A nossa historia - Ed. Cavaleiro da Imaculada

Page 1

Pedrosa Ferreira

A histĂłria da igreja em dois sĂŠculos



Pedrosa Ferreira

A nossa

HISTÓRIA 2000 anos


Com devidas licenças

Ficha Técnica: © Pedrosa Ferreira 2017 © 2017 Cavaleiro da Imaculada Rua Duque de Palmela, 11 4000-373 Porto Tel.: 225 369 618 Fax: 225 365 800 cavaleiro.imaculada@edicoes.salesianos.pt Publicado em Janeiro de 2018 Paginação/Capa: Paulo Santos Impressão: Tadinense AG ISBN: 978-989-8850-48-5 D.L.:


Apresentação De entre os livros já publicados pelo Cavaleiro da Imaculada faltava este sobre a nossa história, a história da Igreja ao longo de vinte séculos. Precisamos de conhecer o nosso passado como povo de Deus na história. Não é possível descrever em poucas páginas o que aconteceu de importante durante dois mil anos. Contudo, fazemos um resumo do que todo o cristão deve saber, desde as perseguições no império romano até ao século XX. Lendo este livro, podemos verificar que a história da Igreja é feita de luzes e de sombras mas, animada pelo Espírito Santo, que é a sua alma. Nunca se esqueceu de que a sua missão é a de anunciar a cada geração a alegria do Evangelho. 5



I

II III

Cristãos perseguidos A nossa história de cristãos, durante estes três primeiros séculos, está marcada pelas perseguições em todo o império romano. O nascimento da Igreja Tudo começou na Primavera do ano 30, na Judeia, que então fazia parte do império romano. Um certo Jesus de Nazaré, depois de ter passado fazendo o bem, foi condenado à morte pelo procurador Pôncio Pilatos, por pressão das autoridades judaicas. 7


E eis que aqueles que o tinham seguido durante os três anos da sua vida pública ousaram declarar que Ele está vivo. Deus ressuscitou-o, libertando-o da morte para sempre e constituindo-o Senhor e Salvador do mundo. No dia de Pentecostes, conforme prometera, Jesus enviou o Espírito Santo sobre os apóstolos, reunidos no Cenáculo com Maria. Nesse dia, Pedro cheio de fortaleza saiu para a rua a anunciar a Boa Nova de que Deus ressuscitou Jesus, e disso nós somos testemunhas. Proclamou: “Saibam todos que Deus o estabeleceu como Senhor e Messias. Convertei-vos e peça cada um o baptismo”. Os que acreditaram foram baptizados e nesse dia nasceu a primeira comunidade cristã. É o dia do nascimento da Igreja. Começou a nossa história de cristãos. A primeira comunidade cristã foi a de Jerusalém. Era uma comunidade onde se vivia em tal fraternidade, que era como se tivessem um só coração e uma só alma. Entre eles não havia ninguém necessitado, pois tinham tudo em comum. Tinham a simpatia de todo o povo. Depois os Apóstolos saíram para fora das fronteiras da Palestina para os pagãos e os não-judeus. Era preciso derrubar os muros que separavam estes povos, pois Cristo veio para todos. Foi na comunidade de Antioquia da Síria que os discípulos de Jesus passaram a chamar-se “cristãos”. 8


