

Não há muitos. Mais nos domí-

sibilizar os empresários em vários

Que se passa com o banco de

nios das exportações do que do

domínios: no apoio genérico às

Macau?

investimento.

60 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010

n


abril/maio 2009 - Diplomรกtica โ ข 1


Banqueiros de sucesso

Luís Mira Amaral Líder do Banco BIC Portugal Há pouco mais de um ano a Diplomática entrevistou o Engenheiro Mira Amaral a propósito da criação em Portugal de um banco de raiz gémeo do BIC de Angola e com a mesma estrutura accionista. Para liderar esse projecto e ser seu presidente da Comissão Executiva foi convidado o Engenheiro Mira Amaral.

62 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010


Que se passou depois da

mos a actuar imediatamente

de cruzeiro.

nossa última conversa há cer-

quando o banco arrancou e

Isso a nível nacional, e em re-

ca de um ano?

neste momento a nossa carteira

lação aos fluxos financeiros

Passou-se aquilo que eu tinha

de clientes de crédito aumentou

para Angola?

previsto e planeado. Abrimos

significativamente e já está à

Nessa área temos a máquina

agências no Porto, Aveiro, Bra-

volta dos noventa milhões de

perfeitamente afinada. Aliás,

ga, Leiria e Viseu. A primeira

euros. Em suma, daquilo que

nós já somos correspondentes

fase de expansão do banco foi

no início tínhamos pensado

de três bancos angolanos – do

terminada em Maio de 2009.

fazer, a expansão física está

BIC de Angola, do Banco Sol e

Também tencionávamos entrar

feita, a carteira de clientes

do Banco Poupança e Crédito.

no mercado de capitais. Isso

também já tem um valor con-

Isto significa que esses três

necessitava de um processo de

siderável e as transferências

bancos angolanos podem utili-

registo moroso junto da Comis-

financeiras entre Angola e Por-

zar o BIC português para fazer

são de Mercados de Valores

tugal estão a funcionar bem. A

transferências de Angola para

Mobiliários. Essa autorização

única dificuldade que tivemos,

Portugal e já não é só o BIC de

da CMVM foi-nos dada há

num período recente, foi que

Angola que nos pode utilizar,

pouco tempo e neste momento

Angola não tinha dólares sufi-

mas também o Banco de Pou-

já estamos a trabalhar como

cientes para pagar aos exporta-

pança e Crédito e o Sol.

intermediário financeiro. A par-

dores portugueses. Aliás, isso

Os clientes podem enviar o

tir de agora, qualquer pessoa

foi noticiado nos jornais, que

dinheiro de Angola de manhã e

pode chegar aqui e pedir que

houve atraso nas transferências

recebê-lo aqui à tarde. Também

nós, em seu nome, compre-

de Angola para Portugal. Não

somos ajudados por uma outra

mos acções, títulos de dívida

por culpa nossa, mas porque o

razão: é que o banco BIC em

ou obrigações que estejam em

banco BIC em Angola não tinha

Angola é o número um no mer-

bolsa. Isto para nós é essencial

os dólares necessários, dado

cado cambial angolano e nas

para desenvolver o negócio do

que o BNA não lhes vendia os

operações com o estrangeiro.

private banking. É que até ago-

dólares para eles poderem sa-

Sendo nós correspondentes de-

ra, não podendo actuar como

tisfazer os exportadores portu-

les obviamente que aproveita-

intermediários nos mercados

gueses. Tivemos aqui atrasos

mos esse facto. No mercado de

financeiros, estávamos limita-

de pagamentos a clientes de-

transferências entre Portugal e

dos. Aos nossos clientes pouco

vido às dificuldades que Angola

Angola, nós temos uma cota de

mais podíamos oferecer do que

teve.

mercado superior à nossa cota

depósitos a prazo. A partir do

Nestas áreas de negócio – ban-

natural de mercado português,

momento em que fomos auto-

ca de empresas e de transfe-

quando se fala em crédito.

rizados pela CMVM a sermos

rências de fluxos financeiros de

Apesar de noventa milhões de

intermediários financeiros esta-

Angola para Portugal – estamos

dólares para nós ser expressi-

mos em condições de começar

a funcionar em pleno. Arran-

vo, porque arrancámos do zero,

a desenvolver, de forma mais

cámos agora com a área do

há outros bancos portugueses

significativa, o negócio do pri-

private banking, que eu penso

que têm uma carteira de crédi-

vate banking, que estava, como

que vai ter um impulso positivo.

to muito superior à nossa. Em

disse, limitado a aceitar depósi-

Portanto, aquilo que nos propú-

relação ao crédito, nós ainda

tos. Assim, acabei de escrever

nhamos fazer para o primeiro

somos pequenos no mercado

uma série de cartas a clientes

ano está praticamente conclu-

português, em termos relativos

nossos do private e a gestores

ído. Também já conseguimos,

com os outros bancos, mas, no

de empresas que já trabalha-

pontualmente num mês, ter

mercado de transferências en-

vam connosco, chamando-lhes

resultados líquidos positivos.

tre Angola e Portugal, já temos

a atenção que já estamos em

Digamos que toda a fase inicial,

uma expressão significativa.

condições de desenvolver o

naturalmente difícil, está ultra-

As duas grandes fontes de

negócio de private banking.

passada e o banco tem condi-

rendimento que nós temos são

Por outro lado, em termos de

ções de começar a trabalhar

a área da banca de empresas,

banca de empresas, começá-

numa situação de velocidade

com um volume de crédito de

dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 63


Luís Mira Amaral Líder do Banco BIC Portugal

cerca de noventa milhões de

dólares, e a área das transferências entre a Angola e Portugal, que gere os proveitos dos fluxos das transferências. São as duas grandes áreas de negócio desenvolvidas até agora. Com a possibilidade de sermos intermediários financeiros também vamos ter condições de desenvolver a área do private banking. Surgiram notícias de que o banco BIC estava interessado na privatização do BPN. Isso é verdade? Não. O que disse o Dr. Fernando Teles, e falou em nome do BIC de Angola, não falou em nome do BIC português, é que o banco BIC de Angola estava disponível para analisar o dossier da privatização do BPN. Ele não disse que ia concorrer à privatização. O que ele disse foi que estavam disponíveis para analisar a informação. Suponha que as condições de privatização não interessam ao BIC de Angola. Então, o banco BIC não concorre. O BIC de Angola até pode ter interes-

que o banco BIC português não

esse passivo todo.

se, mas primeiro tem de ver a

fez qualquer movimento nes-

De qualquer forma, o senhor

documentação. Nem ele, nem

se sentido e obviamente, se o

engenheiro conhece bem a

eu, neste momento, sabemos

tivesse feito, a primeira pessoa

Caixa Geral de Depósitos e a

dizer quais são as condições

a ser informada seria o gover-

privatização do BPN também

objectivas de privatização. Mas

nador do Banco de Portugal.

depende da Caixa

ele falou apenas em nome do

Na sua opinião não era uma

Na minha análise, a privatiza-

banco BIC Angola e não do BIC

boa aquisição?

ção do BPN depende do Gover-

português, porque obviamente

Tudo depende das condições.

no. Foi o Governo que nacio-

o banco BIC português não tem

Não sei dizer-lhe. O BPN há-

nalizou o BPN. E o Governo o

capital suficiente para comprar

de ter activos e passivos. Não

que é que fez? Como tinha um

o BPN. O Dr. Fernando Teles

quero fazer comentários neste

banco público utilizou-o como

acrescentou ainda que se o

momento porque não faço ideia

instrumento para gerir o BPN.

BIC Angola viesse à privatiza-

de como é que vai ser o pro-

Suponha que o Governo portu-

ção e se comprasse o BPN, o

cesso de privatização do BPN.

guês não tinha nenhum banco

que nesta altura é perfeitamen-

O Governo só anunciou que ia

público, ao privatizar o BPN

te especulativo, depois iríamos

privatizar o BPN. Como se sabe

tinha de arranjar gestores para

ver a ligação do BPN ao BIC

o BPN tem um grande passivo

gerirem o banco na fase da na-

Portugal. Mas isso era numa

e acho difícil existirem inte-

cionalização. O Governo como

segunda fase. Também já referi

ressados, se vier para a mesa

tem um banco público – a CGD

64 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010


– naturalmente que utilizou

a ter resultados?

banco, de desenvolver o private

o instrumento que tinha à mão

Essas agências têm, como eu

banking e de ter escritórios de

para gerir o BPN nesta fase

calculava, um processo lento e

representação noutras capitais

e do ponto de vista técnico,

difícil de implantação, porque o

europeias. Quanto ao imple-

também vai ser a CGD a pre-

mercado de retalho está sa-

mentar redes de retalho noutros

parar o dossier da privatização.

turado em Portugal. Portanto,

países europeus para trabalhar

Mas a decisão é do Governo e

eu não tinha grande esperança

com Angola, acho que isso não

não da Caixa. A Caixa Geral de

que, em termos de retalho, sen-

tem razão de ser neste mo-

Depósitos foi um instrumento

do nós um banco com poucas

mento. Se calhar daqui a dez

do Governo para gerir a na-

agências, pudéssemos assumir

anos poderá fazer sentido, mas

cionalização e será também o

uma dimensão significativa. Em

agora o país com maior ligação

instrumento para preparar a pri-

termos de banco de empresas,

a Angola é Portugal.

vatização. A minha experiência

foi mais fácil porque as con-

Nem em Espanha?

governativa diz-me que é uma

tas que estavam em Lisboa,

Nem em Espanha. A meu ver,

decisão política do Governo.

de empresas com as quais já

o número das empresas com

Na entrevista que nos con-

trabalhávamos, foram imedia-

negócios em Angola não jus-

cedeu anteriormente referen-

tamente migradas para essas

tifica uma rede de retalho. O

ciou os objectivos a curto

agências. Dou-lhe um exemplo:

que pode justificar, e é isso que

prazo do banco BIC portu-

nós quando começámos só tra-

estamos a tentar fazer, é ter

guês, que aliás se vieram a

balhávamos a partir de Lisboa.

acordos com bancos espanhóis

confirmar. Quais são agora os

Quando abrimos no Porto, já lá

de forma a que eles nos vejam

seus projectos a curto prazo?

tínhamos clientes, mas está-

como seu correspondente para

A curto prazo, é desenvolver

vamos a trabalhar com eles

Angola. No fundo, é utilizarmos

o negócio do private banking,

a partir de Lisboa e imediata-

a rede de retalho dos bancos

continuar a expandir o crédito e

mente essas empresas foram

espanhóis para quando eles

o relacionamento com as em-

transferidas para a agência do

tiverem um cliente que queira

presas, e admito que possamos

Porto. O facto de termos aberto

investir em Angola, esse banco

abrir mais algumas agências

agências em vários pontos do

trabalhe connosco para tratar-

no próximo ano. Mas isso tudo

País permitiu melhorar muito

mos do processo de transferên-

vai depender da evolução das

o serviço aos nossos clientes,

cias para Angola. Nesse as-

agências actuais. Só abriremos

porque agora escusam de se

pecto, admito que virarmo-nos

outras se acharmos que estas

deslocar a Lisboa. O serviço

para Espanha será a primeira

já estão saturadas ou que há

entre as agências e os clien-

prioridade. Nos outros países

novos locais que se justifiquem.

tes foi melhorado e está mais

europeus existirão meia dúzia

Essas agências foram abertas

fluido.

de empresas. Mas, se houver

nas cidades onde havia maior

Há empresas noutros países

necessidade dessa expansão,

densidade de empresas com

da Europa com interesse em

será nessa base através de

ligações a Angola. Admito que

Angola. Coloca hipótese de

acordos com os bancos desses

na região de Lisboa possa ser

o seu banco ser uma espécie

países. O banco BIC Angola é

necessária outra agência/centro

de ponte entre outros países

que poderá estender a sua rede

de empresas. Também admito

europeus e Angola?

para a Namíbia e para o Congo

que na região norte do País

Quando foi feito o dossier de

porque são países vizinhos de

possa necessitar de uma nova

candidatura ao Banco de Por-

Angola. Aí, um grande banco

agência/centro de empresas,

tugal, estava previsto abrirmos

comercial que está em Angola

mas essas decisões só serão

escritórios de representação

faz sentido expandir a sua rede

tomadas no próximo ano. Pos-

em várias capitais europeias

de retalho para os países vizi-

so dizer-lhe que estou a fazer

para gerir patrimónios e o

nhos. Como a CGD se expandiu

orçamentos para 2010 e 2011

negócio do private banking de

para Espanha. Mas um peque-

contando com mais duas ou

angolanos. Portanto, não nego

no banco como o nosso não faz

três agências.

que isso é uma hipótese pos-

sentido estabelecer-se noutros

As agências existentes estão

sível de desenvolvimento do

países em termos de retalho.

n

dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 65


Grupos empresariais

1

Cerealis, legado de gerações A 8 de Fevereiro de 1919, José Alves de Amorim e

damental da cultura do Grupo.

