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paU lO RaBe l lO d e ca St R O Três diálogos com AGATHA JUSTINO e ANA PAULA DE OLIVEIRA
Rio de Janeiro 2018
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© 2018 desta edição, Edições de Janeiro © 2018 Paulo Rabello de Castro Editor José Luiz Alquéres Coordenador editorial Isildo de Paula Souza Produção executiva Carol Engel Copidesque Marcelo Carpinetti Revisão Patrícia Weiss Raul Flores Projeto gráfico e capa Casa de Ideias CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C353r
Castro, Paulo Rabello de
Rebeldia e sonho / Paulo Rabello de Castro. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Edições de Janeiro, 2018. : il. ISBN 978-85-9473-028-2 1. Brasil - Política e governo. 2. Brasil - Política social. 3. Projetos de desenvolvimento social. I. Título. 18-51987 CDD: 303.4 CDU: 316.42 Vanessa Mafra Xavier Salgado - Bibliotecária - CRB-7/6644
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora e do autor. Este livro foi revisado segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.
Edições de Janeiro Rua da Glória, 344 sala 103 20241-180 – Rio de Janeiro-RJ Tel.: (21) 3988-0060 contato@edicoesdejaneiro.com.br www.edicoesdejaneiro.com.br
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Dedico esses diálogos Aos rebeldes e sonhadores de todas as idades Aos que têm a coragem de protestar Aos que não se encolhem diante da tirania ou da demagogia os cidadãos de ontem e de hoje, que nunca desistiram, A nem jamais entregarão o Brasil de mão beijada.
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...E assim adormece esse homem Que nunca precisa dormir Pra sonhar Porque não há sonho Mais lindo do que sua terra Não há. João Valentão de Dorival Caymmi
“ Os anseios que ora agitam a alma brasileira, a clamar por reformas e maior iniciativa, são efeitos naturais da nova mentalidade que avassala o mundo [...] o espírito do desenvolvimento, ideal que é o meu ideal e foi o ideal de meu governo.” Juscelino Kubitschek de Oliveira, presidente do Brasil, 1956-1961.
“I have a dream” (“Eu tenho um sonho”), f rase síntese do discurso de Martin Luther King em Washington, D.C. no dia 28 de agosto de 1963, durante a grande manifestação pela igualdade de direitos civis dos negros nos EUA.
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SU M ÁRI O Nota explicativa......................................................................................................11 Primeiro diálogo.....................................................................................................17 2013: Por onde tudo começou ......................................................................17 De JK ao Plano de Vinte Metas............................................................................25 A primeira meta é o Emprego...........................................................................34 A meta seguinte é Reduzir Impostos............................................................39 A Revisão é essencial...............................................................................................43 Segundo diálogo....................................................................................................53 O cotidiano do brasileiro......................................................................................53 Prioridade na Segurança.......................................................................................59 Eficiência em Saúde e Educação.....................................................................63 Todo o crédito para a Produção.......................................................................68 Terceiro diálogo.......................................................................................................71 Rebeldia e maturidade da nação....................................................................71 2018: a corrupção tomou conta......................................................................76 A volta da ameaça autoritária............................................................................95 2020: Sonho é ter capital para todos ........................................................100
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N ota e x p l i cat i va Este pequeno livro, sob a forma de três diálogos, é uma narrativa sobre a maior doença da alma brasileira: o desencanto. Repassa as recentes reações populares contra nossa enfermidade social e debate os meios de curá-la. Ou melhor, de curar-nos a todos, pois uma doença coletiva não pode excluir ninguém. Não tenho qualquer pretensão de construir, para o país e sua complexa história, uma verdade final, que não existe. Não temos o diagnóstico definitivo sobre a atual derrocada do nosso Brasil. Mas estudei – e sei – que se trata de doença que pode ser curada. Outras nações já enfrentaram situações piores do que a nossa e sobrepujaram essa terrível percepção da falta de futuro. Nos três diálogos aqui publicados, o caminho de retorno do Brasil como nação é avaliado com duas brasileiras engajadas no desafio de buscar caminhos confiáveis. Aqui ofereço saídas que julgo consistentes e passíveis de serem implantadas desde já, sem delongas, e com benefício amplo, para todos. Mas, para isso, é preciso que milhões de brasileiros também percebam que saídas existem e que mostrem vontade de ser liderados pelos que melhor possam conduzir o resgate da nação, recompondo a segurança de um futuro realmente melhor.
