Coleção de várias receitas e segredos particulares das principais boticas da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil Edição, introdução e notas Ana Carolina de Carvalho Viotti Jean Marcel Carvalho França
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Coleção de várias receitas e segredos particulares das principais boticas da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil / edição, introdução e notas Ana Carolina de Carvalho Viotti, Jean Marcel Carvalho França. -- São Paulo : Edições Loyola, 2019. Bibliografia. ISBN 978-85-15-04626-3 1. Jesuítas - Farmacopeia - História 2. Jesuítas - História - Período colonial 3. Jesuítas - Medicina - História 4. Medicamentos 5. Receitas I. Viotti, Ana Carolina de Carvalho. II. França, Jean Marcel Carvalho. 19-30440
CDD-615 Índices para catálogo sistemático:
1. Companhia de Jesus : Receitas e segredos das boticas : Farmacopeia : História Maria Paula C. Riyuzo - Bibliotecária - CRB-8/7639
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ISBN 978-85-15-04626-3 © EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2019
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SUMÁRIO
I. INTRODUÇÃO ................................................................................... 7 a. Um exemplar da farmacopeia jesuíta ...................................... 7 b. Notas sobre a edição ................................................................ 16 c. Bibliografia da Introdução ..................................................... 19
II. COLEÇÃO DE VÁRIAS RECEITAS... ....................................... 21 Dedicatória ao Coração Santíssimo de Jesus ............................ 23 Prólogo ao leitor ........................................................................... 23 Receitas de A a Z ........................................................................... 25 Memória muito útil de várias notícias e advertências.............. 194 Remédios alterantes, ou ............................................................. 197 Alexifármacos ou contravenenos comuns e simples para o interno ............................................................................. 197 Antissépticos ou contra a podridão.......................................... 198 Confortativos ótimos para membros particulares ................. 199 Contravenenos para casos particulares .................................... 199 Purgantes ..................................................................................... 199 Opiados mais fortes .................................................................... 199 Medíocres .................................................................................... 200 Brandos ........................................................................................ 200 Águas quentes ............................................................................. 200 Águas temperadas ....................................................................... 201 Águas frias ................................................................................... 201 Medicamentos que se costumam pedir debaixo de um só nome ........................................................................... 202 Medicamentos que se costumam pedir absolutamente sem determinação de qualidade................................................. 203
Descrição dos pesos e medidas ................................................. 205 Diversidade de peso de vários símplices .................................. 207 Regras gerais mais usuais ........................................................... 208 Índice dos sucedâneos que se usam nas Boticas: tirados de vários autores e chamados de Qui pro Quo ............ 210 Explicação de vários caracteres da Arte Química tirados de vários autores ............................................................ 212 Index em que pela ordem alfabética se mostram as doses dos mais comuns remédios que se aplicam no uso interno, tanto símplices como compostos .................. 218 Índice Universal em que pela ordem alfabética se mostram as coisas mais notáveis deste livro ........................... 228
III. GLOSSÁRIO DE INGREDIENTES, UTENSÍLIOS E PROCEDIMENTOS MENCIONADOS NA COLEÇÃO… ...... 241 BIBLIOGRAFIA DO GLOSSÁRIO ................................................. 271
I. INTRODUÇÃO
a. Um exemplar da farmacopeia jesuíta Em 1766, passado pouco menos de uma década da expulsão dos jesuítas dos domínios portugueses da América (1759), um verdadeiro arsenal de receitas desenvolvidas ou utilizadas nas boticas de seus colégios de aquém e de além-mar foi reunido, na cidade de Roma, sob o título “Coleção de várias receitas e segredos particulares das nossas principais boticas [...]”. A coletânea, mesmo dispondo de todas as licenças necessárias para ser impressa e circular, por uma razão desconhecida, nunca veio a ser editada. Tão desconhecido quanto as razões da obra ter permanecido manuscrita é o seu autor; a única notícia que se tem dele vem em uma das receitas compiladas na obra, a mais famosa delas, a da triaga brasílica, onde se pode ler: Esta é a celebérrima triaga Brasiliana ou do Brasil, e tão estupenda para tantas enfermidades, como continuamente tem experimentado e se está experimentando, e eu confesso a verdade pela experiência que tenho de todas as quatro partes do mundo, e exercitando em todas elas a caridade de aplicar alguns remédios, digo que é das triagas a que entre todas as outras tem a primazia, pois é a que entre todas elas obra mais prontamente e com mais eficiência.