Manuel Gonçalves Lage fundavam a Amorim, Lage,

Grupo assente em três sectores: Produtos Ali-

Lda., embrião do que é hoje o Grupo Cerealis. Parti-

mentares, Moagens e Internacional – gerido pela

lhavam uma visão empresarial focada na inovação, na

Cerealis SGPS, S.A., e que tem por base produtos

qualidade e orientada pelas tendências de mercado.

derivados da transformação de cereais, assente em

Nascia assim em Águas Santas, na Maia, um forte

práticas de bem-fazer e de reforço permanente de

grupo industrial e comercial no sector agro-alimentar

competitividade.

que continuou a crescer até aos dias de hoje e no

Desde a sua origem que a Cerealis cresce de forma

qual é líder de mercado. Essa visão empresarial e

sustentada, nos mercados de massas alimentícias,

o espírito vencedor dos fundadores continuaram

farinhas, bolachas, cereais de pequeno-almoço e pro-

enraizados nas gerações que lhes seguiram, sendo

dutos refrigerados.

actualmente, e passados noventa anos, a base fun-

A empresa coloca sempre num patamar superior o

66 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010


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1. Vista aerea do Centro Produção da Maia 2. Embalamento Massa 3. Linha Produção Massa 4. e 5. Os fundadores José Alves de Amorim e Manuel Gonçalves Lage

consumidor, e procura responder-lhe às exigências

grande qualidade, os produtos sujeitam-se a um rigoro-

de qualidade, através das suas marcas, disponibili-

so controlo de qualidade, desde a selecção dos melho-

zando produtos de qualidade e óptimo sabor: massas

res fornecedores de matérias-primas ao produto final,

alimentícias, pizzas, refeições preparadas, cereais de

garantindo assim produtos seguros, que acompanham

pequeno-almoço, bolachas e farinhas para uso culiná-

os mais variados estilos de vida e que contribuem para

rio e industrial.

uma vida mais equilibrada.

Desde 1919 que a Cerealis se preocupa em de-

Presente no dia-a-dia de milhões de consumidores,

senvolver produtos inovadores à base de cereais

com cada vez menos tempo para gozar de uma ali-

(especialmente de trigo e centeio), capazes de pro-

mentação saudável, a Cerealis oferece soluções de

porcionar uma alimentação mais saudável aos seus

alimentação, que ajudam a promover o bem-estar de

consumidores.

toda a família, contribuindo para uma dieta completa,

Produzidos apenas com ingredientes seleccionados de

variada e rica em nutrientes.

n

dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 67


Vida diplomática

60º Aniversário da República Popular da China celebrado na Embaixada em Lisboa

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O Embaixador da China em Portugal ofereceu uma recepção para celebrar uma data histórica do seu país, e em que estiveram presentes representativas figuras dos nossos meios diplomáticos e políticos, empresarias, militares e sociais. Melhor do que ninguém, o Embaixador transmitiu aos convidados o significado da cerimónia, no discurso que a seguir citamos: Hoje comemora-se o sexagésimo aniversário da República Popular da China. É com muita alegria e satisfação que celebro com todos os amigos aqui presentes este dia tão especial para a China.

1. A directora da Diplomática ladeada pelo Embaixador e pela Embaixatriz da China

Como é do conhecimento de

2. O corpo diplomático da China recebe os seus convidados civis e militares 3. Em-

todos, após 60 anos de desenvol-

baixador e Embaixatriz da Rússia 4. Embaixador e Embaixatriz da Hungria 5. Albano

vimento e especialmente com a

Freire Nunes, o histórico responsável pelas Relações Internacionais do PCP

aplicação da política de reforma e abertura ao exterior nos últimos

68 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010


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30 anos, a China passou por

mudanças profundas. Registaramse grandes progressos sociais, que tiraram as pessoas da pobre12

za generalizada para um nível de 13

vida modestamente mais confortável. A China de hoje é um país próspero, aberto e dinâmico. As relações entre a China e o resto do Mundo alteraram-se significativamente. Hoje em dia, a China apresenta-se como um país vocacionado para as relações amistosas com todos os países, assim como todos os países se encontram atentos aos acontecimentos

6. Embaixadora da Palestina e Embaixatriz da Tunísia 7. Generais Garcia dos

na China.

Santos e Pinto Ramalho 8. Embaixador Ressano Garcia e sua Mulher 9. Ma-

Recordando as palavras do antigo

dalena Rocha Vieira e Maria de Belém Roseira 10. Embaixadores da Romé-

Presidente Mao Tsetung: “a China

nia, da Ucrânia e da Suíça 11. Embaixadora da República Dominicana e seu

deve dar mais contribuições para

Marido 12. O ex-Ministro da Cultura Pinto Ribeiro e o Embaixador da China

o Mundo...”, podemos continuar a

13. Comandante Malhão Pereira e Maria Cristina Malhão Pereira

afirmar hoje em dia que estas

dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 69


60º Aniversário da República Popular da China celebrado na Embaixada em Lisboa

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palavras ainda se encontram

actualizadas, tendo sido reafirmadas pelo meu Presidente Hu Jintao, na Assembleia Geral da ONU, quando disse: “quanto mais se desenvolve a China, mais contribuição dá para o Mundo e mais oportunidades cria para o Mundo”.

20

Apesar da China continuar a ser um país em vias de desenvolvimento, com serenidade e responsabilidade, a China irá continuar a persistir no caminho do desenvolvimento pacífico e a participar activamente na cooperação multilateral internacional, enfrentando todos os desafios comuns e dan-

14. O Embaixador da China profere um discurso em que analisa o papel do

do contribuições para a harmonia

seu país no mundo actual 15. Joe Berardo e Carlos Monjardino 16. Embai-

e prosperidade do Mundo.

xadores da Lituânia 17. Embaixadores da Lituânia 18. Embaixador do Egipto

Este ano é também marcado pelo

19. Pedro Pires Miranda 20. Almeida Santos, o histórico dirigente dos PS e

trigésimo aniversário do estabele-

Miguel Veiga

cimento das relações diplomáticas entre a China e Portugal. Durante

70 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010


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21. Orquestra Sinfónica do Exército 22. Embaixador e Embaixatriz do Luxemburgo

estes 30 anos, apesar das vicis-

meus colegas vamo-nos esforçar

situdes internacionais, o desenvol-

ainda mais e dar o nosso contribu-

vimento do relacionamento bilate-

to para uma ainda melhor coope-

ral tem sido sempre saudável.

ração amistosa entre a China e

A resolução da questão de Ma-

Portugal.

cau, através das negociações

No final deste ano completam-

amistosas da ambas as partes,

-se 10 anos da transferência de

constitui um exemplo para a co-

poderes de Macau para a China.

munidade internacional, na reso-

Durante estes 10 anos, Macau

lução das questões legadas pela

tem sido palco do testemunho de

História entre países de sistemas

uma sociedade estável, de uma

diferentes.

economia em crescimento e de

Em 2005, foi estabelecida a

um convívio harmonioso entre

parceria estratégica global sino-

diferentes culturas, mantendo um

portuguesa. Actualmente, os dois

papel destacado na ligação entre

países mantêm visitas políticas

a China e o mundo lusófono. Só

frequentes e têm intensificado a

há poucos dias foram realiza-

cooperação nas áreas da econo-

das com sucesso as eleições do

mia, cultura, ciência e tecnologia,

Chefe Executivo e da Assembleia

educação e justiça.

Legislativa da RAEM. Acredito

Como Embaixador da China em

que o futuro de Macau será ainda

Portugal, estou satisfeito. Eu e os

melhor".

n

dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 71


vida diplomática

O novo Embaixador da Coreia do Sul oferece recepção para celebrar Dia Nacional

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O recentemente nomeado Embaixador da Coreia do Sul em Portugal tem 57 anos, é casado e tem dois filhos, e é natural do Sul de Kyung Sang, República da Coreia. Dae-hyun Kang cum-

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priu a sua formação na Pusan High School (1971) - Seoul National University (Western History, 1976) e, entre 1993-95, na Stanford University (Asia Pacific Research Center / IIS). Começou a sua carreira profissional como funcionário do Ministério do Comércio e dos Negócios Estrangeiros, em 1979. Desempenhou ainda outros cargos de relevo directamente relacionados com o

1. O Embaixador Dae-hyun Kang e a Embaixatriz da Coreia, os anfitriões 2. Embaixadoras da Noruega e da Palestina e Embaixadores do Irão e do Egipto 3. Embaixador e Embaixatriz da Hungria 4. Per Storm e Embaixadores da Turquia e da Noruega 5. Maria de Belém Roseira e Embaixador da Coreia

Governo do seu país, tendo enveredado pela carreira de

72 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


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embaixador no ano transacto ao

assumir o Instituto dos Negócios Estrangeiros e da Segurança Nacional. Em Março deste ano veio para Portugal como Embaixador da República da Coreia. A fim de celebrar a fundação da Coreia, Dae-hyun Kang ofereceu na sua residência oficial uma recepção comemorativa. O 3 de Outubro – “Gaecheonjeol” (Dia em que o Céu se abriu) – é o Dia da Celebração Nacional da Coreia que festeja a fundação do Gojoseon – o primeiro Estado da 6. Embaixadora da República Dominicana e seu Marido e Embaixador de Moçambique

nação coreana. Segundo Sam-

7. António e Carmina Muchaxo 8. Judite Correia e Rui Alves Tavares 9. Embaixadores

gukyusa (História dos Três Rei-

da Eslovénia e da Estónia 10. Recebendo os convidados na Embaixada no Dia da Celebração Nacional da Coreia

nos) Dangun fundou Gojoseon no terceiro dia do décimo mês lunar, 2333 a.C.

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dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 73


vida diplomatica

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1. O Embaixador Attila Gecse e a Embaixatriz Andrea Gecse 2. Embaixadores da Croácia, da Noruega, da Roménia e da Estónia 3. Embaixador do Luxemburgo 4. Embaixador da Argentina 5. Embaixadora da Polónia e José Manuel Teixeira 6. Ministra-Conselheira da Roménia, Diana Radu

Dia Nacional da Hungria Comemora a luta pela independência em 1956 No belíssimo palacete do Alto

como o dia da proclamação da

do, chegando a atingir cerca de

de Santo Amaro, o Embaixador

República da Hungria no ano de

duzentas mil pessoas. Os ma-

da República da Hungria, Dr.

1989.

nifestantes derrubaram a está-

Attila Gecse, e a Embaixatriz

Tudo começou quando, os

tua de Estaline e queriam que

Andrea Gecse ofereceram uma

estudantes da Universidade de

as suas reivindicações fossem

recepção por ocasião da Festa

Budapeste decidiram organizar

divulgadas pela rádio. Assim, o

Nacional do seu país. Na reu-

uma manifestação de apoio à

primeiro encontro armado ocor-

nião foi servido um cocktail se-

Polónia, que aspirava por uma

reu na sede da Rádio Húngara, e

guido de um almoço buffet nos

maior independência da União

o edifício foi ocupado na manhã

salões e jardins da Embaixada.

Soviética. Essa manifestação foi

seguinte pelos revolucionártios.

23 de Outubro é o dia do iní-

o início da revolução de 23 de

Foi eleito um novo primeiro-mi-

cio da revolução e luta pela

Outubro de 1956. No decorrer

nistro, Imre Nagy (um dissidente

independência de 1956, assim

do dia a multidão foi aumentan-

da política da URSS).