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O Brasil sofre de uma grave doença causada pela carência de propósitos claros e majoritários. Falta-nos o Projeto de Nação. Em qualquer grupo, nós humanos nos movemos em torno de objetivos bem-identificados, que vão desde a defesa da vida e do alimento, como no tempo das cavernas, até a construção de impérios e a conquista de outros mundos. Seja em uma família ou em uma empresa, em uma cidade ou com um povo – e muito mais em uma nação dotada de território e soberania política –, o grupo ou coletivo nacional só resistirá aos embates e se imporá perante seus pares e vizinhos, chegando à prosperidade, se cada membro tiver clareza do seu papel e todos caminharem juntos, com confiança no futuro comum. Essa confiança, essencial para o progresso de um grupo ou nação, aos poucos tem escapado do sentimento popular do brasileiro. Vá até a rua e converse com as pessoas. Tome uma condução e puxe assunto sobre o futuro do nosso país. E se ainda não estiver bem convencido do desalento e desconfiança no coração das pessoas, faça uma pesquisa de opinião pública, com todos os requisitos estatísticos, para comprovar que o Brasil não avançará enquanto os brasileiros não se puserem de acordo com a finalidade maior de sermos um só Brasil. Embora cada um guarde dentro de si um Brasil que ainda deseja para si e para sua família, a unidade essencial da sociedade já foi perdida. A coesão nacional precisa ser resgatada com urgência. Ao ultrapassar a porta de casa, o brasileiro já não se sente membro de um conjunto, mas sim, rodeado de perigos numa selva urbana inóspita e perigosa. E isso, definitivamente, não é bom para o futuro. De abrigo que sempre foi, nosso Brasil virou um perigo.
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Isso tem jeito? Seria uma questão de falta de recursos para se resgatar um mínimo de bem-estar para os brasileiros? Faltaria dinheiro nos orçamentos públicos? Claro que não. Pelo contrário. Os governos e seus orçamentos desequilibrados são a prova de que sobra dinheiro, embora falte confiança: na previdência social, que os governantes afirmam diariamente estar quebrada, embora com as centenas de bilhões que arrecada (por quê?); na segurança, que não existe, apesar dos mais de R$ 100 bilhões gastos nela; na Justiça, que prende e solta bandidos sem nenhuma vergonha da ofensa que se comete contra os cidadãos de bem; no desemprego geral, que prenuncia desespero e medo para incontáveis famílias, fruto da desorganização da produção e da morte epidêmica de empresas (de novo, por quê?). Tudo isso confabula, no cotidiano de desgoverno, para tornar o brasileiro refém da estrutura política que insistimos em chamar de governo. Vivemos, portanto, uma crise contraditória, na qual a máquina de governo é enorme, mas o projeto de governar se tornou mínimo, pois os governantes só administram para seus interesses. A máquina pública destrói poupanças e ameaça o patrimônio dos cidadãos. Que arremedo de sociedade brasileira nos restou? Viramos um aglomerado de interesses de grupos em conflito. Estamos na iminência de confronto maior, talvez de proporções sangrentas, quando segmentos conflitantes se tornarem bandos raivosos buscando ampliar territórios de influência. Ou seriam outra coisa as guerras de facções em presídios e em comunidades de baixa renda? Ou as guerras de torcidas? Seria isso distinto da guerra por verbas bilionárias em Brasília? Os conflitos surdos nos tribunais superiores de Justiça do país teriam
