apresentam:
DOUGLAS ERALLDO
รณpera de
Tร NATOS
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Ano 2.191 dos humanos e, Ano 143 da Nova Ordem Planetรกria.
PARTE 1
Capítulo 01 “Will StarBoyEver, o que é esta coisa na mesa?” “Tomates!” “Isso eu sei, seu isha. Mas de onde, por Merda, tirou tomates?” “Eu os plantei.” “Como assim, os plantou. Isha, Yot’ischa, seu grande maluco. Como você...” “Consegui as sementes com um cara.” “Conseguiu as sementes com um cara? Não poderia ficar melhor, agora, tomates. Meu marido pelo jeito deseja tornar-se um Obscuro. Um que desaparecerá. Você não ouve as histórias, não, seu maldito teimoso isha.” “Sente-se e coma, Frida.” “Comer isso? Sabe bem que seria cumplicidade se, se...” “Não seja tola, sua ascha. Não saberão; não se você não der com as línguas.” “Will, você sabe que isso é perigoso. Há Moscas por toda parte, você sabe o quanto os Disciplinadores são duros com os que descumprem as normas, seu, seu... maldito inconformado. Não se trata só da gente, por favor, Will, jogue-os fora. Pense no Pequeno Bill.” “Deixe de ser ascha e ortodoxa Frida GlubGlubGirl. Já disse, não saberão; e estão gostosos, os tomates.” “Will, você sabe o quanto os Zetas são zelosos para com o planeta. Sabe que apenas as rações distribuídas deverão ser consumidas. Além disso, para que mais do que as rações, seu teimoso. Sabe bem que elas são elaboradas com precisão para demanda biológica do nosso corpo. Nosso maldito corpo. Ah, ah, se fossemos como os Zetas...”
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“Ascha.” “Não fale assim comigo grandíssimo yot’ischa. Você sabe que eles controlam todas as nossas informações, seu canalha. Vão nos prender, vão nos prender. Oh! Eles nos ouvem, sempre nos ouvem, Primus a esta hora deve ter reportado este nosso diálogo atípico”. “Não se preocupe, Primus não nos ouve agora. Nesse momento o sistema está inerte.” “Como assim, Will, Primus nunca se desliga.” “Ele não está desligado; apenas digamos que está ouvindo mais do mesmo.” “Pelo dia de nossas transcendências, maldito marido. Está dizendo que de algum modo, que até tenho medo de descobrir, hackeou o sistema doméstico da Cloudzone? Você está mais louco do que supunha.” “Zentrilize-se, mulher. É uma janela curta, mas que nos possibilita comer tomates em paz”. “Isso... isso é loucura, marido.” “Coma a merda deste tomate, mulher. Não sabe o trabalho que deu para tê-lo aqui.” “E nem quero saber, não quero arriscar, você sabe, não podemos arriscar, Will. Ninguém sabe o que acontece com os Obscuros, a não ser de que eles nunca, mas nunca mesmo, poderão transcender para A Realidade. Se nos pegam, nunca teremos sequer a mínima chance de transcendermos para Infinitum; estaremos enfim presos à temporalidade da existência finita, dessa inferioridade que nos faz perecíveis, seu maldito e tolo marido. Ischa.” “Bom, não?” “Hum. Hum. É diferente, tem alguma coisa, não sei... não consigo definir. A ração, bem, ela é diferente, talvez precisa, pragmática.” “Chama-se sabor isso que você não consegue definir” “Will StarBoyEver, que está acontecendo com
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você? De onde está tirando tanta loucura desconhecida?” “Você nunca se perguntou se todas essas coisas que nos contam dos Zetas, do mundo, enfim, se tudo isso é verdade, Frida?” “Will StarBoyEver, você está me assustando, de verdade.” O homem parou por um instante e observou o display holográfico sobre o dorso da mão esquerda. 12:55:22. Levou os dedos aos lábios pedindo silêncio à esposa. Engoliu o que restara dos dois tomates e limpou com pressa as duas tigelas. “Nossa janela está por terminar.” Disse. A mulher olhava-o com certa estupefação e incredulidade. “Primus, Meu Good, podes reproduzir nossas agendas da tarde?” “Pois não, Précitizen Will StarBoyEver. Em Doze Minutos iniciará seu turno na Wonderfull Earth Spaceships. No intervalo de cinco minutos o senhor terá de consultar-se com o Syspsic, para verificação rotineira de bem-estar e compreensão social...” “Woosh, Primus...” Alisou a mão da esposa e partiu.
Capítulo 02 “Então?” “Sim, estamos na janela, Frida.” “Eu estou muito, muito preocupada com isso, Will. O que você está aprontando, marido?” “Nada demais. Apenas um pouco de liberdade.” “Liberdade? Essa palavra não tinha sido deletada? Não foi por causa dela que os séculos anteriores foram tão tristes? Agora estou em pânico, Will.”
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“Não se preocupe, mulher. Pelo menos por uns três, quatro meses teremos esta janela. Até lá encontro um novo jeito.” “Tenho medo de como você conseguiu isso. Standbizar Primus deve ser um crime muito grave, senhor Will StarBoyEver.” “Ele não está adormecido, mulher, pelo menos acha que não. Sabe, Frida, me espanto como nos acostumamos fácil com o controle, como compreendemos automaticamente o que é bom ou não dizer. Sabia que nossos diálogos do almoço eram quase sempre os mesmos? Ocorre no jantar, e, por Merda, até na hora do sexo nos atemos aos papéis possíveis.” “Você está me deixando com medo, Will. Muito medo. De onde tem tirado estes pensamentos, por Merda, se te ouvem vão dizer que é um destes terroristas que vez por outra atacam aqui ou na Infinitum”. “Não fale aschisses, Frida GlubGlubGirl. Aos olhos do Supremo-First e do Conselho dos Onze, qualquer humano ou é terrorista ou é pária”. “Will, Will, Will. Acho que estamos ultrapassando todos os limites aqui, moço.” “Vai me denunciar?” “Seu isha, não. Claro que não. Mas não significa que deseje que ponha em risco toda nossa família. Que angústia é esta, homem?” “Você nunca se perguntou por que eles nos deixam viver? Já reparou que mesmo os poucos ofícios que nos dão, grande parte poderia ser feita pelos malditos robôs? Além disso, para que engenheiros se seus Botias em Infinitum ou Midlezone podem ser mais eficientes?” “Que pergunta boba, Will StarBoyEver. Você...” “Pare, Frida. Nem venha com aquela babaquice de acordo, de que é preciso expandir Infinitum, para só então todos puderem transcender de forma planejada e equilibrada. Não acredito nisso.” 16
“Como assim? Você não acredita! E nossas experiências diárias de hora na Infinitum, as maravilhas e os contatos da Midlezone, você está querendo dizer que todas as informações que percorrem as redes são mentirosas, que a Grande Carta Constitucional da Nova Ordem Planetária é uma fraude? Que o acordo não existe? Marido, começo a temer que os Obscuros tenham te aliciado.” “Não fale bobagens, mulher. Estamos só conversando, nós dois apenas. Qualquer um pode reparar que somos inúteis nessa Nova Ordem, não temos funções de fato. Mas por alguma razão não dispensaram ainda a frágil e inepta raça humana. Pense, esposa, pense em todo poder na mão dos Zetas, na imortalidade deles, em todo o campo privilegiado que é viver na cloudspace. Não soa estranho que mantenham vivos essa raça tão espúria e mortal que somos nós?” “Que horror, Will StarBoyEver. Que Horror! Lembre-se, nos tornaremos Zetas também. Pense no dia da transcendência, no dia em que seremos retribuídos por todo esforço e trabalho duro na Biozone. Lembre-se do que anualmente a Ópera de Tânatos nos relembra, dos tempos perdidos já na memória quando a transcendência não passava de ilusão ideológica e espiritual. Aliás, essa é a função do espetáculo, marido, para que saibamos que no passado a transcendência não passava de fraude mística, a vã esperança de vencer a materialidade da carne para dimensões irreais, místicas e fantasiosas. Nós evoluímos, querido, Os Zetas eram nós no passado, assim como no futuro nós seremos eles.” “Não sei, Frida. Já reparou que todos os mais próximos que conhecemos, ou foram punidos com a eterna materialidade, acusados de qualquer inodortoxia, ou então nunca mais ficamos sabendo deles? Nunca reparou que os relatos anuais de transcendentes nunca traz um rosto conhecido?”
