Revista Cerrado Rural

Page 1

TRANSGENIA

Depois da soja, o feijão é o mais novo vegetal geneticamente modificado pela tecnologia brasileira. Agora é aguardar a disponibilidade para a multiplicação

A REVISTA DO CERRADO BRASILEIRO

Ano IX Número 42 R$ 9,50

www.cerradoeditora.com.br

VAI UM CHOPP DE UVA? Antes uma aventura, hoje a viticultura em Goiás já é uma realidade consolidada, não só na produção da fruta para consumo in natura, mas também na indústria de suco natural e até chopp. As condições edafoclimáticas do Estado proporcionam qualidade e produtividade semelhares e até melhor que as que são produzidas em regiões tradicionais do Brasil

SANIDADE

FORA AFTOSA

É tempo de vacinar o rebanho. Bahia, Goiás e Tocantins têm sido modelos de combate a aftosa e dão mais um passo para tornarem-se livre do mal e sem vacinação

PSICULTURA

Bacalhau brasileiro

Estado com potencial para ser pólo piscicultor no Brasil, Tocantins desenvolve pesquisas para melhorar esta cultura, inclusive a criação do Pirarucu em cativeiro

Qiu Xiaoqi, embaixador da China no Brasil: “Brasil é estratégico para alimentar a China”


Uma revolução no cerrado

brasileiro ANTÔNIO OLIVEIRA

ESPECIAL

Ferrovias, hidrovias, rodovias e aeroportos de cargas vão transformar os cerrados das regiões Centro, Norte e Nordeste do Brasil na principal mola propulsora da logística brasileira. Mais do que isto, vai incrementar a produção agropecuária e a agroindústria. Só de plantas de etanol, estão previstos mais de 40 ao longo da Norte-Sul. É o novo Brasil que surge onde antes era “o nada” e hoje caminha para ser um dos celeiros da humanidade. Fizemos um completo Raio X desta nova realidade e o publicaremos, em caderno especial, na nossa próxima edição.

Um das centenas de projetos de irrigação no oeste da Bahia para a produção de café, frutas, grãos e sementes

Que deixem o desenvolvimento fluir Regiões têm tudo para transformar o Brasil numa super potência

Antônio Oliveira

A

crescente demanda mundial por alimentos, fibras e bioenergia fez dos Cerrados da Bahia (oeste do Estado), Maranhão, Piauí (região sul destes estados) e Tocantins – o que nós aqui de Cerrado Rural chamamos de BAMAPITO e não só MAPITO, como denominam muitos no Brasil, esquecendo-se que o oeste da Bahia está, também, inserido neste contexto -, nas últimas duas décadas, alvos de grandes investimentos nacionais e internacionais para a produção agropecuária e agroindustrial. São, aproximadamente, 20 milhões de hectares formados por terras planas, o que facilita a mecanização, e condições edafoclimáticas que propiciam a introdução e cultivo de diferentes culturas agrícolas e pecuárias. Não só grandes grupos nacionais estão presentes nestas regiões, principalmente nos Cerrados da Bahia, mas também produtores e agroempresas internacionais. Entre estas, destacam-se empresas com faturamento anual entre R$ 100 milhões e R$ 300 milhões, como

SLC Agrícola, Multigrain, Bunge, Cargil, Amaggi, Louis Dreyfus e ADM, que estão presentes em quase todo o BAMAPITO. E novos grupos, de todas as partes do mundo, estão chegando, como é caso do Pallas International, que pretende adquirir entre 200 mil e 250 mil hectares de terras no oeste da Bahia. Este grupo, formado por investidores chineses, quer plantar grãos para exportação e, ainda, produzir bioenergia. O potencial destas quatro regiões é tão grande que chegou a surpreender os Estados Unidos. Preocupados com a concorrência com o Brasil na produção de grãos, o Departamento de Agricultura daquele país, fez, há anos, uma pesquisa sobre a capacidade produtora rural das terras brasileiras e chegou à conclusão que o BAMAPITO se constituirá na maior região contínua de produção de alimentos, fibras e biomassa no mundo. Uma verdade que se tornou bem visível nos últimos anos. Só para se ter uma idéia, somente no oeste da Bahia, o PIB gerado pelo agronegócio é de mais ou menos R$ 3 bilhões e a produtividade e qualidade de produtos como soja e algodão nesta

região são as mais altas de todo o Brasil. Juntas e com desenvolvimento livre dos obstáculos da logística, essas regiões podem transformar o Brasil num grande celeiro e numa superpotência econômica mundial. Entretanto, as quatro regiões são carentes de infraestrutura, como logística. Contudo, mesmo que, a toque de caixa, iniciativa privada e os governos federal e daqueles estados estão desenvolvendo projetos que vão melhorar as condições de produção e escoamento, integrando essas regiões, por sistemas multimodais, aos principais centros consumidores nacionais e internacionais. Os mais beneficiados por esses projetos são o Tocantins e o oeste da Bahia, principalmente com a construção das ferrovias Norte-Sul e Leste-Oeste. A primeira vai ligar os portos do Litoral Norte às regiões Sul e Sudeste do Brasil, cortando todo o Tocantins, de norte a sul e, a segunda, ligando o Litoral baiano à Ferrovia Norte-Sul, no sul do Tocantins. Acentuando seu compromisso e afinidade com este contexto, Cerrado Rural fez um Raio X deste panorama. Veja nas páginas seguintes. ABRIL 2011 |

15

RESERVE SEU ESPAÇO PUBLICITÁRIO

A REVISTA DO CERRADO BRASILEIRO A REVISTA DO CERRADO BRASILEIRO

www.cerradoeditora.com.br

www.cerradoeditora.com.br


CARTA DO EDITOR

EXPEDIENTE

Há oito anos divulgando, promovendo e integrando o Cerrado do Centro, Norte e Nordeste do Brasil

Antônio Oliveira

Editor-geral: Antônio Oliveira RP: 474/70 Diretor comercial: Quintino Castro Cerrado Rural Agronegócios tem foco jornalístico e circulação voltados para os cerrados da Bahia (região oeste), Maranhão (região de Balsas), estados de Goiás e Tocantins. Nós demais estados circulam por meio de assinaturas e dirigida. Publicada por Cerrado Editora Comunicação e Marketing Ltda. OBSERVAÇÃO RELEVANTE: Cerrado Editora está em processo de reestruturação e está instalada provisoriamente à Avenida Armando de Godoy, quadra 25, nº 9 – Setor Negrão de Lima – Goiânia-GO Cep.: 74.650-010 Em breve retomaremos nossa estrutura com novas sedes em Goiânia (GO), com nosso foco voltado para Goiás; e Palmas (TO), voltado para Tocantins, oeste da Bahia e sul do Maranhão. E-mail: revistacerradorural@hotmail.com Telefones: (063) 9223-4637 (Comercial) (063) 8103-7961 (Jornalismo Tocantins) (062) 8137-2538 (Jornalismo Goiás) (062) 9341-4137 (Administração) PROJETO GRÁFICO Diretor de Arte Dóda Design http://www.dodadiagramador.com.br

Cerrado cada vez mais produtivo

Bahia, Goiás e Tocantins buscam a status de área livre de aftosa sem vacinação

P

aís de dimensões continentais e com todas as condições de atender a profecia, segundo a qual ele está fadado a ser celeiro do mundo, o Brasil cada vez mais é alvo das atenções do capital internacional voltado para a produção de alimentos. O Cerrado, sobretudo em novas fronteiras agrícolas como Goiás, oeste da Bahia, sul do Maranhão, sul do Piauí e Tocantins, está no centro deste foco. Só em Goiás e oeste da Bahia, a China, por exemplo, projeta investir quase R$ 10 bilhões, numa primeira etapa, para o incentivo a produção de soja para compra e importação in natura, no caso de Goiás, e no processamento e industrialização na Bahia. “Estamos dispostos a oferecer os produtos de que necessita o Brasil e também importar os produtos de que precisamos em nosso país, principalmente produtos agrícolas”, disse, na sessão de entrevista desta edição, o embaixador da República Popular da China no Brasil, Qiu Xiaoqi. Com seu foco sempre voltado para os Cerrados do Centro, Norte e Nordeste do Brasil, Cerrado Rural Agroengócios, reporta, mais uma vez, o potencial que o Cerrado goiano tem para a produção de uva. Desafiando a tudo e a todos, o gaúcho Danilo Razia cismou, há cerca de 10 anos, em cultivar parreirais numa região goiana. Foi tido e havido como “visionário’,

“louco”. Hoje, não só aumentou sua produção e produtividade, como também, difundiu a cultura por várias outras regiões goianas. Hoje, além da produção para consumo in natura, Goiás já produz suco, vinho e até chopp de uva. Novembro é mês da segunda etapa de vacinação contra a febre aftosa. Como está o processo de erradicação deste mal na Bahia, em Goiás e Tocantins. Ambos avançaram muito e caminham para ser área livre de aftosa sem vacinação, conforme mostramos também nesta edição. Compromissados não só com a divulgação do potencial da região de Cerrado destes Estados, mas também em difundir novas tendências e tecnologias voltadas para as áreas de cultivo deste bioma, publicamos nesta edição, pesquisas que estão sendo desenvolvidas na piscicultura, como o resgate do Pirarucu; no uso da amoreira como pasto; a conquista da Embrapa no desenvolvimento de uma variedade de feijão transgênico, entre outras novidades tecnológicas agropecuárias e de equipamentos agrícolas. Tem mais, muito mais informação para você que sempre nos prestigia e nos dá forla para continuarmos lutando, driblando as adversidades comuns a este tipo de empreendimento, compromissado apenas com o desenvolvimento do Brasil como um todo. Boa leitura e até a próxima edição. OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

O3


13 14 16 18

Antônio Oliveira

sumário

- LOGÍSTICA Enfim, projeto do Terminal de

Grãos do Maranhão (Tegram) vai sair do papel. Governo licitou os primeiros graneleiros

PESQUISA

Pesquisadores revelam que a amoreira é uma ótima e nutritiva forrageira para a alimentação de ruminantes

TRANSGENINA

20

Feijão geneticamente modificado por brasileiros: agora é esperar a multiplicação de sementes

PISCICULTURA

Com potencial para a piscicultura, Tocantins desenvolve pesquisas para a produção do Pirarucu em cativeiro

- CAPA

Plantar uva nos cerrados goianos já não é mais aventura. Hoje a cultura é uma realidade e já se produz suco natural, vinhos de qualidade e até chopp

Antônio Oliveira

NESTA EDIÇÃO: 29 – MILHOCULTURA – Produtores brasileiros apostam na quebra de safra dos Estados Unidos e deve avançar mais na cultura 30 – MEIO AMBIENTE – Diretor da Rio + 20 diz que Brasil precisa sair da timidez e assumir a liderança na defesa do meio ambiente

24

Presidente da CNA, Kátia Abreu, vacina gado em Tocantins

28 10

- SANIDADE: Goiás, Bahia e

Tocantins iniciam campanha de vacinação. Agora só o gado com menos de 24 meses

- MARKETING

Brasil desenvolve campanha para desmistificar conceito de que pecuária brasileira devasta

ENTREVISTA Quio Xiaoqi, embaixador da China no Brasil, fala dos investimentos de seu pais no Brasil para alimentar os chineses

Seç ão

31 – CONFINAMENTO – Cresce a criação de gado confinado em Goiás. Potencial do Estado para este tipo de criação atrai novos investidores

5 e 6 –Opinião

23 – Máquinas e Equipamentos

7 – Agrotecnologia

34 – Recreio

8 e 9 – Agronews

35 - Crônica

Capa

Máquina de chopp de uva da Klaro Shopp, Goiânia

Foto

Antônio Oliveira

Arte

Dóda Design

TRANSGENIA

DEPOIS DA SOJA, O FEIJÃO É O MAIS NOVO VEGETAL GENETICAMENTE MODIFICADO PELA TECNOLOGIA BRASILEIRA. AGORA É AGUARDAR A DISPONIBILIDADE PARA A MULTIPLICAÇÃO

A REVISTA DO CERRADO BRASILEIRO

Ano IX Número 42 R$ 9,50

www.cerradoeditora.com.br

VAI UM CHOPP DE UVA? ANTES UMA AVENTURA, HOJE A VITICULTURA EM GOIÁS JÁ É UMA REALIDADE CONSOLIDADA, NÃO SÓ NA PRODUÇÃO DA FRUTA PARA CONSUMO IN NATURA, MAS TAMBÉM NA INDÚSTRIA DE SUCO NATURAL E ATÉ CHOPP. AS CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS DO ESTADO PROPORCIONAM QUALIDADE E PRODUTIVIDADE SEMELHARES E ATÉ MELHOR QUE AS QUE SÃO PRODUZIDAS EM REGIÕES TRADICIONAIS DO BRASIL

SANIDADE

FORA AFTOSA

É tempo de vacinar o rebanho. Bahia, Goiás e Tocantins têm sido modelos de combate a aftosa e dão mais um passo para tornarem-se livre do mal e sem vacinação

PSICULTURA

BACALHAU BRASILEIRO

Estado com potencial para ser pólo piscicultor no Brasil, Tocantins desenvolve pesquisas para melhorar esta cultura, inclusive a criação do Pirarucu em cativeiro

QIU XIAOQI, EMBAIXADOR DA CHINA NO BRASIL: “BRASIL É ESTRATÉGICO PARA ALIMENTAR A CHINA”

O4

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011


oPINIÃO

O

mercado mundial de produtos orgânicos cresce a uma taxa anual de 20% a 30%, enquanto o crescimento da produção agropecuária convencional não ultrapassa 1% ao ano. Essas altas taxas de crescimento, entretanto, foram reduzidas pela crise econômica que se iniciou em 2008. As vendas de produtos orgânicos diminuíram significativamente após muitos anos de crescimento percentual de 2 dígitos, embora alguns produtos tenham resistido à tendência de baixa e aumentaram suas vendas, como os produtos orgânicos de beleza e saúde. Dentre os alimentos orgânicos, a queda no consumo atingiu particularmente a carne orgânica na União Européia. O mercado britânico foi o mais seriamente afetado. A contração no consumo de carne bovina afetou especialmente os cortes nobres, sendo que algumas empresas varejistas britânicas chegaram a retirar o produto de suas prateleiras. O padrão de consumo em 2009 foi comprar alimentos orgânicos com menos freqüência e gastar menos em cada ocasião. Para alguns consumidores isto significou a escolha de cortes mais baratos de carne orgânica ou de alternativas como carnes enlatadas e congeladas. Não obstante, os produtos orgânicos continuam sendo demandados. Nos EUA, as vendas de produtos orgânicos aumentaram 5,3% em 2009, chegando a US$ 26,6 bilhões de dólares, dos quais US$ 24,8 bilhões referentes aos alimentos orgânicos, com o restante US$ 1,8 bilhão sendo vendas de produtos orgânicos não-alimentícios. Em contrapartida, o total das vendas de alimentos em geral nos EUA cresceu apenas 1,6% em 2009. As estatísticas do primeiro semestre de 2010 indicam que as taxas de declínio no consumo reduziram significativamente sua velocidade de decréscimo em todas as categorias de produtos orgânicos. As vendas de produtos orgânicos também mostram melhora, com uma menor redução (-11,5% em relação à média de 2009, de -13,8%). As vendas de carnes de boi e frango orgânicas, entretanto, têm mostrado o menor declínio entre todos os outros produtos. Apesar disso, as vendas de alimentos orgânicos ainda são três vezes maiores que em 1999 e mais de 50% maiores do que há cinco anos. A carne vermelha segue entre as categorias mais populares de alimentos orgânicos com 6% de participação no total de vendas. E os produtos orgânicos continuam atraindo compradores de todo o espectro social. Os analistas de mercado predizem uma expansão modesta do mercado de produtos orgânicos em 2010, entre 2% a 5%. Assim, as expectativas para o futuro são de crescimento, embora a taxas menores que em anos anteriores. Mas a crise econômica provocou outros efeitos além da redução no poder de compra dos consumidores e do declínio nos níveis de investimento, que foi o aumento nas expectativas dos consumidores em relação aos produtos orgânicos, e que afeta o crescimento do mercado. A crise fez com que os consumidores começassem a pensar mais detidamente sobre as razões pelas quais eles

