Gift, mercadoria e design – Um estudo sobre a circulação de objetos e afetos (1)

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Gift, Mercadoria e Design Um estudo sobre a circulação de objetos e afetos

Caderno 1



Gift, Mercadoria e Design Um estudo sobre a circula巽達o de objetos e afetos

Douglas Guenkitsi Higa Orientadora: Giselle Beiguelman Trabalho de conclus達o de curso Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de S達o Paulo 2012



Resumo Palavras-chave: presente, dom, objeto, afeto, gift, mercado, cultura material, economia, compartilhamento, design, publicação, circulação, distribuição, questionário

A pesquisa apoia-se nas ideias de Lewis Hyde (1983) em The Gift: Creativity and the Artist in the Modern World, a respeito do funcionamento e das diferenças entre a chamada economia do dom (gift economy) e a economia de mercado (market economy), e da relação de ambos com a arte e criatividade. A partir daí, serão levantadas questões a respeito da circulação e apropriação de bens materiais e significados pessoais, assim como sobre o papel do designer na produção e significação desses objetos.



Sumário

caderno 1

9 Apresentação 12 Breve teoria do gift 16 Breve teoria do gift e da mercadoria 18 Suposições a respeito do design caderno 2

21 4 introduções 22 Lewis Hyde 32 Arjen Ooster 38 Rob Giampietro 42 David Reinfurt caderno 3

45 Pesquisa de campo 48 Preparação e divulgação do questionário 54 Feedback e imagens 56 Classificação das respostas 62 Conclusões da pesquisa de campo 64 Lista de objetos por categoria cadernos 4, 5, 6 e 7

69 Depoimentos e imagens selecionados caderno 8

121 Considerações finais 126 Referências 129 Agradecimentos



Apresentação

Podemos dividir este trabalho de conclusão de curso em três etapas: 1. Pesquisa teórica sobre o gift, bem como suas possíveis relações com o campo do design; 2. Pesquisa empírica, via questionário online, sobre como objetos e pessoas se relacionam; 3. Projeto e produção de uma série de livretos A5, com conteúdo das pesquisas 1 e 2. Sobre o que seria uma teoria do gift (presente, dom), explico: trata-se, na verdade, de um modo de circulação de objetos e ideias baseado em uma lógica de doações e compartilhamentos. Essa lógica seria, portanto, diferente da lógica de mercado, na qual a circulação de bens se dá por meio de trocas mediadas por uma moeda associada a um valor quantitativo. Mais do que simples objetos, gift e mercadoria podem ser duas formas diferentes de pensar a distribuição de tudo aquilo que é produzido pelo homem. (ver: Lewis Hyde)

Se vivemos hoje rodeados e em constante contato com objetos e espaços produzidos artificialmente, diferenças éticas no modo de distribuição e acesso a eles certamente influenciam também no modo como acontecem as relações entre pessoas; entre pessoas e objetos; e entre pessoas, objetos e pessoas. No caso do design, um pensamento predominante na distribuição afeta também as etapas de projeto e produção. Na outra ponta, o modo como o usuário final adquire um produto influencia também na maneira como ele entende e se apropria dos significados daquilo que foi produzido. (ver: Rafael Cardoso)

Partindo dessas premissas, surgiu assim a necessidade de uma análise empírica, com o objetivo de comprovar e entender melhor a pesquisa teórica, assim como abrir espaço para novas suposições.

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Essa etapa se deu através de um questionário online no qual pedia-se: 3 objetos seus que você considera importantes ou especiais; 3 objetos significativos pela maneira como foram adquiridos; 3 objetos que te lembrem de alguma pessoa em especial. O questionário foi respondido por 103 pessoas, em sua maioria universitários entre 20 e 25 anos. Conseguiu-se assim, dos mais genéricos aos mais pessoais, uma lista de 559 objetos e seus breves depoimentos, dos quais foram possíveis obter, em uma segunda etapa, 151 imagens enviadas pelos seus próprios donos. A partir dessa base de dados, a análise das respostas partiu de um sistema de classificação baseado nos seguintes critérios: tempo de posse, categoria do objeto, significado, modo de aquisição e pessoas relacionadas. (ver: Csikszentmihalyi Mihaly) Através desse sistema de classificação, pôde-se observar a existência de algumas categorias que escapam à ideia comum de propriedade: resquícios, fotografias e heranças são alguns deles. Como percebeu-se apenas depois, a pesquisa tratava menos sobre como os objetos refletem a identidade de uma pessoa, no sentido de sua afirmação dentro de uma estrutura social, e mais sobre como eles escapam a um sistema de estereótipos e adquirem um entendimento próprio sobre sua existência particular. (ver: Jean Baudrillard)

Por fim, como exercício prático de aplicação, propôs-se apresentar este trabalho de maneira coerente com aquilo que foi pesquisado. Em outras palavras, se a pesquisa tratava sobre entender os modos de circulação do gift e da mercadoria, bem como suas consequências no projeto de design, por que não tentar alinhar esses pensamentos com a própria apresentação do conteúdo? O formato escolhido, um livreto monocromático A5, é econômico, eficiente, simples – fácil de ser produzido e distribuído. Ele pede um pensamento projetual próprio, e espera de quem lê uma expectativa estética mais baixa que um livro tradicional. Além disso, a disponibilização de uma versão digital parece ser também uma escolha natural (ver: The Serving Lybrary). O resultado final é a presente compilação de textos e imagens produzidos e coletados, separados entre 8 cadernos com diferentes enfoques, para serem distribuídos, lidos e compartilhados.


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Breve teoria do Gift O presente e o dom

1. Quando falamos sobre presentes, estamos falando, antes de tudo, de uma lógica de circulação de objetos que se baseia na doação ao invés da troca. A pessoa que presenteia nunca espera nada em retorno da pessoa presenteada, antes disso, trata-se de uma ação baseada em um sentimento de generosidade ou gratidão. (E, embora o primeiro tenha mais a ver com uma ação espontânea e o segundo com uma relação de dívida, quanto de generosidade não vem, de certa forma, de um acúmulo de gratidão?) 2. Mais do que uma habilidade ou talento natural, o dom pode ser encarado como uma certa qualidade de encantamento do outro. Uma obra de arte, por exemplo, pode possuir essa qualidade. Se um artista, ao criar uma nova obra, tem nela menos um interesse comercial, e mais uma necessidade de expressão pessoal, então existe aí uma motivação semelhante à do presente, de doação e generosidade. Nessa necessidade quase autônoma de expressão para o outro, observa-se assim que, como os objetos, ideias e pensamentos também circulam. 3. Em português, a palavra gift pode ser traduzida como “presente”, mas também pode ser traduzida como “dom” ou “dádiva”. Milton Glaser, designer gráfico americano, diz em uma entrevista: The passing on gifts is a device to prevent people from killing one another, because they all become part of a single experience. (...) This is what artists do to our culture. Artists provide that gift to the culture, so that people have something in common.(1) (Hillman Curtis, Milton Glaser – Art is work)

Esta interessante ambiguidade entre o concreto (presente) e o abstrato (dom) da palavra gift, mostra-se neste caso também indissociável, o que leva à primeira observação importante deste trabalho: o termo gift é, em algumas situações, intraduzível.