Paulo de Tarso A nossa história não seria certamente o que é hoje se não fosse Paulo de Tarso. Era um judeu, perseguidor dos cristãos. Jesus apareceu-lhe e ele perguntou: “Quem és tu?” Ele respondeu: “Sou Jesus, a quem tu persegues”. A partir deste encontro, a sua vida mudou. Foi ele o apóstolo que realizou três viagens pela Ásia Menor (Actual Turquia) e pela Grécia a fundar comunidades cristãs. A Igreja foi alargando as suas fronteiras. Paulo ia fundando comunidades cristãs, suportando muitas dificuldades, sendo várias vezes preso. Estando na prisão, escrevia cartas a várias comunidades cristãs. Essas cartas ainda hoje são lidas na Eucaristia, como alimento da nossa fé. Na terceira viagem, chegou até Atenas. Encontrou-se com os sábios da cidade e começou por dizer: “ Percorri a vossa cidade e vi muitos altares dedicados aos deuses. Um deles tinha apenas esta legenda: ”Ao Deus desconhecido”. Venho aqui para vos dizer quem é esse Deus desconhecido”. E contou como Deus tinha enviado Jesus e depois, de morto, o ressuscitou dos mortos. Os sábios, ao ouvirem falar de ressurreição dos mortos, fizeram troça dele e disseram: “Ouvir-te-emos falar disso ainda outra vez”. Mesmo assim, alguns acreditaram. Depois destas viagens, narradas por Lucas nos Actos dos Apóstolos, Paulo acabou numa prisão dos judeus, 9


mas exigiu ser julgado em Roma. Foi a quarta viagem por mar até chegar à capital do império. Sonhava ir ainda mais longe para levar a Boa Nova, talvez à Península Ibérica, mas acabou por ser morto durante uma perseguição. Paulo cumpriu o mandato de Jesus: “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho. O mesmo fizeram os outros apóstolos, fundando comunidades. Como Pedro e Paulo, todos eles sofreram o martírio, excepto João evangelista. Como viviam os cristãos Os primeiros cristãos, nossos antepassados, provinham de todas as classes e condições sociais. Havia comerciantes e soldados, professores e artistas. Havia senhores e escravos, jovens e adultos. Havia judeus e gregos. Mas, pelo facto de serem cristãos, não fugiam do seu ambiente. Eles procuravam ser, no lugar onde viviam, como o sal que dá sabor à comida, como uma luz que brilha no mundo. Este seu jeito de viver é descrito por Diogneto, um cristão da comunidade de Antioquia, numa carta escrita a um funcionário do império romano: “Os cristãos não se distinguem das outras pessoas, não têm cidades próprias, não falam uma língua diferente. A vida que levam é a de toda a gente. ­Vestem-se e comem como qualquer outra pessoa. Mas, apesar 10


disso, dão um exemplo admirável de vida. Habitam na sua pátria, mas como peregrinos; participam na vida pública como cidadãos, mas são cidadãos do Céu. Vivem na carne, mas não são segundo a carne. Obedecem às leis vigentes, mas com a sua vida superam as leis. Amam a todos e por todos são perseguidos. são mortos, mas a sua vida não é atingida. Os cristãos são no mundo o que a alma é no corpo.” Além disso, reuniam-se ao domingo nas casas uns dos outros para a celebração da Eucaristia. Justino conta: “No dia do sol (domingo) todos os que habitam na cidade ou no campo reúnem-se no mesmo lugar e ­faz-se a leitura das memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas. Quando o leitor termina, aquele que preside toma a palavra para exortar as pessoas a porem em prática estes bons exemplos. Depois todos se levantam para as orações. No final saudamos com um abraço. Depois são levados ao que preside o pão e o vinho. Este pega nestes dons e louva e glorifica o Pai, em nome do Filho e do Espírito Santo. Segue-se depois a renovação da Ceia do Senhor, a consagração. Terminada a Oração Eucarística todos respondem: Amen. Segue-se a comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo”. Pedro, o primeiro papa A nossa história de cristãos, desde o início, tem o apóstolo Pedro, bispo de Roma, como centro de unidade. 11