Carne orgânica novas estratégias no mercado global após a crise econômica “A contração no consumo de carne bovina afetou especialmente os cortes nobres (filé mignon, contrafilé, filé de costela, alcatra, coxão mole, coxão duro, baby beef, lagarto), sendo que algumas empresas varejistas britânicas chegaram a retirar o produto de suas prateleiras”

pagam um prêmio de preço pelos produtos orgânicos, e sofisticaram suas exigências. Agora estão exigindo mais dos produtos orgânicos, e olhando com maior importância para as questões éticas, a rastreabilidade, a pegada de carbono, a promoção da biodiversidade e a responsabilidade social das instituições. Os produtores e varejistas de alimentos orgânicos precisam responder a essas expectativas do consumidor para se manterem no mercado e aumentarem suas vendas. Muitas empresas de alimentos orgânicos já estão reconhecendo essa mudança de comportamento do consumidor e adotando estratégias que os analistas de mercado têm chamado de Organic Plus Strategies (estratégias além do orgânico), isto é, comercializando seus produtos orgânicos com base em práticas de negócios assentadas em valores sustentáveis. No Brasil, entre os principais produtores de carne bovina orgânica, a Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO) assume uma posição de vanguarda nesse sentido, ao ampliar sua visão de produção de carne orgânica para incluir questões de sustenta-

André Steffens Moraes

Doutor em Economia pela UFPE e pesquisador da Embrapa Pantanal na área de socioeconomia - andre@cpap. embrapa.br

bilidade, inclusive avançando nesses procedimentos em suas práticas produtivas. Para tanto, adotou um protocolo interno de processos produtivos e de responsabilidade socioambiental, que regulamenta as atividades da associação e define os princípios de envolvimento, implantação e monitoramento do comprometimento dos seus associados em atender as diretrizes gerais estabelecidas no protocolo. Além das exigências usuais da produção orgânica previstas na legislação brasileira e pelas agências de certificação orgânica, o protocolo inclui um diagnóstico socioambiental das propriedades rurais, com objetivo de criar uma base de dados para avaliar os ganhos sociais e ambientais de longo prazo. Para realização dos diagnósticos a ABPO estabeleceu parceria com uma organização não-governamental de produtores rurais, a Aliança da Terra, que utiliza indicadores de sustentabilidade para determinar o desempenho socioambiental de cada propriedade. Além disso, diversas orientações técnicas específicas devem ser seguidas, como as recomendações da Embrapa Pantanal quanto ao manejo das pastagens, na preservação de áreas de capões e cordilheiras e na conservação dos recursos hídricos. Finalmente, os compromissos assumidos no protocolo são monitorados por um programa de auditoria interna da própria associação. Além da atuação pró-ativa da ABPO, que é garantia que seus produtores vão “além do orgânico”, a associação tem a vantagem de produzir em um ecossistema com aptidão natural para a produção de bovinos de corte orgânicos, o Pantanal, cujo sistema de produção de gado de corte é desenvolvido com características que o aproximam do sistema de produção orgânico. Em conclusão, o mercado global para alimentos orgânicos está se recuperando, e a expectativa é que as taxas de crescimento desses produtos voltem a aumentar, principalmente se as condições econômicas melhorarem. OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

O5


Agronegócio

opinião

é preciso mudar mentalidades R esponsável por 30% do PIB nacional e, via de regra, pelos superávits da balança comercial brasileira, o agronegócio – e aqui eu acrescento a agricultura familiar -, é a base fundamental de sustentação do equilíbrio social e econômico do País. Sem ele, do menor ao maior município, cai em “anemia” profunda, ou seja, não tem ânimo e energia para se desenvolver em todos os seus setores. Mesmo em regiões, cuja economia tem base no comércio, na indústria e no turismo. É no agronegócio que está a base de todos os outros empreendimentos e necessidades humanas. Na maioria absoluta dos bens de consumo tem um pouco de produtos e subprodutos gerados no campo. Desde a mesa da mais simples moradia à mesa do mais sofisticado e caro restaurante, têm a participação da agricultura empresarial e familiar. Cito aqui um pequeno exemplo, próximo de mim: quebrem o agronegócio no oeste da Bahia e se verá quebrar todos os setores na área da indústria, do comércio, e da educação e saúde privados, todos eles surgidos naquela região graças ao desenvolvimento do agronegócio que a tirou da condição de região pobre e sem futuro para seus habitantes e a projetou, no cenário econômico nacional, como uma das regiões mais prósperas do Brasil. Esta é uma realidade incontestável. Entretanto, por incrível que pareça, para os principais atores desta cadeia produtiva brasileira, não é pequeno o número de brasileiros que, por exemplo, vê na soja um produto inócuo, “que não enche barriga”, “que devasta o meio ambiente”, “que só dá dinheiro para seus produtores”. Como não é pequeno também o número daqueles que acreditam ser o agronegócio “forças do mal” a ameaçar o planeta e a tirar a oportunidade do pequeno produtor rural em ter acesso a terra. Mais grave: que o mundo pode ser alimentado sem o agronegócio. Pior, ainda, é nivelar o agronegócio ao patamar da ação criminosa da especulação imobiliária rural, da grilagem de terras, de devastadores do meio ambiente e de madeireiros – ressalvem-se aqui as exceções Poucos sabem ou levam em conta que as cidades e seus citadinos devastam e poluem mais que o campo.

O6

Imagens distorcidas que o próprio agronegócio, por meio de seus atores, principalmente de suas lideranças e entidades representativas, contribuiu e ainda contribui, para isto por meio do isolamento em si; da arrogância; da falta de tato na convivência com os citadinos e da articulação política e da comunicação social. Fatores que os sindicatos de trabalhadores e patronais das outras categorias o fazem muito bem, tanto que elegem grandes bancadas nos parlamentos municipais, estaduais e federal. Os sindicalistas do setor de metalurgia, aliados a outros, por exemplo, elegeram e reelegeram um presidente da República. E o agronegócio, o que tem feito para ter mais representatividade nesses poderes? Medida importante foi tomada, pelo setor, a partir de líderes como o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, ao criar o movimento “Sou Agro” que visa resgatar a imagem dos ruralistas do poço da indiferença e da ignorância. Porém, esta iniciativa vai acabar em nada, se continuar centralizada na capital brasileira da economia, São Paulo, como se ali estivesse concentrando todo o Brasil e

“É no agronegócio que está a base de todos os outros empreendimentos e necessidades humanas. "

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

suas fronteiras agrícolas. Grande erro persistente. A mudança da visão das cidades para com o campo e seus produtores passa pelo interior do Brasil, mais especificamente pelas fronteiras agrícolas. Nestas é onde estão as bases do agronegócio Resumindo onde quero chegar e com a experiência de mais de 20 anos cobrindo o agronegócio, 8 dos quais com veículo de comunicação próprio, as lideranças do agronegócio regional, por meio de suas instituições representativas e assessores, precisam pulverizar um poderoso agrotóxico em suas arrogâncias e egocentrismo. Não só os que estão centralizados no eixo São Paulo, mas também os que têm base no interior do Brasil, desconhecem, fazem até pouco caso, da importância da mídia especializada regional. Tanto um como outro, se esquecem que quem estão ao lado deles, vivendo o dia a dia de seus problemas e conquistas, são essas mídias, não as produzidas no eixo Rio São Paulo. A regional vive o seu dia a dia e chega também na mesa de quem decide e faz pelo agronegócio. Os ruralistas não sabem articular e, assim, agregar valores à sua causa. Quantos veículos regionais especializados já fecharam suas portas por falta de apoio e até de companheirismo do agronegócio? O “Sou Agro” vai cair no vazio se não procurar mudar essa mentalidade dentro de si e em suas extensões no interior do Brasil.

Antônio Oliveira


Agrotecnologia ENERGIA II

O futuro está nas “folhas solares”

A força do vento

O sol tem uma energia espetacular, mas pouco aproveitada pelo homem para a geração de energia elétrica. Segundo pesquisas científicas, os raios solares que atingem a terra em uma hora é o suficiente para produzir energia de um ano para todo o planeta. Pesquisadores futuristas como Ray Kurzeweil dizem que é possível ter uma civilização inteira movida por energia solar dentro de uma geração. Não da forma usada hoje para a captação de energia solar, ou seja, por meio de painéis. Estes podem ficar mais baratos, porém, de acordo com as leis da física, não muito mais eficientes e custos altíssimos para a construção de enormes fazendas solares que poderiam substituir apenas entre 1% e 2% da demanda por energia no mundo. O futuro está nas “folhas solares” – naturais. Elas, de acordo com cientistas, ajudam a defender a ideia de que,

se conseguirmos produzir painéis solares de baixo custo, ninguém mais vai precisar de outra coisa nunca. A idéia está em estudo. Daniel Nocera do Massachusetts Institute of Technology (MIT), por exemplo, está trabalhando combinação de catalisadores que, como as folhas, convertem água diretamente em hidrogênio (que pode ser queimado ou usado em uma célula de combustível). Outro grupo de pesquisadores do MIT conseguiu imprimir células solares em papel, antevendo um futuro onde células solares terão um preço bem acessível, o preço um litro de leite.

Divulgação

ENERGIA

Inaugurada dia 25 de outubro em Prenzlau, no leste da Alemanha, a primeira usina híbrida de energia eólica e de hidrogênio do mundo. Esse sistema permite que, quando há muito vendo, ele produz hidrogênio que é armazenado para quando a velocidade do ar diminuir. Dessa forma, fica garantida uma capacidade estável de fornecimento de energia, o que apenas uma turbina eólica não pode assegurar, já que depende das condições mete meteorológicas para produzir mais ou menos eletricidade. Alemanha trabalha para que, até 2050, 80% de sua matriz energética seja renovável, reduzindo em especial o uso de energia nuclear e termoelétrica a carvão. A usina piloto tem uma cpacidade de geração de 6 Megawatt.

A Universidade de Tecnologia Chemnitz, da Alemanha, já trabalha com essa possibilidade. Em outubro, ela publicou um trabalho sobre células solares que podem ser impressas pelo processo tradicional, com 15 metros por minuto em uma única máquina. Essas folhas solares podem ser cortadas em qualquer extensão desejada e conectadas a uma bateria ou à rede elétrica de uma casa. Coisa para um futuro bem distante? Não. Já é realidade e gera negócios de US 3 bilhões, podendo chegar a US 47 bilhões em 2017.

CAFÉINA

ALTERNATIVA

Cafezinho inalado

Carro movido a fezes

O professor da Universidade de Harvard, David Edwards, inventou um dispositivo para inalar cafeína. O produto, que será lançado no ano que vem, primeiro em Boston, nos Estados Unidos, recebeu o nome de Aeroshot Energy. Em forma de um pequeno bastão, quando acionado ele libera um pó contendo cerca de 100 miligramas de cafeína, o equivalente a 350ml de café, totalmente livre de calorias.

Um carro modelo Beetle, da Volkswagen, está rodando em caráter experimental em Bristol, na Inglaterra, usando um combustível que cheira mal aos padrões convencionais: fezes humanas. O projeto faz parte de uma campanha feita pela empresa Geneco, que faz o tratamento de esgotos local, e

pretende incentivar o uso do gás metano gerado pelos excrementos ou por outras fontes de resíduos com o objetivo de chamar a atenção dos moradores para a alternativas de energia sustentável.

Apenas os resíduos lançados na rede por 70 casas da cidade são suficientes para abastecer o automóvel por um ano. Índia e China já utilizam gás metano originado em fezes para mover veículos.

OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

O7


Agronews FRANGO

Fim de ano aquece vendas Festas de final de ano vêm ai e com elas o aquecimento nas vendas de carnes especiais, principalmente a de frango. Visando esta demanda a valorização do dólar, os produtores de carne desta ave estão se preparando. Conforme o gerente de relações com o mercado da União Brasileira de Avicultura (Ubabef ), Adriado Zerbini, o Brasil é o maior exportador de carne

de franco do mundo, com cerca de 140 a 150 mercados, com uma diversificação de países que traz benefícios para o exportador. Ainda de acordo com ele, o Brasil deve fechar o ano com cerca de 3% de aumento em volume e manter até 23% de acréscimo em receita. A expectativa é fechar o ano com exportação recorde, na ordem de quatro milhões de toneladas.

CAFÉ

PARCERIA

Mais da metade da safra vendida

Multiplicando conhecimentos

Levantamento da consultoria Safras & Mercado revela que a comercialização da safra de café do Brasil, 2011/12 (julho/junho), fechou o mês de setembro em 56% do total. Esse dado foi colhido em 30 de setembro. Com isso, já foram comercializados pelos produtores brasileiros 26,57 milhões de sacas de 60 quilos de café, tomando-se por base a projeção da Consultora, de uma safra de café brasileira de 47, 7 milhões de sacas.

SUCROALCOOLEIRO

Bahia lidera no Nordeste Cresce os investimentos na produção de cana-de-açúcar, açúcar e etanol no Nordeste brasileiro. O estado da Bahia lidera na captação desses investimentos com seus 100 mil hectares de cultivo e produção de 6,5 milhões de toneladas de cana por safra. No inicio da segunda quinzena de outubro o estado inaugurou duas usinas no seu extremo sul e tem ainda mais três projetos em andamento. Pernambuco está na expectativa de uma expansão de área de 200 mil hectares

O8

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

e o Piauí busca parcerias para a instalação de mais uma usina. De acordo com o secretário de Agricultura da Bahia, Eduardo Salles, a expectativa é aumentar, em cinco anos, mas de 300 mil hectares. “Nós temos um déficit muito grande na produção baiana. Nós consumimos 16 milhões de sacos de 60 quilos de açúcar e produzimos 4,1 milhões”, ele disse. Governo baiano quer consolidar o oeste da Bahia como um dos principais pólos sucroalcooleiros no Estado.

A John Deere e o Centro Universitário Moura Lacerda, de Ribeirão Preto (SP) assinaram, no dia 24 de outubro, termo formal de parceria iniciada em março deste ano. O convênio tem como objetivo fomentar a realização de pesquisas e fazer com que os alunos se tornem multiplicadores das novidades relacionadas à agricultura de precisão. Além disto, prevê a realização de treinamentos de alto nível para funcionários e concessionários da John Deere, utilizando a estrutura física do Campus II daquela unidade, com palestras, workshops e demonstrações de campo para alunos e professores do curso de Agronomia do Moura Lacerda.


LEITE

Concorrência desleal

CONTRA A FOME

China doa alimentos para a África

O diretor de Assuntos Comerciais Externos do Ministério da Agricultura, Benedito Rosa, alertou, dia 21 de outubro, em reunião com produtores de leite goianos, na sede da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg) que “o Brasil é o desaguadouro natural do excedente de leite produzido por países como Argentina e Uruguai”. De acordo com ele, no nove primeiros meses desse ano, as importações cresceram 104,2%, passando

de US$ 213 milhões em 2010 para US$ 435 milhões no mesmo período de 2011. Já a balança comercial apresentou saldo negativo de US$ 346,4 milhões, valor 261,5% maior que no mesmo período de 2010. “Este saldo é o pior desde 2000”, disse ele. Para o presidente da Faeg, José Mário Schreiner, que coordenou a reunião, o pior reflexo desse cenário é a falta de confiança dos produtores de leite em investir para ampliar a produção.

Doações de alimentos no valor de 443, 2 milhões de yuans (US$ 69,58 milhões) foram enviados, no final de outubro, pela China ao Chifre, na África, que vive uma de suas piores seca, com consequente fome, informou o governo chinês. “Essa é a maior doação de cereais a outros países feita pela China desde a fundação da República Popular da China, em 1949”, disse Lu Shave, chefe do Departamento de Assuntos Africanos do Ministério das Relações Exteriores da China. A África é o quarto maior destino de investimentos da China no exterior. Em 2010, o volume comercial entre os dois países superou US$ 100 bilhões, chegando a US$ 79 bilhões no primeiro semestre deste ano, um aumento anual de 29,1%, disse Lu Shave.

LEITE II

TRANSGENIA

Balde Cheio em Formosa Protocolo de intenções assinado, no início de outubro, pelo Sistema Faeg/Senar (Federação da Agricultura do Estado de Goiás e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), Secretaria de Agricultura do Estado de Goiás e o Sebrae-GO vai implantar no município de Formosa o Programa Balde Cheio. Por meio dessa parceria, serão articuladas ações para a promoção e o desenvolvimento sustentável da atividade da pecuária de leite em Goiás por meio daquele programa que já opera no setor há mais de dez anos. Por meio dele tem sido possível fixar o pequeno pecuarista no campo produzindo com produtividade e lucratividade. O Balde Cheio é uma iniciativa do Embrapa Pecuária Sudeste.