Fenômeno social total

Milton Glaser reforça no texto citado anteriormente a ideia de que o gift é uma questão de circulação. Mais do que isso, a sua circulação gera também unidade social: o compartilhamento do gift cria vínculos entre as pessoas. Na cultura chinesa, por exemplo, ao visitar a casa de alguém, é costume que o visitante leve um pequeno presente. Em sinal de respeito, o anfitrião deve tratar a visita da melhor maneira possível (Google: chinese visit gift). No sul da França, era comum em alguns restaurantes que, antes de começar a refeição, cada pessoa sentada à mesa enchesse a taça de vinho da pessoa ao lado (Hyde, p.72). No catolicismo, a hóstia, representação do corpo de Cristo, é partilhada entre todos os presentes na cerimônia (Hyde, p.75). Por trás do peso de cada uma dessas tradições existe uma função social, e até espiritual, que contribui para a formação de uma comunidade. O gift nunca é um acontecimento apenas material, do contrário seria apenas comércio. Ele é, segundo Marcel Mauss, um “fenômeno social total (total social phenomenom) – onde as transações podem ser ao mesmo tempo econômicas, jurídicas, morais, estéticas, religiosas e mitológicas”. (Hyde, p.xxi) Economia do Gift

Em Essai sur le don (Ensaio sobre o dom), clássico sobre o gift escrito por Marcel Mauss (1924), o autor observa que em algumas tribos grande parte de seus bens materiais circulam como presentes, em um sistema sustentado por obrigações de doação, recepção e reciprocidade (to give, to accept, to reciprocate). Pode-se falar que nelas existe uma economia do gift (usa-se também o termo Economia do Dom e Economia da Doação), baseada em uma lógica própria, anterior à lógica de uma economia de mercado, uma vez que não existe barganha ou moeda, ou a própria noção de comércio. O fato de vivermos hoje em uma economia da mercadoria não exclui, entretanto, a existência de uma economia do gift em esferas menores. Alcoólicos anônimos, doadores de sangue e a comunidade científica são grupos específicos que podem ser encarados dessa maneira (ver Hyde, Cap 5: The Gift Community). De modo mais trivial, participamos de uma economia do gift nas nossas relações com amigos e parentes ao dar um presente, preparar um jantar ou mesmo compartilhar ideias – se o gift é um fenômeno social total, então ele não pode ser encarado do ponto de vista unicamente material. Este é também um exemplo de como mercadoria e gift se alternam: dentro 12—13


da família as relações de circulação e propriedade são bastante livres, sendo outra a postura em relações com pessoas de fora. Uma vez que as relações dentro desses grupos se sustentam através de relações de confiança (ou obrigação), pode-se dizer que a economia do gift acontece principalmente em pequena escala, ou micro-comunidades. (Nesse sentido, a internet e as Creative Commons(2) parecem ser exceções a se prestar atenção.)

— 1. “A passagem do gift é um dispositivo para prevenir que as pessoas matem umas às outras, porque todos se tornam parte de uma experiência única. (...) É isso que os artistas fazem para a nossa cultura. Artistas oferecem esse dom para a cultura, de modo que as pessoas tenham algo em comum.” (Tradução livre) 2. Creative Commons são licenças que permitem a cópia e compartilhamento com menos restrições que o tradicional “todos os direitos reservados”. Foram criadas por uma organização não governamental sem fins lucrativos localizada em São Francisco, nos Estados Unidos, voltada a expandir a quantidade de obras criativas disponíveis. (fonte: Wikipedia)


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Breve teoria do Gift e da Mercadoria Argumentos

1. O gift sempre se movimenta. A circulação livre do gift é parte de sua natureza essencial: se nos basearmos na ideia de doação, recepção e reciprocidade, então tudo que nos é dado deve ser recebido e passado adiante. É uma questão de desapego: aquilo que eu recebo nunca foi meu, desde o começo. A mercadoria, por outro lado, se baseia no princípio de acumulação, de posse, a partir do qual aquilo que é meu é meu por direito. 2. O gift é uma propriedade que perece (para a pessoa que o passa adiante). O gift é efêmero para seus recipientes, ele deve ser consumido ou perderá sua característica de gift. Parece um paradoxo, mas o consumo do gift é o que garante sua permanente circulação. A mercadoria é sempre estável, ou antes, enquanto o gift se consome em sua transação, a mercadoria se consome em si mesma, pelo próprio dono. 3. O gift se move circularmente (para o lugar mais vazio). Passar adiante o gift nos deixa em débito, mas este é “misteriosamente” compensado de volta, porque o gift se move segundo uma lógica de osmose(1), momento(2). Enquanto o equilíbrio do gift só existe no nível do sistema – torna-se quase uma questão de fé – a mercadoria sempre se neutraliza ao ser adquirida, pois toda troca contém implícita a ideia de equivalência, em que nenhuma parte deve mais nada à outra. 4. O gift não traz lucro, ele ganha valor. O aumento do valor do gift se dá afetivamente e acompanha a sua circulação: ele sempre tem mais valor para a pessoa que o recebe. A circulação da mercadoria é sempre acompanhada por uma lógica de oferta e demanda, e o aumento do seu valor fica para a pessoa que vende, como lucro, cabendo à pessoa que recebe pagar pelo novo valor equivalente. Contra-argumento

É verdade também que a mercadoria, ao neutralizar as relações entre pessoas, permite a elas a liberdade de relação com o estranho, como afirma Lewis Hyde (1983):


It is the cardinal difference between gift and commodity exchange that a gift establishes a feeling-bond between two people, while the sale of a commodity leaves no necessary connection. I go into a hardware store, pay the man for a hacksaw blade and walk out. I may never see him again. The disconnectedness is, in fact, a virtue of the commodity mode.(3) (Hyde, p.73) Assim, o gift cria comunidades, mas essas comunidades possuem um limite de tamanho, do contrário o peso das suas relações se tornaria insuportável. Já a mercadoria permite relações em grupos de qualquer escala, sendo também uma forma de valorizar a individualidade de cada um. Na comunidade total ou na alienação total, ambas as opções parecem insustentáveis, ou antes, irreais. Não só o gift possui desvantagens que são compensadas pela mercadoria e vice-versa, como pode-se dizer que ambos existem como possibilidade em cada relação que temos (“works of art exist simultaneously in two economies”. Hyde, p.xvi). Neste sentido, a questão torna-se, mais do que tratar o pensamento do gift como uma resposta ao pensamento da mercadoria, admitir a sua coexistencia para buscar entender a melhor maneira de lidar com ambos.

