Revista Petrópolis

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Petrópolis Rio de Janeiro Outubro 2012 Distribuição Gratuita

Nº 41 Confira a Programação Cultural

Sylvia Orthof 80 anos Tesouros da Cidade Raphael Rabello

Entrevista

Dia das Crianças

Maestro Paulo Afonso

Programe-se

[+] Vitral



Violonista virtuose

A Fada e o Menestrel s azuis e o verde Neste mês em que os dia init iva me nte na ren ova do se ins tala m def mos duas “flores Petrópolis Imperial, homenagea talento, anos seu raras” que nos brindaram com hecido como con , atrás: o músico Raphael Rabello de teatro tora dire z, o “Mozart do Chorinho”; e a atri “Fada rna ete sa e escritora Sylvia Orthof, a nos Fofa”.

artistas locais já Ter apenas um deles entre os ade . Syl via é, eng ran dec eria qua lqu er cid mais importantes reconhecidamente, uma das infantil. Em meio escritoras da nossa literatura sem eou ale gria , séc ulo ded ica do à arte , tudo o que tocou. brilhantismo e criatividade em morte, seu estilo Hoje, 15 anos após a sua sonoros são “voz originalíssimo e diálogos pais, professores, corrente” nas bocas de e, claro, crianças contadores de histórias, atores s aos seus 80 anos de todo o Brasil. As homenagen entende muito do estão por toda parte. E gente que mplo, a escritora, que diz – como, por exe ovich – e crítica de arte Fanny Abram pedagoga de sua alma, diretamente para os corações a melhor autora de insiste em afirmar: Sylvia é capaz de ombrear livros infantis do Brasil e a única nacional, Monteiro com outro gênio da literatura ropolitanos, é uma Lobato. Assim, para nós, pet seus mais de 100 honra recordar que muitos de a ritos aqui mesmo, em sua cas foram livrosque “o melhor violonista já esc ouvi, em anos” co: tóri do Centro His aconchegante, numa ladeira bonecos, escritos de ia che localidade mágica

maturidade, Tato, inéditos e quadros do amor da stou seu traço ágil a sensível ilustrador que empre muitas de suas obras-primas. Raphael Rabello foi Já o violonista e compositor ao longo de uma , um fulgurante meteoro que te, deixou uma han trajetória breve, porém bril lonista virtuose, Vio marca indelével na MPB. , Raphael, que das cor mestre do violão de sete com seu talento dou nasceu em Petrópolis, nos brin sua chama se ndo qua espetacular até os 33 anos, registrado o xou dei , apagou. Antes disso, porém íbio Santos, Tur de talento estonteante em discos um, Paulo nba rele Ney Matogrosso, Jacques Mo ais para dem a Nad Moura e do Maestro Tom Jobim. onista viol r lho me “o aquele que foi definido como rado, sag ro nst mo que já ouvi, em anos” por outro u as sso apa ultr el Paco de Lucia: para este, “Rapha a vinh sica mú sua e limitações técnicas do violão, a par e ent tam dire a, progressivamente de sua alm a”. os corações de quem o admirav que esta nossa Assim, nada mais justo do abrir das nossas merecida reverência. E o e, a estes que páginas, em aplauso vibrant nos so sem pre eno bre cer am ain da ma is para festejar e riquíssimo canteiro cultural, s – e para mitigar preservar a riqueza de suas vida s ausências. as saudades, deixadas pelas sua

ultrapassou as limitações

escritos inéditos

“Fada Fofa”

literatura infantil

“Mozart do Chorinho”

o violonista e compositor

“flores raras”

