Estudar História

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Professor, esta amostra apresenta alguns capítulos da coleção Estudar História. Nela, você poderá conhecer a estrutura da coleção e o conteúdo programático desenvolvido para proporcionar aulas ainda mais dinâmicas e completas. A obra foi desenvolvida com o objetivo de ampliar o gosto pela leitura e pela História, permitindo que o aluno utilize o conhecimento histórico para refletir sobre o tempo presente e ajudando-o a atuar criticamente na sociedade, compreendendo a importância de ser um cidadão solidário, tolerante e participativo.

AmoSTRA pARA DEgUSTAção Do pRofESSoR

ESTUDAR HISTÓRIA

Ensino Fundamental II

ESTUDAR HISTÓRIA das origens do homem à era digital PAtríciA rAMoS brAick

ESTUDAR HISTÓRIA

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15302794

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0800 17 2002

confIRA: • Sumário da obra • Uma seleção de conteúdos didáticos para análise do professor



Patrícia Ramos Braick Mestre em História das Sociedades Ibero-Americanas e Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Professora do Ensino Médio em Belo Horizonte, MG.

estudar História

Das origens do homem à era digital

6 1a edição

Frontis Estudar Historia 6 a 9 LP.indd 1

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© Patrícia Ramos Braick, 2011

Coordenação editorial: Maria Raquel Apolinário, Nubia Andrade e Silva Edição de texto: Nubia Andrade e Silva, Pamela Shizue Goya, Ana Claudia Fernandes, Maria Raquel Apolinário, Carlos Eduardo de Almeida Ogawa Assessoria didático-pedagógica: Bianca Barbagallo Zucchi, Ricardo Vianna Van Acker, Paulo Ferraz de Camargo Oliveira, Carina Marcondes Ferreira Pedro Assistência editorial: Rosa Chadu Dalbem Coordenação de design e projetos visuais: Sandra Botelho de Carvalho Homma Projeto gráfico e Capa: Mariza de Souza Porto Arte e fotografia: Detalhe de pintura no túmulo de Sennedjem, em Dehr al-Madinah, no Egito, representando Sennedjem e sua esposa recebendo a plumagem da figueira sagrada da deusa Nut, século XIII a.C. © Charles & Josette Lenars/Corbis/Latinstock Coordenação de produção gráfica: André Monteiro, Maria de Lourdes Rodrigues Coordenação de arte: Maria Lucia Couto Edição de arte: Renata Susana Rechberger Edição de infografias: William Hiroshi Taciro (coordenação), Daniela Máximo, Fernanda Fencz Ilustrações: André Toma, Carlos Bourdiel, Diogo Saito, Gil Tokio, Orly Wanders, Roko, Vicente Mendonça Cartografia: Alessandro Passos da Costa, Fernando José Ferreira Coordenação de revisão: Elaine Cristina del Nero Revisão: Afonso N. Lopes, Ana Cortazzo, Ana Maria C. Tavares, Fernanda Marcelino, Luís M. Boa Nova, Maiza P. Bernardello, Maristela S. Carrasco, Millyane M. Moura, Nancy H. Dias, Viviane T. Mendes Pesquisa iconográfica: Aline Chiarelli, Etoile Shaw, Leonardo de Sousa Klein, Odete Ernestina Pereira As imagens identificadas com a sigla CID foram fornecidas pelo Centro de Informação e Documentação da Editora Moderna. Coordenação de bureau: Américo Jesus Tratamento de imagens: Arleth Rodrigues, Bureau São Paulo, Fabio N. Precendo, Pix Art, Rodrigo Fragoso, Rubens M. Rodrigues Pré-impressão: Alexandre Petreca, Everton L. de Oliveira Silva, Hélio P. de Souza Filho, Marcio H. Kamoto Coordenação de produção industrial: Wilson Aparecido Troque Impressão e acabamento:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Braick, Patrícia Ramos Estudar história : das origens do homem à era digital / Patrícia Ramos Braick. -- 1. ed. -São Paulo : Moderna, 2011.

Obra em 4 v. para alunos do 6o ao 9o ano. Bibliografia.

1. História (Ensino fundamental) I. Título.

11-04672

CDD-372.89

Índices para catálogo sistemático: 1. História: Ensino fundamental 372.89 ISBN 978-85-16-07095-3 (LA) ISBN 978-85-16-07096-0 (LP) Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados EDITORA MODERNA LTDA. Rua Padre Adelino, 758 - Belenzinho São Paulo - SP - Brasil - CEP 03303-904 Vendas e Atendimento: Tel. (0_ _11) 2602-5510 Fax (0_ _11) 2790-1501 www.moderna.com.br 2011 Impresso no Brasil 1 3 5 7 9 10 8 6 4 2

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Apresentação O

s livros da coleção Estudar história foram feitos para os jovens alunos do século XXI, que, como você, vivem em um mundo conectado pela internet e pelos telefones celulares, dominado pelas imagens e pela explosão de informações que chegam via web. São tantos os conteúdos armazenados nos 130 milhões de sites disponíveis até o momento na internet que, quando você vai pesquisar um assunto, fica desorientado com a imensidão de opções que aparecem. E você, admirado com esse mundo tecnológico, se pergunta: “Para que serve a escola?”; “Por que preciso estudar?”; “Por que é importante estudar História?”. Algumas respostas você mesmo daria: “Para dominar o uso da nossa língua, aprender a resolver problemas, ler e compreender textos etc.”. Tudo isso está correto. Mas hoje, diante de tantas novidades da ciência e da indústria, a escola tem também o desafio de ajudá-lo a ser sujeito e não objeto das novas tecnologias. Com isso, queremos dizer, por exemplo, que não basta saber operar as ferramentas de pesquisa na internet. É necessário, sobretudo, saber avaliar e selecionar criticamente as informações armazenadas para utilizá-las corretamente no cotidiano. Em outras palavras, o uso das novas tecnologias deve ajudá-lo a analisar e comparar textos e imagens, a formular hipóteses e argumentos, a confrontar ideias e a ouvir e a aprender com os outros. Foi pensando em tudo isso que desenvolvemos os livros desta coleção. Aqui você vai encontrar diferentes tipos de leitura, tirinhas, sugestões de filmes, roteiros para navegação em sites, infográficos, entre muitas outras coisas que vão ampliar seu gosto pela leitura, instigar sua curiosidade pelo conhecimento e ajudá-lo a atuar criticamente na sociedade, compreendendo a importância de ser um cidadão solidário, tolerante, participativo e amigo da natureza. Um ótimo estudo!

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A organização do seu livro Este livro está dividido em 12 capítulos. Veja abaixo as diversas partes que compõem o seu livro. Abertura de capítulo Dupla de páginas com imagens e textos instigantes que permitem a reflexão e o debate em sala de aula. O presente é relacionado com o tema do capítulo trazendo o estudo da história para mais perto do seu dia a dia.

Boxes Ao longo do livro você encontrará vários tipos de boxes: Saiba mais (textos que ampliam e enriquecem o texto didático), Biografia (com detalhes da vida de personagens anônimos e famosos da história), Navegue neste site (roteiros de passeios virtuais em sites de diversas instituições) e Vale a pena assistir (dicas de filmes que enriquecem e problematizam o aprendizado dos temas).

Questões Mapas, fotografias, textos e ilustrações podem estar acompanhados de questões que complementam e ampliam o conhecimento.

Glossário As palavras que podem trazer mais dificuldade para serem compreendidas estão em boxes com explicações ao lado do texto.

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Amplie seu conhecimento Nesta seção, você terá contato com materiais diversos (ilustrações, mapas, infográficos e textos), que tratam de um tema com um pouco mais de profundidade. Ao final, as questões irão ajudá-lo a extrair o máximo da leitura.

Enquanto isso... Você sabia que enquanto os gregos organizavam suas poleis, havia importantes civilizações se desenvolvendo na América? Nesta seção você irá conhecer povos e culturas que surgiram próximos no tempo, mas em lugares diferentes.

Atividades As propostas de atividades estão divididas em dois grupos: em Compreender os conteúdos você terá a oportunidade de revisar os pontos principais do capítulo; no Ampliar o aprendizado você irá interpretar textos, estabelecer relações entre conceitos, fazer pesquisas e analisar diferentes tipos de obras de arte na seção História feita com arte.

Avalie o seu aprendizado Nesta seção você vai rever os conteúdos tratados nos capítulos realizando diferentes tipos de atividades. Com a ficha de autoavaliação, você vai perceber quais estudos foram bem aproveitados e quais não ficaram claros e precisam ser retomados.

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SUPERSTOCK/GRUPO KEYSTONE

KAZUYOSHI NOMACHI/CORBIS/LATINSTOCK

FABIO COLOMBINI

WERNER FORMAN ARCHIVE/ GLOWIMAGES - ASHMOLEAN MUSEUM, OXFORD

Sumário

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CAPÍTULO 1 O QUE É HISTÓRIA?, 10 Estudar história, 12 O trabalho do historiador, 13 • As fontes históricas, 14 Uma história diferente, 16 A preservação do patrimônio cultural, 17 Ações para preservar o patrimônio, 17 Atividades, 18

CAPÍTULO 2 A HISTÓRIA, O TEMPO E O ESPAÇO, 20 O tempo passa, 22 Calendários e relógios, 23 Os primeiros relógios, 23 • Os diferentes calendários, 24 O tempo e o trabalho do historiador, 26 Para descobrir o século, 27 • A periodização, 27 A divisão tradicional da história, 28 O espaço e o tempo, 29 Atividades, 30

CAPÍTULO 3 O SER HUMANO EM BUSCA DE SUAS ORIGENS, 32 De onde viemos?, 34 Origens do ser humano, 35 O criacionismo, 35 • A teoria da evolução, 36 Amplie seu conhecimento – Uma HQ sobre a seleção natural, 38 O ser humano: principal ator da história, 40 A Pré-história humana, 41 O Paleolítico, 42 • Mudanças na vida paleolítica, 43 Enquanto isso... – Uma lenda do Oriente, 44 Atividades, 46

CAPÍTULO 4 A ORIGEM DAS CIDADES, 48 A Revolução Neolítica, 50 O surgimento da agricultura, 50 • A domesticação de animais, 52 • O início do modo de vida sedentário, 52 • As aldeias neolíticas, 53 • As primeiras cidades, 54 • A formação do Estado, 55 • A religião e a arte do Neolítico, 56 A Idade dos Metais, 57 Enquanto isso... – As aldeias Banpo, 58 Atividades, 60 Avalie o seu aprendizado, 62

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Toño Labra/AGE/Grupo Keystone – Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México A. Vergani/De Agostini Picture Library/ DEA/Getty Images AfriPics.com/Alamy/ Other Images

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Capítulo 5 OS PRIMEIROS HABITANTES DA AMÉRICA, 64 As teorias sobre a ocupação da América, 66 Os caminhos para a América, 66 Em busca de novas respostas, 67 Amplie seu conhecimento – A megafauna da América do Sul, 68 Luzia: uma nova personagem no povoamento da América, 70 Novas questões sobre o povoamento da América, 70 • Monte Verde, no Chile, 71 • Los Toldos e Piedra Museo, na Argentina, 71 • São Raimundo Nonato, no Piauí, 72 A vida dos primeiros americanos, 73 A luta pela sobrevivência, 73 • Os povos dos sambaquis, 74 Os primeiros agricultores na América, 75 Enquanto isso... – O Sahul, 76 Atividades, 78

Capítulo 6 MESOPOTÂMIA E EGITO, 80 As civilizações fluviais, 82 A Mesopotâmia, 82 Os sumérios, 83 • Os acádios, 84 • O reino da Babilônia, 84 • Os assírios, 85 • Os caldeus, 86 O poder das divindades, 86 Os zigurates, 87 Livres e escravos na Mesopotâmia, 88 Agricultura e comércio, 89 O Egito antigo, 90 Rio Nilo: o trabalho da natureza, 90 • Rio Nilo: o trabalho humano, 91 O Império Egípcio, 92 O poder dos faraós, 93 • Sacerdotes e funcionários do Estado, 94 • Trabalhadores das cidades e do campo, 95 As escritas do Egito, 96 A religião egípcia, 97 Aton: o deus único, 98 • A crença na vida após a morte, 98 • A mumificação dos mortos, 99 • Grandes construções para os mortos, 100 Aspectos da vida cotidiana, 102 O conhecimento científico, 103 Enquanto isso... – A civilização mais antiga da América, 104 Atividades, 106

Capítulo 7 A NÚBIA E O REINO DE CUXE, 108 Núbia: terra do ouro, 110 A ocupação egípcia na Núbia, 111 • O Reino de Cuxe domina o Egito, 113 • Méroe, a nova capital, 114 • O cotidiano dos cuxitas, 115 • Religião e escrita no período meroíta, 116 • O declínio de um grande reino, 116 Atividades, 117

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rEproduÇÃo - basÍLica dE sÃo pEdro, VaTicano

Capítulo 8 HEBREUS E FENÍCIOS, 118 Como os historiadores estudam os hebreus, 120 De Ur para Canaã, 120 A sobrevivência na Terra Prometida, 121 • A família hebraica, 122 • A escravidão no Egito, 123 • A fuga do Egito, 124 • Os juízes, 125 • O Reino de Israel, 125 • A divisão do Reino de Israel, 126 A diáspora judaica, 127 Os fenícios, 128 As cidades-Estado fenícias, 129 • As colônias fenícias, 129 • O comércio e o artesanato, 130 • A religião dos fenícios, 131 • O alfabeto fenício, 131 Enquanto isso... – A língua aramaica, 132 Atividades, 133 Avalie o seu aprendizado, 134

José VicEnTE rEsino raMos/cidMusEu arQuEoLÓGico, aTEnas

bruno pEroussE/aGE/Grupo KEysTonE

Capítulo 9 A CIVILIZAÇÃO GREGA, 136

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Cercados pelo mar, 138 A civilização cretense, 139 Os micênicos: grandes guerreiros, 140 O fim da civilização micênica, 141 A pólis grega, 141 A expansão territorial grega, 142 A origem da democracia, 142 As guerras contra os persas, 143 O auge da civilização grega, 144 Atenas e o século de Péricles, 144 • Esparta: uma sociedade militarizada, 145 A educação na Grécia antiga, 147 A educação ateniense, 147 • Esparta: educação para a guerra, 148 A Guerra do Peloponeso, 149 A conquista macedônica, 149 Enquanto isso... – O Império Chavín, 150 Atividades, 151

Capítulo 10 CULTURA E COTIDIANO NA GRÉCIA ANTIGA, 152 Deuses e heróis na Grécia, 154 A origem dos deuses para os gregos, 154 • Os mitos gregos, 155 • Jogos olímpicos: em honra a Zeus, 156 Arte e cidadania na Grécia, 157 Educação, poesia e teatro na Grécia antiga, 158 • A arquitetura grega, 161 • As esculturas, 161 • A história na Grécia antiga, 162 • O pensamento filosófico, 162 A cultura helenística, 164 Os centros da cultura helenística, 164 Amplie seu conhecimento – A pintura grega, 165

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Aspectos do cotidiano na Grécia antiga, 166 A vida doméstica, 166 • A alimentação dos gregos, 167 • O vestuário grego, 167 Atividades, 168

Chris Hellier/Alamy/Other Images

G. NIMATALLAH/DEA/ALBUM/ LATINSTOCK

Capítulo 11 A CIVILIZAÇÃO ROMANA, 170

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Origens de Roma: lenda e história, 172 Os povos do norte: os etruscos, 173 A monarquia romana (753 a.C.–509 a.C.), 174 Organização social, 174 A república (509 a.C.–27 a.C.), 175 As instituições republicanas, 175 • As conquistas dos plebeus, 176 A expansão territorial romana, 177 As Guerras Púnicas, 177 • Resultados das conquistas, 178 A crise agrária, 179 A política dos irmãos Graco, 179 A crise republicana, 181 A era de Júlio César, 181 • O fim da república romana, 182 A vida cotidiana em Roma, 183 A educação das crianças, 183 • O papel das mulheres, 184 • A alimentação dos romanos, 184 • O direito romano, 184 • As crenças religiosas, 185 • As diversões romanas, 185 Enquanto isso... – O povo celta, 186 Atividades, 187

Capítulo 12 EXPANSÃO E CRISE DO IMPÉRIO ROMANO, 188 O governo de Augusto, 190 Estabilidade política e social, 191 • A prosperidade econômica, 192 O poder dos imperadores, 193 Cultura e cotidiano no período imperial, 194 Artes plásticas na Roma imperial, 195 Amplie seu conhecimento – Coliseu: passado e presente, 196 Saúde e bem-estar, 198 O nascimento do cristianismo, 199 A vida e a morte de Jesus, 200 • A perseguição aos cristãos, 200 A crise do Império Romano, 201 A sociedade romana se transforma, 202 • A queda do Império Romano, 202 O Império Romano do Oriente, 203 O reinado de Justiniano, 204 • A cultura bizantina, 205 • Os conflitos religiosos, 205 Atividades, 206 Avalie o seu aprendizado, 208 Sugestões, 210 Referências bibliográficas, 212

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cApÍtulo

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O ser humano em busca de suas origens Em busca de nossas origens Observe a ilustração desta dupla de páginas. Você conhece os animais e as plantas que foram representados na imagem? Sabe dizer qual deles é mais antigo e qual é mais jovem? Você imagina como eles surgiram e por que alguns desapareceram?

As ilustrações não foram representadas em escala. Cores-fantasia. * Milhões de anos atrás.

13 10 Primeiros peixes

com mandíbula

Primeiros insetos voadores

11

Primeiros anfíbios

4 7

Primeiros trilobites 6 Primeiras

plantas terrestres

Primeiros invertebrados terrestres

12

Primeiros répteis 9 8

Primeiras samambaias e plantas com sementes

5 Primeiros peixes

2

Primeiras gimnospermas

sem mandíbula

3

Primeiros invertebrados 1

2

3.400 maa Fósseis de algas mais antigos

4.600 maa* Formação da Terra e da Lua

Ordovici

Bactérias e vírus

4.000 maa

3.000 maa

2.000 maa

1

3.800 maa Rochas mais antigas conhecidas

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Os primeiros períodos da história de nosso planeta e da humanidade são cheios de mistérios não desvendados. Por exemplo, ainda não se sabe ao certo as causas que levaram os dinossauros à extinção. A origem do homem também é motivo de grande polêmica entre pesquisadores de diversas áreas, como a arqueologia, a antropologia etc. Por isso, a descoberta de pistas arqueológicas, como fragmentos de ossos e objetos, é muito importante para ajudar os cientistas a formularem explicações sobre esses temas. Neste capítulo, você vai conhecer algumas hipóteses que explicam o surgimento dos primeiros seres humanos e saber como era o modo de vida que provavelmente eles levavam. Também vai perceber que a vida de nossos antepassados era tão dinâmica quanto a nossa, com desafios intrigantes e muitas dificuldades a serem vencidas.

GIL TOkIO

14

Fonte: BAILEY, Jill; SEDDON, Tony. Prehistoric world. Oxford: Oxford University Press, 1994. p. 41.

16

Primeiros répteis semelhantes aos mamíferos

Primeiros dinossauros 20 18

Primeiros 15 pterossauros

17

13 12 11

14

Permiano

Carbonífero

10

Primeiros mamíferos 15

19

Primeiras plantas com flores

16 17

Triássico

18

195 maa

9 8

Primeiras aves

Devoniano

22

21

Jurássico

7

6

140 maa

Siluriano

19

Cretáceo 435 maa

65 maa

Ordoviciano 2.000 maa

1.000 maa

5

500 maa

Terciário 2 maa Quaternário 23 25

20 Primeiras baleias

Cambriano

21 Primeiros cavalos

4

22 Primeiros macacos 23 Primeiros gorilas 24 Surgimento da grama

570 maa

25 Primeiros hominídeos

Pré-cambriano

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26 Primeiros homens modernos

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O povo munduruku Os índios mundurukus vivem na região amazônica, em áreas de florestas às margens dos rios. Eles sobrevivem da agricultura tradicional, da caça, da pesca e da coleta. A população fala o munduruku, uma língua do grupo tupi.

De onde viemos? Você já deve ter ouvido várias histórias sobre o surgimento dos seres humanos, dos animais e das plantas. Os mitos, por exemplo, são histórias criadas pelo homem para explicar a sua existência e a do mundo que o cerca. São narrativas fantásticas, com elementos sobrenaturais, como deuses, fadas, animais falantes e também acontecimentos mágicos. Povos de todo o mundo contam histórias sobre a origem da vida e do ser humano. Essas histórias apresentam algumas semelhanças entre si. No início, um ser sobrenatural ou alguns seres criaram o mundo e começaram a ordená-lo. Por fim, essa entidade povoou a Terra e criou condições para os seres viverem nela. Leia a seguir um mito tupi sobre a criação do mundo, contado por Daniel Munduruku, um índio do povo munduruku. Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

saiba mais

O criador de tudo Igarapé Pequeno córrego; riacho.

1. Segundo o mito tupi, quem foi o grande Criador? Quais foram as suas obras?

2. Você conhece algum mito contado por outros povos que seja semelhante a esse? Qual? Pesquise na internet e em livros outros mitos que também tentam explicar a origem do Universo.

que ressurgiu Karú-Sakaibê, o grande Criador, que já havia realizado tantas coisas boas para este povo. Contam os velhos que foi ele quem criara as montanhas e as rochas. [...] Eram também criações dele os rios, as árvores, os animais, as aves do céu e os peixes que habitam todos os rios e igarapés. Karú-Sakaibê, tendo percebido que o povo que ele criara não estava unido, decidiu voltar para unificá-lo e lembrá-lo como havia sido trazido do fundo da terra. [...] Àqueles que não eram preguiçosos, ele disse: — Vocês serão o começo, o princípio de novos tempos e seus filhos e os filhos de seus filhos serão valentes e fortes. E para presenteá-los [...], o grande herói preparou um campo, semeou e mandou chuva para regá-lo. E tão logo a chuva caiu nasceram a mandioca, o milho, o cará, a batata-doce, o algodão, as plantas medicinais e muitas outras que servem, até os dias de hoje, de alimento para esta gente.

NDERS y wA O RL

Questões

No antigo tempo da criação do mundo com toda sua beleza, os mun“ durukus viviam dispersos, sem unidade e guerreando entre si. [...]. Foi aí

MUNDURUKU, Daniel. Contos indígenas brasileiros. São Paulo: Global, 2004. p. 9-12.

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BIBLIOTECA MUNICIPAL, MOULINS

Origens do ser humano O homem é um ser curioso, que sempre procurou conhecer ou imaginar as suas origens. Perguntas como “Quando, onde e como surgiram os primeiros seres humanos?”, “A sua aparência era a mesma que a do homem atual?” ou “Como eles se espalharam pela Terra?” são questões que sempre intrigaram as sociedades, provocando intensas e intermináveis discussões. Nas sociedades tradicionais, como a do povo munduruku, os mitos são o principal meio criado pelos indivíduos para desvendar o mistério que está por trás da origem da vida. No mundo atual, predominam duas explicações diferentes para a origem do Universo, da vida e do ser humano: o criacionismo e o evolucionismo.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• O criacionismo O criacionismo é uma explicação para a origem do Universo e da vida que se baseia na fé. Para os criacionistas, todas as coisas existentes teriam sido criadas por uma entidade sobrenatural superior, ou seja, um deus ou alguns deuses. Essa hipótese é aceita em várias partes do mundo e tem um grande número de seguidores. A mais conhecida narrativa criacionista faz parte da tradição judaico-cristã, preservada na Bíblia, o livro sagrado dos judeus e dos cristãos. De acordo com a narrativa bíblica, Deus levou sete dias para criar o mundo: no primeiro dia, criou os céus, a terra e a luz; no segundo e no terceiro, criou os mares e ordenou as obras criadas; nos dois dias seguintes, criou os primeiros seres vivos e separou o dia e a noite; no sexto dia, criou os animais e o ser humano. No sétimo dia, Deus descansou, admirando tudo aquilo que havia criado.

A criação do mundo, ilustração feita para uma edição medieval da Bíblia, século XII. Biblioteca Municipal de Moulins, França. O criacionismo judaico-cristão foi a principal versão elaborada para explicar a origem do mundo até o século XIX.

Que seja feita a luz Quando Deus iniciou a criação do céu e da terra, a terra era deserta e “ vazia, e havia treva na superfície do abismo [...] e Deus disse: ‘que a luz seja [feita]!’ E a luz veio a ser. [...] Deus disse: ‘que a terra se cubra de verdura, de erva que produza a sua semente e de árvores frutíferas’ [...]. Assim aconteceu. [...] Deus disse: ‘que a terra produza seres vivos segundo a sua espécie; animais grandes, animais pequenos e animais selvagens segundo a sua espécie’. Assim aconteceu. [...] Deus disse: ‘façamos o homem à nossa imagem, segundo a nossa semelhança, e que ele submeta os peixes do mar, os pássaros do céu, os animais grandes, toda a terra e todos os animais pequenos que rastejam sobre a terra!’

Gênesis 1,1-26. Bíblia: tradução ecumênica. São Paulo: Loyola, 1994. p. 24-25.

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• A teoria da evolução

Ilustração de tentilhões, pássaros estudados por Darwin durante sua viagem pelas Ilhas Galápagos. Journal of Researches, 1845. Os naturalistas do século XIX procuravam descobrir semelhanças e diferenças entre as espécies de plantas e de animais.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Exposição lógica e reflexiva sobre um tema de estudo, em que o autor pode defender determinada posição sem ter de apresentar documentos ou provas científicas para sustentar sua posição.

PAUL D. STEwART/SCIENCE PHOTO LIBRARy/LATINSTOCk

Ensaio

Em meados do século XIX, as pesquisas dos naturalistas Alfred Russel Wallace e Charles Darwin desferiram um golpe profundo no criacionismo, predominante até então. Com base nas correspondências trocadas com Wallace, no conhecimento elaborado por outros cientistas e em suas próprias pesquisas, Darwin publicou, em 1859, o livro A origem das espécies. A obra apresentava um amplo estudo sobre a formação, a evolução e a extinção das espécies. Onze anos após o lançamento de sua primeira obra, Darwin publicou A origem do homem e a seleção relacionada ao sexo, um livro no qual aplicava a sua teoria da evolução à espécie humana. Darwin concluiu que os seres humanos e os grandes macacos, como os gorilas e os chimpanzés, tinham um ancestral comum. Ele nunca afirmou que descendíamos diretamente dos macacos, embora alguns estudiosos tenham defendido equivocadamente essa ideia.

Charles Robert Darwin nasceu na Inglaterra em 1809. Começou a se interessar por história natural na universidade, quando ainda era estudante de medicina. Em 1831, Darwin teve a oportunidade de participar de uma expedição científica a bordo do navio Beagle. Durante a viagem, o cientista inglês comparou espécies aparentadas, que viviam em regiões diferentes. Também coletou fósseis de animais e percebeu semelhanças entre os animais extintos e os vivos. Essas observações levaram Darwin a con-

cluir que todos os seres vivos passam por um processo natural de transformação. Em 1858, um ensaio de Wallace e um artigo de Darwin sobre a evolução das espécies foram expostos aos membros de uma sociedade científica de Londres. No ano seguinte, Darwin publicou A origem das espécies, livro que causou grande polêmica na sociedade inglesa do período. Naquela época, predominava a hipótese criacionista para explicar a origem do homem. Até os dias de hoje, as ideias de Darwin são motivos de muita discussão.

DOwN HOUSE, kENT

Biografia

Charles Darwin em pintura de George Richmond, 1840.

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BUD LEHNHAUSEN/PHOTO RESEARCHERS/LATINSTOCk

GOUNOT/3B SCIENTIFIC/BSIP/ GRUPO kEySTONE

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A seleção natural Darwin concluiu que os seres vivos se transformam e que todos eles se originaram, há bilhões de anos, de uma forma primitiva de vida, que habitava os oceanos e tinha estruturas muito simples. Darwin sugeriu que, com o passar do tempo, essa primeira forma de vida sofreu muitas transformações até alcançar a forma apresentada pelas plantas e animais de hoje. Essa forma atual também não é definitiva, porque esse processo evolutivo é contínuo. Segundo a teoria de Darwin, os indivíduos de uma mesma espécie apresentam grande variação entre si. Alguns indivíduos podem tornar-se mais bem adaptados ao ambiente por apresentar características diferenciadas que não aparecem nos demais. Os indivíduos mais bem adaptados têm mais chances de sobreviver e de deixar descendentes, que herdarão as mesmas características. Esse mecanismo que explica a sobrevivência de algumas espécies e a extinção de outras foi chamado pelo especialista de seleção natural. Hoje se sabe que são as mutações gênicas – mudanças ocorridas nos genes ao acaso ou promovidas pela intervenção humana – que possibilitam modificações nos organismos e o aparecimento de novas características nas espécies. Caso essas características sejam favoráveis em um dado ambiente, elas tendem a ser incorporadas no patrimônio genético da população.

No alto, ossos da nadadeira de uma baleia-da- -groenlândia. Acima, modelo anatômico dos ossos de um homem adulto. A observação de algumas semelhanças anatômicas entre espécies diferentes ajudou Darwin a elaborar a sua teoria da evolução dos seres vivos e a concluir que temos todos um ancestral comum.

O criacionismo hoje Atualmente, há cientistas e pensadores, principalmente cristãos, que procuram conciliar as explicações científicas existentes sobre a origem da vida e do Universo com a ideia da existência de um Deus criador. Eles se dividem em duas correntes: a do evolucionismo teísta e a do design inteligente. Os defensores do evolucionismo teísta procuram respeitar as descobertas científicas sobre a evolução das espécies, mas defendem a participação de Deus em todo o processo. Para eles, o livro do Gênesis da Bíblia é apenas uma narrativa simbólica da criação do mundo e não um relato da história tal qual ela teria acontecido. Já os defensores do design inteligente partem do princípio de que uma entidade superior seria a responsável por todas as formas de vida existentes no planeta.

AkG-IMAGES/ALBUM/LATINSTOCk - GEMÄLDEGALERIE ALTE MEISTER/STAATLICHE kUNSTSAMMLUNGEN, DRESDEN

saiba mais

Paraíso, pintura de Lucas Cranach, 1530.

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AMPLIE SEU CONHECIMENTO

Uma HQ sobre a seleção natural

A HQ (história em quadrinhos) que você vai ler a seguir foi escrita por

História em quadrinhos de Fernando Gonsales publicada no jornal Folha de S.Paulo, em 22 de novembro de 2009.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

FERNANDO GONSALES

Fernando Gonsales, um importante quadrinista brasileiro. Ela é uma versão bem-humorada das ideias do naturalista Charles Darwin. Nos quadrinhos, alguns animais conversam com o cientista sobre as ideias dele.

Questões 1. Releia as tirinhas e, com base nas ideias de Charles Darwin, explique como ocorre o processo de seleção natural.

2. Quais são as diferenças entre o criacionismo e o evolucionismo?

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FERNANDO GONSALES Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

3. Explique o que é o processo de seleção artificial citado por um personagem nas tirinhas.

4. Você sabe dizer por que o homem recorre à seleção artificial das espécies?

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Hominídeo Linhagem de primatas que compreende o homem e os seus ancestrais, como o Australopithecus, além das demais espécies do gênero Homo.

Savana Tipo de vegetação formada por plantas rasteiras e arbustos.

Foi na África, há cerca de 4,4 milhões de anos, que surgiram os primeiros hominídeos, um grupo de animais que já apresentava algumas características semelhantes às dos seres humanos atuais. Os fósseis de Australopithecus são os mais antigos fósseis de hominídeos já encontrados pelos cientistas. Esses hominídeos viviam em savanas e alimentavam-se de sementes e raízes. O Australopithecus conseguia manejar instrumentos de pedra, mas é improvável que soubesse produzi-los. Acredita-se que mudanças ambientais tornaram a vegetação da savana mais escassa. Com isso, o Australopithecus ficou mais exposto aos predadores e muitos da espécie se extinguiram. Os sobreviventes foram os que conseguiram se adaptar ao meio e criar formas de afugentar os predadores. Esses novos hominídeos tinham um cérebro maior que o do Australopithecus e mais habilidade com as mãos. Eram capazes de andar totalmente eretos e de fabricar instrumentos. Os cientistas deram o nome Homo a esse gênero de hominídeos. O estudo dos fósseis mostra que novas espécies do gênero Homo surgiram à medida que eles desenvolviam novas características e habilidades.

ESPÉCIES DO GÊNERO HOMO

Homo habilis. Viveu na África entre 2,5 milhões e 1,5 milhão de anos atrás. Fabricava instrumentos de pedra, vivia da caça e da coleta e construía abrigos para se proteger.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O ser humano: principal ator da história

Homo erectus. Surgiu aproximadamente há 1,8 milhão de anos e desapareceu há cerca de 200 mil anos. Foi o primeiro hominídeo a abandonar a África e a migrar para a Ásia e a Europa. Vivia em grupos de vinte ou trinta membros, utilizava ferramentas mais sofisticadas e era um bom caçador. Também foi o primeiro hominídeo a dominar a técnica de produção do fogo. O domínio do fogo permitiu aquecer e iluminar os ambientes, transformar matérias-primas, obter proteção contra outros animais etc.

PAULO MANZI

Homo neanderthalensis. Viveu aproximadamente no período que vai de 200 mil a 27 mil anos atrás. Fósseis indicam que essa espécie era forte e atarracada, medindo entre 1,55 m e 1,65 m de altura. Desenvolveu instrumentos feitos de pedra, osso e madeira e construiu cabanas com peles e ossos de animais. Podia se comunicar com sons articulados, mas não falava. Essa espécie conviveu com os primeiros seres humanos modernos. Cientistas ainda estudam as causas de seu desaparecimento. Homo sapiens. É a espécie à qual pertencemos. De acordo com estudos recentes, o Homo sapiens surgiu há cerca de 150 mil anos, na África, e se espalhou para a Ásia, Oceania, Europa e América. Desenvolveu agulhas, anzóis e armas eficientes, como lanças, arcos e flechas. Além de ser bom caçador e coletor, o Homo sapiens desenvolveu a agricultura, o pastoreio, o comércio etc.

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O termo Pré-história foi criado por historiadores europeus do século XIX. Para eles, a história teria se iniciado há cerca de 6 mil anos, com a invenção da escrita. Esses estudiosos acreditavam que só era possível conhecer a vida e a cultura de grupos humanos do passado por meio de documentos escritos. Por isso, todo o período que antecedeu a escrita recebeu o nome de Pré-história. Hoje, acredita-se que os homens e as mulheres dos tempos primitivos eram grandes produtores de cultura e tecnologia. Eles aprenderam a trabalhar em conjunto, a criar ferramentas, a construir abrigos e a adaptar-se às mudanças do ambiente. No século XIX, estabeleceu-se também uma divisão da Pré-história em três fases, com base nas mudanças tecnológicas que teriam ocorrido naquele período. Acompanhe: • Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada. Teve início há cerca de 2,6 milhões de anos, com o surgimento do Homo habilis, e se estendeu até por volta de 12 mil anos atrás. Os instrumentos usados eram feitos de lascas de pedra, madeira ou ossos. • Neolítico ou Idade da Pedra Polida. Seu início data de cerca de 12 mil anos atrás e se estendeu até aproximadamente 6 mil anos atrás. O homem passou a polir a pedra, produzindo instrumentos mais sofisticados, e descobriu a prática da agricultura, do pastoreio e das técnicas para a fabricação de cerâmica. • Idade dos Metais. Iniciou-se há cerca de 8 mil anos e se estendeu até aproximadamente o século III a.C. O uso do cobre, do bronze e mais tarde do ferro serviu para a fabricação de enfeites, esculturas, armas e as mais variadas ferramentas. Essa divisão, assim como outras, tem função didática. As mudanças variaram de ritmo e não ocorreram em todos os grupos humanos ao mesmo tempo. Além disso, as inovações e invenções que caracterizaram cada período fizeram parte de épocas anteriores. Por exemplo, instrumentos feitos de pedra conviveram com outros feitos de metal. A PERIODIZAÇÃO DA PRÉ-HISTÓRIA 12 mil anos atrás Neolítico

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Conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes, linguagens etc. próprios de um grupo humano.

1. Reprodução de um crânio em resina de Homo habilis; 2. Vaso de cerâmica da cultura majiayao, c. 3000 a.C. Museu de Belas Artes, Estados Unidos; 3. Machado em cobre, c. 2000 a.C.-1800 a.C. Museu de Arqueologia Nacional, França.

8 mil anos atrás Idade dos Metais

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BARBARA STRNADOVA/ PHOTO RESEARCHERS/ LATINSTOCk

2 milhões de anos atrás Paleolítico

Cultura

GIRAUDON/THE BRIDGEMAN ART LIBRARy/GRUPO kEySTONE

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A Pré-história humana

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• O Paleolítico Os indivíduos do Paleolítico viviam em grupos e dividiam as tarefas. Eles faziam uso de instrumentos fabricados com madeira, ossos e pedras lascadas. Caçavam mamutes, bisões e outros animais. Utilizavam a carne desses animais como alimento e a pele para confeccionar vestimentas e moradias. Esses grupos eram nômades, ou seja, não se fixavam em um único lugar, movendo-se constantemente em busca de caça, frutos, raízes e sementes. Alguns grupos se abrigavam no interior de grutas, outros viviam ao ar livre ou em cabanas feitas de ossos, peles de animais e galhos de árvores. O domínio da técnica de produzir o fogo mudou completamente a vida desses grupos. Essa descoberta ocorreu há cerca de 500 mil anos e facilitou a preparação dos alimentos, ajudou a proteger esses homens do frio e dos animais ferozes, além de iluminar os ambientes. O domínio do fogo possibilitou outra conquista importante: a fabricação de objetos de barro cozido e, muitos milênios depois, a fusão e a modelagem dos metais.