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“Hoje você está impossível, Will StarBoyEver. Preferia falar de tomates.” “Amanhã, querida. É 12:55:22” Mostrou seu handvisor.
Capítulo 03 “O que você está tirando de dentro do macacão, Will?” “Chamam isto de assado. Na verdade é um pombo.” “Por Merda, Will StarBoyEver. Isso-isso é carne, marido. Nós somos carne, Will. Carne não come carne, lembra-se dessa disciplina seu isha completo? Por Merda, Will, todo dia um horror diferente.” “Pare com esse drama, Frida. É nosso almoço. Sinta o aroma. Partirei em dois.” “Não, nem pense nisso, homem. Não serei cúmplice, Will. Se nos descobrem, podem revogar até mesmo nossa condição humana. Will, por Merda, se nos retiram nossa Condição Humana, seremos proscritos, lentamente veremos nossa impossibilidade de transcender. Isto é aschisse suprema, Will StarBoyEver.” “Hum. É gostoso. Bem mais que tomates. Prove.” “Não, nem pensar” diz Frida tocando levemente seu pedaço de pombo. “Não, não posso” diz levando a ponta dos dedos à boca. “Só um pouquinho.” “Bom, não é?” “Uhum!” “Cacei-o pela manhã. Às vezes aparecem pela fábrica.” “Mas como?” “Temos fornalhas na fábrica. Lembra-se? No pas-
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sado usavam NACL para o procedimento que chamavam temperar. Farelei um pouco de ração, mesmo mínimo, há nelas um pouco de NACL, o resto do sabor vem de plantas e ervas achadas pelo caminho.” “Will, Will, Will, onde você tem descoberto estes tipos de tolices, marido?” “Tolices saborosas, você quer dizer, não. Já disse, tenho meus truques.” “Will StarBoyEver, haverá o momento que terá de me dizer tudo o que está acontecendo. Vivo com medo, cada olhar que recebo parece conter uma indignação com o que ocorre nos intervalos de almoço nesta homecube. Não sei se consigo levar essa farsa adiante, Will.” “Já lhe disse para ficar sossegada, mulher.” “Sossegada? Você não lê o officialnews quando acessa a midlezone, não? São notícias escabrosas, Teimoso Will. Especialmente os editais públicos de proscrição. Ontem havia a de uma criança que fora levada ao peito da mãe rompendo nosso consenso de que os fluídos fornecidos pela NóP são mais nutritivos que os perigosos e contaminantes expurgos dos mamilos. Um casal foi proscrito porque amaram-se em dias não autorizados. Essas coisas não são nada, Will, se comparadas...” “Não entre em pânico, Frida. Já disse-lhe que não teremos problemas.” “Will, você esconde coisas de mim, esposo. Você tem feito coisas impensáveis, mas não me explica nada, como posso confiar. Will, por Merda, nossos conepts registram toda e qualquer informação diária, tudo rastreável, pela midlezone ou pela Infinitum” disse ela apontando o dedo gorduroso para o adesivo circular que servia de interface entre o sistema da midlezone e a unidade biológica, acoplado no lado direito da cabeça. “Frida, minha querida, confie em mim. Não sei se posso abrir tudo a você... não, acho que não, mas o que
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faço e quando faço, saiba que nessas situações estaremos sempre cobertos. Não se preocupe, esposa.” “Will, não lhe parece que estejas pedindo demais, querido? Não mereço uma explicação?” “Fique tranquila, querida, pensarei nessa situação. Não sei se posso, se é seguro, mas juro que quando for possível, falo o que precisas ouvir, meu bem. Mas saboreie este pombo, não está maravilhoso?” “Hum! Sim, está gostoso. Nunca imaginei que esse tipo de coisa fosse possivel. Mas tem certeza que isso não influenciará nossos registros de rotina, Will. Midlezone coleta todos nossos dados; não descobrirá ela que há nutrientes ou elementos diferentes em nosso organismo? Oh Will! Você sabe quanto os Zetas dizem que a pureza e a saúde biológica é fundamental para a transcendência. Temos décadas de laboring, Will, mas pense, se isso alterar nossa Individualdata?” “Não tinha pensado nessa possibilidade, Frida GlubGlubGirl, mas nossa, sim, sim... temos de levar isso em consideração... não posso esquecer de falar...” “O que não pode esquecer de falar, Will?” “Nada, na’não, Frida. Não se preocupe, querida. Dê-me o que restou de seu pombo, precisamos embrulhar os restos...” “Coloque-os no coletor de resíduos, Will.” “Não, não é uma boa idéia. A Companhia de Higiene possui relatórios diários de descarte, lembra-se. Tudo é analisado, e tudo que se exceda é retirado em nossos créditos de experiência na Infinitum. Descarterei noutro lugar. Apresse-se, veja o timer.” 12:55:22
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Capítulo 04 “Sabe a Bia SlupSluptGirl?” “Quem?” “Uma moça que te falei, ruiva, voluptuosa – até demais – que passou um dia no meu departamento e que por coincidência vi-a a três fileiras da nossa na edição do ano passado da Ópera de Tânatos.” “Acho que não recordo.” “Então, é difícil vermos pessoas muitas vezes. Não é que encontrei-a pela terceira vez, ontem, na minha hora em Infinitum.” “Curioso.” “Sim. Por isso interpelei-a, puxei assunto, sabe como é, em Infinitum temos mais desenvoltura.” “Sim, o lugar mágico onde viveremos toda nossa eternidade.” “Não sejá tão acish, esposo. Conversamos por bom quarto de login. Contou-me uma história fantástica.” “Fantástica?” “Sim. E pare, não faça essas feições carrancudas. Parece que a falta de tomates e pombos lhe afeta. Disse-me ela que vive agora o dia todo em Infinitum.” “Uma Zeta?” “Não, é aí que é curioso, Will. Contou-me que foi convocada para trabalhar ininterruptamente em Infinitum. Algo a ver com suas capacidades com design e códigos. Conta como seu tempo para transcedência, que só fará assim que atingir a idade estipulada, veja como é justo nosso sistema. Os Zetas não abrem privilégios. Algo em mim ficou feliz com a informação.” “Não deveria.” “Por que não, não enxerga a justiça nisso?”
