Maré Alta - Introdução

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ATÉ O ÚLTIMO HOMEM Romance sobre a Primeira Guerra Mundial

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Maré Alta é uma obra de ficção histórica. Exceto as pessoas, eventos e locais reais e conhecidos que figuram na narrativa, todos os nomes, personagens, lugares e incidentes são produto da imaginação do autor e usados ficcionalmente. Qualquer semelhança com eventos ou locais atuais ou com pessoas vivas é pura coincidência.

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introduçÃo Na guerra, é axiomático que os vencedores da última combatam na nova guerra com as táticas da anterior. Por ter vencido, o vencedor se contenta com o que o levou à vitória, mas o derrotado quer saber por que perdeu. H I S T O R I A D O R R O B E RT L E C K I E

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SEGUNDA GUERRA MUNDIAL COMEÇA COM A CONCLUSÃO DA Primeira. Em 28 de junho de 1919, a Alemanha é forçada a assinar o Tratado de Versalhes, que oficialmente encerra a que viria a ser conhecida como a Primeira Guerra Mundial. Os termos do tratado são ditados sobretudo pelos dois aliados mais influentes, França e Inglaterra, que procuram punir a Alemanha econômica e geograficamente. Os Aliados acreditam que a linha dura evitará que a Alemanha, enfraquecida, volte a ameaçar a paz. O que eles não preveem é que, quase destruindo a economia alemã, o tratado propiciará exatamente o oposto. Dentro de poucos anos, fortes vozes do nacionalismo alemão se levantam, homens que influenciarão o povo apelando ao medo e à vingança. O mais eficaz é Adolf Hitler. No início dos anos 1920, Hitler é considerado um elemento radical de grupo minoritário pelos políticos alemães no poder, mas sua mensagem encontra eco nos cidadãos que sofrem sob pesada depressão econômica. O número de seguidores de Hitler aumenta durante os anos 1920, e os oponentes políticos não têm a mesma habilidade oratória nem a sua falta de consciência para tratar brutalmente os inimigos. A organização política de Hitler torna-se uma arma mortífera em prol de suas ambições e qualquer um que se oponha a ele está sujeito a um nível de violência que choca e intimida as vozes da razão. O Partido Nazista de Hitler consegue suficiente apoio popular e, em janeiro de 1933, o velho presidente alemão, Paul von Hindenburg, não tem

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outra escolha senão nomear Hitler chanceler, esperando que este crie um governo de coalizão. Em lugar disso, Hitler dissolve o Reichstag, órgão central do governo alemão, e, em março de 1933, declara-se ditador. A essa altura, ninguém é forte o bastante para se opor a ele. Durante os anos 1930, Hitler organiza uma campanha de demonstração de força militar que deixa alarmados os vizinhos europeus. Um aspecto do Tratado de Versalhes do qual Hitler tira grande vantagem é a cláusula que despoja a Alemanha de partes de seu território, cedendo-as a países vizinhos, como Polônia, Tchecoslováquia e França. Mas esses territórios ainda são ocupados principalmente por alemães, que recebem bem os apelos de Hitler para que voltem a fazer parte da Alemanha. Em março de 1936, tropas alemãs ocupam a zona desmilitarizada ao longo da fronteira francesa, o antigo território alemão chamado Renânia. Embora os líderes militares alemães fiquem apreensivos, os franceses praticamente nada fazem em protesto. Hitler aprende a primeira lição sobre a relutância dos aliados em entrar em confronto armado. Uma lição que levará a sério. Em 1938, Hitler anexa a Áustria, que cai de boa vontade sob seu domínio. O próximo objetivo, que anuncia com grande estrépito, é “resgatar” os alemães que habitam uma parte da Tchecoslováquia conhecida como região dos Sudetos. Finalmente, os governos europeus protestam. O primeiroministro inglês, Neville Chamberlain, vai a Munique encontrar-se com Hitler e retorna triunfante, brandindo documentos assinados pelo líder alemão nos quais promete que, se os Aliados permitirem aos alemães tomar posse da região dos Sudetos, ele não fará novas demandas territoriais. A Europa dá um suspiro coletivo de alívio, a despeito de o governo tcheco não ter sido ouvido, nem dispor de meios de apelação. Para outros líderes europeus, é simplesmente o preço da paz. Em 23 de agosto de 1939, Hitler assina um pacto de não agressão com a União Soviética que lhe permite agir sem medo de represália da Rússia. O próximo movimento acontece em 1º. de setembro de 1939. Tropas, aviões e tanques alemães avançam através da fronteira da Polônia, varrendo o flagrantemente inferior exército polonês. Em pouco mais de três semanas, a Polônia é esmagada. (É pouco divulgado que tropas russas também invadiram e ocuparam cerca de metade da Polônia — termo-chave do acordo de não agressão que Hitler fizera com Joseph Stalin.)

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A Europa Ocidental reage com indignação e, em 3 de setembro de 1939, a Grã-Bretanha e a França declaram guerra à Alemanha. Mas é um gesto diplomático, sem peso real. Embora a França possua aquela que é considerada a mais poderosa força militar da Europa, os franceses parecem relutantes em empregar armas num confronto contra a Alemanha. As lembranças da Grande Guerra ainda estão muito intensas. Grande parte do território ao longo da fronteira franco-alemã ainda é terra devastada.

