Diplomática n.º9

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´ Diplomatica

Nº9 Março 2011 4 (Cont.)

business & diplomacy

Diplomática 9 • Março/Abril 2011

Sarkozy Um percurso impressionante

Em destaque

Pascal Teixeira da Silva Embaixador de França

Adriano Moreira O último senador

Ana Paula Laborinho Presidente do Instituto Camões

Pavel Petrovskiy Embaixador da Rússia

Embaixadores revisitam

2010

With English & French Texts

1 • Diplomática - Junho/Julho 2008


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Assuntos Summary Résumé

Editorial

5

Sarkozy. Um percurso impressionante e imprevisível em política Sarkozy. An impressive and unpredictable path in the world of politics Sarkozy: un parcours politique étonnant

6

Pascal Teixeira da Silva. O luso-descendente Embaixador de França em Lisboa aborda as relações com Portugal Pascal Teixeira da Silva. The luso-descendant Ambassador of France in Lisbon addresses the relations with Portugal Pascal Teixeira da Silva. L’Ambassateur lusodescendant de France a Lisbonne aborde les relations avec Portugal.

12

Ângelo Ramalho. O PDG da Alstom Grid Portugal é o “cicerone” ao universo de uma das maiores empresas internacionais Ângelo Ramalho. The CEO of Alstom Grid Portugal invite for a visit to the universe of one of the largest internacional companies Ângelo Ramalho. Le PDG de Alstom Grid Portugal est le guide au univers d’une des majeurs entreprises internationales

20

Fernando Bessa. Director Geral da Air France KLM e Portugal fala-nos do crescimento da empresa Fernando Bessa. The CEO of Air France KLM e Portugal reports on the growth of the company Fernando Bessa. Directeur Général de Air France KLM et Portugal nous parle du croissance de l’entreprise

24

Michel Drouère. Delegado geral da Alliance Française guia-nos ao interior de uma das maiores associações culturais do Mundo Michel Drouère. The guide of the general delegate of Alliance Française to one of the greatest cultural associations of the World Michel Drouère. Délégué Général de l’Alliance Française nous guide à l’intérieur de l’une importantes associations culturel du monde

28

Bernard Chantrelle. O Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa, em artigo de opinião Bernard Chantrelle. The President of the Portuguese-French Chamber of Commerce and of the Portuguese-French Industry in an article of opinion Bernard Chantrelle. Le Président de la Chambre de Commerce et d’Industrie Luso-Française, dans un article d’opinion

33

Balanço de 2010. De viva voz, embaixadores europeus escrevem sobre o ano que passou e as perspectivas para 2011 Balance 2010. In their own words, european ambassadors write about last year and how they visualize 2011 Balance de 2010. Ambassadeurs européens écrit sur l’année ​​ passée et les perspectives pour 2011

35

Cimeira da Nato em Lisboa. Um interessante artigo do Embaixador da Rússia em Lisboa NATO summit in Lisbon. An interesting article written by the ambassador of Russia in Lisbon Cimeira da Nato em Lisboa. Un article intéressant de l’ambassadeur de Russie à Lisbonne

50

Adriano Moreira. O último senador traça o retrato de um mundo em mudança, com a Europa como pano de fundo Adriano Moreira. With Europe as background, Adriano Moreira, the last senator, portrays a world that is changing Adriano Moreira. Le dernier sénateur dresse un portrait d’un monde en mutation, avec l’Europe comme toile de fond

64

Macau. 2010 assinala recorde no volume de negócios entre a China e os países lusófonos Macau. 2010 marks a record in the turnover between China and Lusophone countries Macao. L’anée de 2010 marque un record de chiffre d’affaires entre la Chine et les pays lusophones

68

XX Cimeira Ibero-Americana. Na despedida, Lula da Silva estendeu a mão na ajuda ao “país irmão” XX Iberoamerican Summit. While saying his farewell, Lula da Silva made an offer to help the “país irmão” (brother country) 20eme Sommet Ibéro-Américain. En partant, Lula da Silva a tendu la main pour aider le pays “frère”

69

Dilma Rouseff. Retrato de uma mulher verdadeiramente notável Dilma Rouseff. Portrait of a truly remarkable woman Dilma Rouseff. Portrait d'une femme tout à fait remarquable

71

III Cimeira Luso-Argelina. Nova fase de cooperação marcou trabalhos do conclave III Luso-Algerian Summit. New forms of cooperation marked the work of the conclave 3eme Sommet Luso-Algérien. Nouvelle phase de coopération a marqué les travaux du conclave

75

Ana Paula Laborinho. Presidente do Instituto Camões guia-nos na revisitação de uma vida dedicada à língua de Camões Ana Paula Laborinho. The President of the Camões Institute guides one through a life dedicated to the language of Camões Ana Paula Laborinho. Président de l’Instituto Camões invite à revisiter une vie consacrée à la langue de Camões

76

Maria Barroso. Agraciada pelos Grão-duque do Luxemburgo que, na ocasião, homenageou Aristides de Sousa Mendes Maria Barroso. Honored by the Grand Duke of Luxembourg, that on the same occasion paid tribute to Aristides de Sousa Mendes Maria Barroso. Honoré par le Grand-Duc de Luxembourg et, à l’occasion, a rendu hommage Aristides de Sousa Mendes

81

Emiratos Árabes Unidos. Recepção em Lisboa junta personalidades da política, da economia e da cultura United Arab Emirates. A reception in Lisbon brought together personalities from politics, economy and culture Émirats Arabes Unis. Réception à Lisbonne réunissant des personnalités de la politique, l’économie et la culture

82

2º Aniversário Diplomática. Em ambiente solidário a festa da revista não deixou de dizer presente na ajuda às vítimas da catastrofe no Paquistão 2nd anniversary of Diplomática magazine. In a supportive environment the people in attendance to the party said yes to aiding Pakistan 2eme Anniversaire de Diplomática. Dans unne ambiance de solidarieté, la fête de la magazine a étè present dans l’aide au Pakistan

85

António Lobo Antunes. Homenagem em Paris António Lobo Antunes. Tribute in Paris António Lobo Antunes. Hommage à Paris

90

Norte de África. Qual gigante adormecido, a vontade dos povos parece imparável North of Africa. Like a sleeping giant, the will of the people seems unstoppable Afrique du Nort. Comme un gigant endormi, la volonté du peuple semble imparable

92

Marta Castro. O universo de luz e sombrana pintura da grande artista, mulher de Luis Amado Marta de Castro. The universe of light and shadow in the painting of the great artist, Married to Luis Amado Marta de Castro. Un Univers de lumière et ombre dans la peinture de la grande artiste,épouse de Luis Amado

93

Traduções Translations Traductions.

97

DIRECTOR: Maria da Luz de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Av. Engº Duarte Pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 Lisboa. Marketing & Publicidade: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79 IMPRESSÃO: Madeira & Madeira, S.A. DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395

4 • Diplomática -março/abril 2011


Editorial

José Manuel Teixeira: Presente!

Nunca trabalhei com o Zé Manel – o que é uma pena, pois esse convívio ter-me-ia valorizado muito -, mas sei o que ele significou [e significa!] para várias gerações de jornalistas, desde os tempos de fogo no “Expresso” até à “Diplomática”, onde terminou os seus dias de jornalista e uma vida agitada de cidadão atento e homem honrado. O José Manuel Teixeira foi um Mestre do jornalismo e um ser humano de excepção que sempre amou a vida e sempre se deu aos outros: fosse um diplomata ou um modesto funcionário público; uma figura pública ou uma prostituta; um empresário ou um operário – a todos ele tratava como sabia e da única forma que admitia: olhos nos olhos! E foi um homem que, ao mesmo tempo que amava a vida, sempre amou o jornalismo e a ele se entregou como um combate. Pela razão simples de amar a liberdade e a verdade. E odiava a mentira, a hipocrisia, as punhaladas nas costas e a cáfila de serventuários sem ideias que pulula à volta do próximo chefe, do próximo dono que lhe pague as contas… A ironia, o humor verrinoso, eram armas letais de quem sempre foi estruturalmente livre e nunca teve dono! Poderia ter dirigido os mais reputados meios de comunicação, poderia ter feito carreira como comentador, poderia ter sido rosto e voz de qualquer êxito mediático, mas nunca quis. Preferiu envolver-se em pequenos projectos com a sua companheira de anos e aventuras jornalísticas. Com Maria da Luz de Bragança colaborou em publicações que fizeram história. Lembram-se da “Manchete” – uma irreverente revista fora de tempo, mas que fez história no jornalismo em Portugal? E entregou-se de corpo e alma à “sua” “Revista dos Bombeiros” e aos voluntários de Lisboa, onde fez da sua presença militância diária a favor dos outros, entregando-se todo – como sempre fez em tudo o que pegou. O Zé Manel era um perfeccionista da escrita, cultor de um tipo de prosa que foi beber aos nomes maiores do jornalismo e da literatura. E, como o já se disse, foi um Mestre para todos nós – os profissionais da escrita – e um exemplo de verticalidade e humanidade. Há um ano que nos deixou, mas não morreu, continua PRESENTE nos caminhos diários que nos animam nesta circunstância de sermos jornalistas.

António Alte Pinho José Manuel Teixeira: Present! I never worked with Zé Manel – which is rather a shame given that being close to him would have made me a better professional – but I do know what he meant (and still means!) to several generations of journalists, from the early and rather difficult days in the Expresso newspaper to more recent times in Diplomática magazine, where he was to finish his life both as a journalist and also as the well-informed and honourable citizen that he was. José Manuel Teixeira was a Master of journalism and an exceptional human being, that always loved life and was always there for those who knew him, whether that person was a diplomat or a mere civil servant; a public figure or a prostitute; a business man or a simple worker – each and every one of these people was tratead in the very best way he knew how and always eye to eye! He was also a man that not only loved life but never stopped loving journalism and because of that looked upon his profession as a true fighter. For the simple reason that he loved freedom and truth. In the same way that he hated lies, hypocrisy, backstabbing and the bunch of mindless yes-men that can always be found closing in on the next boss or the next guy that will be paying for their bills... Irony and sharp humor were used as lethal weapons by someone that always remained structurally free and was never owned by anyone! He could have been responsible for the most important newspapers or magazines, could have had a career as commentator, could even have been the spokesperson for any high profile media bestseller but he chose not to go that way. Instead, he preferred to get involved in small projects with his partner of many journalistic adventures, his most trusted companion of many years. With Maria da Luz de Bragança, he collaborated in publications that made history. Do you remember Manchete?, an irreverent magazine that appeared way before its time but made history in portuguese journalism? And he also gave himself wholeheartedly to “his” Revista dos Bombeiros (Firefighters Magazine), and to the voluntary firefighters of Lisbon, where he became a daily presence, fighting for others and going out of his way to do his work the best he possibly could. Zé Manel was a perfectionist and cultivated a kind of writing that drank its inspiration in the greatest names of both journalism and literature. And, as it was said previously, he was a Master to us all, the ones that count themselves as professional writers, being at the same time an example of straightforwardness and humanity. It’s now been a year since he lefts us, but he did not die, he is still PRESENT in our daily ways, the very ones that make certain that we keep pushing ourselves in this business of being journalists.

março/abril 2011 - Diplomática • 5


Capa

Sarkozy

por Patrick Siegler-Lathrop*

Um percurso político impresionante

Como será julgado o Presidente Sarkozy: um grande pre-

Président Nicolas Sarkozy, comment sera-t-il jugé - un grand

sidente ou nem por isso? Sem dúvida que será ainda algo

Président? Ou beaucoup moins? Sans doute est-il beaucoup

cedo para emitir uma opinião plenamente segura – deixemo-

trop tôt pour émettre une opinion pleinement étayée - laissons

la aos historiadores futuros.

cela aux historiens de demain.

Mas a questão fica-nos na ideia dessa personagem que nos

Mais la question reste à l’esprit, ce personnage qui attire et

fascina e atrai e por vezes surpreende ou mesmo choca.

fascine, qui par moment choque, voir même surprendre, com-

Como construir, hoje, uma opinião inteligente sobre este

ment s’y prendre pour développer, aujourd’hui, une opinion

político?

intelligente sur le sujet?

Aquando da sua eleição, a antecipação era promissora.

A son élection, l’anticipation était prometteuse. Après tout,

Apesar de tudo, jamais um presidente francês esteve tão

jamais un président français n’avait été aussi bien préparé

bem preparado para essa função, como se ele tivesse tido

pour cette fonction, comme si il avait suivi une formation,

uma formação especial, um MBA de Harvard Business

un MBA de Harvard Business School conçue pour la seule

School concebido justamente para a única função de ser

fonction de Président de la France, lui donnant tout le savoir-

Presidente da França, dando-lhe todo o savoir-faire, experi-

faire, l’expérience et les outils pour une démarche totalement

ência e ferramentas para um desempenho totalmente profis-

professionnelle - impressionnante, son habilité à traiter des

sional. Impressionante é a sua capacidade de tratar os dos-

dossiers, ses connaissances des rouages de l’administration

siês, o seu conhecimento das minudências da administração

française, pour pouvoir y manipuler tous les leviers, ajouté à

francesa que lhe permitem manipular e controlar todas as

son incroyable énergie, sa volonté de faire, sa capacité de

suas alavancas, ao que se junta a sua incrível energia, a sua

travail, chapeau, le mec, nous étions bluffés.

vontade de fazer, a sua capacidade de trabalho.

Effectivement, son parcours politique est impressionnant. Fils

Efectivamente, o seu percurso político é impressionante.

d’un père hongrois et d’une mère française de famille grecque

Filho de um pai húngaro e de uma mãe francesa de família

d’origine juive, le jeune Nicolas adhère à l’UDR déjà à 18 ans,

grega de origem judia, o jovem Nicolas adere à UDR logo

est élu conseiller municipal à 22 ans puis devient à 28 ans l’un

aos dezoito anos e é eleito conselheiro municipal aos vinte

des plus jeunes maires de France à Neuilly-sur-Seine. Député

e dois anos e aos vinte e oito, torna-se um dos mais jovens

à 33 ans, puis ministre du Budget et porte-parole du gouver-

presidentes da câmara de França, em Neuilly-sur-Seine.

nement en 1993 dans le gouvernement Edouard Balladur, il

Deputado aos trinta e três e Ministro das Finanças e porta-

acquiert une notoriété nationale, démontrant déjà son impli-

voz do Governo em 1993 sob Edouard Balladur, adquire

cation personnelle et son sens de la communication par son

uma notoriedade nacional, demonstrando já o seu envol-

intervention personnelle dans la négociation réussie avec

vimento pessoal e o seu sentido de comunicação pela sua

“HB”, le terroriste qui menaçait de faire sauter une classe avec

intervenção pessoal na negociação conseguida com o HB, o

21 enfants dans une maternelle à Neuilly.

terrorista que ameaçava fazer explodir uma sala com vinte e

Ensuite, deux passage dans le désert - le premier de 1995

uma crianças numa creche em Neuilly.

à 1997, sa punition pour avoir choisi de supporter Edouard

Dois momentos menos seguros atravessaram a sua carrei-

Balladur plutôt que Jacques Chirac, et le second, de 1999 à

ra: entre 1995 e 1997, por ter apoiado mais Jacques Chirac

2002 suite à l’échec cuisant du RPR qu’il avait menées aux

do que Edouard Balladour; e o segundo, de 1999 a 2002,

élections européennes, ce qui l’amène à se retirer de la vie

em consequência da escolha do RPR para as eleições euro-

politique nationale.

peia e à sua derrota flagrante.

Mais à partir de 2002, quand il soutient la réélection de Jac-

Mas a partir de 2002, quando dá apoio à re-eleição de

ques Chirac, il prend sa place au centre de la scène politique

Jacques Chirac, toma o seu lugar no centro da cena política

française, qu’il ne quittera plus. Il est réélu député, devient

francesa, que jamais deixará. É re-eleito deputado, torna-se

ministre de l’Intérieur, puis Ministre d’Etat, de l’économie, des

ministro do Interior, depois ministro da Presidência, da Eco-

Finances et de l’Industrie, pour de nouveau occuper le poste

nomia, das Finanças e da Indústria, para de novo ocupar o

de Ministre de l’Intérieur jusqu’en mars, 2007, où il démission-

posto de ministro do Interior até Junho de 2007, quando se

ne pour se lancer dans la campagne présidentielle.

afasta para se lançar na campanha presidencial.

Même qu’il faisait pleinement partie du gouvernement précé-

Mesmo tendo feito parte do Governo precedente, conseguiu

dent, il réussit brillamment à convaincre l’électorat qu’il sera

convencer brilhantemente o eleitorado que seria o apóstolo ➤

l’apôtre du changement, “la rupture tranquille”, “l’ordre en ➤

6 • Diplomática - março/abril 2011


marรงo/abril 2011 - Diplomรกtica โ ข 7


Sarkozy

➤ da

mudança, “a mudança tranquila”, ou seja, uma moder-

➤ mouvement”,

soit, la modernisation sans que ça fasse trop

nização que não causasse medo ou dano aos franceses.

peur, ou trop mal au Français. Face à Ségolène Royal, il est

Face a Ségolène Royal, ganha com mais de 53% de votos:

élu avec plus de 53% des voix, un mandat clair et net.

um mandato claro e limpo.

Qu’à-t-il hérité? La France en mai 2007, est-elle prête à être

O que herdou? A França em Maio de 2007 estava pronta

“modernisée”? Au vue de l’histoire des années précédentes,

a ser “modernizada”? Tendo em conta a história dos anos

rien est moins sûr: depuis quand a-t-elle un gouvernement

precedentes, nada seria menos certo. Mas quando teve a

capable de résister aux demandes d’un peuple qui a un talent

França um governo capaz de resistir às exigências de um

pour la revendication, de groupements qui savent si bien

povo que tem um talento particular para a reivindicação,

exiger des avantages qui, dès qu’ils sont octroyés, deviennent

grupos que sabem bem exigir os seus direitos que, uma vez

des “acquis”, inviolables, où tout effort de les limiter suscitera

adquiridos, tornam-se invioláveis e sem retrocesso, onde

une résistance farouche de ceux qui risquent de les perdre,

todo o esforço de os limitar provocará uma resistência feroz

qui peuvent compter sur le support de la grande majorité des

daqueles que se arriscam a perdê-los, que podem contar

Français, qui prennent toujours le parti de tout résistant face à

com o apoio da maioria dos franceses, que tomam sempre

la volonté de réforme de quelque gouvernement que ce soit?

o partido de toda a resistência face à vontade de reforma de

Ce même peuple qui a rejeté le traité de Lisbonne par le réfé-

qualquer governo?

rendum de 2005, provoquant une profonde crise au sein de la

Esse mesmo povo que rejeitou o Tratado de Lisboa por

Communauté Européenne. Soit,

referendo em 2005, provocando uma profunda crise no seio

l’environnement économique est en amélioration en mai

da Comunidade Europeia. Contudo, o ambiente económico

2007, mais le taux de chômage reste préoccupant à 8,4%.

está em melhoria em Maio de 2007 apesar da alta taxa de

Face à cet héritage, Sarkozy va se lancer à fonds dans les

desemprego que se mantém nuns preocupantes 8,4%.

réformes, avec une implication personnelle, une énergie dé-

Perante essa herança, Sarkozy lança-se a fundo nas refor-

bordante, un courage peu courant que l’on ne peut qu’admirer,

mas, com um empenho pessoal, uma energia avassaladora,

il va au charbon celui-là, se lançant dans tous les combats et

uma coragem pouco habitual que não podemos deixar de

de plus, il est prêt à être tenu responsable des résultats, ah,

admirar. Lança-se a todos os combates e está pronto a ser

on aime ça, finalement, un homme politique assez courageux

tido responsável por todos os resultados. Pela primeira vez,

pour admettre qu’il doit être jugé par ses résultats.

um político suficientemente corajoso para admitir que pode

Il est moderne, il maîtrise la communication avec l’opinion

ser julgado pelos seus resultados.

publique, il est dans tous les médias, sait les utiliser avec talent

Ele é moderno e domina a comunicação com a opinião pú-

pour que ce soit lui qui fasse l’actualité, il mène les réformes

blica. Está em todos os media e sabe utilizá-los com talento

habilement, comme l’on attendait.

e leva a cabo as reformas tal como esperado.

Globalement, il tient plutôt bien ses promesses, même s’il y a

Globalmente, cumpre as suas promessas, mesmo com

quelques bavures (justice, médecins, écoles primaires), il réus-

alguns deslizes (como o caso da justiça, medicina e escolas

sit à faire passer des réformes là où d’autres gouvernements

primárias), conseguiu fazer passar reformas que tinham

s’étaient cassés les dents: la réforme des régimes spéciaux de

feito dano a anteriores governos: a reforma dos regimes es-

retraite, la réforme des universités pour les rendre plus auto-

peciais de aposentação, a reforma das universidades para

nomes, sans oublier le grand emprunt, le droit de contestation

as tornar mais autónomas, sem esquecer a grande conquis-

des lois donné à chaque citoyen, les allègements fiscaux, il

ta do direito de contestação da lei dado a cada cidadão, o ter

règle plutôt bien les problèmes de l’Europe, l’acceptation du

aligeirado a carga fiscal. Regula bem os problemas da Eu-

Traité de Lisbonne, la gestion de la crise de l’Euro, et il réussit

ropa, faz pela aceitação do Tratado de Lisboa, pela gestão

à faire dépasser l’anti-américanisme pavlovien des régimes

da crise do Euro e consegue fazer ultrapassar o anti-ame-

précédents. Et puis, bien sûr, LA bataille, la réforme des re-

ricanismo pavovliano dos regimes precedentes. E depois,

traites, où il réussit à tenir tête aux grandes manifestations de

certamente, A batalha da reforma das aposentações, onde

2010, pour faire passer l’âge légal de retraite à 62 ans.

ganha o braço de ferro com as grandes manifestações de

Mais en parallèle, sa cote de popularité chute dramatique-

2010, passando a idade legal da reforma para os 62 anos.

ment, pour qu’aujourd’hui presque 7 Français sur 10 aient une

Mas em paralelo, a sua quota de popularidade cai dramati-

pas très bonne opinion de lui. Comment est-ce possible? Le

camente. Hoje quase sete em cada dez franceses não têm

système a-t-il arrêté de fonctionner?

grande sobre Sarkozy. Como é possível? O sistema terá

Les causes sont multiples.

parado de funcionar?

D’abord, il y a le problème du style. Soit, il est moderne, à la

As causas são múltiplas.

mode, époux de la superbe Carla, à l’aise à côté du couple

Para começar há um problema de estilo. Ele é moderno, em ➤

présidentiel américain, mais il en fait trop, au risque d’être ➤

8 • Diplomática - março/abril 2011


Fotos: Ricardo Oliveira marรงo/abril 2011 - Diplomรกtica โ ข 9


Sarkozy

➤ voga,

marido da bela Carla, à vontade ao lado do casal

➤ perçu

comme légèrement moins poli, “in the face”, bling

presidencial americano, mas ele esforça-se demais, ao pon-

bling, cette modernité là, à l’américaine, agace certains, elle ne

to de ser apercebido como menos polido, “in the face”, bling

correspond pas à l’image que les Français aiment avoir d’un

bling. Essa modernidade, em estilo americano, desagrada,

Président ideal.

não correspondendo à imagem que os franceses concebem

Certains lui en veulent de contribuer à la polarisation du pays

da ideia de presidente.

- certes, la France est un pays en proie à de forts clivages

Alguns quiseram-lhe atribuir a polarização do país. É verda-

idéologiques, mais dans ses choix politiques, il a accentué ce

de que a França é um país com fortes clivagens ideológicas,

phénomène, renforçant les écarts plutôt que l’inverse.

mas nas escolhas políticas acentua esse fenómeno, re-

D’autres, beaucoup d’autres, lui en veulent surtout de s’être

enforçando-o mais do que o contrário.

montré inflexible face à la contestation massive de 2010 -

Outros, querem-no como aquele que se mostrou inflexí-

effectivement, il a tenu ferme, à la Thatcher - mais la France,

vel perante a contestação massiva de 2010 – de facto ele

ce n’est pas l’Angleterre, et certains - tout en reconnaissant

manteve-se firme em estilo Tachteriano – mas a França não

la nécessité de la réforme - considèrent que ses méthodes

é a Inglaterra, e certos, mesmo reconhecendo a necessida-

peuvent, peut-être, bafoué les principes sacrés de la démocra-

de de reforma, consideram que esses métodos poderiam

tie française.

abafar os princípios sagrados da democracia francesa.

Ne faut-il pas, en démocratie, des hommes et femmes d’état

Não é necessário, em democracia, homens e mulheres de

qui savent dire non, sont prêts à ignorer les derniers sonda-

Estado que saibam dizer não, que estão prontos a ignorar

ges, savent imposer la pilule amère d’un choix impopulaire?

as sondagens anteriores, que saibam impor a pílula amarga

Jusqu’à où faut-il écouter la volonté du peuple, même celui qui

de uma escolha impopular? Até onde é necessário escutar

va dans la rue pour l’exprimer? Nos démocraties occidentales

a vontade do povo, mesmo aquele que vai à rua se manifes-

ne sont pas les seuls, en ce janvier 2011, à débattre de cette

tar? Nas democracias ocidentais não são os únicos, neste

question fondamentale.

Janeiro de 2011, a debater essa questão fundamental.

Quelle est la part des problèmes de la France, et de son

Qual é a parte dos problemas da França, de do seu presi-

Président, qui a peu à voir avec sa personne, mais qui est

dente, que pouco tenha a ver com a sua pessoa, mas que é

due à la crise financière mondiale? Ce n’est pas qu’en France

antes devida à crise financeira mundial? Não é apenas em

que le chiffre du chômage est devenu le baromètre primordial

França que o número do desemprego se tornou no baró-

du jugement qu’un peuple porte à l’égard de ses dirigeants,

metro primordial para o julgamento que o povo faz aos seus

et malheureusement pour ce Président, la crise mondiale a

dirigentes, e desgraçadamente, para o seu presidente a

arrêté brutalement la baisse du chômage en France, et le

crise mundial parou brutalmente a baixa de desemprego em

fait repartir vers des hauteurs qui redeviennent politiquement

França e fê-la atingir alturas que se tornaram politicamente

catastrophique.

catastróficas.

Est-ce la responsabilité de Nicolas Sarkozy? Surement pas.

É da responsabilidade de Nicolas Sarkozy? Seguramente

Peut-être que tout homme d’état aurait échoué face à la tem-

que não. Talvez todo o homem de Estado teria soçobrado

pête presque sans précédent de la crise financière mondiale.

face à crise financeira mundial. Mas não é da sua responsa-

Mais n’est-ce pas de sa responsabilité de nous permettre de

bilidade nos permitir uma saída?

nous en sortir?

Que esperar de um homem de Estado? Esperar que nos

Qu’attendons-nous d’un homme d’état? De nous inspirer,

inspire, que nos leve, que nos faça ultrapassar os nossos

de nous mener, de nous permettre de dépasser nos limites,

limites, fraquezas e avançar para um objectivo mais nobre

nos faiblesses, d’avancer vers un objectif plus noble que

que o vulgar.

l’ordinaire.

No momento da sua eleição, alguns, mesmo muitos, espe-

Au moment de son élection, certains, même beaucoup, ont

raram que esse filho de imigrantes húngaros pudesse ser

espéré que ce fils d’immigrés hongrois pouvait être catalyseur

o catalisador de um re-nascimento da França, prometendo

d’un renouveau de la France, permettant de projeter ce grand

projectar esse grande país no séc. XXI com um sentido

pays dans le XXIème siècle avec un élan positif.

positivo.

Nous savons bien qu’il est trop tôt pour porter jugement, mais

Sabemos que é demasiado cedo para julgar, mas hoje, face

à ce jour, face à la situation difficile qu’il a héritée, il est difficile

à situação difícil que herdou, é difícil evitar a dúvida de se

d’éviter un certain doute qu’il ne soit à la hauteur des ambitions

estará à altura das ambições que ele mesmo. n

qu’il a lui-même fixées. n

* Patrick Siegler-Lathrop obteve graduações em Princeton, no Institut d’Etudes Politiques de Paris e em Harvard e deu início à sua carreira como banqueiro na área dos investimentos em Wall Street, Nova Iorque. O seu trabalho teve como foco central projectos internacionais ao nível dos países em desenvolvimento, tendo depois vindo a ocupar, em Paris, a posição de co-director na área dos investimentos num banco árabe-internacional. De seguida dedicou-se à indústria em França e mais tarde aceitou os cargos de Professor na Universidade de Paris, Dauphine, e no INSEAD, onde leccionou emprendedorismo de negócios. Juntamente com Françoise Giroud, Jacques Attali, Bernard-Henri Levy e outros nomes bem conhecidos, foi um dos membros fundadores da ONG internacional Acção Contra a Fome, organização essa a que deu o seu apoio durante mais de trinta anos. Actualmente reside em Portugal e trabalha como consultor internacional.

10 • Diplomática - março/abril 2011



Diplomacia na 1ª Pessoa

Pascal Teixeira da Silva - Embaixador de França em Portugal por Maria da Luz de Bragança, fotos Orlando Sousa

«A globalização tem sido um fenómeno que transformou o mundo» Casado e pai de dois filhos, o Embaixador diz-se encantado com Portugal. Luso-descendente, é para si um privilégio e uma satisfação pessoal estar no país de seu pai O Embaixador Pascal Teixeira da Silva é um homem apaixonado pela vida, pelas culturas do mundo, pela arte. Melómano, pratica um especial gosto pelo cravo. Tem uma especial sintonia com o espírito do tempo, tendo estado - por sorte ou infortúnio - perto dos grandes marcos da História recente: em Berlim, por altura da queda do muro; em Moscovo, aquando do desmembramento da URSS; nos EUA, no momento da queda das Twin Towers - a que assistiu com os seus próprios olhos.

Quais as suas primeiras impres-

panhei a integração de Portugal na

é a combinação de uma vontade de

sões sobre Portugal?

União Europeia. É um país paradoxal

abertura ao mundo e uma capacida-

Portugal é um país que conheço des-

que, por um lado, tem uma identida-

de de deixar o seu país para desco-

de 1966. Vim cá várias vezes e tive a

de e sentimento de si muito fortes,

brir o mundo e emigrar para terras

oportunidade de constatar as várias

mais fortes do que em muitos outros

estrangeiras. Acho muito interessante

mudanças que o país sofreu. Acom-

países; e, por outro, esse sentimento

essa combinação que

12 • Diplomática - março/abril 2011


representa uma vantagem no

vida para as mulheres é de 85 anos e

agora uma preocupação demo-

mundo globalizado, porque estamos

para os homens de 80. Isto quer dizer

gráfica, sobretudo em relação às

a viver um tempo de mudanças e

que este sistema de protecção social

comunidades islâmicas. Estas já

transformações que põem en causa

já não é sustentável, sendo por isso

representam uma percentagem

todas as nossas referências. É bom

necessário fazer reformas no finan-

de população muito elevada, pois

manter estas características fortes.

ciamento e alterar a idade da refor-

têm um índice de reprodução de 5

O Ocidente – a Europa e a América

ma para mais tarde. Portugal, com

a 6 filhos por casal, enquanto na

do Norte – tem sido a maior potência

grande coragem, já o fez e a França

Europa esse índice é inferior a um.

nos últimos cinco séculos. Deu ao

terá que fazê-lo também, assim como

Isto não irá desequilibrar o estado

mundo actual a ciência e a tecno-

todos os países europeus. Isto não é

social?

logia modernas, altos quadros dos

fácil porque se tem que trabalhar até

Não concordo com esses dados. A

sectores intelectual, político e econó-

mais tarde, mas é indispensável para

taxa de fecundidade em França é

mico. Mas muitos países do resto do

manter o sistema de protecção social.

de 2 filhos por mulher. A taxa é um

Mundo têm vindo a aprender muito

Todos os países europeus terão que

pouco mais alta nas mulheres es-

e agora estão aptos para ultrapassar

atravessar este período difícil de

trangeiras. Mas, a partir da segunda

e fazer melhor do que os europeus.

adaptação, juntando os seus esfor-

geração, não há grandes diferenças

A China, que tem a civilização mais

ços, pois muitos países europeus não

de comportamento no que respeita à

antiga da História, volta agora a

têm dimensão para competir com as

fecundidade. Esta transição demográ-

ocupar um lugar de poder na econo-

grandes potências do século XXI. A

fica ocorre também em quase todos

mia mundial que corresponde ao que

integração europeia é indispensável

os países muçulmanos. Em muitos

ela era no passado. Isto quer dizer

para contrabalançar o peso demográ-

países árabes ou muçulmanos a taxa

que o Ocidente está em concorrência

fico e económico da China, da Índia,

de fecundidade diminuiu bastante

com outras potências e tem que se

dos Estados-Unidos. O conjunto dos

durante os últimos 30 anos. Não há,

adaptar.

