Escola Secundária /3 D. Egas Moniz Resende
Indisciplina Camilo António Pinto Carneiro capcarneiro@gmail.com; http://capc.no.sapo.pt
Índice de conteúdos Introdução...................................................................................................................................2 1ªParte.........................................................................................................................................2 Terminologia..........................................................................................................................2 Manifestações de Indisciplina................................................................................................2 Causas da Indisciplina............................................................................................................3 A conversa..............................................................................................................................7 Como prevenir comportamentos indesejáveis numa aula......................................................7 Medidas para combater/remediar a indisciplina.....................................................................8 Estratégias proibidas...............................................................................................................9 2ªParte.........................................................................................................................................9 Respeitar para ser respeitado..................................................................................................9 A repreensão.........................................................................................................................10 Trabalhos de grupo...............................................................................................................11 A desculpa da indisciplina....................................................................................................11 A autoridade individual........................................................................................................12 Comunicação não-verbal......................................................................................................12 Atenção.................................................................................................................................12 Conclusão..................................................................................................................................13 Referências on-line:..................................................................................................................13
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Introdução Sem pretensões de ser um artigo, muito menos uma obra de referência ou de reflexão, este texto foi escrito faseadamente. A maior parte dos motes surgiram enquanto desenvolvia os textos de outros. Não sendo um texto extenso, pelo menos tão desenvolvido quanto o tema mereceria, fica a contribuição registada de pensamentos soltos, carenciados de fundamento científico, é muito fruto de reflexão e da curta experiência na “arte” de dar aulas. O léxico utilizado é muito próprio da má formação do autor em humanidades, e inerente da sua formação em engenharia. O texto é composto por duas partes, a primeira, fruto da transcrição de textos pesquisados na internet, e a segunda, da responsabilidade do autor.
1ªParte Terminologia O conceito de indisciplina é susceptível de múltiplas interpretações. Um aluno ou professor indisciplinado é, em princípio, alguém que possui um comportamento desviante em relação a uma norma explícita ou implícita, sancionada em termos escolares e sociais. Estes desvios são todavia denominados de forma diferente conforme se trate de alunos ou de professores. Os primeiros são apelidados de indisciplinados, os segundos de incompetentes. Indisciplina ou violência? A indisciplina pode implicar violência, mas não é necessário que esta última ocorra. É neste sentido que alguns autores distinguem vários níveis de indisciplina, tais como: - Perturbação pontual que afecta o funcionamento das aulas ou mesmo da escola. - Conflitos que afectam as relações formais e informais entre os alunos, que podem atingir alguma agressividade e violência, envolvendo, por vezes, actos de extorsão, violência física ou verbal, roubo, vandalismo, etc. - Conflitos que afectam a relação professor-aluno, e que em geral colocam em causa a autoridade e o estatuto do professor. - Vandalismo contra a instituição escolar, que muitas vezes procura atingir tudo aquilo que ela significa. Esta hierarquia tem sido contestada, na medida em que conduz à naturalização das formas mais elementares de indisciplina (as perturbações), assumindo-as como inevitáveis. A ideia que acaba por passar é que só se coloca o problema da indisciplina quando existem agressões a colegas ou professores, a destruição ou roubo de escolas, entre outros.
Manifestações de Indisciplina As manifestações de indisciplina, nas suas formas mais elementares, tornaram-se uma rotina para qualquer professor. Seguem-se exemplos de dois níveis de casos de indisciplina nas aulas. Frequentes: CC@2009
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• Apatia do grupo; • Cochicho; • Troca de mensagens e de papelinhos; • Intervalos cada vez maiores; • Exibicionismo; • Perguntas feitas de forma a colocar em causa o professor, ou a desvalorizarem o conteúdo das aulas; • Discussões frequentes entre grupos de alunos, de modo a provocarem uma agitação geral; • Comentários despropositados; • Silêncios ostensivos; • Entradas e saídas "justificadas". • Uso de dispositivos multimédia, leitores de música portáteis, telefones móveis, entre outros “gadgets”. Excepcionais: • Agressão a colegas; • Agressão a professores; • Roubos; • Provocações sexuais, racistas, etc. O primeiro nível está hoje amplamente generalizado, o segundo está em crescimento.