O organizador era, pois, segundo dizia, um jesuíta que servira nas quatro partes do mundo, Europa, América, Ásia e África, e que sempre se ocupara de “aplicar alguns remédios”, isto é, que exercera o ofício de enfermeiro ou boticário1 nos colégios por onde passara. As razões que levaram o cosmopolita irmão a compilar e organizar, em língua portuguesa, as mais de duzentas receitas, provenientes de diversos colégios, ele as explicita num breve prólogo ao leitor em que revela ter feito 1
Serafim Leite apresenta uma listagem dos irmãos que teriam exercido tais ofícios em LEITE, Serafim. Artes e ofícios dos jesuítas no Brasil. (1549-1760). Lisboa; Rio de Janeiro: Edições Brotéria; Livros de Portugal, 1953, pp. 96-100. 7
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aquela “coleção de receitas particulares das nossas boticas senão para que não se perdessem tão bons segredos, e estes não andassem espalhados por todas as mãos”. Duplo era então o seu propósito: conservar as receitas, sem dúvida, mas também manter os seus segredos, “que revelados estes, ainda que seja de uma botica para outra, perdem toda a sua estimação”. Preocupado, inclusive, com o tal secretismo e com um outro aspecto mais prosaico, o prejuízo que a divulgação causaria aos rendimentos das boticas dos colégios, o irmão recomenda: “Pelo que lhe peço que seja muito acautelado e escrupuloso em não revelar alguns destes segredos; pois em consciência não se pode fazer, advertindo que são coisas estas da Religião, e não suas”. A se ter em conta a advertência, é possível supor que a obra, mesmo que viesse a ser impressa, não deveria circular amplamente, fora do ambiente dos colégios; é possível supor, igualmente, que tenha sido escrita num período em que não se cogitava a expulsão dos jesuítas dos domínios portugueses, ocorrida em 1759, na medida em que o autor parte do princípio de que a compilação seria distribuída pelos colégios da ordem espalhados pelo mundo de língua portuguesa. Por certo, o compilador pensava na imensa utilidade que teria uma obra do gênero para a ampla rede de enfermarias e boticas que os padres mantinham nos quatro continentes, padres que tomaram para si, em diversos lugares onde se instalaram, a incumbência de amparar os enfermos em seus colégios e dar-lhes assistência. A prática remontava aos tempos primevos da ordem, remontava à grande peste de Lisboa, ocorrida em 1569, quando cinquenta mil pessoas morreram e outras milhares caíram doentes. Premidos pela situação, os jesuítas, que até então não se ocupavam diretamente do trato dos doentes, viram-se compelidos a fazê-lo2. Desde então, a prática, ainda que secundarizada pelos cuidados com as almas dos fiéis, tornou-se um dos principais meios através dos quais os padres exerceram uma das virtudes mais caras ao, como então se dizia, verdadeiro cristão: a caridade. Daí, no limiar no século XVIII, o padre Antonio Vieira, atento a tal incumbência – consolidada pelo hábito e pelas poucas opções disponíveis ao colono enfermo – ter escrito na sua Direção do que se deve observar nas missões do Maranhão: O padre-vice-provincial determinará, conforme as circunstâncias dos tempos e lugares, o que há de fazer sobre o haver nas aldeias hospital ou enfermaria, perto da casa dos missionários, aonde se curem todos os en2
INÁCIO DE LOYOLA (Santo). Constituições da Companhia de Jesus e normas complementares. São Paulo: Loyola, 1997.
Coleção de várias receitas e segredos particulares das principais boticas da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil
INTRODUÇÃO
fermos da aldeia com toda a caridade a quem não tem suas casas por sua extrema miséria, e pouca caridade dos seus, a qual os nossos procuraram suprir não só espiritual, mas também corporalmente como se costuma, socorrendo-os com os medicamentos, sustento e regalo, quanto a nossa pobreza der lugar, e tendo cuidado que lhes não falte quem os sirva, e a este fim visitarão todos os dias a enfermaria, havendo-a, e a muitos índios por falta de sangrias, importa que efetivamente se procurem meios de haver sangradores em todas as aldeias, aplicando-se a este ofício 50 meninos, que é coisa muito dilatada, sendo maiores, e dos que tiverem maior habilidade e inclinações a isso, e enquanto houver poderão exercitar esta obra de caridade nossos irmãos coadjutores, que souberem sangrar3.
Era, pois, para os caridosos boticários, médicos e enfermeiros da ordem que se destinava a compilação, especialmente para os primeiros, na medida em que a responsabilidade pelo tratamento direto dos enfermos, sepultamento dos menos favorecidos e assistência aos órfãos e aos encarcerados era partilhada com as irmandades, nomeadamente com as Misericórdias – que, de Lisboa, se espalharam pelas conquistas portuguesas4. A produção e distribuição de remédios, a confecção das mezinhas, não obstante uma ou outra concorrência, coube, no entanto, quase que exclusivamente aos inacianos; suas boticas eram famosas. Anchieta, em carta de 1565, dirigida ao Segundo Superior Geral da Companhia de Jesus, Diogo Laînez (1512-1565), já destacava, referindo-se à São Vicente, a importância que tinham as boticas dos colégios para as comunidades em que estavam instaladas: É gente miserável, que em semelhantes enfermidades nem sabem nem têm com que se curem, e assim todos recorrem a nós demandando ajuda, e é necessário socorrê-los não só com as medicinas, mas ainda muitas vezes com lhes mandar a levar de comer e dar-lho por nossas mãos. E não é muito isto nos índios, que são paupérrimos. Os mesmos portugueses parecem que não sabem viver sem nós, assim em suas enfermidades próprias, 3
4