CONTAMINAÇÃO

Açaí com barbeiro O Departamento de Vigilância Sanitária de Belem (PA) interditou, dia 25 de outubro, cinco pontos de venda de açaí, por falta de higiene na manipulação do fruto, o que aumento o risco de possível contaminação

do produto com fezes do barbeiro, inseto transmissor da doença de Chagas. Desde janeiro deste ano, a Secretaria de Saúde daquela capital registrou 39 casos da doença e duas mortes em Belém.

Multiplicação só em 2 anos Tão logo a China e a União Européia aprovem o seu consumo, a primeira soja transgênica brasileira, a Cultivance, desenvolvida pela estatal de pesquisa, Embrapa (Soja), em parceria com a multinacional Basf, estará pronta para a comercialização entre sementeiros (multiplicadores). De acordo com a empresa brasileira, é necessário a liberação nos dois mercados, principais importadores, para que não haja problemas com a produção comercial, já liberada pela Comissão Nacional de Biotecnologia (CTNBio) desde 2009. Essa comercialização era esperada para a safra 2011/2012. A expectativa agora é para daqui a dois anos. OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

O9


entrevista

“O Brasil é estratégico para a China”

A China é, hoje, a maior potência industrial do mundo (19,8% da produção industrial do mundo, contra 19,4% dos Estados Unidos) e não pára de crescer, mesmo alguns indicadores apontando para uma pequena redução de seu crescimento neste ano. É, também, o maior produtor mundial de fertilizantes e o maior fornecedor deste produto para o Brasil, país para onde tem voltado suas atenções e investimentos pesados, inclusive na produção e transmissão de energia elétrica (investimentos, até o momento, de R$ 3, 1 bilhões). No setor de produção de alimentos, é também um dos maiores do mundo. Como uma população de aproximadamente 1,3 bilhão de pessoas, mas já sem terras e produção suficientes para alimentar este povo, China investe 10

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

em outros países, principalmente no Brasil. É hoje o principal parceiro comercial dos brasileiros. Em 2010, o Brasil vendeu para os chineses R$ 49 bilhões (US$ 30,785 bilhões) e comprou R$ 40,77 bilhões (US$ 25, 593 bilhões) em mercadorias. Mas o grande alvo da China no Brasil é a produção de alimentos, principalmente na região de Cerrado. Goiás e Bahia estão recebendo investimentos chineses de quase US$ 1 bilhão no incentivo a produção de soja, no primeiro Estado e no processamento no segundo. Esses investimentos não devem parar. “Brasil é estratégico para a China”, disse o embaixador da República Popular da China no Brasil, Qiu Xiaoqi, em entrevista concedida a Cerrado Rural Agronegócios, na sede da Embaixada, em Brasília. Confira.


Cerrado Rural - Qual é hoje a posição da China no cenário internacional da produção de alimentos, biomassa e fibras e no agronegócio como um todo? Qui Xiaoqi - A China se destaca tanto como um país de grande população, quanto como um grande produtor agrícola. Deve-se imaginar que a quantidade de mais de 1,3 bilhões de população tenha exigido uma enorme demanda por alimentos no nosso país. A China, que desenvolve de uma forma rápida, consistente e sólida desde a aplicação da política de Reforma e Abertuda no ano 1978, tem mantido a auto-suficiência alimentar, e cumpriu essa tarefa árdua. CR – A China é, hoje, o maior produtor mundial de fertilizantes e o maior fornecedor deste insumo para o Brasil. O que significa para as relações agrocomerciais de seu país com o Brasil? Esta posição não poderia ser fator de pressão para o agronegócio brasileiro, dentro desta cooperação China-Brasil? Qui Xiaoqi - É verdade que a China é um grande produtor e exportador de fertilizantes. Mas não acho que as exportações chineses sejam uma pressão para o agronegócio brasileiro. Nos últimos anos, o comércio entre China e Brasil se expande a ritmo veloz em toadas as áreas. As exportações de fertilizantes da China contribuem de uma forma notável para a produção agrícola do Brasil. Hoje em dia, no contexto da globalização econômica, não existe um país que consegue desenvolver sozinho. A parte chinesa está disposta a esforçar-se, em conjunto com a parte brasileira, para ampliar ainda mais as cooperações de benefício recíproco e ganho compartilhado. CR – O Brasil é grande importador de fertilizantes da China, não obstante ter grandes reservas minerais, base de fertilizantes. China tem interesse de explorar essas jazidas? Qiu Xiaoqi – Temos interesse em fazer cooperação com o Brasil em todos aqueles setores possíveis. Concretamente, no campo de fertilizantes, eu não conheço nenhuma empresa chinesa em negociação com o Brasil para a exploração dessa atividade. Mas, em princípio, eu posso assegurar que isto também poderia ser um campo para a cooperação entre China e Brasil. Eu acredito que ambas as partes pode intercambiar informações, se conhecerem mutuamente sobre este segmento, discutir a possibilidade de cooperação. CR –Qual é a visão, a perspectiva que a China tem do agronegócio e do potencial

Grupo privado chinês lança pedra fundamental de complexo industrial em Barreiras, no oeste da Bahia. Projeto visa o processamento da soja para a extração de óleo, farelo e demais derivados que serão exportados para a China brasileiro para a agropecuária, inclusive de ser celeiro do mundo, como a realidade vem apontando nas últimas décadas? Qiu Xiaoqi – Como acabei de assegurar, temos uma preocupação muito grande em resolver nossos problemas de alimentação, passando principalmente pela produção própria. Mas, a cooperação internacional é, também, um canal muito importante para a solução desses problemas. Por isto, eu sempre acredito que neste campo, do comércio agropecuário, podemos fazer muitas coisas com o Brasil. O canal está aberto para ambas as partes. Na semana passada, a China inaugurou a Feira de Importação e Exportação da China (conhecida como “Feira de Cantão”). Lá estão muitos produtores, exportadores e importadores, inclusive e brasileiros Cerrado Rural – Por que a opção por investir na agropecuária no Brasil, principalmente nas regiões de novas fronteiras agrícolas de Cerrado? Qiu Xiaoqi – Temos uma cooperação no campo da agropecuária com muitos países. O Brasil não é único com quem temos cooperação para a produção de alimentos. Nos últimos anos temos desenvolvido parcerias de cooperação com alguns países africanos, asiáticos, e aqui no Continente latino-americano, temos cooperação também com outros países. Não temos interesse apenas no Brasil, porém este é um país muito grande em

todos os sentidos. O Brasil tem um território muito amplo e as condições necessárias para a produção agrícola, como solo, temperatura, chuvas, água. Tudo isto é favorável para o desenvolvimento agrícola. Por isto que damos muita importância ao Brasil na nossa cooperação internacional no campo da agropecuária. Eu, na condição de Embaixador, estou trabalhando muito com o governo do Brasil e com algumas empresas brasileiras neste campo. Eu visitei muitos estados importantes na produção agrícola e, por exemplo, estive várias vezes em Goiás, Tocantins, Piauí e outros estados do Nordeste do Brasil. Intercambiei opiniões com empresas e com seus governos e temos um consenso no sentido de que podemos fazer muitas coisas. E acredito que entre esses estados, Goiás é muito destacado e tem interesse em ter uma cooperação agrícola com a China. Várias delegações agrícolas de Goiás já conheceram a China. O seu Governador (Marconi Perillo) esteve recentemente lá, mantendo contatos com alguns governos provinciais chineses. Eu acredito que, realmente, no futuro, podemos fazer muitas coisas. CR – Goiás foi mais citado pelo Senhor. E, em relação ao Tocantins, oeste da Bahia, sul do Maranhão e Piauí, que são também novas fronteiras agrícolas de Cerrado, há interesses da China numa cooperação com essas regiões, ou já investe neles? Qiu Xiaoqi – Como acabo de falar, temos contatos com esses estados também. No Tocantins, eu fui muito bem recebido pelo governador Siqueira Campos que mostrou, em vídeo, todo o potencial do seu estado para a produção de grãos e outros alimentos, inclusive com a vantagem da ferrovia Norte-Sul que atravessa todo o Estado, ligando-o ao Porto de Itaqui, no Maranhão, encurtando distância com o nosso continente. Trocas de informações, de opiniões sobre projetos de cooperação. Ainda no Tocantins a China pode trabalhar não só no campo da agropecuária, mas no da Educação, cultura e novas tecnologias. Algumas empresas chinesas já estão trabalhando nesses estados. Mas, agora, tudo é início. Temos que fazer muitos esforços para o desenvolvimento mais rápido e sólido do futuro. Temos que conhecer em que campo e em que aspecto podemos fazer e as dificuldades temos que enfrentar e superar. Ainda no Tocantins, nós saímos encantando não só com seu potencial mas também com a coragem e a determinação do seu governador em criar um Estado, implantá-lo e ainda criar uma cidade em pleno Cerrado. CR – Embaixador, na Bahia, especificamente na região oeste do Estado, um

OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

11


grupo chinês anunciou pesados investimentos na construção de um complexo industrial para o processamento da soja e industrialização de seus derivados. Como está, hoje, este projeto? Qiu Xiaoqi – Na função de Embaixador, eu trabalho em forma de princípios. Eu estou trabalhando no desenvolvimento de cooperações agrícolas, porém não participo diretamente, concretamente, dos projetos de empresas. Eu não conheço muitos os detalhes sobre esse projeto. Mas conheço que as empresas chinesas estão trabalhando de forma estreita com algumas empresas e governo de Goiás nesta cooperação. Espero que eles (empresários chineses que anunciaram investimentos no oeste da Bahia) tenham muito sucesso lá.

CR – Este projeto é tão grande que, quando estiver pronto, em operação, não haverá oferta de soja para atender sua demanda. Na região já existe duas outras grandes processadoras de soja. O que os empresários e os governos chineses pretendem fazer, uma vez que a legislação brasileira impede o acesso de estrangeiros a grandes áreas, nem mesmo para a produção? Qiu Xiaoqi – Eu sempre acreditei que qualquer operação tem que se desenvolver passo a passo, gradualmente, de acordo com as reais condições. Eu não conheço pessoalmente como está esse projeto, seu tamanho. Mas sempre acredito que a cooperação tem que se desenvolver de forma gradual, porque qualquer marcha, por muito longa que seja, ela tem que ser dada passo a passo, iniciando pelos primeiros passos. E eu espero que eles (empresários chineses com investimentos no oeste da Bahia) possam ter um bom começo, bom desenvolvimento e também muito sucesso no futuro. CR – Já em Goiás, a intenção é investir na produção de grãos para sua exportação in natura para a China, onde serão industrializados, o que tem gerado polêmica naquele Estado, onde alguns setores preferem a agregação de valor à produção no Estado. Como os empresários e governo chineses vêem esta questão? Qiu Xiaoqi – Não sei se as empresas chinesas estão trabalhando assim (em Goiás). Ao contrário, eu sempre escutei que as empresas chinesas queriam trabalhar aqui com as empresas e com os governos estaduais e municipais para fortalecerem a produção e a industrialização aqui mesmo para aumentar o emprego em suas populações em regiões que estão trabalhando com a China, não somente no campo de agricultura. Todas as em-

12

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

Governador Siqueira Campos recebe o Embaixador Qiu Xiaoqi em Palácio: investimentos a vista presas chinesas que trabalham em diversas regiões do Brasil têm este princípio, esta concepção de trabalho. Qualquer empresa, por mais grande que seja, se entra no mercado do Brasil com este conceito que você acabou de mencionar (exportação in natura), eu acho que não pode trabalhar. Mas eles não pensam assim. Eles (as empresas chinesas) estão muito contentes em trabalhar aqui com os brasileiros para aumentar o valor agregado, o emprego para sua população, enfim, ter uma cooperação compartilhada. CR – Além de investimentos na produção de alimentos nos Cerrados brasileiros, a China está entrando também no mercado de máquinas e equipamentos agrícolas, encontrando certa insatisfação nas montadoras brasileiras, devido aos preços mais baixos dos equipamentos chineses. Como o Senhor ver esta questão? Qiu Xiaoqi – A China é, realmente, um país muito forte na produção de equipamentos pesados para a agricultura. Temos capacidade de oferecer muitos tipos de máquinas agrícolas e essas máquinas têm dois fatores importantes. Por uma parte, são de boa qualidade e, por outro lado, bons preços. Se elas tiveram condições de entrar no Brasil, é porque isto é resultado de competência. O mercado do Brasil tem que ser um mercado aberto, ser um mercado onde os produtos tenham competição, por meio de qualidade e preços. As empresas nacionais (do Brasil) não podem impedir que os produtos chineses entrem no Brasil. O mercado do Brasil não pode ser fechado. Então, qualquer concorrência tem que ser recebida com ânimo. Eu gostaria de emitir um recado no sentido de que as empresas que produzem máquinas para a agricultura na China estão dispostas a participarem, com competência, no mercado brasileiro.

CR –A grande questão, hoje, no agronegócio brasileiro é a ambiental. Está em discussão, no Congresso brasileiro, o novo Código Florestal. Qual é a preocupação da China com a política ambientalista brasileira, quais os cuidados que ela teria nesses investimentos na produção rural, não só no Brasil, mas em todo o Planeta? Qiu Xiaoqi – O Desenvolvimento sustentável é um conceito estatal da China. Não é uma política de conveniência, de curto prazo. É uma política que está em nível de uma estratégia estatal para o meu País. Isto não somente no desenvolvimento interno da China, mas também na nossa política de cooperação internacional. Na cooperação com o Brasil, nós persistimos neste conceito de desenvolvimento sustentável. Isto está claro em dois pontos importantes. No campo de proteção ambiental temos que persistir no princípio da responsabilidade diferenciada. Temos que observar também com suficiente importância o direito de desenvolvimento para os amplos povos do mundo em vias de desenvolvimento, porque isto é um direto deles. Nos países em vias de desenvolvimento se não consegue o desenvolvimento econômico e social para o seu povo, sem a proteção do meio de ambiente, então não é justo. Tratemos da sobrevivência, mas também de seus direitos e seus deveres na responsabilidade de proteção de meio ambiente. É um equilíbrio que temos que cuidar muito. Não podemos sacrificar os direitos do desenvolvimento econômico e social sustentável nos países em desenvolvimento. CR – Para finalizar, qual a mensagem que o senhor, representando o seu País, deixaria para os atores do agronegócio nos Cerrados do Centro, Norte e Nordeste do Brasil? Qiu Xiaoqi – A China e o Brasil são parceiros estratégicos. Suas relações, nos últimos anos se desenvolveram de forma sólida e rápida. Acredito que haja amplas possibilidades para nossa cooperação econômica, para nosso intercâmbio comercial, que inclui também a cooperação agrícola. Estamos dispostos a trabalhar de maneira estreita com os estados compostos por Cerrado. É uma região com muitas boas condições para o desenvolvimento agrícola. Desde quando eu cheguei ao Brasil, visitei vários estados de Cerrado. Eu tenho muitas boas e profundas impressões sobre Cerrado do Brasil. Eu acho que neste contexto deste bioma pode ter um futuro muito brilhante no seu desenvolvimento econômico e social. A China está disposta a trabalhar estritamente com eles. Muito obrigado.


