´ Diplomatica
Nº7 Julho/Setembro 2010 4 (Cont.)
business & diplomacy
Diplomática 7 • julho/setembro 2010
Lula vai deixar saudades
Dossier Europa Em destaque Embaixadores: Tunísia e Cuba
Rússia A grande vitória
Entrevistas Luís Palha da Silva - J. Martins José Joaquim Oliveira - IBM Afonso Varela - C.A. Seguros José Minguez - Air Europa
With English & French Texts
Memória Memories
Em homenagem ao Dr. José Manuel Teixeira, Embaixatriz da Turkia em Portugal, Nurdan Turkmen, ex-jornalista do Le Monde
Querido José Manuel, Conhecemo-nos desde a nossa chegada... foi durante um jantar na Embaixada de França... De longe, vi chegar um casal tão bonito, tão sorridente... e no fim dessa noite, era como se nos conhecêssemos há anos... Juntos fizemos projectos: uma viagem à Turquia que desconheciam e sobretudo uma viagem a Chipre, onde tinhas sido correspondente de guerra... Quando vieste fazer uma reportagem sobre o meu marido e sobre mim, sentiste, certamente, a minha pena de não poder continuar a minha profissão... e de maneira tão simpática, convidaste-me a escrever, sempre que quisesse, para a “Diplomática”... Para além da vossa presença e do vosso apoio a cada evento que organizámos, tornámo-nos ainda mais próximos, graças a esta relação tão especial de colegas... Querido Colega, Com o teu coração enorme, fizeste que adorássemos Portugal e os portugueses, e agora partiste e deixaste-nos mais pobres, desfalcados da tua amizade, da ajuda que tão prontamente nos davas sempre que necessário. Não consigo habituar-me à tua partida silenciosa. Sinto falta de tantas coisas... e sobretudo das nossas discussões políticas... Partiste no momento em que também nós vamos partir para Chipre... No outro lado do Mediterrâneo ou onde quer que estejamos, estarás sempre nos nossos pensamentos, nas nossas recordações. E ainda que fisicamente não estejas lá, quando a nossa Querida Maria da Luz estiver connosco em Chipre, também tu estarás presente. Bem Hajas, José Manuel, por nos teres dado a possibilidade de te conhecer, por tudo o que nos deste,
Até Sempre, Nurdan
In honor of Dr. José Manuel Teixeira, by: Turkey's "Embaixatriz" in Portugal, Nurdan Turkmen ex-journalist from Le Monde Dear José Manuel, We met since our arrival... it was during a dinner at the French Embassy... From a distance, I saw a couple so beautiful, so happy... and so smiling... at the end of that night, it was as if we had known each other for years... Together we made projects: a trip to Turkey which you did not know and especially a trip to Cyprus, where you have been a war correspondent... When you come to do a story about my husband and myself, you felt, indeed, my pain of not being able to continue with my profession... and so nice, invited me to write, whenever i wanted for the “Diplomática”... Apart from your presence and your support at every event that we held, we became even closer, thanks to this special relationship as colleagues... Dear Colleague, With your huge heart, you make us adore Portugal and the Portuguese, and now you leave us poorer, defalcated of your friendship and from the help you would so instantly give us whenever necessary. I cannot accustom myself to your silent departure. I miss so many things... and especially our political discussions ... You left at the moment in which we will also leave to Cyprus... Across the Mediterranean or wherever we are, you will be always in our thoughts, our memories. And even if you’re not physically here when our Dear Maria da Luz is with us in Cyprus, you will be also present. Well, bless you, José Manuel Teixeira, for the opportunity to meet you, for everything you have given us, Farewell, Nurdan A la memoire de José Manuel Texeira, par: Nurdan Türkmen, Ambassadrice de Turquie au Portugal ancienne journaliste au Monde Cher José Manuel, Nous nous sommes rencontrés depuis notre arrivée... c’ était à dîner à l’ambassade française... De loin, j’ai vu un couple si beau, si... et souriant... et à la fin de cette nuit-là, c’était comme si nous nous etions connu depuis des années... Ensemble, nous avons fait des projets: un voyage en Turquie qui ne s’est pás fait et surtout un voyage à Chypre, où tu avais été correspondant de guerre... Lorsque vous arrivez à faire un reportage sur mon mari et moi-même,vous avez estimes en effet, ma douleur de ne pas être en mesure de continuer mon métier... et si gentillement, m’avez invité à écrire, quand je le voulait pour la «Diplomatica»... En dehors de votre présence et votre soutien à tous les événements que nous avons tenues, nous sommes devenus encore plus proches, Merci pour cette relation privilégiée en tant que collègues... Cher Collègue, Avec votre grand cœur, vous m'avez fait adorer le Portugal et les Portugais, et maintenant partir et laisser les plus pauvres de nous, "defalcated" de votre amitié, de l'aide que si facilement vous donniez chaque fois que nécessaire. Je ne peux pas m’habituer à votre départ silencieux. Je m’ennuie tellement de choses... et surtout de nos discussions politiques... Broke au moment où nous partirons aussi pour Chypre... L’ensemble de la Méditerranée ou partout où nous serons, vous serez toujours dans nos pensées, nos souvenirs. Et même si vous n’est pas physiquement la, Maria da Luz será avec nous à Chypre, et vous serait également présent. Eh bien Hajas, José Manuel Teixeira, car tu as donné l’occasion de vous rencontrer pour tout ce que vous nous avez donné, Jusqu’à toujours, Nurdan
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2º Aniversário
Assuntos Summary Résumé
Carta ao leitor. Letter to the reader. Lettre au lecteur.
3
Dossier. “Que soberania para a Europa no contexto económico, político, diplomático e defesa?” Dossier. “What sovereignty to Europe in economic, political, diplomatic and defense?” Dossier. «Quelle souveraineté à l’Europe dans les domaines économique, politique, diplomatique et de défense?”
6
Visita Diplomática. Presidente Lula da Silva em Portugal. Foto da capa: Ricardo Oliveira - GPM Diplomatic Visit. President Lula da Silva in Portugal. Visite diplomatique. Le président Lula da Silva au Portugal.
22
Visita Papal. Uma viagem capaz de mudar a imagem de Bento XVI. Papal visit. A journey that can change the image of Bento XVI. Visite du Pape. Un voyage qui peut changer l’image de Benoît XVI.
28
Visita ao Magrebe. Portugal de olhos postos no Norte de África Visit to the Maghreb. Portugal looking to North Africa Visite du Maghreb. Portugal cherche à ameliorer ses liens avec l’Afrique du Nord
33
Mohamed Ridha Farhat. Embaixador da República da Tunísia. Farhat Mohamed Ridha. Ambassador of the Republic of Tunisia. Ridha Farhat Mohamed. Ambassadeur de la République de Tunisie.
36
Por uma África livre e segura. Da ineficaz OUA à esperança da UA. For an Africa free and safe. The OAU ineffective to the hope of AU. Pour une Afrique libre et sûr. De l’ inefficace OUA à l’UA l’espoir.
42
65 Anos da Grande Vitória. Embaixador da Rússia em Portugal - Pavel Petrovsky. 65 Years of Great Victory. Ambassador of Portugal in Russia - Pavel Petrovsky. 65 ans après la grande victoire. Ambassadeur du Portugal à la Russie - Pavel Petrovsky.
46
Eduardo González Lernes. Embaixador de Cuba em Portugal Eduardo Gonzalez Lerner. Cuban ambassador in Portugal Eduardo Gonzalez Lerner. Ambassadeur de Cuba au Portugal
52
União Europeia. Presidência espanhola marcada pela crise. European Union. Spanish presidency marked by the crisis. Union européenne. présidence espagnole marquée par la crise.
60
Enrique Santos. Um olhar da Presidência Espanhola da União Europeia. Enrique Santos. A look at the Spanish Presidency of the European Union. Enrique Santos. Un regard sur la présidence espagnole de l’Union européenne.
62
José Mínguez. Delegado da Air Europa em Portugal. José Mínguez. Officer of Air Europa in Portugal. José Mínguez. Officier de Air Europa au Portugal.
64
Luís Palha da Silva. Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins. Luís Palha da Silva. Chief Executive Jerónimo Martins. Luís Palha da Silva. Jerónimo Martins chef exécutif.
68
José Joaquim Oliveira. Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal José Joaquim Oliveira. Managing Director and Chairman of IBM Portugal Oliveira Joaquim José. Directeur Général et Président d’IBM Portugal
76
Varela Afonso. Presidente da Crédito Agrícola Seguros. Afonso Varela. President of Agricultural Credit Insurance. Varela Afonso. Président de l’assurance-crédit agricole.
82
Mala Diplomática. Dias Nacionais de Paquistão, Itália e Noruega. Diplomatic bag. National Day of Pakistan, Italy and Norway. Valise Diplomatique. Journée nationale du Pakistan, l’Italie et la Norvège.
87
Embaixadora da Polónia Katarzyna Skórzynska. Chopin um artista universal Ambassador of Poland Katarzyna Skórzynska. Chopin a universal artist Ambassadeur de Skórzynska Katarzyna Pologne. Chopin un artiste universel
88
Traduções Translations Traductions
94
DIRECTOR: Maria da Luz de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Rua Ramalho Ortigão, 43 A – 1070-228 Lisboa. Marketing & Publicidade: Anabela Pelicano - e-mail:rp@gabinete1.pt Tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79 IMPRESSÃO: Multiponto DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395
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Dossier
“Que soberania para a Europa no contexto económico, político, diplomático e de defesa?”
“Que soberania para a Europa no contexto económico, político, diplomático e de Defesa?” A Diplomática lançou mais um desafio ao Corpo Diplomático (europeu) acreditado em Portugal. Quisemos saber qual a opinião dos Embaixadores acerca da soberania a seguir pelo continente europeu. Que economia? Que política? Que diplomacia? Que Defesa? Saiba quais os pareceres da República Checa, França, Itália, Bélgica, Grécia, Filândia, Ucrania e Turquia.
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➤
Dossier Que soberania para a Europa
Markéta Šarbochová - Embaixadora República Checa
do resto do mundo, necessita primeiro de uma definição clara daquilo que sem dúvidas une a Europa, aquilo que lhe tinha permitido atingir o nível actual do seu desenvolvimento e a posição que ocupa no mundo e que ainda hoje a torna atraente para muitos imigrantes de outros continentes. E isso a meu ver - são os valores ou princípios essenciais das quais a Europa é portadora e defensora – entre os mais importantes obviamente - democracia e respeito pelos direitos humanos, promoção de oportunidades iguais, respeito pelo meio ambiente, a tolerância religiosa e a defesa de princípios de cooperação vantajosa para os elementos participantes. Por outro lado, esta definição de princípios deveria abranger a rejeição clara de todo tipo de extremismo, terrorismo, etc. A União Europeia, a meu ver, tem o papel essencial neste processo. Deveria ser por isso ela a definir bem em primeiro lugar as suas Europa, no sentido geográfico, que começa no
relações para com os países europeus não mem-
Ural e acaba no Cabo da Roca, não é um espa-
bros da UE e consequentemente desenvolver
ço homogéneo – nem do ponto de vista político
projectos concretos de cooperação, no âmbito
e económico, nem do cultural, religioso, etc. A
das suas políticas de vizinhança (Leste Europeu,
história do continente europeu é complexa, cheia
Balcãs, Mediterrâneo). Uma vez alcançado o ní-
de conflitos entre os países ou blocos, facto esse
vel satisfatório de balanço das relações políticas
que marcou profundamente os seus participan-
e económicas dentro do continente, (incluindo os
tes e deixou consequentes ressentimentos que
seus extremos geográficos) e atingida assim uma
continuam a projectar-se até hoje nas relações
maior homogeneidade política e económica, a
políticas entre os elementos individuais.
seguir a Europa deveria assim procurar encontrar
Por isso, falar da “soberania para a Europa” não
este mesmo balanço em relação a outras potên-
é fácil. Todos entendem em geral no que consis-
cias fora da mesma – Estados Unidos, China,
te a soberania de um estado, de um elemento
Brasil, Índia e outros. Assim, Europa poderia
de poder, ou até de um grupo de estados, como
defender a sua “soberania” em todos os planos
é o caso da União Europeia. Aí, a questão da
– político, económico ou de defesa - no mundo
soberania, ou melhor dizer, a possível perda de
actual.
soberania dos membros foi largamente discutida,
Governar num sistema democrático é sempre
mas o facto é que esses países decidiram livre-
mais difícil do que governar no regime totalitá-
mente ceder parte da sua soberania para agirem
rio. Democrata aos olhos de autocrata pode ser
como uma só entidade no plano externo e para
visto como fraco, indeciso, hesitante, impotente.
juntarem-se a um projecto comum de coopera-
Analogicamente, os que não partilham os valores
ção na área da política, economia, segurança,
democráticos podem considerar nula a soberania
cultura, educação e outras.
daquele que aja segundo estes princípios. Não
Mas “soberania” de um continente com tanta
obstante, isso não deve ser razão para deixar de
diversidade, que ao mesmo tempo tem que
ser democrático, por isso: O modelo para o conti-
encontrar relações equilibradas com as potências
nente europeu é simplesmente democracia...
n
julho/Setembro 2010 - Diplomática • 7
Dossier Que soberania para a Europa
Denis Delbourg - Embaixador da França
A palavra soberania é difícil de aplicar no
vernação interna que transcende os confli-
contexto da Europa, porque a soberania é
tos de interesse e as diferenças de padrão
um atributo dos Estados, codificada pelo
entre os países membros e, em seguida,
direito internacional, não sendo a Europa
exercer uma influência diplomática que lhe
um Estado. Podemos realmente dizer que
permita pesar realmente sobre a solução
o Tratado de Lisboa esclareceu as coisas,
dos problemas globais. Para a soberania,
definiu a distribuição de competências
no mundo actual, não significa autonomia
entre a UE e os Estados Unidos, através do
ou isolamento: mas sim independência e
princípio da subsidiariedade, e fortaleceu
liberdade de acção para construir um multi-
as instituições e os métodos que permitem
lateralismo eficaz e cooperativo.
à Europa falar a uma só voz e agir de forma
Nem sempre é fácil reunir estas duas con-
coordenada nos casos a tratar com o resto
dições ao mesmo tempo. Na luta contra as
do mundo.
mudanças climáticas, vimos na conferên-
É, portanto, uma forma de soberania polí-
cia de Copenhaga uma Europa dotada de
tica que está em questão para a Europa:
metas internas à altura da situação, mas
os países que a compõem, e é a União
a força do seu exemplo não foi suficiente
que lhes permite, em conjunto, defender os
para influenciar um resultado conveniente
seus valores e interesses, permanecerão
aos outros.
colectivamente mestres e actores do seu
Face à crise financeira e económica, a
destino, ou permitirão a imposição de com-
Europa tinha a capacidade de assumir a
promisso negociado por outros no contexto
liderança, à frente do G20, para lançar uma
de novas relações do poder global, abran-
revisão do quadro regulamentar e de super-
gendo potências emergentes?
visão. No entanto, dada a situação financei-
Para atingir este objectivo, a Europa preci-
ra da Grécia, foi confrontada com a questão
sa, sobre todos os assuntos, conhecer duas
da governação interna da zona Euro, que
condições: primeiro atingir um nível de go-
continua a desenvolver mecanismos
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➤
Denis Delbourg
➤
sustentáveis para a prevenção de crises.
A estabilização das taxas de câmbio internacionais, a eficácia das regras da concorrência na Europa e, especialmente, a competição justa com o resto do mundo, em que muitos países não cingem a sua produção às mesmas normas sociais e ambientais, o futuro da nossa indústria, da nossa segurança energética, são algumas das questões que exigem da UE uma “diplomacia económica” coerente e proactiva. A principal potência económica que é a Europa, o comércio mais aberto e livre, a
Actualmente, a diferença
principal fonte de ajuda ao desenvolvimen-
entre as realidades mundiais
to, o modelo de referência que combina o
e uma Europa que luta
crescimento e a protecção social, não pode
para permanecer na corrida
resignar-se a ser solúvel na globalização.
parece alarmante
Em termos de segurança, a política da UE tem tido, em poucos anos, um progresso notável que não deve ser subestimado, a União Europeia pode contribuir como tal na manutenção da paz nos Balcãs, em África ou realizar uma operação de combate à pirataria ao largo da costa somali. O Tratado de Lisboa abriu o caminho para o conceito de solidariedade colectiva e uma cooperação mais estreita. Podemos falar de “soberania” da Europa em matéria de defesa? As coisas são mais complexas. A complementaridade entre a OTAN e a política europeia de defesa, como a França sublinhou em juntar totalmente as estruturas integradas na OTAN, é um pilar da nossa segurança. A construção de uma melhor organização da segurança no continente europeu está aberta, tendo em conta realidade da Rússia como um parceiro, quando os Estados Unidos e a Rússia assinaram um novo acordo para reduzir arsenais nucleares. Além disso, a dimensão europeia da defesa é o resultado combinado de mecanismos que ela implementa em conjunto, tais como as suas próprias forças de intervenção, e o compromisso nacional de países-membros, por exemplo, no Afeganistão. A chave para esta arquitectura pragmática
e cooperativa, é que a Europa não é obrigada a um acordo sobre as garantias da sua própria segurança, é suficientemente forte para responder a crises ou ameaças assimétricas locais que a afectam directamente, e suficientemente credível para ser respeitada pelos outros poderes, como um verdadeiro actor de equilíbrio estratégico. Sem dúvida que para a atingir plenamente, os esforços da defesa têm de ser mais sustentados e compartilhados entre os Estados-Membros. Mais, a soberania para a Europa no mundo de hoje, não é uma utopia. É uma condição de sobrevivência para o nosso modelo de sociedade e nossos valores. Actualmente, a diferença entre as realidades mundiais e uma Europa que luta para permanecer na corrida parece alarmante. Se eles estão cientes destas questões, os europeus são ainda capazes de as preencher.
n
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Dossier Que soberania para a Europa
Luca del Balzo di Presenzano - Embaixador de Itália
Para poder enfrentar com maior eficácia a
Comissão e aumentamos os do Parlamento
crise económica dos nossos dias, a Itália, tal
Europeu. Portanto, devemos reforçar agora
como os outros Estados membros da União
a identidade europeia, explorar mais apro-
Europeia, actua para o constante reforço da
fundadamente as raízes comuns dos nossos
nossa governancia comum. Os últimos acon-
povos, confirmar os seus direitos comuns
tecimentos na Grécia de facto dizem respeito
fundamentais num espírito de tolerância e em
a toda a Europa, sem excluir ninguém. Está
conformidade com a tradição humanista que
em causa a credibilidade da zona euro e por-
sempre caracterizou, ao longo dos séculos, a
tanto o nosso empenho deve ser total, não
acção da Europa no mundo.
só a nível económico mas também político.
No que se refere à segurança, em particular,
Na realidade, os desafios globais do mundo
a União Europeia deve poder contar com
contemporâneo não se limitam à economia
uma política comum da defesa, isto é, com
mas referem-se também aos aspectos po-
um exército de alcance europeu, para que
líticos e sociais da nossa vida institucional.
se possam incrementar as suas capacidades
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da
de intervenção e a sua presença em vários
República italiana, Franco Frattini, defen-
teatros de crise do xadrez internacional.
Pa-
deu recentemente a importânica de uma
rece de facto ser preciso dotar-se de meios
política comum europeia se se quiser dar à
válidos para poder intervir eficazmente em
União Europeia um papel activo no domínio
defesa dos nossos valores comuns e da paz
internacional. Não nos devemos esquecer,
nas áreas mais críticas do planeta. Se qui-
nessa óptica, que também uma política da
sermos de facto ser crediveis na luta contra o
cidadania comum constitui um dos pila-
terrorismo internacional, se se quiser contri-
res da construção da Casa da Europa. De
buir para a segurança nuclear e para a esta-
facto, definimos com o Tratado de Lisboa,
bilização dos países em conflito entre eles, a
o mandato do novo Presidente estável da
Europa deve poder agir unida, para garantia
União Europeia, reforçamos os poderes da
da soberania dos seus Estados membros,
10 • Diplomática - julho/Setembro 2010
➤
Luca del Balzo di Presenzano
➤
incrementando o nível da própria seguran-
ça sem estar confiante só na potência militar dos Estados Unidos na salvaguarda e no reforço do imprescindível vínculo transatlântico. A posição da Itália é a de que a Europa deve reforçar a própria coesão se quiser evitar um abrandamento progressivo do seu papel na sociedade moderna a nível global, onde o centro de gravidade das relações políticas e económicas internacionais se está a afastar do mundo ocidental e atlântico. Nenhum dos Estados membros da UE escapará a um processo de decadência confiando apenas nas suas próprias forças nacionais. A Itália tem a intenção de desfrutar da melhor forma as inovações introduzidas pelo Tratado de Lisboa para reforçar de maneira decisiva o nosso processo de integração comum. Mas precisamente para poder conseguir apro-
“A cooperação entre os Estados,
veitar ao máximo as possibilidades que nos
por si só, não resolve nada. O
são oferecidas pelo Tratado e pelo desen-
que devemos ter em mira é a
volvimento de políticas comuns em todos os
fusão entre os interesses dos
sectores chave do processo de integração
povos europeus.”
– o da imigração que consideramos que o factor decisivo do nosso destino é constituido por uma maior vontade política comum. Não nos podemos render a uma espécie de “integration fatigue” mas devemo-nos valer, em qualquer circunstância, das razões objectivas, cada vez mais urgentes, que nos empurram para a estrada da integração. Neste sentido, a Itália tem especial confiança no papel desenvolvido pela Comissão e pelo Parlamento tratando-se de instituições supranacionais que cooperam activamente com o Conselho para a consolidação do papel da União Europeia no mundo e para o reforço da soberania e da segurança de todos os seus Estados membros. Se me é permitido, gostaria de concluir recordando as palavras de Jean Monet, um dos Pais Fundadores da Europa moderna: - “a cooperação entre os Estados, por si só, não resolve nada. O que devemos ter em mira é a fusão entre os interesses dos povos europeus”.
n
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Dossier Que soberania para a Europa
Jean-Michel Veranneman de Watervliet - Embaixador da Bélgica Reflexões sobre o conceito de Estado-Nação soberano
Cada vez mais,desde 1945, o Estado-Nação
estados a um nível nacional. A União Europeia,
soberano, homogéneo e centralizado, com
da qual o Euro e Schengen são as realizações
um só aparelho de estado que administra a
mais tangíveis, estendeu as suas competências
economia, a justiça, a polícia, a educação, a
em quase todos os aspectos da vida em socie-
defesa, os transportes, as finanças públicas
dade. As receitas do seu extraordinário sucesso
etc., aparece como uma forma ultrapassada de
são imitadas em todos os continentes. ASEAN,
organização da sociedade. Constata-se que
OEA, MERCOSUL e outros são transposições
não corresponde mais aos desafios da socieda-
a outros continentes de estruturas suprana-
de moderna com os seus problemas financeiros
cionais. No inicio são somente zonas de livre
internacionais, a defesa do meio ambiente, a
comércio mas pela força das circunstâncias
pirataria etc. E daqui em diante será a vários
e para o interesse comum dos membros, os
níveis que se tomarão as decisões da forma
estados poderão ser levados a transferir, cada
mais apropriada e se exercerá o controlo demo-
vez mais, a sua soberania para as instituições
crático.
supranacionais.
A ONU é um embrião de governo mundial e
Isto não significa no entanto, que o Estado-
será chamada a tomar cada vez mais decisões
Nação esteja, por definição, condenado a de-
que eram antigamente da competência exclu-
saparecer. Em diversos casos, ainda é a mais
siva dos estados, por exemplo na manutenção
concreta referência, a base onde o cidadão se
da paz interna, na repressão das violações dos
sente mais estável, mais seguro. Nos países
direitos humanos. Na nossa época, caracteri-
culturalmente mais homogéneos e relativamen-
zada pela globalização, um estado só não pode
te reduzidos, pode ser o nível mais apropriado
legislar os fluxos financeiros, os direitos de
para a tomada de decisões, para o controle
autor, a utilização da internet, a poluição do ar
democrático, para todas as competências que
e dos oceanos. Esse é o papel das instituições
não dependam do supranacional. Questões re-
especializadas da ONU.
lativas à nacionalidade, à imigração ou à polícia
A Europa foi a pioneira da integração dos
dependerão, sem dúvida, e ainda por muito
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➤
Jean-Michel Veranneman de Watervliet
➤
tempo do “nacional”, isto é do Estado-Nação.
Os Estados-Nação soberanos sucederam-se às monarquias absolutas (dirigidas por um soberano) depois da Revolução Francesa. As suas
Os Estados-Nação não desaparecerão,
fronteiras raramente têm em conta as aspira-
pelo menos não a maioria,
ções das populações locais e, na maioria dos
mas entregarão cada vez mais poderes
casos, foram traçados em função de tratados
de decisão a órgãos internacionais,
internacionais, de guerras ganhas ou perdidas.
regiões e poderes locais.
Raramente são homogéneos, em muitos casos não respondem às aspirações regionais que se fazem ouvir cada vez mais, à vontade de cada grupo humano de resolver seus problemas. Em muitos casos estas aspirações regionais
pensável para a existência de um sentimento
manifestam-se como expressão de um senti-
de “eu colectivo”, ou até mesmo de sentimento
mento de “eu colectivo” e aqueles que o expri-
nacional ou de patriotismo. Todos sabem o
mem optam para que as decisões que dizem
quanto os Suíços adoram a sua independência
respeito a uma região, a uma comunidade
e, no entanto, falam quatro línguas diferentes.
linguística, se tomem a esse nível. Isso acon-
Ninguém ousaria afirmar que os Americanos ou
tece na Bélgica, mas também na Catalunha,
os Brasileiros não têm sentimento nacional ou
na Bavária, na Córsega, no Pais Basco e na
patriótico mas usam as línguas dos seus anti-
Escócia. A ex-Yugoslavia, as guerras no Cáu-
gos colonizadores, sendo esse o caso de todos
caso lembram-nos as catástrofes que podem
os países desse continente americano.
trazer nacionalismos locais mal geridos, explo-
Pode-se prever que o nosso século virá a de-
rados ou exacerbados. Em África, as fronteiras
senvolver uma organização piramidal da so-
herdadas da colonização não têm em conta as
ciedade humana. Às Nações Unidas e às suas
particularidades étnicas locais e são cada vez
organizações especializadas a nível mundial
mais postas em causa, à posteriori quando os
serão atribuídos mais poderes, aos organismos
estados não têm os meios materiais de exercer
regionais como a União Europeia também.
as suas soberanias.
Os Estados-Nação não desaparecerão, pelo
A língua é uma importante referência cultu-
menos não a maioria, mas entregarão cada vez
ral. Não se pode limitar a língua a um simples
mais poderes de decisão a órgãos internacio-
status de veículo de informações pois ela cria
nais, regiões e poderes locais.
modos de pensar comuns àqueles que a usam
Esta evolução terá muitas implicações políti-
e comunicam subtilezas que nem sempre
cas e jurídicas. Causará problemas, sendo os
serão entendidas por aqueles que se exprimam
principais a legitimidade e o controlo democrá-
noutra língua. É incontestável e compreensível
tico destas entidades globais, continentais ou
que muitos britânicos se sintam mais próximos
regionais, cujos poderes executivos deverão
da língua e da cultura dos outros países angló-
poder ser levados a prestar contas através de
fonos do que dos seus vizinhos continentais. A
eleições. De momento as eleições são orga-
Francofonia, a Comunidade dos Países de Lín-
nizadas quase exclusivamente ao nível dos
gua Portuguesa e a Commonwealth são exem-
Estados-Nação. Também teremos o problema
plos das ligações criadas pela língua, entre
dos poderes e dos meios de coação, dos quais
aqueles que a falam e que podem desenvolver-
essas novas autoridades poderão dispor, a
se para além do simples facto cultural. Faz-se
nível judicial, polícial, de defesa, etc… As que
muitas vezes confusão entre nação e língua. E,
existem hoje são quase sempre exclusivamente
no entanto, uma língua exclusiva não é indis-
nacionais.
n
julho/Setembro 2010 - Diplomática • 13
Dossier Que soberania para a Europa
Asko Numminen - Embaixador da Filândia A U.E. e a soberania no mundo globalizado
Quando os Estados-Membros aderiram
Herman van Rompuy, referiu que o maior
à União Europeia, renunciaram volunta-
desafio da UE, neste momento, será quan-
riamente a uma parte importante da so-
to à forma de lidar com o resto do mundo,
berania, em prol das tomadas de decisão
enquanto Europa. A UE, tal como outros
comuns. Nesse aspecto, a U.E. é uma
intervenientes internacionais, têm que ter
comunidade única de estados soberanos.
em linha de conta este ambiente global,
A integração europeia tem avançado gra-
nas suas acções. Tal não significará que os
dualmente e a amplitude da tomada de
estados devam apenas limitar-se a ajustar
decisões comuns tem vindo a ser alargada.
passivamente as suas políticas às realida-
O Tratado de Lisboa é o mais recente e
des globais existentes. A UE e os outros
importante passo neste processo. No longo
membros da comunidade internacional
processo de ratificação do tratado, a ques-
podem, aliás devem desenvolver esforços
tão da soberania foi debatida em muitos
para alterar as realidades do mundo actual,
países membros. A entrada em vigor do
para o bem comum. A alteração climática
Tratado de Lisboa, significa também nesta
é um claro exemplo desta necessidade. As
complexa questão, que todos os Estados-
sociedades de todos os países são afecta-
Membros chegaram à derradeira conclusão
das pelas alterações climáticas e, perante
que o tratado serve os seus interesses vi-
esta realidade, temos que criar soluções
tais, bem como os interesses da UE, como
comuns para impedir o aumento da tempe-
um todo.
ratura global, causada pelo Homem. A crise
Hoje em dia vivemos num mundo globaliza-
financeira global tem sido mais um desafio,
do em que a interdependência dos estados
para o qual são requeridas soluções glo-
e das economias é muito alta e em cres-
bais. Perante o desenvolvimento destes
cimento contínuo. Perante este cenário,
esforços, as soberanias renunciam ao seu
a soberania é um conceito muito relativo.
lugar perante a responsabilidade comum.
O Presidente do Conselho Europeu, Sr
Nas instituições europeias, os
14 • Diplomática - julho/Setembro 2010
➤
Asko Numminen
➤
Estados-Membros da UE exercem os
seus próprios poderes de decisão, a sua soberania em políticas comuns da União Europeia, mas tal exercício não poderá ocorrer de forma isolada relativamente ao resto do mundo exterior. O cenário mundial encontra-se em constante mutação, as novas economias emergentes têm assumido uma posição muito mais forte do que anteriormente. Estamos claramente a caminhar na direcção de um mundo multipolar. Tudo isto é positivo. Há décadas que a União Europeia tem vindo a trabalhar de forma activa no desenvolvimento sustentável e no desenvolvimento económico, dos países em desenvolvimento. Os novos centros de
Vivemos num mundo globalizado
poder emergentes vão proporcionar novas
em que a interdependência dos
oportunidades para a cooperação eco-
estados e das economias é muito
nómica e de negócios. É também natural
alta e em crescimento contínuo.
que estas alterações no poder económico
Perante este cenário, a soberania
se reflictam nas estruturas de tomada de
é um conceito muito relativo
decisão das instituições multilaterais. Ao mesmo tempo, a UE tem que melhorar a sua própria competitividade e a sua capacidade de inovar. A União Europeia adoptou recentemente uma nova estratégia para encarar este desafio - EU 2020. Esta estratégia proporcionará um novo instrumento à UE, no sentido de promover o crescimento e o emprego, de forma sustentável, levando em conta as necessidades económicas, ambientais e sociais. Esta estratégia de crescimento e emprego é vital não só, para o bem-estar das suas empresas e dos seus cidadãos, mas tem também uma dimensão política. O desempenho económico da União Europeia tam-
da UE e para fortalecer a sua capacidade
bém vai determinar em larga escala, a sua
como actor internacional. A história e a ge-
posição no mundo. Durante muito tempo, a
ografia desempenham sempre um papel na
UE desenvolveu esforços para uma presen-
política externa e é por isso natural que os
ça mais forte no palco internacional. O Tra-
Estados-Membros por vezes têm algumas
tado de Lisboa vai reforçar a capacidade da
diferenças nestas questões. Acredito que
União Europeia na política externa comum
o Tratado de Lisboa vai ajudar os estados
e nas políticas de segurança, para falar a
membros a encontrarem mais facilmente
uma só voz. O tratado é uma resposta à
o consenso e promover a unidade nestas
necessidade de melhorar a eficácia interna
questões vitais.
n
julho/Setembro 2010 - Diplomática • 15
Dossier Que soberania para a Europa
Vassilios Costis - Embaixador da Grécia
As Organizações internacionais regionais, constituem o espaço preferencial da cooperação multilateral em assuntos de defesa e segurança.
A definição tradicional do conceito de seguran-
rumo independente ao dos Estados de modo a
ça centrava a sua atenção no controlo e na uti-
impô-los como factores autónomos da realidade
lização da força militar por parte dos países. No
internacional. Por outro lado, no entanto, não se
entanto, na época pós-guerra fria, a natureza
devem desprezar os aspectos positivos do fe-
dos riscos e das ameaças externas à seguran-
nómeno da constituição e do funcionamento de
ça nacional dum país não é só militar e não se
organizações regionais na cena internacional.
podem enfrentar só com meios militares. Tam-
Um destes aspectos é o facto de que no âmbito
bém, a natureza variável dos conflitos constitui,
das organizações regionais foram desenvolvi-
aparentemente, a característica predominante
das redes de laços operacionais que reduziram
do mundo pós-bipolar, onde os conflitos que
as tensões nacionalistas e melhoraram, em
decorrem em cada vez mais pontos do planeta
geral, as relações político-económicas a nível
são mais «intra-estatais» (intra-state conflict)
regional. Por outro lado, as organizações regio-
e menos «inter-estatais» (inter-state conflict).
nais conseguiram controlar certos conflitos e
Consequentemente, devido à natureza trans-
impedir a expansão de outros.
nacional de muitos problemas de segurança,
Por fim, mais um ponto positivo da actividade
torna-se indispensável a cooperação interna-
das organizações regionais constitui o facto de
cional relacionada com o desenvolvimento de
que a sua participação nas relações internacio-
Organizações internacionais. Neste contexto,
nais pôs em dúvida a bipolarização e a lógica
as Organizações internacionais e regionais,
da guerra fria. Sem sobrevalorizar a importân-
constituem o espaço preferencial da coope-
cia destes fenómenos, o seu contributo para o
ração multilateral em assuntos de defesa e
melhoramento da situação internacional é uma
segurança.
realidade.
