Revista Petrópolis

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Petrópolis Rio de Janeiro Setembro 2011 Distribuição Gratuita

Nº 29 Confira a Programação Cultural

Serra Serata e Cia Petropolitana: uma homenagem, uma história

Tesouros da Arquitetura Quitandinha

Especial

Gastronomia

Família D'Angelo

Sabores da Itália

[+] Vitral



Praça da Liberdade

mais de 30 Em 2010, a festa contou com bandas de apresentações culturais, com e seminários, diversas localidades, palestras garantiram os além de oito restaurantes que da festa resultou sabores do evento. O sucesso tes e 100% de na presença de 50 mil visitan ira do Centro lotação da capacitação hotele

co. Histórivinhos massas, pizzas,

ad es for am Pa ra 20 11 , mu ita s no vid nde show de preparadas. No dia 02, o gra falda Minnozzi. abertura ficará por conta de Ma nada pelo Brasil, A cantora, uma italiana apaixo a Musicale. qualidade nos brindará com seu show Arc

vocação

s culturais que No total serão 38 apresentaçõe ge rão ou tra s est e an o, tam bé m ab ran Negro, onde localidades como o Palácio Rio de Cultura Raul acontecerão palestras, Centro tival de cinema, de Leoni com exposição e fes D. Pedro com Museu Imperial e Praça Folclórico Ítalo apresentações do Grupo a (SC). Nove Brasileiro de Nova Venez o me lho r da res tau ran tes ga ran tirã o alegria da festa gastronomia italiana, unindo a massas, pizzas, com os aromas e sabores de vinhos, entre outros. de homenagear A festa que surgiu da vontade agora também este povo tutti buona gente, da cidade para a chega para reforçar a vocação lidade, o ano realização de eventos de qua inteiro.

alegria

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restaurantes

cores da Itália Mafalda mescla o som e as s e os ritmos do mediterrânea com os sabore ição encontra Brasil multicultural. Na Arca a trad encontra o som a atualidade, o som acústico s bra sile ira s ele trô nic o, um as ca nç õe encontram o idioma italiano.

povo tutti buona gente

ele, uma das O mês de setembro chegou e com trópolis Imperial: festas mais charmosas da Pe de Petrópolis. O A Serra Serata – Festa Italiana ário oficial da evento se consolidou no calend ao público uma cidade em 2010, oferecendo lmente gratuita. programação diferenciada, tota 02 a 07 de A Serra Serata acontece de ade, que ganha setembro, na Praça da Liberd iana. A música ares de uma autêntica piazza ital iciosas comidas animada, a dança, as del da tradição típicas e tantos outros ícones ante os seis dias italiana contagiam a cidade dur em que é realizada.

música animada

tradição italiana

o n a d li o s n o c e s ta ra e S a rr Se calendário anual de eventos

eventos de

apresentações culturais

comidas típicas

gastronomia italiana

Mafalda Minnozzi

com seu show Arca Musicale

calendário de eventos setembro festas mais charmosas


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A R E V I S TA D A C U LT U R A E D O T U R I S M O

PREFEITURA MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS Prefeito: Paulo Mustrangi FUNDAÇÃO DE CULTURA E TURISMO DE PETRÓPOLIS Diretor-Presidente: Gilson Domingos JORNALISTA RESPONSÁVEL: Isabela Lisboa (MTB 40.621/SP) TEXTOS: Isabela Lisboa e Daiane Machado GERENTE DE PROGRAMAÇÃO CULTURAL: Pedro Troyack DESIGN GRÁFICO: DOM Criatividade | IMPRESSÃO: Editora e Gráfica Sumaúma CENTRO DE CULTURA RAUL DE LEONI: Praça Visconde de Mauá, 305 - Centro | Tel.:(24) 2233 1201 Site: www.petropolis.rj.gov.br | TIRAGEM: 6.000 exemplares


ocalizado na principal entrada de Petrópolis, o Palácio Quitandinha dá as boas vindas para quem chega à Cidade Imperial. Ícone de uma época, esta monumental construção teve a assinatura de um importante arquiteto italiano, naturalizado brasileiro, Luís Fossati. Fossati chegou a Petrópolis por volta de 1939, com o objetivo de construir um ranário no bairro Independência. Entretanto, se encantou tanto com o local que acabou desistindo do projeto para ali erguer sua casa de campo. Na ocasião obteve também a opção de compra da antiga Fazenda Quitandinha, propriedade dos Azevedo Sodré, onde desejava erguer um loteamento. Mas só possuía trezentos contos de réis dos setecentos cobrados e, nem banqueiros, nem amigos, fizeram fé no negócio. Surgiu então o empresário Joaquim Rolla que, atraído pelo grande terreno, fecha o negócio para construir o que viria a ser o maior cassino da América Latina: o Hotel Cassino Quitandinha. Construído em estilo normando, típico dos cassinos europeus, o Quitandinha é grandioso em cada detalhe. Com pés direito de 10 metros, o cassino hotel era uma cidade à parte. Com 13 ambientes, distribuídos por 50 mil metros quadrados, o hotel também contava com 440 apartamentos (hoje transformados em residências particulares). Se por fora o Quitandinha reflete a visão de Luís Fossati, por dentro o luxo e a extravagância do local ficou por conta da cenográfa e decoradora Dorothy Draper.

