Geraldo De Mori | Johan Konings | Manoel Godoy (Orgs.)
UMA ESCOLA DE TEOLOGIA
A Faculdade de Teologia dos JesuĂtas do Brasil em seus 70 anos
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Uma escola de teologia : a Faculdade de Teologia dos Jesuítas do Brasil em seus 70 anos / Geraldo De Mori, Johan Konings, Manoel Godoy (orgs.). -- São Paulo : Edições Loyola, 2019. Vários autores. ISBN 978-85-15-04616-4 1. Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - História 2. Filosofia - Estudo e ensino 3. Teologia - Estudo e ensino I. De Mori, Geraldo. II. Konings, Johan. III. Godoy, Manoel. 19-29747
CDD-271.5309
Índices para catálogo sistemático: 1. Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia : História Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964
Capa: Rafael dos Anjos Diagramação: Viviane Bueno Jeronimo Fotos cedidas pela FAJE A revisão do texto desta obra é de total responsabilidade de seus autores.
CAPES (PROEX) – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior FAJE – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia Av. Dr. Cristiano Guimarães, 2127 – Planalto 31720-300 Belo Horizonte, MG Edições Loyola Jesuítas Rua 1822, 341 – Ipiranga 04216-000 São Paulo, SP T 55 11 3385 8500/8501 • 2063 4275 editorial@loyola.com.br vendas@loyola.com.br www.loyola.com.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.
ISBN 978-85-15-04616-4 © EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2019
271.5309
Sumário
Apresentação.................................................................................. 9 Geraldo De Mori, SJ; Johan Konings, SJ; Manoel Godoy (Orgs.)
Prefácio ......................................................................................... 15 Arturo Sosa, SJ PRIMEIRA PARTE:
Memória e história I – São Leopoldo, RS …………………………………………… 25 A Faculdade de Teologia Cristo Rei em São Leopoldo .............................. 27 Luiz Fernando Medeiros Rodrigues, SJ Lembranças da Faculdade de Teologia Cristo Rei...................................... 47 Jesús Hortal, SJ (PUC Rio) Minha experiência na Faculdade de Teologia Cristo Rei........................... 51 Benno Brod, SJ
II – Belo Horizonte, MG ………………………………………… 61 A Faculdade de Teologia em Belo Horizonte. Primeiro período .............. 63 Carlos Palácio, SJ
A Faculdade de Teologia em Belo Horizonte. Segundo período ............... 81 Johan Konings, SJ; Geraldo De Mori, SJ
SEGUNDA PARTE:
Características da teologia na Faculdade Jesuíta Fonte: da Escuta da Palavra ao Serviço à Palavra .................................... 107 Claudio Paul, SJ Fundamentação epistemológica da Teologia na Faculdade Jesuíta ........ 119 Eugenio Rivas, SJ A opção preferencial pelos pobres ............................................................ 139 Washington Paranhos, SJ Perspectiva sistemática da Teologia na Faculdade Jesuíta ....................... 159 César Andrade Alves, SJ Articulação entre Teologia e Pastoral no contexto da Faculdade Jesuíta .................................................................................. 179 Manoel Godoy; Francisco das Chagas de Albuquerque, SJ Acompañamiento de estudios. Mistagogía y conversación ..................... 203 Luis Herrera Rodriguez, SJ
TERCEIRA PARTE:
Testemunhos Estudar na FAJE: o desenvolvimento de uma vocação teológica ............ 219 Lúcia Pedrosa-Pádua Construindo redes de excelência acadêmica ao serviço do Reino .......... 229 Eileen FitzGerald, ACI Partilha de uma experiência ...................................................................... 235 Valdete Guimarães, CIANSP FAJE: Uma instituição de portas abertas para o mundo ......................... 243 Carlos Alberto Motta Cunha
