apresenta
As histórias mantém vivas nossas memórias. Esta história escrita, um dia foi contada, cantada e transmitida até chegar aqui. Vou contar a história de um símbolo que estampou nosso brasão, lá no início de tudo, quando um grupo de rapazes se envolveu com uma bola ovalada. O rugby na ilha de Santa Catarina, do Desterro Rugby Clube, teve o início de suas brincadeiras, nas areias da praia da Joaquina, no campo de pouso na Lagoa da Conceição e se expandiu para o Centro. Desde o começo, o que não se perdeu foi a magia de um jogo e neste encantamento assumimos como símbolo de nosso brasão a bruxa voando em uma bola de rugby. Para alguns, era uma melância, mas para os que sabem, ela voava sobre uma almofada de renda de bilro.
A tal da bruxinha era apenas menina e seu nome era Joaquina. Foi ela homenageada com seu nome dado à praia onde viveu. Dizem que a pequena Joaquina era filha dos Barões de Santa Catarina, nascida no século XIX. Ela morava na encosta do costão esquerdo da praia do Campeche.
Viveu uma infância nada envaidecida por suas posses, se envolveu com a vida da sua freguesia, conheceu as culturas, os festejos, as tradições e cantigas. Brincava e corria demais e assim passou sua juventude de moça bonita e faceira. Aprendeu renda de bilro, fazia tramas com outros fios e tecia balaias. A moça virou mulher e apaixonou-se por um pescador.
Na véspera do casamento, com intenção de trazer mais
fartura, ele vai para o mar e o mar não lhe traz de volta. Joaquina triste, deprimida, sai pelas dunas, restingas e costões, por dias à procura do amado, sem intenção certa de encontrá-lo. Ganha fama de louca, de mulher de branco, assombração, que assusta em lua cheia e que provoca maldição. Alguns dizem ser a LENDA DA MARIA LOUCA!
Joaquina voltou para casa, melhorou da sua dor, enquanto esteve fora se fortaleceu e aprendeu com a natureza seu poder e cura. Trazia para perto de si aqueles que precisavam de ajuda, alimentava pescadores e ensinava as mulheres a sua arte e benzeduras.
Muitas e muitas tardes passava a rendar no seu avarandado, ou pelas pedras do costão com sua almofada, seus bilros e assim pensavam: Por onde voas Joaquina!?
Ela voava com as mãos, tecendo rendas lindas, era tão grande o encantamento que pareceia bruxaria. Nunca se via renda mal feita pelas mãos desta mulher! Assim, foi na distração de alguma aparição, que a Joaquina tramando uma renda, caiu das pedras e lá se foi no mar, com a almofada, os bilros e as rendas que tinha ela feito. Fica abraçada a tudo e não vê mais nada!
As pessoas quando a encontraram levaram para a casa dela, onde a velaram. Muita gente chegou para este momento de despedida, ela passou a ser muito querida. Tristes e cabisbaixos, falavam pouco e silenciavam.
Mas então um dos rapagi, que mesmo tristonho, não perdeu a curiosidade, saiu de um lado ao outro e, no avarandado, se colocou parado, diante de uma almofada de rendas da Joaquina que ficava por ali. Encontrou esse menino uma renda ovalada, ainda presa nos alfinetes, que era com desenho de flores que se formavam como que de pequenas bolinhas ovais. Ele tirou dali e correu para a mãe com a renda nas mãos, mostrou a ela e ela mostrou para o pai, eles se olharam e sorriram, começando a passar para os demais e a renda foi de mão em mão, mudando o semblante de pranto para alegria e compaixão.
A tal da toalhinha passou a ser chamada de passadeira e a memória da Joaquina foi tão lembrada e falada que aquela praia foi homenageada com seu nome: PRAIA DA JOAQUINA Mas é agora que a coisa fica mais especial, afinal, para além de nome na praia e toalhinha de renda passadeira, a Joaquina deixou uma brincadeira. Quando as crianças perceberam que passando a renda os adultos se alegraram, eles correram para a almofada e não perderam tempo. Começaram a jogar e a correr e ali iniciou a diversão. Dividiram em dois grupos, corriam passando até o varal e colocavam a almofada no chão e, pronto, era o ponto!
O passa almofada seguiu por anos, até que em uma ocasião, um jovem português, conhecedor de um esporte inglês, se depara com a rapaziada jogando uma passa almofada e se surpreeende ao ensinar o rugby para eles. Pois acima de tudo o jogo já estava incorporado. E assim surgiu o RUGBILRO. E agora você já sabe, que a Bruxinha do nosso brasão, se havia dúvidas sobre em que ela voava, pode ter certeza, era numa linda almofada de rugby, ou a bola de renda. Assim seguem os dias de nosso esporte na Ilha de Santa Catarina, unindo forças, somando lutas e conquistas que tramam nossa história. Hoje, em 2022, completamos 27 anos de Desterro Rugby, 1/4 de século cultivando a semente de um sentimento que não há de passar. VIVAS AO RUGBY DESTERRO VIVAS À BRUXARIA VERDE VIVAS À TODA A FAMíLIA DE RUGBILROS *História e Ilustração:
Duke Orleans