´ Diplomatica
Nº9 Março 2011 4 (Cont.)
business & diplomacy
Diplomática 9 • Março/Abril 2011
Sarkozy Um percurso impressionante
Em destaque
Pascal Teixeira da Silva Embaixador de França
Adriano Moreira O último senador
Ana Paula Laborinho Presidente do Instituto Camões
Pavel Petrovskiy Embaixador da Rússia
Embaixadores revisitam
2010
With English & French Texts
1 • Diplomática - Junho/Julho 2008
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Assuntos Summary Résumé
Editorial
5
Sarkozy. Um percurso impressionante e imprevisível em política Sarkozy. An impressive and unpredictable path in the world of politics Sarkozy: un parcours politique étonnant
6
Pascal Teixeira da Silva. O luso-descendente Embaixador de França em Lisboa aborda as relações com Portugal Pascal Teixeira da Silva. The luso-descendant Ambassador of France in Lisbon addresses the relations with Portugal Pascal Teixeira da Silva. L’Ambassateur lusodescendant de France a Lisbonne aborde les relations avec Portugal.
12
Ângelo Ramalho. O PDG da Alstom Grid Portugal é o “cicerone” ao universo de uma das maiores empresas internacionais Ângelo Ramalho. The CEO of Alstom Grid Portugal invite for a visit to the universe of one of the largest internacional companies Ângelo Ramalho. Le PDG de Alstom Grid Portugal est le guide au univers d’une des majeurs entreprises internationales
20
Fernando Bessa. Director Geral da Air France KLM e Portugal fala-nos do crescimento da empresa Fernando Bessa. The CEO of Air France KLM e Portugal reports on the growth of the company Fernando Bessa. Directeur Général de Air France KLM et Portugal nous parle du croissance de l’entreprise
24
Michel Drouère. Delegado geral da Alliance Française guia-nos ao interior de uma das maiores associações culturais do Mundo Michel Drouère. The guide of the general delegate of Alliance Française to one of the greatest cultural associations of the World Michel Drouère. Délégué Général de l’Alliance Française nous guide à l’intérieur de l’une importantes associations culturel du monde
28
Bernard Chantrelle. O Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa, em artigo de opinião Bernard Chantrelle. The President of the Portuguese-French Chamber of Commerce and of the Portuguese-French Industry in an article of opinion Bernard Chantrelle. Le Président de la Chambre de Commerce et d’Industrie Luso-Française, dans un article d’opinion
33
Balanço de 2010. De viva voz, embaixadores europeus escrevem sobre o ano que passou e as perspectivas para 2011 Balance 2010. In their own words, european ambassadors write about last year and how they visualize 2011 Balance de 2010. Ambassadeurs européens écrit sur l’année passée et les perspectives pour 2011
35
Cimeira da Nato em Lisboa. Um interessante artigo do Embaixador da Rússia em Lisboa NATO summit in Lisbon. An interesting article written by the ambassador of Russia in Lisbon Cimeira da Nato em Lisboa. Un article intéressant de l’ambassadeur de Russie à Lisbonne
50
Adriano Moreira. O último senador traça o retrato de um mundo em mudança, com a Europa como pano de fundo Adriano Moreira. With Europe as background, Adriano Moreira, the last senator, portrays a world that is changing Adriano Moreira. Le dernier sénateur dresse un portrait d’un monde en mutation, avec l’Europe comme toile de fond
64
Macau. 2010 assinala recorde no volume de negócios entre a China e os países lusófonos Macau. 2010 marks a record in the turnover between China and Lusophone countries Macao. L’anée de 2010 marque un record de chiffre d’affaires entre la Chine et les pays lusophones
68
XX Cimeira Ibero-Americana. Na despedida, Lula da Silva estendeu a mão na ajuda ao “país irmão” XX Iberoamerican Summit. While saying his farewell, Lula da Silva made an offer to help the “país irmão” (brother country) 20eme Sommet Ibéro-Américain. En partant, Lula da Silva a tendu la main pour aider le pays “frère”
69
Dilma Rouseff. Retrato de uma mulher verdadeiramente notável Dilma Rouseff. Portrait of a truly remarkable woman Dilma Rouseff. Portrait d'une femme tout à fait remarquable
71
III Cimeira Luso-Argelina. Nova fase de cooperação marcou trabalhos do conclave III Luso-Algerian Summit. New forms of cooperation marked the work of the conclave 3eme Sommet Luso-Algérien. Nouvelle phase de coopération a marqué les travaux du conclave
75
Ana Paula Laborinho. Presidente do Instituto Camões guia-nos na revisitação de uma vida dedicada à língua de Camões Ana Paula Laborinho. The President of the Camões Institute guides one through a life dedicated to the language of Camões Ana Paula Laborinho. Président de l’Instituto Camões invite à revisiter une vie consacrée à la langue de Camões
76
Maria Barroso. Agraciada pelos Grão-duque do Luxemburgo que, na ocasião, homenageou Aristides de Sousa Mendes Maria Barroso. Honored by the Grand Duke of Luxembourg, that on the same occasion paid tribute to Aristides de Sousa Mendes Maria Barroso. Honoré par le Grand-Duc de Luxembourg et, à l’occasion, a rendu hommage Aristides de Sousa Mendes
81
Emiratos Árabes Unidos. Recepção em Lisboa junta personalidades da política, da economia e da cultura United Arab Emirates. A reception in Lisbon brought together personalities from politics, economy and culture Émirats Arabes Unis. Réception à Lisbonne réunissant des personnalités de la politique, l’économie et la culture
82
2º Aniversário Diplomática. Em ambiente solidário a festa da revista não deixou de dizer presente na ajuda às vítimas da catastrofe no Paquistão 2nd anniversary of Diplomática magazine. In a supportive environment the people in attendance to the party said yes to aiding Pakistan 2eme Anniversaire de Diplomática. Dans unne ambiance de solidarieté, la fête de la magazine a étè present dans l’aide au Pakistan
85
António Lobo Antunes. Homenagem em Paris António Lobo Antunes. Tribute in Paris António Lobo Antunes. Hommage à Paris
90
Norte de África. Qual gigante adormecido, a vontade dos povos parece imparável North of Africa. Like a sleeping giant, the will of the people seems unstoppable Afrique du Nort. Comme un gigant endormi, la volonté du peuple semble imparable
92
Marta Castro. O universo de luz e sombrana pintura da grande artista, mulher de Luis Amado Marta de Castro. The universe of light and shadow in the painting of the great artist, Married to Luis Amado Marta de Castro. Un Univers de lumière et ombre dans la peinture de la grande artiste,épouse de Luis Amado
93
Traduções Translations Traductions.
97
DIRECTOR: Maria da Luz de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Av. Engº Duarte Pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 Lisboa. Marketing & Publicidade: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79 IMPRESSÃO: Madeira & Madeira, S.A. DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395
4 • Diplomática -março/abril 2011
Editorial
José Manuel Teixeira: Presente!
Nunca trabalhei com o Zé Manel – o que é uma pena, pois esse convívio ter-me-ia valorizado muito -, mas sei o que ele significou [e significa!] para várias gerações de jornalistas, desde os tempos de fogo no “Expresso” até à “Diplomática”, onde terminou os seus dias de jornalista e uma vida agitada de cidadão atento e homem honrado. O José Manuel Teixeira foi um Mestre do jornalismo e um ser humano de excepção que sempre amou a vida e sempre se deu aos outros: fosse um diplomata ou um modesto funcionário público; uma figura pública ou uma prostituta; um empresário ou um operário – a todos ele tratava como sabia e da única forma que admitia: olhos nos olhos! E foi um homem que, ao mesmo tempo que amava a vida, sempre amou o jornalismo e a ele se entregou como um combate. Pela razão simples de amar a liberdade e a verdade. E odiava a mentira, a hipocrisia, as punhaladas nas costas e a cáfila de serventuários sem ideias que pulula à volta do próximo chefe, do próximo dono que lhe pague as contas… A ironia, o humor verrinoso, eram armas letais de quem sempre foi estruturalmente livre e nunca teve dono! Poderia ter dirigido os mais reputados meios de comunicação, poderia ter feito carreira como comentador, poderia ter sido rosto e voz de qualquer êxito mediático, mas nunca quis. Preferiu envolver-se em pequenos projectos com a sua companheira de anos e aventuras jornalísticas. Com Maria da Luz de Bragança colaborou em publicações que fizeram história. Lembram-se da “Manchete” – uma irreverente revista fora de tempo, mas que fez história no jornalismo em Portugal? E entregou-se de corpo e alma à “sua” “Revista dos Bombeiros” e aos voluntários de Lisboa, onde fez da sua presença militância diária a favor dos outros, entregando-se todo – como sempre fez em tudo o que pegou. O Zé Manel era um perfeccionista da escrita, cultor de um tipo de prosa que foi beber aos nomes maiores do jornalismo e da literatura. E, como o já se disse, foi um Mestre para todos nós – os profissionais da escrita – e um exemplo de verticalidade e humanidade. Há um ano que nos deixou, mas não morreu, continua PRESENTE nos caminhos diários que nos animam nesta circunstância de sermos jornalistas.
■
António Alte Pinho José Manuel Teixeira: Present! I never worked with Zé Manel – which is rather a shame given that being close to him would have made me a better professional – but I do know what he meant (and still means!) to several generations of journalists, from the early and rather difficult days in the Expresso newspaper to more recent times in Diplomática magazine, where he was to finish his life both as a journalist and also as the well-informed and honourable citizen that he was. José Manuel Teixeira was a Master of journalism and an exceptional human being, that always loved life and was always there for those who knew him, whether that person was a diplomat or a mere civil servant; a public figure or a prostitute; a business man or a simple worker – each and every one of these people was tratead in the very best way he knew how and always eye to eye! He was also a man that not only loved life but never stopped loving journalism and because of that looked upon his profession as a true fighter. For the simple reason that he loved freedom and truth. In the same way that he hated lies, hypocrisy, backstabbing and the bunch of mindless yes-men that can always be found closing in on the next boss or the next guy that will be paying for their bills... Irony and sharp humor were used as lethal weapons by someone that always remained structurally free and was never owned by anyone! He could have been responsible for the most important newspapers or magazines, could have had a career as commentator, could even have been the spokesperson for any high profile media bestseller but he chose not to go that way. Instead, he preferred to get involved in small projects with his partner of many journalistic adventures, his most trusted companion of many years. With Maria da Luz de Bragança, he collaborated in publications that made history. Do you remember Manchete?, an irreverent magazine that appeared way before its time but made history in portuguese journalism? And he also gave himself wholeheartedly to “his” Revista dos Bombeiros (Firefighters Magazine), and to the voluntary firefighters of Lisbon, where he became a daily presence, fighting for others and going out of his way to do his work the best he possibly could. Zé Manel was a perfectionist and cultivated a kind of writing that drank its inspiration in the greatest names of both journalism and literature. And, as it was said previously, he was a Master to us all, the ones that count themselves as professional writers, being at the same time an example of straightforwardness and humanity. It’s now been a year since he lefts us, but he did not die, he is still PRESENT in our daily ways, the very ones that make certain that we keep pushing ourselves in this business of being journalists.
março/abril 2011 - Diplomática • 5
Capa
Sarkozy
por Patrick Siegler-Lathrop*
Um percurso político impresionante
Como será julgado o Presidente Sarkozy: um grande pre-
Président Nicolas Sarkozy, comment sera-t-il jugé - un grand
sidente ou nem por isso? Sem dúvida que será ainda algo
Président? Ou beaucoup moins? Sans doute est-il beaucoup
cedo para emitir uma opinião plenamente segura – deixemo-
trop tôt pour émettre une opinion pleinement étayée - laissons
la aos historiadores futuros.
cela aux historiens de demain.
Mas a questão fica-nos na ideia dessa personagem que nos
Mais la question reste à l’esprit, ce personnage qui attire et
fascina e atrai e por vezes surpreende ou mesmo choca.
fascine, qui par moment choque, voir même surprendre, com-
Como construir, hoje, uma opinião inteligente sobre este
ment s’y prendre pour développer, aujourd’hui, une opinion
político?
intelligente sur le sujet?
Aquando da sua eleição, a antecipação era promissora.
A son élection, l’anticipation était prometteuse. Après tout,
Apesar de tudo, jamais um presidente francês esteve tão
jamais un président français n’avait été aussi bien préparé
bem preparado para essa função, como se ele tivesse tido
pour cette fonction, comme si il avait suivi une formation,
uma formação especial, um MBA de Harvard Business
un MBA de Harvard Business School conçue pour la seule
School concebido justamente para a única função de ser
fonction de Président de la France, lui donnant tout le savoir-
Presidente da França, dando-lhe todo o savoir-faire, experi-
faire, l’expérience et les outils pour une démarche totalement
ência e ferramentas para um desempenho totalmente profis-
professionnelle - impressionnante, son habilité à traiter des
sional. Impressionante é a sua capacidade de tratar os dos-
dossiers, ses connaissances des rouages de l’administration
siês, o seu conhecimento das minudências da administração
française, pour pouvoir y manipuler tous les leviers, ajouté à
francesa que lhe permitem manipular e controlar todas as
son incroyable énergie, sa volonté de faire, sa capacité de
suas alavancas, ao que se junta a sua incrível energia, a sua
travail, chapeau, le mec, nous étions bluffés.
vontade de fazer, a sua capacidade de trabalho.
Effectivement, son parcours politique est impressionnant. Fils
Efectivamente, o seu percurso político é impressionante.
d’un père hongrois et d’une mère française de famille grecque
Filho de um pai húngaro e de uma mãe francesa de família
d’origine juive, le jeune Nicolas adhère à l’UDR déjà à 18 ans,
grega de origem judia, o jovem Nicolas adere à UDR logo
est élu conseiller municipal à 22 ans puis devient à 28 ans l’un
aos dezoito anos e é eleito conselheiro municipal aos vinte
des plus jeunes maires de France à Neuilly-sur-Seine. Député
e dois anos e aos vinte e oito, torna-se um dos mais jovens
à 33 ans, puis ministre du Budget et porte-parole du gouver-
presidentes da câmara de França, em Neuilly-sur-Seine.
nement en 1993 dans le gouvernement Edouard Balladur, il
Deputado aos trinta e três e Ministro das Finanças e porta-
acquiert une notoriété nationale, démontrant déjà son impli-
voz do Governo em 1993 sob Edouard Balladur, adquire
cation personnelle et son sens de la communication par son
uma notoriedade nacional, demonstrando já o seu envol-
intervention personnelle dans la négociation réussie avec
vimento pessoal e o seu sentido de comunicação pela sua
“HB”, le terroriste qui menaçait de faire sauter une classe avec
intervenção pessoal na negociação conseguida com o HB, o
21 enfants dans une maternelle à Neuilly.
terrorista que ameaçava fazer explodir uma sala com vinte e
Ensuite, deux passage dans le désert - le premier de 1995
uma crianças numa creche em Neuilly.
à 1997, sa punition pour avoir choisi de supporter Edouard
Dois momentos menos seguros atravessaram a sua carrei-
Balladur plutôt que Jacques Chirac, et le second, de 1999 à
ra: entre 1995 e 1997, por ter apoiado mais Jacques Chirac
2002 suite à l’échec cuisant du RPR qu’il avait menées aux
do que Edouard Balladour; e o segundo, de 1999 a 2002,
élections européennes, ce qui l’amène à se retirer de la vie
em consequência da escolha do RPR para as eleições euro-
politique nationale.
peia e à sua derrota flagrante.
Mais à partir de 2002, quand il soutient la réélection de Jac-
Mas a partir de 2002, quando dá apoio à re-eleição de
ques Chirac, il prend sa place au centre de la scène politique
Jacques Chirac, toma o seu lugar no centro da cena política
française, qu’il ne quittera plus. Il est réélu député, devient
francesa, que jamais deixará. É re-eleito deputado, torna-se
ministre de l’Intérieur, puis Ministre d’Etat, de l’économie, des
ministro do Interior, depois ministro da Presidência, da Eco-
Finances et de l’Industrie, pour de nouveau occuper le poste
nomia, das Finanças e da Indústria, para de novo ocupar o
de Ministre de l’Intérieur jusqu’en mars, 2007, où il démission-
posto de ministro do Interior até Junho de 2007, quando se
ne pour se lancer dans la campagne présidentielle.
afasta para se lançar na campanha presidencial.
Même qu’il faisait pleinement partie du gouvernement précé-
Mesmo tendo feito parte do Governo precedente, conseguiu
dent, il réussit brillamment à convaincre l’électorat qu’il sera
convencer brilhantemente o eleitorado que seria o apóstolo ➤
l’apôtre du changement, “la rupture tranquille”, “l’ordre en ➤
6 • Diplomática - março/abril 2011
marรงo/abril 2011 - Diplomรกtica โ ข 7
Sarkozy
➤ da
mudança, “a mudança tranquila”, ou seja, uma moder-
➤ mouvement”,
soit, la modernisation sans que ça fasse trop
nização que não causasse medo ou dano aos franceses.
peur, ou trop mal au Français. Face à Ségolène Royal, il est
Face a Ségolène Royal, ganha com mais de 53% de votos:
élu avec plus de 53% des voix, un mandat clair et net.
um mandato claro e limpo.
Qu’à-t-il hérité? La France en mai 2007, est-elle prête à être
O que herdou? A França em Maio de 2007 estava pronta
“modernisée”? Au vue de l’histoire des années précédentes,
a ser “modernizada”? Tendo em conta a história dos anos
rien est moins sûr: depuis quand a-t-elle un gouvernement
precedentes, nada seria menos certo. Mas quando teve a
capable de résister aux demandes d’un peuple qui a un talent
França um governo capaz de resistir às exigências de um
pour la revendication, de groupements qui savent si bien
povo que tem um talento particular para a reivindicação,
exiger des avantages qui, dès qu’ils sont octroyés, deviennent
grupos que sabem bem exigir os seus direitos que, uma vez
des “acquis”, inviolables, où tout effort de les limiter suscitera
adquiridos, tornam-se invioláveis e sem retrocesso, onde
une résistance farouche de ceux qui risquent de les perdre,
todo o esforço de os limitar provocará uma resistência feroz
qui peuvent compter sur le support de la grande majorité des
daqueles que se arriscam a perdê-los, que podem contar
Français, qui prennent toujours le parti de tout résistant face à
com o apoio da maioria dos franceses, que tomam sempre
la volonté de réforme de quelque gouvernement que ce soit?
o partido de toda a resistência face à vontade de reforma de
Ce même peuple qui a rejeté le traité de Lisbonne par le réfé-
qualquer governo?
rendum de 2005, provoquant une profonde crise au sein de la
Esse mesmo povo que rejeitou o Tratado de Lisboa por
Communauté Européenne. Soit,
referendo em 2005, provocando uma profunda crise no seio
l’environnement économique est en amélioration en mai
da Comunidade Europeia. Contudo, o ambiente económico
2007, mais le taux de chômage reste préoccupant à 8,4%.
está em melhoria em Maio de 2007 apesar da alta taxa de
Face à cet héritage, Sarkozy va se lancer à fonds dans les
desemprego que se mantém nuns preocupantes 8,4%.
réformes, avec une implication personnelle, une énergie dé-
Perante essa herança, Sarkozy lança-se a fundo nas refor-
bordante, un courage peu courant que l’on ne peut qu’admirer,
mas, com um empenho pessoal, uma energia avassaladora,
il va au charbon celui-là, se lançant dans tous les combats et
uma coragem pouco habitual que não podemos deixar de
de plus, il est prêt à être tenu responsable des résultats, ah,
admirar. Lança-se a todos os combates e está pronto a ser
on aime ça, finalement, un homme politique assez courageux
tido responsável por todos os resultados. Pela primeira vez,
pour admettre qu’il doit être jugé par ses résultats.
um político suficientemente corajoso para admitir que pode
Il est moderne, il maîtrise la communication avec l’opinion
ser julgado pelos seus resultados.
publique, il est dans tous les médias, sait les utiliser avec talent
Ele é moderno e domina a comunicação com a opinião pú-
pour que ce soit lui qui fasse l’actualité, il mène les réformes
blica. Está em todos os media e sabe utilizá-los com talento
habilement, comme l’on attendait.
e leva a cabo as reformas tal como esperado.
Globalement, il tient plutôt bien ses promesses, même s’il y a
Globalmente, cumpre as suas promessas, mesmo com
quelques bavures (justice, médecins, écoles primaires), il réus-
alguns deslizes (como o caso da justiça, medicina e escolas
sit à faire passer des réformes là où d’autres gouvernements
primárias), conseguiu fazer passar reformas que tinham
s’étaient cassés les dents: la réforme des régimes spéciaux de
feito dano a anteriores governos: a reforma dos regimes es-
retraite, la réforme des universités pour les rendre plus auto-
peciais de aposentação, a reforma das universidades para
nomes, sans oublier le grand emprunt, le droit de contestation
as tornar mais autónomas, sem esquecer a grande conquis-
des lois donné à chaque citoyen, les allègements fiscaux, il
ta do direito de contestação da lei dado a cada cidadão, o ter
règle plutôt bien les problèmes de l’Europe, l’acceptation du
aligeirado a carga fiscal. Regula bem os problemas da Eu-
Traité de Lisbonne, la gestion de la crise de l’Euro, et il réussit
ropa, faz pela aceitação do Tratado de Lisboa, pela gestão
à faire dépasser l’anti-américanisme pavlovien des régimes
da crise do Euro e consegue fazer ultrapassar o anti-ame-
précédents. Et puis, bien sûr, LA bataille, la réforme des re-
ricanismo pavovliano dos regimes precedentes. E depois,
traites, où il réussit à tenir tête aux grandes manifestations de
certamente, A batalha da reforma das aposentações, onde
2010, pour faire passer l’âge légal de retraite à 62 ans.
ganha o braço de ferro com as grandes manifestações de
Mais en parallèle, sa cote de popularité chute dramatique-
2010, passando a idade legal da reforma para os 62 anos.
ment, pour qu’aujourd’hui presque 7 Français sur 10 aient une
Mas em paralelo, a sua quota de popularidade cai dramati-
pas très bonne opinion de lui. Comment est-ce possible? Le
camente. Hoje quase sete em cada dez franceses não têm
système a-t-il arrêté de fonctionner?
grande sobre Sarkozy. Como é possível? O sistema terá
Les causes sont multiples.
parado de funcionar?
D’abord, il y a le problème du style. Soit, il est moderne, à la
As causas são múltiplas.
mode, époux de la superbe Carla, à l’aise à côté du couple
Para começar há um problema de estilo. Ele é moderno, em ➤
présidentiel américain, mais il en fait trop, au risque d’être ➤
8 • Diplomática - março/abril 2011
Fotos: Ricardo Oliveira marรงo/abril 2011 - Diplomรกtica โ ข 9
Sarkozy
➤ voga,
marido da bela Carla, à vontade ao lado do casal
➤ perçu
comme légèrement moins poli, “in the face”, bling
presidencial americano, mas ele esforça-se demais, ao pon-
bling, cette modernité là, à l’américaine, agace certains, elle ne
to de ser apercebido como menos polido, “in the face”, bling
correspond pas à l’image que les Français aiment avoir d’un
bling. Essa modernidade, em estilo americano, desagrada,
Président ideal.
não correspondendo à imagem que os franceses concebem
Certains lui en veulent de contribuer à la polarisation du pays
da ideia de presidente.
- certes, la France est un pays en proie à de forts clivages
Alguns quiseram-lhe atribuir a polarização do país. É verda-
idéologiques, mais dans ses choix politiques, il a accentué ce
de que a França é um país com fortes clivagens ideológicas,
phénomène, renforçant les écarts plutôt que l’inverse.
mas nas escolhas políticas acentua esse fenómeno, re-
D’autres, beaucoup d’autres, lui en veulent surtout de s’être
enforçando-o mais do que o contrário.
montré inflexible face à la contestation massive de 2010 -
Outros, querem-no como aquele que se mostrou inflexí-
effectivement, il a tenu ferme, à la Thatcher - mais la France,
vel perante a contestação massiva de 2010 – de facto ele
ce n’est pas l’Angleterre, et certains - tout en reconnaissant
manteve-se firme em estilo Tachteriano – mas a França não
la nécessité de la réforme - considèrent que ses méthodes
é a Inglaterra, e certos, mesmo reconhecendo a necessida-
peuvent, peut-être, bafoué les principes sacrés de la démocra-
de de reforma, consideram que esses métodos poderiam
tie française.
abafar os princípios sagrados da democracia francesa.
Ne faut-il pas, en démocratie, des hommes et femmes d’état
Não é necessário, em democracia, homens e mulheres de
qui savent dire non, sont prêts à ignorer les derniers sonda-
Estado que saibam dizer não, que estão prontos a ignorar
ges, savent imposer la pilule amère d’un choix impopulaire?
as sondagens anteriores, que saibam impor a pílula amarga
Jusqu’à où faut-il écouter la volonté du peuple, même celui qui
de uma escolha impopular? Até onde é necessário escutar
va dans la rue pour l’exprimer? Nos démocraties occidentales
a vontade do povo, mesmo aquele que vai à rua se manifes-
ne sont pas les seuls, en ce janvier 2011, à débattre de cette
tar? Nas democracias ocidentais não são os únicos, neste
question fondamentale.
Janeiro de 2011, a debater essa questão fundamental.
Quelle est la part des problèmes de la France, et de son
Qual é a parte dos problemas da França, de do seu presi-
Président, qui a peu à voir avec sa personne, mais qui est
dente, que pouco tenha a ver com a sua pessoa, mas que é
due à la crise financière mondiale? Ce n’est pas qu’en France
antes devida à crise financeira mundial? Não é apenas em
que le chiffre du chômage est devenu le baromètre primordial
França que o número do desemprego se tornou no baró-
du jugement qu’un peuple porte à l’égard de ses dirigeants,
metro primordial para o julgamento que o povo faz aos seus
et malheureusement pour ce Président, la crise mondiale a
dirigentes, e desgraçadamente, para o seu presidente a
arrêté brutalement la baisse du chômage en France, et le
crise mundial parou brutalmente a baixa de desemprego em
fait repartir vers des hauteurs qui redeviennent politiquement
França e fê-la atingir alturas que se tornaram politicamente
catastrophique.
catastróficas.
Est-ce la responsabilité de Nicolas Sarkozy? Surement pas.
É da responsabilidade de Nicolas Sarkozy? Seguramente
Peut-être que tout homme d’état aurait échoué face à la tem-
que não. Talvez todo o homem de Estado teria soçobrado
pête presque sans précédent de la crise financière mondiale.
face à crise financeira mundial. Mas não é da sua responsa-
Mais n’est-ce pas de sa responsabilité de nous permettre de
bilidade nos permitir uma saída?
nous en sortir?
Que esperar de um homem de Estado? Esperar que nos
Qu’attendons-nous d’un homme d’état? De nous inspirer,
inspire, que nos leve, que nos faça ultrapassar os nossos
de nous mener, de nous permettre de dépasser nos limites,
limites, fraquezas e avançar para um objectivo mais nobre
nos faiblesses, d’avancer vers un objectif plus noble que
que o vulgar.
l’ordinaire.
No momento da sua eleição, alguns, mesmo muitos, espe-
Au moment de son élection, certains, même beaucoup, ont
raram que esse filho de imigrantes húngaros pudesse ser
espéré que ce fils d’immigrés hongrois pouvait être catalyseur
o catalisador de um re-nascimento da França, prometendo
d’un renouveau de la France, permettant de projeter ce grand
projectar esse grande país no séc. XXI com um sentido
pays dans le XXIème siècle avec un élan positif.
positivo.
Nous savons bien qu’il est trop tôt pour porter jugement, mais
Sabemos que é demasiado cedo para julgar, mas hoje, face
à ce jour, face à la situation difficile qu’il a héritée, il est difficile
à situação difícil que herdou, é difícil evitar a dúvida de se
d’éviter un certain doute qu’il ne soit à la hauteur des ambitions
estará à altura das ambições que ele mesmo. n
qu’il a lui-même fixées. n
* Patrick Siegler-Lathrop obteve graduações em Princeton, no Institut d’Etudes Politiques de Paris e em Harvard e deu início à sua carreira como banqueiro na área dos investimentos em Wall Street, Nova Iorque. O seu trabalho teve como foco central projectos internacionais ao nível dos países em desenvolvimento, tendo depois vindo a ocupar, em Paris, a posição de co-director na área dos investimentos num banco árabe-internacional. De seguida dedicou-se à indústria em França e mais tarde aceitou os cargos de Professor na Universidade de Paris, Dauphine, e no INSEAD, onde leccionou emprendedorismo de negócios. Juntamente com Françoise Giroud, Jacques Attali, Bernard-Henri Levy e outros nomes bem conhecidos, foi um dos membros fundadores da ONG internacional Acção Contra a Fome, organização essa a que deu o seu apoio durante mais de trinta anos. Actualmente reside em Portugal e trabalha como consultor internacional.
10 • Diplomática - março/abril 2011
Diplomacia na 1ª Pessoa
Pascal Teixeira da Silva - Embaixador de França em Portugal por Maria da Luz de Bragança, fotos Orlando Sousa
«A globalização tem sido um fenómeno que transformou o mundo» Casado e pai de dois filhos, o Embaixador diz-se encantado com Portugal. Luso-descendente, é para si um privilégio e uma satisfação pessoal estar no país de seu pai O Embaixador Pascal Teixeira da Silva é um homem apaixonado pela vida, pelas culturas do mundo, pela arte. Melómano, pratica um especial gosto pelo cravo. Tem uma especial sintonia com o espírito do tempo, tendo estado - por sorte ou infortúnio - perto dos grandes marcos da História recente: em Berlim, por altura da queda do muro; em Moscovo, aquando do desmembramento da URSS; nos EUA, no momento da queda das Twin Towers - a que assistiu com os seus próprios olhos.
Quais as suas primeiras impres-
panhei a integração de Portugal na
é a combinação de uma vontade de
sões sobre Portugal?
União Europeia. É um país paradoxal
abertura ao mundo e uma capacida-
Portugal é um país que conheço des-
que, por um lado, tem uma identida-
de de deixar o seu país para desco-
de 1966. Vim cá várias vezes e tive a
de e sentimento de si muito fortes,
brir o mundo e emigrar para terras
oportunidade de constatar as várias
mais fortes do que em muitos outros
estrangeiras. Acho muito interessante
mudanças que o país sofreu. Acom-
países; e, por outro, esse sentimento
essa combinação que
12 • Diplomática - março/abril 2011
➤
representa uma vantagem no
vida para as mulheres é de 85 anos e
agora uma preocupação demo-
mundo globalizado, porque estamos
para os homens de 80. Isto quer dizer
gráfica, sobretudo em relação às
a viver um tempo de mudanças e
que este sistema de protecção social
comunidades islâmicas. Estas já
transformações que põem en causa
já não é sustentável, sendo por isso
representam uma percentagem
todas as nossas referências. É bom
necessário fazer reformas no finan-
de população muito elevada, pois
➤
manter estas características fortes.
ciamento e alterar a idade da refor-
têm um índice de reprodução de 5
O Ocidente – a Europa e a América
ma para mais tarde. Portugal, com
a 6 filhos por casal, enquanto na
do Norte – tem sido a maior potência
grande coragem, já o fez e a França
Europa esse índice é inferior a um.
nos últimos cinco séculos. Deu ao
terá que fazê-lo também, assim como
Isto não irá desequilibrar o estado
mundo actual a ciência e a tecno-
todos os países europeus. Isto não é
social?
logia modernas, altos quadros dos
fácil porque se tem que trabalhar até
Não concordo com esses dados. A
sectores intelectual, político e econó-
mais tarde, mas é indispensável para
taxa de fecundidade em França é
mico. Mas muitos países do resto do
manter o sistema de protecção social.
de 2 filhos por mulher. A taxa é um
Mundo têm vindo a aprender muito
Todos os países europeus terão que
pouco mais alta nas mulheres es-
e agora estão aptos para ultrapassar
atravessar este período difícil de
trangeiras. Mas, a partir da segunda
e fazer melhor do que os europeus.
adaptação, juntando os seus esfor-
geração, não há grandes diferenças
A China, que tem a civilização mais
ços, pois muitos países europeus não
de comportamento no que respeita à
antiga da História, volta agora a
têm dimensão para competir com as
fecundidade. Esta transição demográ-
ocupar um lugar de poder na econo-
grandes potências do século XXI. A
fica ocorre também em quase todos
mia mundial que corresponde ao que
integração europeia é indispensável
os países muçulmanos. Em muitos
ela era no passado. Isto quer dizer
para contrabalançar o peso demográ-
países árabes ou muçulmanos a taxa
que o Ocidente está em concorrência
fico e económico da China, da Índia,
de fecundidade diminuiu bastante
com outras potências e tem que se
dos Estados-Unidos. O conjunto dos
durante os últimos 30 anos. Não há,
adaptar.
