JosĂŠ de Assis Moraes
Desenvolvimento humano e social
Sumário CAPÍTULO 1 – O Homem e o Trabalho nas Diferentes Configurações Geográficas................05 1.1 A história da humanidade e o trabalho........................................................................05 1.1.1 A centralidade do trabalho e a relação homem-trabalho .....................................06 1.1.2 A ideia de trabalho na história do pensamento humano........................................08 1.2 Evolução do trabalho e sua relação com a sociedade...................................................11 1.2.1 Por uma história do trabalho humano.................................................................11 1.2.2 Dos modos de produção do trabalho.................................................................11 1.2.3 Frederick Taylor e Henry Ford: o modo de produção capitalista e o taylorismo-fordismo..........................................................................................................................13 1.2.4 Do modo de produção comunista......................................................................17 1.2.5 O modo de produção capitalista na atualidade: o toyotismo ou modelo japonês....17 Síntese...........................................................................................................................20 Referências Bibliográficas.................................................................................................21
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Capítulo 1
O Homem e o Trabalho nas Diferentes Configurações Geográficas
“O que vou ser quando crescer?”. Ao ler essa pergunta, você deve ter relembrado os tempos de sua infância ou de sua adolescência e juventude, não é mesmo? Todos nós, um dia, nos fazemos esse questionamento. E mais: todos nós, em algum dia, perguntaremos aos nossos filhos, netos e bisnetos: “o que você quer ser quando crescer?”. Ser algo quando crescer: o que, afinal, significa isso? Ser algo implica o mais complexo modo de existência do homem, o trabalho.
Umas das características fundamentais da experiência humana é o trabalho. Por meio dele, sustentamos nossa própria existência e a de outras pessoas. Há muito tempo, o homem descobriu que, com o trabalho, poderia transformar e dominar a natureza, tão impetuosa. Desde o mais simples mecanismo até o mais complexo e avançado modo de produção tecnológico atual, o homem tem, ao longo de sua milenar existência, construído formas de modificar os elementos da natureza, a fim de transformá-los para seu usufruto. No entanto, talvez nunca tenhamos nos perguntado: afinal, o que é o trabalho? Como posso ser agente de mudança social por meio do exercício da minha prática profissional? Ao longo deste capítulo, analisaremos a ideia de trabalho e sua implicação para a espécie humana. No tópico A história da humanidade e o trabalho, estudaremos a relação dialética existente entre o homem e o trabalho. Assim, você compreenderá duas das dualidades essenciais da ciência antropológica: as relações entre homem e natureza e entre homem e sociedade. Ainda nesse tópico, você verá algumas definições conceituais básicas da noção de trabalho. No tópico Evolução do trabalho e sua relação com a sociedade, analisaremos a composição dos modos de produção do trabalho humano. Da confecção de rústicas ferramentas – com madeira, pedras e ossos – à invenção de complexos sistemas informatizados, a mente humana sempre buscou modos de aprimorar o trabalho, a fim de minimizar custos e maximizar a produção. Assim, você compreenderá melhor como o trabalho transforma a sociedade e qual o seu papel, como profissional, nesse cenário de transformações. Preparado? Siga em frente e bons estudos!
1.1 A história da humanidade e o trabalho Desde a infância, ouvimos nos perguntarem, quase inocentemente: “o que você vai ser quando crescer?”. Você já ouviu essa pergunta? Nem sequer conhecíamos o mundo e já nos colocavam, a despeito de nossas criancices, uma missão futura que, naquele momento, encarávamos ainda como divertida brincadeira: ser algo quando crescer. Na perspectiva de quem nos perguntava, ser algo implicava, principalmente, a escolha de um trabalho, de uma profissão. “Serei médico”, uns diziam. “Quero ser jogador de futebol”, diziam outros. Aqueles com espírito mais aventureiro poderiam dizer: “Quero ser astronauta!”.
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Todo homem trabalha, trabalhou ou, em algum momento, trabalhará. O trabalho é constitutivo do modo de ser humano. É um dos fundamentos mais básicos da vida social. É a atividade mais humana, aquilo que faz do homem um ser especificamente humano. Neste tópico, abordaremos o tema da relação dialética entre o homem e o trabalho, na perspectiva de compreendermos como o homem constitui e, ao mesmo tempo, é constituído pelas sociedades, por meio do trabalho. Para tanto, iniciaremos investigando algumas definições conceituais da ideia de trabalho, ressaltando a importância do conhecimento e da prática profissional. Em seguida, analisaremos as relações entre o homem e a natureza, que são intermediadas pela capacidade humana de produzir trabalho consciente. Finalmente, abordaremos os modos como o pensamento universal compreendeu a noção de trabalho, como elemento constitutivo da natureza humana. Esses conhecimentos serão fundamentais para sua formação crítica e reflexiva. Por meio deles, você compreenderá os principais elementos que compõem a natureza do homem, a fim de que sua atuação profissional seja sempre pautada pela ética e pela moralidade. Vamos ao trabalho!