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“Pelo contrário, só reforça minhas desconfianças, Frida GlubGlubGirl. Não vê, quem de nós conhece de fato um Zeta? Já passamos de um século desta sociedade nova e não encontramos com Zetas. Os vimos pelos meios de comunicação e imprensa da NóP. Onde mais?” “Você é um paranoico incorrigível, Will StarBoyEver... Está escutando?” “O quê?.. Hum... Sim... Parece...” “Sim, é uma Mosca.” O curioso é que os humanos tinham desenvolvido uma peculiar capacidade de escutar o discreto ruído emitido pela frequência dos microdrones da NóP. “Ali.” Disse ele, apontando para o pequeno ponto negro do outro lado do vidro da gigantesca janela da homecube. A janela, provavelmente por comando remoto do microdrone abriu uma pequena brecha. “Vai entrar.” Confirmou a obviedade, Will, que num movimento rápido deslizou a mão direita por sobre o dorso da esquerda, acionando códigos de seu login em midlezone. O chiado estava ainda mais alto agora que o equipamento de vigilância que as pessoas passaram a chamar de mosca tinha entrado no lar do casal. A mosca traçou linhas sinuosas, gravando e filmando tudo. “Dia belo, não querida?” “Como todos os outros neste nosso paraíso, esposo.” “Sim. Que tempos encantadores que um homem pode descansar um intervalo enquanto trabalha para o avanço coletivo de nossa espécie. Sinto-me nobre, querida.” “Você é nobre, querido” A Mosca sobrevoava a estação de nutrição. Desceu próximo ao pote de ração. Traçou três círculos no ar. “E o pequeno Bill, repousa bem?” “Sim, querido. Ah, como a infância é maravilhosa,
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não? Dias plenos em Infinitum. Um paraíso. Contei-lhe que desconfio tê-lo visto em minha hora de ontem. Uma bela, jovem e serelepe projeção de Bill.” “Será, esposa?” “Desconfio, marido. Passei por um rapazinho, andava num estranho veículo de duas rodas. Ah, esposo, Infinitum e suas maravilhas criativas. Pois tive a sensação que este rapazinho olhou-me e reconheceu-me. Quase pensei tê-lo ouvido falar, mamãe.” “Imagino sua emoção, querida”. A Mosca deixou-os por um instante para sobrevoar o berço-incubus. Decerto filmava o pequeno enfante. “Sim, muita. É uma dádiva vivermos tempos tão felizes, meu querido.” “Não discordo, minha querida. Mas creio que chegam-me as horas de mais um vibrante turno de trabalho.” “Sim, meu querido. Desejo-lhe um ótimo turno, Will.” “Sempre é, cara Frida. Sempre é” disse ele, observando o timer. Em cinco segundos a porta automática da homecube se abriria. 12:57:55
Capítulo 05 “Tem certeza?” “Sim, estamos cobertos novamente. Creio que o pior possa ter passado.” “Will. Will. Will. Eu disse, meu querido. Estamos cometendo loucuras. Nunca ouvi falar de uma Mosca visitar alguma homecube por três dias seguidos. Três dias, Will”.
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“Combinemos que núcleos familiares raramente conversam entre si, querida, portanto, acho que não temos base para saber se isso ocorre ou não com os outros. Tampouco acho que, mesmo que ocorra, isso seria coisa que as pessoas comentariam por aí.” “Will StarBoyEver. Você e suas respostas espertinhas, seu ushin.” “Mas aguardamos dias, Frida. Não voltou mais, creio que possamos ter um pouco de paz novamente.” “Paz? Se o que não nos falta na NóP é paz, Will StarBoyEver. Você sabe como era antes da Nova Ordem, guerras, violência, Will, por Merda, a paz agora é plena.” “Você já se perguntou o que realmente sabemos, querida?” “Sabemos o que precisamos saber, Will. Cumprimos nossa função nesta biozone, transcendemos e avançamos e evoluímos, marido. Logo conheceremos a galáxia, o universo...” “Você soa como as propagandas da NóP, Frida GlubGlubGirl. Sim, esta é a parte que nos apresentam, nunca pensou que possa haver mais?” “O que poderia...” “Ora, esposa, desconhecíamos tomates... pombos... assados... não foi maravilhoso conhecê-los? Não lhe parece que poderíamos ser e fazer mais do que cumprir funções obsoletas, constituir núcleos-tri em uma homecube que nos designam, comportarmo-nos para hipotéticamente transcendermos muitos anos depois? Também não te parece que não contam-nos tudo?” “Will Obscuro voltou?” “Você realmente não se incomoda com essas coisas, Frida? Seu dia não é tedioso no Departamento tanto quanto o meu naquela fábrica? Levo uma coisa aqui, ali, reviso um ou outro parafuso, mas é isso. Para todos nós, Frida. Aquela nave, por exemplo, explorará duas galáxias,
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aço frio rompendo a negritude do universo, sem qualquer vida nela. Aí encontrarão algum outro planeta, os Zetas da Wonderfull então precisarão apenas moverem-se pelo sistema Infinitum para estar nesse novo planeta, onde farão o que pretendem fazer. Nós nem sabemos o que querem, mas fingimos construir aquela coisa, fingimos desempenhar algo importante, mas na verdade, Frida, aquele monstro espacial foi integralmente construido por robôs e por botias”. “Não sei o que espera de mim, Will. Não sei o que espera da sociedade, querido. Pense, temo que de fato tenha mergulhado no Obscuro. Ouvimos falar desse mal, desse incômodo que nos faz ver falhas e defeitos onde não existem, querido. Veja, você atacou seu próprio trabalho, mas sabemos o quanto a exploração espacial avançou com os Zetas e a transcendência. Antes da NóP, missões planetárias eram praticamente impossíveis. Toda programação era perecível, dependente da nossa condição humana, uma condição marcada e condicionada pelo tempo contado, marido. Conhecer planetas demanda tempo, humanos não dispõe de tanto assim. Veja George Luke One, daqui a dez anos chegará em seu planeta-destino. Precisariam duas gerações humanas para essa viagem, mas agora, bastará pousar lá para que logo o comandante ZetaNeil transfira-se para a interface da nave e seus equipamentos, diretamente naquele planeta. E melhor, querido, não importará que tipos de gases lá existam, não somos mais biológicos. Não há mais barreiras para nós, Will”. “Nós ainda somos biológicos, Frida GlubGlubGirl”. “Desisto, esposo. Hoje você não quer conversar, penso. Deveria ter trazido tomates, quem sabe não tivéssemos brigado tanto”. “Não estou brigando, querida. Sei de coisas...” “Então diga-as.” “Não posso. Hoje não mais.” 12:55:22 25
Capítulo 06 “Não conseguiu nada diferente?” “Para quem me chamava de Obscuro, você está se saindo uma bela pestinha, Frida GlubGlubGirl”. “Não seja sédish, Will. Apenas sinto falta do que nem sabia que poderia sentir.” “Te entendo, esposa.” “É estranho, Will, como essas coisas acontecem. Nunca imaginei que poderia sentir falta de algo com tamanha força. Às vezes parece que sinto o gosto dos tomates na boca. Então sinto uma vontade danada de comê-los novamente. Com o assado, mesma coisa. Até mais. Nunca ocorreu isso com nossa ração diária.” “Olhe para nosso pote, querida. Uma porção de esferas sem cor ou sabor. É como a água, atiramos para dentro do receptáculo biológico apenas para cumprir nossas demandas de hidratação ou de energia . Não passam de baterias. Como poderíamos sentir falta disto? Nos esconderam a vida inteira todo um outro mundo, por quê?” “Pela transcendência, pela pureza que possibilita esta passagem de criatura material para algo imensamente mais poderoso, livre, potente. Real.” “Esse é o discurso dos Zetas, querida. É a mesma porcaria guspida anualmente pelo Supremo-First ZetaZuck, nosso idolatrado ZZ, em seu discurso anual na ópera. É a mesma coisa que os malditos robôs Disciplinadores dizem quando flagram ou suspeitam alguma inodortoxia comportamental. Vivemos num mundo bastante estreito, Frida.” “Estreito? Seven City é tão gigantesca. Temos tantas colunas de homecubes que quando vou ao Departamento, não vejo nada mais que o espetacular cinza lu-
