´ Diplomatica Nº6 Dezembro 2009/Janeiro 2010 E4 (Cont.)
Kadhafi
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Diplomática 6 • dezembro 2009/janeiro 2010
nos anos da Revolução
Mundo Financeiro Entrevistas com os Banqueiros Faria de Oliveira e Mira Amaral
With English & French Texts
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RIO DE JANEIRO
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LUANDA
Assuntos Summary
Kadhafi nos 40 anos da Revolução.
8
Kadhafi 40 years after the Revolution. Foto da capa: Ricardo Oliveira
“A guerra e a reconciliação” – Katarzyna Skórzynska.
24
“War and reconciliation” – Katarzyna Skórzynska. Alexander Ellis. Embaixador do Reino Unido em Portugal.
30
Alexander Ellis. Ambassador of the United Kingdom in Portugal. Gabriel Gafita. Embaixador da Roménia em Portugal.
34
Gabriel Gafita. Ambassador of Romania in Portugal. Despedida do Embaixador da Roménia.
38
Farewell of Ambassador of Romania. Irina Bokova. Primeira mulher a liderar a UNESCO.
40
Irina Bokova. Woman elected as head of UNESCO. Natália Carrascalão. Embaixadora de Timor-Leste em Portugal.
44
Natália Carrascalão. Ambassadress of East Timor in Portugal. Aga Khan. Imamat Ismaili abre representação Diplomática em Lisboa.
52
Aga Khan. Ismaili Imamat open diplomatic mission in Lisbon. Fernando Faria de Oliveira. Presidente da Caixa Geral de Depósitos.
54
Fernando Faria de Oliveira. President of Caixa Geral de Depósitos. Mira Amaral. Presidente do Banco BIC.
62
Mira Amaral. President of BIC Bank. 60º Aniversário da República Popular da China.
68
60th Anniversary of the People’s Republic of China. Dia Nacional da Hungria.
74
National Day of Hungary. Dia Nacional da Áustria e despedida do Embaixador.
76
Austrian National Day and Farewell reception in honour of the Ambassador. Dia Nacional da Turquia.
80
National Day of Turkey. 84
Vasco Bobone. Guerra Peninsular em Portugal. Vasco Bobone. Peninsular War in Portugal. “Espiões nas Descobertas”. 1º Volume da trilogia de Maria Cristina Malhão Pereira.
86
"Spies in the Discoveries". First volume of the trilogy by Maria Cristina Malhão Pereira. 90
Alfarrábios. Second-hands books
92
Traduções. English & French texts.
DIRECTOR: Maria da Luz de Bragança CHEFE DE REDACÇÃO: José Manuel Teixeira SUB-CHEFE REDACÇÃO: Altino Pinto PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Rua Ramalho Ortigão, 43 A – 1070-228 Lisboa. Marketing & Publicidade: Anabela Pelicano - e-mail:rp@gabinete1.pt Tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79 IMPRESSÃO: Projecção S.A. DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395
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Nota do Editor
"Porreiro, pá" E agora? Com muita pompa e alguma circunstância, foi finalmente ratificado o Tratado de Lisboa – o tal que deu o mote do “Porreiro, pá!” dito por José Sócrates a José Durão Barroso, aquando da nossa Presidência da União Europeia. Mas perguntamos nós: “E agora?” Apesar de uma moeda única, de fronteiras consolidadas, de um nível de vida elevado na maioria dos Estados (Portugal é um das excepções) e de um forte potencial tecnológico, a Europa permanece ainda algemada por um esquema político marcado por imperativos independentistas e de soberania, justificados em razões tradicionais e históricas, culturais e de civilizações tão diversas, algumas delas, como a portuguesa, com muitos séculos de existência. A promessa de uma discutível política externa comum, que deveria reforçar a adopção do Tratado de Lisboa, e o desejo de pôr em prática uma defesa europeia conjunta (ainda muito embrionária) marcam o difícil e imenso caminho que falta percorrer para que esta potência económica (30,42 % do PNB mundial em 2008) e demográfica (cerca de 500 milhões de habitantes) possa seriamente defender os seus interesses e assumir um papel de relevo face aos Estados Unidos da América e a países emergentes com grande peso a nível global. A independência política, cultural, económica, tecnológica e energética da Europa – corolário de um controle pleno da sua soberania – constitui um desafio para o futuro deste continente cuja história está marcada por múltiplas e devastadoras guerras ao longo dos séculos. Ora, teoricamente, para evitar essa quase permanente discórdia inter-povos, a velha Europa – com base num já quase remoto acordo comercial entre seis países – tenta tomar em mãos o seu próprio destino, para fazer frente a outros grandes blocos político-económicos. E, assim, a partir sobretudo dos anos 90 do século passado, criou-se entre muitos europeus o sentimento de que isso poderia vir a ser uma realidade. O Tratado de Maastricht, a criação de uma União Europeia (que substituiu a CEE), as referências constantes a uma cidadania europeia, o reforço desse sentimento de união através da adopção de símbolos comuns, uma moeda única na maioria dos Estados membros da União, a proposta de uma política europeia de segurança e defesa... Ora, essa caminhada pressupõe a definição de uma política estrangeira comum. Implica que se comece a pensar num Europa federativa, se aceite um governo federal, um exército federal, uma polícia federal. E será isso viável? Cremos que muitas das nações aderentes à UE desejam antes de mais uma Europa económica e não a perda das suas identidades. A ver vamos.
n
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nota diplomática
Capacidade de resposta dos escritórios consulares Existindo legalmente a possibilidade de criar vice-consulados e agências consulares, estruturas dotadas de personalidade jurídica própria, não se entende porque razão se persiste em não recorrer à oferta diversificada de possibilidades aberta pela legislação internacional e nacional. Vem-se pretendendo, através de escritórios consulares, que não são postos consulares, dar resposta a necessidades que obrigam a competências próprias, que os escritórios legalmente não têm, nem podem ter. Ao criar escritórios como estruturas de substituição de postos consulares, sejam eles consulados-gerais ou consulados, está a pretender fazer-se a quadratura do círculo, já que os escritórios apenas podem ser balcões de apoio/recepção/entrega de documentos, dependendo, em tudo e para tudo, do posto de que emanam. O escritório consular em Osnabrück tem vindo, de facto, a funcionar como um posto consular, ao arrepio da Lei, problema que parece não preocupar os responsáveis, já que até vêm mantendo, em Windhoek, uma estrutura clandestina, visto não ter aí sido criado nem posto de carreira, nem honorário, nem escritório. E não se vê qual o problema, financeiro nomeadamente, que pudesse resultar de em Osnabrück existir um posto com o nome de Agência Consular ou na Córsega um outro com o nome de Vice-Consulado, sendo obviamente imprescindível legalizar Windhoek.
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Jorge Veludo Secretário Geral do Sindicato dos Trabalhadores Consulares e das Missões Diplomáticas
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abril/maio 2009 - Diplomรกtica โ ข 1
KADHAFI – nos 40 ANOS da revolução
Mais de setenta países presentes nas comemorações do 40º aniversário da Revolução na Líbia Festeja-se em 2009 o 40º aniversário da Revo-
almente da confusão e da instabilidade no regime
lução na Líbia. Uma Revolução de jovens que
capitalista.
ocorreu na sequência da guerra israelo-árabe de
Essas ideias nasceram com a Revolução. A tercei-
1967 e que teve todo o apoio da nação árabe.
ra teoria universal não é um sistema económico
Uma Revolução que ambicionava resolver pro-
do povo líbio, mas uma oferta para o mundo em
blemas que o mundo árabe enfrentava na altura
geral. É difícil para os países grandes aceitarem
e apoiar movimentos de libertação em África, na
uma teoria saída de um país pequeno como a
Ásia e na Europa. O apoio a esses movimentos de
Líbia e de um revolucionário como o Coronel Mu-
libertação não é terrorismo, embora alguns países
ammar Kadhafi. Mas o que está a acontecer agora
ocidentais tenham acusado a Líbia de terrorismo
a nível mundial, seja político ou económico, prova
por causa disso. Registe-se que mais tarde todos
que essa teoria está correcta.
os líderes desses países do mundo inteiro que
Divide-se em três partes: política, económica e
lutaram pela sua independência foram recebidos
social. É um regime e uma política das massas
na Europa com tapete vermelho e já não eram
e do poder do povo. Aliás, e a confirmá-lo, em
considerados terroristas. Aliás, depois da Revolu-
1977 foi proclamado o Poder Popular. É certo que
ção na Líbia em 1969 houve 25 Estados africanos
essa marcha ao longo de 40 anos não é nada em
que conseguiram a sua independência e vemos
relação à idade dos Estados e dos Povos. Tam-
nesses movimentos de libertação as ideias lança-
bém não há dúvida que a Revolução Francesa é
das pelo Líder Muammar Kadhafi, um militar que
a mãe de todas as revoluções nos regimes repu-
chegou ao poder.
blicamos, mas a Terceira Teoria Universal na sua
Quando era estudante já liderava as manifesta-
visão concede o poder ao povo e a ninguém em
ções e tinha ideais de libertação. Criou células
sua representação.
civis e depois integrou o exército, que usou para
Os 40 anos da Revolução na Líbia foram come-
concretizar as ambições do povo. Trata-se de
morados com celebrações que se realizaram
uma Revolução e não de um golpe de estado. É
durante seis dias de festejos. Abriram com um
aí que está o segredo, na continuação da Revo-
desfile de oitenta aeronaves militares que sobre-
lução e da sua base sólida durante todos estes
voaram Tripoli e com um espectáculo na antiga
anos.
base norte-americana de Maatiga, a seis quilóme-
A Revolução não era dirigida contra um regime
tros da capital, que contou com a participação de
monárquico. Correspondia sim à necessidade de
centenas de artistas, numa encenação da História
haver uma mudança de que o mundo árabe preci-
da Líbia e uma retrospectiva em teatro e música
sava. Na Líbia havia a maior base americana fora
dos 40 anos de liderança de Kadhafi, que compa-
dos Estados Unidos e também cinco outras bases
receu nas cerimónias fardado de General. Du-
aéreas para apoio das esquadras e submarinos
rante a parada militar a sua cadeira estava muito
americanos que controlavam toda aquela região
próxima da do Presidente venezuelano, Hugo
do Médio Oriente. Ainda em território da Líbia
Chávez.
existiam três bases britânicas. Era difícil alguém
A Força Aérea Portuguesa participou no desfile
fazer ali uma revolução. Mas a verdade é que a
aéreo que integrou aeronaves de vários países do
Revolução na Líbia teve um forte apoio do povo e
Magrebe, África Subsahariana e Europa. Foram
transformou-se numa Revolução mundial.
mais de meia centena de Chefes de Estado afri-
A Revolução na Líbia veio provar que existe uma
canos e árabes que participaram nas comemora-
terceira teoria mundial, que considera o que há de
ções, além dos Presidentes Hugo Chávez e Lula
bom no conteúdo da teoria marxista e o que há de
da Silva e dirigentes políticos ocidentais, num con-
bom na teoria capitalista.
junto de setenta países presentes. O Ministro dos
O que prova o sucesso desta terceira teoria mun-
Negócios Estrangeiros, Luís Amado, representou
dial do Líder Kadhafi é a queda do regime comu-
oficialmente o Governo Português nas comemora-
nista e, por outro lado, o que nos distingue actu-
ções dos 40 anos no poder de Kadhafi.
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1. Desfile de aeronaves militares, com a participação da Força Aérea Portuguesa, juntamente com muitos outros países, do Magrebe, de África Subsahariana e da Europa 2. 3. e 4. Parada militar 5. Hugo Chávez, um dos Presidentes presentes na comemorações 6. Kadhafi com a farda de General das Forças Armadas Líbias
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KADHAFI – nos 40 ANOS da revolução
Kadhafi, brandindo a Carta das Nações Unidas, proferiu um notável discurso onde analisa as contradições entre o Preâmbulo e os artigos da carta que regem a ONU
O Líder da Revolução na Líbia fez um discurso histórico na assembleia geral da ONU Neste ano em que se comemoram os 40 de Revo-
imoralidade.
lução na Líbia, o Líder Muammar Kadhafi fez, no
Como se sabe, as Nações Unidas foram planeadas
passado dia 23 de Setembro, na Assembleia Geral
por três ou quatro países contra a Alemanha, na
da ONU, um discurso notável, transmitindo ideias e
Segunda Guerra Mundial. Esses países criaram um
sugestões que chegaram a todo o Mundo.
corpo chamado Conselho de Segurança, que impôs
Começou a sua intervenção, dizendo: “Em nome
os seus membros como permanentes e garantiu-
da União Africana, tenho muito prazer em me dirigir
lhes o poder de veto. As Nações Unidas foram mol-
aos membros da Assembleia Geral das Nações Uni-
dadas de acordo com estes países, que desejavam
das e espero que este encontro fique entre os mais
que nós nos submetêssemos à sua vontade. Esta é
históricos. Em nome da Assembleia Geral nesta 74ª
a verdadeira essência da ONU quando foi fundada
sessão presidida pela Líbia, da União Africana, de
há mais de 60 anos. Isto aconteceu na ausência de
uma centena de reinos tradicionais africanos e no
165 países num rating de 1 para 8, o que quer dizer
meu próprio nome, gostaria de aproveitar esta opor-
que em cada um que estava presente oito estavam
tunidade como presidente da União Africana para
ausentes. Eles criaram a Carta das Nações Unidas,
felicitar o nosso filho Obama”.
mas se a lermos descobrimos que o Preâmbulo da
Salientou que esta sessão nas Nações Unidas teve
Carta não está de acordo com os artigos seguintes.
lugar numa altura de muitos problemas e que “todo
Mas como é que isso aconteceu? Todos os que
o mundo deve estar unido para derrotar os desa-
estiveram na Conferência de 1945 participaram na
fios que são o nosso principal inimigo comum – os
criação deste Preâmbulo mas deixaram os artigos e
responsáveis pela mudança de clima, pela crise
as regras de procedimento internos para os espe-
internacional, tal como o declínio do capitalismo
cialistas e países interessados e foram eles que
económico, a fome e a falta de água, a desertifi-
estabeleceram o Conselho de Segurança.
cação, o terrorismo, a imigração, a pirataria, as
O Preâmbulo é muito apelativo e convincente, e
epidemias naturais e as provocadas pelo homem e
ninguém o põe em causa, mas as cláusulas seguin-
a proliferação nuclear. Talvez a gripe H1N1 tenha
tes são completamente contraditórias ao Preâm-
sido um vírus criado em laboratório, originariamente
bulo. Nós rejeitamos essas condições e nunca as
pensado como arma militar. Estes desafios também
apoiaremos – elas acabaram na Segunda Guerra
incluem hipocrisia, pobreza, medo, materialismo e
Mundial. O Preâmbulo diz que todas as nações
10 • Diplomática - Dezembro 2009/Janeiro 2010
➤
Assembleia Geral da ONU: o areópago onde Muammar Kadhafi pediu a reforma das Nações Unidas
➤
pequenas ou grandes são iguais. Somos nós
dependência dos povos, utilizam forças agressivas,
iguais quando se trata de lugares permanentes?
em vez de trabalharem para a paz e segurança do
Não. Nós não somos iguais. Temos nós o direito
Mundo e proteger os povos.
de veto? Não. Então, o veto contradiz a Carta. Os
O princípio de não interferência nos Estados está
lugares permanentes contradizem a Carta. E nós
inscrito na Carta das Nações Unidas. Nenhum Esta-
também não aceitamos ou reconhecemos o veto.
do tem o direito de interferir nos assuntos internos
O Preâmbulo da Carta afirma que a Força Armada
de qualquer governo de outro país, seja ele demo-
não será usada, salvo quando houver interesse co-
crático ou ditatorial, socialista ou capitalista, reac-
mum de todas as nações. Este é o Preâmbulo com
cionário ou progressista. Isso é da responsabilidade
que nós concordámos em assinar e queríamos que
de cada sociedade, é para ser resolvido pelo povo
a Carta reflectisse esse espírito. Mas o que é que
de cada país. Os senadores de Roma escolheram o
aconteceu desde então? Houve 65 guerras desde
seu líder Júlio César como ditador, porque era bom
a formação das Nações Unidas e do Conselho de
para Roma, mas ninguém pode dizer que Roma deu
Segurança. 65 guerras com mais milhões de víti-
o direito de veto a César.
mas do que na Segunda Guerra Mundial. São estas
“Nós aderimos às Nações Unidas porque pensáva-
guerras, e a agressão e força usadas, do comum in-
mos que éramos iguais, viemos a descobrir que um
teresse de todos nós? Não. Elas foram do interesse
só país pode objectar todas as decisões que tomá-
do máximo de quatro países, mas não do interesse
mos. Quem deu aos membros permanentes esse
de todas as nações. Isto contradiz flagrantemente a
status no Conselho de Segurança? Quatro países
Carta das Nações Unidas que nós assinámos”.
garantiram esse status a si-próprios. O único país
Criticando o funcionamento da ONU, o Líder Muam-
que foi eleito pela Assembleia Geral como membro
mar Kadhafi afirmou, no seu discurso histórico, que
permanente do Conselho de Segurança foi a China.
65 guerras agressivas ocorreram nos últimos anos
Isso foi feito democraticamente, os outros lugares
sem que as Nações Unidas as evitassem. Guer-
foram impostos através de um processo ditatorial”.
ras violentas que somam milhões de vítimas foram
Segundo o Coronel Kadhafi, “a reforma do Con-
empreendidas por Estados membros que gozam
selho de Segurança que necessitamos não é um
do poder de veto. Esses países que nos querem
aumento do número de membros, o que só tornaria
convencer que procuram manter a soberania e a in-
as coisas ainda piores. Para usar ume expressão
➤
Dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 11
O Líder da Revolução na Líbia fez um discurso histórico na assembleia geral da ONU
Kadhafi no pulpito da Assembleia Geral da ONU e à chegada a Nova Iorque
➤
comum, se juntarmos mais água, teremos mais
os Estados membros e os poderes e mandatos do
lama”.
Conselho de Segurança deverão ser transferidos
Juntando simplesmente mais países grandes àque-
para a Assembleia Geral. Os membros devem ser
les que já são membros do Conselho de Segurança,
eleitos por uniões de países e não por Estados:
isso iria perpetuar a proliferação dos superpoderes,
“Aumentar o número de Estados dará os mesmos
o que seria muito perigoso, porque os superpode-
direitos a todos os países, de acordo com o espí-
res esmagariam os povos pequenos vulneráveis
rito do Preâmbulo da Carta das Nações Unidas.
do Terceiro Mundo, que estão a caminhar juntos no
Nenhum país poderá negar um lugar no Conselho
que está a ser chamado de Grupo dos Cem – cem
à Itália, por exemplo, se for dado um lugar à Ale-
pequenos países juntos num Fórum dos Pequenos
manha. Como argumento, a Itália poderá dizer que
Estados: “Nós rejeitamos isso, forte e categori-
a Alemanha foi um país agressivo e derrotado na
camente. Juntando mais lugares no Conselho de
Segunda Guerra Mundial. Se dermos um lugar à
Segurança isso iria aumentar a injustiça e a tensão
Índia, o Paquistão dirá que também é um país nu-
a nível mundial e uma grande competição entre
clear e merece um lugar, e estes dois países estão
certos países, tais como a Itália, a Alemanha, a In-
em guerra. Seria uma situação perigosa. Se dermos
donésia, a Índia, o Paquistão, as Filipinas, o Japão,
um lugar ao Japão, teríamos de dar outro à Indo-
o Brasil, a Nigéria, a Argentina, a Argélia, a Líbia, o
nésia, o maior país muçulmano do Mundo. Então,
Egipto, a República Democrática do Congo, a África
a Turquia e o Irão poderiam exigir o mesmo. O que
do Sul, a Tanzânia, a Turquia, o Irão, a Grécia, a
poderemos dizer da Argentina e do Brasil? A Líbia
Ucrânia... Todos estes países procurariam um as-
merece um lugar pelos seus esforços ao serviço da
sento no Conselho de Segurança, tornando os seus
segurança mundial, desfazendo-se das suas armas
membros quase tão extensos como a Assembleia
de destruição maciça. Então, a África do Sul, a Tan-
Geral, resultando daí uma competição impraticável”.
zânia e a Ucrânia? Todos estes países são impor-
Que solução haverá? Membros através de uniões
tantes. A porta de entrada para membros do Conse-
e transferência de mandatos deverão sobrepor-se
lho de Segurança devia ser fechada. Nós queremos
a outras propostas. Deverá haver igualdade entre
reformar as Nações Unidas. Trazer mais
12 • Diplomática - Dezembro 2009/Janeiro 2010
➤
É urgente uma compensação aos países que foram colonizados, pela usurpação dos seus direitos e a pilhagem de que foram vítimas
➤
superpotências não é o caminho”.
prioritário. Quem pode negar isto? É urgente uma
O Conselho de Segurança deve fazer o que a As-
compensação aos países que foram colonizados,
sembleia Geral decidir. 192 países são controlados
pela usurpação dos seus direitos e a pilhagem de
por apenas cinco. Os assentos no Conselho de
que foram vítimas. Os colonizadores roubaram os
Segurança devem ser atribuídos a uniões e grupos
recursos de África, da Ásia e da América Latina.
de países: os 27 da União Europeia deveriam ter
Roubaram o petróleo, os minerais, o urânio, o ouro,
um lugar permanente no Conselho. A União Africa-
os diamantes, os frutos e as próprias pessoas fo-
na também tem direito a um lugar permanente; o
ram usadas”.
mesmo critério para a o grupo de países da Amé-
Actualmente, as novas gerações estão a reclamar
rica Latina e para os asiáticos; para os 22 estados
conforme têm esse direito e exigem 7.77 triliões
da Liga Árabe; os 57 da Conferência Islâmica; e os
de dólares como compensação aos países que os
118 Não-Alinhados. Os países não incluídos nes-
colonizaram.
tes grupos ou uniões teriam lugar no Conselho de
Depois de recordar a compensação que a Itália pa-
Segurança por rotação.
gou à Líbia, pelas mesmas razões, Kadhafi confes-
Seria uma solução se a Assembleia Geral votasse
sou: “Nós, africanos, estamos felizes e orgulhosos
a favor uma proposta no sentido de haver um lugar
que um filho de África seja agora Presidente dos
permanente no Conselho de Segurança para todas
Estados Unidos da América”.
as uniões ou grupos de países.
No seu discurso Kadhafi falou também da Agência
Muammar Kadhafi lembrou no seu discurso que “até
Internacional de Energia Atómica, um organismo
agora fomos colonizados, mas já somos indepen-
muito importante dentro das Nações Unidas, mas
dentes. África deverá ter um assento permanente
em que os países poderosos não estão sujeitos à
no Conselho de Segurança. África foi colonizada,
sua jurisdição: “Descobrimos que a sua acção é
isolada e perseguida e os seus direitos usurpados.
usada somente contra nós. Dizem-nos que é uma
O seu povo foi escravizado e os africanos foram
organização internacional, mas nesse caso todos
tratados como animais. Os países da União Africa-
os países deveriam estar sob a sua jurisdição, o
na merecem um lugar permanente. É um assunto
que não acontece”.
n
Dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 13
KADHAFI – nos 40 ANOS da revolução
Líbia e Portugal, dois países Que apostam na cooperação e solidariedade
As relações entre a Líbia e Portugal têm
Lisboa e nessa altura o Líder da Revolu-
tido nos últimos anos um desenvolvimen-
ção Líbia fez uma visita oficial a Portu-
to notável, o que prova a amizade entre
gal.
os dois países e o alto grau de coopera-
Durante a sua estadia, teve encontros
ção. A nível diplomático, essas relações
com responsáveis portugueses da vida
começaram em 1976 com a criação da
política, empresarial, financeira e cultu-
Embaixada da Líbia em Lisboa e, desde
ral. Visitou a Universidade Clássica de
essa altura, têm tido um carácter privi-
Lisboa, onde proferiu uma conferência
legiado, essencialmente, e com grande
no Salão Nobre da Reitoria subordinada
ênfase, nos últimos quatro anos.
ao tema “Problemas da Sociedade Con-
Esse desenvolvimento coincidiu com a
temporânea”. A conferência foi organi-
abertura da representação diplomáti-
zada pelo Centro de História da Univer-
ca portuguesa em Tripoli, no segundo
sidade e durante a cerimónia o Instituto
semestre de 2006. Desde então, tem
Luso-Árabe para a Cooperação entregou
havido uma relação próxima e profunda,
ao Chefe de Estado líbio a Medalha de
baseada na cooperação entre as duas
Honra com Insígnia de Ouro. Teve ainda
representações diplomáticas e a concre-
uma reunião com a União de Associa-
tização de visitas de ambos países com
ções de Mulheres Africanas e Portugue-
delegações a alto nível. Nesse sentido,
sas e um encontro com a comunidade
o Primeiro-Ministro de Portugal visitou
africana radicada em Portugal.
a Líbia em Outubro de 2005, chefiando
Foram assinados dois acordos de coope-
uma importante delegação, tendo sido
ração a nível bilateral – um na área dos
assinados vários acordos bilaterais.
cimentos e outro no sector petrolífero
José Sócrates convidou o Primeiro-
com a GALP – e pedida abertura das
Ministro da Líbia a visitar Portugal em
autoridades líbias na ajuda e na conces-
Janeiro de 2006. As visitas oficiais têm
são de apoios a empresas portuguesas,
sido frequentes – dos Ministros de Ne-
no sentido de poderem participar na
gócios Estrangeiros, da Economia e da
política de desenvolvimento que está a
Defesa.
ser implantada na Líbia. Foi dada essa
De registar a eficaz coordenação quando
oportunidade a vários empresários para
da realização da Cimeira Europa-África,
visitarem a Líbia, a fim de estabelecerem
que se realizou em Portugal em Dezem-
contactos, sobretudo nos sectores da
bro de 2007. Houve um notável e reco-
construção civil e obras públicas, como
nhecido empenho do Líder da Revolução
estradas, aeroportos, etc.
da Líbia, Muammar Kadhafi, dado o seu
Conforme disse à Diplomática o Embai-
papel e a sua influência na União Africa-
xador da Líbia em Lisboa, Ali Emdored,
na. Como se sabe, Kadhafi é reconhe-
“continuamos a apoiar essas iniciativas,
cido como mentor da concretização da
mas constatámos que algumas empresas
União Africana, de que é um dos funda-
estão receosas, por não conhecerem o
dores e seu actual Presidente.
mercado líbio. Isso levou a que algumas
O Presidente da República Cavaco Silva,
delas não avançassem. O nosso papel
o Primeiro-Ministro José Sócrates e o
como representação diplomática aqui em
Ministro dos Negócios Estrangeiros Luís
Portugal, bem como o da representação
Amado elogiam o papel desempenhado
portuguesa em Tripoli, é reduzir esses
por Muammar Kadhafi para a concretiza-
receios e explicar às pessoas que é um
ção dessa Cimeira.
mercado muito importante e que tem
A Cimeira Europa-África realizou-se em
oportunidades que eles não conhecem.
14 • Diplomática - Dezembro 2009/Janeiro 2010
➤
Kadhafi
Dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomรกtica โ ข 15
Líbia e Portugal, dois países Que apostam na cooperação e solidariedade
Foto: Catarino
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Foto: Ricardo Oliveira
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16 • Diplomática - Dezembro 2009/Janeiro 2010
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1. O Presidente Cavaco Silva recebe Muammar Kadhafi no Palácio de Belém 2. O Líder líbio com o Primeiro-Ministro José Sócrates 3. O Ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado numa recepção oficial com o Coronel Kadhafi
A nossa missão é ajudar os empresá-
petroquímicas. Mas essas conversações
rios e demonstrar-lhes que não há razão
coincidiram com a crise financeira mun-
para tais receios. No início do ano que
dial e, devido a isso, as propostas não
vem, na primeira ou segunda semana de
se concretizaram mais profundamente.
Fevereiro, vai haver uma feira em Tripoli
Entretanto, o Primeiro-Ministro português
para as indústrias portuguesas. O ob-
reuniu-se com Muammar Kadhafi em Tri-
jectivo dessa feira é dar, ao cidadão e ao
poli, em Julho do ano passado, congra-
consumidor líbio, oportunidade de conhe-
tulando-se com os progressos registados
cer quais são os produtos e os materiais
nas relações entre os dois países e ex-
que se fabricam em Portugal. A feira terá
pressando a vontade de Portugal refor-
a colaboração do AICEP – Agência para
çar a cooperação existente. José Sócra-
➤
o Investimento e Comércio Externo, de
tes fez-se acompanhar pelos Ministros
associações de comércio e indústria e do
dos Negócios Estrangeiros e da Econo-
Ministério da Economia e estará aberta à
mia e por responsáveis de importantes
presença de homens de negócios de to-
empresas, tais como a GALP Energia,
dos os sectores de actividade. Estamos
a EDP, a Caixa Geral de Depósitos, o
a empenhar-nos fortemente para o su-
Banco Espírito Santo, a Euroatlântica e a
cesso dessa iniciativa. Nós esperamos,
Prológica. Durante a audiência saudou o
desejamos e vamos dar oportunidade de
papel do Líder líbio no sucesso da cimei-
estreita colaboração com as empresas
ra África-Europa ocorrida em Lisboa em
portuguesas. São essas, aliás, as indica-
Dezembro de 2007.
ções que recebemos”.