Tegram

Logística

começa a sair do papel

Governo do Maranhão deu seu segundo passo para transformar o Porto de Itaqui em um dos grandes exportadores de grãos no Brasil

Da Redação

O

governo do Maranhão deu o segundo passo para a construção do tão anunciado e propagado Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), no Porto de Itaqui, em São Luís. Anunciado pela primeira vez em 2004, com promessa de conclusão em 2007, o terminal visa atender a demanda da produção de grãos – mais especificamente soja -, produzidos no sul daquele Estado, Tocantins e região Centro-Oeste, mas emperrado por vários revezes políticos. A Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap) deu início, no mês de setembro, a licitação para a construção do terminal, abrindo os envelopes das companhias interessadas no empreendimento. Serão, a princípio, quatro silos com capacidade estática para 500 mil toneladas. Publicado em agosto deste ano, após a aprovação do Tribunal de Contas da União, a licitação atraiu aproximadamente 100 empresas nacionais e internacionais interessadas na construção e exploração comercial do Tegram. A expectativa é que pelo menos entre 20 e 25 empresas participariam efetivamente da concorrência,

A expectativa é que pelo menos entre 20 e 25 empresas participariam efetivamente da concorrência, conforme informações do presidente do Emap, Luiz Carlos Fossati.

conforme informações do presidente do Emap, Luiz Carlos Fossati. A primeira fase do empreendimento consumirá recursos da ordem de R$ 262 milhões na construção de quatro armazéns com capacidade estática de 125 mil toneladas de grãos – principalmente soja. De acordo com a agência Estado, as empresas vencedoras, uma por lote, poderão explorar o negócio por 25 anos, renováveis por mais 25, e serão responsáveis pela operacionalização do projeto, incluindo o sistema de recepção e expedição da carga. A Emap informa que se tudo correr dentro do cronograma, esta primeira fase deverá entrar em operação no final de 2013, com capacidade para movimentar 5 milhões de ton/

ano. Ainda de acordo com a empresa, os serviços de terraplenagem da área serão iniciados até o final deste ano, com obras previstas para começarem no primeiro semestre do ano que vem. Na segunda fase do projeto, informa ainda a Emap, a movimentação pode chegar a 10 milhões de toneladas de grãos por ano. Com esta progressão, espera-se que o participação do Porto de Itaqui nas exportações de soja cresça dos atuais 3% para 20%. Atualmente a exportação de soja pelo Litoral Norte é feita por uma estrutura mantida pela Companhia Vale do Rio Doce (Vale), em Ponta Madeira, com capacidade limitada a cerca de 2 milhões de toneladas por ano. Depois de pronto e em operação o Tegram reduzirá bastante os custos de transporte de grãos dessas regiões do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil para os mercados externos, 80% exportados, atualmente, pelos portos de Paranaguá (PA) e Santos (SP). Em conjunto com a construção da Ferrovia Norte-Sul e seus ramais em Goiás, Tocantins, Pará e Maranhão, Tegran colocará essas regiões produtoras em boas condições de competitividade com os grãos produzidos no Sul do País.

OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

13


Divulgação

Pesquisa

A

amoreira é uma planta da família Moraceae, do gênero Morus spp., que apresenta ramos de coloração marrom-acinzentadas, com folhas de formato ovais, inteiras ou lobadas e pecioladas. O sistema radicular é pivotante, com numerosas raízes secundárias e terciárias, o qual permite um bom crescimento vegetativo mesmo em períodos secos do ano (FONSECA e FONSECA, 1986). Tradicionalmente, o cultivo do amoreiral esteve vinculado a sericicultura, por representar a principal e única fonte de alimentação das lagartas do bicho-da-seda (Bombyx mori L.), responsáveis pela produção de fios de seda. Recentemente, estas mesmas amoreiras vêm se destacando como importante alternativa forrageira para alimentação de ruminantes, por apresentar acentuado desenvolvimento, alto valor nutritivo, elevada produção de matéria seca por área e boa aceitabilidade. Sendo planta perene, quando em crescimento livre atingem cerca de 10 metros de altura, mas como planta conduzida, para fins forrageiros, deve ser manejada por meio de podas rente ao solo, prática esta que proporciona maior número de perfilhos e ramos tenros. No período das águas, entre setembro a abril, permite quatro cortes com intervalos entre 50 a 60 dias de crescimento vegetativo. Quanto ao potencial produtivo, os cultivares melhorados e desenvolvidos pelo Instituto de Zootecnia (APTA) e empresas do setor de seda, apresenta uma produção média de 20 t/ ha/ano de matéria verde em folhas, e se considerar os ramos, esta produção pode ser duplicada (FONSECA e FONSECA,1986). No campo, é facilmente observada a preferência dos animais pela amoreira, quando oferecida simultaneamente com outras forragens no arraçoamento de ruminantes. A amoreira pode ser ministrada na forma de forragem verde inteira ou picada, feno e silagem, ou ainda em pastejo direto como banco de proteína.

Amoreira como forrageira para alimentação de ruminantes

VALOR NUTRITIVO DA AMOREIRA Uma das principais características da amoreira, considerando seu uso na alimentação de ruminantes é a sua alta aceitabilidade. Outro aspecto importante é a elevada digestibilidade da matéria seca que pode chegar a 77% para planta inteira, 91% para folhas e 51% para ramos (SANCHEZ, 2002). Apresenta ainda, baixo teor de fibra bruta (8 a 12%) e elevado teor de proteína bruta nas folhas (17 a 28%). O valor nutritivo e o volume de

14

produção variam em função da altura de inserção da folha no ramo, do estádio de desenvolvimento da planta e, também, entre variedades, que são influenciadas por fatores do ambiente e práticas de manejo, determinando assim a qualidade das folhas. OKAMOTO e RODELLA (2006) estudaram os aspectos morfológicos e bromatológicos de folhas de dez cultivares de amoreira, os valores médios constam na Tabela 1.

OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do grande potencial do uso da amoreira como forrageira, as diversas alternativas tecnológicas disponíveis são recomendadas para uso na alimentação dos animais, especialmente na ovino-caprinocultura, podendo a forma de utilização ser de acordo com a necessidade e disponibilidade de cada criador. A indicação para pequenos ruminantes se deve principalmente, ao menor volume de consumo apresentado quando comparado com ruminantes maiores, e também por consumirem a forrageira de forma satisfatória.


MANEJO DA AMOREIRA SOB PASTEJO Os ovinos pastejam muito bem em áreas de amoreiral, apresentando excelentes resultados, principalmente os animais novos após desmama, momento em que exigem atenção e requerem maior teor de proteína bruta. SANTOS et al. (2003) observaram que o emprego da amoreira em pastejo direto de duas horas por dia, na forma de “banco de proteína”, melhorou o desempenho de ovinos em crescimento, enfatizando que o alto teor protéico possibilita a substituição

de ingredientes concentrados na dieta, reduzindo assim os custos de produção. Após pastejo direto por ovinos, o manejo para a recuperação do amoreiral foi estudada por OKAMOTO et al. (2007), submetendo à poda baixa (corte rente ao solo após cada ciclo de pastejo) ou sem poda por meio do crescimento livre em três períodos de crescimento vegetativo (25, 50 e 75 dias), com o objetivo de definir o melhor manejo a ser adotado para a recuperação da planta. Constatou-se

que o crescimento livre, sem poda, apresentou maior disponibilidade de massa de folhas nas três idades avaliadas. Houve um aumento da massa de forragem com o aumento da idade de corte. O crescimento livre permite a recuperação antecipada da massa de forragem da amoreira aos 50 dias e, quando manejada com podas, recomenda-se o intervalo de 75 dias de crescimento vegetativo, embora períodos menores apresentem maiores teores de proteína bruta.

AMOREIRA EM ASSOCIAÇÃO COM A CANA-DE-AÇÚCAR O uso da amoreira em associação com a cana-de-açúcar tem apresentando excelentes resultados, juntas elevam o teor de proteína da dieta e aumentam a digestibilidade, com acréscimo no teor energético da dieta. Ocorre, portanto, melhor digestilidade da porção fibrosa da dieta e aumento na taxa de passagem dos alimentos pelo trato gastrintestinal e da ingestão voluntária de matéria seca, promovendo ganho no desempenho animal. OKAMOTO et al. (2008) avaliaram o desempenho de borregas alimentadas com dietas à base de cana-de-açúcar picada in natura suplementadas com níveis crescentes de amoreira (Morus sp.). O alimento volumoso consistiu de misturas de amoreira e cana-de-açúcar, devidamente trituradas, nas seguintes proporções: Tratamento A (0% e 80%);

Tratamento B (20% e 60%) e Tratamento C (40% e 40%), perfazendo um total de 80% da matéria seca da dieta e os restantes 20% foram constituídos de farelo de algodão, uréia e milho. Os valores de ganho de peso diários foram baixos na dieta com cana-de-açúcar como único volumoso, denotando a restrição de seu uso como volumoso exclusivo para borregas em crescimento, e a suplementação da dieta com ramas de amoreira propiciou a maior ingestão de nutrientes digestíveis, o que refletiu em maiores valores de ganho de peso. Os valores médios de ganho de peso diário em g/ dia foram de 60,2; 98,7 e 115,1g/dia, respectivamente para os Trat. A, B e C. Para armazenamento na forma de silagem, LIMA et al. (2010) associaram a amoreira com cana-de-açúcar e com capim-guaçú. Os teores de matéria seca

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS FONSECA, A.S.; FONSECA, T.C. Cultura da amoreira e criação do bicho-da-seda. São Paulo: Nobel, 1986. 246p. LIMA, J.A. et al. Silagem mista de amoreira com cana-de-açúcar ou capim-guaçú. In: XX CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA, UFT/ ABZ, 24 a 28 de maio de 2010, Palmas. Anais/CD-ROM... ZOOTEC 2010, Palmas, TO, 2010. OKAMOTO, F.; RODELLA, R.A. Características morfo-anatômicas e bromatológicas de folhas de amoreira em relação às preferências do bicho-da-seda. Pesq. Agropec. Bras., Brasília, v.41, n.2, 195-203, 2006. OKAMOTO, F. et al. Manejo da cultura da amoreira (Morus alba L.) sob pastejo com ovinos. B. Indústr. Anim.,

N. Odessa, v.64, n.4, p.271-276, 2007. OKAMOTO, F. et al. Desempenho de borregas da raça Santa Inês alimentadas com cana-de-açúcar e ramas de amoreira. B. Indústr. Anim., N. Odessa, v.65, n.1, p.01-06, 2008. SANCHEZ, M.D. Mulberry: An exceptional forage available almost worldwide. In: SANCHES, M.D. Mulberry for animal production. Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nation, 2002, p.271-289. SANTOS L.E. et al. Desempenho de ovinos em pastagem de capim coast cross (Cynodon dactylon L.) com acesso à área de amoreira (Morus alba L.). In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 40, 2003, Santa Maria.Anais.../CD-ROM, Santa Maria:SBZ, 2003.

das silagens mistas foram de 34% (50% cana-de-açúcar + 50% amoreira) e 35% (50% capim-guaçú + 50% amoreira) e da silagem de amoreira exclusiva foi de 43,4%. Os teores de proteína bruta foram de 11,7%, 12,9% e 17,8%, respectivamente para os tratamentos 50% cana-de-açúcar + 50% amoreira, 50% capim + 50% amoreira e amoreira pré-secada + com 5% de rolão de milho. Os menores teores de fibra em detergente neutro (FDN) e de fibra em detergente ácido (FDA) foram observados para a silagem exclusiva de amoreira, 36 e 30%, respectivamente. Cwoncluíram os autores que a amoreira apresenta características viáveis para ensilagem, seja exclusiva ou associada a gramíneas e, quando adotada essa prática, contribui para elevar a qualidade nutricional por conferir maior teor protéico e menor teor de fibras na silagem.

Eduardo Antônio da Cunha

(Pesquisador Cient. do Instituto de Zootecnia/APTA/ SAA)

Fumiko Okamoto (Pesquisador Científico do Pólo Regional CentroOeste/Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Marília/ APTA/ SAA ) Fernando de Paiva Badiz Furlaneto (Pesquisador Cient. do Pólo Regional Centro-Oeste/ Unid. de Pesquisa e Desenv. de Marília/APTA/ SAA)

Caracterização das folhas de amoreira situadas em dois níveis de inserção no ramo às folhas superior e mediana Características analisadas folha superior folha mediana Área lâmina foliar (cm²)

174,89

174,41 ns

Espessura da folha

127,92

135,53*

% de matéria seca

26,82

27,85**

% de proteína bruta

18,28

17,06**

% de fibra bruta

9,22

9,60*

% de matéria mineral

7,33

8,99*

NS = Não significativo; * e ** = diferem estaticamente entre si ao nível de 1% e 5% de probalidade, respectivamente pelo teste de Tukey. OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

15


Transgenia

Primeiro feijão GM é da Pesquisas duraram dez anos e variedades são resistentes ao mosaico dourado, presente em praticamente todas as regiões produtoras, chegando a afetar 100% da produção

Da Redação (Com informações da Embrapa Recursos Genéticos)

J

á estão validadas e só esperando liberação da Comissão Técnica de Biossegurança (CTNBio), as primeiras variedades de feijão geneticamente modi ficados (GM). As Embrapa 5.1, como são chamadas, foram desenvolvidas por duas unidades da Embrapa: a Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás/Goiânia – GO) e Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília-DF). Resistentes ao vírus do mosaico dourado, que é o pior inimigo dessa cultura agrícola na América do Sul – presente em praticamente todas as regiões produtoras do Brasil, podendo causar perdas de até 100% da produção -, essas novas variedades de feijão GM é o resultado de mais de 10 anos de pesquisa e, segundo a Embrapa, marca um feito inédito no Brasil: são as primeiras plantas transgênicas totalmente produzidas saico dourado, variedades convencionais de feipor uma instituição pública de pesquisa. jão. As transgênicas, conforme ele, não apresenCom as variedades já testadas e compro- taram sintomas da doença. Já as convencionais vadas como viáveis sob o ponto de vista da tiveram entre 80% e 90% das plantas afetadas. resistência a pragas e da produtividade, pasAragão explica também que além de tesso seguinte foi a solicitação de liberação por tar a eficiência das variedades transgênicas, parte da CTNBio e para chegar a este proce- essas análises avaliaram a biossegurança para dimento, ainda de acordo com a Embrapa, comprovar a sua inocuidade ao ambiente e à foram feitos exaustivos testes de campo no saúde humana. “Um dos fatores levados em período de 2003 a 2008 para avaliar a sua ca- consideração nessas análises foi a capacidade pacidade de resistência de interação com microao mosaico dourado nas -organismos e insetos “Um dos fatores principais regiões produdo solo”, disse. Segue ele, toras de feijão no país: informando também que levados em consideSete Lagoas (MG), Londrisentido, as avaliaração nessas análises nesse na (PR), Anápolis e Santo ções foram ainda mais foi a capacidade de Antônio de Goiás (GO) e intensas em relação às Passo Fundo (RS). interação com micro- pragas que normalmente Segundo informou interagem com o feijão, -organismos e inseum dos coordenadores da como é o caso de caruntos do solo”, pesquisa, Francisco Aragão, cho (Zabrotes sufasciatus) também foram testados, e das vaquinhas (Diabroem áreas suscetíveis ao motica speciosa e Cerotoma

16

|OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

arculata). “Essas pragas interagem intensamente com o feijão na natureza e, por isso, são excelentes marcadores para verificar possíveis efeitos das variedades transgênicas”, afirma. Já as avaliações de segurança alimentar foram desenvolvidas por uma equipe da UNESP, especialista nessas análises, principalmente com feijão. “Em nenhuma das avaliações realizadas ao longo desses cinco anos, que geraram até um banco de dados, foram detectadas diferenças significativas entre as variedades transgênicas desenvolvidas pela Embrapa e o feijoeiro convencional”, enfatizou Aragão durante a apresentação das Embrapa 5.1 na audiência pública para liberação desses novos produtos. Além daquelas duas unidades da Embrapa, as análises de biossegurança envolveram também as unidades Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), Embrapa Milho e Sorgo (MG), Embrapa Soja (PR) e outras instituições acadêmicas públicas, tais como Universidade de Brasília, Universidade Estadual de Campinas,


Divulgação

Embrapa Variedades são liberadas pela CTNBio Como trâmite legal da análise e liberação de produtos geneticamente modificados, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) promoveu, dia 17 de maio em Brasília, audiência pública para discutir a liberação comercial das variedades de feijão GM. Parecer final deveria ter saído até julho, porém a Comissão adiou a votação a pedido de um dos membros da comissão, Antônio Euzébio, da Universidade Federal de Alagoas. Em pauta novamente no dia 15 de setembro, a liberação para o cultivo foi aprovada por 15 votos a favor. Houve duas abstenções e cinco pedidos de diligências, ou seja, complementação de informações.

Para um dos pesquisadores dessa variedade geneticamente modificada, Francisco Aragão, esse advento têm vários impactos, quais sejam, os científicos, ambientais, econômicos e para a saúde do ser humano. Por outro lado, não concordando com essa aprovação, a ONG Terra de Direitos, por meio de sua assessoria jurídica vai recorrer judicialmente da aprovação. “Diante da flagrante ofensa à legislação e ao estado democrático de direito, das ameaças aos produtores e agricultores, da falta de comprovação da segurança do consumo humano, não vemos outra saída que não tomar medidas judiciais cabíveis”, anunciou a assessora Ana Carolina de Almeida.