1.1.1 A centralidade do trabalho e a relação homem-trabalho Veja, em primeiro, algumas definições da noção de trabalho. De acordo com Marcondes e Japiassú (2001, s/p), o trabalho constitui a “atividade através da qual o homem modifica o mundo, a natureza, de forma consciente e voluntária, para satisfazer suas necessidades básicas”. Para Abbagnano (2007, p. 964), o trabalho implica a “atividade cujo fim é utilizar as coisas naturais ou modificar o ambiente e satisfazer às necessidades humanas”. Finalmente, para Aranha e Martins (1986, p. 5, grifo das autoras), “o trabalho humano é a ação dirigida por finalidades conscientes, a resposta aos desafios da natureza, na luta pela sobrevivência”. Em todas as definições citadas, você pode verificar a recorrência de um elemento constituinte básico da ideia de trabalho: o de ser o modo como se configurou a relação entre o homem e a natureza. Na perspectiva adotada pelos autores, é o trabalho o que nos distingue, em essência, de todo o restante do mundo orgânico e inorgânico. O homem, pela mediação do trabalho, e agindo sobre a natureza, transformando-a, tornou “o mundo possível à sua vida e sua vida possível no mundo” (GIORDANO, 2000, p. 53). No entanto, poderíamos opor, aqui, uma questão: as atividades animais, como as desenvolvidas pelo castor, na construção de seus diques, por exemplo, ou pelo joão-de-barro, na de seus casebres, não são, porventura, trabalho? Na verdade, não. Isso porque a consciência é outro elemento constituinte da ideia de trabalho, e que o determina como atividade exclusivamente humana e o configura, além disso, como a “extensão de uma existência subjetiva” do homem (RANIERI, 2011, p. 130). De acordo com Ranieri (2011, p. 130), “toda atividade humana está determinada por certo gradiente de intencionalidade”. Ou seja: toda atividade humana está determinada, embora em diferentes graus, pelos mecanismos da consciência. Por essa razão, o objeto da atividade humana e de seu trabalho é a exteriorização de sua capacidade para a consecução de determinada atividade consciente (RANIERI, 2011, p. 130). Por meio da consciência, o homem diagnostica e atualiza a abrangência de suas necessidades e urgências, e as realiza para além dos ditames da “mera espontaneidade do instinto biológico” (LUKÁCS, 2013, p. 59). Então, vamos retomar a questão das atividades de bichos como o castor e o joão-de-barro. Conseguiu compreender por que elas não são consideradas trabalho? O “trabalho” animal constitui-se apenas como uma resposta instintiva a um problema imediato e visa, por essa razão, a encontrar uma solução também imediata. Nas palavras de Ranieri:
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Ao mesmo tempo que aparece como relação histórica entre ser humano e natureza, o trabalho acaba por determinar também o conjunto da vida humana, ou seja, como mediador, ele satisfaz necessidades tornando o gênero humano, na sua apropriação da natureza, cada vez mais um gênero para si mesmo (RANIERI, 2011, p. 130).
Portanto, o que nos diferencia essencialmente de todo o mundo natural é a capacidade de realização consciente, e não mais como mera resposta instintiva, de toda atividade e, por definição, de todo trabalho.
Figura 1 – O trabalho é a transformação da natureza pelo homem por meio da consciência. Fonte: Shutterstock, 2015.
De acordo com Aranha e Martins (1986, p. 46), o ponto substancial da distinção entre as atividades humanas e animais constitui-se no fato de que, no homem, o trabalho regula-se por intermédio de um projeto intencionalmente planejado. Entre a teoria e a prática, existe, portanto, uma relação dialética: “o projeto orienta a ação e esta altera o projeto, que de novo altera a ação” (ARANHA; MARTINS, 1986, p. 55). O esquema projeto-ação-projeto é, por isso, o elemento distintivo do caráter humano, quando em comparação à condição animal. A noção de projeto, aqui, pressupõe a ideia de regulação do tempo, outra característica especificamente humana quando nos referimos à temática do trabalho. O homem, ao projetar sua ação, ultrapassa a dimensão de um problema imediato e sua correspondente solução, visando também à resolução de dificuldades vindouras possíveis. Dessa forma, o homem produz um processo evolutivo de concepção do trabalho que, por sua vez, se configura em um “processo histórico” (ARANHA; MARTINS, 1986, p. 55), na medida em que cada ação presente constrói, para a ação futura, os paradigmas para a sistematização do trabalho, inclusive do ponto de vista fabril. Como animal dotado de complexa estrutura de linguagem e de profunda capacidade de abstração, o homem, ao se comunicar, transforma sua ação individual em atividade coletiva, organizando, assim, o trabalho do ponto de vista social. Nessa perspectiva, o trabalho realiza-se na “comunhão” e na “união” dos homens (ARANHA; MARTINS, 1986, p. 56). Em resumo, vimos, até o momento, que o trabalho transforma a natureza, tornando-a humanizada, em certo sentido. Além disso, reúne os homens por meio da comunhão e da união, para satisfação de suas necessidades comuns. Como consequência, o trabalho transforma o homem em um ente fundamentalmente social, na medida em que o coloca em condição de sociabilidade com os outros indivíduos.