mestre do violão de sete cordas

dias azuis

verde renovado


SUA AGENDA DE CULTURA E TURISMO


que define um tesouro? Segundo o Dicionário Aurélio, Tesouro, entre outros significados é “Coisa ou pessoa de muita valia”. Baseada nesta definição simples, mas muito precisa, a Revista Petrópolis se fundamenta para trazer ao leitor tudo àquilo que reconhecemos como Tesouro da Cidade. Bens materiais ou imateriais que agregam valor histórico e cultural para a nossa Petrópolis. Por esta razão não poderíamos deixar de prestar uma homenagem a um petropolitano ilustre - “uma pessoa de muita valia” -, um verdadeiro tesouro da música: o violonista Raphael Rabello. Nascido em uma família musical, em 31 de outubro de 1962, Raphael Rabello recebeu a primeira influência de seu avô materno, o violonista José de Queiroz Baptista. Aos sete anos já tocava de maneira autodidata e aos quatorze formou seu primeiro grupo de choro: Os Carioquinhas. Entre seus professores estiveram Dino, mestre do violão de sete cordas e Jayme Florêncio, o Meira, que também teve entre seus alunos, Baden Powel. Com apenas 17 anos fez parte da primeira formação do conjunto Camerata Carioca, onde passou a conviver com o maestro Radamés Gnattali, se tornando um de seus maiores intérpretes. Em 1982, grava ao seu lado o disco Tributo à Garoto. Durante sua trajetória musical, Raphael Rabello gravou 16 discos - alguns com as brilhantes parcerias de: Dino Sete Cordas, Elizeth Cardoso, Paulo Moura, Armandinho, Déo Rian, Ney Matogrosso, entre tantos outros. E participou de cerca de 600 discos de artistas nacionais e internacionais.

Vale ressaltar que além de exímio intérprete, Raphael foi um compositor de qualidade, sendo parceiro de grandes músicos como Paulo Cesar Pinheiro e Aldir Blanc. Sua carreira foi marcada por inúmeros prêmios, sendo quatro vezes vencedor do Prêmio Sharp. A crítica especializada e músicos brasileiros e estrangeiros o apontaram como um dos maiores violonistas de todos os tempos: “Pela precocidade, talento e fragilidade, foi o Mozart do choro”; declarou Luis Nassif. Com Henrique Filho (Reco do Bandolim), Ruy Fabiano e Carlos Henrique criou o projeto da Fundação Escola de Choro, em Brasília – DF que, atualmente, leva seu nome e oferece aulas de música para mais de 800 alunos. Estimulado pelo amigo e violonista Laurindo de Almeida, muda-se em 1994 para os Estados Unidos, onde gravou discos e deu aulas na Universidade de Música de Los Angeles. Com o objetivo de concretizar o projeto “Orgulho do Brasil” - uma coletânea de discos de compositores brasileiros - retorna ao país em 1995. Infelizmente, Raphael Rabello grava apenas o primeiro disco Mestre Capiba, lançado somente em 2002, para arrecadação da Campanha Ação e Cidadania de Betinho. A última gravação do artista reuniu Chico Buarque, Paulinho da Viola, Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Milton Nascimento, Alceu Valença, Ney Matogrosso, João Bosco, Paulo Moura e Claudionor Germano – o maior intérprete de Capiba. Raphael nos deixou precocemente aos 33 anos, no dia 25 de abril de 1995. Mas sua trajetória é resumida pelo próprio artista em um trecho de entrevista concedida à jornalista Bia Reis no Programa Choro Livre da Rádio Nacional/ DF em 1994: "Eu vim com a missão, a que me propus, de botar o violão no lugar merecido, porque a música brasileira e o violão se confundem." Para celebrar os 50 anos de Raphael Rabello, a gravadora Acari Records, lança este mês, um Cd em sua homenagem. A iniciativa do violonista Rogério Caetano conta com a participação de grandes nomes do violão brasileiro. Uma celebração bem ao estilo deste gênio da música brasileira.


o que foi e é destaque em Petrópolis FotoS: Isabela Lisboa

Serra Serata é sucesso de público A terceira edição da Serra Serata – A Festa Italiana de Petrópolis - realizada de 03 a 09 de setembro, registrou mais um sucesso de público. Cerca de 50 mil pessoas prestigiaram os cinco dias de evento realizado na Praça da Liberdade. Segundo dados da Fundação de Cultura e Turismo, o impacto na economia local foi de cerca de R$ 8 milhões. O feriado prolongado contribuiu com a presença maciça de turistas que ocuparam 94% dos hotéis e pousadas do Centro Histórico e 90% nos distritos.

Foto: Divulgação

PEC Posse O projeto de implantação da PEC - Praça dos Esportes e da Cultura, que chega a 400 municípios através do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento-, já está em andamento no Distrito da Posse. O que diferencia sua construção de uma simples praça é a efetiva participação dos agentes locais numa gestão compartilhada, para definição de regras, plano e execução das ações de necessidade e interesse da população. A Oficina de Capacitação da Comunidade já foi iniciada e os módulos se estendem até março de 2013, quando a praça deverá ser concluída. Aberta à comunidade, a oficina é realizada no CIEP Gabriela Mistral.