27 países da U.E. tem cerca de 500

em França, uma diferença tão grande

O problema que temos é que a

mil milhões de habitantes, sendo o

entre pessoas de origem estrangeira

prosperidade e a riqueza que conse-

primeiro exportador mundial. Assim,

e as de ascendência francesa.

guimos acumular, em especial a partir

se a U.E. mostrar vontade, pode

Eu diria mais particularmente os

da Segunda Grande Guerra Mundial,

tornar-se mais forte nas negociações

muçulmanos, porque são o alvo

permitiram a criação do Estado social

internacionais, por exemplo, nas

preferencial da filha do Le Pen, da

– que não existe em mais nenhuma

comerciais.

extrema-direita, que acolhe sim-

região do mundo a este nível – mas

O que está a acontecer agora é uma

patias de cerca de 40 por cento do

que tem um grande custo. O financia-

mudança de percepção do mundo

eleitorado de Sarkozy. É um núme-

mento e a manutenção deste Estado

em que vivemos no que diz respeito

ro preocupante. Não lhe parece?

social pode ultrapassar os nossos

às relações económicas. A U.E tem

É preciso olhar para trás para com-

recursos, por isso temos que adaptar

sido a zona económica mais aberta

preender a situação. Historicamente,

o nosso pensamento e os nossos

e os outros países aproveitaram-se

a França tem sido um país de imi-

procedimentos para manter este

disso mas não deram reciprocidade.

gração enquanto os outros países da

nível de protecção social. O enve-

Por exemplo, é muito difícil às nossas

U.E têm sido países de emigração.

lhecimento da sociedade é um factor

empresas europeias entrarem e ter

Os franceses estavam ricos, con-

que contribuiu muito para aumentar a

acesso aos concursos públicos de

fortáveis e felizes e, por isso, pouco

carga do Estado social.

outros países enquanto esses países

emigraram. Mas acolheram muitas

Em França, quando foi institucio-

têm acesso aos nossos; isto tem que

vagas de imigrantes. Eu sou um dos

nalizado o sistema de segurança

mudar.

milhões de exemplos desta tradição.

social, logo a após a Segunda Guerra

Falou-nos, há pouco, de alguns as-

A minha família é de Portugal, o meu

Mundial, a relação entre activos e

pectos da necessidade de coesão

pai nasceu em Portugal, fazendo par-

não-activos era de 4 para 1, a idade

europeia, mas também da questão

te das centenas de milhares de portu-

de reforma era aos 65 e a esperança

do aspecto demográfico do esta-

gueses – principalmente do Norte do

média de vida a partir da idade de re-

do social. No caso da França, da

país – que foram para França.

forma era de dois anos. Hoje em dia,

Alemanha, Inglaterra que são al-

Não foi muito fácil lidar com essas

a proporção de activos e não-activos

guns dos países mais apetecíveis

vagas de emigração. Houve reacções

é de dois para um e a esperança de

em termos de emigração surge

de rejeição e, sempre que há

março/abril 2011 - Diplomática • 13


Pascal Teixeira da Silva

dificuldades económicas, os pri-

outras culturas como de África ou da

fundamentais que todos partilham.

meiros alvos são os imigrantes. Isso

Ásia. Não digo que é impossível – fe-

A minha dúvida é – e levantando

aconteceu algumas vezes durante

lizmente isso acaba por acontecer –,

um pouco o véu – se em termos

o século XX, com os Polacos ou os

mas é mais difícil, sobretudo quando

objectivos e meramente realistas,

Italianos, por exemplo, durante a crise

combinado com outros factores que

a grande concentração de emi-

de 1929.

já mencionei. Há um maior esforço de

grantes africanos subsaarianos e

Os problemas que temos agora são o

integração que demora mais tempo

magrebinos não cria um caldo para

resultado de um conjunto de três fac-

porque é mais complicado integrar

a extrema-direita, que é particu-

tores: primeiro, a questão da propor-

pessoas cuja cultura, valores e refe-

larmente xenófoba, que está a

ção e do patamar. Não é uma ques-

rências são muito diferentes.

ameaçar a democracia em França.

tão de racismo nem de xenofobia, é

O conjunto destes três factores faz

Se essa extrema-direita consegue

uma questão da capacidade de cada

com que seja mais difícil e que tenha-

eleger um presidente; se a filha do

sociedade integrar elementos alheios.

mos problemas.para resolver. Mas

Lepen, que tem um discurso muito

É mais fácil integrar 5 por cento do

“uma árvore não faz uma floresta”, ou

mellow, mas duro, e está a seduzir

que 30 por cento. Os problemas que

seja, temos problemas mas a grande

os franceses, se ela consegue ser

temos devem-se à concentração de

maioria dessas pessoas de origem

eleita no sistema francês que tem

população de origem estrangeira,

muçulmana ou africana quer integrar-

uma forte componente presiden-

sobretudo nos subúrbios. O nível

se e consegue encontrar o seu lugar

cial, não corre o risco de alterar o

é demasiado alto e faz com que a

na sociedade. É muito importante

regime?

integração seja mais difícil. Quando

apostar nas mulheres porque a edu-

A existência de partidos políticos de

o meu pai e os meus avós chegaram

cação na mulher é o vector essencial

extrema-direita com discurso nacio-

a França, foram para uma aldeia no

da integração. Estas mulheres prefe-

nalista e de pouca abertura não é

centro oeste. Esta família numerosa

rem viver numa sociedade moderna

uma especificidade francesa. É um

era a única família estrangeira, o que

e secular, como a francesa, do que

fenómeno que existe noutros países

fez com que a integração desta pe-

viver em países com tradições pa-

europeus, salvo em Portugal. Mas

quena família portuguesa tenha sido

triarcais e machistas. Esta evolução

é fácil perceber a causa: estamos a

bastante fácil. Mas hoje, há escolas

graças às mulheres também ocorre

atravessar um período muito difícil de

nos subúrbios de Paris em que 80 por

nos paises muçulmanos. É a minoria

adaptação à mudança do Mundo. A

cento dos alunos são de origens es-

que atrai a atenção e que aparece

globalização é sinónimo de movimen-

trangeiras, provenientes de diferentes

nas primeiras páginas dos jornais e

tos permanentes, incluindo humanos.

nacionalidades. É muito difícil manter

que quer afirmar a sua identidade

Há uma ansiedade que cresce em

a capacidade do sistema escolar

através da exibição de sinais reli-

relação ao que é a nossa identidade.

para continuar a desempenhar o seu

giosos como o véu, é uma pequena

O que é um paradoxo, porque foi

papel de formação e integração em

minoria e assim permanecerá.

o Ocidente que desencadeou este

tais condições; segundo, as condi-

A questão do véu chamou a atenção

processo de globalização, com uma

ções económicas. Desde há trinta

dos países estrangeiros e dos media

aceleração de mudanças, e que

anos, a situação, no que diz respeito

internacionais porque é ilustrativo da

coloca em questão todas as certezas

ao emprego, tem-se tornado menos

diferença do modelo social e cultural

e posições estabelecidas. Para os

favorável. A taxa de desemprego é

francês, que é o modelo de integra-

nossos concidadãos é uma grande

sempre maior para os imigrantes do

ção e que até hoje tem funcionado,

angústia. A vantagem do discurso

que para o resto da população. Isto

apesar das dificuldades que já referi.

nacionalista, identitário e xenófobo,

é um factor negativo que complica a

Há um grande consenso em França

é exactamente a de dar respostas

integração porque é fácil para os ex-

sobre esta questão e as sondagens

simples e explicações básicas à

tremistas dizerem que os imigrantes

têm mostrado que os jovens têm uma

ansiedade criada pela globalização. E

“roubam” o trabalho, já de si escasso,

visão muito secular, integracionista e

isso acontece em quase todos os pa-

aos nacionais; o terceiro factor é a

acolhedora. Todos são capazes de

íses europeus. Mas em nenhum país

questão das diferenças culturais. É

se integrar, trazendo as suas especi-

europeu esta tendência ideológica de

mais fácil os imigrantes integrarem-se

ficidades e riquezas culturais, para a

pequenas formações políticas conse-

na sociedade francesa quando vêm

sociedade francesa, mas esta deve

guiu ganhar o poder. Às vezes podem

de países de língua romana, de tradi-

manter-se uma sociedade secular

fazer parte de uma coligação, outras

ção católica, do que quando vêm de

assente num conjunto de valores

vezes podem perturbar o jogo político

14 • Diplomática - março/abril 2011


clássico, mas penso que nenhum

abriram o regime, ao contrário dos

E, neste quadro, qual o papel da

desses partidos irá ganhar as elei-

chineses?

globalização?

ções e liderar um país. O que acon-

Isso é uma das numerosas mudan-

Com a globalização dá-se uma unifi-

teceu em França em 2002, quando

ças que estamos a viver. Até ao início

cação e a base de referência passa

o senhor Le Pen passou à segunda

dos anos 90, o Mundo era simples.

a ser os Estados Unidos: fala-se o

volta da eleição presidencial, não foi

Tivémos os países de economia de

«globish», que é o inglês interna-

porque tenha aumentado o número

mercado: as democracias do ociden-

cional muito básico; a cultura fica

de eleitores – o Front National já tinha

te e mais os países assimilados. Os

também americanizada/globalizada,

atingido este patamar – mas porque

países comunistas, como a União

mas apenas com uma aparência de

os votos da Esquerda ficaram espa-

Soviética que era um concorrente

globalização pelo consumo massifica-

lhados por muitos candidatos.

estratégico, uma ameaça militar, mas

do. Mas, ao mesmo tempo, existe o

Esta política vai continuar a atrair

que nunca representou uma ameaça

desejo de se diferenciar e de preser-

votos e a obter a simpatia dos elei-

económica. No que diz respeito à

var e encontrar uma identidade pró-

tores que estão confrontados com

China, as suas políticas económicas

pria. Não é por acaso que durante os

duas questões: a da identidade e a

eram deficientes com a política de

últimos trinta anos, em que a globali-

do futuro das nossas sociedades face

Mao Zedong e estava num estado

zação se tem alastrado, muitos povos

à globalização. A globalização coloca

de pobreza. E havia o terceiro mun-

quiseram afirmar a sua identidade

em causa as certezas, o conforto e

do, quer dizer os países pobres em

e diferença no plano político. Isso

a riqueza relativa que temos tido. Os

desenvolvimento. Era uma espécie

conduziu a uma fragmentação de

Europeus já não têm a certeza se o

de tripartição…

Estados compósitos, como os casos

futuro dos seus filhos será melhor do

Neste momento, estas categorias já

da Jugoslávia e da Checoslováquia.

que o seu.

não existem. Temos uma economia

Em muitos países há uma afirmação

É difícil perceber a sua complexidade

de mercado em quase todo o mundo,

infra-nacional, infra-estadual. O que

e ainda mais difícil qual o seu rumo.

com poucos países a resistirem-lhe,

acontece em países conturbados

Há quem consiga dar explicações

como são os casos da Coreia do

pela globalização – que não é só um

e respostas simples. Daí que exista

Norte ou Cuba. Mas também países

fenómeno económico mas também

uma responsabilidade muito grande

em que a economia de mercado não

cultural – é uma reacção paradoxa.

dos políticos, em especial, em tempos

funciona, porque há distorções por

Repare como nos países árabes há

de grande transformação e de grande

causa da corrupção e da intervenção

uma juventude que usa jeans e gosta

incerteza. Porque ninguém pode an-

de uma elite predatória – como em

das técnicas modernas de comunica-

tecipar e anunciar com certeza o que

vários paises de África – que controla

ção, mas que ao mesmo tempo tem

vai acontecer. Estamos há 30 anos

o país e perturba o bom funciona-

uma re-islamização do comportamen-

a viver surpresas e acontecimentos

mento de uma economia. Mas há

to. A prática do Ramadão e do véu

de grande alcance. Começou com a

muitos exemplos de evoluções no

é mais forte do que há trinta anos –

queda do muro, o desmembramento

bom sentido.

mas isso não quer dizer que a verten-

da União Soviética, etc.

Temos, neste momento, numerosas

te política, o islamismo, esteja mais

Recordo-me, sobre esse assun-

combinações. A China é a combina-

forte face à globalização, os povos

to, de dois grandes pensadores

ção de uma espécie de capitalismo

reagem e querem afirmar uma coisa

franceses: o Jean-Jacques Servan-

muito brutal para os trabalhadores

própria que pode ser um grupo étnico

Schreiber, autor do «Le Défi Ame-

mas que consegue aumentar o nível

ou uma religião. Uma das causas da

ricain» - que já vai longe, uma vez

de vida e criar uma classe média,

afirmação do Islão nas populações

que já estamos muito para além do

e um monopólio do poder entre as

de origem muçulmana, em França,

desafio americano que ele anteci-

mãos do partido comunista, mas que

é exactamente essa: é uma questão

pou; e o Alain Peyrefitte com o seu

consegue formar e manter uma elite

de «quem sou eu?». Mas tal também

«Quando a China despertar» e a

tecnocrática bem sucedida. Quando

acontece com o progresso dos movi-

China já despertou. Onde vai parar

se vê como a China em trinta anos

mentos evangélicos sobre as igrejas

este despertar chinês que tem uma

mudou completamente e conseguiu

cristãs tradicionais. A difusão destas

mistura de aproveitamento de tudo

tornar-se, hoje, na segunda potência,

novas crenças utiliza os meios da glo-

o que há no capitalismo, mas com

isso é a demonstração de que os

balização. É um processo interessan-

uma dureza de quem não tem a

quadros dirigentes são muito efica-

te: o uso da globalização técnica para

ingenuidade dos soviéticos que

zes.

reagir contra a globalização cultural.

março/abril 2011 - Diplomática • 15


Pascal Teixeira da Silva

Este revival religioso, quer no cris-

Esse é, de facto, um projecto muito

sempre alguém que não concorde

tianismo quer no Islão, é sempre uma

ambicioso embora muito difícil, mas

e não fique contente com isso. O

escolha pessoal. Não é o prolonga-

é um projecto essencial a realizar

passado pode ser instrumentalizado,

mento da tradição da família, mas sim

a longo prazo. Porque no Mundo

por actores políticos, para pressionar

uma escolha pessoal. Um jovem que

do século XXI vai haver pólos de

ou adulterar.

tenha cortado os laços com as tradi-

potência económica e política. Mas

O que vai acontecer nestes países

ções culturais do seu país, como o

o tamanho destes pólos deve ser

do Magrebe é muito importante

islão tradicional ou o catolicismo, mas

medido em 500 milhões. Porque

para todos os países europeus.

quer um sentido na sua vida e quer

menos de que isso não é suficiente.

Podemos constatar isso com o

uma identidade, pode vir a pertencer

A União Europeia pesa cerca de 500

terrorismo da Al Qaeda no Ma-

a um movimento que não é nacional

milhões; a China, 1,3 mil milhões; a

grebe islâmico. Foram raptados e

mas que é transnacional, como, por

Índia, 1,1 mil milhões; os E.U.A com

detidos, como reféns, não só fran-

exemplo, os movimentos evangélicos

o Canadá só 350 milhões, mas com

ceses, mas também cidadãos da

ou Tabligh.

um poder económico que compensa.

Alemanha, da Áustria, da Suíça, da

A língua é um dos elementos impor-

A Europa tem que criar relações de

Grã-Bretanha, da Espanha, da Itá-

tantes neste jogo complicado entre

cooperação e solidariedade com a

lia… Ou seja, europeus ocidentais

a globalização e a identidade. No

vizinhança, que é a Rússia e o sul

que são considerados inimigos.

que diz respeito à língua enfoco dois

do Mediterrâneo. Para terem uma

Isto também pode acontecer aos

níveis. Há um nível que é o da globa-

influência no jogo mundial, é preciso

portugueses se forem imprudentes

lização e comunicação mundial que é

vincular a Europa àqueles mundos

a fazer turismo nessas zonas pou-

o «globish», que não tem a ver com a

no Sul e no Este. O segundo aspec-

co controladas, porque a nacionali-

língua de Shakespear, é uma “língua

to, diz respeito aos países do Sul do

dade não importa, este movimento

franca”. No séc. XVI e XVII havia uma

Mediterrâneo. O futuro destes países

terrorista vê o mundo através do

“língua franca” falada pelos marinhei-

vai ter consequências imediatas para

choque de civilizações.

ros do Mediterrâneo que era uma

nós. Se conseguirem, tudo bem, se

A globalização tem sido um fenóme-

mistura de Italiano, Espanhol, Fran-

fracassarem será um desastre para

no incrível que transformou o mun-

cês, Português e Árabe e era usada

eles e para nós também, e é por isso

do; é uma dinâmica e um processo

para a comunicação básica, comer-

que é preciso ajudá-los e criar laços

perpétuo. Face a essa dinâmica que

cial, na zona mediterrânica.

de solidariedade e desenvolvimento.

transforma e põe em causa todas

Um outro nível, que é o das línguas

A ideia básica da união mediterrânea

as situações materiais e imateriais

das comunidades mais próximas,

era ultrapassar as barreiras políticas,

temos diferentes tipos de reacções:

por exemplo, o desenvolvimento da

em especial no que diz respeito ao

primeiro, a utilização das armas que

prática da aprendizagem das línguas

conflito entre Israel e os países ára-

o Ocidente criou... Esta foi a resposta

regionais. Nas Caraíbas o crioulo é

bes, para trabalharem em conjunto

dos chineses que escolheram acabar

cada vez mais valorizado em detri-

sobre projectos importantes no de-

com mais de um século de humilha-

mento do Francês. A língua mais

senvolvimento económico, na criação

ção e de opressão e de uma relação

formal do Estado-nação e que, neste

de empregos, nas infraestructuras, na

desigual com o Ocidente, que come-

caso, é uma língua de importação,

protecção do ambiente, etc. É difícil

çou em 1840 com a guerra do ópio.

fica esmagada entre o «globish» e a

porque, apesar disso, os problemas

Agora os chineses vão voltar a ter

língua das comunidades. Na Jugos-

políticos contaminam e complicam

um lugar na cena internacional, mas

lávia, por exemplo, havia o serbo-

muito a capacidade deste UPM.

utilizando as armas da globalização:

croata que desapareceu e, depois da

Em relação ao que aconteceu

a tecnologia, a indústria, o comércio,

implosão do país, surgiram o servo, o

na Tunísia – e está a acontecer

o dinheiro, a informação; o segundo

croata e o bosniak.

um pouco por todo o Magreb -, a

tipo de resposta desenvolve-se ao

Voltando um pouco atrás, devo

França segue com interesse essa

nível cultural. Sob a forma da afirma-

dizer que achei linda essa ideia da

mudança de regime para que não

ção da sua diferença. Eu acho que a

língua franca outrora falada que

haja, na região, focos de instabili-

re-islamização no mundo muçulmano

unia o Mediterrâneo. O que me faz

dade?

é um efeito disto. Não vão combater

lembrar o projecto ambicioso do

Nós estamos numa posição muito

a globalização ocidental no terreno

Presidente Sarkozy de uma união

pouco confortável. Qualquer que seja

económico, mas vão tentar combatê-

mediterrânea.

a posição ou discurso francês, haverá

la no plano cultural e religioso; e,

16 • Diplomática - março/abril 2011


«[Portugal] é um país paradoxal que, por um lado, tem uma identidade e sentimento de si muito fortes, mais fortes do que em muitos outros países; e, por outro, esse sentimento é a combinação de uma vontade de abertura ao mundo»

para a violência extrema tem a

problemas que não existiam há trinta

minoria que quer travar a batalha

ver com problemas de identida-

anos. Hoje em dia, qualquer coisa

contra a globalização ocidental e

de e de mal-estar. Para resolver

que se passa em qualquer lugar do

os seus valores com uma violência

isso, ocorre uma combinação de

mundo é imediatamente vista pelo

extrema, que são os terroristas. Esta

processos: uma simplificação/

mundo inteiro, como aconteceu com

resposta provoca o impasse. Só vai

compreensão do mundo a branco

as caricaturas de Mohamed na Dina-

criar terror e insegurança, vai impedir

e preto, que se resume a uma luta

marca. O problema deste imediatismo

o livre acesso a territórios, mas não

entre muçulmanos e o Ocidente

é que já não há a distância e o tempo

vai mudar o rumo do mundo. Aqui

que, desde muitos séculos, os

que outrora existiam e serviam de

trata-se dos elementos mais patológi-

têm oprimido e humilhado; a con-

peneira entre os povos e as mentali-

cos de algumas sociedades. Mas re-

vicção de que a única maneira de

dades que não são tão semelhantes.

pare que estes movimentos violentos

restaurar a posição da “ummah”

A blasfémia no Paquistão é um crime

estão completamente disconectados

islâmica é a de usar a violência

castigado pela lei, o que não é o caso

dos movimentos de massa no mundo

contra o Ocidente; o desejo de

na Europa desde o século XVIII - o

muçulmano, como vemos hoje na

participar neste combate para dar

que alimenta o ressentimento.

Tunísia e no Egipto...

um sentido à sua vida e vincular

Como contribuir para atenuar esse

A razão pela qual indivíduos

assim a sua situação pessoal a

tipo de tensões?

– quer no Ocidente, quer em

nível colectivo…

Um exemplo é a iniciativa que foi to-

países muçulmanos – derivam

É verdade que a globalização gera

mada pela França, há alguns anos,

finalmente, há uma pequeníssima

março/abril 2011 - Diplomática • 17


Pascal Teixeira da Silva

de negociação no quadro da UNES-

davam só das antigas colónias e não

cionais. Eu acho importante manter

CO sobre a diversidade cultural. Esta

davam importância ao resto de África.

e consolidar a oferta linguística nas

foi uma negociação muito difícil. A

Mas isto já não é possível, porque os

escolas, porque o perigo de que

ideia básica era: a cultura não é um

problemas de segurança se colocam

os alunos aprendam só o inglês já

bem como os carros ou os vestidos.

ao nível regional e não é possível

existe. Os jovens precisam de falar,

Os bens culturais não são bens ba-

prestar atenção e, por exemplo, tratar

além da língua própria e do inglês

nais, são vectores de representações,

da Guiné-Bissau, sem saber o que se

para a comunicação internacional,

de crenças, de visões, de esperan-

passa nos países vizinhos. Igualmen-

uma segunda, até uma terceira língua

ças. São produtos intelectuais que

te, não foi possível ignorar os paises

estrangeira para que se abram a

não podem ser comprados, nem

vizinhos da Serra Leoa ou do Libéria,

outras culturas.

comparados com outros bens mate-

durante a guerra civil, porque havia

Devido aos contrangimentos orça-

riais. E, por isso, devem ser aceites

muitas interacções (solidariedades

mentais dos governos, o ensino de

regras específicas para a protecção

étnicas, movimentos de refugiados,

uma segunda língua estrangeira

da diversidade cultural e não uma

tráficos de armas e diamantes, etc.).

parece ser um luxo. Em Portugal

globalização/uniformização/mercado-

Isto quer dizer que não é possível a

a aprendizagem de uma segunda

rização da cultura.

qualquer país europeu que tenha tido

língua não é obrigatória a partir do

Não queremos, por exemplo, que a

colónias na África manifestar um inte-

décimo ano. Em França temos uma

única oferta cinematográfica seja a

resse limitado pelas antigas posses-

situação um pouco melhor, pois a

produção de Hollywood. Temos de

sões. E por isso, França e Portugal

segunda língua estrangeira é obri-

ter mais diversidade na oferta cultural

têm de trabalhar em conjunto para

gatória até ao décimo segundo ano,

e regimes especiais para preservar

ajudar a encontrar soluções e coope-

conforme uma recomendação da U.E

a capacidade de criação. A produ-

rar. Exemplo disso é a Guiné-Bissau,

de 2002. A Europa é rica em línguas

ção cultural não pode obedecer a

pois sendo um país com grandes

e culturas. Não deveria haver jovens

uma mera lei de mercado. Aqui, em

dificuldades, é uma rota do narcotráfi-

europeus que não soubessem uma

Portugal, 95 por cento dos filmes

co, que vem da América do sul o que

segunda língua estrangeira porque

exibidos nas salas de cinema são

representa um problema de seguran-

não só é uma mais-valia profissional

americanos. Até o cinema português

ça para Portugal, França e Espanha.

como também um enriquecimento

não consegue ser exibido na rede

Temos de unir os nossos esforços e

pessoal.

comercial em Portugal. É por isso

coordenar as nossas políticas para

Como está o ensino do português

que o ex-presidente Jacques Chirac,

nos protegermos deste problema ou

em França?

lançou a negociação duma conven-

tentar resolvê-lo.

Está a desenvolver-se. Temos de

ção na UNESCO sobre a diversidade

Também temos de sensibilizar os

mudar a imagem do ensino do portu-

cultural, para dar uma base jurídica

nossos parceiros europeus para a

guês no ensino secundário. O ensino

internacionalmente reconhecida,

importância destes desafios e para

da língua portuguesa em França tem

enquadrando a produção e o comér-

estes problemas de segurança nesta

estado ligado aos filhos dos imigran-

cio de bens culturais. Tivémos muitos

região. E temos que mobilizar os

tes portugueses. Os portugueses não

problemas com os americanos que

recursos da U.E para combater as

querem que eles percam a prática da

não concordavam, mas finalmente a

ameaças de segurança na região do

língua mãe, o que é légitimo. Por isso

convenção foi adoptada e agora é só

Saara e do Sael. Portugal, França,

há aulas de português, mas são so-

pô-la em prática.

Grã-Bretanha e Bélgica têm uma

bretudo aulas para as pessoas de ori-

Há algum aspecto das relações

responsabilidade especial para tentar

gem portuguesa. É importante acabar

entre Portugal e França que ache

empenhar os outros parceiros euro-

com esta imagem demasiado restrita

fundamental para desenvolver a

peus neste processo.

e abrir o ensino da língua portuguesa

curto e a médio prazo?

O segundo ponto a aplicar é a ques-

porque é uma das grandes línguas

Há vários. A África é um, porque a

tão da diversidade cultural que já

internacionais, falada em oito países,

França e Portugal são países que

referi. Face à globalização, temos in-

inclusive numa das grandes potên-

têm dela uma experiência e um

teresse em manter e reforçar o lugar

cias do século XXI, o Brasil. Este é

conhecimento especial e há poucos

e o papel do francês e do português,

um trabalho que é preciso fazer entre

países que partilham este conheci-

enquanto línguas de comunicação

os franceses e os portugueses e o

mento. Durante épocas, os países

internacional, nos novos media como

Brasil também deveria ter um papel

europeus que tiveram colónias cui-

a internet, e nas instâncias interna-

importante neste sentido.

18 • Diplomática - março/abril 2011

n


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Gestores Internacionais

Ângelo Ramalho - CEO da Alstom Grid Portugal, Lda. «A liderança é essencial para incentivar a acção» Licenciado em Engenharia Mecânica pela Universidade do Porto, de cujo Conselho Geral é membro há dois anos, Ângelo Ramalho preside, desde 2006, à ALSTOM Portugal, S.A., de que é também CEO Do seu curriculum ressalta a Energia, que marcou o início de carreira, na Shell Portuguesa, e esteve sempre presente nas suas passagens, como CEO e Administrador, pela Lusitâniagás, Portgás, GALP Power, Lisboa Gás, Setgás e LPG. Inevitavelmente, foi de Energia que falámos…

20 • Diplomática - março/abril 2011


Descreva-me o percurso da

e o desenvolvimento do Grupo.

pesada. Abrange todas as fontes

Alstom em Portugal

Assenta também na abertura de

de energia e oferece as soluções

A Alstom é hoje o resultado de

cada indivíduo ao seu ambiente

mais avançadas para centrais a

processos de compra e fusão, que

profissional, garantindo transpa-

carvão e gás natural. A Alstom

tiveram origem no nosso estabele-

rência, factor vital para a gestão

é também o fornecedor líder de

cimento em Portugal em 1948. Em

dos riscos.

ilhas convencionais para centrais

1988 dá-se a fusão da ASEA/BBC

Espírito de Equipa: a actividade da

nucleares e pioneira em soluções

para formar a ABB. Dois anos mais

Alstom baseia-se na entrega de

de energias renováveis, através

tarde, teve lugar a formação do

projectos que exigem a nossa dis-

da sua forte posição no mercado

Grupo SENETE (40% ABB; 40%

ciplina colectiva e o nosso esfor-

hidroeléctrico e recente entrada no

MAGUE; 20% IPE).

ço, no sentido de os realizar com

mercado eólico.

Ainda mais tarde, em 1999, a

êxito, assim como numa rede que

Potencia ainda o desenvolvimen-

ABB transfere o segmento Power

permita assegurar que tiramos o

to de tecnologias de gestão da

Generation para a ABB Alstom

máximo partido das competências

rede (Smart Grids). Na área do

Power. Em 2000 a Alstom adquire

disponíveis. Este espírito de equi-

Transporte ferroviário, a Alstom é

a ABB Alstom Power. Em 2001

pa, apoiado no desejo de desen-

promotora de mobilidade susten-

dá-se a integração das actividades

volver cada trabalhador, alarga-se

tável. Fornece material circulante

da Alstom em Portugal. Em 2006,

à colaboração que prestamos aos

(comboios), infra-estruturas de

ocorre a alienação do T&D Alstom

nossos parceiros e clientes.

transporte e sinalização e serviços

para a AREVA e a transferência do

Acção: a Alstom compromete-se,

de manutenção ferroviária. Somos

segmento Hydro para a joint-ven-

perante os seus clientes, a forne-

líderes mundiais em Alta Velocida-

ture Alstom-Bouygues, formando a

cer produtos e a prestar serviços

de Ferroviária.

Alstom Hydro. E, em Novembro de

capazes de satisfazer as suas

Quais são os negócios de maior

2010, a AREVA T&D, Lda alterou

expectativas em termos de preço,

destaque da empresa no nosso

a sua denominação social para

qualidade e prazos de entrega.

país?

Alstom Grid Portugal, Lda.

Para satisfazer os nossos compro-

No sector da energia, os mais re-

Qual a visão, missão e valores

missos junto dos nossos clientes,

centes são o tratamento de efluen-

do Grupo?

a acção é um factor prioritário para

tes nas Centrais Termoeléctricas

Os nossos valores essenciais são

todos nós.

do Pego e de Sines. O Projecto de

Confiança, Espírito de Equipa e

A acção assenta no pensamen-

Sines ficará concluído no final de

Acção.

to estratégico, estabelecido ao

2011. Outro projecto significativo é

Confiança: a Alstom, com as suas

nível do Grupo e do sector, e é

o reforço de potência do Alqueva

actividades, diversas estruturas de

sublinhada pelo nosso sentido de

(Alqueva II). Deixe-me reforçar o

gestão, unidades, locais de pro-

orientação para o cliente, estando

nosso envolvimento no plano hi-

dução e países onde desenvolve

integrada nas nossas actividades

droeléctrico nacional, desde 1960.

a sua actividade é, por definição,

diárias e em cada projecto nos-

A nossa tecnologia está presente

uma empresa complexa. A con-

so. A acção envolve a adopção

em cerca de 70% dos empreen-

fiança mútua entre os colegas e as

de um sentido de urgência nas

dimentos hidroeléctricos do país.

chefias é essencial para a gestão

nossas actividades, velocidade

As duas centrais termoeléctricas a

adequada da nossa actividade e

de execução para nos distinguir

carvão, Pego e Sines, foram tam-

para o controlo eficiente dos nos-

da concorrência, e capacidade de

bém construídas com a tecnologia

sos projectos.

referenciação, assegurando assim

Alstom. Na área do transporte

Esta confiança assenta na res-

que são alcançados os nossos ob-

ferroviário, o nosso projecto mais

ponsabilidade que é atribuída a

jectivos comerciais. A liderança é

emblemático é o Alfa Pendular.

cada trabalhador que tem a seu

essencial para incentivar a acção.

Desde 1950 que estamos envolvi-

cargo a tomada de decisões, na

Em que áreas actua o Grupo?

dos nos projectos de electrificação

delegação da autoridade atribuída

A Alstom concebe, produz, instala

da Linha do Norte e num passado

e naquilo que todos os trabalha-

e faz a manutenção de produtos e

mais recente, década de 80, o ser-

dores acreditam ser importante no

sistemas no sector da produção de

viço Alfa foi iniciado com comboios

seu contributo para o bem-estar

energia e mercados de indústria

Corail, fornecidos pela Alstom e

março/abril 2011 - Diplomática • 21


Ângelo Ramalho

«Uma organização como a Alstom está em permanente em evolução, do ponto de vista da sua organização, processos e produtos. Nas áreas em que somos líderes, queremos manter a liderança. Quando não somos, queremos alcançá-la»

montados pela Sorefame.

ção de energia a partir de fontes

dade das pessoas (ferrovia e, num

Talvez porque seja urgente

renováveis, hidroeléctrica, marés

futuro próximo, veículo eléctrico)

tomar medidas em relação aos

e, mais recentemente, também na

e a produção descentralizada de

problemas ambientais que preo-

energia eólica. Somos igualmente

energia, utilizando fontes renová-

cupam o “planeta”, as empresas

líderes mundiais em sistemas de

veis, potenciam o desenvolvimento

estão a virar-se para a estratégia

tratamento de emissões gasosas,

de tecnologias de gestão da rede

ambiental. É também uma apos-

como são exemplos os projectos

(Smart Grids) que, por sua vez,

ta da Alstom?

que levámos a efeito nas centrais

buscam a melhor eficiência dos

É certamente, pelo afirmado

termoeléctricas do país.

sistemas, projecto em que esta-

anteriormente. A Alstom é líder

A tendência crescente da utiliza-

mos fortemente envolvidos.

mundial em tecnologias de produ-

ção da energia eléctrica na mobili-

Quer destacar mais algum

22 • Diplomática - março/abril 2011


projecto relevante em Portugal?

prazo, visível - um segmento de

Setúbal é exportada. A Alstom

Poderia destacar vários, mas no

expressão significativa. Não só no

tem uma presença industrial e de

presente contexto de desenvol-

panorama da energia eólica, mas

engenharia em mais de 70 países

vimento de projectos hídricos,

também no mix global da produção

nos cinco continentes.

destaco o Alqueva. Lembro-me de

de energia.

Quantas pessoas emprega a

ser um projecto no qual poucos

A Alstom estabelece algum tipo

Alstom em todo o mundo. E no

acreditavam, pela sua magnitude à

de parcerias com outras empre-

nosso país quantas estão inseri-

época em que foi promovido. Hoje

sas?

das nesse total?

o Alqueva é o maior lago artificial

A Alstom vive de relações de par-

Em Portugal a empresa tem cerca

da Europa, com impacto fortemen-

ceria a montante dos seus proces-

de 350 colaboradores. No mundo

te positivo na região e no país.

sos, com fornecedores e a jusante

são 96 mil e quinhentos.

A sua central está equipada com

em relações de complementarida-

Estamos a assistir a despedi-

turbinas-bomba que permitem a

de de competências em projectos

mentos em massa e à reorga-

produção de energia e a acumula-

dos nossos clientes. E Portugal

nização de planos laborais nas

ção de energia (através da bomba-

não foge à regra. Há empresas

grandes empresas. Alguma

gem da água, tecnologia em que a

portuguesas que são nossas forne-

destas opções já foi ponderada

Alstom é líder). E os grandes com-

cedoras de componentes, subcon-

pelo Grupo?

ponentes hidromecânicos foram

juntos, etc. E há empresas portu-

A Alstom adapta permanentemen-

desenvolvidos por competências

guesas que são nossas parceiras

te os seus recursos à carteira de

residentes no país, que ainda hoje

nos projectos que executamos, em

projectos que tem em mãos. O

mantemos. Esperamos ganhar no-

Portugal e fora do país.

número de efectivos aumenta ou

vos projectos relevantes do novo

Falemos sobre o resultado líqui-

diminui dependendo do contex-

Plano de Barragens em curso.

do da empresa: quais as expec-

to de mercado. Certamente que

Em pleno cenário de crise, como

tativas para este ano?

fomos afectados pela crise que se

é que a empresa está a encarar

Durante o 3.º trimestre de 2010/11,

tem vivido nos últimos dois anos e

o futuro?

a Alstom obteve o seu melhor

tivemos de fazer ajustes nalgumas

Diversificando para novas áreas

nível de encomendas desde Julho

das nossas unidades industriais,

de negócio e aumentando a nos-

de 2009, 5,5 mil milhões euros.

em regiões onde os mercados

sa presença nos mercados ditos

Estes bons resultados comerciais

mais se ressentiram, nomeada-

emergentes. Certamente que tam-

levam-nos a acreditar num novo

mente na Europa.

bém temos de gerar eficiências in-

crescimento no quarto trimestre.

Como funciona a organização do

ternas, adaptando-nos à realidade

Com encomendas superiores a 2,8

Grupo? O controlo dos negócios

dos nossos mercados de origem

mil milhões e 1,6 mil milhões no

exteriores…

e aos nossos mercados futuros.

sector Power e no sector Trans-

Uma organização da dimensão da

Como é natural em qualquer orga-

port, respectivamente. O Grupo

Alstom é necessariamente comple-

nização empresarial, de forma a

atingiu, pela primeira vez, nos dois

xa, desde logo porque cada área

melhor responder às necessidades

últimos anos, um rácio “book-to-

de negócio tem de ser adequada

dos nossos clientes, num ambiente

bill” superior a 1.

às suas necessidades e aos seus

fortemente competitivo.

A Alstom está representada em

objectivos estratégicos. A base

Quais as novidades que a Als-

todo o mundo. Quantos centros

é uma organização verticalizada

tom prepara para oferecer?

de produção possui? E em Por-

em competências e os centros de

Uma organização como a Alstom

tugal do que dispõe?

competência estão disseminados

está em permanente em evolução,

Em Portugal, a fábrica de Setúbal,

pelos países onde a actividade tem

do ponto de vista da sua organi-

na Mitrena, produz equipamentos

mais volume. A Alstom está orga-

zação, processos e produtos. Nas

de grande porte, construídos em

nizada em unidades de negócio e

áreas em que somos líderes, que-

aço de liga especial. Nomeada-

cada uma delas concentra tecno-

remos manter a liderança. Quando

mente, caldeiras de recuperação

logias e produtos de que necessita

não somos, queremos alcançá-la.

para centrais de ciclo combinado

para o seu objectivo. Para um pro-

A este propósito, destaco-lhe o

e grandes condensadores para

jecto numa dada região concorrem

novo mercado da energia eólica

outras centrais térmicas. Cem por

centros de competência instalados

no mar (offshore), que será, a

cento da produção da fábrica de

em várias regiões do mundo.

n

M.L.B.

março/abril 2011 - Diplomática • 23


Gestores Internacionais

Fernando Bessa Director Geral da Air France KLM em Portugal “ Uma das apostas do ano 2011 passa pelo crescimento da oferta no continente africano”

Director Geral da Air France KLM em Portugal, desde 2006, Fernando Bessa tem uma experiência de 35 anos no sector do Turismo. Começou a trabalhar na KLM – Companhia Real Holandesa de Aviação, em Janeiro de 1980, onde desempenhou vários cargos, nomeadamente o de Director Geral KLM para a Península Ibérica, durante 6 anos, antes de aceitar o actual cargo.