Foi a ele, pescador da Galileia, que Jesus constituiu chefe da sua Igreja: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Unidos a ele estão os outros apóstolos. Paulo de Tarso, apesar de nunca ter andado com Jesus, conta-se no número dos apóstolos. Depois deles, vieram os seus sucessores, que transmitiram os ensinamentos recebidos. Os primeiros sucessores de Pedro foram Lino, Cleto e Clemente. Ireneu, bispo de Lyon, referindo-se a esta unidade assente no ensinamento dos apóstolos, escreveu: “A Igreja espalhou-se pelo mundo inteiro. Mas, apesar de se encontrar em toda a parte, guarda com cuidado a doutrina e a fé recebidas como se habitasse numa única casa. É como se tivessem uma só alma e um só coração. Cada país fala a sua língua, mas as palavras recebidas dos apóstolos são únicas e sempre as mesmas. Em toda a parte há um mesmo sol para toda a gente. A Palavra da Verdade brilha em toda a parte e a todos ilumina”. Pedro, como os outros apóstolos, foi morto durante a perseguição de Nero. A nossa história, desde o início do cristianismo, é de uma Igreja de mártires. O sangue dos mártires Os três primeiros séculos foram tempos de perseguições sangrentas, entremeadas por alguns períodos de uma certa acalmia. Os cristãos recusavam-se a adorar 12


o imperador e os ídolos. As primeiras perseguições em Roma começaram no ano 64, por ordem do imperador Nero. Mas voltaram com Domiciano, Trajano, Marco Aurélio, Valeriano e Diocleciano. Prolongar-se-ão até ao ano 313. Eram tão duras que alguns abandonavam a sua fé, enquanto outros aceitavam o sofrimento e a morte cruel para dar testemunho de Jesus, o único Senhor. Em Roma, os seus corpos eram sepultados em galerias subterrâneas ou catacumbas. As catacumbas serviam para sepultar os corpos dos mártires. Também serviam para os cristãos se reunirem e celebrarem a sua fé. Faziam memória dos ­cristãos ali sepultados, a quem chamavam “mártires”, isto é, testemunhas. Começou assim o culto aos santos, Os nomes dos mártires eram recordados na oração em comum: Inácio, Alexandre, Marcelino, Pedro, Felicidade, Perpétua, Águeda, Luzia, Inês, Cecília, Anastácia. Apesar de tanto sofrimento, aparece nos muros dessas galerias escuras de Roma a palavra “Pax” que significa paz. O povo romano, nestes três primeiros séculos, pedia ao imperador pão e jogos. E os jogos realizavam-se no Coliseu. O divertimento mais aguardado era a luta contra as feras. Os cristãos eram obrigados a entrar para a arena. À ordem do imperador, abriam-se as portas dos abrigos onde estavam os animais ferozes, sobretudo leões, e estes atacavam os cristãos até à 13


morte. Estes, com uma fortaleza que lhes vinha da fé, rezavam e entregavam a sua vida ao Senhor. Havia cristãos de todas as idades, entre eles também jovens. Inês vivia em Roma e tinha apenas 12 anos. Também um jovem de 14 anos chamado Pancrácio, deu testemunho da sua fé, com uma coragem que deixou os adultos maravilhados. Havia também apóstolos e sucessores dos apóstolos. Pedro foi crucificado de cabeça para baixo e Paulo, como era cidadão romano, foi decapitado. Inácio, bispo de Antioquia, por volta do ano 100, foi obrigado a deixar a sua comunidade para se dirigir a Roma, a fim de ser lançado às feras. Escreveu então aos cristãos dizendo: “ Eu sou o trigo de Deus e quero ser esmagado pelos dentes das feras, para me tornar num pão sem mistura, o pão de Cristo”. Havia perseguições não só na cidade de Roma mas em todo o império. Em Lyon, no ano 177, desencadeou-se uma grande perseguição, da qual ficou uma descrição numa carta para os cristãos da Ásia Menor. Durante os interrogatórios, afirmavam: “Nós acreditamos no ­verdadeiro Deus. Não cometemos qualquer crime.”. Ou simplesmente afirmavam: “Eu sou cristão”. Descrevem assim o espectáculo realizado no anfiteatro de Lyon para divertimento da multidão: “Chegou o dia 24 de Junho, dia da festa do Sol, pois é o dia maior do ano. Havia um grande espectáculo. Por 14