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Inspirada nos cenários hollywoodianos, Dorothy misturou arquitetura barroca brasileira e geometria Art Déco. Nos biombos folhagens e flores tropicais, tecidos e papéis de parede. E muitas listras, que, com a geometria dos pisos, fazem contraponto às volutas dos arremates, luminárias e colunas de gesso e stucco branco. Com a proibição do jogo, dois anos após a inauguração do Quitandinha, o complexo acabou entrando em decadência. Passou a funcionar como clube e local de eventos e conferências. Em 2007, é adquirido pelo SESC que inicia uma grande obra de restauração em toda área social, incluindo o teatro, os salões sociais e a sala de música. Com o final das obras o local foi reaberto a visitação, além de contar com uma pista de patinação, boliche e no lago, passeios de pedalinho. Também se transformou no palco principal do Festival de Inverno do SESC realizado entre os meses de julho e agosto. A necessidade de novas obras interrompeu a visitação em outubro de 2010, mantendo em funcionamento os serviços de lazer. Entretanto, desde agosto deste ano, o espaço foi reaberto a visitação, colocando novamente o Quitandinha, na lista dos principais atrativos turísticos de Petrópolis, trazendo de volta aos olhares do público o esplendor de uma época que não volta mais, mas que com certeza, estará sempre no imaginário popular, com todo seu glamour e requinte.

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Canarinhos vão à Europa Os Canarinhos de Petrópolis já estão de malas prontas para Europa. O Coral embarca dia 13 deste mês para uma turnê de 15 dias pela Alemanha, República Tcheca e Áustria. A turnê faz parte do projeto “Nossas vozes, nossa música, nosso Brasil”, cujo objetivo é levar a música sacra brasileira dos séculos XX e XXI onde ela ainda é pouco conhecida: o velho continente. Para os meninos, a importância de uma turnê como esta é o enriquecimento cultural e humano que se dá através da experiência com corais de outras nacionalidades e diferentes realidades sociais; se dá ainda pelo contato com países onde o peso da história convive com a modernidade.

Primavera dos Museus Acontece de 19 a 25 de setembro, a 5ª Primavera dos Museus, período no qual museus de todo o país organizarão atividades relacionadas ao tema "Mulheres, Museus e Memórias". Em Petrópolis, as atividades ocorrerão no Museu Imperial e na Casa Cláudio de Souza e incluirão exposição, ações educativas, uma exposição virtual no site do Museu, um concerto e a 1ª Mostra de História e Cinema. Confira a programação completa no encarte da Revista Petrópolis ou acesse: www.museuimperial.gov.br.

Cama e Café O prefeito de Petrópolis, Paulo Mustrangi, sancionou a Lei 6.861, que estabelece, na cidade, o meio de hospedagem Cama e Café, no qual o proprietário de uma residência com, no máximo, três quartos, pode destinar seu imóvel para uso turístico. A lei também define a forma de cobrança e incidência do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN). Essa medida visa ampliar a capacidade dos meios de hospedagem do município para atender à demanda do turismo nos próximos anos, sobretudo no período que compreende a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas de 2016. A categoria de hospedagem Cama e Café, assim denominada pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem, do Ministério do Turismo, será implantada após regulamentação da lei, definindo as condições de funcionamento como: infraestrutura da hospedagem, fiscalização, localizaçã,o entre outras.

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Cervejaria Itaipava no roteiro turístico de Petrópolis O Grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava, entre outras marcas, abrirá, em breve, seu complexo industrial à visitação. O termo de cooperação turística assinado com a Prefeitura de Petrópolis prevê a inserção da unidade localizada no distrito de Pedro do Rio no rol de atrações do município. Além de conhecer todo o processo de fabricação da bebida, turistas e visitantes poderão saborear os produtos da marca em um bar temático e levar lembranças da Cervejaria na loja de souvenires.