Fogo: uma revolução alimentar Há mais ou menos 500 mil anos, o uso regular do “ fogo no universo doméstico modificou profundamente a alimentação, assim como os comportamentos sociais a ela relacionados. O gosto pela carne cozida (consumida depois de incêndios naturais) é corrente entre muitos carnívoros. [...] Além da vantagem nutricional da cocção dos alimentos, logo ficou patente sua importância no plano social: ela favorece, com efeito, a comensalidade, ou seja, o hábito de fazer as refeições em comum, introduzindo no seio do grupo uma divisão de trabalho mais efetiva, um ritmo de atividades comum a todos e, de modo geral, um nível mais complexo de organização do grupo. [...] A conservação se fazia pela secagem, defumação ou congelamento em covas feitas na terra. [...] Os alimentos estocados eram consumidos secos ou reidratados através da fervura: ebulição que se processava em recipientes de madeira, de cascas ou de pele, nos quais se jogavam, de quando em quando, pedras aquecidas [...].

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orly wanders

Ilustração atual representando como poderia ser um momento na vida dos homens durante o Paleolítico. Nesse período, os grupos já dominavam a técnica de fabricação com barro cozido, como se pode ver na ilustração.

FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo (Dir.). História da alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1998. p. 44-46.

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kAZUyOSHI NOMACHI/CORBIS/LATINSTOCk

No último período do Paleolítico, iniciado por volta de 100 mil anos atrás, ocorreram grandes mudanças na vida humana. Os grupos humanos passaram a conhecer melhor os recursos disponíveis na natureza e a fabricar lanças, anzóis e redes para a pesca, além de arpões, dardos, lanças, arcos e flechas e outras armas de caça. Um importante registro da vida humana nesse período são as pinturas rupestres, desenhos feitos nas pedras, geralmente nas paredes das cavernas. Acredita-se que essas pinturas tinham uma intenção mágica. Ao representar a cena de uma caça, o homem dessa época esperava trazer sorte para os caçadores e concretizar, na realidade, aquilo que se expressava no desenho. As pinturas também representam cenas do cotidiano, ritos e práticas dos diferentes grupos humanos e uma grande variedade de símbolos, ainda não decodificados por especialistas. Os últimos cem anos do Paleolítico correspondem, geologicamente, à última glaciação. As glaciações foram períodos de intenso resfriamento da Terra, ocorridos ao longo de bilhões de anos, em que as águas dos oceanos se contraíram e grande parte da superfície terrestre ficou coberta de gelo.

O fim da última glaciação Por volta de 13 mil anos atrás, ocorreu o aumento da temperatura e a diminuição da camada de gelo. A elevação da temperatura e da umidade levou à formação de florestas e à extinção de áreas de savanas, que eram o hábitat dos grandes animais. Muitos animais, já reduzidos devido à caça e sem condições de se adaptar ao novo clima, foram extintos. É possível que a combinação dessas condições negativas tenha provocado, no final do Paleolítico, uma redução da carne e dos frutos silvestres, que eram a base da alimentação humana no período. Diante dessas dificuldades, os grupos humanos sentiram necessidade de procurar outras formas de conseguir alimento.

Esta imagem será explorada nas Atividades

JEAN-GILLES BERIZZI/RMN/ OTHER IMAGES

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• Mudanças na vida paleolítica

Pintura rupestre do sítio de Tassili-n-Ajjer, Argélia, c. 4000 a.C.-2000 a.C.

Pontas de lança do Período Paleolítico feitas de sílex. Museu de Arqueologia Nacional, França.

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enQuAnto isso...

Você sabia que muitos povos criaram mitos, lendas e fábulas para explicar a origem do mundo em que viviam? Existem muitas histórias sobre a criação, inclusive em distantes regiões do Oriente, como o Japão. A mitologia japonesa foi transmitida de forma oral até o século VIII, quando foi compilada em dois livros, o Kojiki, escrito em 712, e o Nihon-Shoki, de 720. De acordo com esses relatos míticos, no momento da criação o mundo era uma espécie de mar, e a terra teria uma textura parecida com óleo. Os deuses nasciam do chão, da mesma forma como as plantas germinam. Após algumas gerações de deuses, surgiram o deus Izanagi e a deusa Izanami, que, orientados por outros deuses, decidiram criar um novo mundo, isto é, o Japão. Depois de arremessarem uma lança sobre as águas, houve uma explosão de espuma e respingos d’água, a partir dos quais surgiram as primeiras ilhas japonesas. Esses dois deuses dirigiram-se, então, às novas ilhas, onde criaram as rochas, as montanhas, a vegetação, os animais e outros deuses menores.

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DIOGO SAITO

Uma lenda do Oriente

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ERICH LESSING/ÁLBUM/LATINSTOCk Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Amaterasu-oMikami, a deusa do Sol, foi criada a partir do deus Izanagi e tinha a tarefa de governar o Céu. Em decorrência de um desentendimento com seu irmão, o deus Susano, Amaterasu refugiou-se numa gruta. A entrada foi lacrada com um rochedo, e a Terra deixou de receber sua luz. Dessa forma, o mundo mergulhou na escuridão. Para convencê-la a sair de seu abrigo, os homens ofereciam presentes, danças e cânticos. A deusa, assim, decidiu abandonar a gruta e a Terra foi novamente banhada por sua luz. Amaterasu teve filhos e netos, alguns dos quais teriam povoado as ilhas japonesas. Mas reinava um grande caos entre a humanidade. Para garantir a ordem, os deuses declararam que um dos descendentes de Amaterasu seria o primeiro imperador do Japão. A crença de que os imperadores japoneses descendiam da deusa do Sol só foi rejeitada após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, em 1945.

A deusa Amaterasu emergindo de uma caverna, de Utugawa Kunisada, gravura japonesa de 1857. Museu Victoria e Albert, Inglaterra.

Questões 1. Quem são os deuses representados na ilustração? Que momento está sendo representado na imagem?

2. Releia o texto, observe a pintura e identifique a deusa Amaterasu. Justifique sua resposta.

3. Quais são as semelhanças e as diferenças entre o mito japonês de criação do mundo e o mito indígena contado por Daniel Munduruku, na página 34?

4. O mito japonês e o mito indígena apresentam uma visão criacionista ou evolucionista da origem do Japão? Justifique.

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Atividades

dos sobre a vida humana no Paleolítico.

a) Em que período de tempo ela se situa? b) Que atividades garantiam a sobrevivência? c) Que tipos de ferramentas eram feitas? d) Como eram as moradias? e) Havia alguma forma de arte? Qual?

2. Defina, no caderno, os conceitos abaixo. Se necessário, consulte um dicionário. a) Nomadismo. b) Criacionismo.

c) Evolucionismo.

3. Cite uma diferença entre o Australopithecus e os hominídeos do gênero Homo.

Ampliar o aprendizado 4. Leia o texto a seguir e responda às questões.

Embora seu crânio [...] fosse maior que o “ do Australopithecus, o volume do cérebro era, contudo, ainda pequeno [...] Caçador e colhedor, [...] desenvolveu, possivelmente na África, novos instrumentos de pedra lascada, dos quais os mais característicos são os chamados [...] ‘machados de mão’. [...] Caçador competente, usava outros recursos para matar animais. E outras armas: lanças de madeira, tacapes, pedras de arremesso, estiletes de osso. Agindo em grupo, procurava acuar e cansar o animal, levá-lo a cair de ravinas ou a embaralhar-se em pântanos. O processo exigia forte coesão do grupo e também algum sistema de sinais, ou linguagem. E tornou-se mais eficiente, depois que o homem pôde utilizar o fogo, para deitá-lo à savana e obrigar os animais a fugir na direção por ele desejada. [...] Vivia em pequenos grupos de 20 a 50 indivíduos. Quando esse número aumentava, o bando se cindia e uma parte ia buscar outros assentos, geralmente à margem das águas. [...]

5. Leia o texto a seguir e observe a sequência de imagens para responder às questões.

Fósseis são marcas da existência de plantas e animais que viveram há milhões ou milhares de anos. Um dos meios para que os fósseis sejam formados é o depósito de uma camada de terra em animais ou plantas mortos. Com o passar dos anos, os sedimentos que cobrem esses vestígios se tornam mais duros e compactos, o que impede a circulação de oxigênio e evita o apodrecimento desse material. Lentamente, os minerais presentes na terra se fixam aos vestígios e os endurecem, processo conhecido como petrificação. O vento, as mudanças climáticas ou o próprio homem removem a terra, a água ou o gelo que ocultava o fóssil, permitindo que ele seja visto e analisado por cientistas. 1

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1. Em seu caderno, complete os seguintes da-

a) Como era a vida do hominídeo apresentado no texto? b) Que ambiente ele habitava? c) Em que período da Pré-história ele viveu? Como é possível saber? d) Há alguma característica física informada no texto? Qual? e) Que espécie do gênero Homo é descrita no texto? Como é possível saber?

gil tokio

Compreender os conteúdos

SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 52-55.

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a) Indique a ordem correta das etapas do processo de fossilização representado na ilustração. b) Descreva, com suas palavras, o processo de fossilização ocorrido com o animal representado na imagem. c) Qual a importância dos fósseis nos estudos de história? gerado muita discussão nos últimos anos, especialmente o avanço de uma mudança climática, também chamada de aquecimento global. Segundo o relatório de fevereiro de 2007 do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), um órgão das Nações Unidas, o aquecimento global é resultado da ação humana. Sobre esse assunto, responda, junto com um colega, às questões a seguir. a) Que mudança climática ocorreu no final do Paleolítico?

c) Segundo o relatório do IPCC, que mudança climática global está em curso atualmente? Quais seriam as causas dessa mudança climática? Que efeitos ela traria para a vida no planeta?

História feita com arte 7. Observe a imagem da pintura rupestre da página 43 e responda. a) Que tipo de fonte histórica é essa? b) Em que período ela foi feita? c) Que animais foram representados na pintura? Qual seria a finalidade de pintar essas figuras? d) Que cores predominam na imagem? Como você imagina que os artistas obtinham essas cores?

8. A tirinha a seguir foi criada pelo artista brasileiro Carlos Ruas. Com base no que você estudou sobre o criacionismo e o evolucionismo, identifique os dois personagens dos quadrinhos e relacione a ação de cada um deles na tirinha com a explicação sobre a origem da vida que eles representam.

CARLOS RUAS

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

6. A questão ambiental é um tema que tem

b) Que efeitos essa mudança provocou na vida humana?

Tirinha do quadrinista Carlos Ruas, de 2009.

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Patrícia Ramos Braick Mestre em História das Sociedades Ibero-Americanas e Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Professora do Ensino Médio em Belo Horizonte, MG.

estudar História

Das origens do homem à era digital

7 1a edição

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© Patrícia Ramos Braick, 2011

Coordenação editorial: Maria Raquel Apolinário, Nubia Andrade e Silva Edição de texto: Nubia Andrade e Silva, Ana Claudia Fernandes, Pamela Shizue Goya, Maria Raquel Apolinário, Carlos Eduardo de Almeida Ogawa, Edmar Ricardo Franco Assessoria didático-pedagógica: Sandra Machado Ghiorzi, Bianca Barbagallo Zucchi, Paulo Ferraz de Camargo Oliveira, Carina Marcondes Ferreira Pedro, Eliane Tavelli Alves, Thiago Boim, Joana Acuio, Liliane Souza Amaral, Maria Lúcia Pompein Pessoa Preparação de texto: Mitsue Morrisawa Assistência editorial: Rosa Chadu Dalbem Coordenação de design e projetos visuais: Sandra Botelho de Carvalho Homma Projeto gráfico e Capa: Mariza de Souza Porto Arte e fotografia: Manuscrito gótico de Jean Froissart que representa Carlos IV, rei da França, recebendo sua irmã, 1325. © Album/Oronoz/ Latinstock – Biblioteca Nacional da França, Paris Coordenação de produção gráfica: André Monteiro, Maria de Lourdes Rodrigues Coordenação de arte: Maria Lucia Couto Edição de arte: Renata Susana Rechberger Edição de infografias: William Hiroshi Taciro (coordenação), Daniela Máximo, Fernanda Fencz Ilustrações: Carlos Bourdiel, Roger Cruz, Roko, Vicente Mendonça Cartografia: Alessandro Passos da Costa, Fernando José Ferreira Coordenação de revisão: Elaine Cristina del Nero Revisão: Afonso N. Lopes, Ana Cortazzo, Ana Maria C. Tavares, Fernanda Marcelino, Luís M. Boa Nova, Maristela S. Carrasco, Millyane M. Moura, Nancy H. Dias Pesquisa iconográfica: Aline Chiarelli, Daniela Chahin Baraúna, Etoile Shaw, Leonardo de Sousa Klein, Odete Ernestina Pereira As imagens identificadas com a sigla CID foram fornecidas pelo Centro de Informação e Documentação da Editora Moderna. Coordenação de bureau: Américo Jesus Tratamento de imagens: Bureau São Paulo, Fabio N. Precendo, Pix Art, Rodrigo Fragoso, Rubens M. Rodrigues, Wagner Lima Pré-impressão: Alexandre Petreca, Everton L. de Oliveira Silva, Hélio P. de Souza Filho, Marcio H. Kamoto Coordenação de produção industrial: Wilson Aparecido Troque Impressão e acabamento:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Braick, Patrícia Ramos Estudar história : das origens do homem à era digital / Patrícia Ramos Braick. -- 1. ed. -São Paulo : Moderna, 2011.

Obra em 4 v. para alunos do 6o ao 9o ano. Bibliografia.

1. História (Ensino fundamental) I. Título.

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CDD-372.89

Índices para catálogo sistemático: 1. História: Ensino fundamental 372.89 ISBN 978-85-16-07097-7 (LA) ISBN 978-85-16-07098-4 (LP) Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados EDITORA MODERNA LTDA. Rua Padre Adelino, 758 - Belenzinho São Paulo - SP - Brasil - CEP 03303-904 Vendas e Atendimento: Tel. (0_ _11) 2602-5510 Fax (0_ _11) 2790-1501 www.moderna.com.br 2011 Impresso no Brasil 1 3 5 7 9 10 8 6 4 2

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Apresentação O

s livros da coleção Estudar história foram feitos para os jovens alunos do século XXI, que, como você, vivem em um mundo conectado pela internet e pelos telefones celulares, dominado pelas imagens e pela explosão de informações que chegam via web. São tantos os conteúdos armazenados nos 130 milhões de sites disponíveis até o momento na internet que, quando você vai pesquisar um assunto, fica desorientado com a imensidão de opções que aparecem. E você, admirado com esse mundo tecnológico, se pergunta: “Para que serve a escola?”; “Por que preciso estudar?”; “Por que é importante estudar história?”. Algumas respostas você mesmo daria: “Para dominar o uso da nossa língua, aprender a resolver problemas, ler e compreender textos etc.”. Tudo isso está correto. Mas hoje, diante de tantas novidades da ciência e da indústria, a escola tem também o desafio de ajudá-lo a ser sujeito e não objeto das novas tecnologias. Com isso, queremos dizer, por exemplo, que não basta saber operar as ferramentas de pesquisa na internet. É necessário, sobretudo, saber avaliar e selecionar criticamente as informações armazenadas para utilizá-las corretamente no cotidiano. Em outras palavras, o uso das novas tecnologias deve ajudá-lo a analisar e comparar textos e imagens, a formular hipóteses e argumentos, a confrontar ideias e a ouvir e a aprender com os outros. Foi pensando em tudo isso que desenvolvemos os livros desta coleção. Aqui você vai encontrar diferentes tipos de leitura, tirinhas, sugestões de filmes, roteiros para navegação em sites, infográficos, entre muitas outras coisas que vão ampliar seu gosto pela leitura, instigar sua curiosidade pelo conhecimento e ajudá-lo a atuar criticamente na sociedade, compreendendo a importância de ser um cidadão solidário, tolerante, participativo e amigo da natureza. Um ótimo estudo!

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A organização do seu livro Este livro está dividido em 14 capítulos. Veja abaixo as diversas partes que compõem o seu livro. Abertura de capítulo Dupla de páginas com imagens e textos instigantes que permitem a reflexão e o debate em sala de aula. O presente é relacionado com o tema do capítulo trazendo o estudo da história para mais perto do seu dia a dia.

Boxes Ao longo do livro você encontrará vários tipos de boxes: Saiba mais (textos que ampliam e enriquecem o texto didático), Biografia (com detalhes da vida de personagens anônimos e famosos da história), Navegue neste site (roteiros de passeios virtuais em sites de diversas instituições) e Vale a pena assistir (dicas de filmes que enriquecem e problematizam o aprendizado dos temas).

Questões Mapas, fotografias, textos e ilustrações podem estar acompanhados de questões que complementam e ampliam o conhecimento.

Glossário As palavras que podem trazer mais dificuldade para serem compreendidas estão em boxes com explicações ao lado do texto.

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Amplie seu conhecimento Nesta seção, você terá contato com materiais diversos (ilustrações, mapas, infográficos e textos), que tratam de um tema com um pouco mais de profundidade. Ao final, as questões irão ajudá-lo a extrair o máximo da leitura.

Enquanto isso...

Atividades

Você sabia que o drama da seca no Nordeste brasileiro já existia desde a colonização portuguesa? Nesta seção você irá estudar um pouco mais sobre importantes acontecimentos históricos em diferentes estados brasileiros, além de conhecer povos e culturas que surgiram próximos no tempo, mas em lugares diferentes.

As propostas de atividades estão divididas em dois grupos: em Compreender os conteúdos você terá a oportunidade de revisar os pontos principais do capítulo; no Ampliar o aprendizado você irá interpretar textos, estabelecer relações entre conceitos, fazer pesquisas e analisar diferentes tipos de obras de arte na seção História feita com arte.

Avalie o seu aprendizado Nesta seção você vai rever os conteúdos tratados nos capítulos realizando diferentes tipos de atividades. Com a ficha de autoavaliação, você vai perceber quais estudos foram bem aproveitados e quais não ficaram claros e precisam ser retomados.

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Reprodução - Pierpont Morgan Library, Nova Iorque

Sumário Capítulo 1 A Alta Idade Média e o início do feudalismo, 10 As invasões germânicas no Império Romano, 12 • As tribos germânicas, 13 O fortalecimento da Igreja, 14 • Os francos e a Igreja, 15 • O Império Carolíngio, 16

A autoridade do imperador, 17 • A fragmentação do Império Carolíngio, 18

O feudalismo, 19 • Uma sociedade de ordens, 20 O clero e a nobreza, 20 • Os trabalhadores, 21

Amplie seu conhecimento — Os torneios medievais, 22 Mulheres e crianças, 24

O senhorio medieval, 25 • O medo da fome e da morte, 26 O Paraíso e o Inferno, 27

Anders Ryman/Alamy/Glowimages

As inovações agrícolas, 28 • O revigoramento das cidades, 29 • A expansão do comércio, 29 Enquanto isso... — Os hunos, 30 Atividades, 32

Capítulo 2 Nascimento e expansão do islã, 34 O islã no mundo atual, 36 • Península Arábica: o berço do islã, 37 Meca: a cidade sagrada, 38 Maomé: o profeta do islã, 39

Corão, o livro sagrado do islã, 40 • A Hégira e o início de um novo calendário, 42 • A expansão do islã pela Península Arábica, 42 • A jihad, 43

Os califados e a expansão do império, 43 • Os cinco pilares, 44 Amplie seu conhecimento — A mesquita, 45 Cotidiano, cultura e arte do islã, 46

Os trajes muçulmanos, 46 • A mulher no islã, 48 • Ciência e arte no islã, 50 • Arquitetura: mesquitas e palácios, 51

Lionela Rob/Alamy/ Other Images

Atividades, 52

Capítulo 3 A África antes dos europeus, 54 O preconceito e a ignorância sobre a África, 56 • As fontes para o estudo da África, 57 O papel dos griots, 57

África: território e demografia, 59 • O islã chega à África, 60

O comércio transaariano, 61 • A islamização da região do Sahel, 61 • A importância dos rios para o comércio, 62

Os grandes reinos islamizados da África, 63

O Reino de Gana, 63 • O Reino do Mali, 65 • O Império Songhai, 66

O estranhamento entre árabes e africanos, 67 • Povos da África no Brasil, 68 Iorubás ou nagôs, 69 • Bantos ou congoleses, 70

Unesco/Alamy/ Other Images

Atividades, 72

Capítulo 4 Impérios do Oriente: China e Japão, 74 A China Han, 76 • Uma era de divisão, 76 • A reunificação da China, 77

A dinastia Tang, 77 • A dinastia Song, 78 • O domínio mongol: a dinastia Yuan, 79

A sociedade chinesa, 81

A nobreza, 81 • Os camponeses, 82 • O vestuário, 82 • A alimentação, 83

Japão: a terra do Sol nascente, 84 • A formação do Império Japonês, 85 • O período Heian, 86 A ascensão dos samurais, 86

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O xogunato Kamakura (1192-1333), 87

Os Estados Guerreiros e a unificação do Japão, 88

O xogunato Tokugawa (1603-1868), 89

O sistema feudal japonês, 89 • Os primeiros contatos com o Ocidente, 90 • O isolamento japonês, 90 • A arquitetura japonesa, 91

AKG-Images/Album/Latinstock - Biblioteca Britânica, Londres

Atividades, 92

Capítulo 5 A Baixa Idade Média e a crise do feudalismo, 94 As Cruzadas, 96

Resultados das Cruzadas, 97

A expansão do comércio, 98 • As cidades medievais, 99 As corporações de ofício, 100

Amplie seu conhecimento — A cidade medieval, 101 A cultura medieval, 102

O românico e o gótico na arquitetura, 102 • O teatro, 104 • A literatura, 104 • O ensino, 105

Século XIV: um século de crises, 106

A grande fome, 106 • A peste negra, 107 • A Guerra dos Cem Anos, 108 • Revoltas populares, 109

Reprodução - Capela Sistina, Vaticano

Resultados da crise, 110 Enquanto isso... — A expansão do Império Mongol, 111 Atividades, 112 Avalie o seu aprendizado, 114

Capítulo 6 O Renascimento Cultural, 116 Um mundo em transição, 118

Renascimento: um conceito controverso, 118

O humanismo, 119 • A invenção da imprensa, 120 • As inovações científicas e técnicas, 121

A teoria heliocêntrica, 121 • O temor diante da Igreja, 122 • As navegações e o impulso a outras ciências, 123 • Inovações na medicina, 123

As artes no Renascimento, 124

A arquitetura, 125 • A escultura, 125 • A pintura renascentista, 126 • A pintura em Florença: o Quattrocento, 127 • O Renascimento em Roma: o Cinquecento, 128

Amplie seu conhecimento — O teto da Capela Sistina, 130

A pintura nos Países Baixos, 132 • A literatura do Renascimento, 133

Jens Meyer/AP/Glowimages

Atividades, 134

Capítulo 7 Reformas religiosas na Europa, 136 A crise na Igreja, 138 As ideias precursoras de John Wyclif, 139

Martinho Lutero: apenas a fé salva, 139

As 95 teses de Lutero, 140 • A punição a Lutero, 141 • A doutrina luterana, 141

A Reforma se espalha pela Europa, 142

A doutrina calvinista, 142 • A Igreja Anglicana, 143

A Reforma Católica, 144

A Companhia de Jesus, 144 • O Santo Ofício, 145 • O Concílio de Trento, 146

A Noite de São Bartolomeu, 147 • Principais resultados das Reformas, 148 Enquanto isso... — A Companhia de Jesus na África, 149 Atividades, 150

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John Kellerman/Alamy/ Other Images

Capítulo 8 A formação dos Estados nacionais europeus, 152 O fortalecimento do poder dos reis, 154 Rei, nobreza e burguesia, 155

A Reconquista e a formação dos Estados nacionais ibéricos, 156 A formação de Portugal, 156 • A unificação da Espanha, 157

A centralização do poder na França, 157 A monarquia na Inglaterra, 158 • Monarquias absolutistas, 159 Os teóricos do absolutismo, 159

Akg-Images/Album/North Wind Picture Archives/Latinstock Coleção particular

O mercantilismo, 161 Enquanto isso... — O sultanato de Délhi, 162 Atividades, 163

Capítulo 9 As grandes navegações, 164 As viagens portuguesas, 166

A necessidade de explorar outros caminhos, 167 • Portugal dos primeiros viajantes, 168 • Etapas da expansão portuguesa, 169

As navegações da Espanha, 170 Por que o nome América?, 171 • Uma volta ao redor da Terra, 171 As dificuldades nas viagens, 172 • A ciência e as navegações, 173 O desenvolvimento da cartografia, 173

David Noton Photography/Alamy/ Other Images

Amplie seu conhecimento — As caravelas, 174 A divisão do mundo, 176 • O mundo após as navegações, 177 Atividades, 178

CapítulO 10 A América pré-colombiana, 180 Em busca do primeiro americano, 182 • Os olmecas, 183 • Teotihuacán: a primeira cidade, 184 • O domínio tolteca, 184 • As cidades-Estado maias, 185 A agricultura maia, 186 • Grandes astrônomos e matemáticos, 187 • O declínio da civilização maia, 187

No Vale do México: os astecas, 188

Os códices, 188 • Pimenta, cacau e cachorro, 189

Amplie seu conhecimento — A viagem do chocolate, 190

A cobrança de tributos, 192 • O povo e as elites na sociedade asteca, 192

A formação do Império Inca, 193

O poder do Sapa Inca, 193 • Terra e trabalho, 194 • Incas: grandes construtores, 194 O que restou dos povos pré-colombianos?, 195 • Antes dos portugueses, 196 Os índios vistos pelos portugueses, 197

A vida dos indígenas do Brasil, 198

Espíritos protetores da comunidade, 199

Os índios tupis, 199

A guerra e a antropofagia, 200

Oronoz/Album/Latinstock Biblioteca Britânica, Londres

Os índios do Brasil de hoje, 201 Enquanto isso... — Indígenas da América do Norte, 202 Atividades, 204 Avalie o seu aprendizado, 206

CapítulO 11 A colonização espanhola na América, 208 Os espanhóis iniciam a conquista, 210

Piratas e corsários no Caribe, 211 • Os espanhóis partem para o continente, 211

Os espanhóis chegam a Tenochtitlán, 212

A indecisão de Montezuma, 212 • A conquista do Império Asteca, 213 • Filhos de Malinche, netos de Cuauhtémoc, 213

Em busca do ouro, 214

A disputa que enfraqueceu os incas, 214 • A conquista do Império Inca, 215

Como explicar a conquista, 216

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Motivações econômicas e culturais, 216

A administração da América espanhola, 217

Os grupos sociais, 217 • Sob as ordens do rei, 218 • A criação dos vice-reinos, 219 • Os governos locais, 219 Ouro e prata, 220 • Nem só de ouro viviam os espanhóis, 221 • Trabalho

e tributo, 222

O repartimiento, 222 • A encomienda, 222

Fototeca/Leemage/Other Images Coleção particular

O papel da Igreja na colonização, 223 • A revolta de Túpac Amaru, 224 Atividades, 225

CapítulO 12 A conquista e a colonização da América portuguesa, 226 O Império Português, 228

Os portugueses na África e na Ásia, 229

A expedição de Pedro Álvares Cabral, 230 Encontro com os índios, 231

A extração do pau-brasil, 233 A prática do escambo, 233

O início da colonização, 234

A expedição de Martim Afonso de Sousa, 234 • As capitanias hereditárias, 235 A criação do governo-geral, 236 • As Câmaras Municipais, 237

Reprodução - Coleção particular, Rio de Janeiro

Enquanto isso... — A seca na origem da colonização do Ceará, 238 Os jesuítas na América portuguesa, 240 Atividades, 241

CapítulO 13 O Nordeste açucareiro, 242 Açúcar: o melhor investimento, 244 O sucesso da produção açucareira, 245

O engenho e a produção do açúcar, 246

Senhores do açúcar, 247 • Lavradores de cana, 248 • Os trabalhadores do engenho, 248

O lucrativo comércio de escravos, 251 Resistência escrava, 252 Mocambos e quilombos, 253

A União Ibérica (1580-1640), 254

Holandeses em Salvador, 254 • Holandeses em Pernambuco, 255 • Urbanismo, ciência e arte no Brasil holandês, 256 • Conflitos entre holandeses e colonos, 257 O reforço do controle colonial, 258 • O Brasil não era apenas um grande

Patrick Batchelder/ Alamy/Other Images

canavial, 259 Enquanto isso... — Guiné e Cabo Verde, 260 Atividades, 262

CapítulO 14 Ingleses, franceses e holandeses na América, 264 Mudanças na agricultura inglesa, 266 • Os ingleses rumo à América, 266

A colonização inglesa na América, 267 • A formação das treze colônias inglesas, 267 • As colônias do norte e do centro, 268 • As colônias do sul, 269 • O comércio triangular, 269 • A administração das treze colônias, 270 • Educação de base protestante, 270

A França no Novo Mundo, 272

Franceses na América do Sul, 272 • Franceses na América Central, 273 • Franceses na América do Norte, 274

Holandeses na América, 275 Enquanto isso... — Os maoris e a colonização da Nova Zelândia, 276 Atividades, 277 Avalie o seu aprendizado, 278 Sugestões, 280 Referências bibliográficas, 282

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Capítulo

10

A América pré-colombiana

Quarup, rito em homenagem ao sertanista brasileiro Orlando Villas Bôas, realizado na aldeia Yawalapiti, no Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso, 2003. O Quarup é um rito intertribal do Alto Xingu realizado em homenagem aos mortos ilustres.

Quantas vezes você já ouviu falar que Cristóvão Colombo descobriu a América em 1492 e Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 1500? Por que se usa a palavra “descobrimento” nesses casos? Será que essas terras eram inabitadas? Será que ninguém as conhecia antes de os europeus chegarem aqui? Durante muito tempo, a chegada dos europeus à América foi chamada de “descobrimento”, sem que ninguém parasse para pensar que a palavra indicava um ponto de vista europeu. Afinal, apenas para os europeus as terras eram desconhecidas. A América não estava vazia. Era habitada de norte a sul, bem antes de os europeus a conquistarem e lhe darem o nome de América. Os europeus chamaram os habitantes das terras americanas de “índios”, acreditando que haviam chegado ao Oriente, também chamado de Índias, para onde iam muitas expedições marítimas em busca de produtos de valor comercial.

Renato Soares/ Pulsar Imagens

A América antes de ser América

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David Pillinger/Corbis/Latinstockt Mel Longhurst/AGE/Grupo Keystone

Mas os habitantes da América não eram iguais entre si. Em alguns casos, os nativos reuniam-se em comunidades pequenas e isoladas. Em outros, formavam grandes sociedades organizadas, com instituições políticas sólidas, domínio de técnicas agrícolas sofisticadas e capazes de construir grandes monumentos. Neste capítulo você vai estudar algumas dessas sociedades, suas características e sua história. Você vai ver como elas eram diferentes umas das outras e por que é impossível considerar que os nativos americanos fossem “primitivos” ou “selvagens”, como muitos europeus acharam.

No alto, observatório astronômico conhecido como Caracol, situado no sítio arqueológico maia de Chichén Itzá, México, 2008; acima, Templo das Inscrições no sítio arqueológico de Palenque, em Chiapas, México, 2008.

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Estatueta olmeca representando uma mulher encontrada no sítio arqueológico La Venta, em Tabasco, México, séculos IX a.C.-IV a.C. Museu Nacional de Antropologia, México.

Terraços cultivados pelos incas. Sítio arqueológico Moray, Peru, 2010. Acredita-se que esse local fosse um centro de pesquisas agrícolas, onde os incas estudavam o desenvolvimento de certas plantas.

Ninguém sabe quem foi o primeiro americano. Nem quando, pela primeira vez, o solo da América foi pisado por um humano. Arqueólogos já encontraram vestígios da presença de habitantes na América desde, pelo menos, 14 mil anos atrás. Mas é possível que muito antes disso (em torno de 40 ou 50 mil anos atrás) o nosso continente já fosse habitado. Mesmo com tantas incertezas sobre o assunto, é possível afirmar que os primeiros grupos humanos na América eram pequenos, nômades e coletores. Eles se movimentavam em busca de alimentos ou tentando contornar as dificuldades climáticas e as barreiras naturais. A sedentarização desses povos demorou: as primeiras marcas de plantio que conhecemos datam de cerca de 8 mil anos atrás. Elas se encontram no litoral dos atuais México e Equador e indicam o cultivo de abóbora, feijão, tomate, pimentão, milho, batata-doce e mandioca. A fixação dos grupos na terra permitiu aprimorar gradualmente as técnicas de cultivo e desenvolver algumas tecnologias para aproveitar as águas dos rios, como a construção de canais de irrigação. Com o tempo, os assentamentos humanos foram crescendo e deram origem às primeiras cidades na América. IAN WOOD/ALAMY/OTHER IMAGES

g. DaglI oRtI/Dea/album/latInStoCK muSeu naCIonal De antRoPologIa, CIDaDe Do méxICo

Em busca do primeiro americano

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Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Os primeiros povos pré-colombianos a ter uma organização social complexa foram os olmecas e os maias, ambos estabelecidos na Mesoamérica (veja o mapa abaixo), região do continente americano que engloba o sul do México, os territórios dos atuais El Salvador, Guatemala e Belize, além de parte de Honduras, Nicarágua e Costa Rica. Os olmecas estabeleceram-se na região do Golfo do México por volta do século XII a.C. e lá se mantiveram por pelo menos oito séculos. Os principais sítios arqueológicos onde podemos encontrar vestígios desse povo são Tres Zapotes, La Venta e San Lorenzo. Além da proximidade com o mar, a região tem água abundante: é cortada por diversos rios e sujeita a chuvas constantes, o que facilitava o plantio de alimentos, como milho, abóbora, feijão e algumas pimentas. A caça e a pesca também eram praticadas e contribuíam para ampliar as fontes alimentares. Os olmecas não conheciam os metais, mas chegaram a elaborar formas de escrita e um calendário. Monumentos funerários, centros cerimoniais e esculturas encontrados por arqueólogos sugerem que eles viviam numa sociedade com alguma diferenciação social e que a religião tinha papel predominante. Também foram encontradas grandes praças públicas, o que pode indicar que as cerimônias religiosas desse povo eram realizadas ao ar livre. Além disso, acredita-se que os olmecas adoravam o deus-jaguar, devido às máscaras com formato desse animal achadas nesses locais. Por volta do século IV a.C. a população olmeca decresceu bastante. Não se sabe ainda o que provocou o declínio daquela sociedade, mas podem ter sido mudanças ambientais, que afetaram a agricultura, ou guerras com os povos vizinhos, que causaram muitas mortes e perdas territoriais.

woRlD PICtuReS/alamy/otheR ImageS

Os olmecas

Cabeça olmeca no sítio arqueológico La Venta, em Tabasco, México. As colossais cabeças do centro cerimonial de La Venta, esculpidas em basalto, talvez representassem governantes, o que indicaria uma diferenciação social na sociedade olmeca.

Sedentarização Ato de sedentarizar-se, fixar residência em um local; assentar-se.

FeRnanDo JoSé FeRReIRa

ALGUMAS CIVILIZAÇÕES DA MESOAMÉRICA CHICHIMECA

HUASTECA

Golfo do México Lago Chapala Tenochtitlán

TOLTECA Tula Teotihuacán Lago Texcoco ASTECA Tehuacán

Península de Yucatã

ZAPOTECA

MÉXICO Guerrero

MAIA

La Venta

OLMECA MIXTECA

OCEANO PACÍFICO

Chichén Itzá MAIA-TOLTECA

Palenque

MAR DAS ANTILHAS

Tikal

MAIA Copán

Yucatã

Veracruz Hidalgo

MAR DAS ANTILHAS Tabasco BELIZE Chiapas Oaxaca HONDURAS GUATEMALA

OCEANO PACÍFICO

EL SALVADOR

NICARÁGUA COSTA RICA

A Mesoamérica atual (2010)

210 km

Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. p. 236.

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Estátua representando figura feminina amamentando uma criança encontrada no sítio arqueológico de Teotihuacán, no México, c. 350-500. Museu de Arte Lowe, Universidade de Miami, Estados Unidos.

Obsidiana

AKG-IMAGES/ALBUM/LATINSTOCK MUSEU ARQUEOLÓGICO DE TULA

Tipo de vidro de origem vulcânica.

A primeira cidade da Mesoamérica foi Teotihuacán, no planalto central do México. Ela se formou da união de várias aldeias, por volta do ano 100, e chegou ao auge na metade do século V, quando sua população chegou a 80 mil pessoas. O centro de Teotihuacán, muito bem organizado e planificado, estava dividido por setores, cada um deles dedicado a uma atividade econômica. Possuía também grandes templos e edifícios públicos. As áreas dedicadas à moradia tinham quarteirões regulares e ruas e avenidas geometricamente desenhadas. A construção mais importante da cidade era a Pirâmide do Sol. No topo dessa construção, provavelmente, havia um templo. Para alguns estudiosos, o templo devia representar para aquele povo o local de onde saíram os seus antepassados. Por alguma razão ainda não esclarecida, Teotihuacán entrou em declínio por volta do século VIII. Parte da população migrou para outras áreas e um setor continuou vivendo no local, sob domínio dos toltecas.