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HITLER FORTALECE O CONTROLE SOBRE O GOVERNO alemão, os militares alemães se envolvem muito pouco nas frequentes manifestações públicas de fervor patriótico de Hitler. O Tratado de Versalhes é específico quanto à Alemanha manter um exército e uma marinha mínimos, mas, entre os veteranos da Grande Guerra, começam a surgir oficiais que entendem que a coluna vertebral da orgulhosa herança militar alemã ainda está intacta. Muito abaixo do radar da Europa oficial, o exército alemão volta a treinar e a se equipar. Embora os oficiais alemães aprendam que, na verdade, não perderam a Grande Guerra, estavam cientes de que foram cometidos erros. No futuro, a tática teria de ser diferente. Enquanto Hitler grita nos microfones de toda a Alemanha, o exército faz discretamente o seu trabalho. Stalin, desconfiado do Ocidente, consente que unidades aéreas e de tanques sejam treinadas no interior do território russo, longe dos olhos dos diplomatas ocidentais. A tecnologia torna-se tão importante quanto os efetivos, e uma enorme energia é direcionada para o projeto de tanques, aeronaves e submarinos modernos. Quando Hitler abole unilateralmente o Tratado de Versalhes, o exército alemão, Wehrmacht, e a força aérea, Luftwaffe, recebem carta branca para aumentar o contingente de homens e equipamentos, de modo a se tornarem novamente uma força poderosa. Durante a invasão da Polônia, Hitler se espanta com a eficiência e a habilidade de seu exército para esmagar o inimigo por meio do que ele descobre ser o Blitzkrieg. Essa tática fora usada inicialmente na Grande Guerra, com os comandantes alemães ordenando que tropas de choque avançassem numa velocidade de raio, lançando um forte ataque numa frente estreita. Em 1918, a tática não pôde ser sustentada em virtude da escassa tecnologia NQUANTO

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que lhe dava suporte. Em 1939, Hitler vê com os próprios olhos que tudo mudou.

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POLÔNIA, TANTO A Alemanha quanto seus inimigos declarados parecem parar para respirar, talvez chocados com a constatação de que o que Hitler começara poderia explodir em outra catástrofe humana do tipo que ninguém acreditava que pudesse acontecer novamente. Embora os britânicos conservem sua força expedicionária posicionada na Bélgica e no norte da França de setembro de 1939 a maio de 1940, nenhum combate se dá naquela região. Os franceses trabalham febrilmente para completar a Linha Maginot, que acreditam ser um muro de defesa intransponível ao longo da fronteira alemã. Os esforços diplomáticos continuam, ministros de todas as partes começam a acreditar que a agressividade de Hitler poderá ser detida. Também há um considerável desgosto com Hitler dentro da Alemanha, e os britânicos recebem discretas sondagens de funcionários alemães sugerindo que muitos oficiais do exército alemão cooperariam com esforços para a destituição total de Hitler. Só conversas sem nenhum resultado. Os seis meses seguintes permitem ao mundo respirar tranquilamente, e, nas capitais da Europa, a vida retorna a uma espécie de normalidade, e os jornalistas se referem à situação corrente como uma “guerra de mentira”. Durante a calmaria, o Ministério da Propaganda de Hitler, comandado pelo grande manipulador Paul Joseph Goebbels, insufla a paixão pela guerra no povo alemão, exacerbando o medo de comunistas e estrangeiros, convencendo-o de que toda a Europa se prepara para invadir sua terra natal. De acordo com Goebbels, a brutalidade imposta à Alemanha em 1919 será repetida. Embora muitos alemães não queiram outra guerra, a propaganda tem sucesso e garante amplo apoio a Hitler e sua política. Após um longo inverno de manobras e planejamentos tensos de ambos os lados, a guerra de mentira termina. Hitler ataca primeiro. Em abril de 1940, tropas alemãs se lançam no que se torna uma corrida com os britânicos para ocupar a neutra Noruega, estrategicamente importante para ambos pela proximidade de muitas rotas marítimas que abastecem o norte da Europa. Embora os britânicos afirmem que sua intenção de ocupar os portos da Noruega tem a bênção do povo e do rei noruegueses, OR MUITOS MESES DEPOIS DA INVASÃO DA