isso, Blandina, Santo, Maturo e Átalo foram ­levados para o anfiteatro. Blandina foi atada a um poste e exposta aos animais ferozes que iriam ser largados. Os outros cristãos ouviram-na rezar em voz alta. Vieram as feras e nenhuma a atacou. Foi depois levada para a prisão. Mas degolaram a Maturo e a Santo, que tinham escapado aos ferimentos. Átalo foi obrigado a dar uma volta ao anfiteatro junto de um cartaz onde estava escrito: “Eis Átalo, o cristão”. A multidão g ­ ritava de ódio. Foi depois morto. Entretanto chegaram as festas do mês de Agosto. O governador mandou comparecer os cristãos à sua presença e ordenou: “Os que eram cidadãos romanos deviam ser decapitados; os outros entregues às feras”. Na nossa história de cristãos, o primeiro mártir foi Estêvão, diácono da comunidade de Jerusalém, apedrejado. Depois vieram estas perseguições ordenadas pelos imperadores romanos. Do grandioso império só existem ruinas, mas as perseguições continuam até aos nossos dias. Somos uma Igreja de mártires. Tertuliano afirmou: “O sangue de mártires é semente de cristãos”. De facto, os imperadores romanos não conseguiram calar essas pessoas que, cheias da força do Espírito, deram testemunho da sua fé.

15



IV V

A nova Europa A nossa história, nestes dois séculos, está marcada por uma Igreja que, já sem perseguições, se organiza e alarga as suas fronteiras. É o nascimento da Europa cristã. Elaborar o Credo As perseguições terminam com o Édito de Milão, no ano 313, pelo qual o imperador Constantino decretou a paz para a Igreja. 17


Os cristãos saem da clandestinidade e constroem as primeiras igrejas e basílicas em Roma, Constantinopla e Jerusalém. Os bispos reúnem-se livremente, com o apoio do imperador. Era agora necessário que os bispos definissem a doutrina verdadeira acerca de Jesus Cristo, para que os cristãos não fossem contaminados pelas heresias que começavam a circular. Para isso, os bispos reuniram-se em Concílios ecuménicos para elaborar o Credo, tarefa nada fácil. No ano de 325 realiza-se o Concílio de Niceia, na Ásia Menor (Actual Turquia), o primeiro concílio ecumé­ nico. O segundo realizou-se em Constantinopla. Ficou definido o Credo que ainda hoje é recitado nas celebrações e onde estão as verdades da fé em que devemos acreditar. Ficou definido nesses concílios como dogma de fé a doutrina acerca do mistério da Santíssima Trindade. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem e o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Mais tarde, no Concílio de Éfeso, ficou definido que Maria, mãe de Jesus é verdadeiramente mãe de Deus. O povo cristão, nesse dia, saiu à rua e exultou de alegria com cânticos de júbilo.

18


Índice Séculos I, II e III Cristãos perseguidos............................................................... 5 Séculos IV e V A nova Europa........................................................................ 15 Séculos VI ao XI Alegrias e tristezas................................................................. 21 Séculos XII ao XIV A cristandade medieval.......................................................... 27 Séculos XV e XVI A reforma necessária..............................................................35 Séculos XVII Uma Igreja em missão............................................................41 Séculos XVIII Razão e religião......................................................................47 Séculos XIX Presença no mundo industrial...............................................53 Séculos XX O século do Vaticano II..........................................................59 1962-1965 A Primavera da Igreja.............................................................65 Vocabulário............................................................................73

81


Este livro é um resumo da História da Igreja durante estes dois mil anos. É importante ver como o Espírito Santo anima este povo de Deus, a Igreja. Apresentamos apenas alguns dos acontecimentos mais importantes que todos os crentes devem conhecer acerca do seu passado como povo a caminho.

Rua Duque de Palmela, 11 4000-373 Porto Tel.: 225 369 618 cavaleiro.imaculada@edicoes.salesianos.pt


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.