O domínio tolteca Os toltecas eram povos nômades que viviam no norte do México. Eles começaram a se deslocar para o sul no século VIII e se estabeleceram na região central do México, assimilando muitos costumes dos moradores de Teotihuacán. Os toltecas conheciam a metalurgia, praticavam a agricultura, a coleta e a caça e comercializavam regularmente com povos ao sul e a leste, trocando sobretudo obsidiana por algodão e cacau. A capital tolteca era Tula e a cidade pode ter chegado a abrigar entre 20 e 50 mil pessoas durante o século XI, período em que chegou ao seu auge. No século XII, porém, a cidade foi invadida e, na primeira metade do século seguinte, queimada. Não é possível definir os motivos exatos do declínio tolteca. As principais explicações seriam a incapacidade de impedir o avanço de grupos invasores nortistas e temporadas de seca, que teriam prejudicado a produção agrícola.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/GRUPO KEYSTONE - LOWE ART MUSEUM, UNIVERSITY OF MIAMI

Teotihuacán: a primeira cidade

Chacmool, escultura tolteca em obsidiana, c. 1100. O chacmool é um tipo de estátua que representa uma figura humana em posição reclinada. Acredita-se que era utilizado em rituais religiosos desse povo. Museu Arqueológico de Tula, México.

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Jose Fuste Raga/Premium/ Grupo Keystone

As cidades-Estado maias Por volta do ano 800, enquanto a cidade de Teotihuacán declinava, no sul as cidades maias chegavam ao seu apogeu. Os maias ocupavam a Península de Yucatán (região que hoje corresponde ao sul do México, Guatemala e Belize), além de uma pequena faixa de terra ainda mais ao sul, correspondente ao oeste da atual Honduras. As informações sobre os maias são precárias, mas os primeiros indícios de sua presença na região datam de 1000 a.C. Eles construíram e mantiveram suas cidades por quase dois mil anos, até perto de 900, quando começaram a abandoná-las. As construções de cidades como Chichén Itzá e Palenque (México), Tikal (Guatemala) e Copán (Honduras) foram talvez as mais requintadas e variadas da América pré-colombiana. As guerras desempenharam um papel importante na expansão das cidades maias, como ocorreu em outras partes da América e do mundo. A ideia romântica de que os maias eram um povo pacífico não corresponde aos registros encontrados, que mostram sinais de uma cultura militarista. Descobertas de crânios em sepulturas atestam que eles tinham o costume de decapitar os inimigos, talvez em um ritual de sacrifício aos deuses. Os maias não chegaram a formar um império. Suas cidades-Estado se comunicavam, mas conservavam autonomia administrativa e tinham suas próprias leis e organização interna. O poder em cada cidade era centralizado e transmitido hereditariamente. Nobres e funcionários do Estado e sacerdotes compunham a elite. Eles moravam nas cidades, de onde controlavam os agricultores.

Pirâmide do Sol em Teotihuacán, no México, em foto de 2011. A maior das cidades americanas anteriores à chegada dos europeus, Teotihuacán tinha quinze pirâmides. A maior delas, a Pirâmide do Sol, media 70 metros de altura.

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Urna funerária maia com detalhe de máscara representando uma divindade ligada ao milho, originária de El Quiché, Guatemala, c. 600-900. Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, Guatemala.

A agricultura era a atividade mais importante da economia maia. Os instrumentos utilizados eram basicamente de madeira e pedra. Aparentemente, apenas os machados, usados na derrubada de árvores, eram feitos de cobre. Os maias cultivavam abacate, abóbora, cacau, mamão, feijão, batata, pimenta, tabaco, algodão e, principalmente, milho. Este foi, provavelmente, o principal alimento da maioria dos povos pré-colombianos colonizados pelos espanhóis. Ele era tão importante que muitas celebrações e mitos foram criados em torno desse alimento. Uma das narrativas do poema maia Popol Vuh, por exemplo, atribui a origem do homem a um Grande Deus, que teria utilizado grãos de milho como base para sua criação. As técnicas de cultivo dos alimentos desenvolvidas pelos maias eram simples, prevalecendo o sistema de coivara, que consistia em derrubar a mata, queimar a vegetação original e, dias depois, fazer a semeadura. Quando chegava a estação das chuvas, eles vigiavam as plantações para retirar as ervas daninhas e impedir a invasão do mato. A colheita, feita entre outubro e novembro, era celebrada com grandes festividades. A prática da coivara provocava o rápido esgotamento do solo. Como os campos de milho produziam em média por dois ou três anos consecutivos, os maias tinham que avançar constantemente em busca de novas terras para o cultivo, abandonando as que tinham ficado pouco produtivas.

Saiba mais

A prática da coivara é tradicional na pequena agricultura familiar e em comunidades quilombolas de várias regiões do Brasil. No entanto, essa prática se choca com a lei por ser proibida pelos órgãos governamentais de fiscalização ambiental. A proibição gera muita polêmica, pois não há acordo sobre os efeitos da coivara para o solo. Para alguns pesquisadores, a coivara provoca o rápido esgotamento do solo, o que obriga os agricultores a intercalar os cultivos e a deixar o solo em repouso por um ou dois anos. Outros estudiosos, no entanto, defendem que a coivara ajuda a preservar as comunidades tradicionais e a renovar a floresta. Como isso ocorreria? Os agricultores cortam e queimam a mata antes de plantarem no local. Depois de um ou dois anos o local é abandonado e a floresta acaba se regenerando.

Juvenal PeReIRa/PulSaR ImagenS

A prática da coivara

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

anDRea baguZZI/aKg-ImageS/album/latInStoCK muSeu naCIonal De aRQueologIa e etnologIa, CIDaDe Da guatemala

• A agricultura maia

Covas prontas para plantio após a queimada da mata. Município de Araripe, Ceará, 2003.

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• Grandes astrônomos e matemáticos Os astros, para os maias, expressavam a vontade dos deuses. Interessados em desvendar os mistérios celestes, os astrônomos maias conseguiram medir o movimento aparente do Sol, da Lua e de Vênus e perceber a relação entre a posição dos astros, as estações do ano e o ciclo agrícola. Com base nisso, eles criaram calendários que lhes permitiam planejar a época do cultivo e da colheita e as festividades religiosas da cidade. O domínio de várias formas de contagem do tempo foi possível graças ao saber matemático desenvolvido por esse povo. Os maias criaram um sistema numérico vigesimal, diferente do nosso, que é decimal. Provavelmente usavam os dedos dos pés e das mãos para contar. Eles também criaram um símbolo para o zero, conhecimento que somente os hindus tinham até então. O zero era representado por uma concha marinha.

Vigesimal Sistema de numeração que tem como base o número 20.

Hindu Refere-se aos habitantes da antiga Índia, povo que seguia o hinduísmo, religião que ainda predomina na Índia atual.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• O declínio da civilização maia

JoRge uZon/CoRbIS/latInStoCK

Por volta do ano 900, as cidades maias começaram a entrar em declínio. É possível que mudanças climáticas tenham causado longos períodos de estiagem. Outra hipótese é que a prática da coivara tenha esgotado a capacidade produtiva das terras e forçado a população a emigrar para outras áreas. O motivo exato do abandono das cidades é desconhecido, o mais provável é que tenha sido provocado por uma combinação de acontecimentos. Quando os espanhóis chegaram à região, no início do século XVI, as cidades maias estavam em ruínas, a maior parte delas coberta pela floresta tropical. No entanto, as marcas da cultura maia ainda persistem nos dias de hoje. Elas sobrevivem nas construções, nas línguas e nos registros de conhecimentos de astronomia. O mais forte indício do passado maia, porém, está nas etnias que ainda vivem na região, concentradas principalmente em dois países: México e Guatemala.

Indígenas de origem maia participam, fantasiados, das celebrações do dia do santo padroeiro da cidade. O evento, realizado todo ano, termina no Dia dos Mortos (1 e 2 de novembro), festividade de origem indígena tradicional no México e em países da América Central. Cuchumatán, Guatemala, 2007.

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Península de Yucatã

Tula Tenochtitlán

Lago Texcoco

Tikal

MAR DAS ANTILHAS

OCEANO PACÍFICO Império Asteca em 1519

195 km

Fonte: Arqueologia mexicana. Edição Especial: Tiempo Mesoamericano (2500 a.C.-1521 d.C.). México: Editorial Raíces, 2002. p. 65.

No Vale do México: os astecas Muita coisa havia mudado na Mesoamérica quando, pouco mais de 500 anos atrás, os espanhóis chegaram às terras do Vale de Anahuac (Vale do atual México). Na região, os espanhóis não encontraram grupos coletores nem sociedades com domínio precário da agricultura. Havia ali um grande império, dominado pelos mexicas, antiga denominação dada aos astecas. Em razão disso, chamamos o amplo território que eles dominavam de Império Asteca.

Trechos do Códice Mendoza, feito entre 1541 e 1542. Biblioteca Bodleiana, Universidade de Oxford, Inglaterra. Qual seria a relação existente entre as figuras representadas nas imagens? Que informações sobre a sociedade asteca você consegue obter analisando essas imagens?

• Os códices Uma das principais fontes para o estudo dos astecas e de outros povos que habitavam a região do México são os códices, um conjunto de imagens e símbolos desenhados sobre madeira, peles ou papéis. Por meio dos códices foi possível conhecer aspectos da educação, da vida familiar, da alimentação e dos conhecimentos que esses povos tinham de astronomia e de técnicas de cultivo. Os conquistadores espanhóis provavelmente destruíram muitos códices. Entre os que chegaram até nós, um dos mais importantes é o Códice Mendoza, feito pelos astecas cerca de vinte anos após a conquista espanhola. Conhecemos ainda três códices maias, anteriores ao século XII e escritos em hieróglifos.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Chichén Itzá

É provável que os mexicas tenham vindo do norte e chegado à região no século XII. Guerreiros e conquistadores, eles dominaram os vários grupos e etnias indígenas que viviam nas proximidades do Lago Texcoco e ocuparam suas terras. No princípio do século XIV, os mexicas construíram, no local, um templo em honra a Huitzilopochtli, deus da guerra e do Sol, principal divindade asteca. Em torno do templo, cresceu a cidade de Tenochtitlán, futura capital do império.

RePRoDução - bIblIoteCa boDleIana/unIveRSIDaDe De oxFoRD

Golfo do México

FeRnanDo JoSé FeRReIRa

O IMPÉRIO ASTECA EM 1519

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noRth wInD PICtuRe aRChIveS/aKg-ImageS/latInStoCK – Coleção PaRtICulaR

A expansão mexica não parou com a dominação dos povos da região do Lago Texcoco. Promovendo ações militares de conquista, os mexicas ampliaram os seus domínios e formaram um império de mais de 6 milhões de habitantes. A capital, Tenochtitlán, abrigava perto de 500 mil pessoas. Os camponeses do Império Asteca cultivavam tomate, milho, algodão, cacau, batatas e vários tipos de pimenta. A dieta era completada com carne de peixes, aves (peru e pato) e cachorros (criados especialmente para a alimentação). O cacau era duplamente valorizado: a polpa servia de alimento e bebida e sua semente era utilizada como moeda de troca. Como os antigos egípcios, os astecas também desenvolveram técnicas para superar as limitações impostas pela natureza e aumentar a produção agrícola. Eles construíram canais de irrigação para transportar a água dos rios e lagos para regiões mais distantes e criaram as chinampas (veja a ilustração abaixo), um tipo de canteiro flutuante.

Xilogravura do século XIX, baseada em um mapa colonial espanhol, que representa Tenochtitlán por volta de 1520.

CONSTRUÇÃO DE UMA CHINAMPA CaRloS bouRDeal

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• Pimenta, cacau e cachorro

O terreno era demarcado com uma cerca feita com estacas, fincadas no fundo do lago, e pedaços de madeira. Esse espaço era preenchido com camadas de lama do próprio lago e resíduos de vegetais, intercaladas por galhos entrelaçados.

Ao redor da base construída, os astecas plantavam árvores com raízes mais profundas para garantir a sustentação do canteiro e reforçar seu isolamento.

O tamanho das chinampas variava de 100 a 850 metros quadrados. Nelas se cultivavam principalmente flores e hortaliças.

Fonte: AGHAJANIAN, Alfred. Chinampas: Their Role in Aztec Empire. Building & Expansion. Estados Unidos: Impressão do autor, 2006. p. 10-13.

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AMPLIE SEU CONHECIMENTO

A viagem do chocolate

Pelas rotas abertas com as grandes navegações fluíram conhecimentos

Cacau Teobrona cacao

No século XVI, as primeiras sementes de cacau foram levadas para a Europa.

O cacaueiro é nativo da América e pode ser encontrado desde a Bacia Amazônica até o sul do México. Das sementes secas, torradas e prensadas da planta, extraem-se a manteiga e o pó de cacau.

O maior consumidor é a Europa, que compra 40% do cacau do mundo.

1500 a.C.-900 d.C. Mais de mil anos antes da era cristã, os olmecas consumiam o que chamavam kakawa. Cerca de dois milênios depois, os maias misturavam as sementes do cacau com água, pimenta, milho e especiarias para preparar uma bebida, usada nas cerimônias religiosas e no cotidiano.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e espécies do Velho e do Novo Mundo. As mais importantes culturas agrícolas da humanidade foram difundidas pelos dois lados do Atlântico, e o encontro de ingredientes americanos e asiáticos na Europa deu origem ao mais popular e globalizado doce moderno.

Favas de baunilha Vanilla planifolia

1300-1519 Perfumando a bebida com favas de baunilha, os astecas a chamavam xocoatl (água amarga). Com mel, era a cacahuatl (água de cacau). As sementes também serviam como moeda de troca e eram usadas para pagamentos de tributos.

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Reproduzida nesse porta-copos, a obra A chocolateira foi feita pelo franco-suíço Jean-Etienne Liotard em 1744, quando a bebida era um dos luxos da aristocracia europeia.

Séculos XVI a XIX

A corte espanhola não gostou muito da bebida asteca, mas, adoçada e sem pimenta, ela virou a preferida dos nobres. Em 1680, o médico e cientista britânico Hans Sloane trocou a água por leite e criou um novo sucesso.

O chocolate virou moda na Europa e as plantações se multiplicaram na América e na África, para suprir a demanda. No Brasil, as primeiras plantações de cacau datam de 1677.

O primeiro chocolate industrial em barra surgiu na Inglaterra em 1847, mas só no século XX o chocolate se transformou em um produto de massa, consumido no mundo todo.

Produção mundial de chocolate (mil toneladas) Entre 1900 e 2010, a produção mundial de chocolate aumentou mais de 32 vezes.

3.700 800

115

1900

1940

2010

O peso econômico do cacau Assim como o açúcar e o café, as sementes de cacau são commodities comercializadas nas principais bolsas de valores do mundo e seu cultivo sustenta grandes populações.

US$ 5,1 bilhões

éo faturamento gerado pelo cacau no mundo.

5 e 6 milhões

O maior produtor de cacau é a África, com 70% da colheita mundial. A Ásia e a América tropical são responsáveis pelo restante.

Entre de agricultores trabalham nas plantações de cacau.

40 e 50 milhões

Entre de pessoas no mundo dependem da economia do cacau.

AGRADECIMENTOS PARA ITARATAN PEDRAS E METAIS LTDA. PELA BASE DE MÁRMORE USADA NA FOTO.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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O chocolate: do século XIX até hoje

Questões 1. Escreva, com base nos dados Os portugueses trouxeram a cana-de-açúcar para a América no século XVI. O açúcar produzido no Brasil uniu-se ao leite e às sementes processadas de cacau para dar origem ao doce mais consumido no mundo.

Açúcar mascavo e cana-de-açúcar Saccharum spp.

deste infográfico, uma breve história do cacau, das suas origens aos dias atuais.

2. Os grandes centros produtores mundiais de cacau são também os maiores consumidores de chocolate? Justifique. Fontes: World Cocoa Foundation. Disponível em www.worldcocoafoundation.org. Acesso em 14 jul. 2011. International Cocoa Organization. Disponível em www.icco.org. Acesso em 9 maio 2011. Salon du chocolat. Disponível em www.salon-du-chocolat.com. Acesso em 6 maio 2011. Revista Galileu, n. 226, maio 2010.

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• A cobrança de tributos

Agave Família de plantas de folhas grandes, carnosas e com espinhos.

Cochonilha Corante extraído do inseto cochonilha-do-carmim, originário da região do México.

Os povos submetidos ao Império Asteca produziam para o seu consumo e, principalmente, para pagar os pesados tributos cobrados pelos mexicas. A arrecadação de tributos garantia a expansão do império e permitia investir na ampliação e no embelezamento de Tenochtitlán. Conheça agora alguns dos tributos cobrados das províncias pelos astecas.

A cobrança de tributos

Quase todos deviam fornecer tecidos de algodão ou de ixtle (fibra de agave), cereais e grãos oleaginosos. As áreas tropicais eram taxadas em cacau e algodão bruto. Ouro em pó e objetos de luxo vinham de Tuxtepec, de Xoconochco e das províncias mixtecas; o cobre, de Tepequacuilco e Quiauhteopan; as turquesas, do litoral do golfo e de Oaxaca; as plumas de papagaio [...] das Terras Quentes; [...] o papel, de Quauhnahuac e Oaxtepec; a cochonilha, de Oaxaca; e as madeiras para construção, das florestas otomi. Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

SOUSTELLE, Jacques. A civilização asteca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987. p. 27.

Questões 1. Segundo o texto ao lado, quais produtos eram exigidos pelos astecas como pagamento de tributos?

2. Qual seria o uso feito pelos astecas dos produtos recebidos das províncias?

• O povo e as elites na sociedade asteca Ao se fixar no Vale do México, por volta do século XII, os mexicas tinham uma organização social igualitária. Com o tempo, porém, surgiu uma diferenciação social entre eles e um distanciamento do povo em relação às camadas da elite. Observe, a seguir, os principais grupos sociais que havia na sociedade asteca.

CAMADAS SOCIAIS ASTECAS

Imperador Eleito pela aristocracia militar e sacerdotal. Devia prestar honra aos deuses e proteger o povo asteca. Grandes comerciantes e artesãos Organizavam-se em corporações e transmitiam a profissão de pai para filho.

RoKo

Camponeses Trabalhavam nas terras da aldeia, prestavam serviços obrigatórios nas guerras e na construção de canais, diques e monumentos, pagavam impostos e recebiam do governo alimentos, vestimentas e educação gratuita.

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Sacerdotes Cuidavam do culto, da educação dos jovens, dos hospitais para pobres e doentes, além de guardar os livros sagrados e históricos. Altos funcionários do Estado Exerciam elevadas funções militares e civis. Não pagavam impostos e recebiam parte dos tributos cobrados da população.

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A formação do Império Inca

• O poder do Sapa Inca

FeRnanDo JoSé FeRReIRa

POVOS DOS ANDES

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O chefe supremo do império era o Sapa Inca, que exercia controle total sobre os povos que viviam em seus domínios. O soberano era considerado filho do Sol. Ele estabelecia quando as pessoas podiam casar ou viajar e forçava a migração para áreas menos ocupadas do império, com o objetivo de defender terras desprotegidas. O poder do Sapa Inca era tanto que, ao se deslocar de um lugar a outro, ia coberto por um manto, dentro de uma luxuosa liteira, carregada por vários homens. À frente, uma coluna de servidores ia varrendo o caminho, e o povo se prostrava com a face na terra enquanto ele passava. Até os altos funcionários só se dirigiam a ele de joelhos e tendo um peso nos ombros em sinal de obediência.

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Estatueta de cerâmica em forma de figura humana com vestimenta de jaguar da cultura Huari, c. 600-700. Museu Amano, Peru.

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Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

As terras altas da Zona Andina Central atraíam a ocupação humana principalmente por causa de seus vales, com bosques, rios e pastos cercados de montanhas. Foi num desses vales, o de Cuzco, no sul do atual Peru, que os incas construíram um império imenso. Mas, muito tempo antes dos incas, impérios mais antigos existiram naquela região, como os de Tiahuanaco, Huari e Chimu, este último contemporâneo dos incas. Monumentos, estatuetas, peças de cerâmica, ornamentos feitos de metais e móveis são alguns dos vestígios dessas antigas civilizações andinas. Os incas são originários do povo quíchua e chegaram à região de Cuzco provavelmente no século XIII. Inicialmente conviveram com outras etnias da região. Aos poucos, porém, os incas submeteram os demais povos. Na primeira metade do século XV, o Império Inca expandiu-se por uma vasta região (veja o mapa abaixo).

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Chavín de Huantar Paramonga Huari Machu Picchu

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Tiahuanaco TIAHUANACO Lago Poopó

TRÓPICO

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OCEANO

OCEANO

PACÍFICO

ATLÂNTICO

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Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. p. 238.

600 km

Extensão do Império Inca Cordilheira dos Andes

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Vista de estrada em montanhas dos Andes, no Vale Sagrado dos Incas, Peru, 2009.

A base econômica do Império Inca era a agricultura, praticada em aldeias. Cada aldeia era habitada por um conjunto de famílias unidas por laços de parentesco, o ayllu. Cada ayllu tinha um chefe, o kuraka, que dividia as terras entre as famílias e organizava a produção coletiva. Os camponeses do ayllu plantavam milho, batata, quinoa, algodão, batata-doce, amendoim, abacate, pimenta, entre outros produtos. Também criavam animais próprios dos Andes, como as alpacas e as lhamas. Os animais forneciam lã, leite, carne, além de servirem como meio de transporte. As famílias do ayllu deviam pagar um imposto ao kuraka e ao império, que se chamava mita. Durante alguns meses do ano, elas deviam cultivar terras do kuraka e do império ou ajudar na construção de estradas, canais de irrigação, edifícios públicos e moradias. As camadas mais altas também tinham obrigações. Em períodos de colheitas ruins, o kuraka tinha a obrigação de distribuir os alimentos que acumulara com o recolhimento dos tributos e alimentar as famílias.

• Incas: grandes construtores Quinoa Planta nativa das montanhas andinas que produz um grão muito nutritivo.

DAVID NOTON PHOTOGRAPHY/ALAMY/OTHER IMAGES

Rebanho de lhamas no altiplano andino, próximo de Castiloma, Bolívia, 2009. A criação de alpacas e lhamas continua fazendo parte das culturas indígenas da região dos Andes.

A irrigação das terras do império, em parte desérticas, era uma preocupação dos incas. Para resolver o problema, eles construíram canais que recolhiam a água que descia das montanhas e a levavam para as áreas de cultivo. Os incas também foram grandes construtores de cidades. Além de construir Cuzco, ergueram Machu Picchu no topo de uma montanha, a quase 2.500 metros de altitude. A cidade deve ter sido local de cultos e de sepultamentos. Construída integralmente com pedras encaixadas, Machu Picchu foi encontrada numa expedição arqueológica de 1911. Os incas construíram extensas estradas. Elas eram utilizadas para controlar as áreas do império e permitir a comunicação entre os vales, além de garantir a circulação de produtos e de um sistema de correio. Acredita-se que as estradas incas tenham possibilitado um grau de integração entre as áreas do império que os demais povos pré-colombianos não conheceram.

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NIGEL PAVITT/JAI/CORBIS/LATINSTOCK

• Terra e trabalho

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Guillermo Granja/Reuters/Latinstock

Ao longo dos dois últimos séculos, houve, em várias partes da América Latina, ações para preservar a cultura dos povos que descendem dos antigos habitantes da América e para garantir sua plena inclusão social. A defesa do direito desses povos à terra e de preservar seu modo de vida tradicional também aparece regularmente no debate político e nos movimentos sociais. O movimento indígena é um dos principais movimentos sociais da América Latina, principalmente em países como Peru, Bolívia, Guatemala, México, Colômbia e Equador, onde os índios conquistaram vários direitos constitucionais. As bandeiras centrais da mobilização indígena são o direito à terra, a preservação dos recursos naturais, a justiça social e o direito de representação política. No entanto, as lutas indígenas ainda não conseguiram reverter os efeitos da marginalização social iniciada com a conquista. Cerca de 80% dos indígenas da América Latina vivem na pobreza; dos que não trabalham na própria terra, grande parte está no setor informal ou assumindo funções não qualificadas. Os salários dos indígenas são em média 28% mais baixos que os recebidos por trabalhadores brancos com a mesma idade e grau de escolaridade. Mesmo representando menos de 5% da população mundial, os índios constituem 15% dos pobres no mundo.

Protesto indígena durante a cerimônia inaugural da reunião de cúpula da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), em Otavalo, Equador, junho de 2010.

Ruínas da cidade de Machu Picchu, no Peru, em foto de 2010.

Frédéric Soltan/Corbis/Latinstock

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O que restou dos povos pré-colombianos?

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Reprodução - Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo

América, pintura de autoria desconhecida, c. 1650. Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo.

Observe com atenção a pintura abaixo. Note que várias cenas acontecem ao mesmo tempo nesse quadro. Ao fundo está uma embarcação a vela aportada em uma praia e, mais à frente, um grupo de pessoas participa do que parece ser uma dança ou um ritual. No centro da imagem vemos índios antropófagos colocarem partes de corpos humanos em uma fogueira, possivelmente para refeição. Do lado esquerdo da pintura, um índio e um europeu conversam. O que eles poderiam estar falando? Preste atenção nas figuras que aparecem no primeiro plano da tela. No centro estão um jacaré quase domesticado e um macaco se coçando e segurando uma bola na mão. Será uma bala de canhão? Muito interessante também é o casal de índios com enfeites e trajes coloridos. Observe que eles também estão usando calçados, pouco comuns entre os nativos do século XVII. Do lado direito da pintura, um pouco ao fundo, uma mãe amamenta seu filho em uma rede no alto de uma árvore. Na parte inferior, uma macaca sentada segura sua cria no colo. Será que o artista quis fazer alguma associação entre a índia e o animal? No canto direito da pintura, também aparece um avestruz olhando para o espectador. Que conclusão você pode tirar das cenas criadas nessa pintura? Que visão o artista tinha das sociedades indígenas ao pintar esse quadro? Em que ele se baseou para criar essas cenas? Discuta esse assunto com os colegas.

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Antes dos portugueses

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RÔmulo FIalDInI muSeu PaRaenSe emÍlIo goelDI, belém

Quando as caravelas de Pedro Álvares Cabral chegaram à costa da Bahia, viviam no Brasil mais de mil povos, que somavam por volta de 3 milhões de pessoas e falavam cerca de 1.300 línguas diferentes. O Brasil naquela época não se chamava Brasil. Esse nome só apareceu ao longo do século XVI e veio de pau-brasil, uma árvore muito comum na Mata Atlântica de quinhentos anos atrás. Assim que os portugueses desceram à terra firme, vários indígenas nus, gesticulando e com arcos e flechas na mão, observavam surpresos a chegada dos estranhos. A nudez não foi uma novidade para os portugueses. Eles estavam habituados com muitos povos do litoral africano que também andavam sem roupas. Mesmo assim, os europeus estranharam o corpo sem pelos, os colares coloridos, os enfeites de penas de animais e as tatuagens cobrindo parte do corpo. Os portugueses desconheciam a cultura dos indígenas e concluíram que aquela gente não passava de um povo sem fé, sem lei, sem rei e sem nenhuma tecnologia. Mas, ao contrário do que pensavam os portugueses, os indígenas tinham suas próprias crenças, costumes, regras e conhecimentos: fabricavam ferramentas, armas, remédios extraídos de plantas, instrumentos musicais, utensílios domésticos, objetos religiosos, urnas funerárias, casas, e sabiam cuidar das matas, dos rios e dos animais. Os povos indígenas também tinham uma grande sensibilidade para as artes, como mostra o texto a seguir.

Urna aruã em cerâmica com características antropomorfas. Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém. Os aruãs, provenientes do Amapá, transferiram-se para as ilhas de Mexiana, de Caviana e de Marajó por volta de 1200 a.C.

Propiciatório Que propicia; que pretende obter a boa vontade de uma divindade.

Maestria Primor; perfeição na execução.

Os ancestrais dos tupis

Os ancestrais das tribos tupis [...] eram extremamente sensíveis ao mundo cultural: esculturas de pedra e osso representando pássaros, mamíferos e homens constituem um catálogo apaixonante de suas criações artísticas. [...] Na execução dessas obras, não faltavam extremos cuidados: em Roraima, no interior das cavernas, usavam-se até andaimes para o acabamento das pinturas. No belíssimo conjunto rupestre do Lajedo de Soledade, no Rio Grande do Norte, imagens associadas a rituais propiciatórios para chuvas comprovam a maestria na preparação das tintas, evitando o escorrimento das cores. A ‘arte de morrer’ também era uma de suas preocupações fundamentais: as formas de enterro, com os corpos embrulhados dentro de trançados, sentados ou deitados vestindo capas de folhas de palmeiras, adornados por pingentes, pontas de ossos, colares de conchas, bolas de cera de abelhas, raspadores de conchas ou mesmo com ossos guardados dentro de cerâmica, depois de apodrecida a carne, indicam a presença de práticas religiosas em torno da memória dos ancestrais.

PRIORE, Mary del; VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Planeta, 2010. p. 21.

João PRuDente/PulSaR ImagenS

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• Os índios vistos pelos portugueses

Pintura rupestre no sítio arqueológico Lajedo de Soledade, em Apodi, Rio Grande do Norte, 2008.

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A maior parte dos povos indígenas do Brasil era nômade ou seminômade e vivia da coleta de recursos naturais, da caça e da pesca. Os conhecimentos técnicos variavam bastante de uma cultura para outra, mas sabemos que nenhuma delas construiu cidades nem tinha um poder político centralizado. Mandioca, batata-doce e caju são alguns dos alimentos que ajudavam a compor a dieta desses povos. A cerâmica, a tecelagem e a fiação eram bastante desenvolvidas. Utilizando ossos, fibras vegetais e madeira, eles fabricavam ferramentas, armas, instrumentos musicais, redes e cestos, objetos religiosos, moradias e canoas. A maioria dos objetos fabricados atendia às necessidades de alimento e abrigo, além de servirem para as práticas rituais e as guerras.

FeRnanDo JoSé FeRReIRa

OS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL EM 1500 OCEANO ATLÂNTICO EQUADOR

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TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO

OCEANO ATLÂNTICO 570 km 50º

A vida dos indígenas do Brasil Os quatro maiores grupos indígenas que viviam no Brasil no século XVI eram os tupis, os jês, os arauaques e os caraíbas. No litoral do Nordeste, local onde os portugueses aportaram, predominavam os tupis. A língua desse povo se tornou a mais conhecida dos europeus que vieram para cá nos primeiros tempos da colonização.

DelFIm maRtInS/PulSaR ImagenS

Fonte: Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 12.

Índio kalapalo pescando com arco e flecha no lago da aldeia Aiwa. Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso, 2009.

navegue neste site Instituto Socioambiental O Instituto Socioambiental é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos destinada a defender bens e direitos relacionados ao meio ambiente e ao patrimônio cultural, além de atuar pela proteção dos povos indígenas do Brasil e da diversidade socioambiental. 1. Acesse o site www.socioambiental.org. 2. Clique no link Povos indígenas do Brasil, à direita. Aqui você vai encontrar um quadro dos povos indígenas do Brasil, com informações sobre demografia, localização, história e modo de vida de cada povo.

3. Continuando a navegação no site, vale a pena clicar no link Caracterização de Terras Indígenas. Ele informa a localização das Terras Indígenas por estado, a situação jurídica do território, as ameaças que enfrentam e os projetos que estão sendo desenvolvidos. 4. Outro link com informações interessantes é o de Unidades de conservação da Amazônia. Ele traz um mapa das áreas protegidas da Amazônia por estado, com dados sobre as características geográficas de cada área e os riscos para a preservação. 5. No site você vai encontrar, ainda, notícias relacionadas aos povos indígenas e ao meio ambiente, abordando temas como energia nuclear e alimentos transgênicos.

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Helio Nobre/IDETI

• Espíritos protetores da comunidade Os povos indígenas cultuavam várias divindades. A maior autoridade religiosa na comunidade era o pajé, visto ao mesmo tempo como médico, sacerdote e sábio. Além de intermediar os contatos entre a comunidade e os espíritos, o pajé atuava como curandeiro: rezava e curava com plantas de uso medicinal. Nas tribos, as celebrações e os rituais religiosos eram constantes e serviam para indicar a chegada de certas épocas do ano, a vitória em um combate com outra tribo, agradecer aos espíritos protetores ou marcar momentos de passagem na vida da comunidade.

Os índios tupis

Renata Carvalho/Ag. A Tarde/Futura Press

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Os tupis viviam espalhados pelo litoral sul-americano desde a Venezuela até o Rio da Prata, no sul do continente. Eles dividiam-se em tupinambás, caetés, potiguares e outros grupos menores. Estima-se que na época da chegada dos portugueses a sociedade tupi reunisse aproximadamente 1 milhão de pessoas. Os tupis eram seminômades e viviam em aldeias. Cada aldeia tinha em média 500 a 750 habitantes. Na aldeia, as mulheres cuidavam das tarefas da casa e das plantações. A confecção de enfeites de penas, vasos de cerâmica, cestos, potes funerários, entre outros objetos, era realizada por homens e mulheres. Os homens fabricavam armas e ferramentas agrícolas e eram responsáveis pela guerra e pela caça. Os tupis praticavam uma agricultura rudimentar. Eles plantavam, entre outras coisas, milho, abacaxi, banana, batata-doce, amendoim e mandioca, o principal produto da sua alimentação. Os tupis também eram excelentes pescadores e caçadores.

Índia kaxinawá trançando folha de buriti para fazer um cesto. Aldeia Rio Jordão, Acre, foto de 2003.

Índios pataxós dançam o Awê na abertura dos Jogos dos Povos Indígenas. Salvador, Bahia, 2006. Você já deve ter visto pela TV alguma celebração indígena como essa da foto, quando toda a comunidade dança e enfeita os corpos com belas pinturas e usam muitos adornos na cabeça, pescoço, braços e pernas.

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A guerra era um costume central da cultura tupi. Guerrear era uma prática ritual, vista como um meio de vingar os parentes mortos e de afirmar a força e a liderança da tribo. Depois da guerra e da captura do inimigo vinha a antropofagia, um ritual de sacrifício humano que deixou os europeus perplexos. Na cultura guerreira dos tupis, derrotar o inimigo na guerra e devorá-lo em um ritual antropofágico significavam a ocasião de maior triunfo. Como o ritual era realizado? O prisioneiro era conduzido à aldeia inimiga, onde permanecia vivendo com o grupo por alguns dias e até alguns meses. Nesse período, havia danças, rezas, e o prisioneiro recebia todos os cuidados. O dia do sacrifício era uma data de muita festa na tribo, celebrada com um grande banquete, do qual participavam convidados de outras aldeias e o próprio prisioneiro. Ao final, ele era morto e seu corpo cortado em pedaços, que eram cozidos e repartidos entre os presentes. Para o prisioneiro, morrer em combate era um meio de unir-se aos ancestrais; para os vencedores, comer a carne do inimigo era uma maneira de assimilar sua força e coragem e vingar a morte de parentes.

RePRoDução - bIblIoteCa Do muSeu PaulISta, São Paulo

• A guerra e a antropofagia

Ilustração representando um ritual antropofágico, retirada da obra Duas viagens ao Brasil, de Hans Staden, Marburgo, 1557. Biblioteca do Museu Paulista, São Paulo. Entre os cronistas que descreveram o ritual antropofágico, podemos citar o marinheiro inglês Knivet e o soldado alemão Hans Staden, dois europeus que estabeleceram contato com povos indígenas do sudeste do Brasil.

Hans Staden Nacionalidade: BRA Direção: Luiz Alberto Pereira Ano: 2000 Duração: 92 min

RePRoDução

vale a pena assistir

O filme conta a história de Hans Staden, soldado alemão que veio para o Brasil combater tribos indígenas e explorar árvores de pau-brasil. Em 1550, seu navio naufragou no litoral de Santa Catarina. Em busca de um emprego, Hans chegou a São Vicente. O objetivo era juntar dinheiro para poder retornar à Europa. Em 1554, Hans foi surpreendido por um grupo de índios tupinambás no litoral fluminense e acabou preso. Por pouco não foi vítima de uma cerimônia antropofágica. Com muita dificuldade, conseguiu provar que não era português e foi poupado. Hans Staden viveu nove meses com os indígenas até ser resgatado por um navio francês e retornar à Europa. Trata-se de um dos poucos filmes na história do cinema nacional em que a língua falada pelos atores é o tupi.

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Helio Nobre/IDETI

Sofia Colombi

Fabio Colombini

À esquerda, jovem indígena do povo Saterê-Maué, aldeia Inhaã-Bé, em Igarapé do Teiú, Manaus; no centro, índio do povo Barasano tocando flauta de pã, aldeia Rouxinol, Igarapé Tarumã-Açu, Manaus; ao lado, índia karajá, do povo Iny, habitante da Ilha do Bananal, maior ilha fluvial do mundo, localizada na divisa dos estados do Tocantins e Mato Grosso. Fotos de 2010.

É uma tarefa difícil determinar qual é a população total de índios no país. De acordo com levantamentos de órgãos do governo, a população indígena oscila entre 450 mil e 700 mil. Mesmo não havendo dados demográficos confiáveis, o fato é que grande parte dos povos indígenas foi dizimada depois de 1500. Os povos indígenas do Brasil atual estão distribuídos em 234 povos, que falam 180 línguas diferentes e vivem espalhados por todo o território nacional. A maior parte deles vive nas Terras Indígenas (TI), terras coletivas demarcadas pelo governo federal para o usufruto exclusivo das comunidades indígenas. Muitas Terras Indígenas não foram ainda regularizadas pelo governo. Mesmo as já demarcadas sofrem ataques constantes de mineradores, pescadores, caçadores, madeireiros e posseiros, e algumas delas ainda são cortadas por estradas e ferrovias. Frequentemente, os índios estão envolvidos em conflitos pela posse da terra. Depois de séculos em que perderam grande parte de suas terras e de sua cultura tradicional, os índios resistem. Lutam para manter suas terras, para preservar sua língua e seus costumes e para garantir meios de sobrevivência sem perder sua identidade.