Dum modo geral, o aumento das organizações
A Grécia, sendo um dos membros mais antigos
regionais no período pós-guerra (NATO, UE,
da NATO e da União Europeia, carrega um
OSCE, Conselho da Europa) e a sua presença
intenso sentimento de responsabilidade para a
activa na cena internacional não seguiu um
consolidação dum clima de confiança na região
16 • Diplomática - julho/Setembro 2010
➤
Vassilios Costis
euro-atlântica e trabalha com base num plano
aos novos desafios para a segurança do espa-
e num programa a fim de contribuir para enfren-
ço euro-atlântico e euro-asiático, a Presidência
tar os novos desafios em matéria de segurança.
grega inaugurou um diálogo informal, aberto,
Neste âmbito, Grécia é membro fundador do
e sincero que hoje em dia é conhecido como
➤
Grupo de Contacto para a luta contra a pira-
«Processo de Corfu». A iniciativa da Presidên-
taria, constituído por decisão do Conselho de
cia grega tornou-se comum para todos os «56»
Segurança (1851/16.12.2008). No grupo acima
com a adopção na Reunião de Ministros de
referido participam países com um forte papel
Atenas, em Dezembro de 2009, da Declaração
regional, forças marítimas, assim como países
para o Processo de Corfu e da Decisão para a
que enviaram formações marítimas para a re-
sua continuação. Com a referida Declaração os
gião onde se manifestam os ataques de piratas.
Ministros reconheceram os problemas princi-
O Grupo de Contacto para a luta contra a Pi-
pais que deverão ser combatidos com base nos
rataria trata, em grupos de trabalho sectoriais,
princípios e no acervo da OSCE enquanto que
de quatro assuntos no total: a) coordenação
com a Decisão definiram como vai continuar o
operacional e apoio das infra-estruturas de
Processo durante 2010.
segurança dos países regionais, b) aspectos de
Sem dúvida, o Processo de Corfu tem objec-
repressão penal à pirataria, c) autoprotecção
tivos ambiciosos: restituição da confiança,
dos navios comerciais e d) estratégia de comu-
resolução de problemas pendentes, luta co-
nicação.
mum contra novas ameaças. No entanto, tem
O trabalho do Grupo de Contacto não prejudica,
como principal objectivo reanimar o espírito de
em caso algum, a autonomia tanto das acções
unidade do objectivo (commonality of purpose)
isoladas dos Estados assim como, também, dos
que constituiu a base na qual foi construído
restantes esforços colectivos (UE, NATO) para
o Processo de Helsínquia há 35 anos. Obvia-
a eliminação do problema da pirataria. Funciona
mente, tal Processo será longo e não irá avan-
como mecanismo informal de troca de ideias e
çar sempre a um ritmo estável. No âmbito do
propostas que dá a possibilidade aos 45 países
Processo de Helsínquia, foram debatidas mais
participantes até ao momento, organizações
de 4600 propostas e realizaram-se milhares de
internacionais e associações de armadores, de
encontros entre delegações. Como foi compro-
avaliarem a eficácia dos meios utilizados para a
vado na altura, o elemento mais importante é
luta contra a pirataria. No dia 28 de Janeiro de
a fermentação e a osmose que se realiza no
2010 teve lugar, em Nova Iorque, a 5ª Cimeira
âmbito destas consultas, a criação de condi-
do Grupo de Contacto que atribuiu à Grécia a
ções para a compreensão e o entendimento de
Presidência do próximo Plenário, cujos tra-
todas as partes.
balhos serão realizados no dia 25 de Maio de
O Processo de Corfu continua, a um ritmo satis-
2010, em Nova Iorque.
fatório, no quadro da OSCE. A Grécia acredita
Numa conjuntura em que a obtenção da segu-
que dispõe da dinâmica para dar soluções a
rança na região euro-atlântica se torna cada
assuntos críticos. Contudo, todos os parcei-
vez mais complicada, a Grécia assumindo a
ros deverão demonstrar paciência, boa fé e
Presidência da OSCE em 2009, herdou uma
disposição sincera de ouvir e compreender as
crise e uma oportunidade. Uma crise de con-
posições e pontos de vista com os quais não
fiança e uma oportunidade para a inversão do
concordam necessariamente.
clima. Tendo como objectivo a restituição do
Estamos num período de mudança, num pe-
clima de confiança entre os parceiros, como
ríodo de transição. Os desafios com que nos
condição principal para a resolução dos verda-
deparamos são complicados e inéditos mas te-
deiros problemas de segurança que continuam
mos razões para esperar conseguir um mundo
a preocupar a Europa, assim como fazer face
melhor e mais seguro com os nossos esforços.
n
julho/Setembro 2010 - Diplomática • 17
Dossier Que soberania para a Europa
Rostyslav Tronenko - Embaixador da Ucrânia
Tocando a questão de segurança europeia,
a Ucrânia juntou se aos esforços interna-
gostaria de destacar a posição do Presiden-
cionais, transformando os seus centros de
te da Ucrânia, Viktor Yanukovich, de que
pesquisa nuclear civil para funcionarem com
a Ucrânia está disposta a se engajar acti-
urânio pouco enriquecido, confirmando as-
vamente nas discussões sobre o futuro da
sim sua reputação do parceiro internacional
segurança europeia, considerando a OSCE
coerente e previsível e, simultaneamente,
como uma plataforma adequada para esse
reforçando a segurança europeia e mundial
diálogo. O presidente da Ucrânia, particular-
através da remoção de materiais perigosos,
mente, enfatizou a importância da reflexão
expostos a potenciais impactos ambientais e
em qualquer novo documento sobre a segu-
as ameaças de ataques terroristas.
rança europeia e da prestação de garantias
Outra questão que continua a ser prioridade
de segurança, juridicamente vinculativas,
para o meu País é a segurança energética. A
para os Estados que renunciaram volunta-
parte ucraniana está comprometida com o diá-
riamente as armas nucleares, bem como
logo amigável e mutuamente benéfico com
para os Estados que, como a Ucrânia, não
a Federação Russa, a fim de persuadir os
são membros de qualquer bloco político e
nossos amigos russos a reconsiderarem os
militar. Outro ponto importante é o direito
acordos assinados pelo Governo anterior da
fundamental dos Estados de escolherem os
Ucrânia, em Janeiro de 2009, contratos de
próprios meios para garantir a segurança
gás, que foram altamente penalizantes para
nacional.
a economia ucraniana e ainda continuam a
Como uma contribuição prática para a segu-
ser um obstáculo para a restauração do seu
rança europeia e mundial, a Ucrânia assu-
crescimento económico. Estou também con-
miu um compromisso na recente Cúpula de
vencido de que a segurança energética da
Segurança Nuclear em Washington DC, de
Europa deve ser baseada nos princípios de
se livrar de todos os seus stocks de urânio
uma transparência total das relações entre
altamente enriquecido, até 2012. Assim,
os responsáveis pela produção, trânsito e
18 • Diplomática - julho/Setembro 2010
➤
Rostyslav Tronenko
➤
consumo de fontes de energia. Sendo um
país de trânsito importante do gás natural russo para os países da União Europeia, a Ucrânia é obrigada a efectuar todas as reformas necessárias no domínio da moder-
A Ucrânia assumiu um compromisso
nização do seu sistema de transporte de gás
na recente Cúpula de Segurança
e fazer mais eficaz a utilização dos investi-
Nuclear em Washington DC,
mentos e recursos, para poder utilizar a ca-
de se livrar de todos os seus stocks
pacidade total do seu potencial económico.
de urânio altamente enriquecido,
É de conhecimento comum que a segurança
até 2012
europeia inclui também tais ameaças contemporâneas como o tráfico de drogas, o terrorismo, a pirataria e os cyber-ataques. No que diz respeito ao tráfico ilícito de drogas, não pude deixar de mencionar o Memo-
condenado a manifestação do mesmo em
rando de Entendimento entre o Observatório
todas as suas formas. A fim de evitar tais
Europeu da Droga e da Toxicodependência
atrocidades, deve ser elaborado um melhor
(OEDT) e o Ministério da Saúde da Ucrânia,
mecanismo de coordenação e de troca de
assinado em Kyiv em Janeiro de 2010, para
informações entre as instituições de segu-
lançar a cooperação no domínio de controlo
rança na Europa.
de uso ilícito de drogas. A autoridade com-
Este material vai ser lançado nos dias quan-
petente ucraniana, responsável directamen-
do a Ucrânia comemora o 24 º Aniversário
te pela manutenção das relações com esta
do trágico desastre na Central Nuclear de
instituição da União Europeia, é o Observa-
Chernobyl, que resultou em uma contami-
tório Ucraniano da Droga e Álcool, que tem
nação com radioactividade a qual trouxe
vindo a utilizar a metodologia da UE e dispo-
consequências graves, incluíndo mortes e
nibiliza um considerável banco nacional de
prolongados problemas sérios de saúde em
dados sobre esta problemática. Segundo o
centenas de milhares de pessoas na Ucrâ-
acordo com o OEDT, a instituição da EU,
nia e no exterior. As consequências da erup-
com sede em Lisboa, permite que as partes
ção do material radioactivo do quarto reactor
troquem as informações sobre os tipos de
da Central Nuclear de Chernobyl, foram
drogas e substâncias psicotrópicas novas, o
iguais a quatrocentos bombardeios atómicos
aparecimento no mercado de drogas ilícitas
de Hiroshima, mas não foram avaliadas com
e das tecnologias utilizadas na sua produ-
precisão até hoje. A área próxima passou a
ção, que acompanhem, em conjunto, a situ-
ser uma zona fechada, com controlo rigo-
ação de drogas e que organizam a formação
roso de entrada, e não apropriada para as
e o intercâmbio de especialistas e de resul-
actividades vitais durante décadas. A este
tados da investigação científica.
respeito, é muito importante reiterar um ape-
Há também o interesse entre as institui-
lo aos parceiros europeus para que partici-
ções ucranianas em continuarem o reforço
pem activamente na acumulação das contri-
da cooperação com a Agência Europeia de
buições para a Fundação de Chernobyl, com
Segurança Marítima, com sede em Lis-
objectivo de construir um novo “Sarcófago”.
boa, especialmente na questão da troca de
Isto é extremamente importante pois vai ser
informações sobre a luta contra a pirataria
a garantia de evitar repetição de catástrofes
marítima.
nucleares no futuro e preservar a segurança
Quanto ao terrorismo, a Ucrânia tem sempre
do continente europeu.
n
julho/Setembro 2010 - Diplomática • 19
Dossier Que soberania para a Europa
Kaya Türkmen - Embaixador da Turquia
Com o Tratado de Lisboa, a UE entrou
melhor. Particularmente, no que diz respeito
numa nova fase da sua trajectória histórica.
à entrada em vigor do Tratado de Lisboa, é
O Tratado dotou a UE com o quadro jurídico
minha convicção de que a União se torna-
necessário para enfrentar os desafios futu-
rá mais eficaz e visível através do mundo.
ros. A UE está, portanto, melhor equipada,
Para isso, terá certamente de ser apoiada
mais eficiente no processo de tomada de
pelos recursos necessários e por vontade
decisão, com mais responsabilidade demo-
política.
crática, assim como uma maior coerência na
Deixem-me partilhar a minha visão para
política externa. Poderá obviamente, levar
o futuro da Europa: a Europa actuando
tempo para que a nova estrutura institu-
como um actor global eficaz e poderoso.
cional seja plena e eficazmente posta em
Uma Europa que se torne uma força motriz
prática. No entanto, o que é importante nes-
da economia global e que preserve o seu
ta fase, é garantir o funcionamento eficaz
dinamismo económico. Uma Europa onde a
do novo sistema. Outro ponto importante
diversidade é uma fonte de enriquecimento,
a ter em mente, é que a entrada em vigor
de acordo com a ideia a “unidade na diver-
do Tratado de Lisboa, irá resolver o debate
sidade”. Uma Europa, que responda eficaz-
institucional num futuro próximo. Isto permi-
mente às expectativas dos seus cidadãos.
tirá que a UE se concentre numa série de
Em termos da economia europeia, acredito
questões importantes da sua agenda. Espe-
que preservar o seu dinamismo económico
ro também, que o argumento, alegando que
e revitalizar a sua economia será vital para
a incerteza institucional constitui um obstá-
o futuro da UE, interna e externamente.
culo para o alargamento, chegue ao fim.
Espero que os desafios económicos sejam
A UE está a assumir uma responsabilidade
superados e que a Europa saia reforçada,
cada vez maior nos assuntos internacionais,
da crise financeira e económica global. Não
como nunca na sua história, e certamen-
há dúvida de que uma UE mais forte interna-
te contribui para um mundo mais seguro e
mente, é o requisito para uma UE mais
20 • Diplomática - julho/Setembro 2010
➤
Kaya Türkmen
➤
eficaz e mais visível no cenário global.
A maior conquista da UE tem sido a instauração de um período de paz e estabilidade na Europa. Através da UE, a Europa foi capaz de deixar para trás os conflitos do passado, graças à cultura do diálogo e do compromisso. Hoje, a Europa enfrenta cada vez mais uma situação complexa e interligada de ameaças e desafios. No entanto, nem a UE nem qualquer país sozinho tem capacidade para lidar com os problemas globais de hoje. Há ameaças e desafios comuns e a cooperação internacional é uma necessi-
A UE está a assumir uma
dade. O alargamento tem desempenhado
responsabilidade cada vez maior
um papel fundamental, e contribuiu para a
nos assuntos internacionais, como
democracia e a prosperidade no continente.
nunca na sua história,
Os valores e as políticas europeias, terão
e certamente contribui para um
certamente, um alcance e um impacto muito
mundo mais seguro e melhor.
mais global, com a continuação do processo de alargamento. A adesão à União Europeia é o objectivo estratégico da Turquia. Para nós, isso não tem outra alternativa. O processo de negociação, que começou a 3 de Outubro de 2005, continua com o objectivo da plena adesão, com base em decisões tomadas por unanimidade da UE. As estreitas relações de longa data entre a Turquia e a UE baseiam-se no respeito pelos valores comuns, bem como nos objectivos comuns e
ligam-nos aos Balcãs, ao Médio Oriente, ao
interesses estratégicos. Tendo em conta os
Cáucaso, à Àsia Central e a todo o sistema
desafios e ameaças globais, estou absoluta-
global. A Turquia é um factor de estabilidade
mente convencido de que a Turquia e a UE
na região e um actor estratégico importante,
devem trabalhar em conjunto, mais de perto,
que contribui para a segurança da Europa e
e unir forças com uma visão comum. A Tur-
dos seus vizinhos. Estou convencido de que
quia está em condições de contribuir para
a adesão da Turquia será uma mais-valia em
a formulação e execução da política externa
vez de um fardo. A adesão de uma Turquia
da UE, assim como para a sua credibilidade
democrática e moderna com a sua localiza-
e eficácia. Para a paz regional e global, pre-
ção geoestratégica única e um grande po-
cisamos uns dos outros. A Turquia emprega
tencial económico, trará benefícios conside-
uma política multi-dimensional, centrada nos
ráveis para a UE. Como país de negociação,
objectivos e numa política externa equili-
assim como actor estratégico na procura
brada, com vista a restabelecer e manter a
da paz regional e mundial, a Turquia tem a
paz, e reforçar a estabilidade e a prospe-
vontade política e um potencial para contri-
ridade na região e no mundo. A geografia
buir ainda mais para o papel global da UE,
da Turquia, a história e os laços culturais,
criando uma sinergia dinâmica.
n
julho/Setembro 2010 - Diplomática • 21
Visita de Estado
A visita do Presidente Lula da Silva a Portugal
O estreitamento dos laços económicos
desencorajá-lo da até então ideia do
e o aumento do universalismo da língua
acordo onde o seu país servirá como
portuguesa foram os principais temas
base para o enriquecimento do urânio
abordados na passagem do presidente
que virá do Irão – até então, o país não
brasileiro por Lisboa.
aceitara nenhuma outra proposta de
Nos meses finais dos dois mandatos de
enriquecimento fora do seu território,
oito anos e com a aprovação popular
o que resulta até hoje em ameaças
recorde no seu país, o ocupado pre-
norte-americanas ao país do presidente
sidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da
Mahmoud Ahmadinejad.
Silva, finalizou em Lisboa uma expedi-
Após as suas contundentes passagens
ção de oito dias por cinco países dos
nos países já citados, o destino final
continentes Europeu e Asiático.
fora Lisboa. A passos apertados, o pri-
No último 19 de Maio, uma quarta-feira
meiro encontro aconteceu no palácio de
ensolarada, o primeiro esquerdista
Belém, numa reunião com o presidente
eleito presidente do Brasil foi recepcio-
Aníbal Cavaco Silva onde diversos as-
nado em terras lusas para uma visita,
suntos foram abordados, principalmente
após passar pela Rússia, Catar, Irão e
relacionados com as questões culturais
Espanha.
e comerciais, como a iniciativa dos dois
O político, que tem elevado a voz aos
países em elevar a língua portuguesa
países e blocos continentais mais
mundo afora e o estreitamento ainda
poderosos e ainda dado mais visibilida-
maior de laços empresariais.
de aos países emergentes acabara de
Digamos que o tom optimista de Luiz
apresentar em Espanha, numa cúpula
Inácio Lula da Silva deva ter contrasta-
da própria União Europeia, um seminá-
do com o conservadorismo de Cavaco e
rio sobre a economia brasileira. No seu
o delicado momento em que vive Portu-
discurso de quarenta e cinco minutos
gal, até mesmo numa possível aposta
em Madrid, Lula repetiu inúmeras vezes
sobre o resultado do futuro encontro
a palavra “óbvio”: “Um inventor pode
entre as nações no Mundial 2010.
inventar o que quiser, mas um gover-
Apostamos que o brasileiro apostou em
nante tem que fazer o óbvio”, insistiu ao
um 4-1 para a selecção canarinha e um
explicar o porquê do sucesso económi-
mais comedido português 1-1 como um
co e da previsão de 6% para o cresci-
óptimo resultado para Portugal.
mento do país sul-americano num ano
Depois da reunião e da possível dis-
em que os países europeus lutam para
cussão sobre o placar da partida a ser
que o défice das suas economias seja o
realizada na África do Sul no dia 25 de
menor possível.
Junho, Lula participou, agora também
Ainda antes da sua lição de moral em
ao lado do primeiro-ministro José Só-
Espanha, Luiz Inácio assinou um impor-
crates, na entrega do Prémio Camões
tante acordo nuclear em Teerão com o
- o mais importante galardão literário da
Irão e a Turquia, que causou um certo
língua portuguesa - cujo vencedor foi
incómodo em Washington e ressaltou a
Arménio Vieira, o primeiro cabo-verdia-
relevância que o presidente canarinho
no a ser honrado com tal distinção.
alcançou no cenário mundial. Tanto
Na cerimónia, o presidente brasileiro foi
que, momentos antes da assinatura do
responsável por discursar a retrospec-
acordo, a secretária americana Hillary
tiva da trajectória do poeta, escritor e
Clinton ligou pessoalmente ao chance-
jornalista de Cabo Verde e reiterou que
ler turco Recep Tayylp Erdogan para
Arménio Vieira é mais uma das figuras
22 • Diplomática - julho/Setembro 2010
➤
1
1, 2 e 3. O Presidente Lula da Silva a ser recebido pelo Presidente da República Cavaco Silva, Primeiro-Ministro José Sócrates e Ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado
2
Fotos: Ricardo Oliveira - GPM
3
julho/Setembro 2010 - Diplomática • 23
A visita do Presidente Lula da Silva a Portugal
➤
responsáveis pelo “universalismo da
mágico no plano económico. Dizem que
civilização lusófona e do seu idioma”.
eu tenho muita sorte, mas trabalho mui-
Ainda nessa celebração, discursaram
to”, bradou com sua voz rouca o futuro
Cavaco Silva e José Sócrates, sempre
candidato a uma cadeira de secretário-
a reforçar o discurso do companheiro
geral na ONU ou à presidência do
político e a pontuar a importância do
Banco Mundial, conforme informam as
país africano ter tido, pela primeira vez,
agências de notícias mundiais. E se o
um vencedor do Prémio fundado em
facto se concretizar, Lula já conta com
1988 e que já consagrou um escritor
o apoio de José Sócrates e de alguns
moçambicano e dois outros angolanos,
outros líderes para alcançar um dos
além de diversos portugueses e brasi-
postos.
leiros.
Ainda no seu discurso, Luiz Inácio
A maratona de Luiz Inácio Lula da Silva
disse que a vez agora é dos países que
em Lisboa teve um factor que ajudou e
não tiveram oportunidade nos últimos
muito no seu deslocamento: a pequena
tempos: “Penso que o século XXI será
distância entre todos os seus compro-
o século dos países que não tiveram
missos. Após o palácio de Belém, a
oportunidade no século passado. Desde
cerimónia do Prémio Camões foi logo
sempre se dizia que o Brasil era o país
ali ao lado, no Museu dos Coches. E
do futuro e esse futuro nunca chega-
a sua última paragem formal, antes de
va.”. E o futuro chegou, com o prestígio
um jantar oferecido por Sócrates, foi no
de um presidente que em 2002 assu-
Palácio das Necessidades, onde decor-
mira a presidência de uma república
reu a 10ª Cimeira Brasil e Portugal, que
dividida entre a esperança da popu-
integra uma série de reuniões anuais para a discussão de acções comuns entre os dois países, com líderes políticos e empresários. Os principais pontos abordados na conferência pelo
"
O Brasil
vive um momento mágico no plano económico" Lula
mandatário brasileiro rela-
lação menos prestigiada e a desconfiança da alta camada social, que não via com bons olhos um ex-metalúrgico com nove dedos nas mãos – fruto de um acidente de trabalho -, ex-sindicalista com os estudos incompletos assumir a cadeira
cionavam-se com a cooperação nas
mais alta na hierarquia política brasilei-
áreas económico-comercial, científico-
ra.
tecnológico, cultural e da energia, além
Na cadeira ao lado, o primeiro-ministro
da ampliação de uma relação triangu-
Sócrates escutara com atenção as
lar com os países africanos de língua
indagações do presidente Lula sobre o
portuguesa, que será detalhada em
processo burocrático do G-20, do qual
Julho, na Cimeira de Chefes de Estado
o próprio faz parte, em relação à não
e de Governo da CPLP (comunidade
aplicação das decisões que são toma-
dos países de língua portuguesa), a
das.
realizar-se no próximo mês de Julho em
“Eu faço parte do G-20, Sócrates, e as
Luanda.
coisas têm sido muito lentas. As nos-
No seu discurso, Lula exaltou o mo-
sas decisões não são implementadas
mento que o seu país vive, reflexo
porque nós não temos uma governação
do franco crescimento económico e,
global, nenhuma instituição multilateral
nas palavras do próprio, do seu árduo
que possa obrigar que as coisas sejam
trabalho: “O Brasil vive um momento
cumpridas”, disse ele.
24 • Diplomática - julho/Setembro 2010
➤
4
5
4 e 5. Presidente Lula da Silva entrega Prémio Camões ao caboverdiano Arménio Vieira 6 e 7. Lula da Silva reune-se com os mais altos dignatários da nação
6
Fotos: Ricardo Oliveira - GPM
7
julho/Setembro 2010 - Diplomática • 25
A visita do Presidente Lula da Silva a Portugal
➤
“Os prejuízos são globais, as políticas
das de biodiesel por ano, num investi-
comerciais são globais, os bancos cen-
mento total de 530 milhões de dólares a
trais têm decisões que são globais, mas
ser dividido igualmente entre as empre-
na verdade a aplicação dessas medidas
sas. A estratégia, além de vislumbrar
são no plano individual”, finalizou.
uma entrada no mercado Ibérico, tam-
Lula também criticou a demora da
bém visa fortalecer a imagem da estatal
União Europeia na ajuda à Grécia e a
verde e amarela no continente europeu,
actuação dos Estados Unidos durante a
já que a matéria-prima do biocombustí-
crise aliada à falta de regulamentação
vel, a palma, será cultivada no estado
do sistema financeiro.
do Pará na região norte do país.
“Eu, sinceramente, não conheço um
Os outros actos assinados dizem res-
economista que me explique porque é
peito à aquisição da empresa brasileira
que a União Europeia demorou três me-
Geovision pela construtora Mota-Engil,
ses para tratar da questão da Grécia”.
um acordo para a formação de profissio-
“Eu não consigo compreender porque
nais e prospecção de petróleo em águas
deixaram o Lehman Brothers quebrar,
profundas, um memorando sobre a
ficaria muito mais barato tentar encon-
igualdade de género e um protocolo de
trar uma saída enquanto ele estava
cooperação sobre doping aliado a um
em actividade. Não consigo entender
acordo de cooperação técnica para o
porque os países ricos não têm uma
saneamento e tratamento de resíduos
regulamentação do sistema financeiro
urbanos para o Rio de Janeiro, já com
mais dura, como por exemplo no Bra-
vista para o Mundial de 2014 e os Jogos
sil, onde o sistema financeiro não pode
Olímpicos de 2016.
alavancar mais de dez vezes o seu
O documento final da Cimeira de Lisboa
património líquido.”
reitera que o “governo português nota,
Já o primeiro-ministro português apelou
com satisfação, o papel que o Brasil e
para que os portugueses e a comunida-
o seu presidente vêm desempenhando,
de internacional confiem na economia
em particular no actual momento, na
de Portugal. O apelo foi feito enquan-
gestão de várias questões de interesse
to o Conselho de Ministros do país
crucial para a manutenção da paz e da
aprovava o Programa de Estabilidade
segurança internacionais”. O texto ain-
e Crescimento, cuja meta é reduzir o
da cita que ambos insistem na análise
défice orçamental de 9,3 para 7,3 por
das consequências da crise financeira
cento. Além do programa, foram apro-
internacional, das políticas aplicadas
vadas outras medidas que visam com-
para enfrentá-la e das medidas que
bater os avanços da crise.
deverão ser tomadas para reformar o
No final da cúpula, o presidente bra-
sistema financeiro internacional, a fim
sileiro assinou juntamente com José
de “relançar a economia e promover o
Sócrates sete acordos bilaterais que
emprego”.
visam o estreitamento ainda maior en-
O último compromisso de Luiz Inácio
tre os países, principalmente no âmbito
Lula da Silva em Portugal foi um jan-
energético e cultural.
tar oferecido por José Sócrates, cujo
O principal é o projecto de produção de
palpite para o já citado jogo do dia 25
biocombustíveis entre a Petrobrás e a
de Junho no Mundial 2010 deve ter sido
GALP, que prevê a entrada da petrolífe-
favorável a Portugal: 1-0, com muito
ra brasileira na refinaria de Sines, com
suor e luta.
capacidade em produzir 260 mil tonela-
26 • Diplomática - julho/Setembro 2010
n
K. Lara Cury
Visitas de Estado
Uma viagem capaz de mudar a imagem de Bento XVI Edgar Clara: edgclara@gmail.com
Tornaram-se, visivelmente, controversas as
de perceber as linhas mestras que sobressaíram
visitas dos Papas nos últimos anos. As visitas de
desses dias. Não há a menor dúvida de que a
Bento XVI, eleito em 2005, têm recebido resistên-
emoção foi a figura mestra de um papa profunda-
cias várias por parte de minorias, posteriormente
mente racional. Bento XVI apresenta-se em Por-
amplificadas pelos diferentes meios de comuni-
tugal no ano em que se comemora a instauração
cação. Serão resistências plausíveis? Racionais?
da República e frisa esse aspecto no seu primeiro
Neutras? O que realmente se pode dizer desta
discurso. Diplomaticamente apaga os fantasmas
visita de Bento XVI a Portugal?
que estavam nas cabeças de alguns por, daí a
A visita de um Papa a um Estado é um aconteci-
umas horas, se celebrar a eucaristia na praça
mento por si mesmo. Bento XVI, ao sair do Esta-
onde o regicídio teve acontecimento.
do mais pequeno do planeta, traz sempre consigo
Dentro e fora da Igreja subestimava-se a figura
dois cargos com implicações espirituais, por ser
desta Papa. Não é carismático! Não é João Paulo
bispo de Roma e garante da unidade e pureza da
II! Não é um homem de massas! Tímido, frio, ale-
fé cristã, e também diplomáticas com os diferen-
mão, racional! O percurso entre o Aeroporto e a
tes Estados. A própria concordata entre a Santa
Nunciatura poderia denunciar um enfraquecimen-
Sé e o Estado Italiano pressupõe uma relação
to da Igreja Católica em Portugal ou o enfraque-
diplomática de segurança. Ao sair da Basílica de
cimento da relação dos portugueses com Bento
São Pedro, diante da Praça, em qualquer acto, a
XVI. O gelo quebrou-se e percebeu-se logo à
segurança é da responsabilidade do Estado Italia-
chegada. Os portugueses não esperam Bento XVI
no, mas a partir daquela porta para dentro é já da
ou João Paulo II, mas aguardam o sucessor de
competência da segurança do Vaticano.
São Pedro. Eles revêem-se naquele que sucedeu
O que é mais notável, do ponto de vista da comu-
a João Paulo II, tão ligado ao Santuário de Fáti-
nicação, na visita deste chefe de Estado a outros
ma. Aliás, os ataques sucessivos que este Papa
Estados, são as medidas de segurança. A opera-
tinha sofrido faziam prever um apoio incondicional
ção que se tem de levar a cabo para receber um
dos católicos. Os mais novos provaram-no em
Papa, como aconteceu com Bento XVI, tem pro-
Lisboa: quinze mil jovens participam nas activida-
blemas acrescidos às operações normais para re-
des e alguns vão até Fátima; cinco mil crianças
ceber os chefes de Estado de outros países. Em
dirigiam-se para a missa; mais de cem mil pesso-
primeiro lugar, porque é preciso segurança para a
as acolhem o Papamóvel que transporta o chefe
pessoa de Bento XVI – garante da fé católica e lí-
de Estado do Vaticano. De facto, esta visita de
der do Estado do Vaticano – e, em segundo lugar,
Estado é bem diferente das outras visitas de Es-
porque o Papa arrasta sempre consigo multidões
tado de outros chefes que se dirigem a Portugal.
que precisam de segurança mínima. Por isso,
Não há memória, em Portugal, de se receber um
mesmo sendo um Estado laico, qualquer que ele
chefe de Estado com um acolhimento caloroso
seja, tem de proteger todos os que legitimamente
como aquele que aconteceu com o Papa.
se encontram.
Mas não foram apenas os portugueses que tive-
Mas, dirão alguns, não comprometerá a laicidade
ram a capacidade de colocar a emoção na visita
do Estado o facto de ter de fazer gastos acres-
do Papa e de fazer mudar a opinião pública mun-
cidos com um “homem” religioso? Sendo Bento
dial sobre a figura do Papa. O próprio Bento XVI,
XVI membro da Igreja Católica. Sendo a Igreja
que em 2000, tinha interpretado a terceira parte
Católica constitutiva da cultura da maioria dos
do segredo de Fátima, dá-lhe, agora, um novo
portugueses. Sendo o Estado laico constituído
sentido. A Igreja, no século XX, era perseguida
por uma sociedade religiosa que recebe dos seus
pelos regimes totalitários, hostis à própria Igreja e
contribuintes os impostos, poderemos dizer que é
aos seus membros – desde clérigos a religiosos e
justo que a laicidade do Estado esteja submetida
religiosas até aos próprios leigos. O simples acto
aos cidadãos a quem ele próprio serve.
de acreditar era motivo de perseguição. Agora
Mais do que racional a comunicação é emotiva
a Igreja é perseguida por causa do seu próprio
Centrando-nos na visita particular de Bento XVI
pecado. Em Fátima, Bento XVI abre um novo
a Portugal, teremos, à distância, a capacidade
projecto da mensagem de Fátima para
28 • Diplomática - julho/Setembro 2010
➤
julho/Setembro 2010 - Diplomรกtica โ ข 29
Uma viagem capaz de mudar a imagem de Bento XVI
➤
o panorama internacional e diz: “Iludir-se-ia
quem pensasse que a missão profética de Fátima
de Fátima. Mais uma vez, a emoção deixa falar a razão e a imagem de Bento XVI vai-se esfriando.
esteja concluída”.
Uma nova racionalidade capaz de encontrar a
A terceira parte do segredo de Fátima esteve
verdade.
sempre muito ligada ao Santo Padre, ao Vigário
No encontro com o chamado mundo da cultura,
de Cristo, ao sucessor de Pedro, ao Papa, “ao
Bento XVI está diante de cientistas, professores
homem vestido de branco”, como refere o texto.
universitários, músicos, compositores, bailarinos,
Pensou-se, em tempos, que este homem seria
pintores, escultores, homens das letras e das
João Paulo II, ou os Papas do século XX. Porém,
artes. Aos 83 anos de idade entra no Centro Cul-
percebe-se que Bento XVI ao chegar a Portugal
tural de Belém e cumprimenta todos os que estão
vem com tanto sofrimento na alma como qualquer
no palco. No final dá um tempo para cumprimen-
dos papas do século XX que aqui se apresenta-
tar todos os líderes ou representantes das princi-
ram ou sobre Fátima falaram. Bento XVI deixa um
pais religiões representadas em Portugal e várias
gesto notável para o, então, considerado intelec-
personalidades do mundo da cultura.
tual, racionalista, alemão, tímido e homem frio.
Ao entrar é efusivamente aplaudido por crentes e
Como um filho, aos pés da mãe, entrega uma rosa
descrentes, homens de fé ou agnósticos, católi-
de Ouro nas mãos da imagem de Nossa Senhora
cos ou homens de outras religiões. É o peso da
30 • Diplomática - julho/Setembro 2010
➤
➤
humilde sabedoria que se apresenta diante dos
discursa o que antes tinha preparado.
homens de cultura. Palavras? Essas eram previ-
Não há dúvida. A imagem do Papa depois de
síveis: a verdade. Trata-se da luta maior de Bento
Portugal não mais será a mesma na opinião
XVI, desde que se encontrava como professor
pública nacional e internacional. Primeiro, porque
universitário e depois como Cardeal. Combater
toda a viagem mostrou a simplicidade de um dos
toda e qualquer ideia que vá contra a razão e, por
homens mais inteligentes, segundo, porque a sua
conseguinte, que não procure a verdade.
figura é significativa e os portugueses souberam
Porém, a palavra vem depois do gesto mais
perfeitamente seguir a sombra de Pedro que
eloquentemente aplaudido pela assembleia.
cura, por fim, em terceiro, Bento XVI ficará para
Depois do discurso de Manuel de Oliveira,
a história como o Papa que não quis nunca fugir
Bento XVI levanta-se e dirige-se ao lugar do
à verdade e aos problemas, mas que gosta não
cineasta para lhe agradecer as suas palavras.
só dos problemas, como também de os enfrentar.
