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Apresentação
Sumário
Olá!
Crônica: Ótica Nesta edição teremos diversos textos,
04
uma entrevista com o autor Henrique Valle,
Crônica: Café com Helena
também será falado um pouco sobre como foi
06
a Bienal no Rio nesse ano e para finalizar, as
Capa: XVII Bienal do Rio
nossas recomendações.
07
Agradeço a todos que se voluntariaram
Entrevista com: Henrique Valle
e acreditaram nesse projeto. Aos leitores,
10
espero que gostem do conteúdo e divulguem o Conto: Vou viver a minha vida, mesmo
nosso trabalho. E você que deseja colaborar com a revista nas próximas edições, entre em contato
sendo um tolo, tanto faz... 18 Conto: Desconfiar Sempre
conosco!
21 Conheço alguém
www.revistareal.weebly.com
26 Recomendações
Davilan Vilela
27
Diretor
Revista Real Em nome da nobre literatura nacional
DIRETOR Davilan Vilela REVISÃO Gabriel Carramenha Peev Marina Ridente Herrador Natali de Lima Sorrentino
COLABORADORES Artemise Galeno Ana Carolina Brito Bruno Messias Vargas Carina Pilar Rita Vilas Boas IMAGENS / ILUSTRAÇÃO Imagens de domínio público ENVIO DE CONTEÚDO contatoedicoes@gmail.com
A responsabilidade pelo conteúdo dos artigos assinados, vincula-se integralmente a seus autores.
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Artemise Galeno fb.com/galeno50 Crônica Ótica Pertencemos
sociedade
rente; começo a investigar minha vontade de
corrompida, mesmo assim, calamos frente ás
poder e percebo que pretendo ter muito mais
injustiças. Seguimos em busca de metas,
do que me interessa. Almejo abater, mas
ainda
surjam
enquanto isso não acontece, sinto na pele a
inesperadamente. Não pretendemos nos
busca do domínio e a intervenção do meu
acomodar em meio ás dificuldades sem
adversário.
tentar vencê-las, sem questioná-las. Muitos
diferentes, e o que causa essa divergência é
até
o proceder de cada um: de determinação ou
que
intentam
os
a
uma
empecilhos
transformar,
mas
são
De
querer
forma,
mudar
somos
literalmente adaptados a um sistema onde
retrocesso,
desliza a competitividade de hierarquias
harmonizar, propagar ou reter. Podemos
distintas. Temos deixado de lado as nossas
olhar ao redor e compartilhar com o vizinho
perspectivas de crescermos e alçar voos
a alegria, dando-lhe um abraço e uma
maiores? Não podemos perder as minúsculas
palavra de estímulo, na esperança de que se
oportunidades de assistir ao despojado, ter
eternize a amizade plantada.
uma vida digna; moradia, casa e comida.
de
certa
ou
se
Ainda que eu observe o mundo e as pessoas na sua imperfeição, aceito que preciso olhar pra dentro de mim e renovarme como a águia, assim terei proveito das coisas que cometi e das que deixei de fazer. Queria sentir-me o dono da verdade, porém tenho acertado pouco, porque nem sempre tomo a decisão na hora certa.
Fazemos
parte
de
um
país
democrático, que só nos induz a lutar pelos benefícios de quem já é favorecido. Então sou despertada a pensar de uma forma dife -
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Demuda
pensamento
Hoje, sob minha ótica, observo meus
compreender as disparidades sociais que,
filhos viverem com magnitude, com pura
elevam o Brasil a um índice de mortalidade
altivez;
infantil e analfabetismo. Quisera que os
dominantes. Quisera que eu visse dessa
nossos gestores mobilizassem estratégias
esfera quando outrora, ainda adolescente;
para estes fins! Quando observo mais além,
com uma mala pequena e esperança na
vejo literalmente o homem corrompido,
bagagem, tentara tudo resolver. Aspirava
viciado
de
enriquecer e nunca mais regressar. Eu
nepotismo, desrespeitando a Lei de Deus e a
aventurara dar os primeiros passos para
dos homens.
minha liberdade, sair de casa sem olhar pra
em
meu
politicagem,
abusando
eles
dão
passos
decisivos
e
Almejo ver a vida na sua essência,
trás. Mas durou pouco minha única chance
sem compará-la a um tão sonhado paraíso,
de ser dona da minha vida. Minha irmã se
mas com a convicção de que podemos ter o
apoderou das minhas coisas, sentou-se feliz
essencial, o fundamental pra vivermos
na minha cama, tomando conta do duvidoso
segundo a Constituição do nosso País. Um
que eu apreciava ser meu. Ela estava
lugar onde todos tenham os mesmos
radiante com a minha fuga, me ajudara no
direitos;
de
que pode... Pensei, pensei... E finalmente
nos
decidi: Desarrumei a mala e disse-lhe que
hospitais públicos, respeito aos idosos e
ficaria. O que eu estava procurando não
crianças.