VIEIRA, Antonio. Direção do que se deve observar nas missões do Maranhão ordenada pelo venerável P. Antônio Vieira, Visitador-Geral delas, com consulta de todos os padres missionários e aprovada por nosso M. R. P. Geral desde o princípio das ditas missões, a qual se guardou sempre, excetuando observar. In: NEVES, Luis Felipe B. A Visita do P. Antônio Vieira Instituição e Pedagogia Jesuítica no Brasil do Século XVII. Forum Educ. Rio de Janeiro, 7(1), jan./mar.1983, pp. 31-64. Sobre as Misericórdias, ver CORREIA, Fernando da Silva. Origens e formação das Misericórdias portuguesas: estudos sôbre a história da assistência. Lisboa: Henrique Torres Editor, 1944; SÁ, Isabel dos Guimarães. História breve das Misericórdias Portuguesas, 1498-2000. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2008. 9
INTRODUÇÃO
Febres
De outras partes
Sem identificação
De autores célebres
4
5
3
5
3
Enfermidades venéreas Pleurites
1
Doenças femininas
5
4
Males do estômago
3
5
3
Diarreias
2
Vermes
1
4
2
Males respiratórios
1
4
1
Sezões
1
3
Hidropsias
1
4
1
Obstruções
2
2
1
Males nos olhos
2
Impigens
2
3
Bexigas/Sarampos
2
2
4
Males na pele
5
3
3
Sarna
3
2
Apoplexia
3
Cancros, tumores, carnosidades Dores e males na cabeça
1
6
3
3
Escorbuto
1
3
3
Peste
1
Dor nos dentes
2
Gota Mania, melancolia, histeria Dores nas juntas, reumatismos
3
1
Tinha
2
1
3
1
3
1
1 2
Conciliar o sono
1
Que serve para várias doenças
5
1 15
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Dos ditos “males do estômago”, tem destaque a indigestão, os vômitos, os cursos do ventre; dos “males da cabeça”, os problemas com nervos, dos “males nos olhos”, a catarata, dos “males respiratórios”, a asma e as tosses, entre os “males da pele”, icterícia, chagas, úlceras, sinais e manchas, das “doenças venéreas”, a gonorreia e o morbo gálico, das “doenças femininas”, as dores da madre (útero), feridas e tumores nos bicos dos seios, a histeria e até preparações para reestabelecer a virgindade perdida. Diversas das preparações não indicam para quais doenças seriam virtuosas, mas suas qualidades – purgantes, fortificantes, refrescantes, contravenenos – ou para quais humores eram indicadas – crassos, melancólicos, tártaros –, fortificando-os ou dissolvendo-os. b. Notas sobre a edição A presente edição da Coleção..., a única completa de que se tem notícia, é a transcrição do documento homônimo, depositado no Archivum Romanum Societatis Iesu (ARSI), em Roma. O documento não é o único do gênero. Os jesuítas, que, como mencionado, desde cedo assumiram para si o papel de boticários nos lugares onde se instalaram, não deixaram de registrar, em muitos casos sistematicamente, as suas atividades farmacopeicas. Pelo menos 4 desses registros, além da Coleção..., são conhecidos: o mais antigo deles intitula-se Curiosidad: un libro de medicina escrito por los Jesuitas en las misiones del Paraguay en el año 1580 20, manual anônimo em castelhano, provavelmente posterior à data indicada em seu frontispício, que pretendia organizar os conhecimentos médicos elementares para os que se dedicavam às curas em locais longínquos, como o Paraná, o Uruguai, São Borja e São Gabriel; o outro, Breve compendio de varias receitas de medicina21, que ainda permanece sem uma edição impressa, reúne os conhecimentos farmacológicos recolhidos por volta de 1650 no Oriente, provavelmente pelo padre jesuíta flamengo Francisco Rogemont; o terceiro, encontrado em 1703 num baú da Igreja de São Francisco na cidade de Curitiba, também não conta ainda com uma edição impressa. Intitulado Formulário médico22, esse manuscrito anônimo 20 CURIOSIDAD: un libro de medicina escrito por los Jesuitas en las misiones del Paraguay en el año 1580. Paraguai: [s.n.], 1580. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, I-015,02,026 – Manuscritos. 230 p. 21 BREVE compendio de varias receitas de medicina. Biblioteque National de France, Paris, Département des Manuscrits. Fonds Portugais n. 59 (1598), ff. 2–79v. 22 FORMULARIO médico: manuscrito atribuído aos jesuítas e encontrado em uma arca da Igreja de São Francisco de Curitiba. 1703. Seção de Obras Raras | Biblioteca de Manguinhos (FIOCRUZ). Coleção de várias receitas e segredos particulares das principais boticas da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil
INTRODUÇÃO
descreve, ao longo de 225 páginas, as fórmulas de diversos medicamentos, as suas virtudes e, ainda, os principais sinais de um considerável número de achaques; o quarto deles, também manuscrito do início do século XVIII, intitulado Árvore da vida dilatada em vistosos e salutiferos ramos [...]23, dava a conhecer em língua portuguesa, pela pena do padre atuante em Goa, Afonso da Costa, remédios simples e compostos, experimentados ou já conhecidos, com o fim último de acudir especialmente os que se encontravam em locais destituídos de médicos e boticários. A Coleção... não é, pois, a única obra do gênero de que se tem conhecimento, todavia, ela é, sem dúvida, a mais completa e detalhada das 4 e a única organizada para publicação – já em 1766, ela contava com todas as licenças necessárias. Para editar tão importante obra, obra que aguardou mais de um quarto de milênio para vir a público, adotamos alguns procedimentos e cuidados que convém explicitar ao leitor. Modernizamos a ortografia e promovemos alterações na pontuação do original, de modo a facilitar a compreensão das receitas e prescrições. Vocábulos em outras línguas, como o latim, o espanhol ou o italiano – essa última mais recorrente entre as menções a línguas que não a portuguesa, talvez um indício da origem do religioso – foram traduzidos e incorporados ao texto. Identificamos, com o mesmo propósito, todos os pesos e medidas utilizados pelo compilador, mantendo a tabela de símbolos por ele introduzida no final da obra. Ainda em relação aos símbolos, vale destacar a “Explicação de vários caracteres da Arte Química tirada de vários autores”, confeccionada pelo autor da Coleção...: sua inclusão no livro para as boticas dá pistas de que os religiosos não só não eram refratários aos conhecimentos químicos em desenvolvimento no Setecentos, mas também que esses seriam úteis à feitura dos fármacos nos Colégios. Em relação ao vocabulário de que o compilador lança mão, considerando a vasta gama de plantas, animais, pós, sementes, equipamentos e processos referidos no escrito, pareceunos prudente e útil elaborar um glossário de termos constantes na obra que são próprios à época mas caíram em desuso, termos que poderiam causar embaraço ao leitor contemporâneo. 23 COSTA, Affonso da. Arvore da Vida dilatada em vistosos e salutiferos ramos ornados de muitas aprasiveis, e saudiveis folhas, em que se deixa ver muitos e singulares remedios assim simplices, como compostos, que a Arte, e experiencia, a industria, e a curiosidade descubrio, para curarcom facilidade quasi todas as doenças, e queixas, a que o corpo esta sogieto, principalmente em terras desitiduas de Medicos e Boticos. Copiados de diversos Authores assim impressos, como manuscriptos, de varias noticias e experiencias vistas e approvadas ... Offerecida ... pello Padre Affonso da Costa da Companha de Jesus da Provincia de Goa. 1720 (?). Wellcome Library. 17
