Moda e Arquitetura: Uma abordagem sobre o processo criativo

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Brasília, DF, 22 de outubro de 2021 Resumo

Com o propósito de abrigar e servir, os dois campos são mutáveis e costumam assumir vários papéis e funções com a variante do tempo. É nítido a mudança e o crescimento dessas áreas, suas transformações podem ser facilmente visualizadas

O artigo aborda a nova relação entre arquitetos e estilistas no processo de criação análogo e concepção de tendências para interiores. A cada dia, mais estilistas são convidados para trazer uma nova ótica na elaboração de produtos voltados para vestir a casa; Revestimentos, mobiliário, esculturas, adornos e obras de arte são algumas áreas em que a aplicabilidade dos conhecimentos é ponderada, discutida e apreciada. O inverso também acontece quando arquitetos são convidados para a elaboração de coleções de passarela e findam desenvolvendo coleções sazonais com risco de se tornarem atemporais. Estão sendo analisados a correlação e o processo criativo símile que ocorre quando esta troca de papel é exercida, suas semelhanças, desafios e métodos. A base de dados utilizada se encontra nas entrevistas e conceitos de obras de estilistas e arquitetos renomados. O procedimento deste estudo se caracteriza como uma pesquisa bibliográfica e documental, explorando essencialmente livros e artigos científicos, além de periódicos como jornais e revistas, enciclopédias, páginas de sites da Internet, entre outros. Palavras-chave: Criação. Design. Moda. Arquitetura. 1. Introdução Arquitetura e moda são campos imaginativos e criativos que abordam corpo, forma, proporção e equilíbrio; Estes são os princípios ativos que aproximam estas artes, levando em conta que o vestir e o morar são necessidades humanas que geram identidade entre o meio físico, social e político.

– IPOG

Moda eArquitetura: Uma abordagem sobre o processo criativo Júlia Machado Duarte

De acordo com Lipovetsky (2008), a moda é tida como principal “referência” dos movimentos artísticos entre os séculos XIX e XX. Contudo, ela não se restringe apenas a aparência, mas continua atuante na área da decoração até os dias atuais.

Apesar de servirem essencialmente a propósitos elementares como vestir e abrigar, a arquitetura e a moda podem assumir diversas formas em diferentes períodos. Uma pesquisa rápida já revela que a moda dos anos 50, por exemplo, é muito diferente da contemporânea, da mesma forma que a arquitetura e o design se transformaram bastante ao longo das décadas.

A proximidade entre essas áreas se dá na constante busca de mudanças e pela procura permanente de inovação, criando um paralelo neste processo de criação e construção que, apesar de abrangente, situa se no mesmo conceito histórico.

O escritor e arquiteto Andrew Galloway (2014) questiona através do seu artigo no The Telegraph “Arquitetos, deixem a moda para os estilistas” a posição ocupada pelos arquitetos nos convites de criação de produtos para grandes grifes. Essa problemática age em função do alerta sobre o campo criativo e o novo perfil de consumo global. A partir do momento em que estilistas exploram o universo arquitetônico em suas criações e arquitetos se inspiram no fashion para conceber novos conceitos em projetos de arquitetura e interiores, a discussão sobre o processo criativo que une um objeto comum, o corpo, começa.

A moda e a arquitetura atuam no campo criativo com ações contemporâneas, influenciando os indivíduos a partir dos métodos e processos, atuando na tradução do objeto de desejo aqui simbolizado por peças renomadas em produtos que vão além do básico. Estes segmentos não se estabelecem de forma separada, sendo

pelo uso da memória, ou acompanhando um programa de TV de outra década. Esta pesquisa em si nem precisa alcançar um período de tempo longo, em 5 anos já conseguirmos ver como sempre existe um lançamento que tem como premissa inovar, quebrar cadeias e inaugurar conceitos.

A partir da compreensão de que o corpo é meio de conexão entre moda e arquitetura, não é de se estranhar que os estilistas buscam no universo arquitetônico inspirações para dar origem à novos conceitos intrínsecos. Porém, há uma grande objeção dos profissionais das duas áreas sobre o uso de atribuiçõesexercido por cada profissão. Uma grande parcela de profissionais acredita que uma área não deve interferir na outra por resultado de desvalorização profissional, tese que se abstém para o caso de profissionais renomados.

agregados por cada criação, produto, desenvolvimento e comercialização onde as duas áreas se complementam e se influenciam entre si.