27 países da U.E. tem cerca de 500
em França, uma diferença tão grande
O problema que temos é que a
mil milhões de habitantes, sendo o
entre pessoas de origem estrangeira
prosperidade e a riqueza que conse-
primeiro exportador mundial. Assim,
e as de ascendência francesa.
guimos acumular, em especial a partir
se a U.E. mostrar vontade, pode
Eu diria mais particularmente os
da Segunda Grande Guerra Mundial,
tornar-se mais forte nas negociações
muçulmanos, porque são o alvo
permitiram a criação do Estado social
internacionais, por exemplo, nas
preferencial da filha do Le Pen, da
– que não existe em mais nenhuma
comerciais.
extrema-direita, que acolhe sim-
região do mundo a este nível – mas
O que está a acontecer agora é uma
patias de cerca de 40 por cento do
que tem um grande custo. O financia-
mudança de percepção do mundo
eleitorado de Sarkozy. É um núme-
mento e a manutenção deste Estado
em que vivemos no que diz respeito
ro preocupante. Não lhe parece?
social pode ultrapassar os nossos
às relações económicas. A U.E tem
É preciso olhar para trás para com-
recursos, por isso temos que adaptar
sido a zona económica mais aberta
preender a situação. Historicamente,
o nosso pensamento e os nossos
e os outros países aproveitaram-se
a França tem sido um país de imi-
procedimentos para manter este
disso mas não deram reciprocidade.
gração enquanto os outros países da
nível de protecção social. O enve-
Por exemplo, é muito difícil às nossas
U.E têm sido países de emigração.
lhecimento da sociedade é um factor
empresas europeias entrarem e ter
Os franceses estavam ricos, con-
que contribuiu muito para aumentar a
acesso aos concursos públicos de
fortáveis e felizes e, por isso, pouco
carga do Estado social.
outros países enquanto esses países
emigraram. Mas acolheram muitas
Em França, quando foi institucio-
têm acesso aos nossos; isto tem que
vagas de imigrantes. Eu sou um dos
nalizado o sistema de segurança
mudar.
milhões de exemplos desta tradição.
social, logo a após a Segunda Guerra
Falou-nos, há pouco, de alguns as-
A minha família é de Portugal, o meu
Mundial, a relação entre activos e
pectos da necessidade de coesão
pai nasceu em Portugal, fazendo par-
não-activos era de 4 para 1, a idade
europeia, mas também da questão
te das centenas de milhares de portu-
de reforma era aos 65 e a esperança
do aspecto demográfico do esta-
gueses – principalmente do Norte do
média de vida a partir da idade de re-
do social. No caso da França, da
país – que foram para França.
forma era de dois anos. Hoje em dia,
Alemanha, Inglaterra que são al-
Não foi muito fácil lidar com essas
a proporção de activos e não-activos
guns dos países mais apetecíveis
vagas de emigração. Houve reacções
é de dois para um e a esperança de
em termos de emigração surge
de rejeição e, sempre que há
➤
março/abril 2011 - Diplomática • 13
Pascal Teixeira da Silva
dificuldades económicas, os pri-
outras culturas como de África ou da
fundamentais que todos partilham.
meiros alvos são os imigrantes. Isso
Ásia. Não digo que é impossível – fe-
A minha dúvida é – e levantando
aconteceu algumas vezes durante
lizmente isso acaba por acontecer –,
um pouco o véu – se em termos
➤
o século XX, com os Polacos ou os
mas é mais difícil, sobretudo quando
objectivos e meramente realistas,
Italianos, por exemplo, durante a crise
combinado com outros factores que
a grande concentração de emi-
de 1929.
já mencionei. Há um maior esforço de
grantes africanos subsaarianos e
Os problemas que temos agora são o
integração que demora mais tempo
magrebinos não cria um caldo para
resultado de um conjunto de três fac-
porque é mais complicado integrar
a extrema-direita, que é particu-
tores: primeiro, a questão da propor-
pessoas cuja cultura, valores e refe-
larmente xenófoba, que está a
ção e do patamar. Não é uma ques-
rências são muito diferentes.
ameaçar a democracia em França.
tão de racismo nem de xenofobia, é
O conjunto destes três factores faz
Se essa extrema-direita consegue
uma questão da capacidade de cada
com que seja mais difícil e que tenha-
eleger um presidente; se a filha do
sociedade integrar elementos alheios.
mos problemas.para resolver. Mas
Lepen, que tem um discurso muito
É mais fácil integrar 5 por cento do
“uma árvore não faz uma floresta”, ou
mellow, mas duro, e está a seduzir
que 30 por cento. Os problemas que
seja, temos problemas mas a grande
os franceses, se ela consegue ser
temos devem-se à concentração de
maioria dessas pessoas de origem
eleita no sistema francês que tem
população de origem estrangeira,
muçulmana ou africana quer integrar-
uma forte componente presiden-
sobretudo nos subúrbios. O nível
se e consegue encontrar o seu lugar
cial, não corre o risco de alterar o
é demasiado alto e faz com que a
na sociedade. É muito importante
regime?
integração seja mais difícil. Quando
apostar nas mulheres porque a edu-
A existência de partidos políticos de
o meu pai e os meus avós chegaram
cação na mulher é o vector essencial
extrema-direita com discurso nacio-
a França, foram para uma aldeia no
da integração. Estas mulheres prefe-
nalista e de pouca abertura não é
centro oeste. Esta família numerosa
rem viver numa sociedade moderna
uma especificidade francesa. É um
era a única família estrangeira, o que
e secular, como a francesa, do que
fenómeno que existe noutros países
fez com que a integração desta pe-
viver em países com tradições pa-
europeus, salvo em Portugal. Mas
quena família portuguesa tenha sido
triarcais e machistas. Esta evolução
é fácil perceber a causa: estamos a
bastante fácil. Mas hoje, há escolas
graças às mulheres também ocorre
atravessar um período muito difícil de
nos subúrbios de Paris em que 80 por
nos paises muçulmanos. É a minoria
adaptação à mudança do Mundo. A
cento dos alunos são de origens es-
que atrai a atenção e que aparece
globalização é sinónimo de movimen-
trangeiras, provenientes de diferentes
nas primeiras páginas dos jornais e
tos permanentes, incluindo humanos.
nacionalidades. É muito difícil manter
que quer afirmar a sua identidade
Há uma ansiedade que cresce em
a capacidade do sistema escolar
através da exibição de sinais reli-
relação ao que é a nossa identidade.
para continuar a desempenhar o seu
giosos como o véu, é uma pequena
O que é um paradoxo, porque foi
papel de formação e integração em
minoria e assim permanecerá.
o Ocidente que desencadeou este
tais condições; segundo, as condi-
A questão do véu chamou a atenção
processo de globalização, com uma
ções económicas. Desde há trinta
dos países estrangeiros e dos media
aceleração de mudanças, e que
anos, a situação, no que diz respeito
internacionais porque é ilustrativo da
coloca em questão todas as certezas
ao emprego, tem-se tornado menos
diferença do modelo social e cultural
e posições estabelecidas. Para os
favorável. A taxa de desemprego é
francês, que é o modelo de integra-
nossos concidadãos é uma grande
sempre maior para os imigrantes do
ção e que até hoje tem funcionado,
angústia. A vantagem do discurso
que para o resto da população. Isto
apesar das dificuldades que já referi.
nacionalista, identitário e xenófobo,
é um factor negativo que complica a
Há um grande consenso em França
é exactamente a de dar respostas
integração porque é fácil para os ex-
sobre esta questão e as sondagens
simples e explicações básicas à
tremistas dizerem que os imigrantes
têm mostrado que os jovens têm uma
ansiedade criada pela globalização. E
“roubam” o trabalho, já de si escasso,
visão muito secular, integracionista e
isso acontece em quase todos os pa-
aos nacionais; o terceiro factor é a
acolhedora. Todos são capazes de
íses europeus. Mas em nenhum país
questão das diferenças culturais. É
se integrar, trazendo as suas especi-
europeu esta tendência ideológica de
mais fácil os imigrantes integrarem-se
ficidades e riquezas culturais, para a
pequenas formações políticas conse-
na sociedade francesa quando vêm
sociedade francesa, mas esta deve
guiu ganhar o poder. Às vezes podem
de países de língua romana, de tradi-
manter-se uma sociedade secular
fazer parte de uma coligação, outras
ção católica, do que quando vêm de
assente num conjunto de valores
vezes podem perturbar o jogo político
14 • Diplomática - março/abril 2011
clássico, mas penso que nenhum
abriram o regime, ao contrário dos
E, neste quadro, qual o papel da
desses partidos irá ganhar as elei-
chineses?
globalização?
ções e liderar um país. O que acon-
Isso é uma das numerosas mudan-
Com a globalização dá-se uma unifi-
teceu em França em 2002, quando
ças que estamos a viver. Até ao início
cação e a base de referência passa
o senhor Le Pen passou à segunda
dos anos 90, o Mundo era simples.
a ser os Estados Unidos: fala-se o
volta da eleição presidencial, não foi
Tivémos os países de economia de
«globish», que é o inglês interna-
porque tenha aumentado o número
mercado: as democracias do ociden-
cional muito básico; a cultura fica
de eleitores – o Front National já tinha
te e mais os países assimilados. Os
também americanizada/globalizada,
atingido este patamar – mas porque
países comunistas, como a União
mas apenas com uma aparência de
os votos da Esquerda ficaram espa-
Soviética que era um concorrente
globalização pelo consumo massifica-
lhados por muitos candidatos.
estratégico, uma ameaça militar, mas
do. Mas, ao mesmo tempo, existe o
Esta política vai continuar a atrair
que nunca representou uma ameaça
desejo de se diferenciar e de preser-
votos e a obter a simpatia dos elei-
económica. No que diz respeito à
var e encontrar uma identidade pró-
tores que estão confrontados com
China, as suas políticas económicas
pria. Não é por acaso que durante os
duas questões: a da identidade e a
eram deficientes com a política de
últimos trinta anos, em que a globali-
do futuro das nossas sociedades face
Mao Zedong e estava num estado
zação se tem alastrado, muitos povos
à globalização. A globalização coloca
de pobreza. E havia o terceiro mun-
quiseram afirmar a sua identidade
em causa as certezas, o conforto e
do, quer dizer os países pobres em
e diferença no plano político. Isso
a riqueza relativa que temos tido. Os
desenvolvimento. Era uma espécie
conduziu a uma fragmentação de
Europeus já não têm a certeza se o
de tripartição…
Estados compósitos, como os casos
futuro dos seus filhos será melhor do
Neste momento, estas categorias já
da Jugoslávia e da Checoslováquia.
que o seu.
não existem. Temos uma economia
Em muitos países há uma afirmação
É difícil perceber a sua complexidade
de mercado em quase todo o mundo,
infra-nacional, infra-estadual. O que
e ainda mais difícil qual o seu rumo.
com poucos países a resistirem-lhe,
acontece em países conturbados
Há quem consiga dar explicações
como são os casos da Coreia do
pela globalização – que não é só um
e respostas simples. Daí que exista
Norte ou Cuba. Mas também países
fenómeno económico mas também
uma responsabilidade muito grande
em que a economia de mercado não
cultural – é uma reacção paradoxa.
dos políticos, em especial, em tempos
funciona, porque há distorções por
Repare como nos países árabes há
de grande transformação e de grande
causa da corrupção e da intervenção
uma juventude que usa jeans e gosta
incerteza. Porque ninguém pode an-
de uma elite predatória – como em
das técnicas modernas de comunica-
tecipar e anunciar com certeza o que
vários paises de África – que controla
ção, mas que ao mesmo tempo tem
vai acontecer. Estamos há 30 anos
o país e perturba o bom funciona-
uma re-islamização do comportamen-
a viver surpresas e acontecimentos
mento de uma economia. Mas há
to. A prática do Ramadão e do véu
de grande alcance. Começou com a
muitos exemplos de evoluções no
é mais forte do que há trinta anos –
queda do muro, o desmembramento
bom sentido.
mas isso não quer dizer que a verten-
da União Soviética, etc.
Temos, neste momento, numerosas
te política, o islamismo, esteja mais
Recordo-me, sobre esse assun-
combinações. A China é a combina-
forte face à globalização, os povos
to, de dois grandes pensadores
ção de uma espécie de capitalismo
reagem e querem afirmar uma coisa
franceses: o Jean-Jacques Servan-
muito brutal para os trabalhadores
própria que pode ser um grupo étnico
Schreiber, autor do «Le Défi Ame-
mas que consegue aumentar o nível
ou uma religião. Uma das causas da
ricain» - que já vai longe, uma vez
de vida e criar uma classe média,
afirmação do Islão nas populações
que já estamos muito para além do
e um monopólio do poder entre as
de origem muçulmana, em França,
desafio americano que ele anteci-
mãos do partido comunista, mas que
é exactamente essa: é uma questão
pou; e o Alain Peyrefitte com o seu
consegue formar e manter uma elite
de «quem sou eu?». Mas tal também
«Quando a China despertar» e a
tecnocrática bem sucedida. Quando
acontece com o progresso dos movi-
China já despertou. Onde vai parar
se vê como a China em trinta anos
mentos evangélicos sobre as igrejas
este despertar chinês que tem uma
mudou completamente e conseguiu
cristãs tradicionais. A difusão destas
mistura de aproveitamento de tudo
tornar-se, hoje, na segunda potência,
novas crenças utiliza os meios da glo-
o que há no capitalismo, mas com
isso é a demonstração de que os
balização. É um processo interessan-
uma dureza de quem não tem a
quadros dirigentes são muito efica-
te: o uso da globalização técnica para
ingenuidade dos soviéticos que
zes.
reagir contra a globalização cultural.
➤
março/abril 2011 - Diplomática • 15
Pascal Teixeira da Silva
Este revival religioso, quer no cris-
Esse é, de facto, um projecto muito
sempre alguém que não concorde
tianismo quer no Islão, é sempre uma
ambicioso embora muito difícil, mas
e não fique contente com isso. O
escolha pessoal. Não é o prolonga-
é um projecto essencial a realizar
passado pode ser instrumentalizado,
mento da tradição da família, mas sim
a longo prazo. Porque no Mundo
por actores políticos, para pressionar
uma escolha pessoal. Um jovem que
do século XXI vai haver pólos de
ou adulterar.
tenha cortado os laços com as tradi-
potência económica e política. Mas
O que vai acontecer nestes países
ções culturais do seu país, como o
o tamanho destes pólos deve ser
do Magrebe é muito importante
islão tradicional ou o catolicismo, mas
medido em 500 milhões. Porque
para todos os países europeus.
quer um sentido na sua vida e quer
menos de que isso não é suficiente.
Podemos constatar isso com o
uma identidade, pode vir a pertencer
A União Europeia pesa cerca de 500
terrorismo da Al Qaeda no Ma-
a um movimento que não é nacional
milhões; a China, 1,3 mil milhões; a
grebe islâmico. Foram raptados e
mas que é transnacional, como, por
Índia, 1,1 mil milhões; os E.U.A com
detidos, como reféns, não só fran-
exemplo, os movimentos evangélicos
o Canadá só 350 milhões, mas com
ceses, mas também cidadãos da
➤
ou Tabligh.
um poder económico que compensa.
Alemanha, da Áustria, da Suíça, da
A língua é um dos elementos impor-
A Europa tem que criar relações de
Grã-Bretanha, da Espanha, da Itá-
tantes neste jogo complicado entre
cooperação e solidariedade com a
lia… Ou seja, europeus ocidentais
a globalização e a identidade. No
vizinhança, que é a Rússia e o sul
que são considerados inimigos.
que diz respeito à língua enfoco dois
do Mediterrâneo. Para terem uma
Isto também pode acontecer aos
níveis. Há um nível que é o da globa-
influência no jogo mundial, é preciso
portugueses se forem imprudentes
lização e comunicação mundial que é
vincular a Europa àqueles mundos
a fazer turismo nessas zonas pou-
o «globish», que não tem a ver com a
no Sul e no Este. O segundo aspec-
co controladas, porque a nacionali-
língua de Shakespear, é uma “língua
to, diz respeito aos países do Sul do
dade não importa, este movimento
franca”. No séc. XVI e XVII havia uma
Mediterrâneo. O futuro destes países
terrorista vê o mundo através do
“língua franca” falada pelos marinhei-
vai ter consequências imediatas para
choque de civilizações.
ros do Mediterrâneo que era uma
nós. Se conseguirem, tudo bem, se
A globalização tem sido um fenóme-
mistura de Italiano, Espanhol, Fran-
fracassarem será um desastre para
no incrível que transformou o mun-
cês, Português e Árabe e era usada
eles e para nós também, e é por isso
do; é uma dinâmica e um processo
para a comunicação básica, comer-
que é preciso ajudá-los e criar laços
perpétuo. Face a essa dinâmica que
cial, na zona mediterrânica.
de solidariedade e desenvolvimento.
transforma e põe em causa todas
Um outro nível, que é o das línguas
A ideia básica da união mediterrânea
as situações materiais e imateriais
das comunidades mais próximas,
era ultrapassar as barreiras políticas,
temos diferentes tipos de reacções:
por exemplo, o desenvolvimento da
em especial no que diz respeito ao
primeiro, a utilização das armas que
prática da aprendizagem das línguas
conflito entre Israel e os países ára-
o Ocidente criou... Esta foi a resposta
regionais. Nas Caraíbas o crioulo é
bes, para trabalharem em conjunto
dos chineses que escolheram acabar
cada vez mais valorizado em detri-
sobre projectos importantes no de-
com mais de um século de humilha-
mento do Francês. A língua mais
senvolvimento económico, na criação
ção e de opressão e de uma relação
formal do Estado-nação e que, neste
de empregos, nas infraestructuras, na
desigual com o Ocidente, que come-
caso, é uma língua de importação,
protecção do ambiente, etc. É difícil
çou em 1840 com a guerra do ópio.
fica esmagada entre o «globish» e a
porque, apesar disso, os problemas
Agora os chineses vão voltar a ter
língua das comunidades. Na Jugos-
políticos contaminam e complicam
um lugar na cena internacional, mas
lávia, por exemplo, havia o serbo-
muito a capacidade deste UPM.
utilizando as armas da globalização:
croata que desapareceu e, depois da
Em relação ao que aconteceu
a tecnologia, a indústria, o comércio,
implosão do país, surgiram o servo, o
na Tunísia – e está a acontecer
o dinheiro, a informação; o segundo
croata e o bosniak.
um pouco por todo o Magreb -, a
tipo de resposta desenvolve-se ao
Voltando um pouco atrás, devo
França segue com interesse essa
nível cultural. Sob a forma da afirma-
dizer que achei linda essa ideia da
mudança de regime para que não
ção da sua diferença. Eu acho que a
língua franca outrora falada que
haja, na região, focos de instabili-
re-islamização no mundo muçulmano
unia o Mediterrâneo. O que me faz
dade?
é um efeito disto. Não vão combater
lembrar o projecto ambicioso do
Nós estamos numa posição muito
a globalização ocidental no terreno
Presidente Sarkozy de uma união
pouco confortável. Qualquer que seja
económico, mas vão tentar combatê-
mediterrânea.
a posição ou discurso francês, haverá
la no plano cultural e religioso; e,
16 • Diplomática - março/abril 2011
➤
«[Portugal] é um país paradoxal que, por um lado, tem uma identidade e sentimento de si muito fortes, mais fortes do que em muitos outros países; e, por outro, esse sentimento é a combinação de uma vontade de abertura ao mundo»
para a violência extrema tem a
problemas que não existiam há trinta
minoria que quer travar a batalha
ver com problemas de identida-
anos. Hoje em dia, qualquer coisa
contra a globalização ocidental e
de e de mal-estar. Para resolver
que se passa em qualquer lugar do
os seus valores com uma violência
isso, ocorre uma combinação de
mundo é imediatamente vista pelo
extrema, que são os terroristas. Esta
processos: uma simplificação/
mundo inteiro, como aconteceu com
resposta provoca o impasse. Só vai
compreensão do mundo a branco
as caricaturas de Mohamed na Dina-
criar terror e insegurança, vai impedir
e preto, que se resume a uma luta
marca. O problema deste imediatismo
o livre acesso a territórios, mas não
entre muçulmanos e o Ocidente
é que já não há a distância e o tempo
vai mudar o rumo do mundo. Aqui
que, desde muitos séculos, os
que outrora existiam e serviam de
trata-se dos elementos mais patológi-
têm oprimido e humilhado; a con-
peneira entre os povos e as mentali-
cos de algumas sociedades. Mas re-
vicção de que a única maneira de
dades que não são tão semelhantes.
pare que estes movimentos violentos
restaurar a posição da “ummah”
A blasfémia no Paquistão é um crime
estão completamente disconectados
islâmica é a de usar a violência
castigado pela lei, o que não é o caso
dos movimentos de massa no mundo
contra o Ocidente; o desejo de
na Europa desde o século XVIII - o
muçulmano, como vemos hoje na
participar neste combate para dar
que alimenta o ressentimento.
Tunísia e no Egipto...
um sentido à sua vida e vincular
Como contribuir para atenuar esse
A razão pela qual indivíduos
assim a sua situação pessoal a
tipo de tensões?
– quer no Ocidente, quer em
nível colectivo…
Um exemplo é a iniciativa que foi to-
países muçulmanos – derivam
É verdade que a globalização gera
mada pela França, há alguns anos,
➤
finalmente, há uma pequeníssima
➤
março/abril 2011 - Diplomática • 17
Pascal Teixeira da Silva
➤
de negociação no quadro da UNES-
davam só das antigas colónias e não
cionais. Eu acho importante manter
CO sobre a diversidade cultural. Esta
davam importância ao resto de África.
e consolidar a oferta linguística nas
foi uma negociação muito difícil. A
Mas isto já não é possível, porque os
escolas, porque o perigo de que
ideia básica era: a cultura não é um
problemas de segurança se colocam
os alunos aprendam só o inglês já
bem como os carros ou os vestidos.
ao nível regional e não é possível
existe. Os jovens precisam de falar,
Os bens culturais não são bens ba-
prestar atenção e, por exemplo, tratar
além da língua própria e do inglês
nais, são vectores de representações,
da Guiné-Bissau, sem saber o que se
para a comunicação internacional,
de crenças, de visões, de esperan-
passa nos países vizinhos. Igualmen-
uma segunda, até uma terceira língua
ças. São produtos intelectuais que
te, não foi possível ignorar os paises
estrangeira para que se abram a
não podem ser comprados, nem
vizinhos da Serra Leoa ou do Libéria,
outras culturas.
comparados com outros bens mate-
durante a guerra civil, porque havia
Devido aos contrangimentos orça-
riais. E, por isso, devem ser aceites
muitas interacções (solidariedades
mentais dos governos, o ensino de
regras específicas para a protecção
étnicas, movimentos de refugiados,
uma segunda língua estrangeira
da diversidade cultural e não uma
tráficos de armas e diamantes, etc.).
parece ser um luxo. Em Portugal
globalização/uniformização/mercado-
Isto quer dizer que não é possível a
a aprendizagem de uma segunda
rização da cultura.
qualquer país europeu que tenha tido
língua não é obrigatória a partir do
Não queremos, por exemplo, que a
colónias na África manifestar um inte-
décimo ano. Em França temos uma
única oferta cinematográfica seja a
resse limitado pelas antigas posses-
situação um pouco melhor, pois a
produção de Hollywood. Temos de
sões. E por isso, França e Portugal
segunda língua estrangeira é obri-
ter mais diversidade na oferta cultural
têm de trabalhar em conjunto para
gatória até ao décimo segundo ano,
e regimes especiais para preservar
ajudar a encontrar soluções e coope-
conforme uma recomendação da U.E
a capacidade de criação. A produ-
rar. Exemplo disso é a Guiné-Bissau,
de 2002. A Europa é rica em línguas
ção cultural não pode obedecer a
pois sendo um país com grandes
e culturas. Não deveria haver jovens
uma mera lei de mercado. Aqui, em
dificuldades, é uma rota do narcotráfi-
europeus que não soubessem uma
Portugal, 95 por cento dos filmes
co, que vem da América do sul o que
segunda língua estrangeira porque
exibidos nas salas de cinema são
representa um problema de seguran-
não só é uma mais-valia profissional
americanos. Até o cinema português
ça para Portugal, França e Espanha.
como também um enriquecimento
não consegue ser exibido na rede
Temos de unir os nossos esforços e
pessoal.
comercial em Portugal. É por isso
coordenar as nossas políticas para
Como está o ensino do português
que o ex-presidente Jacques Chirac,
nos protegermos deste problema ou
em França?
lançou a negociação duma conven-
tentar resolvê-lo.
Está a desenvolver-se. Temos de
ção na UNESCO sobre a diversidade
Também temos de sensibilizar os
mudar a imagem do ensino do portu-
cultural, para dar uma base jurídica
nossos parceiros europeus para a
guês no ensino secundário. O ensino
internacionalmente reconhecida,
importância destes desafios e para
da língua portuguesa em França tem
enquadrando a produção e o comér-
estes problemas de segurança nesta
estado ligado aos filhos dos imigran-
cio de bens culturais. Tivémos muitos
região. E temos que mobilizar os
tes portugueses. Os portugueses não
problemas com os americanos que
recursos da U.E para combater as
querem que eles percam a prática da
não concordavam, mas finalmente a
ameaças de segurança na região do
língua mãe, o que é légitimo. Por isso
convenção foi adoptada e agora é só
Saara e do Sael. Portugal, França,
há aulas de português, mas são so-
pô-la em prática.
Grã-Bretanha e Bélgica têm uma
bretudo aulas para as pessoas de ori-
Há algum aspecto das relações
responsabilidade especial para tentar
gem portuguesa. É importante acabar
entre Portugal e França que ache
empenhar os outros parceiros euro-
com esta imagem demasiado restrita
fundamental para desenvolver a
peus neste processo.
e abrir o ensino da língua portuguesa
curto e a médio prazo?
O segundo ponto a aplicar é a ques-
porque é uma das grandes línguas
Há vários. A África é um, porque a
tão da diversidade cultural que já
internacionais, falada em oito países,
França e Portugal são países que
referi. Face à globalização, temos in-
inclusive numa das grandes potên-
têm dela uma experiência e um
teresse em manter e reforçar o lugar
cias do século XXI, o Brasil. Este é
conhecimento especial e há poucos
e o papel do francês e do português,
um trabalho que é preciso fazer entre
países que partilham este conheci-
enquanto línguas de comunicação
os franceses e os portugueses e o
mento. Durante épocas, os países
internacional, nos novos media como
Brasil também deveria ter um papel
europeus que tiveram colónias cui-
a internet, e nas instâncias interna-
importante neste sentido.
18 • Diplomática - março/abril 2011
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Gestores Internacionais
Ângelo Ramalho - CEO da Alstom Grid Portugal, Lda. «A liderança é essencial para incentivar a acção» Licenciado em Engenharia Mecânica pela Universidade do Porto, de cujo Conselho Geral é membro há dois anos, Ângelo Ramalho preside, desde 2006, à ALSTOM Portugal, S.A., de que é também CEO Do seu curriculum ressalta a Energia, que marcou o início de carreira, na Shell Portuguesa, e esteve sempre presente nas suas passagens, como CEO e Administrador, pela Lusitâniagás, Portgás, GALP Power, Lisboa Gás, Setgás e LPG. Inevitavelmente, foi de Energia que falámos…
20 • Diplomática - março/abril 2011
➤
Descreva-me o percurso da
e o desenvolvimento do Grupo.
pesada. Abrange todas as fontes
Alstom em Portugal
Assenta também na abertura de
de energia e oferece as soluções
A Alstom é hoje o resultado de
cada indivíduo ao seu ambiente
mais avançadas para centrais a
processos de compra e fusão, que
profissional, garantindo transpa-
carvão e gás natural. A Alstom
tiveram origem no nosso estabele-
rência, factor vital para a gestão
é também o fornecedor líder de
cimento em Portugal em 1948. Em
dos riscos.
ilhas convencionais para centrais
1988 dá-se a fusão da ASEA/BBC
Espírito de Equipa: a actividade da
nucleares e pioneira em soluções
para formar a ABB. Dois anos mais
Alstom baseia-se na entrega de
de energias renováveis, através
tarde, teve lugar a formação do
projectos que exigem a nossa dis-
da sua forte posição no mercado
Grupo SENETE (40% ABB; 40%
ciplina colectiva e o nosso esfor-
hidroeléctrico e recente entrada no
MAGUE; 20% IPE).
ço, no sentido de os realizar com
mercado eólico.
Ainda mais tarde, em 1999, a
êxito, assim como numa rede que
Potencia ainda o desenvolvimen-
ABB transfere o segmento Power
permita assegurar que tiramos o
to de tecnologias de gestão da
➤
Generation para a ABB Alstom
máximo partido das competências
rede (Smart Grids). Na área do
Power. Em 2000 a Alstom adquire
disponíveis. Este espírito de equi-
Transporte ferroviário, a Alstom é
a ABB Alstom Power. Em 2001
pa, apoiado no desejo de desen-
promotora de mobilidade susten-
dá-se a integração das actividades
volver cada trabalhador, alarga-se
tável. Fornece material circulante
da Alstom em Portugal. Em 2006,
à colaboração que prestamos aos
(comboios), infra-estruturas de
ocorre a alienação do T&D Alstom
nossos parceiros e clientes.
transporte e sinalização e serviços
para a AREVA e a transferência do
Acção: a Alstom compromete-se,
de manutenção ferroviária. Somos
segmento Hydro para a joint-ven-
perante os seus clientes, a forne-
líderes mundiais em Alta Velocida-
ture Alstom-Bouygues, formando a
cer produtos e a prestar serviços
de Ferroviária.
Alstom Hydro. E, em Novembro de
capazes de satisfazer as suas
Quais são os negócios de maior
2010, a AREVA T&D, Lda alterou
expectativas em termos de preço,
destaque da empresa no nosso
a sua denominação social para
qualidade e prazos de entrega.
país?
Alstom Grid Portugal, Lda.
Para satisfazer os nossos compro-
No sector da energia, os mais re-
Qual a visão, missão e valores
missos junto dos nossos clientes,
centes são o tratamento de efluen-
do Grupo?
a acção é um factor prioritário para
tes nas Centrais Termoeléctricas
Os nossos valores essenciais são
todos nós.
do Pego e de Sines. O Projecto de
Confiança, Espírito de Equipa e
A acção assenta no pensamen-
Sines ficará concluído no final de
Acção.
to estratégico, estabelecido ao
2011. Outro projecto significativo é
Confiança: a Alstom, com as suas
nível do Grupo e do sector, e é
o reforço de potência do Alqueva
actividades, diversas estruturas de
sublinhada pelo nosso sentido de
(Alqueva II). Deixe-me reforçar o
gestão, unidades, locais de pro-
orientação para o cliente, estando
nosso envolvimento no plano hi-
dução e países onde desenvolve
integrada nas nossas actividades
droeléctrico nacional, desde 1960.
a sua actividade é, por definição,
diárias e em cada projecto nos-
A nossa tecnologia está presente
uma empresa complexa. A con-
so. A acção envolve a adopção
em cerca de 70% dos empreen-
fiança mútua entre os colegas e as
de um sentido de urgência nas
dimentos hidroeléctricos do país.
chefias é essencial para a gestão
nossas actividades, velocidade
As duas centrais termoeléctricas a
adequada da nossa actividade e
de execução para nos distinguir
carvão, Pego e Sines, foram tam-
para o controlo eficiente dos nos-
da concorrência, e capacidade de
bém construídas com a tecnologia
sos projectos.
referenciação, assegurando assim
Alstom. Na área do transporte
Esta confiança assenta na res-
que são alcançados os nossos ob-
ferroviário, o nosso projecto mais
ponsabilidade que é atribuída a
jectivos comerciais. A liderança é
emblemático é o Alfa Pendular.
cada trabalhador que tem a seu
essencial para incentivar a acção.
Desde 1950 que estamos envolvi-
cargo a tomada de decisões, na
Em que áreas actua o Grupo?
dos nos projectos de electrificação
delegação da autoridade atribuída
A Alstom concebe, produz, instala
da Linha do Norte e num passado
e naquilo que todos os trabalha-
e faz a manutenção de produtos e
mais recente, década de 80, o ser-
dores acreditam ser importante no
sistemas no sector da produção de
viço Alfa foi iniciado com comboios
seu contributo para o bem-estar
energia e mercados de indústria
Corail, fornecidos pela Alstom e
➤
março/abril 2011 - Diplomática • 21
Ângelo Ramalho
«Uma organização como a Alstom está em permanente em evolução, do ponto de vista da sua organização, processos e produtos. Nas áreas em que somos líderes, queremos manter a liderança. Quando não somos, queremos alcançá-la»
montados pela Sorefame.
ção de energia a partir de fontes
dade das pessoas (ferrovia e, num
Talvez porque seja urgente
renováveis, hidroeléctrica, marés
futuro próximo, veículo eléctrico)
tomar medidas em relação aos
e, mais recentemente, também na
e a produção descentralizada de
problemas ambientais que preo-
energia eólica. Somos igualmente
energia, utilizando fontes renová-
cupam o “planeta”, as empresas
líderes mundiais em sistemas de
veis, potenciam o desenvolvimento
estão a virar-se para a estratégia
tratamento de emissões gasosas,
de tecnologias de gestão da rede
ambiental. É também uma apos-
como são exemplos os projectos
(Smart Grids) que, por sua vez,
ta da Alstom?
que levámos a efeito nas centrais
buscam a melhor eficiência dos
É certamente, pelo afirmado
termoeléctricas do país.
sistemas, projecto em que esta-
anteriormente. A Alstom é líder
A tendência crescente da utiliza-
mos fortemente envolvidos.
mundial em tecnologias de produ-
ção da energia eléctrica na mobili-
Quer destacar mais algum
➤
22 • Diplomática - março/abril 2011
➤
projecto relevante em Portugal?
prazo, visível - um segmento de
Setúbal é exportada. A Alstom
Poderia destacar vários, mas no
expressão significativa. Não só no
tem uma presença industrial e de
presente contexto de desenvol-
panorama da energia eólica, mas
engenharia em mais de 70 países
vimento de projectos hídricos,
também no mix global da produção
nos cinco continentes.
destaco o Alqueva. Lembro-me de
de energia.
Quantas pessoas emprega a
ser um projecto no qual poucos
A Alstom estabelece algum tipo
Alstom em todo o mundo. E no
acreditavam, pela sua magnitude à
de parcerias com outras empre-
nosso país quantas estão inseri-
época em que foi promovido. Hoje
sas?
das nesse total?
o Alqueva é o maior lago artificial
A Alstom vive de relações de par-
Em Portugal a empresa tem cerca
da Europa, com impacto fortemen-
ceria a montante dos seus proces-
de 350 colaboradores. No mundo
te positivo na região e no país.
sos, com fornecedores e a jusante
são 96 mil e quinhentos.
A sua central está equipada com
em relações de complementarida-
Estamos a assistir a despedi-
turbinas-bomba que permitem a
de de competências em projectos
mentos em massa e à reorga-
produção de energia e a acumula-
dos nossos clientes. E Portugal
nização de planos laborais nas
ção de energia (através da bomba-
não foge à regra. Há empresas
grandes empresas. Alguma
gem da água, tecnologia em que a
portuguesas que são nossas forne-
destas opções já foi ponderada
Alstom é líder). E os grandes com-
cedoras de componentes, subcon-
pelo Grupo?
ponentes hidromecânicos foram
juntos, etc. E há empresas portu-
A Alstom adapta permanentemen-
desenvolvidos por competências
guesas que são nossas parceiras
te os seus recursos à carteira de
residentes no país, que ainda hoje
nos projectos que executamos, em
projectos que tem em mãos. O
mantemos. Esperamos ganhar no-
Portugal e fora do país.
número de efectivos aumenta ou
vos projectos relevantes do novo
Falemos sobre o resultado líqui-
diminui dependendo do contex-
Plano de Barragens em curso.
do da empresa: quais as expec-
to de mercado. Certamente que
Em pleno cenário de crise, como
tativas para este ano?
fomos afectados pela crise que se
é que a empresa está a encarar
Durante o 3.º trimestre de 2010/11,
tem vivido nos últimos dois anos e
o futuro?
a Alstom obteve o seu melhor
tivemos de fazer ajustes nalgumas
Diversificando para novas áreas
nível de encomendas desde Julho
das nossas unidades industriais,
de negócio e aumentando a nos-
de 2009, 5,5 mil milhões euros.
em regiões onde os mercados
sa presença nos mercados ditos
Estes bons resultados comerciais
mais se ressentiram, nomeada-
➤
emergentes. Certamente que tam-
levam-nos a acreditar num novo
mente na Europa.
bém temos de gerar eficiências in-
crescimento no quarto trimestre.
Como funciona a organização do
ternas, adaptando-nos à realidade
Com encomendas superiores a 2,8
Grupo? O controlo dos negócios
dos nossos mercados de origem
mil milhões e 1,6 mil milhões no
exteriores…
e aos nossos mercados futuros.
sector Power e no sector Trans-
Uma organização da dimensão da
Como é natural em qualquer orga-
port, respectivamente. O Grupo
Alstom é necessariamente comple-
nização empresarial, de forma a
atingiu, pela primeira vez, nos dois
xa, desde logo porque cada área
melhor responder às necessidades
últimos anos, um rácio “book-to-
de negócio tem de ser adequada
dos nossos clientes, num ambiente
bill” superior a 1.
às suas necessidades e aos seus
fortemente competitivo.
A Alstom está representada em
objectivos estratégicos. A base
Quais as novidades que a Als-
todo o mundo. Quantos centros
é uma organização verticalizada
tom prepara para oferecer?
de produção possui? E em Por-
em competências e os centros de
Uma organização como a Alstom
tugal do que dispõe?
competência estão disseminados
está em permanente em evolução,
Em Portugal, a fábrica de Setúbal,
pelos países onde a actividade tem
do ponto de vista da sua organi-
na Mitrena, produz equipamentos
mais volume. A Alstom está orga-
zação, processos e produtos. Nas
de grande porte, construídos em
nizada em unidades de negócio e
áreas em que somos líderes, que-
aço de liga especial. Nomeada-
cada uma delas concentra tecno-
remos manter a liderança. Quando
mente, caldeiras de recuperação
logias e produtos de que necessita
não somos, queremos alcançá-la.
para centrais de ciclo combinado
para o seu objectivo. Para um pro-
A este propósito, destaco-lhe o
e grandes condensadores para
jecto numa dada região concorrem
novo mercado da energia eólica
outras centrais térmicas. Cem por
centros de competência instalados
no mar (offshore), que será, a
cento da produção da fábrica de
em várias regiões do mundo.
n
M.L.B.
março/abril 2011 - Diplomática • 23
Gestores Internacionais
Fernando Bessa Director Geral da Air France KLM em Portugal “ Uma das apostas do ano 2011 passa pelo crescimento da oferta no continente africano”
Director Geral da Air France KLM em Portugal, desde 2006, Fernando Bessa tem uma experiência de 35 anos no sector do Turismo. Começou a trabalhar na KLM – Companhia Real Holandesa de Aviação, em Janeiro de 1980, onde desempenhou vários cargos, nomeadamente o de Director Geral KLM para a Península Ibérica, durante 6 anos, antes de aceitar o actual cargo.
