´ Diplomatica
Nº8 Novembro 2010 4 (Cont.)
business & diplomacy
Diplomática 8 • Novembro/dezembro 2010
Obama o Homem que surpreendeu o mundo
Dossier NATO Entrevistas:
Angola recebe Cavaco e Sócrates
Allan Katz - Emb. EUA Um pilar na campanha de Obama
Mira Gomes Embaixador de Portugal na Nato
Rasool Mohajer Embaixador do Irão País de cultura
Helena Daget Grande nome além fronteiras
With English & French Texts
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2º Aniversário
Assuntos Summary
Capa. Barack Obama. Foto da capa: Ricardo Oliveira - GPM Front Page. Barack Obama.
6
Dossier. A relevância da NATO no novo enquadramento geoestratégico e o seu futuro enquanto organização internacional. – O que esperar da Cimeira EUA/Europa. Dossier. The relevance of NATO in the new geostrategic environment and its future as an international organization. – What to expect from USA/Europe Summit.
11
Entrevista a João Mira Gomes, Embaixador de Portugal na NATO. Interview with João Mira Gomes, Ambassador of Portugal in NATO.
26
Entrevista a Alan Katz, Embaixador dos EUA em Portugal. Interview with Alan Katz, U.S. Ambassador to Portugal.
34
Instituições. Crónica de Graça Didier, Secretária-Geral da Câmara de Comércio Americana. Institutions. Chronicle of Graça Didier, General Secretary of the American Chamber of Commerce.
40
Visita de Estado. Grão Duques do Luxemburgo em Portugal. Official Visit. Grand Dukes of Luxembourg in Portugal.
42
Visita de Estado. Hugo Chavez, Presidente da Venezuela em Portugal. Official Visit. Hugo Chavez, President of Venezuela in Portugal.
44
Expo Xangai 2010. Expo Xangai 2010.
46
Viagens de Estado. Angola. Visita do Presidente Cavaco Silva e Primeiro Ministro, José Sócrates. Official Visit. Angola. Visit of President Cavaco Silva and Prime Minister José Sócrates.
48
Diplomacia no Feminino. Maria da Piedade Polignac de Barros, Embaixatriz da Ordem de Malta em Portugal. Diplomacy in the feminin. Maria da Piedade Polignac de Barros, Ambassador of the Order of Malta to Portugal.
52
Mala Diplomática. Dia Nacional dos Estados Unidos da América. Diplomatic Bag. National Day of the United States of America.
54
Mala Diplomática. Dia Nacional do Reino da Arábia Saudita. Diplomatic Bag. National Day of the Kingdom of Saudi Arabia.
56
Entrevista a Rasool Mohajer, Embaixador do Irão em Portugal. Interview with Rasool Mohajer, Iran's Ambassador to Portugal.
58
Mala Diplomática. Dia Nacional da Suiça. Diplomatic Pouch. Switzerland National Day
63
Mala Diplomática. Dia Nacional da Líbia. Diplomatic Pouch. National Day of Libya.
64
Mala Diplomática. Dia Nacional do Brasil. Diplomatic Pouch. National Day of Brazil.
66
Mala Diplomática. Dia da Unidade Alemã. Diplomatic Pouch. Day of German Unity.
68
Empresários Internacionais. Maria Helena Daget. International Business. Maria Helena Daget.
70
Mala Diplomática. Dia Nacional da Indonésia. Diplomatic Pouch. National Day of Indonesia.
77
Mala Diplomática. Despedida do Embaixador do Egipto em Portugal. Diplomatic Pouch. Farewell to the Ambassador of Egypt in Portugal.
78
Mala Diplomática. Dia Nacional da Coreia do Sul. Diplomatic Pouch. National Day of South Korea
80
Memória Diplomática. Hawai. 50 Anos de Democracia Diplomatic Memories. Hawaii. 50 Years of Democracy
82
Memória Diplomática. OEA. 50 Anos de Direitos Humanos. Diplomatic memories. OEA. 50 Years of Human Rights.
84
Marcas & Gestores. João Lima. Diplomatic and Direct Sales Consultant da Caetano Baviera/BMW Brands & Managers. João Lima. Diplomatic and Direct Sales Consultant of Caetano Baviera / BMW
86
Arte e Cultura. Mostra Portuguesa em Espanha. Art and Culture. Portuguese Exibition in Spain
90
Livros. “Nobre Povo”, Jaime Nogueira Pinto, “História de Portugal”, Rui Ramos Books. "Nobre Povo", Jaime Nogueira Pinto, "História de Portugal, Rui Ramos
92
Traduções Translations
95 DIRECTOR: Maria da Luz de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Av. Engº Duarte Pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 Lisboa. Marketing & Publicidade: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79 IMPRESSÃO: Multiponto DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395
4 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
Capa
Barack Obama
por António Pinho, fotos de Ricardo Oliveira
O rosto do novo “american dream”
Normalmente na Europa não se percebe bem a realidade americana, onde a dicotomia esquerda-direita normalmente não funciona. É que, numa primeira fase, mais por responsabilidade americana do que por incompreensão europeia, a América da guerra fria apresentava uma política externa agressiva, centrada na aventura militar e na pressão musculada… A América está a mudar Com Obama, a situação alterou-se, embora moderadamente. Mas é inquestionável que a presença militar americana no Iraque tem vindo a decrescer e que, ao nível da NATO, já se começa a equacionar a possibilidade de, num prazo relativamente curto, se proceder à saída do contingente militar internacional. E isto tem, inegavelmente, o selo de Obama. A América está a mudar, mas a esquerda europeia e os populistas “esquerdofrénicos” que agora pululam um pouco pela América Latina, não entenderam o essencial. É que os ataques a Obama, no actual contexto, rotulando-o ingenuamente de “chefe imperialista”, ao contrário de empurrarem os EUA, decisivamente, para uma política de paz e coexistência internacional, dão mais força aos grupos de pressão conservadores que, a pretexto da crise e da perda de influência da super-potência, pretendem um retrocesso na linha moderada da nova administração americana. Concorde-se ou não com as posições do presidente americano, mesmo considerando a velocidade controlada das reformas, a América de hoje tem uma postura completamente diferente do tempo em que pontificavam os “falcões” na Casa Branca. E isso tem o ADN de um homem talhado para a política no universo enriquecedor dos movimentos sociais americanos e da intervenção cívica.
Breve biografia do rosto da mudança De seu nome completo Barack Hussein Obama, nasceu a 4 de Agosto de 1961, em Honolulu, Havai. Os pais eram um casal atípico para a época, um tempo em que a miscigenação era condenada na preconceituosa e dividida América dos anos 60… A mãe, Ann Dunham, uma mulher branca do Kansas, perderase de amores pelo estudante negro queniano Barack Obama, desta relação nasceria a criança registada com o nome do progenitor. Ann e Barack conheceram-se na Universidade do Havai, precisamente no dia em que se matricularam. O divórcio veio pouco depois do nascimento do actual presidente. O pai transferiu-se para Harvard, onde acabou os estudos, e, mais tarde, regressou ao Quénia, tendo toda a vida trabalhado como
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Barack Obama
novembro/dezembro 2010 - Diplomรกtica โ ข 7
Barack Obama
8 โ ข Diplomรกtica - novembro/dezembro 2010
➤
economista numa importante consultora petrolífera.
Ann casou-se de novo e transferiu-se como pequeno Barack para a Indonésia, terra de seu segundo marido. Ali estudou, durante dois anos (dos seis aos oito), o futuro presidente, numa madrassa, a escola tradicional muçulmana, facto que, mais tarde, foi usado contra ele nas eleições presidenciais, insinuando rumores de uma suposta conversão islâmica. O pequeno Barack, aos 8 anos de idade, regressa ao Havai e é criado pelos seus avós maternos, enquanto Ann continua na Indonésia, até ao segundo divórcio que a faz regressar aos EUA. Com a mãe, Barack vai para Los Angeles e frequenta o requintado Occidental College – uma escola preparatória da classe média alta. Forma-se na Columbia University (bacharelato), em 1985, e muda-se para Chicago, envolvendo-se em organizações e movimentos sociais, tornando-se activista e participando na vida comunitária. Antes, ainda na universidade, fumou “erva” e cocaína” – comum na juventude dessa época -, episódios que revela na sua autobiografia de 1996, “Dreams from My Father”. Mais tarde inscreve-se na conceituada Escola de Direito de Harvard, doutorando-se em 1991, tendo sido o primeiro presidente negro da prestigiada “Harvard Law Review” – uma publicação mensal dirigida aos estudantes de Direito. Em 1992 casa-se com Michelle Robinson, que também havia sido colaboradora da “Harvard Law Review”, e que conhece no escritório de advogados onde Obama fez o estágio. Curiosamente a sua orientadora era Michelle. O activismo social não preenche integralmente as suas necessidades do Ser e, em 1998, junta-se à United Church of Christ, em Chicago, com a qual rompe durante a campanha para a Presidência, por discordar do discurso radical do seu guia espiritual. No ano seguinte nasce a primeira filha, Mahalia, e, em 2001, o casal recebe o nascimento de Natasha.
Uma fulgurante carreira política Obama inicia a actividade política como senador do Estado de Illinois, com dois mandatos, entre 1997 e 2004. Neste ano empreende um voo mais alto, sendo eleito para o Senado dos EUA. Em 2007 inicia a marcha fulgurante para a presidência, impondo-se na eleição democrata a Hillary Clinton e, logo depois – e contra algumas expectativas – derrota McCain, o candidato republicano. Enquanto senador federal, Obama destacou-se pela oposição à invasão do Iraque decidida pela administração Bush, contrariando mesmo a orientação dominante dos seus colegas democratas. Essa posição, num contexto de isolamento nacional e internacional de George W. Bush, foi decisiva para ganhar o voto dos americanos e afirmar-se como um dos mais emblemáticos líderes mundiais deste início de século e, sem dúvida, o mais popular presidente americano depois de Kennedy.
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novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 9
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Dossier Nato
Cimeira da Nato Um novo conceito
A Cimeira da Nato reunida, em Lisboa, 19 e 20 de Novembro, com a presença do presidente norte-americano Barack Obama, organizada sob os pressupostos do calendário de conclaves desta natureza, bem como da agenda interna onde se destaca a revisão do Conceito Estratégico, aprovado em 1999, dificilmente – segundo os especialistas – estará concluída antes de 2012. Para além do calendário corrente e da agenda incontornável do novo Conceito Estratégico, fundamental num contexto mundial que se alterou substantivamente desde a década de 90, em debate a aprovação da nova estrutura de comandos da NATO.
Um produto da guerra fria A North Atlantic Treaty Organization (NATO) foi criada em 1949, tendo por objecto a constituição de uma frente oposta ao bloco soviético, que como resposta política e militar à fundação da NATO haveria de criar, poucos anos depois, o Tratado de Varsóvia (também conhecido por Pacto de Varsóvia) – uma organização com orgânica similar à primeira mas de propósitos opostos. Os Estados subscritores do tratado de 1949 acordaram um compromisso de cooperação estratégica em tempo de paz, assumindo a obrigação de auxílio mútuo em hipotético ataque a qualquer dos países signatários. Os Estados que actualmente integram a NATO são a Albânia, a Alemanha, a Bélgica, a Bulgária, o Canadá, a Croácia, a Dinamarca, a Eslováquia, a Espanha, os Estados Unidos da América, a Estónia, a França, a Grécia, a Holanda, a Islândia, a Itália, a Letónia, a Lituânia o Luxemburgo, a Noruega, a Polónia, Portugal, o Reino Unido, a República Checa, a Roménia e a Turquia.
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novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 11
Dossier Nato
Pascal Teixeira da Silva - Embaixador de França
O mundo está a mudar, com o aparecimento
em conta as grandes evoluções que atingiram
de potências e conjuntos regionais, e com a
a Aliança e o seu meio estratégico ao longo de
diversificação das ameaças que nossos países
dez anos: o alargamento da NATO a nove Es-
enfrentam, a maioria das quais provenientes
tados-membros da Europa central e oriental; a
de factores não estatais. Neste novo contex-
sua implicação na resolução de grandes crises
to estratégico, a Aliança atlântica tem que se
internacionais, no Kosovo ou no Afeganistão; o
adaptar. Ela mantém a sua importância como
desenvolvimento de novas ameaças internacio-
aliança de defesa dos países europeus e norte-
nais (terrorismo, proliferação nuclear, química
americanos que partilham os mesmos valores
e bacteriológica; ataques cibernáuticos); o novo
e se confrontam com as mesmas ameaças. Ela
lugar que a Rússia ocupa actualmente.
tem assegurado a defesa colectiva dos seus
Neste ambiente cada vez mais incerto, a Fran-
membros e tem-se mostrado eficaz e duradoura.
ça não deixará de lembrar que a missão primor-
É por isso que a 24ª Cimeira da NATO, que
dial da Aliança continua a ser a defesa colectiva
terá lugar em Lisboa a 19 e 20 de Novembro
dos seus membros, como prevê o artigo 5 do
de 2010, será um momento crucial para a
Tratado do Atlântico Norte. A este propósito, a
adaptação da NATO aos desafios do século
dissuasão nuclear continua a ser crucial para
XXI.
a preservação da credibilidade da aliança. A
O conceito estratégico da NATO, que é um do-
defesa antimíssil é um complemento útil para
cumento público, é o texto mais importante de-
a dissuasão nuclear mas não se lhe poderá
pois do Tratado do Altlântico Norte, fundador da
substituir.
Aliança em 1949. Ele define a natureza, os ob-
A experiência dos Balcãs ou do Afeganistão
jectivos e as missões da aliança atlântica, bem
mostra que as crises internacionais são cada
como os meios necessários para levar a cabo
vez mais complexas e que a sua resolução pela
as suas tarefas. Na versão actual, o conceito
comunidade internacional exige que se possa
estratégico data de 1999. Onze anos depois, é
combinar acções civis e militares e permitir que
preciso actualizá-lo. A nova versão deverá ter
actores muito diversos trabalhem em conjunto. ➤
12 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤A
NATO deve portanto delinear a sua acção
mediante uma abordagem global das crises adaptando a sua organização e as suas relações a outros actores de gestão de crises para melhorar a cooperação com esses acto-
A experiência dos Balcãs ou do
res. A NATO, sendo fundamentalmente uma
Afeganistão mostra que as crises
organização militar, não deverá ser um actor
internacionais são cada vez mais
global, mas um dos actores do sistema global,
complexas
ligado aos outros e colaborando com eles. A este respeito, deve ser prestada uma atenção especial ao aumento da importância da União europeia que, particularmente desde a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, dispõe de toda a gama de instrumentos para intervir em prol da
NATO, a Rússia, sendo um vizinho directo dos
resolução das crises, da manutenção e conso-
vários Estados-membros, tem uma importância
lidação da paz e do desenvolvimento. Membro
especial. A cimeira em Lisboa será uma oca-
da União Europeia e da Aliança Atlântica, a
sião para dar um novo impulso a uma coope-
França defende o reforço das relações entre as
ração necessária a ambas as partes durante
duas organizações para garantir a eficácia e a
um encontro ao mais alto nível entre a Rússia
complementaridade das nossas acções, e não
e a NATO. A França apoia esta iniciativa, que
a concorrência e a duplicação.
permitirá identificar todas as ameaças com que
A partir da revisão do conceito estratégico
elas estão igualmente confrontadas e avançar
deve conceber-se e implementar uma reforma
relativamente à realização de cooperações con-
profunda da NATO. Devemos fazer da Aliança
cretas nos domínios em que os seus interesses
atlântica uma organização cada vez mais eficaz
de segurança são idênticos, como o Afeganis-
e reactiva num contexto orçamental exigente e
tão ou a defesa antimíssil.
num ambiente estratégico imprevisível.
Concluindo, assim como em Lisboa em 2008
O segundo grande assunto na ordem do dia
quando foi assinado o Tratado de Lisboa, a
da NATO será a situação no Afeganistão onde
União europeia apresentou os seus princípios
está empenhada no terreno a maior (120.000
fundamentais para o início do século XXI,
homens e mulheres) e mais longa (desde 2001)
também a NATO vai apresentar os seus, em
operação da NATO, agindo sob mandato do
Lisboa, em 2010. Lisboa pode felicitar-se por
Conselho de Segurança das Nações Unidas.
acolher os processos de renovação das comu-
A Cimeira de Lisboa será uma ocasião para
nidades europeias e transatlânticas.
reafirmar a unidade dos aliados e a sua deter-
A próxima cimeira UE/Estados Unidos, que terá
minação em prosseguir, “pelo tempo que for ne-
lugar em Lisboa no próximo dia 20 de Novem-
cessário”, a sua intervenção neste país, como
bro, será importante por dois motivos.
lembrou o Presidente Sarkozy no seu discurso
No plano institucional, trata-se do primeiro en-
de 25 de agosto de 2010.
contro euro-americano desde a entrada em vi-
Será igualmente abordada a transferência
gor do Tratado de Lisboa. Este tratado permitiu
progressiva das responsabilidades para o
agrupar, racionalizar e reforçar os instrumentos
Afeganistão – a transição acordada pela comu-
de política externa da UE até então divididos
nidade internacional durante as conferências
entre o Conselho e a Comissão. A pergunta
internacionais de Londres (Janeiro de 2010) e
provocadora e célebre de Henry Kissinger “A
de Cabul (Julho de 2010).
Europa, qual é o número de telefone?” obteve
Finalmente, entre os parceiros internacionais da
finalmente uma resposta. Futuramente o
➤
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 13
Pascal Teixeira da Silva
➤
Presidente americano, bem como os outros
dirigentes mundiais, podem dirigir-se a um triunvirato estável : um presidente do Conselho instituído com mandato de dois anos e meio, Van Rompuy ; um Alto representante para a política externa e a política de segurança, Catherine Ashton, que é simultâneamente vicepresidente da Comissão, apoiada pelo serviço de acção externa, um género de ministério dos
Desde a eleição de Barak Obama, os pontos de vista europeus e americanos sobre grande parte das importantes questões internacionais aproximaram-se sensivelmente
negócios estrangeiros da União; e um presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso. Estão assim reunidas as condições formais para que a próxima cimeira euro-americana tenha sucesso. Fundamentalmente, a UE, depois de ter avan-
ou o paludismo). A parceria transatlântica é um
çado com as suas instituições, envolveu-se no
dos pilares fundamentais para enfrentar todos
exame e na definição das suas relações com os
estes desafios. Naturalmente, que Europeus
grandes parceiros estratégicos, pólos de poder
e Americanos não podem resolver sozinhos
(no século XXI – Os Estados Unidos, evidente-
os problemas que se lhes colocam e sem uma
mente, mas também a Rússia, a China, a Índia,
conjugação de esforços é certo que nada se
o Brasil, e os grandes agrupamentos regionais
fará.
como a União africana, o MERCOSUL, a ASE-
Embora os pontos da ordem do dia ainda
AN ou o CCEAG (Conselho de Cooperação dos
estejam em fase de elaboração, os desafios
Estados árabes do Golfo). O mundo globalizado
são numerosos e as expectativas grandes de
é a partir de agora multipolar. Assistimos a uma
um lado o do outro do Atlântico. Barak Obama
importante redistribuição da riqueza e do poder.
lembrou precisamente que a pertinência da
A UE tem todos os trunfos – humanos, cultu-
relação transatlântica, no futuro, se baseia não
rais, tecnológicos, económicos, militares – para
só na partilha de valores comuns, mas também
continuar a ser um destes grandes pólos em
na capacidade da Europa contribuir para a
redor dos quais se está a organizar a sociedade
resolução de questões tão diferentes como as
internacional, sendo disso exemplo a compo-
relações com a China, o êxito da estabilização
sição e a importância crescente, pedida pela
no Afeganistão, ou a resolução da crise de pro-
França, do G20.
liferação iraniana. Do lado da UE, a expectativa
Com os Estados Unidos, a União Europeia
relativamente a Washington é enorme no que
partilha valores, tais como : democracia, liber-
diz respeito à governância económica mundial e
dade, estado de direito, direitos do Homem
ao ambiente. Na agenda deverão figurar igual-
– e responsabilidades – como contribuir para
mente o processo de paz no Médio-Oriente, a
prevenir e resolver as crises e conflitos que
luta contra o terrorismo ou ainda a necessária
abalam o mundo, lutar contra as ameaças
complementaridade entre a UE e a NATO.
transversais que agridem a nossa segurança
Desde a eleição de Barak Obama, os pontos
comum (terrorismo, proliferação, tráficos, crimi-
de vista europeus e americanos sobre grande
nalidade organizada, ameaças cibernáuticas),
parte das importantes questões internacionais
tratar de problemas sistémicos com os quais a
aproximaram-se sensivelmente. O contexto
nossa sociedade se vê confrontada (alterações
é portanto mais propício a que esta cimeira
climáticas, desequilíbrios e instabilidade dos
constitua uma nova etapa no reforço de uma
mercados monetários, financeiros e de matérias
cooperação indispensável entre a Europa e os
primas, pobreza, doenças graves como a SIDA
Estados Unidos.
14 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
n
Dossier Nato
Alexander Ellis - Embaixador do Reino Unido
Britânicos desejam um acordo que defina uma estrutura de comando substancialmente mais pequena e mais económica. Os progressos conseguidos até ao momento em Bruxelas são encorajadores: é necessário encontrar o equilíbrio certo entre as estruturas de comando e de forças. Neste processo, o Reino Unido não tem em mente nenhum projecto para a localização geográfica das bases da NATO no futuro. Esperamos também que durante a Cimeira sejam tomadas algumas decisões importantes sobre a presença da NATO no Afeganistão, em particular no que diz respeito aos planos da transferência gradual da responsabilidade pela segurança para as autoridades afegãs. Pode ser também que haja um Conselho A importância da relação da União Europeia com os Estados Unidos, superpotência pro-eminente do mundo económico e político, não necessita de ser reafirmada aqui.
NATO-Rússia durante a Cimeira. Trata-se de um mecanismo importante para os objectivo do relacionamento NATO/Russia, nomeadamente em termos de confiança recíproca e segurança mútua. Acreditamos que os nossos interesses de segurança mútua são melhor servidos se trabal-
A NATO tem que definir a forma de enfrentar os
harmos em conjunto na resolução de problemas
novos desafios da realidade geopolítica, desde
como o Afeganistão, narcóticos, terrorismo,
as ameaças mais recentes como o terrorismo
segurança fronteiriça, proliferação e pirataria.
ou os perigos do ciberespaço, até às mais tradi-
Queremos que a NATO tenha um relacionamen-
cionais ameaças contra os interesses territoriais
to sólido e honesto com a Rússia.
dos seus membros. A NATO precisa de mostrar
A importância da relação da União Europeia com
que é capaz de responder às mudanças e ao
os Estados Unidos, superpotência pro-eminente
ritmo a que têm lugar num mundo cada vez mais
do mundo económico e político, não necessita
interligado.
de ser reafirmada aqui. À imagem do que acon-
O Reino Unido regista com agrado a forma como
tece com outros parceiros estratégicos da UE,
o Grupo de Peritos foi ao alcance da socie-
com os quais procuramos definir a orientação da
dade civil e das organizações internacionais
nossa relação, é fundamental que continuemos a
no processo de elaboração deste documento,
colaborar estreitamente com os Estados Unidos.
ultrapassando o circuito tradicional da própria
Ficámos, por isso, satisfeitos por Portugal ter
estrutura da NATO. Encaramos com interesse a
chegado a um acordo para que esta Cimeira
perspectiva de um debate mais detalhado sobre
tivesse lugar aqui em Lisboa. Ao mesmo tempo,
as propostas apresentadas pelo Secretário-Geral
partilhamos da opinião de que esta deve ter uma
Anders Fogh Rasmussen, durante a reunião
agenda clara, centrada na preparação de uma
conjunta com Ministros da Defesa e Negócios
estratégia para fazer frente aos desafios que jun-
Estrangeiros em meados de Outubro.
tos enfrentamos, como os Objectivos do Milénio,
Este será um dos assuntos mais importantes da
a ajuda ao Paquistão que recupera de cheias
Cimeira da NATO, a ter lugar aqui em Lisboa em
devastadoras, a eliminação de barreiras no
Novembro, e inclui um debate sobre o futuro da
comércio internacional, ou a luta contra as alter-
estrutura de comandos da NATO. Os Ministros
ações climáticas, entre outros.
■
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 15
Dossier Nato
Botschafter Elfenkämper - Embaixador da Alemanha
Este Outono estaremos perante importantes
e defender, pelos meios políticos e militares, a
decisões para o futuro no que toca à política
segurança e liberdade dos seus membros. No
externa. Fazemos intenções de aprovar, duran-
entanto, a NATO é mais do que uma Aliança
te a Cimeira, nos dias 19 e 20 de Novembro,
para a defesa. É uma Aliança para a seguran-
um novo conceito estratégico da NATO. O
ça. A nossa ambição deveria ir no sentido de
Secretário-Geral Rasmussen apresentou um
continuar a fortalecer a segurança pan-euro-
projecto - do nosso ponto de vista, muito bom
peia.
- que constitui uma base excelente para as res-
Um foco claro nas medidas de dissuasão e de
tantes consultas e que também pega em muitas
tranquilização não deverá ter como consequên-
sugestões, apresentadas por nós durante o
cia a negligência de quaisquer outros elemen-
processo que decorreu até agora.
tos de segurança cooperativa, nomeadamente
Os ideais fundadores da Aliança e as questões-
parcerias, o reforço da confiança e da seguran-
chave do corrente Conceito Estratégico de
ça, o controle de armas e o desarmamento. As
1999 ainda são válidos. Não obstante, o mundo
medidas de tranquilização e a segurança coo-
enfrenta, actualmente, ameaças novas e cada
perativa com a Rússia devem andar de mãos
vez mais globais, como o terrorismo, a proli-
dadas. No passado recente, tem havido sinais
feração de armas de destruição maciça e dos
encorajadores para afastar o estigma da guerra
respectivos vectores, e ciber-ataques. É sobre
fria e para iniciar uma relação mais sóbria e
este pano de fundo que o novo Conceito Estra-
pragmática com a Rússia.
tégico terá que servir de guia, contribuindo para
Desde 1999, a Aliança tem sido confrontada
forjar um novo consenso estratégico, definindo
com riscos e desafios novos e frequentemente
a direcção que a Aliança deverá tomar nos
híbridos, participando em operações complexas
próximos 10 a 15 anos.
na Europa e a uma distância estratégica.
O compromisso central, como está descrito no
Não há qualquer dúvida que a Aliança tem um
Artigo 5, continuará a ser o claro enquadramen-
papel fundamental no que toca aos desafios
to de referência para a Aliança: salvaguardar
novos e emergentes. A NATO tem que ter a
16 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
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capacidade de agir quando e onde for neces-
sário. Frequentemente, uma defesa eficiente contra as novas ameaças tem que ser iniciada muito para além do seu próprio território. No entanto, a Aliança não é, de modo nenhum, a única resposta a todos os problemas que afectam a segurança internacional. Não acreditamos que a NATO tenha uma responsabilidade universal. E, muito simplesmente, não possui meios ilimitados. O Tratado de Washington não envol-
Salvaguardar e defender, pelos meios políticos e militares, a segurança e liberdade dos seus membros
ve responsabilidades a uma escala global. Por conseguinte, a acção da NATO deverá continuar claramente ligada à salvaguarda da segurança da área euro-atlântica, de modo a assegurar o maior apoio possível internamente. Apesar da necessidade de adaptar a estratégia da NATO aos riscos da segurança global, acreditamos
esta cooperação atinja o seu potencial máxi-
firmemente que a chave é a legitimidade inter-
mo. Temos que alterar esta situação. A grande
nacional. A Aliança deve empenhar-se na reali-
sobreposição dos membros e dos interesses
zação dos propósitos e princípios da Carta das
exige uma cooperação próxima e estratégica,
Nações Unidas e da legislação internacional. E
em particular na gestão de crises.