Biblioteca tem nova versão em portal Está de cara nova o portal da Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral. A atual versão do portal disponibiliza o acervo bibliográfico cadastrado a partir de 1992, resultando em mais de 70 mil volumes, entre livros, artigos periódicos, vídeos e outros, incluindo a midiateca. É um convite ao leitor, que pode interagir fazendo, inclusive, solicitação de compra, que o setor de aquisições irá analisar. O endereço é www.petropolis.rj.gov.br, no link Biblioteca Online, ou bnweb.petropolis.rj.gov.br/bnportal.

Reprodução


Petrópolis nas principais feiras de turismo

Foto: Isabela Lisboa

Festa de São Pedro de Alcântara Em homenagem ao padroeiro de Petrópolis, acontece a Festa de São Pedro de Alcântara, nos dias 18 e 19 de outubro, em torno da Catedral S. Pedro de Alcântara. No dia 18 haverá missa às 18h, em seguida a abertura e benção das barracas/restaurantes de comidas típicas de países como Alemanha, Portugal, Itália, Líbano, além de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A novidade é a barraca dos Estados Unidos coordenada pelo setor juventude da paróquia. A diversão ficará por conta da barraca Diverlândia e haverá também a do artesanato da cidade. No dia 19, às 8h será celebrada a missa das crianças, com a participação do Coro Modelo do Programa Canta Petrópolis, Coral Dó Ré Mi, da Escola S. Judas Tadeu, sob a regência do maestro Leonardo Randolfo, além da exibição de bandas marciais da cidade.

Outubro Rosa Pelo quarto ano consecutivo, a APPO – Associação Petropolitana de Pacientes Oncológicos promove o Outubro Rosa, para conscientização sobre a importância da detecção precoce do câncer de mama. Na programação deste ano haverá: Jantar Beneficente no Castelo de Itaipava, dia 04 às 20h; Desfile das Vitoriosas do Câncer de Mama, no Baile da Feliz Idade, dia 10 às 16h, no Petropolitano F.C. e Caminhada: “Saúde da Mama, Uma Nova Caminhada”, no dia 27, saindo da Catedral às 15h. Até novembro a APPO promove também palestras nas comunidades. Informações: (24) 2242-0956 / (24) 2244-2005 R: 225 / e-mail: appopetropolis@ig.com.br.

Foto: Mauírcio Pregal

Foto: Alexandre Peixoto

Petrópolis tem marcado presença nas principais feiras de turismo do país. Em setembro a Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis participou da Brite – Brazil Internacional Tourism Exchange, realizada em conjunto com o Salão Estadual do Turismo, no Rio de Janeiro. Lá foram promovidas as belezas históricas e naturais da cidade, bem como sua rede hoteleira, seus polos de moda e cervejeiro, além dos grandes eventos da cidade. O mesmo vai acontecer na Feira de Turismo das Américas, a ABAV – Associação de Agentes de Viagem que está em sua 40ª edição, de 24 a 26 de outubro, também no Rio de Janeiro.


Em 2012, Sylvia Orthof comemoraria 80 anos. Para muitos, porém, esta atriz, escritora e diretora teatral jamais nos deixou: continua pulsando, em cada detalhe de uma arte única. Passados quinze anos de sua morte, é fácil constatar que Sylvia permanece, humana e artisticamente inestimável: e que revisitá-la é essencial à preservação de nossa herança cultural.

Uma vida dedicada à arte Sylvia nasceu em 1932, no Rio de Janeiro, filha única de judeus austríacos. Seu pai era artista plástico; o tio materno, compositor; o marido da avó paterna, letrista de operetas vienenses e a avó materna, pintora e ceramista. Nesta família tão artística, a infância teve o sabor de mangueira no quintal e de contos de Grimm, em alemão, e de Monteiro Lobato, em português. Também data desta época a relação com Petrópolis, que Sylvia conheceu aos sete anos como aluna do Liceu Fluminense, localizado na Casa da Princesa Isabel. Consta que seu talento literário desabrochou, na época, mas foi logo reprimido: a vizinhança com a Catedral S. Pedro de Alcântara, ainda sem a torre, fez com que a menina rabiscasse sua obra inaugural, a Incrível História da Catedral sem Cabeça. Ameaçada pelas colegas com um inferno escaldante, pela heresia, Sylvia queimou o manuscrito: mas guardou a insubordinação contra toda e qualquer intolerância.