Dida Sampaio/Agência Estado

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Os índios do Brasil de hoje

A índia Tuire Kaiapó discute com o representante da Fundação Nacional do Índio (Funai), Aloysio Guapindaia, durante audiência pública sobre os impactos da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). Brasília, dezembro de 2009.

Saiba mais Terras Indígenas A definição de Terras Indígenas está no parágrafo 1º, art. 231 da Constituição Federal: “São aquelas por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e necessárias a sua reprodução física

e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”. O parágrafo 2º do mesmo artigo estabelece ainda que “as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes”.

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Réplica de habitação cherokee em Oklahoma, nos Estados Unidos.

Sabugueiro Arbusto nativo da América do Norte que produz um fruto comestível.

Amaranto Planta que produz sementes comestíveis.

Indígenas da América do Norte Você já assistiu a algum filme americano de faroeste? Nesses filmes, os vilões geralmente são ladrões de bancos ou de fazendas ou ainda índios que, a cavalo, atacam famílias indefesas nas estradas do velho oeste americano. Pergunte aos seus pais e avós que lembranças eles têm desses filmes. Com certeza, eles devem ter visto muitos deles. Da mesma forma que a Mesoamérica e a América do Sul, a parte norte do continente era habitada por muitos povos, como os cherokees e os apalaches. Nessa parte da América, como ocorreu também no resto do continente, a maior parte da população indígena foi dizimada pelos colonizadores. A sobrevivência também era a grande preocupação dos indígenas dessas regiões. O temor que eles tinham da escassez de alimentos aparecia na religião, nas artes e nas lendas, que eram repetidas às novas gerações. Os índios da América do Norte consumiam grande variedade de comidas. Os alimentos variavam em função do local em que as comunidades se estabeleciam e dos recursos de que dispunham para obtê-los. Quase todos os grupos foram, no início, coletores e caçadores, tornando-se gradativamente agricultores.

Questões 1. Por que a sobrevivên-

Ingalik

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Kwakiutl Nootka

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Chipewyan

Beaver Montagnais -naskapi

Cree Sarcee

Nez Perce

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Carrier

Chinook

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Pé Negro

Micmac Abenaki

Ojibwa Menominee

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Mandan Huron Sauk Yurok Modoc Crow Sioux Susquehannock Karok Shoshone Cheyenne Pomo Pawnee Shawnee Ute Arapaho Cherokee Paiute Yokuts Kiowa Catawba Navajo Osage Chickasaw Chumash Hopi lo Wichita OCEANO b Mohave ue Comanche Caddo Papago P ATLÂNTICO Choctaw Creek OCEANO Apache Apalache Natchez PACÍFICO CER Timucua C ÂN DE Pima PICO Coahuilteca TRÓ Calusa C

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p e s q u i s a s o b re o s atuais povos indígenas dos Estados Unidos. Procurem saber quais povos existem, quantos são, onde vivem e como é o seu modo de vida. Façam um relatório com o resultado da pesquisa.

Tsimshian

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3. Em grupo, façam uma

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2. Podemos afirmar que cherokees e apalaches tinham uma alimentação específica? O que definia o tipo de alimentação de cada um deles?

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cia era uma preocupação constante dos antigos habitantes da América?

FERNANDO JOSÉ FERREIRA

OS POVOS INDÍGENAS DA AMÉRICA DO NORTE

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

NATIVESTOCK.COM/MARILYN ANGEL WYNN/GETTY IMAGES

ENQUANTO ISSO...

Cora Huasteca Huichol

660 km

Fonte: Atlas da história do mundo. São Paulo: Folha de S. Paulo/Times, 1995. p. 145.

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rapidamente, obrigando essas populações a migrar constantemente em busca de novas terras. Eles cultivavam abóbora, girassol, milho, feijão e morango. As aldeias apalaches mantinham em minas ou fossos cavados uma reserva de alimentos defumados ou desidratados para épocas de escassez. As moradias apalaches eram erguidas nas margens dos rios, formando pequenas aldeias, que se deslocavam à medida que os membros do grupo partiam em busca de novas terras. As casas, predominantemente quadradas ou retangulares, também eram feitas de madeira e barro e tinham cobertura de casca de cipreste, bambus ou folhas de palmeira. Cherokees e apalaches beneficiavam-se das áreas florestais da região para caçar, coletar frutos e obter madeira para a construção de casas e para a confecção de ferramentas. Ossos, conchas e pedras serviam também para a fabricação de instrumentos que facilitassem as tarefas cotidianas.

PVDE/Rue des Archives/Other Images

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Os cherokees viviam na parte leste dos atuais Estados Unidos. Eles aproveitaram primeiramente os pinheiros das florestas da região, dos quais extraíam madeira e sementes comestíveis. Aos poucos, eles passaram a plantar em áreas pantanosas, onde cultivavam, por exemplo, sabugueiros, abóboras e amaranto. As casas cherokees eram geralmente circulares e abrigavam apenas uma família. A estrutura básica de madeira era preenchida com barro para garantir isolamento e proteção contra dificuldades climáticas. No interior das casas, ao centro, havia uma pedra, onde acendiam o fogo para cozinhar e aquecer o ambiente. No verão, algumas famílias se transferiam para casas coletivas, maiores e mais arejadas, revestidas externamente apenas por madeira, folhagem e peles. Os apalaches, por sua vez, viviam mais ao sul, próximo do Golfo do México. Eles se beneficiavam do clima local, bastante úmido, e da proximidade dos lagos e rios que cortam a região. O solo arenoso da região, no entanto, se esgotava

Índios cherokees antes do início do lacrosse, jogo de bola típico dos nativos americanos. Reserva cherokee de Qualla, Carolina do Norte, Estados Unidos, foto de 1888.

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atividadeS

elas formem um texto contínuo e coerente.

a) Os primeiros vestígios de agricultura na América datam de 6000 a.C., situados na região dos atuais México e Equador. b) Os primeiros grupos humanos na América garantiam sua sobrevivência com a caça, a pesca e a coleta, e tinham que se deslocar constantemente em busca de áreas mais abundantes em recursos naturais. c) Com o tempo, novas técnicas e ferramentas foram sendo introduzidas na agricultura e, nas áreas próximas aos campos de cultivo, surgiram assentamentos humanos que deram origem às primeiras cidades na América. d) Uma verdadeira revolução, porém, ocorreria com a introdução da agricultura, descoberta que proporcionou aos grupos humanos uma fonte de alimentos mais segura e permitiu planejar melhor as atividades das aldeias. e) Os agricultores cultivavam, entre outros produtos, milho, algodão, feijão, tomate, mandioca e batata-doce. f) Não se sabe com certeza quando o primeiro homem pisou em solo americano, mas se acredita que isso tenha ocorrido no mínimo há 14 mil anos.

3. Complete no caderno o quadro sobre as po-

pulações indígenas que habitavam o Brasil antes de 1500.

Índios do Brasil antes de 1500 Número aproximado de habitantes Principais grupos e etnias Formas de vida e organização política

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1. Em seu caderno, ordene as frases para que

a maior cidade da América pré-colombiana, que cresceu e se embelezou beneficiada pelos tributos cobrados das províncias dominadas.

Formas de obtenção de alimentos Técnicas utilizadas na produção de utensílios Características religiosas

Ampliar o aprendizado 4. Leia o texto sobre a importância do quipo na sociedade inca, observe a imagem e responda às questões.

2. Escreva à frente de cada frase o nome da cidade ou da civilização correspondente.

A palavra quipo signi“ fica nó e dar nó; referia-se

a) Habitavam a Mesoamérica, organizavam-se em cidades-Estado e foram um dos primeiros povos da história a desenvolver a noção do zero e a criar um símbolo para ele. b) Formada por volta do ano 100, é considerada a primeira cidade da Mesoamérica, que tinha como construção central a Pirâmide do Sol. c) Originários do povo quíchua, eles se instalaram na região dos Andes, onde construíram o maior império da América do Sul pré-colombiana. d) Ocupavam o litoral atlântico da América do Sul, eram seminômades, grandes guerreiros, caçadores e pescadores. e) Instalaram-se na região do Lago Texcoco, onde fundaram a cidade de Tenochtitlán,

também a cálculos, porque estes eram feitos por meio de nós, em um conjunto de fios de diferentes espessuras, cada um deles com um significado próprio. Assim, o ouro era representado por um fio amarelo, a prata por um fio branco, os guerreiros por um fio vermelho. Os nós, segundo sua posição, tinham valor de unidade, de dezena, centena ou milhar... Todos esses nós alinhavam-se nos diferentes fios

aKg-ImageS/album/latInStoCK - SmPK, muSeum FÜR vÖlKeRKunDe, beRlIm

Compreender os conteúdos

Quipo inca, c. 1430- -1532. Museu de Etnologia de Berlim, Alemanha.

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tão bem quanto se alinhavam, em colunas, os algarismos no grande livro de um contador. E eram, de fato, verdadeiros contadores imperiais aqueles homens intitulados quipocamayocs, aos quais cabia a guarda dos quipos. Podemos dizer que tudo quanto pode ser enumerado, o era por esse meio.

5. Observe a imagem abaixo. Como são as

pessoas que nela aparecem? De que maneira elas se vestem? Como são seus enfeites? Será que elas usam esses trajes no dia a dia? Podemos dizer que essa imagem mostra a influência da sociedade industrial sobre as culturas tradicionais? Por quê? Eraldo Peres/AP/Glowimages

a) Que povo pré-colombiano criou o quipo? Para que ele servia? b) Como era possível fazer cálculos utilizando o quipo? c) Quem eram os quipocamayocs? Como o texto os define? d) Descreva o quipo mostrado na página anterior. Em seguida, liste os objetos que utilizamos nos dias de hoje para fazer contas e compare esses objetos com o quipo da foto.

Índios caiapós dançam na frente do Congresso Nacional, em Brasília, durante protesto contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, 2011.

História feita com arte 6. A imagem a seguir é um detalhe de um mural do artista mexicano Diego Rivera, produzido em 1945. Observe-o atentamente e responda às questões.

a) Esse mural pode ser considerado um documento histórico asteca? Justifique.

b) Descreva o mural. É possível relacionar alguns de seus elementos ao conteúdo estudado neste capítulo? Quais? c) Qual teria sido a intenção do artista ao representar a antiga capital asteca com essas características?

D.R. © 2011 Banco de México, “Fiduciario” en el Fideicomiso relativo a los Museos Diego Rivera y Frida Kahlo. Av. Cinco de Mayo No. 2, Col. Centro, Del. Cuauhtémoc 06059, México, D.F. - Palacio Nacional, Cidade do México

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ACOSTA, José de. História natural e moral das Índias, 1590. In: Coletânea de documentos históricos para o primeiro grau. São Paulo: SE/Cenp, 1980. p. 123-124.

A grande cidade de Tenochtitlán, mural de Diego Rivera, 1945. Palácio Nacional, México.

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Avalie o seu aprendizado Atividades Aplique o que você aprendeu 1. Em seu caderno, complete o quadro a seguir sobre os principais teóricos do absolutismo.

Período Principais em que viveu e ideias nacionalidade

Nicolau Maquiavel Thomas Hobbes

5. Sobre o Renascimento cultural, responda às questões a seguir.

Jacques Bossuet

2. Redija um pequeno texto sobre as monar-

quias absolutistas na Espanha, em Portugal, na França e na Inglaterra. Considere as seguintes questões.

a) O que foram as monarquias absolutistas europeias? b) Quais os interesses dos grupos sociais envolvidos no processo de centralização do poder monárquico? c) Quais foram as principais consequências econômicas e políticas desse processo?

3. Observe o esquema a seguir sobre o mercantilismo e escreva um pequeno texto sobre essa política econômica e suas práticas. Mercantilismo Balança comercial favorável Protecionismo alfandegário Metalismo Colonialismo

4. Leia as afirmações a seguir sobre as navegações espanholas e, em seguida, corrija em seu caderno as incorretas.

a) O início das navegações feitas pela Espanha foi facilitado pela centralização do Estado espanhol e pela vitória do país nos conflitos contra os árabes na Península Ibérica. b) Cristóvão Colombo foi um navegador espanhol importante no processo de descoberta da América.

a) O que foi o humanismo? b) Quais as diferenças entre a teoria geocêntrica e a heliocêntrica? c) Quais foram as principais mudanças ocorridas na pintura e na escultura? Cite pelo menos dois artistas que se destacaram nesse período. d) Que mudanças ocorreram na Europa com a criação dos tipos móveis metálicos e da imprensa?

6. Leia as afirmações a seguir sobre as ações de Martinho Lutero e de João Calvino e, em seu caderno, organize-as em ordem cronológica.

a) O calvinismo se consolida na Europa como uma corrente cristã cujas principais características são a crença na predestinação e a prosperidade material vista como prova da graça divina. b) O luteranismo espalha-se pela Alemanha e por outros países europeus, ganhando novos adeptos. c) Martinho Lutero produz e divulga em Wittenberg as suas 95 teses, criticando algumas práticas e dogmas da Igreja Católica. d) João Calvino, que era um estudioso da obra de Martinho Lutero, foge da perseguição que sofria na França e produz sua própria obra de crítica ao catolicismo. e) Martinho Lutero foi excomungado da Igreja Católica e suas obras foram proibidas. Como resposta, ele cria uma nova corrente cristã: o luteranismo. f) Martinho Lutero abandona os estudos de direito e ingressa num mosteiro agostiniano para se dedicar à vida religiosa.

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Teórico

c) As expedições de Colombo só foram possíveis após a confirmação, feita por cientistas da época, de que a Terra tinha o formato esférico. d) O nome dado aos nativos da América foi “índios”, pois Colombo acreditava ter chegado às Índias, quando na verdade havia chegado à atual Ilha de Guanaani, na América Central. e) Em suas viagens, Cristóvão Colombo atingiu seu principal objetivo: chegar à Ásia.

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7. Em seu caderno, elabore uma ficha sobre a

Contrarreforma considerando as seguintes informações.

10. Leia o trecho da música composta por Jorge

a) O que foi? b) Quando e onde ocorreu? c) Fatores que deram início à Contrarreforma. d) Principais consequências desse processo.

8. Explique o sentido da seguinte afirmação:

“Os povos da América pré-colombiana eram heterogêneos em relação às suas culturas, economias e religiões e chegaram a estabelecer conflitos e disputas territoriais entre eles”.

9. No diagrama a seguir há cinco palavras

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relacionadas ao Império Inca. Encontre-as e escreva o significado delas no caderno. F M F U A Z K L U I M

T I U I E X Q M D M I

G T L O M B J E A A T

H A Y L L U B N M C T

A K A N A A N M A H K

A U P M P I K I C U A

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L L V N M A B M I U S S D G I C S P G H C A S T A N P W R T R A K A S T I E R Z I N B E Y I C C H U R A T B A

Ben Jor e responda às questões.

Antes que o homem aqui chegasse As terras brasileiras Eram habitadas e amadas Por mais de 3 milhões de índios Proprietários felizes Da Terra Brasilis Pois todo dia era dia de índio Todo dia era dia de índio Mas agora eles só têm O dia 19 de abril

BEN JOR, Jorge. Todo dia era dia de índio. Disponível em http://letras.terra.com.br. Acesso em 27 jun. 2011.

a) Segundo a música, antes da chegada de Cabral, quem habitava o Brasil? Quantos eles eram e como se sentiam em relação ao local onde viviam? b) Qual é a comparação feita entre a situação dos índios antes do chamado “descobrimento do Brasil” e nos dias atuais? Você concorda com essa afirmação? c) Como os europeus que chegaram ao Brasil em 1500 foram chamados nessa canção? Por que o cantor estabeleceu essa diferenciação entre os europeus e os nativos?

O que eu sei 11. Avalie o seu aprendizado nos seis objetivos a seguir. A aprendizagem pode ser plena, suficiente ou insuficiente.

Aprendizagem Aprendizagem Aprendizagem plena suficiente insuficiente 1. Definir as monarquias absolutistas e identificar os principais teóricos do absolutismo. 2. Identificar os principais objetivos das grandes navegações e reconhecer as inovações tecnológicas do período. 3. Descrever as principais inovações culturais e científicas do Renascimento e identificar os principais artistas do período. 4. Caracterizar os movimentos da Reforma e da Contrarreforma e as mudanças religiosas ocorridas na Europa. 5. Identificar importantes características culturais e econômicas que caracterizaram os povos pré-colombianos na América. 6. Valorizar a cultura dos diversos povos indígenas e reconhecer a importância deles em nosso cotidiano.

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Patrícia Ramos Braick Mestre em História das Sociedades Ibero-Americanas e Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Professora do Ensino Médio em Belo Horizonte, MG.

estudar História

Das origens do homem à era digital

8 1a edição

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© Patrícia Ramos Braick, 2011

Coordenação editorial: Maria Raquel Apolinário, Nubia Andrade e Silva Edição de texto: Ana Claudia Fernandes, Carlos Eduardo de Almeida Ogawa, Pamela Shizue Goya, Nubia Andrade e Silva, Maria Raquel Apolinário, Edmar Ricardo Franco, Eduardo Augusto Guimarães Assessoria didático-pedagógica: João Carlos Agostini, Thelma Cadermatori Figueiredo de Oliveira, Ana Rosa Cloclet da Silva, Sandra Machado Ghiorzi, Bianca Barbagallo Zucchi, Paulo Ferraz de Camargo Oliveira, Eliane Tavelli Alves, Thiago Boim, Joana Acuio, Liliane Souza Amaral, Maria Lúcia Pompein Pessoa Preparação de texto: Mitsue Morrisawa Coordenação de design e projetos visuais: Sandra Botelho de Carvalho Homma Projeto gráfico e Capa: Mariza de Souza Porto Arte e fotografia: Café torrado, pintura de Jean-Baptiste Debret, 1823 © Reprodução - Museus Castro Maya/Div. Iconografia, Rio de Janeiro Coordenação de produção gráfica: André Monteiro, Maria de Lourdes Rodrigues Coordenação de arte: Maria Lucia Couto Edição de arte: Renata Susana Rechberger Edição de infografias: William Hiroshi Taciro (coordenação), Daniela Máximo, Fernanda Fencz, Mauro César C. Brosso, Paula Paschoalick (pesquisa) Ilustrações: Paulo Manzi, Roko, Vicente Mendonça Cartografia: Anderson de Andrade Pimentel, Alessandro Passos da Costa, Fernando José Ferreira Coordenação de revisão: Elaine Cristina del Nero Revisão: Afonso N. Lopes, Ana Cortazzo, Ana Maria C. Tavares, Márcia Leme, Maristela S. Carrasco, Nancy H. Dias, Luís M. Boa Nova Pesquisa iconográfica: Aline Chiarelli, Camila D’Angelo, Etoile Shaw, Leonardo de Sousa Klein, Odete Ernestina Pereira As imagens identificadas com a sigla CID foram fornecidas pelo Centro de Informação e Documentação da Editora Moderna. Coordenação de bureau: Américo Jesus Tratamento de imagens: Arleth Rodrigues, Bureau São Paulo, Fabio N. Precendo, Pix Art, Rodrigo Fragoso, Rubens M. Rodrigues, Wagner Lima Pré-impressão: Alexandre Petreca, Everton L. de Oliveira Silva, Hélio P. de Souza Filho, Marcio H. Kamoto Coordenação de produção industrial: Wilson Aparecido Troque Impressão e acabamento:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Braick, Patrícia Ramos Estudar história : das origens do homem à era digital / Patrícia Ramos Braick. -- 1. ed. -São Paulo : Moderna, 2011.

Obra em 4 v. para alunos do 6o ao 9o ano. Bibliografia.

1. História (Ensino fundamental) I. Título.

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Índices para catálogo sistemático: 1. História: Ensino fundamental 372.89 ISBN 978-85-16-07099-1 (LA) ISBN 978-85-16-07100-4 (LP) Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados EDITORA MODERNA LTDA. Rua Padre Adelino, 758 - Belenzinho São Paulo - SP - Brasil - CEP 03303-904 Vendas e Atendimento: Tel. (0_ _11) 2602-5510 Fax (0_ _11) 2790-1501 www.moderna.com.br 2011 Impresso no Brasil 1 3 5 7 9 10 8 6 4 2

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Apresentação O

s livros da coleção Estudar história foram feitos para os jovens alunos do século XXI, que, como você, vivem em um mundo conectado pela internet e pelos telefones celulares, dominado pelas imagens e pela explosão de informações que chegam via web. São tantos os conteúdos armazenados nos 130 milhões de sites disponíveis até o momento na internet que, quando você vai pesquisar um assunto, fica desorientado com a imensidão de opções que aparecem. E você, admirado com esse mundo tecnológico, se pergunta: “Para que serve a escola?”; “Por que preciso estudar?”; “Por que é importante estudar história?”. Algumas respostas você mesmo daria: “Para dominar o uso da nossa língua, aprender a resolver problemas, ler e compreender textos etc.”. Tudo isso está correto. Mas hoje, diante de tantas novidades da ciência e da indústria, a escola tem também o desafio de ajudá-lo a ser sujeito e não objeto das novas tecnologias. Com isso, queremos dizer, por exemplo, que não basta saber operar as ferramentas de pesquisa na internet. É necessário, sobretudo, saber avaliar e selecionar criticamente as informações armazenadas para utilizá-las corretamente no cotidiano. Em outras palavras, o uso das novas tecnologias deve ajudá-lo a analisar e comparar textos e imagens, a formular hipóteses e argumentos, a confrontar ideias e a ouvir e a aprender com os outros. Foi pensando em tudo isso que desenvolvemos os livros desta coleção. Aqui você vai encontrar diferentes tipos de leitura, tirinhas, sugestões de filmes, roteiros para navegação em sites, infográficos, entre muitas outras coisas que vão ampliar seu gosto pela leitura, instigar sua curiosidade pelo conhecimento e ajudá-lo a atuar criticamente na sociedade, compreendendo a importância de ser um cidadão solidário, tolerante, participativo e amigo da natureza. Um ótimo estudo!

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A organização do seu livro Este livro está dividido em 15 capítulos. Veja abaixo as diversas partes que compõem o seu livro. Abertura de capítulo Dupla de páginas com imagens e textos instigantes que permitem a reflexão e o debate em sala de aula. O presente é relacionado com o tema do capítulo trazendo o estudo da história para mais perto do seu dia a dia.

Boxes Ao longo do livro você encontrará vários tipos de boxes: Saiba mais (textos que ampliam e enriquecem o texto didático), Biografia (com detalhes da vida de personagens anônimos e famosos da história), Navegue neste site (roteiros de passeios virtuais em sites de diversas instituições) e Vale a pena assistir (dicas de filmes que enriquecem e problematizam o aprendizado dos temas).

Questões Mapas, fotografias, textos e ilustrações podem estar acompanhados de questões que complementam e ampliam o conhecimento.

Glossário As palavras que podem trazer mais dificuldade para serem compreendidas estão em boxes com explicações ao lado do texto.

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Amplie seu conhecimento Nesta seção, você terá contato com materiais diversos (ilustrações, mapas, infográficos e textos), que tratam de um tema com um pouco mais de profundidade. Ao final, as questões irão ajudá-lo a extrair o máximo da leitura.

Enquanto isso... Você sabia que na Copa do Mundo de 1950, disputada no Brasil, a seleção canarinho perdeu a final para o Uruguai? Nesta seção você irá estudar um pouco mais sobre importantes acontecimentos históricos em diferentes países e estados brasileiros, além de conhecer povos e culturas que surgiram próximos no tempo, mas em lugares diferentes.

Atividades As propostas de atividades estão divididas em dois grupos: em Compreender os conteúdos você terá a oportunidade de revisar os pontos principais do capítulo; no Ampliar o aprendizado você irá interpretar textos, estabelecer relações entre conceitos, fazer pesquisas e analisar diferentes tipos de obras de arte na seção História feita com arte.

Avalie o seu aprendizado Nesta seção você vai rever os conteúdos tratados nos capítulos realizando diferentes tipos de atividades. Com a ficha de autoavaliação, você vai perceber quais estudos foram bem aproveitados e quais não ficaram claros e precisam ser retomados.

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Nilton Fukuda/Agência Estado

Sumário Capítulo 1 A EXPANSÃO DA AMÉRICA PORTUGUESA, 10 A expansão para o interior, 12 • O desenvolvimento da pecuária, 13 O comércio e a figura do vaqueiro, 14 • A pecuária no Sul, 15 Amplie seu conhecimento — O papel da pecuária na expansão do território, 16 A ação missionária dos jesuítas, 18 A catequização dos nativos, 19 • A expulsão dos jesuítas, 19

As bandeiras paulistas, 20 A busca por “negros da terra”, 21 • Em busca dos metais preciosos, 22 • Como viviam os bandeirantes?, 22

A colônia portuguesa cresceu, 23 • As rebeliões coloniais, 24 A Revolta de Beckman, 24 • A Guerra dos Mascates, 25

João Prudente/Pulsar Imagens

Atividades, 26

Capítulo 2 A mineração no Brasil, 28 Ouro: solução para a crise, 30 • Em busca das minas, 31 As primeiras descobertas de ouro, 31 A corrida do ouro, 32 A Guerra dos Emboabas, 33 • A criação da capitania de Minas Gerais, 33 O controle sobre a mineração, 34 Os impostos nas minas, 34 • A revolta de Filipe dos Santos, 35

A descoberta de diamantes, 35 • A prática do contrabando, 36 • O trabalho de mineração, 36 • O abastecimento das minas, 37

Giraudon/The Bridgeman Art Library/Grupo Keystone Museu da Picardia, Amiens

De Salvador para o Rio de Janeiro, 37 • Tropas e monções, 38 A sociedade mineira, 39 A elite da sociedade mineradora, 39 • As camadas intermediárias da sociedade, 40 • A população pobre livre e os escravos, 40 Vida cotidiana, 41 Irmandades e ordens terceiras, 41 • A arte barroca de Minas, 42 Enquanto isso... — Música popular no Brasil do século XVIII, 43 Atividades, 44

Capítulo 3 AS REVOLUÇÕES INGLESAS DO SÉCULO XVII, 46 Uma nova Inglaterra, 48 • A dinastia Tudor, 49 O reinado de Elizabeth I, 49 • A economia durante a dinastia Tudor, 50 • A questão religiosa continua, 51

A dinastia dos Stuart, 51 O Parlamento e a nova sociedade, 52 • O desgaste da monarquia Stuart, 52 • A guerra civil, 53 Amplie seu conhecimento — O Parlamento inglês no século XVII, 54 • A execução do rei, 56 A República Puritana, 57 • A Restauração Stuart, 58 A Revolução Gloriosa, 58

Pedro Ugarte/AFP

Atividades, 59

Capítulo 4 O ILUMINISMO, 60 A filosofia iluminista, 62

Origens e características do iluminismo, 63

Os principais pensadores iluministas, 65 John Locke, 65 • Adam Smith, 66 • Pensadores franceses, 67

Déspotas esclarecidos, 70

O despotismo esclarecido em Portugal, 71

Amplie seu conhecimento — O terremoto em Lisboa, 72 Atividades, 74

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Lu Guang/Contact Press Images

Capítulo 5 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, 76 Uma nova revolução na Inglaterra, 78

Um reino mercantil, 78 • Recursos naturais, 79 • Do campo para a cidade, 79 Antes do sistema de fábrica, 80 O sistema doméstico e as manufaturas, 80 O moderno sistema industrial, 81 Do artesão ao operário, 81 A tecnologia fabril, 82 As primeiras máquinas, 82 • A todo vapor, 83 • A ferro e fogo, 84 A questão ambiental, 84 • Revolução nos transportes, 85 • A sociedade industrial, 86 O regime de trabalho, 86 • As crianças nas fábricas, 86 A organização dos trabalhadores, 87 A formação dos sindicatos, 87 • O movimento cartista, 88 • A legislação trabalhista, 88 Grandes e caóticas cidades, 89 As vilas operárias, 89 Enquanto isso... — Tentativas de industrialização na América portuguesa, 90

HERVÉ LEWANDOWSKI/ RMN/OTHER IMAGES MUSEU DO LOUVRE, PARIS

Gérard Blot/RMN/Other Images - Museu Nacional do Palácio de Versalhes

Jason Redmond/AP/Glowimages

Atividades, 92 Avalie o seu aprendizado, 94

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Capítulo 6 A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS, 96 A política colonial inglesa, 98

A Coroa decreta novas leis, 100 • As Leis Intoleráveis, 101 • O sentido da independência, 101 A independência dos Estados Unidos, 102 Artigos da Confederação, 103 • A Constituição norte-americana, 103 Depois da independência, 104 Atividades, 105

Capítulo 7 A REVOLUÇÃO FRANCESA, 106 A sociedade francesa no século XVIII, 108

Transformações em curso, 109 • A difusão das ideias iluministas, 110 A crise da monarquia, 111 Os Estados Gerais e a Assembleia Nacional Constituinte, 112 O início da revolução, 113 A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 114 A monarquia constitucional, 115 A Assembleia Legislativa, 116 • A guerra, 116 A república francesa, 117 Os jacobinos no poder, 118 • O golpe do termidor, 120 • O Diretório, 120 • O 18 de brumário, 121 O cotidiano durante a revolução, 122 Cidadãs, mas nem tanto..., 123 Um balanço da revolução, 124 Um golpe na aristocracia e no clero, 125 • Sombras e luzes da revolução, 125 Atividades, 126

Capítulo 8 O IMPÉRIO NAPOLEÔNICO E O CONGRESSO DE VIENA, 128 Napoleão Bonaparte no poder, 130 O governo Bonaparte, 131 • A caminho do trono, 133 O Império Napoleônico, 134 A administração do império, 135 • O Bloqueio Continental, 135 • A França durante o império de Napoleão, 136

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O fim do império de Napoleão, 137

Aizar Raldes/AFP

O governo dos cem dias, 138 O Congresso de Viena, 139 Atividades, 140

Capítulo 9 A INDEPENDÊNCIA DO HAITI E DAS COLÔNIAS ESPANHOLAS, 142 A independência do Haiti, 144 O Haiti hoje, 145

Crise na Espanha e mudanças na América, 146 Napoleão invade a Espanha, 147 A luta no México, 148 O México independente, 149

A emancipação da América Central, 150 A independência de Cuba, 151

As independências na América do Sul, 152

Reprodução - Deutsches Historisches Museum, Berlim

Reprodução autorizada por João Candido Portinari/Imagem do acervo do Projeto Portinari - Banco BBM, Salvador, BA

Bolívar, o mito, 153 • A independência do Uruguai, 154 Liberdade, liberdades, 155 Independência e abolição, 155 • Os índios nos novos Estados, 156 Atividades, 157

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CapítulO 10 O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, 158 A crise do Antigo Regime, 160 • A fragilidade portuguesa, 161

O reforço do controle colonial, 162 • As reformas pombalinas, 162 A Conjuração Mineira, 164 O início da conspiração, 164 • O movimento da elite mineira, 165 • Traição e repressão, 165 • As mulheres na Conjuração Mineira, 166 A Conjuração Baiana, 167 O iluminismo em Salvador, 168 • Eclosão e derrota do movimento, 168 Tensões na metrópole, 169 Fugindo das tropas francesas, 169 A corte portuguesa no Brasil, 170 O fim do exclusivo metropolitano, 170 • Negócios com a Inglaterra, 171 • Mudanças no Rio de Janeiro, 172 A Revolução Pernambucana de 1817, 174 • A volta do rei para Portugal, 175 Rumo à independência, 176 A proclamação da independência, 177 • As guerras de independência, 177 Enquanto isso... — Foices e facões na Batalha do Jenipapo, 178 Atividades, 180 Avalie o seu aprendizado, 182

CapítulO 11 As revoluções liberais e os movimentos nacionalistas, 184 A nova composição da cidade, 186 • Novas ideias circulam pela Europa, 187 • As Revoluções de 1820 e 1830, 188 Os Três Dias Gloriosos, 188 As Revoluções de 1848, 189 A Segunda República na França, 189 • A Primavera dos Povos, 190 Enquanto isso... — A Revolução Praieira, 191 O século XIX e a arte, 192 A pintura, 192 • A literatura, 193 A unificação da Itália e da Alemanha, 194 A unificação da Itália, 194 • A unificação alemã, 196 Atividades, 197

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The Bridgeman Art Library/Grupo Keystone Coleção particular Reprodução - Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro Ricardo Azoury/Pulsar Imagens Win McNamee/Getty Images

CapítulO 12 AS LUTAS OPERÁRIAS E AS NOVAS TEORIAS POLÍTICAS, 198 Desdobramentos da industrialização, 200

Habitações precárias, 200 Os conflitos sociais, 201 • As lutas operárias e os sindicatos, 201 • As mulheres e o mundo do trabalho, 202 • As teorias sociais e políticas, 203 Os socialistas utópicos, 204 Enquanto isso... — O falanstério do Saí: uma utopia no Sul do Brasil, 206 • O socialismo científico, 207 • O anarquismo, 209 • Anarquismo X marxismo, 209 A Comuna de Paris, 210 Os cidadãos em armas, 211 • A guerra civil, 211 A realidade social expressa nas artes, 212 A pintura realista, 212 • A literatura realista, 213 Atividades, 214

CapítulO 13 BRASIL: O PRIMEIRO REINADO E AS REGÊNCIAS, 216 A organização do Estado brasileiro, 218

A Assembleia Constituinte de 1823, 219 • A Constituição de 1824, 220 A Confederação do Equador, 222 A derrota dos confederados, 223 A crise do governo de D. Pedro I, 224 A abdicação do imperador, 224 O período regencial (1831-1840), 225 Os partidos políticos, 226 • A Guarda Nacional, 227 • A reforma constitucional de 1834, 228 A Regência Una de Feijó, 229 • As revoltas regenciais, 230 Rusgas Cuiabanas: uma rebelião no Mato Grosso, 230 • Uma revolta na Amazônia: a Cabanagem, 231 • A Revolta dos Malês (1835), 233 • A Revolta dos Farrapos (1835-1845), 234 A Regência de Araújo Lima e o golpe da maioridade, 237 Atividades, 238

CapítulO 14 O SEGUNDO REINADO, 240 A política no Segundo Reinado, 242

O parlamentarismo às avessas, 243 O império do café, 244 O Vale do Paraíba, 245 • O Oeste Paulista, 246 • O Brasil não vivia apenas do café, 247 Ferrovias e indústrias, 248 A era Mauá, 249 A abolição do tráfico negreiro, 250 • A abolição gradual da escravidão, 251 Enquanto isso... ­— A revolta do Quebra-Quilos, 252 O trabalho livre no Brasil, 253 • A Guerra do Paraguai (1865-1870), 254 O Paraguai antes da guerra, 254 • Eclode o conflito, 255 A sociedade imperial, 256 • O fim da monarquia no Brasil, 257 Amplie seu conhecimento — A urbanização de Salvador, 258 Atividades, 260

CapítulO 15 OS ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX, 262 Federalismo X centralismo, 264 • A expansão dos Estados Unidos, 264

Ocupações, invasões e conflitos, 265 • O sonho dourado da Califórnia, 266 • O Homestead Act, 267 • Da diligência ao trem, 267 A guerra contra os índios, 268 A resistência indígena, 269 • Oeste longínquo e selvagem, 269 As diferenças entre o norte e o sul, 270 A Guerra Civil Americana, 271 • Um equilíbrio frágil, 271 • A questão escravista, 272 O sul separa-se da União, 273 • O confronto armado, 274 • A vitória do norte, 274 A reconstrução do país, 275 Atividades, 276 Avalie o seu aprendizado, 278

Sugestões, 280 Referências bibliográficas, 282

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CAPÍtULO

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As lutas operárias e as novas teorias políticas Manifestações de trabalhadores

BUENO, Gabriel. Setor de transportes faz greve de 24 horas na Grécia. Agência Estado, 26 set. 2011. Disponível em http://economia.estadao.com.br. Acesso em 26 set. 2011.

Louisa gouLiamaKi/afp

Filiados do Partido Comunista protestam, em frente ao Parlamento grego, contra as novas medidas de austeridade fiscal do governo. Atenas, Grécia, setembro de 2011.

causou grandes congestionamentos em Atenas, no momento em que aumenta a oposição às reformas do governo prometidas em troca de ajuda financeira. [...] As paralisações marcam o início de uma semana com vários protestos previstos contra as mais recentes medidas de austeridade do governo. [...] As duas principais centrais sindicais gregas – GSEE, do setor privado, e Adedy, do público – anunciaram uma greve geral do setor público para 5 de outubro e uma greve geral nacional para o dia 19 de outubro.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Milhares de trabalhadores do setor público da Grécia cruzaram os “ braços nesta segunda-feira (26), em uma greve de 24 horas. O protesto

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The Bridgeman Art Library/Grupo Keystone - Coleção particular Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Você deve se lembrar que em 2010 e 2011, Grécia e Espanha viraram assunto diário nos noticiários e nos cadernos de economia dos principais jornais do Brasil. Isso ocorreu porque os efeitos da crise econômica de 2008 foram muito fortes nos países mais pobres da zona do euro, como era o caso dessas nações do Mediterrâneo europeu. Com uma dívida externa muito elevada, Grécia e Espanha passaram a ser pressionadas pela União Europeia e pelo FMI para cortar os gastos públicos e aumentar os impostos, sob pena de não receberem um novo pacote de ajuda financeira. Os governos desses países, para cumprir o acordo, anunciaram o aumento da idade para aposentadoria, o congelamento de salários do setor público e o corte de benefícios sociais. Protestos de trabalhadores e de estudantes contra as medidas anunciadas tomaram conta dos dois países, acompanhados de greves convocadas pelas centrais sindicais e apoiadas por partidos de esquerda e organizações populares. Na sua opinião, quais semelhanças e diferenças existem entre as manifestações de hoje e as que ocorriam na Europa do século XIX? Na época já existiam sindicatos? Quais eram as principais reivindicações do movimento operário naquele período? Quais correntes políticas atuavam entre os trabalhadores? São as mesmas que existem hoje? As lutas, as organizações e as correntes do movimento operário europeu do século XIX são os temas deste capítulo.