— 1. Conceito da química sobre a passagem da água do meio mais diluído para o mais concentrado. (Google: osmose) 2. Conceito da física sobre a transferência de energia decorrente da colisão entre dois corpos. (Google: momento linear física) 3. “É diferença cardinal entre a circulação do gift e da mercadoria que o gift estabelece um sentimento de ligação entre duas pessoas, enquanto a venda de uma mercadoria não deixa nenhuma conexão necessariamente. Eu vou a uma loja de ferramentas, pago o vendedor por uma lâmina de serra e vou embora. Eu posso nunca mais vê-lo novamente. A desconexão é, na realidade, uma virtude da mercadoria.” (Tradução livre) 16—17


Suposições a respeito do design

Como seria projetar segundo o pensamento do gift, uma vez inseridos dentro de uma lógica de mercado? Clive Dilnot (1996), assinala: a motivação do designer já é, a priori, a mesma do gift como dom. Em outras palavras, ao projetar para o outro, a intenção de circulação e uso está naturalmente acima de qualquer intenção de posse e consumo. O problema parece residir no fato de que, hoje, o pensamento de mercado em nossas relações tem predominado a ponto de distorcer também os critérios do próprio projeto. Rafael Cardoso (1998) aborda a questão como um problema entre produção e distribuição. Para ele, a publicidade e o marketing são elementoschave de uma distribuição onde a inserção de um produto no mercado é essencial para garantir a sua venda. Nesse pensamento, o consumo é a finalidade última da existência do produto, e o peso que a distribuição adquire acaba ditando as diretrizes daquilo que é produzido. Não é a toa que a “crise atual do design” (...) tem coincidido historicamente com o boom espetacular da publicidade e do marketing como estratégias de reformulação da direção e do sentido da própria produção. A chamada “revolução do consumidor” dos últimos trinta anos tem se processado, antes de mais nada, como uma revolução na conceituação das relações entre produção e consumo em que uma ampliação aparente de opções de consumo mascara uma homogeneidade cada vez maior na orientação básica da produção. (Cardoso, p.36)

São muitos os exemplos que encontramos hoje: lojas de brinquedos, onde tudo é merchandising de algum personagem de TV; as trilogias, boy bands e best-sellers da indústria do entretenimento; a construção de grandes espaços, patrocinados e assépticos, prioritários a políticas de planejamento e urbanização. As opções parecem ser sempre muitas para quem pode pagar por elas. Quando tudo vira mercadoria, um produto a ser consumido – “auto-estradas de comunicação, com seus pedágios e seus espaços de lazer” (Baurriaud, p.11) – como escapar do conforto do previsível, dos espaços de controle, da alienação das nossas relações?


A própria noção do gift como presente parece estar distorcida. Dilnot fala sobre como, transformado em oportunidade comercial, o artigo-de-presente (gift-article) passa a representar relações apenas formais entre pessoas. São objetos que servem apenas como indicativo de uma relação, nunca chegando a afirmá-la de fato, e cuja consequência de uma prática generalizada é a “loja de presentes”, que oficializa o presente como mercadoria, em objetos cada vez mais genéricos e menos pessoais. Se por um lado a mercantilização de tudo parece atribuir ao produto um significado superficial, pode-se dizer que a circulação do gift possibilita a apropriação de significados pessoais por parte do usuário. Assim, um objeto convencional pode adquirir novos significados pelo contexto em que ele se apresenta: de certa forma, toda mercadoria tem assim o potencial de se tornar um gift. Rafael Cardoso aponta para a apropriação, por parte do usuário, como a ponta oposta à atribuição de significados pelo projetista, onde o que é “pessoal/volúvel” interfere sobre o “universal/duradouro” (Cardoso, p.33). Se tomamos isso como verdade, surge aí um aparente paradoxo: como relacionar o gift com o design, se eles atuam em esferas diferentes de significação? Ou como o designer pode ser relevante na construção de significados sobre os quais ele não tem nenhum controle? A resposta parece estar no fato de que uma mudança no pensamento da distribuição é antes uma questão ética sobre como adquirimos e utilizamos um produto, e menos uma solução estética “emocional” e programada – como parece ser o caso da loja de presentes. Ao tentar compreender – ou retomar – as posturas éticas decorrentes de uma economia do gift, o designer pode se posicionar de maneira diferente frente ao projeto, realimentando o ciclo produção/distribuição/uso com um novo ponto de vista. Em outras palavras, podemos dizer que projetando o gift como dom, cria-se o momento necessário para o início da circulação do gift como presente. (ver: Rob Giampietro)

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Caderno 1


4 introduções

As páginas que se seguem contém reproduções de textos que serviram como base para este TCC. Estão aqui compartilhados 4 textos introdutórios, de fontes e assuntos diversos: o primeiro pertence a um livro de antropologia sobre o gift; o segundo e o terceiro são artigos de revistas de arquitetura e design, em edições que discutem novos rumos para a profissão; por último, o programa de aula de uma disciplina de arquitetura nos EUA, retirado da internet. Em comum entre eles, a discussão em torno de novos modos de propriedade e circulação.

Caderno 2


22

Introduction (Lewis Hyde, 1983) Capítulo do livro The Gift: Creativity and the Artist in the Modern World.

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Volume for Sale (Arjen Oosterman, 2012) Texto de apresentação da revista Volume #30: Privatize!

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Pamphlets for Friends (Rob Giampietro, 2009) Trecho de artigo da revista Idea 332 – How does Graphic Design Change?

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Portable Document Formats (David Reinfurt, 2010) Apresentação do programa de aula para disciplina de arquitetura na Universidade de Columbia, é também o texto de apresentação do ateliê-livraria Dexter Sinister. Disponível em www.portabledocumentformats.org


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Visual Studies Workshop Columbia University Graduate School of Architecture, Planning and Preservation Thursdays 1:00 – 3:00 pm David Reinfurt / reinfurt @ o-r-g.com www.portabledocumentformats.org