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O animal, na natureza, permanecerá envolvido por ela, sujeito individualmente a ela, sob suas determinações, protegido apenas por seus instintos primitivos. O homem, contudo, ao transformar a natureza, tornando possível conceber sua própria existência, exerce sobre ela domínio, subjugando-a e reconfigurando, com isso, seu modo de ser e estar no mundo e suas relações com os demais de sua espécie. Com as definições analisadas até o momento, percebemos o caráter constitutivo do trabalho humano. O trabalho determina, no homem, sua mais íntima essência, aquilo que marca a distinção entre a natureza animal e a natureza humana.
1.1.2 A ideia de trabalho na história do pensamento humano Na história do pensamento humano, apenas tardiamente, no Romantismo, foram estabelecidas as primeiras teorias a respeito das relações entre o trabalho e a natureza do homem.
NÓS QUEREMOS SABER! Você já ouviu falar no Romantismo? Iniciado nos últimos anos do século XVIII, foi um movimento filosófico, literário e artístico, que se consolidou na primeira metade do século XIX. A característica fundamental desse período é a valorização do sentimento, aspecto desprezado pela antiguidade clássica e sua radicalização da racionalidade. Para o romântico, o sentimento é um modo de acessar determinadas experiências imediatas, que ultrapassa os impedimentos impostos pela razão. No campo da Literatura, Goethe e Novalis são exemplos de grandes representantes desse período.
O filósofo alemão Johann Gottlieb Fichte afirmava que, por mais reles e insignificante, toda ocupação humana, desde que adstrita à conservação e à livre ação dos seres morais, deve ser “santificada” em proporção idêntica às ações mais elevadas do espírito humano. Por essa razão, todo trabalho, a despeito de seu status quo, deve ser dignificado, pois constitui parte da natureza do homem. No entanto, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, um dos marcos fundamentais do pensamento alemão, foi o primeiro pensador a formular especificamente uma teoria do trabalho, explorando a temática em muitos de seus escritos. Nas palavras do autor: A mediação que, para a carência particularizada, prepara e obtém um meio também particularizado é o trabalho. Através dos mais diferentes processos, especifica a matéria que a natureza imediatamente entrega para os diversos fins (HEGEL, 1997, p. 177).
Você pode observar, no trecho supracitado, a dimensão transformadora do trabalho humano. A natureza nos entrega, de imediato, seu produto natural. A ação transformadora do homem, contudo, consiste em laborá-lo, das mais variadas formas e para os mais diversos fins. Nas palavras de Hegel (1997, p. 177): “esta elaboração dá ao meio o seu valor e a sua utilidade; na sua consumação, o que o homem encontra são sobretudo produtos humanos, como o que utiliza são esforços humanos”. A produção humana, no trabalho, regulada por uma carência particularizada, gera um produto final também particularizado – sempre de acordo com a carência original –, um produto humano. Por exemplo, caso estejamos carentes de calçados, e caminhando descalços, sofrendo com as intempéries de um solo pedregoso ou escorregadio, nossa produção vai se concentrar na confecção desses produtos específicos, a fim de que, por esses meios, vençamos os desafios propostos pela natureza. A carência particularizada gerou, nesse caso, um meio também particularizado e um produto humano destinado a um fim consciente. Nessa perspectiva, a relação entre trabalho 08 Laureate- International Universities
e carência assume significativa importância social, se quisermos compreender, mais adiante, o tema da divisão social do trabalho. Conforme propõe Hegel (1997, p. 178): Pela divisão, o trabalho do indivíduo torna-se mais simples, aumentando a sua aptidão para o trabalho abstrato bem como a quantidade da sua produção. Esta abstração das aptidões e dos meios completa, ao mesmo tempo, a dependência mútua dos homens para a satisfação das outras carências, assim se estabelecendo uma necessidade total.
Hegel nos propõe, a essa altura, uma organização social do trabalho, por meio de sua divisão. Com isso, o trabalho do homem é simplificado, na medida em que, agora, cada trabalhador executará apenas uma pequena fração da atividade. Outro benefício, angariado por meio da divisão sistemática do trabalho, é a majoração da produção e, por consequência, o aumento do alcance da satisfação das necessidades humanas, pois o homem, “ao ganhar e produzir para sua fruição, ganha e produz também para a fruição dos outros” (HEGEL, 1997, p. 178). Nessa perspectiva, o trabalho assume caráter constitutivo da sociedade, elemento essencial desta. Por meio do trabalho, o homem constitui a sociedade e, ao mesmo tempo, é por ela constituído substancialmente. Observe: por um lado, constitui a sociedade, na medida em que atualiza, por meio do trabalho, os produtos da cultura. E, por outro lado, é constituído, na medida em que se compõe como homem ao consumir os produtos do trabalho social. Essa ambivalência é a característica essencial do homem.
NÓS QUEREMOS SABER! O que significa cultura? Podemos defini-la de duas formas distintas. Em primeiro lugar, cultura implica o refinamento da formação do homem. Nesse sentido, dizemos que determinadas pessoas são cultas, pois, ao longo de sua existência, adquiriram a mais elevada cultura humana. Por outro lado, cultura é uma produção humana, ou seja, são os modos de ser e estar próprios do homem. Nessa perspectiva, ela se aproxima da ideia de civilização, como atributo daqueles que, devido à profunda consciência de organismo social, conseguem conviver com os demais seres de sua espécie.