estava entre quatro paredes, mas aprisionado
qualidade,
acesso um
a
uma
bom
Educação
acolhimento
Talvez sejamos pessoas que aspirem
em mim. São tantas as coisas que matam o
ajudar o próximo, mas temos pouco tempo
ser
para partilhar experiências, nosso mundo é
completamente destruído. As palavras têm
extremamente desigual, delimitado no que
poder de mudar vidas, mas o silencio de
podemos ou não fazer. Vivemos uma Era
eternizar-se.
onde ninguém mais compartilha; á não ser por um aparelhinho chamado celular, ou se preferir, por um site onde as pessoas interagem e se expressam de um jeito excêntrico, onde as contrações das palavras servem para resumir vocábulos e causar danos á ortografia.
humano,
que
deixam
o
ego
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Rita Vilas Boas ritacassiaboas@hotmail.com Crônica Café com Helena Ela era forte, mas tinha um coração.
Mas eu bem que queria querer. Não é medo
Dessa vez me contou um segredo bobo,
não. É atitude. – Percebi no seu enredo de
durante o intervalo do noticiário - Sabe
―disfarce‖
moça, tem dias que a gente tem que engolir
fragilidade. Ela estava amando. Seu segredo
seco o que sente. Sabe aquela pessoa, que
soava mais um desabafo de menina que
parece que te quer e depois finge que não
arrumava os encalços de uma paixão não
quer, porque tem medo de querer? - Sorri
correspondida, do que o enredo da figura
com a compreensão de quem parece já ter
firme e bem resolvida que ela queria parecer.
vivido a mesma situação. E depois do
Mas não parou por ali.
uma
ponta
de
angústia
e
conselho de hidra, esperava ávida mais uma de suas perspicacidades. Segurei a xícara com firmeza, engoli o café e aguardei a sua "sacada".
Retirou
a
xícara
da
mesa
equilibrando o pires, sorriu e acrescentou: ―A vida é difícil, a gente tem que ser difícil nesse mundo que se resolve tudo com um clic, moça.‖ Depois disso, saiu pisando Ela passou o cabelo por trás da orelha,
firme por entre as mesas. Compreendi que a
inclinou a cabeça e falou baixinho como se
sua frágil estratégia, era uma forma de
ninguém mais a tivesse escutando. - Aprendi
autodefesa, que muitas vezes nos motiva a
a disfarçar, e disfarço bem. Mas às vezes,
adotar, para sair do alvo das vastas
mesmo cabisbaixa, sinto aquele cheiro doce
desilusões que a vida nos brinda. Quem
se aproximando... então, sabe o que faço?
nunca disfarçou?! Pedras, pedras, pedras...
Finjo que também não quero.
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Davilan Vilela contatoedicoes@gmail.com Capa XVII Bienal do Rio A 17ª edição do maior evento
Nessa 17ª edição da Bienal no Rio
literário do Brasil foi realizado nos dias 03 à
foram superadas as expectativas. Apesar da
13 de setembro desse ano. É a Bienal
má situação econômica que o Brasil vem
Internacional do Livro no Rio, que nessa
passando e um fim de semana chuvoso no
edição bateu recorde de público e vendagens
Rio, o evento bateu o recorde com 3,7
em relação a edição de 2013. Com
milhões de títulos vendidos e 676 mil
realização do Ministério da Cultura e
visitas, com arrecadação de R$ 83 milhões,
patrocínio da Secretaria de Estado da
R$ 12 milhões a mais arrecadados em
Cultura, a Bienal do Livro no Rio conta com
comparação a edição de 2013.
debates, bate-papos com personalidades e escritores, e outras atividades com o público que promovem a leitura.
O evento reuniu mais de 200 autores que estão estreando, como a youtuber Patrícia dos Reis e mais experientes, como Essa história começou em 1983 nos salões do Hotel Copacabana Palace e hoje esse evento é realizado no centro de convenções Riocentro, palco dos principais eventos nacionais e internacionais do Brasil, um local que conta com a área de 55 mil metros quadrados.
Thalita Rebouças. Também foram feitas homenagens ao cartunista Maurício de Sousa e a Argentina, isso mesmo, toda edição um país é homenageado e dessa vez a Argentina foi escolhida, participou com um stand de 400m² contando com um auditório batizado com o nome do escritor ―Manuel Puig‖,
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autor de ―O Beijo da Mulher-Aranha‖.