Nova unidade SENAC cursos direcionados à vocação de Petrópolis Para atender à crescente demanda por mão de obra qualificada, o SENAC Rio inaugurou em julho, uma nova unidade de ensino em Petrópolis. Localizada na Rua Alfredo Pachá, em frente ao Palácio de Cristal, a unidade oferece cerca de 60 cursos, aumentando em 70% a capacidade de atendimento da instituição em Petrópolis. Os novos cursos são direcionados, sobretudo, para as vocações da cidade, como gastronomia e turismo. Com salas multiuso e laboratórios de última geração, os alunos poderão aprender, na prática, as profissões que irão desempenhar.

Concurso Massangana Realizado entre 25 e 28 de agosto, no Brejal, na Posse, o XI Concurso de Inverno Haras Massangana reuniu o que há de melhor no hipismo brasileiro e distribuiu mais de cento e trinta mil reais em premiação. Cerca de cem conjuntos participaram das competições, que tiveram seus percursos idealizados pela armadora Lucia Faria Alegria proporcionando ao público um espetáculo de rara beleza, emoldurado por um cenário cinematográfico.

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Texto: Isabela Lisboa Fotos: Isabela Lisboa e Arquivo Histórico Gabriela Mistral

diferentes identidades culturais de Petrópolis estão profundamente ligadas à sua história. Desde a fundação até os dias de hoje, são muitos os grupos étnicos que têm influenciado os costumes da cidade. Celebrando esta grande diversidade cultural, e homenageando mais um povo que criou raízes e deixou marcas por aqui, acontece de 02 a 07 de setembro a Serra Serata - A Festa Italiana de Petrópolis. Totalmente reestruturada, a festa ganhou nova identidade e novo endereço, consolidando-se em 2010, no calendário oficial de eventos da cidade. Durante as festividades, a Praça da Liberdade, no Centro Histórico, ganha ares de uma autêntica piazza italiana. A música animada, a dança, as deliciosas comidas típicas e tantos outros ícones desta tradição contagiam a cidade durante os dias em que a festa é realizada. A Festa Italiana de Petrópolis nasceu em 1993, no Palácio de Cristal, por iniciativa da Casa D'Itália Anita Garibaldi. Ainda naquele ano, Wilma Borsato, em virtude das comemorações dos 120 anos do distrito de Cascatinha, realizou lá mais uma homenagem aos italianos. O evento tinha como objetivo lembrar os imigrantes que aqui chegaram em busca de melhores oportunidades. Ao contrário dos colonos germânicos, que vieram sob contrato para trabalharem na construção de estradas e da Cidade Imperial, os imigrantes italianos chegaram aqui estimulados, de um lado pelas dificuldades econômicas de uma Itália recém unificada; de outro, pelas promessas dos agentes de emigração em relação ao Brasil, então divulgado como il paese della cucagna (o país da fortuna). Apesar do boom da imigração italiana no país ter ocorrido entre 1880 e 1930, Petrópolis já registrava em 1845, a presença de italianos precedidos por uma compatriota ilustre: a Imperatriz napolitana d. Teresa Cristina Maria.

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Juntamente com ela chegaram artistas e intelectuais, tais como o escultor Giovanni Castelpoggi e o músico Fiorito. D. Teresa Cristina facilitou também a transferência, para a Corte Brasileira de médicos, farmacêuticos, enfermeiros, engenheiros e professores. Provavelmente, neste grupo de pioneiros estava o primeiro italiano que se estabeleceria em Petrópolis, em 1846: o escultor Luigi Baronto. Desta forma, em 1862, 40 famílias italianas já viviam em Petrópolis, muitas dedicadas à produção e comercialização de carvão vegetal. Entretanto, foi apenas após a Proclamação da República, em 1889, que a imigração italiana começou a ser verdadeiramente importante para a cidade. Registros históricos apontam, no início do séc. XX, um aumento do número de italianos na região de Cascatinha, atraídos pela indústria de tecidos Cia Petropolitana, fundada em 1873 pelo cubano Bernardo Caymari. Nesta época 40% da população local era de origem italiana. De igual modo, ocorreu com os bairros do Morin e do Alto da Serra, onde a instalação das fábricas Santa Elena e Cometa motivaram a vinda e o estabelecimento de inúmeros italianos na cidade. Nesta última, destaca-se o pitoresco fato envolvendo a cidade de Pescantina, província de Verona, na região do Vêneto, cuja população emigrou inteira para Petrópolis, para trabalhar na fábrica. Vale lembrar que, antes da Carta Imperial de 17 de setembro de 1873, onde o Imperador d. Pedro II autorizava a construção da indústria de tecidos, Cascatinha já era povoada por portugueses que, desde antes dos germânicos, habitavam a região, caminho obrigatório para as Minas Gerais através do então Caminho Novo.