Natureza
Trabalho
Produto do trabalho
Sociedade
Natureza Quadro 1 – Representação do ciclo Natureza-Trabalho-Sociedade Fonte: Moraes, 2015.
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Em síntese, o homem, por intermédio de seu labor, transforma a natureza. Dessa transformação, resultam os produtos do trabalho humano que, por sua vez, constituem as culturas e, consequentemente, as sociedades. Toda história humana pode ser remontada ao analisarmos os diversos produtos do trabalho humano, aspecto que desenvolveremos adiante. Outro importante pensador a teorizar a respeito do trabalho foi Karl Marx. Reconhecido, na história do pensamento universal, como fundador do marxismo, Marx admite que a diferença constitutiva existente entre homem e natureza inicia-se quando os homens começam “a produzir seus próprios meios de subsistência, progresso este condicionado pela organização física humana. Produzindo seus meios de subsistência, os homens produzem indiretamente sua própria vida material” (MARX, 1998, p. 10). Dessa forma, o trabalho não apenas implica a produção dos meios com os quais o homem garante sua subsistência. Na verdade, o trabalho é a própria vida tornada extrínseca. Ou seja, é o próprio homem, um modo específico de ser do homem, um mecanismo, também específico, de fazer-se homem e opor-se ao julgo dos instintos naturais. Karl Marx acredita, por isso, que o trabalho constitui a trama e a estrutura autêntica da História, pois, por meio dele, mais do que por intermédio da natureza, o homem põe-se em contato direto com outros indivíduos de sua espécie, tornando-se substancialmente, como nos referimos anteriormente, um ente social. De acordo com Marx, as relações políticas, econômicas e de produção determinam a natureza humana e são, por isso, elementos constitutivos da sociedade.
Figura 2 – Escultura em bronze de Karl Marx em São Petersburgo, na Rússia, construída em 1932. Fonte: Shutterstock, 2015.
Você conseguiu compreender os limites entre o homem e a natureza? Ao longo deste tópico, você viu que o trabalho é uma das características que demarcam tais limites. Por meio dele, o homem venceu sua condição animal. Sobrepujando os instintos naturais, ele tornou-se humano 10 Laureate- International Universities
e modificou radicalmente sua relação com a natureza. Com base na história do pensamento humano, analisamos as principais definições do conceito de trabalho, compreendendo, com isso, seu caráter constitutivo das sociedades. Assim, você viu que a relação existente entre homem e sociedade é de mútua constituição. Ao mesmo tempo em que constitui a sociedade, produzindo a cultura, o homem também é produto dela, na medida em que sofre sua influência direta.
1.2 Evolução do trabalho e sua relação com a sociedade As primeiras ferramentas confeccionadas pelo homem eram, na verdade, simplórias adaptações. Madeira, pedras e ossos eram, nos primórdios da civilização humana, os primeiros instrumentos de realização do trabalho. Se observarmos atentamente, a história da humanidade se confundirá com a dos instrumentos de trabalho. Lascar a pedra e atá-la com amarras a um rijo pedaço de madeira, embora se origine de uma operação bastante simples, representou um significativo avanço tecnológico, determinante para a evolução da espécie humana. Mas como um rústico e primitivo instrumento pode ser considerado um avanço tecnológico? Ao longo deste tópico, abordaremos a história do trabalho humano. Ao contrário de todo o restante do mundo animal, o homem prosseguiu aperfeiçoando seus modos de produção de trabalho, suas técnicas. Desde as ferramentas mais primitivas até as tecnologias atuais, a técnica e o modus operandi do trabalho humano estão sendo constantemente desenvolvidos. A partir de agora, você conhecerá os mais representativos modos de produção de trabalho. Vamos às técnicas!
1.2.1 Por uma história do trabalho humano O homem sempre produziu trabalho. Desde os tempos remotos, colhia os substratos da natureza e, com o fogo, trabalhava-os. A história humana é, em síntese, a história do trabalho humano, dos modos como o homem, por meio da consciência, transformou a natureza para sua subsistência. Desde as mais simples invenções, como a roda, por exemplo, o homem tem confeccionado, para si, alternativas possíveis para sobreviver, a despeito dos intempestivos arbítrios da natureza. Para compreender a história da humanidade, precisamos, necessariamente, perpassar toda história do trabalho. São os produtos dele que testemunham a estada do homem na Terra. Inúmeros são os povos que, exterminados, deixaram o fruto de seu trabalho como fiel testemunho de sua existência passada. Um vaso, um jarro, um prato, por exemplo, comprovam, entre tantas outras coisas, as habilidades humanas de nossos antepassados em dominar o barro, a argila e o fogo.