Portable Document Formats At the beginning of the 20th-century, Ford Motor Company established the first widely-adopted model of factory production. Breaking down the manufacture of a Model T automobile into its constituent processes and assigning these to a sequence of workers and inventories, significant efficiencies could be realized. This AssemblyLine approach utilized increasingly specialized skills of each worker on a coordinated production line as the manufactured product proceeded from beginning to end. Large inventories, skilled laborers and extensive capital investment were required. Design revisions were expensive (if not impossible) to implement and the feedback loop with its surrounding economy was largely absent. Complicit with its early-Capitalist context, manufacturing at this scale remained necessarily in the hands of those with the resources to maintain it. By the mid-1950s, Toyota Motor Corporation of Japan began to explore a more fluid production model. Without the massive warehouse spaces available to store inventories required for an Assembly-Line, Toyota developed the Just-In-Time production model and inverted the stakes of manufacturing. By exploiting and implementing a fluid communications infrastructure along the supply line of parts, manufacturers, labor and customers, Toyota could maintain smaller inventories and make rapid adjustments. A quicker response time was now possible and products could be made when they were needed. Further, tools were standardized — dies could be adjusted by hand and even changes in tooling could be described as a series of written recipes. All of the work could be handled by a wider number of lessspecialized workers and design revisions could be made on-the-fly without shutting down production and re-tooling. The result was an immediate surplus of cash (due to reduced inventories) and a sustainable, responsive design and production system — smaller warehouses, faster communications networks, responsive and iterative design revision and products made as they are needed: Just-In-Time. It isn’t difficult to imagine a correspondence between these two models (AssemblyLine, Just-In-Time) and contemporary modes of graphic design production. The prevailing model of professional practice is firmly entrenched in the Fordist Assembly-Line. Writing, design, production, printing and distribution are each handled discretely by specialists as the project proceeds through a chain of command and production. Now, laserprinters, photocopiers, page-layout softwares, cellphones, and word processors are splitting open this model. The project might be written by the publisher who begins a layout and works with the designer who commissions a writer, and sources a printer that will produce fifty copies by Wednesday. Even the software tools’ lines of specialty are irrevocably blurred — Microsoft Word has added


Assembly-Line. Writing, design, production, printing and distribution are each handled discretely by specialists as the project proceeds through a chain of command and production. Now, laserprinters, photocopiers, page-layout softwares, cellphones, and word processors are splitting open this model. The project might be written by the publisher who begins a layout and works with the designer who commissions a writer, and sources a printer that will produce fifty copies by Wednesday. Even the software tools’ lines of specialty are irrevocably blurred — Microsoft Word has added page layout functions, Quark includes story editing and Adobe Illustrator claims to do almost everything including posting your website. Coincident with these overlapping roles is the opportunity to shift to a Just-In-Time model. What are the possibilities for a Just-In-Time graphic design? Materials may be produced as they are needed, in the quantities required, on-demand and in a state of constant revision. Roles are blurred and collapsed into one efficient activity. For example, a poster designed on Thursday may be different than one printed next Friday. Two thousand copies of a magazine might be designed, printed and distributed in 24 hours. PDF files could be regenerated every two hours and automatically sent to a large emailing list. And these kinds of unstable forms and fluid production models allow the possibility of creating printed materials and softwares that are responsive, accurate, specific and up-to-date.

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Assembly-Line print production model Assembly-Line print production model.

Just-in-Time print production model Just-in-Time print production model.

Caderno 2


Pesquisa de campo

Baseando-se na pesquisa realizada por Mihaly Csikszentmihalyi (1981), onde foram entrevistadas diversas famílias americanas em um estudo sobre as relações delas com os objetos de suas casas, propôs-se realizar uma pesquisa de campo similar, dentro do contexto atual. Apesar de semelhante, porém, a intenção aqui não era focar tanto a análise psicológica das pessoas em relação aos seus objetos, mas sim entender sobre os modos de circulação desses objetos, bem como quais seriam os fatores – e não as consequências – determinantes para a criação de vínculos emocionais entre eles e seus donos.

Caderno 3


Gift, Mercadoria e Design

Pesquisa para trabalho de conclusão de curso da FAU-USP. Aluno: Douglas Guenkitsi Higa Orientadora: Giselle Beiguelman

II – Quais objetos seus você considera importantes ou especiais?

Cite 2 ou 3 objetos (ou grupo de objetos) que são (ou foram) importantes ou especiais para você. Caso não se lembre de nenhum, informe na sua resposta.

Esta é uma pesquisa inicial sobre as formas de relação que criamos com nossos objetos pessoais: seja pelas qualidades próprias do objeto, pela forma como eles afirmam a nós mesmos, ou pela forma como eles mediam uma relação com outra pessoa.

9) Objeto A:

As informações concedidas só serão utilizadas para fins de pesquisa acadêmica. Caso possua alguma dúvida, comentário ou crítica, o autor deste estudo pode ser contatado em douglas.g.higa@gmail.com.

12) Objeto B:

Obrigado pela sua participação!

10) Ainda possui o objeto? 11) Por que considera esse(s) objeto(s) importante/especial? Há quanto tempo tem esse objeto?

13) Ainda possui o objeto? 14) Por que considera esse(s) objeto(s) importante/especial? Há quanto tempo tem esse objeto? 15) Objeto C:

I. Dados pessoais

1) Nome completo: 2) Idade:

16) Ainda possui esse objeto? 17) Por que considera esse(s) objeto(s) importante/especial? Há quanto tempo tem esse objeto?

3) Sexo: 4) Profissão: 5) Estado civil: 6) Possui filhos? 7) Cidade de residência: 8) Bairro de residência:

III – Possui algum objeto significativo pela maneira como foi adquirido?

CIte 2 ou 3 objetos (ou grupo de objetos) que são (ou foram) significativos pela maneira como foram adquiridos. Caso não se lembre de nenhum, informe na sua resposta. Os objetos citados na pergunta anterior podem ser repetidos aqui. Caso isso aconteça, por favor, informe o objeto repetido e


complemente sua resposta quando necessário.

29) Por que esse(s) objeto(s) te lembra dessa pessoa? Quando e de quem ele foi adquirido?

18) Objeto D:

30) Objeto H:

19) Ainda possui esse objeto?

31) Ainda possui esse objeto?

20) Por que considera esse(s) objeto(s) significativo? Quando e como ele foi adquirido?

32) Por que esse(s) objeto(s) te lembra dessa pessoa? Quando e de quem ele foi adquirido?

21) Objeto E: 22) Ainda possui esse objeto? 23) Por que considera esse(s) objeto(s) significativo? Quando e como ele foi adquirido? 24) Objeto F: 25) Ainda possui esse objeto?

33) Objeto I: 34) Ainda possui esse objeto? 35) Por que esse(s) objeto(s) te lembra dessa pessoa? Quando e de quem ele foi adquirido?

Concluindo – Como este questionário chegou até você?

26) Por que considera esse(s) objeto(s) significativo? Quando e como ele foi adquirido?

Esta é uma tentativa de mapear as relações entre as pessoas que participaram dessa pesquisa. Indique, nos campos abaixo, o nome da pessoa que repassou este questionário e qual o tipo de relação que você tem com ela.

IV – Possui algum objeto que te lembre de uma pessoa em especial?