INTRODUÇÃO
Coleção..., mas também de uma larga gama de documentos que utilizamos na introdução acima e em outras produções do grupo – muitas ainda inéditas. Para encerrar, queríamos ainda agradecer destacadamente a três membros do Escritos...: a Nayara Lucheti, que realizou a primeira transcrição do documento, a Waslan Sabóia, que colaborou para a preparação do glossário incluído nesta edição e realizou a conferência dos pesos e medidas citados pelo autor, e a José Henrique Lopes de Lima, que organizou o quadro de doenças constantes na introdução. c. Bibliografia da Introdução Documentos Archivum Romanum Societatis lesu (ARSI). Brasilia 10 (2), f. 307. Bras. 10 (2), f. 327. Bras. 10 (2), f. 341v. Bras. 28, f. 27. Bras. 28, f. 10-10v. ANCHIETA, Pe. Joseph de. Carta a Diogo Laînez, São Vicente, 8/1/1565. In: _____. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933. ALGUNAS cosas que de la Provincia del Brasil se proponen nuestro Padro General este anno de 1579 y respuestas a ellas. Coleção Brasiliana 2, 29v. BREVE compendio de varias receitas de medicina. Biblioteque National de France, Paris, Département des Manuscrits. Fonds Portugais n. 59 (1598), ff. 2–79v. COSTA, Affonso da. Arvore da Vida dilatada em vistosos e salutiferos ramos ornados de muitas aprasiveis, e saudiveis folhas, em que se deixa ver muitos e singulares remedios assim simplices, como compostos, que a Arte, e experiencia, a industria, e a curiosidade descubrio, para curarcom facilidade quasi todas as doenças, e queixas, a que o corpo esta sogieto, principalmente em terras desitiduas de Medicos e Boticos. Copiados de diversos Authores assim impressos, como manuscriptos, de varias noticias e experiencias vistas e approvadas... Offerecida ... pello Padre Affonso da Costa da Companha de Jesus da Provincia de Goa. 1720 (?). Wellcome Library. CURIOSIDAD: un libro de medicina escrito por los Jesuitas en las misiones del Paraguay en el año 1580. Paraguai: [s.n.], 1580. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, I-015,02,026 – Manuscritos. 230 p. FORMULARIO médico: manuscrito atribuído aos jesuítas e encontrado em uma arca da Igreja de São Francisco de Curitiba. 1703. Seção de Obras Raras | Biblioteca de Manguinhos (FIOCRUZ). 19
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INÁCIO DE LOYOLA (Santo). Constituições da Companhia de Jesus e normas complementares. São Paulo: Loyola, 1997. JOURNAL d’un Voyage. In: FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Visões do Rio de Janeiro colonial. Antologia de textos. (1531-1800). São Paulo: Ed. José Olympio, 2008. SOBRE informar acerca da botica do Collegio declarando que ajuste se fez com o boticário. Documentos Históricos. Vol. II. Rio de Janeiro: Augusto Porto & C., 1928, pp. 190-191. VIEIRA, Antonio. Direção do que se deve observar nas missões do Maranhão ordenada pelo venerável P. Antônio Vieira, Visitador-Geral delas, com consulta de todos os padres missionários e aprovada por nosso M. R. P. Geral desde o princípio das ditas missões, a qual se guardou sempre, excetuando observar. In: NEVES, Luis Felipe B. A Visita do P. Antônio Vieira Instituição e Pedagogia Jesuítica no Brasil do Século XVII. Forum Educ. Rio de Janeiro, 7(1), jan./mar. 1983, pp. 31-64.
Estudos ALDEN, Dauril. The making of an enterprise: the society of Jesus in Portugal, its empire, and beyond, 1540-1750. Stanford: Stanford University Press, 1996. ARAÚJO, Maria Benedita. O conhecimento empírico dos fármacos nos séculos XVII e XVIII. Lisboa: Cosmos, 1992. CALAINHO, Daniela Buono. Jesuítas e medicina no Brasil colonial. Tempo, Rio de Janeiro, n. 19, pp. 61-75, 2005. CORREIA, Fernando da Silva. Origens e formação das Misericórdias portuguesas: estudos sôbre a história da assistência. Lisboa: Henrique Torres Editor, 1944. EDLER, Flavio Coelho. Boticas e Pharmacias: uma história ilustrada da pharmacia no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2006. GESTEIRA, Heloísa Meireles. A cura do corpo e a conversão da alma – conhecimento da natureza e conquista da América, séculos XVI e XVII. Topoi¸ v. 5, n. 8, pp. 71-95, jan./jun. 2004. LEITE, Serafim. Serviços de saúde da Companhia de Jesus no Brasil (1549-1760). Brotéria. Lisboa, Separata do v. IV, fasc. 4, abril 1952. _____. Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil. São Paulo: Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954. _____. Artes e ofícios dos jesuítas no Brasil (1549-1760). Lisboa/Rio de Janeiro: Livros de Portugal/Brotéria, 1953. _____. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo IV e V. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2006. SÁ, Isabel dos Guimarães. História breve das Misericórdias Portuguesas, 1498-2000. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2008.
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COLEÇÃO DE VÁRIAS RECEITAS…
COLEÇÃO DE
VÁRIAS RECEITAS E
SEGREDOS PARTICULARES DAS PRINCIPAIS BOTICAS DA NOSSA COMPANHIA DE PORTUGAL, DA ÍNDIA, DE MACAU, E DO BRASIL COMPOSTAS, e experimentadas pelos melhores
MÉDICOS E BOTICÁRIOS MAIS CÉLEBRES que tem havido nessas partes AUMENTADA com alguns índices de notícias muito curiosas, e necessárias para a boa direção, e acerto contra as enfermidades.