É possível visualizar que tanto no vestuário, quanto no edifício e quanto na decoração há a busca pelo nutrir a ideia de abrigo e conforto no homem. A partir desta ótica conseguimos perceber que ambos terão o resultado desejado, suprir e assegurar às

Embora muitos estejam de acordo com Bonsiepe, existem ainda os que acreditam que este mesmo Fun Design elevou o mobiliário, a decoração e a moda à uma grande era do desejo e consumo. A área que aqueceu dá lugar a novos nomes e fomenta o sentimento de fazer parte de algo, que é o grande briefing de comercialização do vestuário, arquitetura e interiores.

Porém, no Brasil, ainda existe uma enorme dificuldade em desassociar a moda prática (vestuário) e a moda conceito. O conceito dá lugar e abrange a percepção para uma verdadeira relação de consumo e estilo de vida, além de apresentar sua integração de interesses com a arquitetura dando a abertura necessário de aceitação.

Caldas (1999) afirma que acontecia uma incessante busca pelos novos “modos de vestir”. Essas maneiras de vestir expressavam e distinguiam a identidade dos diferentes povos, não muito diferente dos tempos atuais.

O designer alemão Georg Bonsiepe disserta sobre essa teoria do consumo, ele afirma que ela está integralmente entrelaçada na função: “Inicialmente, design associava-se às atividades projetuais. Contudo, a partir da década de 1990, foi perdendo o seu significado original e adquirindo outras conotações, como o divertido (fun design), caro, superficial, extravagante, efêmero, caprichoso e emotivo. Associou se a moda, festas e eventos midiáticos. Perdeu o rigor e transformou se em termo curinga, não contribuindo para consolidar a profissão dos projetistas de produtos e programadores visuais.” Bonsiepe (2011, p. 13)

Na Expo Revestir/2010, o arquiteto italiano Francesco Lucchese, falou que “a moda e a arquitetura nos protegem, nos dão abrigo e expressam nossa identidade pessoal, política, religiosa e cultural”, garante que “os materiais são como instrumentos da arquitetura que, assim como a moda, criam a forma, a escultura, etc.”.

2. Arquitetura como complemento da moda A moda instaurou-se no ocidente a partir do século XVI, quando se deu início à uma época em que a diferenciação por meio da aparência teve um crescimento exponencial, estabelecendo assim uma certa ânsia por tudo o que era novo.

Figura 1 Desfile Maria Bonita,2010 e obra da Lina bo Bardi Fonte: Dados produzidos pelo Pinterest (2016) Yopanan Rebello, em entrevista concedida à Revista AU (nº 133, Abril/2005), discorre que “a roupa pode ser vista em primeira instância, como o abrigo imediato, mais próximo da pele humana do que qualquer outro elemento que a arquitetura possa conceber”. E afirma “ela é uma espécie de arquitetura primeira, abrigo que se descola da pele do homem e se projeta ampliando sua ocupação”. Analisando a afirmação do autor é possível relatar que o conceito de arquitetura primeira defende a exposição feita por Svendsen sobre a finalidade conjunta do

pessoas no contexto em que vivem. O autor Lars Svendsen disserta: [...] Immanuel Kant nos forneceu uma descrição da moda que se concentra em mudanças gerais nos estilos de vida humanos: “Todas as modas são, por seu próprio conceito, modos mutáveis de viver”. [...] Algo semelhante foi dito pelo filósofo Gilles Lipovetsky: “Moda é uma forma específica de mudança social, independente de qualquer objeto particular; antes de tudo, é um mecanismo social caracterizado por um intervalo de tempo particularmente breve e por mudanças mais ou menos ditadas pelo capricho, que lhe permitem afetar esferas muito diversas da vida coletiva”. (SVENDSEN, 2010, p. 12 13)

Numa entrevista concedida ao Correio Braziliense, o estilista Reinaldo Lourenço declara “O processo de criação de uma estampa para móveis foi muito parecido com o de criação de roupas; Em meu trabalho, já olhei para o movimento Bauhaus, para Brasília; Não tem como pensar na moda sem olhar para a arquitetura.”. Pode se interpretar a partir desta colocação que a arquitetura se comporta como estado de referência fixa numa extensa aplicação do processo criativo. A arquitetura também tem buscado suas referências nas mãos de grandes profissionais da moda, vejamos alguns exemplos de quando a arquitetura invadiu o processo criativo dos estilistas.

processo de criação dos dois setores, identificando que a moda pode ser vista e concebida com uma desenvoltura similar.

