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J. D. Robb SÉRIE MORTAL Nudez Mortal Glória Mortal Eternidade Mortal Êxtase Mortal Cerimônia Mortal Vingança Mortal Natal Mortal Conspiração Mortal Lealdade Mortal Testemunha Mortal Julgamento Mortal Traição Mortal Sedução Mortal Reencontro Mortal Pureza Mortal Retrato Mortal Imitação Mortal
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N o r a Ro b e r t s escrevendo como
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IMITAÇÃO MORTAL Tradução Renato Motta
A. B. Pinheiro de Lemos
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P RÓLOGO
verão de 2059 era uma fera mesquinha e assassina que não dava sinais de que melhoraria de humor. Setembro se arrastava, seguindo as pegadas sufocantes de agosto, e envolvia Nova York em uma manta molhada de calor, umidade e mormaço. O verão, pensou Jacie Wooton, acabava com os negócios. Eram duas e pouco da manhã, horário nobre para os bares noturnos que transbordavam de clientes, e os que saíam para a rua sempre buscavam um pouco de ação extra antes de voltar para casa. Esse horário era a alma da noite, ela gostava de dizer. O momento em que os que tinham desejos e dinheiro para satisfazê-los saíam em busca de companhia. Jacie tinha licença para trabalhar nas calçadas desde que estragara a própria vida com seu vício em substâncias ilegais, que lhe provocara algumas viradas de maré. Mas estava limpa agora. Pretendia batalhar e subir degrau por degrau a escada da prostituição até voltar ao topo e aos braços dos ricos e solitários. Por enquanto, porém, tinha de ralar muito para ganhar a vida, e ninguém queria fazer sexo e pagar por ele num calor infernal como aquele.
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O fato de ter visto só duas colegas circulando pela calçada nas últimas horas confirmou que também não havia muitas mulheres dispostas a oferecer sexo sob essa temperatura implacável, mesmo sendo pagas. No entanto, Jacie era competente. Considerava-se uma excelente profissional desde a primeira noite, mais de vinte anos atrás, em que colocara em uso a carteira de acompanhante licenciada. Podia derreter de calor, mas sua determinação não esmorecia. Talvez estivesse ligeiramente abalada em virtude da licença provisória para trabalhar nas ruas, que readquirira recentemente, mas nem isso a havia quebrado. Ela aguentaria firme — em pé, deitada, de joelhos ou de quatro, dependendo da preferência do cliente — e cumpriria sua obrigação. Faça seu trabalho, disse a si mesma. Receba o pagamento, projete uma data e em poucos meses você vai estar de volta à cobertura na Park Avenue, onde é o seu lugar. Se a sensação de estar um pouco velha para trabalhar nas ruas passou pela sua cabeça, ela a bloqueou de imediato e focou a mente em marcar mais um gol naquela noite. Só mais um. Afinal, se não conseguisse pelo menos um cliente naquela noite, não lhe sobraria nada para aprimoramentos estéticos depois de pagar o aluguel. E ela precisava de uma repaginada. Não que estivesse sem saída, garantiu a si mesma enquanto circulava ao longo dos postes de iluminação pública na área de três quarteirões que marcara como sua, nas entranhas da cidade. Ela se mantinha em forma. É verdade que trocara o push que consumia antes pela vodca — e bem que ela precisava de uma dose naquele momento —, mas mantinha uma boa aparência. Um excelente visual. Exibia a mercadoria em um provocante colete cheio de brilhos e uma microssaia que mal cobria o espaço entre as pernas, ambos em vermelho vivo. Até procurar um bom escultor de corpo, ela precisava do corpete para erguer os seios. Mas as pernas eram seu ponto forte. Longas, bem-modeladas e com um toque erótico representado pelas