é isso que deveremos afirmar no novo Conceito
No que diz directamente respeito à questão
Estratégico. Deveremos também reiterar a dis-
do Afeganistão, a Cimeira de Lisboa será um
ponibilidade contínua da Aliança, no sentido de
marco importante. Pretendemos definir a direc-
usar as suas capacidades para a manutenção
ção a tomar, de modo a que a entrega gradual
da paz, sob os auspícios das Nações Unidas.
da responsabilidade pela segurança nas mãos
A experiência no Afeganistão deu à NATO a
dos afegãos possa, efectivamente, iniciar-se no
oportunidade de aprender lições valiosas, por
próximo ano.
vezes, do modo mais difícil. A estabilidade não
Gostaria de resumir as nossas expectativas
pode ser conseguida apenas através de meios
mais importantes para a Cimeira da NATO em
militares. As responsabilidades-chave para a
Lisboa em três pontos. Em primeiro lugar, o
estabilização e a reconstrução estão, frequen-
nosso desejo de que não se entenda a NATO
temente, nas mãos de outros actores, nomea-
apenas como uma aliança militar, mas também
damente dos governos locais ou das Nações
como uma comunidade de valores políticos. Em
Unidas. Por outro lado, a intervenção da NATO
segundo lugar, pretendemos uma cooperação
poderá ser necessária, no sentido de dar apoio
estratégica da Aliança com a Rússia. E, em ter-
a estas organizações. Por conseguinte, a NATO
ceiro lugar, aspiramos a que seja reconhecida
tem que realçar a sua capacidade para cooperar
a relação entre a segurança internacional e o
com outros actores internacionais, especialmen-
desarmamento, ou seja, à não-proliferação nu-
te a União Europeia e as Nações Unidas, bem
clear. Pretendemos ampliar ainda mais a janela
como com ONGs e outros actores civis. Não
de oportunidades que se abriu aqui nos últimos
obstante, a Aliança não tem que desenvolver
meses. O desarmamento constitui um desafio
as suas próprias capacidades civis, mas sim a
tão grande para a Humanidade como a protec-
sua capacidade para interagir de modo eficaz
ção climática. Quanto mais Estados tiverem
com outros parceiros. Infelizmente, o estado
acesso a arsenais nucleares, maior é o perigo
actual das relações UE/NATO não permite que
de que estes caiam nas mãos de terroristas.
n
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 17
Dossier Nato
Vassilios Costis - Embaixador da Grécia
A definição tradicional do conceito de seguran-
alterações significativas. Uma Aliança de guerra
ça dava mais importância ao controlo e uso da
fria bem sucedida, embora de carácter estático,
força militar por parte dos Estados. No entanto,
evoluiu para uma Organização mais dinâmica
na época pós-guerra fria os perigos e as amea-
através da adesão de novos membros, da re-
ças externas contra a segurança nacional dum
organização da Estrutura de Administração, do
país não são só de natureza militar e não se
fortalecimento das suas relações entre parcei-
podem enfrentar só com meios militares. Além
ros, do reforço da sua cooperação com outras
disso, a natureza variável dos conflitos consti-
Organizações internacionais, da sua transfor-
tui, aparentemente, a característica dominante
mação militar e da adopção de um novo Dogma
do mundo pós-bipolar, onde os conflitos que
Estratégico. Este Dogma descreve o objectivo
decorrem em cada vez mais lugares do planeta
da NATO, a sua natureza e as suas funções
são mais “intra-estatais” e menos “inter-esta-
principais de segurança. Trata-se da decla-
tais”.
ração fundamental dos objectivos da Aliança,
Portanto, devido à natureza transnacional de
que por um lado fornece a orientação política
muitos problemas de segurança, a cooperação
necessária para o desenvolvimento dos meios
internacional, relacionada com o desenvolvi-
militares e políticos necessários para a realiza-
mento das Organizações regionais e interna-
ção destes objectivos e, por outro lado, constitui
cionais, torna-se indispensável. A diferenciação
a base para a realização, na sua totalidade, das
funcional constitui o mecanismo de transforma-
políticas da NATO.
ção e adaptação destas Organizações perante
A defesa colectiva do Artigo 5º continuará a
as condições de segurança mundiais facilmente
constituir a missão principal da NATO no âmbito
variáveis, uma vez que estão a ser seriamente
actual de segurança internacional, caracteriza-
questionadas as razões da sua existência em
do pelo surgir de novos desafios em termos de
termos militares. Um exemplo característico
segurança, tais como a difusão das armas de
deste tipo de Organização é a NATO.
destruição massiva, o terrorismo internacional,
A partir de 1989 em diante, a NATO tem sofrido
a segurança do ciberespaço, a segurança
18 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
➤
energética, a pirataria, as alterações climá-
ticas e as pandemias. Para o combate eficaz contra estes desafios é preciso ser adoptada uma aproximação coerente por parte da comunidade internacional, constituída por um espectro alargado de mecanismos militares e não militares. No ambiente internacional actual, a segurança, que já não está só relacionada com o campo dos conflitos inter-estatais e o desenvolvimento tendem a ser considerados como inseparáveis. A «vitória militar» não é, por si só, suficiente para que um Organismo defensivo alcance êxitos no âmbito da segurança. Pelo
A definição tradicional do con-
contrário, para que estes sejam alcançados,
ceito de segurança dava mais
é necessário o estabelecimento de relações,
importância ao controlo e uso
a coordenação e a cooperação com todos os
da força militar por parte dos
actores, respeitando a autonomia institucional e
Estados.
o modo de funcionamento de cada um deles. A Aliança continuará a participar, também, na gestão das crises e na prevenção dos conflitos e a realizar operações que não estão previstas no artigo 5º. A experiência obtida através da realização deste tipo de operações tem demonstrado a importância da possibilidade de
para a aproximação firme da segurança e para
realização de operações de estabilidade e da
a salvaguarda dos interesses colectivos dos
prestação de assistência militar em esforços de
seus Estados-Membros. Na medida em que, no
reconstrução. Além disso, a Aliança fortalecerá
futuro, a NATO não reduza os seus esforços
as suas relações com as outras organizações
para a prestação de garantias de segurança
internacionais, irá intensificar os contactos
aos seus Estados-Membros, fará com que o
com os seus parceiros, através da adaptação
fosso de conceitos, que a separa dos seus anti-
adequada do programa “Parceria para a Paz”,
gos adversários, diminua e responderá às obri-
do “Diálogo Mediterrâneo” e da “Iniciativa da
gações oriundas da assunção do papel de actor
Cooperação de Istambul” e irá melhorar a sua
internacional no âmbito mundial de segurança,
cooperação na prática com os ditos “países de
irá conservar e aumentar o seu valor. A NATO
contacto”. A cooperação com a União Europeia
deverá estar em posição de, com base numa
que tem a capacidade de recurso a uma ampla
hierarquização de prioridades, de acordo com
escala de meios e capacidades não militares,
os meios que os Estados-Membros colocam à
entre as quais as verbas comunitárias, espe-
sua disposição, garantir, em primeiro lugar, a
cialmente valorizáveis pela Aliança, é indis-
defesa colectiva dos seus membros, gerindo
pensável para a NATO, para alcançar os seus
desafios de segurança tradicionais e actuais
objectivos. A cooperação política e operacional
mas também, contribuir, na medida das suas
com a Rússia, como por exemplo no Afeganis-
capacidades, para os esforços internacionais
tão, irá também reforçar significativamente as
no combate contra crises graves e a consoli-
capacidades da NATO.
dação da paz e da segurança, respeitando os
A constante transformação da NATO converte a
princípios do direito internacional e as decisões
Aliança numa organização capaz de contribuir
das Nações Unidas.
n
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 19
Dossier Nato
Inga Magistad - Embaixadora da Noruega
I am confident that NATO will continue to make bold decisions and adapt its strategy to the challenges of the 21st century.
Over the years the Alliance has shown a remarka-
rance policy and instrument for dealing with future
ble ability to adapt to a changing security envi-
security challenges in the Transatlantic area. I am
ronment. NATO’s relevance has not diminished,
confident that NATO’s partnerships will play an
rather the opposite. Over time its focus has shifted
even more important role in the decades to come
but the core task of the Alliance remains the same,
and that NATO will continue to be the arena for
collective defence within the framework of Article
trans-Atlantic dialogue.
V of the Washington Treaty. The commitment to
First of all I am convinced Lisbon will be a won-
collective defence is as solid today as it was when
derful venue for the Summit. The city has so
NATO was founded in 1949. Some predicted that
much to offer and I hope the delegates will have
NATO would be less relevant after the end of the
time to step out of the meeting rooms and enjoy
Cold War. I happen to disagree. In addition to
this beautiful and historic city. As I mentioned the
NATO’s core tasks I believe NATO’s current enga-
key deliverable from the Summit will be the New
gements in operations in the Balkans and Afgha-
Strategic Concept. This will be yet another miles-
nistan as well as surveillance and counter piracy
tone in NATO’s history, and may I add at a very
operations at sea prove that NATO is relevant.
important juncture. The world and NATO’s security
NATO has never been busier.
environment looks very different today than what it
NATO’s future is to a large extent what the Lisbon
did when NATO’s current Strategic Concept was
Summit is all about. The Allies will agree on a New
agreed in 1999. I am confident that NATO will con-
Strategic Concept and make important decisions
tinue to make bold decisions and adapt its strategy
on the very demanding operation in Afghanistan.
to the challenges of the 21st century.
The New Strategic Concept is NATO’s strategy
As a non EU member Norway does not have any
for dealing with new challenges in an ever chan-
strong opinions on the summit between the EU
ging security environment. The only thing certain
and the US. In general, however, we are pleased
about the future is that it is uncertain. An alliance
to see that there is close cooperation and fruitful
between democratic nations built on common
exchanges of views between our two closest part-
values continues in my view to be the best insu-
ners in security policy and economic relations. ■
20 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
Dossier Nato
Algimantas Rimkunas - Embaixador da Lituânia
Nowadays the world is facing the new unconventional threats, such as terrorism, piracy, potential energy supplies disruptions, cyber crimes etc.
ment, Lithuania, as well as other NATO members, the collective defense would like to see as the core function of the alliance. The commitments of Article 5 of Washington Treaty, which Lithuania joined the NATO in the group of 7 Central and Eastern European nations on the 29th of March 2004. By this act, a longstanding dream of Lithuania came true: our country became a member of the defensive alliance of the democratic states, based on respect of sovereignty, territorial integrity, human rights, rule of law and other democratic principles. Lithuania needed it to secure its regained freedom and independence. Although security of the country and collective defense are the two major factors which brought Lithuania to the NATO, we clearly understand that we can’t be merely consumers of security, which is provided by the organization. We also have strong obligation to contribute to international security. That’s why Lithuania sent hundreds of troops and police forces to the “hot spots” of the world: Afghanistan, Iraq, the Balkans. Already 5 years Lithuania leads the Provincial Reconstruction Team in Ghor province in Afghanistan. Preparing for the Lisbon Summit, Lithuania is participating in a drafting of the NATO’s new Strategic Concept, the first to be adopted since the enlargement of the alliance. In this docu-
21 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
in fact mean reassurance within the NATO, have to be supported by practical measures. Only safety and security of all members of the alliance can assure its successful external action and relationship with non-member countries. Nowadays the world is facing the new unconventional threats, such as terrorism, piracy, potential energy supplies disruptions, cyber crimes etc. In a new Strategic Concept, Lithuania supports the development of the NATO capabilities to respond to these new challenges, especially clear alliance’s role in the area of energy security. But it is imperative that this not be done at the expense of its core function. Lithuania strongly supports NATO’s Open door policy, which is a crucial contribution to the security and stability in Euro-Atlantic region. Enlargement of the Alliance is a vivid political process between the NATO and aspirant countries and should remain such, guided by the Article 10 of Washington Treaty. In this respect, Lithuania is of the opinion that, according to Bucharest NATO Summit decisions, the status of Georgia and Ukraine, as future members of the Alliance, should be correctly reflected in NATO’s new Strategic Concept.
■
Dossier Nato
Ivan Petrov - Embaixador da Bulgária
O fim da guerra fria criou possibilidades para o desenvolvimento duma série de parcerias com os países da Europa Central e do Leste e com a Rússia, o que tornou a Europa mais segura e estável.
As novas realidades geo-estratégicas coloca-
plo, crises regionais e conflitos provocados por
ram perante a NATO novas tarefas, respon-
confrontos étnicos, políticos e doutra índole em
sabilidades e incumbências. Criada em 1949
vários países e regiões do mundo, acções ter-
com o objectivo de defender a liberdade e a
roristas, criminalidade organizada, proliferação
segurança dos seus membros, a organização
de armas de extermínio em massa, destruição
passou por várias provações e transformações.
de infra-estruturas do sector energético, ciberas-
Durante o período da guerra fria, que durou até
saltos, pirataria. A necessidade de encarar as
1989, a NATO garantia a segurança aos países
novas realidades e desafios face à segurança
ocidentais e mantinha os valores e os princípios
pressupunha em muitos casos acções da NATO
democráticos. Nos anos 90, o propósito fun-
fora da área euro-atlântica tradicional, como
damental era o projecto duma Europa unida e
aconteceu no Afeganistão, no Golfo de Ádem e
livre. Nesse período, pela primeira vez a NATO
no Paquistão, entre outros. As novas condições
envolveu-se em acções militares nos Balcãs,
de segurança, a urgência duma adopção de
o que contribuiu para a estabilização duradou-
abordagens adequadas para resolver os novos
ra nesta parte do mundo. O fim da guerra fria
riscos e ameaças, bem como a alteração dos
criou possibilidades para o desenvolvimento
imperativos defensivos implicam uma transfor-
duma série de parcerias com os países da
mação dinâmica das capacidades militares da
Europa Central e do Leste e com a Rússia, o
NATO, a procura de novas iniciativas para o
que tornou a Europa mais segura e estável. O
desenvolvimento das parcerias, consultas mais
alargamento da aliança contribuiu para o alar-
intensas na esfera da segurança e uma estrutu-
gamento da zona da estabilidade e incrementou
ra mais eficiente da aliança.
a capacidade de resposta aos novos desafios
O Futuro da NATO como Organização Interna-
face à segurança.
cional
Atravessando os umbrais do século XXI, a alian-
Em Maio último, foi publicado um relatório do
ça enfrentou novos desafios, imprevisíveis e
grupo de peritos reunido pelo Secretário-Geral
assimétricos pela sua natureza como, por exem-
da NATO, com base no qual será elaborado
22 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
➤
um projecto para um novo conceito estratégico
conjunto com as outras organizações inter-
da aliança. Espera-se que o documento seja
nacionais, terá de aplicar no futuro uma nova
aprovado na cimeira da NATO em Lisboa, onde
abordagem abrangente na gestão das crises,
se dará resposta às questões relacionadas com
conjugando elementos militares e civis.
o futuro da organização. O relatório dos peritos
Quanto às Expectativas Relativas à Próxima
delineou as direcções estratégicas fundamen-
Cimeira
tais da actividade da NATO nos próximos dez
Esperamos que a cimeira da NATO em Lisboa
anos. A NATO manterá a sua função central,
se torne um fórum de discussões intensas e
registada no artigo 5º do Tratado da NATO,
soluções de problemas-chave da ordem do dia.
nomeadamente, a defesa colectiva, inclusive o
Atribuímos uma relevância especial à aprova-
desenvolvimento de capacidades militares de
ção do novo conceito estratégico, a respeito
confiança, planeamento e logística. Continua a
do qual temos a esperança de que reafirme os
ser tarefa primordial a defesa contra ameaças
valores e os princípios básicos da Aliança, in-
não-convencionais (terrorismo, proliferação de
clusive do artigo 5º do Tratado de Washington,
AEM, combate à pirataria, aos ciberassaltos,
a relação transatlântica, bem como de que dê
etc.) que possam surgir muito além das frontei-
continuação à política das «portas abertas» e à
ras da aliança. A realização bem-sucedida das
responsabilidade assumida nos Balcãs. Consi-
operações pelo mundo fora e sobretudo a mis-
deramos que a NATO deve prestar uma aten-
são no Afeganistão será de suma importância
ção séria à região do Mar Negro como parte
para o prestígio da aliança no futuro. A aposta é
indivisível da segurança euro-atlântica.
grande e os aliados e os parceiros evidenciam
O desenvolvimento das parcerias é uma res-
sérios esforços para cumprirem esta missão
posta eficaz aos desafios na área da segurança
com êxito.
no séc. XXI. As relações com a Rússia devem
O novo conceito estratégico tem de afirmar que
assentar numa colaboração construtiva para
a NATO não ficará sozinha no caminho por que
a solução de questões estratégicas da segu-
enveredou, mas sim poderá contar com o apoio
rança. A NATO deve adoptar uma abordagem
dos seus parceiros, antigos e novos, para a
concertada, no que respeita à segurança ener-
solução de problemas-chave da segurança. «A
gética, sublinhando o seu papel político, desen-
Porta da NATO» tem de continuar aberta para
volvendo paralelamente capacidades de operar
novos membros como mecanismo e contributo
«dentro» e «fora» da área da responsabilidade
para a segurança colectiva. O desenvolvimen-
da Aliança. A integração mais rápida dos novos
to das parcerias permitirá que a organização
membros da NATO nas estruturas estratégicas
opere e encontre soluções em situações de
garantirá o cumprimento mais pleno das tarefas
crise. É sobretudo importante manter o diálogo
comuns. Os diferentes desafios e ameaças que
e a cooperação com a Rússia como garantia da
enfrenta a NATO exigem esforços abrangen-
segurança na área euro-atlântica.
tes e bem coordenados dum amplo leque de
Uma política nuclear de confiança e a manuten-
participantes: da esfera civil e militar, de orga-
ção de reservas de forças nucleares contribuirá
nizações não-governamentais, bem como uma
para o processo da contenção nuclear global
colaboração eficiente com as organizações
na zona da segurança. O desenvolvimento dum
internacionais.
sistema da NATO para uma defesa territorial
Tal como os outros aliados, também a Bulgária
antimíssil será uma resposta eficiente às amea-
compartilha a sensação de ameaça, sendo que
ças de ataques com mísseis balísticos.
o flanco sul se revela o mais vulnerável. Isto é
Tendo em vista o facto de que hoje em dia
um estímulo poderoso para que a aliança siga
a segurança não se associa unicamente ao
em frente no desenvolvimento de capacidades
cumprimento das tarefas militares, a NATO, em
de defesa antimíssil.
■
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 23
Dossier Nato
Jaroslav Jarúnek - Embaixador da República Eslovaca
Dadas as mudanças no mundo, é necessário responder a estes desafios e adaptar-se às novas condições
mas será crucial para gradualmente entregar aos afegãos, às suas forças armadas e da polícia a responsabilidade pelo seu próprio país. Só então será possível a NATO retirar-se do país. Claro, que para o sucesso da operação será importante também a dimensão civil, a construção do país de tal maneira que os talibãs sejam derrotados, não só fisicamente, mas principalApesar das mudanças na ordem geopolítica
mente na mentalidade da população nacional.
mundial, a relevância da existência da NATO é
Outros desafios para a Aliança serão a procura
indiscutível. A Aliança é o maior grupo de defe-
de novas parcerias no âmbito da nova ordem
sa global e o seu papel estabilizador no mundo
global, incluindo a cooperação pragmática com
é de primordial importância. Para a Eslováquia
a Rússia. Acredito que a todos estes desafios,
a NATO é uma das prioridades da sua política
a Aliança responderá com o novo conceito es-
externa e de defesa. Dadas as mudanças no
tratégico durante a próxima Cimeira em Lisboa.
mundo, é necessário responder a estes desa-
Para a República Eslovaca as relações com os
fios e adaptar-se às novas condições. Neste
EUA são de uma importância extraordinária, os
contexto, terá particular importância a adopção
laços transatlânticos estão entre as prioridades
do seu novo conceito estratégico na Cimeira de
da política externa da Eslováquia e, com respei-
Lisboa, mantendo o artigo 5 do Tratado de Wa-
to a isso consideramos a próxima Cimeira UE /
shington no âmbito da defesa comum. Na nova
EUA de particular relevância. Os EUA são para
estratégia a Aliança Atlântica deveria ter em
nós não só um importante parceiro comercial,
conta também as novas formas de ameaças po-
mas sobretudo um dos principais investidores
tenciais, a proliferação de armas de destruição
estrangeiros. A reunião deveria conduzir a um
maciça, a luta contra o terrorismo, os ataques
alargamento da cooperação de ambos os lados
cibernéticos ou de pirataria, que também são
do Atlântico em todas as áreas. Os resultados
novos desafios. Finalmente, mas não menos
positivos da Cimeira ajudarão a enfrentar os ac-
importante é a segurança energética.
tuais desafios, na área da política, da economia
A relevância da NATO deveria ser confirmada
e do comércio mútuo, estabilização dos merca-
também mediante o sucesso futuro da ISAF no
dos financeiros, dos transportes e outros. Será
Afeganistão, onde a República Eslovaca tam-
importante encontrar posições comuns e equili-
bém participa com as suas forças armadas. No
bradas sobre as questões tratadas no G20, no
entanto, vai levar o seu tempo, pelo que não
domínio das mudanças climáticas e procurar
antevejo resultados significativos a curto prazo,
compromissos mutuamente benéficos.
24 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
■
Diplomacia na 1ª Pessoa Entrevista
João Mira Gomes
por António Manuel Pinho, fotos de André Garrido
Embaixador de Portugal na NATO “Gostaríamos de reduzir o nível da presença militar no Afeganistão, mas mais do que ter datas é ter objectivos” Diplomata de carreira, o recém-nomeado embaixador de Portugal na NATO foi Secretário de Estado no primeiro governo de Sócrates, ex campeão nacional de Ténis, motard, corredor de automóveis e, até, participante na etapa para amadores da Volta a Portugal em Bicicleta
26 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
João Mira Gomes recebeu-nos em
depois, estive um ano à frente da
– onde fui o número dois da embai-
sua casa, no Estoril, seis dias antes
embaixada em Sófia e, a seguir, fui
xada, com o embaixador António
de iniciar funções (27 de Setembro).
para Paris.
Monteiro. E, logo a seguir, para
Na agenda, como seria evidente,
Sófia é uma cidade fascinante.
Bruxelas, como já referiu, para o
está a Cimeira da Nato de Novem-
É, é. E por duas razões. Porque a
Comité Político e de Segurança da
bro, em Lisboa, bem como o proces-
Bulgária talvez fosse dos países
União Europeia. E, quando estava
so de reorganização da NATO sob
mais ortodoxos dentro do Pacto de
lá há menos de um ano a preparar
um clima de crescente contestação
Varsóvia, mas também é fascinante
a nossa presidência de 2007, tive o
à presença militar no Afeganistão.
porque é um cruzamento de cultu-
convite para ir para o governo como
O senhor embaixador foi repre-
ras. Eles são eslavos mas têm uma
Secretário de Estado da Defesa e
sentante de Portugal no Comité
grande presença turca que, aliás,
dos Assuntos do Mar, onde trabalhei
Político e de Segurança da União
não recordam com particular agra-
com o professor Nuno Severiano
Europeia, foi também secretário
do. Mas é, de facto, um sítio onde
Teixeira, mas sempre sabendo que
de Estado da Defesa do anterior
se cruzam várias culturas, várias
iria regressar à carreira diplomática.
governo, mas não corresponde ao
populações. É um corredor de trân-
Um bocado na linha daquelas
padrão típico de um político…
sito da Ásia para a Europa. E, nessa
coisas que, às vezes, fazemos
Eu, na realidade, não sou político.
altura, foi ainda mais interessante
na vida e só queremos fazer uma
Sou um funcionário da carreira
estar em Sófia porque era uma
vez. Vou usar uma figura de es-
diplomática do Ministério dos Ne-
época de grande transição, coincidiu
tilo: foi uma espécie de salto de
gócios Estrangeiros, a minha pas-
com o regresso do rei Simeão – que
pára-quedas?
sagem pela política foi episódica –
participou nas eleições e acabou por
embora tenha gostado muito dessa
ganhar. E, portanto, foi uma experi-
que encarei. Nós, muitas vezes,
experiência -, mas foi apenas uma
ência de um ano muito interessante.
criticamos os governos, os políticos,
experiência de três anos e meio, e
Para si foi, mas para o rei nem
as políticas … mas, de facto, nun-
sabendo, quando nela entrei, que
tanto…
ca temos a responsabilidade de as
iria sair da política e regressar à
(risos) Mais tarde, de facto, foi
conduzir. E, quando se é colocado
minha carreira, que é a carreira
menos interessante para o rei. Aliás,
perante o desafio que, obviamente,
diplomática.
tive vários contactos com ele, que
tem riscos e inconvenientes e se
E quando começou a sua carrei-
gosta muito de Portugal, onde a sua
diz que não, acho que nós depois
ra?
própria mãe viveu. Ele episodica-
temos menos legitimidade para criti-
Fiz concurso de adido de embaixa-
mente passou por cá e fala portu-
car quem governa. Portanto, foi isso
da, em 1983, comecei a trabalhar
guês.
que pensei. “Tenho aqui um desafio,
no ministério em finais desse ano. O
Portugal teve sempre essa tradi-
para trabalhar com uma pessoa que
meu primeiro posto diplomático no
ção de ser uma espécie de placa
conheço” – de quem sou amigo e
estrangeiro foi, de facto, a NATO,
giratória de famílias reais apea-
considero muito -, coloquei várias
em 1987.
das.
condições para aceitar o desafio,
Já é reincidente…
Portugal e, mais particularmente,
essas condições foram aceites e,
(risos) Sou reincidente, embora
aqui o Estoril. A quatrocentos me-
depois, ia dizer o quê? “Não, muito
em circunstâncias diferentes. Mas,
tros daqui fica a Villa Giraldo, que foi
obrigado, não quero correr esses
pelo meio, quando tivemos a nos-
residência dos condes de Barcelo-
riscos?” E foi basicamente por aí
sa primeira presidência da União
na; um pouco mais perto era a casa
que aceitei, num espírito de mis-
Europeia, estive na missão de
do rei Carol da Roménia; um pouco
são e de serviço público. E gostei,
monitores, em Zagreb, numa missão
mais acima era uma casa para onde
também pela área da Defesa, que
de observadores durante a guerra
veio o Fulgêncio Batista, quando se
já conhecia – embora sem a pro-
da ex Jugoslávia. Depois, regressei
deu a revolução cubana…
fundidade que decorre do exercício
à NATO, ainda, durante uns meses,
O mais terrível, aqui no Estoril, foi
de funções governativas -, mas
e fui para Macau onde fui assessor
dar guarida a essa personagem.
também pela área dos assuntos do
diplomático do governador Rocha
(um discreto sorriso) … Em Cascais
mar, um sector muito interessante e
Vieira. Estive aí três anos e voltei
esteve o Rei Humberto.
estratégico para o desenvolvimento
para Lisboa, para preparar a presi-
Mas, continuando, houve essa
do país e para afirmação de Portu-
dência da União Europeia de 2000;
passagem por Sófia, depois Paris
gal no mundo. Aliás, costumava
➤
(risos) Não, não foi. Não foi assim
➤
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 27
Embaixador João Mira Gomes
dizer que este projecto do mar e,
da ONU e, a prazo, da possível
passada para a opinião pública, de
sobretudo a extensão da plataforma
constituição de um exército único
que já não seria necessário fazer
continental, vai ser tão importante
europeu.
gastos em termos de forças arma-
no século XXI como foram os desco-
Isso é uma questão recorrente,
das, na defesa, nos equipamentos
brimentos nos séculos XV e XVI.
mas temos de enquadrar a questão
militares. Que era uma ideia errada.