Aos 15 anos, Hamlet a tomou de assalto: e o palco a seduziu. A opção determinou as décadas seguintes, numa prolífica carreira iniciada no Teatro dos Estudantes, sob a direção de Paschoal Carlos Magno, juntamente com Sérgio Britto, Sérgio Cardoso, Maria Fernanda e Bárbara Heliodora. Aos 18 anos, juntou armas e bagagem e passou um período em Paris, onde leu textos de Racine e Verlaine no Educatión par Le Jeu Dramatique e teve aulas com o mímico Marcel Marceau, que lhe disse: “É preciso ser um bom escritor de sentimentos, para poder fazer mímica”. Retornando, Sylvia se vê às voltas com a nascente TV brasileira, que lhe abre outra porta: o TBC - Teatro Brasileiro de Comédia. Ali, ela brilha com Fernanda Montenegro e Rubens de Falco, guiada pelas estrelas maiores de Cacilda Becker e Ziembinsky. Está no TBC quando o poeta Manoel Bandeira profetiza, após uma apresentação de Maria Stuart: “Sylvia, você ainda vai acabar escrevendo. Você tem sensibilidade para a palavra, sinto que você gosta de poesia!”

Anos mais tarde, Sylvia se casou com o médico Sávio Lima e foi morar, por dois anos, no interior da Bahia. Nesta experiência, forjaria sua brasilidade radical, o gosto pelos folguedos, mitos e modas do folclore nacional. Amiga


do mambembe, faz teatro de bonecos atrás de lençóis, enquanto cuida da primeira filha, Cláudia. Logo, o casal volta a Petrópolis, onde nasce o filho Gê, até a nova reinvenção: a mudança para Brasília, onde nasce Pedro, terceiro filho do casal. Na capital recém-nascida, Sylvia forma o Teatro do Candanguinho, na TV Brasília; conta histórias na Rádio MEC; e dá aulas de teatro na Universidade de Brasília. Depois, torna-se coordenadora do Teatro do SESI e monta Morte e Vida Severina, quando é aplaudida de pé pelo então ministro Jarbas Passarinho: admirador que, mais tarde, a livraria das perseguições da Ditadura Militar. Em 1972, Sávio falece e Sylvia retorna ao Rio. Os colegas Carlos Kroeber e Tonia Carreiro reabrem-lhe as portas do teatro: mas ela

negra, com lindas tranças de pixaim. Defensora do direito infantil

recusa. Compreende que aquele não era o momento de se

à imaginação e à diversão por meio da leitura, Sylvia sempre

afastar, em longas temporadas, dos filhos. Aos poucos, porém, a

propugnou que o mais importante era a arte de “palavrear” a

vida e a alegria vão tecendo novamente os fios rompidos pela dor.

brincadeira. Por isso, em seus livros moram criações como o ovo

Ela reencontra um velho amigo, o arquiteto Tato Gostkorzewicz,

Claro-Gemão “meio metido a machão, que já nasceu, vê se

também viúvo, e eles se casam. Começa, então, uma nova fase

pode, usando bigode!”. Ou o Calo-Calígula. Ou o inexplicável

em que a literatura e o teatro também se unem em sua vida, para

Pio-Olho, habitante dos cabelos de uma estrela, e que de vez em

serem “felizes para sempre”.

quando solta purpurina no infinito, por conta da pressão... Do

Em 1975, ela escreve e dirige “A Viagem de Um Barquinho”, que

pente fino!

ganha o primeiro lugar no Concurso Nacional de Dramaturgia

No início dos anos 1980, com Tato – já, então, o ilustrador

Infantil do Teatro Guaíra. A peça é encenada no MAM: toda a

predileto - Sylvia elegeu Petrópolis como pouso definitivo. Daí

família participa do elenco. Ela funda a Casa de Ensaios Sylvia

por diante, viveu entre nós, com seu “companheiro de vida e

Orthof, dedicada exclusivamente a espetáculos infantis. Quatro

amor”, numa casa confortável onde as almofadas se largavam

anos depois, seu conto “O Pé Chato e a Mão Furada” foi

pelos sofás, como gatos, e as paredes explodiam em quadros.

premiado no 1º Concurso Nacional de Contos Infantis do Banco

Recebeu vários prêmios, dentre eles, o Moliére; o Jabuti e o da

Auxiliar de São Paulo. E surge a “porta mágica”: um concurso de

Associação Paulista de Críticos de Arte pelo melhor texto infantil

histórias infantis promovido pela revista Recreio, da Editora Abril.

para teatro de 1990, “O Cavalo Transparente”. Hoje, toda uma

Sylvia manda 20 histórias de uma vez – e as 20 são aprovadas.

nova geração de autores “assumidamente orthofianos” – como

Mais tarde, elas dariam origem aos seus primeiros livros.