Causas da Indisciplina Não é fácil fazer um inventário das causas da indisciplina na escolas, estando estas em constante mutação. O seu número não pára de aumentar, quase sempre suportado, nos dias que correm, numa sólida argumentação científica. 1. Família As causas familiares da indisciplina lideram sobre as restantes. É aí que os alunos adquirem os modelos de comportamento que exteriorizam nas aulas. Em tempos a pobreza, a violência doméstica e o alcoolismo foram apontados como as principais causas que minavam o ambiente familiar. Hoje, aponta-se o dedo também à desagregação dos casais, droga, ausência de valores, ausência de um ou dos dois progenitores, permissividade, demissão dos pais da educação dos filhos, etc. Quase sempre os alunos com maiores problemas de indisciplina provêm de famílias onde estes existem. A novidade está contudo na participação directa dos pais na violência que ocorre nas escolas. Impotentes para lidarem com a violência dos próprios filhos, muitos pais apontam o dedo aos professores que acusam de não os saberem "domesticar". Frequentemente estimulam e legitimam a sua indisciplina nas escolas. Alguns vão mais longe e agridem professores e funcionários. O aluno traz para a aula os valores e atitudes que foi apreendendo até àquele momento. A indisciplina pode ser um reflexo da ausência de condições para uma adequada educação familiar. 2. Alunos O que faz com que um aluno seja indisciplinado? É preciso dizer que muitas vezes as razões de fundo não são do foro da educação. Em muitos casos tratam-se de questões que CC@2009
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deveriam ser tratadas no âmbito da saúde mental infantil e adolescente, da protecção social ou até do foro jurídico. O grande problema é que muitas vezes as escolas não conseguem fazer esta triagem. Tentam resolver problemas para os quais não estão preparadas ou nem sequer são da sua competência. Actualmente, nos dias que correm, todos os alunos são potencialmente indisciplinados, porque a escola é sempre sentida como uma imposição por parte do Estado ou da família. É por isso que as aulas são locais de constrangimentos e de repressão de desejos. Freud e depois Foucault dissecaram este problema. Nesta perspectiva o que acaba por diferenciar os alunos entre si é a atitude que assumem perante estas obrigações. Numa classificação de inspiração weberiana são distinguidos três tipos de alunos: - Obrigados-satisfeitos: uma minoria que se conforma às exigências que a escola lhes impõe. - Obrigados-resignados: A maioria que se adapta ao sistema procurando tirar partido da situação, atingindo dois objectivos supremos: "gozar a vida" e "passar de ano". - Obrigados-revoltados: uma minoria de inconformados (ou maioria conforme as circunstâncias sócio-económicas do meio). Da família, à escola, e desta à sociedade, colocam tudo em causa: valores, normas estabelecidas, autoridade, etc. Não é fácil explicar as razões que levam uns a assumirem-se como "conformistas" e outros como "revoltados". A "falta de afecto" ou a "vontade de poder" são, por exemplo, duas destas motivações. Há quem aponte também as tendências próprias de cada idade que transforma uns em "revoltados" e outros em "conformistas". 3. Grupos e Turmas O grupo, enquanto conjunto estruturado de pessoas, tem uma enorme importância nos processos de socialização e de aprendizagem dos adolescentes. A sua influência acaba por ser decisiva para explicar certos comportamentos que os jovens demonstram e que são resultado de processos de imitação de outros membros do grupo. Certas manifestações de indisciplina não passam muitas vezes de meras manifestações públicas de identificação com modelos de comportamento característicos de certos grupos. Através delas, os jovens procuram obter a segurança e a força que lhes é dada pelos respectivos grupos, adquirindo certo prestígio no seio da comunidade escolar. Nada que qualquer professor não conheça. A turma é também um grupo, sem que todavia faça desaparecer todos os outros aos quais os alunos se encontram ligados dentro e fora da escola. Numa sociedade em que os grupos familiares estão desagregados, o seu espaço é cada vez mais preenchido por estes grupos, formados a partir de interesses e motivações muito diversas. 