Universidade Estadual Paulista e a Universidade Federal do Ceará.

METODOLOGIA

Para chegar às variedades geneticamente modificadas, Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, e seu colega de pesquisa, Josias Farias, da Embrapa Arroz e Feijão, utilizaram quatro estratégias de transformação genética. Eles modificaram geneticamente a planta para que ela produzisse uma molécula – o RNA – responsável pela ativação de seu mecanismo de defesa contra o vírus mosaico dourado. Foi, de acordo com Aragão, a mimetização do sistema natural. Para ele, a grande vantagem dessa técnica é que não há produção de novas proteínas nas plantas e, consequentemente, não há possibilidade de alegernicidade e toxidez. Ele explica ainda que a tecnologia de RNA pode causar resistência a várias estirpes do mesmo vírus. De acordo com os pesquisadores, a redução dos custos de plantio deve resultar em um projeto mais barato para o consumidor. OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

17


Ensaio

“Bacalhau brasileiro” ainda reina no Tocantins

Políticas públicas, ambiente propício e linhas de crédito apontam futuro promissor para a criação deste peixe Roberto Sahium *

O

Pirarucu por muitos anos viveu em um corpo de água que margeava a ex-depressão, o qual recebeu o nome de Ribeirão do Pirarucu, situado na divisa dos municípios de Fiqueiropolis e Formoso do Araguaia, no Tocantins. Saiu daí, entrou pelo Rio Formoso, atravessou pelo Caracol, chegou ao Rio Javaes, povoou os lagos do Mamão e Sorrocan dentro da Ilha do Bananal, deixou raça no Lago Escondido - na fazenda do Domingos Pereira e do Butelo na Capiaba -, criou moradas nas Lagoa Bonita, em Dueré e Lago da Pedra, em Pium. Procriou no Cantão, desceu o Rio Araguaia, pegou o Rio Tocantins, subiu o Rio Amazonas e seus tributários, chegou no Acre, Rondônia, Roraima e Amapá. O Pirarucu é um dos maiores peixes de escamas de água doce do mundo, pode chegar a dois metros e meio e pesar mais de 250 quilos em ambiente natural. É um dos símbolos da Amazônia e graça a piscicultura, saiu da listas das espécies ameaçadas de extinção. Para isso, várias parcerias foram estabelecidas com os Estados da região Norte do Brasil, a Seagro-TO, o SEBRAE-TO, produtores e a iniciativa privada do Tocantins - destacando os projetos Tamborá, Surubim, Caranha, Fazenda São Paulo e Aliança. Estes, por vários anos geraram muitos conhecimentos por meio das experimentações e validações em manejo de água, alimentação, densidade e até reprodução em cativeiro. Temos consciência que isto é pouco, precisamos avançar no conhecimento e domínio das tecnologias de reprodução da espécie, de encontrar soluções sustentáveis verdadeiras, que diminuam o impacto ambiental, e que a atividade de criação de pirarucu faça inclusão social e econômica, principalmente às comunidades ribeirinhas.

18

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

A carne do Pirarucu tem textura suave, extremamente saborosa, coloração róseo avermelhada Quanto a carne do Piraou a “Nova Plataforma de “Nova Plataforma rucu, apresenta-se de uma Desenvolvimento Sustextura suave, extrematentável do Brasil”, é o de Desenvolvimento mente saborosa, coloração estado do Tocantins. Os Sustentável do Braróseo avermelhada, quase pilares desta plataforma sil”, é o estado sem espinhas. Pode ser consão: as tecnologias - sem sumida verde nos mais vaprepotência e arrogância, do Tocantins riados pratos ou salgada e podemos afirmar, não fiseca ao sol, formando imencamos atrás de ninguém sas mantas. É esta apresene agora com EMBRAPA, tação que lhe dá o título de “bacalhau brasileiro”. imagine só. Recursos financeiros, vários banO Pirarucu é encontrado atualmente entre cos, com linhas de crédito e taxas de juros reos 20º Norte a 20º Sul. Mas para este fabuloso lativamente bons; incentivos fiscais competitipeixe, pelos “seus serviços prestados” e o que vos - não perdemos pra nenhuma das regiões ainda prestará para a humanidade, o Deus Tupã do país. Logística, o Tocantins - e anotem aí-, reservou um Éden no planeta terra para ele. será em breve o caminho do Brasil, com infovia Refiro-me ao um quadrilátero, determinado pe- - estrada do futuro e aqui já presente-; rodolos paralelos 5º a 15º Latitude Norte e 35º a 75º vias, aerovias e ferrovia de dar água na boca de Longitude Oeste. camelo e logo teremos as hidrovias. O centro desta localidade diferenciada, Para o desenvolvimento, nada melhor do Produtividade e rendimento econômico de diferentes animais criados racionalmente, em R$ 1,00. Parâmetro

Pirarucu

Tambaqui

Boi

Ovino

Produtividade Kg:ha:ano.

8.000

5.600

390

450

Rendimento de carne %.

57

50

52

43

Valor unitário R$ do Kg da carne.

15

4

12

10

Fonte: Imbiriba


A lenda e a ficção de um guerreiro A lenda

o Pirarucu era guerreiro da nação dos Nalas, muito valente, orgulhoso, vaidoso e a prática da maldade sua praia. Foi então que o Deus Tupã o viu caçando sozinho e resolveu castigá-lo por todas as suas maldades e, assim, determinou Jurua-Açu, Deusa das chuvas e das tempestades, que fizesse cair sobre ele uma grande tempestade. Um raio partiu uma árvore muito grande sobre sua cabeça achatando-lhe totalmente. Desfalecido, fora carregado pela enxurrada para as profundezas do Rio Amazonas. Tupã ainda não estava satisfeito e resolveu transformá-lo em um peixe avermelhado de grandes escamas e cabeça chata.. que a nossa própria natureza. Aqui é o berço de ouro do Pirarucu. Nas políticas publicas, estamos dando exemplo: o governo estadual criou uma secretaria só pra cuidar de peixes, entre estes está o Pirarucu. Na área federal, o governo está implantando Embrapa, Aquicultura e Pesca. No quesito sustentável, o Estado tem políticas publicas de vanguarda, é um dos poucos estados brasileiros que têm uma distribuição fitogeográfica com mais de 50% do seu território em contingência para o meio ambiente. Criou a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Recursos Hídricos; possui pronta uma lamina de água de 1.500Km2 para engorda de peixes, de fácil acesso, energia elétrica, e outras infraestruturas para que possamos promover uma revolução azul na aquicultura. Composição química da ventrecha do pirarucu, in natura. Parâmetro

Média %

Umidade

76,89

Proteína

18,22

Gordura

3,20

Cinza

1,69

Total

100,00

A Ficção

A geologia prova que houve um grande dilúvio sobre a terra, há cerca de 4.220 anos. Isto pode ser lido na Bíblia Sagrada em Genesis 7 : 1-24. Nesta época, a vasta Depressão Araguaia era habitata pelos valentes, vaidosos e brigões guerreiros que deram origem aos povos Inys. Na época, a guerra fazia muitas mortes entre aldeias, uma grande satisfação desta Nação. Deus Tupã, então, resolveu castigá-los, encomendando à Juruá-Açu, um imenso temporal, com trovões de rasgar os céus, ventos e redemoinhos de deixar Nhanderuvuçu de queixo caído, e assim aconteceu. Pirarucu era um jovem do povo Iny. Forte, formoso, valente, justo e não compartilhava das atrocidades da sua gente. Sempre pronto para ajudar os outros, principalmente as mulheres e idosos aposentados. Isto criou uma imensa marola de ciúmes e muita inveja entre os guerreiros. Ao grande Cacique, os invejosos disseram que Tupã estava enfurecido e a causa de toda aquela desgraceira de tormenta era o Pirarucu, que estava à salvar os flagelados das enchentes.

Dizendo eles, isto irritava Xandoré, que queria castigar as pessoas improdutivas e molengas da aldeia, e para estancar as chuvas teriam que sacrificar o guerreiro mais valente e teimoso da nação, sugerirando, lógico, o nome de Pirarucu. Permissão conseguida, levaram o índio para a mata, surrando-o até a perda dos sentidos com Vara-de-Ju e sua cabeça achatada com Pau-de-Anhangá. Iara, ainda muito jovem, irmã caçula de Jurua-Açu, com muita pena de Pirarucu, o levou para o fundo da depressão, curando-o com barbatanas de Aruanã e ungüento de pasta da Pedra-Ganga. As tempestades continuaram, transformando em dilúvio, que engoliu tudo. Lá pelas bandas do Oriente, Noé, em sua barca, salvou um casal de cada vivente da região, também citado em Gênesis 6-12[1][2],( assim como no Alcorão). Por aqui o serviço de salvamento ficou por conta do Pirarucu, agora, um peixe de corpo avermelhado pelo ungüento e pelas pedras oxidadas do primitivo cerrado, com robustas nadadeiras, possui dois aparelhos respiratórios. O Pirarucu, com as branquias para a respiração aquática e a bexica nadatória modificada, especializada para funcionar como pulmao, no exercício da respiração aérea, todas vezes que subia para respirar na superfície da água, levava consigo, do fundo das águas, os animais, as plantas ao povo de Inys. De caráter manso e dócil não guardou mágoa. Fez isto por muito, mas, muitos anos. Apos o dilúvio, houve precipitação dos sedimentos das águas barrentas, sobre a Depressão do Araguaia, formou-se uma enorme planície de terrenos aluvionares, com uma topografia muito plana e altitudes entre 200m e 250m, denominada de Ilha do Bananal. OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

Roberto Sahium

* É engenheiro agrônomo, extensionista do Ruraltins, membro da Academia Brasileira de Letras da Extensão Rural e, ainda, presidente do Grupo Gestor da Piscicultura do Estado do Tocantins

19


capa

Vinicultura

O Semeador de

uvas

Graças ao pioneirismo de um gaúcho visionário, o Cerrado goiano está se tornando em grande produtor de uva, suco e vinho

20

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011


Texto e fotos: Antônio Oliveira

H

á poucas décadas, era inimaginável ver no Cerrado - bioma comum nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, sul do Maranhão e oeste da Bahia -, algo mais que árvores retorcidas, emas, lobos, calangos e, no máximo, em termos de cultura, algum pasto rústico. Agricultura intensiva? Nem pensar. Como um solo infértil, arenoso, ácido e com altos teores de minerais, como alumínio, produziriam qualquer tipo de alimentos vegetais? Mas como, no Brasil, conforme dissera Pero Vaz de Caminha, “em se plantando tudo dá”, a tecnologia desenvolvida por uma das mais exemplares estatais brasileiras, e ícone em pesquisas agropecuárias no mundo, a Embrapa, levou o navegador a sério: por que não domar as terras de Cerrado, fazendo com que ela aceite tudo o que se planta nela? Essas terras foram, digamos assim, “domesticadas”, de forma que, conforme os interesses dos setores produtivos rurais, fossem moldadas para receber qualquer tipo de cultura. Em outras palavras, tornou-se, a partir de meios para sua correção e adubação, base neutra para diferentes tipos de cultura e suas exigências naturais e mecânicas. É só adicionar a ela os ingredientes necessários para o que se quer produzir. E assim começou uma epopéia naqueles estados, primeiro em terras do Centro-Oeste – Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul -, e noroeste de Minas Gerais, depois avançando para o oeste da Bahia, sul do Maranhão, sul do Piauí e Tocantins. Veio o arroz, depois a soja, o café, o milho, o sorgo, as frutas cítricas e até o e “elitizado”, “metido” e exigente trigo. Em Goiás, o Cerrado, a partir de 1998, deu um passo mais ousado. Desafiou a tradição do Sul e Sudeste do País: produzir uvas. “Produzir uvas no Cerrado? De quem é esta idéia maluca?”, foram algumas das perguntas de produtores rurais, populares, autoridades e, principalmente, de instituições de crédito agrícola. A idéia foi de um próprio gaúcho, como dessa naturalidade foi a idéia de explorar o Cerrado para plantar soja, cultura só então possível em terras férteis do Sul e Sudeste brasileiros. Danilo Razia foi o “maluco”, o “visionário”. Chegou a Goiás naquele ano, de acordo com ele, atraído pelas condições edafoclimáticas da região de Itaberaí, oeste de Goiás, e, “por ter sido informado que estava entrando um governo bom, que ia ajudar aos produtores rurais”, diz. Ele ressalta que esta imagem de bons governantes prevalece até os dias de hoje, pelo menos para o setor de viticultura. “Nossos governantes têm sido bons. E, além disto, passamos a ter a ajuda da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (FAEG) e da Se-

Danilo Razia, o pioneiro: no princípio a Embrapa não nos oferecia nem cafezinho cretaria de Agricultura de Goiás (Seagro). Não só isto é claro. As condições que o Cerrado oferece para este tipo de cultura, como - diz ele -, água boa, clima, regime pluviométrico e temperatura propícios. “Com temperatura entre 14 e 28 graus, não há frio e, consequentemente, estresse para a fruta. O frio aqui, ao contrário do Sul do país, ao invés de atrapalhar faz é a ajudar na formação do brix (teor de açúcar), frisa. Na verdade, ainda conforme o viticultor, a busca por novas alternativas de cultivo além do Rio Grande do Sul, tinha outra razão de ser: no Sul, só é possível uma safra por ano. “Se a safra não der, ai só na safra/ano seguinte. Aqui, não. Aqui a gente tem duas opções: são duas safras por ano. Se uma não der, a outra dar”, explica. Mas, geralmente, as duas dão. “Praticamente, temos uva durante os doze meses do ano”, completa. Mas, plantar uva no Cerrado goiano não foi fácil quanto este texto pode sugerir – ufanismo do redator? Não. O Cerrado não o surpreende mais. Danilo teve muitas barreiras a serem transpostas. Com a coragem no sangue, como é característica do gaúcho, foi em frente e procurou demolir todas. Suas primeiras barreiras foram a falta de tradição de Goiás na cultura de uva. Fruta que por aqui só se conhecia dos pontos de vendas para a mesa, ou em algumas parreiras plantadas como ornamento em quintais e chácaras – sem produtividade e muitas vezes estéreis. “Não tinha nem como dizer para eles (os goianos) que eu tinha a intenção de plantar uvas por aqui”, conta o produtor. Com os outros acreditando ou não, ele plantou, de início, 1,5 hectare da fruta, de uma variedade que não tinha nada a ver com as condições edafoclimáticas da região. Aliás, não havia varie-

dade validada para o Cerrado. “Só começaram a botar fé no meu empreendimento, quando viram as primeiras parreiras cheias de cachos”, lembra. De um hectare e meio, seu Danilo foi crescendo a um hectare por ano, tendo, hoje 12,5 hectares. “Um hectare por ano, porque o custo de implantação de cada hectare é alto”, frisa. Incansável no seu ideal pela viabilização da uva no Cerrado goiano, Danilo Razia, foi muito mais além da porteira de sua viticultura. Passou a difundir a cultura em outras regiões e a buscar apoio nas instituições governamentais de pesquisas e acompanhamento da produção rural, como FAEG, Seagro e Embrapa. E foi com o apoio decisivo desta que a produção de uva em Goiás passou a se deslanchar e ninguém a segura mais. Porém, apoio que não veio na primeira hora, não. No princípio ele procurou a Embrapa Cerrado, em Brasília. “Não me serviram nem cafezinho”, costuma lembrar. Só mais tarde e que ele procurou a Embrapa Uva e Vinho, com sede em Jales, São Paulo. Esta passou a acompanhar a cultura em Goiás e a desenvolver e melhorar variedades adaptáveis ao Cerrado goiano. Resultado: a produtividade subiu de 18 quilos por pé para até 30 quilos e a cultura se expandiu para vários outros municípios de Goiás, somando mais de 600 hectares produzidos em todo o Estado. Não foi fácil, de acordo com a família Razia. Durante algumas safras ele teve colher e distribuir frutas de graça em feiras livres e até na porta da Assembléia Legislativa de Goiás, no intuito de conscientizar as autoridades e o cidadão comum do potencial que o Estado tem para a produção de uva. Enquanto ele, “só pensava em uva’, sua família, inclusive a esposa, trabalhava fora para ajudá-lo a manter as despesas de casa. OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

21


Agregação de valor: Danilo Razia passou a produzir suco da uva em sua propriedade

Novas conquistas: centro tecnológico e a industrialização da fruta Viticultura consolidada chegou a vez de agregar valor à produção. Danilo passou a industrializar a uva em sua propriedade. A princípio, artesanal. A partir de 2008, industrial, automatizada. Produção que é vendida por seu filho, Alex Razia, em supermercados, empórios, lojas de produtos naturais e em eventos na capital goiana e na região. A uva goiana também é usada para a fabricação de vinho na região de Paraúna, interior de Goiás. Unindo esforços com os demais produtores conseguiu sensibilizar o governo de Goiás a criar um centro de tecnológico de desenvolvimento da vitivinicultura no estado. Por uma questão de interesses políticos, esse centro foi construído e equipado na cidade de Santa Helena de Goiás, outra produtora de uva e terra

22

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

do então governador que o construiu. Próximo passo agora, de acordo com Danilo Razia, é conseguir junto ao governo de Goiás a construção e estruturação de outro centro tecnológico em Goiânia. “Centralizando esse serviço em Goiânia, o pequeno produtor em diferentes regiões no Estado, não terá muito custo para acessar os serviços prestados por esta unidade na Capital”, acredita. Outra meta, depois da criação de uma associação dos produtores de uvas em Goiás, Razia quer formar uma cooperativa. A idéia, de acordo com ele, é selecionar vinte produtores mais expressivos para iniciar a exportação e aumento da produtividade. Mas o passo mais ousado dos Razia foi a fabricação de chope de uva. Para isto, ela

buscou a parceria com uma pequena fábrica de chope em Goiânia. “Hoje, com esse produto, nós estamos buscando um público específico, o feminino”, informa Reginaldo Mercês, um dos diretores dessa fábrica. De acordo com ele, a mulher não aprecia muito o chope tradicional e já tem apreciado o chope de uva, um produto mais adocicado. “Elas estão aceitando bem o chope de uva”, diz. Este novo produto, de acordo com Reginaldo Mercês, tem praticamente o mesmo teor alcoólico do chope tradicional – entre 4,5% e 5% de graduação. No princípio (até final de julho deste ano), como era um produto ainda em experiência de mercado e consumo, a produção era de apenas mil litros por mês. Mas a meta seria chegar, a partir de agosto deste ano, a 10 mil litros por mês.


