Diplomática n.º7

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´ Diplomatica

Nº7 Julho/Setembro 2010 4 (Cont.)

business & diplomacy

Diplomática 7 • julho/setembro 2010

Lula vai deixar saudades

Dossier Europa Em destaque Embaixadores: Tunísia e Cuba

Rússia A grande vitória

Entrevistas Luís Palha da Silva - J. Martins José Joaquim Oliveira - IBM Afonso Varela - C.A. Seguros José Minguez - Air Europa

With English & French Texts



Memória Memories

Em homenagem ao Dr. José Manuel Teixeira, Embaixatriz da Turkia em Portugal, Nurdan Turkmen, ex-jornalista do Le Monde

Querido José Manuel, Conhecemo-nos desde a nossa chegada... foi durante um jantar na Embaixada de França... De longe, vi chegar um casal tão bonito, tão sorridente... e no fim dessa noite, era como se nos conhecêssemos há anos... Juntos fizemos projectos: uma viagem à Turquia que desconheciam e sobretudo uma viagem a Chipre, onde tinhas sido correspondente de guerra... Quando vieste fazer uma reportagem sobre o meu marido e sobre mim, sentiste, certamente, a minha pena de não poder continuar a minha profissão... e de maneira tão simpática, convidaste-me a escrever, sempre que quisesse, para a “Diplomática”... Para além da vossa presença e do vosso apoio a cada evento que organizámos, tornámo-nos ainda mais próximos, graças a esta relação tão especial de colegas... Querido Colega, Com o teu coração enorme, fizeste que adorássemos Portugal e os portugueses, e agora partiste e deixaste-nos mais pobres, desfalcados da tua amizade, da ajuda que tão prontamente nos davas sempre que necessário. Não consigo habituar-me à tua partida silenciosa. Sinto falta de tantas coisas... e sobretudo das nossas discussões políticas... Partiste no momento em que também nós vamos partir para Chipre... No outro lado do Mediterrâneo ou onde quer que estejamos, estarás sempre nos nossos pensamentos, nas nossas recordações. E ainda que fisicamente não estejas lá, quando a nossa Querida Maria da Luz estiver connosco em Chipre, também tu estarás presente. Bem Hajas, José Manuel, por nos teres dado a possibilidade de te conhecer, por tudo o que nos deste,

Até Sempre, Nurdan

In honor of Dr. José Manuel Teixeira, by: Turkey's "Embaixatriz" in Portugal, Nurdan Turkmen ex-journalist from Le Monde Dear José Manuel, We met since our arrival... it was during a dinner at the French Embassy... From a distance, I saw a couple so beautiful, so happy... and so smiling... at the end of that night, it was as if we had known each other for years... Together we made projects: a trip to Turkey which you did not know and especially a trip to Cyprus, where you have been a war correspondent... When you come to do a story about my husband and myself, you felt, indeed, my pain of not being able to continue with my profession... and so nice, invited me to write, whenever i wanted for the “Diplomática”... Apart from your presence and your support at every event that we held, we became even closer, thanks to this special relationship as colleagues... Dear Colleague, With your huge heart, you make us adore Portugal and the Portuguese, and now you leave us poorer, defalcated of your friendship and from the help you would so instantly give us whenever necessary. I cannot accustom myself to your silent departure. I miss so many things... and especially our political discussions ... You left at the moment in which we will also leave to Cyprus... Across the Mediterranean or wherever we are, you will be always in our thoughts, our memories. And even if you’re not physically here when our Dear Maria da Luz is with us in Cyprus, you will be also present. Well, bless you, José Manuel Teixeira, for the opportunity to meet you, for everything you have given us, Farewell, Nurdan A la memoire de José Manuel Texeira, par: Nurdan Türkmen, Ambassadrice de Turquie au Portugal ancienne journaliste au Monde Cher José Manuel, Nous nous sommes rencontrés depuis notre arrivée... c’ était à dîner à l’ambassade française... De loin, j’ai vu un couple si beau, si... et souriant... et à la fin de cette nuit-là, c’était comme si nous nous etions connu depuis des années... Ensemble, nous avons fait des projets: un voyage en Turquie qui ne s’est pás fait et surtout un voyage à Chypre, où tu avais été correspondant de guerre... Lorsque vous arrivez à faire un reportage sur mon mari et moi-même,vous avez estimes en effet, ma douleur de ne pas être en mesure de continuer mon métier... et si gentillement, m’avez invité à écrire, quand je le voulait pour la «Diplomatica»... En dehors de votre présence et votre soutien à tous les événements que nous avons tenues, nous sommes devenus encore plus proches, Merci pour cette relation privilégiée en tant que collègues... Cher Collègue, Avec votre grand cœur, vous m'avez fait adorer le Portugal et les Portugais, et maintenant partir et laisser les plus pauvres de nous, "defalcated" de votre amitié, de l'aide que si facilement vous donniez chaque fois que nécessaire. Je ne peux pas m’habituer à votre départ silencieux. Je m’ennuie tellement de choses... et surtout de nos discussions politiques... Broke au moment où nous partirons aussi pour Chypre... L’ensemble de la Méditerranée ou partout où nous serons, vous serez toujours dans nos pensées, nos souvenirs. Et même si vous n’est pas physiquement la, Maria da Luz será avec nous à Chypre, et vous serait également présent. Eh bien Hajas, José Manuel Teixeira, car tu as donné l’occasion de vous rencontrer pour tout ce que vous nous avez donné, Jusqu’à toujours, Nurdan

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2º Aniversário

Assuntos Summary Résumé

Carta ao leitor. Letter to the reader. Lettre au lecteur.

3

Dossier. “Que soberania para a Europa no contexto económico, político, diplomático e defesa?” Dossier. “What sovereignty to Europe in economic, political, diplomatic and defense?” Dossier. «Quelle souveraineté à l’Europe dans les domaines économique, politique, diplomatique et de défense?”

6

Visita Diplomática. Presidente Lula da Silva em Portugal. Foto da capa: Ricardo Oliveira - GPM Diplomatic Visit. President Lula da Silva in Portugal. Visite diplomatique. Le président Lula da Silva au Portugal.

22

Visita Papal. Uma viagem capaz de mudar a imagem de Bento XVI. Papal visit. A journey that can change the image of Bento XVI. Visite du Pape. Un voyage qui peut changer l’image de Benoît XVI.

28

Visita ao Magrebe. Portugal de olhos postos no Norte de África Visit to the Maghreb. Portugal looking to North Africa Visite du Maghreb. Portugal cherche à ameliorer ses liens avec l’Afrique du Nord

33

Mohamed Ridha Farhat. Embaixador da República da Tunísia. Farhat Mohamed Ridha. Ambassador of the Republic of Tunisia. Ridha Farhat Mohamed. Ambassadeur de la République de Tunisie.

36

Por uma África livre e segura. Da ineficaz OUA à esperança da UA. For an Africa free and safe. The OAU ineffective to the hope of AU. Pour une Afrique libre et sûr. De l’ inefficace OUA à l’UA l’espoir.

42

65 Anos da Grande Vitória. Embaixador da Rússia em Portugal - Pavel Petrovsky. 65 Years of Great Victory. Ambassador of Portugal in Russia - Pavel Petrovsky. 65 ans après la grande victoire. Ambassadeur du Portugal à la Russie - Pavel Petrovsky.

46

Eduardo González Lernes. Embaixador de Cuba em Portugal Eduardo Gonzalez Lerner. Cuban ambassador in Portugal Eduardo Gonzalez Lerner. Ambassadeur de Cuba au Portugal

52

União Europeia. Presidência espanhola marcada pela crise. European Union. Spanish presidency marked by the crisis. Union européenne. présidence espagnole marquée par la crise.

60

Enrique Santos. Um olhar da Presidência Espanhola da União Europeia. Enrique Santos. A look at the Spanish Presidency of the European Union. Enrique Santos. Un regard sur la présidence espagnole de l’Union européenne.

62

José Mínguez. Delegado da Air Europa em Portugal. José Mínguez. Officer of Air Europa in Portugal. José Mínguez. Officier de Air Europa au Portugal.

64

Luís Palha da Silva. Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins. Luís Palha da Silva. Chief Executive Jerónimo Martins. Luís Palha da Silva. Jerónimo Martins chef exécutif.

68

José Joaquim Oliveira. Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal José Joaquim Oliveira. Managing Director and Chairman of IBM Portugal Oliveira Joaquim José. Directeur Général et Président d’IBM Portugal

76

Varela Afonso. Presidente da Crédito Agrícola Seguros. Afonso Varela. President of Agricultural Credit Insurance. Varela Afonso. Président de l’assurance-crédit agricole.

82

Mala Diplomática. Dias Nacionais de Paquistão, Itália e Noruega. Diplomatic bag. National Day of Pakistan, Italy and Norway. Valise Diplomatique. Journée nationale du Pakistan, l’Italie et la Norvège.

87

Embaixadora da Polónia Katarzyna Skórzynska. Chopin um artista universal Ambassador of Poland Katarzyna Skórzynska. Chopin a universal artist Ambassadeur de Skórzynska Katarzyna Pologne. Chopin un artiste universel

88

Traduções Translations Traductions

94

DIRECTOR: Maria da Luz de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Rua Ramalho Ortigão, 43 A – 1070-228 Lisboa. Marketing & Publicidade: Anabela Pelicano - e-mail:rp@gabinete1.pt Tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79 IMPRESSÃO: Multiponto DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395

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Dossier

“Que soberania para a Europa no contexto económico, político, diplomático e de defesa?”

“Que soberania para a Europa no contexto económico, político, diplomático e de Defesa?” A Diplomática lançou mais um desafio ao Corpo Diplomático (europeu) acreditado em Portugal. Quisemos saber qual a opinião dos Embaixadores acerca da soberania a seguir pelo continente europeu. Que economia? Que política? Que diplomacia? Que Defesa? Saiba quais os pareceres da República Checa, França, Itália, Bélgica, Grécia, Filândia, Ucrania e Turquia.

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Dossier Que soberania para a Europa

Markéta Šarbochová - Embaixadora República Checa

do resto do mundo, necessita primeiro de uma definição clara daquilo que sem dúvidas une a Europa, aquilo que lhe tinha permitido atingir o nível actual do seu desenvolvimento e a posição que ocupa no mundo e que ainda hoje a torna atraente para muitos imigrantes de outros continentes. E isso a meu ver - são os valores ou princípios essenciais das quais a Europa é portadora e defensora – entre os mais importantes obviamente - democracia e respeito pelos direitos humanos, promoção de oportunidades iguais, respeito pelo meio ambiente, a tolerância religiosa e a defesa de princípios de cooperação vantajosa para os elementos participantes. Por outro lado, esta definição de princípios deveria abranger a rejeição clara de todo tipo de extremismo, terrorismo, etc. A União Europeia, a meu ver, tem o papel essencial neste processo. Deveria ser por isso ela a definir bem em primeiro lugar as suas Europa, no sentido geográfico, que começa no

relações para com os países europeus não mem-

Ural e acaba no Cabo da Roca, não é um espa-

bros da UE e consequentemente desenvolver

ço homogéneo – nem do ponto de vista político

projectos concretos de cooperação, no âmbito

e económico, nem do cultural, religioso, etc. A

das suas políticas de vizinhança (Leste Europeu,

história do continente europeu é complexa, cheia

Balcãs, Mediterrâneo). Uma vez alcançado o ní-

de conflitos entre os países ou blocos, facto esse

vel satisfatório de balanço das relações políticas

que marcou profundamente os seus participan-

e económicas dentro do continente, (incluindo os

tes e deixou consequentes ressentimentos que

seus extremos geográficos) e atingida assim uma

continuam a projectar-se até hoje nas relações

maior homogeneidade política e económica, a

políticas entre os elementos individuais.

seguir a Europa deveria assim procurar encontrar

Por isso, falar da “soberania para a Europa” não

este mesmo balanço em relação a outras potên-

é fácil. Todos entendem em geral no que consis-

cias fora da mesma – Estados Unidos, China,

te a soberania de um estado, de um elemento

Brasil, Índia e outros. Assim, Europa poderia

de poder, ou até de um grupo de estados, como

defender a sua “soberania” em todos os planos

é o caso da União Europeia. Aí, a questão da

– político, económico ou de defesa - no mundo

soberania, ou melhor dizer, a possível perda de

actual.

soberania dos membros foi largamente discutida,

Governar num sistema democrático é sempre

mas o facto é que esses países decidiram livre-

mais difícil do que governar no regime totalitá-

mente ceder parte da sua soberania para agirem

rio. Democrata aos olhos de autocrata pode ser

como uma só entidade no plano externo e para

visto como fraco, indeciso, hesitante, impotente.

juntarem-se a um projecto comum de coopera-

Analogicamente, os que não partilham os valores

ção na área da política, economia, segurança,

democráticos podem considerar nula a soberania

cultura, educação e outras.

daquele que aja segundo estes princípios. Não

Mas “soberania” de um continente com tanta

obstante, isso não deve ser razão para deixar de

diversidade, que ao mesmo tempo tem que

ser democrático, por isso: O modelo para o conti-

encontrar relações equilibradas com as potências

nente europeu é simplesmente democracia...

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Dossier Que soberania para a Europa

Denis Delbourg - Embaixador da França

A palavra soberania é difícil de aplicar no

vernação interna que transcende os confli-

contexto da Europa, porque a soberania é

tos de interesse e as diferenças de padrão

um atributo dos Estados, codificada pelo

entre os países membros e, em seguida,

direito internacional, não sendo a Europa

exercer uma influência diplomática que lhe

um Estado. Podemos realmente dizer que

permita pesar realmente sobre a solução

o Tratado de Lisboa esclareceu as coisas,

dos problemas globais. Para a soberania,

definiu a distribuição de competências

no mundo actual, não significa autonomia

entre a UE e os Estados Unidos, através do

ou isolamento: mas sim independência e

princípio da subsidiariedade, e fortaleceu

liberdade de acção para construir um multi-

as instituições e os métodos que permitem

lateralismo eficaz e cooperativo.

à Europa falar a uma só voz e agir de forma

Nem sempre é fácil reunir estas duas con-

coordenada nos casos a tratar com o resto

dições ao mesmo tempo. Na luta contra as

do mundo.

mudanças climáticas, vimos na conferên-

É, portanto, uma forma de soberania polí-

cia de Copenhaga uma Europa dotada de

tica que está em questão para a Europa:

metas internas à altura da situação, mas

os países que a compõem, e é a União

a força do seu exemplo não foi suficiente

que lhes permite, em conjunto, defender os

para influenciar um resultado conveniente

seus valores e interesses, permanecerão

aos outros.

colectivamente mestres e actores do seu

Face à crise financeira e económica, a

destino, ou permitirão a imposição de com-

Europa tinha a capacidade de assumir a

promisso negociado por outros no contexto

liderança, à frente do G20, para lançar uma

de novas relações do poder global, abran-

revisão do quadro regulamentar e de super-

gendo potências emergentes?

visão. No entanto, dada a situação financei-

Para atingir este objectivo, a Europa preci-

ra da Grécia, foi confrontada com a questão

sa, sobre todos os assuntos, conhecer duas

da governação interna da zona Euro, que

condições: primeiro atingir um nível de go-

continua a desenvolver mecanismos

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Denis Delbourg

sustentáveis para a prevenção de crises.

A estabilização das taxas de câmbio internacionais, a eficácia das regras da concorrência na Europa e, especialmente, a competição justa com o resto do mundo, em que muitos países não cingem a sua produção às mesmas normas sociais e ambientais, o futuro da nossa indústria, da nossa segurança energética, são algumas das questões que exigem da UE uma “diplomacia económica” coerente e proactiva. A principal potência económica que é a Europa, o comércio mais aberto e livre, a

Actualmente, a diferença

principal fonte de ajuda ao desenvolvimen-

entre as realidades mundiais

to, o modelo de referência que combina o

e uma Europa que luta

crescimento e a protecção social, não pode

para permanecer na corrida

resignar-se a ser solúvel na globalização.

parece alarmante

Em termos de segurança, a política da UE tem tido, em poucos anos, um progresso notável que não deve ser subestimado, a União Europeia pode contribuir como tal na manutenção da paz nos Balcãs, em África ou realizar uma operação de combate à pirataria ao largo da costa somali. O Tratado de Lisboa abriu o caminho para o conceito de solidariedade colectiva e uma cooperação mais estreita. Podemos falar de “soberania” da Europa em matéria de defesa? As coisas são mais complexas. A complementaridade entre a OTAN e a política europeia de defesa, como a França sublinhou em juntar totalmente as estruturas integradas na OTAN, é um pilar da nossa segurança. A construção de uma melhor organização da segurança no continente europeu está aberta, tendo em conta realidade da Rússia como um parceiro, quando os Estados Unidos e a Rússia assinaram um novo acordo para reduzir arsenais nucleares. Além disso, a dimensão europeia da defesa é o resultado combinado de mecanismos que ela implementa em conjunto, tais como as suas próprias forças de intervenção, e o compromisso nacional de países-membros, por exemplo, no Afeganistão. A chave para esta arquitectura pragmática

e cooperativa, é que a Europa não é obrigada a um acordo sobre as garantias da sua própria segurança, é suficientemente forte para responder a crises ou ameaças assimétricas locais que a afectam directamente, e suficientemente credível para ser respeitada pelos outros poderes, como um verdadeiro actor de equilíbrio estratégico. Sem dúvida que para a atingir plenamente, os esforços da defesa têm de ser mais sustentados e compartilhados entre os Estados-Membros. Mais, a soberania para a Europa no mundo de hoje, não é uma utopia. É uma condição de sobrevivência para o nosso modelo de sociedade e nossos valores. Actualmente, a diferença entre as realidades mundiais e uma Europa que luta para permanecer na corrida parece alarmante. Se eles estão cientes destas questões, os europeus são ainda capazes de as preencher.

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Dossier Que soberania para a Europa

Luca del Balzo di Presenzano - Embaixador de Itália

Para poder enfrentar com maior eficácia a

Comissão e aumentamos os do Parlamento

crise económica dos nossos dias, a Itália, tal

Europeu. Portanto, devemos reforçar agora

como os outros Estados membros da União

a identidade europeia, explorar mais apro-

Europeia, actua para o constante reforço da

fundadamente as raízes comuns dos nossos

nossa governancia comum. Os últimos acon-

povos, confirmar os seus direitos comuns

tecimentos na Grécia de facto dizem respeito

fundamentais num espírito de tolerância e em

a toda a Europa, sem excluir ninguém. Está

conformidade com a tradição humanista que

em causa a credibilidade da zona euro e por-

sempre caracterizou, ao longo dos séculos, a

tanto o nosso empenho deve ser total, não

acção da Europa no mundo.

só a nível económico mas também político.

No que se refere à segurança, em particular,

Na realidade, os desafios globais do mundo

a União Europeia deve poder contar com

contemporâneo não se limitam à economia

uma política comum da defesa, isto é, com

mas referem-se também aos aspectos po-

um exército de alcance europeu, para que

líticos e sociais da nossa vida institucional.

se possam incrementar as suas capacidades

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da

de intervenção e a sua presença em vários

República italiana, Franco Frattini, defen-

teatros de crise do xadrez internacional.

Pa-

deu recentemente a importânica de uma

rece de facto ser preciso dotar-se de meios

política comum europeia se se quiser dar à

válidos para poder intervir eficazmente em

União Europeia um papel activo no domínio

defesa dos nossos valores comuns e da paz

internacional. Não nos devemos esquecer,

nas áreas mais críticas do planeta. Se qui-

nessa óptica, que também uma política da

sermos de facto ser crediveis na luta contra o

cidadania comum constitui um dos pila-

terrorismo internacional, se se quiser contri-

res da construção da Casa da Europa. De

buir para a segurança nuclear e para a esta-

facto, definimos com o Tratado de Lisboa,

bilização dos países em conflito entre eles, a

o mandato do novo Presidente estável da

Europa deve poder agir unida, para garantia

União Europeia, reforçamos os poderes da

da soberania dos seus Estados membros,

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Luca del Balzo di Presenzano

incrementando o nível da própria seguran-

ça sem estar confiante só na potência militar dos Estados Unidos na salvaguarda e no reforço do imprescindível vínculo transatlântico. A posição da Itália é a de que a Europa deve reforçar a própria coesão se quiser evitar um abrandamento progressivo do seu papel na sociedade moderna a nível global, onde o centro de gravidade das relações políticas e económicas internacionais se está a afastar do mundo ocidental e atlântico. Nenhum dos Estados membros da UE escapará a um processo de decadência confiando apenas nas suas próprias forças nacionais. A Itália tem a intenção de desfrutar da melhor forma as inovações introduzidas pelo Tratado de Lisboa para reforçar de maneira decisiva o nosso processo de integração comum. Mas precisamente para poder conseguir apro-

“A cooperação entre os Estados,

veitar ao máximo as possibilidades que nos

por si só, não resolve nada. O

são oferecidas pelo Tratado e pelo desen-

que devemos ter em mira é a

volvimento de políticas comuns em todos os

fusão entre os interesses dos

sectores chave do processo de integração

povos europeus.”

– o da imigração que consideramos que o factor decisivo do nosso destino é constituido por uma maior vontade política comum. Não nos podemos render a uma espécie de “integration fatigue” mas devemo-nos valer, em qualquer circunstância, das razões objectivas, cada vez mais urgentes, que nos empurram para a estrada da integração. Neste sentido, a Itália tem especial confiança no papel desenvolvido pela Comissão e pelo Parlamento tratando-se de instituições supranacionais que cooperam activamente com o Conselho para a consolidação do papel da União Europeia no mundo e para o reforço da soberania e da segurança de todos os seus Estados membros. Se me é permitido, gostaria de concluir recordando as palavras de Jean Monet, um dos Pais Fundadores da Europa moderna: - “a cooperação entre os Estados, por si só, não resolve nada. O que devemos ter em mira é a fusão entre os interesses dos povos europeus”.

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Dossier Que soberania para a Europa

Jean-Michel Veranneman de Watervliet - Embaixador da Bélgica Reflexões sobre o conceito de Estado-Nação soberano

Cada vez mais,desde 1945, o Estado-Nação

estados a um nível nacional. A União Europeia,

soberano, homogéneo e centralizado, com

da qual o Euro e Schengen são as realizações

um só aparelho de estado que administra a

mais tangíveis, estendeu as suas competências

economia, a justiça, a polícia, a educação, a

em quase todos os aspectos da vida em socie-

defesa, os transportes, as finanças públicas

dade. As receitas do seu extraordinário sucesso

etc., aparece como uma forma ultrapassada de

são imitadas em todos os continentes. ASEAN,

organização da sociedade. Constata-se que

OEA, MERCOSUL e outros são transposições

não corresponde mais aos desafios da socieda-

a outros continentes de estruturas suprana-

de moderna com os seus problemas financeiros

cionais. No inicio são somente zonas de livre

internacionais, a defesa do meio ambiente, a

comércio mas pela força das circunstâncias

pirataria etc. E daqui em diante será a vários

e para o interesse comum dos membros, os

níveis que se tomarão as decisões da forma

estados poderão ser levados a transferir, cada

mais apropriada e se exercerá o controlo demo-

vez mais, a sua soberania para as instituições

crático.

supranacionais.

A ONU é um embrião de governo mundial e

Isto não significa no entanto, que o Estado-

será chamada a tomar cada vez mais decisões

Nação esteja, por definição, condenado a de-

que eram antigamente da competência exclu-

saparecer. Em diversos casos, ainda é a mais

siva dos estados, por exemplo na manutenção

concreta referência, a base onde o cidadão se

da paz interna, na repressão das violações dos

sente mais estável, mais seguro. Nos países

direitos humanos. Na nossa época, caracteri-

culturalmente mais homogéneos e relativamen-

zada pela globalização, um estado só não pode

te reduzidos, pode ser o nível mais apropriado

legislar os fluxos financeiros, os direitos de

para a tomada de decisões, para o controle

autor, a utilização da internet, a poluição do ar

democrático, para todas as competências que

e dos oceanos. Esse é o papel das instituições

não dependam do supranacional. Questões re-

especializadas da ONU.

lativas à nacionalidade, à imigração ou à polícia

A Europa foi a pioneira da integração dos

dependerão, sem dúvida, e ainda por muito

12 • Diplomática - julho/Setembro 2010


Jean-Michel Veranneman de Watervliet

tempo do “nacional”, isto é do Estado-Nação.

Os Estados-Nação soberanos sucederam-se às monarquias absolutas (dirigidas por um soberano) depois da Revolução Francesa. As suas

Os Estados-Nação não desaparecerão,

fronteiras raramente têm em conta as aspira-

pelo menos não a maioria,

ções das populações locais e, na maioria dos

mas entregarão cada vez mais poderes

casos, foram traçados em função de tratados

de decisão a órgãos internacionais,

internacionais, de guerras ganhas ou perdidas.

regiões e poderes locais.

Raramente são homogéneos, em muitos casos não respondem às aspirações regionais que se fazem ouvir cada vez mais, à vontade de cada grupo humano de resolver seus problemas. Em muitos casos estas aspirações regionais

pensável para a existência de um sentimento

manifestam-se como expressão de um senti-

de “eu colectivo”, ou até mesmo de sentimento

mento de “eu colectivo” e aqueles que o expri-

nacional ou de patriotismo. Todos sabem o

mem optam para que as decisões que dizem

quanto os Suíços adoram a sua independência

respeito a uma região, a uma comunidade

e, no entanto, falam quatro línguas diferentes.

linguística, se tomem a esse nível. Isso acon-

Ninguém ousaria afirmar que os Americanos ou

tece na Bélgica, mas também na Catalunha,

os Brasileiros não têm sentimento nacional ou

na Bavária, na Córsega, no Pais Basco e na

patriótico mas usam as línguas dos seus anti-

Escócia. A ex-Yugoslavia, as guerras no Cáu-

gos colonizadores, sendo esse o caso de todos

caso lembram-nos as catástrofes que podem

os países desse continente americano.

trazer nacionalismos locais mal geridos, explo-

Pode-se prever que o nosso século virá a de-

rados ou exacerbados. Em África, as fronteiras

senvolver uma organização piramidal da so-

herdadas da colonização não têm em conta as

ciedade humana. Às Nações Unidas e às suas

particularidades étnicas locais e são cada vez

organizações especializadas a nível mundial

mais postas em causa, à posteriori quando os

serão atribuídos mais poderes, aos organismos

estados não têm os meios materiais de exercer

regionais como a União Europeia também.

as suas soberanias.

Os Estados-Nação não desaparecerão, pelo

A língua é uma importante referência cultu-

menos não a maioria, mas entregarão cada vez

ral. Não se pode limitar a língua a um simples

mais poderes de decisão a órgãos internacio-

status de veículo de informações pois ela cria

nais, regiões e poderes locais.

modos de pensar comuns àqueles que a usam

Esta evolução terá muitas implicações políti-

e comunicam subtilezas que nem sempre

cas e jurídicas. Causará problemas, sendo os

serão entendidas por aqueles que se exprimam

principais a legitimidade e o controlo democrá-

noutra língua. É incontestável e compreensível

tico destas entidades globais, continentais ou

que muitos britânicos se sintam mais próximos

regionais, cujos poderes executivos deverão

da língua e da cultura dos outros países angló-

poder ser levados a prestar contas através de

fonos do que dos seus vizinhos continentais. A

eleições. De momento as eleições são orga-

Francofonia, a Comunidade dos Países de Lín-

nizadas quase exclusivamente ao nível dos

gua Portuguesa e a Commonwealth são exem-

Estados-Nação. Também teremos o problema

plos das ligações criadas pela língua, entre

dos poderes e dos meios de coação, dos quais

aqueles que a falam e que podem desenvolver-

essas novas autoridades poderão dispor, a

se para além do simples facto cultural. Faz-se

nível judicial, polícial, de defesa, etc… As que

muitas vezes confusão entre nação e língua. E,

existem hoje são quase sempre exclusivamente

no entanto, uma língua exclusiva não é indis-

nacionais.

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Dossier Que soberania para a Europa

Asko Numminen - Embaixador da Filândia A U.E. e a soberania no mundo globalizado

Quando os Estados-Membros aderiram

Herman van Rompuy, referiu que o maior

à União Europeia, renunciaram volunta-

desafio da UE, neste momento, será quan-

riamente a uma parte importante da so-

to à forma de lidar com o resto do mundo,

berania, em prol das tomadas de decisão

enquanto Europa. A UE, tal como outros

comuns. Nesse aspecto, a U.E. é uma

intervenientes internacionais, têm que ter

comunidade única de estados soberanos.

em linha de conta este ambiente global,

A integração europeia tem avançado gra-

nas suas acções. Tal não significará que os

dualmente e a amplitude da tomada de

estados devam apenas limitar-se a ajustar

decisões comuns tem vindo a ser alargada.

passivamente as suas políticas às realida-

O Tratado de Lisboa é o mais recente e

des globais existentes. A UE e os outros

importante passo neste processo. No longo

membros da comunidade internacional

processo de ratificação do tratado, a ques-

podem, aliás devem desenvolver esforços

tão da soberania foi debatida em muitos

para alterar as realidades do mundo actual,

países membros. A entrada em vigor do

para o bem comum. A alteração climática

Tratado de Lisboa, significa também nesta

é um claro exemplo desta necessidade. As

complexa questão, que todos os Estados-

sociedades de todos os países são afecta-

Membros chegaram à derradeira conclusão

das pelas alterações climáticas e, perante

que o tratado serve os seus interesses vi-

esta realidade, temos que criar soluções

tais, bem como os interesses da UE, como

comuns para impedir o aumento da tempe-

um todo.

ratura global, causada pelo Homem. A crise

Hoje em dia vivemos num mundo globaliza-

financeira global tem sido mais um desafio,

do em que a interdependência dos estados

para o qual são requeridas soluções glo-

e das economias é muito alta e em cres-

bais. Perante o desenvolvimento destes

cimento contínuo. Perante este cenário,

esforços, as soberanias renunciam ao seu

a soberania é um conceito muito relativo.

lugar perante a responsabilidade comum.

O Presidente do Conselho Europeu, Sr

Nas instituições europeias, os

14 • Diplomática - julho/Setembro 2010


Asko Numminen

Estados-Membros da UE exercem os

seus próprios poderes de decisão, a sua soberania em políticas comuns da União Europeia, mas tal exercício não poderá ocorrer de forma isolada relativamente ao resto do mundo exterior. O cenário mundial encontra-se em constante mutação, as novas economias emergentes têm assumido uma posição muito mais forte do que anteriormente. Estamos claramente a caminhar na direcção de um mundo multipolar. Tudo isto é positivo. Há décadas que a União Europeia tem vindo a trabalhar de forma activa no desenvolvimento sustentável e no desenvolvimento económico, dos países em desenvolvimento. Os novos centros de

Vivemos num mundo globalizado

poder emergentes vão proporcionar novas

em que a interdependência dos

oportunidades para a cooperação eco-

estados e das economias é muito

nómica e de negócios. É também natural

alta e em crescimento contínuo.

que estas alterações no poder económico

Perante este cenário, a soberania

se reflictam nas estruturas de tomada de

é um conceito muito relativo

decisão das instituições multilaterais. Ao mesmo tempo, a UE tem que melhorar a sua própria competitividade e a sua capacidade de inovar. A União Europeia adoptou recentemente uma nova estratégia para encarar este desafio - EU 2020. Esta estratégia proporcionará um novo instrumento à UE, no sentido de promover o crescimento e o emprego, de forma sustentável, levando em conta as necessidades económicas, ambientais e sociais. Esta estratégia de crescimento e emprego é vital não só, para o bem-estar das suas empresas e dos seus cidadãos, mas tem também uma dimensão política. O desempenho económico da União Europeia tam-

da UE e para fortalecer a sua capacidade

bém vai determinar em larga escala, a sua

como actor internacional. A história e a ge-

posição no mundo. Durante muito tempo, a

ografia desempenham sempre um papel na

UE desenvolveu esforços para uma presen-

política externa e é por isso natural que os

ça mais forte no palco internacional. O Tra-

Estados-Membros por vezes têm algumas

tado de Lisboa vai reforçar a capacidade da

diferenças nestas questões. Acredito que

União Europeia na política externa comum

o Tratado de Lisboa vai ajudar os estados

e nas políticas de segurança, para falar a

membros a encontrarem mais facilmente

uma só voz. O tratado é uma resposta à

o consenso e promover a unidade nestas

necessidade de melhorar a eficácia interna

questões vitais.

n

julho/Setembro 2010 - Diplomática • 15


Dossier Que soberania para a Europa

Vassilios Costis - Embaixador da Grécia

As Organizações internacionais regionais, constituem o espaço preferencial da cooperação multilateral em assuntos de defesa e segurança.

A definição tradicional do conceito de seguran-

rumo independente ao dos Estados de modo a

ça centrava a sua atenção no controlo e na uti-

impô-los como factores autónomos da realidade

lização da força militar por parte dos países. No

internacional. Por outro lado, no entanto, não se

entanto, na época pós-guerra fria, a natureza

devem desprezar os aspectos positivos do fe-

dos riscos e das ameaças externas à seguran-

nómeno da constituição e do funcionamento de

ça nacional dum país não é só militar e não se

organizações regionais na cena internacional.

podem enfrentar só com meios militares. Tam-

Um destes aspectos é o facto de que no âmbito

bém, a natureza variável dos conflitos constitui,

das organizações regionais foram desenvolvi-

aparentemente, a característica predominante

das redes de laços operacionais que reduziram

do mundo pós-bipolar, onde os conflitos que

as tensões nacionalistas e melhoraram, em

decorrem em cada vez mais pontos do planeta

geral, as relações político-económicas a nível

são mais «intra-estatais» (intra-state conflict)

regional. Por outro lado, as organizações regio-

e menos «inter-estatais» (inter-state conflict).

nais conseguiram controlar certos conflitos e

Consequentemente, devido à natureza trans-

impedir a expansão de outros.

nacional de muitos problemas de segurança,

Por fim, mais um ponto positivo da actividade

torna-se indispensável a cooperação interna-

das organizações regionais constitui o facto de

cional relacionada com o desenvolvimento de

que a sua participação nas relações internacio-

Organizações internacionais. Neste contexto,

nais pôs em dúvida a bipolarização e a lógica

as Organizações internacionais e regionais,

da guerra fria. Sem sobrevalorizar a importân-

constituem o espaço preferencial da coope-

cia destes fenómenos, o seu contributo para o

ração multilateral em assuntos de defesa e

melhoramento da situação internacional é uma

segurança.

realidade.