Os dois Estados assinaram um acordo
Ainda no que respeita às relações entre
nos domínios da prospecção, perfuração,
os dois países, o Embaixador Ali Emdo-
distribuição, refinação e abastecimen-
red, em entrevista à Diplomática, afirma:
to de petróleo e gás, tendo em vista a
“Temos relações históricas de amizade e
promoção da exportação de produtos e
cooperação e, dada a proximidade com o
serviços para um aumento do volume
Norte de África, pretendemos um reforço
das trocas comerciais.
nessa aliança. Há um bom relacionamen-
O documento formula a disposição por
to com os 5 + 5 (os países do norte e do
parte da Líbia de acolher a participação
sul do Mediterrâneo Ocidental). Existe
de empresas portuguesas na execução
uma excelente relação entre Portugal
de projectos de desenvolvimento em
e os países do Maghreb Árabe (Líbia,
matéria de infra-estruturas básicas, habi-
Tunísia, Argélia, Marrocos e Mauritânia).
tação, energia renovável, purificação da
Temos a nível bilateral um acordo na
água, saneamento e turismo. O mesmo
área da manutenção aeronáutica, que
texto apela à promoção de investimen-
tem corrido na perfeição, com a cola-
tos líbios em Portugal nos domínios do
boração da OGMA, e que contempla a
turismo, fundiário e da energia, bem
abertura de uma oficina de aeronáutica
como o incentivo para criar parques de
para a Airbus, na Líbia. Esse projecto vai
pequenas e médias unidades industriais
dar cobertura a todos os países do Norte
na Líbia.
de África e poderá aproveitar a experi-
As duas partes acordaram igualmente na
ência portuguesa nesse sector. Temos
consolidação da parceria entre as suas
outros projectos de cooperação, nomea-
instituições, em particular as de inves-
damente na área da informática”.
timento e ajuda humanitária, com vista
Além da Cimeira União Europeia - África
a promover projectos comuns no conti-
e da vinda de Muammar Kadhafi, houve
nente africano. O acordo prevê a coo-
outra visita de alto nível, em Junho de
peração entre instituições financeiras,
2008, do filho do Líder da Revolução.
em particular através do investimento de
Foram estabelecidos contactos nos
fundos líbios no nosso país e da colabo-
sectores da energia, do turismo e das
ração bancária entre os dois Estados.
n
Dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 17
KADHAFI – nos 40 ANOS da revolução
1
2
3
4
A Líbia celebra em Lisboa
1. Recebendo os convidados. Ao lado da
O aniversário da Revolução
Embaixatriz o Ministro Conselheiro Dr. Omran 2. Maria Barroso Soares, entre individu-
O Embaixador da Líbia no nosso
anos de Muammar Kadhafi no
alidades presentes na recepção, não
país ofereceu uma recepção num
poder. Foram muitas as indi-
quis faltar às celebrações em Lisboa
hotel de Lisboa, para celebrar o
vidualidades portuguesas que
Dia Nacional do seu país, este
corresponderam ao convite para
ano uma data mais significativa,
festejarem a passagem do 40º
dado que se comemoram os 40
aniversário da Revolução na
18 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010
➤
dos 40 anos da Revolução na Líbia 3. Embaixadora da Palestina e Ângelo Correia 4. Embaixadora da Índia e Embaixador do Irão
dos enviaram voluntários para o
Depois de se referir novamente
A revista Diplomática aproveitou
Afeganistão. Depois de ter termi-
ao importante discurso de Muam-
esta data para uma entrevista
nado essa guerra e o comunismo
mar kadhafi na ONU e de criticar
com o Embaixador Ali Emdored,
ter acabado na região, a esses
o direito de veto, o Embaixador
que nos reafirmou a importância
voluntários fizeram-lhes uma
da Líbia acentuou que “o Tratado
destas comemorações, salien-
lavagem ao cérebro e manda-
das Nações Unidas, assinado
tando as ideias e sugestões des-
ram-nos para os seus países de
em 24 de Outubro de 1945, em
tinadas ao Mundo inteiro base-
origem: Marrocos, Argélia, Líbia,
São Francisco, deve ser revisto,
adas no discurso de Kadhafi na
Arábia Saudita, Irão, Iémen...
se se quiser reformar o Mundo
Assembleia Geral das Nações
Sendo assim, o Afeganistão não
e combater o comunismo e o
Unidas no passado dia 23 de
pode ser atacado como justifica-
terrorismo. As Nações Unidas
Setembro, em que o Líder diri-
ção do combate ao terrorismo.
não são a América. Após 65
giu críticas à direcção da ONU,
Nós fomos contra o enforca-
anos nos Estados Unidos, a sede
que deveria ser o Parlamento do
mento de Saddam Hussein. Ele
da ONU deve ser mudada para
Mundo.
era um prisioneiro de guerra e,
Viena de Áustria ou Genebra ou
Afirmou – como referimos nou-
segundo a lei internacional, não
outro local, na Ásia por exemplo.
tro local desta edição – que são
se mata um prisioneiro de guer-
As Nações Unidas não são como
os cinco membros permanentes
ra. Saddam devia ser entregue
o Estado do Vaticano ou Meca,
do Conselho de Segurança que
ao Tribunal Internacional de
que têm de ser locais fixos.
decidem sobre o futuro do Mun-
Justiça. As pessoas que o mata-
Nós fomos um país que sofreu
do: “Os problemas que surgiram
ram tinham as caras tapadas e
um embargo injusto decretado
➤
Líbia.
após a Segunda Guerra Mundial
até se disse que o Bush era um
pelo Conselho de Segurança.
são 65 guerras e isso deve-se
dos estava com a cabeça tapada.
Essa causa não era uma ameaça
ao fracasso da Assembleia Geral
Mais: foi assassinado no dia de
para a paz e segurança mundial
da ONU, pois, a execução das
sacrifício do carneiro na religião
e podia ter sido resolvida no Tri-
resoluções aprovadas, se forem
islâmica. É a mesma coisa que
bunal Internacional de Haia, mas
contra países do Terceiro Mun-
no Ocidente praticar um crime no
foi alterada, dadas as pressões
do, é posta em prática imediata-
dia de Natal da religião católica.
dos Estados Unidos, da Grã-Bre-
mente com guerra.
Não respeitaram esse sentimento
tanha e da França. Uma causa
O que aconteceu no Iraque
nem a religião”.
não pode ser discutida ao
➤
ultrapassou a ONU e o próprio Conselho de Segurança. No Afeganistão a guerra também foi levada a cabo no âmbito das Nações Unidas. Nós somos contra o terrorismo – o terrorismo não tem religião nem fronteiras. Todos os povos do Mundo devem cooperar contra o terrorismo. Aliás, não foi o Afeganistão que atacou Nova Iorque. Bin Laden também não é afegão e foi Bin Laden e a Al-Qaeda que atacaram Nova Iorque. E, então, porque é que temos nós de ir atacar o Afeganistão?” “Quando a guerra no Afeganistão era contra a União Soviética, concretamente contra o comunismo, a Arábia Saudita, a Líbia, o Egipto, os países do Golfo, to-
O Embaixador da Líbia proferindo o seu discurso na recepção em Lisboa e partindo o bolo de aniversário dos 40 anos de Kadhafi no poder
dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 19
A Líbia celebra em Lisboa O aniversário da Revolução
5
6
7
8
9
5. Maria da Luz de Bragança e ➤
mesmo tempo por dois ór-
das individualidades presentes,
Saoud Eltayari, Conselheiro da
gãos das Nações Unidas, então
confirma-nos a importância das
tiraram-na do Tribunal de Haia
boas relações entre os nossos
6. Embaixador Ali Emdored rodeado
mandaram-na para o Conselho
dois países e o relevo dado ao
da família, junto a um retrato de
de Segurança e emitiram san-
papel desempenhado por Muam-
ções que castigaram o povo líbio
mar Kadhafi na actual política
durante doze anos”.
global e como “Rei dos Reis” na
8. Maria de Belém Roseira
A recepção da Embaixada da Lí-
União Africana, de que é Presi-
9. A presença do Núncio Apostólico
bia, dado o número e a projecção
dente.
20 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010
n
Embaixada da Líbia
Muammar Kadhafi 7. Diplomatas da Embaixada da Líbia em Lisboa
em Lisboa
KADHAFI – nos 40 ANOS da revolução
Grande Rio Artificial Revolução Líbia constrói o maior aqueduto do Mundo com 5 metros de diâmetro e 3500 quilómetros de extensão
Um trabalho impressionante que é a prova da capacidade de um povo que determina o seu próprio destino. Uma grande conquista da Revolução liderada por Muammar Kadhafi
O Governo líbio transformou o deserto num local fértil promovendo o acesso à água da população das cidades, da indústria e da agricultura. O projecto Grande Rio Artificial, um gigantesco aqueduto subterrâneo, revolucionou o acesso à água da população, das municipalidades, da indústria e agricultura do país. Este empreendimento, que já foi considerado a 8ª Maravilha do Mundo, abre possibilidades económicas inimagináveis. Uma revolução no mais profundo significado da palavra e que muda a economia do país e representa um salto de séculos em frente realizado em pouco tempo. Prova a capacidade de um povo que determina o seu próprio destino e uma grande conquista da Revolução liderada pelo Líder Muammar Kadhafi. A água é bombeada dos aquíferos sob o Sahara na parte sul da Líbia, onde os recursos hídricos subterrâneos se estendem para o Egipto e Sudão. Então, a água é transportada por um pipeline com destino ao norte do país. Esta grandiosa obra de engenharia envolve a colecta de água de 270 poços no leste da Líbia central, transportando-a através de cerca de dois mil quilómetros. O Grande Rio Artificial reúne dois milhões de metros cúbicos de água por dia. O sistema envolve quatro mil quilómetros de tubos e dois aquedutos de cerca de mil quilómetros. Como mais de 95 por cento do território da Líbia é deserto, as novas fontes de água proporcionam milhares de hectares de terras irrigadas. Graças a esta gigantesca obra, estão a ser irrigados 135 mil hectares de terreno e produzidas plantações que já atingiram 270 mil toneladas de cereais por ano e 760 mil toneladas de forragem para alimentação animal, além de frutas, legumes e verduras em abundância. Além disso, o Grande Rio Artificial tem como objectivo chegar a todas as aldeias e comunidades do país. Para a concretização deste projecto foram abertos mil e trezentos poços, alguns com profundidade que chega a 500 metros. Com isso conseguiu-se um fluxo de 6,5 milhões de metros cúbicos de água por dia. Para se ter uma ideia do salto de qualidade no acesso à água, isso significa uma disponibilidade média diária de mil litros de água para cada cidadão líbio.
n
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 21
Memória diplomatica
1
A guerra e a reconciliação por Katarzyna Skórzynskza embaixadora da Polónia em Portugal
Entre todas as nações que partici-
23 de Agosto de 1939, que previa
param na Segunda Guerra Mun-
a divisão da Polónia entre a Ale-
dial, a Polónia é aquela que sofreu
manha e a União Soviética, bem
as ocupações alemã e soviética
como a influência soviética sobre
durante o mais longo período de
os países bálticos, a Finlândia, e,
tempo. A ocupação alemã come-
parcialmente, sobre a Roménia.
çou com o ataque do cruzador
Lutando com grande heroísmo
Schleswig - Holstein às fortifi-
contra as esmagadoras forças
cações polacas de Westerplatte
nazis em Setembro de 1939, a Po-
no dia 1 de Setembro de 1939.
lónia tinha sido condenada. No dia
Nem os líderes, nem os cidadãos
17 de Setembro, as tropas soviéti-
comuns tinham conhecimento do
cas entraram pelo lado leste como
protocolo secreto ao pacto Rib-
agressoras e começou a dupla
bentrop-Molotov, assinado no dia
ocupação do país. Nesse
24 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
3
2
1. Setembro de 1939. Divisão ale-
➤
dia, a Polónia foi “apunhalada
tras nacionalidades nos campos
mã de panzers entra na Polónia.
nas costas.“ Estávamos ainda a
de concentração nazis, a destrui-
Fot. FORUM
lutar contra os nazis, mas com o
ção quase total de cidades como
ataque soviético perdemos qual-
Varsóvia, deportações em massa
quer esperança de vencer. Os
da população polaca para o interior
polacos foram as primeiras vítimas
da União Soviética onde muitos
2. Setembro de 1939. Acampamento militar polaco destruído durante a batalha do rio Bzura. Fot. Narodowe Archiwum Cyfrowe
dos dois totalitarismos.
morreriam... As pessoas não ima-
Ponte dinamitada pelos pola-
Todavia, em 1939, no início da
ginavam ainda o que significavam
cos. Fot. Narodowe Archiwum
guerra, ninguém, nem na Polónia,
os totalitarismos. O que eu consi-
nem no mundo, imaginava todas
dero muito significativo é o facto
as crueldades e brutalidades que
de ambos os agressores utilizarem
aconteceriam de seguida tais
métodos semelhantes. Ambos
como: o extermínio dos judeus,
quiseram eliminar a elite polaca o
dos polacos e de vítimas de ou-
mais rapidamente possível,
3. Wyszków, Setembro de 1939.
Cyfrowe
➤
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 25
A guerra e a reconciliação
4
5
6
tendo esta sido o primeiro alvo da
çaram também as execuções em
4. Brzesc sobre o Bug, Setembro de
agressão. Em Novembro de 1939,
massa. O exemplo mais drástico
1939. Encontro entre os solda-
os professores da Universidade
deste tipo de execução foi o crime
dos da Wehrmacht e do Exército
Jagiellonski de Cracóvia foram pre-
de Katyn, quando os soviéticos
Vermelho. Fot. FORUM/SV-Bilder-
sos e deportados para um campo
assassinaram a sangue frio mais
➤
dienst 5. Varsóvia destruída. Fot. Narodowe
de concentração alemão, onde
de 20 000 oficiais e altos funcio-
muitos morreram. Os soviéticos
nários polacos, que tinham sido
deportavam as pessoas em condi-
feitos prisioneiros de guerra. Os
1939. Crianças observam um bom-
ções insuportáveis e desumanas
russos negaram o crime até 1989,
bardeamento alemão. Fot. Instytut
para as regiões mais remotas da
acusando os alemães. A Polónia
Polski i Muzeum im. generała Sikor-
União Soviética. Muitos prisionei-
perdeu, durante a guerra, quase
skiego w Londynie
ros morriam durante o transporte e
seis milhões dos seus cidadãos, ou
à chegada. A partir de 1940, come-
seja 18 por cento da população.
26 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
Archiwum Cyfrowe 6. Varsóvia, início de Setembro de
➤
7
9
8
7. Gdansk, Setembro. Remoção
➤
Grande parte da sua elite e da
tre os cidadãos, mas levou tempo.
das caixas de correio polacas.
população jovem desapareceu.
O discurso de Angela Merkel –
Fot. EAST NEWS/AKG Images
O processo de reconciliação e de
proferido durante as comemora-
reconhecimento das culpas e erros
ções do septuagésimo aniversário
de Varsóvia. Fot. Narodowe
leva tempo. Nós começámos o
da Segunda Guerra Mundial em
Archiwum Cyfrowe
nosso processo de reconciliação
Gdansk na Polónia – simples,
com a Alemanha em 1965, com
digno e comovente é mais uma
tura de trincheiras. Fot. Naro-
a carta dos bispos polacos aos
prova disto. Com a Rússia, nós
dowe Archiwum Cyfrowe
bispos alemães na qual foram
começámos este processo apenas
escritas as palavras: "Perdoamos
em 1989, com o início da democra-
e pedimos perdão“. A reconciliação
tização e libertação do comunismo.
com a Alemanha é hoje um facto,
Estamos a fazê-lo passo a passo e
tanto entre os governos como en-
com certeza que as cerimónias
8. Setembro de 1939. Negociações para a capitulação
9. Varsóvia, Agosto 1939. Aber-
➤
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 27
A guerra e a reconciliação
10
12
11
➤
do dia 1 de Setembro e a par-
livre. É um grande privilégio. Acho
ticipação de Vladimir Putin são
que o grande apoio dos polacos à
um passo numa boa direcção. Eu
nossa integração na União Euro-
10. Sopot, 1 de Setembro 1939. Violação da fronteira polaca. Fot. Narodowe Archiwum Cyfrowe 11. Moscovo, 23 de Agosto 1939.
considero muito importante que o
peia e na Aliança Atlântica está
Parlamento Europeu tenha apro-
relacionado com as nossas ex-
vado uma resolução que coloca ao
periências passadas. Os polacos
à esquerda Joachim von Ribben-
mesmo nível os dois totalitarismos:
percebem que é muito importante
trop, à direita Viaczeslav Molotov.
o comunismo e o fascismo. A expe-
fazer parte de uma organização
riência polaca e das outras nações
de segurança comum, como é o
da nossa região mostra que os dois
caso da Aliança Atlântica e de uma
tiveram muita coisa em comum e
organização que traz estabilida-
mataram milhões de pessoas.
de política e económica, como a
Represento a primeira geração
União Europeia, para poder viver
após a dos meus avós e dos meus
em paz e trabalhar para assegurar
pais que pôde levar uma vida nor-
a nossa prosperidade económica e
mal numa Polónia democrática e
a dos nossos filhos.
28 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
n
Assinatura do Pacto Ribbentrop – Molotov. No meio Josef Estaline,
Fot. CORBIS 12. 17 de Setembro de 1939. Soldados soviéticos destroem fortificações fronteiriças polacas. Fot. zbiory Osrodka KARTA
abril/maio 2009 - Diplomรกtica โ ข 1
Diplomacia na 1ª Pessoa
Alexander Ellis Embaixador do Reino Unido em Portugal,
por José Manuel Teixeira e Altino Pinto
Alexander Wykeham Ellis é o Embaixador do Reino Unido em Lisboa desde 2007, altura em que deixou a comissão como assessor do Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, em Bruxelas. Os laços com o nosso país não se prendem apenas com a diplomacia. Alexander é casado com a portuguesa Maria Teresa Adegas, da qual tem um filho. Aos 42 anos apresenta um significativo curriculum de cargos relevantes, sempre ligados ao seu Governo. À Diplomática, Alexander Ellis elogiou o povo português e não deixou de comentar assuntos como o Tratado de Lisboa e as relações bilaterais entre os dois países.
➤
30 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
Já tem alguns anos de experiên-
de Lisboa?
te, nós temos um link que actualiza-
cia nas relações diplomáticas com
Nisso o líder dos conservadores
mos permanentemente que é o travel
Portugal e também afectivas…
sabe explicar-se melhor do que eu.
advice – conselhos para as pessoas
O meu primeiro posto no estrangeiro
Nunca ouvi qualquer sugestão da
que vão viajar para o estrangeiro– fi-
foi aqui. Entretanto, conheci a minha
oposição no Reino Unido contra Du-
zemos umas ligeiras mudanças, no
mulher, que também é diplomata, e
rão Barroso. Antes pelo contrário, no
final de Agosto, por causa de termos
casámos. No tempo em que ocupei
Parlamento Europeu, os conservado-
visto algum aumento do crime sexual
outros cargos, em Londres e Bruxe-
res britânicos apoiaram-no.
no Algarve e de uma certa forma
las, voltava sempre aqui no Verão.
Portugal e a Grã-Bretanha têm
de crime em Lisboa que tinha a ver
Quando surgiu a oportunidade de
uma longa tradição nas relações
com o roubo de carros alugados.
voltar, outra vez, a trabalhar em
bilaterais e nos Tratados, com
No entanto, nós consideramos que
Portugal foi com grande prazer que
altos e baixos. Concretamente,
Portugal é um país relativamente se-
aceitei essa possibilidade.
neste momento, qual é a importân-
guro porque isso não tem mudado, o
Tenho 42 anos, e comecei como em-
cia da Embaixada do Reino Unido
que tem mudado são apenas essas
baixador aos 40, e isso é cada vez
em Portugal?
duas matizes por razões objectivas.
mais vulgar no meu Ministério. Está
Temos muitas actividades, dentro
No momento em que essas razões
a tornar-se cada vez mais vulgar.
desta casa fazemos de facto muita
objectivas deixarem de existir mu-
Isso reflecte também a realidade no
coisa. Desde o trabalho político, falar
damos outra vez o travel advice. É
sector privado no Reino Unido. É o
com o Governo português nas áreas
uma coisa constante que estamos a
reflexo de uma certa mudança na
em que temos causas comuns, tal
reavaliar.
maneira de fazer as coisas. Além do
como as alterações climáticas, sobre
Há algum consulado do Reino
mais, já tenho uma certa experiência.
as quais vamos ter uma cimeira no
Unido no Algarve?
Estive em Portugal, em Espanha, em
fim do ano; em África também temos
Sim, há. Há um consulado de cinco
Bruxelas duas vezes e em Londres,
trabalhado muito em conjunto, assim
pessoas em Portimão, que de Maio
por isso, esta altura é óptima para
como na Guiné-Bissau, Cabo Verde,
até fim de Setembro está sempre
ocupar um cargo em Portugal.
áreas que são sensíveis não só para
sobrecarregado de trabalho.
Em Bruxelas trabalhou com Durão
Portugal mas também para a Europa
Mas este ano, mesmo aqui em
Barroso.
em geral; no sector da Defesa, no
Lisboa, sente-se que houve uma
Exactamente. É um grande presiden-
combate ao terrorismo com o envio
redução do turista britânico. Será
te. Aprendi muita coisa e gostei muito
de tropas para o Afeganistão, onde
por causa da crise? Neste momen-
de trabalhar com ele. É um chefe
já temos nove mil soldados e pre-
to são mais espanhóis e italianos
muito exigente, muito determinado e
cisamos da ajuda de outros povos,
que visitam a capital.
muito capaz. Sempre tive uma boa
como Portugal o sector comercial é
Isso não sei, mas ao olharmos
relação e foi fácil trabalhar com ele.
muito importante para os dois paí-
para os números objectivamente
Portanto está plenamente de
ses; e o investimento, trabalho muito
verificamos que a principal fonte de
acordo pela sua recondução a um
com empresas que estão a pensar,
turistas em Portugal são de Espanha
novo mandato!?
ou que já estão a investir, no Reino
e depois o Reino Unido. Não vi os
Sim, e foi a posição do Governo
Unido; a parte consular não pára e
números deste Verão, por isso não
Britânico que foi um dos primeiros a
até cresce, no ano passado cerca de
posso falar, mas imagino que tenha
apoiar a recandidatura de José Ma-
2,5 milhões de turistas britânicos visi-
havido uma ligeira queda. Eu acho
nuel Durão Barroso à Presidência da
taram Portugal, a maioria o Algarve,
que isso terá mais a ver com a Libra
Comissão Europeia. Pessoalmente
e trabalhamos muito com as autori-
do que com a crise. No último ano
estou muito contente porque apa-
dades portuguesas nesse sentido, e
a Libra tem descido bastante face
receu a pessoa certa no momento
também com os turistas na emissão
ao Euro. Acho que isso explica um
certo para desempenhar aquele tra-
de passaportes, etc.
pouco essa ligeira queda do turismo
balho e o Reino Unido também tem
De qualquer maneira, nos últimos
britânico em Portugal. Mas, como
apoiado muito Durão Barroso desde
tempos, houve uma espécie de de-
disse, ainda não vi os números para
que foi eleito em 2004.
saconselhamento das autoridades
confirmar se, de facto, é assim.
Então e como é que explica que no
britânicas de turismo para Portu-
Em relação à política externa britâ-
Reino Unido o candidato da opo-
gal devido à falta de segurança…
nica e portuguesa existem diver-
sição não queira assinar o Tratado
Não. Se se consultar o nosso websi-
gências ou há uma conciliação?
➤
➤
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 31
Alexander Ellis
Eu acho que a nossa política
Europeia, segundo, o Alto Represen-
não fictícia. Também, os ministros
externa tem muita coisa em comum.
tante da ONU para os Refugiados
britânicos consideram saudável o re-
Trabalhamos em conjunto na União
e, em terceiro, ter Jorge Sampaio
lacionamento de várias civilizações.
Europeia e na NATO, dois órgãos
como Representante Especial para
A União Europeia não é apenas um
multilaterais, dos quais ambos faze-
a Tuberculose, que está a fazer um
“clube” de cristãos, é mais do que
➤
mos parte. Temos também posições
grande trabalho. Se olharmos nesse
isso, é um “clube” de valores ecumé-
comuns em relação a África, ao Irão
sentido, vemos que os portugueses
nicos partilhados, sobre os quais há
e ao Afeganistão. É uma vantagem
têm uma grande facilidade para ocu-
uma grande divergência de opiniões
ser Embaixador num país em que
par altos cargos de responsabilidade.
na Europa. Há aqueles que defen-
olha para o mundo de forma bastante
Acho notável um país como Portugal
dem que a UE tem de ser composta
parecida com a nossa.
conseguir ter tantos líderes a nível
apenas por cristãos. Contudo, eu
As posições da Defesa e do
mundial. Até, às vezes, penso que
acho que deve ser uma organização
Comércio e Investimento são
os próprios portugueses não reco-
mais aberta. Depois porque a Tur-
importantes nas relações entre os
nhecem o que eles têm conseguido
quia nos dá escala. As grandes tare-
dois países? Quais os contornos
fazer. Ter o Presidente da Comissão
fas da União Europeia no futuro vão
dessas relações nesses sectores?
Europeia é muito importante, pois,
para além dos níveis internos, com
Sim, são importantes. No investimen-
ajuda imenso na promoção dos in-
a internacionalização com outros
to o Reino Unido é o segundo maior
teresses do país. Vocês conseguem
países. Tem-se vindo a verificar o au-
investidor em Portugal. Continua a
ter muitos bons altos cargos.
mento do interesse de países tercei-
haver aqui novos investimentos de
Alguns são simbólicos, mas estes
ros devido ao alargamento da União
algumas empresas britânicas. O
não são...
Europeia. Países como a China e a
Barclays está a investir e a crescer
Sim, mas estes não são. São con-
Índia vêem o mercado europeu como
rapidamente. Estou a falar com ou-
cretos. Eu acho que os portugueses
o maior do Mundo. A Turquia dá-
tras grandes empresas que querem
são bons na conciliação de vários
nos ainda mais escala, dá-nos uma
investir cá e que mantêm um grande
interesses distintos e em gerir essas
contribuição importante em termos
interesse comercial neste país. Tam-
diferenças.
de Defesa. Há aqui uma componente
bém falo muito com empresas por-
Como é o relacionamento com o
que tem de se desenvolver dentro
tuguesas que querem, ou já estão,
Ministro dos Negócios Estrangei-
da União Europeia. Apesar de nos
investir no Reino Unido. Algumas já
ros?
trazer fronteiras complicadas, estas
são antigas, por exemplo: a Sonae
Temos uma óptima relação com o
dão-nos um conhecimento duma
tem investimentos em várias áreas
ministério e trabalhamos em muitas
parte do mundo que é cada vez mais
na Grã-Bretanha; também há algu-
áreas conjuntas, seja em questões
importante para a UE, que é o Médio
mas novas, nomeadamente na área
europeias, da NATO, do Afeganistão
Oriente. Da mesma maneira que
da tecnologia – a Alert Life Sciences
ou Irão. Temos uma relação muita
outros países têm trazido conheci-
Computing, a Critical Software. E
aberta e directa.
mento de outras partes do Mundo.
noutras áreas também – a Logoplas-
O Reino Unido é um dos países
Por exemplo, Portugal trouxe o
te é outro grande investidor no Reino
que defende a entrada da Turquia
conhecimento dos países lusófonos,
Unido que está a apostar no tecido
na União Europeia. Porquê?
a Espanha os da América Latina, isto
industrial do país. Nós somos um dos
Nós apoiamos fortemente a entrada
é bom para a Europa.
países mais abertos ao capital es-
da Turquia na União Europeia por
Mas há impressão que se está
trangeiro e este tipo de investimento
várias razões: primeiro, achamos que
a marcar passo. A Turquia está
é bem-vindo. A realização dos Jogos
a UE tem uma influência benéfica no
agora a virar-se para Leste. Ain-
Olímpicos de 2012, em Londres,
apoio a uma transição de qualquer
da agora assinaram o Tratado de
pode também trazer grandes oportu-
país. Por exemplo, no caso de Portu-
Paz com a Arménia. Pode ser uma
nidades às empresas portuguesas.
gal na passagem para a Democracia,
viragem.
Como encara a posição da política
ou a adopção do mercado aberto.
A Europa tem de olhar para além das
esterna de Portugal na Europa e
Na Turquia pode suceder o mesmo.
suas fronteiras. Olhar para fora e não
no Mundo?
Os seus líderes estão a proceder a
para o seu próprio umbigo, como se
Portugal está bem representado no
uma grande transformação do país
calhar tem acontecido nos últimos
plano internacional. É notável ter,
e a perspectiva de vir a ser membro
anos. Por isso temos apoiado com
primeiro, o Presidente da Comissão
da UE ajuda. A perspectiva real e
grande consistência a Turquia
32 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
O Embaixador Alexander Ellis faz diariamente de bicicleta o percurso, entre a sua residência oficial, na Lapa, e a embaixada, na Rua de São Bernardo
Euro. O Reino Unido não está a
Estado-membro da União Europeia.
que temos de evitar uma escolha
cem por cento na UE porque tem
Temos relações bilaterais com os
falsa. Há quem diga: ou vocês são
uma espécie de antena dos EUA
Estados Unidos. Claro que, os EUA
europeus, ou são muçulmanos. Isso
na Europa?
quando olham para o Reino Unido
para mim é uma escolha comple-
Eu acho que isso também é falso.
é como país, mas também pelo seu
tamente falsa. Uma pessoa pode
Ninguém diz que Portugal não é eu-
papel dentro da UE. A Europa tem
perfeitamente ser muçulmana e euro-
ropeu por ter boas relações e muitas
de manter esta visão internacional.
peia. Há milhões de pessoas nessa
cooperações com Angola e Brasil.
Se pensarmos nos grandes desafios
situação. Por exemplo, o Presidente
Ninguém diz: vocês têm boas rela-
globais, sejam as alterações climá-
da Comunidade Muçulmana em Por-
ções com o Brasil, então não podem
ticas, a guerra no Afeganistão, ou o
tugal. Ele é europeu e muçulmano.
ser europeus. Isso é ridículo. É uma
relacionamento das civilizações, a
O Reino Unido está na União Eu-
escolha completamente falsa. Então,
Europa não tem capacidade de resol-
ropeia, mas é considerado muitas
a escolha entre os EUA e a Europa
ver isso sozinha. Temos de trabalhar
vezes como uma espécie de plata-
não faz sentido nenhum. De facto tra-
em conjunto. É uma mais-valia para
forma de ligação com os Estados
balhamos com os dois. Não somos
a Europa o Reino Unido manter uma
Unidos, tanto que não aderiu ao
um Estado dos EUA, mas sim um
boa relação com os EUA.
➤
dentro da União Europeia. Acho
n
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 33
Diplomacia na 1ª pessoa
Gabriel Gafita Embaixador da Roménia em Portugal
Novembro de 2009 assinalou quatro anos de presença do Embaixador romeno em Lisboa, que agora cessou. Gabriel Gafita nasceu na capital romena, Bucareste, há 57 anos, é casado e tem um filho. Cumpriu a sua formação e graduou-se em Línguas Estrangeiras (Inglês e Francês) pela Universidade de Bucareste. No ano de 1975 opta pelo jornalismo como freelancer, colaborando com a Rádio Roménia e com diversas revistas literárias. Foi também, durante treze anos, editor da publicação Kriterion, da Casa das Minorias Nacionais da Roménia. Num plano mais individual lançou uma colecção de histórias que foram traduzidas e publicadas em vários países. Gafita inicia funções no Governo romeno no início da década de 90 como especialista em questões de minorias nacionais, na Unidade de Planeamento da Política do Governo da Roménia. Em 1991 ingressa no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Entre outros cargos relevantes, começou a sua carreira como Embaixador no Canadá (1998). À Diplomática, o Embaixador fez-nos um balanço destes anos no nosso país e falou-nos das relações económicas e comerciais entre os dois Estados.