74 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


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7. José Manuel Teixeira

11

com os anfitriões 8. Embaixadores da Lituânia e da Bélgica 9. Judite Correia e Anabela Baptista 10. Embaixador de Itália e Núncio Apostólico 11. António Muchaxo e Embaixadora da Índia

As tropas soviéticas estacio-

A 1 de Novembro Imre Nagy

o próprio Imre Nagy. Nos meses

nadas nos arredores de Buda-

anunciou a saída da Hungria do

que se seguiram mais de du-

peste marcharam para a capital,

Pacto de Varsóvia, mas no dia

zentas mil pessoas conseguiram

onde começou a resistência

4 as tropas soviéticas lançaram

fugir do país.

armada. A revolução alastrou

um violento ataque contra a re-

A revolução e luta pela inde-

por todo o país, formaram-se

volução. A enorme superioridade

pendência de 1956 foi o feito

órgãos políticos da rebelião, os

derrubou a resistência armada e

mais importante do povo hún-

comités revolucionários, os con-

foi anunciada a constituição de

garo no século XX. Por esse

selhos operários, reactivaram-

um governo pró-soviético. Após

motivo, a proclamação da Re-

se os partidos desintegrados e

o derrube da revolução e luta

pública em 1989 ocorreu no dia

enfraquecidos após a Segunda

pela independência, as prisões

23 de Outubro, tornando reali-

Guerra Mundial e formaram-se

encheram-se, foram executadas

dade os objectivos formulados

também novos partidos.

centenas de pessoas, entre elas

em 1956.

n

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 75


VIDA DIPLOMÁTICA

Recepção de despedida

3

do Embaixador da Áustria em Lisboa

1

2

4

5

1. Os Embaixadores da Áustria recebem os convidados na sua festa de despedida 2. Embaixadora da Polónia, Embaixador do Luxemburgo e António Muchaxo 3. Os anfitriões 4. José Manuel Teixeira com a Embaixadora da Polónia e seu marido, o historiador e jornalista Jan Skórzynski 5. Diplomatas de Timor e da República Democrática do Congo

Depois de três anos e meio como

O Embaixador Ewald Jäger,

representante máximo da Áustria

nasceu em 1944, é casado e tem

em Portugal, o Embaixador Ewald

três filhos. Iniciou a sua activi-

Jäger ofereceu um cocktail de

dade diplomática em 1962 no

despedida na sua residência, na

Ministério Federal dos Negócios

Avenida do Restelo, em Lisboa,

Estrangeiros (MNE), enquan-

em que estiveram presentes

to tirava a sua licenciatura em

elementos do Corpo Diplomático

Direito pela Universidade Viena.

acreditado entre nós e figuras

É nomeado para a Embaixa-

gradas dos nossos meios políti-

das da Áustria em Washington

cos, militares e empresariais.

(1971/1974) e em Kinshasa

76 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


7

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8

9

10

11

6. Maribel Rattinger com os Embaixadores do Luxemburgo, Alain de Muyser e Dany Bichler 7. Diana Radu, Ministra Conselheira da Embaixada da Roménia, Embaixador Gabriel Gafita e José Manuel Teixeira 8. Teresa Sturken 9. Ana de Brito e Embaixador da Ucrânia 10. Embaixadores da Hungria, Attila Gecse e Andrea Gecse 11. Embaixador da Eslovénia

(1974/1979). Entre 1979 e 1983

conjunta em Malta (1986/1990).

presta serviço no MNE na Direc-

Volta ao MNE (1990/1994) para

ção para o Médio Oriente, África

a Direcção dos Assuntos Multi-

e Ásia, no âmbito da Dir.-Geral de

laterais Específicos, nas áreas

Assuntos Políticos, sendo poste-

sociais e humanitárias e Adjunto

riormente Director para os Países

do Representante Permanente

Árabes, Israel e Irão. Depois de

nas Nações Unidas em Viena e

uma comissão na Embaixada da

da UNIDO - United Nations Indus-

Áustria em Berna (1983/1986)

trial Development Organization.

é credenciado como Embaixa-

De 1994 a 1997, é Embaixador da

dor em Tripoli, com acreditação

Áustria em Abidjan, com

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 77


Recepção de despedIda do Embaixador da Áustria em Lisboa

13

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16

12. Embaixador da França, Denis Delbourg 13. Ladeados pelos Embaixadores, uma sessão de fado na recepção de despedida. 14. Embaixador da Rússia, Pavel Petrovskiy e José Manuel Teixeira 15. Os convidados ouvindo a sessão de fados 16. Conselheiros das Embaixadas do Luxemburgo e da Roménia

acreditação no Burkina-Faso,

Planeamento, Financiamento e

Niger, Togo, Benin, Ghana, Serra

Avaliação dos Programas Cul-

Leoa e Libéria. De 1997 a 2001 é

turais no Estrangeiro e Director-

Embaixador da Áustria em Seul,

-Geral Adjunto para a Política

regressando ao Ministério dos

Cultural.

Negócios Estrangeiros, como

Em Março de 2006 é nomeado

Director para a Coordenação,

Embaixador em Lisboa.

78 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010

n


Vida Diplomática

Dia Nacional da Áustria Apresentação do novo Embaixador O novo Embaixador da Áustria Bernhard Wrabetz e a Embaixatriz Joana Daniel Wrabetz receberam na sua residência oficial ilustres convidados por ocasião do Dia Nacional do seu país. Bernhard Wrabetz, de 46 anos, é casado e tem dois filhos. Licenciado em Estudos de História e Francês pela Universidade de Viena, frequentou posteriormente a Academia Diplomática. Em 1990 ingressa no Ministério austríaco dos Negócios Estrangeiros e, em 1995, começa a sua experiência diplomática ao assumir o cargo de Conselheiro na Representação da Áustria junto das Nações Unidas em Nova Iorque. Entre outras posições relevantes ocupadas, antes de se transferir para Lisboa como Embaixador, Wrabetz foi Conselheiro de política externa do Chanceler Federal da Áustria. No discurso da cerimónia do Dia Nacional da Áustria, o Embaixador Bernhard Wrabetz evidenciou a “profunda amizade que une a Áustria e Portugal” e explicou o que significa o seu Dia Nacional: "A 26 de Outubro de 1955 o Parlamento austríaco proclamou a lei da neutralidade perpétua da Áustria e deu assim um dos primeiros e mais marcantes passos para a independência total e a soberania do Estado. A Áustria era então um país devastado pela guerra e pela ditadura, que investiu toda a sua energia na reconstrução e na formação de uma sociedade democrática, livre e social. Dependíamos do auxílio e da solidariedade dos outros países e Portugal foi um desses países, ao acolher centenas de crianças austríacas no âmbito de um programa da Caritas, proporcionando-lhes durante um certo tempo a estabilidade e o bem-estar que não tinham em casa. Aquando da visita do Presidente Cavaco Silva à Áustria em Julho passado, tive a ocasião de conhecer algumas dessas

despeito das diferenças geográficas e históricas,

“crianças”, que entretanto já atingiram uma idade

vemos o mundo com os mesmos olhos.

madura e tiveram outras vivências. Mas passadas

Aquilo que temos em comum é tão forte, que se

décadas o seu amor e a sua gratidão a Portugal e

poderia crer que somos vizinhos. Não digo isto

às famílias que as acolheram permanecem frescos

apenas porque sou casado com uma portuguesa

e fortes.

e porque o aprofundamento das relações entre a

Hoje as relações entre a Áustria e Portugal são

Áustria e Portugal fazem parte dos objectivos das

estreitas e amigáveis; ambos contribuímos para

nossas vidas. Desde a minha chegada a Lisboa

a construção de uma Europa forte, abastada e

tive a oportunidade de falar com os Embaixadores

social; trabalhamos em estreita colaboração em

de outros Estados da Europa Central e todos che-

muitas organizações internacionais; em muitas

gámos à conclusão que existe uma certa afinidade

questões prosseguimos os mesmos objectivos e a

entre nós e os portugueses."

n

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 79


Vida diplomática

2

3

1

4

Dia Nacional da Turquia Como habitualmente, as recepções na Embaixada da Turquia em Lisboa são realmente uma festa onde os convidados se sentem em sua casa, graças à simpatia e gentileza do Embaixador Kaya Turkmen e da Embaixatriz Nurden Turkmen. Este ano mais uma vez isso aconteceu na recepção oferecida na Embaixada no Restelo, por oca-

5

sião do Dia Nacional da Turquia,

quia em Portugal recebem os convidados 2. Mário Mosqueira do Amaral e Maria da Luz de Bragança

festejado a 29 de Outubro. As mais distintas figuras dos nossos

3. Os anfitriões e o Embaixador de Itália 4. O Embaixador e a Embaixatriz do Luxembur-

meios políticos, diplomáticos, militares e empresariais estiveram presentes. Parabéns aos representantes em Portugal de um país que tão importante é no actual

1. Os simpatiquíssimos Embaixadores da Tur-

80 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010

go rodeados por individualidades marcantes nas recepções diplomáticas 5. Embaixadores da Hungria e da Palestina


7

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10

9

11

contexto internacional.

A República da Turquia foi estabelecida em 1923, na sequência do desaparecimento do império otomano e da Guerra de Libertação, travada sob a liderança de Kemal Ataturk contra as forças invasoras e o governo do Sultão. A Turquia já tinha iniciado o 6. Margarida Ruas e Manuel Carmo

12

processo de ocidentalização das

7. Benedita Lucena e José Manuel Teixeira

suas estruturas sociais, políticas e

8. A Directora da Diplomática ladeada pelas

económicas no século XIX. Com a

embaixatrizes da Argélia e da Tunísia 9. Maria José Galvão de Sousa, Miguel Polignac de Barros, Paula Rocha e Piedade Polignac de Barros

proclamação da República, a Europa foi o modelo escolhido para a nova estrutura a adoptar. Pre-

10. Maria Carlota Mendes

sidente durante 15 anos, Ataturk,

11. Braga de Macedo, Anabela Batista, Judite

até à sua morte em 1938, introdu-

Correia e Tenente-Coronel Alvelos 12. António Muchaxo e Carlos Monjardino

ziu diversas reformas nas esferas culturais, políticas, sociais,

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 81


Dia Nacional da Turquia

14

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17

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19

legais e económicas. Nos anos

20 percebeu que o futuro da Tur-

20

21

quia estava na modernidade, influência e prosperidade da Europa. Uma visão estratégica que continua, hoje, mais válida do que nunca. Desde então, a Turquia sempre se alinhou próximo do Ocidente, tornando-se um dos membros fundadores das Nações Unidas, membro da NATO, do Conselho da Europa, da OCDE e membro

13. Embaixadores da Turquia e Maria da Luz de Bragança 14. Maria José Galvão de Sousa e Humberto Leal

associado da União Europeia

15. António Paes Alvim e Ana de Brito

Ocidental. Durante a Guerra Fria,

16. Ministra-Conselheira e Embaixador da Roménia

a Turquia fez parte da Aliança do

17. Embaixadora da República Dominicana e seu marido

Ocidente, defendendo a liberdade,

18. Maria do Carmo Castelo Branco e Manuela Morales

a democracia e os direitos humanos. Assim, a Turquia desempe-

19. Mateus Camacho, Jacques Bretagnole e o Casal Alain Maniable 20. Cristina e José Manuel Malhão Pereira com o Embaixador da Argentina 21. Paula e Rui Rocha

nhou, e continua a desempenhar, um importante papel na defesa do continente europeu.

n

82 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010



História & Cultura

Guerra Peninsular em Portugal Vitórias e Glórias

1

3

2

4

A convite do Congresso de Histó-

artista foram muito apreciados e o

1. Vasco Bobone e Sara Brandão

ria Militar, por ocasião das co-

cocktail da inauguração foi magni-

2. Alberto Calheiros, Paula Bobone e

memorações do Bicentenário da

ficamente bem servido, contando

Paulo e Mariko Vieira 3. Manuel Dacosta e Maura Marvão

Guerra Peninsular, Vasco d'Orey

com a presença da Direcção do

Bobone editou um livro de agua-

Hotel que acolheu esta iniciativa

Miguel Medina, Maria Clara Go-

relas e inaugurou uma exposição,

cultural.

mes e Carlos Magalhães

dentro do tema.