Dum modo geral, o aumento das organizações

A Grécia, sendo um dos membros mais antigos

regionais no período pós-guerra (NATO, UE,

da NATO e da União Europeia, carrega um

OSCE, Conselho da Europa) e a sua presença

intenso sentimento de responsabilidade para a

activa na cena internacional não seguiu um

consolidação dum clima de confiança na região

16 • Diplomática - julho/Setembro 2010


Vassilios Costis

euro-atlântica e trabalha com base num plano

aos novos desafios para a segurança do espa-

e num programa a fim de contribuir para enfren-

ço euro-atlântico e euro-asiático, a Presidência

tar os novos desafios em matéria de segurança.

grega inaugurou um diálogo informal, aberto,

Neste âmbito, Grécia é membro fundador do

e sincero que hoje em dia é conhecido como

Grupo de Contacto para a luta contra a pira-

«Processo de Corfu». A iniciativa da Presidên-

taria, constituído por decisão do Conselho de

cia grega tornou-se comum para todos os «56»

Segurança (1851/16.12.2008). No grupo acima

com a adopção na Reunião de Ministros de

referido participam países com um forte papel

Atenas, em Dezembro de 2009, da Declaração

regional, forças marítimas, assim como países

para o Processo de Corfu e da Decisão para a

que enviaram formações marítimas para a re-

sua continuação. Com a referida Declaração os

gião onde se manifestam os ataques de piratas.

Ministros reconheceram os problemas princi-

O Grupo de Contacto para a luta contra a Pi-

pais que deverão ser combatidos com base nos

rataria trata, em grupos de trabalho sectoriais,

princípios e no acervo da OSCE enquanto que

de quatro assuntos no total: a) coordenação

com a Decisão definiram como vai continuar o

operacional e apoio das infra-estruturas de

Processo durante 2010.

segurança dos países regionais, b) aspectos de

Sem dúvida, o Processo de Corfu tem objec-

repressão penal à pirataria, c) autoprotecção

tivos ambiciosos: restituição da confiança,

dos navios comerciais e d) estratégia de comu-

resolução de problemas pendentes, luta co-

nicação.

mum contra novas ameaças. No entanto, tem

O trabalho do Grupo de Contacto não prejudica,

como principal objectivo reanimar o espírito de

em caso algum, a autonomia tanto das acções

unidade do objectivo (commonality of purpose)

isoladas dos Estados assim como, também, dos

que constituiu a base na qual foi construído

restantes esforços colectivos (UE, NATO) para

o Processo de Helsínquia há 35 anos. Obvia-

a eliminação do problema da pirataria. Funciona

mente, tal Processo será longo e não irá avan-

como mecanismo informal de troca de ideias e

çar sempre a um ritmo estável. No âmbito do

propostas que dá a possibilidade aos 45 países

Processo de Helsínquia, foram debatidas mais

participantes até ao momento, organizações

de 4600 propostas e realizaram-se milhares de

internacionais e associações de armadores, de

encontros entre delegações. Como foi compro-

avaliarem a eficácia dos meios utilizados para a

vado na altura, o elemento mais importante é

luta contra a pirataria. No dia 28 de Janeiro de

a fermentação e a osmose que se realiza no

2010 teve lugar, em Nova Iorque, a 5ª Cimeira

âmbito destas consultas, a criação de condi-

do Grupo de Contacto que atribuiu à Grécia a

ções para a compreensão e o entendimento de

Presidência do próximo Plenário, cujos tra-

todas as partes.

balhos serão realizados no dia 25 de Maio de

O Processo de Corfu continua, a um ritmo satis-

2010, em Nova Iorque.

fatório, no quadro da OSCE. A Grécia acredita

Numa conjuntura em que a obtenção da segu-

que dispõe da dinâmica para dar soluções a

rança na região euro-atlântica se torna cada

assuntos críticos. Contudo, todos os parcei-

vez mais complicada, a Grécia assumindo a

ros deverão demonstrar paciência, boa fé e

Presidência da OSCE em 2009, herdou uma

disposição sincera de ouvir e compreender as

crise e uma oportunidade. Uma crise de con-

posições e pontos de vista com os quais não

fiança e uma oportunidade para a inversão do

concordam necessariamente.

clima. Tendo como objectivo a restituição do

Estamos num período de mudança, num pe-

clima de confiança entre os parceiros, como

ríodo de transição. Os desafios com que nos

condição principal para a resolução dos verda-

deparamos são complicados e inéditos mas te-

deiros problemas de segurança que continuam

mos razões para esperar conseguir um mundo

a preocupar a Europa, assim como fazer face

melhor e mais seguro com os nossos esforços.

n

julho/Setembro 2010 - Diplomática • 17


Dossier Que soberania para a Europa

Rostyslav Tronenko - Embaixador da Ucrânia

Tocando a questão de segurança europeia,

a Ucrânia juntou se aos esforços interna-

gostaria de destacar a posição do Presiden-

cionais, transformando os seus centros de

te da Ucrânia, Viktor Yanukovich, de que

pesquisa nuclear civil para funcionarem com

a Ucrânia está disposta a se engajar acti-

urânio pouco enriquecido, confirmando as-

vamente nas discussões sobre o futuro da

sim sua reputação do parceiro internacional

segurança europeia, considerando a OSCE

coerente e previsível e, simultaneamente,

como uma plataforma adequada para esse

reforçando a segurança europeia e mundial

diálogo. O presidente da Ucrânia, particular-

através da remoção de materiais perigosos,

mente, enfatizou a importância da reflexão

expostos a potenciais impactos ambientais e

em qualquer novo documento sobre a segu-

as ameaças de ataques terroristas.

rança europeia e da prestação de garantias

Outra questão que continua a ser prioridade

de segurança, juridicamente vinculativas,

para o meu País é a segurança energética. A

para os Estados que renunciaram volunta-

parte ucraniana está comprometida com o diá-

riamente as armas nucleares, bem como

logo amigável e mutuamente benéfico com

para os Estados que, como a Ucrânia, não

a Federação Russa, a fim de persuadir os

são membros de qualquer bloco político e

nossos amigos russos a reconsiderarem os

militar. Outro ponto importante é o direito

acordos assinados pelo Governo anterior da

fundamental dos Estados de escolherem os

Ucrânia, em Janeiro de 2009, contratos de

próprios meios para garantir a segurança

gás, que foram altamente penalizantes para

nacional.

a economia ucraniana e ainda continuam a

Como uma contribuição prática para a segu-

ser um obstáculo para a restauração do seu

rança europeia e mundial, a Ucrânia assu-

crescimento económico. Estou também con-

miu um compromisso na recente Cúpula de

vencido de que a segurança energética da

Segurança Nuclear em Washington DC, de

Europa deve ser baseada nos princípios de

se livrar de todos os seus stocks de urânio

uma transparência total das relações entre

altamente enriquecido, até 2012. Assim,

os responsáveis pela produção, trânsito e

18 • Diplomática - julho/Setembro 2010


Rostyslav Tronenko

consumo de fontes de energia. Sendo um

país de trânsito importante do gás natural russo para os países da União Europeia, a Ucrânia é obrigada a efectuar todas as reformas necessárias no domínio da moder-

A Ucrânia assumiu um compromisso

nização do seu sistema de transporte de gás

na recente Cúpula de Segurança

e fazer mais eficaz a utilização dos investi-

Nuclear em Washington DC,

mentos e recursos, para poder utilizar a ca-

de se livrar de todos os seus stocks

pacidade total do seu potencial económico.

de urânio altamente enriquecido,

É de conhecimento comum que a segurança

até 2012

europeia inclui também tais ameaças contemporâneas como o tráfico de drogas, o terrorismo, a pirataria e os cyber-ataques. No que diz respeito ao tráfico ilícito de drogas, não pude deixar de mencionar o Memo-

condenado a manifestação do mesmo em

rando de Entendimento entre o Observatório

todas as suas formas. A fim de evitar tais

Europeu da Droga e da Toxicodependência

atrocidades, deve ser elaborado um melhor

(OEDT) e o Ministério da Saúde da Ucrânia,

mecanismo de coordenação e de troca de

assinado em Kyiv em Janeiro de 2010, para

informações entre as instituições de segu-

lançar a cooperação no domínio de controlo

rança na Europa.

de uso ilícito de drogas. A autoridade com-

Este material vai ser lançado nos dias quan-

petente ucraniana, responsável directamen-

do a Ucrânia comemora o 24 º Aniversário

te pela manutenção das relações com esta

do trágico desastre na Central Nuclear de

instituição da União Europeia, é o Observa-

Chernobyl, que resultou em uma contami-

tório Ucraniano da Droga e Álcool, que tem

nação com radioactividade a qual trouxe

vindo a utilizar a metodologia da UE e dispo-

consequências graves, incluíndo mortes e

nibiliza um considerável banco nacional de

prolongados problemas sérios de saúde em

dados sobre esta problemática. Segundo o

centenas de milhares de pessoas na Ucrâ-

acordo com o OEDT, a instituição da EU,

nia e no exterior. As consequências da erup-

com sede em Lisboa, permite que as partes

ção do material radioactivo do quarto reactor

troquem as informações sobre os tipos de

da Central Nuclear de Chernobyl, foram

drogas e substâncias psicotrópicas novas, o

iguais a quatrocentos bombardeios atómicos

aparecimento no mercado de drogas ilícitas

de Hiroshima, mas não foram avaliadas com

e das tecnologias utilizadas na sua produ-

precisão até hoje. A área próxima passou a

ção, que acompanhem, em conjunto, a situ-

ser uma zona fechada, com controlo rigo-

ação de drogas e que organizam a formação

roso de entrada, e não apropriada para as

e o intercâmbio de especialistas e de resul-

actividades vitais durante décadas. A este

tados da investigação científica.

respeito, é muito importante reiterar um ape-

Há também o interesse entre as institui-

lo aos parceiros europeus para que partici-

ções ucranianas em continuarem o reforço

pem activamente na acumulação das contri-

da cooperação com a Agência Europeia de

buições para a Fundação de Chernobyl, com

Segurança Marítima, com sede em Lis-

objectivo de construir um novo “Sarcófago”.

boa, especialmente na questão da troca de

Isto é extremamente importante pois vai ser

informações sobre a luta contra a pirataria

a garantia de evitar repetição de catástrofes

marítima.

nucleares no futuro e preservar a segurança

Quanto ao terrorismo, a Ucrânia tem sempre

do continente europeu.

n

julho/Setembro 2010 - Diplomática • 19


Dossier Que soberania para a Europa

Kaya Türkmen - Embaixador da Turquia

Com o Tratado de Lisboa, a UE entrou

melhor. Particularmente, no que diz respeito

numa nova fase da sua trajectória histórica.

à entrada em vigor do Tratado de Lisboa, é

O Tratado dotou a UE com o quadro jurídico

minha convicção de que a União se torna-

necessário para enfrentar os desafios futu-

rá mais eficaz e visível através do mundo.

ros. A UE está, portanto, melhor equipada,

Para isso, terá certamente de ser apoiada

mais eficiente no processo de tomada de

pelos recursos necessários e por vontade

decisão, com mais responsabilidade demo-

política.

crática, assim como uma maior coerência na

Deixem-me partilhar a minha visão para

política externa. Poderá obviamente, levar

o futuro da Europa: a Europa actuando

tempo para que a nova estrutura institu-

como um actor global eficaz e poderoso.

cional seja plena e eficazmente posta em

Uma Europa que se torne uma força motriz

prática. No entanto, o que é importante nes-

da economia global e que preserve o seu

ta fase, é garantir o funcionamento eficaz

dinamismo económico. Uma Europa onde a

do novo sistema. Outro ponto importante

diversidade é uma fonte de enriquecimento,

a ter em mente, é que a entrada em vigor

de acordo com a ideia a “unidade na diver-

do Tratado de Lisboa, irá resolver o debate

sidade”. Uma Europa, que responda eficaz-

institucional num futuro próximo. Isto permi-

mente às expectativas dos seus cidadãos.

tirá que a UE se concentre numa série de

Em termos da economia europeia, acredito

questões importantes da sua agenda. Espe-

que preservar o seu dinamismo económico

ro também, que o argumento, alegando que

e revitalizar a sua economia será vital para

a incerteza institucional constitui um obstá-

o futuro da UE, interna e externamente.

culo para o alargamento, chegue ao fim.

Espero que os desafios económicos sejam

A UE está a assumir uma responsabilidade

superados e que a Europa saia reforçada,

cada vez maior nos assuntos internacionais,

da crise financeira e económica global. Não

como nunca na sua história, e certamen-

há dúvida de que uma UE mais forte interna-

te contribui para um mundo mais seguro e

mente, é o requisito para uma UE mais

20 • Diplomática - julho/Setembro 2010


Kaya Türkmen

eficaz e mais visível no cenário global.

A maior conquista da UE tem sido a instauração de um período de paz e estabilidade na Europa. Através da UE, a Europa foi capaz de deixar para trás os conflitos do passado, graças à cultura do diálogo e do compromisso. Hoje, a Europa enfrenta cada vez mais uma situação complexa e interligada de ameaças e desafios. No entanto, nem a UE nem qualquer país sozinho tem capacidade para lidar com os problemas globais de hoje. Há ameaças e desafios comuns e a cooperação internacional é uma necessi-

A UE está a assumir uma

dade. O alargamento tem desempenhado

responsabilidade cada vez maior

um papel fundamental, e contribuiu para a

nos assuntos internacionais, como

democracia e a prosperidade no continente.

nunca na sua história,

Os valores e as políticas europeias, terão

e certamente contribui para um

certamente, um alcance e um impacto muito

mundo mais seguro e melhor.

mais global, com a continuação do processo de alargamento. A adesão à União Europeia é o objectivo estratégico da Turquia. Para nós, isso não tem outra alternativa. O processo de negociação, que começou a 3 de Outubro de 2005, continua com o objectivo da plena adesão, com base em decisões tomadas por unanimidade da UE. As estreitas relações de longa data entre a Turquia e a UE baseiam-se no respeito pelos valores comuns, bem como nos objectivos comuns e

ligam-nos aos Balcãs, ao Médio Oriente, ao

interesses estratégicos. Tendo em conta os

Cáucaso, à Àsia Central e a todo o sistema

desafios e ameaças globais, estou absoluta-

global. A Turquia é um factor de estabilidade

mente convencido de que a Turquia e a UE

na região e um actor estratégico importante,

devem trabalhar em conjunto, mais de perto,

que contribui para a segurança da Europa e

e unir forças com uma visão comum. A Tur-

dos seus vizinhos. Estou convencido de que

quia está em condições de contribuir para

a adesão da Turquia será uma mais-valia em

a formulação e execução da política externa

vez de um fardo. A adesão de uma Turquia

da UE, assim como para a sua credibilidade

democrática e moderna com a sua localiza-

e eficácia. Para a paz regional e global, pre-

ção geoestratégica única e um grande po-

cisamos uns dos outros. A Turquia emprega

tencial económico, trará benefícios conside-

uma política multi-dimensional, centrada nos

ráveis para a UE. Como país de negociação,

objectivos e numa política externa equili-

assim como actor estratégico na procura

brada, com vista a restabelecer e manter a

da paz regional e mundial, a Turquia tem a

paz, e reforçar a estabilidade e a prospe-

vontade política e um potencial para contri-

ridade na região e no mundo. A geografia

buir ainda mais para o papel global da UE,

da Turquia, a história e os laços culturais,

criando uma sinergia dinâmica.

n

julho/Setembro 2010 - Diplomática • 21


Visita de Estado

A visita do Presidente Lula da Silva a Portugal

O estreitamento dos laços económicos

desencorajá-lo da até então ideia do

e o aumento do universalismo da língua

acordo onde o seu país servirá como

portuguesa foram os principais temas

base para o enriquecimento do urânio

abordados na passagem do presidente

que virá do Irão – até então, o país não

brasileiro por Lisboa.

aceitara nenhuma outra proposta de

Nos meses finais dos dois mandatos de

enriquecimento fora do seu território,

oito anos e com a aprovação popular

o que resulta até hoje em ameaças

recorde no seu país, o ocupado pre-

norte-americanas ao país do presidente

sidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da

Mahmoud Ahmadinejad.

Silva, finalizou em Lisboa uma expedi-

Após as suas contundentes passagens

ção de oito dias por cinco países dos

nos países já citados, o destino final

continentes Europeu e Asiático.

fora Lisboa. A passos apertados, o pri-

No último 19 de Maio, uma quarta-feira

meiro encontro aconteceu no palácio de

ensolarada, o primeiro esquerdista

Belém, numa reunião com o presidente

eleito presidente do Brasil foi recepcio-

Aníbal Cavaco Silva onde diversos as-

nado em terras lusas para uma visita,

suntos foram abordados, principalmente

após passar pela Rússia, Catar, Irão e

relacionados com as questões culturais

Espanha.

e comerciais, como a iniciativa dos dois

O político, que tem elevado a voz aos

países em elevar a língua portuguesa

países e blocos continentais mais

mundo afora e o estreitamento ainda

poderosos e ainda dado mais visibilida-

maior de laços empresariais.

de aos países emergentes acabara de

Digamos que o tom optimista de Luiz

apresentar em Espanha, numa cúpula

Inácio Lula da Silva deva ter contrasta-

da própria União Europeia, um seminá-

do com o conservadorismo de Cavaco e

rio sobre a economia brasileira. No seu

o delicado momento em que vive Portu-

discurso de quarenta e cinco minutos

gal, até mesmo numa possível aposta

em Madrid, Lula repetiu inúmeras vezes

sobre o resultado do futuro encontro

a palavra “óbvio”: “Um inventor pode

entre as nações no Mundial 2010.

inventar o que quiser, mas um gover-

Apostamos que o brasileiro apostou em

nante tem que fazer o óbvio”, insistiu ao

um 4-1 para a selecção canarinha e um

explicar o porquê do sucesso económi-

mais comedido português 1-1 como um

co e da previsão de 6% para o cresci-

óptimo resultado para Portugal.

mento do país sul-americano num ano

Depois da reunião e da possível dis-

em que os países europeus lutam para

cussão sobre o placar da partida a ser

que o défice das suas economias seja o

realizada na África do Sul no dia 25 de

menor possível.

Junho, Lula participou, agora também

Ainda antes da sua lição de moral em

ao lado do primeiro-ministro José Só-

Espanha, Luiz Inácio assinou um impor-

crates, na entrega do Prémio Camões

tante acordo nuclear em Teerão com o

- o mais importante galardão literário da

Irão e a Turquia, que causou um certo

língua portuguesa - cujo vencedor foi

incómodo em Washington e ressaltou a

Arménio Vieira, o primeiro cabo-verdia-

relevância que o presidente canarinho

no a ser honrado com tal distinção.

alcançou no cenário mundial. Tanto

Na cerimónia, o presidente brasileiro foi

que, momentos antes da assinatura do

responsável por discursar a retrospec-

acordo, a secretária americana Hillary

tiva da trajectória do poeta, escritor e

Clinton ligou pessoalmente ao chance-

jornalista de Cabo Verde e reiterou que

ler turco Recep Tayylp Erdogan para

Arménio Vieira é mais uma das figuras

22 • Diplomática - julho/Setembro 2010


1

1, 2 e 3. O Presidente Lula da Silva a ser recebido pelo Presidente da República Cavaco Silva, Primeiro-Ministro José Sócrates e Ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado

2

Fotos: Ricardo Oliveira - GPM

3

julho/Setembro 2010 - Diplomática • 23


A visita do Presidente Lula da Silva a Portugal

responsáveis pelo “universalismo da

mágico no plano económico. Dizem que

civilização lusófona e do seu idioma”.

eu tenho muita sorte, mas trabalho mui-

Ainda nessa celebração, discursaram

to”, bradou com sua voz rouca o futuro

Cavaco Silva e José Sócrates, sempre

candidato a uma cadeira de secretário-

a reforçar o discurso do companheiro

geral na ONU ou à presidência do

político e a pontuar a importância do

Banco Mundial, conforme informam as

país africano ter tido, pela primeira vez,

agências de notícias mundiais. E se o

um vencedor do Prémio fundado em

facto se concretizar, Lula já conta com

1988 e que já consagrou um escritor

o apoio de José Sócrates e de alguns

moçambicano e dois outros angolanos,

outros líderes para alcançar um dos

além de diversos portugueses e brasi-

postos.

leiros.

Ainda no seu discurso, Luiz Inácio

A maratona de Luiz Inácio Lula da Silva

disse que a vez agora é dos países que

em Lisboa teve um factor que ajudou e

não tiveram oportunidade nos últimos

muito no seu deslocamento: a pequena

tempos: “Penso que o século XXI será

distância entre todos os seus compro-

o século dos países que não tiveram

missos. Após o palácio de Belém, a

oportunidade no século passado. Desde

cerimónia do Prémio Camões foi logo

sempre se dizia que o Brasil era o país

ali ao lado, no Museu dos Coches. E

do futuro e esse futuro nunca chega-

a sua última paragem formal, antes de

va.”. E o futuro chegou, com o prestígio

um jantar oferecido por Sócrates, foi no

de um presidente que em 2002 assu-

Palácio das Necessidades, onde decor-

mira a presidência de uma república

reu a 10ª Cimeira Brasil e Portugal, que

dividida entre a esperança da popu-

integra uma série de reuniões anuais para a discussão de acções comuns entre os dois países, com líderes políticos e empresários. Os principais pontos abordados na conferência pelo

"

O Brasil

vive um momento mágico no plano económico" Lula

mandatário brasileiro rela-

lação menos prestigiada e a desconfiança da alta camada social, que não via com bons olhos um ex-metalúrgico com nove dedos nas mãos – fruto de um acidente de trabalho -, ex-sindicalista com os estudos incompletos assumir a cadeira

cionavam-se com a cooperação nas

mais alta na hierarquia política brasilei-

áreas económico-comercial, científico-

ra.

tecnológico, cultural e da energia, além

Na cadeira ao lado, o primeiro-ministro

da ampliação de uma relação triangu-

Sócrates escutara com atenção as

lar com os países africanos de língua

indagações do presidente Lula sobre o

portuguesa, que será detalhada em

processo burocrático do G-20, do qual

Julho, na Cimeira de Chefes de Estado

o próprio faz parte, em relação à não

e de Governo da CPLP (comunidade

aplicação das decisões que são toma-

dos países de língua portuguesa), a

das.

realizar-se no próximo mês de Julho em

“Eu faço parte do G-20, Sócrates, e as

Luanda.

coisas têm sido muito lentas. As nos-

No seu discurso, Lula exaltou o mo-

sas decisões não são implementadas

mento que o seu país vive, reflexo

porque nós não temos uma governação

do franco crescimento económico e,

global, nenhuma instituição multilateral

nas palavras do próprio, do seu árduo

que possa obrigar que as coisas sejam

trabalho: “O Brasil vive um momento

cumpridas”, disse ele.

24 • Diplomática - julho/Setembro 2010


4

5

4 e 5. Presidente Lula da Silva entrega Prémio Camões ao caboverdiano Arménio Vieira 6 e 7. Lula da Silva reune-se com os mais altos dignatários da nação

6

Fotos: Ricardo Oliveira - GPM

7

julho/Setembro 2010 - Diplomática • 25


A visita do Presidente Lula da Silva a Portugal

“Os prejuízos são globais, as políticas

das de biodiesel por ano, num investi-

comerciais são globais, os bancos cen-

mento total de 530 milhões de dólares a

trais têm decisões que são globais, mas

ser dividido igualmente entre as empre-

na verdade a aplicação dessas medidas

sas. A estratégia, além de vislumbrar

são no plano individual”, finalizou.

uma entrada no mercado Ibérico, tam-

Lula também criticou a demora da

bém visa fortalecer a imagem da estatal

União Europeia na ajuda à Grécia e a

verde e amarela no continente europeu,

actuação dos Estados Unidos durante a

já que a matéria-prima do biocombustí-

crise aliada à falta de regulamentação

vel, a palma, será cultivada no estado

do sistema financeiro.

do Pará na região norte do país.

“Eu, sinceramente, não conheço um

Os outros actos assinados dizem res-

economista que me explique porque é

peito à aquisição da empresa brasileira

que a União Europeia demorou três me-

Geovision pela construtora Mota-Engil,

ses para tratar da questão da Grécia”.

um acordo para a formação de profissio-

“Eu não consigo compreender porque

nais e prospecção de petróleo em águas

deixaram o Lehman Brothers quebrar,

profundas, um memorando sobre a

ficaria muito mais barato tentar encon-

igualdade de género e um protocolo de

trar uma saída enquanto ele estava

cooperação sobre doping aliado a um

em actividade. Não consigo entender

acordo de cooperação técnica para o

porque os países ricos não têm uma

saneamento e tratamento de resíduos

regulamentação do sistema financeiro

urbanos para o Rio de Janeiro, já com

mais dura, como por exemplo no Bra-

vista para o Mundial de 2014 e os Jogos

sil, onde o sistema financeiro não pode

Olímpicos de 2016.

alavancar mais de dez vezes o seu

O documento final da Cimeira de Lisboa

património líquido.”

reitera que o “governo português nota,

Já o primeiro-ministro português apelou

com satisfação, o papel que o Brasil e

para que os portugueses e a comunida-

o seu presidente vêm desempenhando,

de internacional confiem na economia

em particular no actual momento, na

de Portugal. O apelo foi feito enquan-

gestão de várias questões de interesse

to o Conselho de Ministros do país

crucial para a manutenção da paz e da

aprovava o Programa de Estabilidade

segurança internacionais”. O texto ain-

e Crescimento, cuja meta é reduzir o

da cita que ambos insistem na análise

défice orçamental de 9,3 para 7,3 por

das consequências da crise financeira

cento. Além do programa, foram apro-

internacional, das políticas aplicadas

vadas outras medidas que visam com-

para enfrentá-la e das medidas que

bater os avanços da crise.

deverão ser tomadas para reformar o

No final da cúpula, o presidente bra-

sistema financeiro internacional, a fim

sileiro assinou juntamente com José

de “relançar a economia e promover o

Sócrates sete acordos bilaterais que

emprego”.

visam o estreitamento ainda maior en-

O último compromisso de Luiz Inácio

tre os países, principalmente no âmbito

Lula da Silva em Portugal foi um jan-

energético e cultural.

tar oferecido por José Sócrates, cujo

O principal é o projecto de produção de

palpite para o já citado jogo do dia 25

biocombustíveis entre a Petrobrás e a

de Junho no Mundial 2010 deve ter sido

GALP, que prevê a entrada da petrolífe-

favorável a Portugal: 1-0, com muito

ra brasileira na refinaria de Sines, com

suor e luta.

capacidade em produzir 260 mil tonela-

26 • Diplomática - julho/Setembro 2010

n

K. Lara Cury



Visitas de Estado

Uma viagem capaz de mudar a imagem de Bento XVI Edgar Clara: edgclara@gmail.com

Tornaram-se, visivelmente, controversas as

de perceber as linhas mestras que sobressaíram

visitas dos Papas nos últimos anos. As visitas de

desses dias. Não há a menor dúvida de que a

Bento XVI, eleito em 2005, têm recebido resistên-

emoção foi a figura mestra de um papa profunda-

cias várias por parte de minorias, posteriormente

mente racional. Bento XVI apresenta-se em Por-

amplificadas pelos diferentes meios de comuni-

tugal no ano em que se comemora a instauração

cação. Serão resistências plausíveis? Racionais?

da República e frisa esse aspecto no seu primeiro

Neutras? O que realmente se pode dizer desta

discurso. Diplomaticamente apaga os fantasmas

visita de Bento XVI a Portugal?

que estavam nas cabeças de alguns por, daí a

A visita de um Papa a um Estado é um aconteci-

umas horas, se celebrar a eucaristia na praça

mento por si mesmo. Bento XVI, ao sair do Esta-

onde o regicídio teve acontecimento.

do mais pequeno do planeta, traz sempre consigo

Dentro e fora da Igreja subestimava-se a figura

dois cargos com implicações espirituais, por ser

desta Papa. Não é carismático! Não é João Paulo

bispo de Roma e garante da unidade e pureza da

II! Não é um homem de massas! Tímido, frio, ale-

fé cristã, e também diplomáticas com os diferen-

mão, racional! O percurso entre o Aeroporto e a

tes Estados. A própria concordata entre a Santa

Nunciatura poderia denunciar um enfraquecimen-

Sé e o Estado Italiano pressupõe uma relação

to da Igreja Católica em Portugal ou o enfraque-

diplomática de segurança. Ao sair da Basílica de

cimento da relação dos portugueses com Bento

São Pedro, diante da Praça, em qualquer acto, a

XVI. O gelo quebrou-se e percebeu-se logo à

segurança é da responsabilidade do Estado Italia-

chegada. Os portugueses não esperam Bento XVI

no, mas a partir daquela porta para dentro é já da

ou João Paulo II, mas aguardam o sucessor de

competência da segurança do Vaticano.

São Pedro. Eles revêem-se naquele que sucedeu

O que é mais notável, do ponto de vista da comu-

a João Paulo II, tão ligado ao Santuário de Fáti-

nicação, na visita deste chefe de Estado a outros

ma. Aliás, os ataques sucessivos que este Papa

Estados, são as medidas de segurança. A opera-

tinha sofrido faziam prever um apoio incondicional

ção que se tem de levar a cabo para receber um

dos católicos. Os mais novos provaram-no em

Papa, como aconteceu com Bento XVI, tem pro-

Lisboa: quinze mil jovens participam nas activida-

blemas acrescidos às operações normais para re-

des e alguns vão até Fátima; cinco mil crianças

ceber os chefes de Estado de outros países. Em

dirigiam-se para a missa; mais de cem mil pesso-

primeiro lugar, porque é preciso segurança para a

as acolhem o Papamóvel que transporta o chefe

pessoa de Bento XVI – garante da fé católica e lí-

de Estado do Vaticano. De facto, esta visita de

der do Estado do Vaticano – e, em segundo lugar,

Estado é bem diferente das outras visitas de Es-

porque o Papa arrasta sempre consigo multidões

tado de outros chefes que se dirigem a Portugal.

que precisam de segurança mínima. Por isso,

Não há memória, em Portugal, de se receber um

mesmo sendo um Estado laico, qualquer que ele

chefe de Estado com um acolhimento caloroso

seja, tem de proteger todos os que legitimamente

como aquele que aconteceu com o Papa.

se encontram.

Mas não foram apenas os portugueses que tive-

Mas, dirão alguns, não comprometerá a laicidade

ram a capacidade de colocar a emoção na visita

do Estado o facto de ter de fazer gastos acres-

do Papa e de fazer mudar a opinião pública mun-

cidos com um “homem” religioso? Sendo Bento

dial sobre a figura do Papa. O próprio Bento XVI,

XVI membro da Igreja Católica. Sendo a Igreja

que em 2000, tinha interpretado a terceira parte

Católica constitutiva da cultura da maioria dos

do segredo de Fátima, dá-lhe, agora, um novo

portugueses. Sendo o Estado laico constituído

sentido. A Igreja, no século XX, era perseguida

por uma sociedade religiosa que recebe dos seus

pelos regimes totalitários, hostis à própria Igreja e

contribuintes os impostos, poderemos dizer que é

aos seus membros – desde clérigos a religiosos e

justo que a laicidade do Estado esteja submetida

religiosas até aos próprios leigos. O simples acto

aos cidadãos a quem ele próprio serve.

de acreditar era motivo de perseguição. Agora

Mais do que racional a comunicação é emotiva

a Igreja é perseguida por causa do seu próprio

Centrando-nos na visita particular de Bento XVI

pecado. Em Fátima, Bento XVI abre um novo

a Portugal, teremos, à distância, a capacidade

projecto da mensagem de Fátima para

28 • Diplomática - julho/Setembro 2010


julho/Setembro 2010 - Diplomรกtica โ ข 29


Uma viagem capaz de mudar a imagem de Bento XVI

o panorama internacional e diz: “Iludir-se-ia

quem pensasse que a missão profética de Fátima

de Fátima. Mais uma vez, a emoção deixa falar a razão e a imagem de Bento XVI vai-se esfriando.

esteja concluída”.

Uma nova racionalidade capaz de encontrar a

A terceira parte do segredo de Fátima esteve

verdade.

sempre muito ligada ao Santo Padre, ao Vigário

No encontro com o chamado mundo da cultura,

de Cristo, ao sucessor de Pedro, ao Papa, “ao

Bento XVI está diante de cientistas, professores

homem vestido de branco”, como refere o texto.

universitários, músicos, compositores, bailarinos,

Pensou-se, em tempos, que este homem seria

pintores, escultores, homens das letras e das

João Paulo II, ou os Papas do século XX. Porém,

artes. Aos 83 anos de idade entra no Centro Cul-

percebe-se que Bento XVI ao chegar a Portugal

tural de Belém e cumprimenta todos os que estão

vem com tanto sofrimento na alma como qualquer

no palco. No final dá um tempo para cumprimen-

dos papas do século XX que aqui se apresenta-

tar todos os líderes ou representantes das princi-

ram ou sobre Fátima falaram. Bento XVI deixa um

pais religiões representadas em Portugal e várias

gesto notável para o, então, considerado intelec-

personalidades do mundo da cultura.

tual, racionalista, alemão, tímido e homem frio.

Ao entrar é efusivamente aplaudido por crentes e

Como um filho, aos pés da mãe, entrega uma rosa

descrentes, homens de fé ou agnósticos, católi-

de Ouro nas mãos da imagem de Nossa Senhora

cos ou homens de outras religiões. É o peso da

30 • Diplomática - julho/Setembro 2010


humilde sabedoria que se apresenta diante dos

discursa o que antes tinha preparado.

homens de cultura. Palavras? Essas eram previ-

Não há dúvida. A imagem do Papa depois de

síveis: a verdade. Trata-se da luta maior de Bento

Portugal não mais será a mesma na opinião

XVI, desde que se encontrava como professor

pública nacional e internacional. Primeiro, porque

universitário e depois como Cardeal. Combater

toda a viagem mostrou a simplicidade de um dos

toda e qualquer ideia que vá contra a razão e, por

homens mais inteligentes, segundo, porque a sua

conseguinte, que não procure a verdade.

figura é significativa e os portugueses souberam

Porém, a palavra vem depois do gesto mais

perfeitamente seguir a sombra de Pedro que

eloquentemente aplaudido pela assembleia.

cura, por fim, em terceiro, Bento XVI ficará para

Depois do discurso de Manuel de Oliveira,

a história como o Papa que não quis nunca fugir

Bento XVI levanta-se e dirige-se ao lugar do

à verdade e aos problemas, mas que gosta não

cineasta para lhe agradecer as suas palavras.

só dos problemas, como também de os enfrentar.