Estivadores mobilizados nas docas de Londres, em 1889, durante a Grande Greve das Docas. A vitória dos trabalhadores nessa greve fortaleceu os sindicatos ingleses.

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As reformas urbanas

No século XIX, as sociedades europeias sofreram mudanças consideráveis. A industrialização avançou em vários países da Europa ocidental, consolidando a burguesia como classe dominante. O fim dos regimes absolutistas e o estabelecimento de governos liberais também a favoreceram. O direito de votar e de se candidatar a cargos públicos foi gradativamente ampliado para todos os cidadãos do sexo masculino, garantindo à burguesia as condições necessárias para interferir diretamente na vida política dos países. O desenvolvimento industrial fortaleceu a burguesia, mas também conduziu à formação de outra classe social: o proletariado urbano, isto é, o operariado. Eles trabalhavam principalmente nas fábricas, recebendo um salário que mal dava para suprir as necessidades básicas de sobrevivência. Não havia, contudo, vagas para todos. Muitos camponeses que migraram para as cidades a fim de fugir do desemprego causado pela modernização da agricultura acabaram formando um amontoado de pessoas que aguardavam para ocupar um lugar nas fábricas.

• Habitações precárias Na Inglaterra, onde a indústria se desenvolvia em ritmo acelerado, os operários recebiam salários muito baixos. As condições de vida das classes mais pobres eram muito difíceis, tanto no ambiente fabril quanto no ambiente doméstico. Bairros operários de Londres, Manchester e Birmingham, os principais centros industriais ingleses, refletiam a pobreza em que viviam os trabalhadores. A mesma situação de penúria também existia em outras cidades industriais da Escócia, da França e da Bélgica. As habitações onde viviam eram pequenas, e muitas famílias moravam em apenas um cômodo. Não havia água encanada e muitas vezes nem janelas ou qualquer tipo de luz e ventilação. O esgoto escoava no meio das ruas e juntava-se com o lixo das casas. As péssimas condições de higiene contribuíam para que doenças se espalhassem e se transformassem em verdadeiras epidemias.

Giraudon/The Bridgeman Art Library/ Grupo Keystone - Museu Carnavalet, Paris

No século XIX, a maior parte da população de cidades como Londres e Paris era formada de trabalhadores. Com o objetivo de modernizar e embelezar as cidades e, provavelmente, de evitar levantes operários, autoridades políticas e planejadores urbanos se dedicaram a promover reformas que redesenhavam o traçado original das grandes capitais europeias. As reformas urbanas foram bastante evidentes em Paris, onde foram construídos bulevares e largas avenidas que facilitavam a circulação de pessoas, carros de tração animal e tropas militares quando fosse necessário conter um levante.

Desdobramentos da industrialização

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Saiba mais

Fotografia de Charles Marville mostrando casebres da Rua Champlain, em Paris, c. 1870. Museu Carnavalet, França.

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Lynne’s Collection/Mary Evans Picture Library/ Other Images - Coleção particular

Os conflitos sociais A conquista de melhores salários e de condições de trabalho mais dignas foi longa. Como você estudou no capítulo 5, inicialmente os operários culpavam as novas máquinas das fábricas pela exploração, pela situação de miséria em que viviam e pelo desemprego. Na Inglaterra, artesãos arruinados pela concorrência industrial e operários desempregados invadiam as fábricas e quebravam as máquinas, tidas como causadoras da sua miséria. A burguesia e as autoridades começaram a considerar a classe operária perigosa e a responsabilizá-la pela sua pobreza. Acusavam os operários de serem preguiçosos, de não terem iniciativa e de gastarem seu salário com bebidas e jogos. Culpavam os trabalhadores pela sua situação e os avaliavam como uma classe violenta e desordeira.

As lutas operárias e os sindicatos

O. Vaering/The Bridgeman Art Library/ Grupo Keystone - Coleção particular

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Na Inglaterra, a oposição entre patrões e empregados foi ficando cada vez mais evidente. Para aumentar os lucros de suas empresas, os patrões diminuíam os salários de seus empregados. Os operários reagiam procurando se reunir e formar sindicatos. Mas, para impedir sua organização, foram criadas leis que proibiam as associações operárias. Os trabalhadores, entretanto, não se intimidaram. Após muita pressão, o governo inglês suprimiu, em 1824, a lei que proibia as associações operárias. Seguiram-se novas conquistas do movimento operário, como a criação de leis de proteção ao trabalho e a realização de reformas eleitorais que ampliaram o direito de voto aos trabalhadores urbanos e rurais. Em 1871, as trade unions, associações de operários na Inglaterra, foram legalizadas. Na França, as greves e as associações de trabalhadores haviam sido proibidas desde 1791. Em 1864, a proibição foi revogada, e a greve e a associação de trabalhadores deixaram de ser consideradas crimes. Na Alemanha, os sindicatos foram proibidos em 1878, sendo liberados apenas em 1890, quando foi criada a primeira federação sindical alemã.

Certificado de filiação à Associação Operativa Unida de Encanadores da Grã-Bretanha e Irlanda, c. 1860. Qual é o significado do lema do sindicato, “Defesa e desafio”?

Tecelagem Hjula, pintura de Wilhelm Peters, 1887-1888. Observe as três gerações de mulheres envolvidas no trabalho fabril.

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As mulheres e o mundo do trabalho O avanço da industrialização dependia da grande oferta de mão de obra. Assim, mulheres e crianças foram empregadas nos trabalhos das fábricas e das minas. A participação da mulher em atividades econômicas fora de casa levantou muitos debates. Perguntava-se se a mulher deveria trabalhar em troca de salário, qual seria a atividade ideal para o sexo feminino, como ficariam os filhos e o lar na ausência da mãe etc. Na visão masculina predominante na época, o trabalho feminino não tinha a mesma importância que o trabalho masculino; o trabalho das mulheres servia apenas para complementar a renda garantida pelos homens, por isso era natural que recebessem menos. Essa desigualdade estava relacionada a uma divisão de papéis bem aceita na sociedade: o homem era o provedor do lar, cabendo a ele, e não à mulher, garantir a subsistência da família. Até mesmo os sindicatos toleravam o fato de as mulheres receberem salários mais baixos que os dos homens. Além disso, muitos sindicatos proibiam a participação feminina, enquanto outros só a permitiam com autorização expressa de seus maridos. Mas isso não impediu que as mulheres criassem suas próprias associações, como a Liga Providente e Protetora Feminina, fundada pela sufragista e ativista sindical Emma Paterson.

Sufragista Ativista defensora do direito das mulheres ao voto.

Questão entre o homem e a mulher levava muitas pessoas a defender que o salário das mulheres devia ser inferior ao dos homens com o argumento de que eram eles que garantiam o sustento da família. No Brasil atual, ainda vemos a mesma diferenciação. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no primeiro semestre de 2011, o salário médio de admissão das mulheres representava 86,25% do salário dos homens. O mesmo estudo também concluiu que quanto mais alta a escolaridade, maior a diferença entre o salário de homens e o de mulheres. Na sua opinião, por que essa diferença ainda ocorre nos dias de hoje? Que outras situações expressam a discriminação sofrida pelas mulheres atualmente?

rmn/oTher images - médiaThèque de L’arChiTeCTure eT du paTrimoine, paris

• A divisão de papéis sociais

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No início do século XIX, as lutas do movimento operário tinham como objetivo central melhorar as condições de vida e de trabalho. A diminuição da jornada de trabalho e a regulamentação do trabalho das mulheres e das crianças eram algumas de suas reivindicações. Outra exigência dos trabalhadores era a regulamentação das condições sanitárias no trabalho, evitando as epidemias que assolavam os trabalhadores nas primeiras décadas da Revolução Industrial. Mas os trabalhadores também lutavam para ampliar a participação política da população, defendendo o sufrágio universal masculino, o voto secreto e o direito dos trabalhadores de candidatar-se a cargos políticos. Com o tempo, outras reivindicações foram sendo incorporadas pelos trabalhadores, refletindo os estudos que eram feitos sobre o sistema capitalista. Pensadores interessados em compreender, explicar e propor soluções para o problema da pobreza e da desigualdade passaram a estudar o funcionamento do capitalismo e as suas contradições e a elaborar teorias sobre ele. Muitos desses pensadores participavam das mobilizações da classe operária, contribuindo para ampliar a pauta de reivindicações políticas apresentadas pelo movimento operário. As duas teorias que mais influenciaram o movimento operário foram o socialismo e o anarquismo.

Biografia Emma Paterson (1848-1886) foi uma líder sindical e feminista inglesa. Trabalhou como encadernadora e professora e, em 1867, tornou-se assistente do secretário da União do Clube e do Instituto dos Operários. Em uma viagem aos Estados Unidos com seu marido, Emma teve contato com associações femininas defensoras dos direitos das mulheres. Retornou à Inglaterra e, em 1874, fundou a Liga Providente e Protetora Feminina, renomeada, em 1903, de Liga Sindical Feminina Britânica. Emma foi uma das primeiras mulheres eleitas como delegadas ao congresso das trade unions da Inglaterra. Emma Paterson também atuou na defesa do direito das mulheres ao voto. TUC Library Collections, London Metropolitan University

As teorias sociais e políticas

Emma Paterson, ativista sindical e feminista inglesa, c. 1880. Universidade Metropolitana de Londres, Inglaterra.

Mulheres trabalhando na siderúrgica Holtzer, em Saint-Étienne, França, fotografia do ateliê de Félix Nadar, século XIX. Mediateca de Arquitetura e do Patrimônio, França.

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MPI/Getty Images - Coleção particular

Pintura de 1832 representando o edifício que abrigava a comunidade cooperativa de New Harmony, no estado norte-americano de Indiana, fundada pelo industrial socialista Robert Owen.

A palavra “socialismo” se refere ao conjunto de ideias elaboradas no século XIX que propunham a distribuição mais justa da riqueza e a melhoria das condições sociais dos trabalhadores. As propostas socialistas iam desde a construção de moradias para os operários e de escolas para seus filhos até a defesa da revolução para derrubar o capitalismo. O ideal socialista de uma sociedade mais justa existia desde a Antiguidade, mas apenas no século XIX ele se organizou como uma teoria política de crítica social. O termo “socialismo” foi utilizado pela primeira vez em um artigo inglês de 1827, identificado como a defesa de reformas profundas na democracia defendida pela burguesia para garantir benefícios sociais para os trabalhadores. Os principais pensadores socialistas dessa fase inicial foram Claude Saint-Simon, Robert Owen e Charles Fourier. Por não apresentarem propostas concretas para a transformação social do capitalismo, esses pensadores ficaram conhecidos como socialistas utópicos. Claude Saint-Simon (1760-1825) era um pensador francês de origem nobre. Propunha uma sociedade sem militares, clérigos ou nobres, mas dividida em outras três camadas: a dos sábios, a dos proprietários e a dos que não possuíam bens. O governo ficaria nas mãos de um conselho de artistas e sábios, que seriam mais sensíveis às dificuldades da população pobre. Saint-Simon não chegou a colocar em prática seus planos de sociedade. Robert Owen (1771-1858), inglês, era proprietário de fábricas de algodão na Escócia. Em uma de suas fábricas, Owen implantou algumas reformas trabalhistas e sociais, como a redução da jornada de trabalho e a criação de creches e escolas para as crianças. Nos Estados Unidos, em 1825, construiu uma comunidade cooperativa, em que todos os cooperados trabalhavam e dividiam os lucros entre si. Divergências na condução da cooperativa, no entanto, provocaram o seu fracasso dois anos depois.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Bianchetti/Leemage/Other Images Coleção particular

Gravura do século XIX representando o filósofo e economista francês Saint-Simon.

• Os socialistas utópicos

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giraudon/The Bridgeman arT LiBrary/ grupo KeysTone - musée du Temps, Besançon

Charles Fourier (1772-1837) era um pensador francês, filho de comerciantes. Para Fourier, a sociedade devia ser formada por comunidades autossuficientes, regidas pelo trabalho comunitário. Nessas sociedades, chamadas falanstérios, todos trabalhariam e partilhariam os bens entre si. No mundo paradisíaco imaginado por Fourier, todos os indivíduos desenvolveriam sua habilidade para as artes e viveriam em harmonia entre si.

O paraíso sonhado por Fourier

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

As falanges propostas por Fourier seriam correspondentes a pequenas unidades sociais com populações de cerca de 1.500 habitantes, e cada uma possuiria um edifício comum chamado falanstério no qual todos viveriam harmoniosamente. [...] [...] o falanstério teria muitos espaços de socialização, inclusive as refeições, que seriam coletivas. Fourier era um crítico visceral do casamento, e acreditava que se este fosse derrubado tudo o mais se ajeitaria espontaneamente, conduzindo a uma sociedade realmente livre. A ruptura natural com a monogamia era um dos itens previstos com o desenvolvimento dos falanstérios. [...] A grande contribuição trazida por Fourier em sua crítica contra o casamento monogâmico, contudo, foi a sua percepção de que, na ‘civilização’, a mulher terminava sempre por se transformar na contraparte inferior, escravizada pelo marido e tratada como mera mercadoria sob seus cuidados. O gênero masculino, no matrimônio monogâmico, toma o lugar de um ‘déspota familiar’, oprimindo simultaneamente a mulher e a criança.

BARROS, José D’Assunção. Os falanstérios e a crítica da sociedade industrial: revisitando Charles Fourier. Mediações: Revista de Ciências Sociais. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, v. 16, 2011. Disponível em www.uel.br. Acesso em 23 set. 2011.

Retrato de Charles Fourier (1772-1837), de Jean Francois Gigoux. Museu do Tempo, França.

Visceral Profundo; intenso.

Monogamia Costume ou regra na qual o indivíduo só pode ter um cônjuge.

phiLippe houzé/hemis.fr/afp

Saiba mais O familistério de Godin O mais importante seguidor de Charles Fourier foi o empresário francês Jean-Baptiste Godin. Inspirado nos falanstérios de Fourier, Godin criou o familistério, conjunto de edifícios para abrigar os operários que trabalhavam em sua fábrica. A construção do familistério de Godin iniciou-se em 1859. Situados em Guise, no norte da França, os edifícios incluíam tubos de ventilação, lixeiras em cada andar dos prédios, um depósito de lixo comum no térreo, além de uma lavanderia e uma piscina. Creches facilitavam a vida dos trabalhadores, que também tinham acesso gratuito a medicamentos e podiam usufruir, com uma pequena contribuição mensal, de serviços médicos. Havia ainda uma cooperativa que garantia o fornecimento de alimentos e outros produtos a preços baixos. Godin também criou um sistema de proteção social para seus empregados, como um fundo para casos de doença, acidentes no trabalho e aposentadoria.

Entrada do familistério de Godin, em Guise, na França, em foto de 2006. O familistério funcionou até 1968, quando os alojamentos foram vendidos.

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O falanstério do Saí: uma utopia no Sul do Brasil O ideal de uma sociedade justa e harmônica, no modelo dos falanstérios, chegou ao Brasil por meio de colonos franceses, que fundaram, em 1841, uma comunidade na Península do Saí, no atual município de São Francisco do Sul, no estado de Santa Catarina. A iniciativa coube ao médico homeopata francês Benoit Jules Mure, que chegou ao país disposto a angariar fundos e terras para construir o seu falanstério. Ele recebeu do governo imperial um adiantamento em dinheiro para garantir o sustento da comunidade até que ela pudesse se autossustentar. Apesar da ajuda do governo brasileiro, a colônia se desfez completamente em 1864. A falta de infraestrutura, o isolamento da comunidade e as desavenças entre os colonos impediram o sucesso do falanstério. O próprio fundador, o doutor Mure, retornou para o Rio de Janeiro em 1842 para se dedicar à homeopatia na cidade. Leia, a seguir, o texto de Raquel S. Thiago sobre a recepção do imperador e da sociedade do Rio de Janeiro na chegada dos franceses falansterianos em 1841.

Centro histórico de São Francisco do Sul, Santa Catarina, em foto de 2007. O projeto idealizado pelo francês Benoit Jules Mure de construir um falanstério no município não obteve sucesso.

Questões 1. Segundo o texto, a fundação da comunidade do Saí expressava a utopia e o romantismo que caracterizavam o movimento de Fourier na Europa. Explique.

2. Por que, na sua opinião, o governo brasileiro deu ajuda material ao projeto de Mure?

O porto do Rio de Janeiro foi o cenário da chegada, em 14 de dezembro de 1841, daqueles que tentavam fugir da história que se delineava na Europa, cujos caminhos estavam sendo traçados pelo capitalismo em plena consolidação. Eram 100 franceses, adeptos das ideias de Fourier, e participaram do movimento sociocultural europeu, cujas características marcadas pela utopia apresentavam certa dose de romantismo. [...] Quatro dias depois, esses imigrantes foram apresentados ao imperador D. Pedro II, que, certamente surpreso, ouviu-os, com suas mulheres e filhos pelas mãos, entoarem hinos repetindo em coro: ‘Adieu terre de France! Salut terre de l’avenir.’. O entusiasmo contagiante, movido pela utopia que estava prestes a realizar, certamente causou espanto naqueles que os ouviam. [...] Em 30 de dezembro de 1841, os franceses, levados por Mure, deixaram o Rio de Janeiro com destino ao Saí, no estado de Santa Catarina, a bordo do Caroline. Acompanhava-os a esperança de construírem uma sociedade que lhes permitisse uma vida mais digna. O francês Villeneuve, proprietário do Jornal do Commercio, simpatizante das ideias de Fourier, tornava público o seu entusiasmo com a experiência prestes a concretizar-se: ‘Executem esses aventureiros seu nobre projeto; vençam eles os obstáculos e alcancem o fim sublime que esperam [...]’.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

BeaTrix BosCardin/opção BrasiL imagens

eNQUANtO iSSO...

THIAGO, Raquel S. Fourier: utopia e esperança na Península do Saí. Blumenau: Edifurb; Florianópolis: Editora UFSC, 1995. p. 81-83.

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• O socialismo científico Enquanto os socialistas utópicos colocaram nas mãos da burguesia a iniciativa de promover mudanças na condição de vida do operariado, os alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) partiram do estudo das relações de trabalho no mundo industrial e suas consequências. Com base nesses estudos, elaboraram uma teoria que permitia compreender o sistema capitalista e apontar o caminho para a sua superação. Marx e Engels, em seus estudos, foram além da crítica à sociedade industrial. Eles analisaram a fundo o funcionamento do capitalismo, investigaram a fonte de lucro na economia capitalista e o papel cumprido pela burguesia na construção de um mercado mundial, destruindo para isso culturas tradicionais. A análise crítica e racional do capitalismo elaborada por eles recebeu o nome de socialismo científico ou marxismo.

Impelir Impulsionar; estimular; incitar.

Cosmopolita Que ocorre em todos os continentes; internacional.

A criação de um mercado mundial Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A necessidade de um mercado cada vez mais expansivo para seus pro“ dutos impele a burguesia por todo o globo terrestre. Ela tem de alojar-se por toda parte, estabelecer-se por toda parte, construir vínculos por toda parte. Através da exploração do mercado mundial, a burguesia configurou de maneira cosmopolita a produção e o consumo de todos os países. [...] As antiquíssimas indústrias nacionais foram aniquiladas e ainda continuam sendo aniquiladas diariamente. São sufocadas por novas indústrias [...] que não mais processam matérias-primas nativas, mas sim matérias-primas próprias das zonas mais afastadas, e cujos produtos são consumidos não apenas no próprio país, mas simultaneamente em todas as partes do mundo. [...] No lugar da velha autossuficiência e do velho isolamento locais e nacionais, surge um intercâmbio em todas as direções, uma interdependência múltipla das nações.

1. Segundo o texto ao lado, de Marx e Engels, que obra teria sido realizada pela burguesia?

2. Você reconhece no Brasil atual as características da sociedade burguesa descritas no texto? Explique.

Wang Chun Lyg/imagineChina/afp

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista [1848]. Estudos Avançados, v.12, n. 34, set./dez. 1998. Disponível em www.scielo.br. Acesso em 5 out. 2011.

Questões

Vista do Porto de Lianyungang, na China, em foto de fevereiro de 2011. Atualmente várias partes do mundo compõem um grande mercado para os produtos chineses. Você tem algum objeto produzido na China?

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AKG-Images/Album/Latinstock - Coleção particular

Teoria, prática e revolução As atividades de Marx e Engels uniram a teoria e a prática. Eles participaram ativamente de movimentos políticos do século XIX e contribuíram para a organização dos trabalhadores. Em 1847, fundaram a Liga dos Comunistas, primeira organização internacional marxista. Em 1864, Karl Marx redigiu a mensagem de fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores. Uma famosa frase de Marx na obra Teses sobre Feuerbach sintetiza esse pensamento: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”. Uma das bases da teoria marxista é a ideia de que a história da humanidade tem sido marcada pela luta de classes: homens livres e escravos, patrícios e plebeus, nobres e servos, em síntese, opressores e oprimidos. O conflito entre classes com interesses opostos seria responsável pela destruição de um sistema decadente e pelo surgimento de uma nova organização social. A luta de classes, nessa teoria, seria o motor da história. No capitalismo, as classes antagônicas eram a burguesia, proprietária dos meios de produção, e o proletariado, dono apenas da sua força de trabalho. A luta entre burgueses e proletários teria fim quando o proletariado se organizasse em um partido político para tomar o poder. Ao assumir o controle do Estado, os trabalhadores implantariam um governo dos trabalhadores, a chamada ditadura do proletariado. Eles eliminariam a propriedade privada dos meios de produção e, com isso, a divisão social entre proprietários e não proprietários. Caberia ao proletariado construir o socialismo e caminhar em direção ao comunismo, quando desapareceria a divisão de trabalho entre os indivíduos e o próprio Estado.

Reprodução - Oxford Science Archive, Oxford

Karl Marx, pintura de P. Nasarov e N. Gereljuk, c. 1920.

Reprodução - Galeria de Arte Moderna, Milão

Friedrich Engels em fotografia de 1879.

O quarto estado, pintura de Giuseppe Pellizza da Volpedo, 1901. Galeria de Arte Moderna de Milão, Itália. As ideias socialistas e anarquistas do século XIX influenciaram o movimento operário, intelectuais e artistas.

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O anarquismo surgiu na Rússia na segunda metade do século XIX. Seus principais teóricos foram Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), na França, Mikhail Bakunin (1814-1876) e Piotr Kropotkin (1842-1921), na Rússia, e Errico Malatesta (1853-1932), na Itália. Os anarquistas, assim como os marxistas, faziam a crítica da exploração promovida pelo sistema capitalista e apontavam o Estado e todos os regimes de governo como a causa de todos os males da sociedade. Os anarquistas defendiam uma sociedade baseada na livre associação dos indivíduos, sem instituições, como Parlamento, polícia, prefeituras, presidência, tribunais e até sem exército. Abolido qualquer tipo de poder político, as sociedades estariam livres para viver com base na cooperação, na produção para o consumo próprio e na troca de bens sem fins lucrativos.

• Anarquismo X marxismo O anarquismo e o marxismo fizeram críticas semelhantes ao capitalismo. Contudo, as duas correntes do movimento operário propunham métodos diferentes para superar e transformar a sociedade capitalista. Para os marxistas, os operários deveriam

se organizar em um partido político revolucionário para tomar o poder e construir um Estado socialista. Os anarquistas, ao contrário, combatiam tanto a existência do Estado quanto a participação nas instituições por meio de partidos políticos. Por isso, defendiam a ação direta dos trabalhadores por meio de seus próprios organismos, como os sindicatos.

A crítica do anarquismo

Já exprimimos várias vezes uma viva aversão pela teoria de [...] Marx que recomenda aos trabalhadores [...] a fundação de um ‘Estado popular’ [...]. Se o proletariado se torna a classe dominante, sobre quem, pergunta-se, dominará? [...] Quem diz Estado diz automaticamente dominação e, consequentemente, escravidão; um Estado sem escravidão, confessada ou mascarada, é inconcebível; por essa razão somos inimigos do Estado.

BAKUNIN, Mikhail. Estatismo e anarquia [1873]. In: Textos anarquistas. Porto Alegre: L&PM, 2000. p. 154-155.

Questão • Por que, para Bakunin, o Estado popular é tão nocivo quanto o Estado capitalista?

Nicholas Ratzenboeck/AFP

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• O anarquismo

Manifestação antiglobalização na cidade de Berna, na Suíça, em janeiro de 2008. Na faixa vermelha e preta lê-se: “Contra o capital: revolução social”. Abaixo da frase está o símbolo do anarquismo (a letra A dentro de um círculo).

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phoTo12/afp

vale a pena assistir Sacco e Vanzetti Nacionalidade: ITA Direção: Giuliano Montaldo Ano: 1971 Duração: 119 min

O filme conta a história de Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, dois imigrantes anarquistas que trabalham em Boston, nos Estados Unidos, em 1920. Acusados de assassinato, os dois ativistas são presos e condenados à pena capital, sentença que gera protestos em todo o mundo. Apesar da pressão internacional, os dois imigrantes são executados, decisão que é considerada um dos maiores erros judiciais da história dos Estados Unidos.

Cena do filme Sacco e Vanzetti, de Giuliano Montaldo, 1971.

Um importante acontecimento político ocorrido na França no final do século XIX acentuou as divergências entre anarquistas e comunistas na organização dos trabalhadores. Entre março e maio de 1871, a cidade de Paris foi administrada por um governo popular, formado pelos próprios cidadãos. As decisões tomadas por esse governo representavam grande parte das aspirações da classe operária. Por esse motivo, essa curta experiência de um governo popular na capital francesa ficou conhecida como Comuna de Paris. Para compreender a Comuna de Paris, precisamos retomar o processo de unificação da Alemanha. Para concluir o processo de unificação dos reinos e principados germânicos, Bismarck, primeiro-ministro do Reino da Prússia, declarou guerra à França, alimentando o sentimento nacionalista entre os alemães. Em setembro de 1870, o imperador francês Napoleão III foi capturado pelos alemães e a França foi derrotada. Napoleão III foi deposto e um novo governo republicano assumiu o poder na França.

aKg-images/aLBum/LaTinsToCK

Infantaria prussiana nos arredores de Paris após a retirada do exército francês, em janeiro de 1871.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A Comuna de Paris

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Universal Images Group/Universal History Archive/Diomedia - Coleção particular

• Os cidadãos em armas

• A guerra civil Com a formação da Comuna de Paris, o governo francês, chefiado por Louis-Adolphe Thiers, se deslocou para Versalhes, de onde planejava retomar o controle da capital. Com o apoio da Prússia, Thiers criou um exército, infiltrou espiões entre os revolucionários, libertou prisioneiros que se comprometiam a lutar contra a comuna e invadiu a cidade de Paris. Os revoltosos se defenderam como puderam. Ergueram barricadas, utilizando pedras do calçamento e sacos de areia. Contudo, as tropas do governo sediado em Versalhes, mais bem preparadas e em maior número, avançaram sem parar. Milhares de pessoas foram mortas, inclusive mulheres e crianças. Calcula-se que 4 mil revoltosos tenham morrido em combate e 30 mil tenham sido presos e executados.

Gravura do século XIX representando uma mulher discursando aos communards, membros da Comuna de Paris.

Barricada construída durante a Comuna de Paris, foto de 18 de março de 1871. A construção de barricadas pela população durante a comuna foi um dos motivos que levaram à reurbanização de Paris no final do século XIX. Tal/Rue des Archives/Other Images - Coleção particular

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Após depor o imperador francês, os exércitos de Bismarck iniciaram o cerco da cidade de Paris. As camadas populares da capital, no entanto, decidiram resistir ao invasor. Durante o cerco, as condições de vida dos trabalhadores pioraram, pois faltava comida e as doenças se alastravam. Em janeiro de 1871, o novo governo da França negociou com Bismarck as condições da rendição. A população de Paris, no entanto, não aceitou depor as armas. Em março, os parisienses expulsaram o governo e proclamaram a chamada Comuna de Paris. Durante sua curta existência, o governo da comuna foi exercido pelas camadas populares, que se reuniam regularmente para decidir as principais questões relacionadas à administração da cidade. A comuna substituiu o exército permanente pelo armamento dos cidadãos, estabeleceu o ensino gratuito, obrigatório e laico, transferiu as diferentes funções do Estado para operários e produtores capacitados e passou o controle das indústrias para associações de trabalhadores.

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Foco realista Preocupados em abandonar a ficção e retratar as dificuldades da realidade, muitos pintores realistas voltaram os seus olhares para o cotidiano dos mais pobres.

A realidade social expressa nas artes A arte romântica, no início do século XIX, rompeu com o rigor formal e os temas da arte neoclássica. A pintura A Liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix, por exemplo, expressava a nova temática definida pelos românticos: no lugar dos temas históricos e míticos, o objeto eram os acontecimentos contemporâneos. Na segunda metade do século XIX, muitos artistas europeus deram continuidade a essas tendências; mas, por outro lado, retomaram a objetividade da arte neoclássica. Os pintores procuravam retratar as cenas com detalhes e realismo. Os escritores enfatizavam a narrativa simples e direta, valorizando a descrição objetiva das cenas e dos personagens. Na arte, a busca por essa representação fiel da realidade ficou conhecida como realismo.

• A pintura realista

Reprodução - Gemäldegalerie Neue Meister, Dresden

Os quebradores de pedra, pintura de Gustave Courbet, 1849. Galeria de Pintura Novos Mestres, Alemanha. Como um observador atento da realidade, Courbet procurou registrar os eventos cotidianos que testemunhou.

A pintura realista inspirava-se em temas sociais, retratando cenas do cotidiano, principalmente dos trabalhadores do campo e das cidades. Buscava também registrar as impressões do mundo de modo objetivo, como um instante retratado em uma fotografia, por isso evitavam manifestar as emoções ou a subjetividade do artista. O precursor do realismo na pintura foi Gustave Courbet (1819-1877). Em sua tela Os quebradores de pedra, Courbet não representa grandes acontecimentos históricos nem narrativas míticas, e seus personagens não são heróis nem personagens notáveis. Sem idealizar nem romantizar, Courbet retrata, pura e simplesmente, dois homens quebrando pedras. Representar o trabalho desses homens foi sua única preocupação nessa tela.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Saiba mais

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Reprodução - Musée du Petit-Palais, Paris

Nononoon nonoon

• A literatura realista A obra O vermelho e o negro, de Stendhal, que você viu no capítulo 11, não pode ser considerada propriamente realista, mas já anunciava os traços definidores desse tipo de literatura. A nobreza não é o personagem principal desse romance e as cenas e os acontecimentos não são idealizados. Pelo contrário, o romance narra os desafios e as dificuldades encontradas por um jovem em busca de ascensão social. A primeira obra considerada realista foi Madame Bovary, de Gustave Flaubert, de 1857. A personagem principal do romance é Emma, mulher bela e apaixonada pela vida que mora com o pai numa casa afastada da cidade. Acreditando que o matrimônio lhe abriria as portas para viver as aventuras que conhecia por meio da literatura romântica, Emma se casa com um pacato médico, Charles Bovary. Em pouco tempo, Emma Bovary percebe a vida de tédio que o casamento lhe reservava. Grande parte da literatura realista conta histórias que desmascaram a sociedade burguesa da época. Narrados sob uma ótica atenta e detalhista, os personagens e os acontecimentos vão revelando a hipocrisia da moral burguesa e a incapacidade do indivíduo em superar as limitações impostas pelo meio social. No Brasil, a obra Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é tida como o marco do realismo no país.

Gianni Dagli Orti/The Art Archive/Other Images Bibliothèque des Arts Décoratifs, Paris

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Pierre-Joseph Proudhon e seus filhos em 1853, pintura de Gustave Courbet, 1865. Museu do Petit Palais, França.

Gravura de Pécheux, do século XIX, representando a personagem Emma Bovary, publicada no livro Madame Bovary, de Gustave Flaubert.

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Compreender os conteúdos 1. Responda às questões. a) O avanço da industrialização na Europa, no século XIX, possibilitou a melhoria das condições de vida de toda a população? Justifique. b) Em 1824, o governo inglês suprimiu a lei que proibia as associações operárias. Explique a importância dessa medida para o movimento operário. c) Quais foram os novos problemas que as mulheres trabalhadoras precisaram enfrentar no final do século XIX? d) Qual foi a importância da criação da Liga Providente e Protetora Feminina, renomeada depois de Liga Sindical Feminina Britânica?

2. Ordene cronologicamente os acontecimentos relativos ao movimento operário na Europa. a) A lei que proibia greves e associações trabalhistas foi revogada na França. b) Os sindicatos deixaram de ser proibidos na Alemanha. c) As trade unions foram legalizadas na Inglaterra. d) Elaboração da Carta do Povo. e) A lei que proibia as associações operárias foi revogada na Inglaterra. f) Fundação da Liga Providente e Protetora Feminina, futura Liga Sindical Feminina Britânica.

3. Relacione as teorias políticas com as características listadas a seguir. 1. Socialismo utópico. 2. Socialismo científico. 3. Anarquismo. a) Para derrubar o capitalismo, propunha a luta revolucionária dos trabalhadores, organizados em um partido político, para tomar o poder e construir um Estado socialista. b) Afirmava que o Estado e todos os regimes de governo baseavam-se na dominação e na exploração. c) Seus principais representantes foram Charles Fourier, Robert Owen e Saint-Simon,

que foram criticados por proporem uma transformação social baseada na generosidade da burguesia. d) Uma das bases dessa teoria é a ideia de que a história da humanidade tem sido marcada por uma luta constante entre classes sociais antagônicas. e) Defendia a associação e a organização espontâneas dos indivíduos em comunidades autônomas e livres de qualquer interferência estatal. f) Uma das principais experiências baseadas nesse conjunto de ideias foi a criação de um sistema de benefícios sociais em fábricas de algodão na Escócia. Com base nessa experiência, foi fundada uma comunidade cooperativa nos Estados Unidos.

4. De que modo o processo de unificação da Alemanha influenciou o surgimento da Comuna de Paris?

5. Por que a Comuna de Paris se diferencia das demais revoluções que marcaram a história da França contemporânea, como a Revolução Francesa e a Revolução de 1848?

Ampliar o aprendizado 6. Leia agora o que o militante e geógrafo anarquista Piotr Kropotkin escreveu sobre a Comuna de Paris.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Atividades

Assim, a Comuna de Paris, [...] nascida sob a “ mira das armas prussianas, estava destinada a desaparecer. Mas pelo seu caráter eminentemente popular, ela deu origem a uma nova série de revoluções e pelas ideias que lançou tornou-se a precursora de todas as revoluções sociais. O povo aprendeu a lição e, quando surgirem mais uma vez na França os protestos das comunas revoltadas, ele já não esperará que o governo tome atitudes revolucionárias. Quando [...] tiverem abolido totalmente a propriedade privada, o governo e o Estado, irão se organizar livremente, de acordo com as necessidades indicadas pela própria vida.

KROPOTKIN, Piotr. A Comuna de Paris, 1871. Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em www.fafich.ufmg.br. Acesso em 26 set. 2011.

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a) Por que, segundo Kropotkin, a Comuna de Paris nasceu “sob a mira das armas prussianas”? b) Identifique no texto as principais ideias do anarquismo. c) Quais concordâncias e quais divergências os marxistas têm com as ideias expostas nesse texto?

aplicação capitalista da maquinaria! Com isso, esse poderoso meio de substituir trabalho e trabalhadores transformou-se rapidamente num meio de aumentar o número de assalariados, colocando todos os membros da família dos trabalhadores, sem distinção de sexo e idade, sob o comando imediato do capital.

7. O texto a seguir foi retirado da obra O capital,

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1988. v. 2. p. 21.

de Karl Marx. Leia-o e responda às questões.

trabalhadores sem força muscular ou com desenvolvimento corporal imaturo, mas com membros de maior flexibilidade. Por isso, o trabalho de mulheres e de crianças foi a primeira palavra de ordem da

a) Segundo Marx, o que tornou possível a entrada de mulheres e crianças na produção industrial? b) Por que a possibilidade de empregar mulheres e crianças nas fábricas trouxe muitas vantagens para os industriais?

História feita com arte 8. Observe as pinturas abaixo. Em seguida, responda às questões. Culture-Images/Other Images - Museum of Fine Arts, Boston

Reprodução - Musée Lambinet, Versalhes

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

À medida que a maquinaria torna a força “ muscular dispensável, ela se torna o meio de utilizar

O balanço, pintura de Jean-Honoré Fragonard, 1767. Museu Lambinet, França.

Plantadores de batata, pintura de Jean-François Millet, 1861. Museu de Belas Artes de Boston, Estados Unidos.

a) Descreva as principais características das duas pinturas. b) Qual das duas pinturas pode ser considerada realista? Justifique.