Caso tenha achado o tema interessante, ajude compartilhando este questionário com outras pessoas também! Obrigado!

CIte 2 ou 3 objetos (ou grupo de objetos) que te lembrem de uma ou mais pessoas em especial. Caso não se lembre de nenhum, informe na sua resposta.

36) Nome da pessoa: 37) Tipo de relação com a pessoa:

Os objetos citados nas perguntas anteriores podem ser repetidos aqui. Caso isso aconteça, por favor, informe o objeto repetido e complemente sua resposta quando necessário. 27) Objeto G: 28) Ainda possui esse objeto?

Tabela 1 – Modelo do questionário realizado durante a etapa de pesquisa de campo

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Preparação e divulgação do questionário

A pesquisa começou com a elaboração de um questionário online (ferramenta: Google Forms), cuja premissa partia da idéia de que, além de fatores pessoais como aparência ou utilidade, também eram diferenciais que tornavam um objeto especial o seu modo de aquisição e a sua referência – a uma pessoa, um local ou um evento. O questionário (tabela 1) foi, assim, divido em 5 seções: I. Dados pessoais II. Quais objetos seus você considera importantes ou especiais? III. Possui algum objeto significativo pela maneira como foi adquirido? IV. Possui algum objeto que te lembre de uma pessoa em especial? V. Como este questionário chegou até você? Após um breve texto de apresentação, o questionário se iniciava com algumas questões a respeito da pessoa respondente (seção I), com o objetivo de formar uma base de dados para eventuais filtros e agrupamentos de respostas – por faixa etária, gênero, localização etc. Por sua vez, as seções seguintes (II, III e IV) destinavam-se a coletar exemplos de objetos significativos para os respondentes, através de abordagens diferentes. Optou-se por começar com uma questão genérica, incluindo as palavras “importante” e “especial”, de modo a tentar obter tanto respostas utilitárias quanto emocionais. Já as duas etapas seguintes direcionavam-se a objetos significativos pelo contexto das suas relações (aquisição, referência), e não tanto em si mesmos, pelas suas características próprias. Optou-se também pela não utilização da palavra “presente”, descartada por induzir a um tipo muito específico de resposta. Cada pergunta era acompanhada por um texto auxiliar, que complementava a questão e abria algumas possibilidades de resposta que o participante talvez pudesse se esquecer, por exemplo: grupos de objetos (genéricos, coleções), objetos que a pessoa não possuísse mais, respostas repetidas e respostas em branco. Por último, a seção final do questionário perguntava através de quem a pessoa participante havia chegado ao questionário e sugeria que ela tam-


bém o compartilhasse com outras pessoas, em uma tentativa de estimular e mapear a sua própria circulação pela internet (imagem 3). O link do questionário foi enviado por email e também pelo Facebook para amigos e grupos de faculdades (Fau e Poli-USP) e obteve a maioria de suas respostas durante os 5 primeiros dias após sua divulgação (imagem 1). Posteriormente criou-se também uma versão em inglês – esta, entretanto, acabou sendo direcionada para poucas pessoas.

Imagens 1 e 2 – Quantidade de respostas por dia (no alto) e faixa etária dos participantes (embaixo)

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Imagem 3 – Relações entre as pessoas que participaram do questionário


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Imagem 4 – Bairros de residência dos respondentes que moravam em São Paulo


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Feedback e imagens

Finalizada a pesquisa via questionário – na qual foram obtidas respostas de 103 pessoas, totalizando 559 objetos diferentes – iniciou-se uma nova etapa da pesquisa de campo, com o objetivo de coletar imagens que pudessem ilustrar algumas das respostas da etapa anterior. Através da criação automatizada de cards (ferramenta: Google Fusion Tables) que possibilitavam organizar as respostas de cada pessoa na forma de um texto customizado, foi possível otimizar o trabalho de entrar em contato, novamente via email ou Facebook, diretamente com cada uma delas, dessa vez pedindo imagens de cada objeto respondido. Conseguiu-se assim um retorno de 29 pessoas, totalizando 151 imagens de diversas qualidades, que variavam de fotos genéricas retiradas da internet à fotos produzidas por câmeras profissionais.


Imagem 5 – Cards do Google Fusion Tables

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Classificação das respostas

De maneira similar à pesquisa de Csikszentmihalyi (1981), criou-se um sistema de análise das respostas baseado em 5 critérios: tempo de posse, categoria do objeto, significado, modo de aquisição e pessoas relacionadas. Para cada um dos critérios, surgiram listas que agrupavam as respostas dentro de temas comuns. Nos casos de respostas que se encaixavam em mais de um grupo, tentou-se, sempre que possível, escolher o predominante. Tempo de posse

Referente a quanto tempo o respondente possuía o objeto mencionado. O resumo das respostas deste critério (tabela 4) nos permite observar três padrões diferentes de respostas: • Específicos. Objetos de tempo de posse mensurável, variando dentro desta pesquisa entre 1 e 50 anos; • Não específicos. Representado pela classificação “Diversos”, diz respeito a objetos adquiridos ao longo do tempo (livros, ingressos, sapatos). Caracterizam grupos, hobbies, coleções e objetos de família. • Não possui mais. Objetos perdidos, roubados, destruídos, jogados fora, dados de presente, vendidos etc. São como o outro lado do modo de aquisição, a maneira como eles são repassados ou consumidos. Categoria do objeto

Cada objeto foi classificado dentro de uma categoria predominantemente utilitária, como seções de produtos em um supermercado (referência: Wal-Mart). Em relação à pesquisa realizada por Csikszentmihalyi, houveram grandes diferenças entre as categorias de objetos mais respondidas (tabelas 2 e 5). As categorias “Eletrônico/acessório” e “Vestuário/acessório”, com mais de um quarto do total de respostas, aparecem em primeiro (mesmo com celulares, câmeras e jóias separados em categorias à parte). Em seguida aparece a categoria “Souvenir”, para objetos definidos aqui como pequenas lembranças de uma pessoa ou um lugar, possuindo pouca ou nenhuma função utilitária. “Livro/publicação” e “Papelaria” completam os 5 primeiros da lista. A relação


completa dos objetos respondidos, organizados por categoria, pode ser vista no final desse caderno.

Tabela 2 – Objetos mais citados na pesquisa de Csikszentmihalyi (1981, p.58).