Na figura 2 é possível a visualização da forte influência e inspiração do estilista John Galliano nas curvas, formas e espelhamento concebidas pelo conceituado e reconhecido arquiteto modernista Frank Gehry. No entanto, há uma certa diferença na recepção das duas artes. Embora o processo criativo tenha se dado por grande troca de inspiração, a moda atinge seu público alvo com maior democracia e com um diálogo mais próximo. Ela cumpre a função de abrigar o corpo de forma mais direta. A influência da moda também está presente na arquitetura de interiores, apresentada nos mobiliários, adornos, estampas e até em móveis planejados como é o caso da Empresa Dell’Anno que lançou 3 coleções mesclando as duas artes com nomes reconhecidos nesta relação moda-arquitetura. Estas coleções se apresentam no processo criativo do Design de Superfícies.

Figura 2 Museu Guggenheim Projeto de Frank Gehry. Ano 1997. Coleção John Galliano. Fonte: Dados produzidos no artigo Liana Chaves (201)

Figura 3 Coleção Dell’anno com parceria de Glória Coelho. Ano 2016. Coleção Quantum. Fonte: Dados reproduzidos no Dell’Anno Rio.

Conseguimos visualizar através desta criação a forma como a textura está em total dinâmica com o espaço planejado. Ela age criando novas texturas para o design contemporâneo em que a decoração atua. Essas texturas possuem referências da arquitetura escandinava criando um ciclo de tendência > inspiração > criação > desenvolvimento> tendência.

Figura 4 Coleção Reinaldo Lourenço para Dell’Anno. Ano 2011/2012. Coleção Duo Chamalote. Fonte: Dados produzidos no site oficial Dell’Anno. O estilista Reinaldo Lourenço também entrou na coleção da Dell’Anno, através de texturas criadas para o mobiliário planejado. Dessa vez o estilista trouxe a mistura lã seda para o mobiliário. Este tipo de criação não se dá apenas para os profissionais da moda, mas arquitetos também desenvolvem coleções com a mesma finalidade.

O arquiteto brasileiro Vincenzo Visciglia perpetua seu trabalho no vestuário; Criou para a grife Swarovski um vestido, continuando com sua linha moderna e luxuosa tão presente em seus projetos arquitetônicos.

Nesta coleção, a arquiteta italiana Paola Navone traz um processo de criação bem próximo dos trabalhos de Reinaldo Lourenço e Glória Coelho, apesar das distintas profissões. A coleção apresenta a textura e aparência de um bombom, remetendo à uma memória afetiva da primeira infância.

Figura 5 Porcelanato Bonbon Projeto Paola Navone e Portobello. Ano 2020. Fonte: Dados produzidos na Portobello Shop.

Figura 6 Vestido Vincenzo Visciglia para Swarovski, projeto de Vincenzo Visciglia. Ano 2015. Fonte: Dados Casa e Jardim.

de reprodutibilidade das formas de criação e compreendendo o aspecto comercial que ocorre nestas áreas, a designer Miuccia Prada, sobrinha do fundador Mário Prada, elevou a marca Prada à uma experiência cultural arquitetônica muito além de uma compra. Com um projeto criado pelo renomado arquiteto Rem Koolhas, a concepção se deu através de um viés comercial artístico, quase uma galeria de arte onde as obras em apresentação eram vestimentas assinadas.

3. Moda como experiência cultural arquitetônica Há muito existe um debate sobre quem seria a primeira influência entre as duas áreas de atuação.

