Compêndio de filosofia

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Nicholas Bunnin e E. P. Tsui-James organizadores Tradução Luiz PauLo RouaneT

COmpêndiO de

FILOSOFIA quaRTa edição


Título original: The Blackwell Companion to Philosophy - Second edition © Blackwell Publishers Ltd, 1996, 2003 108 Cowley Road Oxford OX4 1JF UK ISBN: 0-631-21908-0 (pbk)

Edição publicada em acordo com Blackwell Publishers Ltd, Oxford, e traduzida por Edições Loyola do original em inglês.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Compêndio de filosofia / Nicholas Bunnin, E. P. Tsui-James (organizadores) ; tradução Luiz Paulo Rouanet -- 4. ed. -- São Paulo : Edições Loyola, 2013. Título original: The blackwell companion to philosophy. Vários autores. ISBN 978-85-15-03047-7 1. Filosofia I. Bunnin, Nicholas. II. Tsui-James, E. P. 13-11563

CDD-100

Índices para catálogo sistemático: 1. Filosofia

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Edição: Marcos Marcionilo (1ª edição) Marcelo Perine (2ª edição) Preparação: Maurício B. Leal Capa: Walter Nabas sobre escultura Homenagem a Newton (1969), Salvador Dali Diagramação: Maurélio Barbosa Revisão: Dayane Cristina Pal

Edições Loyola Jesuítas Rua 1822, 341 – Ipiranga 04216-000 São Paulo, SP T 55 11 3385 8500 F 55 11 2063 4275 editorial@loyola.com.br vendas@loyola.com.br www.loyola.com.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.

ISBN 978-85-15-03047-7 4ª edição: novembro de 2013 conforme novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa © EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2002


Sumário Prefácio à segunda edição............................................................................................................... IX Prefácio à edição brasileira ............................................................................................................. XI Prefácio ................................................................................................................................................. XIII Lista dos colaboradores .................................................................................................................... XV Filosofia contemporânea nos Estados Unidos............................................................................

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Filosofia contemporânea: um segundo olhar.............................................................................

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John R. Searle

Bernard Williams

PRIMEIRA PARTE

ÁREAS DA FILOSOFIA 01 Epistemologia ...............................................................................................................................

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02 Metafísica ......................................................................................................................................

67

03 Filosofia da linguagem ...............................................................................................................

99

A. C. Grayling

Simon Blackburn Martin Davies

04 Filosofia da lógica ....................................................................................................................... 155 A. W. Moore

05 Filosofia da mente ....................................................................................................................... 181 William G. Lycan

06 Ética ................................................................................................................................................ 213 John Skorupski

07 Estética ........................................................................................................................................... 245 Sebastian Gardner


26 descartes e Malebranche .......................................................................................................... 691 Richard Francks e George MacDonald Ross

27 Spinoza e Leibniz ......................................................................................................................... 707 Richard Francks e George MacDonald Ross

28 Hobbes ............................................................................................................................................ 723 Tom Sorell

29 Locke ............................................................................................................................................... 735 R. S. Woolhouse

30 Berkeley .......................................................................................................................................... 749 Howard Robinson

31 Hume............................................................................................................................................... 765 Peter Jones

32 Kant ................................................................................................................................................. 783 David Bell

33 Hegel ............................................................................................................................................... 801 Michael Inwood

34 Marx ................................................................................................................................................ 811 Richard Norman

35 Bentham, Mill e Sidgwick ......................................................................................................... 821 Ross Harrison

36 Pragmatismo ................................................................................................................................. 837 Susan Haack

37 Frege e Russell.............................................................................................................................. 855 R. M. Sainsbury

38 Moore.............................................................................................................................................. 871 Thomas Baldwin

39 Wittgenstein ................................................................................................................................. 877 David Pears

40 Nietzsche ....................................................................................................................................... 893 David E. Cooper

41 Husserl e Heidegger .................................................................................................................... 911 Taylor Carman

42 Sartre, Foucault e derrida ......................................................................................................... 931 Gary Gutting

glossรกrio ............................................................................................................................................... 949 ร ndice remissivo .................................................................................................................................. 969