O Papa não é de facto um professor tradicional.
Por isso, a edição dos seus discursos esgotou
Ele gosta de escutar o outro, de o respeitar,
em três dias, porque não sendo um homem de
de o cumprimentar e de o abraçar. O outro é o
imagem a sua palavra faz pensar e mudar as ima-
princípio do diálogo que Bento XVI tanto tem
gens que temos de Deus, do mundo, do homem e
procurado fazer. Depois lança-se aos papéis e
da própria realidade.
n
Fotos: Luís Catarino
julho/Setembro 2010 - Diplomática • 31
A MELHOR FORMA DE FICAR EM FORMA Plano Boa Forma Celeiro Peso • Pele • Celulite • Desintoxicação
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Visitas de Estado
Visita ao Magrebe Portugal de olhos postos no Norte de África
Sócrates visitou a Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos e apontou a região norte africana como “uma nova prioridade na sua política externa”. Os laços económicos e a presença portuguesa saíram reforçados.
“Apostar nas exportações, na internacionalização da nossa economia, apoiar as nossas empresas que estão a lutar pelas exportações em todos estes mercados”, foram os desejos manifestados pelo Primeiro-Ministro, em Rabat, em jeito de balanço geral da viagem a quatro países do Magrebe. José Sócrates deslocou-se à Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos para mostrar a “nova prioridade na sua política externa” e os objectivos económicos com aqueles países – centrados na transmissão da experiência e das tecnologias portuguesas de energias renováveis -, num mercado que representa 2% das vendas portuguesas ao exterior e que Portugal quer incrementar, de forma a compensar o défice comercial criado pelas compras de petróleo à Líbia e de gás natural à Argélia, mas também a equilibrar os superavites com Marrocos e a Tunísia. Sócrates destacou a importância geoestratégica das relações bilaterais e defendeu também que os empresários portugueses deverão assumir uma atitude de confiança no investimento e na internacionalização, tirando partido dos desenvolvimentos em curso nos mercados do Norte de África, que “são uma boa oportunidade (de negócios) para os empresários portugueses”, frisou. Esta relação visa, entre outros objectivos, reforçar as relações comerciais para diversificar as exportações e criar mercado para as empresas portuguesas, em especial na área das energias renováveis, participarem no desenvolvimento destes países vizinhos. Nesta visita de três dias, o chefe do Governo português fez-se acompanhar pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, da Economia e da Ciência e pelos secretários de Estado do Comércio, do Orçamento, do Consumidor, do Turismo e da Energia. A comitiva empresarial compôs-se por 25 empresas.
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 33
Visita ao Magrebe
1. José Sócrates com Mahmoudi Baghdadi e Muammar Khadafi 2. José Sócrates e Muammar Khadafi
Líbia – reforço da cooperação económica bilateral A aposta nas relações comerciais com a região do Magrebe não se resume apenas ao sector das energias renováveis. Na Líbia, onde iniciou a sua visita e se encontrou com o seu homólogo líbio, Mahmoudi Baghdadi, e com Muammar Khadafi, Sócrates apontou que “as empresas portuguesas estão muito interessadas no mercado líbio, em muitos sectores - no sector dos cimentos, no sector do petróleo, também da construção civil -, e tenho a certeza que destes contactos vão resultar muitas oportunidades para as empresas portuguesas”. “Tive oportunidade de colocar (os problemas que as empresas portuguesas enfrentam) ao Governo líbio e ao seu líder e tenho a certeza que, a partir de agora, correrá melhor”, acrescentou. Apesar da “relação política normalizada com a Líbia”, a balança comercial entre os dois países é desfavorável para Portugal, que em 2009 importou 332,2 milhões de euros e vendeu 35,4 milhões de euros, um valor baixo, mas que representa um crescimento considerável, pois em 2007 as exportações nacionais não ultrapassavam os 500 mil euros. “Importamos muito petróleo e vendemos ainda poucos produtos; por isso a nossa aposta é diversificar mais o comércio com a Líbia e eu tenho muita esperança que esta minha visita abra novas oportunidades de negócios a empresas portuguesas”, afirmou convicto José Sócrates.
3. José Sócrates com Ahmed Ouyahia 4. José Sócrates e Abdelaziz Bouteflika
Argélia – gás e energias renováveis A energia marcou a passagem do PM pela Argélia. Num encontro com o Presidente da República argelino, , e outro com o Primeiro-Ministro Ahmed Ouyahia, José Sócrates salientou a importância geoestratégica das relações bilaterais: “da Argélia vem grande parte da segurança do nosso abastecimento energético. Só há duas formas de abastecer de gás a Europa - da Rússia ou da Argélia. Nós temos, portanto, de ter uma especial relação com este país” - que fornece 40 por cento do gás natural consumido em Portugal, representando cerca de 97 por cento das compras portuguesas. Em 2009, Portugal importou da Argélia, 274,9 milhões de euros e exportou 197,4 milhões. “A Argélia é um bom exemplo de um dos países do Magrebe para onde as nossas exportações mais aumentaram nos últimos anos. É um mercado com grandes potencialidades”, declarou o PM. A Argélia tem em curso plano de investimento público para cinco anos (até 2014), no valor de 250 mil milhões de dólares, dos quais 20 mil milhões para estradas, 2 mil milhões para novas habitações, 20 barragens, 6000 quilómetros de caminhos-de-ferro, infra-estruturas energéticas e redes de água potável, e no qual estão já presentes empresas portuguesas, havendo ainda outras, algumas das quais acompanharam a deslocação, interessadas em aproveitar as oportunidades do plano.
➤
34 • Diplomática - julho/setembro 2010
5. José Sócrates com Zine al-Abidine Ben Ali e Mohamed Ghannouchi 6. Mohamed Ghannouchi e José Sócrates
Tunísia – cimeira anual Luso-Tunisina A delegação portuguesa e o Primeiro-Ministro da Tunísia, Mohamed Ghannouchi, acompanhado de vários membros do seu governo, reuniram-se na Cimeira Luso-Tunisina. Os dois Chefes de Governo presidiram também a um seminário empresarial sobre energias renováveis, uma aposta importante para a economia tunisina e na qual Portugal quer ser um parceiro. Portugal é, presentemente o quarto maior investidor no país, excluindo o sector da energia, mas há ainda espaço para aumentar as trocas comerciais, que, em 2009, atingiram 116,3 milhões de euros nas exportações e 19,1 milhões nas importações de produtos tunisinos. José Sócrates reuniu com o Presidente da República tunisino, Zine El Abidine Ben Ali, e elogiou a relação política entre os dois Estados, “a vontade de trabalharem juntos para desenvolver uma cooperação frutuosa”, e a admiração pelos “esforços de abertura e de ambição da economia tunisina”.
7. Vieira da Silva, Luís Amado, José Sócrates, Abbas El Fassi 8. José Sócrates e Abbas El Fassi
Marrocos – cimeira Luso-Marroquina “Portugal tem uma relação política muito especial com todos os países do Magrebe, e em particular com Marrocos”, “sem nenhum problema, mas temos também uma relação económica que dá aos dois países especial responsabilidade”, afirmou Sócrates. Uma reunião de trabalho com o seu homólogo, Abbas El Fassi, permitiu adiantar ainda a agenda da próxima cimeira Luso-Marroquina, que decorre em Marrocos em Junho. No Magrebe, Marrocos é o maior mercado para os produtos portugueses: em 2009, Portugal exportou para o mercado marroquino 197,8 milhões de euros, importando 52,6 milhões. Portugal importa de Marrocos máquinas e aparelhos, minerais e minérios e produtos de madeira e cortiça, e exporta metais, máquinas e aparelhos, madeira e cortiça, minerais e minérios e matérias têxteis. O Primeiro-Ministro marroquino agradeceu a Portugal e ao Governo português “o apoio quando a União Europeia nos deu na atribuição do Estatuto Avançado” em 2008, que permite a Marrocos integrar-se gradualmente nas políticas europeias e aprofundar os acordos de comércio livre.
n
Fotos: Ricardo Oliveira - GPM
julho/setembro 2010 - Diplomática • 35
Diplomacia na 1ª Pessoa
Mohamed Ridha Farhat
- Embaixador da República da Tunísia
“Incentivar os empresários de ambos os países a trabalharem juntos”
entrevista de Maria de Bragança
Em Lisboa desde 2005, Mohamed Ridha Farhat elogia o relacionamento, a história comum e as relações bilaterais entre a Tunísia e Portugal. O Embaixador da Tunísia iniciou a sua carreira de diplomata em 1980 no Ministério dos Negócios Estrangeiros do seu país. Exerceu os vários cargos, passando por todos os escalões. Antes de vir para Portugal, desempenhou cargos diplomáticos em Bruxelas e Paris, mas o seu primeiro posto como Embaixador foi em Lisboa. Mohamed Farhat recebeu-nos gentilmente na sua residência oficial, brindando-nos com especiais iguarias tunisinas, para uma entrevista em que se abordaram temáticas históricas, políticas, económicos, entre outras.
36 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
Vamos começar por falar no
amizade, de boa vizinhança e co-
fico imediato, ou seja, o Mediterrâ-
seu percurso. Como chegou até
operação, que é o quadro jurídico
neo Ocidental.
Portugal?
mais elevado para regulamentar as
É certo que, enquanto membro da
Sou diplomata de carreira. Fui
relações entre os dois países que
UE, e tendo em conta as afinidades
para o Ministério dos Negócios
entrou em vigor. Este Tratado é a
que existem entre nós, Portugal é
Estrangeiros em 1980 depois de ter
prova de que consideramos Portu-
sensível às expectativas da Tunísia
completado os estudos superiores,
gal um dos nossos parceiros mais
no quadro das suas relações com
e entrei por concurso no Ministé-
importantes. Este Tratado de ami-
a União Europeia. Portugal tam-
rio tendo sido aprovado. Durante
zade permitiu-nos organizar reuni-
bém necessita da Tunísia, porque
os trinta anos de experiência fui
ões a nível dos Primeiros-Ministros
ocupamos um lugar importante na
Diplomata, Chefe de Divisão, Sub-
dos dois países. Organizamos a
região do Magrebe, ao nível dos
Director e Director. Exerci funções
primeira Cimeira em Lisboa em
países árabes e africanos.
na qualidade de diplomata, nomea-
2007 e a segunda realizou-se em
Em que situação se encontra a
damente, em Bruxelas e em Paris,
Março de 2010 em Tunes. Estas
balança comercial entre os dois
antes de ocupar o primeiro posto
reuniões permitem-nos aprofundar
países?
de Embaixador aqui em Portugal.
as relações no plano jurídico, ao ní-
O que devemos notar é a tendên-
Sua Exa. o Presidente da Repúbli-
vel da concertação política e diver-
cia destes últimos anos. As trocas
ca, Zine El Abidine Ben Ali, con-
sificar as relações de cooperação
comerciais estão a progredir duma
fiou-me este cargo e eu tento ser
com Portugal, que são excelentes.
forma importante. Os números
bem sucedido nesta missão.
Portugal é realmente importante
mais recentes indicam um aumen-
Está no nosso país desde 2005.
enquanto parceiro económico. Vou
to de 56,3 por cento das trocas
Quais são os principais resulta-
dar um único número: Portugal
comerciais, em 2009. A Tunísia
dos registados no plano diplo-
é o quarto investidor na Tunísia,
vem logo a seguir à Venezuela, na
mático e político?
exceptuando na energia. Existe
classificação dos países com os
As relações entre Portugal e a
uma firme determinação das duas
quais as exportações portuguesas
Tunísia são excelentes. Primeiro,
partes em desenvolver cada vez
registaram um maior aumento. A
porque temos a mesma história,
mais as relações bilaterais.
balança comercial é deficitária em
pertencemos ao mesmo espaço
Portugal poderá ser importante
detrimento da Tunísia. Mas isto é
➤
geoestratégico. Partilhamos alguns
para a Tunísia fortalecer as rela-
compensado pelo volume importan-
aspectos da nossa herança gra-
ções com a UE, ou não necessa-
te dos investimentos portugueses
ças aos Fenícios que chegaram à
riamente?
na Tunísia.
Tunísia por volta do ano 800 a.C.
A Tunísia sempre manteve rela-
E as energias renováveis e a
e foram fundadores de Cartago,
ções privilegiadas com a Europa
construção?
um pólo de comércio mediterrâni-
depois dos vários acordos que
As energias renováveis foram um
co muito importante, e mais tarde
assinámos com a União Europeia.
dos temas abordados durante a
graças aos romanos.
O primeiro acordo é de 1969 com
primeira Cimeira (Reunião de Alto
As relações bilaterais não param
a CEE. Mais recentemente, desde
Nível). Quanto à construção, os
de evoluir positivamente depois
Janeiro de 2008, fomos o primeiro
operadores portugueses devem
das visitas presidenciais: as visitas
país da margem Sul do Mediterrâ-
melhorar a sua aproximação do
de S.E. o Senhor Presidente da
neo a entrar em zona de comércio
mercado tunisino e investir mais,
República Tunisina Ben Ali, em
livre com a UE. Nestes últimos tem-
sabendo que a Tunísia é um país
1993 e 2000, a Portugal, as visitas
pos, já foram encetadas discussões
que se desenvolve rapidamente e
dos Senhores Presidentes Soares
sobre o Estatuto avançado que
que oferece muitas oportunidades
e Sampaio à Tunísia respectiva-
será concedido à Tunísia nas suas
para as empresas estrangeiras.
mente, em 1995 e 2002, e ainda, a
relações com a União Europeia.
Falou da visita do Primeiro-
participação do nosso Presidente
Tudo isto prova a importância que
ministro português à Tunísia.
da República nos trabalhos da 2ª
damos às relações com os nos-
Como foi esta visita? O que de-
Cimeira UE-África, realizada em
sos parceiros europeus e, parti-
vemos reter desta visita?
Lisboa em Dezembro de 2007 sob
cularmente, com Portugal, que é
A nossa acção inscreve-se com
a presidência portuguesa da União
um parceiro privilegiado porque é
o objectivo de desenvolver ainda
Europeia. Em 2006, um tratado de
membro do nosso espaço geográ-
mais as relações bilaterais e de
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 37
Mohamed Ridha Farhat Embaixador da República da Tunísia
reforçar e diversificar as diferen-
Durante a 2ª Reunião da Cimeni-
samente por Sarkozy. O que diz
tes áreas de cooperação. Dedica-
ra de Alto Nível (Cimeira), o Sr.
disso?
mo-nos, particularmente, a incen-
Primeiro-ministro Sócrates reuniu-
O processo de Barcelona remonta
tivar os empresários de ambos os
se com o Presidente Ben Ali, o
a 1995. Todos reconheciam que
países a trabalharem juntos. Neste
Primeiro-Ministro e o Presidente
deveriam existir relações muito
âmbito implementamos vários
da Câmara dos Deputados. Os
mais importantes entre os países
instrumentos: o primeiro, o tratado
Primeiros-Ministros dos dois países
do espaço Euro-Mediterrânico. A
de amizade que dá um impulso em
também presidiram uma reunião
Tunísia fazia parte dos primeiros
todas as áreas de cooperação. Por
que juntou um número importan-
países que saudaram o projecto da
outro lado, o quadro jurídico entre
te de Ministros e de Secretários
União para o Mediterrâneo. Este
os dois países foi consideravelmen-
de Estado para examinar as vias
projecto visa redinamizar e desen-
te reforçado. Uma linha de crédito
e meios capazes de reforçar as
volver o processo de Barcelona
de 100 milhões de euros foi imple-
relações bilaterais. Neste âmbito,
que não conseguiu alcançar os
mentada para desenvolver a par-
foram assinados 14 acordos de
objectivos que lhe foram atribuídos,
ceria. Para concluir, tanto durante
cooperação.
e isto, devido ao conflito israelo-pa-
a primeira Cimeira, realizada em
Os dois Primeiros-ministros tam-
lestiniano que bloqueou o processo
➤
Lisboa em 2007, como na segunda,
bém procederam ao encerramento
e que coloca entraves actualmente
na Tunísia em Março de 2010, as
de um encontro económico que
à concretização do projecto da
delegações de empresários parti-
juntou empresários dos dois paí-
União para o Mediterrâneo.
ciparam nestas importantes reuni-
ses.
Por outro lado, não estamos de
ões. As relações entre os dois pa-
Para resumir, podemos afirmar que
braços cruzados principalmente
tronatos foram institucionalizadas e
a Cimeira foi um sucesso.
no mediterrâneo ocidental. Esta-
estabeleceram-se acordos. Para a
E a crise económico-financeira
mos todos empenhados: os cinco
Cimeira realizada no passado mês
que o mundo atravessa, a Tuní-
países do Sul – Magrebe – Tunísia,
de Março na Tunísia, o Primeiro-
sia também está a ser afectada?
Líbia, Argélia, Marrocos e Mauri-
ministro português foi acompanha-
Se me referir aos números que
tânia; e os cinco países do Norte
do por uma grande delegação de
foram publicados o ano passado
– Portugal, Espanha, Itália, França
empresários multissectorial. De
pelos organismos internacionais, a
e Malta no âmbito do diálogo 5 + 5
sublinhar nesta ocasião, a criação
Tunísia foi classificada como o sex-
para reforçar ainda mais a coope-
de um comité misto de negócios
to país no mundo a conviver melhor
ração entre os vários parceiros. A
que é presidido pelos dois vice-
com esta crise. Como sabemos, a
primeira Cimeira do diálogo 5 + 5
presidentes das organizações dos
Tunísia é um país reputado pela
realizou-se em Tunes em 2003, e
patronatos. Trata-se de uma medi-
sua boa governação, e as finanças
recentemente, também teve lugar
da complementar para desenvolver
públicas são muito bem geridas.
em Tunes, a 8ª Conferência dos
ainda mais as relações económicas
Contudo, é preciso relembrar que
Ministros dos Negócios Estrangei-
entre os dois países. Há cerca de
80 por cento do nosso comércio
ros dos países do diálogo 5 + 5
50 empresas multissectoriais que
realiza-se com a UE. Se a Europa,
A nível interno, como se desen-
operam na Tunísia. Os empre-
que atravessa um momento difícil,
rola a política nacional? Quantos
sários vêem a Tunísia como um
não consegue ultrapassar a crise,
partidos existem na Tunísia?
mercado interessante, seja para
nós também acabamos por ser
Desde a Mudança (Changement)
operações comerciais, seja para
afectados. Para terem uma noção,
de 1987 e a subida ao poder do
exportações e/ou importações.
antes da crise a nossa previsão de
Presidente Ben Ali, a constata-
Foi criada uma dinâmica e ambos
crescimento era de 6,3 por cento,
ção foi nítida: a Tunísia é um país
sabemos que há oportunidades a
a qual se alterou para os 3,5 por
estável, que não cessa de reforçar
explorar. Em conclusão, estamos a
cento. Portanto, há uma incidência
o pluralismo político, que realiza
fazer o que é necessário dos dois
sobre a economia real porque as
performances no plano económico
lados, tunisino e português, para
nossas relações são muito estrei-
e que consolida o progresso social.
dar mais substância à cooperação
tas com a Europa.
No que diz respeito ao pluralismo,
económica e comercial.
Não há muito tempo, a questão
há nove partidos políticos activos
Como decorreu a Cimeira Luso-
de uma União para o Mediterrâ-
na Tunísia dos quais sete estão
Tunisina?
neo foi muito discutida, preci-
representados no Parlamento.
38 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
Mohamed Ridha Farhat
Tivemos eleições legislativas
senvolver constantemente o siste-
O partido que está no poder tem
e presidenciais no passado mês
ma democrático. O Presidente da
uma grande tradição histórica. Foi
de Outubro, onde muitos partidos
República é o chefe do Executivo e
o partido que levou o país à inde-
e candidatos competiram. Mas,
indica o caminho a seguir. Há sem-
pendência, e é necessário compre-
o mais importante é que há uma
pre um projecto para os próximos
ender este fenómeno. É um partido
vontade de poder político e do
cinco anos. Temos sempre uma
muito bem implantado e tem mais
Presidente da República, em de-
visibilidade sobre o nosso futuro.
de dois milhões de militantes. Se
➤
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 39
Mohamed Ridha Farhat Embaixador da República da Tunísia
as eleições fossem realizadas
que marcou as elites. Isso explica
Tunísia é o país mais competitivo,
segundo o modelo ocidental, todos
o consenso nacional em assegurar
em África. Somos um país muito
os lugares da Assembleia perten-
as bases de uma sociedade moder-
bem gerido. Temos uma população
ceriam a este partido. O Presidente
na e aberta, nomeadamente, pela
jovem, bem formada. Entre 300 a
➤
Bem Ali fez adoptar uma lei que
emancipação da mulher. Em 1956
400 mil estudantes continuam os
impede que o partido maioritário
acedemos à independência e o pri-
seus estudos nas universidades
de ocupe mais de 75 por cento dos
meiro acto importante foi o Código
na Tunísia. Relativamente à quali-
lugares, para permitir a presença
do Estatuto pessoal que concedeu
dade de vida, somos os melhores
de outros partidos. Por outro lado,
a liberdade à mulher. Em 1987, sob
classificados no mundo árabe. No
temos que lembrar que a Tunísia
o comando do Presidente Ben Ali,
Magrebe e em África, a Tunísia é o
tem uma longa tradição em matéria
foram promulgados outros actos
primeiro país em matéria de pro-
de democracia. Tentamos respei-
para conceder mais liberdade à
moção das TIC. A Tunísia é o 1º
tar todos os valores e princípios
mulher, a participação efectiva na
país do Norte de África em matéria
universais, mas sempre nos inspi-
vida política: Hoje, a mulher ocupa
de boa governação e o país mais
ramos na nossa história, na nossa
25% dos lugares no Parlamento. O
tranquilo do continente africano.
realidade e na nossa especificida-
Presidente da República declarou
Quem julga isso?
de. A nossa democracia não é de
recentemente num discurso que “a
As agências de notação, as institui-
hoje e o povo tem tido sempre um
dignidade da nação é sinónima da
ções internacionais reputadas pela
papel activo. Cartago foi criado em
dignidade da mulher, a sua invul-
sua neutralidade e objectividade:
800 anos a.C. e Aristóteles escre-
nerabilidade depende da dela”. Isto
o Relatório sobre a competitivida-
via no seu livro “O Político” que
significa o quanto é importante o
de global, o Relatório Mundial de
Cartago tinha uma boa constituição
Estatuto da mulher no nosso país,
Davos sobre a competitividade, o
anterior à dos gregos, e de acordo
a Tunísia.
Relatório Anual “Doing Business”
com os testemunhos da época,
A sociedade civil portuguesa não
sobre enquadramento de negócios,
a separação dos poderes existia:
conhece esta realidade de um país
o Relatório “Global Peace Índex”,
poder executivo – uma Assembleia
árabe-muçulmano.
etc.
deliberante e poder judicial. Nisso
Em Portugal talvez. Somos um país
E quais são as relações com os
não se fala muitas vezes porque
que regista realizações e perfor-
EUA ?
os cartagineses esqueceram-se de
mances, que é eficaz, mas que
Mantemos boas relações com os
escrever a sua própria história.
pode ser discreto. Hoje, a mulher
E.U.A.. O nosso ministro dos Negó-
Por razões históricas, a Tunísia é
na Tunísia é um exemplo na nossa
cios Estrangeiros reuniu-se recen-
um país ligado à França. Como é
área geográfica árabe-muçulmana.
temente com Hillary Clinton. Temos
a relação entre as duas nações ?
Ninguém pode por em causa estes
excelentes relações praticamente
A França é um dos nossos prin-
direitos adquiridos. Hoje as mu-
com todos os países.
cipais parceiros comerciais. Está
lheres estão presentes em todos
Ainda não falámos do sector
à frente da Itália, da Alemanha,
os sectores de actividades. Isto
turístico…
da Espanha e de Portugal. Com a
é tanto mais importante porque a
As nossas vantagens neste sector
França temos relações históricas.
Tunísia não é um país laico. Mas, a
são inegáveis : a nível geográfico
Os franceses ocuparam a Tuní-
nossa leitura da tradição islâmica é
somos um país situado mesmo no
sia por razões económicas ?
moderna e aberta. A nossa leitura
centro do Mediterrâneo, com um
Como sempre, quando há um
inspira-se na escola reformista. O
clima favorável ; um país estável e
período de desordem num país.
véu branco ou preto, por exemplo,
muito moderno, muito aberto e que
Estávamos no século XIX, o poder
não é uma tradição tunisina de
tem uma qualidade de vida exce-
central estava economicamente
vestuário. Temos uma juventude
lente. Apostamos na qualidade e
fraco, tínhamos perdido a nossa
muito bem formada, 80 por cento
na excelência dos nossos serviços.
soberania, como muitos países na
dos tunisinos faz parte da classe
Como sabem na área da Talasso-
época. A ocupação não foi bem
média e têm casa própria. A po-
terapia, somos o segundo destino
aceite pelos tunisinos e sobretudo
breza recuou graças à educação,
no mundo. Recebemos anualmente
pelas elites.
à formação e ao emprego. No
perto de 40 mil turistas portugue-
No século XIX, o Reformismo foi
aspecto social, a solidariedade é
ses. E há cada vez mais tunisinos
a principal escola de pensamento
um valor essencial na Tunísia. A
a visitar Portugal.
40 • Diplomática - julho/setembro 2010
n
Alianças
Por uma África livre e segura Da ineficaz OUA à esperança da UA
O desejo não se verificou. Quando a 25 de
por Portugal), Rodésia e Sudoeste Africano
Maio de 1963, 32 países africanos indepen-
(actualmente Zimbabwe e Namíbia, respecti-
dentes assinaram a Constituição da Organi-
vamente) ambicionavam seguir as pisadas da
zação da Unidade Africana (OUA), em Addis
liberdade de países já independentes, como o
Ababa, Etiópia, por iniciativa do imperador
Gana e o Senegal. Forças especializadas de
etíope Haile Selassié, este proclamou: “que
libertação como o MPLA, a SWAPO, a Frelimo
esta convenção dure 1.000 anos!” Contudo,
e o ANC eram financiadas, treinadas e abas-
tal não viria a acontecer. Bastaram apenas 39
tecidas com armas, por esses países livres e
anos para a Unidade se desmanchar.
pelo Comité Coordenador da Libertação de
Numa altura em que o continente africano
África, para lutarem pela descolonização.
ainda estava longe da descolonização, a OUA,
Para além deste primordial objectivo, a Or-
assente numa presidência rotativa, decidida
ganização expressou na Constituição pro-
em cimeiras anuais regulares, surgiu para
mover a unidade e solidariedade, coordenar
acabar com essa situação e libertar os povos
e intensificar a cooperação entre os estados
da África Austral sujeitos ao domínio branco.
africanos; coordenar e harmonizar as políticas
Angola, Moçambique (na altura governados
dos estados membros nas esferas política,
42 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
➤
diplomática, económica, educacional, cultu-
sobre a necessidade de lutar contra a violação
ral, da saúde, bem-estar, ciência, técnica e de
dos direitos humanos e a elaborar um plano
defesa, entre outros.
de acção sobre a maneira de obter apoio polí-
Mesmo com a associação de todos os países
tico no quadro deste objectivo.
africanos (a seguir à sua independência) as
A UA, numa transição gradual, cinge a OUA
intenções da OUA nem sempre se revelaram
e a Comunidade Económica Africana para
eficazes, sendo incapaz de evitar os inúme-
uma organização única, convergindo o espí-
ros conflitos que assolaram o continente e de
rito de uma unidade política, económica e de
exercer pressão junto da comunidade interna-
segurança. Neste capítulo da segurança e da
cional.
defesa, a criação das ASF, que congregam
Perante esta ineficácia e inoperância, os
actualmente cinco Brigadas, constitui-se como
Chefes de Estado e de Governo decidiram na
um forte mecanismo de reacção rápida da
38ª, e última, cimeira da OUA, realizada em
UA para a prevenção e, especialmente, para
Durban, África do Sul, a 8 de Julho de 2002,
a resolução de conflitos regionais em África.
colocarem um ponto final na Organização
Rotula-se como a melhor aposta para gerir
e erguerem uma nova união, presidida pelo
as múltiplas crises regionais que teimam em
sul-africano Thabo Mbeki. Nasce formalmente
persistir.
a União Africana (UA), que vinha a ser prepa-
A nova organização africana apresenta-se
rada desde o ano de 1999, e que teve a sua
agora mais parecida com o modelo de integra-
primeira cimeira nos dias 9 e 10 de Julho de
ção europeu, assente numa estrutura em que
2002.
se destaca o Secretariado ou a Comissão Afri-
A mais recente organização pan-africana, co-
cana, o Parlamento Pan-Africano e o Tribunal
mandada actualmente pelo diplomata gabonês
de Justiça Africano.
Jean Ping, segue a linha da sua antecesso-
Atendendo à complexa realidade dos estados
ra, mas assumindo outro nível de ambição e
africanos, que ainda se encontram entre os
valorização de África na cena mundial, “essen-
menos desenvolvidos e pacíficos de todos, a
cialmente por via da Ajuda Pública ao Desen-
União tem conseguido alcançar alguns êxitos.
volvimento e do estabelecimento de estraté-
Um deles está no próprio nome da organi-
gias de prevenção e resolução de conflitos
zação, a união. E refira-se que não é fácil
regionais”. Na base dos objectivos continuam
conseguir congregar praticamente todos os
o reforço da promoção da paz, da segurança
países de África em torno das mesmas causas
e da estabilidade, dos Direitos Humanos e da
e a UA concebeu essa proeza. 53 Estados
Democracia, e de uma integração económica
independentes associados, à excepção de
regional no continente africano, apoiados pelo
Marrocos que ficou de fora da organização.
programa de desenvolvimento – “New Partner-
Ainda, fez com que as organizações “não
ship for Africa’s Development”.
africanas” vissem na UA o parceiro ideal para
Ainda recentemente foi assinado um acor-
desenvolverem as suas políticas africanas e
do entre esta Organização e a Comissão da
tem-se revelado um mecanismo estabilizador
União Europeia (UE), relativo à luta contra a
de conflitos regionais e entre estados, real-
corrupção e à violação dos Direitos Humanos
çando, também, o apoio ao desenvolvimento
e a favor do reforço da ajuda aos deslocados
sustentado e a aplicação da diplomacia.
nos países africanos.
Não se sabe quantos anos esta União vai
No novo acordo de cooperação assinado
durar, mas, por enquanto, é um organismo
pelo presidente da Comissão Europeia, José
inviolável em África e respeitado pela comuni-
Manuel Durão Barroso, e pelo presidente da
dade internacional, que o classifica como um
Comissão da UA, Jean Ping, as duas organi-
relançamento refinado da OUA.
zações intergovernamentais comprometem-se
O dia de África (25 de Maio) foi comemorado
a lutar juntos contra a corrupção, a má gover-
pelo Embaixador da Tunísia, Mohamed
nação e a violação dos direitos humanos. O
Ridha Farhat que recebeu todos os diplomatas
tratado obriga ainda a UA a obter o compro-
de países africanos acreditados em Portugal,
misso político dos seus 53 Estados-membros
presenteando-os com um magnífico cocktail
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 43
Por uma África livre e segura Da ineficaz OUA à esperança da UA
Presidente da Comissão da UA, Jean Ping
➤
acompanhado de típicas iguarias tunisinas.
(…) “Num continente que continua a ser um
O Estado português também se fez represen-
terreno privilegiado de conflitos apesar de
tar pelo secretário de Estado dos Negócios
a operacionalização de muitos dos nossos
Estrangeiros. João Gomes Cravinho, e todos
instrumentos e nossos esforços incansáveis,
os presentes, ouviram o Embaixador Farhat a
numa região do mundo com o maior número
discursar sobre a ocasião, tendo citado algumas
de refugiados e pessoas deslocadas e onde
frases do discurso do Presidente da Comissão
num número de processo de reconstrução
da União Africana. Ficam então alguns excertos
pós-conflito estão envolvidos, o desporto tam-
de Jean Ping, proferidos por Mohamed Farhat:
bém é uma ferramenta essencial, que, por um
“Todos os anos celebramos nesta data o Dia
lado, cria laços e vínculos entre as comunida-
de África. Este ano, queríamos que o tema
des que foram divididas pelo conflito e tam-
fosse “o da consolidação e manutenção da
bém melhora a relação de forças e missões de
paz através do desporto”. A algumas semanas
paz com os povos civis.”
da 19ª edição do Mundial de Futebol, organi-
(…) “Pela minha parte, neste novo contexto de
zado pela primeira vez na sua história no nos-
globalização da qual África é definitivamente
so continente, este tema assume a sua plena
uma parte integrante e agente e, neste ano de
dimensão. Mete em evidência, a vontade afri-
2010, durante o qual vários Estados africanos
cana em exercer todos os esforços possíveis
comemoraram o cinquentenário da sua inde-
para cumprir a visão de uma África que goza
pendência, estou confiante que vai finalmente
de paz, integrada, próspera e desempenhando
realizar este sonho por tanto tempo acalenta-
um papel dinâmico no concerto das Nações.”
do por nossos Pais fundadores duma África
(…) “O desporto é um símbolo de encon-
independente, unida, próspera e em paz. Tal
trar unidade, de reconciliação nacional,
como sugerido no lema olímpico, não pode-
um meio por uma nação, além de todas as
mos definir os limites do nosso esforço colecti-
divisões, de comungar com fervor, com a
vo para estabelecer o desenvolvimento sus-
graça da “união sagrada” atrás da equipa
tentável do nosso continente. Não prescrevemos
nacional. O Presidente Nelson Mandela
limites no nosso continente. Permanecermos
disse que “o futebol, assim como o râguebi,
sempre campeões ambiciosos e altamente efi-
o críquete e os outros desportos colectivos,
cientes para garantir todo o futuro e a Paz do
têm o poder de curar as feridas”. É um le-
continente. Citius, Altus, Fortius! Mais rápido,
gado que o continente, como toda a popula-
mais alto, mais forte! Vamos permanecer uni-
ção da África do Sul, pode dar não somente
dos para uma África que sabe como ganhar!”
orgulho mas também ensinamentos.”