4. Ministério da Educação O Ministério da Educação é actualmente um dos principais promotores da indisciplina nas escolas. Não apenas através da regulamentação que produz sobre a matéria, mas também das medidas avulso que toma ou da morosidade dos processos que aprecia. A ineficácia do sistema é, neste domínio, um poderoso estímulo à generalização de práticas desviantes. Mas esta não é a única questão a considerar. As equipas que têm dirigido o Ministério da Educação são também responsáveis pela promoção de uma cultura de irresponsabilidade: a. As sucessivas mudanças realizadas no sistema educativo em geral de forma atribulada e inconsequente. Como é sabido, entre nós, a máquina do Estado caracteriza-se há muito por ser ineficaz e ineficiente, sem que se apurem responsabilidades pelo que quer que seja. O Ministério da Educação não é excepção, pelo contrário, é um dos exemplos paradigmáticos desta situação. A imagem que passa é a de uma "casa" em convulsão permanente. Cada novo ministro procura deixar a sua "marca" numa nova reforma que nunca é concluída, nem sequer avaliada. A mudança contínua de dirigentes, aliada à ausência de uma avaliação do seu desempenho, permite a mais completa impunidade e o constante CC@2009
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improviso. Os serviços do próprio ministério não funcionam e dificilmente são reformáveis. Tudo isto acaba por veicular nas escolas e na sociedade a ideia que a educação é um domínio pouco sério. b. A prática corrente de um discurso que desresponsabiliza os dirigentes e os serviços do Ministério, e que acaba sempre por imputar a responsabilidade pela pouca eficácia do sistema aos professores. Ao escamotear-se desta forma outros actores no processo, criam-se zonas cinzentas em todo o sistema. Desmotivam-se uns e fomenta-se a impunidade de outros. O resultado final só pode ser o aumento da permissividade no cumprimento das normas mais elementares. 5. Escola A organização da escola está longe de ser um modelo de virtudes. Funciona em geral de modo pouco eficaz e eficiente. A excessiva dependência do Ministério da Educação, tende a reduzir os que nela trabalham a meros executantes, sem capacidade de resposta para a multiplicidade de problemas que enfrentam. No passado, o contributo dado pelas escolas para a indisciplina assentava na questão da selecção que operavam. As escolas eram acusadas de discriminarem os alunos à entrada e na constituição das turmas. Ao fazê-lo, criavam focos de revolta por parte daqueles que legitimamente se sentiam marginalizados. A questão ainda é colocada, mas não com a acuidade que antes conheceu. Os contributos da escola para a indisciplina são agora outros. Há muito que a escola deixou de ter um papel integrador dos alunos. Embora seja um espaço onde estes passam grande parte do seu tempo, nem sempre nela chegam a perceber quais são os seus valores, regras de funcionamento, etc. Na verdade a escolas estão mal preparadas para enfrentarem a complexidade dos problemas actuais, nomeadamente os que se prendem com a gestão das suas tensões internas. A crescente participação de alunos, pais, entidades públicas e privadas nas decisões tomadas nas escolas tornou-se uma fonte de conflitos, que não raro acabam por gerar climas propícios à irrupção de fenómenos de indisciplina. As Associações de Pais, quando funcionam, encaram muitas vezes os professores como um bando de incompetentes que aproveita todas as ocasiões para se furtarem às aulas. Repetem-se por todo o país os casos de membros destas associações que, tirando partido da sua posição, exercem pressão junto dos professores para beneficiarem os seus filhos. 6. Programas A motivação é um dos factores fundamentais da aprendizagem. Para que a motivação exista nas escolas é necessário que os programas sejam próximos da realidade vivenciada pelos alunos e possuam temas agradáveis. No horizonte, qualquer programa escolar deverá levar a, se possível, um emprego seguro e bem remunerado. Tudo o que não passe por isto é inútil e só pode conduzir a situações de frustração e desmotivação, potenciando situações de crescente indisciplina. Estamos perante um discurso caricatural, mas que se encontra hoje amplamente difundido. 7. Regulamentos Disciplinares Um regulamento disciplinar é tudo e não é nada. Os professores imaginam-se, com ele, a salvo de muitos problemas disciplinares, e por isso procuram torná-lo o mais completo possível. O aumento da sua extensão resulta, numa proporção directa, à sua inaplicabilidade. A questão é, todavia, meramente ilusória. Os professores partem do pressuposto que um regulamento disciplinar será acatado pelos alunos, dado que foi aprovado pelos representantes, e que desta maneira se conformarão ao que nele estiver prescrito. Para os alunos, contudo, o regulamento não existe. O que impera na escola é a “vontade” dos professores e do Conselho Executivo. O regulamento será sempre mais um instrumento do CC@2009
