Revista Dividida #01

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DISCUSSÃO OBJECTIVA DO FUTEBOL PORTUGUÊS

01 DEZEMBRO 2013


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ponta pé de saí da E começa oficialmente esta aventura de criar uma revista diferente sobre Futebol Português. Algo que acrescente à discussão actual, do dia-a-dia, que responda a questões que por vezes nos ocorrem, mas que ninguém responde, objectivamente. Aqui está o número um! Arrancamos a nossa época no seguimento do último jogo de treino - número piloto #00. Tivemos uma excelente assistência com mais de 14000 leituras espalhadas pelos 5 continentes nos primeiros 10 dias online. O nosso obrigado a todos os que nos apoiaram para hoje estarmos aqui novamente - contamos com a vossa ajuda para em conjunto fazermos o máximo de barulho junto de colegas, amigos, família e todos os que gostam de Futebol, e principalmente do nosso Futebol. Este suporte vai ser fundamental para conseguirmos os apoios necessários à continuação do projecto... Neste número, voltamos a desenvolver a ideia de sustentabilidade como forma de suportar o desenvolvimento equilibrado dos clubes e do futebol em Portugal. Por todo o mundo, o futebol reflecte as sociedades em que está inserido e apesar do contexto em que vivemos, são várias as coisas que podemos discutir e tentar fazer melhor… sem grandes investimentos e custos associados. Na primeira parte, tratamos o Futebol Formação e a selecção/desenvolvimento dos nossos talentos. Porque é que a maioria dos jogadores recrutados nasce no 1º semestre do ano? Quais os riscos vividos na dura

transição para o Futebol Profissional? Para a segunda parte reservámos o Futebol profissional analisando a influência da posse de bola no sucesso e os contributos recentes da tecnologia para o jogo. No rescaldo do mercado de transferências do último Verão analisamos ainda os números dos últimos 10 anos. Como se posiciona o mercado português face ao resto do Mundo? Que vantagens podemos tirar da nossa posição? Já no final apresentamos a nova Liga Redes Sociais. É o teu Clube que está na liderança? A bola vai começar a rolar… venham daí.

Pedro Marques

pedro.marques@dividida.pt www.dividida.pt facebook.com/dividida.pt


04.

DA FORMAÇÃO AO PROFISSIONAL

12 ENTREVISTA COM PEDRO BARBOSA

16.

MATURAÇÃO E FUTEBOL FORMAÇÃO

22 ENTREVISTA COM JOÃO COUTO E ISABEL FRAGOSO

26. À CONVERSA ENTREVISTA COM CHRISTOPHER CARLING

FICHA TÉCNICA Edição: Pedro Marques Consultoria técnico-cientifica: Ricardo Duarte e Rui Biscaia Coordenação operacional: Tiago Maia e Hugo Pinheiro Branding, Design Editorial e Infografia : Bubka Associates Designers: Bárbara Alves, Joana Carvalho e Rui Quinta. Fotografia: José Cunha Web: Active Media

32. PASSES PARA A VITÓRIA 44 ENTREVISTA COM VÍTOR PEREIRA

48.

TRANSFERÊNCIAS DE JOGADORES

60 ENTREVISTA COM CARLOS GONÇALVES

62. A LIGA NAS REDES SOCIAIS


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dividida

1º ANO DE SÉNIOR... E DEPOIS? José Barbosa e Tiago Maia


dividida

5

A carreira da maioria dos jogadores de futebol começa muitos anos antes de chegarem ao patamar profissional quase todos referem um longo caminho de formação, aventuras e desventuras, de aprendizagens livres (rua) e estruturadas (clubes) que culminaram ou não com o realizar do sonho que apostamos muitos dos que nos lêem um dia tiveram. Uma das fases críticas deste processo é a transição e o aproveitamento dos jogadores jovens para o futebol profissional. Assim, analisámos as etapas entre o 1º ano de sénior e a época 2013-14 para as gerações de jogadores nascidos de 1988 até 1994. Registámos os clubes e níveis competitivos dos jogadores de SL Benfica, FC Porto e Sporting CP que integraram o plantel de Juniores destes clubes no seu 2º ano no escalão, num total de 278 jogadores. * Quando um jogador joga em 2 equipas numa época considera-se o nível competitivo atingido mais elevado. Fontes: www.zerozero.pt e www.futebol365.pt


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dividida

NÍVEL DE COMPETIÇÃO DOS JOGADORES NO 1.º ANO DE SÉNIOR GERAÇÕES ‘88 A ‘94

10%

35%

15% PROFISSIONAL 1 DIVISÃO PROFISSIONAL 2 DIVISÃO COMPETIÇÃO NÃO PROFISSIONAL

11%

ESTRANGEIRO 1ª DIVISÃO ESTRANGEIRO DIVISÃO INFERIOR

29%

GERAÇÃO DE 88

SEM INFORMAÇÃO OU OUTROS

GERAÇÃO DE 89

23

GERAÇÃO DE 90

GER

23

18

Triplicaram a sua participação na 1ª Liga

10 9

9

9

10

9

9 8

8 7

7

6 6

6 6

5

5

6

5

4 4

4 2

2013-14

6

6 5

3

3

1º ANO SÉNIOR

11

4

3

4

2

6

1º ANO SÉNIOR

2013-14

1º ANO SÉNIOR

2013-14

%!$/0$1"

1º AN SÉNIO $&'"

+,)-*."


dividida

7

NÍVEL DE COMPETIÇÃO DOS JOGADORES NA ÉPOCA 2013-14 GERAÇÕES ‘88 A ‘94

12% foi o aumento 14%

da percentagem de jogadores a disputar 1ª divisões (Portugal e estrangeiro) entre o 1º ano de sénior e a época 2013-14. Paralelamente diminui a participação nas competições não profissionais. As saídas para o estrangeiro no 1ºano de sénior não variam significativamente quando comparadas com a época atual.

14%

14,4 % dos jogadores

10%

27%

17%

que atualmente não têm clube, deixaram de jogar ou não há qualquer registo competitivo.

19%

29% dos jogadores

estudados, em 2013-14, jogam no estrangeiro.

RAÇÃO DE 91

GERAÇÃO DE 92

GERAÇÃO DE 93

GERAÇÃO DE 94 22

21

O maior número de jogadores da formação a jogar na 1ª divisão na temporada 2013-14 (geração 90 e 91)

0

14

10

9 8

8 7 6

NO OR "()*"

Diminuição do n.º de jogadores (17) a jogar em competições não profissionais no 1.º ano de sénior, entre as gerações de '88 a '94.

11 10

9

Aumento do n.º de jogadores (17) a competir na 2.ª liga portuguesa (mais evidente com a introdução das equipas B)

20

O maior nº de jogadores que no 1.º ano de sénior competiram no estrangeiro num escalão inferior à 1ª divisão *

6 6

8 7

7 6

6 5

5

6

6

6

5 5

4

4

3

3

3 2 1

2013-14

%!$/0$1"

+,)-*."

1º ANO SÉNIOR $&'"()*"

2013-14

%!$/0$1"

1º ANO SÉNIOR

2013-14

* Este valor está relacionado com o elevado número de jogadores estrangeiros desta geração - não vendo confirmada a aposta dos clubes na passagem a séniores, regressaram ao seu país de origem. O SL Benfica foi o clube que mais contribuiu para este total com 9 jogadores.


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dividida

DIFERENTES PERCURSOS DOS JOGADORES Miguel Rosa 13.01.1989 PORTUGAL

08/09 09/10

Minutos jogados

10/11

11/12

5 temporadas na 2ª liga sempre em crescendo (melhor jogador da 2ª liga nas 2 últimas temporadas)

12/13

2008/2009

2009/2010

2010/2011

2011/2012

2012/2013

Estoril (2ª Div)

Carregado (2ª Div)

Belenenses (2ª Div)

Belenenses (2ª Div)

Benfica B (2ª Div)

22 Jogos

31 Jogos

30 Jogos

39 Jogos

41 Jogos

4 Golos

12 Golos

11 Golos

13 Golos

17 Golos

1258 min

2481 min

2310 min

3148 min

3674 min

Nelson Oliveira 08.08.1991 PORTUGAL 3 temporadas em 1ª divisões conseguindo um máximo de 1314 min na 1ª temporada

Minutos jogados 10/11

11/12

12/13

2010/2011

2011/2012

2012/2013

Paços Ferreira (1ª Div)

SLBenfica (1ª Div)

Deportivo (Estr. 1ª Div)

31 Jogos

22 Jogos

31 Jogos

5 Golos

3 Golos

4 Golos

1314 min

763 min

845 min

Rui Patrício 15.02.1988 PORTUGAL Minutos jogados

07/08

2007/2008

2008/2009

Sporting CP (1ª Div) 36 Jogos

08/09

09/10

10/11

11/12

12/13

Sempre com grande volume de utilização. Único assíduo da seleção A.

2009/2010

2010/2011

2011/2012

2012/2013

Sporting CP (1ª Div)

Sporting CP (1ª Div)

Sporting CP (1ª Div)

Sporting CP (1ª Div)

Sporting CP (1ª Div)

34 Jogos

51 Jogos

43 Jogos

47 Jogos

39 Jogos

- Golos

- Golos

- Golos

- Golos

- Golos

- Golos

2820 min

2951 min

3960 min

3614 min

3690 min

3540 min


dividida

9

Fábio Paim

4

15.02.1988 PORTUGAL

3

Minutos jogados 07/08

2007/2008

10/11

11/12

12/13

2009/2010

2010/2011

Chelsea Reservas Trofense (2 Div) + Paços Ferreira (1 Div) (Estrang. Div. Inf.)

Real Massamá (Comp. Não Pro)

Fut. Benfica (Comp. Não Torreense (Comp. Não Pro) 1o Agosto (Estrang. 1 + 1o Agosto (Estrang. 1 Div) Div) + Benfica Luanda Pro) + Al-KhariRyath

11 + 13 Jogos

2 Jogos

3+(-) Jogos

1+0

Golos

818+127 min

2008/2009

09/10

08/09

Grande esperança pelo trajeto na formação. Escassa utilização enquanto sénior.