Vai ser absolutamente decisivo para
em termos do que a NATO é hoje
Obviamente que nos teríamos de
o crescimento económico e para a
em dia e aquilo que poderá ser no
adaptar às novas missões – que
criação de emprego.
futuro. Como ponto prévio temos de
não sabíamos muito bem quais
E é também um regresso às
pensar que, de facto, era muito mais
seriam -, mas não precisávamos de
origens da nossa História, essa li-
fácil conceber a organização num
ter o nível de forças que tínhamos
gação ao mar que, durante muitos
cenário de guerra fria.
anteriormente naquele cenário de
anos, foi muito maltratada.
Foi assim que ela nasceu…
confrontação com o Pacto de Varsó-
Foi tratada, digamos, de uma forma
Exactamente. Mas também de-
via. E, depois, de repente, quando
muito tradicional. Sempre olhamos
vemos pensar – e nós somos da
toda a gente achou que iríamos ter
para o mar ligado às actividades
geração que viveu esse período –
paz para todo o sempre, rebenta o
tradicionais. E as novas fronteiras
que sem a NATO nós não teríamos
conflito na Jugoslávia. Primeiro a
do mar são cada vez maiores. Ainda
tido o período de prosperidade que
guerra no Golfo, depois o conflito na
temos um conhecimento ínfimo
tivemos na Europa, e sem essa
Jugoslávia.
daquilo que ele nos pode dar.
estabilidade ao longo dessas dé-
Conflito esse que foi gerido de-
Portanto, é um regresso ao mar mas
cadas da guerra fria não teria sido
sastrosamente pela União Euro-
com novos horizontes, sem descu-
possível, por exemplo, desenvolver
peia.
rar as actividades tradicionais que,
a União Europeia como desenvol-
Ninguém estava preparado para
hoje em dia, têm um peso diferente,
vemos. Porque, de facto, a NATO e
aquilo, nem as Nações Unidas
mas apostando nas novas oportu-
os americanos eram uma garantia
estavam preparadas para gerir uma
nidades, nos novos produtos que o
de estabilidade e de segurança para
crise daquelas dimensões. Porque,
oceano nos pode dar. E, durante a
os europeus – que são condições
aliás, a intervenção militar, com os
presidência portuguesa em 2007,
essenciais para o desenvolvimento
capacetes azuis, foi da ONU. Mas
promovemos o lançamento da polí-
económico.
as pessoas apercebem-se que é
tica marítima europeia, depois, dois
Com a queda do muro de Berlim –
possível haver uma guerra na Eu-
anos mais tarde, lançamos a estra-
na qual a NATO teve um importante
ropa, com centenas de milhares de
tégia da CPLP para os oceanos, e
papel -, de facto, colocam-se novos
refugiados, com crimes contra a Hu-
apresentamos a nossa proposta de
desafios. Mas penso que a organi-
manidade e, aí, a única organização
extensão da plataforma continental,
zação soube responder, porque logo
que estava preparada para poder
em Nova Iorque – dentro dos prazos
no ano seguinte – isto em 90 – foi
começar a tomar conta da gestão
e dentro do orçamento –, o que
lançada a política da amizade e
de crise era, de facto, a NATO, que
também é muito importante. Foi um
cooperação, foi feito o convite para
tinha os meios militares e começou
período muito interessante e enri-
os ex-países do Pacto de Varsóvia
a desenvolver essa nova doutrina
quecedor.
estabelecerem relações diplomáti-
de adaptação para um cenário de
Bom, passe a expressão, vamos
cas com a NATO, mais tarde com a
defesa territorial e defesa colectiva,
entrar pela NATO adentro. Têm-se
integração de três deles. E, logo aí,
para poder também empreender
manifestado várias vozes – e não
tentou fazer-se essa adaptação às
missões de manutenção da paz. E é
me refiro só àquelas tradicional-
novas condições, aprovou um novo
essa adaptação que tem vindo a fa-
mente contrárias à organização
conceito estratégico, em 91, que era
zer, com a intervenção nos Balcãs e
– que questionam a necessidade
uma alteração profunda daquilo que
com a intervenção que, agora, está
da sua existência. Isto, principal-
era nos anos 60 – este virado para
a efectuar no Afeganistão.
mente, após a queda do muro de
a confrontação, o de 91 virado para
O que nós temos de explicar – e
Berlim e o colapso dos regimes
a cooperação – e, portanto, come-
essa sua pergunta é útil – às gera-
da órbita soviética e do Tratado
çou a abrir-se uma nova via para a
ções que nunca viveram a guerra
de Varsóvia. Mas, também, por
NATO.
fria, que não sabem qual foi o papel
ordem da importância crescen-
Claro que, com o fim da guerra fria,
da NATO, e que acham que a esta-
te do Conselho de Segurança
também houve uma outra noção,
bilidade é um dado adquirido,
➤
28 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
porque é que temos de continuar a
Mas tivemos outros exemplos, na
Mas, na minha opinião, não há
construir uma rede de segurança co-
Europa, de repartição de um país,
uma ocupação do Afeganistão. Por
operativa com outros parceiros, para
que foram pacíficos. A Checoslová-
outro lado, há uma percepção clara,
haver mais segurança no mundo e,
quia, por exemplo. Portanto, teria
junto da opinião pública europeia
por consequência, haver mais segu-
sido possível, na minha opinião,
e dos decisores europeus – isto é,
rança na Europa. E esse é o nosso
também negociar isso se houvesse
da comunidade internacional – que
desafio.
tempo, se houvesse vontade políti-
o Afeganistão é importante para
É o “novo conceito estratégico”
ca e, sobretudo, se a comunidade
a segurança dos nossos países.
de que se fala…
internacional estivesse preparada e
Isto é, para nós Portugal, a nossa
➤
Hoje em dia, a NATO está de novo
unida – porque havia uma grande
segurança e a das alianças de que
num processo de mudança com
divisão sobre a questão jugoslava –
fazemos parte passa pelo sucesso
a Cimeira de Lisboa. E os vários
para gerir essa crise.
da operação naquele país. Agora,
temas da cimeira são bem elucida-
Até porque havia a ideia de que
esta operação não é de natureza
tivos dessa mudança, desse novo
essas coisas dos conflitos arma-
militar.
conceito…
dos eram lá para África e para a
Mas foi inicialmente.
Já lá iremos. Falou da ex Jugos-
América Latina.
Foi, mas evoluiu para um outro tipo
lávia e há uma certa ironia nisto,
Houve países que se adiantaram
que tem, também, componentes
porque aquele país surge - com
no reconhecimento da Croácia, e
civis de desenvolvimento humano,
aquelas fronteiras e com aquele
isso criou uma dinâmica que foi
económico e social. Portanto, tem
artificial conceito de Estado - no
muito difícil parar. Se estivéssemos
vários actores e esta estratégia da
rescaldo da II Guerra Mundial. E
mais preparados e tivéssemos os
comunidade internacional tem que
vem, de alguma forma, ressalvar a
instrumentos de gestão de crise que
ser coordenada – e que também
ideia de que fronteiras e Estados
temos hoje, poderíamos ter evitado
inclua os países vizinhos. Porque
construídos a régua e esquadro
a guerra na Jugoslávia.
o problema do Afeganistão – dos
não têm muitas possibilidades
Vamos agora ao Afeganistão, que
talibãs e da Al-Qaeda – não é
de sobrevivência. E, morrendo
há quem o defina como o atoleiro e
circunscrito às suas fronteiras. E
Tito, que era o garante da unidade
considere que o controlo internacio-
a NATO tem aqui um papel mui-
jugoslava, o país implodiu.
nal é muito precário e muito circuns-
to importante, que é o de criar as
Conheci bem a Jugoslávia porque
crito a Cabul. E há também quem
condições militares de estabilidade
estive lá em 92 e, depois disso, em
diga – meio por laracha, meio a
que permitam desenvolver as outras
96, fui o coordenador do ministério
sério – que Hamid Karzai é o presi-
vertentes deste processo afegão.
para todas as questões dos Balcãs.
dente, mas da câmara de Cabul. E,
Mas isso passa não só pelo controlo
De facto, a Federação Jugoslava
depois destes anos de ocupação, o
do território.
nasce no pós-guerra, decorrente da
problema afegão não está de forma
Controlo esse que não está a ser
força do Marechal Tito e do movi-
nenhuma resolvido, não consegui-
conseguido.
mento partizan, tem de reparar al-
ram erradicar a ameaça talibã e o
Esse controlo tem, também, de ser
gumas feridas por causa do regime
país está, de alguma forma, trans-
feito com as forças afegãs e essa
fascista da Croácia, mas também
formado numa placa de produção e
é a segunda parte da missão da
havia outra coisa que preservou a
circulação de tráfico de drogas. Não
NATO. A primeira é uma missão
Jugoslávia. Com a saída do país do
seria melhor sair de lá e fechar a
militar típica, uma outra segunda é a
Pacto de Varsóvia, havia uma ame-
porta?
missão de treino do exército nacio-
aça exterior soviética que mantinha
Primeiro há uma expressão sua da
nal afegão e, ao mesmo tempo, o
a Jugoslávia unida. Em 89, com a
qual tenho de discordar, que é a
treino das forças policiais para que
queda do muro de Berlim, os nacio-
“ocupação” do Afeganistão. Não há
eles próprios possam começar a ter
nalismos que sempre existiram vie-
ocupação nenhuma, há uma ope-
o controlo do seu território. Sabe-
ram ao de cima, sobretudo com uma
ração internacional com o mandato
mos que há zonas em que é mais
conjugação histórica nefasta que foi
das Nações Unidas, com o consenti-
difícil do que em outras, que há
haver três dirigentes nacionalistas
mento e a participação das autorida-
zonas onde a NATO este sob mais
muito fortes que coincidiram nesse
des afegãs.
pressão nas suas operações diárias.
período. E isso foi fundamental para
Eu estava a usar a expressão que
Estive lá, vi isso. Em Cabul circula-
o desastre que conhecemos.
é utilizada pelos críticos.
se com segurança mas com escolta ➤
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 29
Embaixador João Mira Gomes
armada bastante grande, porque
situações concretas, do envol-
des locais, muitas vezes, não estão
de facto a parte do controlo territorial
vimento de pessoas ligadas ao
preparadas. Mas, em minha opinião,
e a assunção de responsabilidades
governo no tráfico de droga, na
a estratégia passa por ter um gover-
pelas forças afegãs está a ser mais
corrupção. E, há pouco tempo, vi
no afegão cada vez mais forte, com
lento do que aquilo que gostaría-
um documentário sobre um hos-
governos provinciais mais fortes,
mos. E também gostaríamos que o
pital, construído com a ajuda in-
em assegurar o desenvolvimento
próprio governo afegão fosse mais
ternacional, que três anos depois
económico, em criar condições de
eficaz na sua acção, no combate à
estava a cair aos bocados – um
vida à população – que lhe permita
corrupção, nos índices de governa-
hospital supostamente de topo.
sair daquele circuito terrível que é o
ção e pudesse ter uma governação
Isso é um desafio que nós temos
do cultivo da papoila que, de facto,
sobre todo o território, que neste
em muitos países em que há ajudas
é o que faz andar o Afeganistão nas
momento é ineficiente.
ao desenvolvimento, onde situações
zonas tribais. Temos de criar alter-
Mas há a ideia, fundamentada em
dessas ocorrem porque as autorida-
nativas e não é a NATO que as cria. ➤
➤
30 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
Alternativas, até, do ponto de
ver o problema?
Lisboa. As perspectivas quanto
vista da produção agrícola.
Houve afirmações do presiden-
a ela, nomeadamente essa ideia
Exactamente. E isso é uma função
te Obama nesse sentido, de que
do “novo conceito estratégico”.
da comunidade internacional, não
gostariam de ter no horizonte um
É uma cimeira só para marcar
é a NATO que tem de se ocupar
calendário de redução da presença
calendário?
dessa área. A organização tem uma
militar no Afeganistão, mas isso
Não é para marcar calendário. Lis-
operação militar em curso, tem de
ainda não foi discutido pelos aliados
boa vai ser um marco importante na
criar as condições de segurança e
e, recentemente, o general Petreus
história da NATO.
tem que ajudar a treinar as forças
afirmou que temos de continuar a
Está, também, prevista uma
afegãs, mas há outros actores,
assegurar a coesão e unidade de
contra-cimeira…
nomeadamente as Nações Unidas
todos os que estão no Afeganistão.
Mas isso é natural. Penso que vai
➤
com as suas agências, a União Eu-
Para alguns países tem sido muito
haver uma fase antes de Lisboa
ropeia que também está no terreno,
duro, com um número de baixas
e uma fase NATO após Lisboa. E
e os próprios parceiros regionais
elevado. Devemos compreender
é significativo que a nossa capital
que têm de ajudar nessa matéria.
isso, começa a haver um desgaste
tenha sido escolhida para esta
O desafio no Afeganistão é de toda
da opinião pública desses países.
cimeira. Como sabe, Portugal é
a comunidade internacional, não
Ainda para mais quando não se
um país fundador da organização,
é um desafio só da NATO. Se não
vislumbra nenhuma solução para
mas um elemento muito importante
tivermos sucesso, os primeiros pre-
o problema. Mesmo alguns, que
desta cimeira e do novo conceito
judicados são os próprios afegãos,
apoiaram inicialmente a interven-
estratégico é a abertura e o reforço
os segundos serão os vizinhos, mas
ção, vêm agora dizer que o pro-
da relação com outros parceiros
nós também seremos afectados por
blema é irresolúvel.
internacionais. Passar essa mensa-
isso – não só na nossa credibilidade
Mas, a esses, podemos responder
gem em Lisboa é muito interessan-
como na nossa segurança.
recordando qual foi o resultado do
te para a NATO e muito relevante
Há alguma previsão definida de
desinvestimento internacional no
para Portugal, porque Lisboa é uma
saída das forças internacionais?
Afeganistão. Que resultou naquilo
cidade que está virada para vários
Não, não há datas definidas…
ser um santuário…
destinos e para outras parcerias
Mas parece haver vontade por
Curiosamente apoiado por secto-
que o nosso país cultiva há muito
parte da administração americana
res da comunidade internacional,
tempo. Designadamente, as par-
para resolver – bom, numa primei-
nomeadamente as administrações
cerias com o Magreb, através do
ra linha, a questão do Iraque – o
norte-americanas.
desenvolvimento do diálogo medi-
atoleiro afegão.
Até determinada altura.
terrânico que existe na NATO, as
Gostaríamos de reduzir o nível da
O aliado de hoje pode vir a ser o
parcerias com África, as parcerias
presença militar no Afeganistão,
inimigo de amanhã.
com o Atlântico sul, nomeadamente
mas mais do que ter datas é ter
O resultado foi transformar o país
o Brasil. E, naturalmente, continuar
objectivos, porque essa redução
num santuário do terrorismo interna-
a privilegiar um dos pilares funda-
tem de ser em função de uma
cional, num santuário da Al-kaeda,
mentais da NATO que é a coope-
análise das condições no terreno e
com ramificações em várias regiões
ração transatlântica. Sendo que o
das condições políticas e outras. É
do mundo. É isso que estamos a
outro pilar é o europeu, através da
essa análise que está regularmente
combater, é isso que não podemos
cooperação com a União Europeia.
a ser feita para permitir definir se,
deixar que se repita.
Fazer isto em Lisboa, com tudo o
efectivamente, se há condições
Sabemos que o território é difícil, a
que nós temos de relacionamento
para baixar gradualmente o nível da
própria História do país é difícil, há
com essas partes do mundo, com
presença militar, ou não. E este ano
muitas divisões étnicas e tribais… É
tudo o que implica também a nossa
foi muito complicado, com eleições,
complexo. Mas se os próprios afe-
participação na União Europeia, é
sabíamos que ia ser um período
gãos e o governo não tiverem capa-
muito interessante.
de grandes tensões. Vamos ver se
cidade para inverter isso, estaremos
A NATO após Lisboa vai ser uma
2011 pode ser um ano de normaliza-
numa situação muito mais difícil.
reafirmação daquilo que são os prin-
ção da situação.
Tenho mais duas questões para
cípios fundamentais da organização,
Não lhe parece haver alguma
lhe colocar, e uma delas tem a
portanto, a defesa territorial com
pressa de Washington em resol-
ver com a Cimeira da NATO de
base na cláusula de
➤
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 31
Embaixador João Mira Gomes
solidariedade e ajuda mútua con-
Temos de ter esperança. Também
Mas, voltando a Oeiras, um dos te-
signadas no artigo 5º do Tratado de
ninguém acreditava que o Pacto de
mas que vai estar aqui em aprecia-
Washington; vai ser a continuação
Varsóvia ia acabar e que o muro de
ção é a agenda de reformas internas
da readaptação das forças da NATO
Berlim ia cair. E há alguns elemen-
da NATO.
para as missões de gestão de crises
tos na situação de Chipre que nos
O Secretário-Geral, Rasmussen,
➤
– que já estamos a fazer no Afega-
permitem ter essa esperança. Por
parece sensível à ideia de acabar
nistão e nos Balcãs -, mas apren-
exemplo, o último referendo cons-
com o comando de Oeiras.
dendo com as lições dessas mis-
titucional na Turquia talvez possa
Há um grupo de altos funcionários
sões, e uma delas é que temos de
criar algumas condições favoráveis
que tem estado a trabalhar para
ter uma estratégia mais global que
à resolução do problema. Mas isto
apresentar um relatório sobre uma
combine os elementos militares com
para dizer que essas parcerias, em
matriz de comandos. Portanto, sem
os elementos civis. A NATO após
Lisboa, vão ser um elemento muito
haver ainda uma discussão sobre
Lisboa também será um elemento
importante da cimeira. Parceria com
a localização geográfica desses
muito importante de reforço da con-
a União Europeia, mas também par-
comandos. Há dois comandos es-
sulta política face às novas ame-
ceria com a Rússia. Aliás, foi feito
tratégicos, depois há comandos de
aças. E essas ameaças vão para
um convite ao presidente Medvedev
segundo nível – que são de forças
zonas com as quais a NATO, nor-
para uma cimeira NATO-Rússia aqui
conjuntas -, de terceiro nível… e
malmente não se ocupava, como,
em Lisboa.
por aí abaixo. Não existe, ainda,
por exemplo, a cibersegurança, as
E foi aceite o convite?
uma proposta para apresentar na
questões ambientais e as parcerias.
Ainda não temos resposta. Nós,
cimeira, ainda está a ser trabalha-
E, nessas parcerias, é decisivo a
Portugal, gostaríamos muito que
da. Neste momento é prematuro
União Europeia como parceiro estra-
essa reunião tivesse lugar porque
dizer se Oeiras vai continuar ou
tégico. Têm havido condicionantes
achamos que a Rússia é um parcei-
não. O que nós sabemos é que,
políticas que impediram o desenvol-
ro estratégico para a NATO e para
actualmente, o quartel de Oeiras
vimento dessa parceria.
a Europa. E há uma agenda comum
realiza missões muito importantes
A mudança da administração
em várias áreas, o que só reforça a
para a NATO.
americana veio ajudar?
necessidade de cooperação. Co-
Nomeadamente…
Esta nova administração valoriza
meçando, por exemplo, pelo com-
Nomeadamente, o comando da
mais o multilateralismo e a consulta
bate ao terrorismo e à proliferação
operação naval de combate à
e concertação com os europeus.
nuclear.
pirataria na Somália. E é um quar-
Portanto, é natural que o primeiro lu-
Para terminar, um tema recorren-
tel que tem custos comparativos
gar onde se sinta isso seja a NATO.
te. O comando da NATO em Oei-
relativamente baixos, tem um bom
Mas, na relação com a União Euro-
ras vai implodir ou vai manter-se?
apoio da nação hospedeira, isto é,
peia, também houve uma evolução
Implodir, passe a expressão. Que
Portugal. E é um quartel que tem
da posição americana que, aliás, já
não seja entendido como incita-
uma grande capacidade de projec-
se começara a verificar ainda com
mento a um ataque terrorista…
tar elementos de comando. Para
a administração Bush. Porque, ao
(risos) Não, não. Aliás, Portugal é
além de ter uma posição geográfica
invés de pensarem que o desen-
um país bastante seguro. E isso
– como já falamos – de aproxima-
volvimento de políticas de segu-
contou, seguramente, para a es-
ção com os novos parceiros. Oeiras
rança europeia seria uma ameaça
colha de Lisboa como a capital da
tem muitas vantagens, vamos ver
à NATO, começaram a pensar que
cimeira.
quando for aprovada essa estrutura
isso poderia servir para o reforço da
Porém, com um sistema de segu-
de comandos onde iremos aplicar
organização.
rança apertadíssimo.
essa matriz.
Persiste, no entanto, uma condicio-
Mas tem que haver, não há maneira
Está tudo em aberto, sabendo
nante política que tem a ver com a
de organizar estas cimeiras de outra
nós – e isto é uma mensagem que
questão de Chipre que impede o
forma. Aliás, penso que haverá a
também se deve passar – que a par-
desenvolvimento político e institucio-
tendência para fazer estas cimeiras
ticipação de Portugal na NATO não
nal desta parceria. Mas têm havido
nas sedes das organizações, porque
se resume a Oeiras. É muito mais
progressos.
os esquemas de segurança já estão
vasta que Oeiras. Mas estamos em-
Outra situação praticamente irre-
montados e, além do mais, é mais
penhados para que a bandeira da
solúvel…
barato.
organização continue por cá.
32 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
■
Diplomacia na 1ª Pessoa Entrevista
Allan Katz
por Maria da Luz de Bragança, fotos de Pedro T. Cardoso
Embaixador dos Estados Unidos da América em Portugal “Portugal é um membro dedicado da Nato e um aliado que pode contribuir para o desenvolvimento das nossas boas relações com a África e o Brasil”
34 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
Nascido em 1947 em St. Louis,
Fale-me da importância da Em-
abraçou um programa de cul-
no Estado do Missouri, é Embai-
baixada dos E.U.A. em Portugal.
tura e arte, apoiando jovens e
xador dos Estados Unidos em
Allan Katz - A relação de amizade
promissores artistas portugue-
Portugal desde Março de 2010.
entre Portugal e os Estados Uni-
ses. O programa é independen-
Allan Katz, formado em Direito
dos tem uma longa história, des-
te da FLAD?
– Juris Doctor – pela American
de que Portugal reconheceu, em
Nancy Cohn - É. Apesar de
University of Washington – Col-
1791, os E.U.A. depois da guerra
pequeno, Portugal tem muito a
lege of Law, com um curriculum
da independência. É uma relação
oferecer em matéria de cultura
invejável como jurista, conse-
que tem crescido e prosperado
e arte. O programa é um plano
lheiro governamental e adminis-
ao longo dos anos. Os Estados
independente da FLAD que pla-
trador de empresas, é membro
Unidos também se envolveram na
neámos desde Washington. Entre
do Comité Democrático Nacional
revolução portuguesa de 1974/75.
outros projectos de cultura, esta-
tendo colaborado na Comissão de
A ligação entre os nossos dois
mos a trabalhar num catálogo e a
➤
Finanças da Campanha Obama
países é mesmo muito forte.
preparar exposições de jovens ar-
for America e ajudado a redigir o
Acreditamos que trabalhamos
tistas portugueses e americanos.
programa para a Convenção Na-
bem em muitos assuntos e que
O Senhor Embaixador poderá
cional do Partido Democrático em
Portugal é um membro dedicado
dizer-nos quais serão as priori-
2008. Premiado com o “Champion
da Nato e um aliado que pode
dades nas relações com Portu-
for Climate Change”; “The Best
contribuir para o desenvolvimento
gal?
Lawers in América for Insurance
das nossas boas relações com
Allan Katz - Uma das prioridades
Law” e Chambers U.S.A, tem em
a África e o Brasil. Sentimo-nos
é a FLAD, à qual gostaríamos de
Portugal o seu primeiro posto
muito afortunados com as nossas
dedicar mais tempo e energia.
como Embaixador.
relações.
Outra das prioridades é incremen-
A “Diplomática” foi conversar com
E os Açores? A importância
tar as relações entre os E.U.A.
este homem de excepção que,
dos Açores nas relações entre
e Portugal, particularmente em
junto com a sua mulher, a Embai-
os dois países.
relação a África e Brasil, e estrei-
xatriz Nancy Cohn, formada pela
Allan Katz - É a mais longa e
tar alianças com Portugal para
University of Miami-Sociology/
continuada representação que os
desenvolver relações económi-
Antropology, senhora dada às
Estados Unidos têm no mundo.
cas, particularmente no turismo.
causas humanitárias e à cultura,
Um contrato muito importante,
Muitos americanos viajam e vêm
nos revela um casal que se com-
também porque a Base das Lages
à Europa mas não conhecem
pleta em bom senso e simpatia,
torna a ligação entre os nossos
nem sabem nada de Portugal.
levando-nos a concluir que Portu-
países ainda mais estreita.
Queremos ajudar a desenvolver
gal terá muito a beneficiar com a
O que lhe ocorre dizer sobre
o turismo e contribuir para que
sua presença.
a nova direcção da Fundação
saibam como Portugal é óptimo
Uma questão prévia, é Embaixa-
Luso Americana para o Desen-
para negócios. Gostaríamos que
dor porquê? Foi escolhido por
volvimento (FLAD)?
muito mais americanos viessem
quem?
Allan Katz - A FLAD é uma or-
ao vosso país.
Allan Katz - Trabalhei intensa-
ganização muito importante em
Como vê a posição do Dólar
mente na campanha do Presiden-
muitos sentidos e emblemática
face ao Euro?
te Obama que, em Novembro de
das relações entre os E.U.A. e
Allan Katz - Ambos, os E.U.A. e
2009, me nomeou para represen-
Portugal. E a nova directora, Dra.
a maioria dos estados europeus,
tar os Estados Unidos em Portu-
Maria de Lurdes Rodrigues, é
estão agora a enfrentar dificul-
gal. Confirmada esta nomeação
uma pessoa muito inteligente e
dades na sua economia e tudo
pelo Senado, em Março deste
talentosa. Estamos muito felizes
deve ser muito bem trabalhado
ano, tanto eu com a minha mulher
em ter a oportunidade de traba-
nos próximos um ou dois anos.
ficamos muito, muito felizes com
lhar com a senhora e, minha mu-
Penso que Portugal fez grandes
este convite até porque ela fala
lher e eu próprio já conversamos
progressos em muitos sentidos
fluentemente português dado ter
com ela sobre o futuro em várias
nos últimos 5 anos, lidando bem
sido durante anos voluntária do
ocasiões.
com os problemas económicos e
Peace Corps, no Brasil.