24 • Diplomática - março/abril 2011


Quando começou a Air France

Uma das apostas do ano 2011

A Air France e a KLM reforça-

a servir o continente africano?

passa pela política de cresci-

rão igualmente os seus serviços

A história da Air France em

mento e de desenvolvimento da

para Pointe Noire na República

África está intimamente ligada,

rede do Grupo Air France KLM

do Congo, com cinco voos Air

desde o início dos anos 30, ao

no continente africano. A Air

France por semana, assim como

desenvolvimento da aviação

France e a KLM continuam a re-

Libreville também por cinco voos

comercial de e para o continente.

forçar a sua oferta nesta região

semanais, sob reserva da obten-

Com mais de 75 anos de pre-

do mundo. Ao juntar as suas for-

ção dos direitos de tráfego junto

sença em África, a Air France

ças às dos seus parceiros africa-

das autoridades do país. A KLM

foi um actor chave das grandes

nos, a Air France e a KLM estão

passará a servir diariamente as

epopeias que, de Mermoz a St

assim em medida de oferecer à

cidades de Dar Es Salaam e Kili-

Exupéry, marcaram o princípio

sua clientela uma rede sempre

mandjaro, na Tanzânia. E prevê,

das relações aéreas entre a Eu-

mais extensa com novos des-

igualmente, aumentar as suas

ropa e a África.

tinos, mais frequências e mais

frequências para servir Tripoli

Graças a um desenvolvimento

voos directos de e para os hubs

diariamente, Abuja/Kano, quatro

contínuo da sua rede, dos anos

de Paris-Charles de Gaulle e de

vezes por semana, e Entebbe/Ki-

40 aos nossos dias, o Grupo Air

Amesterdão-Schiphol.

gali, seis vezes por semana.

France KLM e os seus parceiros

Em concreto, este Inverno a

Quais os parceiros aéreos da

permitem-se ligar hoje em dia 43

oferta do grupo Air France KLM

Air France e da KLM em Áfri-

destinos do continente africano

aumentou de 3,5% em relação

ca?

à Europa e ao resto do mundo.

ao Inverno anterior, graças à

A Air France e a KLM oferecem

Além da sua experiência em Áfri-

abertura de dois novos destinos,

uma rede de 43 destinos em

ca, o Grupo Air France KLM tem

aumentando a rede Air France

África graças aos seus parceiros.

o dever de estar permanente-

KLM em África para 36 destinos

Desde 1996, a KLM propõe voos

mente à escuta dos clientes das

servidos em meios próprios por

com partida do Quénia através

rotas africanas e atento à evolu-

210 frequências semanais.

de uma parceria de joint-venture

ção das suas expectativas.

A KLM começou a voar para

com a Kenya Airways, permi-

Quem são os clientes da Air

Kigali, a 31 de Outubro de 2010,

tindo, por exemplo, a Mombaça

France e da KLM nas linhas

servindo a capital do Ruanda

estar ligada via Amesterdão ao

africanas?

cinco vezes por semana, já a

resto do mundo. Esta coopera-

Sessenta por cento dos clientes

Air France servirá Bata, capital

ção foi alargada à Air France

viajam por motivo de negócios,

da Guiné Equatorial, duas ve-

por um acordo de code share

qualquer que seja a sua classe

zes por semana, assim que os

entre Nairobi e Paris, depois da

de transporte. Em termos de

direitos de tráfego forem acor-

extensão da joint-venture em

nacionalidade, 38 por cento da

dados. Para além destes novos

2009. A Kenya Airways, parceira

clientela é francesa, 29 africana,

destinos, foram acrescentadas

da aliança SkyTeam, continua

22 europeia, 9 americana e 2 por

frequências às cidades de Pointe

a expandir-se e propõe mais 5

cento asiática. A idade média

Noire, Libreville (sob reserva da

novos destinos: Bujumbura, no

dos passageiros é de 44 anos,

obtenção dos direitos de tráfe-

Burundi, Kisumu e Mombaça, no

sendo que 70 por cento são

go), Malabo, Dar Es Salaam e

Quénia, Lilongwe, no Malawi e

homens.

Kilimandjaro.

Lusaka na Zâmbia.

Dos clientes residentes em

Na época de Verão, que começa

Desde 2008, a Air France propõe

África, a maioria são pequenos

a 27 de Março, a Air France abri-

voos com partida de Luanda, em

empresários, empreiteiros, ou

rá 3 novas rotas. Servirá duas

code share com a TAAG Ango-

trabalham para PME. À saída

vezes por semana a cidade de

la Airlines. Em 2010/11, dois

das escalas africanas, 75 por

Freetown na Serra Leoa, e três

voos por semana ligam Luanda

cento dos clientes têm como

vezes por semana, Monrovia, a

a Paris. Por sua vez a KLM,

destino a França ou a Europa.

capital da Libéria. Já a capital

em cooperação com a Comair,

Quais são as apostas da Air

da Líbia, Tripoli, será servida por

propõe voos para Amesterdão,

France e da KLM para a época

5 voos semanais além dos voos

via Joanesburgo, com partida de

2010/11?

diários operados pela KLM.

Durban e de Port Elizabeth, na

março/abril 2011 - Diplomática • 25


Fernando Bessa

«A história da Air France em África está intimamente ligada, desde o início dos anos 30, ao desenvolvimento da aviação comercial de e para o continente. Com mais de 75 anos de presença em África, a Air France foi um actor chave das grandes epopeias que, de Mermoz a St Exupéry, marcaram o princípio das relações aéreas entre a Europa e a África»

África do Sul.

e 2012, um bilião de dólares por

aos pequenos empresários para

Que tipo de aviões servem o

ano.

3 destinos africanos: Malabo,

continente africano?

Que tipo de serviços tem a Air

Ndjamena, Nouakchott, cidades

O grupo Air France KLM tem

France para oferecer aos seus

servidas quase diariamente em

uma frota das mais modernas e

passageiros que voam para

voos directos a partir de Paris-

jovens no mundo para servir a

África?

Charles de Gaulle por aviões

África. A idade média da frota de

A Air France oferece serviços

de pequena capacidade (Airbus

longo curso da Air France é de

muito específicos para respon-

A319-ER), equiparando-se ao

8,1 anos. A cidade de Joanes-

der às expectativas dos clientes

conforto oferecido em business

burgo foi a segunda escala no

africanos. Um destes é o servi-

jet. Propõe ainda o Flying Blue

mundo a ser servida pelo Airbus

ço Dedicate, direccionado aos

Petroleum, o programa n°1 na

A380. A Air France investiu na

profissionais do sector petrolí-

Europa dos destinos petrolíferos

renovação da frota, entre 1998

fero, da construção ou, ainda,

e de gás. Este clube privado

26 • Diplomática - março/abril 2011


oferece aos seus membros um

Martin (Chefe do famoso restau-

1 de Fevereiro e 31 de Março,

leque de vantagens exclusivas

rante Grand Véfour em Paris) e

todos os membros residentes

para 95 escalas.

os vinhos foram escolhidos pelo

em Portugal, que viajarem para

A política de bagagens adapta-

Olivier Poussier – melhor escan-

19 destinos de África em cabine

da é uma das mais-valias para

ção do mundo em 2000.

Premium Voyageur, verão as

os clientes africanos. Desde 28

Para além deste produto de

suas milhas duplicar.

de Março de 2010, a política de

excelência, a Air France continua

E, para as empresas, existe al-

bagagens da Air France KLM

a investir na sua classe execu-

gum programa de fidelização?

está harmonizada e simplifica-

tiva Affaires de longo curso e,

Tanto a Air France com a KLM ti-

da no conjunto da rede. Estas

este ano, será implementada

nham um programa destinado às

oferecem uma franquia de baga-

uma nova poltrona nos voos para

pequenas e médias empresas,

gens mais generosa do que no

África, oferecendo ainda mais

esses programas deram nas-

resto da rede Longo Curso, para

conforto e serenidade a uma

cimento ao programa Blue Biz,

40 destinos africanos. Nomea-

clientela que viaja quer por mo-

em Abril de 2010. Este progra-

damente, em primeira classe La

tivos profissionais, quer a título

ma, permite à empresa membro

Première e em executiva Affai-

pessoal.

acumular Blue Credits sempre

res e World Business Classe,

Em 2010 a Air France lançou

que um dos seus colaborado-

os passageiros usufruem de 3

uma nova cabine nos voos

res viaja num voo Air France ou

bagagens de 23kg cada, enquan-

intercontinentais, a Premium

KLM. Os Blue Credits podem ser

to que em Premium Voyageur e

Voyageur, para responder às

convertidos em bilhetes prémio

classe económica beneficiam do

expectativas dos empresários de

e em upgrades para todos os

transporte gratuito de 2 baga-

pequenas e médias empresas,

destinos das redes Air France e

gens de 23kg cada.

assim como aos passageiros que

KLM, em função de uma tabela

E em termos de produto a bor-

queriam mais conforto do que a

simples: 1 Blue Credit é igual a

do?

classe económica, a um preço

1 Euro. Qualquer colaborador da

A Air France é uma das poucas

acessível. Esta nova cabine ofe-

empresa pode beneficiar destes

companhias aéreas mundiais a

rece mais 40 por cento, de espa-

prémios. A adesão ao programa

oferecer uma primeira classe. A

ço em relação à cabine económi-

é simples e gratuita, sem qual-

cabine La Première é um serviço

ca Voyageur, e está disponível

quer condição prévia de número

de excepção, disponível para

para todas as rotas de África,

mínimo de viagens a efectuar.

9 escalas africanas; Abidjan,

excepto Joanesburgo - operada

Para beneficiar do BlueBiz, as

Joanesburgo, Luanda, Libreville,

pelo A380.

empresas podem contactar a sua

Dakar, Lagos, Douala, Yaoun-

Que propõe a Air France em

agência de viagens habitual ou a

dé e Port Harcourt. À saída de

termos de divertimento a bor-

Air France KLM. Todos os servi-

Lisboa o cliente La Première

do?

ços oferecidos aos membros do

beneficia do Serviço Limusine

A Air France apostou na alta

BlueBiz, tais como a adesão, a

para o levar e trazer ao aeropor-

tecnologia em matéria de diver-

gestão do perfil cliente, a con-

to, no dia da partida e chegada.

timentos a bordo, com 33.000

sulta e a gestão da conta e a

No dia da partida, o Serviço VIP

ecrãs individuais e video on de-

tomada de prémio são acessíveis

Assistance recebe-o nas partidas

mand (VOD). No total, 600 horas

directamente online, 24 horas

e encaminha-o até ao Lounge da

de programação, incluindo 85

por dia, a partir dos sites www.

Air France, ajudando-o com os

longas-metragens e um juke-box

airfrance.pt e www.klm.pt .

procedimentos de check-in. Em

de 240 CD e 3 mil títulos.

Em resumo, a Air France e a

Paris-Charles de Gaulle, aguar-

O Grupo Air France KLM ofe-

KLM continuam empenhadas

da-o uma equipa dedicada que o

rece aos clientes frequentes

em ser uma referência de e

levará até ao Lounge La Premiè-

mais vantagens nestas rotas?

para África, apostando não só

re ou directamente ao seu voo

O programa de passageiro fre-

na abertura de novos destinos

de ligação. Uma vez a bordo,

quente do Grupo Air France KLM

e aumento de frequências, mas

beneficia de toda a atenção de

é o maior da Europa, com 17 mi-

também em novos serviços que

uma tripulação exclusiva. A gas-

lhões de membros. Este oferece

respondam aos desejos e neces-

tronomia foi elaborada por Guy

inúmeras vantagens, e entre

sidades dos seus clientes.

n

A.F.

março/abril 2011 - Diplomática • 27


Gestores Internacionais

Michel Drouère Delegado geral da Alliance Française em Portugal e director da Alliance de Lisboa Délégué général de l’Alliance française au Portugal, directeur de l’Alliance française de Lisbonne

«Um director e uma equipa de funcionários fazem com que cada Alliance funcione, mas o espírito permanece associativo» Independentemente do ensino da língua, as Alliances instaladas em Portugal são centros vivos de conhecimento e cultura da História francófona e do seu relevante papel no nosso país e no mundo.

28 • Diplomática - março/abril 2011


A Alliance Française é muito conhecida em todo o

L’Alliance française est bien connue dans le mon-

mundo, mas como funciona em Portugal?

de, mais comment fonctionne-t-elle au Portugal?

A Alliance Française é uma rede de 900 centros de lín-

C’est vrai, l’Alliance française est un réseau de

gua e cultura francesas, muito conhecida em todos os

900 centres de langue et de culture française, bien

continentes, e a primeira ONG cultural do mundo. A sua

connu dans le monde entier, et qui constitue même

principal característica é ser de direito associativo local,

la première ONG culturelle du monde. Sa «marque

em todos os países onde está presente, apoiando-se,

de fabrique» est d’être de droit associatif dans cha-

assim, não numa estrutura estatal, mas numa rede

que pays où elle est présente, et de s’appuyer ainsi,

de francófilos locais, activos e empenhados, em 136

non sur une structure d’Etat, mais sur un réseau de

países. Por exemplo, a Alliance Française do Porto é

francophiles locaux actifs et impliqués dans 136 pays

presidida pelo antigo ministro Luís Valente de Oliveira e

du monde. Par exemple l’AF de Porto est présidée

a de Coimbra por um universitário, o Prof. António Poia-

par l’ancien ministre Luis Valente de Oliveira, celle de

res Baptista. Um director e uma equipa de funcionários

Coimbra par un universitaire, le Pr. Antonio Poiares

fazem com que cada Alliance funcione, mas o espírito

Baptista. Un directeur et une équipe salariée font

permanece associativo e o reconhecimento por parte

marcher chaque Alliance, mais l’esprit reste asso-

das autoridades locais é excelente (obtém frequente-

ciatif, et la reconnaissance de la part des autorités

mente o reconhecimento de utilidade pública, como em

locales est excellente (avec souvent la reconnaissan-

Lisboa, em Coimbra e no Porto).

ce d’utilité publique comme à Lisbonne ou Porto).

Quais são as acções concretas da Alliance Françai-

Quelles sont les actions concrètes des Alliances

se de Portugal?

du Portugal?

As actividades incidem sobretudo no ensino do Fran-

Au Portugal les activités portent massivement sur

cês, sob a forma de aulas ministradas nas nossas

l’enseignement du français, sous forme de cours

instalações, mas também em empresas. Neste último

de groupe, mais aussi dans les entreprises: dans ce

caso, a Alliance Française é entidade formadora que

dernier cas, les AF sont des prestataires de forma-

deve cumprir as mais rigorosas normas, em especial no

tion qui doivent désormais s’aligner sur les normes

tocante à acreditação de qualidade da Direcção-Geral

les plus élevées, en particulier l’accréditation qualité

do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT).

DGERT délivrée par les autorités portugaises. Dans

Nas aulas de grupo, referirei um sector em crescimen-

les cours de groupe, je citerai un secteur porteur,

to: a formação na área da saúde, nomeadamente de

la formation de personnels médicaux, notamment

enfermeiros, que aprendem francês tendo em mente

d’infirmières, qui se forment en français dans un ob-

a expatriação. A adaptação a públicos com objectivos

jectif d’expatriation. S’adapter à des publics comme

específicos, como os profissionais de saúde ou os

les professionnels de la santé ou les ingénieurs du

engenheiros civis, e a criação de materiais pedagógicos

BTP, créer des matériels pédagogiques qui corres-

que correspondam às suas necessidades são desafios

pondent à leurs besoins professionnels, sont des

que fazem parte do nosso dia-a-dia.

défis qui font notre quotidien.

As restantes actividades são o ensino do Português

Les autres activités sont l’enseignement du portu-

Língua Estrangeira (que abrange sobretudo os diplo-

gais langue étrangère (qui touche principalement

matas e dirigentes de empresas recém-chegados a

les diplomates et dirigeants fraichement arrivés au

Portugal), os exames oficiais de francês e as estadias

Portugal), les examens officiels français et les séjours

linguísticas em França. Inúmeras Alliances têm também

linguistiques. De nombreuses Alliances développent

um programa cultural, frequentemente «extra-muros»,

également un programme culturel, souvent «hors les

em colaboração com os centros culturais da cidade em

murs» en coopération avec les centres culturels de

que se encontram implantadas. Por exemplo, são as

leur ville. Par exemple ce sont les Alliances françai-

Alliances Françaises de Faro, Coimbra e Guimarães

ses de Faro, Coimbra et Guimarães qui organisent

que organizam localmente a célebre «Festa do Cinema

localement la célèbre « Festa du cinema francês»

Francês» nessas cidades.

dans ces villes.

Quanto à tradução, é uma actividade que exige um

Quant à la traduction, c’est une activité qui demande

nível de profissionalismo extremamente elevado e um

un niveau extrêmement élevé de professionnalisme

controlo de qualidade sem falhas. São, assim, regular-

et un contrôle qualité sans faille. C’est ainsi que le

mente solicitadas ao gabinete de tradução da Alliance

bureau de traduction de l’AF de Lisbonne est réguliè-

Française de Lisboa traduções financeiras e jurídicas,

rement chargé de traductions financières et

março/abril 2011 - Diplomática • 29


Michel Drouère

mas também a versão francesa de sites como o

juridiques, mais aussi de la version française de

www.parlamento.pt, sem esquecer os documentos dos

sites web comme www.parlamento.pt. Les besoins

particulares, tais como certidões do Registo Civil, sen-

des particuliers (état civil, jugements, certificats) sont

tenças ou certificados de habilitações.

aussi couverts.

Como é ensinado o francês em 2011?

Comment enseigne-t-on le français en 2011 ?

Há tantas respostas a essa pergunta como situações

Il y a autant de réponses à cette question que de si-

e necessidades dos nossos alunos, em grupo nas

tuations et de besoins de nos apprenants, en groupe

nossas instalações e nas empresas. Actualmente, um

dans nos locaux et en entreprises. Car un professeur

professor é um prestador de serviços de formação, que

est de nos jours un prestataire de services de for-

deve dar resposta a uma necessidade identificada, com

mation, qui est là pour répondre à un besoin identifié

pessoas específicas, num determinado prazo.

avec des personnes précises dans un certain délai.

A actual corrente pedagógica chama-se perspectiva ac-

Pour être plus précis, le courant pédagogique ac-

cional e a sua divisa é «comunicar é agir com o outro».

tuel s’appelle la perspective actionnelle. Sa devise :

A língua é utilizada para «fazer», para executar tarefas

«communiquer, c’est agir avec l’autre». La langue est

em conjunto – o formando é um actor social. A tarefa é

utilisée pour «faire», pour accomplir des tâches en-

orientada para uma produção a realizar com outros. A

semble, l’apprenant est un acteur social. La tâche est

componente oral é muito trabalhada, em compreensão

orientée vers une production, à réaliser avec d’autres.

e em produção, pois os nossos alunos necessitam fre-

Et on travaille beaucoup l’oral, en compréhension et

quentemente de tomar a palavra em público no âmbito

en production, car nos apprenants ont souvent besoin

das suas funções.

de maîtriser la prise de parole en français.

Não os surpreenderei se disser que estas tarefas recor-

Je ne vous surprendrai pas en vous disant que ces

rem frequentemente à Internet, uma ferramenta que re-

tâches font souvent appel à l’internet, un outil qui a

volucionou o que se passa na sala de aula e o trabalho

révolutionné ce qui se passe en classe et le travail

realizado em casa; e quando, ainda por cima, as salas

qu’on fait à la maison. Et quand en plus les salles

estão equipadas com quadros digitais interactivos (já

sont équipées de tableaux numériques interactifs

em quatro Alliances Françaises de Portugal), a aula de

(déjà dans 4 AF du Portugal), le cours de langue ac-

língua actual já em nada se assemelha às nossas re-

tuel ne rappelle plus du tout vos souvenirs scolaires.

cordações escolares, exceptuando talvez o manual, um

A l’exception peut-être du manuel, un soutien resté

apoio que permanece indispensável, mas que é agora

indispensable, mais qui est désormais accompagné

acompanhado por um DVD ou um CD‑ROM.

d’un DVD ou d’un cédérom.

Por outro lado, os nossos públicos têm uma grande

Par ailleurs, nos publics sont devenus très mobiles,

mobilidade, alguns nunca estão no mesmo país duas

certains ne sont jamais dans le même pays deux se-

semanas seguidas: homens e mulheres de negócios,

maines d’affilée : des hommes et femmes d’affaires,

engenheiros e pilotos de linha preferem, por vezes,

des ingénieurs, des pilotes de ligne préfèrent que-

as nossas aulas à distância (e-learning) para melho-

lquefois notre cours à distance (e-learning), pour

rarem o francês com o nosso próprio método, através

améliorer leur français avec notre propre méthode à

da internet. Contudo, o aluno nunca fica entregue a si

distance, sur internet. Mais l’apprenant n’est jamais

próprio, pois tem obrigatoriamente de fazer um ponto

livré à lui-même : il doit obligatoirement faire un point

da situação completo todas as semanas, por videocon-

complet par visioconférence chaque semaine avec

ferência, com o seu tutor, mesmo que nesse momento

son tuteur, même s’il se trouve à ce moment-là au

se encontre no fim do mundo.

bout du monde.

Quais são as suas prioridades de acção para este

Quelles sont vos priorités d’action en 2011?

ano?

Au niveau national nous avons trois grands chantiers:

No plano nacional, temos três grandes eixos:

1. Le référentiel qualité de la Fondation Alliance

O referencial de qualidade da Fondation Alliance

française, qui s’applique dans le monde entier, et

Française, que é implementado em todo o mundo e

sur lequel nous sommes en train d’aligner toutes nos

pelo qual estamos a pautar todas as nossas normas

normes de fonctionnement, depuis la gouvernance de

de funcionamento, desde a administração das nossas

nos associations jusqu’à la qualité pédagogique en

associações à qualidade pedagógica, passando pela

passant par notre communication et notre gestion des

comunicação e pela gestão dos recursos humanos. Pa-

ressources humaines. Cela semble une banalité de

rece uma banalidade respeitar uma carta de qualidade,

respecter une charte qualité, mais avec des

30 • Diplomática - março/abril 2011


«Na Semana da Francofonia, que decorre em Março, promovem-se actividades culturais em Setúbal, nas Caldas da Rainha ou em Coimbra, graças ao apoio de várias embaixadas francófonas»

mas com centenas de critérios a cumprir, a tarefa não

é fácil. Este processo é, aliás, convergente em muitos

centaines de critères, le chantier est vaste. Il est

d’ailleurs souvent convergent avec la certification

aspectos com a certificação da DGERT; a actualização

portugaise DGERT.

do equipamento, tanto pedagógico (quadros digitais

2. La mise à niveau de l’équipement, tant pédago-

interactivos) como de gestão. Relativamente a este

gique (les tableaux numériques interactifs) que de

ponto, acabámos de equipar oito Alliances Françaises

gestion. Sur ce dernier point, nous venons d’équiper

com o software Alisoft, o melhor software de gestão

8 AF du logiciel Alisoft, le meilleur logiciel de gestion

para um centro linguístico e cultural; e a formação dos

d’un centre linguistique et culturel.

recursos humanos, tanto dos professores como do

3. La formation des personnels, tant enseignants

pessoal administrativo. Trinta e um professores das

qu’administratifs. 31 professeurs des AF du Portugal

Alliances Françaises de Portugal foram a Barcelona,

sont allés à Barcelone en novembre 2010 assister

em Novembro de 2010, assistir aos «Encontros FLE».

aux «Rencontres FLE», les personnels chargés de

Os funcionários responsáveis pelo atendimento e pelas

l’accueil et de l’inscription suivent aussi régulièrement

inscrições também assistem regularmente a formações

des formations (à Berlin en décembre 2010, à Lisbon-

(em Berlim, em Dezembro de 2010 e em Lisboa, em

ne en mars 2011, où nous accueillons les administra-

Março de 2011, data em que recebemos o pessoal ad-

tifs des AF du Portugal, mais aussi d’Espagne, d’Italie

ministrativo das Alliances Françaises de Portugal, mas

et d’Irlande). Il y a ainsi une véritable dynamique

também de Espanha, de Itália e da Irlanda). Existe,

Alliance, un esprit Alliance, qui se renforce au fil de

assim, uma verdadeira dinâmica Alliance, um espírito

ces rencontres.

Alliance, que se vai consolidando nestes encontros.

Quels sont les liens de l’Alliance française et du

Quais são as relações da Alliance Française com o

monde diplomatique?

mundo diplomático?

D’abord l’Alliance de Lisbonne participe activement

Antes de mais, a Alliance de Lisboa participa activamen-

à la formation des diplomates portugais. En effet le

te na formação dos diplomatas portugueses. Com ➤

programme du groupe de 30 diplomates stagiaires

março/abril 2011 - Diplomática • 31


Michel Drouère

efeito, o programa do grupo de 30 diplomatas estagi-

actuellement en formation a une composante

ários actualmente em formação tem uma componente

importante en français, langue choisie par l’immense

importante de francês, língua escolhida pela grande

majorité d’entre eux (l’anglais était au concours

maioria (o inglês constava do concurso de entrada, não

d’entrée, pas dans la formation). Voilà un parfait

da formação). Eis um perfeito exemplo de ensino por

exemple de langue sur objectifs spécifiques, car les

objectivos específicos, pois as situações de utilização

situations d’utilisation de la langue par un diplomate

da língua por um diplomata estão claramente identifica-

sont bien identifiées, et permettent une progression

das e permitem um progresso rápido.

rapide.

Existe também uma excelente rede de amizades entre

Ensuite il existe un excellent réseau d’amitiés noué

as Alliances Françaises e as diversas embaixadas fran-

entre les AF et plusieurs autres Ambassades franco-

cófonas. Na Semana da Francofonia, que decorre em

phones. C’est ainsi que la Semaine de la Francopho-

Março, promovem-se actividades culturais em Setúbal,

nie en mars voit des activités culturelles se dérouler

nas Caldas da Rainha ou em Coimbra, graças ao apoio

à Setúbal, à Caldas da Rainha ou à Coimbra grâce à

de várias embaixadas francófonas.

l’appui de plusieurs Ambassades francophones.

Por fim, permitam-me que fale na Embaixada de Fran-

Enfin permettez-moi de parler de l’Ambassade de

ça e do reconhecimento, por parte do embaixador, da

France, et de la reconnaissance par l’Ambassadeur

amizade actuante que faz com que, em onze cidades

de l’amitié agissante qui pousse, dans 11 villes du

de Portugal, personalidades francófilas integrem bene-

Portugal des personnalités francophiles à animer

volamente os conselhos de administração das nossas

bénévolement les conseils d’administration de nos

Alliances. É por este motivo que a reunião anual dos

Alliances. C’est pour cette raison que la réunion

presidentes decorre na Embaixada de França, a convi-

annuelle des présidents se tient à l’Ambassade de

te do embaixador.

France, à l’invitation de l’Ambassadeur.

A França apoia também a actividade desta rede atra-

La France apporte aussi un soutien concret à l’activité

vés de uma subvenção destinada a apoiar acções na-

de ce réseau, à travers une subvention destinée aux

cionais e de dois directores, destacados pelo Ministério

actions nationales, et à travers deux postes de direc-

dos Negócios Estrangeiros e Europeus francês, coloca-

teurs détachés par le ministère français des affaires

dos à disposição das Alliances de Lisboa e Coimbra.

étrangères et européennes, et mis à disposition des

Em Lisboa, concretamente, existe uma forte ligação

Alliances de Lisbonne et Coimbra.

com o Institut Français du Portugal (IFP), pois a Allian-

Plus spécifiquement à Lisbonne, il existe un lien fort

ce Française desta cidade partilha o mesmo edifício na

avec l’Institut français du Portugal (IFP), puisque l’AF

Avenida Luís Bívar e apoia o seu programa recheado

de cette ville partage les mêmes locaux de l’Avenida

de actividades culturais. Com efeito, a Alliance Fran-

Luis Bivar, et puisque elle appuie son riche program-

çaise optou por deixar ao IFP a sua área de excelência

me d’activités culturelles. En effet le choix a été fait

– a Cultura –, e por se associar às suas manifestações

par l’AF de laisser à l’IFP son domaine d’excellence,

como patrocinador e não como organizador. Os nossos

le culturel, et de s’associer à ses manifestations

amigos lisboetas encontram, assim, num mesmo local,

comme sponsor, pas comme organisateur. Nos amis

a oferta do IFP (manifestações culturais, mediateca,

lisboètes trouvent donc dans un même lieu l’offre de

Campus France) e a da Alliance (aulas internas, serviço

l’IFP (manifestations culturelles, médiathèque, Cam-

Alliance Entreprises, gabinete de tradução, estadias

pusFrance), celle de l’Alliance (cours internes, servi-

linguísticas), sem esquecer uma excelente livraria fran-

ce Alliance Entreprises, bureau de traduction, séjours

cesa e várias associações (APPF, Lisbonne Accueil,

linguistiques), sans oublier une excellente librairie

UFE, ADFE).

française et plusieurs associations (APPF, Lisbonne

Com presença em catorze cidades portuguesas, atra-

Accueil, UFE, ADFE).

vés de onze associações, a Alliance representa uma

Avec une présence dans 14 villes du Portugal à

rede única; tanto mais que apresenta boas perspec-

travers 11 associations, l’Alliance représente un

tivas (em 2010, duas Alliances Françaises – no Porto

réseau unique ; de plus il se porte bien (deux AF, à

e em Viseu – tiveram de se mudar para instalações

Porto et Viseu, ont dû emménager en 2010 dans des

maiores) e está apta, devido às suas inovações e à sua

locaux plus vastes), et il me paraît en mesure, par

qualidade, a dar uma resposta adequada e motivadora

ses innovations et sa qualité, d’apporter une réponse

às necessidades dos particulares, da administração

adéquate et motivante aux besoins des particuliers,

pública e das empresas.

des administrations et des entreprises.

A.F.

32 • Diplomática - março/abril 2011


Economia

Comércio franco-português em alta por Bernard Chantrelle* Desde a adesão de Portugal às Comunidades

proporcionar um amplo leque de serviços a todas

Europeias em 1986, as trocas comerciais franco-

as empresas interessadas por um dos dois mer-

portuguesas registraram um forte aumento,

cados, fomentando assim correntes de negócios

nomeadamente entre 1996 e 2000. A França é

duradouras.

tradicionalmente o terceiro cliente e fornecedor

Trabalhando ao longo de vários anos com as-

de Portugal (depois da Espanha e da Alemanha)

sociações industriais portuguesas e grupos de

tendo actualmente Portugal a posição de 12º

empresas de diversos sectores, a CCILF dis-

cliente e 15º fornecedor da França.

põe de uma vasta gama de serviços e organiza

Paralelamente, a França elevou-se ao quinto

regularmente seminários temáticos e missões

lugar de investidor estrangeiro em Portugal com

sectoriais para empresas francesas que desejam

um stock total de capitais da ordem dos 4 bi-

desenvolver os seus negócios ou implantar-se

lhões de euros, tendo mesmo atingido em 2009

no mercado português. Além do mais, a CCILF

o ranking de primeiro investidor estrangeiro em

propõe também vários serviços de domiciliação.

fluxos brutos (reciprocamente os investimentos

Para reforçar o seu carácter bilateral, a CCILF

portugueses em França têm tendência a aumen-

desenvolveu também uma actividade de apoio

tar com um stock já superando os 500 milhões

às empresas portuguesas que pretendem inte-

de euros).

grar o mercado francês. Nesta vertente a CCILF

No total são perto de 400 filiais francesas que se

mantém contactos estreitos com os organismos

implantaram em Portugal, e que empregam mais

do comércio exterior português.

de 70 000 pessoas.

Para além do apoio comercial e sempre com o

Fundada em 1887, a Câmara de Comércio e

objectivo de facilitar as oportunidades de negó-

Indústria Luso-Francesa (CCILF), associação pri-

cios entre os actores da comunidade empresarial

vada sem fins lucrativos e reconhecida de Utili-

luso-francesa - e de permitir os intercâmbios

dade Pública, faz parte da rede mundial das 114

de experiências e ideias entre profissionais de

Câmaras de Comércio francesas no estrangeiro

todos os sectores de actividade -, a CCILF anima

e mantém uma estreita colaboração com as 136

um Clube de Negócios e oferece um vasto e

Câmaras de Comércio e Indústria em França.

diversificado programa de actividades (almoços,

Implantada nos 2 principais pólos económicos

seminários, reuniões temáticas, soirées de gala,

do país, Lisboa e Porto, a CCILF, com perto de

cocktails, eventos desportivos…).

500 associados, tem como principal objectivo incrementar o comércio bilateral luso-francês e

* Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa (Título da responsabilidade da Redacção)

março/abril 2011 - Diplomática • 33


Veolia Água

© Pixland

uma marca de confiança

A Veolia Água concilia a actividade humana com a preservação do meio ambiente. Presente em Portugal há mais de uma década, a Veolia Água trata e garante o abastecimento de água para consumo público a mais de 250.000 pessoas, assegura o tratamento das águas residuais domésticas, industriais e agrícolas e procura soluções alternativas para evitar a extinção dos recursos naturais.

Compagnie Générale des Eaux Portugal, S.A.

Torre Zen - Av. D. João II, Lote 1.17.01 – Piso 9 B - 1998-023 Lisboa e-mail: veolia.agua@veoliaagua.com.pt website: www.veoliaagua.com.pt


2010 2011 em debate Balanço necessário, previsões para o futuro

Seis embaixadores acreditados em Lisboa responderam favoravelmente ao desafio da Diplomática: fazer o balanço de 2010 e avançar previsões para o ano em curso. Com a Cimeira de Lisboa, que juntou os grandes do Mundo no conclave da Nato, ainda nas agendas, a União Europeia e a crise mundial constituíram, também, o pano de fundo das opiniões dos diplomatas que, aproveitando o ensejo – grosso modo -, debitaram sobre o deve e haver das relações dos respectivos países com Portugal. Neste Mundo em constante mudança, a opinião de quem faz das relações internacionais oportunidade para a aproximação dos povos e nações, é fundamental para se perceber em que sentido navega a política externa dos respectivos países e compreender a importância de Portugal no novo contexto geoestratégico.

março/abril 2011 - Diplomática • 35


balanço 2010

Pascal Teixeira da Silva - Embaixador de França «Para além da crise financeira, a mudança fundamental que estamos a viver impõe uma transformação dos princípios em que a UE tem atuado desde há várias décadas»

2010 foi um ano de turbulências num contexto de

um Estado-membro se desviar das metas orça-

crise, de mudanças e de redistribuição de poder e

mentais e económicas. O alvo é duplo: respeitar

de riqueza geradas pela globalização. Os efeitos

as regras da união monetária e evitar a divergên-

da crise financeira e económica proveniente dos

cia entre as economias dos países membros da

Estados Unidos ainda se fizeram sentir, em espe-

zone euro.

cial na zona euro.