1.2.2 Dos modos de produção do trabalho Ao longo da história e da evolução do homem, diversos modos de produção do trabalho foram sendo desenvolvidos, desde os sistemas primitivos até as complexas tecnologias informatizadas. Da invenção da roda à criação das redes, os modos de produção do trabalho humano foram, gradativamente, sendo reconfigurados, recompostos. Cada novo modelo de produção do trabalho, à sua maneira, fundava novos paradigmas para as sociedades de seus tempos, determinando, assim, as formas de composição da vida das pessoas. Você verá adiante como cada etapa de desenvolvimento dos modos de produção determinou a composição das sociedades. Veja um exemplo prático dessa influência. Na atualidade, as grandes cidades estão completamente sobrecarregadas. Suas vias, avenidas e ruas não suportam mais o intenso trânsito dos automóveis. Em São Paulo, por exemplo, no ano de 2014, um balanço da Companhia de Enge11
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nharia de Tráfego – CET revelou que a velocidade média dos automóveis, nos horários de pico, era de 6,9 km/h. Outro dado também alarmante, divulgado pela mesma entidade, diz que, em 2014, entre as 10h30 e as 16h30, São Paulo possuía em média 50 km de congestionamento por dia útil (ESTADO DE MINAS, 2014). Com isso, o enorme tempo gasto nos engarrafamentos levou patrões e trabalhadores a adotarem um novo modelo de trabalho, possível graças aos avanços das tecnologias de comunicação: o home office. Com essa nova metodologia, os funcionários puderam executar suas tarefas em casa, via mecanismos de comunicação real, otimizando o tempo antes perdido nos extensos congestionamentos. A ampla maioria dos historiadores reconhece a existência histórica de cinco mecanismos distintos de organização do trabalho, ou seja, cinco modos de produção do trabalho. De acordo com Soares (1988, p. 61), são eles: [...] modo de produção comunal-primitivo ou modo de produção da comunidade primitiva (comunismo primitivo); modo de produção escravista (escravismo); modo de produção feudal (feudalismo); modo de produção capitalista (capitalismo); modo de produção comunista (comunismo), cuja etapa inferior é o socialismo.
O modo de produção comunal-primitivo é caracterizado fundamentalmente pela rudimentariedade dos instrumentos de trabalho e pelo inexpressivo nível da produtividade. Podemos adotar a designação de pré-história do trabalho humano para compreender esse período.
Figura 3 – Ferramentas rudimentares de trabalho. Fonte: Shutterstock, 2015.
No modo de produção comunal-primitivo, os meios de produção do trabalho eram coletivos. Por essa razão, os bens produzidos eram distribuídos de forma igualitária entre todos. A divisão do trabalho era guiada pelo critério da naturalidade, ou seja, por sexo e idade. A produção, por sua vez, não objetivava um excedente, permanecendo adstrita à satisfação da sobrevivência imediata. De acordo com Srour (1978, p. 326), o modo de produção primitivo pode ser detectado historicamente em “sociedade paleolíticas, formadas por bandos sem nenhuma hierarquização estável, a não ser a decorrente da idade e do sexo”.
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O modo de produção escravista, por sua vez, é marcado pela propriedade privada tanto dos meios de produção quanto dos próprios trabalhadores, os escravos. Grécia, Roma, Egito, Babilônia, Índia, China, entre tantas outras nações, desenvolveram-se, em grande parte, à base de regimes escravistas e do modo de produção escravista. A exploração do trabalho escravo aumentou significativamente a produtividade. O trabalhador escravo produzia, nesse modelo, um excedente de produto, para além da satisfação de suas necessidades de sobrevivência. Contudo, esse excedente era apropriado pelo senhor de escravo, amparado por um regime de extrema violência moral e física. Outra característica marcante do modo de produção escravista é a existência de uma demarcada divisão social do trabalho, entre “a cidade e o campo, entre pastores e agricultores, entre artesãos, entre trabalho manual e o trabalho intelectual etc.” (SOARES, 1988, p. 63).
NÃO DEIXE DE LER... Um dos grandes problemas referentes às relações de trabalho, no Brasil, ainda é o trabalho realizado em condição análoga à de escravo. Para combatê-lo, o Ministério do Trabalho e Emprego – MET publicou, em 2011, o Manual de Combate ao Trabalho em Condições Análogas às de Escravo. Nesse trabalho, alguns conceitos importantes foram atualizados. Consulte-o em: <http://portal.mte.gov.br/geral/publicacoes/>.
De acordo com alguns historiadores, o modo de produção feudal, ou feudalismo, constituiu-se como um processo de transição entre as antigas composições do modo de trabalho primitivo e escravista e o modo de produção capitalista. De acordo com Marx (1998, p. 16), no feudalismo, “não são mais escravos, como no antigo sistema, mas sim os pequenos camponeses submetidos à servidão que constituem a classe diretamente produtiva”. No feudalismo, os meios de produção pertenciam, assim, aos chamados senhores feudais. Como forma de pagamento pela renda da terra, o excedente do trabalho humano era destinado, sob a égide de tributo, aos nobres fundiários, proprietários da terra, amparados pela força coercitiva de uma suserania militar. De acordo com Huberman (1979, p. 11), “a sociedade feudal consistia dessas três classes – sacerdotes, guerreiros e trabalhadores, sendo que o homem que trabalhava produzia para ambas as outras classes, eclesiástica e militar”. Agora, você estudará o modo de produção capitalista e, posteriormente, verá como Marx diagnosticou os problemas desse sistema e propôs o modo de produção comunista.