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sandálias de salto altíssimo e tiras trançadas que lhe subiam até os joelhos. Sandálias que a estavam matando enquanto caminhava de um lado para o outro em busca de, pelo menos, um cliente. Para dar um descanso aos pés, encostou-se a um poste, empinou um dos quadris e olhou em torno da rua praticamente deserta com olhos castanhos que pareciam muito cansados. Talvez tivesse sido melhor usar a peruca longa prateada, disse a si mesma. Os homens curtiam cabelos exóticos. O problema é que naquela noite ela não teria aguentado o peso da peruca, e resolveu simplesmente arrepiar seus cabelos pretos muito curtos e lançar sobre eles uma névoa de spray prateado. Um táxi passou, seguido por mais dois veículos. Ela se inclinou para a frente de forma sedutora e deu piscadelas ensaiadas, mas ninguém parou. Mais dez minutos e ela encerraria o expediente. Talvez oferecesse uma chupada grátis ao senhorio se sua grana não desse para cobrir o aluguel. Afastou-se do poste e caminhou devagar, por causa da dor nos pés, voltando para o quarto simples ao qual fora reduzida. Lembrou-se do tempo em que tinha um apartamento luxuosamente mobiliado no Upper West Side, um closet cheio de roupas lindas e uma agenda lotada. Drogas ilegais, conforme sua terapeuta lhe explicara, sempre jogavam os usuários em uma espiral descendente que muitas vezes terminava em miséria e morte. Sobreviver ela havia conseguido, pensou Jacie, mas estava no último degrau da miséria. Mais seis meses, prometeu a si mesma, e estaria de volta ao topo. Ela o avistou vindo em sua direção. Rico, excêntrico e certamente fora do seu alcance. Não era comum ver homens circulando por aquela região usando roupas de noite sofisticadas. Muito menos capa, bengala e cartola. E ele ainda trazia uma pequena bolsa preta.
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Jacie exibiu sua cara de festa e pousou uma das mãos sobre o quadril. — Oi, amor. Já que está pronto para a balada, que tal uma festa particular? Ele sorriu para ela, exibindo, por alguns instantes, fileiras de dentes branquíssimos e perfeitos enquanto apreciava o material. — O que você propõe? — quis saber ele. Sua voz combinava com a roupa. Pertencia à classe alta e trazia uma pitada de prazer e de nostalgia na voz. Estilo, cultura. — Tudo o que o seu mestre mandar. Você é meu amo. — Uma festinha íntima, então, em algum lugar perto daqui. — Ele olhou em torno e apontou um beco estreito. — Mas não tenho muito tempo. O beco significava uma trepada rápida, o que era ótimo para ela. Eles resolveriam logo o assunto e, se ela desempenhasse seu papel com capricho, talvez conseguisse uma grana extra. Certamente o bastante para o aluguel e a levantada nos seios que planejava, refletiu, enquanto seguia na frente dele. — Você não é daqui da área, acertei? — Por que diz isso? — Pelo seu jeito de falar dá para gente perceber. — Ela encolheu os ombros, pois o lugar de onde ele vinha não era da sua conta. — Diga o que quer de mim, amor, e podemos acertar o preço logo. — Ah, eu quero tudo. Ela riu e estendeu a mão para acariciá-lo entre as pernas. — Humm, estou vendo que quer mesmo. É claro que poderá ter tudo. — Então eu vou poder descer dessas sandálias que estão me matando e mergulhar em um drinque bom e geladinho. Ela informou um preço alto, o maior que julgou possível para um cliente como aquele. Ao ver que ele aceitou de cara, sem piscar diante do valor elevadíssimo, se xingou por não ter pedido mais. — Quero pagamento adiantado — avisou. — Assim que o dinheiro cair na minha mão, podemos começar a farra.
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— Muito bem. O dinheiro vem antes. Sem apagar o sorriso, ele girou o corpo dela, colocando-a de frente para a parede. Cortou sua garganta com um golpe rápido, para que ela não tivesse tempo de gritar, usando a lâmina que trazia sob a capa. A boca da vítima se abriu em um esgar apavorante, e ela emitiu um som de gargarejo enquanto escorregava lentamente pela parede imunda. — Agora, vamos à diversão — disse ele, e se pôs a trabalhar nela.
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