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os alemães dispensam tais pretextos. Para a consternação da marinha britânica, os alemães ganham a corrida, ocupando, de passagem, a Dinamarca. A queda da Noruega é a última gota para o povo britânico e seu Parlamento, cansados dos constantes apelos de Neville Chamberlain por apaziguamento, por soluções diplomáticas pacíficas contra a agressividade de Hitler. Chamberlain é afastado do poder, e Winston Churchill torna-se o novo primeiro-ministro britânico. Em 10 de maio de 1940, as forças armadas de Hitler atacam a Holanda e a Bélgica, dois países que, surpreendentemente, haviam se recusado a acompanhar a Grã-Bretanha e a França nas declarações de guerra oficiais contra a Alemanha. Enquanto funcionários belgas e holandeses confiam em esforços diplomáticos, Hitler simplesmente ignora sua neutralidade. As tropas alemãs rapidamente derrotam os dois países, fazendo, pela primeira vez, uso eficaz de paraquedistas e planadores. Em questão de dias, os Países Baixos caem. Mas, para os estrategistas militares de Hitler, o inimigo principal e adversário mais perigoso continua a ser a França, ainda considerada detentora de forças superiores tanto em homens quanto em armamento. Qualquer ataque contra a Linha Maginot certamente causaria um número desastroso de baixas e lembraria demais a carnificina da Grande Guerra. Ao norte da Linha Maginot ficam as densas matas da Floresta de Ardenas, consideradas inexpugnáveis, especialmente para os blindados alemães. Mas a floresta tinha sido cuidadosamente estudada pelos comandantes alemães e, durante o avanço das tropas alemãs através da Holanda e da Bélgica, uma enorme força de tanques repentinamente invade Ardenas, que, afinal, não se mostra assim tão intransponível. Em poucos dias, os tanques alemães se deslocam para o outro lado do Rio Mosa, ultrapassando quase inteiramente a Linha Maginot. O ataque-relâmpago permite aos tanques alemães abrirem uma ampla brecha entre as defesas francesa e britânica. Com os tanques alemães passando rapidamente além de seus flancos, os britânicos não têm outra escolha senão recuar. À medida que os alemães continuam a pressionar, quase a totalidade das forças britânicas e outras tropas aliadas são empurradas em direção ao Canal da Mancha. Sua única rota de fuga é um porto francês chamado Dunquerque. Durante os primeiros dias de junho de 1940, os britânicos fazem todos os esforços para resistir aos ataques continuados das aeronaves alemãs, embora muitos de seus soldados se encontrem indefesos, expostos nas

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praias. Para desgosto dos comandantes alemães das unidades de tanques, Hitler ordena que não ataquem as tropas britânicas concentradas. Por motivos que só Hitler conhece, ele é cético quanto aos relatórios de seus generais sobre uma vitória esmagadora, recusando-se a acreditar que seu exército tenha sido tão bem-sucedido contra forças que sabe que superam as suas em número. Além disso, Hitler é convencido por seu arrogante e impetuoso comandante da aeronáutica, Hermann Göring, de que a Luftwaffe sozinha pode destruir os britânicos nas praias de Dunquerque antes que consigam fazer a retirada. Durante dias, os aviões de caça e os bombardeiros da Luftwaffe fustigam os britânicos, mas não conseguem obrigar nenhum comandante britânico a se render. Em vez disso, enquanto as tropas alemãs, frustradas, observam, mil embarcações britânicas, de navios de guerra a barcos de pesca, retiram soldados aliados, desesperados, da praia e os transportam para o outro lado do Canal da Mancha. Cerca de 300 mil soldados britânicos, franceses e belgas são salvos. Com a maior parte dos britânicos fora da luta na Europa Ocidental, os alemães voltam a atenção para os franceses, que estão preparados para defender seu país como haviam feito em 1914. Mas dessa vez as táticas e técnicas alemãs no campo de batalha superam em muito o que os franceses apresentam em combate. Em 14 de junho de 1940, depois de menos de três semanas de luta, as tropas alemãs entram triunfantes em Paris. Hitler, então, instaura um governo de marionete na França, conhecido como Vichy, encabeçado por Henri Pétain, um dos mais populares e condecorados heróis franceses da Primeira Guerra Mundial. Pétain é fraco, facilmente manipulável, e acredita que, atendendo aos desejos de Hitler, a França será poupada de uma conquista brutal. Em retribuição pela cooperação de Pétain, Hitler concorda em não invadir o sul da França. Para Hitler, isso não é nenhum sacrifício. Ele havia conquistado Paris, algo que nenhum líder alemão conseguira desde a Guerra Franco-Prussiana. Com a Europa Ocidental sob o tacão de Hitler, os estrategistas alemães dirigem a atenção para outros lugares. Um desafio crucial para manter o controle sobre uma força militar de tal magnitude é o abastecimento. Os alemães começam a olhar para além da Europa, onde vastos recursos naturais ainda podem ser explorados. Para consternação de muitos militares de carreira no comando das tropas de Hitler, ele cultiva uma amizade com o bombástico ditador italiano Benito Mussolini, formalizada como aliança em