O Papa não é de facto um professor tradicional.

Por isso, a edição dos seus discursos esgotou

Ele gosta de escutar o outro, de o respeitar,

em três dias, porque não sendo um homem de

de o cumprimentar e de o abraçar. O outro é o

imagem a sua palavra faz pensar e mudar as ima-

princípio do diálogo que Bento XVI tanto tem

gens que temos de Deus, do mundo, do homem e

procurado fazer. Depois lança-se aos papéis e

da própria realidade.

n

Fotos: Luís Catarino

julho/Setembro 2010 - Diplomática • 31


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Visitas de Estado

Visita ao Magrebe Portugal de olhos postos no Norte de África

Sócrates visitou a Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos e apontou a região norte africana como “uma nova prioridade na sua política externa”. Os laços económicos e a presença portuguesa saíram reforçados.

“Apostar nas exportações, na internacionalização da nossa economia, apoiar as nossas empresas que estão a lutar pelas exportações em todos estes mercados”, foram os desejos manifestados pelo Primeiro-Ministro, em Rabat, em jeito de balanço geral da viagem a quatro países do Magrebe. José Sócrates deslocou-se à Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos para mostrar a “nova prioridade na sua política externa” e os objectivos económicos com aqueles países – centrados na transmissão da experiência e das tecnologias portuguesas de energias renováveis -, num mercado que representa 2% das vendas portuguesas ao exterior e que Portugal quer incrementar, de forma a compensar o défice comercial criado pelas compras de petróleo à Líbia e de gás natural à Argélia, mas também a equilibrar os superavites com Marrocos e a Tunísia. Sócrates destacou a importância geoestratégica das relações bilaterais e defendeu também que os empresários portugueses deverão assumir uma atitude de confiança no investimento e na internacionalização, tirando partido dos desenvolvimentos em curso nos mercados do Norte de África, que “são uma boa oportunidade (de negócios) para os empresários portugueses”, frisou. Esta relação visa, entre outros objectivos, reforçar as relações comerciais para diversificar as exportações e criar mercado para as empresas portuguesas, em especial na área das energias renováveis, participarem no desenvolvimento destes países vizinhos. Nesta visita de três dias, o chefe do Governo português fez-se acompanhar pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, da Economia e da Ciência e pelos secretários de Estado do Comércio, do Orçamento, do Consumidor, do Turismo e da Energia. A comitiva empresarial compôs-se por 25 empresas.

julho/setembro 2010 - Diplomática • 33


Visita ao Magrebe

1. José Sócrates com Mahmoudi Baghdadi e Muammar Khadafi 2. José Sócrates e Muammar Khadafi

Líbia – reforço da cooperação económica bilateral A aposta nas relações comerciais com a região do Magrebe não se resume apenas ao sector das energias renováveis. Na Líbia, onde iniciou a sua visita e se encontrou com o seu homólogo líbio, Mahmoudi Baghdadi, e com Muammar Khadafi, Sócrates apontou que “as empresas portuguesas estão muito interessadas no mercado líbio, em muitos sectores - no sector dos cimentos, no sector do petróleo, também da construção civil -, e tenho a certeza que destes contactos vão resultar muitas oportunidades para as empresas portuguesas”. “Tive oportunidade de colocar (os problemas que as empresas portuguesas enfrentam) ao Governo líbio e ao seu líder e tenho a certeza que, a partir de agora, correrá melhor”, acrescentou. Apesar da “relação política normalizada com a Líbia”, a balança comercial entre os dois países é desfavorável para Portugal, que em 2009 importou 332,2 milhões de euros e vendeu 35,4 milhões de euros, um valor baixo, mas que representa um crescimento considerável, pois em 2007 as exportações nacionais não ultrapassavam os 500 mil euros. “Importamos muito petróleo e vendemos ainda poucos produtos; por isso a nossa aposta é diversificar mais o comércio com a Líbia e eu tenho muita esperança que esta minha visita abra novas oportunidades de negócios a empresas portuguesas”, afirmou convicto José Sócrates.

3. José Sócrates com Ahmed Ouyahia 4. José Sócrates e Abdelaziz Bouteflika

Argélia – gás e energias renováveis A energia marcou a passagem do PM pela Argélia. Num encontro com o Presidente da República argelino, , e outro com o Primeiro-Ministro Ahmed Ouyahia, José Sócrates salientou a importância geoestratégica das relações bilaterais: “da Argélia vem grande parte da segurança do nosso abastecimento energético. Só há duas formas de abastecer de gás a Europa - da Rússia ou da Argélia. Nós temos, portanto, de ter uma especial relação com este país” - que fornece 40 por cento do gás natural consumido em Portugal, representando cerca de 97 por cento das compras portuguesas. Em 2009, Portugal importou da Argélia, 274,9 milhões de euros e exportou 197,4 milhões. “A Argélia é um bom exemplo de um dos países do Magrebe para onde as nossas exportações mais aumentaram nos últimos anos. É um mercado com grandes potencialidades”, declarou o PM. A Argélia tem em curso plano de investimento público para cinco anos (até 2014), no valor de 250 mil milhões de dólares, dos quais 20 mil milhões para estradas, 2 mil milhões para novas habitações, 20 barragens, 6000 quilómetros de caminhos-de-ferro, infra-estruturas energéticas e redes de água potável, e no qual estão já presentes empresas portuguesas, havendo ainda outras, algumas das quais acompanharam a deslocação, interessadas em aproveitar as oportunidades do plano.

34 • Diplomática - julho/setembro 2010


5. José Sócrates com Zine al-Abidine Ben Ali e Mohamed Ghannouchi 6. Mohamed Ghannouchi e José Sócrates

Tunísia – cimeira anual Luso-Tunisina A delegação portuguesa e o Primeiro-Ministro da Tunísia, Mohamed Ghannouchi, acompanhado de vários membros do seu governo, reuniram-se na Cimeira Luso-Tunisina. Os dois Chefes de Governo presidiram também a um seminário empresarial sobre energias renováveis, uma aposta importante para a economia tunisina e na qual Portugal quer ser um parceiro. Portugal é, presentemente o quarto maior investidor no país, excluindo o sector da energia, mas há ainda espaço para aumentar as trocas comerciais, que, em 2009, atingiram 116,3 milhões de euros nas exportações e 19,1 milhões nas importações de produtos tunisinos. José Sócrates reuniu com o Presidente da República tunisino, Zine El Abidine Ben Ali, e elogiou a relação política entre os dois Estados, “a vontade de trabalharem juntos para desenvolver uma cooperação frutuosa”, e a admiração pelos “esforços de abertura e de ambição da economia tunisina”.

7. Vieira da Silva, Luís Amado, José Sócrates, Abbas El Fassi 8. José Sócrates e Abbas El Fassi

Marrocos – cimeira Luso-Marroquina “Portugal tem uma relação política muito especial com todos os países do Magrebe, e em particular com Marrocos”, “sem nenhum problema, mas temos também uma relação económica que dá aos dois países especial responsabilidade”, afirmou Sócrates. Uma reunião de trabalho com o seu homólogo, Abbas El Fassi, permitiu adiantar ainda a agenda da próxima cimeira Luso-Marroquina, que decorre em Marrocos em Junho. No Magrebe, Marrocos é o maior mercado para os produtos portugueses: em 2009, Portugal exportou para o mercado marroquino 197,8 milhões de euros, importando 52,6 milhões. Portugal importa de Marrocos máquinas e aparelhos, minerais e minérios e produtos de madeira e cortiça, e exporta metais, máquinas e aparelhos, madeira e cortiça, minerais e minérios e matérias têxteis. O Primeiro-Ministro marroquino agradeceu a Portugal e ao Governo português “o apoio quando a União Europeia nos deu na atribuição do Estatuto Avançado” em 2008, que permite a Marrocos integrar-se gradualmente nas políticas europeias e aprofundar os acordos de comércio livre.

n

Fotos: Ricardo Oliveira - GPM

julho/setembro 2010 - Diplomática • 35


Diplomacia na 1ª Pessoa

Mohamed Ridha Farhat

- Embaixador da República da Tunísia

“Incentivar os empresários de ambos os países a trabalharem juntos”

entrevista de Maria de Bragança

Em Lisboa desde 2005, Mohamed Ridha Farhat elogia o relacionamento, a história comum e as relações bilaterais entre a Tunísia e Portugal. O Embaixador da Tunísia iniciou a sua carreira de diplomata em 1980 no Ministério dos Negócios Estrangeiros do seu país. Exerceu os vários cargos, passando por todos os escalões. Antes de vir para Portugal, desempenhou cargos diplomáticos em Bruxelas e Paris, mas o seu primeiro posto como Embaixador foi em Lisboa. Mohamed Farhat recebeu-nos gentilmente na sua residência oficial, brindando-nos com especiais iguarias tunisinas, para uma entrevista em que se abordaram temáticas históricas, políticas, económicos, entre outras.

36 • Diplomática - julho/setembro 2010


Vamos começar por falar no

amizade, de boa vizinhança e co-

fico imediato, ou seja, o Mediterrâ-

seu percurso. Como chegou até

operação, que é o quadro jurídico

neo Ocidental.

Portugal?

mais elevado para regulamentar as

É certo que, enquanto membro da

Sou diplomata de carreira. Fui

relações entre os dois países que

UE, e tendo em conta as afinidades

para o Ministério dos Negócios

entrou em vigor. Este Tratado é a

que existem entre nós, Portugal é

Estrangeiros em 1980 depois de ter

prova de que consideramos Portu-

sensível às expectativas da Tunísia

completado os estudos superiores,

gal um dos nossos parceiros mais

no quadro das suas relações com

e entrei por concurso no Ministé-

importantes. Este Tratado de ami-

a União Europeia. Portugal tam-

rio tendo sido aprovado. Durante

zade permitiu-nos organizar reuni-

bém necessita da Tunísia, porque

os trinta anos de experiência fui

ões a nível dos Primeiros-Ministros

ocupamos um lugar importante na

Diplomata, Chefe de Divisão, Sub-

dos dois países. Organizamos a

região do Magrebe, ao nível dos

Director e Director. Exerci funções

primeira Cimeira em Lisboa em

países árabes e africanos.

na qualidade de diplomata, nomea-

2007 e a segunda realizou-se em

Em que situação se encontra a

damente, em Bruxelas e em Paris,

Março de 2010 em Tunes. Estas

balança comercial entre os dois

antes de ocupar o primeiro posto

reuniões permitem-nos aprofundar

países?

de Embaixador aqui em Portugal.

as relações no plano jurídico, ao ní-

O que devemos notar é a tendên-

Sua Exa. o Presidente da Repúbli-

vel da concertação política e diver-

cia destes últimos anos. As trocas

ca, Zine El Abidine Ben Ali, con-

sificar as relações de cooperação

comerciais estão a progredir duma

fiou-me este cargo e eu tento ser

com Portugal, que são excelentes.

forma importante. Os números

bem sucedido nesta missão.

Portugal é realmente importante

mais recentes indicam um aumen-

Está no nosso país desde 2005.

enquanto parceiro económico. Vou

to de 56,3 por cento das trocas

Quais são os principais resulta-

dar um único número: Portugal

comerciais, em 2009. A Tunísia

dos registados no plano diplo-

é o quarto investidor na Tunísia,

vem logo a seguir à Venezuela, na

mático e político?

exceptuando na energia. Existe

classificação dos países com os

As relações entre Portugal e a

uma firme determinação das duas

quais as exportações portuguesas

Tunísia são excelentes. Primeiro,

partes em desenvolver cada vez

registaram um maior aumento. A

porque temos a mesma história,

mais as relações bilaterais.

balança comercial é deficitária em

pertencemos ao mesmo espaço

Portugal poderá ser importante

detrimento da Tunísia. Mas isto é

geoestratégico. Partilhamos alguns

para a Tunísia fortalecer as rela-

compensado pelo volume importan-

aspectos da nossa herança gra-

ções com a UE, ou não necessa-

te dos investimentos portugueses

ças aos Fenícios que chegaram à

riamente?

na Tunísia.

Tunísia por volta do ano 800 a.C.

A Tunísia sempre manteve rela-

E as energias renováveis e a

e foram fundadores de Cartago,

ções privilegiadas com a Europa

construção?

um pólo de comércio mediterrâni-

depois dos vários acordos que

As energias renováveis foram um

co muito importante, e mais tarde

assinámos com a União Europeia.

dos temas abordados durante a

graças aos romanos.

O primeiro acordo é de 1969 com

primeira Cimeira (Reunião de Alto

As relações bilaterais não param

a CEE. Mais recentemente, desde

Nível). Quanto à construção, os

de evoluir positivamente depois

Janeiro de 2008, fomos o primeiro

operadores portugueses devem

das visitas presidenciais: as visitas

país da margem Sul do Mediterrâ-

melhorar a sua aproximação do

de S.E. o Senhor Presidente da

neo a entrar em zona de comércio

mercado tunisino e investir mais,

República Tunisina Ben Ali, em

livre com a UE. Nestes últimos tem-

sabendo que a Tunísia é um país

1993 e 2000, a Portugal, as visitas

pos, já foram encetadas discussões

que se desenvolve rapidamente e

dos Senhores Presidentes Soares

sobre o Estatuto avançado que

que oferece muitas oportunidades

e Sampaio à Tunísia respectiva-

será concedido à Tunísia nas suas

para as empresas estrangeiras.

mente, em 1995 e 2002, e ainda, a

relações com a União Europeia.

Falou da visita do Primeiro-

participação do nosso Presidente

Tudo isto prova a importância que

ministro português à Tunísia.

da República nos trabalhos da 2ª

damos às relações com os nos-

Como foi esta visita? O que de-

Cimeira UE-África, realizada em

sos parceiros europeus e, parti-

vemos reter desta visita?

Lisboa em Dezembro de 2007 sob

cularmente, com Portugal, que é

A nossa acção inscreve-se com

a presidência portuguesa da União

um parceiro privilegiado porque é

o objectivo de desenvolver ainda

Europeia. Em 2006, um tratado de

membro do nosso espaço geográ-

mais as relações bilaterais e de

julho/setembro 2010 - Diplomática • 37


Mohamed Ridha Farhat Embaixador da República da Tunísia

reforçar e diversificar as diferen-

Durante a 2ª Reunião da Cimeni-

samente por Sarkozy. O que diz

tes áreas de cooperação. Dedica-

ra de Alto Nível (Cimeira), o Sr.

disso?

mo-nos, particularmente, a incen-

Primeiro-ministro Sócrates reuniu-

O processo de Barcelona remonta

tivar os empresários de ambos os

se com o Presidente Ben Ali, o

a 1995. Todos reconheciam que

países a trabalharem juntos. Neste

Primeiro-Ministro e o Presidente

deveriam existir relações muito

âmbito implementamos vários

da Câmara dos Deputados. Os

mais importantes entre os países

instrumentos: o primeiro, o tratado

Primeiros-Ministros dos dois países

do espaço Euro-Mediterrânico. A

de amizade que dá um impulso em

também presidiram uma reunião

Tunísia fazia parte dos primeiros

todas as áreas de cooperação. Por

que juntou um número importan-

países que saudaram o projecto da

outro lado, o quadro jurídico entre

te de Ministros e de Secretários

União para o Mediterrâneo. Este

os dois países foi consideravelmen-

de Estado para examinar as vias

projecto visa redinamizar e desen-

te reforçado. Uma linha de crédito

e meios capazes de reforçar as

volver o processo de Barcelona

de 100 milhões de euros foi imple-

relações bilaterais. Neste âmbito,

que não conseguiu alcançar os

mentada para desenvolver a par-

foram assinados 14 acordos de

objectivos que lhe foram atribuídos,

ceria. Para concluir, tanto durante

cooperação.

e isto, devido ao conflito israelo-pa-

a primeira Cimeira, realizada em

Os dois Primeiros-ministros tam-

lestiniano que bloqueou o processo

Lisboa em 2007, como na segunda,

bém procederam ao encerramento

e que coloca entraves actualmente

na Tunísia em Março de 2010, as

de um encontro económico que

à concretização do projecto da

delegações de empresários parti-

juntou empresários dos dois paí-

União para o Mediterrâneo.

ciparam nestas importantes reuni-

ses.

Por outro lado, não estamos de

ões. As relações entre os dois pa-

Para resumir, podemos afirmar que

braços cruzados principalmente

tronatos foram institucionalizadas e

a Cimeira foi um sucesso.

no mediterrâneo ocidental. Esta-

estabeleceram-se acordos. Para a

E a crise económico-financeira

mos todos empenhados: os cinco

Cimeira realizada no passado mês

que o mundo atravessa, a Tuní-

países do Sul – Magrebe – Tunísia,

de Março na Tunísia, o Primeiro-

sia também está a ser afectada?

Líbia, Argélia, Marrocos e Mauri-

ministro português foi acompanha-

Se me referir aos números que

tânia; e os cinco países do Norte

do por uma grande delegação de

foram publicados o ano passado

– Portugal, Espanha, Itália, França

empresários multissectorial. De

pelos organismos internacionais, a

e Malta no âmbito do diálogo 5 + 5

sublinhar nesta ocasião, a criação

Tunísia foi classificada como o sex-

para reforçar ainda mais a coope-

de um comité misto de negócios

to país no mundo a conviver melhor

ração entre os vários parceiros. A

que é presidido pelos dois vice-

com esta crise. Como sabemos, a

primeira Cimeira do diálogo 5 + 5

presidentes das organizações dos

Tunísia é um país reputado pela

realizou-se em Tunes em 2003, e

patronatos. Trata-se de uma medi-

sua boa governação, e as finanças

recentemente, também teve lugar

da complementar para desenvolver

públicas são muito bem geridas.

em Tunes, a 8ª Conferência dos

ainda mais as relações económicas

Contudo, é preciso relembrar que

Ministros dos Negócios Estrangei-

entre os dois países. Há cerca de

80 por cento do nosso comércio

ros dos países do diálogo 5 + 5

50 empresas multissectoriais que

realiza-se com a UE. Se a Europa,

A nível interno, como se desen-

operam na Tunísia. Os empre-

que atravessa um momento difícil,

rola a política nacional? Quantos

sários vêem a Tunísia como um

não consegue ultrapassar a crise,

partidos existem na Tunísia?

mercado interessante, seja para

nós também acabamos por ser

Desde a Mudança (Changement)

operações comerciais, seja para

afectados. Para terem uma noção,

de 1987 e a subida ao poder do

exportações e/ou importações.

antes da crise a nossa previsão de

Presidente Ben Ali, a constata-

Foi criada uma dinâmica e ambos

crescimento era de 6,3 por cento,

ção foi nítida: a Tunísia é um país

sabemos que há oportunidades a

a qual se alterou para os 3,5 por

estável, que não cessa de reforçar

explorar. Em conclusão, estamos a

cento. Portanto, há uma incidência

o pluralismo político, que realiza

fazer o que é necessário dos dois

sobre a economia real porque as

performances no plano económico

lados, tunisino e português, para

nossas relações são muito estrei-

e que consolida o progresso social.

dar mais substância à cooperação

tas com a Europa.

No que diz respeito ao pluralismo,

económica e comercial.

Não há muito tempo, a questão

há nove partidos políticos activos

Como decorreu a Cimeira Luso-

de uma União para o Mediterrâ-

na Tunísia dos quais sete estão

Tunisina?

neo foi muito discutida, preci-

representados no Parlamento.

38 • Diplomática - julho/setembro 2010


Mohamed Ridha Farhat

Tivemos eleições legislativas

senvolver constantemente o siste-

O partido que está no poder tem

e presidenciais no passado mês

ma democrático. O Presidente da

uma grande tradição histórica. Foi

de Outubro, onde muitos partidos

República é o chefe do Executivo e

o partido que levou o país à inde-

e candidatos competiram. Mas,

indica o caminho a seguir. Há sem-

pendência, e é necessário compre-

o mais importante é que há uma

pre um projecto para os próximos

ender este fenómeno. É um partido

vontade de poder político e do

cinco anos. Temos sempre uma

muito bem implantado e tem mais

Presidente da República, em de-

visibilidade sobre o nosso futuro.

de dois milhões de militantes. Se

julho/setembro 2010 - Diplomática • 39


Mohamed Ridha Farhat Embaixador da República da Tunísia

as eleições fossem realizadas

que marcou as elites. Isso explica

Tunísia é o país mais competitivo,

segundo o modelo ocidental, todos

o consenso nacional em assegurar

em África. Somos um país muito

os lugares da Assembleia perten-

as bases de uma sociedade moder-

bem gerido. Temos uma população

ceriam a este partido. O Presidente

na e aberta, nomeadamente, pela

jovem, bem formada. Entre 300 a

Bem Ali fez adoptar uma lei que

emancipação da mulher. Em 1956

400 mil estudantes continuam os

impede que o partido maioritário

acedemos à independência e o pri-

seus estudos nas universidades

de ocupe mais de 75 por cento dos

meiro acto importante foi o Código

na Tunísia. Relativamente à quali-

lugares, para permitir a presença

do Estatuto pessoal que concedeu

dade de vida, somos os melhores

de outros partidos. Por outro lado,

a liberdade à mulher. Em 1987, sob

classificados no mundo árabe. No

temos que lembrar que a Tunísia

o comando do Presidente Ben Ali,

Magrebe e em África, a Tunísia é o

tem uma longa tradição em matéria

foram promulgados outros actos

primeiro país em matéria de pro-

de democracia. Tentamos respei-

para conceder mais liberdade à

moção das TIC. A Tunísia é o 1º

tar todos os valores e princípios

mulher, a participação efectiva na

país do Norte de África em matéria

universais, mas sempre nos inspi-

vida política: Hoje, a mulher ocupa

de boa governação e o país mais

ramos na nossa história, na nossa

25% dos lugares no Parlamento. O

tranquilo do continente africano.

realidade e na nossa especificida-

Presidente da República declarou

Quem julga isso?

de. A nossa democracia não é de

recentemente num discurso que “a

As agências de notação, as institui-

hoje e o povo tem tido sempre um

dignidade da nação é sinónima da

ções internacionais reputadas pela

papel activo. Cartago foi criado em

dignidade da mulher, a sua invul-

sua neutralidade e objectividade:

800 anos a.C. e Aristóteles escre-

nerabilidade depende da dela”. Isto

o Relatório sobre a competitivida-

via no seu livro “O Político” que

significa o quanto é importante o

de global, o Relatório Mundial de

Cartago tinha uma boa constituição

Estatuto da mulher no nosso país,

Davos sobre a competitividade, o

anterior à dos gregos, e de acordo

a Tunísia.

Relatório Anual “Doing Business”

com os testemunhos da época,

A sociedade civil portuguesa não

sobre enquadramento de negócios,

a separação dos poderes existia:

conhece esta realidade de um país

o Relatório “Global Peace Índex”,

poder executivo – uma Assembleia

árabe-muçulmano.

etc.

deliberante e poder judicial. Nisso

Em Portugal talvez. Somos um país

E quais são as relações com os

não se fala muitas vezes porque

que regista realizações e perfor-

EUA ?

os cartagineses esqueceram-se de

mances, que é eficaz, mas que

Mantemos boas relações com os

escrever a sua própria história.

pode ser discreto. Hoje, a mulher

E.U.A.. O nosso ministro dos Negó-

Por razões históricas, a Tunísia é

na Tunísia é um exemplo na nossa

cios Estrangeiros reuniu-se recen-

um país ligado à França. Como é

área geográfica árabe-muçulmana.

temente com Hillary Clinton. Temos

a relação entre as duas nações ?

Ninguém pode por em causa estes

excelentes relações praticamente

A França é um dos nossos prin-

direitos adquiridos. Hoje as mu-

com todos os países.

cipais parceiros comerciais. Está

lheres estão presentes em todos

Ainda não falámos do sector

à frente da Itália, da Alemanha,

os sectores de actividades. Isto

turístico…

da Espanha e de Portugal. Com a

é tanto mais importante porque a

As nossas vantagens neste sector

França temos relações históricas.

Tunísia não é um país laico. Mas, a

são inegáveis : a nível geográfico

Os franceses ocuparam a Tuní-

nossa leitura da tradição islâmica é

somos um país situado mesmo no

sia por razões económicas ?

moderna e aberta. A nossa leitura

centro do Mediterrâneo, com um

Como sempre, quando há um

inspira-se na escola reformista. O

clima favorável ; um país estável e

período de desordem num país.

véu branco ou preto, por exemplo,

muito moderno, muito aberto e que

Estávamos no século XIX, o poder

não é uma tradição tunisina de

tem uma qualidade de vida exce-

central estava economicamente

vestuário. Temos uma juventude

lente. Apostamos na qualidade e

fraco, tínhamos perdido a nossa

muito bem formada, 80 por cento

na excelência dos nossos serviços.

soberania, como muitos países na

dos tunisinos faz parte da classe

Como sabem na área da Talasso-

época. A ocupação não foi bem

média e têm casa própria. A po-

terapia, somos o segundo destino

aceite pelos tunisinos e sobretudo

breza recuou graças à educação,

no mundo. Recebemos anualmente

pelas elites.

à formação e ao emprego. No

perto de 40 mil turistas portugue-

No século XIX, o Reformismo foi

aspecto social, a solidariedade é

ses. E há cada vez mais tunisinos

a principal escola de pensamento

um valor essencial na Tunísia. A

a visitar Portugal.

40 • Diplomática - julho/setembro 2010

n



Alianças

Por uma África livre e segura Da ineficaz OUA à esperança da UA

O desejo não se verificou. Quando a 25 de

por Portugal), Rodésia e Sudoeste Africano

Maio de 1963, 32 países africanos indepen-

(actualmente Zimbabwe e Namíbia, respecti-

dentes assinaram a Constituição da Organi-

vamente) ambicionavam seguir as pisadas da

zação da Unidade Africana (OUA), em Addis

liberdade de países já independentes, como o

Ababa, Etiópia, por iniciativa do imperador

Gana e o Senegal. Forças especializadas de

etíope Haile Selassié, este proclamou: “que

libertação como o MPLA, a SWAPO, a Frelimo

esta convenção dure 1.000 anos!” Contudo,

e o ANC eram financiadas, treinadas e abas-

tal não viria a acontecer. Bastaram apenas 39

tecidas com armas, por esses países livres e

anos para a Unidade se desmanchar.

pelo Comité Coordenador da Libertação de

Numa altura em que o continente africano

África, para lutarem pela descolonização.

ainda estava longe da descolonização, a OUA,

Para além deste primordial objectivo, a Or-

assente numa presidência rotativa, decidida

ganização expressou na Constituição pro-

em cimeiras anuais regulares, surgiu para

mover a unidade e solidariedade, coordenar

acabar com essa situação e libertar os povos

e intensificar a cooperação entre os estados

da África Austral sujeitos ao domínio branco.

africanos; coordenar e harmonizar as políticas

Angola, Moçambique (na altura governados

dos estados membros nas esferas política,

42 • Diplomática - julho/setembro 2010


diplomática, económica, educacional, cultu-

sobre a necessidade de lutar contra a violação

ral, da saúde, bem-estar, ciência, técnica e de

dos direitos humanos e a elaborar um plano

defesa, entre outros.

de acção sobre a maneira de obter apoio polí-

Mesmo com a associação de todos os países

tico no quadro deste objectivo.

africanos (a seguir à sua independência) as

A UA, numa transição gradual, cinge a OUA

intenções da OUA nem sempre se revelaram

e a Comunidade Económica Africana para

eficazes, sendo incapaz de evitar os inúme-

uma organização única, convergindo o espí-

ros conflitos que assolaram o continente e de

rito de uma unidade política, económica e de

exercer pressão junto da comunidade interna-

segurança. Neste capítulo da segurança e da

cional.

defesa, a criação das ASF, que congregam

Perante esta ineficácia e inoperância, os

actualmente cinco Brigadas, constitui-se como

Chefes de Estado e de Governo decidiram na

um forte mecanismo de reacção rápida da

38ª, e última, cimeira da OUA, realizada em

UA para a prevenção e, especialmente, para

Durban, África do Sul, a 8 de Julho de 2002,

a resolução de conflitos regionais em África.

colocarem um ponto final na Organização

Rotula-se como a melhor aposta para gerir

e erguerem uma nova união, presidida pelo

as múltiplas crises regionais que teimam em

sul-africano Thabo Mbeki. Nasce formalmente

persistir.

a União Africana (UA), que vinha a ser prepa-

A nova organização africana apresenta-se

rada desde o ano de 1999, e que teve a sua

agora mais parecida com o modelo de integra-

primeira cimeira nos dias 9 e 10 de Julho de

ção europeu, assente numa estrutura em que

2002.

se destaca o Secretariado ou a Comissão Afri-

A mais recente organização pan-africana, co-

cana, o Parlamento Pan-Africano e o Tribunal

mandada actualmente pelo diplomata gabonês

de Justiça Africano.

Jean Ping, segue a linha da sua antecesso-

Atendendo à complexa realidade dos estados

ra, mas assumindo outro nível de ambição e

africanos, que ainda se encontram entre os

valorização de África na cena mundial, “essen-

menos desenvolvidos e pacíficos de todos, a

cialmente por via da Ajuda Pública ao Desen-

União tem conseguido alcançar alguns êxitos.

volvimento e do estabelecimento de estraté-

Um deles está no próprio nome da organi-

gias de prevenção e resolução de conflitos

zação, a união. E refira-se que não é fácil

regionais”. Na base dos objectivos continuam

conseguir congregar praticamente todos os

o reforço da promoção da paz, da segurança

países de África em torno das mesmas causas

e da estabilidade, dos Direitos Humanos e da

e a UA concebeu essa proeza. 53 Estados

Democracia, e de uma integração económica

independentes associados, à excepção de

regional no continente africano, apoiados pelo

Marrocos que ficou de fora da organização.

programa de desenvolvimento – “New Partner-

Ainda, fez com que as organizações “não

ship for Africa’s Development”.

africanas” vissem na UA o parceiro ideal para

Ainda recentemente foi assinado um acor-

desenvolverem as suas políticas africanas e

do entre esta Organização e a Comissão da

tem-se revelado um mecanismo estabilizador

União Europeia (UE), relativo à luta contra a

de conflitos regionais e entre estados, real-

corrupção e à violação dos Direitos Humanos

çando, também, o apoio ao desenvolvimento

e a favor do reforço da ajuda aos deslocados

sustentado e a aplicação da diplomacia.

nos países africanos.

Não se sabe quantos anos esta União vai

No novo acordo de cooperação assinado

durar, mas, por enquanto, é um organismo

pelo presidente da Comissão Europeia, José

inviolável em África e respeitado pela comuni-

Manuel Durão Barroso, e pelo presidente da

dade internacional, que o classifica como um

Comissão da UA, Jean Ping, as duas organi-

relançamento refinado da OUA.

zações intergovernamentais comprometem-se

O dia de África (25 de Maio) foi comemorado

a lutar juntos contra a corrupção, a má gover-

pelo Embaixador da Tunísia, Mohamed

nação e a violação dos direitos humanos. O

Ridha Farhat que recebeu todos os diplomatas

tratado obriga ainda a UA a obter o compro-

de países africanos acreditados em Portugal,

misso político dos seus 53 Estados-membros

presenteando-os com um magnífico cocktail

julho/setembro 2010 - Diplomática • 43


Por uma África livre e segura Da ineficaz OUA à esperança da UA

Presidente da Comissão da UA, Jean Ping

acompanhado de típicas iguarias tunisinas.

(…) “Num continente que continua a ser um

O Estado português também se fez represen-

terreno privilegiado de conflitos apesar de

tar pelo secretário de Estado dos Negócios

a operacionalização de muitos dos nossos

Estrangeiros. João Gomes Cravinho, e todos

instrumentos e nossos esforços incansáveis,

os presentes, ouviram o Embaixador Farhat a

numa região do mundo com o maior número

discursar sobre a ocasião, tendo citado algumas

de refugiados e pessoas deslocadas e onde

frases do discurso do Presidente da Comissão

num número de processo de reconstrução

da União Africana. Ficam então alguns excertos

pós-conflito estão envolvidos, o desporto tam-

de Jean Ping, proferidos por Mohamed Farhat:

bém é uma ferramenta essencial, que, por um

“Todos os anos celebramos nesta data o Dia

lado, cria laços e vínculos entre as comunida-

de África. Este ano, queríamos que o tema

des que foram divididas pelo conflito e tam-

fosse “o da consolidação e manutenção da

bém melhora a relação de forças e missões de

paz através do desporto”. A algumas semanas

paz com os povos civis.”

da 19ª edição do Mundial de Futebol, organi-

(…) “Pela minha parte, neste novo contexto de

zado pela primeira vez na sua história no nos-

globalização da qual África é definitivamente

so continente, este tema assume a sua plena

uma parte integrante e agente e, neste ano de

dimensão. Mete em evidência, a vontade afri-

2010, durante o qual vários Estados africanos

cana em exercer todos os esforços possíveis

comemoraram o cinquentenário da sua inde-

para cumprir a visão de uma África que goza

pendência, estou confiante que vai finalmente

de paz, integrada, próspera e desempenhando

realizar este sonho por tanto tempo acalenta-

um papel dinâmico no concerto das Nações.”

do por nossos Pais fundadores duma África

(…) “O desporto é um símbolo de encon-

independente, unida, próspera e em paz. Tal

trar unidade, de reconciliação nacional,

como sugerido no lema olímpico, não pode-

um meio por uma nação, além de todas as

mos definir os limites do nosso esforço colecti-

divisões, de comungar com fervor, com a

vo para estabelecer o desenvolvimento sus-

graça da “união sagrada” atrás da equipa

tentável do nosso continente. Não prescrevemos

nacional. O Presidente Nelson Mandela

limites no nosso continente. Permanecermos

disse que “o futebol, assim como o râguebi,

sempre campeões ambiciosos e altamente efi-

o críquete e os outros desportos colectivos,

cientes para garantir todo o futuro e a Paz do

têm o poder de curar as feridas”. É um le-

continente. Citius, Altus, Fortius! Mais rápido,

gado que o continente, como toda a popula-

mais alto, mais forte! Vamos permanecer uni-

ção da África do Sul, pode dar não somente

dos para uma África que sabe como ganhar!”

orgulho mas também ensinamentos.”