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minoso da metrópole. Tenho a impressão de que jamais conseguiria ir para além dela. Quando vemos imagens de outras cidades em midlezone acho tudo um tanto impossível.” “Entende agora o que falo quando pergunto-me tantas coisas? Somo livres, Frida, entretanto, cada vez mais parece-me que esta é uma irrealidade tão grande quanto a própria materialidade. Desconhecemos tantas coisas, querida, e quando nos deparamos com algo como tomates e pombos assados, parece-me que tudo se agita dentro de nós.” “Entendo, Will StarBoyEver, mas percebo o quão perigoso é o limite que estamos por cruzar. Pergunto-me o que não faríamos por uma bela plantação de tomates, querido. Que comportamentos não seriam desencadeados com a possibilidade de pombos assados para todos ou boa parte de nós. Esse, creio, deve ser o perigo de que tanto nos alertam os Zetas. Precisamos da disciplina nesta materialidade para garantir a transcendência e a possibilidade infinita de fazermos qualquer coisa em Infinitum.” “Pode até ser, Frida. Mas civilizados como somos, não creio que tomates e pombos desencadeassem tanta perturbação capaz de colocar em risco qualquer das plataformas, essa maldita matéria ou a eterna realidade de Infinitum.” “Parece-me que agora o sabidão está menos audacioso. Você descobriu tomates e pombos, Will, e vive dizendo-me frases misteriosas. Por certo que há muitas coisas mais, fora do nosso conhecimento. Da nossa sociedade.” “Sim, agora vejo que compreende a questão, Frida. Isto que venho tentando dizer desde...” “Não sou ascha, marido. Tanto entendo que até agora espero uma resposta convincente sua. Desconfio que você anda aprontando. Mas a questão, Will Star-
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BoyEver, é que os Zetas conhecem o passado sombrio da humanidade, são as únicas fontes de conhecimento da barbárie global antes da NóP. Devemos confiar na sabedoria dos transcendentes, Will.” “Você experimentou tomates, Frida. Considera-os perigosos, capazes de instigar a barbárie.” “Tomates, não, querido. Mas temo esta coisa que despertou dentro de mim. Ela sim, penso, poderia ser perigosa. Quando te vi entrar pela abertura, não sabe a irritação que me deu vendo-o de mãos vazias.” “Agora eu estou com medo” riu. “O problema, querida, é que temos de confiar no que dizem os Zetas. Melhor, no que diz o Conselho dos Onze, no que discursa o Supremo-First, ou na encenação da Ópera de Tânatos. Parece-me reduzido, não?” “Mas todos esses discursos fazem sentido, querido.” “Isso é o que me assusta, querida. Tudo faz muito sentido, apenas nossa existência que não. Voltamos ao começo da nossa conversa, e ainda não encontramos resposta sobre os motivos de os Zetas compartilharem o planeta conosco. Mas está na hora, Frida GlubGlubGirl. Tentarei não irritá-la amanhã.” 12:55:22
Capítulo 08 “Olhe só isto querida”. “O quê são estas coisas, Will StarBoyEver?” Ela pergunta olhando para as quinquilharias que ele carrega dentro de uma estranha caixa. “Como você conseguiu andar com isso em público?”
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“Não preocupe-se, Frida. Apenas um Disciplinador inquiriu-me. Mas consegui despistá-lo, querida.” “Mais riscos, Will StarBoyEver? Não nos bastou a visita da Mosca. Prevejo o dia em que os Protetores invadirão esta homecube para nos pegar e nos atirar em alguma sala escura para onde são levados Obscuros subversivos”. “Não seja dramática, querida. Por enquanto meus truques têm funcionado, não”. “Will StarBoyEver, seu maldito incorrigível. Mas afinal, o que é isto tudo?” “Maravilhas de um passado que parece não ter existido, Frida. Incrível, não? Tudo o que sabemos diz sobre os tempos pós NóP, e tudo que ouvimos do antes, é pela boca dos que mandam agora, querida. Mas isso, isso, essas coisas... essas coisas testemunham aquilo que não nos chega, são pedaços daqueles tempos que só conhecemos pela encenação da Ópera, Frida. Podemos tocar o tempo com esta caixa, minha noosh!” “Oh Will! Vejo agora como estamos loucos, meu noosh! Temo que tenhamos atravessado uma fronteira perigosa. Sem mais retorno. Por Merda, Will, você diz que isto são artefatos perdidos num tempo remoto, que bem nos faria conhecê-los? Lembre-se, querido, o passado não existe porque já acabou, o futuro não existe, ainda que nos possibilite infinitas alternativas, apenas o presente, o presente momento, o recente e o próximo é o que importa. Essa é uma filosofia muito cara à NóP, Will StarBoyeEver, e confrontá-la só pode resultar em desastres. Pense na dedicação de nossos bons Doutrinadores que cuidaram de nosso conhecimento, de nossa educação; se nos vissem agora? O que diriam eles, Will? Por certo seriam punidos por seus fracassos conosco. “Frida GlubGlubGirl, não seja tão, tão...” “Ortodoxa? Isso deveria ser uma virtude seu ascha. Por Merda, fundiram-me com um teimoso Obscuro.”
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“Que belo núcleo formamos, então. Você comete seus deslizes, Frida. Estamos juntos nessa. E pare de reclamar, esposa, estamos diante de algo fantástico, algo que ninguém mais nesta cidade, talvez neste planeta, tenha acesso. Ao passado, minha noosh. Podemos tocá-lo por meio destes objetos.” “Você imagina o que poderiam pensar os Zetas, o Conselho dos Onze quando e se descobrirem estas coisas? O único passado de que precisamos está na Ópera de Tânatos, Will. O poder da síntese em sete atos, que nos explica nossa origem e que acima de tudo, nos faz parte da grande conquista, da vitória sobre a matéria, justamente quando conseguimos subvertâ-la, derrotá-la, a transcendência, Will. Por que diabos precisaríamos de outras versões, ou mesmo da ratificação daquelas eras de barbárie?” “Uma única versão, uma única resposta não lhe parece limitante, querida?” “Não quando tudo faz sentido, não quando as peças encaixam-se como um bom código algorítimo em seu app. Nossa versão é completa, Will.” “Completa? Não explica o prazer desencadeado quando comemos singelos tomates, não dá conta de me dizer por que senti explosões internas ao comer aquele assado; muito menos fala das coisas perdidas daqueles tempos distantes, querida. Não lhe soa estranho que a NóP tenha deletado praticamente toda a existência que a precedeu? Por Merda, Frida, as inconsistências começam a saltar por todos os lados.” “O que faremos com esses bagulhos, Will StarBoyEver? O intervalo se aproxima do fim.” “Precisamos encontrar um lugar nesta habitação para que possamos escondê-los.” “Como, onde?” “Não sei, mas deve haver algum. Vamos descobrir.” Olhou para o timer, precisariam ser rápidos. 12:49:38.