Apesar das dificuldades resultantes das diferen-

Os nossos países europeus estão confrontados

ças de situações e de conceitos, a UE conseguiu

com um duplo problema: por um lado, a curto

estabelecer bases mais estáveis e sólidas para

prazo, as medidas que os governos europeus

ultrapassar a crise corrente e, a médio prazo, criar

tomaram para lutar contra a recessão arrastaram

as condições duma governação económica que

enormes défices nas contas públicas; por outro

complementa, dum modo imprescindível, a união

lado, num plano mais estrutural, o financiamento

monetária.

da protecção social que queremos manter verifica-

Para além da crise financeira, a mudança funda-

se cada vez mais difícil face ao envelhecimento

mental que estamos a viver impõe uma transfor-

da suas sociedades e dadas as baixas taxas de

mação dos princípios em que a UE tem atuado

crescimento.

desde há várias décadas. O mundo de hoje é bem

E tudo isso decorre num contexto de concorrência

diferente do mundo de ontem. A UE é o espaço

internacional intensa em que as economias madu-

económico mais aberto e ela está confrontada com

ras têm que manter a sua competitividade, assen-

a concorrência de potências emergentes (a China,

tando mais do que nunca na inovação científica e

a India, o Brasil, etc). Já não se trata agora de

tecnológica, na formação e na alta qualificação da

favorecer o desenvolvimento do chamado “terceiro

mão-de-obra e no aumento do valor acrescentado

mundo” (mesmo se isso ainda é necessário em

dos produtos produzidos pelos países europeus,

prol dos países menos avançados, particularmente

especialmente dos bens transaccionáveis.

em África) através de regimes especiais. A reci-

Os altos níveis do défice e do endividamento

procidade deve ser o princípio cardinal das rela-

atingidos nos países europeus provocaram

ções económicas – no que diz respeito aos inter-

uma crise de confiança quanto à sua capacida-

câmbios comerciais, aos câmbios monetários, aos

de em os sustentar e os mercados financeiros

investimentos, à propriedade intelectual, ao aces-

que, desde a sua criação, não têm acreditado

so aos concursos públicos, etc. As regras devem

no euro, aproveitam as dificuldades financeiras

ser as mesmas para todos.

dos Estados-membros da zona para especular

O que está em jogo vai para muito além das

contre a sua solidez e daí tirarem proventos.

metas e dos indicadores financeiros e econó-

A União Europeia tem demonstrado uma capaci-

micos. Os cidadãos europeus esperam que

dade de reação face a esses ataques. Foi o que

a UE os proteja contra os efeitos da crise e

aconteceu em maio durante a crise grega: a UE

as consequências da globalização. Este é um

criou um mecanismo de resgate – o Fundo Euro-

grande desafio que os líderes europeus têm que

peu de Estabilização Financeira (FEES) – que,

vencer. E também é preciso acrescentar que cada

em seguida, se tornou permanente (necessitan-

país europeu não tem o tamanho suficiente para

do apenas de uma ligeira revisão do Tratado de

ser ouvido e respeitado na cena internacional.

Lisboa) e reforçou a governação económica de UE

2011 é um ano em que temos de ampliar os es-

e da zona euro. Trata-se de regras e procedimen-

forços: cada Estado-membro está empenhado em

tos destinados não só à fiscalização colectiva das

sanear as suas finanças públicas e implementar

políticas orçamentais e económicas dos Estados-

reformas estruturais para fortalecer a economia; a

membros através do chamado “semestre europeu”,

UE dispõe dos instrumentos para uma governação

mas também, se necessário, a que sejam tomadas

económica reforçada e deve aplicá-los.

medidas preventivas ou correctivas para o caso de

Mas é préciso ir mais longe: renovar a política

36 • Diplomática - março/abril 2011


industrial ao nível europeu (pois não há cres-

cimento e criação de riqueza sem a produção de bens), desenvolver as redes transeuropeias (tais como as redes de alto débito, as redes eléctricas inteligentes, as redes de comboio a alta velocidade), desenvolver a investigação e a inovação, para melhorar a competitividade das nossas economias e as sinergias entre elas. O crescimento retoma nos países desenvolvidos. Mas temos que consolidá-lo e evitar que os encargos financeiros e sociais a suportar chumbem esta retoma.

Sabemos que a solução dos problemos tem uma dimensão global. A Europa, por si só, não pode reformar o sistema financeiro, nem reequilibrar as relações económicas internacionais, nem favorecer um desenvolvimento sustentável que respeite o ambiente e poupe os recursos naturais limitados.

Sabemos que a solução dos problemos tem uma dimensão global. A Europa, por si só, não pode reformar o sistema financeiro, nem reequilibrar as relações económicas internacionais, nem favorecer um desenvolvimento sustentável que respeite o ambiente e poupe os recursos naturais limitados.

melhor coordenação das políticas agrícolas, e da

O G20, que reúne os países que produzem 85 %

aplicação de mecanismos de segurança para os

da riqueza mundial, constitui o grémio mais adap-

países mais pobres.

tado para tratar dessas questões. A França, que

- A finalidade do desenvolvimento da economia

preside o G20 este ano, tem grandes ambições,

não deve ser o enriquecimento cada vez maior

estando, ao mesmo tempo, consciente da dificul-

duma minoria, mas antes a melhoria da situação

dade da tarefa. Um novo tempo precisa de novas

das populações. Por isso é preciso desenvolver

ideias. Vivemos num mundo interdependente e

o emprego, especialmente o dos jovens e o dos

instável em que tudo acontece rapidamente. Por

mais vulneráveis, consolidar a base da protecção

isso, o G20 que era uma instituição de gestão de

social e assegurar o respeito pelos direitos labo-

crise, deve tornar-se uma instituição de governa-

rais e sociais.

ção mundial e de reformas estruturais. A presidên-

- O G20, que representa os dois terços da popula-

cia francesa determinou vários objectivos:

ção mundial, tem a responsabilidade de encontrar

- Face à volatilidade das moedas, ao agravamento

soluções concretas para os problemas do desen-

dos desequilíbrios financeiros e à constituição de

volvimento, através do melhoramento das infra-es-

reservas de câmbio pelas potências emergentes,

truturas e de novas fontes de financiamento, como

é preciso construir um sistema financeiro interna-

a taxa sobre as transacções financeiras.

cional mais estável e robusto. Ao mesmo tempo,

Se não decidirmos à altura dos desafios e simples-

devem ser implementadas novas regras de contro-

mente nos limitarmos a gerir uma crise voltando

lo do sector financeiro adoptadas pelo G20.

ao “business as usual”, falhamos uma oportunida-

- É preciso reduzir a volatilidade excessiva dos

de, novas crises irão repetir-se e cada vez mais

preços das matérias-primas, especialmente ener-

fortes. A tarefa que se nos depara parece hercu-

géticas e agrícolas, que perturba o crescimento

leana pois temos que atuar a três níveis: nacional

mundial, ameaça a segurança alimentar e pre-

(o que Portugal como os seus parceiros estão a

judica tanto os países productores como os paí-

fazer), europeu (as bases acabam de ser reforça-

ses consumidores. Isto pode ser feito através da

das) e global (particularmente no âmbito do G20).

regulação dos mercados derivados dos produtos

Cada nível é interdependente dos outros, o que se

agrícolas, do aumento da transparência das infor-

torna mais complicado. Mas essa é uma responsa-

mações sobre as produções e os stocks, de uma

bilidade nossa perante as gerações futuras.

março/abril 2011 - Diplomática • 37


balanço 2010

Oleksandr Nykonenko - Embaixador da Ucrânia

Ucrânia-Portugal: novas perspectivas de cooperação Este ano, a Ucrânia marca 20º Aniversário da sua independência. Durante esse período o País, sem dúvida, conseguiu provar que é um membro importante da comunidade internacional

A Ucrânia é potencialmente um parceiro importante para

tros, o que equivale ao comprimento do equador terrestre).

Europa, ocupando um dos primeiros lugares entre os paí-

A Ucrânia é um dos cinco Países “espaciais” mais destaca-

ses do continente pelo tamanho do seu território e o quinto

dos no mundo. Os nossos veículos-portadores espaciais já

lugar pela população. A Ucrânia faz fronteira, de um lado,

levaram para o espaço muitos satélites artificiais. Espera-

com a Rússia e, de outro, com a União Europeia, tendo a

mos que, no próximo futuro, o número de tais satélites será

saída para o oceano mundial através do Mar Negro. Mas

acrescido por mais um, que poderá ser levado ao espaço

a Ucrânia não se considera uma terra fecunda apenas

com o lançador ucraniano “Cyclone-4”, do cosmódromo

graças à sua posição geográfica. No solo da Ucrânia pre-

brasileiro Alcântara. A Ucrânia é hoje um dos líderes

valecem terras negras que cobrem cerca de 27,8 milhões

mundiais nas exportações de software, as quais excedem

de hectares. Segundo especialistas, no território da Ucrâ-

o montante de $ 1 bilhão. Embora o mundialmente famoso

nia concentra-se a quarta parte das reservas mundiais

avião Antonov não precise de publicidade adicional, ainda

de terras negras, razão pela qual a Ucrânia se juntou ao

quero lembrar que na altura quando surgiu a necessidade

“clube” dos principais produtores e exportadores de cereais

de transportar uma carga grande pelo avião Boeing-747,

do mundo. Além de grãos, a Ucrânia, na qualidade de

resultou que só o avião ucraniano “Mria” (O Sonho), produ-

membro do prestigioso “clube” dos dez maiores produtores

zido pelos especialistas da corporação ucraniana “Anto-

de aço, ocupa o 8 º lugar no mundo por exportação de

nov”, foi capaz de cumprir esta missão.

produtos siderúrgicos.

O nosso Estado participa activamente na vida política,

A Ucrânia tem uma enorme infra-estrutura industrial, ocu-

cultural e económica da Europa. As reformas iniciadas

pando o quarto lugar na Europa por extensão dos cami-

pelas autoridades ucranianas vão determinar, durante os

nhos-de-ferro e o segundo por volume de gás transportado

próximos anos, uma futura política de integração europeia.

através do território nacional (o comprimento total dos ga-

A perspectiva de fazer parte da comunidade europeia é o

sodutos principais da Ucrânia é de mais de 37 mil quilóme-

objectivo e aspiração de toda a sociedade ucraniana. ➤

38 • Diplomática - março/abril 2011


Como demonstração da confiança evidente à Ucrânia

ucraniano-português. Em 2010, o volume de comércio

por parte da Europa foi a obtenção do direito de realizar,

bilateral entre a Ucrânia e Portugal aumentou 1,9 ve-

junto com a vizinha Polónia, o 14 º campeonato de futebol

zes. Um argumento importante a favor do desenvolvimento

europeu. Agora estamos a preparar-nos com sucesso para

de nossos laços comerciais é o facto de que a Ucrânia

esta grande festa do futebol europeu, e estamos absolu-

não é só um mercado de quase 50 milhões de pessoas,

tamente convencidos de que o faremos ao mais alto nível.

mas também pode servir de uma espécie de plataforma de

Espero que a equipa nacional de Portugal poderá sentir o

entrada nos mercados de outros países, incluindo a Ásia

apoio dos adeptos ucranianos, durante o jogo final a ser

Central e Cáucaso.

realizado na capital da Ucrânia.

Não é uma simples troca de mercadorias que parece mais

Em 2011, a estabilidade política, os valores democráti-

promissora, mas a utilização de oportunidades comuns na

cos e a disposição pragmática dos dirigentes ucranianos

área tecnológica, nomeadamente, na construção naval,

assegurarão uma realização prática do curso estratégico

aeroespacial e na área de computadores. Uma esperança

de integração europeia, ao que facilitará a introdução pelo

especial dá o interesse no desenvolvimento de parcerias

governo ucraniano das reformas políticas, económicas

com empresas líderes em ambos Países, tais como as

e de segurança, a melhoria dos climas de investimento,

portuguesas EDP, Galp, Brisa, Banco Espírito Santo e as

de cooperação empresarial e muito mais. Neste sentido,

ucranianas “Naftogaz da Ucrânia”, “Ukrinterenergo”, “Vaz

temos esperança de que o interesse construtivo por parte

hmashimpeks”,”Zaporizhtransformator”, “Antonov”, “Motor

dos dirigentes dos Países da União Europeia e, nomea-

Sich”, etc. Estou confiante de que a troca de visitas em-

damente de Portugal, fará com que as negociações sobre

presariais entre os dois Países, que se planeia a nível das

o Acordo de Associação entre a UE e a Ucrânia sejam

câmaras de comércio e de regiões administrativas, vai in-

concluídas no ano em curso.

tensificar a cooperação económica e levará as relações de

Escolhida a direcção Europeia como o vector princi-

negócios a um nível mais elevado. A Câmara de Comércio

pal de entrada no espaço económico internacional,

Luso-Ucraniana deverá desempenhar um papel importan-

a Ucrânia considera estratégicas suas relações com

te a este respeito, pois uma actividade conjunta entre os

cada País da União Europeia e, particularmente,

empresários dos dois Países abre oportunidades muito

com Portugal. A este respeito, muita atenção é dada ao

grandes perante os nossos empresários, nomeadamente

desenvolvimento das relações bilaterais científicas, co-

no sector da energia. A Ucrânia é um País com o sector de

merciais, económicas e culturais. Vale destacar o início

energia muito desenvolvido. Portanto, não é por acaso que

de um movimento de investimentos, ainda cauteloso mas

aderimos à Comunidade Europeia da Energia (European

já bem notável, entre os nossos Países. Os investidores

Energy Community).

Portugueses investem na produção de cimento na Ucrânia

Na época, os especialistas internacionais falaram e escre-

(C+ P.A.), de equipamentos médicos (Fapomed) e de-

veram muito sobre a importância da Ucrânia em abaste-

senvolvem energias renováveis (Martifer). Os ucranianos

cimento da Europa com gás natural. Quero salientar que

investem no desenvolvimento do sistema bancário por-

a Ucrânia tem sido um parceiro de confiança da UE em

tuguês. Assim, o investimento para nós é um tráfego nos

matéria de fornecimento de energia e segurança energé-

dois sentidos. Tem que ser levado em conta, nomeada-

tica. Ambas as Partes estão interessadas em modernizar

mente, o número significativo de ucranianos em Portugal,

o sistema de abastecimento de gás para a Europa e em

que formam a segunda maior (mais de 50 mil pessoas)

garantir a segurança energética dos Países da UE. Este é

comunidade estrangeira neste País. Eles, na sua maioria,

um exemplo do que chamamos de integração europeia, na

são especialistas qualificados, profissionais e responsáveis

prática, não em palavras.

pelo trabalho que fazem, contribuindo significativamente

E tarefas como estas, grandes e pequenas, são muitas. O

para o PIB deste País. Acho que isto é o nosso maior

seu número vai crescer consideravelmente após a assina-

investimento na economia portuguesa. Não se trata só das

tura do Acordo de Associação com a EU e após a criação

indústrias tradicionais de construção civil onde trabalham

da zona de comércio livre entre a Ucrânia e a UE. Tudo

os ucranianos. Há dezenas de cientistas ucranianos em

isto irá criar fronteiras transparentes não só para a circula-

várias instituições científicas e académicas portuguesas,

ção de bens, serviços e capitais, mas também para uma

bem como nos departamentos de pesquisa junto às corpo-

livre circulação, pelos caminhos do seu grande continente,

rações portugueses.

de todos os europeus: Portugueses e Ucranianos, Ingleses

O nosso intercâmbio comercial foi muito intenso em

e Suíços, Noruegueses e Macedónios... Nós acreditamos

2010. Neste sentido, gostaria de chamar a atenção

que isso vai acontecer muito rápido, se todos empenhar-

para a dinâmica positiva de crescimento do comércio

mos os esforços necessários.

março/abril 2011 - Diplomática • 39


balanço 2010

Algimantas Rimkunas - Embaixador da Lituânia

Lithuania: overcoming the crisis

Lithuania with its 3.4 million of population represents

sion as well. This led to increase of inflation, as well as

an open and export oriented economy. Due to the limi-

trade deficit.

ted domestic consumption, the exports of goods and

The global credit crunch, which started in 2008, affec-

services are particularly important for a successful eco-

ted the real estate and retail sectors. The construction

nomic development of the country. Therefore, when the

sector shrank by almost 47% during the first 3 quarters

current global financial and economic crisis severely hit

of 2009 and slump in retail trade was almost 30%.

our main export markets in Western Europe, Scandina-

The GDP plunged by 15.7% in the first nine months of

via and also Russia, the economy of Lithuania has also

2009. Unemployment rate increased to 18%.

occurred in a complex situation.

Facing strong negative influence of a global finan-

Before the crisis, the economy of Lithuania was one of

cial and economic crisis on the Lithuanian eco-

the fastest growing in the world. In years 2000-2008,

nomy and on its public finance system, at the end

the GDP grew by 77%. One of the most important fac-

of 2008 the government started to apply austerity

tors for substantial economic expansion was accession

measures. Wages of civil servants, welfare and social

to the European Union in 2004, which opened access

spending, development projects and other government

to additional financial resources and also enabled free

spending were targeted for cuts. The socially painful

movement of capital, goods and labour force. On the

measures were introduced in close consultation with

other hand, rapid economic expansion has caused

trade unions, NGO’s, other interested bodies and wide

some imbalances in inflation and balance of payments.

public. Despite inevitable decrease in standard of

This was mostly influenced by rapid loan portfolio

living, the Lithuanian society jointly undertook this diffi-

growth as foreign banks, which operate in Lithuania,

cult but temporary burden on its shoulders. Therefore,

provided cheap credits. The loans directly related to

significant and robust solutions taken by the Lithuanian

acquisition and development of real estate constituted

authorities in a complex crisis situation have resulted

around 50% of outstanding bank loans to the private

in the easing of the consequences of the global financial

sector. Consumption was influenced by credit expan-

and economic crisis and restored confidence of foreign

40 • Diplomática - março/abril 2011


investors in Lithuania.

The Ministry of Foreign Affairs of Lithuania is among the leading governmental institutions, which participate in painful exercise of spending cuts. As a result, the staff of diplomatic missions, wages of diplomats and

Recently the Government of Lithuania and

other expenses are reduced significantly. On the other

IBM announced a joint research partnership

hand, the government decided to maintain all existing

in Lithuania that will enable research and

Lithuanian embassies, missions and consulates in

development of nanotechnology, healthcare

operation as an instrument of international cooperation,

and intellectual property (IP) management

which is significantly contributing to exit of the crisis.

innovations.

In the third quarter of 2009, compared to the previous one, the GDP again grew by 6.1% after five quarters with negative numbers. The rebound in Lithuania’s economy in the third quarter of 2009

companies. In March 2010, in Vilnius Barclays laun-

was the strongest in the EU.

ched the Technology Centre, which will be one of the

Currently, two main trends are observed in the eco-

four the bank’s strategic centres for global retail and

nomy of Lithuania: macroeconomic indicators related

commercial banking activities, supporting 49 million re-

to the domestic demand have started to stabilize only

tail and corporate customers in 28 countries. The Bar-

recently while these related to foreign markets are

clays centres are also settled in India, Singapore and

increasing for more than a year. In the second quar-

the United Kingdom. In Vilnius, it has already employed

ter of 2010, household expenditures were by almost

500 local IT professionals.

tenth lower than a year ago. The private consumption

Barclays was followed by the Western Union – an in-

is expected to increase by 2% only in 2011. In 2010,

dustry leader in global money transfer. It set up its new

compared with a previous one, domestic investment

Global Operations Centre of Excellence, which is to

rebounded considerably. The latest foreign trade data

create 200 new jobs. The Global Operations Centre in

show that the both exports and imports are growing

Lithuania will handle back-office processing functions

faster than expected. The recovery of exports is par-

and compliment other global operations centres of the

ticularly robust: in the middle of 2010 exports grow

Western Union.

was equal to the peak of two years ago – about 35%.

Recently the Government of Lithuania and IBM annou-

Favourable exports developments are also proved by

nced a joint research partnership in Lithuania that will

industry data: the growing turnover in manufacturing is

enable research and development of nanotechnology,

stimulated by sales in foreign markets while the turno-

healthcare and intellectual property (IP) management

ver in domestic market is still sluggish. The recovery

innovations. IBM will contribute existing assets and

of imports is mostly supported by investment goods

research expertise from IBM Research laboratories in

and intermediate goods closely related to the exports

Zurich, New York, Haifa and Almaden launching a new

trends.

research center. Lithuania and IBM will share equal

The recovery of the Lithuanian economy is reflected

rights to the intellectual property, and R&D commercia-

in these macroeconomic indicators: the preliminary

lization, such as patents, IP licenses, products and pro-

GDP grow in 2010 is 1.0% and projection of the Bank

totypes that result from the research center’s activities.

of Lithuania for 2011 – 3.1%. Recently, labour market

According to officials of the famous international

in Lithuania has been stabilising. This is in line with

companies, Lithuania is chosen as an attractive loca-

previous expectations that the unemployment will start

tion because of its strong talent pool of highly-skilled

to gradually decrease after the second quarter of 2010.

technology professionals, as well as its world-class

The projections of the Bank of Lithuania for this indi-

infrastructure. It is worth to mention that about 40%

cator for 2010 and 2011 are 17.9% and 16.5% respec-

of all employees in Lithuania have university degrees.

tively. Nonetheless, the situation in the labour market

This figure is well above the EU average.

remains serious and will be one of the main challenges

Successful attraction of foreign investments with the

for economic policy in the years to come.

aim to transform Lithuania into the High Technology

Confidence in successful recovery of the economy of

Service Centre of the Baltic and Scandinavian region,

Lithuania is proved by the recent establishment in the

show that crisis is not an obstacle to think about the fu-

Lithuanian market a few big world known international

ture and strengthen competitiveness of the economy.

março/abril 2011 - Diplomática • 41


balanço 2010

Bengt Lundborg - Embaixador da Suécia

«O desenvolvimento económico, social e ambiental na Europa depende de como a UE e os Estados membros conseguem cooperar»

Quando celebrámos solenemente a entrada em vigor do Tratado de Lisboa a 1 de Dezembro de 2009, era com expectativa que aguardávamos o ano de 2010. Enquanto representante da Presidência rotativa da UE, o Primeiro-Ministro da Suécia Fredrik Reinfeldt disse na cerimónia festiva em frente da histórica Torre de Belém, que “foi colocada uma pedra basilar para uma cooperação europeia fortalecida”. O ano 2010 infelizmente não foi aquilo que se tinha esperado. A “cooperação europeia fortalecida” tomou um rumo inesperado. Os esforços feitos pelos países da UE no ano anterior, 2009, para contrariar o risco de uma recessão económica aguda, iria lamentavelmente por sua vez criar grandes défices orçamentais na maioria dos países da UE. A isto juntaram-se uma série de outros problemas económicos nos diferentes estados membros dentro e fora do grupo do EURO. O sistema económico-político da Europa foi sujeite a um desafio muito sério. Com a chave de soluções na mão, poderá ainda assim constatar-se que no âmbito da cooperação

42 • Diplomática - março/abril 2011


da EU, foi possível trabalhar em conjunto, e que

se conseguiu tomar uma série de importantes decisões para garantir apoio financeiro aos países que dele necessitavam, e ainda introduzir novas directrizes para a cooperação económico-política, aumento do controlo dos mercados financeiros e um futuro mecanismo de crise. Espero que não teremos que passar por um novo ano com problemas do tipo com que agora tivemos dolorosamente que lidar. A cooperação e solidariedade europeia demonstraram o seu valor. Acredito que sairemos fortalecidos desta turbulência. Como exemplo digno de ser ponderado, poderei mencionar que quando a Suécia teve a sua própria, fortemente ressentida crise financeira no início dos anos 90, surgiu concórdia política sobre a

Ao mesmo tempo que avança a construção da UE, devemos utilizar os recursos que temos - indivíduos, meios financeiros e estruturas institucionais - para fortalecer o papel da UE num mundo cada vez mais globalizado.

necessidade de ter-se finanças do estado sãs, de preferência um excedente orçamental, uma baixa dívida do estado, e de realizar reformas geradoras de crescimento. Agora a nossa economia está forte, com um crescimento em 2010 próximo dos 6 por cento e uma taxa de emprego a aumentar. Também pudemos apoiar outros países na nossa proximidade que se encontravam temporariamen-

alguns países das Balcãs batem à porta da UE.

te em dificuldades.

A zona Euro também está em desenvolvimento,

Para o ano de 2011, há que dar continuidade às

com a Estónia como 17:e membro desde 1 de

medidas actuais, para solucionar os problemas

Janeiro deste ano.

de agora, mas também erguer a vista para o

Ao mesmo tempo que avança a construção da

futuro. Aqui poderemos guiar-nos pelo programa

UE, devemos utilizar os recursos que temos -

chamado EU 2020 para um aumento do emprego,

indivíduos, meios financeiros e estruturas ins-

da formação e da investigação, um incremento na

titucionais - para fortalecer o papel da UE num

participação social e um ambiente sustentável.

mundo cada vez mais globalizado. Aqui, o novo

Cada membro da UE deverá elaborar objecti-

European External Action Service, que será lan-

vos nacionais para tornar o próprio país assim

çado a sério este ano, irá dar-nos a possibilidade

como a UE no seu todo mais competitivos num

de dar maior peso à actuação da União relativa-

mundo globalizado.

mente aos seus vizinhos. Por meio da chamada

O desenvolvimento económico, social e ambiental

Parceria Oriental, aprofunda-se a cooperação

na Europa depende de como a UE e os Estados

entre a UE e os seis países vizinhos a oriente,

membros individualmente conseguem cooperar

Arménia, Azerbeijão, Geórgia, Moldávia, Ucrânia,

para dar uma resposta conjunta às possibilidades

e Bielorússia.

e aos desafios que a próxima década irá trazer.

No interessante mas demasiado pouco lido rela-

Um aumento da investigação e do desenvolvi-

tório de 2010 para o Conselho Europeu, elabo-

mento, assim como a criação de uma patente

rado pelo grupo especial de estudo liderado pelo

Europeia são importantes pedras de construção

antigo Primeiro-Ministro de Espanha Felipe Gon-

numa Europa mais competitiva.

zález, é colocada uma pergunta introdutória: “Irá

Ao mesmo tempo que a cooperação da UE se vai

a UE conseguir manter e aumentar o seu nível de

aprofundando, a União vai alargando. Durante o

bem-estar num mundo em mudança?” A resposta

ano em curso, poderemos contar com o facto de

é sim, mas isto exige que todos no seio da UE,

mais um país, a Croácia, dar passos decisivos

políticos, cidadãos, entidades patronais e traba-

no sentido da adesão. Montenegro obteve re-

lhadores, colaborem para um objectivo comum

centemente o estatuto de país candidato, e mais

definido pela situação actual.

março/abril 2011 - Diplomática • 43


balanço 2010

Dusko Lopandic - Embaixador da República da Sérvia

«A União Europeia tem sido a maior conquista política e civilizacional do nosso Continente desde a Segunda Guerra Mundial» Na sequência dos acontecimentos do passado ano,

go da construção europeia. A União Europeia tem

tais como calamidades naturais, erupções vulcâni-

sido a maior conquista política e civilizacional do

cas, terramotos devastadores, as guerras em curso

nosso Continente desde a Segunda Guerra Mun-

e as pessimistas previsões económicas, é difícil

dial. Foi construída tendo por base a visão política

considerá-lo como um ano bom, embora nós tam-

a longo prazo (ou seja, a paz e a estabilidade na

bém não estejamos propensos a considerá-lo muito

Europa) e sustentada por resultados económicos

mau. O ano de 2010 será lembrado como o ano

muito concretos e eficientes, como o mercado

em que o mundo, incluindo a Europa, tenha talvez

comum, a união aduaneira, a estreita cooperação

começado a procurar novas formas e meios para

económica, a união monetária e assim por dian-

superar a curto e longo prazo os desafios globais.

te. No entanto, hoje temos vindo a testemunhar

O crescimento sustentável (incluindo as questões

sinais preocupantes de que a união económica e

relacionadas com a energia e o clima) e a governa-

monetária dentro na UE não está a funcionar bem.

ção mundial são alguns dos desafios a mais longo

É verdade que a zona euro não é a mesma coisa

prazo. Os efeitos da crise económica e financeira

que a União Europeia, mas o progresso da inte-

que afecta a maior parte do mundo desenvolvido,

gração económica iria, sem dúvida, estabilizar e

com ênfase na Europa, constituem o motivo das

reforçar a conquista intitucional que foi o Tratado

maiores preocupações a curto prazo para a maioria

de Lisboa. Mas o inverso também é verdadeiro:

dos governos, incluindo o Governo da Sérvia e o

não se deverá esperar mais progressos na in-

português. Vamos esperar que o ano de 2011 traga

tegração política sem a estabilidade económica

alguns resultados económicos positivos, tal como a

ter sido alcançada. Os trabalhos do anterior

maioria de nós gostaria de ver acontecer.

Conselho Europeu, juntamente com as recentes

Aqui na Europa, estamos todos preocupados com

divulgações e propostas, fornecem alguns si-

a crise que está, ao que parece, a atingir o âma-

nais encorajadores para a UE no ano de 2011.

44 • Diplomática - março/abril 2011


No que respeita à República da Sérvia, o passa-

do ano poderia, de uma forma geral, ser considerado como relativamente positivo. O ano de 2010 viu sinais de recuperação económica na Sérvia, após a crise de 2009. O crescimento do PIB em 2010 é estimado em cerca de 1,7 por cento, enquanto as previsões para 2011 são ainda mais positivas: o crescimento será de cerca de 3 por cento ou talvez 3,5. Durante 2011 a Sérvia espera ter mais investimentos estrangeiros, especialmente nas áreas da indústria automóvel (uma nova fábrica FIAT) e da comunicação (privatização da principal empresa estatal de telecomunicações), que deverá atingir os 4 bilhões de euros. A evolução positiva

A adesão à União Europeia é o objectivo prioritário do Governo sérvio. Alguns resultados muito concretos, que puderam ser sentidos mesmo pelos cidadãos comuns, foram alcançados.

será visível também no campo das exportações, o qual já registou resultados muito positivos em 2010 (aumento de cerca de 20 por cento em comparação com 2009). O Governo sérvio publicou recentemente uma previsão de longo prazo para o desenvolvimento económico e social da Sérvia até ao ano de 2020 que está de acordo com as projeções já efectuadas pela UE. O principal problema económico e social da Sérvia neste momento é,

ração com o Tribunal Penal Internacional para a

sem dúvida, a elevada taxa de desemprego, espe-

ex-Jugoslávia. Nós esperamos obter alguns resul-

cialmente entre os jovens. Existem ainda alguns

tados positivos do diálogo entre Belgrado e Pris-

outros graves problemas económicos e sociais,

tina, os quais deverão, pelo menos, responder às

tais como o desenvolvimento desigual das regiões

questões humanitárias mais prementes no Kosovo.

de periferia, um problema demográfico e o desen-

No entanto, afirmamos que, em relação a esta

volvimento relativamente lento de novos meios de

questão, a Sérvia não vai reconhecer a declara-

transporte e das infra-estruturas energéticas.

ção unilateral de independência do Kosovo e vai

No entanto, podemos olhar para o ano de 2011,

procurar, através de meios pacíficos, chegar a um

com expectativas mais positivas. A adesão à

compromisso com os representantes albaneses no

União Europeia é o objectivo prioritário do Gover-

local.

no sérvio. Alguns resultados muito concretos, que

Durante os últimos anos as relações bilaterais en-

puderam ser sentidos mesmo pelos cidadãos co-

tre Portugal e a Sérvia foram reforçadas, especial-

muns, foram alcançados. A partir de 01 de Janeiro

mente no campo da justiça, dos negócios estran-

de 2010 a UE aboliu os vistos turísticos para os

geiros, da cooperação na defesa e da cooperação

cidadãos da Sérvia, o que teve um impacto muito

agrícola.

positivo na sociedade. O processo de integração

Podemos ainda esperar algumas boas notícias

da Sérvia na UE tem sido contínuo: o Acordo de

no campo das relações bilaterais entre a Sérvia e

Estabilização e de Associação entrou no processo

Portugal. Visitas de alto nível que estão em vista,

de ratificação. A Comissão Europeia foi encarre-

alguns importantes acordos serão negociados, os

gada pelo Conselho da UE de preparar a opinião

contactos económicos serão reforçados, especial-

oficial sobre a elegibilidade da Sérvia à UE. Espe-

mente nas áreas da agricultura, da construção, do

ramos que até ao final deste ano, a Sérvia faça a

planeamento urbano e da energia. Durante este

sua candidatura oficial de adesão à UE. Também

ano, vamos também comemorar alguns importan-

esperamos que as negociações de adesão tenham

tes acontecimentos do passado, como os 100 anos

início o mais rapidamente possível, de preferên-

da ratificação do primeiro tratado comercial entre

cia em 2012. A Sérvia também tentará melhorar a

os Reinos da Sérvia e de Portugal, bem como os

sua cooperação na região dos Balcãs, bem como

60 anos da retirada de diplomatas jugoslavos da

resolver as questões pendentes relativas à coope-

Europa ocupada através de Portugal.

março/abril 2011 - Diplomática • 45


balanço 2010

Paul Schmit - Embaixador do Luxemburgo

«A estratégia de Lisboa sublinhou e consegui chamar a atenção para a importância de continuar a investir nos domínios chave da economia, da educação e da formação, assim como da coesão social»

Tendo tido a honra de apresentar as Cartas Credên-

clara, seja no plano comercial (com a exportação,

cias como Embaixador do Grão-Ducado de Luxem-

em 2009, de bens no valor de 15 milhões de euros e

burgo a Sua Excelência o Presidente da República no

de serviços no valor de 147 milhões e com a impor-

dia 15 de Outubro de 2010, e após alguns meses em

tação de bens e serviços no valor de 17.9 milhões

Portugal, dou-me conta da riqueza histórica e cultural

e de 186 milhões de euros respectivamente) ou no

deste país, mas também dos desafios aos quais têm

plano humano, já que quase um quinto da popula-

de fazer face Portugal e a União Europeia no seu

ção do Grão-Ducado fala a língua portuguesa.

conjunto.

A imigração de cidadãos portugueses (desde os anos

Para uma Embaixada, como a do Luxemburgo em

1960) representa um factor importante na paisagem

Portugal, trata-se de continuar a trabalhar no sentido

cultural luxemburguesa e a integração dos cidadãos

de uma cooperação cada vez mais estreita entre os

portugueses, muitas vezes da primeira e mesmo

principais actores económicos e comerciais dos paí-

segunda gerações, constitui um desafio que não se

ses interessados. Por ocasião da visita de Estado de

pode negligenciar.

Suas Altezas Reais os Grão-Duques do Luxemburgo

Nos tempos dificeis que todos conhecemos, trata-

a Portugal em Setembro de 2010 e, nomeadamente

se de dar a conhecer melhor o Luxemburgo, o seu

por ocasião do seminário económico que reuniu cerca

mercado financeiro, mas também os outros pontos

de 350 personalidades dos sectores económico, co-

de interesse do país, seja no campo da siderurgia, da

mercial e financeiro, interessados em estreitar as re-

tecnologia de ponta ou dos satélites, por exemplo. A

lações comerciais entre os nossos dois países, foram

semana cultural luxemburguesa, que teve lugar em

reforçadas as bases para uma cooperação contínua

Lisboa em Abril de 2010 e que contou com uma expo-

entre os principais interessados no Luxemburgo e em

sição fotográfica, uma peça de teatro e um concerto

Portugal.

de jazz, constitui um bom exemplo nesse sentido.

A importância de Portugal para o Luxemburgo é

Há muitos anos que o Luxemburgo opera também

46 • Diplomática - março/abril 2011


de forma consequente, e desde a sua fundação, no

do país para novas actividades económicas importan-

âmbito das principais organisações internacionais das

tes, nomeadamente nos sectores de ponta. O Luxem-

quais faz parte, tais como as Nações Unidas, a União

burgo continua a desenvolver esforços específicos

Europeia, a NATO, o Conselho da Europa, a OSCE,

com vista a expandir as capacidades cientificas e tec-

etc.

nológicas no seio da Universidade e dos Centros de

As mudanças que ocorreram no seio da União Euro-

investigação públicos, em colaboração com o sector

peia, com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa

privado. No contexto de seguimento dos objectivos

em 1 de Dezembro de 2009, poderão contribuir para

estabelecidos pela Cimeira Europeia de Barcelona e

melhorar o posicionamento da União Europeia e

com a finalidade de promover e incentivar a investi-

consequentemente dos seus Estados membros no

gação e a inovação, o Governo luxemburguês prevê

cenário internacional. Numa Europa cada vez mais

fixar o investimento público referente à I&D em 3% do

integrada, as relações entre Estados membros são de

Produto Interno Bruto, zelando ao mesmo tempo pela

grande importância e devem continuar a ser desen-

maximização da eficácia das despesas consagradas

volvidas, quer no campo comercial e económico ou

à investigação fundamental e à investigação aplicada.

no aspecto humano.