44 • Diplomática - julho/setembro 2010

n

Altino Pinto



Histórias e vitórias

65 Anos da Grande Vitória Artigo do Embaixador da Rússia em Portugal Pavel Petrovsky

65 ЛЕТ ВЕЛИКОЙ ПОБЕДЫ

O próximo aniversário da Vitória na Segunda Guerra

Предстоящий юбилей Победы во Второй мировой

Mundial é o mais importante evento político. Para nós,

войне – важнейшее общественно-политическое

como repetidamente destacou o Presidente da Rússia,

событие. Для нас, как неоднократно подчеркивал

Dmitry Medvedev, essa data é sagrada. Uma menção

Президент Российской Федерации Д.А.Медведев,

ao Dia da Vitória inadvertidamente faz com que aperte

эта дата священна. Одно упоминание Дня Победы

dolorosamente o coração de cada cidadão da Rússia.

невольно заставляет сжиматься сердце каждого

Como se diz na canção dedicada a essa Vitória, “Dia

россиянина. Как поется в посвященной ей песне,

da Vitória é um feriado com as lágrimas nos olhos.” É

«это – праздник со слезами на глазах». Вряд ли даже

pouco provável que até agora -– 65 anos depois – na

сейчас – 65 лет спустя – в России найдется семья,

Rússia, haja uma família que não tivesse sido afectada

которую не опалило бы пламя войны. Великая Победа

pelas chamas da guerra. Grande Vitória é uma herança

– общее духовное достояние всех народов бывшего

espiritual comum a todos os povos da antiga União So-

Советского Союза. Наши отцы и деды не только

viética. Nossos pais e avós não só defenderam a nossa

отстояли нашу свободу и спасли Отечество – они

liberdade e salvaram a Pátria – eles libertaram a Europa

освободили Европу от фашистского порабощения.

da escravidão nazista.

Исторический факты свидетельствуют, что решающую

Os factos históricos indicam que o papel decisivo na

роль в разгроме нацизма сыграл Советский Союз.

derrota do nazismo foi desempenhado pela União Sovié-

В 1944 году протяженность советско-германского

tica. Em 1944, o comprimento da frente soviético-alemã

фронта была в 4 раза больше, чем всех фронтов,

foi quatro vezes mais do que todas as frentes somadas

где воевали союзники СССР, вместе взятых. На

em que os Aliados da União Soviética lutaram contra a

втором фронте в Западной Европе в июне 1944 года

Alemanha. Na segunda frente na Europa Ocidental, em

численность немецких войск составила не более 560

Junho de 1944, o número de tropas alemãs não exce-

тысяч. В то же время на советско-германском фронте

deu os 560 mil. Ao mesmo tempo, na frente soviética, o

их количество достигало 4,5 млн. человек. Свои

número de tropas alemãs chegou a 4,5 milhões. As suas

основные потери гитлеровские войска понесли в боях

baixas maiores as tropas nazistas sofreram lutando con-

против Советской Армии: 70% живой силы и 75% всей

tra o exército soviético: 70 por cento de pessoal e 75

военной техники. Советский Союз с его территорией, ➤

46 • Diplomática - julho/setembro 2010


Polónia. Monumento em homenagem dos soldados soviéticos e polacos que perderam as vidas nas batalhas para libertar a Varsóvia

julho/setembro 2010 - Diplomática • 47


65 Anos da Grande Vitória

por cento de todos os equipamentos militares. A União

с его городами и деревнями принял на себя

Soviética no seu território, nas suas cidades e vilas en-

основной удар гитлеровского нашествия.

frentou o impacto principal da invasão de Hitler.

Решающие сражения, предопределившие исход

As batalhas decisivas, que determinaram o resultado da

войны, также произошли на советско-германском

guerra, também ocorreram na parte da frente soviética:

фронте: битва под Москвой (декабрь 1941г.-январь

a batalha de Moscovo (Dezembro de 1941 - Janeiro de

1942г.), разгром армии Паулюса под Сталинградом

1942), a derrota do exército de Paulus em Estalinegrado

(ноябрь 1942г.-февраль 1943г.) и, наконец, сражение

(Novembro de 1942 - Fevereiro de 1943), e finalmente

на Курской дуге (июль-август 1943г.). Эти и другие

a batalha do Arco de Kursk (Julho-Agosto de 1943).

победы доставались огромной ценой. Сотни тысяч

Estas e outras vitórias foram conseguidas com enormes

советских солдат и офицеров положили свои жизни

custos. Centenas de milhares de soldados e oficiais sovi-

на полях сражений. Даже наши западные партнеры

éticos arriscaram as suas vidas nos campos de batalha.

не могли не признать очевидных фактов: «Именно

Mesmo os nossos aliados ocidentais não poderiam dei-

русская армия выпустила кишки из германской

xar de reconhecer esses factos óbvios: “Foi precisamen-

военной машины» (У.Черчилль).

te o exército russo que rasgou as entranhas da máquina

24 страны мира объявили 27 января Днем памяти

de guerra alemã” (Winston Churchill).

жертв Холокоста. Именно в этот день советские

24 países do Mundo inteiro declararam 27 de Janeiro

войска освободили один из страшнейших лагерей

como o Dia da Memória das Vítimas do Holocausto. Foi

смерти – Освенцим, в котором нацисты уничтожили

precisamente nesse dia que as tropas soviéticas liber-

4 миллиона человек. Советской армией были

taram um dos mais horríveis campos de morte – Aus-

освобождены также лагеря смерти Майданек

chwitz, no qual os nazistas tinham assassinado quatro

на территории Польши, в котором нацистами

milhões pessoas. Por além disso, o Exército Soviético

были уничтожены 360 тысяч человек, Белжец в

libertou também o campo de extermínio de Majdanek, na

Польше, в котором нацистами были уничтожены

Polônia, onde os nazistas tinham exterminado 360 mil

602 тыс. человек, Малый Тростенец в Белоруссии,

pessoas; Belzec na Polónia, onde os nazistas extermi-

в котором нацистами было сожжены и замучены

naram 602 mil pessoas; Trostenets na Bielorrússia, onde

207 тыс. человек, Саласпилс в Латвии, в котором

os nazistas tinham queimado e torturado mais de 207 mil

убивали маленьких детей, забирая у них кровь для

pessoas; Salaspils na Letónia, onde os nazistas assassi-

гитлеровских солдат.

naram as crianças, utilizando o sangue dos miúdos para

За мирное небо над Европой Советский Союз

os soldados nazistas feridos.

заплатил очень высокую цену – во Второй мировой

Para um céu pacífico sobre a Europa, a União Soviética

войне мы потеряли 26,6 миллионов человек. На

pagou um preço muito alto – na Segunda Guerra Mundial

территории только нынешней России было разрушено

nós perdemos 26,6 milhões de pessoas. Só no território

1710 городов, уничтожено более 70 тысяч деревень…

da Rússia actual foram destruídas 1710 cidades, mais

Вдумайтесь в эти цифры. Не случайно, что во

de 70 mil aldeias... Pensem bem sobre esses números.

время празднования в июне 2009 года юбилея

Não é por acaso que, durante a celebração, em Junho

высадки союзников на Севере Франции Президент

de 2009, do aniversário do desembarque dos Aliados no

Соединенных Штатов Б.Обама особо отметил вклад

norte da França, o Presidente dos Estados Unidos, Bara-

Советского Союза в победу над фашизмом.

ck Obama enfatizou a contribuição da União Soviética na

Однако годы идут, и многих из живых свидетелей

Vitória sobre o nazismo.

событий Второй мировой войны уже нет с нами. И

No entanto, os anos passam, e muitas das testemunhas

теперь в угоду политической конъюнктуре нарастает

vivas dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial já

тенденция к вольной трактовке, а то и вовсе ревизии

não estão connosco. E agora, para agradar à conjuntura

истории Второй мировой войны. При этом сомнению

política, ganha força uma tendência crescente para a

подвергаются закрепленные в Уставе ООН и других

livre interpretação, ou mesmo para a revisão da História

международно-правовых документах итоги тех

da Segunda Guerra Mundial. Com isso estão a ser pos-

трагических событий.

tos em dúvida os resultados daqueles eventos trágicos

В насаждаемых в международном сообществе

que estão consagrados na Carta das Nações Unidas e

политизированных трактовках истории явно видно

noutros documentos legais internacionais.

стремление пересмотреть итоги Нюрнбергского

Nas interpretações politizadas que estão a ser introduzi-

процесса, на котором были четко определены

das na sociedade internacional vê-se claramente o

инициаторы и виновники этой войны, дана

48 • Diplomática - julho/setembro 2010


1

2

1. Vítimas do campo de extermínio 2. As tropas soviéticas vencedoras

julho/setembro 2010 - Diplomática • 49


65 Anos da Grande Vitória

“Chamas eternas” – símbolo da Grande Vitória

desejo de rever os resultados dos julgamentos de Nu-

квалификация нацистской идеологии и нацистских

remberga, que foram claramente definidos pelos iniciado-

преступлений. Россия давала и будет давать отпор

res e perpetradores dessa guerra, foi dada a qualificação

попыткам провести ревизию истории ХХ века, в т.ч.

da ideologia nazista e dos crimes nazis. Rússia sempre

пересмотреть решения Потсдамской конференции и

repudiou e vai repudiar as tentativas de se fazer uma al-

приговор Нюрнбергского трибунала.

teração da História do século XX, incluindo as tentativas

Некоторые наши соседи делают упор на “разделе”

de alteração das decisões da Conferência de Potsdam e

Восточной Европы накануне войны между СССР и

do veredicto do Tribunal de Nuremberga.

Германией. При этом начисто игнорируется политика

Alguns dos nossos vizinhos acentuam a “partilha” da

умиротворения фашистской Германии западными

Europa Oriental na véspera da guerra entre a URSS e

державами, вылившаяся в конечном итоге в

a Alemanha. E, além do mais, ninguém faz caso da po-

Мюнхенский сговор. Выступая 1 сентября 2009 г. в

lítica de apaziguamento da Alemanha nazista realizada

Гданьске на церемонии, посвященной 70-й годовщине

pelas potências ocidentais, o que resultou no fim de con-

начала Второй мировой войны, Председатель

tas no Acordo de Munique. Ao pronunciar o discurso em

Правительства Российской Федерации В.В.Путин,

1 de Setembro de 2009 em Gdansk, na cerimónia que

в частности, сказал, «что любое сотрудничество с

marcou o 70º aniversário do início da Segunda Guerra

экстремистами, а применительно ко Второй мировой

Mundial, o Primeiro-Ministro da Rússia, Vladimir Putin,

войне – с нацистами и их приспешниками, чем бы

afirmou nomeadamente “que qualquer cooperação com

это сотрудничество ни мотивировалось, ведет к

os extremistas, relativamente à Segunda Guerra Mun-

трагедии. По сути, это и не сотрудничество вовсе, а

dial, com os nazistas e os seus colaboradores, por mais

сговор с целью решить свои проблемы за счет других.

que ela seja motivada, leva à tragédia. Na realidade, isto

Значит, надо признать, что все предпринимавшиеся

não é cooperação, mas uma colusão a fim de resolver os

с 1934 года по 1939 год попытки умиротворить

seus problemas por conta dos outros. Então, temos que

нацистов, заключая с ними различного рода

admitir que todos os esforços empenhados entre os anos

соглашения и пакты, были с моральной точки зрения

1934 e 1939 para apaziguar os nazistas, ao concluir com

– неприемлемы, а с практической, политической точки

eles vários tipos de acordos e pactos eram de ponto de

зрения – бессмысленными, вредными и опасными.

vista moral inaceitáveis e, do ponto de vista prático e

Именно совокупность всех этих действий и привела к

político, absurdos, prejudiciais e perigosos. Foi o conjun-

этой трагедии, к началу Второй мировой войны».

to de todas essas acções que levou a esta tragédia – ao

По сути, все, что происходило в Европе в

início da Segunda Guerra Mundial”.

предвоенные годы, – трагедия без героев, в которой

Na realidade, tudo o que aconteceu na Europa nos anos

даже жертвы на определенном этапе выступали как

precedentes à guerra é uma tragédia sem heróis, em que ➤

пособники агрессора. И теперь, спустя 65 лет,

50 • Diplomática - julho/setembro 2010


mesmo as vítimas, em certo momento, eram cúmplices

определенные круги понимают, что им особенно

do agressor. E agora, 65 anos passados, certos círculos

нечем гордиться в период той исторической битвы

percebem que não têm nada de que podem estar orgu-

добра со злом, борьбы народов против нацизма –

lhosos durante aquela batalha histórica entre o bem e o

понимают и испытывают болезненные комплексы

mal, a luta dos povos contra o nazismo – eles percebem

русофобии и прибегают к фальсификациям истории.

isto e sentem os acessos dolorosos da Russofobia e

Хотелось бы напомнить этим деятелям, что память

recorrem à falsificação da História.

– это не орудие мести, а созидательный инструмент,

Gostaria de lembrar a essas pessoas que a memória

использовать который можно и нужно исключительно

não é um meio de vingança, mas um instrumento criador,

в мирных целях, для строительства прочного

que pode e deve ser utilizado exclusivamente para fins

фундамента Европы будущего, а не для сведения

pacíficos, para construir uma base sólida para a Europa

счетов и получения ежеминутной политической

do futuro, e não para acertar as contas e tirar o proveito

выгоды. Для современной Европы аморальны и

político de cada minuta. Para a Europa contemporânea

противоестественны парады бывших эсэсовцев,

os desfiles de homens da SS realizados nos países que

проводящиеся в странах, претендующих на

“pretendem em respeitar os valores democráticos” são

приверженность демократическим ценностям.

amorais e antinaturais.

Мы не делили Победу на проценты в 1945 году, не

Nós não dividimos a vitória em percentuais nem em

делим ее и сейчас. Вместе с нашими союзниками

1945, nem hoje. Juntamente com os nossos aliados da

по антигитлеровской коалиции мы отмечали

coligação antifascista celebrámos o aniversário da aber-

годовщину открытия второго фронта, вместе будем

tura da segunda frente, e juntamente celebraremos os 65

праздновать и 65-летний Юбилей Победы в Москве.

anos da Vitória em Moscovo. A Segunda Guerra Mun-

Вторую мировую войну выиграли все участники

dial foi ganha por todos os participantes da campanha

антигитлеровской кампании. Это была наша общая

anti-Hitler. Foi a nossa Vitória comum. Mas ninguém tem

Победа. Но никто не вправе ни принижать цену,

direito de menosprezar o preço pago pelo nosso país

которую заплатили наша страна и наш народ в ходе

e pelo nosso povo durante a guerra, nem subestimar a

войны, ни приуменьшать масштабы преступлений

escala dos crimes dos nazis, e muito menos heroizá-los.

нацистов, и тем более их героизировать.

O nosso dever perante aqueles que pagaram com o seu

Наш долг перед теми, кто своей кровью заплатил за

próprio sangue pela salvação da humanidade do fas-

спасение человечества от фашизма, состоит прежде

cismo consiste, antes de tudo, em colocar uma barreira

всего в том, чтобы поставить надежный барьер на

segura no caminho de proliferação das ideias de intole-

пути распространения идей нетерпимости, расового,

rância, supremacia racial, nacional ou religiosa, quais es-

национального или религиозного превосходства,

condem as pretensões para o domínio mundial e servem

за которыми скрываются претензии на мировое

de base para novas ameaças.

господство, служащие почвой для новых угроз.

O 65º aniversário da Vitória não se deve tornar o moti-

60-летие Победы не должно становиться поводом

vo de confronto, servir como meio de acertar as velhas

для конфронтации, служить целям сведения

contas e ofensas mútuas. É simbólico que a Organização

старых счетов и взаимных обид. Символично, что

das Nações Unidas declarou 8 e 9 de Maio os Dias da

Организация Объединенных Наций объявила 8 и 9

Memória e Reconciliação. E é neste âmbito que serão

мая Днями памяти и примирения. В этом ключе будут

realizadas as celebrações em Moscovo. O vindouro

проведены и праздничные мероприятия в Москве.

aniversário da Vitória é em primeiro lugar o tributo à me-

Приближающийся юбилей Победы – это прежде всего

mória e ao profundo reconhecimento de todos aqueles

дань памяти и глубочайшей признательности тем, кто

que deram as suas vidas pela independência da nossa

отдал жизнь за независимость нашего Отечества и

Pátria e trouxeram a esperada liberdade aos povos da

принес долгожданное освобождение порабощенным

Europa escravizados pelo nazismo. As comemorações

фашизмом народам Европы. Юбилейные торжества

do aniversário da Vitória deverão servir de lembrete

должны послужить напоминанием о том огромном

daquele enorme potencial espiritual que têm a Rússia e o

внутреннем духовном потенциале, которым обладают

seu povo. Por isso a história da Grande Guerra Patriótica

Россия и российский народ. В этом плане история

e da Segunda Guerra Mundial são para nós uma fonte

Великой Отечественной и Второй мировой войн

incessante de força e confiança no futuro. Para todas as

является для нас неиссякаемым источником силы

pessoas honestas o feriado da Vitória permanecerá um

и уверенности в будущем. Для всех честных людей

dia luminoso e sagrado.

Праздник Победы останется светлым и святым Днем. n

n

julho/setembro 2010 - Diplomática • 51


Mala diplomática

Eduardo González Lernes por José Manuel Teixeira Embaixador de Cuba em Portugal Foi membro activo na pré-Revolução cubana e continua a sê-lo no pós-Revolução. Eduardo Lernes representa pela primeira vez o seu país, como Embaixador, no continente europeu e considera Portugal um país amigo, realçando os 90 anos de relações entre os dois países. O Embaixador falou em exclusivo à Diplomática das relações bilaterais que aproximam cada vez mais os dois Estados nos planos político, comercial, da saúde e do investimento, e analisou o relacionamento divergente Cuba/EUA no primeiro ano da era Obama: “as expectativas e esperanças apontavam para uma melhoria no relacionamento. Infortunadamente isso não se verificou.”

52 • Diplomática - julho/setembro 2010


Senhor Embaixador, conte-nos

corrigidos pelos portugueses, porque

mundo atravessa, estamos a anali-

um pouco do seu percurso de vida.

nos tentam entender. Assim é mais

sar as possibilidades de comércio,

Vivi a pré-Revolução e agora o

difícil melhorar. Aquele que fala uma

de investimento em Cuba, em áreas

pós-Revolução. Na minha infân-

Língua totalmente diferente aprende

que são de muito interesse. Tem-se

cia estudei em escolas públicas e

melhor a falar o português.

desenvolvido o Turismo de Portugal

mesmo antes da Revolução estudei

Qual a importância da Embaixa-

para Cuba, algo muito importante,

numa escola de formação católi-

da de Cuba, neste momento, em

e esperamos que ainda haja possi-

ca – Maristas. No primeiro ano da

Portugal.

bilidades de um maior crescimento.

Revolução incorporei-me no exército

A importância da Embaixada é pre-

Portugal dentro da UE tem tido uma

para defender o país das agressões

cisamente a presença da represen-

posição relevante. No ano passado

estrangeiras. Recebi treino de arma-

tação de um país num país amigo e

assinou o reatamento da cooperação

mento de artilharia anti-aérea, como

esta Embaixada tem muitos anos. A

que tinha sido suspensa, em 2003,

quase toda a minha geração. Depois

história das relações entre Portugal e

por parte de toda a UE, com aquela

de passarem estes primeiros anos

Cuba têm já 90 anos. A Embaixada é

posição comum que se manteve des-

mais violentos retomei os estudos e

o que permite um diálogo, uma apro-

de 2003. Ainda não está eliminada

ingressei na Universidade para me

ximação, analisar e pesquisar todas

definitivamente, ainda está suspen-

formar em Jornalismo e em Relações

as possibilidades de cooperação, de

sa, mas tanto Espanha como Portu-

Internacionais. Também, durante

comércio e relacionamento, e manter

gal assinaram a declaração conjunta

esse período em que estudava,

viva essa amizade que existe entre

para o reatamento da cooperação

trabalhei na aviação civil de Cuba.

o povo de Portugal com o povo de

com Cuba. Nesta etapa estamos

A carreira diplomática comecei-a no

Cuba.

precisamente na identificação de

ano de 1975 a trabalhar no Ministério

Como têm sido esses 90 anos

possibilidades de aumentar os negó-

das Relações Exteriores e passei

de relacionamento entre os dois

cios. O que acontece é que estamos

por todos os graus que existem na

países?

a atravessar uma crise na economia

diplomacia. O meu primeiro posto foi

Posso dizer que o mais importante

mundial e é uma situação que tem

na Líbia, como Terceiro Secretário.

é que o relacionamento nunca foi

dilatado um pouco essas possibilida-

No final de cada missão voltávamos

interrompido. Tem-se mantido sem-

des. Mas todos temos confiança que

a Cuba para tomar conta da reali-

pre e para nós é muito importante

vamos sair dessa crise e, precisa-

dade. Depois estive no Líbano (dois

nestes 50 anos de Revolução termos

mente, por isso, continuamos essa

anos) e na Síria (três anos). Evoluía

mantido sempre as relações. Podem

pesquisa para possíveis negócios.

um grau diplomático à medida que ia

ter tido altos e baixos, mas são mais

Cuba tem na América Latina um

para outro país. Fui então para outra

os altos que os baixos. Tem existido

papel preponderante. Há uma ten-

região, Brasil, como Conselheiro,

sempre um vínculo e um diálogo

dência para os países daquela re-

onde estive durante quatro anos e

franco e aberto entre as altas autori-

gião se aproximarem mais de uma

pouco. Regressei a Cuba ao Ministé-

dades dos países.

política cubana do que de uma

rio das Relações Exteriores. A minha

Concretamente, neste momento,

política americana. Nesse sentido,

primeira missão como Embaixador

quais são as relações entre Portu-

o que é que acha que Cuba poderá

foi em Moçambique (2001-05), tendo

gal e Cuba nos aspectos político

representar para Portugal como

posteriormente regressado ao meu

e económico? E se a Embaixada

antena (já temos o Brasil) de rela-

país, e em Setembro do ano pas-

em Lisboa poderá ser uma antena

ções bilaterais?

sado comecei a missão em Portu-

para a União Europeia ou se há

Acho que Cuba poderia contribuir na

gal. Tenho seguido uma trajectória

mais a tendência em ser Bruxelas

linha de aproximação entre Portu-

que começou nos países do Médio

a ter diálogo com Havana?

gal e os países da América Latina.

Oriente, América Latina, África e

Nós mantemos relações com a

Logicamente que Portugal tem um

agora Europa (Portugal). Houve uma

União Europeia (UE), como UE, mas

estreito relacionamento com o Brasil

estratégia de adaptação à Língua

damos muita importância às relações

por vínculos históricos, pela Língua e

e Cultura. A “má língua” que falo

bilaterais com cada um dos países.

Cultura, mas Cuba poderá contribuir

estudei no Brasil. A culpa não foi dos

Neste caso, com Portugal temos tido,

na aproximação às Caraíbas, à Amé-

brasileiros nem dos professores, mas

nos últimos tempos, uma aproxima-

rica Central e a todos aqueles países

minha. Porque nós temos um proble-

ção ainda maior no plano bilateral

com os quais Cuba tem um estreito

ma, falamos espanhol e não somos

e, no meio desta crise, que todo o

relacionamento, que são

julho/setembro 2010 - Diplomática • 53


Eduardo González Lernes Embaixador de Cuba em Portugal

também uma prioridade para Por-

tou um parque eólico e manifestou

são apenas os Estados Unidos da

tugal. Nós estamos nessa posição de

a intenção de um possível negócio

América (EUA). Cuba nunca rompeu

criar essa possibilidade de diálogo.

entre Cuba e a empresa de Viana

relacionamentos com ninguém. O

Evidentemente que Portugal já es-

para o investimento nas energias

único país do mundo que tivemos

tabelece contacto com países como

renováveis.

a iniciativa de romper relações foi

a Venezuela, México, Argentina ou

Antes da visita a Viana do Castelo

com Israel no ano de 1973, devido

outros países da região. Cuba está

já era para Cuba uma prioridade

às agressões entre os povos árabes

disponível para ajudar nesse objec-

de identificar as possibilidades de

e palestinianos. Mas com o resto do

tivo. Eu penso que Portugal poderia

comércio e cooperação de Portugal

mundo nunca tivemos problemas.

desempenhar um papel importante

com Cuba na área das energias

Cooperamos com vários países,

na região, tanto que Portugal é um

renováveis. É uma prioridade para

inclusive com países terceiro mundis-

país ibero-americano, compartilha-

o nosso país. Na visita a Viana vi

tas. Em África temos uma presença

mos lugares nessa Organização nas

uma grande planta duma indústria

muito grande, contribuindo com mé-

cimeiras que se realizam. No ano

para parques eólicos e pensámos

dicos e professores em mais de vinte

passado foi aqui em Portugal, ambos

na possibilidade de investir nessa

países. Em alguns países da Ásia

somos fundadores desse movimento

cooperação. Devo realizar uma nova

temos também cooperação deste

e esse é o lugar específico para co-

visita a Viana já concretamente para

tipo e na América Latina, na maioria

laborarem ambas as partes. Temos

ir ver a planta de construção daque-

dos países, temos um relacionamen-

um nível de identificação grande com

les equipamentos. Creio que sim,

to muito amplo. Cuba faz parte de

Portugal na esfera internacional, lo-

que haverá possibilidade de coo-

uma nova estrutura regional – ALBA

gicamente que também há aspectos

peração a esse nível porque reitero

– Aliança Bolivariana para as Amé-

com que não coincidimos, mas existe

que é uma prioridade para ambos os

ricas, e que foi criada por Cuba e

o diálogo para procurar a aproxima-

países, tanto para importar estes ele-

Venezuela, às quais se têm juntado

ção. Nas Nações Unidas, Portugal

mentos como para analisar a possibi-

mais países, permitindo um comércio

tem sempre votado contra o bloqueio

lidade de desenvolver uma planta em

e uma cooperação sem nenhum tipo

económico a Cuba, sendo a favor de

Cuba. Funcionará como uma energia

de exploração. Por exemplo: temos

uma resolução, tal como a UE que

alternativa. Não poderemos depen-

uma cooperação na área da saúde –

tem tomado a mesma posição. Por-

der só da energia eólica porque as

a Operação Milagros – uma ope-

tanto, a posição de Portugal contribui

características meteorológicas não o

ração oftalmológica a pessoas que

para que haja essa unanimidade.

permitem. Temos também o objecti-

estão quase cegas pelas cataratas.

Sabemos que também tem boas

vo de investir na energia hidráulica,

Foram já submetidas a uma interven-

relações com a Venezuela, assim

na qual Portugal possui também tec-

ção mais de um milhão de pessoas

como nós, e caberia até a possibili-

nologia e experiência e tem, ainda, a

que depois recuperaram a visão.

dade de no futuro se realizarem ope-

possibilidade de participar em algum

E a que cidadãos portugueses

rações triangulares em algum dos

investimento. Já na área do petróleo

também têm recorrido muito!?

nossos países. Como existe também

existem projectos para a prospecção

Sim, têm ido muitos portugueses

a possibilidade de se fazerem em

dessa matéria-prima em Cuba. E es-

a Cuba fazer essa operação. Nós

países de África, ou outros de Língua

tamos abertos para cooperar noutras

também criámos vários centros

Portuguesa, nos quais Cuba participa

áreas com Portugal.

oftalmológicos em vários países da

juntamente com Portugal. Estamos

Como funciona a política exterior

América Latina para que as pessoas

então a estudar essa possibilidade

de Cuba?

não tenham que se deslocar todas a

de cooperação triangular.

Primeiro de tudo respeitamos todos

Cuba. E assim é possível usufruir do

Com Angola sobretudo?

os países do mundo. A maioria dos

serviço no Equador, Peru, Venezue-

Angola, quem sabe se não é o mais

países têm relacionamentos com

la, Bolívia, onde temos seis centros

indicado. Angola tem um nível de

Cuba. Temos Embaixadas em mais

oftalmológicos que operam pessoas

desenvolvimento maior e poder-se-ia

de 119 países e 30 Consulados

que vêm da Argentina e das Caraí-

desenvolver uma cooperação trian-

gerais e existem mais de 100 Embai-

bas. Mas a maioria das pessoas vem

gular ao nível do comércio ou inves-

xadas dos mais variados países do

a Cuba. Este é um programa que

timento.

mundo em Cuba. Só aquele país que

na realidade constitui um milagre.

Numa visita que o Senhor Embai-

não quer ter um relacionamento nor-

Pessoas que não viam praticamente

xador fez a Viana do Castelo visi-

mal com Cuba, que neste momento

nada e depois de operadas voltam

54 • Diplomática - julho/setembro 2010


Eduardo González Lernes

a ter visão. Municípios de Portugal

íses e em muito maior quantidade?

não só colocamos médicos nesses

fizeram acordos com estes centros

Mas continua a existir falta de

países como, também, estamos lá a

em Cuba e possibilitaram a alguns

médicos…

formar profissionais para futuramente

utentes a operação.

Sim, sabemos que existe essa lacu-

diminuirmos a presença médica. É

Essa é também uma recente coo-

na. Mas aqui conhecerão melhor as

mais económico para todos enviar

peração no ramo da saúde entre

razões desse défice do que eu. Ago-

os professores para formar médicos

os dois países.

ra nós não vemos nada contra essa

no próprio país. Assim estamos a

Sim, e também temos outros acordos

cooperação. Se nós temos médicos

fazer em alguns países de África.

nessa área, tal como a presença

e em Portugal precisão deles, então

Cuba tem uma escola internacional

de médicos em território português.

não vejo por que não cooperar. E

de medicina onde se formam por ano

Temos 44 médicos na região do

se precisarem de mais, nós temos

entre quatro mil a cinco mil novos

Alentejo e Algarve. Aqui em Portugal

e estamos dispostos a chegar a

médicos, sobretudo da América

alguma imprensa tem feito críticas a

acordo. Temos médicos em mais de

Latina, que usufruem de bolsas de

essa presença, ao que nós pergun-

70 países, o que corresponde a mais

estudo. Alguns governos contribuem

tamos porque é que por 44 médicos

de 37 mil médicos no exterior. Só na

economicamente para manter essa

cubanos se faz tanto alarido quando

Venezuela temos quase 30 mil e em

faculdade.

existem tantos médicos de outros pa-

África também temos muitos. Mas

Mudando um pouco de assunto,

julho/setembro 2010 - Diplomática • 55


Eduardo González Lernes Embaixador de Cuba em Portugal

há sensivelmente um ano atrás

como deveria ser. Digo não como

agora não é positivo. O bloqueio con-

haviam muitas esperanças com

deveria ser porque não tem explica-

tinua igual, agora fomos colocados

a eleição de Barack Obama. Hoje

ção colocar novamente Cuba na lista

na lista de terroristas e não permitem

que balanço faz?

de países patrocinadores do terro-

que os cidadãos norte-americanos

As expectativas e esperanças com

rismo, quando os norte-americanos

viagem para Cuba, a base de Guan-

a administração Obama apontavam

sabem que Cuba não tem nenhuma

tánamo continua igual, sem nenhum

para uma melhoria no relacionamen-

participação no terrorismo. Bem pelo

objectivo estratégico militar, sendo

to divergente entre os EUA e Cuba,

contrário, temos combatido o terro-

para eles uma forma de agredir poli-

produto do discurso de Obama na

rismo. E por combatermos o terro-

ticamente um país. No entanto, nós

sua campanha. Infortunadamen-

rismo e descobrirmos actos temos

continuamos numa posição aberta

te isso não se verificou. Mudaram

cinco cubanos presos nos EUA, que

para o diálogo em qualquer tema

pequenas coisas com medidas ainda

injustamente trabalhavam dentro de

com as autoridades norte-america-

tomadas na administração Bush,

grupos terroristas que operavam con-

nas. Nós continuamos à espera e a

como o permitir que os cubanos resi-

tra Cuba. Ou seja, o que eles dizem

bola de pingue-pongue está do lado

dentes nos EUA fizessem remessas

para o resto do mundo não é aplicá-

de lá. Eu também sei reconhecer

económicas para a família residente

vel ao nosso caso. Contudo, ainda

que para os EUA é difícil ter um país

em Cuba, que pudessem viajar cada

temos esperança que as coisas

pequenino próximo das suas costas

ano para o país (porque Bush tinha

possam mudar, que Obama tome

que tem vivido sem depender deles

proibido isso) e retomou o diálogo

a decisão correcta em cada caso e

durante 50 anos. É para eles um fe-

migratório existente entre os dois

em cada passo que dê em relação

nómeno político. Primeiro diziam que

países, que começou mas não ainda

a Cuba. Mas o que demonstrou até

éramos um país satélite da União

56 • Diplomática - julho/setembro 2010


Soviética e ficou demonstrado que

tão necessária.

formam-se, cada ano, mais médicos

a União Soviética e o campo socialis-

Cuba esteve mais de 400 anos sob

do que aqueles que ficaram no país

ta acabaram nos finais dos anos 80

a colonização espanhola, depois

em 59. Mais de três mil médicos por

e princípios dos anos 90. Passaram

mais de 60 anos sob influência do

ano, cubanos, sem contar mil/dois

mais de 20 anos e Cuba continua a

neo-colonialismo norte-americano

mil que formamos anualmente de ou-

caminhar sozinha, pelo meio saiu de

e, por fim, deu-se o triunfo de uma

tros países. Ou seja, temos dedicado

crises que viveu produto da queda

Revolução Social, em Janeiro de

fundamentalmente os nossos recur-

do campo socialista e teve uma

1959. Cumpriu recentemente 51

sos para desenvolver algo que Cuba

resistência muito grande, com base

anos e com um projecto social

não tinha – o capital humano forma-

no povo, que permitiu hoje estarmos

desenvolvido que mudou todas as

do. Não educamos apenas médicos.

bem. Tivemos um decrescimento

características do nosso país. Deixou

Nas várias áreas das ciências somos

económico muito grande até ao ano

de ser um país colonizado e depen-

um dos países que maior quantidade

de 1994 e, a partir daí, começámos a

dente, em que o único produto que

de estudantes (per capita) tem nas

crescer. A recuperar de uma queda

tinha para exportação era o açúcar.

universidades. Isto porque o ensino

de 85 por cento que tivemos nas re-

Hoje em dia, nesse aspecto, temos

em Cuba é gratuito, tendo toda a

lações comerciais entre 1989 e 1993.

também o níquel que antes estava

gente o direito de estudar. Essas são

Ou seja, temos demonstrado que

na posse norte-americana e agora é

as causas fundamentais, que por

com vontade e unidade, e a pensar

nossa propriedade, e tem-se de-

um bloqueio tão violento, com actos

no bloqueio, podemos ir em frente.

senvolvido com parcerias de capital

terroristas tão fortes contra nós, se

Neste momento todos os países so-

estrangeiro, fundamentalmente do

tem mantido a Revolução cubana.

freram a crise internacional, mas nós

Canadá. Temos ainda desenvolvido

Durante muitos anos estivemos

estamos muito mais preparados do

um campo científico muito alto, para

isolados porque a maioria dos países

que antes para enfrentar esta crise.

um país de terceiro mundo como é

da América Latina tinham obedecido

O senhor Embaixador falou que

Cuba, com uma produção de vaci-

às ordens americanas e romperam

com a queda do Bloco Socialista

nas bastante elevada e uma inves-

os seus laços com Cuba. Hoje, pelo

as relações comerciais tinham

tigação biotecnológica de primeiro

contrário, não existe um país da

caído 85 por cento. Tiveram que

mundo. Há produtos que apenas

América Latina que não estabeleça

parar com a construção social

Cuba produz, mais nenhum país no

relações com Cuba. El salvador, que

para fazer hotéis como aposta no

mundo o faz, na área da biotecno-

era o único país que faltava até ao

Turismo?

logia, sendo uma fatia importante

ano passado, também já reatou as

Sim, foi uma decisão económica es-

de ingressos para o país. Primeiro,

relações connosco. Falo na América

tratégica. Ao perder 85 por cento do

para chegarmos a este nível apos-

Latina, se falar no continente ameri-

comércio internacional priorizámos

támos fortemente na política social

cano todo, só um país não tem rela-

o Turismo para podermos ter uma

– educação gratuita e obrigatória até

ções com Cuba, que são os EUA.

recuperação mais rápida. Parámos o

ao 9º grau, eliminámos totalmente

O senhor Embaixador tinha tam-

desenvolvimento social durante um

o analfabetismo no segundo ano

bém falado da importância da

período, que já trazia um ritmo muito

da Revolução, e implantámos um

Cimeira Ibéro-Americana…

alto, para darmos prioridade ao Tu-

sistema de saúde comparável ao de

A Cimeira Ibéro-Americana é com-

rismo. E foi o que marcou a diferença

qualquer país desenvolvido. Cuba

posta por todos os países da Améri-

dos 200 mil turistas que recebíamos

tem, sensivelmente, um médico por

ca Latina e mais dois países ibéricos

para os 2 milhões e 400 que rece-

cada 156 habitantes e um total de

– Portugal e Espanha. Portanto, mais

bemos em 2009, e continuamos a

80 mil médicos formados a partir

uma razão para que exista uma boa

trabalhar para receber mais. Pois

de 1960. Cuba perdera metade

identificação entre Cuba, ou países

esta é uma indústria que tem um

dos médicos ao emigrarem para os

latino-americanos, com Portugal. E,

retorno rápido. Cuba tem tudo aquilo

EUA no primeiro ano da Revolução,

também, dos países da UE, os paí-

que os turistas procuram: tranquilida-

produto da campanha do governo

ses com que temos melhores víncu-

de, segurança, boas praias, cultura e

norte-americano para nos tirarem

los são precisamente com Portugal e

uma história muito rica.

esses profissionais. Em 1959, Cuba

Espanha.