EM ROMA, 1766 com todas as licenças necessárias. 21
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Dedicatória ao Coração Santíssimo de Jesus A Vós Deus e Senhor meu e a vosso amabilíssimo Coração é devido oferecimento desta pequena obra. Aceitai, Senhor, como oferta do meu coração e, para que ela vos seja grata, não olheis para quem a oferece, olhai só para a vontade e desejo de quem a presenteia a vosso Santíssimo Coração. Fazei, Senhor, que ela seja de utilidade a meus próximos, pondo-lhe a eficácia da vossa Divina virtude. Inflamai, Senhor, a minha vontade no fogo de vosso abrasado coração, para que viva e morra só por puro amor vosso. Amém. Prólogo ao leitor Amigo e caritativo leitor, não fiz esta coleção de receitas particulares das nossas boticas senão para que não se perdessem tão bons segredos, e estes não andassem espalhados por todas as mãos; pois bem sabes que revelados estes, ainda que seja de uma botica para outra, perdem toda a sua estimação; e que, pelo contrário, o mesmo é estar em segredo qualquer receita experimentada, que fazerem dela todos em grande apreço e estima, com fama e lucro considerável da botica a que pertence. Pelo que lhe peço que seja muito acautelado e escrupuloso em não revelar alguns destes segredos; pois em consciência não se pode fazer, advertindo que são coisas estas da Religião, e não suas. Vai acrescentada essa coleção com muitas receitas, índices e notícias curiosas e necessárias para a inteligência de algumas dúvidas que ocorrerem cotidianamente e não se encontra a sua clareza em muitos livros. A atenção com que fiz tudo isto, só o Coração de meu Senhor o sabe, a quem dediquei este trabalho. Dá-lhe pois a censura que te parecer, porque a tudo está exposto quem faz esta obra, a qual para utilidade pública haja de sair das mãos de seu autor e ficar sujeita à diversidade dos juízos e dos gostos de todos aqueles que a lerem: sirva-se, porém, de motivos para desculpar qualquer erro que encontre ou lembre, e advertir que, quando tomei esta fadiga, estava tão ocupado, como pode testemunhar toda a nova Assistência. E porque este livro não ficou logo de todo completo nas letras do abecedário, pelas quais vai disposto, e algumas coisas se lhe acrescentarão depois de feito o índice geral; quando nele buscares alguma coisa, leia sempre até o fim da letra em que a buscares. Finalmente, peço-lhe encarecidamente, me encomendes muito ao Coração amabilíssimo de Jesus para que todos vivamos unidos em caridade e o mesmo Senhor nos dê a sua graça final.
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Água Cordial Bezoártica Solutiva. Curvo na sua Polianthea. Pág. 5711.
Receita Raiz de escorcioneira .............................................. 1 onça Pevides de cidra azeda ............................................ 1 oitava Sene .......................................................................... 3 oitavas Conserva pérsica ..................................................... 6 onças Bezoártico do Curvo .............................................. 1/2 oitava Água comum ........................................................... 6 libras Far-se-á do seguinte modo Dentro de uma panela nova de barro vidrada se deite a água e raiz de escorcioneira fresca com as pevides trituradas crasso modo. Ponha-se tudo em fogo brando a ferver, e sendo consumido a terceira parte, se lhe ajunte o sene e a conserva; e dando uma leve fervura se tire do fogo, e se tenha bem abafado. Passadas quatro horas se coe com forte expressão e ao coado se ajunte o bezoártico em pó sutil, e se dê para o uso. Quando se não queira purgativo, se lhe não ajunta o sene e a conserva pérsica, mas em seu lugar se ajunta ao cozimento 3 onças de arroba de bagas de sabugueiro, quando se ajunta o bezoártico e se dá para o uso. Virtudes/doses Serve para as febres malignas, quaisquer que sejam; febres vermelhas e doenças venenosas, ânsias do coração. Dá-se doses de meia libra, de seis em seis horas, mas se acontecer que o doente obre muito, se lhe dará uma ou duas vezes o bezoártico simples, e outra purgativo. 1
As referências às páginas da obra de Curvo Semedo foram atualizadas a partir da edição de 1727: SEMMEDO, Joam Curvo. Polyanthea medicinal: noticias galenicas e chymicas repartidas en tres tratados [...]. Lisboa Ocidental: Na Officina de Antonio Pedrozo Galram, 1727. 25
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Âmbar concertado. Da Botica do Colégio da Bahia.
Receita Algalia....................................................................... 1/2 onça ou 1 oitava ou 1 grão Almíscar bom .......................................................... 1 oitava Âmbar gris ............................................................... 1 onça Far-se-á do modo seguinte Tome-se um almofariz muito bem areado, ponha-se sobre brasas até que fique morno, e então se lhe deite dentro o âmbar e o almíscar, e se vá pisando e incorporando muito bem um com o outro, ajunte-se-lhes a algalia que se necessária for para fazer massa compacta, essa se trabalhe no almofariz por espaço de duas ou três horas; tire-se do almofariz e se faça entre as mãos uma bola redonda. Tenha-se a advertência de banhar primeiro as mãos com água de Córdova para que a dita massa se não pegue, e acabada esta operação, se guarde em caixa de chumbo. Esta é a quantidade ordinária que se costuma fazer para cada bola. Serve também para doces e para cheirar. Virtudes/doses Custa essa receita 16.000 réis. Sua dose para o interno é de 1 grão até 6 para fortificar o cérebro, coração e estômago; causa alegria, desfaz melancolia, restabelece as forças perdidas, é excelente contraveneno e muito útil o seu uso no tempo da peste; provoca o sêmen, excita os vapores histéricos, e por esta causa se não deve dar a mulheres. Toma-se feito em pílulas. Água antivenérea de Madame Focquet.
Receita Pau santo Cascas do mesmo Salsaparrilha Sene escolhido ......................................................... 6 oitavas Erva doce ................................................................. 1 1/2 oitava Água comum ........................................................... 2 libras Coleção de várias receitas e segredos particulares das principais boticas da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil
COLEÇÃO DE VÁRIAS RECEITAS…
Far-se-á do modo seguinte Em uma panela nova de barro vidrada se deite o pau, as cascas e a salsa, tudo triturado crasso modo, e em cima se lhe lance água. Ponha-se a fogo lento bem tapada, ferva até gastar uma libra e então se lhe ajunte o sene e a erva doce. Dê uma fervura e então se tire para fora e se abafe, e estando quase frio se coe com forte expressão e se dê para o uso. Virtudes/doses Serve para toda a sorte de gálico e para toda a sorte de pessoas na dose de até 1/2 libra bebida. Toma-se pela manhã em jejum e 3 horas depois de jantar. Pode-se fazer com vinho branco em lugar de água, que é mais vigoroso e também com água e vinho. Água antivenérea chamada da Salsa.
Da Botica do Colégio do Recife. Autora D. Lourenza.
