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Gislene Oliveira
Gislene da Silva Oliveira – nascida em terra de João Gilberto, Juazeiro da Bahia, foi registrada em São Paulo e ainda pequeno levada para residir no Pará, onde mora atualmente. Mestra em Linguagens e Saberes na Amazônia (UFPA- Campus de Bragança), Especialista em Língua Portuguesa (UFRJ), Licenciada plena em Língua Portuguesa (UFPA-Campus de Bragança), professora da Secretaria de Educação do Estado do Pará (Seduc-PA), mãe da Taís e do Gabriel (partes do seu coração que pulsam fora do peito), professora de profissão e alma, amante da literatura, da lua, do sol declinante, do papo de bar, da entrega total e do amor. 100gisoliveira@gmail.com https://www.facebook.com/gislene.oliveira.56/
Boa de Língua - Descansa em paz? Quer me matar?
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Disse Duca nervosamente ao se despedir de sua mais nova amiga literária. Não se sabe se era o medo da eternidade, tão comum aos mortais ou uma mente fértil e fantasiosa que em nada perderia para o garoto cheio de imaginação da série de desenho animado O fantástico mundo de Bobby.
O que se sabe é que ao ouvir a palavra descansa, Duca ativou seu alerta vermelho para contos eminentes e logo surgiu um bom e sugestivo título: Boca maldita. O espírito literário do rapaz falou mais alto e a pobre mulher ali do outra lado das teclas materializou-se de forma surreal como a moça das palavras mortais, aquela que diz “descansa em paz” e o cara morre no ato. - Meu Deus! Que exagero. Só quis desejar um boa noite de sono.
Ariana, este era o pseudônimo da aspirante a escritora, considerou engraçado. Sentiu um misto de admiração e surpresa. Admirou-lhe a sacada, a sagacidade, a rapidez com a qual o rapaz fez emergir diante deles uma trama, quase um esquema clássico de enredo. Por outro lado, sentiu uma pontinha de maldade ao descobrir que o recente amigo temia a morte e, não conseguia desvencilhar-se do senso comum das “palavras têm poder”.
Bem neste caso, poder literário e surreal, que fez dela uma personagem um pouco tenebrosa. Imaginem só, caros leitores, se as palavras que mal saem da sua boca e tudo realizam, viessem fúnebres, carregadas de maldição, caretas, ridicularizantes ou de cunho brochante (também mortal para a maioria dos homens!). Pobre Duca, ficaria aterrorizado, diante da possibilidade de qualquer conversa comAriana.
Eram de fato, Eduardo e Mônica da literatura. Ele contista de mão cheia, muitas publicações, alguns ebooks e livro já impresso. Ela tímida aspirante a cronista, aqui e ali deixava escapar um texto que dois ou três amigos podiam ler. Pouco sabiam um do outro para além dos escritos nas páginas sociais que mantinham em comum, aliás onde também se conheceram. Ele parou de beber há 28 anos, mas continua fumante de uma vida toda, ela deixou o amigo e companheiro cigarro há dois anos e nem se recorda mais que o conheceu, porém não dispensa a cervejinha e o bom e doce vinho para embalar noites mais longas.
O lado literário em ambos prevaleceu e mesmo com tudo diferente, ele propôs o desafio da profecia do descanse em paz. Cada um escreveria sua narrativa sobre o tema e depois trocariam os textos ou publicariam em páginas comuns. Seria como um exercício de estilo, perceber paralelos, divergências, soluções estilísticas comuns ou não.
Ela sentiu-se a própria Mary Shelley na noite chuvosa de verão na Suíça, desafiada por Percy Shelley e Lord Byron a criar um conto de terror, embora ciente de que não escreveria nenhum Frankenstein, também aceitou o desafio.
Marcaram a troca do texto para dali a três dias. Despediram-se com um singelo boa noite. Ela com uma breve provocação pediu para que ele não morresse no ato. Sorriram. No fundo, ambos sabiam que suas palavras nada tinham de malditas. Era só era boa de língua: Fez Letras!
Gislene Oliveira
A SOMBRA E O CAMINHO
Há uma sombra Sobre a cabeça do velho. Ele vive assim iludido Na espera de um caminho.
Há uma sombra Inclinada aos pés do velho. Ele a persegue aturdido Na procura de um caminho
Há uma sombra Inteira à frente do velho. Ele a observa abatido Na demora de um caminho.
Não há mais uma sombra À espera do velho. Ele adormece perdido Pois não há mais o caminho.
Hélio Guedes de Oliveira