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Patrícia Ramos Braick Mestre em História das Sociedades Ibero-Americanas e Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Professora do Ensino Médio em Belo Horizonte, MG.

estudar História

Das origens do homem à era digital

9 1a edição

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© Patrícia Ramos Braick, 2011

Coordenação editorial: Maria Raquel Apolinário, Nubia Andrade e Silva Edição de texto: Nubia Andrade e Silva, Ana Claudia Fernandes, Pamela Shizue Goya, Maria Raquel Apolinário, Carlos Eduardo de Almeida Ogawa, Edmar Ricardo Franco, Eduardo Augusto Guimarães Assessoria didático-pedagógica: Sandra Machado Ghiorzi, Nelson Bacic Olic, Bianca Barbagallo Zucchi, Paulo Ferraz de Camargo Oliveira, Carina Marcondes Ferreira Pedro, Eliane Tavelli Alves, Thiago Boim, Joana Acuio, Liliane Souza Amaral, Maria Lúcia Pompein Pessoa Preparação de texto: Mitsue Morrisawa Assistência editorial: Rosa Chadu Dalbem Coordenação de design e projetos visuais: Sandra Botelho de Carvalho Homma Projeto gráfico e Capa: Mariza de Souza Porto Arte e fotografia: Constructors, pintura de Fernand Léger, 1950 © Francis G. Mayer/Corbis/Latinstock/© Léger, Fernand/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2011 - Henie Onstad Kunstsenter, Bærum Coordenação de produção gráfica: André Monteiro, Maria de Lourdes Rodrigues Coordenação de arte: Maria Lucia Couto Edição de arte: Renata Susana Rechberger Edição de infografias: William Hiroshi Taciro (coordenação), Daniela Máximo, Fernanda Fencz Ilustrações: Paulo Manzi, Roko, Vicente Mendonça, Cartografia: Alessandro Passos da Costa, Fernando José Ferreira Coordenação de revisão: Elaine Cristina del Nero Revisão: Afonso N. Lopes, Ana Cortazzo, Ana Maria C. Tavares, Luís M. Boa Nova, Márcia Leme, Maristela S. Carrasco, Nancy H. Dias Pesquisa iconográfica: Aline Chiarelli, CamilaD’Angelo, Etoile Shaw, Leonardo de Sousa Klein, Odete Ernestina Pereira As imagens identificadas com a sigla CID foram fornecidas pelo Centro de Informação e Documentação da Editora Moderna. Coordenação de bureau: Américo Jesus Tratamento de imagens: Arleth Rodrigues, Bureau São Paulo, Fabio N. Precendo, Pix Art, Rodrigo Fragoso, Rubens M. Rodrigues, Wagner Lima Pré-impressão: Alexandre Petreca, Everton L. de Oliveira Silva, Hélio P. de Souza Filho, Marcio H. Kamoto Coordenação de produção industrial: Wilson Aparecido Troque Impressão e acabamento:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Braick, Patrícia Ramos Estudar história : das origens do homem à era digital / Patrícia Ramos Braick. -- 1. ed. -São Paulo : Moderna, 2011.

Obra em 4 v. para alunos do 6o ao 9o ano. Bibliografia.

1. História (Ensino fundamental) I. Título.

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Índices para catálogo sistemático: 1. História: Ensino fundamental 372.89 ISBN 978-85-16-07101-1 (LA) ISBN 978-85-16-07102-8 (LP) Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados EDITORA MODERNA LTDA. Rua Padre Adelino, 758 - Belenzinho São Paulo - SP - Brasil - CEP 03303-904 Vendas e Atendimento: Tel. (0_ _11) 2602-5510 Fax (0_ _11) 2790-1501 www.moderna.com.br 2011 Impresso no Brasil 1 3 5 7 9 10 8 6 4 2

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Apresentação O

s livros da coleção Estudar história foram feitos para os jovens alunos do século XXI, que, como você, vivem em um mundo conectado pela internet e pelos telefones celulares, dominado pelas imagens e pela explosão de informações que chegam via web. São tantos os conteúdos armazenados nos 130 milhões de sites disponíveis até o momento na internet que, quando você vai pesquisar um assunto, fica desorientado com a imensidão de opções que aparecem. E você, admirado com esse mundo tecnológico, se pergunta: “Para que serve a escola?”; “Por que preciso estudar?”; “Por que é importante estudar história?”. Algumas respostas você mesmo daria: “Para dominar o uso da nossa língua, aprender a resolver problemas, ler e compreender textos etc.”. Tudo isso está correto. Mas hoje, diante de tantas novidades da ciência e da indústria, a escola tem também o desafio de ajudá-lo a ser sujeito e não objeto das novas tecnologias. Com isso, queremos dizer, por exemplo, que não basta saber operar as ferramentas de pesquisa na internet. É necessário, sobretudo, saber avaliar e selecionar criticamente as informações armazenadas para utilizá-las corretamente no cotidiano. Em outras palavras, o uso das novas tecnologias deve ajudá-lo a analisar e comparar textos e imagens, a formular hipóteses e argumentos, a confrontar ideias e a ouvir e a aprender com os outros. Foi pensando em tudo isso que desenvolvemos os livros desta coleção. Aqui você vai encontrar diferentes tipos de leitura, tirinhas, sugestões de filmes, roteiros para navegação em sites, infográficos, entre muitas outras coisas que vão ampliar seu gosto pela leitura, instigar sua curiosidade pelo conhecimento e ajudá-lo a atuar criticamente na sociedade, compreendendo a importância de ser um cidadão solidário, tolerante, participativo e amigo da natureza. Um ótimo estudo!

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A organização do seu livro Este livro está dividido em 15 capítulos. Veja abaixo as diversas partes que compõem o seu livro. Abertura de capítulo Dupla de páginas com imagens e textos instigantes que permitem a reflexão e o debate em sala de aula. O presente é relacionado com o tema do capítulo trazendo o estudo da história para mais perto do seu dia a dia.

Boxes Ao longo do livro você encontrará vários tipos de boxes: Saiba mais (textos que ampliam e enriquecem o texto didático), Biografia (com detalhes da vida de personagens anônimos e famosos da história), Navegue neste site (roteiros de passeios virtuais em sites de diversas instituições) e Vale a pena assistir (dicas de filmes que enriquecem e problematizam o aprendizado dos temas).

Questões Mapas, fotografias, textos e ilustrações podem estar acompanhados de questões que complementam e ampliam o conhecimento.

Glossário As palavras que podem trazer mais dificuldade para serem compreendidas estão em boxes com explicações ao lado do texto.

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Amplie seu conhecimento Nesta seção, você terá contato com materiais diversos (ilustrações, mapas, infográficos e textos), que tratam de um tema com um pouco mais de profundidade. Ao final, as questões irão ajudá-lo a extrair o máximo da leitura.

Enquanto isso...

Atividades

Você sabia que na Copa do Mundo de 1950, disputada no Brasil, a seleção canarinho perdeu a final para o Uruguai? Nesta seção você irá estudar um pouco mais sobre importantes acontecimentos históricos em diferentes países e estados brasileiros, além de conhecer povos e culturas que surgiram próximos no tempo, mas em lugares diferentes.

As propostas de atividades estão divididas em dois grupos: em Compreender os conteúdos você terá a oportunidade de revisar os pontos principais do capítulo; no Ampliar o aprendizado você irá interpretar textos, estabelecer relações entre conceitos, fazer pesquisas e analisar diferentes tipos de obras de arte na seção História feita com arte.

Avalie o seu aprendizado Nesta seção você vai rever os conteúdos tratados nos capítulos realizando diferentes tipos de atividades. Com a ficha de autoavaliação, você vai perceber quais estudos foram bem aproveitados e quais não ficaram claros e precisam ser retomados.

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Hulton Archive/Getty Images

Sumário Capítulo 1 O Imperialismo na Ásia e na África, 10 A Segunda Revolução Industrial, 12 • A era dos oligopólios, 13 • A expansão imperialista, 14 O “fardo” do homem branco, 15

Explorando o interior da África, 16 • A Conferência de Berlim, 17 • A dominação britânica na África, 18

A Guerra dos Bôeres, 19

O imperialismo português, 20 • África: movimentos de resistência, 21 Revolta Maji-Maji (1905-1907), 21 • Rebelião Ashanti (1890-1900), 21

A presença europeia na China, 22 • A dominação britânica na China, 22 • A resistência chinesa, 23 O Império Britânico na Índia, 24 Enquanto isso... — A Londres vitoriana, 25 Os franceses na Ásia, 26 A colonização francesa na Indochina, 26

Reprodução - Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, São Paulo

O Japão da era Meiji, 27 Atividades, 28

Capítulo 2 O Brasil da Primeira República, 30 República Velha? República Oligárquica?, 32 • O nascimento de nossa república, 32 O governo Deodoro da Fonseca, 33

A república se consolida, 35

Café com leite, 36 • A política dos governadores, 37 • Os coronéis e o voto, 38 • A produção de café, 39 • O Convênio de Taubaté, 39 • Açúcar, cacau e borracha, 40

Por um Brasil industrializado, 41 Os trabalhadores imigrantes, 42

Mobilização operária, 43 A greve geral de 1917, 44

A reforma da capital federal, 45

A Revolta da Vacina, 45 • A reforma urbana em Recife, 46

A Revolta da Chibata, 46 • O levante dos tenentes, 47 A Coluna Prestes, 47

A Semana de Arte Moderna, 48 • O arraial de Belo Monte, 49 A Guerra de Canudos, 50 • As crianças de Canudos, 51

Reprodução - Kröller-Müller Museum, Otterlo

Cangaço, uma guerra sem fim no sertão, 52 Enquanto isso... — As exposições universais, 53 Atividades, 54

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Capítulo 3 A Europa e a América antes da Primeira Guerra, 56 Um período de otimismo e tensão, 58 • Contrastes na economia, 59 Medidas protecionistas, 60 Incríveis invenções, 61 • Uma revolução nas artes, 62 • Do outro lado do Atlântico: os Estados Unidos, 63 • A América do Sul, 64 A Belle Époque argentina, 64 • À margem da Belle Époque, 65

Enquanto isso... — A Belle Époque carioca, 66 A luta pela terra no México, 67

Eclode a revolução, 68 • Flores Magón e a luta popular, 68 • O México em chamas, 69 • Caminhos da Revolução Mexicana, 70 • O zapatismo ainda vive?, 71

Amplie seu conhecimento — As mulheres na Revolução Mexicana, 72 Atividades, 74

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Frank Hurley/SSPL/Getty Images Australian War Memorial Canberra

Capítulo 4 A Primeira Guerra Mundial, 76 Antes da guerra, 78

Os interesses imperialistas, 78 • As questões nacionais, 79 • A política de alianças, 81 • A Paz Armada, 82

O início da guerra, 83 • A expansão da guerra, 84 A guerra de trincheiras, 85

Amplie seu conhecimento — A engenharia das trincheiras, 86

A entrada dos Estados Unidos na guerra, 87 • O Brasil na Primeira Guerra Mundial, 87 • A propaganda a favor da guerra, 88 • Tecnologia para a destruição, 89 • Mulheres em tempo de guerra, 90

O fim da guerra, 91

Nos termos dos vencedores, 92

Alinari/Other Images

Enquanto isso... — A gripe espanhola, 93 Atividades, 94

Capítulo 5 A Revolução Russa, 96 O Império Russo, 98

Correntes políticas no império, 99

A Revolução de 1905, 100 • A Revolução de Fevereiro, 101 As mulheres e a revolução, 101 • O governo provisório, 102

A Revolução de Outubro, 102 A guerra civil, 103

A NEP: Nova Política Econômica, 104 • A ascensão de Stalin, 105 O stalinismo, 106

Hulton-Deutsch Collection/ Corbis/Latinstock

Atividades, 107 Avalie o seu aprendizado, 108

Capítulo 6 Entre duas guerras, 110

Depois da Primeira Guerra, 112 • As crises de 2008 e 2009, 113

A sociedade da abundância e do consumo, 114 • A quebra da bolsa de Nova York, 115 • Os efeitos da crise, 116 • O New Deal, 117

A crise da democracia, 118 Os regimes totalitários, 118

A ascensão do fascismo na Itália, 119 O fascismo no poder, 120

A República de Weimar na Alemanha, 121 Os efeitos da crise de 1929 na Alemanha, 122

A ascensão do Partido Nazista, 123

A política nazista, 124 • O preconceito como ciência, 125

AKG-Images/Album/Latinstock

Amplie seu conhecimento — A Guerra Civil Espanhola, 126 A formação do Eixo, 128 Enquanto isso... — Japoneses na Amazônia, 129 Atividades, 130

Capítulo 7 A Segunda Guerra Mundial, 132 O início da guerra, 134

A expansão dos conflitos, 135

A invasão da União Soviética, 136 O holocausto, 137 Os Estados Unidos na guerra, 138 • A reviravolta no conflito, 139

O Brasil entra no conflito, 140 • Os pracinhas combatem na Itália, 141 • O desembarque aliado na Normandia, 142 • A rendição da Alemanha, 143 • A derrota do Japão, 144

O encontro das grandes potências, 146 • Tecnologias impulsionadas pela guerra, 147 • A criação da ONU, 148 Enquanto isso... — O cotidiano da guerra no Sul do Brasil, 149 Atividades, 150

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AP/GLOWIMAGES

CAPÍTULO 8 A ERA VARGAS (1930-1945), 152

A crise da República Oligárquica, 154

A questão sucessória, 155 • As eleições de 1930, 156 • O estopim para o levante, 156

O governo provisório de Vargas (1930-1934), 157

A Revolução Constitucionalista de 1932, 158 • A Constituição de 1934, 159

A radicalização política no Brasil, 160

A Intentona Comunista de 1935, 161 • O golpe de Estado, 162

O Estado Novo (1937-1945), 163

O nacional-desenvolvimentismo de Vargas, 163 • As leis trabalhistas e a valorização do trabalho, 164 • A cultura e o entretenimento a favor do Estado, 165

INDAIASSÚ LEITE/ AGÊNCIA O GLOBO

BY PERMISSION OF THE MARCUS FAMILY BIBLIOTECA DO CONGRESSO, WASHINGTON

O fim do Estado Novo, 167 Enquanto isso... — O peronismo, 168 Atividades, 170

CAPÍTULO 9 O MUNDO DIVIDIDO PELA GUERRA FRIA, 172

Acordos e tratados de paz, 174 • Políticas voltadas para a Europa, 175 A formação de alianças militares, 176

A corrida tecnológica, 177 A caminho das estrelas, 177

Espionagem e repressão, 178 • Os conflitos da Guerra Fria, 180

Às vésperas da revolução em Cuba, 180 • A Revolução Chinesa, 182 • A Guerra da Coreia, 184 • A independência da Indochina, 185 • A Guerra do Vietnã, 186

Tecnologia da Guerra Fria, 188 • Propaganda, cultura e sociedade, 190 Movimentos de contestação, 191

Enquanto isso... — O movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, 192 Atividades, 194

CAPÍTULO 10 O POPULISMO NO BRASIL, 196

Populismo e política de massas, 198 • A redemocratização do Brasil, 199

A Constituição de 1946, 199 • O Brasil na Guerra Fria, 200 • Os rumos da economia, 200

A volta de Getúlio Vargas ao poder, 201

As novas metas de Vargas, 201 • Eletricidade para o Brasil, 202 • O direito ao subsolo, 202 • Oposição e crise política, 203

A sucessão de Vargas, 204 • O governo JK, 204

O Plano de Metas e a Sudene, 205 • A mudança da capital, 206 • Crescer e endividar-se, 207

A eleição de Jânio Quadros, 208

Ambiguidades no governo de Jânio, 208 • A renúncia de Jânio, 209

A crise sucessória, 209 • O governo João Goulart, 210 As reformas de base, 210 • O golpe militar de 1964, 211

MICHAEL NICHOLSON/ CORBIS/LATINSTOCK

Enquanto isso... — A paixão nacional na “pátria de chuteiras”, 212 Atividades, 214 Avalie o seu aprendizado, 216

CAPÍTULO 11 A DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA E DA ÁSIA, 218

A África na Primeira Guerra, 220

Movimentos de identidade africana, 221 • Os interesses das elites coloniais, 221

A crise do colonialismo, 222 • A independência da Índia, 223 • A descolonização da África, 224 Nigéria e Gana, 224 • O norte da África, 225

As colônias portuguesas, 226

A luta armada pela independência, 226 • O fim do Império Português, 227

CYNTHIA BRITO/ OLHAR IMAGEM

O apartheid na África do Sul, 228 • O fim do apartheid, 229 Amplie seu conhecimento — Conflitos atuais na África, 230 Atividades, 232

CAPÍTULO 12 OS GOVERNOS MILITARES NO BRASIL, 234

Os militares no poder, 236 • O governo Castello Branco, 237 O regime se fortalece, 237

O general “linha-dura”, 238

Manifestações contra o regime, 238 • As greves de Contagem e Osasco, 239 • O Ato Institucional no 5, 239 • A oposição armada, 240

Governo Médici: o auge da repressão, 241

O “milagre econômico”, 242 • Brasil, ame-o ou deixe-o, 242

Abertura lenta, gradual e segura, 243

Plano Nacional de Desenvolvimento, 244 • A Lei da Anistia, 244 • A formação

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de novos partidos, 245 • A campanha pelas Diretas Já, 245

Cultura e sociedade, 246

Cinema, teatro e moda, 246 • Nas entrelinhas da música, 247

AP/Glowimages

Enquanto isso... — Ditadura militar no Chile e na Argentina, 248 Atividades, 250

CapítulO 13 Crise e desagregação do bloco soviético, 252

A União Soviética sob a ditadura de Stalin, 254 • Kruschev e a desestalinização, 255 • O governo de Brejnev, 256 Sinais da crise soviética, 257 • A invasão do Afeganistão (1979-1989), 258

O governo Gorbachev: reformas decisivas, 259

Reestruturação da economia, 260 • Transparência política, 260 • Do consenso à contestação, 261

A desintegração da União Soviética, 262 O golpe final, 262

O fim do bloco socialista na Europa, 263 O avanço da onda democrática, 264

A desintegração da Iugoslávia, 265 A Guerra da Bósnia, 266

Salomon Cytrynowicz/Pulsar Imagens

Os novos caminhos do Leste Europeu, 267 Atividades, 268

CapítulO 14 A volta da democracia no Brasil, 270 A transição para a democracia, 272 A morte do presidente eleito, 273

O governo José Sarney, 273

O Plano Cruzado, 274 • Muitos planos, poucas realizações, 274

A Constituição de 1988, 275

Avanços da nova Constituição, 275 • A Constituição e os povos indígenas, 276

Enfim, eleições diretas para presidente, 277 A vitória do “caçador de marajás”, 277

O governo de Fernando Collor, 278

Mais um plano econômico, 278 • Corrupção e poder, 279

O governo Itamar Franco, 280 • O governo FHC, 281

O segundo mandato presidencial, 281 • Balanço do governo FHC, 282

Eleições presidenciais de 2002, 282 A vitória de Lula, 283

O governo Lula, 283

Política externa, 284 • O “mensalão” e o fim do governo Lula, 284

Jay Directo/AFP

O governo Dilma Rousseff, 285 • O abismo entre negros e brancos no Brasil, 286 • Os negros e as políticas afirmativas, 287 Atividades, 288

CapítulO 15 O mundo contemporâneo, 290 A globalização, 292 A União Europeia, 293 • Os Brics entram em cena, 294 • Crises da economia globalizada, 295 Amplie seu conhecimento — O comércio globalizado, 296

A crise na União Europeia, 298 • Os estrangeiros na União Europeia, 299 • Imigrantes, pobreza e conflitos sociais, 300

Os Estados Unidos na nova ordem mundial, 301 A crise da hiperpotência, 301

O terrorismo, 302 • Conflitos no Oriente Médio, 303 Guerra no Afeganistão, 303 • Conflitos no Iraque, 305 • Invasão do Iraque em 2003, 306 • A Questão Palestina, 307

Amplie seu conhecimento — A cronologia de um conflito, 308 Avanços e dilemas da África contemporânea, 310 A história recente dos conflitos africanos, 311

Questões ambientais contemporâneas, 312

O aquecimento global, 313 • Água: entre a abundância e a escassez, 313

Atividades, 314 Avalie o seu aprendizado, 316

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CapÍtulo

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O populismo no Brasil Uma época de mudanças

indaiassú Leite/ agênCia o gLoBo

Jogadores e membros da comissão técnica da seleção brasileira de futebol comemoram a vitória na final da Copa do Mundo de 1958 em Estocolmo, Suécia.

Os brasileiros que viveram entre os anos 1940 e 1960 atravessaram uma época de mudanças políticas e econômicas aceleradas. Em 1945, Vargas deixou o poder e eleições presidenciais diretas iniciaram uma fase de redemocratização no país. Ao mesmo tempo, a classe média, o operariado e as indústrias expandiam-se, novas lideranças e partidos políticos ganhavam força e os movimentos sociais buscavam aumentar sua participação na vida política nacional.

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reProdução - BiBLioteCa muniCiPaL mário de andrade, são PauLo

arquivo CB/d.a Press

riCardo Correa/ editora aBriL

No contexto da Guerra Fria, o Brasil aproximou-se cada vez mais dos Estados Unidos, o que contribuiu para aumentar os investimentos e a atuação de empresas norte-americanas no país. Além disso, o consumo da classe média crescia, fascinada pelas novidades tecnológicas vindas de fora. As propagandas de automóveis e de eletrodomésticos mostravam imagens de um país jovem e moderno, cuja capacidade de produção e consumo equivalia à das potências mundiais. Essas mudanças, porém, tinham limites claros. O crescimento econômico brasileiro era bastante dependente de capitais estrangeiros, a ponto de a dívida externa do país aumentar rapidamente. Os contrastes sociais impediam, também, que toda a sociedade brasileira desfrutasse igualmente dos benefícios trazidos pela industrialização e pelo aumento do consumo. Observe as imagens da abertura deste capítulo. Elas mostram cenas que fazem parte da história do Brasil nos anos 1940-1960. Você consegue identificar alguma pessoa ou produto que aparece nelas? Você tem algum parente ou conhece alguém que viveu nessa época? Que impressões essas pessoas têm desse período da história do Brasil?

À esquerda, o presidente do Brasil, Jânio Quadros, cumprimenta o líder revolucionário e ministro da Indústria e Comércio de Cuba Ernesto Che Guevara. Brasília, 1961; acima, anúncio da indústria de carros DKW Vemag, maio de 1958. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo.

Televisor da década de 1950. Que diferenças você consegue perceber entre este aparelho de televisão e os dos dias de hoje?

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O populismo no México e na Argentina No México, o populismo ficou marcado pela política de Lázaro Cárdenas, presidente do país entre 1934 e 1940. Cárdenas promoveu profundas reformas: distribuiu milhões de hectares de terra para despossuídos, reforçou a legislação trabalhista e desenvolveu projetos de alfabetização da população camponesa. Na Argentina, por sua vez, o discurso populista ficou a cargo de Juan Domingo Perón. Como ministro do Trabalho, em 1945, Perón desenvolveu diversos programas assistencialistas e atrelou os sindicatos ao Estado. Ele foi eleito presidente em 1946, 1952 e 1973. Ao longo de toda sua carreira política, Perón obteve apoio da maioria dos operários argentinos.

Populismo e política de massas No final dos anos 1950, alguns sociólogos preocuparam-se em identificar e nomear certas práticas políticas que ocorriam, simultaneamente, em vários países da América Latina, entre os anos 1930 e 1960. Assim, nasceu o conceito de “populismo”, que por mais de três décadas foi bastante utilizado para definir projetos políticos e governos que buscavam obter apoio dos trabalhadores fazendo concessões sociais e trabalhistas. Segundo essa visão, o populismo corresponderia à abertura de espaços para a participação política dos trabalhadores. Desde as independências até a década de1930, operários e camponeses latino-americanos organizavam-se em sindicatos e federações. Suas reivindicações, porém, raramente eram toleradas pelos regimes oligárquicos que prevaleciam em seus países. Alguns líderes e partidos políticos teriam se aproveitado dessa situação e iniciado um novo tipo de ação política: passaram a defender os interesses dos trabalhadores em seus discursos e, quando estavam no poder, ampliavam os direitos sociais e trabalhistas. Esses governantes também construíam alianças com as lideranças sindicais. Com isso, os trabalhadores conquistavam espaço na vida política, mas perdiam sua independência. O discurso desses políticos enfatizava, ainda, a importância do líder que guiaria o povo e os valores nacionalistas. A partir dos anos 1970, estudiosos passaram a questionar o conceito de populismo, preferindo designá-lo como “política de massas” ou estilo de governo. Segundo eles, a experiência política vivida em cada país deveria ser analisada em sua especificidade e que essa aproximação dos governantes com os trabalhadores ocorria em situações de crise e instabilidade política. Alguns países que seguiram essa prática política tinham sua principal base de apoio entre os camponeses, como o cardenismo, no México, enquanto outros se sustentavam pela aliança com o operariado urbano, como o peronismo, na Argentina. No Brasil, o populismo foi basicamente urbano, sendo Getúlio Vargas e João Goulart seus principais expoentes.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Saiba mais

1. Qual é o significado do conceito de populismo?

2. Na década de 1970, que crítica foi feita a esse conceito?

3. Como o populismo ficou

Bettmann/Corbis/Latinstock

Questões

conhecido no México e na Argentina? Justifique.

O general Lázaro Cárdenas, eleito presidente do México, faz juramento durante a cerimônia de posse, em 2 de dezembro de 1934.

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A redemocratização do Brasil

TERRITÓRIO DO RIO BRANCO

TERRITÓRIO DO AMAPÁ

O avanço militar e a posterior vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial fizeram crescer, no Brasil, as pressões políticas pela democratização. Getúlio Vargas, que governava o país desde 1930, convocou eleições presidenciais. No entanto, com o surgimento do “queremismo”, em 1945, cresceu o temor de que Vargas repetisse o que tinha feito em 1937, quando cancelou as eleições e prolongou sua permanência no governo. Em outubro de 1945, um grupo de militares, apoiado pela oposição, forçou Vargas a renunciar. Decidiu ainda que José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, assumiria a presidência da república e conduziria o país até as eleições. Nas eleições, realizadas em dezembro do mesmo ano, Eurico Gaspar Dutra, do Partido Social Democrático (PSD), foi eleito com mais da metade dos votos. No mesmo dia, os brasileiros escolheram seus representantes na Assembleia Nacional Constituinte, que se reuniria para elaborar a nova Constituição do país. CPdoC-Fgv, rio de Janeiro

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

AM

EQUADOR

MA

PA

CE PI

TERRITÓRIO DO ACRE TERRITÓRIO DO GUAPORÉ

MG

TERRITÓRIO DE PONTA PORÃ TERRITÓRIO DO IGUAÇU

ES SP

PR

RN PB PE AL SE

BA

GO

MT

TERRITÓRIO DE FERNANDO DE NORONHA

aLessandro Passos da Costa

DIVISÃO POLÍTICA DO BRASIL EM 1946

RJ DF

OCEANO ATLÂNTICO

TRÓPICO

DE CAPR ICÓRNI O

SC

RS 600 km

Fonte: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. p. 100.

Região Norte Nordeste Ocidental Nordeste Oriental Centro-Oeste Leste Setentrional Leste Meridional Sul

A Constituição de 1946 extinguiu o território de Ponta Porã, que foi incorporado ao antigo estado do Mato Grosso, e o território do Iguaçu, dividido entre os estados do Paraná e de Santa Catarina.

• A Constituição de 1946

Getúlio Vargas com o general Eurico Gaspar Dutra no Parque da Gávea, Rio de Janeiro, em 1940. CPDOC/FGV, Rio de Janeiro. A proximidade entre o general e Vargas ajudou Dutra a ser eleito presidente em 1945.

Queremismo Movimento surgido no Brasil em 1945 que defendia a permanência de Getúlio Vargas na presidência da república.

A nova Constituição brasileira, promulgada em setembro de 1946, definia a autonomia dos poderes legislativo, executivo e judiciário e o equilíbrio entre eles. Ela também estabelecia o caráter federalista do Estado brasileiro e determinava eleições diretas e obrigatórias para todos os postos do executivo e do legislativo no plano federal, estadual e municipal. Todos os brasileiros alfabetizados e maiores de 18 anos tinham o direito de voto. Soldados e cabos, considerados militares subalternos, foram excluídos das eleições. A Constituição de 1946 tinha caráter liberal e reagia ao autoritarismo e às limitações políticas que prevaleceram durante o Estado Novo. Ela assegurava, portanto, a liberdade de associação, de pensamento e de expressão. Na área da educação, a carta de 1946 estabeleceu o ensino primário e gratuito para todos. A Constituição também manteve algumas heranças do período Vargas, como a submissão dos sindicatos ao Estado. 199

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© Théo

Apesar de a Constituição de 1946 garantir os princípios do Estado democrático, o contexto da Guerra Fria e da influência norte-americana no Brasil limitava as liberdades políticas no país. O Partido Comunista do Brasil (PCB), que tinha participado livremente das eleições de 1945 e da Assembleia Constituinte, passou a ser considerado perigoso pelo governo e foi fechado em maio de 1947. Em janeiro de 1948, os parlamentares eleitos pelo PCB perderam seus mandatos. Entre eles, estavam o deputado federal e escritor Jorge Amado e o senador e antigo participante do movimento tenentista Luís Carlos Prestes. Além disso, o Brasil rompeu relações diplomáticas com a União Soviética. Em 1948, a criação da Organização dos Estados Americanos (OEA) reforçou o alinhamento estratégico do Brasil com os Estados Unidos. Os objetivos principais da organização eram ampliar e favorecer os vínculos entre os Estados americanos, garantir a paz e a segurança no continente e promover a democracia e o desenvolvimento econômico, social e cultural nas Américas. A atuação da OEA contribuiu para consolidar a hegemonia dos Estados Unidos no continente e para limitar a influência do regime soviético.

Charge do cartunista Théo publicada na revista Careta, em 1947. O ministro da Fazenda Pedro Luís Correia e Castro e o presidente Eurico Gaspar Dutra lidam com os problemas do país. Quais acontecimentos do governo Dutra você consegue identificar na imagem?

Arquivo/Agência Estado

• O Brasil na Guerra Fria

Linha de montagem da Ford Motors do Brasil, onde foi fabricado o F-600, o primeiro caminhão da empresa produzido no país, março de 1955.

• Os rumos da economia A política econômica do governo Dutra teve caráter liberal. Ela estimulou a entrada de produtos estrangeiros no país, principalmente norte-americanos, que ficaram mais baratos para os brasileiros. O forte aumento das importações, no entanto, reduziu as divisas brasileiras. Para frear esse processo, que provocava desvalorização da moeda e alta inflacionária, o país passou a limitar, a partir de 1947, o ingresso de mercadorias estrangeiras. A alta do preço do café no mercado internacional contribuiu para recuperar e aumentar as reservas brasileiras. O crescimento industrial foi a preocupação central do governo Dutra, que facilitou o acesso ao crédito para aquisição de máquinas e investiu no setor de transportes e na produção de energia. Esses objetivos faziam parte do plano de metas de Dutra, conhecido como Salte (saúde, alimentação, transporte e energia). No conjunto, entre 1947 até o final do mandato de Dutra, a economia nacional viveu um período positivo, de crescimento anual de cerca de 8%.

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Getúlio Vargas voltou a concorrer à presidência nas eleições de outubro de 1950. A candidatura de Vargas contava com o apoio de seu partido, o PTB, e de Adhemar de Barros, do Partido Social Progressista (PSP), que tinha muitos eleitores paulistas. Durante a campanha, vários setores do PSD, partido de oposição, também passaram a apoiar Vargas, abandonando o próprio candidato do partido, Cristiano Machado, que recebia apoio de Dutra. Vargas venceu a corrida presidencial, obtendo 48,7% dos votos, contra 29,7% do brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da UDN, e 21,5% de Cristiano Machado. Como a Constituição de 1946 não previa segundo turno, o candidato que obtivesse a maioria simples venceria as eleições. Assim, Vargas retornava ao poder, mas, pela primeira vez, através do voto direto. Dessa maneira, confirmava o imenso prestígio que havia acumulado durante seu último governo. Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• As novas metas de Vargas

CPDOC-FGV, Rio de Janeiro

A volta de Getúlio Vargas ao poder

Folheto da campanha de Getúlio Vargas à presidência, 1950. CPDOC/FGV, Rio de Janeiro.

Fundação Getúlio Vargas - CPDOC, Rio de Janeiro

Em seu novo governo, Vargas priorizou a industrialização do país e criou mecanismos para conter a inflação, que crescia aceleradamente. Outro objetivo de sua nova gestão era ampliar a capacidade de consumo dos brasileiros, garantindo um mercado interno suficientemente grande. Vargas também lançou o Plano Nacional de Reaparelhamento Econômico, em 1951, com o objetivo de conciliar o controle inflacionário com a industrialização. Essa nova política econômica insistia na necessidade de melhorar os transportes e os portos, explorar novas fontes de energia, ampliar a indústria de base e modernizar a agricultura. Em 1952, com a inauguração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), Vargas buscou oferecer créditos para o desenvolvimento de novos projetos empresariais públicos e privados.

Getúlio Vargas (o terceiro da esquerda para a direita) durante reunião do Partido Trabalhista Brasileiro, no Rio Grande do Sul, 1950. CPDOC/FGV, Rio de Janeiro.

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No governo Vargas, a questão energética também passou a ser tratada como assunto de interesse nacional. Naquele período, acreditava-se que o crescimento de um país dependia da obtenção de recursos energéticos regulares e diversificados, que movessem suas fábricas e seus transportes. Além disso, a crescente urbanização aumentava significativamente o consumo doméstico de energia elétrica. Em 1954, Vargas propôs a criação da Eletrobras, que tinha o objetivo de promover a construção de usinas geradoras e aumentar as linhas de transmissão e fornecimento de energia elétrica. O projeto, no entanto, enfrentou forte resistência de alguns parlamentares e de empresas estrangeiras, que até então controlavam a geração e a difusão desse tipo de energia no Brasil. A instalação da Eletrobras, que existe até hoje, só foi concretizada oito anos depois.

• O direito ao subsolo

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Reprodução - Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo

A nacionalização do petróleo era uma antiga reivindicação de muitos brasileiros. Na década de 1930, o escritor Monteiro Lobato publicou o livro O escândalo do petróleo (1936), em que acusava o governo de não explorar o petróleo que havia no subsolo brasileiro. As críticas do autor aos responsáveis pela política energética no Estado Novo acabaram por levá-lo, em 1941, à prisão. Em 1948, um grupo de intelectuais, militares e políticos brasileiros fundou o Centro de Estudos e Defesa do Petróleo, no Rio de Janeiro. O objetivo era limitar a atuação de empresas estrangeiras na exploração do petróleo e assegurar a exclusividade de empreendimentos nacionais. A campanha, cujo lema era “O petróleo é nosso!”, recebeu apoio de todas as partes do país. Sob pressão, o mesmo Vargas que havia liderado a perseguição a Lobato realizou a maior transformação que o Brasil já tinha vivido no setor energético. Em 1953, ele criou a Petrobras, empresa controlada pelo Estado brasileiro, que assumiu o monopólio da exploração do petróleo em território nacional. Acervo Iconographia

Anúncio de liquidificador publicado na revista O Cruzeiro, em 1954. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo. Na década de 1950, o consumo de energia elétrica no Brasil aumentou muito, assim como o uso de eletrodomésticos.

• Eletricidade para o Brasil

Membros do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, declaram seu apoio à campanha “O petróleo é nosso”, 1948.

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Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• Oposição e crise política

Saiba mais

Logo que Vargas voltou à presidência, uma marchinha de Carnaval, composta por Mário Pinto e Haroldo Lobo, brincou com retorno do presidente e com a sua popularidade: “Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar”. Dois anos depois, no entanto, o panorama era bem diferente. O prestígio do “velho” nos setores sindicais ligados ao PTB ainda era grande, mas Vargas enfrentava greves operárias, protestos populares e reivindicações de aumento salarial. Além disso, a inflação continuava alta, o déficit da balança comercial crescia, a imprensa denunciava casos de corrupção e a UDN, principal partido de oposição, reagia às medidas nacionalistas na economia. No esforço de reconquistar o apoio dos trabalhadores, Vargas decretou, em maio de 1953, um aumento do salário mínimo e, no mês seguinte, nomeou João Goulart, conhecido como Jango, para o Ministério do Trabalho. Jango deveria conduzir as negociações com o operariado. Porém, a tentativa fracassou e, no início de 1954, em meio à violenta reação da oposição, foi afastado do cargo.

A morte de Vargas A crise intensificou-se em 5 de agosto de 1954, quando o principal líder da UDN, Carlos Lacerda, sofreu um atentado. Ele se salvou, mas seu guarda-costas morreu. O governo foi imediatamente acusado de ter planejado a morte do adversário político, e a situação piorou quando o chefe da guarda presidencial, Gregório Fortunato, foi identificado como mandante do crime. Assim, militares e civis ligados à oposição lançaram um manifesto pedindo a renúncia de Vargas. Sem conseguir reagir politicamente à crise, Vargas suicidou-se com um tiro no coração, no dia 24 de agosto. Ele deixou, ao lado do corpo, uma carta-testamento em que acusava seus adversários de querer prejudicar o país e afirmava ter dado a vida pelo povo brasileiro. Leia, a seguir, um trecho dessa carta.

O poder dos jornais O jornal era um meio muito utilizado pelos políticos para atacar seus adversários. O jornal carioca Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, por exemplo, criticava duramente o governo Vargas, enquanto este rebatia as críticas por meio do jornal Última Hora, dirigido por Samuel Wainer. Quando Vargas se suicidou, muitos brasileiros se comoveram e foram às ruas para acompanhar o cortejo do corpo, lembrar o passado do presidente e criticar a oposição. Samuel Wainer aproveitou a comoção popular e a presença de Lacerda nas cerimônias fúnebres de Vargas e publicou um editorial no jornal Última Hora chamando o político da UDN de “corvo”.