Fale-nos um pouco da comemora-

tinha seis mil médicos, emigraram

Agora na situação actual, a gera-

ção dos 50 anos da Revolução e

para os EUA três mil. Actualmente,

ção que fez a Revolução está a

porque é que esta Revolução era

resultante do plano da Revolução,

terminar o seu mandato de vida.

julho/setembro 2010 - Diplomática • 57


Eduardo González Lernes Embaixador de Cuba em Portugal

As novas gerações estão prepa-

em Cuba vão haver mudanças, aliás,

têm tido a possibilidade de fazer

radas para continuar a Revolução

já estão a haver, mas isso é uma

algo a favor dessa Revolução. Isto

cubana começada há 51 anos?

característica do desenvolvimento da

desmente muito aqueles que dizem

Eu não diria que é a geração que fez

vida e da situação internacional. Lo-

que em Cuba se vive uma ditadura

a Revolução, mas sim a geração que

gicamente que Cuba não pode viver

em que é usada a força. Eu acho

iniciou a Revolução. A que iniciou a

isolada do resto do mundo e tem que

que para qualquer pessoa que tenha

Revolução já completou 50 anos e

estar atenta aos problemas que se

dois dedos de testa poderá perceber

começaram entre os 20 e 30 anos

passam no mundo. O importante é

muito facilmente que o povo cubano

de idade, mas as gerações que se

que temos de estar preparados para

nunca aceitou nem ditaduras nem

seguiram são as que têm continua-

enfrentar esses problemas. Prova

colonialismos, e como poderia acei-

do a mantê-la, porque a Revolução

disso é a crise financeira internacio-

tar um regime de força para manter

não foi só o assalto ao Quartel de

nal que afecta todo o mundo. Nós

este nível de desenvolvimento e

Moncada em 1953, ou a ida para a

estávamos afortunadamente mais

sobretudo de participação e coope-

Sierra Maestra. Foi um gesto herói-

preparados neste momento para en-

ração com outros países do mundo?

co de derrubar uma ditadura militar.

frentar essa crise do que se tivesse

Nós temos isso como um princípio

Contudo, a verdadeira Revolução

acontecido há alguns anos atrás. Ao

e classificamos de Pátria a Huma-

começou a partir do primeiro dia de

dizer isto não quer dizer que temos

nidade e não apenas o território

1959, porque como já referi antes,

uma economia forte, mas porque

onde nascemos. Um exemplo disso

não era possível manter um país

temos um povo preparado, um nível

é o que estamos a fazer no Haiti.

subdesenvolvido, dependente, só

de educação muito alto e condições

Fala-se muito pouco da participação

com uma luta de um exército rebelde

para tentarmos resolver os nossos

de Cuba naquele país, mas nós já

formado na guerra, ao qual se juntou

próprios problemas sem dependên-

lá estávamos presentes antes do

o povo todo para levar em frente

cia exterior. Para termos tudo isto,

terramoto e aumentámos ainda mais

um processo em que a Revolução

sem aplicar a força sobre os cida-

a presença depois da tragédia. Cuba

começou. Portanto, têm participado

dãos, é porque o povo matem uma

tem e continuará a ter no Haiti uma

neste movimento tantas gerações

unidade. E estou a falar de um povo

alta presença de médicos porque o

como as que têm vivido durante

que mais de 60 por cento nasceu

problema desse país não se resolve

estes 50 anos. Eu entendo o sentido

depois da Revolução.

em dois dias. Haiti teve dois terramo-

da pergunta porque é precisamente

O senhor Embaixador já é fruto da

tos: um histórico, de ser um país de-

uma estratégia dos EUA. Pois, eles

Revolução.

plorado durante muitos anos porque

falam que o fim biológico dos diri-

Eu era um fruto já maduro antes da

foi o primeiro país independente da

gentes da Revolução acabará com a

Revolução porque tinha já 14 anos.

América Latina, e o outro catastrófi-

mesma. Acho que estes últimos três

Não tive uma participação, antes

co que aconteceu no passado dia 12

anos têm demonstrado o contrário a

da ida para a Sierra Maestra, e isso

de Janeiro, que ainda não se sabe

quem pensava que com a retirada de

era um trauma que a minha geração

ao certo quantas pessoas morreram.

Fidel Castro não se poderia manter

tinha, por não ter participado nessa

Então se somos e podemos ser

mais esta luta. Primeiro pensou-se

etapa. Mas tivemos o privilégio de

assim tão solidários, podemo-nos

que Cuba sem a União Soviética não

poder participar na continuação. Foi

questionar como é que é possível

se poderia manter. Depois que com

uma Revolução muito forte. Tive-

isso acontecer num país que dizem

a saída de Fidel do poder, Cuba não

mos invasões externas, agressões

funcionar à base da força? Isso não

resistiria. Fidel não está a dirigir os

militares, actos terroristas. Aí sim,

tem cabimento. É só ir a Cuba e até

destinos do país, indiscutivelmente

ainda na minha adolescência, tive

perguntar a turistas que visitam o

que é um líder histórico e uma refe-

a possibilidade de participar. Por

nosso país. Não somos um paraíso,

rência em Cuba, mas outras gera-

isso me sinto parte da Revolução.

mas também não somos o inferno

ções têm participado e a Revolução

Os nossos filhos têm a possibilida-

que alguns pintam. Cuba tem pro-

e o Partido Comunista cubano têm-

de de participar, de estudar, de se

blemas tal como tem qualquer país

se preocupado por transladar para

formar e de contribuir para outros

do mundo. Problemas económicos,

as novas gerações a realidade que o

países com médicos, professores,

sociais, mas não paramos de traba-

país tem vivido. A história, até agora,

soldados, entre outras coisas. Ou

lhar para os resolver e para termos

tem sido vivida pelos pais, avós e

seja, é uma geração que tem vivido

uma democracia socialista cada vez

filhos dessa geração. Considero que

um produto revolucionário e todos

mais justa.

58 • Diplomática - julho/setembro 2010

n



lideranças - união europeia

Presidência espanhola marcada pela crise

José Luis Rodríguez Zapatero

Chegou ao fim o legado espanhol sobre a presidência da União Europeia. Foi um semestre negro e atormentado pelo agravamento da crise económico-financeira na Zona Euro. À partida para o mandato rotativo, José Luis Rodríguez Zapatero, sabia que seriam meses difíceis, agora, não esperaria que fossem tão difíceis. O Presidente Socialista do Governo Espanhol tinha em mãos um novo e prioritário dossiê a aplicar no espaço europeu dos 27 – o Tratado de Lisboa – aprovado a 1 de Dezembro de 2009 durante o mandato português. Aliás, esse era um dos pontos definidos no programa político da presidência espanhola da UE, considerado como “um marco jurídico reforçado para impulsionar a nova Europa, a Europa que necessitamos, num momento extraordinário de significado político”. Um Tratado que trouxe também novidades na liderança da presidência. Começando logo pelo próprio poder do líder da presidência que ficou condicionado pelo cargo do Presidente do Conselho Europeu – Herman van Rompuy. É ele uma das personagens principais da Europa e que preside às

60 • Diplomática - julho/setembro 2010


cimeiras europeias, tendo colocado Zapatero apenas no

papel de primeiro-ministro espanhol, e não como presidente. Mas o assunto principal que marcou a presidência espanhola foi a crise. As expectativas iniciais, que iam no sentido duma “maior coordenação das políticas económicas para gerir as estratégias de saída da crise, para acelerar a recuperação, para promover uma nova etapa de crescimento, para voltar a criar emprego e para manter altos níveis de protecção social”, foram por água abaixo à medida que no contexto europeu se sucedeu precisamente o contrário. A dificuldade em os Estados acederem ao crédito e o consequente declínio das suas economias, com o desemprego a aumentar em flecha, colocaram a Europa em sobressalto. Grécia entrou na banca rota e Espanha e Portugal viram as suas taxas de desemprego a baterem recordes, 19,7 e 10,8 por cento, respectivamente. Primeiro e quarto classificados, numa lista publicada em Abril pela Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Económica (OCDE), em que constam também a Eslováquia (14,1 por cento) e Irlanda (13,2 por cento). Uma Zona Euro em alerta laranja com o desemprego nos 10,1 por cento. Ainda no plano económico, Espanha e Zapatero estiveram sempre em cheque devido à possibilidade da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI) terem que recorrer a um plano de apoio para ajudar o país, tendo essa possibilidade sido negada por Bruxelas e Madrid. Já na última Cimeira o tema não mudou. Os chefes de Estado e de Governo dos 27 países-membros da União reuniramse em Bruxelas para propor um governo económico europeu, no sentido de impor uma disciplina orçamental, com sanções agravadas aos Estados mais imersos em endividamento. Outra das metas era o reforço da coordenação das políticas económicas para uma maior cooperação na recuperação económica. O fortalecimento da unidade da Europa no exterior foi outra das aspirações de José Zapatero que também saiu abalada deste cenário. Devido à crise foi uma presidência marcada pelo retrocesso na recuperação económica da Europa e em que a imagem do governante sai fragilizada. No entanto, a liderança rotativa do bloco europeu à Bélgica também não se adivinha fácil, já que começará com um Governo de gestão. O novo executivo só deverá estar formado em Setembro, conforme as palavras do líder dos nacionalistas flamengos, Bart De Wever, que conquistou recentemente uma vitória histórica nas eleições gerais da Bélgica.

n

julho/setembro 2010 - Diplomática • 61


lideranças - união europeia

Enrique Santos -

Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso Espanhola

Um olhar da Presidência Espanhola da União Europeia Agradeço à revista Diplomática - prestigiosa publicação que conta com uma importante componente dedicada às relações internacionais - o convite que me dirigiu para fazer um breve comentário à actuação da Presidência espanhola da União Europeia, exercício com algumas dificuldades de abordagem dadas as circunstâncias que a Presidência rotativa espanhola tem enfrentado desde a sua tomada de posse em Janeiro deste ano.

62 • Diplomática - julho/setembro 2010


Desde logo existem duas fortes

Finanças, Meio Ambiente, Politica

condicionantes que inevitavelmente

Social e Emprego e, desde o inicio

têm dificultado a actuação da Pre-

do ano, a Presidência espanhola tem

sidência espanhola. Por um lado, a

dado provas de empenho e resposta

recente entrada em vigor do Tratado

à crise económica e financeira na

de Lisboa, após vários anos de du-

Europa, nomeadamente no combate

ras negociações, exigirá tempo para

ao desemprego, apoio às PME´s,

implementar um novo modelo de

fortalecimento do euro, promoção da

desenvolvimento económico para os

inovação empresarial, etc., colocan-

próximo anos fazendo uso das novas

do a Europa económica como actor

competências e instrumentos deste

na cena internacional.

Tratado, e a segunda condicionante

Como Presidente da Câmara de Co-

é a forte crise económica que assola

mercio Luso Espanhola não poderia

a Europa e os mercados internacio-

deixar de fazer referência às rela-

nais.

ções luso-espanholas na sua verten-

É inquestionável que a Espanha é

te económica e comercial, também

um país de forte vocação europeísta

elas tiveram um forte dinamismo e

e a Presidência espanhola, apesar

crescimento nos últimos anos gra-

das dificuldades que tem enfrenta-

ças, em grande medida, ao processo

do, tem dado sinais políticos claros

de construção europeu. Desde a

e valentia suficiente para ajudar a

integração dos dois países na União

criar uma União mais coesa, mais

Europeia em 1986 que as relações

Os empresários,

solidária, com uma maior coordena-

económicas e comerciais não para-

verdadeiros motores

ção entre as suas diversas institui-

ram de crescer até ao ultimo quadri-

da economia, saberão

ções, indo ao encontro dos cidadãos

mestre de 2008, quando se inicia um

encontrar as soluções

europeus, princípios programáticos

ciclo de forte desaceleração eco-

e retomar de novo a

do novo Tratado e tem sido uma tó-

nómica em consequência da crise

senda do progresso e

nica permanente nas declarações e

económica e financeira internacional.

do desenvolvimento

acções desenvolvidas pelos respon-

Por exemplo, em 2009, as vendas

sáveis políticos espanhóis, nomea-

espanholas para Portugal tiveram

damente do Presidente do Governo

uma quebra de 13,5 por cento e

espanhol.

as vendas portuguesas para Espa-

Dito isto, fazer qualquer apreciação

nha de 22 por cento. Teríamos que

sobre a actuação e resultados da

recuar cinco anos para encontrar

Presidência espanhola em matéria

volumes de transacções semelhan-

económica parece-me prematuro, até

tes àquelas que se registaram em

porque só a partir da recente reunião

2009. Também nos investimentos se

dos Chefes de Estado de Março foi

verificou uma acentuada quebra, por

discutido o chamado governo econó-

exemplo, nos investimentos brutos

mico comum e debatidas as medidas

espanhóis em Portugal, em 2009, a

de vigilância e estímulo da estratégia

quebra foi de 65 por cento, em rela-

“Europa 2020”, que ficará definitiva-

ção ao ano anterior.

mente aprovada no Conselho Euro-

Perante estas dificuldades estou

peu de Junho deste ano, data que

convencido que os empresários,

coincidirá com o culminar da Presi-

verdadeiros motores da economia,

dência espanhola. É importante, no

saberão encontrar as soluções e

entanto, destacar que este documen-

retomar de novo a senda do progres-

to conta já com os trabalhos efectua-

so e do desenvolvimento e contribuir

dos durante a Presidência espanhola

para o fortalecimento de um mercado

pelos Conselhos Sectoriais da Com-

ibérico mais consolidado no contexto

petitividade, Economia, Educação,

europeu e mundial.

n

julho/setembro 2010 - Diplomática • 63


Gestores internacionais

José Mínguez -

Delegado da Air Europa

“A maior luta é dar a conhecer a companhia aérea e que o público perceba os nossos modos de trabalho” Delegado da companhia aérea Air Europa em Portugal desde o ano passado, José Mínguez tem uma experiência de 23 anos no sector do Turismo. Natural de Madrid, nasceu a 20 de Abril de 1964 e estudou na Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais. Começou a trabalhar, em 1987, nas Viagens Marsans, onde desempenhou tarefas em vários departamentos relacionados com o grande público e directamente com a direcção de empresas. Entretanto passou também pelo Carlson Wagonlit Travel Espanha em 1998. Em 2002 começa a carreira na corporação onde ainda hoje se encontra – Globalia – para a Divisão Aérea da Corporação Air Europa. Agora com o desafio de lançar a Air Europa no nosso país, José Mínguez falou-nos dos vários planos em marcha.

64 • Diplomática - julho/setembro 2010


A Companhia tem frota pró-

viço bastante importante sobre-

holding de empresas que é

pria?

tudo para os empresários, além

a Globalia. Dentro da Globa-

Sim, tem. Estamos a operar

de um conjunto de outras van-

lia existem empresas como a

três voos diários com frota

tagens, tais como: as classes

Halcon Viagens, Travelplan,

própria – Lisboa ligação Ma-

de voo business ou económica,

cadeias hoteleiras – Hotéis Oá-

drid -, a partir de Madrid temos

que são cada vez mais procu-

sis, Grandforce (em Espanha),

ligação com todo o mundo.

radas; outro serviço importante

entre outras. Além de diversas

Além do mais, o avião que faz

é o cartão de fidelização. A

parcerias que podem ser es-

essa rota é ultra-moderno, com

Air Europa pertence ao grupo

tabelecidas por cada uma das

tecnologia de ponta – Embraer

Sky Team, desde 2007, e ao

divisões a nível peninsular.

195 – e tem capacidade para

fazer parte do Grupo tivemos

Para futuro haverá alguma

122 passageiros. Para cobrir-

que eleger um ramal de fideli-

tendência para explorar o

mos a parte norte de Portu-

zação com as companhias que

mercado dos países de Lín-

gal temos a ligação de Vigo a

formam a Sky Team. E a Air

gua Portuguesa? É que há

Madrid.

Europa elegeu junto da KLM

companhias que não voam

É uma Companhia que opera

e da Air France o Flying Blue.

para esses países porque

em viagens de pequeno, mé-

Ou seja, é possível coleccionar

não lhes dá lucro, a não ser a

dio e longo curso. Também

pontos com todas as compa-

TAP que tem obrigações. Têm

têm viagens low-cost?

nhias da Sky Team que de-

algum projecto futuro para

Não, e aliás, o mercado portu-

pois poderão ser trocados por

fazerem ligação, a partir de

guês percebe que a Air Euro-

viagens, ou viajar em classe

Portugal, com os PALOP’s?

pa não é uma low-cost. Para

superior. A nossa aliança, Sky

Quem sabe, mas por agora

termos uma ideia, a Air Europa,

Team, é a mais importante da

seria demasiado precipitado.

enquanto dimensão, é pratica-

Europa e tem bons produtos

Estamos aqui desde 21 de

mente do mesmo tamanho que

acessíveis a todos os passa-

Setembro unicamente a operar

a TAP. A TAP transportou em

geiros, e para os empresários

uma rota e para esses efeitos

2009 cerca de nove milhões

que estão acostumados a viajar

tem de ser uma companhia com

de passageiros, assim como a

duas ou três vezes por sema-

uma infra-estrutura sólida para

Air Europa. E relativamente à

na são vantagens importantes.

poder abrir mercados. Num

frota de aviões, se lhe descon-

Além mais, percebemos que

primeiro momento queremos

tarmos a Portugália, temos o

em Portugal não se desagrega

consolidar a ligação Lisboa/

mesmo número de aparelhos

em demasiado o mercado cor-

Madrid e mais adiante porque

que a TAP. Contudo, somos

porativo do resto do mercado

não pensarmos outros merca-

um pouco diferentes no que diz

do grande público. Nessa linha

dos. Mas em concreto ainda

respeito ao produto. O nosso

estamos a fazer um esforço

não existe nada. Durante o ano

concorrente, aqui em Portugal,

junto das agências de viagens,

de 2009, a Air Europa cresceu

são todos, mas especificamen-

porque aqui em Portugal se ca-

enquanto estrutura pelo que a

te é a Ibéria que tem o mes-

naliza tudo através das agên-

nível estratégico, no decorrer

mo produto que nós. Utiliza a

cias, estabelecendo acordos e

deste ano, pensamos abrir no-

ligação a Madrid, para a partir

tarifários para que os clientes

vas rotas. Em 2009 criámos as

de Madrid fazer a ligação com

possam usufruir das melhores

rotas de Lisboa, Nova Iorque,

todo o mundo.

oportunidades.

entre outras, no mês passado

Que tipo de serviços tem a

Há mais algum tipo de parce-

começámos a voar para Lima

Air Europa para oferecer aos

rias? Por exemplo com ca-

(Peru) e durante este mês co-

seus passageiros?

deias hoteleiras, países, ou

meçaremos a voar para Miami

Fomos uns dos primeiros do

outro!?

e em Junho, a nível da Penín-

mercado europeu, dentro da

A esse nível teremos de falar

sula Ibérica, começaremos com

nossa companhia, a instalar o

da Corporação. A Air Euro-

quatro frequências diárias para

check-in online, que é um ser-

pa é uma divisão aérea duma

Oviedo. Dentro deste contexto

julho/setembro 2010 - Diplomática • 65


José Mínguez Delegado da Air Europa

macroeconómico mundial

importante tanto para Espanha

Para o Brasil temos ligações

convém não ficarmos parados

como para Portugal. Penso que

com Salvador da Bahia até ao

no tempo, senão corremos o

devemos sempre ter um olho

final do mês de Abril, mas já

risco de não nos expandirmos.

do outro lado do Atlântico.

temos acordado o recomeço

Outros projectos? Falou-nos

Portanto a América Latina é

dos voos para Novembro deste

dos objectivos a curto prazo,

um dos objectivos!

ano.

e a médio e longo prazo exis-

Sim, os nossos voos de longo

A crise financeiro-económica

tem alguns?

curso são na maioria para a

afectou muito o mercado da

A médio prazo vamos também

América Latina: Buenos Aires,

aviação? Falo a nível empre-

começar a voar para o Pana-

Caracas, Lima, Panamá, Cara-

sarial. Há pouco disse que

má. Somos uma companhia aé-

íbas, Havana, Santo Domingo,

muitos estão a passar para

rea com grande vocação para

Punta Cana, Cancun.

a classe turística, mas, além

a América Latina. É algo muito

E Brasil?

disso, sentiu-se uma quebra

66 • Diplomática - julho/setembro 2010


2009, o Grupo Globalia obteve

manifestado o seu agrado para

Sim, mas temos vindo a rees-

lucros de 30 milhões de euros,

com a estrutura.

truturar-nos para responder a

e dessa quantia, a maior parte

Como classifica o trabalho

de passageiros?

esse contexto. Uma companhia

foram gerados pela companhia

desenvolvido em Portugal?

aérea tem de estar sempre

aérea. Portanto, em época de

Na verdade é que estamos a

preparada para esses contex-

crise apresentar estes resulta-

trabalhar muito bem, relativa-

tos. Apesar de não sermos uma

dos dá para ter uma ideia do

mente ao tempo que estamos cá.

companhia tão grande como a

trabalho desenvolvido, que foi

A maior luta é dar a conhecer a

British ou a Ibéria, mas a nível

óptimo.

companhia aérea e que o públi-

da estrutura é preciso modifi-

Para combater essa crise

co perceba os nossos modos de

car certos aspectos, como por

têm planos estratégicos para

trabalho. Pois somos uma linha

exemplo, ajustar tarifas, ana-

cativar passageiros, tal como

aérea regular, com serviços aé-

lisar se é rentável voar para

coleccionar milhas!? Que ou-

reos regulares. Queremos que os

certos sítios. Como consequên-

tras iniciativas têm?

clientes fiquem satisfeitos e que

cia dessa crise este ano temos

Depende, se falarmos da ca-

recomendem a companhia a ou-

transportado menos passagei-

tegoria business, em Espanha

tras pessoas. Inicialmente o nos-

ros que no ano anterior, mas a

temos já um cartão próprio

so principal objectivo é consolidar

nível de ingressos temos esta-

para empresas que no futuro

a ligação Lisboa/Madrid e Madrid/

do muito próximos.

tentaremos adaptá-lo ao mer-

Lisboa e a partir daí desenvolver

Mas não sentiram a crise

cado português e para o mer-

os voos de longo curso.

como, por exemplo, a Air Lu-

cado geral a estratégia passa

O mais importante para um

xor que teve de encerrar.

por acordos com as

passageiro que

F OMOS UNS

viaja nestes voos

Os problemas são os mesmos,

agências de via-

tal como comentávamos acerca

gens. À medida que

dos voos low-cost. O concei-

vão experimentando

to low-cost é um conceito de

o nosso produto os

marketing, porque a estrutura

clientes vão ficar sa-

da low-cost na aviação são os

tisfeitos com a sua

mesmos que para as outras

qualidade. É uma

companhias. O que eles fazem

frota que tem cerca

é que voam para aeroportos

de três anos e meio,

de segunda categoria e assim

com aviões muito novos, e algo

no terminal 1, 2 e 3. A Ibéria

podem cobrar menos taxas por-

muito importante a que o pas-

opera apenas no terminal 4,

que é mais barato, cortam nos

sageiro português, que é muito

junto de companhias low-cost.

serviços, conseguindo assim

viajado, dá muito valor é à pon-

Nós estamos nos terminais

tarifas mais baixas. Se as com-

tualidade. E nesse aspecto a

principais que são muito mais

panhias low-cost voassem para

Air Europa está bem classifica-

acessíveis. Por exemplo, num

aeroportos de primeira, pres-

da, com média de 96 por cento,

voo para Palma de Maiorca, o

tassem os serviços normais,

que é algo muito importante.

passageiro chega ao terminal 3

a tarifa que daria seria igual

Ultimamente têm acontecido

e fica muito perto da porta de

às praticadas pela TAP, Ibéria

algumas companhias greves

embarque, esperando sensi-

ou Air Europa. As companhias

de pilotos. Quer comentar?

velmente 25 minutos pelo voo.

low-cost cobram a tarifa de em-

Efectivamente para as gran-

Fica ainda muito próximo dos

barque e os serviços abordo.

des companhias aéreas, se

terminais 1 e 2. Essa vantagem

No fundo se usufruíres de to-

têm problemas de estrutura,

não é possível no terminal 4,

dos os serviços e tudo somado

é mais difícil de controlar que

sendo necessário ir de trans-

dá a tarifa de uma companhia

isso aconteça, ao contrário do

porte, passar por controlos,

aérea regular.

que acontece nas companhias

entre outras desvantagens.

Aliás, nesta época de crise, em

médias. Mas na Air Europa têm

DOS PRIMEIROS A INSTALAR O CHECK-IN ONLINE, IMPORTANTE PARA OS EMPRESÁRIOS

de ligação é o tempo de espera entre voos. Como funciona isso? A Air Europa, tal como a TAP, opera no mesmo aeroporto de Madrid,

n

J. M. Teixeira e A. Pinto

julho/setembro 2010 - Diplomática • 67


Gestores Internacionais

Luís Palha da Silva

- Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins

217 anos - tem sido um caminho de sucesso enorme e crescimento, muito importante” Luís Palha da Silva é Presidente da Comissão Executiva de um dos maiores grupos portugueses com projecção internacional que actua no ramo alimentar, nos sectores da Distribuição e da Indústria – Jerónimo Martins -, desde 2004. Há nove anos na empresa, o Gestor e Administrador teve antes uma passagem pelo Governo – na secretaria de Estado do Comércio -, e por uma cimenteira. Em entrevista à Diplomática, Luís Silva fala da dimensão do Grupo e do seu sucesso nos mercados do Leste.

68 • Diplomática - julho/setembro 2010


Foi importante ter sido membro

muito enriquecedora sim do ponto

Católica nesse aspecto tem contri-

do Governo para a sua carreira

de vista humano e cultural, mas do

buído bastante para a criação de

como Gestor e Administrador?

ponto de vista técnico diria que não

algumas.

Não julgo que tenha sido particu-

foi um contributo especialmente

Mais que a Universidade de ori-

larmente importante. Acho que foi

importante. Foi um contributo que

gem, não é?

mais importante para ser membro

dei à causa pública.

Pois. Quer dizer agora já nem sei

do Governo ter alguma experiên-

E a carreira universitária?

muito bem qual a minha Univer-

cia empresarial do que o contrário.

Fui assistente na Universidade

sidade de origem. Tenho duas, a

Em qualquer caso é sempre uma

Católica depois de ter acabado o

primeira é o Instituto Superior de

experiência enriquecedora e os

curso, mas nunca tive uma carreira

Economia e a Universidade Ca-

curriculums das pessoas não ser-

académica, foi apenas ocasional.

tólica, talvez por ter sido a última

vem só para se escrever os cargos

A universidade na altura, como

tenhamos ficado mais ligados.

desempenhados, mas para se dizer

ainda hoje um bocadinho, tinha a

Porquê a Polónia como base para

a riqueza das experiências que se

ideia para se ter uma boa escola

a expansão económica do grupo

têm, os diferentes ângulos com que

de Gestão também se têm de ter

Jerónimo Martins?

se olham os problemas e nesse

pessoas que trabalhem na vida ac-

A Polónia foi onde tivemos mais

sentido também não considero que

tiva empresarial. As vantagens são

sucesso e onde adquirimos uma

tenha sido tempo perdido e, de

muitas quer pelas experiências que

posição de grande liderança no

alguma forma, teve alguns contri-

se trazem, pelos casos que podem

mercado, que ainda conservamos.

butos para as áreas onde depois

ajudar a trazer para cada uma das

Nós por volta do meio dos anos

vim a trabalhar. Depois de sair no

discussões que se faz na universi-

90 com as dificuldades a que se

Governo estive num sector com-

dade, quer ainda porque depois há

ia começando a assistir ao cresci-

pletamente diferente daquele que

uma ligação da própria universida-

mento do grupo em diversas áreas,

tinha regulado, estive no cimento. E

de às empresas onde se trabalha,

mas nomeadamente no retalho em

eu tinha estado na secretaria de Es-

e como sabe as universidades são

Portugal, olhámos além fronteiras.

tado do Comércio, onde uma parte

aquilo que ensinam e que ajudam a

Foi também a altura da internacio-

importante dos problemas tinha

criar empregos no futuro e, portan-

nalização das empresas portugue-

a ver com o comércio alimentar.

to, daí haver uma certa ligação que

sas e o Jerónimo Martins fez exac-

Cimento não tinha nada a ver com

a Católica sempre teve a pessoas

tamente aquilo que se esperava,

o comércio alimentar. Só passados

que estavam colocadas em empre-

que era alargar os seus horizontes.

muitos anos, provavelmente mais

sas. Portanto foi de interesse mútuo

Não fomos exclusivamente para a

cerca de 6 ou 7 anos depois é que

que estivesse 5 ou 6 anos a dar au-

Polónia, estudámos muitos outros

vim para esta área. Um conjunto de

las, mas eu não tencionava seguir

mercados. Na altura os países da

fenómenos que tinha encontrado,

carreira académica, obviamente

Europa do Leste estavam todos a

entre 1991 e 1995 que foi quando

que tive de dar o lugar àqueles que

abrir e nós fomos estudar esses

estive no Governo, já era completa-

pensavam mesmo nessa vida.

mercados todos. A Polónia, não

mente diferente e já vim encontrar

Em regra, no seu sector de Ges-

querendo desconsiderar os outros

situações que praticamente não

tão e Economia conseguem uma

países porque de facto fizeram par-

conhecia do desenvolvimento do

carreira académica e no sector

te do leque de oportunidades que

sector e nesse sentido não houve

privado e vão para a banca ou

andámos a estudar, mas tinha uns

nenhuma transferência directa de

para os seguros. Consigo isso

encantos muito especiais. O primei-

Know-How. Agora são experiências

não aconteceu, foi para um ramo

ro e importantíssimo, diferentemen-

enriquecedoras, são experiências

completamente diferente.

te de alguns dos outros países da

que nos ajudam a não considerar

Sim, normalmente são os sectores

Europa do Leste, era um país que

os casos que temos de resolver

mais visíveis e acaba-se por estar

estava habituado à iniciativa pri-

como problemas a começar do prin-

com os holofotes em cima, mas

vada, não era por grandes grupos

cípio. Tenho sempre alguma vanta-

também tenho encontrado muita

nem com enorme visibilidade, mas

gem em já ter trabalhado em alguns

gente noutras áreas. Tenho colegas

nunca deixou de haver uma inicia-

dos temas. Mas que se possa dizer

com muita visibilidade pública que

tiva privada muito importante, até

que tenha sido directamente impor-

estão nos mais variados secto-

de cariz quase agrícola em alguns

tante não creio. É uma experiência

res. Aliás diria que a Universidade

casos, mas sempre muito ligado à

julho/setembro 2010 - Diplomática • 69


Luís Palha da Silva Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins

área alimentar. Mas portanto, uma

cessário continuar a investir muito

um mercado relativamente menos

grande abertura aos novos investi-

em todas as áreas onde estávamos

desenvolvido do que a generalidade

mentos foi na altura importantíssi-

e os anos 2000 marcaram a dife-

dos países da Europa Ocidental em

mo. Um segundo ingrediente que

rença em relação aos 90. Come-

relação às estruturas modernas de

contou para a nossa decisão foi o

çaram a ser necessários recursos

comércio. Posso dizer-lhe que, ao

facto de ser o maior país, em popu-

financeiros vultuosos para poder

que nós costumamos chamar-lhes

lação, de toda a Europa do Leste

estar em muitas oportunidades ao

comerciantes tradicionais que em

que se abriu e que saiu na altura da

mesmo tempo. Portanto, estivemos

Portugal já não devem represen-

esfera da Rússia.

no Brasil, em Inglaterra estivemos

tar mais do que 25 por cento, na

Já com algum poder de compra!?

com uma cadeia – a Lillywhites-,

Polónia ainda representam 50 por

Muito limitado na altura. Quando

de enorme visibilidade, também

cento do total. Portanto ainda com-

visitámos a Polónia, o grupo teve

um projecto de grande ambição do

pram em pequenas mercearias, em

um enorme choque, comparado

grupo, que correu bem mas que

pequenas lojas de rua, quiosques,

com Portugal, na altura a Poló-

necessitava igualmente de grandes

mercados livres, mercados muni-

nia não era um país exactamente

investimentos. E na Polónia estive-

cipais, cooperativas, etc. Há uma

sofisticado, moderno, embora fosse

mos presentes em vários formatos

grande oferta instalada de grandes

um país nalgumas áreas, como a

que temos em Portugal e onde so-

empresas com grandes supermer-

educação das pessoas, riquíssi-

mos líderes, como supermercados,

cados e inúmeros hipermercados,

mo e, provavelmente, ao nível ou

tivemos uma presença em hiper-

pelas nossas contas há mais de

melhor que Portugal. Mas do ponto

mercados e nos Cash and Carry’s.