Vasco d'Orey Bobone, também

O evento foi muito concorrido pe-

autor do texto do livro agora à

los congressistas e pela sociedade

venda fez dias depois exposição

do Porto e teve lugar na magní-

dos trabalhos e lançamento do livro

fica sala de Exposições do Hotel

no Palácio da Independência, em

Infante de Sagres do Grupo Quinta

Lisboa, "Temas Portugueses" é o

das Lágrimas. Os trabalhos do

título do conjunto de aguarelas

84 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010

4. João Lourenço, Micaela Oliveira,


5

6

8 7

5. Paula e Vasco Bobone e Sofia Mello e Castro 6. Hélder Fráguas, Alice Mateus e José Fortes da Gama 7. Vasco Bobone, Viscondes da Gandarinha e Conde Albuquerque 8. Sérgio Moreno, Filipe Loulé e Lourenço Correia de Matos

que ilustraram o seu livro agora

lançado. Esta iniciativa teve lugar a convite do General Alexandre de Sousa Pinto, Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar, que teve este ano a seu cargo as comemorações dos 200 anos das vitórias portuguesas sobre as tropas Napoleónicas. O cocktail foi um sucesso tendo sido organizado pelo Espaço Arte Livre.

n

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 85


Alfarrábio

A Diplomacia Pura José Calvet de Magalhães

Para a apresentação desta obra tão ne-

sou-se desde sempre pela diplomacia, o

cessária a quantos se interessam pelos

que o levou ao lugar de adido no Ministério

assuntos diplomáticos, devemos citar o

dos Negócios Estrangeiros em 1941. Foi

depoimento de Álvaro de Vasconcelos,

depois cônsul em Nove Iorque, Boston e

director do Instituto de Estudos Estraté-

Cantão. Em 1951 assumiu o secretariado

gicos e Internacionais. Segundo ele, “a

da Embaixada de Portugal em Paris. Já na

vasta obra diplomática historiográfica de

década de 60 foi designado representante

José Calvet de Magalhães estava até aqui

junto da Comunidade Económica Euro-

dispersa por várias editoras, com diversos

peia. Mais tarde desempenhou funções

volumes já esgotados ou fora do mercado.

de embaixador junto da Santa Sé, onde

A publicação agora das suas Obras vem

presidiu às negociações para a Revisão

permitir o acesso fácil a um autor que, com

da Concordata, em 1975. O seu regresso

o mesmo rigor e espírito liberal e humanis-

à vida académica deu-se em 1995, como

ta, ensina a arte da diplomacia, analisa os

professor da Universidade Autónoma de

caminhos da aventura europeia e nos fala

Lisboa, e em 2000, como professor da

da “vida real” de Eça de Queiroz, Antero ou

Universidade Nova de Lisboa. Para além

Almeida Garrett. As Obras de José Calvet

de diplomata foi um profícuo escritor, com

de Magalhães, cobrindo todos os domínios

variadíssimos títulos publicados, nas mais

essenciais da nossa acção externa, são de

diversas áreas. Para além desta obra – “A

leitura obrigatória para entender Portugal

Diplomacia Pura” – destacam-se: “Manual

no Mundo”.

Diplomático”, “Garrett: A Vida Ardente de

José Calvet de Magalhães nasceu em Lis-

um Romântico”, “Antero: A Vida Angustiada

boa em 1915 e licenciou-se em Direito pela

de um Poeta”, “Eça de Queiroz – A Vida

Universidade de Lisboa em 1940. Interes-

Privada”, “Alexandre III Reconhece o Reino ➤

86 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


➤ de

Portugal”, “Portugal, Paradoxo Atlânti-

temporânea, passando pela Grécia, Roma,

co: Diagnóstico das Relações Luso-Ameri-

Idade Média e Moderna. Outros capítulos

canas”, “Diplomacia Doce e Amarga”...

de especial interesse, tais como: Diploma-

Este estudo de ciência política – “A Diplo-

cia antiga e moderna, Diplomacia secreta

macia Pura” – foi publicado pela primeira

e aberta, Diplomacia bilateral e multilate-

vez em 1982 e em 1988 foi editado nos

ral, Diplomacia e advocacia, Diplomacia e

Estados Unidos uma versão em língua

negócio.

inglesa, com o título “The Pure Concept of

Ou ainda: Diplomacia paralela, Diplomacia

Diplomacy”. Sobre esta obra, escreveu na

de combate, Espionagem e contra-espiona-

altura um elucidativo apontamento crítico

gem.

o embaixador George Kennan, director da

Sobre a obra e vida do Embaixador José

School of Historical Studies do Institute for

Calvet de Magalhães, achamos oportuno

Advanced Study, da Universidade de Prin-

recordar a colectânea de homenagem a

ceton, de New Jersey. Para o leitor comum

esta tão ilustre figura da Diplomacia, edita-

da nossa revista Diplomática, esclarecemos

da pela Principia e coordenada por Álvaro

que George Kennan é considerado o mais

de Vasconcelos, sob o título “José Calvet

notável diplomata e formulador de política

de Magalhães – Humanismo Tranquilo”.

externa dos Estados Unidos do século XX.

Inclui textos de José Silva Lopes (A EFTA

Ora vejamos o que diz George Kennan,

e o Progresso da Economia Portuguesa –

em carta dirigida ao autor: “Tive ocasião

1960-1973), Nicolau Andersen Leitão (Por-

de examinar a edição inglesa do seu livro

tugal e a Fundação da EFTA – 1956-1960),

sobre “The Pure Concept of Diplomacy”;

Luís Figueira (Portugal e os Movimentos

e escrevo-lhe para lhe transmitir a admi-

de Cooperação e Integração Económica na

ração e o entusiasmo que sinto pelo livro

Europa), José Gregório Faria (As Rela-

depois desta primeira leitura. Espero que

ções de Portugal com os Estados Unidos

ele venha a ser leitura básica e obrigatória

da América), Celso Lafer (O Interno como

em todas as instituições americanas em

Externo nas Relações Luso-Brasileiras),

que a natureza, os usos e as modalidades

Gonçalo Santa Clara Gomes (A Diplomacia

da diplomacia são matérias de ensino. Têm

Pura), Guilherme d’Oliveira Martins (A Arte

surgido, como bem sabe, muitos poucos

do Biógrafo), Fernando de Castro Brandão

livros sobre este assunto, e os que existem

(Embaixador Calvet de Magalhaes: Um

são hoje pouco conhecidos. É particular-

Perfil), Gerald Salles Lane (O Embaixador

mente importante que um livro como o seu

Literário) , Álvaro de Vasconcelos (Uma

tenha surgido precisamente neste momen-

Diplomacia de Valores), além de um texto

to; porque um certo número de desenvolvi-

do próprio homenageado (O Euro-Atlantis-

mentos recentes, especialmente a enorme

mo Revisitado) e de um poema – “A Man’s

aceleração das comunicações electrónicas

Life” – da sua neta Lisa Marie, americana

e o hábito de viagens pessoais dos minis-

luso-descendente, como sua avó Linda,

tros de Negócios Esrangeiros e chefes de

saudosa e espirituosa companheira de uma

Estado, têm levado a obscurecer e, em

longa caminhada.

n

certos casos, a levar o público a duvidar dos valores das tradicionais instituições da diplomacia – um valor que, na minha opinião, não está diminuído (embora possa de certo modo mudado) por estas inovações”. Entre os assuntos tratados nesta Obra fundamental, editada pela Bizâncio, destacamos a “Evolução histórica da diplomacia” em que o autor explaneia a evolução das relações entre povos desde a Pré-História e Antiguidade Oriental, até à Época Con-

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 87


Estante diplomatica

História da Europa de Leste da Segunda Guerra Mundial aos Nossos Dias"

A Teorema editou uma obra indispensável para a composição do novo espaço político europeu, depois da Queda do Muro de Berlim. Trata-se da “História da Europa de Leste – da Segunda Guerra Mundial aos Nossos Dias”, de Jean-François Soulet. Um livro que abarca num só olhar os países dessa “outra metade” da Europa situada a Leste, muito tempo esquecida pelo Ocidente, e cuja história tem sido fraccionada e dividida em compartimentos estanques em função da geopolítica estalinista (Estados Bálticos incluídos na URSS, democracias populares da Europa Central, países comunistas excluídos da órbita soviética...). Esta abordagem comparativa permite caracterizar com especial clareza as linhas directivas da História contemporânea dessa Europa do Leste. Situados como marcas fronteiras entre o Oriente e o Ocidente, os países que a compõem foram disputados entre as grandes potências da época, passaram maciçamente (muitas vezes pela força) ao comunismo, depois de terem sofri-

em 1968, tenham impelido durante semanas esses pa-

do as consequências terríveis dos regimes fascistas e,

íses para as primeiras páginas da imprensa ocidental,

finalmente, conseguiram libertar-se do jugo totalitário.

do mesmo modo como nos primeiros anos da década

Esta obra mostra que a ruptura do Muro de Berlim, que

de 1980 aconteceria na caso da criação do sindicato

marcou a “dessatelização” das “democracias popula-

“Solidariedade” na Polónia. Também depois do “cis-

res” em 1989 e, pouco depois, a implosão da URSS em

ma” titista, muitos turistas do lado de cá da Cortina de

1991, constituíram uma revolução nas relações entre

Ferro começaram a visitar a Jugoslávia, o primeiro país

as duas partes da Europa: o Leste e o Ocidente.

comunista que se abriu para o Ocidente. Mas tudo isso

Entre os temas tratados nesta obra destacamos: Esta-

foram casos singulares: a opinião pública da Europa

line recupera as fronteiras ocidentais do Império Russo

Ocidental (os portugueses mais politizados seguiam a

(1939-1940); a conquista do poder pelos comunistas na

imprensa de França ou de Inglaterra) parecia indiferen-

Albânia e na Jugoslávia (1941-1945); a grande conquis-

te aos destinos desses estados-tampões entre o Leste

ta (1944-1948); a sovietização sob Estaline; as revoltas

e o Oeste, abandonados à URSS no fim da Segunda

e dissidências (Polónia e Hungria em 1956, a Primave-

Grande Guerra. Esse desinteresse era, no entanto,

ra de Praga...); os recuos estratégicos do poder comu-

desigual em intensidade, conforme os países: mais ou

nista e a opção liberal (Titismo e autogestão, o Kadaris-

menos total a respeito da Albânia e da Bulgária, mas

mo e a experiência de Gierek na Polónia); a derrocada

menor acerca da Polónia e da Checoslováquia. E três

do comunismo e a marcha para a União Europeia.

outros países, igualmente englobados na designação

Justificando o interesse deste livro, diremos que

anónima de “países bálticos”, estavam, no espírito da

identificados durante muito tempo sob a designação

tal opinião pública europeia, integrados para sempre

colectiva, anónima e um tanto ou quanto irónica de

na imensa e poderosa União Soviética e já não lhes

“democracias populares”, oito países (Albânia, Bul-

mereciam qualquer atenção – menos ainda que as

gária, Checoslováquia, Hungria, Jugoslávia, Polónia,

“exóticas” repúblicas soviéticas do Kazaquistão ou do

República Democrática Alemã e Roménia) estiveram

Uzbequistão.

ausentes do horizonte dos países da Europa Ocidental

A verdade é que a integração da maioria destes países

ao longo de mais de quarenta anos, ainda que certos

na União Europeia modificou a opinião dos outros esta-

dolorosos ou espectaculares acontecimentos como a

dos ocidentais. Enfim, uma obra fundamental de leitura

revolta de 1956 na Hungria ou a “Primavera de Praga”

obrigatória para os nossos leitores.

88 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010

n


Valores

Sociedade Histórica da Independência de Portugal Lançamento do 1º volume da trilogia Espiões nas Descobertas, de Cristina Malhão Pereira

1. Dois símbolos da tradição histórica portuguesa 2. A autora ladeada por Jorge Rangel

Maria Cristina Malhão Pereira

público neste tão digno ambiente,

incentivar a nossa juventude a não

lançou o 1º volume da trilogia “Es-

situado, além do mais, no coração

ter vergonha da sua História e a

piões nas Descobertas” no histó-

de Lisboa. Agradeço a sua hospi-

começar a interessar-se mais pelo

rico Palácio da Independência em

talidade e disponibilidade e acen-

nosso passado, para que o seu

Lisboa, sede da Sociedade Históri-

tuo que o tema deste meu escrito

conhecimento a possa consciente-

ca da Independência de Portugal.

muito se adequa aos princípios

mente preparar para o futuro.

Presentes importantes figuras da

que norteiam esta casa, tendo eu

De facto, numa época em que

sociedade portuguesa e do corpo

contudo pena que os meus fracos

todos os valores se põem em cau-

diplomático, de que destacamos

talentos não tenham produzido um

sa, em que a cultura dominante é

a Primeira Dama, Maria Cavaco

trabalho que esteja à altura desta

importada sem qualquer filtragem,

Silva; Embaixadores da Argentina

Instituição.

filtragem essa que deveria ser feita

e de Moçambique; Isabel Silveira

Agradeço à minha Amiga Bli

por famílias devidamente estrutu-

Godinho, conservadora do Palácio

(Isabel Silveira Godinho) as pala-

radas e por escolas de qualidade,

da Ajuda, que foi uma das orado-

vras carinhosas e muito cheias de

a existência de trabalhos do géne-

ras da cerimónia; Jorge Rangel,

humor que me dirigiu e sinto que

ro deste que me atrevi a executar,

Presidente da Sociedade Histórica;

na sua apreciação há uma grande

poderão ser úteis.

e muitas outras individualidades

dose de benevolência, aliás com-

Como já verificaram, tenho tam-

convidadas para o evento. Mas

preensível, dada a nossa já muito

bém cinco netos lindos, aos quais

melhor do que qualquer outro co-

antiga camaradagem náutica.

gostaria de deixar algo mais que

mentário do que ocorreu na ceri-

Prometo, uma vez que este livro é

uma fotografia. Gostaria que nunca

mónia, são as palavras da própria

o primeiro de uma trilogia, que nos

pudessem esquecer a Avó, que

autora de que a seguir publicamos

próximos me irei esforçar mais,

com os seus muitos defeitos e

alguns extractos.

para conseguir que este seu julga-

imensos ralhos e exigências, ten-

"As minhas primeiras palavras

mento fique quase correcto.

tou pelo menos deixar-lhes algo de

são de agradecimento ao meu

A razão porque escrevi este livro,

perene. E um livro é eterno e, se

anfitrião, o Dr. Jorge Rangel, que

está em grande parte relacionada

o seu conteúdo for bom, além de

permitiu que este livro saísse a

com a necessidade que sinto em

eterno é permanentemente útil.