Aliás, a Senhora Embaixatriz
tomando medidas que muitos
➤
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 35
Embaixador Allan Katz
outros estados europeus não
A EDP comprou uma empresa
como vamos conseguir que os
tomaram, em termos de idade da
de energia eólica nos Estados
americanos voltem ao trabalho
reforma, segurança social, funcio-
Unidos. O que pensa das ener-
- nada é tão importante do que
nalismo público… Assim, penso
gias renováveis?
isso. Tenho esperança que, no
que Portugal está em boas con-
Allan Katz - Portugal está no di-
próximo ano, este problema pos-
dições a médio e a longo prazo,
reito de sentir muito orgulho pelo
sa estar em parte resolvido.
mesmo sabendo que as econo-
que tem feito no sector da ener-
Falemos agora das políticas para
mias não estejam tão bem como
gia. O “Times”, de há uns meses,
o Iraque, Irão, Afeganistão...
todos gostaríamos que estivesse.
diz-nos que há muitos séculos
Allan Katz - A violência no Iraque
Os Estados Unidos também têm
Portugal partiu à descoberta de
diminuiu significativamente, houve
problemas a curto prazo devido a
novos mundos e agora está no-
eleições e o futuro está nas mãos
terem tantas pessoas desempre-
vamente a fazê-lo no domínio da
dos Iraquianos, tal como deveria
gadas, mas estamos a trabalhar
energia. Está a fazer um óptimo
estar. Estão novamente a produ-
afincadamente para mudar isso.
trabalho e melhor que o resto do
zir petróleo, electricidade e a dar
Vive-se uma recessão?
mundo. Portugal lidera esta tão
segurança às pessoas que vivem
Allan Katz - Não será recessão.
importante área. Quando a EDP
no Iraque. São eles que têm de
Tecnicamente pensamos é que
vai para os Estados Unidos - e
encontrar o caminho.
não estamos a conseguir pôr as
investe muitos milhões no poder
Quanto ao Irão, fiquei encoraja-
pessoas a trabalhar, não temos
do vento - fá-lo porque acredita
do quando a China se juntou à
oferta suficiente de trabalho, mas
que vai competir e que terá muito
Rússia e ao resto do Conselho
temos esperança de em breve
sucesso. Penso que as energias
de Segurança, e todos chega-
colmatar isso. Penso que na Eu-
renováveis serão muito boas
ram à mesma conclusão. Chine-
ropa acontece o mesmo…e está
para os Estados Unidos e para
ses, russos, franceses, ingleses
a demorar mais tempo do que
Portuga,l e tenho esperança que
juntaram-se aos Estados Unidos,
gostaríamos que demorasse.
nesse sector possamos aprender
concordando com o nosso pro-
Fale-me do Dólar e do Euro.
com os portugueses.
pósito. Acredito que as sanções,
Allan Katz - O Euro ficou muito
É uma honra…
que impusemos, junto com as Na-
caro comparando com o Dólar, o
Allan Katz - O nosso Presidente
ções Unidas, tiveram um impacto
que é bom para os E.U.A. no sen-
está muito empenhado nas novas
positivo. Sempre pensei que se o
tido da exportação, mas não será
energias, cuja implantação está a
Irão estivesse apenas a lidar com
bom para o turismo. Agora, com
demorar mais tempo do que em
o poder nuclear para assuntos de
o Euro baixando será bom para
Portugal. Mas temos esperança
paz, tal como produção de ener-
o turismo e não tão bom para o
de que haveremos de lá chegar.
gia etc., deveria permitir que os
negócio. A nível de exportações,
No programa político do Pre-
inspectores verificassem o que
é melhor para Portugal e para os
sidente Obama o que faltará
estão a fazer. Inspeccionados e
ainda implementar, depois da
verificando que a energia é para
teja mais baixo. Penso que o que
reforma da saúde e da reforma
objectivos de paz, todo o mundo
vai acontecer nos próximos um ou
legal dos bancos?
poderá dizer que é óptimo e a
dois anos é que o Euro e o Dólar
Allan Katz - Penso que a prio-
situação no Irão está resolvida.
flutuarão um pouco, mas tende-
ridade é lidar com o tremendo
O Afeganistão é um problema
mos a ter um valor mais correcto,
problema do sistema económi-
muito significativo, não só para os
ultrapassando esta crise juntos.
co. O Presidente já despendeu
Estados Unidos como para todos
Muitas pessoas devem entender
muitas energias, tempo, esforço
os países que fazem parte da
que é do interesse dos E.U.A. que
e dinheiro para salvar a economia
força de segurança internacional
a Europa recupere, e é também
do colapso. A General Motors
naquele país. Sabemos que quan-
do interesse da Europa que os
estava em ruptura, agora está a
do foi governado completamente
Estados Unidos recuperem. Os
fazer dinheiro e tivemos bancos
pelos talibãs houve ataques terro-
E.U.A. e a Europa devem prospe-
que estavam em colapso e agora
ristas por todo o mundo, e todos
rar juntos porque será muito difícil
estão equilibrados e a ter lucros.
sabemos que permitindo que
prosperarem de costas voltadas.
O maior esforço, agora, é saber
voltem àquele Estado é
➤
países europeus
que o Euro es-
36 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
Embaixador Allan Katz e sua Mulher, a Embaixatriz Nancy Cohn
novembro/dezembro 2010 - Diplomรกtica โ ข 37
Embaixador Allan Katz
estar, basicamente, a permitir
Allan Katz - É uma pergunta
perando que o Governo do Afega-
que fiquem livres para voltar a
difícil. Não sei se viu o “Times
nistão possa tomar conta desses
fazer o que querem contra a civi-
Magazin”, com a mulher desfi-
assuntos sozinho… Nessa altura,
lização ocidental. É um problema
gurada pelo marido talibã… A
todas as tropas que estão a asse-
e uma situação muito difícil. O
questão central é o que fazemos
gurar a paz - incluindo as portu-
governo do Afeganistão precisa
com esta espécie horrível de fé
guesas - poderão sair, deixando
de oferecer segurança às pes-
e civilização a quase todos os
de ser necessárias. O problema é
soas que lá vivem - e até isso se
níveis. Abandonamos o povo
que todos temos responsabilida-
conseguir será impossível senti-
à sua sorte, principalmente as
des no mundo e algumas vezes
rem-se seguras para viverem em
mulheres? Não encontramos uma
não gostamos de as ter. A vida, às
paz, particularmente se pensar-
solução fácil. As alternativas são
vezes, mostra-nos problemas não
mos nas coisas horríveis que os
difíceis e nenhuma é muito clara.
muito agradáveis, aos quais gos-
talibãs têm feito.
Talvez criando diferentes áreas
taríamos de virar as costas. Penso
Quando poderá haver paz no
que sejam seguras, começando
que, neste caso, precisamos de
Afeganistão?
a construir desde essas áreas, es-
continuar a fazer um esforço não
➤
38 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
➤
permitindo que este país seja
um estado terrorista que pratica
Allan e Nancy Dois amigos de Portugal
acções condenáveis aos olhos de todo o mundo civilizado.
O Embaixador Allan Katz e a Embaixatriz Nancy Cohn,
Não há garantia de sucesso,
estão casados há 33 anos e têm dois filhos: Eaton,
mas estamos lá por boas razões
que casou recentemente em Israel e é professor uni-
e para proteger a forma de vida
versitário, e Mathieu, estudante na Universidade de
dos cidadãos. Nada queremos do
Chicago.
Afeganistão, a não ser um Gover-
Conheceram-se aos 17 anos, mas os estudos se-
no viável que gere uma economia
pararam-nos. Enquanto Allan se doutorava em leis
estável, bem como o conforto e
na Universidade de Washington, Nancy , em Miami,
segurança da sua população.
doutorava-se em Antropologia, tendo também estado
Nesta catástrofe da plataforma
uns tempos no Brasil. Naquele tempo, sem internet,
petrolífera da BP, que medidas
namoraram-se sete anos por telefone, até casarem em
estão pensadas para que não
1977. Galardoado pelas suas capacidades de lide-
volte a acontecer?
rança e produção legislativa, Allan escolhe para sua
Allan Katz - Todo o mundo ficou
companheira Nancy, socióloga e antropóloga muito
muito perturbado com o que acon-
dedicada às causas humanitárias, seja no Brasil como
teceu, e penso que não haverá
voluntária do Peace Corps, seja prestando serviço na
dinheiro suficiente para colma-
Cruz Vermelha na Flórida, e também com especial
tar todo o prejuízo causado. No
apetência para as artes e culturas, especializando-se
entanto, a multa de vinte biliões
em Ohio como Bachelor of Arts.
de dólares serviu para minorar os enormes prejuízos das vítimas da
Qual a mensagem que gostariam de deixar aos
catástrofe.
portugueses?
Certamente que iremos ser mais
Allan Katz - O que gostaria de acrescentar é o que
fortes nas regras do que no pas-
digo aos meus amigos: Sinto que tenho o melhor em-
sado, e os peritos saberão hoje
prego do mundo e que serei capaz de representar o
muito mais sobre o que devem
meu país, do qual tenho muito orgulho. Gosto de estar
fazer para evitar a situação. Mas
neste maravilhoso país que é, sem dúvida, muito sim-
foi, realmente, uma lição muito
pático, com óptima comida e óptimos vinhos. Gosta-
cara.
mos muito, muito, de tudo o que encontramos em Por-
Qual o futuro da NATO e da sua
tugal e sinto-me muito lisonjeado em poder encontrar
missão?
forma de criar novas oportunidades e contribuir com
O que acontece à NATO é que
novas decisões e acções a bem de ambos os países.
a sua missão mudou, porque o
Nancy Cohn - Temos estreitos laços com muitos
mundo mudou e deve adaptar-
açorianos que vivem nos Estados Unidos. Falando da
se a um mundo diferente. Muitas
minha vida em Portugal, gostaria de dizer que consi-
pessoas não gostam de mudança
dero um privilégio aprender a História e a cultura do
porque as torna inconfortáveis,
país, encontrando constantemente pessoas e procu-
mas eu penso que a NATO inicia-
rando causas comuns e projectos comuns. Penso que
rá o seu processo de mudança
os portugueses compreendem muito sobre a natureza
na próxima Cimeira de Novem-
humana e que, aqui, há uma sabedoria que penso irei
bro, aqui em Portugal. A Nato foi
assimilar e transmitir à minha família e amigos, que
fundada originalmente pelo receio
julgo existir pela grandiosidade da sua História e pelo
de ataque soviético, num contex-
facto de Portugal ter conhecido tantas e diferentes
to de guerra fria. Medos que não
terras e tantos países, tomando conhecimento com
se coadunam com as políticas e
muitas espécies de pessoas e civilizações. Para mim,
os tempos de hoje. No entanto,
é mesmo um privilégio ter a oportunidade de explorar
temos ainda inimigos comuns.
uma cultura que tem tanta riqueza a oferecer.
n
n
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 39
Instituições
Obama em Portugal e o futuro das relações bilaterais por Graça Didier Secretaria-Geral da Camâra do Comércio Americano
Quatro temas principais vão dominar esta Cimeira da
mega plano de investimento, que é o maior plano de
Aliança Atlântica, a primeira que o nosso País organiza: a
investimentos em infra-estruturas dos últimos 50 anos
adopção de um novo Conceito Estratégico, o Afeganistão, a
nos Estados Unidos.
defesa antimíssil e as relações entre a NATO e a Rússia.
Obama prometeu ainda uma vasta modernização das esco-
De todos os assuntos constantes na agenda, o que
las, um esforço massivo para reduzir o consumo de energia
maiores expectativas levanta é o novo Conceito Estraté-
nos edifícios públicos, num país que tem a maior factura
gico, que substituirá o de 1999 e deverá reflectir o novo
energética do mundo, e ainda a generalização do acesso à
ambiente estratégico que se vive após os atentados de
Internet para reforçar a competitividade norte-americana.
11 de Setembro, bem como o alargamento das fronteiras
Todas estas áreas constituem fortes oportunidades também
e os novos desafios que o Mundo enfrenta, como o ciber-
para as empresas portuguesas que se saibam posicionar,
terrorismo, a não-proliferação de armas e a pirataria.
como algumas já têm feito, e com excelentes resultados.
É pois, como se compreende, um acontecimento da
Os EUA são um país muito aberto à recepção de inves-
maior relevância, sendo uma honra para Portugal acolher
timento estrangeiro, desejosos de receber novas ideias,
o mesmo, e é mais uma oportunidade para colocar Portu-
novos investimentos e criar postos de trabalho. Por isso
gal em lugar de destaque em toda a imprensa internacio-
as oportunidades são muitas e os apoios maiores do
nal e muito particularmente na imprensa americana.
que na maioria dos outros países.
Mas gostaria de destacar a visita do Presidente Obama,
Sendo os EUA um mundo de oportunidades, como
não querendo obviamente desprestigiar a presença dos
referi, não deve contudo ser entendido como um merca-
restantes Chefes de Estado, referindo que se trata de
do fácil. Trata-se de um mercado exigente e altamente
um acontecimento histórico devido á importância políti-
competitivo onde todo o mundo quer estar e onde os
ca, económica e geoestratégica dos E.U.A. e do Presi-
mais capazes já lá estão.
dente norte-americano.
A Câmara de Comércio Americana em Portugal tem
Mas também devido á própria personalidade em si, ao seu
como missão principal desenvolver e facilitar as relações
carisma, ao que representou há um ano transmitindo uma
económicas e comerciais entre Portugal e os EUA numa
mensagem de esperança ao povo americano tão bem tra-
base de mútuo interesse, exercendo um papel activo na
duzida na frase “YES WE CAN” e uma admiração imensa
diplomacia económica.
no mundo em geral e na Europa em particular.
A experiência adquirida ao longo destes anos, bem como
Em termos económicos os EUA são a maior economia do
o capital de conhecimentos, contactos e capacidade de
mundo (o PIB americano é 31% do PIB mundial, 3 vezes
angariação e transmissão de informação qualitativa são
o Japonês; quase 5 vezes o alemão e 70 vezes o Portu-
postas ao serviço dos nossos associados criando opor-
guês).; são um mercado de 300 milhões de habitantes com
tunidades de desenvolvimento de negócios nos diversos
um nível de vida 43% superior ao nível de vida europeu
sectores.
(35% superior ao Japonês e 110% superior ao Português) e
Contribuímos activamente para uma aproximação entre os
é ainda o primeiro país importador a nível mundial.
dois países, sublinhamos as oportunidades, apoiamos e
É por isso, e apesar da crise porque está a passar, um
ajudamos as empresas que queiram estabelecer esta ponte
mercado que apresenta enormes potencialidades, ofe-
e colaboramos com entidades portuguesas e americanas
recendo um mundo de oportunidades. Os dados eco-
que tenham também esta missão. Somos, como costu-
nómicos dos EUA traduzem já uma retoma económica,
mamos dizer, uma auto-estrada
embora em abrandamento, neste ano de 2010. No 1º
com dois sentidos incentivando e
trimestre registou-se um crescimento do PIB de 2,4%, e
apoiando empresas americanas e
no 2º trimestre o crescimento foi de 1,6%.
empresas portuguesas que quei-
É ainda, contudo, um mercado pouco explorado pelas
ram desenvolver o seu negócio no
empresas portuguesas (representa apenas 5% das nos-
outro lado do Atlântico.
sas exportações). Não sendo um mercado fácil, é um
E uma coisa é certa, as relações
mercado exigente e altamente concorrencial, deverá
transatlânticas continuam indubi-
ser visto como um destino promissor para a internacio-
tavelmente a ser o grande suporte
nalização das empresas portuguesas.
da economia nos dois lados do
Ainda recentemente o Presidente Obama anunciou um
atlântico. ■
40 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
Visitas de Estado
Grão Duques do Luxemburgo visitaram Portugal
por Nuno Sá
Henri agraciado com o Grande Colar da Ordem de Sant’lago de Espada
Maria Cavaco Silva, Grão Duque do Luxemburgo, Presidente de Portugal e Gran Duquesa Maria Teresa
Durante a recente visita de Estado que os Grão Du-
escoltados a cavalo até ao Palácio de Belém e rece-
ques do Luxemburgo, Henri e Maria Teresa, fizeram a
bidos com honras militares. Cavaco Silva e Henri do
Portugal, a convite de Aníbal Cavaco Silva, o Presi-
Luxemburgo falaram aos jornalistas e enalteceram as
dente da República Portuguesa também foi agracia-
excelentes relações existentes entre os dois países,
do: com a Grã-Cruz da Ordem do Leão de Ouro de
com o Presidente português a oferecer aos Grão
Nassau. Eis como decorreu a vinda de um homem
Duques um almoço e um banquete de gala – o jantar
afável, que tem raízes portuguesas e está eternamen-
teve lugar no Palácio Nacional da Ajuda.
te grato ao nosso país por ter recebido a sua avó e os
Forte contributo da comunidade lusa
seus pais “quando a Guerra rebentou”.
Cavaco e Henri realçaram o contributo dado pela co-
Além dos vários encontros institucionais e das honras
munidade portuguesa para que o Luxemburgo tenha
de Estado, os Grão Duques do Luxemburgo participa-
um “futuro promissor” e para o seu desenvolvimento
ram num seminário económico. O convite para Suas
económico e social. “O elemento de aproximação
Altezas, Henri e Maria Teresa, visitarem o nosso país
mais forte entre os dois países é a comunidade por-
partiu directamente do Presidente da República de
tuguesa no Luxemburgo, uma comunidade de mais
Portugal, Aníbal Cavaco Silva.
de 80 mil cidadãos, representando uma percentagem
O itinerário da visita de Estado passou pelo Mosteiro
elevada da população activa do Luxemburgo que con-
dos Jerónimos, onde os Grão Duques depositaram
tribui, de forma significativa, para o desenvolvimento
uma coroa de flores no túmulo do eterno poeta de
económico e social do país de acolhimento”, declarou
“Os Lusíadas” e da portugalidade, Luiz Vaz de Ca-
o chefe de Estado português. “Os dois países têm
mões. Em cortejo solene, Henri e Maria Teresa foram
vindo a dialogar no sentido de reforçar essa
42 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
O brinde dos dois Chefes de Estado no Palácio da Ajuda
➤
possibilidade de o Português ser aprendido no sis-
Os Grão Duques do Luxemburgo foram, também, re-
tema normal luxemburguês e têm sido feitos progres-
cebidos no Hemiciclo. Tiveram um encontro exclusivo
sos nesse sentido”, apontou Cavaco, esperançado
com o Presidente da Assembleia da República, Jaime
em “encontrar oportunidades acrescidas de negócios
Gama, e mantiveram reuniões ao mais alto nível com
e de parcerias.”
diversos representantes das forças político-partidárias
“O Luxemburgo é um dos principais investidores em
com assento parlamentar. Os Grão Duques retribu-
Portugal e esperemos que, no futuro, os empresários
íram o jantar oficial, proporcionado pelo Presidente
luxemburgueses continuem a olhar, e olhem ainda
Cavaco Silva.
mais, para as oportunidades que se oferecem aqui no
De Cascais a Coimbra
nosso país”, acrescentou o Presidente luso, lembran-
Em Cascais, Henri e Maria Teresa participaram no
do, no decorrer da visita dos Grão Duques, a assina-
lançamento da tradução portuguesa da obra “História
tura de um protocolo quanto à dupla tributação e de
do Luxemburgo”, de Gilbert Trausch. No derradeiro
combate à evasão fiscal.
dia da visita, o roteiro incluiu uma ida a Coimbra,
Grato a Portugal
cidade histórica, cultural, onde Henri e Maria Teresa
No fim do encontro com Cavaco, o Grão Duque agra-
visitaram o Panteão dos Primeiros Reis de Portugal,
deceu “toda a contribuição da comunidade portugue-
no antigo Mosteiro de Santa Clara, o Instituto Pedro
sa” para ajudar o país a ter um “futuro promissor”,
Nunes, a sua incubadora de empresas, e a Universi-
recordou que tem raízes portuguesas e sublinhou que
dade. Suas Altezas participaram, ainda, numa mesa
foi o nosso país que recebeu a sua avó e os seus
redonda sobre micro-finanças, que decorreu na Bi-
pais “quando a Guerra rebentou”.
blioteca Nova da Universidade de Coimbra.
■
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 43
Visitas de Estado
Presidente da Venezuela visitou, e encantou, Portugal Chávez veio firmar acordos nos planos económico e estratégico
O Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, realizou uma relevante visita de Estado, de dois dias, a Portugal, selando importantes acordos na Construção Naval e Civil, e nos computadores Magalhães. Dias depois da visita, já no seu país, declarou o cacau produto estratégico nacional. Quer, agora, exportá-lo para vários países amigos. Polémico, amado e odiado mas sempre na berlinda, Hugo Chávez, Presidente da Venezuela, veio, recentemente, por dois dias, ao nosso País, e fechou acordos muito importantes do ponto de vista económico e estratégico. A visita de Estado teve a cereja no topo do bolo com a assinatura de acordos na área da Construção e no fornecimento de 1,5 milhões de computadores Magalhães. Hugo Chávez pernoitou na Cidade Invicta. Do Porto rumou até aos Estaleiros de Viana do Castelo (ENVC). Acompanhado por vários ministros do seu Executivo, o Presidente venezuelano permitiu que Portugal recuperasse um anterior compromisso para que o Grupo Lena possa construir, na Venezuela, 2.500 vivendas pré-fabricadas, num negócio que ascende a 950 milhões de dólares, e também um acordo, igualmente importante, na área das energias renováveis. “Um dos nossos maiores amigos na Europa” Chávez, antes de nos visitar, a convite de Sócrates, para estreitar as relações económicas bilaterais, fez questão de apresentar o Primeiro-Ministro português e Portugal como um dos “maiores amigos na Europa” (citado pela Agência Lusa) . O Presidente venezuelano falava na principal base militar de Caracas, Forte de Tíuna, a propósito da distribuição dos computadores portáteis Magalhães que, na Venezuela, são chamados de “Canaima”. “Ele [Sócrates] ajudou-nos com esses computadores que foram feitos em Portugal”, lembrou Hugo Chávez, referindo-se, depois, ao entendimento, oficializado entre Lisboa e Caracas, para a aquisição de um milhão de Magalhães para equipar as escolas primárias públicas venezuelanas. Ao falar do Primeiro-Ministro de Portugal, Chávez desfez-se em elogios, garantindo tratar-se de um “dos melhores amigos” e enaltecendo a postura de Estado de Sócrates, que “não se deixa chantagear nem pressionar por ninguém, nem faz caso a essa guerra que, na Europa, nos montaram a Direita e a Imprensa” – garante o “amigo” venezuelano de José Sócrates. Cacau para o Mundo Desengane-se, porém, quem pensar que a estratégia de Chávez assenta apenas em parcerias – económicas – nos domínios da Construção Naval, das Novas Tecnologias e da Habitação. É que o pacote de acordos foi adoçado, dias depois do périplo europeu do Presidente da Venezuela, com… cacau! Referimo-nos, bem entendido, ao produto cuja pasta está na base do chocolate e não a dinheiro, embora uma coisa puxe, como é óbvio, a outra… É que, muito recentemente, já em solo venezuelano, Hugo Chávez decretou o cacau como produto estratégico nacional, com o qual almeja fortificar o intercâmbio comercial mediante exportações para vários países, entre os quais Portugal. Novo modelo económico O anúncio foi feito durante o programa radiofónico e televisivo “Alô Presidente!”, transmitido desde a fábrica de chocolate El Cimarrón. Na ocasião, o Presidente da Venezuela explicou que deseja converter o país que dirige numa “potência cacaueira mundial”, integrando um novo modelo económico, declarando que pretende distribuir o produto “a países aliados da Revolução Bolivariana”, como a Líbia, a Arábia Saudita, a Ucrânia, a Bielorrúsia, a Rússia… e, claro, Portugal, a bordo de um barco que faria, precisamente, a primeira paragem no território de Luiz Vaz de Camões.
■➤
Texto: Nuno Sá Fotos: Ricardo Oliveira - GPM
44 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
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1. O Presidente da Venezuela Hugo Chávez e o Primeiro-Ministro Português José Sócrates 2. Hugo Chávez com o Presidente da Enercon, Francisco Rodrigues e José Sócrates 3. Hugo Chavez, Marcos Perestrello e José Sócrates 4. Hugo Chávez e José Sócrates com o Presidente da Camâra Municipal de Viana do Castelo, José Maria Costa 5. Hugo Chávez e sua filha com José Sócrates 6. O Presidente da Venezuela a segurar a réplica em miniatura do "Atlântida" adquirido a Portugal pelo seu Governo
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 45
Esfera cultural
Expo Xangai 2010
texto e fotos de Paula Bobone
Encerrou agora em finais de outubro as suas portas em Xangai, uma das mais imponentes Exposições Universais de todos os tempos. Polarizou muitas dezenas de milhões de visitantes de todo o mundo nomeadamente asiáticos, no coração de um dos países maiores do mundo, de crescente riqueza e desenvolvimento, a China. A Diplomática não podia estar ausente de tão retumbante acontecimento e aproveitanto uma viagem à China, fizemos uma visita relâmpago aos quase 200 Pavilhões, espalhados por 528 hectares por onde passaram mais de 70 milhões de pessoas. Mesmo em regime de relâmpago não deixámos de visitar o curioso Pavilhão de Portugal, de volumetria original, feito em cortiça. Evocações históricas, ou não fossemos nós, por Macau e não só, em passado glorioso, tão próximos da velha civilização chinesa. E por lá estavam, alem de ideias de negócios , o chá, o vinho do Porto, a música portiguesa e... variações sobre o Galo de Barcelos. Até Camões, nosso magno Poeta, nele se metamorfoseou. Etc. 3 milhões ali passaram. Não foi mau. Mas o objectivo da Expo Xangai 2010 era apresentar a civilização e o desenvolvimento das cidades do futuro. E lá foi a nossa representante, de mão dada com a mascote, Hai Bao (tesouro do mar). Não entrou no Pavilhão da China pois eram 7 horas de fila mas fez-se o que se pôde. Adivinharam-se aspectos tecnológicos e científicos dos 5 gigantescos pavilhões temáticos. Admirou-se a super organização e a gestão das multidões de visitantes sob um sol escaldante aliviado por frescas brisas. Foi um verdadeiro encontro de culturas,não só internacionais mas chinesas entre as gentes das cidades e do campo. Foi notável o pavilhão do Luxemburgo, Brasil, da Rússia , da Croácia, Canadá, Japão, Coreia do Sul. Reliquias culturais do velho passado ombreavam com futurologias tecnológicas de espantar. Tudo começou há 2000 anos com a invenção chinesa dos 2 pauzinhos para nos deliciarmos com a saborosa gastronomia chinesa, tal como os 2 principios opostos chineses que regem a harmonia da natureza Ying e Yang, que todos conhecemos de vista. E os sapatinhos do Jummy Choo também por lá andavam mas menos depressa que os ténis da Adidas, made in China. A China conseguiu estreitar os laços culturais, económicos, sociais entre todos os países do mundo. Foi um exemplo das tendências da evolução das cidades para o século XXI. E em Xangai mais sítios visitámos na ofuscante cidade. Jantar no Bairro Francês, uma comprinha na Xangai Tang, para mais tarde recordar, passeios junto ao rio, ver a cidade antiga, cheia de charme e mistério e a cidade cosmopolita e rica dos arranha céus a perder de vista e ...o luxo. Muitos Bancos. Comércio para todos os bolsos mas principalmente marcas de joalharia e moda que farão as alegrias dos 13 milhões de gigamilionários chineses. Ali não se brinca em serviço: Hong Kong, Pekim e, não fica atrás a velha Macau do nosso contentamento. Que futuro! E os milhares de guerreiros de terracota de Chian finalmente desenterrados, ali continuam perfilados, indiferentes a Mandarins e outros Maos. “É preciso que algo mude para que tudo fique na mesma.” Como dizia o Gattopardo. E nós por cá...
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46 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
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Viagens de Estado
Cavaco Silva e José Sócrates visitaram Angola por Nuno Sá
A importância da paz e da estabilidade política O Presidente da República e o Primeiro-Ministro do nosso País estiveram, recentemente, em Angola, país cuja parceria estratégica com Portugal precisa de caminhar num clima de paz e estabilidade política em África. A revista “Diplomática” aponta-lhe o essencial das visitas dos dois estadistas lusos. No Palácio Presidencial da Cidade Alta, Luanda, no fim do encontro privado com o seu homólogo português, Aníbal Cavaco Silva, o Presidente da República Popular de Angola, José Eduardo dos Santos, defendeu que a parceria estratégica entre Angola e Portugal necessita de um programa que defina prioridades, estabeleça instrumentos jurídicos para a sua viabilização, e objectivos a curto, médio e longo prazos. O Presidente angolano referiu, em Conferência de Imprensa, que a cooperação multilateral com o nosso País assumiu um cariz estratégico desejado pelos dois Estados, com uma sólida base de sustentação. José Eduardo dos Santos exaltou o “clima de grande compreensão em que foi fácil alcançar entendimentos” entre os dois países em questões regionais e internacionais.
Paz e estabilidade política Os dois chefes de Estado reconheceram a importância da paz e da estabilidade política em África como condição fulcral quer para o fomento económico e social, quer para a consolidação da democracia. Acordaram continuar os esforços conjuntos para auxiliar a Guiné-Bissau na procura do funcionamento pleno das suas instituições democráticas e da cessação da interferência das Forças Armadas daquele país na esfera política do Estado. Cavaco Silva e José Eduardo dos Santos analisaram o (importantíssimo) papel de Angola na África Austral e Central, bem como a reforma das Nações Unidas. Cavaco apontou a posição de potência política e económica desempenhada por Angola em África, estando convicto e confiante de que Angola será, cada vez mais, agente de paz e estabilização na região, o que já sucede nos Grandes Lagos e no Golfo da Guiné.