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Mas foi com a instalação da Cia Petropolitana que a região se desenvolveu, atraindo milhares de imigrantes que transformaram o local em uma verdadeira colônia italiana. Construída junto ao rio Piabanha (as águas eram utilizadas como meio hidráulico de movimentar suas máquinas), a Companhia Petropolitana chegou a ser a principal fábrica de tecidos da América Latina, modificando radicalmente a paisagem local a partir de sua inauguração, transformando o pequeno povoado com casas cobertas de zinco, e suspensas nas encostas, no maior núcleo de organização industrial de Petrópolis. Para atender à demanda de operários que chegavam para trabalhar na tecelagem, a fábrica iniciou a construção de vilas operárias. Estas eram constituídas por quatro grupos de residências: casas para as famílias; quartos para os solteiros; sobrados para a “italianada” e o gueto para um grupo de operários à parte, privilegiados ou graduados. Em 1896 já se registrava mais de 200 habitações, que eram alugadas aos empregados que ficavam responsáveis pela manutenção e conservação das construções. Além da moradia oferecida aos trabalhadores e suas famílias, a fábrica também passou a fornecer toda a infraestrutura necessária como: educação, segurança, iluminação e pavimentação das ruas. Até uma Igreja foi construída e inaugurada em 1898 (A Igreja de Sant'Ana e São Joaquim, atual matriz de Cascatinha). A Cia Petropolitana não se limitou apenas aos investimentos de ampliação e manutenção da fábrica. Em sua fase moderna, tornouse exemplo de empresa no Brasil, oferecendo assistência à comunidade, creches em suas dependências, posto médico, além de oferecer, através de convênio com o SENAI, uma escola técnica para os operários e seus filhos. O Clube Musical 1º de Setembro, que completou cem anos em 2010, também recebia patrocínio da fábrica. Com isso, em 1938, auge da empresa, Cascatinha é elevada a categoria de Vila. Para se ter uma ideia de sua grandiosidade, em 1942, a fábrica registrava 445 operários.

Entretanto, com o surgimento do fio sintético, aliado à forte concorrência de outras indústrias, a fábrica entra em crise na década de 1960. Esta situação levou a empresa à falência em 1970. A partir daí, as casas começaram a ser vendidas aos seus proprietários através de hipotecas, e a fábrica sublocada para diversas empresas. Monumento à tradição industrial de Petrópolis e do país, a Cia Petropolitana de Tecidos, as 13 vilas operárias, a Igreja Matriz e o coreto da praça foram tombados, em 1982, pelo então SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) atual IPHAN. Considerada pela instituição como um dos poucos conjuntos industriais preservados do país, a região vem sofrendo, durante décadas, com a descaracterização, principalmente, das vilas operárias. Para combater as obras irregulares, o IPHAN e a Prefeitura de Petrópolis estão, desde maio deste ano, realizando ações conjuntas de fiscalização. Outra medida tomada foi a criação de um grupo de trabalho, oriundo da Câmara Técnica de Patrimônio Histórico Cultural do COMTUR (Conselho Municipal de Turismo), denominado Requalificação do Conjunto Fabril da Cascatinha, onde representantes do poder público e da sociedade civil estão realizando análises técnicas, para definir as diretrizes para um projeto global de revitalização da região. São ações como estas, elencadas com a tradição de se manter viva a memória e a história deste povo tutti buona gente, que será possível deixar para as futuras gerações de descendentes o orgulho eterno de ser Oriundi.

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Texto: Daiane Machado l Fotos: arquivo pessoal família D´Angelo

Inúmeras famílias italianas vieram para o Brasil em busca de novas perspectivas de vida, deixando para trás as dificuldades financeiras para fazer fortuna em um país desconhecido e de idioma diferente. Uma delas influenciou de forma essencial para o crescimento de Petrópolis, cujas contribuições fazem parte do cotidiano de sua gente: a família D'Angelo.

como carregador de carga dos passageiros que ali desembarcavam. Percebendo que havia oportunidades de trabalho, chamou para viverem aqui alguns irmãos. Com o tempo, passaram a trabalhar por conta própria em seu primeiro negócio, fazendo mudanças em uma carroça de tração animal que, posteriormente, foi substituída por um pequeno caminhão.

A esposa do famoso médico Donato D'Angelo, sra Wanda, abriu as portas de sua casa à Revista Petrópolis para contar a história de uma família que ajudou a construir a cidade e a presenteou com o Theatro D. Pedro, palco de inúmeras apresentações que, desde 1933, encanta pela arquitetura eclética e abriga várias gerações de artistas e espectadores.