44 • Diplomática - julho/setembro 2010
n
Altino Pinto
Histórias e vitórias
65 Anos da Grande Vitória Artigo do Embaixador da Rússia em Portugal Pavel Petrovsky
65 ЛЕТ ВЕЛИКОЙ ПОБЕДЫ
O próximo aniversário da Vitória na Segunda Guerra
Предстоящий юбилей Победы во Второй мировой
Mundial é o mais importante evento político. Para nós,
войне – важнейшее общественно-политическое
como repetidamente destacou o Presidente da Rússia,
событие. Для нас, как неоднократно подчеркивал
Dmitry Medvedev, essa data é sagrada. Uma menção
Президент Российской Федерации Д.А.Медведев,
ao Dia da Vitória inadvertidamente faz com que aperte
эта дата священна. Одно упоминание Дня Победы
dolorosamente o coração de cada cidadão da Rússia.
невольно заставляет сжиматься сердце каждого
Como se diz na canção dedicada a essa Vitória, “Dia
россиянина. Как поется в посвященной ей песне,
da Vitória é um feriado com as lágrimas nos olhos.” É
«это – праздник со слезами на глазах». Вряд ли даже
pouco provável que até agora -– 65 anos depois – na
сейчас – 65 лет спустя – в России найдется семья,
Rússia, haja uma família que não tivesse sido afectada
которую не опалило бы пламя войны. Великая Победа
pelas chamas da guerra. Grande Vitória é uma herança
– общее духовное достояние всех народов бывшего
espiritual comum a todos os povos da antiga União So-
Советского Союза. Наши отцы и деды не только
viética. Nossos pais e avós não só defenderam a nossa
отстояли нашу свободу и спасли Отечество – они
liberdade e salvaram a Pátria – eles libertaram a Europa
освободили Европу от фашистского порабощения.
da escravidão nazista.
Исторический факты свидетельствуют, что решающую
Os factos históricos indicam que o papel decisivo na
роль в разгроме нацизма сыграл Советский Союз.
derrota do nazismo foi desempenhado pela União Sovié-
В 1944 году протяженность советско-германского
tica. Em 1944, o comprimento da frente soviético-alemã
фронта была в 4 раза больше, чем всех фронтов,
foi quatro vezes mais do que todas as frentes somadas
где воевали союзники СССР, вместе взятых. На
em que os Aliados da União Soviética lutaram contra a
втором фронте в Западной Европе в июне 1944 года
Alemanha. Na segunda frente na Europa Ocidental, em
численность немецких войск составила не более 560
Junho de 1944, o número de tropas alemãs não exce-
тысяч. В то же время на советско-германском фронте
deu os 560 mil. Ao mesmo tempo, na frente soviética, o
их количество достигало 4,5 млн. человек. Свои
número de tropas alemãs chegou a 4,5 milhões. As suas
основные потери гитлеровские войска понесли в боях
baixas maiores as tropas nazistas sofreram lutando con-
против Советской Армии: 70% живой силы и 75% всей
tra o exército soviético: 70 por cento de pessoal e 75
военной техники. Советский Союз с его территорией, ➤
46 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
Polónia. Monumento em homenagem dos soldados soviéticos e polacos que perderam as vidas nas batalhas para libertar a Varsóvia
julho/setembro 2010 - Diplomática • 47
65 Anos da Grande Vitória
➤
por cento de todos os equipamentos militares. A União
➤
с его городами и деревнями принял на себя
Soviética no seu território, nas suas cidades e vilas en-
основной удар гитлеровского нашествия.
frentou o impacto principal da invasão de Hitler.
Решающие сражения, предопределившие исход
As batalhas decisivas, que determinaram o resultado da
войны, также произошли на советско-германском
guerra, também ocorreram na parte da frente soviética:
фронте: битва под Москвой (декабрь 1941г.-январь
a batalha de Moscovo (Dezembro de 1941 - Janeiro de
1942г.), разгром армии Паулюса под Сталинградом
1942), a derrota do exército de Paulus em Estalinegrado
(ноябрь 1942г.-февраль 1943г.) и, наконец, сражение
(Novembro de 1942 - Fevereiro de 1943), e finalmente
на Курской дуге (июль-август 1943г.). Эти и другие
a batalha do Arco de Kursk (Julho-Agosto de 1943).
победы доставались огромной ценой. Сотни тысяч
Estas e outras vitórias foram conseguidas com enormes
советских солдат и офицеров положили свои жизни
custos. Centenas de milhares de soldados e oficiais sovi-
на полях сражений. Даже наши западные партнеры
éticos arriscaram as suas vidas nos campos de batalha.
не могли не признать очевидных фактов: «Именно
Mesmo os nossos aliados ocidentais não poderiam dei-
русская армия выпустила кишки из германской
xar de reconhecer esses factos óbvios: “Foi precisamen-
военной машины» (У.Черчилль).
te o exército russo que rasgou as entranhas da máquina
24 страны мира объявили 27 января Днем памяти
de guerra alemã” (Winston Churchill).
жертв Холокоста. Именно в этот день советские
24 países do Mundo inteiro declararam 27 de Janeiro
войска освободили один из страшнейших лагерей
como o Dia da Memória das Vítimas do Holocausto. Foi
смерти – Освенцим, в котором нацисты уничтожили
precisamente nesse dia que as tropas soviéticas liber-
4 миллиона человек. Советской армией были
taram um dos mais horríveis campos de morte – Aus-
освобождены также лагеря смерти Майданек
chwitz, no qual os nazistas tinham assassinado quatro
на территории Польши, в котором нацистами
milhões pessoas. Por além disso, o Exército Soviético
были уничтожены 360 тысяч человек, Белжец в
libertou também o campo de extermínio de Majdanek, na
Польше, в котором нацистами были уничтожены
Polônia, onde os nazistas tinham exterminado 360 mil
602 тыс. человек, Малый Тростенец в Белоруссии,
pessoas; Belzec na Polónia, onde os nazistas extermi-
в котором нацистами было сожжены и замучены
naram 602 mil pessoas; Trostenets na Bielorrússia, onde
207 тыс. человек, Саласпилс в Латвии, в котором
os nazistas tinham queimado e torturado mais de 207 mil
убивали маленьких детей, забирая у них кровь для
pessoas; Salaspils na Letónia, onde os nazistas assassi-
гитлеровских солдат.
naram as crianças, utilizando o sangue dos miúdos para
За мирное небо над Европой Советский Союз
os soldados nazistas feridos.
заплатил очень высокую цену – во Второй мировой
Para um céu pacífico sobre a Europa, a União Soviética
войне мы потеряли 26,6 миллионов человек. На
pagou um preço muito alto – na Segunda Guerra Mundial
территории только нынешней России было разрушено
nós perdemos 26,6 milhões de pessoas. Só no território
1710 городов, уничтожено более 70 тысяч деревень…
da Rússia actual foram destruídas 1710 cidades, mais
Вдумайтесь в эти цифры. Не случайно, что во
de 70 mil aldeias... Pensem bem sobre esses números.
время празднования в июне 2009 года юбилея
Não é por acaso que, durante a celebração, em Junho
высадки союзников на Севере Франции Президент
de 2009, do aniversário do desembarque dos Aliados no
Соединенных Штатов Б.Обама особо отметил вклад
norte da França, o Presidente dos Estados Unidos, Bara-
Советского Союза в победу над фашизмом.
ck Obama enfatizou a contribuição da União Soviética na
Однако годы идут, и многих из живых свидетелей
Vitória sobre o nazismo.
событий Второй мировой войны уже нет с нами. И
No entanto, os anos passam, e muitas das testemunhas
теперь в угоду политической конъюнктуре нарастает
vivas dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial já
тенденция к вольной трактовке, а то и вовсе ревизии
não estão connosco. E agora, para agradar à conjuntura
истории Второй мировой войны. При этом сомнению
política, ganha força uma tendência crescente para a
подвергаются закрепленные в Уставе ООН и других
livre interpretação, ou mesmo para a revisão da História
международно-правовых документах итоги тех
da Segunda Guerra Mundial. Com isso estão a ser pos-
трагических событий.
tos em dúvida os resultados daqueles eventos trágicos
В насаждаемых в международном сообществе
que estão consagrados na Carta das Nações Unidas e
политизированных трактовках истории явно видно
noutros documentos legais internacionais.
стремление пересмотреть итоги Нюрнбергского
Nas interpretações politizadas que estão a ser introduzi-
процесса, на котором были четко определены
das na sociedade internacional vê-se claramente o
инициаторы и виновники этой войны, дана
48 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
➤
1
2
1. Vítimas do campo de extermínio 2. As tropas soviéticas vencedoras
julho/setembro 2010 - Diplomática • 49
65 Anos da Grande Vitória
“Chamas eternas” – símbolo da Grande Vitória
➤
desejo de rever os resultados dos julgamentos de Nu-
➤
квалификация нацистской идеологии и нацистских
remberga, que foram claramente definidos pelos iniciado-
преступлений. Россия давала и будет давать отпор
res e perpetradores dessa guerra, foi dada a qualificação
попыткам провести ревизию истории ХХ века, в т.ч.
da ideologia nazista e dos crimes nazis. Rússia sempre
пересмотреть решения Потсдамской конференции и
repudiou e vai repudiar as tentativas de se fazer uma al-
приговор Нюрнбергского трибунала.
teração da História do século XX, incluindo as tentativas
Некоторые наши соседи делают упор на “разделе”
de alteração das decisões da Conferência de Potsdam e
Восточной Европы накануне войны между СССР и
do veredicto do Tribunal de Nuremberga.
Германией. При этом начисто игнорируется политика
Alguns dos nossos vizinhos acentuam a “partilha” da
умиротворения фашистской Германии западными
Europa Oriental na véspera da guerra entre a URSS e
державами, вылившаяся в конечном итоге в
a Alemanha. E, além do mais, ninguém faz caso da po-
Мюнхенский сговор. Выступая 1 сентября 2009 г. в
lítica de apaziguamento da Alemanha nazista realizada
Гданьске на церемонии, посвященной 70-й годовщине
pelas potências ocidentais, o que resultou no fim de con-
начала Второй мировой войны, Председатель
tas no Acordo de Munique. Ao pronunciar o discurso em
Правительства Российской Федерации В.В.Путин,
1 de Setembro de 2009 em Gdansk, na cerimónia que
в частности, сказал, «что любое сотрудничество с
marcou o 70º aniversário do início da Segunda Guerra
экстремистами, а применительно ко Второй мировой
Mundial, o Primeiro-Ministro da Rússia, Vladimir Putin,
войне – с нацистами и их приспешниками, чем бы
afirmou nomeadamente “que qualquer cooperação com
это сотрудничество ни мотивировалось, ведет к
os extremistas, relativamente à Segunda Guerra Mun-
трагедии. По сути, это и не сотрудничество вовсе, а
dial, com os nazistas e os seus colaboradores, por mais
сговор с целью решить свои проблемы за счет других.
que ela seja motivada, leva à tragédia. Na realidade, isto
Значит, надо признать, что все предпринимавшиеся
não é cooperação, mas uma colusão a fim de resolver os
с 1934 года по 1939 год попытки умиротворить
seus problemas por conta dos outros. Então, temos que
нацистов, заключая с ними различного рода
admitir que todos os esforços empenhados entre os anos
соглашения и пакты, были с моральной точки зрения
1934 e 1939 para apaziguar os nazistas, ao concluir com
– неприемлемы, а с практической, политической точки
eles vários tipos de acordos e pactos eram de ponto de
зрения – бессмысленными, вредными и опасными.
vista moral inaceitáveis e, do ponto de vista prático e
Именно совокупность всех этих действий и привела к
político, absurdos, prejudiciais e perigosos. Foi o conjun-
этой трагедии, к началу Второй мировой войны».
to de todas essas acções que levou a esta tragédia – ao
По сути, все, что происходило в Европе в
início da Segunda Guerra Mundial”.
предвоенные годы, – трагедия без героев, в которой
Na realidade, tudo o que aconteceu na Europa nos anos
даже жертвы на определенном этапе выступали как
precedentes à guerra é uma tragédia sem heróis, em que ➤
пособники агрессора. И теперь, спустя 65 лет,
50 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
➤
mesmo as vítimas, em certo momento, eram cúmplices
➤
определенные круги понимают, что им особенно
do agressor. E agora, 65 anos passados, certos círculos
нечем гордиться в период той исторической битвы
percebem que não têm nada de que podem estar orgu-
добра со злом, борьбы народов против нацизма –
lhosos durante aquela batalha histórica entre o bem e o
понимают и испытывают болезненные комплексы
mal, a luta dos povos contra o nazismo – eles percebem
русофобии и прибегают к фальсификациям истории.
isto e sentem os acessos dolorosos da Russofobia e
Хотелось бы напомнить этим деятелям, что память
recorrem à falsificação da História.
– это не орудие мести, а созидательный инструмент,
Gostaria de lembrar a essas pessoas que a memória
использовать который можно и нужно исключительно
não é um meio de vingança, mas um instrumento criador,
в мирных целях, для строительства прочного
que pode e deve ser utilizado exclusivamente para fins
фундамента Европы будущего, а не для сведения
pacíficos, para construir uma base sólida para a Europa
счетов и получения ежеминутной политической
do futuro, e não para acertar as contas e tirar o proveito
выгоды. Для современной Европы аморальны и
político de cada minuta. Para a Europa contemporânea
противоестественны парады бывших эсэсовцев,
os desfiles de homens da SS realizados nos países que
проводящиеся в странах, претендующих на
“pretendem em respeitar os valores democráticos” são
приверженность демократическим ценностям.
amorais e antinaturais.
Мы не делили Победу на проценты в 1945 году, не
Nós não dividimos a vitória em percentuais nem em
делим ее и сейчас. Вместе с нашими союзниками
1945, nem hoje. Juntamente com os nossos aliados da
по антигитлеровской коалиции мы отмечали
coligação antifascista celebrámos o aniversário da aber-
годовщину открытия второго фронта, вместе будем
tura da segunda frente, e juntamente celebraremos os 65
праздновать и 65-летний Юбилей Победы в Москве.
anos da Vitória em Moscovo. A Segunda Guerra Mun-
Вторую мировую войну выиграли все участники
dial foi ganha por todos os participantes da campanha
антигитлеровской кампании. Это была наша общая
anti-Hitler. Foi a nossa Vitória comum. Mas ninguém tem
Победа. Но никто не вправе ни принижать цену,
direito de menosprezar o preço pago pelo nosso país
которую заплатили наша страна и наш народ в ходе
e pelo nosso povo durante a guerra, nem subestimar a
войны, ни приуменьшать масштабы преступлений
escala dos crimes dos nazis, e muito menos heroizá-los.
нацистов, и тем более их героизировать.
O nosso dever perante aqueles que pagaram com o seu
Наш долг перед теми, кто своей кровью заплатил за
próprio sangue pela salvação da humanidade do fas-
спасение человечества от фашизма, состоит прежде
cismo consiste, antes de tudo, em colocar uma barreira
всего в том, чтобы поставить надежный барьер на
segura no caminho de proliferação das ideias de intole-
пути распространения идей нетерпимости, расового,
rância, supremacia racial, nacional ou religiosa, quais es-
национального или религиозного превосходства,
condem as pretensões para o domínio mundial e servem
за которыми скрываются претензии на мировое
de base para novas ameaças.
господство, служащие почвой для новых угроз.
O 65º aniversário da Vitória não se deve tornar o moti-
60-летие Победы не должно становиться поводом
vo de confronto, servir como meio de acertar as velhas
для конфронтации, служить целям сведения
contas e ofensas mútuas. É simbólico que a Organização
старых счетов и взаимных обид. Символично, что
das Nações Unidas declarou 8 e 9 de Maio os Dias da
Организация Объединенных Наций объявила 8 и 9
Memória e Reconciliação. E é neste âmbito que serão
мая Днями памяти и примирения. В этом ключе будут
realizadas as celebrações em Moscovo. O vindouro
проведены и праздничные мероприятия в Москве.
aniversário da Vitória é em primeiro lugar o tributo à me-
Приближающийся юбилей Победы – это прежде всего
mória e ao profundo reconhecimento de todos aqueles
дань памяти и глубочайшей признательности тем, кто
que deram as suas vidas pela independência da nossa
отдал жизнь за независимость нашего Отечества и
Pátria e trouxeram a esperada liberdade aos povos da
принес долгожданное освобождение порабощенным
Europa escravizados pelo nazismo. As comemorações
фашизмом народам Европы. Юбилейные торжества
do aniversário da Vitória deverão servir de lembrete
должны послужить напоминанием о том огромном
daquele enorme potencial espiritual que têm a Rússia e o
внутреннем духовном потенциале, которым обладают
seu povo. Por isso a história da Grande Guerra Patriótica
Россия и российский народ. В этом плане история
e da Segunda Guerra Mundial são para nós uma fonte
Великой Отечественной и Второй мировой войн
incessante de força e confiança no futuro. Para todas as
является для нас неиссякаемым источником силы
pessoas honestas o feriado da Vitória permanecerá um
и уверенности в будущем. Для всех честных людей
dia luminoso e sagrado.
Праздник Победы останется светлым и святым Днем. n
n
julho/setembro 2010 - Diplomática • 51
Mala diplomática
Eduardo González Lernes por José Manuel Teixeira Embaixador de Cuba em Portugal Foi membro activo na pré-Revolução cubana e continua a sê-lo no pós-Revolução. Eduardo Lernes representa pela primeira vez o seu país, como Embaixador, no continente europeu e considera Portugal um país amigo, realçando os 90 anos de relações entre os dois países. O Embaixador falou em exclusivo à Diplomática das relações bilaterais que aproximam cada vez mais os dois Estados nos planos político, comercial, da saúde e do investimento, e analisou o relacionamento divergente Cuba/EUA no primeiro ano da era Obama: “as expectativas e esperanças apontavam para uma melhoria no relacionamento. Infortunadamente isso não se verificou.”
52 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
Senhor Embaixador, conte-nos
corrigidos pelos portugueses, porque
mundo atravessa, estamos a anali-
um pouco do seu percurso de vida.
nos tentam entender. Assim é mais
sar as possibilidades de comércio,
Vivi a pré-Revolução e agora o
difícil melhorar. Aquele que fala uma
de investimento em Cuba, em áreas
pós-Revolução. Na minha infân-
Língua totalmente diferente aprende
que são de muito interesse. Tem-se
cia estudei em escolas públicas e
melhor a falar o português.
desenvolvido o Turismo de Portugal
mesmo antes da Revolução estudei
Qual a importância da Embaixa-
para Cuba, algo muito importante,
numa escola de formação católi-
da de Cuba, neste momento, em
e esperamos que ainda haja possi-
ca – Maristas. No primeiro ano da
Portugal.
bilidades de um maior crescimento.
➤
Revolução incorporei-me no exército
A importância da Embaixada é pre-
Portugal dentro da UE tem tido uma
para defender o país das agressões
cisamente a presença da represen-
posição relevante. No ano passado
estrangeiras. Recebi treino de arma-
tação de um país num país amigo e
assinou o reatamento da cooperação
mento de artilharia anti-aérea, como
esta Embaixada tem muitos anos. A
que tinha sido suspensa, em 2003,
quase toda a minha geração. Depois
história das relações entre Portugal e
por parte de toda a UE, com aquela
de passarem estes primeiros anos
Cuba têm já 90 anos. A Embaixada é
posição comum que se manteve des-
mais violentos retomei os estudos e
o que permite um diálogo, uma apro-
de 2003. Ainda não está eliminada
ingressei na Universidade para me
ximação, analisar e pesquisar todas
definitivamente, ainda está suspen-
formar em Jornalismo e em Relações
as possibilidades de cooperação, de
sa, mas tanto Espanha como Portu-
Internacionais. Também, durante
comércio e relacionamento, e manter
gal assinaram a declaração conjunta
esse período em que estudava,
viva essa amizade que existe entre
para o reatamento da cooperação
trabalhei na aviação civil de Cuba.
o povo de Portugal com o povo de
com Cuba. Nesta etapa estamos
A carreira diplomática comecei-a no
Cuba.
precisamente na identificação de
ano de 1975 a trabalhar no Ministério
Como têm sido esses 90 anos
possibilidades de aumentar os negó-
das Relações Exteriores e passei
de relacionamento entre os dois
cios. O que acontece é que estamos
por todos os graus que existem na
países?
a atravessar uma crise na economia
diplomacia. O meu primeiro posto foi
Posso dizer que o mais importante
mundial e é uma situação que tem
na Líbia, como Terceiro Secretário.
é que o relacionamento nunca foi
dilatado um pouco essas possibilida-
No final de cada missão voltávamos
interrompido. Tem-se mantido sem-
des. Mas todos temos confiança que
a Cuba para tomar conta da reali-
pre e para nós é muito importante
vamos sair dessa crise e, precisa-
dade. Depois estive no Líbano (dois
nestes 50 anos de Revolução termos
mente, por isso, continuamos essa
anos) e na Síria (três anos). Evoluía
mantido sempre as relações. Podem
pesquisa para possíveis negócios.
um grau diplomático à medida que ia
ter tido altos e baixos, mas são mais
Cuba tem na América Latina um
para outro país. Fui então para outra
os altos que os baixos. Tem existido
papel preponderante. Há uma ten-
região, Brasil, como Conselheiro,
sempre um vínculo e um diálogo
dência para os países daquela re-
onde estive durante quatro anos e
franco e aberto entre as altas autori-
gião se aproximarem mais de uma
pouco. Regressei a Cuba ao Ministé-
dades dos países.
política cubana do que de uma
rio das Relações Exteriores. A minha
Concretamente, neste momento,
política americana. Nesse sentido,
primeira missão como Embaixador
quais são as relações entre Portu-
o que é que acha que Cuba poderá
foi em Moçambique (2001-05), tendo
gal e Cuba nos aspectos político
representar para Portugal como
posteriormente regressado ao meu
e económico? E se a Embaixada
antena (já temos o Brasil) de rela-
país, e em Setembro do ano pas-
em Lisboa poderá ser uma antena
ções bilaterais?
sado comecei a missão em Portu-
para a União Europeia ou se há
Acho que Cuba poderia contribuir na
gal. Tenho seguido uma trajectória
mais a tendência em ser Bruxelas
linha de aproximação entre Portu-
que começou nos países do Médio
a ter diálogo com Havana?
gal e os países da América Latina.
Oriente, América Latina, África e
Nós mantemos relações com a
Logicamente que Portugal tem um
agora Europa (Portugal). Houve uma
União Europeia (UE), como UE, mas
estreito relacionamento com o Brasil
estratégia de adaptação à Língua
damos muita importância às relações
por vínculos históricos, pela Língua e
e Cultura. A “má língua” que falo
bilaterais com cada um dos países.
Cultura, mas Cuba poderá contribuir
estudei no Brasil. A culpa não foi dos
Neste caso, com Portugal temos tido,
na aproximação às Caraíbas, à Amé-
brasileiros nem dos professores, mas
nos últimos tempos, uma aproxima-
rica Central e a todos aqueles países
minha. Porque nós temos um proble-
ção ainda maior no plano bilateral
com os quais Cuba tem um estreito
ma, falamos espanhol e não somos
e, no meio desta crise, que todo o
relacionamento, que são
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 53
Eduardo González Lernes Embaixador de Cuba em Portugal
também uma prioridade para Por-
tou um parque eólico e manifestou
são apenas os Estados Unidos da
tugal. Nós estamos nessa posição de
a intenção de um possível negócio
América (EUA). Cuba nunca rompeu
criar essa possibilidade de diálogo.
entre Cuba e a empresa de Viana
relacionamentos com ninguém. O
Evidentemente que Portugal já es-
para o investimento nas energias
único país do mundo que tivemos
tabelece contacto com países como
renováveis.
a iniciativa de romper relações foi
a Venezuela, México, Argentina ou
Antes da visita a Viana do Castelo
com Israel no ano de 1973, devido
outros países da região. Cuba está
já era para Cuba uma prioridade
às agressões entre os povos árabes
disponível para ajudar nesse objec-
de identificar as possibilidades de
e palestinianos. Mas com o resto do
➤
tivo. Eu penso que Portugal poderia
comércio e cooperação de Portugal
mundo nunca tivemos problemas.
desempenhar um papel importante
com Cuba na área das energias
Cooperamos com vários países,
na região, tanto que Portugal é um
renováveis. É uma prioridade para
inclusive com países terceiro mundis-
país ibero-americano, compartilha-
o nosso país. Na visita a Viana vi
tas. Em África temos uma presença
mos lugares nessa Organização nas
uma grande planta duma indústria
muito grande, contribuindo com mé-
cimeiras que se realizam. No ano
para parques eólicos e pensámos
dicos e professores em mais de vinte
passado foi aqui em Portugal, ambos
na possibilidade de investir nessa
países. Em alguns países da Ásia
somos fundadores desse movimento
cooperação. Devo realizar uma nova
temos também cooperação deste
e esse é o lugar específico para co-
visita a Viana já concretamente para
tipo e na América Latina, na maioria
laborarem ambas as partes. Temos
ir ver a planta de construção daque-
dos países, temos um relacionamen-
um nível de identificação grande com
les equipamentos. Creio que sim,
to muito amplo. Cuba faz parte de
Portugal na esfera internacional, lo-
que haverá possibilidade de coo-
uma nova estrutura regional – ALBA
gicamente que também há aspectos
peração a esse nível porque reitero
– Aliança Bolivariana para as Amé-
com que não coincidimos, mas existe
que é uma prioridade para ambos os
ricas, e que foi criada por Cuba e
o diálogo para procurar a aproxima-
países, tanto para importar estes ele-
Venezuela, às quais se têm juntado
ção. Nas Nações Unidas, Portugal
mentos como para analisar a possibi-
mais países, permitindo um comércio
tem sempre votado contra o bloqueio
lidade de desenvolver uma planta em
e uma cooperação sem nenhum tipo
económico a Cuba, sendo a favor de
Cuba. Funcionará como uma energia
de exploração. Por exemplo: temos
uma resolução, tal como a UE que
alternativa. Não poderemos depen-
uma cooperação na área da saúde –
tem tomado a mesma posição. Por-
der só da energia eólica porque as
a Operação Milagros – uma ope-
tanto, a posição de Portugal contribui
características meteorológicas não o
ração oftalmológica a pessoas que
para que haja essa unanimidade.
permitem. Temos também o objecti-
estão quase cegas pelas cataratas.
Sabemos que também tem boas
vo de investir na energia hidráulica,
Foram já submetidas a uma interven-
relações com a Venezuela, assim
na qual Portugal possui também tec-
ção mais de um milhão de pessoas
como nós, e caberia até a possibili-
nologia e experiência e tem, ainda, a
que depois recuperaram a visão.
dade de no futuro se realizarem ope-
possibilidade de participar em algum
E a que cidadãos portugueses
rações triangulares em algum dos
investimento. Já na área do petróleo
também têm recorrido muito!?
nossos países. Como existe também
existem projectos para a prospecção
Sim, têm ido muitos portugueses
a possibilidade de se fazerem em
dessa matéria-prima em Cuba. E es-
a Cuba fazer essa operação. Nós
países de África, ou outros de Língua
tamos abertos para cooperar noutras
também criámos vários centros
Portuguesa, nos quais Cuba participa
áreas com Portugal.
oftalmológicos em vários países da
juntamente com Portugal. Estamos
Como funciona a política exterior
América Latina para que as pessoas
então a estudar essa possibilidade
de Cuba?
não tenham que se deslocar todas a
de cooperação triangular.
Primeiro de tudo respeitamos todos
Cuba. E assim é possível usufruir do
Com Angola sobretudo?
os países do mundo. A maioria dos
serviço no Equador, Peru, Venezue-
Angola, quem sabe se não é o mais
países têm relacionamentos com
la, Bolívia, onde temos seis centros
indicado. Angola tem um nível de
Cuba. Temos Embaixadas em mais
oftalmológicos que operam pessoas
desenvolvimento maior e poder-se-ia
de 119 países e 30 Consulados
que vêm da Argentina e das Caraí-
desenvolver uma cooperação trian-
gerais e existem mais de 100 Embai-
bas. Mas a maioria das pessoas vem
gular ao nível do comércio ou inves-
xadas dos mais variados países do
a Cuba. Este é um programa que
timento.
mundo em Cuba. Só aquele país que
na realidade constitui um milagre.
Numa visita que o Senhor Embai-
não quer ter um relacionamento nor-
Pessoas que não viam praticamente
xador fez a Viana do Castelo visi-
mal com Cuba, que neste momento
nada e depois de operadas voltam
54 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
Eduardo González Lernes
a ter visão. Municípios de Portugal
íses e em muito maior quantidade?
não só colocamos médicos nesses
fizeram acordos com estes centros
Mas continua a existir falta de
países como, também, estamos lá a
em Cuba e possibilitaram a alguns
médicos…
formar profissionais para futuramente
utentes a operação.
Sim, sabemos que existe essa lacu-
diminuirmos a presença médica. É
Essa é também uma recente coo-
na. Mas aqui conhecerão melhor as
mais económico para todos enviar
peração no ramo da saúde entre
razões desse défice do que eu. Ago-
os professores para formar médicos
os dois países.
ra nós não vemos nada contra essa
no próprio país. Assim estamos a
➤
Sim, e também temos outros acordos
cooperação. Se nós temos médicos
fazer em alguns países de África.
nessa área, tal como a presença
e em Portugal precisão deles, então
Cuba tem uma escola internacional
de médicos em território português.
não vejo por que não cooperar. E
de medicina onde se formam por ano
Temos 44 médicos na região do
se precisarem de mais, nós temos
entre quatro mil a cinco mil novos
Alentejo e Algarve. Aqui em Portugal
e estamos dispostos a chegar a
médicos, sobretudo da América
alguma imprensa tem feito críticas a
acordo. Temos médicos em mais de
Latina, que usufruem de bolsas de
essa presença, ao que nós pergun-
70 países, o que corresponde a mais
estudo. Alguns governos contribuem
tamos porque é que por 44 médicos
de 37 mil médicos no exterior. Só na
economicamente para manter essa
cubanos se faz tanto alarido quando
Venezuela temos quase 30 mil e em
faculdade.
existem tantos médicos de outros pa-
África também temos muitos. Mas
Mudando um pouco de assunto,
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 55
Eduardo González Lernes Embaixador de Cuba em Portugal
há sensivelmente um ano atrás
como deveria ser. Digo não como
agora não é positivo. O bloqueio con-
haviam muitas esperanças com
deveria ser porque não tem explica-
tinua igual, agora fomos colocados
a eleição de Barack Obama. Hoje
ção colocar novamente Cuba na lista
na lista de terroristas e não permitem
que balanço faz?
de países patrocinadores do terro-
que os cidadãos norte-americanos
➤
As expectativas e esperanças com
rismo, quando os norte-americanos
viagem para Cuba, a base de Guan-
a administração Obama apontavam
sabem que Cuba não tem nenhuma
tánamo continua igual, sem nenhum
para uma melhoria no relacionamen-
participação no terrorismo. Bem pelo
objectivo estratégico militar, sendo
to divergente entre os EUA e Cuba,
contrário, temos combatido o terro-
para eles uma forma de agredir poli-
produto do discurso de Obama na
rismo. E por combatermos o terro-
ticamente um país. No entanto, nós
sua campanha. Infortunadamen-
rismo e descobrirmos actos temos
continuamos numa posição aberta
te isso não se verificou. Mudaram
cinco cubanos presos nos EUA, que
para o diálogo em qualquer tema
pequenas coisas com medidas ainda
injustamente trabalhavam dentro de
com as autoridades norte-america-
tomadas na administração Bush,
grupos terroristas que operavam con-
nas. Nós continuamos à espera e a
como o permitir que os cubanos resi-
tra Cuba. Ou seja, o que eles dizem
bola de pingue-pongue está do lado
dentes nos EUA fizessem remessas
para o resto do mundo não é aplicá-
de lá. Eu também sei reconhecer
económicas para a família residente
vel ao nosso caso. Contudo, ainda
que para os EUA é difícil ter um país
em Cuba, que pudessem viajar cada
temos esperança que as coisas
pequenino próximo das suas costas
ano para o país (porque Bush tinha
possam mudar, que Obama tome
que tem vivido sem depender deles
proibido isso) e retomou o diálogo
a decisão correcta em cada caso e
durante 50 anos. É para eles um fe-
migratório existente entre os dois
em cada passo que dê em relação
nómeno político. Primeiro diziam que
países, que começou mas não ainda
a Cuba. Mas o que demonstrou até
éramos um país satélite da União
56 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
Soviética e ficou demonstrado que
tão necessária.
formam-se, cada ano, mais médicos
a União Soviética e o campo socialis-
Cuba esteve mais de 400 anos sob
do que aqueles que ficaram no país
ta acabaram nos finais dos anos 80
a colonização espanhola, depois
em 59. Mais de três mil médicos por
e princípios dos anos 90. Passaram
mais de 60 anos sob influência do
ano, cubanos, sem contar mil/dois
mais de 20 anos e Cuba continua a
neo-colonialismo norte-americano
mil que formamos anualmente de ou-
caminhar sozinha, pelo meio saiu de
e, por fim, deu-se o triunfo de uma
tros países. Ou seja, temos dedicado
crises que viveu produto da queda
Revolução Social, em Janeiro de
fundamentalmente os nossos recur-
do campo socialista e teve uma
1959. Cumpriu recentemente 51
sos para desenvolver algo que Cuba
resistência muito grande, com base
anos e com um projecto social
não tinha – o capital humano forma-
no povo, que permitiu hoje estarmos
desenvolvido que mudou todas as
do. Não educamos apenas médicos.
bem. Tivemos um decrescimento
características do nosso país. Deixou
Nas várias áreas das ciências somos
económico muito grande até ao ano
de ser um país colonizado e depen-
um dos países que maior quantidade
de 1994 e, a partir daí, começámos a
dente, em que o único produto que
de estudantes (per capita) tem nas
crescer. A recuperar de uma queda
tinha para exportação era o açúcar.
universidades. Isto porque o ensino
de 85 por cento que tivemos nas re-
Hoje em dia, nesse aspecto, temos
em Cuba é gratuito, tendo toda a
lações comerciais entre 1989 e 1993.
também o níquel que antes estava
gente o direito de estudar. Essas são
➤
Ou seja, temos demonstrado que
na posse norte-americana e agora é
as causas fundamentais, que por
com vontade e unidade, e a pensar
nossa propriedade, e tem-se de-
um bloqueio tão violento, com actos
no bloqueio, podemos ir em frente.
senvolvido com parcerias de capital
terroristas tão fortes contra nós, se
Neste momento todos os países so-
estrangeiro, fundamentalmente do
tem mantido a Revolução cubana.
freram a crise internacional, mas nós
Canadá. Temos ainda desenvolvido
Durante muitos anos estivemos
estamos muito mais preparados do
um campo científico muito alto, para
isolados porque a maioria dos países
que antes para enfrentar esta crise.
um país de terceiro mundo como é
da América Latina tinham obedecido
O senhor Embaixador falou que
Cuba, com uma produção de vaci-
às ordens americanas e romperam
com a queda do Bloco Socialista
nas bastante elevada e uma inves-
os seus laços com Cuba. Hoje, pelo
as relações comerciais tinham
tigação biotecnológica de primeiro
contrário, não existe um país da
caído 85 por cento. Tiveram que
mundo. Há produtos que apenas
América Latina que não estabeleça
parar com a construção social
Cuba produz, mais nenhum país no
relações com Cuba. El salvador, que
para fazer hotéis como aposta no
mundo o faz, na área da biotecno-
era o único país que faltava até ao
Turismo?
logia, sendo uma fatia importante
ano passado, também já reatou as
Sim, foi uma decisão económica es-
de ingressos para o país. Primeiro,
relações connosco. Falo na América
tratégica. Ao perder 85 por cento do
para chegarmos a este nível apos-
Latina, se falar no continente ameri-
comércio internacional priorizámos
támos fortemente na política social
cano todo, só um país não tem rela-
o Turismo para podermos ter uma
– educação gratuita e obrigatória até
ções com Cuba, que são os EUA.
recuperação mais rápida. Parámos o
ao 9º grau, eliminámos totalmente
O senhor Embaixador tinha tam-
desenvolvimento social durante um
o analfabetismo no segundo ano
bém falado da importância da
período, que já trazia um ritmo muito
da Revolução, e implantámos um
Cimeira Ibéro-Americana…
alto, para darmos prioridade ao Tu-
sistema de saúde comparável ao de
A Cimeira Ibéro-Americana é com-
rismo. E foi o que marcou a diferença
qualquer país desenvolvido. Cuba
posta por todos os países da Améri-
dos 200 mil turistas que recebíamos
tem, sensivelmente, um médico por
ca Latina e mais dois países ibéricos
para os 2 milhões e 400 que rece-
cada 156 habitantes e um total de
– Portugal e Espanha. Portanto, mais
bemos em 2009, e continuamos a
80 mil médicos formados a partir
uma razão para que exista uma boa
trabalhar para receber mais. Pois
de 1960. Cuba perdera metade
identificação entre Cuba, ou países
esta é uma indústria que tem um
dos médicos ao emigrarem para os
latino-americanos, com Portugal. E,
retorno rápido. Cuba tem tudo aquilo
EUA no primeiro ano da Revolução,
também, dos países da UE, os paí-
que os turistas procuram: tranquilida-
produto da campanha do governo
ses com que temos melhores víncu-
de, segurança, boas praias, cultura e
norte-americano para nos tirarem
los são precisamente com Portugal e
uma história muito rica.
esses profissionais. Em 1959, Cuba
Espanha.