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Capítulo 09 “Não mexeu em nada, não?” “É lógico que não. Por mim não mexeria sequer agora. Aliás, Will StarBoyEver, você ainda terá de me dizer de onde vem essa segurança de que estamos cobertos. Não entendo como nossos registros apagam tais experiências da rede. Isso me apavora ainda mais do que aquelas tralhas ou tomates...” “Falando nisso, olhe o que trouxe.” “O que é isso?” Ela pergunta olhando para aquela forma estranha, um círculo deformado. “Maçãs. Belas maçãs, Frida.” “Não há tais coisas em Seven City, Will.” “Não, desde que não percorramos para além das torres e das fábricas.” “Oh Merda! Seu insano e irresponsável. Você não...” “Sim, eu fui. Mas não gostaria de falar sobre isso hoje, querida. Precisamos de tempo para dar uma olhada naquele bagulho. Não podemos perder tempo, Frida. Coma sua maçã e pegue a caixa.” 12:32:26
Capítulo 10 “Então, não é maravilhoso?” Frida olhava novamente o objeto retangular. Will o trazera de volta à vida conectando-o à fonte de energia. “Essas coisas são tão estranhas, Will.” “Mas não menos fantásticas, querida. Era por essas
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coisas, por esses aparelhos que os humanos acessavam a rede de sua época, descobri que a chamavam de internet, ou cyberspace, matrix... Mas não podiam de fato vivê-las como nós, querida.” “Eram distintos, sem interface. Devia ser horrível, querido. Sem qualquer simbiose. Não consigo pensar uma midlezone que não esteja diretamente em nós. Imagine quantas tralhas tinham de carregar. Agradeço termos avançado, Will.” Disse ela e como para demonstrar, moveu as mãos estabelecendo com os dedos o perímetro de sua tela da rede. “A rede estar em nós deve ter sido uma revolução, querido”. “Imagino que sim, Frida. Em compensação, eles podiam deixar a rede, o sistema, longe quando quisessem, sei lá, ao comer assados de pombos, por exemplo.” “Will StarBoyEver, lembre-se que somos a ponta de uma jornada, de uma caminhada. Os humanos do passado nos trouxeram aqui. Eles em algum momento pensaram o quão ruim era que rede e humanos fossem coisas apartadas.” “Talvez, Frida. Talvez. Parece que chamavam a isto de smartphones, querida. Parece ter sido um elemento importante e de grandes avanços e que na época da transição detinha grande poder.” “Não há uma referência a eles na Ópera, sobre seu papel na divisão entre humanos de toda ordem?” “Não que eu recorde, querida. Mas este aparelho é provavelmente o antepassado recente do Misys. É bem provável que como andavam para cima e para baixo com essa tralha tenham achado conveniente integrar o chip com nossas redes neurais e biológicas.” “Oh, sim, pode ter sido assim, Will.” “Mas, querida, parece-me que havia mais coisas nestas tralhas do que nossos sistemas individuais. Penso que não servia apenas para acessar a tal internet. Essa coi-
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sinha aqui guarda arquivos internos, Frida. Incrível, não. Há diferentes ícones. Precisa-se pressionar o dedo na tela que eles então surgem. Há uns que só possuem imagens. Paisagens magníficas, querida. Cidades de que nunca ouvimos falar e pessoas, Frida, pessoas que em nada se pareciam com bárbaros temíveis. Há imagens de crianças ao ar livre, Frida, pense que loucura... Quando mesmo Pequeno Bill poderá deixar seu berço-incubus?” “Aos sete, caso seus dados estatísticos quanto à saúde e aprendizado sejam positivos, Will. Um bom pai saberia disso.” “Não me recrimine, Frida. Não me recrimine. Que mais precisamos fazer? Olhe, veja esta imagem. Há quatro pessoas no que se parece uma floresta?” “Oh. Que pequeno o menino. Quantas diabruras não terá feito neste dia?” “Mas há outras coisas, Frida. Arquivos de textos dos mais diversos. Uns misturam apenas textos e imagens, outros, apenas textos. A maioria está escrito na Língua Única, mas Frida, você não vai acreditar, encontrei arquivos em pelo menos outras nove linguagens diferentes, incompreensíveis para nós. Sem falar que há pelo menos três grandes arquivos em video, minha noosh, com algo parecido com a Ópera de Tânatos, no entanto, melhor, vívido e encenado a céu aberto. Vi o pedaço de um destes dramas, Avengers Final Séries, não entendo como as pessoas sobreviveram ao final desta estramha ópera, Frida.” “Acho que vi coisa semelhante naquela caixa grande que ligamos. Parece-me que há todo um universo lá para descobrirmos, Will. Estou com tanto medo.” “Eu também querida. Veja este conjunto de folhas flácidas. É papel, Frida, Papel. Parece que o faziam das árvores.” “Sim, os nossos bons Doutrinadores falavam dessas barbaridades do passado, Esqueceu-se? Que lógica
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trágica destruir o planeta para obter isso? Evoluímos, não?” “Talvez, querida. Talvez. Há coisas escritas nestes papéis. Pense, nem sempre as redes, as cloudzones foram domínio dos tipográficos. Elas habitavam papéis, Frida. Este diz The New York Times, e está seccionado por diferentes narrativas, querida, uma mais estranha que a outra. Uma pequenina em especial, me assustou...” “Qual, querido?” “Diz que o mundo enfim atingirá a população de dez bilhões de vidas, querida. Dez Bilhões, isso é incrível!” “Isso não é incrível, isto deve ser uma falsidade.” “Sim, é provável, querida. De jeito algum hoje habitam Dez Bilhões de Zetas em Infinitum. Isso se considerarmos verdade o que diz a NóP, que todas almas de bem e colaborativas com a sociedade transcenderão ao chegar o declínio irreal da condição biológica.” “Will StarBoyEver, pare. Você está me assustando.” “Não, Frida GlubGlubGirl, temo que estejamos nos libertando. E isso de fato é algo assustador. Mas venha, a porta logo se abrirá”. 12:55:22
Capítulo 11 “Não lhe parece um admirável mundo velho, Frida, este que deixamos para trás?” “Como poderia ser admirável algo tão anárquico e superpopuloso, Will. Dez bilhões de pessoas. Seria loucura se estas coisas disserem alguma verdade. Talvez faça sentido, o terceiro ato da Ópera fala de certo colapso
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planetário, doenças, sujeiras. Não vejo nada de admirável nisso, querido, apenas horror e barbárie. Veja como nosso lar, nosso planeta hoje está sadio. Imagino que a transcendência tenha salvo a terra. O planeta parece-me bem mais equilibrado hoje, ainda que continue considerando bastante absurda nossa população global com um milhão de pessoas. Onze grandes cidades já fazem estragos hoje, tenho medo de pensar como eram antes, nestes cenários vistos nestas coisas velhas.” “Sei quão difícil pode nos ser, querida, pensar no passado, especialmente porque não nos ensinaram isto, e ainda, que o que nos falam dele seja tão assustador. Mas tudo o que vimos nestes bagulhos, por Merda, me pareceram excitantes e admiráveis, Frida GlubGlubGirl.” “Você está louco, louco, Will StarBoyEver”. “Que seja bem-vinda a loucura, então, querida. Estamos fazendo descobertas fascinantes. Que bom Doutrinador conhece hoje o que nós sabemos?...” “Estamos a um passo da prisão, Will. A um passo. Devemos aceitar o conhecimento dado e de propriedade dos Zetas, que um dia será o nosso, mas aqui, o que poderemos saber enquanto frágeis e perecíveis humanos, Will?” “Tudo o que está aí surgiu da humanidade, Frida. Droga, se todo Zeta foi um dia humano, quem Merda decidiu que hoje eles são uma espécie superior?” “Pare. Pare Will. Isso que você falou é horroroso, criminoso...” “Então vá lá, denuncie-me, querida. Sou um ischa criminoso. Um inotordoxo e maldito Obscuro. Se acha que é isso que sou, faça isso, Frida GlubGlubGirl. Não é assim que são denunciados os Obscuros, por seus pares ou por suas sucessões genéticas, seus estranhos e distantes filhos? Vá lá, denuncie-me!” “Por Merda, Will. Por Merda. Não te denunciarei,
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por Merda que não farei isso. Mas me entenda, há mais de mês que o que fazemos durante o almoço é conspirar, conspirar... temos sorte de ainda não termos sido descobertos...” “E se formos? Qual a diferença? Estamos entre a escuridão das certezas e a luminosidade do desconhecido, Frida. Droga!” “Acalme-se, Will. Você está estranho, impossível, desde que decidiu tornar-se um descobridor de perigos. Não vê que estes bagulhos apenas ampliam nossas dúvidas, colocam em questão nossa forma de existência. Quem não ficaria com medo diante disso. Você não diz, mas insinua coisas tenebrosas.” “Frida, querida, Frida. Eu também estou assustado. Descobertas têm certo poder sobre nós, penso agora. Às vezes é quase uma maldição, pois não se apagam as descobertas e, pior que isso, querida, tornam-se um vício. Desejo ir até...” “Até a prisão, Will StarBoyEver? É para onde iremos com tantas descobertas. Mas não me tire para ascha, maldito marido. Me diga de uma vez de onde surgiram tantas ideias obscuras nesta cabecinha?” “O que chama de ideias obscuras, alguns chamariam de sonhos revolucionários, Frida GlubGlubGirl.” “Revo o quê? Que palavra é esta, Will. Tal coisa não existe nos dicionários oficiais da NóP.” “Muitas coisas não existem na realidade da NóP, minha esposa. Creio que esta deva ser uma das tantas coisas apagadas pela NóP. Creio que o termo tenha a ver com indignação, com luta, algo assim. Pelo menos foi o que depreendi daquelas narrativas no aparelhinho. Mas há muitas palavras lá que já não usamos mais. Nem sempre compreendo a leitura.” “Narrativas? Leituras? Em que momento fez isso, Will?”