João resolveu, então, se casar com Catharina Kling, uma descendente direta de alemães, que vivia no bairro Mosela. Com o progresso do empreendimento, os irmãos compraram um pequeno imóvel na Rua do Imperador para a venda de lanches e, em seguida, a produção de salgados, principalmente empadas que ficaram famosas. Encarregado de administrar os negócios, João comprou um terreno na antiga Rua João Pessoa (hoje Dr. Nelson de Sá Earp) e construiu uma residência para abrigar a todos, inclusive a irmã Justina que havia chegado da Itália para ajudá-los com os afazeres domésticos. Por isso, o local foi apelidado de Morro dos D'Angelo.

Tudo começou no ano de 1904, quando João (Giovanni) D'Angelo veio direto da Itália para a Cidade Imperial. Lá trabalhava como agricultor na humilde aldeia Bomba, localizada na região de Abruzzo. O jovem chegou aqui sozinho aos 16 anos e conseguiu emprego na estação de trem

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Logo, compraram também o restante do terreno atrás da casa de lanches e o transformaram, em 1915, em uma confeitaria que ficou nacionalmente conhecida: a Casa D'Angelo, existente até hoje. Acima dela, funcionou o Cassino Atlântico, no espaço alugado p e l a f a m í l i a . Ta m b é m f o r a m construídas lojas atrás da confeitaria, criadas com o objetivo de serem alugadas. Levando adiante seu espírito empreendedor, João D'Angelo resolveu comprar um terreno para abrigar um teatro, pois acreditava que a cidade tinha futuro e merecia um espaço como aquele. O Theatro D. Pedro abriu suas portas às 15h30 de 02 de janeiro de 1933. O conjunto pertencia à Empresa D`Angelo e Cia., que lançou conjuntamente um luxuoso prédio de apartamentos: o Edifício D´Angelo. O teatro se destaca pelo estilo eclético com referências às diversas tendências arquitetônicas em voga no início do século XX, como o Art-Déco, ou ao ArtNoveau, o Construtivismo, o Modernismo e motivos considerados futuristas. O consultor italiano Roberto Caburi, especializado em teatroacústica, foi contratado para garantir que o prédio tivesse todas as características necessárias para comportar, inclusive, óperas e operetas. A obra foi assinada pelo construtor Francisco de Carolis, e o filho de D´Angelo, Donato - ainda menino contribuiu com a idealização do logotipo com as letras TDP: o risco, passado a estuque e pintado, figura ainda hoje, assinado, no alto da boca-de-cena. Ao lado do teatro foram construídas lojas que depois de alugadas abrigaram comércio de roupas e de música, leiteria e até um restaurante. Hoje, no local, funciona uma galeria. Acima, também

foi montado um hotel, administrado posteriormente pela esposa de João D'Angelo, onde atualmente estão abrigadas empresas. João era o único alfabetizado dos irmãos e fez questão de colocá-los em uma escola à noite, para que pudessem trabalhar durante o dia. Todos os investimentos foram feitos com o próprio dinheiro, sem empréstimos bancários. João D'Angelo faleceu no Rio de Janeiro, em 1950, aos 62 anos, devido a complicações durante uma cirurgia para operar a vesícula. O italiano optou por ter somente um filho, tendo em vista as dificuldades financeiras enfrentadas por seus pais no passado, cuidando de 12 crianças. Dessa forma, nasceu em Petrópolis, no dia 23 de abril de 1919, Donato D'Angelo, em homenagem a um de seus irmãos. Ainda jovem, cursou a Faculdade Fluminense de Medicina, em

Tamanha a importância da família D'Angelo para Petrópolis, a cidade retribuiu suas contribuições nomeando uma das ruas, em pleno Centro Histórico, de Rua Irmãos D'Angelo. Niterói, onde ingressou aos 14 anos de idade, completando o curso aos 20, sendo considerado o médico mais jovem do Brasil, na época, e responsável por trazer o serviço de ortopedia para Petrópolis. Em 1945 se casou com Wanda Leitão com quem teve seis filhos, 17 netos e oito bisnetos. Desde os cinco anos de idade dizia para a família que queria ser médico. Conseguiu se registrar como sendo dois anos mais velho para poder realizar seu sonho o mais cedo possível. Ainda estudante, trabalhava na Casa D'Angelo como garçom e, posteriormente, na banca de frutas da confeitaria. Até que o renomado cirurgião da época em Petrópolis, Nelson de Sá Earp, o chamou para trabalhar no Hospital Santa Teresa. Donato chegou a ser chefe do Serviço de Ortopedia do hospital, credenciado à Faculdade de Medicina de Petrópolis e pela Sociedade Brasileira de Ortopedia