1.2.3 Frederick Taylor e Henry Ford: o modo de produção capitalista e o taylorismo-fordismo O modo de produção capitalista e suas principais características podem ser remontados a partir da compreensão das propostas de Frederick Taylor e Henry Ford. Para tanto, analisaremos suas contribuições e noções fundamentais. Preliminarmente, contudo, veja alguns aspectos fundamentais do capitalismo e do modo de produção capitalista. De acordo com Huberman (1979, p. 167-168), “quando o dinheiro é empregado num empreendimento ou transação que dá lucro (ou promete dar), esse dinheiro se transforma em capital”. O capitalismo, portanto, é a relação humana marcada pelo condicionamento capital-lucro. No capitalismo, o proprietário dos meios de produção compra a força de trabalho do operário, mas não poderá vender a força de trabalho, em si, a fim de obter lucro. O capitalista vende, na verdade, as mercadorias produzidas pela força de trabalho de seus operários. Essa é a relação fundamental para compreendermos o capitalismo: o operário vende, ao capitalista, sua força de 13
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trabalho, e o capitalista, por sua vez, venderá o produto da força de trabalho do operário, a fim de angariar lucro. O lucro, dessa forma, é obtido por meio da redução do custo do trabalho, segundo um raciocínio bastante simples. Segundo Huberman (1979, p. 168), “o lucro vem do fato de receber o trabalhador um salário menor do que o valor da coisa produzida”. Para lucrar mais, portanto, o capitalista precisará, em primeiro lugar, pagar o mínimo possível na compra da força de trabalho e, em segundo, majorar ao máximo a produção do trabalho, por meio, por exemplo, do avanço tecnológico e da regulação dos modos de produção. Veja, então, a seguir, a forma como Taylor e Ford, os mais significativos empreendedores capitalistas, alteraram radicalmente a composição do modo de produção capitalista do século XX. Frederick Winslow Taylor, engenheiro estadunidense, escreveu, em 1911, o livro The Principles of Scientific Management (Princípios da Administração Científica). Taylor nos apresenta os princípios que, mais adiante, se tornariam os fundamentos básicos da organização do trabalho do moderno sistema de produção capitalista.
Figura 4 – Frederick Taylor Fonte: <http://www.patrickmccray.com/tag/taylorism/>
Henry Ford, empreendedor também estadunidense e fundador da Ford Motor Company, alinha-se aos pressupostos tayloristas, estendendo-os aos mecanismos de produção e consumo em massa.
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Figura 5 – Selo Americano da década de 1960 ilustra Henry Ford e o veículo Ford Model T de 1909. Fonte: Shutterstock, 2015.
Por essa razão, neste tópico, adotaremos a relação de contiguidade entre Taylor e Ford, analisando suas implicações a partir do paradigma proposto pela noção taylorismo-fordismo, que, segundo Antunes (1995, p, 17), é “a forma pela qual a indústria e o processo de trabalho consolidaram-se ao longo deste século”. Segundo o autor, seus elementos constitutivos básicos são:
• produção em massa, por meio da linha de montagem e de produtos mais homogêneos; • controle dos tempos e movimentos pelo cronômetro fordista e produção em série taylorista; • existência do trabalho parcelar e fragmentação das funções; • separação entre elaboração e execução no processo de trabalho; • existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas; • constituição/consolidação do operário-massa, do trabalhador coletivo fabril, entre outras dimensões.
O modelo taylorista-fordista de produção, consolidado como modo de produção capitalista, conforme indica o autor, produziu significativas e profundas mudanças na composição do trabalho no final do século XIX e início do século XX. No trabalho artesanal, o trabalhador concebia intelectualmente e executava, na prática cotidiana, todas as etapas da produção da manufatura. Com isso, estabelecia-se uma relação mais intrínseca, mais íntima, com o trabalho, como atividade inalienável e essencial da natureza humana. Contudo, com a fundação da produção em série taylorista e com a majoração do controle fordista sobre o tempo e os movimentos, visando à redução da contingência, o trabalhador percebeu-se diante de uma extrema especialização de sua atividade, sendo submetido à realização, na linha de produção e em um ponto fixo, de uma única etapa do processo produtivo. Seu trabalho, dessa forma, não mais participa do todo do processo de produção, na medida em que se circunscreve apenas a uma pequena especialidade da realização do produto.
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Figura 6 – Trabalhadores na linha de produção. Fonte: Shutterstock, 2015.