Significado

Referente ao significado do objeto para o respondente. (tabela 6) • Conquista/marco pessoal. Representa um momento importante da vida da pessoa. • Custo-benefício/sorte. Casos em que o fator principal foi o custobenefício ou a sorte de encontrar o objeto. • Desenvolvimento pessoal. Representa a evolução da pessoa. • Estética/qualidade intrínseca. Relacionados à aparência ou características próprias do objeto, como acabamento, durabilidade, estranheza etc. • Expressão pessoal. Similar a “Desenvolvimento pessoal”, porém com mais ênfase no uso do que na recordação. • Extensão do corpo. Quando a importância do objeto se torna indispensável para a pessoa. Exemplo: óculos. • Memória. Objetos que lembram uma época ou lugar. Objetos que remetem a outra pessoa foram classificados no grupo “Relacionamento”. • Prazer. Relacionados a hobbies, diversão, descanso etc. • Relacionamento. Objetos que confirmam, reforçam ou lembram da relação com outra pessoa. 56—57


• Representação de um ideal. Relação com um pensamento, estilo de vida, ideologia etc. • Talismã. Relacionados a sorte ou proteção. • Tempo de posse. Casos em que o tempo de posse supera outros significados, como utilidade ou estética. • Único. Quando o objeto é insubstituível, por uma combinação de diversos motivos. • Utilidade. Objetos valorizados pelo seu uso cotidiano. Casos em que a sua função se torna indispensável podem ser classificados dentro de “Extensão do corpo”. Casos em que as características próprias do objeto são mais importantes que o seu uso podem ser classificados dentro de “Estética/qualidade intrínseca”. Forma de aquisição

Referente à maneira como os objetos foram adquiridos pelos seus donos. Aqui, as exceções foram tão ou mais relevantes que formas convencionais de aquisição, como compra ou mesmo presente. (tabela 7) • Adquirido. Caso em que não existe a intenção direta de compra. São objetos adquiridos de forma quase natural (“tenho desde que nasci”, “foi deixado em casa”), ou como resultado de uma ação (competição, sorteio, brinde, formatura). • Compra. Objeto adquiridos através de pagamento em dinheiro. • Compra com dinheiro achado. Mistura de “Compra” com “Encontrado”. • Customizado. Objetos customizados com características de alguém. Foram incluídos, por exemplo, camisetas personalizadas, diários, cartas, fotos etc. Geralmente, são casos em que a idéia de aquisição parece não fazer muito sentido, pelo fato de o objeto mudar de natureza após a sua customização. • Da família. Objetos comuns da família, onde não existe necessariamente um dono, ou objetos que foram repassados entre gerações, como herança. • Diversa. Grupos de objetos, adquiridos ao longo do tempo de maneiras diversas. • Encontrado. Objetos encontrados por acaso. • Indefinido. Casos em que não foi possível definir o modo de aquisição por falta de informações.


• Não adquiriu. Um caso específico em que a pessoa se lembrou de um objeto que ela sempre quis, mas nunca teve. • Presente. Objetos recebidos como presente. • Resquício. Referente a sobras, descartes e outros objetos que perdem valor após o uso. Exemplo: ingresso de show. • Troca. Objetos trocados, sem uso de dinheiro. Pessoas relacionadas

Este critério de classificação partia da idéia de que existem três tipos básicos de relações: pessoa-pessoa, pessoa-objeto e pessoa-objeto-pessoa, interessando aqui apenas os dois últimos. Percebeu-se depois que a relação pessoa-objeto podia ser também uma referência de volta a própria pessoa, ou seja, também podia ser considerada uma relação pessoa-objeto-pessoa. Casos como este receberam a classificação “Própria pessoa/objeto” e foram predominantes nas respostas (tabela 8), em relação provável com a faixa etária dos respondentes. Os grupos de pessoas relacionadas encontrados foram: • • • • •

Amigo(s). Diversos. Grupos de objetos, relacionados com diversas pessoas. Ex-namorado(a)/amigo(a). Família. Alguém em específico ou família como um todo. Indefinido. Casos em que não foi possível definir a pessoa relacionada por falta de informações. • Namorado(a). • Outros. Desconhecidos, celebridades, animais de estimação etc. • Própria pessoa/objeto. O agrupamento “própria pessoa” e “próprio objeto” foi uma escolha baseada em situações em que ambos pareciam indissociáveis, por exemplo em “meu livro preferido” ou “meu primeiro carro”.

58—59


Categoria do objeto

Sexo

Pessoas Objetos

Total

F

M

Eletrônico/acessório

78

33

45

Vestuário/acessório

72

38

34

Souvenir

42

23

19

Feminino

55

304

Livro/publicação

37

18

19

Masculino

48

255

Papelaria

30

15

15

Joalheria

25

19

6

Artesanato/feito à mão

24

16

8

Mobiliário

23

18

5

Brinquedo

23

11

12

Carta/fotografia

22

12

10

Utensílio/portáteis

21

11

10

Bicho de pelúcia/ almofada

21

14

7 8

Tempo de posse

menos de 1 ano 1-5 anos

Total 44 153

6-10 anos

55

Transporte

20

12

11-20 anos

40

Celular/telefonia

17

9

8

21-50 anos

19

Instrumento musical

17

4

13

Diversos (grupos)

50

Vídeo/música

15

7

8

Deixou com amigo

1

Câmera/filmadora

13

6

7

Deletou

1

Louça/prataria

11

7

4

Destruíram

1

Beleza/saúde

9

6

3

Deu de presente

2

Eletrodoméstico

6

6

0

Jogou fora

3

Esporte/lazer

7

3

4

Não possui (indefinido)

9

Videogame

5

0

5

Nunca teve

2

Alimento/bebida

4

2

2

Perdeu

6

Animais/plantas

4

4

0

Quebrou

2

Cama/mesa/banho

3

2

1

Roubado

1

Ferramenta

3

1

2

Vendeu

2

Casa/construção

2

2

0

Certificado/medalha

2

1

1

Diversos

1

1

0

Evento

1

1

0

Meta-resposta

1

1

0

Indefinido

168

Tabelas 3, 4 e 5 – Número de participantes e objetos, separados por sexo (cima esquerda); classificações de tempo de posse por ordem cronólogica ou alfabética (baixo esquerda); classificações de categorias de objetos, ordenadas pelo número de respostas* (direita).


Forma de aquisição

Significado

Total

F

M

Total

F

M

Compra

204 102 102

Presente

199 113

86

Customizado

29

19

10

Da família

29

19

10

Adquirido

24

15

9

24

13

11

Relacionamento

135

75

60

Diversa

Memória

116

66

50

Resquício

5

2

3

55

Encontrado

4

1

3

18

Troca

4

2

2

1

0

1

Utilidade

112

57

Conquista/marco pessoal

45

27

Prazer

44

20

24

Compra com dinheiro achado

Estética/qualidade intrínseca

42

29

13

Não adquiriu

Desenvolvimento pessoal

20

8

12

Talismã

12

9

3

Tempo de posse

12

6

6

Único

7

2

5

Custo-benefício/sorte

6

2

4

Pessoas relacionadas

Representação de um ideal

4

1

3

Própria pessoa/objeto

262 129 133

Extensão do corpo

3

2

1

Família

Expressão pessoal

1

0

1

Indefinido

1

0

1

35

18

17

Total

F

M

127

53

74

Amigo(s)

76

35

41

Namorado(a)

24

13

11

Ex-namorado(a)/ amigo(a)

22

11

11

Outros

12

4

8

7

3

4

29

10

19

Diversos Indefinido

Tabelas 6, 7 e 8 – Classificações de significados, ordenados por número de respostas* (esquerda); classificações de formas de aquisição, ordenadas por número de respostas* (cima direita); classificações de pessoas relacionadas, ordenadas por número de respostas* (baixo direita).