Teo-cor-logia: Deus “corazonando” em nós. A crise na Teologia, maior presente de Deus!........................................... 253 Fernando López, SJ (Equipe Itinerante, Amazônia)
QUARTA PARTE:
Em diálogo com o mundo Construindo pontes num mundo fragmentado: redescobrir a tarefa de educar ................................................................... 277 José Tolentino de Mendonça
À guisa de posfácio: o Oriente na FAJE .................................... 297 Massimo Pampaloni, SJ
Apresentação dos autores ......................................................... 301 Índice de nomes e assuntos ....................................................... 309
Apresentação
A obra é composta de quatro partes. A primeira, mais narrativa, retraça a história da Faculdade Eclesiástica de Teologia dos jesuítas do Brasil. A segunda, mais sistemática, retoma os grandes traços do atual fazer teológico no CES/FAJE. A terceira, mais testemunhal, dá a voz a egressos que estudaram na Faculdade no período belorizontino. A quarta mostra a preocupação da Faculdade em estabelecer pontes com outros contextos. A primeira parte se subdivide em duas secções. A primeira, composta de três capítulos, é consagrada ao período de São Leopoldo. Começa com o texto do historiador jesuíta Luiz Fernando Medeiro Rodrigues, professor da Unisinos, que remonta ao final do século XIX para contar a pré-história que deu origem ao Colégio Máximo Cristo Rei, onde, em 1942, teve início a faculdade de teologia, cujo reconhecimento pontifício se deu em 1949. Num segundo capítulo, breve, Jesús Hortal, SJ, antigo aluno, professor, diretor da faculdade e reitor do Cristo Rei, mostra as evoluções pelas quais passou a Faculdade no período que antecedeu e sucedeu ao Concílio Vaticano II. Benno Brod, SJ, também egresso e professor da Faculdade, recorda, no terceiro capítulo, a vitalidade dos momentos em que esteve na Faculdade, seja no período em que fez sua teologia (1961-1963), seja no período em que compôs o quadro dos professores e formadores dos jesuítas da Faculdade, encarregado da reflexão pastoral na época criativa de recepção do Concílio no Brasil e na época de transição da Faculdade para Belo Horizonte. A segunda secção, composta de dois capítulos, retraça, em dois períodos, a nova etapa da Faculdade, em Belo Horizonte, onde, com a Faculdade de Filosofia, criada em Nova Friburgo em 1923 e reconhecida pela Santa Sé em 1942, passou a formar a nova instituição de formação filosófico-teológica dos jesuítas do Brasil: o CES. O primeiro, escrito por Carlos Palácio, SJ, apresenta os processos que levaram à “recriação” da Faculdade, mostrando o dinamismo, a criatividade e a ousadia que isso demandou dos “pais fundadores”. O segundo, escrito por Johan Konings, SJ, e Geraldo De Mori, SJ, recolhe as mudanças ocorridas com o processo de amadurecimento do projeto, que, em 1997, deu origem ao atual currículo, com suas principais características, além dos ajustes introduzidos com o processo de reconhecimento civil do mestrado (1997) e do doutorado (2002), como também do bacharelado civil (2006/2011). A segunda parte busca sistematizar o jeito de fazer teologia da Faculdade. Está composta de seis capítulos. O primeiro, de Cláudio Paul, SJ, recolhe o aprendizado conciliar, que faz da Sagrada Escritura a “alma” da teologia, constituindo sua escuta e inteligência em condição de possibilidade de toda inteligência e práxis da fé. O segundo, de Eugenio Rivas, SJ, debruça-se sobre 11
A Faculdade de Teologia Cristo Rei em São Leopoldo Luiz Fernando Medeiros Rodrigues, SJ