Foi um
grande evento literário
realizado com sucesso, com recorde sobre recorde e presenças de grandes autores nacionais e internacionais. E a 18ª edição da Bienal do Livro no Rio já está marcada, será nos dias 31 de agosto à 10 de setembro de 2017, no Riocentro.
O evento contou também com nomes internacionais como o escritor e cartunista Jeff Kinney, responsável pela série de livros ―Diário de um banana‖, e a escritora Sophie Kinsella, responsável pela série de livros que consagraram a personagem Becky Bloom.
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Pรกgina no Facebook
https://goo.gl/zcyspW
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ENTREVISTA COM:
HENRIQUE VALLE
Henrique Valle é licenciado em Filosofia pela Faculdade Paulo VI, em Mogi das Cruzes, onde morou por quatro anos. Interessa-se por Literatura desde 2011, onde começou a rascunhar seu primeiro romance sem saber. Antes disso, escrevia poemas esporadicamente – de cunho religioso. Após sua exposição ao existencialismo filosófico e à obra cinematográfica de Hugo Carvana, decidiu sair do ninho. Criou um blog de poesias (o antigo ―Filosofia com Poesia‖, hoje inativo) e produziu textos no facebook. Nesta época, conheceu Bukowski, Kerouac e as estações de metrô. Rascunhou um projeto de arte metropolitana que ainda será publicado nas redes sociais. Pela internet, conheceu vários ―ratos de sarau‖, participantes convictos deste tipo de atividade cultural. Após um convite especial – do ex-curador do Prêmio Jabuti, José Luiz Goldfarb – começou a trabalhar como revisor e curador do site de ebooks Widbook, tendo publicado ali dois livros e rascunhado outros vários. Edita atualmente o blog ―Fala Henrique Valle‖, de poesia, e trabalha como revisor e orientador de projetos literários.
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Revista Real: Como surgiu seu
Logo depois de completar dezesseis
interesse pela escrita?
anos, porém, comecei a escrever
Henrique Valle: Aos três anos de
textos reflexivos e de tom poético,
idade, desenvolvi um problema na
embora houvesse estritamente o tom
minha fala que consiste em uma
religioso. Depois de ingressar e
gagueira nervosa. Desde então, sentia-
permanecer quatro anos em um
me
pela
seminário católico (onde, escondido,
zombaria das pessoas ao meu redor,
estudei vorazmente a cultura carioca
desde colegas de classe até membros
dos anos 70) decidi abrir às portas
da minha família. O período da minha
para a Literatura e a Poesia. Após
adolescência
extremamente
minha saída do seminário, em 2012,
conturbado, visto que o meu esforço
comecei a viajar pela cidade de São
para me comunicar era inúmeras
Paulo e descobrir a poesia urbana.
vezes inútil e complicava minha
Atualmente, escrevo contos.
desencorajado
foi
a
falar
interação social. Isto tudo contribuiu para que eu me tornasse cada vez mais
RR: Quais são as suas inspirações?
tímido, introvertido e calado, embora
HV: São muito variadas. Este é um
igualmente estudioso. Nesta época, li
assunto complexo, que levaria um
―A volta ao mundo em 80 dias‖ [de
certo
Júlio Verne] e ―Robinson Crusoé‖ [de
completamente.
Daniel Defoe]. Talvez estes livros me
inspiração
influenciariam no futuro a admirar ao
redenção. Uma pessoa esperando o
mesmo tempo a loucura da metrópole
trem, um pedestre atravessando um
e o silêncio do monastério. Antes dos
semáforo, o executivo que sai do
quinze anos, o único tipo de literatura
trabalho na sexta ao fim da tarde, o
que eu produzia eram cartas remetidas
morador de rua que penetra o passante
ao pároco de minha paróquia.