- Jogos

2011/2012

2012/2013

(Estrang 1 Div)

(Estrang. 1 Div)

- Jogos

2+(-) Jogos

- Golos

- Golos

0+(-) Golos

- Golos

0+(-) Golos

- min

- min

- min

- min

- min

Josué 17.09.1990 PORTUGAL

09/10

10/11

2009/2010

Minutos jogados 11/12

Dificuldades para atingir grande volume de jogo em 1ª ligas até à 4ª temporada.

12/13

2010/2011

2011/2012

2012/2013

Sp. Covilhã (2 Div) + Penafiel (2 Div)

VVV Venlo (Estrang. 1 D)

Paços Ferreira (1 Div)

Paços Ferreira (1 Div)

9+4 Jogos

13 Jogos

23 Jogos

32 Jogos

2+1 Golos

5 Golos

1 Golos

5 Golos

1639 min

949 min

991 min

2338 min

Tiago Ferreira 10.07.1993 PORTUGAL

1ª temporada na 2ª liga (equipa B). 3030 minutos de jogo. Melhor volume na 1ª temporada..

Minutos jogados 12/13

2012/2013 FC Porto B (2 Div) 4 Jogos

5 Golos 3030 min

ano em que se tornou profissional


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A 2ª Liga portuguesa é o nível competitivo em que SLB, SCP e FCP atualmente apostam mais para a integração profissional dos seus jovens jogadores. Nas últimas 7 gerações, esta competição foi ganhando progressivamente relevância em detrimento da aposta inicial nas competições não profissionais. Percebemos que na 2ª liga os jovens conseguem ter bons volumes de utilização, o que nem sempre acontece na 1ª liga (Portugal ou estrangeiro). Isto justifica esta aposta! Há uma tendência para o número de jogadores a competir na 1ª Liga aumentar dentro de cada uma das gerações. A mesma tendência é visível nos jogadores que competem no estrangeiro na 1ª divisão. Isto pode ser reflexo de melhores processos de Formação e integração profissional, mas também das maiores limitações económicas sentidas pelos clubes atualmente. Reconhece-se o papel dos “3 grandes” para a formação de jogadores a nível nacional: em conjunto estes clubes fazem chegar 1/3 dos seus jogadores formados às 1ª Ligas (Portugal e estrangeiro). No entanto, os outros 66% acabam a jogar em níveis competitivos mais baixos ou a seguir outras carreiras demonstrando que o alcançar de um patamar de topo não é uma meta fácil e direta.


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pedro barbosa ENTREVISTA COM

Ex-jogador Internacional e Director de Futebol, Comentador Desportivo


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“As equipas B são nesta altura um bom patamar competitivo para o desenvolvimento e a proximidade com a equipa principal” Do que analisámos, verifica-se um contraste claro na evolução do número de jogadores nos campeonatos não profissionais comparando com a 2ª Liga, no 1º ano de sénior: aumenta na 2ª liga e diminui nas competições não profissionais ao longo dos anos... O que pensa ter contribuído para esta alteração? A questão financeira que vem afectando os clubes, contribuiu para se verificar esta alteração. Por um lado as dificuldades fizeram os clubes olhar para os jogadores portugueses, e por outro, a qualidade demonstrada por eles justificou a alteração e a possibilidade de estarem a outro nível competitivo. Apesar desta mudança estar a ser lenta é importante que os clubes percebam que existe valor nos jovens jogadores portugueses e que aposta deve ser uma realidade com o necessário tempo para um crescimento efetivo. Uma nota também para o ligeiro aumento da percentagem nos jogadores que jogam na 1ª divisão no estrangeiro, o que revela a qualidade e o reconhecimento do jogador português lá por fora.

De todas estas gerações, apenas 10% dos jogadores são integrados na 1ª liga Portuguesa logo no 1º ano de sénior. Que lhe parece este valor? Além disto, na maioria dos casos foi-lhes dificil obter neste nível competitivo um volume significativo de jogo. Generalizando, considera que os jogadores que finalizam processo de formação nos juniores têm preparação suficiente para serem integrados e jogarem num nível competitivo como o da nossa 1ª liga? Não é fácil para um jovem no seu primeiro ano de sénior, ser integrado e jogar com regularidade na 1ª Liga e por isso parecem-me valores normais. O jogador vai encontrar uma nova realidade e para a sua evolução necessita de jogar, o que neste patamar acontece poucas vezes. Apenas alguns que têm qualidade acima da média o fazem. A grande maioria dos jovens jogadores não está preparada para uma integração direta, no nível competitivo da primeira Liga. As dificuldades existem e surgem diariamente, o que não quer dizer que algumas situações não aconteçam, seja pela necessidade do clube, pela aposta de um treinador ou pela integração num grupo de trabalho experiente, que lhes permite crescer e evoluir mais rapidamente, passando a ser aposta mais cedo que o previsto.


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“Os clubes tentam fazer o que está ao seu alcance, sabendo que nem tudo depende deles”

Qual pensa ser então o nível competitivo mais adequado ao desenvolvimento destes jogadores em Portugal? Para mim o processo normal e natural de um jovem que sobe a sénior é a integração em clubes da 2ª Liga ou clubes da 1ª Liga com outros objectivos, mas que permita jogar com a regularidade que se pretende para a sua evolução. As equipas B são nesta altura um bom patamar competitivo para o seu desenvolvimento e a proximidade com a equipa principal, é favorável e faz com que possam ser opção mais rapidamente.

26% dos jogadores da amostra no seu 1º ano de sénior rumam ao estrangeiro. Olhando para um caso particular, a geração de ‘92 do Benfica, 11 jogadores rumaram ao estrangeiro após o último ano de júnior, quase todos retornando aos seus países de origem. Qual a leitura que faz destes dados? Isto demonstra que existem poucas oportunidades para quem sobe a sénior nos clubes grandes. Infelizmente tem sido pouca a aposta no jovem jogador português, privilegiando-se a contratação de jogadores estrangeiros.

A alternativa para os jovens é procurar outra solução - jogar no estrangeiro tem sido uma alternativa válida, conseguindo em alguns casos valorizarem-se desportivamente e conseguirem melhores condições salariais que em alguns clubes das nossas Ligas. Por último, estes dados demonstram o reconhecimento dos clubes estrangeiros pela qualidade do jogador português. Em relação ao caso particular referido é um sinal que a aposta revelou-se errada. Houve investimento e o retorno não foi seguramente o esperado.

“estes dados demonstram o reconhecimento dos clubes estrangeiros pela qualidade do jogador português”


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Na temporada 2013-14 são tantos os jogadores que jogam na 1ª Liga Portuguesa como os que estão “sem rasto” ou deixaram de jogar. O Pedro passou pela experiência de ser dispensado/sair de um “grande”, no caso o FC Porto, após completar percurso de formação. Até que ponto este acontecimento pode ser marcante na carreira de um jovem jogador que tem certamente a ambição de jogar num clube de topo, o que aconteceu enquanto jogador dos juniores? O momento da transição de júnior para sénior é sempre importante e pode até ser decisivo para o jovem jogador. As expectativas são sempre elevadas e na altura das decisões, sendo estas negativas, nem sempre os jogadores estão preparados. O sonho parece que termina ali, mas existe ainda uma vida pela frente e a possibilidade de correr atrás dele...

“O sonho parece que termina ali, mas existe ainda uma vida pela frente e a possibilidade de correr atrás dele” Não é fácil de este se concretizar e a verdade é que estes números dizem-nos isso mesmo. São vários os jogadores que deixaram de jogar ou que estão “sem rasto”, porque a oportunidade não surgiu, porque as opções tomadas não foram as melhores ou outro motivo qualquer, e muitas vezes a opção passa por aceitar e procurar outro caminho que não o do futebol profissional. No meu caso, apesar de ter terminado o percurso na Formação do Porto, sem contrato profissional nem ligação ao clube, isto não me fez deixar de perseguir o meu sonho. Tive a felicidade de ir para o Freamunde, que na altura jogava na 2ª Divisão – Zona Norte e ter sido aposta do treinador Jorge Regadas, numa equipa experiente

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que me ajudou e integrou da melhor forma. Cresci e evolui, tendo sido uma etapa importante na minha carreira a partir da qual, felizmente, foi sempre a subir com passagens pelo Vitória de Guimarães, Sporting e Seleção Nacional. Terminei com uma carreira da qual me orgulho.

O Pedro era o Diretor do Futebol Profissional do Sporting quando se deu a passagem de alguns dos jogadores que destacámos para séniores. O Rui Patrício e o Fábio Paím tiveram percursos completamente distintos, o primeiro de claro sucesso e segundo notavelmente negativo face ao potencial que lhe era reconhecido durante a Formação. Na sua opinião, a existência de uma Equipa B poderia ter facilitado a integração do Fábio, ou casos como este poderão sempre acontecer? São dois jogadores que de facto tinham talento e qualidade mas que apenas um vem confirmando todas as suas qualidades. A forma de estar e a postura de cada um deles também ajudou a determinar o seu caminho. Por vezes só talento e qualidade não chega para ter sucesso. Isto serve para qualquer jovem que sonhe ser profissional de futebol. No caso do Rui Patrício, o seu trajeto é conhecido e por mérito próprio está onde está. No caso do Fábio Paim, toda a expectativa que existia durante a Formação, não se tem verificado no futebol profissional. Na altura não havia equipa B e o Sporting fez o que sentia estar certo. Naturalmente, em todo o processo alguma coisa poderia ter sido diferente, mas o jogador também tem a sua responsabilidade, como já foi reconhecido por ele. A verdade é que situações deste género vão acontecendo e os clubes tentam fazer o que está ao seu alcance, sabendo que nem tudo depende deles.