A cooperação luxemburguesa para o desenvolvimen-

Apesar dos objectivos nela estipulados não terem

to coloca-se decididamente ao serviço da erradica-

sido atingidos, a estratégia de Lisboa sublinhou e

ção da probreza, nomeadamente nos paises menos

consegui chamar a atenção para a importância de

desenvolvidos. As suas acções são concebidas com

continuar a investir nos domínios chave da economia,

base num espírito de desenvolvimento durável, quer

da educação e da formação, assim como da coe-

no aspecto social e económico, quer em matéria de

são social. A estratégia de Lisboa conseguiu assim

meio ambiente – com o homem, a mulher e a criança

determinar a direcção correcta a seguir pelos Estados

como ponto central.

membros.

Estas acções registam-se prioritáriamente em termos

No Luxemburgo, a implementação nacional da estra-

da implementação – até 2015 – dos objectivos de

tégia Europeia “Europe 2020”, sucessora da estra-

desenvolvimento do Milénio. Assim, os principais sec-

tégia de Lisboa, é efectuada com base na estratégia

tores de intervenção da cooperação situam-se no do-

“Luxemburgo 2020”, que foi elaborada durante a crise

mínio social: a saúde, a educação, que inclui a forma-

económica e financeira e é considerada uma estraté-

ção e a integração profissional, e o desenvolvimento

gia de saída da crise. São definidos os vários objecti-

local integrado. As iniciativas pertinentes no domínio

vos a alcançar, nomeadamente nos sectores da I&D

das micro-finanças são estimuladas e apoiadas tanto

(investigação e desenvolvimento) e da inovação, da

a nível conceptual como a nível operacional.

educação e da formação, das alterações climatéricas

Do ponto de vista geográfico, a Cooperação

e da energia, do emprego e da coesão social.

luxemburguesa desenvolve, por preocupação

O mercado financeiro ocupa, há mais de três déca-

em termos de eficácia e impacto, uma política de

das, um lugar preponderante na economia do Luxem-

intervenção centrada numa dezena de países as-

burgo. As finanças públicas e o emprego nacional

sociados. Em termos de ajuda pública ao desenvolvi-

dependem largamente do desenvolvimento destas

mento (APD), a Cooperação luxemburguesa integra,

actividades. O Governo desenvolve uma politica

desde 2000, o grupo dos cinco países industrializa-

constante de diversificação das actividades, assim

dos que consagram mais de 0,7% do seu rendimento

como de desenvolvimento da competitividade no pla-

nacional bruto à cooperação para o desenvolvimento.

no internacional, contribuindo desta forma para que o

Em 2009 a APD cifrou-se em 297,82 milhões de eu-

mercado financeiro seja um centro de excelência nos

ros, representando 1,04% do RNB. A APD é aplicada

domínios de competência específica, nomeadamente

com base nos instrumentos de cooperação bilateral,

no que diz respeito às actividades bancárias pro-

de cooperação multilateral, de apoio aos programas e

priamente ditas, ao sector dos seguros, dos fundos

da cooperação às ONG de desenvolvimento.

de investimento e fundos de pensões, à Bolsa e aos

A ajuda ao desenvolvimento e a política de negócios

outros profissionais do sector financeiro.

estrangeiros do Grão-Ducado têm também como efei-

A investigação constitui um dos principais motores de

to credibilizar e reforçar os argumentos avançados no

uma economia competitiva, baseada no saber e no

âmbito da candidatura luxemburguesa a um mandato

conhecimento. A competitividade da economia nacio-

de membro não-permanente do Conselho de Segu-

nal é, por seu turno, um elemento chave no estímulo

rança (2013-2014).

março/abril 2011 - Diplomática • 47




Opinião

Para onde vai a Nato?

por Pavel Petrovskiy - Embaixador da Rússia

Olhar a partir de Lisboa

Nos últimos tempos a esta pergunta tentam responder

В последнее время на этот вопрос пытаются ответить

muitos analistas, politólogos e diplomatas estrangei-

многие аналитики, политологи и дипломаты как

ros e russos, não ficando para trás os portugueses. A

зарубежные, так и российские. Не отстают и

componente inicial de todos deles é única – a aliança

португальцы. Исходная составляющая у всех одна

do Atlântico Norte, criada como fruto da “Guerra Fria”

– североатлантический альянс, созданный как плод

que perdeu o adversário em face da URSS, ficou num

«холодной войны» и лишившийся противника в лице

cruzamento conceitual. Nas condições dum mundo

СССР, оказался на концептуальном перепутье. В

multipolar finalmente formado, o princípio de “NATO –

условиях окончательно оформившегося многополярного

centrismo” rachou. Podemos falar muito sobre a

мира дал трещину принцип «натоцентризма». Можно ➤

50 • Diplomática - março/abril 2011


Pavel Petrovskiy

Куда идет НАТО? взгляд из Лиссабона

NATO como a base da segurança mundial no papel

было сколько угодно рассуждать о НАТО как об

de “polícia mundial”, mas isso já não convencia nin-

основе глобальной безопасности в роли «мирового

guém, excepto, talvez, alguns dos membros da Alian-

полицейского», но это уже никого не убеждало,

ça, fixados no atavismo do passado. Política Europeia

кроме, разве что, отдельных, зацикленных на

de segurança e defesa, que faz fundamento da dou-

атавизмах прошлого членов Альянса. Европейская

trina de defesa da EU, previa o reforço do potencial

политика безопасности и обороны, лежащая в основе

militar próprio, fora da NATO. No calor dos debates

оборонительной доктрины Евросоюза, предусматривала

polémicos que ocorreram durante muitos seminá-

укрепление собственного, вненатовского военного

rios científicos e políticos em Lisboa na véspera da ➤

потенциала. В пылу полемических дискуссий, ➤

março/abril 2011 - Diplomática • 51


Para onde vai a Nato?

Cimeira da NATO, recentemente realizada em

происходивших в ходе многочисленных научно-

Portugal, até foram expressas as dúvidas de

политических семинаров в Лиссабоне накануне

conveniência da existência da NATO como tal.

только что завершившегося здесь саммита НАТО,

Surgiu uma necessidade urgente dalgum tipo de “khow

высказывались даже сомнения в целесообразности

how”, a fim de preservar o potencial acumulado e

существования НАТО как такового. Возникла острая

não autodestruir-se, especialmente nas condições de

потребность в некоем «know how», дабы сохранить

redução geral dos orçamentos militares dos países –

накопленный потенциал и не развалиться, тем более в

membros. Em 2011 está prevista a redução do pessoal

условиях обвального сокращения военных бюджетов

da NATO de 13,5 mil a 9 mil pessoas, bem como das

стран-членов. В 2011 г. предусматривается уменьшение

estruturas de comando de 11 a 7. A atenção principal

штата сотрудников НАТО с 13,5 тыс. до 9 тыс. чел,

será focada no abastecimento, fornecimento, manu-

а также командных структур с 11 до 7. При этом

tenção, logística, comunicação e exploração. Surgiu a

основное внимание будет сосредоточено на снабжении,

necessidade não apenas de fundos (meios), mas tam-

закупках, техобслуживании, логистике, коммуникациях

bém dos objectivos da sua aplicação. Em resumo, era

и разведке. Возникла потребность не только в

necessário encontrar pelo menos um inimigo hipotético

средствах, но и целях для их приложения. Короче

ou potencial.

говоря, нужно было найти хотя бы гипотетического или

Não era preciso procurar muito. Ajudou o século XXI.

потенциального противника.

Na sequência dos ataques terroristas de 11 de Se-

Долго искать не пришлось. Помог XXI-й век. Вслед

tembro de 2001 nos EUA, na agenda do dia da NATO

за терактами 11 сентября 2001 г. в США на повестке

como “bóia salva – vidas” apareceram os novos desa-

дня в качестве подобия «спасительного круга» для

fios e ameaças. É contra eles: terrorismo internacional,

НАТО появились новые вызовы и угрозы. Именно

propagação OMU, pirataria, ciber ataques, tráfico de

на борьбу с ними - международным терроризмом,

drogas, desastres naturais, bem como proliferação

распространением ОМУ, пиратством, кибератаками,

global de mísseis, que ficaram orientados os líderes

наркотрафиком, природными катаклизмами, а

da NATO liderados pelo secretário-geral da NATO –

также глобальным ракетным распространением

A. Fogh Rasmussen, que aprovaram na Cimeira da

– сориентировались натовские лидеры во главе

Aliança em Lisboa em 20 de Novembro de 2010 um

с генсекретарем НАТО А.Фогом Расмуссеном,

conceito estratégico novo. No documento está clara-

утвердившие 20 ноября 2010 г. на саммите Альянса

mente indicado, que “o conceito estratégico será um

в Лиссабоне его новую стратегическую концепцию.

manual para a próxima fase na evolução da NATO a fim de continuar a ser eficaz num mundo em mudança contra novas ameaças, com novas oportunidades e

В документе четко обозначено, что «стратконцепция будет являться руководством для следующей фазы в эволюции НАТО с тем, чтобы она продолжала быть

parceiros.” Característica dos novos desafios e ame-

эффективной в меняющемся мире против новых

aças de forma expandida foi reflectida no documento

угроз с новыми возможностями и партнерами».

“Revisão conjunta de desafios comuns de segurança

Характеристика новых вызовов и угроз в развернутом

de século XXI”, aprovado na Cimeira do Conselho Rússia – NATO (NRC), realizada em Lisboa paralelamente. Entre as potenciais ameaças, ficou talvez uma: os conflitos regionais, que o Conceito estratégico não

виде нашла отражение в принятом на состоявшемся параллельно в Лиссабоне саммите Совета Россия-НАТО (СРН) документе «Совместный обзор общих вызовов безопасности 21 века». В числе потенциальных угроз,

inclui na categoria de desafios directos, no entanto,

осталась, пожалуй, одна – региональные конфликты,

reserva-se o direito da Aliança de “regulação” deles

которую стратконцепция к разряду прямых вызовов не

até “evitar”, quer directamente, quer “em interacção com os outros atores internacionais”. Ao mesmo tempo a NATO é qualificada como uma estrutura que tem

относит, тем не менее, оставляет за Альянсом право их «регулирования» вплоть до «предотвращения» как напрямую, так и «во взаимодействии с другими

“um conjunto único e confiável de meios políticos e militares para resolução duma ampla gama de crises:

международными актерами». При этом НАТО

antes, durante e depois dos conflitos”. Não é possível

квалифицируется как структура, обладающая

entender esta tese de outra forma, a não ser uma aspi-

«уникальным и надежным набором политических

ração da NATO de assumir o papel de liderança duma

и военных средств для урегулирования широкого

organização única e eficaz no âmbito de resposta aos

круга кризисов – до, во время и после конфликтов».

desafios modernos e regulação de crise em todas as

Невозможно понять данный ➤

52 • Diplomática - março/abril 2011


Pavel Petrovskiy

suas etapas, incluindo “reconstrução” pós – crise.

тезис иначе, как стремление НАТО возложить на себя

Teorias – às teorias. Era altura de passar à práti-

ведущую роль единственной эффективной организации

ca. Aliados tinham que ter garantias, que o cami-

в области реагирования на вызовы современности и

nho escolhido é adequado e realista. Na vanguarda

кризисного регулирования на всех его стадиях, включая

“dum gerador de ideias novas”, como sempre, foram

посткризисную «реконструкцию».

os americanos, que propuseram, nada mais, nada

Теории – теориями. Пора было переходить к практике.

menos – “tapar” todos os países da NATO com um

Союзникам нужно было убедиться, что выбранный

guarda-chuva de defesa antimísseis (NMD), que iria

ими путь верен и реалистичен. В авангарде «генератора

protegê-los dos ataques do Oriente, muitas vezes, não

новых идей», как всегда, выступили американцы,

se incomodando com alguma argumentação, a que os

предложившие не много не мало – накрыть все страны

membros da NATO chamaram Irão. Não houve neces-

НАТО зонтиком противоракетной обороны (ПРО),

sidade de filosofar, sobretudo para compreender que

который защитил бы их от нападений с Востока, чаще

esta é apenas uma desculpa. A ideia era outra: unir os

всего, не утруждая себя особой аргументацией, натовцы

responsáveis da NATO no processo de resolução da

называли Иран. Не нужно было особо мудрствовать,

primeira tarefa prática sob as novas condições, para

чтобы понять, что это всего лишь предлог. Замысел

qual poderiam obter um financiamento sólido e dar

заключался в другом - объединить натовцев в процессе

início a impulso poderoso de cooperação no âmbito de

решения первой в новых условиях практической

altas tecnologias, fornecendo novos lugares de traba-

задачи, под которую можно было бы получить

lho. Determinaram um “preço da questão” para iniciar,

солидное финансирование и задать мощный импульс

relativamente não muito alto: cerca de 200 milhões de

сотрудничеству в сфере высоких технологий, обеспечив

Euros. Resta entender, como ficará a ser esta NMD, e

новые рабочие места. Определили и сравнительно

por onde começar.

небольшую стартовую «цену вопроса» - в пределах 200

Ainda estava fresca a memória das primeiras medidas,

млн.евро. Осталось разобраться, как такая ПРО будет

tomadas pela Administração de G. Bush, de implemen-

выглядеть и с чего начать.

tação dos elementos de defesa antimísseis na Polónia

Еще была свежа память о том, как первые же

e República Checa, que encontrou uma forte resistência por parte da Rússia, que viu neles uma ameaça para o equilíbrio da estabilidade estratégica e que anunciou a sua intenção de se opor a esses planos, até a colocação na região de Kaliningrado dos mísseis tácticos “Iskander”. A Administração de B. Obama a iniciar o “restart” das relações com a Rússia, contudo, não recusou a ideia dos antimísseis, mas já no formato de chamada “abordagem adaptada por fases”. Ele ligou o sistema europeu de defesa antimísseis do teatro de operações militares com o dos EUA e o da Rússia sob uma única administração, aparentemente, uma administração americana. Sobre defesa antimísseis já negociaram anteriormente com a Rússia, mas os planos de G. Bush acima mencionados, acabaram com as negociações. Como se poderia supor, que agora a nós foi atribuído o papel adicional de “fornecedor” de informação sobre lançamento dos misseis de inimigos, sem o direito de activar os interceptores de misseis. A esperança era de que a própria Rússia, que estava interessada em garantir a segurança europeia

шаги, предпринятые администрацией Дж.Буша по размещению элементов ПРО в Польше и Чехии, натолкнулись на решительное сопротивление России, увидевшей в них угрозу балансу стратегической стабильности и заявившей о намерении противодействовать этим замыслам вплоть до размещения в Калининградской области оперативнотактических ракет «Искандер». Администрация Б.Обамы, начав «перезагрузку» отношений с Россией, тем не менее, от ПРО не отказалась, правда, уже в формате так называемого «поэтапного адаптированного подхода». Он увязывал эшелонированную европейскую систему ПРО театра военных действий (ПРО ТВД) с американской и российской под единым управлением, по всей видимости, американским. По ПРО ТВД ранее проводились переговоры с Россией, конец которым положили вышеупомянутые планы Дж.Буша. Теперь же нам, как можно было предположить, отводилась вспомогательная роль в качестве «поставщика» информации о враждебных ракетных пусках без права

e na cooperação tecnológica com o Ocidente, desta

приведение в действие ракет-перехватчиков. Расчет

vez não só não vai interferir, mas junta-se aos planos

был на то, что Россия, заинтересованная в обеспечении

renovados americanos – europeus. A certeza deste

европейской безопасности и технологическом

género tinha prevalecido e em Portugal. Pareceu que o

взаимодействии с Западом, на этот раз не только не

assunto se começou a resolver. Mas foi em vão.

будет препятствовать, но и сама подключится к ➤

março/abril 2011 - Diplomática • 53


Para onde vai a Nato?

Mais uma vez no caminho dos planos da NATO sur-

обновленным американо-европейским планам. Такого

giram problemas. Tudo ficou quase parado devido ao

рода уверенность превалировала и в Португалии.

facto de que a Rússia, quase um mês e meio: desde

Казалось бы дело сдвинулось. Но не тут то было.

início de Setembro a meados de Outubro deste ano,

Вновь на пути планов НАТО возникли проблемы. Всё

não respondia ao convite de A. Fogh Rasmussen para

чуть было не застопорилось из-за того, что Россия почти

D.A. Medvedev, de realizar em paralelo com a Cimeira

полтора месяца с начала сентября по середине октября

da NATO em Lisboa a reunião do Conselho Rússia –

с.г. не отвечала на приглашение А.Фога Расмуссена

NATO (NRC) ao mais alto nível e legalizar um sistema

Д.А.Медведеву провести параллельно с саммитом

de defesa antimísseis em conjunto. As razões para

НАТО в Лиссабоне заседание Совета Россия-НАТО

isso eram convincentes. Só no caso de as condições

(СРН) на высшем уровне и легализовать совместную

da cooperação, oferecida no âmbito dos novos progra-

ПРО. Основания для этого были веские. Согласиться на

mas da NATO, não contrariarem a nossa abordagem,

приезд в Лиссабон Россия могла только в случае, если

em termos de segurança igual e indivisível e em nada

условия предлагаемого нам взаимодействия в рамках

prejudicarem os interesses geopolíticos russos, a Rús-

новых натовских программ не противоречили бы нашим

sia poderia concordar com visita a Lisboa. Para nós

подходам в части равной и неделимой безопасности и

foi de fundamental importância como os membros da

ни в чем не ущемляли бы российским геополитических

NATO vão formular as partes do projecto do Conceito

интересов. Для нас было принципиально важным,

estratégico, que têm a ver com parceria com a Rússia,

как натовцы сформулируют разделы проекта

e se actividade militar da NATO se enquadrasse no

стратконцепции, касающиеся партнерских отношений

quadro jurídico do Estatuto da ONU. Não ficou claro

с Россией и будет ли военная деятельность НАТО

o nosso papel no sistema de defesa antimísseis, na

находиться в правовом поле Устава ООН. Не было

função de “ajudante” no qual nós não infundíamos.

ясности и относительно нашей роли в ПРО, функции

Sabíamos que os portugueses estão a favor dum nível

«помощника» в которой нам не импонировали. Мы

estratégico de parceria, e relativamente ao sistema

знали, что португальцы выступают за стратегический

antimísseis viram a Rússia como um participante de

уровень партнерства, а по ПРО видели в России

igualdade juntamente com a NATO. Havia muitos adversários desta abordagem. No entanto, em Bruxelas e outras capitais da NATO, incluindo Lisboa, estavam fortemente a tentar convencer - nos a vir de qualquer maneira. Esta lógica não estava a satisfazer a parte da Rússia. Era preciso compreender claramente, se os membros da NATO estão preparados para realmente “reiniciar” as relações ou não. Portanto, a Rússia só aceito o convite da NATO, quando todas as questões foram esclarecidas a partir de Bruxelas, e postos todos os pontos nos iii.

равного участника наряду с натовцами. Предостаточно было и противников такого подхода. Тем не менее, в Брюсселе, остальных натовских столицах, в том числе в Лиссабоне, нас усиленно убеждали приехать в любом случае. Российскую сторону такая логика не устраивала. Нужно было четко уяснить, готовы натовцы к реальной «перезагрузке» отношений или нет. Поэтому, Россия приняла приглашение НАТО только, когда на все вопросы из Брюсселя поступили соответствующие разъяснения и точки над «и» поставлены. Согласие России на участие в лиссабонском

O consentimento da Rússia para participar na

саммите СРН, впервые озвученное российским

Cimeira NRC em Lisboa, que foi proferido pelo

Президентом на российско-германо-французской

Presidente da Rússia na cimeira Rússia – Ale-

встрече в верхах 18 октября с.г. в Довиле (Франция)

manha – França em 18 de Outubro deste ano em Deauville (França), teve fundamental importância para a NATO. Com a sua presença a Rússia deu a “luz verde” ao início duma qualitativamente nova etapa de cooperação com a Aliança, uma etapa já com base no novo Conceito Estratégico. Para os membros da NATO isso foi extremamente necessário, porque eles

имело принципиальное значение для НАТО. Своим присутствием Россия включала «зеленый свет» началу качественно нового этапа взаимодействия с Альянсом, этапа, базирующегося уже на новой стратконцепции. Натовцам это было крайне необходимо, ибо они уже поняли, что любые их планы, ущемляющие

já entenderam que qualquer dos seus planos que

суверенитет и безопасность России, бубут заведомо

afecta a soberania e segurança da Rússia, seria ante-

запрограммированы на неудачу. Таким образом,

cipadamente programado para um fracasso. Assim, a

реализация стратконцепции стала бы серьезно

realização do Conceito Estratégico começava seria-

пробуксовывать. Поэтому, чтобы обеспечить наше

mente a escorregar. Por isso, para garantir a nossa

54 • Diplomática - março/abril 2011

присутствие в Лиссабоне противникам сотрудничества ➤


Pavel Petrovskiy

presença em Lisboa, os adversários de cooperação

с Россией пришлось уступить по вопросу о

com a Rússia tiveram que desistir na questão sobre o

формате сотрудничества с нами. Партнерство все же

formato de cooperação connosco. De qualquer ma-

получило статус стратегического. В тексте появились

neira, a parceria obteve um estatuto estratégico. No

однозначные формулировки: «сотрудничество НАТО и

texto apareceram as formulações de sentido único:

России имеет стратегическую важность» и «мы хотим

“a cooperação da NATO e Rússia tem a importância

истинного стратегического партнерства между НАТО

estratégica” e “nós queremos uma verdadeira parceria

и Россией». В готовящийся в тот момент к принятию

estratégica entre NATO e a Rússia”. No projecto de

на саммите проект «Совместного заявления Совета

“Declaração conjunta do Conselho NATO – Rússia”

Россия-НАТО» (и впоследствии принятом) были

que estava a ser preparado naquele momento para

инкорпорированы положения о том, что начинается

aprovação na Cimeira (e posteriormente aprovado), fo-

«новый этап сотрудничества, ведущий к подлинному

ram incorporadas as disposições sobre o facto de estar

стратегическому партнерству», признавалось, что

a começar “uma nova etapa de cooperação que leva

«безопасность всех государств в евроатлантическом

a verdadeira parceria estratégica”, e foi reconhecido

сообществе неделима», а «безопасность НАТО и России

que “a segurança de todos os países na comunidade

взаимосвязаны».

euro – atlântica é indivisível” e “seguranças da NATO e

Если у кого-то возникнет вопрос, что в документах

Rússia estão interligados”.

речь идет лишь о перспективе стратегического

Alguém pode dizer, que nos documentos se fala

партнерства, а не о сегодняшнем дне, то ведь не секрет,

apenas sobre a perspectiva da parceria estratégica e

что пока наше сотрудничество с НАТО стратегическим

não sobre o dia de hoje, mas também não é nenhum

назвать трудно. Подтверждение тому – неспособность

segredo, que a nossa cooperação com a NATO ainda

СРН по вине «одного государства» собраться в

é difícil chamar estratégica. A confirmação disto é a in-

критический момент грузинской агрессии против

capacidade do NRC por culpa de “um Estado” se juntar

Южной Осетии и последующая спровоцированная

num momento crítico da agressão georgiana contra a

Альянсом «заморозка» российско-натовского

Ossétia do Sul e posterior “congelamento” da coopera-

сотрудничества. Термин «стратегическое» в отношении

ção Rússia – NATO, provocado pela Aliança. O termo

этого партнерства пока можно употреблять только с

“estratégica” em relação a esta parceria só se podia utilizar com verbos no futuro. A propósito, e sobre o seu principal parceiro: União Europeia, o Conceito estratégico também permite o modo indicativo, indicando que “para uma parceria estratégica entre NATO e UE é necessária a sua plena participação” nos esforços para combater as ameaças à segurança comum. É óbvio que a UE também tem as reservas inexploradas na parte do estatuto estratégico da parceria. Na declaração conjunta NRC foi fixada mais uma tese de fundamental importância, que “os Estados – membros NRC se abstenham de ameaçar ou de usar outra força uns contra os outros, bem como contra qualquer outro Estado, á sua soberania, integridade territorial e independência política de qualquer forma, mesmo incompatível com o Estatuto da ONU”. O Conceito estratégico também acentua, que “A Aliança está firmemente devotada aos objectivos e princípios do Estatuto da ONU e do Tratado de Washington, que confirma a principal responsabilidade do Conselho de Segurança de apoiar a paz e segurança internacional”. Com tais

глаголами в будущем времени. Кстати, и по поводу своего главного партнера – Евросоюза стратконцепция также допускает изъявительное наклонение, указывая, что «для стратегического партнерства между НАТО и ЕС необходимо их полнейшее участие» в усилиях по противодействию общими вызовам безопасности. Очевидно, что и у ЕС имеются неиспользованные резервы по части стратегического статуса партнерства. В совместной декларации СРН зафиксирован еще один принципиально важный тезис, что «государствачлены СРН будут воздерживаться от угрозы силой или применения силы друг против друга, равно как и против любого другого государства, его суверенитета, территориальной целостности или политической независимости в любой форме, несовместимой с Уставом ООН». Стратконцепция также акцентирует, что «Альянс твердо предан целям и принципам Устава ООН и Вашингтонского договора, который подтверждает главную ответственность Совета Безопасности за поддержание международного мира и безопасности». С

obrigações, as operações da NATO não autorizadas

такими обязательствами несанкционированные СБ ООН

pelo Conselho de Segurança da ONU, por exemplo a

операции НАТО, например, по «кальке» американского

invasão do Iraque pelos EUA e bombardeamento de

вторжения в Ирак и ковровых бомбардировок Белграда,

Belgrado, contrariavam o próprio Conceito estratégico. ➤

противоречили бы собственной стратконцепции. Важно, ➤

março/abril 2011 - Diplomática • 55


Para onde vai a Nato?

56 โ ข Diplomรกtica - marรงo/abril 2011


Pavel Petrovskiy

É importante, que isto está directamente relacionado

что это напрямую относится к раздающимся кое-где

com as potenciais ameaças, vindas algures do Orien-

на Западе потенциальным угрозам применения силы

te, do uso da força contra o Irão no contexto do seu

против Ирана в контексте его ядерной программы. Россия, в свою очередь, согласилась рассмотреть

programa nuclear. A Rússia, por sua vez, concordou em considerar as

западные предложения по ПРО, которая только

propostas ocidentais sobre defesa antimíssil, que seria

с нашим участием приобрела бы маломальскую

adquirir a mínima eficácia apenas com a nossa parti-

эффективность. В результате, в российско-натовском

cipação. Como resultado, na Declaração da Rússia –

заявлении отмечается, что стороны договорились

NATO destaca-se, que as partes concordaram traba-

работать по данному направлению по следующему

lhar nessa direcção com o seguinte cronograma: a)

графику: а) СРН осуществляет совместную оценку

NRC realiza uma avaliação conjunta das ameaças da

угроз со стороны баллистических ракет, б) СРН

parte de mísseis balísticos, b) NRC renova a coopera-

возобновляет сотрудничество по ПРО ТВД, в) СРН

ção na defesa antimísseis no Teatro de operações, c)

поручается разработать всеобъемлющий совместный

NRC encarrega-se de elaborar uma análise geral con-

анализ будущих рамочных усилий сотрудничества

junta dos futuros esforços de cooperação no âmbito da

в области ПРО, г) этот анализ рассматривается на

defesa antimísseis, d) esta análise é considerada na

встрече министров обороны стран-членов СРН в

reunião de Ministros da Defesa dos países – membros

июне 2011 г. В российском понимании речь должна

do NRC em Junho de 2011. No entender da Rússia,

идти о такой ПРО, которая бы имела уравновешенную

tem que se falar sobre um sistema de defesa antimís-

систему управления, а не выглядела бы как попытка

seis, que teria um sistema de gestão equilibrado e

«пристегнуть» Россию к упомянутым американским

não parecia uma tentativa de “amarrar” a Rússia aos

планам «поэтапного адаптированного подхода» в роли

referidos planos americanos de “abordagem gradual

«сопутствующего». На саммите в Лиссабоне Президент

adaptada” no papel de “concomitante”. Na Cimeira

Д.А.Медведев представил наше видение евроПРО,

em Lisboa o Presidente M.A. Medvedev apresentou

получившее определение «секторального подхода»,

a nossa visão do sistema europeu de defesa antimís-

о котором он объявил в ходе пресс-конференции по

seis, que foi determinada como “abordagem sectorial”, sobre qual ele anunciou na conferência de imprensa

итогам лиссабонского саммита. Еще одним и важным ориентиром для НАТО в плане

sobre resultados da Cimeira de Lisboa. Mais um ponto de referência importante para a NATO, em termos de necessidade crescente de cooperação

возрастающей потребности сотрудничества с Россией стал Афганистан. Увязнув в многолетней войне в этой стране и неся все большие потери, североатлантические

com a Rússia, tornou-se o Afeganistão. Atolados em anos de guerra neste país, suportando as perdas cada vez maiores, os aliados da aliança do atlântico norte

союзники заговорили о политике «афганизации», предусматривающей постепенную передачу функций внутренней безопасности правительству в Кабуле,

começaram a falar sobre política de “afeganização”

а также о поэтапном выводе контингентов МССБ.

que prevê a transferência gradual das funções da segurança interna para Governo em Cabul, bem como a retirada gradual do contingente de Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF). A execução desta estratégia, apesar de ser apoiada pela comunidade internacional em duas conferências sobre Afeganistão – 28 de Janeiro de 2010 em Londres e em 20 de Julho do mesmo ano em Cabul, vai exigir grandes esforços nos próximos dois anos. É necessário não só preparar as forças de segurança afegãs, progredir e alcançar a reconciliação nacional, mas também eliminar o tráfico de drogas, que abastece mais de 70% do mercado

Реализация этой линии, несмотря на ее поддержку международным сообществом на двух конференциях по Афганистану - 28 января 2010 г. в Лондоне и 20 июля того же года в Кабуле, потребует титанических усилий в течение двух ближайших лет. Нужно не только подготовить афганских силовиков и добиться сдвигов в достижении национального согласия, но и ликвидировать наркотрафик, обеспечивающий более 70% европейского рынка наркотиков. Россия неоднократно указывала натовцам путь к решению этой проблемы, предлагая наладить

europeu de droga.

сотрудничество с обеих сторон границы между НАТО

A Rússia tem repetidamente indicado aos membros

и ОДКБ, успешно проводящей антинаркотическую

da NATO o caminho para a resolução deste problema,

спецоперацию «канал» в приграничных районах

propondo a cooperação entre os dois lados da fronteira

Афганистана. Осознание нашей правоты начало

entre NATO e Organização do Tratado de Segurança

появляться только сейчас. В конце октября с.г. Россия ➤

março/abril 2011 - Diplomática • 57


Para onde vai a Nato?

Colectiva (CSTO), que está a realizar com sucesso

и США во взаимодействии с МССБ и афганской

a operação específica de combate às drogas “Canal”

армией провели первую совместную операцию по

nas zonas fronteiriças do Afeganistão. A consciência

уничтожению на территории Афганистана четырех

da nossa razão começou a surgir somente agora. No

нарколабораторий и 932 кг героина. Лучше поздно, чем

final de Outubro deste ano a Rússia e os EUA em cola-

никогда. По-прежнему востребована инициатива по

boração com ISAF e forças afegãs realizaram a sua

созданию при участии соседних с Афганистаном стран

primeira operação conjunta de destruição de quatro

поясов антинаркотической и финансовой безопасности,

laboratórios de droga no território de Afeganistão e de

предполагающих перехват перевозимых наркогрузов

932 kg de heroína. Mais vale tarde do que nunca. Con-

и усиленный мониторинг за трансграничным

tinua a ser exigida a iniciativa de estabelecimento das

перемещением денежных средств, которые могли быть

zonas de combate à droga e segurança financeira com

выручены в результате незаконного сбыта наркотиков.

participação dos países – vizinhos de Afeganistão, que

В НАТО постепенно формируется понимание, что без

envolvem a interceptação de droga transportada e um

России проблему незаконного оборота наркотиков не

maior controlo de movimento transfronteiriço de fundos

решить.

monetários que poderiam ser obtidos com a venda

Если к этому добавить наш вклад в транзит военных

ilegal de drogas. Dentro da NATO está-se a formar a

и гражданских грузов, то становится абсолютно ясно,

ideia de que sem a Rússia o problema de tráfico ilegal

что наше содействие в афганских делах для НАТО

de droga não se resolve.

необходимо, как воздух. Очевидно и то, что чем такое

Se juntarmos a isso a nossa contribuição para o trânsi-

сотрудничество плотнее, тем эффективней действия

to de mercadorias militares e civis, fica absolutamente

МССБ, прочнее позиции правительства в Кабуле, а,

claro, que a nossa colaboração nos assuntos afegãos

следовательно, очевиднее перспективы национального

é necessária para a NATO, como o ar. Também é

согласия, и, наконец, ближе цель передачи полномочий

evidente, que por mais densa a tal cooperação, mais

в сфере безопасности афганским властям и вывода

eficazes as acções da ISAF, mais forte a posição do

коалиционных войск к 2014 г. Как раз эти цели

Governo em Cabul, e portanto, mais aparentes as

заложены в подписанное на полях саммита НАТО

perspectivas de acordo nacional, e finalmente, aproxima-se o objectivo de transmissão de poderes no âmbito de segurança às autoridades afegãs e retirada das tropas da Coligação até 2014. São estes os objectivos previstos no Acordo sobre parceria entre Afeganistão e Aliança, assinado na Cimeira da NATO. Aprovado um Acordo adicional entre a Rússia e NATO sobre o trânsito ferroviário inverso de mercadorias ilegais, também o Acordo sobre expansão do projecto de NRC sobre preparação pela Rússia dos recursos humanos para o combate contra a droga devido à inclusão do Paquistão na qualidade de pais – participante, junto com o Afeganistão, Cazaquistão, Quirguízia, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão. Além disso, foi decidido estabelecer em 2011 um fundo especial de NRC para preparação do pessoal de terra afegão, bem como compra de peças de reposição para manutenção de helicópteros russos. A Cimeira NRC em Lisboa confirmou a conclusão sobre o interesse significativo da NATO na ajuda da Rússia para o Afeganistão. Como resultado das decisões aprovadas em Lisboa,

соглашение о партнерстве между Афганистаном и Альянсом. Одобрено дополнительное соглашение между Россией и НАТО об обратном железнодорожном транзите нелетальных грузов, а также договоренность о расширении проекта СРН по подготовке Россией антинаркотических кадров за счет включения в качестве станы участницы Пакистана наряду с Афганистаном, Казахстаном, Киргизией, Таджикистаном, Туркменистаном и Узбекистаном. Кроме того, решено создать в 2011 г. целевой фонд СРН по подготовке афганского наземного персонала и покупке запчастей для обслуживания российской вертолетной техники. Лиссабонский саммит СРН подтвердил вывод о существенной заинтересованности НАТО в российской помощи по Афганистану. В результате принятых в Лиссабоне решений НАТО получало то, к чему настойчиво стремилось - «второе дыхание». После всего этого объективные обстоятельства и основанная на фактах логика с очевидностью диктовали ответ на вопрос – куда же

a NATO recebia aquilo que tanto procurou: “segunda

теперь идти НАТО. Хотелось натовцам того или нет,

respiração”. Depois de tudo isso as circunstâncias

но без нашей доброй воли и немалой дипломатической

objectivas e lógica, baseada nos factos, evidentemente

гибкости упомянутое «второе дыхание» у Альянса,

davam resposta à pergunta: para onde tem que ir a

ведь, могло бы и не появиться. В ходе мероприятий в

NATO agora. Gostassem os membros da NATO

Лиссабоне подтвердился факт, что без России НАТО ➤

58 • Diplomática - março/abril 2011


Pavel Petrovskiy

ou não, mas sem a nossa boa vontade e flexibili-

не в состоянии ни решать масштабные проблемы

dade diplomática considerável, a referida “segunda

международной безопасности такие как, например,

respiração” da Aliança, na verdade, poderia não

ПРО, ни эффективно бороться с новыми вызовами

aparecer. No decorrer dos acontecimentos em

и угрозами, в частности, афганским наркотрафиком.