Fale-nos um pouco da comemora-
tinha seis mil médicos, emigraram
Agora na situação actual, a gera-
ção dos 50 anos da Revolução e
para os EUA três mil. Actualmente,
ção que fez a Revolução está a
porque é que esta Revolução era
resultante do plano da Revolução,
terminar o seu mandato de vida.
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 57
Eduardo González Lernes Embaixador de Cuba em Portugal
As novas gerações estão prepa-
em Cuba vão haver mudanças, aliás,
têm tido a possibilidade de fazer
radas para continuar a Revolução
já estão a haver, mas isso é uma
algo a favor dessa Revolução. Isto
cubana começada há 51 anos?
característica do desenvolvimento da
desmente muito aqueles que dizem
Eu não diria que é a geração que fez
vida e da situação internacional. Lo-
que em Cuba se vive uma ditadura
➤
a Revolução, mas sim a geração que
gicamente que Cuba não pode viver
em que é usada a força. Eu acho
iniciou a Revolução. A que iniciou a
isolada do resto do mundo e tem que
que para qualquer pessoa que tenha
Revolução já completou 50 anos e
estar atenta aos problemas que se
dois dedos de testa poderá perceber
começaram entre os 20 e 30 anos
passam no mundo. O importante é
muito facilmente que o povo cubano
de idade, mas as gerações que se
que temos de estar preparados para
nunca aceitou nem ditaduras nem
seguiram são as que têm continua-
enfrentar esses problemas. Prova
colonialismos, e como poderia acei-
do a mantê-la, porque a Revolução
disso é a crise financeira internacio-
tar um regime de força para manter
não foi só o assalto ao Quartel de
nal que afecta todo o mundo. Nós
este nível de desenvolvimento e
Moncada em 1953, ou a ida para a
estávamos afortunadamente mais
sobretudo de participação e coope-
Sierra Maestra. Foi um gesto herói-
preparados neste momento para en-
ração com outros países do mundo?
co de derrubar uma ditadura militar.
frentar essa crise do que se tivesse
Nós temos isso como um princípio
Contudo, a verdadeira Revolução
acontecido há alguns anos atrás. Ao
e classificamos de Pátria a Huma-
começou a partir do primeiro dia de
dizer isto não quer dizer que temos
nidade e não apenas o território
1959, porque como já referi antes,
uma economia forte, mas porque
onde nascemos. Um exemplo disso
não era possível manter um país
temos um povo preparado, um nível
é o que estamos a fazer no Haiti.
subdesenvolvido, dependente, só
de educação muito alto e condições
Fala-se muito pouco da participação
com uma luta de um exército rebelde
para tentarmos resolver os nossos
de Cuba naquele país, mas nós já
formado na guerra, ao qual se juntou
próprios problemas sem dependên-
lá estávamos presentes antes do
o povo todo para levar em frente
cia exterior. Para termos tudo isto,
terramoto e aumentámos ainda mais
um processo em que a Revolução
sem aplicar a força sobre os cida-
a presença depois da tragédia. Cuba
começou. Portanto, têm participado
dãos, é porque o povo matem uma
tem e continuará a ter no Haiti uma
neste movimento tantas gerações
unidade. E estou a falar de um povo
alta presença de médicos porque o
como as que têm vivido durante
que mais de 60 por cento nasceu
problema desse país não se resolve
estes 50 anos. Eu entendo o sentido
depois da Revolução.
em dois dias. Haiti teve dois terramo-
da pergunta porque é precisamente
O senhor Embaixador já é fruto da
tos: um histórico, de ser um país de-
uma estratégia dos EUA. Pois, eles
Revolução.
plorado durante muitos anos porque
falam que o fim biológico dos diri-
Eu era um fruto já maduro antes da
foi o primeiro país independente da
gentes da Revolução acabará com a
Revolução porque tinha já 14 anos.
América Latina, e o outro catastrófi-
mesma. Acho que estes últimos três
Não tive uma participação, antes
co que aconteceu no passado dia 12
anos têm demonstrado o contrário a
da ida para a Sierra Maestra, e isso
de Janeiro, que ainda não se sabe
quem pensava que com a retirada de
era um trauma que a minha geração
ao certo quantas pessoas morreram.
Fidel Castro não se poderia manter
tinha, por não ter participado nessa
Então se somos e podemos ser
mais esta luta. Primeiro pensou-se
etapa. Mas tivemos o privilégio de
assim tão solidários, podemo-nos
que Cuba sem a União Soviética não
poder participar na continuação. Foi
questionar como é que é possível
se poderia manter. Depois que com
uma Revolução muito forte. Tive-
isso acontecer num país que dizem
a saída de Fidel do poder, Cuba não
mos invasões externas, agressões
funcionar à base da força? Isso não
resistiria. Fidel não está a dirigir os
militares, actos terroristas. Aí sim,
tem cabimento. É só ir a Cuba e até
destinos do país, indiscutivelmente
ainda na minha adolescência, tive
perguntar a turistas que visitam o
que é um líder histórico e uma refe-
a possibilidade de participar. Por
nosso país. Não somos um paraíso,
rência em Cuba, mas outras gera-
isso me sinto parte da Revolução.
mas também não somos o inferno
ções têm participado e a Revolução
Os nossos filhos têm a possibilida-
que alguns pintam. Cuba tem pro-
e o Partido Comunista cubano têm-
de de participar, de estudar, de se
blemas tal como tem qualquer país
se preocupado por transladar para
formar e de contribuir para outros
do mundo. Problemas económicos,
as novas gerações a realidade que o
países com médicos, professores,
sociais, mas não paramos de traba-
país tem vivido. A história, até agora,
soldados, entre outras coisas. Ou
lhar para os resolver e para termos
tem sido vivida pelos pais, avós e
seja, é uma geração que tem vivido
uma democracia socialista cada vez
filhos dessa geração. Considero que
um produto revolucionário e todos
mais justa.
58 • Diplomática - julho/setembro 2010
n
lideranças - união europeia
Presidência espanhola marcada pela crise
José Luis Rodríguez Zapatero
Chegou ao fim o legado espanhol sobre a presidência da União Europeia. Foi um semestre negro e atormentado pelo agravamento da crise económico-financeira na Zona Euro. À partida para o mandato rotativo, José Luis Rodríguez Zapatero, sabia que seriam meses difíceis, agora, não esperaria que fossem tão difíceis. O Presidente Socialista do Governo Espanhol tinha em mãos um novo e prioritário dossiê a aplicar no espaço europeu dos 27 – o Tratado de Lisboa – aprovado a 1 de Dezembro de 2009 durante o mandato português. Aliás, esse era um dos pontos definidos no programa político da presidência espanhola da UE, considerado como “um marco jurídico reforçado para impulsionar a nova Europa, a Europa que necessitamos, num momento extraordinário de significado político”. Um Tratado que trouxe também novidades na liderança da presidência. Começando logo pelo próprio poder do líder da presidência que ficou condicionado pelo cargo do Presidente do Conselho Europeu – Herman van Rompuy. É ele uma das personagens principais da Europa e que preside às
60 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
➤
cimeiras europeias, tendo colocado Zapatero apenas no
papel de primeiro-ministro espanhol, e não como presidente. Mas o assunto principal que marcou a presidência espanhola foi a crise. As expectativas iniciais, que iam no sentido duma “maior coordenação das políticas económicas para gerir as estratégias de saída da crise, para acelerar a recuperação, para promover uma nova etapa de crescimento, para voltar a criar emprego e para manter altos níveis de protecção social”, foram por água abaixo à medida que no contexto europeu se sucedeu precisamente o contrário. A dificuldade em os Estados acederem ao crédito e o consequente declínio das suas economias, com o desemprego a aumentar em flecha, colocaram a Europa em sobressalto. Grécia entrou na banca rota e Espanha e Portugal viram as suas taxas de desemprego a baterem recordes, 19,7 e 10,8 por cento, respectivamente. Primeiro e quarto classificados, numa lista publicada em Abril pela Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Económica (OCDE), em que constam também a Eslováquia (14,1 por cento) e Irlanda (13,2 por cento). Uma Zona Euro em alerta laranja com o desemprego nos 10,1 por cento. Ainda no plano económico, Espanha e Zapatero estiveram sempre em cheque devido à possibilidade da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI) terem que recorrer a um plano de apoio para ajudar o país, tendo essa possibilidade sido negada por Bruxelas e Madrid. Já na última Cimeira o tema não mudou. Os chefes de Estado e de Governo dos 27 países-membros da União reuniramse em Bruxelas para propor um governo económico europeu, no sentido de impor uma disciplina orçamental, com sanções agravadas aos Estados mais imersos em endividamento. Outra das metas era o reforço da coordenação das políticas económicas para uma maior cooperação na recuperação económica. O fortalecimento da unidade da Europa no exterior foi outra das aspirações de José Zapatero que também saiu abalada deste cenário. Devido à crise foi uma presidência marcada pelo retrocesso na recuperação económica da Europa e em que a imagem do governante sai fragilizada. No entanto, a liderança rotativa do bloco europeu à Bélgica também não se adivinha fácil, já que começará com um Governo de gestão. O novo executivo só deverá estar formado em Setembro, conforme as palavras do líder dos nacionalistas flamengos, Bart De Wever, que conquistou recentemente uma vitória histórica nas eleições gerais da Bélgica.
n
julho/setembro 2010 - Diplomática • 61
lideranças - união europeia
Enrique Santos -
Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso Espanhola
Um olhar da Presidência Espanhola da União Europeia Agradeço à revista Diplomática - prestigiosa publicação que conta com uma importante componente dedicada às relações internacionais - o convite que me dirigiu para fazer um breve comentário à actuação da Presidência espanhola da União Europeia, exercício com algumas dificuldades de abordagem dadas as circunstâncias que a Presidência rotativa espanhola tem enfrentado desde a sua tomada de posse em Janeiro deste ano.
62 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
Desde logo existem duas fortes
Finanças, Meio Ambiente, Politica
condicionantes que inevitavelmente
Social e Emprego e, desde o inicio
➤
têm dificultado a actuação da Pre-
do ano, a Presidência espanhola tem
sidência espanhola. Por um lado, a
dado provas de empenho e resposta
recente entrada em vigor do Tratado
à crise económica e financeira na
de Lisboa, após vários anos de du-
Europa, nomeadamente no combate
ras negociações, exigirá tempo para
ao desemprego, apoio às PME´s,
implementar um novo modelo de
fortalecimento do euro, promoção da
desenvolvimento económico para os
inovação empresarial, etc., colocan-
próximo anos fazendo uso das novas
do a Europa económica como actor
competências e instrumentos deste
na cena internacional.
Tratado, e a segunda condicionante
Como Presidente da Câmara de Co-
é a forte crise económica que assola
mercio Luso Espanhola não poderia
a Europa e os mercados internacio-
deixar de fazer referência às rela-
nais.
ções luso-espanholas na sua verten-
É inquestionável que a Espanha é
te económica e comercial, também
um país de forte vocação europeísta
elas tiveram um forte dinamismo e
e a Presidência espanhola, apesar
crescimento nos últimos anos gra-
das dificuldades que tem enfrenta-
ças, em grande medida, ao processo
do, tem dado sinais políticos claros
de construção europeu. Desde a
e valentia suficiente para ajudar a
integração dos dois países na União
criar uma União mais coesa, mais
Europeia em 1986 que as relações
Os empresários,
solidária, com uma maior coordena-
económicas e comerciais não para-
verdadeiros motores
ção entre as suas diversas institui-
ram de crescer até ao ultimo quadri-
da economia, saberão
ções, indo ao encontro dos cidadãos
mestre de 2008, quando se inicia um
encontrar as soluções
europeus, princípios programáticos
ciclo de forte desaceleração eco-
e retomar de novo a
do novo Tratado e tem sido uma tó-
nómica em consequência da crise
senda do progresso e
nica permanente nas declarações e
económica e financeira internacional.
do desenvolvimento
acções desenvolvidas pelos respon-
Por exemplo, em 2009, as vendas
sáveis políticos espanhóis, nomea-
espanholas para Portugal tiveram
damente do Presidente do Governo
uma quebra de 13,5 por cento e
espanhol.
as vendas portuguesas para Espa-
Dito isto, fazer qualquer apreciação
nha de 22 por cento. Teríamos que
sobre a actuação e resultados da
recuar cinco anos para encontrar
Presidência espanhola em matéria
volumes de transacções semelhan-
económica parece-me prematuro, até
tes àquelas que se registaram em
porque só a partir da recente reunião
2009. Também nos investimentos se
dos Chefes de Estado de Março foi
verificou uma acentuada quebra, por
discutido o chamado governo econó-
exemplo, nos investimentos brutos
mico comum e debatidas as medidas
espanhóis em Portugal, em 2009, a
de vigilância e estímulo da estratégia
quebra foi de 65 por cento, em rela-
“Europa 2020”, que ficará definitiva-
ção ao ano anterior.
mente aprovada no Conselho Euro-
Perante estas dificuldades estou
peu de Junho deste ano, data que
convencido que os empresários,
coincidirá com o culminar da Presi-
verdadeiros motores da economia,
dência espanhola. É importante, no
saberão encontrar as soluções e
entanto, destacar que este documen-
retomar de novo a senda do progres-
to conta já com os trabalhos efectua-
so e do desenvolvimento e contribuir
dos durante a Presidência espanhola
para o fortalecimento de um mercado
pelos Conselhos Sectoriais da Com-
ibérico mais consolidado no contexto
petitividade, Economia, Educação,
europeu e mundial.
n
julho/setembro 2010 - Diplomática • 63
Gestores internacionais
José Mínguez -
Delegado da Air Europa
“A maior luta é dar a conhecer a companhia aérea e que o público perceba os nossos modos de trabalho” Delegado da companhia aérea Air Europa em Portugal desde o ano passado, José Mínguez tem uma experiência de 23 anos no sector do Turismo. Natural de Madrid, nasceu a 20 de Abril de 1964 e estudou na Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais. Começou a trabalhar, em 1987, nas Viagens Marsans, onde desempenhou tarefas em vários departamentos relacionados com o grande público e directamente com a direcção de empresas. Entretanto passou também pelo Carlson Wagonlit Travel Espanha em 1998. Em 2002 começa a carreira na corporação onde ainda hoje se encontra – Globalia – para a Divisão Aérea da Corporação Air Europa. Agora com o desafio de lançar a Air Europa no nosso país, José Mínguez falou-nos dos vários planos em marcha.
➤
64 • Diplomática - julho/setembro 2010
A Companhia tem frota pró-
viço bastante importante sobre-
holding de empresas que é
pria?
tudo para os empresários, além
a Globalia. Dentro da Globa-
Sim, tem. Estamos a operar
de um conjunto de outras van-
lia existem empresas como a
três voos diários com frota
tagens, tais como: as classes
Halcon Viagens, Travelplan,
própria – Lisboa ligação Ma-
de voo business ou económica,
cadeias hoteleiras – Hotéis Oá-
drid -, a partir de Madrid temos
que são cada vez mais procu-
sis, Grandforce (em Espanha),
➤
ligação com todo o mundo.
radas; outro serviço importante
entre outras. Além de diversas
Além do mais, o avião que faz
é o cartão de fidelização. A
parcerias que podem ser es-
essa rota é ultra-moderno, com
Air Europa pertence ao grupo
tabelecidas por cada uma das
tecnologia de ponta – Embraer
Sky Team, desde 2007, e ao
divisões a nível peninsular.
195 – e tem capacidade para
fazer parte do Grupo tivemos
Para futuro haverá alguma
122 passageiros. Para cobrir-
que eleger um ramal de fideli-
tendência para explorar o
mos a parte norte de Portu-
zação com as companhias que
mercado dos países de Lín-
gal temos a ligação de Vigo a
formam a Sky Team. E a Air
gua Portuguesa? É que há
Madrid.
Europa elegeu junto da KLM
companhias que não voam
É uma Companhia que opera
e da Air France o Flying Blue.
para esses países porque
em viagens de pequeno, mé-
Ou seja, é possível coleccionar
não lhes dá lucro, a não ser a
dio e longo curso. Também
pontos com todas as compa-
TAP que tem obrigações. Têm
têm viagens low-cost?
nhias da Sky Team que de-
algum projecto futuro para
Não, e aliás, o mercado portu-
pois poderão ser trocados por
fazerem ligação, a partir de
guês percebe que a Air Euro-
viagens, ou viajar em classe
Portugal, com os PALOP’s?
pa não é uma low-cost. Para
superior. A nossa aliança, Sky
Quem sabe, mas por agora
termos uma ideia, a Air Europa,
Team, é a mais importante da
seria demasiado precipitado.
enquanto dimensão, é pratica-
Europa e tem bons produtos
Estamos aqui desde 21 de
mente do mesmo tamanho que
acessíveis a todos os passa-
Setembro unicamente a operar
a TAP. A TAP transportou em
geiros, e para os empresários
uma rota e para esses efeitos
2009 cerca de nove milhões
que estão acostumados a viajar
tem de ser uma companhia com
de passageiros, assim como a
duas ou três vezes por sema-
uma infra-estrutura sólida para
Air Europa. E relativamente à
na são vantagens importantes.
poder abrir mercados. Num
frota de aviões, se lhe descon-
Além mais, percebemos que
primeiro momento queremos
tarmos a Portugália, temos o
em Portugal não se desagrega
consolidar a ligação Lisboa/
mesmo número de aparelhos
em demasiado o mercado cor-
Madrid e mais adiante porque
que a TAP. Contudo, somos
porativo do resto do mercado
não pensarmos outros merca-
um pouco diferentes no que diz
do grande público. Nessa linha
dos. Mas em concreto ainda
respeito ao produto. O nosso
estamos a fazer um esforço
não existe nada. Durante o ano
concorrente, aqui em Portugal,
junto das agências de viagens,
de 2009, a Air Europa cresceu
são todos, mas especificamen-
porque aqui em Portugal se ca-
enquanto estrutura pelo que a
te é a Ibéria que tem o mes-
naliza tudo através das agên-
nível estratégico, no decorrer
mo produto que nós. Utiliza a
cias, estabelecendo acordos e
deste ano, pensamos abrir no-
ligação a Madrid, para a partir
tarifários para que os clientes
vas rotas. Em 2009 criámos as
de Madrid fazer a ligação com
possam usufruir das melhores
rotas de Lisboa, Nova Iorque,
todo o mundo.
oportunidades.
entre outras, no mês passado
Que tipo de serviços tem a
Há mais algum tipo de parce-
começámos a voar para Lima
Air Europa para oferecer aos
rias? Por exemplo com ca-
(Peru) e durante este mês co-
seus passageiros?
deias hoteleiras, países, ou
meçaremos a voar para Miami
Fomos uns dos primeiros do
outro!?
e em Junho, a nível da Penín-
mercado europeu, dentro da
A esse nível teremos de falar
sula Ibérica, começaremos com
nossa companhia, a instalar o
da Corporação. A Air Euro-
quatro frequências diárias para
check-in online, que é um ser-
pa é uma divisão aérea duma
Oviedo. Dentro deste contexto
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 65
José Mínguez Delegado da Air Europa
macroeconómico mundial
importante tanto para Espanha
Para o Brasil temos ligações
convém não ficarmos parados
como para Portugal. Penso que
com Salvador da Bahia até ao
no tempo, senão corremos o
devemos sempre ter um olho
final do mês de Abril, mas já
risco de não nos expandirmos.
do outro lado do Atlântico.
temos acordado o recomeço
Outros projectos? Falou-nos
Portanto a América Latina é
dos voos para Novembro deste
dos objectivos a curto prazo,
um dos objectivos!
ano.
e a médio e longo prazo exis-
Sim, os nossos voos de longo
A crise financeiro-económica
tem alguns?
curso são na maioria para a
afectou muito o mercado da
A médio prazo vamos também
América Latina: Buenos Aires,
aviação? Falo a nível empre-
começar a voar para o Pana-
Caracas, Lima, Panamá, Cara-
sarial. Há pouco disse que
má. Somos uma companhia aé-
íbas, Havana, Santo Domingo,
muitos estão a passar para
rea com grande vocação para
Punta Cana, Cancun.
a classe turística, mas, além
a América Latina. É algo muito
E Brasil?
disso, sentiu-se uma quebra
➤
66 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
2009, o Grupo Globalia obteve
manifestado o seu agrado para
Sim, mas temos vindo a rees-
lucros de 30 milhões de euros,
com a estrutura.
truturar-nos para responder a
e dessa quantia, a maior parte
Como classifica o trabalho
➤
de passageiros?
esse contexto. Uma companhia
foram gerados pela companhia
desenvolvido em Portugal?
aérea tem de estar sempre
aérea. Portanto, em época de
Na verdade é que estamos a
preparada para esses contex-
crise apresentar estes resulta-
trabalhar muito bem, relativa-
tos. Apesar de não sermos uma
dos dá para ter uma ideia do
mente ao tempo que estamos cá.
companhia tão grande como a
trabalho desenvolvido, que foi
A maior luta é dar a conhecer a
British ou a Ibéria, mas a nível
óptimo.
companhia aérea e que o públi-
da estrutura é preciso modifi-
Para combater essa crise
co perceba os nossos modos de
car certos aspectos, como por
têm planos estratégicos para
trabalho. Pois somos uma linha
exemplo, ajustar tarifas, ana-
cativar passageiros, tal como
aérea regular, com serviços aé-
lisar se é rentável voar para
coleccionar milhas!? Que ou-
reos regulares. Queremos que os
certos sítios. Como consequên-
tras iniciativas têm?
clientes fiquem satisfeitos e que
cia dessa crise este ano temos
Depende, se falarmos da ca-
recomendem a companhia a ou-
transportado menos passagei-
tegoria business, em Espanha
tras pessoas. Inicialmente o nos-
ros que no ano anterior, mas a
temos já um cartão próprio
so principal objectivo é consolidar
nível de ingressos temos esta-
para empresas que no futuro
a ligação Lisboa/Madrid e Madrid/
do muito próximos.
tentaremos adaptá-lo ao mer-
Lisboa e a partir daí desenvolver
Mas não sentiram a crise
cado português e para o mer-
os voos de longo curso.
como, por exemplo, a Air Lu-
cado geral a estratégia passa
O mais importante para um
xor que teve de encerrar.
por acordos com as
passageiro que
F OMOS UNS
viaja nestes voos
Os problemas são os mesmos,
agências de via-
tal como comentávamos acerca
gens. À medida que
dos voos low-cost. O concei-
vão experimentando
to low-cost é um conceito de
o nosso produto os
marketing, porque a estrutura
clientes vão ficar sa-
da low-cost na aviação são os
tisfeitos com a sua
mesmos que para as outras
qualidade. É uma
companhias. O que eles fazem
frota que tem cerca
é que voam para aeroportos
de três anos e meio,
de segunda categoria e assim
com aviões muito novos, e algo
no terminal 1, 2 e 3. A Ibéria
podem cobrar menos taxas por-
muito importante a que o pas-
opera apenas no terminal 4,
que é mais barato, cortam nos
sageiro português, que é muito
junto de companhias low-cost.
serviços, conseguindo assim
viajado, dá muito valor é à pon-
Nós estamos nos terminais
tarifas mais baixas. Se as com-
tualidade. E nesse aspecto a
principais que são muito mais
panhias low-cost voassem para
Air Europa está bem classifica-
acessíveis. Por exemplo, num
aeroportos de primeira, pres-
da, com média de 96 por cento,
voo para Palma de Maiorca, o
tassem os serviços normais,
que é algo muito importante.
passageiro chega ao terminal 3
a tarifa que daria seria igual
Ultimamente têm acontecido
e fica muito perto da porta de
às praticadas pela TAP, Ibéria
algumas companhias greves
embarque, esperando sensi-
ou Air Europa. As companhias
de pilotos. Quer comentar?
velmente 25 minutos pelo voo.
low-cost cobram a tarifa de em-
Efectivamente para as gran-
Fica ainda muito próximo dos
barque e os serviços abordo.
des companhias aéreas, se
terminais 1 e 2. Essa vantagem
No fundo se usufruíres de to-
têm problemas de estrutura,
não é possível no terminal 4,
dos os serviços e tudo somado
é mais difícil de controlar que
sendo necessário ir de trans-
dá a tarifa de uma companhia
isso aconteça, ao contrário do
porte, passar por controlos,
aérea regular.
que acontece nas companhias
entre outras desvantagens.
Aliás, nesta época de crise, em
médias. Mas na Air Europa têm
DOS PRIMEIROS A INSTALAR O CHECK-IN ONLINE, IMPORTANTE PARA OS EMPRESÁRIOS
de ligação é o tempo de espera entre voos. Como funciona isso? A Air Europa, tal como a TAP, opera no mesmo aeroporto de Madrid,
n
J. M. Teixeira e A. Pinto
julho/setembro 2010 - Diplomática • 67
Gestores Internacionais
Luís Palha da Silva
- Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins
217 anos - tem sido um caminho de sucesso enorme e crescimento, muito importante” Luís Palha da Silva é Presidente da Comissão Executiva de um dos maiores grupos portugueses com projecção internacional que actua no ramo alimentar, nos sectores da Distribuição e da Indústria – Jerónimo Martins -, desde 2004. Há nove anos na empresa, o Gestor e Administrador teve antes uma passagem pelo Governo – na secretaria de Estado do Comércio -, e por uma cimenteira. Em entrevista à Diplomática, Luís Silva fala da dimensão do Grupo e do seu sucesso nos mercados do Leste.
➤
68 • Diplomática - julho/setembro 2010
Foi importante ter sido membro
muito enriquecedora sim do ponto
Católica nesse aspecto tem contri-
do Governo para a sua carreira
de vista humano e cultural, mas do
buído bastante para a criação de
como Gestor e Administrador?
ponto de vista técnico diria que não
algumas.
Não julgo que tenha sido particu-
foi um contributo especialmente
Mais que a Universidade de ori-
larmente importante. Acho que foi
importante. Foi um contributo que
gem, não é?
mais importante para ser membro
dei à causa pública.
Pois. Quer dizer agora já nem sei
do Governo ter alguma experiên-
E a carreira universitária?
muito bem qual a minha Univer-
cia empresarial do que o contrário.
Fui assistente na Universidade
sidade de origem. Tenho duas, a
➤
Em qualquer caso é sempre uma
Católica depois de ter acabado o
primeira é o Instituto Superior de
experiência enriquecedora e os
curso, mas nunca tive uma carreira
Economia e a Universidade Ca-
curriculums das pessoas não ser-
académica, foi apenas ocasional.
tólica, talvez por ter sido a última
vem só para se escrever os cargos
A universidade na altura, como
tenhamos ficado mais ligados.
desempenhados, mas para se dizer
ainda hoje um bocadinho, tinha a
Porquê a Polónia como base para
a riqueza das experiências que se
ideia para se ter uma boa escola
a expansão económica do grupo
têm, os diferentes ângulos com que
de Gestão também se têm de ter
Jerónimo Martins?
se olham os problemas e nesse
pessoas que trabalhem na vida ac-
A Polónia foi onde tivemos mais
sentido também não considero que
tiva empresarial. As vantagens são
sucesso e onde adquirimos uma
tenha sido tempo perdido e, de
muitas quer pelas experiências que
posição de grande liderança no
alguma forma, teve alguns contri-
se trazem, pelos casos que podem
mercado, que ainda conservamos.
butos para as áreas onde depois
ajudar a trazer para cada uma das
Nós por volta do meio dos anos
vim a trabalhar. Depois de sair no
discussões que se faz na universi-
90 com as dificuldades a que se
Governo estive num sector com-
dade, quer ainda porque depois há
ia começando a assistir ao cresci-
pletamente diferente daquele que
uma ligação da própria universida-
mento do grupo em diversas áreas,
tinha regulado, estive no cimento. E
de às empresas onde se trabalha,
mas nomeadamente no retalho em
eu tinha estado na secretaria de Es-
e como sabe as universidades são
Portugal, olhámos além fronteiras.
tado do Comércio, onde uma parte
aquilo que ensinam e que ajudam a
Foi também a altura da internacio-
importante dos problemas tinha
criar empregos no futuro e, portan-
nalização das empresas portugue-
a ver com o comércio alimentar.
to, daí haver uma certa ligação que
sas e o Jerónimo Martins fez exac-
Cimento não tinha nada a ver com
a Católica sempre teve a pessoas
tamente aquilo que se esperava,
o comércio alimentar. Só passados
que estavam colocadas em empre-
que era alargar os seus horizontes.
muitos anos, provavelmente mais
sas. Portanto foi de interesse mútuo
Não fomos exclusivamente para a
cerca de 6 ou 7 anos depois é que
que estivesse 5 ou 6 anos a dar au-
Polónia, estudámos muitos outros
vim para esta área. Um conjunto de
las, mas eu não tencionava seguir
mercados. Na altura os países da
fenómenos que tinha encontrado,
carreira académica, obviamente
Europa do Leste estavam todos a
entre 1991 e 1995 que foi quando
que tive de dar o lugar àqueles que
abrir e nós fomos estudar esses
estive no Governo, já era completa-
pensavam mesmo nessa vida.
mercados todos. A Polónia, não
mente diferente e já vim encontrar
Em regra, no seu sector de Ges-
querendo desconsiderar os outros
situações que praticamente não
tão e Economia conseguem uma
países porque de facto fizeram par-
conhecia do desenvolvimento do
carreira académica e no sector
te do leque de oportunidades que
sector e nesse sentido não houve
privado e vão para a banca ou
andámos a estudar, mas tinha uns
nenhuma transferência directa de
para os seguros. Consigo isso
encantos muito especiais. O primei-
Know-How. Agora são experiências
não aconteceu, foi para um ramo
ro e importantíssimo, diferentemen-
enriquecedoras, são experiências
completamente diferente.
te de alguns dos outros países da
que nos ajudam a não considerar
Sim, normalmente são os sectores
Europa do Leste, era um país que
os casos que temos de resolver
mais visíveis e acaba-se por estar
estava habituado à iniciativa pri-
como problemas a começar do prin-
com os holofotes em cima, mas
vada, não era por grandes grupos
cípio. Tenho sempre alguma vanta-
também tenho encontrado muita
nem com enorme visibilidade, mas
gem em já ter trabalhado em alguns
gente noutras áreas. Tenho colegas
nunca deixou de haver uma inicia-
dos temas. Mas que se possa dizer
com muita visibilidade pública que
tiva privada muito importante, até
que tenha sido directamente impor-
estão nos mais variados secto-
de cariz quase agrícola em alguns
tante não creio. É uma experiência
res. Aliás diria que a Universidade
casos, mas sempre muito ligado à
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 69
Luís Palha da Silva Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins
área alimentar. Mas portanto, uma
cessário continuar a investir muito
um mercado relativamente menos
grande abertura aos novos investi-
em todas as áreas onde estávamos
desenvolvido do que a generalidade
mentos foi na altura importantíssi-
e os anos 2000 marcaram a dife-
dos países da Europa Ocidental em
mo. Um segundo ingrediente que
rença em relação aos 90. Come-
relação às estruturas modernas de
contou para a nossa decisão foi o
çaram a ser necessários recursos
comércio. Posso dizer-lhe que, ao
facto de ser o maior país, em popu-
financeiros vultuosos para poder
que nós costumamos chamar-lhes
lação, de toda a Europa do Leste
estar em muitas oportunidades ao
comerciantes tradicionais que em
que se abriu e que saiu na altura da
mesmo tempo. Portanto, estivemos
Portugal já não devem represen-
➤
esfera da Rússia.
no Brasil, em Inglaterra estivemos
tar mais do que 25 por cento, na
Já com algum poder de compra!?
com uma cadeia – a Lillywhites-,
Polónia ainda representam 50 por
Muito limitado na altura. Quando
de enorme visibilidade, também
cento do total. Portanto ainda com-
visitámos a Polónia, o grupo teve
um projecto de grande ambição do
pram em pequenas mercearias, em
um enorme choque, comparado
grupo, que correu bem mas que
pequenas lojas de rua, quiosques,
com Portugal, na altura a Poló-
necessitava igualmente de grandes
mercados livres, mercados muni-
nia não era um país exactamente
investimentos. E na Polónia estive-
cipais, cooperativas, etc. Há uma
sofisticado, moderno, embora fosse
mos presentes em vários formatos
grande oferta instalada de grandes
um país nalgumas áreas, como a
que temos em Portugal e onde so-
empresas com grandes supermer-
educação das pessoas, riquíssi-
mos líderes, como supermercados,
cados e inúmeros hipermercados,
mo e, provavelmente, ao nível ou
tivemos uma presença em hiper-
pelas nossas contas há mais de
melhor que Portugal. Mas do ponto
mercados e nos Cash and Carry’s.