“Por vezes só talento e qualidade não chega para ter sucesso”


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ma turaç ão e futebol formaç ão O QUE NÃO ESTAMOS A VER NA AVALIAÇÃO E SELEÇÃO DE JOGADORES? Carlos Bruno e Nuno Matias


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Em Portugal, a aposta em jogadores oriundos da formação tem vindo a aumentar, muitas vezes não por existir essa cultura mas sim pelas dificuldades em que se encontra o nosso país. Todos sabemos que são vários os factores que contribuem para o rendimento de um jogador: desde o factor técnico, táctico passando pelo psicológico até chegar ao factor físico. No entanto, e principalmente, em algumas idades das etapas de formação, o factor físico, através das diferenças de maturação/desenvolvimento entre jogadores do mesmo escalão, adquire uma preponderância importante no rendimento desporto do momento, do curto prazo. Em determinadas idades, ter dois jogadores, um nascido no primeiro mês do ano e o outro no último, poderá fazer toda a diferença. Analisámos os plantéis 2012/13 dos “3 grandes”, em distintos escalões (infantis, juvenis, juniores e a equipa B). Será que existe ou não, uma preponderância de jogadores nascidos nos primeiros 6 meses do ano em detrimento do segundo semestre? E como isto evolui à medida que as idades aumentam?


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NÚMERO DE JOGADORES NASCIDOS NO 1º OU 2º SEMESTRE POR CLUBE E ESCALÃO INFANTIS

JUVENIS

SPORTING

15

6

24

BENFICA

17

6

18

PORTO

35

5

7

EQUIPA B

24

34

13

31

20

9

26 16

9

4

20

JUNIORES

23

5

32

9 1º semestre

2º semestre

TOTAL EM PERCENTAGEM

78%

76%

22%

72%

24%

70% 30%

28%

1º SEMESTRE 2º SEMESTRE

INFANTIS

82.8 é a % média

de jogadores do Porto nascidos no 1º semestre (SporAng 73.4% e Benfica 65.8%). O Porto foi também o clube com a maior % de jogadores nascidos nos primeiros 6 meses do ano, em todos os escalões analisados.

JUVENIS

60.8 é a menor %

de jogadores nascidos no 1o semestre registada por uma equipa: Benfica - Equipa B.

JUNIORES

EQUIPA B

7% é o valor dos jogadores 22,4% – menos de 1/4 nascidos no 1º semestre do ano, entre o escalão de infantis e Equipa B. Embora ao longo do tempo se verifique uma tendência para a diminuição desse valor.

dos jogadores a representar as equipas de infantis nasceu no 2º semestre. A grande maioria selecionada nasceu nos primeiros 6 meses do ano.


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“o síndrome do 1º semestre estará mais relacionado com a seleção e recrutamento dos jogadores para as equipas” Será que os jogadores nascidos no 1º semestre do ano nascem com um “dom” futebolístico, que os nascidos mais próximo do final do ano não possuem? Curiosamente o Luís Figo nasceu em Novembro... Sinceramente acreditamos que este fenómeno do “síndrome do 1º semestre” estará mais relacionado com a seleção e recrutamento dos jogadores para as equipas. Sabendo que o recrutamento é realizado em idades cada vez mais precoces, as questões maturacionais das crianças observadas acabam por assumir relevo decisivo na escolha. Quando quem observa, distingue um jogador dos demais, foi porque percebeu qualidades “superiores” nessa criança. Acontece que muitas das vezes essas qualidades que se destacam são decisivamente influenciadas por um estádio maturacional momentâneo mais avançado dessa criança em relação às outras. E a maturação não influencia apenas a capacidade física ou morfológica, mas também factores dependentes do sistema nervoso central como a coordenação, a inteligência, a percepção, decisão, etc... Em idades baixas, comparar 2 jogadores do mesmo escalão etário, mas nascidos

com 6, 7, 8 ou mais meses de diferença é compararmos o que é muitas vezes incomparável... Idealmente deveriam comparar indivíduos com a mesma “idade biológica/maturacional” e não com idades cronológicas próximas. Logo se são esses jogadores recrutados que entram desde cedo no processo de formação dos clubes, são também eles que vão evoluindo e transitando de escalão em escalão etário até às equipas no topo do processo formativo. As crianças nascidas no 2º semestre, que não foram recrutadas para os grandes clubes, recebem menor atenção e investimento, sendo frequentemente remetidas para clubes de pequena dimensão, muitas vezes sem recursos materiais ou técnicos suficientes, o que faz com que a sua evolução e motivação seja afetada negativamente. Este é o designado ‘efeito de Mateus’, que os investigadores nesta área têm apontado como o grande responsável pela existência deste enviesamento mesmo nos escalões juniores e seniores, onde à partida já todos os jogadores terão níveis de desenvolvimento maturacional mais homogéneos. Estarão os clubes inconscientemente a perder os seus “talentos” do 2º semestre?


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ENTREVISTA COM

jo ão couto e Treinador de Futebol com mais de 20 anos ligado ao treino de jovens futebolistas de elite

isabel fragoso

Investigadora e Professora Universitária (FMH) especialista na área do Crescimento, Maturação e Desenvolvimento de Talentos no Desporto


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“os jovens que nas idades de seleção se apresentam como mais maturos, já o vêm sendo desde idades muito precoces”

Fruto da sua experiência como treinador de formação, que comentário lhe merecem estes resultados? JC - Este tipo de resultados não me surpreendem nada, porque conhecendo bem o Futebol em termos formativos, na maior parte dos clubes continua a existir uma pressão diretiva sobre a obtenção de resultados a curto prazo. Existem bons exemplos do contrário, em que aquilo que se procura é construir os jogadores a longo prazo, sem um foco excessivo na obtenção de resultados e campeonatos a curto prazo. O problema é que a pressão diretiva para a obtenção de resultados continua a ser muito grande. Os treinadores, porque querem assegurar a sua continuidade nos clubes, na procura de obtenção de bons resultados selecionam e recrutam jogadores que façam a diferença, mesmo que apenas a curto prazo, que sejam mais desenvolvidos, maiores e mais rápidos. Até porque, por desconhecimento, muitas vezes que esses jogadores serão no futuro realmente mais altos e mais fortes, o que sabemos que não é verdade em muitos casos. Este fenómeno é mais frequente nos escalões de iniciados onde as questões associadas ao salto pubertário são mais significativas. E o problema é que estes jogadores depois acabam por ter oportunidades de formação e evolução

em melhores condições e infraestruturas, num meio mais competitivo, com melhores treinadores, acabará por ser realmente melhor jogador.

Estaremos nós a perder os potenciais talentos nascidos no 2º semestre do ano? JC - Claramente. Embora hajam alguns clubes relativamente bem organizados na formação, ainda devemos estar a perder muitos desses talentos, essencialmente os nascidos no 2º semestre do ano.

Dada a sua enorme experiência na avaliação da maturação de jovens jogadores e ao seu profícuo trabalho de investigação, que comentário lhe merecem estes resultados? IF -Estes resultados retratam a realidade. É importante olharmos para os jogadores de Futebol como indivíduos que à partida não têm nenhuma variável morfológica que seja claramente fora dos valores normais da população. Por exemplo, no Basquetebol, a altura dos jogadores tem um caráter nitidamente mais importante que no Futebol. O jogador de Futebol tem uma altura média que não ultrapassa mais de 2 desvios padrão acima da média geral da população. Obviamente variando de posição para posição,


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“o mais importante é que seja feito um trabalho coletivo implicando várias pessoas nesses processos de seleção e desenvolvimento dos potenciais talentos” mas esta é a realidade, portanto não temos necessidade de ser tão seletivos a este ponto. Para além disso, a performance física no Futebol está associada à força e velocidade que, nos rapazes, se adquirem essencialmente na segunda fase da adolescência, e que os faz aumentar em média 10 Kg de massa muscular . Isto independentemente de serem altos ou baixos, e só nesta fase é que se vão tornar visíveis e mensuráveis nos jovens jogadores. Contudo, a questão central aqui é que os jovens que nas idades de seleção se apresentam como mais maturos, já o vêm sendo desde idades muito precoces. É um processo que se inicia logo na infância e à medida que vão chegando à adolescência as diferenças entre os jovens vão-se acentuando. Quando adicionamos a isto o facto de alguns nascerem em Janeiro e outros em Dezembro, estamos a falar praticamente de 1 ano de avanço em termos de experiências motoras e desenvolvimento de competências. E todos sabemos o que significa 1 ano de avanço nestas idades. As nossas investigações têm mostrado que, para além de maior quantidade de jogadores que atingem a elite serem jogadores nascidos no 1º e 2º trimestres do ano, esses mesmos jogadores apresentam-se igualmente mais evoluídos sobre o ponto de vista biológico. Ou seja, para além de serem cronologicamente mais velhos,

ainda são biologicamente mais maduros. E estamos a falar de jogadores de nível nacional e internacional. Um aspeto muito importante na minha perspetiva é que, todos estes aspetos em conjunto geram uma capacidade volitiva e motivacional completamente diferente fruto dos sucessos alcançados e que muito derivam destes fatores.