24 • Diplomática - março/abril 2011
➤
Quando começou a Air France
Uma das apostas do ano 2011
A Air France e a KLM reforça-
a servir o continente africano?
passa pela política de cresci-
rão igualmente os seus serviços
A história da Air France em
mento e de desenvolvimento da
para Pointe Noire na República
África está intimamente ligada,
rede do Grupo Air France KLM
do Congo, com cinco voos Air
desde o início dos anos 30, ao
no continente africano. A Air
France por semana, assim como
desenvolvimento da aviação
France e a KLM continuam a re-
Libreville também por cinco voos
comercial de e para o continente.
forçar a sua oferta nesta região
semanais, sob reserva da obten-
Com mais de 75 anos de pre-
do mundo. Ao juntar as suas for-
ção dos direitos de tráfego junto
sença em África, a Air France
ças às dos seus parceiros africa-
das autoridades do país. A KLM
foi um actor chave das grandes
nos, a Air France e a KLM estão
passará a servir diariamente as
epopeias que, de Mermoz a St
assim em medida de oferecer à
cidades de Dar Es Salaam e Kili-
Exupéry, marcaram o princípio
sua clientela uma rede sempre
mandjaro, na Tanzânia. E prevê,
das relações aéreas entre a Eu-
mais extensa com novos des-
igualmente, aumentar as suas
ropa e a África.
tinos, mais frequências e mais
frequências para servir Tripoli
Graças a um desenvolvimento
voos directos de e para os hubs
diariamente, Abuja/Kano, quatro
contínuo da sua rede, dos anos
de Paris-Charles de Gaulle e de
vezes por semana, e Entebbe/Ki-
40 aos nossos dias, o Grupo Air
Amesterdão-Schiphol.
gali, seis vezes por semana.
France KLM e os seus parceiros
Em concreto, este Inverno a
Quais os parceiros aéreos da
permitem-se ligar hoje em dia 43
oferta do grupo Air France KLM
Air France e da KLM em Áfri-
destinos do continente africano
aumentou de 3,5% em relação
ca?
à Europa e ao resto do mundo.
ao Inverno anterior, graças à
A Air France e a KLM oferecem
Além da sua experiência em Áfri-
abertura de dois novos destinos,
uma rede de 43 destinos em
ca, o Grupo Air France KLM tem
aumentando a rede Air France
África graças aos seus parceiros.
o dever de estar permanente-
KLM em África para 36 destinos
Desde 1996, a KLM propõe voos
mente à escuta dos clientes das
servidos em meios próprios por
com partida do Quénia através
rotas africanas e atento à evolu-
210 frequências semanais.
de uma parceria de joint-venture
ção das suas expectativas.
A KLM começou a voar para
com a Kenya Airways, permi-
Quem são os clientes da Air
Kigali, a 31 de Outubro de 2010,
tindo, por exemplo, a Mombaça
France e da KLM nas linhas
servindo a capital do Ruanda
estar ligada via Amesterdão ao
africanas?
cinco vezes por semana, já a
resto do mundo. Esta coopera-
Sessenta por cento dos clientes
Air France servirá Bata, capital
ção foi alargada à Air France
viajam por motivo de negócios,
da Guiné Equatorial, duas ve-
por um acordo de code share
qualquer que seja a sua classe
zes por semana, assim que os
entre Nairobi e Paris, depois da
de transporte. Em termos de
direitos de tráfego forem acor-
extensão da joint-venture em
nacionalidade, 38 por cento da
dados. Para além destes novos
2009. A Kenya Airways, parceira
clientela é francesa, 29 africana,
destinos, foram acrescentadas
da aliança SkyTeam, continua
22 europeia, 9 americana e 2 por
frequências às cidades de Pointe
a expandir-se e propõe mais 5
cento asiática. A idade média
Noire, Libreville (sob reserva da
novos destinos: Bujumbura, no
dos passageiros é de 44 anos,
obtenção dos direitos de tráfe-
Burundi, Kisumu e Mombaça, no
sendo que 70 por cento são
go), Malabo, Dar Es Salaam e
Quénia, Lilongwe, no Malawi e
homens.
Kilimandjaro.
Lusaka na Zâmbia.
Dos clientes residentes em
Na época de Verão, que começa
Desde 2008, a Air France propõe
África, a maioria são pequenos
a 27 de Março, a Air France abri-
voos com partida de Luanda, em
empresários, empreiteiros, ou
rá 3 novas rotas. Servirá duas
code share com a TAAG Ango-
trabalham para PME. À saída
vezes por semana a cidade de
la Airlines. Em 2010/11, dois
das escalas africanas, 75 por
Freetown na Serra Leoa, e três
voos por semana ligam Luanda
cento dos clientes têm como
vezes por semana, Monrovia, a
a Paris. Por sua vez a KLM,
destino a França ou a Europa.
capital da Libéria. Já a capital
em cooperação com a Comair,
Quais são as apostas da Air
da Líbia, Tripoli, será servida por
propõe voos para Amesterdão,
France e da KLM para a época
5 voos semanais além dos voos
via Joanesburgo, com partida de
2010/11?
diários operados pela KLM.
Durban e de Port Elizabeth, na
➤
➤
março/abril 2011 - Diplomática • 25
Fernando Bessa
«A história da Air France em África está intimamente ligada, desde o início dos anos 30, ao desenvolvimento da aviação comercial de e para o continente. Com mais de 75 anos de presença em África, a Air France foi um actor chave das grandes epopeias que, de Mermoz a St Exupéry, marcaram o princípio das relações aéreas entre a Europa e a África»
➤
África do Sul.
e 2012, um bilião de dólares por
aos pequenos empresários para
Que tipo de aviões servem o
ano.
3 destinos africanos: Malabo,
continente africano?
Que tipo de serviços tem a Air
Ndjamena, Nouakchott, cidades
O grupo Air France KLM tem
France para oferecer aos seus
servidas quase diariamente em
uma frota das mais modernas e
passageiros que voam para
voos directos a partir de Paris-
jovens no mundo para servir a
África?
Charles de Gaulle por aviões
África. A idade média da frota de
A Air France oferece serviços
de pequena capacidade (Airbus
longo curso da Air France é de
muito específicos para respon-
A319-ER), equiparando-se ao
8,1 anos. A cidade de Joanes-
der às expectativas dos clientes
conforto oferecido em business
burgo foi a segunda escala no
africanos. Um destes é o servi-
jet. Propõe ainda o Flying Blue
mundo a ser servida pelo Airbus
ço Dedicate, direccionado aos
Petroleum, o programa n°1 na
A380. A Air France investiu na
profissionais do sector petrolí-
Europa dos destinos petrolíferos
renovação da frota, entre 1998
fero, da construção ou, ainda,
e de gás. Este clube privado
26 • Diplomática - março/abril 2011
➤
oferece aos seus membros um
Martin (Chefe do famoso restau-
1 de Fevereiro e 31 de Março,
leque de vantagens exclusivas
rante Grand Véfour em Paris) e
todos os membros residentes
para 95 escalas.
os vinhos foram escolhidos pelo
em Portugal, que viajarem para
A política de bagagens adapta-
Olivier Poussier – melhor escan-
19 destinos de África em cabine
da é uma das mais-valias para
ção do mundo em 2000.
Premium Voyageur, verão as
os clientes africanos. Desde 28
Para além deste produto de
suas milhas duplicar.
de Março de 2010, a política de
excelência, a Air France continua
E, para as empresas, existe al-
bagagens da Air France KLM
a investir na sua classe execu-
gum programa de fidelização?
está harmonizada e simplifica-
tiva Affaires de longo curso e,
Tanto a Air France com a KLM ti-
da no conjunto da rede. Estas
este ano, será implementada
nham um programa destinado às
oferecem uma franquia de baga-
uma nova poltrona nos voos para
pequenas e médias empresas,
gens mais generosa do que no
África, oferecendo ainda mais
esses programas deram nas-
resto da rede Longo Curso, para
conforto e serenidade a uma
cimento ao programa Blue Biz,
40 destinos africanos. Nomea-
clientela que viaja quer por mo-
em Abril de 2010. Este progra-
damente, em primeira classe La
tivos profissionais, quer a título
ma, permite à empresa membro
➤
Première e em executiva Affai-
pessoal.
acumular Blue Credits sempre
res e World Business Classe,
Em 2010 a Air France lançou
que um dos seus colaborado-
os passageiros usufruem de 3
uma nova cabine nos voos
res viaja num voo Air France ou
bagagens de 23kg cada, enquan-
intercontinentais, a Premium
KLM. Os Blue Credits podem ser
to que em Premium Voyageur e
Voyageur, para responder às
convertidos em bilhetes prémio
classe económica beneficiam do
expectativas dos empresários de
e em upgrades para todos os
transporte gratuito de 2 baga-
pequenas e médias empresas,
destinos das redes Air France e
gens de 23kg cada.
assim como aos passageiros que
KLM, em função de uma tabela
E em termos de produto a bor-
queriam mais conforto do que a
simples: 1 Blue Credit é igual a
do?
classe económica, a um preço
1 Euro. Qualquer colaborador da
A Air France é uma das poucas
acessível. Esta nova cabine ofe-
empresa pode beneficiar destes
companhias aéreas mundiais a
rece mais 40 por cento, de espa-
prémios. A adesão ao programa
oferecer uma primeira classe. A
ço em relação à cabine económi-
é simples e gratuita, sem qual-
cabine La Première é um serviço
ca Voyageur, e está disponível
quer condição prévia de número
de excepção, disponível para
para todas as rotas de África,
mínimo de viagens a efectuar.
9 escalas africanas; Abidjan,
excepto Joanesburgo - operada
Para beneficiar do BlueBiz, as
Joanesburgo, Luanda, Libreville,
pelo A380.
empresas podem contactar a sua
Dakar, Lagos, Douala, Yaoun-
Que propõe a Air France em
agência de viagens habitual ou a
dé e Port Harcourt. À saída de
termos de divertimento a bor-
Air France KLM. Todos os servi-
Lisboa o cliente La Première
do?
ços oferecidos aos membros do
beneficia do Serviço Limusine
A Air France apostou na alta
BlueBiz, tais como a adesão, a
para o levar e trazer ao aeropor-
tecnologia em matéria de diver-
gestão do perfil cliente, a con-
to, no dia da partida e chegada.
timentos a bordo, com 33.000
sulta e a gestão da conta e a
No dia da partida, o Serviço VIP
ecrãs individuais e video on de-
tomada de prémio são acessíveis
Assistance recebe-o nas partidas
mand (VOD). No total, 600 horas
directamente online, 24 horas
e encaminha-o até ao Lounge da
de programação, incluindo 85
por dia, a partir dos sites www.
Air France, ajudando-o com os
longas-metragens e um juke-box
airfrance.pt e www.klm.pt .
procedimentos de check-in. Em
de 240 CD e 3 mil títulos.
Em resumo, a Air France e a
Paris-Charles de Gaulle, aguar-
O Grupo Air France KLM ofe-
KLM continuam empenhadas
da-o uma equipa dedicada que o
rece aos clientes frequentes
em ser uma referência de e
levará até ao Lounge La Premiè-
mais vantagens nestas rotas?
para África, apostando não só
re ou directamente ao seu voo
O programa de passageiro fre-
na abertura de novos destinos
de ligação. Uma vez a bordo,
quente do Grupo Air France KLM
e aumento de frequências, mas
beneficia de toda a atenção de
é o maior da Europa, com 17 mi-
também em novos serviços que
uma tripulação exclusiva. A gas-
lhões de membros. Este oferece
respondam aos desejos e neces-
tronomia foi elaborada por Guy
inúmeras vantagens, e entre
sidades dos seus clientes.
n
A.F.
março/abril 2011 - Diplomática • 27
Gestores Internacionais
Michel Drouère Delegado geral da Alliance Française em Portugal e director da Alliance de Lisboa Délégué général de l’Alliance française au Portugal, directeur de l’Alliance française de Lisbonne
«Um director e uma equipa de funcionários fazem com que cada Alliance funcione, mas o espírito permanece associativo» Independentemente do ensino da língua, as Alliances instaladas em Portugal são centros vivos de conhecimento e cultura da História francófona e do seu relevante papel no nosso país e no mundo.
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A Alliance Française é muito conhecida em todo o
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L’Alliance française est bien connue dans le mon-
mundo, mas como funciona em Portugal?
de, mais comment fonctionne-t-elle au Portugal?
A Alliance Française é uma rede de 900 centros de lín-
C’est vrai, l’Alliance française est un réseau de
gua e cultura francesas, muito conhecida em todos os
900 centres de langue et de culture française, bien
continentes, e a primeira ONG cultural do mundo. A sua
connu dans le monde entier, et qui constitue même
principal característica é ser de direito associativo local,
la première ONG culturelle du monde. Sa «marque
em todos os países onde está presente, apoiando-se,
de fabrique» est d’être de droit associatif dans cha-
assim, não numa estrutura estatal, mas numa rede
que pays où elle est présente, et de s’appuyer ainsi,
de francófilos locais, activos e empenhados, em 136
non sur une structure d’Etat, mais sur un réseau de
países. Por exemplo, a Alliance Française do Porto é
francophiles locaux actifs et impliqués dans 136 pays
presidida pelo antigo ministro Luís Valente de Oliveira e
du monde. Par exemple l’AF de Porto est présidée
a de Coimbra por um universitário, o Prof. António Poia-
par l’ancien ministre Luis Valente de Oliveira, celle de
res Baptista. Um director e uma equipa de funcionários
Coimbra par un universitaire, le Pr. Antonio Poiares
fazem com que cada Alliance funcione, mas o espírito
Baptista. Un directeur et une équipe salariée font
permanece associativo e o reconhecimento por parte
marcher chaque Alliance, mais l’esprit reste asso-
das autoridades locais é excelente (obtém frequente-
ciatif, et la reconnaissance de la part des autorités
mente o reconhecimento de utilidade pública, como em
locales est excellente (avec souvent la reconnaissan-
Lisboa, em Coimbra e no Porto).
ce d’utilité publique comme à Lisbonne ou Porto).
Quais são as acções concretas da Alliance Françai-
Quelles sont les actions concrètes des Alliances
se de Portugal?
du Portugal?
As actividades incidem sobretudo no ensino do Fran-
Au Portugal les activités portent massivement sur
cês, sob a forma de aulas ministradas nas nossas
l’enseignement du français, sous forme de cours
instalações, mas também em empresas. Neste último
de groupe, mais aussi dans les entreprises: dans ce
caso, a Alliance Française é entidade formadora que
dernier cas, les AF sont des prestataires de forma-
deve cumprir as mais rigorosas normas, em especial no
tion qui doivent désormais s’aligner sur les normes
tocante à acreditação de qualidade da Direcção-Geral
les plus élevées, en particulier l’accréditation qualité
do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT).
DGERT délivrée par les autorités portugaises. Dans
Nas aulas de grupo, referirei um sector em crescimen-
les cours de groupe, je citerai un secteur porteur,
to: a formação na área da saúde, nomeadamente de
la formation de personnels médicaux, notamment
enfermeiros, que aprendem francês tendo em mente
d’infirmières, qui se forment en français dans un ob-
a expatriação. A adaptação a públicos com objectivos
jectif d’expatriation. S’adapter à des publics comme
específicos, como os profissionais de saúde ou os
les professionnels de la santé ou les ingénieurs du
engenheiros civis, e a criação de materiais pedagógicos
BTP, créer des matériels pédagogiques qui corres-
que correspondam às suas necessidades são desafios
pondent à leurs besoins professionnels, sont des
que fazem parte do nosso dia-a-dia.
défis qui font notre quotidien.
As restantes actividades são o ensino do Português
Les autres activités sont l’enseignement du portu-
Língua Estrangeira (que abrange sobretudo os diplo-
gais langue étrangère (qui touche principalement
matas e dirigentes de empresas recém-chegados a
les diplomates et dirigeants fraichement arrivés au
Portugal), os exames oficiais de francês e as estadias
Portugal), les examens officiels français et les séjours
linguísticas em França. Inúmeras Alliances têm também
linguistiques. De nombreuses Alliances développent
um programa cultural, frequentemente «extra-muros»,
également un programme culturel, souvent «hors les
em colaboração com os centros culturais da cidade em
murs» en coopération avec les centres culturels de
que se encontram implantadas. Por exemplo, são as
leur ville. Par exemple ce sont les Alliances françai-
Alliances Françaises de Faro, Coimbra e Guimarães
ses de Faro, Coimbra et Guimarães qui organisent
que organizam localmente a célebre «Festa do Cinema
localement la célèbre « Festa du cinema francês»
Francês» nessas cidades.
dans ces villes.
Quanto à tradução, é uma actividade que exige um
Quant à la traduction, c’est une activité qui demande
nível de profissionalismo extremamente elevado e um
un niveau extrêmement élevé de professionnalisme
controlo de qualidade sem falhas. São, assim, regular-
et un contrôle qualité sans faille. C’est ainsi que le
mente solicitadas ao gabinete de tradução da Alliance
bureau de traduction de l’AF de Lisbonne est réguliè-
Française de Lisboa traduções financeiras e jurídicas,
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rement chargé de traductions financières et
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Michel Drouère
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mas também a versão francesa de sites como o
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juridiques, mais aussi de la version française de
www.parlamento.pt, sem esquecer os documentos dos
sites web comme www.parlamento.pt. Les besoins
particulares, tais como certidões do Registo Civil, sen-
des particuliers (état civil, jugements, certificats) sont
tenças ou certificados de habilitações.
aussi couverts.
Como é ensinado o francês em 2011?
Comment enseigne-t-on le français en 2011 ?
Há tantas respostas a essa pergunta como situações
Il y a autant de réponses à cette question que de si-
e necessidades dos nossos alunos, em grupo nas
tuations et de besoins de nos apprenants, en groupe
nossas instalações e nas empresas. Actualmente, um
dans nos locaux et en entreprises. Car un professeur
professor é um prestador de serviços de formação, que
est de nos jours un prestataire de services de for-
deve dar resposta a uma necessidade identificada, com
mation, qui est là pour répondre à un besoin identifié
pessoas específicas, num determinado prazo.
avec des personnes précises dans un certain délai.
A actual corrente pedagógica chama-se perspectiva ac-
Pour être plus précis, le courant pédagogique ac-
cional e a sua divisa é «comunicar é agir com o outro».
tuel s’appelle la perspective actionnelle. Sa devise :
A língua é utilizada para «fazer», para executar tarefas
«communiquer, c’est agir avec l’autre». La langue est
em conjunto – o formando é um actor social. A tarefa é
utilisée pour «faire», pour accomplir des tâches en-
orientada para uma produção a realizar com outros. A
semble, l’apprenant est un acteur social. La tâche est
componente oral é muito trabalhada, em compreensão
orientée vers une production, à réaliser avec d’autres.
e em produção, pois os nossos alunos necessitam fre-
Et on travaille beaucoup l’oral, en compréhension et
quentemente de tomar a palavra em público no âmbito
en production, car nos apprenants ont souvent besoin
das suas funções.
de maîtriser la prise de parole en français.
Não os surpreenderei se disser que estas tarefas recor-
Je ne vous surprendrai pas en vous disant que ces
rem frequentemente à Internet, uma ferramenta que re-
tâches font souvent appel à l’internet, un outil qui a
volucionou o que se passa na sala de aula e o trabalho
révolutionné ce qui se passe en classe et le travail
realizado em casa; e quando, ainda por cima, as salas
qu’on fait à la maison. Et quand en plus les salles
estão equipadas com quadros digitais interactivos (já
sont équipées de tableaux numériques interactifs
em quatro Alliances Françaises de Portugal), a aula de
(déjà dans 4 AF du Portugal), le cours de langue ac-
língua actual já em nada se assemelha às nossas re-
tuel ne rappelle plus du tout vos souvenirs scolaires.
cordações escolares, exceptuando talvez o manual, um
A l’exception peut-être du manuel, un soutien resté
apoio que permanece indispensável, mas que é agora
indispensable, mais qui est désormais accompagné
acompanhado por um DVD ou um CD‑ROM.
d’un DVD ou d’un cédérom.
Por outro lado, os nossos públicos têm uma grande
Par ailleurs, nos publics sont devenus très mobiles,
mobilidade, alguns nunca estão no mesmo país duas
certains ne sont jamais dans le même pays deux se-
semanas seguidas: homens e mulheres de negócios,
maines d’affilée : des hommes et femmes d’affaires,
engenheiros e pilotos de linha preferem, por vezes,
des ingénieurs, des pilotes de ligne préfèrent que-
as nossas aulas à distância (e-learning) para melho-
lquefois notre cours à distance (e-learning), pour
rarem o francês com o nosso próprio método, através
améliorer leur français avec notre propre méthode à
da internet. Contudo, o aluno nunca fica entregue a si
distance, sur internet. Mais l’apprenant n’est jamais
próprio, pois tem obrigatoriamente de fazer um ponto
livré à lui-même : il doit obligatoirement faire un point
da situação completo todas as semanas, por videocon-
complet par visioconférence chaque semaine avec
ferência, com o seu tutor, mesmo que nesse momento
son tuteur, même s’il se trouve à ce moment-là au
se encontre no fim do mundo.
bout du monde.
Quais são as suas prioridades de acção para este
Quelles sont vos priorités d’action en 2011?
ano?
Au niveau national nous avons trois grands chantiers:
No plano nacional, temos três grandes eixos:
1. Le référentiel qualité de la Fondation Alliance
O referencial de qualidade da Fondation Alliance
française, qui s’applique dans le monde entier, et
Française, que é implementado em todo o mundo e
sur lequel nous sommes en train d’aligner toutes nos
pelo qual estamos a pautar todas as nossas normas
normes de fonctionnement, depuis la gouvernance de
de funcionamento, desde a administração das nossas
nos associations jusqu’à la qualité pédagogique en
associações à qualidade pedagógica, passando pela
passant par notre communication et notre gestion des
comunicação e pela gestão dos recursos humanos. Pa-
ressources humaines. Cela semble une banalité de
rece uma banalidade respeitar uma carta de qualidade,
respecter une charte qualité, mais avec des
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«Na Semana da Francofonia, que decorre em Março, promovem-se actividades culturais em Setúbal, nas Caldas da Rainha ou em Coimbra, graças ao apoio de várias embaixadas francófonas»
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mas com centenas de critérios a cumprir, a tarefa não
é fácil. Este processo é, aliás, convergente em muitos
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centaines de critères, le chantier est vaste. Il est
d’ailleurs souvent convergent avec la certification
aspectos com a certificação da DGERT; a actualização
portugaise DGERT.
do equipamento, tanto pedagógico (quadros digitais
2. La mise à niveau de l’équipement, tant pédago-
interactivos) como de gestão. Relativamente a este
gique (les tableaux numériques interactifs) que de
ponto, acabámos de equipar oito Alliances Françaises
gestion. Sur ce dernier point, nous venons d’équiper
com o software Alisoft, o melhor software de gestão
8 AF du logiciel Alisoft, le meilleur logiciel de gestion
para um centro linguístico e cultural; e a formação dos
d’un centre linguistique et culturel.
recursos humanos, tanto dos professores como do
3. La formation des personnels, tant enseignants
pessoal administrativo. Trinta e um professores das
qu’administratifs. 31 professeurs des AF du Portugal
Alliances Françaises de Portugal foram a Barcelona,
sont allés à Barcelone en novembre 2010 assister
em Novembro de 2010, assistir aos «Encontros FLE».
aux «Rencontres FLE», les personnels chargés de
Os funcionários responsáveis pelo atendimento e pelas
l’accueil et de l’inscription suivent aussi régulièrement
inscrições também assistem regularmente a formações
des formations (à Berlin en décembre 2010, à Lisbon-
(em Berlim, em Dezembro de 2010 e em Lisboa, em
ne en mars 2011, où nous accueillons les administra-
Março de 2011, data em que recebemos o pessoal ad-
tifs des AF du Portugal, mais aussi d’Espagne, d’Italie
ministrativo das Alliances Françaises de Portugal, mas
et d’Irlande). Il y a ainsi une véritable dynamique
também de Espanha, de Itália e da Irlanda). Existe,
Alliance, un esprit Alliance, qui se renforce au fil de
assim, uma verdadeira dinâmica Alliance, um espírito
ces rencontres.
Alliance, que se vai consolidando nestes encontros.
Quels sont les liens de l’Alliance française et du
Quais são as relações da Alliance Française com o
monde diplomatique?
mundo diplomático?
D’abord l’Alliance de Lisbonne participe activement
Antes de mais, a Alliance de Lisboa participa activamen-
à la formation des diplomates portugais. En effet le
te na formação dos diplomatas portugueses. Com ➤
programme du groupe de 30 diplomates stagiaires
➤
março/abril 2011 - Diplomática • 31
Michel Drouère
➤
efeito, o programa do grupo de 30 diplomatas estagi-
➤
actuellement en formation a une composante
ários actualmente em formação tem uma componente
importante en français, langue choisie par l’immense
importante de francês, língua escolhida pela grande
majorité d’entre eux (l’anglais était au concours
maioria (o inglês constava do concurso de entrada, não
d’entrée, pas dans la formation). Voilà un parfait
da formação). Eis um perfeito exemplo de ensino por
exemple de langue sur objectifs spécifiques, car les
objectivos específicos, pois as situações de utilização
situations d’utilisation de la langue par un diplomate
da língua por um diplomata estão claramente identifica-
sont bien identifiées, et permettent une progression
das e permitem um progresso rápido.
rapide.
Existe também uma excelente rede de amizades entre
Ensuite il existe un excellent réseau d’amitiés noué
as Alliances Françaises e as diversas embaixadas fran-
entre les AF et plusieurs autres Ambassades franco-
cófonas. Na Semana da Francofonia, que decorre em
phones. C’est ainsi que la Semaine de la Francopho-
Março, promovem-se actividades culturais em Setúbal,
nie en mars voit des activités culturelles se dérouler
nas Caldas da Rainha ou em Coimbra, graças ao apoio
à Setúbal, à Caldas da Rainha ou à Coimbra grâce à
de várias embaixadas francófonas.
l’appui de plusieurs Ambassades francophones.
Por fim, permitam-me que fale na Embaixada de Fran-
Enfin permettez-moi de parler de l’Ambassade de
ça e do reconhecimento, por parte do embaixador, da
France, et de la reconnaissance par l’Ambassadeur
amizade actuante que faz com que, em onze cidades
de l’amitié agissante qui pousse, dans 11 villes du
de Portugal, personalidades francófilas integrem bene-
Portugal des personnalités francophiles à animer
volamente os conselhos de administração das nossas
bénévolement les conseils d’administration de nos
Alliances. É por este motivo que a reunião anual dos
Alliances. C’est pour cette raison que la réunion
presidentes decorre na Embaixada de França, a convi-
annuelle des présidents se tient à l’Ambassade de
te do embaixador.
France, à l’invitation de l’Ambassadeur.
A França apoia também a actividade desta rede atra-
La France apporte aussi un soutien concret à l’activité
vés de uma subvenção destinada a apoiar acções na-
de ce réseau, à travers une subvention destinée aux
cionais e de dois directores, destacados pelo Ministério
actions nationales, et à travers deux postes de direc-
dos Negócios Estrangeiros e Europeus francês, coloca-
teurs détachés par le ministère français des affaires
dos à disposição das Alliances de Lisboa e Coimbra.
étrangères et européennes, et mis à disposition des
Em Lisboa, concretamente, existe uma forte ligação
Alliances de Lisbonne et Coimbra.
com o Institut Français du Portugal (IFP), pois a Allian-
Plus spécifiquement à Lisbonne, il existe un lien fort
ce Française desta cidade partilha o mesmo edifício na
avec l’Institut français du Portugal (IFP), puisque l’AF
Avenida Luís Bívar e apoia o seu programa recheado
de cette ville partage les mêmes locaux de l’Avenida
de actividades culturais. Com efeito, a Alliance Fran-
Luis Bivar, et puisque elle appuie son riche program-
çaise optou por deixar ao IFP a sua área de excelência
me d’activités culturelles. En effet le choix a été fait
– a Cultura –, e por se associar às suas manifestações
par l’AF de laisser à l’IFP son domaine d’excellence,
como patrocinador e não como organizador. Os nossos
le culturel, et de s’associer à ses manifestations
amigos lisboetas encontram, assim, num mesmo local,
comme sponsor, pas comme organisateur. Nos amis
a oferta do IFP (manifestações culturais, mediateca,
lisboètes trouvent donc dans un même lieu l’offre de
Campus France) e a da Alliance (aulas internas, serviço
l’IFP (manifestations culturelles, médiathèque, Cam-
Alliance Entreprises, gabinete de tradução, estadias
pusFrance), celle de l’Alliance (cours internes, servi-
linguísticas), sem esquecer uma excelente livraria fran-
ce Alliance Entreprises, bureau de traduction, séjours
cesa e várias associações (APPF, Lisbonne Accueil,
linguistiques), sans oublier une excellente librairie
UFE, ADFE).
française et plusieurs associations (APPF, Lisbonne
Com presença em catorze cidades portuguesas, atra-
Accueil, UFE, ADFE).
vés de onze associações, a Alliance representa uma
Avec une présence dans 14 villes du Portugal à
rede única; tanto mais que apresenta boas perspec-
travers 11 associations, l’Alliance représente un
tivas (em 2010, duas Alliances Françaises – no Porto
réseau unique ; de plus il se porte bien (deux AF, à
e em Viseu – tiveram de se mudar para instalações
Porto et Viseu, ont dû emménager en 2010 dans des
maiores) e está apta, devido às suas inovações e à sua
locaux plus vastes), et il me paraît en mesure, par
qualidade, a dar uma resposta adequada e motivadora
ses innovations et sa qualité, d’apporter une réponse
às necessidades dos particulares, da administração
adéquate et motivante aux besoins des particuliers,
pública e das empresas.
des administrations et des entreprises.
■
■
A.F.
32 • Diplomática - março/abril 2011
Economia
Comércio franco-português em alta por Bernard Chantrelle* Desde a adesão de Portugal às Comunidades
proporcionar um amplo leque de serviços a todas
Europeias em 1986, as trocas comerciais franco-
as empresas interessadas por um dos dois mer-
portuguesas registraram um forte aumento,
cados, fomentando assim correntes de negócios
nomeadamente entre 1996 e 2000. A França é
duradouras.
tradicionalmente o terceiro cliente e fornecedor
Trabalhando ao longo de vários anos com as-
de Portugal (depois da Espanha e da Alemanha)
sociações industriais portuguesas e grupos de
tendo actualmente Portugal a posição de 12º
empresas de diversos sectores, a CCILF dis-
cliente e 15º fornecedor da França.
põe de uma vasta gama de serviços e organiza
Paralelamente, a França elevou-se ao quinto
regularmente seminários temáticos e missões
lugar de investidor estrangeiro em Portugal com
sectoriais para empresas francesas que desejam
um stock total de capitais da ordem dos 4 bi-
desenvolver os seus negócios ou implantar-se
lhões de euros, tendo mesmo atingido em 2009
no mercado português. Além do mais, a CCILF
o ranking de primeiro investidor estrangeiro em
propõe também vários serviços de domiciliação.
fluxos brutos (reciprocamente os investimentos
Para reforçar o seu carácter bilateral, a CCILF
portugueses em França têm tendência a aumen-
desenvolveu também uma actividade de apoio
tar com um stock já superando os 500 milhões
às empresas portuguesas que pretendem inte-
de euros).
grar o mercado francês. Nesta vertente a CCILF
No total são perto de 400 filiais francesas que se
mantém contactos estreitos com os organismos
implantaram em Portugal, e que empregam mais
do comércio exterior português.
de 70 000 pessoas.
Para além do apoio comercial e sempre com o
Fundada em 1887, a Câmara de Comércio e
objectivo de facilitar as oportunidades de negó-
Indústria Luso-Francesa (CCILF), associação pri-
cios entre os actores da comunidade empresarial
vada sem fins lucrativos e reconhecida de Utili-
luso-francesa - e de permitir os intercâmbios
dade Pública, faz parte da rede mundial das 114
de experiências e ideias entre profissionais de
Câmaras de Comércio francesas no estrangeiro
todos os sectores de actividade -, a CCILF anima
e mantém uma estreita colaboração com as 136
um Clube de Negócios e oferece um vasto e
Câmaras de Comércio e Indústria em França.
diversificado programa de actividades (almoços,
Implantada nos 2 principais pólos económicos
seminários, reuniões temáticas, soirées de gala,
do país, Lisboa e Porto, a CCILF, com perto de
cocktails, eventos desportivos…).
500 associados, tem como principal objectivo incrementar o comércio bilateral luso-francês e
■
* Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa (Título da responsabilidade da Redacção)
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Veolia Água
© Pixland
uma marca de confiança
A Veolia Água concilia a actividade humana com a preservação do meio ambiente. Presente em Portugal há mais de uma década, a Veolia Água trata e garante o abastecimento de água para consumo público a mais de 250.000 pessoas, assegura o tratamento das águas residuais domésticas, industriais e agrícolas e procura soluções alternativas para evitar a extinção dos recursos naturais.
Compagnie Générale des Eaux Portugal, S.A.
Torre Zen - Av. D. João II, Lote 1.17.01 – Piso 9 B - 1998-023 Lisboa e-mail: veolia.agua@veoliaagua.com.pt website: www.veoliaagua.com.pt
2010 2011 em debate Balanço necessário, previsões para o futuro
Seis embaixadores acreditados em Lisboa responderam favoravelmente ao desafio da Diplomática: fazer o balanço de 2010 e avançar previsões para o ano em curso. Com a Cimeira de Lisboa, que juntou os grandes do Mundo no conclave da Nato, ainda nas agendas, a União Europeia e a crise mundial constituíram, também, o pano de fundo das opiniões dos diplomatas que, aproveitando o ensejo – grosso modo -, debitaram sobre o deve e haver das relações dos respectivos países com Portugal. Neste Mundo em constante mudança, a opinião de quem faz das relações internacionais oportunidade para a aproximação dos povos e nações, é fundamental para se perceber em que sentido navega a política externa dos respectivos países e compreender a importância de Portugal no novo contexto geoestratégico.
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março/abril 2011 - Diplomática • 35
balanço 2010
Pascal Teixeira da Silva - Embaixador de França «Para além da crise financeira, a mudança fundamental que estamos a viver impõe uma transformação dos princípios em que a UE tem atuado desde há várias décadas»
2010 foi um ano de turbulências num contexto de
um Estado-membro se desviar das metas orça-
crise, de mudanças e de redistribuição de poder e
mentais e económicas. O alvo é duplo: respeitar
de riqueza geradas pela globalização. Os efeitos
as regras da união monetária e evitar a divergên-
da crise financeira e económica proveniente dos
cia entre as economias dos países membros da
Estados Unidos ainda se fizeram sentir, em espe-
zone euro.
cial na zona euro.