e Traumatologia. A paixão pelo trabalho lhe proporcionou viagens pelo mundo todo, se tornando membro de diversas sociedades médicas nacionais e internacionais, das quais podemos destacar: Sociedade Brasileira de Reumatologia; Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão; Sociedade Brasileira de Cirurgia e Medicina do Pé (todas como membro fundador); Sociedade Italiana de Ortopedia e Traumatologia; Sociedade Internacional de Podologia; e Societé Internacional de Chirurgie Orthopedique et de Traumatologie. Dentre as academias das quais faz parte a que mais o orgulha é a Academia Nacional de Medicina. Tamanha a importância da família D'Angelo para Petrópolis, a cidade retribuiu suas contribuições nomeando uma das ruas, em pleno Centro Histórico, de Rua Irmãos D'Angelo. Uma das muitas homenagens feitas, a esses italianos que aqui chegaram com o sonho de dias melhores com a garra típica de um povo que aqui chegou e adotou o Brasil como sua nova pátria, sobretudo Petrópolis, onde contribuíram de maneira inestimável para seu crescimento e enriquecimento cultural. Além da família D'Angelo, outras também chegaram a Petrópolis e contribuíram para o progresso de nossa cidade. Em ordem alfabética, seguem os nomes, apelidos ou sobrenomes de famílias dos primeiros italianos que vieram para cá entre as décadas de 1870 e 1880: Agostini, Alescoi, Augustini, Barono, Baronto, Bazano (ou Bozano), Battilani (ou Bottilani), Beldraco, Benute (ou Berrute/Berruti), Berger, Bernardo, Berrini, Bertholusi, Bonini, D'All Orto, Delporto, Di Guetano, Ferrari, Foglia, Ghinamo, Gilaldini, Givetti (ou Givotti), Gofredo, Gracho, Lazani (ou Pazani), Lenera (ou Levera), Lucckesi, Manchon, Mattei, Montebianco, Muncham (ou Munchan), Negri (ou Negry), Parma, Pissurno, Pozzi, Prata, Raissend (ou Raissendi), Reboldi, Regazzi, Reinardo, Ricciardi, Sicuré (ou Sicusé), Somaini, Tancredo, Tardit (ou Tardito), Vaccani e Valcada (ou Valcalda).

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Texto: Isabela Lisboa Foto: divulgação

cardápio brasileiro nasceu da mistura de sabores e da cultura dos diversos povos que aqui chegaram para povoar nosso país. Entre eles, um em especial encantou o paladar tupiniquim: la cucina italiana. Em Petrópolis, como em todas as cidades que receberam forte influência italiana, com os milhares de imigrantes que aqui chegaram, dezenas de restaurantes e pizzarias fazem parte do roteiro gastronômico de turistas e petropolitanos. Entre eles podemos destacar: o tradicional Luigi, o estrelado Il Perugino, o charmoso S'a Carola e o Di Farina com suas pizzas gourmet. Desde 1979, o Luigi atrai os amantes da gastronomia italiana, com suas massas e pizzas finas e crocantes. Dividido em dois ambientes (pizzaria e restaurante) em um casarão próximo a Praça da Liberdade, no Centro Histórico, oferece um cardápio variado. Entre os pratos mais pedidos estão a lasagna bolognesa e o paglia e fieno ao forno. De entrada os antepastos, cobrados por peso, também são uma boa pedida. Na pizzaria, o forno à lenha garante a qualidade e o sabor das mais de 30 pizzas doces e salgadas que podem ser saboreadas no sistema de rodízio ou a la carte. Inaugurado em 2004, pelo chef Sormany Justen, o restaurante II Perugino é reconhecido, pelo Guia 4 rodas, como um dos melhores estabelecimentos do país. Em 2011, a casa conquistou o título de 8ª Melhor Carta de Vinhos do Brasil. A união dos temperos italianos, com o cuidado em utilizar condimentos e hortaliças orgânicos na elaboração dos pratos, faz sucesso entre os paladares mais exigentes. Entre as especialidades do restaurante Il Perugino estão: a lombata de bue (prime ribe grelhado), nhoque de camarões com fonduta de queijo, ravióli de mozarela e o salmão orientale.