320 grandes hipermercados na Po-
de vista económico havia, de facto,
Mas a partir de 2001 – 2002 decidi-
lónia e nem sempre estão cheios.
uma situação incipiente de desen-
mos concentrar-nos na companhia
Daí que se pode levantar a ques-
volvimento. O facto de ser o maior
onde já éramos os maiores do país
tão: não é capacidade a mais? Para
país, aliás depois quando houve o
em retalho e expandir essa presen-
o momento talvez seja, mas de
alargamento dos 15 para os 25 e
ça e distanciarmo-nos muito dos
facto o potencial é muito grande. A
posteriormente para os 27 da União
outros que trabalhavam na mesma
Polónia vai continuar a crescer, os
Europeia, a Polónia, com a exclu-
área que nós, no retalho alimentar e
formatos modernos são modernos
são da Roménia nesta última, era
naquele formato em particular. Hoje
não porque tenham betão ou vidro,
maior que os outros países todos
temos a maior cadeia retalhista da
mas porque estão muito atentos às
juntos que entraram para a Europa
Polónia. Temos tantas ou mais lojas
necessidades dos consumidores e
dos 25. 40 Milhões de habitantes,
como todos os outros retalhistas
paulatinamente vão conquistando
uma área de facto onde se podia
modernos juntos no país – cerca de
esses consumidores. E, portanto,
expandir toda a nossa actividade
1450 lojas.
chegará o dia, se não houver muito
se tivéssemos uma estratégia de
Quem são os rivais mais direc-
mais crescimento de oferta, em
grande crescimento como na altura
tos?
que essas capacidades vão ser
tivemos. A Polónia não foi o úni-
São todas as grandes companhias
cheias pelo consumidor. Não me
co país por onde entrámos. Nós
da Europa que estão lá presentes.
parece que isso seja um problema.
fizemos alguns investimentos e em
Nós estamos à frente deles e acho
Nós vamos continuar a abrir lojas,
áreas interessantíssimas, como no
que é um motivo de orgulho para
continuamos a considerar uma das
Estado de São Paulo no Brasil. Um
o grupo, e deveria ser também um
grandes razões por que alguns con-
investimento visionário acho que te-
motivo de orgulho para Portugal.
sumidores polacos não compram
ria tido enormes hipóteses de gran-
O grupo não tem nenhuma joint-
nas nossas lojas é devido ao facto
de sucesso dentro do grupo, se o
venture com outra empresa!?
de não as terem perto deles. Há
nosso balanço também tivesse sido
Não, nós temos cem por cento do
sítios que não estão a ser servi-
suficientemente forte para estarmos
capital da empresa. Mas são os
dos por Biedronkas e têm que ser.
em todas as oportunidades que
grandes grupos franceses, ingle-
Posso apresentar-lhe uma medida:
criámos na altura ao mesmo tempo.
ses, alemães, entre outros, que lá
nós estamos em todas as cidades
Tivemos uma posição muito interes-
se instalaram e sobre os quais nós
do país com mais de dez mil habi-
sante no Estado de São Paulo com
tentamos manter-nos à frente.
tantes e, praticamente, em todas
os supermercados C, as coisas até
E há mercado?
com mais de cinco mil habitantes.
nem corriam nada mal, mas era ne-
Vamos ver. O mercado polaco é
Vamos continuar a crescer
70 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
naquelas mais pequenas, mas
soas que nos quer vender aqui em
de investimentos, ou quando se tem
ainda muito mais do que isso va-
Portugal uns contentores para man-
de optar de investir num lado ou
mos ter uma presença mais intensa
darmos para lá. Isso não vai funcio-
noutro, e é um factor que também
nas grandes cidades onde ainda
nar. Não é maneira de trabalhar o
acaba por ter o seu peso.
temos um número de lojas relativa-
mercado polaco. Quem quiser estar
Tal como as leis laborais?
mente pequeno.
no mercado polaco não pode re-
Tal como as leis laborais. Hoje as
O Jerónimo Martins coloca mui-
pousar nos esforços da nossa com-
pessoas escolhem os investimen-
tos produtos portugueses nos
panhia lá. Tem de ir lá estudar e em
tos e onde os irão fazer em função
➤
seus supermercados da Polónia?
conjunto com a nossa companhia,
de um conjunto de factores de
Há duas situações. A primeira é
eventualmente, criar uma parceria.
competitividade. Competitividade
que nos produtos alimentares e, so-
Nem sempre é possível. Há produ-
fiscal, competitividade no campo da
bretudo, nos supermercados e lojas
tos que nos têm vindo tentar ofere-
legislação laboral, são ingredientes
que nós gerimos, quer em Portugal
cer e por muito que nos esforcemos
tradicionais de uma boa competiti-
quer na Polónia, o tipo de produtos
em conjunto encontrar soluções
vidade.
que vendemos, normalmente, não
não vai ser possível. Por exemplo,
Há quantos anos se encontra no
viaja com facilidade. Muitos produ-
coisas da área não-alimentar, as
Jerónimo Martins?
tos alimentares, muitos produtos
pessoas por vezes não compreen-
Estou na empresa há quase nove
frescos no caso português. Esse é
dem, mas nas nossas cadeias da
anos. Sou Presidente da Comissão
o primeiro ponto, enviar detergen-
Polónia não temos produtos perma-
Executiva desde 2004.
tes e champôs daqui para a polónia
nentemente da área não-alimentar.
Portanto, de 2004 para cá houve
não é fácil porque não viajam muito
Nós só vendemos produtos ali-
um salto qualitativo.
bem esses produtos. É natural que
mentares (95 por cento), depois há
Não, têm havido enormes saltos
nas nossas lojas vendamos pro-
produtos que rodam mas não estão
neste grupo que já tem 217 anos.
dutos da Unilever, mas produzidos
permanentemente. As pessoas só
Um dos grandes saltos foi dado nos
pela Unilever Alemanha ou Poló-
compreendendo no local a nossa
anos 50. Fizemos a nossa joint-ven-
nia, provavelmente Polónia porque
presença e a maneira como esta-
ture com a Unilever em 1949 e daí
eles têm uma óptima indústria. Um
mos lá instalados é que conseguem
para a frente tem sido um caminho
segundo ponto muito importante
compreender o mercado polaco e
de sucesso enorme e crescimento
é que nós não tentamos impingir
daí tirar alguma vantagem em haver
muito, muito importante para o gru-
nada aos nossos clientes, tudo
esta presença portuguesa. Mas de
po. Nos anos 80 toda a revolução
depende daquilo que eles gostam
facto, e como ponto final para esta
da área do retalho e da distribuição
efectivamente. Na Polónia tivemos
exposição, temos tido um cuida-
alimentar em Portugal foi uma fonte
sempre uma preocupação muito
do enorme em colaborar com as
de crescimento enorme para o gru-
grande que foi desenhar o nosso
empresas portuguesas que querem
po e deu um salto e aí a verdadeira
tipo de produtos à medida que os
conhecer o mercado polaco e na
revolução. Eu diria que a presença
polacos querem. Mas têm em nós
medida do possível fazemos um es-
na Bolsa acabou por dar ainda mais
uns amigos para os ajudar a co-
forço grande para colaborar mesmo
visibilidade a essa revolução que
nhecer o mercado, as nossas lojas,
activamente.
aconteceu nos anos 80-90. Acede-
os tipos de consumidores que nos
O Governo polaco ajuda os em-
mos à Bolsa em 1989. De 2000-01
visitam, etc.
presários estrangeiros?
para cá deu-se um salto qualitativo
E têm conseguido?
Não ajuda materialmente. Agora,
interessante, mas o crescimento
Têm conseguido com alguma fre-
no mercado polaco sentimos que os
não foi muito maior ou muito menor
quência. Se calhar não tanta como
investidores estrangeiros são bem
do que já tinha acontecido nos anos
seria desejável para Portugal. É
tratados e nesse sentido já é uma
50 e 80. Portanto, considero mais
estranho que tendo uma companhia
grande ajuda.
um ciclo de bom desenvolvimen-
que venda cerca de 3,5 milhões de
E ao nível fiscal, a Polónia tem
to do grupo. Neste momento, as
euros na Polónia, que tenhamos
menos carga de impostos?
pessoas salientam o bom desenvol-
relativamente poucos empresários
A taxa básica de impostos é mais
vimento da empresa no mercado de
a querer visitar-nos e conhecer as
baixa na Polónia do que em Por-
capitais e no desenvolvimento do
nossas lojas e os nossos clientes.
tugal. Isso obviamente pondera-se
valor da acção. É, talvez, essa evo-
Temos mais um conjunto de pes-
quando se fazem determinado tipo
lução qualitativa que as pessoas
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 71
Luís Palha da Silva Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins
têm hoje mais presente, mas o
Portugal, que é a empresa holande-
taridade com o que temos, neste
grupo tem de facto símbolos enor-
sa Old, mas não estamos condicio-
momento, se possa desenvolver.
mes na sua história de 217 anos,
nados para investir noutros lados.
Uma das áreas que temos procura-
com uma enorme cultura de provo-
Ora, neste momento, só a Polónia
do é a Europa de Leste, ou a pró-
car a revolução e a mudança e este
representa cinquenta por cento do
pria Polónia, explorando diferentes
é apenas mais um capítulo.
nosso volume de negócios e isso
possibilidades: ou a distribuição ou
Dá-me a ideia também que quan-
obviamente reflecte-se na percen-
mesmo nalgumas circunstâncias a
do vocês, por necessidades
tagem que a nossa área industrial
indústria, mas alavancando a nossa
de mercado também, durante a
tem. Não significa que estejamos
posição de completa liderança do
Guerra criaram a Fima e depois
hoje menos empenhados do que
mercado polaco. Por isso temos
essa parte industrial parece que
alguma vez estivemos na indústria,
gasto muito tempo a estudar os
se foi esbatendo ao longo dos
continuamos empenhadíssimos em
outros países à volta e é um estudo
anos, dedicando-se mais à parte
fazê-la desenvolver e fazê-la conti-
que já vem desde há anos, como
do comércio.
nuar a ser a maior área industrial no
lhe disse não estudámos na altura
É verdade que numa determinada
país no negócio alimentar. Há uma
altura representou uma parte mais
➤
importante em percentagem do
para o grupo Jerónimo Martins, e
os países Bálticos, a Eslováquia,
volume de negócios da empresa.
que nos ajuda a dizer aquilo em
mais recentemente a Ucrânia, a
Na altura tínhamos de facto ali uma
que temos imenso orgulho, é que
Roménia e a Rússia têm de certa
área de grande presença e grande
somos o maior grupo do alimentar
maneira absorvido grande parte da
crescimento, e o nosso relaciona-
do país. Sem a nossa componente
nossa atenção. Não quer dizer que
mento com Unilever deu-nos até
alimentar não sei se poderíamos
não tenhamos estudado Angola,
uma quase presença internacional
dizer com esta forma tão aberta e
mas Angola coloca desafios para
que na altura nos faltava. A partir
tão orgulhosa que somos o maior
os quais nem toda a gente não tem
dos anos 80 e, realmente com este
grupo alimentar do país.
de momento o Know-How total. A
decisão estratégica de estar no ne-
Falou há pouco do Brasil, que
nós não assusta andar à procura de
gócio da distribuição alimentar, foi
não foi um falhanço, não houve
Know-How para entrar em Angola,
perdendo espaço. Mas apesar de
foi capacidade para estar em vá-
mas são desafios muito diferentes
tudo a nossa associada, em parce-
rios lados ao mesmo tempo, e a
daqueles que temos, por exemplo,
ria com a Unilever, continua a ser
Inglaterra o mesmo caso, porquê,
se quiséssemos expandir a Bie-
líder de mercado em praticamente
quando toda a gente fala que o
dronka para outros lados. Isso nós
todas as áreas onde está presente.
el dorado é Angola, o Jerónimo
sentimos que podíamos fazer com
Nós somos sempre o número um
Martins não investe em Angola?
um conjunto de recursos financei-
e com forte liderança no mercado,
Cada grupo tem de encontrar um
ros relativamente limitado e indo
forte sentido de inovação, forte
filão, não vale a pena quando
directamente ao formato que tem
sentido de satisfação dos clientes
se tem filão de sucesso andar a
tido sucesso na Polónia. Começar
e de transferência a nível de todo
procurar por todos os lados. E, tem
qualquer coisa de novo em Angola
o Know-How a nível mundial para
de se procurar coisas que este-
é um caminho que é difícil de ver a
o mercado português. De maneira
jam em perfeita consonância com
complementaridade que tem com
que, hoje, todos os lançamentos de
aquilo que já sabemos fazer. Nós
o que já fazemos neste momento,
grandes produtos continuam a ser
estamos presentes em Portugal na
é também mais uma outra ponte
lidos em Portugal em linha do que
área dos supermercados de onde
para uma parte distante do plane-
é feito no resto do mundo. Nesse
somos de longe os maiores, temos
ta e com formatos com que nós,
sentido tem uma presença fortís-
esta relação com a Unilever, temos
neste momento, não trabalhamos.
sima. Pode crescer para além do
a nossa área de Cash & Carrys’s
Não nos parece possível, neste
que é Portugal? Claro que isso não.
que é também a área líder no país,
momento, um formato normalíssi-
Estamos confinados a este relacio-
temos a nossa presença na Poló-
mo Pingo Doce em Angola, mas
namento com Unilever em Portugal,
nia e temo-nos interrogado muito
parece-me possível, com algumas
enquanto que na distribuição do
sobre qual é o filão. O filão que nós
dificuldades logísticas evidentes no
alimentar nos temos sentido mais
sentimos que há actualmente é en-
país, começar uma actividade de
libertos. Temos um parceiro em
contrar áreas onde a complemen-
dimensão noutro qualquer formato
➤
72 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
coisa que a indústria traz também
apenas a Polónia. Fomos estudando a Hungria, a República Checa,
Luís Palha da Silva
como os Cash & Carry’s e, por isso,
Numa determinada altura porque o
forma muito rápida, mais recente-
embora não estejamos assustados
conjunto de empresas que traba-
mente, com leis mais liberais e com
com as dificuldades, bate muito
lhavam no mercado era demasiado
a entrada de novos operadores,
mais certo aquilo que é preciso
poderoso e conhecedor do mercado
também deu um salto importante
fazer noutros mercados com aquilo
espanhol, neste momento com a
no desenvolvimento, e quando
que já sabemos fazer. Portanto,
crise não é a melhor altura para
acelera nem toda a gente reage
Angola não me parece que possa
entrar naquele mercado. Estamos
positivamente e começam a surgir
estar nas nossas prioridades, pois é
atentos mas as oportunidades não
alguns descontentamentos. Eu
preciso desenvolver um conjunto de
têm surgido.
acho que não há motivos para os
competências que neste momento
Falando do mercado nacional.
descontentamentos. O consumidor
não estamos em condições de as
Há fornecedores que se queixam
tem motivos globais de desconten-
desenvolver.
de colegas do Jerónimo Martins,
tamento. O consumidor tem vindo a
E Espanha?
de outros grandes grupos, que
beneficiar de uma distribuição cada
Espanha está sempre presente.
estão a ser explorados por eles.
vez mais sofisticada, mais moderna
Nós, nem quase damos por isso
Por enquanto não se tem ouvido
e de acordo com os seus interesses
mas, competimos permanentemen-
falar no Jerónimo Martins, é uma
e, se pensar bem, os consumidores
te com Espanha. As pessoas que
política diferente que têm em
têm beneficiado, nos últimos anos,
passam a fronteira de um lado para
relação aos fornecedores?
de um grande desenvolvimento de
o outro são muitas e nós temos
Eu acho que o sistema da distri-
um conjunto de produtos que hoje
de estar preparados para isso. No
buição alimentar em Portugal tem
está banalizado, mas que há uns
entanto entrar em Espanha tam-
vindo a evoluir. Evoluiu numa deter-
tempos atrás eram coisas quase de
bém levanta os seus problemas.
minada altura, nos anos 80, de uma
luxo. O salmão, entre outros.
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 73
Luís Palha da Silva Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins
São produtos trazidos pelo desen-
de relações éticas de negociação
pouco. O produtor e o distribuidor.
volvimento do comércio moderno
entre distribuidores e fornecedo-
O distribuidor nas margens do leite
e que tem contribuído muito para
res. Aqui e ali é preciso dizer que
tem percentagens que não dariam
que as pessoas acedam a níveis
algumas empresas se colocaram
para trabalhar em circunstâncias
superiores de satisfação. Os preços
elas próprias fornecedoras numa
normais. São fazes de adaptação.
dos produtos são hoje 20 ou 30 por
situação de alguma dependência.
O nosso grupo orgulha-se de ter um
cento mais baratos, nalguns casos,
Se uma pessoa passa a ter um
relacionamento saudável, aliás faz
estou a dizer mesmo em termos
distribuidor com 60 ou 70 por cento
parte do nosso código de ética ter
reais, não apenas nominais, do que
das suas vendas fica numa situa-
um relacionamento saudável com
eram há dez anos. E, portanto, tem
ção de grande dependência. Não
os produtores. Quer isso dizer que
havido um grande desenvolvimento.
é uma situação que a distribuição,
não somos exigentes? Não. Quer
Claro que num processo de desen-
ela própria, também goste de ter,
isso dizer que num qualquer caso
volvimento muito acelerado há uns
porque depois vai ter essas queixas
não temos de abandonar algum
ou outros que sofrem um bocadinho
caso aconteça alguma coisa. Mas
produto ou algum fornecedor?
➤
mais que, aqui e ali,
O GRUPO TEM
o distribuidor hoje tem
Não. Às vezes temos que abando-
têm algumas dificul-
de ser um advogado
nar porque não corresponde aos
dades em manter
NO SEU CÓDIGO
permanente dos seus
nossos critérios de preço ou não
consumidores. Se os
corresponde aos nossos padrões
a competitividade e, eventualmente,
GENÉTICO UMA
produtos não têm a
de qualidade. Mas mantemos
queixar-se-ão. Eu não
PAIXÃO MUITO
qualidade e o preço que
uma relação o mais saudável e
acho que, e falo em
GRANDE QUE É A
devem ter a distribuição
mais estável que podemos com os
tem também a obriga-
nossos fornecedores. Daí que eu
ção de continuar a lutar
sinta, embora num caso ou noutro
termos do sector não exactamente em nome do nosso grupo, a dis-
LIBERDADE DE
PODER TRABALHAR. com a indústria para se
possa haver queixas, não creio
tribuição moderna ou a distribuição
alcançar um nível de eficiência que
que sejam queixas significativas de
das grandes empresas tenha tido
é normal noutros mercados. Por
mal-estar num relacionamento. De
esse papel perdatório que alguns
isso geram-se muitos descontenta-
uma maneira geral, creio que hoje
dizem. Tem feito o que é possível
mentos sim. Eu acho que a distri-
todos os industriais compreendem
e desejável para o cada vez melhor
buição alimentar moderna, assim
que a distribuição vive processos
bem-estar do consumidor. Nalguns
como a indústria, em Portugal, não
de concorrência muito violentos e
casos, o preço dos produtos im-
tem nenhum comportamento que
que nenhum grupo pode deixar de
portados, por alguns grupos que
vá para além dessa evolução, no
exigir o melhor para si e para os
estão presentes, forçam a que as
sentido de cada vez melhor serviço
seus clientes.
negociações com os produtores
prestar ao consumidor.
Que apreciação faz às leis labo-
nacionais se encaminhem para uma
A questão do leite!
rais? Acha que estão bem ou que
exigência de cada maior eficiência
O leite é um caso típico. O preço
poderiam ser mais abertas para
e melhor preço para as empresas,
reduziu em toda a Europa e Portu-
beneficiar o funcionamento do
que as empresas de distribuição
gal seguiu esse caminho. A quali-
comércio?
depois canalizam para os consu-
dade do leite, hoje, é insofismável,
O grupo tem no seu código genético
midores. A alternativa para quem
ninguém a põe em causa. Trata-se
uma paixão muito grande que é a
compra um produto qualquer que
de um assunto que tem muito a
liberdade de poder trabalhar. Quan-
não baixa de preço é comprá-lo no
ver com o preço. O preço tem que
to mais liberais forem as leis, em
exterior e trazê-lo, e por isso mes-
seguir aquilo que é normal. Há um
todos os aspectos, obviamente que
mo, por vezes, nas fronteiras há um
excesso de oferta em toda a Euro-
as consideramos mais favoráveis
comércio muito grande que resulta
pa e estão a fazer-se reestrutura-
para a competitividade do país. Mas
da ineficiência do próprio sector
ções no sector? Sim. Sofre Portu-
devo dizer que nós também somos
da indústria e da distribuição e do
gal como sofrem todos os outros
um grupo com uma forte raiz familiar
relacionamento com o consumidor.
países. No fim de contas feitas vai
e com uma forte raiz pela preocu-
Portanto, as queixas, do meu ponto
ter de se encontrar uma solução
pação social. Mesmo antes das
de vista, são naturais mas nunca
que beneficie o consumidor. Quem
leis acontecerem, nós temos essas
revelaram ser uma ultrapassagem
é que sofre pelo meio? Todos um
preocupações. O desemprego
74 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
é a solução para alguns dos
As autarquias têm um papel ime-
ção com o BCP em alguns super-
problemas que afectam a econo-
diatamente ligado ao licenciamen-
mercados ainda continua?
mia das empresas? Por exemplo, o
to comercial, mas, a maior parte
Nós ainda temos alguma presença,
nosso Presidente, quando esta crise
das vezes, fazem-no duma forma
mas não institucional. Tínhamos
começou a tornar-se uma coisa
quase automática. A capacidade
uma presença 50/50 num banco
óbvia e violenta, desde o princípio
que têm de intervir diz respeito
que funcionava dentro das nos-
disse que a solução para nós não
ao cumprimento de determinadas
sas lojas, mas isso acabou. Neste
passaria pelo desemprego. Noutros
regras e não exactamente ao pro-
momento existe uma colaboração
casos e noutras empresas é quase
cesso de poder abrir ou não um
normal com o BCP como podería-
sempre essa a primeira solução.
espaço, embora tenha uma certa
mos ter com outro banco qualquer.
➤
Nós aqui preferimos imaginar outras
intervenção. Eu julgo que passa-
Em alguns supermercados ainda
coisas antes de usar a liberdade de
dos uns anos de desenvolvimento
existem alguns bancos, mas que
fazer seja o que for no que respeita
comercial do país, a maior parte
nos pagam uma pequena renda e
à redução dos custos de trabalho.
das autarquias começaram a ver
nada mais que isso.
Temos uma preocupação que tenta-
que também a área da distribui-
Foi uma experiência falhada?
mos compatibilizar entre obviamente
ção alimentar não é só mantendo
Foi uma experiência que teve o seu
em cada momento termos os recur-
o comércio mais altivo que se traz
tempo. O BCP também achou que
sos com a qualidade e quantidade
riqueza para os concelhos. E é
não era uma área que quisesse de-
que queremos de trabalho, com uma
provavelmente numa certa com-
senvolver muito. Para nós era uma
outra grande preocupação que, de
plementaridade, que eu acho bem
área que condicionava um pouco a
facto no nosso grupo a única coisa
que haja alguns esforços pelas
nossa actividade. Ficámos ambos
verdadeiramente importante que
autarquias para que se mante-
satisfeitos da maneira como foi
temos para nos ajudar a ter suces-
nham, que, se calhar, se encon-
feita. Foi uma situação que amadu-
so nos mercados, são as pessoas.
trará um equilíbrio saudável. Não
receu de uma maneira que não foi
Nem sempre é possível compatibi-
me parece que, neste momento,
no sentido do crescimento
lizar tudo. Eu diria que nós temos
haja muitos municípios que defen-
Uma coisa que me parece muito
ido por vezes mais à frente que as
dam a total presença do mercado
importante, uma vez que se diri-
próprias leis nesta preocupação so-
tradicional e sem a presença de
gem a um mercado que para nós
cial. Por isso, não considero que as
um mercado de instalações mais
tem muita importância, é o grande
leis sejam muito, muito condiciona-
modernas. Já se viu em termos
impacto que pode ter uma pre-
doras da nossa actividade, embora,
de preço, em termos de qualidade
sença diplomática num país onde
em certos casos, assuntos como a
e diversidade dos produtos que
estão presentes as empresas por-
polivalência, a flexibilidade, a capa-
haver lojas mais modernas é um
tuguesas. Temos podido contar,
cidade de transferir pessoas e etc.,
grande benefício para as popula-
por exemplo na Polónia, com um
pudessem eventualmente serem
ções e evita até que migrem para
grande empenhamento das mis-
mais favoráveis. Contudo, não sinto
outras zonas pela ausência de
sões diplomáticas ali presentes.
que seja a nossa principal preocu-
mínimo de bem-estar na compra
É um descanso que temos muito
pação. Julgo, por exemplo, numa
de produtos alimentares. Portanto,
grande e é isso que sentimos que
determinada altura outro tipo de leis
como a maior parte das Câmaras
também pode ser feito no esforço
como licenciamento comercial foram
do país já têm esta filosofia nós
diplomático. É grande esforço eco-
muito mais restritivas da nossa acti-
não temos sentido muita dificulda-
nómico que é, muitas vezes, de
vidade do que as leis laborais. E, aí
de. Aquilo que existe muitas ve-
mero acompanhamento. Não há
tem até menos sentido que o Estado
zes é a discussão de pormenores
nada que possa ser directamente
intervenha dessa forma. Condicio-
de instalação ou de funcionamen-
realizado pela presença diplomáti-
nar o aparecimento de lojas porque
to. Sentimo-nos, a maior parte das
ca, mas sentir o acompanhamento
acha que já há muitas parece-nos
vezes, bem-vindos nos municípios
é uma coisa que ajuda muitos os
uma orientação tonta e sem qual-
portugueses.
grupos portugueses. Nós temos
quer sentido de longo prazo.
Seja ele de que cor for?
tido essa sorte, esperemos que
E o relacionamento com as au-
Sim, a cor não é uma coisa muito
seja essa a filosofia de todos os
tarquias em relação aos grandes
relevante nessa problemática.
Embaixadores pelo mundo fora.
espaços?
Aquela vossa experiência de liga-
n
J. M. Teixeira
julho/setembro 2010 - Diplomática • 75
gestores internacionais
José Joaquim Oliveira -
Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal
“Os clientes são a nossa razão de ser no mercado e o sucesso dos clientes orienta a nossa actuação no mercado” O Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal é um profundo conhecedor da realidade da empresa, onde leva já três décadas de serviço. Antes de assumir a chefia da representação americana em Lisboa foi responsável pela área de negócio na divisão de software da IBM para a Península Ibérica. Natural de Lisboa, José Joaquim Oliveira fala-nos da presença da IBM em terras lusas e das novas áreas de negócio para o futuro: cidades, energia e saúde.
76 • Diplomática - abril/maio 2009
➤
Faça-me uma breve biografia
380 mil funcionários que operam em
cidade de serviços.
sua. Como surgiu na empresa?
todo o mundo, sobretudo em quatro
Quais são esses produtos e
➤
Estou na IBM há muitos anos. A IBM
continentes: Europa, América, Ásia,
serviços que têm ao dispor dos
foi o meu primeiro e único emprego.
Oceânia e, também, já estamos pre-
clientes?
Entrei, andava ainda a estudar. Fiz
sentes em África. Temos 170 locali-
Em matéria de produtos temos uma
formação em engenharia, mas não
zações em mais de 100 países. Em
oferta diversificadíssima e vastíssi-
acabei o curso. Tenho uma carreira
Portugal estamos desde 1938, va-
ma de software (programas) para
de mais de três décadas ao serviço
mos fazer 72 anos, e somos líderes
fazer as mais variadas tarefas. Na
da empresa, passando por várias
a nível nacional, tal como acontece a
área de hardware temos servidores.
etapas. Comecei na parte técnica a
nível mundial, neste sector da tecno-
Apesar de termos sido, em determi-
trabalhar como programador, ana-
logia de informação. Portanto, desde
nado período da nossa história, os
lista de sistemas informáticos, entre
1938 que nós ajudámos a construir e
criadores da computação pessoal –
outras coisas; a determinada altura
a criar aquilo que é o mercado de in-
PC’s –; hoje, já não temos essa linha
passei para a área comercial como
formática no país. Tudo o que existe
de negócio, alienamo-la porque em
vendedor de sistemas informáti-
hoje de tecnologia de informação no
certa altura fizemos uma evolução
cos para computadores e fiz uma
mundo e, naturalmente, em Portugal
estratégica e fizemos escolhas ao
evolução progressiva nessa área,
se deve em muito em larga medida
apostar em determinadas áreas e
passando a director de marketing e
àquilo que a IBM fez.
desinvestir noutras. Uma das quais
de vendas, acumulando ainda outras
Em Portugal têm uma delegação
em que desinvestimos foi precisa-
funções de chefia ao longo da minha
em Lisboa e outra no Porto?
mente a dos PC’s, porque é uma
vida na área comercial; noutra fase
Temos uma delegação no Porto
área de baixo valor, não tem valor
da carreira tive algumas responsa-
e em Lisboa temos a sede e mais
acrescentado, e nós focámo-nos nas
bilidades internacionais, mas sem
três escritórios. Somos em Portugal
funções de valor acrescentado – ser-
nunca ter trabalhado por um período
cerca de 1200 empregados e temos
vidores de todo o tipo para soluções
extenso noutro país, deslocava-me
no sector uma posição cimeira de
informáticas. Nesta categoria temos
apenas esporadicamente; assumi
liderança.
ao dispor dos clientes servidores de
também a área de negócio da IBM
Qual a visão, missão e valores da
hardware e sucessões de armazena-
para a Península Ibérica na divisão
IBM?
mento de dados. No software temos
de software e, finalmente, dessa
Nós temos uma gestão global e os
uma gama muito diversificada de
posição passei para o cargo de Ad-
valores são também únicos e aplica-
programas para correrem nos nos-
ministrador Delegado e Presidente
dos em Portugal. Os nossos méto-
sos computadores e em computado-
da IBM Portugal, em 1998. Nestes
dos assentam no plano de sucessão
res de outras marcas. Nos serviços
últimos 12 anos tenho estado na
de valores para os nossos clientes.
temos ofertas que vão desde da
liderança da empresa. Tenho 59
Ajudar os nossos clientes a resol-
implementação de sucessões tecno-
anos, nasci e estudei em Lisboa.
ver os seus problemas através das
lógicas à consultoria de negócio que
Sou alfacinha de gema. Sou casado
soluções informáticas. Temos um
faz a ligação entre o negócio e as
e tenho um filho.
enfoque absoluto nesse domínio. O
soluções informáticas até serviços
A presença da IBM em Portugal e
cliente, para nós, é sagrado e está
de outsourcing das infra-estruturas
também no mundo.
acima de todos os outros aspectos
tecnológicas até a outsourcing de
A IBM Corporation (internacional) vai
e condiciona em todas as vertentes
processos e ou de aplicações. Te-
fazer 100 anos para o ano. Nasceu
a nossa actuação e o nosso desen-
mos uma oferta completa e abran-
nos Estados Unidos da América e
volvimento enquanto organização.
gente de alternativas de outsourcing,
começou por ser uma empresa a
Somos, hoje, uma empresa muito
mas sobretudo de consultoria e de
nível local, transformando-se depois
focada na criação de tecnologia
serviços de implementação de su-
numa multinacional e, hoje, é uma
neste sector de marca de computa-
cessões tecnológicas.
empresa que actua numa lógica de
dores, hardware, software e, ainda,
Esta é uma área em constante mu-
gestão global e não multinacional.
no desenvolvimento de serviços e
tação. Quer avançar algum produ-
A IBM Corporation obteve, no ano
de prestação de serviços de valor
to que estejam a desenvolver?
passado, uma receita de 103 mil
para os nossos clientes. Procuramos
Nós estamos em permanente evolu-
milhões de dólares. No que diz
implementar sucessões de valor,
ção. Este é um sector muito dinâmi-
respeito ao capital humano, somos
utilizando a nossa tecnologia e capa-
co e de desenvolvimento acelerado. ➤
abril/maio 2009 - Diplomática • 77
José Joaquim Oliveira Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal
Neste momento, produtos há
ro. Isto para criar novos produtos e
mente criativa e temos tido sempre,
muitos e a saírem com relativa fre-
desenvolver nova tecnologia. Pro-
ao longo da nossa existência e da
quência: novas versões de produtos
duzimos com isso, por ano, à volta
nossa história, uma capacidade de
já existentes, novas máquinas com
de 4500 patentes de produtos que
criar e inovar que nos tem colocado
processadores mais potentes e com
resultam desse investimento e que
à frente dos nossos concorrentes.
maior capacidade para se poderem
são criadas nos nossos laboratórios.
Nós temos marcado o ritmo (acho
fazer coisas ainda mais desafiantes.