Apesar das dificuldades resultantes das diferen-
Os nossos países europeus estão confrontados
ças de situações e de conceitos, a UE conseguiu
com um duplo problema: por um lado, a curto
estabelecer bases mais estáveis e sólidas para
prazo, as medidas que os governos europeus
ultrapassar a crise corrente e, a médio prazo, criar
tomaram para lutar contra a recessão arrastaram
as condições duma governação económica que
enormes défices nas contas públicas; por outro
complementa, dum modo imprescindível, a união
lado, num plano mais estrutural, o financiamento
monetária.
da protecção social que queremos manter verifica-
Para além da crise financeira, a mudança funda-
se cada vez mais difícil face ao envelhecimento
mental que estamos a viver impõe uma transfor-
da suas sociedades e dadas as baixas taxas de
mação dos princípios em que a UE tem atuado
crescimento.
desde há várias décadas. O mundo de hoje é bem
E tudo isso decorre num contexto de concorrência
diferente do mundo de ontem. A UE é o espaço
internacional intensa em que as economias madu-
económico mais aberto e ela está confrontada com
ras têm que manter a sua competitividade, assen-
a concorrência de potências emergentes (a China,
tando mais do que nunca na inovação científica e
a India, o Brasil, etc). Já não se trata agora de
tecnológica, na formação e na alta qualificação da
favorecer o desenvolvimento do chamado “terceiro
mão-de-obra e no aumento do valor acrescentado
mundo” (mesmo se isso ainda é necessário em
dos produtos produzidos pelos países europeus,
prol dos países menos avançados, particularmente
especialmente dos bens transaccionáveis.
em África) através de regimes especiais. A reci-
Os altos níveis do défice e do endividamento
procidade deve ser o princípio cardinal das rela-
atingidos nos países europeus provocaram
ções económicas – no que diz respeito aos inter-
uma crise de confiança quanto à sua capacida-
câmbios comerciais, aos câmbios monetários, aos
de em os sustentar e os mercados financeiros
investimentos, à propriedade intelectual, ao aces-
que, desde a sua criação, não têm acreditado
so aos concursos públicos, etc. As regras devem
no euro, aproveitam as dificuldades financeiras
ser as mesmas para todos.
dos Estados-membros da zona para especular
O que está em jogo vai para muito além das
contre a sua solidez e daí tirarem proventos.
metas e dos indicadores financeiros e econó-
A União Europeia tem demonstrado uma capaci-
micos. Os cidadãos europeus esperam que
dade de reação face a esses ataques. Foi o que
a UE os proteja contra os efeitos da crise e
aconteceu em maio durante a crise grega: a UE
as consequências da globalização. Este é um
criou um mecanismo de resgate – o Fundo Euro-
grande desafio que os líderes europeus têm que
peu de Estabilização Financeira (FEES) – que,
vencer. E também é preciso acrescentar que cada
em seguida, se tornou permanente (necessitan-
país europeu não tem o tamanho suficiente para
do apenas de uma ligeira revisão do Tratado de
ser ouvido e respeitado na cena internacional.
Lisboa) e reforçou a governação económica de UE
2011 é um ano em que temos de ampliar os es-
e da zona euro. Trata-se de regras e procedimen-
forços: cada Estado-membro está empenhado em
tos destinados não só à fiscalização colectiva das
sanear as suas finanças públicas e implementar
políticas orçamentais e económicas dos Estados-
reformas estruturais para fortalecer a economia; a
membros através do chamado “semestre europeu”,
UE dispõe dos instrumentos para uma governação
mas também, se necessário, a que sejam tomadas
económica reforçada e deve aplicá-los.
medidas preventivas ou correctivas para o caso de
Mas é préciso ir mais longe: renovar a política
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industrial ao nível europeu (pois não há cres-
cimento e criação de riqueza sem a produção de bens), desenvolver as redes transeuropeias (tais como as redes de alto débito, as redes eléctricas inteligentes, as redes de comboio a alta velocidade), desenvolver a investigação e a inovação, para melhorar a competitividade das nossas economias e as sinergias entre elas. O crescimento retoma nos países desenvolvidos. Mas temos que consolidá-lo e evitar que os encargos financeiros e sociais a suportar chumbem esta retoma.
Sabemos que a solução dos problemos tem uma dimensão global. A Europa, por si só, não pode reformar o sistema financeiro, nem reequilibrar as relações económicas internacionais, nem favorecer um desenvolvimento sustentável que respeite o ambiente e poupe os recursos naturais limitados.
Sabemos que a solução dos problemos tem uma dimensão global. A Europa, por si só, não pode reformar o sistema financeiro, nem reequilibrar as relações económicas internacionais, nem favorecer um desenvolvimento sustentável que respeite o ambiente e poupe os recursos naturais limitados.
melhor coordenação das políticas agrícolas, e da
O G20, que reúne os países que produzem 85 %
aplicação de mecanismos de segurança para os
da riqueza mundial, constitui o grémio mais adap-
países mais pobres.
tado para tratar dessas questões. A França, que
- A finalidade do desenvolvimento da economia
preside o G20 este ano, tem grandes ambições,
não deve ser o enriquecimento cada vez maior
estando, ao mesmo tempo, consciente da dificul-
duma minoria, mas antes a melhoria da situação
dade da tarefa. Um novo tempo precisa de novas
das populações. Por isso é preciso desenvolver
ideias. Vivemos num mundo interdependente e
o emprego, especialmente o dos jovens e o dos
instável em que tudo acontece rapidamente. Por
mais vulneráveis, consolidar a base da protecção
isso, o G20 que era uma instituição de gestão de
social e assegurar o respeito pelos direitos labo-
crise, deve tornar-se uma instituição de governa-
rais e sociais.
ção mundial e de reformas estruturais. A presidên-
- O G20, que representa os dois terços da popula-
cia francesa determinou vários objectivos:
ção mundial, tem a responsabilidade de encontrar
- Face à volatilidade das moedas, ao agravamento
soluções concretas para os problemas do desen-
dos desequilíbrios financeiros e à constituição de
volvimento, através do melhoramento das infra-es-
reservas de câmbio pelas potências emergentes,
truturas e de novas fontes de financiamento, como
é preciso construir um sistema financeiro interna-
a taxa sobre as transacções financeiras.
cional mais estável e robusto. Ao mesmo tempo,
Se não decidirmos à altura dos desafios e simples-
devem ser implementadas novas regras de contro-
mente nos limitarmos a gerir uma crise voltando
lo do sector financeiro adoptadas pelo G20.
ao “business as usual”, falhamos uma oportunida-
- É preciso reduzir a volatilidade excessiva dos
de, novas crises irão repetir-se e cada vez mais
preços das matérias-primas, especialmente ener-
fortes. A tarefa que se nos depara parece hercu-
géticas e agrícolas, que perturba o crescimento
leana pois temos que atuar a três níveis: nacional
mundial, ameaça a segurança alimentar e pre-
(o que Portugal como os seus parceiros estão a
judica tanto os países productores como os paí-
fazer), europeu (as bases acabam de ser reforça-
ses consumidores. Isto pode ser feito através da
das) e global (particularmente no âmbito do G20).
regulação dos mercados derivados dos produtos
Cada nível é interdependente dos outros, o que se
agrícolas, do aumento da transparência das infor-
torna mais complicado. Mas essa é uma responsa-
mações sobre as produções e os stocks, de uma
bilidade nossa perante as gerações futuras.
■
março/abril 2011 - Diplomática • 37
balanço 2010
Oleksandr Nykonenko - Embaixador da Ucrânia
Ucrânia-Portugal: novas perspectivas de cooperação Este ano, a Ucrânia marca 20º Aniversário da sua independência. Durante esse período o País, sem dúvida, conseguiu provar que é um membro importante da comunidade internacional
A Ucrânia é potencialmente um parceiro importante para
tros, o que equivale ao comprimento do equador terrestre).
Europa, ocupando um dos primeiros lugares entre os paí-
A Ucrânia é um dos cinco Países “espaciais” mais destaca-
ses do continente pelo tamanho do seu território e o quinto
dos no mundo. Os nossos veículos-portadores espaciais já
lugar pela população. A Ucrânia faz fronteira, de um lado,
levaram para o espaço muitos satélites artificiais. Espera-
com a Rússia e, de outro, com a União Europeia, tendo a
mos que, no próximo futuro, o número de tais satélites será
saída para o oceano mundial através do Mar Negro. Mas
acrescido por mais um, que poderá ser levado ao espaço
a Ucrânia não se considera uma terra fecunda apenas
com o lançador ucraniano “Cyclone-4”, do cosmódromo
graças à sua posição geográfica. No solo da Ucrânia pre-
brasileiro Alcântara. A Ucrânia é hoje um dos líderes
valecem terras negras que cobrem cerca de 27,8 milhões
mundiais nas exportações de software, as quais excedem
de hectares. Segundo especialistas, no território da Ucrâ-
o montante de $ 1 bilhão. Embora o mundialmente famoso
nia concentra-se a quarta parte das reservas mundiais
avião Antonov não precise de publicidade adicional, ainda
de terras negras, razão pela qual a Ucrânia se juntou ao
quero lembrar que na altura quando surgiu a necessidade
“clube” dos principais produtores e exportadores de cereais
de transportar uma carga grande pelo avião Boeing-747,
do mundo. Além de grãos, a Ucrânia, na qualidade de
resultou que só o avião ucraniano “Mria” (O Sonho), produ-
membro do prestigioso “clube” dos dez maiores produtores
zido pelos especialistas da corporação ucraniana “Anto-
de aço, ocupa o 8 º lugar no mundo por exportação de
nov”, foi capaz de cumprir esta missão.
produtos siderúrgicos.
O nosso Estado participa activamente na vida política,
A Ucrânia tem uma enorme infra-estrutura industrial, ocu-
cultural e económica da Europa. As reformas iniciadas
pando o quarto lugar na Europa por extensão dos cami-
pelas autoridades ucranianas vão determinar, durante os
nhos-de-ferro e o segundo por volume de gás transportado
próximos anos, uma futura política de integração europeia.
através do território nacional (o comprimento total dos ga-
A perspectiva de fazer parte da comunidade europeia é o
sodutos principais da Ucrânia é de mais de 37 mil quilóme-
objectivo e aspiração de toda a sociedade ucraniana. ➤
38 • Diplomática - março/abril 2011
➤
Como demonstração da confiança evidente à Ucrânia
ucraniano-português. Em 2010, o volume de comércio
por parte da Europa foi a obtenção do direito de realizar,
bilateral entre a Ucrânia e Portugal aumentou 1,9 ve-
junto com a vizinha Polónia, o 14 º campeonato de futebol
zes. Um argumento importante a favor do desenvolvimento
europeu. Agora estamos a preparar-nos com sucesso para
de nossos laços comerciais é o facto de que a Ucrânia
esta grande festa do futebol europeu, e estamos absolu-
não é só um mercado de quase 50 milhões de pessoas,
tamente convencidos de que o faremos ao mais alto nível.
mas também pode servir de uma espécie de plataforma de
Espero que a equipa nacional de Portugal poderá sentir o
entrada nos mercados de outros países, incluindo a Ásia
apoio dos adeptos ucranianos, durante o jogo final a ser
Central e Cáucaso.
realizado na capital da Ucrânia.
Não é uma simples troca de mercadorias que parece mais
Em 2011, a estabilidade política, os valores democráti-
promissora, mas a utilização de oportunidades comuns na
cos e a disposição pragmática dos dirigentes ucranianos
área tecnológica, nomeadamente, na construção naval,
assegurarão uma realização prática do curso estratégico
aeroespacial e na área de computadores. Uma esperança
de integração europeia, ao que facilitará a introdução pelo
especial dá o interesse no desenvolvimento de parcerias
governo ucraniano das reformas políticas, económicas
com empresas líderes em ambos Países, tais como as
e de segurança, a melhoria dos climas de investimento,
portuguesas EDP, Galp, Brisa, Banco Espírito Santo e as
de cooperação empresarial e muito mais. Neste sentido,
ucranianas “Naftogaz da Ucrânia”, “Ukrinterenergo”, “Vaz
temos esperança de que o interesse construtivo por parte
hmashimpeks”,”Zaporizhtransformator”, “Antonov”, “Motor
dos dirigentes dos Países da União Europeia e, nomea-
Sich”, etc. Estou confiante de que a troca de visitas em-
damente de Portugal, fará com que as negociações sobre
presariais entre os dois Países, que se planeia a nível das
o Acordo de Associação entre a UE e a Ucrânia sejam
câmaras de comércio e de regiões administrativas, vai in-
concluídas no ano em curso.
tensificar a cooperação económica e levará as relações de
Escolhida a direcção Europeia como o vector princi-
negócios a um nível mais elevado. A Câmara de Comércio
pal de entrada no espaço económico internacional,
Luso-Ucraniana deverá desempenhar um papel importan-
a Ucrânia considera estratégicas suas relações com
te a este respeito, pois uma actividade conjunta entre os
cada País da União Europeia e, particularmente,
empresários dos dois Países abre oportunidades muito
com Portugal. A este respeito, muita atenção é dada ao
grandes perante os nossos empresários, nomeadamente
desenvolvimento das relações bilaterais científicas, co-
no sector da energia. A Ucrânia é um País com o sector de
merciais, económicas e culturais. Vale destacar o início
energia muito desenvolvido. Portanto, não é por acaso que
de um movimento de investimentos, ainda cauteloso mas
aderimos à Comunidade Europeia da Energia (European
já bem notável, entre os nossos Países. Os investidores
Energy Community).
Portugueses investem na produção de cimento na Ucrânia
Na época, os especialistas internacionais falaram e escre-
(C+ P.A.), de equipamentos médicos (Fapomed) e de-
veram muito sobre a importância da Ucrânia em abaste-
senvolvem energias renováveis (Martifer). Os ucranianos
cimento da Europa com gás natural. Quero salientar que
investem no desenvolvimento do sistema bancário por-
a Ucrânia tem sido um parceiro de confiança da UE em
tuguês. Assim, o investimento para nós é um tráfego nos
matéria de fornecimento de energia e segurança energé-
dois sentidos. Tem que ser levado em conta, nomeada-
tica. Ambas as Partes estão interessadas em modernizar
mente, o número significativo de ucranianos em Portugal,
o sistema de abastecimento de gás para a Europa e em
que formam a segunda maior (mais de 50 mil pessoas)
garantir a segurança energética dos Países da UE. Este é
comunidade estrangeira neste País. Eles, na sua maioria,
um exemplo do que chamamos de integração europeia, na
são especialistas qualificados, profissionais e responsáveis
prática, não em palavras.
pelo trabalho que fazem, contribuindo significativamente
E tarefas como estas, grandes e pequenas, são muitas. O
para o PIB deste País. Acho que isto é o nosso maior
seu número vai crescer consideravelmente após a assina-
investimento na economia portuguesa. Não se trata só das
tura do Acordo de Associação com a EU e após a criação
indústrias tradicionais de construção civil onde trabalham
da zona de comércio livre entre a Ucrânia e a UE. Tudo
os ucranianos. Há dezenas de cientistas ucranianos em
isto irá criar fronteiras transparentes não só para a circula-
várias instituições científicas e académicas portuguesas,
ção de bens, serviços e capitais, mas também para uma
bem como nos departamentos de pesquisa junto às corpo-
livre circulação, pelos caminhos do seu grande continente,
rações portugueses.
de todos os europeus: Portugueses e Ucranianos, Ingleses
O nosso intercâmbio comercial foi muito intenso em
e Suíços, Noruegueses e Macedónios... Nós acreditamos
2010. Neste sentido, gostaria de chamar a atenção
que isso vai acontecer muito rápido, se todos empenhar-
para a dinâmica positiva de crescimento do comércio
mos os esforços necessários.
■
março/abril 2011 - Diplomática • 39
balanço 2010
Algimantas Rimkunas - Embaixador da Lituânia
Lithuania: overcoming the crisis
Lithuania with its 3.4 million of population represents
sion as well. This led to increase of inflation, as well as
an open and export oriented economy. Due to the limi-
trade deficit.
ted domestic consumption, the exports of goods and
The global credit crunch, which started in 2008, affec-
services are particularly important for a successful eco-
ted the real estate and retail sectors. The construction
nomic development of the country. Therefore, when the
sector shrank by almost 47% during the first 3 quarters
current global financial and economic crisis severely hit
of 2009 and slump in retail trade was almost 30%.
our main export markets in Western Europe, Scandina-
The GDP plunged by 15.7% in the first nine months of
via and also Russia, the economy of Lithuania has also
2009. Unemployment rate increased to 18%.
occurred in a complex situation.
Facing strong negative influence of a global finan-
Before the crisis, the economy of Lithuania was one of
cial and economic crisis on the Lithuanian eco-
the fastest growing in the world. In years 2000-2008,
nomy and on its public finance system, at the end
the GDP grew by 77%. One of the most important fac-
of 2008 the government started to apply austerity
tors for substantial economic expansion was accession
measures. Wages of civil servants, welfare and social
to the European Union in 2004, which opened access
spending, development projects and other government
to additional financial resources and also enabled free
spending were targeted for cuts. The socially painful
movement of capital, goods and labour force. On the
measures were introduced in close consultation with
other hand, rapid economic expansion has caused
trade unions, NGO’s, other interested bodies and wide
some imbalances in inflation and balance of payments.
public. Despite inevitable decrease in standard of
This was mostly influenced by rapid loan portfolio
living, the Lithuanian society jointly undertook this diffi-
growth as foreign banks, which operate in Lithuania,
cult but temporary burden on its shoulders. Therefore,
provided cheap credits. The loans directly related to
significant and robust solutions taken by the Lithuanian
acquisition and development of real estate constituted
authorities in a complex crisis situation have resulted
around 50% of outstanding bank loans to the private
in the easing of the consequences of the global financial
sector. Consumption was influenced by credit expan-
and economic crisis and restored confidence of foreign
40 • Diplomática - março/abril 2011
➤
➤
investors in Lithuania.
The Ministry of Foreign Affairs of Lithuania is among the leading governmental institutions, which participate in painful exercise of spending cuts. As a result, the staff of diplomatic missions, wages of diplomats and
Recently the Government of Lithuania and
other expenses are reduced significantly. On the other
IBM announced a joint research partnership
hand, the government decided to maintain all existing
in Lithuania that will enable research and
Lithuanian embassies, missions and consulates in
development of nanotechnology, healthcare
operation as an instrument of international cooperation,
and intellectual property (IP) management
which is significantly contributing to exit of the crisis.
innovations.
In the third quarter of 2009, compared to the previous one, the GDP again grew by 6.1% after five quarters with negative numbers. The rebound in Lithuania’s economy in the third quarter of 2009
companies. In March 2010, in Vilnius Barclays laun-
was the strongest in the EU.
ched the Technology Centre, which will be one of the
Currently, two main trends are observed in the eco-
four the bank’s strategic centres for global retail and
nomy of Lithuania: macroeconomic indicators related
commercial banking activities, supporting 49 million re-
to the domestic demand have started to stabilize only
tail and corporate customers in 28 countries. The Bar-
recently while these related to foreign markets are
clays centres are also settled in India, Singapore and
increasing for more than a year. In the second quar-
the United Kingdom. In Vilnius, it has already employed
ter of 2010, household expenditures were by almost
500 local IT professionals.
tenth lower than a year ago. The private consumption
Barclays was followed by the Western Union – an in-
is expected to increase by 2% only in 2011. In 2010,
dustry leader in global money transfer. It set up its new
compared with a previous one, domestic investment
Global Operations Centre of Excellence, which is to
rebounded considerably. The latest foreign trade data
create 200 new jobs. The Global Operations Centre in
show that the both exports and imports are growing
Lithuania will handle back-office processing functions
faster than expected. The recovery of exports is par-
and compliment other global operations centres of the
ticularly robust: in the middle of 2010 exports grow
Western Union.
was equal to the peak of two years ago – about 35%.
Recently the Government of Lithuania and IBM annou-
Favourable exports developments are also proved by
nced a joint research partnership in Lithuania that will
industry data: the growing turnover in manufacturing is
enable research and development of nanotechnology,
stimulated by sales in foreign markets while the turno-
healthcare and intellectual property (IP) management
ver in domestic market is still sluggish. The recovery
innovations. IBM will contribute existing assets and
of imports is mostly supported by investment goods
research expertise from IBM Research laboratories in
and intermediate goods closely related to the exports
Zurich, New York, Haifa and Almaden launching a new
trends.
research center. Lithuania and IBM will share equal
The recovery of the Lithuanian economy is reflected
rights to the intellectual property, and R&D commercia-
in these macroeconomic indicators: the preliminary
lization, such as patents, IP licenses, products and pro-
GDP grow in 2010 is 1.0% and projection of the Bank
totypes that result from the research center’s activities.
of Lithuania for 2011 – 3.1%. Recently, labour market
According to officials of the famous international
in Lithuania has been stabilising. This is in line with
companies, Lithuania is chosen as an attractive loca-
previous expectations that the unemployment will start
tion because of its strong talent pool of highly-skilled
to gradually decrease after the second quarter of 2010.
technology professionals, as well as its world-class
The projections of the Bank of Lithuania for this indi-
infrastructure. It is worth to mention that about 40%
cator for 2010 and 2011 are 17.9% and 16.5% respec-
of all employees in Lithuania have university degrees.
tively. Nonetheless, the situation in the labour market
This figure is well above the EU average.
remains serious and will be one of the main challenges
Successful attraction of foreign investments with the
for economic policy in the years to come.
aim to transform Lithuania into the High Technology
Confidence in successful recovery of the economy of
Service Centre of the Baltic and Scandinavian region,
Lithuania is proved by the recent establishment in the
show that crisis is not an obstacle to think about the fu-
Lithuanian market a few big world known international
ture and strengthen competitiveness of the economy.
■
março/abril 2011 - Diplomática • 41
balanço 2010
Bengt Lundborg - Embaixador da Suécia
«O desenvolvimento económico, social e ambiental na Europa depende de como a UE e os Estados membros conseguem cooperar»
Quando celebrámos solenemente a entrada em vigor do Tratado de Lisboa a 1 de Dezembro de 2009, era com expectativa que aguardávamos o ano de 2010. Enquanto representante da Presidência rotativa da UE, o Primeiro-Ministro da Suécia Fredrik Reinfeldt disse na cerimónia festiva em frente da histórica Torre de Belém, que “foi colocada uma pedra basilar para uma cooperação europeia fortalecida”. O ano 2010 infelizmente não foi aquilo que se tinha esperado. A “cooperação europeia fortalecida” tomou um rumo inesperado. Os esforços feitos pelos países da UE no ano anterior, 2009, para contrariar o risco de uma recessão económica aguda, iria lamentavelmente por sua vez criar grandes défices orçamentais na maioria dos países da UE. A isto juntaram-se uma série de outros problemas económicos nos diferentes estados membros dentro e fora do grupo do EURO. O sistema económico-político da Europa foi sujeite a um desafio muito sério. Com a chave de soluções na mão, poderá ainda assim constatar-se que no âmbito da cooperação
42 • Diplomática - março/abril 2011
➤
➤
da EU, foi possível trabalhar em conjunto, e que
se conseguiu tomar uma série de importantes decisões para garantir apoio financeiro aos países que dele necessitavam, e ainda introduzir novas directrizes para a cooperação económico-política, aumento do controlo dos mercados financeiros e um futuro mecanismo de crise. Espero que não teremos que passar por um novo ano com problemas do tipo com que agora tivemos dolorosamente que lidar. A cooperação e solidariedade europeia demonstraram o seu valor. Acredito que sairemos fortalecidos desta turbulência. Como exemplo digno de ser ponderado, poderei mencionar que quando a Suécia teve a sua própria, fortemente ressentida crise financeira no início dos anos 90, surgiu concórdia política sobre a
Ao mesmo tempo que avança a construção da UE, devemos utilizar os recursos que temos - indivíduos, meios financeiros e estruturas institucionais - para fortalecer o papel da UE num mundo cada vez mais globalizado.
necessidade de ter-se finanças do estado sãs, de preferência um excedente orçamental, uma baixa dívida do estado, e de realizar reformas geradoras de crescimento. Agora a nossa economia está forte, com um crescimento em 2010 próximo dos 6 por cento e uma taxa de emprego a aumentar. Também pudemos apoiar outros países na nossa proximidade que se encontravam temporariamen-
alguns países das Balcãs batem à porta da UE.
te em dificuldades.
A zona Euro também está em desenvolvimento,
Para o ano de 2011, há que dar continuidade às
com a Estónia como 17:e membro desde 1 de
medidas actuais, para solucionar os problemas
Janeiro deste ano.
de agora, mas também erguer a vista para o
Ao mesmo tempo que avança a construção da
futuro. Aqui poderemos guiar-nos pelo programa
UE, devemos utilizar os recursos que temos -
chamado EU 2020 para um aumento do emprego,
indivíduos, meios financeiros e estruturas ins-
da formação e da investigação, um incremento na
titucionais - para fortalecer o papel da UE num
participação social e um ambiente sustentável.
mundo cada vez mais globalizado. Aqui, o novo
Cada membro da UE deverá elaborar objecti-
European External Action Service, que será lan-
vos nacionais para tornar o próprio país assim
çado a sério este ano, irá dar-nos a possibilidade
como a UE no seu todo mais competitivos num
de dar maior peso à actuação da União relativa-
mundo globalizado.
mente aos seus vizinhos. Por meio da chamada
O desenvolvimento económico, social e ambiental
Parceria Oriental, aprofunda-se a cooperação
na Europa depende de como a UE e os Estados
entre a UE e os seis países vizinhos a oriente,
membros individualmente conseguem cooperar
Arménia, Azerbeijão, Geórgia, Moldávia, Ucrânia,
para dar uma resposta conjunta às possibilidades
e Bielorússia.
e aos desafios que a próxima década irá trazer.
No interessante mas demasiado pouco lido rela-
Um aumento da investigação e do desenvolvi-
tório de 2010 para o Conselho Europeu, elabo-
mento, assim como a criação de uma patente
rado pelo grupo especial de estudo liderado pelo
Europeia são importantes pedras de construção
antigo Primeiro-Ministro de Espanha Felipe Gon-
numa Europa mais competitiva.
zález, é colocada uma pergunta introdutória: “Irá
Ao mesmo tempo que a cooperação da UE se vai
a UE conseguir manter e aumentar o seu nível de
aprofundando, a União vai alargando. Durante o
bem-estar num mundo em mudança?” A resposta
ano em curso, poderemos contar com o facto de
é sim, mas isto exige que todos no seio da UE,
mais um país, a Croácia, dar passos decisivos
políticos, cidadãos, entidades patronais e traba-
no sentido da adesão. Montenegro obteve re-
lhadores, colaborem para um objectivo comum
centemente o estatuto de país candidato, e mais
definido pela situação actual.
■
março/abril 2011 - Diplomática • 43
balanço 2010
Dusko Lopandic - Embaixador da República da Sérvia
«A União Europeia tem sido a maior conquista política e civilizacional do nosso Continente desde a Segunda Guerra Mundial» Na sequência dos acontecimentos do passado ano,
go da construção europeia. A União Europeia tem
tais como calamidades naturais, erupções vulcâni-
sido a maior conquista política e civilizacional do
cas, terramotos devastadores, as guerras em curso
nosso Continente desde a Segunda Guerra Mun-
e as pessimistas previsões económicas, é difícil
dial. Foi construída tendo por base a visão política
considerá-lo como um ano bom, embora nós tam-
a longo prazo (ou seja, a paz e a estabilidade na
bém não estejamos propensos a considerá-lo muito
Europa) e sustentada por resultados económicos
mau. O ano de 2010 será lembrado como o ano
muito concretos e eficientes, como o mercado
em que o mundo, incluindo a Europa, tenha talvez
comum, a união aduaneira, a estreita cooperação
começado a procurar novas formas e meios para
económica, a união monetária e assim por dian-
superar a curto e longo prazo os desafios globais.
te. No entanto, hoje temos vindo a testemunhar
O crescimento sustentável (incluindo as questões
sinais preocupantes de que a união económica e
relacionadas com a energia e o clima) e a governa-
monetária dentro na UE não está a funcionar bem.
ção mundial são alguns dos desafios a mais longo
É verdade que a zona euro não é a mesma coisa
prazo. Os efeitos da crise económica e financeira
que a União Europeia, mas o progresso da inte-
que afecta a maior parte do mundo desenvolvido,
gração económica iria, sem dúvida, estabilizar e
com ênfase na Europa, constituem o motivo das
reforçar a conquista intitucional que foi o Tratado
maiores preocupações a curto prazo para a maioria
de Lisboa. Mas o inverso também é verdadeiro:
dos governos, incluindo o Governo da Sérvia e o
não se deverá esperar mais progressos na in-
português. Vamos esperar que o ano de 2011 traga
tegração política sem a estabilidade económica
alguns resultados económicos positivos, tal como a
ter sido alcançada. Os trabalhos do anterior
maioria de nós gostaria de ver acontecer.
Conselho Europeu, juntamente com as recentes
Aqui na Europa, estamos todos preocupados com
divulgações e propostas, fornecem alguns si-
a crise que está, ao que parece, a atingir o âma-
nais encorajadores para a UE no ano de 2011.
44 • Diplomática - março/abril 2011
➤
➤
No que respeita à República da Sérvia, o passa-
do ano poderia, de uma forma geral, ser considerado como relativamente positivo. O ano de 2010 viu sinais de recuperação económica na Sérvia, após a crise de 2009. O crescimento do PIB em 2010 é estimado em cerca de 1,7 por cento, enquanto as previsões para 2011 são ainda mais positivas: o crescimento será de cerca de 3 por cento ou talvez 3,5. Durante 2011 a Sérvia espera ter mais investimentos estrangeiros, especialmente nas áreas da indústria automóvel (uma nova fábrica FIAT) e da comunicação (privatização da principal empresa estatal de telecomunicações), que deverá atingir os 4 bilhões de euros. A evolução positiva
A adesão à União Europeia é o objectivo prioritário do Governo sérvio. Alguns resultados muito concretos, que puderam ser sentidos mesmo pelos cidadãos comuns, foram alcançados.
será visível também no campo das exportações, o qual já registou resultados muito positivos em 2010 (aumento de cerca de 20 por cento em comparação com 2009). O Governo sérvio publicou recentemente uma previsão de longo prazo para o desenvolvimento económico e social da Sérvia até ao ano de 2020 que está de acordo com as projeções já efectuadas pela UE. O principal problema económico e social da Sérvia neste momento é,
ração com o Tribunal Penal Internacional para a
sem dúvida, a elevada taxa de desemprego, espe-
ex-Jugoslávia. Nós esperamos obter alguns resul-
cialmente entre os jovens. Existem ainda alguns
tados positivos do diálogo entre Belgrado e Pris-
outros graves problemas económicos e sociais,
tina, os quais deverão, pelo menos, responder às
tais como o desenvolvimento desigual das regiões
questões humanitárias mais prementes no Kosovo.
de periferia, um problema demográfico e o desen-
No entanto, afirmamos que, em relação a esta
volvimento relativamente lento de novos meios de
questão, a Sérvia não vai reconhecer a declara-
transporte e das infra-estruturas energéticas.
ção unilateral de independência do Kosovo e vai
No entanto, podemos olhar para o ano de 2011,
procurar, através de meios pacíficos, chegar a um
com expectativas mais positivas. A adesão à
compromisso com os representantes albaneses no
União Europeia é o objectivo prioritário do Gover-
local.
no sérvio. Alguns resultados muito concretos, que
Durante os últimos anos as relações bilaterais en-
puderam ser sentidos mesmo pelos cidadãos co-
tre Portugal e a Sérvia foram reforçadas, especial-
muns, foram alcançados. A partir de 01 de Janeiro
mente no campo da justiça, dos negócios estran-
de 2010 a UE aboliu os vistos turísticos para os
geiros, da cooperação na defesa e da cooperação
cidadãos da Sérvia, o que teve um impacto muito
agrícola.
positivo na sociedade. O processo de integração
Podemos ainda esperar algumas boas notícias
da Sérvia na UE tem sido contínuo: o Acordo de
no campo das relações bilaterais entre a Sérvia e
Estabilização e de Associação entrou no processo
Portugal. Visitas de alto nível que estão em vista,
de ratificação. A Comissão Europeia foi encarre-
alguns importantes acordos serão negociados, os
gada pelo Conselho da UE de preparar a opinião
contactos económicos serão reforçados, especial-
oficial sobre a elegibilidade da Sérvia à UE. Espe-
mente nas áreas da agricultura, da construção, do
ramos que até ao final deste ano, a Sérvia faça a
planeamento urbano e da energia. Durante este
sua candidatura oficial de adesão à UE. Também
ano, vamos também comemorar alguns importan-
esperamos que as negociações de adesão tenham
tes acontecimentos do passado, como os 100 anos
início o mais rapidamente possível, de preferên-
da ratificação do primeiro tratado comercial entre
cia em 2012. A Sérvia também tentará melhorar a
os Reinos da Sérvia e de Portugal, bem como os
sua cooperação na região dos Balcãs, bem como
60 anos da retirada de diplomatas jugoslavos da
resolver as questões pendentes relativas à coope-
Europa ocupada através de Portugal.
■
março/abril 2011 - Diplomática • 45
balanço 2010
Paul Schmit - Embaixador do Luxemburgo
«A estratégia de Lisboa sublinhou e consegui chamar a atenção para a importância de continuar a investir nos domínios chave da economia, da educação e da formação, assim como da coesão social»
Tendo tido a honra de apresentar as Cartas Credên-
clara, seja no plano comercial (com a exportação,
cias como Embaixador do Grão-Ducado de Luxem-
em 2009, de bens no valor de 15 milhões de euros e
burgo a Sua Excelência o Presidente da República no
de serviços no valor de 147 milhões e com a impor-
dia 15 de Outubro de 2010, e após alguns meses em
tação de bens e serviços no valor de 17.9 milhões
Portugal, dou-me conta da riqueza histórica e cultural
e de 186 milhões de euros respectivamente) ou no
deste país, mas também dos desafios aos quais têm
plano humano, já que quase um quinto da popula-
de fazer face Portugal e a União Europeia no seu
ção do Grão-Ducado fala a língua portuguesa.
conjunto.
A imigração de cidadãos portugueses (desde os anos
Para uma Embaixada, como a do Luxemburgo em
1960) representa um factor importante na paisagem
Portugal, trata-se de continuar a trabalhar no sentido
cultural luxemburguesa e a integração dos cidadãos
de uma cooperação cada vez mais estreita entre os
portugueses, muitas vezes da primeira e mesmo
principais actores económicos e comerciais dos paí-
segunda gerações, constitui um desafio que não se
ses interessados. Por ocasião da visita de Estado de
pode negligenciar.
Suas Altezas Reais os Grão-Duques do Luxemburgo
Nos tempos dificeis que todos conhecemos, trata-
a Portugal em Setembro de 2010 e, nomeadamente
se de dar a conhecer melhor o Luxemburgo, o seu
por ocasião do seminário económico que reuniu cerca
mercado financeiro, mas também os outros pontos
de 350 personalidades dos sectores económico, co-
de interesse do país, seja no campo da siderurgia, da
mercial e financeiro, interessados em estreitar as re-
tecnologia de ponta ou dos satélites, por exemplo. A
lações comerciais entre os nossos dois países, foram
semana cultural luxemburguesa, que teve lugar em
reforçadas as bases para uma cooperação contínua
Lisboa em Abril de 2010 e que contou com uma expo-
entre os principais interessados no Luxemburgo e em
sição fotográfica, uma peça de teatro e um concerto
Portugal.
de jazz, constitui um bom exemplo nesse sentido.