320 grandes hipermercados na Po-

de vista económico havia, de facto,

Mas a partir de 2001 – 2002 decidi-

lónia e nem sempre estão cheios.

uma situação incipiente de desen-

mos concentrar-nos na companhia

Daí que se pode levantar a ques-

volvimento. O facto de ser o maior

onde já éramos os maiores do país

tão: não é capacidade a mais? Para

país, aliás depois quando houve o

em retalho e expandir essa presen-

o momento talvez seja, mas de

alargamento dos 15 para os 25 e

ça e distanciarmo-nos muito dos

facto o potencial é muito grande. A

posteriormente para os 27 da União

outros que trabalhavam na mesma

Polónia vai continuar a crescer, os

Europeia, a Polónia, com a exclu-

área que nós, no retalho alimentar e

formatos modernos são modernos

são da Roménia nesta última, era

naquele formato em particular. Hoje

não porque tenham betão ou vidro,

maior que os outros países todos

temos a maior cadeia retalhista da

mas porque estão muito atentos às

juntos que entraram para a Europa

Polónia. Temos tantas ou mais lojas

necessidades dos consumidores e

dos 25. 40 Milhões de habitantes,

como todos os outros retalhistas

paulatinamente vão conquistando

uma área de facto onde se podia

modernos juntos no país – cerca de

esses consumidores. E, portanto,

expandir toda a nossa actividade

1450 lojas.

chegará o dia, se não houver muito

se tivéssemos uma estratégia de

Quem são os rivais mais direc-

mais crescimento de oferta, em

grande crescimento como na altura

tos?

que essas capacidades vão ser

tivemos. A Polónia não foi o úni-

São todas as grandes companhias

cheias pelo consumidor. Não me

co país por onde entrámos. Nós

da Europa que estão lá presentes.

parece que isso seja um problema.

fizemos alguns investimentos e em

Nós estamos à frente deles e acho

Nós vamos continuar a abrir lojas,

áreas interessantíssimas, como no

que é um motivo de orgulho para

continuamos a considerar uma das

Estado de São Paulo no Brasil. Um

o grupo, e deveria ser também um

grandes razões por que alguns con-

investimento visionário acho que te-

motivo de orgulho para Portugal.

sumidores polacos não compram

ria tido enormes hipóteses de gran-

O grupo não tem nenhuma joint-

nas nossas lojas é devido ao facto

de sucesso dentro do grupo, se o

venture com outra empresa!?

de não as terem perto deles. Há

nosso balanço também tivesse sido

Não, nós temos cem por cento do

sítios que não estão a ser servi-

suficientemente forte para estarmos

capital da empresa. Mas são os

dos por Biedronkas e têm que ser.

em todas as oportunidades que

grandes grupos franceses, ingle-

Posso apresentar-lhe uma medida:

criámos na altura ao mesmo tempo.

ses, alemães, entre outros, que lá

nós estamos em todas as cidades

Tivemos uma posição muito interes-

se instalaram e sobre os quais nós

do país com mais de dez mil habi-

sante no Estado de São Paulo com

tentamos manter-nos à frente.

tantes e, praticamente, em todas

os supermercados C, as coisas até

E há mercado?

com mais de cinco mil habitantes.

nem corriam nada mal, mas era ne-

Vamos ver. O mercado polaco é

Vamos continuar a crescer

70 • Diplomática - julho/setembro 2010


naquelas mais pequenas, mas

soas que nos quer vender aqui em

de investimentos, ou quando se tem

ainda muito mais do que isso va-

Portugal uns contentores para man-

de optar de investir num lado ou

mos ter uma presença mais intensa

darmos para lá. Isso não vai funcio-

noutro, e é um factor que também

nas grandes cidades onde ainda

nar. Não é maneira de trabalhar o

acaba por ter o seu peso.

temos um número de lojas relativa-

mercado polaco. Quem quiser estar

Tal como as leis laborais?

mente pequeno.

no mercado polaco não pode re-

Tal como as leis laborais. Hoje as

O Jerónimo Martins coloca mui-

pousar nos esforços da nossa com-

pessoas escolhem os investimen-

tos produtos portugueses nos

panhia lá. Tem de ir lá estudar e em

tos e onde os irão fazer em função

seus supermercados da Polónia?

conjunto com a nossa companhia,

de um conjunto de factores de

Há duas situações. A primeira é

eventualmente, criar uma parceria.

competitividade. Competitividade

que nos produtos alimentares e, so-

Nem sempre é possível. Há produ-

fiscal, competitividade no campo da

bretudo, nos supermercados e lojas

tos que nos têm vindo tentar ofere-

legislação laboral, são ingredientes

que nós gerimos, quer em Portugal

cer e por muito que nos esforcemos

tradicionais de uma boa competiti-

quer na Polónia, o tipo de produtos

em conjunto encontrar soluções

vidade.

que vendemos, normalmente, não

não vai ser possível. Por exemplo,

Há quantos anos se encontra no

viaja com facilidade. Muitos produ-

coisas da área não-alimentar, as

Jerónimo Martins?

tos alimentares, muitos produtos

pessoas por vezes não compreen-

Estou na empresa há quase nove

frescos no caso português. Esse é

dem, mas nas nossas cadeias da

anos. Sou Presidente da Comissão

o primeiro ponto, enviar detergen-

Polónia não temos produtos perma-

Executiva desde 2004.

tes e champôs daqui para a polónia

nentemente da área não-alimentar.

Portanto, de 2004 para cá houve

não é fácil porque não viajam muito

Nós só vendemos produtos ali-

um salto qualitativo.

bem esses produtos. É natural que

mentares (95 por cento), depois há

Não, têm havido enormes saltos

nas nossas lojas vendamos pro-

produtos que rodam mas não estão

neste grupo que já tem 217 anos.

dutos da Unilever, mas produzidos

permanentemente. As pessoas só

Um dos grandes saltos foi dado nos

pela Unilever Alemanha ou Poló-

compreendendo no local a nossa

anos 50. Fizemos a nossa joint-ven-

nia, provavelmente Polónia porque

presença e a maneira como esta-

ture com a Unilever em 1949 e daí

eles têm uma óptima indústria. Um

mos lá instalados é que conseguem

para a frente tem sido um caminho

segundo ponto muito importante

compreender o mercado polaco e

de sucesso enorme e crescimento

é que nós não tentamos impingir

daí tirar alguma vantagem em haver

muito, muito importante para o gru-

nada aos nossos clientes, tudo

esta presença portuguesa. Mas de

po. Nos anos 80 toda a revolução

depende daquilo que eles gostam

facto, e como ponto final para esta

da área do retalho e da distribuição

efectivamente. Na Polónia tivemos

exposição, temos tido um cuida-

alimentar em Portugal foi uma fonte

sempre uma preocupação muito

do enorme em colaborar com as

de crescimento enorme para o gru-

grande que foi desenhar o nosso

empresas portuguesas que querem

po e deu um salto e aí a verdadeira

tipo de produtos à medida que os

conhecer o mercado polaco e na

revolução. Eu diria que a presença

polacos querem. Mas têm em nós

medida do possível fazemos um es-

na Bolsa acabou por dar ainda mais

uns amigos para os ajudar a co-

forço grande para colaborar mesmo

visibilidade a essa revolução que

nhecer o mercado, as nossas lojas,

activamente.

aconteceu nos anos 80-90. Acede-

os tipos de consumidores que nos

O Governo polaco ajuda os em-

mos à Bolsa em 1989. De 2000-01

visitam, etc.

presários estrangeiros?

para cá deu-se um salto qualitativo

E têm conseguido?

Não ajuda materialmente. Agora,

interessante, mas o crescimento

Têm conseguido com alguma fre-

no mercado polaco sentimos que os

não foi muito maior ou muito menor

quência. Se calhar não tanta como

investidores estrangeiros são bem

do que já tinha acontecido nos anos

seria desejável para Portugal. É

tratados e nesse sentido já é uma

50 e 80. Portanto, considero mais

estranho que tendo uma companhia

grande ajuda.

um ciclo de bom desenvolvimen-

que venda cerca de 3,5 milhões de

E ao nível fiscal, a Polónia tem

to do grupo. Neste momento, as

euros na Polónia, que tenhamos

menos carga de impostos?

pessoas salientam o bom desenvol-

relativamente poucos empresários

A taxa básica de impostos é mais

vimento da empresa no mercado de

a querer visitar-nos e conhecer as

baixa na Polónia do que em Por-

capitais e no desenvolvimento do

nossas lojas e os nossos clientes.

tugal. Isso obviamente pondera-se

valor da acção. É, talvez, essa evo-

Temos mais um conjunto de pes-

quando se fazem determinado tipo

lução qualitativa que as pessoas

julho/setembro 2010 - Diplomática • 71


Luís Palha da Silva Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins

têm hoje mais presente, mas o

Portugal, que é a empresa holande-

taridade com o que temos, neste

grupo tem de facto símbolos enor-

sa Old, mas não estamos condicio-

momento, se possa desenvolver.

mes na sua história de 217 anos,

nados para investir noutros lados.

Uma das áreas que temos procura-

com uma enorme cultura de provo-

Ora, neste momento, só a Polónia

do é a Europa de Leste, ou a pró-

car a revolução e a mudança e este

representa cinquenta por cento do

pria Polónia, explorando diferentes

é apenas mais um capítulo.

nosso volume de negócios e isso

possibilidades: ou a distribuição ou

Dá-me a ideia também que quan-

obviamente reflecte-se na percen-

mesmo nalgumas circunstâncias a

do vocês, por necessidades

tagem que a nossa área industrial

indústria, mas alavancando a nossa

de mercado também, durante a

tem. Não significa que estejamos

posição de completa liderança do

Guerra criaram a Fima e depois

hoje menos empenhados do que

mercado polaco. Por isso temos

essa parte industrial parece que

alguma vez estivemos na indústria,

gasto muito tempo a estudar os

se foi esbatendo ao longo dos

continuamos empenhadíssimos em

outros países à volta e é um estudo

anos, dedicando-se mais à parte

fazê-la desenvolver e fazê-la conti-

que já vem desde há anos, como

do comércio.

nuar a ser a maior área industrial no

lhe disse não estudámos na altura

É verdade que numa determinada

país no negócio alimentar. Há uma

altura representou uma parte mais

importante em percentagem do

para o grupo Jerónimo Martins, e

os países Bálticos, a Eslováquia,

volume de negócios da empresa.

que nos ajuda a dizer aquilo em

mais recentemente a Ucrânia, a

Na altura tínhamos de facto ali uma

que temos imenso orgulho, é que

Roménia e a Rússia têm de certa

área de grande presença e grande

somos o maior grupo do alimentar

maneira absorvido grande parte da

crescimento, e o nosso relaciona-

do país. Sem a nossa componente

nossa atenção. Não quer dizer que

mento com Unilever deu-nos até

alimentar não sei se poderíamos

não tenhamos estudado Angola,

uma quase presença internacional

dizer com esta forma tão aberta e

mas Angola coloca desafios para

que na altura nos faltava. A partir

tão orgulhosa que somos o maior

os quais nem toda a gente não tem

dos anos 80 e, realmente com este

grupo alimentar do país.

de momento o Know-How total. A

decisão estratégica de estar no ne-

Falou há pouco do Brasil, que

nós não assusta andar à procura de

gócio da distribuição alimentar, foi

não foi um falhanço, não houve

Know-How para entrar em Angola,

perdendo espaço. Mas apesar de

foi capacidade para estar em vá-

mas são desafios muito diferentes

tudo a nossa associada, em parce-

rios lados ao mesmo tempo, e a

daqueles que temos, por exemplo,

ria com a Unilever, continua a ser

Inglaterra o mesmo caso, porquê,

se quiséssemos expandir a Bie-

líder de mercado em praticamente

quando toda a gente fala que o

dronka para outros lados. Isso nós

todas as áreas onde está presente.

el dorado é Angola, o Jerónimo

sentimos que podíamos fazer com

Nós somos sempre o número um

Martins não investe em Angola?

um conjunto de recursos financei-

e com forte liderança no mercado,

Cada grupo tem de encontrar um

ros relativamente limitado e indo

forte sentido de inovação, forte

filão, não vale a pena quando

directamente ao formato que tem

sentido de satisfação dos clientes

se tem filão de sucesso andar a

tido sucesso na Polónia. Começar

e de transferência a nível de todo

procurar por todos os lados. E, tem

qualquer coisa de novo em Angola

o Know-How a nível mundial para

de se procurar coisas que este-

é um caminho que é difícil de ver a

o mercado português. De maneira

jam em perfeita consonância com

complementaridade que tem com

que, hoje, todos os lançamentos de

aquilo que já sabemos fazer. Nós

o que já fazemos neste momento,

grandes produtos continuam a ser

estamos presentes em Portugal na

é também mais uma outra ponte

lidos em Portugal em linha do que

área dos supermercados de onde

para uma parte distante do plane-

é feito no resto do mundo. Nesse

somos de longe os maiores, temos

ta e com formatos com que nós,

sentido tem uma presença fortís-

esta relação com a Unilever, temos

neste momento, não trabalhamos.

sima. Pode crescer para além do

a nossa área de Cash & Carrys’s

Não nos parece possível, neste

que é Portugal? Claro que isso não.

que é também a área líder no país,

momento, um formato normalíssi-

Estamos confinados a este relacio-

temos a nossa presença na Poló-

mo Pingo Doce em Angola, mas

namento com Unilever em Portugal,

nia e temo-nos interrogado muito

parece-me possível, com algumas

enquanto que na distribuição do

sobre qual é o filão. O filão que nós

dificuldades logísticas evidentes no

alimentar nos temos sentido mais

sentimos que há actualmente é en-

país, começar uma actividade de

libertos. Temos um parceiro em

contrar áreas onde a complemen-

dimensão noutro qualquer formato

72 • Diplomática - julho/setembro 2010

coisa que a indústria traz também

apenas a Polónia. Fomos estudando a Hungria, a República Checa,


Luís Palha da Silva

como os Cash & Carry’s e, por isso,

Numa determinada altura porque o

forma muito rápida, mais recente-

embora não estejamos assustados

conjunto de empresas que traba-

mente, com leis mais liberais e com

com as dificuldades, bate muito

lhavam no mercado era demasiado

a entrada de novos operadores,

mais certo aquilo que é preciso

poderoso e conhecedor do mercado

também deu um salto importante

fazer noutros mercados com aquilo

espanhol, neste momento com a

no desenvolvimento, e quando

que já sabemos fazer. Portanto,

crise não é a melhor altura para

acelera nem toda a gente reage

Angola não me parece que possa

entrar naquele mercado. Estamos

positivamente e começam a surgir

estar nas nossas prioridades, pois é

atentos mas as oportunidades não

alguns descontentamentos. Eu

preciso desenvolver um conjunto de

têm surgido.

acho que não há motivos para os

competências que neste momento

Falando do mercado nacional.

descontentamentos. O consumidor

não estamos em condições de as

Há fornecedores que se queixam

tem motivos globais de desconten-

desenvolver.

de colegas do Jerónimo Martins,

tamento. O consumidor tem vindo a

E Espanha?

de outros grandes grupos, que

beneficiar de uma distribuição cada

Espanha está sempre presente.

estão a ser explorados por eles.

vez mais sofisticada, mais moderna

Nós, nem quase damos por isso

Por enquanto não se tem ouvido

e de acordo com os seus interesses

mas, competimos permanentemen-

falar no Jerónimo Martins, é uma

e, se pensar bem, os consumidores

te com Espanha. As pessoas que

política diferente que têm em

têm beneficiado, nos últimos anos,

passam a fronteira de um lado para

relação aos fornecedores?

de um grande desenvolvimento de

o outro são muitas e nós temos

Eu acho que o sistema da distri-

um conjunto de produtos que hoje

de estar preparados para isso. No

buição alimentar em Portugal tem

está banalizado, mas que há uns

entanto entrar em Espanha tam-

vindo a evoluir. Evoluiu numa deter-

tempos atrás eram coisas quase de

bém levanta os seus problemas.

minada altura, nos anos 80, de uma

luxo. O salmão, entre outros.

julho/setembro 2010 - Diplomática • 73


Luís Palha da Silva Presidente da Comissão Executiva Jerónimo Martins

São produtos trazidos pelo desen-

de relações éticas de negociação

pouco. O produtor e o distribuidor.

volvimento do comércio moderno

entre distribuidores e fornecedo-

O distribuidor nas margens do leite

e que tem contribuído muito para

res. Aqui e ali é preciso dizer que

tem percentagens que não dariam

que as pessoas acedam a níveis

algumas empresas se colocaram

para trabalhar em circunstâncias

superiores de satisfação. Os preços

elas próprias fornecedoras numa

normais. São fazes de adaptação.

dos produtos são hoje 20 ou 30 por

situação de alguma dependência.

O nosso grupo orgulha-se de ter um

cento mais baratos, nalguns casos,

Se uma pessoa passa a ter um

relacionamento saudável, aliás faz

estou a dizer mesmo em termos

distribuidor com 60 ou 70 por cento

parte do nosso código de ética ter

reais, não apenas nominais, do que

das suas vendas fica numa situa-

um relacionamento saudável com

eram há dez anos. E, portanto, tem

ção de grande dependência. Não

os produtores. Quer isso dizer que

havido um grande desenvolvimento.

é uma situação que a distribuição,

não somos exigentes? Não. Quer

Claro que num processo de desen-

ela própria, também goste de ter,

isso dizer que num qualquer caso

volvimento muito acelerado há uns

porque depois vai ter essas queixas

não temos de abandonar algum

ou outros que sofrem um bocadinho

caso aconteça alguma coisa. Mas

produto ou algum fornecedor?

mais que, aqui e ali,

O GRUPO TEM

o distribuidor hoje tem

Não. Às vezes temos que abando-

têm algumas dificul-

de ser um advogado

nar porque não corresponde aos

dades em manter

NO SEU CÓDIGO

permanente dos seus

nossos critérios de preço ou não

consumidores. Se os

corresponde aos nossos padrões

a competitividade e, eventualmente,

GENÉTICO UMA

produtos não têm a

de qualidade. Mas mantemos

queixar-se-ão. Eu não

PAIXÃO MUITO

qualidade e o preço que

uma relação o mais saudável e

acho que, e falo em

GRANDE QUE É A

devem ter a distribuição

mais estável que podemos com os

tem também a obriga-

nossos fornecedores. Daí que eu

ção de continuar a lutar

sinta, embora num caso ou noutro

termos do sector não exactamente em nome do nosso grupo, a dis-

LIBERDADE DE

PODER TRABALHAR. com a indústria para se

possa haver queixas, não creio

tribuição moderna ou a distribuição

alcançar um nível de eficiência que

que sejam queixas significativas de

das grandes empresas tenha tido

é normal noutros mercados. Por

mal-estar num relacionamento. De

esse papel perdatório que alguns

isso geram-se muitos descontenta-

uma maneira geral, creio que hoje

dizem. Tem feito o que é possível

mentos sim. Eu acho que a distri-

todos os industriais compreendem

e desejável para o cada vez melhor

buição alimentar moderna, assim

que a distribuição vive processos

bem-estar do consumidor. Nalguns

como a indústria, em Portugal, não

de concorrência muito violentos e

casos, o preço dos produtos im-

tem nenhum comportamento que

que nenhum grupo pode deixar de

portados, por alguns grupos que

vá para além dessa evolução, no

exigir o melhor para si e para os

estão presentes, forçam a que as

sentido de cada vez melhor serviço

seus clientes.

negociações com os produtores

prestar ao consumidor.

Que apreciação faz às leis labo-

nacionais se encaminhem para uma

A questão do leite!

rais? Acha que estão bem ou que

exigência de cada maior eficiência

O leite é um caso típico. O preço

poderiam ser mais abertas para

e melhor preço para as empresas,

reduziu em toda a Europa e Portu-

beneficiar o funcionamento do

que as empresas de distribuição

gal seguiu esse caminho. A quali-

comércio?

depois canalizam para os consu-

dade do leite, hoje, é insofismável,

O grupo tem no seu código genético

midores. A alternativa para quem

ninguém a põe em causa. Trata-se

uma paixão muito grande que é a

compra um produto qualquer que

de um assunto que tem muito a

liberdade de poder trabalhar. Quan-

não baixa de preço é comprá-lo no

ver com o preço. O preço tem que

to mais liberais forem as leis, em

exterior e trazê-lo, e por isso mes-

seguir aquilo que é normal. Há um

todos os aspectos, obviamente que

mo, por vezes, nas fronteiras há um

excesso de oferta em toda a Euro-

as consideramos mais favoráveis

comércio muito grande que resulta

pa e estão a fazer-se reestrutura-

para a competitividade do país. Mas

da ineficiência do próprio sector

ções no sector? Sim. Sofre Portu-

devo dizer que nós também somos

da indústria e da distribuição e do

gal como sofrem todos os outros

um grupo com uma forte raiz familiar

relacionamento com o consumidor.

países. No fim de contas feitas vai

e com uma forte raiz pela preocu-

Portanto, as queixas, do meu ponto

ter de se encontrar uma solução

pação social. Mesmo antes das

de vista, são naturais mas nunca

que beneficie o consumidor. Quem

leis acontecerem, nós temos essas

revelaram ser uma ultrapassagem

é que sofre pelo meio? Todos um

preocupações. O desemprego

74 • Diplomática - julho/setembro 2010


é a solução para alguns dos

As autarquias têm um papel ime-

ção com o BCP em alguns super-

problemas que afectam a econo-

diatamente ligado ao licenciamen-

mercados ainda continua?

mia das empresas? Por exemplo, o

to comercial, mas, a maior parte

Nós ainda temos alguma presença,

nosso Presidente, quando esta crise

das vezes, fazem-no duma forma

mas não institucional. Tínhamos

começou a tornar-se uma coisa

quase automática. A capacidade

uma presença 50/50 num banco

óbvia e violenta, desde o princípio

que têm de intervir diz respeito

que funcionava dentro das nos-

disse que a solução para nós não

ao cumprimento de determinadas

sas lojas, mas isso acabou. Neste

passaria pelo desemprego. Noutros

regras e não exactamente ao pro-

momento existe uma colaboração

casos e noutras empresas é quase

cesso de poder abrir ou não um

normal com o BCP como podería-

sempre essa a primeira solução.

espaço, embora tenha uma certa

mos ter com outro banco qualquer.

Nós aqui preferimos imaginar outras

intervenção. Eu julgo que passa-

Em alguns supermercados ainda

coisas antes de usar a liberdade de

dos uns anos de desenvolvimento

existem alguns bancos, mas que

fazer seja o que for no que respeita

comercial do país, a maior parte

nos pagam uma pequena renda e

à redução dos custos de trabalho.

das autarquias começaram a ver

nada mais que isso.

Temos uma preocupação que tenta-

que também a área da distribui-

Foi uma experiência falhada?

mos compatibilizar entre obviamente

ção alimentar não é só mantendo

Foi uma experiência que teve o seu

em cada momento termos os recur-

o comércio mais altivo que se traz

tempo. O BCP também achou que

sos com a qualidade e quantidade

riqueza para os concelhos. E é

não era uma área que quisesse de-

que queremos de trabalho, com uma

provavelmente numa certa com-

senvolver muito. Para nós era uma

outra grande preocupação que, de

plementaridade, que eu acho bem

área que condicionava um pouco a

facto no nosso grupo a única coisa

que haja alguns esforços pelas

nossa actividade. Ficámos ambos

verdadeiramente importante que

autarquias para que se mante-

satisfeitos da maneira como foi

temos para nos ajudar a ter suces-

nham, que, se calhar, se encon-

feita. Foi uma situação que amadu-

so nos mercados, são as pessoas.

trará um equilíbrio saudável. Não

receu de uma maneira que não foi

Nem sempre é possível compatibi-

me parece que, neste momento,

no sentido do crescimento

lizar tudo. Eu diria que nós temos

haja muitos municípios que defen-

Uma coisa que me parece muito

ido por vezes mais à frente que as

dam a total presença do mercado

importante, uma vez que se diri-

próprias leis nesta preocupação so-

tradicional e sem a presença de

gem a um mercado que para nós

cial. Por isso, não considero que as

um mercado de instalações mais

tem muita importância, é o grande

leis sejam muito, muito condiciona-

modernas. Já se viu em termos

impacto que pode ter uma pre-

doras da nossa actividade, embora,

de preço, em termos de qualidade

sença diplomática num país onde

em certos casos, assuntos como a

e diversidade dos produtos que

estão presentes as empresas por-

polivalência, a flexibilidade, a capa-

haver lojas mais modernas é um

tuguesas. Temos podido contar,

cidade de transferir pessoas e etc.,

grande benefício para as popula-

por exemplo na Polónia, com um

pudessem eventualmente serem

ções e evita até que migrem para

grande empenhamento das mis-

mais favoráveis. Contudo, não sinto

outras zonas pela ausência de

sões diplomáticas ali presentes.

que seja a nossa principal preocu-

mínimo de bem-estar na compra

É um descanso que temos muito

pação. Julgo, por exemplo, numa

de produtos alimentares. Portanto,

grande e é isso que sentimos que

determinada altura outro tipo de leis

como a maior parte das Câmaras

também pode ser feito no esforço

como licenciamento comercial foram

do país já têm esta filosofia nós

diplomático. É grande esforço eco-

muito mais restritivas da nossa acti-

não temos sentido muita dificulda-

nómico que é, muitas vezes, de

vidade do que as leis laborais. E, aí

de. Aquilo que existe muitas ve-

mero acompanhamento. Não há

tem até menos sentido que o Estado

zes é a discussão de pormenores

nada que possa ser directamente

intervenha dessa forma. Condicio-

de instalação ou de funcionamen-

realizado pela presença diplomáti-

nar o aparecimento de lojas porque

to. Sentimo-nos, a maior parte das

ca, mas sentir o acompanhamento

acha que já há muitas parece-nos

vezes, bem-vindos nos municípios

é uma coisa que ajuda muitos os

uma orientação tonta e sem qual-

portugueses.

grupos portugueses. Nós temos

quer sentido de longo prazo.

Seja ele de que cor for?

tido essa sorte, esperemos que

E o relacionamento com as au-

Sim, a cor não é uma coisa muito

seja essa a filosofia de todos os

tarquias em relação aos grandes

relevante nessa problemática.

Embaixadores pelo mundo fora.

espaços?

Aquela vossa experiência de liga-

n

J. M. Teixeira

julho/setembro 2010 - Diplomática • 75


gestores internacionais

José Joaquim Oliveira -

Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal

“Os clientes são a nossa razão de ser no mercado e o sucesso dos clientes orienta a nossa actuação no mercado” O Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal é um profundo conhecedor da realidade da empresa, onde leva já três décadas de serviço. Antes de assumir a chefia da representação americana em Lisboa foi responsável pela área de negócio na divisão de software da IBM para a Península Ibérica. Natural de Lisboa, José Joaquim Oliveira fala-nos da presença da IBM em terras lusas e das novas áreas de negócio para o futuro: cidades, energia e saúde.

76 • Diplomática - abril/maio 2009


Faça-me uma breve biografia

380 mil funcionários que operam em

cidade de serviços.

sua. Como surgiu na empresa?

todo o mundo, sobretudo em quatro

Quais são esses produtos e

Estou na IBM há muitos anos. A IBM

continentes: Europa, América, Ásia,

serviços que têm ao dispor dos

foi o meu primeiro e único emprego.

Oceânia e, também, já estamos pre-

clientes?

Entrei, andava ainda a estudar. Fiz

sentes em África. Temos 170 locali-

Em matéria de produtos temos uma

formação em engenharia, mas não

zações em mais de 100 países. Em

oferta diversificadíssima e vastíssi-

acabei o curso. Tenho uma carreira

Portugal estamos desde 1938, va-

ma de software (programas) para

de mais de três décadas ao serviço

mos fazer 72 anos, e somos líderes

fazer as mais variadas tarefas. Na

da empresa, passando por várias

a nível nacional, tal como acontece a

área de hardware temos servidores.

etapas. Comecei na parte técnica a

nível mundial, neste sector da tecno-

Apesar de termos sido, em determi-

trabalhar como programador, ana-

logia de informação. Portanto, desde

nado período da nossa história, os

lista de sistemas informáticos, entre

1938 que nós ajudámos a construir e

criadores da computação pessoal –

outras coisas; a determinada altura

a criar aquilo que é o mercado de in-

PC’s –; hoje, já não temos essa linha

passei para a área comercial como

formática no país. Tudo o que existe

de negócio, alienamo-la porque em

vendedor de sistemas informáti-

hoje de tecnologia de informação no

certa altura fizemos uma evolução

cos para computadores e fiz uma

mundo e, naturalmente, em Portugal

estratégica e fizemos escolhas ao

evolução progressiva nessa área,

se deve em muito em larga medida

apostar em determinadas áreas e

passando a director de marketing e

àquilo que a IBM fez.

desinvestir noutras. Uma das quais

de vendas, acumulando ainda outras

Em Portugal têm uma delegação

em que desinvestimos foi precisa-

funções de chefia ao longo da minha

em Lisboa e outra no Porto?

mente a dos PC’s, porque é uma

vida na área comercial; noutra fase

Temos uma delegação no Porto

área de baixo valor, não tem valor

da carreira tive algumas responsa-

e em Lisboa temos a sede e mais

acrescentado, e nós focámo-nos nas

bilidades internacionais, mas sem

três escritórios. Somos em Portugal

funções de valor acrescentado – ser-

nunca ter trabalhado por um período

cerca de 1200 empregados e temos

vidores de todo o tipo para soluções

extenso noutro país, deslocava-me

no sector uma posição cimeira de

informáticas. Nesta categoria temos

apenas esporadicamente; assumi

liderança.

ao dispor dos clientes servidores de

também a área de negócio da IBM

Qual a visão, missão e valores da

hardware e sucessões de armazena-

para a Península Ibérica na divisão

IBM?

mento de dados. No software temos

de software e, finalmente, dessa

Nós temos uma gestão global e os

uma gama muito diversificada de

posição passei para o cargo de Ad-

valores são também únicos e aplica-

programas para correrem nos nos-

ministrador Delegado e Presidente

dos em Portugal. Os nossos méto-

sos computadores e em computado-

da IBM Portugal, em 1998. Nestes

dos assentam no plano de sucessão

res de outras marcas. Nos serviços

últimos 12 anos tenho estado na

de valores para os nossos clientes.

temos ofertas que vão desde da

liderança da empresa. Tenho 59

Ajudar os nossos clientes a resol-

implementação de sucessões tecno-

anos, nasci e estudei em Lisboa.

ver os seus problemas através das

lógicas à consultoria de negócio que

Sou alfacinha de gema. Sou casado

soluções informáticas. Temos um

faz a ligação entre o negócio e as

e tenho um filho.

enfoque absoluto nesse domínio. O

soluções informáticas até serviços

A presença da IBM em Portugal e

cliente, para nós, é sagrado e está

de outsourcing das infra-estruturas

também no mundo.

acima de todos os outros aspectos

tecnológicas até a outsourcing de

A IBM Corporation (internacional) vai

e condiciona em todas as vertentes

processos e ou de aplicações. Te-

fazer 100 anos para o ano. Nasceu

a nossa actuação e o nosso desen-

mos uma oferta completa e abran-

nos Estados Unidos da América e

volvimento enquanto organização.

gente de alternativas de outsourcing,

começou por ser uma empresa a

Somos, hoje, uma empresa muito

mas sobretudo de consultoria e de

nível local, transformando-se depois

focada na criação de tecnologia

serviços de implementação de su-

numa multinacional e, hoje, é uma

neste sector de marca de computa-

cessões tecnológicas.

empresa que actua numa lógica de

dores, hardware, software e, ainda,

Esta é uma área em constante mu-

gestão global e não multinacional.

no desenvolvimento de serviços e

tação. Quer avançar algum produ-

A IBM Corporation obteve, no ano

de prestação de serviços de valor

to que estejam a desenvolver?

passado, uma receita de 103 mil

para os nossos clientes. Procuramos

Nós estamos em permanente evolu-

milhões de dólares. No que diz

implementar sucessões de valor,

ção. Este é um sector muito dinâmi-

respeito ao capital humano, somos

utilizando a nossa tecnologia e capa-

co e de desenvolvimento acelerado. ➤

abril/maio 2009 - Diplomática • 77


José Joaquim Oliveira Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal

Neste momento, produtos há

ro. Isto para criar novos produtos e

mente criativa e temos tido sempre,

muitos e a saírem com relativa fre-

desenvolver nova tecnologia. Pro-

ao longo da nossa existência e da

quência: novas versões de produtos

duzimos com isso, por ano, à volta

nossa história, uma capacidade de

já existentes, novas máquinas com

de 4500 patentes de produtos que

criar e inovar que nos tem colocado

processadores mais potentes e com

resultam desse investimento e que

à frente dos nossos concorrentes.

maior capacidade para se poderem

são criadas nos nossos laboratórios.

Nós temos marcado o ritmo (acho

fazer coisas ainda mais desafiantes.