34 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
Balanço dos anos em que foi
protecção dos menores.
nidade alemã de Banat, uma
Embaixador em Lisboa
No plano da cooperação comer-
região do Oeste da Roménia, no
A minha missão oficial em Por-
cial, com o apoio dos Consula-
ano 1953. Os jovens escritores
tugal começou a 30 de Novem-
dos Honorários da Roménia no
alemães desta parte da Romé-
bro de 2005, quando apresentei
Estoril e no Porto, foram criadas
nia reuniram-se, nos anos 70 e
as cartas credenciais ao antigo
as Câmaras de Comércio Romé-
80, na cidade de Timisoara, num
presidente da República, Jorge
nia-Portugal em Bucareste e a
grupo literário chamado na altura
Sampaio.
Câmara de Comércio Portugal-
”Aktionsgruppe Banat”, no qual a
Neste compasso de tempo tive-
Roménia no Porto.
Senhora Müller era a única mu-
ram lugar a nível europeu alguns
Com o apoio do Consulado Ho-
lher e única prosadora. Ela é de
eventos importantes, em que Por-
norário da Roménia no Algarve
facto o mais conhecido membro
tugal teve um papel central, e de
e das autoridades locais, civis
do grupo, depois de se ter lança-
entre os quais gostaria de realçar
e religiosas, conseguimos ob-
do nos anos 80 na Roménia com
➤
a Presidência Portuguesa do
ter, em Faro, umas instalações
um volume de contos em língua
Conselho Europeu, em 2007, e a
para a igreja destinada a servir
alemã intitulado “Niederungen”
assinatura do Tratado de Lisboa,
a comunidade romena que vive
(Depressões), com o qual ganhou
momento de referência a nível
no sul de Portugal. Um patrocí-
uma certa notoriedade no espaço
da União Europeia, no qual tive
nio franco-português conseguido
europeu de língua alemã.
a honra de participar, junto da
pela Embaixada da Roménia em
Deixou a Roménia em 1987, aos
delegação da Roménia. Em plano
Lisboa teve como resultado a pu-
34 anos, com o seu marido Ri-
europeu mas também bilateral,
blicação, em 2009, dum volume
chard Wagner, mudando-se para
gostava destacar a ratificação do
de poemas de Fernando Pessoa
Berlim Ocidental.
Tratado de Adesão da Roménia
na Roménia. São vários os livros
Foi então que Herta Müller co-
e da Bulgária pela Assembleia da
pertencentes a autores romenos
nheceu a sua consagração no
República, em Março de 2006;
que, nos últimos quatro anos,
espaço literário alemão com
a entrada do meu país na União
foram publicados nas suas tradu-
volumes de prosa inspirados por
Europeia, a 1 de Janeiro de 2007
ções em português.
um lado pela história da comuni-
(a Presidência portuguesa foi
Acabei, no final do mês de No-
dade alemã do Oeste da Romé-
a segunda após a adesão da
vembro a minha missão em
nia e, por outro lado, pela sua
Roménia); a designação do co-
Portugal com a satisfação de
própria experiência sob o regime
missário europeu romeno para o
quem deixa atrás uma Embaixa-
ditatorial de Nicolae Ceausescu.
multilinguismo por parte do Pre-
da renovada no interior e exterior
As suas escritas, traduzidas em
sidente da Comissão Europeia,
no ano de 2006 e de quem criou
vários países, entre os quais Por-
José Manuel Durão Barroso, no
uma instituição romena em solo
tugal, transmite a força épica pró-
mês de Novembro de 2006, em
português: o Instituto Cultural
pria dos escritores originários do
Lisboa; a liberalização do merca-
Romeno de Lisboa, inaugurado
Leste da Europa, e cujas vidas
do de trabalho em Portugal para
em 2007 e que divide as mesmas
foram marcadas pelo trauma dos
os cidadãos romenos e búlgaros,
instalações com o Instituto Fran-
confrontos com o regime totali-
a 1 de Janeiro de 2009; a visita
co-Português.
tário comunista, um tema obses-
oficial do Primeiro-Ministro rome-
Os marcos enumerados cons-
sivo que volta em todos os livros
no a Lisboa, no mês de Julho de
tituem uma enorme satisfação
de Herta Müller. Como escritora
2007. Queria também mencionar
para mim, tendo em vista as
representativa do mundo germâ-
a assinatura de vários acordos
excelentes relações existentes
nico do leste europeu, a Alema-
importantes romeno-portugueses
entre a Roménia e Portugal em
nha apoiou-a constantemente
na área social (respeitantes à
todos os planos.
para o Prémio Nobel desde 1999.
transferência dos benefícios
A escritora romena Herta Mül-
O facto de ter sido eleita em
sociais entre os dois países, aos
ler foi distinguida este ano com
2009 para ser galardoada com
critérios relativos à protecção do
o Nobel da Literatura, o que
o prestigiado prémio tem, com
trabalho) e ao início das conver-
tem a dizer sobre o assunto?
certeza, para além do seu valor
sações com vista à celebração
Herta Müller é uma escritora de
literário incontestável, também
de um acordo bilateral para a
língua alemã nascida na comu-
um significado político que se
➤
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 35
Gabriel Gafita Embaixador da Roménia em Portugal
"Acabei, no final do mês de Novembro a minha missão em Portugal com a satisfação de quem deixa atrás uma Embaixada renovada no interior e exterior no ano de 2006 e de quem criou uma instituição romena em solo português: o Instituto Cultural Romeno de Lisboa, inaugurado em 2007 e que divide as mesmas instalações com o Instituto Franco-Português."
36 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
prende com a comemoração
produtos romenos em Portugal
viaja frequentemente de avião, e
dos 20 anos da queda do Muro de
têm continuado a crescer, mesmo
quem está habituado, especial-
Berlim e dos regimes comunistas
que num ritmo mais reduzido. O
mente nos últimos tempos, a ver
na Europa Central e de Leste.
resultado é que neste momento
os voos muito mais vazios. Há
De que forma tem sido feito o
a balança das trocas comerciais
também muitos portugueses que
investimento da Roménia em
entre os dois países é favorável à
viajam para a Roménia, para ne-
Portugal?
Roménia.
gócios, para turismo, ou juntando
Actualmente, os investimentos
A 31 de Julho de 2009, o valor
as duas coisas. Em 2007, por
romenos em Portugal são prati-
das exportações portuguesas
exemplo, viajaram para a Romé-
camente insignificantes; foram
para a Roménia era de 71 mi-
nia mais de quinze mil portugue-
realizados por cidadãos romenos
lhões de euros, a descer com
ses, e o número de entradas dos
que chegaram inicialmente a
25% em relação ao mesmo
cidadãos portugueses na Romé-
Portugal à procura de emprego,
período de 2008, e o valor das
nia está a aumentar num ritmo de
antes ou depois da entrada da
exportações romenas para Portu-
trinta por cento por ano.
Roménia na União Europeia.
gal era de 92 milhões de euros,
Nos primeiros anos após a
Posteriormente, alguns deles,
a crescer quase cem por cento
Segunda Guerra Mundial, a
na medida em que conseguiram
comparado ao mesmo período do
Legação da Roménia em Lis-
juntar algum dinheiro, montaram
ano precedente.
boa funcionou na Avenida dos
um negócio. Trata-se de peque-
No plano dos investimentos,
Defensores de Chaves. Um
nas empresas, a grande maioria
quero realçar que a Roménia
dos mais conhecidos Chefes
na área da construção, reparação
foi um destino de interesse para
da Legação foi o grande poeta
auto, restauração e outros servi-
as empresas portuguesas nos
e filósofo romeno Lucian Bla-
ços.
anos 2000, mais de 300 empre-
ga (1938-39), e o adido cultu-
O Estado português concede
sas estabelecendo interesses
ral e de imprensa foi depois o
alguns tipos de apoio às em-
de negócios na Roménia. Foram
conhecido filósofo das religi-
presas romenas?
atraídas pelo tamanho do merca-
ões Mircea Eliade (1941-44).
Uma vez registadas em Portugal,
do romeno – o segundo do Leste
O local já não existe, pois a
as empresas detidas por cida-
da Europa, a seguir a Polónia –,
respectiva zona foi derrubada
dãos romenos gozam do mesmo
o ambiente de negócios amigá-
nos anos 50.
estatuto que as empresas por-
vel e a facilidade em comunicar.
As relações diplomáticas entre a
tuguesas; de facto, de ponto de
É esta a razão pela qual estão
Roménia e Portugal foram inter-
vista técnico, estas são empresas
concentradas na Roménia mais
rompidas em 1948. Em 30 de De-
portuguesas.
empresas portuguesas do que no
zembro de 1947 o Rei da Romé-
Em que situação se encontra
resto da Europa de Leste.
nia Mihai I, filho de Carol II, que
a balança comercial entre os
E o turismo entre os dois paí-
faleceu no Estoril em 1953, foi
dois países?
ses?
forçado a abdicar, dando lugar ao
O nível das trocas comerciais
Portugal é um importante des-
regime totalitário comunista. In-
entre os nossos países não é
tino turístico para os cidadãos
teressante é o facto que Portugal
muito elevado, contudo nos úl-
romenos. Para além dos objec-
foi quem impôs a interrupção das
timos anos tem vindo a crescer
tivos turísticos propriamente
relações diplomáticas, em 1948.
num ritmo bastante sustentado.
ditos, os romenos gostam de
O pretexto invocado por Salazar
De uma maneira tradicional, a
estar em Portugal, pois têm uma
foi o facto de não ter a Roménia
balança comercial estava favo-
comunicação fácil com um povo
notificado a Portugal a mudança
rável a Portugal, ou seja Portu-
pertencente à família latina. Há
da sua forma de Estado, de Rei-
gal vendia mais produtos para a
dois voos directos semanais,
no para República. As relações
Roménia do que comprava. Com
operados pela companhia rome-
diplomáticas foram restabeleci-
a instalação da crise económica
na low cost Blue Air, entre Lisboa
das em 1974, após a Revolução
mundial, assistimos a uma redu-
e Bucareste, e até chegam a ser
dos Cravos, quando a Roménia
ção importante das exportações
três no período de verão. Sem
comprou a actual sede da Embai-
portuguesas para a Roménia.
excepção, estes voos estão sem-
xada na Rua São Caetano 5, no
Ao mesmo tempo, as vendas de
pre cheios, surpreendendo quem
alto da colina da Lapa.
n
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 37
Vida Diplomática
Cocktail de despedida do Embaixador da Roménia
2
3
1
5
4
6
7
O Embaixador da República da Roménia e a Senhora de Gabriel Gafita ofereceram na sua residência, na Lapa, um cocktail para se
1. Os anfitriões com o Embaixador do Reino Unido 2. Embaixadores da Eslovénia 3. Embaixadores da Roménia com José Manuel Teixeira
despedirem no fim da sua missão
4. Os cumprimentos do Embaixador da Ucrânia 5. Embaixador do Luxem-
em Portugal, a que não faltaram
burgo, Embaixador da República da Roménia, Embaixatriz do Luxemburgo,
membros do Corpo Diplomático
Embaixatriz da Roménia e Embaixadores da China 6. Embaixadores da
acreditado no nosso país e muitos
➤
38 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010
Polónia e da Turquia 7. Embaixadores do Luxemburgo e da Rússia
8
9
10
11
12
13
➤
cidadãos romenos aqui residentes.
Aproveitando o significado des8. Embaixatriz da Roménia ladeada por Maria Carlota Machado Mendes e
ta cerimónia de despedida, ao
Maria do Carmo Silvestre 9. Ana de Brito e António Alvim 10. Embaixadora
fim de quatro anos de missão,
da Polónia com Embaixador e Embaixatriz da Hungria 11. Embaixadores
a Diplomática aproveitou para
da Roménia e da Argentina 12. Embaixadores da Suíça 13. Manuel Carmo
entrevistar o Embaixador Gabriel
e Margarida Ruas com os Embaixadores que se despedem da sua missão
Gafita, que publicamos nas pági-
diplomática em Lisboa
nas seguintes.
n
dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 39
nações unidas
Irina Bokova É Embaixadora da Bulgária em França e no Mónaco e, desde 2005, da UNESCO também. Tem 57 anos. Licenciou-se em Relações Internacionais em Moscovo, Rússia, e mais tarde estudou nos Estados Unidos. Fundadora do Fórum de Política Europeia, uma ONG búlgara que visa promover os valores europeus na vida pública. Foi a presidente entre 1997 e 2005. É casada e tem dois filhos.
Irina Bokova é a primeira mulher a liderar a UNESCO A diplomata búlgara derrotou o egípcio Farouk Hosny Foi uma eleição renhida. Apenas à quinta
a artistas egípcios e de ter declarado, em
e última ronda de votações foi apurado o
2008, no Parlamento egípcio, que “queima-
novo Director-Geral da UNESCO (Orga-
ria ele próprio” os livros em hebraico que
nização das Nações Unidas para a Edu-
encontrasse nas bibliotecas do país.
cação, Ciência e Cultura). Irina Bokova
Polémicas essas que desencadearam
torna-se na primeira mulher a assumir o
também controvérsias e algum mal-estar
cargo. A ex-ministra búlgara dos Negócios
no seio da diplomacia portuguesa no apoio
Estrangeiros, que na quarta ronda havia
a um candidato para o lugar de Director-
obtido o mesmo número de votos que
Geral da UNESCO. O Ministério dos
Farouk Hosny, 29 cada, acabou por vencer
Negócios Estrangeiros, que em primeira
na derradeira jornada o ministro da Cultura
instância apoiava a candidatura da austrí-
egípcio, com 31 votos contra 27.
aca Benita Ferrero – Waldner, foi depois
Bokova, considerada uma solução da paz
peremptório no apoio ao político egípcio.
na UNESCO, faz parte do Partido Socialis-
Ao que tudo indica em troca de outros
ta da Bulgária (ex-comunista) e é um dos
apoios políticos – um voto do Egipto a
rostos mais populares. Assim que conhe-
favor da entrada de Portugal no Con-
ceu os resultados das votações, a diploma-
selho de Segurança da ONU, em 2011-
ta fez logo uma declaração de entendimen-
2012. Quanto ao embaixador português
to com o Egipto, anunciando à delegação
na UNESCO, Manuel Maria Carrilho,
egípcia que “esperava” que estivessem
recusou-se a votar no candidato egípcio,
“juntos”, porque nunca acreditou “na ideia
invocando razões de consciência.
do choque das civilizações”.
Fonte do MNE referiu que “não há qual-
No sentido oposto, Hosni nunca reuniu con-
quer comentário a fazer” relativamente
senso entre os membros do conselho exe-
ao desentendimento entre o Governo e o
cutivo da UNESCO e foi perdendo o estatuto
embaixador português na UNESCO. Foi
de favorito ao longo das sucessivas vota-
a escolha do Governo, que desde o início
ções. O ministro da Cultura do Egipto há 22
apoiou uma candidatura europeia e como
anos viu-se associado a várias polémicas,
segunda opção era a do Egipto. Houve
sendo mesmo acusado de ter comportamen-
aqui um apoio a Estados e não a individu-
tos anti-semita, de censura, de perseguição
alidades".
40 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010
➤
O Embaixador da República da Bulgária em Lisboa, Ivan Petrov, nasceu em 31 de Julho de 1953 em Sófia. Casado, tem duas filhas e um filho. Entre 1967 e 1972 frequentou o Liceu Francês de Sófia; de 1974 a 1978 - Filologia Espanhola na Universidade de Sófia Sveti Kliment Ohridski (mestrado); e de 1980 a 1982 esteve na Academia Diplomática de Moscovo; em Dezembro de 1999 realizou o Curso de Integração Europeia do Ministério da Economia do Reino de Espanha. Quanto à sua carreira profissional no Ministério dos Negócios Estrangeiros, salientamos: ao serviço do Ministério desde 1979. Trabalhou em vários departamentos, sendo diplomata encarregado das relações bilaterais com países da América Latina, África e Europa, depois chefe de secção e chefe do Departamento da Europa II (Europa Meridional); de Dezembro de 2007 até Junho de 2009 foi Secretário-Geral Administrativo do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Sobre a sua carreira diplomática, destacamos: em 1979/1980, Adido na Embaixada da República da Bulgária
da República da Bulgária em Paris e entre 2005-06 braço
em Lisboa; de 1982 a 1985, Terceiro Secretário na Embai-
direito de Irina Bokova. E Embaixador Extraordinário e Ple-
xada da República da Bulgária em Brasília; de 1990 a 1992,
nipotenciário da República da Bulgária em Portugal desde
Primeiro Secretário e Encarregado de Negócios na Embai-
15 de Setembro de 2009 e tem a categoria diplomática de
xada da República da Bulgária em Luanda; de 1995 a 1998,
Embaixador desde Dezembro de 2007.
Conselheiro na Embaixada da República da Bulgária em
Domina o Português, o Francês, o Espanhol e o Russo e é
Madrid; de 2002 a 2006, Ministro-Conselheiro na Embaixada
fluente em Inglês.
n
A propósito da eleição da embaixadora Irina Bokova para o cargo de director-geral da UNESCO, ouvimos o Embaixador da República da Bulgária em Portugal, Ivan Petrov, que nos esclareceu sobre a personalidade da diplomata designada para ocupar tão prestigiado cargo a nível da política mundial.
"A indigitação da candidata búlga-
em prol da sua candidatura.
ra para o cargo de director-geral da
O currículo da Embaixadora Bokova
UNESCO, na quinta ronda da conten-
é notável: formou-se no Liceu Inglês
da, fez desta eleição a mais disputada
de Sófia e fez licenciatura e mestrado
e a mais mediática, desde a criação
em Relações Internacionais; em 1976
da organização, em 1945. Por 31 a
ingressou na carreira diplomática,
27 votos, a Embaixadora Irina Bokova
tendo posteriormente obtido bolsas de
impôs-se ao seu principal concorrente,
estudo para cursos em universidades
Farouk Hosny, Ministro da Cultura do
norte-americanas; em 1982 prestou
Egipto.
serviço na Representação Permanente
Será a primeira vez que um repre-
da Bulgária na ONU, em Nova Iorque;
sentante da Bulgária e, em geral, do
no período de 1995 a 1996 foi
Sudeste da Europa, ocupa um cargo
Vice-Ministra dos Negócios Estrangei-
de tanto prestígio e responsabilida-
ros. Em paralelo, foi a coordenadora
de numa organização internacional.
responsável pelas relações entre a
Será ainda a primeira mulher a estar à
Bulgária e a União Europeia; em 1996
frente da UNESCO. Para a sua eleição
foi candidata a vice-presidente; de
contribuíram dois factores fundamen-
1996 a 1997 foi Ministra dos Negócios
tais: as aptidões pessoais e profissio-
Estrangeiros; de 2000 a 2005 foi depu-
nais que lhe são características e a
tada no Parlamento búlgaro; em 2005
intensa actividade do Estado búlgaro
ocupou o posto de embaixadora
➤
dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 41
Unesco
➤
da República da Bulgária em Fran-
ganização. Os países árabes também
ça, sendo em simultâneo represen-
devem assumir a sua quota no finan-
tante permanente na UNESCO e
ciamento, principalmente os grandes
representante pessoal do Chefe de
produtores e exportadores de petró-
Estado na Organização Internacional
leo. Neste sentido, a Embaixadora
da Francofonia; a partir de 2007 inte-
Bokova já estabeleceu contactos com
grou o Comité Executivo da UNESCO.
ministros e embaixadores destes paí-
É também vice-presidente do grupo
ses, procurando em conjunto reforçar
dos embaixadores nesta organização.
a participação dos Estados árabes
Irina Bokova é uma pessoa erudita e
nos projectos da UNESCO. Lembrou
enérgica, autora de várias publica-
ainda que tenciona trabalhar com to-
ções sobre os problemas étnicos nos
dos os grupos regionais da UNESCO,
Balcãs e de múltiplos relatórios sobre
encarando o mundo como uma estru-
o alargamento da União Europeia e a
tura multipolar.
adesão da Bulgária às Comunidades.
Nesse sentido, a Embaixadora Boko-
Como ela própria salienta, pertence a
va opõe-se categoricamente à teoria
uma geração liminar, que antes viveu
do confronto das civilizações e enten-
nos anos da Guerra Fria e da Europa
de que no mundo domina uma única
dividida. Domina perfeitamente as
civilização, a civilização humana que
quatro línguas básicas da UNESCO:
engloba múltiplas culturas, em per-
inglês, francês, espanhol e russo.
manente intercâmbio e influência mú-
Não há dúvida que a Embaixadora
tua. Por isso, ela formula como uma
Bokova exerce uma intensa activida-
das tarefas básicas da UNESCO a
de e irá ocupar condignamente este
preservação da diversidade cultural.
novo posto. Durante a campanha
Isso exige uma nova atitude, definida
visitou cerca de 45 países, tendo-se
como a mensagem mais importante
encontrado com centenas de entida-
do seu programa, intitulado O Novo
des oficiais e gente dos meios acadé-
Humanismo do Século XXI.
micos, culturais e cívicos. Digno de
Tudo o que acabei de enumerar per-
respeito é o seu comportamento de-
mite-me considerar que na pessoa da
pois de conhecidos os resultados que
Embaixadora Irina Bokova a UNESCO
levaram à indigitação. A Embaixadora
terá não só um director-geral enérgi-
Bokova deu provas de tolerância e
co e competente, mas também uma
declarou a sua disponibilidade para
personalidade que abraça a diversi-
trabalhar com todos os que se batem
dade cultural e os valores universais
pelo progresso cultural e espiritual
da humanidade.
do mundo. Sublinhou ainda que todos
Como búlgaros, sentimo-nos particu-
os candidatos ao cargo propuseram
larmente orgulhosos pela eleição da
excelentes ideias e que as porá em
nossa compatriota para este alto car-
prática no seu futuro trabalho. Oriun-
go. A avaliação unânime do Ministério
da de uma região da Bulgária onde
dos Negócios Estrangeiros e de todas
vive também população muçulmana,
as instituições estatais búlgaras é
afirmou o seu respeito por todas as
de que a indigitação da Embaixadora
religiões e grupos étnicos e tenciona
Irina Bokova para o cargo de
prová-lo no futuro.
director-geral da UNESCO e a sua
Irina Bokova tem ideias para melho-
eleição constituem um enorme re-
rar a situação financeira da UNESCO
conhecimento para a Bulgária e um
e exortou as instituições financeiras
êxito da diplomacia búlgara.
mundiais, como o Banco Mundial e
Para assegurar apoios à sua candida-
o Fundo Monetário Internacional, a
tura envidaram esforços dois gover-
participarem nas actividades da Or-
nos búlgaros, todas as instituições
42 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010
➤
A UNESCO é a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Foi criada em 1945, com a adopção do Acto Constitutivo a 16 de Novembro. O seu principal objectivo é o de contribuir para a paz, desenvolvimento humano e segurança no mundo, promovendo o pluralismo, reconhecendo e conservando a diversidade, promovendo a autonomia e a participação na sociedade do conhecimento. Tem sede em Paris e dispõe de escritórios regionais e nacionais em vários países. Tratando-se de uma agência especializada da ONU, as suas línguas oficiais são o inglês, o francês, o espanhol, o russo, o árabe e o chinês e conta com 191 Estados-membros e 6 Estados associados.
➤
nacionais, destacados intelectuais
n
Chefe de Estado búlgaro considera-a
e cientistas, tal como a sociedade
mais do que natural, pelo facto de a
civil, que a apoiaram desde o início
Dra. Bokova, enquanto búlgara, ter
da campanha, a fim de obter o mais
em si a marca congénita da tolerân-
amplo apoio internacional. Este facto
cia para com as diferentes etnias,
é revelador de que existe continui-
religiões e culturas, característica da
dade no plano da política externa e
Bulgária e do povo búlgaro.
capacidade das instituições búlgaras
A ex-ministra da Cultura Francesa,
de coordenarem as suas acções, em
Simone Veil, declarou que a UNESCO
nome de uma causa comum.
precisa de unir os povos e as cultu-
A ministra búlgara dos Negócios
ras, de trabalhar num clima de tole-
Estrangeiros, Dra. Rumiana Jeleva,
rância e de concordância, de estar
avaliou a eleição da Embaixadora
acima das divergências, pelo que
Bokova como o culminar da sua notá-
a Embaixadora Bokova é a pessoa
vel carreira profissional e a afirmação
certa para estar à frente da UNESCO
do prestígio da República da Bulgária
nos próximos anos.
no mundo. Esta eleição tornou ainda
Faço questão de sublinhar que o
maior a confiança na política externa
papel activo e construtivo da Bulgária
búlgara. A campanha da embaixadora
na UNESCO não se esgotará com a
Bokova foi aberta, coerente e bem in-
eleição da Embaixadora Bokova para
tencionada. Daí que tenha obtido um
o cargo de director-geral. Na sua
amplo apoio e tenha testemunhado
alocução em nome da Bulgária, na
aos 193 membros da Organização o
35ª sessão da Conferência Geral da
seu profissionalismo e a capacidade
UNESCO, o Vice-Ministro dos Ne-
de fazer convergir diversas opiniões,
gócios Estrangeiros, Marin Raykov,
de propor soluções adequadas e de
chamou a atenção para o tema das
trabalhar no sentido da afirmação
consequências da crise económica
da paz, da educação e da unidade
global e para o reflexo que ela tem
no mundo, o que é afinal o objectivo
nas políticas nacionais na esfera
estratégico da UNESCO.
da educação e da cultura. Salientou
Este facto foi alvo de uma aprecia-
ainda a necessidade de que, preci-
ção altamente positiva por parte do
samente agora, a Organização das
Presidente da Bulgária, para quem a
Nações Unidas para a Educação, a
eleição da Embaixadora Bokova é um
Ciência e a Cultura contribua activa-
reconhecimento do papel e do contri-
mente para a realização de projectos
buto do país para o desenvolvimento
na área da cultura e de campanhas
e para os trabalhos da UNESCO já
de preservação e divulgação do patri-
há mais de meio século. Algo mais, o
mónio cultural mundial."
n
dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 43
Diplomacia na 1º pessoa
Entrevista a Natália Carrascalão Embaixadora de Timor-Leste em Portugal, por Altino Pinto Maria Natália Guterres Viegas Carrascalão da Conceição Antunes, filha de mãe timorense e de pai português, um algarvio deportado para Timor pelo regime do Estado Novo, tem 56 anos e orgulha-se das raízes e da formação luso-timorense que desde sempre marcaram a sua vida. Nasceu nas montanhas de Liquiçá – Fazenda Algarve – a nova representante do Estado timorense chegou a frequentar o Curso de Direito na Universidade Ásia Oriental em Macau, foi desportista assídua, internacional de basquetebol e amante de desportos motorizados e radicais. Tem um filho, gosta muito de ler, da arte da fotografia, e dá muita importância à cultura geral.
44 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
Fale-nos um pouco do seu per-
sado com um militar do Exército
forma diferente da que os timo-
curso.
Português e quando ele acabou a
renses na generalidade estavam,
Considero-me uma mulher simples
comissão viemos para Portugal.
normalmente pertencendo a um ou
como muitas que existem pelo
Dada a altura, o meu marido e eu,
outro partido de Timor – mantendo-
mundo fora, talvez com algumas
ainda dois jovens, tivemos que ir
me só em Portugal continental em
pequenas diferenças, visto vir de
trabalhar. Fizemos “part-times”
actividades político-partidárias. De-
um país pequenino em dimensão,
na Feira Popular e ao fim de uns
pois de Abril de 1974, começaram
como é Timor-Leste, onde todas
tempos acabámos por ir para a
a surgir em Timor partidos políticos
as mulheres e todos os homens de
Austrália. Em Sidney, – talvez por
e na minha qualidade de mulher de
boa vontade devem e têm de ser
ter estado em Timor numa escola
um oficial do Exército Português
aproveitados. Tive um percurso de
técnica e comercial ganhando al-
era-me vedada qualquer activida-
vida um tanto ou quanto atribulado
guma especialização e prática – foi
de político-partidária no Território.
porque saí de Timor praticamente
aberto um concurso para formado-
Acabei por nunca fazer parte de
aos vinte anos, antes da guerra
res de dactilografia e caligrafia, que
nenhum partido político timorense.
civil de 1975, e vi-me em Portugal
eram disciplinas que se davam na
Só que ao sair de Timor, já tinha o
naquela fase difícil, em que tinha
escola técnica, e eu concorri. Como
“bichinho da política”, que no meu
acontecido o 25 de Abril. Vinha
sempre fui muito lutadora, não me
caso penso ser genético, levou-me
habituada a uma família em que
custou nada candidatar-me, pois
a querer ter uma vida politicamente
felizmente nada faltava e de re-
já dominava a língua inglesa e fui
activa e lutar pelos meus ideais de
pente dei por mim, longe de tudo
à luta. Consegui ser formadora da
Social-Democracia e fi-lo através
e de todos, num meio em que até
Escola Técnica de Liverpool e na
do PPD/PSD de Portugal. Ajudei
ter um trabalho, não um emprego,
qualidade de uma imigrante acaba-
a criar a Secção do PPD/PSD
era muito difícil de conseguir. O Pai
da de chegar. Depois candidatei-
Macau, e também um núcleo na
era um homem algarvio chegado a
me para outra escola, a Wetheril
Austrália. Depois, voltei a Portugal,
Timor como deportado político, que
Technical College onde também
onde fui convidada para os órgãos
mais tarde se tornou num planta-
trabalhei, mas ao fim de pouco
nacionais e directivos do partido e
dor de café. Em 1974, vinha com
mais de um ano parti da Austrália.
fui eleita deputada. Durante esse
uma ânsia de conhecer aquele país
O meu marido candidatou-se então
tempo, que foi também um dos
que com a revolução dos cravos,
a um lugar em Macau e decidimos
momentos mais visíveis da causa
fez com que, pela primeira vez na
ir para o Território, e lá acabámos
de Timor-Leste, quando as pesso-
minha vida, visse o Pai tão alegre
por ficar quase uma década mas
as me perguntavam: está cá agora
que até cantou. Isso tinha mexido
em momentos diferentes. Em Ma-
como deputada e no dia em que Ti-
muito comigo e queria perceber o
cau servi na Administração Pública
mor for independente como é? Eu
porquê. Mas ao chegar a Portugal,
do Território, mas passados três
respondia: no dia em que Timor for
o país do Pai e que sempre sonhei
anos tive de regressar à Austrália
independente regressarei a Timor-
conhecer, tive um choque enor-
ou perdia o visto que me tinham
Leste, a meu ver não deveremos
me. Primeiro, porque imaginava
concedido. Ingressei no Departa-
levantar bandeiras sem depois as
“um jardim à beira mar plantado”,
mento de Imigração e era também
cumprirmos.
e encontrei uma Lisboa cheia de
uma forma de estar próxima das
Em 2006, resolvi ir mesmo para
manifestações, suja de cartazes
pessoas que chegavam de Timor
Timor-Leste. No entanto, achei que
e de escritos nas paredes. Só ao
e de outros países. Para além de
não devia aderir a partido nenhum,
fim de alguns dias é que me aper-
tradutora-intérprete, fazia a recep-
nem trabalhar para qualquer insti-
cebi porque é que essas coisas
ção dos novos imigrantes e dava-
tuição, por não considerar justo ir
estavam a acontecer. Portugal é
lhes toda a informação sobre o país
competir com os timorenses que
realmente “um jardim à beira mar
e a forma de vida. Ao fim de alguns
nunca tiveram as mesmas oportuni-
plantado”, mas só nessa altura é
anos regressámos a Macau e em
dades. Havia uma enorme diferen-
que tomei consciência de que as
1998, devido às circunstâncias
ça na forma de estar dos timoren-
pessoas tinham necessidade de
históricas, retornámos a Portugal.
ses que estudaram na Indonésia,
exteriorizar tudo aquilo que sentiam
Por todos estes lugares por onde
que naturalmente tinham alguma
com a conquista da democracia-
passei, fui estando sempre ligada
dificuldade em falar português, di-
liberal. Entretanto, tinha-me ca-
de algum modo a Timor – de uma
ferentemente dos timorenses que
➤
➤
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 45
Natália Carrascalão
vinham de Portugal. Considerei
uma mais-valia para Timor-Leste.