Visciglia atua em Dubai como arquiteto, mas começou a fazer sucesso no mundo da moda pela criação de alta costura para sheiks árabes e suas famílias. É notável o bom desempenho deste profissional na área do design de moda. O processo estético é facilmente assimilado no vestido e no projeto, isso ocorre pela conclusão anterior: o processo está intrínseco em sua essência: criar com função e estética. No dia a dia da profissão, existe uma limitação tanto para o design de moda quanto para o arquiteto. Essa limitação está diretamente ligada ao processo de criação; Modelagem, estrutura e forma são as bases deste processo que estão restringidos aos recursos: matéria prima, valor de produção e poder aquisitivo do consumidor final. Nestes casos, o processo de criação está subordinado ao livre mercado, às tendências e as demandas do trabalho, aos gostos de quem possui maior poder aquisitivo e o profissional precisa encontrar uma forma de se sobressair e criar sua identidade.

Heard (1924 apud Souza, 2001, p. 34) nos leva a refletir através da sua afirmação “Assim uma geração depois do aparecimento do gótico, em 1175, começamos a presenciar as primeiras aplicações da forma gótica na vestimenta, a ogiva e o sapato pontiagudo avançando juntos.” que a moda reflete a criação arquitetônica.Nessaépoca

É possível identificar que a concepção arquitetônica da sede Prada age num sentido amplo de conexão e cooperação dessas duas artes. Novick (2004) diz que “A segunda pele do homem é a roupa e a terceira é a sua casa.”, identificando e validando todos os benefícios resultantes dessa conexão.

Os processos dessas criações são capazes de difundir o entendimento a várias classes sociais, tornando se uma manifestação artística e cultural influenciando os indivíduos a “vestirem” essa expressão de arte com a qual sentiu-se identificado no período de vida em que esteve exposto. Isto nos leva a acreditar que a cultura é a verdadeira fonte inspiradora, as crenças de um povo, o universo em que o indivíduo está inserido, as músicas locais e os costumes de cada lugar ditam o desempenho.

Figura 6 Loja Prada em Manhattan, projeto Rem Koolhas. Fonte: Site Oficial Prada Brasil.

4. Processo de criação

Os processos de criação das duas áreas possuem semelhanças estruturais como o estudo de formas, dimensões, proporções e estruturas. A estilista Diana Santos disponibiliza seu processo criativo sobre proporção corpórea e podemos comprovar essa similaridade de criação através da figura subsequente.

Figura 8 Croqui proporção corporal no museu Niemeyer.

Figura 7 Croqui proporção corporal da designer Diana Santos

Fonte: Site Revista Museu. Seria impossível identificar onde o processo de criação começa, mas é possível reconhecê las como arte de expressão direta entre o indivíduo e o mundo em que habita. O estilista Miguel Gigante, do Atelier de Burel em Portugal disse em uma

Fonte: Site Croquiando moda Oscar Niemayer, renomado arquiteto modernista apresenta em suas obras e esboços a sua maior fonte de inspiração: o corpo. As curvas acentuadas e destacadas em proporção com a estrutura de apoio é, em sua totalidade, tudo que vemos e enxergamos no processo criativo do design têxtil. Niemeyer afirmava: “O que me atrai é a curva livre e sensual”, muito reconhecida em suas obras e ainda reafirma sua paixão e inspiração aberta “no corpo da mulher preferida"

“Compreendemos com isso que é possível que um estilista não tenha a necessidade de cortar e costurar sua roupa, mas é essencial que ele acompanhe de perto todas as minuciosidades do processo, que além de enriquecer seu repertório, direciona o caminhar da coleção e possibilita inspirar se no processo de evolução de uma roupa para criar outra com algum detalhe de um possível erro intrigante.” (SERRANO, 2016)

A criação está intrínseca ao desenvolvimento de metodologia própria para o resultado procurado, este processo exige sensibilidade, contexto e coerência. Dentre o processo de criação existem algumas etapas a serem seguidas: O problema a ser resolvido, as pesquisas e referências, criação de ideias e testes do produto final. Na