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seu poder discricionário. 8. Professores Há professores que provocam mais indisciplina de que outros. As razões porque isto acontece é que são muito variáveis, mas quatro delas são frequentemente citadas: • falta de capacidade para motivarem os alunos, nomeadamente utilizando métodos e técnicas adequadas. • falta de preparação para lidarem com situações de conflito. • a forma agressiva como tratam os alunos, estimulando reacções violentas. • a estigmatização e a rotulagem dos alunos. A estas razões junta-se agora uma outra mais recente: a crescente feminização do corpo docente. Se ela não estimula, certamente não facilita a questão da indisciplina, afirmam os especialistas. Os rapazes seriam os mais afectados. 9. Sociedade Há séculos que se apontam uma série de nefastas influências sociais para explicar certos comportamentos violentos dos jovens. As práticas de diversão estão, em geral, à cabeça deste inventário das fontes de uma cultura da violência: no passado referiam-se os combates e as touradas, hoje aponta-se o cinema, mas sobretudo a televisão e certos grupos e géneros musicais. Mas o problema ultrapassa a diversão. As nossas cidades são particularmente violentas. A única forma de sobreviver é assumir esta cultura de violência. O discurso é conhecido. A tudo isto, junta-se um outro elemento de peso: o individualismo hedonista. Obter o máximo prazer no mais curto espaço de tempo, não importa os meios. 10. Grupos Sociais Problemáticos As escolas públicas são hoje frequentadas por populações escolares muito heterogéneas, contando no seu seio com um crescente número de alunos que provêm de grupos sociais onde subsistem frequentemente graves problemas de integração social (ciganos, negros, etc.). Apesar da especificidade dos problemas destes alunos, a escola recusa-se, por uma questão ideológica, a tratá-los de um modo diferenciado. A democraticidade do tratamento não elimina os problemas de socialização. Resultado: os problemas são transportados para dentro da sala de aula. 11. Ideologias A abordagem da questão da violência não pode ser divorciada das ideologias políticas. As ideologias de direita sempre defenderam o primado da ordem e da responsabilização individual, no combate à indisciplina uma bandeira que sempre lhes foi cara. As ideologias de esquerda tendem a ser mais tolerantes com a questão da indisciplina dos alunos. O problema é encarado como um mero reflexo de questões de natureza social, em que os alunos acabam por ser vistos como “vítimas" e não como "responsáveis". O resultado é a adopção de práticas "desculpabilizadoras", "permissivas", etc. Trata-se de uma caricatura, mas como tal é largamente difundida. 12. Insucesso Escolar A indisciplina pode surgir no aluno como a outra alternativa ao seu insucesso escolar, procurando deste modo "valorizar" a sua relação com os outros. Este insucesso não se refere exclusivamente às classificações nas disciplinas, mas também em certos valores, que ele pensa serem assumidos pela comunidade, e que não vê reflectido nele. Um aluno indisciplinado pode não ter insucesso. O aluno contesta porque não está de acordo com as exigências do professor, com os CC@2009
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valores que ele pretende impor, com os seus critérios de avaliação, a sua parcialidade... Existe entre o professor e o aluno uma relação desequilibrada: o aluno não aceita o professor ou a sua disciplina; o professor não consegue motivar o aluno, despertá-lo ou cativá-lo. 13. Constituição Física e/ou intelectual A própria constituição física e/ou intelectual do aluno pode provocar comportamentos indisciplinados. A imaturidade, a vadiagem, a desatenção, a incapacidade de fixação, o baixo rendimento escolar e a agressividade devem ser entendidas como sintomas de distúrbios mais profundos (quer fisiológicos, quer emocionais), que é preciso tratar. Sem esse cuidado, as repressões ou sanções serão totalmente ineficazes e até contraproducentes.
A conversa A Conversa entre os alunos pode ser outra forma de indisciplina. Os alunos falam e continuam a falar, mesmo depois do professor os chamar à atenção. Porquê a necessidade de conversar nas aulas? • para relatar assuntos exteriores à sala de aula. • para mostrar que faz em parte do grupo/turma. • para mostrar oposição à autoridade do professor. • para esclarecer ou compreender o que o professor acabou de dizer. • para mostrar o seu descontentamento com a disciplina e/ou o professor, etc... Utilizam-se estratégias adequadas a cada aluno e a cada situação. A linguagem e o discurso adequados do professor são instrumentos capazes de alterar alguns comportamentos.