Como têm sido estes primeiros
que deveria continuar a manter
Para mais, já tinha decidido radi-
tempos, em Portugal, como Em-
isenção político-partidária em
car-me em Díli, tendo a vida toda
baixadora?
Timor-Leste, dado que em Portu-
reorganizada e acompanhada por
Vou ser muito sincera. É uma
gal tinha experienciado toda uma
toda a família. Ponderei também
agenda muitíssimo intensa e desa-
vida profissional e política. Enve-
qual o interesse e a necessidade.
fiadora. Não gosto de falar neste
redei pela vida empresarial, tendo
Cheguei à conclusão que o interes-
assunto porque já troquei impres-
aberto dois restaurantes, uma loja
se só poderia ser o de: fortalecer,
sões com várias pessoas ligadas
de artesanato e outra de presen-
cada vez mais, os laços de amiza-
ao meio diplomático e sempre me
tes, e para tal foi remodelado um
de entre Timor-Leste e Portugal,
fizeram crer que as agendas só
edifício para abrir umas galerias, as
para além da defesa e promoção
ocasionalmente têm essa carga tão
galerias “STOP”. Passados alguns
dos superiores interesses nacio-
intensa como a minha. Em tom de
meses, o Presidente da República
nais da República Democrática de
brincadeira, costumo dizer que os
convidou-me para colaborar com
Timor-Leste. Foi concerteza um
funcionários da Embaixada que-
a Presidência e tive de equacionar
orgulho e uma honra enorme para
rem, logo à primeira, massacrar-me
o contributo que poderia dar ao
mim poder servir desta forma o
com o trabalho. Nesta experiên-
Serviço Público com o que estava
meu País.
cia, o meu dia-a-dia tem sido o
a dar à sociedade civil pela via em-
E, para isso, nada melhor do que
de servir em pleno o meu País, é
presarial, com a criação de postos
colocar cá uma pessoa que co-
um desafio muito intenso e ainda
de emprego para alguns timoren-
nheça as duas realidades, como
continuo a ter que esforçar-me para
ses. Hoje permanece o grupo de jo-
a Senhora Embaixadora…
conciliar toda a minha actividade
vens que está a dar seguimento ao
Exactamente. Por ser uma pessoa
diurna com a diferença horária
projecto empresarial, entraram para
que conhece as instituições, as
com Timor-Leste, que são de mais
lá praticamente sem saber fazer
pessoas, que consegue contactar
oito horas. O posto assim o exige:
nada, nem falar português, e hoje
com os mais variados interlocuto-
apoiar os estudantes bolseiros
são bons funcionários e já falam a
res, não esquecendo que a ques-
timorenses e acompanhá-los no
Língua. Entretanto, aceitei servir
tão de Timor, em Portugal, é uma
seu percurso académico, contactar
com muita honra o posto de Chefe
questão transversal. Não há privilé-
com instituições e organizações
da Casa Civil que durou mais de
gios sectários, nem para um lado,
públicas, privadas e público-priva-
dois anos, onde tive oportunidade
nem para o outro, porque a maioria
das; conceder audiências e parti-
natural de aprender com o Senhor
do povo português, quase todo e
cipar em reuniões com empresas
Presidente da República, Dr. José
qualquer cidadão português, inde-
portuguesas que necessitem de
Ramos-Horta – Prémio Nobel da
pendentemente de considerar ou
informações sobre Timor-Leste,
Paz, ex-Primeiro-Ministro, ex-
não importante a causa timorense
acompanhar e estar atenta ao
Ministro dos Negócios Estrangei-
de 1999, todos estiveram sempre
desenvolvimento dos processos
ros, o rosto histórico da diplomacia
ao lado dos timorenses. Toda essa
de cooperação; consultar as insti-
timorense – os conhecimentos de
ponderação levou-me ao entendi-
tuições quando nos surgem dúvi-
diplomacia e suas aplicações práti-
mento que ainda podia contribuir
das, e procurar captar de Portugal
cas, até à hora que surgiu a oportu-
para o Bem Comum da Nação, do
novas sinergias de cooperação que
nidade de desempenhar o posto de
País que represento, fortalecen-
nos permitam colmatar carências
Embaixadora de Timor-Leste em
do ainda mais as relações entre
sectoriais a nível do “know-how”.
Portugal. O que considero que foi
Timor-Leste e Portugal. Tal como
Nós ainda somos um País recente,
um enorme privilégio.
frisei: ao estar trinta e tal anos a
nem todas pessoas estão comple-
Qual a razão de deixar o cargo
servir Portugal, nesta hora, não
tamente formadas para trabalharem
de Chefe de Gabinete do Presi-
será nunca demais servir Timor-
em determinadas áreas, e o apoio
dente da República de Timor-
Leste, a terra que me viu nascer.
de outros países e neste caso parti-
Leste para vir dirigir os destinos
Até por ser Embaixadora de nome-
cular de Portugal – ainda por cima
diplomáticos da Embaixada
ação política, sinto a responsabili-
por partilharmos um Património
timorense em Lisboa?
dade acrescida de tudo fazer para
que vem de uma mesma História e
Ponderei bastante quando mo pro-
que não sejam goradas as expecta-
Língua – é decisivo.
puseram, principalmente, se seria
tivas de quem me escolheu.
É uma aposta da política
➤
46 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
A Embaixadora de Timor-Leste em Portugal mostra-nos o livro "Os Presidentes do Parlamento" oferecido por Jaime Gama aquando da visita da Embaixadora à Assembleia da República.
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 47
Natália Carrascalão
internacional de Timor-Leste in-
numa plataforma para os países
a ver Timor-Leste a avançar por
tensificar as relações com Portu-
de Língua Portuguesa, incluindo
um caminho que nos leve a che-
gal? Como define essa política?
Portugal e não só, podendo deste
gar, quem sabe, a uma altura em
Portugal foi um país que esteve
modo, terem acesso ao espaço
que possamos inverter as posições
sempre, sempre, sempre na linha
económico e cultural privilegiado
e ajudar todos aqueles que nos
da frente de apoio a Timor-Leste
que é o da ASEAN. A reter, são
apoiaram. Não sabemos quando
e na altura em que Timor procu-
cerca de quinhentos milhões de
poderá vir a acontecer, mas eu
rava obter a sua independência.
consumidores asiáticos de que Por-
desejo e prevejo que sim.
Os timorenses não são ingratos e
tugal pode beneficiar e a vantagem
E a nível dos recursos humanos?
➤
olham sempre para Portugal como
que representa para Timor-Leste
Neste momento há perto de cente-
o país que sempre nos ajudou,
poder cultivar uma relação mais es-
na e meia de professores enviados
que sempre recebeu os refugiados
treita com os Estados-membros da
por Portugal e é capaz de ser pro-
dentro das suas possibilidades.
União Europeia. Este é o potencial
vável um aumento desse número,
Os refugiados timorenses vieram
demonstrado das sinergias criadas
porque Timor-Leste está decidido
para Portugal numa altura muito
da sobreposição das plataformas
a intensificar o ensino da Língua e
difícil. Sei o que é o Vale do Jamor.
regionais onde cada Estado-mem-
a abrir mais quatro Escolas Por-
Tenho familiares que viveram lá,
bro da CPLP está inserido. Todos
tuguesas nos distritos do interior
inclusivé uma irmã que acabou
estes vectores estratégicos fazem
do país com os meios e condições
por falecer lá, e sei que receberam
parte da nossa Política Externa.
idênticos aos da escola portuguesa
sempre os timorenses como iguais
Saliento que a questão da Lín-
em Díli.
dentro das suas limitações da
gua Portuguesa é um conceito de
No momento existe apenas uma
altura. Existe, portanto, uma neces-
diferencialidade fundamental para
Escola Portuguesa em Díli.
sidade muito forte de mostrarmos
Timor-Leste e tanto que é nossa
Sim, mas a Escola Portuguesa que
a nossa gratidão a Portugal e aos
como vossa.
existe em Díli não pertence ao Go-
portugueses. E a nossa gratidão
Nessa parte da cooperação entre
verno timorense. Essa Escola é um
não é estarmos com complexos de
os dois países, para além da
programa da Cooperação Portu-
inferioridade a dizer constantemen-
entrada na ASEAN e da Língua,
guesa, e é Portugal que suporta as
te “obrigado, obrigado”. A nossa
quais são os outros pontos? Na
despesas, à semelhança do que se
gratidão é entendermo-nos de igual
Educação, por exemplo, em que
passa na Guiné-Bissau, Moçambi-
para igual e afirmar: “nós temos
é que o Governo português pode
que ou em Macau.
possibilidade de fazer isto e isto,
ser útil?
Da rede de ensino em Língua
meus senhores estão interessa-
A nível da educação a cooperação
Portuguesa, regulada pelo Governo
dos em cooperar nesta ou naquela
é óptima e está-se a alargar cada
timorense, contam-se no total com
área? Querem investir em Timor-
vez mais, só que precisamos ter
mais de mil escolas públicas e pri-
Leste?” É conseguirmos mostrar
em consideração que Timor-Leste,
vadas do básico ao secundário.
a Portugal e a toda a comunidade
no que respeita às áreas da Edu-
E essas cerca de duas centenas
internacional que nós somos um
cação, já está numa fase diferente
de professores estão colocados
país viável, pró-activo e de futuro,
daquela em que se encontrava em
aonde?
que se está a desenvolver a par
e, como tal, as políticas de coo-
Não estão todos na Escola Por-
e passo, e mesmo estando Portu-
peração terão talvez de ser rea-
tuguesa. Estão distribuídos pelos
gal geograficamente distanciado
valiadas. Felizmente, para Timor-
distritos e têm por missão dar for-
- o que já não é tão problemático
Leste e para os timorenses, o País
mação aos professores e formado-
numa era onde as tecnologias de
começa a ter alguma capacidade
res timorenses e também dar aulas
comunicação, informação e trans-
económica e orçamental, o que nos
específicas de português noutras
portes estão tão evoluídas – é sem-
possibilita pedir o apoio de Portugal
instituições de ensino e nos diver-
pre bem-vindo o seu investimento
para a formação do capital humano
sos ministérios, quando solicitados
num país de grande futuro. Timor-
e transferência de tecnologia, o
para isso, ensinando português aos
Leste está apostado a entrar na
“know how”, para a gestão de al-
funcionários desses organismos.
ASEAN – Associação das Nações
guns programas, sendo que já será
O que é que se passou no arran-
do Sudeste-Asiático – como mem-
Timor-Leste a suportar os encar-
que deste ano lectivo, com o atra-
bro de pleno direito, tornando-se
gos. A pouco e pouco começamos
so na abertura do ano escolar?
48 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
A Escola Portuguesa já está em
é um dado adquirido que o tipo de
da melhor estética e material das
pleno funcionamento pelo que tive
Constituição e de Direito influen-
condecorações, preocupações não
conhecimento. Houve um atraso do
ciam sempre o modus operandi nas
só do Presidente da República mas
dia 20 de Setembro ao dia 8 ou 9
práticas de investigação policial.
também de um dos seus assesso-
de Outubro.
Neste momento quantos agentes
res, uma pessoa altamente enten-
Veio a público que esse atraso
de autoridade se encontram em
dida na matéria. Peça para ver a
foi devido a um suplemento pago
Timor?
condecoração dos agentes da GNR
aos professores…
Estão presentes um sub-agrupa-
que são agraciados em Timor-
Quem já viveu em muitos países
mento da GNR, composto por mais
Leste e repare na qualidade e na
pelo mundo fora sabe que isto
de uma centena de militares, da
fineza do desenho. É o melhor que
pode acontecer. Eu presumo que
PSP estão cerca de meia centena
nós podemos fazer. As nossas con-
deve ter sido algo relacionado com
de agentes, chefes e oficiais, das
decorações não são banalizadas
a logística, ou por não ter sido
Forças Armadas Portuguesas estão
como já ouvi comentar, são lindas
possível enviar professores naque-
vários formadores nas FALINTIL -
e pesadas de profundo sentido e
la altura, ou até suponho que tenha
Forças de Defesa de Timor-Leste –
reconhecimento meritório, para-
sido devido ao número reduzido de
F-FDTL e ainda vários assessores
fraseando Luís Vaz de Camões,
viagens que existem para a Ásia
de membros do Governo, entre os
“Mais razão há que queira eterna
em época alta. Sinceramente não
quais, junto do Secretário de Es-
glória, quem faz obras tão dignas
faço qualquer crítica a isso. Deve
tado da Defesa, das F-FDTL. Na
de memória”. Tenho a opinião que
ter sido por razões meramente
Componente Naval, contamos com
a pessoa que seja distinguida,
técnicas. A única coisa de que eu
a contribuição de formadores da
de certeza absoluta, sentir-se-á
tenho a certeza absoluta é que a
Marinha Portuguesa, e mais ainda,
orgulhosa de a ostentar em dias
Escola Portuguesa de Díli já está
temos alguns elementos das F-
muito especiais. Assim como ouvi
a funcionar em pleno desde inícios
FDTL em formação noutros países.
de tantos outros militares de outros
de Outubro.
A Portugal vieram vários militares
países que também foram agracia-
E em termos da Defesa e Segu-
timorenses para darem seguimen-
dos.
rança. Qual a importância da
to às suas especializações, tanto
Ainda relativamente à entrada de
presença das forças militares
em formação como em estágios.
Timor-Leste na ASEAN e à as-
portuguesas em Timor-Leste?
Temos oficiais a serem formados
sinatura do acordo ortográfico.
A importância é muito grande
na Escola de Fuzileiros, no Vale de
Qual a importância destes dois
sobretudo na área de formação da
Zebro, na Unidade dos Comandos,
aspectos?
doutrina das forças e das práti-
na Carregueira e ainda na Acade-
Vou comparar a entrada de Timor-
cas dos agentes. Sobretudo pela
mia Militar portuguesa.
Leste na ASEAN com a entrada de
experiência que Portugal tem, por
E em Timor-Leste também re-
Portugal na União Europeia. Por-
conhecer bem os problemas dos
cetemente foram distinguidos
tugal conseguiria viver isolado da
antigos territórios ultramarinos,
alguns militares.
UE? Não, e Timor-Leste também
pela facilidade de comunicação,
Desde 1999, presumo que não
não consegue viver isolado, quer
por partilharmos a mesma Língua
tenha havido nenhum militar por-
em termos de segurança, quer em
e História, pela experiência dos
tuguês em Timor-Leste que não
termos de toda a legislação sobre
últimos anos que as forças arma-
tivesse sido distinguido. Os timo-
várias matérias, quer em termos
das e de segurança portuguesas
renses têm a gratidão como um
económicos e de desenvolvimento,
têm adquirido do trabalho desem-
dos seus valores identitários, muito
ou da facilitação das exportações e
penhado no terreno. Por outro lado,
comum aos povos asiáticos. E as
abertura de novos mercados. Nós
seria pertinente realçar que faz
instituições quando resolvem dar
ainda estamos na fase de prepara-
todo o sentido que a doutrina seja
esse reconhecimento é com um de-
ção. Temos de ter em atenção que
semelhante à dos países de Língua
sejo muito forte de dar. Eu já assisti
Timor-Leste só é independente há
Portuguesa, pois, existem regu-
a diversas cerimónias de agracia-
relativamente poucos anos. Es-
larmente os exercícios militares
ção e lembro-me das palavras mui-
tamos a tentar que em 2012 seja
conjuntos – FELINO, fará sentido
to sentidas do nosso Presidente da
possível entrar para a ASEAN, mas
privilegiar-se a cooperação neste
República ao concedê-las. Tenho
para acedermos temos de estar de-
sector por exemplo com Portugal e
bem presente o cuidado na escolha
vidamente preparados, tal como
➤
➤
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 49
Natália Carrascalão
Natália Carrascalão acreditada como membro do Corpo Diplomático em Portugal pelo Presidente Cavaco Silva
➤
Portugal teve de se preparar
Temos de pensar em termos da
a concertação político-diplomática
durante anos para entrar na UE. Se
região geográfica em que nos
entre os Estados-membros da
não reunirmos as condições neces-
inserimos, até por razões geoeco-
CPLP e na projecção da Língua
sárias também a Organização nos
nómicas, geopolíticas e geoestraté-
Portuguesa como ferramenta de
poderá dizer: “Nós não queremos
gicas. Mas tudo será decidido num
trabalho nas Organizações Inter-
um fardo, mas sim um país que
futuro que esperemos para breve e
nacionais. Agora, pessoalmente
possa contribuir para a Associa-
coroado de sucessos.
confesso que será difícil alterar o
ção”. Ora, se na ASEAN fazem
E o acordo ortográfico é impor-
meu hábito de escrever, de manei-
parte os Estados-membros, como o
tante para Timor-Leste?
ra que sou capaz de ficar confundi-
Brunei, Cambodja, Filipinas, Indo-
O acordo ortográfico é importante
da. Mas, o objectivo é o de facilitar
nésia, Laos, Malásia, Myanmar,
para todos aqueles que discutiram
a divulgação e o uso da Língua por
Singapura, Tailândia, Vietname,
essa matéria, o assinaram e con-
uma Comunidade de mais de 240
faz todo o sentido que Timor-Leste
cordaram, considerando um meio
milhões de pessoas, e em Timor-
também acesse à Organização.
de aprofundar e tornar mais eficaz
Leste que temos uma população
50 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
estimada em um milhão, temos
realidade, lidar com o que “é” e não
lítica de Negócios Estrangeiros
consciência que umas centenas de
com o que “deve ser” ou a agradar
de Timor-Leste o Governo portu-
milhar estão precisamente numa
a outros intervenientes externos,
guês ter sido reeleito?
fase de reaprendizagem da Língua,
muito embora, sempre respeitando
Para Timor-Leste ser reeleito este
pelo que todas as simplificações
a Constituição.
Governo, ou ter sido eleito outro
podem vir a ajudar.
O que ainda poderá ser feito
de outra cor política, não levanta
A Língua Portuguesa é um Patri-
quanto aos poderes executivo,
qualquer tipo de objecção, pelo
mónio comum dos seus falantes, é
legislativo e judiciário?
princípio de não ingerência nos
tanto nossa timorense como vossa
É preciso consolidar as estruturas
assuntos internos de um Estado. O
portuguesa e, cada vez mais, todos
e publicar alguma legislação ainda
facto de continuar o mesmo Mi-
os seus falantes têm uma palavra
em falta. Nós sabemos que, por
nistro dos Negócios Estrangeiros
a dizer.
exemplo, no poder judiciário muitos
poderá facilitar o diálogo porque
Falando mais internamente de
dos juízes que temos são ainda
já conhece os dossiers. Timor-
Timor-Leste. Qual o balanço da
“importados” dos países da CPLP,
Leste sabe que a política externa
realidade timorense passados
que têm o mesmo tipo de Direito.
portuguesa é consensual entre
dez anos do referendo que ditou
Mas temos de preparar e melhorar
os partidos políticos do arco da
a independência do país?
as nossas próprias estruturas para
governação, principalmente no que
O país está a ser construído, a
que possam responder às neces-
toca aos PALOP ou à CPLP são
desenvolver-se e a aprender.
sidades. Na área legislativa, existe
sempre idênticas. Os vectores da
Recomenda-se, está estável e
ainda legislação em falta, embora
política externa de qualquer Esta-
não existe criminalidade, como se
possamos sempre recorrer à Lei
do obedecem às suas constantes e
verifica em outros grandes centros
Portuguesa, ou excepcionalmente
linhas de força, independentemen-
urbanos.
quando esta não se aplicar con-
te do partido político que venha a
Quais têm sido as principais difi-
sultamos a Lei Indonésia. Estamos
ganhar as eleições.
culdades para garantir os valo-
pois a consolidar todos esses
Como já esteve ligada ao PSD, já
res de um Estado Democrático e
poderes.
conhecia o Presidente da Repú-
de um Estado de Direito?
E a política de boa vizinhança
blica, Aníbal Cavaco Silva? Que
Quer melhor resposta do que o
praticada por Timor?
tipo de relação estabelecem?
resultado das eleições para Chefe
As pessoas, às vezes, esquecem-
Existe claro a relação institucional
de Suco e das aldeias? Não houve
se que nós somos um país geogra-
e a simpatia decorrente de ter sido
problemas registados. Quer melhor
ficamente pequenino e que temos
líder e militante do PSD, tal como
resposta do que a livre expressão
de um lado a Austrália e do outro a
eu pertenci, e por ser oriundo da
dos deputados no Parlamento?
Indonésia. Independentemente de
mesma região que o meu Pai.
Timor-Leste vive em pleno siste-
eles terem um grande peso, nós te-
Existe apenas essa simpatia e essa
ma de democracia liberal, multi-
mos praticado uma política de boa
ligação algarvia.
partidário, segundo o princípio da
vizinhança tanto com a Indonésia,
A Diplomacia é essencial na
separação dos poderes executivo,
como com a Austrália, e não tem
política internacional de um país.
legislativo e judicial, muito embora,
havido problemas de maior. Apenas
Como está a Diplomacia timoren-
às vezes, algumas pessoas fiquem
alguns incidentes fronteiriços, nada
se?
chocadas com tomadas de posição
de maior. O povo indonésio não
Como tenho vindo a afirmar, es-
de alguns dos nossos líderes, rela-
tem nada a ver com as atrocida-
tamos em fase de crescimento e
tivamente a determinadas matérias,
des que o sistema e o Governo da
de desenvolvimento. Temos diplo-
mas que normalmente passam
altura cometeram em Timor-Leste.
matas de carreira e diplomatas de
a aceitar passado algum tempo,
Quanto à Austrália, foi um país
nomeação política por serem consi-
depois de ouvirem as explicações
extremamente simpático porque
derados os ideais para representar
dessas tomadas de posição. Timor-
acolheu todos os timorenses que
e defender os superiores interesses
Leste é um país com uma cultura
quisessem ir para lá e, ainda hoje,
da Nação. Acredito que dentro de
muito própria, asiática e diferente
temos lá uma comunidade muito
poucos anos, talvez uns cinco,
das habituais culturas de outros
grande.
possamos já ter mais diplomatas de
países mais longínquos a Ocidente.
Entramos na fase final da nossa
grande experiência a representar
Nós temos de gerir a nossa própria
entrevista. É relevante para a po-
Timor-Leste.
➤
n
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 51
AGA KHAN
Imamat Ismaili abre Representação Diplomática em Lisboa
A Rede Aga Khan para o Desenvolvimento levou a cabo uma recepção em comemoração do 52º aniversário da acessão de Sua Alteza o Aga Khan ao Imamat Ismaili, em Lisboa, na rua S. Domingos à Lapa, naquela que é a primeira Representação Diplomática do Imamat Ismaili na Europa e a segunda no Mundo Ocidental. Desde Dezembro de 2005 que o compromisso do Imamat Ismaili para com Portugal está exposto no Protocolo de Cooperação assinado com o Governo português, que estabeleceu as bases do trabalho conjunto do Estado português e da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento – uma organização não-confessional, privada, internacional, presente em mais de 30 países, que actua em prol da melhoria da qualidade da vida humana, sem olhar a género, etnicidade, religião ou culturas em áreas como a erradicação da pobreza, a educação, a cultura, o pluralismo e o desenvolvimento económico. Em Portugal, a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento conta com um historial de quase três décadas de vasta colaboração com sucessivos Governos, nas esferas nacional e internacional, e com vários parceiros da sociedade civil. A breve prazo, e na sequência da abertura desta Representação Diplomática, serão lançadas novas iniciativas noutras áreas do desenvolvimento humano, como explica Nazim Ahmad, seu representante em Portugal: “vamos abrir um Banco não-lucrativo de Microfinanças; criar uma Academia Aga Khan, escola de excelência do pré-escolar ao pré-universitário, que terá como base de acesso o mérito e não os recursos financeiros dos candidatos; firmar diversas parcerias académicas entre as universidades portuguesas e as universidades da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento; apoiar a reabilitação do património cultural e a criação de emprego; e o desenvolvimento económico sustentável”. De entre o trabalho já desenvolvido destaca-se o Programa de Desenvolvimento Comunitário Urbano K’Cidade lançado pela Fundação Aga Khan em 2004, em parceria com diversas instituições, entre as quais o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e o Patriarcado de Lisboa. Este programa procura endereçar os desafios que se colocam às comunidades urbanas pobres e socialmente excluídas, em particular imigrantes e minorias étnicas. Em 2009, o programa beneficiará cerca de 25 mil pessoas na zona da Grande Lisboa. Mais recentemente, a Fundação Aga Khan tomou a seu cargo a gestão do Centro Infantil dos Olivais Sul, em parceria com o Instituto da Segurança Social, procurando torná-lo num centro público de boas práticas e de excelência ao nível da educação de infância, com a criação de cinquenta novos postos de trabalho e uma abrangência de 240 crianças até aos cinco anos. Depois da Delegação aberta no Canadá, Portugal é pioneiro a nível Europeu na criação de uma Representação Diplomática do Imamat Ismaili, uma instituição de liderança espiritual e temporal que se reporta aos tempos do Profeta Maomé e à qual acederam os 49 Imams Ismailis escolhidos por designação sucessória e directa ao longo dos últimos catorze séculos de História. Em Julho de 2008, o Governo português convidou Sua Alteza o Aga Khan para marcar aqui, em Lisboa, o seu Jubileu de Ouro, os cinquenta anos de intensa actividade institucional levada a cabo pelo Imamat Ismaili e pela Rede Aga Khan para o Desenvolvimento.
n ➤
52 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010
1
2
4
3
5
6
8
7
9
1. Nazim Ahmad e sua Mulher recebem os convidados 2. Rui Vilar e Isabel Alçada 3. Maria da Luz de Bragança e Embaixadora da Polónia, Katarzyna Skórzy´nskza 4. Embaixadores do Reino Unido e da Suíça 5. Embaixadora da República Dominicana e seu marido 6. Vitalino Canas e o Embaixador do Luxemburgo
10
11
7. Abdool Vakil e Maria da Luz de Bragança 8. Diogo e Maria José Freitas do Amaral, Maria Barroso Soares e Padre Vítor Melícias 9. Carlos Monjardino, Maria Rita Sampaio, Teresa Caeiro e José Lamego 10. Maria da Luz de Bragança, Padre Vítor Melícias e Murteira Nabo
dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 53
Empressário. Político. Banqueiro
Fernando Faria de Oliveira Presidente da Caixa Geral de Depósitos,
entrevista de José Manuel Teixeira
Membro do Governo durante cerca de dez anos, deputado, administrador de grandes grupos empresariais privados e estatais, banqueiro de sucesso e com um currículo invejável como político e gestor, o Engenheiro Fernando Faria de Oliveira é actualmente Presidente da Caixa Geral de Depósitos.
