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Alessandro Diniz

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Valéria Pisauro

Valéria Pisauro

Alessandro Diniz nasceu em Passa Quatro, cidade pequena no sul de Minas Gerais, onde, desde criança, ouvia os causos de assombrações contados por seus familiares mais velhos. Graduado em TI, ele é aficcionado por tecnologia e computadores, mas sua paixão verdadeira está na escrita e nos livros. Fã de histórias de terror, crimes e mistério, leu muitos livros do autor americano Stephen King, da escritora Agatha Christie e muitos outros autores. Alessandro teve sua primeira publicação na antologia “Atmosfera Fantasma - Livro de Assombrações”, pela Círculo Soturnos, além de ser autor do livro de poesias “Ilusões... e outras realidades” e idealizador e organizador da antologia “Vultos e Sombras”. Contato: https://www.facebook.com/alessandro.diniz.779/

TRADIÇÃO

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Era mais uma tarde quente de um dia qualquer na Índia, Súria, sentada sobre um tapete velho, envolvida pelas lembranças dolorosas que maquiavam seu rosto com olheiras profundas de uma tristeza sem fim. Não. Você nunca sentiu tamanha dor. E não conheço ninguém que tenha sentido. Ela podia lembrar-se dos últimos dias antes do começo de sua pena em viver por todo o resto de sua vida carregando essa culpa por ser fraca, pequena, mulher. O bebê que carregava durante nove meses, agora, chutava mais e mais e se remexia, inquieto, como se quisesse logo sair. Talvez pudesse pressentir o futuro sombrio que o aguardava, cruel, seco, frio. E na noite em que nasceu... Ah, que noite terrível! Súria preferiria nunca ter nascido, para nunca ter dado à luz uma menina como primeiro filho. Ela quis tanto que fosse um menino. Sua sogra pegou a recém-nascida e a colocou numa caixa. As cunhadas a seguiram. Súria chorou. Não pôde sequer ver o rosto da

filha. É a tradição, disse para si mesma, muitas vezes. O que ela poderia fazer? Sem família, pobre, morando numa roça desolada, franzina, esposa. Era um nada. E por isso mesmo, nada poderia fazer. Era como ela se sentia. Um nada.

– Mulher não trabalha, não traz dinheiro à família. É mais uma boca para sustentar. E depois tem que casar. - disse a sogra. – É a tradição. - sentenciou ela.

A velha colocou a caixa em um canto qualquer lá fora e a cobriu com terra. Voltaria depois, no outro dia, antes do nascer do Sol, para pegá-la e enterrá-la em outro canto qualquer. Lavaria as mãos e os pés e tomaria a primeira refeição do dia.

Alessandro Diniz

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