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 89


Sociedade Histórica da Independência de Portugal

3

4

6

5

3. O salão nobre da Sociedade Histórica da Independência de Portugal encheu-se literalmente na cerimónia do lançamento da obra de Cristina Malhão Pereira 4. A autora e o Embaixador da Argentina 5. Maria José Varela e Ponces de Carvalho 6.António Paes Alvim, Margarida Lacerda, Maria Cristina Malhão Pereira e Ana de Brito

Por isso, pensei que lhes poderia

a uma jovem de cerca de 13 anos,

Mas todos vós perguntareis porque

mostrar e à juventude em geral, o

enquanto o Professor Cavaco

passei a escrever livros de histó-

que os seus concidadãos andaram

Silva presidia e discursava durante

rias ou com história, uma vez que

a fazer pelo Mundo, há alguns

as comemorações das Linhas de

os meus trabalhos passados eram

séculos atrás, contando-lhes umas

Torres e das Invasões Francesas.

do tipo diarístico.

histórias de modo ligeiro e aces-

Mas não ficámos por aí, porque

A razão é muito simples e explica-

sível, contribuindo até certo ponto

logo outro jovem corrigiu, afirman-

se em poucas palavras. Eu sou

para elevar o nível cultural dos

do que se comemorava o 25 de

uma viajante compulsiva, e de-

herdeiros desses heróicos visioná-

Abril!

nunciei esta minha característica

rios.

Espero ainda que os jovens que

nos dois livros anteriores. E essas

E tudo isto para que quando lhes

leiam este livro, pelo menos não

viagens e estadias prolongadas

perguntarem, por exemplo, o que o

confundam o Vasco da Gama com

em África, na Índia, na América,

Presidente da República estava no

o estilista Nuno Gama ou Duarte

na China, na Malásia ou noutros

dia 11 de Novembro a comemorar

Pacheco Pereira, o Aquiles Lu-

locais semelhantes, mostraram-me

em Torres Vedras, não digam que

sitano, com o Cristiano Ronaldo,

o quanto de nosso está fora deste

era o São Martinho. Foi esta res-

uma vez que este também tem um

rectângulo da Europa.

posta que eu vi e ouvi na televisão

calcanhar sensível!

Houve algo que me impressionou

90 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


7

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12

13

7. O Presidente da Sociedade Histórica num elogio à autora de “Espiões nas Descobertas”, lendo a seu lado Isabel Silveira Godinho e o editor da obra, Carlos Serra 8. Embaixador e Embaixatriz de Moçambique com Cristina Malhão Pereira 9. Maria Carlota Machado Mendes e a autora 10. Comandante Malhão Pereira e Maria Cavaco Silva 11. José Manuel Garcia 12. Vasconcelos Gonçalves 12. Ana Maria Mascarenhas Gaivão ➤

muito em 1973, há mais de 35

ro), se fica plenamente convencido

sou historiadora, pelo que me ba-

anos. Refiro-me à Ilha de Moçam-

da nossa real grandeza.

seei essencialmente na monumen-

bique, quando caminhei pelas suas

Verifiquei também, ao aprofundar

tal obra do Comandante Saturnino

espessas e altas muralhas, leva-

um pouco mais a nossa História,

Monteiro, e nos imensos livros do

das pedra a pedra nos porões das

que esta Nação tão antiga e de

Professor José Manuel Garcia. A

nossas descobertas. Nunca mais

tão reduzida população, liderou a

estes meus amigos Historiadores

esquecerei a emoção que senti na

expansão europeia, sendo apenas

e também a muitos outros a quem

altura.

seguida cerca de um século depois

individualmente agradeço no livro,

E tudo isto me fez cada vez mais

pela Holanda, França e Inglaterra.

a minha mais profunda gratidão.

interessar pela nossa História,

Bem, todos sabemos que “nues-

Uma palavra muito especial ao Co-

admirando as inequívocas qualida-

tros hermanos, también descubrie-

mandante Serra Brandão, que me

des de adaptação do Povo Portu-

ron muchísimo”. Contudo, nesta

deu a honra de prefaciar mais este

guês a todos os climas e gentes.

casa nem ouso falar neles… Estas

livro e que desde o início sempre

Estou certa que só vendo e expe-

janelas são muito altas!

acreditou em mim.

rimentando nos locais por onde

Tudo isto fez atrever-me a escre-

Agradeço também à editora e

andámos e noutros (possivelmente

ver sobre a nossa tão rica História,

Carlos Serra, bem coadjuvado pelo

estaremos a falar do mundo intei-

mas como todos vós sabeis não

infatigável Coronel Durão."

n

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 91


English & French texts

8. Kadhafi celebrates 40 years in power Libya celebrates the 40 years of Muammar Kadhafi in power. Diplomática participated in the celebration of this important date, publishing a dossier which, in addition to providing information on the 40th anniversary of the Libyan Revolution, includes leader Kadhafi’s speech at the UNO where the United Nations’ forms of operating were rightly criticised and pertinent proposals were made with the purpose of promoting the reorganisation of what should be the “Parliament of the World”. The relationship between Libya and Portugal, especially throughout recent years, is part of this article in which official and business visits at the highest level between the two countries are highlighted. The reception organised in Lisbon by Ambassador Ali Embored complements this dossier.

n

8. Les 40 ans de Kadhafi au pouvoir La Lybie commémore les 40 ans de pouvoir de Mouammar Kadhafi. Diplomatique a résolu de s’associer aux célébrations de cette importante date en publiant un dossier qui comprend, non seulement un récit des commémorations du 40ème anniversaire de la Révolution Libyenne, mais aussi le discours du leader Kadhafi à l’ONU dans lequel il fait de justes critiques au fonctionnement des Nations Unies et avance des propositions pertinentes en vue de réorienter ce que devrait être le “Parlement du Monde”. Les relations de la Lybie avec le Portugal, surtout ces dernières années, font partie de ce document; les visites officielles et d’affaires et au plus haut niveau entre les deux pays y sont mises en évidence. La réception offerte à Lisbonne par l’ambassadeur Ali Embored complète ce dossier.

n

24. “War and reconciliation” - Katarzyna Skórzynska The Ambassadress of Poland, Katarzyna Skórzynska, briefly describes the horrendous period of the Second World War in Poland up to the moment of slow reconciliation with the chief countries involved – Germany and Soviet Union. Many lives were lost. “In 1939, at the beginning of the war, I imagined all the cruelty and brutality which would follow, like: the extermination of the Jews, of the poles and of victims of other nationalities in the Nazi concentration camps, the near total destruction of Warsaw, mass deportations of the polish population to the inner Soviet Union where many would come to pass away...” Katarzyna Skórzynska explains that the “poles understand that it is very important to be a part of a common safety organisation, such as the Atlantic Alliance, and of an organisation that brings political and economic stability, such as the European Union”.

n

24. «La guerre et la réconciliation» - Katarzyna Skórzynska L’ambassadrice de la Pologne, Katarzyna Skórzynska fait une brève description sur comment se sont déroulés les temps affreux de la Deuxième Guerre Mondiale en Pologne jusqu’à la lente réconciliation avec les principales nations impliquées – l’Allemagne et l’Union Soviétique. Beaucoup de personnes y ont perdu la vie. « En 1939, au début de la guerre, personne, ni en Pologne ni dans le monde, pouvait imaginer toutes les cruautés et les brutalités qui arriveraient par la suite, comme par exemple : l’extermination des juifs, des polonais et des victimes d’autres nationalités dans les camps de concentration nazis, la destruction quasi-totale de Varsovie, les déportations en masse de la population polonaise vers l’intérieur de l’Union Soviétique où beaucoup moururent… ». Katarzyna Skórzynska réfère que « les polonais comprennent qu’il est très important de faire partie d’une organisation de sécurité commune, comme c’est le cas de l’Alliance Atlantique, et d’une organisation qui apporte stabilité et économie comme l’Union Européenne ».

n

30. Interview with Alexander Ellis – Ambassador of the United Kingdom in Portugal Alexander Wykeham Ellis is the Ambassador of the United Kingdom in Lisbon since 2007, an office held since the time he renounced to his service commission as secretary of the President of the European Commission, José Manuel Durão Barroso. The ties with our country are not only of a diplomatic nature. Alexander’s wife is

92 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


Portuguese and they have two children. At the age of 42, Alexander has a resume which is abundant is

relevant offices and positions held throughout the years, always related to his Government. In the interview which he gratefully accepted to give to Diplomática, Alexander Ellis expressed his admiration of the Portuguese and did not hold out on commenting subjects such as the Lisbon Treaty and the bilateral relations between the two countries.

n

30. Interview d’Alexander Ellis – Ambassadeur du Royaume-Uni au Portugal Alexander Wykeham Ellis est l’ambassadeur du Royaume-Uni à Lisbonne depuis 2007, année de son abdication de la commission de service comme assesseur du Président da la Commission Européenne, José Manuel Durão Barroso. Les liens avec le Portugal vont au-delà de la diplomatie. Alexander est marié avec une portugaise et ils ont un enfant. A 42 ans il présente un curriculum rempli de postes significatifs, toujours en rapport avec son gouvernement. Dans l’interview accordée à Diplomática, Alexander Ellis a fait l’éloge du peuple portugais et ne s’est pas empêché de commenter des thèmes comme le Traité de Lisbonne et les relations bilatérales entre les deux pays.

n

34. Gabriel Gafita – Ambassador of Romania in Portugal November 2009 marks the four years during which the Romanian Ambassador held office in Lisbon and whose tenure has reached its end. Gabriel Gafita was born in the capital of Romania, Bucharest, 57 years ago. Gabriel Gafita completed his academic training and graduated in Foreign Languages (English and French) by the University of Bucharest. In 1975, starts working in the area of journalism as a freelancer. During 13 years, Gabriel Gafita also worked as the editor of the periodical Kriterion of the House for National Minorities in Romania. At a more individual level, Gabriel Gafita published a collection of short stories. Ambassador Gafita assumed official duties in the government of Romania at the beginning of the 90s as a specialist in issues concerning national minorities. In 1991, Gabriel Gafita enters the Ministry of Foreign Affairs. Besides various relevant positions, Gabriel Gafita began his career as an Ambassador in Canada (1998). The Ambassador looked back over these last years in our country and spoke to Diplomática about the economic and commercial relationships between the two States. As a form of saying farewell to their mission in Portugal, the Ambassador of the Romanian Republic and Mrs Gabriel Gafita held a cocktail at their residence which counted on the presence of accredited members of the Diplomatic Body and several other Romanian citizens residing in Portugal.

n

34. Gabriel Gafita – Ambassadeur de la Roumanie au Portugal Novembre 2009 signale les quatre années de présence de l’ambassadeur roumain à Lisbonne qui maintenant cesse ses fonctions. Gabriel Gafita est né dans la capitale roumaine, Bucarest, il y a 57 ans. Il suivit ses études et se diplôma en Langues étrangères (anglais et français) à l’Université de Bucarest. En 1975 il se décida pour le journalisme à son propre compte. Il fut aussi, pendant treize ans, éditeur de la publication Kriterion de la Maison des Minorités Nationales de la Roumanie. D’un point de vue plus individuel, il publia une collection de courtes histoires. L’ambassadeur Gafita a exercé des fonctions pour le gouvernement roumain au début des années 90 comme spécialiste des questions des minorités nationales. En 1991 il entra au Ministère des Affaires Etrangères. Parmi d’autres postes de relief, il débuta sa carrière comme ambassadeur au Canada (1998). A la revue Diplomática, l’ambassadeur a fait un bilan de ces années passées au Portugal et nous a parlé des relations économiques et commerciales entre les deux états. Pour clore leur mission au Portugal, l’ambassadeur de la République de la Roumanie et son épouse Mme Gabriel Gafita ont offert dans leur résidence un cocktail où ne manquèrent pas des membres du Corps diplomatique accrédité au Portugal et beaucoup de citoyens roumains qui y résident.