Lisboa confirmou-se o facto, que sem a Rússia a

Цепочку компонентов, формирующих безусловную

NATO não é capaz de resolver grandes problemas

заинтересованность НАТО в России можно без труда

de segurança internacional, como, por exemplo,

продолжить, если, конечно, задаться такой целью.

sistema de defesa antimíssil, nem de lidar eficaz-

Однако было бы иллюзией полагать, что после

mente com novas ameaças e desafios, nomeada-

саммитов НАТО и СРН Альянсу не останется ничего

mente, o tráfico de drogas no Afeganistão. A cadeia

иного, как рука об руку с Россией без каких-либо

de componentes que formam interesse incondicional

шероховатостей и накладок сконцентрироваться на

da NATO na Rússia pode-se facilmente prolongar, se

новых вызовах и угрозах. Лиссабон только придал

definir essa finalidade, claro.

импульс движению в этом направлении, подготовил

No entanto, seria uma ilusão pensar, que depois das

его «пусковой механизм». Противоречия внутри НАТО

Cimeiras da NATO e NRC à Aliança não resta outra

в отношении России, к сожалению, сами собой не

hipótese senão às mãos dadas com a Rússia, sem

исчезнут. Сравнительно небольшая группа стран из

quaisquer asperezas e sobreposições, concentrar-se

числа новых членов продолжает упорно тормозить

nas novas ameaças e desafios. Lisboa apenas deu um

сближение НАТО и России. По этой причине, на

impulso ao movimento nessa direcção, preparou o seu

которую обратила внимание в своей статье «НАТО и

“mecanismo de lançamento”. As contradições dentro

Россия, новые стратегические направления» доцент

da NATO em relação a Rússia, infelizmente, não vão

Университета Минью С.Фернандеш, отсутствует

desaparecer por si. Relativamente pequeno grupo de

ясность по вопросу – как будут выстраиваться с

países dos novos membros, continua obstinadamente

нами партнерские связи и на какой уровень доверия

travar a aproximação da NATO e Rússia. Por esta ra-

мы могли бы выйти в короткой перспективе. Без

zão, pela qual chamou a atenção o Docente da Univer-

предельно точных ответов на эти вопросы заложенный

sidade do Minho S. Fernandes no seu artigo “NATO

в стратконцепция НАТО позитив может оказаться

e Rússia, novas direcções estratégicas” falta clareza sobre a questão: como se vão estabelecer as ligações de parceria connosco e até a que níveis de confian-

фикцией, а новые принципы и цели останутся благими намерениями. Со стороны России была предложена

ça poderíamos chegar a curto prazo. Sem respostas extremamente precisas a estas perguntas, o positivo depositado no Conceito estratégico da NATO pode-se tornar uma ficção, e os princípios e objectivos novos

взаимоприемлемая развязка, которая позволила бы обеспечить надлежащий уровень такого доверия. Президент Д.А.Медведев, причем еще в июне 2008 г., выступил с инициативой по заключению Договора

ficam somente como boas intenções. Da parte da Rússia foi proposta uma solução mutuamente aceitável, que permitiria garantir o devido nível de tal confiança. O Presidente D. A. Medvedev ainda em Junho de 2008 interveio com uma iniciativa de celebração dum Tratado de Segurança Europeia (EST). Em Dezembro de 2009 aos Chefes de Estado e Governos dos países interessados foi entregue o projecto russo deste documento. O sentido da iniciativa russa se encerrava na confirmação de forma juridicamente obrigatória da cadeia dos princípios dos documentos básicos do NRC e da OSCE. Antes de tudo, tratavase de segurança igual e indivisível e inadmissibilidade

о европейской безопасности (ДЕБ). В декабре 2009 г. главам государств и правительств заинтересованных стран был передан российский проект этого документа. Смысл российской инициативы заключался в подтверждении в юридически обязывающей форме ряда принципов базовых документов СРН и ОБСЕ. Прежде всего, речь шла о равной и неделимой безопасности и недопустимости обеспечения безопасности одних стран за счет других. В практическом плане потенциальным участникам договора предлагалось учредить механизм оперативных консультаций в острых ситуациях между государствами и организациями

de garantia de segurança duns países por conta dos

(НАТО, ЕС, ОБСЕ, СНГ и ОДКБ), действующими в

outros. Em termos práticos, aos potenciais participan-

сфере безопасности от Ванкувера до Владивостока.

tes do Tratado foi proposto instituir um mecanismo de

Хотя многие члены НАТО, включая Португалию,

consultas rápidas nas situações críticas entre países e

восприняли ДЕБ положительно, выйти на скорое

organizações (NATO, EU, OSCE, CIS e CSTO) que

подписание этого документа не получилось. Работа ➤

março/abril 2011 - Diplomática • 59


Para onde vai a Nato?

atuam no âmbito de segurança, de Vancouver a Vla-

по ДЕБ приобрела форму академической дискуссии

divostok. Embora muitos membros da NATO, incluindo

на целом ряде площадок, причем с упором не на

Portugal, perceberam EST de forma positiva, mas

проблематику «жесткой безопасности», к которой ДЕБ

chegar à breve assinatura deste documento não se

имеет непосредственное отношение, а в контексте

conseguiu. Trabalho sobre EST tornou-se numa forma

общей «корзины» ОБСЕ, включающей «мягкую

de discussão académica numa série de áreas, contudo

безопасность» - ее экономические, гуманитарные,

não focando no problema de “segurança rígida” com

культурные, климатические и другие аспекты. Главной

qual o EST tem a relação directa, mas sim no contexto

из дискуссионных площадок стал так называемый

de “cesto” global da OSCE, incluindo a “segurança

«корфуский процесс», начало которому положила

mole”: seus aspectos económicos, humanitários, cultu-

неформальная встреча министров иностранных дел

rais, climáticos e outros. Como plataforma principal de

ОБСЕ в июне 2009 г. на греческом острове Корфу.

discussões ficou o chamado “processo de Corfu” a que

Ход обсуждения показывает, что коллегам по НАТО

deu origem a reunião informal dos Ministros de negó-

потребуется еще какое-то время, чтобы разобраться

cios estrangeiros da OSCE em Junho de 2009 na ilha

в сути ДЕБ, понять, что ДЕБ направлен не на подрыв

grega de Corfu. O decorrer da discussão mostra que

статьи 5 Вашингтонского договора о коллективной

os colegas da NATO ainda vão precisar de algum tem-

безопасности НАТО, не на раскол между США и

po para entender a essência do EST, para perceber

Европой и вовсе не на «восстановление позиций»

que EST não está direccionado a prejudicar o artigo 5º

России в качестве сверхдержавы как считают некоторые

do Tratado de Washington sobre Segurança colectiva

политологи, а на превращение пространства от

da NATO, nem para separação dos EUA e Europa,

Ванкувера до Владивостока в регион подлинного

nem, de modo nenhum, para “restabelecimento das

доверия и стабильности.

posições” da Rússia no papel de Superpotência, como

Несмотря на то, что принятые на саммитах в

pensam alguns politólogos, mas sim para transformar

Лиссабоне документы, как и ход дискуссии, не выявили

o espaço de Vancouver a Vladivostok numa região de

принципиальных перемен в восприятии ДЕБ странами

confiança e estabilidade genuínas.

Альянса, само существование российской инициативы

Apesar do facto, os documentos aprovados nas Cimeiras de Lisboa, bem como o próprio andar da discussão não revelaram as mudanças principiais na percepção do EST pelos países da Aliança, a própria existência da iniciativa russa incentiva a NATO a se mover na única direcção certa e lógica: em direcção de aproximação com a Rússia. Sobre isso testemunha a polémica que se desenvolveu na véspera da Cimeira da NATO sobre a questão de parceria. Discutiram-se, em particular, as propostas de separar os parceiros para estratégicos e habituais. Uns consideravam o parceiro estratégico a União Europeia por causa de comunidade territorial e presença nos 28 países da NATO do 21º membro da EU, e também por causa de “valores comuns” e objectivos. Outros acreditavam, que a EU e a NATO, em geral, são quase um único organismo, no qual os recursos fluem como nos recipientes comunicantes. Ainda outros, ao contrario, questionavam abertamente a possibilidade de construir uma cooperação militar eficaz entre EU e a NATO. Entre os parceiros estratégicos também indicavam a Rússia, Índia, China

стимулирует НАТО к движению в единственном логически верном направлении – в сторону сближения с Россией. Об этом свидетельствует развернувшаяся в преддверии саммита НАТО полемика вокруг вопроса о партнерстве. Обсуждались, в частности, предложения разделить партнеров на стратегических и обычных. Одни причисляли к стратегическим партнерам Евросоюз в силу территориальной общности и присутствия в составе 28-и стран НАТО 21-го члена ЕС, а также «общности ценностей» и задач. Другие полагали, что ЕС и НАТО, вообще, почти единый организм, в котором ресурсы перетекают как по совмещающимся сосудам. Третьи, наоборот, откровенно сомневались в возможности наладить эффективное военное сотрудничество между ЕС и НАТО. Среди стратегических партнеров называли также Россию, Индию, Китай и Бразилию. Были и попытки противопоставлять Россию по важности для НАТО перечисленным странам. На многочисленных научно-теоретических семинарах,

e Brasil. Houve também tentativas de colocar a impor-

состоявшихся в Лиссабоне, высказывалось даже мнение

tância da Rússia para NATO no sentido oposto dos

о целесообразности принятия России в НАТО, что,

países referidos.

дескать, явилось бы адекватным ответом Запада на ДЕБ

Nos vários seminários científicos e teóricos, reali-

и автоматически придало бы принципу неделимости

zados em Lisboa, expressou-se ainda a opinião

безопасности юридически обязывающую силу. ➤

60 • Diplomática - março/abril 2011


Pavel Petrovskiy

de conveniência da entrada da Rússia na NATO,

Однако большинство аналитиков все же склоняется

o que, dizem, seria uma resposta adequada do

к более реалистичным подходам, отмечая отсутствие

Ocidente para EST e automaticamente dava uma

убедительной аргументации для такой постановки

força juridicamente obrigatória ao princípio de

вопроса. В частности, приводились доводы о том,

indivisibilidade da segurança. No entanto, a maioria

что в членстве России незаинтересована как она

dos analistas ainda se inclinam para uma abordagem

сама, так и натовцы, которые не хотели бы иметь в

mais realista, indicando a ausência de argumentação

Альянсе второго после США «первого среди равных»,

convincente para tal formulação da questão. Em parti-

не говоря о вполне предсказуемом противодействии

cular, alegaram, que não há interesse na participação

этому натовских «новобранцев». Окончательную

da Rússia, como da própria Rússia nem dos membros

ясность в этот вопрос внес на лиссабонской пресс-

da NATO, que não gostariam de ter na Aliança o 2º de-

конференции Д.А.Медведев, заявивший, что в

pois dos EUA “primeiro entre iguais”, não falando ainda

настоящий момент он не видит ситуации, когда Россия

na oposição previsível dos novos membros da NATO.

могла бы присоединиться к Североатлантическому

A questão final foi esclarecida pelo D.A. Medvedev na

альянсу. Однако, по словам Президента России, всё

conferência de imprensa em Lisboa, que declarou, que

меняется, меняется и Североатлантический альянс.

actualmente ele não vê a situação em que a Rússia se

И он не исключает, что может стать вопрос о нашем

poderia juntar à NATO. No entanto, de acordo com o

более тесном сотрудничестве. «Во всяком случае, -

Presidente russo, tudo muda, muda a Aliança também.

подчеркнул Д.А.Медведем, - то, что на сегодняшний

E ele não exclui, que pode-se levantar a questão da

день наши отношения стали гораздо ближе и гораздо

nossa cooperação mais próxima. “De qualquer ma-

более прозрачными, более предсказуемыми, наводит на

neira, sublinhou D.A. Medvedev, o facto que no dia

мысль о том, что их потенциал абсолютно не исчерпан,

de hoje as nossas relações tornaram-se muito mais

и сближение наших подходов по всем позициям будет

próximas e mais transparentes, mais previsíveis, leva

продолжено».

a conclusão que seu potencial não está esgotado, e

Если попытаться взглянуть в будущее, то можно с

a aproximação das nossas abordagens em todas as

определенной долей уверенности полагать, что в

atitudes vai continuar”. Se tentássemos olhar para o futuro, com alguma determinada parte de certeza podíamos dizer, que dentro da NATO, vai-se reforçar a compreensão da necessidade de construção das relações qualitativamente novas com a Rússia. O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal L. Amado, nesse sentido afirmou, que “o entendimento mútuo entre a NATO e a Rússia é muito importante no período de alta tensão geopolítica, que o mundo vai enfrentar nos próximos anos”. A melhor opção de nova construção das nossas relações é uma parceria avançada, que obteve um novo impulso na Cimeira NRC em Lisboa. O princípio básico destas relações só pode ser “segurança indivisível”, que, embora na conversa já é aceite pela NATO, não obterá imediatamente o formato do conceito juridicamente obrigatório, mas sim durante os processos de alinhamento das relações confiáveis de parceria, que não são fáceis, através de gradual ajustamento em todas as direcções da nossa cooperação. Não seria um erro de supor, que em 2011 a área mais complicada e

НАТО будет укрепляться понимание необходимости выстраивания качественно новых связей с Россией. Министр иностранных дел Португалии Л.Амаду в этой связи заявил, что «взаимопонимание между НАТО и Россией весьма важно в период высокой геополитической напряженности, с которой столкнется мир в ближайшие годы». Оптимальным вариантом дальнейшего выстраивания наших отношений представляется продвинутое партнерство, получившее новый импульс на саммите СРН в Лиссабоне. Базовым принципом этих отношений может быть только «неделимая безопасность», которая, хотя и на словах признается в НАТО, но обретет формат юридически обязывающего понятия далеко не сразу, а в ходе непростых процессов выстраивания доверительных партнерских связей, путем постепенной притирки по всем азимутам нашего сотрудничества. Не будет ошибкой предположить, что в 2011 г. наиболее сложными и напряженными сферами такой притирки станет именно ПРО, в позициях сторон

tensa deste ajustamento será exactamente o sistema

по которой пока никаких точек соприкосновения

antimísseis, sobre o qual as posições das partes por

попросту нет, а лиссабонские заявления на эту тему

enquanto não têm pontos em comum, e as declara-

представляют собой не более, чем договоренности о

ções de Lisboa sobre essa questão são nada mais do

намерениях. По словам нашего Президента, самим

que acordos de intenções. Segundo o nosso

европейцам еще «предстоит разобраться, где их ➤

março/abril 2011 - Diplomática • 61


Para onde vai a Nato?

Presidente, os próprios europeus ainda “têm que des-

место, как будет выглядеть в конечном счёте идея

cobrir, onde é o seu lugar, como é que vai ser no final

европейской противоракетной обороны, особенно

a ideia de defesa europeia antimísseis, especialmente

после того, как она будет завершена, условно говоря,

depois de ela ser concluída, supomos, até 2020. Nós,

к 2020 году. Мы, в свою очередь, должны разобраться,

por sua vez, devemos entender, onde é o nosso lugar,

где наше место, и, конечно, мы должны исходить

e, obviamente, temos que partir do facto que a nossa

из того, что наше участие должно быть абсолютно

participação deve ser absolutamente equitativa”. Nada

равноправным». Не менее сложно и болезненно будут

menos complicadas e dolorosas seriam as negociações

продвигаться переговоры между Россией и странами

entre a Rússia e os países da NATO sobre o Tratado

НАТО по ДОВСЕ с учетом того, что восстановление

CFE tendo em conta, que o restabelecimento dos re-

жизнеспособности режимов контроля над обычными

gimes viáveis de controlo de armas usuais, é baseado

вооружениями базируется на взаимных мерах доверия,

nas medidas mútuas de confiança, que exigem escru-

которые требуют кропотливого согласования. Нужны

pulosa coordenação. São necessários os compromis-

конкретные обязательства НАТО в отношении

sos concretos da NATO em relação á manifestação de

проявления сдержанности в военной сфере, в

discrição no palco militar, nomeadamente, não colocar

частности, не размещении на территории новых членов

as chamadas “forças substanciais de combate” no

так называемых «существенных боевых сил». В целом,

território dos novos membros. Em geral, os progressos

продвижение по ПРО и ДОВСЕ уже в ближайшее время

sobre sistema antimísseis e Tratado CFE já nos próxi-

будет реальным индикатором готовности натовских

mos tempos seriam um indicador real da prontidão dos

коллег к декларированному ими в стратконцепции

colegas da NATO para uma parceria verdadeiramente

подлинно стратегическому партнерству.

estratégica, declarada por eles no Conceito estratégico.

Иными словами однозначно ответить на вопрос

Por outras palavras, neste momento não é fácil

«Куда идет НАТО?» на данный момент непросто. Нет

responder duma maneira única à pergunta “para

сомнений, что в течение ближайших десяти лет Альянс

onde vai a NATO?”. Não há dúvidas, que nos próxi-

будет стремиться занять позицию ведущей мировой,

mos dez anos a Aliança vai tentar ocupar a posição

причем ядерной, структуры в сфере международной

duma estrutura de liderança mundial, além do mais nuclear, no âmbito de segurança internacional, que tem a responsabilidade de opor-se às novas ameaças, como também da regulação da crise. Não está muito claro, como nas novas condições vão funcionar na prática o artigo 5º do Tratado de Washington sobre Segurança colectiva, e artigo 4º na parte de consultas mais sólidas não só com aliados mas também com parceiros, previstas pelo Conceito estratégico. Há motivo para pensar. Ao mesmo tempo, é um facto indiscutível, que sem interacção com a Rússia não há alternativa de implementação do Conceito estratégico de Lisboa na parte de novas ameaças e desafios. Isso vai objectivamente empurrar a NATO na direcção de relações de parceria connosco. Em que formato e em que momento elas começam a ganhar força e se vão chegar ao nível de cooperação confiável, ou começa mais um recuo por quaisquer razões subjectivas, como já aconteceu varias vezes na nossa história, é melhor não adivinhar. Em qualquer caso, repetindo a ideia do Presidente D.A.

безопасности, отвечающую как за противодействие новым угрозам, так и кризисное регулирование. Не совсем понятно, как в новых условиях будут на практике работать статья 5 Вашингтонского договора о коллективной безопасности и статья 4 в части предусмотренных стратконцепцией более плотных консультаций не только с союзниками, но и партнерами. Есть над чем подумать. В то же время непреложным фактом является то, что альтернативы реализации лиссабонской стратконцепции в части новых вызов и угроз без многопланового взаимодействия с Россией не существует. Это будет объективно подталкивать НАТО в направлении партнерских отношений с нами. В каком формате и в какие сроки они наберут обороты и выйдут ли на уровень доверительного взаимодействия или начнется очередной откат по каким-либо субъективным обстоятельствам, как это было не раз в нашей истории, лучше не предугадывать. В любом случае, повторяя мысль Президента Д.А.Медведева, можно с уверенностью

Medvedev, podemos dizer com certeza, que as pro-

сказать, что масштабы и уровень взаимодействия

porções e nível de interacção dos membros NRC em

членов СРН в значительной степени будут зависеть

grande medida vão depender da evolução posterior da

от дальнейшей эволюции Альянса. Но шансы для

Aliança. Mas oportunidades para uma aproximação são

сближения все же очевидны, и упускать их было бы

evidentes, e perdê-las seria um erro imperdoável.

непростительной ошибкой. ■

Pavel Petrovskiy

62 • Diplomática - março/abril 2011



Política

Adriano Moreira

por Maria da Luz de Bragança e Jorge Urbano, fotos Ligia Correia

O último senador É absolutamente fascinante falar com este velho senhor da política portuguesa, nome referencial de pensador e professor insigne. Em conversa solta, deparasse-nos um homem sem idade, discorrendo sobre o passado e o futuro da velha Europa e do Ocidente.

64 • Diplomática - março/abril 2011


Num artigo de há cerca de vinte

tradição europeia espantosa - que é

Rússia. Porque a Rússia dissolveu-se

anos, o Professor mencionava o

a de que nenhum país tem um país

por dentro; não foi por combate ou

facto de a Europa ter falta de von-

vizinho mas sim um inimigo íntimo. É

por supremacia da aliança ocidental.

tade de poder, servindo apenas de

assim que nós vivemos.

E os ocidentais, neste momento, com

conselheira entre os japoneses e

Por isso, quando acaba a guerra de

as doutrinas que foram desenvol-

americanos. Como é que vê, neste

1939-45, os Aliados, de facto, eram

vendo, sobretudo durante a regência

momento, o papel da Europa?

os vencedores da guerra. Ou melhor,

republicana do presidente Bush, em

Acho que, nos últimos tempos, deu-

apenas não a tinha perdido. Os Esta-

que América apresenta uma atitu-

se uma mudança radical no que diz

dos Unidos, nesse momento, tiveram

de unilateralista muito diferente da

respeito à estrutura internacional - e

consciência de que são ocidentais.

solidariedade que houve durante a

que foi o desaparecimento daquilo a

Na verdade, os EUA esqueceram-

guerra, e que os europeus esquece-

que tenho chamado de” Império Eu-

se que o Oceano deles é o Pacífico

ram muito rapidamente. Mas, imedia-

romundialista”. E que começa com as

e viraram-se para o Atlântico, pelas

tamente, pensaram nas rivalidades e

descobertas portuguesas que vão es-

solidariedades e riscos que efectiva-

começou a aparecer um europeísmo

tabelecendo uma hegemonia ociden-

mente existiam. E julgo que foi come-

anti-América.

tal em todo o globo, e que assume a

tido um erro de avaliação quando se

Não interessava também, aos EUA,

sua forma na Conferência de Berlim,

fundaram as Nações Unidas.

que a Europa não ficasse toda

em 1885. Nessa última conferência

E porquê? Em primeiro lugar, porque

junta num bloco?

– que considero como um marco – o

os ocidentais é que escreveram a

Eu diria que sim. Mas, em primeiro

predomínio ocidental era evidente

carta, os ocidentais é que escreveram

lugar, eles morreram pela Europa;

e Portugal, que apesar de sofrer o

a Declaração Universal dos Direitos

segundo lugar, eles ajudaram a

Ultimato em 1890, fica como sendo o

do Homem. Os ocidentais, com o

construir a Europa, sem eles não

titular de uma parcela desse “Império

seu império, tinham uma divisão do

haveria reconstrução possível da

Euromundialista”. O tal apoio externo

mundo fácil: havia o nosso império

Europa. Mas a Europa também tem

de que nós sempre dependemos - e

e o resto do Mundo. E, portanto, a

o seu credo. E o credo da América

precisamos - desde a fundação do

organização foi vítima de um fenó-

abrange pelos menos estes pontos:

reino; ficámos participantes nesse

meno importante: as imagens duram

eles acham que são a nação indis-

império global, o que dá uma consis-

sempre mais tempo que os factos. O

pensável; a eles compete assegurar

tência muito grande à estabilidade

império pensa que ainda tem a mes-

a ordem do Mundo; o Mundo deve-se

dessa presença portuguesa, apesar

ma força nesta hora de crepúsculo. E,

organizar democraticamente pelo

de a economia ser débil e de o país

por isso, vê-se organizar a segurança

modelo americano; o Mundo deve-se

ser pequeno, da vida interna ter as

no Conselho de Segurança, onde a

organizar pela doutrina económica

complicações que sempre teve...

França e a Inglaterra têm direito de

americana; e, mesmo com a evolução

O Bispo do Porto, D. Manuel, há pou-

voto e antes não tinham qualquer

que se tem seguido com a adminis-

co tempo chamava à atenção dizen-

poder universal. De tal maneira, muito

tração de Obama, ainda não se põe

do que em 1810 foi preciso afundar o

rapidamente, o Mundo passou a ser

em causa estes princípios. Apenas a

Estado, em 1910 foi preciso afundar

governado, não pela ordem que esta-

maneira de agir se tornou diferente.

o Estado e que agora, cem anos

va marcada, mas pela ordem que os

Nós, na Europa, aquilo que fizemos

depois, talvez seja preciso o mesmo.

factos ditaram. Porque foi a NATO e

foi uma demarche galvanizada que

Mas esta circunstância da dependên-

o Pacto de Varsóvia - e a ordem que

tem interventores notabilíssimos,

cia externa que Portugal, lava a que

estabeleceram é que foi a ordem do

entre os quais, Jean Monnet. Tivé-

esse Império caia com os conflitos

Mundo. Teve a paz na Europa, mas

mos grandes doutrinadores desta

internos ocidentais, com as duas

foi um governo de metades.

ideia que os europeus não podem

guerras mundiais e, em especial, com

Nós tivemos duas Europas, duas

ser inimigos íntimos. Simplesmen-

a última Grande Guerra.

Alemanhas, duas cidades de Berlim,

te isto foi transferido para o Atlân-

Mas essa guerra só foi mundial nos

duas Coreias… E quando acabou

tico, quando começou o nascer o

efeitos, uma vez que todos os povos

esta situação chamada de Guerra

europeísmo e o americanismo. Ao

sofreram com ela. Porque, de facto,

Fria aconteceu o que se havia veri-

contrário, com aquelas doutrinas

foi uma guerra civil entre ocidentais,

ficado na última guerra mundial: os

do Neo-Conservadorismo america-

em que os responsáveis foram os

Aliados julgaram que tinham ganho,

no, do choque das civilizações, etc.

países ocidentais, porque havia uma

mas apenas não perderam contra a

E nós, aquilo que começamos ➤

março/abril 2011 - Diplomática • 65


Adriano Moreira

a fazer foi uma organização eco-

bou, a influência da Igreja diminuiu,

não sei se o Presidente é Presidente

nómica da Europa: as comunida-

o serviço militar obrigatório acabou.

das três religiões. Porque a mudança

des. Eu acho interessante quando

E o aparelho educativo ficou vazio,

foi radical. De maneira que esta mu-

no fim da vida, nas suas memórias,

recebendo o peso todo e também as

dança dos valores é fundamental. As

o Jean Monnet diz que se fosse

críticas todas.

matrizes valorativas estão todas em

hoje começaria pela Cultura e não

Outra coisa que desapareceu foi o

causa em todo o nosso Ocidente, ao

pela Economia.

valor das fronteiras geográficas na

mesmo tempo que perdemos a nossa

O que eu acho que aconteceu na

Europa. As fronteiras são hoje ape-

hegemonia. Porque se virem os dis-

Europa foi um relativismo tremendo,

nas um apontamento administrativo.

cursos que vêm depois da Conferên-

e tenho resumido esse relativismo

Depois os países tentaram ter uma

cia de Berlim, a justificar a ida para as

a este conceito: substituíram o valor

fronteira. Veja o caso de Portugal:

colónia,s falam claramente que que-

das coisas pelo preço das coisas. E

temos fronteiras geográficas que são

rem saber das matérias-primas e de

isto foi o que fez que o relativismo se

apenas apontamentos administra-

mercados para produtos acabados.

instalasse. O relativismo que se ins-

tivos, mas a fronteira económica é

Mas vão acrescentando que também

talou fez enfraquecer os valores que

a da União Europeia; a fronteira de

farão outras coisas. Nós faremos a

são valores estruturantes da Europa,

segurança é a da NATO. E, portanto,

evangelização, os franceses dizem

designadamente, a referência aos

as fronteiras multiplicaram-se. As fi-

que vão levar as luzes; os ingleses

valores religiosos.

delidades são outras e são múltiplas.

a civilização, mas não as matérias-

Parece-lhe que, paralelamente - e

Mas também a sociedade civil, que

primas e os produtos acabados. A

ao longo de todo esse percurso -,

leva tanto tempo – séculos mesmo –

Europa não tem isso, está dependen-

a Igreja perde força e passa a um

a construir, com a forma mais perfeita

te - neste momento - disso.

consultor, não tendo já mais direi-

que nós conhecemos que é a manei-

A propósito desta decadência

tos sobre as consciências?

ra das pessoas terem maior devoção,

e do estado a que isto chegou

A recusa de fazer referência aos

dedicação e solidariedade. As migra-

em termos genéricos europeus,

valores religiosos foi culpa do tratado

ções descontroladas, que a nova eco-

podemos falar de uma comissão

constitucional. O problema mais sério

nomia liberal de mercado provocou,

liquidatária que julga estar investi-

é que as estatísticas demonstram

em que as pessoas se deslocam para

da de poder para levar a cabo essa

que a declaração de pertença a uma

fugir da miséria ou da guerra, para

destruição?

Igreja institucionalizada diminui, mas

lugares que a propaganda e os meios

Não posso dizer que tenham essa

o apelo à transcendência está a

de comunicação descrevem como

consciência. O que verifico é que

aumentar. O que dá origem a estas

sendo uma sociedade rica, influente,

faltam grandes líderes como os que

organizações novas, dispersas, meio

consumista. Essa gente entrou sem

outrora tivemos na Europa. Estas

cósmicas, meio seitas.

nenhuma política de integração, de

mudanças todas estão, realmente,

É claro que a transcendência não

assimilação, e nós estamos numa

sem um projecto final. Não se pode

desapareceu, nem diminuiu. Porém,

estrutura que, por um lado, tem a

dizer que haja um projecto final para

relativizou-se. E isso é evidente não

sociedade civil, mas, por outro, tem a

a União Europeia.

apenas no geral da sociedade na

multidão - porque é um grupo infor-

A minha dúvida é se ainda pode

degradação dos valores – as fron-

me. E isso dá origem àqueles confli-

haver projecto.

teiras já não são o que eram –, mas

tos que nós conhecemos em Paris,

Muita gente tem dúvidas. Há sinais

também nas modificações da socie-

em Atenas, em Setúbal. Não há

que fazem suscitar as dúvidas. Mas

dade civil que têm sido brutais. Num

nenhum país que esteja livre disso.

devo dizer que acho que era melhor

dos meus últimos discursos disse

Dá-me a impressão que estamos a vi-

para o Ocidente se o projecto não

o seguinte: quando eu fui educado,

ver traços medievais porque vivíamos

fosse terminado. Porque ainda assim

o aparelho de ensino – que sofre

num castelo e, depois, tínhamos uns

pode haver uns apoios que são indis-

bastantes críticas actualmente – era

bairros com as várias populações: os

pensáveis para um país pequeno.

apoiado na integração que a família

bairros judeus, os bairros ciganos...

Eu acho que o grande problema des-

fazia, na integração que o pároco

Neste momento, temos uns aparta-

te mundo passa por: Primeiro passo

fazia, na integração que o exército

mentos fechados, defendidos, e os

- tomar consciência que a destruição

fazia, e o aparelho educativo depois

bairros que não conseguem entrar. O

das torres gémeas inaugura uma

dava a formação educativa necessá-

rei de Portugal foi rei das três religi-

nova época estratégica. E, sabido

ria. Neste momento, a família aca-

ões, em determinado momento. Eu

isso, a base da defesa e

66 • Diplomática - março/abril 2011


da segurança é sempre territorial.

território que precisa de segurança

um crescimento de 5 ou 6 filhos

E vem na Carta da ONU. Quando se

não agressiva. Mas só essa. E isso

por casal…

fez a NATO foi com base na Carta da

chama-se Ocidente. E, por isso

Há uma coisa importante: esse mo-

ONU. O espaço que, neste momen-

mesmo, penso que é preciso integrar

vimento migratório para a Europa foi

to, precisa de segurança chama-se

a segurança do Atlântico Norte com

muito determinado por uma imagem

Ocidente - e as torres avisaram que o

a segurança do Atlântico Sul. E essa

falsa de uma sociedade de opulência

Ocidente precisa de ter uma segu-

segurança do Atlântico Sul – que

e consumismo que abrangia toda

rança estável. Neste momento, no

não é todo Ocidental – deve ser uma

a gente; e não foram devidamente

mar, volta a haver pirataria, tráfico

segurança integrada. E julgo que o

protegidos em termos jurídicos - e

de armas, etc. E, por isso, tem-me

Brasil pode e deve ter um grande

foram largamente explorados. E

parecido que a questão já não é o

papel na democracia.

o facto de ter havido intervenções

Atlântico Norte, a questão não é a

Falando de fronteiras, há um risco

gravíssimas por parte dos árabes,

NATO, não é – como foi a lógica da

de a Europa implodir e, por outro

não quer dizer que todos eles sejam

Conferência de Lisboa –, substituir as

lado, há um problema demográ-

partidários da violência. Nós temos

fronteiras geográficas pelas fronteiras

fico de crescimento negativo, ao

uma organização fundada por um

dos interesses. É preciso definir o

mesmo tempo que os árabes têm

muçulmano estrangeiro, em Évora, para a defesa da paz - que recebeu

O rosto da notícia

o título de Doutor honoris causa pela

Adriano Moreira é um estadista, político, deputado, advogado, jurisconsulto, internacio-

Universidade de lá.

nalista, politólogo, sociólogo e professor. Destacou-se pelo seu percurso académico e

Agora, há uma grande debilidade das

pelo seu historial antes de se tornar ministro do Ultramar durante o Estado Novo. Foi

sociedades altamente dependentes

também Presidente do CDS (1986-1988)

da técnica é evidente. Estas preci-

Aluno brilhante, licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, em 1944, possuindo o doutoramento na mesma área, pela Universidade Complutense de Madrid.

sam cada vez mais de gente muito

Desempenha funções de Professor - na área de Relações Internacionais - no Instituto

qualificada e, cada vez mais, de me-

Superior Naval de Guerra, na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, na Pon-

nos gente. É preciso que a Economia

tifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, na Universidade Aberta e na Universida-

cresça de maneira a que sustente

de Católica Portuguesa. É Professor Emérito da Universidade Técnica de Lisboa.

as necessidades de menos gente. O

É ainda Professor Honorário da Universidade de Santa Maria. Doutor Honoris Causa pela Universidade Aberta, Universidade da Beira Interior, Univer-

que não tem acontecido.

sidade de Manaus, Universidade de Brasília, Universidade de São Paulo, Universidade

O que acontece é que quem so-

do Rio de Janeiro e Universidade da Bahía.

fre, primeiramente, é essa gente

Membro da Academia Brasileira de Letras, da Academia Pernambucana de Letras,

que emigrou. E é por isso que sou

da Academia Internacional de Direito e Economia de São Paulo, da Academia Internacional da Cultura Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa, da Academia de Marinha, da Academia de Ciencias Morales y Politicas de Madrid e da Academia

completamente contra que – apesar da nossa falta de recursos – desapa-

Portuguesa de História.

reça o Estado Social ou a ONU, que

Curador Honorário da Fundação Oriente e actual Curador da Universidade Cândido

também tem um papel social impor-

Mendes.

tante. A ONU tem uma coisa que se

Presidente honorário da Sociedade de Geografia de Lisboa, preside e fundou a Academia Internacional da Cultura Portuguesa, preside internacionalmente ao Centro Euro-

chama Plano das Nações Unidas

peu de Informação e Documentação (CEDI), preside ao Conselho de Fundadores do

para o Desenvolvimento (PNUD)

Instituto D. João de Castro, preside à assembleia-geral da Associação Portuguesa de

que, no fundo, é um plano social. O

Ciência Política e ao Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior (desde 1998).

plano social não é um imperativo, é

Foi co-fundador do Movimento da União das Comunidades de Língua Portuguesa.

um princípio. Há uma diferença entre

Membro do Instituto de Estudos Políticos de Vaduz, do Movimento Paneuropa de Coudenhouve-Kalergi, do Conselho da Fundação Luís Molina da Universidade de Évora,

imperativo e princípio: o princípio

Director do Centro de Estudos Políticos e Sociais da Junta de Investigação Científica

deve ser caridoso na medida que se

do Ultramar.

possa. O Estado Social é na medida

Foi condecorado com a Medalha de Mérito Cultural, a Medalha da Defesa Nacional

em que nós podemos. Agora deitá-lo

de 1ª classe, a Medalha do Exército de D. Afonso Henriques de 1ª classe, a Medalha Militar de Serviços Distintos grau ouro da Marinha, Medalha de Mérito Aeronáutico, a

fora é deitar a esperança pela janela.