Em termos práticos e concretos, como podem então os treinadores avaliar e selecionar os jogadores sem serem ‘mal influenciados’ pelos aspetos já referenciados, que garantem sucesso aos jogadores apenas no curto prazo? Para onde deverão os treinadores ‘olhar’? A que aspetos atender? JC - Em primeiro lugar, em minha opinião, o facto dos treinadores de formação permanecerem durante vários anos no clube é um aspeto que contribui para o sucesso na avaliação e seleção dos jogadores. Quando os treinadores formam equipas de trabalho coesas e não se preocupam exclusivamente com a sua ‘quinta’, criam-se condições para um trabalho de equipa onde os objetivos, conteúdos e formas de avaliação são discutidos e aferidas constantemente. Estes grupos de trabalho deverão definir o conjunto de caraterísticas que procuram nos jogadores e,


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para além disso, recorrerem às equipas de especialistas (psicólogos, fisiologistas, etc.) para reduzir o erro nas suas escolhas. Quando não existe esta preocupação e esta filosofia, o grupo de jogadores forma-se normalmente pelos jogadores que vêm dos escalões inferiores. E depois fica ao critério de cada treinador manter ou não uma ‘bolsa’ de atletas que se vão formando. Mas isto fica ao livre arbítrio de cada treinador. Quando se trabalha em equipa, as probabilidades de se cometerem erros são, à partida, menores. Mas para onde é que nós ‘olharmos’? Essencialmente vamos aferindo uns com os outros as perceções globais sobre o talento dos jogadores, com especial atenção para a força e velocidade que é posta

“poderia pensar-se a constituição dos escalões, não pela idade cronológica, mas pela maturação dos jogadores” em jogo; um pouco para a resistência, essencialmente se há consistência no rendimento entre a primeira e a segunda parte; ‘olhamos’ para a capacidade de decisão e para a velocidade de execução em contexto tático; e se os jovens têm agressividade, consistentes e equilibrados a atacar e defender. Mas diria que a velocidade de execução e decisão são aspetos fundamentais. Contudo, o mais importante, na minha opinião, é que seja feito um trabalho coletivo implicando várias pessoas nesses processos de seleção e desenvolvimento dos potenciais talentos.

Que sugestões tem a ciência encontrado para contornar estes problemas enunciados? IF - Eu dividiria a resposta em duas partes distintas. Primeiro no que diz respeito ao investigadores, porque estou neste momento a fazer isso num projeto de investigação alargado que está a decorrer na FMH, e que já avaliou mais de 900 indivíduos. O que estamos a fazer é a validar instrumentos de avaliação da maturação muito simples, que possam ser usados de forma generalizada pelos treinadores

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independentemente da capacidade financeira do respetivo clube. São cálculos muitos simples que podem facilmente ser executados em Excel e informar os treinadores, com um grau de precisão muito aceitável, sobre o estado maturacional dos jogadores. Mas isto é apenas o que compete aos investigadores nesta área, ou seja, tornar esta informação acessível a todos. No que diz respeito ao treino e à gestão das momentos competitivos, há 3 aspetos que me parecem relevantes. Primeiro, alterar os momentos de inscrição dos jogadores. Por exemplo, se o momento de inscrição dos infantis de 2º ano for entre Janeiro e Dezembro, os infantis de 1º ano deve ser a partir de Julho. E com isto, o efeito de enviesamento quantitativo é atenuado passando o início do ano de seleção a ser diferente de ano a ano. Claro que isto implica que se articule este aspeto a nível nacional e eventualmente até a nível europeu, mas esta é uma medida que sem dúvida contrariaria este efeito que estamos a discutir. Um segundo aspeto é criar mecanismos em que os muito avançados sejam colocados a treinar e jogar com os mais velhos, e os imaturos eventualmente no escalão abaixo. Isto traria maior equilíbrio e competitividade dentro dos escalões dos próprios clubes, o que me parece que favorecerá todos os jogadores. Uma terceira sugestão poderia ser pensar-se a constituição dos escalões, não pela idade cronológica, mas pela maturação dos jogadores, à imagem do que se faz de uns anos a esta parte nas seleções jovens da Bélgica. Mas em minha opinião, os jogadores só deveriam ser colocados 1 escalão à frente ou atrás, relativamente à sua idade cronológica, pois a idade implica um tempo de exposição ao treino que é muito relevante e deve ser atendido, apesar das diferenças maturacionais que possam existir. JC - Se me permitem, gostaria de dar também a minha opinião acerca desse aspeto. Um aspeto que pode ajudar a tudo isto é olhar-se mais para a lógica dos quadros competitivos. Em muitos casos, continuamos ainda com quadros competitivos muito desequilibrados que em nada favorecem a competitividade necessária à evolução de todos. Tem-se feito algum trabalho nesse sentido, mas ainda há muito para melhorar nesse aspeto. Quadros competitivos mais equilibrados será sempre uma vantagem para todos, tanto para as melhoras como para as menos boas. Um segundo aspeto que deixava de realçar é fruto da experiência como treinador que tive fora do país. Muitas vezes cá não temos essa noção, mas no meio de várias nacionalidades de treinadores pude constatar que o treinador português faz uma integração prática de todos estes conhecimentos e operacionaliza o treino atendendo a isso mesmo, a um nível de qualidade muito elevado. No panorama internacional, estamos mesmo muito bem a este nível. Pensa que nos falta evoluir mais é ao nível organizacional.


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À CONVERSA COM

chris topher carling SOBRE ANÁLISE DE JOGO E TECNOLOGIA Tiago Sousa


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Futebol e Tecnologia andam cada vez mais de mãos dadas. O acesso generalizou-se e proliferam várias ferramentas que podem ajudar à preparação de equipas e jogadores. Chris Carling é um dos principais analistas e estudiosos do futebol mundial. Longe das luzes da ribalta contribui para a formação de inúmeros treinadores e outros assistentes, assim como é peça fundamental na gestão do rendimento do Lille FC. Falámos com ele sobre análise de performance e a relevância dos vários avanços nesta área, no contexto atual do Futebol profissional.


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“As competências de relação interpessoal são também muito importantes quando se trabalha com jogadores e treinadores”

Com base na sua experiência prática, quais são, hoje, as principais competências para um analista ser bem sucedido no futebol profissional? Ser capaz de trabalhar intensamente, sobre alta pressão, num ambiente orientado para os resultados e sob elevado nível de confidencialidade. Um analista deve estruturar o seu trabalho em duas dinâmicas distintas: 1) tarefas planeadas num regime cíclico, por exemplo semanal; 2) responder aos pedidos que se tornam prioritários e que exigem uma resposta rápida. É essencial ter a capacidade de organizar e gerir várias tarefas de forma eficiente, e utilizar uma gama de tecnologias e fontes de informação diversas. As competências de relação interpessoal são também muito importantes quando se trabalha com jogadores e treinadores.

Qual a tua opinião sobre “análise qualitativa vs análise quantitativa” e como integras estas abordagens nas tuas análises? Pessoalmente, eu gosto muito duma abordagem qualitativa inicial, que me dá uma ideia global do desempenho da equipa e dos jogadores, e quais os seus pontos fortes e fracos no decorrer do jogo. Esta análise qualitativa ajudame depois a conduzir a minha análise quantitativa focada em dados objetivos que possam ser relevantes. Para além disso, a análise qualitativa inicial também me permite identificar algumas jogadas que serão depois sugeridas ao treinador como forma de feedback aos jogadores e ilustração das análises quantitativas.

Na sua opinião, quais são as grandes diferenças na análise do rendimento entre o futebol profissional e o futebol de formação? Eu não sou um fã de uma utilização sistemática da análise do jogo em escalões etários jovens. Questiono-me sobre qual será a idade óptima para começar a usar análises sistemáticas com os jogadores mais jovens. Um pouco de vídeo talvez, mas as estatísticas detalhadas de jogo, não estou muito convencido acerca da sua importância, especialmente nos escalões mais jovens. O jogador deve essencialmente divertir-se e aprender através dos seus treinadores e da equipa técnica, com os erros e as acções positivas que realizam. Penso que os jogadores mais jovens não deviam ter os desempenhos analisados “até a morte”! Nestas idades é sempre preciso um bom equilíbrio entre os aspetos positivos e os negativos, e se as visualizações de vídeo forem usadas, deve ser com muito cuidado, sempre positiva e construtivamente, de modo a não afectar a confiança dos jogadores.

O que é mais comum hoje em dia no futebol profissional: cada clube ter a sua própria estrutura/departamento de Análise de Performance? Ou possuir formas de obter informação através de fontes/consultores externos? Alguns clubes, essencialmente em Inglaterra, têm grandes departamentos de Análise de Rendimento (performance analysis) e também de Ciências do Desporto (sports science). Contudo, também usam consultores externos


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e/ou provedores de dados. Depende da filosofia do clube, dos recursos financeiros e humanos, dos equipamentos e da logística disponível. Ambos têm as suas vantagens e desvantagens, mas no final, o mais importante é a obtenção de informação precisa e rápida, analisando-a, interpretando-a e usando-a da melhor maneira.

Nos últimos anos, tem sido cada vez mais enfatizado o papel da tecnologia na área da análise da performance. Como acha que o uso da tecnologia nesta área irá evoluir nos próximos anos? Não tenho a certeza, mas os dispositivos de monitorização da performance estão definitivamente a ficar mais pequenos e mais baratos, aumentando a sua precisão e fiabilidade.

“Eu não sou um fã de uma utilização sistemática da análise do jogo em escalões etários jovens” Se as regras do jogo vierem a permitir uma incorporação destas novas tecnologias, penso que elas poderão vir a desempenhar um papel importante no controlo e avaliação da performance. No entanto, gostava de reforçar que, mesmo a melhor tecnologia, é tanto melhor quanto maior a qualidade do analista e do treinador que a usar. Neste sentido, é importante no futuro educar os treinadores e jogadores para estarem sensíveis à utilização de novas soluções tecnológicas.

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Sabemos que esteve envolvido no desenvolvimento do sistema AMISCO, uma das primeiras empresas do mundo a oferecer serviços de análise da performance com base em dados de tracking (dados sobre o posicionamento dos jogadores). Este projecto foi apoiado pela Federação Francesa de Futebol e foi desenvolvido para a Copa do Mundo de 1998 na França, certo? Pode sintetizar os principais desafios que enfrentaram durante este processo? Provavelmente, o sistema era demasiado avançado para a altura e as tecnologias disponíveis na década de 1990, em muitos casos não estavam adaptadas para o que precisávamos para desenvolver o sistema (por exemplo, a qualidade de vídeo digital, as linguagens de programação, a capacidade de processamento e armazenamento dos computadores). Além disso, fomos recebidos com resistência por alguns treinadores de topo, que simplesmente não estavam ‘prontos’ naquela época para um sistema de análise de jogo computadorizado, que analisava o desempenho de cada jogador em cada momento do jogo.