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setembro de 1938. Mussolini também assina o Pacto Anti-Comintern, um acordo inicialmente redigido em 1936 entre Japão e Alemanha, que garante assistência mútua caso um dos dois seja atacado pela Rússia. O pacto era um tratado mal disfarçado assegurando que Japão e Alemanha não agiriam um contra os interesses do outro. As ambições de Mussolini o haviam levado ao leste e ao norte da África, e, desde meados dos anos 1930, as forças italianas tentavam subjugar territórios da Tunísia à Etiópia. Mas a máquina de guerra da Itália não se compara à da Alemanha e, na África, Mussolini experimentara grandes reveses diante dos britânicos. Embora os estrategistas alemães prefiram se fixar na tomada dos campos britânicos de petróleo no Oriente Médio, Hitler concorda em fornecer tropas alemãs para ajudar Mussolini naquilo que o ditador italiano acredita ser o seu destino pessoal — conquistar a África como parte de um glorioso novo Império Romano. Mas Hitler tem suas próprias distrações. Com a Europa Ocidental segura, o exército alemão reorganiza seus comandantes e começa a olhar para a frente. Mas Hitler os surpreende com seus planos, insistindo num ataque devastador à Rússia. Embora os russos sejam aliados ostensivos dos alemães, não é possível demover Hitler do sonho de subjugar um inimigo de tal porte, especialmente com as reservas humanas e naturais virtualmente ilimitadas de que a Rússia dispõe. Hitler tem também dois outros motivos. Primeiro, sente um ódio intenso por Joseph Stalin, que se cristaliza numa vingança pessoal que não tem base em prática militar sólida. O segundo motivo é a aversão que Hitler sente pelo povo russo, considerado por ele como subumano. É um modo de pensar devastador que já espalha sua triste sombra pela Alemanha e pelos países que caíram sob o tacão da Alemanha. Durante anos, parte da atração que Hitler exerce sobre o povo alemão consiste na insistência vociferante de que os alemães são especiais e etnicamente superiores, de que a estirpe alemã deveria prevalecer sobre todas as outras. Com tanto território alemão perdido sob o Tratado de Versalhes, é fácil para Hitler convencer seu povo de que ele precisa de mais Lebensraum, ou espaço para viver, que permita às linhas puras de sangue dos arianos alemães florescerem e prosperarem por toda a Europa. Para dar espaço à sua versão de Povo Escolhido, Hitler já começara a ordenar a remoção forçada de grande número de imigrantes e judeus de suas casas na Alemanha, Polônia, Tchecoslováquia e em outros países, incluindo a França. Essas

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pessoas desenraizadas são transportadas para campos enormes, onde frequentemente lhes é dito que lá permanecerão apenas até que novas casas lhes sejam destinadas. Mas poucos são autorizados a ir embora, e, em vez disso, enormes contingentes de homens, mulheres e crianças são conduzidos a câmaras de gás e sumariamente exterminados. Nos dois primeiros anos da guerra, o conhecimento dos campos fica restrito sobretudo à Gestapo, a polícia secreta de Hitler. Muitas pessoas chegadas ao círculo próximo a Hitler preferem ignorar os rumores sobre o que está acontecendo aos judeus. Outros aceitam sem escrúpulos a filosofia de Hitler. A maior parte dos militares de carreira, cujos deveres os mantêm longe, em campo, tem pouca ou nenhuma noção do que ocorre nos campos de concentração. Em 22 de junho de 1941, uma força totalizando mais de 186 divisões alemãs, quase dois milhões e meio de homens, atravessa a fronteira da Rússia. O sonho de Hitler de conquistar o enorme país ocupará a maior parte de sua atenção durante muitos meses. Enquanto o poder da Alemanha avança para o leste, no norte da África uma força muito menor é sediada. É principalmente uma força móvel e blindada, com muitos dos homens que lançaram o espetacular e bem-sucedido ataque através da França e da Bélgica. Agora se espera que expulsem os britânicos dos lugares caros a Mussolini e, se possível, conquistem todo o norte da África. Comparadas ao enorme exército que avança pelas planícies da Rússia, as duas divisões de tanques que desembarcam na cidade portuária de Trípoli, na Líbia, constituem apenas uma força simbólica, nem de perto o rolo compressor que Mussolini esperava. Mas Mussolini aceita o que consegue obter. Os tanques são liderados pelo homem cujo nome já conquistara uma reputação considerável no alto-comando alemão: Erwin Rommel.

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OS ANOS SEGUINTES À GRANDE GUERRA, O GOVERNO AMERICANO

está tão dividido quanto seu povo. Como em 1914, muitos americanos estavam extremamente relutantes em se envolver com os problemas do resto do mundo. Nos anos 1920, o sentimento isolacionista retorna com vigor ainda maior.

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Quando Franklin Delano Roosevelt assume a Presidência, em 1933, a nação já sofre por três anos com a Grande Depressão, e a política do New Deal (Novo Acordo) de Roosevelt é projetada para colocar a economia americana novamente de pé. A política é bem-sucedida e, durante os anos 1930, os americanos começam a emergir da depressão econômica. Os jornais americanos alardeiam o tumulto que há por todo o mundo: a guerra civil na Espanha, as conquistas de Mussolini na África, as investidas do Japão contra a China. À medida que as conquistas territoriais de Hitler na Europa evoluem para uma guerra em grande escala, celebridades americanas, tais como Charles Lindbergh, previnem a nação de que qualquer aliança dos EUA com os inimigos de Hitler resultará na destruição da América. Roosevelt não concorda. A relação dos EUA com a Grã-Bretanha baseia-se em mais que uma aliança econômica, e Roosevelt acredita que o povo americano é fortemente pró-britânico. Após a quase catástrofe dos britânicos em Dunquerque, Roosevelt reage com várias medidas de ajuda, inclusive com suprimentos militares e navios, emprestados à Grã-Bretanha em termos que demonstram claramente de que lado está a lealdade americana. Em março de 1941, o Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) formaliza essa aliança. Os inimigos de Roosevelt, inclusive Lindbergh, ficam indignados. Em 7 de dezembro de 1941, essa indignação é silenciada. Os japoneses lançam um ataque surpresa devastador contra a frota americana em Pearl Harbor, no Havaí. Enquanto Roosevelt transmite a notícia para um público americano chocado, os isolacionistas e pacifistas de pronto são ignorados. Roosevelt declara guerra ao Japão e a seus aliados, Alemanha e Itália. Imediatamente, os líderes militares americanos descobrem que duas décadas de sentimento antimilitar haviam reduzido as forças armadas americanas a um estado deplorável. De aeronaves a tanques, de rifles a homens em condições de lutar, as forças armadas estão lamentavelmente subequipadas para confrontar um inimigo que possui os mais modernos instrumentos de guerra. O general John Dill, o mais graduado oficial britânico sediado em Washington, observa: “As forças armadas estão mais despreparadas para esta guerra do que se possa imaginar. Toda a organização é do tempo de George Washington.” Por essa razão se inicia um programa de emergência envolvendo todos os recursos industriais que os Estados Unidos conseguem mobilizar. Em semanas, fábricas de utensílios e utilidades modernas são transformadas