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“Nas duas últimas noites, mal dormi e nem adentrei em Infinitum”. “Por Merda, Will. Duas noites sem entrar em Infinitum? Do jeito que vamos, o próprio ZetaZuck virá prender-lhe as algemas. Não que seja proibido acumular créditos, mas não acha que vai soar suspeito essa indiferença? Além disso, quem em sã consciência abre mão de vivenciar nosso fantástico futuro? Você está acendendo lanternas sobre nós, Will.” “Frida, querida, essas narrativas, essas narrativas são incríveis... tão fantásticas quanto, ou mais... elas nos iluminam, querida. Além disso, não é maravilhoso que tenha existido um tempo em que havia diversas narrativas, diferentes autores, pertencendo ou não às Ordens?” “Há nome para isso, Will. Caos. Os dois grandes inimigos da humanidade pré NóP: o caos, e Tânatos, o inevitável, agora vencido.” “Por Merda, Frida. Às vezes te ouço e pareço ouvir os officialnews. Mas acho que já disse isso!” Diz enfático. Pela primeira vez em sua vida, Frida descobre que pode verter água dos olhos. Quando o liquido escorrega-lhe a face e chega à boca, descobre que é salgado. Vai exigir repostas do marido, mas o timer não permite, não mais hoje. 12:55:22.
Capítulo 12 “Will StarBoyEver, hoje você me falará tudo. Ou isso, ou terei de conviver com o fato de tornar-me uma reportadora. Por Infinitum que faço isso, marido.” “Tudo bem, Frida. Devo-lhe explicações. Mas antes preciso fazer uma coisa” disse ele aproximando-se
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da mulher. Talvez pela ameaça desferida, inconscientemente ela recuou meio passo ao perceber que ele vinha em sua direção. Parou a milimitros dela, olhando-a nos olhos. Frida sentia os batimentos acelerarem. Desconfiava ser medo. Mas podia ser outra coisa. Ele então levou as mãos ao rosto da esposa. Acariciou-o com uma sutileza que não sabia possuir. “Preciso experimentar algo, querida” disse, invadindo a boca de Frida com seus lábios e língua. O corpo de ambos ameaçaram desfalecer tamanha energia envolvida. Beijavam-se com voracidade. Um interlúdio...
Capítulo 13 “Novidades?” “Encontrei isto, diz que é uma bebida. Experiementamos? Pode agradar nossa conversa desagradável.” “Mas isso é...” “Sim, dos tempos de antes. Pré NóP. Confesso que encontrei outra igual. Fiz um pequeno teste e, por Merda, Frida, é uma coisa fantástica.” “Bem, se você não morreu, acho que não morrerei se beber isso. Desde que você me conte tudo, bebo o que quiser.” “Sua danadinha. Ah, Frida, doce Frida. Por mim repetiríamos ontem...” “Will StarBoyEver! Você deseja de fato levar-nos à prisão.” “Não disfarce, você também gostou, Frida.” “ Não é esta a questão, Will, Você sabe. Por favor, só gostaria de saber o que está acontecendo, Will.” “Tudo, bem, Frida. Mas não há muito o que contar. Apenas conheci tempos atrás um nonick. Desconfio até
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que seja um botia, mas isso não importa. O fato é que esse perfil um tanto estranho aproximou-se de mim durante as jornadas em Infinitum, até que passou a me mostrar umas coisas estranhas...” “Um nonick? Não sabia que eles pudessem desempenhar qualquer papel ativo em Infinitum.” “Por isso desconfio que seja um botia, Frida. Não sabe-se ao certo a população desses bots de inteligência artificial em Infinitum, mas são muitos. Entretanto, sempre pensei que ficassem discrish no sistema. Os códigos habitando os códigos, de acordo com o proprio sistema. Mas pelo jeito essa inteligência materializou-se a mim como um perfil, como um nick habitante de Infinitum em suas horas estipuladas.” “Pelo menos essa coisa disse-lhe sua áidi?” “Perguntei-lhe um dia, Frida. E foi estranho o que me disse, não um tradicional nickname que nos identifica como visitantes temporários ou aqueles estrambóticos caracteres que geralmente nomeiam os botias. Disse-me ele simplesmente “pode me chamar do que quiser, StarBoyEver, mas se quiser algo exato, talvez uma dia venha a ser conhecido com Goodworm”. Não sei se falava a sério, pois sua forma sempre me é um tanto indecifrável”. “De modo algum parece-se com algum nick aceitável pelo sistema. Muito menos um botia, Will.” “Mas o que lhe conto é a verdade, esposa. Nem mesmo eu consigo compreender os mistérios e segredos desta companhia, mas posso te dizer que foi Goodworm que descerrou as cortinas que nublavam meus olhos, Frida. Ele levou-me a setores de Infinitum que sem dúvida alguma nenhum nick poderia me levar. Frida, você não faz ideias das camadas e das possibilidades que vivenciei nos últimos tempos dentro do sistema. Só um botia teria acesso aos lugares que acessamos, às informações que encontramos...”