n ➤

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 93


English & French texts

40. Bokova is the first woman to be elected as head of UNESCO The election was greatly disputed. Only during the fifth and last round of votes was the new GeneralDirector of UNESCO elected. Irina Bokova is the first woman to hold this position. The previous Bulgarian Minister of Foreign Affairs, who had obtained the same number of votes as Farouk Hosny during the fourth round, 29 each, ended up winning the Egyptian Minister of Culture by 31 votes against 27. Ivan Petrov, Ambassador of the Republic of Bulgaria in Portugal, points out two distinguishing features which justify the election of this diplomat: “her personal and professional skills which are characteristic to her and the intense activity of the Bulgarian State in favour of her election”.

n

40. Bokova est la première femme à prendre la tête de l’UNESCO L’élection fut fort disputée. Il a fallu patienter jusqu’à la cinquième et dernière ronde des votes pour aboutir au nom du nouveau Directeur-général del’ UNESCO. Irina Bokova devient la première femme à assumer cette fonction. L’ancienne ministre des Affaires Etrangères de la Bulgarie qui, à la quatrième ronde avait obtenu le même nombre de votes que Farouk Hosny, 29 chacun, a fini par avoir le dessus sur le ministre de la culture de l’Egypte lors de la dernière journée avec 31 votes contre 27. Ivan Petrov, ambassadeur de la République de la Bulgarie au Portugal, avance deux aspects fondamentaux qui ont mené au succès de l’élection de cette diplomate : « Les qualités personnelles et professionnelles qui lui sont caractéristiques et l’intense activité de l’état bulgare en faveur de sa candidature ».

n

44. Interview with Natália Carrascalão – Ambassadress of East Timor in Portugal Natália Carrascalão, daughter of a Timorese mother and Portuguese father who was born in the Algarve and deported to East Timor by the New State regime, is 56 years old and proud of her roots and Portuguese descendent and Timorese background always present in her life. Born in the mountains of Liquiçá – Fazenda Algarve – the new representative of the Timorese State graduated with a Degree in Law from the University of Macau, was an assiduous sportswoman, international basketball player and passionate for radical and motor sports. Natália Carrascalão has a son, enjoys reading, art and photography and enhances the importance of cultural in general. In the interview to Diplomática, the Ambassadress speaks about her professional endeavour and explains the reason which led her to accept the diplomatic destinations of the Timorese Embassy in Lisbon: “to consistently strengthen the bonds of friendship between East-Timor and Portugal, and upholding the higher national interests of the Democratic Republic of East-Timor”.

n

44. Interview de Natália Carrascalão – Ambassadrice de Timor Oriental au Portugal Natália Carrascalão, dont la mère est timoraise et le père portugais de la région de l’Algarve déporté à Timor par le régime salazarien appelé Etat Nouveau, a 56 ans et se sent orgueilleuse de ses racines et de sa formation luso-timoraise qui ont depuis toujours marqué sa vie. Née dans les montagnes de Liquiçá – dans la Fazenda Algarve – la nouvelle représentante de l’Etat timorais a fréquenté un cours de droit à l’Université d’Asie Orientale à Macao, fut une sportive assidue, internationale de basket et passionnée de sports motorisés et extrêmes. Elle a un enfant, apprécie beaucoup la lecture et l’art de la photographie et attache beaucoup d’importance à la culture générale. A Diplomática, l’ambassadrice parle de son parcours et explique la raison pour laquelle elle accepta les destins diplomatiques de l’ambassade timoraise à Lisbonne : « renforcer, toujours plus, les liens d’amitié entre Timor Oriental et le Portugal, et aussi défendre et promouvoir les intérêts supérieurs nationaux de la République Démocratique de Timor Oriental».

n

52. Imamat Ismaili opens Diplomatic mission in Lisbon The Aga Khan Development Network organised a reception in honour of the 52nd anniversary of the ascension of His Royal Highness Aga Khan to the Imamat Ismaili, in Lisbon, in that which is the first Diplomatic mission of the Imamat Ismaili in Europe and the second in the Western World.

94 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010


This organization is a non-profit, private, international organization; present in more than 30 countries,

operates in favour of the improvement of human quality of life, with no distinction of gender, race, religion or cultures, operating towards the eradication of poverty, the promotion of education, culture, pluralism and economic development.

n

52. Imamat Ismaili ouvre une représentation diplomatique à Lisbonne Le réseau Aga Khan pour le développement a réalisé une réception pour commémorer le 52ème anniversaire de l’accession de Son Altesse Aga Khan à l’Imamat Ismaili, à Lisbonne, dans ce qui est la première représentation diplomatique de l’Imamat Ismaili en Europe et la deuxième dans le monde occidental. Ce réseau est une organisation non confessionnelle, privée, internationale, présente dans plus de 30 pays, qui opère en bénéfice de l’amélioration de la qualité de vie humaine, indépendamment du genre, ethnie, religion ou cultures dans des domaines comme l’éradication de la pauvreté, l’éducation, la culture, le pluralisme et le développement économique.

n

54. Fernando Faria de Oliveira – President of Caixa Geral de Depósitos The current President of Caixa Geral de Depósitos graduated in Mechanical Engineering. However his career has always been related to Economy and Management. Fernando Faria de Oliveira speaks to us about the changes the institution has undergone since he occupied the position of president and the measures taken to overcome “this period of significant problems and difficulties of liquidity at a global level”. Holding the 34th position in the ranking of the most solid and safest banks in the World, Caixa Geral de Depósitos has guaranteed the financing of the economy, contributing towards the stability and solidity of the Portuguese financial system and incrementing this activity within the sphere of SMEs. The activities of CGD at an international level – Brazil, Angola and Mozambique – are also discussed by the President of the state bank.

n

54. Fernando Faria de Oliveira – Président de la banque Caixa Geral de Depósitos L’actuel président de Caixa Geral de Depósitos s’est diplômé en Ingénierie Mécanique mais sa carrière est liée à l’économie et à la gestion. Fernando Faria de Oliveira nous parle des modifications que l’institution a subies depuis qu’il la préside et des mesures prises pour franchir « la période de grand problème de liquidité au niveau mondial ». Considérée la 34ème banque la plus sûre au monde, Caixa accomplit les objectifs fondamentaux définis par le gouvernement assurant le financement de l’économie, contribuant à la stabilité et solidité du système financier portugais et accroissant l’activité auprès des PME. L’activité de CGD au niveau international – Brésil, Angola, Mozambique – est aussi éclaircie par le président de la banque d’Eat.

n

62. Mira Amaral – President of BIC Bank After an interview to Diplomática at the time of the magazine’s second edition, the leader of BIC Bank in Portugal gives us a perspective of the banking business and talks about the consolidation of BIC Bank in Portugal. Mira Amaral reveals that the bank’s first phase of expansion was achieved and that entering the market of capitals is already a reality. According to the President of the bank, BIC now has the required conditions to develop the business of Private Banking. In addition, Mira Amaral additionally adds that BIC has its “equipment appropriately tuned” with regards to cash flow with Angola.

n

62. Mira Amaral – Président de la banque BIC Après avoir accordée une interview dans la deuxième édition de notre revue, le leader de la banque BIC au Portugal revient, dans ce numéro, sur sa perspective à propos des affaires de la banque et parle de l’affirmation de la BIC dans le pays. Mira Amaral nous révèle que la première phase de l’expansion de la

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English & French texts

banque a été réussie et que l’entrée dans le marché de capitaux est déjà une réalité. Selon le président de la

banque, la BIC possède maintenant les conditions nécessaires pour développer le business du Private Banking. Mira Amaral confirme aussi que la BIC a « une machine parfaitement au point » en ce qui concerne les flux financiers avec l’Angola.

n

68. 60th Anniversary of the People’s Republic of China The Ambassador of China in Portugal held a reception to celebrate the 60th anniversary of the People’s Republic of China, welcoming representative figures of our diplomatic and political circles, as well as business, military and social spheres.

n

68. 60ème anniversaire de la République Populaire de Chine L’ambassadeur de la Chine au Portugal a offert une réception pour commémorer le 60ème anniversaire de la République Populaire de Chine à laquelle étaient présentes des personnalités représentatives de nos milieux diplomatiques et politiques, d’entreprises, militaires et sociaux.

n

74. National Day of Hungary The Ambassador of the Republic of Hungary, Attila Gecse, and Ambassadress Andrea Gecse held a reception at the beautiful palace at Alto de Santo Amaro to celebrate Hungary’s National Day. The reception included personalities from the diplomatic circle in Lisbon as well as social, political, military and business representatives. The reception started out with a cocktail followed by a lunch buffet in the rooms and gardens of the palace. The 23rd of October is the day which marks the beginning of the revolution and fight for independence in 1956 and is also the day on which the Hungarian Republic was proclaimed in 1989.

n

74. Fête Nationale de la Hongrie Dans le très bel hôtel particulier du Alto de Santo Amaro, l’ambassadeur de la République de la Hongrie, Attila Gecse et son épouse Mme Andrea Gecse, ont offert une réception à l’occasion de la Fête Nationale de leur pays, à laquelle ne manquèrent pas des personnalités de premier plan de la diplomatie accréditée à Lisbonne et des milieux sociaux, politiques, militaires et d’entreprise. Lors de la réunion fut servi un cocktail suivi d’un déjeuner buffet dans les salons et jardins de cet hôtel particulier. Le 23 octobre fut le jour du début de la révolution et de la lutte pour l’indépendance en 1956 ainsi que le jour de la proclamation de la République de la Hongrie en 1989.

n

76. Farewell reception in honour of the Ambassador of Austria in Lisbon The tenure of office as the highest representative of Austria in Portugal came to an end for Ewal Jäger. The ambassador arrived in Lisbon in 2006 and said farewell three years later with a cocktail held at his residence with guests who are members of the distinguished Diplomatic Body in Lisbon together with other renowned personalities of our society.

n

76. Réception de départ de l’ambassadeur de l’Autriche à Lisbonne Le mandat d’Ewald Jäger en tant que le plus haut représentant de l’Autriche au Portugal a pris fin. L’ambassadeur arriva à Lisbonne en 2006 et a fait ses adieux trois ans après lors d’un cocktail qui a eu lieu dans sa résidence et qui compta avec la présence d’éléments du corps diplomatique accrédité ici et d’autres personnalités illustres de notre société.

n

79. Austria’s National Day The new Ambassador of Austria Bernhard Wrabetz and the Ambassadress Joana Daniel Wrabetz welcomed distinguished guests at the Embassy of Austria who were invited to celebrate the National Day of Austria. In the official speech during the ceremony, Ambassador Bernhard Wrabetz evinced the “profound friendship which brings together Austria and Portugal” and explained the importance of the National Day.

96 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010

n


79. Fête nationale de l’Autriche Le nouvel ambassadeur de l’Autriche M. Bernhard Wrabets et son épouse Mme Joana Daniel Wrabets ont reçu à l’ambassade autrichienne des invités illustres lors de la Fête Nationale. Dans son discours officiel de la cérémonie, l’ambassadeur Bernhard Wrabets a souligné « la profonde amitié qui unit l’Autriche et le Portugal » et a expliqué ce que signifie la Fête Nationale.

n

80. National Day of Turkey The receptions held at the Turkish Embassy in Lisbon are gatherings where guests feel at home due to Ambassador Kaya Turkmen and the Ambassadress Nurden Turkmen’s distinct kindness and politeness. This year was not an exception and the reception held at the Restelo Embassy on the occasion of the celebration of the National Day of Turkey. The guests were the most distinguished personalities of our political, diplomatic, military and business circle.

n

80. Fête Nationale de la Turquie Les réceptions à l’ambassade de la Turquie à Lisbonne sont une vraie fête où les invités se sentent comme chez eux grâce à la sympathie et à la gentillesse de l’ambassadeur Kaya Turkmen et de son épouse Mme Nurden Turkmen. Encore une fois cette année il en fut ainsi lors de la réception offerte à l’ambassade de Restelo, à l’occasion de la Fête Nationale. Les personnalités de marque des milieux politiques, diplomatiques, militaires et d’entreprise étaient présentes.

n

84. The Peninsular War in Portugal The Peninsular War is a period in the history of Europe which, due to its consequences and repercussions, is still very sensitive despite the two hundred years that have gone by, requiring deep research and, consequently, being kept alive in our memories. The Peninsular War is not a minor episode in the Napoleonic epic, quite the contrary. It is, according to Napoleon himself, “its ulcer”. The Peninsula was where the fall of a grand statesman, and undoubtedly one of the greatest corporals of all times, was planned and initiated; and Portugal was not a mere figurant, but one of the indisputable main characters. In truth, the Portuguese people had one of the most relevant, if not the main, role.