Hoje, os avanços tecnológicos na recolha e métodos de análise de dados permite o uso de métodos inovadores para fornecer feedback em tempo real para os treinadores e suportar as decisões dos gestores dos clubes. Na sua opinião: Hoje a tecnologia permite o feedback aos treinadores em tempo real. Quais são os métodos mais inovadores e interessantes que têm sido usados hoje em clubes de futebol profissional? É difícil responder a esta pergunta, porque muitos clubes, especialmente na Premier League, usam modelos de avaliação da performance muito semelhantes (fitness, monitorização do treino, recuperação, nutrição). Nesse sentido, eu não tenho a certeza do que pode ser considerado inovador ou não nos dias de hoje. Para além disso, os clubes tendem também a manter o silêncio sobre o que realmente fazem ou não fazem!


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“a melhor tecnologia, é tanto melhor quanto maior a qualidade do analista e do treinador que a usar”

É sempre interessante ouvir os praticantes acerca disto, apesar deles frequentemente também terem perceções e opiniões diferentes acerca das suas experiências, entre as quais as experiências na utilização de algumas tecnologias ao nível do futebol profissional. Contudo, a questão da inovação tecnológica é relativa. mesmo sem novos equipamentos, é preciso ser inovador no modo como se usam determinados métodos e sistemas!

Qual é o impacto real destes métodos na alteração da performance durante a competição? É um facto real ou ainda apenas um sonho/ilusão? Por exemplo, existem relatos de treinadores que têm utilizado os dados das análises de jogo, especialmente no treino, de forma a melhorar a preparação para os jogos e, eventualmente, melhorar certas áreas de desempenho do jogo. Por outro lado, também têm sido utilizadas tecnologias que permitem confirmar que os processos de jogo e de treino que estamos a implementar, são corretos para o contexto do nosso clube, ou para identificar as áreas em que precisamos de proceder a pequenos ajustes. Por exemplo, no meu clube (Lille FC), usámos análises de jogo muito simples que diagnosticaram que os nossos suplentes não estavam a causar nenhum impacto nos jogos. Esse diagnóstico objetivo permitiu focarmo-nos nos processos de treino e competição para ajudar a melhorar o desempenho dos nossos jogadores suplentes, que sem dúvida contribuíram de maneira decisiva para nos ajudar a vencer o Campeonato Francês em 2011, com mais de 10 pontos ganhos diretamente pelos suplentes!

Como vê o acesso à tecnologia para os clubes com menos recursos financeiros? Há sempre uma solução para diferentes orçamentos? O preço da tecnologia de análise de jogo está a ficar cada vez mais acessível e a qualidade, mantém-se elevada. Mesmo os jogadores e treinadores amadores podem agora ter acesso, por exemplo, a dados de frequência cardíaca ou de análise dos movimentos, utilizando micro tecnologias

incorporados nos equipamentos de treino e até aplicações de telemóveis. Hoje, existem também softwares freeware disponíveis, que permitem elevar a qualidade do trabalho, seja em que contexto for. No entanto, às vezes as soluções mais simples (papel e caneta) são as mais interessantes e eficazes!

Sendo um analista e investigador reconhecido, inspirando a formação/prática de muitos analistas e treinadores em diferentes países, na sua opinião, qual é a importância que a ciência tem no seu trabalho diário e no desenvolvimento da sua carreira? Acha que os clubes profissionais podem beneficiar se investirem um pouco mais na investigação nesta área? As ciências do desporto têm-me ajudado no meu trabalho, permitindo-me estar atualizado em termos de conhecimento em áreas como a fisiologia, o treino e avaliação da condição física, etc., melhorando assim a minha análise, avaliação e interpretação do jogo. Quanto à sua segunda pergunta, em França, por exemplo, as ciências do desporto ainda oferecem resistência dentro dos clubes de futebol profissional, mesmo ao mais alto nível. Portanto, há espaço para melhorias, sendo que em alguns países, definitivamente, é preciso melhorar a educação dos treinadores nesta área. Os profissionais mais experientes ou conhecedores nesta área, têm também como missão educar, sensibilizar e melhorar as capacidades das pessoas que os rodeiam para o conhecimento mais atual nas ciências do desporto, como tem sido o caso dos clubes em Inglaterra nos últimos 15 anos.


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passes para a vitória PASSES, REMATES, GOLOS E PONTOS – QUE RELAÇÕES? João Nuno Fonseca e Miguel Moita


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Todos os adeptos querem que a sua equipa tenha a bola em sua posse. Quem tem a bola tem a iniciativa, é com esta que se criam oportunidades de marcar e com a mesma que se podem conseguir os desejados golos na baliza adversária. Estes é que dão as sonhadas vitórias! O domínio do jogo pela posse de bola tem tido o seu expoente máximo em equipas de topo, como nos últimos anos têm vindo a demonstrar o Barcelona ou o Bayern de Munique. Nesta forma de jogar, o passe surge normalmente como um elemento central, sendo o elo de ligação entre os jogadores. Através da sua análise, conseguem-se identificar padrões para caracterizar a forma de jogar das equipas. Atualmente o jogo de futebol é analisado continuamente, e todos procuram perceber a relação entre indicadores quantitativos (vulgo estatísticas) e a qualidade de jogo. Analisámos as 32 equipas que participaram na Liga Zon Sagres 2011-12 e 2012-13 para perceber quais as relações entre a tal posse de bola (medida pelo número de passes), a capacidade para criar situações de finalização (número de remates), os golos e a posição final na tabela classificativa. Será que a posse de bola está mesmo relacionada com o sucesso?


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PASSES VS REMATES 2011/2012

19,2

14

10,7

Olhanense

Nacional

Vitória SC

Marítimo

Sporting

Braga

Benfica

183

Porto

272

11,8 10 198

219

9,6

11,1

219

200

n

MÉDIA DE REMATES POR JOGO MÉDIA DE PASSES POR JOGO

19,2 foi o maior

número de remates por jogo, pela equipa do FC Porto, destacando-se simultaneamente na variável passes e remates. O 2º classificado desta edição, SL Benfica, registou um valor menor em 3,4 remates por jogo.

SCB vs SCP

a equipa do SC Braga (3º) registou uma média de passes por jogo inferior ao 4º classificado Sporting CP, mas tem média de remates significativamente superior (superior inclusive ao 2.º classificado).

272 é a média

de passes com sucesso da Académica. As equipas que alcançaram lugares europeus apresentaram uma média tanto de passes como de remates significativamente superior às outras. A exceção foi a Académica que terminou a Liga na 12.º posição (apresentou valores semelhantes aos 5º e 6º classificados).

10,3 11,8 208

10,9

237

183

Leiria

12,8 263

Feirense

13,8 269

Rio Ave

14,6 278

Beira-Mar

314

Académica

16,5

14,5 350

Vitória FC

365

P.Ferreira

15,8

Gil Vicente

397


dividida

PASSES VS REMATES 2012/2013

18 456 16,6 15 11,4

10,5 234

11,7

304

12,9

12

11,9

11,4 253 217

Académica

Marítimo

Nacional

Vitória SC

Sporting

Rio Ave

Estoril

Braga

P.Ferreira

Benfica

Porto

199

188

n

MÉDIA DE REMATES POR JOGO MÉDIA DE PASSES POR JOGO

1º O FC Porto destacou-se pelo nº médio de passes e de remates, tendo sido também o 1º classificado.

3º lugar e acesso à Liga

dos Campeões, o Paços de Ferreira foi a revelação do campeonato sendo o 5º classificado na média de passes com sucesso e o 9º na média de remates. Eficácia.

223 foi o número médio

de passes com sucesso por jogo do Estoril-Praia. Entre os 5 primeiros classificados, este número é significativamente baixo, mas rematou mais que o Paços de Ferreira (3º). Contra-ataque.

SC Beira-Mar

foi o último classificado mas conseguiu melhores resultados do que o 5º no que diz respeito aos passes e remates.

9,8 244

196

203

Gil Vicente

221

10,3

Olhanense

350

8,9

Vitória FC

223

10,8

218

Moreirense

10,2

Beira-Mar

363

15,2

347

35


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PASSES VS GOLOS 2011/2012

2,3 397

2,2

365 1,97

350

314 278

269

272

1,4

263

1,3

1,6

1,1 198 183

1,3

219

219 200

237 208 183

0,9

0,9

1 0,8

0,7 0,8

0,7

N

MÉDIA DE GOLOS POR JOGO MÉDIA DE PASSES POR JOGO

2,3 é a maior média

de golos por jogo da época e pertenceu ao FC Porto.

1.97 é a média de golos

por jogo do Braga. Este valor coloca-o numa classificação à frente do Sporting CP embora este último apresente um número de passes e remates superior.

0,8 é a média de golos

por jogo do CD Nacional. Embora com uma média de passes ao nível do 5º classificado (Marítimo) não a conseguiu traduzir em golos. Académica e União de Leiria são outras duas equipas em que há disparidade na relação passes-golos.

Leiria

Feirense

Rio Ave

Beira-Mar

Académica

Vitória FC

P. Ferreira

Gil Vicente

Olhanense

Nacional

Vitória SC

Marítimo

Sporting

Braga

Benfica

Porto

0,4


dividida

PASSES VS GOLOS 2012/2013

456 2,6 2

2,3 363

350

347 304

1,6 1,5

221

1,4

244 1,1 199

217

1,1 188

196

203

218 1

1 1,2

0,9

N

MÉDIA DE GOLOS POR JOGO MÉDIA DE PASSES POR JOGO

2,6 é o número médio

de golos por jogo do Benfica. Apesar da média de passes menor, o Benfica (2º) demonstrou eficácia na finalização ultrapassando neste indicador o FC Porto (1º). O mesmo se verifica entre o 4º (SC Braga) e o 3º classificado (Paços de Ferreira).

1,2 é a média de golos

do Sporting CP e relaciona-o com a sua incomum posição na tabela.