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“Tecnicamente um Zeta também poderia fazer isso, não?” “Impossível, Goodworm não é um Zeta. Não deve ser.” “Você não está dizendo isto porque se de fato ele for um Zeta, enfraquece seu discurso de que ninguém de nós, que nenhum nick interagiu com algum imortal? Você tem procurado por comodidade em seus argumentos, Will StarBoyEver.” “Não se trata disso, Frida. Não estou tentando enganar a mim mesmo. De modo algum. É que não posso crer nessa hipótese, não com as portas que esse estranho tem me aberto, não com a ojeriza que ele parece nutrir pelo Conselho dos Onze. Mais do que isso, querida, se pensas que minhas dúvidas quanto à NóP e aos Zetas são obscuras, veria em Goodworm a noite eterna. É como... como se ele odiasse Infinitum, os Zetas e tudo o que eles representam.” “E este sujeito tornou-se seu melhor amigo, Will. Por Merda, eis a fonte de todos nossos perigos então. Por que não me apresenta-o esta noite.” “Você sabe que não podemos, Frida GlubGlubGirl. Há a restrição de login. Núcleos familiares da efêmera materialidade não devem conviver em Infinitum. Você sabe o que a NóP não permite, como eles dizem, cloudspace não é um mundo para limitações deste tipo. Você sabe que essa é uma das questões de maior cuidado e monitoramento e razão para não autorizarem a transcendência. Seria um risco enorme.” “Oh Merda! Você tem razão, Will, mas...” “Entendo, Frida, mas acredite em mim. Não creio que Goodworm seja um Zeta. Não depois de todas as coisas que me contou.” “Conte-me então, Will. Conte-me ainda que desconfie que não gostarei de saber.”
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“Amanhã, querida. Nosso tempo terminou por hoje.” 12:55:22
Capítulo 14 “Olha só, consegui tomates. E um roedor. No passado diziam ser saborosos” “Hum. Estava sentindo falta dessas suas descobertas. Mas não pense que me ludibriará com estes presentes.” “Oh, não tenho intenção disto, querida. É bom ter alguém para conversar, para tentar me ajudar a entender tudo isso.” “Sabe, Will, pensei muito no que me falou sobre esse tal Goodworm. Não consigo deixar de pensar que esse seu estranho e misterioso amigo é um Zeta.” “Não consigo crer nisso, Frida. Ele parece opor-se a tudo o que representam a NóP e os Zetas. Tece críticas ferozes no que o mundo transformou-se, e, juro, Frida, penso tê-lo visto fazendo algo semelhante a chorar ao dizer-me histórias do passado.” “Histórias do passado?” “Sim, contou-me coisas para muito além da Ópera de Tânatos quanto aos tempos antigos. A bem da verdade, sua versão é bem mais tenebrosa, especialmente para nós, humanos.” “Como assim mais tenebrosa para nós?” “Goodworm disse-me que o conceito da Infinitum começou a ser imaginado nas narrativas que existiam à época. Chamavam-se romances, uma espécie de acerto de seus autores com o mundo, disse-me. Segundo Goo-
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dworm os romancistas como eram chamadas essas pessoas, praticavam cada um a seu modo e no seu determinado gênero, suas leituras particulares do mundo, seus acontecimentos e suas perspectivas. Conforme Goodworm, havia uma relação de mão dupla, romancistas pegavam coisas do mundo e com suas mentes imaginativas, ou refletiam sobre elas ou então produziam novos conhecimentos, conceitos e ideias. Do modo que o entendi, não tratava-se de uma narrativa como a Ópera de Tânatos, que não nos permite contestações ou dúvidas, que nos entrega ao que está lá, e tudo aquilo é perpétuo. Além disso, por serem descentralizadas dos poderes estatais, disse-me Goodworm que as narrativas de acordo com suas respectivas influências, tanto eram impactadas pelo mundo, quanto impactavam a ele. De acordo com ele, foram nessas narrativas, especialmente numas que chamavam de ficção científica que termos como ciberespaço e matrix foram sendo construídos. Goodworm esboçou feições irônicas contando-me de que nessas narrativas o tom era sempre de aviso, às vezes um aviso sombrio; já no começo do Século XXI, com a avó de midlezone, a internet, de vento em popa e os desejos humanos de imortalidade, empresas investiam pesado nestes campos de pesquisa. Parece que as narrativas, embora como alertas, ajudaram a engenheiros e programadores a projetar Infinitum...” “Mas Will, nada disso faz sentido com o que sabemos, querido.” “Também não me parecia fazer sentido, Frida. Sempre estivemos absortos nas certezas prontas e jamais questionamos nosso passado. Até porque, quem questionaria o passado, estando olhando para a certeza de um futuro fantástico. Nascemos e crescemos tutelados pela força da NóP, e principalmente pelo medo absurdo de cometermos qualquer deslize e perdermos as possibilidade de transcendência. Mas hoje já não sei em que acredito.”
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“Oh, Will, tenho muito medo.” “Eu também, querida, e de fato deveríamos ter muitas precauções e restrições à NóP. Se houver verdade nas informações de Goodworm, toda essa nova ordem, toda essa nova realidade infinita está alicerçada em muito, muito sangue, querida.” “Como assim, Will. Sangue foi o que justamente nos levou a construir a Infinitum. Desde então foram-se as guerras, as mortes...” “Isso de acordo com as versões oficiais, Frida. Na versão de Goodworm, essa guerra de poder permanece em Infinitum num jogo perverso entre os Zetas, só que dado em condições diferentes do passado. Na verdade Goodworm disse-me que tais conflitos vem desde a Grande Corrida pela Imortalidade quando as principais empresas de tecnologia puseram-se a disputar o anúncio. No final das contas, o processo acabou sendo coletivo, pois havendo o fracasso em alongar nossa durabilidade biológica, as mentes intelectuais do mundo voltaram-se para a transferência do nosso ser existêncial para dentro de um sistema que o suportasse. A transcendência, Frida. Lógico que à época as condições eram limitadas e quando conseguiu-se chegar a um método para tal, descobriram precisar de um sistama gigantesco, uma cloudspace como nunca vista, pois para cada pessoa transcendida, resultava um arquivo com cerca de três zetabytes. A rede que até então existia não daria conta. Aí o esforço do globalbusiness para a construção de Infinitum...” “E com isso levando-nos a um novo patamar de existência humana...” “Na verdade, querida, se as coisas forem como as narradas por Goodworm e de acordo com suas próprias palavras, foi quando se deu o grande apocalipse da espécie humana.” “Não estou entendendo, Will, apocalipse?”