Já a trattoria S'a Carola, nasceu do desejo de três descendentes de italianos em trazer as receitas das famílias Di Cicco, Sacchi e Pieri para Petrópolis. Lá é possível comprar massas (produzidas totalmente sem gordura), molhos, antepastos e pães artesanais sempre fresquinhos. Atualmente, o cardápio do lugar foi enriquecido por sugestões de clientes e por intensas pesquisas gastronômicas do chef Marcelo Pieri, que passou um mês na Itália descobrindo novas receitas e sabores. Já para quem prefere degustar as receitas caseiras no local, o ambiente com 12 lugares tem um estilo meio toscano, meio provençal, super charmoso. E entre as novidades está a Di Farina, do pizzaiolo Antonio Lo Presti. Após seis anos trabalhando como consultor e criando receitas para restaurantes de todo o Brasil, inaugurou com José Mauro Neder, há pouco mais de três meses, sua pizzaria gourmet. Apesar de o local estar focado no delivery, um ambiente inspirado no conceito de bistrô foi criado para atender os clientes. Aconchegante e informal, a ideia é oferecer ali uma verdadeira experiência gastronômica através dos cinco sentidos. Seguindo a receita original da massa italiana, preparada com farinha de trigo Molino Caputo, de Nápoles e ingredientes de alta qualidade, o pizzaiolo traz muitas novidades em seu cardápio como, por exemplo, a pizza Di Farina, com presunto de parma e queijo de cabra Cablanca. Uma verdadeira delícia. Outras maravilhas da gastronomia italiana poderão ser conferidas durante a Serra Serata – Festa Italiana de Petrópolis, que acontece de 02 a 07 de setembro na Praça da Liberdade. Lá outros excelentes restaurantes estarão presentes, garantindo o melhor da cozinha italiana para o público. Imperdível!

Luigi

Il Perugino S'a Carola

Di Farina

Tel: (24) 2244-4444

Rua Dr. Nelson de Sá Earp, 49 Centro

Rua Treze de Maio, 184-A Centro

Site: www.massasluigi.com.br

Tel: (24) (24) 2237-9562

Tel: (24) 2242 0055

Site: www.ilperugino.com.br

Horário de funcionamento: segunda a quinta de 11h às 24h e sextas, sábados e vésperas de feriados 11h às 01h

Horário de funcionamento: terças e quartas, de 12h às 22h; quinta a sábado, de 12h às 23h e domingo de 10h às 16h

Site: www.difarina.com.br

Horário de funcionamento: quarta, das 19h às 23h30; quinta a sábado, das 12h30 às 24h; e domingo, das 12h30 às 18h.

Praça da Liberdade, 185 Centro

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Petrópolis

Horário de funcionamento: terça a domingo de 17h30 às 23h30

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Estrada União e Indústria, 12.601 Itaipava Tel: (24) 2222-3092


A diversidade de cores na primavera compõe um cenário privilegiado que atrai cada vez mais admiradores Texto: Daiane Machado Fotos: Isabela Lisboa | Alexandre Peixoto

primavera é, para muitos, a estação mais aguardada do ano, devido a seu clima ameno em conformidade com o colorido da flora de diferentes tipos de plantas, que embelezam a mãe natureza. Rodeada pela Mata Atlântica, Petrópolis fica ainda mais exuberante nesta época do ano. Os parques da cidade são, sem dúvida, um verdadeiro convite para uma caminhada, um piquenique ou, simplesmente, uma boa leitura ao ar livre. O Parque Municipal, em Itaipava, por exemplo, possui a maior área pública de lazer da cidade, com 150 mil metros quadrados de ambiente arborizado, excelente para a prática de esportes e lazer, atendendo a todas as faixas etárias. Já o Parque Cremerie, a apenas quatro quilômetros do Centro Histórico, oferece 47 mil metros quadrados de tranquilidade. Lá é possível passear de pedalinho no lago em meio às belezas naturais que o rodeiam. Tamanha sua importância, recentemente foi tombado pelo governo municipal, garantindo sua preservação para as gerações futuras. O melhor de tudo é que a entrada nesses parques é gratuita. Em um passeio a pé pela cidade é possível observar a variedade de flores da estação, dentre elas margaridas, rosas, gerânios, jasmins, girassóis, crisântemos, violetas e damas-da-noite, que florescem somente nesta época do ano. Já os ipês amarelos e roxos dão um show à parte, embelezando ainda mais nossa paisagem. Um local onde há grande diversidade de plantas é o Museu Imperial. Seus jardins foram planejados pelo botânico Jean Baptiste Binot, com orientação pessoal de d. Pedro II, e conservam até hoje suas características, com diferentes espécies botânicas originais, estátuas gregas e repuxos, criando um ambiente ideal para uma boa leitura. Ali também há uma pequena fonte onde vivem parcas, atraindo a atenção de quem passa e conferindo maior harmonia ao jardim. Também no Centro Histórico, aos pés de uma clássica edificação, descansa o Relógio das Flores, ponto turístico de grande visitação, onde é comum vermos turistas registrando a beleza do monumento através das lentes de suas máquinas fotográficas.