entrevista concedida: Meu processo (de criação) começa com e desde os apontamentos, notas, os “crapuc” (croquis), medição, corte, costura, passar do ferro, até o produto acabado, é tanta gente que passa (pelo processo) que a informação vai se “deturpando”, vai se modificando. Cada processo há uma margem de erros. Eu faço o molde ao milímetro, um, dois, três milímetros, ponho branduras. Faço a fôrma como se passa a peça. Todo o meu processo de trabalho tem um rigor. Faço todos os “crapuc” no cartão. Risco com o lápis ou com giz de alfaiate. Prefiro o lápis, pois dá menos diferença uma vez que é bem mais fino. Depois coloco o cartão sobre o tecido. Se riscar esse tecido grosso, como este sítio, com o giz de alfaiate, o giz é grosso, então quando eu vou cortar, vai dar muita diferença. Aumento dois, três, quatro, cinco, seis milímetros, que fazem no final grande diferença. Isso são coisas particulares de cada processo. Depois do corte vai para preparação, vem a entretela, e tem que se ter muito cuidado para fixá la, pois se não tem esse cuidado fica torcido. Eu trabalho com viés, se não for bem feito, não fica como quero. Um fator muito importante em meu trabalho é o passar do ferro na peça. O ferro é fundamental na minha produção. A forma como se abre uma costura, como se passa a peça. [...] “Busco no final uma peça bem simples e bem acabada. Isso é o fundamental a peça com o acabamento impecável, esse é o diferencial. Meu caminho é a simplicidade aliado ao acabamento por excelência. Sou fascinado por corte e costura e o desafiar na minha produção é ter minhas peças com o acabamento perfeito” (GIGANTE, 2016 p. 14).

Existe uma margem de erro em cada etapa do processo criativo da forma, esta margem de erro pode arruinar ou tornar a obra ainda mais única e atingir o objetivo principal que é a busca incessante pelo novo, belo e o funcional. Quando essa busca acontece, obtemos resultados ainda não alcançados. Existem algumas contradições acerca da metodologia pela existência de vertentes destes processos criativos. A primeira vertente seria a criação do início ao fim e a criação supervisionada, ambas fazem parte das etapas de moda e arquitetura.

A partir deste ponto temos uma problemática, direcionar uma criação e terceiriza la seria, de certa forma, antiético; participar minimamente do processo não define autoria do produto final seja ele uma construção memorável da arquitetura ou o terno mais bem executado. Isso demonstra que o autor não está diretamente ligado à sua criação e é algo que ocorre nos maiores nomes da moda de luxo em departamentos e grandes escritórios de arquitetura.

arquitetura e na moda este processo se apresenta de forma rápida e muito acelerada, com o resultado de fusão das mesmas. (STEIN,1974) diz que o design “é o processo que resulta em um produto novo, que é aceito como útil, e/ou satisfatório por um número significativo de pessoas em algum ponto no tempo”. O processo acontece e se molda através de todos os estímulos e conhecimento adquiridos.

Também no campo do design não se deve projetar sem um método, pensar de forma artística procurando logo a solução, sem fazer antes uma pesquisa sobre o que já foi feito de semelhante ao que se quer projetar, sem saber que materiais utilizar para a construção, sem ter definido sua exata função. (MUNARI, 1998, p. 10

Outras semelhanças destes processos são a estruturação, o estudo de materiais, a silhueta desejada e as texturas estudadas em cada detalhe dessas duas grandes áreas. Ambas buscam atingir a resistência, o conceito e desempenho adequado para suas criações.

Uma segunda forma de encarar essa parceria nos processos criativos é analisar as inovações que estas áreas geram uma para a outra. Algumas empresas no mundo já estão criando alternativas de design upcycling, como o couro vegetal composto através de celulose bacteriana obtidos de resíduos agrícolas da indústria do coco

A autora Cecília Salles aborda o tema e traz uma reflexão sobre todas as etapas do processo criativo na moda: O crescimento e as transformações que vão dando materialidade ao artefato que passa a existir, não ocorrem em segundos mágicos, mas ao longo de um percurso de maturação. O tempo do trabalho é o grande sintetizador do processo criador. (SALLES, 2013, p.40)

A partir da definição da metodologia, da pesquisa, do objetivo (função) e estética do que se refere ao produto final, Bruno Munari disserta em seu livro:

Toda casa, obra de arte, adorno e vestimentas trazem consigo a memória de um processo. (MUNARI, 1998, P.11) diz que “Criatividade não significa improvisação sem método”, “método de projeto é formado de valores”, estes valores podem ser observados e encarados como “objetivos que se tornam instrumentos de trabalho nas mãos do projetista criativo.