com seu olhar sincero, todas estas
tempo
é
para
ser
Creio um
abordado que
a
momento
de
ações – cenas do cotidiano – podem
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o artista a este estado de redenção. O
HV: É engraçado que eu, sendo
artista antevê a realidade com seus
escritor, tenha a maior parte de obras
olhos de sonho, e por isto mesmo esta
artísticas favoritas fora do domínio
missão é duramente social. Quem diz
literário. Creio que eu vejo literatura
que fabrica arte e não congrega, não
como um tipo diferente de arte,
bebe da fonte do seu povo, é elitista e
daquela com a qual eu trabalho todos
está fadado ao falso sucesso das
os dias; esta situação acaba me
galerias badaladas. A arte quente é a
deixando
arte que vive no povo, como o
familiarizado
folclore. Esta é eterna: é mudada de
escrever. Sou marcado, contudo, por
acordo com seu tempo e espaço, mas
músicas e artes visuais, basicamente
igualmente resiste na memória viva da
do
população. Creio que o próprio Hugo
abstracionismo, na pintura. Admiro
Carvana me influenciou neste ponto,
muito as pinturas de Nikolai Roerich
quando coloca seu personagem Dino
(1874-1947),
indo na contramão do fluxo de uma
(1866-1944) e Vincent Van Gogh
estação de metrô. Quem se diz
(1853-1890).
jazz¸
um
pouco
com
na
o
hábito
música,
Wassily
mais
e
de
do
Kandinsky
discípulo do Carvana é obrigado a congregar com o povo. Minha maior inspiração, neste sentido, é o amor que eu tenho para com as pessoas, o desejo que eu tenho de conhecer suas
Kandinsky tinha um talento absurdo,
vidas e me revelar a elas. É como se
ele conseguia pintar partituras com
eu pudesse montar uma mesa numa
cores e formas; Van Gogh retratou
enorme avenida e chamar todo mundo
toda a sua visão de mundo (muito
para fazer um happy hour comigo.
complexa, por sinal) no seu estilo de
RR: Você lê muito? Qual ou quais
pintar.
são suas obras favoritas?
considerar minha arte quase como
Kandinsky
me
inspira
a
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uma religião, ao estilo do grande
Até quando o papel ou a tela do
dramaturgo polonês Tadeusz Kantor
computador aparece. A partir do
(1915-1990),
me
branco, tudo se derrete como um
Brevemente
sorvete no calor. Neste ponto, lembro
tratando de Roerich, este trabalha com
muito dos artistas visuais e dos
impressionante precisão os tons de
músicos. Como seria se o pintor se
azul,
comove
esquecesse da paisagem que está
profundamente. Do [ator e diretor
pintando? Este conhecimento é inato:
Hugo] Carvana (1937-2014) recordo
o músico sabe que uma nota convida
ternamente dos filmes ―Vai trabalhar
outra nota, que um acorde prepara
vagabundo‖ (1973) e ―Bar Esperança,
outro
o último que fecha‖ (1983), que
preocupar com o produto final. O
utilizei
importante
influencia
que
no
o
também
teatro.
que
para
me
alcançar
minha
acorde.
é
É
o
irrelevante
processo
se
de
Graduação em Filosofia. A arte é uma
composição da obra. Nestes tempos,
bacia cheia de penduricalhos; cabe ao
ando me ensinando a pensar menos ao
artista separar o que lhe serve e
escrever (o que originou o livro ―Sem
utilizar estes mesmos itens antigos
Censura‖, disponível em [ https://pt-
para criar uma nova decoração.
br.widbook.com/ebook/semcensura ]). Para ser mais breve, posso listar em
RR: Quais dificuldades você tem ao
itens: bloqueio criativo; falta de
escrever?
coesão no texto; desatenção com o
A primeira delas (e geralmente é a
processo criativo (imaginar o livro
mais temida) é o bloqueio criativo.
pronto);
Temos uma boa ideia, um lance de
realmente pronto, pensar que o livro
cenas
se tornou um ―filho‖ e nunca mais
que
passa
pela
cabeça,
realmente acontece o momento de
por
fim,
quando
poderá ser alterado.
redenção que nos comove... RR: Quais gêneros textuais você
está
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escreve? E qual você mais gosta de
cação, divulgação, vendas online e
escrever?
criação de obras coletivas. Vi nestes
HV: Gosto de escrever prosa, embora
tempos que existem até capistas
eu também dedique atenção à poesia.
profissionais que fazem bons preços
Para
para os autores do site. Conheci
mim,
são
dois
gêneros
inseparáveis que se auto-equilibram. É
muitas
boas
uma pena que, de certo modo, exista
realmente capacitados que se dedicam
essa ―rivalidade‖ entre prosa e poesia,
integralmente para o avança da cultura
como se uma fosse mais elaborada e a
nacional.
outra fosse mais realista. A prosa é o
autores de todos os gostos: prosa,
corpo e a poesia é a alma da
poesia, ficção científica, fanfictions,
linguagem. Se uma ou outra estão
livros de estudo. Vale a pena observar
ausentes, é impossível fazer arte
que idosos também estão entrando na
literária. O bom artista que se dedica a
plataforma, muitos deles professores
escrever, na minha opinião, é aquele
experientes. Isto só tem a agregar,
que sabe inserir prosa na sua poesia,
visto que a plataforma ainda tem
ou poesia na sua prosa. Não dá para
predomínio adolescente/juvenil.