Angola preside à CPLP A Presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) passou de Portugal para Angola, que adoptou o lema “Solidariedade na Diversidade”. A CPLP, reúne mais de 250 milhões de pessoas que falam português. Daí a importância vital quer da solidariedade quer da defesa, intransigente, do Português – que deverá ser, cada vez mais, internacionalizado. José Eduardo dos Santos afirmou que a recente visita de Cavaco Silva a Angola dará um grande impulso ao fortalecimento das relações amistosas entre os dois países e que evolui, e bem, a cooperação bilateral. Prova disso é o crescimento do volume de negócios entre Angola e Portugal, acompanhado do aumento considerável no investimento. Angola é o quarto mercado das exportações lusas, logo a seguir a Espanha, Alemanha e França.
“Progresso notável”, diz Cavaco O Presidente da República Portuguesa sublinhou que há que registar o “progresso notável no
48 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
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Fotos: Luís Catarino
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1. O Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva e o Presidente da República Popular de Angola, José Eduardo dos Santos 2. Recepção calorosa da população angolana ao Presidente Português
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 49
Cavaco Silva e José Sócrates visitaram Angola
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campo económico e social” atingido por Angola em apenas oito anos de paz. Por isso mesmo,
Cavaco considera que é necessário ter “respeito por Angola”. Ou não fosse economista Cavaco apontou as taxas de crescimento superiores a 10 % registadas, nos últimos anos, pelos angolanos. Após este período de crise económica e financeira, o PR português não duvida de que Angola retomará um significativo crescimento. Aníbal Cavaco Silva asseverou, ainda, que os empresários portugueses têm de olhar às prioridades traçadas pelo Executivo angolano na diversificação da economia e na qualificação de quadros, esperançado que os nossos homens de negócios “darão o seu contributo para o desenvolvimento deste país irmão de Portugal e para a melhoria das condições de vida da população.”
Sócrates anuncia linhas de crédito Também o Primeiro-Ministro português esteve, recentemente, em Angola, promovendo o estreitamento dos laços entre os dois países. Durante a sua visita de trabalho, José Sócrates informou, logo depois de um encontro com José Eduardo dos Santos, que haverá um alargamento, para 500 milhões de euros, da linha de crédito da COSEC, de seguro ao crédito para os investimentos em Angola, cujo plafond, de 300 milhões, já estava esgotado. José Sócrates anunciou, também, a criação de uma linha de crédito à ajuda, de 100 milhões, da Caixa Geral de Depósitos, e outra de crédito à banca, no montante de 500 milhões de euros. Sócrates considerou, igualmente, que os dois países têm, hoje em dia, “uma relação muito sólida”, lembrando que os portugueses estão presentes “em todos os sectores” angolanos. Ainda para o chefe do Governo Português, a sua visita de um dia a Angola foi “muito focada nas relações comerciais”, sendo que as linhas de crédito “são um sinal político da maior importância, de atribuição de uma prioridade como nunca existiu nas relações” entre os dois países.
Elogio à visita do PR Prova da efectiva concertação de esforços entre Belém e São Bento foi, aquando da visita de Cavaco Silva a Angola, o tom elogioso manifestado por José Sócrates. O Primeiro-Ministro fez, na ocasião, um “balanço muito positivo” da ida do Presidente da República, frisando, também, que o desbloquear da dívida angolana terá resultado da acção do Governo que lidera. Sócrates mostrou-se, ainda, “muito satisfeito” com o facto de poder verificar que, enquanto Portugal preparava a Cimeira da CPLP, “houve, também, muito movimento de aproximação das autoridades angolanas”. Esse movimento, acrescentou, foi “no sentido de desbloquear, em grande parte, os problemas que existiam com as empresas portuguesas.” “Fiquei muito satisfeito quer com a visita do senhor Presidente da República quer com a minha própria visita e com a cimeira da CPLP”, realçou o PM luso, avançando que “as coisas vão-se construindo lentamente, devagar.” E rematou: “Não estamos aqui, portugueses e empresas, com o intuito oportunista de fazer negócio em seis meses ou num ano. A presença portuguesa aqui é de longo prazo.”
50 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
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Fotos: Ricardo Oliveira - GPM
José Sócrates na Feira Internacional de Luanda recebido por membros do Governo de Angola e Presidente da FILDA
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 51
Diplomacia no Feminino
Maria da Piedade de Polignac de Barros Embaixatriz da Ordem de Malta, por Maria Bragança, fotos de Orlando Sousa
Nasceu em Lisboa, mas ainda criança rumou com os pais a Luanda, onde residiu até 1960 - um regresso a Lisboa marcado pelo início da Guerra Colonial.
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52 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
Embaixatriz Maria da Piedade de Polignac de Barros
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De educação religiosa, estudou nas Doroteias, tendo-se,
mais tarde, licenciado em Enfermagem. Exerceu no Serviço de Cardiologia e na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de Santa Cruz. Do casamento com Francisco de Mello (Ficalho), entretanto falecido, nasceram dois filhos, António Martim e Tomás, que, na altura da morte do pai, tinham seis e dois anos. Empreendedora, não se deixou abater pelo desaparecimento precoce do marido. Mesmo na dor da perda, teve a lucidez de abrir uma empresa de organização de festas com Ana Leite Castro e Pimenta da Gama, seu tio e primo. E, durante bastante tempo, ali se empenhou, porque Maria da Piedade não é de se acomodar nem viver à sombra dos pergaminhos familiares… Há mais de uma década, resolveu fundar a “Chouros”, uma empresa que fornece aluguer de material para seminários e congressos, assim como sistemas de som e luz para festas, a nova vida que obteve e na qual trabalha diariamente. Do seu segundo casamento, com Miguel Polignac de Barros (o Embaixador da Ordem de Malta em Portugal), nasceu o filho Pedro, actualmente com 16 anos. Com a vida de empresária, acumula as preocupações humanitárias dando uma ajuda na obra Mesa de Nossa Senhora, uma organização de solidariedade social que apoia os sem-abrigo e lhes fornece almoços. Pelo meio, ainda encontra forças para apoiar a organização do Bazar dos Diplomatas, iniciativa de Natal que, todos os anos, é promovida pelas mulheres dos embaixadores acreditados em Portugal. Preocupada com este nosso mundo, aflige-lhe a lógica materialista que o domina. “O mundo tem de dar uma volta, direccionar-se mais para o espiritualismo, as pessoas têm de ser mais solidárias. Os pais deveriam exigir mais dos filhos e não se esquecerem da formação espiritual – hoje deficitária – que pode ser um grande apoio para as adversidades. Tento transmitir isso aos meus filhos, mas admito que hoje há outras motivações e os jovens dispersam-se mais". Utópica, sonha com um mundo diferente. “Se fosse muito rica procurava uma união entre a procura e a oferta. Ou seja, direccionava as pessoas – que estão perdidas e não sabem o que fazer – para algo produtivo que as motive. Há pessoas a viver o drama do desemprego e não têm quaisquer perspectivas. Tem de se fazer um esforço de coordenação entre as necessidades das pessoas e as necessidades do mercado, para podermos dar a volta por cima. E tem de haver um grande esforço colectivo, as pessoas têm de se sacrificar mais, mas preservando sempre a alegria de viver, de saber rir, de brincar mesmo quando a vida corre menos bem. E isto tem de ser cultivado.”
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novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 53
MALA Diplomática
Dia da Independencia dos Estados Unidos Para celebrar o 234º aniversário
1
da Declaração da Independência dos Estados Unidos, a Embaixada abriu as suas portas. Em palavras de boas vindas aos convidados, o Embaixador recordou que ao declarar a independência da Grã Bretanha, os Fundadores disseram: “Consideramos estas verdades como auto-evidentes, que todos os homens são criados iguais e são dotados pelo Criador de certos direitos alienáveis , que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade”. Focando o sonho Americano do acreditar nos valores do trabalho duro, na igualdade e na liberdade e enal-
2
tecendo homens corajosos tais como Abraham Lincoln, e Martin Luther King Jr e mulheres como Susan Anthony que lutaram pelos direitos civis de igualdade entre os cidadãos, citou palavras de um discurso do Presidente Obama “ Fomos criados no ideal de que todos são iguais, e derramámos sangue e lutámos durante séculos para dar sentido a estas palavras – nas nossas fronteiras e em todo o mundo. Nós somos moldados por todas as culturas, trazidas de todos os confins da terra e dedicado a um conceito simples: E pluribus unum, “de todos um”.
3
O Embaixador Allan Katz referiu a amizade e entendimento entre os Estados Unidos da América e Portugal que há dois séculos liga estes dois países, afirmando-se honrado em representar o Presidente Obama, o seu governo e o seu país na república Portuguesa, apostando-se em alimentar e consolidar a forte aliança entre Portugal e os Estados Unidos da América.
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54 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
1. O grupo de fuzileiros da Embaixada durante a cerimónia de apresentação de bandeiras 2. O Embaixador Allan Katz e a sua Mulher, Nancy Cohn, recebem os convidados 3. Embaixador Katz e Maryann Mckay, adjunta da Chefe do Serviço de Imprensa e Cultura da Embaixada
MALA Diplomática
Dia Nacional do Reino da Arábia Saudita 1
2
3
4
Os Embaixadores da Arábia
uma população estimada em
Saudita receberam os seus
28 milhões de habitantes e
convidados para celebrarem o
uma superfície de cerca de
Dia Nacional do Reino da Arábia
2.149.690 km2. O Reino é, por
Saudita. A festa decorreu em
vezes, chamado de “A Terra das
Lisboa. Estiveram presentes in-
Duas Mesquitas Sagradas”, em
dividualidades ligadas por laços
referência a Meca e Medina, os
afectivos, económicos, culturais,
dois lugares mais sagrados do
militares e empresariais.
Islão. As duas mesquitas são
A Arábia Saudita é a maior
Al Masjid Al-Haman e Al Masjid
nação do Médio Oriente, tem
Al-Nabawi.
56 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
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1. Hisham Bin Sultan Al-Qahti, Embaixador da Arábia Saudita, e sua Mulher 2. Embaixador da República Islâmica do Paquistão, Gui Haneff, com a sua Mulher e os Embaixadores da Arábia Saudita 3. Os anfitriões com a Embaixadora da Noruega, Inga Magistad 4. Maria de Bragança a cumprimentar os Embaixadores da Arábia Saudita
5
7
6
5. O Embaixador com o seu staff
➤
A Arábia Saudita, coração do
mente árabe e muitos árabes de
6. Nuno Rogeiro com sua Mulher
Islamismo, é o maior exportador
países vizinhos estão emprega-
de petróleo do Mundo, o que
dos no Reino.
resulta na principal fonte da
Foi na Arábia Saudita que ocor-
economia saudita. O petróleo
reu a revelação do “Alcorão” pelo
e os anfitriões 7. Embaixador da Suíça, Rudolf Shaller, com os anfitriões
representa mais de 90 por cento
profeta Maomé. Actualmente, a
das exportações e quase 75%
Constituição do país é baseada no
das receitas do Governo, que
Corão e nos resgates moneteístas
contribuem para uma situação
que Muhammad Abd Al-Wahhab
de bem-estar social.
realizou sobre o “Livro de Mao-
A maioria dos sauditas é etnica-
mé” e a Sunnah.
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novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 57
Diplomacia na 1ª Pessoa Entrevista
Rasool Mohajer
por Maria da Luz de Bragança, fotos de Orlando Sousa
Embaixador do Irão em Portugal “Acredito que Obama queira mudar algumas coisas na política externa” Há dois anos em Portugal, o Embaixador do Irão traça um cenário diferente daquele que, regra geral, é propalado pelos media ocidentais. Realça os propósitos pacifistas do Governo de Teerão e define o seu país como uma nação tolerante e aberta às diferenças religiosas.
58 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
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Como veio parar a Portugal?
na sociedade portuguesa.
Sou diplomata de carreira. Antes de estar
Outra característica admirável do povo
em Lisboa já havia sido embaixador na
português é a sua noção de família, uma
Roménia, logo a seguir à revolução de
instituição muito forte e unida, sempre
1989, após o que fui colocado na Hungria.
presente na sociedade. No Irão é também
Portugal é o meu terceiro destino.
assim, encontra esses mesmos sentimen-
No Irão há algum curso específico para
tos. Por outro lado, para quem estiver
a carreira diplomática?
atento, poderá descobrir que os iranianos
Sim, há cursos específicos de formação
são poetas, moderados, temos uma His-
especial para diplomatas. Mas, antes de
tória e uma cultura de milhares de anos,
vir para Portugal, fui director-geral do
baseada na tradição familiar.
Ministério dos Negócios Estrangeiros. E,
(Como parêntesis, permita-me referir que
antes da estada na Hungria, por exemplo,
achei admirável o amor que transborda da
fui, durante cinco anos, director de assun-
relação entre si e o seu marido...)
tos bilaterais com a União Europeia.
No Irão as pessoas casam por amor,
Mas, antes desses percursos, passou
ou é tudo combinado entre as famílias
pela universidade...
– como antigamente acontecia frequen-
Claro, graduei-me na Faculdade de Rela-
temente em Portugal?
ções Internacionais e, depois, entrei para
Não. Eles encontram-se, conversam,
o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
namoram e, se assim entenderem, ca-
Mas, quanto a Portugal, cheguei cá há
sam-se. Mas as famílias envolvem-se, os
dois anos, com a minha mulher. E tenho
pais vão a casa uns dos outros, fazem
dois filhos, já crescidos, um deles casado,
os pedidos de casamento. E, conforme
que ficaram no Irão.
as possibilidades, vão ajudar a procurar
Qual a relevância de Portugal para o
casa para eles, um carro… Quando temos
Irão?
uma flor é preciso regá-la para que cresça
Temos uma longa tradição de relações
saudável.
e história comum. O primeiro embaixa-
No ocidente diz-se que a mulher irania-
dor de um país estrangeiro no Irão foi o
na é mal tratada e não pode sair à rua
português, isto no início do século XVI.
de cara destapada…
Aí nasceram, logo, as nossas relações
Na capital, Teerão, num universo de 12
diplomáticas e de amizade. Trata-se de
milhões de habitantes, não se encontra
uma marcante carga simbólica , podere-
uma única mulher com a cara tapada.
mos mesmo afirmar que é um tesouro que
Usa-se o véu, que decorre da nossa
ambos os países têm de aproveitar.
tradição. Mas, no Irão, ao contrário de
Recentemente comemorámos os 500
outros países, não há restrições, e se uma
anos de relações entre Portugal e o Irão,
senhora quiser usar burca pode fazê-lo.
efeméride assinalada com uma emissão
Irão e Portugal - o nosso país pode ser
conjunta de selos nos nossos dois países.
uma porta para a Europa?
Acredito, na verdade, que poderão existir
De facto, penso que Portugal pode ter um
e ser desenvolvidas diversas áreas de co-
papel muito mais importante nas relações
operação, até porque os portugueses são
comuns entre os nossos países, decorren-
um povo muito aberto ao “outro” e amante
te até da relevância de todo esse patri-
da paz. Devo, aliás, sublinhar que aqui,
mónio histórico que já referi. E, também,
em Portugal, nunca senti qualquer acinte
porque há um bom entendimento entre as
contra os estrangeiros. Até pela experiên-
nossas duas nações. Francamente, nunca
cia que tenho, em comparação com outros
vi Portugal como um pequeno país que
países, não se sente qualquer reacção
está colocado a um canto da Europa.
relevante, por exemplo, contra os africa-
Existe um enorme potencial de desenvol-
nos, sendo que os estrangeiros – regra
vimento das nossas relações bilaterais - e
geral – são muito respeitados e integrados
multilaterais (têxteis, construção, energia
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novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 59
Embaixador Rasool Mohajer
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solar, petróleo...)Nos últimos anos,
Temos um líder religioso que é o líder
promovi a vinda a Portugal de um grupo
supremo do país, mas não está no execu-
de músicos iranianos ( dois homens e
tivo. O Presidente da República tem o po-
três mulheres, incluindo a directora), para
der executivo, mas a Assembleia Consul-
divulgação da riqueza da música, do estilo
tiva tem tanto poder que até pode demitir
e dos instrumentos do meu país. Foram
o presidente. Não há nenhum poder que
muito bem acolhidos, e apreciados, pelos
possa anular as decisões da Assembleia.
portugueses. Na música, na ciência, na
Depois da revolução, demos uma grande
história, o Irão é, por tradição, um país de
importância ao voto do povo, até porque
cultura.
esta foi, de facto, uma revolução do povo.
No ocidente, muitas vezes, passa a ideia
Basta percorrer as ruas no dia 11 de Fe-
de que o Irão é um país extremista.
vereiro para se perceber o quanto o povo
Não existe qualquer extremismo no Irão.
participa nas comemorações da revolu-
O povo é muito tolerante. Aliás, até lhe
ção, cuja data é o dia nacional iraniano.
dou um exemplo da tolerância iraniana.
E as relações com a União Europeia
Enquanto os países europeus obrigavam
(UE) – e já falamos na importância de
os judeus a converter-se ao cristianismo,
Portugal – em que estado se encon-
não encontra na nossa História nenhum
tram?
momento em que os iranianos tenham
Ainda bem que fala nessa questão,
perseguido povos em função da sua
porque Portugal pode ter um papel facili-
religião. Há dois mil e sessenta anos, na
tador no entendimento com os membros
Pérsia antiga (hoje Irão) davam refúgio
da União que, infelizmente, seguem uma
aos judeus expulsos de outras nações.
política muito ligada à perspectiva ameri-
Há uns meses, dois grandes jornalistas
cana. Repare, não temos nenhum precon-
americanos publicaram no N. Y. Times
ceito em relação aos Estados Unidos da
um relatório onde se diz ser no Irão que
América, mas é um facto que desde há
os judeus têm mais liberdade, compara-
30 anos não temos relações diplomáticas
tivamente a outras regiões do Médio Oriente. E convém referir que, no nosso país, cada reli-
"
Se há pro-
blema entre os muçulmadeputado. A nossa Assembleia nos, é aplicatem 290 deputados e, por exem- da a lei islâplo, para ser eleito por Teerão, mica...." gião está representada por um
com os EUA que, neste momento, influenciam a UE – que não deveria seguir o mesmo caminho e, pelo contrário, deveria ajudar e agilizar as relações com os americanos. Portugal poderia ajudar a fazer compreender a questão Iraniana.
são necessários 800 mil votos, mas um membro de uma minoria religiosa
Mas isso depende apenas de Portugal,
só precisa de sete mil – e tem os mes-
que não deveria ouvir apenas uma fonte
mos direitos e deveres de qualquer outro
de informação. Recorrendo às relações
deputado. Qual é o outro país do mundo
históricas que existem entre os nossos
que respeita assim as minorias religiosas?
países, Portugal está em muito melhores
Mais: no Irão há cerca de 200 sinagogas
condições de perceber a realidade irania-
para os judeus praticarem os seus rituais.
na e comunicá-la à União Europeia.
O ecumenismo é um princípio que carac-
Aliás, a nossa vizinha Turquia – que é
teriza a nossa pátria.
membro da NATO – adoptou uma posição
E, em matéria judicial, se há um problema
independente. E o presidente do Brasil,
entre muçulmanos, é aplicada a lei islâmi-
Lula da Silva, foi ao Irão ouvir a posição
ca; mas se, por outro lado, o problema é
iraniana, com toda a abertura, sem pre-
entre cristãos, aplicam-se as leis e nor-
conceitos. E ficou tão revoltado com as
mas do cristianismo.
contradições americanas que resolveu
Como é que está organizado o sistema
tornar públicas as cartas do presidente
político?
Obama.
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Embaixador Rasool Mohajer
O país das rosas País de cultura milenar, o Irão é também conhecido pelas suas belíssimas rosas, pela poesia e pela cordialidade do seu povo. Mas as contingências da política geoestratégica confinaram-no, nos últimos anos, a uma espécie de gueto internacional. A pressão do Estado de Israel – que não dos judeus enquanto tal -, associada às incompreensões americanas – que Obama, de algum modo, procura contrariar -, colocaram a nação iraniana no lote dos Estados malquistos da comunidade internacional. Mas começa a ser evidente, independentemente do que se possa pensar sobre o aproveitamento de energia nuclear, que há seriedade por parte dos iranianos quando dizem não ter intenções de a utilizar na produção de armamento.
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 61
Embaixador Rasool Mohajer
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O que são essas cartas do presidente
a não estar rubricado por muitos países
Obama?
que, por sinal, persistem em desenvolver
A primeira tem duas páginas e foi envia-
armamento nuclear.
da ao presidente Lula, pedindo-lhe para
Pode, portanto, garantir que o Irão não
ele interceder sobre a questão do nuclear
constitui uma ameaça?
iraniano. Lula assim fez, empenhou-se
Certamente. E repare: não só somos
denodadamente, e chegámos à Decla-
contra as armas nucleares como sempre
ração de Teerão, assinada entre o Irão,
contestámos a posse de armas nucleares
a Turquia e o Brasil. Porém, dois dias
por quaisquer países. Apenas alguns dias
depois, o presidente Obama adoptou
após a Conferência do Tratado de Não-
uma posição totalmente diferente. Apesar
Proliferação Nuclear ter realçado, numa
disso, acredito que Obama queira mudar
passagem, que Israel deveria assinar o
algumas coisas na política externa, mas
tratado ( o que persiste em não fazer) e
existem muitas pressões dentro da pró-
fosse vigiado pela Agência Mundial de
pria administração americana,
"
S
Energia Atómica, o Conselho
... e o de que ressaltam as posições problema é da Secretária de Estado, Hillary entre crisClinton. E, do outro lado, está aplitãos, Israel a pressionar, e a influencam-se as ciar os americanos. leis do crisJá falamos na importância tianismo" que o Irão atribui às relações
de Segurança da ONU aprovou, para nossa surpresa, e de tantos outros países, uma resolução contra...o Irão. Nenhuma organização internacional, nem a Agência Mundial de Energia Atómica reuniram
com a Europa. E com a Rússia?
até hoje qualquer prova de que o Irão se
Historicamente a Rússia é nossa vizinha,
tivesse desviado, com fins militares,dos
temos grandes relações políticas e econó-
objectivos pacíficos e exclusivamente
micas. E até acolhemos uma das centrais
científicos do seu programa nuclear. Pelo
nucleares que os russos estão a construir,
contrário, constantemente contrapomos,
no sul do Irão. As relações são muito boas
coerentemente, que somos contra as
e o balanço comercial é muito positivo.
armas nucleares, quaisquer armas, em
Mas está de todo afastada a hipótese
qualquer país. Mais: por que é que os
de o Irão utilizar a energia nuclear para
norte-americanos apresentam o Irão como
fins militares?
ameaça, quando, durante séculos, não
Claro que está. Sempre defendemos,
invadiu nem atacou outro país? Foi o Irão
mesmo quando muitos não o faziam,
que foi atacado. Recordo, até, que foi a
uma política de desarmamento unilate-
primeira vítima de armas químicas...E eu
ral. E essa tem sido sempre a posição
pergunto: durante os oito anos da guerra
do Irão desde a revolução, já lá vão três
Irão-Iraque, na década de 80, quais foram
décadas.
os países que apoiaram o Iraque e forne-
Recordo que, há alguns meses, represen-
ceram armas a Saddam Hussein? Seria
tantes de mais de 60 países participaram
bom que a opinião pública portuguesa, e
em Teerão numa conferência subordinada
internacional, se interrogasse sobre estes
ao tema “Armas nucleares para ninguém,
e tantos outros asuntos...
energia nuclear para todos”.
O que pensa da crise económica que o
Desde os anos 70 que não nos cansa-
mundo está a atravessar?
mos de repetir que o Médio-Oriente deve
É muito grave, especialmente na Europa,
ser livre de qualquer armamento nuclear.
com o desemprego, o enfraquecimento
Nessa década, Irão e Egipto, erguemos a
da moeda… Mas o mais grave é o senti-
voz em uníssono contra as armas nu-
mento de desconfiança no futuro. Espe-
cleares, e pelo desarmamento total do
ro, todavia, que os esforços feitos pelos
mundo. Passadas quatro décadas, porém,
responsáveis possam retomar a confiança
o Tratado de Não-proliferação continua
e resolver a crise.
62 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
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mala Diplomática
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Dia Nacional da Suíça
2
O Dia Nacional da Suíça, foi celebrado com uma recepção na sua Embaixada. Estiveram presentes muitas individualidades que não quiseram deixar de corresponder ao convite de Rudolf Schaller e Almy Schaller, Embaixador e Embaixatriz da Suíça em Portugal. Esta data está relacionada com o Pacto Federal dos Waldstätten (“cantões florestais”), de Agosto de 1921. É o primeiro pacto escrito de que há registo, apesar de hoje se saber não ter sido essa a primeira 4
3
aliança entre as três comunidades envolvidas - Uri, Schwytz e Unterwald - os mais antigos cantões da Suíça. Este pacto foi quase ignorado durante 5 séculos e a criação de uma festa nacional nunca foi ponderada. Isto ocorreu até ao século XIX, quando se manifestou a vontade de “oficializar” uma verdadeira festa nacional, celebrada ao mesmo tempo em toda a Confederação. Em 1889/90, com a aproximação do 600º aniversário do Pacto, o Governo e o Parlamento decidiram, finalmente, que a fundação da Confederação seria festejada a 1 de Agosto. A partir dessa data, esta celebração é orga-
6
7
nizada anualmente pelos municípios com a colaboração das comunidades locais. Pela sua estrutura política, a Suíça é um Estado federativo que se formou no decurso da História e cujos 26 Estados membros (cantões e semi-cantões) conservam grande parte da sua autonomia. Os municípios suíços, chamados comunas, possuem, igualmente, competências administrativas bem amplas. No país existem quatro línguas nacionais e oficiais: o alemão (falado por cerca de 65 % da população), o francês (18%), o italiano (10%) e o romanche (1%). As duas principais religiões cristãs da Suíça
1. O Embaixador da Suíça, Rudolf Schaller com a nossa Directora 2. A Embaixadora da República Dominicana, Ana Silva de Abud
possuem um número praticamente igual
com seu marido 3. Jorge Felner da Costa e sua Mulher 4. Embai-
de adeptos: 48 por cento de católicos
xador do Irão Rassol Mahajer 5. Fabricio Pignatelli 6. Margarida
e 44 por cento de protestantes. Os 8%
Quevedo Gorgão Henriques e seu marido 7. Maria de Bragança e
restantes correspondem a outras comu-
Isabel Silveira Godinho
nidades cristãs ou religiões (Judaísmo e Islamismo).
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novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 63
mala Diplomática
A Líbia comemora o 41º Aniversário da Revolução do 1º de Setembro em Lisboa 2
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Por ocasião do Dia Nacional do seu país, o Embaixador da Líbia em Portugal, Sua Excelência Ali Emdored, foi o anfitrião de uma recepção num hotel de Lisboa. Altas individualidades portugue-
6
7
sas e estrangeiras, de diversas esferas da sociedade, aceitaram o convite para estarem presentes na comemoração. Estiveram na recepção membros do Corpo Diplomático acreditado em Lisboa, figuras políticas, académicas, e empresários de renome. Entre os mais notáveis foram ao apronto
1. Embaixador Ali Emdored com Yahya El Jadid e seus filhos 2. Embaixador da Líbia
Sua Alteza Real, Dom Duarte Pio
e Embaixador da Palestina 3. O Embaixador da Rússia, Pavel Fiodorovitch Petrovsky
de Bragança, Dr. Ricardo Espíri-
e Maria de Bragança 4. Embaixador da Líbia, Sua Excelência Ali Emdored, e Omran
to Santo Salgado, Presidente do
Saieh 5. O Embaixador com membros da Delegação da Líbia 6. Sua Alteza Real, Dom
Banco Espírito Santo (BES),
Duarte Pio de Bragança, com o Embaixador 7. Ali Emdored e Eduardo Ambar
➤
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Dr. José Bouza Serrano, Chefe
do Protocolo do Estado, Professor Vítor Escária, do Gabinete do Primeiro-Ministro, Dr. Manuel Pechirra, Presidente do Institu14
15
to Luso-Árabe de Cooperação, bem como muitos membros deste instituto, além de amigos pessoais da comunidade líbia em Portugal. Os diplomatas da Embaixada da Líbia em Lisboa, assim como as suas famílias, estiveram presentes para desejar boas vindas aos convidados.