*Nas tabelas 5, 6, 7 e 8 o total de respostas é definido pela soma de F (feminino) e M (masculino). 60—61


Conclusões da pesquisa de campo

Sobre o método de análise e classificação das respostas, muitas mudanças ainda poderiam ser feitas com a finalidade de torná-lo mais preciso. O resultado geral, entretanto, conseguiu acrescentar novas noções sobre os modos de relacionamento existentes entre pessoas e objetos, atingindo assim seus principais objetivos. Enquanto respostas relacionadas a compras e presentes eram mais que esperadas, e de fato foram maioria, verificou-se a existência de modelos menos óbvios de circulação e propriedade, como no caso de objetos que mudam de natureza após a sua customização. A fotografia de amigos, em especial as de câmeras digitais, parece ser um dos melhores exemplos, uma vez que é complicado definir o seu proprietário: tanto o envolvimento do fotógrafo, da câmera e dos fotografados são essenciais para o resultado final. Mesmo a idéia de que a foto é propriedade do grupo envolvido soa um pouco estranha – o pensamento de que “a foto é nossa” remete mais a participação do que posse. Dentro desse grupo, até a aquisição dessa foto como presente não parece fazer muito sentido. Outro exemplo encontrado foram os objetos-resquícios – como embalagens e ingressos – que são “libertados” de relações de propriedade uma vez cumprida a função a que foram atribuídos. Se diferenciam também por se tornarem significativos após seu consumo, e não pela sua aquisição direta. É interessante também como, apesar da variedade de categorias, a idéia de compra e propriedade ainda existia em etapas anteriores à sua aquisição, como no caso de objetos customizados, encontrados, da família e mesmo em muitos presentes. Este dado, resultado do sistema econômico atual, demonstra a idéia de como desvios no modo predominante de distribuição contribuem para a apropriação de novas formas de significado, que escapam assim a significados atribuídos através de convenções sociais, sendo sempre pessoais e imprevisíveis. Na elaboração do questionário, talvez uma ênfase maior sobre casos de “objetos que já foram importantes, mas não são mais”, pudesse trazer resultados interessantes. Estes estão representados, em certa medida, pelas


respostas de objetos que não estão mais com seus donos e são também exemplos práticos da efemeridade e da circulação daquilo que possuímos. Dessa maneira, o fato de muitas pessoas sentirem dificuldade em conseguir listar todos os objetos não significa necessariamente uma relação impessoal com eles, mas talvez o desapego necessário para que novos objetos e afetos circulem por nós. Quantos objetos com pequenos significados – mesmo pouco importantes, mas ainda assim especiais – não deixaram de ser respondidos por não terem sido lembrados?

62—63


Lista de objetos por categoria

alimento/bebida

bala de algas bala de flores do Japão garrafa de cerveja lata de suco de maçã japonesa animais/plantas

3 vasinhos de mini cactos caixa de banho chinchila Ovo Habitrail trevo de quatro folhas artesanato/feito à mão

3 bonequinhos feitos com cones de linha a painting cachecol e braço de guitarra quebrado caixa caixinha pintada carteira coração feito de clips desenhos desenhos do Lucas estátua de Buddha fronha de travesseiro bordada maquete de uma cobertura mascaras da Guatemala minha mandala pote de cerâmica turca pote de corações de origami quadro tamanduá de madeira text message, email

um enfeite de madeira com formato de prancha de surfe um papel contendo uma conversa com meu melhor amigo um pote de porcelana peruano uma caixinha de madeira uma pedra esculpida em forma de coração beleza/saúde

batom escova de dente esmalte perfume perfume de flor de cerejeira protetor solar qualquier sabão com um perfume estranho talco para os pés uma caixa de sabonete Phebo bicho de pelúcia/ almofada

almofadas anjinho de pano bichinhos de pelúcia bicho de pelúcia do pica pau bichos de pelucia, almofadas e otras cositas mas cachorro de pelúcia cavalo de pelúcia “ervilhas” de pelúcia leão de pelúcia gigante pequeno ursinho de pelúcia Sullivan de pelúcia Tigrão(zinho) de pelúcia

um ursinho de pelúcia um urso de “pelúcia” de pele de lhama ursinho de cachorro ursinho de pelúcia ursinho de pelúcia ursinho de pelúcia urso de pelúcia urso de pelúcia urso de pelúcia com bordado de coração no pé brinquedo

boneca vietnamita antiga boneco de pano boneco do Topo Gigio bonecos bonecos do X-Men (Apocalipse e Ciclop) bonequinha brinquedos brinquedos Buzz Lightyear (Toy Story) caminhão branco carrinho de miniatura carrinho do Esquadrão Winspector coleção de carrinhos critter (brinquedo de corda) enfeite de panelinhas de ferro Fantastic Puppy jogo da maçã madrioska minha boneca de infância pistola d’agua Aquamatic reprodução do quarto de Van Gogh em magnético

small penguin doll uma marionete de madeira cama/mesa/banho

cobertor de bebê edredon travesseiro câmera/filmadora

camera câmera câmera digital câmera fotográfica câmera fotográfica câmera fotográfica câmera fotográfica câmera fotográfica digital Canon AE-1 Program máquina fotográfica máquina fotográfica máquina fotográfica semi-profissional Rolleiflex carta/fotografia

agenda com fotos de viagem na Europa albúm de fotografias álbum de fotografias álbum de fotos de bebê albúm de fotos personalizado caderno de fotos caderno e cartaz com mensagens caixa com cartas cartão com dedicatoria cartas cartas de namorada foto book


foto de amigos foto pendurada na parede fotos fotos fotos letters porta-retrato porta-retrato “amigas 4 ever” porta-retratos porta-retrato casa/construção

meu apartamento toco de madeira usada na construção da minha casa celular/telefonia

celular celular celular celular celular celular celular celular celular celular celular celular celular celular linha telefônica meu primeiro celular número do celular primeiro celular um celular certificado/medalha

certificates medalha de prata de matemática diversos

objetos que a minha avó me presenteou

eletrodoméstico

geladeira máquina de lavar máquina de lavar roupa maquina de lavar roupas microondas/televisão o meu fogão eletrônico/acessório