Como prevenir comportamentos indesejáveis numa aula A prevenção deverá ser ponderada. No início do ano escolar, os desconhecidos encontram-se com apreensão. Tanto o professor como os alunos fazem avaliações mútuas. O professor utiliza estratégias mais ou menos adequadas de modo a prevenir comportamentos indesejáveis. Define as regras comportamentais, de um modo explícito ou não, entre os alunos e entre si e eles, principalmente se a turma se mostra muito indisciplinada. Regras estas que vão sendo reforçadas ou tornam-se flexíveis ao longo do ano, paralelamente a uma pioria ou uma melhoria das atitudes dos alunos. O professor é um líder. Para os alunos, o professor é a imagem de um ideal (positivo ou negativo), queira-se ou não. Um objectivo do professor é favorecer um determinado modelo de conduta. Favorecer o desenvolvimento de comportamentos e uma forma de estar na vida para o aluno. O professor assume no início algumas atitudes, que, ao longo do ano, se tornam mais ou menos flexíveis: • mostrar-se sério nas primeiras aulas, não tendo um sorriso fácil; • impedir ou limitar as saídas durante a aula; • não permitir que se levantem do lugar sem que peçam autorização; • não permitir que troquem materiais sem que peçam autorização; • dispor os alunos em lugares fixos de modo a favorecer a cooperação e a concentração; • reforçar a ideia de que quando um aluno ou o professor fala os outros escutam; • não confundir a simpatia com o "porreirismo da silva". CC@2009
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Se o professor assumir uma atitude disponível mas realista, dando confiança aos alunos mas sem perder o controlo da situação e sem se mostrar inutilmente permissivo, é possível que consiga evitar alguns conflitos. É muito importante a fase inicial do ano. Torna-se conveniente evitar o mais possível o recurso a castigos e a críticas. O professor deve assumir a atitude de quem detém um poder mas não se sabe bem quanto nem quando o vai usar. Se um professor usa demais as mesmas armas, acaba por ficar desarmado. Não é aconselhável a censura permanente, sendo mais adequado ignorar os comportamentos incorrectos que não perturbem directamente com o desenrolar da aula. Utilizam-se estratégias adequadas a cada aluno e a cada situação. A seguir apresentam-se algumas estratégias que o professor pode adoptar para prevenir comportamentos indisciplinados: • reflectir sobre as atitudes e funções do professor; • planificar a aula cuidadosamente em todos os seus momentos. Desta forma, promove-se a concentração. Quanto mais eficaz e bem organizada for uma aula, melhor vai ser o comportamento de cada aluno; • cativar os alunos para a sua disciplina, de modo que eles não digam que "a verdadeira vida é lá fora"; • observar cada aluno; • favorecer o desenvolvimento da autoconfiança; • fomentar o respeito mútuo entre os alunos e entre os alunos e o professor; • discutir com os alunos o regulamento de uma turma, respeitando-o e fazendo-o respeitar.
Medidas para combater/remediar a indisciplina Não há uma estratégia padrão a aplicar perante uma atitude do aluno. Cada situação é única e irrepetível. O professor não deve ter comportamentos que induzam violência física ou moral para com os alunos. Compete ao professor conduzir o aluno de forma a que ele se sinta responsável e cooperante. O Professor deverá: • identificar o(s) aluno(s) perturbador(es). • dialogar, pois o diálogo fortalece a relação entre o professor e o aluno. O uso adequado da palavra reveste o professor de credibilidade e autoridade perante os alunos. O professor é o dinamizador da aula, impulsionando a acção, promovendo a aquisição do conhecimento pelos alunos, e assim, atingindo os objectivos. Utilizará uma voz equilibrada, segura, confiante e emotiva, acompanhada de outras expressões que reforçam a mensagem e o diálogo. Pretende-se que o aluno respeite e se faça respeitar pelos outros alunos. Assim será pertinente: • conhecer o aluno, analisar o aluno física e emocionalmente, o seu percurso escolar, o seu meio familiar, a sua relação com os outros (alunos, professores, funcionários, comunidade, ...). • diferenciar a aula, indo ao encontro das necessidades dos alunos. • gratificar o aluno quando ele assume boas atitudes. • responsabilizar o aluno em causa e toda a turma pela atitude do aluno. É fundamental tratar o aluno como pessoa, contribuindo, sempre que possível, para a formação de uma auto-estima forte. • ignorar o acontecimento, para não provocar repulsa por parte do aluno. Posteriormente chamá-lo à atenção. • repreender o aluno de forma verbal em particular ou perante a turma, responsabilizando-o pelas suas atitudes. CC@2009
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• mudar de lugar alguns alunos, tendo em consideração o seu aproveitamento e grau de concentração. • marcar falta de material. • contactar com os Encarregados de Educação, utilizando a caderneta individual do aluno. Poderão ocorrer outras formas de comunicação. A indisciplina na escola combate-se pela co-responsabilização dos professores, alunos e pais. Os pais deverão fazer corpo com os professores nesta tarefa. • avaliar, tendo em consideração os objectivos gerais e de disciplina. Efectuar a auto-avaliação, a hetero-avaliação e co-avaliação. • contactar com o director de turma, regularmente, por escrito ou oralmente. As participações disciplinares deverão ser cuidadosamente elaboradas. • marcar falta disciplinar, mantendo o aluno na sala de aula e escrever uma participação disciplinar. • intervir no Conselho de turma onde são definidas estratégias de actuação conjunta. • sugerir reunião de professores da turma e de encarregados de educação. • convocar Conselho de turma disciplinar. • castigo, Compromisso, Negociação e Criatividade. Estas são as receitas mais recomendadas.