Royal Victorian Order, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada, a Grã-Cruz

A doutrina oficial da Igreja, aí, coin-

da Ordem de Isabel a Católica, a Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul, a Grã-Cruz

cide com a doutrina do socialismo

da Ordem Militar de Cristo e a Grã-Cruz da Ordem de São Silvestre Magno.

democrático. Esta circunstância é um

É Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e Cavaleiro da Grã-Cruz da Ordem

enormíssimo desafio para a paz civil

de África.

na Europa.

n

março/abril 2011 - Diplomática • 67


Viagens de Estado

2010 assinala recorde no volume de negócios Entre a China e os países lusófonos

Brasil, Angola e Portugal – por esta ordem – lideram as trocas comerciais entre os países de língua portuguesa e o gigante asiático, tendo como entreposto a Região Especial de Macau Lisboa, 28 Fevereiro - O volume do comércio entre a República Popular da China e os países lusófonos, através da Macau, atingiu o número record de 91,423 bilhões de dólares no ano transacto, registando um aumento homólogo de 46,35 por cento. Em matéria de importações, a China comprou mercadorias dos países de língua portuguesa no valor de 61.858 bilhões de dólares e exportou para estes, nomeadamente, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Timor Leste e São Tomé e Príncipe, qualquer coisa como 29.564 bilhões de dólares de mercadorias. O Brasil é o principal parceiro lusófono da China, sendo que o comércio ascendeu a 62.58 bilhões de dólares, concernentes a importações brasileiras no valor de 38.086 bilhões de dólares e exportações para a China que rondam os 24,462 bilhões. Em segundo lugar surge Angola, com trocas comerciais no valor de 24,816 bilhões de dólares, em linha das importações angolanas de 22,812 bilhões e exportações para a China de 2,004 bilhões de dólares. Portugal surge na terceira posição, com umvolume de importações na ordem dos 754 milhões de dólares, tendo exportado para a China mercadorias no valor de 2,513 milhões de dólares. ■ Fotos: Ricardo Oliveira - GPM

68 • Diplomática - março/abril 2011

Sócrates em Macau: uma presença que revela a importância da região para a Lusofonia


Viagens de Estado

Cimeira Ibero-Americana Portugal fez-se representar ao mais alto nível

Na despedida, Lula da Silva estendeu a mão na ajuda ao “país irmão”

A XX Cimeira Ibero-Americano de Novembro passado, realizada em Mar del Plata, Argentina, frustrou algumas expectativas, nomeadamente, pela ausência dos Chefes de Estado da Venezuela, Bolívia, Cuba, Nicarágua – países dissonantes da orientação oficial destas cimeiras que, em abono da verdade, se poderá dizer terem perdido a importância de outrora. De qualquer modo, a cimeira na Argentina foi marcada pela saída de funções de Lula da Silva e a dupla representação de Portugal, com as presenças do presidente Cavaco Silva e do primeiro-ministro José Sócrates – uma situação que não é alheia ao facto de a cimeira de 2009 se ter realizado em Lisboa. Circunstância, aliás, tida em conta pela organização argentina que colocou Cavaco a discursar no acto inaugural, antecedendo a Chefe de Estado da Argentina, Cristina Kirchner. De realçar as declarações do então presidente Lula da Silva - entretanto substituído por Dilma Rouseff - no próprio espaço da Cimeira, que não deixou indiferente a delegação portuguesa. E que, segundo se consta, levou a que José Sócrates tenha sido o primeiro estadista a encontrar-se com a actual presidente brasileira, um dia depois da sua tomada de posse… Lula foi muito claro ao afirmar que o Brasil irá fazer “o esforço que estiver ao seu alcance” para ajudar Portugal a sair da crise, sublinhando que “embora Portugal e Espanha estejam a viver um momento adverso nas suas economias, são dois países que têm uma estrutura estável do ponto de vista social”, rematando que “esta crise é passageira”, mas não deixando de fazer um alerta para a Europa “tomar cuidado, os países mais ricos devem ajudar os países menores”.

Fotos: Ricardo Oliveira - GPM

março/abril 2011 - Diplomática • 69



perfil

Dilma Rouseff Uma mulher de garra

Com um percurso verdadeiramente notável, esta mulher que iniciou a sua carreira de “presidenta” no início do ano, é uma política de mão cheia que viveu de perto todas as alterações que o Brasil sofreu nas últimas décadas.

março/abril 2011 - Diplomática • 71


Dilma Rouseff

Dar continuidade às promessas

mormente desde a constituição da

eleitorais - e conseguir a aprovação

CPLP, encontrado pontos de apoio

de inúmeras leis que anunciou na

e colaboração. E mesmo na questão

campanha eleitoral - não vai ser ta-

da imigração – onde no passado se

refa difícil para Dilma Rousseff, pois

verificaram pólos de atrito -, a con-

possui ampla maioria no Senado e

fluência de pontos de vista tem agili-

na Câmara de Deputados.

zado os processos de legalização e

Mas o governo de Dilma, tal como

integração de um lado e de outro do

o de Lula, vai ter de enfrentar ques-

Atlântico.

tões muito sérias, como o tráfico de

Sinal do bom relacionamento entre

influências e a corrupção – velha

os dois países foi a circunstância

gangrena que corrói a sociedade

de, logo no dia a seguir à tomada de

brasileira.

posse de Dilma, o primeiro-ministro

Outra questão que desperta a curio-

José Sócrates se ter reunido com a

sidade de observadores e analistas

nova residente do Palácio do Pla-

é o quadro de relações e prioridades

nalto - uma iniciativa de Sócrates,

a estabelecer no domínio da política

acolhida favoravelmente por Dilma.

externa, atendendo a que o Brasil

Contrariando rumores de que o

é um dos países que pertence ao

governo português pretenderia que

número das nações emergentes, de

o Brasil adquirisse os títulos da

que também fazem parte a Rússia, a

dívida externa, Sócrates enfatizou

Índia e a China. Irá Dilma dar con-

que as relações com o “país irmão”

tinuidade à estratégia de Lula, co-

são prioridade da política externa de

locando o Brasil como protagonista

Portugal. “Reafirmei que uma das

activo da cena internacional, de que

prioridades mais altas da política

foram exemplos as intervenções do

externa portuguesa é a relação com

ex-presidente nos conflitos do Haiti

o Brasil. Disse à Dilma que pode

e das Honduras e na tentativa de

contar com Portugal como o mais fiel

mediação com o regime iraniano?

e mais próximo aliado naquilo que

Tudo leva a crer que sim. Apesar da

vai ser, certamente, a caminhada do

sua pouca experiência em matéria

Brasil para ocupar o seu espaço no

de política internacional, Dilma conta

concerto das nações, tanto na ques-

com uma equipa de colaboradores

tão geopolítica como na dimensão

experimentados, muitos deles trans-

económica”, afirmou Sócrates, após

feridos da anterior administração.

o encontro.

E, como é evidente, poderá sempre

Mais recentemente, a “presidenta”

contar com o apoio de Lula, a sua

recebeu o ministro português dos

experiência e o prestígio internacio-

Negócios Estrangeiros. Luís Amado

nal de que é credor.

debateu com Dilma a Economia da

Portugal/Brasil: Relações entre “ir-

Europa e a crise que alastra cada

mãos”

vez mais no Médio Oriente. Em

As relações luso-brasileiras são,

Brasília, num encontro sem agenda

secularmente, reconhecidas como

política, e que durou mais de uma

de grande cordialidade e de apoio

hora, Amado aproveitou para ter

nos mais diversos sectores. Econo-

“uma longa conversa, na qual ela

mia, Cultura e Educação são áreas

[Dilma] estava muito interessada em

em que os “países irmãos” têm,

conhecer a realidade, a situação

72 • Diplomática - março/abril 2011


Dilma com Sócrates e com sua filha Paula Irá Dilma dar continuidade à estratégia de Lula, colocando o Brasil como protagonista activo da cena internacional, de que foram exemplos as intervenções do ex-presidente nos conflitos do Haiti e das Honduras e na tentativa de mediação com o regime iraniano?

março/abril 2011 - Diplomática • 73


Dilma Rouseff

Um pouco de história Dilma Rousseff nasceu em Minas Gerais há 62 anos, no seio de uma família de classe média-alta. O pai era de origem búlgara e a mãe, brasileira de nascimento, professora de profissão. A jovem Dilma estudou até aos 16 anos em escolas privadas em Belo Horizonte, altura em que mudou para uma escola pública e se começou a movimentar junto de grupos de esquerda. O golpe de estado que abalou o Brasil em 1964 acabou por se revelar como um ponto de viragem para muitos dos colegas e amigos de futura “presidenta”. Embora contasse apenas 17 anos, não demorou a declarar a sua oposição aos militares, sendo que quanto mais os anos passavam mais a sua actividade contra o governo dos generais se reforçava. Em 1967, já estudante universitária de Economia, associou-se a um grupo de resistentes, sendo que em 1969, devido às suas acções, já se encontrava a trabalhar clandestinamente sob diversos pseudónimos. Em 1970 foi presa em São Paulo e torturada. Permaneceu atrás das grades durante três anos e, em 1973, quando foi libertada, mudou-se para o Rio Grande do Sul. Terminou a sua licenciatura em Economia na Universidade Federal e casou com Carlos Araújo, um guerrilheiro durante a ditadura que mais tarde se veio a tornar político, e com quem teve uma filha. Dilma trabalhou a favor da lei da amnistia e ajudou a fundar o PDT (Partido Democrático Trabalhista) que, na primeira eleição em que participou, tentou eleger Leonel Brizola para presidente, ao mesmo tempo que ocupava as funções de secretária municipal das Finanças. Em seguida, entre os anos de 1991 e 1993, foi-lhe atribuído o cargo de presidente da Fundação Económica e Estatística, tendo colaborado também o ministério da Energia, Minas e Comunicações. Quando Luiz Inácio Lula da Silva chegou à presidência, em Janeiro de 2003, Dilma foi nomeada ministra das Minas e Energia e, mais tarde, em 2005, acedeu ao posto de ministra da Casa Civil.

do nosso país, a situação europeia,

este adquiriu – muito por acção do

sobretudo, e a situação internacional

ex-presidente Lula – no contexto

com o desenvolvimento da crise no

geoestratégico, reside de igual modo

Médio Oriente”, afirmou o ministro.

na intenção de Sócrates em relançar

A prioridade definida pelo primeiro-

a CPLP – afirmando-a como orga-

ministro, no que toca às relações

nização de relevância internacional

com o Brasil, decorrendo natural-

–, desejo particularmente partilhado

mente da crescente importância que

quer pelo Brasil, quer por Angola.

n

Fotos: Ricardo Oliveira - GPM

74 • Diplomática - março/abril 2011


Visitas de Estado

III Cimeira Luso-Argelina Tecnologias da informação e comunicações no centro do conclave

Os dois Primeiros Ministros da Argélia e Portugal

Uma nova fase de cooperação

ainda, “aprofundar a cooperação lu-

entre Portugal e a Argélia marcou

so-argelina em áreas onde existe já

os trabalhos da III Cimeira Luso-

uma importante relação, com vista à

Argelina que, no início de Novem-

consolidação das relações económi-

bro, reuniu em Oeiras os primeiros-

cas e financeiras e à promoção do

ministros de Portugal e da Argélia,

investimento bilateral e das trocas

respectivamente José Sócrates e

comerciais”.

Ahmed Ouyahia. As tecnologias de

Os dois países já realizaram duas

informação e a comunicação foram

outras cimeiras, neste caso em

o tema deste terceiro encontro, o

Argel, em Janeiro de 2007 e Junho

que, segundo o governo português

de 2008. E assinaram, em 2005, o

“revela a vontade mútua em apro-

Tratado de Boa Vizinhança, de Ami-

fundar a cooperação num domínio

zade e Cooperação, para além de

importante e onde há um grande

terem trocado experiências sobre

potencial de colaboração”.

questões bilaterais e internacionais,

Para além do tema de fundo, os

em encontros sectoriais no âmbito

promotores da cimeira esperam,

das anteriores cimeiras.

Fotos: Ricardo Oliveira - GPM

março/abril 2011 - Diplomática • 75


Cultura

Ana Paula Laborinho Presidente do Instituto Camões por Jorge Urbano Tavares Rodrigues, fotos Ligia Correia

«A causa da língua deve ser partilhada por todos nós» É uma “militante” do português. Esta é, sem dúvida, a grande causa da sua vida e motivo de orgulho. Em Macau ou na sede do Instituto, em Lisboa, Ana Paula Laborinho tem na língua de Camões razão maior que a anima.

76 • Diplomática - março/abril 2011


A sua [e nossa] pátria é a língua,

na minha vida. A minha formação

que veio a ser determinante para o

neste caso, de Camões. Se pode-

dominante é a literatura, mas quando

crescimento do número de falantes.

mos dizer assim, que significado

por razões familiares fui parar a Ma-

O que se passava em Macau, no final

isto tem?

cau, tive a incumbência de coordenar

dos anos 80, é que o português era

Considero que hoje em dia - e feliz-

os leitorados de português na Ásia.

ainda ensinado como língua mater-

mente para nós - a língua portuguesa

Nessa altura, apesar de, como disse,

na a uma população que já não a

já não é apenas a língua de Camões.

o meu mundo ser o da literatura, eu já

falava e que, portanto, já era alheia a

É a língua de numerosos poetas e

tinha uma relação com o ICALP (Insti-

essa língua. Fizemos a transição da

muitos deles espalhados pelo mun-

tuto de Cultura e Língua Portuguesa)

abordagem do português como língua

do. E isso dá-lhe uma dimensão e,

– pois era dirigido por um professor

materna para o português como

poderei dizer também, uma coloração

da minha Universidade, o Professor

língua estrangeira, construindo um

que a enriquece. Se recuarmos ao

Fernando Cristóvão -, e essas coinci-

projecto – em que esteve muita gente

séc. XVI e ao primeiro período da

dências levaram a que começasse a

envolvida – de internacionalização do

expansão da língua em que o por-

desbravar neste terreno e me fosse

português. A partir da sua oferta como

tuguês se estava a afirmar, quando

apercebendo das possibilidades que

língua estrangeira e como língua inter-

ainda se estava na transição do latim

oferecia.

nacional houve, de facto, uma imensa

para o português, já João de Barros

Aproveito a oportunidade, aliás, para

expansão do português, quer em

chamava a atenção para o facto de o

prestar homenagem aos anteriores

Macau, quer na China. E não posso

português se estar a enriquecer com

presidentes desta casa e, nomeada-

deixar de assinalar que quando eu saí

palavras das várias línguas com que

mente, ao Professor Fernando Cris-

de Macau, em 2002, apesar do núme-

ia contactando. «Chatinar», «ve-

tóvão que teve, de facto, uma visão

ro de falantes que existia a aprender o

niaga», por exemplo, são palavras

de expansão da língua para além do

português como língua estrangeira ser

que se cruzavam nos caminhos das

que eram os destinos habituais. Até aí

significativo, ainda só havia na China

nossas viagens. Por isso essa sempre

a nossa presença estava concentra-

quatro universidades onde se ensina-

foi uma grande componente de enten-

da essencialmente na Europa, e ele

va a nossa língua. Neste momento,

dimento da nossa língua com outras

desenvolveu uma política de expan-

há dezassete.

línguas. Línguas em que a nossa

são para África, para a Ásia e para o

O que se espera dessa «ofensiva»?

deixou muitas marcas. Línguas como

Brasil, que se tornou muito significati-

Este é um movimento que se desen-

o japonês ou o anamita, a língua do

va. Recordo que um dos seus projec-

volve em duas vertentes. Uma que diz

Vietname, que hoje se sabe ter sido

tos - que nunca conseguimos pôr de

respeito a quem tem responsabilida-

romanizada pelos portugueses que

pé - era ter um leitorado português

des na divulgação da língua; e outra

deixaram nessa língua os mesmos

em Ceilão, no Sri Lanka. Foi ele que

que tem muito a ver com os interes-

sinais diacríticos da nossa língua.

começou essa expansão para a Ásia.

ses dos países em relação às eco-

Falou no Oriente, em particular

Ora, a Ásia, que hoje é vista por

nomias emergentes. É, por exemplo,

no Vietname. Sei que esteve em

muitos como um destino privilegiado

o caso da China, cujo interesse por

Macau e que foi uma das respon-

da e para a nossa economia, tem uma

Angola e pelo Brasil está a despoletar

sáveis, durante a transição, e que

componente cultural muito importante

o crescimento do português. Os chi-

conhece muito bem o Oriente sobre

para o desenvolvimento de projectos

neses têm como princípio enviar para

o qual tem vários estudos muito

e negócios. Para os chineses, antes

esses países técnicos que dominem a

interessantes. Poderá falar-nos

de se fazer um negócio, é necessário

língua do país de acolhimento. E, por-

um pouco dessa área, em termos

que as partes se sentem à mesa para

tanto, fazem uma formação acelerada.

de como a sua história se prende

conversar e para comer uma refeição

Posso dizer-lhe que, neste momento,

pouco ou muito - dir-me-á - com a

em conjunto, ou seja, para se conhe-

as formações em português são muito

especificidade, vocação e essência

cerem. E a cultura pode tornar-se um

procuradas na China porque não há

do Instituto, mas também do papel

facilitador de outros projectos, nome-

desemprego. Pelo contrário, antes de

que Portugal pode desempenhar,

adamente na área económica que

estarem formados, já têm trabalho ou

pela língua e não só - em termos de

tanto nos interessa.

propostas de trabalho.

Oriente (agora que se fala tanto da

Quando fui para Macau, no final da

Encontramos este movimento de ex-

China). Depois, já iremos ao Brasil.

década de 80, estava a desenvolver-

pansão do português na China, mas

Foi meramente por acaso que as

se um trabalho notável no domínio da

também no Japão onde há cinquenta

questões da língua se atravessaram

língua e a fazer-se uma passagem

e sete universidades a ensinar ➤

março/abril 2011 - Diplomática • 77


Ana Paula Laborinho

português e quase sem cooperação

cendo, passou por diferentes missões

cia, Tecnologia e Ensino Superior

portuguesa ou brasileira. Tudo é feito

e, por isso, distintas competências.

integra o nosso Conselho Estratégico,

por iniciativa do Japão, e nós apenas

Chegou a ter um papel relevante na

servindo a nossa acção para fomentar

facilitamos pontes entre as universi-

difusão da língua e da cultura portu-

a ligação entre universidades estran-

dades onde se ensina o português.

guesas, bem como no apoio à inves-

geiras e portuguesas - o que também

Claro que esta expansão da língua

tigação, não só no estrangeiro como

pode contribuir para a internacionali-

mostra como há uma percepção

também em Portugal. Hoje, felizmen-

zação das nossas universidades. No

internacional do valor do português.

te, estamos longe desse momento.

nosso Conselho Estratégico estão

Poderíamos dizer que é por causa

Primeiro, porque já temos instituições

igualmente representados o Ministério

do Brasil, de Angola e dos países

específicas para o apoio à cultura mas

da Cultura, com o objectivo específico

africanos em geral, mas não é assim.

também à investigação, como a FCT

de fomentar a internacionalização da

Nós temos notado – é também o caso

que tem um papel muito relevante;

cultura portuguesa; e o Ministério da

da China e do Japão – que há um

e, por isso, nós agora podemos ser

Educação que partilha connosco res-

interesse muito claro em aprender a

mais profissionais nesta competência

ponsabilidades em relação ao portu-

língua, em Portugal. Os chineses com

para a expansão do português. Já não

guês nos ensinos básico e secundário

o seu pragmatismo costumam dizer

nessa estrita perspectiva de apoio à

no estrangeiro.

que, em termos de negócios, estão

investigação – o que não quer dizer

Mas, de facto, a definição da nossa

interessados em todos os países de

que não a mantenhamos –, porque

estratégia passa pelo MNE no sentido

língua portuguesa, mas ao nível das

hoje temos vários perfis para a nossa

de estabelecer os blocos regionais

aprendizagens têm um gosto em se

intervenção. Nas universidades, o

prioritários. E à cabeça está, natural-

formar em Portugal. E nós devemos

perfil da investigação é importante

mente, a CPLP que, não sendo um

aproveitar esta escolha.

e, nesse sentido, apoiamos as cáte-

bloco regional, permite ser o ponto de

Hoje em dia, o entendimento de quem

dras de português e, através delas, a

articulação a partir do qual intervimos

deve promover o português é alar-

investigação.

nas diferentes regiões. Entendido

gado a toda a CPLP e não apenas a

Outra componente é a do desenvol-

como espaço da língua portuguesa

Portugal e ao Brasil. Felizmente dei-

vimento e promoção da língua. Uma

constitui um importante objectivo de

xou de existir rivalidade com o Brasil

coisa são os estudos portugueses

intervenção porque nesse espaço

no domínio da língua. Chegou a haver

outra é a expansão da língua. E,

plural partilhamos a língua e cruzamos

em tempos em que se estava um

desse ponto de vista, o que nós, neste

culturas, mas também construímos

brasileiro a ensinar numa universidade

momento, estamos a fazer é uma

progressivamente relações económi-

estrangeira, tentava-se colocar um

intervenção por blocos regionais. Esta

cas como se constata pelos valores

português para equilibrar. Pelo contrá-

intervenção não deixa de estar muito

das trocas comerciais com os países

rio, o que cada vez mais temos é uma

alinhada com o Ministério dos Negó-

da CPLP.

perspectiva conjunta e, se possível,

cios Estrangeiros (MNE) que, por sua

Um bloco regional relevante, que

desenvolver este plano para a interna-

vez, também tem vindo a incorporar

exemplifica o que acabo de expor é

cionalização com todos os países da

um conceito mais alargado de diplo-

o espaço Ibero-Americano que tem

CPLP. Esse será o objectivo.

macia: não apenas a diplomacia no

como pólo o Brasil e a sua relação

Essa internacionalização ou glo-

seu sentido mais substantivo, mas

com os países do Mercosul, repre-

balização da língua portuguesa,

também a diplomacia económica e

sentando, no seu conjunto, espaços

juntamente com Brasil e Angola,

a diplomacia cultural. Nesse sentido,

de afirmação do português e do

permitirá a Portugal expandir-se

a acção do Instituto Camões está

espanhol, o que, por sua vez, permite

nessa componente. Na prática toda

alinhada com os diferentes objectivos

enquadrar a relação de proximidade

a CPLP, uma vez que não somos

do Ministério dos Negócios Estrangei-

entre Portugal e Espanha. A Espanha

só europeus.

ros e as suas áreas privilegiadas de

é efectivamente um parceiro impor-

E esse é talvez um dos nossos princi-

intervenção, não deixando – e julgo

tante, um parceiro económico mas

pais activos. Uma barra de ouro muito

que essa é uma grande mais-valia

também é, de toda a Europa, o país

valiosa. Acho que devemos tratar da

introduzida pela nova lei orgânica

onde o português mais se expande e

melhor maneira este produto, mesmo

do Instituto Camões – de articular os

mais tem uma representação como

como produto de venda.

objectivos do MNE com os objectivos

língua internacional.

O Instituto Camões, nos vários for-

da ciência e do ensino superior e,

Queria ainda sublinhar, por um lado, o

matos e designações que foi conhe-

nesse sentido, o Ministério da Ciên-

bloco constituído pelo Magrebe, que ➤

78 • Diplomática - março/abril 2011


estenderia ao Médio Oriente, com

económico participado por nós.

tecnologias, faz com que o português,

o qual temos relações privilegiadas,

Uma outra área significativa é a Ásia.

como uma das línguas internacionais,

sendo um espaço que acolhe muito

A Ásia está a impor-se cada vez mais

seja também uma língua procurada.

bem o português, quer por tradição

como uma região economicamente

No entanto, onde o crescimento é

histórica, quer por relações de proxi-

interessante. É claro que é longínqua

cada vez mais significativo é, como

midade - o que também se traduz na

e o volume de negócios ainda é es-

disse, na China e no Japão.

sua relevância em termos económi-

casso, mas há interesse por parte de

E não queria deixar de sublinhar o

cos. Por razões que se prendem com

Portugal em desenvolver esses laços,

papel de Macau. O governo central

a CPLP, destaco também a África

até porque, como comecei por dizer,

da China, já depois do meu regresso

Subsariana onde cada vez mais os

são países que privilegiam e valori-

em 2002 – e muito foi feito antes por

países que fazem fronteira com paí-

zam positivamente a relação histórica

aqueles que trabalharam na transição

ses de expressão portuguesa estão a

e, por isso, temos de aproveitar as

de Macau para a China –, declarou

introduzir o português como segunda

relações que mantemos quer com a

Macau como plataforma das relações

língua, ao nível do ensino secundário

Índia, quer com o Sudeste Asiático,

económica, cultural e linguística com

(e pedem-nos apoio, naturalmente),

além da China e do Japão.

os países da CPLP. Portanto o go-

porque têm interesse em estabelecer

A Índia é um país onde esses laços

verno central reconhece Macau como

negócios com os PALOP.

históricos são mais difíceis de tratar.

base de formação do português e

É o caso da Guiné que quer aderir

Mas Goa continua a ser uma região

tem valorizado esse papel. As nossas

à CPLP?

onde o português e a cultura por-

relações com Macau e com a China

Da Guiné, mas também do Senegal,

tuguesa estão presentes, onde os

devem ser muito acarinhadas.

onde temos uma grande expansão

próprios cidadãos valorizam a cultura

Permitam-me terminar referindo o blo-

do português e, por isso, a África

portuguesa e nós continuaremos a

co regional mais difícil, embora seja

Subsariana merece uma atenção

trabalhar no sentido de responder às

aquele que, ao mesmo tempo, mais

muito particular. É o caso da África

solicitações. Temos, cada vez mais,

nos desafia: a Europa. E separaria

do Sul, onde há uma comunidade

pedidos da Índia para oferta de portu-

aqui a Europa comunitária e a Europa

portuguesa significativa. A África é,

guês. Se o país com o qual coopera-

não comunitária. Mas falemos em

por isso, um bloco importante onde

mos valoriza a tradição histórica, nós

termos gerais da Europa. Em geral,

queremos expandir a nossa inter-

também temos que a valorizar, se o

os países de Leste trazem do seu

venção mas, sempre que possível,

país não a quer valorizar não somos

passado soviético uma tradição de

de forma articulada. Podemos e

nós que o devemos fazer. É o caso da

relações com África e os movimentos

queremos trabalhar em conjunto. Por

Índia. Esta atenção ao outro também

de libertação, pelo que revelam bom

exemplo, os países da CPLP, que

faz parte do que entendemos por

domínio do português e conservam

têm os seus próprios professores,

diplomacia cultural.

grande interesse linguístico e cultural

podem enviá-los para os países vi-

Queria acrescentar que, a propósito

por Portugal. E isso é muito visível

zinhos que querem aprender portu-

da Índia, o facto de cada vez mais ser-

nos pedidos que nos fazem e na qua-

guês, mesmo que seja num esforço

vir de interface mundial no âmbito das

lidade de ensino que oferecem. ➤

Retrato breve ANA PAULA LABORINHO Nasceu em 26 de Abril de 1957. É professora auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde entrou como docente em 1982, e actual Presidente do Instituto Camões. Foi, em 1988, requisitada à República Por-

«A globalização da língua

tuguesa pelo Governo de Macau para exercer funções no Instituto Cultural de Macau,

portuguesa é um dos nos-

onde coordenou os Leitorados de Português do Oriente; dirigiu o Departamento de

sos principais activos. Uma

Formação e Investigação e instalou os Serviços Culturais das Embaixadas de Portugal em Nova Delhi, Bangkok, Pequim, Seul e Tóquio. Em 1989, integrou a comissão

barra de ouro muito valiosa.

instaladora do Instituto Português do Oriente (IPOR), instituição encarregada de pro-

Acho que devemos tratar da

mover a língua e a cultura portuguesas da Índia ao Japão. De 1989 a 1992, exerceu

melhor maneira este produ-

funções no Departamento de Estudos Portugueses da Universidade de Macau, onde

to, mesmo como produto de

integrou a respectiva comissão directiva. Em 1995, assumiu funções como assessora

venda»

do Gabinete do Secretário Adjunto para a Comunicação, Turismo e Cultura do Governo de Macau. De 1996 a 2002, exerceu funções como presidente da direcção do Instituto Português do Oriente (IPOR), tendo assegurado o período de transferência da administração de Macau (de Portugal para a República Popular da China).

n

março/abril 2011 - Diplomática • 79


Ana Paula Laborinho

Aquele corpo europeu que antiga-

na sua formação.

do acordo ortográfico, talvez por ter

mente era o único com que lidáva-

Queremos, pois, que o português

trabalhado no estrangeiro. Tenho

mos – estou a falar de França, da

entre nos sistemas de ensino locais,

consciência de que é uma ferramenta

Alemanha… - essa Europa centrada

que não seja entendido como língua

muito útil para a internacionalização

em Bruxelas e na União Europeia, é

da minoria e tenha o lugar a que tem

do português. Era sempre muito difícil,

uma Europa que, não podemos de

direito, a par das outras línguas euro-

em termos do ensino do português,

deixar de o dizer, valoriza muito pouco

peias. Porque, de facto, o português

termos turmas onde se ensinava uma

o português.

é uma língua da globalização e tem

grafia e turmas onde se ensinava

E a tendência é para continuarem a

que ser reconhecida nesse plano de

outra. É um bom instrumento embora

não o valorizar?

língua global.

talvez se tivesse podido avançar um

Nós não vamos desistir de reivindicar

Devo-lhe dizer que, infelizmente,

pouco mais. Mas é notável que tenha-

para o português o lugar a que tem

estive a conversar com a Euronews e

mos chegado a esse ponto.

direito.

eles continuam a achar que o por-

Em termos de curto e médio prazo,

Pode ser um bom pretexto, já que

tuguês é uma língua minoritária. E,

há algum objectivo concreto que

não nos reconhecem importância

parece impossível, mas não acreditam

queira alcançar com o Instituto?

para nos darem «autorização e li-

que seja a terceira língua na Europa.

Esse objectivo tem muito a ver com

berdade» de movimentos nas áreas

Em termos de línguas globais é a

esta estratégia por blocos regionais,

atlânticas e outras…

terceira língua. E, no entanto, o portu-

para a língua mas também para a

Se calhar, quanto mais nós apostar-

guês mantém um lugar minoritário na

acção cultural. Nós temos o mundo

mos noutras regiões mais poderá ser

Europa e, portanto, torna-se evidente

inteiro onde nos movemos, queremos

claro para a Europa a importância do

que temos de apostar nas outras

cada vez mais fazê-lo em articulação

português.

regiões.

com a CPLP. O nosso grande sonho

E são eles que nos dão o mote para

Não podemos ter, como temos,

é, em alguns lugares, criarmos - por

nos movimentarmos noutras áreas.

os nossos meios maioritariamente

exemplo - centros culturais CPLP que

Apenas no sentido da falta de re-

alocados à Europa - que é o que se

teriam uma outra visibilidade. Mas, de

conhecimento da grandeza do por-

passa actualmente: cerca de 60%

facto, o grande objectivo é a articu-

tuguês. Isso tem muito a ver com

dos nossos meios estão na Europa -,

lação regional e, por outro lado, as

a imagem que o português tem na

quando o retorno é muito baixo para o

parcerias: com a CPLP, com agentes

Europa muito ligada à emigração - o

nosso investimento.

locais, com empresas, com associa-

que não é desmerecimento, mas res-

Finalmente, quero falar também de

ções. Gostaria, efectivamente, de

tringe o ensino do português a língua

uma zona que nos merece muita aten-

contrariar a acção isolada e trabalhar

de origem. Nós não podemos permitir

ção por vários motivos: a América do

em rede - o que daria maior visibilida-

esta visão redutora. No interesse

Norte. Trata-se de uma região onde

de aos meios que cada um possui.

das comunidades portuguesas, é

o português se tem alicerçado por

Percebe-se que gosta muito do que

importante que o português não seja

meios próprios, seja das comunidades

está a fazer…

acolhido por estes países como língua

portuguesas, seja das universidades

Gosto muito. Farei isto sempre com

de origem, ou seja, uma língua exóti-

que oferecem programas de gradu-

amor. Farei sempre isto esteja onde

ca que pertence a uma minoria. Essa

ações e pós-graduações. Pelo seu

estiver. Já tive várias funções ligadas

ideia de minoria é muito prejudicial

significado económico e pela aposta

a esta área e em qualquer sítio conti-

para Portugal e para as comunidades.

no conhecimento, é uma região que

nuarei a defender a língua portugue-

O português tem que ser ensinado

nos desafia e onde esperamos poder

sa, porque acredito francamente que

como língua internacional. Isto não

crescer com parcerias.

isto é um projecto que vale a pena

quer dizer que não tenha uma com-

Viajámos pelos Mundo com a nos-

abraçar. E queria dizer que agora

ponente identitária, mas o facto de

sa língua. Três perguntas muito rá-

estou à frente do Instituto Camões e

ser uma ferramenta útil e não apenas

pidas só para terminar. A propósito

tenho mais possibilidade de actuação,

uma ligação ao país de origem, pode

da língua, não posso deixar de a

mas entendo que a causa da língua

constituir-se como mais-valia num

questionar sobre o acordo ortográ-

deve ser partilhada por todos nós.

plano de vida. Quer dizer, por saber

fico: um instrumento necessário,

Todos nós devíamos fazer a defesa

português tem condições para ir traba-

mas não relevante para a política,

intrínseca desse valor por todos os

lhar para países de língua portuguesa

em si. O que pensa do assunto?

meios que estejam ao nosso alcance.

ou é, efectivamente, uma mais-valia

Eu sou uma defensora da utilidade

É missão de todos! ■

80 • Diplomática - março/abril 2011


Mala Diplomática

Em cerimónia solene presidida pelo Embaixador em Lisboa Grão-Duque do Luxemburgo homenageia Maria Barroso e Aristides de Sousa Mendes

Em ambiente de emoção a mulher do

des que Sua Majestade teve em atenção.

ex-presidente Mário Soares foi agraciada

Como Presidente da Fundação PRO-DIG-

com Ordem de Mérito. O ex-Embaixador

NITATE, Maria Barroso continua a partici-

em Bordéus, na pessoa de seus netos,

par activamente nestas causas e ainda na

também foi lembrado pelo monarca luxem-

atribuição de bolsas a jovens estudantes,

burguês

assim como no desenvolvimento de várias

Em finais de Janeiro, Paul Schmit, Embai-

acções e iniciativas nos países africanos de

xador do Grão Ducado do Luxemburgo em

língua portuguesa.