Introdução A história da Faculdade de Teologia do Colégio Máximo Cristo Rei, em São Leopoldo (RS) não pode ser contada sem a memória das atividades do Colégio Nossa Senhora da Conceição, fundado em 1869 e encerrado em 1912, que passou depois a ser o Seminário Provincial e Central, até a criação das Faculdades do Colégio Cristo Rei. Como Faculdade de Teologia, o curso de Teologia dos jesuítas foi reconhecido pela Sagrada Congregação dos Seminários e Estudos Universitários, a nome da Santa Sé, em 12 de março de 1949, com o título de Faculdade de Teologia do Colégio Máximo Cristo Rei, em São Leopoldo, RS, e iniciou em 1942. No ano acadêmico de 1982, as Faculdades de Filosofia (criada em 1941, em Nova Friburgo, RJ) e Teologia foram transferidas para o recém-criado Instituto Santo Inácio, em Belo Horizonte, formando o Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus (CES). Este capítulo tem por objeto apresentar alguns fragmentos da história da Faculdade de Teologia no Colégio Máximo Cristo Rei. 1. Do Colégio Nossa Senhora da Conceição ao Seminário Central Os jesuítas tinham em São Leopoldo uma paróquia que de 1868 a 1873 foi dirigida pelo Pe. Guilherme Feldhaus. E, desde 1864, mantinham uma escola elementar, mas fazia-se necessário um instituto voltado para a formação de 27
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professores e futuros seminaristas. Para concretizar estes objetivos, a primeira providência foi comprar uma casa que servisse para iniciar a obra planejada. Uma pequena propriedade com uma casa, um moinho e um curtume estavam à venda. O conjunto situava-se próximo à igreja dos jesuítas. O visitador da Missão1, Pe. Ponza, que fazia a sua visita canônica em São Leopoldo, aprovou a compra do terreno, cuja escritura foi lavrada em 1869. Depois de arranjadas as devidas adaptações nas construções já existentes, o Colégio Conceição começou a funcionar. Os vários documentos disponíveis divergem quanto à data precisa da fundação do colégio. O jesuíta Fernando Müller, ao escrever uma História ilustrada do Colégio e Ginásio Conceição, em 1921, referindo-se à documentação de 1897, indica o ano de 1870 como sendo o ano em que o Pe. Guilherme Feldhaus, primeiro diretor do colégio, iniciou as atividades de formação dos professores destinados às escolas nos distritos coloniais. Já Luís Gonzaga Jaeger indica a data de início das atividades do externato Nossa Senhora da Conceição como sendo 31 de julho de 1869 (JAEGER, 1947, p. 28). Arthur Rabuske cita apenas o ano de 1869 (RABUSKE, O Colégio, p. 1). Leopoldo Petry destaca que o Pe. Feldhaus fundou o Ginásio Imaculada Conceição em 31 de julho de 1869 (externato), no qual o internato começou a funcionar no ano seguinte (1870) (PETRY, 1966, p. 58). O Pe. Theodor Amstad (1851-1938) afirma que os jesuítas em São Leopoldo tinham aberto o seu primeiro estabelecimento de ensino em 1869 (AMSTAD, 1924, p. 426). Finalmente, citando o Diarium Residentiae et Collegii S. Leopoldi – 1860-1884, Aloysio Bohnen e Reinholdo Aloysio Ullmann indicam que o Pe. Minkenberg e o Ir. Frantz chegaram de navio para a escola. E o registro tem como data o dia 30 de julho de 1869, véspera do início das aulas dos externos (BOHNEN; ULLMANN, 1989, p. 170). Contudo, se a data de fundação pode ser fixada como sendo 31 de julho de 1869, o “Colégio dos Padres”, como era chamado na região, só foi inaugurado efetivamente em 3 de outubro de 1869, por D. Sebastião Dias Laranjeira, na festa de Nossa Senhora do Rosário. No Diarium Residentiae et Collegii Sancti Leopoldi – 1860-1884 há um registro datado de 17 de dezembro de 1869 que indica como o Presidente da Província do Rio Grande do Sul, João Sertório, foi recebido pelo superior dos jesuítas junto à igreja de S. Leopoldo. Na comitiva dos jesuítas estava o Pe.
1 De 1869 a 1925, a região do Rio Grande do Sul dependeu da Província Germânica, e, por isso, tinha o nome de Missio Germanica. De 1925 a 1927, passou a ser Vice-Província da Germânia e, a partir de 1927, Província independente.