Espoliação Privação; usurpação; ato ou efeito de privar alguém de algo que lhe pertence ou tem direito.

A carta-testamento de Vargas

calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.

15-F-C10-H9: CHARGE SATIRIZANDO GETÚLIO VARGAS. REF.: HTTP://WWW.JBLOG.COM. BR/HOJENAHISTORIA

Carta-testamento de Getúlio Vargas [24 ago. 1954]. Disponível em www.cpdoc.fgv.br. Acesso em jul. 2011.

CHICO CARUSO/AGÊNCIA JB

Lutei contra a espoliação do povo. Tenho “ lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a

Getúlio Vargas, charge de Chico Caruso publicada no Jornal do Brasil, 17 de abril de 1983.

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A sucessão de Vargas

Charge que critica a política industrial de JK, publicada no jornal Última Hora, dezembro de 1956. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. Qual é a crítica feita pelo cartunista nessa charge?

O governo JK Juscelino Kubitschek defendia o lema “cinquenta anos em cinco”. Sua meta era promover o desenvolvimento acelerado do Brasil. Para isso, Juscelino pretendia atrair tecnologia e capitais estrangeiros para o país, eliminando barreiras nacionalistas e protecionistas impostas durante o governo Vargas. Juscelino também pretendia oferecer vantagens para as multinacionais que desejassem se instalar no Brasil, como reserva de mercado para seus produtos, facilidades na remessa de lucros para o exterior, baixa tributação na importação de maquinário industrial etc. O principal interesse do governo JK era estimular a produção de bens de consumo duráveis, que abastecessem principalmente a classe média das grandes cidades. Televisores, geladeiras, fogões, liquidificadores, lavadoras de roupa, automóveis e outros itens associados à modernização e ao maior conforto passaram, assim, a fazer parte do cotidiano de muitos brasileiros.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Reprodução - Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

Com a morte de Vargas, o vice João Café Filho assumiu a presidência com a tarefa de completar o mandato e garantir o processo eleitoral que, em outubro de 1955, definiria o novo presidente. Após a derrota nas duas eleições anteriores, a UDN acreditava que conseguiria finalmente chegar ao poder e, dessa forma, apresentou a candidatura de Juarez Távora, ex-participante do movimento tenentista. O PTB e o PSD, oficialmente aliados, lançaram o governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek (PSD), candidato à presidência, e João Goulart (PTB) à vice-presidência. A vitória de Juscelino e Jango abriu uma nova crise política. Alguns militares e setores civis ligados à UDN tentaram impedir a posse dos eleitos. O ministro da Guerra Henrique Teixeira Lott, contudo, bloqueou os esforços golpistas e assegurou o respeito aos resultados das eleições. No dia 31 de janeiro de 1956, Juscelino assumiu a presidência do Brasil.

Marcas de fora no Brasil O maior símbolo da expansão da indústria de bens duráveis no Brasil durante os anos JK foi o automóvel. Subsidiárias de empresas europeias e norte-americanas do setor automobilístico, como a Ford, a General Motors e a Volkswagen, instalaram montadoras no país, assim como fábricas de autopeças (Pirelli, Goodyear etc.), ansiosas pelo amplo mercado que se abria. Além dessas empresas, multinacionais estrangeiras de alimentos, como a Nestlé e a Coca-Cola, também ampliaram sua atuação no Brasil, e seus produtos passaram a frequentar as mesas de milhões de brasileiros. Empresas dos ramos farmacêutico, petroquímico e eletroeletrônico igualmente se aproveitaram da abertura brasileira e aqui implantaram filiais. Anúncio de salsichas, publicado na revista O Cruzeiro, em janeiro de 1954. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo.

Reprodução - Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo

Saiba mais

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O governo JK elaborou o Plano de Metas, um conjunto de trinta itens que tinham por objetivo principal modernizar a economia nacional. Por meio dele, o governo privilegiava investimentos em cinco setores fundamentais para o desenvolvimento do Brasil: energia, transporte, indústria de base, alimentação e educação. O governo assumia, assim, a responsabilidade de aprimorar a infraestrutura do país, tornando-a adequada para o salto industrial e econômico que se pretendia dar. Muitas rodovias, ferrovias e portos passaram por reformas modernizadoras que melhoraram a circulação de insumos e mercadorias. O governo também promoveu o aumento no refino de petróleo e a ampliação no fornecimento de energia elétrica, com a construção das usinas hidrelétricas de Furnas e Três Marias, ambas no estado de Minas Gerais. Apesar do crescimento econômico acelerado, o Brasil continuava a enfrentar graves problemas sociais, como o alto índice de analfabetismo, a pobreza, principalmente nas áreas rurais, e a concentração de renda. A desigualdade regional era outro problema a ser enfrentado pelo governo, já que a industrialização e o enriquecimento concentravam-se na Região Sudeste. Na tentativa de atenuar os contrastes internos, o governo criou, em 1959, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Subordinada diretamente à presidência da república, seu objetivo era modernizar a agricultura nordestina e estimular projetos de irrigação em áreas castigadas pela seca, atuando paralelamente a outro órgão federal, o Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS). A interferência da Sudene, no entanto, não alterou significativamente o panorama dos campos nordestinos e contribuiu para aumentar o aparato burocrático governamental.

© théo

Charge do cartunista Théo publicada na revista Careta em 1960. Juscelino é retratado explicando seu Plano de Metas a um trabalhador rural.

Esta imagem será explorada nas Atividades

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Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• O Plano de Metas e a Sudene

vale a pena assistir Os anos JK: uma trajetória política Nacionalidade: BRA Direção: Silvio Tendler Ano: 1980 Duração: 110 min

ENTRA CAPA DO DVD

O documentário acompanha a trajetória política de Juscelino Kubitschek desde o início de sua carreira política até o exílio, imposto pelo regime militar. Por meio de entrevistas com os participantes e imagens de arquivo, revela-se o delicado jogo político do período, que quase inviabilizou sua posse como presidente. O diretor aborda, ainda, o uso de obras públicas para obter visibilidade política, como o conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, e a construção de Brasília, assim como a política desenvolvimentista, centrada na industrialização do país.

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Saiba mais A bossa nova A bossa nova foi um estilo musical brasileiro que surgiu no Rio de Janeiro, em 1958. Com forte influência da música norte-americana, a bossa nova misturou o ritmo do samba sincopado (“samba de breque”) com a harmonia do jazz norte-americano. João Gilberto, Vinicius de Moraes e Antônio Carlos Jobim são os grandes nomes consagrados desse estilo musical. No final da década de 1950, a expressão “bossa nova” passou a ser utilizada para designar qualquer atitude identificada com o novo e o moderno. O presidente JK, que convidou Jobim e Vinicius a compor a música Brasília, sinfonia da alvorada, chegou a ser chamado de “presidente bossa nova”.

• A mudança da capital Durante a campanha eleitoral de 1955, JK assumiu o compromisso de transferir a capital para a região central do Brasil. A ideia de tirar a sede do governo federal do litoral já havia aparecido em muitos discursos políticos desde a metade do século XIX, mas até então nenhum presidente tinha levado adiante a proposta. A cidade foi projetada pelo urbanista Lúcio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer e construída por migrantes, muitos deles nordestinos, que foram chamados de candangos. O governo JK acelerou a construção da nova capital e Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Os motivos oficiais para a transferência da capital brasileira centravam-se na importância que a cidade poderia representar para o desenvolvimento da região central do Brasil. Porém, muitos criticaram a mudança, apontando que a intenção do governo era proteger e isolar o núcleo do poder, tirando-o do Rio de Janeiro, cidade marcada por uma história de protestos e mobilizações populares. A construção de Brasília beneficiou grandes empreiteiras e aumentou substancialmente os gastos do governo, aprofundando as dificuldades econômicas que o país enfrentava. O arquiteto Oscar Niemeyer traz, no relato a seguir, algumas lembranças da construção de Brasília.

Brasília se iniciou, e eu levado para aquele fim de mundo, com os seus desconfortos e compromissos. Contávamos com o apoio integral de JK e isso compensava o ambiente hostil que nos cercava, longe de tudo, oprimidos pelo silêncio, pela poeira vermelha, a terra encharcada do cerrado, ou por problemas que antes desconhecíamos, as amizades paralelas e inevitáveis. E quatro anos depois a cidade a se inaugurar, o prazer da tarefa cumprida [...].

Oscar Niemeyer [1960]. Fundação Oscar Niemeyer. Disponível em www.niemeyer.org.br. Acesso em 1o set. 2011.

Vista do Palácio do Congresso Nacional do Brasil, Brasília, 2011.

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O Brasil conheceu, durante o governo de Juscelino, índices impressionantes de crescimento. O setor de equipamentos para transportes, por exemplo, cresceu cerca de 600%, e a ampliação da indústria de comunicações passou de 350%. Porém, o endividamento interno e o externo aumentaram quase nas mesmas proporções. Os empréstimos estrangeiros subiram mais de 150% e a dívida brasileira com bancos e organismos internacionais ultrapassou, ao final do mandato de JK, 3 bilhões de dólares. A moeda brasileira desvalorizava-se enquanto a inflação e o custo de vida atingiam níveis muito altos. A celebração em torno do crescimento econômico nacional convivia, em várias partes do país, com protestos e greves populares, mostrando que os “cinquenta anos em cinco” também traziam altos custos sociais. Para tentar superar a crise, o governo recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que se recusou a emprestar mais dinheiro ao país caso não fosse implantada uma política de controle da inflação. Diante do impasse, JK declarou, em 1959, o rompimento com o FMI.

Wilson Pedrosa/Agência Estado

• Crescer e endividar-se

George Holton/Photo Researchers/Diomedia

Festa na Esplanada dos Ministérios, na comemoração do aniversário de 50 anos de Brasília, em 21 de abril de 2010.

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Nas campanhas eleitorais de 1960, o PSD e o PTB mantiveram sua aliança política e lançaram a candidatura presidencial de Henrique Teixeira Lott, que havia impedido a tentativa de golpe contra a posse de JK. Outra aliança de partidos, liderada pelo Partido Democrata Cristão (PDC), indicou o nome de Jânio Quadros, político que havia governado o estado de São Paulo e que criticava a corrupção e a imoralidade no país. O candidato a vice-presidente na chapa do PSD-PTB era João Goulart, ligado ao trabalhismo e visto como herdeiro político de Vargas. O candidato a vice de Jânio era Milton Campos, senador por Minas Gerais. Nesse período, os eleitores votavam separadamente para presidente e vice-presidente. Assim, durante a campanha, muitos começaram a pregar o voto “Jan-Jan”: Jânio para presidente, Jango para vice-presidente. A ideia ganhou força e, em outubro de 1960, a maioria dos brasileiros escolheu presidente e vice de chapas diferentes.

• Ambiguidades no governo de Jânio O governo de Jânio foi marcado por controvérsias. Apesar de defender uma política externa independente, Jânio restabeleceu relações com o FMI e adotou uma política de austeridade fiscal, voltada à redução do déficit público. Para isso, promoveu o congelamento de salários, a restrição do acesso ao crédito e a demissão de funcionários públicos. Além disso, os subsídios governamentais à importação de petróleo e trigo foram cortados, elevando os preços de combustíveis e de itens básicos da alimentação. Como demonstração da autonomia internacional que pregava, Jânio restabeleceu relações diplomáticas com a China comunista e a União Soviética. Ele também criticou a postura norte-americana de bombardear a Baía dos Porcos, em Cuba, em 1961. Em agosto do mesmo ano, condecorou Ernesto “Che” Guevara, líder guerrilheiro da Revolução Cubana e ministro da Indústria e Comércio de Cuba.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Bohemia Magazine/AP Photo/ Glowimages

O líder cubano Fidel Castro salta de um tanque, durante a resistência à invasão dos Estados Unidos à Baía dos Porcos, em Cuba, abril de 1961.

A eleição de Jânio Quadros

A hora da vassoura

© Théo

Saiba mais

Desde a campanha, Jânio apresentava-se como moralizador e denunciava a corrupção na administração pública. Ele usava uma vassoura como símbolo e prometia “varrer” os corruptos. Porém, ao assumir o governo, Jânio não promoveu alterações profundas no funcionalismo do Estado nem conseguiu frear o desvio de dinheiro público. Algumas de suas medidas moralizadoras também soavam mais curiosas do que eficazes. Ele proibiu, por exemplo, o uso de biquíni nas praias e a realização de brigas de galo. Charge do cartunista Théo publicada na revista Careta, em 1960, representando Jânio Quadros com uma vassoura. O presidente prometeu promover uma limpeza no serviço público, mas renunciou com menos de um ano de mandato.

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ACERVO FOLHA DE S.PAULO

• A renúncia de Jânio A relação de Jânio com o Congresso Nacional foi marcada por tensões e pela dificuldade de estabelecer negociações e diálogos com o legislativo. Além disso, o presidente recusou interferências partidárias na sua administração, isolando-se no Palácio do Planalto. Pressionado, Jânio renunciou no dia 25 de agosto de 1961, argumentando que “forças terríveis” impediam que ele governasse o país. Os reais motivos da renúncia nunca foram esclarecidos. Acredita-se, contudo, que Jânio teria pretendido dar um golpe para fechar o Congresso e aumentar seu poder. Ele teria acreditado que os brasileiros sairiam às ruas para protestar e pedir seu retorno. Se a renúncia era de fato uma jogada política, ela não foi bem-sucedida. O Congresso aprovou a renúncia e nenhuma mobilização popular ocorreu.

Quando Jânio renunciou, o vice João Goulart estava em viagem oficial à China. Vários setores militares e políticos brasileiros rejeitavam a sua posse, pois, além de estar, naquele momento, em um país socialista, ele representava a herança política de Vargas, sendo muito próximo dos sindicatos e dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, lideranças sindicais e estudantis começaram a se mobilizar em defesa da posse de Jango. Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, conclamava os brasileiros, em atos públicos e pelo rádio, a defender a Constituição e garantir a posse de Goulart. Nesse embate, o Congresso Nacional oficializou Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, como presidente provisório. A saída encontrada para aplacar os ânimos foi a adoção de um regime parlamentarista. Na prática, isso significava que Jango tomaria posse, mas seus poderes seriam bastante limitados. O Congresso também estabeleceu que haveria um plebiscito em 1965 para definir se o Brasil continuaria parlamentarista ou se retornaria ao presidencialismo. Aliados políticos de Jango conseguiram antecipar o plebiscito para janeiro de 1963, e cerca de 80% dos eleitores definiram a volta do presidencialismo.

Notícia sobre a renúncia do presidente Jânio Quadros publicada no jornal Folha de S.Paulo, em 25 de agosto de 1961.

Parlamentarismo Sistema em que a chefia do governo é exercida pelo primeiro-ministro, e não pelo presidente.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS - CPDOC, RIO DE JANEIRO

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A crise sucessória

O vice-presidente João Goulart durante sua visita à China, em agosto de 1961. CPDOC/FGV, Rio de Janeiro. A renúncia de Jânio durante a viagem de Jango à China alimentou rumores de que o Brasil corria o perigo de sofrer um golpe comunista.

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As Ligas Camponesas foram fundadas pelo advogado e político Francisco Julião, em Pernambuco, espalhando-se, em seguida, na Paraíba, no Rio de Janeiro e em Goiás. As ligas eram compostas por uma ampla e diversificada categoria de trabalhadores, como foreiros, meeiros, arrendatários e pequenos proprietários de terra. Elas defendiam esses trabalhadores rurais contra os abusos dos proprietários de terras, reivindicando, principalmente, a distribuição de terras e a extensão das leis trabalhistas ao setor rural.

Rodoviários realizam assembleia durante a greve geral que paralisou 700 mil trabalhadores de 78 sindicatos. São Paulo, outubro de 1963. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro.

Ainda sob o sistema parlamentarista, o governo João Goulart lançou o Plano Trienal, elaborado pelo ministro do Planejamento Celso Furtado. O plano pretendia estimular o crescimento econômico do país e reduzir a concentração de renda. Para isso, o governo adotou medidas de estímulo à industrialização, ao controle inflacionário, à diminuição dos gastos governamentais, à redução do déficit público e ao corte de subsídios às indústrias e às importações. O Plano Trienal também previa a criação de impostos diferenciados para a população de alta renda, a implantação de um programa de reforma agrária e o controle dos salários e dos investimentos públicos no setor produtivo e em projetos sociais.

• As reformas de base Após o plebiscito que definiu a volta do presidencialismo, Jango aproveitou o apoio popular e divulgou sua intenção de realizar um conjunto de reformas de base, direcionadas à superação de problemas sociais. As propostas reformistas incluíam mudanças significativas no setor educacional, habitacional, trabalhista e na política de divisão e distribuição de terras. Elas também propunham maior controle sobre as atividades bancárias e limitação das remessas de lucros ao exterior, além da ampliação do direito de voto aos analfabetos e da regulamentação dos direitos dos trabalhadores rurais. Nesse contexto, diversos movimentos sociais começaram a se organizar para pressionar o governo pela realização dessas reformas, como o movimento estudantil, liderado pela União Nacional dos Estudantes (UNE), os grupos progressistas ligados à Igreja Católica, os sindicatos de trabalhadores urbanos e rurais e as Ligas Camponesas. As reformas de base nunca chegaram a ser implementadas, mas seu teor nacionalista e popular incomodou os setores conservadores da sociedade. Nos meses que se seguiram, houve uma grande polarização política no Brasil, e o presidente também perdeu o apoio dos grupos moderados.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

As Ligas Camponesas

O governo João Goulart

Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional

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agênCia o gLoBo

Em 13 de março de 1964, Jango participou de um grande comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Durante o evento, ele anunciou medidas que nacionalizavam refinarias de petróleo e desapropriavam terrenos rurais para fins de reforma agrária. Alguns setores da sociedade brasileira reagiram fortemente às reformas. Empresários, militares e membros das classes médias urbanas temiam que as medidas do governo indicassem a implantação de um regime comunista no Brasil. No dia 19 de março, os setores mais conservadores da sociedade reagiram com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo, em que milhares de pessoas saíram às ruas em oposição a Jango. O país vivia uma situação interna crítica e circulavam rumores de que os militares planejavam intervir na política e derrubar João Goulart. A radicalização política se intensificou até o dia 31 de março, quando o golpe tantas vezes anunciado realmente ocorreu. João Goulart, derrubado da presidência, seguiu para o exílio no Uruguai e os militares assumiram o poder no Brasil.

O presidente João Goulart cumprimenta a população após comício realizado em frente à estação ferroviária Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964.

navegue neste site Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) O CPDOC foi criado em 1973 e sua sede localiza-se na cidade do Rio de Janeiro. O CPDOC possui conjuntos documentais sobre a história recente do Brasil e reúne o principal acervo de arquivos pessoais de homens públicos do país. O centro também desenvolve pesquisas sobre a história do Brasil contemporâneo e promove cursos de graduação e pós-graduação. Faça uma visita ao site do CPDOC e descubra um pouco mais sobre a instituição. 1. Acesse o site http://cpdoc.fgv.br. 2. Para obter informações sobre o CPDOC, clique no link Sobre o CPDOC, na parte superior. 3. Para conhecer o acervo do CPDOC, você deve clicar no link Acervo, na parte superior direita. Ao clicar em Consulta à base, no lado esquerdo da tela, você poderá consultar três fontes de pesquisa: documentos de arquivos pessoais, entrevistas de história oral e verbetes do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. 4. No link Produção, também na parte superior, você encontrará diversos textos e imagens sobre alguns acontecimentos da história do Brasil, como o governo Vargas e a construção de Brasília.

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• O golpe militar de 1964

Página de abertura do site do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil.

Continue navegando pelo site e descubra informações interessantes sobre o populismo no Brasil e os presidentes do período estudados neste capítulo. Você ainda poderá ver diversas fotos da época e muito mais.

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Enquanto isso... A paixão nacional na “pátria de chuteiras”

Estádio do Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro, em 2008. O nome do estádio é uma referência ao Rio Maracanã, que cruzava os bairros da Tijuca e de São Cristóvão, desaguando nas águas da Baía da Guanabara.

então e motivo de orgulho para muitos brasileiros. O Maracanã foi palco da final da Copa do Mundo de 1950, disputada entre Brasil e Uruguai. A partida reuniu aproximadamente 200 mil pessoas, que lamentaram a derrota do Brasil, até hoje lembrada com tristeza pelos amantes do esporte. A Copa seguinte, ocorrida em 1954, ano do suicídio do presidente Getúlio Vargas, também contou com a participação do Brasil. Após a derrota em 1950, a seleção sofria, fora dos campos, a pressão dos dirigentes e das autoridades do país para voltar com um bom resultado. Porém, o Brasil foi eliminado nas quartas de final pela Hungria. Ao final da partida, uma grande confusão envolvendo jogadores brasileiros e húngaros tornou-se uma pancadaria sem precedentes, que recebeu o nome de Batalha de Berna. Renata Mello/Pulsar Imagens

As décadas de 1950 e 1960 foram marcadas por uma série de eventos muito importantes para a história do Brasil. O país vivia um clima interno de euforia e conquistava reconhecimento internacional em diversas áreas. Na música, a bossa nova ganhou as rádios do mundo; na arquitetura, Oscar Niemeyer elevou a arquitetura nacional a uma das mais criativas do período. Nos esportes, em 1952, o atleta Adhemar Ferreira da Silva conquistou sua primeira medalha de ouro olímpica nos Jogos de Helsinque. Maria Esther Bueno, importante tenista brasileira, venceu, em 1959, o torneio de Wimbledon. Mas nenhum outro esporte expressou tão bem a situação interna do Brasil quanto o futebol. Em 1950, na cidade do Rio de Janeiro, foi inaugurado o Maracanã, maior estádio de futebol do mundo até

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Apenas em 1958, já na presidência de JK, o Brasil venceu sua primeira Copa do Mundo, contra a Suécia, anfitriã do torneio. Conta-se que o presidente teria feito um pedido especial aos jogadores: garantir a vitória da seleção diante da União Soviética. Em plena Guerra Fria, uma derrota para a principal potência adversária dos Estados Unidos poderia ser mal interpretada pelos aliados capitalistas. Garrincha foi o maior nome da Copa do Mundo de 1962, realizada no Chile. As jogadas do atleta foram decisivas para a vitória brasileira no torneio. O presidente João Goulart recebeu com pompa a seleção brasileira, e os jogadores foram elevados à categoria de “heróis nacionais”. No entanto, o clima de euforia começava a se dissipar e a tensão desenhava-se no cenário político do país. A população reivindicava melhores salários, emprego, moradia e escolas. Até mesmo os jogadores reclamavam sua parte nos lucros dos clubes. Veja, a seguir, o que o historiador Hilário Franco Júnior escreveu sobre o período.

As pernas tortas não impediram que Garrincha se tornasse um dos maiores jogadores de futebol do mundo. Sua velocidade em campo e seus dribles desconcertantes e cinematográficos encantaram cronistas de futebol do mundo inteiro. agênCia o gLoBo

O clima de reivindicação atingiu também o “ futebol. Após as conquistas da seleção brasileira, os grandes times viajavam pela Europa em excursões que davam bons rendimentos aos clubes e a seus dirigentes. [...] Os trabalhadores da bola começaram a solicitar sua parte. Em 1962, Garrincha desentendeu-se com os dirigentes. Queria receber melhores salários, assinar melhores contratos, ser mais considerado pelo clube. Mas ele não cuidava da saúde [...]. Treinava pouco, engordava, jogava mal e era vaiado. Foi para o banco de reservas. A alegria do povo estava acabando. Na política também.

FRANCO JÚNIOR, Hilário. A dança dos deuses: futebol, cultura, sociedade. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 137-138.

Questões 1. Em 1958, a seleção brasileira de futebol venceu,

4. No texto, o autor afirma que a tristeza dos

pela primeira vez, a Copa do Mundo. Relacione a euforia provocada por essa vitória com a política desenvolvimentista do presidente JK.

brasileiros diante do declínio da carreira de Garrincha também existia na política daquele período. Explique essa associação feita por ele.

2. Por que no início da década de 1960 o Brasil

5. Reúna-se com cinco colegas, escolham um

vivia um momento de crise e tensão política?

3. Segundo o texto de Hilário Franco Júnior, quais eram as reivindicações de muitos jogadores de futebol na década de 1960?

time de futebol do Brasil e façam uma pesquisa sobre a sua origem. Pesquisem datas, locais, os grupos que organizaram os clubes, outras atividades esportivas anteriores e curiosidades sobre campeonatos e jogadores.

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Atividades Compreender os conteúdos

Ampliar o aprendizado

1. Leia as afirmativas a seguir sobre a Consti-

6. O conceito de populismo foi bastante utiliza-

a) A Constituição de 1946 estabeleceu o caráter federalista do Estado brasileiro. b) Ficou decidido que todos os brasileiros maiores de 18 anos podiam votar, inclusive analfabetos, soldados e cabos. c) Os sindicatos e o direito de greve foram proibidos. d) A Constituição promulgada em setembro de 1946 tinha caráter liberal e marcou o retorno da democracia à sociedade. e) As eleições de 1945 também definiram os parlamentares responsáveis por elaborar a nova Constituição do país, a quarta da república.

2. Explique alguns motivos da forte aproximação entre Brasil e Estados Unidos no pós-Segunda Guerra Mundial. Cite uma consequência dessa aproximação durante o governo Dutra.

3. Caracterize as alianças e acordos políticos que auxiliaram Vargas a retornar à presidência da república, em 1950.

4. Responda às questões a seguir sobre o governo de Juscelino Kubitschek.

a) Qual era o lema de JK durante as eleições de 1955? O que ele significava? b) Como o presidente propunha alcançar esse objetivo? c) É possível afirmarmos que JK cumpriu essa promessa eleitoral? Justifique.

5. Preencha o quadro comparativo a seguir sobre a política externa e interna dos presidentes Dutra, Getúlio Vargas (em seu segundo mandato), JK e Jânio Quadros.

Política interna Política externa Dutra Getúlio Vargas JK Jânio Quadros

do para caracterizar a política brasileira da década de 1940 ao governo de João Goulart. A partir da década de 1980, as mesmas práticas políticas antes chamadas de populistas passaram a ser nomeadas por alguns historiadores de “política de massas”. Sobre o assunto, responda às questões. a) Que práticas políticas dos governos brasileiros entre 1945 e 1964 podem ser consideradas exemplos de “populismo” ou “política de massas”? b) Qual teria sido o papel da propaganda nessas experiências políticas? c) Qual é a principal diferença entre as práticas populistas desenvolvidas por Getúlio Vargas e João Goulart e o populismo que caracterizou a atuação política de Jânio Quadros? d) Na sua opinião, os últimos governos brasileiros têm tomado medidas que podem ser consideradas como populistas ou “política de massas”?

7. Observe atentamente a charge de Théo, na página 205, e responda às questões. a) Quem são os personagens representados na charge?

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tuição de 1946 e corrija as incorretas.

b) O que a charge critica? Justifique. c) É possível identificar a opinião do autor da charge sobre JK? Justifique.

8. O clima de tensão criado pela renúncia de Jânio Quadros levou à instalação de um sistema de governo parlamentarista no Brasil. Sobre esse acontecimento, responda. a) Como foi a campanha política que levou à eleição de Jânio como presidente e Jango como vice-presidente, mesmo concorrendo por partidos diferentes? b) Por que o sistema parlamentarista de governo foi considerado a melhor solução para a crise política resultante da renúncia de Jânio Quadros? c) Quais eram os setores da sociedade brasileira interessados em limitar os poderes do presidente da república?

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9. Em janeiro de 1963, após o plebiscito que decidiu pelo retorno do regime presidencialista, o presidente João Goulart manifestou seu interesse em lançar um programa de reformas para diminuir os problemas sociais existentes no país, tanto nas cidades quanto nas áreas rurais.

a) Quais reformas Jango pretendia implantar? b) Alguns setores organizados da sociedade pressionaram o governo para que as reformas fossem efetivamente implantadas. Que setores eram esses? c) Que setores reagiram negativamente a essas reformas? Por quê?

História feita com arte © Julia dos Santos Baptista - Coleção particular

10. A construção de Brasília foi uma das metas

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

do governo de Juscelino Kubitschek. Com um colega, leiam atentamente o texto a seguir, observem a imagem e respondam às questões.

Logo o Núcleo Bandeirante, conjunto habitacional para alojar os funcionários da Novacap, foi montado e a cidade [Brasília] passou a receber milhares de migrantes e estrangeiros [...] em meados de 1957. Esses trabalhadores de Brasília foram apelidados de ‘candangos’. Enfrentavam jornadas de até 14 horas de trabalho, salários iniciais irregulares. Vinham de toda parte do país, especialmente do Nordeste. ‘[...] Traziam nas roupas, na sola do pé, no rosto, a poeira vermelha levantada pelos raros caminhões que passavam por aquelas redondezas, vindos dos confins do sertão [...]. Instalavamse onde dava – pois a cidade ainda era de todos e de ninguém: desbastavam o mato e armavam abrigos de lona como podiam, apenas para dormir – dormir e sobreviver.’

PIRES, Lucas Rodrigues da Motta. O Brasil de Juscelino Kubitschek. São Paulo: Landy, 2006. p. 147. (Coleção Novos caminhos)

a) Segundo o texto, quem eram os trabalhadores de Brasília? Como eles foram chamados? b) Relacionem o texto com a pintura de Julia dos Santos. Que personagens foram representados? Por que um deles está vestindo um chapéu de cangaceiro? Que outra descrição feita no texto pode ser identificada na imagem? c) Quais eram as condições de trabalho dos funcionários que construíram Brasília?

Dois candangos no cerrado, pintura de Julia dos Santos Baptista, 2010.

Pesquisar 11. O golpe militar de 1964 impediu que as refor-

mas propostas por Jango fossem implantadas no Brasil naquele momento. Você sabe dizer se elas foram implantadas posteriormente? Faça uma pesquisa em livros e na internet sobre as reformas propostas por João Goulart, apontando quais delas foram, completa ou parcialmente, realizadas por governos posteriores.

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Avalie o seu aprendizado Atividades

1. Preencha os espaços com os números das

frases, que devem ser ligadas pelos conectivos corretos. Em seguida, organize as frases no caderno, formando um texto contínuo e coerente.

a) b) c)

porque por isso assim

1. A Primeira Guerra resultou, além das perdas humanas e materiais, em uma grave crise econômica na Europa. Os trabalhadores culpavam o capitalismo liberal pelo conflito e pelo desemprego. A possibilidade de novas revoluções proletárias no modelo soviético causava grandes temores nas burguesias europeias. 2. Os regimes totalitários são caracterizados pelo antiliberalismo, pelo ultranacionalismo e pela centralização do poder do Estado na figura de um líder. Nesses regimes, os Estados mantêm total controle sobre a sociedade. 3. Setores dominantes e a classe média da Europa começaram a abandonar o liberalismo e a democracia e passaram a apoiar políticas autoritárias que pudessem conter o avanço do socialismo. 4. A falência de milhares de empresas, provocada pela quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929, obrigou os Estados Unidos a reduzir drasticamente as importações e a cortar o auxílio financeiro aos países europeus. 5. O termo foi utilizado para designar o governo nazista, na Alemanha, o fascista, na Itália, e o stalinista, na União Soviética. 6. Vários países europeus entraram em uma profunda crise econômica, pois eram dependentes do crédito e das importações dos Estados Unidos.

2. Assinale a alternativa que traz características do nazismo e do fascismo.

a) Não intervencionismo, nacionalismo, romantismo, idealismo. b) Expansionismo, anticomunismo, totalitarismo, racismo.

c) Nacionalismo, socialismo, militarismo, anti-semitismo. d) Liberalismo, anticomunismo, antimilitarismo, racismo.

3. Enumere as frases a seguir de acordo com

a ordem cronológica dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. a) Os Estados Unidos lançam bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, forçando o governo japonês a assinar a rendição. b) O exército alemão invade a Polônia. De imediato, a França e a Grã-Bretanha declaram guerra à Alemanha.

c) Os Estados Unidos entram na guerra a partir do ataque japonês à base norte- -americana de Pearl Harbor, no Havaí. d) Hitler descumpre o Pacto Nazi-Soviético de Não Agressão e ordena a invasão da União Soviética. Os soviéticos se utilizam da tática da terra arrasada para dificultar o avanço alemão no território. e) Em Stalingrado, as tropas nazistas são derrotadas pelos soviéticos, que iniciam o avanço em direção a Berlim. f) No Dia D, os Aliados iniciam uma ação na Normandia, no norte da França, com o objetivo de retomar a parte ocidental da Europa que ainda estava sob domínio nazista.

4. Leia o trecho de um discurso feito por Getúlio

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Aplique o que você aprendeu

Vargas, durante o Estado Novo, e responda.

Já não somos um país exclusivamente agrário. Não vamos continuar esmagados pelo peso das compras de produtos industriais no exterior! Ferro, carvão e petróleo são a base da emancipação econômica de qualquer país. Produziremos tudo isso e muito mais.

Getúlio Vargas [1943]. In: Instituto de Economia da Unicamp. Disponível em www.eco.unicamp.br. Acesso em 31 ago. 2011.

a) A qual projeto político-econômico Vargas está se referindo nesse discurso? b) Quais ações de Vargas durante o Estado Novo representaram a realização desse projeto? c) Que aspecto desse discurso caracterizou o chamado populismo de Getúlio Vargas?

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5. Na década de 1960, o cartunista argentino

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

© Joaquín Salvador Lavado (Quino) - A turma da Mafalda, Martins Fontes, 1999

Quino criou a personagem Mafalda, uma menina de seis anos de idade muito preocupada com as principais questões da sua época. Leia uma tirinha dessa personagem e responda.

b) Considerando que Mafalda é uma personagem criada na década de 1960, explique por que ela se mostra preocupada com as armas nucleares. c) O que Mafalda quis dizer com a frase “Só que seria lindo acordar um dia e saber que nossa vida depende só de nós”?

6. Sobre o período da Guerra Fria, responda. a) Quando esse período teria começado? b) Qual foi a principal característica desse período? c) A Guerra Fria repercutiu em vários países, reproduzindo, em cada um deles, a disputa política, econômica e ideológica entre as duas superpotências. Dê exemplos de experiências latino-americanas que refletiram a rivalidade que marcou a Guerra Fria.

7. O presidente Juscelino Kubitschek implementou um programa de desenvolvimento econômico chamado de Plano de Metas. Redija um pequeno texto sobre esse plano, considerando as questões a seguir. Tirinha da personagem Mafalda, do cartunista Quino.

a) Qual era o contexto internacional do período em que a personagem Mafalda foi criada?

a) Quais eram as principais medidas do Plano de Metas? b) Quais foram as principais consequências para a economia do Brasil?

O que eu sei 8. Avalie o seu aprendizado nos objetivos a seguir. A aprendizagem pode ser plena, suficiente ou insuficiente.

Aprendizagem Aprendizagem Aprendizagem plena suficiente insuficiente 1. Identificar as características sociais, econômicas e políticas do período entre as duas guerras mundiais. 2. Reconhecer e ordenar os principais acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. 3. Reconhecer as principais características do projeto político e econômico do governo Vargas. 4. Compreender o contexto da Guerra Fria e identificar, na América Latina, acontecimentos que refletiram a disputa entre as duas superpotências. 5. Identificar as principais características dos governos populistas e as ações mais relevantes dos governos brasileiros entre 1930 e 1964.

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Capítulo

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A descolonização da África e da Ásia A difícil sobrevivência

Lori Waselchuk/Africa Media Online/Other Images

Vista da cidade de Luanda, capital de Angola, em foto de 2002. Após conquistar sua independência em 1975, a ex-colônia portuguesa mergulhou numa longa guerra civil, que só terminou em 2002, quando o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) consolidou-se no poder.

As nações africanas e asiáticas, que haviam sido submetidas ao domínio das potências imperialistas, iniciaram, no século XX, um longo processo de emancipação. Cada uma delas criou mecanismos próprios de resistência e de luta anticolonialista: milícias populares, mobilização da imprensa, resistência pacífica, organização de estudantes e de intelectuais etc. Conhecido como descolonização, esse processo durou até a década de 1970. O movimento de descolonização, porém, tinha tensões e conflitos internos. Como você vai perceber no texto ao lado, não era toda a população dos territórios colonizados que queria a independência nem esta, tampouco, significou a solução dos problemas enfrentados pelas ex-colônias. Por que, na sua opinião, alguns setores das áreas coloniais não tinham interesse na independência? Quais problemas muitos dos novos países enfrentaram após a independência?

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Os anos 1970 marcaram o fim do período de descolonização na maior parte do mundo; sobraram apenas algumas colônias menores que estavam ainda submetidas aos colonizadores – algumas delas, até os dias atuais. Em alguns casos isso não se deveu à férrea perseverança dos colonizadores, mas aos interesses materiais dos colonizados. Onde eles tinham livre acesso ao país metropolitano e onde também recebiam outros benefícios econômicos a partir da condição continuada de colônia ou ‘território estrangeiro’, eles preferiram essa ligação ao invés da independência. As Nações Unidas mantêm um registro de tais territórios e receberam em 2002 um pedido oficial de Samoa Americana, desejando que fosse retirada desse registro, porque o país não tinha intenção de conquistar a independência. Deve ser mencionado também que algumas colônias foram tão devastadas por seus colonizadores por testes de bombas atômicas etc. que elas dificilmente estão em posição de sobreviver por conta própria e continuam a depender de seus dominadores imperiais.