É muita patente e muita criativida-

que podemos dizer isso) de de-

Hoje, o mundo está muito dependen-

de. Grande parte depois demora

senvolvimento da indústria. Esta

te da informática e dos sistemas de

algum tempo até se transformar em

indústria tem, de facto, a nossa

informação.

melhoria de produtos e soluções

marca e fazemos isso de uma forma

Isso acontece num curto espaço

tecnológicas comercializáveis e que

já muito natural. E é um facto que

de tempo. O novo produto des-

resolvam problemas da vida comum.

esta indústria tem-se baseado muito

valoriza imediatamente a versão

Têm de ser testados, experimenta-

nesta postura da IBM, de permanen-

anterior.

dos, colocados no mercado, tem de

te criatividade e inovação. Demos

É verdade, mas isso é uma coisa

haver um período de habituação no

até origem a todas as maravilhas e,

boa. Os clientes, os utilizadores,

mercado, absorção. Mas esse ritmo

as empresas que existem no merca-

não são obrigados a irem a correr

é saudável, é desejável que seja

do, e que algumas hoje são nossas

comprar a última moda. Tal como

assim, porque se não for assim, o

parceiras e concorrentes, muitas

aconteceu ainda agora com a Apple,

contrário disto é estagnar, e estag-

delas nasceram do nosso seio e

com o lançamento do Ipad, em

nar é mau. Nos dias de hoje, de

daquilo que nós fizemos no sector.

que foi uma correria para comprar

facto, há essa ideia de que é difícil o

O que nos tem distinguido também é

o produto. Mas isso são gadgets e

mercado acompanhar este ritmo de

a nossa postura perante os clientes.

nesse sector é um pouco diferente.

desenvolvimento, mas é o mercado

Os clientes são a nossa razão de ser

Há os fanáticos dos gadgets que

que acompanha ao seu próprio ritmo

no mercado e o sucesso dos clientes

adquirem a última moda de um

e não ao ritmo da criação. Mas é

orienta a nossa actuação no merca-

computador ou telemóvel. Não tem

bom que assim seja, porque a his-

do. Há outras coisas que poderiam

de ser assim, e nos computadores e

tória prova que o desenvolvimento

ainda ser referidas, mas aquilo que

sistemas informáticos das empresas

e este aumento de capacidade, que

tem sido mais distintivo na IBM, no

isso pode acontecer porque nós, a

este sector tem colocado à disposi-

meu entender, é isto: o enfoque no

cada três meses, lançamos produ-

ção das organizações e do mercado,

cliente e a inovação que fazemos no

tos novos. Agora, as empresas não

tem sido um dos principais motores

nosso desenvolvimento.

são obrigadas a estar a actualizar

de desenvolvimento da sociedade.

Neste momento como avalia o

os seus sistemas ao ritmo que o

O mundo existe tal como o conhece-

mercado nacional e global, tendo

sector lança novos produtos. Isso é

mos e temos ao nosso dispor muita

em conta que estamos a atraves-

a loucura. Mas é bom que o de-

coisa nesta era pós-industrial, nesta

sar uma crise económico-financei-

senvolvimento se mantenha a este

era moderna, exactamente porque

ra? Pelos valores que já referiu, a

ritmo porque isso produz inovação,

alguns sectores industriais propor-

IBM tem passado ao lado dessa

melhoria e novas capacidades à

cionaram esse conforto e bem-estar

crise.

disposição do mercado e das empre-

de que dispomos. E um dos sectores

Não, temos sentido. Eu acho que

sas uma capacidade de evolução,

que mais contribuiu para isso foi cla-

toda a gente tem sentido a crise,

que de outra forma provavelmente

ramente o sector das novas tecno-

agora há formas diferentes de a sen-

não teria. Não é desejável que haja

logias da informação. A Internet tem

tir. A IBM tem apresentado, nestes

limitação nessa euforia criativa e

a ver connosco, assim como os com-

últimos anos – no ano passado e em

nesse desenvolvimento acelerado.

putadores, os telemóveis e todas

2008, o período mais aguda desta

Não é bom que isso se retraia, pelo

essas maravilhas que sem as quais,

suposta crise, bons resultados, no

contrário, nós alimentamos isso e

hoje, não somos capazes de viver

global. Naturalmente que as receitas

vamos lançando novos produtos. A

resultam desta euforia inovadora que

ressentem-se porque as empresas

IBM investe, por ano, em desenvolvi-

tem caracterizado este sector.

estão a gastar menos dinheiro. Em

mento tecnológico e em investigação

O que distingue a IBM dos seus

todos os sectores se está a gastar

e desenvolvimento cerca de 6 mil

concorrentes?

menos dinheiro e a investir menos.

milhões de dólares. É muito dinhei-

Nós somos uma empresa iminente-

Sendo assim, não há milagres. Se

78 • Diplomática - abril/maio 2009


em todos os sectores se investe

menos e há menos despesa corrente, naturalmente que quem vive disso ressente-se. E, portanto, nós ressentimo-nos, tal como todos se ressentem. Agora, apesar disso, nós apresentámos belíssimos resultados do ponto de vista de rentabilidade e melhorámos o nosso desempenho em todos os outros indicadores financeiros, porque temos uma estrutura e uma organização que nos dá grande flexibilidade para nos ajustarmos constantemente. Temos uma organização preparada para isso e estamos mentalmente preparados. Há um conjunto de factores físicos e emocionais que nos permitem ajustar com rapidez àquilo que são as vicissitudes, nuances e mudanças do mercado. Deste modo, nós ajustámo-nos e adaptámo-nos à realidade e conseguimos, por incrível que pareça, melhorar até os nossos resultados numa situação de crise como temos vivido. Isto quer a nível global, quer a nível nacional. Os resultados em Portugal são o espelho dos resultados globais. Não temos números individuais porque não fazemos a divisão. Temos apenas os resultados totais, mas acompanhamos.

José Joaquim Oliveira

Falando agora em projectos e parcerias da empresa com outras

ses programas da responsabilidade

tipo dirigidos à educação. Na área

instituições, li que a IBM está

social que, no fundo, consiste em

da responsabilidade social damos

envolvida no projecto “Centro de

doarmos a jardins-de-infância um

muita importância à educação e

Aprendizagem KidSmart”. Em que

sistema informático – um computa-

temos mais programas dirigidos a

consiste?

dor com software apropriado para

outras idades e faixas etárias de

Isso é um projecto da nossa área de

crianças dos três aos seis anos. Isto

desenvolvimento, como por exem-

responsabilidade social, um domí-

propícia a essas crianças o contacto

plo: ao ensino secundário. No fundo

nio em que as grandes empresas

inicial com computadores e com a

estes programas têm como objectivo

vêem também como um importante

informática numa idade tão tenra,

ajudar os jovens a desenvolver as

enfoque. Nesse aspecto somos

mas é uma idade em que do ponto

suas capacidades na área das ciên-

igualmente os campeões da susten-

de vista cognitivo é muito importan-

cias. Para as raparigas entre os 11

tabilidade e responsabilidade social.

te. É um sistema que temos vindo

e 13 anos temos um programa que

Praticamos programas de responsa-

a desenvolver no nosso país já há

tem o objectivo de as motivar para

bilidade social praticamente desde

vários anos e que abrange mais de

as disciplinas da Ciência. As mu-

que existimos e que fizeram escola

250 jardins-de-infância.

lheres têm mais tendência para as

no mundo, sendo até exemplos a

Têm outras iniciativas do género?

Letras e diz-se que a Ciência é mais

seguir. Esse “KidSmart” é um des-

Sim, temos outros programas deste

para rapazes. Isso é um mito que

abril/maio 2009 - Diplomática • 79


José Joaquim Oliveira Administrador Delegado e Presidente da IBM Portugal

nós procuramos combater. Temos

recursos. Depois no nosso grupo do

situações políticas mais clarificadas,

ainda outros programas que visam

Sul da Europa temos outros países

pacificação, a questão da corrupção

melhorar a relação dos jovens com

também com a sua organização

é muito sensível e muito importante

os sistemas de informação e ajudar

local, como a Itália, França, Grécia,

e que tem sido uma das razões pe-

no seu próprio desenvolvimento.

Benelux, entre outros. Vamos lá ver,

las quais as empresas americanas, e

Outros programas interessantes são

o mercado ibérico, no nosso con-

no caso a IBM, não têm ido de peito

os de mentoring, em que nós somos

texto, não existe. Cada organização

tão aberto para os países africanos,

mentores e ajudamos, já na fase

local actua no seu mercado. Mas

e mesmo nesse aspecto começa a

final universitária, alguns estudantes

colaboramos imenso e acaba por

haver mais transparência. Neste mo-

no seu desenvolvimento académico

haver aqui alguma sinergia, sobretu-

mento, a IBM está a entrar de uma

e na sua preparação para o futuro

do no desenvolvimento de projectos

forma mais determinada e já temos

profissional, entre outros programas

conjuntos ou de uma oportunida-

uma presença muito forte na África

deste tipo na área da responsabilida-

de de negócio. Agora, o mercado

do Sul. A IBM tem uma tradição de

de social. As parcerias com o ensino

espanhol, mais no contexto para as

presença na África do Sul já de há

universitário são também uma das

empresas portuguesas do que para

muitos anos, mas que interrompeu

nossas marcas. Essa relação consis-

a IBM, é essencial para Portugal.

ao vender a subsidiária aos sul-afri-

te em variadíssimos aspectos: desde

É como uma extensão do nosso

canos aquando o Apartheid. Voltou

um prémio científico que temos em

mercado. É fundamental para nós

depois desses problemas resolvidos

Portugal há 20 anos que premeia

sermos bem sucedidos no mercado

e estamos lá há mais de dez anos.

os jovens cientistas portugueses até

espanhol por várias razões: porque

Actualmente, é o país onde a IBM

programas que passam por doação

há uma questão de proximidade

está a actuar com maior força, mas

de tecnologia às universidades e

geográfica, cultural e emocional que

estamos a começar a instalar-nos

prémios para os estudantes.

deve ser aproveitada.

noutros países, nomeadamente nos

Recuperando duas deixas que

E a observação do mercado afri-

países Lusófonos: Angola, porque

referiu durante a nossa conversa,

cano na óptica da IBM? Angola

tem um potencial enorme e tem hoje

uma no início, da relação ibérica

desperta mais interesse ou há

condições que não existiam antes, e

da qual foi responsável, e a outra

outros países?

outros países de África onde a IBM

sobre o mercado de África, que é

Os americanos, de um modo geral,

já desenvolve negócio. O conti-

bastante apetecível de momento.

estão a começar a descobrir África.

nente africano é uma oportunidade

Comecemos pela questão ibérica,

Até aqui tinham estado um pouco de

excelente onde existe espaço para

como vê esse mercado entre Por-

costas voltadas para aquele conti-

progredir e trabalhar, em que empre-

tugal e Espanha e a relação entre

nente por razões históricas ou por

sas como a IBM e outras empresas

as empresas dos dois países?

razões específicas de muitos países

americanas têm uma palavra a dizer,

No nosso caso operamos numa or-

africanos que, de facto, não são

quer do ponto de vista que isso

ganização do Sul da Europa, da qual

atractivos e atravessam ou atra-

representa uma oportunidade de

faz parte Espanha e Portugal, e que,

vessaram situações difíceis, o que

negócio para elas, quer do ponto de

neste caso, os dois países formam

afugentou os americanos e fez com

vista que os países africanos podem

uma espécie de organização única,

que não fossem em força para África

beneficiar de empresas tão desen-

que trata do desenvolvimento do negócio na Península Ibérica, mas com independência. Portanto, temos uma IBM em Portugal e outra em

O CONTIMENTE AFRICANO É UMA OPORTUNIDADE EXCELEN-

como foram para outros

volvidas como estas.

continentes. Mas, neste

Outros projectos futuros para a

momento, a situação

IBM?

alterou-se e há um mo-

Como já referi, faz parte da nossa

vimento pró-África vindo

estratégia investir em soluções que

dos EUA. E isto não tem a

resolvam problemas de mercado aos

TE PARA PROGRE- ver com o facto do PresiEspanha e trabalhamos em estreita colaboração, DIR E TRABALHAR dente Obama ter raízes

nossos clientes e temos, hoje, um

pode dizer-se, muito

a nossa estratégia actual no merca-

africanas, porque esse

enfoque muito grande e que marca

íntima mesmo. Nesta colaboração

movimento já começou antes dele.

do que tem a ver com o “Smarted

materializa-se mais numa ajuda de-

É reconhecido um potencial enorme

Planet” – o “Planeta Inteligente”. Isto

les a nós porque a dimensão do país

a África e, agora, começam a existir

parte duma premissa para atingir um

e da própria IBM é maior e têm mais

melhores condições de investimento:

objectivo. A premissa é: hoje

80 • Diplomática - abril/maio 2009


existe no mundo uma capacidade

de energia foto-voltaica, novas tur-

talvez, o nosso maior marco estraté-

de computação imensa. O mundo

binas da energia eólica, em pratica-

gico do momento, porque, de facto,

está instrumentalizado. Existem

mente todas as áreas das energias

representa uma belíssima oportuni-

computadores ou micro-chips com

renováveis. A escassez da água

dade de negócio. Até aqui foram as

capacidade de processamento de in-

potável é outro problema que atinge

tecnologias de informação, o sector

formação em praticamente todos os

o mundo e em que nós estamos

automóvel, o petróleo, os sectores

objectos: nos telefones, telemóveis,

também empenhados na racionali-

que determinaram o século XX e que

frigoríficos, televisões, automóveis, e

zação do consumo e, também, na

foram determinantes na evolução

muito outros. Estamos rodeados de

dessalinização da água salgada para

do mundo. Eu penso que no futuro

transístores e chips em tudo o que

se poder tornar potável e poder ser

há três grandes áreas de grande de-

é objecto. Portanto, isso representa

consumida. As “Smart Cities” são

senvolvimento e impacto e que vão

uma capacidade digital imensa e

outra nossa grande aposta. A cidade

marcar o futuro do mundo, são elas:

uma capacidade de computação

é, hoje, o grande pólo de desenvol-

a saúde, que é outra área onde nós

como nunca tivemos na nossa

vimento da sociedade, e

história. Por outro lado, vivemos

dizem os sociólogos que

também todos ligados e conectados.

dentro de poucos anos

Há redes de comunicação por todo o

70 ou 80 por cento da

lado. A grande rede digital mundial,

população mundial viverá

a Internet, permite que o mundo todo esteja em contacto permanente, mas

estamos muito aplicados

ESTAMOS

em todos os países, com

RODEADOS DE TRANSÍSTORES

projectos de vanguarda na melhoria quer dos cuidados de saúde, quer como esses

em cidades em detrimento E CHIPS EM cuidados são prestados aos da vida no campo ou dos TUDO O QUE É utentes, quer na investiga-

OBJECTO

também outras redes que se ligam

subúrbios das cidades. As

à própria Internet e que fazem com

cidades são, portanto, o

que tenhamos uma capacidade de

que mais vai impactar a nossa vida e

e as cidades. A saúde porque todos

comunicação como nunca tivemos.

é importante que a vida nas cidades

querem aumentar a sua longevidade

Estes dois mundos – capacidade de

seja confortável, saudável e susten-

e isso passa por resolvermos pro-

computação e capacidade de comu-

tável, sobretudo. E nós temos va-

blemas de epidemias e doenças que

nicação – permitem criar soluções

riadíssimos programas que visam a

ainda não têm solução, sendo para

cada vez mais inteligentes e podero-

sustentabilidade, o aumento de con-

isso precisa muita capacidade de

sas para resolver os mais variados

forto e da melhoria das condições

computação para em laboratório se

problemas no mundo. E é com base

de vida nas cidades, que vão desde

desenvolverem as soluções adequa-

nesta premissa que estamos foca-

a questão da poluição, da gestão do

das. A energia porque a humanidade

dos em resolver, juntamente com os

tráfego, dos edifícios inteligentes, do

vai enfrentar um desafio muito grande

nossos clientes e parceiros, proble-

consumo da electricidade e da água,

nas próximas décadas que é como

mas reais da vida em sociedade.

da gestão das cidades, da seguran-

encontrar uma alternativa ao petróleo.

ção científica, quer no domínio terapêutico; a energia

A energia vai ser o nosso grande

ça e do policiamento nas cidades.

Esta fonte de energia vai acabar e é

desafio nas próximas décadas. Re-

Temos sistemas informáticos que

preciso encontrar uma via alternativa.

solver problemas como o consumo

já são usados por polícias de Nova

O petróleo não é substituível apenas

e a produção de energia eléctrica, a

Iorque ou Chicago e que os ajudam

por energias renováveis e é preciso

criação de alternativas ao petróleo,

a ser mais eficazes na segurança

descobrir novas fórmulas. É uma pre-

de fontes energéticas diversificadas

dos cidadãos. Há uma imensidão

ocupação de todas as organizações

e a racionalização da utilização da

de projectos que caiem dentro deste

e pessoas responsáveis e a IBM está

energia da electricidade, mas não

grande chapéu das “Smart Cities”,

muito empenhada nisso. E as cida-

só. Estamos com variadíssimas ini-

que dentro daquilo que nós cha-

des por aquilo que falei anteriormen-

ciativas que vão desde os isqueiros

mamos o “Mundo Inteligente”, seja

te, porque são onde nós vamos viver.

inteligentes de consumo de electri-

talvez a área de maior enfoque e em

A maioria das pessoas vai viver em

cidade e distribuição eléctrica até ao

que estamos a desenvolver vastas

cidades e é preciso criar qualidade

desenvolvimento da tecnologia para

soluções, utilizando a nossa tecno-

de vida. Portanto, a nossa estratégia

aperfeiçoar as energias renováveis

logia, e a de terceiros, e a nossa ca-

passa por estes sectores porque é aí

alternativas (a energia foto-voltaica

pacidade de serviços de implemen-

que se vai jogar o futuro do mundo e

ou a térmica). Dentro deste sector

tação de soluções para resolvermos

da sociedade.

estamos a trabalhar com parceiros

muitos destes problemas. Este é,

n

A. Pinto

abril/maio 2009 - Diplomática • 81


Gestores internacionais

Varela Afonso -

Presidente da Crédito Agrícola Seguros

“Fazemos uma gestão criteriosa e temos uma carteira de seguros muito equilibrada” Iniciou a carreira em 1981 na Tranquilidade Seguros. Passou entretanto por outras seguradoras, onde desempenhou tarefas referentes essencialmente à área dos seguros de vida e fundos de pensões. Em 2004, Varela Afonso assumiu a presidência da CA Seguros e o crescimento tem sido notável. Destaca a qualidade e gestão da companhia o motivo para se classificar como a melhor seguradora Não Vida naquele segmento de dimensão.

82 • Diplomática - julho/setembro 2010


Uma pequena biografia sua.

seguros. Ou seja, colocar o canal

gem porque o cliente já conhece

Como surgiu à frente da Crédito

bancário a comercializar seguros.

a instituição e a entidade Caixa

Agrícola Seguros?

Como foi criar e desenvolver

Agrícola. No seu todo, a nível

Iniciei a minha carreira em 1981

esse projecto da CA Seguros?

nacional, o Crédito Agrícola tem

na Tranquilidade. Depois tive a

Criar uma empresa a partir do

cerca de um milhão de clientes,

passagem para outras segurado-

zero é um desafio sempre muito

dos quais quatrocentos mil são

ras por convite. Durante uma fase

aliciante, tanto mais que neste

associados. O Grupo é conhecido

inicial, e prolongada até há seis

caso do Crédito Agrícola era criar

e torna-se mais fácil abordar e

anos atrás, andei essencialmente

absolutamente do zero, inclusi-

cativar o cliente porque já conhe-

pela área dos seguros de vida e

vamente com colaboradores que

ce a organização em si. É acres-

fundos de pensões. E desde há

muitos deles iniciaram a activida-

centar mais uma prestação de

seis anos que sou presidente da

de profissional na própria empre-

serviço, uma solução financeira

CA Seguros (ex-Rural Seguros),

sa. É completamente diferente

que é o seguro, quer seja para

uma área para os Seguros Não

comprar uma companhia chave-

a protecção deles como pesso-

Vida. O grupo Crédito Agrícola

na-mão, eventualmente com ne-

as ou dos seus bens, quer seja

tem duas seguradoras: a Crédito

cessidades de tomar medidas de

para dar cobertura em termos de

Agrícola Vida, um projecto em

reorganização e reestruturação,

responsabilidade civil, porque

que participei na sua constituição,

mas no caso de partir do zero é

temos toda a oferta de Seguros

lançamento e gestão durante seis

criar tudo. Desde as simples con-

Não Vida.

anos, e a Crédito Agrícola Segu-

dições de apólice aos modelos de

Qual a visão, missão e valores

ros para os Seguros Não Vida a

documentos, à organização, aos

da CA Seguros?

que presido desde Maio de 2004.

manuais, entre outros. Portanto,

A nossa missão é clara: nós exis-

Estive ligado a outras segurado-

constituir uma seguradora desde

timos para prestar um serviço de

ras, nomeadamente, a Garantia,

a raiz, como aconteceu com a

qualidade e excelência aos clien-

a Europeia e a Bonança. Estive

Crédito Agrícola Vida, com pesso-

tes da Crédito Agrícola na área

também como administrador-

as jovens, é um desafio muito ali-

da protecção dos Seguros Não

delegado da Fungest, uma socie-

ciante. Felizmente neste projecto

Vida. A nossa visão é sermos

dade gestora de fundos pensões.

estiveram inseridas pessoas que

reconhecidos por esses mesmos

Portanto tenho um passado de 29

quase todas elas se empenharam

clientes como a sua seguradora

anos de actividade em segurado-

e se dedicaram a cem por cento

de eleição, isto é, que todos nos

ras. Vim para a Crédito Agrícola

e que, no fundo, hoje, continuam

reconheçam como a sua segura-

a convite do então presidente da

a maior parte delas nas compa-

dora privilegiada.

Prosegur, hoje, CA seguros, que

nhias. Isso é bom sinal, é porque

As agências e delegações exis-

tinha sido também o presidente

o ambiente e a organização são

tem pelo país todo? Quantas

na companhia de seguros Bo-

positivos.

são?

nança, onde eu também estive

É importantíssimo conquistar a

Temos representação de norte

e, portanto, convidou-me para vir

confiança dos clientes. Aposta-

a sul de Portugal e na Região

para este projecto para constituir

ram em quê para o conseguir?

Autónoma dos Açores. São cerca

uma companhia nova, uma segu-

No caso da Crédito Agrícola, à

de setecentos balcões, tantos

radora Vida.

partida, há uma vantagem porque

quantos os balcões do Crédito

Está então a chefiar o ramo Não

os clientes da Crédito Agrícola

Agrícola no país.

Vida?

têm ligações muito estreitas às

Têm uma meta em número de

Portanto, sou presidente do Con-

Caixas de Crédito Agrícola Mu-

balcões?

selho de Administração da Segu-

tuo. Já foram mais de duzentas

Em balcões não depende de nós.

radora Não Vida, que era a Rural

Caixas de Crédito Agrícola Mutuo,

Nós temos o produto e o serviço

Seguros, a agora Crédito Agrícola

todas elas autónomas, com di-

onde estão os balcões das Caixas

Seguros. Quase sempre estive

recção e estatutos próprios. Hoje

Agrícolas, portanto nós não temos

ligado à dinamização e ao lança-

são 89 porque têm havido fusões,

nenhum balcão propriamente dito.

mento da estratégia de banca-

de qualquer forma há essa vanta-

Como se estabelecem as

julho/setembro 2010 - Diplomática • 83


Varela Afonso Presidente da Crédito Agrícola Seguros

caso a CA Seguros, temos prati-

interior. Isto porque estamos per-

cias e delegações?

camente todos os seguros, com

to de atingir uma taxa de penetra-

Nós dividimos o país em onze

a excepção do crédito e caução e

ção de vinte por cento, ou seja,

regiões comerciais, uma delas

seguro aéreo. Os nossos clientes

vinte em cada cem clientes da

é a Região Autónoma dos Aço-

são empresas, mas sobretudo os

Caixa Agrícola já têm pelo menos

res. No continente temos dez

particulares. É tradição da Crédito

um seguro connosco, mas que-

e onde nessa região reside um

Agrícola ter a base em clientes

remos mais. Digamos que esta

colaborador nosso, efectivo no

particulares. E para o segmento

margem de progressão de vinte

nosso quadro do pessoal, que

dos particulares temos todo o tipo

para quarenta ou sessenta ainda

é o delegado comercial que dá

de seguros, desde o seguro auto-

é enorme. Olhamos para dentro e

apoio a um conjunto de Caixas

móvel até ao seguro de acidentes

fundamentalmente temos aí uma

relações entre as várias agên-

Agrícolas aos seus respectivos

de trabalho, saúde, habitação,

grande capacidade de cresci-

balcões. Como eu disse, exis-

entre outros.

mento endógeno sem ter que

tem 89 Caixas Agrícolas, mas

O que distingue a CA dos seus

nos preocupar tanto em ir buscar

há setecentos balcões. A missão

concorrentes?

clientes de outras instituições.

destes colaboradores é dar apoio

Dada a nossa dimensão não nos

Queremos fundamentalmente, e

a esses balcões em tudo o que é

preocupa tanto

formação, lançamento de acções,

compararmo-nos

motivação e tudo o resto que

com a concorrên-

é essa a nossa missão,

O SUCESSO

prestar um bom serviço

PASSA POR ESTE GRANDE ENTROSAMENTO QUE TEMOS CRIADO COM AS CAIXAS AGRÍCOLAS.

dade aos nossos clien-

e um serviço de quali-

está relacionado com os segu-

cia em termos de

ros. Portanto, estamos presentes

preços. A nossa

com esse apoio. Temos depois a

aposta é mais no

nossa estrutura de marketing que

sentido de prestar

prepara toda a parte de suportes

um serviço de qua-

comerciais e folhetos de comu-

lidade, garantindo e

nicação. Colaboramos e desen-

aumentando aquela

volvemos ainda sinergias com a

relação que a Crédito Agrícola já

revista Exame, como a melhor

Caixa Central (instituição que faz

tem com os seus clientes. Inclu-

seguradora Não Vida no nosso

parte das Caixas Agrícolas para

sivamente temos vindo a crescer

segmento de dimensão. Não vou

as quais colabora no sentido de

em termos de cota de mercado,

dizer que se houvessem dois seg-

as ajudar a organizar) quer ao

mas não é isso que nos preocupa

mentos não seríamos a melhor de

nível da formação, quer ao nível

tanto. O que nos preocupa mais

todas. Provavelmente até sería-

de planos de marketing.

é sentirmos a cota de mercado

mos, mas como estão criados os

Falou em Portugal Continental

interna, ou seja, aquilo que de-

segmentos acima dos cem mi-

e nos Açores como regiões co-

signamos de taxa de penetração.

lhões e abaixo dos cem milhões,

merciais. E a Madeira?

Isto é, fazer com que, cada vez

no qual nos classificamos, fomos

Na Madeira, neste momento, não

mais, os clientes da Caixa Agrí-

considerados a melhor e dois

existe nenhuma Caixa Agrícola, o

cola sejam também clientes da

anos seguidos. Não foi por acaso.

que não quer dizer que não venha

seguradora do Crédito Agrícola.

Isto denota efectivamente que

a acontecer.

Portanto, essa é a nossa primei-

fazemos uma gestão criteriosa e

É um objectivo?

ra preocupação. Nós medimos

temos uma carteira de seguros

Não compete à seguradora, mas

a nossa performance por essa

muito equilibrada. Colocamos

sim à parte bancária esse objec-

taxa de penetração e, também,

para os seguros de automóveis,

tes. Distinguimo-nos pela qualidade e gestão e, por algum motivo, durante dois anos consecutivos fomos eleitos (2008 e 2009), pela

tivo. Se abrir estaremos lá a dar

pelo índice de capitação (número

habitação, comércio e serviços,

apoio.

médio de apólice seguro que os

acidentes de trabalho, saúde ob-

Quais os produtos e serviços

clientes têm connosco). Estes são

jectivos específicos de crescimen-

que a Crédito Agrícola Seguros

os dois parâmetros essenciais.

to exactamente para não haver

coloca ao dispor dos clientes?

Não olhamos tanto para o merca-

uma carteira enviesada. Isto

Nós, Seguradora Não Vida, neste

do exterior, mas sim mais para o

leva-nos a ter uma carteira

84 • Diplomática - julho/setembro 2010


Varela Afonso

Para conquistarem esses clien-

mil e trezentos colaboradores

não só sucesso no crescimento

tes, que já são clientes da

das Caixas Agrícolas que tiveram

como também sucesso nos re-

Caixa, vão usar formação para

um papel activo comercialização

sultados e garantias financeiras.

quem trabalha nos balcões do

de Seguros Não Vida. Portanto,

Fechámos o ano de 2009 com 230

banco?

temos vindo a criar um sistema de

por cento de rácio de margem de

Exactamente. Para além da for-

incentivos que os alicie, motive e,

solvência. O que é muito acima

mação e deste apoio que referi

também, colocar a solução Segu-

da média de mercado. É isso que

(de um coordenador comercial em

ro como uma solução financeira e

pugnamos, ter uma seguradora que

cada região para os apoiar no seu

uma prestação de serviço inte-

ela própria seja solvente, porque

dia-a-dia), temos outros mecanis-

grada ao cliente. Não prestar só

assim garante as responsabilidades

mos como planos de incentivos.

ao cliente a simples abertura de

assumidas perante os clientes.

Por exemplo: em 2009 houve dois

conta ou um simples crédito, mas

equilibrada e que nos tem dado

julho/setembro 2010 - Diplomática • 85


Varela Afonso Presidente da Crédito Agrícola Seguros

entre outros. Temos assim todas

suas estruturas e coberturas

mo crédito.

as soluções para crescer.

muito frágeis. A verdade é que

Neste momento como avalia o

Disse que o crescimento ficou

há também nessa área alguma

mercado nacional e global no

à quem devido ao decrescimen-

profissionalização muito grande.

ramo das seguradoras?

to dos seguros agrícolas de

Existem empresas agrícolas a

Desde há cinco anos a esta

colheitas. Nesse decréscimo

investirem milhões, e essas fa-

parte, o mercado tem vindo em

estão implícitas as catástrofes

zem projectos que seguram todos

termos reais a perder cota. O

naturais decorrentes deste In-

esses projectos.

mercado Não Vida tem vindo a

verno rigoroso?

Quais foram as razões desse

decrescer em termos de volume

Não crescemos mais por duas

sucesso no meio desse cenário

montante global de prémios. No

razões: o mercado está mergulha-

que é de crise global?

nosso caso estamos a crescer.

do numa crise, a matéria segu-

O sucesso passa por este grande

No ano passado crescemos 2,5

rável ao nível das empresas não

entrosamento que temos criado

por cento em relação ao ano

tem crescido e ao nível familiar

com as Caixas Agrícolas. Temos

dar a cobertura para esse mes-

anterior. Eventualmente teríamos

é natural que haja alguns condi-

tido algumas iniciativas interes-

crescido 4,2 por cento em vez de

cionalismos; e o facto de o nosso

santes, tal como: a quinta conven-

2,5 mas temos uma área na qual

crescimento ter ficado atenuado

ção para os colaboradores que

ainda temos algum peso, que é

deve-se ao seguro agrícola de

ultrapassam determinado tipo de

a área dos seguros de colheitas,

colheitas ter capitais seguros me-

plataformas que lançamos todos

que vem da nossa ligação ao

nores, porque a própria actividade

os anos como desafio. Vamos ter

mundo agrícola, tendo os capitais

agrícola também tem decresci-

duzentos colaboradores nessa con-

vindo a decrescer. Decresceu

do. Portanto, isso reflecte-se na

venção em Madrid. São desafios

catorze por cento os prémios nos

nossa companhia e no próprio

que fazemos para envolver as pes-

seguros de colheitas, daí que

mercado. O seguro de colheitas

soas, pois ajuda a sentir que têm

isso amorteceu o nosso cresci-

este ano no mercado decresceu

este produto e, se não for de forma

mento. De qualquer forma, nós

também relativamente ao ano an-

directa, é de forma indirecta, ajuda

estamos a crescer, ao contrário

terior. É provável que com estes

a prestar esse serviço ao cliente.

do mercado que decresceu em

fenómenos que têm acontecido

Projectos futuros para a Crédi-

Não Vida 4,2 por cento em ter-

possa haver uma maior procura.

to Agrícola?

mos nominais. Relativamente ao

O que não é tão verdade, e que

Continuar a linha de inovação que

mercado aquilo que eu penso é

às vezes se diz no mercado, é

temos tido nos últimos anos com

que ainda pode crescer muito.

que não há seguros de colheitas

o lançamento de novos produtos,

Muitas vezes há mais entre as

ou seguros de estufas. Há! E nós

desde o seguro de saúde, de pro-

redes agenciarias uma rotação

tivemos sinistros de seguros de

tecção financeira, lançámos agora

de carteira do que propriamente

estufas, porque temos seguros

um serviço complementar na área

uma promoção de novas apóli-

de estufas, inclusivamente nestas

da saúde que é um cartão que

ces. Mas a capitação de seguros

tempestades que houve na zona

tem uma cobertura de acidentes

em Portugal ainda está longe de

do oeste a 23 de Dezembro, onde

pessoais, mas também um con-

outros países. Eu diria que não

tivemos três estufas de grande

junto de prestação de serviços clí-

era preciso que seja um negócio

dimensão sinistradas. Esses se-

nicos com preços regulamentados

de circulação, mas existe ainda

guros existem.

e definidos. Tem tido uma adesão

uma protecção a fazer a clientes.

