entre 1972 e 2003, 35 delas como curadora e arquiteta. interior e no litoral do Brasil, sendo responsável por levar carrancas de São Francisco ao Masp.
Mas Gisela ainda se dedicou a outra temática, a de
apresentar escritores ao grande público dos centros
culturais, transformando textos e histórias em ambientes imersivos. Ela começou com Clarice Lispector, em 1992, e seguiu com Mario Quintana, Mário de Andrade e Hilda Hilst, entre outros.
Muito se deve no Brasil aos experimentos que Lina
Bo Bardi e Gisela Magalhães realizaram no campo da
arquitetura expositiva, uma área de estudos crescente nas histórias das exposições. E este é um ótimo livro para quem quer conhecer melhor os processos de
criação de mostras e, provavelmente, as duas figuras que desenvolveram essa linguagem de forma mais radical no Brasil.
Fabio Cypriano
Doutor em comunicação e semiótica pela PUC-SP, é coordenador do curso de graduação Arte: História, Crítica e Curadoria, da PUC-SP, onde ministra aulas na graduação e no mestrado lato sensu. É ainda crítico de arte da Folha de S.Paulo e colaborador das revistas Frieze (Inglaterra), Flash Art (Itália), Atlántica (Espanha) e ARTE!Brasileiros (Brasil). É autor de Pina Bausch (Cosac Naify, 2005), entre outros.
Pesquisadores, arquitetos, artistas, curadores, produtores culturais e designers, olhem para este livro com atenção. O que se tem em mãos é uma obra de referência para o estudo e a prática da arquitetura de exposições. De forma clara e acessível, César Sartorelli apresenta essa peculiar linguagem arquitetônica, analisando a trajetória de duas de suas maiores representantes no Brasil: Lina Bo Bardi e Gisela Magalhães.
Uma em São Paulo, outra no Rio de Janeiro, elas foram
responsáveis por exposições icônicas da cultura nacional. Lina
apresentando universos particulares no espaço do Sesc Pompeia: os brinquedos, o design, o caipira, a criança; Gisela com seu subjetivo mundo alegórico ao falar de cultura popular, política nacional e grandes escritores.
Arquitetura de exposições brinda o leitor com reproduções de
croquis, plantas e desenhos, acompanhadas de fotos dos ambientes que resultaram desses originais. Pode-se comparar projeto e
execução, plano e espaço. Pode-se observar cada textura, cada curva e cada cor. Pode-se, enfim, contemplar o gênio das duas
grandes artistas, neste exercício de ressignificação do espaço que é a arquitetura expositiva. ISBN 978-85-9493-086-6
LINA BO BARDI E GISELA MAGALHÃES CÉSAR AUGUSTO SARTORELLI
Assim como Lina, Gisela fez uma vasta pesquisa no
ARQUITETURA DE EXPOSIÇÕES
ARQUITETURA DE EXPOSIÇÕES
O mesmo ocorre com Gisela, também ela atenta à
cultura popular, responsável por organizar 48 mostras
“Eu tenho que ser legível quase no escuro”, escreveu Clarice Lispector. A frase foi uma inspiração efetiva para a arquiteta Gisela Magalhães (1930-2003) criar a cenografia da mostra A paixão segundo Clarice
Lispector, no Centro Cultural Banco do Brasil, em 1992.
Poucos conhecem a extensa carreira na área expositiva de Gisela, que iniciou sua vida profissional trabalhando com Oscar Niemeyer e Lucio Costa, na construção de Brasília, e enveredou por um caminho inovador.
Junto com Lina Bo Bardi (1914-92), Gisela criou uma
sólida reflexão e extensa prática na realização de mostras, sem se limitar aos parâmetros convencionais do mundo
dos museus e galerias, tanto na forma como no conteúdo. É isso que explora Arquitetura de exposições: Lina Bo
Bardi e Gisela Magalhães, de César Augusto Sartorelli.
Lina tem reconhecimento internacional, tanto por suas
construções icônicas, como o Masp e o Sesc Pompeia,
LINA BO BARDI E GISELA MAGALHÃES CÉSAR AUGUSTO SARTORELLI
quanto por criar novos dispositivos de exposição, caso
de seus famosos cavaletes de vidro. O que este livro traz de novo é uma minuciosa pesquisa em torno da criação
das mostras, a partir de entrevistas com muitos de seus
colaboradores, que testemunham a paixão por transformar a exposição numa experiência efetiva.
Um ótimo exemplo apresentado aqui é a mostra
O belo e o direito ao feio, organizada no Sesc
Pompeia, em 1982, em que Lina foi a responsável pela
programação por três anos. “Não me interessa a beleza, mas a poesia”, dizia a arquiteta a seus assistentes,
apontando como certas categorias são circunstanciais e mutáveis, entre elas o belo e o feio, e outras são
perenes. Nessa toada, sua visão militante em defesa da
cultura popular brasileira contaminou suas mostras com
dispositivos semelhantes aos existentes em feiras de rua ou festas religiosas.
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