MichaeL nichoLson/corBis/Latinstock

Dilemas das ex-colônias

Cartaz de celebração da vitória do MPLA na guerra de independência de Angola. À esquerda, a bandeira do MPLA, que inspirou a criação da bandeira nacional de Angola, à direita.

BettMann/corBis/Latinstock

ROTHERMUND, Dietmar. The Routledge companion to decolonization. Londres; Nova York: Routledge, 2006. p. 44. (tradução nossa)

Marcha realizada em Argel, em 7 de fevereiro de 1956, contra a presença do primeiro-ministro francês, Guy Mollet, em território argelino. Organizada pela população de origem europeia, a marcha reuniu cerca de 50 mil pessoas contrárias à ideia de Mollet de conceder autonomia política à Argélia.

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A África na Primeira Guerra O continente africano foi um dos principais palcos da Primeira Guerra Mundial. O conflito na África iniciou-se com um ataque da marinha britânica às colônias alemãs de Dar es Salaam e Tanga, na atual Tanzânia. Em retaliação, os alemães destruíram trecho da estrada de ferro Uganda, localizada próximo à fronteira entre os atuais Quênia e Tanzânia. Outros conflitos ocorreram na África e contaram com a participação maciça de soldados africanos. Eles lutaram no Sudoeste Africano, na África oriental (Tanganika, Ruanda e Burundi), no Togo e em Camarões. Muitas vidas africanas foram perdidas ao longo da guerra: na ocupação da África oriental, por exemplo, cerca de 4.000 soldados e 30.000 civis morreram. O fim da Primeira Guerra não encerrou a dominação colonial. Derrotada, a Alemanha teve seus territórios partilhados entre os vencedores: a França dividiu Togo e Camarões com a Grã-Bretanha; esta última também ficou com Tanganika (Tanzânia); a Bélgica ficou com Ruanda e Burundi; a África do Sul anexou o Sudoeste Africano; e a Itália anexou o norte do Quênia à Somália.

Soldados askaris durante treinamento de tiro, na África Oriental Alemã, em foto de 1914. Os askaris eram africanos recrutados para lutar nos exércitos dos países europeus em territórios coloniais.

Com o fim da guerra também surgiram nas colônias grupos que lutavam por mudanças políticas, econômicas e sociais internas. Esses grupos eram, em sua maioria, formados por ex-soldados que adquiriram experiência bélica e perceberam que os europeus tinham fragilidades e podiam ser derrotados.

MARROCOS ESPANHOL Madeira

Esta imagem será explorada nas Atividades

TUNÍSIA

MARROCOS

Canárias SAARA ESPANHOL

TRÓPICO DE CÂNCE R

LÍBIA

ARGÉLIA

EGITO

CABO VERDE

SUDÃO

SERRA LEOA

NIGÉRIA

EQUADOR

GUINÉ ESPANHOLA

R ÁF

SOMÁLIA ETIÓPIA BRITÂNICA SOMÁLIA ITALIANA

UGANDA QUÊNIA

CONGO BELGA

RUANDA-BURUNDI ZANZIBAR

Ascensão

TANZÂNIA

OCEANO ATLÂNTICO

Seychelles Comores

ANGOLA

NIASSALÂNDIA RODÉSIA DO NORTE

OÇ AM

RODÉSIA SUDOESTE DO SUL AFRICANO BECHUALÂNDIA

M

MERIDIANO DE GREENWICH

Santa Helena

800 km

Socotora COSTA DA SOMÁLIA

UE

Príncipe São Tomé

ERITREIA ANGLO-EGÍPCIO

IC A

CAMARÕES

LIBÉRIA

EQ UA TOR IAL F RANCESA

COSTA DO OURO

TOGO

ÁFRICA OCIDENTAL FRANCESA GÂMBIA GUINÉ PORTUGUESA

MADAGASCAR

Maurício Reunião

TRÓPICO DE C A

SUAZILÂNDIA UNIÃO SUL-AFRICANA

França Grã-Bretanha Bélgica Portugal Espanha Itália Mandato francês Mandato britânico Mandato belga (Ruanda-Burundi)

BIQ

aLessandro Passos da costa

A ÁFRICA EM 1924

BASUTOLÂNDIA

OCEANO ÍNDICO

PRICÓRNIO

Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. p. 219.

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Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Ao longo da Primeira Guerra Mundial, muitos africanos e negros norte-americanos lutaram lado a lado nos conflitos. Essa experiência deu início a reflexões sobre a origem comum de ambos os grupos e estimulou intelectuais como o professor norte-americano Burghardt du Bois e o deputado senegalês Blaise Diagne a organizar, em 1919, em Paris, o Primeiro Congresso Pan-africano. O congresso votou a emancipação gradual das colônias, a ampliação dos direitos civis dos negros norte-americanos e conclamou os descendentes de africanos a retornarem à África. Em 1934, também em Paris, os poetas Aimé Césaire (nascido na Martinica) e Léopold Sédar Senghor (originário do Senegal) lançaram as bases de um movimento que procurava resgatar e revalorizar as raízes africanas, que haviam se dispersado em virtude de séculos de escravidão e imposição dos valores ocidentais. Era necessário despertar nos negros a consciência de uma identidade comum e reconstruir o orgulho africano. Eles deram a esse movimento o nome de negritude, que influenciou sobretudo os intelectuais e os futuros dirigentes dos países surgidos com a independência. Por meio da negritude e dos ideais de união dos povos africanos, o sistema colonial passou a ser cada vez mais contestado por um discurso que pretendia reabilitar as comunidades africanas aos olhos do mundo, demonstrando sua importância cultural e seu legado para a história.

AFP

• Movimentos de identidade africana

O historiador e sociólogo norte-americano William Edward Burghardt du Bois, em foto de 1949. Du Bois lutou pela ampliação dos direitos dos povos africanos e afrodescendentes.

• Os interesses das elites coloniais

AFP

Nas colônias europeias da África e da Ásia, os anos 1930 foram marcados pelo surgimento de uma elite local ocidentalizada. Ao contrário do que ocorria com as gerações anteriores, o centro de interesse desses jovens educados à moda europeia não era mais a cidade, o clã ou a tribo, mas os territórios em sua totalidade e as comunidades que os constituíam. Grande parte dessa elite colonial, por ter se afastado das tradições de seus antepassados e se formado na cultura ocidental, já não se interessava em exigir mais autonomia política nem mesmo a independência de seus territórios. Ela desejava participar das instituições governamentais e da administração colonial. Outros setores da elite, embora fossem minoritários, denunciavam a violência da colonização e faziam exigências abertas por uma imediata e completa independência.

Léopold Sédar Senghor (à esquerda), um dos ideólogos do conceito de negritude. Na foto, já como presidente do Senegal, ele aparece ao lado do presidente marfinense durante as comemorações do primeiro aniversário da independência da Costa do Marfim, na cidade de Abidjan, em 10 de agosto de 1961.

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O presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, e o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, a bordo do navio inglês HMS Príncipe de Gales, onde foi redigida a Carta do Atlântico, em 14 de agosto de 1941.

A Segunda Guerra Mundial abalou seriamente a dominação colonial na Ásia e na África. As potências imperialistas perderam seu prestígio, ou porque foram ocupadas durante a guerra, como a Holanda, a Bélgica e a França, ou porque saíram enfraquecidas do conflito, caso da Grã-Bretanha. Os povos colonizados, muitas vezes empregados para compor as fileiras dos exércitos aliados na guerra, manifestaram o desejo de desfazer os laços que os uniam a uma Europa arruinada. Além disso, o princípio da autodeterminação dos povos, evocado, em 1941, pelo presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt e pelo primeiro-ministro da Grã-Bretanha Winston Churchill, na Carta do Atlântico, defendia a soberania das nações. No documento, os dois governantes manifestaram apoio ao direito de um povo escolher, sem influência externa, sua forma de governo e suas leis internas. Leia, a seguir, um dos oito pontos enunciados no documento. Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Keystone/Getty Images

A crise do colonialismo

Carta do Atlântico

Ponto 3. Respeitam o direito que assiste a todos os povos de escolherem a forma de governo sob a qual querem viver; e desejam que se restituam os direitos soberanos e a independência aos povos que deles foram despojados pela força.

Franklin Delano Roosevelt e Winston Churchill. Carta do Atlântico [1941]. Disponível em www.direitoshumanos.usp.br. Acesso em 11 ago. 2011.

Dominique Berretty/Gamma-Rapho/Getty Images

Manifestação pela independência do Congo Belga sendo reprimida pela polícia, em 1960.

Após o fim do conflito, os povos colonizados utilizaram princípios defendidos pelos próprios colonizadores para exigir a independência de seus territórios. À França, eles pediam igualdade e liberdade; à Grã-Bretanha, o direito à autonomia política e econômica. Além disso, a emergência dos Estados Unidos e da União Soviética, protagonistas da vitória aliada contra o nazismo na Europa, e a polaridade criada pela Guerra Fria favoreceram a luta das colônias africanas e asiáticas pela independência.

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Uma rica burguesia indiana, que havia frequentado escolas e universidades britânicas, fundou, em 1885, o Partido do Congresso, cuja principal reivindicação era maior autonomia para a Índia. Em 1917, o secretário de Estado britânico para assuntos indianos prometeu um governo independente para a Índia. No entanto, o novo estatuto, adotado em 1919, concedia um poder administrativo mínimo ao vice-rei, o que provocou sérias revoltas entre os indianos. Foi nesse cenário que começou a ganhar destaque Mahatma Gandhi, até então defensor da cooperação com os ingleses. Gandhi lançou, em agosto de 1920, uma campanha de desobediência civil aos britânicos, promovendo o que se chamou de resistência pacífica. A compra de produtos ingleses, como tecidos, passou a ser boicotada pelos indianos. Eles voltaram a produzir tecidos de maneira artesanal, deixando de comprar os panos que vinham da Grã-Bretanha. Gandhi também organizou, em 1930, a Marcha do Sal, em protesto à lei que proibia os indianos de produzir sal. Ele caminhou 400 quilômetros, durante 25 dias, até o litoral, e milhares de pessoas o seguiram. A polícia investiu contra a multidão, que não reagiu à violência usada pelas tropas. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o Partido do Congresso se aproveitou dos conflitos para endurecer sua posição, ampliando as manifestações de protesto e o boicote aos artigos britânicos. Em agosto de 1947, a independência da Índia foi aprovada e o país foi dividido em dois Estados: a Índia, predominantemente hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana, tendo, respectivamente, como primeiros-ministros Jawaharlal Nehru e Ali Khan.

Biografia Mohandas Karamchand Gandhi, apelidado pelos indianos de Mahatma (grande alma), nasceu em 1869, na Índia. Gandhi estudou direito na Inglaterra e, depois de formado, mudou-se para a África do Sul, onde viveu por 21 anos. As leis raciais e o preconceito contra negros e indianos naquela região do Império Britânico o levaram a desenvolver sua filosofia de não cooperação com os colonizadores. De volta à Índia em 1914, Gandhi passou a divulgar a importância de resistir pacificamente ao domínio colonial britânico. Em 1948, com a Índia já independente, Gandhi foi assassinado por um radical hindu.

Dinodia Photos/Alamy/Other Images

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A independência da Índia

Mahatma Gandhi (ao centro) durante a Marcha do Sal, em 12 de março de 1930. Por desobedecer à lei, Gandhi foi preso, sem reagir, juntamente com milhares de seguidores, 25 dias depois de iniciar a marcha.

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A Nigéria e seus contrastes

A Segunda Guerra Mundial provocou mudanças no quadro colonial africano. Os países europeus, enfraquecidos após o conflito, já não tinham condições de manter, militar e economicamente, seus domínios coloniais. Além disso, seria temeroso para as potências europeias, no contexto da Guerra Fria, permitir o avanço das ideias socialistas nas colônias. Apesar disso, os caminhos pelos quais esses países obtiveram suas independências variaram muito. Em alguns casos, como o de algumas colônias britânicas, a transição foi feita de maneira gradual e negociada; em outros, como na Argélia, a liberdade só foi conquistada após anos de conflitos.

• Nigéria e Gana A Nigéria conquistou sua independência em relação à Grã-Bretanha em 1960, após um processo de transição para um governo autônomo. Inicialmente, o país se constituiu em uma federação composta de três regiões, que contavam com um relativo grau de autonomia. Em 1967, a região de Biafra, no sudeste da Nigéria, rica em petróleo e habitada por uma maioria de povos igbos, declarou sua independência em relação ao restante do país, proclamando a República de Biafra. Iniciou-se, assim, uma violenta guerra civil que se estendeu por três anos. O conflito chegou ao fim com a reintegração do território de Biafra à Nigéria e resultou em cerca de dois milhões de mortos. A Costa do Ouro, outra colônia britânica, também conquistou sua independência pela via pacífica, iniciada em 1947 e concluída dez anos depois. Esse novo país passou a se chamar Gana, em homenagem ao império negro que se expandiu pelas savanas africanas cerca de mil anos antes. A independência de Gana desencadeou movimentos semelhantes nas colônias francesas da África subsaariana e nas colônias que constituíam o antigo Império Belga. Entre 1957 e 1960, surgiram quinze países na região. Kurt Strumpf/AP/Glowimages

A Nigéria tem apresentado uma das mais elevadas taxas de crescimento econômico do mundo, impulsionado principalmente pelo petróleo, a maior riqueza do país. Para se ter ideia desse dado, sua taxa de crescimento em 2010 foi de 8,4%, muito superior à de países como a França, que cresceu apenas 1,5%. No entanto, essa riqueza ainda está longe de reverter o quadro de pobreza social no país. Segundo dados do Pnud, na Nigéria, em 2010, a esperança de vida ao nascer era de 47 anos para homens e 48 anos para mulheres. Para cada 1.000 nascimentos vivos, o país registrou 91,5 mortes (no Brasil foram 19,8 mortes). A taxa de analfabetismo de jovens com 15 anos ou mais ficou próxima dos 20%; no Brasil foi de 9%.

A descolonização da África

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Saiba mais

Refugiados da região de Biafra fogem de tropas federais nigerianas, em estrada perto da cidade de Ogbaku, em 1968.

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Manuel Litran/Corbis/Latinstock Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Barricadas feitas por soldados franceses nas ruas da cidade de Argel, durante a Guerra da Argélia, em 20 de janeiro de 1960. As barricadas tentavam impedir o avanço de rebeldes argelinos, que lutavam pela independência do país.

• O norte da África Após a Segunda Guerra, nos protetorados franceses do Marrocos e da Tunísia, eclodiram violentos confrontos em prol da independência, e ações guerrilheiras se multiplicaram. Em resposta, a metrópole decretou estado de emergência e aplicou a lei marcial, banindo ou prendendo os nacionalistas revoltosos. Essas ações, no entanto, incitaram ainda mais as forças nacionalistas. Os dirigentes das lutas de independência, temendo o perigo que a explosão da guerrilha poderia representar para a estabilidade política dessas regiões, optaram pela via da negociação com a França para obter a independência. Em 1956, Marrocos e Tunísia obtiveram o reconhecimento de suas independências. A situação na Argélia, porém, foi totalmente diferente. As autoridades francesas consideravam a região parte inseparável do território francês, sobretudo pela presença de cerca de 1 milhão de colonos franceses, chamados de pieds-noirs (pés pretos), que detinham a maioria das terras férteis. As manifestações realizadas

por argelinos, que ocorriam no território desde 1945, eram reprimidas com violência pelo exército francês. Os pieds-noirs também se manifestavam, porém, contra a separação. Em 1954, um grupo de argelinos, convencidos de que apenas pelas armas conquistariam a independência, fundou a Frente de Libertação Nacional (FLN). Cerca de 2 mil soldados iniciaram suas ações no leste da colônia, conquistando territórios nas áreas rurais da Argélia. Aos poucos, a população das cidades começou a participar das ações, pois o exército francês passou a reprimir até mesmo os civis que não participavam dos combates. No auge das lutas, a FLN contava com cerca de 130 mil combatentes. Após anos de confrontos, a França assinou, em 1962, o Acordo de Evian, que estabeleceu o cessar-fogo e marcou um referendo popular para decidir o futuro da Argélia. Realizado em 1o- de julho do mesmo ano, o referendo reconheceu, com 99,7% dos votos, o desejo dos argelinos em constituir um país independente. 225

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A Conferência de Bandung Os países da Ásia e da África recém-libertados do domínio colonial europeu tinham a difícil tarefa de obter o reconhecimento internacional enquanto Estados soberanos. Foi com esse propósito que 29 representantes de países africanos e asiáticos se reuniram na Conferência de Bandung, na Indonésia, entre 17 e 24 de março de 1955. Eles reafirmaram a independência de seus países e o desejo de não alinhamento com os Estados Unidos nem com a União Soviética. Esses países se opuseram veementemente ao colonialismo e encorajaram os povos ainda colonizados a lutar pela sua emancipação, além de condenar qualquer forma de racismo.

As colônias portuguesas A ONU, a partir de sua criação em 1945, pressionava os países que possuíam colônias a estabelecer um calendário de emancipação desses territórios. A ditadura salazarista, para evitar a pressão externa, passou a chamar suas colônias de províncias ultramarinas. Com isso, o ditador procurava mostrar à comunidade internacional que havia um sentimento de unidade nacional entre a metrópole e seus territórios coloniais. Ainda assim surgiram, nas colônias, movimentos que defendiam a independência desses territórios, inspirados nas ideias de resgate da dignidade negro-africana. O governo português, porém, se recusava a negociar a questão.

• A luta armada pela independência Na década de 1960, políticos e intelectuais africanos participaram de diversas conferências internacionais com o objetivo de denunciar a violência da dominação portuguesa em suas colônias. Esse quadro agravou a crise do regime salazarista, e Portugal ficou cada vez mais isolado. Nas colônias da Guiné Portuguesa, Moçambique e Angola, formaram-se os primeiros movimentos de independência, com o apoio dos novos Estados africanos que se constituíam. Portugal respondeu com força e violência. Em 1961, iniciou-se a luta armada em Angola, seguida da luta na Guiné Portuguesa, em 1963, e em Moçambique, em 1964. A DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA

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Is. Canárias SAARA OCIDENTAL

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1936-1955 1956-1957 1958-1960

ZIMBÁBUE

NAMÍBIA

1961-1970

MOÇAMBIQUE

MADAGASCAR Maurício

BOTSUANA

TRÓPICO DE C A

1971-1976 Territórios dependentes

PRICÓRNIO

SUAZILÂNDIA

1977-1990

Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. p. 219.

aLessandro Passos da costa

MED IT

I. Madeira

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Saiba mais

790 km

ÁFRICA DO SUL

LESOTO

OCEANO ÍNDICO

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Jean-Claude Francolon/Gamma-Rapho/Getty Images

Em 1968, Salazar foi afastado do poder e substituído por Marcelo Caetano. O novo governo defendia a concessão de uma “autonomia progressiva” às colônias, admitindo a possibilidade , no futuro, de tornarem-se Estados independentes. A posição de Caetano acirrou os debates nas colônias, e a luta armada se fortaleceu. Em resposta, a metrópole aumentou o controle em seus territórios na África e reprimiu com violência manifestações de estudantes africanos em Portugal. A pressão sofrida por Portugal, tanto no interior das colônias quanto em nível internacional, tornou insustentável a manutenção dos seus domínios em território africano. Em 25 de abril de 1974, um grupo de militares derrubou o governo de Marcelo Caetano, em um movimento que ficou conhecido como Revolução dos Cravos. O novo governo iniciou negociações com as lideranças políticas das colônias, que resultaram na independência das últimas colônias europeias em território africano: Guiné Bissau, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, em 1974, e Angola, em 1975.

Soldados e civis comemoram, em Lisboa, a Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974. Para celebrar o fim da ditadura portuguesa, a população saiu às ruas e distribuiu cravos vermelhos aos soldados, como forma de agradecimento.

Fred Bridgland/Keystone/Getty Images

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• O fim do Império Português

Multidão se reúne, em frente à residência do governador de Nova Lisboa (atual Huambo), para celebrar a independência de Angola, em 13 de novembro de 1975.

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Lei segregacionista

aP/gLoWiMages

Lei que tem por princípio isolar um grupo ou uma coletividade de acordo com alguns critérios, como a cor da pele.

No final do século XIX, o território que hoje corresponde à Africa do Sul, rico em diamantes, era disputado por britânicos e bôeres, colonos que tinham origem principalmente holandesa. Depois de vencer os bôeres, os britânicos criaram, em 1910, a União Sul-Africana, área sob seu domínio britânico com alguma autonomia. Dez anos depois, os africânders, minoria branca composta de descendentes de holandeses e ingleses, tomou o poder na região. Eles proclamaram uma série de leis segregacionistas que trouxeram consequências muito negativas para a população negra. Uma dessas leis determinava que os negros podiam ocupar apenas 10% do total das terras sul-africanas. As regiões destinadas à população negra ficavam quase todas afastadas das zonas urbanas. Fora dessas terras, os negros podiam apenas se deslocar, mas não fixar residência. Durante a Segunda Guerra Mundial, com a rápida industrialização da África do Sul, o crescimento urbano se acelerou e a população negra nas cidades se tornou mais numerosa que a população branca de origem europeia. Temendo o fortalecimento da população negra, em 1950, o Parlamento sul-africano, de maioria branca, aprovou duas leis que serviram de base para o regime do apartheid (palavra africânder que significa separação). • Ato do registro de populações. Classificou a população sul-africana em quatro grupos raciais: negro, mestiço, asiático e branco. • Ato dos grupos e áreas. Dividiu a África do Sul em regiões e estabeleceu o local em que cada grupo poderia se fixar. Outras leis criadas posteriormente complementaram essas duas primeiras. A segregação racial atingiu todos os níveis da vida social e política do país. O apartheid separou brancos e não brancos nos espaços públicos, nos meios de transporte, nas escolas e proibiu casamentos entre brancos e negros. Os negros não podiam participar das eleições, tampouco concorrer a cargos públicos.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dennis Lee royLe/aP/gLoWiMages

Crianças sentadas em banco exclusivo para brancos na orla da cidade de Durban, África do Sul, em 1960.

O apartheid na África do Sul

Crianças brincam nas ruas de Soweto, África do Sul, em 1969. Subúrbio criado para alojar trabalhadores negros de Johanesburgo, a township de Soweto acabou se transformando num foco de resistência antiapartheid.

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As políticas discriminatórias do apartheid foram sustentadas com violenta repressão a todo tipo de contestação política ao regime. Em 1960, por exemplo, na cidade de Sharpeville, policiais atiraram contra civis negros que realizavam uma manifestação pacífica e mataram 67 pessoas. Os líderes do movimento que deu origem ao protesto, entre eles Nelson Mandela, foram presos. Outros integrantes do movimento tiveram de deixar o país. Nesse mesmo período, partidos de oposição como o Congresso Nacional Africano (CNA), fundado no início da década de 1910, foram declarados ilegais. Durante a década de 1970, a luta contra o apartheid, que havia sido duramente reprimida nos anos 1960, retornou com força. No dia 16 de junho de 1976, uma manifestação de jovens estudantes da township de Soweto, que protestavam contra a imposição do africânder como língua obrigatória nas escolas, foi recebida com tiros da polícia. Segundo dados oficiais, 618 pessoas morreram e 1.550 ficaram feridas, a maior parte delas com menos de 17 anos. Seguiram-se meses de motins, nos quais os edifícios públicos das townships foram destruídos pelos habitantes. As lutas internas pelo fim do regime se intensificaram. As pressões internacionais e a aproximação do fim da Guerra Fria também ajudaram a enfraquecer a resistência do governo em abolir as leis segregacionistas.

Em 1989, Frederik de Klerk, líder do Partido Nacional, chegou ao poder com a promessa de conduzir um governo de conciliação. Em 1990, os partidos de oposição foram legalizados e Nelson Mandela foi libertado. Em seguida, o CNA renunciou à luta armada em troca da liberdade de prisioneiros políticos. Em 1991, as leis racistas do apartheid foram abolidas. Nas eleições realizadas em 1994, Mandela foi eleito presidente, iniciando uma nova era na África do Sul.

Biografia Nelson Rolihlahla Mandela nasceu na África do Sul, em 1918. Graduou-se em direito em 1942. Em 1944, ingressou no CNA e iniciou sua luta contra as práticas discriminatórias do Partido Nacional. Nos anos 1960, passou a defender publicamente a luta armada contra o regime do apartheid. Em 1962, foi preso e sentenciado a cinco anos de prisão. Foi julgado novamente em 1964 e condenado à prisão perpétua. Sua figura tornou-se um símbolo internacional da luta contra o regime do apartheid. Foi libertado em 1990 e eleito presidente em 1994. Nos anos 2000, retirou-se progressivamente da vida pública. Nelson Mandela acena para a multidão durante comício do CNA. África do Sul, 1999.

odd andersen/afP

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O fim do apartheid

vale a pena assistir Nacionalidade: EUA Direção: Clint Eastwood Ano: 2009 Duração: 134 min

No segundo ano do governo de Nelson Mandela, a África do Sul foi sede do campeonato mundial de rugby. Apesar da desaprovação de parte da população negra, Mandela fez uma campanha de apoio à seleção nacional. O filme mostra o seu esforço para unir brancos e negros em torno de um esporte que costumava representar a minoria branca que governava o país até o fim do apartheid.

Warner Bros./eVerett coLLection/gruPo keystone

Invictus 17-EH9-C11: CENA DO FILME EM QUE MANDELA SAÚDA OS JOGADORES DA SELEÇÃO SULAFRICANA DE RUGBY DURANTE O TREINO OU PÔSTER DO FILME.

Cena do filme Invictus.

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Amplie seu conhecimento

Conflitos atuais na África

Quando faltam instituições democráticas que

Intensidade dos principais conflitos africanos De janeiro a novembro de 2010

possam intermediar conflitos e sobram injustiças sociais, o menor atrito pode incitar a violência.

Violentos Em crises severas e guerras, a violência é contínua e ocorre de forma organizada e sistemática. Desde 1991, na Somália, grupos islâmicos rivais, movimentos separatistas e o enfraquecido governo travam uma guerra civil.

As informações deste mapa e do gráfico da página ao lado foram coletadas por pesquisadores da Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Note que, quanto mais intensa a cor, mais violento é o conflito.

Tunísia

marrocos

Depois de décadas de conflitos, o Sudão do Sul se tornou um país independente do Sudão em 9 de julho de 2011.

Argélia líbia

Conflito Choque de interesses entre diferentes grupos de pessoas, países ou organizações.

mauritânia

Gâmbia

Ditaduras escondem conflitos Túnis

níger

Guiné Bissau guiné

Burkina Fasso

Trípoli

Djibuti

Costa do Togo Marfim gana

nigéria

Egito

camarões

São tomé e príncipe

Ni

uganda congo gabão

Rep. Dem. do COngo

Ruanda

Níger

Chade

Sudão

Chamada Primavera Árabe, a rebelião popular por democracia tomou metade do Magreb no começo de 2011.

O silêncio nas ditaduras não vem da paz, mas do medo. Veja que a Tunísia, sob a ditadura do general Ben Ali desde 1987, aparece como um país sem conflitos no mapa ao lado, publicado na Alemanha em 30 de novembro de 2010. Duas semanas depois da publicação, milhares de tunisianos foram para as ruas protestar, enfrentando tiros e prisões, até a renúncia de Ben Ali, em janeiro de 2011. A coragem tunisiana inspirou seus vizinhos e, em fevereiro, gigantescas manifestações no Egito acabaram com os trinta anos de governo Hosni Mubarak, enquanto a Líbia, dona do maior IDH* africano, sob a mão de ferro do coronel Muamar Kadafi desde 1969, entrou em guerra civil. * Índice de Desenvolvimento Humano.

quênia

Lago Vitória

tanzânia

rises C Ocorrência esporádica de violência física. Desde 1982, o governo francófono do Senegal e separatistas da região lusófona de Casamansa alternam períodos de luta armada e de negociações diplomáticas.

somália

burundi

lo

mali

etiópia

sudão do Sul

rep. centroafricana

guiné equatorial

Rio

Líbia

Cairo

eritreia

Benim

Libéria

Tunísia

sudão

chade

senegal

serra leoa

Mar Mediterrâneo

Mali

egito

comores angola

Malauí Zâmbia zimbábue

namíbia

Moçambique madagascar

botsuana

Suazilândia Lesoto

Não violentos Desacordos sobre questões locais, ameaças verbais e ações políticas. O governo de Botsuana expulsou povos nômades de regiões ricas em diamantes. A justiça do país decidiu que eles podiam voltar, mas o governo dificultou o retorno por meio da burocracia, e a questão voltou aos tribunais.

áfrica do sul

Sem conflitos importantes Os pesquisadores da Universidade de Heidelberg não consideraram os conflitos dos países representados em amarelo-claro relevantes no período.

Fontes: Heidelberg Institute for International Conflict Research. Conflict Barometer. Disponível em www.hiik.de. Acesso em 24 ago. 2011; Guia do Estudante 2010: Atualidades. São Paulo: Abril, 2009; Guia do Estudante 2012: Atualidades. São Paulo: Abril, 2011; Smith, Stephen. Atlas de I’Afrique. Paris: Autrement, 2009.

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Questões Condições naturais e humanas moldam os conflitos não existem dois conflitos iguais. Cada um envolve uma combinação única de circunstâncias, mas algumas questões se repetem com mais frequência que outras, dependendo das condições comuns a cada região.

1. Cite um conflito ocorrido na África depois de 2010. Localize-o, identifique os rivais e pelo menos um dos motivos envolvidos na disputa.

2. Pesquise exemplos de países africanos em que o governo e a sociedade civil têm construído caminhos para superar o quadro histórico de pobreza e de guerras civis que assolam o continente. Relate essas experiências.

Magreb

Sahel

Centro e sul

povos árabes predominam na mais rica e urbanizada região da áfrica, ligada ao Oriente médio pela religião e pela cultura, e à europa pelo mediterrâneo.

entre o norte desértico e a áfrica tropical, a paisagem semiárida do sahel sempre abrigou povos de diferentes etnias e religiões.

As regiões tropical e subtropical são as mais populosas da áfrica, têm as jazidas minerais mais ricas e 17 dos 24 países com pior iDH* do mundo – outros cinco estão no sahel.

área do sahel

Disputas políticas e ideológicas são as mais comuns, como a de grupos pró-democracia em choque com regimes autoritários, ou a de militantes fundamentalistas que lutam para substituir governos seculares por teocracias.

As regiões a oeste do lago Vitória (veja no mapa da página ao lado) possuem instituições enfraquecidas e milícias armadas, financiadas com a exploração de recursos naturais e apoiadas pelas elites locais e estrangeiras. no sul, onde estão as democracias mais sólidas, a violência é menor.

O nordeste subsaariano assiste a disputas políticas e territoriais por grupos radicais, como ocorre na somália. As tensões crescem com as mudanças climáticas, que reduzem as chuvas e agravam disputas por terra e água potável.

Participação por região no total de conflitos africanos

14%

Recursos naturais

26,8%

Controle do Estado

Domínio regional

59,2%

Território

Ideologia

Autonomia Separatistas Questões Outros internacionais

os motivos envolvidos nos conflitos A África subsaariana concentra todos os conflitos envolvendo disputas por recursos naturais, fonte de financiamento para atingir outros objetivos, como dominação ideológica.

Quase metade das disputas que almejam alterar o sistema político, econômico ou a orientação ideológica de um país ocorreu no Magreb. Refere-se a disputas entre grupos de um mesmo país por determinada área, sem o objetivo de controlar todo o país (poder nacional) ou formar um novo Estado (secessão).

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Atividades 1. Identifique a afirmativa incorreta e a corrija em seu caderno. a) Por meio do movimento conhecido como negritude e dos ideais pan-africanos, o sistema colonial na África passou a ser cada vez mais contestado. Esses movimentos pretendiam resgatar e revalorizar as tradições e a identidade dos povos africanos. b) A partir dos anos 1930, surgiu nos territórios coloniais da Ásia e da África uma elite local educada na cultura europeia que, por ter laços econômicos e culturais com a metrópole, resistiram à proposta de independência. c) Após a Segunda Guerra Mundial, os povos colonizados utilizaram-se dos princípios defendidos pelos próprios colonizadores, como autodeterminação dos povos e busca pela liberdade e igualdade, para exigir suas independências. d) Mahatma Gandhi lançou, na Índia, uma campanha que pregava a ação armada como método de luta contra a dominação britânica. Em 1947, a Índia conquistou sua independência. e) A conquista da independência na África seguiu caminhos diferentes: em alguns lugares, como na Nigéria e em Gana, ela se concretizou depois de um período de transição política; em outros, como na Argélia, ela só foi obtida após anos de luta entre argelinos e as autoridades francesas.

2. Preencha o texto a seguir, utilizando as palavras do quadro. Marrocos e Tunísia – hindu – Paquistão nacionalistas – Mahatma Gandhi francês – Partido do Congresso Acordo de Evian – desobediência civil Índia – britânicos – Argélia

foi um dos principais articuladores da independência da Índia. Ele propôs combater os por meio da , recebendo o apoio do

. Em 1947, a Índia tornou-se independente , de maioria e foi dividida em dois Estados: ,e , predominantemente muçulmano. , temerosos com os No norte da África, rumos da guerrilha, conquistaram suas independências por meio de negociações com os , ao contrário, ocorrecolonizadores. Na , que foram ram inúmeras manifestações . reprimidas violentamente pelo exército , o país conquistou Somente em 1962, com o sua independência. 3. Responda às questões a seguir. a) Qual foi a postura assumida pelo governo português diante da descolonização dos territórios africanos e asiáticos? b) Como as colônias portuguesas na África reagiram diante da postura assumida pela metrópole? c) Por que a queda do regime salazarista, derrubado pela Revolução dos Cravos, acelerou o processo de independência das colônias portuguesas na África?

Ampliar o aprendizado 4. Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Compreender os conteúdos

Foi entre o fim da Guerra dos Bôeres (1899“ -1902) e o início da Segunda Guerra Mundial [...] que se estabeleceram os fundamentos jurídicos e práticos do apartheid. Logo que nasceu a União Sul-Africana, como domínio dentro do Império Britânico (1910), o Mines and Works Act [Lei das Minas e Obras] (1911) instituiu o colour bar [barreira racial] nas minas e na indústria manufatureira. Suas disposições foram estendidas ao conjunto das indústrias em 1926, ligando duravelmente os operários brancos ao patronato contra os operários negros, confinados nos empregos pouco qualificados e mal remunerados. Igualmente fundamental, o Native Land Act [Lei de Terras Nativas] (1913) consagrou e agravou as expropriações territoriais de que os africanos tinham sido vítimas, criando ‘reservas indígenas’,

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confinadas em 7,5% do território (para 78% da população), enquanto as zonas ‘brancas’ cobriam 92,5% [...].

a) Segundo o texto, quais foram as primeiras leis segregacionistas na União Sul-Africana? O que essas leis determinavam? b) De acordo com o Native Land Act, de 1913, como ficou distribuído o território sul- -africano? Que grupo compunha a maioria da população? A porcentagem de terra destinada a esse grupo era proporcional ao que ele representava em termos de população total? Justifique.

5. A fotografia da página 220 revela uma das

práticas perversas do colonialismo europeu na África. Aponte essa prática e procure explicar como as potências colonizadoras obtinham a colaboração dos nativos na execução dessa tarefa.

História feita com arte 6. A pintura Ashanti, reproduzida abaixo, foi feita por Oglafa Ebitari Perrin,

um dos maiores artistas contemporâneos da Nigéria. Compare essa pintura à estatueta ao lado dela, que representa a fertilidade e foi feita pelo povo ashanti. No século XIII, os ashantis formaram um império na África ocidental, onde hoje se situa o território de Gana.

Ashanti, pintura do artista nigeriano Oglafa Ebitari Perrin, 2004.

the BridgeMan art LiBrary/gruPo keystone - the arthur and MadeLeine chaLette LeJWa coLLection/the israeL MuseuM, JerusaLeM, israeL

a) Quais semelhanças existem entre a pintura e a estatueta? b) Como é possível relacionar a ideia de valorização da cultura negro- -africana, defendida por povos africanos e afrodescendentes a partir do século XX, à pintura de Oglafa? ogLafa eBitari Perrin - the BridgeMan art LiBrary/gruPo keystone - coLeÇÃo ParticuLar

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

FERRO, Marc (Org.). O livro negro do colonialismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 544.

c) Com base no que você estudou neste capítulo sobre a África do Sul, explique o que foi o apartheid. d) Na sua opinião, ainda há no mundo situações de segregação (social, racial, de gênero ou cultural)? Quais são elas? Há iniciativas dos governos e das sociedades para eliminar essas barreiras contrárias à convivência pacífica entre as pessoas?

Estatueta ashanti representando a fertilidade.

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Professor, esta amostra apresenta alguns capítulos da coleção Estudar História. Nela, você poderá conhecer a estrutura da coleção e o conteúdo programático desenvolvido para proporcionar aulas ainda mais dinâmicas e completas. A obra foi desenvolvida com o objetivo de ampliar o gosto pela leitura e pela História, permitindo que o aluno utilize o conhecimento histórico para refletir sobre o tempo presente e ajudando-o a atuar criticamente na sociedade, compreendendo a importância de ser um cidadão solidário, tolerante e participativo.

AmoSTRA pARA DEgUSTAção Do pRofESSoR

ESTUDAR HISTÓRIA

Ensino Fundamental II

ESTUDAR HISTÓRIA das origens do homem à era digital PAtríciA rAMoS brAick

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confIRA: • Sumário da obra • Uma seleção de conteúdos didáticos para análise do professor


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