No
pessoas,
Widbook
artistas
existem
fazer um bom texto sem essas duas qualidades.
RR: Como surgiu a ideia que fez você iniciar a obra “Tempo e
RR:
Como
experiência
está
sendo
publicando
sua no
Espaço”? HV:
Definindo
numa
palavra?
Widbook?
Observação. Eu amo as pessoas.
HV: Maravilhosa. O Widbook é uma
Gosto de estar em contato com elas.
ferramenta e tanto. A ideia do site
Geralmente, quando eu utilizo as
unifica a criação de livros em nuvem
estações de trem ou metrô aqui em
– o que já é uma vantagem –, com a
São Paulo, gosto de olhar nos olhos
interação de escritor/leitores, publi -
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das
pessoas.
E
sou
HV: Uma das obras que me marcou
correspondido, algumas delas me dão
foi, particularmente, o livro ―Sem
um sorriso aberto; outras são mais
Censura‖. Nele, adaptei o estilo
comedidas e me dão um sorriso
literário do [escritor canadense] Jack
tímido; outras ainda desviam o rosto
Kerouac
ou mostram um olhar preocupado. E
literários próprios. Eu deixei que a
foi em querer conhecer cada pessoa,
mente fluísse, sem qualquer tipo de
conversar com elas, que eu comecei a
trava, correção ou revisão. Disse na
criar as vidas de cada integrante
obra que ―Sem Censura‖ era um livro
daquela multidão. Cada personagem
onde o leitor podia ler o texto antes do
que eu imagino tem um rosto, um
escritor. Foi um processo quase
corpo
inconsciente. Eu enfrentei o meu
predefinido.
quando
Não
consigo
com
alguns
exercícios
pensar personagens abstratos. ―Tempo
bloqueio
e Espaço‖ surge exatamente destas
Percebi que sempre a palavra mais
duas coisas onde todos os seres
pesada é a primeira palavra. Depois, o
humanos
e
texto flui de maneira inata. O livro me
desencontram. Todos, sem exceção,
ensinou que às vezes o inconsciente
estamos sujeitos às leis do tempo e do
também fala...
se
encontram
criativo
como
nunca!
espaço. O nome do livro lembra as talvez únicas coisas que todos os seres
RR:
humanos conhecem da mesma forma:
iniciando na escrita, que conselhos
é uma metáfora da humanidade.
você daria?
Aos
autores
que
estão
HV: Creio que seja mais fácil elencar RR: Além de “Tempo e Espaço”
em tópicos:
você tem outras obras já finalizadas
— Antes de escrever um livro, leia
e outras em desenvolvimento. Há
dez livros sobre o assunto. Tenha a
uma obra que te marcou mais? E
paciência de aprender com os antigos
por quê?
antes de criar algo novo.
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— O Português é uma das línguas
há nada mais para ser criado.
mais difíceis do mundo, como o alemão. Embora não seja fácil, tenha
RR: Agradecemos sua participação.
vontade de estudar.
Que recado você deixa para os
— Leia o dicionário como um livro
leitores que ainda não te conhecem
comum. As palavras mais difíceis
e aos que já acompanham seu
enriquecem o vocabulário, enquanto
trabalho?
as mais simples tranquilizam o leitor.
HV: Sintam-se livres para contatar-me
Saiba usar sabiamente estes dois tipos
na hora em que quiserem. Estou à
de linguagem.
disposição como curador do Widbook,
— Sempre que alguém especializado
escritor, orientador literário e revisor.
(que entende mais do assunto ou tem
Será um prazer ler seu livro, ou te
mais experiência que você) te oferecer
ajudar a escrever sua obra!
qualquer tipo de ajuda literária, aceite. — Participe de encontros presenciais
Blog: falahenriquevalle.blogspot.com.br/
ou virtuais de arte literária, como exposições, flashmobs e saraus. — Na hora de escrever, tenha um
Widbook: widbook.com/profile/henrique-valle
mestre (de preferência que tenha contato direto com você) e não abra mão de seus conselhos.
Twitter: twitter.com/FalaRiquinho
— Quando você se sentir capaz de
Revisões/Orientações de livros via
escrever, depois de ter estudado e
Skype
aprendido tudo o que foi necessário,
valle.henrique@live.com
jogue tudo para trás e deixe fluir
(orçamentos sem compromisso, de acordo com cada caso)
aquilo que brota de suas inspirações. A correção só deve ser feita dias depois, quando a mente cansa e não
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@revistarealbr
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Bruno Messias Vargas fb.com/brunomessiasvargas Conto Vou viver a minha vida, mesmo sendo um tolo, tanto faz...