Receita Salsaparrilha ............................................................ 3 onças Cevada limpa da casca ........................................... 2 onças Açúcar fino .............................................................. 1 libra Água comum ........................................................... 18 libras Far-se-á do modo seguinte Em uma panela de barro vidrada se deite a salsa rachada miudamente e, em cima, a água. Esteja de infusão 24 horas e, passadas elas, se tire a salsa e se pise crasso modo, e então se torne a deitar na panela, e essa bem tapada se ponha a ferver em fogo brando até consumir 3 libras, e então se lhe ajunte a cevada e o açúcar. Ferva do mesmo modo até gastar 3 libras, e então se tire do fogo, se coe e se dê para o uso. Virtude/doses Serve para toda a casta de gálico na dose 1/2 libra duas vezes no dia, uma pela manhã e outra de tarde. 27
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Receita Unguento rosado e fresco lavado com água rosada Unguento branco de raiz canforado..................... 1 onça Pomada simples e sem espécies............................. 1/2 onça Far-se-á do seguinte modo Misture-se tudo em gral de pedra e depois se guarde em vaso de chumbo para o uso.
Xarope de coral. Da Botica do Colégio da Bahia.
Receita Coral vermelho ....................................................... 1 libra Sumo de limão azedo depurado ........................... 4 libras Açúcar fino .............................................................. 6 libras Far-se-á do seguinte modo Em um frasco se deite o coral e o sumo de limão e se ponha em banho de areia. Passados dois dias se tire o licor por inclinação, a este se ajunte o açúcar e em tigela de barro vidrada se ponha no mesmo banho de areia, e nele ferva brandamente até ter ponto, e coado e frio se guarde para o uso. Virtudes/doses Serve para dulcificar o sangue e acrimônia dos humores. É contra cursos e vômitos.
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Xarope de dormideiras brancas da Botica do Colégio de Macau.
Receita Ópio tebaico ............................................................ 2 oitavas Clarificado de açúcar.............................................. 40 onças Água da chuva ......................................................... 1 libra Far-se-á do seguinte modo Em almofariz se pise o ópio, e bem desfeito com água se ajunte ao clarificado, e tudo se deite em tigela de barro vidrada. Esta se ponha a ferver em fogo brando, e tendo consistência de xarope se coe ou clarifique, e frio se guarde em frasco para o uso. Virtudes/doses Sua dose é de 2 oitavas até 6. Serve para qualquer caso em que se necessita conciliar o sono. Tempera e suaviza o catarro e tosses secas. Mitiga as dores, suspende as hemorragias, inspissa os humores e adoça a sua atitude. Xarope Emético da Botica do Colégio da Bahia.
Receita Vidro de antimônio em pó sútil ........................... 6 onças Vinho emético ......................................................... 8 libras Clarificado de açúcar.............................................. 34 libras Far-se-á do seguinte modo Em um tacho se deite o clarificado de açúcar, e dentro deste o vidro de antimônio atado em um pano um pouco ralo, e este que fique um pouco largo. Então se ponha o tacho em fogo brando e ferva até ter ponto de quebrar. Haja cuidado de quando em quando de mover e espremer o pano na borda do tacho com colher ou espátula de pau. Tendo o dito ponto se tire do fogo e se deite tudo em tigela ou vaso de barro vidrado, e em cima se lhe deitem 8 libras de vinho emético, e tudo muito bem incorporado se cubra, e passados 8 dias se escorra para outra vasilha por inclinação o xarope com muita cautela para que se não tolde, e misture o que estiver no fundo. A cada 10 libras deste xarope, sendo medida e não pesadas, se lhe ajuntem 5 libras também medidas Coleção de várias receitas e segredos particulares das principais boticas da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil
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de vinho emético, e tudo muito bem incorporado e com boa consistência se guarde em vaso vidrado para o uso. Virtudes/doses Sua dose é de 2 oitavas até 1 1/2 onças Serve para purgar por vômito e curso com muita suavidade e sem moléstia alguma, dado simples ou misturado com alguma água cordial ou simples. Xarope de espinheiro alvar. Curvo. Pág. 433.
Receita Açúcar fino .............................................................. 2 1/2 libras Sumo de folhas de espinheira alvar. .................... 1 libra Far-se-á do seguinte modo Em tigela de barro vidrada se deite o sumo e ponha-se em fogo brando, e levantando fervura se tire do fogo e se coe por baeta. Torne ao fogo na mesma tigela depois de lavada, e se lhe ajunte o açúcar e ferva com ele até ter ponto de xarope. Então se tire do fogo, e depois de frio se guarde para o uso em frasco, o qual antes de se guardar se porá três noites ao sereno, tirando-se dele antes de sair o sol. Virtudes/doses Serve para qualquer qualidade de fígado. Dulcifica muito o sangue. Corrige a acrimônia dos humores e é contra qualquer infecção cutânea, tomando-se por 40 dias pela manhã na dose de 1 onça até 2 onças em 1 libra de caldo de frango ou soro de leite.