Prefácio à edição brasileira

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uito nos agradou saber que o conteúdo do Compêndio esteja agora à disposição do leitor brasileiro. A filosofia no Brasil tem sua história própria no século XX. Algumas figuras, como Raimundo de Farias Brito e João Cruz Costa, pesquisaram e desenvolveram uma tradição filosófica brasileira independente, enquanto outras, como Euríalo Canabrava e Leônidas Hegenberg, contribuíram para o avanço internacional da lógica, da filosofia da ciência e da filosofia da matemática. Outros estudiosos participaram de um amplo leque de disciplinas filosóficas. A força e a variedade do pensamento filosófico brasileiro fornecem aos estudantes, acadêmicos e ao público em geral uma excelente base para explorar as doutrinas, os métodos, os problemas e os argumentos selecionados no Compêndio para representar o principal desenvolvimento da filosofia contemporânea nos países de língua inglesa. A filosofia analítica fornece o núcleo desse desenvolvimento, mas os ensaios introdutórios por parte de John Searle e Bernard Williams indicam as mudanças que ocorreram nas últimas décadas na noção crucial de análise filosófica. Vários capítulos

mostram um fascinante intercâmbio entre a filosofia analítica e outras importantes abordagens da filosofia. Preocupações que há pouco eram excluídas são agora bemvindas, com certa precaução, no domínio do pensamento filosófico sério. A despeito dessas mudanças, a filosofia analítica permanece central no Compêndio, e esperamos que suas virtudes de clareza, rigor, inteligibilidade e atenção escrupulosa no desenvolvimento e no teste de argumentos conquistem a estima dos leitores brasileiros. O Compêndio constitui um projeto ambicioso. Contribuições por parte de 35 autores proeminentes cobrem áreas centrais da filosofia, campos especializados, a obra de figuras históricas importantes e novas áreas de crescimento e desenvolvimento. Além do texto principal, os capítulos dispõem de introduções, quadros, referências cruzadas, sugestões de leitura, bibliografias e questões para discussão. Um glossário e um índice abrangente também têm por objetivo ajudar os leitores. Embora os diferentes autores do Compêndio escrevam a partir de suas próprias perspectivas, e representem diferentes maneiras de realizar o trabalho filosófico, o volume como um todo possui uma


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Compêndio de Filosofia

unidade notável. Não se trata, porém, de uma unidade de um único sistema, ou de um conjunto de doutrinas estabelecidas. Em vez disso, os leitores individuais e as turmas de universidade serão conduzidos pelo Compêndio a um mundo de ativo debate filosófico, no qual as mais profundas questões permanecem abertas à discussão. Es-

peramos que, com base nessa experiência, os colegas e estudantes brasileiros partilhem o prazer que os autores e editores sentiram ao preparar este Compêndio. Oxford, 3 de junho de 2002 Nicholas Bunnin E. P. Tsui-James


F ilo so fia c on tem por â ne a nos E s ta dos U ni dos

concernentes a relações lógicas entre os conceitos de nossa linguagem. Nesse período da filosofia, sua tarefa era considerada a tarefa da análise conceptual. De fato, para a maior parte dos filósofos que aceitaram essa concepção, filosofia e análise conceptual eram a mesma coisa. Onde os filósofos tradicionais consideravam sua tarefa a de discutir a natureza do bem, da verdade, do belo e do justo, os filósofos analíticos positivistas e pós-positivistas assumiam sua tarefa como a de analisar o significado de conceitos como “bondade”, “verdade”, “beleza” e “justiça”. Idealmente, a análise desses e outros conceitos filosoficamente interessantes tais como “conhecimento”, “certeza” e “causa” deveriam fornecer condições necessárias e suficientes para a aplicação desses conceitos. Viam isso como constituindo a herança legítima do empreendimento filosófico tradicional, mas uma herança purgada da falta de sentido e da confusão metafísica que desacreditou a empreitada tradicional. Se combinamos a asserção de que a filosofia é essencialmente um empreendimento conceptual, analítico com a asserção de que sua tarefa é fundacional — ou seja, sua tarefa é prover fundações seguras para coisas como o conhecimento —, a consequência para os positivistas é que a análise filosófica tende em grande parte a ser redutora. Em outros termos, o objetivo da análise é mostrar, por exemplo, como o conhecimento empírico se baseia e, em última instância, é redutível aos dados de nossa experiência, aos assim chamados dados dos sentidos (essa concepção é denominada “fenomenalismo”). De modo similar, afirmações sobre a mente se baseiam em, e em última instância se reduzem a, afirmações sobre comportamento externo (behaviorismo). A verdade necessária, ana-