Serviço Aos interessados em produzir uva em Goiás, recomenda-se procurar as secretarias de Ciência e Tecnologia e a de Agricultura do Estado de Goiás; Embrapa Uva e Vinho e o Centro Tecnológico da Uva e do Vinho em Santa Helena de Goiás. O Estado, como se vê, promete muito neste tipo de cultura.

OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

23


Antônio Oliveira Filho

Sanidade animal

É tempo de vacinar o gado

Produtor rural, Dalton Heringer, vacinando seu rebanho no Tocantins

Nos estados sem aftosa, mas com vacinação, a exemplo de Bahia, Goiás e Tocantins, a meta é o status de Estado livro de aftosa sem vacinação Antônio Oliveira

N

é mês da segunda etapa de vacinação contra a Febre Aftosa em todo o Brasil, com exceção de Santa Catarina, que é declarada zona livre deste mal, desde 1998. Rio Grande do Sul também havia conquistado este status naquele mesmo ano, porém, em 2000, com a ocorrência de focos do mal em alguns municípios, o Estado voltou a condição de área com risco e, portanto, com vacinação.

24

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

A Aftosa, ou pelo menos uma suspeita de qualquer ocorrência, é o bastante para que países como os europeus e norte-americano suspendam a importação de carne, causando enormes prejuízos de ordem econômica para a região embargada. Cerrado Rural Agronegócios fez um balanço de como está, hoje, a situação nos estados da Bahia, Goiás e Tocantins, bem como suas perspectivas para a segunda etapa da campanha, neste mês. Três dos estados mais importantes na pecuária e na indústria de derivados bovinos para consumo nacional e internacional.

O mais novo Estado da Federação brasileira, a primeira etapa da campanha deste ano, realizada durante o mês de maio, registrou praticamente os mesmos índices obtidos em campanhas anteriores o que mostra o empenho da instituição de vigilância sanitária tocantinense, a Agência de Defesa Agropecuária (Adapec) e dos pecuaristas. Das 7.905, 845 cabeças de gados existentes no Estado, 7.859.273 foram vacinadas, o que corresponde a 99,41% do rebanho. Dos 139 municípios existentes no Tocantins, 52 chegaram a marca dos 100% de vacinação; 63 registraram um índice de 99% e os demais municípios conseguiram atingir 90%, percentual estipulado pelo Ministério da Agricultura para os estados livre de Aftosa com vacinação. Desde 1997 o Estado não registra um caso de Aftosa em todo o seu território. “Estamos satisfeitos com os índices alcançados, pois atingimos o percentual acima do preconizado pelo MAPA”, destaca o presidente da Adapec, Geraldino Ferreira Paz. Este êxito ele atribui também aos pecuaristas. O Estado também cria búfalos, mas em número muito pequeno: 8.943 cabeças, diversas em 86 municípios. A segunda etapa da campanha será parcial e a expectativa, de acordo com Adapec, é vacinar 3,5 milhões de bovinos e bubalinos com até 24 meses de idade, declarados em maio.


FIM DA ZONA TAMPÃO O Estado comemora também o fim da Zona Tampão nas fronteiras com os estados do Piauí e Maranhão, territórios com status sanitário inferior. Esta extinção, validada desde o fim do ano passado, foi reconhecida no final de maio deste ano pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em Paris, quando da realização da 79ª Assembléia Geral dos Delegados da entidade. De acordo com o Geraldino Ferreira Paz, com esta decisão a comercialização e os preços do gado na extinta barreira sanitária melhoraram consideravelmente. “Foi uma decisão muito aguardado pelo agronegócio do Tocantins. Agora temos um só status sanitário livre de Febre Aftosa com vacinação”, diz ele, por meio

da assessoria de imprensa do órgão. O fim da Zona Tampão teve reflexos animadores entre os produtores rurais daquela região, de acordo com a manifestação do pecuarista José de Carvalho, do município de Goiatins. De acordo com ele, a decisão da OIE refletiu nos preços comercializados na região. “Nosso gado era comercializado por meio de ‘gambiereiros’ (a preços inferiores), mesmo sabendo que os animais eram saudáveis e que nós (produtores) cumprimos todas as determinações da Adapec”, diz. Opinião respaldada pelo Diretor de Defesa, Inspeção e Sanidade Animal da Adapec, Alberto Mendes da Rocha. Conforme ele, apenas com o reconhecimento nacional do fim da Zona Tampão, feita no final do ano passado,

o preço da arroba do boi quase dobrou em alguns municípios e a comercialização deu um salto. Diz ele, por meio da assessoria de imprensa da Adapec: “Agora, esperamos mais crescimento econômico que irá beneficiar toda a cadeia produtiva”. Para conseguir esta exclusão, ainda conforme a Adapec, o órgão trabalhou durante 11 anos, intensificando a fiscalização de trânsito de animais nas barreiras fixas e volantes. Os municípios que serviam de barreira sanitária naquelas fronteiras são: Campos Lindos, Lizarda, Goiatins, Materios, São Felix do Tocantins, Recursolândia e Barra do Ouro. Eles somam um rebanho estimado em 133.603 cabeças dispersas por 2.267 propriedades.

Divulgação/Adapec

Europa pode ser mais um mercado

Geraldino Ferraz: “São 14 anos sem focos de aftosa, por isto estamos otimistas

Tocantins está habilitado, por meio de dois grandes frigoríficos “sifado” ( com o selo SIF – Serviço de Inspeção Federal), a exportar carne e derivados para 130 países. O bloco europeu está dentro de seus interesses comerciais, porém é barrado pelos rígidos critérios fitossanitários daqueles países. Esta restrição comercial pode estar chegando ao fim, caso a missão européia que visitou o Estado no final de maio deste ano, aprove o que viu no seu sistema pastoril, industrial e de defesa agropecuária. Acompanhados por representantes do Departamento de Sanidade Animal, do MAPA; Superintendência do Ministério da Agricultura no Tocantins e da Adapec, os auditores europeus visitaram escritórios e barreiras da Agência no Estado, propriedades rurais e um frigorífico “sifado”. O objetivo da missão européia foi o de avaliar os controles rela-

cionados ao PNEFA (Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa) e as garantias necessárias para atender a certificação para exportação de carnes para o mercado comum europeu. Isto incluiu, no Tocantins, a fiscalização das vacinas em lojas agropecuárias, controle de trânsito em barreiras fixas e volantes, principalmente na extinta Zona Tampão. O presidente da Adapec, Geraldino Ferreira paz, está otimista quanto ao resultado desta visitada. De acordo com ele, o Estado tem um serviço de defesa animal que é referência no Brasil, “com altos índices vacinais e um status sanitário livre de Febre Aftosa com vacinação há 14 anos, por isto estamos confiantes”, frisa. Já o responsável pelo PNEFA no Tocantins, Luis Eduardo Rocha, assegura que a expectativa é que o resultado da avaliação seja positivo, uma vez que o sistema de defesa sanitária desenvolvida no Estado é aprovado por vários países. “Estamos otimistas porque todas as exigências sanitárias estão sendo cumpridas”. A carne bovina e seus derivados são, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), os principais produtos exportados pelo Estado. CARNE VERDE - Tocantins ainda tem a vantagem de produzir o chamado boi verde, ou seja, o boi criado a pasto, sem o consumo excessivo de medicamentos ou qualquer outro tipo de suplementos para engorda que prejudica a saúde humana. É a carne mais procurada, principalmente pela União Européia e que o Estado tem condições atender em longa escala.

OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

25


Com um plantel de pouco menos de 11 milhões de cabeças de gado, entre bovinos e bubalinos, a Bahia ocupa a sexta colocação no ranking da criação de gado no Brasil. É o maior produtor na região Nordeste do país, já contabiliza sete anos como Zona Livre de Aftosa com Vacinação e 11 anos sem registrar nenhum foco da doença no Estado. Além disto, de acordo com a Secretaria de Agricultura do Estado (Seagri-BA), se destaca no Nordeste, por ser um dos estados nordestinos – o outro é Sergipe -, com condições fitossanitárias para comercializar produtos bovinos, bubalinos, caprinos e ovinos para o resto do Brasil e exterior. Alagoas, Paraíba, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, são regiões infectadas pelo vírus da Aftosa. Já Pernambuco e Maranhão compõem uma área de médio risco, o que significa que para fazer trânsito para outros estados, é necessário submeter os animais a exames sorológicos. Na primeira etapa da vacinação contra a Aftosa no Estado, em maior deste ano, a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), registrou índice de vacinação de 98,01% do rebanho baiano, 0,98% a mais que o registrado na campanha de novembro do ano passado. Índices bem acima do exigido pela OIE e pelo Ministério da Agricultura, que é de 90%.

divulgação

Na Bahia, vacinação também é só para menos de dois anos de idade

Eduardo Salles: “Começo de uma nova fase na erradicação da aftosa na Bahia”

NOVA ETAPA NA CAMPANHA A rotina das campanhas de vacinação contra a Aftosa na Bahia será alterada a partir da segunda etapa da campanha deste ano, que começa neste mês de novembro. Conforme informações da Seagri-BA, serão vacinados apenas os animais com menos de 2 anos de vida. Isto resulta na não vacinação de um rebanho de 6,5 milhões de cabeça e uma economia superior R$ 10 milhões para os pecuaristas baianos.

Para o titular desta Pasta, Eduardo Salles, este é apenas o começo de uma nova fase no processo de imunização que ele espera concluir nos próximos três anos. Para isto ele diz depender da união de esforços entre Ministério da Agricultura, Seagri e pecuaristas, “o que já está ocorrendo e dando frutos, mas há muito trabalho a ser feito”, diz ele. Porém, alerta Salles, a vacinação só terá fim

se todos os estudos comprovarem a segurança total do rebanho em relação à doença. “É um velho sonho dos pecuaristas baianos que se transformou em uma batalha da qual temos obtido vitórias sucessivas, mas é necessário paciência e, acima de tudo, prudência”, enfatizou. Mesmo com todo este cuidado, a Bahia ainda encontra restrições nos mercados mais ricos e exigentes do mundo.

TAMPÃO TAMBÉM É EXTINA A Bahia também teve sua Zona Tampão extinta na mesma época dessa conquista pelo Tocantins. Com esta decisão, tomada pela OIE, os municípios localizados na fronteira do Estado com o Piauí, num total de oito – Remanso, Campo Alegre de Lourdes, Casa Nova, Pilão Arcado, Santa Rita, Mansidão, Buritirama e Formosa do Rio Preto - têm o mesmo status dos demais municípios baianos. O status de área com risco de aftosa atribuído ao

26

|OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

Piauí impunha àquela antiga condição a estes municípios, desvalorizando os preços do gado. Conforme o secretário Eduardo Salles, o evento “foi uma confirmação de que nossa política de sanidade do gado está seguindo na direção certa”. Mais do que isto, diz ele, foi o êxito do pacto entre o MAPA e os estados da Bahia e Piauí. Os dois tiveram que tomar medidas de segurança que garantiram a sanidade do gado na região. Entre essas

medidas, destaca a Seagri, constam o trabalho de sorologia feito com 6 mil animais baianos, no qual o sangue de cada um passou por exames laboratoriais, o que certificou a saúde do rebanho. Vale a pena dizer que aqueles municípios baianos que fazem fronteira com o Piauí já estavam inclusos no status geral da Bahia desde o ano passado, mas só teve o reconhecimento internacional neste ano.


já divulgou, neste ano, a lista dos estados brasileiros que ficaram fora da pauta de exportações para o País. “Goiás não entrou nesta lista e manteve 100% das exportações para a Rússia”. Neste mês de novembro, de acordo com determinação do MAPA, a Agência de Agrodefesa de Goiás, entre 1º e 30 de novembro deste ano não só a vacina contra a aftosa será aplicada em bovinos e bubalinos acima de 24 meses, mas também contra a raiva em animais com até 12 meses nos 119 municípios listados na Instrução Normativa 001/2005. Ainda de acordo com esta Instrução, a vacinação e comercialização das vacinas podem ter início no dia 28 de outubro, devendo a comprovação da vacinação ser preenchida com data a partir de 1º de novembro; condiciona as antecipações de vacinação à análise prévia dos Gerentes Regionais e proíbe, no período entre 1º e 8 de novembro, a realizações de leilões. Buscar o título de Estado livre da aftosa sem vacinação, ainda conforme, Antenor Nogueira, é um compromisso do governador Marconi Perillo, por meio da Agrodefesa. “Num segundo momento, nós queremos criar um selo de qualidde do produto goiano para a carne e grãos. Logicamente esse já é um passo para levarmos junto aos produtos exportados por Goiás um selo que vai agregar valor par ao produtor rural que está cumprindo sua missão”, conclui.