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Memória muito útil de várias notícias e advertências Absorventes potentes são aljôfar, coral, olhos de caranguejo. Assa-fétida se chama ingo. A fervência do açúcar se rebate deitando-lhe dentro um ou dois bolinhos de cera ou sebo. Água forte não penetra a cera, manteiga ou resina. Áquila branca é o mercúrio doce sublimado. Áquila volante é o sal amoníaco. Alcatira não se dissolve no azeite. Alcanfor se pode dar até 24 gr. Aljôfar é contra ele o óleo de vitríolo de enxofre, e o suco de limão. Almíscar se pode dar até 25 gr. Almíscar é grande sudorífico. Anfião é o ópio. Antimônios calcinados; umedecendo-os tornam a adquirir alguma parte de eméticos. Aqua lactis é o soro do leite destilado. Arcano duplicado é o caput mortuum que se tira quando se destilam juntos a caparrosa e o salitre. Asseli se chamam os bichos-de-conta ou millipedes. Azougue se pode dar pela boca até meia libra para fazer parir e para o volvo. Azougue se desfaz bem com cal viva e com saliva. Azougue, se senão desfaz na água forte em tempo de 8 horas, se tire, lave e guarde para o uso. Botiro Manjares é a manteiga de porco. Cal aquece e ferve notavelmente ajuntando-lhe óleo de enxofre, de vitríolo ou sumo de limão. Calcanto é a caparrosa calcinada. Calcatoris é o caput mortuum de vitríolo. Calomelanos é o mercúrio doce sublimado. Carango é a quina. Casca americana é a quina. Casca peruviana é a quina. Chumbo dos filósofos é o antimônio cru. Coleção de várias receitas e segredos particulares das principais boticas da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil
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Crocos de metallorum são os pós de quintilho. De albumine ovorum é da clara do ovo. Doce referve em oito dias se lhe meterem dentro a colher com que se come suja de saliva. Dragão amansado é o mercúrio doce sublimado. Escamoneia perde quase a sua eficácia moendo-a com óleo de enxofre ou de vitríolo. Espírito de cornu cervi, de sal amoníaco, de ferrugem, de sal de alambre, sal volátil de víboras e tintura ou infusão do esterco de carvalhos são grandes diaforéticos. Espódio, nos purgantes, são rosas. Espódio, nos cordiais, é marfim. Espódio, nos emplastros, é tutia. Gila de vitríolo é o sal de caparrosa. Ídolo dos químicos, é o antimônio cru. Ingo é a assa-fétida. Leite se coalha muito bem com sumo de limão, vinagre, etc. Manteiga de chumbo, para sair bem branca, se faz com óleo violado. Mecônio é ópio. Mercúrio Alkalissatus é uma composição. Vide p. 98. Mordedura de víboras, o seu remédio é o sal volátil das mesmas, dado logo na quantidade de 8 até 30 gr. Óleo de canela, como também qualquer outro, para se poderem dissolver bem nos licores, se há de misturar primeiro com pós de açúcar cande, e resultará um óleo-sácaro apto para a dita dissolução. Óleo de canela, quando se faz e destila, sempre há de correr em fio a destilação, e sempre há de estar na cabeça do alambique água bem fria. Óleo de erva da costa serve em lugar de óleo rosado. Óleo de vitríolo, e de enxofre fazem engrossar o sangue, e misturados com sal tártaro fazem grande efervescência. Ópio, tomado continuamente, não faz o seu efeito. 195
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Medicamentos que se costumam pedir debaixo de um só nome As cinco raízes aperientes maiores são as de salsa hortense, de funcho, de aipo, de aspargo, de gilbardeira: estas cinco raízes são as que havemos de administrar todas as vezes que nos forem pedidas, sem determinação de serem maiores ou menores. As cinco raízes aperientes menores são as de grama, ruiva dos tintureiros, cardo corredor, alcaparras e de unha-gata. As duas raízes aperientes comuns são as de funcho e de salsa hortense. As ervas emolientes são as malvas, violas, malvaísco, gigantes, acelgas bravas, ortigas mortas e alfavaca de cobra, etc. As cinco ervas capilares são avenca, avencão, douradinha, língua cervina e ruta-muraria. As quatro ervas carminativas são macela, coroa de rei, endros e arruda. As quatro ervas capitais quentes são calamita, salva, poejos e rosmaninho. As quatro capitais frias são golfo, erva moura, tanchagem e meimendro. As quatro hepáticas são eupatoreo, epática, lúpulos e chicória. As quatro esplênicas são escórdio, ruiva dos tintureiros, marroios e tamargueira. As ervas vulnerárias são agrimônia, sanicula, pé-de-leão, verônica, pulmonária, etc. As quatro flores cordiais são de violas, de borragens, de língua de vaca e de rosas. As quatro flores carminativas são as de macela, coroa-de-rei, matricaria, e de endros. As quatro sementes frias maiores são as de melão, melancia, pepino e de abóbora. As quatro sementes frias menores são as de almeirão, chicória, alface, e de beldroegas. As quatro sementes quentes são as de alcarovia, cominhos, erva-doce e de funcho. As quatro sementes quentes menores são as de salsa hortense, bisnaga, aipo e de ameos. Os cinco gêneros de mirabolanos são os citrinos, chebutos, belericos, índios e emblicos. Os três gêneros de sândalos são os citrinos, brancos e vermelhos. Os três gêneros de pimentas é a branca, negra e a longa. Coleção de várias receitas e segredos particulares das principais boticas da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil
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Index em que pela ordem alfabética se mostram as doses dos mais comuns remédios que se aplicam no uso interno, tanto símplices como compostos
A Abutua: de meio escrópulo até uma oitava. Açafrão: de quatro até sete grãos; de quinze até dezoito grãos. Água antivenérea de Madama Foquet: dose de meia libra. Antivenérea chamada de salsa da Botica do Colégio de Recife: meia libra. Antivenérea da Botica do colégio do Recife do cirurgião Manoel dos Santos: meia libra. Antipleurítica do Curvo: dose seis onças. Anti-hidrópica do Curvo: três onças. Antiasmática do Curvo: quatro onças. Benedita da Botica do Colégio do Recife: de duas oitavas até uma onça. Benedita Rulando26: de meio escrópulo até meia onça. De canela da Botica do Colégio da Bahia: de uma oitava até uma onça. Contra vermes do curvo: dose cinco onças. De Córdova do Irmão boticário Manoel Carvalho: de uma oitava até uma onça. Febrífuga da Botica do Colégio de Macau: meia libra. De Inglaterra da Botica do Colégio de Santo Antão: de três até seis onças. De melissa composta da Botica do Colégio de Santo Antão: de uma oitava até uma onça. Para obstruções do irmão boticário Manoel Carvalho: meia libra. Perlarum Carlos Musitano: duas até seis onças. Perlarum usual: meia até uma libra. Da Rainha de Hungria: de uma até três oitavas. Da salsa da Botica do Colégio do Recife: meia libra. Para icterícia do irmão boticário Manoel de Carvalho: meia libra.