É muita patente e muita criativida-
que podemos dizer isso) de de-
Hoje, o mundo está muito dependen-
de. Grande parte depois demora
senvolvimento da indústria. Esta
te da informática e dos sistemas de
algum tempo até se transformar em
indústria tem, de facto, a nossa
informação.
melhoria de produtos e soluções
marca e fazemos isso de uma forma
Isso acontece num curto espaço
tecnológicas comercializáveis e que
já muito natural. E é um facto que
de tempo. O novo produto des-
resolvam problemas da vida comum.
esta indústria tem-se baseado muito
valoriza imediatamente a versão
Têm de ser testados, experimenta-
nesta postura da IBM, de permanen-
anterior.
dos, colocados no mercado, tem de
te criatividade e inovação. Demos
É verdade, mas isso é uma coisa
haver um período de habituação no
até origem a todas as maravilhas e,
boa. Os clientes, os utilizadores,
mercado, absorção. Mas esse ritmo
as empresas que existem no merca-
não são obrigados a irem a correr
é saudável, é desejável que seja
do, e que algumas hoje são nossas
comprar a última moda. Tal como
assim, porque se não for assim, o
parceiras e concorrentes, muitas
aconteceu ainda agora com a Apple,
contrário disto é estagnar, e estag-
delas nasceram do nosso seio e
com o lançamento do Ipad, em
nar é mau. Nos dias de hoje, de
daquilo que nós fizemos no sector.
que foi uma correria para comprar
facto, há essa ideia de que é difícil o
O que nos tem distinguido também é
o produto. Mas isso são gadgets e
mercado acompanhar este ritmo de
a nossa postura perante os clientes.
nesse sector é um pouco diferente.
desenvolvimento, mas é o mercado
Os clientes são a nossa razão de ser
Há os fanáticos dos gadgets que
que acompanha ao seu próprio ritmo
no mercado e o sucesso dos clientes
adquirem a última moda de um
e não ao ritmo da criação. Mas é
orienta a nossa actuação no merca-
computador ou telemóvel. Não tem
bom que assim seja, porque a his-
do. Há outras coisas que poderiam
de ser assim, e nos computadores e
tória prova que o desenvolvimento
ainda ser referidas, mas aquilo que
sistemas informáticos das empresas
e este aumento de capacidade, que
tem sido mais distintivo na IBM, no
isso pode acontecer porque nós, a
este sector tem colocado à disposi-
meu entender, é isto: o enfoque no
cada três meses, lançamos produ-
ção das organizações e do mercado,
cliente e a inovação que fazemos no
tos novos. Agora, as empresas não
tem sido um dos principais motores
nosso desenvolvimento.
são obrigadas a estar a actualizar
de desenvolvimento da sociedade.
Neste momento como avalia o
os seus sistemas ao ritmo que o
O mundo existe tal como o conhece-
mercado nacional e global, tendo
sector lança novos produtos. Isso é
mos e temos ao nosso dispor muita
em conta que estamos a atraves-
a loucura. Mas é bom que o de-
coisa nesta era pós-industrial, nesta
sar uma crise económico-financei-
senvolvimento se mantenha a este
era moderna, exactamente porque
ra? Pelos valores que já referiu, a
ritmo porque isso produz inovação,
alguns sectores industriais propor-
IBM tem passado ao lado dessa
melhoria e novas capacidades à
cionaram esse conforto e bem-estar
crise.
disposição do mercado e das empre-
de que dispomos. E um dos sectores
Não, temos sentido. Eu acho que
sas uma capacidade de evolução,
que mais contribuiu para isso foi cla-
toda a gente tem sentido a crise,
que de outra forma provavelmente
ramente o sector das novas tecno-
agora há formas diferentes de a sen-
não teria. Não é desejável que haja
logias da informação. A Internet tem
tir. A IBM tem apresentado, nestes
limitação nessa euforia criativa e
a ver connosco, assim como os com-
últimos anos – no ano passado e em
nesse desenvolvimento acelerado.
putadores, os telemóveis e todas
2008, o período mais aguda desta
Não é bom que isso se retraia, pelo
essas maravilhas que sem as quais,
suposta crise, bons resultados, no
contrário, nós alimentamos isso e
hoje, não somos capazes de viver
global. Naturalmente que as receitas
vamos lançando novos produtos. A
resultam desta euforia inovadora que
ressentem-se porque as empresas
IBM investe, por ano, em desenvolvi-
tem caracterizado este sector.
estão a gastar menos dinheiro. Em
mento tecnológico e em investigação
O que distingue a IBM dos seus
todos os sectores se está a gastar
e desenvolvimento cerca de 6 mil
concorrentes?
menos dinheiro e a investir menos.
milhões de dólares. É muito dinhei-
Nós somos uma empresa iminente-
Sendo assim, não há milagres. Se
➤
78 • Diplomática - abril/maio 2009
➤
➤
em todos os sectores se investe
menos e há menos despesa corrente, naturalmente que quem vive disso ressente-se. E, portanto, nós ressentimo-nos, tal como todos se ressentem. Agora, apesar disso, nós apresentámos belíssimos resultados do ponto de vista de rentabilidade e melhorámos o nosso desempenho em todos os outros indicadores financeiros, porque temos uma estrutura e uma organização que nos dá grande flexibilidade para nos ajustarmos constantemente. Temos uma organização preparada para isso e estamos mentalmente preparados. Há um conjunto de factores físicos e emocionais que nos permitem ajustar com rapidez àquilo que são as vicissitudes, nuances e mudanças do mercado. Deste modo, nós ajustámo-nos e adaptámo-nos à realidade e conseguimos, por incrível que pareça, melhorar até os nossos resultados numa situação de crise como temos vivido. Isto quer a nível global, quer a nível nacional. Os resultados em Portugal são o espelho dos resultados globais. Não temos números individuais porque não fazemos a divisão. Temos apenas os resultados totais, mas acompanhamos.
José Joaquim Oliveira
Falando agora em projectos e parcerias da empresa com outras
ses programas da responsabilidade
tipo dirigidos à educação. Na área
instituições, li que a IBM está
social que, no fundo, consiste em
da responsabilidade social damos
envolvida no projecto “Centro de
doarmos a jardins-de-infância um
muita importância à educação e
Aprendizagem KidSmart”. Em que
sistema informático – um computa-
temos mais programas dirigidos a
consiste?
dor com software apropriado para
outras idades e faixas etárias de
Isso é um projecto da nossa área de
crianças dos três aos seis anos. Isto
desenvolvimento, como por exem-
responsabilidade social, um domí-
propícia a essas crianças o contacto
plo: ao ensino secundário. No fundo
nio em que as grandes empresas
inicial com computadores e com a
estes programas têm como objectivo
vêem também como um importante
informática numa idade tão tenra,
ajudar os jovens a desenvolver as
enfoque. Nesse aspecto somos
mas é uma idade em que do ponto
suas capacidades na área das ciên-
igualmente os campeões da susten-
de vista cognitivo é muito importan-
cias. Para as raparigas entre os 11
tabilidade e responsabilidade social.
te. É um sistema que temos vindo
e 13 anos temos um programa que
Praticamos programas de responsa-
a desenvolver no nosso país já há
tem o objectivo de as motivar para
bilidade social praticamente desde
vários anos e que abrange mais de
as disciplinas da Ciência. As mu-
que existimos e que fizeram escola
250 jardins-de-infância.
lheres têm mais tendência para as
no mundo, sendo até exemplos a
Têm outras iniciativas do género?
Letras e diz-se que a Ciência é mais
seguir. Esse “KidSmart” é um des-
Sim, temos outros programas deste
para rapazes. Isso é um mito que
➤
abril/maio 2009 - Diplomática • 79
José Joaquim Oliveira Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal
nós procuramos combater. Temos
recursos. Depois no nosso grupo do
situações políticas mais clarificadas,
ainda outros programas que visam
Sul da Europa temos outros países
pacificação, a questão da corrupção
melhorar a relação dos jovens com
também com a sua organização
é muito sensível e muito importante
os sistemas de informação e ajudar
local, como a Itália, França, Grécia,
e que tem sido uma das razões pe-
no seu próprio desenvolvimento.
Benelux, entre outros. Vamos lá ver,
las quais as empresas americanas, e
Outros programas interessantes são
o mercado ibérico, no nosso con-
no caso a IBM, não têm ido de peito
os de mentoring, em que nós somos
texto, não existe. Cada organização
tão aberto para os países africanos,
mentores e ajudamos, já na fase
local actua no seu mercado. Mas
e mesmo nesse aspecto começa a
final universitária, alguns estudantes
colaboramos imenso e acaba por
haver mais transparência. Neste mo-
no seu desenvolvimento académico
haver aqui alguma sinergia, sobretu-
mento, a IBM está a entrar de uma
e na sua preparação para o futuro
do no desenvolvimento de projectos
forma mais determinada e já temos
profissional, entre outros programas
conjuntos ou de uma oportunida-
uma presença muito forte na África
deste tipo na área da responsabilida-
de de negócio. Agora, o mercado
do Sul. A IBM tem uma tradição de
de social. As parcerias com o ensino
espanhol, mais no contexto para as
presença na África do Sul já de há
universitário são também uma das
empresas portuguesas do que para
muitos anos, mas que interrompeu
nossas marcas. Essa relação consis-
a IBM, é essencial para Portugal.
ao vender a subsidiária aos sul-afri-
te em variadíssimos aspectos: desde
É como uma extensão do nosso
canos aquando o Apartheid. Voltou
um prémio científico que temos em
mercado. É fundamental para nós
depois desses problemas resolvidos
➤
Portugal há 20 anos que premeia
sermos bem sucedidos no mercado
e estamos lá há mais de dez anos.
os jovens cientistas portugueses até
espanhol por várias razões: porque
Actualmente, é o país onde a IBM
programas que passam por doação
há uma questão de proximidade
está a actuar com maior força, mas
de tecnologia às universidades e
geográfica, cultural e emocional que
estamos a começar a instalar-nos
prémios para os estudantes.
deve ser aproveitada.
noutros países, nomeadamente nos
Recuperando duas deixas que
E a observação do mercado afri-
países Lusófonos: Angola, porque
referiu durante a nossa conversa,
cano na óptica da IBM? Angola
tem um potencial enorme e tem hoje
uma no início, da relação ibérica
desperta mais interesse ou há
condições que não existiam antes, e
da qual foi responsável, e a outra
outros países?
outros países de África onde a IBM
sobre o mercado de África, que é
Os americanos, de um modo geral,
já desenvolve negócio. O conti-
bastante apetecível de momento.
estão a começar a descobrir África.
nente africano é uma oportunidade
Comecemos pela questão ibérica,
Até aqui tinham estado um pouco de
excelente onde existe espaço para
como vê esse mercado entre Por-
costas voltadas para aquele conti-
progredir e trabalhar, em que empre-
tugal e Espanha e a relação entre
nente por razões históricas ou por
sas como a IBM e outras empresas
as empresas dos dois países?
razões específicas de muitos países
americanas têm uma palavra a dizer,
No nosso caso operamos numa or-
africanos que, de facto, não são
quer do ponto de vista que isso
ganização do Sul da Europa, da qual
atractivos e atravessam ou atra-
representa uma oportunidade de
faz parte Espanha e Portugal, e que,
vessaram situações difíceis, o que
negócio para elas, quer do ponto de
neste caso, os dois países formam
afugentou os americanos e fez com
vista que os países africanos podem
uma espécie de organização única,
que não fossem em força para África
beneficiar de empresas tão desen-
que trata do desenvolvimento do negócio na Península Ibérica, mas com independência. Portanto, temos uma IBM em Portugal e outra em
O CONTIMENTE AFRICANO É UMA OPORTUNIDADE EXCELEN-
como foram para outros
volvidas como estas.
continentes. Mas, neste
Outros projectos futuros para a
momento, a situação
IBM?
alterou-se e há um mo-
Como já referi, faz parte da nossa
vimento pró-África vindo
estratégia investir em soluções que
dos EUA. E isto não tem a
resolvam problemas de mercado aos
TE PARA PROGRE- ver com o facto do PresiEspanha e trabalhamos em estreita colaboração, DIR E TRABALHAR dente Obama ter raízes
nossos clientes e temos, hoje, um
pode dizer-se, muito
a nossa estratégia actual no merca-
africanas, porque esse
enfoque muito grande e que marca
íntima mesmo. Nesta colaboração
movimento já começou antes dele.
do que tem a ver com o “Smarted
materializa-se mais numa ajuda de-
É reconhecido um potencial enorme
Planet” – o “Planeta Inteligente”. Isto
les a nós porque a dimensão do país
a África e, agora, começam a existir
parte duma premissa para atingir um
e da própria IBM é maior e têm mais
melhores condições de investimento:
objectivo. A premissa é: hoje
80 • Diplomática - abril/maio 2009
➤
existe no mundo uma capacidade
de energia foto-voltaica, novas tur-
talvez, o nosso maior marco estraté-
de computação imensa. O mundo
binas da energia eólica, em pratica-
gico do momento, porque, de facto,
está instrumentalizado. Existem
mente todas as áreas das energias
representa uma belíssima oportuni-
computadores ou micro-chips com
renováveis. A escassez da água
dade de negócio. Até aqui foram as
capacidade de processamento de in-
potável é outro problema que atinge
tecnologias de informação, o sector
formação em praticamente todos os
o mundo e em que nós estamos
automóvel, o petróleo, os sectores
objectos: nos telefones, telemóveis,
também empenhados na racionali-
que determinaram o século XX e que
frigoríficos, televisões, automóveis, e
zação do consumo e, também, na
foram determinantes na evolução
muito outros. Estamos rodeados de
dessalinização da água salgada para
do mundo. Eu penso que no futuro
transístores e chips em tudo o que
se poder tornar potável e poder ser
há três grandes áreas de grande de-
é objecto. Portanto, isso representa
consumida. As “Smart Cities” são
senvolvimento e impacto e que vão
uma capacidade digital imensa e
outra nossa grande aposta. A cidade
marcar o futuro do mundo, são elas:
uma capacidade de computação
é, hoje, o grande pólo de desenvol-
a saúde, que é outra área onde nós
como nunca tivemos na nossa
vimento da sociedade, e
➤
história. Por outro lado, vivemos
dizem os sociólogos que
também todos ligados e conectados.
dentro de poucos anos
Há redes de comunicação por todo o
70 ou 80 por cento da
lado. A grande rede digital mundial,
população mundial viverá
a Internet, permite que o mundo todo esteja em contacto permanente, mas
estamos muito aplicados
ESTAMOS
em todos os países, com
RODEADOS DE TRANSÍSTORES
projectos de vanguarda na melhoria quer dos cuidados de saúde, quer como esses
em cidades em detrimento E CHIPS EM cuidados são prestados aos da vida no campo ou dos TUDO O QUE É utentes, quer na investiga-
OBJECTO
também outras redes que se ligam
subúrbios das cidades. As
à própria Internet e que fazem com
cidades são, portanto, o
que tenhamos uma capacidade de
que mais vai impactar a nossa vida e
e as cidades. A saúde porque todos
comunicação como nunca tivemos.
é importante que a vida nas cidades
querem aumentar a sua longevidade
Estes dois mundos – capacidade de
seja confortável, saudável e susten-
e isso passa por resolvermos pro-
computação e capacidade de comu-
tável, sobretudo. E nós temos va-
blemas de epidemias e doenças que
nicação – permitem criar soluções
riadíssimos programas que visam a
ainda não têm solução, sendo para
cada vez mais inteligentes e podero-
sustentabilidade, o aumento de con-
isso precisa muita capacidade de
sas para resolver os mais variados
forto e da melhoria das condições
computação para em laboratório se
problemas no mundo. E é com base
de vida nas cidades, que vão desde
desenvolverem as soluções adequa-
nesta premissa que estamos foca-
a questão da poluição, da gestão do
das. A energia porque a humanidade
dos em resolver, juntamente com os
tráfego, dos edifícios inteligentes, do
vai enfrentar um desafio muito grande
nossos clientes e parceiros, proble-
consumo da electricidade e da água,
nas próximas décadas que é como
mas reais da vida em sociedade.
da gestão das cidades, da seguran-
encontrar uma alternativa ao petróleo.
ção científica, quer no domínio terapêutico; a energia
A energia vai ser o nosso grande
ça e do policiamento nas cidades.
Esta fonte de energia vai acabar e é
desafio nas próximas décadas. Re-
Temos sistemas informáticos que
preciso encontrar uma via alternativa.
solver problemas como o consumo
já são usados por polícias de Nova
O petróleo não é substituível apenas
e a produção de energia eléctrica, a
Iorque ou Chicago e que os ajudam
por energias renováveis e é preciso
criação de alternativas ao petróleo,
a ser mais eficazes na segurança
descobrir novas fórmulas. É uma pre-
de fontes energéticas diversificadas
dos cidadãos. Há uma imensidão
ocupação de todas as organizações
e a racionalização da utilização da
de projectos que caiem dentro deste
e pessoas responsáveis e a IBM está
energia da electricidade, mas não
grande chapéu das “Smart Cities”,
muito empenhada nisso. E as cida-
só. Estamos com variadíssimas ini-
que dentro daquilo que nós cha-
des por aquilo que falei anteriormen-
ciativas que vão desde os isqueiros
mamos o “Mundo Inteligente”, seja
te, porque são onde nós vamos viver.
inteligentes de consumo de electri-
talvez a área de maior enfoque e em
A maioria das pessoas vai viver em
cidade e distribuição eléctrica até ao
que estamos a desenvolver vastas
cidades e é preciso criar qualidade
desenvolvimento da tecnologia para
soluções, utilizando a nossa tecno-
de vida. Portanto, a nossa estratégia
aperfeiçoar as energias renováveis
logia, e a de terceiros, e a nossa ca-
passa por estes sectores porque é aí
alternativas (a energia foto-voltaica
pacidade de serviços de implemen-
que se vai jogar o futuro do mundo e
ou a térmica). Dentro deste sector
tação de soluções para resolvermos
da sociedade.
estamos a trabalhar com parceiros
muitos destes problemas. Este é,
n
A. Pinto
abril/maio 2009 - Diplomática • 81
Gestores internacionais
Varela Afonso -
Presidente da Crédito Agrícola Seguros
“Fazemos uma gestão criteriosa e temos uma carteira de seguros muito equilibrada” Iniciou a carreira em 1981 na Tranquilidade Seguros. Passou entretanto por outras seguradoras, onde desempenhou tarefas referentes essencialmente à área dos seguros de vida e fundos de pensões. Em 2004, Varela Afonso assumiu a presidência da CA Seguros e o crescimento tem sido notável. Destaca a qualidade e gestão da companhia o motivo para se classificar como a melhor seguradora Não Vida naquele segmento de dimensão.
82 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
Uma pequena biografia sua.
seguros. Ou seja, colocar o canal
gem porque o cliente já conhece
Como surgiu à frente da Crédito
bancário a comercializar seguros.
a instituição e a entidade Caixa
Agrícola Seguros?
Como foi criar e desenvolver
Agrícola. No seu todo, a nível
➤
Iniciei a minha carreira em 1981
esse projecto da CA Seguros?
nacional, o Crédito Agrícola tem
na Tranquilidade. Depois tive a
Criar uma empresa a partir do
cerca de um milhão de clientes,
passagem para outras segurado-
zero é um desafio sempre muito
dos quais quatrocentos mil são
ras por convite. Durante uma fase
aliciante, tanto mais que neste
associados. O Grupo é conhecido
inicial, e prolongada até há seis
caso do Crédito Agrícola era criar
e torna-se mais fácil abordar e
anos atrás, andei essencialmente
absolutamente do zero, inclusi-
cativar o cliente porque já conhe-
pela área dos seguros de vida e
vamente com colaboradores que
ce a organização em si. É acres-
fundos de pensões. E desde há
muitos deles iniciaram a activida-
centar mais uma prestação de
seis anos que sou presidente da
de profissional na própria empre-
serviço, uma solução financeira
CA Seguros (ex-Rural Seguros),
sa. É completamente diferente
que é o seguro, quer seja para
uma área para os Seguros Não
comprar uma companhia chave-
a protecção deles como pesso-
Vida. O grupo Crédito Agrícola
na-mão, eventualmente com ne-
as ou dos seus bens, quer seja
tem duas seguradoras: a Crédito
cessidades de tomar medidas de
para dar cobertura em termos de
Agrícola Vida, um projecto em
reorganização e reestruturação,
responsabilidade civil, porque
que participei na sua constituição,
mas no caso de partir do zero é
temos toda a oferta de Seguros
lançamento e gestão durante seis
criar tudo. Desde as simples con-
Não Vida.
anos, e a Crédito Agrícola Segu-
dições de apólice aos modelos de
Qual a visão, missão e valores
ros para os Seguros Não Vida a
documentos, à organização, aos
da CA Seguros?
que presido desde Maio de 2004.
manuais, entre outros. Portanto,
A nossa missão é clara: nós exis-
Estive ligado a outras segurado-
constituir uma seguradora desde
timos para prestar um serviço de
ras, nomeadamente, a Garantia,
a raiz, como aconteceu com a
qualidade e excelência aos clien-
a Europeia e a Bonança. Estive
Crédito Agrícola Vida, com pesso-
tes da Crédito Agrícola na área
também como administrador-
as jovens, é um desafio muito ali-
da protecção dos Seguros Não
delegado da Fungest, uma socie-
ciante. Felizmente neste projecto
Vida. A nossa visão é sermos
dade gestora de fundos pensões.
estiveram inseridas pessoas que
reconhecidos por esses mesmos
Portanto tenho um passado de 29
quase todas elas se empenharam
clientes como a sua seguradora
anos de actividade em segurado-
e se dedicaram a cem por cento
de eleição, isto é, que todos nos
ras. Vim para a Crédito Agrícola
e que, no fundo, hoje, continuam
reconheçam como a sua segura-
a convite do então presidente da
a maior parte delas nas compa-
dora privilegiada.
Prosegur, hoje, CA seguros, que
nhias. Isso é bom sinal, é porque
As agências e delegações exis-
tinha sido também o presidente
o ambiente e a organização são
tem pelo país todo? Quantas
na companhia de seguros Bo-
positivos.
são?
nança, onde eu também estive
É importantíssimo conquistar a
Temos representação de norte
e, portanto, convidou-me para vir
confiança dos clientes. Aposta-
a sul de Portugal e na Região
para este projecto para constituir
ram em quê para o conseguir?
Autónoma dos Açores. São cerca
uma companhia nova, uma segu-
No caso da Crédito Agrícola, à
de setecentos balcões, tantos
radora Vida.
partida, há uma vantagem porque
quantos os balcões do Crédito
Está então a chefiar o ramo Não
os clientes da Crédito Agrícola
Agrícola no país.
Vida?
têm ligações muito estreitas às
Têm uma meta em número de
Portanto, sou presidente do Con-
Caixas de Crédito Agrícola Mu-
balcões?
selho de Administração da Segu-
tuo. Já foram mais de duzentas
Em balcões não depende de nós.
radora Não Vida, que era a Rural
Caixas de Crédito Agrícola Mutuo,
Nós temos o produto e o serviço
Seguros, a agora Crédito Agrícola
todas elas autónomas, com di-
onde estão os balcões das Caixas
Seguros. Quase sempre estive
recção e estatutos próprios. Hoje
Agrícolas, portanto nós não temos
ligado à dinamização e ao lança-
são 89 porque têm havido fusões,
nenhum balcão propriamente dito.
mento da estratégia de banca-
de qualquer forma há essa vanta-
Como se estabelecem as
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 83
Varela Afonso Presidente da Crédito Agrícola Seguros
caso a CA Seguros, temos prati-
interior. Isto porque estamos per-
cias e delegações?
camente todos os seguros, com
to de atingir uma taxa de penetra-
Nós dividimos o país em onze
a excepção do crédito e caução e
ção de vinte por cento, ou seja,
regiões comerciais, uma delas
seguro aéreo. Os nossos clientes
vinte em cada cem clientes da
é a Região Autónoma dos Aço-
são empresas, mas sobretudo os
Caixa Agrícola já têm pelo menos
res. No continente temos dez
particulares. É tradição da Crédito
um seguro connosco, mas que-
e onde nessa região reside um
Agrícola ter a base em clientes
remos mais. Digamos que esta
colaborador nosso, efectivo no
particulares. E para o segmento
margem de progressão de vinte
nosso quadro do pessoal, que
dos particulares temos todo o tipo
para quarenta ou sessenta ainda
é o delegado comercial que dá
de seguros, desde o seguro auto-
é enorme. Olhamos para dentro e
apoio a um conjunto de Caixas
móvel até ao seguro de acidentes
fundamentalmente temos aí uma
➤
relações entre as várias agên-
Agrícolas aos seus respectivos
de trabalho, saúde, habitação,
grande capacidade de cresci-
balcões. Como eu disse, exis-
entre outros.
mento endógeno sem ter que
tem 89 Caixas Agrícolas, mas
O que distingue a CA dos seus
nos preocupar tanto em ir buscar
há setecentos balcões. A missão
concorrentes?
clientes de outras instituições.
destes colaboradores é dar apoio
Dada a nossa dimensão não nos
Queremos fundamentalmente, e
a esses balcões em tudo o que é
preocupa tanto
formação, lançamento de acções,
compararmo-nos
motivação e tudo o resto que
com a concorrên-
é essa a nossa missão,
O SUCESSO
prestar um bom serviço
PASSA POR ESTE GRANDE ENTROSAMENTO QUE TEMOS CRIADO COM AS CAIXAS AGRÍCOLAS.
dade aos nossos clien-
e um serviço de quali-
está relacionado com os segu-
cia em termos de
ros. Portanto, estamos presentes
preços. A nossa
com esse apoio. Temos depois a
aposta é mais no
nossa estrutura de marketing que
sentido de prestar
prepara toda a parte de suportes
um serviço de qua-
comerciais e folhetos de comu-
lidade, garantindo e
nicação. Colaboramos e desen-
aumentando aquela
volvemos ainda sinergias com a
relação que a Crédito Agrícola já
revista Exame, como a melhor
Caixa Central (instituição que faz
tem com os seus clientes. Inclu-
seguradora Não Vida no nosso
parte das Caixas Agrícolas para
sivamente temos vindo a crescer
segmento de dimensão. Não vou
as quais colabora no sentido de
em termos de cota de mercado,
dizer que se houvessem dois seg-
as ajudar a organizar) quer ao
mas não é isso que nos preocupa
mentos não seríamos a melhor de
nível da formação, quer ao nível
tanto. O que nos preocupa mais
todas. Provavelmente até sería-
de planos de marketing.
é sentirmos a cota de mercado
mos, mas como estão criados os
Falou em Portugal Continental
interna, ou seja, aquilo que de-
segmentos acima dos cem mi-
e nos Açores como regiões co-
signamos de taxa de penetração.
lhões e abaixo dos cem milhões,
merciais. E a Madeira?
Isto é, fazer com que, cada vez
no qual nos classificamos, fomos
Na Madeira, neste momento, não
mais, os clientes da Caixa Agrí-
considerados a melhor e dois
existe nenhuma Caixa Agrícola, o
cola sejam também clientes da
anos seguidos. Não foi por acaso.
que não quer dizer que não venha
seguradora do Crédito Agrícola.
Isto denota efectivamente que
a acontecer.
Portanto, essa é a nossa primei-
fazemos uma gestão criteriosa e
É um objectivo?
ra preocupação. Nós medimos
temos uma carteira de seguros
Não compete à seguradora, mas
a nossa performance por essa
muito equilibrada. Colocamos
sim à parte bancária esse objec-
taxa de penetração e, também,
para os seguros de automóveis,
tes. Distinguimo-nos pela qualidade e gestão e, por algum motivo, durante dois anos consecutivos fomos eleitos (2008 e 2009), pela
tivo. Se abrir estaremos lá a dar
pelo índice de capitação (número
habitação, comércio e serviços,
apoio.
médio de apólice seguro que os
acidentes de trabalho, saúde ob-
Quais os produtos e serviços
clientes têm connosco). Estes são
jectivos específicos de crescimen-
que a Crédito Agrícola Seguros
os dois parâmetros essenciais.
to exactamente para não haver
coloca ao dispor dos clientes?
Não olhamos tanto para o merca-
uma carteira enviesada. Isto
Nós, Seguradora Não Vida, neste
do exterior, mas sim mais para o
leva-nos a ter uma carteira
84 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
Varela Afonso
Para conquistarem esses clien-
mil e trezentos colaboradores
não só sucesso no crescimento
tes, que já são clientes da
das Caixas Agrícolas que tiveram
como também sucesso nos re-
Caixa, vão usar formação para
um papel activo comercialização
sultados e garantias financeiras.
quem trabalha nos balcões do
de Seguros Não Vida. Portanto,
Fechámos o ano de 2009 com 230
banco?
temos vindo a criar um sistema de
por cento de rácio de margem de
Exactamente. Para além da for-
incentivos que os alicie, motive e,
solvência. O que é muito acima
mação e deste apoio que referi
também, colocar a solução Segu-
da média de mercado. É isso que
(de um coordenador comercial em
ro como uma solução financeira e
pugnamos, ter uma seguradora que
cada região para os apoiar no seu
uma prestação de serviço inte-
ela própria seja solvente, porque
dia-a-dia), temos outros mecanis-
grada ao cliente. Não prestar só
assim garante as responsabilidades
mos como planos de incentivos.
ao cliente a simples abertura de
assumidas perante os clientes.
Por exemplo: em 2009 houve dois
conta ou um simples crédito, mas
➤
equilibrada e que nos tem dado
➤
julho/setembro 2010 - Diplomática • 85
Varela Afonso Presidente da Crédito Agrícola Seguros
entre outros. Temos assim todas
suas estruturas e coberturas
mo crédito.
as soluções para crescer.
muito frágeis. A verdade é que
Neste momento como avalia o
Disse que o crescimento ficou
há também nessa área alguma
mercado nacional e global no
à quem devido ao decrescimen-
profissionalização muito grande.
ramo das seguradoras?
to dos seguros agrícolas de
Existem empresas agrícolas a
Desde há cinco anos a esta
colheitas. Nesse decréscimo
investirem milhões, e essas fa-
parte, o mercado tem vindo em
estão implícitas as catástrofes
zem projectos que seguram todos
termos reais a perder cota. O
naturais decorrentes deste In-
esses projectos.
mercado Não Vida tem vindo a
verno rigoroso?
Quais foram as razões desse
decrescer em termos de volume
Não crescemos mais por duas
sucesso no meio desse cenário
montante global de prémios. No
razões: o mercado está mergulha-
que é de crise global?
nosso caso estamos a crescer.
do numa crise, a matéria segu-
O sucesso passa por este grande
No ano passado crescemos 2,5
rável ao nível das empresas não
entrosamento que temos criado
por cento em relação ao ano
tem crescido e ao nível familiar
com as Caixas Agrícolas. Temos
➤
dar a cobertura para esse mes-
anterior. Eventualmente teríamos
é natural que haja alguns condi-
tido algumas iniciativas interes-
crescido 4,2 por cento em vez de
cionalismos; e o facto de o nosso
santes, tal como: a quinta conven-
2,5 mas temos uma área na qual
crescimento ter ficado atenuado
ção para os colaboradores que
ainda temos algum peso, que é
deve-se ao seguro agrícola de
ultrapassam determinado tipo de
a área dos seguros de colheitas,
colheitas ter capitais seguros me-
plataformas que lançamos todos
que vem da nossa ligação ao
nores, porque a própria actividade
os anos como desafio. Vamos ter
mundo agrícola, tendo os capitais
agrícola também tem decresci-
duzentos colaboradores nessa con-
vindo a decrescer. Decresceu
do. Portanto, isso reflecte-se na
venção em Madrid. São desafios
catorze por cento os prémios nos
nossa companhia e no próprio
que fazemos para envolver as pes-
seguros de colheitas, daí que
mercado. O seguro de colheitas
soas, pois ajuda a sentir que têm
isso amorteceu o nosso cresci-
este ano no mercado decresceu
este produto e, se não for de forma
mento. De qualquer forma, nós
também relativamente ao ano an-
directa, é de forma indirecta, ajuda
estamos a crescer, ao contrário
terior. É provável que com estes
a prestar esse serviço ao cliente.
do mercado que decresceu em
fenómenos que têm acontecido
Projectos futuros para a Crédi-
Não Vida 4,2 por cento em ter-
possa haver uma maior procura.
to Agrícola?
mos nominais. Relativamente ao
O que não é tão verdade, e que
Continuar a linha de inovação que
mercado aquilo que eu penso é
às vezes se diz no mercado, é
temos tido nos últimos anos com
que ainda pode crescer muito.
que não há seguros de colheitas
o lançamento de novos produtos,
Muitas vezes há mais entre as
ou seguros de estufas. Há! E nós
desde o seguro de saúde, de pro-
redes agenciarias uma rotação
tivemos sinistros de seguros de
tecção financeira, lançámos agora
de carteira do que propriamente
estufas, porque temos seguros
um serviço complementar na área
uma promoção de novas apóli-
de estufas, inclusivamente nestas
da saúde que é um cartão que
ces. Mas a capitação de seguros
tempestades que houve na zona
tem uma cobertura de acidentes
em Portugal ainda está longe de
do oeste a 23 de Dezembro, onde
pessoais, mas também um con-
outros países. Eu diria que não
tivemos três estufas de grande
junto de prestação de serviços clí-
era preciso que seja um negócio
dimensão sinistradas. Esses se-
nicos com preços regulamentados
de circulação, mas existe ainda
guros existem.
e definidos. Tem tido uma adesão
uma protecção a fazer a clientes.