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uma raiz diferente dessa motivação de disputa permanente por espaço de poder e de exibição de influência? Já fomos uma nação materialmente bem mais pobre. Mas havia melhor convivência social e esperança coletiva. Todos sentíamos um propósito social no que fazíamos e para onde caminhávamos. Não mais. Portanto, não se pode dizer que nos faltam recursos, públicos ou privados, para promover a paz social e o retorno do convívio construtivo. Pelo contrário, de recursos externos e reservas em moeda forte, nunca estivemos tão bem. E de recursos morais e espirituais? Destes, nunca estivemos tão mal. E de exemplos de trabalho e de conduta ética normal? Tampouco nos restou um legado a honrar. Daí a percepção generalizada de abandono, ainda que milhões de brasileiros – felizmente! – ainda se mantenham numa forma de conduta civilizada e socialmente contributiva. Falta-nos o exemplo das lideranças. Quando afirmamos que a corrupção tomou conta, é porque o patriotismo saiu pela porta dos fundos. Corrupção não começa pelo ato de roubar, mas por romper com algo. Significa romper o laço invisível que nos ata, a cada um de nós, à nossa comunidade, que é a Pátria. Por definição, o corrupto deixou de ser patriota. Pode não ter roubado nada, ainda. Mas já levou embora o sentimento de dever e reciprocidade para com a Pátria que o acolheu e, antes dele, a seu pai, sua mãe, e a todos que vieram penosamente construindo a história da qual o corrompido pensa ser o único dono. Somos, como cidadãos, todos devedores do passado. E somos também todos credores e candidatos a sócios do futuro comum. O corrompido não se interessa mais, nem se sensibiliza mais, por tal sociedade no futuro. Ele quer antecipar o saque à vista de sua quota do Brasil. 14
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É assim que acontecem e se racionalizam todas as corrupções: saques antecipados de um futuro pelo qual os demais cidadãos continuarão pagando a conta. Uma nação em estado de desconfiança é como um fundo de investimento sofrendo saques de sucessivos quotistas desconfiados da saúde financeira de suas aplicações. E o país, que poderia ser rico para todos, sem deixar ninguém para trás, torna-se miserável e omisso para a maioria do seu povo. Os recursos, embora abundantes, dissipam-se nas mãos de incompetentes e quadrilheiros. Os patriotas se retraem. Muitos se retiram. Cada vez mais, emigram, levando consigo um pedaço inacabado de nossa história. É possível uma virada? A chave está na recuperação de um grande propósito coletivo: o Projeto de Nação. Esse projeto precisa ser comunicado e adotado pelo povo, e assim, transformar-se na nova lei que regerá os esforços de todos. É um processo de comunicação e persuasão que exige lideranças renovadas e uma notável coragem, com compromisso e capacidade de se realizar um quase milagre de regeneração da unidade nacional. Para isso nos dispomos. Sabemos o que fazer e, para tal, nos preparamos. Esse livro conta como será possível construir esse Projeto de Nação do qual todos faremos parte em breve como verdadeiros sócios do futuro.
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Prime iro d iálo g o 2013: Por onde tudo começou Ana Paula de Oliveira: Proponho começarmos pelo fim, quero dizer, pelos acontecimentos mais recentes, do mês de maio [de 2018], quando o Brasil parou em função de uma greve de caminhoneiros. Essa greve me parece estar ligada, de algum modo, a outras manifestações que vêm acontecendo ao longo dos últimos anos no nosso país. Aliás, houve paralisações de caminhoneiros em 2013 e 2015, se não me engano. Agatha Justino: Exato. O que está no fim também está no começo. Esta greve mais recente de caminhoneiros explodiu uma semana após o governo tentar lançar uma campanha propagandística em comemoração ao seu segundo aniversário. Definitivamente, maio não é um mês de sorte para Michel Temer. Faltou diesel para levar a comida para a festa. O que queremos saber, Paulo Rabello, é sobre sua leitura – sua explicação – desse fim de linha no quase apagar das luzes do atual governo.