26 Martin Ruland, o jovem (1569-1611), médico e alquimista alemão. A receita não é indicada na Coleção... Coleção de várias receitas e segredos particulares das principais boticas da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil
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Alcanfor: de meio até um escrópulo. Algalia: de um até três grãos. Âmbar: de um até quatro grãos. Dito concertado: de um até quatro. Almíscar: de um até quatro grãos, de meio escrópulo até um. Amoníaco goma: de meio escrópulo até três. Andá: de meia onça até duas. Antimônio diaforético usual: de meio escrópulo até um e meio. Dito marcial: de meio escrópulo até um. Dito fixo: de meio escrópulo até um. Anti-héctico de Poterio: de quatro grãos até meio escrópulo. Arrobe de amoras: de até Arrobe de sabugo: de meia onça até duas.
B Bálsamo apoplético: de quatro grãos até um escrópulo. Do Brasil: de quatro até doze grãos. Bálsamo Católico de Carlos Musitano: de seis gotas até um escrópulo. De copaíba: de oito gotas até um escrópulo. Estomacal da Botica do colégio de Macau: de meio escrópulo até meia oitava. De Maria: de três até oito grãos. Peruviano: de quatro grãos até meio escrópulo. De sulphur terebintinado: de uma até quatro gotas. Bezoártico do Curvo da Botica do Colégio do Recife: de meia até duas oitavas. Bezoártico do Curvo da Botica do Colégio de Macau: de uma até duas oitavas. Bolo armênico oriental: de meio até dois escrópulos. Bórax: de quatro até vinte grãos.
C Cachundé do Japão da Botica do Colégio de Macau: de um até um e meio escrópulo. Cachundé da Botica do Colégio de Macau: de um até um e meio escrópulo. Calomelanos turquescos: de seis até trinta grãos. Canela em pó: de meio até um e meio escrópulo. 219
III. GLOSSÁRIO DE INGREDIENTES, UTENSÍLIOS E PROCEDIMENTOS MENCIONADOS NA COLEÇÃO...
Considerando a vasta gama de plantas, animais, pós, sementes, elementos diversos, equipamentos e processos elencados pelo autor da Coleção..., foi elaborado um glossário de termos constantes na obra e que são próprios da época e/ou caíram em desuso. As definições aqui apresentadas foram formuladas, prioritariamente, a partir daquelas constantes em dicionários portugueses confeccionados e em uso no século XVIII. Foram consultadas, ainda, obras de medicina e de farmácia, além de compêndios de receitas coevos, de modo a melhor precisar os termos indicados pelo irmão autor da Coleção. Essas referências constam integralmente na bibliografia específica do glossário e, sempre que possível, abreviadas e indicadas junto às definições. Sempre que possível, igualmente, foram acrescidas às definições a correspondência latina de elementos botânicos e, ao final do termo, quando houver, seus sinônimos. Uma lista com as abreviaturas também segue ao final do glossário.
A Abada: Antigo registro para rinoceronte. (R.B.) Abrótano: Erva aromática comum na Europa. Do latim Artemisa abrotanum. (A.M.S.) Acetosa: Planta encontrada comumente no norte da Península Ibérica; azeda, azeda-brava, erva-vinagreira ou vinagreira. Do latim Runex acetosa. Açoro (ácoro): Planta de folhas verdes alongadas, espiga cilíndrica, raiz aromática e sabor acre; cálamo-aromático, acorina, lírio-dos-charcos ou cana-cheirosa. Do latim Acorus calamus. Açúcar-cande: Calda feita do açúcar cristalizado. (A.M.S.) Agarico (agárico): Variedade de cogumelo com qualidades purgativas que nasce nos troncos das árvores. (R.B.) 241
BIBLIOGRAFIA DO GLOSSÁRIO
(C.P.) REIS. J. P. Código pharmaceutico lusitano ou tratado de Pharconomia. Por Agostinho Albano Silveira Pinto [...] Segunda edição posthuma mais correcta que a anterior. Porto: Cruz Coutinho Editor, 1876. (Carb.) CARBONELL, Francisco. Elementos de farmacia fundados en los principios de la chímica moderna. Barcelona: Oficina de Juan Francisco Piferrer, 1802. (Dic. Med.) JIMENEZ, Manuel. Diccionario de los diccionarios de medicina publicados en Europa ó tratado completo de medicina y cirujia practicas: que contiene el análisis de los mejores artículos insertos hasta el día en los diferentes diccionarios y tratados especiales más importantes: obra destinada á reemplazar todos los demas diccionarios y tratados de medicina y cirujia. Madrid: Imprenta Medica, 1842. Vol. 1-6. (Diz. Alq.) TESTI, Gino. Dizionario di alchimia e di chimica antiquaria: Paracelso. Roma: Edizioni Mediterranee, 1980. (Diz. droghe) CHEVALLIER, A.; RICHARD, A.; DU PRÈ, F. Dizionario delle droghe semplici e composte o nuovo dizionario di storia medica, di farmacológica e di Chimica Farmauceutica[...] Venezia: Giorlamo Tasso, 1730. Vol. 1-6. (Erário) FERREIRA, Luis Gomes. Erário Mineral. Organização de Júnia Ferreira Furtado. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro/Centro de Estudos Históricos e Culturais, 2002, 2v. (F.S.S.) SANTOS, Fernando Santiago dos. As plantas brasileiras, os jesuítas e os indígenas do Brasil: história e ciência na Triaga Brasílica (séc. XVII-XVIII). São Paulo: Casa do Novo Autor Editora, 2009. (Farm. un.) JOURDAN, A. J. L. Farmacopea universal ó Reunión comparativa de las farmacopeas de Amsterdam [...]; traducida al castellano por Juan Gualberto Avilés y Justo Aceñero. Madrid: Imprenta Fuentenebro, 1829. Tomo 1-4. (G.D.) DONZELLI, Giuseppe. Teatro farmaceutico dogmatico e spagirico [...] Napoli, s/p, 1726. (Gd. Dic.) VIEIRA, Domingo. Grande diccionario Portuguez; ou, Thesouro da lingua Portugueza. Porto: Chardron, 1871. Vol. 3. (J.C.S.) SEMEDO, João Curvo. Manifesto que o Doutor ... médico morador em Lisboa fez aos amantes da saúde, e atentos à suas consciências. Lisboa: Valentim da Costa Deslandes, 1706. 271