n

84. Guerre péninsulaire au Portugal La guerre péninsulaire est un moment de l’histoire d’Europe qui, par ses conséquences et répercussions, encore sensibles deux-cents ans après, mérite d’être bien étudié et, par conséquent, ne peut être oublié. La guerre péninsulaire n’est pas un épisode moindre dans l’épopée napoléonienne, bien au contraire. Elle est, selon Napoléon lui-même, « son ulcère ». C’est dans la Péninsule Ibérique que l’on a conçu et initié la chute d’un grand homme d’état et, sans doute, de l’un des meilleurs caporaux de guerre de tous les temps ; et le Portugal ne fut pas juste un figurant mais plutôt un des indiscutables acteurs fondamentaux, peut-être même, à mieux dire, ce fut une guerre où le peuple portugais a joué l’un des rôles principaux, si pas le principal.

n

89. “Espiões nas Descobertas” (“Spies in the Discoveries”) Maria Cristina Malhão Pereira promoted the first volume of the trilogy “Espiões nas Descobertas” (“Spies in the Discoveries”) in the historic Palace of Independence in Lisbon, headquarters of the Sociedade Histórica da Independência de Portugal (Historic Society of Portuguese Independece).

n

89. «Espions au temps des Découvertes» Maria Cristina Malhão Pereira a publié le premier volume de la trilogie « Espions au temps des Découvertes » dans le Palais de l’Indépendance à Lisbonne, siège de la Société Historique de l’Indépendance du Portugal.

n

dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 97


DOSSIER

D Revista

Foto: Irina Quintela

com o MinistĂŠrio da Economia e

meios aos empresårios�.

o ICEP, ĂŠ um bom exemplo de

Mais: "Sem prejuĂ­zo do muito

como se podem valorizar expo-

importante papel de instrumen-

nencialmente e com minimiza-

to pĂşblico sĂŁo tambĂŠm eles que

ção de custos, conhecimentos e

devem investir em iniciativas

saberes indispensĂĄveis Ă ca-

geradoras de emprego e de

pacitação dos interesses eco-

riqueza. Mas temos que reco-

nĂłmicos de Portugal por esse

nhecer que fazĂŞ-lo nestas cir-

mundo fora.

cunstâncias Ê um desafio ainda

A CIEP lançou este ano o

mais complexo".

Portuguese Business Link –

O Governo e a AICEP nĂŁo se

PBLink, que ĂŠ uma rede social

têm poupado a esforços para

interactiva e tecnologicamente

promover a captação de In-

desenvolvida que pretende ser

CurrĂ­culo do

vestimento Directo Estrangeiro

um instrumento fundamental

Presidente do CIEP

bem como o investimento portu-

de contactos de negĂłcios e de

guĂŞs no mundo.

conhecimento de oportunidades

Desde a gĂŠnese da Confede-

e de mercados, dos empresĂĄ-

ração Internacional dos Em-

rios e gestores portugueses

presĂĄrios Portugueses - CIEP,

espalhados pelos vĂĄrios conti-

em 1991, que esteve presente

nentes.

pela Universidade TĂŠcnica de

o conceito de rede, para unir

Miguel Horta e Costa referiu

Lisboa, sendo tambĂŠm pĂłs-

e tornar mais profĂ­qua a divul-

no fim da sua intervenção:

-graduado em Organização e

gação da importância do papel

"NĂŁo posso deixar de dirigir

GestĂŁo de Empresas, con-

dos muitos milhares de em-

uma sentida palavra de agra-

cluĂ­das nas universidades de

presĂĄrios portugueses ou luso

decimento a todos os presen-

Birmingham e Navarra.

descendentes, que por esse

tes que se dispuseram a vir

Na sua experiĂŞncia profis-

mundo fora tĂŞm criado empre-

de paragens mais ou menos

sional conta com passagens

sas de sucesso. E nĂŁo tinha

longĂ­nquas a Lisboa, com sa-

entĂŁo, como agora tem, signi-

crifĂ­cio das suas actividades

ficado e reconhecimento; mas

pessoais e profissionais, mas

foi-se acentuando a importân-

com o habitual entusiasmo e

cia do conceito de rede, com

voluntarismo, para participa-

a globalização e a interdepen-

rem nestes trabalhos e serem

dĂŞncia, Ă medida que o mundo

actores neste projecto. De

se foi tornando mais pequeno.

todos esperamos que comple-

do Conselho de Administra-

Desde 2004, altura em que,

mentem o esforço agora feito,

ção da Companhia Portugue-

por iniciativa da CIEP e com

sendo arautos e colaborantes

´

1948, Miguel Horta e Costa

iplomatica ĂŠ licenciado em Economia

anos haja uma capital federal

Embaixador de Malta

2000, pela CIEP em parceria

que dêem esperança e novos

Nascido a 28 de Julho de

"É possível que daqui a muitos

Salv J. Stellini

a apresentação de soluçþes

¢

Tratado de Lisboa

da UniĂŁo Europeia como a dos EUA em Washington"

Angola acaba de realizar as suas eleiçþes num clima de paz e concórdia e apresenta o mais forte crescimento

econĂłmico a nĂ­vel mundial. Investir neste paĂ­s que alia o progresso aos recursos naturais ĂŠ o objectivo dos grandes grupos empresariais

por prestigiados cargos

empresariais, tais como, pela

¢ A

Para Salv J. Stellini, Embaixador de Malta, “o objectivo de ter embaixadas em vĂĄrios

paĂ­ses da UniĂŁo Europeia tem a ver com proteger ou promover interesses nacionais. No

partilha da lĂ­ngua e a histĂłria

produtos farmacĂŞuticos oferecem

Angola e para as relaçþes comer-

comum sĂŁo as vantagens competiti-

igualmente um grande potencial de

ciais entre Portugal e Angola: o

vas mais evidentes para os empre-

investimento.

volume de negĂłcios ultrapassou os

sĂĄrios portugueses que estĂŁo a in-

A aposta de Portugal em Angola e

400 milhĂľes de euros. Portugal foi

direcção dos CTT – Correios e Telecomunicaçþes de

Portugal (Director Geral dos Correios); pelas presidĂŞncias

nosso caso nĂŁo temos embaixadas em todos os paĂ­ses, porque isso ĂŠ muito dispendio-

vestir num dos mercados de maior

as vantagens das relaçþes econó-

tambĂŠm o paĂ­s com mais projectos

so. Aliås, em relação a recursos humanos, ter diplomatas pressupþe bastante tempo em

crescimento em todo o Mundo.

micas entre os dois paĂ­ses foram

de investimento apresentados e

formação e preparação, bem como um alto nível de educação. Um pequeno país como

Portugal estĂĄ entre os cinco maio-

debatidas na conferĂŞncia “Investi-

aprovados. Para este ano, a previ-

o nosso nĂŁo dispĂľe assim de tantos recursos humanos adequados ao desempenho

res investidores do mercado an-

mento Público e Privado – Parce-

sĂŁo aponta que Angola venha a ser

sa RĂĄdio Marconi, S.A., e do

a colaboração da Secretaria

na divulgação e sensibilização

desta função; por isso, temos que racionalizar o número de embaixadas: só em catorze

golano, com especial ĂŞnfase nos

rias e Financiamento em Angola�,

o primeiro paĂ­s extracomunitĂĄrio de

Conselho de Administração

de Estado, se reuniram pela

dos outros empresĂĄrios e ges-

1ÂŞ vez em congresso em Lis-

tores, em relação ao prosse-

Diploma´ tic a

Estados-Membros, como a GrĂŁ-Bretanha, Dinamarca, ItĂĄlia, Alemanha, GrĂŠcia... Neste

sectores da construção e imobili-

organizada pela Câmara de Co-

destino das nossas exportaçþes. A

da SIBS – Sociedade Inter-

momento, Bruxelas, embora nĂŁo lhe chamemos capital federal, ĂŠ onde se encontra a

ĂĄrio, turismo e banca. No entanto,

mĂŠrcio e IndĂşstria Portugal Angola

qualidade dos produtos portugue-

bancåria de Serviços, S.A.;

boa, foi feito o balanço da sua

guimento de todas as vertentes

outras ĂĄreas, como as telecomu-

(CCIPA) e pelo Banco de Fomento

ses ĂŠ muito reconhecida, sendo o

pelas administraçþes da PGA

actuação e o diagnóstico das

do Netinveste. Quero, para

nicaçþes e os serviços, tambÊm jå

Angola.

factor diferenciador perante todos

– Portugålia Airlaines, e BES

necessidades, sintetizados

terminar, reiterar aqui publica-

estĂŁo a ser exploradas. As activi-

O Presidente da CCIPA e repre-

os outros paĂ­ses que tambĂŠm estĂŁo

nas conclusĂľes que a CIEP foi

mente a total disponibilidade

mandatada para apresentar e

da CIEP para, com todas as

defender.

partes envolvidas, assegurar a

A rede de conselheiros para

sua missĂŁo de apoiar a inter-

a internacionalização da eco-

Nº3 n az. c i20 o08 na l in. zaç ão das empresas /Ja

nomia portuguesa, criada em

p o r t u g u e s a s4.%"

maioria das instituiçþes da UniĂŁo Europeiaâ€?. Malta tem cinquenta diplomatas na embaixada em Bruxelas, a maior do MinistĂŠrio dos NegĂłcios Estrangeiros, dado que se trata do

centro da UE, onde se debatem assuntos de grande importância para o futuro do país no

seio da Europa. No entanto, para Salv J. Stellini ĂŠ possĂ­vel que daqui a muitos anos, se a

dades industriais associadas ao

Europa se transformar em “Estados Unidos da Europa�, haja uma capital federal como a

sentante da Galp Energia – Carlos

a apostar em Angola. No entanto, o

agro-alimentar, à produção de bens

Bayan Ferreira – referiu que “o ano

paĂ­s tambĂŠm tem vontade de produ-

muitos anos!

de consumo, ao equipamento e aos

de 2007 foi muito importante para

zir e de poder vir a exportar para

JUNHO/JULHO 2008 - DIPLOMà TICA • 9

- DIPLOMĂ TICA s 23

.%)2/

Fern ando Em Emba baix Neve ixad ador or em en s entr em ItĂĄ trev ItĂĄlia evis is lia

ÂŤ4)#! s -!)/

Muro de Berlim

*5.(/

queda hĂĄ 20 anos

lĂŞncia e entendimento que se destaca pela notĂĄvel

N

2

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riais presa ise crise Ă cr mĂ s em dem onde spon resp re Grupo

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chileno-portuguesas alcançaram um nível de exce-

2009

Diploma´ tica

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Portugal, diz-nos Samuel Ossa Dietsch: “As relaçþes

De

DEZEMBRO 2008/JANEIRO 2009 - DIPLOMĂ TICA s 45

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Mundial de 2010 e oferecer turismo de luxo

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ico lĂ­tico rall polĂ­t ltura o po sĂŁo cultu e cu VisĂŁ Vi ade lidad ibilid nsibi sens e se e

Sul-africanos preparam-se para receber

Quanto à importância da Embaixada do Chile em

BES e Presidente da CIEP.

