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Sebastião Salgado

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Cena em Cartaz

Cena em Cartaz

TECELÃO DA NATUREZA

POR B. GAUVAIN

Faz alguns anos, cientistas concluíram que os pássaros não constroem ninhos por instinto, mas por aprendizado. Significa que, se a construção fosse baseada apenas na herança genética das aves, todas construiriam seu ninho da mesma forma, o que não ocorre: algumas começam a fabricação do ninho pelo lado direito, enquanto outras pelo lado esquerdo. As menos experientes derrubam muitas folhas na confecção, ao contrário das “seniores”, cujo desperdício de material tende a não ocorrer.

O estudo, que foi publicado no periódico Behavioural Processes em 2016, teve como base a observação de um dos maiores “designers” da natureza, o tecelão – no caso, o tecelão-mascarado-do-sul, nativo da Botsuana. Existem várias famílias desses pássaros espalhadas pelo mundo, mas a forma como eles “tecem” os ninhos (daí o nome da espécie) é sempre surpreendente.

Na pesquisa, a espécie analisada, Euplectes afer, constrói ninhos com fibras vegetais bem verdinhas. A ave trança o material de modo impecável até formar uma bolsa, que protegerá os seus ovos. Olhando com meus olhos humanos para esse feito da natureza, lembro-me de um objeto habitual do nosso cotidiano: a deliciosa cadeira de balanço suspensa, que, como um ninho, acolherá quem precisa de repouso.

Já os ninhos dos tecelões brasileiros, da espécie Cacicus chrysopterus, são uma bolsa tal qual a entendemos: com uma grande alça suspensa em um galho isolado de uma árvore, cujo caimento varia de acordo com a experiência do tecelão. O material usado é uma crina vegetal muito fina, geralmente, de cor escura, que ao ser entrelaçada ganha o aspecto de rede, pela delicadeza e graciosidade de como se sustenta.

Se os tecelões tecem, há aves que costuram, colam, esculpem e escavam seus ninhos. O joão-de-barro, por exemplo, esculpe sua casa com barro e palha em lugares altos, como árvores e postes. Feito pelo casal, o ninho, em formato esférico, tem dois cômodos: um “hall” de entrada e um “quarto”, onde há um “leito”, com penas, pelos e musgos para acomodar os ovos e os filhotes. Grandes engenheiros, não é mesmo?

Mestre do design de interiores, o pássaro-cetim cria um cenário espetacular para o acasalamento com galhos, sementes, folhas e qualquer outro objeto interessante. Prezando pelo bom gosto, o bichinho monta o palco, onde se exibirá para a fêmea, e ao seu lado constrói a “cama” do casal – que lembra muito uma cama dossel. Se a fêmea aprovar a decoração, ponto para o macho!

A conclusão da pesquisa científica sobre o ninho das aves me traz satisfação. Ter a certeza de que nenhum ninho é igual a outro, ainda que feito por pássaros da mesma espécie, que estão a aperfeiçoar suas habilidades de acordo com a experiência, é algo valioso para a vida: a prova de que estamos sempre a aprender e a evoluir.

Exposição "Amazônia" idealizada pela curadora Lélia Wanick Salgado no Sesc Pompéia até 31 de Julho.

SEBASTIÃO SALGADO

Monte Roraima. Fronteira Brasil e Guiana. Parque Nacional do Monte Roraima. Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Estado de Roraima, 2018.

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