Portugal agraciou, em nome de S.A.R. o

É igualmente Presidente da Fundação

Grão-Duque do Luxemburgo, a Dr.ª Maria

Aristides de Sousa Mendes que adopta o

de Jesus Barroso Soares com a Ordem de

nome do nobre cônsul geral em Bordéus

Mérito do Grão Ducado do Luxemburgo.

que, durante a II Grande Guerra Mundial,

A cerimónia teve lugar na Embaixada, em

salvou a suas expensas e risco milhares de

Lisboa, na presença de ilustres figuras

refugiados, principalmente judeus.

próximas a Maria Barroso, onde não pode-

Sua Alteza Real não quis deixar de lembrar

ria faltar o seu marido - e ex-presidente da

esse filantropo e humanista e de destacar

República Portuguesa -, Dr. Mário Soares.

as suas importantes acções junto do povo

Maria Barroso recebeu esta comenda em

luxemburguês e, em especial, da comunida-

homenagem às suas actividades ao longo

de judia que salvou das garras nazis atra-

de uma vida, sempre visando a cultura,

vés da emissão maciça de vistos.

a educação pré-escolar, a família, a soli-

Aristides Sousa Mendes esteve presente na

dariedade social, a dimensão feminina, a

memória de todos na pessoa dos seus dois

integração dos deficientes e a prevenção da

netos, gentilmente saudados pelo Embaixa-

violência. Foram sobretudo estas activida-

dor luxemburguês.

março/abril 2011 - Diplomática • 81


Vida diplomática

Emirados Árabes Unidos Recepção assinala Dia Nacional

‫االمارات العربية المتحدة تحتفل‬ ‫بيومها الوطني لألول مرة في لشبونة‬

Recentemente instalada no nosso

Os Emirados Árabes Unidos pas-

país, a Embaixada dos Emirados

saram por um desenvolvimento

Árabes Unidos (EAU) assinalou

espectacular e uma das chaves

com pompa e alegria o dia nacional

deste sucesso é a importância

do país, juntando a “nata” da socie-

atribuída ao seu povo, considerado

dade portuguesa da política, dos

como o centro do desenvolvimento

negócios e da cultura.

do país. Neste sentido, enormes

O Embaixador dos Emirados Ára-

investimentos foram já atribuídos

bes Unidos em Lisboa, S.E. Saqer

ao sector da Educação, reduzindo

Nasser Alraisi, ofereceu uma recep-

a taxa de analfabetismo até 7% e

ção no Hotel Ritz Four Seasons,

aumentando a esperança de vida

no passado dia 2 de Dezembro, no

para os 78.5 anos, alcançando as

quadro das celebrações do Dia Na-

taxas registadas nos países mais

cional dos Emirados Árabe Unidos.

desenvolvidos. Todo este progres-

Foi uma première, pois a Embai-

so foi realizado em tempo recorde,

‫نظم سفير دولة اإلمارات العربية المتحدة‬ ‫ ديسمبر‬2 ‫ سعادة صقر ناصر الريسي يوم‬،‫بلشبونة‬ ‫ فور سيزن – في لشبونة‬-‫حفل استقبال بفندق “الريتز‬ .‫وذلك في إطار االحتفاالت باليوم الوطني اإلماراتي‬ ‫هذه المناسبة كانت األولى من نوعها نظرا الن‬ 08 ‫سفارة دولة اإلمارات العربية قد افتتحت أبوابها يوم‬ ‫ ورغم أن السفارة تعتبر جديدة إال أن‬.2010 ‫مارس‬ ‫العالقات بين البرتغال واإلمارات العربية المتحدة تعود‬ ‫ هذه‬.‫إلى زمن بعيد وتشهد تطورا متواصال وسريعا‬ ‫العالقات المتميزة انعكست من خالل حضور عدد كبير‬ ‫من الشخصيات البرتغالية المهمة في مجاالت االقتصاد‬ ‫والسياسة والثقافة ورجال الدين الذين شرفوا بحضورهم‬ .‫هذه المناسبة المهمة بالنسبة لإلمارات‬ 39 ‫ ديسمبر االحتفال بالذكرى‬2 ‫ووافق يوم‬ ‫ أبو ظبي‬: ‫لقيام دولة اإلمارات العربية المتحدة التي تجمع‬ ‫ودبي و الشارقة وعجمان وأم القيوين ورأس الخيمة‬ ‫والفجيرة في إطار اتحاد فدرالي استطاع أن ينحت‬ ‫شخصية وطنية عززتها سياسة االتحاد مما سمح للدولة‬ 82.880 ‫ تبلغ مساحة الدولة‬.‫بان تتمتع باستقرار سياسي‬ ‫ مليون نسمة‬4.5 ‫كيلومتر مربع ويبلغ عدد السكان‬ % 6.3 ‫ بينما تبلغ نسبة الوالدات‬2007 ‫حسب إحصاء‬ .‫وكلها أرقام تكشف عن نمو ديموغرافي متميز‬ ‫ وكانت احد اهم‬،‫عرفت اإلمارات نموا مدهشا‬ ‫اسباب هذا النجاح هو األهمية والعناية التي يحظى بها‬ .‫شعب اإلمارات الذي طالما اعتبر محور تطوّر البالد‬ ‫وقد كانت أهم االستثمارات موجهة إلى قطاع التعليم‬ ‫ وارتفع معدل‬،%7 ‫حيث تراجعت نسبة األمية إلى‬ ‫ ليعادل نسبة التطور التي‬%78.5 ‫الحياة عند الوالدة إلى‬ ‫ كل هذه االنجازات حققت في‬.‫تسجلها أهم الدول المتقدمة‬ ‫ حيث أن الصحراء والفقر كانت المشاهد‬،‫وقت قياسي‬ 2 ‫الطاغية على واقع البالد حين أعلن قيام الدولة يوم‬ .1971 ‫ديسمبر‬ ‫ استطاعت اإلمارات‬،‫في هذا الوقت القياسي‬ ‫أن تتحول من بلد صحراوي ومجتمع قبلي محافظ إلى‬ ‫ حيث تتساوى حقوق‬،‫احد أهم الدول الحديثة في عصرنا‬ ‫ وتكشف وضعية المرأة في اإلمارات‬.‫الرجال والنساء‬ ‫ فبعد أن كانت المرأة مهمشة‬،‫التقدم الذي حققته الدولة‬ ‫ أصبحت اليوم تتمتع بحق التعليم جنبا إلى‬،‫ سنة‬40 ‫منذ‬ ‫جنب مع الرجل اإلماراتي بل وأصبحت النساء تمثل‬ ‫ هذا المستوى العالي من‬.‫األغلبية في مجال التعليم العالي‬ ‫التعليم سمح بدوره أن تلعب المرأة اإلماراتية دورا مهما‬ ‫ ونجد اليوم المرأة حاضرة في كل‬.‫في مجال سوق العمل‬ ‫المجاالت بداية من القطاع الخاص إلى القطاع الحكومي‬ .‫بما في ذلك أربعة وزيرات‬ ‫باإلضافة إلى موقعها الجغرافي المتميز كنقطة‬ ‫ تتميز دولة‬،‫غرب‬- ‫جنوب وشرق‬- ‫تقاطع شمال‬ ‫االمارت العربية المتحدة بأنها دولة منفتحة على العالم‬ ‫ جعلت دائما من السالم واالستقرار في المنطقة من‬، .‫أهم أولياتها‬

xada dos EAU em Lisboa abriu as

pois o deserto e a pobreza eram as

suas portas a 8 de Março 2010.

componentes principais da realida-

Embora a Embaixada seja nova, as

de do país quando este declarou

relações entre Portugal e os Emi-

a criação da Federação a 2 de

rados Árabes Unidos são de longa

Dezembro de 1971.

data e estão a desenvolver-se a um

Nesse espaço de tempo, os Emi-

ritmo acelerado. Prova disso foi a

rados Árabes Unidos conseguiram

presença impressionante nesse dia

passar de um país subdesenvol-

tão importante para os Emirados de

vido, com uma sociedade tribal e

várias personalidades da sociedade

conservadora, a um dos países

portuguesa, do mundo económico,

mais modernos da nossa era, onde

político, cultural, bem como dignitá-

mulheres e homens desfrutam das

rios religiosos que honraram com a

mesmas oportunidades. A mulher

sua presença esta festa.

nos Emirados Árabes Unidos é

O 2 de Dezembro celebra o 39.º

o melhor indicador do progresso

aniversário da independência dos

que o país conseguiu alcançar até

Emirados Árabes Unidos, uma

agora. Há 40 anos, a mulher estava

união federal que reúne Abu Dhabi,

posta de parte, mas o acesso à

Dubai, Sharjah, Ajman, Ras al-

educação inverteu a situação. Hoje,

Khaima, Fujairah e Umm al-Quwain

representa a maioria no sector do

– , e que conseguiu forjar uma iden-

Ensino Superior e está represen-

tidade nacional reforçada pelo regi-

tada em todos os serviços, desde

me federal que fez com que o país

o privado à função pública, haven-

desfrutasse de estabilidade política.

do actualmente quatro mulheres

A superfície dos Emirados Árabes Unidos é de 82.880 Km2 e, segun-

ministras.

do os dados de 2007, a população

centro do cruzamento Norte/Sul,

do país é de 4.5 milhões, com uma

Leste/Oeste – os Emirados Árabes

taxa de crescimento de 6.3%. Estes

Unidos são um país aberto ao mun-

números reflectem um extraordiná-

do. A paz e estabilidade na região

rio crescimento demográfico.

são das suas maiores prioridades. ■ ➤

82 • Diplomática - março/abril 2011

Além da sua posição geográfica –


1

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10

1. O Embaixador dos Emirados Árabes Unidos, Saqer Alraisi, com a nossa Directora Maria de Bragança. 2. O Embaixador do Iraque cumprimenta o Embaixador dos Emirados Árabes Unidos. 3. O Chefe do Protocolo do Estado, Embaixador José de Bouza Serrano, ao lado do Embaixador Saqer Alraisi. 4. O Embaixador dos Emirados Árabes Unidos com João Neves da Costa, Director de Serviços do Médio Oriente e Magrebe, MNE. 5. Marçal Grilo cumprimenta o Embaixador dos Emirados Árabes Unidos. 6. Embaixador dos Emirados Árabes Unidos conversando com Nini Andrade e Marta Amado. 7. O Secretário-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Embaixador Vasco Valente. 8. O Embaixador dos Emirados Árabes Unidos com o Núncio Apostólico. 9. Diplomatas partem o bolo em ambiente de descontracção. 10. A nossa Directora Maria de Bragança com o Embaixador da Tunísia.

março/abril 2011 - Diplomática • 83



2º Aniversário Diplomática Festa em ambiente solidário

Ao comemorar dois anos de vida, a revista Diplomática mobilizou esforços no apoio ao povo do Paquistão e provou que em festa se pode estar ao serviço de um bem maior

A comemoração teve lugar no já famoso

Grupo Vocal da Basílica da Estrela, dirigido

restaurante Kais, um dos mais carismáticos

pelo Maestro Pedro Rollin Rodrigues. Este

espaços da nossa capital, quer pela origi-

grupo, fundado em Janeiro de 2010, perten-

nalidade e beleza da decoração, concebida

ce à Schola Cantorum da Basílica da Estrela,

pela saudosa Maria José Salavisa, quer pela

da qual também fazem parte os Pequenos

requintada gastronomia - considerada por

Cantores da Basílica da Estrela. Para animar

alguns guias como uma das melhores do

os distintos convidados foram interpretadas

mundo.

duas peças: “Ó Meu Menino”, de Eurico Car-

Logo à chegada, os convivas foram pre-

rapatoso e “Jerusalém”, de Sir Hubert Parry.

senteados com um cocktail e a actuação do

Logo de seguida, mais de uma centena

março/abril 2011 - Diplomática • 85


2º Aniversário Diplomática

Embaixadora do Paquistão, Christina Gillies, Dom Afonso Herédia e Maria de Bragança

Luís e Lina Belo dos Santos, Jacques Bretagnolle e Abel Dias

Ministra Conselheira da Polónia Dorota OstrowskaCobas e Charles Correia da Embaixada dos EUA

86 • Diplomática - março/abril 2011

Filipa Castello Branco, Nuno Duarte Schlumberger e Cátia Pereira

Duque de Loulé e Inês Figueiredo


Lenia Lopes e Margarida Ruas

Marion e Udo Krüse

Maria Antónia Baptista

Nadine e Paul Schmit, Embaixador do Luxemburgo

Pedro Sobral e Filomena Morim

Maria Clara Gomes e seu filho Nuno Gomes de Carvalho

Bruce Gillies e Patrick Siegler

Mary Norton dos Reis e Maria do Carmo Castello Branco

Alda Simões e António de Macedo

Paula Bobone

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2º Aniversário Diplomática

Alfredo Resende, Embaixadora da Rep. Dominicana Ana Sílvia de Abud com Micaela Oliveira

Lili Caneças, João Libério e Isabel Nogueira

Maria da Luz de Bragança ladeada por David Pachetti e Maestro Miguel Rollan com o Grupo Vocal da Basílica da Estrela

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A Embaixatriz do Paquistão Malika Haneef agradecendo a dádiva e a nossa Directora

de amigos deliciaram-se com a ementa de

trangeiro, entrevistas a embaixadores e tam-

luxo, que teve início com um Au Meunier de

bém a inúmeras individualidades do mundo

Crepe de Cogumelos com Molho de Basílico,

da cultura, da política e dos negócios.

prosseguiu com dois pratos principais, um

De seguida, a Embaixatriz do Paquistão

de peixe, Bacalhau Gratinado com Camarão

agradeceu a verba angariada por todos

em Cama de Espinafres, e outro de carne,

aqueles que desejaram contribuir para o

Medalhões de Novilho com Molho de Echa-

minorar da catástrofe enfrentada pelo seu

lottes Caramelizados com Batata Gratinada

país, e que alcançou a quantia de 690 euros,

e Legumes Salteados, e terminou com um

uma importância inferior à desejada mas que

Folhado de Frutos Silvestres com Creme

a Embaixatriz valorizou de forma comovida,

Anglaise, como sobremesa. Esta magnífica

relembrando que o pouco é muito para os

refeição foi, obviamente, regada com co-

que nada têm.

lheitas especiais dos melhores produtores

No decorrer da agradável festa, um ecrã

portugueses.

gigante foi mostrando as páginas da re-

Após o jantar, a nossa directora, Maria da

vista Diplomática, relembrando a todos os

Luz de Bragança, dirigiu uma palavra de

presentes as suas capas e reportagens e,

agradecimento a todos os seus colaborado-

ao som de música de dança, todos foram

res que em cada edição contribuíram para

convidados para bailar até altas horas na-

a publicação de dossiers sobre temas da

quela que se revelou uma inesquecível noite

actualidade geopolítica, estudos e análises

de divertimento, de convívio e também de

estratégicas, reportagens no País e no es-

solidariedade.

n

março/abril 2011 - Diplomática • 89


Cultura

Lobo Antunes em Paris Um semestre de homenagem

António Lobo Antunes está a ser objeto de uma homenagem e de uma evocação peculiar em França, que vai durar todo o primeiro semestre deste ano. As obras do escritor português vão ser adaptadas para espetáculos de vária índole, com destaque para o teatro, que verá nove encenações dos seus livros. «Acho que nunca houve um autor, nem mesmo francês, a quem tenha sido feita uma homenagem tão importante como esta, a este nível: seis meses, num teatro, com colóquios, recitais, peças, as coisas mais variadas, com atores franceses e alguns portugueses, muitos encenadores, muitos músicos envolvidos. É uma coisa quase inédita», assim caracteriza a iniciativa a editora de Lobo Antunes na Dom Quixote, Maria da Piedade Ferreira. A forma predominantemente dramatúrgica escolhida para a homenagem, anunciada em Lisboa, em julho passado, não surpreende se tivermos em conta que surge por iniciativa da Casa da Cultura de Seine Saint-Denis, a Maison de Culture 93 mais conhecida por MC93 (o número é o do código postal de Bobigny, a norte de Paris), criada em 1972, e que tem o teatro como arte de eleição. Em coprodução com as Editions Christian Bourgois, a editora francesa de Lobo Antunes, e o LG Théâtre, e com o apoio da Embaixada de Portugal em Paris, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Instituto Camões, a MC93 decidiu dedicar a sua temporada de 2011 ao escritor português, alvo de um culto particular em França (o diretor da MC93, Patrick Sommier, fala de uma «sociedade secreta» de leitores de Lobo Antunes em França, que «se reconhece entre si»), onde 24 das suas 29 obras estão editadas. A 25ª – O Meu Nome é Legião (2007) –foi editada em França em 26 de janeiro, na Librairie Compagnie, em Paris, com a presença de Lobo Antunes. Na véspera do lançamento, o autor participou num encontro, animado por Philippe Vannini, com leitura de extratos da sua obra pelo ator Victor de Oliveira. Lobo Antunes, no entanto, tinha excluído desde o início colaborar na homenagem, apesar de a aceitar com agrado. «Não vou colaborar em nada. Façam como quiserem. [O teatro] é uma linguagem diferente, que não domino e não conheço», declarou em julho, citado pelo Público.

Memórias da guerra O primeiro espetáculo – Etat Civil – estreado em 14 de janeiro, tem por base as conversas do escritor com Maria Luisa Blanco, do jornal El Pais, publicadas em livro em 2002 e, à semelhança de vários outros que se lhe seguirão, foi objeto de uma adaptação e encenação, neste caso a cargo de Georges Lavaudant, encenador de mérito no universo do teatro francês. Lavaudant que afirma que «A obra de Lobo Antunes é densa, variada, infinita e são múltiplas as abordagens possíveis» assina ainda Fado Alexandrino, a segunda adaptação e encenação do ciclo dedicado a Lobo Antunes, juntamente com Nicolas Bigards, que coordena toda programação e rubrica ainda a encenação do Tratado das Paixões da Alma. Para além das já referidas, da programação constam ainda obras como Exortação aos Crocodilos, O Esplendor de Portugal, Auto dos Danados e cenarizações dos seus livros de crónicas III e IV e das cartas de guerra dirigidas à mulher Maria José, desaparecida em 1999, nos 27

90 • Diplomática - março/abril 2011


meses em que Lobo Antunes esteve em Angola, no exército, durante o conflito colonial e

que marcaram decisivamente o seu universo ficcional. Sommier afirmou, em julho, citado pelo ainda pelo Público, que nenhum escritor em França «teve estas palavras de emoção sobre os soldados que foram morrer na Argélia». «Esta é a verdadeira Europa, aquela em que um escritor português pode formular o que tínhamos na cabeça e não conseguíamos formular», acrescentou. Além disso, as Cartas da Guerra são, no dizer de Dominique Bourgois, a editora francesa de Lobo Antunes, o «making-of de António como escritor». «Digo sempre às pessoas que ainda não o leram para experimentarem as Cartas da Guerra (…) Está lá tudo, a tomada de consciência política, a compreensão da guerra e a correspondência de amor, e, mesmo não sendo um livro como os outros, mostra o que ele vai ser a seguir». Segundo os organizadores, «de janeiro a junho de 2011, 50 noites serão dedicadas a António Lobo Antunes através de leituras (em francês, português e outras línguas ainda), instalações, performances, concertos e convívios. Diretores, atores, escritores, músicos, videastas, cenógrafos reuniram-se, todos motivados por uma paixão por este grande escritor». E aqueles que se juntaram são, entre muitos outros, para além de Sommier e Lavaudant, figuras como o ator Patrick Pineau, que faz a adaptação e a encenação de Exortação aos Crocodilos, e escritores como Michel Deutsch, Olivier Rolin, Jake Lamar e David Lescot, que vão participar em diversas sessões de leitura das obras de Lobo Antunes, intituladas Nocturnes Lisboètes. Os espetáculos são em francês, mas Maria de Medeiros e Luis Miguel Cintra apresentarão a 17 e 18 de junho um espetáculo em português – Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no Mar? – de que são intérpretes e responsáveis pela adaptação.

Uma obra complexa A ambição do programa, «majestoso», na expressão de Lobo Antunes, é explicada pelos seus organizadores por duas razões: «Há livros que precisam de espaço. Livros que são como uma casa assombrada, como os define António Lobo Antunes. Ora, sabemos, desde Shakespeare, pelo menos, que essa casa capaz de acolher os fantasmas não é outra senão o teatro. Porque é só no teatro (ou nesses livros assombrados) que os mortos falam, o desejo fala: o amor, a loucura, a infância, a solidão ...». Por outro lado, a escolha de Lobo Antunes para a valência ‘Teatro dos Livros…’ da MC 93 é também para estes criadores e atores franceses resultado da forma comum como praticam as suas artes: «Escrever, para ele [Lobo Antunes], é uma droga dura. Como para nós o teatro». «Tentem manter tranquila apenas uma de suas frases, para não falar das suas crónicas, dos seus romances... Porque a sua surdez, hereditária, que ele não faz nenhuma tentativa para contrariar, gera um campo visual capaz escutar». Ora, «o que é então um campo visual capaz de ouvir, se não o teatro?». E citam Eduardo Lourenço, quando este diz que Lobo Antunes é «o escritor que corre mais riscos. E o risco é o quotidiano do teatro». Uma última razão apontada é «porque ele está vivo», mas para Dominique Bourgois «é preciso entender que a obra de António tem personagens que falam para todos e não só aos portugueses», segundo declarou numa entrevista ao DN. Não é inédito que a companhia da MC93 se dedique a tratar textos literários, embora Patrick Sommier considere «raro que um teatro passe seis meses com um escritor que não escreveu teatro». Bourgois lembra que «já o fizeram com Dostoiévski, T. S. Eliot e Dos Passos». A homenagem suscita a óbvia questão dos resultados de um tratamento desta envergadura de uma obra complexa como a de Lobo Antunes. Mas a editora Maria da Piedade Ferreira, reconhecendo embora a existência de riscos, diz que «tudo depende da qualidade com que forem feitas» as adaptações. «Os nomes envolvidos dão-nos toda a confiança», sublinha. «Tudo o que seja feito – leitura de textos, teatralização, textos sobre a obra dele – é uma maneira ótima de divulgar e fazer conhecer ainda melhor» a obra de Lobo de Antunes.

n

IC, IP

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Sinais

A era da democracia Grito imparável de liberdade na era da globalização e tecnologia No mínimo o que se poderá dizer é que os movimentos populares no Magrebe apanharam o mundo de surpresa. E o rastilho implodiu nas ruas do Cairo, fazendo cair um presidente [Hosni Mubarak] tido como “amigo do ocidente”. Ao contrário do que seria suposto, sem “ajuda externa”, sem a mãozinha de qualquer serviço secreto, apenas [e só!] pela iniciativa de uns miúdos que perceberam a arma poderosíssima que é o Facebook. Voltando aos movimentos populares, que tomaram as ruas e decidiram construir o futuro pelas suas mãos, importa referir um dado novo: ao contrário do que acontecia anos antes, as ruas não se encheram de bandeiras americanas em chamas, nem a imagem do presidente dos EUA apareceu imolada no centro de qualquer grito insano de indignação contra o “chefe do imperialismo”… E a esse facto não é alheia a eleição de Obama, a personalidade do homem da Casa Branca e a inflexão da política americana no que respeita aos países árabes. E, mais que isso [pesem alguns receios ocidentais], não se ouviu nenhuma reivindicação por sociedades teocráticas. Pelo contrário – e tão só -, os manifestantes exigem liberdade e fim dos regimes autoritários. Ou seja, exigem democracia! Quando ao Egipto chegaram os ventos de mudança da Tunísia, começou a perceber-se que algo de novo estava para acontecer nos países árabes, em particular no Norte de África e no Magreb. E a rota de ruptura com o autoritarismo é já imparável. Khadafi, outrora expressão da revolta de um povo contra uma monarquia medieval e insana, surge aos olhos do mundo não como um “libertador de povos oprimidos”, mas como parte da repressão. O poder, regra geral, corrompe, cega a lucidez dos homens e afasta-os da vida real, do cidadão comum. E o coronel líbio há muito que perdeu a noção do real e, mesmo agora, cercado e desamado por muitos que outrora o idolatravam, continua a lutar contra os ventos da História. É um tempo novo que abre caminho à era da democracia. Um tempo que, por ser imperativo e geneticamente expressão de um querer colectivo, não voltará para trás revertendo o grito colectivo de liberdade, progresso, pluralismo, dignidade e qualidade de vida.

The Age of Democracy An unstoppable cry for freedom in the era of globalization and technology The least that can be said is that the popular movements of the Maghreb caught the whole world by surprise. And the fuse exploded in the streets of Cairo, bringing down a president (Hosni Mubarak) that was understood to be a friend of the West. Contrarily to what was supposed to happen, with no external help, and without the “helping hand” of some secret service - solely thanks to the initiative of some kids that understood too well the importance of a powerful weapon named Facebook. Getting back to the popular movements that took to the streets and to those people that decided to build their future with their own hands, one must refer some new data: unlike what happened in the previous years the streets were not filled with american flags in flames nor was the image of the president of the US immolated alongside some crazy chanting against the “head of imperialism”... And to that fact can’t be alien the election of Obama, the personality of the man that resides in the White House and the turnaround in american politics insofar as the arab countries are concerned. Moreover, and in spite of some western fears, there were no demands for theocratic societies. Quite the opposite, since the demonstrators demand freedom and the end of all authoritarian regimes. That is to say they demand democracy. As for Egypt, the winds of change arrived from Tunisia, and one started to realize that something new was taking shape in the arab countries, particularly in what relates to those in northern Africa and in the Maghreb. And the break with authoritarism is unstoppable. Khadafi, once the expression of the rebellion of one people fighting against an insane and medieval monarchy, appears at the eyes of the world no longer as a “liberator of the oppressed” but rather as the image of repression. Power tends to corrupt, to do away with men’s lucidity and to push it away from the real life of common people. That said, the lybian colonel that has long lost his grip on reality and that is now surrounded and unloved by many that once swore by him, keeps battling the winds of History. These are new times that open the way to the age of democracy. Times that portray the imperative and genetically expression of a collective desire and that will not be allowed to go backwards. Thus the unanimous cry for freedom, progress, pluralism, dignity and quality of life will go on.

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Artes Plásticas

Marta de Castro Saudade de aMAR

O Sonho é Maiúsculo, Real, a Luz transparente, as Sombras cúmplices de contrastes sem nomes nem dúvidas… Ilhas, sem correntes, salgadas gotas de infância, nus, corpos velados de mulheres-meninas de sol… Verdade que voa, que dança, que escorre: frutos que se abrem – e sabem um reino de flores… Começou a pintar aos 15 anos. E nunca mais parou. Todos os dias. Encarnando as personagens, “a meditar, dentro do(s) ambiente(s) a criar”. Quadros com cAlma, minuciosamente cifrada em cada centímetro de tela… Surrealista? Simbolista? Romântica? Absurdos Dali (e também daqui e de acolá), pinceladas de Magritte de se lhe tirar o chapéu…e a tentação de quaisquer rótulos – e a sua negação! Marta de Castro é ela própria, sempre ela mesma (precisamente, quando dá forma aos sonhos de todos nós…). E pinta de cor, como a música que habita – e embala – a Saudade do que não expomos… “A duas dimensões”: nus/silêncios que, tantas vezes, não ousamos…

Maria de Bragança

março/abril 2011 - Diplomática • 93


Marta de Castro

Natureza Viva, 1985 - óleo sobre tela

Um pacto com a luz «Quem nasce numa ilha como a Madeira sabe que as flores e os frutos são uma espécie de confidência. Na pintura de Marta de Castro eles estão a assinalar o enigma e a revelação da vida. Por vezes, apresentam-se fechados como assinatura desse mistério que nos acompanha, ainda por abrir, sempre por reconhecer. Outras vezes desenham-se abertos ou cortados a meio, expostos como ferida e íntimo segredo. Também isso somos. Esta pintura é um espelho silencioso que nunca nos devolve só a aparência, mas oferece-nos os contornos daquilo que, em nós, é interior e invisível. Assim revisita (e permite-nos revisitar) o pacto que temos com a luz.» José Tolentino de Mendonça (sacerdote e teólogo católico)

94 • Diplomática - março/abril 2011


Saudades, 2004 - óleo sobre tela (100×150 cm)

Vista de terreiro, 2005 - óleo sobre tela (60×100 cm)

Vôo no tempo, 2005 - óleo sobre tela (90× 70 cm)

Serenidade e Inquietação “Vejo a Marta pintar há quase trinta anos. O que começou por ser a expressão de uma curiosidade e de um talento foi-se tornando, com o passar dos anos, uma fatalidade. Uma forma silenciosa e discreta de nos transmitir a sua extraordinária paixão pela vida. A serenidade das suas paisagens, que cria com pedacinhos de sonhos de uma infância que se adivinha feliz, sempre com o mar da sua Ilha no horizonte, não ilude uma leve inquietação existencial que só a pintura lhe permite, ao mesmo tempo, esconder e revelar”.

Luís Amado (ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal)

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Marta de Castro

“Receita” de Talento Marta de Castro nasceu no Funchal, Ilha da Madeira. Licenciou-se em Farmácia pela Universidade de Coimbra, tendo ingressado, posteriormente, na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Frequentou, também, o Instituto de Arte e Design da Madeira. Participou em diversas exposições colectivas, principalmente com trabalhos a óleo, aguarela, pastel e gravura. A partir de 2004, realizou as suas primeiras exposições individuais, tendo recentemente apresentado, em Lisboa, uma retrospectiva da sua Obra, representada em colecções particulares dentro e fora de Portugal. É casada com Luís Amado, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal.

96 • Diplomática - março/abril 2011

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English & French texts

6. Sarkozy - an impressive political journey How will president Sarkozy come to be judged? A fantastic president or perhaps not? It is still rather early to produce a final opinion - that must be left to future historians. However, in our minds remains the concept of him as a character that both fascinates and attracts but sometimes also surprises and even shocks. So being, how should one today construct an intelligent opinion of this statesman? Patrick Siegler-Lathrop is a French-American consultant living in Portugal, with a more than 30-year career as a Wall Street investment banker, entrepreneur, industrialist and professor, having taught at INSEAD and Paris University, Dauphine. He is a founding member of the international NGO Action Contre la Faim.

6. Sarkozy: un parcours politique étonnant. Comment sera jugé le Président Sarkozy: un grand Président ou nettement moins? Il est, bien évidemment, trop tôt pour le dire. Laissons cette tache aux historiens de l’avenir. Mais la question se pose par rapport à cet homme que séduit, qui à un élan spécial, que surprendre et, à la limite, nous étonne, pas toujours dans le bon sens. Comment, pouvons nous avoir une opinion précise sur ce politique? 12. Pascal Teixeira da Silva, Ambassador of France Married and father of two children, the ambassador declares himself delighted to be in Portugal. And given that he is a luso-descendant, he is happy and finds himself specially privileged to be in the country of his father’s. Ambassador Pascal Teixeira da Silva is a man with an intense passion for life, for all world cultures and also for the arts. As a music lover, he is particularly fond of the harpsichord. Being in synch with the spirit of times, he has always been, by luck or misfortune, near all the great historical milestones of our times: he was in Berlin, when the Wall came tumbling down; in Moscow when the dismemberment of USSR took place; in the USA when the Twin Towers were attacked something he saw with his own eyes. 12. Pascal Teixeira da Silva, Embaixador de França Père de famille, M. l’Ambassadeur est enchanté par le Portugal. Lui-même Lusodescendant, c’est pour lui un privilège et un plaisir d’être dans le pays de son père. M. l’Ambassadeur Pascal Teixeira Gomes est un homme passionné de la vie, des cultures du Monde, de l’art. Mélomane, il y a une vrai passion pour le clavecin. L’esprit-du-temps est avec lui. Il était, par chance ou malheur, présent pour les grands évènements des dernières décennies: à Berlin, au moment de la chute du mur, à Moscou lors de la dissolution de l’URSS, aux Etats-Unis pour la chute des Twin Towers – qu’il a vu de ses propres yeux. 35. A necessary balance and some predictions for the future Six accredited ambassadors in Lisbon accepted the challenge of Diplomática magazine: to make a balance of last year and to advance with some predictions for the current one. With the Summit in Lisbon, that brought together all the great powers of the World in NATO’s conclave still fresh in the appointment books, the European Union and the world crisis also served as background for the opinions of the diplomats on the different positions of their countries in relation to Portugal. 35. Balance nécessaire, prévisions pour l’avenir Six ambassadeurs accrédités à Lisbonne on répondu favorablement au défi de Diplomática: faire le point des progrès accomplis en 2010 et les prévisions pour l’année en cours. Au Sommet de Lisbonne, qui a amené les plus grands du Monde au conclave de l’OTAN. A l’ordre du jour, l’Union Européenne et la crise mondiale étaient au centre des discussions des diplomates, ainsi que l’évolution des relations de leur pays avec le Portugal. 64. Adriano Moreira, the last senator Listening to this old gentleman of portuguese politics is absolutely fascinating - no less because he is also an essayst of reference and a distinguished professor. In loose talking, one discovers an ageless man that elaborates on the past as well as the future both of old Europe and the Western World.

março/abril 2011 - Diplomática • 97


English & French texts

64. Le dernier sénateur C’est absolument fascinant de parler à ce vieil homme de la politique portugaise, penseur séminal et un enseignant exceptionnel. En parlant en vrac, nous rencontrons un homme sans âge, qui nous parle du passé et de l’avenir de la vieille Europe et de l’Occident. 71. Dilma Rouseff, a woman of great strength With a truly remarkable story, this woman who began her career as president at the beginning of the year is a "political animal" that has lived through all the changes that Brazil has suffered in recent decades. 71. Dilma Rouseff: Une femme courageuse. Aprés un parcours politique vraiment surprenant, Madame Roussef est élue Président de la République du Brésil. Une femme qui vivait à proximité de tous les changements que le Brésil a eu dans ces dernières décennies et qui a su surmonté. 76. Ana Paula Laborinho, president of the Camões Institute She is one of the strongest defenders of the portuguese language. There is no doubt that it has become the greatest cause of her life but also her pride and joy. In Macau or in its headquarters, in Lisbon, Ana Paula Laborinho finds the language of Camões to be her reason for living. 76. Ana Paula Laborinho, President du Instituto Camões Il s’agit d’une «militante» de la langue portugaise. C’est sans doute, la cause majeure de sa vie et de sa fierté. A Macao ou dans l’Institut, à Lisbonne, Ana Paula Laborinho a, dans la langue de Camões, la raison majeure qui l’anime. 81. The Grand Duke of Luxembourg paid tribute to Maria Barroso and Aristides de Sousa Mendes It was with great emotion that the wife of former President Mário Soares was awarded the Order of Merit. The former ambassador in Bordeaux, in the person of his grandchildren, was also remembered by the monarch of Luxembourg 81. Le Gran-duc du Luxembour fait hommage a Maria Barroso et Aristides de Sousa Mendes Très émue, l'épouse de l'ancien président Mário Soares a reçu l'Ordre du Mérite. Ancien ambassadeur à Bordeaux, en la personne de ses petits-enfants, a également été rappelé par le monarque de Luxembourg. 85. 2nd anniversary of Diplomática magazine While celebrating its second year, Diplomática magazine made a special effort to support the people of Pakistan, and by doing so proved that even whilst partying one can be serving a greater good. The joyous event took place in the famous restaurant Kais, one of the most charismatic eateries of our capital - on the one hand because of its originality and the beauty of its decor, conceived by the late Maria José Salavisa, and on the other hand on account of its exquisite gastronomy, considered by some guides as one of the best of our country. 85. 2e anniversaire Diplomática A la célébration de deux années de vie, le magazine Diplomática a mobilisé efforts en soutien du peuple du Pakistan et a prouvé que même en ambiance de fête on peut être au service d’un intérêt supérieur. La célébration a eu lieu au déjà célèbre restaurant Kais, l’un des endroits les plus charismatiques de notre capital, pour sa singularité et beauté de décor, conçu par Maria José Salavisa, comme par la cuisine exquise - considérée par certains guides comme l’un des meilleurs restaurants au monde. 92. North of Africa - The era of globalization and technology The values of the democratic West are conquering the East 92. Afrique du Nort : L'ère de la mondialisation et de la technologie. Les valeurs démocratiques du Ocident sont plus proches de l’Orient.

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