A questão fundamental do novo modelo de produção, conforme proposto por Taylor, resume-se a como fazer o trabalhador trabalhar mais? Para solucionar esse problema, Taylor propõe uma série de medidas administrativas. O primeiro fundamento da administração científica proposta por Taylor é a noção de tarefa. Segundo ele, na tarefa, “é especificado o que deve ser feito e também como fazê-lo, além do tempo exato concebido para a execução” (TAYLOR, 1990, p. 42). Com base no estudo do tempo e dos movimentos necessários para a consecução de determinada atividade, Taylor propôs uma complexa estrutura de planejamento que antecipa, por meio da instrução escrita e detalhada, as tarefas e os meios necessários para executar o máximo de atividade e circunscrevê-la à medida de um tempo máximo exato de execução. Para tanto, a partir da possibilidade de divisão tecnológica do trabalho, o taylorismo funda diversos cargos e funções, distribuindo entre eles as tarefas a serem realizadas por cada um e, além disso, a relação que cada tarefa estabelece com as demais na linha de produção. O trabalho, nessa perspectiva, tornou-se mera execução de um projeto não mais concebido pelo trabalhador, mas, sim, imposto a ele verticalmente. Essa nova composição social do trabalho recompôs, inevitavelmente, os processos de formação do homem e da sociedade, alterando-os significativamente. O homem não mais atua intelectualmente na produção do próprio trabalho. Tornou-se, na verdade, reprodutor mecânico das tarefas preestabelecidas pela gerência do capitalismo. Para Taylor, não é necessário, portanto, encontrar “homens extraordinários” para a realização do trabalho. O trabalhador deve, tão somente, ser essencialmente obediente e apto a ser treinado para a realização de determinada tarefa específica. Para ilustrar, no filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, o trabalhador, submetido à produção em série e à repetição ininterrupta de um único movimento – o de parafusar –, acaba internalizando esse movimento laboral obrigatório que não mais consegue abandonar. Ao deitar, ao levantar, ao almoçar e jantar, o trabalhador representado por Chaplin repete inconscientemente o movimento de parafusar, como se estivesse na fábrica.
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NÃO DEIXE DE VER... Assista a Tempos Modernos, lançado nos Estados Unidos em 1936 e dirigido e protagonizado por Charles Chaplin. Clássico do cinema mundial, a obra ironiza a implantação do modo de produção fordista-taylorista e sua implicação na composição dos modos de vida.
1.2.4 Do modo de produção comunista Para entender o modo de produção comunista, você precisa, antes, compreender como o modo de produção capitalista, caracterizado pela propriedade privada dos meios de produção, resultou, conforme diagnostica Marx, em um processo de exploração da força de trabalho do operário. Em síntese, você viu que, no modo de produção capitalista, o trabalhador vende, ao capitalista, sua força de trabalho. Ela produzirá a mais-valia, em decorrência do tempo de trabalho excedente, ou seja, nesse período, o trabalhador não mais produz valor para si. A mais-valia difere do lucro, pois é a exploração do tempo de trabalho excedente, tempo que extrapola a produção das condições de vida material necessárias para o trabalhador. Ao constatar esse regime de exploração, Marx propõe o modo de produção comunista. Sua característica fundamental consiste na inexistência de toda propriedade privada. Dessa forma, mantêm-se os níveis de alta produtividade, como no capitalismo; no entanto, os produtos e resultados da produção seriam coletivos e não mais privados.
1.2.5 O modo de produção capitalista na atualidade: o toyotismo ou modelo japonês A filosofia do Sistema Toyota de Produção, o Toyotismo, foi inicialmente formulada por Taiichi Ohno, em seu livro O Sistema Toyota de Produção: além da produção em larga escala, publicado originalmente no Japão, em 1978. Dez anos depois, o livro foi lançado nos Estados Unidos e, em 1989, na França.
VOCÊ O CONHECE? Em 29 de fevereiro de 1912, nascia Taiichi Ohno, em Dalian, China. Ele frequentou o Departamento de Engenharia Mecânica da Nagoya Technical High School e, em 1932, começou a trabalhar na Toyota Boshoku. Em 1943, foi transferido para a Toyota Motor Company. Depois de 11 anos, tornou-se Diretor da Toyota. Em 1964, foi promovido a Diretor Gerente e, em 1970, Diretor Gerente Sênior. Em 1975, tornou-se Vice-Presidente Executivo. Taiichi Ohno aposentou-se em 1978.
Ohno, em seu livro, funda um dos conceitos básicos dos modos de produção capitalista do século XX, a ideia de just-in-time. Desde sua formulação, o toyotismo tem alterado significativamente os modos de produção capitalista em diversos países e em diferentes ramos da produção capitalista.
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Desenvolvimento humano e social
No entanto, no presente tópico, não nos aprofundaremos na compreensão do funcionamento estrito do modo de produção do toyotismo. Ao contrário, analisaremos apenas como as inovações propostas por Ohno implicaram novas composições do homem, do trabalho e da sociedade. De acordo com a definição proposta por Alves (2011, p. 43): [...] o toyotismo é a ‘ideologia orgânica’ do novo complexo de reestruturação produtiva do capital que encontra nas novas tecnologias da informação e comunicação e no sociometabolismo [...], a materialidade sociotécnica (e psicossocial) adequada à nova produção de mercadorias.