Léo Cunha e Rosamanda Strauss – continuam honrosamente o

Sylvia nos legou preciosidades: dentre eles, o Teatro do Livro

ofício deixado para trás pela nossa “fada fofa”, e insistem em

Aberto, herdeiro de suas travessuras cênicas. E dezenas de

explodir jabuticabas estreladas no céu da boca da noite.

personagens inesquecíveis, sempre prontos a compartilhar livro

Enquanto eles existirem, Sylvia viverá. E com ela a gargalhada,

e lembrança. É assim que podemos conhecer a galinha que dá

a imaginação desembestada – e os gnomos atrás das portas

um basta na hegemonia do galo-machão; bem como uma fada

das mais vetustas salas de jantar.

“Há uma diferença entre se acriançar na alma, o que é muito bonito; e se infantilizar, o que é péssimo. Eu escrevo para a criança inteligente que existe dentro da gente.” “Como eu escrevo? Sei lá... A minha religião, que eu inventei, é uma religião de crença: por isso acho que ninguém pode escrever para crianças se não acreditar em si, perdendo toda a autocrítica. E também não se deve nem imaginar quem vai ler. Quer dizer: para escrever naquele mundo de fantasia da criança é necessário se entregar ao folguedo da palavra. É a palavra que me leva!” “Sou contra a moral em histórias porque, para mim, isso é jogar o velho para o novo. Todo conselho que me deram em criança não me serviu de nada, e eu só descobri isso muito tarde.” (Trechos retirados de entrevista concedida ao Jornal Cultural Obelisco, em abril de 1991)


herança teatral de Sylvia Orthof Texto: Eliane Maciel l Fotos: Divulgação

m 1985, Sylvia Orthof esbanjou travessura: e criou, em Petrópolis, uma trupe de teatro. Ou, como ela definia, um “mambembe organizado, porque a gente pode ser alternativo, criativo, mas sem pecar por falta de seriedade!”. Assim, com vocação de andarilho – e sólida base profissional a Cia Teatro Livro Aberto vem, desde então, eternizando nos palcos o casamento perfeito que Sylvia costurou entre a poesia e a coxia; a música e a literatura; a interpretação e a imaginação. Uma alquimia traduzida em trabalhos premiados internacionalmente como O Cavalo Transparente, A Viagem de Um Barquinho, Se as Coisas Fossem Mães, e o inspirador (e absolutamente orthofiano) Ponto de Tecer Poesia. A companhia já “produziu” grandes profissionais. O mais antigo deles (espécie de “guardião-mor” da obra teatral de Sylvia), é o ator petropolitano Fernando Vianna, remanescente da formação original do Livro Aberto. É ele quem lembra que a proposta de Sylvia era criar uma companhia de repertório, capaz de transformar qualquer lugar em palco: “Queríamos carregar nossos cenários em caixas e malas repletas de encanto”, lembra ele. O que foi feito, com Sylvia ainda como diretora, quando a trupe exerceu sua proposta com disposição incrível para se aventurar. Certa ocasião, em 1991, eles acompanharam a escritora na Jornada Literária de Passo Fundo, onde apresentaram três peças: Luana Adolescente Lua Crescente, Se as coisas fossem Mães e Deu a Louca em Ervilina. Acabaram recebendo tantos convites que a temporada se estendeu por quase dois meses. Foi assim que, quase sem notar, cruzaram dez anos de estrada, de Petrópolis ao interior de Minas, mapeando as fronteiras do Brasil e fazendo, inclusive, uma temporada na Alemanha, onde a brasilidade foi aplaudida de pé.