Figura 7 Mostruário Malai vegan Couro e sapato produzido pela empresa. Fonte: Malai vegan A empresa Malai Biomaterials Design é a responsável por esta criação, solucionando uma problemática comum apresentada tanto nas passarelas, quanto no design de mobiliário. Através desta descoberta, vemos que a criação beneficia as duas áreas e projeta uma característica sustentável para o design de produtos estabelecendo uma alternativa de inovação para o processo criativo.

Figura 8 Venitas chair e kimono Versace. Gianni Versace, 1994. Fonte: Pinterest, 2021.

5. Arquitetura, moda e interiores Incontáveis arquitetos produzem arquitetura de interiores e ditam tendências através da criação de mobiliários, obras de arte e adornos. Essas tendências são, em sua forma sucinta, uma réplica de seu estilo arquitetônico. Porém, inúmeros estilistas sentiram a necessidade de criar um home fashion que também seguisse o estilo tão definido e marcante capaz de conquistar esse novo território.

A Poltrona Vanitas foi idealizada e desenhada pelo grande estilista Gianni Versace, trazendo para a versão home o estilo e materiais presentes na sua grife. Tecidos nobres e ouro fazem parte dessa composição única, criada com uma identidade visual reconhecida por todo o mundo. Giorgio Armani fundou em 2016 o império Armani Home com uma enorme coleção de mobiliário e pequenos itens de decoração.

Figura 9 Furniture by Armani home, 2021. Desfile Armani 40 anos. Fonte: Armani Home. Cada vez mais o fashion invade a forma de viver dos indivíduos; Os produtos criados começaram a ser comercializados com uma recepção absurda, tanto pelo peso do nome quanto pelo design.

Essa escolha de móveis, vestuário e adornos assinados por profissionais renomados mostra uma visão praticada, um estilo de vida e uma nova forma de viver colocando o design em total função no dia a dia. Esse olhar para a casa, forçado pela pandemia acentuada, fomentou ideias e trouxe maior disponibilidade e aceitação dessas peças neste espaço. A casa se transformou em algo que precisava ser vivenciado e um lugar de conforto planejado. Não distante desse processo, na medida em que os arquitetos são influenciados pelas técnicas de trabalho dos designers de moda, o oposto também acontece. Os materiais e suas técnicas são estudados nos dois lugares, aproximando

Os processos de criação de ambas seguem as mesmas etapas, divergindo, desenvolvendo, apresentando soluções, elucidando criações e até atingindo o lúdico como nenhuma outra área do design. Embora pareça que suas respostas sejam para públicos distintos, a linguagem desenvolvida cresce em uníssono atuando no campo estético, no social e no cultural, caracterizando e compreendendo suas funções iniciais e fazendo muito além do funcional.

Entre as áreas de arquitetura e moda existem muitas afinidades, tanto no processo criativo quanto na relação do indivíduo com os dois segmentos. As significâncias expressas por quem consome essas artes está disposta e proporcionalmente inversa no princípio de abrigar e apresentar um estilo de vida.

LENZ, Andrea, Matérias Primas do reaproveitamento: na Moda e na Arquitetura, Disponível em: <https://www.milideiaspormetroquadrado.com.br/materias primas do reaproveitamento-na-moda-e-na-arquitetura/> Acesso em: 14 de setembro de 2021

Acessado em: 31 de setembro. 2021.

6. Conclusão

LAWSON, Bryan. Como arquitetos e designers pensam. 4a edição, São Paulo, Oficina de Textos, 2011. MELLO, Márcia Maria Couto. As interferências entre a arquitetura, o urbanismo e a moda, na definição de um estilo para o século XXII. PPGAU, FAUFBA, Bahia.

A moda e a arquitetura agem de forma coligada, apesar de suas diferenças de mercado e até técnicas, observando se assim que uma enaltece a outra e não se consomem de forma separada. Elas são uno, dado que diariamente são trocadas influências e inspirações. Elas se comporta como um espelho do indivíduo, dando visibilidade para as expressões, emoções, medos, angústias e necessidades dos seus usuários, sendo isso refletido e uma peça de roupa, disposição do espaço, na arquitetura e nos itens mais ínfimos que adornam uma casa de tal forma que só pode ser concebida como um efeito colateral.

7. Referências bibliográficas

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as edificações aos produtos de vestuário. Essa troca de conhecimento e interesse nos deixa mais próximos da elaboração de técnicas de construção inovadoras, designers mais funcionais e incorpora elementos atemporais.

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