Divulgação/Agecom

Novo passo em busca do status de Estado livre da aftosa sem vacinação foi dado por Goiás em setembro: por meio de Portaria, do Ministério da Agricultura (MAPA), a obrigatoriedade de vacinação do gado contra esse mal será apenas para os amimais com até 24 meses de idade já a partir da segunda etapa da campanha anual de vacinação, neste mês de novembro. Até maio deste ano, época da primeira etapa da campanha, a vacinação era feita em 100% do rebanho, o que continuará, mas apenas nesta etapa. Essa medida do MAPA tem o aval da Organização Internacional de Epizootias (OIE), o que reflete, de forma bem positiva, a imagem da carne goiana no mercado internacional, sobretudo naqueles países que ainda têm restrição a essa proteína produzida no Estado Este tipo de vacinação vinha sendo defendida há muito tempo por pecuaristas e entidades de agrodefesa. Em Goiás, o presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Estado (Agrodefesa), Antenor Nogueira, argumenta que aos dois anos de idade o animal já tem memória imunológica. Ainda conforme ele, esse é o primeiro para que o Estado alcance o título de Estado livre de aftosa sem vacinação. “Para isso, vamos cumprir metas, como educação e vigilância sanitárias e controle viral”. Antenor Nogueira explica ainda que a Rússia

Para Antenor Nogueira, erradicar definitivamente a aftosa de Goiás é um compromisso do governador Marconi Perillo (na foto em campanha de vacinação)

Divulgação

Em Goiás, mês é também de vacinação contra raiva

Exportações da carne goiana bate recorde em setembro

Economia de até R$ 20 milhões Goiás possui um rebanho bovino aproximado de 21 milhões de cabeças, 10 milhões dos quais com idade abaixo de 2 anos. A não vacinação desta faixa etária resultará numa economia entre R$ 18 milhões e R$ 20 milhões. Na primeira etapa da campanha, em maio passado, 99,4% do rebanho foi vacinado. Cerca de 3 mil produtores deixaram de vacinar o gado. De acordo com Antenor Nogueira, a Agradefesa tem hoje, on-line, a lista desses produtores, a localização geográfica, o nome da propriedade rural, o CPJ e/ou o CPF deles. Ele avisa também que a partir desta segunda etapa, os produtores que não vacinaram seu gado em maio terão a vacinação nesta segunda etapa assistida por técnicos da Agrodefesa. Em setembro, o Estado registrou o seu maior volume de exportação de carne bovina neste ano: 14,55 mil toneladas equivalente carcaça (Tec), gerando um faturamento de U$ 60,30 milhões. Este volume é 8,1% maior que em setembro do ano passado. Em igual período do ano passado, foram exportadas 13,47 mil Tec. Esses dados são do Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior. Porém, entre janeiro e setembro deste ano foram embarcadas 107, 55 mil Tec, queda de 19,75% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram embarcadas 134,02 mil Tec.

OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

27


Divulgação

Marketing Da Redação

A

Feira Internacional de Alimentos (Anuga 2011), que ocorreu entre os dias 8 e 12 de outubro, em Colônia, na Alemanha, foi o local escolhido para a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (ABIEC) defender a cadeia da carne no Brasil, alvo de equívocos de ambientalistas e concorrentes internacionais. “É preciso desconstruir o estereótipo do boi no mato queimado que quiseram transformar em verdade única sobre a pecuária brasileira”, disse o diretor de Sustentabilidade da ABIEC, Fernando Sampaio. Ainda de acordo com ele, o Brasil tem uma história de uma pecuária de sucesso e está empenhado e melhorar cada vez mais. Esta defesa, aliás, tem uma motivação maior a partir de uma tese de mestrado pelo programa de pós-graduação em administração de organizações da FEA-RP/USP, de Ribeirão Preto, da pesquisadora Fernanda de Tavares Canto Guina. Por meio de 382 questionários aplicados a consumidores, especialistas e grandes importadores na Inglaterra, França, Alemanha e Irlanda, a pesquisa concluiu que melhorar a imagem da carne bovina brasileira é um dos maiores desafios da indústria do setor. E, ainda, que o principal recado ao setor exportador desta proteína animal brasileira é que quanto mais conhecimento o consumidor possuir sobre o Brasil, mais positivo é o impacto do chamado “Efeito País de Origem” sobre sua atitude de compra. “Muitas pessoas ainda têm a imagem do Brasil como o país do futebol e do carnaval e não conhecem nossa cadeia produtiva e a variedade de produtos que exportamos”, diz Fernanda. Outro ponto importante analisado na pesquisa é a falta de informação dos consumidores na Europa, que culmina em prejuízo na imagem da carne bovina do Brasil. Conforme ela, “as pessoas ainda acham que a pecuária brasileira é a responsável pelo desmatamento da Amazônica”. Seguindo este prisma, a ABIEC promoveu, durante a Anuga, palestra sobre o compromisso das empresas e pecuaristas em produzir no bioma Amazônia com sustentabilidade, além de debates e distribuição de material informativo para os visitantes do stand da entidade. “Consumidores hoje não querem só um produto com qualidade e preço. Querem também ter consciência tranquila, saber

“É preciso desconstruir o estereótipo do boi no mato queimado que quiseram transformar em verdade única”

Em defesa da carne brasileira Pecuaristas se empenham cada vez mais para apagarem a imagem de que a carne brasileira é produzida com o sacrifício do meio ambiente

se o que estão comprando com o meio ambiente. “Nossa não vem de desmatamenpecuária evoluiu muito nos “as pessoas ainda to, de trabalho infantil ou últimos anos e vai evoluir cada acham que a escravo, seja um tênis ou vez mais. O mundo vai precisar pecuária brasileira um alimento”, diz Sampaio. de carne vermelha e esta virá Ainda nesta mostra do Brasil e será produzida com é a responsável pelo do panorama da pecuásustentabilidade. Esta história desmatamento da ria brasileira, a ABIEC fez o precisa ser contada”, frisa o diAmazônica”. lançamento de um vídeo retor da ABIEC. institucional, que mostra A Anuga é considerada exemplos de propriedades o maior do setor de alimenrurais em diversas regiões do Bratos e bebidas do mundo e reúne todos os anos, sil, onde a pecuária é praticada em total harmonia visitantes e expositores de diversos países.

DIA DE CAMPO A sustentabilidade e necessidade de zelar pela imagem da pecuária no mundo, vem sendo discutida em vários eventos de agronegócio. No final da 2ª quinzena de outubro pecuaristas de vários cantos do Brasil debateram, de forma presencial ou virtual, em um

28

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

dia de campo, esta questão. Foi no 2º Dia de Campo Bonsucesso Nelore ZAN, em Guararapes, São Paulo. A promoção foi dos casais de criadores Michel Caro/Patrícia Zancaner Caro e Flávio Aranha/Adriana Aranha. “Há uma grande pressão sobre o setor pecuário questionando

sua responsabilidade na deterioração do meio ambiente e este pré-julgamento é bastante questionável pois existe números que comprovam que a atuação da pecuária chega a ser favorável para a sustentabilidade como um todo, no balanço final”, disse Michel Caro.


milhocultura

Brasil pode avançar mais Queda de safra nos Estados Unidos abre os horizontes internacionais para o milho brasileiro. Com isto a soja perde terreno

Da Redação

E

m fase de plantio, a safra 2011/2012 de milho no Brasil pode ser uma das melhores, em termos de área plantada e exportação. Com a queda da safra do grão nos Estados Unidos, milhocultores brasileiros podem ter um mercado mais amplo e melhores preços. A previsão é da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), para quem os preços e a situação desta cultura no País nunca foram tão favoráveis. Para a entidade, se os produtores souberem aproveitar o momento, essa é a chance de colocar o Brasil à frente das maiores produções do mundo, elevando, consideravelmente, suas exportações. A safra 2011/2012 de milho dos Estados Unidos, segundo informações do Departamento de Agricultura daquele País (USDA) deve ficar em 317 milhões de toneladas, 3,2% menor que o estimado em agosto. A produtividade média também caiu 3,2% sacas por hectare. O País é o maior exportador mundial do grão e esta queda em produção e produtividade se apresenta como oportunidade para que outros países produtores, como o Brasil, que é um dos maiores produtores do grão no mundo, possam suprir a demanda mundial. Para o presidente-executivo da Abramilho, Alysson Paolinelli, os produtores brasileiros de milho devem apostar mais no grão. “Temos um dos melhores grãos do mercado e a perspectiva de produção para a próxima safra é de mais de 50 milhões de toneladas”. Com esse resultado, afirma, será possível abastecer o mercado interno e ainda disponibilizar o produto para outros países do mundo. Ainda de acordo com Paolinelli, os Estados Unidos são o principal concorrente dos brasileiros no mercado internacional e já admitiram que vão diminuir a produção de etanol originado do milho para destinar parte da produção deste ao abastecimento do mercado interno. “Por isso, a novas possibilidades de exportação aumentam”, frisa. “As tecnologias de sementes que temos são adaptáveis ao clima. Além disso, o sistema de produção e manejo brasileiros são muito bem estruturados, o que eleva nossa produção e produtividade”, pontua. A previsão de consultores brasileiros é que as lavouras brasileiras de milho deve ocupar 8,2 milhões de hectares na safra verão, produzindo pelo menos 36 milhões de toneladas do grão, algo em torno de 10% mais que na safra passada.

SOJA PERDE ESPAÇO Quem vai perder com este contexto é aquela que sempre reinou no mundo das commodities, a soja. Com as boas perspectivas do milho no mercado internacional, ela está, literalmente, perdendo terreno não só para o milho, mas também para o algodão, outra commoditie que promete muito na comercialização da próxima safra. De acordo com previsões que vem sendo feitas pelo analista de mercado e diretor da Agroconsult, André Pessoa, cerca de 300 hectares anteriormente cultivados com soja devem ser semeados com milho e outros 200 mil com algodão. Contudo, ele prevê, que em algumas regiões do Centro-Oeste e do Nordeste do País, os produtores devem compensar essa substituição, garantindo uma área de 700 mil hectares na próxima safra. O mercado será bom, aponta o analista. Os custos devem subir, “mas não a ponto de comprometer a rentabilidade”, afirma.

De acordo com suas contas, a relação de troca de grãos por insumos está mais favorável. Ele exemplifica: nas safras 2009/2010 e 2010/2011, a equivalência era de 30 sacas de soja futura para adquirir adubo, sementes e defensivos. Já para o plantio da atual safra, ainda de acordo com ele, essa relação está em 23 sacas. “A rentabilidade do produtor de soja que, neste ano, já deve ser boa, se mantendo ou até melhorando no ano que vem, considerando-se a manutenção de uma produtividade média de 50 sacas por hectare”, o especialista prevê. O analista da Agrosult aponta ainda que se tudo correr bem, clima e mercado, a margem bruta do produtor de soja na safra 2011/2012 deve variar entre R$ 800 e R$ 1 mil por hectares. Já o milho, ele diz, deve ficar numa margem bruta entre R$ 1,3 mil e R$ 1,5 mil por hectares para o cultivo de média tecnologia e entre R$ 1,8 mil e R$ 2,3 mil para o cultivo com alta tecnologia.

AINDA HÁ MUITA TIMIDEZ Que o Brasil é um grande exportador, isto é fato. Porém, analisa André Pessoa, o País ainda se comporta de forma tímida, quando comparado a países como China e Estados Unidos. Para ele, é possível ampliar de forma sustentável a produção de grãos no Brasil dos cerca de 150 milhões de

toneladas atuais para algo em torno de 600 milhões, elevando o Brasil ao cenário mundial de grandes produtores. Uma das portas que deverão ser aberta para se chegar a isto, ainda de acordo com ele, é a definição do Código Florestal brasileiro, em tramitação no Congresso Nacional. OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

29


Meio Ambiente

Brasil pensando grande Diretor da Rio + 20 defende que o País assuma função de liderança mundial na defesa de um mundo ecologicamente correto

Da Redação

O

diretor da Conferência Rio + 20, que terá sede no Rio de Janeiro no ano que vem, Brice Lalonde, defende que o Brasil deixe de agir como porta-voz dos países desenvolvidos e passe a se comportar como líder mundial. De acordo com ele, a postura cautelosa da diplomacia brasileira evita que o País imponha sua agenda aos países desenvolvidos. Esta sua declaração é a propósito da correlação entre as propostas feitas na Eco-92 e a pauta de assuntos a serem discutidos na Rio+20, a exemplo de uma lista de propostas para o desenvolvimento sustentável que de-

30

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

vem ser adotadas pelos Outra preocupação sua países participantes, seé com o debate em torno da “É hora de criar guindo o mesmo modelo revisão do Código Florestal um plano de ação. das “Metas do Milênio”. “É brasileiro. Ele acredita que isto hora de criar um plano de pode afetar o papel de anVamos agir” ação. Na Eco-92, debatefitrião do País. “É importante mos os princípios. Agora para a imagem internacional vamos agir”, ele defende. do Brasil encontrar um jeito Lalonde, que foi minisde sair desse problema, tentro do Meio Ambiente da França, acredita que, do certeza das consequencias desse debate. Se essa durante o evento, vários acordos de coopera- revisão for aprovada, os compromissos internacioção técnica e financeira entre governos e in- nais do Brasil deixarão de ser atingido?”, questiona. vestidores serão realizados com vista a difundir equipamentos de produção de energia limpa. PREPARATIVOS Dobrar a parcela representada por fontes renoDe acordo com o ministro das Relações Exváveis na matriz energética e acelerar o ritmo teriores do Brasil, Antônio Patriota, a previsão de redução do consumo de energia no planeta, para que o Brasil conclua a elaboração de uma seria o objetivo desta iniciativa. posição interministerial do País em relação à Rio Com isto, ainda conforme ele, o incentivo a + 20 é o início deste mês de novembro. “Estamos fontes de energia limpa deve ser a principal no processo de conclusão da posição nacional, alternativa aos polêmicos debates sobre me- que será transmitida às Nações Unidas. A partir tas de redução da emissão de gazes-estufa. do começo de 2012, vamos iniciar a negociação “É mais fácil incentivar um país a produzir intergovernamental (entre países participantes) energia a partir de fontes renováveis que para chegarmos ao documento final da Rio + 20”, convencê-lo a reduzir emissões”, pontua. o Ministro explica. Porém ele disse acreditar que O ambientalista diz ainda que paí- ainda é cedo para saber se o encontro do Rio de ses como o Brasil eram porta-vozes dos Janeiro conterá metas obrigatórias para os países países pobres, mas agora são alguns relacionadas ao desenvolvimento sustentável. dos principais gestores do planeta. “O “Ainda é cedo pra falar com especificidade. Quedesenvolvimento sustentável é mais remos que o encontro seja não só uma avaliação importante para o pobre que para o do que se fez nos últimos 20 anos, mas uma rerico. Pode ser caro exigir que os pobres flexão dos próximos 20 anos, incorpoprotejam a natureza, mas é mais caro rando as vertentes econômica, social e não preservá-la”, afirma. ambiental”, explica.


Antônio Oliveira Filho

Confinamento

Criação

Confinamento é mais gado e produtividade em menos espaço

ecologicamente Além de produzir mais em menos espaço, confinamento proporciona menos impacto na natureza. É o que garante a Associação Nacional dos Confinadores

Da Redação

A

região Centro-Oeste do Brasil é uma das mais estruturadas para o confinamento de bovino em todo o território nacional, com grandes projetos investindo na terminação de gado por meio deste sistema. Nesta região, Goiás já é, atualmente, um dos mais importantes pólos pecuários do Brasil e o que tem o maior rebanho confinado – mais de um milhão de cabeças. Fato que, inclusive, atraiu para Goiânia, em setembro do ano passado e, também, neste mesmo mês deste ano, pecuaristas e confinadores de todo o Brasil e do mundo, quando da realização da 3ª e 4ªConferência Internacional de Confinadores (Interconf ). Para a Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), com este know-how e tradição na pecuária de corte, primeiramente na criação extensiva e mais recentemente na intensificação do sistema de confinamento, a região tem muito que ensinar para os demais estados brasileiros. Mas nem por isto, diz a sua assessoria a Cerrado Rural, em nome de toda a direção da instituição,

correta

deve deixar os avanços tecnológicos e as novidades do setor em segundo plano. “É preciso ir atrás de tudo que de novo surgiu nos últimos tempos e quais os rumos que a política, economia, setores de pesquisa e desenvolvimento estão tomando”, diz. Já com relação aos estados do Norte e Nordeste do Brasil, para onde muitos investimentos estão sendo feitos neste setor, lembra que “da mesma forma que há cerca de 30, 40 anos a região Centro-Oeste era considerada a segunda grande fronteira agrícola do País, hoje isto está acontecendo com os estados daquelas duas regiões, no que diz respeito à atividade de criação pecuária”. Ela ressalta ainda que, como essas regiões ainda possuem um modelo de produção pecuária tradicional onde predomina o regime de criação extensiva – a pasto -, a cultura do confinamento está entrando aos poucos. “No entanto, nos últimos anos cresce o número de fazendeiros que estão utilizando a técnica de confinar gado como reserva estratégica para a entressafra ou mesmo de empresários que investem no confinamento na região”, informa. No Centro-Oeste, a Assocon possui atualmente 33 associados que, juntos, confiOUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

