Das artes o autor cria pontes com o mito da criatividade, sugerindo que este ainda está ancorado em ideais românticos. Entende que a aplicação da curadoria de forma mais ampla trará vantagens, principalmente econômicas, e lança assim a ideia de uma economia da curadoria. Ou seja, o foco do autor não está nas artes, nem na história da curadoria, mas em seu potencial e nas aplicações possíveis neste nosso mundo capitalista pautado pelo digital. Os ambientes produzidos por essas novas tecnologias geram incessantemente informações e precisam da curadoria na melhoria de seus serviços. Bhaskar explicita como grandes desenvolvedores como a Apple e o Google já utilizam da estratégia curatorial, seja no desenvolvimento dos algoritmos, seja na contratação de profissionais qualificados. Enfatiza e incentiva também a nossa presença na internet por este viés em plataformas que conformam esta rede de informação e comunicação – os sites e as mídias sociais. Chama atenção não só para as curadorias explícitas, aquelas que são facilmente identificadas em dispositivos da cultura material e urbana (museus, moda, entretenimento, etc.), como também para as curadorias implícitas que em relação às explícitas estão em nível macro, uma vez que estruturam a economia de nossa sociedade. A curadoria estaria assim no centro de uma nova economia que leva em conta a participação das pessoas. Este livro é uma leitura prazerosa pautada por argumentos coerentes que ensejam um horizonte esperançoso. Cabe, como sempre, ao leitor se posicionar. Martin Grossmann Criador e coordenador do Fórum Permanente, professor titular da ECA-USP.
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O mundo é habitado por 7,5 bilhões de seres humanos e 4,5 deles acessam a internet. A expectativa de vida aumenta a cada ano. Nos últimos 250 anos as tecnologias foram desenvolvidas para impulsionar a produtividade e o consumo de bens, alimentos, dados. Nos últimos dois anos a humanidade produziu mais dados do que no restante da história humana combinada. Existem mais smartphones do que pessoas. Temos a nossa disposição 1,5 bilhões de sites. O Google recebe mais de 5,6 bilhões de buscas por dia. Nunca tivemos tanto acesso à informação e nunca antes nos comunicamos como hoje. A produtividade e a tecnologia alimentam a abundância, vivemos mergulhados no excesso. Expondo este contexto na primeira parte do livro, Michael Bhaskar argumenta e explora com eloquência as razões e evidências para que a curadoria seja considerada a principal ferramenta capaz de produzir sentido no mundo hoje, uma vez que ela seleciona, escolhe e reduz. A curadoria surgiu no campo das artes visuais na década de 1960, não só pela expansão e resiliência dos museus, como também motivada pelos rumos que a arte moderna tomou graças aos experimentos e manifestos dos movimentos de vanguarda do século XX. Novos equipamentos culturais surgiram, como os centros culturais; novas formas de expressão artística foram lançadas, como ready-mades, instalações, performances e happenings. Esta expansão e diversidade da ação artística gerou uma complexidade, suscitando novas formas de mediação, em destaque a curadoria. Bhaskar considera e pontua essa gênese, mas enaltece principalmente a sua potencialidade como um novo modo de operação no âmbito de uma sociedade do excesso. Destaca que o método curatorial não só preserva conteúdos/produtos de qualidade, como preza a seleção cuidadosa visando a criação de narrativas referenciais.
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