Estratégias proibidas O professor não deve ofender o aluno verbalmente ou fisicamente, nem desprezar o aluno de forma alguma, deve tentar conquistar a confiança dos alunos através de um comportamento exemplar.
2ªParte Respeitar para ser respeitado Iniciei a reflexão sobre este mote enquanto decorria uma aula prática de Instalações Eléctricas de Iluminação. Ao supervisionar um trabalho prático, chamei à atenção uma aluna pela utilização do telemóvel na sala de aula, ela respondeu-me em tom irritado, como se não entendesse porque a repreendia. Rapidamente a confrontei com a seguinte afirmação, num tom de voz baixo. - Senhora “Maria” eu falto-lhe ao respeito? Ela respondeu-me que não, ao que eu retorqui: - Então sendo assim, porque me trata desta forma? Existem nesta situação dois aspectos a salientar: Primeiro, o tratamento dos alunos por Senhor e por Senhora, independentemente da sua idade, e contexto sócio cultural. Não é ao acaso que o faço. Desta forma pretendo definir bem as fronteiras aluno/professor. Quase sempre este método, causa estranheza perante os discentes, numa primeira abordagem por se verificar que os alunos nem sempre são assim tratados. CC@2009
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Muitas vezes esta forma de tratamento reforça o amadurecimento e responsabilização dos alunos. Manifestam-se por vezes com as seguintes expressões. “Eu, Senhor(a)!?!?”, “Já sou Senhor(a)!?!?”, etc. Por vezes, esta nova realidade pode dar origem à indisciplina. Mas sempre como um episódio momentâneo e de fácil resolução, salientando-se a utilidade e retorno a longo prazo. Como já foi referido precedentemente, o controlo da voz é importante. Uma voz segura, em tom baixo, manifesta o poder e o controlo por parte do docente. O mesmo deve ser exigido aos alunos. Desta forma pode e deve-se reivindicar um tratamento similar por parte do estudante. A quase generalizada expressão “stôr”, utilizada pelo corpo discente, bem como pelos auxiliares de educação, vem reforçar a banalidade no seu emprego. O docente não se deve cansar de insistir com os alunos, para que estes o tratem por, “Senhor Professor”, “Obrigado, Senhor Professor”, “Se faz favor, Senhor Professor”, etc... Segundo aspecto a reflectir: a questão do respeito mútuo é de extrema complexidade, pois a aplicação do respeito depende da liberdade. É do conhecimento geral, que a liberdade de um indivíduo termina quando começa a do outro. O docente nunca deve, sobre pretexto algum, deixar de respeitar, colegas, alunos, pessoal auxiliar ou outros elementos da Comunidade Educativa. Pois este é o pedagogo, o exemplo, o maestro. Quer se queira ou não, é modelo, a fonte de inspiração, a referência. Nos dias que correm, e no novo contexto sócio-escolar, é cada vez mais difícil comunicar, quanto mais implementar qualquer estratégia que seja. O docente deve sempre começar por avaliar a situação e reflectir sobre esta. Cada situação é uma situação, mesmo que semelhantes ou praticamente iguais, estas são diferentes, pois basta o período temporal ser diferente para o justificar.