A
Emília
percorria
vários
são por invalidez. Emília, viúva,
quilômetros pela estrada silenciosa
sobrevivia da pensão do falecido
somente para colher flores num
marido e as flores lhe completavam.
bosque. Paulo era viciado em jazz e a
Enquanto
isso,
Doroteia era ativista demais das
professora
aposentada,
causas humanas. A úncia coisa em
contar o tempo que passou na prisão
comum entre os três é que morreram da
mesma
doença.
E
morreram
Doroteia
era
isso
sem
Se encontrassem pessoalmente não
conseguiriam
isolados do mundo. A maluca que
relacionamento.
caminhava sem parar com flores nas
plenos. Emília odiava música, lhe
mãos, o louco dos discos e a doida dos
atordoava, a não ser as reproduzidas
gatos. Sem amigos, somente pessoas
pelo mato e seus elementos, assim
sobrevoando em volta cheias de ódio.
como achava
Foram enterrados como indigentes,
completo, perfeito, era só reparar nas
afastados, em buracos quaisquer. O
flores, abelhas e beija-flores, na brisa
ódio não os conseguiu matar, muito
suave ou na chuva, da fraca à forte,
menos o isolamento, menos ainda as
tudo
histórias inventadas denegridoras. A
mudança e se afastava de qualquer um
causa mortis foi outra, bem mais
que reclamasse da vida ou das coisas
mortal.
ao redor. O Paulo odiava todo o resto;
belo,
Seriam
firmar inimigos
o mundo bom
não
necessitava
e
de
Com o advento da internet,
para ele, ativistas não passavam de
Paulo conseguia o disco que queria,
mentirosos desejantes de poder, mais
comprando-os com o dinheiro da pen-
desejantes do que os atuantes do que
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os atuantes no poder político opressor
parar.
e flores lhe davam uma alergia catastrófica, alias, não conversava com quem não soubesse conversar sobre jazz. Doroteia não tinha tempo para frescuras tipo a beleza das flores e jazz, pois as via como narcóticos, nem tinha paciência para aguentar
Não sentia direito parte alguma do
quem se utilizasse da arte a fim, não
corpo quando chegou. Só chegou e
de apreciar e crescer com ela, mas sim
caiu em cima do campo florido.
de alienar-se do mundo, a vida é movida de lutas, quem não luta não vive. Numa manhã de quarta-feira, Emília decidiu ir mais longe, pois no dia anterior, enquanto esperava na fila do supermercado, soube de um campo mais florido, lindo, nova atração
Paulo estava andando pela rua quando
turística. Entretanto, o campo ficava a
avistou um exemplar de In A Silent
uns duzentos e cinquenta quilômetros
Way
da sua casa. Não possuía carro, então
estaqueou admirado. Queria o disco,
recolheu seu dinheiro, ligou pedindo
porém estava zerado na grana —
um táxi. Não havia táxi por perto. Até
―reserva pra mim, volto semana que
tinha um, mas alertaram o taxista
vem, posso pagar até o dobro‖ —
sobre a suspeita loucura de Emília e
implorou ao dono da lojinha. Uma
ele resolveu não arriscar — ―vou
semana depois, voltou e comprou.
caminhando mesmo‖ — pensou ela.
Chegou feliz, realizado e colocou
E lá foi. Caminhou, caminhou, sem
imediatamente o girando disco sob a
em
formato
long
play
e
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agulha.
dor, com o presidente do sindicato agarrado em suas bolas, apareceu com sua proposta indecente, ela tentou alertar a todos, sem sucesso, de que aquilo era manobra das grossas. A chamaram de maluca, xingaram e a correram da greve. Deu as costas feliz de ao menos se sentir ainda viva, de
Sete horas da tarde, uma neblina
saber que tinha forças para lutar e
fria começou a bater em suas janelas.
nunca
Se deitou no sofá, aumento o volume,
conseguiu
apagou as luzes e decolou. Tão
alguém visse nela um real perigo ao
absorvido estava que nem viu o
poder e contratasse alguém com uma
charuto cair aceso em cima do tapete.
arma...