54 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
O senhor engenheiro é um
experiência importante na minha
com prejuízo para um banco ope-
político e um gestor do Estado.
vida, de tal maneira que eu, com
racional, eficaz, com resultados
Foi por opção ou coincidência?
interrupções para fazer parte de
positivos. Talvez por isso o Minis-
Eu era iminentemente um gestor
Governos, estive vinte anos liga-
tro das Finanças fez-me o convite
empresarial. Comecei a minha
do ao IPE. Nessa altura tive uma
para vir para a Caixa Geral de
actividade na Sorefame como en-
segunda experiência governativa,
Depósitos, onde entrei em Janei-
genheiro do gabinete de estudos.
como Secretário de Estado Ad-
ro de 2008, já no período de crise
Durante quatro anos exerci a
junto do Vice-Primeiro-Ministro,
económica, mas ainda numa fase
profissão de engenharia do ponto
Dr. Rui Machete. Durou apenas
inicial.
de vista técnico. Depois transi-
um ano porque esse Governo
Como explica ter feito sempre
tei para a área comercial, onde
caiu no final de 1985. Voltei ao
uma carreira ligada ao PPD/
passei a chefiar o departamento
IPE e, em 1988, o Prof. Cavaco
PSD e seja o PS a convidá-lo
de exportação da empresa, que
Silva insistiu muito para que eu
para presidir à Caixa Geral de
teve um enorme sucesso nesse
integrasse o seu Governo para
Depósitos?
período, e, em função disso, fui
iniciar o processo das privatiza-
É uma pergunta que terá de ser
convidado para integrar o Con-
ções e reestruturar o sector públi-
dirigida ao Governo e não a mim.
selho de Administração da Side-
co empresarial. Fui Secretário de
Mas há uma tradição na Caixa
rurgia Nacional. Quando estava
Estado das Finanças e do Tesou-
em que o Presidente, de um
na Siderurgia tive o primeiro
ro e Secretário de Estado Adjunto
modo geral, não pertence ao par-
convite para integrar o Governo
e das Finanças no ministério do
tido que está no poder. Isso vale
do Dr. Francisco Balsemão, como
Dr. Miguel Cadilhe, até 1990, al-
o que vale, mas durante muitos
Secretário de Estado da Expor-
tura em que passei para Ministro
anos aconteceu assim. Além
tação. Muito em função da minha
do Comércio e do Turismo, com
disso, as missões empresariais
experiência profissional na Sore-
uma breve interrupção em que
devem ser, e eu sempre procurei
fame. Foi um período difícil em
fui Administrador do Banco de
fazê-lo, exercidas com grande
que as exportações portuguesas
Fomento.
independência em relação às
estavam num crescimento ne-
Ser Ministro do Comércio e Tu-
posições partidárias. Foi assim
gativo e desencadeou-se, nessa
rismo foi uma experiência longa,
que aconteceu no IPE durante os
altura, uma política muito activa
de quase seis anos, que terminou
muitos anos em que lá estive e é
de dinamização das exportações
no final de 1995. Tornei a voltar
seguramente o que acontece na
com vários instrumentos extrema-
ao IPE até ser extinto. Depois fui
CGD.
mente importantes, em que, para
convidado pelo então Presiden-
A Caixa Geral de Depósitos
além da política cambial, orça-
te da Caixa Geral de Depósitos,
é uma instituição do Estado e
mental e fiscal, se utilizaram ins-
Prof. António de Sousa, para dar
obviamente é o accionista que
trumentos mobilizadores bastante
uma colaboração na definição da
define as orientações. Elas estão
fortes, como a carta do exporta-
estratégia do grupo empresarial
definidas e constam do nosso
dor, os contratos à exportação e
de saúde da CGD, mas acabei
plano estratégico. Confere-nos
uma grande campanha em 1982
por ser convidado pelo Dr. Vi-
autonomia de gestão e não deve
– Ano da Exportação. Quando saí
tor Martins para ir para Madrid
haver questões partidárias em
➤
do Governo em 1983, Portugal
presidir ao Banco da Caixa em
cima da mesa.
registava o maior crescimento
Espanha - o Banco Simeón, que
Como é que a sua formação
de sempre das exportações em
estava numa situação complica-
de engenheiro o levou a uma
termos reais. Voltei à Siderurgia
da. Era preciso dar-lhe um novo
carreira de economista e ban-
Nacional, mas por pouco tempo
impulso, modernizá-lo e fazê-lo
queiro?
porque entretanto fui convidado
crescer. Estive aí mais de dois
A parte técnica do meu curso,
para vice-presidente do IPE –
anos e meio e, na realidade, foi
Engenharia Mecânica, exerci-a
Investimentos e Participações
um período bastante positivo,
durante quatro anos. A partir daí
Empresariais.
quer pessoalmente, quer na evo-
transitei para uma função co-
O IPE era uma holding detida
lução do banco, porque se trans-
mercial e de gestão ligada mais
pelo Estado, um grande grupo
formou muito num curto espaço
à parte comercial, económica
empresarial público. Foi uma
de tempo e passou de um banco
e financeira. Isto tem a ver
➤
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 55
Faria de Oliveira
com a sua primeira pergunta
nosso accionista Estado, através
do crédito foi mais limitado. Mes-
sobre a minha carreira política e
do senhor Ministro das Finanças,
mo assim, a CGD tem um cresci-
empresarial. Eu sou um homem
definiu-nos uma ambição concre-
mento do crédito, em relação ao
de empresa que exerceu fun-
ta, a de incrementarmos a nossa
ano anterior, de nove por cento
ções políticas, mas exactamente
actividade e a nossa presença
para as PME's e de 6,1 por cento
porque a experiência empresarial
junto das PME s.
para o conjunto do sector empre-
se coadunava com o exercício
Por tradição, a Caixa é um banco
sarial. Isto é um grande esforço
das funções que, ao longo do
de particulares. Era um banco
e implica um enorme trabalho de
tempo, fui exercendo na política.
receptor de depósitos, de pou-
capacidade de resposta às solici-
Creio que foi o facto de ter dado
panças e, ao mesmo tempo, o
tações das empresas num con-
um bom contributo na altura em
grande banco da concessão do
texto onde a avaliação do risco é
que estive na Sorefame, que se
crédito à habitação e imobiliário e
extremamente importante, porque
tornou no terceiro exportador
também de concessão de crédi-
nós temos sempre presente que,
mundial de equipamentos hidro-
to às instituições e às grandes
em primeiro lugar, a nossa mis-
mecânicos, que eventualmen-
empresas. Mas foi um banco que
são é salvaguardar os interesses
te chamou à atenção. Depois,
nunca esteve muito virado para
dos depositantes, dos accionistas
quando fui Secretário de Estado,
as Pequenas e Médias Empre-
e dos trabalhadores. E garantir a
o ter trazido essa parte da mi-
sas. Com a absorção do Banco
rentabilidade da CGD, que é uma
nha experiência profissional com
Nacional Ultramarino, que esse
das empresas mais rentáveis do
a exportação, traduzindo-a em
sim tinha uma clara vocação de
nosso país.
acções concretas que também
apoio às PME s, isso foi-se alte-
A média até ao ano de 2008, dos
foram bem sucedidas. E, obvia-
rando e, entretanto, não apenas
últimos dez anos em termos de
mente, a sorte ajudou – é preciso
a cultura da Caixa mudou como
Return On Investment, é da or-
saber aproveitá-la e fazer o me-
se preparou intensamente para
dem dos dezassete por cento. A
lhor para conseguir objectivos.
poder hoje responder aos proble-
Caixa distribuiu importantíssimas
Desde que é Presidente da Cai-
mas das PME s, criando gabine-
verbas dos seus resultados para
xa, que modificações já sofreu
tes de empresa e reforçando a
o Estado. Ora bem, neste con-
a instituição?
área especializada, através dos
texto e considerando que a Caixa
A CGD, neste período e em
seus balcões, para atender às
tem que crescer, e sendo já líder
primeiro lugar, esteve muito
pequenas e médias empresas.
no mercado nacional, esse inves-
concentrada na superação das
Além disso, preparou técnicos
timento passa muito pelo exte-
dificuldades. Passámos um pe-
para essa matéria, responsáveis
rior. Considerando também que
ríodo de grandes problemas de
pela concessão de crédito às
a Caixa se modernizou enorme-
➤
liquidez a nível mundial e a Caixa
PME s.
mente nos últimos anos, mérito
Geral de Depósitos conseguiu
Hoje, a Caixa é já muito forte
das administrações anteriores, e
sempre, devido à sua reputação
neste domínio e aumentou clara-
exerce uma política de respon-
(a Caixa é o 34º Banco mais
mente a sua quota de mercado
sabilidade social, provavelmente
seguro do mundo de acordo com
junto das pequenas e médias
como ninguém mais neste país,
o Global Finance), superar esse
empresas. Por outro lado, foi o
nas áreas cultural, do apoio e
problema, ainda que em mol-
banco que em todo este perío-
assistência social, a CGD tem
des diferentes de uma situação
do mais cresceu no crédito às
programas muito intensos nesse
normal. A liquidez foi resolvida
PME s e às empresas em geral.
sentido, procurando adoptar as
com soluções muitas vezes de
No ano de 2008, que foi um ano
melhores práticas de gestão com
curto prazo. Havia necessidade
difícil, então a partir de Setem-
a máxima transparência e res-
de cumprir os objectivos funda-
bro foi dificílimo, nós tivemos um
ponsabilidade. No nosso relatório
mentais definidos pelo Governo,
crescimento do crédito às em-
e contas, inclusivamente.
e que eram assegurar o financia-
presas de dezasseis por cento.
Neste contexto, temos vindo a
mento da economia e contribuir
Numa situação de crise crescer já
cumprir essa primeira missão de
para a estabilidade e solidez do
é muito bom, crescer dezasseis
assegurar o financiamento da
sistema financeiro português.
por cento mostra bem o esforço
economia, mas também no perío-
Em relação ao primeiro ponto, o
que foi feito. Em 2009 o aumento
do mais difícil da crise
56 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
financeira, a Caixa cumpriu a
foi nacionalizado e passou a ser
da gestão da CGD. Em primei-
segunda missão, que era contri-
uma empresa do Estado, onde no
ro lugar, um reforço na área do
buir para a estabilidade do siste-
Conselho de Administração estão
risco e do ajustamento do preço
ma financeiro, através do finan-
pessoas indicadas pela CGD.
ao risco; em segundo lugar, a
ciamento concedido a algumas
Essa tem sido uma acção que
criação de vários tipos de produ-
instituições e, principalmente,
nos absorveu muitíssimo. Mas
tos financeiros e complementares
através da nomeação de ges-
isso não invalidou que não se
ajustados às novas necessidades
tores da CGD para o Conselho
tivesse promovido uma alteração
da economia e dos particulares.
de Administração do BPN, que
muito grande em vários domínios
O que é que isso significa?
➤
➤
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 57
Faria de Oliveira
➤
Primeiro, uma maior segmenta-
ção – criar produtos para vários segmentos de mercado de acordo com as suas necessidades. Isso significa ajustar os produtos às conjunturas. Entre Setembro de 2008 e Março de 2009 foi o período em que a crise esteve profundíssima e nós imediatamente traçámos alternativas para satisfazer, por exemplo, os problemas do crédito à habitação. Concedemos períodos de dilatação do pagamento das prestações, criámos um novo produto completamente inovador, que era a possibilidade de comprar as habitações aos próprios que passaram a ser inquilinos, mas com uma opção de recompra ao fim de um determinado período. Ajustámo-nos às necessidades. Entretanto, a dimensão da crise melhorou, os juros caíram e os problemas inicialmente criados foram mino-
Fevereiro deste ano instalou-se
das comunicações, na rede
rados. Acima de tudo, a Euribor
no Brasil. Inaugurámos o nos-
industrial... É muito importante
caiu brutalmente e, portanto, as
so banco Caixa Geral Brasil. E,
procurar recuperar o aparelho
rendas mensais das pessoas até
finalmente, estamos em Angola
produtivo angolano, na área edu-
passaram a ser menores do que
através duma participação no
cacional, na da saúde, etc. Será
eram antigamente.
Banco Totta Angola, em parceria
um banco que vai cumprir uma
Em relação às PME's, por um
com o Santander, com a Sonan-
missão semelhante ao nosso an-
lado, inserimo-nos nas linhas que
gol e com empresários angola-
tigo Banco de Fomento. Tudo isto
o Estado criou mas criámos com-
nos, mas a gestão compete à
é um trabalho que, por um lado,
plementos a essas linhas; e, por
CGD. Negociámos com os res-
requer capital e absorve a nossa
outro lado, reforçámos as linhas
pectivos Governos a criação de
capacidade de acção.
de crédito à exportação de uma
dois bancos de investimento em
Queremos um banco no topo da
maneira muito intensa, criámos
Angola e Moçambique. Em Ango-
modernidade. Por exemplo, te-
novos fundos de capital de risco
la em parceria com a Sonangol e
mos vindo a melhorar claramente
para apoiar as empresas que se
em Moçambique com a Direcção
no domínio da informática. Hoje
querem recapitalizar adoptando
Nacional do Tesouro.
em dia, a CGD pode considerar-
o capital de risco, criámos linhas
O início da sua actividade está
se líder de um mercado específi-
para o empreendedorismo e para
marcado para 2010, segundo
co, através da Caixa Directa e do
apoiar a inovação da economia
cremos...
e-banking, portanto, da possibi-
portuguesa. Tudo isto foi um tra-
O banco ainda está em consti-
lidade de utilizarmos via compu-
balho realizado num curtíssimo
tuição. Este segundo banco que
tador as nossas necessidades de
espaço de tempo. Procurámos
vamos criar em Angola tem um
transferências, facilitando a vida
expandir-nos em termos interna-
capital de mil milhões de dólares.
aos consumidores. A Caixa não é
cionais. A Caixa não estava em
Tem já uma considerável dimen-
apenas o maior banco, quer ser
dois mercados, Angola e Brasil,
são e vai apoiar investimentos
o melhor banco. Modernizou-se
que são essenciais. A CGD em
prioritários para Angola na rede
muito e tem continuado a
58 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
modernizar-se. No entanto,
Sim, estamos a financiar o BPN
Essa é uma estratégia empresa-
existem problemas, como não
mas este significativo financia-
rial pura. Mas tem uma segunda
podia deixar de ser. Nós já deve-
mento tem a garantia do Estado,
componente, que é muito mais
mos ter passado o fim da crise,
é financiamento sem risco.
importante, que é estar presente
mas a crise ainda não se pode
Aliás, a Caixa é uma espécie de
onde estão os nossos clientes. E
considerar terminada. Vamos ter
fundo soberano do Estado...
quem são, no domínio da inter-
uma recuperação da economia
Não. A Caixa é um banco, e é
nacionalização, os clientes da
provavelmente fraca e lenta. Ain-
um banco rentável. Muitas vezes
Caixa? Desde logo, os emigran-
da vão subsistir alguns proble-
ouvem-se frases relativamente
tes. E foi por isso que o processo
mas e temos de estar preparados
bombásticas, mas a CGD não é
de internacionalização da CGD
para continuar a cumprir a nossa
de todo um ónus para os contri-
começou ainda no final do século
missão, e encontrar o equilíbrio
buintes, pelo contrário. A Caixa
XIX no Brasil. Em 1902 esta-
entre a rentabilidade necessária
é das melhores aplicações finan-
beleceu-se em Macau. Depois
para pagar dividendos importan-
ceiras que o Estado pode ter. Se
foi-se estabelecendo onde havia
tes para o accionista, permitir
há aumento de capital da Caixa
grandes comunidades portugue-
que a Caixa continue a crescer e
é só para cumprir objectivos que
sas. Este foi o primeiro passo
apoiar a economia num momento
o Estado nos determina. A ex-
da internacionalização. Veio o
difícil, e não repercutir integral-
pansão no exterior necessita de
segundo passo, quando as em-
mente nos clientes o aumento de
investimento e há ainda algumas
presas portuguesas começaram
custos do funding e o do risco,
situações pontuais de tomada
a ter mercados preferenciais de
não aumentando os spreads na
de posição em empresas. Cum-
destino das suas exportações
mesma medida, prejudicando
primos missões que nos são
e, mais tarde, quando do seu
ligeiramente a rentabilidade. Mas
cometidas. Obviamente que isso
investimento no exterior, a CGD
contamos, mesmo assim, apre-
requer capital e, por isso mesmo,
passou também a localizar-se
sentar um razoável resultado no
houve alguns aumentos de capi-
onde estavam os seus clientes
final deste ano.
tal nos últimos tempos. Por outro
para os apoiar. Por isso, a Cai-
Com a crise nas PME's, e mui-
lado, a Caixa tem importantíssi-
xa está hoje em 23 países e é
tas delas estão a falir, há com
mas participações em empresas
uma das maiores multinacionais
certeza uma percentagem gran-
fundamentais para a economia
portuguesas. Há mercados que
de de crédito malparado!?
portuguesa. No ano passado
são absolutamente essenciais,
O crédito malparado tem vindo
registámos perdas significativas
como por exemplo a Espanha.
a ter algum crescimento. Mas a
devido à desvalorização das
Por isso, o Dr. Rui Vilar quando
nível global é maior do que na
acções dessas empresas. Isso
foi Presidente da Caixa comprou
Caixa, e isso porque a CGD, há
repercute-se nos resultados mas,
três pequenos bancos em Espa-
uns anos atrás, tomou a decisão,
graças a Deus, a situação está
nha (o Banco Siméon, na Galiza,
penso que foi no tempo do Dr.
este ano a melhorar. Hoje, apre-
o da Estremadura e o Chase
António de Sousa, de criar uma
sentamos rácios de solvabilidade
Manhattan), que acabaram por
direcção de recuperação de cré-
e de capital muito confortáveis.
dar origem ao Banco Geral-Espa-
dito, que é uma área de negócio
A Caixa neste momento está
nha, mas trata-se de um banco
que procura antecipar e acompa-
com 12,9 por cento de rácio de
ainda de pequena dimensão e
nhar as situações de dificuldade.
solvabilidade, quando o mínimo
por isso nós continuamos a ter
Isso obviamente repercute-se
exigido era de oito por cento.
como objectivo tentar adquirir um
numa diminuição do crédito mal-
Portanto, estamos numa posição
outro banco em Espanha para
parado.
de grande solidez.
responder melhor às necessida-
E o problema do BPN?
Tenho estado a falar na moder-
des de um mercado que é, cada
O problema maior que surge
nização da CGD e não queria
vez mais, o mercado interno das
do BPN na Caixa é a absorção
deixar de referir a questão da
empresas portuguesas. Tem de
do tempo, designadamente dos
internacionalização, que resulta
haver a ideia base de que o mer-
meus colegas que fazem parte da
basicamente de dois factores.
cado das empresas portuguesas
administração.
Por um lado, a necessidade de
é todo o mercado ibérico.
E a absorção também de capitais...
qualquer instituição crescer.
Entretanto, vão aparecendo
➤
➤
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 59
Faria de Oliveira
novas necessidades a que
PME s, que passa pela conces-
Primeiro, é um banco com bas-
procuramos responder. Temos
são de crédito, pela possibilidade
tante importância porque é um
uma presença muito forte no sul
de utilização do capital de risco,
banco emissor. Depois, é um
do continente africano. Há um tri-
pelas actividades da banca de
banco muito prestigiado que foi
ângulo importante entre Moçam-
investimento, pela divulgação das
criado em 1902. Tem participa-
bique, África do Sul e Angola e
linhas de crédito existentes e do
do em grandes investimentos
para apoiar a presença portugue-
apoio à exportação, pela divulga-
em Macau. É uma janela de
sa em toda aquela área, a nossa
ção da presença da Caixa noutros
oportunidade para apoiarmos os
acção deve ser reforçada. Mas,
mercados e daquilo que pode
empresários portugueses que
agora, também o Norte de África
oferecer a essas empresas, pela
queiram trabalhar na China, seja
nos merece uma atenção espe-
criação de instrumentos completa-
na exportação, seja em eventual
cial. Estamos a prestar serviço
mente novos, como o Passaporte
investimento nesse país. Criou
de consultoria ao Banco Nacional
Ibérico nas estratégias empresa-
um escritório de representação
da Algérie, que é o maior banco
riais a Ibéria deve ser considerado
em Xangai e outro em Zwai para
da Argélia, e apoiamos o seu
um mercado doméstico e não ape-
complementar a sua acção. A
processo de modernização. Já
nas Portugal. Nós devemos actuar
China está com um crescimento
estabelecemos um acordo para
como a Catalunha actua para todo
notável na sua economia, oito
poder satisfazer as necessida-
o espaço ibérico, ou como a Ga-
por cento este ano, 8,9 por cento
des das empresas nacionais que
liza, ou qualquer outra província
previstos para 2010 e provavel-
queiram trabalhar na Argélia e,
autónoma.
mente será maior. Começou a
se se justificar, abriremos aí um
Já existe o caso do financia-
criar um mercado interno signifi-
escritório de representação ou
mento da La Seda.
cativo. Enquanto a economia dos
uma sucursal. Ao mesmo tempo
O financiamento à La Seda foi
Estados Unidos da América vive
vamos criando linhas de crédito
uma decisão tomada também
em 75 por cento do seu merca-
para a Líbia, Tunísia, Argélia,
pelos meus antecessores, mas
do doméstico, a China ainda só
Marrocos, Venezuela, enfim, para
visava assegurar o investimento
representa trinta por cento des-
todos os mercados mais impor-
em Sines e investir numa grande
se mercado, sendo tudo o resto
tantes, a Caixa ou é um instru-
empresa espanhola.
exportação. À medida que se vai
mento do Estado para gerir essas
Agora tiveram de financiar
criando uma classe média maior,
linhas de crédito, ou ela própria
mais…
que vai tendo mais importância
criou essas linhas de crédito.
A La Seda é um problema difícil,
no seu mercado doméstico, maio-
Curiosamente, sendo de longe o
um problema de reestruturação
res vão ser as nossas oportuni-
banco que tem o maior número
financeira total, em que a Caixa
dades de exportação. É verdade
de linhas de crédito disponíveis
tem dado todo o apoio, designa-
que é um mercado que está
para os empresários portugue-
damente na concepção de uma
muito longe. Como se costuma
ses, em matéria de apoio às ope-
solução de futuro e na nego-
dizer: amar o próximo como a ti
rações concretas de exportação
ciação para reestruturação dos
mesmo começa por aqueles que
ainda há um caminho a percorrer
créditos, e também já assumiu o
nos estão mais próximos. Isto no
e temos de modernizar os nossos
compromisso de participar no au-
domínio da economia é um quase
serviços nesse domínio.
mento de capital. Estamos a pro-
igual, mas a verdade é que temos
O exportador sente realmente
curar uma solução eventualmente
de estar atentos às oportunida-
que a Caixa o pode ajudar?
diferente para Sines, tornando
des onde elas existam. Assim,
Bom, pelo menos, as linhas de
a La Seda como um accionista
esse nosso banco de Macau tem
crédito são divulgadas. Nós
minoritário e com um acordo de
uma missão de ajudar, sem dúvi-
ultimamente até no campo publi-
compra da produção. Tudo isto
da importante, e vai cumprindo-a
citário temos vindo a procurar ser
são processos importantes para
bem.
muito mais agressivos e estamos
a economia nacional e, por isso,
E há empresários portugueses
a desenvolver um conjunto de
fazemos um grande esforço para
na China?
acções por todo o país para sen-
encontrar soluções.
Não há muitos. Mais nos domí-
sibilizar os empresários em vários
Que se passa com o banco de
nios das exportações do que do
domínios: no apoio genérico às
Macau?
investimento.
➤
60 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
n
abril/maio 2009 - Diplomรกtica โ ข 1
Banqueiros de sucesso
Luís Mira Amaral Líder do Banco BIC Portugal Há pouco mais de um ano a Diplomática entrevistou o Engenheiro Mira Amaral a propósito da criação em Portugal de um banco de raiz gémeo do BIC de Angola e com a mesma estrutura accionista. Para liderar esse projecto e ser seu presidente da Comissão Executiva foi convidado o Engenheiro Mira Amaral.
62 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010
➤
Que se passou depois da
mos a actuar imediatamente
de cruzeiro.
nossa última conversa há cer-
quando o banco arrancou e
Isso a nível nacional, e em re-
ca de um ano?
neste momento a nossa carteira
lação aos fluxos financeiros
Passou-se aquilo que eu tinha
de clientes de crédito aumentou
para Angola?
previsto e planeado. Abrimos
significativamente e já está à
Nessa área temos a máquina
agências no Porto, Aveiro, Bra-
volta dos noventa milhões de
perfeitamente afinada. Aliás,
ga, Leiria e Viseu. A primeira
euros. Em suma, daquilo que
nós já somos correspondentes
fase de expansão do banco foi
no início tínhamos pensado
de três bancos angolanos – do
terminada em Maio de 2009.
fazer, a expansão física está
BIC de Angola, do Banco Sol e
Também tencionávamos entrar
feita, a carteira de clientes
do Banco Poupança e Crédito.
no mercado de capitais. Isso
também já tem um valor con-
Isto significa que esses três
necessitava de um processo de
siderável e as transferências
bancos angolanos podem utili-
registo moroso junto da Comis-
financeiras entre Angola e Por-
zar o BIC português para fazer
são de Mercados de Valores
tugal estão a funcionar bem. A
transferências de Angola para
Mobiliários. Essa autorização
única dificuldade que tivemos,
Portugal e já não é só o BIC de
➤
da CMVM foi-nos dada há
num período recente, foi que
Angola que nos pode utilizar,
pouco tempo e neste momento
Angola não tinha dólares sufi-
mas também o Banco de Pou-
já estamos a trabalhar como
cientes para pagar aos exporta-
pança e Crédito e o Sol.
intermediário financeiro. A par-
dores portugueses. Aliás, isso
Os clientes podem enviar o
tir de agora, qualquer pessoa
foi noticiado nos jornais, que
dinheiro de Angola de manhã e
pode chegar aqui e pedir que
houve atraso nas transferências
recebê-lo aqui à tarde. Também
nós, em seu nome, compre-
de Angola para Portugal. Não
somos ajudados por uma outra
mos acções, títulos de dívida
por culpa nossa, mas porque o
razão: é que o banco BIC em
ou obrigações que estejam em
banco BIC em Angola não tinha
Angola é o número um no mer-
bolsa. Isto para nós é essencial
os dólares necessários, dado
cado cambial angolano e nas
para desenvolver o negócio do
que o BNA não lhes vendia os
operações com o estrangeiro.
private banking. É que até ago-
dólares para eles poderem sa-
Sendo nós correspondentes de-
ra, não podendo actuar como
tisfazer os exportadores portu-
les obviamente que aproveita-
intermediários nos mercados
gueses. Tivemos aqui atrasos
mos esse facto. No mercado de
financeiros, estávamos limita-
de pagamentos a clientes de-
transferências entre Portugal e
dos. Aos nossos clientes pouco
vido às dificuldades que Angola
Angola, nós temos uma cota de
mais podíamos oferecer do que
teve.
mercado superior à nossa cota
depósitos a prazo. A partir do
Nestas áreas de negócio – ban-
natural de mercado português,
momento em que fomos auto-
ca de empresas e de transfe-
quando se fala em crédito.
rizados pela CMVM a sermos
rências de fluxos financeiros de
Apesar de noventa milhões de
intermediários financeiros esta-
Angola para Portugal – estamos
dólares para nós ser expressi-
mos em condições de começar
a funcionar em pleno. Arran-
vo, porque arrancámos do zero,
a desenvolver, de forma mais
cámos agora com a área do
há outros bancos portugueses
significativa, o negócio do pri-
private banking, que eu penso
que têm uma carteira de crédi-
vate banking, que estava, como
que vai ter um impulso positivo.
to muito superior à nossa. Em
disse, limitado a aceitar depósi-
Portanto, aquilo que nos propú-
relação ao crédito, nós ainda
tos. Assim, acabei de escrever
nhamos fazer para o primeiro
somos pequenos no mercado
uma série de cartas a clientes
ano está praticamente conclu-
português, em termos relativos
nossos do private e a gestores
ído. Também já conseguimos,
com os outros bancos, mas, no
de empresas que já trabalha-
pontualmente num mês, ter
mercado de transferências en-
vam connosco, chamando-lhes
resultados líquidos positivos.
tre Angola e Portugal, já temos
a atenção que já estamos em
Digamos que toda a fase inicial,
uma expressão significativa.
condições de desenvolver o
naturalmente difícil, está ultra-
As duas grandes fontes de
negócio de private banking.
passada e o banco tem condi-
rendimento que nós temos são
Por outro lado, em termos de
ções de começar a trabalhar
a área da banca de empresas,
banca de empresas, começá-
numa situação de velocidade
com um volume de crédito de
➤
dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 63
Luís Mira Amaral Líder do Banco BIC Portugal
➤
cerca de noventa milhões de
dólares, e a área das transferências entre a Angola e Portugal, que gere os proveitos dos fluxos das transferências. São as duas grandes áreas de negócio desenvolvidas até agora. Com a possibilidade de sermos intermediários financeiros também vamos ter condições de desenvolver a área do private banking. Surgiram notícias de que o banco BIC estava interessado na privatização do BPN. Isso é verdade? Não. O que disse o Dr. Fernando Teles, e falou em nome do BIC de Angola, não falou em nome do BIC português, é que o banco BIC de Angola estava disponível para analisar o dossier da privatização do BPN. Ele não disse que ia concorrer à privatização. O que ele disse foi que estavam disponíveis para analisar a informação. Suponha que as condições de privatização não interessam ao BIC de Angola. Então, o banco BIC não concorre. O BIC de Angola até pode ter interes-
que o banco BIC português não
esse passivo todo.
se, mas primeiro tem de ver a
fez qualquer movimento nes-
De qualquer forma, o senhor
documentação. Nem ele, nem
se sentido e obviamente, se o
engenheiro conhece bem a
eu, neste momento, sabemos
tivesse feito, a primeira pessoa
Caixa Geral de Depósitos e a
dizer quais são as condições
a ser informada seria o gover-
privatização do BPN também
objectivas de privatização. Mas
nador do Banco de Portugal.
depende da Caixa
ele falou apenas em nome do
Na sua opinião não era uma
Na minha análise, a privatiza-
banco BIC Angola e não do BIC
boa aquisição?
ção do BPN depende do Gover-
português, porque obviamente
Tudo depende das condições.
no. Foi o Governo que nacio-
o banco BIC português não tem
Não sei dizer-lhe. O BPN há-
nalizou o BPN. E o Governo o
capital suficiente para comprar
de ter activos e passivos. Não
que é que fez? Como tinha um
o BPN. O Dr. Fernando Teles
quero fazer comentários neste
banco público utilizou-o como
acrescentou ainda que se o
momento porque não faço ideia
instrumento para gerir o BPN.