A repreensão Não existe nenhum momento particularmente oportuno para repreender, pois qualquer momento é oportuno. O professor é o maestro da classe. Desta forma este está sempre autorizado a fazê-lo, mesmo que pareça despropositado. Contudo, não deve utilizar-se a ferramenta repreensão exaustivamente, pois poderá perder credibilidade. Por vezes é mais producente o Professor ignorar a situação desde que esta não perturbe excessivamente o bom decorrer dos trabalhos. Então, mais tarde, e num clima mais oportuno, ou mesmo antes da aula terminar, poderá fazer essa reflexão. Sem dúvida que, por vezes, os últimos momentos que antecedem o toque de saída, são aqueles em que os alunos estão mais propícios a reflexões. Poderá ser dada ordem de arrumo do material antes do final do tempo. Reforça-se assim o desejo pelo recreio. Podendo, desta forma, e como que em figura de penitência, iniciar a repreensão: individual ou colectiva. Salienta-se que só em raros casos a repreensão individual deve ser feita perante o resto da turma, sendo sempre preferível chamar à parte o aluno em questão. Com este método, os alunos vêem reconhecida a autoridade do professor, em deterimento à autoridade da campainha. Convém reforçar que a ordem de saída é dada pelo docente, a campainha serve unicamente para alertar/orientar. Não se deve, no entanto, exagerar neste sentido, pois o professor deve ser sempre a autoridade, não deve dar argumentos aos discentes para refutarem. Deve compreender que os alunos necessitam dos intervalos, um direito que lhes é consagrado.
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Trabalhos de grupo Mesmo que o trabalho de grupo seja contínuo, ou distribuído por várias aulas, os alunos devem iniciar a aula sentados no seu local (secretária/carteira) habitual. As aulas de trabalho de grupo são sempre mais problemáticas, devido a diversos factores: - Os alunos estão dispostos fora dos lugares habituais; - Como as salas normalmente não estão configuradas para trabalho individual e trabalho de grupo simultaneamente, o facto de estarem agrupados em torno de uma só mesa com capacidade para dois elementos, e em outras configurações estarem mais do que isso, já é motivo de alvoroço; - O facto de se utilizar os elementos do grupo para reconfigurar a disposição das mesas para que possam reunir, já é motivo de distúrbios. É um facto que os alunos não têm hábitos de trabalho de grupo: não conseguem dialogar, criar métodos de trabalho, disciplinarem-se e organizarem-se dentro do novo contexto. Em aulas em que o trabalho de grupo é habitual, como é o caso dos CEF (Curso de Educação e Formação) e/ou cursos similares, em que o trabalho dentro da sala de aula normalmente é desenvolvido em pé, e/ou dispostos nesta com as mais diversas tarefas, é mais complicado disciplinar os elementos. Desta forma, salienta-se que convém iniciar a aula com os alunos dispostos nas suas mesas, para que seja feita uma introdução breve do trabalho a desenvolver na aula. Esta estratégia quebra o momento de descontracção trazido do recreio, e reforça a concentração dos alunos e a autoridade do Professor. Fica assim assinalada desta forma a mudança de contexto, o que requer a devida adaptação de comportamento a regras diferentes: as regras do recreio mais permissivas e as regras da sala de aula, mais restritas e exigentes.
A desculpa da indisciplina Por vezes os professores caem na tentação de se desculparem e se habituarem à indisciplina para não abordarem os conteúdos, caindo assim num ciclo vicioso. Muitas vezes, a desculpa da indisciplina, perdoa a falta de empenho na leccionação das matérias. Existe ainda o argumento da falta do enquadramento necessário nas condições físicas mínimas exigidas da sala de aula, para conduzir os trabalhos. É certo que as condições encontradas em algumas salas de aula ficam por vezes aquém das mínimas exigidas. Mas cabe ao professor enquadrar-se nesta realidade e, enquanto minimiza os prejuízos, encetar as medidas necessárias para as colmatar. O que se verifica por vezes, quando o professor decide fazer uma reflexão com os alunos, em forma de repreensão, é que estes podem-se mostrar mais concentrados, propensos a escutarem, fruto das estratégias aplicadas para o conseguir. Desta forma, os professores desenvolvem uma especial necessidade destes momentos, caindo na tentação de os repetirem constantemente. Por vezes em aulas seguidas e, em certos casos, várias vezes por aula. Os discentes intuem este facto conotando-o, por vezes, como um ponto fraco do docente e manifestando, por vezes, directa ou indirectamente, que também querem ver leccionada a matéria. Com frequência, mesmo não tendo consciência concreta deste comportamento por parte do docente, os alunos desenvolvem estratégias de desrespeito, tal como falta de atenção, comentários depreciativos, posturas desafiadoras, vocalização de sons em forma de descontentamento, e pior, deixam de reconhecer no professor a autoridade, CC@2009
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criando assim defesas para esta estratégia. Verifica-se ainda que, devido a variadíssimas razões, por parte do docente: • Desânimo em ir dar aulas; • Contextos variados extra ambiente escolar; • Ver a turma como uma penitência a cumprir até ao final da carga lectiva; • A infrutífera aplicação de planos; • A falta de inspiração para novas estratégias; • Entre outras... Estes acabam por descurar o cumprimento do currículo com a exigência necessária a uma formação de boa qualidade, sendo-lhe mais fácil a repreensão contínua como forma de cumprirem a carga horária, mantendo os alunos numa postura ilusoriamente disciplinada.