8. Os Embaixadores dos Emirados Árabes Unidos, Iraque, Líbia, e amigos 9. Embaixadora
Dado o número e a importância
da Argélia, Fatiha Selmare com Maria de Bragança 10. José Bouza Serrano com o Embai-
dos presentes, a recepção da
xador 11. Embaixador da Líbia com Vítor Escária 12. Ricardo Espírito Santo Salgado e Ali
Embaixada da Líbia confirmou as
Emdored 13. Omran Saieh, o Embaixador e Waled Buabdalla 14. Embaixador de Moçambi-
excelentes relações existentes
que e Maria de Bragança 15. Embaixador dos Emirados Árabes Unidos e um convidado
entre a Líbia e Portugal.
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novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 65
mala Diplomática
A festa lisboeta do Dia da Independência do Brasil Embaixador Vieira de Souza recebe diplomatas e notáveis 1
2 Celso Vieira de Souza, Embaixador do Brasil em Portugal, recebeu uma plêiade lusófona de convidados, altas individualidades e figuras públicas; do corpo diplomático à política, da cultura ao empresariado, do meio social à área militar. Entre países irmãos e amigos, na residência do Embaixador, em Lisboa, foi celebrado recentemente em Portugal, com pompa e circunstância, o Dia da Independência do Brasil. Com a Língua de Camões por pano de fundo e a Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) como enquadramento histórico e afectivo. Na sumptuosa festa que teve por anfitriões o Embaixador e sua Mulher, a Embaixatriz Lúcia Vieira de Souza, um dos momentos protocolares altos da sessão solene foi o agraciamento de que foi
1. Celso Vieira de Souza usa da palavra na evocação da Proclamação da
alvo o presidente da Câmara Municipal
Independência do Brasil 2. Os representantes do Brasil em Portugal foram os
de Lisboa, António Costa, cuja simpatia e
cicerones da festa de 7 de Setembro
cumplicidade para com o Embaixador
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foram evidentes. As fotos revelam-no.
Celso Vieira de Souza assumiu funções a 11 de Junho. Pretende estabelecer e consolidar um canal de contínua interac7
ção com os vários segmentos representativos da sociedade lusa e da comunidade brasileira que reside no nosso País. A Independência do Brasil é oficialmente celebrada a 7 de Setembro, assinalando o episódio do chamado Grito do IpirangaG, ocorrido nesse dia do ano de 1822. Reza a história oficial que, nessa data, o príncipe regente D. Pedro terá exclamado perante a sua comitiva: ,Independência ou Morte!I. Terá sido aí, nas margens do Rio Ipiranga (actual cidade de São Paulo) que começou a emancipação política do país irmão do Reino de
3. O Embaixador de Itália, Luca Del Balzo do Presenzano, foi uma presença notada
Portugal, embora o início do processo
na grande festa entre os dois países irmãos 4. António Pinto Ribeiro, em amena
de transferência da Corte Portuguesa
cavaqueira nos jardins 5. Encheram os jardins da residência oficial do embaixador
para o Brasil tenha sucedido a partir de
para as comemorações 6. António Costa ficou muito lisonjeado com o agraciamen-
1808 e até 1821, no contexto da Guerra
to de que foi alvo 7. Jerónimo de Sousa e Bernardino Soares, associaram-se à comemoração dos 188 anos da Independência do Brasil
Peninsular.
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novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 67
mala Diplomática
Recepção Dia da Unidade Alemã 1
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3
4
1. Embaixador Helmut Elfenkämper e a Embaixatriz Ulla Elfenkämper 2. O Ensemble Divers da Orquestra Juvenil do Land da Renânia do Norte Vestefália 3. Ministro Conselheiro Doutor Frank Rückert, e sua Mulher, dão as boas-vindas a Luís Neves e a João Carlos Espada 4. O Embaixador da República Federal da Alemanha saúda altos representantes da Marinha Portuguesa
O Embaixador Helmut Elfenkäm-
unidos num só Estado. Este dia é,
acontecimento teria como con-
per e sua Mulher, Ulla Elfenkäm-
desde então, o Feriado Nacional
sequência a reunificação alemã.
per, tiveram a oportunidade de
da Alemanha – e não o dia 9 de
Tanto na política interna, como na
festejar um aniversário especial na
Novembro, data em que se come-
externa, ainda seria necessário
sua residência, com cerca de 300
mora a queda do Muro, sobre a
ultrapassar diversos obstáculos.
convidados, já que, este ano, se
qual se festejaram duas décadas
Portugal fez parte do grupo de
comemorou pela 20ª vez a unifica-
no ano passado e que suscitou
países que, logo desde o início,
ção das duas Alemanhas.
um grande interesse em toda a
apoiou claramente a unidade ale-
Esta ocasião teve um significa-
Europa. A queda do Muro de Ber-
mã. Tudo isto constitui razão para
do especial, uma vez que, após
lim constituiu apenas o arranque
que o Embaixador Elfenkämper
uma separação de décadas,
de um processo. Inicialmente, não
tivesse feito um agradecimento
os alemães vivem, desde 3 de
estava, de modo nenhum, claro
no seu discurso : “A unificação foi
Outubro de 1990, novamente
que, em menos de um ano, este
possível graças a condições
68 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
6
5
7
8
5. Embaixador Helmut Elfenkämper e sua Mulher com António Eira Leitão e Stephan Stieb 6. Helmut Elfenkämper e o Vice-Presidente da Assembleia da República, José Vera Jardim 7. Embaixador com o deputado Mota do Amaral e Manuel Ferreira Enes 8. Conselheira Miriam Wolter à conversa com João Carlos Espada e o Tenente-Coronel João Alvelos
históricas particularmente felizes.
à unidade. Gostaria de saudar,
e português. Entre os convidados
Nós, alemães devemos esta unifi-
também, os representantes de
encontravam-se o Vice-Presidente
cação também à compreensão que
todos os países vizinhos da Alema-
da Assembleia da República, Vera
encontrámos por parte dos nossos
nha, e entre eles, os que connosco
Jardim, também Presidente do
➤
vizinhos e parceiros. Neste senti-
superaram a divisão da Europa, a
Grupo de Amizade Portugal-Ale-
do, gostaria de dar especialmente
grande maioria dos quais se en-
manha no Parlamento português,
as boas-vindas aos representantes
contra actualmente unida a nós na
o ex-Vice-Presidente Mota Amaral
das quatro potências – Estados
União Europeia.”
e representantes do Ministério dos
Unidos, França, Reino Unido e
Um ensemble de música de câmara
Negócios Estrangeiros português,
Rússia – hoje aqui presentes, mas
vindo do estado federado da Renâ-
inúmeros embaixadores, represen-
também aos representantes de
nia do Norte-Vestefália interpretou
tantes do corpo diplomático e da
Portugal: país que apoiou, desde o
composições que serviram de fun-
comunidade alemã em Portugal,
início, as aspirações dos alemães
do à recepção e os hinos alemão
entre muitos outros. ■
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 69
Empresários internacionais Entrevista
Maria Helena Daget
por António Manuel Pinho, fotos de António Porto
Uma empresária que lidera uma importante multinacional “É preciso encontrar os caminhos que possibilitem reequilibrar a economia. Porque a economia não é só números, é também capital humano.”
➤
70 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
É fascinante ouvir esta mulher
Porto, Braga e Gerês, mais preci-
cio do sonho…
sem idade, mas com a sabedoria
samente. Os meus avós paternos
Do Patrick. Não era o meu, de ma-
ancestral de uma andarilha desta
eram donos do Hotel Ribeiro, no
neira nenhuma, porque se trata de
vida, eterna [mas lúcida] portadora
Gerês. E, do lado da minha mãe,
uma tecnologia de ponta.
de utopias. Desde logo, a primeira
havia uma ligação à hotelaria,
O que me parece fascinante, na
de todas, sonhar com um outro
também no Gerês. No Porto, em
sua trajectória profissional, é
mundo em que as pessoas sejam o
Braga e também em Lisboa tenho
que se afirma num mundo mas-
centro, mesmo na economia…
ligações familiares.
culino. E, de uma forma geral,
Maria Helena Daget, CEO da Te-
Foi, então, para Angola.
as mulheres têm de ter um outro
➤
chdrill - que desenvolve software,
A Mota & Companhia tinha, en-
tipo de empenhamento para se
serviços, peritagens e formação
tão, várias empreitadas na antiga
afirmarem. Teve de desbravar
para o ramo petrolífero -, pode
colónia, nomeadamente, estradas,
caminhos.
orgulhar-se de ser hoje a face
aeroportos e barragens. Ia passar
É verdade. Mas um dos países que
visível de uma empresa que está
férias em Angola onde os meus
conheci primeiro, o nosso – e que
no segundo lugar mundial deste
pais residiam.
dava oportunidades às mulheres –,
exigente nicho de mercado. A sua
Estudei em Braga e dois anos em
foi Portugal. Parece estranho, num
humanidade, porém, não apaga,
Angola. Fiz o 7º ano no liceu de Bra-
país que poderia parecer machista,
antes revela, uma gestora rigorosa
ga e depois fui estudar para a Suíça,
tenho primas e amigas que se for-
e firme, de uma tenacidade que,
Línguas Modernas e Economia.
maram, já nesse tempo, em enge-
provavelmente, foi buscar à he-
E essa incursão na economia
nharia – um curso tendencialmente
rança paterna, ao carácter de um
veio a ser muito útil quando se
masculino. Reporto-me aos anos
progenitor que foi um dos maiores
tornou empresária – o que, dedu-
sessenta, que marcam o grande flu-
empresários portugueses e que,
zo, nunca lhe teria passado pela
xo das mulheres nas universidades.
também, enfatizava a importância
cabeça…
Mas, quando começou a sua acti-
das pessoas no desenvolvimento
Não foi bem assim. Sempre que
vidade nos petróleos, não sentiu
das empresas e dos negócios.
estava de férias escolares, o meu
que era um corpo estranho?
Aqui se conta como nasceu o so-
pai puxava-me para os negócios.
Não senti muito, porque tudo
nho, como Maria Helena se afirmou
E, aos poucos, fui descobrindo com
aconteceu por fases. Utilizei o
num universo predominantemente
prazer esse mundo.
que podemos chamar “o ADN dos
masculino e como, tantos anos
É evidente que os conhecimentos
portugueses”. Nós temos uma
depois, ainda se entrega com a
de economia e finanças me foram
grande qualidade – aliás, revelada
mesma generosidade a uma outra
muito úteis quando mais tarde me
pela nossa História -, arranjamos
utopia…
lancei na luta empresarial.
solução para tudo à última da hora.
Em 1971, salvo erro, resolveu
E correu mundo com Patrick.
Porém, também tinha um problema,
sair do país.
Onde havia petróleo, estavam lá.
a planificação. Aprendi o método
Exactamente. Fui para Paris. Saí,
(Risos) Primeiro com a Total,
de planificar e organizar na Suíça,
nessa altura, porque casei com um
(Patrick Daget foi um dos primei-
mais tarde nas universidades em
engenheiro francês…
ros 4 engenheiros que a Total
França e na Escócia. A actividade
Patrick Daget. Conheceu-o cá?
contratou para começarem a fazer
nos petróleos tem sido uma grande
Conheci-o em Luanda. Patrick era
sondagens petrolíferas). Mais tarde
aventura, mas também uma grande
director da perfuração da Total.
com a Shell, e também na Blocker
sorte, que me oferece experiências
Entrei para a Total, quando esta
Energy, uma empresa americana.
e desafios por vezes difíceis mas
companhia de petróleos abriu a
Vivemos em Paris, em Londres, na
sempre interessantes.
filial em Angola. Anteriormente era
Escócia, na Tunísia, nos Estados
Para evitar sentir-me um corpo
professora de liceu. Um mundo tão
Unidos, no Médio Oriente.
estranho no mundo dos petróleos,
diferente do ensino. No inicio tive
Durante este anos, continuei a
apoiei-me nas pessoas que sabiam
a ajuda de meu pai, que era sócio
estudar economia, management e
mais do que eu. Tem de haver
co-fundador da Mota & Companhia,
finanças. E fundámos a Techdrill
essa humildade intelectual.
e me abriu muitas portas.
– que celebrou 20 anos em 12 de
Não a imagino líder de gabine-
Portanto, Mota & Companhia…
Setembro passado.
te. Gosta de saber como são as
origem familiar no Porto…
Era para aí que eu ia… para o iní-
coisas?
➤
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 71
Maria Helena Daget
Nunca fui líder de gabinete.
estudos de mercado… No ramo da
as dificuldades foram conside-
Tenho sempre que saber como se
perfuração não havia nada.
ráveis. Mas, curiosamente, num
fazem as coisas “cá em baixo” - e
Este software visa, essencialmente,
contexto mais global, nunca senti
a todos níveis - para perceber e
duas coisas: optimizar os meios e
mais essa discriminação.
poder gerir. Porque para se mandar
reduzir os custos na perfuração.
Mas, voltando à concorrência…
tem de se conhecer a dinâmica,
A perfuração de poços de petróleo
Nós aparecemos primeiro. Depois,
o mecanismo. Não tenho que ser
e de gás é uma actividade de altos
surgiram dois “gigantes” – e fomos
uma engenheira de perfuração
riscos, humanos, financeiros e téc-
muito assediados para vender a
nem de informática, mas tenho de
nicos. Os nossos softwares cobrem
empresa. Um deles é a Halliburton.
perceber o processo, senão não
todos os aspectos desde a planifi-
O presidente dessa empresa era,
consigo liderar.
cação à execução da perfuração.
na altura, Dick Cheney, que mais
Portanto, nunca sentiu nenhum
Transpondo isto para a área da
tarde foi vice-presidente dos E.U.A.
tipo de constrangimento por ser
construção civil, poderemos dizer
E, depois, a Schlumberger – outro
mulher.
que, no processo, o nosso papel é
“gigante”… Mas hoje já só nos de-
Na fase de Angola, nunca senti.
o mesmo dos arquitectos, com os
frontamos com um deles, porque a
Onde senti o choque foi em Paris
nossos programas planificamos o
Schlumberger retirou, há uns qua-
em 1971. Aí foi difícil porque sou
poço todo. Depois, temos a fase de
tro ou cinco meses, o seu software
portuguesa e a imagem de Portugal
execução, que nos permite ver por
do mercado. Portanto, actualmente,
não era muito boa nessa altura. Era
onde podemos ir. Por exemplo, um
o líder em termos de volume de ne-
o tempo da emigração portuguesa
dos nossos programas chama-se
gócios é a Halliburton. Estamos na
que fugia à miséria. E, portanto, aí
“Radar” e ele permite-nos contro-
posição de sermos o número dois
foi um duplo combate: impor-me
lar a trajectória do poço e detectar
do ranking neste segmento.
como mulher e como portuguesa.
as potenciais colisões com poços
Como conseguiram impor-se no
Foi o seu marido que criou o
produtivos vizinhos.
mercado?
software que está na origem da
E, de alguma forma, este softwa-
Os nossos softwares têm quatro
Techdrill e a afirmou nos mer-
re funciona como um sistema de
vantagens competitivas:
cados. Deduzo que tudo tenha
segurança.
“Drilling Logic”: Uma lógica de
começado por um pequeno
Exactamente. Os programas com-
perfuração.
escritório…
portam todas as áreas: controle de
“User Friendly”: E, sendo produtos
Com efeito, montámos o primeiro
poços, desenho dos tubos, cimen-
hiper-sofisticados, têm a vantagem
escritório no nosso apartamento,
tação, a trajectória de perfuração…
de poderem ser utilizados pelos en-
que era enorme, começámos por
Comportam tudo, desde a planifica-
genheiros, o que dispensa custos
contratar uma secretária e um en-
ção à realização.
acrescidos de acompanhamento
genheiro informático. Durante qua-
A empresa surge em 1990.
na utilização. É, quase, o conceito
tro ou cinco meses foi assim, até
Sim, embora tenhamos começado
“use você mesmo”. Ou seja, depois
que reunimos amigos, colegas do
o processo em 1987, construindo
de uma formação curta, pode ser
Patrick, todos como ele altos exe-
os programas, fazendo testes,
manipulado pelos clientes. E isso é
cutivos das grandes Companhias
montando a estrutura. Mas, para o
uma grande mais-valia.
Petrolíferas mundiais: Pierre Orieux
mercado, só aparecemos em 90.
(Chairman), Jean-Pierre Anselmini,
E qual a quota de mercado da
zidos uma vez e estão disponíveis
Jean Miramon, Patrick Jonville. E
Techdrill?
em todos os módulos dos softwa-
fui buscar um dos meus filhos – o
Surgimos no mercado em Paris.
res.
Miguel -, que é um especialista
Desde 1996, somos uma empresa
Independência: A Techdrill tem
em marketing, gestão e comércio
britânica. Penso que deveríamos
uma vantagem acrescida nos
internacional que, por essa época,
ter começado nos E.U.A., porque
serviços que presta. Somos espe-
trabalhava na Thompson. Foi com
ali há uma outra cultura empresa-
cialistas independentes, não temos
esta equipa e outros colaborado-
rial, há um outro apoio às novas
actividades noutras áreas, estamos
res que preparámos a saída para
tecnologias. Comparativamente, a
só neste nicho e, naturalmente,
o mercado. Foi difícil, porque o
França é bastante conservadora. E,
podemos dar um apoio mais eficaz
➤
“All-in-One”: Os dados são introdu-
nosso projecto era precursor. Foi
agora – imagine -, tratando-se de
aos nossos clientes. A Techdrill
tudo a pulso, a desbravar caminho,
uma mulher e de uma portuguesa,
não tem conflito de interesses.
72 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
Maria Helena Daget
novembro/dezembro 2010 - Diplomรกtica โ ข 73
Maria Helena Daget
“Nunca fui líder de gabinete. Tenho sempre que saber como se fazem as coisas ‘cá em baixo’ para perceber e poder comandar. Porque para se mandar tem de se conhecer a dinâmica, o mecanismo”
Prestamos serviços de formação,
no computador do engenheiro que
Como muitos outros, propusemos
de treino, de peritagem, de aconse-
está na China, aparece o nosso
soluções. Foi uma situação dramá-
lhamento e de auditoria de perfura-
software, e a partir de Londres, por
tica. Como pode compreender, este
cao.
exemplo, o nosso engenheiro faz
tema é confidencial.
Mas as tecnologias de informa-
uma demonstração ao vivo ou de
O processo de internacionaliza-
ção também ajudaram ao proces-
apoio técnico. Ou seja, em vez de
ção da empresa é algo de notá-
so de afirmação da empresa.
termos que fazer a viagem para
vel.
Claro, a internet foi e é muito im-
resolver um problema, estamos a
Estamos em 51 países. Não quer
portante. Uma holding como a nos-
falar com o cliente e a dar resposta
dizer que tenhamos escritório em to-
sa nunca poderia estar em tantos
em tempo real.
dos eles, temos agentes, até porque
países se não existisse a internet.
E, ao que sabemos, a Techdrill
a internet é uma auto-estrada fan-
Por exemplo, com um programa
ajudou a encontrar soluções
tástica que nos permite estar desde
específico, podemos fazer video-
para a tragédia que ocorreu com
o Peru à Austrália, no Sudão, no
conferência daqui para a China e,
o poço da BP.
Paquistão, na Líbia, na Rússia…
➤
74 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
E isso sustenta todo um suporte
primeiro, a dizer “yes, sir”. E todos
Quantos colaboradores têm?
de apoio que garante a excelên-
eles foram trabalhar fora, antes ou
Nós começámos num período
cia dos nossos serviços, baixando
depois de virem para a empresa.
difícil, em que ocorreu um choque
substancialmente os custos de
Porque entrando para uma empre-
petrolífero. E a “moda” era “deitar
apoio ao cliente, sem afectar a
sa semi-familiar como é a nossa,
fora” as pessoas. Assisti a um se-
qualidade da oferta. Paralelamente,
obviamente que têm vantagens,
minário, em Bruxelas, em que esta-
temos um departamento de pesqui-
estão muito mais depressa no con-
vam presentes oitenta companhias
sa que apresenta novas versões
selho de administração… Come-
mundiais – foi a minha experiência
anualmente, novos instrumentos
çar por baixo, subindo a pulso, dá
mais aterrorizadora. Como era a
que permitem dar resposta às novas
outra disciplina e outros métodos
única mulher, puseram-me à mesa
necessidades concretas. No mês de
de trabalho, rigor, obediência, para
dos presidentes das maiores com-
Maio apresentámos em Houston um
saberem ouvir quando são líderes.
panhias. E diziam: “tenho 340 mil
novo módulo para perfurações em
O Miguel – a que já fiz referência –
empregados e vou ter que despedir
águas profundas. Este módulo é um
ocupa, há cerca de dois anos, um
120 mil. E eu estava quase em pâ-
grande avanço tecnológico que aju-
posto importante na Schlumberger.
nico. A empresa ainda era recente,
dará a perfuração no mar em águas
Sempre pensámos - o Patrick e
éramos uns dez ou doze. E pensei:
profundas.
eu -, desde o início da Techdrill,
“quando disser o número de cola-
Mas é curioso que, sendo a
que seria bom para nossos filhos
boradores, já mais ninguém me fala
Techdrill uma empresa de dimen-
irem ver como se trabalha noutras
o resto do jantar” (risos). E, quando
são internacional, não perdeu
empresas multinacionais, o que
chegou a minha vez, disse: “nós
aquele lado familiar, muito pró-
permite ampliar a visão dos negó-
somos flexíveis, mas a estratégia
prio, aliás, da cultura empresa-
cios, do mundo do trabalho, porque
que vou implementar é termos uma
rial latina.
isso é muito importante para a sua
base de pessoas essenciais à em-
É, mas também tem cultura empre-
valorização como profissional e
presa e, depois, conforme os pro-
sarial americana. A entrada de Bo
como pessoa.
jectos, vamos contratando consul-
Eagles na Techdrill - americano
A Caroline fez estágios na nossa
tores”. Eles acharam que aquilo era
ex-Executivo da Cameron e da
empresa e, porque é uma criati-
uma grande inovação. Mas nunca
Weatherford - ajudou a alargar a
va, muito ligada às artes, entrou
cheguei a dizer quantos éramos. E,
cultura da empresa para melhor
para fazer um estágio na Warner
ainda hoje, mantemos essa política
penetrar nos Estados Unidos e
Brothers há nove anos e aí está a
de gestão. E os nossos consultores
internacionalmente. Mas, não deixa
fazer uma carreira linda.
vão e vêm regularmente segundo
de ser verdade, temos essa com-
Tivemos muita sorte com os filhos,
os projectos, há 20 anos.
ponente familiar.
fizeram estágios, são profissionais
Mas, respondendo à sua pergun-
Dos quatro filhos, dois estão na
e têm-se afirmado.
ta, teremos hoje à volta de 130
vossa empresa.
A Techdrill contraria aquele mito
colaboradores, que muito preza-
Sim, o Filipe, que é o mais novo
de que “não se deve fazer negó-
mos. São a riqueza da empresa.
dos rapazes e é advogado, tam-
cios com amigos”.
E posso dizer que nunca tive um
bém está na empresa a fazer um
Desde há vinte anos que a em-
colaborador que me tenha pedi-
trabalho extraordinário, porque,
presa se mantém com os mesmos
do aumento de salário, porque
sendo de formação jurídica, entrou
associados, pessoas com quem
nos antecipamos sempre. Nunca
muito bem na área do desenvolvi-
o meu marido se foi relacionando
conseguimos fazer nada sozinhos,
➤
mento do negócio a nível mundial.
num período anterior à constituição
temos de ter uma equipa e, dentro
Ele é responsável pela filial ameri-
da Techdrill. Verdadeiros amigos,
das nossas possibilidades, mantê-
cana.
do Patrick e meus. Homens que fo-
la feliz, tratá-la com respeito e
A Daphné, que está na área finan-
ram, presidente e vice-presidente,
consideração. E isso tem a ver com
ceira, mas que também tem feito
administradores, directores gerais,
a cultura de uma empresa que nas-
carreira por outros lados, nomeada-
executivos de grandes empresas
ceu de uma utopia e que procura
mente no Grupo Paris Match, onde
internacionais e que, em determi-
manter uma estrutura fixa, até por
foi directora financeira de uma filial.
nada altura, decidiram perseguirem
uma questão de gestão de recur-
Mas, na família, sempre pensámos
este sonho. São também a “família”
sos na sua formação. Tento ouvir e
que os filhos tinham de ir aprender
que escolhemos.
ser humana. Mas sou exigente.
➤
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 75
Maria Helena Daget
Infelizmente, nos últimos anos,
isto permitiria também formar mais
Não, de todo. Somos bons e
tem havido uma tendência para a
engenheiros de petróleo portugue-
reconhecidos – se não, ao fim de
desumanização das relações entre
ses. E porque não um Mini-instituto
vinte anos já não existiríamos -,
as pessoas. Nas empresas de nos-
do petróleo português - como Es-
devemos manter a nossa imagem
so estilo, as pessoas não podem
panha já tem?
naquilo em que somos especialis-
ser números, porque a riqueza
É uma questão de geopolítica, de
tas de topo e não nos lançarmos
fundamental para a empresa é o
estratégia a longo prazo…E este
em dispersões. Mas considero
“Know-how” interno.
projecto poderia abrir a porta a
que as energias que referiu são
Há um outro velho sonho – este
novos empregos no mundo dos pe-
uma necessidade para o equilíbrio
sim, de sua “maternidade” exclu-
tróleos para engenheiros e técnicos
ecológico e para uma adequada
siva – que é o de criar, em Portu-
portugueses.
gestão de recursos. E é importante,
gal, uma escola de formação na
Mas seriam necessários parcei-
também, porque força as empresas
área dos petróleos.
ros para um tal projecto.
do petróleo a serem cada vez mais
O sonho é mesmo meu, neste
Claro que sim, desde logo, por
conscientes e amigas do ambiente.
caso, não é do Patrick (risos). Senti
exemplo, a GALP, a Partex e,
Não lhe parece que, nos últimos
na pele durante vários anos, por
naturalmente, o próprio Estado,
anos, houve uma perigosa deriva
vezes com bastante sofrimento,
quer através dos ministérios, quer
da economia para os mercados
a imagem que era veiculada do
através das universidades.
financeiros e a especulação?
nosso País, a falta de preparação
E este ensino universitário, para
Ainda assim, não sou tão pessi-
dos trabalhadores emigrantes que,
além da sua existência física numa
mista. Continua a haver empresas
no entanto, sempre manifestaram
universidade ou numa escola
onde o capital humano é referen-
essa ousadia de fugir à miséria e ir
superior, tem uma lógica de itine-
cial, onde as jóias da empresa são
à aventura. Hoje a realidade é um
rância, ou seja, se for preciso vai
as pessoas colocadas no lugar
pouco diferente, porque os des-
às próprias empresas dar cursos.
certo. Não foi tudo tomado pela
cendentes de segunda e terceira
Como, aliás, o fazemos mundial-
“selva”. Mas continua a haver um
gerações já vão para a universi-
mente. Não é nenhum milagre,
domínio terrível da finança, que
dade, são quadros qualificados e
pode ser até uma gota no oceano,
gerou também o preço especulati-
empresários de sucesso. Nós fun-
mas são janelas de oportunidade
vo do petróleo. E os bancos foram
dámos – e isso não foi ideia minha,
que se abrem às necessidades de
infectados por uma lógica absurda
foi uma ideia do meu filho Miguel
formação.
que nos pôs a todos numa situação
– uma Escola de Formação no
Esta é uma área onde existe um
por vezes difícil. É preciso encon-
México, onde já ultrapassámos o
grande deficit de mão-de-obra
trar os caminhos que possibilitem
número de 700 engenheiros forma-
qualificada a nível mundial. E pode
reequilibrar a economia. Porque
dos. Um ensino com vários níveis:
ser mais uma ponte de cooperação
a economia não é só números, é
diplomados, mestrados… vários
no quadro dos países da lusofonia.
também o capital humano. Nes-
escalões, formação contínua para
E, numa segunda linha, poderia até
se sentido, é fundamental realçar
técnicos e quadros. E tem sido um
atrair algumas empresas do sec-
o papel social da economia. E é
sucesso. Daí, ter-me interrogado:
tor petrolífero a instalar filiais em
essencial a cooperação entre cola-
”por que não levar esta ideia para
Portugal.
boradores, empresários, sindicatos
Portugal?”.