A importância de Portugal para o Luxemburgo é
Há muitos anos que o Luxemburgo opera também
46 • Diplomática - março/abril 2011
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➤
de forma consequente, e desde a sua fundação, no
do país para novas actividades económicas importan-
âmbito das principais organisações internacionais das
tes, nomeadamente nos sectores de ponta. O Luxem-
quais faz parte, tais como as Nações Unidas, a União
burgo continua a desenvolver esforços específicos
Europeia, a NATO, o Conselho da Europa, a OSCE,
com vista a expandir as capacidades cientificas e tec-
etc.
nológicas no seio da Universidade e dos Centros de
As mudanças que ocorreram no seio da União Euro-
investigação públicos, em colaboração com o sector
peia, com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa
privado. No contexto de seguimento dos objectivos
em 1 de Dezembro de 2009, poderão contribuir para
estabelecidos pela Cimeira Europeia de Barcelona e
melhorar o posicionamento da União Europeia e
com a finalidade de promover e incentivar a investi-
consequentemente dos seus Estados membros no
gação e a inovação, o Governo luxemburguês prevê
cenário internacional. Numa Europa cada vez mais
fixar o investimento público referente à I&D em 3% do
integrada, as relações entre Estados membros são de
Produto Interno Bruto, zelando ao mesmo tempo pela
grande importância e devem continuar a ser desen-
maximização da eficácia das despesas consagradas
volvidas, quer no campo comercial e económico ou
à investigação fundamental e à investigação aplicada.
no aspecto humano.
A cooperação luxemburguesa para o desenvolvimen-
Apesar dos objectivos nela estipulados não terem
to coloca-se decididamente ao serviço da erradica-
sido atingidos, a estratégia de Lisboa sublinhou e
ção da probreza, nomeadamente nos paises menos
consegui chamar a atenção para a importância de
desenvolvidos. As suas acções são concebidas com
continuar a investir nos domínios chave da economia,
base num espírito de desenvolvimento durável, quer
da educação e da formação, assim como da coe-
no aspecto social e económico, quer em matéria de
são social. A estratégia de Lisboa conseguiu assim
meio ambiente – com o homem, a mulher e a criança
determinar a direcção correcta a seguir pelos Estados
como ponto central.
membros.
Estas acções registam-se prioritáriamente em termos
No Luxemburgo, a implementação nacional da estra-
da implementação – até 2015 – dos objectivos de
tégia Europeia “Europe 2020”, sucessora da estra-
desenvolvimento do Milénio. Assim, os principais sec-
tégia de Lisboa, é efectuada com base na estratégia
tores de intervenção da cooperação situam-se no do-
“Luxemburgo 2020”, que foi elaborada durante a crise
mínio social: a saúde, a educação, que inclui a forma-
económica e financeira e é considerada uma estraté-
ção e a integração profissional, e o desenvolvimento
gia de saída da crise. São definidos os vários objecti-
local integrado. As iniciativas pertinentes no domínio
vos a alcançar, nomeadamente nos sectores da I&D
das micro-finanças são estimuladas e apoiadas tanto
(investigação e desenvolvimento) e da inovação, da
a nível conceptual como a nível operacional.
educação e da formação, das alterações climatéricas
Do ponto de vista geográfico, a Cooperação
e da energia, do emprego e da coesão social.
luxemburguesa desenvolve, por preocupação
O mercado financeiro ocupa, há mais de três déca-
em termos de eficácia e impacto, uma política de
das, um lugar preponderante na economia do Luxem-
intervenção centrada numa dezena de países as-
burgo. As finanças públicas e o emprego nacional
sociados. Em termos de ajuda pública ao desenvolvi-
dependem largamente do desenvolvimento destas
mento (APD), a Cooperação luxemburguesa integra,
actividades. O Governo desenvolve uma politica
desde 2000, o grupo dos cinco países industrializa-
constante de diversificação das actividades, assim
dos que consagram mais de 0,7% do seu rendimento
como de desenvolvimento da competitividade no pla-
nacional bruto à cooperação para o desenvolvimento.
no internacional, contribuindo desta forma para que o
Em 2009 a APD cifrou-se em 297,82 milhões de eu-
mercado financeiro seja um centro de excelência nos
ros, representando 1,04% do RNB. A APD é aplicada
domínios de competência específica, nomeadamente
com base nos instrumentos de cooperação bilateral,
no que diz respeito às actividades bancárias pro-
de cooperação multilateral, de apoio aos programas e
priamente ditas, ao sector dos seguros, dos fundos
da cooperação às ONG de desenvolvimento.
de investimento e fundos de pensões, à Bolsa e aos
A ajuda ao desenvolvimento e a política de negócios
outros profissionais do sector financeiro.
estrangeiros do Grão-Ducado têm também como efei-
A investigação constitui um dos principais motores de
to credibilizar e reforçar os argumentos avançados no
uma economia competitiva, baseada no saber e no
âmbito da candidatura luxemburguesa a um mandato
conhecimento. A competitividade da economia nacio-
de membro não-permanente do Conselho de Segu-
nal é, por seu turno, um elemento chave no estímulo
rança (2013-2014).
■
março/abril 2011 - Diplomática • 47
Opinião
Para onde vai a Nato?
por Pavel Petrovskiy - Embaixador da Rússia
Olhar a partir de Lisboa
Nos últimos tempos a esta pergunta tentam responder
В последнее время на этот вопрос пытаются ответить
muitos analistas, politólogos e diplomatas estrangei-
многие аналитики, политологи и дипломаты как
ros e russos, não ficando para trás os portugueses. A
зарубежные, так и российские. Не отстают и
componente inicial de todos deles é única – a aliança
португальцы. Исходная составляющая у всех одна
do Atlântico Norte, criada como fruto da “Guerra Fria”
– североатлантический альянс, созданный как плод
que perdeu o adversário em face da URSS, ficou num
«холодной войны» и лишившийся противника в лице
cruzamento conceitual. Nas condições dum mundo
СССР, оказался на концептуальном перепутье. В
multipolar finalmente formado, o princípio de “NATO –
условиях окончательно оформившегося многополярного
centrismo” rachou. Podemos falar muito sobre a
мира дал трещину принцип «натоцентризма». Можно ➤
50 • Diplomática - março/abril 2011
➤
Pavel Petrovskiy
Куда идет НАТО? взгляд из Лиссабона
➤
NATO como a base da segurança mundial no papel
➤
было сколько угодно рассуждать о НАТО как об
de “polícia mundial”, mas isso já não convencia nin-
основе глобальной безопасности в роли «мирового
guém, excepto, talvez, alguns dos membros da Alian-
полицейского», но это уже никого не убеждало,
ça, fixados no atavismo do passado. Política Europeia
кроме, разве что, отдельных, зацикленных на
de segurança e defesa, que faz fundamento da dou-
атавизмах прошлого членов Альянса. Европейская
trina de defesa da EU, previa o reforço do potencial
политика безопасности и обороны, лежащая в основе
militar próprio, fora da NATO. No calor dos debates
оборонительной доктрины Евросоюза, предусматривала
polémicos que ocorreram durante muitos seminá-
укрепление собственного, вненатовского военного
rios científicos e políticos em Lisboa na véspera da ➤
потенциала. В пылу полемических дискуссий, ➤
março/abril 2011 - Diplomática • 51
Para onde vai a Nato?
➤
Cimeira da NATO, recentemente realizada em
➤
происходивших в ходе многочисленных научно-
Portugal, até foram expressas as dúvidas de
политических семинаров в Лиссабоне накануне
conveniência da existência da NATO como tal.
только что завершившегося здесь саммита НАТО,
Surgiu uma necessidade urgente dalgum tipo de “khow
высказывались даже сомнения в целесообразности
how”, a fim de preservar o potencial acumulado e
существования НАТО как такового. Возникла острая
não autodestruir-se, especialmente nas condições de
потребность в некоем «know how», дабы сохранить
redução geral dos orçamentos militares dos países –
накопленный потенциал и не развалиться, тем более в
membros. Em 2011 está prevista a redução do pessoal
условиях обвального сокращения военных бюджетов
da NATO de 13,5 mil a 9 mil pessoas, bem como das
стран-членов. В 2011 г. предусматривается уменьшение
estruturas de comando de 11 a 7. A atenção principal
штата сотрудников НАТО с 13,5 тыс. до 9 тыс. чел,
será focada no abastecimento, fornecimento, manu-
а также командных структур с 11 до 7. При этом
tenção, logística, comunicação e exploração. Surgiu a
основное внимание будет сосредоточено на снабжении,
necessidade não apenas de fundos (meios), mas tam-
закупках, техобслуживании, логистике, коммуникациях
bém dos objectivos da sua aplicação. Em resumo, era
и разведке. Возникла потребность не только в
necessário encontrar pelo menos um inimigo hipotético
средствах, но и целях для их приложения. Короче
ou potencial.
говоря, нужно было найти хотя бы гипотетического или
Não era preciso procurar muito. Ajudou o século XXI.
потенциального противника.
Na sequência dos ataques terroristas de 11 de Se-
Долго искать не пришлось. Помог XXI-й век. Вслед
tembro de 2001 nos EUA, na agenda do dia da NATO
за терактами 11 сентября 2001 г. в США на повестке
como “bóia salva – vidas” apareceram os novos desa-
дня в качестве подобия «спасительного круга» для
fios e ameaças. É contra eles: terrorismo internacional,
НАТО появились новые вызовы и угрозы. Именно
propagação OMU, pirataria, ciber ataques, tráfico de
на борьбу с ними - международным терроризмом,
drogas, desastres naturais, bem como proliferação
распространением ОМУ, пиратством, кибератаками,
global de mísseis, que ficaram orientados os líderes
наркотрафиком, природными катаклизмами, а
da NATO liderados pelo secretário-geral da NATO –
также глобальным ракетным распространением
A. Fogh Rasmussen, que aprovaram na Cimeira da
– сориентировались натовские лидеры во главе
Aliança em Lisboa em 20 de Novembro de 2010 um
с генсекретарем НАТО А.Фогом Расмуссеном,
conceito estratégico novo. No documento está clara-
утвердившие 20 ноября 2010 г. на саммите Альянса
mente indicado, que “o conceito estratégico será um
в Лиссабоне его новую стратегическую концепцию.
manual para a próxima fase na evolução da NATO a fim de continuar a ser eficaz num mundo em mudança contra novas ameaças, com novas oportunidades e
В документе четко обозначено, что «стратконцепция будет являться руководством для следующей фазы в эволюции НАТО с тем, чтобы она продолжала быть
parceiros.” Característica dos novos desafios e ame-
эффективной в меняющемся мире против новых
aças de forma expandida foi reflectida no documento
угроз с новыми возможностями и партнерами».
“Revisão conjunta de desafios comuns de segurança
Характеристика новых вызовов и угроз в развернутом
de século XXI”, aprovado na Cimeira do Conselho Rússia – NATO (NRC), realizada em Lisboa paralelamente. Entre as potenciais ameaças, ficou talvez uma: os conflitos regionais, que o Conceito estratégico não
виде нашла отражение в принятом на состоявшемся параллельно в Лиссабоне саммите Совета Россия-НАТО (СРН) документе «Совместный обзор общих вызовов безопасности 21 века». В числе потенциальных угроз,
inclui na categoria de desafios directos, no entanto,
осталась, пожалуй, одна – региональные конфликты,
reserva-se o direito da Aliança de “regulação” deles
которую стратконцепция к разряду прямых вызовов не
até “evitar”, quer directamente, quer “em interacção com os outros atores internacionais”. Ao mesmo tempo a NATO é qualificada como uma estrutura que tem
относит, тем не менее, оставляет за Альянсом право их «регулирования» вплоть до «предотвращения» как напрямую, так и «во взаимодействии с другими
“um conjunto único e confiável de meios políticos e militares para resolução duma ampla gama de crises:
международными актерами». При этом НАТО
antes, durante e depois dos conflitos”. Não é possível
квалифицируется как структура, обладающая
entender esta tese de outra forma, a não ser uma aspi-
«уникальным и надежным набором политических
ração da NATO de assumir o papel de liderança duma
и военных средств для урегулирования широкого
organização única e eficaz no âmbito de resposta aos
круга кризисов – до, во время и после конфликтов».
desafios modernos e regulação de crise em todas as
Невозможно понять данный ➤
52 • Diplomática - março/abril 2011
➤
Pavel Petrovskiy
➤
suas etapas, incluindo “reconstrução” pós – crise.
➤
тезис иначе, как стремление НАТО возложить на себя
Teorias – às teorias. Era altura de passar à práti-
ведущую роль единственной эффективной организации
ca. Aliados tinham que ter garantias, que o cami-
в области реагирования на вызовы современности и
nho escolhido é adequado e realista. Na vanguarda
кризисного регулирования на всех его стадиях, включая
“dum gerador de ideias novas”, como sempre, foram
посткризисную «реконструкцию».
os americanos, que propuseram, nada mais, nada
Теории – теориями. Пора было переходить к практике.
menos – “tapar” todos os países da NATO com um
Союзникам нужно было убедиться, что выбранный
guarda-chuva de defesa antimísseis (NMD), que iria
ими путь верен и реалистичен. В авангарде «генератора
protegê-los dos ataques do Oriente, muitas vezes, não
новых идей», как всегда, выступили американцы,
se incomodando com alguma argumentação, a que os
предложившие не много не мало – накрыть все страны
membros da NATO chamaram Irão. Não houve neces-
НАТО зонтиком противоракетной обороны (ПРО),
sidade de filosofar, sobretudo para compreender que
который защитил бы их от нападений с Востока, чаще
esta é apenas uma desculpa. A ideia era outra: unir os
всего, не утруждая себя особой аргументацией, натовцы
responsáveis da NATO no processo de resolução da
называли Иран. Не нужно было особо мудрствовать,
primeira tarefa prática sob as novas condições, para
чтобы понять, что это всего лишь предлог. Замысел
qual poderiam obter um financiamento sólido e dar
заключался в другом - объединить натовцев в процессе
início a impulso poderoso de cooperação no âmbito de
решения первой в новых условиях практической
altas tecnologias, fornecendo novos lugares de traba-
задачи, под которую можно было бы получить
lho. Determinaram um “preço da questão” para iniciar,
солидное финансирование и задать мощный импульс
relativamente não muito alto: cerca de 200 milhões de
сотрудничеству в сфере высоких технологий, обеспечив
Euros. Resta entender, como ficará a ser esta NMD, e
новые рабочие места. Определили и сравнительно
por onde começar.
небольшую стартовую «цену вопроса» - в пределах 200
Ainda estava fresca a memória das primeiras medidas,
млн.евро. Осталось разобраться, как такая ПРО будет
tomadas pela Administração de G. Bush, de implemen-
выглядеть и с чего начать.
tação dos elementos de defesa antimísseis na Polónia
Еще была свежа память о том, как первые же
e República Checa, que encontrou uma forte resistência por parte da Rússia, que viu neles uma ameaça para o equilíbrio da estabilidade estratégica e que anunciou a sua intenção de se opor a esses planos, até a colocação na região de Kaliningrado dos mísseis tácticos “Iskander”. A Administração de B. Obama a iniciar o “restart” das relações com a Rússia, contudo, não recusou a ideia dos antimísseis, mas já no formato de chamada “abordagem adaptada por fases”. Ele ligou o sistema europeu de defesa antimísseis do teatro de operações militares com o dos EUA e o da Rússia sob uma única administração, aparentemente, uma administração americana. Sobre defesa antimísseis já negociaram anteriormente com a Rússia, mas os planos de G. Bush acima mencionados, acabaram com as negociações. Como se poderia supor, que agora a nós foi atribuído o papel adicional de “fornecedor” de informação sobre lançamento dos misseis de inimigos, sem o direito de activar os interceptores de misseis. A esperança era de que a própria Rússia, que estava interessada em garantir a segurança europeia
шаги, предпринятые администрацией Дж.Буша по размещению элементов ПРО в Польше и Чехии, натолкнулись на решительное сопротивление России, увидевшей в них угрозу балансу стратегической стабильности и заявившей о намерении противодействовать этим замыслам вплоть до размещения в Калининградской области оперативнотактических ракет «Искандер». Администрация Б.Обамы, начав «перезагрузку» отношений с Россией, тем не менее, от ПРО не отказалась, правда, уже в формате так называемого «поэтапного адаптированного подхода». Он увязывал эшелонированную европейскую систему ПРО театра военных действий (ПРО ТВД) с американской и российской под единым управлением, по всей видимости, американским. По ПРО ТВД ранее проводились переговоры с Россией, конец которым положили вышеупомянутые планы Дж.Буша. Теперь же нам, как можно было предположить, отводилась вспомогательная роль в качестве «поставщика» информации о враждебных ракетных пусках без права
e na cooperação tecnológica com o Ocidente, desta
приведение в действие ракет-перехватчиков. Расчет
vez não só não vai interferir, mas junta-se aos planos
был на то, что Россия, заинтересованная в обеспечении
renovados americanos – europeus. A certeza deste
европейской безопасности и технологическом
género tinha prevalecido e em Portugal. Pareceu que o
взаимодействии с Западом, на этот раз не только не
assunto se começou a resolver. Mas foi em vão.
будет препятствовать, но и сама подключится к ➤
➤
março/abril 2011 - Diplomática • 53
Para onde vai a Nato?
➤
Mais uma vez no caminho dos planos da NATO sur-
➤
обновленным американо-европейским планам. Такого
giram problemas. Tudo ficou quase parado devido ao
рода уверенность превалировала и в Португалии.
facto de que a Rússia, quase um mês e meio: desde
Казалось бы дело сдвинулось. Но не тут то было.
início de Setembro a meados de Outubro deste ano,
Вновь на пути планов НАТО возникли проблемы. Всё
não respondia ao convite de A. Fogh Rasmussen para
чуть было не застопорилось из-за того, что Россия почти
D.A. Medvedev, de realizar em paralelo com a Cimeira
полтора месяца с начала сентября по середине октября
da NATO em Lisboa a reunião do Conselho Rússia –
с.г. не отвечала на приглашение А.Фога Расмуссена
NATO (NRC) ao mais alto nível e legalizar um sistema
Д.А.Медведеву провести параллельно с саммитом
de defesa antimísseis em conjunto. As razões para
НАТО в Лиссабоне заседание Совета Россия-НАТО
isso eram convincentes. Só no caso de as condições
(СРН) на высшем уровне и легализовать совместную
da cooperação, oferecida no âmbito dos novos progra-
ПРО. Основания для этого были веские. Согласиться на
mas da NATO, não contrariarem a nossa abordagem,
приезд в Лиссабон Россия могла только в случае, если
em termos de segurança igual e indivisível e em nada
условия предлагаемого нам взаимодействия в рамках
prejudicarem os interesses geopolíticos russos, a Rús-
новых натовских программ не противоречили бы нашим
sia poderia concordar com visita a Lisboa. Para nós
подходам в части равной и неделимой безопасности и
foi de fundamental importância como os membros da
ни в чем не ущемляли бы российским геополитических
NATO vão formular as partes do projecto do Conceito
интересов. Для нас было принципиально важным,
estratégico, que têm a ver com parceria com a Rússia,
как натовцы сформулируют разделы проекта
e se actividade militar da NATO se enquadrasse no
стратконцепции, касающиеся партнерских отношений
quadro jurídico do Estatuto da ONU. Não ficou claro
с Россией и будет ли военная деятельность НАТО
o nosso papel no sistema de defesa antimísseis, na
находиться в правовом поле Устава ООН. Не было
função de “ajudante” no qual nós não infundíamos.
ясности и относительно нашей роли в ПРО, функции
Sabíamos que os portugueses estão a favor dum nível
«помощника» в которой нам не импонировали. Мы
estratégico de parceria, e relativamente ao sistema
знали, что португальцы выступают за стратегический
antimísseis viram a Rússia como um participante de
уровень партнерства, а по ПРО видели в России
igualdade juntamente com a NATO. Havia muitos adversários desta abordagem. No entanto, em Bruxelas e outras capitais da NATO, incluindo Lisboa, estavam fortemente a tentar convencer - nos a vir de qualquer maneira. Esta lógica não estava a satisfazer a parte da Rússia. Era preciso compreender claramente, se os membros da NATO estão preparados para realmente “reiniciar” as relações ou não. Portanto, a Rússia só aceito o convite da NATO, quando todas as questões foram esclarecidas a partir de Bruxelas, e postos todos os pontos nos iii.
равного участника наряду с натовцами. Предостаточно было и противников такого подхода. Тем не менее, в Брюсселе, остальных натовских столицах, в том числе в Лиссабоне, нас усиленно убеждали приехать в любом случае. Российскую сторону такая логика не устраивала. Нужно было четко уяснить, готовы натовцы к реальной «перезагрузке» отношений или нет. Поэтому, Россия приняла приглашение НАТО только, когда на все вопросы из Брюсселя поступили соответствующие разъяснения и точки над «и» поставлены. Согласие России на участие в лиссабонском
O consentimento da Rússia para participar na
саммите СРН, впервые озвученное российским
Cimeira NRC em Lisboa, que foi proferido pelo
Президентом на российско-германо-французской
Presidente da Rússia na cimeira Rússia – Ale-
встрече в верхах 18 октября с.г. в Довиле (Франция)
manha – França em 18 de Outubro deste ano em Deauville (França), teve fundamental importância para a NATO. Com a sua presença a Rússia deu a “luz verde” ao início duma qualitativamente nova etapa de cooperação com a Aliança, uma etapa já com base no novo Conceito Estratégico. Para os membros da NATO isso foi extremamente necessário, porque eles
имело принципиальное значение для НАТО. Своим присутствием Россия включала «зеленый свет» началу качественно нового этапа взаимодействия с Альянсом, этапа, базирующегося уже на новой стратконцепции. Натовцам это было крайне необходимо, ибо они уже поняли, что любые их планы, ущемляющие
já entenderam que qualquer dos seus planos que
суверенитет и безопасность России, бубут заведомо
afecta a soberania e segurança da Rússia, seria ante-
запрограммированы на неудачу. Таким образом,
cipadamente programado para um fracasso. Assim, a
реализация стратконцепции стала бы серьезно
realização do Conceito Estratégico começava seria-
пробуксовывать. Поэтому, чтобы обеспечить наше
mente a escorregar. Por isso, para garantir a nossa
54 • Diplomática - março/abril 2011
➤
присутствие в Лиссабоне противникам сотрудничества ➤
Pavel Petrovskiy
➤
presença em Lisboa, os adversários de cooperação
➤
с Россией пришлось уступить по вопросу о
com a Rússia tiveram que desistir na questão sobre o
формате сотрудничества с нами. Партнерство все же
formato de cooperação connosco. De qualquer ma-
получило статус стратегического. В тексте появились
neira, a parceria obteve um estatuto estratégico. No
однозначные формулировки: «сотрудничество НАТО и
texto apareceram as formulações de sentido único:
России имеет стратегическую важность» и «мы хотим
“a cooperação da NATO e Rússia tem a importância
истинного стратегического партнерства между НАТО
estratégica” e “nós queremos uma verdadeira parceria
и Россией». В готовящийся в тот момент к принятию
estratégica entre NATO e a Rússia”. No projecto de
на саммите проект «Совместного заявления Совета
“Declaração conjunta do Conselho NATO – Rússia”
Россия-НАТО» (и впоследствии принятом) были
que estava a ser preparado naquele momento para
инкорпорированы положения о том, что начинается
aprovação na Cimeira (e posteriormente aprovado), fo-
«новый этап сотрудничества, ведущий к подлинному
ram incorporadas as disposições sobre o facto de estar
стратегическому партнерству», признавалось, что
a começar “uma nova etapa de cooperação que leva
«безопасность всех государств в евроатлантическом
a verdadeira parceria estratégica”, e foi reconhecido
сообществе неделима», а «безопасность НАТО и России
que “a segurança de todos os países na comunidade
взаимосвязаны».
euro – atlântica é indivisível” e “seguranças da NATO e
Если у кого-то возникнет вопрос, что в документах
Rússia estão interligados”.
речь идет лишь о перспективе стратегического
Alguém pode dizer, que nos documentos se fala
партнерства, а не о сегодняшнем дне, то ведь не секрет,
apenas sobre a perspectiva da parceria estratégica e
что пока наше сотрудничество с НАТО стратегическим
não sobre o dia de hoje, mas também não é nenhum
назвать трудно. Подтверждение тому – неспособность
segredo, que a nossa cooperação com a NATO ainda
СРН по вине «одного государства» собраться в
é difícil chamar estratégica. A confirmação disto é a in-
критический момент грузинской агрессии против
capacidade do NRC por culpa de “um Estado” se juntar
Южной Осетии и последующая спровоцированная
num momento crítico da agressão georgiana contra a
Альянсом «заморозка» российско-натовского
Ossétia do Sul e posterior “congelamento” da coopera-
сотрудничества. Термин «стратегическое» в отношении
ção Rússia – NATO, provocado pela Aliança. O termo
этого партнерства пока можно употреблять только с
“estratégica” em relação a esta parceria só se podia utilizar com verbos no futuro. A propósito, e sobre o seu principal parceiro: União Europeia, o Conceito estratégico também permite o modo indicativo, indicando que “para uma parceria estratégica entre NATO e UE é necessária a sua plena participação” nos esforços para combater as ameaças à segurança comum. É óbvio que a UE também tem as reservas inexploradas na parte do estatuto estratégico da parceria. Na declaração conjunta NRC foi fixada mais uma tese de fundamental importância, que “os Estados – membros NRC se abstenham de ameaçar ou de usar outra força uns contra os outros, bem como contra qualquer outro Estado, á sua soberania, integridade territorial e independência política de qualquer forma, mesmo incompatível com o Estatuto da ONU”. O Conceito estratégico também acentua, que “A Aliança está firmemente devotada aos objectivos e princípios do Estatuto da ONU e do Tratado de Washington, que confirma a principal responsabilidade do Conselho de Segurança de apoiar a paz e segurança internacional”. Com tais
глаголами в будущем времени. Кстати, и по поводу своего главного партнера – Евросоюза стратконцепция также допускает изъявительное наклонение, указывая, что «для стратегического партнерства между НАТО и ЕС необходимо их полнейшее участие» в усилиях по противодействию общими вызовам безопасности. Очевидно, что и у ЕС имеются неиспользованные резервы по части стратегического статуса партнерства. В совместной декларации СРН зафиксирован еще один принципиально важный тезис, что «государствачлены СРН будут воздерживаться от угрозы силой или применения силы друг против друга, равно как и против любого другого государства, его суверенитета, территориальной целостности или политической независимости в любой форме, несовместимой с Уставом ООН». Стратконцепция также акцентирует, что «Альянс твердо предан целям и принципам Устава ООН и Вашингтонского договора, который подтверждает главную ответственность Совета Безопасности за поддержание международного мира и безопасности». С
obrigações, as operações da NATO não autorizadas
такими обязательствами несанкционированные СБ ООН
pelo Conselho de Segurança da ONU, por exemplo a
операции НАТО, например, по «кальке» американского
invasão do Iraque pelos EUA e bombardeamento de
вторжения в Ирак и ковровых бомбардировок Белграда,
Belgrado, contrariavam o próprio Conceito estratégico. ➤
противоречили бы собственной стратконцепции. Важно, ➤
março/abril 2011 - Diplomática • 55
Para onde vai a Nato?
56 โ ข Diplomรกtica - marรงo/abril 2011
Pavel Petrovskiy
➤
É importante, que isto está directamente relacionado
➤
что это напрямую относится к раздающимся кое-где
com as potenciais ameaças, vindas algures do Orien-
на Западе потенциальным угрозам применения силы
te, do uso da força contra o Irão no contexto do seu
против Ирана в контексте его ядерной программы. Россия, в свою очередь, согласилась рассмотреть
programa nuclear. A Rússia, por sua vez, concordou em considerar as
западные предложения по ПРО, которая только
propostas ocidentais sobre defesa antimíssil, que seria
с нашим участием приобрела бы маломальскую
adquirir a mínima eficácia apenas com a nossa parti-
эффективность. В результате, в российско-натовском
cipação. Como resultado, na Declaração da Rússia –
заявлении отмечается, что стороны договорились
NATO destaca-se, que as partes concordaram traba-
работать по данному направлению по следующему
lhar nessa direcção com o seguinte cronograma: a)
графику: а) СРН осуществляет совместную оценку
NRC realiza uma avaliação conjunta das ameaças da
угроз со стороны баллистических ракет, б) СРН
parte de mísseis balísticos, b) NRC renova a coopera-
возобновляет сотрудничество по ПРО ТВД, в) СРН
ção na defesa antimísseis no Teatro de operações, c)
поручается разработать всеобъемлющий совместный
NRC encarrega-se de elaborar uma análise geral con-
анализ будущих рамочных усилий сотрудничества
junta dos futuros esforços de cooperação no âmbito da
в области ПРО, г) этот анализ рассматривается на
defesa antimísseis, d) esta análise é considerada na
встрече министров обороны стран-членов СРН в
reunião de Ministros da Defesa dos países – membros
июне 2011 г. В российском понимании речь должна
do NRC em Junho de 2011. No entender da Rússia,
идти о такой ПРО, которая бы имела уравновешенную
tem que se falar sobre um sistema de defesa antimís-
систему управления, а не выглядела бы как попытка
seis, que teria um sistema de gestão equilibrado e
«пристегнуть» Россию к упомянутым американским
não parecia uma tentativa de “amarrar” a Rússia aos
планам «поэтапного адаптированного подхода» в роли
referidos planos americanos de “abordagem gradual
«сопутствующего». На саммите в Лиссабоне Президент
adaptada” no papel de “concomitante”. Na Cimeira
Д.А.Медведев представил наше видение евроПРО,
em Lisboa o Presidente M.A. Medvedev apresentou
получившее определение «секторального подхода»,
a nossa visão do sistema europeu de defesa antimís-
о котором он объявил в ходе пресс-конференции по
seis, que foi determinada como “abordagem sectorial”, sobre qual ele anunciou na conferência de imprensa
итогам лиссабонского саммита. Еще одним и важным ориентиром для НАТО в плане
sobre resultados da Cimeira de Lisboa. Mais um ponto de referência importante para a NATO, em termos de necessidade crescente de cooperação
возрастающей потребности сотрудничества с Россией стал Афганистан. Увязнув в многолетней войне в этой стране и неся все большие потери, североатлантические
com a Rússia, tornou-se o Afeganistão. Atolados em anos de guerra neste país, suportando as perdas cada vez maiores, os aliados da aliança do atlântico norte
союзники заговорили о политике «афганизации», предусматривающей постепенную передачу функций внутренней безопасности правительству в Кабуле,
começaram a falar sobre política de “afeganização”
а также о поэтапном выводе контингентов МССБ.
que prevê a transferência gradual das funções da segurança interna para Governo em Cabul, bem como a retirada gradual do contingente de Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF). A execução desta estratégia, apesar de ser apoiada pela comunidade internacional em duas conferências sobre Afeganistão – 28 de Janeiro de 2010 em Londres e em 20 de Julho do mesmo ano em Cabul, vai exigir grandes esforços nos próximos dois anos. É necessário não só preparar as forças de segurança afegãs, progredir e alcançar a reconciliação nacional, mas também eliminar o tráfico de drogas, que abastece mais de 70% do mercado
Реализация этой линии, несмотря на ее поддержку международным сообществом на двух конференциях по Афганистану - 28 января 2010 г. в Лондоне и 20 июля того же года в Кабуле, потребует титанических усилий в течение двух ближайших лет. Нужно не только подготовить афганских силовиков и добиться сдвигов в достижении национального согласия, но и ликвидировать наркотрафик, обеспечивающий более 70% европейского рынка наркотиков. Россия неоднократно указывала натовцам путь к решению этой проблемы, предлагая наладить
europeu de droga.
сотрудничество с обеих сторон границы между НАТО
A Rússia tem repetidamente indicado aos membros
и ОДКБ, успешно проводящей антинаркотическую
da NATO o caminho para a resolução deste problema,
спецоперацию «канал» в приграничных районах
propondo a cooperação entre os dois lados da fronteira
Афганистана. Осознание нашей правоты начало
entre NATO e Organização do Tratado de Segurança
появляться только сейчас. В конце октября с.г. Россия ➤
➤
março/abril 2011 - Diplomática • 57
Para onde vai a Nato?
➤
Colectiva (CSTO), que está a realizar com sucesso
➤
и США во взаимодействии с МССБ и афганской
a operação específica de combate às drogas “Canal”
армией провели первую совместную операцию по
nas zonas fronteiriças do Afeganistão. A consciência
уничтожению на территории Афганистана четырех
da nossa razão começou a surgir somente agora. No
нарколабораторий и 932 кг героина. Лучше поздно, чем
final de Outubro deste ano a Rússia e os EUA em cola-
никогда. По-прежнему востребована инициатива по
boração com ISAF e forças afegãs realizaram a sua
созданию при участии соседних с Афганистаном стран
primeira operação conjunta de destruição de quatro
поясов антинаркотической и финансовой безопасности,
laboratórios de droga no território de Afeganistão e de
предполагающих перехват перевозимых наркогрузов
932 kg de heroína. Mais vale tarde do que nunca. Con-
и усиленный мониторинг за трансграничным
tinua a ser exigida a iniciativa de estabelecimento das
перемещением денежных средств, которые могли быть
zonas de combate à droga e segurança financeira com
выручены в результате незаконного сбыта наркотиков.
participação dos países – vizinhos de Afeganistão, que
В НАТО постепенно формируется понимание, что без
envolvem a interceptação de droga transportada e um
России проблему незаконного оборота наркотиков не
maior controlo de movimento transfronteiriço de fundos
решить.
monetários que poderiam ser obtidos com a venda
Если к этому добавить наш вклад в транзит военных
ilegal de drogas. Dentro da NATO está-se a formar a
и гражданских грузов, то становится абсолютно ясно,
ideia de que sem a Rússia o problema de tráfico ilegal
что наше содействие в афганских делах для НАТО
de droga não se resolve.
необходимо, как воздух. Очевидно и то, что чем такое
Se juntarmos a isso a nossa contribuição para o trânsi-
сотрудничество плотнее, тем эффективней действия
to de mercadorias militares e civis, fica absolutamente
МССБ, прочнее позиции правительства в Кабуле, а,
claro, que a nossa colaboração nos assuntos afegãos
следовательно, очевиднее перспективы национального
é necessária para a NATO, como o ar. Também é
согласия, и, наконец, ближе цель передачи полномочий
evidente, que por mais densa a tal cooperação, mais
в сфере безопасности афганским властям и вывода
eficazes as acções da ISAF, mais forte a posição do
коалиционных войск к 2014 г. Как раз эти цели
Governo em Cabul, e portanto, mais aparentes as
заложены в подписанное на полях саммита НАТО
perspectivas de acordo nacional, e finalmente, aproxima-se o objectivo de transmissão de poderes no âmbito de segurança às autoridades afegãs e retirada das tropas da Coligação até 2014. São estes os objectivos previstos no Acordo sobre parceria entre Afeganistão e Aliança, assinado na Cimeira da NATO. Aprovado um Acordo adicional entre a Rússia e NATO sobre o trânsito ferroviário inverso de mercadorias ilegais, também o Acordo sobre expansão do projecto de NRC sobre preparação pela Rússia dos recursos humanos para o combate contra a droga devido à inclusão do Paquistão na qualidade de pais – participante, junto com o Afeganistão, Cazaquistão, Quirguízia, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão. Além disso, foi decidido estabelecer em 2011 um fundo especial de NRC para preparação do pessoal de terra afegão, bem como compra de peças de reposição para manutenção de helicópteros russos. A Cimeira NRC em Lisboa confirmou a conclusão sobre o interesse significativo da NATO na ajuda da Rússia para o Afeganistão. Como resultado das decisões aprovadas em Lisboa,
соглашение о партнерстве между Афганистаном и Альянсом. Одобрено дополнительное соглашение между Россией и НАТО об обратном железнодорожном транзите нелетальных грузов, а также договоренность о расширении проекта СРН по подготовке Россией антинаркотических кадров за счет включения в качестве станы участницы Пакистана наряду с Афганистаном, Казахстаном, Киргизией, Таджикистаном, Туркменистаном и Узбекистаном. Кроме того, решено создать в 2011 г. целевой фонд СРН по подготовке афганского наземного персонала и покупке запчастей для обслуживания российской вертолетной техники. Лиссабонский саммит СРН подтвердил вывод о существенной заинтересованности НАТО в российской помощи по Афганистану. В результате принятых в Лиссабоне решений НАТО получало то, к чему настойчиво стремилось - «второе дыхание». После всего этого объективные обстоятельства и основанная на фактах логика с очевидностью диктовали ответ на вопрос – куда же
a NATO recebia aquilo que tanto procurou: “segunda
теперь идти НАТО. Хотелось натовцам того или нет,
respiração”. Depois de tudo isso as circunstâncias
но без нашей доброй воли и немалой дипломатической
objectivas e lógica, baseada nos factos, evidentemente
гибкости упомянутое «второе дыхание» у Альянса,
davam resposta à pergunta: para onde tem que ir a
ведь, могло бы и не появиться. В ходе мероприятий в
NATO agora. Gostassem os membros da NATO
Лиссабоне подтвердился факт, что без России НАТО ➤
58 • Diplomática - março/abril 2011
➤
Pavel Petrovskiy
➤
ou não, mas sem a nossa boa vontade e flexibili-
➤
не в состоянии ни решать масштабные проблемы
dade diplomática considerável, a referida “segunda
международной безопасности такие как, например,
respiração” da Aliança, na verdade, poderia não
ПРО, ни эффективно бороться с новыми вызовами
aparecer. No decorrer dos acontecimentos em
и угрозами, в частности, афганским наркотрафиком.