aparelho de som backup externo caixas de som calculadora hp coleção de headphone computador computador computador computador computador computador computador computador computador computador desktop computador notebook computador pessoal TK85 computador/laptop computadores fone de ouvido fone de ouvido Koss Porta Pro HD externo headphones iPad iPad iPad iPhone iPhone iPhone iPod iPod iPod iPod iPod Touch 1ª geração Kindle (leitor digital)

laptop MacBook Air MacBook MacBook MacBook MacBook meu desktop meu laptop meu mp3 meu notebook meus bons fones de ouvido microcomputador mouse mp3 mp3 player my laptop notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook notebook, ipod, celular... PC desktop PC e camera rádio AM toot-a-loop azul que virou verde rádio de pilhas smartphone som quarto tablet

esporte/lazer

barraca bola de baseball meu primeiro long prancha de surf shinais (espadas de bambu) skate sleeping bag evento

festa surpresa ferramenta

estação de solda óculos de proteção (EPI) uma caixa de ferramentas instrumento musical

contrabaixo Yamaha RBX170 flauta pan e queña guitarra guitarra Fender American Standard Stratocaster instrumentos musicais meu acordeon piano sanfona sanfona vermelha set de percussão teclado Roland XP-80 violão violão violão violão violão violão Yamaha APX6NA joalheria

aliança aliança aliança alianças

64—65


alinça de compromisso anel de pedra azul brinco brinco de papel colar colar colar colar de anjo colar de pérola colar de prata com pingente de estrela corrente com santo corrente de ouro corrente de ouro branco meu anel Ohikari par de brincos que ganhei de presente pingente em formato de coração de por foto dentro um anel um broxe com desenho de um casal um colar uma pingente de ouro de São Bento livro/publicação

Architecture Now Bíblia coleção de livros “Os pensadores” coleção de livros da série Percy Jackson coleção quadrinhos Scott Pilgrim coleção Sandman quadrinhos dicionário japonês gramática holandesa em francês Grimm’s Fairy Tales e Alice in Wonderland guia de Londres livro livro livro livro “The Gift”

livro “Beauty and the Book” livro Bushido livro de histórias infantil livro do curso feito em outro país livro Gato de Botas livro Milan Kundera livro sobre geologia livro Sr. dos Anéis livro-revista Car Styling edição especial sobre a BMW livros livros livros livros livros livros e revistas maps and information hand-outs meus livros meus livros de desenho/ilustração/ animação meus quadrinhos outro livro um livro um livro da “Mafalda” autografado pelo Quino um livro sobre o relacionamento humano louça/prataria

caneca canecas mario bros colher de sopa copo copo de filme copos moringa da tunisia taça de vinho taça vermelha um copo uma caneca escrita best friends

meta-resposta

presentes mobiliário

armarinho veneziano armário armário Tokstok banco do Gabriel Sierra beliche cadeira cama cama cama cama de casal escrivaninha (mesa de escritorio) estante de livros luminária mesa mesa branca de estudos mesa de jantar mesa de luz meus móveis minha cama minha cama móveis planejados prancheta sofá papelaria

agenda cachepot de metal para canetinhas e lápis de cor caderno caderno caderno caderno com mapas caderno de anotação caderno de anotações caderno de croquis caderno de desenhos cadernos caixa de lápis de cor caneta caneta caneta

caneta caneta com meu nome caneta Cross caneta tinteira de prata canudo de formatura lápis/lapiseira/caneta lápis de ovelha lapiseira lapiseira amarela marcador de texto meu cemitério de tocos de lápis meu(s) cadernos de desenho papel e caneta pincéis chineses school notes souvenir

bolinho em cerâmica bubbler-pipe caixa de joias de madeira caixa de música caixinha de metal caleidoscopio cartão postal cartuchos .50 da Desert Eagle chaveiro chaveiro chaveiro chaveiro da Coca Cola chaveiros coleção de areia coleção de ingressos de show coleção de rochas cruz de madeira decoração - estatueta de baleia branca fita/pulseira folha decorativa girafa de enfeite globo de neve globo de plasma gravura de Camerino


incensário de latão ingresso de uma peça de teatro leque lucky coin minha coleção de copinhos das minhas viagens mini bonequinho em formato de criança miniatura Excalibur miniatura Fusca Azul objetos com o tema gatos paper toys pedra em formato de disco voador pedras do Muro de Berlim piranha porta-jóias de porcelana sapo-matraca souvenir de Olinda/PE um chaveiro de sino na carteira um pedaço de plástico que lembra uma rosa. transporte

bibicleta bicicleta bicicleta bilhete único BMX carro carro carro carro carro carro carro Fusca Fusca 76 meu antigo carro minha bicicleta moto motocicleta CB 450

utensílio/portáteis

alicate de unha bengala de madeira cafeteira Bialetti canivete canivete suiço coqueteleira dedal espelho espelho de bolsa guarda-chuva meu despertador meu relógio piteira relógio relógio relógio relogio de pulso Braun secador de cabelo secador de cabelo braun secador de cabelos vibrador simples (rosa) vestuário/acessório

a green coat algumas roupas que comprei em viagem com minha ex-namorada bata da faculdade blusa blusa de lã blusa florida rosa bolsa bolsa boné do hard rock bota de caminhada bracelete cachecol camisa camisa da escola camisa do palmeiras camisas com estampa camiseta camiseta de estampa de fitas K7

camiseta do Rodrigo camiseta do Snoopy camiseta e caixinha de lembranças cardigã carteira carteira casaco vermelho chapéu amarelo chapéu de criança chapéu do tirol chapéu vermelho cinto do exército francês cordão gorro grampos de cabelo jaqueta jaqueta de couro jaqueta de couro lenço lenço/cachecol meu par de óculos mochila mochila mochila mochila mochila mochila mochila mochila rosa Kipling Nike Shox Turbo 12 óculos óculos escuro antigo do meu avô palito de metal pochete prendedor de cabelo (piranha) pulseira pulseiras roupas roupas dadas pela minha amiga roupas e calçados sandália preta sapato de tango sapatos

sapatos de couro sapatos de dança sweat shirt tênis tennis uma camiseta amarela uma camiseta pequena demais para mim uma camiseta vermelha com ilustração de uma mulher vestido de tricot wallet xale de crochê vídeo/música

boxes de DVDs CD de homenagem a Serge Gainsbourg CD de música CD Evanescence CD Firebug CD Invisible Bands, do Travis CD/Tape CDs DVDs de qualquer filme que gosto muito fita K7 Is This it, CD dos Strokes os CD’s do Reverbera (2 oficialmente) pôsters de filmes um CD do Slip Knot uma fita cassete de um desenho que eu gostava videogame

my old Playstation video game video-games Wii Xbox 360

66—67


Caderno 3


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