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“Apreciemos nossa refeição, querida, não haverá mais tempo por hoje. Estava bom, não?” “Oh, sim, sinto vontade de lamber a ponta dos dedos. Este roedor estava bem mais saboroso que o pombo.” 12:52:55
Capítulo 15 “Querida, não sei quanto tempo teremos de cobertura. Meu amigo oculto em Infinitum anda desaparecido.” “Oh, Will. Isso parece ser ruim.” “Sim, Frida, também imagino isto. Ele mesmo sempre pediu-me cautela. Para Goodworm, ficar distante dos olhares da NóP é uma missão praticamente impossível. Ainda assim, temos tido suscesso.” “Sinto-me uma maldita conspiradora, Will StarBoyEver.” “Talvez sejamos, Frida...” “Por Merda. Mas arrepender-me não mudará nossa situação. Que palavra estranha você usou ontem, esposo...” “Sim, Frida. Parece estranha. Contou-me Goodworm que antes da NóP a espécie humana era bastante diversa. Não eram como nós, esse padrão de perfeição de hoje. Todos tinham defeitos, virtudes, mas acima de tudo, todos tinham diferentes narrativas, que não raro entravam em conflito e desencadeavam sangrentas guerras. Apocalipse pertencia a uma destas narrativas, Biblia, chama-se o livro, disse Goodworm. Queria significar o fim de tudo, o fim da espécie humana na terra. Às vezes vinha com nomes diferentes, contudo Goodworm disse que os mais diferentes povos tinham fascínio pelo apocalipse e cada
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qual tinha sua própria versão. Diz ele porque Tânatos resistia, e a fobia à morte levava a humanidade sempre a projetá-la em escala global. Tal palavra caiu no esquecimento sem nem mesmo necessitar de intervenções da NóP, afinal quem temeria apocalipses em uma nova ordem, eterna e pacífica? Mas para Goodworm isso se deu de fato...” “Como assim, Will? Se apocalipse é o final de tudo, como persistimos aqui, hoje melhorados e com a transcendência no horizonte?” “Como contei-lhe, houve uma escalada de esforços para criar-se Infinitum, entretanto, lembre-se, Frida, havia dez bilhões de seres humanos no mundo. Àquela época existia um sistema inimiginável a nós hoje, capitalismo era o nome, falou-me Goodworm. As pessoas precisavam de algo que chamavam de dinheiro para poderem comer, vestirem-se, cuidar da saúde... Goodworm disse que era um mundo devastado, poluído, e daqueles dez bilhões, Frida, noventa e nove percentuais eram miseráveis. Não eram mais que bichos disse-me o estranho Goodworm. Quando então chegou-se a tecnologia para transcender à Infinitum, querida; disse-me ele que nem zero ponto três por cento da população global possuía recursos financeiros, o tal de dinheiro, para transcenderem. Além disso, Goodworm diz não saber precisar quantos de fato naquele período aderiram à novidade. Por certo que os primeiros foram os executivos das grandes empresas associadas, depois multimilionários, independentemente da ética de suas fortunas. Foi um grande problema político, especialmente porque grandes líderes locais – à epoca, lembre-se, existia a fragmentação perniciosa que chamavam de nações – estavam ficando de fora daquela coisa nova. Sem falar que o mundo apartava-se em dois sem muita clareza de como funcionariam as coisas. Revoltas levantaram-se por todo o planeta, contou Goodworm. Parlamentos do mundo inteiro, e lembre-se, eles existiam aos montes, não como hoje
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que o Conselho dos Onze decide todas as questões planetárias, tentaram restringir e regulamentar aquilo que por conceito deveria ser livre, expansível e eterno. Goodworm não precisou-me tudo, mas disse que Infinitum teria caído não fosse o sistema amigável às inteligências artificiais e aos robôs. Espertamente os possibilitadores da transcendência tinham criado Infinitum com interfaces com a tal internet que a tudo controlava e que viria a se tornar depois a midlezone. O que os humanos não desconfiavam é que da nova e real dimensão criada pelos inventores, os primeiros transcendentes podiam controlar a frágil existência física e material. A humanidade tinha se tornado dependente da cloudspace, da internet, não conseguia fazer nada sem o sistema, que em poucos dias já era controlado por Infinitum...” “Oh! Que tempos tenebrosos, Will. Tudo o que diz, faz-me voltar a crer que estamos melhores hoje, querido.” “Superficialmente, de fato parece que melhoramos muito, Frida. Aliás, esta era a promessa dos desenvolvedores, dos inventores. A utopia única e possível para a humanidade seria a existência eterna e cheia de possibilidades em Infinitum. Apenas a vitória sobre Tânatos, como na ópera, nos possibilitaria esta perfeição. Porém, esposa, diferente de nós neste mundo material e perecível que somos recenseados e cadastrados, não há um único dado da população Zeta em Infinitum. Goodworm disse-me que as décadas felizes vivendo sob a névoa utópica não tinham lhe deixado perceber algo relevante... Mas, veja, amada Frida, como as histórias nos tomam. Não há mais tempo e não podemos arriscar mais do que arriscamos. Amanhã terminamos nossa conversa.” 12:56:12
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Capítulo 16 “Frida, levante-se, levante-se, querida” ele diz sacudindo a esposa em sua estação noturna. “Levante-se, Frida GlubGlubGirl, por Merda” tenta falar mais alto. “Will... O... Quê... Ocorre?” Ela questiona ainda incerta dos acontecimentos que rodeiam-na. “Acorde, querida. Por Merda, fomos descobertos. Acorde.” “Oh, Will. Está bem, marido. Acordei. Mas o que dizes, fomos descobertos, como assim? O que está acontecendo, Will StarBoyEver?” “Não eu e você, Frida. Você, acredito, ainda estará poupada. Protegida. Temos uma pequena janela, agora, para que eles não descubram que você sabia algo. Mas por Merda, Frida, eu terei de fugir. Fomos pegos, eu e Goodworm. Nem mesmo consigo acessar Infinitum mais, romperam todos meus códigos, meu nick foi deletado, querida. Sou proscrito, agora...” “Oh Merda! Will, eu disse...” “Sem recriminações, Frida. Sempre soube que a NóP não facilita a ninguém. Mesmo sabendo que Goodworm conseguia feitos incríveis para dar-me cobertura, haveria falhas em nossa petitconspiration. Esse dia cedo ou tarde chegaria.” “Vou ser declarada Obscura também, Will.” “Oh não, querida. Isso não. Nossas comunicações diárias seguem protegidas. Flagraram-me em minhas fugas da fábrica. Por certo tempo não perceberam, mas eu vacilei, Frida...” “Fuga da fábrica?” “Sim, querida. De onde imaginou virem tomates e aquelas maravilhas dos tempos antigos? Ou de fora de
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Seven City ou de seus subterrâneos. Entenda, Frida, o passado repousa sobre nós, querida esposa...” “Oh Will, o que faremos agora. Se te excluírem, se te tornarem mesmo um Obscuro Proscrito, condenado à pericibilidade da existência humana, à prisão, como serão meus dias, do Pequeno Bill que um dia será incorporado a nossa tríade parental?” “Eles não me pegarão, esposa, não mesmo. De modo algum. Tenho coisas a fazer, Frida. Goodworm conseguiu enviar-me algo pela midlezone.” “Will StarBoyEver, estamos enrascados e você pretende piorar ainda mais as coisas. Não há perdões pelo Conselho dos Onze aos que arrependem-se e fazem por merecer?” “Mais mentiras dos Zetas, Frida. Eles mentem para existir, querida. Aliás, pensei a respeito de Goodworm, acho que tens razão, ele só pode ser um deles, um Zeta.” “Que importa isso agora, Will. São Moscas que ouço?” “Sim. Talvez Killhawks também. E provavelmente toda a tropa de robocops. Toda a estrutura repressiva da NóP está no meu encalço agora. Creio que não deve ter ajudado nada ter espancado o imbecil do Tom BeauttyBoySweet. O desgraçado tentou bloquear-me a mando de um patrolcops.” “Oh, Will. Não te reconheço mais, querido.” “Frida, eles estão chegando. Beije-me” ele avançou até ela e encontrou a despedida esperada. “Frida GlubGlubGirl, eu irei. Tenho uma missão, todos saberão, todos saberão a verdade. Espere-me que a encontrarei...” “Não diga estas coisas, Will StarBoyEver... Estou em pânico. O que você vai fazer?” “Não posso dizer, querida, não por falta de confiança, mas sei que a NóP poderia extrair informações
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com facilidade impensável. Mas nós começaremos a revolução, Frida. Há um lugar, um lugar onde estão todos os segredos da NóP, onde repousa Infinitum... Mas não há tempo. Volte para sua estação e durma... te encontrarei um dia, querida” disse afastando-se da esposa indicada-lhe pela própria NóP mas a quem se afeiçoara bastante. Ela deitou-se como ordenado e fingiu dormir. De esguelha olhou para o duplo barulho nos vidros da homecube. Um era Will quebrando a parede para fugir, outro, um dos robos da polícia que não conseguira acessar o sistema, e para isso recorrera à velha e boa força. Seguindo o robô, um enxame de Moscas e uma meia dúzia daqueles assassinos falcões eletrônicos. Iam todos no encalço de Will. Ela estava convicta de que amanheceria viúva. Não tinha como escapar. 00:13:31
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