Lisboa confirmou-se o facto, que sem a Rússia a
Цепочку компонентов, формирующих безусловную
NATO não é capaz de resolver grandes problemas
заинтересованность НАТО в России можно без труда
de segurança internacional, como, por exemplo,
продолжить, если, конечно, задаться такой целью.
sistema de defesa antimíssil, nem de lidar eficaz-
Однако было бы иллюзией полагать, что после
mente com novas ameaças e desafios, nomeada-
саммитов НАТО и СРН Альянсу не останется ничего
mente, o tráfico de drogas no Afeganistão. A cadeia
иного, как рука об руку с Россией без каких-либо
de componentes que formam interesse incondicional
шероховатостей и накладок сконцентрироваться на
da NATO na Rússia pode-se facilmente prolongar, se
новых вызовах и угрозах. Лиссабон только придал
definir essa finalidade, claro.
импульс движению в этом направлении, подготовил
No entanto, seria uma ilusão pensar, que depois das
его «пусковой механизм». Противоречия внутри НАТО
Cimeiras da NATO e NRC à Aliança não resta outra
в отношении России, к сожалению, сами собой не
hipótese senão às mãos dadas com a Rússia, sem
исчезнут. Сравнительно небольшая группа стран из
quaisquer asperezas e sobreposições, concentrar-se
числа новых членов продолжает упорно тормозить
nas novas ameaças e desafios. Lisboa apenas deu um
сближение НАТО и России. По этой причине, на
impulso ao movimento nessa direcção, preparou o seu
которую обратила внимание в своей статье «НАТО и
“mecanismo de lançamento”. As contradições dentro
Россия, новые стратегические направления» доцент
da NATO em relação a Rússia, infelizmente, não vão
Университета Минью С.Фернандеш, отсутствует
desaparecer por si. Relativamente pequeno grupo de
ясность по вопросу – как будут выстраиваться с
países dos novos membros, continua obstinadamente
нами партнерские связи и на какой уровень доверия
travar a aproximação da NATO e Rússia. Por esta ra-
мы могли бы выйти в короткой перспективе. Без
zão, pela qual chamou a atenção o Docente da Univer-
предельно точных ответов на эти вопросы заложенный
sidade do Minho S. Fernandes no seu artigo “NATO
в стратконцепция НАТО позитив может оказаться
e Rússia, novas direcções estratégicas” falta clareza sobre a questão: como se vão estabelecer as ligações de parceria connosco e até a que níveis de confian-
фикцией, а новые принципы и цели останутся благими намерениями. Со стороны России была предложена
ça poderíamos chegar a curto prazo. Sem respostas extremamente precisas a estas perguntas, o positivo depositado no Conceito estratégico da NATO pode-se tornar uma ficção, e os princípios e objectivos novos
взаимоприемлемая развязка, которая позволила бы обеспечить надлежащий уровень такого доверия. Президент Д.А.Медведев, причем еще в июне 2008 г., выступил с инициативой по заключению Договора
ficam somente como boas intenções. Da parte da Rússia foi proposta uma solução mutuamente aceitável, que permitiria garantir o devido nível de tal confiança. O Presidente D. A. Medvedev ainda em Junho de 2008 interveio com uma iniciativa de celebração dum Tratado de Segurança Europeia (EST). Em Dezembro de 2009 aos Chefes de Estado e Governos dos países interessados foi entregue o projecto russo deste documento. O sentido da iniciativa russa se encerrava na confirmação de forma juridicamente obrigatória da cadeia dos princípios dos documentos básicos do NRC e da OSCE. Antes de tudo, tratavase de segurança igual e indivisível e inadmissibilidade
о европейской безопасности (ДЕБ). В декабре 2009 г. главам государств и правительств заинтересованных стран был передан российский проект этого документа. Смысл российской инициативы заключался в подтверждении в юридически обязывающей форме ряда принципов базовых документов СРН и ОБСЕ. Прежде всего, речь шла о равной и неделимой безопасности и недопустимости обеспечения безопасности одних стран за счет других. В практическом плане потенциальным участникам договора предлагалось учредить механизм оперативных консультаций в острых ситуациях между государствами и организациями
de garantia de segurança duns países por conta dos
(НАТО, ЕС, ОБСЕ, СНГ и ОДКБ), действующими в
outros. Em termos práticos, aos potenciais participan-
сфере безопасности от Ванкувера до Владивостока.
tes do Tratado foi proposto instituir um mecanismo de
Хотя многие члены НАТО, включая Португалию,
consultas rápidas nas situações críticas entre países e
восприняли ДЕБ положительно, выйти на скорое
organizações (NATO, EU, OSCE, CIS e CSTO) que
подписание этого документа не получилось. Работа ➤
➤
março/abril 2011 - Diplomática • 59
Para onde vai a Nato?
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atuam no âmbito de segurança, de Vancouver a Vla-
➤
по ДЕБ приобрела форму академической дискуссии
divostok. Embora muitos membros da NATO, incluindo
на целом ряде площадок, причем с упором не на
Portugal, perceberam EST de forma positiva, mas
проблематику «жесткой безопасности», к которой ДЕБ
chegar à breve assinatura deste documento não se
имеет непосредственное отношение, а в контексте
conseguiu. Trabalho sobre EST tornou-se numa forma
общей «корзины» ОБСЕ, включающей «мягкую
de discussão académica numa série de áreas, contudo
безопасность» - ее экономические, гуманитарные,
não focando no problema de “segurança rígida” com
культурные, климатические и другие аспекты. Главной
qual o EST tem a relação directa, mas sim no contexto
из дискуссионных площадок стал так называемый
de “cesto” global da OSCE, incluindo a “segurança
«корфуский процесс», начало которому положила
mole”: seus aspectos económicos, humanitários, cultu-
неформальная встреча министров иностранных дел
rais, climáticos e outros. Como plataforma principal de
ОБСЕ в июне 2009 г. на греческом острове Корфу.
discussões ficou o chamado “processo de Corfu” a que
Ход обсуждения показывает, что коллегам по НАТО
deu origem a reunião informal dos Ministros de negó-
потребуется еще какое-то время, чтобы разобраться
cios estrangeiros da OSCE em Junho de 2009 na ilha
в сути ДЕБ, понять, что ДЕБ направлен не на подрыв
grega de Corfu. O decorrer da discussão mostra que
статьи 5 Вашингтонского договора о коллективной
os colegas da NATO ainda vão precisar de algum tem-
безопасности НАТО, не на раскол между США и
po para entender a essência do EST, para perceber
Европой и вовсе не на «восстановление позиций»
que EST não está direccionado a prejudicar o artigo 5º
России в качестве сверхдержавы как считают некоторые
do Tratado de Washington sobre Segurança colectiva
политологи, а на превращение пространства от
da NATO, nem para separação dos EUA e Europa,
Ванкувера до Владивостока в регион подлинного
nem, de modo nenhum, para “restabelecimento das
доверия и стабильности.
posições” da Rússia no papel de Superpotência, como
Несмотря на то, что принятые на саммитах в
pensam alguns politólogos, mas sim para transformar
Лиссабоне документы, как и ход дискуссии, не выявили
o espaço de Vancouver a Vladivostok numa região de
принципиальных перемен в восприятии ДЕБ странами
confiança e estabilidade genuínas.
Альянса, само существование российской инициативы
Apesar do facto, os documentos aprovados nas Cimeiras de Lisboa, bem como o próprio andar da discussão não revelaram as mudanças principiais na percepção do EST pelos países da Aliança, a própria existência da iniciativa russa incentiva a NATO a se mover na única direcção certa e lógica: em direcção de aproximação com a Rússia. Sobre isso testemunha a polémica que se desenvolveu na véspera da Cimeira da NATO sobre a questão de parceria. Discutiram-se, em particular, as propostas de separar os parceiros para estratégicos e habituais. Uns consideravam o parceiro estratégico a União Europeia por causa de comunidade territorial e presença nos 28 países da NATO do 21º membro da EU, e também por causa de “valores comuns” e objectivos. Outros acreditavam, que a EU e a NATO, em geral, são quase um único organismo, no qual os recursos fluem como nos recipientes comunicantes. Ainda outros, ao contrario, questionavam abertamente a possibilidade de construir uma cooperação militar eficaz entre EU e a NATO. Entre os parceiros estratégicos também indicavam a Rússia, Índia, China
стимулирует НАТО к движению в единственном логически верном направлении – в сторону сближения с Россией. Об этом свидетельствует развернувшаяся в преддверии саммита НАТО полемика вокруг вопроса о партнерстве. Обсуждались, в частности, предложения разделить партнеров на стратегических и обычных. Одни причисляли к стратегическим партнерам Евросоюз в силу территориальной общности и присутствия в составе 28-и стран НАТО 21-го члена ЕС, а также «общности ценностей» и задач. Другие полагали, что ЕС и НАТО, вообще, почти единый организм, в котором ресурсы перетекают как по совмещающимся сосудам. Третьи, наоборот, откровенно сомневались в возможности наладить эффективное военное сотрудничество между ЕС и НАТО. Среди стратегических партнеров называли также Россию, Индию, Китай и Бразилию. Были и попытки противопоставлять Россию по важности для НАТО перечисленным странам. На многочисленных научно-теоретических семинарах,
e Brasil. Houve também tentativas de colocar a impor-
состоявшихся в Лиссабоне, высказывалось даже мнение
tância da Rússia para NATO no sentido oposto dos
о целесообразности принятия России в НАТО, что,
países referidos.
дескать, явилось бы адекватным ответом Запада на ДЕБ
Nos vários seminários científicos e teóricos, reali-
и автоматически придало бы принципу неделимости
zados em Lisboa, expressou-se ainda a opinião
безопасности юридически обязывающую силу. ➤
60 • Diplomática - março/abril 2011
➤
Pavel Petrovskiy
➤
de conveniência da entrada da Rússia na NATO,
➤
Однако большинство аналитиков все же склоняется
o que, dizem, seria uma resposta adequada do
к более реалистичным подходам, отмечая отсутствие
Ocidente para EST e automaticamente dava uma
убедительной аргументации для такой постановки
força juridicamente obrigatória ao princípio de
вопроса. В частности, приводились доводы о том,
indivisibilidade da segurança. No entanto, a maioria
что в членстве России незаинтересована как она
dos analistas ainda se inclinam para uma abordagem
сама, так и натовцы, которые не хотели бы иметь в
mais realista, indicando a ausência de argumentação
Альянсе второго после США «первого среди равных»,
convincente para tal formulação da questão. Em parti-
не говоря о вполне предсказуемом противодействии
cular, alegaram, que não há interesse na participação
этому натовских «новобранцев». Окончательную
da Rússia, como da própria Rússia nem dos membros
ясность в этот вопрос внес на лиссабонской пресс-
da NATO, que não gostariam de ter na Aliança o 2º de-
конференции Д.А.Медведев, заявивший, что в
pois dos EUA “primeiro entre iguais”, não falando ainda
настоящий момент он не видит ситуации, когда Россия
na oposição previsível dos novos membros da NATO.
могла бы присоединиться к Североатлантическому
A questão final foi esclarecida pelo D.A. Medvedev na
альянсу. Однако, по словам Президента России, всё
conferência de imprensa em Lisboa, que declarou, que
меняется, меняется и Североатлантический альянс.
actualmente ele não vê a situação em que a Rússia se
И он не исключает, что может стать вопрос о нашем
poderia juntar à NATO. No entanto, de acordo com o
более тесном сотрудничестве. «Во всяком случае, -
Presidente russo, tudo muda, muda a Aliança também.
подчеркнул Д.А.Медведем, - то, что на сегодняшний
E ele não exclui, que pode-se levantar a questão da
день наши отношения стали гораздо ближе и гораздо
nossa cooperação mais próxima. “De qualquer ma-
более прозрачными, более предсказуемыми, наводит на
neira, sublinhou D.A. Medvedev, o facto que no dia
мысль о том, что их потенциал абсолютно не исчерпан,
de hoje as nossas relações tornaram-se muito mais
и сближение наших подходов по всем позициям будет
próximas e mais transparentes, mais previsíveis, leva
продолжено».
a conclusão que seu potencial não está esgotado, e
Если попытаться взглянуть в будущее, то можно с
a aproximação das nossas abordagens em todas as
определенной долей уверенности полагать, что в
atitudes vai continuar”. Se tentássemos olhar para o futuro, com alguma determinada parte de certeza podíamos dizer, que dentro da NATO, vai-se reforçar a compreensão da necessidade de construção das relações qualitativamente novas com a Rússia. O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal L. Amado, nesse sentido afirmou, que “o entendimento mútuo entre a NATO e a Rússia é muito importante no período de alta tensão geopolítica, que o mundo vai enfrentar nos próximos anos”. A melhor opção de nova construção das nossas relações é uma parceria avançada, que obteve um novo impulso na Cimeira NRC em Lisboa. O princípio básico destas relações só pode ser “segurança indivisível”, que, embora na conversa já é aceite pela NATO, não obterá imediatamente o formato do conceito juridicamente obrigatório, mas sim durante os processos de alinhamento das relações confiáveis de parceria, que não são fáceis, através de gradual ajustamento em todas as direcções da nossa cooperação. Não seria um erro de supor, que em 2011 a área mais complicada e
НАТО будет укрепляться понимание необходимости выстраивания качественно новых связей с Россией. Министр иностранных дел Португалии Л.Амаду в этой связи заявил, что «взаимопонимание между НАТО и Россией весьма важно в период высокой геополитической напряженности, с которой столкнется мир в ближайшие годы». Оптимальным вариантом дальнейшего выстраивания наших отношений представляется продвинутое партнерство, получившее новый импульс на саммите СРН в Лиссабоне. Базовым принципом этих отношений может быть только «неделимая безопасность», которая, хотя и на словах признается в НАТО, но обретет формат юридически обязывающего понятия далеко не сразу, а в ходе непростых процессов выстраивания доверительных партнерских связей, путем постепенной притирки по всем азимутам нашего сотрудничества. Не будет ошибкой предположить, что в 2011 г. наиболее сложными и напряженными сферами такой притирки станет именно ПРО, в позициях сторон
tensa deste ajustamento será exactamente o sistema
по которой пока никаких точек соприкосновения
antimísseis, sobre o qual as posições das partes por
попросту нет, а лиссабонские заявления на эту тему
enquanto não têm pontos em comum, e as declara-
представляют собой не более, чем договоренности о
ções de Lisboa sobre essa questão são nada mais do
намерениях. По словам нашего Президента, самим
que acordos de intenções. Segundo o nosso
европейцам еще «предстоит разобраться, где их ➤
➤
março/abril 2011 - Diplomática • 61
Para onde vai a Nato?
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Presidente, os próprios europeus ainda “têm que des-
➤
место, как будет выглядеть в конечном счёте идея
cobrir, onde é o seu lugar, como é que vai ser no final
европейской противоракетной обороны, особенно
a ideia de defesa europeia antimísseis, especialmente
после того, как она будет завершена, условно говоря,
depois de ela ser concluída, supomos, até 2020. Nós,
к 2020 году. Мы, в свою очередь, должны разобраться,
por sua vez, devemos entender, onde é o nosso lugar,
где наше место, и, конечно, мы должны исходить
e, obviamente, temos que partir do facto que a nossa
из того, что наше участие должно быть абсолютно
participação deve ser absolutamente equitativa”. Nada
равноправным». Не менее сложно и болезненно будут
menos complicadas e dolorosas seriam as negociações
продвигаться переговоры между Россией и странами
entre a Rússia e os países da NATO sobre o Tratado
НАТО по ДОВСЕ с учетом того, что восстановление
CFE tendo em conta, que o restabelecimento dos re-
жизнеспособности режимов контроля над обычными
gimes viáveis de controlo de armas usuais, é baseado
вооружениями базируется на взаимных мерах доверия,
nas medidas mútuas de confiança, que exigem escru-
которые требуют кропотливого согласования. Нужны
pulosa coordenação. São necessários os compromis-
конкретные обязательства НАТО в отношении
sos concretos da NATO em relação á manifestação de
проявления сдержанности в военной сфере, в
discrição no palco militar, nomeadamente, não colocar
частности, не размещении на территории новых членов
as chamadas “forças substanciais de combate” no
так называемых «существенных боевых сил». В целом,
território dos novos membros. Em geral, os progressos
продвижение по ПРО и ДОВСЕ уже в ближайшее время
sobre sistema antimísseis e Tratado CFE já nos próxi-
будет реальным индикатором готовности натовских
mos tempos seriam um indicador real da prontidão dos
коллег к декларированному ими в стратконцепции
colegas da NATO para uma parceria verdadeiramente
подлинно стратегическому партнерству.
estratégica, declarada por eles no Conceito estratégico.
Иными словами однозначно ответить на вопрос
Por outras palavras, neste momento não é fácil
«Куда идет НАТО?» на данный момент непросто. Нет
responder duma maneira única à pergunta “para
сомнений, что в течение ближайших десяти лет Альянс
onde vai a NATO?”. Não há dúvidas, que nos próxi-
будет стремиться занять позицию ведущей мировой,
mos dez anos a Aliança vai tentar ocupar a posição
причем ядерной, структуры в сфере международной
duma estrutura de liderança mundial, além do mais nuclear, no âmbito de segurança internacional, que tem a responsabilidade de opor-se às novas ameaças, como também da regulação da crise. Não está muito claro, como nas novas condições vão funcionar na prática o artigo 5º do Tratado de Washington sobre Segurança colectiva, e artigo 4º na parte de consultas mais sólidas não só com aliados mas também com parceiros, previstas pelo Conceito estratégico. Há motivo para pensar. Ao mesmo tempo, é um facto indiscutível, que sem interacção com a Rússia não há alternativa de implementação do Conceito estratégico de Lisboa na parte de novas ameaças e desafios. Isso vai objectivamente empurrar a NATO na direcção de relações de parceria connosco. Em que formato e em que momento elas começam a ganhar força e se vão chegar ao nível de cooperação confiável, ou começa mais um recuo por quaisquer razões subjectivas, como já aconteceu varias vezes na nossa história, é melhor não adivinhar. Em qualquer caso, repetindo a ideia do Presidente D.A.
безопасности, отвечающую как за противодействие новым угрозам, так и кризисное регулирование. Не совсем понятно, как в новых условиях будут на практике работать статья 5 Вашингтонского договора о коллективной безопасности и статья 4 в части предусмотренных стратконцепцией более плотных консультаций не только с союзниками, но и партнерами. Есть над чем подумать. В то же время непреложным фактом является то, что альтернативы реализации лиссабонской стратконцепции в части новых вызов и угроз без многопланового взаимодействия с Россией не существует. Это будет объективно подталкивать НАТО в направлении партнерских отношений с нами. В каком формате и в какие сроки они наберут обороты и выйдут ли на уровень доверительного взаимодействия или начнется очередной откат по каким-либо субъективным обстоятельствам, как это было не раз в нашей истории, лучше не предугадывать. В любом случае, повторяя мысль Президента Д.А.Медведева, можно с уверенностью
Medvedev, podemos dizer com certeza, que as pro-
сказать, что масштабы и уровень взаимодействия
porções e nível de interacção dos membros NRC em
членов СРН в значительной степени будут зависеть
grande medida vão depender da evolução posterior da
от дальнейшей эволюции Альянса. Но шансы для
Aliança. Mas oportunidades para uma aproximação são
сближения все же очевидны, и упускать их было бы
evidentes, e perdê-las seria um erro imperdoável.
непростительной ошибкой. ■
■
Pavel Petrovskiy
62 • Diplomática - março/abril 2011
Política
Adriano Moreira
por Maria da Luz de Bragança e Jorge Urbano, fotos Ligia Correia
O último senador É absolutamente fascinante falar com este velho senhor da política portuguesa, nome referencial de pensador e professor insigne. Em conversa solta, deparasse-nos um homem sem idade, discorrendo sobre o passado e o futuro da velha Europa e do Ocidente.
➤
64 • Diplomática - março/abril 2011
Num artigo de há cerca de vinte
tradição europeia espantosa - que é
Rússia. Porque a Rússia dissolveu-se
anos, o Professor mencionava o
a de que nenhum país tem um país
por dentro; não foi por combate ou
facto de a Europa ter falta de von-
vizinho mas sim um inimigo íntimo. É
por supremacia da aliança ocidental.
tade de poder, servindo apenas de
assim que nós vivemos.
E os ocidentais, neste momento, com
conselheira entre os japoneses e
Por isso, quando acaba a guerra de
as doutrinas que foram desenvol-
americanos. Como é que vê, neste
1939-45, os Aliados, de facto, eram
vendo, sobretudo durante a regência
momento, o papel da Europa?
os vencedores da guerra. Ou melhor,
republicana do presidente Bush, em
Acho que, nos últimos tempos, deu-
apenas não a tinha perdido. Os Esta-
que América apresenta uma atitu-
se uma mudança radical no que diz
dos Unidos, nesse momento, tiveram
de unilateralista muito diferente da
respeito à estrutura internacional - e
consciência de que são ocidentais.
solidariedade que houve durante a
que foi o desaparecimento daquilo a
Na verdade, os EUA esqueceram-
guerra, e que os europeus esquece-
➤
que tenho chamado de” Império Eu-
se que o Oceano deles é o Pacífico
ram muito rapidamente. Mas, imedia-
romundialista”. E que começa com as
e viraram-se para o Atlântico, pelas
tamente, pensaram nas rivalidades e
descobertas portuguesas que vão es-
solidariedades e riscos que efectiva-
começou a aparecer um europeísmo
tabelecendo uma hegemonia ociden-
mente existiam. E julgo que foi come-
anti-América.
tal em todo o globo, e que assume a
tido um erro de avaliação quando se
Não interessava também, aos EUA,
sua forma na Conferência de Berlim,
fundaram as Nações Unidas.
que a Europa não ficasse toda
em 1885. Nessa última conferência
E porquê? Em primeiro lugar, porque
junta num bloco?
– que considero como um marco – o
os ocidentais é que escreveram a
Eu diria que sim. Mas, em primeiro
predomínio ocidental era evidente
carta, os ocidentais é que escreveram
lugar, eles morreram pela Europa;
e Portugal, que apesar de sofrer o
a Declaração Universal dos Direitos
segundo lugar, eles ajudaram a
Ultimato em 1890, fica como sendo o
do Homem. Os ocidentais, com o
construir a Europa, sem eles não
titular de uma parcela desse “Império
seu império, tinham uma divisão do
haveria reconstrução possível da
Euromundialista”. O tal apoio externo
mundo fácil: havia o nosso império
Europa. Mas a Europa também tem
de que nós sempre dependemos - e
e o resto do Mundo. E, portanto, a
o seu credo. E o credo da América
precisamos - desde a fundação do
organização foi vítima de um fenó-
abrange pelos menos estes pontos:
reino; ficámos participantes nesse
meno importante: as imagens duram
eles acham que são a nação indis-
império global, o que dá uma consis-
sempre mais tempo que os factos. O
pensável; a eles compete assegurar
tência muito grande à estabilidade
império pensa que ainda tem a mes-
a ordem do Mundo; o Mundo deve-se
dessa presença portuguesa, apesar
ma força nesta hora de crepúsculo. E,
organizar democraticamente pelo
de a economia ser débil e de o país
por isso, vê-se organizar a segurança
modelo americano; o Mundo deve-se
ser pequeno, da vida interna ter as
no Conselho de Segurança, onde a
organizar pela doutrina económica
complicações que sempre teve...
França e a Inglaterra têm direito de
americana; e, mesmo com a evolução
O Bispo do Porto, D. Manuel, há pou-
voto e antes não tinham qualquer
que se tem seguido com a adminis-
co tempo chamava à atenção dizen-
poder universal. De tal maneira, muito
tração de Obama, ainda não se põe
do que em 1810 foi preciso afundar o
rapidamente, o Mundo passou a ser
em causa estes princípios. Apenas a
Estado, em 1910 foi preciso afundar
governado, não pela ordem que esta-
maneira de agir se tornou diferente.
o Estado e que agora, cem anos
va marcada, mas pela ordem que os
Nós, na Europa, aquilo que fizemos
depois, talvez seja preciso o mesmo.
factos ditaram. Porque foi a NATO e
foi uma demarche galvanizada que
Mas esta circunstância da dependên-
o Pacto de Varsóvia - e a ordem que
tem interventores notabilíssimos,
cia externa que Portugal, lava a que
estabeleceram é que foi a ordem do
entre os quais, Jean Monnet. Tivé-
esse Império caia com os conflitos
Mundo. Teve a paz na Europa, mas
mos grandes doutrinadores desta
internos ocidentais, com as duas
foi um governo de metades.
ideia que os europeus não podem
guerras mundiais e, em especial, com
Nós tivemos duas Europas, duas
ser inimigos íntimos. Simplesmen-
a última Grande Guerra.
Alemanhas, duas cidades de Berlim,
te isto foi transferido para o Atlân-
Mas essa guerra só foi mundial nos
duas Coreias… E quando acabou
tico, quando começou o nascer o
efeitos, uma vez que todos os povos
esta situação chamada de Guerra
europeísmo e o americanismo. Ao
sofreram com ela. Porque, de facto,
Fria aconteceu o que se havia veri-
contrário, com aquelas doutrinas
foi uma guerra civil entre ocidentais,
ficado na última guerra mundial: os
do Neo-Conservadorismo america-
em que os responsáveis foram os
Aliados julgaram que tinham ganho,
no, do choque das civilizações, etc.
países ocidentais, porque havia uma
mas apenas não perderam contra a
E nós, aquilo que começamos ➤
março/abril 2011 - Diplomática • 65
Adriano Moreira
a fazer foi uma organização eco-
bou, a influência da Igreja diminuiu,
não sei se o Presidente é Presidente
nómica da Europa: as comunida-
o serviço militar obrigatório acabou.
das três religiões. Porque a mudança
des. Eu acho interessante quando
E o aparelho educativo ficou vazio,
foi radical. De maneira que esta mu-
no fim da vida, nas suas memórias,
recebendo o peso todo e também as
dança dos valores é fundamental. As
o Jean Monnet diz que se fosse
críticas todas.
matrizes valorativas estão todas em
hoje começaria pela Cultura e não
Outra coisa que desapareceu foi o
causa em todo o nosso Ocidente, ao
pela Economia.
valor das fronteiras geográficas na
mesmo tempo que perdemos a nossa
O que eu acho que aconteceu na
Europa. As fronteiras são hoje ape-
hegemonia. Porque se virem os dis-
Europa foi um relativismo tremendo,
nas um apontamento administrativo.
cursos que vêm depois da Conferên-
e tenho resumido esse relativismo
Depois os países tentaram ter uma
cia de Berlim, a justificar a ida para as
a este conceito: substituíram o valor
fronteira. Veja o caso de Portugal:
colónia,s falam claramente que que-
das coisas pelo preço das coisas. E
temos fronteiras geográficas que são
rem saber das matérias-primas e de
isto foi o que fez que o relativismo se
apenas apontamentos administra-
mercados para produtos acabados.
instalasse. O relativismo que se ins-
tivos, mas a fronteira económica é
Mas vão acrescentando que também
talou fez enfraquecer os valores que
a da União Europeia; a fronteira de
farão outras coisas. Nós faremos a
são valores estruturantes da Europa,
segurança é a da NATO. E, portanto,
evangelização, os franceses dizem
designadamente, a referência aos
as fronteiras multiplicaram-se. As fi-
que vão levar as luzes; os ingleses
valores religiosos.
delidades são outras e são múltiplas.
a civilização, mas não as matérias-
Parece-lhe que, paralelamente - e
Mas também a sociedade civil, que
primas e os produtos acabados. A
ao longo de todo esse percurso -,
leva tanto tempo – séculos mesmo –
Europa não tem isso, está dependen-
a Igreja perde força e passa a um
a construir, com a forma mais perfeita
te - neste momento - disso.
consultor, não tendo já mais direi-
que nós conhecemos que é a manei-
A propósito desta decadência
tos sobre as consciências?
ra das pessoas terem maior devoção,
e do estado a que isto chegou
A recusa de fazer referência aos
dedicação e solidariedade. As migra-
em termos genéricos europeus,
valores religiosos foi culpa do tratado
ções descontroladas, que a nova eco-
podemos falar de uma comissão
constitucional. O problema mais sério
nomia liberal de mercado provocou,
liquidatária que julga estar investi-
é que as estatísticas demonstram
em que as pessoas se deslocam para
da de poder para levar a cabo essa
➤
que a declaração de pertença a uma
fugir da miséria ou da guerra, para
destruição?
Igreja institucionalizada diminui, mas
lugares que a propaganda e os meios
Não posso dizer que tenham essa
o apelo à transcendência está a
de comunicação descrevem como
consciência. O que verifico é que
aumentar. O que dá origem a estas
sendo uma sociedade rica, influente,
faltam grandes líderes como os que
organizações novas, dispersas, meio
consumista. Essa gente entrou sem
outrora tivemos na Europa. Estas
cósmicas, meio seitas.
nenhuma política de integração, de
mudanças todas estão, realmente,
É claro que a transcendência não
assimilação, e nós estamos numa
sem um projecto final. Não se pode
desapareceu, nem diminuiu. Porém,
estrutura que, por um lado, tem a
dizer que haja um projecto final para
relativizou-se. E isso é evidente não
sociedade civil, mas, por outro, tem a
a União Europeia.
apenas no geral da sociedade na
multidão - porque é um grupo infor-
A minha dúvida é se ainda pode
degradação dos valores – as fron-
me. E isso dá origem àqueles confli-
haver projecto.
teiras já não são o que eram –, mas
tos que nós conhecemos em Paris,
Muita gente tem dúvidas. Há sinais
também nas modificações da socie-
em Atenas, em Setúbal. Não há
que fazem suscitar as dúvidas. Mas
dade civil que têm sido brutais. Num
nenhum país que esteja livre disso.
devo dizer que acho que era melhor
dos meus últimos discursos disse
Dá-me a impressão que estamos a vi-
para o Ocidente se o projecto não
o seguinte: quando eu fui educado,
ver traços medievais porque vivíamos
fosse terminado. Porque ainda assim
o aparelho de ensino – que sofre
num castelo e, depois, tínhamos uns
pode haver uns apoios que são indis-
bastantes críticas actualmente – era
bairros com as várias populações: os
pensáveis para um país pequeno.
apoiado na integração que a família
bairros judeus, os bairros ciganos...
Eu acho que o grande problema des-
fazia, na integração que o pároco
Neste momento, temos uns aparta-
te mundo passa por: Primeiro passo
fazia, na integração que o exército
mentos fechados, defendidos, e os
- tomar consciência que a destruição
fazia, e o aparelho educativo depois
bairros que não conseguem entrar. O
das torres gémeas inaugura uma
dava a formação educativa necessá-
rei de Portugal foi rei das três religi-
nova época estratégica. E, sabido
ria. Neste momento, a família aca-
ões, em determinado momento. Eu
isso, a base da defesa e
66 • Diplomática - março/abril 2011
➤
➤
da segurança é sempre territorial.
território que precisa de segurança
um crescimento de 5 ou 6 filhos
E vem na Carta da ONU. Quando se
não agressiva. Mas só essa. E isso
por casal…
fez a NATO foi com base na Carta da
chama-se Ocidente. E, por isso
Há uma coisa importante: esse mo-
ONU. O espaço que, neste momen-
mesmo, penso que é preciso integrar
vimento migratório para a Europa foi
to, precisa de segurança chama-se
a segurança do Atlântico Norte com
muito determinado por uma imagem
Ocidente - e as torres avisaram que o
a segurança do Atlântico Sul. E essa
falsa de uma sociedade de opulência
Ocidente precisa de ter uma segu-
segurança do Atlântico Sul – que
e consumismo que abrangia toda
rança estável. Neste momento, no
não é todo Ocidental – deve ser uma
a gente; e não foram devidamente
mar, volta a haver pirataria, tráfico
segurança integrada. E julgo que o
protegidos em termos jurídicos - e
de armas, etc. E, por isso, tem-me
Brasil pode e deve ter um grande
foram largamente explorados. E
parecido que a questão já não é o
papel na democracia.
o facto de ter havido intervenções
Atlântico Norte, a questão não é a
Falando de fronteiras, há um risco
gravíssimas por parte dos árabes,
NATO, não é – como foi a lógica da
de a Europa implodir e, por outro
não quer dizer que todos eles sejam
Conferência de Lisboa –, substituir as
lado, há um problema demográ-
partidários da violência. Nós temos
fronteiras geográficas pelas fronteiras
fico de crescimento negativo, ao
uma organização fundada por um
dos interesses. É preciso definir o
mesmo tempo que os árabes têm
muçulmano estrangeiro, em Évora, para a defesa da paz - que recebeu
O rosto da notícia
o título de Doutor honoris causa pela
Adriano Moreira é um estadista, político, deputado, advogado, jurisconsulto, internacio-
Universidade de lá.
nalista, politólogo, sociólogo e professor. Destacou-se pelo seu percurso académico e
Agora, há uma grande debilidade das
pelo seu historial antes de se tornar ministro do Ultramar durante o Estado Novo. Foi
sociedades altamente dependentes
também Presidente do CDS (1986-1988)
da técnica é evidente. Estas preci-
Aluno brilhante, licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, em 1944, possuindo o doutoramento na mesma área, pela Universidade Complutense de Madrid.
sam cada vez mais de gente muito
Desempenha funções de Professor - na área de Relações Internacionais - no Instituto
qualificada e, cada vez mais, de me-
Superior Naval de Guerra, na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, na Pon-
nos gente. É preciso que a Economia
tifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, na Universidade Aberta e na Universida-
cresça de maneira a que sustente
de Católica Portuguesa. É Professor Emérito da Universidade Técnica de Lisboa.
as necessidades de menos gente. O
É ainda Professor Honorário da Universidade de Santa Maria. Doutor Honoris Causa pela Universidade Aberta, Universidade da Beira Interior, Univer-
que não tem acontecido.
sidade de Manaus, Universidade de Brasília, Universidade de São Paulo, Universidade
O que acontece é que quem so-
do Rio de Janeiro e Universidade da Bahía.
fre, primeiramente, é essa gente
Membro da Academia Brasileira de Letras, da Academia Pernambucana de Letras,
que emigrou. E é por isso que sou
da Academia Internacional de Direito e Economia de São Paulo, da Academia Internacional da Cultura Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa, da Academia de Marinha, da Academia de Ciencias Morales y Politicas de Madrid e da Academia
completamente contra que – apesar da nossa falta de recursos – desapa-
Portuguesa de História.
reça o Estado Social ou a ONU, que
Curador Honorário da Fundação Oriente e actual Curador da Universidade Cândido
também tem um papel social impor-
Mendes.
tante. A ONU tem uma coisa que se
Presidente honorário da Sociedade de Geografia de Lisboa, preside e fundou a Academia Internacional da Cultura Portuguesa, preside internacionalmente ao Centro Euro-
chama Plano das Nações Unidas
peu de Informação e Documentação (CEDI), preside ao Conselho de Fundadores do
para o Desenvolvimento (PNUD)
Instituto D. João de Castro, preside à assembleia-geral da Associação Portuguesa de
que, no fundo, é um plano social. O
Ciência Política e ao Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior (desde 1998).
plano social não é um imperativo, é
Foi co-fundador do Movimento da União das Comunidades de Língua Portuguesa.
um princípio. Há uma diferença entre
Membro do Instituto de Estudos Políticos de Vaduz, do Movimento Paneuropa de Coudenhouve-Kalergi, do Conselho da Fundação Luís Molina da Universidade de Évora,
imperativo e princípio: o princípio
Director do Centro de Estudos Políticos e Sociais da Junta de Investigação Científica
deve ser caridoso na medida que se
do Ultramar.
possa. O Estado Social é na medida
Foi condecorado com a Medalha de Mérito Cultural, a Medalha da Defesa Nacional
em que nós podemos. Agora deitá-lo
de 1ª classe, a Medalha do Exército de D. Afonso Henriques de 1ª classe, a Medalha Militar de Serviços Distintos grau ouro da Marinha, Medalha de Mérito Aeronáutico, a
fora é deitar a esperança pela janela.