BIC Angola viesse à privatiza-
de como é que vai ser o pro-
Suponha que o Governo portu-
ção e se comprasse o BPN, o
cesso de privatização do BPN.
guês não tinha nenhum banco
que nesta altura é perfeitamen-
O Governo só anunciou que ia
público, ao privatizar o BPN
te especulativo, depois iríamos
privatizar o BPN. Como se sabe
tinha de arranjar gestores para
ver a ligação do BPN ao BIC
o BPN tem um grande passivo
gerirem o banco na fase da na-
Portugal. Mas isso era numa
e acho difícil existirem inte-
cionalização. O Governo como
segunda fase. Também já referi
ressados, se vier para a mesa
tem um banco público – a CGD
64 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010
➤
– naturalmente que utilizou
a ter resultados?
banco, de desenvolver o private
o instrumento que tinha à mão
Essas agências têm, como eu
banking e de ter escritórios de
para gerir o BPN nesta fase
calculava, um processo lento e
representação noutras capitais
e do ponto de vista técnico,
difícil de implantação, porque o
europeias. Quanto ao imple-
também vai ser a CGD a pre-
mercado de retalho está sa-
mentar redes de retalho noutros
parar o dossier da privatização.
turado em Portugal. Portanto,
países europeus para trabalhar
Mas a decisão é do Governo e
eu não tinha grande esperança
com Angola, acho que isso não
➤
não da Caixa. A Caixa Geral de
que, em termos de retalho, sen-
tem razão de ser neste mo-
Depósitos foi um instrumento
do nós um banco com poucas
mento. Se calhar daqui a dez
do Governo para gerir a na-
agências, pudéssemos assumir
anos poderá fazer sentido, mas
cionalização e será também o
uma dimensão significativa. Em
agora o país com maior ligação
instrumento para preparar a pri-
termos de banco de empresas,
a Angola é Portugal.
vatização. A minha experiência
foi mais fácil porque as con-
Nem em Espanha?
governativa diz-me que é uma
tas que estavam em Lisboa,
Nem em Espanha. A meu ver,
decisão política do Governo.
de empresas com as quais já
o número das empresas com
Na entrevista que nos con-
trabalhávamos, foram imedia-
negócios em Angola não jus-
cedeu anteriormente referen-
tamente migradas para essas
tifica uma rede de retalho. O
ciou os objectivos a curto
agências. Dou-lhe um exemplo:
que pode justificar, e é isso que
prazo do banco BIC portu-
nós quando começámos só tra-
estamos a tentar fazer, é ter
guês, que aliás se vieram a
balhávamos a partir de Lisboa.
acordos com bancos espanhóis
confirmar. Quais são agora os
Quando abrimos no Porto, já lá
de forma a que eles nos vejam
seus projectos a curto prazo?
tínhamos clientes, mas está-
como seu correspondente para
A curto prazo, é desenvolver
vamos a trabalhar com eles
Angola. No fundo, é utilizarmos
o negócio do private banking,
a partir de Lisboa e imediata-
a rede de retalho dos bancos
continuar a expandir o crédito e
mente essas empresas foram
espanhóis para quando eles
o relacionamento com as em-
transferidas para a agência do
tiverem um cliente que queira
presas, e admito que possamos
Porto. O facto de termos aberto
investir em Angola, esse banco
abrir mais algumas agências
agências em vários pontos do
trabalhe connosco para tratar-
no próximo ano. Mas isso tudo
País permitiu melhorar muito
mos do processo de transferên-
vai depender da evolução das
o serviço aos nossos clientes,
cias para Angola. Nesse as-
agências actuais. Só abriremos
porque agora escusam de se
pecto, admito que virarmo-nos
outras se acharmos que estas
deslocar a Lisboa. O serviço
para Espanha será a primeira
já estão saturadas ou que há
entre as agências e os clien-
prioridade. Nos outros países
novos locais que se justifiquem.
tes foi melhorado e está mais
europeus existirão meia dúzia
Essas agências foram abertas
fluido.
de empresas. Mas, se houver
nas cidades onde havia maior
Há empresas noutros países
necessidade dessa expansão,
densidade de empresas com
da Europa com interesse em
será nessa base através de
ligações a Angola. Admito que
Angola. Coloca hipótese de
acordos com os bancos desses
na região de Lisboa possa ser
o seu banco ser uma espécie
países. O banco BIC Angola é
necessária outra agência/centro
de ponte entre outros países
que poderá estender a sua rede
de empresas. Também admito
europeus e Angola?
para a Namíbia e para o Congo
que na região norte do País
Quando foi feito o dossier de
porque são países vizinhos de
possa necessitar de uma nova
candidatura ao Banco de Por-
Angola. Aí, um grande banco
agência/centro de empresas,
tugal, estava previsto abrirmos
comercial que está em Angola
mas essas decisões só serão
escritórios de representação
faz sentido expandir a sua rede
tomadas no próximo ano. Pos-
em várias capitais europeias
de retalho para os países vizi-
so dizer-lhe que estou a fazer
para gerir patrimónios e o
nhos. Como a CGD se expandiu
orçamentos para 2010 e 2011
negócio do private banking de
para Espanha. Mas um peque-
contando com mais duas ou
angolanos. Portanto, não nego
no banco como o nosso não faz
três agências.
que isso é uma hipótese pos-
sentido estabelecer-se noutros
As agências existentes estão
sível de desenvolvimento do
países em termos de retalho.
n
dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 65
Grupos empresariais
1
Cerealis, legado de gerações A 8 de Fevereiro de 1919, José Alves de Amorim e
damental da cultura do Grupo.
Manuel Gonçalves Lage fundavam a Amorim, Lage,
Grupo assente em três sectores: Produtos Ali-
Lda., embrião do que é hoje o Grupo Cerealis. Parti-
mentares, Moagens e Internacional – gerido pela
lhavam uma visão empresarial focada na inovação, na
Cerealis SGPS, S.A., e que tem por base produtos
qualidade e orientada pelas tendências de mercado.
derivados da transformação de cereais, assente em
Nascia assim em Águas Santas, na Maia, um forte
práticas de bem-fazer e de reforço permanente de
grupo industrial e comercial no sector agro-alimentar
competitividade.
que continuou a crescer até aos dias de hoje e no
Desde a sua origem que a Cerealis cresce de forma
qual é líder de mercado. Essa visão empresarial e
sustentada, nos mercados de massas alimentícias,
o espírito vencedor dos fundadores continuaram
farinhas, bolachas, cereais de pequeno-almoço e pro-
enraizados nas gerações que lhes seguiram, sendo
dutos refrigerados.
actualmente, e passados noventa anos, a base fun-
A empresa coloca sempre num patamar superior o
66 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010
➤
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5
1. Vista aerea do Centro Produção da Maia 2. Embalamento Massa 3. Linha Produção Massa 4. e 5. Os fundadores José Alves de Amorim e Manuel Gonçalves Lage
➤
consumidor, e procura responder-lhe às exigências
grande qualidade, os produtos sujeitam-se a um rigoro-
de qualidade, através das suas marcas, disponibili-
so controlo de qualidade, desde a selecção dos melho-
zando produtos de qualidade e óptimo sabor: massas
res fornecedores de matérias-primas ao produto final,
alimentícias, pizzas, refeições preparadas, cereais de
garantindo assim produtos seguros, que acompanham
pequeno-almoço, bolachas e farinhas para uso culiná-
os mais variados estilos de vida e que contribuem para
rio e industrial.
uma vida mais equilibrada.
Desde 1919 que a Cerealis se preocupa em de-
Presente no dia-a-dia de milhões de consumidores,
senvolver produtos inovadores à base de cereais
com cada vez menos tempo para gozar de uma ali-
(especialmente de trigo e centeio), capazes de pro-
mentação saudável, a Cerealis oferece soluções de
porcionar uma alimentação mais saudável aos seus
alimentação, que ajudam a promover o bem-estar de
consumidores.
toda a família, contribuindo para uma dieta completa,
Produzidos apenas com ingredientes seleccionados de
variada e rica em nutrientes.
n
dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 67
Vida diplomática
60º Aniversário da República Popular da China celebrado na Embaixada em Lisboa
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O Embaixador da China em Portugal ofereceu uma recepção para celebrar uma data histórica do seu país, e em que estiveram presentes representativas figuras dos nossos meios diplomáticos e políticos, empresarias, militares e sociais. Melhor do que ninguém, o Embaixador transmitiu aos convidados o significado da cerimónia, no discurso que a seguir citamos: Hoje comemora-se o sexagésimo aniversário da República Popular da China. É com muita alegria e satisfação que celebro com todos os amigos aqui presentes este dia tão especial para a China.
1. A directora da Diplomática ladeada pelo Embaixador e pela Embaixatriz da China
Como é do conhecimento de
2. O corpo diplomático da China recebe os seus convidados civis e militares 3. Em-
todos, após 60 anos de desenvol-
baixador e Embaixatriz da Rússia 4. Embaixador e Embaixatriz da Hungria 5. Albano
vimento e especialmente com a
Freire Nunes, o histórico responsável pelas Relações Internacionais do PCP
aplicação da política de reforma e abertura ao exterior nos últimos
➤
68 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010
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➤
30 anos, a China passou por
mudanças profundas. Registaramse grandes progressos sociais, que tiraram as pessoas da pobre12
za generalizada para um nível de 13
vida modestamente mais confortável. A China de hoje é um país próspero, aberto e dinâmico. As relações entre a China e o resto do Mundo alteraram-se significativamente. Hoje em dia, a China apresenta-se como um país vocacionado para as relações amistosas com todos os países, assim como todos os países se encontram atentos aos acontecimentos
6. Embaixadora da Palestina e Embaixatriz da Tunísia 7. Generais Garcia dos
na China.
Santos e Pinto Ramalho 8. Embaixador Ressano Garcia e sua Mulher 9. Ma-
Recordando as palavras do antigo
dalena Rocha Vieira e Maria de Belém Roseira 10. Embaixadores da Romé-
Presidente Mao Tsetung: “a China
nia, da Ucrânia e da Suíça 11. Embaixadora da República Dominicana e seu
deve dar mais contribuições para
Marido 12. O ex-Ministro da Cultura Pinto Ribeiro e o Embaixador da China
o Mundo...”, podemos continuar a
13. Comandante Malhão Pereira e Maria Cristina Malhão Pereira
afirmar hoje em dia que estas
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60º Aniversário da República Popular da China celebrado na Embaixada em Lisboa
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palavras ainda se encontram
actualizadas, tendo sido reafirmadas pelo meu Presidente Hu Jintao, na Assembleia Geral da ONU, quando disse: “quanto mais se desenvolve a China, mais contribuição dá para o Mundo e mais oportunidades cria para o Mundo”.
20
Apesar da China continuar a ser um país em vias de desenvolvimento, com serenidade e responsabilidade, a China irá continuar a persistir no caminho do desenvolvimento pacífico e a participar activamente na cooperação multilateral internacional, enfrentando todos os desafios comuns e dan-
14. O Embaixador da China profere um discurso em que analisa o papel do
do contribuições para a harmonia
seu país no mundo actual 15. Joe Berardo e Carlos Monjardino 16. Embai-
e prosperidade do Mundo.
xadores da Lituânia 17. Embaixadores da Lituânia 18. Embaixador do Egipto
Este ano é também marcado pelo
19. Pedro Pires Miranda 20. Almeida Santos, o histórico dirigente dos PS e
trigésimo aniversário do estabele-
Miguel Veiga
cimento das relações diplomáticas entre a China e Portugal. Durante
➤
70 • Diplomática - dezembro 2009/Janeiro 2010
21
22
➤
21. Orquestra Sinfónica do Exército 22. Embaixador e Embaixatriz do Luxemburgo
estes 30 anos, apesar das vicis-
meus colegas vamo-nos esforçar
situdes internacionais, o desenvol-
ainda mais e dar o nosso contribu-
vimento do relacionamento bilate-
to para uma ainda melhor coope-
ral tem sido sempre saudável.
ração amistosa entre a China e
A resolução da questão de Ma-
Portugal.
cau, através das negociações
No final deste ano completam-
amistosas da ambas as partes,
-se 10 anos da transferência de
constitui um exemplo para a co-
poderes de Macau para a China.
munidade internacional, na reso-
Durante estes 10 anos, Macau
lução das questões legadas pela
tem sido palco do testemunho de
História entre países de sistemas
uma sociedade estável, de uma
diferentes.
economia em crescimento e de
Em 2005, foi estabelecida a
um convívio harmonioso entre
parceria estratégica global sino-
diferentes culturas, mantendo um
portuguesa. Actualmente, os dois
papel destacado na ligação entre
países mantêm visitas políticas
a China e o mundo lusófono. Só
frequentes e têm intensificado a
há poucos dias foram realiza-
cooperação nas áreas da econo-
das com sucesso as eleições do
mia, cultura, ciência e tecnologia,
Chefe Executivo e da Assembleia
educação e justiça.
Legislativa da RAEM. Acredito
Como Embaixador da China em
que o futuro de Macau será ainda
Portugal, estou satisfeito. Eu e os
melhor".
n
dezembro 2009/Janeiro 2010 - Diplomática • 71
vida diplomática
O novo Embaixador da Coreia do Sul oferece recepção para celebrar Dia Nacional
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O recentemente nomeado Embaixador da Coreia do Sul em Portugal tem 57 anos, é casado e tem dois filhos, e é natural do Sul de Kyung Sang, República da Coreia. Dae-hyun Kang cum-
5
priu a sua formação na Pusan High School (1971) - Seoul National University (Western History, 1976) e, entre 1993-95, na Stanford University (Asia Pacific Research Center / IIS). Começou a sua carreira profissional como funcionário do Ministério do Comércio e dos Negócios Estrangeiros, em 1979. Desempenhou ainda outros cargos de relevo directamente relacionados com o
1. O Embaixador Dae-hyun Kang e a Embaixatriz da Coreia, os anfitriões 2. Embaixadoras da Noruega e da Palestina e Embaixadores do Irão e do Egipto 3. Embaixador e Embaixatriz da Hungria 4. Per Storm e Embaixadores da Turquia e da Noruega 5. Maria de Belém Roseira e Embaixador da Coreia
Governo do seu país, tendo enveredado pela carreira de
➤
72 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
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➤
embaixador no ano transacto ao
assumir o Instituto dos Negócios Estrangeiros e da Segurança Nacional. Em Março deste ano veio para Portugal como Embaixador da República da Coreia. A fim de celebrar a fundação da Coreia, Dae-hyun Kang ofereceu na sua residência oficial uma recepção comemorativa. O 3 de Outubro – “Gaecheonjeol” (Dia em que o Céu se abriu) – é o Dia da Celebração Nacional da Coreia que festeja a fundação do Gojoseon – o primeiro Estado da 6. Embaixadora da República Dominicana e seu Marido e Embaixador de Moçambique
nação coreana. Segundo Sam-
7. António e Carmina Muchaxo 8. Judite Correia e Rui Alves Tavares 9. Embaixadores
gukyusa (História dos Três Rei-
da Eslovénia e da Estónia 10. Recebendo os convidados na Embaixada no Dia da Celebração Nacional da Coreia
nos) Dangun fundou Gojoseon no terceiro dia do décimo mês lunar, 2333 a.C.
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dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 73
vida diplomatica
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1. O Embaixador Attila Gecse e a Embaixatriz Andrea Gecse 2. Embaixadores da Croácia, da Noruega, da Roménia e da Estónia 3. Embaixador do Luxemburgo 4. Embaixador da Argentina 5. Embaixadora da Polónia e José Manuel Teixeira 6. Ministra-Conselheira da Roménia, Diana Radu
Dia Nacional da Hungria Comemora a luta pela independência em 1956 No belíssimo palacete do Alto
como o dia da proclamação da
do, chegando a atingir cerca de
de Santo Amaro, o Embaixador
República da Hungria no ano de
duzentas mil pessoas. Os ma-
da República da Hungria, Dr.
1989.
nifestantes derrubaram a está-
Attila Gecse, e a Embaixatriz
Tudo começou quando, os
tua de Estaline e queriam que
Andrea Gecse ofereceram uma
estudantes da Universidade de
as suas reivindicações fossem
recepção por ocasião da Festa
Budapeste decidiram organizar
divulgadas pela rádio. Assim, o
Nacional do seu país. Na reu-
uma manifestação de apoio à
primeiro encontro armado ocor-
nião foi servido um cocktail se-
Polónia, que aspirava por uma
reu na sede da Rádio Húngara, e
guido de um almoço buffet nos
maior independência da União
o edifício foi ocupado na manhã
salões e jardins da Embaixada.
Soviética. Essa manifestação foi
seguinte pelos revolucionártios.
23 de Outubro é o dia do iní-
o início da revolução de 23 de
Foi eleito um novo primeiro-mi-
cio da revolução e luta pela
Outubro de 1956. No decorrer
nistro, Imre Nagy (um dissidente
independência de 1956, assim
do dia a multidão foi aumentan-
da política da URSS).
74 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
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7. José Manuel Teixeira
11
com os anfitriões 8. Embaixadores da Lituânia e da Bélgica 9. Judite Correia e Anabela Baptista 10. Embaixador de Itália e Núncio Apostólico 11. António Muchaxo e Embaixadora da Índia
As tropas soviéticas estacio-
A 1 de Novembro Imre Nagy
o próprio Imre Nagy. Nos meses
nadas nos arredores de Buda-
anunciou a saída da Hungria do
que se seguiram mais de du-
peste marcharam para a capital,
Pacto de Varsóvia, mas no dia
zentas mil pessoas conseguiram
onde começou a resistência
4 as tropas soviéticas lançaram
fugir do país.
armada. A revolução alastrou
um violento ataque contra a re-
A revolução e luta pela inde-
por todo o país, formaram-se
volução. A enorme superioridade
pendência de 1956 foi o feito
órgãos políticos da rebelião, os
derrubou a resistência armada e
mais importante do povo hún-
comités revolucionários, os con-
foi anunciada a constituição de
garo no século XX. Por esse
selhos operários, reactivaram-
um governo pró-soviético. Após
motivo, a proclamação da Re-
se os partidos desintegrados e
o derrube da revolução e luta
pública em 1989 ocorreu no dia
enfraquecidos após a Segunda
pela independência, as prisões
23 de Outubro, tornando reali-
Guerra Mundial e formaram-se
encheram-se, foram executadas
dade os objectivos formulados
também novos partidos.
centenas de pessoas, entre elas
em 1956.
➤
n
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 75
VIDA DIPLOMÁTICA
Recepção de despedida
3
do Embaixador da Áustria em Lisboa
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1. Os Embaixadores da Áustria recebem os convidados na sua festa de despedida 2. Embaixadora da Polónia, Embaixador do Luxemburgo e António Muchaxo 3. Os anfitriões 4. José Manuel Teixeira com a Embaixadora da Polónia e seu marido, o historiador e jornalista Jan Skórzynski 5. Diplomatas de Timor e da República Democrática do Congo
Depois de três anos e meio como
O Embaixador Ewald Jäger,
representante máximo da Áustria
nasceu em 1944, é casado e tem
em Portugal, o Embaixador Ewald
três filhos. Iniciou a sua activi-
Jäger ofereceu um cocktail de
dade diplomática em 1962 no
despedida na sua residência, na
Ministério Federal dos Negócios
Avenida do Restelo, em Lisboa,
Estrangeiros (MNE), enquan-
em que estiveram presentes
to tirava a sua licenciatura em
elementos do Corpo Diplomático
Direito pela Universidade Viena.
acreditado entre nós e figuras
É nomeado para a Embaixa-
gradas dos nossos meios políti-
das da Áustria em Washington
cos, militares e empresariais.
(1971/1974) e em Kinshasa
76 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
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6. Maribel Rattinger com os Embaixadores do Luxemburgo, Alain de Muyser e Dany Bichler 7. Diana Radu, Ministra Conselheira da Embaixada da Roménia, Embaixador Gabriel Gafita e José Manuel Teixeira 8. Teresa Sturken 9. Ana de Brito e Embaixador da Ucrânia 10. Embaixadores da Hungria, Attila Gecse e Andrea Gecse 11. Embaixador da Eslovénia
➤
(1974/1979). Entre 1979 e 1983
conjunta em Malta (1986/1990).
presta serviço no MNE na Direc-
Volta ao MNE (1990/1994) para
ção para o Médio Oriente, África
a Direcção dos Assuntos Multi-
e Ásia, no âmbito da Dir.-Geral de
laterais Específicos, nas áreas
Assuntos Políticos, sendo poste-
sociais e humanitárias e Adjunto
riormente Director para os Países
do Representante Permanente
Árabes, Israel e Irão. Depois de
nas Nações Unidas em Viena e
uma comissão na Embaixada da
da UNIDO - United Nations Indus-
Áustria em Berna (1983/1986)
trial Development Organization.
é credenciado como Embaixa-
De 1994 a 1997, é Embaixador da
dor em Tripoli, com acreditação
Áustria em Abidjan, com
➤
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 77
Recepção de despedIda do Embaixador da Áustria em Lisboa
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12. Embaixador da França, Denis Delbourg 13. Ladeados pelos Embaixadores, uma sessão de fado na recepção de despedida. 14. Embaixador da Rússia, Pavel Petrovskiy e José Manuel Teixeira 15. Os convidados ouvindo a sessão de fados 16. Conselheiros das Embaixadas do Luxemburgo e da Roménia
acreditação no Burkina-Faso,
Planeamento, Financiamento e
Niger, Togo, Benin, Ghana, Serra
Avaliação dos Programas Cul-
Leoa e Libéria. De 1997 a 2001 é
turais no Estrangeiro e Director-
Embaixador da Áustria em Seul,
-Geral Adjunto para a Política
➤
regressando ao Ministério dos
Cultural.
Negócios Estrangeiros, como
Em Março de 2006 é nomeado
Director para a Coordenação,
Embaixador em Lisboa.
78 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
n
Vida Diplomática
Dia Nacional da Áustria Apresentação do novo Embaixador O novo Embaixador da Áustria Bernhard Wrabetz e a Embaixatriz Joana Daniel Wrabetz receberam na sua residência oficial ilustres convidados por ocasião do Dia Nacional do seu país. Bernhard Wrabetz, de 46 anos, é casado e tem dois filhos. Licenciado em Estudos de História e Francês pela Universidade de Viena, frequentou posteriormente a Academia Diplomática. Em 1990 ingressa no Ministério austríaco dos Negócios Estrangeiros e, em 1995, começa a sua experiência diplomática ao assumir o cargo de Conselheiro na Representação da Áustria junto das Nações Unidas em Nova Iorque. Entre outras posições relevantes ocupadas, antes de se transferir para Lisboa como Embaixador, Wrabetz foi Conselheiro de política externa do Chanceler Federal da Áustria. No discurso da cerimónia do Dia Nacional da Áustria, o Embaixador Bernhard Wrabetz evidenciou a “profunda amizade que une a Áustria e Portugal” e explicou o que significa o seu Dia Nacional: "A 26 de Outubro de 1955 o Parlamento austríaco proclamou a lei da neutralidade perpétua da Áustria e deu assim um dos primeiros e mais marcantes passos para a independência total e a soberania do Estado. A Áustria era então um país devastado pela guerra e pela ditadura, que investiu toda a sua energia na reconstrução e na formação de uma sociedade democrática, livre e social. Dependíamos do auxílio e da solidariedade dos outros países e Portugal foi um desses países, ao acolher centenas de crianças austríacas no âmbito de um programa da Caritas, proporcionando-lhes durante um certo tempo a estabilidade e o bem-estar que não tinham em casa. Aquando da visita do Presidente Cavaco Silva à Áustria em Julho passado, tive a ocasião de conhecer algumas dessas
despeito das diferenças geográficas e históricas,
“crianças”, que entretanto já atingiram uma idade
vemos o mundo com os mesmos olhos.
madura e tiveram outras vivências. Mas passadas
Aquilo que temos em comum é tão forte, que se
décadas o seu amor e a sua gratidão a Portugal e
poderia crer que somos vizinhos. Não digo isto
às famílias que as acolheram permanecem frescos
apenas porque sou casado com uma portuguesa
e fortes.
e porque o aprofundamento das relações entre a
Hoje as relações entre a Áustria e Portugal são
Áustria e Portugal fazem parte dos objectivos das
estreitas e amigáveis; ambos contribuímos para
nossas vidas. Desde a minha chegada a Lisboa
a construção de uma Europa forte, abastada e
tive a oportunidade de falar com os Embaixadores
social; trabalhamos em estreita colaboração em
de outros Estados da Europa Central e todos che-
muitas organizações internacionais; em muitas
gámos à conclusão que existe uma certa afinidade
questões prosseguimos os mesmos objectivos e a
entre nós e os portugueses."
n
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 79
Vida diplomática
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Dia Nacional da Turquia Como habitualmente, as recepções na Embaixada da Turquia em Lisboa são realmente uma festa onde os convidados se sentem em sua casa, graças à simpatia e gentileza do Embaixador Kaya Turkmen e da Embaixatriz Nurden Turkmen. Este ano mais uma vez isso aconteceu na recepção oferecida na Embaixada no Restelo, por oca-
5
sião do Dia Nacional da Turquia,
quia em Portugal recebem os convidados 2. Mário Mosqueira do Amaral e Maria da Luz de Bragança
festejado a 29 de Outubro. As mais distintas figuras dos nossos
3. Os anfitriões e o Embaixador de Itália 4. O Embaixador e a Embaixatriz do Luxembur-
meios políticos, diplomáticos, militares e empresariais estiveram presentes. Parabéns aos representantes em Portugal de um país que tão importante é no actual
1. Os simpatiquíssimos Embaixadores da Tur-
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80 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
go rodeados por individualidades marcantes nas recepções diplomáticas 5. Embaixadores da Hungria e da Palestina
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contexto internacional.
A República da Turquia foi estabelecida em 1923, na sequência do desaparecimento do império otomano e da Guerra de Libertação, travada sob a liderança de Kemal Ataturk contra as forças invasoras e o governo do Sultão. A Turquia já tinha iniciado o 6. Margarida Ruas e Manuel Carmo
12
processo de ocidentalização das
7. Benedita Lucena e José Manuel Teixeira
suas estruturas sociais, políticas e
8. A Directora da Diplomática ladeada pelas
económicas no século XIX. Com a
embaixatrizes da Argélia e da Tunísia 9. Maria José Galvão de Sousa, Miguel Polignac de Barros, Paula Rocha e Piedade Polignac de Barros
proclamação da República, a Europa foi o modelo escolhido para a nova estrutura a adoptar. Pre-
10. Maria Carlota Mendes
sidente durante 15 anos, Ataturk,
11. Braga de Macedo, Anabela Batista, Judite
até à sua morte em 1938, introdu-
Correia e Tenente-Coronel Alvelos 12. António Muchaxo e Carlos Monjardino
ziu diversas reformas nas esferas culturais, políticas, sociais,
➤
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 81
Dia Nacional da Turquia
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➤
legais e económicas. Nos anos
20 percebeu que o futuro da Tur-
20
21
quia estava na modernidade, influência e prosperidade da Europa. Uma visão estratégica que continua, hoje, mais válida do que nunca. Desde então, a Turquia sempre se alinhou próximo do Ocidente, tornando-se um dos membros fundadores das Nações Unidas, membro da NATO, do Conselho da Europa, da OCDE e membro
13. Embaixadores da Turquia e Maria da Luz de Bragança 14. Maria José Galvão de Sousa e Humberto Leal
associado da União Europeia
15. António Paes Alvim e Ana de Brito
Ocidental. Durante a Guerra Fria,
16. Ministra-Conselheira e Embaixador da Roménia
a Turquia fez parte da Aliança do
17. Embaixadora da República Dominicana e seu marido
Ocidente, defendendo a liberdade,
18. Maria do Carmo Castelo Branco e Manuela Morales
a democracia e os direitos humanos. Assim, a Turquia desempe-
19. Mateus Camacho, Jacques Bretagnole e o Casal Alain Maniable 20. Cristina e José Manuel Malhão Pereira com o Embaixador da Argentina 21. Paula e Rui Rocha
nhou, e continua a desempenhar, um importante papel na defesa do continente europeu.
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82 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
História & Cultura
Guerra Peninsular em Portugal Vitórias e Glórias
1
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2
4
A convite do Congresso de Histó-
artista foram muito apreciados e o
1. Vasco Bobone e Sara Brandão
ria Militar, por ocasião das co-
cocktail da inauguração foi magni-
2. Alberto Calheiros, Paula Bobone e
memorações do Bicentenário da
ficamente bem servido, contando
Paulo e Mariko Vieira 3. Manuel Dacosta e Maura Marvão
Guerra Peninsular, Vasco d'Orey
com a presença da Direcção do
Bobone editou um livro de agua-
Hotel que acolheu esta iniciativa
Miguel Medina, Maria Clara Go-
relas e inaugurou uma exposição,
cultural.
mes e Carlos Magalhães
dentro do tema.
Vasco d'Orey Bobone, também
O evento foi muito concorrido pe-
autor do texto do livro agora à
los congressistas e pela sociedade
venda fez dias depois exposição
do Porto e teve lugar na magní-
dos trabalhos e lançamento do livro
fica sala de Exposições do Hotel
no Palácio da Independência, em
Infante de Sagres do Grupo Quinta
Lisboa, "Temas Portugueses" é o
das Lágrimas. Os trabalhos do
título do conjunto de aguarelas
84 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤
4. João Lourenço, Micaela Oliveira,
5
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5. Paula e Vasco Bobone e Sofia Mello e Castro 6. Hélder Fráguas, Alice Mateus e José Fortes da Gama 7. Vasco Bobone, Viscondes da Gandarinha e Conde Albuquerque 8. Sérgio Moreno, Filipe Loulé e Lourenço Correia de Matos
➤
que ilustraram o seu livro agora
lançado. Esta iniciativa teve lugar a convite do General Alexandre de Sousa Pinto, Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar, que teve este ano a seu cargo as comemorações dos 200 anos das vitórias portuguesas sobre as tropas Napoleónicas. O cocktail foi um sucesso tendo sido organizado pelo Espaço Arte Livre.
n
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 85
Alfarrábio
A Diplomacia Pura José Calvet de Magalhães
Para a apresentação desta obra tão ne-
sou-se desde sempre pela diplomacia, o
cessária a quantos se interessam pelos
que o levou ao lugar de adido no Ministério
assuntos diplomáticos, devemos citar o
dos Negócios Estrangeiros em 1941. Foi
depoimento de Álvaro de Vasconcelos,
depois cônsul em Nove Iorque, Boston e
director do Instituto de Estudos Estraté-
Cantão. Em 1951 assumiu o secretariado
gicos e Internacionais. Segundo ele, “a
da Embaixada de Portugal em Paris. Já na
vasta obra diplomática historiográfica de
década de 60 foi designado representante
José Calvet de Magalhães estava até aqui
junto da Comunidade Económica Euro-
dispersa por várias editoras, com diversos
peia. Mais tarde desempenhou funções
volumes já esgotados ou fora do mercado.
de embaixador junto da Santa Sé, onde
A publicação agora das suas Obras vem
presidiu às negociações para a Revisão
permitir o acesso fácil a um autor que, com
da Concordata, em 1975. O seu regresso
o mesmo rigor e espírito liberal e humanis-
à vida académica deu-se em 1995, como
ta, ensina a arte da diplomacia, analisa os
professor da Universidade Autónoma de
caminhos da aventura europeia e nos fala
Lisboa, e em 2000, como professor da
da “vida real” de Eça de Queiroz, Antero ou
Universidade Nova de Lisboa. Para além
Almeida Garrett. As Obras de José Calvet
de diplomata foi um profícuo escritor, com
de Magalhães, cobrindo todos os domínios
variadíssimos títulos publicados, nas mais
essenciais da nossa acção externa, são de
diversas áreas. Para além desta obra – “A
leitura obrigatória para entender Portugal
Diplomacia Pura” – destacam-se: “Manual
no Mundo”.