logamente, baseia-se em convenções de linguagem tais como expressas em definições (convencionalismo). Em cada caso, o fenômeno filosófico mais complicado é exibido como possuindo uma fundação segura em algum fenômeno menos complicado e, de fato, o ideal de tal análise era mostrar que fenômenos complicados poderiam ser inteiramente reduzidos a fenômenos menos complicados. O “fenomenalismo” supostamente deu à ciência uma fundamentação segura porque a ciência podia ser apresentada como se fundando nos dados de nossos sentidos. Uma vez que a forma da redução era analítica ou definicional, resultava que afirmações sobre a realidade empírica podiam ser traduzidas em afirmações sobre dados dos sentidos. De modo similar, de acordo com o behaviorismo, afirmações sobre fenômenos mentais podiam ser traduzidas em afirmações sobre comportamento. No campo dos filósofos analíticos que pensavam que o objetivo da filosofia era a análise conceptual havia duas correntes principais. Uma corrente pensava que a linguagem comum era em geral perfeitamente adequada, como ferramenta e também como um objeto da análise filosófica. A outra corrente considerava a linguagem comum irremediavelmente inadequada para propósitos filosóficos e confusa. Os filósofos dessa última corrente pensavam que deveríamos empregar as ferramentas da lógica matemática moderna tanto para analisar problemas filosóficos tradicionais como, o que era mais importante, para criar uma linguagem perfeitamente lógica, com propósito científicos e filosóficos, em que certas confusões tradicionais não poderiam sequer surgir. Nunca houve uma distinção rígida entre essas duas correntes, mas havia com certeza duas tendências claras:

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John R. Se a r l e

uma que enfatizava a filosofia da linguagem comum e uma que enfatizava a lógica simbólica. Ambas as correntes, contudo, aceitavam a concepção central de que o objetivo da filosofia era a análise conceptual, e que, em consequência, a filosofia era fundamentalmente diferente de qualquer outra disciplina; eles pensavam que ela era uma disciplina de segunda ordem envolvida com a análise da estrutura lógica da linguagem em geral, mas não com verdades de primeira ordem a respeito do mundo. O objeto da filosofia era universal precisamente porque não tinha outro objeto particular a não ser o discurso de todas as outras disciplinas e o do senso comum. Outra consequência dessa concepção foi que a filosofia se tornou essencialmente um empreendimento linguístico ou conceptual. Por esse motivo, a filosofia da linguagem era absolutamente central para a tarefa filosófica. Em certo sentido, a filosofia da linguagem era não apenas “filosofia primeira”; toda a filosofia se tornou uma espécie de filosofia da linguagem. Filosofia era simplesmente a investigação lógica da estrutura da linguagem tal como utilizada nas várias ciências e na vida comum.

2. A rejeição dessas duas distinções e do fundacionismo Trabalhos elaborados nas décadas de 1950 e 1960 levaram à superação dessas duas distinções. Com a rejeição delas surgiu uma nova concepção da filosofia analítica — concepção que emergiu nos anos 1970 e 1980 e ainda está sendo desenvolvida. A rejeição de ambas as distinções e do programa de pesquisa fundacionalista conduziu a uma enorme reviravolta na concepção do empreendimento filosófico

e na prática dos filósofos analíticos. O problema mais óbvio com a filosofia analítica tradicional era que o projeto reducionista falhara. Em todo caso, as tentativas de efetuar análises reducionistas do tipo proposto por fenomenalistas e behavioristas fracassaram, e por volta de 1960 o insucesso era óbvio. Uma série de importantes elaborações teóricas também apareceu nessa época, mas por motivo de simplicidade concentro-me em apenas cinco delas: a rejeição por Quine da distinção entre analítico e sintético, a teoria dos atos de fala de Austin, a crítica de Wittgenstein ao fundacionismo, a obra de Rawls no campo da filosofia política e as mudanças na filosofia da ciência devidas a Kuhn e outros. 2.1 O ataque de Quine à distinção entre analítico e sintético Talvez a mais importante crítica da distinção entre analítico e sintético tenha sido feita por W. V. O. Quine em um famoso artigo intitulado “Dois dogmas do empirismo” (Quine, 1953). Nesse artigo, Quine afirmava que nunca havia sido apresentada uma definição adequada, não circular da analiticidade. Todas as tentativas de defini-la sempre recorreram a noções que faziam parte da família da analiticidade, como sinonímia e definição; consequentemente, tais tentativas foram invariavelmente circulares. Contudo, uma objeção ainda mais importante que emergiu no artigo de Quine foi esta: supor que a noção de uma proposição analítica seja uma proposição imune à revisão, supô-la irrefutável. Quine sustentava que não existiriam proposições imunes à revisão, que qualquer proposição poderia ser revista diante de uma evidência contrária, e que qualquer



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