Royal Victorian Order, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada, a Grã-Cruz
A doutrina oficial da Igreja, aí, coin-
da Ordem de Isabel a Católica, a Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul, a Grã-Cruz
cide com a doutrina do socialismo
da Ordem Militar de Cristo e a Grã-Cruz da Ordem de São Silvestre Magno.
democrático. Esta circunstância é um
É Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e Cavaleiro da Grã-Cruz da Ordem
enormíssimo desafio para a paz civil
de África.
■
na Europa.
n
março/abril 2011 - Diplomática • 67
Viagens de Estado
2010 assinala recorde no volume de negócios Entre a China e os países lusófonos
Brasil, Angola e Portugal – por esta ordem – lideram as trocas comerciais entre os países de língua portuguesa e o gigante asiático, tendo como entreposto a Região Especial de Macau Lisboa, 28 Fevereiro - O volume do comércio entre a República Popular da China e os países lusófonos, através da Macau, atingiu o número record de 91,423 bilhões de dólares no ano transacto, registando um aumento homólogo de 46,35 por cento. Em matéria de importações, a China comprou mercadorias dos países de língua portuguesa no valor de 61.858 bilhões de dólares e exportou para estes, nomeadamente, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Timor Leste e São Tomé e Príncipe, qualquer coisa como 29.564 bilhões de dólares de mercadorias. O Brasil é o principal parceiro lusófono da China, sendo que o comércio ascendeu a 62.58 bilhões de dólares, concernentes a importações brasileiras no valor de 38.086 bilhões de dólares e exportações para a China que rondam os 24,462 bilhões. Em segundo lugar surge Angola, com trocas comerciais no valor de 24,816 bilhões de dólares, em linha das importações angolanas de 22,812 bilhões e exportações para a China de 2,004 bilhões de dólares. Portugal surge na terceira posição, com umvolume de importações na ordem dos 754 milhões de dólares, tendo exportado para a China mercadorias no valor de 2,513 milhões de dólares. ■ Fotos: Ricardo Oliveira - GPM
68 • Diplomática - março/abril 2011
Sócrates em Macau: uma presença que revela a importância da região para a Lusofonia
Viagens de Estado
Cimeira Ibero-Americana Portugal fez-se representar ao mais alto nível
Na despedida, Lula da Silva estendeu a mão na ajuda ao “país irmão”
A XX Cimeira Ibero-Americano de Novembro passado, realizada em Mar del Plata, Argentina, frustrou algumas expectativas, nomeadamente, pela ausência dos Chefes de Estado da Venezuela, Bolívia, Cuba, Nicarágua – países dissonantes da orientação oficial destas cimeiras que, em abono da verdade, se poderá dizer terem perdido a importância de outrora. De qualquer modo, a cimeira na Argentina foi marcada pela saída de funções de Lula da Silva e a dupla representação de Portugal, com as presenças do presidente Cavaco Silva e do primeiro-ministro José Sócrates – uma situação que não é alheia ao facto de a cimeira de 2009 se ter realizado em Lisboa. Circunstância, aliás, tida em conta pela organização argentina que colocou Cavaco a discursar no acto inaugural, antecedendo a Chefe de Estado da Argentina, Cristina Kirchner. De realçar as declarações do então presidente Lula da Silva - entretanto substituído por Dilma Rouseff - no próprio espaço da Cimeira, que não deixou indiferente a delegação portuguesa. E que, segundo se consta, levou a que José Sócrates tenha sido o primeiro estadista a encontrar-se com a actual presidente brasileira, um dia depois da sua tomada de posse… Lula foi muito claro ao afirmar que o Brasil irá fazer “o esforço que estiver ao seu alcance” para ajudar Portugal a sair da crise, sublinhando que “embora Portugal e Espanha estejam a viver um momento adverso nas suas economias, são dois países que têm uma estrutura estável do ponto de vista social”, rematando que “esta crise é passageira”, mas não deixando de fazer um alerta para a Europa “tomar cuidado, os países mais ricos devem ajudar os países menores”.
■
Fotos: Ricardo Oliveira - GPM
março/abril 2011 - Diplomática • 69
perfil
Dilma Rouseff Uma mulher de garra
Com um percurso verdadeiramente notável, esta mulher que iniciou a sua carreira de “presidenta” no início do ano, é uma política de mão cheia que viveu de perto todas as alterações que o Brasil sofreu nas últimas décadas.
➤
março/abril 2011 - Diplomática • 71
Dilma Rouseff
Dar continuidade às promessas
mormente desde a constituição da
eleitorais - e conseguir a aprovação
CPLP, encontrado pontos de apoio
de inúmeras leis que anunciou na
e colaboração. E mesmo na questão
campanha eleitoral - não vai ser ta-
da imigração – onde no passado se
refa difícil para Dilma Rousseff, pois
verificaram pólos de atrito -, a con-
possui ampla maioria no Senado e
fluência de pontos de vista tem agili-
na Câmara de Deputados.
zado os processos de legalização e
Mas o governo de Dilma, tal como
integração de um lado e de outro do
o de Lula, vai ter de enfrentar ques-
Atlântico.
tões muito sérias, como o tráfico de
Sinal do bom relacionamento entre
influências e a corrupção – velha
os dois países foi a circunstância
gangrena que corrói a sociedade
de, logo no dia a seguir à tomada de
brasileira.
posse de Dilma, o primeiro-ministro
Outra questão que desperta a curio-
José Sócrates se ter reunido com a
sidade de observadores e analistas
nova residente do Palácio do Pla-
é o quadro de relações e prioridades
nalto - uma iniciativa de Sócrates,
a estabelecer no domínio da política
acolhida favoravelmente por Dilma.
externa, atendendo a que o Brasil
Contrariando rumores de que o
é um dos países que pertence ao
governo português pretenderia que
número das nações emergentes, de
o Brasil adquirisse os títulos da
que também fazem parte a Rússia, a
dívida externa, Sócrates enfatizou
Índia e a China. Irá Dilma dar con-
que as relações com o “país irmão”
tinuidade à estratégia de Lula, co-
são prioridade da política externa de
locando o Brasil como protagonista
Portugal. “Reafirmei que uma das
activo da cena internacional, de que
prioridades mais altas da política
foram exemplos as intervenções do
externa portuguesa é a relação com
ex-presidente nos conflitos do Haiti
o Brasil. Disse à Dilma que pode
e das Honduras e na tentativa de
contar com Portugal como o mais fiel
mediação com o regime iraniano?
e mais próximo aliado naquilo que
Tudo leva a crer que sim. Apesar da
vai ser, certamente, a caminhada do
➤
sua pouca experiência em matéria
Brasil para ocupar o seu espaço no
de política internacional, Dilma conta
concerto das nações, tanto na ques-
com uma equipa de colaboradores
tão geopolítica como na dimensão
experimentados, muitos deles trans-
económica”, afirmou Sócrates, após
feridos da anterior administração.
o encontro.
E, como é evidente, poderá sempre
Mais recentemente, a “presidenta”
contar com o apoio de Lula, a sua
recebeu o ministro português dos
experiência e o prestígio internacio-
Negócios Estrangeiros. Luís Amado
nal de que é credor.
debateu com Dilma a Economia da
Portugal/Brasil: Relações entre “ir-
Europa e a crise que alastra cada
mãos”
vez mais no Médio Oriente. Em
As relações luso-brasileiras são,
Brasília, num encontro sem agenda
secularmente, reconhecidas como
política, e que durou mais de uma
de grande cordialidade e de apoio
hora, Amado aproveitou para ter
nos mais diversos sectores. Econo-
“uma longa conversa, na qual ela
mia, Cultura e Educação são áreas
[Dilma] estava muito interessada em
em que os “países irmãos” têm,
conhecer a realidade, a situação
72 • Diplomática - março/abril 2011
➤
Dilma com Sócrates e com sua filha Paula Irá Dilma dar continuidade à estratégia de Lula, colocando o Brasil como protagonista activo da cena internacional, de que foram exemplos as intervenções do ex-presidente nos conflitos do Haiti e das Honduras e na tentativa de mediação com o regime iraniano?
março/abril 2011 - Diplomática • 73
Dilma Rouseff
Um pouco de história Dilma Rousseff nasceu em Minas Gerais há 62 anos, no seio de uma família de classe média-alta. O pai era de origem búlgara e a mãe, brasileira de nascimento, professora de profissão. A jovem Dilma estudou até aos 16 anos em escolas privadas em Belo Horizonte, altura em que mudou para uma escola pública e se começou a movimentar junto de grupos de esquerda. O golpe de estado que abalou o Brasil em 1964 acabou por se revelar como um ponto de viragem para muitos dos colegas e amigos de futura “presidenta”. Embora contasse apenas 17 anos, não demorou a declarar a sua oposição aos militares, sendo que quanto mais os anos passavam mais a sua actividade contra o governo dos generais se reforçava. Em 1967, já estudante universitária de Economia, associou-se a um grupo de resistentes, sendo que em 1969, devido às suas acções, já se encontrava a trabalhar clandestinamente sob diversos pseudónimos. Em 1970 foi presa em São Paulo e torturada. Permaneceu atrás das grades durante três anos e, em 1973, quando foi libertada, mudou-se para o Rio Grande do Sul. Terminou a sua licenciatura em Economia na Universidade Federal e casou com Carlos Araújo, um guerrilheiro durante a ditadura que mais tarde se veio a tornar político, e com quem teve uma filha. Dilma trabalhou a favor da lei da amnistia e ajudou a fundar o PDT (Partido Democrático Trabalhista) que, na primeira eleição em que participou, tentou eleger Leonel Brizola para presidente, ao mesmo tempo que ocupava as funções de secretária municipal das Finanças. Em seguida, entre os anos de 1991 e 1993, foi-lhe atribuído o cargo de presidente da Fundação Económica e Estatística, tendo colaborado também o ministério da Energia, Minas e Comunicações. Quando Luiz Inácio Lula da Silva chegou à presidência, em Janeiro de 2003, Dilma foi nomeada ministra das Minas e Energia e, mais tarde, em 2005, acedeu ao posto de ministra da Casa Civil.
➤
do nosso país, a situação europeia,
➤
este adquiriu – muito por acção do
sobretudo, e a situação internacional
ex-presidente Lula – no contexto
com o desenvolvimento da crise no
geoestratégico, reside de igual modo
Médio Oriente”, afirmou o ministro.
na intenção de Sócrates em relançar
A prioridade definida pelo primeiro-
a CPLP – afirmando-a como orga-
ministro, no que toca às relações
nização de relevância internacional
com o Brasil, decorrendo natural-
–, desejo particularmente partilhado
mente da crescente importância que
quer pelo Brasil, quer por Angola.
n
Fotos: Ricardo Oliveira - GPM
74 • Diplomática - março/abril 2011
Visitas de Estado
III Cimeira Luso-Argelina Tecnologias da informação e comunicações no centro do conclave
Os dois Primeiros Ministros da Argélia e Portugal
Uma nova fase de cooperação
ainda, “aprofundar a cooperação lu-
entre Portugal e a Argélia marcou
so-argelina em áreas onde existe já
os trabalhos da III Cimeira Luso-
uma importante relação, com vista à
Argelina que, no início de Novem-
consolidação das relações económi-
bro, reuniu em Oeiras os primeiros-
cas e financeiras e à promoção do
ministros de Portugal e da Argélia,
investimento bilateral e das trocas
respectivamente José Sócrates e
comerciais”.
Ahmed Ouyahia. As tecnologias de
Os dois países já realizaram duas
informação e a comunicação foram
outras cimeiras, neste caso em
o tema deste terceiro encontro, o
Argel, em Janeiro de 2007 e Junho
que, segundo o governo português
de 2008. E assinaram, em 2005, o
“revela a vontade mútua em apro-
Tratado de Boa Vizinhança, de Ami-
fundar a cooperação num domínio
zade e Cooperação, para além de
importante e onde há um grande
terem trocado experiências sobre
potencial de colaboração”.
questões bilaterais e internacionais,
Para além do tema de fundo, os
em encontros sectoriais no âmbito
promotores da cimeira esperam,
das anteriores cimeiras.
■
Fotos: Ricardo Oliveira - GPM
março/abril 2011 - Diplomática • 75
Cultura
Ana Paula Laborinho Presidente do Instituto Camões por Jorge Urbano Tavares Rodrigues, fotos Ligia Correia
«A causa da língua deve ser partilhada por todos nós» É uma “militante” do português. Esta é, sem dúvida, a grande causa da sua vida e motivo de orgulho. Em Macau ou na sede do Instituto, em Lisboa, Ana Paula Laborinho tem na língua de Camões razão maior que a anima.
76 • Diplomática - março/abril 2011
➤
A sua [e nossa] pátria é a língua,
na minha vida. A minha formação
que veio a ser determinante para o
neste caso, de Camões. Se pode-
dominante é a literatura, mas quando
crescimento do número de falantes.
mos dizer assim, que significado
por razões familiares fui parar a Ma-
O que se passava em Macau, no final
isto tem?
cau, tive a incumbência de coordenar
dos anos 80, é que o português era
Considero que hoje em dia - e feliz-
os leitorados de português na Ásia.
ainda ensinado como língua mater-
mente para nós - a língua portuguesa
Nessa altura, apesar de, como disse,
na a uma população que já não a
já não é apenas a língua de Camões.
o meu mundo ser o da literatura, eu já
falava e que, portanto, já era alheia a
É a língua de numerosos poetas e
tinha uma relação com o ICALP (Insti-
essa língua. Fizemos a transição da
muitos deles espalhados pelo mun-
tuto de Cultura e Língua Portuguesa)
abordagem do português como língua
do. E isso dá-lhe uma dimensão e,
– pois era dirigido por um professor
materna para o português como
poderei dizer também, uma coloração
da minha Universidade, o Professor
língua estrangeira, construindo um
que a enriquece. Se recuarmos ao
Fernando Cristóvão -, e essas coinci-
projecto – em que esteve muita gente
séc. XVI e ao primeiro período da
dências levaram a que começasse a
envolvida – de internacionalização do
expansão da língua em que o por-
desbravar neste terreno e me fosse
português. A partir da sua oferta como
tuguês se estava a afirmar, quando
apercebendo das possibilidades que
língua estrangeira e como língua inter-
ainda se estava na transição do latim
oferecia.
nacional houve, de facto, uma imensa
para o português, já João de Barros
Aproveito a oportunidade, aliás, para
expansão do português, quer em
chamava a atenção para o facto de o
prestar homenagem aos anteriores
Macau, quer na China. E não posso
português se estar a enriquecer com
presidentes desta casa e, nomeada-
deixar de assinalar que quando eu saí
palavras das várias línguas com que
mente, ao Professor Fernando Cris-
de Macau, em 2002, apesar do núme-
ia contactando. «Chatinar», «ve-
tóvão que teve, de facto, uma visão
ro de falantes que existia a aprender o
niaga», por exemplo, são palavras
de expansão da língua para além do
português como língua estrangeira ser
que se cruzavam nos caminhos das
que eram os destinos habituais. Até aí
significativo, ainda só havia na China
nossas viagens. Por isso essa sempre
a nossa presença estava concentra-
quatro universidades onde se ensina-
foi uma grande componente de enten-
da essencialmente na Europa, e ele
va a nossa língua. Neste momento,
dimento da nossa língua com outras
desenvolveu uma política de expan-
há dezassete.
línguas. Línguas em que a nossa
são para África, para a Ásia e para o
O que se espera dessa «ofensiva»?
➤
deixou muitas marcas. Línguas como
Brasil, que se tornou muito significati-
Este é um movimento que se desen-
o japonês ou o anamita, a língua do
va. Recordo que um dos seus projec-
volve em duas vertentes. Uma que diz
Vietname, que hoje se sabe ter sido
tos - que nunca conseguimos pôr de
respeito a quem tem responsabilida-
romanizada pelos portugueses que
pé - era ter um leitorado português
des na divulgação da língua; e outra
deixaram nessa língua os mesmos
em Ceilão, no Sri Lanka. Foi ele que
que tem muito a ver com os interes-
sinais diacríticos da nossa língua.
começou essa expansão para a Ásia.
ses dos países em relação às eco-
Falou no Oriente, em particular
Ora, a Ásia, que hoje é vista por
nomias emergentes. É, por exemplo,
no Vietname. Sei que esteve em
muitos como um destino privilegiado
o caso da China, cujo interesse por
Macau e que foi uma das respon-
da e para a nossa economia, tem uma
Angola e pelo Brasil está a despoletar
sáveis, durante a transição, e que
componente cultural muito importante
o crescimento do português. Os chi-
conhece muito bem o Oriente sobre
para o desenvolvimento de projectos
neses têm como princípio enviar para
o qual tem vários estudos muito
e negócios. Para os chineses, antes
esses países técnicos que dominem a
interessantes. Poderá falar-nos
de se fazer um negócio, é necessário
língua do país de acolhimento. E, por-
um pouco dessa área, em termos
que as partes se sentem à mesa para
tanto, fazem uma formação acelerada.
de como a sua história se prende
conversar e para comer uma refeição
Posso dizer-lhe que, neste momento,
pouco ou muito - dir-me-á - com a
em conjunto, ou seja, para se conhe-
as formações em português são muito
especificidade, vocação e essência
cerem. E a cultura pode tornar-se um
procuradas na China porque não há
do Instituto, mas também do papel
facilitador de outros projectos, nome-
desemprego. Pelo contrário, antes de
que Portugal pode desempenhar,
adamente na área económica que
estarem formados, já têm trabalho ou
pela língua e não só - em termos de
tanto nos interessa.
propostas de trabalho.
Oriente (agora que se fala tanto da
Quando fui para Macau, no final da
Encontramos este movimento de ex-
China). Depois, já iremos ao Brasil.
década de 80, estava a desenvolver-
pansão do português na China, mas
Foi meramente por acaso que as
se um trabalho notável no domínio da
também no Japão onde há cinquenta
questões da língua se atravessaram
língua e a fazer-se uma passagem
e sete universidades a ensinar ➤
março/abril 2011 - Diplomática • 77
Ana Paula Laborinho
➤
português e quase sem cooperação
cendo, passou por diferentes missões
cia, Tecnologia e Ensino Superior
portuguesa ou brasileira. Tudo é feito
e, por isso, distintas competências.
integra o nosso Conselho Estratégico,
por iniciativa do Japão, e nós apenas
Chegou a ter um papel relevante na
servindo a nossa acção para fomentar
facilitamos pontes entre as universi-
difusão da língua e da cultura portu-
a ligação entre universidades estran-
dades onde se ensina o português.
guesas, bem como no apoio à inves-
geiras e portuguesas - o que também
Claro que esta expansão da língua
tigação, não só no estrangeiro como
pode contribuir para a internacionali-
mostra como há uma percepção
também em Portugal. Hoje, felizmen-
zação das nossas universidades. No
internacional do valor do português.
te, estamos longe desse momento.
nosso Conselho Estratégico estão
Poderíamos dizer que é por causa
Primeiro, porque já temos instituições
igualmente representados o Ministério
do Brasil, de Angola e dos países
específicas para o apoio à cultura mas
da Cultura, com o objectivo específico
africanos em geral, mas não é assim.
também à investigação, como a FCT
de fomentar a internacionalização da
Nós temos notado – é também o caso
que tem um papel muito relevante;
cultura portuguesa; e o Ministério da
da China e do Japão – que há um
e, por isso, nós agora podemos ser
Educação que partilha connosco res-
interesse muito claro em aprender a
mais profissionais nesta competência
ponsabilidades em relação ao portu-
língua, em Portugal. Os chineses com
para a expansão do português. Já não
guês nos ensinos básico e secundário
o seu pragmatismo costumam dizer
nessa estrita perspectiva de apoio à
no estrangeiro.
que, em termos de negócios, estão
investigação – o que não quer dizer
Mas, de facto, a definição da nossa
interessados em todos os países de
que não a mantenhamos –, porque
estratégia passa pelo MNE no sentido
língua portuguesa, mas ao nível das
hoje temos vários perfis para a nossa
de estabelecer os blocos regionais
aprendizagens têm um gosto em se
intervenção. Nas universidades, o
prioritários. E à cabeça está, natural-
formar em Portugal. E nós devemos
perfil da investigação é importante
mente, a CPLP que, não sendo um
aproveitar esta escolha.
e, nesse sentido, apoiamos as cáte-
bloco regional, permite ser o ponto de
Hoje em dia, o entendimento de quem
dras de português e, através delas, a
articulação a partir do qual intervimos
deve promover o português é alar-
investigação.
nas diferentes regiões. Entendido
gado a toda a CPLP e não apenas a
Outra componente é a do desenvol-
como espaço da língua portuguesa
Portugal e ao Brasil. Felizmente dei-
vimento e promoção da língua. Uma
constitui um importante objectivo de
xou de existir rivalidade com o Brasil
coisa são os estudos portugueses
intervenção porque nesse espaço
no domínio da língua. Chegou a haver
outra é a expansão da língua. E,
plural partilhamos a língua e cruzamos
em tempos em que se estava um
desse ponto de vista, o que nós, neste
culturas, mas também construímos
brasileiro a ensinar numa universidade
momento, estamos a fazer é uma
progressivamente relações económi-
estrangeira, tentava-se colocar um
intervenção por blocos regionais. Esta
cas como se constata pelos valores
português para equilibrar. Pelo contrá-
intervenção não deixa de estar muito
das trocas comerciais com os países
rio, o que cada vez mais temos é uma
alinhada com o Ministério dos Negó-
da CPLP.
perspectiva conjunta e, se possível,
cios Estrangeiros (MNE) que, por sua
Um bloco regional relevante, que
desenvolver este plano para a interna-
vez, também tem vindo a incorporar
exemplifica o que acabo de expor é
cionalização com todos os países da
um conceito mais alargado de diplo-
o espaço Ibero-Americano que tem
CPLP. Esse será o objectivo.
macia: não apenas a diplomacia no
como pólo o Brasil e a sua relação
Essa internacionalização ou glo-
seu sentido mais substantivo, mas
com os países do Mercosul, repre-
balização da língua portuguesa,
também a diplomacia económica e
sentando, no seu conjunto, espaços
juntamente com Brasil e Angola,
a diplomacia cultural. Nesse sentido,
de afirmação do português e do
permitirá a Portugal expandir-se
a acção do Instituto Camões está
espanhol, o que, por sua vez, permite
nessa componente. Na prática toda
alinhada com os diferentes objectivos
enquadrar a relação de proximidade
a CPLP, uma vez que não somos
do Ministério dos Negócios Estrangei-
entre Portugal e Espanha. A Espanha
só europeus.
ros e as suas áreas privilegiadas de
é efectivamente um parceiro impor-
E esse é talvez um dos nossos princi-
intervenção, não deixando – e julgo
tante, um parceiro económico mas
pais activos. Uma barra de ouro muito
que essa é uma grande mais-valia
também é, de toda a Europa, o país
valiosa. Acho que devemos tratar da
introduzida pela nova lei orgânica
onde o português mais se expande e
melhor maneira este produto, mesmo
do Instituto Camões – de articular os
mais tem uma representação como
como produto de venda.
objectivos do MNE com os objectivos
língua internacional.
O Instituto Camões, nos vários for-
da ciência e do ensino superior e,
Queria ainda sublinhar, por um lado, o
matos e designações que foi conhe-
nesse sentido, o Ministério da Ciên-
bloco constituído pelo Magrebe, que ➤
78 • Diplomática - março/abril 2011
estenderia ao Médio Oriente, com
económico participado por nós.
tecnologias, faz com que o português,
o qual temos relações privilegiadas,
Uma outra área significativa é a Ásia.
como uma das línguas internacionais,
sendo um espaço que acolhe muito
A Ásia está a impor-se cada vez mais
seja também uma língua procurada.
bem o português, quer por tradição
como uma região economicamente
No entanto, onde o crescimento é
histórica, quer por relações de proxi-
interessante. É claro que é longínqua
cada vez mais significativo é, como
midade - o que também se traduz na
e o volume de negócios ainda é es-
disse, na China e no Japão.
sua relevância em termos económi-
casso, mas há interesse por parte de
E não queria deixar de sublinhar o
cos. Por razões que se prendem com
Portugal em desenvolver esses laços,
papel de Macau. O governo central
a CPLP, destaco também a África
até porque, como comecei por dizer,
da China, já depois do meu regresso
Subsariana onde cada vez mais os
são países que privilegiam e valori-
em 2002 – e muito foi feito antes por
países que fazem fronteira com paí-
zam positivamente a relação histórica
aqueles que trabalharam na transição
ses de expressão portuguesa estão a
e, por isso, temos de aproveitar as
de Macau para a China –, declarou
introduzir o português como segunda
relações que mantemos quer com a
Macau como plataforma das relações
língua, ao nível do ensino secundário
Índia, quer com o Sudeste Asiático,
económica, cultural e linguística com
(e pedem-nos apoio, naturalmente),
além da China e do Japão.
os países da CPLP. Portanto o go-
porque têm interesse em estabelecer
A Índia é um país onde esses laços
verno central reconhece Macau como
negócios com os PALOP.
históricos são mais difíceis de tratar.
base de formação do português e
➤
É o caso da Guiné que quer aderir
Mas Goa continua a ser uma região
tem valorizado esse papel. As nossas
à CPLP?
onde o português e a cultura por-
relações com Macau e com a China
Da Guiné, mas também do Senegal,
tuguesa estão presentes, onde os
devem ser muito acarinhadas.
onde temos uma grande expansão
próprios cidadãos valorizam a cultura
Permitam-me terminar referindo o blo-
do português e, por isso, a África
portuguesa e nós continuaremos a
co regional mais difícil, embora seja
Subsariana merece uma atenção
trabalhar no sentido de responder às
aquele que, ao mesmo tempo, mais
muito particular. É o caso da África
solicitações. Temos, cada vez mais,
nos desafia: a Europa. E separaria
do Sul, onde há uma comunidade
pedidos da Índia para oferta de portu-
aqui a Europa comunitária e a Europa
portuguesa significativa. A África é,
guês. Se o país com o qual coopera-
não comunitária. Mas falemos em
por isso, um bloco importante onde
mos valoriza a tradição histórica, nós
termos gerais da Europa. Em geral,
queremos expandir a nossa inter-
também temos que a valorizar, se o
os países de Leste trazem do seu
venção mas, sempre que possível,
país não a quer valorizar não somos
passado soviético uma tradição de
de forma articulada. Podemos e
nós que o devemos fazer. É o caso da
relações com África e os movimentos
queremos trabalhar em conjunto. Por
Índia. Esta atenção ao outro também
de libertação, pelo que revelam bom
exemplo, os países da CPLP, que
faz parte do que entendemos por
domínio do português e conservam
têm os seus próprios professores,
diplomacia cultural.
grande interesse linguístico e cultural
podem enviá-los para os países vi-
Queria acrescentar que, a propósito
por Portugal. E isso é muito visível
zinhos que querem aprender portu-
da Índia, o facto de cada vez mais ser-
nos pedidos que nos fazem e na qua-
guês, mesmo que seja num esforço
vir de interface mundial no âmbito das
lidade de ensino que oferecem. ➤
Retrato breve ANA PAULA LABORINHO Nasceu em 26 de Abril de 1957. É professora auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde entrou como docente em 1982, e actual Presidente do Instituto Camões. Foi, em 1988, requisitada à República Por-
«A globalização da língua
tuguesa pelo Governo de Macau para exercer funções no Instituto Cultural de Macau,
portuguesa é um dos nos-
onde coordenou os Leitorados de Português do Oriente; dirigiu o Departamento de
sos principais activos. Uma
Formação e Investigação e instalou os Serviços Culturais das Embaixadas de Portugal em Nova Delhi, Bangkok, Pequim, Seul e Tóquio. Em 1989, integrou a comissão
barra de ouro muito valiosa.
instaladora do Instituto Português do Oriente (IPOR), instituição encarregada de pro-
Acho que devemos tratar da
mover a língua e a cultura portuguesas da Índia ao Japão. De 1989 a 1992, exerceu
melhor maneira este produ-
funções no Departamento de Estudos Portugueses da Universidade de Macau, onde
to, mesmo como produto de
integrou a respectiva comissão directiva. Em 1995, assumiu funções como assessora
venda»
do Gabinete do Secretário Adjunto para a Comunicação, Turismo e Cultura do Governo de Macau. De 1996 a 2002, exerceu funções como presidente da direcção do Instituto Português do Oriente (IPOR), tendo assegurado o período de transferência da administração de Macau (de Portugal para a República Popular da China).
n
março/abril 2011 - Diplomática • 79
Ana Paula Laborinho
Aquele corpo europeu que antiga-
na sua formação.
do acordo ortográfico, talvez por ter
mente era o único com que lidáva-
Queremos, pois, que o português
trabalhado no estrangeiro. Tenho
mos – estou a falar de França, da
entre nos sistemas de ensino locais,
consciência de que é uma ferramenta
Alemanha… - essa Europa centrada
que não seja entendido como língua
muito útil para a internacionalização
em Bruxelas e na União Europeia, é
da minoria e tenha o lugar a que tem
do português. Era sempre muito difícil,
uma Europa que, não podemos de
direito, a par das outras línguas euro-
em termos do ensino do português,
deixar de o dizer, valoriza muito pouco
peias. Porque, de facto, o português
termos turmas onde se ensinava uma
o português.
é uma língua da globalização e tem
grafia e turmas onde se ensinava
E a tendência é para continuarem a
que ser reconhecida nesse plano de
outra. É um bom instrumento embora
não o valorizar?
língua global.
talvez se tivesse podido avançar um
Nós não vamos desistir de reivindicar
Devo-lhe dizer que, infelizmente,
pouco mais. Mas é notável que tenha-
para o português o lugar a que tem
estive a conversar com a Euronews e
mos chegado a esse ponto.
direito.
eles continuam a achar que o por-
Em termos de curto e médio prazo,
Pode ser um bom pretexto, já que
tuguês é uma língua minoritária. E,
há algum objectivo concreto que
não nos reconhecem importância
parece impossível, mas não acreditam
queira alcançar com o Instituto?
para nos darem «autorização e li-
que seja a terceira língua na Europa.
Esse objectivo tem muito a ver com
berdade» de movimentos nas áreas
Em termos de línguas globais é a
esta estratégia por blocos regionais,
atlânticas e outras…
terceira língua. E, no entanto, o portu-
para a língua mas também para a
Se calhar, quanto mais nós apostar-
guês mantém um lugar minoritário na
acção cultural. Nós temos o mundo
mos noutras regiões mais poderá ser
Europa e, portanto, torna-se evidente
inteiro onde nos movemos, queremos
claro para a Europa a importância do
que temos de apostar nas outras
cada vez mais fazê-lo em articulação
português.
regiões.
com a CPLP. O nosso grande sonho
E são eles que nos dão o mote para
Não podemos ter, como temos,
é, em alguns lugares, criarmos - por
nos movimentarmos noutras áreas.
os nossos meios maioritariamente
exemplo - centros culturais CPLP que
Apenas no sentido da falta de re-
alocados à Europa - que é o que se
teriam uma outra visibilidade. Mas, de
conhecimento da grandeza do por-
passa actualmente: cerca de 60%
facto, o grande objectivo é a articu-
tuguês. Isso tem muito a ver com
dos nossos meios estão na Europa -,
lação regional e, por outro lado, as
a imagem que o português tem na
quando o retorno é muito baixo para o
parcerias: com a CPLP, com agentes
Europa muito ligada à emigração - o
nosso investimento.
locais, com empresas, com associa-
que não é desmerecimento, mas res-
Finalmente, quero falar também de
ções. Gostaria, efectivamente, de
tringe o ensino do português a língua
uma zona que nos merece muita aten-
contrariar a acção isolada e trabalhar
de origem. Nós não podemos permitir
ção por vários motivos: a América do
em rede - o que daria maior visibilida-
esta visão redutora. No interesse
Norte. Trata-se de uma região onde
de aos meios que cada um possui.
das comunidades portuguesas, é
o português se tem alicerçado por
Percebe-se que gosta muito do que
importante que o português não seja
meios próprios, seja das comunidades
está a fazer…
acolhido por estes países como língua
portuguesas, seja das universidades
Gosto muito. Farei isto sempre com
de origem, ou seja, uma língua exóti-
que oferecem programas de gradu-
amor. Farei sempre isto esteja onde
ca que pertence a uma minoria. Essa
ações e pós-graduações. Pelo seu
estiver. Já tive várias funções ligadas
ideia de minoria é muito prejudicial
significado económico e pela aposta
a esta área e em qualquer sítio conti-
para Portugal e para as comunidades.
no conhecimento, é uma região que
nuarei a defender a língua portugue-
O português tem que ser ensinado
nos desafia e onde esperamos poder
sa, porque acredito francamente que
➤
como língua internacional. Isto não
crescer com parcerias.
isto é um projecto que vale a pena
quer dizer que não tenha uma com-
Viajámos pelos Mundo com a nos-
abraçar. E queria dizer que agora
ponente identitária, mas o facto de
sa língua. Três perguntas muito rá-
estou à frente do Instituto Camões e
ser uma ferramenta útil e não apenas
pidas só para terminar. A propósito
tenho mais possibilidade de actuação,
uma ligação ao país de origem, pode
da língua, não posso deixar de a
mas entendo que a causa da língua
constituir-se como mais-valia num
questionar sobre o acordo ortográ-
deve ser partilhada por todos nós.
plano de vida. Quer dizer, por saber
fico: um instrumento necessário,
Todos nós devíamos fazer a defesa
português tem condições para ir traba-
mas não relevante para a política,
intrínseca desse valor por todos os
lhar para países de língua portuguesa
em si. O que pensa do assunto?
meios que estejam ao nosso alcance.
ou é, efectivamente, uma mais-valia
Eu sou uma defensora da utilidade
É missão de todos! ■
80 • Diplomática - março/abril 2011
Mala Diplomática
Em cerimónia solene presidida pelo Embaixador em Lisboa Grão-Duque do Luxemburgo homenageia Maria Barroso e Aristides de Sousa Mendes
Em ambiente de emoção a mulher do
des que Sua Majestade teve em atenção.
ex-presidente Mário Soares foi agraciada
Como Presidente da Fundação PRO-DIG-
com Ordem de Mérito. O ex-Embaixador
NITATE, Maria Barroso continua a partici-
em Bordéus, na pessoa de seus netos,
par activamente nestas causas e ainda na
também foi lembrado pelo monarca luxem-
atribuição de bolsas a jovens estudantes,
burguês
assim como no desenvolvimento de várias
Em finais de Janeiro, Paul Schmit, Embai-
acções e iniciativas nos países africanos de
xador do Grão Ducado do Luxemburgo em
língua portuguesa.