Embalada
pela
fúria
na
vida
algum
domar,
a
gorila
menos
a que
do
descontentamento, Doroteia apareceu de repente no meio de uma greve de professores — ―O que essa maluca tá
Eles
morreram
da
mesma
fazendo aqui, não é aposentada?‖ —
doença. Digo, morreram da mesma
alguém soltou no meio. Mas ela
coisa que os mais doentes do mundo
estava lá, gritando, botando quente,
consideram doença: viver a vida.
focada no ideal. E quando o governa-
P á g i n a | 21
Carina Pilar carina@carinapilar.com Conto Desconfiar sempre Hoje a noite está agradável,
pais para dentro de um grande
uma leve brisa vem de um canto da
caminhão. Ouvi gritarem meu nome,
parede que não existe mais. Daquele
mas fiquei paralisada. Senti vontade
lugar consigo observar toda a cidade,
de correr na direção deles, mas aquilo
ou o que restou dela. Eu não estava
não me pareceu a opção mais segura.
aqui para ver como tudo aconteceu,
Tinha alguma coisa muito errada em
mas pelo estrago, não deve ter sido
toda aquela situação.
nada bom. Sempre morei na zona
Fiquei um tempo ainda na
rural, gostava de acampar perto da
floresta, de onde eu estava conseguia
floresta, cuidar dos bichos e fazer
observar o movimento dos caminhões
experiências de sobrevivência dentro
na estrada principal. Blindados do
da mata. Quem diria que um dia isso
exército também passavam e entre
seria útil?
este comboio armado iam também
Eu tinha apenas quatorze anos
vários
carros
particulares,
com
quando a evacuação começou. Não foi
pessoas fugindo de algo que ninguém
algo pacífico. O exército passou em
deveria
todas as casas levando as pessoas, não
alarmavam a população com uma
havia tempo para esperar e nem
guerra eminente, mas não diziam o
opção, era fugir ou ficar para morrer.
motivo e nem exatamente o que
Eu não estava na casa quando eles
poderia
chegaram. Assisti de longe, estava
depois, quando eu já havia voltado
dentro da floresta, em uma das minhas
para dentro de casa, comecei a ouvir
aventuras. Vi eles escoltarem meus
os estouros. Fui até a janela e vi as
saber.
acontecer.
Os
noticiários
Pouco
tempo
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bombas caindo sobre o centro da
refeições observando a cidade, que era
cidade.
passavam
sempre muito silenciosa. Ouviam-se
constantemente naquela direção. Logo
apenas barulhos de animais. Naquele
eu só enxergava as labaredas e grandes
lugar também havia um quarto intacto,
colunas de fumaça.
ainda com porta e fechadura, aquilo me
Aviões
Hoje, já com quase vinte anos,
passava uma segurança ainda maior.
não sei que destino meus pais tiveram. Era difícil ver um sobrevivente, fazia muito tempo que não avistava alguém. Ouvi e li algumas notícias dos campos de refugiados, mas ao mesmo tempo surgiam boatos de ataques a estes lugares. Parece que ninguém estava seguro. Por isso decidi ir para as
Ali foi meu lar por vários meses, mas
alturas. Vivi alguns anos na fazenda, isolada e com medo. O medo nunca me deixou, mas resolvi ir para a cidade, onde deveria ter mais recursos e quem sabe alguma esperança.
que ainda estavam de pé. Algumas
pouco inclinada, mas há bastante posição,
tudo
mudou.
Estava finalizando a minha janta, uma lata de feijão, quando ouvi um barulho próximo. Corri para o quarto, peguei o taco de basebol e fiquei
Meu coração disparou e minhas mãos começaram a suar frio.
paredes destruídas, a estrutura um
naquela
noite
observando por uma fresta na porta.
Escolhi um dos poucos prédios
tempo
naquela
— Olá? Tem alguém aqui? – escutei uma voz masculina falar.
poderia
aguentar mais um peso como eu. Consegui chegar até o nono andar. Encontrei um lugar que parecia como uma sala, de lá conseguia fazer minhas
Era óbvio que ele sabia que havia
alguém
ali,
minhas
coisas
estavam todas jogadas na sala e a pequena fogueira ainda estava acesa.
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Saí
do
quarto,
sempre
acompanhada pelo taco de basebol. Peguei alguns enlatados e joguei em seus
pés. — É o que eu tenho, feijão,
ervilhas e salsichas. Ele agradeceu e devorou a lata — Não tenha medo, só preciso de um lugar
para
ficar,
não
irei
te
machucar... – comentou ele com uma
de salsichas. Sentei no sofá, ou no que restava dele, e terminei de comer a minha refeição. — Então, há quanto tempo está
voz serena. Abri um pouco a porta do quarto, segurando o taco na minha frente, como se aquilo fosse me dar alguma vantagem caso ele tivesse uma arma de fogo. Não era o caso. — O que você está fazendo — Que susto! Desculpe... Faz que
perambulado
não por
como aí
e
sem
tenho rumo...