Com a morte de Sylvia, a trupe assumiu a responsabilidade de manter viva a sua obra marcante, cheia de musicalidade, originalidade e lirismo. Pela generosidade de Tato, segundo marido e também ilustrador de seus livros, e dos herdeiros da autora, Fernando teve acesso a vários textos inéditos, alguns dos quais compõem o trabalho mais recente do grupo, Historietas Cantadas. Atualmente reunindo um elenco de 17 pessoas – além de Fernando, Renata Garcia, Renato de Resende, Vania Moreira, Rosa Muller, Simone Gonçalves, William Esteves, Guto Menezes, Marcio Negócio, Fabio Branco, Cristiane Carvalho, Luciana Fortunatto, Bernardo Passos, Fred Justen e Felipe Cardoso - o Teatro Livro Aberto é um manancial constantemente abastecido pela obra de Sylvia, que é bastante para qualquer grupo teatral. E certamente tem muita “matéria-prima” para pensar em mais 30 anos de andanças, a julgar pelos 152 textos infanto-juvenis deixados pela autora: produção frenética que mantém um inacreditável padrão de qualidade. Atualmente envolvido nas muitas homenagens que Sylvia receberá este ano, pelo seu 80o aniversário, a trupe do Livro Aberto certamente vai emocionar muita gente quando recitar alguns de seus últimos versos, feitos já ao final da batalha contra o câncer. Como o poema-epitáfio que define a leveza desta alma lúdica e lírica, até o “fim sem fim de sua vida sempre-viva”:


Conheça as opções de turismo e lazer para o feriadão Texto: Isabela Lisboa | Fotos: Isabela Lisboa, Alexandre Peixoto e divulgação


Concedida a: Marilízia de Azevedo | Fotos: Isabela Lisboa

m petropolitano realizado por ter finalmente optado pela música, depois de experimentar outros caminhos... Ele quase se tornou um jurista, mas as notas musicais, desde criança, enlevaram sua alma e conquistaram seu coração. Assim tem sido a vida e a carreira do maestro Paulo Afonso Filho, Regente e Diretor Artístico do Coral Municipal de Petrópolis. A educação que recebeu dos pais Teresa e Paulo Affonso dos Santos - baterista e comandante da Banda Marcial Wolney Aguiar-, aliada à sensibilidade e talento que desde cedo ele expressava, além da perseverança, o levaram a ser um grande maestro, alguém que vê no ensino musical um caminho muito além dos palcos. Ele enxerga a música como a estrada que pode levar alguém a encontrar novas formas de se relacionar com a vida. Entre os prêmios recebidos, estão o Destaque na Cultura do Estado do Rio de Janeiro/1998 – Lions; Personalidade Petropolitana/1997, 1998, 1999; Prêmio Maestro GuerraPeixe de Cultura/2011; Qualidade Brasil/2011; Gente que Faz/2011. Neste mês de outubro ele dirige o espetáculo “Clássicos do Rock”, com o Coral Municipal, orquestra e banda, já na 3ª edição, garantindo repetir os sucessos anteriores. Revista Petrópolis – A música já estava presente no convívio familiar; em que idade ela passou a fazer parte do seu cotidiano? Maestro Paulo Afonso - Sou de uma família de seis filhos. Meus pais sempre nos envolveram com o conhecimento, através da história geral, da música, tanto de compositores do Brasil como do mundo. E perceberam que a música erudita me encantava mais. Assim, me inscreveram na Escola de Música Santa Cecília e, aos 9 anos de idade, comecei a ter aulas de teoria e solfejo, harmonia e piano. Por outro lado, meu pai era também o comandante da Banda Marcial Wolney Aguiar (conhecida como Banda do CENIP) e eu ingressei no naipe de pífaros, depois passei para a percussão.