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Pioneira no setor de floricultura, Petrópolis possui grandes produtores de flores como o Orquidário Binot e o Itaipava Garden, que já se transformaram em atrativos turísticos da cidade. Nesta época do ano, a fauna também não poderia ficar de fora, afinal, as borboletas, beija-flores e colibris voltam a encantar os jardins. As cigarras trazem o ruído característico da estação, com seu canto, e as abelhas voam em busca de néctar para a produção de mel. A mudança de temperatura também é evidente. Neste período, o frio dá lugar ao sol que se apresentava tímido no inverno. As manhãs nascem agradáveis, com um frescor que prenuncia tardes aconchegantes e noites estreladas. A estação tem início em 23 de setembro, no hemisfério sul, e se estende até o dia 21 de dezembro. Por toda beleza e simplicidade, a primavera se sobressai naturalmente por sua diversidade de tons, sons e texturas que continuam a inspirar seus admiradores, aguçando a imaginação e levando harmonia e alegria aos olhos de quem vê.

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Texto: Daiane Machado Fotos: Arquivo Histórico Biblioteca Gabriela Mistral Entre 1880 e 1930 uma grande quantidade de italianos imigrou para o Brasil, em busca de melhores condições de vida e oportunidades de trabalho. No entanto, a cidade de Petrópolis já registrava essa presença desde 1845. Vale ressaltar que a primeira italiana que aqui chegou foi a imperatriz Teresa Cristina, esposa de d. Pedro II, nascida em 14 de março de 1822, no Reino das Duas Sicílias, em sua capital Nápoles. Posteriormente, ela viria a se tornar a “mãe dos brasileiros”. Fruto do segundo matrimônio do rei Francisco I com a Infanta da Espanha, Maria Isabella, a imperatriz do Brasil era de natureza sensível, nutrindo um profundo gosto pela arte, sobretudo a música, e incentivadora do teatro, o que a acompanhou até mesmo na viagem de vinda para o Brasil. A imperatriz não trouxe somente sua sensibilidade artística, mas também intelectuais e nobres que se estabeleceram no Brasil para se integrarem na sociedade daquela que havia se tornado sua pátria, além de uma grande quantidade de obras como os delicados bronzes pompeanos, coleções e documentos preciosos. Um patrimônio de valor inestimável, que simbolizava os laços entre as duas pátrias, mantidos não somente pelas semelhanças culturais e de fatos passados, mas também pela princesa Bourbon das Duas Sicílias. D. Teresa Cristina pode ser considerada a precursora das ininterruptas correntes migratórias que saíram da península para o imenso, fascinante e, até então, desconhecido Brasil. Segundo relatos, o imperador se decepcionou quando viu a esposa pessoalmente. Diferente dos traços suaves retratados em um quadro enviado a ele, a imperatriz era baixa e coxeava levemente, além de ser quase quatro anos mais velha que d. Pedro II, na época com 18 anos incompletos. Portanto, não era, por assim dizer, uma bella ragazza.

A imperatriz chegou à Baía de Guanabara em 03 de setembro de 1843, após se casar por procuração em 30 de maio do mesmo ano. O que era para ser um casamento de interesses se transformou em um sólido vínculo afetivo, perdurando por 46 anos. Oriunda da terra da boa música, da comida farta e, sobretudo, da alegria, a imperatriz não correspondia à personalidade explosiva de toda jovem italiana, sendo considerada, por muitos historiadores, a personagem mais intrigante da história do Brasil Imperial, ao longo do século XIX. A terceira imperatriz, d. Teresa Cristina, viveu à sombra de d. Pedro II em misterioso silêncio, mas possuía uma alma caridosa, despertando a adoração do povo brasileiro, que a recebeu de braços abertos. Mãe e esposa exemplar, a imperatriz deu à luz quatro filhos, dentre eles a princesa Isabel – a redentora. Em seus diários é possível perceber sua dedicação à família, sem deixar de lado a atenção aos acontecimentos políticos, além do cumprimento de inúmeros compromissos públicos. Em 1876 foi fundado pela Família Imperial o Hospital Santa Teresa, em homenagem à imperatriz que se empenhou em dar aos mais humildes um atendimento assistencial. Após a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, o imperador e Teresa Cristina foram para o exílio na cidade do Porto, em Portugal. Lá, abatida pelas experiências dolorosas, a imperatriz adoeceu repentinamente e veio a falecer em 28 de dezembro do mesmo ano. Em sua homenagem, d. Pedro II doou aos brasileiros uma grandiosa biblioteca particular, com a condição de que fosse chamada de Coleção Teresa Cristina Maria. Atualmente, os restos mortais da imperatriz e de d. Pedro II jazem no Panteão da Catedral de São Pedro de Alcântara.

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Petrópolis

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