Pois, mas se calhar a conjuntu-

fantástica. Queremos, sobretu-

Ou seja, podemos crescer e essa

ra é que faz com que as pes-

do, continuar a melhorar a nossa

é a nossa aposta interna – fazer

soas não invistam, ou porque

prestação de serviços. Nesse as-

crescer a cobertura dos nossos

estão sempre na esperança que

pecto, a nossa preocupação é tal

clientes – que tenham cobertura

nenhuma tragédia os atinja.

que iniciámos este ano o projecto

desde os acidentes pessoais, os

A verdade é que ainda há muitas

de gestão da qualidade com vista

seguros de saúde, de habitação,

estufas que pela sua natureza

à certificação.

de responsabilidade civil familiar,

não são seguráveis, sendo as

86 • Diplomática - julho/setembro 2010

n

J. M. Teixeira


Vida diplomática

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6

1. No Dia Nacional da Itália o Embaixador Luca de Presenzano, aconpanhado pelo Consul Gionanni no uso da palavra 2. À entrada da Embaixada Italiana uma orquesta dava as boas-vindas ao som de uma ópera italiana 3. A nossa Directora ladeada pelo Embaixador da Tunísia, Farhaie e pelo Embaixador do Luxemburgo Alain de Muyser 4. Embaixatriz da Turquia, Nurdan Türkmen e a Embaixadora da Noruega Inga Magistad 5. Maria da Luz de Bragança aconpanhada pelo Embaixador de Malta, Joseph Cassar no Dia Nacional da Noruega 6. O Embaixador da República da Islâmica do Paquistão, Gul Haneff e sua Mulher, nas comenorações do

7

8

Dia Nacional do seu país 7. Kaya e Nurdan Türkmen ofereceram uma festa de despedida na sua residência oficial, no Restelo, onde compareceram amigos e convidados dos mais diversos meios diplomáticos, políticos, culturais e empresariais, numa homenagem aos diplomatas turcos que souberam granjear as maiores simpatias e amizades entre nós. O Embaixador e a Embaixatriz estão em Portugal desde Março de 2007 e, agora, vão representar o Estado turco no Chipre. 8. Os Embaixadores da República da Hungria, Attila e Andrea Gecse, ofereceram uma festa de despedida na sua residência oficial para agradecerem todo o apois recebido durante a sua permanência em Portugal.

julho/setembro 2010 - Diplomática • 87


Arte & Cultura

Chopin um artista universal Texto: Embaixadora da Polónia Katarzyna Skórzynska

Na Embaixada da Polónia, Kataryzyna Skórzynska junto ao quadro de um concerto de Chopin

Para os polacos, cujo país desapareceu por comple-

do globo, sendo particularmente apreciado na Ásia, em

to do mapa da Europa durante cerca de 150 anos, a

especial no Japão e na China.

cultura e a tradição nacionais desempenharam, desde

O compositor nasceu em Zelazowa Wola, num modesto

sempre, um papel fundamental na preservação da sua

solar polaco, situado, pitorescamente, entre os prados

identidade. Os maiores criadores polacos, especial-

e bosques da Mazóvia, à beira do rio Utrata. Para nós,

mente os da época do Romantismo, produziram as

polacos, o reflexo das paisagens e da cultura do nosso

suas obras não só na Polónia, mas também no exílio.

país na música de Chopin parece-nos óbvio. Quando

Este foi o caso de alguns dos mais destacados poetas

ouço as suas mazurkas identifico distintamente as ima-

românticos como Adam Mickiewicz, Juliusz Słowacki

gens dos campos da Mazóvia e dos seus chorões...

e Cyprian Kamil Norwid. O mesmo se passou com

Para responder ao crescente interesse dos admira-

Fryderyk Chopin, que depois de ter saído da Polónia,

dores internacionais de Chopin em visitar os lugares

em 1830, nunca mais regressaria à sua pátria. Mesmo

relacionados com a sua vida, em 2009, o governo

no século subsequente, em pleno século XX, poetas e

polaco renovou a casa natal do compositor, onde expôs

artistas polacos continuaram a criar as suas obras fora

um novo espólio de objectos pessoais. Em Março deste

de território nacional, como é exemplo Czesław Miłosz,

ano foi inaugurado o Museu Fryderyk Chopin, em Var-

Prémio Nobel da Literatura em 1980.

sóvia, que é já muito visitado.

É óbvio que a influência de outras culturas e costumes,

Convido todos os entusiastas e apreciadores da música

bem como o contacto com ambientes mais cosmopo-

de Chopin a viajar até à Polónia e a seguir os cami-

litas, contribuiram para que a mensagem dos artistas

nhos por ele percorridos há dois séculos atrás. Nessa

polacos adquirisse o cunho da universalidade. Chopin

viagem poderão tomar parte de inúmeros eventos

é um desses artistas universais, um dos maiores do

culturais organizados no âmbito do ano que celebra o

Mundo. A sua obra reúne muitos admiradores não só

bicentenário do nascimento deste que é um dos maio-

na Europa, como também nos mais recônditos recantos

res compositores de todos os tempos.

88 • Diplomática - julho/setembro 2010

n➤


Chopin. Quadro de Ludwik Wawrynkiewicz segundo Eguène Delacroix

julho/setembro 2010 - Diplomática • 89


Ano de Chopin 2010 Celebrações do bicentenário do nascimento do compositor polaco

O ano de 2010, aclamado como o Ano de Cho-

até ao seu reflexo nos trabalhos dos artistas das

pin, comemora o bicentenário do nascimento do

gerações contemporâneas, por exemplo, em

famoso compositor polaco, e na Polónia, como

edições jazz. Em Agosto, entre os dias 6 e 14,

por todo o mundo, multiplicam-se iniciativas que

terá lugar o Festival Internacional da Música de

celebram a sua memória e legado. No mun-

Chopin, em Duszniki-Zdrój, o mais antigo festival

do, realizar-se-ão cerca de duas mil iniciativas

de piano do mundo que decorre no mesmo palco

comemorativas do Ano de Fryderyk Chopin,

que acolheu Chopin, com a participação dos

concentrando-se mais de 1200 na Polónia. Ape-

mais prestigiados intérpretes de piano, sendo

sar de se lhe dedicar todo um ano, é controversa

também palco de estreias para os mais talento-

a tentativa de precisar o dia do nascimento de

sos jovens pianistas. O evento central do festival

Chopin. Há quem lhe atribua o dia 22 de Feve-

são as masterclasses dadas pelos mais aclama-

reiro e quem defenda que terá nascido alguns

dos maestros e celebridades musicais. Este ano

dias mais tarde, a 1 de Março. Na impossibilida-

o festival contará com a participação de Maria

de de consenso e de irrefutável prova histórica,

João Pires. O XXIX Festival de Música Chopin

mais de 250 músicos e cantores interpretaram

em Cores de Outono, em Antonin, que decorre-

noite e dia, em Varsóvia, a música de Chopin

rá de 16 a 18 de Setembro 2010, é o segundo

durante 171 horas, o tempo que separa as duas

mais importante festival da música de Chopin na

possíveis datas de nascimento do compositor,

Polónia. Ao lado dos mais prestigiados nomes do

há 200 anos atrás. A obra de Chopin inspirou,

panorama musical, o festival de Antonin pro-

desde sempre, as mais variadas manifesta-

move também os jovens artistas. A sua grande

ções artísticas e, assim sendo, as actividades

atracção são os concertos nocturnos, “Chopin no

comemorativas a serem levadas a cabo, desen-

veludo da noite”, que contam com a participação

volvem-se num espectro tão alargado quanto a

de todos os intérpretes do festival e que nesta

própria imaginação, oscilando entre o clássico e

sua edição de 2010, incluirá um recital de pia-

o contemporâneo, passando pelo registo experi-

no do vencedor português do Concurso Jovens

mental. 2010 conhecerá concertos e recitais de

Pianistas 2010 do Festival Chopin do Teatro

música clássica, jazz, blues e rock, além de es-

Municipal São Luiz de Lisboa. Ainda no domínio

pectáculos de teatro, bailado, exposições, filmes

dos concursos pode, finalmente, referir-se o XVI

e cinema de animação.

Concurso Internacional de Piano de Fryderyk

Ano de Chopin na Polónia

é um dos mais antigos e prestigiados do mundo.

Ainda que a todas as celebrações seja reconhe-

Organizado de cinco em cinco anos, tornou-se

cido um cunho especial, aquelas que se realizam

numa espécie de Jogos Olímpicos para os maio-

na Polónia, terra natal do compositor, revestem-

res talentos de piano, desempenhando um papel

se de uma força ainda maior. Como já foi referi-

indispensável no desenvolvimento das suas car-

do, em território polaco, registar-se-ão cerca de

reiras, permitindo o acesso às melhores salas de

1200 eventos associados ao Ano de Chopin, de-

concerto do mundo. Ainda na Polónia, ressalta

vendo ser destacadas cinco inciativas principais,

como um dos principais acontecimentos do Ano

pelo seu renome e dimensão internacional. Entre

de Chopin 2010, a inauguração do Museu e Cen-

1 de Agosto e 3 de Setembro de 2010, realizar-

tro de Fryderyk Chopin no Palácio de Ostrogski,

se-á o Festival Internacional de Música Chopin

em Varsóvia. Projectado por dois arquitectos de

Chopin de Varsóvia (2 a 23 de Outubro de 2010)

e a Sua Europa, em Varsóvia, que pretende

Milão, Migliore e Servetto, e inaugurado no dia

promover a obra de Fryderyk Chopin num largo

1 de Março, é o mais moderno museu biográfico

espectro cultural. Os concertos e recitais do fes-

da Europa Central, com 1,3 mil metros quadra-

tival abrangem várias obras e estilos musicais,

dos. Nele está exposta uma colecção inestimável

desde as composições do século XVIII, recriadas

de manuscritos e objectos pessoais/lembranças

com os instrumentos tradicionais e históricos,

do compositor.

90 • Diplomática - julho/setembro 2010


1

2

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4 3

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6

1. Jacek Krenz 2. Mariola Landowska 3. Kasia Wrona 4. Joanna Latka 5. Kasia Gubernat 6. Henryka Woerle

julho/setembro 2010 - Diplomรกtica โ ข 91


Ano de Chopin 2010 Celebrações do bicentenário do nascimento do compositor polaco

Museu de Fryderyk Chopin, em Varsóvia

Ano de Chopin em Portugal

tes em Portugal, inspirados na obra de Chopin, foi

Em Portugal, o Ano de Chopin foi inaugurado

apresentada ao público entre os dias 21 e 27 de

com o Concerto da Orquestra Polaca Sinfonia

Maio. A exibição resultou do esforço concertado

Iuventus, que contou com a participação do pia-

dos artistas: Henryka Woerle, pintora e escultora,

nista Janusz Olejniczak, sob direção de Tadeusz

Jacek Krenz, pintor, arquitecto e docente na Uni-

Wojciechowski, no Centro Cultural de Belém,

versidade da Beira Interior, Joanna Latka, pintora

em Lisboa, no dia 8 de Março, em simultâneo

e docente na Escola Superior de Arte e Desgin

com uma exposição de cartazes polacos sobre a

das Caldas da Rainha, Kasia Gubernat, pintora e

vida e obra de Fryderyk Chopin, também paten-

docente na Faculdade de Arquitectura da Univer-

te no CCB. A segunda iniciativa mais marcante

sidade Lusófona do Porto, Kasia Wrona, artista,

decorreu no espaço da Fundação Sousa Pedro,

pintora e desenhadora residente no Algarve, e

no Chiado, onde a exposição colectiva Ouvindo

Mariola Landowska, pintora residente em Lisboa.

Chopin, de trabalhos de artistas polacos residen-

Para o resto do ano estão programados uma série ➤

92 • Diplomática - julho/setembro 2010


de eventos, entre os quais se destaca (entre

Dias da Fonseca, Presidente da Fundação Casa

16 e 19 de Junho) o Concurso Jovens Pianistas

da Música, Fernando Andersen Guimarães, Pre-

2010, inserido no Festival Chopin do Teatro Muni-

sidente da Comissão Nacional UNESCO, Mário

cipal São Luíz, em Lisboa, que dará ao vencedor

Soares, Presidente da Fundação Mário Soares e

do concurso a possibilidade de assistir e participar

ex-Presidente da República Portuguesa, Guilher-

no Festival “Chopin em Cores de Outono”, em

me d’Oliveira Martins, Presidente do Tribunal de

Antonin, na Polónia. Ainda no mesmo mês de

Contas, António Costa, Presidente da Câmara

Junho, serão organizados dois recitais da música

Municipal de Lisboa, Waldemar Dabrowski, Pre-

de Chopin, interpretados por Tomasz Pawłowski.

sidente da Comissão para o Ano de Chopin na

Um dos recitais terá lugar na inauguração da

Polónia, Andrzej Wajda, realizador de cinema, Kr-

Conferência Internacional da Universidade Católi-

zysztof Penderecki, compositor, Krystian Zimer-

ca Portuguesa, no dia 24 de Junho, no Estoril, e o

man, pianista, Paweł Potoroczyn, Presidente do

outro acontecerá dois dias mais tarde, nos Cur-

Instituto de Adam Mickiewicz e José Sequeira e

sos Internacionais de Verão de Cascais, a 26 de

Serpa, Embaixador de Portugal em Varsóvia.

Junho. Em Setembro, também os Açores assina-

Transversalmente às comemorações do bicente-

larão o bicentenário pela celebração dos dias da

nário do nascimento de Fryderyk Chopin, foram

Polónia nas ilhas Terceira e Faial, com um con-

publicados alguns livros que sublinham a persis-

certo de piano e a projecção do filme "Chopin – A

tência da sua memória. Em Portugal, imbuídos

Vontade de Amar", do realizador Jerzy Antczak. A

no espírito de Ano de Chopin 2010, foram lan-

ter início a 30 de Setembro e estendendo-se até

çados três livros, entre eles o de Cristina Carva-

ao dia 19 de Maio de 2011, o CCB promoverá um

lho, «Nocturno - O Romance de Chopin», uma

ciclo de nove recitais de piano em homenagem

biografia romanceada da vida do compositor que

a Fryderyk Chopin pelo pianista Artur Pizarro.

segue a verdade histórica de uma existência que

Outubro contará com dois eventos principais, o

a autora considera ter sido curta, porém “incrivel-

recital de piano de Krzysztof Jabłonski, no dia 2

mente apaixonada e apaixonante”. José Jorge

de Outubro, no Centro Olga Cadaval, em Sintra, e

Letria, na sua «Última Valsa de Chopin» leva-nos

a cerimónia de inauguração do busto de Fryderyk

numa viagem pela vida, pelo amor e pela música

Chopin em Lisboa, na Avenida da Liberdade,

daquele que foi um dos maiores compositores

iniciativa que se repetirá em mais de 25 cidades

da história. «Uma biografia original e a vários

espalhadas por todo o globo. O mês de Dezembro

títulos memorável», escreve António Victori-

será marcado pela projecção de um documentário

no D´Almeida no prefácio. O jornal Expresso,

sobre a vida e a obra do compositor, no Cineclube

diringindo-se aos mais novos, lançou a Colecção

de Faro e por um concerto do Trio Jagodzinski, e

Grandes Compositores, integrada por seis livros

interpretação de canções de Chopin, encerrando

distintos, cada um referente a um compositor di-

oficialmente o Ano de Chopin.

ferente. Chopin foi o primeiro a merecer esta pu-

Em Portugal, como em todos os países que se

blicação que se fez acompanhar de um CD com

associaram às comemorações do bicentenário,

excertos da sua obra. No mesmo registo infantil,

foram constituídas Comissões de Honra para

também Miguel Sousa Tavares, publicou «Isma-

organizar e dirigir as celebrações. Nacionalmen-

el e Chopin» onde conta a história da amizade

te, a Comissão de Honra para o Ano de Chopin

improvável entre o coelho bravo Ismael e o jovem

conta com a participação da Ministra da Cultura

músico Chopin, numa descoberta do mundo da

da República Portuguesa, Gabriela Canavilhas, e

música e, sobretudo, da figura do memorável

do seu homólogo polaco, o Ministro da Cultura da

compositor. Como em tantas outras histórias

República da Polónia, Bogdan Zdrojewski, nomes

infantis, também esta termina com um mistério e

aos quais se somam os de António Mega Fer-

um segredo por revelar.

reira, Director do CCB, e Katarzyna Skórzynska,

Ao longo deste ano de 2010 cada um de nós

Embaixadora da República da Polónia em Lis-

pode desvendar os mistérios da música de Cho-

boa, na qualidade de co-Presidentes Executivos,

pin e os segredos que encerrou em cada nota

José António Pinto Ribeiro, Ex-Ministro da Cultu-

musical, pela participação nos eventos agenda-

ra da República Portuguesa, Rui Vilar, Presidente

dos para celebrar o bicentenário do seu nasci-

da Fundação Calouste Gulbenkian, José Manuel

mento, tanto em Portugal como na Polónia.

n

julho/setembro 2010 - Diplomática • 93


English & French texts

6. “What sovereignty to Europe in economic, political, diplomatic and defense?” The Diplomática magazine launched another challenge to the Diplomatic Corps (European) accredited in Portugal. We wanted to know what is the opinion of Ambassadors regarding sovereignty following the European continent. What economy? What policy? What diplomacy? What Defense? Learn about the opinions of Czech, Lithuania, France, Italy and Belgium, Greece, Finland, Ukraine and Turkey.

6. «Que la souveraineté de l’Europe dans les domaines économique, politique, diplomatique et de défense?” Diplomática a lancé un autre défi au Corps diplomatique (européen) accrédités au Portugal. Nous voulions savoir quelle est l’opinion des ambassadeurs suivants concernant la souveraineté sur le continent européen. Quelle économie? Quelle politique? Quelle diplomatie? quel moyen de défense? En savoir plus sur les avis de la République Tchèque, la Lituanie, la France, l'Italie, la Belgique, la Grèce, la Finlande, l'Ukraine et la Turquie.

22. Visit of President Lula da Silva of Portugal Closer economic ties and increasing the universalism of the Portuguese language were the main topics discussed in the passage of the Brazilian president in Lisbon In the final months of the two terms of eight years and with record approval ratings at home, the busy Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva, in Lisbon ended an expedition of eight days by five countries of the European and Asian continents.

22. Visite du président Lula da Silva du Portugal Le resserrement des liens économiques et l’augmentation de l’universalisme de la langue portugaise ont été les principaux thèmes abordés lors du passage du président brésilien à Lisbonne Dans les derniers mois des deux termes de huit ans et avec des taux d’approbation record, la rue animée président brésilien Luiz Inacio Lula da Silva, à Lisbonne se terminait un voyage de huit jours a travers cinq pays des continents européen et asiatique.

28. A journey that can change the image of Bento XVI In the private visit of Bento XVI to Portugal, we will, at a distance, the ability to perceive the outlines of those days that stood out. There is no doubt that the emotion was the master figure of a pope deeply rational. Bento XVI is presented in Portugal in the year that marks the founding of the Republic and spell this point in his first speech. Diplomatically erase the ghosts that were in the minds of some for, then a few hours, to celebrate the Mass in the plaza where the event took regicide.

28. Un voyage qui peut changer l’image de Bento XVI Lors de la visite privée de Bento XVI au Portugal, nous allons, à distance, la capacité à percevoir les contours de ces jours qui se détachaient. Il ne fait aucun doute que l’émotion a été la figure principale d’un Pape profondément rationnel. Bento XVI est présentée au Portugal dans l’année qui marque le centenaire de la fondation de la République et sort ce point dans son premier discours. Diplomatiquement effacer les fantômes qui se trouvaient dans l’esprit de certains depuis quelques heures, pour célébrer la messe sur la place où l’événement a eu lieu le régicide.

33. Visit to the Maghreb - Portugal looking to North Africa “Betting on exports, the internationalization of our economy, support our businesses that are fighting for exports in all these markets,” were the wishes of the Prime Minister in Rabat, by way of a general balance of the trip to four countries Maghreb. José Socrates traveled to Libya, Algeria, Tunisia and Morocco to show the “new priority in its foreign policy and economic objectives with those countries. Socrates highlighted the geostrategic importance of bilateral relations and also argued that Portuguese entrepreneurs should take an attitude of confidence in investment and the internationalization, taking advantage of ongoing developments in the markets of North Africa.

33. Visite du Maghreb - Portugal cherche à l’Afrique du Nord «Miser sur l’exportation, l’internationalisation de notre économie, soutenir nos entreprises qui se battent

94 • Diplomática - julho/setembro 2010


pour les exportations sur tous ces marchés,” ont été la volonté du Premier ministre à Rabat, par le biais

d’un équilibre général de ce voyage pour quatre pays du Maghreb. José Socrates, s’est rendu en Libye, Algérie, Tunisie et Maroc pour montrer la priorité “nouvelle dans sa politique étrangère et les objectifs économiques avec ces pays. Socrates a souligné l’importance géostratégique des relations bilatérales et a également fait valoir que les entrepreneurs portugais devrait prendre une attitude de confiance dans l’investissement et l’internationalisation, en tirant parti des développements en cours sur les marchés d’Afrique du Nord.

36. Mohamed Ridha Farhat - Ambassador of the Republic of Tunisia In Lisbon since 2005, Mohamed Ridha Farhat praised the relationship, common history and bilateral relations between Tunisia and Portugal. The Ambassador of Tunisia began his career as a diplomat in the Ministry of Foreign Affairs of his country. Before coming to Portugal, played diplomatic positions in Brussels and Paris, but his first posting was as Ambassador in Lisbon. Mohamed Farhat welcomed us for an interview in which they addressed issues of historical, political, economic, among others.

36. Ridha Farhat Mohamed - Ambassadeur de la République de Tunisie À Lisbonne, depuis 2005, Mohamed Ridha Farhat a loué la relation, l’histoire commune et des relations bilatérales entre la Tunisie et le Portugal. L’ambassadeur de la Tunisie a commencé sa carrière en tant que diplomate au ministère des Affaires Étrangères de son pays. Avant de venir au Portugal, a occupé des postes diplomatiques à Bruxelles et à Paris, mais sa première affectation d’ ambassadeur a ete à Lisbonne. Mohamed Farhat nous a accueillis pour une entrevue dans laquelle il aborde les questions d’ordre historique, politique, économique, entre autres.

42. For a free and secure Africa - The hope of the OAU ineffective AU The desire was not forthcoming. When the May 25, 1963, 32 independent African countries signed the Constitution of the Organization of African Unity (OAU) initiative of the Ethiopian emperor Haile Selassie, it proclaimed, “that this convention will last 1000 years!” However, this was not to be . It took only 39 years for Unity crumble. Given this inefficiency and ineffectiveness, the Heads of State and Government decided at the 38th and last OAU summit, putting an end to the organization and erect a new union, chaired by South African President Thabo Mbeki. Arises formally the African Union (AU), which held its first summit on 9 and July 10, 2002. The most recent pan-African organization is led by Gabonese diplomat Jean Ping. The Ambassador of Tunisia opened the doors of the embassy of their country to commemorate Africa Day. Mohamed Ridha Farhat received all diplomats from African countries accredited in Portugal, presenting them with a magnificent cocktail. The Portuguese government also was represented by Secretary of State for Foreign Affairs. Mohamed Farhat spoke on the occasion, and cite a few sentences from the speech of President of the African Union Commission, Jean Ping.

42. L’espoir de l’inefficace OUA UA Le désir ne vient pas. Lorsque le 25 mai 1963, 32 pays africains indépendants ont signé la Constitution de l’Organisation de l’unité africaine (OUA) initiative de l’empereur éthiopien Hailé Sélassié, elle a proclamé, «que cette convention 1000 dernières années!” Toutefois, cela ne devait pas être . Il a fallu seulement 39 ans pour voir l’unité s’effriter. Compte tenu de cette inefficience et inefficacité, les chefs d’Etat et de gouvernement ont décidé au sommet de la 38e et dernière de l’OUA, de mettre fin à l’organisation et la construction d’un nouveau syndicat, présidé par président sud-africain Thabo Mbeki. Se pose officiellement l’Union africaine (UA), qui a tenu son premier sommet le 9 Juillet et 10 mai 2002. L’organisation la plus récente pan-africaine est dirigée par un diplomate gabonais Jean Ping. L’Ambassadeur de Tunisie a ouvert les portes de l’ambassade de son pays pour commémorer la Journée

julho/setembro 2010 - Diplomática • 95


English & French texts

africaine. Mohamed Ridha Farhat a reçu tous les diplomates des pays africains accrédités au Portugal, en

les présentant avec un cocktail magnifique. Le gouvernement portugais a également été représenté par le secrétaire d’Etat aux Affaires étrangères. Mohamed Farhat a parlé à l’occasion, et de citer quelques phrases du discours du président de la Commission de l’Union africaine, Jean Ping.

46. 65 Years of Great Victory The next anniversary of Victory in World War II is the most important political event. For us, as repeatedly stressed the Russian President, Dmitry Medvedev, that date is sacred. A mention of the Victory Day inadvertently makes painfully hit the heart of every citizen of Russia. As they say in the song dedicated to the Victory, “Victory Day is a holiday with tears in his eyes.” It is unlikely that even now - 65 years later - in Russia, there is a family that had not been affected by the fires of war. Victory is a great spiritual heritage common to all peoples of the former Soviet Union. Our parents and grandparents were not only defending our freedom and saved the Motherland - they liberated Europe from Nazi enslavement.

46. 65 ans de la grande victoire La prochaine date anniversaire de la Victoire de la Seconde Guerre mondiale est l’événement politique le plus important. Pour nous, comme souligné à plusieurs reprises le président russe, Dmitri Medvedev, cette date est sacrée. Une mention de la Fête de la Victoire par inadvertance fait douloureusement frappé le cœur de chaque citoyen de la Russie. Comme on dit dans la chanson dédiée à la victoire, “Jour de la Victoire est un jour férié avec des larmes dans ses yeux.” Il est peu probable que, même aujourd’hui - 65 ans plus tard - en Russie, il n'y a pas une famille qui n’est pas été touchée par les incendies de la guerre. La Victoire est un grand patrimoine spirituel commun à tous les peuples de l’ex-Union soviétique. Nos parents et grands-parents n’ ont pas seulement défendu notre liberté et sauvé la patrie -, ils ont libéré l’Europe de l’esclavage nazi.

52. Eduardo Gonzalez Lerner - Cuban Ambassador in Portugal He was an active member in the pre-Cuban Revolution and continues to do so after the Revolution. Edward Lerner represents the first time his country as Ambassador, the European continent and Portugal considers a “friendly country”, highlighting the “90 years of relations” between the two countries. The Ambassador spoke of the close bilateral relations that the two states in political, commercial, health and investment, and analyzed the relationship divergent Cuba / USA was the first year of Obama, “the expectations and hopes pointed to an improvement in the relationship. Unfortunately this did not happen. “

52. Eduardo Gonzalez Lerner - Ambassadeur de Cuba au Portugal Il a été un membre actif de la Révolution cubaine de pré, et continue de l'etre après la Révolution. Edward Lerner représente la première fois son pays en qualité d’Ambassadeur, le continent européen et le Portugal considère un pays «ami», en soulignant les «90 ans de relations” entre les deux pays. L’Ambassadeur a parlé des relations bilatérales étroites que les deux États dans les domaines politique, commercial, de la santé et de l’investissement, et analysé la relation divergentes Cuba / Etats-Unis a été la première année d’Obama, “les attentes et les espoirs souligné une amélioration de la relation. Malheureusement, cela ne s’est pas produit."

60. European Union - Spanish presidency marked by crisis Came to an end the legacy of the Spanish EU presidency. It was a half black and plagued by deteriorating financial and economic crisis in the eurozone. As for the term starting rotation. José Luis Rodríguez Zapatero had in hand a new and important dossier to apply in Europe of 27 - the Treaty of Lisbon. But the main issue that marked the Spanish Presidency was a crisis. The difficulty of states to obtain credit and the consequent decline of their economies, with unemployment rising sharply, put Europe in alarm. Even in economic terms, Zapatero and Spain have always been in check because of the possibility of the EU and the International Monetary Fund (IMF) have to resort to a backup plan to help the country. It was a presidency marked by the decline in the economic recovery of Europe.

60. L’Union européenne présidence espagnole marquée par la crise La fin de l’héritage de la présidence espagnole de l’UE. C’était un deminoir et en proie à la détérioration

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de crise la financière et économique dans la zone euro. Quant à la rotation terme de départ pour preparer

la suite. José Luis Rodríguez Zapatero avait en main un dossier nouveau et important d’appliquer á l’ Europe des 27, le traité de Lisbonne. Mais la question principale qui a marqué la présidence espagnole a été une crise. La difficulté des Etats à obtenir des crédits et la baisse conséquente de leurs économies, avec un chômage en forte hausse, et l’Europe s’alarme. Même sur le plan économique, Zapatero et l’Espagne ont toujours été en échec en raison de la possibilité de l’Union européenne et du Fond monétaire international (FMI) d’avoir recours à un plan de sauvegarde pour aider le pays. Ce fut une présidence marquée par le déclin de la reprise économique de l’Europe.

62. Enrique Santos - President of the Chamber of Commerce and Industry Luso Spanish - A look at the Spanish Presidency of the European Union Enrique Santos took the comment: to what the Spanish Presidency of the European Union a year with some difficulties of addressing the circumstances that faced the Spanish presidency. First there were two strong constraints that inevitably hampered the performance of the Spanish Presidency. On the one hand, the recent entry into force of the Treaty of Lisbon after several years of tough negotiations and the second constraint is the strong economic crisis ravaging Europe and the international markets.

62. Enrique Santos - président de la Chambre de commerce et d’industrie luso espagnol - Un regard sur la présidence espagnole de l’Union européenne Enrique Santos a eu ce commentaire: la présidence espagnole de l’Union européenne l’annee derniere a eu quelques difficultés a aborder les circonstances qui ont confronté la présidence espagnole. Premièrement il y avait deux contraintes fortes qui, inévitablement ont entravé l’exercice de la présidence espagnole. D’une part, la récente entrée en vigueur du traité de Lisbonne, après plusieurs années d’âpres négociations et la deuxième contrainte est la forte crise économique qui ravageait l’Europe et les marchés internationaux.

64. José Mínguez - Officer of Air Europa by Jose Manuel Pinto Teixeira Delegate of the airline Air Europa in Portugal since last year, José Mínguez has 23 years experience in the tourism sector. A native of Madrid, studied at the Faculty of Economics and Business. He began working in the Travel Marsans, where he served in various departments of tasks related to the general public and directly with management of companies. However also played for Carlson Wagonlit Travel in Spain in 1998. In 2002 began his career at the corporation where it is today - globally - for the Division of Air Europa Air Corporation.

Now with the challenge of launching Air Europa in Portugal, José Mínguez told us of several plans in motion.

64. José Mínguez - Officier de Air Europa par José Manuel Teixeira Délégué de la compagnie aérienne Air Europa au Portugal depuis l’année dernière, José Mínguez a 23 ans d’expérience dans le secteur du tourisme. Originaire de Madrid, a étudié à la Faculté d’Economie et de l’entreprise. Il a commencé à travailler acec Marsans Voyage, où il a servi dans divers départements de tâches liées au grand public et directement avec la direction des entreprises. Mais aussi travaillé pour Carlson Wagonlit Voyage en Espagne en 1998. En 2002 a commencé sa carrière au sein de la société où elle est aujourd’hui - dans le monde - pour la division de Air Europa Air Corporation. Maintenant, avec le défi de lancer Air Europa au Portugal, nous a dit José Mínguez avec plusieurs plans en action.

68. Luís Palha da Silva - Chairman of the Board of Jerónimo Martins Ahead of a major multinational Portuguese with food and services, Luís Palha da Silva is the Chairman of the Board of Jerónimo Martins, and has also encompassed the Secretary of State for Trade. In this interview, he explained why Poland was the target of the economic expansion of the Group, where, today, assumes a position of great leadership. “Poland had a very special charm. It was a country accustomed to private enterprise and the largest country in population, throughout Eastern Europe. “

68. Luís Palha da Silva - Président du Conseil de Jerónimo Martins Devant un Portugais avec les grandes multinationales alimentaires et des services, Luís Palha da Silva

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English & French texts

est le président du conseil Jerónimo Martins, et a également associe le secrétaire d’État chargé du com-

merce. Dans cette interview, il explique pourquoi la Pologne a été la cible de l’expansion économique du groupe, et, aujourd’hui, prend une position de leadership. “La Pologne a un charme très particulier. Elle a été un pays habitué à l’entreprise privée et le plus grand pays en matière de population, à travers l’Europe."

76. José Joaquim Oliveira - Managing Director and Chairman of IBM Portugal The Managing Director and Chairman of IBM Portugal is a deep knowledge of the reality of the company, which already brings three decades of service. Before assuming the leadership of the American representative in London was responsible for business area in the software division of IBM for the Iberian Peninsula. A native of Lisbon, José Joaquim Oliveira speaks of the presence of IBM in luso land and new business areas for the future: cities, energy and health.

76. José Joaquim Oliveira - Directeur Général et Président d’IBM Portugal Le directeur général et président d’IBM Portugal est une connaissance profonde de la réalité de la société, qui regroupe déjà trois décennies de service. Avant d’assumer la direction du représentant américain à Londres a été responsable de la zone d’affaires de la division logiciels d’IBM pour la péninsule ibérique. Originaire de Lisbonne, José Joaquim Oliveira parle de la présence d’IBM à Luso terres et nouveaux secteurs d’activité pour l’avenir: des villes, la santé et de l’énergie.

82. Alfonso Varela - President of the Agricultural Credit Insurance He began his career in 1981 at the Tranquility Insurance. Passed them by other insurers, where he played tasks relating mainly to the area of life insurance and pension funds. In 2004, Afonso Varela became president of CA Insurance and growth has been remarkable. Highlights the quality and management of the company reason to classify as the best non-life insurer in that segment size.

82. Alfonso Varela - Président de l’assurance-crédit agricole Il a commencé sa carrière en 1981 à l’assurance Tranquillité. Adopté par les autres assureurs, où il a joué principalement des tâches liées au domaine de l’assurance-vie et fonds de pension. En 2004, Afonso Varela est devenu président du CA d’assurance et la croissance a été remarquable. Faits saillants de la qualité et la gestion de l’entreprise à raison de classer comme le meilleur assureur non-vie dans cette taille de segment.

88. Chopin a universal artist For the Poles, whose country has completely disappeared from the map of Europe for about 150 years, the national culture and tradition played always had a key role in preserving their identity. The largest Polish farmers, especially those of the romantic era, they produced their works not only in Poland but also in exile. This was the case of the most famous Romantic poets as Adam Mickiewicz, Juliusz Słowacki and Cyprian Kamil Norwid. The same is true of Fryderyk Chopin, who after leaving Poland in 1830, never would return to their homeland. Even in the subsequent century, in the twentieth century Polish poets and artists continued to create their works outside the national territory, such as Czeslaw Milosz, the Nobel Prize for Literature in 1980.

88. Chopin un artiste universel Pour les Polonais, dont le pays a complètement disparu de la carte de l’Europe pour environ 150 ans, la culture nationale et de la tradition avait toujours joué un rôle clé dans la préservation de leur identité. Le plus grand des compositeurs polonais, en particulier á l’époque romantique, il a produit ses œuvres non seulement en Pologne mais aussi en exil. Ce fut le cas des plus célèbres poètes romantiques comme Adam Mickiewicz, Juliusz Slowacki et Cyprian Kamil Norwid. La même chose est vraie de Frédéric Chopin, qui après avoir quitté la Pologne en 1830,il n'est jamais retourner dans sa patrie. Même dans le siècle suivant, chez les poètes polonais du XXe siècle et les artistes ont continué à créer leurs œuvres en dehors du territoire national, tels que Czeslaw Milosz, prix Nobel de littérature en 1980.

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