Pois, mas se calhar a conjuntu-
fantástica. Queremos, sobretu-
Ou seja, podemos crescer e essa
ra é que faz com que as pes-
do, continuar a melhorar a nossa
é a nossa aposta interna – fazer
soas não invistam, ou porque
prestação de serviços. Nesse as-
crescer a cobertura dos nossos
estão sempre na esperança que
pecto, a nossa preocupação é tal
clientes – que tenham cobertura
nenhuma tragédia os atinja.
que iniciámos este ano o projecto
desde os acidentes pessoais, os
A verdade é que ainda há muitas
de gestão da qualidade com vista
seguros de saúde, de habitação,
estufas que pela sua natureza
à certificação.
de responsabilidade civil familiar,
não são seguráveis, sendo as
86 • Diplomática - julho/setembro 2010
n
J. M. Teixeira
Vida diplomática
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1. No Dia Nacional da Itália o Embaixador Luca de Presenzano, aconpanhado pelo Consul Gionanni no uso da palavra 2. À entrada da Embaixada Italiana uma orquesta dava as boas-vindas ao som de uma ópera italiana 3. A nossa Directora ladeada pelo Embaixador da Tunísia, Farhaie e pelo Embaixador do Luxemburgo Alain de Muyser 4. Embaixatriz da Turquia, Nurdan Türkmen e a Embaixadora da Noruega Inga Magistad 5. Maria da Luz de Bragança aconpanhada pelo Embaixador de Malta, Joseph Cassar no Dia Nacional da Noruega 6. O Embaixador da República da Islâmica do Paquistão, Gul Haneff e sua Mulher, nas comenorações do
7
8
Dia Nacional do seu país 7. Kaya e Nurdan Türkmen ofereceram uma festa de despedida na sua residência oficial, no Restelo, onde compareceram amigos e convidados dos mais diversos meios diplomáticos, políticos, culturais e empresariais, numa homenagem aos diplomatas turcos que souberam granjear as maiores simpatias e amizades entre nós. O Embaixador e a Embaixatriz estão em Portugal desde Março de 2007 e, agora, vão representar o Estado turco no Chipre. 8. Os Embaixadores da República da Hungria, Attila e Andrea Gecse, ofereceram uma festa de despedida na sua residência oficial para agradecerem todo o apois recebido durante a sua permanência em Portugal.
julho/setembro 2010 - Diplomática • 87
Arte & Cultura
Chopin um artista universal Texto: Embaixadora da Polónia Katarzyna Skórzynska
Na Embaixada da Polónia, Kataryzyna Skórzynska junto ao quadro de um concerto de Chopin
Para os polacos, cujo país desapareceu por comple-
do globo, sendo particularmente apreciado na Ásia, em
to do mapa da Europa durante cerca de 150 anos, a
especial no Japão e na China.
cultura e a tradição nacionais desempenharam, desde
O compositor nasceu em Zelazowa Wola, num modesto
sempre, um papel fundamental na preservação da sua
solar polaco, situado, pitorescamente, entre os prados
identidade. Os maiores criadores polacos, especial-
e bosques da Mazóvia, à beira do rio Utrata. Para nós,
mente os da época do Romantismo, produziram as
polacos, o reflexo das paisagens e da cultura do nosso
suas obras não só na Polónia, mas também no exílio.
país na música de Chopin parece-nos óbvio. Quando
Este foi o caso de alguns dos mais destacados poetas
ouço as suas mazurkas identifico distintamente as ima-
românticos como Adam Mickiewicz, Juliusz Słowacki
gens dos campos da Mazóvia e dos seus chorões...
e Cyprian Kamil Norwid. O mesmo se passou com
Para responder ao crescente interesse dos admira-
Fryderyk Chopin, que depois de ter saído da Polónia,
dores internacionais de Chopin em visitar os lugares
em 1830, nunca mais regressaria à sua pátria. Mesmo
relacionados com a sua vida, em 2009, o governo
no século subsequente, em pleno século XX, poetas e
polaco renovou a casa natal do compositor, onde expôs
artistas polacos continuaram a criar as suas obras fora
um novo espólio de objectos pessoais. Em Março deste
de território nacional, como é exemplo Czesław Miłosz,
ano foi inaugurado o Museu Fryderyk Chopin, em Var-
Prémio Nobel da Literatura em 1980.
sóvia, que é já muito visitado.
É óbvio que a influência de outras culturas e costumes,
Convido todos os entusiastas e apreciadores da música
bem como o contacto com ambientes mais cosmopo-
de Chopin a viajar até à Polónia e a seguir os cami-
litas, contribuiram para que a mensagem dos artistas
nhos por ele percorridos há dois séculos atrás. Nessa
polacos adquirisse o cunho da universalidade. Chopin
viagem poderão tomar parte de inúmeros eventos
é um desses artistas universais, um dos maiores do
culturais organizados no âmbito do ano que celebra o
Mundo. A sua obra reúne muitos admiradores não só
bicentenário do nascimento deste que é um dos maio-
na Europa, como também nos mais recônditos recantos
res compositores de todos os tempos.
88 • Diplomática - julho/setembro 2010
n➤
Chopin. Quadro de Ludwik Wawrynkiewicz segundo Eguène Delacroix
julho/setembro 2010 - Diplomática • 89
Ano de Chopin 2010 Celebrações do bicentenário do nascimento do compositor polaco
O ano de 2010, aclamado como o Ano de Cho-
até ao seu reflexo nos trabalhos dos artistas das
pin, comemora o bicentenário do nascimento do
gerações contemporâneas, por exemplo, em
famoso compositor polaco, e na Polónia, como
edições jazz. Em Agosto, entre os dias 6 e 14,
por todo o mundo, multiplicam-se iniciativas que
terá lugar o Festival Internacional da Música de
celebram a sua memória e legado. No mun-
Chopin, em Duszniki-Zdrój, o mais antigo festival
do, realizar-se-ão cerca de duas mil iniciativas
de piano do mundo que decorre no mesmo palco
comemorativas do Ano de Fryderyk Chopin,
que acolheu Chopin, com a participação dos
concentrando-se mais de 1200 na Polónia. Ape-
mais prestigiados intérpretes de piano, sendo
sar de se lhe dedicar todo um ano, é controversa
também palco de estreias para os mais talento-
a tentativa de precisar o dia do nascimento de
sos jovens pianistas. O evento central do festival
Chopin. Há quem lhe atribua o dia 22 de Feve-
são as masterclasses dadas pelos mais aclama-
reiro e quem defenda que terá nascido alguns
dos maestros e celebridades musicais. Este ano
dias mais tarde, a 1 de Março. Na impossibilida-
o festival contará com a participação de Maria
de de consenso e de irrefutável prova histórica,
João Pires. O XXIX Festival de Música Chopin
mais de 250 músicos e cantores interpretaram
em Cores de Outono, em Antonin, que decorre-
noite e dia, em Varsóvia, a música de Chopin
rá de 16 a 18 de Setembro 2010, é o segundo
durante 171 horas, o tempo que separa as duas
mais importante festival da música de Chopin na
possíveis datas de nascimento do compositor,
Polónia. Ao lado dos mais prestigiados nomes do
há 200 anos atrás. A obra de Chopin inspirou,
panorama musical, o festival de Antonin pro-
desde sempre, as mais variadas manifesta-
move também os jovens artistas. A sua grande
ções artísticas e, assim sendo, as actividades
atracção são os concertos nocturnos, “Chopin no
comemorativas a serem levadas a cabo, desen-
veludo da noite”, que contam com a participação
volvem-se num espectro tão alargado quanto a
de todos os intérpretes do festival e que nesta
própria imaginação, oscilando entre o clássico e
sua edição de 2010, incluirá um recital de pia-
o contemporâneo, passando pelo registo experi-
no do vencedor português do Concurso Jovens
mental. 2010 conhecerá concertos e recitais de
Pianistas 2010 do Festival Chopin do Teatro
música clássica, jazz, blues e rock, além de es-
Municipal São Luiz de Lisboa. Ainda no domínio
pectáculos de teatro, bailado, exposições, filmes
dos concursos pode, finalmente, referir-se o XVI
e cinema de animação.
Concurso Internacional de Piano de Fryderyk
Ano de Chopin na Polónia
é um dos mais antigos e prestigiados do mundo.
Ainda que a todas as celebrações seja reconhe-
Organizado de cinco em cinco anos, tornou-se
cido um cunho especial, aquelas que se realizam
numa espécie de Jogos Olímpicos para os maio-
na Polónia, terra natal do compositor, revestem-
res talentos de piano, desempenhando um papel
se de uma força ainda maior. Como já foi referi-
indispensável no desenvolvimento das suas car-
do, em território polaco, registar-se-ão cerca de
reiras, permitindo o acesso às melhores salas de
1200 eventos associados ao Ano de Chopin, de-
concerto do mundo. Ainda na Polónia, ressalta
vendo ser destacadas cinco inciativas principais,
como um dos principais acontecimentos do Ano
pelo seu renome e dimensão internacional. Entre
de Chopin 2010, a inauguração do Museu e Cen-
1 de Agosto e 3 de Setembro de 2010, realizar-
tro de Fryderyk Chopin no Palácio de Ostrogski,
se-á o Festival Internacional de Música Chopin
em Varsóvia. Projectado por dois arquitectos de
Chopin de Varsóvia (2 a 23 de Outubro de 2010)
e a Sua Europa, em Varsóvia, que pretende
Milão, Migliore e Servetto, e inaugurado no dia
promover a obra de Fryderyk Chopin num largo
1 de Março, é o mais moderno museu biográfico
espectro cultural. Os concertos e recitais do fes-
da Europa Central, com 1,3 mil metros quadra-
tival abrangem várias obras e estilos musicais,
dos. Nele está exposta uma colecção inestimável
desde as composições do século XVIII, recriadas
de manuscritos e objectos pessoais/lembranças
com os instrumentos tradicionais e históricos,
do compositor.
90 • Diplomática - julho/setembro 2010
➤
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1. Jacek Krenz 2. Mariola Landowska 3. Kasia Wrona 4. Joanna Latka 5. Kasia Gubernat 6. Henryka Woerle
julho/setembro 2010 - Diplomรกtica โ ข 91
Ano de Chopin 2010 Celebrações do bicentenário do nascimento do compositor polaco
Museu de Fryderyk Chopin, em Varsóvia
Ano de Chopin em Portugal
tes em Portugal, inspirados na obra de Chopin, foi
Em Portugal, o Ano de Chopin foi inaugurado
apresentada ao público entre os dias 21 e 27 de
com o Concerto da Orquestra Polaca Sinfonia
Maio. A exibição resultou do esforço concertado
Iuventus, que contou com a participação do pia-
dos artistas: Henryka Woerle, pintora e escultora,
nista Janusz Olejniczak, sob direção de Tadeusz
Jacek Krenz, pintor, arquitecto e docente na Uni-
Wojciechowski, no Centro Cultural de Belém,
versidade da Beira Interior, Joanna Latka, pintora
em Lisboa, no dia 8 de Março, em simultâneo
e docente na Escola Superior de Arte e Desgin
com uma exposição de cartazes polacos sobre a
das Caldas da Rainha, Kasia Gubernat, pintora e
vida e obra de Fryderyk Chopin, também paten-
docente na Faculdade de Arquitectura da Univer-
te no CCB. A segunda iniciativa mais marcante
sidade Lusófona do Porto, Kasia Wrona, artista,
decorreu no espaço da Fundação Sousa Pedro,
pintora e desenhadora residente no Algarve, e
no Chiado, onde a exposição colectiva Ouvindo
Mariola Landowska, pintora residente em Lisboa.
Chopin, de trabalhos de artistas polacos residen-
Para o resto do ano estão programados uma série ➤
92 • Diplomática - julho/setembro 2010
de eventos, entre os quais se destaca (entre
Dias da Fonseca, Presidente da Fundação Casa
16 e 19 de Junho) o Concurso Jovens Pianistas
da Música, Fernando Andersen Guimarães, Pre-
➤
2010, inserido no Festival Chopin do Teatro Muni-
sidente da Comissão Nacional UNESCO, Mário
cipal São Luíz, em Lisboa, que dará ao vencedor
Soares, Presidente da Fundação Mário Soares e
do concurso a possibilidade de assistir e participar
ex-Presidente da República Portuguesa, Guilher-
no Festival “Chopin em Cores de Outono”, em
me d’Oliveira Martins, Presidente do Tribunal de
Antonin, na Polónia. Ainda no mesmo mês de
Contas, António Costa, Presidente da Câmara
Junho, serão organizados dois recitais da música
Municipal de Lisboa, Waldemar Dabrowski, Pre-
de Chopin, interpretados por Tomasz Pawłowski.
sidente da Comissão para o Ano de Chopin na
Um dos recitais terá lugar na inauguração da
Polónia, Andrzej Wajda, realizador de cinema, Kr-
Conferência Internacional da Universidade Católi-
zysztof Penderecki, compositor, Krystian Zimer-
ca Portuguesa, no dia 24 de Junho, no Estoril, e o
man, pianista, Paweł Potoroczyn, Presidente do
outro acontecerá dois dias mais tarde, nos Cur-
Instituto de Adam Mickiewicz e José Sequeira e
sos Internacionais de Verão de Cascais, a 26 de
Serpa, Embaixador de Portugal em Varsóvia.
Junho. Em Setembro, também os Açores assina-
Transversalmente às comemorações do bicente-
larão o bicentenário pela celebração dos dias da
nário do nascimento de Fryderyk Chopin, foram
Polónia nas ilhas Terceira e Faial, com um con-
publicados alguns livros que sublinham a persis-
certo de piano e a projecção do filme "Chopin – A
tência da sua memória. Em Portugal, imbuídos
Vontade de Amar", do realizador Jerzy Antczak. A
no espírito de Ano de Chopin 2010, foram lan-
ter início a 30 de Setembro e estendendo-se até
çados três livros, entre eles o de Cristina Carva-
ao dia 19 de Maio de 2011, o CCB promoverá um
lho, «Nocturno - O Romance de Chopin», uma
ciclo de nove recitais de piano em homenagem
biografia romanceada da vida do compositor que
a Fryderyk Chopin pelo pianista Artur Pizarro.
segue a verdade histórica de uma existência que
Outubro contará com dois eventos principais, o
a autora considera ter sido curta, porém “incrivel-
recital de piano de Krzysztof Jabłonski, no dia 2
mente apaixonada e apaixonante”. José Jorge
de Outubro, no Centro Olga Cadaval, em Sintra, e
Letria, na sua «Última Valsa de Chopin» leva-nos
a cerimónia de inauguração do busto de Fryderyk
numa viagem pela vida, pelo amor e pela música
Chopin em Lisboa, na Avenida da Liberdade,
daquele que foi um dos maiores compositores
iniciativa que se repetirá em mais de 25 cidades
da história. «Uma biografia original e a vários
espalhadas por todo o globo. O mês de Dezembro
títulos memorável», escreve António Victori-
será marcado pela projecção de um documentário
no D´Almeida no prefácio. O jornal Expresso,
sobre a vida e a obra do compositor, no Cineclube
diringindo-se aos mais novos, lançou a Colecção
de Faro e por um concerto do Trio Jagodzinski, e
Grandes Compositores, integrada por seis livros
interpretação de canções de Chopin, encerrando
distintos, cada um referente a um compositor di-
oficialmente o Ano de Chopin.
ferente. Chopin foi o primeiro a merecer esta pu-
Em Portugal, como em todos os países que se
blicação que se fez acompanhar de um CD com
associaram às comemorações do bicentenário,
excertos da sua obra. No mesmo registo infantil,
foram constituídas Comissões de Honra para
também Miguel Sousa Tavares, publicou «Isma-
organizar e dirigir as celebrações. Nacionalmen-
el e Chopin» onde conta a história da amizade
te, a Comissão de Honra para o Ano de Chopin
improvável entre o coelho bravo Ismael e o jovem
conta com a participação da Ministra da Cultura
músico Chopin, numa descoberta do mundo da
da República Portuguesa, Gabriela Canavilhas, e
música e, sobretudo, da figura do memorável
do seu homólogo polaco, o Ministro da Cultura da
compositor. Como em tantas outras histórias
República da Polónia, Bogdan Zdrojewski, nomes
infantis, também esta termina com um mistério e
aos quais se somam os de António Mega Fer-
um segredo por revelar.
reira, Director do CCB, e Katarzyna Skórzynska,
Ao longo deste ano de 2010 cada um de nós
Embaixadora da República da Polónia em Lis-
pode desvendar os mistérios da música de Cho-
boa, na qualidade de co-Presidentes Executivos,
pin e os segredos que encerrou em cada nota
José António Pinto Ribeiro, Ex-Ministro da Cultu-
musical, pela participação nos eventos agenda-
ra da República Portuguesa, Rui Vilar, Presidente
dos para celebrar o bicentenário do seu nasci-
da Fundação Calouste Gulbenkian, José Manuel
mento, tanto em Portugal como na Polónia.
n
julho/setembro 2010 - Diplomática • 93
English & French texts
6. “What sovereignty to Europe in economic, political, diplomatic and defense?” The Diplomática magazine launched another challenge to the Diplomatic Corps (European) accredited in Portugal. We wanted to know what is the opinion of Ambassadors regarding sovereignty following the European continent. What economy? What policy? What diplomacy? What Defense? Learn about the opinions of Czech, Lithuania, France, Italy and Belgium, Greece, Finland, Ukraine and Turkey.
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6. «Que la souveraineté de l’Europe dans les domaines économique, politique, diplomatique et de défense?” Diplomática a lancé un autre défi au Corps diplomatique (européen) accrédités au Portugal. Nous voulions savoir quelle est l’opinion des ambassadeurs suivants concernant la souveraineté sur le continent européen. Quelle économie? Quelle politique? Quelle diplomatie? quel moyen de défense? En savoir plus sur les avis de la République Tchèque, la Lituanie, la France, l'Italie, la Belgique, la Grèce, la Finlande, l'Ukraine et la Turquie.
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22. Visit of President Lula da Silva of Portugal Closer economic ties and increasing the universalism of the Portuguese language were the main topics discussed in the passage of the Brazilian president in Lisbon In the final months of the two terms of eight years and with record approval ratings at home, the busy Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva, in Lisbon ended an expedition of eight days by five countries of the European and Asian continents.
■
22. Visite du président Lula da Silva du Portugal Le resserrement des liens économiques et l’augmentation de l’universalisme de la langue portugaise ont été les principaux thèmes abordés lors du passage du président brésilien à Lisbonne Dans les derniers mois des deux termes de huit ans et avec des taux d’approbation record, la rue animée président brésilien Luiz Inacio Lula da Silva, à Lisbonne se terminait un voyage de huit jours a travers cinq pays des continents européen et asiatique.
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28. A journey that can change the image of Bento XVI In the private visit of Bento XVI to Portugal, we will, at a distance, the ability to perceive the outlines of those days that stood out. There is no doubt that the emotion was the master figure of a pope deeply rational. Bento XVI is presented in Portugal in the year that marks the founding of the Republic and spell this point in his first speech. Diplomatically erase the ghosts that were in the minds of some for, then a few hours, to celebrate the Mass in the plaza where the event took regicide.
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28. Un voyage qui peut changer l’image de Bento XVI Lors de la visite privée de Bento XVI au Portugal, nous allons, à distance, la capacité à percevoir les contours de ces jours qui se détachaient. Il ne fait aucun doute que l’émotion a été la figure principale d’un Pape profondément rationnel. Bento XVI est présentée au Portugal dans l’année qui marque le centenaire de la fondation de la République et sort ce point dans son premier discours. Diplomatiquement effacer les fantômes qui se trouvaient dans l’esprit de certains depuis quelques heures, pour célébrer la messe sur la place où l’événement a eu lieu le régicide.
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33. Visit to the Maghreb - Portugal looking to North Africa “Betting on exports, the internationalization of our economy, support our businesses that are fighting for exports in all these markets,” were the wishes of the Prime Minister in Rabat, by way of a general balance of the trip to four countries Maghreb. José Socrates traveled to Libya, Algeria, Tunisia and Morocco to show the “new priority in its foreign policy and economic objectives with those countries. Socrates highlighted the geostrategic importance of bilateral relations and also argued that Portuguese entrepreneurs should take an attitude of confidence in investment and the internationalization, taking advantage of ongoing developments in the markets of North Africa.
■
33. Visite du Maghreb - Portugal cherche à l’Afrique du Nord «Miser sur l’exportation, l’internationalisation de notre économie, soutenir nos entreprises qui se battent
94 • Diplomática - julho/setembro 2010
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pour les exportations sur tous ces marchés,” ont été la volonté du Premier ministre à Rabat, par le biais
d’un équilibre général de ce voyage pour quatre pays du Maghreb. José Socrates, s’est rendu en Libye, Algérie, Tunisie et Maroc pour montrer la priorité “nouvelle dans sa politique étrangère et les objectifs économiques avec ces pays. Socrates a souligné l’importance géostratégique des relations bilatérales et a également fait valoir que les entrepreneurs portugais devrait prendre une attitude de confiance dans l’investissement et l’internationalisation, en tirant parti des développements en cours sur les marchés d’Afrique du Nord.
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36. Mohamed Ridha Farhat - Ambassador of the Republic of Tunisia In Lisbon since 2005, Mohamed Ridha Farhat praised the relationship, common history and bilateral relations between Tunisia and Portugal. The Ambassador of Tunisia began his career as a diplomat in the Ministry of Foreign Affairs of his country. Before coming to Portugal, played diplomatic positions in Brussels and Paris, but his first posting was as Ambassador in Lisbon. Mohamed Farhat welcomed us for an interview in which they addressed issues of historical, political, economic, among others.
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36. Ridha Farhat Mohamed - Ambassadeur de la République de Tunisie À Lisbonne, depuis 2005, Mohamed Ridha Farhat a loué la relation, l’histoire commune et des relations bilatérales entre la Tunisie et le Portugal. L’ambassadeur de la Tunisie a commencé sa carrière en tant que diplomate au ministère des Affaires Étrangères de son pays. Avant de venir au Portugal, a occupé des postes diplomatiques à Bruxelles et à Paris, mais sa première affectation d’ ambassadeur a ete à Lisbonne. Mohamed Farhat nous a accueillis pour une entrevue dans laquelle il aborde les questions d’ordre historique, politique, économique, entre autres.
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42. For a free and secure Africa - The hope of the OAU ineffective AU The desire was not forthcoming. When the May 25, 1963, 32 independent African countries signed the Constitution of the Organization of African Unity (OAU) initiative of the Ethiopian emperor Haile Selassie, it proclaimed, “that this convention will last 1000 years!” However, this was not to be . It took only 39 years for Unity crumble. Given this inefficiency and ineffectiveness, the Heads of State and Government decided at the 38th and last OAU summit, putting an end to the organization and erect a new union, chaired by South African President Thabo Mbeki. Arises formally the African Union (AU), which held its first summit on 9 and July 10, 2002. The most recent pan-African organization is led by Gabonese diplomat Jean Ping. The Ambassador of Tunisia opened the doors of the embassy of their country to commemorate Africa Day. Mohamed Ridha Farhat received all diplomats from African countries accredited in Portugal, presenting them with a magnificent cocktail. The Portuguese government also was represented by Secretary of State for Foreign Affairs. Mohamed Farhat spoke on the occasion, and cite a few sentences from the speech of President of the African Union Commission, Jean Ping.
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42. L’espoir de l’inefficace OUA UA Le désir ne vient pas. Lorsque le 25 mai 1963, 32 pays africains indépendants ont signé la Constitution de l’Organisation de l’unité africaine (OUA) initiative de l’empereur éthiopien Hailé Sélassié, elle a proclamé, «que cette convention 1000 dernières années!” Toutefois, cela ne devait pas être . Il a fallu seulement 39 ans pour voir l’unité s’effriter. Compte tenu de cette inefficience et inefficacité, les chefs d’Etat et de gouvernement ont décidé au sommet de la 38e et dernière de l’OUA, de mettre fin à l’organisation et la construction d’un nouveau syndicat, présidé par président sud-africain Thabo Mbeki. Se pose officiellement l’Union africaine (UA), qui a tenu son premier sommet le 9 Juillet et 10 mai 2002. L’organisation la plus récente pan-africaine est dirigée par un diplomate gabonais Jean Ping. L’Ambassadeur de Tunisie a ouvert les portes de l’ambassade de son pays pour commémorer la Journée
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africaine. Mohamed Ridha Farhat a reçu tous les diplomates des pays africains accrédités au Portugal, en
les présentant avec un cocktail magnifique. Le gouvernement portugais a également été représenté par le secrétaire d’Etat aux Affaires étrangères. Mohamed Farhat a parlé à l’occasion, et de citer quelques phrases du discours du président de la Commission de l’Union africaine, Jean Ping.
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46. 65 Years of Great Victory The next anniversary of Victory in World War II is the most important political event. For us, as repeatedly stressed the Russian President, Dmitry Medvedev, that date is sacred. A mention of the Victory Day inadvertently makes painfully hit the heart of every citizen of Russia. As they say in the song dedicated to the Victory, “Victory Day is a holiday with tears in his eyes.” It is unlikely that even now - 65 years later - in Russia, there is a family that had not been affected by the fires of war. Victory is a great spiritual heritage common to all peoples of the former Soviet Union. Our parents and grandparents were not only defending our freedom and saved the Motherland - they liberated Europe from Nazi enslavement.
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46. 65 ans de la grande victoire La prochaine date anniversaire de la Victoire de la Seconde Guerre mondiale est l’événement politique le plus important. Pour nous, comme souligné à plusieurs reprises le président russe, Dmitri Medvedev, cette date est sacrée. Une mention de la Fête de la Victoire par inadvertance fait douloureusement frappé le cœur de chaque citoyen de la Russie. Comme on dit dans la chanson dédiée à la victoire, “Jour de la Victoire est un jour férié avec des larmes dans ses yeux.” Il est peu probable que, même aujourd’hui - 65 ans plus tard - en Russie, il n'y a pas une famille qui n’est pas été touchée par les incendies de la guerre. La Victoire est un grand patrimoine spirituel commun à tous les peuples de l’ex-Union soviétique. Nos parents et grands-parents n’ ont pas seulement défendu notre liberté et sauvé la patrie -, ils ont libéré l’Europe de l’esclavage nazi.
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52. Eduardo Gonzalez Lerner - Cuban Ambassador in Portugal He was an active member in the pre-Cuban Revolution and continues to do so after the Revolution. Edward Lerner represents the first time his country as Ambassador, the European continent and Portugal considers a “friendly country”, highlighting the “90 years of relations” between the two countries. The Ambassador spoke of the close bilateral relations that the two states in political, commercial, health and investment, and analyzed the relationship divergent Cuba / USA was the first year of Obama, “the expectations and hopes pointed to an improvement in the relationship. Unfortunately this did not happen. “
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52. Eduardo Gonzalez Lerner - Ambassadeur de Cuba au Portugal Il a été un membre actif de la Révolution cubaine de pré, et continue de l'etre après la Révolution. Edward Lerner représente la première fois son pays en qualité d’Ambassadeur, le continent européen et le Portugal considère un pays «ami», en soulignant les «90 ans de relations” entre les deux pays. L’Ambassadeur a parlé des relations bilatérales étroites que les deux États dans les domaines politique, commercial, de la santé et de l’investissement, et analysé la relation divergentes Cuba / Etats-Unis a été la première année d’Obama, “les attentes et les espoirs souligné une amélioration de la relation. Malheureusement, cela ne s’est pas produit."
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60. European Union - Spanish presidency marked by crisis Came to an end the legacy of the Spanish EU presidency. It was a half black and plagued by deteriorating financial and economic crisis in the eurozone. As for the term starting rotation. José Luis Rodríguez Zapatero had in hand a new and important dossier to apply in Europe of 27 - the Treaty of Lisbon. But the main issue that marked the Spanish Presidency was a crisis. The difficulty of states to obtain credit and the consequent decline of their economies, with unemployment rising sharply, put Europe in alarm. Even in economic terms, Zapatero and Spain have always been in check because of the possibility of the EU and the International Monetary Fund (IMF) have to resort to a backup plan to help the country. It was a presidency marked by the decline in the economic recovery of Europe.
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60. L’Union européenne présidence espagnole marquée par la crise La fin de l’héritage de la présidence espagnole de l’UE. C’était un deminoir et en proie à la détérioration
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de crise la financière et économique dans la zone euro. Quant à la rotation terme de départ pour preparer
la suite. José Luis Rodríguez Zapatero avait en main un dossier nouveau et important d’appliquer á l’ Europe des 27, le traité de Lisbonne. Mais la question principale qui a marqué la présidence espagnole a été une crise. La difficulté des Etats à obtenir des crédits et la baisse conséquente de leurs économies, avec un chômage en forte hausse, et l’Europe s’alarme. Même sur le plan économique, Zapatero et l’Espagne ont toujours été en échec en raison de la possibilité de l’Union européenne et du Fond monétaire international (FMI) d’avoir recours à un plan de sauvegarde pour aider le pays. Ce fut une présidence marquée par le déclin de la reprise économique de l’Europe.
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62. Enrique Santos - President of the Chamber of Commerce and Industry Luso Spanish - A look at the Spanish Presidency of the European Union Enrique Santos took the comment: to what the Spanish Presidency of the European Union a year with some difficulties of addressing the circumstances that faced the Spanish presidency. First there were two strong constraints that inevitably hampered the performance of the Spanish Presidency. On the one hand, the recent entry into force of the Treaty of Lisbon after several years of tough negotiations and the second constraint is the strong economic crisis ravaging Europe and the international markets.
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62. Enrique Santos - président de la Chambre de commerce et d’industrie luso espagnol - Un regard sur la présidence espagnole de l’Union européenne Enrique Santos a eu ce commentaire: la présidence espagnole de l’Union européenne l’annee derniere a eu quelques difficultés a aborder les circonstances qui ont confronté la présidence espagnole. Premièrement il y avait deux contraintes fortes qui, inévitablement ont entravé l’exercice de la présidence espagnole. D’une part, la récente entrée en vigueur du traité de Lisbonne, après plusieurs années d’âpres négociations et la deuxième contrainte est la forte crise économique qui ravageait l’Europe et les marchés internationaux.
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64. José Mínguez - Officer of Air Europa by Jose Manuel Pinto Teixeira Delegate of the airline Air Europa in Portugal since last year, José Mínguez has 23 years experience in the tourism sector. A native of Madrid, studied at the Faculty of Economics and Business. He began working in the Travel Marsans, where he served in various departments of tasks related to the general public and directly with management of companies. However also played for Carlson Wagonlit Travel in Spain in 1998. In 2002 began his career at the corporation where it is today - globally - for the Division of Air Europa Air Corporation.
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Now with the challenge of launching Air Europa in Portugal, José Mínguez told us of several plans in motion.
64. José Mínguez - Officier de Air Europa par José Manuel Teixeira Délégué de la compagnie aérienne Air Europa au Portugal depuis l’année dernière, José Mínguez a 23 ans d’expérience dans le secteur du tourisme. Originaire de Madrid, a étudié à la Faculté d’Economie et de l’entreprise. Il a commencé à travailler acec Marsans Voyage, où il a servi dans divers départements de tâches liées au grand public et directement avec la direction des entreprises. Mais aussi travaillé pour Carlson Wagonlit Voyage en Espagne en 1998. En 2002 a commencé sa carrière au sein de la société où elle est aujourd’hui - dans le monde - pour la division de Air Europa Air Corporation. Maintenant, avec le défi de lancer Air Europa au Portugal, nous a dit José Mínguez avec plusieurs plans en action.
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68. Luís Palha da Silva - Chairman of the Board of Jerónimo Martins Ahead of a major multinational Portuguese with food and services, Luís Palha da Silva is the Chairman of the Board of Jerónimo Martins, and has also encompassed the Secretary of State for Trade. In this interview, he explained why Poland was the target of the economic expansion of the Group, where, today, assumes a position of great leadership. “Poland had a very special charm. It was a country accustomed to private enterprise and the largest country in population, throughout Eastern Europe. “
68. Luís Palha da Silva - Président du Conseil de Jerónimo Martins Devant un Portugais avec les grandes multinationales alimentaires et des services, Luís Palha da Silva
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est le président du conseil Jerónimo Martins, et a également associe le secrétaire d’État chargé du com-
merce. Dans cette interview, il explique pourquoi la Pologne a été la cible de l’expansion économique du groupe, et, aujourd’hui, prend une position de leadership. “La Pologne a un charme très particulier. Elle a été un pays habitué à l’entreprise privée et le plus grand pays en matière de population, à travers l’Europe."
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76. José Joaquim Oliveira - Managing Director and Chairman of IBM Portugal The Managing Director and Chairman of IBM Portugal is a deep knowledge of the reality of the company, which already brings three decades of service. Before assuming the leadership of the American representative in London was responsible for business area in the software division of IBM for the Iberian Peninsula. A native of Lisbon, José Joaquim Oliveira speaks of the presence of IBM in luso land and new business areas for the future: cities, energy and health.
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76. José Joaquim Oliveira - Directeur Général et Président d’IBM Portugal Le directeur général et président d’IBM Portugal est une connaissance profonde de la réalité de la société, qui regroupe déjà trois décennies de service. Avant d’assumer la direction du représentant américain à Londres a été responsable de la zone d’affaires de la division logiciels d’IBM pour la péninsule ibérique. Originaire de Lisbonne, José Joaquim Oliveira parle de la présence d’IBM à Luso terres et nouveaux secteurs d’activité pour l’avenir: des villes, la santé et de l’énergie.
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82. Alfonso Varela - President of the Agricultural Credit Insurance He began his career in 1981 at the Tranquility Insurance. Passed them by other insurers, where he played tasks relating mainly to the area of life insurance and pension funds. In 2004, Afonso Varela became president of CA Insurance and growth has been remarkable. Highlights the quality and management of the company reason to classify as the best non-life insurer in that segment size.
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82. Alfonso Varela - Président de l’assurance-crédit agricole Il a commencé sa carrière en 1981 à l’assurance Tranquillité. Adopté par les autres assureurs, où il a joué principalement des tâches liées au domaine de l’assurance-vie et fonds de pension. En 2004, Afonso Varela est devenu président du CA d’assurance et la croissance a été remarquable. Faits saillants de la qualité et la gestion de l’entreprise à raison de classer comme le meilleur assureur non-vie dans cette taille de segment.
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88. Chopin a universal artist For the Poles, whose country has completely disappeared from the map of Europe for about 150 years, the national culture and tradition played always had a key role in preserving their identity. The largest Polish farmers, especially those of the romantic era, they produced their works not only in Poland but also in exile. This was the case of the most famous Romantic poets as Adam Mickiewicz, Juliusz Słowacki and Cyprian Kamil Norwid. The same is true of Fryderyk Chopin, who after leaving Poland in 1830, never would return to their homeland. Even in the subsequent century, in the twentieth century Polish poets and artists continued to create their works outside the national territory, such as Czeslaw Milosz, the Nobel Prize for Literature in 1980.
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88. Chopin un artiste universel Pour les Polonais, dont le pays a complètement disparu de la carte de l’Europe pour environ 150 ans, la culture nationale et de la tradition avait toujours joué un rôle clé dans la préservation de leur identité. Le plus grand des compositeurs polonais, en particulier á l’époque romantique, il a produit ses œuvres non seulement en Pologne mais aussi en exil. Ce fut le cas des plus célèbres poètes romantiques comme Adam Mickiewicz, Juliusz Slowacki et Cyprian Kamil Norwid. La même chose est vraie de Frédéric Chopin, qui après avoir quitté la Pologne en 1830,il n'est jamais retourner dans sa patrie. Même dans le siècle suivant, chez les poètes polonais du XXe siècle et les artistes ont continué à créer leurs œuvres en dehors du territoire national, tels que Czeslaw Milosz, prix Nobel de littérature en 1980.
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