Acredito que haja uma grande
e Governo. Temos de nos ouvir a
Não sei se sou utópica, nem se
possibilidade de presença de gás
todos e encontrar soluções positi-
isto corresponde a um desejo de
natural no Algarve, nas águas
vas e benéficas para ajudar o país
Portugal, mas a questão é esta: se
profundas, como existe na zona
a sair da crise.
temos ex-colónias como Angola, S.
marítima confinante na Espanha.
Isto é válido para Portugal, para
Tomé e Príncipe, Timor, onde se
Portugal poderia ser um actor.
França, e tantos outros países
fala a mesma língua, onde temos
Há uma lógica de crescimento re-
onde observo os problemas actuais
alguma influência, temos também
lativo das energias renováveis e,
da crise económica.
todas as condições para dar for-
de alguma forma, isso irá afectar
Não venho ao Portugal para dar
mação a engenheiros e técnicos
o mercado do petróleo. A Te-
lições mas gostava de colaborar
originários destes países com inte-
chdrill prevê dedicar-se a outras
humildemente num projecto para
resses económicos no petróleo. E
áreas, para além dos petróleos?
bem do nosso País.
➤
76 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
■
mala Diplomática
Dia Nacional
1
da Indonésia Por ocasião do Dia Nacional do seu país, o Embaixador da Indonésia, Albert Matondang, convidou para a recepção, no Marriott Hotel, em Lisboa, personalidades dos mais diversos meios sociais, diplomáticos, económicos e políticos. A reunião decorreu num ambiente de grande cordialidade, tendo o Embaixador discursado. A Indonésia e Portugal mantêm uma cooperação construtiva e produtiva na ONU e outros fóruns internacionais. Segundo o Embaixador, a cooperação bilateral entre Portugal e a Indonésia pode aumentar ainda mais no futuro. Os laços históricos e culturais iniciados pelos navegadores portugueses são recursos que
3
2
podem ser utilizados nas relações bilaterais. Como resultado da longa interacção das duas sociedades, muitas palavras portuguesas foram absorvidas da língua nacional e da música tradicional portuguesas. O fado é um ícone português que influenciou o músico indonésio Keroncong. “Aproveito esta oportunidade para 4
5
confirmar o compromisso da Indonésia para continuar a expandir os laços com Portugal. E agradeço sinceramente ao Governo de Portugal pelo seu contínuo apoio para reforçar o actual bom relacionamento bilateral”. A 17 de Agosto de 1945 foi o dia em que a República da Indonésia declarou a Independência. Desde aí, tem feito progressos significativos para desenvolver o país. A paz e a estabilidade têm sido muito bem conservadas e a Indonésia tornou-
1. Albert Matondang a discursar 2. O anfitrião com o Embaixador Pinto da França e
se um país democrático, enquanto
sua Mulher 3. Selly Pada, mulher do Conselheiro Cultural da Indonésia, com outra
a sua economia continua a crescer
convidada, vestidas com trajes tradicionais indonésios 4. Luciano da Silva, Cônsul
positivamente, atingindo 4,9% no
Honorário da indonésia no Porto, cumprimenta Perry Pada, Conselheiro Cultural da In-
ano passado e devendo crescer 6%
donésia 5. Luciano da Silva cumprimenta o Embaixador da indonésia Albert Matodag
este ano.
■
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 77
Mala Diplomática
Despedida do Embaixador do Egipto Amgad Maher Abdel Ghaffar O Embaixador do Egipto em
2
1
Portugal, Amgad Maher Abdel Ghaffar, ofereceu uma festa de despedida para agradecer todo o apoio recebido durante a sua permanência em Portugal. Compareceram amigos e individualidades dos mais diversos meios: diplomáticos, políticos, culturais, militares, empresariais e outras figuras de relevo do meio social, que não quiseram deixar de homenagear o diplomata egípcio. Localizado no Nordeste da África, no encontro com a Ásia, o Egipto é berço de uma das mais importantes civilizações da Antiguidade. Dinastias de faraós levantaram construções gran-
3
4
diosas, como as pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, consideradas patrimónios da Humanidade. O território egípcio é desértico, salvo nas margens do rio Nilo e na costa do Mediterrâneo, onde fica o delta do rio. Atravessando o país de norte a sul, o rio Nilo é sua fonte de vida e trabalho, garante o abastecimento de água
5
e energia eléctrica, e possibilita o desenvolvimento da agricultura ao longo de seu curso. Cerca de 90 por cento da população, a segunda maior da África e a maior do mundo árabe, vive em suas proximidades, concentrada em apenas 4 por cento do território. O Islamismo é a religião de mais de 80 porcento dos habitantes. As mulheres egípcias têm hábitos bastante ocidentalizados para os padrões árabes:
1. O Embaixador do Egipto e Maria de Bragança 2. A Embaixadora da Noruega, Inga
grande parte trabalha fora e a
Magistad e o Embaixador da Argentina, Jorge Faurie 3. O Embaixador da Suíça, Rudolf
maioria não usa véu sobre o
Schaller 4. Maria Carrilho, Maria de Bragança e Ridha Farhat, ex-Embaixador da Tuní-
rosto.
sia 5. O Embaixador de Itália, Luca de Presenzano
■➤
78 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
5
7
6
8
5. Os Embaixadores da Coreia do Sul com a nossa directora 6. Senhora de Ridha Farhat, Hanene e o Embaixador do Iraque, Hussain Sinjari 7. Francisco Mendes Palma e Maria de Braganรงa 8. Embaixadores de Inglaterra e do Egipto
novembro/dezembro 2010 - Diplomรกtica โ ข 79
mala Diplomática
Dia Nacional da Coreia do Sul
1
2
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3
Os Embaixadores da Coreia do Sul receberam os seus convidados para comemorarem a festa do Dia Nacional do seu país. Estiveram presentes embaixadores, empresários, intelectuais, elementos da comunidade sul coreana e individualidades ligadas à cultura e à política. O Embaixador Dae-Hyun Kang proferiu algumas palavras: “Este é um dia muito especial e significativo para a Coreia. Nesta data, em 2333 A.C., começou a história do povo coreano. Por isso, a 3 de Outubro, celebramos os 5 mil anos da nossa venerável história.”
1. A festa do Dia Nacional da Coreia do Sul contou com a presença do deputado social-democrata Jorge Costa
As relações de amizade e coo-
2. O Embaixador Dae-Hyun Kang proferindo o seu discurso
peração entre a Coreia do Sul
3. Os anfitriões com Maria de Bragança
e Portugal estão cada vez mais
4. Embaixador do Paquistão, Gui Haneff, e sua Mulher
fortes. No próximo ano de 2011, comemoram-se os 50 anos de relações diplomáticas entre os
➤
80 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
5
6
7
8
➤
dois países. E, através desta
ocasião muito especial, acredito que as relações entre a Coreia e Portugal vão prosperar ainda mais no futuro. Vamos todos desejar o progresso das relações 9
10
entre os dois países”. A Coreia é uma das civilizações mais antigas do Mundo. Através do tempo, a história do país tem sido turbulenta com numerosas guerras, incluindo invasões (tanto chinesas como japonesas). Enquanto o Governo adoptou oficialmente a democracia de estilo ocidental desde a fundação
5. O Embaixador, e a sua Mulher, com Jorge Costa, José Lello, António Devesa de Sá Pereira e Domingues dos Santos 6. Embaixador da Suíça, Rudolf Shaller, com Vera Chalaça, Assessora do Secretário
da República, os processos de eleições presidenciais sofreram grandes irregularidades.
de Estado da Administração Local, e outro convidado 7. Os Embaixadores com Maria de Belém Roseira
Hoje, a península coreana é
8. Luís Soares de Oliveira e sua Mulher
vista como uma das zonas mais
9. Paulo Saragoça da Matta, Mário Silveiro de Barros com Terceiro Secretário Lee
voláteis no palco internacional,
Dong Gyu e sua Mulher,
herança da Guerra Fria.
■
10. Uma convidada sul-coreana com trajes tradicionais
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 81
Memória Diplomática
1
Havai. 50 Anos de Democracia Meio século passou desde a
americano governado por uma mo-
implantação da democracia ame-
narquia, desde os finais do século
ricana no 50º e último território a
XVIII até à sua anexação em 1898
integrar a federação dos Estados
pelos EUA. Talvez, se não mesmo,
Unidos da América. A 21 de Agosto
o maior marco, na história ameri-
de 1959, durante a presidência de
cana e mundial, das ilhas desco-
Eisenhower, a emenda aprovada
bertas por James Cook em 1778,
no Congresso de 1957, que eleva-
tenha sido o Porto das Pérolas
va o Havai à categoria de Estado,
(Pearl Harbor). Pois, o ataque japo-
foi assinada.
nês, em 7 de Dezembro de 1941, à
O arquipélago situado a meio do
base naval fez com que os Estados
Oceano Pacífico foi o único Estado
Unidos entrassem oficialmente na
82 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
2
3
4
1. O arquipélago situado a meio do Oceano Pacífico foi o único Estado americano governado por uma monarquia, desde os finais do século XVIII até à sua anexação em 1898 pelos EUA. 2. 3. e 4. O Havai das praias e paisagens paradisíacas, do “surf”, da “Hula”, das camisas às flores, e do “ukulele
➤
II Guerra Mundial.
saias de palha), das camisas às
A população do arquipélago ha-
flores, e do “ukulele” (o cavaquinho
vaiano é multicultural, constituída
que os imigrantes madeirenses
por uma mistura de colonos poliné-
levaram para Honolulu, capital
sios com ascendentes da Europa,
havaiana) tem actualmente outro
alguns da Madeira e dos Açores,
motivo de reconhecimento – Bara-
que foram para lá trabalhar nas
ck Obama. O primeiro presidente
plantações de açúcar, bem como
afro-americano da história dos
com imigrantes asiáticos.
EUA eleito, precisamente, neste
O Havai das praias e paisagens
mesmo ano em que a sua pátria
paradisíacas, do “surf”, da “Hula”
comemora os cinquenta anos de
(dança tradicional do Havai com
democracia.
n
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 83
Memória Diplomática
1
1. A criação da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos, a missão de supervisionar a complacência dos Estados-membros da OEA com a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem
50 anos de Direitos Humanos proclamados pela OEA – Organização dos Estados Americanos “A liberdade, a justiça e a paz têm
Americana dos Direitos e Deveres
graves violações contra os direitos
por base o reconhecimento da
do Homem, adoptada em Maio de
dos cidadãos em vários países da
dignidade intrínseca e dos direitos
1948 em Bogotá. O outro órgão
região marcados pela instabilida-
iguais e inalienáveis do ser huma-
que faz parte do Sistema Interame-
de democrática e pelas ditaduras.
no”. Esta frase assinalada pelos
ricano de Protecção e Promoção
O triunfo da democracia não fez
Estados-membros da Organização
dos Direitos Humanos nas Amé-
com que a CIDH abrandasse a
dos Estados Americanos (OEA) na
ricas é a Corte Interamericana de
sua política e, actualmente, o seu
acta final da 5ª Reunião de Con-
Direitos Humanos, estabelecida
trabalho de campo continua a ser
sulta de Ministros das Relações
em 1979, cujo propósito é aplicar e
um instrumento essencial para a
Exteriores, celebrada em Santiago
interpretar a Convenção Americana
protecção e promoção dos Direitos
do Chile de 12 a 18 de Agosto de
de Direitos Humanos (CADH) e ou-
do Homem. A Comissão e a Corte
1959, mudou a realidade dos Esta-
tros tratados de Direitos Humanos.
Interamericana são as faces de
dos Americanos e vincou a impor-
A CIDH comemora este ano meio
soluções de violação dos Direitos
tância da salvaguarda dos Direitos
século de existência dedicados
Humanos e da criação de padrões
Humanos. A criação da Comissão
com determinação ao espírito da
interamericanos para a protecção
Interamericana dos Direitos Hu-
democracia e dos Direitos Huma-
dos direitos das pessoas.
manos (CIDH), em 18 de Agosto
nos, colocando o ser humano no
Para além destas características e
de 1959, foi o primeiro passo para
eixo central, tal como se compro-
capacidades, a Comissão Interame-
promover o respeito de tais direi-
meteram os países do hemisfério
ricana recebe, analisa e investiga
tos. Nascia assim uma Comissão
na Carta da OEA.
petições individuais que alegam
com a missão de supervisionar a
Nos primeiros tempos, esta institui-
violações dos direitos humanos;
complacência dos Estados-mem-
ção caracterizou-se pela realização
observa o cumprimento dos direitos
bros da OEA com a Declaração
de visitas in loco e denúncia das
humanos nos Estados-membros,
84 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
2
3
2. Corte Interamericana de Direitos Humanos, estabelecida em 1979, cujo propósito é aplicar e interpretar a Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) e outros tratados de Direitos Humanos 3. Estados, sociedade, CIDH e Corte Interamericana núcleo duro do Sistema Interamericano dos Direitos Humanos
e quando o considera convenien-
governamentais, entre outros, para
de dois factores: Estado e so-
te, publica as informações espe-
difundir e analisar temas relaciona-
ciedade civil. O relacionamento
ciais sobre a situação num estado
dos com o Sistema Interamericano
híbrido entre Estados, socieda-
específico; estimula a consciência
de Direitos Humanos; faz recomen-
de, CIDH e Corte Interamerica-
dos Direitos Humanos nos países
dações aos Estados-membros da
na, tornam-nos no núcleo duro
da América. Além disso, realiza
OEA acerca da adopção de medi-
do Sistema Interamericano dos
e publica estudos sobre temas
das para contribuir com a promo-
Direitos Humanos.
específicos como, por exemplo:
ção e garantia dos Direitos Huma-
Um caminho marcado pela dificul-
medidas para assegurar maior
nos; requer aos Estados-membros
dade, mas também pelo êxito, e
independência do poder judiciário;
que adoptem “medidas cautelares”
que está longe de chegar ao fim.
para terminar com a censura pré-
específicas para evitar danos
Os desafios existentes são inume-
via; actividades de grupos armados
graves e irreparáveis nos Direitos
ráveis: a pobreza, a fome, as desi-
irregulares; a situação dos direitos
Humanos em casos urgentes; e
gualdades sociais, a insegurança,
humanos dos menores, das mulhe-
solicita “Opiniões Consultivas” à
a violência doméstica, a falta de
res e dos povos indígenas; forta-
Corte Interamericana sobre aspec-
acesso à saúde e à educação, são
lecer a participação política dos
tos de interpretação da Convenção
algumas das preocupações em que
habitantes; garantir a igualdade
Americana.
todos os cidadãos, e não apenas a
aos grupos vulneráveis; respeitar
São cinquenta anos a defender
CIDH, se devem debruçar.
os direitos dos trabalhadores, etc.
a dignidade dos seres humanos,
Estas cinco décadas são a de-
Realiza e participa em conferên-
mas não só, também a ajudar a
monstração de que a luta pelos
cias e reuniões com diversos tipos
construir um Estado de Direito
Direitos Humanos deve continuar
de representantes de Governos,
na região. Tarefas possíveis de
em busca de soluções para resol-
universitários, organizações não
realizar devido à combinação
ver os desafios pendentes.
➤
n
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 85
Marcas & gestores Automóveis
João Lima
por Nuno Sá, fotos de Lígia Correia
Diplomatic and Direct Sales Consultant da Caetano Baviera/BMW: “Temos de perceber quais são os interesses e as necessidades da Embaixada ou do Embaixador” João Lima, 47 anos, é a cara exclusiva de um novo projecto da Caetano Baviera – BMW, para todo o mundo diplomático e não só – com representação única na Caetano Baviera do Parque das Nações em Lisboa. Uma entidade Nacional que esteja em qualquer parte do Mundo e pretender adquirir um carro, ou a frota de serviço, para um titular ou organismo diplomático, inicia um processo que chegará às mãos deste consultor da Caetano Baviera, entidade com ligação privilegiada com a BMW Portugal e BMW AG.
Tem uma larga experiência no
logo aí existe uma certa diferença
O longo trajecto do João Lima
ramo automóvel. No contacto
nos preços. Já tenho alguns anos
passou por várias marcas. Está
com as pessoas, no dia-a-dia, já
de marcas premium, que não se
agora (desde Abril último) a tra-
que está num sector que mexe
ressentem tanto nestas alturas. O
balhar na Caetano Baviera. Que
com tanto dinheiro, como é que
cliente continua com o mesmo fundo
diferenças encontra entre traba-
lida com a descrença quase
de maneio, com o mesmo poder de
lhar uma marca premium e numa
generalizada em relação à saúde
compra. Muitas vezes, só não com-
generalista?
económica?
pra porque não convém nessa altu-
Estou nos automóveis há 20 anos.
O sector diplomático é beneficiado
ra, mas compra sempre. Um mês ou
Comecei em 1989, no importador
porque não se pagam impostos,
dois depois, acaba por comprar.
duma das melhores marcas
86 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
generalistas. Estive lá 13 anos.
para, depois, ouvir o cliente.
mas esta é acima de tudo uma ne-
Depois, fui convidado para um
Outra qualidade do bom vendedor,
cessidade, pois tenho que promover
projecto duma outra marca, desta
importantíssima, é a organização.
estes bens e também o serviço que
feita no segmento premium e agora
A par da seriedade/credibilidade.
desenvolvemos nesta empresa do
vim para este projecto da Caetano
Temos de dar as boas e as más
Grupo Salvador Caetano. Trato tão
Baviera com a BMW.
notícias na altura certa, dizer já se o
bem um carro da empresa como se
É diferente trabalhar numa marca
carro existe, se vai demorar, se há
fosse meu. Nunca comprei um carro
➤
generalista e numa premium. O
já a cor que o cliente escolheu, en-
para mim, só comprei carros para
cliente tem sempre uma expectativa
fim, os bons vendedores antecipam,
a minha mulher. Comprei-lhe, há
num carro novo, há sempre uma
muitas vezes, as más notícias.
pouco tempo, uma carrinha para ela
certa emoção na compra, mas não é
A relação pessoal que se estabe-
andar e trabalhar.
como numa marca premium, nunca
lece entre o vendedor e o compra-
Sou um apaixonado pelo campo,
é “o carro dos meus sonhos”. Uma
dor é decisiva. Essa proximidade,
tenho uma casa de campo, e se
das primeiras vendas numa marca
essa confiança, muitas vezes emo-
calhar o carro dos meus sonhos
que fiz, e me marcou muito, foi ven-
cional, é tanto ou mais importante
seria uma pick-up, para andar no
der um carro a um cliente da classe
do que o lado técnico, não é?
meio dos campos com a liberdade
média-baixa, um fiel de armazém,
Sim, o cliente compra um carro por
suficiente, com as sacas de batata e
que andou a vida toda para comprar
razões racionais e emocionais, mas
a lenha atrás.
o carro dos seus sonhos. Toda a
a emoção, principalmente numa
No passado mês de Abril foi
venda foi feita com base no sonho
marca como a BMW, conta muito, é
convidado pelo Grupo Salvador
da compra. Foi uma coisa fantástica.
muito importante. Vendemos carros
Caetano a personificar este novo
Um vendedor, que vende diariamen-
a todo o tipo de pessoas, de todas
projecto. Como está a correr?
te e tem objectivos mensais para
as classes sociais, e há clientes que
Está a ser fantástico. A Caetano
cumprir, sente que cada mês que
vêm com uma emoção fantástica,
Baviera é uma entidade fantástica
começa parte do zero. Vender um
parecem miúdos!
e representando a BMW que é uma
carro de 175 mil euros não é nada
É então, por saber ouvir, ser
marca muito especial, é juntar o
de extraordinário, faz parte da nossa
organizado, sério e credível que
melhor de dois Mundos. A marca
função.
o João Lima tem uma carreira
é reconhecidamente superior aos
O que é preciso ter-se para se ser
no sector automóvel cujo ponto
mais variados níveis, mas especial-
um bom vendedor?
alto é a chegada agora ao Grupo
mente pela sua componente des-
Um dos aspectos principais, que se
Salvador Caetano e neste novo
portiva e dinâmica que se traduzem
aprende em cursos de formação de
Departamento da Caetano Baviera
num grande prazer de condução.
vendas, é que um bom vendedor
ligado ao mundo diplomático?
As pessoas têm uma grande ex-
tem de saber ouvir. Muitas vezes, o
Tem de haver um gosto muito gran-
pectativa em relação a uma marca
cliente vem, quer dizer o que preten-
de naquilo que se faz, sou um apai-
premium. Desde o primeiro contacto
de e o vendedor não o ouve e co-
xonado pelo contacto, pelo poder
até à entrega do carro, temos de
meça a debitar informação, muitas
ajudar, pelo poder criar empatia com
surpreender positivamente, o mais
vezes de forma robotizada, que não
as pessoas. Tenho 47 anos, mas
possível, o cliente.
é pertinente para o cliente. Temos
há 20 não tinha o tal cabelo branco,
João Lima, entremos concreta-
de o encaminhar para as necessi-
não tinha idade, experiência, para
mente no projecto diplomático.
dades de conforto, de número de
uma marca premium. É preciso
Como foi escolhido para desen-
lugares, de família, percebermos o
transmitir confiança em quem vai
volver esta função tão importante
que o cliente faz na vida e para que
comprar um bem de 40, 80, 200 mil
e estratégica?
precisa do carro. Quando o cliente
euros.
Neste sector, sinto-me um pouco
entra num stand para comprar um
Temos a ideia de que quem vende
privilegiado. Já fui chefe de vendas,
carro, regra geral, está interessado.
carros anda, sempre, com mode-
já tive cargos fantásticos na área
Temos de o saber ouvir. Cabe ao
los super-sónicos. Corresponde
comercial, mas, agora, existe uma
vendedor dar-lhe todo o espaço,
ao padrão? E já agora, qual é o
exclusividade muito grande, pois é
para ele perceber, enquadrar-se
carro dos seus sonhos?
um produto Premium e um serviço
no ambiente. A abordagem tem de
Realmente esta função permite-me
de grande personalização e com
ser muito cuidada, muito simpática,
andar com bons carros de serviço,
comunicação directa com a fábrica.
➤
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 87
João Lima
Ou seja os nossos clientes têm
De certa forma, sim. Chefiei equipas
à nossa responsabilidade, e somos
um interlocutor sempre com via
desde 1991, mas também sempre
nós que temos de entregar esses
aberta e acesso exclusivo.
vendi e tive contacto com o cliente,
carros.
Sinto-me privilegiado porque,
mas nunca tinha tido uma ligação
Falemos, em concreto, deste
fui convidado directamente pelo
tão directa e exclusiva com uma
novo projecto da BMW dirigido
Director Geral da Caetano Baviera
marca como é agora o caso na
ao mundo diplomático. Em que
em Lisboa para este projecto, que
Caetano Baviera.
consiste?
bastante me lisonjeia pelo convite
É uma espécie de “ponta-de-lan-
Antes de mais, temos de perceber
e por terem pensado logo em mim,
ça” da Caetano Baviera e da pró-
quais são os interesses e as ne-
que eu seria a única pessoa que
pria BMW no mundo diplomático.
cessidades do Embaixador ou da
➤
poderia liderar este projecto de uma
É exactamente isso, a Caetano
Embaixada, que tipo de carro é que
marca diferente, que tinha todos os
Baviera convidou-me para que eu
quer, se quer o carro só para uso
requisitos: tempo suficiente na área
tratasse de tudo, qualquer compra,
nacional ou não, se o vende cá ou
comercial, idade adequada, forma
qualquer contacto passa através
se o vai levar para o país de ori-
serena de estar e de lidar com os
dos nossos serviços, sendo nós Ca-
gem. Um exemplo: os países asiá-
clientes, etc.
etano Baviera o canal privilegiado.
ticos só compram carros a gasolina
Passou, portanto, a ser o super-
Ainda há pouco, estava ao telefone
porque, nesses países, praticamen-
consultor, uma posição mais
com um cliente da NATO que com-
te não existe gasóleo. Se for para
estratégica da Caetano Baviera,
prou directamente na Alemanha,
levar para a China, temos de confi-
da própria BMW e a uma escala
mas nós é que temos de contactar
gurar o carro, sendo nós na Caeta-
global.
o cliente, toda a documentação vem
no Baviera que fazemos todo
88 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
➤
esse levantamento e caso a caso.
ção deste novo departamento da
ansiosos, não conseguimos ouvir
Usando este novo serviço da
Caetano Baviera, as perspectivas
bem as pessoas. Para se dar a
BMW, que descontos é que as
crescem.
volta nesses momentos, temos de
embaixadas podem usufruir,
Lido bem com a pressão do objec-
acreditar em nós próprios, sermos
que pontinha do véu nos pode
tivo e da meta, sempre lidei, não
positivos, mentalizar que vamos
➤
levantar?
me incomoda nada. Temos de ten-
conseguir. Se vamos derrotados
As embaixadas e os restantes po-
tar cumprir objectivos desde que
para uma reunião, não vai dar de
tenciais clientes deste departamen-
estes sejam, obviamente, razoá-
certeza. O cliente pode não per-
to têm acesso a condições ímpares
veis. Este sector tem um potencial
ceber do que se trata, mas sente
na politica comercial da marca.
inacreditável.
quando não está a fazer-se o clique
Mas, repare, este projecto também
Para terminar, a pergunta clás-
onde deve ser feito, sente quando
integra, além dos carros para o
sica: se não fosse vendedor de
há insegurança.
mundo diplomático, as viaturas de
carros, seria…?
Todos os negócios são feitos com
segurança (transporte de valores,
Bem, seria sempre vendedor, tenho
pessoas e todas as pessoas fazem
por exemplo), os carros blindados
sentido comercial. Olhe, pensei,
negócio. Já me aconteceu sair de
(para fazer face a possíveis ata-
muitas vezes, em ser delegado de
uma reunião, a venda não aconte-
ques terroristas, por exemplo), os
Propaganda Médica, enfim, um gé-
cer mas eu sentir que, daqui a uns
carros para os VIP’s internacionais,
nero de venda mais personalizada,
tempos, esse cliente iria acabar por
e os carros de topo-de-gama para
mais de informação e de aconselha-
comprar aquele carro. E, depois, ele
fazer o transfer de clientes para os
mento. Há vendedores porta-a-porta
comprou. Há sinais, há uma primei-
grandes hotéis, de 5 estrelas para
excelentes, mas aquela agressivida-
ra imagem, um primeiro impacto,
cima, que, geralmente, são limou-
de não é para mim. Há muitos tipos
uma primeira empatia, há tudo aqui-
sines.
de vendedor, não é que uns sejam
lo que fica. Por exemplo, quando
A BMW AG tem os olhos postos
melhores do que outros, há muitas
recebo um e-mail de alguém a pedir
nesse serviço da Caetano Bavie-
diferenças de perfil.
uma informação, automaticamente
ra, por isso a responsabilidade é
Quando comecei a vender, há 20
agradeço esse envio, é a primeira
enorme.
anos, nas técnicas de venda, come-
coisa que faço, e digo que estou
Sim, a BMW AG está, realmente,
çava-se pelo fecho. Sentávamo-nos
à disposição daquela pessoa, não
muito interessada em que este ca-
na secretária e a primeira coisa que
é só escrever “OK”. Ou seja, não
nal vá para a frente em termos mun-
tínhamos à frente era o contrato
se trata de sermos apenas profis-
diais. Estive em formação, durante
de venda, quase para intimidar o
sionais, temos de demonstrar que
uma semana, na Alemanha. Foram
cliente a comprar. Hoje em dia, isso
estamos, mesmo, disponíveis para
15 pessoas, de vários países, como
é a última coisa a fazer. Hoje, não
ajudar o cliente.
a China ou a Venezuela, e senti, de
se vende; informa-se e transmite-
Temos sempre de melhorar, o bom
facto, muito entusiasmo no Grupo
se confiança. Ou seja, o fecho e a
acompanhamento é fundamental.