RP– Quem foram seus primeiros mestres? MPF- Fui aluno do professor Amadeu Guimarães, que foi um diferencial na minha vida. Ele era um educador muito sensível, um musicalizador, que me deu a oportunidade de experimentar vários instrumentos. Ele copiava os manuais numa linguagem mais acessível à minha idade e isso me marcou muito. Duas professoras de piano também foram determinantes em minha iniciação musical: dona Mariazinha Chaves Aguiar, diretora da Escola de Música Santa Cecília e Regina Rabaço. RP – A partir dessas experiências, sua adolescência também foi marcada pela música? E o que o motivou a fazer Faculdade de Direito? MPF - Sem dúvida! Com todo esse incentivo nunca parei. Estudei depois no Conservatório Brasileiro de Música em Petrópolis e mais tarde no Rio de Janeiro. Aos 18 anos ingressei no Coral Municipal de Petrópolis como cantor e já trabalhava na Celma com eletromecânica. Havia o famoso conceito de que música era hobby e não profissão, então decidi fazer Direito porque me atraía ter conhecimento das leis. Só que, estudando na UCP, logo passei a cantar no coral da universidade. Aí não teve jeito, a música me escolheu! RP– Foi difícil essa decisão? Afinal você já era pai ... Conte como foi essa virada. MPF - Eu jamais parei de estudar música, mesmo trabalhando com eletromecânica e estudando Direito. Aos 35 anos de idade percebi que esse era o meu caminho. Decidi então assumir a carreira musical como profissão. Minha família é meu esteio e me deu apoio incondicional. Agradeço a paciência da minha filha, pelas horas roubadas de seu convívio com os ensaios, muitos dos quais ela assistiu. Optei por começar pelas escolas e criei o primeiro coro infantil no Instituto Metodista, depois fiz um novo coral no Colégio Werneck, que dirigi durante muitos anos, participando de festivais e eventos dentro e fora da cidade. Passei a viver da música. RP – Fale de sua formação daí em diante e como foi sua ascensão de cantor a regente do Coral Municipal de Petrópolis. MPF - Como expliquei, nunca parei de estudar música, e fiz inclusive Faculdade de Pedagogia, a fim de complementar minha formação como regente nas escolas. Fiz

curso técnico de percussão na UFRJ, também sou timpanista e toquei em algumas orquestras. Fiz especializações em Regência Coral com Ernani Aguiar, Carlos Alberto Pinto Fonseca, com o americano Henry Leck e Eaphy Eely, o inglês Bob Chilcot e ainda música afroamericana com André Thomas. Continuei como cantor no Coral Municipal até a década de 90, até que outros trabalhos me impediram de continuar. Em 1999 criei o Coral Pro Tempore, com integrantes da terceira idade, até que no ano de 2000, o então regente, maestro Gilberto Bittencourt, me convidou para assumir seu lugar à frente do Coral Municipal. Em 2004 criei o Quartifuza Ensemble com minha esposa, a cantora Cristina Carlos, para interpretar a música da Renascença e do Barroco.Também dirijo outros grupos: Coral Quartifuza desde 2006, Coral dos Parkinsonianos desde 2000, Coral Juvenil João Carlos desde 2009 e Banda Marcial José Lopes de Jesus desde 2011(ambos da Escola Lucia de Almeida Braga); a Petrópolis Rock Orchestra e Orquestra de Câmara de Petrópolis, criadas para o espetáculo “Clássicos do Rock” em 2010, do Coral Municipal.

O Maestro à frente do Coral Municipal

Schursz, realizado em 2010 no Instituto dos Meninos Cantores de Petrópolis. Mas nos últimos anos, estamos também envolvendo os coralistas com a MPB através de ricos arranjos, imprimindo a esse trabalho uma identidade vocal. Desenvolvendo uma vertente mais atual, surgiu a ideia do “Clássicos do Rock”, dentro do próprio coral, na busca de um repertório mais próximo da realidade dos cantores. A primeira edição em 2010 já foi um grande sucesso! Estamos na terceira, com duas apresentações dias 13 e 14 de outubro, no Theatro D. Pedro. Serão 32 cantores acompanhados de 13 músicos, banda e orquestra. O espetáculo deste ano está imperdível e em 2013 queremos nos programar para viajar com ele. RP- Além de instrumentista, regente, arranjador, você também compõe? Qual a sua referência como maestro? MPF - Sim. Compus algumas missas como: São Pedro de Alcântara; “Pro Hominis” para coro masculino; Missa Femina para coro feminino; Missa Pro Tempore e Quartifuza. Entre tantos profissionais que admiro, procuro seguir a linha de formação e pensamento do maestro Ernani Aguiar.