Para compreender o toyotismo, é preciso analisar inicialmente três elementos fundamentais que, de acordo com Alves (2011, p. 43), o compõem:
• inovações organizacionais; • inovações tecnológicas; • inovações sociometabólicas. Outra noção importante para o entendimento do toyotismo é a de sistema. Ohno busca uma intrínseca coerência entre a organização do trabalho, a gestão da produção e o gerenciamento dos recursos humanos. Esse último aspecto constitui a “dimensão essencial do espírito do toyotismo: a imprescindibilidade do ‘engajamento’ moral-intelectual dos operários e empregados na produção do capital” (ALVES, 2011, p. 46). Esse é nosso ponto fundamental. A partir da proposição do Sistema Toyota de Produção, é estabelecida uma reconfiguração da relação homem-trabalho. Ohno (1997, p. 44), em seu texto, afirma: “é fácil compreender a teoria com a mente; o problema é lembrá-lo com o corpo. A meta é conhecer e fazer instintivamente”. Nesse trecho, Ohno apresenta o ponto fundamental para nossa análise de sua proposta, a questão do engajamento moral e intelectual dos sujeitos na majoração da produção do capital. Para ele, não é suficiente apreender intelectualmente os processos produtivos. De acordo com Alves (2011, p. 49), o “nexo essencial do espírito do toyotismo” consiste no “envolvimento pró-ativo do operário ou empregado.” Nesse sentido, o corpo e a mente precisam estar imersos nos processos de produção, a ponto de a ação produtiva tornar-se instintiva ou, se preferirmos, naturalizada. Corpo e mente, no ideal toyotista, devem ser capturados pelas exigências da produção. Mais adiante, Ohno (1997, p. 44) adverte ser necessário “ter o espírito para aguentar o treinamento”. É preciso, então, que o operário tenha severidade e disciplina, a fim de submeter-se à naturalização imposta pelos novos mecanismos de produção do trabalho. Ohno advoga, portanto, por uma transmutação subjetiva dos modos de produção. Ou seja, propõe, conforme esclarece Alves (2011, p. 46), por meio da reorganização do trabalho e dos instrumentos tecnológicos de comunicação, a “captura da subjetividade do trabalho vivo pelos ditames da produção de mercadorias”, produzindo, assim, um novo sociometabolismo, conforme supracitado, isto é, uma nova forma de configuração do homem e do trabalho vivo. Essas novas exigências implicam diretamente a composição da sociedade.
NÃO DEIXE DE LER... Em seu artigo Fordismo, Toyotismo e Volvismo: os caminhos da indústria em busca do tempo perdido, o Prof. Dr. Thomaz Wood Jr. apresenta alguns elementos complementares à discussão dos modos de produção fordista e toyotista. Além disso, aborda o surgimento do “Sistema Volvo” de produção. Vale a pena conferir! Acesse em: <http:// www.scielo.br/pdf/rae/v32n4/a02v32n4.pdf>.
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Neste tópico, você aprendeu algo mais a respeito da história do trabalho humano e percebeu como cada período histórico elaborou seus modos de produção do trabalho. Da pré-história da humanidade, você conheceu alguns elementos do modo de produção primitivo. Mais adiante, viu o funcionamento do modo de produção escravista, aspecto fundamental das primeiras grandes potências no mundo ocidental. Ademais, observou algumas das características principais do feudalismo e o modo de produção feudal que vigorou na Europa, sobretudo no período medieval. Ainda neste tópico, você viu como os modos de produção capitalista, nos séculos XIX e XX, fundaram, além de novas tecnologias de produção, novas formas de composição da sociedade e da cultura, destacando a importância do trabalho para o crescimento profissional e social. Para tanto, você estudou o taylorismo, o fordismo e o toyotismo, experiência mais recente e atual da organização do trabalho humano, que pode ser observada nas mais diferentes profissões até os dias atuais. Todos esses diferentes modos de produção nos ensinam algo realmente importante para toda atuação profissional: a centralidade e a importância do trabalho no desenvolvimento individual e no desenvolvimento das sociedades. Não se trata, evidentemente, de conhecimentos teóricos. Ao contrário, são extremamente práticos. Esse saber é essencial e sua aplicabilidade será percebida assim que você se deparar, por exemplo, com situações-problemas, com conflitos éticos e morais, no exercício diário das profissões.
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Síntese Síntese
• O trabalho é a forma como o homem transforma a natureza, a fim de adaptá-la às suas
necessidades. Por um lado, a natureza oferece ao homem “produtos naturais”. Por outro, com aqueles, e por meio do trabalho, o homem produz os “produtos humanos”.
• O trabalho é a apropriação consciente e direcionada a uma finalidade, por meio de um
projeto, da natureza. A consciência, no homem, determina a extrapolação da reação meramente instintiva. Por meio da consciência, o homem age sobre a natureza com intencionalidade.
• Por
ser consciente, o homem, ao produzir, organiza e reorganiza o próprio trabalho, atribuindo-lhe sentido histórico. Os mecanismos de trabalho podem, a essa altura, ser retransmitidos e reproduzidos pelos outros seres da espécie humana, configurando, assim, uma organização social do trabalho.
• Ao
organizar o trabalho, o homem reinventa os modos de ser/estar com os demais homens, fundando a cultura, a sociedade e as suas instituições. Cada período histórico confeccionou seus próprios modos de produção do trabalho, alterando, a cada momento, e radicalmente, as relações entre os homens.
• Os séculos XIX e XX representaram momentos determinantes para a mudança dos rumos das sociedades. O modo de produção em série e o modo de produção em massa, taylorista e fordista, respectivamente, alteraram substancialmente a forma de vida das pessoas.
• Na
segunda metade do século XX, o modelo japonês, proposto por Taiichi Ohno, reconfigurou novamente os modos de produção do trabalho, impondo uma regulação ainda mais fina dos sistemas produtivos e introduzindo, entre outros aspectos, o espírito da competição do mercado de trabalho contemporâneo.
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