BMW à volta deste projecto.
venda são uma consequência, é
A comunicação tem de dar o cli-
Sendo um líder nessa área co-
natural. Muitas vezes, é o próprio
que, mas, de qualquer forma, não
mercial da Caetano Baviera, e
cliente que diz: “bom, então, vamos
é agradável sermos agradáveis,
com um projecto muito inte-
fechar o negócio!”. Ou seja, quase
prestáveis, simpáticos, com as
ressante de vida e de carreira,
não é preciso falar disso.
pessoas? E é evidente que tam-
mas - é assim normalmente nas
Vender é o objectivo cumprido, che-
bém esperamos esse retorno, mas
grandes equipas e nas grandes
ga a ser um vício. É preciso muito
recebemos porque damos. Estamos
estruturas. Contudo também tem
estofo, uma certa força interior, para
num sector, sobretudo o diplomá-
de cumprir objectivos. Quais os
ouvirmos muitos “nãos” seguidos
tico, em que há muito tempo para
objectivos a que se propõe?
e não nos irmos abaixo. Por ve-
se pensar nas questões, mas as
Para este ano em termos de
zes, temos uma boa postura, mas,
respostas têm de ser dadas na hora
vendas, as expectativas deste
quando não vendemos, transmiti-
e prestarmos muita atenção aos
departamento passam por fazer
mos ansiedade quer ao cliente quer
pormenores. E é nestes pontos em
o melhor ano de sempre. Penso
lá em casa, à família. É importante,
particular que descobri a grande di-
que vamos cumprir esse objectivo
para isso, termos uma certa estabi-
ferença que é fazer parte do Grupo
e para 2011, com mais divulga-
lidade financeira. Quando andamos
Salvador Caetano.
n
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 89
Arte & Cultura
Cultura Portuguesa em Espanha Mostra Portuguesa 2010
A Embaixada de Portugal em Espanha e o Instituto Camões promovem, desde o ano de 2003, uma iniciativa denominada Mostra Portuguesa, que visa apresentar em Espanha a diversidade e contemporaneidade da cultura portuguesa. Todos os anos, em Novembro, várias cidades de Espanha acolhem os mais diferentes exemplos da produção cultural portuguesa: da arte contemporânea à arte popular, da música actual à música tradicional, dos intérpretes emergentes aos já consagrados, das artes de palco às artes plásticas, cinema, conferências, gastronomia, entre outras. Este ano, uma vez mais, a cultura portuguesa vai estar, desde os finais de Outubro e todo o mês de Novembro, em várias cidades e com um programa diversificado. O objectivo é usar a cultura nacional, os seus criadores e as suas obras, para reforçar a imagem de Portugal como país único, moderno, universal e humanista, reduzindo distâncias e reforçando as ligações que mantém internamente e as que o aliam ao mundo. Daí o esforço para dar a conhecer novos autores e novas obras, mostrando a fértil produção cultural do país, abrindo novas portas para a internacionalização dos artistas e das instituições culturais lusas. O programa que se apresenta nesta edição da Mostra Portuguesa serve estes objectivos – proporcionar a descoberta dos melhores representantes da música, da fotografia, da literatura, da gastronomia, de peças de museus, de realizadores e novos filmes, de teatro, e de investigadores em conferências, desenvolvendo um programa denso, diversificado capaz de interessar o público espanhol. Entre os cantores destacam-se as jovens fadistas Carminho, Joana Amendoeira e Ana Sofia Varela; na música vão poder ouvir-se peças de um músico português, António Fragoso, interpretado por Margarida Prates; o grupo de teatro Cornucópia vai apresentar “Dança da Morte”; dos escritores refere-se a participação de Francisco José Viegas, de Manuel Jorge Marmelo e Raquel Ochoa; do cinema evidenciam-se João Canijo com “Fantasia Lusitana”, Miguel Gomes com “Aquele Querido Mês de Agosto”, Marco Martins com “Como Desenhar um Círculo Perfeito”, António Pedro Vasconcelos com “A Bela e o Paparazzo”, entre outros; das artes plásticas sobressai a performance de Adriana Sá e a exposição de máscaras orientais da responsabilidade do Museu do Oriente. Participam, na oitava edição deste evento, nove cidades de oito comunidades autónomas espanholas com as suas respectivas administrações locais e regionais. Um dos factores de sucesso desta iniciativa da Embaixada de Portugal e do Instituto Camões, assente na qualidade dos intervenientes e protagonistas culturais, é a solidez das parcerias criadas com instituições espanholas e portuguesas. Apoiam, uma vez mais, esta edição da Mostra Portuguesa, entre outros, o Governo de Espanha, através dos seus Ministérios dos Assuntos Exteriores e Cooperação e da Cultura, o Ayuntamento de Madrid, a Fundação Caja Duero e a TAP, bem como um diversificado conjunto de outras parcerias e apoiantes da Mostra Portuguesa. Consulte programa completo em www.mostraportuguesa.es.
90 • Diplomática - novembro/dezembro 2010
n➤
1
1. Carminho, Jovem intérprete do fado. A intensidade da sua expressão artística leva-a a afirmar que quando canta vai para outro mundo. "Não penso em nada. As palavras vão directas a sentimentos”. 2. Imagem de Paulo Bragança, um dos pioneiros da nova geração do fado que, a par de uma capacidade interpretativa considerada notável pelos especialistas, escandaliza os puristas do fado ao apresentar-se em palco descalço e com roupas simples, por muitos consideradas manifestações de excentricidade.
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4
3. Máscara oriental, que faz parte de uma exposição de artefactos asiáticos, promovida pela Fundação Oriente 4. Logótipo da Mostra Portuguesa iniciativa da responsabilidade da Embaixada de Portugal em Espanha e do Instituto Camões que, desde o ano de 2003, visa apresentar em Espanha a diversidade e contemporaneidade da cultura portuguesa
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 91
Livros - novidades
“Nobre Povo – Os Anos da República” Viagem a um tempo de fogo Na manhã de 5 de Outubro de 1910, em Lisboa, um movimento revolucionário derruba o regime monárquico e proclama a República na varanda da Câmara Municipal de Lisboa. Um pouco fruto da sorte, porque é um equívoco que determina a rendição das forças monárquicas. Um grupo de diplomatas, apavorado com a revolução, dirige-se de bandeira branca aos revoltosos entrincheirados a pedir salvo-conduto para saírem do país. Do Torel, onde estavam acantonados, os fiéis ao regime pensaram tratar-se da rendição formal de enviados do rei… É um mero pormenor, que não diminui em nada o mérito da vitória. O regime monárquico agonizava putrefacto nas suas contradições e vilanias, e o povo urbano, farto da arrogância do regime e da mão de ferro do Governo, ansiava por dias melhores. Em “Nobre Povo”, Jaime Nogueira Pinto revela um retrato desapaixonado de um tempo de mudança, da vitória republicana, mas também da impotência republicana, das contradições de um poder novo que, desde a primeira hora, se esqueceu das promessas feitas e da fidelidade a um ideal assente em “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” – grito de revolta que tomou a Europa e pretendeu salvar o mundo. Entre os roufenhos carros de cavalos e o emergente automóvel, é, mais do que a mudança de um regime, o prenúncio de um tempo novo. Nem pior, nem melhor. Um tempo de conspirações, golpadas militares, governos autoritários e a Grande Guerra. Uma viagem no tempo a que Jaime Nogueira Pinto emprestou o rigor da sua investigação, a fluidez da escrita e, naturalmente, a sua interpretação da História não necessariamente coincidente com a do leitor. Mas, sem dúvida, um documento importante e de leitura fundamental, este que a Esfera dos Livros acaba de dar à estampa.
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“História de Portugal” Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro O Prémio D. Dinis 2009 foi atribuído, por unanimidade, aos historiadores Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro pelo livro “História de Portugal, publicado pela Esfera dos Livros. A sessão de entrega do Prémio decorreu na Casa de Mateus e foi presidida pelo Presidente da Comissão Europeia, Doutor José Manuel Durão Barroso Rui Ramos é Investigador Principal do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, onde ensina nos cursos de Mestrado em Política Comparada e de Doutoramento em Ciência Política, e Professor convidado na Universidade Católica Portuguesa (Lisboa). Licenciado em História pela Universidade Nova de Lisboa e doutorado em Ciência Política pela Universidade de Oxford, é autor de vários livros. Bernardo Vasconcelos e Sousa é Professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde tem leccionado no âmbito da Licenciatura e do Mestrado em História Medieval e de cujo Instituto de Estudos Medievais foi Presidente. Tem várias obras editadas. Nuno Gonçalo Monteiro é Investigador Coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e Professor convidado do ISCTE (Lisboa). Doutorado em História Moderna pela F.C.S.H/Universidade Nova de Lisboa e agregado em História pelo ISCTE, realizou conferências e comunicações em vários países, tendo sido professor visitante em universidades espanholas, francesas e brasileiras. Tem várias publicações editadas.
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English & French texts
6. Barack Obama, the face of the new “American Dream” Who is this man who stunned the world with his steady and decisive ascension, who won the Nobel Peace Prize winner less than a year after being elected? How has he established himself as one of the most iconic leaders of the new century and undoubtedly the most popular American president since Kennedy? “Diplomática” outlines his profile... ■ 6. Barack Obama, le visage de la nouvelle «American Dream» Qui est cet homme qui a stupéfié le monde avec un chemin brillant, lauréat du prix Nobel de la Paix moins d’un an après avoir été élu? Comment est-il que s’est imposé comme l’un des leaders les plus emblématiques du nouveau siècle et sans doute le président le plus populaire en Amérique, après Kennedy? “Diplomática” décrit son profil... ■ 11. NATO: the Lisbon Summit - changes, challenges, strategic concept Where is it coming from and where is NATO heading? What is its relevance in the new geostrategic environment and what does the future hold for it as an international organization? Simultaneously, what to expect from the Summit USA / EU? The answer is provided by seven ambassadors credited in Portugal, namely the ones from France, UK, Germany, Norway, Greece, Bulgaria, Slovakia and Lithuania. ■ 11. OTAN: le sommet de Lisbonne - les changements, défis, concept stratégique D’où il vient et où il va à l’OTAN? Quelle est sa pertinence dans le nouvel environnement géostratégique et son avenir en tant qu’organisation internationale? En même temps, à quoi s’attendre de Sommet des États-Unis / Union européenne? La réponse est en sept ambassadeurs au Portugal: France, Royaume-Uni, l’Allemagne, la Norvège, la Grèce, la Bulgarie, la Slovaquie et la Lituanie. ■ 26. João Mira Gomes - Interview with the Ambassador of Portugal in NATO The purpose and future of the Atlantic Alliance are discussed with the newly appointed Ambassador of Portugal in NATO. “We would like to reduce the level of military presence in Afghanistan, but more than setting dates one has to present goals,” stated João Mira Gomes, stressing, albeit with caution, the importance of the Command in Oeiras... ■ 26. João Mira Gomes - Entretien avec l’Ambassadeur du Portugal à l’OTAN Le but de l’avenir de l’Alliance atlantique, a parlé avec l’ambassadeur nouvellement nommé du Portugal à l’Organisation. «Nous souhaitons réduire le niveau de présence militaire en Afghanistan, mais plus de dates avoir est d’avoir des buts», a déclaré João Mira Gomes, en soulignant, avec prudence, l’importance de la Commande à Oeiras... ■ 34. Allan Katz - Interview with U.S. Ambassador to Portugal “Portugal is a committed member of NATO and an ally that may provide us with major contributions to the development of our good relations with both Africa and Brazil.” The words are from the U.S. Ambassador, who received us, alongside with Ambassador Nancy Cohn, a woman that mainly dedicates her efforts to humanitarian and cultural causes... ■ 34. Allan Katz - Interview avec U. S. ambassadeur au Portugal «Le Portugal est un membre actif de l’OTAN et un allié qui peut contribuer au développement de nos bonnes relations avec l’Afrique et le Brésil.» Les mots sont de l’ambassadeur américain, qui nous reçut, avec l’Ambassadeur Nancy Cohn, Mme spécialement dédié à des causes humanitaires et culturelles... ■ 40. “Yes We Can” - The future of Luso-American relations It is with a metaphor - “a two-way motorway, that encourages and supports American businesses and Portuguese companies that want to grow their businesses across the Atlantic - that Graça Didier, Secretary General for the American Chamber of Commerce, defines the mission of this institution. ■ 40. “Yes We Can” - L’avenir des relations luso-américaine C’est avec une métaphore - «une autoroute à deux sens, encourager et soutenir les entreprises américaines et les entreprises portugaises qui souhaitent faire croître votre entreprise à travers l’Atlantique - que Graça Didier, secrétaire général de la Chambre de commerce américaine, caractérisent la mission cette institution. ■ 42. The Grand Dukes of Luxembourg visited Portugal On a visit to our country, at the invitation of President Cavaco Silva, and accompanied by his wife, Maria Teresa, the sovereign Grand Duke Henri of Luxembourg, thanked “all contributions of the Lusitanian community “ that helped his country to ensure a “promising future”, also recalling his Portuguese roots and the support of Portugal to his grandparents when the second world war broke out.” ■ 42. Les Grands-ducs du Luxembourg ont visité le Portugal Lors d’une visite dans notre pays à l’invitation du président Cavaco Silva, accompagné de son épouse, Maria Teresa, le GrandDuc Henri de Luxembourg souverain, a remercié «tous les contribution de la communauté lusitanienne» pour aider son pays à un bel avenir «prometteur», rappelant ses racines portugaises et l’appui du Portugal à leurs grands-parents lorsque la guerre a éclaté.» ■
novembro/dezembro 2010 - Diplomática • 95
English & French texts
44. In a visit to Portugal Hugo Chavez signs strategic and economic agreements At the invitation of the Portuguese Prime Minister José Sócrates, “one of our greatest friends in Europe”, the Venezuelan president recently visited Portugal and signed important agreements in the fields of naval and civil construction, prefabricated homes and also ordered a 1,5 million Magalhães computers… ■ 44. Hugo Chavez dans les accords d’entreprise au Portugal et économique stratégique À l’invitation du Premier ministre portugais José Sócrates - «l’un de nos meilleurs amis en Europe» - le président vénézuélien a récemment visité le Portugal et signé des accords importants dans les domaines de la construction navale et civile, les maisons préfabriquées et «ordonné» une 1,5 millions d’ordinateurs «Magalhães»... ■ 46. SHANGHAI EXPO 2010 One of the world’s largest countries, China has already awakened to a burst of power and economic development. Diplomática visited one of the most imposing Universal Exibitions of all time whilst Paula Bobone studied this Asian colossus and remembered the Gatopardo: “something must change if one is to keep everything the same”... ■ 46. Expo Shanghai 2010 Un des plus grands pays du monde, la Chine a «réveillé» avec un éclatement du pouvoir et de dévelopement économique, “Diplomática” a visité l’une des plus imposantes expositions universelles de tous les temps. Paula Bobone à observé le colosse asiatique se souvenant de Gatopardo: «quelque chose doit changer pour que tout reste la même»... ■ 48. Portugal and Angola strengthen cooperation ties The visit of Cavaco Silva and José Sócrates to Angola had “very positive” results in the areas of culture, economics and finances, while the Angolan President, José Eduardo dos Santos, stressed the “climate of great understanding, that made compromises easy to reach “ between the two countries on bilateral, regional and international issues... ■ 48. Portugal et l’Angola de renforcer les liens de coopération A conduit à des variations considérables «très positive» dans les mouvements culturels, économiques et financières de Cavaco Silva et José Sócrates à l’Angola, dont le Président, José Eduardo dos Santos a salué le «climat de plus grande compréhension, qui a été facile de parvenir à des accords» entre les deux pays sur les questions bilatérales, régionales et internationales... ■ 52. Maria da Piedade Polignac de Barros against materialistic theories “The world must change, steer itself more towards spiritualism, and people must be more supportive.” Maria da Piedade Polignac de Barros, Ambassador to the Order of Malta in Portugal, is a fighter, and to her entrepreneurial life she adds her humanitarian concerns, supporting the homeless, and also, at Christmas, the organization of the Diplomatic Bazaar. ■ 52. Maria da Piedade Polignac de Barros - contre “la logique matérialiste” «Le monde doit faire un tour et s’orienter plus vers le spiritisme, les gens doivent être plus favorable.» Maria da Piedade Polignac de Barros, Ambassadeur de l’Ordre de Malte, au Portugal, ne se contente pas, et à la vie d’entrepeneur elle accumule des préoccupations humanitaires, de soutien aux sans-abri, et à Noël, l’organisation du Bazar de Diplomates. ■ 54. Independence Day of USA At the celebration of the 234th anniversary of the Declaration of Independence of the United States, Ambassador Allan Katz quoted Obama: “we created the ideal that all are equal and have bled and fought for centuries to give sense to these words”... ■ 54. Fête de l’Indépendance des Etats-Unis Lors de la fête célébration du 234èmé de la Déclaration d’Indépendance des États-Unis, l’ambassadeur Allan Katz cité Obama: «nous avons crée dans l’idéal que tous sont égaux et nous avons renversé du sang et somes battus, pendant des siècles, pour donner un sens à ces mots»... ■ 56. National Day of the Kingdom of Saudi Arabia The Ambassadors of Saudi Arabia in Portugal shared with his guests the celebration of the National Day of his Kingdom, the largest nation in the Middle East, the heart of Islam, and “Land of the Two Holy Mosques.” ■ 56. Journée nationale du Royaume d’Arabie Saoudite Les ambassadeurs de l’Arabie saoudite au Portugal partage avec ses hôtes, la célébration de la Journée Nationale de son royaume, la plus grande nation au Moyen-Orient, au cœur de l’islam, «Terre des Deux Saintes Mosquées.» ■ 58. Rasool Mohajer - Interview with Iran’s Ambassador in Portugal After living for two years in Portugal, the Ambassador of Iran outlines a different scenario from what generally is presented by the Western media. Highlighting the peaceful purposes of Tehran’s government, well set against the ownership of nuclear weapons by any country, defines his country as a nation of great culture, tolerant and open to religious differences. ■ 58. Rasool Mohajer - Entretien avec l’ambassadeur d’Iran au Portugal Il ya deux ans au Portugal, l’ambassadeur d’Iran présente un scénario différent de ce qui est généralement vanté par les médias occidentaux. Faits saillants intentions de paix du gouvernement de Téhéran - contre «la possession d’armes nucléaires par un ➤
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pays» - et définit le pays comme une nation de culture tolérante et ouverte aux différences religieuses. ■
63. National Day of Switzerland The National Day of Switzerland, that evokes the Federal Pact Waldstätten, was celebrated in Lisbon with a reception that took place in the Embassy. Present were major figures from the cultural, business and diplomatic worlds, at the invitation of Ambassador Rudolf Schaller. ■ 63. Fête nationale suisse La fête nationale suisse - l’évocation des Waldstätten pacte fédéral - a été signé à Lisbonne par une réception à l’ambassade. Etaient présents des individus de la culture, des affaires et diplomatique, invités par l’Ambassadeur Rudolf Schaller. ■ 64. Libya Celebrates the Anniversary of its Revolution The 41th Anniversary of the Revolution of September the 1st, the National Day of Libya, was celebrated with a reception in Lisbon where, at the invitation of Ambassador Ali Emdored, members of the Diplomatic Corps, politicians, academics and wellknown businessmen were able to mingle. ■ 64. La Libye commémore anniversaire de la Révolution Le 41 anniversaire de la Révolution de Septembre 1, la Journée nationale de la Libye, a été marquée par une réception à Londres, où, à l’invitation de l’Ambassadeur Ali Emdored, les membres du Corps Diplomatique, des politiciens, des universitaires et hommes d’affaires de renom ont confraternizé. ■ 66. The “Scream of Ipiranga” remembered in Lisbon With the language of Camões as the main link, and the Community of Portuguese Speaking Countries its history and all its emotional ties as background, the Independence Day in Brazil was celebrated in Lisbon by Ambassador Celso Vieira de Souza and a host of guests. ■ 66. Cri de Ipiranga évoqué à Lisbonne Avec la langue de Camões par le fond et la Communauté des pays de langue portugaise et de l’histoire et émotionnel, Jour de l’Indépendance du Brésil a été célébré à Londres par l’ambassadeur Celso Vieira de Souza et une foule d’invités. ■ 68. Day of German Unity The unification of the two Germanies , 20 years ago, after a separation of nearly half a century, was evoked in Lisbon, at the residence of the Ambassador Helmut Elfenkamper which, before 300 guests, thanked Portugal for having supported German unity from the very start. ■ 68. Journée de l’unité allemande L’unification des deux Allemagnes il ya 20 ans - après une séparation de près de la moitié d’un siècle - a été soulevée à Lisbonne, à la résidence de l’Ambassadeur Helmut Elfenkamper qui, devant 300 invités, a remercié le Portugal pour avoir, dès le début, pris en charge l’unité allemande. ■ 70. Maria Helena Daget - Interview with an Entrepreneur Winner A mother, a fighter and a winner in a world of men, Maria Helena Daget tells “Diplomática” how her dream took shape and she managed to create the Techdrill, a strong multinational oil company that she has run for over 20 years. Aware that “economy is not just numbers, it is also human capital,” she’s now moving on to the creation of a Teacher Trainig School in Portugal... ■ 70. Maria Helena Daget - Entretien avec une Entrepreneur gagnante Mère, femme d’armes, de gagner dans un monde d’hommes, Maria Helena Daget ce qui concerne la «diplomatique» a donné forme au rêve, à créer Techdrill, forte de l’industrie du pétrole multi-nationales, qui se déroule depuis 20 ans. Consciente du fait que «l’économie n’est pas seulement des chiffres, il est également capital humain», elle pense à la creation dune école de formation des enseignants… au Portugal ■ 77. National Day of Indonesia To acknowledge the National Day of Indonesia, Ambassador Albert Matondang remembered before his guests, “the historical and cultural ties that were initiated by the Portuguese navigators,” focusing also on the “constructive and productive” bilateral strengthening of cooperation. ■ 77. Journée nationale de l’Indonésie A l’occasion de la Journée Nationale de l’Indonésie, l’Ambassadeur Albert Matondang rappelé avant leurs invités, «les liens historiques et culturels initiés par les navigateurs portugais,» mettant l’accent sur le renforcement de la coopération bilatérale «, constructive et productive.» ■ 78. Farewell Party for the Ambassador of Egypt Just before departing his position as the Ambassador of Egypt in Portugal, Amgad Maher Abdel Ghaffar, welcomed in the gardens of the Embassy a party of friends and many individualities in order to thank them all for the support he received during his stay in our country. ■
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English & French texts
78. Adieu l’ambassadeur partie de l’Egypte L’ambassadeur sortant du Portugal en Egypte, Amgad Maher Abdel Ghaffar, offert dans les jardins de l’ambassade, une partie d’amis et de personnes à remercier tout le soutien reçu pendant son séjour dans notre pays. ■ 80. National Day of South Korea The Ambassadors of South Korea celebrated with dozens of guests, the National Day of his country, a nation that in 2011, will complete 50 years of diplomatic relations with Portugal. Ambassador Dae-Hyun Kang remarked that “the history of the Korean people dates back to 2333 BC”. ■ 80. Journée nationale de la Corée du Sud Les ambassadeurs de la Corée du Sud ont célébré avec des dizaines d’invités, la Journée nationale de son pays que en 2011 achève 50 ans de relations diplomatiques avec le Portugal. Ambassadeur Dae-Hyun Kang a noté que «l’histoire du peuple coréen remonte à 2333 av». ■ 82. Hawaii - 50 Years of Democracy Half a century has passed since American democracy conquered Hawaii, the 50th and last territory to join the federation of the United States of America. “Diplomática” recalls the event, “surfing” with Obama through Pearl Harbor and remembering the influence of Madeira island… ■ 82. Hawaii. 50 ans de démocratie Un demi-siècle s’est écoulé depuis le déploiement de la démocratie américaine à Hawaï, 50e et dernier territoire à adhérer à la fédération des Etats-Unis d’Amérique. «Diplomatique», se rappelle de l’événement, «surfer» avec Obama ... pour Pearl Harbor et de l’influence de l’ille Madère... ■ 84. OAS. 50 years of Human Rights 50 years have passed since the summit of the Organization of American States that stated the importance of safeguarding human rights. “Diplomática” points out that these five decades remind one that the search “must continue in order to address the challenges that still remain to be faced”... ■ 84. De l’OEA. 50 ans de droits de l’homme Après 50 ans au sommet de l’Organisation des États américains a déclaré que l’importance de la sauvegarde des droits de l’homme. “Diplomática”, fait remarquer que ces cinq décennies sont la preuve que la recherche «doit continuer à relever les défis restants»... ■ 86. João Lima - Interview with BMW’s face for the Diplomatic World João Lima is Diplomatic and Direct Sales Consultant of Caetano Baviera / BMW. It is in the hands of this 47 years old man, linked to the prime BMW Portugal and BMW AG, that arrive all requests for acquisition of cars or fleets of this prestigious car brand from any holder or diplomatic body. From all corners of the World... ■ 86. João Lima - Interview avec le visage de BMW pour le Monde diplomatique João Lima, diplomatique et Direct Sales Consultant de Caetano Baviera / BMW. Il est dans les mains de cet homme, 47 ans, lié à la prime BMW Portugal et BMW AG, qui devrait arriver tous les processus d’acquisition des voitures ou des flottes de la signification de cette marque de voiture de prestige à tout titulaire ou corps diplomatique. De n’importe quel coin du monde... ■ 90. Portuguese Culture in Spain The Embassy of Portugal in Spain and the Instituto Camões have, from 2003 onwards, been involved with an initiative called “Mostra Portuguesa”, which aims to present in the neighboring country all the diversity of contemporary Portuguese culture in all its”unique, modern, universal and humanist capacities”... ■ 90. La culture portugaise en Espagne L’ambassade du Portugal en Espagne et l’Instituto Camões, ont, depuis 2003, une initiative appelée «Mostra Portuguesa», qui vise à présenter dans le pays voisin la diversité de la culture portugaise contemporaine »unique, moderne, universel et humaniste»... ■ 92. Books – launchings “Nobre Povo – Os Anos da República” is the journey of Jaime Nogueira Pinto through the causes and consequences of the revolution that deposed the Portuguese monarchy in 1910. “História de Portugal” is the book that justified unanimously the presentation of the D. Dinis Award 2009. Responsible for the coordination of this book are Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa and Nuno Gonçalo Monteiro. ■ 92. Livres - nouveautés «Nobre Povo – Os Anos da República” est un voyage de Jaime Nogueira Pinto pour les causes et les conséquences de la révolution qui a renversé la monarchie portugaise en 1910. “História de Portugal” est le livre qui a justifié à l’unanimité d’attribuer le prix D. Dinis. Coordination Rui Ramos, avec Bernardo Vasconcelos e Sousa et Nuno Gonçalo Monteiro. ■
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