Diplomático”, “Garrett: A Vida Ardente de
José Calvet de Magalhães nasceu em Lis-
um Romântico”, “Antero: A Vida Angustiada
boa em 1915 e licenciou-se em Direito pela
de um Poeta”, “Eça de Queiroz – A Vida
Universidade de Lisboa em 1940. Interes-
Privada”, “Alexandre III Reconhece o Reino ➤
86 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
➤ de
Portugal”, “Portugal, Paradoxo Atlânti-
temporânea, passando pela Grécia, Roma,
co: Diagnóstico das Relações Luso-Ameri-
Idade Média e Moderna. Outros capítulos
canas”, “Diplomacia Doce e Amarga”...
de especial interesse, tais como: Diploma-
Este estudo de ciência política – “A Diplo-
cia antiga e moderna, Diplomacia secreta
macia Pura” – foi publicado pela primeira
e aberta, Diplomacia bilateral e multilate-
vez em 1982 e em 1988 foi editado nos
ral, Diplomacia e advocacia, Diplomacia e
Estados Unidos uma versão em língua
negócio.
inglesa, com o título “The Pure Concept of
Ou ainda: Diplomacia paralela, Diplomacia
Diplomacy”. Sobre esta obra, escreveu na
de combate, Espionagem e contra-espiona-
altura um elucidativo apontamento crítico
gem.
o embaixador George Kennan, director da
Sobre a obra e vida do Embaixador José
School of Historical Studies do Institute for
Calvet de Magalhães, achamos oportuno
Advanced Study, da Universidade de Prin-
recordar a colectânea de homenagem a
ceton, de New Jersey. Para o leitor comum
esta tão ilustre figura da Diplomacia, edita-
da nossa revista Diplomática, esclarecemos
da pela Principia e coordenada por Álvaro
que George Kennan é considerado o mais
de Vasconcelos, sob o título “José Calvet
notável diplomata e formulador de política
de Magalhães – Humanismo Tranquilo”.
externa dos Estados Unidos do século XX.
Inclui textos de José Silva Lopes (A EFTA
Ora vejamos o que diz George Kennan,
e o Progresso da Economia Portuguesa –
em carta dirigida ao autor: “Tive ocasião
1960-1973), Nicolau Andersen Leitão (Por-
de examinar a edição inglesa do seu livro
tugal e a Fundação da EFTA – 1956-1960),
sobre “The Pure Concept of Diplomacy”;
Luís Figueira (Portugal e os Movimentos
e escrevo-lhe para lhe transmitir a admi-
de Cooperação e Integração Económica na
ração e o entusiasmo que sinto pelo livro
Europa), José Gregório Faria (As Rela-
depois desta primeira leitura. Espero que
ções de Portugal com os Estados Unidos
ele venha a ser leitura básica e obrigatória
da América), Celso Lafer (O Interno como
em todas as instituições americanas em
Externo nas Relações Luso-Brasileiras),
que a natureza, os usos e as modalidades
Gonçalo Santa Clara Gomes (A Diplomacia
da diplomacia são matérias de ensino. Têm
Pura), Guilherme d’Oliveira Martins (A Arte
surgido, como bem sabe, muitos poucos
do Biógrafo), Fernando de Castro Brandão
livros sobre este assunto, e os que existem
(Embaixador Calvet de Magalhaes: Um
são hoje pouco conhecidos. É particular-
Perfil), Gerald Salles Lane (O Embaixador
mente importante que um livro como o seu
Literário) , Álvaro de Vasconcelos (Uma
tenha surgido precisamente neste momen-
Diplomacia de Valores), além de um texto
to; porque um certo número de desenvolvi-
do próprio homenageado (O Euro-Atlantis-
mentos recentes, especialmente a enorme
mo Revisitado) e de um poema – “A Man’s
aceleração das comunicações electrónicas
Life” – da sua neta Lisa Marie, americana
e o hábito de viagens pessoais dos minis-
luso-descendente, como sua avó Linda,
tros de Negócios Esrangeiros e chefes de
saudosa e espirituosa companheira de uma
Estado, têm levado a obscurecer e, em
longa caminhada.
n
certos casos, a levar o público a duvidar dos valores das tradicionais instituições da diplomacia – um valor que, na minha opinião, não está diminuído (embora possa de certo modo mudado) por estas inovações”. Entre os assuntos tratados nesta Obra fundamental, editada pela Bizâncio, destacamos a “Evolução histórica da diplomacia” em que o autor explaneia a evolução das relações entre povos desde a Pré-História e Antiguidade Oriental, até à Época Con-
dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 87
Estante diplomatica
História da Europa de Leste da Segunda Guerra Mundial aos Nossos Dias"
A Teorema editou uma obra indispensável para a composição do novo espaço político europeu, depois da Queda do Muro de Berlim. Trata-se da “História da Europa de Leste – da Segunda Guerra Mundial aos Nossos Dias”, de Jean-François Soulet. Um livro que abarca num só olhar os países dessa “outra metade” da Europa situada a Leste, muito tempo esquecida pelo Ocidente, e cuja história tem sido fraccionada e dividida em compartimentos estanques em função da geopolítica estalinista (Estados Bálticos incluídos na URSS, democracias populares da Europa Central, países comunistas excluídos da órbita soviética...). Esta abordagem comparativa permite caracterizar com especial clareza as linhas directivas da História contemporânea dessa Europa do Leste. Situados como marcas fronteiras entre o Oriente e o Ocidente, os países que a compõem foram disputados entre as grandes potências da época, passaram maciçamente (muitas vezes pela força) ao comunismo, depois de terem sofri-
em 1968, tenham impelido durante semanas esses pa-
do as consequências terríveis dos regimes fascistas e,
íses para as primeiras páginas da imprensa ocidental,
finalmente, conseguiram libertar-se do jugo totalitário.
do mesmo modo como nos primeiros anos da década
Esta obra mostra que a ruptura do Muro de Berlim, que
de 1980 aconteceria na caso da criação do sindicato
marcou a “dessatelização” das “democracias popula-
“Solidariedade” na Polónia. Também depois do “cis-
res” em 1989 e, pouco depois, a implosão da URSS em
ma” titista, muitos turistas do lado de cá da Cortina de
1991, constituíram uma revolução nas relações entre
Ferro começaram a visitar a Jugoslávia, o primeiro país
as duas partes da Europa: o Leste e o Ocidente.
comunista que se abriu para o Ocidente. Mas tudo isso
Entre os temas tratados nesta obra destacamos: Esta-
foram casos singulares: a opinião pública da Europa
line recupera as fronteiras ocidentais do Império Russo
Ocidental (os portugueses mais politizados seguiam a
(1939-1940); a conquista do poder pelos comunistas na
imprensa de França ou de Inglaterra) parecia indiferen-
Albânia e na Jugoslávia (1941-1945); a grande conquis-
te aos destinos desses estados-tampões entre o Leste
ta (1944-1948); a sovietização sob Estaline; as revoltas
e o Oeste, abandonados à URSS no fim da Segunda
e dissidências (Polónia e Hungria em 1956, a Primave-
Grande Guerra. Esse desinteresse era, no entanto,
ra de Praga...); os recuos estratégicos do poder comu-
desigual em intensidade, conforme os países: mais ou
nista e a opção liberal (Titismo e autogestão, o Kadaris-
menos total a respeito da Albânia e da Bulgária, mas
mo e a experiência de Gierek na Polónia); a derrocada
menor acerca da Polónia e da Checoslováquia. E três
do comunismo e a marcha para a União Europeia.
outros países, igualmente englobados na designação
Justificando o interesse deste livro, diremos que
anónima de “países bálticos”, estavam, no espírito da
identificados durante muito tempo sob a designação
tal opinião pública europeia, integrados para sempre
colectiva, anónima e um tanto ou quanto irónica de
na imensa e poderosa União Soviética e já não lhes
“democracias populares”, oito países (Albânia, Bul-
mereciam qualquer atenção – menos ainda que as
gária, Checoslováquia, Hungria, Jugoslávia, Polónia,
“exóticas” repúblicas soviéticas do Kazaquistão ou do
República Democrática Alemã e Roménia) estiveram
Uzbequistão.
ausentes do horizonte dos países da Europa Ocidental
A verdade é que a integração da maioria destes países
ao longo de mais de quarenta anos, ainda que certos
na União Europeia modificou a opinião dos outros esta-
dolorosos ou espectaculares acontecimentos como a
dos ocidentais. Enfim, uma obra fundamental de leitura
revolta de 1956 na Hungria ou a “Primavera de Praga”
obrigatória para os nossos leitores.
88 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
n
Valores
Sociedade Histórica da Independência de Portugal Lançamento do 1º volume da trilogia Espiões nas Descobertas, de Cristina Malhão Pereira
1. Dois símbolos da tradição histórica portuguesa 2. A autora ladeada por Jorge Rangel
Maria Cristina Malhão Pereira
público neste tão digno ambiente,
incentivar a nossa juventude a não
lançou o 1º volume da trilogia “Es-
situado, além do mais, no coração
ter vergonha da sua História e a
piões nas Descobertas” no histó-
de Lisboa. Agradeço a sua hospi-
começar a interessar-se mais pelo
rico Palácio da Independência em
talidade e disponibilidade e acen-
nosso passado, para que o seu
Lisboa, sede da Sociedade Históri-
tuo que o tema deste meu escrito
conhecimento a possa consciente-
ca da Independência de Portugal.
muito se adequa aos princípios
mente preparar para o futuro.
Presentes importantes figuras da
que norteiam esta casa, tendo eu
De facto, numa época em que
sociedade portuguesa e do corpo
contudo pena que os meus fracos
todos os valores se põem em cau-
diplomático, de que destacamos
talentos não tenham produzido um
sa, em que a cultura dominante é
a Primeira Dama, Maria Cavaco
trabalho que esteja à altura desta
importada sem qualquer filtragem,
Silva; Embaixadores da Argentina
Instituição.
filtragem essa que deveria ser feita
e de Moçambique; Isabel Silveira
Agradeço à minha Amiga Bli
por famílias devidamente estrutu-
Godinho, conservadora do Palácio
(Isabel Silveira Godinho) as pala-
radas e por escolas de qualidade,
da Ajuda, que foi uma das orado-
vras carinhosas e muito cheias de
a existência de trabalhos do géne-
ras da cerimónia; Jorge Rangel,
humor que me dirigiu e sinto que
ro deste que me atrevi a executar,
Presidente da Sociedade Histórica;
na sua apreciação há uma grande
poderão ser úteis.
e muitas outras individualidades
dose de benevolência, aliás com-
Como já verificaram, tenho tam-
convidadas para o evento. Mas
preensível, dada a nossa já muito
bém cinco netos lindos, aos quais
melhor do que qualquer outro co-
antiga camaradagem náutica.
gostaria de deixar algo mais que
mentário do que ocorreu na ceri-
Prometo, uma vez que este livro é
uma fotografia. Gostaria que nunca
mónia, são as palavras da própria
o primeiro de uma trilogia, que nos
pudessem esquecer a Avó, que
autora de que a seguir publicamos
próximos me irei esforçar mais,
com os seus muitos defeitos e
alguns extractos.
para conseguir que este seu julga-
imensos ralhos e exigências, ten-
"As minhas primeiras palavras
mento fique quase correcto.
tou pelo menos deixar-lhes algo de
são de agradecimento ao meu
A razão porque escrevi este livro,
perene. E um livro é eterno e, se
anfitrião, o Dr. Jorge Rangel, que
está em grande parte relacionada
o seu conteúdo for bom, além de
permitiu que este livro saísse a
com a necessidade que sinto em
eterno é permanentemente útil.
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dezembro 2009/janeiro 2010 - Diplomática • 89
Sociedade Histórica da Independência de Portugal
3
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5
3. O salão nobre da Sociedade Histórica da Independência de Portugal encheu-se literalmente na cerimónia do lançamento da obra de Cristina Malhão Pereira 4. A autora e o Embaixador da Argentina 5. Maria José Varela e Ponces de Carvalho 6.António Paes Alvim, Margarida Lacerda, Maria Cristina Malhão Pereira e Ana de Brito
Por isso, pensei que lhes poderia
a uma jovem de cerca de 13 anos,
Mas todos vós perguntareis porque
mostrar e à juventude em geral, o
enquanto o Professor Cavaco
passei a escrever livros de histó-
que os seus concidadãos andaram
Silva presidia e discursava durante
rias ou com história, uma vez que
a fazer pelo Mundo, há alguns
as comemorações das Linhas de
os meus trabalhos passados eram
séculos atrás, contando-lhes umas
Torres e das Invasões Francesas.
do tipo diarístico.
histórias de modo ligeiro e aces-
Mas não ficámos por aí, porque
A razão é muito simples e explica-
sível, contribuindo até certo ponto
logo outro jovem corrigiu, afirman-
se em poucas palavras. Eu sou
para elevar o nível cultural dos
do que se comemorava o 25 de
uma viajante compulsiva, e de-
herdeiros desses heróicos visioná-
Abril!
nunciei esta minha característica
rios.
Espero ainda que os jovens que
nos dois livros anteriores. E essas
E tudo isto para que quando lhes
leiam este livro, pelo menos não
viagens e estadias prolongadas
perguntarem, por exemplo, o que o
confundam o Vasco da Gama com
em África, na Índia, na América,
Presidente da República estava no
o estilista Nuno Gama ou Duarte
na China, na Malásia ou noutros
dia 11 de Novembro a comemorar
Pacheco Pereira, o Aquiles Lu-
locais semelhantes, mostraram-me
em Torres Vedras, não digam que
sitano, com o Cristiano Ronaldo,
o quanto de nosso está fora deste
era o São Martinho. Foi esta res-
uma vez que este também tem um
rectângulo da Europa.
posta que eu vi e ouvi na televisão
calcanhar sensível!
Houve algo que me impressionou
➤
90 • Diplomática - dezembro 2009/janeiro 2010
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7. O Presidente da Sociedade Histórica num elogio à autora de “Espiões nas Descobertas”, lendo a seu lado Isabel Silveira Godinho e o editor da obra, Carlos Serra 8. Embaixador e Embaixatriz de Moçambique com Cristina Malhão Pereira 9. Maria Carlota Machado Mendes e a autora 10. Comandante Malhão Pereira e Maria Cavaco Silva 11. José Manuel Garcia 12. Vasconcelos Gonçalves 12. Ana Maria Mascarenhas Gaivão ➤
muito em 1973, há mais de 35
ro), se fica plenamente convencido
sou historiadora, pelo que me ba-
anos. Refiro-me à Ilha de Moçam-
da nossa real grandeza.
seei essencialmente na monumen-
bique, quando caminhei pelas suas
Verifiquei também, ao aprofundar
tal obra do Comandante Saturnino
espessas e altas muralhas, leva-
um pouco mais a nossa História,
Monteiro, e nos imensos livros do
das pedra a pedra nos porões das
que esta Nação tão antiga e de
Professor José Manuel Garcia. A
nossas descobertas. Nunca mais
tão reduzida população, liderou a
estes meus amigos Historiadores
esquecerei a emoção que senti na
expansão europeia, sendo apenas
e também a muitos outros a quem
altura.
seguida cerca de um século depois
individualmente agradeço no livro,
E tudo isto me fez cada vez mais
pela Holanda, França e Inglaterra.
a minha mais profunda gratidão.
interessar pela nossa História,
Bem, todos sabemos que “nues-
Uma palavra muito especial ao Co-
admirando as inequívocas qualida-
tros hermanos, también descubrie-
mandante Serra Brandão, que me
des de adaptação do Povo Portu-
ron muchísimo”. Contudo, nesta
deu a honra de prefaciar mais este
guês a todos os climas e gentes.
casa nem ouso falar neles… Estas
livro e que desde o início sempre
Estou certa que só vendo e expe-
janelas são muito altas!
acreditou em mim.
rimentando nos locais por onde
Tudo isto fez atrever-me a escre-
Agradeço também à editora e
andámos e noutros (possivelmente
ver sobre a nossa tão rica História,
Carlos Serra, bem coadjuvado pelo
estaremos a falar do mundo intei-
mas como todos vós sabeis não
infatigável Coronel Durão."
n
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English & French texts
8. Kadhafi celebrates 40 years in power Libya celebrates the 40 years of Muammar Kadhafi in power. Diplomática participated in the celebration of this important date, publishing a dossier which, in addition to providing information on the 40th anniversary of the Libyan Revolution, includes leader Kadhafi’s speech at the UNO where the United Nations’ forms of operating were rightly criticised and pertinent proposals were made with the purpose of promoting the reorganisation of what should be the “Parliament of the World”. The relationship between Libya and Portugal, especially throughout recent years, is part of this article in which official and business visits at the highest level between the two countries are highlighted. The reception organised in Lisbon by Ambassador Ali Embored complements this dossier.
n
8. Les 40 ans de Kadhafi au pouvoir La Lybie commémore les 40 ans de pouvoir de Mouammar Kadhafi. Diplomatique a résolu de s’associer aux célébrations de cette importante date en publiant un dossier qui comprend, non seulement un récit des commémorations du 40ème anniversaire de la Révolution Libyenne, mais aussi le discours du leader Kadhafi à l’ONU dans lequel il fait de justes critiques au fonctionnement des Nations Unies et avance des propositions pertinentes en vue de réorienter ce que devrait être le “Parlement du Monde”. Les relations de la Lybie avec le Portugal, surtout ces dernières années, font partie de ce document; les visites officielles et d’affaires et au plus haut niveau entre les deux pays y sont mises en évidence. La réception offerte à Lisbonne par l’ambassadeur Ali Embored complète ce dossier.
n
24. “War and reconciliation” - Katarzyna Skórzynska The Ambassadress of Poland, Katarzyna Skórzynska, briefly describes the horrendous period of the Second World War in Poland up to the moment of slow reconciliation with the chief countries involved – Germany and Soviet Union. Many lives were lost. “In 1939, at the beginning of the war, I imagined all the cruelty and brutality which would follow, like: the extermination of the Jews, of the poles and of victims of other nationalities in the Nazi concentration camps, the near total destruction of Warsaw, mass deportations of the polish population to the inner Soviet Union where many would come to pass away...” Katarzyna Skórzynska explains that the “poles understand that it is very important to be a part of a common safety organisation, such as the Atlantic Alliance, and of an organisation that brings political and economic stability, such as the European Union”.
n
24. «La guerre et la réconciliation» - Katarzyna Skórzynska L’ambassadrice de la Pologne, Katarzyna Skórzynska fait une brève description sur comment se sont déroulés les temps affreux de la Deuxième Guerre Mondiale en Pologne jusqu’à la lente réconciliation avec les principales nations impliquées – l’Allemagne et l’Union Soviétique. Beaucoup de personnes y ont perdu la vie. « En 1939, au début de la guerre, personne, ni en Pologne ni dans le monde, pouvait imaginer toutes les cruautés et les brutalités qui arriveraient par la suite, comme par exemple : l’extermination des juifs, des polonais et des victimes d’autres nationalités dans les camps de concentration nazis, la destruction quasi-totale de Varsovie, les déportations en masse de la population polonaise vers l’intérieur de l’Union Soviétique où beaucoup moururent… ». Katarzyna Skórzynska réfère que « les polonais comprennent qu’il est très important de faire partie d’une organisation de sécurité commune, comme c’est le cas de l’Alliance Atlantique, et d’une organisation qui apporte stabilité et économie comme l’Union Européenne ».
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30. Interview with Alexander Ellis – Ambassador of the United Kingdom in Portugal Alexander Wykeham Ellis is the Ambassador of the United Kingdom in Lisbon since 2007, an office held since the time he renounced to his service commission as secretary of the President of the European Commission, José Manuel Durão Barroso. The ties with our country are not only of a diplomatic nature. Alexander’s wife is
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Portuguese and they have two children. At the age of 42, Alexander has a resume which is abundant is
relevant offices and positions held throughout the years, always related to his Government. In the interview which he gratefully accepted to give to Diplomática, Alexander Ellis expressed his admiration of the Portuguese and did not hold out on commenting subjects such as the Lisbon Treaty and the bilateral relations between the two countries.
n
30. Interview d’Alexander Ellis – Ambassadeur du Royaume-Uni au Portugal Alexander Wykeham Ellis est l’ambassadeur du Royaume-Uni à Lisbonne depuis 2007, année de son abdication de la commission de service comme assesseur du Président da la Commission Européenne, José Manuel Durão Barroso. Les liens avec le Portugal vont au-delà de la diplomatie. Alexander est marié avec une portugaise et ils ont un enfant. A 42 ans il présente un curriculum rempli de postes significatifs, toujours en rapport avec son gouvernement. Dans l’interview accordée à Diplomática, Alexander Ellis a fait l’éloge du peuple portugais et ne s’est pas empêché de commenter des thèmes comme le Traité de Lisbonne et les relations bilatérales entre les deux pays.
n
34. Gabriel Gafita – Ambassador of Romania in Portugal November 2009 marks the four years during which the Romanian Ambassador held office in Lisbon and whose tenure has reached its end. Gabriel Gafita was born in the capital of Romania, Bucharest, 57 years ago. Gabriel Gafita completed his academic training and graduated in Foreign Languages (English and French) by the University of Bucharest. In 1975, starts working in the area of journalism as a freelancer. During 13 years, Gabriel Gafita also worked as the editor of the periodical Kriterion of the House for National Minorities in Romania. At a more individual level, Gabriel Gafita published a collection of short stories. Ambassador Gafita assumed official duties in the government of Romania at the beginning of the 90s as a specialist in issues concerning national minorities. In 1991, Gabriel Gafita enters the Ministry of Foreign Affairs. Besides various relevant positions, Gabriel Gafita began his career as an Ambassador in Canada (1998). The Ambassador looked back over these last years in our country and spoke to Diplomática about the economic and commercial relationships between the two States. As a form of saying farewell to their mission in Portugal, the Ambassador of the Romanian Republic and Mrs Gabriel Gafita held a cocktail at their residence which counted on the presence of accredited members of the Diplomatic Body and several other Romanian citizens residing in Portugal.
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34. Gabriel Gafita – Ambassadeur de la Roumanie au Portugal Novembre 2009 signale les quatre années de présence de l’ambassadeur roumain à Lisbonne qui maintenant cesse ses fonctions. Gabriel Gafita est né dans la capitale roumaine, Bucarest, il y a 57 ans. Il suivit ses études et se diplôma en Langues étrangères (anglais et français) à l’Université de Bucarest. En 1975 il se décida pour le journalisme à son propre compte. Il fut aussi, pendant treize ans, éditeur de la publication Kriterion de la Maison des Minorités Nationales de la Roumanie. D’un point de vue plus individuel, il publia une collection de courtes histoires. L’ambassadeur Gafita a exercé des fonctions pour le gouvernement roumain au début des années 90 comme spécialiste des questions des minorités nationales. En 1991 il entra au Ministère des Affaires Etrangères. Parmi d’autres postes de relief, il débuta sa carrière comme ambassadeur au Canada (1998). A la revue Diplomática, l’ambassadeur a fait un bilan de ces années passées au Portugal et nous a parlé des relations économiques et commerciales entre les deux états. Pour clore leur mission au Portugal, l’ambassadeur de la République de la Roumanie et son épouse Mme Gabriel Gafita ont offert dans leur résidence un cocktail où ne manquèrent pas des membres du Corps diplomatique accrédité au Portugal et beaucoup de citoyens roumains qui y résident.
n ➤
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English & French texts
40. Bokova is the first woman to be elected as head of UNESCO The election was greatly disputed. Only during the fifth and last round of votes was the new GeneralDirector of UNESCO elected. Irina Bokova is the first woman to hold this position. The previous Bulgarian Minister of Foreign Affairs, who had obtained the same number of votes as Farouk Hosny during the fourth round, 29 each, ended up winning the Egyptian Minister of Culture by 31 votes against 27. Ivan Petrov, Ambassador of the Republic of Bulgaria in Portugal, points out two distinguishing features which justify the election of this diplomat: “her personal and professional skills which are characteristic to her and the intense activity of the Bulgarian State in favour of her election”.
n
40. Bokova est la première femme à prendre la tête de l’UNESCO L’élection fut fort disputée. Il a fallu patienter jusqu’à la cinquième et dernière ronde des votes pour aboutir au nom du nouveau Directeur-général del’ UNESCO. Irina Bokova devient la première femme à assumer cette fonction. L’ancienne ministre des Affaires Etrangères de la Bulgarie qui, à la quatrième ronde avait obtenu le même nombre de votes que Farouk Hosny, 29 chacun, a fini par avoir le dessus sur le ministre de la culture de l’Egypte lors de la dernière journée avec 31 votes contre 27. Ivan Petrov, ambassadeur de la République de la Bulgarie au Portugal, avance deux aspects fondamentaux qui ont mené au succès de l’élection de cette diplomate : « Les qualités personnelles et professionnelles qui lui sont caractéristiques et l’intense activité de l’état bulgare en faveur de sa candidature ».
n
44. Interview with Natália Carrascalão – Ambassadress of East Timor in Portugal Natália Carrascalão, daughter of a Timorese mother and Portuguese father who was born in the Algarve and deported to East Timor by the New State regime, is 56 years old and proud of her roots and Portuguese descendent and Timorese background always present in her life. Born in the mountains of Liquiçá – Fazenda Algarve – the new representative of the Timorese State graduated with a Degree in Law from the University of Macau, was an assiduous sportswoman, international basketball player and passionate for radical and motor sports. Natália Carrascalão has a son, enjoys reading, art and photography and enhances the importance of cultural in general. In the interview to Diplomática, the Ambassadress speaks about her professional endeavour and explains the reason which led her to accept the diplomatic destinations of the Timorese Embassy in Lisbon: “to consistently strengthen the bonds of friendship between East-Timor and Portugal, and upholding the higher national interests of the Democratic Republic of East-Timor”.
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44. Interview de Natália Carrascalão – Ambassadrice de Timor Oriental au Portugal Natália Carrascalão, dont la mère est timoraise et le père portugais de la région de l’Algarve déporté à Timor par le régime salazarien appelé Etat Nouveau, a 56 ans et se sent orgueilleuse de ses racines et de sa formation luso-timoraise qui ont depuis toujours marqué sa vie. Née dans les montagnes de Liquiçá – dans la Fazenda Algarve – la nouvelle représentante de l’Etat timorais a fréquenté un cours de droit à l’Université d’Asie Orientale à Macao, fut une sportive assidue, internationale de basket et passionnée de sports motorisés et extrêmes. Elle a un enfant, apprécie beaucoup la lecture et l’art de la photographie et attache beaucoup d’importance à la culture générale. A Diplomática, l’ambassadrice parle de son parcours et explique la raison pour laquelle elle accepta les destins diplomatiques de l’ambassade timoraise à Lisbonne : « renforcer, toujours plus, les liens d’amitié entre Timor Oriental et le Portugal, et aussi défendre et promouvoir les intérêts supérieurs nationaux de la République Démocratique de Timor Oriental».
n
52. Imamat Ismaili opens Diplomatic mission in Lisbon The Aga Khan Development Network organised a reception in honour of the 52nd anniversary of the ascension of His Royal Highness Aga Khan to the Imamat Ismaili, in Lisbon, in that which is the first Diplomatic mission of the Imamat Ismaili in Europe and the second in the Western World.
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This organization is a non-profit, private, international organization; present in more than 30 countries,
operates in favour of the improvement of human quality of life, with no distinction of gender, race, religion or cultures, operating towards the eradication of poverty, the promotion of education, culture, pluralism and economic development.
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52. Imamat Ismaili ouvre une représentation diplomatique à Lisbonne Le réseau Aga Khan pour le développement a réalisé une réception pour commémorer le 52ème anniversaire de l’accession de Son Altesse Aga Khan à l’Imamat Ismaili, à Lisbonne, dans ce qui est la première représentation diplomatique de l’Imamat Ismaili en Europe et la deuxième dans le monde occidental. Ce réseau est une organisation non confessionnelle, privée, internationale, présente dans plus de 30 pays, qui opère en bénéfice de l’amélioration de la qualité de vie humaine, indépendamment du genre, ethnie, religion ou cultures dans des domaines comme l’éradication de la pauvreté, l’éducation, la culture, le pluralisme et le développement économique.
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54. Fernando Faria de Oliveira – President of Caixa Geral de Depósitos The current President of Caixa Geral de Depósitos graduated in Mechanical Engineering. However his career has always been related to Economy and Management. Fernando Faria de Oliveira speaks to us about the changes the institution has undergone since he occupied the position of president and the measures taken to overcome “this period of significant problems and difficulties of liquidity at a global level”. Holding the 34th position in the ranking of the most solid and safest banks in the World, Caixa Geral de Depósitos has guaranteed the financing of the economy, contributing towards the stability and solidity of the Portuguese financial system and incrementing this activity within the sphere of SMEs. The activities of CGD at an international level – Brazil, Angola and Mozambique – are also discussed by the President of the state bank.
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54. Fernando Faria de Oliveira – Président de la banque Caixa Geral de Depósitos L’actuel président de Caixa Geral de Depósitos s’est diplômé en Ingénierie Mécanique mais sa carrière est liée à l’économie et à la gestion. Fernando Faria de Oliveira nous parle des modifications que l’institution a subies depuis qu’il la préside et des mesures prises pour franchir « la période de grand problème de liquidité au niveau mondial ». Considérée la 34ème banque la plus sûre au monde, Caixa accomplit les objectifs fondamentaux définis par le gouvernement assurant le financement de l’économie, contribuant à la stabilité et solidité du système financier portugais et accroissant l’activité auprès des PME. L’activité de CGD au niveau international – Brésil, Angola, Mozambique – est aussi éclaircie par le président de la banque d’Eat.
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62. Mira Amaral – President of BIC Bank After an interview to Diplomática at the time of the magazine’s second edition, the leader of BIC Bank in Portugal gives us a perspective of the banking business and talks about the consolidation of BIC Bank in Portugal. Mira Amaral reveals that the bank’s first phase of expansion was achieved and that entering the market of capitals is already a reality. According to the President of the bank, BIC now has the required conditions to develop the business of Private Banking. In addition, Mira Amaral additionally adds that BIC has its “equipment appropriately tuned” with regards to cash flow with Angola.