0,6

Moreirense

Gil Vicente

0,6

Olhanense

Vitória FC

Académica

Marítimo

Nacional

Vitória SC

Sporting

Rio Ave

Estoril

Braga

P.Ferreira

Benfica

Porto

0,6

Beira-Mar

223

253

1,3

234

37


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PASSES VS PONTOS 2011/2012

MÉDIA DE PASSES COM SUCESSO POR JOGO

450 Vitória SC

Académica

350 300

Porto

Sporting

400 Rio Ave

Nacional

Beira-Mar

P. Ferreira

Leiria

Benfica

250 Braga

200

Marítimo

150 Feirense

100

Gil Vicente

Vitória FC

Olhanense

50 0 MÉDIA DE PONTOS POR JOGO

média de pontos média de passes com sucesso

Porto Benfica Braga Sporting

1º ao 8º

classificado - apenas o Sporting CP apresentou uma média de passes com sucesso superior à equipa que lhe ficou imediatamente acima na tabela classificativa (SC Braga).

9º ao 16º

1

0,5

classificado - grande aleatoriedade em termos de relação, mas a Académica (12º) apresentou um número de passes com sucesso ao nível de um 7º classificado na Liga.

2,5 2,3 2,07 1,97

397 365 314 350

1,5

Marítimo Vitória SC Nacional Olhanense

183 é o número médio

de passes com sucesso por jogo do Olhanense SC. Apesar de apresentar a 2ª média de passes mais baixa da Liga, conseguiu a 8ª posição na Liga. Curiosidade.

1,67 1,5 1,47 1,3

2,5

2

278 269 263 183

Gil Vicente P. Ferreira Vitória FC Académica

1,13 1,03 1 0,97

0,7838 este indicador

estatístico demonstra uma correlação forte entre o número passes com sucesso e os pontos por jogo. Mais passes com sucesso traduz-se em mais pontos.

198 219 200 272

Beira-Mar Rio Ave Feirense Leiria

3

0,97 0,93 0,80 0,63

219 208 183 237


dividida

39

PASSES VS PONTOS 2012/2013 MÉDIA DE PASSES COM SUCESSO POR JOGO

500

Porto

450

Sporting

400 350

Nacional

Gil Vicente

Beira-Mar

Braga

Marítimo

300 Benfica

250

Moreirense

P. Ferreira

200 Estoril

Académica

150 Olhanense

100

Rio Ave

Vitória SC

Vitória FC

50 0 MÉDIA DE PONTOS POR JOGO

média de pontos média de passes com sucesso

1

0,5

Porto Benfica P. Ferreira Braga

1º ao 8º

classificado – Sporting CP tem a 3ª melhor média de passes mas concluiu a liga na 7.º posição. Nos 8 primeiros, SC Braga e Paços de Ferreira por outro lado apresentam médias de passes inferiores às equipas que as precedem na tabela classificativa. Exceções.

2,6 2,57 1,8 1,73

456 363 304 347

1,5

Estoril Rio Ave Sporting Vitória SC

456 vs 183

maior e menor número médio de passes com sucesso registados no conjunto das duas épocas analisadas (FC Porto e Feirense), sendo um aproximadamente o dobro do outro.

1,5 1,4 1,4 1,33

2,5

2

223 234 350 221

Nacional Marítimo Académica Vitória FC

1,33 1,27 0,93 0,87

217 253 199 188

Olhanense Gil Vicente Moreirense Beira-Mar

3

0,83 0,83 0,8 0,77

0,73799

Também nesta época a correlação entre o número de passes com sucesso e os pontos por jogo foi forte. Novamente, as equipas que melhor passam, tenderam a conseguir mais pontos.

9º ao 16º

classificado - novamente grande aleatoriedade. A equipa do SC Beira-Mar foi última classificada na liga mas registou o 7º valor mais elevado na média de passes com sucesso por jogo.

Estatísticas de jogo cedidas por:

203 196 218 244


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As equipas que lutam por objectivos cimeiros, regra geral, são as que apresentam um maior domínio da posse, sendo também estas as que conseguem um nº de remates e golos superior. Destaca-se assim a vantagem de ter a bola para preparar o ataque, conseguindo mais situações de finalização, golos e por conseguinte, uma forte relação com os pontos obtidos. Para os clubes da metade inferior da classificação, as relações não são tão acentuadas, verificando-se mesmo em alguns casos uma diferença significativa na sua eficácia ofensiva (muitos remates e poucos golos). Entendemos que outros fatores podem ter mais influência nesta porção da tabela, como por exemplo, a qualidade técnica dos jogadores que condiciona a eficácia ofensiva e o maior nº de golos sofridos por parte dessas equipas (baixa eficácia defensiva). Não há só um caminho para a vitória, como não há só uma forma de jogar para ter sucesso – factores como a cultura do clube, os jogadores disponíveis, entre outros ligados à metodologia de treino, influenciam a gestão e decisões dos treinadores. Confirmámos que atualmente na Liga Portuguesa a capacidade para ter a bola é importante para lutar por objectivos europeus, não sendo este um factor tão diferenciador para as restantes posições.


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vítor pereira ENTREVISTA COM

Ex-Treinador Bicampeão Nacional pelo FC Porto 2011-12 e 2012-13, Treinador do Al-Ahli SC (Arábia Saudita)


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“parece-me claro que esse indicador (nº de passes) foi determinante para a vitória na maioria dos jogos e consequente 1º lugar no final do campeonato” Como interpreta os resultados relativos à elevada correlação entre a posse e o n.º de pontos, na metade superior da tabela classificativa? Na minha opinião, e de acordo com aquilo que é a minha forma de jogar, a posse de bola assume um papel determinante no sucesso das minhas equipas. Olho para um jogo de futebol sempre com o mesmo objectivo e, nesse sentido, se a minha equipa tiver a bola mais tempo que a adversária estará mais perto de ganhar o jogo de certeza absoluta. Perspectivo todas as sessões de treino tendo esse princípio como um dos mais importantes e solicitados e só assim se consegue implementar essa característica na equipa. Isso e a qualidade dos próprios jogadores fazem com que seja possível atingir níveis como os que apresentámos nestes dois últimos anos. Logo, e tendo como exemplo a Liga do ano passado, parece-me claro que esse indicador (nº de passes) foi determinante para a vitória na maioria dos jogos e consequente 1º lugar no final do campeonato.

Na metade inferior da tabela, a relação entre a posse e nº de pontos foi pouco evidente. Quais pensa serem os factores que diferenciam a classificação das equipas neste caso particular? Por exemplo, o Moreirense e o Beira-Mar - duas equipas que desceram de divisão - apresentaram uma média de passes superior a três equipas posicionadas nos 8 primeiros lugares). Possivelmente, nos casos referidos, a qualidade de jogo pode nem sempre ser suficiente para assegurar a conquista de mais pontos que uma outra equipa com menos qualidade ou domínio do jogo, considerando o facto da posse conferir

domínio, que na minha opinião confere. Nestes casos, por vezes o aspecto individual faz mais diferença que o aspecto colectivo. Ou seja, uma determinada equipa pode ter um perfil de jogo de privilegiar o passe e a posse como algo importante e até conseguir fazê-lo. No entanto, pode eventualmente ter problemas em finalizar por défice de qualidade dos jogadores mais adiantados. E uma outra equipa com um perfil de jogo mais direto, de menos posse de bola, pode através dessa forma de jogar ser mais eficaz, tendo por ventura jogadores mais adaptados a essa forma de atuar (jogadores rápidos para aproveitar o espaço e melhores executantes no momento de rematar à baliza). Quando treinamos uma equipa temos a nossa forma de jogar preferida, temos a nossa matriz de comportamentos que privilegiamos. Contudo temos, antes de mais, de ter a capacidade de perceber se temos jogadores para jogar dessa forma ou se temos de alterar alguma coisa, porque são os jogadores que posteriormente têm de jogar o “nosso” (e deles) jogo.

Na última temporada (2012-13), o FC Porto e o SL Benfica terminaram o campeonato com uma diferença mínima de pontos, no entanto a diferença na posse (nº de passes) foi significativa (± 19%). - Na sua opinião, esta diferença ajuda a compreender a forma de jogar das duas equipas? Sim, claramente. Como disse na resposta anterior, não há uma só forma de jogar e é possível alcançar sucesso de várias formas. Agora uns treinadores acreditam mais numas coisas e outros noutras. É nisso que o futebol é extremamente rico. Reconheço competência à forma de jogar do Benfica nos dois anos anteriores, até porque


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“Se tivermos a bola em nosso poder, e visto que só há uma em jogo, de certeza que poderemos controlar melhor o jogo” os resultados assim o comprovaram. No entanto, assumo claramente que estávamos perante duas formas diferentes de perspectivar o jogo. Uma em que se privilegiava o domínio pela posse e segurança da mesma e agressividade no momento da perda e uma outra (Benfica) pelo acelerar no momento do ganho da bola, embora com mais posse que os demais adversários com exceção do Porto. Repito, são duas formas diferentes de jogar, cada uma com as suas características e as duas com possibilidade de alcançar sucesso. Eu acredito muito mais na primeira, é essa que quero para as minhas equipas e confio plenamente que quando o consigo implementar estou mais perto de ganhar do que com qualquer outra forma de jogar. Mas, como disse também, respeito as outras concepções.

Que vantagens identifica num jogo de posse mais acentuado como o do FC Porto face ao estilo de jogo mais vertical do SL Benfica (que olhando ao nº de golos foi até mais eficaz nesta temporada)? As minhas equipas gostam de ter a bola, sentem-se bem com ela em seu poder e quando a perdem vão à procura dela de novo o mais rapidamente possível. Fazem isto, não apenas porque o treinador acredita nisso, mas porque eles próprios acreditam nessa ideia. Logo isso, na minha opinião, é um indicador importante. Se tivermos a bola em nosso poder, e visto que só há uma em jogo, de certeza que poderemos controlar melhor o jogo. Sim, também

podemos ter a bola e não sermos agressivos no último terço, é verdade, mas não é isso que incuto nas minhas equipas. Incuto uma ideia de ter bola, de ter domínio total, mas um domínio para atacar consecutivamente, para criar inúmeras oportunidades de fazer golo. Uma posse, mas uma posse para a equipa andar para a frente e não para o lado. Ora, dessa forma, acredito estar em melhores condições de ganhar os jogos.