31


nam cerca de 200 mil cabeças. Com a chamada “Onda Verde”, ou seja, a preferência de mercados mundiais, principalmente Europa e Estados Unidos, por carne produzida a pasto, o confinamento, segundo a Assocon, não está fora desta tendência. “Parte dos consumidores realmente procura alimentos produzidos de forma diferenciada. Entretanto, vale lembrar que, por motivos ambientais, o confinamento pode ser uma alternativa extremamente viável para a preservação da flora e fauna, visto que concentra uma grande quantidade de animais em uma área bem menor para a mesma quantidade de animais produzidos a pasto”, expõe. A Assocon lembra que “estudos mostram que a produção intensiva a pasto, associada ao confinamento, pode reduzir em até 14,8% a produção de metano/kg de carcaça produzida, quando comparamos com o sistema intensivo somente a pasto”. Essa pesquisa mostra ainda que há também uma redução considerável “quando comparamos CO² eq/kg de carcaça produzida, de 12,8%”, informa. Os diretores da entidade consideram ainda, baseados nesses levantamentos, que o confinamento se mostra muito favorável ao seqüestro de carbono. “Desta forma, o confinamento acaba contribuindo para o meio ambiente, liberando áreas para serem cultivadas com grãos e cereais, aumentando a produção e produtividade do sistema e auxiliando na contenção do desmatamento”, frisa. Outro ponto considerado por ele, é que no mundo existem mais de 1 bilhão de famintos e com o crescimento econômico de alguns países, mais pessoas sairão da miséria e dessa forma a primeira necessidade, alimentação, passará a ser melhor suprida, gerando maior demanda. “Para que possamos alimentar essa população e ao mesmo tempo não abrir novas fronteiras agrícolas de forma irresponsável, é necessário investir muito na intensificação”, aponta. O gado confinado apresenta outro diferencial em relação ao gado a pasto, no entender da Assocon, pois, conforme ela, é terminado mais rápido, gerando maior produtividade para a fazenda, padronizando a produção, dando escala, previsibilidade maior de produção e melhor controle gerencial. “A carcaça do animal (carne) pode ter excelente qualidade, obedecendo a todos os critérios legais e morais na produção”, afirma. Diante das estatísticas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), segundo as quais até 2050 a produção de alimentos no mundo deve ser dobrada, os confinadores, continua a Assocon, têm sua estratégia que é a de “produzir mais na mesma área, ou seja, ter produtividade e, também, investir em tecnologia”. Entre os maiores produtores de carne do mundo, a Índia desponta como forte concorrente do Brasil, um fato, ainda na concepção da diretoria da Assocon, que não preocupa os con-

32

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

A alimentação é balanceada finadores brasileiros. ConA difícil convivência forme ela, “no futuro, Índia comercial entre pecuaris“No Centro-Oeste, pode até ser um concorrentas e frigoríficos também a Assocon possui te forte. Entretanto, tal país foi comentando pelos ditem em torno de 1 bilhão de retores da Assocon nesta atualmente 33 habitantes, muitos dos quais entrevista a Cerrado Rural. associados que, na pobreza”, diz, consideranPara ele, as conversas com juntos, confinam cerca os frigoríficos sempre foi do ainda que, com o crescide 200 mil cabeças” mento econômico da Índia, difícil. “Entretanto, vemos inicialmente o país terá que algumas aberturas, algusuprir sua demanda interna, mas parcerias focando para só depois começar a alguns nichos de mercavislumbrar o mercado exterdo que tem surgido. Mas, no. “O Brasil tem se consolidado como um país ainda é muito pouco. Nossas relações comerde produtos de boa qualidade, de baixo custo e ciais precisam ser melhoradas”, considera. Ele estamos no caminho certo, seguindo exigências observa também que o Estado deve permitir ambientais, de bem estar animal e responsabili- que o mercado seja livre, andar com suas pródade social que ainda alguns concorrentes não prias pernas e quando vir incentivo do governo, prestam muita atenção”, lembra. que seja de forma a contribuir com a cadeia e E o que dizer de alguns países, como a Irlanda não com algumas empresas somente. que, vez por outra, procuram meios de difamar e Por fim, fazendo uma análise do desapareciboicotar a carne brasileira? O que fazer para evitar mento dos pequenos e médios frigoríficos, com esses ataques? A Assocon tem uma resposta. Diz os grandes ficando cada vez maiores, se constiela: “É preciso trabalhar melhor nossa imagem. A tuindo, de certa forma, em monopólios, a Assocon verdade é que ainda não sabemos vender nossos acredita que este fato é ruim para o setor, pois os produtos, que são bons”. Ainda conforme ele, os pecuaristas estão perdendo opções. Entretanto, islandeses utilizam essa arma, porque estão en- compara, “na aviação civil brasileira tivemos um curralados diante do crescimento do Brasil. “A sua período assim, essa dificuldade acabou gerando ineficiência em produzir, subsídios e doenças gra- alternativas e hoje temos mais opções. O mesmo ves no rebanho, tudo isso são problemas para os pode acontecer com o nosso setor. Porém, o goirlandeses que se sentem ameaçados pelo Brasil, verno federal, por meio de seu banco de fomento, que está no caminho correto da produção. Ape- deve criar alternativas e ajudar a cadeia como um nas precisamos de um marketing melhor”, frisa. todo. O resto o mercado faz”, pontua.


New Holland

Máquinas & Equipamentos

lança novos produtos Alem de seus já tradicionais produtos para o preparo do solo e colheita, marca tem agora um novo produto para o manejo: o pulverizador 3500 SP. Nova colheitadeira também foi lançada

V

elha conhecida dos produtores rurais brasileiros, principalmente por meio de seus tratores e colheitadeiras, a New Holland está entrando no segmento de equipamentos de manejo da agricultura. Está no mercado brasileiro, desde maio, a série de pulverizadores autopropelidos SP, com o modelo SP 3500. Com estes novos produtos, a marca tem como objetivo ampliar sua linha e atender todo o ciclo das culturas, do preparo do solo e plantio, passando pela pulverização e colheita. Douglas Santos, especialista em pulverizador da New Holland, justifica que a empresa é referência mundial em tecnologia e oferece hoje tratores de todas as faixas de potência, colheitadeiras de todas as classe, forrageiras e, agora, pulverizadores. “Entramos neste novo segmento

para explorar suas possibilidades e atender de forma ainda melhor o nosso público e revendas, com todo o suporte da força da marca”, diz. Ainda de acordo com ele, “a confiabilidade da marca e sua ampla rede de concessionárias no Brasil oferecem total apoio para o novo lançamento, que é de fabricação nacional”, pontua. De acordo com informações da marca, o SP 3500 é dotado de transmissão hidrostática e tração nas quatro rodas, ativadas por meio de duas bombas que acionam quatro motores hidráulicos individuais. A suspensão ativa e hidráulica acompanha a abertura da bitola. Essa suspensão absorve os impactos durante o deslocamento, o que contribui para uma maior estabilidade da barra pulverizadora e, assim, do trabalho em qualquer tipo de solo. A cabine desta nova máquina do campo é, ainda de acordo com Douglas Santos, uma das mais completas e confortáveis do mercado. Ela está equipada com banco de regulagem pneumática, filtro de carvão ativado e console lateral. Oferece, ainda, baixo nível de ruído e proporciona extremo conforto. Tem ainda o controlador de bordo, responsável por várias funções. Santos explica: “Por meio de um único equipamento é possível ativar e desativar a barra, medir a vazão instantânea do produto pulverizado, verificar o volume no tanque, além de permitir o mapeamento da pulverização. Todas essas funções colaboram par a maior precisão durante o trabalho”, garante.

3500 sp O 3500 SP é impulsionado por um motor Cummins de seis cilindros e potência nominal de 202 cv. O tanque de calda comporta 3.500 litros, com bomba pulverizadora do tipo centrífuga, em aço inox e com vazão de 472 l/min. A barra de pulverização tem 27 metros de cumprimento, com opção para 30 metros, com quadro central deslizante reforçado e sete seções com cortes individuais, além de sensores de controle de altura e sensores de centralização. “Trata-se de um equipamento com excelente distribuição de peso, devido à posição central do tranque, o que proporciona equilíbrio e melhor controle do pulverizador em deslocamentos e manobras.

CR 6080 O outro lançamento da New Holland nz temporada de feiras agrotecnológicas deste ano é a sua mais nova colheitadeira CR6080. “A mais nova colheitadeira de duplo rotor da marca agora está disponível no Brasil”, anuncia a montadora. Ela justifica esta disponibilidade pelo sucesso da máquina da mesma linha, a CR 9060 da classe VII, lançada no ano passado. A nova CR 6080, ainda de acordo com a marca, se encaixa na classe VI de colheitadeiras, possibilitando o acesso de produtores de médio porte a um produto de ponta, com a tecnologia de duplo rotor. De acordo com João Rebequi, supervisor de marketing de produto da New Holland, a linha CR é uma referência mundial na tecnologia de rotor e seu alto desempennho é um sucesso no mundo interior. “A New Holland já trabalho com sua tecnologia há mais de 35 anos e toda esta experiência pode ser comprovada com o desempenho da CR 6080”, explica. A marca garante que, por ser equipada com dois rotores, um sistema exclusivo da New Holland, a colheitadeira realiza um tratamento mais suave do grão em uma área de debulha e separação maior. “Isto também contribui para uma colheita de qualidade máxima com redução ao mínimo na perda de grãos, o que resulta em uma maior produtividade”, frisa. A CR6080 possui o motor New Holland NEF de 280 cv, atingindo a potência máxima de 300 cv. Este modelo tem 9 mil litros de capacidade de carga no tanque graneleiro e velocidade de descarga de 90 litros por segundo – a maior da categoria. O lançamento também vem equipado com um novo sistema integrado de picagem e distribuição de palha, que garante uma maior fragmentação e distribuição dos resíduos. OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

33


recreio

AGROHUMOR O Afogamento do Lula Lula estava nadando no Lago Paranoá e começou a se afogar. Foi salvo por três compadres que estava pescando. Agradecido, disse que eles poderiam pedir qualquer coisa. Um deles, gaúcho, falou: - Meu filho trabalhava na fábrica de sapatos e perdeu pó emprego. Quero um trabalho para ele, tchê! - Está mais do que feito! – disse o presidente. Outro, do Piauí, reclamou que era analfabeto e que queria aprender a ler. - A vaga está garantida! – respondeu Lula. O terceiro era o Zé Botina, mineiro: - Ieu quero um interro de estadista, com sarva de tiro, flor, banda de música e tudo mais!!!... Sem entender, Lula perguntou: - Mas você é tão novo, Zé!... Por que toda essa preocupação com a morte? E o caipira: - Uai, o que o sinhor acha que vai acontecer comigo quando ieu chegar lá em Minas Gerais e disse que sarvei ocê??

Causo O matuto e a burocracia Certo dia, um fiscal de saúde pública foi averiguar o que um fazendeiro estava dando aos seus porcos. Ao questionar o matuto, recebeu a seguinte resposta: — Eu dô a eles tudo o que sobra. É pão velho e resto de comida que nóis não consegue nem senti o chêro. — Mas isso é um crime, um absurdo — bradou o fiscal. — Vou multá-lo em 10 mil reais por atentar contra a saúde pública. Depois de um tempo o fiscal retornou à fazenda. Ao ser novamente questionado, o matuto respondeu: — Óia, agora as coisa melhorô muito. Tô dando caviar, salmão defumado e ração importada da França pros bichinho comê. — Isso é inadmissível! Com tantas crianças passando fome e você dando comida de primeira aos porcos! Vou multá-lo em mais 20 mil reais. Após um mês o fiscal retornou à fazenda e perguntou ao matuto: — O que você está dando agora para os porcos comerem? O matuto respondeu: — Óia, agora eu dou dez reais pra cada porco e eles vai comê o que quisé e onde quisé.

34

| OUTUBRO/NOVEMBRO 2011

Receita Tapioca paulista Ingredientes Massa: 2 xícaras (chá) Polvilho doce 5 xícaras (cha) Água Recheio 4 xícaras (chá) Talos de agrião 2 xícaras (chá)Leite 1 xícara (chá) Açúcar 6 colheres (sopa)Coco ralado Calda 1 xícara (chá)Água 1 xícara (chá) Agrião 1 xícara (chá) Açúcar

Modo de fazer Deixe o polvilho de molho em 2 ½ xícaras (chá) de água por duas horas. Escorra a água, junte mais 2 ½ xícaras (chá) de água e deixe por mais 1 hora. Escorra novamente e reserve. Deixe cozinhar até secar. Acrescente o coco ralado. Reserve. Para a calda, bata no liquidificador a água e o agrião. Leve ao fogo com o açúcar e faça uma calda em ponto de fio. Reserve. Para a montagem, aqueça uma frigideira antiaderente e polvilhe um pouco de polvilho úmido, formando a tapioca. Com o auxilio de uma espátula, doure a massa dos dois lados. Coloque o recheio, dobre a tapioca e cubra com a calda.


Como pegar o arco-íris Crônica

Antônio Oliveira

U

m dos melhores momentos da vida de um ser humano é aquele em que se passa em família, principalmente quando esta é reunida depois de muito tempo sem um ou alguns de seus membros se encontrarem. Dos meus cinco filhos, 4 moram em Palmas e uma em Marabá, no Pará. Da mesma forma, dois netos moram naquela Capital do Tocantins e uma nesta cidade paraense e eu moro em Goiânia. Depois de meses, quase um ano, vi minha filha Tatiane e minha neta, Ana Luisa. Foi no último fim de semana -19 e 20 de março. As duas estavam em Palmas dando continuidade a um tratamento de saúde da filha e eu a trabalho. A “farra” começou com o encontro, na casa da avó materna, dos primos Pedro Henrique e do Lucas, respectivamente filhos das minhas filhas Ises e Cáritas, com a prima em visita, Ana Luisa. Abraços para lá, abraços para cá entre os irmãos, avós, tios e netos, os três primos foram brincar numa barraca do “Cocoricó”, seriado predileto da Aninha, armada na sala pelo meu genro Cássio, pai do Pedro. Nascidos longe um do outro e, nos seus três anos de vida, se vendo uma a duas vezes por ano, Ana Luisa e “Pepeu”,

como é chamado pela prima, têm uma afinidade impressionante, até mais que crianças que convivem no dia-a-dia. Na algazarra sob a barraca, estava também o primo Lucas com seus seis meses de idade. Este, coitado, ainda não tinha este costume. Olhava para a Aninha, para o “Pepeu”, para os tios e pais, como se estivesse questionando: “Que é que tô fazendo aqui?”. Fez um biquinho lindo com os lábios e abriu a boca a chorar, numa solicitação de braços mais seguros. No dia seguinte, domingo, minha filha Ises, a mais velha e que espera gêmeos, reuniu em sua casa, para um almoço, todos seus irmãos, mãe, pai, sobrinhos e um dos dois cunhados. A família só não estava completa porque faltou o Gledson, marido da Tatiane, que ficou no Pará. Para mim, que por questões profissionais, fico muito afastado deles, foram momentos de sublime prazer e felicidade. Prazer e felicidade maiores foram o contato e as brincadeiras com os netos. Aproveitei a deixa de meu filho Antônio, a de encher um carrinho de mão com os sobrinhos e brincar com eles pelo quintal da casa e fiz o mesmo, só que pelas ruas da quadra (quadra em Palmas é equivalente a um bairro de pequeno porte), e sem o Lucas, ainda muito pequeno para este tipo de aventura.

Havia cessado pesada chuva e algumas ruas, ou estavam alagadas ou eram leitos de enxurradas. Passei pela primeira e brinquei: “Olha a balsa, olha a balsa atravessando o rio”. Moradora no Pará, aonde só se chega, partindo do Tocantins, via este tipo de embarcação, na travessia do Rio Araguaia, entre Xambioá (TO) e São Geraldo (PA), Ana Luisa logo entendeu o “espírito” da brincadeira. E gostou. Nova rua alagada ou enxurrada, ela gritava, “olha a balsa, olha balsa”. E ria com satisfação, quando eu passava o carrinho n´água. “Pepeu” também gostou e repetia o refrão. Mas, perceptivo, interrompeu o coro que fazia com a prima e disse: “Eu não sei nem o que é balsa”. Mais lá na frente, empurrando carinho no rumo leste, avistamos o arco-íris. - Vovô, vamos pegar o arco-íris! – Ana Luiza conclamou. - Vamos – disse eu. E andamos, andamos, até que Aninha nos disse: - Meu pai pega o arco-íris para eu comer. No que Pepeu, com seu raciocínio rápido, interferiu: - Se eu virar super-herói, eu pego o arco-íris. Com esta, voltamos para casa. Palmas, março de 2011

OUTUBRO/NOVEMBRO 2011 |

35



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.