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Dossier Ă frica/Angola

A Europa dos partidos e a Europa dos cidadĂŁos

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DOSSIER

Vice-Presidente Executivo do

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NÂş4 9 SETEMBRO/OUTUBRO 2008 nho 200 4 % Maio/Ju

outros postos relevantes; ĂŠ

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dos EUA em Washington com o seu corpo diplomĂĄtico especĂ­fico. Mas... isso sĂł daqui a N

– Banco Espírito Santo; entre

densidade do conjunto dos vĂ­nculos, com coincidĂŞn-

ta tado do pe da da Tu pela Turq la Em rqui Emba uia baix a em ixat em Po atriz Port riz rt

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CPLP

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Attila Gecse

cias estratĂŠgicas e critĂŠrios partilhados que criam uma comunidade de interesses, tanto no bilateral Foto: Maria Branco

como no multilateral. O Chile, num diĂĄlogo polĂ­tico permanente e fluĂ­do, estĂĄ a trabalhar para criar uma $)0,/-ÂŤ4)#!

rede de cooperação e aprendizagem recĂ­proca com paĂ­ses afins, “like minded countriesâ€?, como Portugal, que em 20 anos conseguiram o desenvolvimento com o bem-estar para a sua população e alto prestĂ­gio nos organismos multilaterais, e que hoje cons-

Encarregado de NegĂłcios e 1Âş SecretĂĄrio da Embaixada do Chile

tituem uma referência a observar". Constata-se uma notória coincidência de posiçþes frente à reforma das Naçþes Unidas e um sem-número de apoios em diversas votaçþes no âmbito multilateral.

de NegĂłcios e 1Âş SecretĂĄrio da Embaixada

“A ausĂŞncia de contenciosos e a afinidade existen-

do Chile, “Portugal tem com a AmĂŠrica Latina

te entre ambos os países conduz a que a relação

Arrancou a corrida para o Cam-

ĂĄreas desportivas, turĂ­sticas e de

to da população e da expansão

peonato Mundial de Futebol da

exposiçþes. Tudo isto com um or-

urbana. A segurança e emergên-

FIFA 2010. A fase de qualificação

çamento a rondar os cerca de 740

cia ĂŠ outra questĂŁo preocupante

bilateral seja fluĂ­da e propĂ­cia a acordos numa

ção com o Brasil, mas tambÊm a relação com outros

ampla gama de assuntos. Destacam-se os esforços

do Sul hĂĄ muito que o Mundial estĂĄ a ser preparado. Desde a escolha deste paĂ­s africano para

paĂ­ses e especialmente com o meu. Na Venezuela e

de ambos os governos por alcançar um alto grau

na Argentina hĂĄ uma numerosa colĂłnia portuguesa

de empatia Ă volta dos interesses de maior relevo

residente. Com respeito ao Chile podemos constatar

da contraparte. Uma sĂŠrie de importantes acordos

como, desde o regresso Ă democracia em 1990, os

confirmam a relevância da relação bilateral. Entre

vĂ­nculos estreitaram-se de tal maneira que todos

eles, o ConvÊnio sobre Segurança Social, que se

os presidentes portugueses efectuaram visitas ao

encontra em vigĂŞncia desde 1999; o Acordo sobre

Chile, e os Presidentes chilenos tambĂŠm visitaram

Protecção Recíproca de Investimentos, vigente

Portugal. Esperamos que a Presidente Michelle Ba-

desde 1995; e o ConvĂŠnio para Evitar a Dupla Tri-

chellet tambÊm o faça num futuro próximo. Partilha-

butação Internacional, que se encontra em proces-

mos ideais e objectivos. Pertencemos Ă mesma co-

so de ratificação em ambos os países e que fôra

munidade ibero-americana. Para nĂłs, Portugal tem

assinado por ocasiĂŁo da visita de Estado do Presi-

sido um interlocutor privilegiado na nossa relação

dente Jorge Sampaio ao Chile, em Julho de 2005.

com a União Europeia. Esta relação tão estreita não

“Nos aspectos comerciais, o facto mais relevante

se pode manobrar desde Bruxelas. São relaçþes

nesta esfera foi a vigĂŞncia plena do Acordo de

bilaterais privilegiadas directas, sem intermediĂĄrios

Associação entre o Chile e a União Europeia, que

e daĂ­ que esse contacto seja insubstituĂ­vel e assim

co-ajuda ao esforço".

5

4

Engli

sh & Fren

ch T ext

s

neste tipo de eventos, mas que o

a organização do maior evento

antes, no governo do Apartheid,

NĂŁo serĂĄ apenas a diversĂŁo mo-

futebolĂ­stico do Mundo e desde

os estĂĄdios eram criados sobre-

mentânea que o Mundial prestarå

que terminou a última edição

tudo para a pråtica de râguebi

à população sul-africana. Este

desta competição, realizada na

e criquete. Claro estĂĄ que nĂŁo

investimento do Governo na orga-

Alemanha, que os sul- -africanos

poderĂŁo apenas ser construĂ­dos

nização do Campeonato 2010 traz

começaram a encetar os primei-

estĂĄdios e complexos desportivos

outros benefĂ­cios aos cidadĂŁos,

ros projectos para assegurarem

para a realização de tamanho

assegurando-lhes cerca de 150

a existĂŞncia de infra-estruturas

evento. A construção de estradas,

necessĂĄrias para albergarem o

de acomodamentos e de outras

mil empregos sustentĂĄveis e na umaCPLP Embaixadores melhor qualidade de vida.

maior acontecimento desportivo

infra-estruturas sĂŁo, de igual

O maior evento futebolĂ­stico do

em 2010.

modo, importantes, estimando-se

planeta poderĂĄ ser tambĂŠm a

Localizados em cidades-sede,

que o orçamento total gasto no

grande e a melhor ocasiĂŁo para

cinco novos estĂĄdios estĂŁo a

Mundial seja de 42 bilhĂľes de eu-

unificar o paĂ­s e todo o povo da

Assinaturas N

continuarå a ser�.

3

ts vez na história da à frica do Sul, Estado assegurarå com uma forte ex T uia - Turq ugal glish cobertura o país terå estådios de forças policiais e Port nespecialmenEfutebol, Ancara ith ao reportagem em te dedicados jå que paramÊdicas. W milhþes de euros. Pela primeira

começou agora, mas na à frica

um vĂ­nculo muito especial. NĂŁo somente estĂĄ a rela-

With

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egundo Samuel Ossa Dietsch, Encarregado

14 Julho em Lisbo

s !'/34/ 3%4%

Samuel Ossa Dietsch

a Viva a RepĂşblic a

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Lusofonia

ser construĂ­dos e outros tantos,

ros. EstĂĄ, ainda, a ser desenvolvi-

Ă frica Austral. O Campeonato do

jĂĄ existentes, estĂŁo a ser reno-

do um plano piloto para o melho-

Mundo estĂĄ a ser aguardado com

vados. As zonas contĂ­guas aos

ramento da rede de transportes

enorme expectativa e entusiasti-

recintos desportivos estĂŁo, tam-

pĂşblicos que, simultaneamente,

camente pela comunidade sul-

bĂŠm, a ser reconstruĂ­das, com

terĂĄ de responder a um aumen-

africana e, como o presidente

French Texts With English &

1. Embaixador da GrÊcia Spyridon Theocharopoulos e Mulher 2. Embaixatriz de Moçambique Glória Mkaima, Embaixatriz da ArgÊlia Sabria Boukadoum, Paula Roque, Embaixatriz da Tunísia, Embaixatriz da GrÊcia e Maria da Luz de Bragança 3. Embaixa-

¢

triz da Turquia Nurdan Turkmen e Embaixatriz da ArgÊlia Sabria Boukadoum 4. Embaixatriz do Iraque, Embaixadora do Paquistão Fauzia M. Sana e Nadeem Malik 5. Embaixatriz da China Li Feyue 6. Embaixatriz da RomÊnia Ilena Gafita 7. Embaixador do Chile Francisco Perez-Walker 8. Maria da Luz de Bragança e Maria Cavaco Silva

30 s DIPLOMĂ TICA - SETEMBRO/OUTUBRO 2008

18 • DIPLOMà TICA - JUNHO/JULHO 2008

DEZEMBRO 2008/JANEIRO 2009 - DIPLOMĂ TICA s 71

6 NĂşmeros e20 12 NĂşmeros e40

ENTREVISTA

DOSSIER

OPINIĂƒO

A Europa dos partidos e a Europa dos cidadĂŁos

Portugal sem PolĂ­tica Externa As consequĂŞncias do Tratado de Lisboa

por António Vasconcelos Graça

envie nomes e moradas para:

Portugal inventou a polĂ­tica ex-

de cada paĂ­s por si, reflectindo

financeiros ou o casamento de

terna tal como ĂŠ entendida nos

a natureza e Ă­ndole prĂłpria de

homossexuais, por exemplo?

tempos modernos e no sentido

cada Estado. GostarĂ­amos que

Toda a expansĂŁo portuguesa,

europeu. O primeiro grande tra-

acontecimentos do passado nĂŁo

fora da Europa, assentou no

balho sobre a matĂŠria chama-se

tivessem ocorrido? Sem dĂşvida.

estabelecimento de pontos de

“Os LusĂ­adasâ€?. Antes, em Tor-

Mas isso nĂŁo ĂŠ razĂŁo para com-

contacto que permitissem o

desilhas, assinĂĄmos o primeiro

plexo de culpa, atĂŠ porque nĂŁo

comĂŠrcio e a troca de merca-

tratado de aplicação planetå-

hĂĄ inocentes.

dorias. Para assegurar o bom

ria. Vasco da Gama tinha um

Em matĂŠria de comportamen-

funcionamento desse sistema,

destino e estava incumbido de

tos vergonhosos no passado,

houve que conquistar pontos-

uma missĂŁo especĂ­fica onde

ĂŠ bom nĂŁo esquecer que, para

-chave, fossem cidades do norte

a componente diplomĂĄtica era

a mentalidade do tempo, nĂŁo

de Ă frica, o golfo PĂŠrsico, locais

primordial. NĂŁo foi um viajante

o eram. Que sabemos nĂłs da

estratĂŠgicos na Ă?ndia ou no

errĂĄtico como, por exemplo,

forma como vĂŁo ser julgados,

Extremo Oriente. Para garantir a

Marco Polo.

no futuro, muitos dos nossos

segurança desse impÊrio a que

Num tempo em que certa “inte-

comportamentos actuais como

o Prof. LuĂ­s Filipe Thomaz cha-

ligentzia� lusitana tem vergonha

a falta de valores, o impĂŠrio dos

ma, com lucidez, uma “rede de

de ser portuguesa e tudo faz

interesses materiais, a crise

ligaçþesâ€?. NĂŁo ĂŠ exactamente o

para apagar qualquer vestĂ­gio

de autoridade, as calamidades

que se faz hoje? Houve cruelda-

"As 'embaixadas nacionais'

de portugalidade como coisa

desencadeadas pelos negĂłcios

de e barbaridades? Claro que

permanecerĂŁo e encontrarĂŁo

diplomatica@gabinete1.pt ou

Rua Ramalho Ortigão, nº 43 A ¢

1070-228 LISBOA Telefones: 21 322 46 60 / 93 609 87 19 de maneira racional uma

Foto: Maria Branco

nefasta, confundindo isso com “modernidadeâ€?, onde sĂł merecem atenção os aspectos negativos do passado (escravatura, Inquisição, crueldade, etc.), convĂŠm lembrar algumas realidades. Porque Portugal inven-

forma de cooperação com um serviço diplomåtico da UE"

Algimantas Rimkunas

tou o comĂŠrcio global, apontado

Embaixador da Lituânia

hoje como a panaceia para todos os males. E, num planeta cada vez mais apertado para a

Vasco da Gama tinha um

população, o bom entendimento

destino e estava incumbido

entre as naçþes transforma-se

de uma missĂŁo especĂ­fica

num factor de sobrevivĂŞncia.

onde a componente

O que conta ĂŠ o que nos une e

diplomĂĄtica era primordial.

não o que nos separa. Por isso, qualquer política externa tem de ser eficaz, sob o risco de se tornar inútil quer por fora de tempo, quer por inapropriada. Por imposição do Tratado de Lisboa, os países membros da União Europeia deixarão de ter

Segundo o Embaixador da Lituânia, Algimantas Rimkunas, o Tratado de

Modo de pagamento: Lisboa prevê a criação de uma Europa de Relaçþes Externas, para ac-

çþes concretas, que de acordo com o Tratado “trabalharĂĄ em cooperação com os serviços diplomĂĄticos dos Estados-Membrosâ€?. Pensamos que as “embaixadas nacionaisâ€? permanecerĂŁo e encontrarĂŁo de maneira racio-

• Cheque Ă ordem de Gabinete1 • Vale dos Correios • TransferĂŞncia bancĂĄria nal uma forma de cooperação com um serviço diplomĂĄtico da UE.

A Embaixada da Lituânia em Portugal estabeleceu-se em Lisboa hå 10

anos – 1998. Trata de todo o espectro de relaçþes bilaterais entre os dois

Embaixador Fernando Neves

paĂ­ses: polĂ­ticas econĂłmicas, culturais, etc. No trabalho da Embaixada

face a face com a Embaixatriz Nurdan TĂźrkmen

todas as åreas são igualmente importantes. Ambos, Lituânia e Portugal, são membros da União Europeia e da NATO, e este facto prova a im-

É um homem “coolâ€?, como se costuma dizer, “uma

portância do aspecto político do nosso trabalho. A elevada importância

imprescindĂ­vel leitura

política externa própria. É complicado, porque aquilo que a

diplomacia europeia foi traçan-

do ao longo dos tempos foi obra

força tranquilaâ€?. Muito observador e de espĂ­rito fino.

da ĂĄrea econĂłmica ĂŠ evidente: o comĂŠrcio e os investimentos bilaterais

Parece brincar (e brinca mesmo), estar sempre bem

enriquecem países e naçþes. Por último mas não menos importantes são

disposto e em festa, mas, num traço quase imper-

as relaçþes culturais, que tornam as pessoas da Lituânia e Portugal mais próximas.

ceptĂ­vel, deixa escapar algo que diz “O que estarei

N

eu a perder algures, neste momento?�

¢

16 s DIPLOMĂ TICA - SETEMBRO/OUTUBRO 2008

10 • DIPLOMà TICA - JUNHO/JULHO 2008

10 s DIPLOMĂ TICA - DEZEMBRO 2008/JANEIRO 2009

www.gabinete1.pt




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