A leitura, outra revolução
No capítulo do qual María Teresa Andruetto extrai o título deste livro, a autora expõe como concebe a leitura e por que a entende como ato revolucionário. Define-a como “instrumento de intervenção”, e não apenas como acolhimento passivo de um texto escrito ou de imagens. Afirma que, como efeito de seu caráter propulsor, a leitura leva as pessoas a verem e a interpretarem não apenas o que está dito ou apresentado, mas o que fica de fora, por se colocar além ou aquém da figura. Nas suas palavras, ajuda-as a descobrir o que permanece “fora da moldura, oculto”.
A leitura, outra revolução maría teresa andruetto
Esta obra reúne textos apresentados em encontros sobre literatura para crianças e jovens e promoção da leitura. Com uma perspectiva crítica, a premiada escritora María Teresa Andruetto aponta diversos caminhos para refletir sobre o significado da leitura na contemporaneidade. Em vez de privilegiar a quantidade de livros lidos, ela discorre sobre a necessidade da melhoria da qualidade do que leem os leitores. Para isso, afirma que a literatura é um espaço de desacato, capaz de fazer os leitores contornarem riscos e enfrentarem contradições e todos os tipos de perguntas. No ato de ler, um livro se converte em ser vivo capaz de nos interrogar, perturbar e ensinar a olhar zonas ainda não compreendidas de nós mesmos. Faz com que os leitores sejam capazes de apreender que a única liberdade que se constrói é a liberdade de pensamento. Para a autora, esta é a revolução no terreno da leitura.
a leitura, essa revolucionária
maría teresa andruetto
Eis a plataforma deste livro e da trajetória de María Teresa Andruetto, que, em 2012, foi merecidamente agraciada com o Prêmio Hans Christian Andersen, conferido pelo ibby, a principal entidade internacional de fomento à literatura infantil e à leitura entre crianças e jovens. A afirmação da natureza intrinsecamente revolucionária da leitura é condição de sua atuação enquanto escritora, leitora e docente, condição essa que marca sua vida desde a infância e estende-se pelos vários estágios de sua trajetória existencial, rememorada ao longo de A leitura, outra revolução. Assim, esta obra não apenas nos introduz às ideias da autora, mas permite adentrarmo-nos em seu passado, acompanhar seu percurso intelectual, compreender os vínculos que ela nunca abandonou entre experiências pessoais e prática política, entre criação literária e comunicação com o público. De sua leitura, emerge uma personalidade coerente, impedindo que se separe a artista e a professora, a pensadora e a militante. Ler seu livro é, portanto, participar dessa “outra revolução” que a leitura faculta, pois a obra induz o leitor a revisitar o próprio passado, posicionar-se perante sua trajetória enquanto sujeito, examinar laços familiares, aquilatar seu pertencimento social. E, por fim, a analisar em que medida a leitura transformou sua vida e, sobretudo, a avaliar em que medida colaborou para a transformação do mundo. A leitura, outra revolução funda-se no profundo diálogo com o leitor, concretizando, ele mesmo, o princípio de que a leitura é intervenção da qual advêm mudança e renovação. Nenhum leitor permanece igual após ler um grande livro, nem este deixa de alterar-se após ser decifrado por um leitor atento. Aceite então o convite de A leitura, outra revolução e deixe-se conduzir pelos caminhos propostos por María Teresa Andruetto. Regina Zilberman
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