RP – Conte como o “Clássicos do Rock” surgiu no universo do Coral Municipal e como será a edição 2012. MPF - À frente do Coral Municipal, continuei desenvolvendo a mesma linha com a música erudita. Este ano participamos do Congresso de Organistas e Organeiros na Catedral, em Petrópolis, com a estreia da obra “Officium Defunctorum” de Lobo de Mesquita, com o organista Benedito Rosa. Participamos do CD comemorativo da Orquestra Petrobras Sinfônica em parceria com o Coral da UCP e gravamos o CD do Coral Municipal de Petrópolis, com repertório de música secular, registrando a capacidade técnica do grupo. Importante registrar também, a Master Class de Regência Coral com o maestro Hans Peter

RP – Você quase se tornou um profissional da magistratura. Mas optou por ser um músico por excelência, deixando que a arte rompesse limites na sua vida. Valeu a pena? MPF - Valeu e muito! Valeram as horas sem dormir para estudar. A satisfação de ver o progresso dos alunos, perceber que algum está mais sociável porque a música lhe fez bem, isso é maior! É emocionante ver o Coral dos Parkinsonianos participar dos concertos de Natal com os outros corais. É a integração da sociedade. Por tudo isso que contei aqui, sou um homem realizado. Mas há muito a fazer, quero cursar Faculdade de Composição e tenho em mente inúmeros projetos.


Texto: Maria Luísa Rocha Melo**

o mês das crianças, percorrendo as estantes da Biblioteca Municipal, descobrimos um rico registro da história dos jogos e brinquedos infantis ao longo de várias décadas. Foi assim que achamos a obra Brinquedos para os dias de folga, escrita nos anos 1950 por Marianne Jolowicz (Ed. Melhoramentos), que prometia à petizada momentos de diversão e lazer. Nele, é criada uma perfeita ambientação para que sejam iniciadas as brincadeiras: “Dia de vento, dia de satisfação para a criançada que está de folga, à espera do jantar que ainda demora”. E aí, todos se reúnem “em torno da mesa de jantar, pondo em movimento o material de trabalho: uma tesoura, uma régua, um esquadro, lápis e borracha”. Um mundo de orientações e receitas convida a criança a exercer sua habilidade de criar, executar, reaproveitar e, acima de tudo, brincar. São registros como este, guardados cuidadosamente nas estantes da Biblioteca, que vêm garantindo a preservação e o resgate dos costumes de uma época, de um país, de um povo. Nessa linha, um livro escrito, cerca de vinte anos depois, Como fazer brinquedos com arame, meias, ovos, feijão, rolhas, latas etc., por Maria Barros (Ed. Ediouro), direcionado às donas de casa e mães da meninada, propunha “abrir-lhes novas perspectivas para suas horas de lazer e estimular de maneira útil e prática sua criatividade”. E prometia: “Você vai ficar encantada ao perceber-se capaz de criar brinquedos originalíssimos para as crianças se divertirem e peças graciosas para decorar sua casa. E tudo isto quase sem despesa alguma”. Boa pedida numa época de “vacas magras” e em que não era comum encontrar mães inseridas no mercado de trabalho.

Mais para frente, a preocupação era a de analisar e contextualizar os brinquedos, demonstrada em estudos como Indústria Cultural. Editado em 1986, o livro defendia a ideia de que o brinquedo industrializado é “suporte e agente da ideologia capitalista” e que o mesmo é influência direta na formação da criança. Termos como “adultocentrismo” e “videojogos” são introduzidos neste ensaio. Aí, o brinquedo é tratado como coisa séria. A partir da década de 1990, a literatura passa a se preocupar com a institucionalização da brinquedoteca, enfatizando seu papel educativo, pedagógico e psicológico, que preserva, classifica e divulga a importância do brincar. É a necessidade de sistematizar uma ação que passa a ser considerada como primordial na infância, norteadora da fase adulta de um indivíduo. Chegamos aos anos 2000 e a mudança de preferência da criança pelos jogos eletrônicos gera polêmicas e preocupações. E esta transformação, claro, vem se refletindo no acervo da Biblioteca: revistas que se dedicam aos lançamentos de “games”, com toda a sorte de ilustrações, dicas e outras modernidades tecnológicas, não param de chegar, tomando seus lugares nas estantes que vivenciam uma enorme produção de artigos sobre o que há de mais atraente no mercado dos jogos eletrônicos. Na Biblioteca, o ritmo próprio daquele mencionado livro dos anos 50, perpetua e convive pacificamente ao lado de outro, mais frenético, da nova geração de crianças e seus novíssimos brinquedos virtuais. Com isso, forma-se a linha do tempo que define a evolução de todo um comportamento humano, da indústria de brinquedos, da educação, dos valores de uma sociedade, da economia de um povo. Afinal, é isto que impulsiona o trabalho das bibliotecas. ** Gerente da Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral




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