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Paulo Rabello: Bom tema para começar nossa conversa com vocês duas, Ana Paula e Agatha Justino, e com você, apreciado leitor, prezada leitora. A cena política atual é perfeita e precisa ser registrada para sempre na nossa memória. Ela nos dá, logo de cara, o tamanho da distância, o oceano que nos separa dos poderosos em Brasília. O aparato do poder em Brasília tem grande dificuldade de entender a angústia do povo, revelada pelas entrevistas às tevês, de milhares de caminhoneiros, que aderiram ao protesto mesmo sem ter uma ideia completa na cabeça sobre as razões de sua rebeldia. Aliás, rebeldia nunca precisou de razão organizada na cabeça de ninguém. Rebeldia nasce da dor. Brota como uma fervura do leite que se derrama na chapa do fogão. A rebeldia de uns é a linguagem de todos que se sentem em estado de abandono. Os caminhoneiros expressaram essa dor. Esse grito vem de longe. Tem raízes na história profunda do Brasil. Mais recentemente, em 2013, as manifestações poderosas dos jovens, marchando em protesto, revelaram um estado de rebeldia diferente, mais consciente, de que passagem de ônibus ou preço do diesel são apenas peças de uma engrenagem maior. Os acontecimentos recentes têm a mesma raiz dos anteriores. De fato, vamos nos aproximando do final de um grande ciclo de abandono do povo à sua própria sorte. Haja vista o que o país deixou de crescer desde os anos 1980 até hoje. Ficamos para trás em relação a, praticamente, o mundo inteiro. O Brasil se afastou de sua vocação natural de progresso, de perseguir um sonho, e prejudicou a realização desse sonho que mora em todas as pessoas, principalmente daquelas mais afastadas das rodas do poder, que sonham tanto quanto qualquer um! 18
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Agatha: Quero pegar nesse ponto de um governo que se diz reformista, mas que não consegue comunicar suas reformas, que deixa elevar preços do diesel quase diariamente, e que pretende ter candidato para defender seu legado, conceito estranho para quem queria fazer um governo de transição, uma espécie de ponte para o futuro. Do outro lado, a população, ainda desprovida de qualquer esperança, aguarda as eleições para expelir o último dos políticos convencionais de suas amargas vidas. De uma parte, o discurso triunfalista e alienado dos que deveriam ter melhor noção das necessidades da tal transição em um país calcinado pelo desemprego e pela estagnação. De outra parte, uma nação que, de fato, não voltou dos seus pesadelos, que nunca percorreu o caminho de volta da recessão, nem se sente resgatada dos seus temores de uma provável escalada de violência social e institucional. O buraco entre nação e governo se tornou um abismo. Isso tem volta? Paulo Rabello: Os caminhoneiros brasileiros formam uma categoria que está, profissionalmente, sempre em marcha. São pessoas que enfrentam os deslocamentos sucessivos e as incertezas permanentes de cada curva em milhares de estradas. Mas, desta vez, a marcha foi, contraditoriamente, para parar o país. A classe havia se manifestado em 2013. De novo em 2015. Porém, nada parecido com a magnitude do que foi feito em 2018, e das consequências ainda em processo de acontecer. Uma das novidades, agora em 2018, é o apoio ou, pelo menos, a simpatia de largos segmentos da população ao movimento dos caminhoneiros, apesar dos enormes transtornos e prejuízos causados pela paralisação. E por quê? De onde vem 19
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a raiz de um apoio a quem pratica uma forma de violência? O povo apreciou o recado passado pelos caminhoneiros aos detentores do poder. Primeiro: chegamos ao limite, e nele temos bem pouco a perder, mas, quem sabe, mais a ganhar. Segundo: não paramos por 10, 20 ou 40 centavos por litro de diesel; queremos mudar o jeito de rodar, de trabalhar por tão pouco. Terceiro: os caminhoneiros venceram a inércia, o imobilismo. Agora, todos devemos continuar marchando, mesmo que algumas lideranças nos digam para voltar para casa. Enfim, os caminhoneiros sabem, melhor do que ninguém, que entramos todos numa rua sem saída. O país precisa retornar, virar, fazer meia-volta, volver. Precisamos de uma virada para valer. Uma volta por cima. Voltar a acreditar e a ter esperança. Para isso, precisamos de lideranças com atitude firme e um Projeto de Nação claro para todos seguirem, sem pestanejar. Ana Paula: O Brasil falhou? É esta a interpretação mais profunda desse final de festa, dessa espécie de rua sem saída que percebemos no nosso dia a dia? Por outro lado, vejo como necessário tentar resgatar valores que foram deixados de lado. Apenas a rebeldia não nos leva a nada. Minha pergunta então: que ingrediente está faltando para o bolo voltar a crescer e todos poderem comer um bom pedaço dele? Paulo Rabello: Para se ter bolo, primeiro é preciso batê-lo. Bater bem. Em seguida, colocar a massa bem-batida na forma e deixá-la no forno até assar.
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