Resolvi subir aqui e ver se conseguia encontrar alguma coisa... — Sente-se ao lado da fogueira, vou te trazer alguma comida. – falei, ele fez o que eu disse e ficou aguardando ansioso.
— Faz um bom tempo. – tentei desviar da pergunta. – E você, o que faz por aqui? — Vagando por aí, tento nunca ficar parado em um lugar só, estou sempre em busca de comida, mas
aqui? – perguntei.
dias
neste lugar? – ele perguntou.
parece que está cada vez mais difícil... Você tem bastante por aqui?
–
questionou. — Não muito. – respondi novamente me esquivando. Trocamos
mais
algumas
palavras. Ele comeu as três latas que dei e logo pegou no sono. Juntei algumas das minhas coisas e levei para o quarto. Tranquei a porta e deitei em
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uma cama que havia improvisado. Não
Coloquei nas costas e sai devagarinho
consegui
Como
pela janela do quarto, que na verdade
pessoa
dava para um corredor destruído do
completamente estranha do outro lado
prédio. Tentando não fazer barulho fui
da porta. Ao mesmo tempo, era muito
descendo devagar pelos entulhos até
bom conversar com alguém, depois de
chegar na rua.
poderia?
pegar
no
Com
sono. uma
tanto tempo vivendo, ou melhor, sobrevivendo, sozinha.
Não
poderia
arriscar
viver
próximo a um desconhecido. Não
Não consegui dormir. Coloquei
podemos confiar em ninguém, não no
minhas coisas dentro de uma mochila
mundo do jeito que está agora. Deixei
que deixo sempre perto de mim. Nunca
o prédio para trás e parti em busca de
sabemos
outro lugar para viver.
quando
uma
daquelas poderia ocorrer.
situação
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Ana Carolina Brito anacarolinabrito@id.uff.br Conheço Alguém Conheço
uma
pessoa
que
Não jogue sua felicidade em
sempre diz que quer muito encontrar
cima de outra (s) pessoa(s) , nem exija
um amor, que precisa amar alguém e
amor, nem qualquer outro sentimento,
fala de uma
como se
muito menos peça, pois se não é dado
dependesse disso para ser totalmente
de espontânea vontade tampouco será
feliz.
dado de maneira forçada. Olhe para o
maneira
Mal sabe essa pessoa que o
espelho e sorria, olhe para dentro de si
maior amor da vida dela sempre será
e se complete, transborde-se e troque
ela mesmo , que antes dela encontrar
sua carência pelo seu amor próprio e
alguém para amar, ela precisa é se
entenda que você é o amor da sua
reencontrar e entender que antes de
vida, que você é a razão da sua
amarmos alguém devemos nos amar.
felicidade. Isso não é ser egoísta, é
Mal sabe ela que amor não se busca ,
entender que primeiro você tem que
não se exige, é o amor que vem até
se amar e se bastar para depois querer
nós. É o amor que nos procura e
isso de outra pessoa!
geralmente, aparece
quando
nem
estamos preparados. Mal sabe ela que antes de buscar incansavelmente a felicidade com outra pessoa, ela precisa ser feliz consigo mesma e perceber que não podemos exigir dos outros o que não temos.
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RECOMENDAÇÕES
A viúva e outros contos Livro
de
contos
curtos
e
finais
inesperados, com temática policial, suspense fantástico e cotidiano incomum. Encontre o homem que detestava pombos e a vizinha que os alimentava; a mulher de meia-idade que beija estranhos na rua; a aventura de um caçador muito peculiar; a história de um carma conscientemente adquirido; morte, fantasmas, famílias pouco ortodoxas são encontrados no livro, dividido por temas. Links: Amazon: http://goo.gl/91Z4n1 Apple: https://goo.gl/ZF4Opv Google Play: https://goo.gl/Y4M4Lg Kobo: http://goo.gl/xabGzz Livraria Cultura: http://goo.gl/QMGN1E Saraiva: http://goo.gl/U3Guwp
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RECOMENDAÇÕES
Tempo e espaço Como é estar no meio de um turbilhão? Henrique Valle constrói, por meio de crônicas no cenário urbano, reflexões que deixam transparecer a aura paulistana. Diferentemente da mera observação, o autor lança a si mesmo nos mais variados espaços, a fim de buscar a verdadeira inspiração.
Leitura: www.widbook.com/ebook/TempoeEspaco
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REVISTA REAL Em nome da nobre literatura nacional
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