Olhando à fase defensiva do jogo, vemos que FC Porto sofreu 14 golos contra os 20 que sofreu o SL Benfica, terá também aqui a posse sido um fator determinante? Sim, está perfeitamente relacionado e interligado. A nossa forma de jogar, se requer ter bola, implica obrigatoriamente critério no momento de a ter (não a perder sistematicamente) e agressividade no momento de a recuperar. Recuperar para voltar a ter a tal posse, a qual acreditamos nos leva ao sucesso. O Porto das duas últimas épocas foi sempre assim, com este perfil de jogo e penso que os resultados comprovam, claramente, que foi a melhor forma de alcançar o sucesso pretendido.

“Uma posse, mas uma posse para a equipa andar para a frente e não para o lado”


dividida

47


48 dividida

transfe rências de jogadores COMPRAS E VENDAS NA 1ª LIGA PORTUGUESA Jorge Belga


dividida

49

Em todas as “janelas de transferências” os clubes compram e vendem jogadores com vista a reforçar os seus plantéis. Estas operações visam objectivos não só desportivos, mas cada vez mais também económicos. Paralelamente, a sustentabilidade é cada vez mais um “tema quente” no futebol mundial e já está aí a nova lei do “Fair Play Financeiro” que pode ditar pesadas penalizações para aqueles que não garantam saldos globais equilibrados. Assim, sendo a negociação de jogadores uma das fontes de receita/ despesa dos clubes, fomos ver de que forma estes se têm comportado na 1ª Liga Portuguesa, ao longo da última década (2003/04 – 2013/14). Quais os clubes que mais gastaram? Onde se encontra a nossa Liga quando comparada com as “maiores 5” Ligas mundiais? Que oportunidades se desvendam para o futuro? Notas: Na época 2013/14 ainda não estão incluídos os valores das transferências do “mercado de Inverno” – dados só disponíveis no final de Janeiro 2014. Todas as equipas que, desde a época 2003/2004, entraram na principal liga portuguesa estão incluídas no estudo. No que respeita à comparação das ligas, o critério de seleção foi baseado no número de presenças das diferentes ligas de futebol no top 10 ao longo da última época, tanto do ponto de vista das receitas como das despesas associadas com as transferências de jogadores. Fonte: www.transfermarkt.co.uk


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NÚMERO DE TRANSFERÊNCIAS POR ÉPOCA

2003/2004

265

465

200 321 339

2004/2005

660 396 394

2005/2006 334 348

2006/2007

682 412 428

2007/2008

844

453 454

2010/2011

907

467 465

2011/2012

932

368 381

2012/2013

de transferências (entradas + saídas) numa só época (2011/12). Desde este ano temse verificado um abrandamento em termos de movimentações: as 514 transferências da época 2012/13 apenas têm aproximação aos valores de há 10 anos.

745

420 424

2009/2010

932 foi maior número

840

383 362

2008/2009

2013/2014

790

293 221

749 514

ENTRADAS SAÍDAS TOTAL TRANSFERÊNCIAS


dividida

51

RECEITAS COM TRANSFERÊNCIAS POR CLUBE

VALORES EM EUROS

€95 250 000

100 000 000

€90 980 000

90 000 000 80 000 000

PORTO

70 000 000 60 000 000 50 000 000 40 000 000

€33 200 000 SPORTING

30 000 000

€23 236 000

20 000 000 10 000 000

BENFICA €10 000 000

€1 802 000

€130 000

0

€0

2003 2004

MÉDIA OUTROS CLUBES

BRAGA BENFICA MÉDIA OUTROS CLUBES

€0 €0

2004 2005

2005 2006

Guimarães, Leiria, P. Ferreira, Marítimo, Gil Vicente, Belenenses, Boavista, Nacional, Moreirense, Beira-Mar, Académica, Rio Ave, Alverca, E. Amadora, Penafiel, Setubal, Estoril, Naval, Aves, Leixões, Trofense, Olhanense, Feirense e Arouca

2006 2007

2007 2008

2008 2009

2009 2010

2010 2011

622.885M€

2011 2012

foi o valor total de receitas - venda de jogadores mais elevado no conjunto da última década, pertence ao Porto. O Benfica segue-o com 52% desse valor (326.825M€), sendo estes os dois clubes que mais dinheiro geraram nos mercados de transferências.

2012 2013

2013 2014

14% é a diferença entre

as receitas dos dois clubes, obtidas através das vendas de jogadores, num período mais recente (2010-presente), verificando-se a aproximação do Benfica (Benfica 222.995M€ versus Porto 258.770M€)

92.250M€

foi o maior valor de vendas realizado por uma equipa portuguesa numa época desportiva (Porto 2004/05).


52

dividida

DESPESAS COM TRANSFERÊNCIAS POR CLUBE

VALORES EM EUROS

50 000 000

0

50 00

€46 6

45 000 000

0

65 00

€39 1

40 000 000

BENFICA

0

50 00

35 000 000

€33 8

30 000 000

PORTO

25 000 000 20 000 000 15 000 000 €7 900 000

10 000 000 5 000 000 0

€1 350 000

€230 €0

2003 2004

MÉDIA OUTROS CLUBES

SPORTING

0

0 00 €5 28

€1 000 000

BRAGA

417

MÉDIA OUTROS CLUBES

€346 714

2004 2005

2005 2006

Guimarães, Leiria, P. Ferreira, Marítimo, Gil Vicente, Belenenses, Boavista, Nacional, Moreirense, Beira-Mar, Académica, Rio Ave, Alverca, E. Amadora, Penafiel, Setubal, Estoril, Naval, Aves, Leixões, Trofense, Olhanense, Feirense e Arouca

2006 2007

2007 2008

2008 2009

2009 2010

2% é a diferença entre as

2010 2011

despesas dos dois clubes, resultantes das compras de jogadores, num período mais recente (2010-presente), verificando-se grande proximidade em termos de investimentos (Benfica 130185M€ versus Porto 127892M€).

+3.100M€

Valor semelhante gastaram Sporting e Braga na última janela de transferências (Verão 2013). Muito abaixo de Benfica e Porto com 36.900M€ e 30.300M€ respectivamente.

2011 2012

2012 2013

2013 2014

622.885M€

foi o valor total de receitas - venda de jogadores - mais elevado no conjunto da última década, pertence ao Porto. O Benfica segue-o com 52% desse valor (326.825M€), sendo estes os dois clubes que mais dinheiro geraram nos mercados de transferências.

46.650M€

foi o maior valor de compras realizado por uma equipa portuguesa numa época desportiva (Porto 2008/09). Nota: em 2013/14 ainda não estão incluídas da janela de transferências de Janeiro 2014


dividida

53

SALDOS DE TRANSFERÊNCIAS POR CLUBE VALORES EM EUROS

€76 190 000

80 000 000 70 000 000 60 000 000

€54 155 000

50 000 000

PORTO

40 000 000 30 000 000

€28 487 000

SPORTING

€17 948 000

20 000 000 10 000 000

BRAGA €346 714

0

€1 617 833

MÉDIA OUTROS CLUBES

- €2 130 000

- €1 220 000

-10 000 000 -20 000 000

BENFICA

-30 000 000

- €27 218 000

- €27 470 000

2003 2004

2004 2005

2005 2006

2006 2007

2007 2008

316.443M€

foi o saldo positivo para as transferências do Porto na última década. Benfica segue-o com totais de 73.365M€.

2008 2009

2009 2010

2010 2011

61.668M€

2011 2012

Braga é o 3º clube com saldo mais positivo no conjunto da última década, ultrapassando o Sporting em 24.000+M€. Verifica-se pela evolução dos dois clubes mais estabilidade no balanço da relação despesas/receitas do Braga nas transferências de jogadores.

2012 2013

2013 2014

Os restantes clubes têm apresentado saldos de transferências no total da última década frequentemente positivos, ainda que as receitas das vendas de jogadores sejam bastante mais baixas.


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SALDOS TOTAIS DE TRANSFERÊNCIAS €200 385 000 VALORES EM EUROS

€185 199 000

220 000 000

€112 058 000

200 000 000 €45 330 000

180 000 000 160 000 000

€20 630 000

140 000 000 120 000 000 100 000 000 80 000 000 60 000 000 40 000 000 20 000 000 0 2003 2004

2004 2005

2005 2006

2006 2007

2007 2008

2008 2009

2009 2010

2010 2011

2011 2012

2012 2013

2013 2014

RECEITAS DESPESAS

10 das 11 épocas

analisadas, quase em todas os valores totais ganhos com as vendas superaram os valores gastos com as compras de jogadores. Claramente a 1ª Liga Portuguesa no seu conjunto tem gerado saldos totais positivos ao longo da última década.


dividida

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SALDOS TOTAIS DE TRANSFERÊNCIAS POR CLUBE

VALORES EM MILHÕES EUROS

BRASIL

200

PORTUGAL HOLANDA

100

ARGENTINA ITÁLIA TURQUIA

0

RUSSIA INGLATERRA 2ª ALEMANHA

- 100

FRANÇA

- 200

- 300

- 400

INGLATERRA

- 500 2003 2004

2004 2005

- 5.6 Bn€

2005 2006

foi saldo obtido no somatório das 5 maiores ligas (Inglaterra, Itália, Espanha, Alemanha e França) ao longo das épocas analisadas. A Liga Inglesa é a que tem demonstrado uma tendência de perdas mais acentuadas no negócio das transferências de jogadores.

2006 2007

632 M€

2007 2008

2008 2009

A Liga Portuguesa apresenta um dos saldos positivos mais elevados nas transferências de jogadores, no conjunto das épocas estudadas. Das Ligas do Top10 com saldo positivo, apenas o Brasil (949M€) apresenta um saldo superior a Portugal.