A autoridade individual Se o professor não se der ao respeito, não serão terceiros que se irão afirmar por ele. É importante que desenvolva um trabalho sem esperar obter os resultados pretendidos com a ajuda dos restantes membros da escola.
Comunicação não-verbal A comunicação não-verbal revela-se de extrema importância. O professor deve estar confiante quando recorre a esta ferramenta pois pior do que não a utilizar, é utilizá-la mal. Mesmo que se esteja a fazer recurso do “Bluff”, deve-o fazer de forma confiante. O público-alvo é extremamente sensível, e pressente-o mais facilmente do que por vezes é esperado. Se o docente se aperceber que a estratégia não está a surtir os resultados desejados, isto porque os discentes desconfiam da confiança deste, pode sempre recorrer a outras estratégias, e, como foi referido precedentemente, mesmo que se perca o controlo parcial/total durante momentos, pode-se, sempre, assim que seja oportuno, impor-se novamente a autoridade, sem prejuízo de perda. Por vezes é necessário parar para se pensar e adoptar nova estratégia. A comunicação não-verbal, pode ser interpretada principalmente através de posturas corporais do docente, bem como expressões faciais. Um olhar reprovador por vezes surte melhor efeito que uma repreensão verbal.
Atenção Muitos autores já se debruçaram sobre o presente tema, pois a maioria é da opinião que, uma vez cativada a atenção dos discentes, surge terreno fértil para o fomento do conhecimento. Na dinâmica do professor para prender a atenção dos alunos pode-se fazer recurso a variadíssimas ferramentas, algumas delas estão presentes na sala de aula, pois o engenho dentro desta poderá ajudar: fazer barulho com uma cadeira; comutar a iluminação da sala de aula; abrir e fechar uma janela; bater numa mesa; deixar cair o apagador/giz/marcador. Ou seja, acções comportamentais descontextualizadas por parte do docente. Esta ferramenta deve mais uma vez ser utilizada com precaução, pois a sua grande vantagem é a surpresa. Se CC@2009
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utilizada regularmente, deixa de haver o elemento da surpresa, cai na rotina e passa a enquadrar-se como mais uma fonte perturbadora, fomentadora de indisciplina. É possível integrar favoravelmente esta ferramenta, quando se pretende cativar a atenção de um pequeno grupo de alunos, no meio da concentração da turma. Este tipo de estratégia suscita o respeito nos discentes, sobre o pretexto de não saberem muito bem o que esperar do docente, que deixa no ar a possibilidade de fazer recurso a atitudes despropositadas e imprevisíveis.
Conclusão Pode não se saber muito bem, porque é que um docente com uma formação em Engenharia Electrotécnica, está por aqui a registar, por escrito, o fruto da divagação sobre o tema indisciplina. Será que, por este meio, se consegue aliviar, do profundo constrangimento sentido na escola? Instala-se um sentimento de profunda desorientação, com o publicar de medidas avulso, que muitas vezes não se interpretam por falta de tempo pois, logo depois de implementadas, são revogadas por outras mais recentes. Veja-se o caso do novo código do estatuto do aluno que dá a sensação de que o aluno pode prevaricar tanto quanto muito bem lhe apetecer, e para que seja aplicada uma medida punitiva, o docente e a equipa educativa vêem-se envolvidos num processo burocrático de tamanha envergadura, que mais faz lembrar um processo judicial de elevada complexidade. E por isso depois, não se deve ficar surpreso pelo aparecimento de casos de indisciplina cada vez mais graves, e por vezes fatais. Que nem mesmo se está habituado a ver dramatizados nas megas produções televisivas. O professor tem o direito de se divertir a dar aulas, e consequentemente os discentes deverão poder desfrutar das classes. Fica o sentimento de que haveria muito mais para escrever, abrindo-se assim a possibilidade de uma futura reflexão. Por último, este documento foi escrito num programa de licença livre, OpenOffice 3.0, da Sun Microsystems.
Referências on-line: • • •
CC@2009
prof2000.pt educare.pt educar.no.sapo.pt
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