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em manufaturas de munições. Os fabricantes de automóveis começam a produzir tanques. A ajuda aos britânicos continua, mas em Washington os militares americanos começam a se dividir quanto às prioridades, alguns acreditando que a América deveria enfrentar primeiro o Japão e, outros, a Europa. Segue-se uma disputa por recursos. Um equilíbrio difícil é mantido com habilidade pelo chefe do estado-maior, George C. Marshall, convencido de que, se a Grã-Bretanha cair, a América ficará isolada, espremida entre dois fortes poderes militares. Marshall convence Roosevelt de que Hitler precisa ser derrotado primeiro se quiserem ter qualquer esperança de que os britânicos os ajudarão com seus próprios recursos na luta contra os japoneses. Enquanto a força das tropas americanas aumenta e voluntários enchem os centros de treinamento, o corpo de oficiais passa por convulsões internas. A tarefa pouco invejável de Marshall é encontrar os homens certos para postos para os quais ninguém foi preparado. O comando do Pacífico é entregue ao ex-chefe de estado-maior Douglas MacArthur, cuja experiência em campo teve lugar sobretudo nas Filipinas. Embora os britânicos também estejam enfrentando ameaças dos japoneses em suas colônias de Cingapura e da Índia, não há uma frente unida, e MacArthur assume o comando de uma vasta área do Pacífico central e ocidental que é, principalmente, problema americano. Na Europa, a escolha de Marshall para comandante é menos definida. Sem forças aliadas realmente lutando no continente europeu, o papel inicial dos EUA deve ser o de apoiar uma invasão e ficar do lado dos britânicos, procurando meios de romper o domínio de Hitler. Os americanos têm preferência por uma invasão através do Canal da Mancha, diretamente na França. Os britânicos discordam com veemência e Winston Churchill pressiona por recobrar o controle do Mar Mediterrâneo. Churchill acredita que, se a Alemanha dominar o norte da África, a ameaça ao Canal de Suez e aos campos petrolíferos do Oriente Médio não poderá ser evitada. O plano de Churchill é atacar inicialmente os interesses alemães e italianos no norte da África. Desde o começo de 1941, as forças britânicas vinham combatendo Erwin Rommel, num duelo favorável ora a um, ora a outro, no deserto da Líbia. Churchill convence os americanos de que, se os alemães forem varridos do norte da África, todo o sul da Europa, especialmente a Itália, ficará vulnerável a um ataque aliado. Embora Marshall e Roosevelt continuem a pressionar por uma invasão através do canal, a posição de Churchill prevalece. É preciso um comandante, um homem para

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conduzir as forças conjuntas da América e da Grã-Bretanha. Embora os britânicos tenham experiência na luta contra os exércitos de Hitler, Churchill entende que os recursos americanos são essenciais para o sucesso. Para tanto, o povo americano deve sentir que seu exército está lado a lado com o britânico, e não um passo atrás. Portanto, o comandante geral da campanha deve ser um americano. Embora muitos no exército britânico estejam intimamente convencidos de que ele será apenas uma figura decorativa, George Marshall escolhe o homem que acredita ser o administrador mais determinado e sensato do comando americano: Dwight D. Eisenhower.

DWIGHT DAVID EISENHOWER Nascido em 1890 em Denison, Texas, é um dos sete filhos (apenas seis chegam à idade adulta) de pais trabalhadores e devotos. Inicialmente David Dwight, ele inverte os nomes depois de se formar no ensino médio. Eisenhower passa a maior parte dos primeiros anos em Abilene, Kansas, e aprende os valores conservadores da vida americana com as experiências de uma cidade pequena, num mundo isolado das vivas tentações dos “alegres anos 1890”. É um atleta excepcional, e é sensível à posição humilde de sua família na comunidade. Hábil com os punhos, rapidamente deixa claro que não tolerará o desdém arrogante dos rapazes mais aristocráticos da cidade. Em 1911, Eisenhower se inscreve na Academia Naval de Annapolis, Maryland, e, pensando melhor, para aumentar as chances de ser aceito, também se inscreve em West Point. Não tem planos de seguir uma carreira militar, apenas acredita que as academias militares lhe oferecerão a educação universitária de primeira classe que seus pais, de outra maneira, não teriam recursos para pagar. Para seu desapontamento, já havia passado da faixa etária para ingresso em Annapolis, mas West Point o aceita. Aos 21 anos, Eisenhower é o mais velho da turma. A viagem para o leste é a primeira que faz para longe da família, que é muito unida. Forma-se em 1915, no sexagésimo primeiro lugar da turma, deixando uma reputação de proezas muito maiores no campo de futebol que na sala de aula. Na ocasião, ele não poderia saber que, dos 164 integrantes da turma de formandos, 59 chegariam à patente de general, o maior número alcançado por uma turma em West Point. Entre eles estaria o seu amigo Omar Bradley.