2009 2010

2010 2011

2011 2012

2012 2013

2013 2014


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“Sporting e o Benfica são os clubes que mais têm oscilado quanto ao saldo da compra/venda de jogadores (...) o Porto tem conseguido garantir resultados mais equilibrados”

Portugal é tradicionalmente um país de passagem para muitos jogadores, no entanto o número de transferências das últimas épocas demonstra um abrandamento... Será isto um reflexo dos constrangimentos económicos que afectam as sociedades e o futebol mundial? Sporting e o Benfica são os clubes que mais têm oscilado quanto ao saldo da compra/venda de jogadores no conjunto das últimas épocas. O Porto tem conseguido garantir resultados mais equilibrados (praticamente sempre em terreno positivo). Estas oscilações entre saldos negativos e positivos, refletem a “aposta” e “risco” assumida pelos clubes, onde anualmente nem sempre os gastos são acompanhados pelas vendas financeiros. É verdade que as estratégias podem ser plurianuais, mas estas nem sempre são claras,

tornando-se mais penalizador quando não são acompanhadas dos resultados desportivos esperados face aos investimentos – exemplo: o Sporting 2011/12 dobrou o investimento na compra de jogadores (valor record no clube) e apurou um 4º lugar nessa época, seguido de um 7º posto em 2012/13... Nestes clubes, verifica-se tendencialmente uma grande dependência dos valores das vendas para conseguirem atingir o equilíbrio económico no mercado de transferências. No entanto, o Sporting 2013/14 parece ter alterado a sua estratégia no mercado - talvez de forma forçada após uma época de balanço negativo record na ordem dos -27.2M€ denotando principalmente uma redução substancial no valor das compras face a épocas anteriores.


dividida

“Portugal é um dos principais países exportadores (a par de Brasil e Argentina) mas também um dos mais sustentáveis”

Relativamente ao potencial da 1ª Liga, em comparação com Ligas estrangeiras, os resultados mostram que de uma forma geral, os nossos clubes “compram barato e vendem caro”. Isto traduz-se em saldos constantemente positivos no somatório das transferências Portuguesas. Portugal é um dos principais países exportadores (a par de Brasil e Argentina) mas também um dos mais sustentáveis, verificando-se uma oportunidade clara para os clubes utilizarem esta mais valia de forma estratégica.

Nota: estes valores totais são inflacionados pelos grandes clubes que maiores volumes de dinheiro movimentam nas suas transferências.

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carlos gonรงal ves ENTREVISTA COM

Agente FIFA / Proleven


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Olhando para o gráfico do número total de transferências por época, nota-se um progressivo crescimento até 2011/12, mas uma queda acentuada depois disso. O que pensa e o que tem sentido no terreno, que possa explicar estes valores (atenção que 2013-14 não tem ainda as transferências de Janeiro)? O principal factor que influência uma diminuição do número de transferências nos últimos anos em Portugal é sem dúvida a falta de liquidez que a esmagadora maioria, para não dizer a totalidade dos clubes tem em Portugal. Com o aumento da carga fiscal, com o estrangulamento do financiamento da banca motivado pela crise em Portugal e pela intervenção da “Troika”, aliado a uma diminuição drástica das receitas de publicidade, fez com que a grande maioria dos clubes com passivos relativamente altos tivesse necessidade de fazer cortes no seu número de transferências. Outro factor a ter em conta é a aposta nas equipas B que fez com que alguns clubes passassem a ter a sua disposição um conjunto de jovens valores que pudessem colmatar uma eventual necessidade de ir ao mercado externo, não podendo ser dissociado o aumento dos salários dos jogadores brasileiros que fez com que um mercado natural de recrutamento dos clubes portugueses se tivesse tornado quase de um momento para o outro num mercado quase impossível de recrutamento. A aposta muitas vezes baseada na necessidade de cortar em gastos quer de transferências, quer de grandes salários fez com que a Formação passasse a estar no centro de recrutamento de diversos clubes, Sporting, V.Guimarães, Belenenses, Marítimo e V. Setúbal são excelentes exemplos de uma mudança de tendência quanto ao recrutamento do futebol sênior fazendo assim com que o número de transferências tenha diminuído.

“A aposta muitas vezes baseada na necessidade de cortar em gastos quer de transferências, quer de grandes salários fez com que a Formação passasse a estar no centro de recrutamento de diversos clubes”

61

Atendendo aos saldos receitas-despesas com transferências de jogadores, estes têm sido em geral sucessivamente positivos na Liga Portuguesa. O que pensa estar na origem deste “sucesso”? A liga portuguesa não sendo uma das principais ligas a nível de receitas faz com que os clubes Portugueses para equilibrar as suas contas recorram a vendas de ativos como quase uma receita corrente. As grandes campanhas das equipas portuguesas na Europa tendo o FCP como seu principal expoente, acompanhado pelo SLB, SCP e SCB fez com que os jogadores que atuam em Portugal fossem vistos com outros olhos nos mercados com mais capacidade financeira. Portugal nunca foi e nunca será um pais fim de linha para os grandes talentos. A muito maior capacidade financeira dos clubes das principais ligas europeias, encabeçado pela Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e França faz com que sejamos um pais naturalmente exportador.

“o jogador Português é sem dúvida nenhuma um dos mais talentosos do mundo” Portugal, em comparação com outros países, tem apresentado com frequência um rendimento positivo no valor de compras-vendas de jogadores ao longo dos anos, até acima de várias das maiores Ligas europeias. Como vê e perspectiva o mercado Português para os próximos anos? E que posicionamento pensa que este pode assumir no panorama internacional? Penso que a tendências será para manter nos próximos anos, como já sublinhei a grande diferença de orçamentos ente os nosso clubes e um elevado número de equipas de grande e média dimensão na Europa faz com que esta tendência seja para se manter, no entanto atendendo à crise que também se faz sentir em Países importadores como é o caso da Espanha e da Itália fará com que a diferença nessa balança venha a ser menor nos próximos anos. Penso que a aposta na formação deverá ser sem qualquer tipo de hesitação o posicionamento correto das equipas portuguesas, o jogador Português é sem dúvida nenhuma um dos mais talentosos do mundo, a facilidade com que nos adaptamos a diferentes culturas e formas de estarfaz com que sejamos vistos sempre como um mercado apetecível para as grandes potências clubistas do futebol Europeu.


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a liga nas re Porto

134076

Benfica

131933

Sporting

Braga P. Ferreira

57336

4529 2142

Rio Ave

742

MarĂ­timo

741

Nacional

735

Belenenses

726

Olhanense

723

Gil Vicente

448

Arouca

150

twitter

youtube

Benfica

Porto

Sporting

31541

15953

27510

Dados retirados das pĂĄginas oficiais e SocialNumbers.com a 01.11.2013


dividida

63

edes sociais Benfica

1409065

Porto

1203188

Sporting

658821

Acad茅mica

43996

Braga

36045

Vit贸ria SC

35719

P. Ferreira

23131

Belenenses

18498

Vit贸ria FC

18224

Mar铆timo

14672

Rio Ave

7141

Gil Vicente

7077

Arouca

6541

Nacional

6271

Estoril

4984

Olhanense

4043

Benfica

77751

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Sporting

Porto

61135

42104


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autores Carlos Bruno

Tiago Sousa

O Carlos Bruno é Pós-graduado em Treino de Alto Rendimento na FMH. É CSCS (Certified Strength & Conditioning Specialist) pela NSCA. Faz parte da estrutura do futebol do SCP desde 1998, tendo trabalhado vários anos na equipa principal. Atualmente coordena o Sporting Performance Lab, departamento responsável pela avaliação, monitorização e prescrição do treino físico das equipas de futebol.

O Tiago está a concluir a licenciatura de Ciências do Desporto na FMH - Futebol (após terminar a de Reabilitação Psicomotora). Estagiário no Casa Pia A.C., experiência profissional na prospecção do S.L.Benfica, tendo passado também pela Escola Academia do Sporting C.P e Atlético C.P. como treinador.

Nuno Matias

João Nuno Fonseca

O Nuno licenciou-se em Ciências de Desporto na FMH, ramo treino desportivo - futebol. Possui o nível 2 de treinador (UEFA B). Foi treinador no Sporting C.P (juvenis), durante duas épocas. Actualmente integra o Sporting Performance Lab.

O João licenciou-se em Ciências do Desporto na FCDEFUC com especialidade em Futebol. Mestre em Treino Desportivo pela FCDEF-UC com dissertação final sobre Análise de Jogo. É Analista de Jogo na equipa principal da Académica desde 2010 e também treinador-adjunto da equipa “B” (Sub-23).

José Barbosa

Miguel Moita

O José é licenciado em Ciências do Desporto - Educação Física e Desporto Escolar. Mestre em Treino Desportivo pela FMH. Estudou em Granada (Espanha) durante 6 meses. Desde 2006 que é treinador de futebol, tendo já passado por todos os escalões (escolas a seniores), e funções de coordenação e prospecção de jovens talentos (Sporting C.P.).

O Miguel é licenciado em Desporto e Educação Fisica pela FCDEF-UP (actual FADEUP) - especialização em Metodologia de Futebol. Teve experiências como treinador assistente/observador/analista no G.D.Chaves, S.C.BeiraMar, S.C.Braga e Olympiacos Pireus (Grécia), estando actualmente na equipa sénior do Sporting CP. Em paralelo está a tirar o curso de treinadores UEFA Advanced.

Tiago Maia O Tiago licenciou-se em Ciências do Desporto na FMH Futebol com seminário em análise de jogo. Foi treinador no Sporting C.P. (iniciados) onde integrou também o Departamento de Scouting (5 épocas). Em 2011-12 foi treinador adjunto no FC Lokomotiv Moscovo (Rússia) exercendo actualmente as mesmas funções no Vitória FC.

Jorge Belga O Jorge é aluno da licenciatura de Ciências do Desporto da Faculdade de Motricidade Humana. Nas últimas duas épocas integrou o Departamento de Prospeção do S.L.Benfica. Foi treinador adjunto no Casa Pia AC e na EAS Algés.


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