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62. Mira Amaral – Président de la banque BIC Après avoir accordée une interview dans la deuxième édition de notre revue, le leader de la banque BIC au Portugal revient, dans ce numéro, sur sa perspective à propos des affaires de la banque et parle de l’affirmation de la BIC dans le pays. Mira Amaral nous révèle que la première phase de l’expansion de la
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English & French texts
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banque a été réussie et que l’entrée dans le marché de capitaux est déjà une réalité. Selon le président de la
banque, la BIC possède maintenant les conditions nécessaires pour développer le business du Private Banking. Mira Amaral confirme aussi que la BIC a « une machine parfaitement au point » en ce qui concerne les flux financiers avec l’Angola.
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68. 60th Anniversary of the People’s Republic of China The Ambassador of China in Portugal held a reception to celebrate the 60th anniversary of the People’s Republic of China, welcoming representative figures of our diplomatic and political circles, as well as business, military and social spheres.
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68. 60ème anniversaire de la République Populaire de Chine L’ambassadeur de la Chine au Portugal a offert une réception pour commémorer le 60ème anniversaire de la République Populaire de Chine à laquelle étaient présentes des personnalités représentatives de nos milieux diplomatiques et politiques, d’entreprises, militaires et sociaux.
n
74. National Day of Hungary The Ambassador of the Republic of Hungary, Attila Gecse, and Ambassadress Andrea Gecse held a reception at the beautiful palace at Alto de Santo Amaro to celebrate Hungary’s National Day. The reception included personalities from the diplomatic circle in Lisbon as well as social, political, military and business representatives. The reception started out with a cocktail followed by a lunch buffet in the rooms and gardens of the palace. The 23rd of October is the day which marks the beginning of the revolution and fight for independence in 1956 and is also the day on which the Hungarian Republic was proclaimed in 1989.
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74. Fête Nationale de la Hongrie Dans le très bel hôtel particulier du Alto de Santo Amaro, l’ambassadeur de la République de la Hongrie, Attila Gecse et son épouse Mme Andrea Gecse, ont offert une réception à l’occasion de la Fête Nationale de leur pays, à laquelle ne manquèrent pas des personnalités de premier plan de la diplomatie accréditée à Lisbonne et des milieux sociaux, politiques, militaires et d’entreprise. Lors de la réunion fut servi un cocktail suivi d’un déjeuner buffet dans les salons et jardins de cet hôtel particulier. Le 23 octobre fut le jour du début de la révolution et de la lutte pour l’indépendance en 1956 ainsi que le jour de la proclamation de la République de la Hongrie en 1989.
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76. Farewell reception in honour of the Ambassador of Austria in Lisbon The tenure of office as the highest representative of Austria in Portugal came to an end for Ewal Jäger. The ambassador arrived in Lisbon in 2006 and said farewell three years later with a cocktail held at his residence with guests who are members of the distinguished Diplomatic Body in Lisbon together with other renowned personalities of our society.
n
76. Réception de départ de l’ambassadeur de l’Autriche à Lisbonne Le mandat d’Ewald Jäger en tant que le plus haut représentant de l’Autriche au Portugal a pris fin. L’ambassadeur arriva à Lisbonne en 2006 et a fait ses adieux trois ans après lors d’un cocktail qui a eu lieu dans sa résidence et qui compta avec la présence d’éléments du corps diplomatique accrédité ici et d’autres personnalités illustres de notre société.
n
79. Austria’s National Day The new Ambassador of Austria Bernhard Wrabetz and the Ambassadress Joana Daniel Wrabetz welcomed distinguished guests at the Embassy of Austria who were invited to celebrate the National Day of Austria. In the official speech during the ceremony, Ambassador Bernhard Wrabetz evinced the “profound friendship which brings together Austria and Portugal” and explained the importance of the National Day.
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79. Fête nationale de l’Autriche Le nouvel ambassadeur de l’Autriche M. Bernhard Wrabets et son épouse Mme Joana Daniel Wrabets ont reçu à l’ambassade autrichienne des invités illustres lors de la Fête Nationale. Dans son discours officiel de la cérémonie, l’ambassadeur Bernhard Wrabets a souligné « la profonde amitié qui unit l’Autriche et le Portugal » et a expliqué ce que signifie la Fête Nationale.
n
80. National Day of Turkey The receptions held at the Turkish Embassy in Lisbon are gatherings where guests feel at home due to Ambassador Kaya Turkmen and the Ambassadress Nurden Turkmen’s distinct kindness and politeness. This year was not an exception and the reception held at the Restelo Embassy on the occasion of the celebration of the National Day of Turkey. The guests were the most distinguished personalities of our political, diplomatic, military and business circle.
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80. Fête Nationale de la Turquie Les réceptions à l’ambassade de la Turquie à Lisbonne sont une vraie fête où les invités se sentent comme chez eux grâce à la sympathie et à la gentillesse de l’ambassadeur Kaya Turkmen et de son épouse Mme Nurden Turkmen. Encore une fois cette année il en fut ainsi lors de la réception offerte à l’ambassade de Restelo, à l’occasion de la Fête Nationale. Les personnalités de marque des milieux politiques, diplomatiques, militaires et d’entreprise étaient présentes.
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84. The Peninsular War in Portugal The Peninsular War is a period in the history of Europe which, due to its consequences and repercussions, is still very sensitive despite the two hundred years that have gone by, requiring deep research and, consequently, being kept alive in our memories. The Peninsular War is not a minor episode in the Napoleonic epic, quite the contrary. It is, according to Napoleon himself, “its ulcer”. The Peninsula was where the fall of a grand statesman, and undoubtedly one of the greatest corporals of all times, was planned and initiated; and Portugal was not a mere figurant, but one of the indisputable main characters. In truth, the Portuguese people had one of the most relevant, if not the main, role.
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84. Guerre péninsulaire au Portugal La guerre péninsulaire est un moment de l’histoire d’Europe qui, par ses conséquences et répercussions, encore sensibles deux-cents ans après, mérite d’être bien étudié et, par conséquent, ne peut être oublié. La guerre péninsulaire n’est pas un épisode moindre dans l’épopée napoléonienne, bien au contraire. Elle est, selon Napoléon lui-même, « son ulcère ». C’est dans la Péninsule Ibérique que l’on a conçu et initié la chute d’un grand homme d’état et, sans doute, de l’un des meilleurs caporaux de guerre de tous les temps ; et le Portugal ne fut pas juste un figurant mais plutôt un des indiscutables acteurs fondamentaux, peut-être même, à mieux dire, ce fut une guerre où le peuple portugais a joué l’un des rôles principaux, si pas le principal.
n
89. “Espiões nas Descobertas” (“Spies in the Discoveries”) Maria Cristina Malhão Pereira promoted the first volume of the trilogy “Espiões nas Descobertas” (“Spies in the Discoveries”) in the historic Palace of Independence in Lisbon, headquarters of the Sociedade Histórica da Independência de Portugal (Historic Society of Portuguese Independece).
n
89. «Espions au temps des Découvertes» Maria Cristina Malhão Pereira a publié le premier volume de la trilogie « Espions au temps des Découvertes » dans le Palais de l’Indépendance à Lisbonne, siège de la Société Historique de l’Indépendance du Portugal.
n
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DOSSIER
D Revista
Foto: Irina Quintela
com o MinistĂŠrio da Economia e
meios aos empresårios�.
o ICEP, ĂŠ um bom exemplo de
Mais: "Sem prejuĂzo do muito
como se podem valorizar expo-
importante papel de instrumen-
nencialmente e com minimiza-
to pĂşblico sĂŁo tambĂŠm eles que
ção de custos, conhecimentos e
devem investir em iniciativas
saberes indispensĂĄveis Ă ca-
geradoras de emprego e de
pacitação dos interesses eco-
riqueza. Mas temos que reco-
nĂłmicos de Portugal por esse
nhecer que fazĂŞ-lo nestas cir-
mundo fora.
cunstâncias Ê um desafio ainda
A CIEP lançou este ano o
mais complexo".
Portuguese Business Link –
O Governo e a AICEP nĂŁo se
PBLink, que ĂŠ uma rede social
têm poupado a esforços para
interactiva e tecnologicamente
promover a captação de In-
desenvolvida que pretende ser
CurrĂculo do
vestimento Directo Estrangeiro
um instrumento fundamental
Presidente do CIEP
bem como o investimento portu-
de contactos de negĂłcios e de
guĂŞs no mundo.
conhecimento de oportunidades
Desde a gĂŠnese da Confede-
e de mercados, dos empresĂĄ-
ração Internacional dos Em-
rios e gestores portugueses
presĂĄrios Portugueses - CIEP,
espalhados pelos vĂĄrios conti-
em 1991, que esteve presente
nentes.
pela Universidade TĂŠcnica de
o conceito de rede, para unir
Miguel Horta e Costa referiu
Lisboa, sendo tambĂŠm pĂłs-
e tornar mais profĂqua a divul-
no fim da sua intervenção:
-graduado em Organização e
gação da importância do papel
"NĂŁo posso deixar de dirigir
GestĂŁo de Empresas, con-
dos muitos milhares de em-
uma sentida palavra de agra-
cluĂdas nas universidades de
presĂĄrios portugueses ou luso
decimento a todos os presen-
Birmingham e Navarra.
descendentes, que por esse
tes que se dispuseram a vir
Na sua experiĂŞncia profis-
mundo fora tĂŞm criado empre-
de paragens mais ou menos
sional conta com passagens
sas de sucesso. E nĂŁo tinha
longĂnquas a Lisboa, com sa-
entĂŁo, como agora tem, signi-
crifĂcio das suas actividades
ficado e reconhecimento; mas
pessoais e profissionais, mas
foi-se acentuando a importân-
com o habitual entusiasmo e
cia do conceito de rede, com
voluntarismo, para participa-
a globalização e a interdepen-
rem nestes trabalhos e serem
dĂŞncia, Ă medida que o mundo
actores neste projecto. De
se foi tornando mais pequeno.
todos esperamos que comple-
do Conselho de Administra-
Desde 2004, altura em que,
mentem o esforço agora feito,
ção da Companhia Portugue-
por iniciativa da CIEP e com
sendo arautos e colaborantes
´
1948, Miguel Horta e Costa
iplomatica ĂŠ licenciado em Economia
anos haja uma capital federal
Embaixador de Malta
2000, pela CIEP em parceria
que dêem esperança e novos
Nascido a 28 de Julho de
"É possĂvel que daqui a muitos
Salv J. Stellini
a apresentação de soluçþes
¢
Tratado de Lisboa
da UniĂŁo Europeia como a dos EUA em Washington"
Angola acaba de realizar as suas eleiçþes num clima de paz e concórdia e apresenta o mais forte crescimento
econĂłmico a nĂvel mundial. Investir neste paĂs que alia o progresso aos recursos naturais ĂŠ o objectivo dos grandes grupos empresariais
por prestigiados cargos
empresariais, tais como, pela
¢ A
Para Salv J. Stellini, Embaixador de Malta, “o objectivo de ter embaixadas em vĂĄrios
paĂses da UniĂŁo Europeia tem a ver com proteger ou promover interesses nacionais. No
partilha da lĂngua e a histĂłria
produtos farmacĂŞuticos oferecem
Angola e para as relaçþes comer-
comum sĂŁo as vantagens competiti-
igualmente um grande potencial de
ciais entre Portugal e Angola: o
vas mais evidentes para os empre-
investimento.
volume de negĂłcios ultrapassou os
sĂĄrios portugueses que estĂŁo a in-
A aposta de Portugal em Angola e
400 milhĂľes de euros. Portugal foi
direcção dos CTT – Correios e Telecomunicaçþes de
Portugal (Director Geral dos Correios); pelas presidĂŞncias
nosso caso nĂŁo temos embaixadas em todos os paĂses, porque isso ĂŠ muito dispendio-
vestir num dos mercados de maior
as vantagens das relaçþes econó-
tambĂŠm o paĂs com mais projectos
so. Aliås, em relação a recursos humanos, ter diplomatas pressupþe bastante tempo em
crescimento em todo o Mundo.
micas entre os dois paĂses foram
de investimento apresentados e
formação e preparação, bem como um alto nĂvel de educação. Um pequeno paĂs como
Portugal estĂĄ entre os cinco maio-
debatidas na conferĂŞncia “Investi-
aprovados. Para este ano, a previ-
o nosso nĂŁo dispĂľe assim de tantos recursos humanos adequados ao desempenho
res investidores do mercado an-
mento Público e Privado – Parce-
sĂŁo aponta que Angola venha a ser
sa RĂĄdio Marconi, S.A., e do
a colaboração da Secretaria
na divulgação e sensibilização
desta função; por isso, temos que racionalizar o número de embaixadas: só em catorze
golano, com especial ĂŞnfase nos
rias e Financiamento em Angola�,
o primeiro paĂs extracomunitĂĄrio de
Conselho de Administração
de Estado, se reuniram pela
dos outros empresĂĄrios e ges-
1ÂŞ vez em congresso em Lis-
tores, em relação ao prosse-
Diploma´ tic a
Estados-Membros, como a GrĂŁ-Bretanha, Dinamarca, ItĂĄlia, Alemanha, GrĂŠcia... Neste
sectores da construção e imobili-
organizada pela Câmara de Co-
destino das nossas exportaçþes. A
da SIBS – Sociedade Inter-
momento, Bruxelas, embora nĂŁo lhe chamemos capital federal, ĂŠ onde se encontra a
ĂĄrio, turismo e banca. No entanto,
mĂŠrcio e IndĂşstria Portugal Angola
qualidade dos produtos portugue-
bancåria de Serviços, S.A.;
boa, foi feito o balanço da sua
guimento de todas as vertentes
outras ĂĄreas, como as telecomu-
(CCIPA) e pelo Banco de Fomento
ses ĂŠ muito reconhecida, sendo o
pelas administraçþes da PGA
actuação e o diagnóstico das
do Netinveste. Quero, para
nicaçþes e os serviços, tambÊm jå
Angola.
factor diferenciador perante todos
– Portugålia Airlaines, e BES
necessidades, sintetizados
terminar, reiterar aqui publica-
estĂŁo a ser exploradas. As activi-
O Presidente da CCIPA e repre-
os outros paĂses que tambĂŠm estĂŁo
nas conclusĂľes que a CIEP foi
mente a total disponibilidade
mandatada para apresentar e
da CIEP para, com todas as
defender.
partes envolvidas, assegurar a
A rede de conselheiros para
sua missĂŁo de apoiar a inter-
a internacionalização da eco-
Nº3 n az. c i20 o08 na l in. zaç ão das empresas /Ja
nomia portuguesa, criada em
p o r t u g u e s a s4.%"
maioria das instituiçþes da União Europeia�. Malta tem cinquenta diplomatas na embaixada em Bruxelas, a maior do MinistÊrio dos Negócios Estrangeiros, dado que se trata do
centro da UE, onde se debatem assuntos de grande importância para o futuro do paĂs no
seio da Europa. No entanto, para Salv J. Stellini ĂŠ possĂvel que daqui a muitos anos, se a
dades industriais associadas ao
Europa se transformar em “Estados Unidos da Europa�, haja uma capital federal como a
sentante da Galp Energia – Carlos
a apostar em Angola. No entanto, o
agro-alimentar, à produção de bens
Bayan Ferreira – referiu que “o ano
paĂs tambĂŠm tem vontade de produ-
muitos anos!
de consumo, ao equipamento e aos
de 2007 foi muito importante para
zir e de poder vir a exportar para
JUNHO/JULHO 2008 - DIPLOMà TICA • 9
- DIPLOMĂ TICA s 23
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chileno-portuguesas alcançaram um nĂvel de exce-
2009
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Portugal, diz-nos Samuel Ossa Dietsch: “As relaçþes
De
DEZEMBRO 2008/JANEIRO 2009 - DIPLOMĂ TICA s 45
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Mundial de 2010 e oferecer turismo de luxo
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Sul-africanos preparam-se para receber
Quanto à importância da Embaixada do Chile em
BES e Presidente da CIEP.
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Dossier Ă frica/Angola
A Europa dos partidos e a Europa dos cidadĂŁos
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DOSSIER
Vice-Presidente Executivo do
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NÂş4 9 SETEMBRO/OUTUBRO 2008 nho 200 4 % Maio/Ju
outros postos relevantes; ĂŠ
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dos EUA em Washington com o seu corpo diplomĂĄtico especĂfico. Mas... isso sĂł daqui a N
– Banco EspĂrito Santo; entre
densidade do conjunto dos vĂnculos, com coincidĂŞn-
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Doss ier Seg guran ç
CPLP
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Attila Gecse
cias estratĂŠgicas e critĂŠrios partilhados que criam uma comunidade de interesses, tanto no bilateral Foto: Maria Branco
como no multilateral. O Chile, num diĂĄlogo polĂtico permanente e fluĂdo, estĂĄ a trabalhar para criar uma $)0,/-ÂŤ4)#!
rede de cooperação e aprendizagem recĂproca com paĂses afins, “like minded countriesâ€?, como Portugal, que em 20 anos conseguiram o desenvolvimento com o bem-estar para a sua população e alto prestĂgio nos organismos multilaterais, e que hoje cons-
Encarregado de NegĂłcios e 1Âş SecretĂĄrio da Embaixada do Chile
tituem uma referência a observar". Constata-se uma notória coincidência de posiçþes frente à reforma das Naçþes Unidas e um sem-número de apoios em diversas votaçþes no âmbito multilateral.
de NegĂłcios e 1Âş SecretĂĄrio da Embaixada
“A ausĂŞncia de contenciosos e a afinidade existen-
do Chile, “Portugal tem com a AmĂŠrica Latina
te entre ambos os paĂses conduz a que a relação
Arrancou a corrida para o Cam-
ĂĄreas desportivas, turĂsticas e de
to da população e da expansão
peonato Mundial de Futebol da
exposiçþes. Tudo isto com um or-
urbana. A segurança e emergên-
FIFA 2010. A fase de qualificação
çamento a rondar os cerca de 740
cia ĂŠ outra questĂŁo preocupante
bilateral seja fluĂda e propĂcia a acordos numa
ção com o Brasil, mas tambÊm a relação com outros
ampla gama de assuntos. Destacam-se os esforços
do Sul hĂĄ muito que o Mundial estĂĄ a ser preparado. Desde a escolha deste paĂs africano para
paĂses e especialmente com o meu. Na Venezuela e
de ambos os governos por alcançar um alto grau
na Argentina hĂĄ uma numerosa colĂłnia portuguesa
de empatia Ă volta dos interesses de maior relevo
residente. Com respeito ao Chile podemos constatar
da contraparte. Uma sĂŠrie de importantes acordos
como, desde o regresso Ă democracia em 1990, os
confirmam a relevância da relação bilateral. Entre
vĂnculos estreitaram-se de tal maneira que todos
eles, o ConvÊnio sobre Segurança Social, que se
os presidentes portugueses efectuaram visitas ao
encontra em vigĂŞncia desde 1999; o Acordo sobre
Chile, e os Presidentes chilenos tambĂŠm visitaram
Protecção RecĂproca de Investimentos, vigente
Portugal. Esperamos que a Presidente Michelle Ba-
desde 1995; e o ConvĂŠnio para Evitar a Dupla Tri-
chellet tambÊm o faça num futuro próximo. Partilha-
butação Internacional, que se encontra em proces-
mos ideais e objectivos. Pertencemos Ă mesma co-
so de ratificação em ambos os paĂses e que fĂ´ra
munidade ibero-americana. Para nĂłs, Portugal tem
assinado por ocasiĂŁo da visita de Estado do Presi-
sido um interlocutor privilegiado na nossa relação
dente Jorge Sampaio ao Chile, em Julho de 2005.
com a União Europeia. Esta relação tão estreita não
“Nos aspectos comerciais, o facto mais relevante
se pode manobrar desde Bruxelas. São relaçþes
nesta esfera foi a vigĂŞncia plena do Acordo de
bilaterais privilegiadas directas, sem intermediĂĄrios
Associação entre o Chile e a União Europeia, que
e daĂ que esse contacto seja insubstituĂvel e assim
co-ajuda ao esforço".
5
4
Engli
sh & Fren
ch T ext
s
neste tipo de eventos, mas que o
a organização do maior evento
antes, no governo do Apartheid,
NĂŁo serĂĄ apenas a diversĂŁo mo-
futebolĂstico do Mundo e desde
os estĂĄdios eram criados sobre-
mentânea que o Mundial prestarå
que terminou a última edição
tudo para a pråtica de râguebi
à população sul-africana. Este
desta competição, realizada na
e criquete. Claro estĂĄ que nĂŁo
investimento do Governo na orga-
Alemanha, que os sul- -africanos
poderĂŁo apenas ser construĂdos
nização do Campeonato 2010 traz
começaram a encetar os primei-
estĂĄdios e complexos desportivos
outros benefĂcios aos cidadĂŁos,
ros projectos para assegurarem
para a realização de tamanho
assegurando-lhes cerca de 150
a existĂŞncia de infra-estruturas
evento. A construção de estradas,
necessĂĄrias para albergarem o
de acomodamentos e de outras
mil empregos sustentĂĄveis e na umaCPLP Embaixadores melhor qualidade de vida.
maior acontecimento desportivo
infra-estruturas sĂŁo, de igual
O maior evento futebolĂstico do
em 2010.
modo, importantes, estimando-se
planeta poderĂĄ ser tambĂŠm a
Localizados em cidades-sede,
que o orçamento total gasto no
grande e a melhor ocasiĂŁo para
cinco novos estĂĄdios estĂŁo a
Mundial seja de 42 bilhĂľes de eu-
unificar o paĂs e todo o povo da
Assinaturas N
continuarå a ser�.
3
ts vez na histĂłria da Ă frica do Sul, Estado assegurarĂĄ com uma forte ex T uia - Turq ugal glish cobertura o paĂs terĂĄ estĂĄdios de forças policiais e Port nespecialmenEfutebol, Ancara ith ao reportagem em te dedicados jĂĄ que paramĂŠdicas. W milhĂľes de euros. Pela primeira
começou agora, mas na à frica
um vĂnculo muito especial. NĂŁo somente estĂĄ a rela-
With
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S
egundo Samuel Ossa Dietsch, Encarregado
14 Julho em Lisbo
s !'/34/ 3%4%
Samuel Ossa Dietsch
a Viva a RepĂşblic a
6
7
8
Lusofonia
ser construĂdos e outros tantos,
ros. EstĂĄ, ainda, a ser desenvolvi-
Ă frica Austral. O Campeonato do
jĂĄ existentes, estĂŁo a ser reno-
do um plano piloto para o melho-
Mundo estĂĄ a ser aguardado com
vados. As zonas contĂguas aos
ramento da rede de transportes
enorme expectativa e entusiasti-
recintos desportivos estĂŁo, tam-
pĂşblicos que, simultaneamente,
camente pela comunidade sul-
bĂŠm, a ser reconstruĂdas, com
terĂĄ de responder a um aumen-
africana e, como o presidente
French Texts With English &
1. Embaixador da GrĂŠcia Spyridon Theocharopoulos e Mulher 2. Embaixatriz de Moçambique GlĂłria Mkaima, Embaixatriz da ArgĂŠlia Sabria Boukadoum, Paula Roque, Embaixatriz da TunĂsia, Embaixatriz da GrĂŠcia e Maria da Luz de Bragança 3. Embaixa-
¢
triz da Turquia Nurdan Turkmen e Embaixatriz da ArgÊlia Sabria Boukadoum 4. Embaixatriz do Iraque, Embaixadora do Paquistão Fauzia M. Sana e Nadeem Malik 5. Embaixatriz da China Li Feyue 6. Embaixatriz da RomÊnia Ilena Gafita 7. Embaixador do Chile Francisco Perez-Walker 8. Maria da Luz de Bragança e Maria Cavaco Silva
30 s DIPLOMĂ TICA - SETEMBRO/OUTUBRO 2008
18 • DIPLOMà TICA - JUNHO/JULHO 2008
DEZEMBRO 2008/JANEIRO 2009 - DIPLOMĂ TICA s 71
6 NĂşmeros e20 12 NĂşmeros e40
ENTREVISTA
DOSSIER
OPINIĂƒO
A Europa dos partidos e a Europa dos cidadĂŁos
Portugal sem PolĂtica Externa As consequĂŞncias do Tratado de Lisboa
por António Vasconcelos Graça
envie nomes e moradas para:
Portugal inventou a polĂtica ex-
de cada paĂs por si, reflectindo
financeiros ou o casamento de
terna tal como ĂŠ entendida nos
a natureza e Ăndole prĂłpria de
homossexuais, por exemplo?
tempos modernos e no sentido
cada Estado. GostarĂamos que
Toda a expansĂŁo portuguesa,
europeu. O primeiro grande tra-
acontecimentos do passado nĂŁo
fora da Europa, assentou no
balho sobre a matĂŠria chama-se
tivessem ocorrido? Sem dĂşvida.
estabelecimento de pontos de
“Os LusĂadasâ€?. Antes, em Tor-
Mas isso nĂŁo ĂŠ razĂŁo para com-
contacto que permitissem o
desilhas, assinĂĄmos o primeiro
plexo de culpa, atĂŠ porque nĂŁo
comĂŠrcio e a troca de merca-
tratado de aplicação planetå-
hĂĄ inocentes.
dorias. Para assegurar o bom
ria. Vasco da Gama tinha um
Em matĂŠria de comportamen-
funcionamento desse sistema,
destino e estava incumbido de
tos vergonhosos no passado,
houve que conquistar pontos-
uma missĂŁo especĂfica onde
ĂŠ bom nĂŁo esquecer que, para
-chave, fossem cidades do norte
a componente diplomĂĄtica era
a mentalidade do tempo, nĂŁo
de Ă frica, o golfo PĂŠrsico, locais
primordial. NĂŁo foi um viajante
o eram. Que sabemos nĂłs da
estratĂŠgicos na Ă?ndia ou no
errĂĄtico como, por exemplo,
forma como vĂŁo ser julgados,
Extremo Oriente. Para garantir a
Marco Polo.
no futuro, muitos dos nossos
segurança desse impÊrio a que
Num tempo em que certa “inte-
comportamentos actuais como
o Prof. LuĂs Filipe Thomaz cha-
ligentzia� lusitana tem vergonha
a falta de valores, o impĂŠrio dos
ma, com lucidez, uma “rede de
de ser portuguesa e tudo faz
interesses materiais, a crise
ligaçþes�. Não Ê exactamente o
para apagar qualquer vestĂgio
de autoridade, as calamidades
que se faz hoje? Houve cruelda-
"As 'embaixadas nacionais'
de portugalidade como coisa
desencadeadas pelos negĂłcios
de e barbaridades? Claro que
permanecerĂŁo e encontrarĂŁo
diplomatica@gabinete1.pt ou
Rua Ramalho Ortigão, nº 43 A ¢
1070-228 LISBOA Telefones: 21 322 46 60 / 93 609 87 19 de maneira racional uma
Foto: Maria Branco
nefasta, confundindo isso com “modernidadeâ€?, onde sĂł merecem atenção os aspectos negativos do passado (escravatura, Inquisição, crueldade, etc.), convĂŠm lembrar algumas realidades. Porque Portugal inven-
forma de cooperação com um serviço diplomåtico da UE"
Algimantas Rimkunas
tou o comĂŠrcio global, apontado
Embaixador da Lituânia
hoje como a panaceia para todos os males. E, num planeta cada vez mais apertado para a
Vasco da Gama tinha um
população, o bom entendimento
destino e estava incumbido
entre as naçþes transforma-se
de uma missĂŁo especĂfica
num factor de sobrevivĂŞncia.
onde a componente
O que conta ĂŠ o que nos une e
diplomĂĄtica era primordial.
nĂŁo o que nos separa. Por isso, qualquer polĂtica externa tem de ser eficaz, sob o risco de se tornar inĂştil quer por fora de tempo, quer por inapropriada. Por imposição do Tratado de Lisboa, os paĂses membros da UniĂŁo Europeia deixarĂŁo de ter
Segundo o Embaixador da Lituânia, Algimantas Rimkunas, o Tratado de
Modo de pagamento: Lisboa prevê a criação de uma Europa de Relaçþes Externas, para ac-
çþes concretas, que de acordo com o Tratado “trabalharĂĄ em cooperação com os serviços diplomĂĄticos dos Estados-Membrosâ€?. Pensamos que as “embaixadas nacionaisâ€? permanecerĂŁo e encontrarĂŁo de maneira racio-
• Cheque à ordem de Gabinete1 • Vale dos Correios • Transferência bancåria nal uma forma de cooperação com um serviço diplomåtico da UE.
A Embaixada da Lituânia em Portugal estabeleceu-se em Lisboa hå 10
anos – 1998. Trata de todo o espectro de relaçþes bilaterais entre os dois
Embaixador Fernando Neves
paĂses: polĂticas econĂłmicas, culturais, etc. No trabalho da Embaixada
face a face com a Embaixatriz Nurdan TĂźrkmen
todas as åreas são igualmente importantes. Ambos, Lituânia e Portugal, são membros da União Europeia e da NATO, e este facto prova a im-
É um homem “coolâ€?, como se costuma dizer, “uma
portância do aspecto polĂtico do nosso trabalho. A elevada importância
imprescindĂvel leitura
polĂtica externa prĂłpria. É complicado, porque aquilo que a
diplomacia europeia foi traçan-
do ao longo dos tempos foi obra
força tranquilaâ€?. Muito observador e de espĂrito fino.
da ĂĄrea econĂłmica ĂŠ evidente: o comĂŠrcio e os investimentos bilaterais
Parece brincar (e brinca mesmo), estar sempre bem
enriquecem paĂses e naçþes. Por Ăşltimo mas nĂŁo menos importantes sĂŁo
disposto e em festa, mas, num traço quase imper-
as relaçþes culturais, que tornam as pessoas da Lituânia e Portugal mais próximas.
ceptĂvel, deixa escapar algo que diz “O que estarei
N
eu a perder algures, neste momento?�
¢
16 s DIPLOMĂ TICA - SETEMBRO/OUTUBRO 2008
10 • DIPLOMà TICA - JUNHO/JULHO 2008
10 s DIPLOMĂ TICA - DEZEMBRO 2008/JANEIRO 2009
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