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No fim de 1915, é mandado para San Antonio, Texas, onde conhece Mamie Geneva Doud, de uma semelhança impressionante com a atriz Lillian Gish, e que Eisenhower descreve como “a mais linda mulher que eu já vi”. Em julho de 1916, eles se casam. Em setembro de 1917, Mamie dá à luz Doud Dwight Eisenhower, mas a vida do bebê é encurtada pela escarlatina, e o primeiro filho de Eisenhower morre em janeiro de 1921, aos 3 anos. Uma tragédia sobre a qual ele raramente falará. Em agosto de 1922, Mamie dá à luz outro menino, que recebe o nome de John. Durante a Grande Guerra, Eisenhower permanece nos Estados Unidos, treinando equipes de tanques, e serve como comandante de uma brigada de tanques em Gettysburg, Pensilvânia. Conhece e se torna amigo do comandante da escola de tanques do exército, George Patton. Com o fim da guerra, Eisenhower aceita um posto no exército regular, e serve como chefe do estado-maior do general Fox Connor no Panamá, com a patente de major, que manterá por mais de 15 anos. Connor havia servido com o comandante americano John “Black Jack” Pershing, de quem fora muito próximo, e é uma das melhores cabeças do exército. Ele apresenta a literatura e as artes a Eisenhower, ampliando as perspectivas do jovem oficial, e lhe dá a oportunidade de aperfeiçoar suas habilidades de planejamento e organização militares. Em 1924, Connor sugere a Eisenhower que ingresse na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército em Fort Leavenworth. Depois de dois anos de estudos, Eisenhower surpreende a si próprio mais que aos outros ao se formar em primeiro lugar numa turma de 275 oficiais. Em 1927, Eisenhower serve como ajudante de ordens do general reformado Pershing, como membro da Comissão Americana de Monumentos de Guerra. Pershing o influencia, como havia feito Fox Connor, e o encoraja a ler e a estudar as táticas e estratégias dos campos sangrentos da Grande Guerra. Em 1933, Eisenhower aceita a posição de assessor do chefe do estadomaior da época, Douglas MacArthur. Continua servindo com MacArthur nas Filipinas e lá permanece até 1940. Os dois homens são como água e azeite, mas Eisenhower desempenha seus deveres com total profissionalismo, apesar de realmente não gostar de MacArthur. No entanto, Eisenhower respeita a experiência de MacArthur e, muito antes de Pearl Harbor,

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MacArthur lhe diz que certamente haverá outra guerra de larga escala, previsão que Eisenhower leva a sério. Em fevereiro de 1940, encontra-se estacionado em Fort Ord, Califórnia, como subcomandante do Décimo Quinto Regimento de Infantaria. Começa a falar de seus temores, prevenindo a todos os que lhe dão ouvidos que os Estados Unidos não estão preparados para uma guerra que ele considera inevitável. Entre os oficiais próximos, passa a ser conhecido como Ike, o Alarmista. Em setembro de 1941, Eisenhower é promovido a general de brigada, e quando chega a notícia sobre Pearl Harbor, é chamado a Washington, onde é nomeado para comandar a Divisão de Planos de Guerra do Estado-Maior. Agora, sob a supervisão direta do chefe do Estado-Maior George Marshall, Eisenhower se vê discutindo as estratégias de MacArthur no Pacífico, o que faz sem preconceitos, apesar de muitas vezes encontrar falhas no planejamento de MacArthur. Marshall fica bem impressionado. Em março de 1942, Eisenhower recebe uma promoção a general de divisão. Sua amizade com Marshall continua a crescer, e os dois concordam sobre a maior parte das questões cruciais que surgem em torno deles. Em 8 de abril de 1942, Marshall viaja a Londres, onde se encontra com Churchill e com os chefes de estado-maior britânicos. A discussão contempla todos os aspectos da próxima campanha contra o exército de Hitler e, pela primeira vez, os comandantes discutem que oficial será escolhido para chefiar o comando aliado. Em 15 de junho de 1942, Eisenhower recebe a palavra final de Marshall. O comando é dele.