Portugal agraciou, em nome de S.A.R. o
É igualmente Presidente da Fundação
Grão-Duque do Luxemburgo, a Dr.ª Maria
Aristides de Sousa Mendes que adopta o
de Jesus Barroso Soares com a Ordem de
nome do nobre cônsul geral em Bordéus
Mérito do Grão Ducado do Luxemburgo.
que, durante a II Grande Guerra Mundial,
A cerimónia teve lugar na Embaixada, em
salvou a suas expensas e risco milhares de
Lisboa, na presença de ilustres figuras
refugiados, principalmente judeus.
próximas a Maria Barroso, onde não pode-
Sua Alteza Real não quis deixar de lembrar
ria faltar o seu marido - e ex-presidente da
esse filantropo e humanista e de destacar
República Portuguesa -, Dr. Mário Soares.
as suas importantes acções junto do povo
Maria Barroso recebeu esta comenda em
luxemburguês e, em especial, da comunida-
homenagem às suas actividades ao longo
de judia que salvou das garras nazis atra-
de uma vida, sempre visando a cultura,
vés da emissão maciça de vistos.
a educação pré-escolar, a família, a soli-
Aristides Sousa Mendes esteve presente na
dariedade social, a dimensão feminina, a
memória de todos na pessoa dos seus dois
integração dos deficientes e a prevenção da
netos, gentilmente saudados pelo Embaixa-
violência. Foram sobretudo estas activida-
dor luxemburguês.
■
março/abril 2011 - Diplomática • 81
Vida diplomática
Emirados Árabes Unidos Recepção assinala Dia Nacional
االمارات العربية المتحدة تحتفل بيومها الوطني لألول مرة في لشبونة
Recentemente instalada no nosso
Os Emirados Árabes Unidos pas-
país, a Embaixada dos Emirados
saram por um desenvolvimento
Árabes Unidos (EAU) assinalou
espectacular e uma das chaves
com pompa e alegria o dia nacional
deste sucesso é a importância
do país, juntando a “nata” da socie-
atribuída ao seu povo, considerado
dade portuguesa da política, dos
como o centro do desenvolvimento
negócios e da cultura.
do país. Neste sentido, enormes
O Embaixador dos Emirados Ára-
investimentos foram já atribuídos
bes Unidos em Lisboa, S.E. Saqer
ao sector da Educação, reduzindo
Nasser Alraisi, ofereceu uma recep-
a taxa de analfabetismo até 7% e
ção no Hotel Ritz Four Seasons,
aumentando a esperança de vida
no passado dia 2 de Dezembro, no
para os 78.5 anos, alcançando as
quadro das celebrações do Dia Na-
taxas registadas nos países mais
cional dos Emirados Árabe Unidos.
desenvolvidos. Todo este progres-
Foi uma première, pois a Embai-
so foi realizado em tempo recorde,
نظم سفير دولة اإلمارات العربية المتحدة ديسمبر2 سعادة صقر ناصر الريسي يوم،بلشبونة فور سيزن – في لشبونة-حفل استقبال بفندق “الريتز .وذلك في إطار االحتفاالت باليوم الوطني اإلماراتي هذه المناسبة كانت األولى من نوعها نظرا الن 08 سفارة دولة اإلمارات العربية قد افتتحت أبوابها يوم ورغم أن السفارة تعتبر جديدة إال أن.2010 مارس العالقات بين البرتغال واإلمارات العربية المتحدة تعود هذه.إلى زمن بعيد وتشهد تطورا متواصال وسريعا العالقات المتميزة انعكست من خالل حضور عدد كبير من الشخصيات البرتغالية المهمة في مجاالت االقتصاد والسياسة والثقافة ورجال الدين الذين شرفوا بحضورهم .هذه المناسبة المهمة بالنسبة لإلمارات 39 ديسمبر االحتفال بالذكرى2 ووافق يوم أبو ظبي: لقيام دولة اإلمارات العربية المتحدة التي تجمع ودبي و الشارقة وعجمان وأم القيوين ورأس الخيمة والفجيرة في إطار اتحاد فدرالي استطاع أن ينحت شخصية وطنية عززتها سياسة االتحاد مما سمح للدولة 82.880 تبلغ مساحة الدولة.بان تتمتع باستقرار سياسي مليون نسمة4.5 كيلومتر مربع ويبلغ عدد السكان % 6.3 بينما تبلغ نسبة الوالدات2007 حسب إحصاء .وكلها أرقام تكشف عن نمو ديموغرافي متميز وكانت احد اهم،عرفت اإلمارات نموا مدهشا اسباب هذا النجاح هو األهمية والعناية التي يحظى بها .شعب اإلمارات الذي طالما اعتبر محور تطوّر البالد وقد كانت أهم االستثمارات موجهة إلى قطاع التعليم وارتفع معدل،%7 حيث تراجعت نسبة األمية إلى ليعادل نسبة التطور التي%78.5 الحياة عند الوالدة إلى كل هذه االنجازات حققت في.تسجلها أهم الدول المتقدمة حيث أن الصحراء والفقر كانت المشاهد،وقت قياسي 2 الطاغية على واقع البالد حين أعلن قيام الدولة يوم .1971 ديسمبر استطاعت اإلمارات،في هذا الوقت القياسي أن تتحول من بلد صحراوي ومجتمع قبلي محافظ إلى حيث تتساوى حقوق،احد أهم الدول الحديثة في عصرنا وتكشف وضعية المرأة في اإلمارات.الرجال والنساء فبعد أن كانت المرأة مهمشة،التقدم الذي حققته الدولة أصبحت اليوم تتمتع بحق التعليم جنبا إلى، سنة40 منذ جنب مع الرجل اإلماراتي بل وأصبحت النساء تمثل هذا المستوى العالي من.األغلبية في مجال التعليم العالي التعليم سمح بدوره أن تلعب المرأة اإلماراتية دورا مهما ونجد اليوم المرأة حاضرة في كل.في مجال سوق العمل المجاالت بداية من القطاع الخاص إلى القطاع الحكومي .بما في ذلك أربعة وزيرات باإلضافة إلى موقعها الجغرافي المتميز كنقطة تتميز دولة،غرب- جنوب وشرق- تقاطع شمال االمارت العربية المتحدة بأنها دولة منفتحة على العالم جعلت دائما من السالم واالستقرار في المنطقة من، .أهم أولياتها
xada dos EAU em Lisboa abriu as
pois o deserto e a pobreza eram as
suas portas a 8 de Março 2010.
componentes principais da realida-
Embora a Embaixada seja nova, as
de do país quando este declarou
relações entre Portugal e os Emi-
a criação da Federação a 2 de
rados Árabes Unidos são de longa
Dezembro de 1971.
data e estão a desenvolver-se a um
Nesse espaço de tempo, os Emi-
ritmo acelerado. Prova disso foi a
rados Árabes Unidos conseguiram
presença impressionante nesse dia
passar de um país subdesenvol-
tão importante para os Emirados de
vido, com uma sociedade tribal e
várias personalidades da sociedade
conservadora, a um dos países
portuguesa, do mundo económico,
mais modernos da nossa era, onde
político, cultural, bem como dignitá-
mulheres e homens desfrutam das
rios religiosos que honraram com a
mesmas oportunidades. A mulher
sua presença esta festa.
nos Emirados Árabes Unidos é
O 2 de Dezembro celebra o 39.º
o melhor indicador do progresso
aniversário da independência dos
que o país conseguiu alcançar até
Emirados Árabes Unidos, uma
agora. Há 40 anos, a mulher estava
união federal que reúne Abu Dhabi,
posta de parte, mas o acesso à
Dubai, Sharjah, Ajman, Ras al-
educação inverteu a situação. Hoje,
Khaima, Fujairah e Umm al-Quwain
representa a maioria no sector do
– , e que conseguiu forjar uma iden-
Ensino Superior e está represen-
tidade nacional reforçada pelo regi-
tada em todos os serviços, desde
me federal que fez com que o país
o privado à função pública, haven-
desfrutasse de estabilidade política.
do actualmente quatro mulheres
A superfície dos Emirados Árabes Unidos é de 82.880 Km2 e, segun-
ministras.
do os dados de 2007, a população
centro do cruzamento Norte/Sul,
do país é de 4.5 milhões, com uma
Leste/Oeste – os Emirados Árabes
taxa de crescimento de 6.3%. Estes
Unidos são um país aberto ao mun-
números reflectem um extraordiná-
do. A paz e estabilidade na região
rio crescimento demográfico.
são das suas maiores prioridades. ■ ➤
82 • Diplomática - março/abril 2011
Além da sua posição geográfica –
1
2
4
7
3
5
8
6
9
10
1. O Embaixador dos Emirados Árabes Unidos, Saqer Alraisi, com a nossa Directora Maria de Bragança. 2. O Embaixador do Iraque cumprimenta o Embaixador dos Emirados Árabes Unidos. 3. O Chefe do Protocolo do Estado, Embaixador José de Bouza Serrano, ao lado do Embaixador Saqer Alraisi. 4. O Embaixador dos Emirados Árabes Unidos com João Neves da Costa, Director de Serviços do Médio Oriente e Magrebe, MNE. 5. Marçal Grilo cumprimenta o Embaixador dos Emirados Árabes Unidos. 6. Embaixador dos Emirados Árabes Unidos conversando com Nini Andrade e Marta Amado. 7. O Secretário-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Embaixador Vasco Valente. 8. O Embaixador dos Emirados Árabes Unidos com o Núncio Apostólico. 9. Diplomatas partem o bolo em ambiente de descontracção. 10. A nossa Directora Maria de Bragança com o Embaixador da Tunísia.
março/abril 2011 - Diplomática • 83
2º Aniversário Diplomática Festa em ambiente solidário
Ao comemorar dois anos de vida, a revista Diplomática mobilizou esforços no apoio ao povo do Paquistão e provou que em festa se pode estar ao serviço de um bem maior
A comemoração teve lugar no já famoso
Grupo Vocal da Basílica da Estrela, dirigido
restaurante Kais, um dos mais carismáticos
pelo Maestro Pedro Rollin Rodrigues. Este
espaços da nossa capital, quer pela origi-
grupo, fundado em Janeiro de 2010, perten-
nalidade e beleza da decoração, concebida
ce à Schola Cantorum da Basílica da Estrela,
pela saudosa Maria José Salavisa, quer pela
da qual também fazem parte os Pequenos
requintada gastronomia - considerada por
Cantores da Basílica da Estrela. Para animar
alguns guias como uma das melhores do
os distintos convidados foram interpretadas
mundo.
duas peças: “Ó Meu Menino”, de Eurico Car-
Logo à chegada, os convivas foram pre-
rapatoso e “Jerusalém”, de Sir Hubert Parry.
senteados com um cocktail e a actuação do
Logo de seguida, mais de uma centena
➤
março/abril 2011 - Diplomática • 85
2º Aniversário Diplomática
Embaixadora do Paquistão, Christina Gillies, Dom Afonso Herédia e Maria de Bragança
Luís e Lina Belo dos Santos, Jacques Bretagnolle e Abel Dias
Ministra Conselheira da Polónia Dorota OstrowskaCobas e Charles Correia da Embaixada dos EUA
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Filipa Castello Branco, Nuno Duarte Schlumberger e Cátia Pereira
Duque de Loulé e Inês Figueiredo
Lenia Lopes e Margarida Ruas
Marion e Udo Krüse
Maria Antónia Baptista
Nadine e Paul Schmit, Embaixador do Luxemburgo
Pedro Sobral e Filomena Morim
Maria Clara Gomes e seu filho Nuno Gomes de Carvalho
Bruce Gillies e Patrick Siegler
Mary Norton dos Reis e Maria do Carmo Castello Branco
Alda Simões e António de Macedo
Paula Bobone
março/abril 2011 - Diplomática • 87
2º Aniversário Diplomática
Alfredo Resende, Embaixadora da Rep. Dominicana Ana Sílvia de Abud com Micaela Oliveira
Lili Caneças, João Libério e Isabel Nogueira
Maria da Luz de Bragança ladeada por David Pachetti e Maestro Miguel Rollan com o Grupo Vocal da Basílica da Estrela
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A Embaixatriz do Paquistão Malika Haneef agradecendo a dádiva e a nossa Directora
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de amigos deliciaram-se com a ementa de
trangeiro, entrevistas a embaixadores e tam-
luxo, que teve início com um Au Meunier de
bém a inúmeras individualidades do mundo
Crepe de Cogumelos com Molho de Basílico,
da cultura, da política e dos negócios.
prosseguiu com dois pratos principais, um
De seguida, a Embaixatriz do Paquistão
de peixe, Bacalhau Gratinado com Camarão
agradeceu a verba angariada por todos
em Cama de Espinafres, e outro de carne,
aqueles que desejaram contribuir para o
Medalhões de Novilho com Molho de Echa-
minorar da catástrofe enfrentada pelo seu
lottes Caramelizados com Batata Gratinada
país, e que alcançou a quantia de 690 euros,
e Legumes Salteados, e terminou com um
uma importância inferior à desejada mas que
Folhado de Frutos Silvestres com Creme
a Embaixatriz valorizou de forma comovida,
Anglaise, como sobremesa. Esta magnífica
relembrando que o pouco é muito para os
refeição foi, obviamente, regada com co-
que nada têm.
lheitas especiais dos melhores produtores
No decorrer da agradável festa, um ecrã
portugueses.
gigante foi mostrando as páginas da re-
Após o jantar, a nossa directora, Maria da
vista Diplomática, relembrando a todos os
Luz de Bragança, dirigiu uma palavra de
presentes as suas capas e reportagens e,
agradecimento a todos os seus colaborado-
ao som de música de dança, todos foram
res que em cada edição contribuíram para
convidados para bailar até altas horas na-
a publicação de dossiers sobre temas da
quela que se revelou uma inesquecível noite
actualidade geopolítica, estudos e análises
de divertimento, de convívio e também de
estratégicas, reportagens no País e no es-
solidariedade.
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Cultura
Lobo Antunes em Paris Um semestre de homenagem
António Lobo Antunes está a ser objeto de uma homenagem e de uma evocação peculiar em França, que vai durar todo o primeiro semestre deste ano. As obras do escritor português vão ser adaptadas para espetáculos de vária índole, com destaque para o teatro, que verá nove encenações dos seus livros. «Acho que nunca houve um autor, nem mesmo francês, a quem tenha sido feita uma homenagem tão importante como esta, a este nível: seis meses, num teatro, com colóquios, recitais, peças, as coisas mais variadas, com atores franceses e alguns portugueses, muitos encenadores, muitos músicos envolvidos. É uma coisa quase inédita», assim caracteriza a iniciativa a editora de Lobo Antunes na Dom Quixote, Maria da Piedade Ferreira. A forma predominantemente dramatúrgica escolhida para a homenagem, anunciada em Lisboa, em julho passado, não surpreende se tivermos em conta que surge por iniciativa da Casa da Cultura de Seine Saint-Denis, a Maison de Culture 93 mais conhecida por MC93 (o número é o do código postal de Bobigny, a norte de Paris), criada em 1972, e que tem o teatro como arte de eleição. Em coprodução com as Editions Christian Bourgois, a editora francesa de Lobo Antunes, e o LG Théâtre, e com o apoio da Embaixada de Portugal em Paris, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Instituto Camões, a MC93 decidiu dedicar a sua temporada de 2011 ao escritor português, alvo de um culto particular em França (o diretor da MC93, Patrick Sommier, fala de uma «sociedade secreta» de leitores de Lobo Antunes em França, que «se reconhece entre si»), onde 24 das suas 29 obras estão editadas. A 25ª – O Meu Nome é Legião (2007) –foi editada em França em 26 de janeiro, na Librairie Compagnie, em Paris, com a presença de Lobo Antunes. Na véspera do lançamento, o autor participou num encontro, animado por Philippe Vannini, com leitura de extratos da sua obra pelo ator Victor de Oliveira. Lobo Antunes, no entanto, tinha excluído desde o início colaborar na homenagem, apesar de a aceitar com agrado. «Não vou colaborar em nada. Façam como quiserem. [O teatro] é uma linguagem diferente, que não domino e não conheço», declarou em julho, citado pelo Público.
Memórias da guerra O primeiro espetáculo – Etat Civil – estreado em 14 de janeiro, tem por base as conversas do escritor com Maria Luisa Blanco, do jornal El Pais, publicadas em livro em 2002 e, à semelhança de vários outros que se lhe seguirão, foi objeto de uma adaptação e encenação, neste caso a cargo de Georges Lavaudant, encenador de mérito no universo do teatro francês. Lavaudant que afirma que «A obra de Lobo Antunes é densa, variada, infinita e são múltiplas as abordagens possíveis» assina ainda Fado Alexandrino, a segunda adaptação e encenação do ciclo dedicado a Lobo Antunes, juntamente com Nicolas Bigards, que coordena toda programação e rubrica ainda a encenação do Tratado das Paixões da Alma. Para além das já referidas, da programação constam ainda obras como Exortação aos Crocodilos, O Esplendor de Portugal, Auto dos Danados e cenarizações dos seus livros de crónicas III e IV e das cartas de guerra dirigidas à mulher Maria José, desaparecida em 1999, nos 27
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meses em que Lobo Antunes esteve em Angola, no exército, durante o conflito colonial e
que marcaram decisivamente o seu universo ficcional. Sommier afirmou, em julho, citado pelo ainda pelo Público, que nenhum escritor em França «teve estas palavras de emoção sobre os soldados que foram morrer na Argélia». «Esta é a verdadeira Europa, aquela em que um escritor português pode formular o que tínhamos na cabeça e não conseguíamos formular», acrescentou. Além disso, as Cartas da Guerra são, no dizer de Dominique Bourgois, a editora francesa de Lobo Antunes, o «making-of de António como escritor». «Digo sempre às pessoas que ainda não o leram para experimentarem as Cartas da Guerra (…) Está lá tudo, a tomada de consciência política, a compreensão da guerra e a correspondência de amor, e, mesmo não sendo um livro como os outros, mostra o que ele vai ser a seguir». Segundo os organizadores, «de janeiro a junho de 2011, 50 noites serão dedicadas a António Lobo Antunes através de leituras (em francês, português e outras línguas ainda), instalações, performances, concertos e convívios. Diretores, atores, escritores, músicos, videastas, cenógrafos reuniram-se, todos motivados por uma paixão por este grande escritor». E aqueles que se juntaram são, entre muitos outros, para além de Sommier e Lavaudant, figuras como o ator Patrick Pineau, que faz a adaptação e a encenação de Exortação aos Crocodilos, e escritores como Michel Deutsch, Olivier Rolin, Jake Lamar e David Lescot, que vão participar em diversas sessões de leitura das obras de Lobo Antunes, intituladas Nocturnes Lisboètes. Os espetáculos são em francês, mas Maria de Medeiros e Luis Miguel Cintra apresentarão a 17 e 18 de junho um espetáculo em português – Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no Mar? – de que são intérpretes e responsáveis pela adaptação.
Uma obra complexa A ambição do programa, «majestoso», na expressão de Lobo Antunes, é explicada pelos seus organizadores por duas razões: «Há livros que precisam de espaço. Livros que são como uma casa assombrada, como os define António Lobo Antunes. Ora, sabemos, desde Shakespeare, pelo menos, que essa casa capaz de acolher os fantasmas não é outra senão o teatro. Porque é só no teatro (ou nesses livros assombrados) que os mortos falam, o desejo fala: o amor, a loucura, a infância, a solidão ...». Por outro lado, a escolha de Lobo Antunes para a valência ‘Teatro dos Livros…’ da MC 93 é também para estes criadores e atores franceses resultado da forma comum como praticam as suas artes: «Escrever, para ele [Lobo Antunes], é uma droga dura. Como para nós o teatro». «Tentem manter tranquila apenas uma de suas frases, para não falar das suas crónicas, dos seus romances... Porque a sua surdez, hereditária, que ele não faz nenhuma tentativa para contrariar, gera um campo visual capaz escutar». Ora, «o que é então um campo visual capaz de ouvir, se não o teatro?». E citam Eduardo Lourenço, quando este diz que Lobo Antunes é «o escritor que corre mais riscos. E o risco é o quotidiano do teatro». Uma última razão apontada é «porque ele está vivo», mas para Dominique Bourgois «é preciso entender que a obra de António tem personagens que falam para todos e não só aos portugueses», segundo declarou numa entrevista ao DN. Não é inédito que a companhia da MC93 se dedique a tratar textos literários, embora Patrick Sommier considere «raro que um teatro passe seis meses com um escritor que não escreveu teatro». Bourgois lembra que «já o fizeram com Dostoiévski, T. S. Eliot e Dos Passos». A homenagem suscita a óbvia questão dos resultados de um tratamento desta envergadura de uma obra complexa como a de Lobo Antunes. Mas a editora Maria da Piedade Ferreira, reconhecendo embora a existência de riscos, diz que «tudo depende da qualidade com que forem feitas» as adaptações. «Os nomes envolvidos dão-nos toda a confiança», sublinha. «Tudo o que seja feito – leitura de textos, teatralização, textos sobre a obra dele – é uma maneira ótima de divulgar e fazer conhecer ainda melhor» a obra de Lobo de Antunes.
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IC, IP
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Sinais
A era da democracia Grito imparável de liberdade na era da globalização e tecnologia No mínimo o que se poderá dizer é que os movimentos populares no Magrebe apanharam o mundo de surpresa. E o rastilho implodiu nas ruas do Cairo, fazendo cair um presidente [Hosni Mubarak] tido como “amigo do ocidente”. Ao contrário do que seria suposto, sem “ajuda externa”, sem a mãozinha de qualquer serviço secreto, apenas [e só!] pela iniciativa de uns miúdos que perceberam a arma poderosíssima que é o Facebook. Voltando aos movimentos populares, que tomaram as ruas e decidiram construir o futuro pelas suas mãos, importa referir um dado novo: ao contrário do que acontecia anos antes, as ruas não se encheram de bandeiras americanas em chamas, nem a imagem do presidente dos EUA apareceu imolada no centro de qualquer grito insano de indignação contra o “chefe do imperialismo”… E a esse facto não é alheia a eleição de Obama, a personalidade do homem da Casa Branca e a inflexão da política americana no que respeita aos países árabes. E, mais que isso [pesem alguns receios ocidentais], não se ouviu nenhuma reivindicação por sociedades teocráticas. Pelo contrário – e tão só -, os manifestantes exigem liberdade e fim dos regimes autoritários. Ou seja, exigem democracia! Quando ao Egipto chegaram os ventos de mudança da Tunísia, começou a perceber-se que algo de novo estava para acontecer nos países árabes, em particular no Norte de África e no Magreb. E a rota de ruptura com o autoritarismo é já imparável. Khadafi, outrora expressão da revolta de um povo contra uma monarquia medieval e insana, surge aos olhos do mundo não como um “libertador de povos oprimidos”, mas como parte da repressão. O poder, regra geral, corrompe, cega a lucidez dos homens e afasta-os da vida real, do cidadão comum. E o coronel líbio há muito que perdeu a noção do real e, mesmo agora, cercado e desamado por muitos que outrora o idolatravam, continua a lutar contra os ventos da História. É um tempo novo que abre caminho à era da democracia. Um tempo que, por ser imperativo e geneticamente expressão de um querer colectivo, não voltará para trás revertendo o grito colectivo de liberdade, progresso, pluralismo, dignidade e qualidade de vida.
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The Age of Democracy An unstoppable cry for freedom in the era of globalization and technology The least that can be said is that the popular movements of the Maghreb caught the whole world by surprise. And the fuse exploded in the streets of Cairo, bringing down a president (Hosni Mubarak) that was understood to be a friend of the West. Contrarily to what was supposed to happen, with no external help, and without the “helping hand” of some secret service - solely thanks to the initiative of some kids that understood too well the importance of a powerful weapon named Facebook. Getting back to the popular movements that took to the streets and to those people that decided to build their future with their own hands, one must refer some new data: unlike what happened in the previous years the streets were not filled with american flags in flames nor was the image of the president of the US immolated alongside some crazy chanting against the “head of imperialism”... And to that fact can’t be alien the election of Obama, the personality of the man that resides in the White House and the turnaround in american politics insofar as the arab countries are concerned. Moreover, and in spite of some western fears, there were no demands for theocratic societies. Quite the opposite, since the demonstrators demand freedom and the end of all authoritarian regimes. That is to say they demand democracy. As for Egypt, the winds of change arrived from Tunisia, and one started to realize that something new was taking shape in the arab countries, particularly in what relates to those in northern Africa and in the Maghreb. And the break with authoritarism is unstoppable. Khadafi, once the expression of the rebellion of one people fighting against an insane and medieval monarchy, appears at the eyes of the world no longer as a “liberator of the oppressed” but rather as the image of repression. Power tends to corrupt, to do away with men’s lucidity and to push it away from the real life of common people. That said, the lybian colonel that has long lost his grip on reality and that is now surrounded and unloved by many that once swore by him, keeps battling the winds of History. These are new times that open the way to the age of democracy. Times that portray the imperative and genetically expression of a collective desire and that will not be allowed to go backwards. Thus the unanimous cry for freedom, progress, pluralism, dignity and quality of life will go on.
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Artes Plásticas
Marta de Castro Saudade de aMAR
O Sonho é Maiúsculo, Real, a Luz transparente, as Sombras cúmplices de contrastes sem nomes nem dúvidas… Ilhas, sem correntes, salgadas gotas de infância, nus, corpos velados de mulheres-meninas de sol… Verdade que voa, que dança, que escorre: frutos que se abrem – e sabem um reino de flores… Começou a pintar aos 15 anos. E nunca mais parou. Todos os dias. Encarnando as personagens, “a meditar, dentro do(s) ambiente(s) a criar”. Quadros com cAlma, minuciosamente cifrada em cada centímetro de tela… Surrealista? Simbolista? Romântica? Absurdos Dali (e também daqui e de acolá), pinceladas de Magritte de se lhe tirar o chapéu…e a tentação de quaisquer rótulos – e a sua negação! Marta de Castro é ela própria, sempre ela mesma (precisamente, quando dá forma aos sonhos de todos nós…). E pinta de cor, como a música que habita – e embala – a Saudade do que não expomos… “A duas dimensões”: nus/silêncios que, tantas vezes, não ousamos…
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Maria de Bragança
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Marta de Castro
Natureza Viva, 1985 - óleo sobre tela
Um pacto com a luz «Quem nasce numa ilha como a Madeira sabe que as flores e os frutos são uma espécie de confidência. Na pintura de Marta de Castro eles estão a assinalar o enigma e a revelação da vida. Por vezes, apresentam-se fechados como assinatura desse mistério que nos acompanha, ainda por abrir, sempre por reconhecer. Outras vezes desenham-se abertos ou cortados a meio, expostos como ferida e íntimo segredo. Também isso somos. Esta pintura é um espelho silencioso que nunca nos devolve só a aparência, mas oferece-nos os contornos daquilo que, em nós, é interior e invisível. Assim revisita (e permite-nos revisitar) o pacto que temos com a luz.» José Tolentino de Mendonça (sacerdote e teólogo católico)
94 • Diplomática - março/abril 2011
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Saudades, 2004 - óleo sobre tela (100×150 cm)
Vista de terreiro, 2005 - óleo sobre tela (60×100 cm)
Vôo no tempo, 2005 - óleo sobre tela (90× 70 cm)
Serenidade e Inquietação “Vejo a Marta pintar há quase trinta anos. O que começou por ser a expressão de uma curiosidade e de um talento foi-se tornando, com o passar dos anos, uma fatalidade. Uma forma silenciosa e discreta de nos transmitir a sua extraordinária paixão pela vida. A serenidade das suas paisagens, que cria com pedacinhos de sonhos de uma infância que se adivinha feliz, sempre com o mar da sua Ilha no horizonte, não ilude uma leve inquietação existencial que só a pintura lhe permite, ao mesmo tempo, esconder e revelar”.
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Luís Amado (ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal)
março/abril 2011 - Diplomática • 95
Marta de Castro
“Receita” de Talento Marta de Castro nasceu no Funchal, Ilha da Madeira. Licenciou-se em Farmácia pela Universidade de Coimbra, tendo ingressado, posteriormente, na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Frequentou, também, o Instituto de Arte e Design da Madeira. Participou em diversas exposições colectivas, principalmente com trabalhos a óleo, aguarela, pastel e gravura. A partir de 2004, realizou as suas primeiras exposições individuais, tendo recentemente apresentado, em Lisboa, uma retrospectiva da sua Obra, representada em colecções particulares dentro e fora de Portugal. É casada com Luís Amado, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal.
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English & French texts
6. Sarkozy - an impressive political journey How will president Sarkozy come to be judged? A fantastic president or perhaps not? It is still rather early to produce a final opinion - that must be left to future historians. However, in our minds remains the concept of him as a character that both fascinates and attracts but sometimes also surprises and even shocks. So being, how should one today construct an intelligent opinion of this statesman? Patrick Siegler-Lathrop is a French-American consultant living in Portugal, with a more than 30-year career as a Wall Street investment banker, entrepreneur, industrialist and professor, having taught at INSEAD and Paris University, Dauphine. He is a founding member of the international NGO Action Contre la Faim.
6. Sarkozy: un parcours politique étonnant. Comment sera jugé le Président Sarkozy: un grand Président ou nettement moins? Il est, bien évidemment, trop tôt pour le dire. Laissons cette tache aux historiens de l’avenir. Mais la question se pose par rapport à cet homme que séduit, qui à un élan spécial, que surprendre et, à la limite, nous étonne, pas toujours dans le bon sens. Comment, pouvons nous avoir une opinion précise sur ce politique? 12. Pascal Teixeira da Silva, Ambassador of France Married and father of two children, the ambassador declares himself delighted to be in Portugal. And given that he is a luso-descendant, he is happy and finds himself specially privileged to be in the country of his father’s. Ambassador Pascal Teixeira da Silva is a man with an intense passion for life, for all world cultures and also for the arts. As a music lover, he is particularly fond of the harpsichord. Being in synch with the spirit of times, he has always been, by luck or misfortune, near all the great historical milestones of our times: he was in Berlin, when the Wall came tumbling down; in Moscow when the dismemberment of USSR took place; in the USA when the Twin Towers were attacked something he saw with his own eyes. 12. Pascal Teixeira da Silva, Embaixador de França Père de famille, M. l’Ambassadeur est enchanté par le Portugal. Lui-même Lusodescendant, c’est pour lui un privilège et un plaisir d’être dans le pays de son père. M. l’Ambassadeur Pascal Teixeira Gomes est un homme passionné de la vie, des cultures du Monde, de l’art. Mélomane, il y a une vrai passion pour le clavecin. L’esprit-du-temps est avec lui. Il était, par chance ou malheur, présent pour les grands évènements des dernières décennies: à Berlin, au moment de la chute du mur, à Moscou lors de la dissolution de l’URSS, aux Etats-Unis pour la chute des Twin Towers – qu’il a vu de ses propres yeux. 35. A necessary balance and some predictions for the future Six accredited ambassadors in Lisbon accepted the challenge of Diplomática magazine: to make a balance of last year and to advance with some predictions for the current one. With the Summit in Lisbon, that brought together all the great powers of the World in NATO’s conclave still fresh in the appointment books, the European Union and the world crisis also served as background for the opinions of the diplomats on the different positions of their countries in relation to Portugal. 35. Balance nécessaire, prévisions pour l’avenir Six ambassadeurs accrédités à Lisbonne on répondu favorablement au défi de Diplomática: faire le point des progrès accomplis en 2010 et les prévisions pour l’année en cours. Au Sommet de Lisbonne, qui a amené les plus grands du Monde au conclave de l’OTAN. A l’ordre du jour, l’Union Européenne et la crise mondiale étaient au centre des discussions des diplomates, ainsi que l’évolution des relations de leur pays avec le Portugal. 64. Adriano Moreira, the last senator Listening to this old gentleman of portuguese politics is absolutely fascinating - no less because he is also an essayst of reference and a distinguished professor. In loose talking, one discovers an ageless man that elaborates on the past as well as the future both of old Europe and the Western World.
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English & French texts
64. Le dernier sénateur C’est absolument fascinant de parler à ce vieil homme de la politique portugaise, penseur séminal et un enseignant exceptionnel. En parlant en vrac, nous rencontrons un homme sans âge, qui nous parle du passé et de l’avenir de la vieille Europe et de l’Occident. 71. Dilma Rouseff, a woman of great strength With a truly remarkable story, this woman who began her career as president at the beginning of the year is a "political animal" that has lived through all the changes that Brazil has suffered in recent decades. 71. Dilma Rouseff: Une femme courageuse. Aprés un parcours politique vraiment surprenant, Madame Roussef est élue Président de la République du Brésil. Une femme qui vivait à proximité de tous les changements que le Brésil a eu dans ces dernières décennies et qui a su surmonté. 76. Ana Paula Laborinho, president of the Camões Institute She is one of the strongest defenders of the portuguese language. There is no doubt that it has become the greatest cause of her life but also her pride and joy. In Macau or in its headquarters, in Lisbon, Ana Paula Laborinho finds the language of Camões to be her reason for living. 76. Ana Paula Laborinho, President du Instituto Camões Il s’agit d’une «militante» de la langue portugaise. C’est sans doute, la cause majeure de sa vie et de sa fierté. A Macao ou dans l’Institut, à Lisbonne, Ana Paula Laborinho a, dans la langue de Camões, la raison majeure qui l’anime. 81. The Grand Duke of Luxembourg paid tribute to Maria Barroso and Aristides de Sousa Mendes It was with great emotion that the wife of former President Mário Soares was awarded the Order of Merit. The former ambassador in Bordeaux, in the person of his grandchildren, was also remembered by the monarch of Luxembourg 81. Le Gran-duc du Luxembour fait hommage a Maria Barroso et Aristides de Sousa Mendes Très émue, l'épouse de l'ancien président Mário Soares a reçu l'Ordre du Mérite. Ancien ambassadeur à Bordeaux, en la personne de ses petits-enfants, a également été rappelé par le monarque de Luxembourg. 85. 2nd anniversary of Diplomática magazine While celebrating its second year, Diplomática magazine made a special effort to support the people of Pakistan, and by doing so proved that even whilst partying one can be serving a greater good. The joyous event took place in the famous restaurant Kais, one of the most charismatic eateries of our capital - on the one hand because of its originality and the beauty of its decor, conceived by the late Maria José Salavisa, and on the other hand on account of its exquisite gastronomy, considered by some guides as one of the best of our country. 85. 2e anniversaire Diplomática A la célébration de deux années de vie, le magazine Diplomática a mobilisé efforts en soutien du peuple du Pakistan et a prouvé que même en ambiance de fête on peut être au service d’un intérêt supérieur. La célébration a eu lieu au déjà célèbre restaurant Kais, l’un des endroits les plus charismatiques de notre capital, pour sa singularité et beauté de décor, conçu par Maria José Salavisa, comme par la cuisine exquise - considérée par certains guides comme l’un des meilleurs restaurants au monde. 92. North of Africa - The era of globalization and technology The values of the democratic West are conquering the East 92. Afrique du Nort : L'ère de la mondialisation et de la technologie. Les valeurs démocratiques du Ocident sont plus proches de l’Orient.
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