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Lembranças da Faculdade de Teologia Cristo Rei Jesús Hortal, SJ
Cheguei a São Leopoldo no dia 31 de janeiro de 1959. O ônibus serpeava na descida da Serra Gaúcha, enquanto a rádio transmitia a tomada de posse de Leonel Brizola como Governador do Rio Grande do Sul. Começava uma nova etapa da minha vida, os estudos de Teologia, num teologado que oficialmente era interprovincial, mas que, de fato, era da Província Meridional (Sul) dos jesuítas do Brasil. Todos os professores e formadores eram gaúchos ou europeus de diversas nacionalidades, adscritos de modo definitivo a essa província. Mais tarde percebi como isso gerava tensões entre os estudantes provenientes da Província do Brasil Central, que se consideravam mais brasileiros, e os do Sul, que eram olhados como colonos, camponeses rudes, atrasados. Além disso, os jesuítas do Brasil Central afirmavam ser tomistas, enquanto os do Sul, seguindo a tradição alemã, eram suarezianos. A biblioteca era composta, numa boa parte, por livros escritos em alemão. Pode-se imaginar que, desgraçadamente, as tensões entre os dois grupos nunca foram pequenas. Entrosei-me rapidamente com os gaúchos, que me acolheram sempre com cordialidade e simpatia. Entre os professores, como era de se esperar, havia de tudo, bons, regulares e ruins. Eu já não cheguei a pegar as figuras, que lá se tinham mais destacado: o Pe. Reus, na Liturgia, o Pe. Mors, na Teologia dogmática, e o Pe. Vogt, na Sagrada Escritura. O primeiro se despontara pela sua espiritualidade (seu processo de beatificação encontra-se em estágio avançado). O Pe. Mors publicou um tratado completo de Teologia, em latim, que foi livro de texto durante gerações. E o Pe. Vogt acabou como professor no Instituto 47
UMA ESCOLA DE TEOLOGIA A Faculdade de Teologia dos Jesuítas do Brasil em seus 70 anos
Bíblico de Roma, colaborando muito ativamente na nova tradução latina do Saltério, elaborada no tempo de Pio XII. Conservo a memória agradecida de alguns professores, como o Pe. Balduíno Kipper, profundo conhecedor do Antigo Testamento, e do Pe. Cândido Santini, que trabalhou repetidamente como assessor canônico dos Bispos do Brasil, de modo notado na edição mais recente da Pastoral Coletiva. Também o Pe. Laufer, professor de Patrística e História da Igreja, me marcou profundamente, especialmente como promotor do diálogo ecumênico com os luteranos, que possuíam uma espécie de cidadela confessional, no Morro do Espelho, não longe do nosso colégio. Foram quatro anos de estudo e de trabalho pastoral que eu qualifico de francamente bons. Quando já estava bem avançado no curso da Teologia, o Provincial da Província de León, da qual dependia a nossa Vice-Província Goiano-Mineira, me surpreendeu ao perguntar-me se eu, dada a minha formação jurídica, aceitaria a proposta formulada pelo Reitor do Cristo Rei, de ir à Universidade Gregoriana, para estudar Direito Canônico e substituir o Pe. Santini, que já era de idade avançada. Logicamente, aceitei. Por isso, mesmo distante, durante os cinco anos de uma pequena estada na Alemanha, da minha Terceira Provação e dos meus estudos em Roma, me senti sempre vinculado ao nosso Colégio Máximo e à sua Faculdade de Teologia. Consegui o meu doutorado e voltei ao Brasil no início do ano 1968. Para minha decepção, o então Provincial da Vice-Província Goiano-Mineira, à qual eu pertencia, me destinou a Goiânia, onde o meu diploma e os meus estudos eram praticamente inúteis. Só no segundo semestre de cada ano, deveria lecionar em São Leopoldo, onde o Pe. Santini fora quase que aposentado pelos próprios alunos. Eram anos conflitivos. De fato, 1968 foi um ano emblemático em quase todo o mundo ocidental, com a contestação de tudo o que pudesse parecer fora da moda ou antiquado. Fui recebido com forte hostilidade, num ambiente cada vez mais secularizante. De fato, a Teologia da Secularização estava na moda. Tive que capear o temporal e conseguir sobreviver. Durante cinco anos, permaneci o primeiro semestre em Goiânia, fazendo as coisas mais incríveis, inclusive sendo, durante um semestre, Diretor da Escola de Arquitetura e Belas Artes. Escrevi o Estatuto e o Regimento da Universidade e fundei a sua revista institucional. O segundo semestre o passava em São Leopoldo, lecionando um Direito canônico que se encontrava em processo de reforma completa. Afortunadamente, as Faculdades Cristo Rei recebiam um bom número de revistas, o que me permitiu acompanhar passo a passo essa reforma, da qual ia dando conta em crônicas publicadas anualmente na REB (Revista Eclesiástica Brasileira). 48