ERWIN ROMMEL Nascido em 1891, em Heidenheim, Alemanha, é filho de um professor e, de cinco irmãos, é o do meio. Passa a infância nas montanhas e florestas da Baviera natal e logo descobre que tem pouca inclinação para os estudos, o que naturalmente desgosta seu pai. Um professor observa: “Se algum dia ele fizer um ditado sem erros, contrataremos uma banda e passaremos um dia no campo.” Sempre preferindo atividades atléticas, na adolescência Rommel torna-se um esquiador excepcional e mostra fascinação por aeronaves. Embora a família Rommel não tenha tradição militar, ele começa a se ver

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como soldado e, em 1910, para grande desapontamento do pai, Rommel ingressa no exército. Em 1911, enquanto frequenta a Academia Alemã de Guerra em Dantzig, na Prússia Oriental, Rommel conhece Lucy Maria Molin, moça discretamente aristocrática que o impressiona profundamente. Um ano mais tarde, Rommel termina a formação de oficial e é designado para um regimento de infantaria como segundo-tenente, para treinar novos recrutas. Sempre fiel a Lucy, não participa das tentações desenfreadas que se oferecem aos jovens oficiais, bebe raramente e nunca fuma. É considerado maçante pelos colegas oficiais. Seus superiores interpretam seu comportamento de outra forma e percebem que o jovem possui o estofo necessário para se tornar um bom oficial. Em agosto de 1914, Rommel parte para a guerra com seu regimento. De imediato, os homens sob seu comando reconhecem algo de incomum no tenente, uma destemida dedicação à luta, uma mente afiada que reage com decisão diante do fogo. Corajoso a ponto de se tornar imprudente, cresce em reputação. Em janeiro de 1915, já havia sido condecorado duas vezes com a Cruz de Ferro por heroísmo e liderança sob fogo. Mas, quando o combate na frente ocidental fica paralisado, Rommel se impacienta com a inatividade. Promovido a primeiro-tenente, recebe de bom grado uma nova missão, ingressa num batalhão de montanha e é enviado para a Romênia e, a seguir, para as montanhas da fronteira italiana. Em novembro de 1916, durante uma breve licença, volta a Dantzig e se casa com Lucy. Continua a se destacar em combate no terreno montanhoso do norte da Itália e, em outubro de 1917, sua unidade é designada para apoiar as forças austríacas em luta contra os italianos perto da cidade de Caporetto. Rommel comanda duas companhias num ataque audacioso contra as defesas italianas e, reunindo mais soldados ao longo das linhas de frente, escala uma montanha difícil e fortificada e captura quase dez mil soldados italianos. Recebe, então, a maior honra militar alemã, a Pour le Mérite (também conhecida como Max Azul). Após o fim da Grande Guerra, Rommel, já capitão, continua no exército regular. Em 1921, é designado para Stuttgart, para comandar um regimento de infantaria, cargo que exerce por oito anos. Lá, em 1928, nasce seu único filho, Manfred.

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Em 1929, Rommel é designado instrutor da Escola de Infantaria do Exército, em Dresden. Descontente com a maior parte dos textos e manuais que tem de utilizar, começa a escrever um manual, que seria publicado somente em 1937. No início da década de 1930, quando oficiais de alta patente começam a estruturar os planos para reconstruir as forças armadas alemãs, o nome de Rommel é frequentemente mencionado. Apesar de nunca participar de tais reuniões fechadas, é muito respeitado, visto como o tipo de oficial que o exército precisa ter. Em 1933, é promovido a major e designado para o comando de um batalhão de montanha em Goslar, no centro da Alemanha. Lá, fica conhecido como um instrutor de treinamento prático sério que exige muito de seus homens. Poucos reclamam, no entanto, pois Rommel exige de si com a mesma intensidade. Rommel fica chocado com a ascensão de Hitler ao poder, pois deu pouca atenção à disputa política do pós-guerra na Alemanha. Quando Hitler se declara ditador da Alemanha, Rommel fica enojado com as táticas brutais dos seguidores dele. Rommel comenta com sua mulher que os nazistas “parecem um bando de patifes”. Mas Hitler começa a interessá-lo, parecendo-lhe um idealista, um homem com energia para resgatar a Alemanha das garras dos inimigos, especialmente do comunismo. Rommel passa a acreditar que Hitler é exatamente aquilo de que a Alemanha precisa: um homem que pode reunificar o povo alemão e recuperar seu orgulho perdido. À medida que Hitler consolida seu poder sobre os oficiais de patente mais elevada, Rommel sente a pressão para se tornar membro do Partido Nazista. Mas ainda considera a política inadequada para um soldado e não ingressa no partido. Apesar do desconforto em relação a muitas das ideias de Hitler, os militares valorizam o fato de o ditador lhes dar carta branca para se modernizarem e se reequiparem. Assim, mesmo os que fazem objeção à agressividade de Hitler contra a Tchecoslováquia e a Áustria, mantêm as críticas a portas fechadas. Em comparação ao caos dos anos 1920, Hitler proporciona aos oficiais alemães uma estrutura poderosa para exercer seu ofício. Em fevereiro de 1937, Rommel é designado para comandar a Juventude Hitlerista, uma nova organização que tem por objetivo instruir os rapazes alemães na arte da guerra. Mas Rommel identifica no grupo as características que rapidamente o transformam num ninho de provocadores e desajus-

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tados. Rommel considera o cargo por demais repugnante e declara não haver ingressado no exército para treinar “pequenos napoleões”. Um ano mais tarde, é-lhe dado o comando da Academia de Guerra em Wiener Neustadt, perto de Viena, na Áustria. Mais uma vez, Rommel chama a atenção de Joseph Goebbels, que providencia para que seu manual, intitulado Ataques de infantaria, seja publicado. Por essa razão, Rommel se sentirá devedor de Goebbels pelo resto da vida. Em agosto de 1939, Rommel é promovido a general de divisão e presencia a invasão da Polônia do quartel-general de Hitler. Ignorando a brutalidade infligida ao povo polonês, Rommel absorve as lições do ataque alemão, que reforçam seus próprios instintos militares: atacar com força e rapidez, com poder esmagador. É atraído sobretudo pelo brutal sucesso dos blindados alemães, os panzers. Percebe claramente que seu lugar é à frente de uma sólida coluna de tanques poderosos. Durante a invasão da Polônia, e também depois, Rommel é designado para comandar a segurança pessoal de Hitler, tornando-se basicamente o seu guarda-costas. Nessa ocasião, Hitler estabelece um relacionamento com Rommel que influenciará a ambos. Mas Rommel impacienta-se nesse posto, despreza o grupo de oficiais que se reúne em torno de Hitler e se refere a eles como “um bando de pássaros deploráveis”. Quando Hitler oferece a Rommel um comando em campo, Rommel não hesita, e Hitler lhe concede o que especificamente pediu, o comando da Sétima Divisão de Panzers. Em semanas, Rommel começa os preparativos para cumprir a ordem de Hitler que lançará o exército alemão em direção ao Ocidente. Em maio de 1940, a divisão blindada de Rommel irrompe pela fronteira ao sul de Liège, na Bélgica, e ele é o primeiro comandante alemão a cruzar o Rio Mosa. Empurrando o inimigo à sua frente, Rommel quase vai longe demais e escapa de ser esmagado pelos tanques britânicos, que, ao darem por si no flanco alemão, surpreendem-se. Mas a audácia de Rommel o salva e, continuando seu avanço para oeste, ele chega à costa, perto de Dunquerque, e é avisado de que Hitler ordenou uma parada. Depois da fuga britânica em Dunquerque, Rommel, desgostoso, volta ao ataque e captura várias cidades francesas, esmagando bolsões de resistência francesa e britânica pelo caminho. Em 12 de junho de 1940, captura a cidade costeira de Saint-Valéry, na França, juntamente com 12 mil prisionei-

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ros britânicos e franceses. Dois dias depois de os alemães marcharem sobre Paris, Rommel captura a cidade de Cherbourg e recebe a rendição de 30 mil soldados franceses. No conjunto da campanha que resulta na conquista da Europa Ocidental por Hitler, as forças sob o comando de Rommel capturam aproximadamente 100 mil prisioneiros, trezentas peças de artilharia e mais de quatrocentos tanques. Sua divisão sofre baixas de menos de 3 mil homens, com a perda de 42 tanques. Embora a estrela de Rommel suba consideravelmente, ele sente o primeiro gosto da inveja e da maledicência de outros oficiais que perseguirão sua carreira. Hitler não muda de opinião ante as observações dos superiores de Rommel, que insistem que ele é impetuoso demais para um alto-comando. Embora Hitler fique logo obcecado com seus sonhos de conquistar a Rússia, não pode ignorar completamente seus oficiais de gabinete, que sugerem que Mussolini é instável. Hitler está convencido de que, se os italianos continuarem a sofrer reveses diante dos britânicos no norte da África, Mussolini poderá simplesmente ficar fora da guerra. Hitler apela para Rommel e, contra os conselhos de muitos de seus auxiliares superiores, oferece-lhe o comando do que constituiria o Deutsches Afrika Korps (Forças Alemãs na África). Em 12 de fevereiro de 1941, Rommel chega a Trípoli, no oeste da Líbia. Quase imediatamente, Rommel muda o panorama da guerra no norte da África e os britânicos são empurrados, cambaleantes, de volta para o Egito. Mas Rommel não recebe recursos nem cooperação de seus superiores italianos, e os britânicos voltam a atacar. Pelo resto de 1941, a campanha pende ora para um lado, ora para o outro, a impulsão mudando de mãos, a audácia e a tática superior de Rommel compensando a incapacidade de se equiparar aos britânicos em número e em rotas de suprimento. Apesar das deficiências de Rommel, entre elas a tendência a se afastar de seu quartel-general, os sucessos eclipsam os erros. A lenda da “Raposa do Deserto” começa a crescer, e até os britânicos compartilham a admiração de Hitler por Rommel e suas táticas. Winston Churchill diz ao Parlamento britânico que Rommel é “um oponente muito audacioso e habilidoso... um grande general”. Em 8 de dezembro de 1941, Rommel recebe a notícia de que os japoneses bombardearam Pearl Harbor. Ele sabe que a entrada dos americanos na

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guerra ajudará imensamente os britânicos. Quando tem conhecimento dos reveses alemães na Rússia, Rommel percebe que os vastos sonhos de Hitler poderiam ser inatingíveis. E começa a perceber que, a não ser que ele consiga destruir os britânicos que o combatem e conquiste o norte da África, a Alemanha não poderá vencer a guerra.

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